direito civil para concursos parte geral 01

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Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Ahyrton Lourenço Neto* A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 1 , ou, como antiga- mente denominada, Lei de Introdução ao Código Civil, é consubstanciada pelo Decreto-lei 4.657, de 4 de setembro de 1942, não é, na realidade, uma lei integrante do Código Civil; trata-se de um conjunto de normas para regu- lamentar as normas, não somente as de Direito Civil, mas todas as leis, por conter princípios gerais sobre as normas sem qualquer discriminação, indi- cando como aplicá-las, determinando vigência, eficácia, interpretação e in- tegração (DINIZ, 2009). A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é considerada um Código de Normas que contém normas de sobredireito, que regulamenta todos os ramos do Direito, salvo aquilo que for regulamentado de forma di- ferente na legislação específica. Fontes do Direito As fontes do Direito são divididas em fontes formais (lei, analogia, cos- tume e os princípios gerais do Direito) e fontes não formais (doutrina e jurisprudência). Dentre as fontes formais, a lei para o Direito brasileiro é a principal, po- dendo ser utilizadas as demais fontes somente quando a lei for omissa (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 4. o c/c CPC, art. 126): Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, Art. 4.º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. CPC, Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. (Redação dada pela Lei nº. 5.925, de 1º.10.1973) 1 Nova redação dada pela Lei 12.376, de 30 de de- zembro de 2010. 7 * Professor de Direito Civil, Direito do Consumidor e Direito Internacional Pú- blico, ministrando aulas presenciais e telepre- senciais. Especialista em Administração Tributária, pela Universidade Castelo Branco (UCB). Graduado em Direito, pela Pontifí- cia Universidade Cató- lica do Paraná (PUCPR). Advogado. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

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Page 1: Direito Civil Para Concursos Parte Geral 01

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

Ahyrton Lourenço Neto*

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro1, ou, como antiga-mente denominada, Lei de Introdução ao Código Civil, é consubstanciada pelo Decreto-lei 4.657, de 4 de setembro de 1942, não é, na realidade, uma lei integrante do Código Civil; trata-se de um conjunto de normas para regu-lamentar as normas, não somente as de Direito Civil, mas todas as leis, por conter princípios gerais sobre as normas sem qualquer discriminação, indi-cando como aplicá-las, determinando vigência, eficácia, interpretação e in-tegração (DINIZ, 2009).

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é considerada um Código de Normas que contém normas de sobredireito, que regulamenta todos os ramos do Direito, salvo aquilo que for regulamentado de forma di-ferente na legislação específica.

Fontes do Direito As fontes do Direito são divididas em fontes formais (lei, analogia, cos-

tume e os princípios gerais do Direito) e fontes não formais (doutrina e jurisprudência).

Dentre as fontes formais, a lei para o Direito brasileiro é a principal, po-dendo ser utilizadas as demais fontes somente quando a lei for omissa (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 4.o c/c CPC, art. 126):

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,

Art. 4.º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

CPC,

Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. (Redação dada pela Lei nº. 5.925, de 1º.10.1973)

1 Nova redação dada pela Lei 12.376, de 30 de de-zembro de 2010.

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* Professor de Direito Civil, Direito do Consumidor e Direito Internacional Pú-blico, ministrando aulas presenciais e telepre-senciais. Especialista em Administração Tributária, pela Universidade Castelo Branco (UCB). Graduado em Direito, pela Pontifí-cia Universidade Cató-lica do Paraná (PUCPR). Advogado.

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Vigência da norma A lei, para pertencer ao ordenamento jurídico, passa por três fases: ela-

boração (iniciativa, discussão e aprovação, sanção ou veto), promulgação e publicação.

A fase de promulgação é o momento do “nascimento” da lei, mas ela so-mente estará vigente quando for publicada no Diário Oficial da União, e se respeitado o prazo legal, quando houver.

A publicação é o instrumento jurídico utilizado para dar conhecimento, em tese, “para todas as pessoas”, de que a lei foi aceita no Ordenamento Ju-rídico Brasileiro e, a partir desse momento, todas as pessoas devem cumpri- -la, como nos orienta o artigo 3.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:

Art. 3.º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

O artigo 1.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro disciplina que a lei brasileira entra em vigor, em todo o território nacional, 45 dias depois da sua publicação; contudo, pode ser disciplinado de forma contrária.

Art. 1.º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

Dessa forma, a sua obrigatoriedade/exigibilidade, no território brasilei-ro, não se inicia, em regra, com a publicação, mas sim 45 dias depois de ser publicada.

