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Apostila de Direito das Sucessões 1 Prof. AGEU CAVALCANTE LEMOS JÚNIOR 2.017 www.ageuadvocacia.com.br DIREITO DAS SUCESSÕES I - DA SUCESSÃO EM GERAL 1.1 – CONCEITO DO DIREITO DAS SUCESSÕES - O Direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento. - Com a morte do autor da herança, o sucessor passa a ter a posição jurídica do finado, sem qualquer alteração na relação de direito, que permanece a mesma apesar da mudança de sujeito. 1.2 - SENTIDO DA PALAVRA "SUCESSÃO" 1 - Em sentido amplo - a palavra sucessão se aplica a todos os modos derivados de aquisição do domínio, ou seja, é o ato pelo qual alguém sucede a outrem, investindo-se, no todo ou em parte, nos direitos que lhe pertenciam. 2 - Em sentido estrito - a palavra sucessão significa a transferência, total ou parcial, de herança, por morte de alguém, a um ou mais herdeiros. No presente momento, trataremos apenas da sucessão em sentido estrito, ou seja, da sucessão causa mortis. 1.3 – FUNDAMENTO DO DIREITO DAS SUCESSÕES - O fundamento do direito sucessório é a propriedade, conjugada ou não com o direito de família. - A possibilidade de transferir bens mortis causa é corolário do direito de propriedade, uma vez que, em caso contrário, a propriedade ficaria despida de um de seus caracteres, ou seja, a perpetuidade. 1.4 – CONTEÚDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES - Em nosso Código Civil, o direito das sucessões divide-se em quatro partes:

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    Prof. AGEU CAVALCANTE LEMOS JÚNIOR 2.017 www.ageuadvocacia.com.br

    DIREITO DAS SUCESSÕES

    I - DA SUCESSÃO EM GERAL

    1.1 – CONCEITO DO DIREITO DAS SUCESSÕES

    - O Direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de

    sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento.

    - Com a morte do autor da herança, o sucessor passa a ter a

    posição jurídica do finado, sem qualquer alteração na relação de direito, que permanece a mesma apesar da mudança de

    sujeito.

    1.2 - SENTIDO DA PALAVRA "SUCESSÃO"

    1 - Em sentido amplo - a palavra sucessão se aplica a todos os

    modos derivados de aquisição do domínio, ou seja, é o ato pelo qual

    alguém sucede a outrem, investindo-se, no todo ou em parte, nos direitos que lhe pertenciam.

    2 - Em sentido estrito - a palavra sucessão significa a

    transferência, total ou parcial, de herança, por morte de alguém, a um ou mais herdeiros.

    No presente momento, trataremos apenas da sucessão em sentido estrito, ou seja, da sucessão causa mortis.

    1.3 – FUNDAMENTO DO DIREITO DAS SUCESSÕES

    - O fundamento do direito sucessório é a propriedade, conjugada ou não com o direito de família.

    - A possibilidade de transferir bens mortis causa é corolário do direito de propriedade, uma vez que, em caso contrário, a

    propriedade ficaria despida de um de seus caracteres, ou seja,

    a perpetuidade.

    1.4 – CONTEÚDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES

    - Em nosso Código Civil, o direito das sucessões divide-se em

    quatro partes:

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    1ª - Sucessão em geral – onde traça normas sobre a sucessão legítima e testamentária, relativas à transmissão, aceitação, à

    renúncia e à indignidade;

    2ª - Sucessão legítima – onde abrange a transmissão da herança, que se opera em virtude de lei às pessoas constantes da ordem de

    vocação hereditária;

    3ª - Sucessão testamentária – onde contém disposições relativas

    à transferência de bens causa mortis por ato de última vontade;

    4ª - Inventário e partilha – onde estabelece as normas sobre o processo judicial por meio do qual se descreve os bens da herança,

    se lavra o título de herdeiro, se liquida o passivo do monte, se paga o imposto de transmissão mortis causa e se efetua a partilha dos bens

    entre os herdeiros.

    1.5 – CLASSIFICAÇÃO

    - Quanto à fonte de que deriva:

    a) testamentária: oriunda de testamento válido ou de codicilo.

    Vigora em nosso ordenamento jurídico o sistema da liberdade de testar limitada, por meio do qual se o testador tiver herdeiros

    necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge sucessíveis - art. 1845, CC), só poderá dispor de metade da herança. Assim, o

    patrimônio do de cujus é dividido em duas partes: legítima (ou reserva dos herdeiros necessários) e porção disponível;

    b) legítima ou ab intestato: resulta da lei nos casos de ausência,

    nulidade, anulabilidade ou caducidade do testamento.

    - Admite-se a existência simultânea dessas duas espécies de sucessão, eis que se o testamento não abranger a totalidade

    dos bens do falecido, a parte de seu patrimônio não mencionada no ato de última vontade transmite-se aos

    herdeiros legítimos na ordem da vocação hereditária.

    - O ordenamento jurídico pátrio não admite a denominada

    sucessão contratual, pois veda contratos que tenham por objeto herança de pessoa viva (art. 426 CC).

    - Alguns autores, nos termos do art. 2.018 do CC/2002, apontam

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    uma exceção a essa regra: possibilidade de partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade,

    conquanto que não prejudique a legítima dos herdeiros

    necessários.

    - O Código Civil/2002 não mais admite as chamadas doações

    antenupciais causa mortis, que, na vigência do Código Civil de 1916 (art. 314), eram consideradas como mais uma espécie de

    sucessão contratual.

    - Quanto aos efeitos:

    a) a título universal - quando houver transferência da totalidade ou de uma parte indeterminada (porção abstrata) da herança, tanto no

    seu ativo como no passivo, para o herdeiro do de cujus. Se a sucessão a título universal decorrer de testamento, diz-se que houve

    a instituição de herdeiro (herdeiro instituído, nomeado ou testamentário). A sucessão legítima é sempre a título universal e o

    sucessor se denomina herdeiro legítimo. Se houver um único herdeiro que recebe a totalidade da herança, dá-se a ele o nome de herdeiro

    universal;

    b) a título singular - quando o testador transfere ao beneficiário apenas bens certos e determinados. Decorre apenas de testamento e

    diz-se que houve a nomeação de legatário.

    O legatário não responde pelas dívidas e encargos da herança, salvo

    em se tratando de débitos tributários, caso em que sua responsabilidade fica limitada ao montante do legado (art. 131, II do

    CTN).

    1.6 - ABERTURA _DA SUCESSÃO, DELAÇÃO OU DEVOLUÇÃO

    SUCESSÓRIA

    - Dá-se a abertura da sucessão no momento do falecimento do de cujus, transmitindo-se a herança, sem solução de

    continuidade, aos herdeiros legítimos e testamentários (princípio da saisine), ainda que eles ignorem o fato.

    - Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa

    certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva. Entretanto, não se defere de imediato a

    posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria.

    - Sobre o assunto, Carlos Roberto Gonçalves leciona: "Quanto aos legatários, a situação é diferente: adquirem a propriedade

    dos bens infungíveis desde a abertura da sucessão; dos fungíveis, porém, só pela partilha. A posse, em ambos os

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    casos, deve ser requerida aos herdeiros, que só estão obrigados a entregá-la por ocasião da partilha depois de

    comprovada a solvência do espólio".

    1.7 - HERANÇA

    - É o objeto da sucessão, confundindo-se com o patrimônio do de

    cujus, ou seja, é o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem aos seus sucessores;

    - Excluem-se da herança os direitos personalíssimos que se extinguem com a morte (pátrio poder, tutela, :curatela, direitos

    políticos etc.) e os direitos e deveres patrimoniais que não passam aos herdeiros, por serem inerentes à pessoa do de

    cujus (uso, usufruto etc.).

    - A herança difere da meação. Esta constitui a parte que cada

    cônjuge ou companheiro possui sobre os bens comunicáveis e independe da abertura da sucessão.

    - Aquela é o patrimônio do de cujus, abrangendo seus bens particulares e sua meação sobre os bens comuns. Assim,

    quando se fala em herança, deve-se ter em mente que dela não

    faz parte da meação do cônjuge ou do companheiro sobrevivente, já que pertenciam a estes antes mesmo do óbito

    do de cujus.

    - O herdeiro não representa o de cujus, pois o sucede apenas nos

    bens e não na sua pessoa. Somente assume a titularidade das relações jurídicas patrimoniais do falecido.

    - O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel, exigindo escritura pública para a sua cessão e autorização do cônjuge

    para que o respectivo titular possa estar em juízo.

