dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

66
Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 1 DIREITO CIVIL IV DIREITO CONTRATUAL Faculdade de Direito - MACKENZIE SUMÁRIO FATO E ATO JURÍDICO .................................................. 2 BIBLIOGRAFIA ................................................................ 3 REQUISITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO.......................... 3 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS .......................................... 5 PRINCÍPIO DA "AUTONOMIA DA VONTADE\ ............... 6 NORMA DISPOSITIVA ..................................................... 9 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS .......................................................... 10 OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS .................... 11 DIREITO DE ARREPENDIMENTO................................. 12 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA .............................. 12 CULPA IN CONTRAHENDO .......................................... 12 INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE................................... 15 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS .......................... 16 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS ......................... 24 ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO ................. 24 PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO ......................... 24 CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR .................. 25 ARRAS ........................................................................... 25 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS................................... 27 OFERTA ......................................................................... 27 EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO ............. 30 TEORIA DA IMPREVISÃO: rescisão por onerosidade excessiva (cláusula “rebus sic stantibus”) ........................................................ 31 EVICÇÃO........................................................................ 34 VÍCIO REDIBITÓRIO ...................................................... 36 PRAZO DECADENCIAL ................................................ 38 GARANTIA ..................................................................... 39 RESILIÇÃO; DISTRATO ................................................ 39 QUITAÇÃO ..................................................................... 39 CONTRATOS DE COMPRA E VENDA.......................... 40 LEGITIMIDADE ou LEGITIMAÇÃO ............................... 43 VENDA POR AMOSTRA................................................ 46 VENDA AD CORPUS e venda AD MENSURAM .......... 46 VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO ......................... 47 VENDA A CONTENTO (do comprador) e VENDA SUJEITA A PROVA ................................................ 47 RETROVENDA, ou "Venda a Retro\ ............................. 48 DIREITO DE PREFERÊNCIA, ou Direito de PREEMPÇÃO, ou PRELAÇÃO .............................. 49 PREEMPÇÃO LEGAL, ou RETROCESSÃO .................. 49 PACTO DE MELHOR COMPRADOR ............................ 50 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA ................... 50 TROCA ........................................................................... 52 DOAÇÃO ........................................................................ 52 LOCAÇÃO ...................................................................... 56 GARANTIAS AO CONTRATO DE LOCAÇÃO .............. 61 CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO .................................. 63 COMODATO ................................................................... 63 MÚTUO ........................................................................... 65 =============================================== FURLANI TRADUÇÕES Traduções juramentadas em todas as línguas Fernando Furlani Tel.: (11) 9770-6800 [email protected] =============================================== Aula do dia 14 fevereiro 2005 Devemos trazer o Código Civil em todas as aulas. Vamos usá-lo nas aulas, e teremos nos habituar a manuseá-lo. DIREITO CONTRATUAL: - Parte Geral dos Contratos - Parte Especial - Resp. Civil, etc. Código Civil – nos Artigos 421 a 480, temos a Parte Geral dos Contratos, que iremos analisar nas nossas aulas. Se soubermos entender a parte Geral, saberemos resolver 70% dos problemas nesta área contratual do dia- a-dia do advogado. Do Art. 481 ao 839, iremos encontrar os chamados "Contratos em espécie". O legislador pegou os principais contratos do dia-a-dia e os regulamentou no Cód. Civil: locação, compra e venda, empréstimo, transporte, de seguro, fiança, etc. Ao falarmos em Direito Contratual, não podemos falar somente de "Código Civil", pois há contratos que não fazem parte da área de direito civil, pois são, p.ex., do direito administrativo, o que o exclui dos contratos administrativos, como um ramo. Até 2002 tínhamos um Cód. Comercial que regulava vários contratos, chamados "contratos comerciais, ou mercantis", e quase todos eles foram revogados pelo CC atual de 2002. Ficou um só, que é o "Seguro Marítimo", que é o único regulado pelo Cód. Comercial. Fora do CC, o legislador pode editar leis que cuidem do direito contratual, geral ou especial. Exemplo: A lei 8.078, Codecon (Código de Defesa do Consumidor). Veremos que o CC também cuida de direito comercial. O legislador também edita leis "especiais, ou extraordinárias", que cuidam do contrato. Exemplo: Lei de Locação, que cuida somente de locação.

Upload: carolina-xavier-tavares

Post on 18-Feb-2015

66 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 1

DIREITO CIVIL IV

DIREITO CONTRATUAL

Faculdade de Direito - MACKENZIE

SUMÁRIO

FATO E ATO JURÍDICO ..................................................2 BIBLIOGRAFIA ................................................................3 REQUISITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO..........................3 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS ..........................................5 PRINCÍPIO DA "AUTONOMIA DA VONTADE\ ...............6 NORMA DISPOSITIVA .....................................................9 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS

CONTRATOS ..........................................................10 OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS ....................11 DIREITO DE ARREPENDIMENTO.................................12 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA ..............................12 CULPA IN CONTRAHENDO ..........................................12 INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE...................................15 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ..........................16 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS.........................24 ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO .................24 PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO .........................24 CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR ..................25 ARRAS ...........................................................................25 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS...................................27 OFERTA .........................................................................27 EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO .............30 TEORIA DA IMPREVISÃO: rescisão por

onerosidade excessiva (cláusula “rebus sic stantibus”) ........................................................31

