nulidade no auto de infração mestrado em direito

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Marly Moreira Couto Criales Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2014

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Page 1: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marly Moreira Couto Criales

Nulidade no Auto de Infração

MESTRADO EM DIREITO

SÃO PAULO

2014

Page 2: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marly Moreira Couto Criales

Nulidade no Auto de Infração

MESTRADO EM DIREITO

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de

MESTRE em Direito Tributário, sob a

orientação da Profa. Dra. Clarice von

Oertzen de Araújo.

SÃO PAULO

2014

Page 3: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

Banca Examinadora

______________________________________

______________________________________

______________________________________

Page 4: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

Com todo meu amor a José Eimar, Luiz

André e Margarida Maria.

Page 5: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

AGRADECIMENTO

Primeiramente, a Deus pela dádiva da vida e a benção nesta produção.

Ao meu marido e melhor amigo, Luiz André, que me apoiou e ajudou na

realização deste sonho.

Aos meus pais, Margarida Maria e José Eimar, pelo amor incondicional e que

sempre me incentivaram a estudar, fazendo nascer o sonho que hoje realizo. Nada

seria sem os seus ensinamentos.

Aos meus irmãos, Beatriz e Rogério, pelas alegrias que seus filhos, Gustavo e

Leonardo, me dão e por compreenderem a minha ausência durante este último ano.

À minha cunhada Gladys e sua família por me ajudarem no abstract.

Aos meus melhores amigos, Taciana, Marcia e Luiz, pelas palavras de apoio

e incentivo.

À minha orientadora, Clarice von Oertzen de Araújo, que não só contribuiu

para a produção deste trabalho com suas orientações, mas proporcionou meu

amadurecimento profissional e intelectual.

À Professora Fabiana Del Padre Tomé e ao Professor Tácio Lacerda Gama

pelas contribuições preciosas no exame de qualificação.

Aos professores de mestrado: Paulo de Barros Carvalho, Charles Willian

Mcnaughton, Estevão Horvath, Roque Antonio Carrazza e Robson Maia Lins, por

todos os ensinamentos e discussões.

Ao Rui e Rafael que sempre foram atenciosos e dispostos a me ajudarem.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a produção deste

trabalho.

Page 6: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

Nulidade no auto de infração

Marly Moreira Couto Criales

RESUMO: O objetivo do trabalho é estudar as invalidades no auto de infração por

desrespeito aos requisitos obrigatórios para a sua lavratura, com a finalidade de

determinar os critérios de classificação das espécies de invalidades, vícios e seus

efeitos, relacionado aos requisitos no art. 10 do Decreto n°. 70.235/72. O estudo tem

início com o entendimento de norma jurídica como uma construção do ser humano

ao interpretar os textos de lei e atribuir-lhes significação. Trabalha a invalidade como

antítese da validade, e analisa os conceitos de validade, existência e eficácia das

normas jurídica. Em seguida, estuda o auto de infração como ato administrativo para

definir que os seus requisitos de lavratura são compostos de elementos intrínsecos e

pressupostos de validade. Por fim, analisa as teorias de invalidade e sua aplicação

no Direito Tributário, para concluir que são duas as espécies de invalidade, nulidade

e anulabilidade, as quais se relacionam com os vícios materiais e formais.

Palavras-chave: Auto de Infração; Nulidade; Anulabilidade; Vícios; Efeitos.

Page 7: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

Nullity of Tax Notice

Marly Moreira Couto Criales

ABSTRACT: This paper’s purpose is to study the invalidities on the tax notice for

disrespect of mandatory requirements for its transcription with the purpose of

determining the criteria for the classification of types of invalidities, defects and their

effects, related to the requirements of act 10 of decree 70.235 /72. The study begins

with the understanding of the rules of law as a construction of the human being to

interpret the texts of law and give them meaning. It works invalidity as the antithesis

of validity, and analyzes the concepts of validity, existence and effectiveness of legal

standards. Then, it studies the tax notice as an administrative act to define that their

requirements for transcription are composed of intrinsic elements and assumptions of

validity. Finally, it analyzes the theories of invalidity and its application in Tax Law, to

conclude that there are two types of invalidity, nullity and voidability, which relate to

material and formal defects.

Keywords: Tax notice; Nullity; Voidability; Defects; Effects.

Page 8: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

LISTA DE ABREVIATURAS

AgRg Agravo Regimental

ART. Artigo

CARF Conselho Administrativo de Recursos Fiscais

CC Código Civil

CTN Código Tributário Nacional

DCTF Declaração de débitos e créditos tributários federais

DIPJ Declaração de informações econômico-fiscais da Pessoa Jurídica

DIRPF Declaração do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física

IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurídica

LPA Lei n°. 9.784, de 29 de janeiro de 1999

MPF Mandado de Procedimento Fiscal

MS Mandado de Segurança

PAF Decreto n°. 70.235, de 06 de março de 1972

REsp Recurso Especial

RFB Receita Federal do Brasil

RMIT Regra-Matriz de Incidência Tributária

RMS Recurso Ordinário em Mandado de Segurança

STJ Superior Tribunal de Justiça

STF Supremo Tribunal Federal

TDPF Termo de Distribuição de Procedimento Fiscal

Page 9: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

CAPÍTULO I – NORMA JURÍDICA ........................................................................... 16

1. DIREITO: LINGUAGEM E REALIDADE ...................................................................... 16

2. A NORMA JURÍDICA NO CONSTRUCTIVISMO LÓGICO-SEMÂNTICO ............................ 17

2.1. Estrutura Lógica: A → C ........................................................................... 20

2.2. Norma jurídica tributária ............................................................................ 25

3. NORMA JURÍDICA COMPLETA ............................................................................... 27

4. NORMA: ABSTRATA E CONCRETA, GERAL E INDIVIDUAL ........................................... 31

5. PROCESSO DE POSITIVAÇÃO DO DIREITO .............................................................. 33

CAPÍTULO II – EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA NORMA JURÍDICA .... 38

1. EXISTÊNCIA E VALIDADE DAS NORMAS JURÍDICAS .................................................. 38

1.1. Teoria de Pontes de Miranda .................................................................... 39

1.2. Teoria de Norberto Bobbio ........................................................................ 41

1.3. Teoria de Paulo de Barros Carvalho ......................................................... 44

1.4. Nossa posição .......................................................................................... 46

2. EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS ....................................................................... 49

CAPÍTULO III – AUTO DE INFRAÇÃO .................................................................... 53

1. AUTO DE INFRAÇÃO ............................................................................................ 53

2. AUTO DE INFRAÇÃO E O ATO ADMINISTRATIVO ....................................................... 62

3. AUTO DE INFRAÇÃO E OS ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO ............................... 66

Page 10: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

4. AUTO DE INFRAÇÃO E OS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO .............................. 69

4.1. Elementos intrínsecos ............................................................................... 72

4.2. Pressupostos de validade ......................................................................... 75

CAPÍTULO IV – INVALIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO....................................... 81

1. HISTÓRICO DA TEORIA DA NULIDADE .................................................................... 81

2. INVALIDADE NO DIREITO CIVIL ............................................................................. 83

3. INVALIDADE NO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................ 87

4. INVALIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................... 94

5. PRINCÍPIO DO PREJUÍZO ...................................................................................... 98

6. ATOS IRREGULARES ......................................................................................... 105

7. VÍCIOS NO AUTO DE INFRAÇÃO........................................................................... 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 120

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 129

Page 11: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

10

INTRODUÇÃO

O direito tributário é regido por princípios gerais e específicos. Dentre esses

princípios, destacamos o da estrita legalidade e da tipicidade, inerentes ao sistema

tributário, que preveem que os entes tributantes – União, Estados, Distrito Federal e

Municípios – só têm competência para tributar – consistente em instituir, arrecadar e

fiscalizar os tributos – nos estritos limites das leis em vigor.

Esses princípios garantem aos contribuintes não sofrerem abusos na

tributação, bem como asseguram ao ordenamento jurídico sua necessária

estabilidade junto com o princípio da segurança jurídica.

O desrespeito a esses princípios gera uma ilegalidade no ato de produção

normativa por haver um desajuste entre as disposições legais (norma abstrata e

geral) e a norma jurídica introduzida (norma concreta e individual), que pode

acarretar a expulsão da norma do sistema pela decretação de sua “nulidade”.

Nesse contexto, o presente estudo será realizado, destacando os seguintes

aspectos:

O auto de infração é ato administrativo em que o Fisco, constatando a

ocorrência de um ato ilícito, efetua o lançamento de ofício do tributo, quando for o

caso, e aplica a penalidade ao infrator.

Para a lavratura do auto de infração, a lei prescreve requisitos essenciais de

procedibilidade e de conteúdo. O desrespeito a um desses requisitos pode gerar um

defeito (vício) na norma jurídica introduzida e, consequentemente, uma ilegalidade

que acarrete a decretação de “nulidade” do ato normativo, fazendo cessar a

produção dos efeitos e gerando ao Fisco, a depender do vício o efeito: da extinção

Page 12: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

11

do crédito tributário; ou da possibilidade de lavrar novo auto de infração ou

lançamento de ofício para constituir o crédito tributário.

Nesse contexto, realizaremos o nosso estudo na análise dos requisitos legais

para a lavratura do auto de infração e os possíveis desajustes na norma introduzida,

pretendendo sistematizar as “nulidades” para classificar suas espécies; os vícios e

seus efeitos.

Tentaremos responder às seguintes perguntas durante a exposição:

1) Como é regido e aplicado o sistema das “nulidades” no Direito

Tributário? Quais são os seus critérios?

2) Quais são as espécies de “nulidades”?

3) Quais são os vícios e seus efeitos?

4) Na relação com os requisitos de lavratura do auto de infração, como se

processa a sistematização em relação à “nulidade”?

Para tanto, antes de expormos o percurso da pesquisa, fixamos três

premissas que consideramos relevantes à compreensão do assunto com o fim de

garantir coerência à produção científica.

A primeira premissa fixada é que trabalhamos com as normas jurídicas

vigentes. Partimos do conceito de direito positivo como o conjunto de normas

jurídicas válidas em uma determinada sociedade. Tudo, para ser direito, é norma

jurídica, inserida no ordenamento por ato: (i) Poder Legislativo na edição de leis; (ii)

Poder Judiciário nas prolações de sentenças e acórdãos; (iii) Administração Pública,

por meio, especialmente, da edição de atos administrativos, em que destacamos o

auto de infração; e (iv) particular, por exemplo, na emissão do “autolançamento” e do

lançamento por declaração.

Page 13: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

12

A segunda premissa fixada é a de que entendemos “nulidade” como a

invalidade1 da norma jurídica. Com isso, trabalhamos a “nulidade” como a antítese

da validade, fixando o entendimento, neste momento, de que o rol do art. 59 do PAF,

que trata das “nulidades”, é exemplificativo2.

Ademais, o termo “nulidade” é ambíguo, sendo utilizado para denotar o

gênero e a espécie. Logo, para assegurar o rigor científico, a partir deste momento,

o denominaremos de invalidade3.

A terceira premissa que fixamos é que analisaremos o auto de infração no

âmbito da competência tributária da União, que é regido pelo Decreto n°. 70.235/72,

que trata do Processo Administrativo Fiscal, e pela Lei n°. 9.784/99, que estabelece

as normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração

Federal.

Além da fixação das premissas, o conhecimento científico requer a aplicação

de um método em que o sujeito cognoscente determina um sistema de referência

para se aproximar do objeto de estudo e construir um discurso científico coerente.

1 Fica superada a corrente que defende que nulidade é a aplicação de uma sanção por desrespeito

ao preceito legal, defendida por: Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio

Magalhães Gomes Filho (As nulidades no processo penal. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011, p. 26); Clovis Bevilaqua (Theoria geral do direito civil. Atualizada por Achilles Bevilaqua. 6. ed.

Rio de Janeiro: Editora Paulo de Azevedo, 1953, p. 3); e Maria Helena Diniz (Curso de direito civil

brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 557).

2 NEDER, Marcos Vinicius; LÓPEZ, Maria Teresa Martinez. Processo administrativo fiscal federal

comentado. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004, p. 478.

3 No capítulo IV empregaremos o termo “teoria da nulidade” ao se referir as correntes que discorrem

sobre a invalidade. Essa expressão se adequará por ser a denominação utilizada pela doutrina no

estudo do tema.

Page 14: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

13

Optamos por utilizar no desenvolvimento deste trabalho o método do

Constructivismo Lógico-Semântico, que foi desenvolvido por Lourival Vilanova e

aprofundado por Paulo de Barros Carvalho4.

Esse método tem como referencial filosófico a Filosofia da Linguagem que

entende: (i) a linguagem cria a realidade; (ii) só conhecemos o que é apreendido

pela linguagem; (iii) o ser humano atribui os sentidos (significados) aos termos

linguísticos com base nas suas referências culturais, a fim de criar a realidade; e (iv)

a linguagem é fenômeno comunicacional que precisa ser interpretada para haver

comunicação. Utiliza a Semiótica nesse processo.

Nesse referencial, o direito é concebido como um fenômeno linguístico em

que para ser compreendido (interpretado) é necessária a atribuição de significados

aos enunciados prescritivos, do qual os textos do direito positivo são ambíguos e

vagos, cabendo ao Cientista do Direito, ao interpretá-los, dar coerência à mensagem

legislada.

Assim, o método que trabalharemos tem duas vertentes: a) a atribuição de

sentido é construída (Constructivismo) pelo sujeito ao interpretar os fenômenos

linguísticos; e a interpretação opera no b) plano lógico-semântico (Lógico-

Semântico) com o fim de dar formalismo ao discurso e uma aproximação do objeto.

Não se trata de abandonar o plano pragmático, mas de dar ênfase a esses dois

planos.

Nesse contexto, o Cientista do Direito decompõe o seu objeto de estudo em

uma linguagem formalizada para garantir rigor ao discurso científico, extraindo às

4 TOMÉ, Fabiana Del Padre. Vilém Flusser e o Constructivismo Lógico-Semântico. In.: HARET,

Florence; CARNEIRO, Jerson (Coord.). Vilém Flusser e juristas: comemoração dos 25 anos do grupo

de estudos Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Noeses, 2009, p. 323.

Page 15: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

14

ambiguidades e vaguezas com aplicações de conceitos de Lógica Jurídica e de

Semiótica.

Nessa conjuntura, o estudo foi sistematizado em quatro capítulos dos quais

percorremos estudos pela Teoria Geral do Direito, Direito Civil, Direito

Administrativo, Direito Tributário e Direito Processual Tributário.

No primeiro capítulo trataremos da definição de norma jurídica. Iniciamos com

uma breve introdução do direito na metodologia do Constructivismo Lógico-

Semântico. Analisando a Teoria Geral do Direito, discorreremos sobre o conceito de

norma jurídica no método de trabalho e sua estrutura lógica; a norma jurídica

completa; a classificação da norma quanto à estrutura dual; e o processo de

positivação do direito. Durante o capítulo faremos a aplicação dos conceitos gerais

no Direito Tributário.

Fixada a premissa de que a invalidade é a antítese de norma jurídica válida,

que tem como consequência a cessação da produção dos seus efeitos, se faz

necessário discorrer sobre validade e eficácia, que será objeto do segundo capítulo.

Neste capítulo faremos um corte nas teorias da validade da norma jurídica para

trabalharmos com as vertentes de validade e existência, pois o tratamento das

invalidades se relaciona com esses institutos jurídicos, devendo, assim, ser firmada

uma posição para a coerência do discurso científico.

No terceiro capítulo trataremos do conceito de auto de infração e os seus

requisitos de lavratura. Já aproveitamos para afirmar que auto de infração é ato

administrativo e com isso é necessário estudar o seu regime jurídico. Assim, faremos

incursões no Direito Administrativo para discorrer sobre o conceito, atributos e

requisitos dos atos administrativos, relacionando, por todo o capítulo, aos aspectos

do auto de infração.

Page 16: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

15

Por fim, no quarto capítulo, discorremos sobre a invalidade aplicada no auto

de infração. Iniciaremos com um breve relato da origem histórica do instituto para,

em seguida, traçarmos a sua aplicação no Direito Civil, no Direito Administrativo e no

Direito Processual Tributário. Delimitaremos as suas espécies e os critérios de

classificação no Direito Tributário, os vícios e seus efeitos, relacionando-os com os

conceitos do capítulo anterior quanto aos requisitos de lavratura do auto de infração.

Ressaltamos que no decorrer do estudo analisaremos, quanto à aplicabilidade

das invalidades no Direito Tributário, para o fim de sua sistematização e resposta às

perguntas formuladas, as decisões dos tribunais administrativos e judiciais, em

especial do CARF, do STJ e do STF, quando houver aplicação.

Não pretendemos com esse estudo esgotar o tema, mas fazer reflexões sobre

a invalidade aplicável ao auto de infração para o fim de analisar as posições

doutrinárias (teoria) e jurisprudenciais (prática), na tentativa de confirmá-las ou

infirmá-las quanto à posição que fixaremos.

Page 17: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

16

CAPÍTULO I – NORMA JURÍDICA

1. Direito: linguagem e realidade

O direito consiste em um conjunto de normas jurídicas que tem o fim de

regular as condutas intersubjetivas dos cidadãos em uma sociedade. É o

instrumento do Estado para intervir no meio social5.

Nesse sentido, há a orientação das condutas para os valores que a sociedade

quer ver realizados com o propósito de organizar a vida em sociedade.

Podemos defini-lo: “Direito é um corpo de regras que se voltam para a região

material das condutas intersubjetivas” 6.

Assim, o direito cria a sua própria realidade ao eleger os eventos, que

ocorridos no mundo fenomênico, terão o condão de constituírem o fato jurídico

quando vertidos em linguagem. Isso porque só é possível conhecer a realidade no

momento em que são atribuídos significados aos dados brutos e constituída em

linguagem7.

Nisso podemos afirmar que há dois acontecimentos que retratam a realidade

jurídica: o evento e o fato jurídico. O evento é um acontecimento no mundo

5 CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da Norma Tributária. 5. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p.

21.

6 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário – Fundamentos Jurídicos da Incidência. 9. ed. São

Paulo: Saraiva, 2012, p. 216.

7 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Interpretação e aplicação do direito. In.: HARET, Florence;

CARNEIRO, Jerson (coord.). Vilém Flusser e juristas: comemoração dos 25 anos do grupo de

estudos Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Noeses, 2009, p. 258.

Page 18: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

17

fenomênico. O fato é o relato em linguagem competente do evento ocorrido.

Somente após esse relato é que se torna conhecido o evento e é criada a realidade.

O relato do evento em linguagem é ato realizado pelo ser humano que

constata a sua ocorrência e “fala” dele.

No mais, a linguagem é o veículo que o homem se utiliza para se comunicar,

e o direito positivo, como conjunto de normas jurídicas válidas que tem como

destinatários os cidadãos da sociedade, é um sistema comunicacional.

Assim, entendemos que o direito é um sistema linguístico composto

unicamente de normas voltadas a regular as condutas intersubjetivas8, e que para

conhecê-lo é preciso compreendê-lo, interpretando-o, construindo seu conteúdo,

sentido e alcance. Nesse contexto, trata-se de um fenômeno comunicacional

representado pela linguagem prescritiva de condutas.

Esse é o parâmetro segundo o qual desenvolveremos nosso trabalho.

2. A norma jurídica no Constructivismo Lógico-Semântico

O direito é fenômeno comunicacional representado pela linguagem prescritiva

de condutas no signo simbólico9, composto unicamente de normas jurídicas. Mas, o

que é norma jurídica no contexto da nossa metodologia (o Constructivismo Lógico-

Semântico)?

8 OLIVEIRA, Vivian de Freitas e Rodrigues de. Lançamento Tributário como ato administrativo. São

Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 28.

9 Clarice von Oertzen de Araújo descreve que a natureza simbólica do signo é tratamento das normas

abstratas. Na concretude, o signo é indicial por ser afetado pelo objeto dinâmico (op. cit., p. 34).

Page 19: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

18

A definição de norma jurídica que utilizamos se diferencia de outras acepções

em que: norma jurídica é o próprio texto de lei (a lei publicada no Diário Oficial)10;

que do texto de lei se extrai o conteúdo da norma11; ou que é o conjunto de textos de

lei como sistema jurídico em sua unidade12.

Partimos do entendimento de que norma jurídica é o mínimo de manifestação

deôntica de sentido completo representada por um antecedente que implica um

consequente e compreende em sua definição: “a significação que obtemos a partir

da leitura dos textos do direito positivo”13. Expliquemos:

O intérprete tem o primeiro contato com as leis (textos de lei). Este é o ponto

de partida para a construção da significação e transmissão da mensagem deôntica

desejada pelo legislador. Contudo, como manifestação em linguagem, para construir

a norma jurídica, o intérprete precisa atribuir valores aos símbolos (signos) por meio

da interpretação pelo percurso gerador de sentidos. Esse é o processo de

interpretação a ser percorrido pelo intérprete para a construção da norma jurídica.

PAULO DE BARROS CARVALHO14 descreve o percurso gerador de sentido

em quatro fases de interpretação: plano da expressão; plano da significação; plano

do conteúdo; e plano da sistematização.

10

João Maurício Adeodato ressalta que para a Escola da Exegese Francesa, norma jurídica é a lei

(Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo. São Paulo: Noeses, 2011, p. 158).

11 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Almedina:

Coimbra, Portugal, 2003, p. 1218; e GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a

interpretação/aplicação do direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 28.

12 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito. 2. ed. São Paulo: Noeses,

2010, p. 278.

13 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 40.

14 Ibid., 2012, p. 114 e ss.

Page 20: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

19

O plano da expressão compreende a análise dos textos de lei em sua

literalidade como frases soltas sem significado. São as marcas de tinta no papel,

como suporte físico, e trata-se do contato sensorial do intérprete, de onde parte para

a construção da significação.

Após esse primeiro contato, o intérprete precisa iniciar a atribuição de

sentidos, passando para o plano da significação, em que começa a adotar “valores

unitários aos vários signos, que encontrou justapostos, selecionando significações e

compondo segmentos portadores de sentido”15. Nesse plano, o intérprete constrói os

enunciados prescritivos por meio do agrupamento das frases soltas em significados

voltados ao objeto do direito: a prescrição das condutas. Começamos a ter uma

mensagem veiculada, mas que ainda não é a norma jurídica.

Construídos os enunciados prescritivos, o intérprete passa ao plano do

conteúdo, em que agrupará esses enunciados para a composição da norma jurídica

em seu esquema de juízo implicacional, ou seja: um antecedente que implica um

consequente. Nesse plano há a norma jurídica, e é transmitida a mensagem

deôntica desejada pelo legislador, com a prescrição da conduta a ser obedecida

pelos seus destinatários.

Por fim, no plano da sistematização, as normas jurídicas são organizadas em

uma estrutura hierárquica por traços de coordenação e de subordinação, formando o

sistema jurídico em sua unidade significativa de escalonamento normativo.

Logo, o texto de lei se diferencia da norma jurídica16. A doutrina17 utiliza para

essa diferenciação dois termos, respectivamente: norma jurídica em sentido amplo e

norma jurídica em sentido estrito.

15

CARVALHO, loc. cit.

16 TOMÉ, 2009, p. 324.

Page 21: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

20

Nesse contexto, o intérprete, a partir da leitura do(s) texto(s) de lei constrói a

norma jurídica ao agrupar os enunciados prescritivos no esquema de juízo

implicacional, em que a norma jurídica é uma construção intelectual da mente do

intérprete.

Assim, percorremos do suporte físico, como o texto de lei, para a significação

da norma jurídica, como mensagem deôntica completa.

Mas, qual é a mensagem transmitida pelo legislador ao destinatário da norma,

ou seja, o que é veiculado pela norma jurídica?

O direito é um sistema que regula as condutas intersubjetivas dos cidadãos

durante um lapso de tempo (vigência temporal) e em um determinado espaço

(vigência territorial). As condutas reguladas são: obrigatória, proibida ou permitida.

Assim, a norma jurídica transmite comandos: obrigatórios, permitidos e proibidos na

estrutura lógica representada por um antecedente que implica um consequente. Isso

constitui a articulação lógica da norma jurídica (juízo implicacional) que passamos a

estudar.