    - O direito à herança, quanto à posse e à propriedade, é

    indivisível até a partilha, regulando-se pelas normas relativas ao condomínio.

    - Ela é inicialmente deferida como um todo unitário (universalidade de direito), ainda que vários sejam os

    herdeiros. Assim, o co-herdeiro não pode vender ou hipotecar

    parte determinada de coisa comum do espólio, mas apenas ceder direitos hereditários concernentes a sua parte ideal.

    - O Código Civil /2002 estabelece que "é ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da

    herança considerado singularmente" (art. 1.793, §2°), bem como que "ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do

    juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade" (art. 1.793,

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    §3°).

    - Os demais co-herdeiros têm direito de preferência, tendo em

    vista que, até a partilha, existe um condomínio indivisível (Arts.

    1.794 e 1.795, CC/2002).

    - Segundo noticia MHD, inexiste consenso na doutrina e na

    jurisprudência a respeito da necessidade da anuência dos demais herdeiros para que haja a cessão do quinhão hereditário

    de um deles a terceiros.

    - Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da

    herança ao terceiro, que indevidamente a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, o caráter parcial do seu direito nos

    bens da sucessão. Este direito não é personalíssimo, razão pela qual pode o cessionário se valer do mesmo.

    1.8 - LOCAL DA ABERTURA DA SUCESSÃO E DO JUÍZO DO

    INVENTÁRIO

    O local da abertura da sucessão é o do último domicílio do falecido, o

    qual passa a ser competente para o inventário, a partilha, a

    arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e praticamente todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o

    óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, o juízo competente é o da situação dos bens

    e, se, além disso, possuía bens em lugares diversos, o do lugar do óbito.

    Ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha ele residido fora do território nacional, compete à autoridade judiciária brasileira,

    com exclusão de qualquer outra, proceder ao inventário e partilha de bens situados no Brasil.

    Em princípio, cessa a universalidade do juízo do inventário com o término do estado de indivisão da herança, o que se dá com a

    partilha.

    1.9- CESSÃO DA HERANCA

    Consiste na transferência que o herdeiro, legítimo ou testamentário, faz a outrem de todo quinhão hereditário que lhe compete após a

    abertura da sucessão, ou de parte dele. Pode ser gratuita ou onerosa.

    Princípios:

    - O cedente deve ter capacidade genérica e dispositiva;

    - A cessão só valerá após a abertura da sucessão e deverá ser

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    feita por escritura pública, qualquer que seja o valor;

    - Somente pode ser efetivada antes da partilha;

    - O cedente transfere sua quota ideal na massa hereditária, sem

    discriminar bens, sob pena de ineficácia da cessão (art. 1.793, §§2° e 3Q, CC/2002);

    - O cessionário sucede inter vivos, sendo sucessor a título singular;

    - O cessionário assume, em relação aos direitos hereditários, a mesma condição jurídica do cedente. Todavia, o Código

    Civil/2002 ressalva que "os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito de acrescer,

    presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente" (art. 1.793, §1°);

    - O cessionário corre o risco' de ver a herança ser absorvida pelos débitos;

    - É negócio jurídico aleatório;

    - O cedente, em regra, não responde pelos riscos da evicção;

    - A cessão da herança feita sem a anuência dos credores do

    espólio autoriza que o cedente seja acionado por eles;

    - Os co-herdeiros têm direito de preferência na aquisição dos

    direitos hereditários de qualquer um deles (art. 1.794, CC). Caso esse direito de preferência não seja observado, o co-

    herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se

    o requerer até 180 dias após a transmissão. Sendo vários co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o

    quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias (art. 1.795, CC);

    - O cessionário intervém no processo de inventário, sendo contemplado na partilha, tirando-se em seu nome o pagamento

    que caberia ao cedente, desde que nenhum dos coherdeiros use do direito de preferência antes da partilha;

    - A cessão pode ser anulada por qualquer vício do negócio

    jurídico.

    1.10 - LEGITIMACÃO E CAPACIDADE PARA SUCEDER

    - Capacidade civil e capacidade-sucessória - Não se confunde a

    capacidade sucessória com a capacidade civil. Esta é a aptidão que a pessoa tem para exercer, por si, os atos da vida civil. Aquela, por sua

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    vez, é a aptidão para receber os bens deixados pelo de cujus.

    - Momento em que se verifica - A capacidade e a legitimação para

    suceder é a do tempo da abertura da sucessão, que se regulará

    conforme alei então em vigor. Assim, a capacidade e legitimação do herdeiro instituído e do legatário deve se aferir ao tempo da abertura

    da sucessão, e não da confecção do testamento. Entretanto, se a instituição de herdeiro ou de legatário se subordinar a condição

    suspensiva, só por ocasião de seu implemento se apreciará dita capacidade e legitimação.

    - Pressupostos para a verificação da capacidade sucessória:

    a) morte do de cujus;

    b) sobrevivência do sucessor;

    c) pertencer o sucessor à espécie humana ou se tratar"de pessoa

    jurídica;

    d) título ou fundamento jurídico do direito de herdeiro ou

    legatário.

    OBS:

    1 – A pessoa jurídica, exceto os Municípios, o Distrito Federal e a

    União, não pode suceder ab intestato. Pode, entretanto, suceder por testamento, desde que exista legalmente, admitindo-se, ainda,

    transmissão hereditária condicional, no caso de se contemplar pessoa jurídica ainda não constituída.

    Sobre o assunto, Maria Helena Diniz esclarece: "Entretanto, tolera-se que o testador transmita bens a um ente moral, sob a condição de

    constituir-se regularmente, ou a uma sociedade de fato, aguardando-se sua constituição legal, quando, então, opera-se a transmissão

    hereditária". O Código Civil/2002 é expresso quanto à possibilidade de se contemplar através de testamento "as pessoas jurídicas, cuja

    organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação". A pessoa jurídica em liquidação não pode suceder, porque já deixou

    de existir, "uma vez que se prolonga sua personalidade apenas em atenção aos atos necessários à liquidação patrimonial" (MHD). .

    2 – A concessão de herança ou legado a uma pessoa com o encargo

    de cuidar de determinada coisa inanimada ou de animal não fere o terceiro pressuposto acima mencionado, eis que o sucessor será a

    pessoa contemplada.

    1.10.1 - SITUACÃO DO EMBRIÃO CRIOPRESERVADO, DO NASCITURO E DA PESSOA AINDA NÃO CONCEBIDA AO TEMPO

    DA ABERTURA DA SUCESSÃO.

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    - Segundo o Código Civil/2002, legitima-se a suceder, as pessoas

    nascidas ou já concebidas no momento da abertura da

    sucessão (art. 1.798). E o mesmo estatuto preceitua que "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;

    mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro" (art. 2°).

    - O primeiro problema que se impõe diante dessas disposições é o de definir a partir de que momento considera-se concebida

    uma pessoa: se é, a partir da nidação do ovo ou zigoto no útero materno (momento em que há, em tese, uma viabilidade da

    gestação ser exitosa), ou se a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide (quando já se tem definida a carga

    genética do potencial ser futuro).

    - O problema não se propunha quando da edição do Código Civil

    de 1916, uma vez que, naquela época, a ciência não estava avançada a ponto de, como hoje, existirem inúmeros métodos

    de reprodução assistida, inclusive com a fecundação extra-

    uterina do óvulo e subseqüente congelamento (criopreservação) de embriões excedentários (não implantados

    imediatamente).

    - A questão é por demais complexa e ensejaria, a toda evidência,

    um trabalho exclusivo para ela. Assim, serão abordadas apenas algumas breves considerações acerca do assunto.

    - Maria Helena Diniz considera como ser humano concebido o óvulo fecundado “in vitro", caracterizando-se como titular de

    direitos da personalidade, como à vida, à integridade física e à saúde, tanto que há vedações quanto à manipulação genética

    dos mesmos.

    - No mesmo sentido, Ana Cristina Rafful considera a fecundação

    como ato de conceber, antes mesmo da implantação do embrião no útero materno. Tal autora cita julgado proferido por

    um Tribunal dos Estados Unidos, em que, em outubro de 1989,

    decidiu-se que os embriões são pessoas e devem acompanhar a mãe porque a vida humana se inicia na concepção.

    - De fato, o embrião congelado - ou, mais tecnicamente, criopreservado - já se caracteriza como um ser humano

    concebido, pois, segundo Maria Helena Diniz, "com a fusão dos gametas (masculino e feminino), determinam-se os caracteres

    do novo ser humano, surgindo, então, a pessoa, enquanto sujeito de direito".