EVICÇÃO........................................................................34 VÍCIO REDIBITÓRIO ......................................................36 PRAZO DECADENCIAL ................................................38 GARANTIA .....................................................................39 RESILIÇÃO; DISTRATO ................................................39 QUITAÇÃO .....................................................................39 CONTRATOS DE COMPRA E VENDA..........................40 LEGITIMIDADE ou LEGITIMAÇÃO ...............................43 VENDA POR AMOSTRA................................................46 VENDA AD CORPUS e venda AD MENSURAM ..........46 VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO .........................47 VENDA A CONTENTO (do comprador) e VENDA

SUJEITA A PROVA ................................................47 RETROVENDA, ou "Venda a Retro\ .............................48 DIREITO DE PREFERÊNCIA, ou Direito de

PREEMPÇÃO, ou PRELAÇÃO ..............................49 PREEMPÇÃO LEGAL, ou RETROCESSÃO ..................49 PACTO DE MELHOR COMPRADOR ............................50 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA ...................50 TROCA ...........................................................................52 DOAÇÃO ........................................................................52 LOCAÇÃO ......................................................................56 GARANTIAS AO CONTRATO DE LOCAÇÃO ..............61 CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO ..................................63

COMODATO ...................................................................63 MÚTUO ...........................................................................65 ===============================================

FURLANI TRADUÇÕES Traduções juramentadas em todas as línguas

Fernando Furlani Tel.: (11) 9770-6800 [email protected]

===============================================

Aula do dia 14 fevereiro 2005 Devemos trazer o Código Civil em todas as aulas. Vamos usá-lo nas aulas, e teremos nos habituar a manuseá-lo.

DIREITO CONTRATUAL: - Parte Geral dos Contratos - Parte Especial - Resp. Civil, etc.

Código Civil – nos Artigos 421 a 480, temos a Parte Geral dos Contratos, que iremos analisar nas nossas aulas. Se soubermos entender a parte Geral, saberemos resolver 70% dos problemas nesta área contratual do dia-a-dia do advogado. Do Art. 481 ao 839, iremos encontrar os chamados "Contratos em espécie". O legislador pegou os principais contratos do dia-a-dia e os regulamentou no Cód. Civil: locação, compra e venda, empréstimo, transporte, de seguro, fiança, etc. Ao falarmos em Direito Contratual, não podemos falar somente de "Código Civil", pois há contratos que não fazem parte da área de direito civil, pois são, p.ex., do direito administrativo, o que o exclui dos contratos administrativos, como um ramo. Até 2002 tínhamos um Cód. Comercial que regulava vários contratos, chamados "contratos comerciais, ou mercantis", e quase todos eles foram revogados pelo CC atual de 2002. Ficou um só, que é o "Seguro Marítimo", que é o único regulado pelo Cód. Comercial. Fora do CC, o legislador pode editar leis que cuidem do direito contratual, geral ou especial. Exemplo: A lei 8.078, Codecon (Código de Defesa do Consumidor). Veremos que o CC também cuida de direito comercial. O legislador também edita leis "especiais, ou extraordinárias", que cuidam do contrato. Exemplo: Lei de Locação, que cuida somente de locação.

Page 2: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 2

As leis EXTRAVAGANTES também regulam o direito dos contratos. Nas nossas aulas veremos também tudo o que tiver relação com o Codecon – Código de Defesa do Consumidor. Veremos também somente alguns contratos em espécie. Os demais veremos no próximo semestre. Alguns nem veremos. Isso significa que precisamos estudar por nossa conta. Veremos: Contratos de: - Compra e Venda - Troca - Doação - Locação - Empréstimo (gênero que se desdobra em duas subespécies): - Mútuo - Comodato Relembremos algumas idéias básicas do direito:

FATO E ATO JURÍDICO FATO - Fato (strictu senso): não gera efeitos no mundo jurídico - Fato Jurídico - FATO Jurídico (acontecimento da natureza que

gera conseqüências jurídicas) - ATO Jurídico (depende da manifestação da

vontade do ser humano) - Lícito - Negócio Jurídico - Unilateral - Bilateral - Ilícito No Direito Administrativo, "lícito" é tudo aquilo que as normas da matéria expressamente prevêem. No Direito Privado, "lícito" é tudo aquilo que não é contrário às normas jurídicas em vigor. Exemplo de ato ilícito penal: homicídio. Exemplo de ato ilícito civil: conduzir veículo acima da velocidade máxima permitida. No ilícito civil, a sanção é a indenização, não ao Estado em sim à vítima, ou seja, a quem sofreu o dano. Voltemos ao ATO JURÍDICO LÍCITO: Definição do autor português Manoel de Andrade: "NEGÓCIOS JURÍDICOS são ações humanas (atos voluntários - declaração de vontade) lícitas a que a ordem jurídica atribui efeitos de um modo geral