Contudo, o legislador, em virtude de política legislativa, necessidade de aplicabilidade da norma ou pouco impacto na sociedade, pode determinar que a lei entre em vigor na data da sua publicação, ou em data diversa; dessa forma, a determinação da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro aplicar-se-á apenas nas hipóteses de omissão sobre a vigência da Lei.

O período entre a data da publicação e a entrada em vigor da lei é deno-minado vacatio legis.

A vacatio legis é uma espécie de elemento acidental de uma norma jurí-dica, que, uma vez consignada, impõe a eficácia somente após o decurso de um prazo determinado, no intuito de levar a lei ao conhecimento de todas as pessoas, como nos orienta o artigo 8.º da LC 95/98:

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Art. 8.º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão.

A contagem do prazo de vacatio legis inclui a data da publicação e o último dia do prazo, entrando a lei em vigor no primeiro minuto do dia subsequente à sua consumação integral (LC 95/98, art. 8.º, §1.º).

Algumas leis brasileiras são aplicáveis fora do território nacional e, essas, salvo disposição diversa do legislador, somente entrarão em vigor três meses depois de oficialmente publicadas no Diário Oficial (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 1.º, §1.º).

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro ainda previa, até a revogação expressa pela Lei 12.036/2009, que as leis estaduais, que fossem elaboradas com autorização do governo federal para a sua vigência, depen-diam de autorização do governo federal e entrariam em vigor no prazo es-tipulado pelos estados-membros, contudo, a Constituição de 1988 já havia revogado tacitamente esse dispositivo ao estabelecer as competências dos entes federativos.

Casos de alteração da lei antes da vigência Caso uma lei seja novamente publicada, com o intuito de corrigir erros

materiais ou falhas de ortografia, durante o prazo de vacatio legis, incidirá novo prazo que começará a fluir na data da nova publicação, para toda a lei.

Art. 1.º [...]

§3.º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.

Casos de alteração da lei vigente Se a lei já entrou em vigor, considera-se a correção uma nova lei, devendo

correr nova vacatio legis (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 1.º, §4.º).

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Observações

O prazo de 45 dias é relativo somente às leis, não sendo aplicado aos �decretos e regulamentos.

A falta de lei pode ser suprida por mandado de injunção. �

Tempo de vigência e revogação da norma Caso a lei não discipline que ela será válida por tempo determinado, todas

as leis são permanentes, permanecendo em vigor até que seja revogada por outra lei, por força do princípio da continuidade das leis.

Art. 2.º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

A revogação é a supressão da força obrigatória da lei, ou seja, é o ato jurídico capaz de retirar a lei do ordenamento jurídico, acabando com a sua aplicabilidade.

Somente uma lei pode revogar outra; um costume ou a falta de uso não são instrumentos jurídicos para revogação da lei.

A revogação pode ser:

total � , que é denominada de ab-rogação;

parcial � , que recebe o nome de derrogação;

expressa � ou tácita:

Art. 2.º [...]

§1.º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Revogação expressa � : ocorre quando uma nova lei declara a revo-gação da lei anterior, totalmente ou parcialmente.

As leis temporárias possuem dispositivo expresso determinando o tempo de vigência da lei (termo), perdendo eficácia independente de outra lei.

Um exemplo de revogação expressa é o artigo 2.045 do Código Civil:

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Art. 2.045. Revogam-se a Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte Primeira do Código Comercial, Lei nº 556, de 25 de junho de 1850.

Revogação tácita � : ocorre quando uma lei posterior não declara ex-pressamente que revoga a anterior, mas, em análise das duas leis, os dispositivos da lei anterior mostram-se incompatíveis com a nova lei ou a nova lei regulamenta inteiramente a matéria que tratava a lei anterior.

Cuidado

Ocorre a revogação tácita de uma lei quando esta é incompatível �com a Constituição da República, diante da hierarquia das normas.

A nova lei que estabeleça uma disposição especial ou geral, a par �da lei já existente, não revoga nem modifica a anterior. Revogará somente se houver incompatibilidade, sendo dessa forma possível se falar em revogação tácita da lei nova, em detrimento da antiga, independente da nova ser geral ou especial.

Repristinação e a lei brasileira Repristinar significa se restituir ao valor, caráter ou estado primitivo, voltar

ao status quo ante. Na ordem jurídica, repristinação é o restabelecimento da eficácia de uma lei anteriormente revogada, diante da revogação da lei que revogou originariamente a primeira.

Sob a égide da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, não existe repristinação automática no Direito brasileiro em matéria infra- constitucional.

Art. 2.º [...]