2.1. Estrutura Lógica: A → C

A estrutura da norma jurídica é composta de um antecedente que implica um

consequente. Essa é a estrutura lógica de toda e qualquer norma jurídica para ter a

unidade mínima e irredutível de significação deôntica.

17

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método. 4. ed. São Paulo: Noeses,

2011, p. 128; LINS, Robson Maia. O Supremo Tribunal Federal e norma jurídica: aproximações com o

Constructivismo Lógico-Semântico. In.: HARET, Florence; CARNEIRO, Jerson (Coord.). Vilém

Flusser e juristas: comemoração dos 25 anos do grupo de estudos Paulo de Barros Carvalho. São

Paulo: Noeses, 2009, p. 372-373; e OLIVEIRA, op. cit., passim.

Page 22: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

21

Nesse sentido, a norma jurídica apresenta homogeneidade sintática, mas é

heterogênea semântica e pragmaticamente, porque cada norma jurídica apresenta

conteúdo e aplicação diferentes18.

A mensagem veiculada na norma jurídica é a previsão de um comportamento

desejado pelo sistema que consiste em uma conduta (obrigatória, proibida ou

permitida) a se manifestar pela ocorrência de um evento relacionado ao surgimento

de uma relação jurídica.

Nesse contexto, o legislador, ao descrever a norma jurídica, seleciona os

eventos que considera importantes para configurarem como fatos jurídicos e que

terão o condão de fazerem surgir os efeitos jurídicos por meio da instauração da

relação jurídica.

Assim, no antecedente da norma jurídica está a descrição do evento e no

consequente a instauração da relação jurídica com a previsão da conduta a ser

obedecida e seus efeitos jurídicos.

Podemos representar por: D (A → C), em que: “D” é dever-ser; “A” é o

antecedente (descrição do “evento”); “C”, o consequente (previsão da relação

jurídica); e “→” (implicação), que é um conectivo condicional que tem a função de

estabelecer um nexo-causal entre a causa (antecedente) e o efeito (consequente), e

se apresenta como functor neutro.

Mas quais os elementos mínimos necessários para a identificação do

antecedente e do consequente?

18

SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lançamento Tributário. 3. ed. São Paulo: Max Limonad, 2010,

p. 34.

Page 23: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

22

A doutrina diverge quanto aos elementos mínimos. Portanto, preferimos

trabalhar com a doutrina de PAULO DE BARROS CARVALHO19 que elenca critérios

mínimos para a identificação do fato jurídico e da instauração da relação jurídica.

O antecedente tem a função de descrever um fato (de possível ocorrência ou

jurídico), que nos critérios material, espacial e temporal20 possibilitam a sua

delimitação. É a causa para a implicação dos efeitos jurídicos previstos no

consequente.

O critério material pode ser descrito na projeção para o futuro ou passado. Na

projeção para o futuro, descreve um evento de possível ocorrência no mundo

fenomênico e é composto por um verbo no impessoal, infinito e de predicação

incompleta. No passado, representando a concretude do evento, é o seu relato em

linguagem competente para constituir o fato jurídico.

O critério espacial é a delimitação do local em que deve ocorrer ou ocorreu o

evento, em sua projeção para o futuro ou para o passado, respectivamente. No

futuro, pode estar implícito ou explícito na norma, mas deve ser possível identificá-lo.

O critério temporal tem as informações para determinar o momento da

ocorrência do evento. Explica AURORA TOMAZINI DE CARVALHO21 que o critério

temporal não é para determinar o instante em que se instaura o vínculo jurídico, mas

a delimitação da ocorrência do evento. O vínculo é instaurado, segundo nossa

premissa, quando vertido em linguagem competente, em que é constituído o fato

jurídico.

19

CARVALHO, 2011, p. 255-256.

20 Id., 2012, p. 243.

21 CARVALHO, 2010, p. 398.

Page 24: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

23

No mais, o critério temporal tem duas funções: a) direta, de identificar com

exatidão o momento da ocorrência do evento relevante para o direito; e b) indireta,

que é a determinação das regras vigentes a serem aplicadas a partir do momento da

ocorrência do evento.

Já, o consequente tem a função de estabelecer o vínculo relacional entre dois

ou mais sujeitos perante um objeto com a aplicação do efeito jurídico previsto pelo

legislador. Seus critérios de identificação são o pessoal e o quantitativo22, e é

representado pelo functor deôntico para regular as condutas modalizando em

obrigatório, proibido ou permitido.

Há doutrinadores23 que determinam que deve conter no consequente um

critério espacial e um critério temporal para determinar o momento e o local em que

deve ser cumprida a prestação. Entendemos ser desnecessário, posto que o

cumprimento ou não da prescrição normativa é elemento de outra norma jurídica

que descreve o evento do descumprimento ou cumprimento da conduta com os seus

efeitos: aplicação de penalidade ou extinção da obrigação, por exemplo.

O critério pessoal identifica os sujeitos da relação jurídica a ser instaurada e

contém o sujeito ativo e o sujeito passivo. O sujeito ativo tem o direito subjetivo em

relação ao objeto (prestação pecuniária), e o sujeito passivo o dever jurídico.

Necessariamente, um dos sujeitos eleito pelo legislador deve ter relação com o

evento descrito no antecedente24.

22

Já aplicamos a denominação e os elementos do Direito Tributário. Na Teoria Geral do Direito é

denominado de critério prestacional. Esse critério indica a conduta que o sujeito passivo deve prestar

ao sujeito ativo. É o núcleo do direito por regular as condutas intersubjetivas (CARVALHO, 2010, p.

409-410).

23 Luís Cesar de Queiroz tem esse entendimento (CARVALHO, 2010, p. 401).

24 Ibid., p. 403.

Page 25: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

24

Segundo PAULO DE BARROS CARVALHO25, direito subjetivo é “[...] a

faculdade que tem o sujeito ativo da relação jurídica de exigir do sujeito passivo o

cumprimento do dever jurídico estipulado na proposição normativa”, e “[...] O dever

jurídico que pode ser exigido pelo titular do direito subjetivo é sempre uma ação ou

omissão do ser humano, e seu descumprimento desencadeia a aplicação de medida

juridicamente sancionadora”.

O critério quantitativo é a conduta que o sujeito passivo deve prestar ao

sujeito ativo, representado pela base de cálculo e pela alíquota. É o núcleo do direito

como regulador de condutas intersubjetivas, e, para fins do nosso estudo, é a

prestação pecuniária de entregar aos cofres públicos a importância devida em

pecúnia constituída no crédito tributário ou na aplicação da penalidade.

Assim, representamos: D [(cm . ct . ce) → (cp . cq], em que se ocorrer o

evento descrito no antecedente (A), então, dever-ser o consequente com a

instauração da relação jurídica (Rj) entre os sujeitos Sa e Sp, na qual uma conduta

será obrigatória, permitida ou proibida entre eles:

[...] (i.a) hipótese, pressuposto ou antecedente (H), cuja função é

descrever uma situação de possível ocorrência (f), que funciona

como causa para o efeito jurídico almejado pelo legislador; e (i.b)

consequente ou tese (C), cuja função é delimitar um vínculo

relacional entre dois sujeitos (S’RS”), que se consubstancia no efeito

almejado; e (ii) conectivo condicional (→), também denominado

vínculo implicacional, cuja função é estabelecer o liame entre a

25

CARVALHO, P. B., 2009, p. 64-65.

Page 26: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

25

causa e o efeito ao imputar a relação prescrita no consequente

normativo, caso verificada a situação descrita na hipótese26.

Por fim, aplicamos a estrutura lógica da norma jurídica e seus critérios de

identificação em dois exemplos do Direito Tributário para o fim de confirmar a teoria:

a) RMIT – IRPJ: no antecedente, o critério material é auferir renda, o critério

espacial no Território Nacional, e o critério temporal no período de 1º de janeiro a 31

de dezembro. No consequente, o critério pessoal tem a União como sujeito ativo e o

contribuinte como sujeito passivo; e no critério quantitativo, a base de cálculo é o

valor da renda e a alíquota que varia entre 7%; 15%; 22,5% e 27,5% a depender da

base de cálculo; e

b) Lançamento de ofício por omissão de receita de IRPJ: no antecedente, o

critério material é omitir renda, o critério espacial no Território Nacional, e o critério

temporal no período apurado pelo Fisco. No consequente, no critério pessoal, a

União é o sujeito ativo e o contribuinte o sujeito passivo, e no critério quantitativo a

base de cálculo é o valor da renda omitida e a alíquota que varia entre 7%; 15%;

22,5% e 27,5% a depender da base de cálculo.

2.2. Norma jurídica tributária

Ao atribuirmos o conceito de norma jurídica aplicável ao direito, se faz

necessário determiná-la no campo de nosso estudo: o direito tributário, isto posto, o

direito se apresenta por diversas espécies de normas: constitucional, administrativa,

26

CARVALHO, 2011, p. 289/290.

Page 27: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

26

civil, tributária, etc., cada qual com o seu conteúdo, em que se diferenciam no

campo da heterogeneidade semântica27.

O Direito Tributário28 é o ramo do direito que regula, direta ou indiretamente, a

instituição, arrecadação ou fiscalização de tributos. Compreende: os princípios

constitucionais tributários a serem aplicados pelo legislador; e o nascimento, a vida e

a extinção das relações jurídico-tributárias.

Dessa forma, a norma jurídica tributária é a que trata direta ou indiretamente

da instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos.

Portanto, há três tipos de relações: a de instituição dos tributos; a de

arrecadação dos tributos e a de fiscalização dos tributos.

Dado essas relações, o CTN, no art. 11329, prevê que há obrigações

tributárias principais e os deveres instrumentais30. Obrigações tributárias principais

são as que surgem da incidência da norma jurídica relacionada à instituição do

27

CAMPILONGO, Paulo Antonio Fernandes. Os limites a revisão no auto de infração no contencioso

administrativo tributário. 2005. 270f. Dissertação (Mestrado em Direito), Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo, 2005, p. 76; e CARVALHO, 2012, p. 131.

28 Entendemos que o sistema jurídico é uno e indecomponível, mas didaticamente é necessário fazer

o corte para uma melhor análise do objeto (CARVALHO, 2011, p. 46).

29 “Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a

ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e

extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da

legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no

interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples

fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”.

30 O CTN no art. 113 emprega a terminologia de “obrigação acessória”. Entendemos inapropriada por

não expressar uma obrigação e não haver laços entre relações tributárias para ser denominada de

acessória. Assim, seguirmos a denominação de Paulo de Barros Carvalho (2011, p. 362 e ss.).

Page 28: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

27

tributo, e os deveres instrumentais se apresentam pelas normas que regulam a

forma de arrecadação e fiscalização dos tributos.

Nessa perspectiva, podemos delimitar que as normas jurídicas tributárias são

de duas espécies: as que preveem a forma de instituição do tributo, e as que

preveem a forma de arrecadação e fiscalização; classificando-as, respectivamente,

em norma jurídica em sentido estrito e em sentido amplo31.

Assim, as normas jurídicas tributárias, que devem se apresentar pela

estrutura lógica, são: a) as que têm como objeto a instituição do tributo e se

apresentam pela regra-matriz de incidência tributária, lançamento tributário ou auto

de infração; e b) as que tratam da forma de arrecadação ou fiscalização como, por

exemplo, da obrigatoriedade de emissão de DCTF, DIPJ, DIRF.

3. Norma jurídica completa

A norma jurídica completa é uma estrutura dual que inicialmente compreende:

a norma primária e a norma secundária. Foi desenvolvida por HANS KELSEN32, que

ao analisar a característica de coação do direito, determinou que havia duas normas

para completar o sistema, classificando-as segundo o critério sancionador.

Inicialmente HANS KELSEN33 entendia que a norma primária era a que

prescrevia a sanção a ser aplicada pelo Estado-Juiz, quando houvesse

descumprimento da norma secundária; e a norma secundária a que descrevia o

31

CARVALHO, 2011, p. 297.

32 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de José Cretella Junior e Agnes Cretella. 4. ed.

São Paulo: RT, 2006, p. 69/70.

33 KELSEN, Hans. Teoria geral das normas. Tradução José Florentino Duarte. Porto Alegre: Fabris,

1986, p. IX e 181.

Page 29: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

28

comportamento desejado pela ordem jurídica. Contudo, verificando a inconsistência

pelas críticas que recebeu, reviu os conceitos e determinou que: a) norma primária é

a que prescreve o comportamento desejado, e b) a norma secundária é a norma

aplicada pelo Estado-Juiz como coerção à desobediência à norma primária.

Nesse sentido, EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI34 descreve a norma

primária e a norma secundária:

A norma primária vincula deonticamente à ocorrência de dado fato a

uma prescrição (relação jurídica); a norma secundária conecta-se

sintaticamente à primeira, prescrevendo: se o fato de a não

ocorrência da prescrição da norma primária se verificar, então deve

ser uma relação jurídica que assegure o cumprimento daquela

primeira, ou seja, dada a não observância de uma prescrição jurídica,

deve ser a sanção.

Assim, a norma primária é a que descreve um evento de direito material de

possível ocorrência que tem o condão de desencadear uma relação jurídica; e a

norma secundária é a que prescreve a aplicação de uma sanção mediante coerção

do Estado-Juiz ao sujeito que não cumpriu com o previsto na norma primária. Dessa

forma, LOURIVAL VILANOVA35 classifica a norma primária de relação jurídica de

cunho material e norma secundária de índole formal (processual).

Seguindo essa sistemática, a norma jurídica completa: “expressa a

mensagem deôntica-jurídica na sua integralidade constitutiva, significando a

34

SANTI, op. cit., p. 36.

35 VILANOVA, Lourival. Estruturas Lógicas e o Sistema no Direito Positivo. 4. ed. São Paulo: Noeses,

2010, p. 74.

Page 30: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

29

orientação da conduta, juntamente com a providência coercitiva que o ordenamento

prevê para seu cumprimento”36 e apresenta estrutura lógica interproposicional com

representação simbólica:

Simbologia: D{[H→C] v [H’ (-c) →S]}: A norma primária estatui

direitos e deveres a dois ou mais sujeitos como consequência

jurídica ‘C’, em decorrência da verificação do acontecimento descrito

em sua hipótese ‘H’. A norma secundária estabelece a sanção ‘S’,

mediante o exercício da coação estatal, no caso de não observância

dos direitos e deveres instituídos pela norma primária ‘H’ (-c)37.

Contudo, EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI38 constatou que além da

sanção aplicada pelo Estado-Juiz prevista na norma secundária, há a sanção

administrativa aplicada pela Administração, e passa a classificar a norma primária

em dispositiva e sancionadora. A norma primária dispositiva é a que descrevem

relações jurídicas de direito material com a ocorrência de um fato lícito, e a norma

primária sancionadora é a que descreve a sanção a ser aplicada

administrativamente pelo descumprimento do prescrito na norma primária dispositiva

consubstanciada em um fato ilícito.

Assim, teríamos a norma primária dispositiva com o antecedente que

descreve um fato lícito que implica uma consequência; e a norma primária

sancionadora que descreve, no antecedente, o fato ilícito pelo descumprimento do

36

CARVALHO, 2012, p. 276.

37 CARVALHO, 2010, p. 309.

38 SANTI, op. cit., p. 38.

Page 31: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

30

dever da norma primária dispositiva e, no consequente, a aplicação da sanção,

como, por exemplo, uma multa. É simbolizada: D {[p → q] v [- q → S]}.

Desse modo, a norma primária sancionadora precisa, para existir, da norma

primária dispositiva, por se tratar da aplicação de uma sanção por seu

descumprimento.

Mas não é necessário para a validade do sistema que exista a norma primária

sancionadora, podendo haver a regulação do sistema pela norma primária

dispositiva e a norma secundária39.

Portanto, a norma jurídica completa, após os estudos desses autores,

compreende: a) a norma primária que é norma de direito material e prescreve o

comportamento desejado pela ordem jurídica. Classifica-se em: a.1) norma primária

dispositiva, que no antecedente descreve um fato lícito, e a.2) norma primária

sancionadora, que no antecedente descreve um comportamento ilícito pelo

descumprimento da norma primária dispositiva; e b) que, se descumpridas, quando

existentes ambas, será aplicada a norma secundária, de natureza processual, pelo

Estado-Juiz.

Aplicando esses conceitos ao Direito Tributário, teremos:

a) Norma primária dispositiva: dada a ocorrência no tempo e no espaço do

evento tributário previsto no antecedente da RMIT (antecedente), dever-ser a

instauração da relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco (consequente)

com a lavratura do lançamento de ofício;

b) Norma primária sancionadora: dado que o contribuinte, devidamente

notificado, não pagou o tributo e nem apresentou impugnação (antecedente), dever-

39

QUEIROZ, Luís César Souza de. Sujeição passiva tributária. Rio de Janeiro, Forense, 2002,

p. 37-39.

Page 32: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

31

ser a constituição da relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco para

efetuar o lançamento de ofício e a aplicar a penalidade (consequente) mediante a

lavratura de auto de infração; e

c) Norma secundária: dado que o contribuinte notificado da lavratura do auto

de infração não recolheu aos cofres públicos a pecúnia e nem impugnou o auto de

infração (antecedente), dever-ser que o Fisco inscreva em Dívida Ativa o crédito

tributário e ingresse com a Execução Fiscal, para que, formando a relação triádica

entre contribuinte, Fisco e o Estado-Juiz, seja expropriado o patrimônio do

contribuinte até a satisfação do débito (consequente).

4. Norma: abstrata e concreta, geral e individual

Trabalhamos com o conceito de norma jurídica como unidade mínima e

irredutível de manifestação do deôntico, em que um antecedente implica um

consequente.

As classes de normas em abstrata e concreta, e geral e individual se referem

aos elementos dessa estrutural lógica: antecedente e consequente.

O antecedente descreve o evento de possível ocorrência ou seu relato em

linguagem competente para constituir o fato jurídico. A descrição de um evento de

possível ocorrência no mundo fenomênico, que quando vertido em linguagem

competente, constitui o fato jurídico, é a representação da norma em sua abstração;

que ganha concretude quando é relatado em linguagem competente e constituído o

fato jurídico. Daí a abstração e a concretude estão no antecedente40 e referem-se

aos elementos fáticos.

40

CARVALHO, 2012, p. 57-58.

Page 33: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

32

PAULO ANTONIO FERNANDES CAMPILONGO41 descreve que a abstração

é a descrição de um fato hipotético que não ocorreu e se apresenta com o verbo no

impessoal e de predicação incompleta, tendo como elemento obrigatório o

complemento da indicação de espaço e tempo; e a concretude é a ocorrência do

evento vertido em linguagem competente que constitui o fato jurídico, completado na

indicação do espaço e do tempo, e do verbo no pretérito.

Assim, podemos definir abstração e concretude como: a) abstração é um

conjunto de critérios para se identificar um evento de possível ocorrência no tempo e

no espaço e está projetada para o futuro; e b) concretude é o relato em linguagem

competente do evento ocorrido no tempo e no espaço que constitui o fato jurídico e

está projetado para o passado.

O consequente instaura a relação jurídica entre dois ou mais sujeitos em

relação a uma prestação. Assim, há que prever os sujeitos que compõem a relação

e estão na classe normativa do geral e do individual42. A classe do geral é a que não

determina os sujeitos, ou seja, os sujeitos da relação são indeterminados, e da

individual há a definição dos sujeitos na sua individualização ou identificação no

grupo de pessoas.

Logo, podemos definir geral e individual como: a) geral é a previsão de uma

classe indefinida de sujeitos; e b) individual é a delimitação de uma classe

determinada de sujeitos: ativo e passivo.

Fazendo a relação entre as classes e a estrutura lógica da norma jurídica (A

→ C), teremos: normas abstratas e gerais, normas concretas e gerais, normas

41

CAMPILONGO, op. cit., p. 19.

42 CARVALHO, 2012, p. 57.

Page 34: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

33

abstratas e individuais, e normas concretas e individuais; que se aplicam ao Direito

Tributário:

a) Normas abstratas e gerais são as que têm no antecedente a descrição de

um evento de possível ocorrência no tempo e no espaço; e no consequente a

previsão da instauração de uma relação jurídica entre sujeitos indeterminados. Trata

da RMIT que institui o tributo;

b) Normas concretas e gerais são as que no antecedente relatam em

linguagem competente o evento ocorrido no tempo e no espaço para constituir o fato

jurídico tributário; e no consequente há a previsão da instauração de uma relação

jurídica entre sujeitos indeterminados. Trata-se do auto de infração como norma

introdutora43;

c) Normas abstratas e individuais são as que têm no antecedente descrevem

um fato de possível ocorrência a ser delimitado no tempo e no espaço; e no

consequente a previsão da instauração da relação jurídica com a individualização

dos sujeitos da relação. Trata-se da consulta tributária; e

d) Normas concretas e individuais são as que constituem no antecedente o

fato jurídico tributário; e no consequente instaura a relação jurídica entre sujeitos

determinados. Trata-se do lançamento tributário.

5. Processo de positivação do direito

As normas jurídicas têm como objetivo regular as condutas intersubjetivas

para o fim de produzirem os efeitos prescritos pelo legislador. Só é possível atingir a

43

Há autores que atribuem ao auto de infração essa classe de norma. Discordamos desse

entendimento, conforme veremos no capítulo III, item 1.

Page 35: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

34

conduta regulada pelo direito com a máxima concretude e individualização da

norma. Assim, passam da abstração à concretude para o fim de atingirem as

condutas intersubjetivas reguladas pelo direito, que, segundo nossas premissas: é a

linguagem do direito positivo projetando-se sobre o campo material das condutas

intersubjetivas para organizá-las deonticamente. A esse processo denominamos de

positivação do direito, que compreende o caminho percorrido da abstração da norma

para chegar a sua concretude.

O processo de positivação do direito se dá em duas etapas: a) com a

ocorrência do evento, pela incidência normativa; e b) com a introdução da norma

jurídica no ordenamento jurídico, no ato de aplicação. Assim, esse processo

compreende o ato de incidência e o de aplicação da norma jurídica44.

Há duas teorias que explicam o processo de positivação do direito: a teoria

tradicional e a teoria do Constructivismo Lógico-Semântico.

A teoria tradicional45 entende que a incidência é automática e infalível, e se

diferencia do ato de aplicação. Entendem que ocorrido o evento no mundo

fenomênico, que tem suporte no antecedente da norma jurídica, esta “cai” sobre ele,

sem necessidade de um relato em linguagem competente ou uma ação humana,

para juridicizá-lo, tornando-o fato jurídico, e fazendo nascerem sozinhos os efeitos

44

GUERRA, Renata Rocha. Auto de Infração Tributário: produção e estrutura. 2004. Dissertação

(Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, São Paulo, 2004,

p. 28.

45 É defendida por Miguel Reale (CARVALHO, 2010, p. 408); Alfredo Augusto Becker (Teoria geral do

direito tributário. 5. ed. São Paulo: Noeses, 2010, p. 324); e Pontes de Miranda (Tratado de direito

privado. Tomo I – Introdução: pessoas físicas e jurídicas. Atualização Judith Martins-Costa. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 70).

Page 36: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

35

jurídicos. Esse processo ocorre no plano dos pensamentos46, de forma que a norma

incide “sozinha e por conta própria” sobre os acontecimentos sociais para juridicizá-

los. Após a juridicização dos fatos, a norma poderá ser aplicada pelo homem,

momento em que pode haver falha se for descumprida. Dessa forma, os atos de

incidência e de aplicação se constituem em momentos distintos.

A teoria do Constructivismo Lógico-Semântico só conhece o que é

representado pela linguagem. Entende que os atos de incidência e de aplicação

ocorrem com o relato em linguagem competente do evento que constituí o fato

jurídico e instaura a relação jurídica. Com esse relato nascem os efeitos jurídicos

previstos em lei. Assim, ambos são atos que se formam conjuntamente

representados pelo último ato: de aplicação. Os efeitos da norma só serão

verificáveis quando ingressarem no sistema do direito positivo por seu relato em

linguagem competente. A linguagem competente é das provas.

TÁCIO LACERDA GAMA47 faz críticas sobre a concepção automática e

infalível da incidência, nos termos seguintes:

Uma vez aceita a premissa de que o direito é um conjunto de

normas, que se manifestam em linguagem, não dá para conceber

que acontecimentos sociais, destituídos de uma linguagem

competente, promovam qualquer tipo de alteração a esse conjunto.