    - O Código Civil/2002 dá respaldo a esse entendimento, pois, no

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    art. 1.597, IV, refere-se a embriões excedentários decorrentes de concepção artificial homóloga, dando a entender que

    aqueles, antes mesmo de implantados, já são seres humanos

    concebidos.

    - Aí surge a pergunta: esses embriões congelados já se

    legitimam a suceder, porque consideram-se pessoas concebidas no momento da abertura da sucessão?

    - Embora o embrião criopreservado possa ser considerado como ser concebido, não ostenta a natureza de nascituro, pois, como

    tal, somente há que se considerar aquele já implantado no útero materno. Isso porque apenas a partir desse momento é

    que se pode falar em vida viável.

    - Neste sentido, J. M. Carvalho Santos entende que o embrião

    não implantado não possui direito à tutela jurídica, por não possuir condições de desenvolvimento fora do útero materno.

    - Corroborando esse entendimento, tramita no Congresso Nacional projeto de lei de autoria do deputado Ricardo Fiúza, o

    qual, entre outras coisas, visa à alteração do art. 2° do Código

    Civil/2002, a fim de que o mesmo passe a dispor que "a lei põe a salvo os direitos do embrião e os do nascituro". Consta de tal

    projeto, como justificativa, a afirmação de que o embrião, antes de implantado e viabilizado no ventre da mãe, não pode ser

    considerado nascituro.

    - Na mesma linha, o Código de Processo Civil somente admite a

    medida denominada posse em nome do nascituro quando há prova da gravidez, não bastando a mera demonstração da

    existência de embriões.

    - Por motivos de razoabilidade, esse é o melhor entendimento,

    pois, do contrário, teríamos que admitir, por exemplo, a reserva de bens da herança a fim de atender ao eventual

    direito sucessório do embrião criopreservado ou a posse em nome do nascituro.

    - Se essas medidas fossem adotadas, até, quando elas

    prevaleceriam? Enquanto a mãe vivesse, uma vez que até a sua morte haveria possibilidade de gestação? Enquanto não

    fosse reconhecida a inviabilidade de desenvolvimento do embrião, o que dependeria de comprovação e, talvez,

    demandaria muito tempo? E, enquanto isso, os bens ficariam com quem? Com a mãe ou com o inventariante? Além disso, se

    a reserva de bens determinada no curso do inventário tem natureza cautelar, como seria possível propor a ação principal

    provavelmente petição de herança - no prazo de 30 dias, se,

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    nesse prazo, não ocorresse sequer a implantação do óvulo?

    - As incertezas que decorrem dessa situação, evidentemente,

    não recomendam que o embrião criopreservado tenha seus

    eventuais direitos patrimoniais protegidos, senão depois de implantado no útero materno e demonstrado o estado de

    gravidez. Isso porque a ausência de viabilidade imediata desautoriza qualquer medida de proteção a um possível direito

    patrimonial, em detrimento de herdeiros já existentes e dotados de personalidade.

    - Com isso não se está sustentando que o embrião criopreservado não teria direitos sucessórios sobre a herança

    deixada por seu genitor, caso este falecesse antes da implantação daquele no útero materno. Mas, simplesmente,

    que, apenas após assumir a condição de nascituro (implantação no útero), se admitiria a posse em seu nome (providência

    cautelar), assegurando-se seus direitos sucessórios a partir do nascimento, com efeitos ex tunc, ou seja, desde a concepção in

    vitro.

    - De outra parte, o nascituro - ser humano concebido e com vida intra-uterina - tem capacidade sucessória excepcional, eis que,

    apesar de não possuir personalidade civil, seu representante legal recebe a herança sob condição resolutiva. Se não nascer

    com vida, é como se nunca houvesse existido.

    - Pessoa ainda não concebida ao tempo da abertura da sucessão

    não pode herdar. Entretanto, admite-se a confecção de testamento contemplando "os filhos, ainda não concebidos, de

    pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão", caso em que haverá transmissão

    hereditária condicional.

    - Em relação a essa prole eventual, o Código Civil dispõe, em seu

    art. 1.800, § 4°, que se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão (prazo de espera), não for concebido o herdeiro

    esperado, os bens reservados, salvo disposição em

    contrário do testador1, caberão aos herdeiros legítimos. No caso dessas pessoas ainda não concebidas serem contempladas

    em testamento, "os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juízo (art.

    1.800, caput)”, de modo que, “nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e

    1 Essa expressão "salvo disposição em contrário" se refere ao destino dos bens, e

    não ao prazo de espera de 4 (quatro) anos, contado da abertura da sucessão. Esta

    ação não pode ser proposta. pelo ofendido, ao qual é assegurado o direito de

    deserdar o ofensor.

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    rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador" (art. 1.800, §3°).

    2 - INDIGNIDADE

    2.1 - Conceito - "Pena civil que priva do direito à herança não só o

    herdeiro, bem como o legatário que cometeu atos criminosos ou reprováveis, taxativamente enumerados em lei, contra a vida, a

    honra e a liberdade do de cujus" (MHD), ou de certas pessoas de sua família (Código Civil/2002).

    2.2 - Causas:

    a) os que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de

    homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou

    descendente. Não se aplica a exclusão, se tratar-se de homicídio culposo, de aberratio ictus, de erro quanto à pessoa,

    de legítima defesa, de estado de necessidade. Há autores que

    entendem que a instigação ao suicídio se equipara ao homicídio, para efeito de exclusão por indignidade;

    b) os que houverem acusado, caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu

    cônjuge ou companheiro;

    c) os que, por violência ou meios fraudulentos, a inibirem ou

    obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus be,ns por ato de última vontade.

    - Os casos de exclusão do herdeiro ou legatário por indignidade

    são somente estes, inadmitindo-se interpretação extensiva ou aplicação analógica.

    8.2 - Declaração jurídica da indignidade - A exclusão do herdeiro

    ou legatário, em qualquer dos casos de indignidade, será declarada

    por sentença, em ação ordinária, movida por quem tenha interesse na sucessão. Tal ação encontra-se sujeita ao prazo decadencial

    8.3 – Efeitos da Indignidade:

    1- São pessoais os efeitos da exclusão, razão pela qual os descendentes do herdeiro legítimo excluído sucedem, como se

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    ele fosse morto antes da abertura da sucessão (sucedem por representação);

    2- O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto e à

    administração dos bens, que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens;

    3- O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver auferido, mas

    tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles;

    4- São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente

    praticados pelo herdeiro excluído, antes da sentença de exclusão; mas aos co-herdeiros subsiste, quando

    prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos;

    5- O excluído deverá responder por perdas e danos, no caso de

    restar apurada a obstação, ocultação ou destruição do testamento por culpa ou dolo;

    6- Para alguns autores, segundo noticia MHD, o indigno não está

    proibido de representar seu pai na sucessão de outro parente, já que a pena deve ser considerada restritivamente.

    Entretanto, MHD e Sílvio Rodrigues têm entendimento em sentido contrário.

    8.4 – Herdeiro aparente

    - É aquele que se conduz como herdeiro, mas que não possui qualquer direito sobre os bens da sucessão. O Código de 1916

    previa a figurado herdeiro aparente apenas no caso de exclusão por indignidade (art. 1.600 do CC).

    - Diante disso perguntava-se se eram válidos os atos de alienação e de oneração de bens da herança feitos pelo herdeiro aparente, fora do caso do art. 1.600 do CC.

    Entretanto, o Código Civil/2002 resolveu o impasse, ao dispor que "são eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo

    herdeiro aparente a terceiro de boa-fé" (art. 1.827, parágrafo único).

    8.5 - Reabilitação do indigno

    - Afigura-se possível, mediante ato autêntico, ou testamento da

    pessoa ofendida, resolvendo admiti-lo na sucessão.

    - O perdão dado pelo ofendido é irretratável. No entanto, "não

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    havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já

    conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da

    disposição testamentária" (art. 1.818, parágrafo único, CC/2002).

    8.6 - Distinção entre incapacidade sucessória e indignidade

    (segundo MHD):

    - a incapacidade sucessória impede que nasça o direito à

    sucessão; a indignidade obsta a conservação da herança;

    - o incapaz não adquire a herança em momento algum; o indigno

    a adquire quando da abertura da sucessão, vindo a perdê-la com o trânsito em julgado de sentença declaratória de sua

    indignidade.

    9 - ACEITACÃO OU ADIÇÃO DA HERANCA

    9.1 - Conceito – É o ato pelo qual o herdeiro ou legatário manifesta a vontade de receber a herança ou o legado que lhe é transmitido.

    - Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao

    herdeiro, desde a abertura da sucessão. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança.

    Classificação:

    - Quanto à forma:

    a) tácita - quando resulta tão-somente de atos próprios da qualidade

    de herdeiro. Não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios ou os de

    administração e guarda provisória. Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-

    herdeiros;

    b) expressa - quando se faz por declaração escrita;

    c) presumida - o interessado em que o herdeiro declare se aceita,

    ou não, a herança, poderá, vinte dias depois de aberta a sucessão, requerer ao juiz que fixe prazo razoável, não maior de trinta dias,

    para, dentro nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.

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    -Quanto à pessoa que a manifesta:

    a) direta - se manifestada pelo próprio herdeiro;

    b) indireta - se alguém a faz pelo herdeiro, podendo ser feita:

    - pelos herdeiros do herdeiro: se este falecer antes de declarar se

    aceita ou não a herança. Não se afigura admissível se se tratar de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.

    "Os chamados à sucessão do herdeiro antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou

    renunciar a primeira" (art. 1.809, parágrafo único, CC/2002);

    - pelo tutor ou curador: de heranças e legados, com ou sem encargos, mediante autorização do juiz;

    - por mandatário ou gestor de negócios: há controvérsias quanto à admissibilidade de aceitação da herança pelo gestor de negócios;

    - pelos credores do herdeiro: se a renúncia prejudicar os credores,

    poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do

    renunciante. Entretanto, depois de pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido

    aos demais herdeiros. A habilitação dos credores se fará no prazo de 30(trinta) dias seguintes ao conhecimento do fato (art. 1.813, §1°,

    CC/2002).

    Conteúdo: Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição, ou a termo o herdeiro, a quem se testarem legados,

    pode aceitá-los, renunciando a herança, ou aceitando-a, repudiá-los.

    - "O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um

    quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que

    renuncia" (art. 1808, § 2°, CC/2002)

    Retratação: são irrevogáveis os atos de aceitação e de renúncia da

    herança (art. 1.812, CC/2002).

    Anulação: É cabível, por exemplo, se o aceitante não é o herdeiro ou se existirem vícios de consentimento.

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    10 - RENÚNCIA OU REPÚDIO DA HERANÇA

    10.1 – Conceito: É o ato solene pelo qual o herdeiro ou o legatário

    manifesta a vontade de não aceitar a herança ou o legado que lhe é

    transmitido.

    - A renúncia pura e simples, ou abdicativa, é a renúncia

    propriamente dita, vez que é manifestada de forma incondicional em favor do monte.

    - Contrapõe-se a ela a denominada renúncia translativa ou em favor de alguém, a qual caracteriza uma aceitação tácita

    seguida de uma cessão dos direitos hereditários em favor de pessoa certa e determinada.

    Requisitos:

    - capacidade jurídica do renunciante: exige-se, inclusive, a capacidade para alienar;

    OBS: Segundo MHD, a pessoa casada pode renunciar à herança ou legado independentemente de prévio consentimento do cônjuge.

    Entretanto, Amoldo Wald e Sílvio Rodrigues têm entendimento em

    sentido contrário.

    - O mandatário, para renunciar à herança pelo mandante,

    necessita de poderes especiais e expressos. O representante legal do menor, por sua vez, necessita de autorização judicial.

    - forma prescrita em Lei: deve constar expressamente de

    instrumento público, ou de termo judicial, sob pena de nulidade absoluta;

    - inadmissibilidade de condição ou termo: a renúncia é ato puro

    e simples;

    - impossibilidade de repúdio parcial da herança: admite-se, entretanto, que o herdeiro que suceder, concomitantemente, a título

    universal, como herdeiro, e a título singular, como legatário, possa

    renunciar integralmente à herança, conservando o legado, ou vice-versa;

    - Ademais, "o herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode

    livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia" (art. 1.808, § 2°, CC/2002);

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    - Abertura da sucessão: somente a partir dela é que o herdeiro ou o legatário adquire direito à herança ou ao legado.

    Efeitos:

    - o renunciante é tratado como se nunca houvesse sido chamado à

    sucessão;

    - na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe, e, sendo ele o único desta, devolve-se

    aos da subseqüente (direito de acrescer);

    - os descendentes do renunciante não herdam por representação na sucessão legítima; porém, se ele for o único legítimo de sua classe,

    ou se todos os outros da mesma classe renunciarem à herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça;

    - na sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro torna caduca a disposição de última vontade que o beneficie, a não ser que o

    testador tenha indicado substituto ou haja direito de acrescer

    entre Os herdeiros;

    - o que renuncia a herança não se encontra impedido de aceitar legado, e vice-versa; o renunciante pode administrar e ter usufruto

    dos bens que, em razão de sua renúncia, forem transmitidos a seus filhos menores sob pátrio poder.

    Retratação: A renúncia é irrevogável. Pode, entretanto, ser anulada

    por vício de consentimento, por exemplo.

    11 - RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELAS DÍVIDAS

    - O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da

    herança; incumbe-lhe, porém, provar o excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens

    herdados (arts. 1.792 e 1.821, CC/2002).

    - No mesmo sentido, dispõe o art. 597 do CPC: "O espólio responde pelas dívidas do falecido; mas, feita a partilha, cada

    herdeiro responde por elas na proporção da parte que na herança lhe coube".

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    OBS: Seguindo a mesma orientação, vide os arts. 836 e 1.997 do CC/2002.

    - Os quinhões hereditários dos que herdam por direito de

    representação não respondem pelas dívidas do representado, mas apenas pelas do falecido.

    - Os bens doados, embora a título de adiantamento de legítima, não respondem pelos encargos da sucessão (WBM).

    12 - HERANCA JACENTE

    Conceito: É aquela relativamente à qual não há herdeiro legítimo ou testamentário notoriamente conhecido.

    Casos:

    Não havendo testamento: se o falecido não deixar herdeiros legítimos notoriamente conhecidos;

    Havendo testamento: se o herdeiro nomeado não existir ou

    renunciar à herança, e se o falecido não deixar herdeiros legítimos

    notoriamente conhecidos.

    Arrecadação: Nos casos em que a herança se considera jacente, o

    juiz da comarca onde o falecido tiver domicílio procederá, sem perda de tempo (deve-se aguardar o prazo legal de 30 dias a contar da

    abertura da sucessão); à arrecadação de todos os seus bens, na forma prevista nos arts. 1.144 a 1.151 do CPC.

    - Não se procederá à arrecadação; ou suspender-se-á esta quando

    iniciada, se se apresentar para reclamar os bens o cônjuge, herdeiro ou testamenteiro notoriamente conhecido e não houver oposição

    motivada do curador, de qualquer interessado, do órgão do Ministério Público ou do representante da Fazenda Pública.

    - Ultimada a arrecadação, mandará o juiz expedir edital, que será

    estampado 03 (três) vezes, com intervalo de 30 dias para cada um,

    no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que a habilitar-se os sucessores do finado no prazo de 6 meses contados da primeira

    publicação.

    - Julgada a habilitação do herdeiro, reconhecida a qualidade de

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    testamenteiro ou provada a identidade do cônjuge, a arrecadação converter-se-á em inventário.

    - A herança jacente ficará sob a guarda e administração de um curador até a efetiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou

    até a declaração de vacância.

    - Enquanto não for nomeado curador, o juiz designará um depositário e lhe entregará os bens arrecadados, mediante simples termo nos

    autos depois de compromissado.

    - Habilitação de herdeiro e de credor para receber herança arrecadada:

    1) Até o trânsito em julgado da declaração da vacância:

    a) Herdeiro: No prazo de 6 (seis) meses, a contar da primeira

    publicação do edital, ou até o trânsito em julgado da declaração de vacância. Far-se-á nos próprios autos, observando-se o

    procedimento dos arts. 1.055 a 1.062 do CPC.

    b) Credor: mediante habilitação na forma prevista para o inventário ou ação direta;

    2) Após o trânsito em julgado da declaração da vacância: o

    cônjuge, os herdeiros e os credores somente poderão reclamar o seu direito através de ação direta.

    13 - HERANÇA VACANTE

    Conceito: "É a que não foi disputada, com êxito, por qualquer herdeiro e que, judicialmente, foi proclamada de ninguém" (SR).

    Declaração da vacância: Após um ano da publicação do primeiro

    edital, não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente. Pendendo habilitação, a vacância será declarada pela mesma

    sentença que a. julgar improcedente. Sendo diversas as habilitações,

    deve-se aguardar o julgamento da última. "Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo

    declarada vacante" (art. 1.823, CC/2002).