concordantes com a VONTADE dos seus autores. Os efeitos dos negócios jurídicos são aqueles que foram ou aparentavam ter sido queridos pelos seus autores, e a lei determina a produção destes efeitos por assim terem sido queridos. Os efeitos destes atos produzem-se, portanto, "ex voluntate" (de acordo com a vontade). Já os ATOS JURÍDICOS são ações humanas lícitas cujos efeitos jurídicos, embora eventualmente ou até normalmente concordantes com a vontade dos seus autores, não são, todavia, determinados pelo conteúdo desta vontade, mas direta e imperativamente pela lei (ou seja, eles são "ex legem": de acordo com a lei). Leiam os conceitos acima, e agora vamos aos exemplos: Qual a distinção entre um e outro? A distinção, quanto aos efeitos: ao falarmos em NEGÓCIO JURÍDICO, seus efeitos decorrem da VONTADE das partes. São as partes que declaram o que querem, visando determinado fim. É certo que a lei autoriza, mas o que prevalece é a VONTADE. Por outro lado, nos ATOS JURÍDICOS O EFEITO é dado pela lei, independentemente da vontade das partes. Pode ser que as partes queiram, mas sua vontade é irrelevante. Exemplo: a mora, que é o descumprimento da obrigação no tempo, lugar e/ou forma certas. Mora "ex re" é a que ocorre pelo simples advento do tempo. NEGÓCIO JURÍDICO: É aquele que as partes DESEJAM o resultado, e se subdivide em dois tipos: 1 - Negócio Jurídico Unilateral: Basta a manifestação da vontade de uma pessoa. Exemplo: testamento, promessa de recompensa. 2 - Negócio Jurídico Bilateral: Exige a manifestação de vontade de no mínimo duas pessoas. Duas manifestações opostas se encontrando para o mesmo fim. Sinônimo de negócio jurídico bilateral: contrato. Outro exemplo: doação (o donatário precisa aceitar a doação). Não confundir "negócio jurídico unilateral e bilateral" com "contrato" unilateral ou bilateral.

===================================== Instruções do Professor sobre a metodologia a adotar: O professor Paulo é Juiz, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça de SP. É Professor Doutor, pela USP. Ele é um professor muito EXIGENTE, e muito RÍGIDO ao avaliar os alunos. A média é de 35% de alunos que pegam DP na matéria dele.

Page 3: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 3

Teremos 2 provas. A primeira valerá ou 7 ou 8. Os outros dois ou três pontos serão de CHAMADA ORAL, que ele faz TODAS AS AULAS! Teremos de vir com os pontos estudados!! Toda aula ele chama uns 6 alunos. Se ele chamar um aluno ausente, é como se tivesse respondido errado, e perderá um ponto!!! A tolerância de entrada na aula é de apenas 15 minutos. Normalmente todos são chamados duas vezes. O objetivo deste método é que os alunos aprendam. Ele é graduado pela FMU. Não percam estes anos de estudo na faculdade. Estudem para valer! A relação professor-aluno é uma relação de pai para filho. A segunda prova, que é a do Mackenzie, vale 10, que é o normal. Matéria para a Prova: TUDO!! Incluindo eventuais temas ligados às matérias que já tivemos nos semestres anteriores, sempre relacionado com a matéria atual. O aluno que assiste às aulas e presta atenção, em regra, vai bem. Esquema da chamada: não adianta pedir para um amigo pedir presença ao professor. O aluno, presente na aula, pode pedir ao professor presença, e pode sair mais cedo. Se entrar na sala de aula, é para assistir e prestar atenção. Quem dorme e quem conversa vai ter problemas. É um "acordo de cavalheiros", em respeito ao próximo. BIBLIOGRAFIA: O professor não adota nenhum autor específico. O professor deixa a critério do que os alunos preferirem. É claro que existem obras mais atualizadas, ou que tratam dos assuntos mais profundamente. Os autores Carlos Roberto Gonçalves e Venosa estão atualizados com o CC de 2002. Podem usar o que bem entenderem. Conselho: tenham no mínimo um livro, mas estudem com outro livro paralelo. Exemplo: Orlando Gomes é profundo em determinado assunto. No tema seguinte, ele fala apenas duas páginas. E por aí vai, um complementa o outro. Obra do Professor Paulo Scartezzini Guimarães lançada no fim de 2004: "Vícios do Produto e do Serviço por Qualidade, Quantidade e Insegurança", da RT. É uma tese de doutorado que fala muito sobre Vício Redibitório, e fala sobre vários outros assuntos que veremos neste semestre. Outra obra do professor Paulo: "A Publicidade Ilícita e a Responsabilidade Civil das Celebridades". Editora RT.

Matéria a ser vista na próxima aula, para argüição:

"Princípios Contratuais" Veremos o princípio da obrigatoriedade dos contratos; Liberdade Contratual; Boa-fé Objetiva; Relatividade dos Contratos;

Na pasta do professor no xerox há alguns textos; principalmente sobre boa-fé objetiva. Perguntas de provas podem ser tiradas desses textos também.

Aula do dia 15/02/2005 Conceito de Contrato, por Antunes Varela:

"Contrato é o acordo vinculativo de vontades opostas mas harmonizáveis entre si."

REQUISITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO:

1 - Objeto lícito, possível e determinado; 2 - Agente capaz; 3 - Forma prescrita ou não defesa em lei.

Se faltar um dos requisitos do negócio jurídico, ele será NULO; caso contrário, ele é anulável. (Ver a diferença entre nulo e anulável - semestre passado) O objeto não é somente lícito, mas a prestação deve ser possível e determinada. Quando o legislador diz "lícito", não é somente o que está permitido ou não-proibido em lei, mas também inclui a ética, a moral e os bons costumes; o objeto deve ser moralmente admitido.

AGENTE CAPAZ Personalidade x Capacidade: qual a diferença? Todo ser humano tem PERSONALIDADE: a possibilidade de contrair obrigações adquirir direitos. Todo ser humano a tem; basta nascer, em caso de pessoas físicas. No caso de pessoas jurídicas, nasce quando se faz seu registro nas juntas comerciais. CAPACIDADE: Para ter capacidade, deve-se preencher certos requisitos: a partir de quando se completa 18 anos, através do casamento, ao possuir negócio próprio, concluindo uma faculdade. Absolutamente incapaz: pode uma criança de dez anos ser dona de um automóvel? Pode. Ela só não pode firmar

Page 4: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 4

o contrato de compra e venda, para o que vai precisar de um tutor - pai ou responsável. Relativamente incapaz: ele próprio pratica o ato, assistido pelo pai, tutor ou curador. Se uma criança de dez anos firma um contrato de compra e venda, esse contrato será NULO. Alguns doutrinadores têm a seguinte opinião: para alguns atos do dia-a-dia que envolvem pequenos valores, o absolutamente incapaz pode praticar certos atos, que não são jurídicos, mas são válidos. Isso foi incorporado pelo nosso Código Civil: Art. 185 - leitura. São os "Atos Jurídicos Lícitos".

TÍTULO II - Dos Atos Jurídicos Lícitos Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior. Foi uma forma de o nosso legislador admitir essa teoria alemã. Alguns chamam essa posição doutrinária de "Contato Social", ou "Contrato Social". O último requisito previsto no Art. 104 é: ele tem de ter a forma prevista, ou não-proibida em lei.

LIVRO III - Dos Fatos Jurídicos TÍTULO I - Do Negócio Jurídico CAPÍTULO I - Disposições Gerais

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. Voltando ao tema dos CONTRATOS: Alguns autores usam como sinônimos: "pacto" e "convenção", ou "avença". Alguns autores afirmam não ter diferença entre tais termos, mas outros afirmam existir diferenças. Concepção antiga de negócio jurídico: qualquer ato entre duas ou mais pessoas com o fim de criar, modificar ou extinguir direitos. Assim, o termo "contrato" somente poderia ser usado ao "criar" obrigações, como na compra e venda de um bem. Então, "convenção" se aplicaria para os casos de modificar ou extinguir direitos. Ex.: um "distrato". Assim, o termo correto seria "convenção". Para alguns doutrinadores, "pacto" estaria mais ligado às cláusulas de um contrato do que ao contrato propriamente dito. Para outros, o pacto seria o "acordo de cavalheiros", que não cria efeitos jurídicos, não podendo o Estado impor uma sanção.

ASPECTO MATERIAL DE UM CONTRATO: Visualizemos um contrato: É muito comum as pessoas acharem que contrato é sempre algo que se "materializa", num papel, por exemplo. São muito comuns os "contratos verbais". Exemplo de uma criança que compra pães na padaria. O contrato não é só algo que se materializa. Ao falarmos em contrato, devemos pensar em um negócio jurídico de forma abstrata também. Portanto, um contrato verbal, "de boca", vale. Como se cria, elabora, um contrato? Segundo a doutrina, o contrato é dividido em duas partes: 1 - Preâmbulo 2 - Contexto No preâmbulo se coloca o que é essencial no contrato: a qualificação das partes, o objeto do contrato, o preço; são os elementos essenciais do contrato. É a introdução. No contexto, o que se coloca? Tudo o mais que as partes quiserem. Em regra, o contrato é dividido em cláusulas. A doutrina faz uma distinção entre tais "cláusulas" contratuais. Elas podem ser: - Essenciais: constam no preâmbulo; - Naturais: são aquelas que podem ou não existir nos contratos, e dependem da vontade das partes (ex.: no caso de compra e venda, o local da entrega, o que o bem inclui, etc.) - Acidentais: estão ligadas às "condições" (condição e encargo, do semestre passado). Essa cláusula que condiciona ou impõe um encargo a uma das partes, é a cláusula acidental. Estes são conceitos doutrinários, mas na prática não é relevante nomear as cláusulas. O professor pediu que todos fizessem uma minuta de contrato em 15 minutos; fizemos, e depois ele nos pediu para trazer outra minuta feita à mão, em casa, o mais próximo possível do perfeito. Incluir foro de eleição, etc. Grampear as duas, para entregar ao professor. Estudar, para argüição próxima aula: 1 - Autonomia da vontade 2 - Obrigatoriedade dos contratos 3 - Relatividade dos contratos.

Aula do dia 21/02/2005 Argüição: sobre a autonomia da vontade.