46

ARAÚJO, 2011, p. 97; MIRANDA, 2012, t. I, p. 69.

47 GAMA, Tácio Lacerda. Obrigação e crédito tributário: Anotações à margem da teoria de Paulo de

Barros Carvalho. [S.I.]: FISCOSoft, 2003. Disponível em:

<http://www.fiscosoft.com.br/a/2fct/obrigacao-e-credito-tributarioanotacoes-a-margem-da-teoria-de-

paulo-de-barros-carvalho-tacio-lacerda-gama acessado em 24/10/2012>. Acesso em: 24 out. 2012, p.

3 e 4.

Page 37: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

36

[...] O ponto a ser destacado aqui é a necessidade de que um sujeito

indicado pelo sistema do direito positivo relate o acontecimento numa

forma juridicamente prevista (linguagem competente). Sem isso, os

acontecimentos sociais não passarão a integrar o sistema de direito

posto, criando obrigações passíveis de serem exigidas

coercitivamente. [...] Para que aconteça a incidência da norma, é

necessária a realização simultânea de duas operações lógicas:

subsunção e imputação. Na primeira, observa-se a pertinência do

fato à norma de superior hierarquia; na segunda, prescreve-se o

efeito que será, necessariamente, uma relação jurídica.

Assim, pela metodologia que adotamos neste trabalho, nos filiamos à

segunda teoria e, nos baseando nela, passamos a discorrer com mais detalhes os

atos de incidência e de aplicação.

A incidência é operação lógica de subsunção e de implicação. A subsunção é

operação em que se constata que um evento ocorrido no mundo fenomênico se

enquadra na classe dos critérios descritos no antecedente da norma. A implicação é

a determinação normativa em que constituído o fato jurídico (com o relato em

linguagem competente do evento subsumido) instaura-se a relação jurídica entre as

partes. Essas operações lógicas se materializam no ato de aplicação realizado pelo

ser humano, que constata a ocorrência do evento que se subsume aos critérios da

norma jurídica e o verte em linguagem competente por meio de provas para

constituir o fato jurídico (antecedente) e instaurar a relação jurídica (consequente).

Nesse sentido, RENATA GUERRA48 explica: “Aplicar o direito nada mais é que criar

48

GUERRA, op. cit., p. 28.

Page 38: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

37

o direito, criar normas jurídicas nas suas variadas combinações entre antecedente e

consequente”.

No mais, o ato de aplicação pode ser concretizado pelo Legislativo, ao editar

as leis; pelo Judiciário, ao proferir sentenças ou acórdãos; pela Administração

Pública, na edição do ato administrativo; e pelo particular, ao firmar contratos ou

efetuarem o “autolançamento”.

Por esse enfoque, conclui-se que o processo de positivação do direito

compreende a forma que se criam as normas jurídicas no nosso ordenamento

jurídico, a realizar-se por meio do ato de incidência e de aplicação.

Page 39: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

38

CAPÍTULO II – EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA NORMA JURÍDICA

1. Existência e validade das normas jurídicas

A concepção de validade se relaciona com o conceito de direito49. Nesse

sentido, é termo plurívoco que pode assumir:

[...] a especial forma de existência de uma norma; atributo da norma

compatível com aquela que programou a sua criação; aptidão para

vir a ser aplicada por um tribunal; circunstância de, efetivamente,

disciplinar comportamentos; compatibilidade da norma do direito

positivo com padrões religiosos, racionais ou humanos, em acepção

ampla50.

Para fins do nosso estudo, se destacam as teorias que entendem validade

como atributo ou qualidade da norma jurídica, que se relacionam com a questão de

sua existência51, pois a teoria da validade como atributo da norma a concebe como

49

“Sem validade não há norma, sem norma não há direito, logo sem validade não há que se falar em

sistema do direito positivo” (MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário. 2. ed. São

Paulo, Editora Noeses, 2006, p. 167).

50 GAMA, Tácio Lacerda. Teoria dialógica da validade: existência, regularidade e efetividade das

normas tributárias. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (Coord.). Direito tributário – Homenagem a Paulo de

Barros Carvalho. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 130.

51 BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. Tradução Fernando Pavan Baptista e Ariani Bueno

Sudatti. 4. ed. São Paulo: EDIPRO, 2008, p. 46.

Page 40: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

39

sinônimo de norma jurídica existente, e a teoria da validade como qualidade da

norma como ato de aferição posterior à existência da norma, na sua aplicação.

Essas teorias são pertinentes por se contraporem às teorias de invalidade que

estudaremos e trabalham com as classes: do ato inexistente, do ato nulo e do ato

anulável, além das meras irregularidades.

Assim, se entendemos que o vício na norma acarreta a sua invalidade, que é

a antítese da validade, se faz necessário delimitar os campos de existência e/ou

validade da norma jurídica, que no estudo dessas teorias já serão demarcadas.

Para tanto, discorreremos sobre as acepções de validade e existência nas

teorias: de Pontes de Miranda, de Norberto Bobbio e de Paulo de Barros Carvalho,

para em seguida fixarmos nossa posição.

1.1. Teoria de Pontes de Miranda

Para PONTES DE MIRANDA52, validade é qualidade da norma jurídica.

O autor entende que o ordenamento jurídico é formado por três planos: da

existência, da validade e da eficácia do ato jurídico.

O plano da existência se sobrepõe ao plano da validade, em que o ato jurídico

precisa ingressar no ordenamento para, posteriormente, aferir se é válido ou inválido

no ato de aplicação da norma.

52

MIRANDA, Pontes. Tratado de direito privado. Tomo IV – Validade. Nulidade. Anulabilidade.

Atualização Marcos Bernardes de Mello e Marcos Ehrhardt Junior. 1. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2012, p. 61-62. Também é o entendimento de Clarice von Oertzen de Araújo (Incidência

Jurídica – Teoria e Crítica. São Paulo: Noeses, 2011, p. 64).

Page 41: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

40

Assim, se houver um defeito na essência do ato jurídico que torne impossível

o seu ingressar no mundo jurídico, o ato é inexistente, e não há que se falar em

validade ou invalidade, muito menos em “ato jurídico”:

1. EXISTIR E VALER – Para que algo valha é preciso que exista.

Não tem sentido falar-se de validade ou de invalidade a respeito do

que não existe. A questão da existência é questão prévia. Somente

depois de se aferir que existe é possível pensar em validade ou em

invalidade. Nem tudo que existe é suscetível de a seu respeito

discutir-se se vale, ou se não vale. Não se há de afirmar nem de

negar que o nascimento, ou a morte, ou a avulsão, ou o pagamento

valha. Não tem sentido. Tão-pouco, a respeito do que não existe: se

não houver ato jurídico, nada há que possa ser válido ou inválido. Os

conceitos de validade ou de invalidade só se referem a atos jurídicos,

isto é, a atos humanos que entraram (plano da existência) no mundo

jurídico e se tornaram, assim, atos jurídicos53.

Logo, é pressuposto da validade que o ato jurídico exista, ou seja, que tenha

ingressado no ordenamento jurídico, constituindo o fato jurídico suficiente mediante

a incidência da norma no suporte fático.

Ao existir o ato jurídico que se verifica sua validade ou invalidade por meio da

análise da presença dos pressupostos regulados no ordenamento jurídico no ato de

aplicação da norma54, em que:

53

MIRANDA, 2012, t. IV, p. 61-62.

54 MIRANDA, 2012, t. IV, p. 62.

Page 42: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

41

A conduta contrária à regra jurídica talvez seja desconhecedora

dessa. Não importa se a pessoa conhece ou não conhece a regra

jurídica: ela, por ser jurídica, incide, com ou sem esse conhecimento.

Se a regra mesmo violou princípio de publicidade, é outra questão e

somente diz respeito à sua validade55.

Nesse contexto para o autor há: a) ato inexistente, que não ingressou no

ordenamento por não preencher o suporte fáctico para a incidência da norma; b) ato

jurídico, que é o ato que ingressou no ordenamento mediante o preenchimento dos

elementos do suporte fáctico, incidindo a norma para constituir o fato jurídico em

que: b.1) é ato válido por os pressupostos essenciais de formação do ato terem

sidos preenchidos e a norma ter sido aplicada; e b.2) é ato inválido, em que há

ausência de algum(s) do(s) pressuposto(s) essencial(is) de formação do ato, e, por

isso, a norma não é aplicada.

1.2. Teoria de Norberto Bobbio

NORBERTO BOBBIO56 entende que a validade é sinônimo de existência da

norma jurídica, ou seja, é um atributo da norma57. Assim, afirmar que a norma

jurídica válida é verificada se é uma norma jurídica ou não, em que:

55

MIRANDA, 2012, t. I, p. 70.

56 BOBBIO, 2008, p. 46-45.

57 QUEIROZ, op. cit., p. 123; e FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito:

técnica, decisão, dominação. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 171.

Page 43: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

42

O problema da validade é o problema da existência da regra

enquanto tal [...] o problema da validade se resolve com um juízo de

fato, isto é, trata-se de constatar se uma regra jurídica existe ou não,

ou melhor, se tal regra assim determinada é uma regra jurídica.

Validade jurídica de uma norma equivale à existência dessa norma

como regra jurídica.

Com o ingresso da norma jurídica no ordenamento é norma jurídica válida,

pois para a norma ser jurídica tem que ter validade.

Dessa forma, o autor atribui três operações para verificar a validade da norma

jurídica:

Em particular, para decidir se uma norma é válida (isto é, como regra

jurídica pertencente a um determinado sistema), é necessário com

frequência realizar três operações: a) averiguar se a autoridade de

quem ela emanou tinha o poder legítimo para emanar normas

jurídicas, isto é, normas vinculantes naquele determinado

ordenamento jurídico (esta investigação conduz inevitavelmente a

remontar até a norma fundamental, que é o fundamento de validade

de todas as normas de um determinado sistema); 2) averiguar se não

foi ab-rogada, já que uma norma pode ter sido válida, no sentido de

que foi emanada de um poder autorizado para isto, mas não quer

dizer que ainda seja, o que acontece quando uma outra norma

sucessiva no tempo a tenha expressamente ab-rogado ou tenha

regulado a mesma matéria; 3) averiguar se não é incompatível com

outras normas do sistema (o que também se chama ab-rogação

Page 44: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

43

implícita), particularmente com uma norma hierarquicamente

superior58.

LUIS CESAR SOUZA DE QUEIROZ59, possuindo o mesmo entendimento do

autor, ainda complementa: “[...] é lógica e juridicamente impossível uma norma ser

jurídica e não ser válida”.

Assim, toda norma que é jurídica é válida, ou seja: ou a norma é válida e

existe no sistema; ou não é válida e não existe no sistema jurídico; do qual, ser

norma jurídica é existir no ordenamento jurídico e, consequentemente, ser válida.

Tem essa posição HANS KELSEN60 defendendo, ainda, que para a garantia

da unidade da ordem jurídica é necessário que exista uma norma fundamental61 de

superior hierarquia que prescreve como as normas jurídicas inferiores devem ser

criadas. No sistema brasileiro, a norma fundamental é a CF, que dá fundamento de

validade às normas inferiores.

Dessa forma, para essa teoria a validade é concebida: a) a norma ingressou

no ordenamento jurídico, é norma jurídica, é existente e é válida, por ter sido

expedida pelo agente competente mediante o procedimento específico; e b) a norma

não ingressou no ordenamento jurídico por desrespeito a um dos pressupostos de

sua constituição, não é norma jurídica, não é existente e é inválida.

58

BOBBIO, 2008, p. 47.

59 QUEIROZ, op. cit., p. 37-123.

60 KELSEN, 1986, p. 3-4.

61 Id., 2006, p. 221.

Page 45: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

44

1.3. Teoria de Paulo de Barros Carvalho

A Teoria de PAULO DE BARROS CARVALHO62 tem estreita relação com a

Teoria de Norberto Bobbio, por conceber validade como norma jurídica existente.

Para o autor, validade é relação de pertencialidade da norma com o sistema,

em que norma válida é a norma jurídica existente por ter ingressado mediante o

procedimento estabelecido no sistema:

[...] E ser norma válida quer significar que mantém relação de

pertencialidade com o sistema “S”, ou que nele foi posta por órgão

legitimado a produzi-la, mediante procedimento estabelecido para

esse fim [...] relação é o vínculo que se estabelece entre a

proposição normativa e o sistema do direito posto, de tal sorte que ao

dizermos que u’a norma “N” é válida, estaremos expressando que ela

pertence ao sistema “S”.

Os critérios de pertencialidade são: autoridade competente e procedimento

próprio63. A autoridade competente consiste na pessoa autorizada pela ordem

jurídica a editar a norma jurídica. O procedimento próprio representa a forma a ser

observada na produção da norma jurídica. Assim, o desrespeito a qualquer dos

critérios torna a norma jurídica passível de ser decretada inválida.

62

CARVALHO, 2011, p. 113. Também é o entendimento de Gregorio Robles (O direito como texto:

quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Tradução Roberto Barbosa Alves. São Paulo:

Manole, 2005, p. 107); e Lourival Vilanova (2010, p. 51).

63 CARVALHO, 2010, p. 708.

Page 46: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

45

A relação da pertinencialidade da norma com o sistema é inerente à norma

jurídica válida. Nessa perspectiva, pode ser questionada e confirmada após o seu

ingresso no ordenamento. Isso posto, a norma jurídica que ingressa no sistema

presume-se válida por ter sido expedida pelo agente competente mediante o

procedimento próprio. Somente com o ingresso de outra norma que reconheça o

desrespeito aos critérios de pertinencialidade e expulse a norma inválida do sistema

que ela perde seu atributo e deixa de pertencer ao sistema.

Nisso, para a garantia do ordenamento, ao existir a norma há a presunção de

validade64, segundo a qual foram observadas as formalidades essenciais no ato de

produção.

Assim, a norma jurídica nasce com presunção de validade, com força para

incidir e ser aplicada, havendo a possibilidade de ser contestada a compatibilidade

ou não da norma com as prescrições jurídicas para a sua criação, decretando-a,

quando houver o seu desrespeito, inválida, e a retirando do sistema65. Somente com

64

Aurora Tomazini de Carvalho descreve a presunção de validade: “Há, na realidade, uma

‘presunção’ posta pelo direito, de que todo o processo enunciativo introdutor de normas se deu nos

moldes das normas que o regulam, até que se constitua o contrário. [...] Se durante o processo

enunciativo não foi alegado qualquer vício, ao seu término, com a produção da norma veículo

introdutor, presume-se que tudo ocorreu nos moldes prescritos pelas normas de produção em vigor,

porque assim diz a linguagem constituída. Presume-se que a autoridade enunciativa é competente e

que o procedimento realizado para enunciação é o próprio, e que a materialidade do documento tem

respaldo em norma de hierarquia superior, porque sem essa presunção torna-se impossível trabalhar

com a linguagem jurídica. [...] A ‘presunção’ é de que a enunciação (constituída juridicamente pela

enunciação-enunciada) e o produto por ela criada encontram-se em conformidade com as normas

que regulam sua criação, está ligada à adequação (formal/material), não à validade da linguagem

jurídica.” (2010, p. 712-713).

65 CARVALHO, 2011, p. 114.

Page 47: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

46

este último ato é que a norma perde a sua validade por não ser compatível com os

critérios de pertencialidade.

Logo, para esta corrente: a) norma jurídica válida é norma jurídica existente

que ingressa no ordenamento jurídico com presunção de validade que perdurará até

que a autoridade competente verifique a adequação da norma com o sistema e a

decrete inválida e retire do ordenamento, no caso de desrespeito aos preceitos

legais; e b) norma que é inválida, não é jurídica, mas que pode ter sido “válida” e

apta a incidir e ser aplicada durante o lapso de tempo da sua existência.

1.4. Nossa posição

Antes de expormos nossa posição, TÁCIO LACERDA GAMA66 destaca o

entendimento de que não há contrariedade ou contradição entre as teorias

estudadas, do qual a análise de validade reflete o ponto de vista do observador

(validade é qualidade da norma) e o ponto de vista do participante (validade é

atributo da norma). Trata de uma opção de escolha entre uma ou outra teoria.

Entendemos que validade é relação de pertinencialidade da norma com o

sistema. Seguimos a teoria de PAULO DE BARROS CARVALHO. Essa teoria

consegue explicar a produção de efeitos de normas jurídicas inválidas, bem como se

adequa à metodologia do Constructivismo Lógico-Semântico.

Assim, não aceitamos a teoria de PONTES DE MIRANDA, que se contrapõe

ao nosso entendimento. Para o autor, a norma jurídica deve existir para

posteriormente verificarmos se é válida ou inválida. Esse entendimento, não se

66

GAMA, Tácio Lacerda. Competência Tributária – Fundamentos para uma Teoria da Nulidade. 2. ed.

São Paulo, Editora Noeses, 2011, p. 328.

Page 48: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

47

consegue explicar a existência de normas jurídicas inválidas no sistema que são

aplicadas e produzem efeitos.

Já a teoria de NORBERTO BOBBIO tem uma relação com a que adotamos,

mas se distingue. Ambas concebem a validade como norma existente, mas segundo

entendemos, a norma jurídica válida é a que ingressa no sistema, é existente, e se

presume válida, até que outra norma reconheça sua invalidade e a retire do sistema.

Com isso, pode subsistir norma inválida no sistema e produzir efeitos. Mas a teoria

de NORBERTO BOBBIO entende que norma para ser jurídica, válida e existente,

deve ser expedida pelo agente competente e mediante o procedimento, em que o

desrespeito a qualquer dos elementos essenciais torna a norma inexistente, não

jurídica e inválida. Com isso, não existe no sistema norma jurídica inválida para ser

aplicada.

Portanto, confirmamos nossa posição de que a norma jurídica que ingressa

no sistema é válida, podendo incidir e ser aplicada para constituir o fato jurídico e

instaurar a relação jurídica, só perdendo a validade com o reconhecimento pela

autoridade competente do desrespeito aos critérios de pertinencialidade e sua

expulsão. Esse processo é confirmado pela existência de normas jurídicas inválidas

que produzem efeitos no sistema.

Mas a delimitação da validade não se resume a fazer a opção por uma das

teorias. Destaca-se pela análise das teorias estudadas de quão importante é a

delimitação do campo da existência da norma jurídica. Trata-se do ponto matriz para

circunscrever o que ingressa no ordenamento jurídico e é válido, segundo nossa

posição.

Page 49: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

48

Nisso, retomamos alguns conceitos iniciais de que norma jurídica é a que se

apresenta por um antecedente, com a descrição de um elemento fático, que implica

um consequente, que prescreve a instauração da relação jurídica e os efeitos.

No processo legislativo o legislador escolhe dentre os diversos eventos do

mundo fenomênico o fato que irá compor o antecedente da norma e terá o condão

de instaurar a relação jurídica e produzir os efeitos. Constitui-se e ingressa no

ordenamento jurídico com a sua promulgação. A publicação é ato de comunicação

aos destinatários do início da vigência da norma para o fim de torná-la apta a incidir

e ser aplicada.

No auto de infração não é diferente. A sua existência é determinada no

momento em que é lavrado, ou seja, em que se relata no antecedente da norma o

fato jurídico ilícito e no consequente se instaura a relação entre o Fisco e o

contribuinte. A intimação do sujeito passivo é ato de ciência, comunicação, da

emissão do documento em favor do contribuinte, para que exerça os seus direitos.

Esse ato não serve para declarar a norma existente, válida, mas somente para

comunicar ao contribuinte da existência do auto de infração.

Assim, a norma jurídica válida é a existente, que ingressa no ordenamento e

pode incidir e ser aplicada, mesmo com o desrespeito a qualquer formalidade

(critérios de pertinencialidade). No processo legislativo, com o ato de promulgação, a

norma torna-se norma jurídica válida, e a publicação no Diário Oficial é ato de

comunicação aos destinatários para cumprirem com suas prescrições, sob pena de

sofrerem as sanções administrativas ou judiciais. No auto de infração, com sua

lavratura, há norma jurídica válida por presunção, que com a notificação do

contribuinte e sem apresentação de impugnação para alegar sua invalidade, produz

Page 50: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

49

seus efeitos e pode ser inscrito o crédito tributário em Dívida Ativa para que o Fisco

ingresse com a execução fiscal e exproprie o patrimônio do devedor.

Nesse contexto, lavrado o auto de infração há norma jurídica válida

(existente) por presunção. A impugnação do sujeito passivo confirma ou infirma a

pertinencialidade da norma com o sistema, onde se constata se foram observados

os requisitos legais para a sua lavratura.

2. Eficácia das normas jurídicas

O termo eficácia tem várias acepções: “(i) possibilidade de produzir efeitos; (ii)

a produção dos efeitos propriamente dita; (iii) incidência; (iv) observância por parte

dos destinatários (conformidade às normas)”67. Pela multiplicidade de acepções,

PAULO DE BARROS CARVALHO68 propõe seu estudo em três ângulos: da eficácia

técnica, da eficácia social e da eficácia jurídica.

A eficácia técnica consiste na descrição do antecedente da norma jurídica de

um evento que tenha a possibilidade de ocorrer no mundo fenomênico e produzir os

efeitos jurídicos previstos no consequente. Em contraposição, será ineficaz

tecnicamente a norma que “[...] não puder juridicizar o evento, inibindo-se o

desencadeamento de seus efeitos, tudo (a) pela falta de outras regras de igual ou

inferior hierarquia, consoante sua escala hierárquica, ou, (b) pelo contrário, na

hipótese de existir no ordenamento outra norma inibidora de sua incidência”. Dessa

forma, a eficácia técnica consiste na possibilidade de incidir e ser aplicada a norma

67

MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em matéria tributária. São Paulo: Noeses, 2011, p.

159.

68 CARVALHO, 2011, p. 115.

Page 51: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

50

jurídica em razão de o ordenamento prever todas as formas necessárias para a

constituição do fato jurídico e a produção de seus efeitos.

Eficácia social é o comportamento da sociedade perante a norma jurídica

imposta, em que se os destinatários cumprem a conduta prescrita há eficácia social,

e se não houver cumprimento haverá ineficácia social. NORBERTO BOBBIO

conceitua eficácia segundo esse parâmetro, em que é o “problema de ser ou não

seguida pelas pessoas a quem é dirigida”69.

A eficácia jurídica é a produção dos efeitos previstos no consequente da

norma, que nasce do processo de incidência ao constituir o fato jurídico e instaurar a

relação jurídica entre os sujeitos. Trata-se da chamada causalidade jurídica. Desse

modo, a eficácia jurídica é atributo do fato, uma vez que: “[...] é a propriedade de que

está investido o fato jurídico de provocar a irradiação dos efeitos que lhe são

próprios”70.

Nesse sentido, cabe à consideração de CLARICE VON OERTZEN DE

ARAÚJO71 quanto à confusão que pode existir entre o processo de incidência e a

eficácia jurídica:

[...] a eficácia da lei jurídica é a de incidir, criando os fatos jurídicos. A

eficácia jurídica é aquela decorrente da incidência, mas que não é a

incidência em si mesma considerada. Com esta ressalva o jurista

69

BOBBIO, 2008, passim.

70 CARVALHO, 2011, p. 115. Também é o entendimento de Pontes de Miranda (Tratado de direito

privado. Tomo V – Eficácia. Direitos mutilados. Exercício dos direitos, pretensões, ações e exceções.

Prescrição. Atualização Marcos Bernardes de Mello e Marcos Ehrhardt Junior. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2012, p. 59); e Tárek Moysés Moussallem (2011, p. 162).

71 ARAÚJO, 2011, p. 101.

Page 52: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

51

estabelece uma diferença entre eficácia da lei, que é a incidência, o

processo de jurisdicização dos fatos, e a eficácia jurídica. Esta

segunda irradia dos fatos jurídicos, em decorrência da causalidade

normativa. Assim, uma eficácia (a jurídica) é interna ao mundo

jurídico, enquanto a outra (a incidência ou eficácia legal) concorre

para a formação desse mundo.

Logo, a eficácia técnica e a jurídica são conceitos importantes para a

dogmática jurídica, já a eficácia social é relevante para a Sociologia do Direito.

Entendemos, para fins deste trabalho, que eficácia é a aptidão do fato jurídico

de produzir os efeitos previstos no consequente da norma72, utilizando a acepção de

eficácia jurídica.