§3.º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

Se porventura uma lei que revogou outra for revogada por uma terceira, a primeira não tem a sua eficácia restabelecida automaticamente, valendo a expressão: “lei que morre, morre para sempre”.

O que é uma regra bastante lógica. Uma lei é a “fotografia do pensa-mento social”, dessa forma, não faz sentido, pelo fato de uma “fotografia”

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ter ficado ultrapassada na sociedade e, por conta disso, ter sido retirada do “álbum legislativo”, retornar ao ordenamento jurídico uma “fotografia legal”, mais ultrapassada ainda, a qual já havia sido retirada anteriormente pela norma revogada.

Contudo, o Direito brasileiro prevê, excepcionalmente, que, caso a ter-ceira lei que está revogando a segunda preveja que a primeira volta a ter eficácia, haverá a repristinação no Direito brasileiro.

Esse também é um ponto bastante ponderado trazido pelo legislador, pois, por uma razão de política legislativa ou economia procedimental, o legislador pode entender que a lei que foi revogada anteriormente, na re-alidade, é mais justa que a sua revogadora, e que não deveria ter saído do ordenamento jurídico; dessa forma, em matéria infraconstitucional, ao invés de refazer a lei mais antiga, basta o legislador dar o efeito repristinatório de maneira expressa.

Diferente ocorre na esfera constitucional, que não permite o instituto da repristinação.

Outro fator importante é que, em caso excepcional de declaração de inconstitucionalidade de lei pelo Supremo Tribunal Federal, poderá ocor-rer o efeito repristinatório, chamado por alguns autores como “repristina-ção automática”, como nos orienta o artigo 11 da Lei 9.868/99 (Lei de jul-gamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade e Ação Declaratória de Constitucionalidade):

Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo.

§1.o A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.

§2.o A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário. (grifo nosso)

Conflito de normas no tempo A regra sobre aplicabilidade das leis é que elas são feitas para valer para o

futuro, ou seja, para as relações que nasçam depois da vigência da lei.

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No entanto, quando uma lei vem revogar ou modificar uma anterior, po-de-se verificar o conflito da lei no tempo para as relações que se formaram sob o escopo da lei anterior. Em síntese, paira a dúvida: a lei nova é aplicada às situações anteriormente constituídas?

Para solucionar esse conflito, possui o ordenamento jurídico dois critérios:

disposições transitórias; �

irretroatividade das normas. �

Disposições transitórias São elaboradas pelo legislador no próprio texto normativo e se destinam

a evitar ou solucionar eventuais conflitos que possam surgir do confronto entre a lei nova e a antiga, sendo sempre temporária.

Como exemplo, pode-se citar as disposições transitórias do Código Civil Brasileiro:

LIVRO COMPLEMENTAR

Das Disposições Finais e Transitórias

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916.

Art. 2.030. O acréscimo de que trata o artigo antecedente, será feito nos casos a que se refere o §4º do art. 1.228.

Irretroatividade da lei Sob o escudo da irretroatividade, as relações constituídas antes da nova

lei não serão modificadas.

Esse princípio busca assegurar a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico-positivo, preservando as relações consolidadas em que o interesse individual prevalece.

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O Código Civil de 2002 também observou o princípio da irretroatividade da norma:

Art. 2.034. A dissolução e a liquidação das pessoas jurídicas referidas no artigo antece-dente, quando iniciadas antes da vigência deste Código, obedecerão ao disposto nas leis anteriores.

Entretanto, a irretroatividade não é absoluta, pois, por razões de política legislativa, podem recomendar que, em determinada situação, a nova lei seja retroativa, atingindo os efeitos jurídicos praticados sob o império da norma revogada, exemplo também trazido pelo Código Civil de 2002:

Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007. (Redação dada pela Lei nº. 11.127, de 2005)

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos políticos. (Incluído pela Lei nº. 10.825, de 22.12.2003)

Art. 2.032. As fundações, instituídas segundo a legislação anterior, inclusive as de fins diversos dos previstos no parágrafo único do art. 62, subordinam-se, quanto ao seu funcionamento, ao disposto neste Código.

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro disciplina:

Art. 6.º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº. 3.238, de 1º.8.1957)

§1.º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Parágrafo incluído pela Lei nº. 3.238, de 1º.8.1957)

§2.º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição pre-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Parágrafo incluído pela Lei nº. 3.238, de 1º.8.1957)

§3.º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. (Parágrafo incluído pela Lei nº. 3.238, de 1º.8.1957)

Percebe-se que a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e a nossa Constituição adotam o princípio da irretroatividade da norma como regra e a retroatividade como exceção.