Page 5: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 5

1) O que é "dirigismo estatal"? Existe, isso, ou é ficção? 2) Leia o Art. 425, e explique o que é um contrato atípico. Explique o princípio da autonomia da vontade. 3) Explique sobre a liberdade de contratar. ====================================== AULA: Existe um requisito que não consta daquele artigo, pois é um requisito ligado a ATO JURÍDICO, que está relacionado à vontade, que é um requisito básico para qualquer ato jurídico. Sem vontade, o ato inexiste. Não é que o ato não é válido. A ausência da vontade torna o ato inexistente. O ato inexiste quando faltar o elemento essencial: a vontade. Duas teorias: 1 - Teoria da vontade REAL, efetiva (princípio do voluntarismo: a intenção é que prevalece); 2 - Teoria da vontade DECLARADA (o que tinha sido escrito/declarado é o que valia no contrato. Esta teoria prevaleceu durante muito tempo, mas trouxe uma insegurança jurídica). Surgiu uma TERCEIRA CORRENTE, adotada pelo novo Código Civil de 2002: TEORIA DA CONFIANÇA, que é uma mistura das duas teorias acima: prevalece aquilo que foi declarado, salvo se, aquele que está recebendo a mensagem, tem conhecimento, ou poderia ter conhecimento facilmente, de que o outro está se expressando de forma diferente do que ele quer. Exemplo: João quer alugar uma casa na praia, de Pedro. Só que, no contrato, coloca-se o termo "comodato", que é empréstimo gratuito. Mas, se o locatário, sabendo que o combinado seria uma locação onerosa, deixa o termo com a intenção de se beneficiar da situação, a lei não deixará ficar "por isso mesmo". Grande parte dos contratos recebe a denominação de "contratos consensuais": para que eles existam e tenham validade, basta a manifestação de AMBAS as partes, dois pólos da relação jurídica, dois contratantes. Não confundir "partes" com "pessoas". O "AUTOCONTRATO", ou contrato consigo mesmo, a princípio envolve uma única pessoa, mas "partes distintas". Exemplo: vou morar na Europa por dois anos, e deixo minha irmã como mandatária para administrar os meus bens, inclusive locar o apartamento. E ela faz a locação, mas a si mesma. Ela, como locadora, é a mesma pessoa como locatária, mas no fundo continuam

sendo PARTES diversas; como locadora, ela não age em nome próprio, mas sim Paulo representado pela sua irmã. Aqui, continua existindo uma pluralidade de pessoas. Para que haja contrato, há a necessidade de MANIFESTAÇÃO da vontade, que pode ser EXPRESSA ou TÁCITA. Declaração Expressa, não é "escrita", e sim "declarada", seja verbal ou por escrito, de forma a não deixar dúvida da intenção da parte. A manifestação TÁCITA, por sua vez, é aquela em que NÃO HÁ CERTEZA sobre se a pessoa disse "sim" ou "não". Mas todos os indícios levam a crer que a pessoa recusou/aceitou. Exemplo: João quer comprar um carro de Pedro, que dá um prazo de cinco dias para João aceitar a oferta. Depois de cinco dias, João não se manifesta, mas pega o carro, abastece, faz um reparo qualquer, e esse "comportamento" é um indicio de que ele aceitou fazer o negócio. O que é o "princípio do consensualismo"? É mais do que princípio, é requisito de existência do ato jurídico. Ele não é, portanto, segundo o nosso professor, um princípio. PRINCÍPIOS mencionados nos livros: 1 - Autonomia da Vontade 2 - Obrigatoriedade dos Contratos 3 - Relatividade dos Contratos 4 - Supremacia da Ordem Pública 5 - Consensualismo, e Função Social A Função Social é um princípio relativamente novo, mas não é autônomo; ele está inserido em todos os outros princípios, principalmente ao falarmos em "relatividade dos contratos". 6 - Boa-fé Objetiva

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS Neste semestre, nós nos dedicaremos apenas aos seguintes quatro PRINCÍPIOS CONTRATUAIS:

1 - Autonomia da vontade; 2 - Obrigatoriedade dos contratos; 3 - Relatividade dos contratos; e 4 - Boa-fé Objetiva

Façamos uma breve análise da história desses princípios:

Page 6: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 6

No Direito Romano, o direito se desenvolveu muito em questão de sistemas e ordenamentos jurídicos. O direito romano, por apresentar um comércio muito desenvolvido, acabou desenvolvendo muito a noção dos CONTRATOS. Depois da queda do Império Romano Ocidental, com a invasão dos bárbaros, os povos germânicos passam a dominar grande parte da Europa. Com os bárbaros, o direito como um todo entra em declínio, pois os povos bárbaros acabam formando inúmeras tribos; como eles não tinham um direito geral e comum, cada tribo acaba adotando seu próprio sistema de normas jurídicas, com o feudalismo. Somente no século XII volta a necessidade de se preocupar em desenvolver regras jurídicas comuns, pela intensificação do comércio. Depois do século XII, volta-se a estudar o contrato nos termos do Direito Romano Já na Revolução Industrial, começou a haver a produção em massa, e nesse período se desenvolvem as idéias da Revolução Francesa, pois a visão da época era que o monarca, o Rei, tinha apenas interesses próprios, e a vontade dele não se confundia com a vontade com povo. E se começou a pensar que o Rei não se deve intrometer na economia, pois seus interesses conflitavam com os interesses da economia. Ocorre então o apogeu do individualismo, o apogeu da LIBERDADE DE CONTRATAR, a Liberdade Contratual. Sempre, na história, houve alguma forma de restrição à liberdade de contratar. Àquela época também havia, mas era uma limitação pequena. Com o passar do tempo, depois da II Guerra, teve-se certeza de que aquelas idéias de que "todos são iguais" não era aplicável, pois na realidade sempre há um desequilíbrio real entre os contratantes; o mais forte acabava sempre impondo suas regras à outra parte. Surge então o ESTADO INTERVENCIONISTA, aquele Estado Social, que defende os interesses da sociedade, e não os interesses do Rei. Esse Estado vem regulamentar a economia, intervindo na economia, no direito e todas as áreas. Quando tal intervencionismo atinge... Ocorre o DIRIGISMO ESTATAL, o INTERVENCIONISMO ESTATAL. É o Estado dirigindo e limitando a vontade das partes. ("não é tudo que pode; existem alguns limites"). Tal prejuízo ocorria em muitos contratos: se deixasse o locador colocar todas as cláusulas que ele quisesse, acabava criando um desequilíbrio contratual em favor do locador, e assim por diante. Frase célebre, de Femillée: "qui dit contractuel dit juste". (Quem diz contrato, diz justo. Se assinou, é justo.)

Aula do dia 22/02/2005

ARGÜIÇÃO: 1 - O que é autonomia da vontade? Ela tem alguma limitação? Dê um exemplo. 2 -O que é "contrato coativo"? 3 - O que são "cláusulas gerais" ou "condições gerais" de um contrato? A CF tem alguma coisa relacionada com tais cláusulas gerais? ====== AULA:

PRINCÍPIO DA "AUTONOMIA DA VONTADE" Este princípio é a liberdade que qualquer sujeito tem para dispor do seu direito de propriedade. Essa "liberdade" de dispor, de assumir deveres, divide-se em dois tipos pela doutrina: 1 - Liberdade de Contratar: Refere-se à liberdade de firmar ou não um contrato, ingressar ou não em um negócio jurídico; esta é a liberdade de contratar. 2 - Liberdade Contratual Refere-se à liberdade de poder ESCOLHER COM QUEM você vai negociar. Quero comprar, mas não de João, e sim de Maria. É a faculdade de ESCOLHER O CONTRATANTE. Além disso, é a liberdade de as partes FIXAREM AS CLÁUSULAS CONTRATUAIS que elas bem entenderem. Exemplo: o pagamento será à vista, ou em dez vezes. O carro virá com CP player ou não. Esta autonomia da vontade NUNCA FOI ABSOLUTA; em nenhum momento da história houve uma liberdade plena. No Direito Romano Clássico havia apenas alguns contratos predefinidos; a liberdade de contratar era extremamente restrita. Posteriormente, surge a possibilidade de firmar qualquer tipo de contrato, desde que não violasse a moral e os bons costumes, e desde que não seja contrário à lei. A questão da moral e dos bons costumes deve ser analisada em CADA CASO CONCRETO, pois a moral e os bons costumes variam: (1) no tempo. Exemplo: a questão da virgindade (conceito de "mulher honesta"); e (2) no lugar (o que é correto no Brasil, por exemplo, entre os povos muçulmanos existem idéias como o hábito de extirpar o clitóris para não ter prazer sexual, conceito que não é válido, e é até absurdo, no mundo ocidental). Com isso se criou uma figura dos CONTRATOS ATÍPICOS. O que é mais comum? O legislador criar um contrato e prevê-lo na lei, ou a sociedade criar esse

Page 7: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 7

contrato, e posteriormente o direito regulamentar, pelas leis? A segunda opção. Assim, temos alguns contratos chamados TÍPICOS: estão previstos ou no CC ou em leis esparsas. Mas podemos, de fato celebrar contratos que ainda não estão previstos na lei, desde que se respeitem os bons costumes. Estes contratos, ainda não previstos em lei, são os CONTRATOS atípicos. Ver o Art. 425 do CC. Não há o equivalente no CC de 1916. No novo CC, o princípio foi positivado, mas já era previsto na legislação anterior. Existe uma nomenclatura de contrato, os chamados CONTRATOS MISTOS: são aqueles que envolvem DOIS OU MAIS OUTROS CONTRATOS típicos. Eles misturam dois ou mais contratos típicos, e formam uma terceira espécie. Exemplo de contrato MISTO: contrato de leasing, ou de "arrendamento mercantil". É a mistura de um contrato típico de "locação", com outro contrato típico, de "compra e venda". Nesse tipo de misto, utilizar-se-á regras da locação, e regras da compra e venda, dentro do que for aplicável. A liberdade de contratar está expressa em vários outros Códigos: Art. 1322 do Código Civil Italiano. Art. 1134 do Código Civil francês, ou "Código Napoleônico". Art. 405 do CC português. Art. 1334 do CC peruano. Vejamos na CF regras que auxiliam na analise o direito contratual. Nos últimos 20-30 anos existe uma corrente muito forte que fala em "direito civil constitucional". O que é isso? A partir da metade do Séc. XX quase todas as novas Constituições no mundo têm um caráter fortemente SOCIAL, oposto à natureza do individualismo. Em relação aos PRINCÍPIOS da Constituição, eles passam a nortear o intérprete das novas legislações, de um ponto de vista muito mais SOCIAL das questões. A partir das constituições do séc. XX, ocorreu a "despatrimonialização" do direito. Ou seja, hoje o ser humano é que passa a ser mais importante, e não o "dinheiro", o patrimônio. Vejamos o Art. 1 da CF: "a dignidade da pessoa humana". Com base neste princípio, o juiz pode fundamentar uma decisão da forma como ele melhor entender. Exemplo: no mestrado do professor, que aborda o tema "Publicidade Enganosa e Responsabilidade Civil".