    OBS:

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    - Para Sílvio Rodrigues a declaração da vacância não confere o domínio dos bens vagos ao Poder Público; apenas aqueles são

    entregues a este, que os conserva em condição semelhante à do

    depositário. Para Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro com a declaração da vacância, a propriedade dos bens arrecadados é

    transferida sob condição resolutiva, ao Município ou ao Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, ou à União,

    quando situados em território federal.

    - Julgados recentes da 3ª e da 4ª Turmas do STJ parecem considerar que a propriedade dos bens da herança jacente passa ao Poder

    Público com a sentença declaratória da vacância, razão pela qual, até esse momento, podem os mesmos ser adquiridos por usucapião (DJU

    de11/06/2001, p. 196; DJU de 27/11/2000, p. 169).

    - Todavia, há julgado proferido em 1994 pela 4ª Turma daquele Tribunal, no qual decidiu-se que "antes do decurso do prazo do artigo

    1594 do CC/16 (correspondente ao art. 1.822 do CC/02), os bens de

    herança jacente podem ser adquiridos por usucapião" (STJ, 4ª Turma, AGA 35437/SP. Rel: Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, decisão

    de 16/12/1994, DJ de 20/02/1995, p. 3.188).

    - Decorridos cinco anos da aberturada sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se

    localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao do domínio da União, quando situados em território federal.

    Efeitos:

    1 - cessação dos deveres do curador;

    2 - afastamento da sucessão legítima dos colaterais que não tenham

    se habilitado até a declaração de vacância;

    3 - entrega dos bens vagos ao Município, Distrito Federal ou União,

    conforme o caso;

    4 - com a transferência definitiva do domínio dos bens vagos ao Poder Público, deve este aplicá-los em fundações destinadas a

    desenvolver o ensino universitário.

    14 - PETICÃO DE HERANCA

    Conceito: É a ação que cabe ao herdeiro para demandar o

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    reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou

    mesmo sem título, a possua.

    Regras:

    - Ainda que exercida por um só herdeiro, essa ação pode compreender a totalidade dos bens hereditários.

    - O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo, fixando-lhe a responsabilidade segundo a sua posse (de

    boa ou de má-fé).

    - A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de

    aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora. A esse respeito, vide o estudo da posse na parte relativa ao

    Direito das Coisas.

    - O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em

    poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados. Entretanto,

    são eficazes as alienações feitas a título oneroso, pelo herdeiro

    aparente a terceiro de boa-fé.

    - O prazo para ajuizamento da ação de petição de herança é de

    10 (dez) anos, a contar da abertura da sucessão.

    II -DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

    1 - ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

    Conceito: "É a relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas a suceder o finado" (SR). Muitos

    doutrinadores dizem que se trata do testamento presumido do de cujus.

    Ordem (quadro comparativo):

    LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO

    CÓDIGO CIVIL/2002

    CÓDIGO CIVIL/2002

    1º - Descendentes 1º - Descendentes e cônjuge ou

    companheiro.

    2º - Ascendentes 2º - Ascendentes e cônjuge ou companheiro.

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    3º - Cônjuge ou companheiro que

    satisfaça os requisitos do art. 1º, § 1º da Lei 8.971/94.

    3º - Cônjuge sobrevivente.

    4º - Colaterais até o 4º grau. 4º - Colaterais até o 4º grau.

    5º - Municípios, Distrito federal e União.

    OBS: Tinha-se o entendimento que esses entes, em caso de

    vacância da herança, não eram propriamente herdeiros, não se

    aplicando a eles o princípio da saisine, razão pela qual o Novo

    CC não os incluiu na ordem de vocação hereditária, mantendo-

    os, porém, na condição de beneficiários da herança vacante.

    Regra da convocação para suceder: Geralmente, uma classe

    somente é chamada quando faltarem herdeiros da classe precedente, observando-se os seguintes critérios:

    LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO

    CC/02

    CÓDIGO CIVIL/2002

    1º - Se houver descendentes, eles herdam a totalidade da herança.

    Se houver descendentes e não houver cônjuge nem companheiro

    sucessível, aqueles herdam a totalidade da herança.

    Se houver descendentes e cônjuge casado com o falecido por

    regime diverso da comunhão universal e da separação

    obrigatória, desde que não seja comunhão parcial em que o autor

    da herança não totalidade da

    herança haja deixado bens particulares, tais herdeiros

    dividem entre si, segundo critérios a serem estudados

    adiante, a totalidade da herança. Se houver descendentes e

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    companheiro do falecido, tais

    herdeiros dividem entre si, segundo critérios a serem

    estudados adiante, a totalidade da herança.

    2º - Não havendo herdeiros da classe dos descendentes, são

    chamados à sucessão os

    ascendentes.

    2° - Não havendo descendentes, cônjuge nem companheiro

    sucessível, os ascendentes

    herdam a totalidade da herança. Se houver ascendentes e cônjuge

    (qualquer que seja o regime de bens), tais herdeiros dividem

    entre si, segundo critérios a serem estudados adiante, a

    totalidade da herança. Se houver descendentes e companheiro do

    falecido, tais herdeiros dividem entre si, segundo critérios a

    serem estudados adiante, a totalidade da herança.

    3º - À falta de descendentes e

    ascendentes será deferida a sucessão ao cônjuge

    sobrevivente, se, ao tempo da morte do outro, não estava

    dissolvida a sociedade conjugal, ou ao companheiro que observe

    os requisitos da Lei n° 8.971/94.

    3º - À falta de descendentes e

    ascendentes será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge

    sobrevivente, se, ao tempo da morte'do outro, não estavam

    separados judicialmente, nem separados de fato há mais de 2

    (dois) anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se

    tornara impossível sem culpa do sobrevivente.

    4° - Se não houver cônjuge

    sobrevivente nem companheiro sucessível, serão chamados a

    suceder os colaterais até o quarto grau.

    4° - Se não houver cônjuge

    sobrevivente nem companheiro sucessível, serão chamados a

    suceder por inteiro os colaterais até o quarto grau. Se não houver

    cônjuge sobrevivente e houver colaterais e companheiro do

    falecido, eles dividirão entre si a totalidade da herança, segundo

    critérios a serem estudados adiante.

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    - vide a 3° regra deste quadro 5° - Não havendo parentes nem

    cônjuge sucessível, o companheiro sobrevivente terá

    direito à totalidade da herança.

    6º - Não sobrevivendo cônjuge,

    companheiro ou qualquer parente sucessível, ou tendo eles

    renunciado à herança, esta se

    devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas

    respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em

    território federal.

    6° - Não Sobrevivendo cônjuge,

    companheiro ou qualquer parente sucessível, ou tendo eles

    renunciado à herança, esta se

    devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas

    respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em

    território federal.

    Exceções (sucessão anômala ou irregular):

    - A sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será regulada pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,

    sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus

    (art.5°, XXXI, da CF/88, e art. 10, §1°, da LINJB – antiga LICC).

    - À brasileira, casada com estrangeiro sob regime que exclua a comunhão universal, caberá, por morte do marido, o usufruto vitalício

    de quarta parte dos bens deste, se houver filhos brasileiros do casal ou do marido, e de metade, se não os houver (art. 17 do Decreto Lei

    n° 3.200/41).

    - Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o

    direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a

    inventariar (art. 1.831, CC/2002).

    - O Código Civil, entretanto, não trouxe expresso esse direito real de

    habitação ao companheiro sobrevivente ou ao filho portador de deficiência.

    OBS: Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil: “117: O direito real

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    de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei 9.278, seja em razão da

    interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º,

    caput, da Constituição Federal”.

    - Ainda, impende consignar que a Quarta Turma do Colendo Superior

    Tribunal de Justiça, por meio de julgamento do Recurso Especial nº 1.203.144-RS (2010/0127865-4), ocorrido em 27/05/2014, de

    relatoria do Ministro Luís Felipe Salomão, em ação de manutenção de posse ajuizada antes mesmo de eventual pedido expresso de

    reconhecimento de união estável, manteve decisão que reconheceu o direito real de habitação a companheira supérstite.