Na lavratura do auto de infração, a eficácia é constituída no crédito tributário,

a partir do momento em que o Fisco tem o direito subjetivo de receber a importância

em pecúnia e o contribuinte o dever jurídico de recolher aos cofres públicos os

valores cobrados. Assim, havendo defeitos na formação do auto de infração pela

inobservância dos requisitos para a sua lavratura, até a desconstituição dessa

relação jurídica, há a produção desses efeitos no ordenamento jurídico, sujeitando o

contribuinte a sofrer uma execução fiscal após a inscrição em Dívida Ativa do crédito

tributário e ter seu patrimônio expropriado.

Nesse contexto, a decretação de invalidade do auto de infração visa cessar a

produção desses efeitos, além de determinar, segundo o tipo de vício e espécie de

invalidade, a possibilidade ou não de o Fisco constituir novamente o crédito tributário

por meio da lavratura de um novo lançamento de ofício ou auto de infração.

72

CARVALHO, 2011, p. 115.

Page 53: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

52

Assim, decretada a invalidade do auto de infração poderá haver: a) a extinção

da obrigação tributária; ou b) a possibilidade do Fisco em 5 (cinco) anos lavrar novo

auto de infração regularizando o vício para torná-lo válido e apto à produção dos

efeitos.

Esses são os principais efeitos visados pelo reconhecimento da invalidade do

auto de infração, que retomaremos no capítulo IV.

Page 54: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

53

CAPÍTULO III – AUTO DE INFRAÇÃO

1. Auto de infração

Auto de infração é palavra polissêmica73. Das possíveis acepções surgem

quatro correntes doutrinárias para conceituar auto de infração: veículo introdutor de

normas jurídicas74; a norma concreta e individual que documenta uma infração75; o

suporte físico que insere outras normas individuais e concretas76; ou o lançamento

de ofício77.

Antes de discorremos sobre as correntes doutrinárias, destacamos que o auto

de infração pode constituir: a) o crédito tributário no lançamento de ofício e aplicar a

penalidade cabível, denominado de auto de infração lato sensu e subsiste com duas

normas jurídicas: a norma primária dispositiva e a norma primária sancionadora; ou

b) somente aplicar a penalidade cabível, denominado de auto de infração stricto

sensu e subsiste com a norma primária sancionadora78.

73

TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário. 3. ed. São Paulo, Editora Noeses,

2011/2012, p. 321.

74 CAMPILONGO, op. cit., p. 114; e GUERRA, op. cit., p. 41.

75 BORGES, José Souto Maior. Lançamento tributário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 155-156;

e CARVALHO, 2011, p. 324.

76 GONÇALVES, José Artur Lima. Imposto sobre a renda: pressupostos constitucionais. São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 101; SANTI, 2010, p. 170; e TOMÉ, 2011/2012, p. 321.

77 MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. 10. ed. São Paulo: Dialética, 2012,

p. 341.

78 CARVALHO, 2012, p. 326.

Page 55: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

54

A aplicação de uma penalidade pressupõe a prática de um ato ilícito

constituído pelo descumprimento de uma norma tributária. Assim, como no auto de

infração lato sensu e no auto de infração stricto sensu podem ser aplicadas

penalidades, denota-se que é pressuposto para a sua lavratura a prática pelo

contribuinte de um ato ilícito no descumprimento de uma norma tributária, que tem

como consequência a aplicação de uma sanção79.

Passamos a discorrer sobre as posições doutrinárias.

A primeira corrente, que entende que auto de infração é veículo introdutor de

norma concreta e individual, parte da concepção de que as normas jurídicas são

inseridas no ordenamento jurídico em pares: norma introdutora e norma introduzida.

A norma introdutora é o veículo introdutor da norma introduzida, em que a primeira é

o auto de infração como norma concreta e geral e, a segunda, o lançamento

tributário e a imposição de penalidade, como normas concretas e individuais. O auto

de infração como norma concreta e geral é composto de um antecedente que

constitui o fato jurídico tributário ilícito e no consequente há a previsão da

instauração da relação jurídica tributária com os sujeitos indeterminados, mas

especificadamente, com o sujeito passivo, pois o sujeito ativo, geralmente, já está

determinado na pessoa do ente competente tributante.

A segunda corrente entende que o auto de infração é a norma concreta e

individual que no antecedente constitui o fato jurídico tributário ilícito e no

consequente instaura a relação jurídica tributária entre o contribuinte como sujeito

passivo e o ente tributante como sujeito ativo, aplicando a sanção cabível.

79

Nosso entendimento concorda com Marcos Vinicius Neder e Maria Teresa Martinez López (2004,

p. 145).

Page 56: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

55

A terceira corrente entende que o auto de infração é o suporte físico que: “[...]

veicula os enunciados das várias normas que se instalam na concretude deste

substrato único”, do qual pode conter quatro atos administrativos distintos: “[...] (i)

fato jurídico tributário, (ii) fato jurídico do não pagamento, (iii) fato jurídico da mora e

(iv) fato jurídico sancionador instrumental”80.

Por fim, a quarta corrente entende que o auto de infração é o autêntico

lançamento de ofício, defendendo que no art. 142 do CTN81 há previsão de que o

lançamento tributário pode aplicar a penalidade cabível, quando for o caso, não

havendo problemas de ordem semântica na sua lavratura para constituir o crédito

tributário e aplicar a penalidade. Ademais, defendem que o lançamento tributário é

atividade privativa da Autoridade Administrativa de constituir o crédito tributário e

aplicar a penalidade cabível. O lançamento de ofício regulado no art. 14982 do CTN,

80

SANTI, 2010, p. 171.

81 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo

lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato

gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo

devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de

responsabilidade funcional.

82 Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes

casos: I - quando a lei assim o determine; II - quando a declaração não seja prestada, por quem de

direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III - quando a pessoa legalmente obrigada,

embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na

forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa,

recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV - quando se

comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária

como sendo de declaração obrigatória; V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da

Page 57: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

56

é o único, dentre as modalidades descritas no diploma (a saber: o lançamento por

homologação e o lançamento por declaração), que é lavrado pelo Fisco, sem a

participação do contribuinte, sendo o autêntico lançamento tributário.

Primeiramente, defendemos que há uma impropriedade no art. 142 do CTN

quando o legislador previu “[...] sendo o caso, propor a aplicação da penalidade

cabível”83.

O lançamento tributário constitui o fato jurídico tributário lícito advindo da

instituição do tributo, e a aplicação da penalidade é substrato de fato jurídico

tributário ilícito. Pela natureza do fato jurídico constituído, licito e ilícito, essas

normas não podem ser tratadas como de mesma classe. Nesse sentido, o

lançamento tributário é norma primária dispositiva, e a aplicação da penalidade é

norma primária sancionadora, em que a primeira descreve no antecedente um fato

lícito, e a segunda um fato ilícito pelo descumprimento da primeira norma. Vejamos:

pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI - quando

se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à

aplicação de penalidade pecuniária; VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em

benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII - quando deva ser apreciado fato não

conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX - quando se comprove que, no

lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela

mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só

pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.

83 Coincidem com nosso entendimento: Estevão Horvath (Lançamento Tributário e “Autolançamento”.

2. ed. São Paulo, Editora Quartier Latin, 2010, p. 81); e Fabiana Del Padre Tomé (2011/2012, p. 317).

Discorda do entendimento: Luciano Amaro (Direito tributário brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva,

2012, p. 372).

Page 58: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

57

o tributo é constituído pelo lançamento tributário. É, conforme o art. 384 do CTN, um

ato “que não constitua sanção de ato ilícito” e consiste na obrigação de pagar

determinada quantia ao Fisco. Constituído o crédito tributário pelo lançamento,

instaura-se a relação jurídica entre o Fisco e o contribuinte que deve recolher aos

cofres públicos a quantia determinada (norma primária dispositiva). Não tendo sido

realizado o pagamento, incide a aplicação da penalidade pelo seu descumprimento

em que o Fisco constitui, além do crédito tributário pelo lançamento, as penalidades

legais pelo descumprimento do pagamento do tributo (norma primária

sancionadora). Assim, não há possibilidade de nos filiarmos à quarta corrente.

Contudo, concordamos pelos seus fundamentos com essa corrente de que o

lançamento de ofício é o autêntico lançamento tributário85.

Discordamos também do conceito de auto de infração da primeira e da

segunda corrente. Vejamos:

O auto de infração tem como pressuposto a prática de um ato ilícito. O ato

ilícito é um evento que ocorreu no tempo e no espaço e se caracteriza por uma

conduta ilegal. Ingressa, segundo as nossas premissas, no ordenamento jurídico,

quando é relatado em linguagem competente, constituindo o fato jurídico tributário

ilícito. Nesse momento, teremos uma norma com antecedente concreto. Ademais,

apurada a prática do ato ilícito, o contribuinte é identificado e o consequente está

individualizado. Logo, o auto de infração é norma concreta e individual. Dessa forma,

84

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa

exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade

administrativa plenamente vinculada.

85 Nossa posição concorda com: Francisco de Assis Praxedes (Tributo sujeito a lançamento por

homologação e não pago: cabimento de lançamento de ofício. Revista Dialética de Direito Tributário,

São Paulo, n°. 63, p. 63); e CAMPILONGO, op. cit., p. 100.

Page 59: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

58

discordamos da primeira corrente que entende que o auto de infração é norma

concreta e geral.

Parece com isso que nos filiamos a segunda corrente. Contudo, como já

transcorrido, o auto de infração é constituído pelo lançamento tributário e pela

aplicação da penalidade, ou só a aplicação da penalidade. Tratam-se de normas

jurídicas distintas: uma norma primária dispositiva e a outra norma primária

sancionadora. Ambas as normas são concretas e individuais, se diferenciando pelo

antecedente, em que na primeira é um fato jurídico tributário lícito e na segunda um

fato jurídico tributário ilícito. Assim, não podem ser tratadas como de mesma classe,

como é na segunda corrente.

Desse modo, nos filiamos à quarta corrente, em que o auto de infração é

suporte físico ou veículo introdutor de outras normas jurídicas.

Como suporte físico, o auto de infração é norma concreta e individual que no

antecedente constitui o fato jurídico tributário ilícito (pressuposto de sua lavratura) e

no consequente instaura a relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco.

Veicula a norma primária dispositiva no lançamento tributário e/ou a norma primária

sancionadora na aplicação de penalidade, ambas normas concretas e individuais.

Definido o conceito de auto de infração, entendemos ser pertinente para a

exposição deste trabalho fazer uma breve consideração sobre sua sistematização

legal.

O regime jurídico tributário é constituído por três relações jurídicas: a) a de

recolher aos cofres públicos determinada importância a título de tributo; b) a de

cumprir com deveres instrumentais que têm a função de constituir os fatos jurídicos

tributários e a de auxiliar na ação de arrecadação e fiscalização do Fisco; e c) a de

Page 60: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

59

sofrer a aplicação de penalidade legal por descumprir com uma dessas relações

jurídicas: de pagar o tributo ou de praticar um dever instrumental.

Para que o Fisco aplique a penalidade ao infrator, é necessário que tenha

elementos e provas da prática do ato ilícito, que geralmente são colhidos em

procedimentos de fiscalização.

O procedimento de fiscalização está previsto nos arts. 7°86, 8°87 e 9°88 do PAF

e constitui-se pela emissão do MPF89.

86

Art. 7º O procedimento fiscal tem início com: I - o primeiro ato de ofício, escrito, praticado por

servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto; II - a

apreensão de mercadorias, documentos ou livros; III - o começo de despacho aduaneiro de

mercadoria importada. § 1° O início do procedimento exclui a espontaneidade do sujeito passivo em

relação aos atos anteriores e, independentemente de intimação a dos demais envolvidos nas

infrações verificadas. § 2° Para os efeitos do disposto no § 1º, os atos referidos nos incisos I e II

valerão pelo prazo de sessenta dias, prorrogável, sucessivamente, por igual período, com qualquer

outro ato escrito que indique o prosseguimento dos trabalhos.

87 Art. 8º Os termos decorrentes de atividade fiscalizadora serão lavrados, sempre que possível, em

livro fiscal, extraindo-se cópia para anexação ao processo; quando não lavrados em livro, entregar-

se-á cópia autenticada à pessoa sob fiscalização.

88 Art. 9

o A exigência do crédito tributário e a aplicação de penalidade isolada serão formalizados em

autos de infração ou notificações de lançamento, distintos para cada tributo ou penalidade, os quais

deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova

indispensáveis à comprovação do ilícito. § 1o Os autos de infração e as notificações de lançamento

de que trata o caput deste artigo, formalizados em relação ao mesmo sujeito passivo, podem ser

objeto de um único processo, quando a comprovação dos ilícitos depender dos mesmos elementos

de prova. § 2º Os procedimentos de que tratam este artigo e o art. 7º serão válidos, mesmo que

formalizados por servidor competente de jurisdição diversa da do domicílio tributário do sujeito

passivo. § 3º A formalização da exigência, nos termos do parágrafo anterior, previne a jurisdição e

prorroga a competência da autoridade que dela primeiro conhecer. § 4o O disposto no caput deste

Page 61: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

60

O MPF tem por objetivo cientificar o contribuinte do início da ação de

fiscalização.

A ação fiscal é encerrada com a lavratura de Termo de Encerramento de

Ação Fiscal, acompanhado, se for o caso, de Relatório Fiscal e da lavratura do Auto

de Infração, que deve observar os requisitos previstos no art. 10 do PAF, quais

sejam:

Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no

local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente:

I - a qualificação do autuado;

II - o local, a data e a hora da lavratura;

III - a descrição do fato;

artigo aplica-se também nas hipóteses em que, constatada infração à legislação tributária, dela não

resulte exigência de crédito tributário. § 5o Os autos de infração e as notificações de lançamento de

que trata o caput deste artigo, formalizados em decorrência de fiscalização relacionada a regime

especial unificado de arrecadação de tributos, poderão conter lançamento único para todos os

tributos por eles abrangidos. § 6o O disposto no caput deste artigo não se aplica às contribuições de

que trata o art. 3o da Lei n

o 11.457, de 16 de março de 2007.

89 No dia 04/9/2014 foi publicado o Decreto n°. 8.303/14 que “extinguiu” o MPF. Estabeleceu a norma

que os procedimentos de fiscalização terão inícios com a expedição prévia de TDPF, que ficaram a

cargo dos Auditores-Fiscais da RFB. A Portaria RFB 1.687/14, publicada no dia 18/9/2014,

regulamentou esse novo procedimento de fiscalização. Destacamos que essas alterações

apresentam uma nova sistemática de fiscalização no âmbito interno da Administração, o que não

afeta o nosso estudo diante do corte legislativo que fizemos ao determinar que iríamos fundamentar

no PAF, que não sofreu alterações. Assim, entendemos que não houve a extinção do MPF como o

instrumento de ciência ao contribuinte da instauração de procedimento de fiscalização, mas sim a

alteração de sua denominação para TDPF. Continuaremos denominando de MPF, conforme previsão

legal.

Page 62: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

61

IV - a disposição legal infringida e a penalidade aplicável;

V - a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou

impugná-la no prazo de trinta dias;

VI - a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e

o número de matrícula.

Esse é o procedimento de fiscalização para a constatação da prática de um

ato ilícito pelo contribuinte e a lavratura do auto de infração pelo Fisco.

No mais, entendemos que o Fisco também pode lavrar o auto de infração por

meio da dispensa do MPF, desde que tenha todos os elementos e provas da prática

do ato ilícito.

Contudo, não é pacífico esse entendimento, havendo doutrinadores90 que

defendem que o contribuinte deve ter ciência da existência de um procedimento de

fiscalização, não podendo sofrer fiscalização sem ato de conhecimento.

Já o CARF tem o entendimento de que o Fisco pode dispensar o MPF, que é

procedimento interno da Administração, e sua ausência não afeta a validade do auto

de infração lavrado, confirmando nossa posição. Leia-se:

MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL MPF. INSTRUMENTO

DE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO. INEXISTÊNCIA QUE NÃO

CAUSA NULIDADE DO LANÇAMENTO. O Mandado de

Procedimento Fiscal MPF constitui-se em instrumento de controle

90

CARRAZZA, Roque Antonio; BOTTALLO, Eduardo D. Mandado de procedimento fiscal e

espontaneidade. Revista Dialética de Direito Tributário, n°. 80, Dialética, São Paulo, maio de 2002, p.

104; e NEDER, Marcos Vinicius; LÓPEZ, Maria Teresa Martinez. Processo administrativo fiscal

federal comentado. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004, p. 110-111.

Page 63: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

62

criado pela Administração Tributária para dar segurança e

transparência à relação fisco-contribuinte, que objetiva assegurar ao

sujeito passivo que o agente fiscal indicado recebeu da

Administração a incumbência para executar a ação fiscal. Pelo MPF

o auditor está autorizado a dar início ou a levar adiante o

procedimento fiscal. (CARF, Recurso Voluntário, 4ª Câmara - 2ª

Turma Ordinária, Acórdão n°. 1402-001.661, Processo n°.

19740.000006/2004­83, sessão de 06/05/2014, Relator Conselheiro

Carlos Pelá).

O momento da lavratura do auto de infração é o de constituição em linguagem

competente da prática do ato ilícito e do ingresso da norma jurídica no ordenamento,

passando a existir e ter a sua validade presumida.

Lavrado o auto de infração, deve o contribuinte ser intimado para: a) tomar

conhecimento dos fatos relatados pelo Fisco, dando eficácia ao ato; e b) exercer o

seu direito de defesa, ou seja, o contraditório e a ampla defesa, uma vez que até o

presente momento não pode se manifestar quanto aos fatos apurados na

fiscalização. Isso posto, o auto de infração é lavrado com a exclusiva participação e

entendimento do Fisco, como veremos a seguir.

2. Auto de infração e o ato administrativo

A Administração Pública no exercício de suas funções pratica atos regidos por

regime jurídico de direito público e de direito privado. O Fisco é órgão da

Administração Pública.

Page 64: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

63

Atos administrativos são os atos praticados pelo regime jurídico de direito

público que se apresentam por prerrogativas próprias.

A doutrina administrativista91 diverge quanto ao conceito de ato administrativo

por ausência de uma definição legal no direito positivo.

MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO92 destaca que há três critérios

adotados para a conceituação de ato administrativo: o critério subjetivo, orgânico ou

formal; o critério objetivo, funcional ou material; e o critério de espécie do ato

jurídico.

Pelo critério subjetivo, ato administrativo é o praticado exclusivamente pelos

órgãos administrativos. Esse critério exclui os atos administrativos praticados pelo

Poder Legislativo e Poder Judiciário no exercício de suas funções atípicas.

O critério objetivo determina que ato administrativo é o praticado “no exercício

concreto da função administrativa”93. Por esse critério, os três Poderes detêm

funções típicas inerentes as suas atribuições e funções atípicas, donde exercem, se

não preponderantemente, funções administrativas. Esse critério é insuficiente por

incluir atos da administração regidos por regimes jurídicos diferentes como ato

administrativo94. Dessa forma, há um acréscimo de mais um critério para a

91

Utilizaremos as doutrinas de Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo.

27. ed. São Paulo: Malheiros, 2011); Diogenes Gasparini (Direito Administrativo. 17. ed. São Paulo:

Saraiva, 2012); Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro. 36. ed. São Paulo: Malheiros,

2010); Lúcia Valle Figueiredo (Curso de direito administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros Editores,

2008); e Maria Sylvia Zanella Di Pietro (Direito administrativo. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2011).

92 DI PIETRO, op. cit., p. 194 e ss.

93 Id., p. 195.

94 Id., p. 196.

Page 65: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

64

determinação de ato administrativo, que pode ser: o regime jurídico administrativo, a

potestade pública ou atos que contenham uma declaração de vontade.

O último critério consiste em determinar o ato administrativo como espécie de

ato jurídico95, utilizando-se de seu conceito com acréscimo de elementos que

integram o ato administrativo para diferenciá-los.

Entendemos que o critério que se mostra mais eficaz para a conceituação de

ato administrativo é o de espécie de ato jurídico96, por ser um ato que cria, modifica

e extingue direitos. Passamos a estudar a doutrina dos adeptos deste critério para

conceituamos ato administrativo.

Para HELY LOPES MEIRELLES97, ato administrativo é espécie de ato jurídico

qualificado pela “finalidade pública”. Entende que ato administrativo são os atos

unilaterais de manifestação de “vontade única da Administração”.

CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO98 entende que ato administrativo é

espécie de ato jurídico como declaração do Estado que opera com providências

jurídicas que se complementam na lei e sujeitam-se a controle de legalidade.

Diferencia os atos administrativos dos atos jurídicos: “[...] a) no que concerne às

condições de sua válida produção e b) no que atina à eficácia que lhe é própria”.

95

O CC de 2002 conceituou ato jurídico como negócio jurídico e prevê os seguintes requisitos: “Art.

104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou

determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei”.

96 Coincidem com nossa posição: Estevão Horvath (2010, p. 61); Karem Jureidini Dias de Mello

Peixoto (Auto de Infração de natureza tributária: pressuposto e presunção. 2001. 200f. Dissertação

(Mestrado em Direito), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo, 2001, p.

129); Paulo de Barros Carvalho (2011, p. 464); e Vivian de Freitas e Rodrigues de Oliveira (op. cit., p.

39).

97 MEIRELLES, op. cit., p. 153.

98 MELLO, op. cit., p. 371.

Page 66: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

65

MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO99, nesse mesmo sentido, define: “[...]

ato administrativo como a declaração do Estado ou de quem o represente, que

produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de

direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”100.

LÚCIA VALLE FIGUEIREDO101 entende que ato administrativo é a norma

concreta de declaração unilateral do Estado praticado por este ou por “quem esteja

no exercício da função administrativa” que tem a finalidade de criar, extinguir,

modificar ou declarar direitos.

Entendemos ser pertinente para o nosso estudo o conceito de LÚCIA VALLE

FIGUEIRO, no qual o ato administrativo é a) norma concreta de b) manifestação

unilateral do Estado que c) tem a finalidade de criar, modificar, extinguir ou declarar

relações jurídicas entre o Estado e os administrados.

Transportando esses elementos ao auto de infração, teremos: auto de

infração é o suporte físico que se apresenta com a norma concreta e individual (a),

lavrado exclusivamente pelo Fisco no exercício do poder de fiscalização (b), para

instaurar a relação jurídica entre o Fisco, que tem o direito subjetivo de receber a

pecúnia, e o contribuinte que tem o dever de recolher aos cofres públicos a

importância a título de descumprimento da norma jurídica tributária (c). Assim, pela

nossa definição, auto de infração é norma concreta, que se origina de um ato

unilateral do Estado para instaurar a relação jurídico-tributária em que o sujeito

passivo tem a obrigação de recolher aos cofres públicos a importância tributária.

99

DI PIETRO, op. cit., p. 192.

100 Id., p. 198.

101 FIGUEIREDO, op. cit., p. 173.

Page 67: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

66

Dessa forma, o auto de infração é ato administrativo, que é norma jurídica, e

veicula outros atos administrativos: de lançamento tributário e de imposição de

penalidade.

Ademais, o ato administrativo tem regramento próprio que passamos a

estudar e aplicar no auto de infração.

3. Auto de infração e os atributos do ato administrativo

O ato administrativo tem um regime jurídico com prerrogativas de Direito

Público, dentre tais: atributos próprios que visam garantir a eficácia desses atos

produzidos unilateralmente pela Administração Pública.

A doutrina não é unânime nos atributos do ato administrativo. DIOGENES

GASPARINI102 elenca como atributos do ato administrativo: a presunção de

legitimidade, a imperatividade, a exigibilidade e a autoexecutoriedade. MARIA

SYLVIA ZANELLA DI PIETRO103 só discorda da exigibilidade, em que designa de

executoriedade, e inclui a tipicidade. HELY LOPES MEIRELLES104 exclui a

exigibilidade, prevendo que são três os atributos: presunção de legitimidade e

veracidade, imperatividade e autoexecutoriedade. E CELSO ANTONIO BANDEIRA

DE MELLO105 atribui a executoriedade em vez da autoexecutoriedade.

Entendemos que são atributos do ato administrativo: a presunção de

legitimidade e de veracidade; a tipicidade; a imperatividade, a exigibilidade e a

executoriedade.