Tais princípios de cunho social passaram a ter um peso muito grande na hora de interpretar a lei e proferir as sentenças. O primeiro princípio que deve ser levado em conta hoje em dia é o da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Outro princípio: Art. 3 CF: "construir uma sociedade livre, justa e solidária". Este princípio está ligado ao PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preçonceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 170 da CF: "LIVRE INICIATIVA", o que pressupõe 'LUCRO'.

TÍTULO VII - Da Ordem Econômica e Financeira CAPÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA

ATIVIDADE ECONÔMICA Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; (...)

Para completar: Art. 173, par. 4 CF: "aumento arbitrário de lucro." Art. 170 novamente: Incisos IV e V: a discussão dos juristas é: o que deve prevalecer? A livre iniciativa, ou a proteção do consumidor? Deve, de fato, deve haver uma HARMONIA entre tais princípios, sem um se sobrepor ao outro. O intérprete deve tentar colocar todos os princípios no mesmo nível hierárquico. Estes são alguns dos princípios que temos de ter em mente ao estudar e elaborar contratos. Pensemos na Liberdade de Contratar, e na Liberdade Contratual: Existe uma plena e absoluta liberdade de contratar? Há alguma exceção ao fato de sermos obrigados a contatar?

Page 8: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 8

Exemplo típico de limitação à autonomia, ou à liberdade de contratar: SEGURO OBRIGATÓRIO DE VEÍCULO. Outro exemplo: há alguns anos, todos os que tinham carro eram obrigados a comprar o Kit de primeiros socorros. Outro exemplo: a um aluno universitário, pode um estabelecimento de ensino falar: "Eu não contrato o ano seguinte com vocês." Ele tem essa liberdade? A doutrina chama de CONTRATOS RELACIONAIS: contratos que envolvem um relacionamento de um certo prazo, normalmente LONGO. Nestes casos, e tratando-se de um SERVIÇO PÚBLICO, injustificadamente, não pode haver a recusa de contratar. Da mesma forma, ninguém pode ser impedido de entrar em algum lugar, desde que esteja adequadamente trajado. Arbitrariamente, não pode ser impedido de entrar. A mesma coisa ocorre com algumas casas noturnas, que costumam escolher os clientes que entram. Pode a Eletropaulo se recusar a contratar com alguém, arbitrariamente? Não. E na hipótese em que não inclua um serviço público? Exemplo: banco, ou clínica médica particular - estabelecimentos que "abrem ao público", mas não são "públicos". Vejamos o Codecon - Lei 8.078/90: Art. 39 - ler o caput, e os incisos II e IX.

SEÇÃO IV - Das Práticas Abusivas Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) Tem ainda um outro "crime", mas que está em outra norma e não no Codecon. Hoje, há uma limitação à liberdade de contratar. Os contratos que são IMPOSTOS, sem muita discussão, são os chamados CONTRATOS COATIVOS. Contratos RELACIONAIS: educação, saúde, etc. Não pode haver uma ruptura contratual sem motivo justificado, porque acarreta um prejuízo grande a um dos contratantes, ou contraentes. Não está ligado à "imposição" de firmar o contrato. Ao lado da liberdade de contratar, temos a liberdade contratual. Sabemos que em muitas hipóteses, em caso de monopólios, não podemos escolher com quem contratar. Exemplo: a Eletropaulo na nossa cidade, ou a Telesp há poucos anos. Ao falar da liberdade contratual em relação à ESCOLHA das cláusulas contratuais, está ligado às NORMAS DE ORDEM PÚBLICA, ou NORMAS COGENTES. O Estado, ao perceber um desequilíbrio em relações contratuais, edita normas de interesse coletivo, que limita a liberdade contratual. Exemplo: a multa será "no Máximo de 5%". Ou: "nesta hipótese, o prestador de serviço não poderá rescindir o contrato". Se for feito de forma contrária, o ato (de rescisão) será nulo. Vejamos o Codecon, Art. 1:

TÍTULO I - Dos Direitos do Consumidor CAPÍTULO I - Disposições Gerais

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. O legislador foi "bonzinho", ele deu a dica. São normas COGENTES. Art. 51 Codecon: Exemplos de CLÁUSULAS ABUSIVAS. Esta lista é "exemplificativa", e não taxativa. Não são somente as que estão ali enumeradas.