    - A Lei n° 6.858/80, regulamentada pelo Decreto n° 85.845/81

    manda pagar, em quotas iguais, aos dependentes habilitados perante a Previdência Social e, na sua falta, aos sucessores previstos na lei

    civil, indicados em alvará judicial, independentemente de inventário e arrolamento, os seguintes valores não recebidos em vida pelo titular:

    a) Quantias devidas pelos empregadores aos empregados, em

    decorrência da relação de emprego;

    b) Importâncias devidas pelas pessoas jurídicas de direito público

    aos respectivos servidores;

    c) Saldos das contas individuais de FGTS e PIS/PASEP;

    d) Restituições relativas a impostos recolhidos por pessoa física;

    e) Saldos de contas bancárias, cadernetas de poupança e contas

    de fundos de investimento, desde que inexistam outros bens sujeitos a inventário e desde que de valor até 500 ORTNs.

    2- DESCENDENTES

    - São os que primeiro são chamados a suceder o de cujus. Entretanto; os descendentes podem concorrer à herança com o

    cônjuge ou companheiro sobrevivente, conforme regras adiante consignadas.

    - Os filhos sucedem por cabeça (recebem quinhões iguais), e os

    outros descendentes, por cabeça ou por estirpe (o quinhão do pré-morto é dividido entre seus herdeiros), conforme se achem, ou não,

    no mesmo grau.

    - Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, têm os mesmos direitos sucessórios.

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    - Os descendentes mais próximos excluem os mais remotos, ressalvado o direito de representação.

    - Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes (art. 1.834).

    3 - ASCENDENTES

    - Os de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto, sem distinção de linhas (linha paterna e linha materna).

    - Havendo igualdade em grau e diversidade de linha, os ascendentes

    da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

    - No caso da adoção, é recíproco o direito sucessório entre o adotado,

    seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4° grau, observada a ordem de vocação hereditária.

    - Os ascendentes podem concorrer à herança com o cônjuge ou companheiro sobrevivente, conforme regras adiante consignadas.

    4 - CÔNJUGE

    - Conforme já antecipado, o cônjuge herda ab intestato, independentemente da sua meação - que não é objeto da herança

    deixada pelo falecido, em concurso com descendentes e ascendentes e, não havendo nenhum deles, sozinho.

    - Todavia, para que possa participar da sucessão, o cônjuge

    sobrevivente não pode estar separado judicialmente, nem de fato por mais de dois anos do falecido, salvo, neste último caso, se provar que

    a convivência se tornara impossível sem culpa sua (do sobrevivente).

    - Aqui já se apresenta uma inovação, pois no sistema anterior o

    cônjuge só era afastado da sucessão se, ao tempo da morte do de cujus, não estivesse dissolvida a sociedade conjugal, ainda que

    houvesse prolongada separação de fato;

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    - A inovação, nesse aspecto, é merecedora de elogios, uma vez que a prolongada separação de fato, embora continue a não ser causa de

    dissolução da sociedade conjugal, indica ruptura dos vínculos afetivos

    existentes entre os cônjuges, afastando a presunção de que o falecido presumivelmente desejaria contemplar o sobrevivente com

    parte de seu patrimônio.

    - A crítica, entretanto, fica por conta da exceção: salvo se a convivência se tornou impossível sem culpa do sobrevivente. Se por

    um lado, o legislador pretendeu impedir uma eventual punição ao cônjuge inocente, por outro lado possibilitou o surgimento de

    situações de difícil solução, como, por exemplo, a possibilidade de concorrerem à mesma herança, em conjunto, cônjuge e companheiro

    do falecido, além de outros parentes, conforme será abordado mais adiante. Não bastasse isso, a existência de separação de fato por

    mais de dois anos é suficiente para, independentemente de culpa de quem quer que seja, ensejara decretação do divórcio direto, o que

    evidencia efetivo rompimento dos laços afetivos existentes entre os

    cônjuges separados de fato.

    - Como se vê, a situação é complicada, razão pela qual deveria o legislador ter afastado a sucessão pelo cônjuge em duas hipóteses:

    a) quando, após separação de fato por qualquer prazo e independentemente do culpado, o falecido houvesse

    estabelecido união estável com outra pessoa;

    b) quando houvesse separação de fato por mais de dois anos,

    ainda que o falecido não tivesse estabelecido união estável com outra pessoa e ainda que fosse ele o responsável pelo

    impossibilidade da convivência.

    Ainda sobre a sucessão pelo cônjuge, outras considerações devem ser feitas:

    1°) - Só concorre com descendentes se o regime de bens não for a

    comunhão universal (o legislador entendeu que nesse caso não haveria necessidade), a comunhão parcial sem bens particulares do

    falecido (porque, de fato, equivaleria à comunhão universal) e a separação obrigatória (para não constituir burla indireta à

    obrigatoriedade do regime).

    - Entretanto, parece haver um contra-senso, pois não incidem

    essas restrições quando o cônjuge concorre com ascendentes do de cujus.

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    2°) Concorrendo com descendentes, ao cônjuge sobrevivente caberá quinhão igual ao dos que sucedem por cabeça, não podendo a sua

    quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos

    herdeiros com que concorrer.

    - Note-se que, ainda que haja descendentes não comuns, se ao

    menos um deles também o for do cônjuge sobrevivente, terá ele direito a, no mínimo, um quarto.

    - Ora, apesar de o texto legal não ser claro neste aspecto (art. 1.832, CC), deve prevalecer a interpretação mais benéfica ao

    cônjuge, pois não houve restrição expressa ao mínimo de um quarto na hipótese de existirem descendentes comuns e não

    comuns. A lei poderia ter sido mais clara.

    3°) Concorrendo com ascendentes em primeiro grau (pais ), ao cônjuge tocará 1/3 da herança; caber-lhe-á a metade desta se

    houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau (art. 1.837, CC).

    4°) Cabe ao cônjuge a totalidade da herança, se não houver descendentes nem ascendentes, ainda que haja colaterais.

    5°) Se concorrer com descendentes ou com ascendentes, o cônjuge

    ainda terá direito real de habitação sobre o imóvel que sirva como residência para a família, desde que seja o único dessa natureza a

    inventariar, independentemente de sua meação e da parte que lhe couber na herança, qualquer que seja o regime de bens (art. 1.831,

    CC).

    - Esse direito, ao contrário do que ocorria na vigência do

    CC/1916 não se extingue por novo casamento.

    4.1 - QUADRO COMPARATIVO DA SITUACÃO SUCESSÓRIA DO

    CÔNJUGE ANTES E APÓS O CÓDIGO CIVIL DE 2002.

    LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO

    CC/02

    - se houver descendentes, o

    cônjuge sobrevivente não herda,

    - O cônjuge sobrevivente concorre

    com os descendentes, salvo se

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    ressalvadas algumas hipóteses de

    sucessão anômala.

    casado com o falecido no regime

    da comunhão universal, da separação obrigatória de bens,

    ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não

    houver deixado bens particulares.

    - Em concorrência com os descendentes, caberá ao

    cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não

    podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se

    for ascendente dos herdeiros

    com que concorrer.

    - Se houver ascendentes, o

    cônjuge sobrevivente não herda, ressalvadas algumas hipóteses de

    sucessão anômala.

    - O cônjuge sobrevivente concorre

    com os ascendentes, qualquer que seja o regime de bens.

    Concorrendo com ascendentes em primeiro grau, ao cônjuge tocará

    1/3 (um terço) da herança; caber-lhe-á a metade desta se

    houver um só ascendente, ou se

    maior for aquele grau.

    - A falta de descendentes e

    ascendentes será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge

    sobrevivente.

    - À falta de descendentes e

    ascendentes será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge

    sobrevivente.

    - Não se reconhece direitos sucessórios ao cônjuge

    sobrevivente apenas se, ao tempo da abertura da sucessão, já

    estava dissolvida a sociedade conjugal.

    - Não se reconhece direitos sucessórios ao cônjuge

    sobrevivente se, ao tempo da abertura da sucessão, eles

    estavam separados judicialmente ou separados de fato há mais de

    2 (dois) anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se

    tornara impossível sem culpa do sobrevivente.

    - Ao cônjuge sobrevivente, casado

    sob regime da comunhão universal, enquanto viver e

    - Ao cônjuge sobrevivente,

    qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem

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    permanecer viúvo, será

    assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na

    herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel

    destinado à residência da família, desde que seja o único bem

    daquela natureza a inventariar.

    prejuízo da participação que lhe

    caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel

    destinado à residência da família, desde que seja o único bem

    daquela natureza a inventariar.

    - O cônjuge viúvo, se o regime de bens do casamento não era o da

    comunhão universal, terá direito, enquanto durar a viuvez, ao

    usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge falecido, se houver

    filhos deste ou do casal, e à metade, se não houver filhos

    embora sobrevivam ascendentes do de cujus.