102

Op. cit., p. 125.

103 Op. cit., p. 199.

104 Op. cit., p. 162.

105 Op. cit., p. 419.

Page 68: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

67

Presunção de legitimidade e de veracidade se relaciona com o princípio da

legalidade106 inerente à Administração Púbica, segundo o qual só lhe é lícito fazer o

que a lei determina e segundo a forma prescrita, ou seja, o Direito. Assim, os atos

administrativos se presumem verdadeiros e de acordo com o regramento legal107 até

prova em contrário. Trata-se de presunção juris tantum. Contestada a legalidade do

ato administrativo cabe à Administração Pública provar a sua veracidade e

legitimidade108.

A tipicidade consiste em que o ato “deve corresponder à figura definida

previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados”109. Novamente

esse atributo decorre do princípio da legalidade e garante ao administrado que a

Administração não produza atos administrativos sem previsão legal.

A imperatividade se refere à obrigatoriedade de ser respeitado o ato

administrativo por seus destinatários, independentemente de sua concordância ou

consentimento110. Emanado o ato administrativo, se presume verdadeiro e perfeito,

vinculando a todos que ao ato se sujeitam, podendo até terceiros sofrerem as

consequências previstas. Nesse sentido, a Administração Pública detém a

“possibilidade unilateral de constranger terceiros à prática de prestações

106

O princípio da legalidade está previsto na CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte”.

107 GASPARINI, op. cit., p. 125.

108 Ibid., p. 125.

109 DI PIETRO, op. cit., p. 203.

110 GASPARINI, op. cit., p. 126.

Page 69: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

68

determinadas pela Administração”111. Destaca MARIA SYLVIA ZANELLA DI

PIETRO112 que é um atributo que não existe em todos os atos administrativos, mas

somente nos que determinam obrigações. Nesse sentido, discorre CELSO

ANTONIO BANDEIRA DE MELLO113: “[...] Decorre do que Renato Alessi chama de

‘poder extroverso’, que permite ao Poder Público editar provimentos que vão além

da esfera jurídica do sujeito emitente, ou seja, que interferem na esfera jurídica de

outras pessoas, constituindo-as unilateralmente em obrigações”.

A exigibilidade possibilita à Administração Pública que exija do destinatário a

obediência às obrigações impostas no ato administrativo sem precisar ingressar no

Poder Judiciário. Visa garantir o cumprimento das disposições do ato, mas não tem

o fim de coagir coercitivamente o administrado. Assim, a Administração detém de

prerrogativas para fazer com que o administrado cumpra com as prescrições dos

atos administrativos.

A executoriedade determina que a Administração Pública pode executar o ato

administrativo sem a intervenção do Poder Judiciário. A doutrina114 conclui que para

existir no ato administrativo esse atributo é preciso: a) que esteja estabelecido em

lei; e b) se tratar de medida urgente; devendo ainda ser pautada na

proporcionalidade e razoabilidade.

No auto de infração se aplicam os atributos da presunção de legitimidade e

veracidade, tipicidade, imperatividade e exigibilidade, excluindo a executoriedade115.

111

FIGUEIREDO, op. cit., p. 190.

112 DI PIETRO, op. cit., p. 202.

113 MELLO, op. cit., p. 419.

114 DI PIETRO, op. cit., p. 202; e GASPARINI, op. cit., p. 128.

115 Cf. Fabiana Del Padre Tomé (2011/2012, p. 323); e Karem Jureidini Dias de Mello Peixoto (Op.

cit., p. 129).

Page 70: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

69

Nesse contexto, divergimos de PAULO DE BARROS CARVALHO116 que

entende que a imperatividade não é atributo do ato administrativo tributário. O autor

entende o atributo de maneira diversa do exposto, descrevendo-a como a

prerrogativa da Administração em editar atos administrativos unilaterais em

conformidade com suas conveniências. Fundamenta o entendimento de que os atos

administrativos tributários são vinculados à lei, e a Administração não dispõe do

poder de decidir sobre a sua emissão ou não, bem como “agravar a conduta do

administrado”.

Contudo, realmente a executoriedade117 não está presente no ato

administrativo tributário, em que o não cumprimento da obrigação veiculada enseja

ao Fisco o dever de inscrever em Dívida Ativa o crédito tributário para constituir o

título executivo e torná-lo líquido, certo e exigível para propor a execução fiscal.

4. Auto de infração e os requisitos do ato administrativo

Os requisitos do ato administrativo são os elementos que devem estar

presentes ao serem emanados os atos administrativos para que sejam perfeitos e

válidos, aptos a produzirem efeitos118.

No direito administrativo há duas correntes que descrevem os requisitos do

ato administrativo e se utilizam de denominações divergentes119 como requisitos,

elementos e pressupostos.

116

CARVALHO, 2011, p. 486.

117 CARVALHO, 2011, p. 486-487.

118 GASPARINI, op. cit., p, 113.

119 DI PIETRO, op. cit., p. 204.

Page 71: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

70

A primeira corrente120, se baseando no disposto no art. 2°121 da Lei n°.

4.717/65, determina que os requisitos do ato administrativo são: competência, forma,

objeto, motivo e finalidade. HELY LOPES MEIRELLES122 acrescenta, ainda, o mérito

administrativo e o procedimento administrativo.

A segunda corrente123 divide os requisitos do ato administrativo em: a)

elementos intrínsecos, que fazem parte de um todo e são internos a este; e b)

pressupostos, que são externos ao ato, e se classificam em: de existência e de

validade. Os elementos são o conteúdo e a forma. Os pressupostos de existência

são: o objeto e a pertinência do ato ao exercício da função administrativa; e os

pressupostos de validade são: 1) pressuposto subjetivo (sujeito); 2) pressupostos

objetivos (motivo e requisitos procedimentais); 3) pressuposto teleológico

120

DI PIETRO; op. cit., p. 204; e GASPARINI, op. cit., p. 113.

121 Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos

casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e)

desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as

seguintes normas: a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições

legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância

incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a

ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou

outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito,

em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado

obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso

daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

122 MEIRELLES, op. cit., p. 155.

123 MELLO, op. cit., p. 392.

Page 72: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

71

(finalidade); 4) pressuposto lógico (causa); e 5) pressuposto formalístico

(formalização)124.

Dentre as correntes, optamos pela segunda, pois concordamos que os

requisitos do ato administrativo compreendem elementos internos e pressupostos

externos que não podem ser tratados como de mesma classe125.

Contudo, discordamos de que haja o pressuposto de existência. Entendemos

que quando a norma passa a existir pertence ao ordenamento jurídico por ter

ingressado neste. Dentro do ordenamento não se discute a existência ou

inexistência da norma, em razão de já pertencer ao sistema, verifica-se a sua

validade ou invalidade como relação de pertinencialidade. A invalidade, quando é

reconhecida, é decretada pela introdução de outra norma no sistema que reconheça

o vício e a retire do ordenamento. Só nesse momento é que deixa de pertencer ao

sistema, não por ser inexistente, mas por ter um defeito que afeta a sua validade.

Dessa forma, não trabalhamos com essa classe.

Ademais, conforme ilustraremos, nos elementos intrínsecos elencamos a

motivação como sua parte integrante126.

Passamos a discorrer sobre os requisitos do ato administrativo, aplicando-os

no auto de infração quanto aos elementos intrínsecos e os pressupostos de

validade.

124

Ibid., p. 392-393.

125 Posição de Paulo de Barros Carvalho (2011, p. 475); Estevão Horvath (2010, p. 61); Vivian de

Freitas e Rodrigues de Oliveira (Op. cit., p. 58); e Fabiana Del Padre Tomé (2011/2012, p. 325).

126 Coincide com nosso entendimento Fabiana Del Padre Tomé (2011/2012, p. 325).

Page 73: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

72

4.1. Elementos intrínsecos

Os elementos intrínsecos são o conteúdo, a forma e a motivação.

O auto de infração é norma concreta e individual que se apresenta com um

antecedente que implica um consequente. No antecedente há o relato em linguagem

competente da ocorrência do evento e a constituição do fato jurídico tributário ilícito

identificado pelos critérios material, temporal e espacial; e no consequente a

instauração da relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco reconhecida

pelos critérios pessoal e quantitativo.

O conteúdo é o que está prescrito no ato administrativo com a finalidade de

modificar a ordem jurídica. Utilizando-se dos ensinamentos de CELSO ANTONNIO

BANDEIRA DE MELLO: “[...] é o que o ato dispõe, isto é, o que o ato decide,

enuncia, certifica, opina ou modifica na ordem jurídica. É, em suma, a própria

medida que produz a alteração na ordem jurídica”127.

Discorrendo sobre o conteúdo do ato administrativo e do lançamento

tributário, há duas posições doutrinárias no direito tributário: a) entende128 que o

conteúdo no lançamento é a instauração da relação jurídica tributária com a

identificação dos sujeitos e a quantificação do crédito tributário. Está presente no

consequente da norma concreta e individual129; e b) entende130 que é a norma

concreta e individual em sua integralidade, com o antecedente descrevendo o fato

jurídico tributário e o consequente, a instauração da relação jurídica tributária, com a

identificação dos sujeitos e quantificação do objeto.

127

MELLO, op. cit. p. 393-394.

128 HORVATH, 2010, p. 61-62.

129 GUERRA, op. cit., p. 35; e TOMÉ, Fabiana Del Padre, 2011/2012, p. 326.

130 CARVALHO, 2011, p. 476.

Page 74: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

73

Temos o entendimento de que o conteúdo do auto de infração é o

consequente da norma jurídica, ou seja, a instauração da relação jurídica tributária e

a quantificação do tributo ou penalidade.

O consequente da norma jurídica prescreve o comportamento que é

determinado pela ordem jurídica e apresenta-se pelos modais deôntico: proibido,

permitido ou obrigatório. Dessa forma, é nesse elemento da estrutura da norma

jurídica que estará presente a enunciação pretendida pelo ato administrativo

emanado, ou seja, o conteúdo.

A forma131 do ato administrativo é o modo que se manifesta sua existência, é

a sua exteriorização. Geralmente os atos administrativos têm forma escrita.

No auto de infração, a forma é escrita para o fim de garantir ao contribuinte o

direito ao contraditório e a ampla defesa.

A motivação consiste na exposição dos motivos que fundamentam a

expedição do ato. É obrigatória nos atos, salvo quando o ato for vinculado e for

possível identificá-lo no motivo do ato, requisito externo do ato administrativo

presente no pressuposto objetivo132.

FABIANA DEL PADRE TOMÉ133 explica que a motivação se aperfeiçoa com o

relato do motivo e a linguagem das provas, visto que pelas provas apresentadas se

constata a ocorrência no espaço-tempo do motivo do ato.

131

Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que a forma tem duas acepções: uma ampla e outra

restrita. Na acepção restrita é a maneira que o ato é exteriorizado, podendo ser escrito ou verbal. Na

acepção ampla é a acepção restrita acrescida das formalidades previstas no processo de formação

do ato (Op. cit., p. 210).

132 MELLO, op. cit., p. 403.

133 TOMÉ, 2011/2012, p. 328.

Page 75: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

74

No auto de infração, a motivação está no antecedente da norma que relata

em linguagem competente o evento ilícito praticado pelo contribuinte e constitui o

fato jurídico tributário ilícito134.

Assim, relacionando os conceitos estudados com os requisitos de lavratura do

auto de infração, o conteúdo e a motivação do ato administrativo estão previstos nos

incisos I, II, III, IV, e V do art. 10 do PAF135, sendo:

O inciso I prevê a qualificação do autuado. Essa previsão determina o sujeito

passivo da obrigação. Consiste em elemento do consequente da norma jurídica do

auto de infração, critério pessoal. Trata do conteúdo do ato administrativo.

O inciso II determina que deve conter no auto de infração o local, a data e a

hora de sua lavratura. Esse elemento fixa o critério temporal e espacial, componente

do antecedente da norma jurídica do auto de infração. Trata da motivação do ato

administrativo.

O inciso III e IV determinam que deve haver a descrição dos fatos, a

disposição legal infringida e a penalidade aplicável. O Auditor-Fiscal da RFB relata

os fatos que apurou na fiscalização, elenca as provas que possui e determina a

norma aplicável. Trata-se da motivação, em que se relata em linguagem competente

o evento tributário ilícito, constituindo o fato jurídico tributário. É o antecedente da

norma do auto de infração no critério material.

134

CARVALHO, 2011, p. 477; GUERRA, op. cit., p. 34; PEIXOTO, op. cit., p. 131; SANTI, 2010, p. 83-

84; e TOMÉ, 2011/2012, p. 327.

135 Colabora com o nosso entendimento Marcos Vinicius Neder, só divergindo, quando a

denominação do motivo do ato que entendemos ser a motivação (Nulidades no lançamento. 2013.

Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, São Paulo,

2013, p. 146-149).

Page 76: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

75

No inciso V está previsto a determinação da exigência e a intimação para

cumpri-la ou impugná-la. A segunda parte se refere à publicidade, que é

pressuposto do ato administrativo e veremos a seguir. Já a determinação da

exigência é elemento do consequente no critério quantitativo, em que se determina o

montante a ser recolhido aos cofres públicos. Trata do conteúdo do ato

administrativo.

Assim, temos no auto de infração na sua estrutura como norma jurídica de um

antecedente implica um consequente compostos pelos: a) critério material – a

descrição dos fatos, a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; b) o

critério temporal e espacial: local, data e hora da lavratura do auto de infração; c)

critério pessoal, especialmente o sujeito passivo: qualificação do autuado; e d)

critério quantitativo: determinação da exigência.

Sistematizando:

4.2. Pressupostos de validade

Os pressupostos de validade, que são externos ao ato administrativo,

compreendem os pressupostos: subjetivo, objetivo, teleológico, lógico e formalístico.

Page 77: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

76

O pressuposto subjetivo se refere ao sujeito que produz o ato, ou seja, o

agente que tem competência136 para a prática do ato administrativo. Competência se

diferencia de sujeito por ser “o plexo de atribuições outorgadas pela lei ao agente

administrativo para consecução do interesse público postulado pela norma”137.

No auto de infração, o pressuposto subjetivo é a autoridade administrativa a

quem a lei confere a competência legal para fiscalizar e lavrar o auto de infração138,

que conforme a alteração legislativa passa a ser o Auditor-Fiscal da RFB139.

Diferencia-se do sujeito ativo no consequente da norma jurídica, que tem o direito

subjetivo de exigir o cumprimento da obrigação imposta no auto de infração e é o

ente tributante.

Nos requisitos do auto de infração temos esse elemento no caput e no inciso

VI140 do art. 10 do PAF.

No caput do artigo há a previsão de que deve ser lavrado o auto de infração

por servidor competente, e no inciso VI determina-se a qualificação do funcionário

que lavrou o auto de infração para o fim de verificar a legalidade do ato produzido

em conformidade com as atribuições do agente público, ou seja, a sua competência.

Os pressupostos objetivos compreendem os requisitos procedimentais e o

motivo do ato.

Os requisitos procedimentais são os procedimentos, como sequência de atos,

previstos em norma para a formação do ato administrativo.

136

Fabiana Del Padre Tomé denomina de competência, mas preferimos usar sujeito competente

(2011/2012, p. 325).

137 FIGUEIREDO, op. cit., p. 200.

138 CARVALHO, 2011, p. 476; e HORVATH, 2010, p. 62.

139 Decreto n°. 8.303/2014 e Portaria RFB 1.687/2014.

140 NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 185.

Page 78: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

77

EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI141 destaca que o último ato do

procedimento e essencial para a “juridicização do enunciado do ato

administrativo”142 é a publicidade.

Esse pressuposto não é previsto para todos os atos administrativos, mas os

que têm previsão normativa devem ser observados na sua formação.

Na lavratura do auto de infração, o procedimento consiste na emissão de

MPF, que conforme discorremos, pode ser dispensado. Tem previsão nos arts. 7°,

8° e 9°, todos do PAF, não fazendo parte do rol do art. 10 do diploma.

A publicidade, como último ato do procedimento, é no auto de infração a

comunicação ao contribuinte da exigência que lhe é feita. É elemento essencial à

sua lavratura. Com esse ato, o auto de infração se torna inalterável, nos termos do

art. 145 do CTN143. Está previsto no inciso V (segunda parte) do art. 10 do PAF,

quando determina: “intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de 30 (trinta)

dias” 144.

O motivo do ato consiste no “[...] pressuposto de fato que autoriza ou exige a

prática do ato. É, pois, a situação do mundo empírico que deve ser tomada em conta

para a prática do ato”145.

141

Eurico Marcos Diniz de Santi (2010, p. 81); Karem Jureidini Dias de Mello Peixoto (Op. cit., p. 132);

e Renata Rocha Guerra (Op. cit., p. 33).

142 SANTI, 2010, p. 82.

143 Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude

de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade

administrativa, nos casos previstos no artigo 149.

144 NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 185.

145 MELLO, op. cit., p. 397.

Page 79: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

78

No auto de infração, o motivo do ato administrativo é a ocorrência do evento

que dará suporte ao seu relato em linguagem competente para constituir o fato

jurídico tributário ilícito previsto no antecedente da norma concreta e individual. Ou

seja, é o acontecimento no mundo fenomênico que tem previsão no antecedente da

norma abstrata e geral.

O pressuposto teleológico é a finalidade146, e consiste no objetivo que deve

ser alcançado com a expedição do ato administrativo. Vem delimitado em lei.

LÚCIA VALLE FIGUEIREDO147 diferencia finalidade imediata de finalidade

mediata. A finalidade imediata também é chamada de fim, e a mediata é a que “visa

a atuar a vontade normativa, o interesse público que pode estar apenas subjacente

na norma”. Concordamos com essa distinção e no auto de infração há a finalidade

mediata, o interesse público, e a finalidade imediata aplicação da “coação

administrativa”148.

146

Eurico Marcos Diniz de Santi critica esse pressuposto por entender que como só é possível auferi-

lo quando do ato já produzido não pode ser nem elemento e nem pressuposto do ato administrativo.

Determina que a finalidade é: “[...] a finalidade, é nexo lógico internormativo. É dada pelo cotejo entre

a prescrição da finalidade legal que designa a relação intranormativa (o ‘conteúdo’) em abstrato (na

norma jurídica que regula a criação do ato-norma) e o fim concreto, prescrito pela relação jurídica

intranormativa do ato-norma (‘conteúdo do ato’). É a concatenação semântica, entre o ‘conteúdo

legal’ e o ‘conteúdo do ato-norma’, é, pois, a relação hiponímica que se estabelece entre estes

enunciados prescritivos, i.é., relação que ‘intercorre entre expressões com sentido mais específico e

expressões genéricas’” (2010, p. 79).

147 FIGUEIREDO, op. cit., p. 203.

148 CARVALHO, 2011, p. 477; e HORVATH, 2010, p. 63-64.

Page 80: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

79

O pressuposto lógico é a causa149. A causa é a relação lógica que deve existir

entre o motivo, a motivação e o conteúdo do ato150. KAREM JUREIDINI DIAS DE

MELLO PEIXOTO151 observa que a causa deve ser analisada sob dois aspectos da

causalidade jurídica: intranormativa e internormativa. A relação intranormativa,

dentro da norma concreta e individual, consiste na relação de adequação entre o

fato jurídico tributário e a obrigação tributária, ou seja, a implicação do antecedente e

o consequente; e a relação internormativa, fora da norma concreta e individual, é a

subsunção, ou seja, a relação entre a norma abstrata e geral e a norma concreta e

individual. Concordamos com o entendimento e o aplicando no auto de infração

entendemos que deve haver relação de adequação entre antecedente e

consequente pela implicação; e na subsunção da norma abstrata e geral com a

norma concreta e individual introduzida.

Por fim, o pressuposto formalístico. É a formalização e compreende a forma

específica prevista em lei para o ato administrativo ser exteriorizado.

No auto de infração, o suporte físico152 é a formalização, ou seja, o próprio

auto de infração em sua essência, conforme nosso entendimento.

Sistematizamos:

149

Eurico Marcos Diniz de Santi critica a causa como pressuposto. Explica que ela é elemento interno

do ato-norma, mas que não pode ser um elemento, posto que os elementos ao ato-norma são as

variáveis e a causa é uma constante lógica (2010, p. 78.).

150 FIGUEIREDO, op. cit., p. 204; GASPARINI, op. cit., p. 120; MELLO, op. cit., p. 408; e OLIVEIRA,

op. cit., p. 61.

151 PEIXOTO, op. cit., p. 135-136.

152 TOMÉ, 2011/2012, p. 324-326.

Page 81: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

80

Feitas essas considerações sobre o auto de infração e seus requisitos,

passamos a estudar a invalidade, suas espécies, os vícios e seus efeitos.

Page 82: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

81

CAPÍTULO IV – INVALIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO

1. Histórico da teoria da nulidade

A teoria da nulidade teve origem no Direito Privado ao estudar os defeitos dos

atos jurídicos153.

Nos primeiros tempos do Direito Romano154, a nulidade era considerada como

um ato inexistente, que por conter um vício grave que comprometia a sua essência,

não ingressava no ordenamento jurídico. Foi denominado de ato nulo de pleno

direito, porque não produzia efeito jurídico ab initio e era reconhecido nessa

qualidade automaticamente, sem a necessidade de um pronunciamento da

autoridade competente. Assim, nesse momento histórico existiam: a) os atos

jurídicos válidos e existentes; e b) os atos nulos e inexistentes.

Durante o Direito Pretoriano, ainda no Direito Romano, o pretor155 criou o

restitutio in integrum. Tratava de uma espécie de reparação com o fim de reconhecer

a invalidade de atos jurídicos existentes. Essa reparação dependia de propositura de

153

MIRANDA, 2012, t. IV, p. 71; MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, v. 1: parte

geral. 40. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 318-319.

154 O Direito Romano é o conjunto de normas aplicadas no território do Império Romano e Império

Romano do Ocidente. Consistiu de um Corpo de Direito Civil que influenciou e continua a influenciar

as legislações. O Direito Romano pode ser divido em quatro fases segundo a evolução das normas

jurídicas, sendo o Direito Pretoriano uma das suas fases.

155 Pretor era um cargo honorário que não tinha poder de legislar ou criar direito novo, mas que

tomava decisões que possuíam proteção legal. Essas decisões influenciaram o Direito Civil, o

complementando e corrigindo, e foram incorporados ao Corpo de Direito Civil.

Page 83: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

82

ação judicial declaratória de nulidade. Surgiu, daí, uma nova classe de atos jurídicos:

os existentes que poderiam ser decretados nulos.

Assim, no Direito Romano havia duas espécies de nulidades: a) a de pleno

direito que operava automaticamente e era considerada como um ato inexistente; e

b) a pretoriano que dependia da propositura de uma ação judicial para o seu

reconhecimento.

A evolução nos estudos constatou que essas duas espécies de nulidades se

mostravam inadequadas porque o ato inexistente (nulo de pleno direito) não tinha

relevância jurídica.

Dessa forma, passou a diferenciar a nulidade de inexistência, atribuindo três

classes de atos defeituosos em relação à gravidade do vício: a) o ato inexistente, em

que o defeito no ato estava na sua essência, ou seja, um vício gravíssimo que

comprometia o seu ingresso no ordenamento jurídico, a sua existência jurídica; b) a

nulidade em que o ato jurídico tinha um vício grave que não afetava a sua essência,

mas ofendia a ordem jurídica ou os bons costumes, ou que não tinha sido observada

a forma legal; e c) a anulabilidade em que o ato jurídico tinha um vício de menor

gravidade que afetava a declaração de vontade, a capacidade ou o consentimento.

Dessa evolução se originou a clássica e fundamental divisão das invalidades

em nulidade e anulabilidade156.