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro protege o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, aplicando-se a nova norma, em regra, aos casos pendentes e futuros.

Ato jurídico perfeito � – é ato já consumado pela lei antiga. No caso concreto, o fato iniciou e findou durante a vigência da lei anterior, ten-do sido findado antes da vigência da nova norma.

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Direito adquirido � – é o Direito que foi consubstanciado integralmen-te pela lei anterior.

Coisa julgada � – é a decisão judicial que transitou em julgado (sem possibilidade de recurso) quando a lei anterior estava vigente.

Resolução de questão1. (Esaf ) O princípio da continuidade assim se enuncia:

a) a norma revogada continua vinculante para os casos anteriores à sua revogação.

b) a norma atinge os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da lei revogada.

c) não se destinando à vigência temporária, a norma estará em vigor enquanto não surgir outra que a altere ou revogue.

d) há incompatibilidade entre a lei nova e a antiga, se a nova regular inteiramente a matéria tratada pela anterior.

Assertivas:

a) Errada. Trata-se do princípio da irretroatividade das normas.

b) Errada. Trata-se do princípio da retroatividade das normas.

c) Certa.

d) Errada. Trata-se da revogação tácita.

Atividades de aplicação1. (Esaf ) Se uma lei for publicada no dia 2 de janeiro, estabelecendo prazo

de 15 dias de vacância, ela entrará em vigor no dia:

a) 16 de janeiro.

b) 15 de janeiro.

c) 20 de janeiro.

d) 18 de janeiro.

e) 17 de janeiro.

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2. (Esaf ) Assinale a opção falsa.

a) A Lei de Introdução não é parte integrante do Código Civil, por ser aplicável a qualquer norma e por conter princípios gerais sobre as leis em geral.

b) A Lei de Introdução é uma lex legum, ou seja, um conjunto de normas que não rege relações de vida, mas sim as normas, uma vez que indica como interpretá-las, determinando-lhes a vigência e eficácia, suas di-mensões espaçotemporais, assinalando suas projeções nas situações conflitivas de ordenamentos jurídicos nacionais e alienígenas, evi-denciando os respectivos elementos de conexão.

c) A Lei de Introdução é um código de normas que não tem por conteú-do qualquer critério de hermenêutica jurídica.

d) As normas de Direito Internacional Privado, contidas na Lei de Intro-dução ao Código Civil, têm por objetivo solucionar o conflito de juris-dição, estabelecer princípios indicativos de critérios solucionadores do problema de qualificação, determinar o efeito dos atos realizados no exterior, reger a condição jurídica do estrangeiro e tratar da eficá-cia internacional de um direito legitimamente adquirido em um país, que poderá ser reconhecido e exercido em outro.

e) A Lei de Introdução ao Código Civil disciplina a garantia da eficácia global da ordem jurídica, não admitindo a ignorância da lei vigente, que a comprometeria.

3. (Esaf ) Sobre o efeito repristinatório, podemos afirmar que:

a) a regra geral do vacatio legis, com os critérios progressivo e único, de-corre do efeito repristinatório.

b) a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, revogará a lei anterior quando regular inteiramente a matéria tratada na anterior.

c) o legislador, derrogando ou ab-rogando lei que revogou a anterior, restabelece a lei abolida anteriormente, independentemente de de-claração expressa.

d) a vigência temporária da lei decorre do efeito repristinatório que fixa o tempo de sua duração.

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e) a lei revogadora de outra lei revogadora somente restabelece a velha lei, anteriormente abolida, quando expressamente declarado.

Dica de estudoCaros alunos, é muito importante saber a diferença entre ab-rogação e

derrogação!

ReferênciasBEVILÁQUA, Clóvis. Teoria Geral do Direito Civil. 4. ed. Brasília: Ministério da Jus-tiça, 1972.

CRETELLA JÚNIOR; José. Curso de Direito Romano: o Direito Romano e o Direito Civil Brasileiro no Novo Código Civil. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do Direito Civil. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 1.

GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil – parte geral. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. (Coleção Sinopses Jurídicas).

______. Direito Civil – parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. (Coleção Sinop-ses Jurídicas).

LIMONGI FRANÇA, R. Forma do Ato Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1977. p. 192. (Enciclopédia Saraiva do Direito). v. 38.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – parte I. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

RODRIGUES, Marcelo Guimarães. Direito Civil. Belo Horizonte: Inédita, 1999.

SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

WALD, Arnold. Direito Civil: introdução e parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

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Gabarito 1. E

2. C

3. E

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