    - O novo Código Civil não mais estabelece o usufruto vidual em

    favor do cônjuge sobrevivente.

    5 - COMPANHEIRO

    - Primeiramente, a sucessão do companheiro foi disciplinada pelo

    Código Civil (art. 1.790) em local bastante distante dos dispositivos que tratam da ordem da vocação hereditária.

    - Essa impropriedade técnica só se justifica pelo fato de que o projeto original não se referia ao companheiro, tendo sido o

    assunto disciplinado, em local impróprio, pelo Congresso Nacional.

    - Melhor seria que tivesse sido disciplinado em conjunto com a ordem da vocação hereditária e os herdeiros nela incluídos

    expressamente pelo Código Civil/2002.

    - O companheiro, para herdar, deverá estar convivendo com o

    falecido ao tempo da abertura da sucessão (requisito implícito), sendo que essa herança não prejudicará seu eventual direito à

    meação dos bens que se comuniquem (a comunhão parcial é a

    regra).

    - O companheiro concorre com os descendentes, os ascendentes

    e os colaterais do de cujus, ao contrário do que ocorria anteriormente.

    - Com efeito, antes do Código de 2002, o companheiro só sucedia em não havendo descendentes nem ascendentes

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    sucessíveis, recebendo a totalidade da herança ainda que houvesse colaterais.

    - O companheiro, ao concorrer com descendentes, não se

    submete às mesmas restrições impostas ao cônjuge em situação similar (regime de bens).

    - Esse o único aspecto em que a sucessão do companheiro se apresenta em situação mais favorável que a do cônjuge.

    - A princípio, o companheiro só participará da sucessão do outro no que tange aos bens adquiridos a título oneroso na

    constância da união estável. É o que estabelece o caput do art. 1.790 do CC/2002.

    - Todavia, essa restrição somente se aplica às hipóteses em que o companheiro sobrevivente concorre com parentes do falecido

    (descendentes ascendentes e colaterais).

    - A redação do artigo 1.790 do CC/02 estabelece que se o

    companheiro(a) concorrer com filhos comuns, terá direito a uma cota equivalente à que por lei for atribuída ao filho (sem

    garantia de no mínimo um quarto) e, se concorrer com

    descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles, exclusivamente no que pertine

    aos aludidos bens.

    - Mais adiante prevê que se concorrer com filhos comuns e

    descendentes não comuns do autor da herança, deve-se aplicar em seu favor a regra mais benéfica, que, aliás, parece decorrer

    da literalidade da lei, conforme preconizam Sílvio de Salvo Venosa e Inácio de Carvalho Neto.

    - Todavia, se concorrer com outros parentes do de cujus, receberá 1/3 da herança (apenas no que tange aos bens

    adquiridos a título oneroso na constância da união estável). Por fim, assiste razão a Nelson Nery, quando leciona que, se não

    houver parentes sucessíveis, o companheiro receberá a totalidade da herança, e não apenas os bens adquiridos

    onerosamente na constância da união estável.

    - Essa interpretação está de acordo com o art. 1.844 do CC/2002, segundo o qual a herança só se devolverá ao Poder

    Público se não, sobreviver cônjuge, companheiro ou parente sucessível.

    - Diferente é a posição de Inácio de Carvalho Neto e de Sílvio Rodrigues (atualizado por Zeno Veloso), para quem a sucessão

    do companheiro sempre incidirá exclusivamente sobre os bens adquiridos a título oneroso na constância da união estável.

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    - Como se vê, melhorou a situação sucessória do companheiro no que tange à possibilidade de concorrer com descendentes e

    ascendentes, mas piorou no que tange à impossibilidade de

    afastar completamente os colaterais.

    OBS IMPORTANTE: O STF iniciou dia 31 de agosto de 2016 o julgamento de RE que discute a legitimidade do

    tratamento diferenciado dado a cônjuge e a companheiro, pelo artigo 1790 do Código Civil, para fins

    de sucessão. A análise foi suspensa, contudo, por pedido de vista do ministro Dias Toffoli. Até a data da

    suspensão, sete ministros já haviam votado pela inconstitucionalidade da norma, por entenderem que a

    CF garante a equiparação entre os regimes da união estável e do casamento no tocante ao regime

    sucessório.

    * Posteriormente, em maio de 2017 o STF concluiu e

    DECIDIU POR UNANIMIDADE o julgamento do RE,

    DETERMINANDO A INCONSTITUCIONALIDADE DO TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE CÔNJUGES E

    COMPANHEIROS, igualando as regras de divisão da herança nas duas situações.

    - O recurso teve repercussão geral reconhecida pela Corte em abril de 2015. .

    11.5.1 - QUADRO COMPARATIVO DA SITUACÃO SUCESSÓRIA

    DO COMPANHEIRO ANTES E APÓS O CÓDIGO CIVIL DE 2002

    - CÓDIGO CIVIL/1916 E LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO NOVO CODIGO CIVIL

    1º) Se houver descendentes, o companheiro sobrevivente não herda,

    ressalvadas algumas hipóteses de sucessão anômala.

    2º) Se houver ascendentes, o companheiro sobrevivente não herda,

    ressalvadas algumas hipóteses de sucessão anômala.

    3º) À falta de descendentes e ascendentes será deferida a sucessão por inteiro ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos

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    da Lei n° 8.971/94. Havendo companheiro sobrevivente que se enquadre nessa situação, 'os colaterais do de cujus nada herdam.

    4º) Não se reconhece direitos sucessórios ao companheiro sobrevivente se, ao tempo da abertura da sucessão, já estava

    dissolvida a união estável.

    5°) Ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos da Lei n° 8.971/94 é assegurado, enquanto não constituir nova união, o

    usufruto da quarta parte dos bens do "de cujus", se houver filhos dest_ ou comuns, e da metade, se não houver filhos, embora

    sobrevivam ascendentes.

    6°) Ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos da Lei n° 9.278/96 é assegurado direito real de habitação.

    CÓDIGO CIVIL/2002 - Interpretação do artigo 1.790 após

    decisão do STF

    O STF concluiu e DECIDIU POR UNANIMIDADE pela

    INCONSTITUCIONALIDADE DO TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS,

    igualando as regras de divisão da herança nas duas situações.

    11.6 - POSSIBILIDADE DO CÔNJUGE CONCORRER À MESMA

    SUCESSÃO COM DESCENDENTES

    Antes do Código de 2002, por força da Lei n° 8.971/94, impossível se afigurava concorrerem à mesma herança

    companheiro e cônjuge sobrevivente. Todavia, agora, existe essa possibilidade.

    Ora, para a caracterização da união estável, o

    Código/2002 exige convivência pública, duradoura e contínua entre homem e mulher com o objetivo de constituir família (praticamente

    os mesmos requisitos da Lei n° 9.278/96), desde que entre eles. não haja impedimento para se casar. Todavia, ressalva que se o

    impedimento matrimonial consistir em casamento anterior de um dos companheiros, ainda assim admitir-se-á a configuração da união

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    estável, desde que o casado esteja separado judicialmente ou de fato, independentemente do prazo.

    Por outro lado, o CC/2002 estabelece que um cônjuge só é afastado da sucessão do outro se estiver separado

    judicialmente, ou de fato por mais de dois anos, salvo, neste último caso, se provar que a convivência se tornou impossível sem culpa sua

    (do sobrevivente ).

    Pois bem. E se o falecido deixou esposa e

    companheira em condições de suceder? A primeira por não estar separada judicialmente nem de fato por mais de dois anos e a

    segunda por estar caracterizada a união estável, embora a separação de fato do falecido fosse recente.

    O CC/2002 não contém solução expressa,

    provavelmente porque o legislador não se deu conta de que, pelo seu texto, poderia haver essa possibilidade de um cônjuge e um

    companheiro concorrerem à mesma herança. Diante da omissão da

    lei, resta ao intérprete dar a solução para o problema.

    Extrai-se do sistema inserido no Código Civil/2002 as seguintes conclusões:

    1 - o cônjuge, quando participa da sucessão com outros herdeiros legítimos, recebe parte sobre a totalidade da herança;

    2 - o companheiro, quando participa da sucessão com outros herdeiros legítimos, recebe parte sobre os bens da herança

    adquiridos a título oneroso na constância da união estável.