156

Há autores que atribuem como sinônimo as denominações de nulidade absoluta para as causas

de nulidades e nulidade relativa para as anulabilidades (DE PASSOS, José Joaquim Calmon. Esboço

de uma teoria das Nulidades aplicada às nulidades processuais. Rio de Janeiro: Forense, 2009;

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. 27. ed. São

Paulo: Saraiva, 2010, p. 557 e ss.; GRINOVER; FERNANDES; GOMES FILHO, 2011, p. 22.). Pontes

de Miranda faz uma crítica a esses autores, pois esses termos seriam adequados para relacionarem-

se à eficácia do ato e não às causas de invalidade, em que os: “[...] limites subjetivos da eficácia:

Page 84: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

83

Nessa perspectiva, ressaltamos que os atos inexistentes, por não chegarem a

ingressarem no ordenamento jurídico, não têm relevância jurídica e,

consequentemente, não interessam ao direito. Ato inexistente é um nada, não

existe, não é regulado pelo direito porque não se regula o “nada”. Logo, não

interessam ao nosso estudo. Entendemos que se não há o relatado em linguagem

competente do evento, o ato não ingressa no sistema, e, consequentemente, não é

ato jurídico. Está no mundo fenomênico e não pertence ao mundo jurídico.

Já a nulidade e a anulabilidade são espécies de invalidade que não

comprometem o ingresso do ato jurídico no ordenamento jurídico. Elas têm

existência jurídica, mas o defeito pode comprometer a sua validade e, em

decorrência, a eficácia jurídica. Esses atos se enquadram na classe dos atos

inválidos e serão o objeto do nosso estudo.

No mais, atualmente, há uma nova classe: das meras irregularidades.

Entendemos que essa classe não se enquadra nos atos inválidos ou inexistentes.

Trataremos delas em um ponto à parte por ser elemento essencial à análise dos

requisitos do auto de infração e suas invalidades.

2. Invalidade no Direito Civil

O legislador civil regulou as causas de invalidades dos atos jurídicos,

trabalhando com a clássica divisão dicotômica: nulidade e anulabilidade. Nesse

sistema não há a classe dos atos inexistentes.

relativa é a eficácia só atinente a um, ou a alguns; absoluta, a eficácia erga omnes” (2012, t. IV, p.

94). Assim, optamos em utilizar a designação de nulidade e de anulabilidade.

Page 85: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

84

Ato jurídico nulo é aquele que pode conter um vício: a) na capacidade do

agente que é absolutamente incapaz; b) no objeto, quando for ilícito; c) no

desrespeito à forma prescrita em lei; e d) quando a lei o considerar nulo157.

Já o ato anulável é o que pode conter um vício: a) na capacidade, quando

praticado por relativamente incapaz; b) no resultado pretendido, quando praticado

com erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores; e c)

quando a lei expressamente declarar anulável158.

Assim, pode-se perceber que há uma sistematização dos defeitos que geram

a nulidade e a anulabilidade dos atos jurídicos, cabendo à doutrina estabelecer as

diferenças entre as espécies de invalidade segundo a sistematização legal.

Sistematizando a legislação, há cinco critérios diferenciadores da nulidade e

anulabilidade descritos pela doutrina159: a) quanto ao grau do vício; b) quanto aos

efeitos que produz; c) quanto à legitimidade para sua arguição; d) quanto à

possibilidade de sua ratificação; e e) quanto à prescrição. Contudo, o critério do grau

do vício é a matriz de aplicabilidade dos demais critérios. Vejamos a seguir:

Os graus de vícios são: vício grave e vício de menor gravidade. O vício grave

ofende a ordem pública ou afeta elemento essencial de validade do ato. Esse tipo de

157

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for

ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as

partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a

lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei

taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

158 Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por

incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão

ou fraude contra credores.

159 CARVALHO, 2010, p. 697.

Page 86: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

85

vício acarreta a nulidade do ato. Os vícios de menor gravidade são os que não

afetam elementos essenciais de validade do ato jurídico e nem a ordem pública. São

considerados como atos anuláveis, acarretando a anulabilidade160.

A produção dos efeitos se relaciona ao grau do vício. O vício grave tem efeito

ex tunc e é invalidado por nulidade. Já vício de menor gravidade tem efeitos ex

nunc, os quais são produzidos até a decretação de invalidade161, e são inválidos por

anulabilidade.

A legitimidade de arguição também se relaciona ao grau do vício. Os atos

nulos têm vícios que ofendem elementos essenciais de validade ou a ordem pública,

e sua arguição pode ser por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou

reconhecido de ofício pelo Juiz162. Já os atos anuláveis que têm vícios em elementos

não essenciais de validade do ato dependem, para a sua decretação de invalidade,

de alegação pela parte interessada que não pode ter dado causa ao vício. A

decretação de invalidade gera os seguintes efeitos em relação às partes: atos nulos

têm efeitos erga omnes, e atos anuláveis efeitos inter partes.

Mais uma vez relacionando à gravidade do vício, temos a aplicação do critério

de ratificação do ato jurídico. Os atos nulos com vício grave são irratificável; e os

atos anuláveis com vício de menor gravidade podem ser ratificados.

Quanto à prescritividade163, os atos nulos são imprescritíveis; e os atos

anuláveis são prescritíveis, dos quais decorrido o prazo prescricional, o ato se torna

válido e apto a produzir os efeitos jurídicos164.

160

DINIZ, 2010, p. 558; MIRANDA, 2012, t. IV, p. 82.

161 FERRAZ JÚNIOR, op. cit., p. 183; DE PASSOS, op. cit., p. 127-129; DINIZ, op. cit., p. 558.

162 Pontes de Miranda adverte que é um erro condicionar o ato nulo à decretação de ofício pelo juiz

(2012, t. IV, p. 112).

163 MIRANDA, 2012, t. IV, p. 82; DINIZ, op. cit., p. 568-569.

Page 87: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

86

Inegável determinar que o grau do vício é o critério diferenciador e pertinente

entre as espécies de invalidade aplicadas no Direito Civil, em que: a) o vício que

ofende a ordem jurídica e compromete a harmonia e integridade do ordenamento

jurídico é grave e decretado inválido por nulidade; e b) o vício que não é essencial e

não compromete a ordem jurídica é passível de decretação de invalidade por

anulação.

Assim, segundo a exposição, a invalidade aplicada no Direito Civil comporta a

seguinte sistematização:

164

Pontes de Miranda critica a ideia de que ocorrida a prescrição para a ação de anulação do ato

jurídico, o mesmo se torna válido. Esclarece que o que há é a renúncia à prescrição. (Ibid., p. 102).

Page 88: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

87

3. Invalidade no Direito Administrativo

Até o presente momento apresentamos considerações sobre a teoria da

nulidade aplicada ao Direito Privado. A transposição dessa teoria ao Direito

Administrativo requer adaptações. O Direito Civil é ramo de direito privado que opera

à vontade das partes, e o Direto Administrativo, ramo do Direito Público, tem

regimento próprio que se diferencia dos regimes de Direito Privado. Por exemplo,

vigora o princípio da legalidade, em que não opera a vontade das partes, mas as

prescrições previstas em lei; e o princípio do interesse público que se sobrepõe ao

interesse privado.

O objeto da teoria da nulidade no Direito Administrativo é o ato administrativo,

que é espécie de ato jurídico165.

Nesse ramo, há três grandes correntes sobre a invalidade.

A primeira corrente166 entende que a invalidade é gênero e que são suas

espécies: os atos inexistentes, atos nulos e anuláveis. A possibilidade de

convalidação do vício é o critério de distinção entre as espécies. Os atos

inexistentes estão no campo do impossível jurídico e se apresentam com um vício

grave que não pode ser objeto de convalidação e não ingressam no ordenamento

jurídico, sendo vedados pelo Direito167. Os atos nulos são os que a lei assim declarar

ou que são insuscetíveis de convalidação, podendo ser reconhecidos de ofício pelo

Juiz. Já os atos anuláveis são os declarados como tais pela lei e os suscetíveis de

convalidação, que somente podem ser reconhecidos por provocação das partes.

165

Ver capítulo III, item 2.

166 MELLO, op. cit., p. 465.

167 Id., p. 473-474.

Page 89: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

88

Assim, na classe dos vícios convalidáveis, temos a anulação, e dos inconvalidáveis,

os atos inexistentes e os nulos168.

A segunda corrente169 entende que na classe dos atos administrativos

inválidos só existem os atos nulos. Explicam que o direito privado trabalha com

diferenciação entre ato nulo e ato anulável em relação ao vício afetar ou não à

ordem pública. Havendo violação à ordem pública há a decretação de nulidade, e

não sendo violada de anulabilidade. Como todos os atos administrativos são normas

de ordem pública por aplicação do princípio da legalidade, estão, portanto, na classe

dos atos nulos.

A terceira corrente170 entende que no direito administrativo há os atos nulos e

atos anuláveis. Esclarece que os atos administrativos inválidos se distinguem pela

possibilidade de sua convalidação ou não, em que o vício passível de ser sanado é

ato anulável, e o vício em que é insanável é ato nulo.

Assim, no direito administrativo, há divergências quanto à classe de atos

administrativos inválidos e o critério diferenciador aplicado.

Em que pese a segunda corrente, não podemos aceitá-la. Concordamos que

no Direito Administrativo as normas são de ordem pública, mas entendemos que o

critério da possibilidade de convalidação ou não do vício, quanto aos requisitos do

ato administrativo, é válida e elemento de distinção entre os atos nulos e anuláveis

aplicáveis ao Direito Administrativo.

168

Id., p. 475.

169 GASPARINI, op. cit., p.164; e MEIRELLES, op. cit., p. 176.

170 DI PIETRO, op. cit., p. 247.

Page 90: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

89

Esse critério tem previsão legal no art. 55171 da LPA que dispõe que havendo

a possibilidade de convalidação do ato administrativo, não será decretação a

invalidade.

Além do critério da convalidação, o dispositivo determina que para a

invalidade dos atos administrativos deve ser aplicado o princípio do prejuízo172.

Dessa forma, entendemos que a possibilidade ou não de convalidação do ato

administrativo e o princípio do prejuízo são os critérios diferenciadores das espécies

de invalidade aplicáveis no Direito Administrativo. Nossa posição é confirmada pelo

entendimento do STJ. Leia-se:

ADMINISTRATIVO – ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO –

SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS PÚBLICOS APÓS

CONCURSO PÚBLICO. TEMPERAMENTOS À SÚMULA 473 DO

STF. A regra enunciada no verbete n° 473 da Súmula do STF deve

ser entendida com algum temperamento: no atual estágio do direito

brasileiro, a Administração pode declarar a nulidade de seus

próprios atos, desde que, além de ilegais, eles tenham causado

lesão ao Estado, sejam insuscetíveis de convalidação e não

tenham servido de fundamento a ato posterior praticado em

outro plano de competência. É vedado ao Estado sob o pretexto de

que houve irregularidades formais desconstituir unilateralmente a

investidura de servidores nomeados mediante concurso público.

(STJ, RMS n°. 407/MA, Relator Ministro Gomes de Barros, Data do

171

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo

a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria

Administração.

172 MEIRELLES, op. cit., p. 206; e FIGUEIREDO, op. cit., p. 256.

Page 91: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

90

Julgamento: 07/08/1991 e Data da Publicação: 02/09/1991). (negrito

próprio)

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA.

INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR.

PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. CONCURSO DE

PROMOÇÃO. REQUISITO. CONCLUSÃO DO ESTÁGIO

PROBATÓRIO. PRAZO. TRÊS ANOS. FUMUS BONI JURIS NÃO

CONFIGURADO. 1. O estágio probatório é o período compreendido

entre a nomeação e a aquisição da estabilidade. Após a Emenda

Constitucional n.º 19/98, seu prazo passou a ser de 3 anos,

acompanhando a alteração para aquisição da estabilidade, não

obstante tratar-se de institutos distintos. Precedente da Terceira

Seção. 2. A convalidação de atos administrativos só é permitida,

nos termos do disposto no art. 55 da Lei n. 9.784/99, para os

vícios sanáveis. 3. Para se verificar a possibilidade de incidência do

art. 55 da Lei n. 9.784/99 na hipótese do mandamus é necessária a

análise apurada de fatos e circunstâncias, tarefa essa incompatível

com o exame de pedido liminar, que exige a verificação de plano do

fumus boni juris. 4. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no MS

nº. 14.396/DF (2009/0109384-5), Relator Ministro Jorge Mussi, Data

de Julgamento: 28/10/2009 e Data de Publicação: 26/11/2009).

(negrito colocado)

Nesse mesmo sentido, DIOGENES GASPARINI173 descreve os requisitos

para a invalidação do ato administrativo:

173

GASPARINI, op. cit., p.163.

Page 92: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

91

Embora seja assim, é certo dizer que esse poder da Administração

Pública não é absoluto. Não basta para praticá-lo que o ato seja

inválido (RT, 747:195). Com efeito, para que a invalidação seja legal,

o ato invalidado deve ser ilegal, ter causado um dano à

Administração Pública sua emitente ou a terceiro, ser inconvalidável

e não ter servido de fundamento para a prática de ato em outro plano

de competência, conforme decidiu o Superior Tribunal de Justiça.

Portanto, quanto às duas correntes restantes, a única diferença é a inclusão

dos atos inexistentes na classe de atos inválidos e inconvalidáveis. Ato inexistente

não existe no ordenamento jurídico, não foi constituído em linguagem competente e

não pertence ao sistema. Logo, não tem relevância jurídica. Entendemos que por

estar fora do Direito, não é e não deve ser objeto de estudo. Dessa forma, excluímos

a classe dos atos inexistentes.

Restam os atos nulos e anuláveis com os critérios de distinção: a

possibilidade de convalidação ou não do vício, e o princípio do prejuízo. Nesse

momento destacamos a convalidação. Assim, o que é convalidação?

Convalidação174 é a substituição do ato ilegal por um ato legal que gera

efeitos retroativos. O ato ilegal é um ato com defeito em que não foram observadas

as formalidades previstas em lei. Logo, para torná-lo legal e “válida” a produção dos

174

A convalidação não se confunde com a conversão de atos nulos. A diferença consiste na produção

dos efeitos, em que na convalidação os efeitos são os do “ato ilegal”, e na conversão são efeitos

retroativos, mas próprios do novo ato, como se tivesse sido esse ato expedido ao tempo do ato nulo

(MELLO, op. cit., p. 479). A conversão não é critério de distinção e entendemos que não se aplica no

nosso estudo.

Page 93: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

92

efeitos desde o seu nascimento, expede-se um novo ato que o substitui corrigindo o

vício, o tornando, então, ato legal com efeitos retroativos175.

A convalidação só é possível quando o ato puder ser produzido

legitimamente. Nesse sentido, podemos atribuir o vício ser sanável ou insanável e,

portanto, legitimar ou não o “ato ilegal”.

J. J. CALMON DE PASSOS176 faz uma observação importante da

convalidação:

[...] A nulidade não é o pronunciamento do magistrado, é exato, mas

constitui-se com ele, nasce com ele, surge com ele e somente existe

depois dele. Assim sendo, a sanabilidade ou insanabilidade jamais é

da nulidade, sim das repercussões que ela determina. O que tem

relevo, isso sim, e antecede a decretação da nulidade, é o juízo

sobre a repercussão da imperfeição do ato no pertinente ao fim que

lhe destinou o sistema, dele resultando a necessidade ou

desnecessidade da cominação de sua nulidade.

Entretanto, como se aplica a convalidação? A aplicabilidade da convalidação

é no caso concreto. Ela se relaciona com a espécie de invalidade, em que vícios

inconvalidáveis são decretados nulos, e convalidáveis anuláveis. Ela tem como

pressuposto: a) que não haja impugnação do interessado; e b) não haja lesão ao

interesse público ou a terceiros. Aplica-se, ainda, para a decretação da invalidação o

princípio do prejuízo177.

175

DI PIETRO, op. cit., p. 248; FIGUEIREDO, op. cit., p. 247; e MELLO, op. cit., p. 478.

176 DE PASSOS, op. cit., p. 139-140.

177 MELLO, op. cit., p. 478; e NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 487.

Page 94: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

93

Assim, entendemos que no Direito Administrativo os atos inválidos são: os

atos nulos e os atos anuláveis, trabalhando com a dicotomia: nulidade e

anulabilidade, que têm como critérios de distinção: a convalidação ou inconvalidação

do vício, e o princípio do prejuízo. Sistematizando:

Ademais, a decretação no Direito Administrativo da invalidade dos atos

administrativos e sua a retirada do sistema pode ser realizada: a) pela Administração

no exercício de autotutela, hipótese em que não depende de provocação de parte

interessada, mas precisa de processo administrativo para garantir a ampla defesa e

o contraditório, se houver interesses de terceiros178, ou b) pelo Poder Judiciário no

exercício de suas funções, em que o interessado deve ingressar com medida

judicial179.

178

EMENTA: “DEVIDO PROCESSO LEGAL - ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO - DIREITO

DE DEFESA. A anulação de ato administrativo, que repercuta no campo de interesses individuais

somente pode ocorrer oportunizando-se o direito de defesa, ou seja, instaurando-se processo

administrativo. AGRAVO – ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – MULTA. Se o

agravo é manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do

Código de Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da litigância de má-fé.” (STF, RE

n°. 613.316/MS, Relator Ministro Marco Aurélio, Data de Julgamento: 28/05/2013 e Data da

Publicação: 24/06/2013).

179 Esse entendimento está consolidado nas Súmulas do STF: “Súmula nº 346: A Administração

Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos”; e “Súmula nº 473: A Administração pode

Page 95: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

94

4. Invalidade no Direito Tributário

Descrevemos até o momento a aplicação das invalidades no direito privado e

no direito público. Ambos, segundo fixamos, trabalham com a dicotomia: nulidade e

anulabilidade, diferenciando o critério aplicável, em que para o direito privado, em

linhas gerais, é o grau do vício e seus efeitos, e para o direito público o vício ser

passível de convalidação ou não. Passamos a analisar a sistemática aplicável no

Direito Tributário.

Nas doutrinas estudadas há três correntes.

A primeira corrente180 entende que a única espécie de invalidade aplicada ao

direito tributário é a anulabilidade. Essa corrente parte da concepção de que a

nulidade é ato inexistente que pelo grau do vício não produz efeitos ab initio e seu

reconhecimento opera automaticamente, sem necessidade de impugnação. Assim,

só existe a espécie de anulabilidade, porque o lançamento é ato administrativo que

existe e produz efeitos, que só cessam com a decretação de invalidade. Ademais,

argumentam que o direito positivo tributário não faz distinção entre a nulidade e a

anulabilidade. Dessa forma, até que o lançamento seja anulado, existe e produz

efeitos, e, assim, a classe dos atos nulos não se aplica no Direito Tributário.

Claro pelas premissas que fixamos que essa corrente trabalha com os

critérios de distinção de nulidade e anulabilidade do direito privado. Já manifestamos

nosso entendimento de que nulidade não é ato inexistente, porque o que não existe

anular seus próprios atos, quando eivados de vício que os tornam ilegais, porque deles não se

originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos

adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”. (DI PIETRO, op. cit., p. 238; e

MELLO, op. cit., p. 466).

180 BORGES, op. cit., p. 250; e HORVATH, 2010, p. 86.

Page 96: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

95

não interessa ao direito, é um nada. Assim, como decretar a nulidade do nada? Não

é possível. Entendemos que nulidade é um defeito no ato jurídico (ou ato

administrativo) que ingressou no ordenamento jurídico desrespeitando as normas

que prescrevem sua formação, e somente é retirado dele com a decretação pela

autoridade competente da invalidade do ato por nulidade e a fixação da produção

dos efeitos. Logo, não aceitamos os fundamentos dessa corrente.

As outras duas correntes trabalham com a dicotomia nulidade e anulabilidade

como espécies de invalidade dos atos tributários.

Estas se diferenciam: a) a primeira corrente181 aplica os critérios de distinção

do direito público (Direito Administrativo), que é a possibilidade ou não de

convalidação do vício; e b) na segunda corrente182, os critérios de distinção de

direito privado do grau do vício e seus efeitos, entendendo que são conceitos de

Teoria Geral do Direito e não do direito privado.

181

HARET, Florence Cronemberger. Vícios dos atos jurídicos: reflexões sobre a Teoria dos Atos

Jurídicos e o ato normativo viciado. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (Coord.). Direito tributário –

Homenagem a Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 237; NEDER, 2013, p.

96 (este autor acrescenta o princípio do prejuízo como critério); RIBAS, Lídia Maria Lopes Rodrigues.

Processo Administrativo Tributário. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 85; TOMÉ, 2011/2012, p.

332; e SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Auto de infração e lançamento tributário: elementos,

pressupostos, vícios e anulação. Artigo elaborado no NEF – Núcleo de Estudos Fiscais da Escola de

Direito da Fundação Getúlio Vargas – DIREITO GV. FISCOSoft, 2012. Disponível em:

<http://www.fiscosoft.com.br/a/5rko/auto-de-infracao-e-lancamento-tributario-elementos-pressupostos-

vicios-e-anulacao-eurico-marcos-diniz-de-santi>. Acesso em: 14 maio 2014, p. 7.

182 BARBIERI, Luís Eduardo Garrossino. Lançamento tributário: vícios e seus efeitos. 2013.

Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, São

Paulo, 2013, p. 142; CARVALHO, 2011, p. 495-496; e MELO, Fábio Soares de. Processo

administrativo tributário: princípios, vícios e efeitos jurídicos. São Paulo: Dialética, 2012, p. 116.

Page 97: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

96

Primeiramente, destacamos que os critérios de grau de vício e efeitos

aplicados pela segunda corrente, no nosso entendimento, são de direito privado, em

que opera a vontade das partes, e não de Teoria Geral do Direito. Estão regulados

no CC ao tratar dos negócios jurídicos.

Ademais, o auto de infração é ato administrativo que se subsume ao regime

jurídico de direito administrativo, ramo de direito público183, que aplica para a

decretação de invalidade: a convalidação ou inconvalidação do vício.

Dessa forma, não concordamos com a aplicação de critérios de direito

privado, entendendo que os critérios de distinção são: a convalidação ou

inconvalidação do vício.

Entendemos, ainda, que o princípio do prejuízo previsto no art. 55 da LPA e

no art. 60 do PAF é aplicável ao direito tributário para a decretação de invalidade do

ato administrativo tributário184.

Assim, concordando com a primeira corrente, entendemos que as invalidades

no direito tributário são de duas espécies: nulidade e anulabilidade, e têm como

critério de distinção a aplicação do princípio do prejuízo e a possibilidade de

convalidação ou não do vício185.

Nesse sentido se manifesta o CARF:

183

Ver capítulo III, item 2.

184 BARBIERI, op. cit., p. 142; NEDER, 2013, p. 95-96; PAULSEN, Leandro; ÁVILA, René Bergmann;

SLEWKA, Ingrid Sehroder. Direito processual tributário: processo administrativo fiscal e execução

fiscal à luz da doutrina e jurisprudência. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 133; e

RIBAS, op. cit., p. 89.

185 Nosso entendimento concorda com: Marcos Vinicius Neder (2013, p. 96). Discorda por aplicar o

critério do prejuízo e o critério do grau do vício: BARBIERI, op. cit., p. 142.

Page 98: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

97

AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Não há nulidade em auto de

infração lavrado por pessoa competente, não tendo havido preterição

do direito de defesa da contribuinte e não tendo sido ferido os artigos

10 e 59 do Decreto n° 70.235/72. (CARF, Recurso Voluntário, 1ª

Câmara - 1ª Turma Ordinária, Acórdão n°. 3101-001.704, Processo

n°. 15868.720033/2013-70, sessão 17/09/2014, Relator Conselheiro

Rodrigo Mineiro Fernandes).

NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. VIOLAÇÃO NÃO PROVADA.

Faltando nos autos a prova da violação às disposições contidas no

art. 142, do CTN, tampouco dos artigos 10 e 59, do Decreto n°

70.235, de 1972, e não se identificando no instrumento de autuação

nenhum vício prejudicial, não há que se falar em nulidade do

lançamento. (CARF, Recurso Voluntário, 1ª Câmara - 1ª Turma

Ordinária, Acórdão n°. 2101-002.425, Processo n°.

13984.000506/2010-14, sessão 19/03/2014, Relator Conselheiro

Francisco Marconi de Oliveira).

LANÇAMENTO VÍCIOS NA CONSTITUIÇÃO. ERRO NA

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL E TIPIFICAÇÃO DA PENALIDADE

APLICADA. INOCORRÊNCIA. LANÇAMENTO REGULAR.

REQUISITOS MATERIAIS E FORMAIS. RESPEITADOS.

LEGISLAÇÃO ATENDIDA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO

CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. APLICAÇÃO DA MULTA

MAIS BENÉFICA. (CARF, Recurso Voluntário, 3ª Turma Especial,

Acórdão n°. 2803-003.392, Processo n°. 10980.726434/2011-61,

sessão em 16/07/2014, Relator Conselheiro Eduardo de Oliveira).

Page 99: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

98

Desse modo, os atos administrativos tributários inválidos são de duas

espécies: nulidade e anulabilidade. Eles têm como critérios de distinção e

aplicabilidade o princípio do prejuízo e da convalidação do ato, em que temos as

classes de invalidade: a) nulidade para os atos administrativos tributários com vício

inconvalidável (insanável); e b) anulabilidade para os atos administrativos tributários

com vício convalidável (sanável).

5. Princípio do prejuízo

O princípio do prejuízo é inerente ao sistema das invalidades moderno, em

que se valorizam os fins a serem atingidos pelo ato em detrimento do dano que o

defeito causa186, tratando do binômio defeito-prejuízo:

É a viga mestre do sistema das nulidades e decorre da ideia geral de

que as formas processuais representam tão somente um instrumento

para a correta aplicação do direito, sendo assim, a desobediência às

formalidades estabelecidas pelo legislador deve conduzir ao

186

“São três os sistemas segundo os quais pode ser imposta a sanção de nulidade: a) todo e

qualquer vício do ato leva à sua nulidade; b) nulo será o ato se a lei assim expressamente o declarar;

c) o sistema da instrumentalidade das formas, distinguindo-se as irregularidades conforme a

gravidade e segundo o qual não se declara a nulidade se a finalidade do ato foi atingida e se não

houver prejuízo para a parte. Os dois primeiros sistemas estão desautorizados pela moderna ciência

processual” (GRINOVER; FERNANDES; GOMES FILHO, op. cit., p. 26).

Page 100: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

99

reconhecimento da invalidade do ato quando a própria finalidade pela

qual a forma foi instituída estiver comprometida pelo vício187.

MARCOS VINICIUS NEDER afirma que o prejuízo é um conceito relacional

entre: “[...] um vício no processo e seus efeitos nocivos ao interesse público e às

partes, em prejuízo ao atingimento de certos objetivos processuais”188.

Os Tribunais reconhecem a aplicação do princípio do prejuízo no sistema das

invalidades, conforme se verifica pelas ementas abaixo:

PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. De acordo com o princípio

pas de nullité sans grief, que na sua tradução literal significa que não

há nulidade sem prejuízo, não se declarará a nulidade por vício

formal se não causar prejuízo. Podemos, então, estar diante a uma

violação à prescrição legal sem que disso, necessariamente, decorra

a nulidade. Como no presente caso, em que o art. 10, IV do Decreto

n° 70.235/72 prescreve que o auto de infração conterá

obrigatoriamente a disposição legal. Não obstante a existência de

vício formal no lançamento, a sua nulidade não deve ser decretada,

por ausência de efetivo prejuízo por parte do contribuinte em sua

defesa. Não há de se falar em nulidade do lançamento, por não

restar configurado o binômio defeito-prejuízo. Recurso especial

provido. (CARF, Recurso Especial, 2ª Turma, Acórdão n°. 9202-

01.536, Processo n°. 37311.002241/2004-21, sessão de 09/05/2011,

Relator Conselheiro Elias Sampaio Freire).

187

Ibid., p. 27.

188 NEDER, 2013, p. 104.

Page 101: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

100

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA SENTENÇA

PROFERIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA. POSTERIOR

DECLARAÇÃO DE NULIDADE PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.

INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. IMPOSSIBILIDADE DE SE

RECONHECER A NULIDADE. PRINCÍPIO PAS DE NULLITÉ SANS

GRIEF. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme

em aplicar o princípio pas de nullité sans grief, o qual determina que

a declaração de nulidade requer a efetiva comprovação de prejuízo à

parte. Precedentes. 2. Não é cabível a declaração de nulidade por

inexistência de intimação do inteiro teor da sentença, uma vez que o

Tribunal Regional, ao anular a própria sentença, afastou eventual

prejuízo que pudesse ocorrer. 3. Agravo regimental a que se nega

provimento. (STJ, AgRg no REsp n°. 792093/RJ (2005/0178868-4),

Relatora Ministra Alderita Ramos de Oliveira, Data de Julgamento:

21/05/2013 e Data de Publicação: 31/05/2013).

Nesse contexto, o princípio do prejuízo deve ser analisado no caso concreto

para o fim de verificar se a formalidade legal desrespeitada no ato introduzido

causou um dano ao destinatário passível de decretá-lo nulo ou anulável189.

Contudo, algumas cautelas devem ser observadas. Há situações em que a

formalidade prevista é inerente à finalidade do ato e o prejuízo estaria implícito e

previsto pelo legislador, conforme destacam ADA PELLEGRINI GRINOVER,

ANTONIO SCARANCE FERNANDES E ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO190,

ao manifestarem o entendimento de que nas invalidades por anulabilidade têm

189

NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 481.

190 GRINOVER; FERNANDES; GOMES FILHO, op. cit., p. 28-29.

Page 102: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

101

presunção relativa de prejuízo, cabendo à parte que o alega provar que a

formalidade é essencial à finalidade do ato e que ficou prejudicada pela sua

inobservância; e na nulidade há a inversão do ônus da prova, e a parte contrária

deve provar que a formalidade do ato não compromete a sua finalidade, não

existindo prejuízo.

Quanto à aplicação do princípio do prejuízo no direito tributário, o art. 60 da

PAF determina que a decretação de invalidade do ato administrativo tributário

depende do contribuinte sofrer um dano (prejuízo)191. Esse pode ser compreendido

como o prejuízo no exercício das garantias constitucionais, do devido processo

legal, da ampla defesa e do contraditório; do princípio da segurança jurídica; do

direito à propriedade; da denúncia espontânea; do princípio da estrita legalidade e

da tipicidade, etc..

Contudo, a jurisprudência ao aplicar o princípio do prejuízo nas relações

jurídicas tributárias o entende como o dano ao contraditório e a ampla defesa do

contribuinte:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE BEM

À PENHORA. ORDEM LEGAL. ART. 11 DA LEF. PENHORA PELO

SISTEMA BACEN-JUD. POSSIBILIDADE. INTIMAÇÃO FEITA EM

NOME DE ADVOGADO DISTINTO AO DO SOLICITADO.

AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. PRINCÍPIO PAS DE NULLITÉ SANS

GRIEF. 1. A jurisprudência desta Corte, em homenagem ao princípio

pas de nullité sans grief, firmou entendimento no sentido de que a

parte, ao requerer o reconhecimento de nulidade, deverá comprovar

191

NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 486; e PAULSEN; ÁVILA; SLEWKA, op. cit., p. 133.

Page 103: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

102

o efetivo prejuízo sofrido. 2. Na hipótese, ainda que se tenha

admitido ser irregular a intimação, a Corte de origem considerou que

o autor não demonstrou o efetivo prejuízo, tendo em vista que

exerceu efetivamente seu direito de defesa, por meio da interposição

do recurso cabível. 3. A Fazenda Pública não é obrigada a aceitar

bens nomeados à penhora fora da ordem legal insculpida no art. 11

da Lei 6.830/80, pois o princípio da menor onerosidade do devedor,

preceituado no art. 620 do CPC, tem de estar em equilíbrio com a

satisfação do credor. 4. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg

no REsp n°. 1338515/RS (2012/0170154-2), Relator Ministro

Benedito Gonçalves, Data de Julgamento: 20/03/2014 e Data de

Publicação: 28/03/2014).

JULGAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO EM MOMENTO DIVERSO

DO JULGAMENTO DO ATO ADMINISTRATIVO DE SUSPENSÃO

DE IMUNIDADE. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO À CONTRIBUINTE.

INOCORRÊNCIA DE NULIDADE. Se o julgamento do Auto de

Infração se der em momento posterior ao julgamento do Ato

Administrativo de Suspensão da Imunidade observando na espécie o

que foi ali decidido, garantindo à contribuinte a segurança jurídica, a

ampla defesa e o contraditório, inexiste motivação para se declarar a

nulidade do lançamento, que foi efetuado sem os vícios previstos no

art. 59 do Decreto 70.235/72. (CARF, Recurso Voluntário, 3ª Câmara

- 2ª Turma Ordinária, Acórdão n°. 3302-002.560, Processo n°.

10746000416/2006-61, sessão de 27/03/2014, Relator Conselheiro

Maria da Conceição Arnaldo Jacó).

Page 104: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

103

Desse modo, o prejuízo se consubstancia em um dano a um direito do

contribuinte garantido em lei que afeta a finalidade da emissão do ato administrativo

tributário, em que na sua aplicação tem conotação de prejuízo à defesa do

contribuinte.

Mas, ainda que este seja um dos critérios legais para a decretação da

invalidade, encontramos exceção à aplicação do princípio do prejuízo no CARF,

quando o vício alegado estiver sumulado. O voto do Relator Conselheiro Marcio

Henrique Sales Parada, da sessão de 18/09/2013, no Recurso Voluntário, Acordão

n°. 2801-003.202192, Processo n°. 10768.004366/2001-29, é esclarecedor:

[...] Ante a falta da identificação da autoridade, apontada, incide o

disposto na súmula n° 21 do CARF: É nula, por vício formal, a

notificação de lançamento que não contenha a identificação da

autoridade que a expediu. Entendo no mesmo sentido em que

leciona LEANDRO PAULSEN, de que o reconhecimento de vício

formal depende de se observar eventual prejuízo à defesa. [...] No

caso, conforme relatado, não se verifica que a falta mencionada

tenha impedido o pleno exercício do direito de defesa, como se

observa da SRL, da impugnação e do recurso. Ressalte-se, contudo,

que o artigo 72 do Regimento Interno do CARF prevê que as

decisões consubstanciadas em súmula são de observância

obrigatória pelos membros deste Conselho Administrativo. Assim,

verificada sua aplicação, não pode o Relator silenciar acerca da

192

EMENTA: “NULIDADE DO LANÇAMENTO. APLICAÇÃO DE SÚMULA. É nula, por vício formal, a

notificação de lançamento que não contenha a identificação da autoridade que a expediu, conforme

Súmula CARF n° 21. As decisões reiteradas e uniformes do CARF são consubstanciadas em súmula

de observância obrigatória por seus membros. Recurso Voluntário Provido”.

Page 105: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

104

mesma, devendo declará-la a qualquer tempo. No mesmo sentido,

decidiu a Câmara Superior de Recursos Fiscais no julgamento do

Recurso n° 332.440, conforme Acórdão n° 920200.903, datado de 12

maio de 2010, que restou assim emendado: NULIDADE DO

LANÇAMENTO. SÚMULA 21 DO CARF. ARTIGO 72 DO

REGIMENTO INTERNO DO CARF DISPONDO QUE AS DECISÕES

CONSUBSTANCIADAS EM SÚMULAS SÃO DE OBSERVÂNCIA

OBRIGATÓRIA PELOS MEMBROS DO CARF. APLICAÇÃO NO

CASO CONCRETO. Verificado que o auto de infração não contém a

identificação da autoridade que a expediu, incide o disposto na

Súmula n.° 21 do CARF, que prevê que é nula, por vício formal, a

notificação de lançamento que não contenha a identificação da

autoridade que a expediu. Inteligência do artigo 53 da Lei n° 9.784,

de 1996. No caso concreto, em conformidade com o artigo 53 da Lei

n° 9.784, de 1996, e artigo 72 do Regimento Interno do CARF, que

prevê que as decisões consubstanciadas em súmulas são de

observância obrigatória pelos membros do CARF, aplica-se o

disposto em tais normas para reconhecer a nulidade, por vício

formal, do lançamento, resultando prejudicado o recurso da fazenda

nacional. Processo anulado. (itálico próprio)

Assim, a aplicação do prejuízo ao direito tributário, em que pese a

jurisprudência que o interpreta como um dano ao direito de defesa do contribuinte

não se resume a essa situação. Deve ser interpretado como ofensa qualquer direito

do contribuinte em relação ao processo (devido processo legal, ampla defesa e

contraditório), ao direito de propriedade, aos princípios tributários, à legalidade, à

Page 106: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

105

denúncia espontânea, à segurança jurídica etc., por fim, à própria estabilidade do

ordenamento jurídico.

Ademais, manifestamos o entendimento de que as invalidades por nulidade

têm o prejuízo implicitamente previsto pelo legislador, e as por anulabilidade o

contribuinte deve demonstrar que o desrespeito à formalidade legal causou-lhe um

dano193. Dessa forma, aceitamos a aplicação de que a nulidade tem o prejuízo

implícito, e a anulabilidade há presunção relativa do prejuízo.

Ressaltamos, mais uma vez, a exceção da aplicação do princípio do prejuízo

no CARF quanto às posições sumuladas.

6. Atos irregulares

Atos irregulares são os que têm um defeito ínfimo que não compromete a sua

validade e eficácia.

Nesse sentido, graduando os vícios, há autores194 que os classificam como

espécies de invalidade. Teríamos as seguintes classes de atos defeituosos: a) atos

inexistentes, fora do direito, em que apresentam vícios gravíssimos; b) atos inválidos

que: b.1) com vícios graves que são os atos nulos, casos de nulidades; b.2) vícios

com menor gravidade, que temos os atos anuláveis, caso de anulabilidade; e b.3)

vícios com defeitos ínfimos que são os atos irregulares.

193

“[...] Mesmo que o interessado ofereça razões em recurso voluntário, em prazo oportuno,

demonstrando conhecer os fundamentos jurídicos da decisão, contingência que exige não ter havido

preterição do direito de defesa, ainda assim é de decretar-se a nulidade do procedimento, por virtude

da inexistência jurídica do ato. Faltou-lhe requisito de essência: o motivo de sua celebração.”

(CARVALHO, 2011, p. 943).

194 Id., 2011, p. 497; e MELLO op. cit., 465.

Page 107: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

106

O art. 60 do PAF regula os atos irregulares no âmbito do Direito Processual

Tributário, dispondo:

Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das

referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão

sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo

se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução

do litígio.

Da disposição legal, os atos irregulares não são casos de decretação de

invalidade por o defeito podem ser sanados. Representam erros de grafia, de

aritmética, que não comprometem a validade e a finalidade do ato.

A manutenção desses atos no sistema se fundamenta no princípio da

economia procedimental195.

Assim, temos o entendimento de que esses erros, por não serem passíveis

de comprometer a validade do ato, não estão na classe dos atos inválidos. Estariam

na classe dos atos válidos com meras irregularidades.

JOSÉ JOAQUIM CALMON DE PASSOS196 os trata como uma imperfeição no

ato, diferenciando-o da nulidade segundo seja atingido ou não o fim pretendido, em

que a mera irregularidade tem um vício que não afeta o ato e este é apto a atingir

sua finalidade. É um ato imperfeito, por conter um vício, que é válido e eficaz.

A jurisprudência do CARF tem esse entendimento ao não decretar a nulidade

ou anulabilidade de defeitos que são meras irregularidades:

195

Ibid., p. 496.

196 DE PASSOS, op. cit., p. 129.

Page 108: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

107

ERRO MATERIAL DO FISCO. Constatado o erro, do qual não é

responsável o sujeito passivo, e havendo a possibilidade de ser

sanado sem qualquer prejuízo àquele, não será declarada nulidade

do ato. (CARF, Recurso de Ofício, 3ª Câmara - 2ª Turma Ordinária,

Acórdão n°. 1302-001.100, Processo n°. 18471.002040/2008-71,

sessão de 08/05/2013, Relator Conselheiro Eduardo de Andrade).

MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL. NULIDADE. Meras

irregularidades no MPF não acarretam na nulidade do procedimento

administrativo quando respeitado os arts. 142 do CTN e 10 do

Decreto n° 70.235/72. (CARF, Recurso Voluntário, 1ª Câmara - 1ª

Turma Ordinária, Acórdão n°. 1101-001.046, Processo n°.

15868.720125/2011-98, sessão de 13/02/2014, Relatora Conselheira

Nara Cristina Takeda Taga).

Ademais, conforme voto do Relator Conselheiro Guilherme Pollastri Gomes

da Silva no Recurso Voluntário, Acórdão n°. 1302-001.393, Processo n°.

10950.001248/2001-00, sessão de 07/05/2014, a lavratura do auto de infração em

local diverso do domicílio do contribuinte não gera a invalidade do auto de infração e

pode ser considerada como uma mera irregularidade:

Além do mais, mesmo se o fato de ter ocorrido a lavratura do auto de

infração nas dependências fiscais configurasse irregularidade, esta

poderia ser sanada, se tivesse prejudicado o Recorrente ou se

influísse na solução do litígio, o que a meu ver evidentemente não

ocorreu pois não prejudicou o Recorrente nem tampouco influiu na

solução da controvérsia.

Page 109: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

108

Assim, o CARF editou súmulas sobre arguições de invalidades que são

consideradas como meras irregularidades. Leia-se:

Súmula CARF nº 6: É legítima a lavratura de auto de infração no

local em que foi constatada a infração, ainda que fora do

estabelecimento do contribuinte.

Súmula CARF nº 7: A ausência da indicação da data e da hora de

lavratura do auto de infração não invalida o lançamento de ofício

quando suprida pela data da ciência.

Súmula CARF nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal

realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com

a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não

seja o representante legal do destinatário.

Súmula CARF nº 46: O lançamento de ofício pode ser realizado sem

prévia intimação ao sujeito passivo, nos casos em que o Fisco

dispuser de elementos suficientes à constituição do crédito tributário.

Nesse sentido, LUÍS EDUARDO GARROSSINO BARBIERI197 apresenta uma

sistematização de meras irregularidades, elencando: erros de grafia/digitação na

formalização do lançamento; local ou data e hora da lavratura do lançamento de

ofício; descrição dos fatos em termo anexado aos autos e não no próprio corpo do

197

BARBIERI, op. cit., p. 189-201.

Page 110: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

109

auto de infração; irregularidades na emissão do MPF ou documentos similares;

ciência do Termo de Início da Ação Fiscal por pessoa sem representação legal; e

recebimento de intimação via Correios, com AR – Aviso de recebimento, por

terceiras pessoas.

Dessa forma, somente na apreciação das arguições de invalidade que é

possível verificar se é uma mera irregularidade o vício ou causa de decretação

nulidade ou anulabilidade.

Assim, até o presente momento e considerando todo estudo já realizado,

podemos sistematizar e classificar os atos válidos e inválidos no direito tributário:

Neste contexto, passamos a aplicar as espécies de invalidade, a nulidade e a

anulabilidade, nos requisitos do auto de infração, analisando os vícios e seus efeitos

para relaciona-los.

7. Vícios no auto de infração

Os vícios são as desconformidades da norma jurídica em relação ao previsto

pelo ordenamento jurídico.

Page 111: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

110

Os principais vícios são: de inconstitucionalidade, ilegalidade, vício formal,

vício material, erro de fato198 e erro de direito.

Nesse sentido, JOSÉ JOAQUIM CALMON DE PASSOS199 explica que há

duas espécies de validade e invalidade: a do plano abstrato e a do plano concreto. O

vício de constitucionalidade e inconstitucionalidade e legalidade e ilegalidade opera

no plano abstrato da lei, em que se constata a inadequação da integração da norma

jurídica ao sistema; já os demais vícios operam no plano concreto, em que se

verificam problemas na subsunção e implicação da norma abstrata e geral à

concreta e individual.

Importam para o nosso estudo os vícios no plano concreto, em que passamos

em estudá-los e agrupá-los segundo as classes de invalidades aplicadas no Direito

Tributário.

NORBERTO BOBBIO200 explica que as prescrições jurídicas são limitadas em

relação à matéria e à forma. Denomina a primeira de limite material e a segunda de

limite formal. Os limites materiais se referem ao conteúdo da norma jurídica e os

limites formais aos procedimentos para a expedição da norma. Assim, EURICO

MARCOS DINIZ DE SANTI201 classifica-os em: os primeiros de normas de direito

material, e os segundos de normas de direito formal.

Estudamos que os requisitos do auto de infração compreendem: os

elementos intrínsecos e os pressupostos de validade. Elementos intrínsecos se

referem à estrutura interna da norma jurídica, e os pressupostos de validade os

198

José Souto Maior Borges não reconhece a distinção entre erro de fato e erro de direito, uma vez

que havendo erro há de ser de direito. (op. cit., p. 274).

199 DE PASSOS, op. cit., p. 22-23.

200 BOBBIO, 2006, p. 54.

201 SANTI, 2012, p. 6.

Page 112: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

111

externos. Segundo a classificação disposta, os elementos intrínsecos são normas de

direito material, e os pressupostos de validade, normas de direito formal.

Com base nessas classificações que discorremos sobre as espécies de

vícios.

Vício formal e vício material202 se relacionam aos defeitos entre a forma de

produção da norma jurídica e o seu conteúdo. O ordenamento jurídico prescreve

como as normas jurídicas devem ser produzidas, elencando o processo de formação

no procedimento e o sujeito competente para emissão do ato normativo, e o seu

conteúdo. Assim, temos requisitos formais e requisitos materiais de produção de

normas jurídicas, ou seja, norma de direito formal e norma de direito material,

respectivamente. O vício que viola o processo de formação das normas jurídicas é

um vício formal, e o que viola o conteúdo um vício material, ou seja, o vício formal é

defeito na norma de direito formal, nos pressupostos de validade, e o vício material

nas normas de direito material, nos elementos intrínsecos.

Erro de fato e erro de direito203 se relacionam com a violação na edição da

norma concreta e individual. Tratam da classificação dos defeitos com relação à

202

A doutrina não é unânime na designação de vícios materiais e formais. Tácio Lacerda Gama

designa, respectivamente, de nulidade material e nulidade formal (2011, p. 350-351); e Eurico Marcos

Diniz di Santi em nulidade e anulabilidade (2012, p. 6-7). Designaremos de vício formal e vício

material.

203 Erro de direito é diferente de mudança de critério jurídico. A mudança de critério jurídico é a

substituição de uma interpretação do Fisco por outra ou de critério. Esse ato não comporta processo

de revisão e nem a invalidade da norma jurídica, com vista ao princípio da segurança jurídica.

Ademais, o art. 146 do CTN regula a mudança de critério jurídico dispondo: “Art. 146. A modificação

introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos

adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em

Page 113: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

112

análise linguística do fenômeno jurídico. O erro de fato é um defeito que está dentro

da norma jurídica, da qual há um erro linguístico no antecedente, ao constituir o fato

jurídico, ou no consequente, ao instaurar a relação jurídica. Esse erro se relaciona

às provas. O erro de direito é um defeito externo à norma jurídica, em que há um

descompasso entre o enunciado da norma abstrata e geral e o da norma concreta e

individual. Tratam de vícios na implicação, erro de fato, e na subsunção, erro de

direito, na norma que ao aplicar a lei não há simetria. Erro de fato é violação na

norma de direito material, e erro de direito, na norma de direito formal, e,

respectivamente, nos elementos intrínsecos e nos pressupostos de validade.

Nessa perspectiva, PAULO DE BARROS CARVALHO204 traça as seguintes

distinções entre erro de fato e erro de direito:

Posso oferecer algumas conclusões: 1) A linha divisória entre erro de

faro e erro de direito fica bem nítida: sendo desajuste de linguagem

verificar-se no interior de uma única norma, seja no antecedente ou

no consequente, teremos erro de fato. 2) Para que se trata de erro de

fato, essa norma tem de ser individual e concreta. 3) Quando os

desacertos de linguagem envolverem duas ou mais normas, sendo

uma delas, obrigatoriamente, regra individual e concreta, e outra,

também necessariamente, geral e abstrata, teremos erro de direito.

4) Como particularidade das normas jurídicas tributárias, qualquer

desalinho com relação à ‘alíquota’ ou ao ‘sujeito ativo’ será sempre

erro de direito, porquanto são esses os únicos fatores compositivos

relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua

introdução”.

204 CARVALHO, 2011, p. 494.

Page 114: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

113

da estrutura normativa que não podem ser encontrados na

contextura do fato jurídico tributário. Sua consideração supõe,

necessariamente, o trajeto que vai da norma geral e abstrata à

norma individual e concreta.

No mais, VIVIAN DE FREITAS E RODRIGUES DE OLIVEIRA205 equipara o

erro de fato e o erro de direito, respectivamente, ao vício material e ao vício formal.