    Nessas circunstâncias, resta, de início, a

    intérprete adotar uma das seguintes linhas de raciocínio:

    1ª) ou se garante ao cônjuge parte sobre a totalidade da herança,

    inclusive sobre os bens adquiridos onerosamente pelo falecido durante a união estável, mesmo após, a separação de fato do Casal;

    2ª) ou se afasta a possibilidade de o cônjuge participar da sucessão

    no que tange a tais bens, relativamente aos quais sucederiam apenas os demais herdeiros legítimos, inclusive o companheiro sobrevivente.

    Das duas opções, a segunda parece ser a

    mais justa, pois não seria razoável o cônjuge participar da sucessão no que tange aos bens adquiridos pelo falecido após a separação de

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    fato e durante a união estável estabelecida com outra pessoa.

    Logo, se cônjuge e companheiro concorrerem

    à mesma herança, será preciso separar-se, dentro do patrimônio do de cujus, os bens por ele adquiridos a título oneroso na constância da

    união estável dos demais.

    Aqueles (bens adquiridos onerosamente na constância da união, estável) submeter-se-ão às regras referentes à

    sucessão do companheiro, ainda que em concurso com parentes do falecido. Os outros bens, submeter-se-ão às regras referentes à

    sucessão do cônjuge, ainda que em concurso com parentes do falecido.

    A solução gerará a possibilidade de

    concorrerem à sucessão, concomitantemente, cônjuge, companheiro e colaterais do falecido, embora pela ordem da vocação hereditária o

    cônjuge afaste estes últimos.

    A situação, como se vê, é complexa, podendo

    dar ensejo a inúmeras interpretações. Por isso, seria melhor alterar-se o novo Código Civil, afastando qualquer possibilidade de cônjuge e

    companheiro concorrerem à mesma herança. No mínimo, dever-se-ia afastar expressamente a possibilidade de o cônjuge separado de fato,

    nos casos em que pode suceder, participar da partilha quanto aos bens adquiridos a título oneroso na constância da união estável

    posterior a tal separação.

    11.7 - COLATERAIS

    - Beneficia apenas até o quarto grau.

    - Os mais próximos excluem os mais remotos, ressalvado o direito de

    representação concedido aos filhos dos irmãos.

    - Concorrendo irmãos bilaterais ou germanos com irmãos unilaterais, cada um destes receberá a metade do que cada um daqueles herdar.

    - Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os bilaterais.

    - Se com irmão ou irmãos do de cujus concorrerem filhos de irmão unilateral ou bilateral, terão estes, por direito de representação, a

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    parte que caberia ao pai ou à mãe, se vivessem.

    - Em falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os

    tios. Os sobrinhos, apesar de estarem no mesmo, grau de parentesco

    que os tios, herdam com preferência sobre estes.

    - Se só concorrerem à herança filhos de irmãos falecidos, herdarão

    por cabeça. Se concorrerem filhos de irmãos bilaterais, com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar

    cada um daqueles. Se todos forem filhos de irmãos 1terais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão todos por igual.

    - Os colaterais podem concorrer à herança com o companheiro sobrevivente, conforme regras anteriormente consignadas.

    11.8 - PODER PÚBLICO

    A sucessão pelo Poder Público já foi tratada anteriormente, quando se discorreu sobre a herança jacente e

    herança vacante. O Poder Público não é herdeiro, não lhe sendo

    conhecido o direito de saisine.

    11.9 - DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

    Conceito - "Consiste na convocação legal para suceder em lugar de

    outro herdeiro, parente mais próximo do finado, mas anteriormente pré-morto, ausente ou incapaz de suceder, no instante em que se

    abre a sucessão" (MHD).

    Herdeiros passíveis de representação:

    I -na linha reta descendente, ad infinitum;

    II- na linha colateral, unicamente em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmão ou irmãos deste concorrerem.

    * O direito de representação nunca se dá na linha reta ascendente.

    Requisitos:

    I - haver o representado falecido antes do de cujus, sido declarado

    ausente (nos casos em que se admite a abertura da sucessão definitiva) ou declarado indigno;

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    II - descender o representante do representado;

    III - não ocorrer solução de continuidade no encadeamento dos graus

    entre representante e sucedido;

    IV - ter o representante legitimação para herdar do representado no instante da abertura da sucessão.

    Efeitos:

    I - os representantes herdam o que herdaria o representado, se

    vivesse;

    II - o quinhão do representado partir-se-á por igual entre os

    representantes;

    III - a quota hereditária do representante não responde pelas dívidas

    do representado, mas pelas do autor da herança;

    IV - os representantes estão obrigados a trazer à colação o que o

    representado deveria conferir, ainda que aqueles não o hajam herdado;

    V - o renunciante à herança de uma pessoa pode representá-la na sucessão de outra;

    VI - o direito de representação só opera em relação à sucessão

    legítima;

    VII - o representante, parente do de cujus em grau mais remoto,

    herdará como se fosse do mesmo grau do representado, afastando outros parentes, mesmo que sejam de grau mais próximo que o seu.

    - DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

    1 - TESTAMENTO

    Conceito - É o ato revogável pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe, no todo ou em parte, do seu patrimônio, para depois de

    sua morte. Pode, entretanto, conter disposições de caráter extrapatrimonial ou mesmo limitar-se a elas.

    Caracteres:

    I - revogável;

    II - unilateral e personalíssimo;

    III - gratuito, admitindo a instituição de encargo;

    IV - solene;

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    V - produz efeitos após o falecimento do testador.

    2 - CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA ATIVA

    Em regra, todas as pessoas físicas possuem capacidade para testar, exceto os incapazes e os que, no ato de

    testar, não tiverem pleno discernimento. Os maiores de 16 (dezesseis) anos, entretanto, podem testar, independentemente de

    assistência.

    A capacidade para testar deve ser aferida por

    ocasião da confecção do testamento. Assim, a incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento eficaz, nem o

    testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

    3 - CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA PASSIVA

    Em regra, todas as pessoas físicas e jurídicas, existentes ao tempo da morte do testador, que não forem excluídas

    por lei, possuem capacidade e legitimação para adquirir por

    testamento.

    Caso de incapacidade testamentária passiva: indivíduos não concebidos até a morte do testador. Entretanto,

    admite-se que a disposição do testador se refira a: filhos ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas

    estas ao abrir-se a sucessã06; nascituros; sociedades e associações com contratos ainda não registrados, que se equiparam ao nascituro

    (WBM entende neste sentido. SR tem entendimento em sentido contrário); e fundações a serem criadas com bens livres dotados pelo

    testador.

    Casos de falta de legitimação:

    a) a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, seu cônjuge,

    companheiro, ascendentes, descendentes e irmãos;

    b) as testemunhas do testamento;

    c) o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,

    estiver separado de fato do cônjuge há mais de 05 (cinco) anos;

    d) O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante

    quem se fizer, assim como o que fizer, ou aprovar o testamento.

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    São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas

    sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta

    pessoa. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheira do não

    legitimado a suceder. Entretanto, nada obsta a que se comprove a interposição feita através de outras pessoas (p. ex.: noivo, amigo ou

    primo do não legitimado).

    É lícita a deixa testamentária em favor do filho

    do concubino, quando também o for do testador casado (Súmula 447 do STF e art. 1.803, CC/2002).

    A lei do domicílio do herdeiro ou do legatário

    regula a capacidade para suceder (art. 10, §2°, da LlCC).

    A capacidade testamentária passiva deve ser aferida no momento da abertura da sucessão, salvo se tratar de

    deixa testamentária condicional, caso em que tal capacidade deverá

    ser aferida por ocasião do implemento da condição.

    4 - HERDEIROS LEGITIMÁRIOS, NECESSÁRIOS OU RESERVATÁRIOS

    Atualmente, são o cônjuge, os descendentes e os ascendentes'

    sucessíveis do de cujus.

    Metade disponível e legítima: O testador que tiver herdeiros necessários, pão pode dispor de mais da metade de

    seus bens (metade disponível), eis que a outra metade (legítima ou reserva) pertence de pleno direito àqueles. Como consequência, os

    herdeiros necessários não podem ser excluídos arbitrariamente da sucessão, salvo nos casos excepcionalíssimos de indignidade e

    deserdação. Para excluir os demais herdeiros legítimos (colaterais e

    companheiro), basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

    Cálculo da legítima: Calcula-se a legítima

    sobre o total dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e. as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o

    valor dos bens sujeitos à colação.

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    Acerca da colação, uma observação deve ser feita: embora o CC/2002 estabeleça que as doações feitas a

    descendentes e cônjuge consideram-se adiantamento da legítima

    (art. 544) o que implicaria em necessidade de serem conferidas (colação – art. 2002) - e de o art. 2003 estabelecer que a colação

    tem por fim igualar, na proporção legal