Concordamos com a autora. Como já traçamos linhas acima, tanto os vícios

materiais e formais, como os erros de fato e de direito, se referem à violação na

norma introduzida quanto aos elementos intrínsecos e os pressupostos de validade,

ou seja, a norma de direito material e a norma de direito formal. A distinção é que o

erro (de fato e de direito) é uma interpretação linguística do fenômeno

comunicacional do direito, que se adequa à linguagem deste trabalho. Assim,

entendemos que vício material é violação da norma de direito material quanto ao

erro de fato, e vício formal na norma de direito formal quanto ao erro de direito, que,

respectivamente, quanto aos requisitos do auto de infração seriam nos elementos

intrínsecos e nos pressupostos de validade.

Contudo, como se relacionam esses vícios com as espécies de invalidade:

nulidade e anulabilidade?

Para o estudo da classificação das espécies de invalidade e dos vícios,

percorreremos o direito positivo e a jurisprudência.

A sistematização da invalidade está previstas nos arts. 59 ao 61 do PAF.

Neste momento, destacamos o rol do art. 59, que prevê:

205

OLIVEIRA, op. cit., p. 146-148.

Page 115: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

114

Art. 59. São nulos:

I - os atos e termos lavrados por pessoa incompetente;

II - os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente

ou com preterição do direito de defesa.

§ 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele

diretamente dependam ou sejam conseqüência.

§ 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos

alcançados, e determinará as providências necessárias ao

prosseguimento ou solução do processo.

§ 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a

quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora

não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

Ao analisar o dispositivo, percebe-se quão sucinto foi o legislador ao prever

as causas de “nulidade”. Dessa forma, parte da doutrina206 se manifesta que se trata

de um rol exemplificativo, pois há outras situações de invalidade não previstas no

dispositivo. Seguimos esta corrente. Ao analisar o dispositivo, percebe-se que o

objeto do nosso estudo não foi previsto como causa de invalidade do ato

administrativo tributário, ou seja, não há previsão da invalidade pela não observância

das normas procedimentais de lavratura do auto de infração.

Assim, entendemos que o rol é exemplificativo e elenca as causas de

invalidade dos atos administrativos tributários, que podem, a depender do vício, ser

nulos ou anuláveis.

206

NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 478; e NUNES, Cleucio Santos. Curso de direito processual tributário.

São Paulo: Dialética, 2010, p. 337.

Page 116: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

115

Já o art. 173, II, do CTN prevê que o Fisco tem o prazo de 5 anos para

constituir o crédito tributário: “II – da data em que se tornar definitiva a decisão que

houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado”.

Disso se denota que o vício formal é espécie de invalidade por anulação,

sendo, consequentemente, o vício material espécie de nulidade, posição que é

confirmada pela jurisprudência do CARF:

NULIDADE. VÍCIO MATERIAL. O vício material ocorre quando o auto

de infração não preenche os requisitos constantes do art. 142 do

Código Tributário Nacional, havendo equívoco na construção do

lançamento quanto à verificação das condições legais para a

exigência do tributo ou contribuição do crédito tributário, enquanto

que o vício formal ocorre quando o lançamento contiver omissões ou

inobservância de formalidades essenciais, de normas que regem o

procedimento da lavratura do auto, ou seja, da maneira de sua

realização. Recurso Voluntário Provido. (CARF, Recurso Voluntário,

4ª Câmara - 3ª Turma Ordinária, Acórdão n°. 2403-002.525,

Processo n°. 35415.000882/2007-09, sessão de 19/03/2014, Relator

Conselheiro Marcelo Magalhães Peixoto).

LANÇAMENTO DE OFÍCIO CONTRA EMPRESA EXTINTA

REGULARMENTE. ERRO NA IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO

PASSIVO. A extinção regular da pessoa jurídica, e o cancelamento

anterior de sua inscrição no CPNJ tornam inábil lançamento

sobrevindo a tal ato por evidente erro na identificação do sujeito

passivo da obrigação tributária. Trata-se de vício material e não mero

erro formal. Recurso Especial Negado. (CARF, Recurso Especial, 1ª

Page 117: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

116

Turma, Acórdão n°. 9101-001.705, Processo n°. 10670.001272/2006-

91, sessão de 18/7/2013, Relator Conselheiro Jorge Celso Freire da

Silva).

LANÇAMENTO ANULADO POR VÍCIO FORMAL. DECISÃO DE

PRIMEIRA INSTÂNCIA. CONSTITUIÇÃO DE NOVO

LANÇAMENTO. INOBSERVÂNCIA DA DEFINIIVIDADE DA

DECISÃO. INOBSERVÂNCIA DO TRÂNSITO EM JULGADO.

PROVOCA ANULABILIDADE DO NOVO LANÇAMENTO POR VÍCIO

FORMAL. Anulado um lançamento por vício formal, a realização de

novo lançamento somente poderá ocorrer quando se tornar definitiva

a decisão que declarou a nulidade do lançamento anterior, sob pena

de ser considerado igualmente nulo o lançamento ulterior. Recurso

de Ofício Negado. (CARF, Recurso de Ofício, 4ª Câmara - 2ª Turma

Ordinária, Acórdão n°. 1402-001.699, Processo n°.

19515.007507/2008-88, sessão de 08/05/2014, Relator Conselheiro

Paulo Roberto Cortez).

Contudo, encontramos decisões no CARF que divergem da aplicação acima

exposta neste trabalho:

AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO LEGAL. A ausência de

fundamento legal é vício formal insanável que torna nulo o

lançamento. Processo anulado. (CARF, Recurso Voluntário, 3ª

Câmara - 2ª Turma Ordinária, Acordão n°. 2302-003.210, Processo

n°. 11040.720465/2012-72, sessão de 16/o7/2014, Relatora

Conselheira Liege Lacroix Thomasi).

Page 118: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

117

CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A TERCEIROS. UTILIZAÇÃO

EQUIVOCADA DE CÓDIGO DE TERCEIROS. VÍCIO INSANÁVEL. É

nulo, por vício formal insanável, o lançamento realizado com a

utilização do código de terceiros indevido, que implica na incorreta

distribuição dos valores apurados através da NFLD. Recurso de

Ofício Negado. (CARF, Recurso de Ofício, 4ª Câmara - 2ª Turma

Ordinária, Acórdão n°. 2402-004.264, Processo n°.

10830.009856/2007-14, sessão de 09/09/2014, Relator Conselheiro

Julio Cesar Vieira Gomes).207

Mas cabe destacar o voto do Relator Conselheiro Carlos César Quadros

Pierre do CARF nos Embargos, Acórdão n°. 2801-003.708, Processo n°.

10183.001042/2001-18, da sessão de 10/09/2014, que é esclarecedor quanto à

aplicação do vício formal e a espécies de invalidade:

Neste sentido, o vício formal pode ser entendido como a

desobediência à formalidade que cerca a prática do ato. Abrange,

então, as formalidades essenciais à validade do ato. Desta feita, no

caso de carecer de uma formalidade, o ato poderá ser invalidade

pelo chamado vício de forma. [...] Conclui-se através destes excertos

doutrinários que um lançamento tributário é anulado por vício formal

quando não se obedece às formalidades necessárias ou

207

Neste julgado o Relator se manifesta que como não houve questionamento quanto a natureza do

vício e tratar-se de recurso de ofício, não se manifestará se se trata de vício material ou formal: “O

contribuinte não recorreu contra a natureza do vício, formal ou material. Assim sendo, não seria

objeto nessa instância o exame dessa questão, já que se trata apenas de recurso de ofício”.

Page 119: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

118

indispensáveis à existência do ato, isto é, às disposições de ordem

legal para a sua feitura.

Nesse contexto, entendemos que a decretação de invalidade por vício formal

é caso de anulabilidade por afetar os pressupostos de validade; e por vício material

de nulidade208 em que há defeito nos elementos intrínsecos. Sistematizamos:

No mais, em relação aos efeitos jurídicos da decretação de invalidade do auto

de infração temos a considerar.

O art. 173, II, do CTN, determina que a decretação de invalidade do ato

administrativo tributário por vício formal enseja ao Fisco a possibilidade de realizar

novo lançamento do crédito tributário para o fim de regularizar a ilegalidade e torná-

lo exigível. Assim, o efeito da decretação de invalidade por vício formal é a

208

Nossa posição é confirmada por: HARET, op. cit., p. 233; RIBAS, op. cit., p. 85; SANTI, 2012, p. 6;

TOMÉ, 2011/2012, p. 333; e BARBIERI, op. cit., p. 142.

Page 120: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

119

possibilidade do Fisco de lavrar novo lançamento de ofício ou auto de infração no

prazo decadencial. Inversamente, o vício material acarreta como efeito a extinção da

obrigação tributária.

Assim, o vício material está presente no defeito em um dos elementos

intrínsecos do auto de infração. É passível de ser decretado inválido por nulidade e

terá como efeito: a extinção do crédito tributário. E o vício formal, defeito em um dos

pressupostos de validade do auto de infração, é decretado inválido por

anulabilidade, e tem o efeito jurídico de o Fisco poder lavrar novo lançamento

tributário ou auto de infração para o fim de regularizar o vício e tornar o crédito

tributário exigível.

Nessa visão e após toda a exposição, a aplicação da invalidade no auto de

infração em relação aos seus requisitos dispostos no art. 10 do PAF é representada:

a) invalidade por nulidade do auto de infração: vício material que acarreta a

extinção da obrigação tributária. Relacionam-se aos incisos do diploma legal: I – a

qualificação do autuado; II – o local, a data e a hora da lavratura; III – a descrição do

fato; IV – a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; e V – a determinação

da exigência; e

b) invalidade por anulabilidade do auto de infração: vício formal do que pode

se constituído novo crédito tributário por meio da lavratura de outro lançamento

tributário ou auto de infração. Relacionam-se com o art. 10: caput – o auto de

infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta; V – a

intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de trinta dias; e VI – a assinatura

do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula.

Page 121: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

120

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Objetivamos sistematizar as invalidades no direito tributário delimitando suas

espécies, vícios e efeitos em relação aos requisitos do auto de infração dispostos no

art. 10 do PAF.

Propusemos, ainda, durante a exposição responder às seguintes questões:

1) Como é regido e aplicado o sistema das “nulidades” no direito

tributário? Quais são os seus critérios?

2) Quais são as espécies de “nulidade”?

3) Quais são os vícios e seus efeitos?

4) Na relação com os requisitos de lavratura do auto de infração, como se

processa a sistematização em relação à “nulidade”?

Assim, diante das considerações e análises feitas ao longo do trabalho,

sintetizamos nossas conclusões:

1. Direito positivo é sistema linguístico composto unicamente de normas

jurídicas que têm a finalidade de regular as condutas intersubjetivas de uma

sociedade. Nesse contexto, para a construção do seu conteúdo, sentido e alcance, o

intérprete atribui valores aos signos para dar-lhes significação.

2. Norma jurídica é uma construção do intérprete que no percurso gerador de

sentidos atribui significação aos textos de lei para obter a mensagem deôntica de

sentido completo, representada pelo antecedente que implica um consequente. É a

estrutura lógica da norma.

Page 122: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

121

3. O antecedente tem a função de descrever um fato, de possível ocorrência

ou jurídico, e delimitar o momento e o local de sua ocorrência pelos critérios

material, espacial e temporal.

4. O consequente tem a função de regular a conduta desejada pela ordem

jurídica, prever os efeitos jurídicos e instaurar a relação jurídica entre dois ou mais

sujeitos em relação a um objeto. É representado pelos critérios pessoal e

quantitativo. No critério pessoal há a identificação do sujeito ativo que tem o direito

subjetivo de exigir do sujeito passivo o cumprimento da prestação, e o sujeito

passivo tem o dever jurídico de cumprir com a prestação em relação ao sujeito ativo.

O critério quantitativo aplica a base de cálculo e a alíquota para liquidar o crédito

tributário.

5. Para essa estrutura lógica há uma classificação das normas jurídicas em:

norma abstrata e geral; norma concreta e geral; norma abstrata e individual; e norma

concreta e individual.

6. A norma jurídica tributária é a que trata direta ou indiretamente da

instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos. É composta de obrigações

tributárias quanto à instituição dos tributos, e deveres instrumentais nas prestações

de informações pelo contribuinte para a arrecadação e fiscalização destes.

7. A mensagem deôntica completa é representada pela norma jurídica

completa que prescreve a conduta desejada pelo ordenamento e a providência

coercitiva a ser aplicada pelo Estado-Juiz no caso de seu descumprimento. É

composta da norma primária de direito material e a norma secundária de direito

processual.

8. A norma primária se subdivide em norma primária dispositiva, que no

antecedente identifica um fato lítico, e a norma primária sancionadora que no

Page 123: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

122

antecedente descreve um fato ilícito, consistente no descumprimento da norma

primária dispositiva e prescreve no consequente a aplicação de uma sanção

administrativa.

9. A norma secundária é a que tem no antecedente o fato ilícito de

descumprimento da norma primária, e no consequente prevê a aplicação da coerção

pelo Estado-Juiz.

10. O processo de positivação do direito visa atingir as condutas

intersubjetivas com a máxima concretude, passando da abstração à concretude da

norma. Ocorre em duas etapas: da incidência e da aplicação da norma.

11. Dentre as teorias estudadas, adotamos a teoria do Constructivismo

Lógico-Semântico de que a incidência e a aplicação são atos simultâneos realizados

pelo ser humano que constata a ocorrência do evento que se subsume aos critérios

da norma abstrata e geral e o relata em linguagem competente (das provas) para

constituir o fato jurídico, instaurar a relação jurídica e introduzir a norma no sistema.

São atos de subsunção e implicação.

12. Validade é relação de pertinencialidade da norma com o sistema. Assim,

validade é sinônimo de existência da norma jurídica no ordenamento jurídico.

13. Norma jurídica que ingressa no sistema presume-se válida em razão de a

ele pertencer até que outra norma reconheça a sua desconformidade com a

prescrição legal e a retire do sistema, prescrevendo os efeitos jurídicos.

14. A lei existe no ordenamento com o ato de promulgação, e o auto de

infração com a sua lavratura. A publicação é ato para dar conhecimento da norma

existente e torná-la obrigatória aos seus destinatários.

15. Eficácia é a aptidão do fato jurídico de produzir os efeitos previstos no

consequente. Assim, a entendemos na acepção de eficácia jurídica.

Page 124: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

123

16. A decretação de invalidade do auto de infração tem a eficácia jurídica de:

extinguir a obrigação tributária, ou a possibilidade do Fisco lavrar novo lançamento

tributário ou auto de infração para constituir o crédito tributário e a aplicação de

penalidade, e validar o ato ilegal anterior.

17. Auto de infração é palavra polissêmica que tem várias acepções. Dentre

as estudadas, definimos auto de infração como suporte físico ou veículo introdutor

de outras normas jurídicas de lançamento de ofício e a aplicação da penalidade,

denominado auto de infração lato sensu; ou de aplicação da penalidade,

denominado de auto de infração stricto sensu.

18. A lavratura do auto de infração pressupõe a prática de um ato ilícito pelo

contribuinte no descumprimento de uma norma jurídica tributária. Origina-se de um

procedimento de fiscalização ou de sua dispensa, mas o Fisco deve ter elementos e

provas da prática do ato ilícito para legitimar a lavratura.

19. Assim, o auto de infração é norma concreta e individual que no

antecedente constitui o fato jurídico tributário ilícito e no consequente instaura a

relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco, para constituir o crédito

tributário e aplicar a penalidade cabível. Veicula a norma primária dispositiva na

constituição do lançamento de ofício, e a norma primária sancionadora na aplicação

da penalidade.

20. O auto de infração é ato administrativo que se subsume ao regime jurídico

de direito público, dos quais o estudamos nos aspectos de seus atributos e

requisitos.

21. Os atributos dos atos administrativos são um regime jurídico com

prerrogativas próprias. Firmamos o entendimento de que o auto de infração tem os

Page 125: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

124

atributos da presunção de legitimidade e veracidade, tipicidade, imperatividade e

exigibilidade, excluindo a executoriedade.

22. Quanto aos requisitos de lavratura do auto de infração, o classificamos em

elementos intrínsecos, que são internos ao ato administrativo, e pressupostos de

validade, que são externos.

23. Entendemos que os pressupostos de existência não fazem parte dos

requisitos do auto de infração, pois é elemento já integrante quando o auto de

infração é lavrado por pertencer ao sistema.

24. Os elementos intrínsecos são o conteúdo, a forma e a motivação na

norma jurídica introdutora do auto de infração.

25. O conteúdo é a prescrição do ato com o fim de modificar a ordem jurídica.

É o que o ato designa. Entendemos que se apresenta no consequente da norma do

auto de infração.

26. A forma é a maneira que é exteriorizado o ato. No auto de infração é a

escrita.

27. A motivação é a exposição dos motivos do ato, ou seja, o relato em

linguagem competente do evento para constituir o fato jurídico tributário ilícito. Esta

representada no antecedente da norma do auto de infração.

28. Os pressupostos de validade se classificam em subjetivo, objetivo,

teleológico, lógico e formalístico.

29. O pressuposto objetivo se refere ao agente competente para lavrar o auto

de infração. Trata do Auditor-Fiscal da RFB.

30. Os pressupostos objetivos compreendem: os requisitos procedimentais e

o motivo do ato. Requisitos procedimentais são as sequências de atos previstos em

lei para a produção da norma. São de observância obrigatória quando houver

Page 126: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

125

previsão legal, e a publicidade é seu último ato. O motivo do ato é o evento que

ocorreu no mundo fenomênico e constituirá o relato em linguagem competente do

fato jurídico tributário ilícito na motivação do auto de infração.

31. O pressuposto teleológico é a finalidade do auto de infração. Classifica-se

em mediato, que é o interesse público, e imediato, que é a aplicação ao contribuinte

da coação administrativa pelo descumprimento da norma tributária.

32. O pressuposto lógico é a causa, a relação lógica entre o motivo do ato, a

motivação e o seu conteúdo. É a subsunção e a implicação da norma abstrata e

geral à norma concreta e individual, ou seja, nos requisitos de lavratura do auto de

infração dispostos no art. 10 do PAF e o auto de infração introduzido.

33. O pressuposto formalístico, que é a formalização, representa a forma

específica prevista em lei do ato. No auto de infração é como suporte físico.

34. O estudo das invalidades iniciou-se no Direito Romano.

35. Durante anos que se seguiram, houve evolução nos seus estudos e

atualmente é tratada como: ato inexistente, causa de nulidade ou de anulabilidade.

36. Firmamos o entendimento de que o ato inexistente, que tem um vício que

afeta o seu ingresso no ordenamento jurídico, não interessa ao nosso estudo,

porque não dispõe de relevância jurídica.

37. Assim, entendemos que a invalidade tem duas espécies: nulidade e

anulabilidade.

38. Das correntes doutrinárias de direito tributário que estudam as invalidades

dos atos administrativos tributários, firmamos o entendimento de que se aplicam os

critérios de invalidação do direito administrativo, porque os atos tributários são atos

administrativos que se subsumem a esse regime jurídico.

Page 127: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

126

39. O direito positivo tributário sistematiza as invalidades nos arts. 59 a 61 do

PAF e art. 173, II, do CTN. Tem como critérios de aplicação: a convalidação ou

inconvalidação do vício e o princípio do prejuízo.

40. A convalidação é a possibilidade de substituir o ato ilegal por outro legal

com o defeito sanado, com o fim de tornar válido o ato ilegal. Os efeitos são

retroativos ao nascimento do ato ilegal. Relaciona-se com a espécie de invalidade

por anulabilidade.

41. A inconvalidação não possibilita a substituição do ato ilegal em razão de o

vício ser insanável. Relaciona-se com a espécie de invalidade por nulidade.

42. O princípio do prejuízo é inerente ao sistema de invalidade moderno, que

visa valorizar o fim desejado na produção do ato em detrimento do dano que o vício

causa à parte. Trata do binômio defeito-prejuízo.

43. O princípio do prejuízo é conceito relacional entre vício e os seus efeitos

nocivos à finalidade do ato, que é verificável no caso concreto, ao constatar que a

formalidade desrespeita causou um dano passível da decretação de invalidade.

44. Neste sentido, concluímos que a aplicação do princípio do prejuízo gera

conflitos de ordem pragmática e semântica, afetando o princípio da segurança

jurídica, da estrita legalidade e da tipicidade, aplicáveis ao direito tributário.

45. No mais, entendemos que o princípio do prejuízo se relaciona com as

espécies de invalidade, do que: na nulidade é princípio implícito previsto pelo

legislador de que na formalidade é essencial e há a inversão do ônus da prova; e na

anulabilidade tem presunção juris tantum, do qual a parte que a alega deve provar

que a formalidade desrespeitada é essencial à finalidade do ato e causa-lhe um

prejuízo.

Page 128: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

127

46. Do estudo, atribuiu-se que o princípio do prejuízo denota um dano a um

direito do contribuinte, garantido em lei, como a ampla defesa, o contraditório, o

direito de propriedade; até a própria estabilidade do ordenamento jurídico.

47. No mais, é dispensada aplicação do princípio do prejuízo quando a

alegação da invalidade estiver sumulada.

48. Meras irregularidades não são causas de invalidade. É ato válido com

defeito que pode ser sanado. Sua análise é no caso concreto.

49. Os vícios na norma jurídica são de constitucionalidade e

inconstitucionalidade, legalidade e ilegalidade, material e formal, erro de fato e erro

de direito.

50. Estudamos os vícios aplicáveis no caso concreto, na subsunção e na

implicação, classificados em formal e material, erro de fato e erro de direito.

51. As normas que fixam o processo de produção normativa são de direito

material, quanto aos limites materiais de conteúdo, e de direito formal, quanto aos

limites de forma pelo procedimento de expedição da norma.

52. Vício formal é relação com a norma de direito formal, que prescreve o

processo de produção normativo. Ocorre nos pressupostos de validade do auto de

infração. É defeito linguístico no erro de direito, que não há subsunção nos critérios

da norma abstrata e geral com a norma concreta e individual introduzida.

Classificamos como espécie de invalidade por anulabilidade que tem efeito jurídico o

possibilitar o Fisco de lavrar novo lançamento de ofício ou auto de infração para

regularizar o vício e tornar o ato administrativo tributário válido.

53. Vício material é na norma de direito material. Está no conteúdo da norma

jurídica introduzida, ou seja, nos elementos intrínsecos, no antecedente e no

consequente da norma. É defeito linguístico no erro de fato, na implicação.

Page 129: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

128

Classificamos como espécie de invalidade por nulidade que tem o efeito jurídico da

extinção da obrigação tributária.

54. Tecida essas considerações, podemos relacionar as espécies de

invalidade, os vícios e seus efeitos com os requisitos do auto de infração dispostos

no art. 10 do PAF em: a) defeito na qualificação do autuado (inciso I); no local, data

e hora da lavratura do auto de infração (inciso II); na descrição do fato (inciso III); na

disposição legal infringida e na penalidade aplicável (inciso IV); e na determinação

da exigência (inciso V, primeira parte); são passíveis da decretação de invalidade

por nulidade que contém um vício material e acarreta a extinção da obrigação

tributária; e b) defeito na lavratura por servidor competente e no local da verificação

da falta (caput); na intimação do contribuinte para cumprir ou impugnar o auto de

infração (inciso V, segunda parte); e na assinatura do autuante e na indicação de

seu cargo ou função e o número de matrícula (inciso VI); são passíveis de

decretação de invalidade por anulabilidade que contém um vício formal e tem o

efeito jurídico do possibilitar o Fisco de constituir novo lançamento tributário ou auto

de infração regularizando o vício.

55. Assim, concluímos que apesar da sistematização que acabamos de

descrever, a ausência de normas legais que prescrevem os vícios materiais e

formais, seus efeitos e as espécies de invalidade, afeta a estabilidade do

ordenamento jurídico, pois a decretação da invalidade do auto de infração é feita

pelo julgador, que partindo de um sistema de referência diferente do nosso, pode

chegar a conclusões diversas, que colocam em risco o princípio da segurança

jurídica, da estrita legalidade e da tipicidade, bem como o exercício das garantias

constitucionais do contribuinte. Logo, há a necessidade de uma alteração legislativa

para uma melhor sistematização da invalidade no auto de infração.

Page 130: Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

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