Page 9: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 9

SEÇÃO II - Das Cláusulas Abusivas

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; (...) Artigo 51, inciso I - exemplo dos estacionamentos, segundo o qual "Não nos responsabilizamos pelos objetos deixados no veículo". É nula de pleno direito qualquer cláusula que isente o prestador de serviços de responsabilidade... Qual é a regra, a "idéia geral"? Faça-se sempre a seguinte pergunta: “Essa norma é de interesse público - visa a proteção da coletividade, aos hipossuficientes?” Se a resposta for SIM: a norma é COGENTE. Se a resposta for não: será NORMA DISPOSITIVA. Outra regra: quanto à norma COGENTE, o juiz pode reconhecer "de ofício". Exemplo: contrato de consumo; se o juiz verificar que é uma cláusula nula, ele já julgará de ofício. Exemplo: "Foro de eleição". Uma pessoa residente em Manaus firma um contrato de compra e venda com empresa sediada em São Paulo. O juiz irá ver que ela gastará muito dinheiro para se defender, e mudará o foro de eleição para Manaus. Caso dos estacionamentos de shopping centers, "gratuitos de mentira" (incluído nos benefícios do shopping): a responsabilidade será igual à existente num estacionamento pago. ARGÜIÇÃO PRÓXIMA AULA - OBRIGATORIEDADE, - RELATIVIDADE - BOA-FÉ

Aula do dia 28/02/2005 Argüição: 1 - O que é o princípio da relatividade dos contratos? 2 - Tem alguma exceção a esse princípio? Sim: acontecimentos extraordinários, como o caso fortuito, força maior, e a morte. 3 - Explique o princípio da obrigatoriedade dos contratos.

4 - Podem as partes se arrepender? Em que sentido? Pensemos na vontade de apenas um, e não na vontade dos dois. Sim, podem se arrepender, desde que uma indenize a outra, ou seja, assuma sua responsabilidade civil. 5 - O que é caso fortuito e força maior? ============================================

NORMA DISPOSITIVA Normas COGENTES são as normas impostas pelo Estado, que impede que os contratantes estipulem o que bem desejarem. NORMA DISPOSITIVA é o contrário. Diz o legislador: "se vocês não falarem nada sobre o assunto X, será assim, e assado". Aqui, o que está em jogo é o interesse individual, e não o interesse social/coletivo. Há uma dificuldade para o intérprete saber se a norma é cogente ou é dispositiva. Veja a questão da CONSTITUCIONALIZAÇÃO do direito. A tendência GERAL das normas é de serem NORMAS COGENTES. Exemplo de norma cogente: Artigo 1 do Codecon (acima). Exemplo de NORMA DISPOSITIVA: 8.245/91: Lei de Locação. Art. 35.

Seção VI - Das benfeitorias Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.

O legislador diz expressamente que as partes podem, se quiserem, colocar uma cláusula contratual diferente da letra da lei. Se o contrato não dispuser nada, prevalece o que está na lei. Codecon, Artigo 51, inciso XVI. Exemplo: alugo um carro, e no meio da estrada o carro apresenta problema. O mecânico mais próximo orienta fazer um conserto "necessário". No contrato de locação, consta que o locatário não tem direito a indenização. Tal cláusula será nula, em virtude do inciso XVI do Art. 51 do Codecon. Isto, quando for "relação de consumo". Por isso, num contrato de locação de imóvel, não se aplica este inciso do Art. 51, por não ser uma "relação de consumo".

Page 10: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 10

No início do século passado surgiu um "contrato padronizado", "estandardizado". Este contrato recebeu, pela doutrina, o nome de "contrato de ADESÃO". É o contrato elaborado por UMA das partes, em regra, por aquele que detém o PODER ECONÔMICO. Esta redige o contrato, e a parte mais "fraca" escolhe se aceita ou não. É o contrato dito "take it or leave it". É "pegar ou largar". Concluiu-se que a autonomia da vontade ainda existe; ela foi muito reduzida. Ainda se pode escolher "deixar de contratar", mas não ACABA/EXTINGUE com a liberdade de contratar. O contrato de adesão era apenas um conceito doutrinário, não havendo nenhuma norma que regulamentasse o contrato de adesão, até a promulgação do Codecon, que foi a primeira lei a cuidar desses contratos de adesão. Artigo 54.

SEÇÃO III - Dos Contratos de Adesão Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato. § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior. § 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

No caput, a palavra "substancialmente" é importante. Se a contraparte puder alterar substancialmente o contrato, ele deixará de ser de "adesão". Ao lado dos contratos de adesão, existem as CONDIÇÕES GERAIS DO CONTRATO, ou CLÁUSULAS GERAIS DO CONTRATO. Elas significam o que? Ao assinar o contrato, assinamos um pequeno documento, onde consta que as "condições gerais" do contrato serão recebidas posteriormente, e elas estão registradas no cartório “X”. Existe um paralelo disso com o "contrato de adesão". Nessas cláusulas gerais, tais cláusulas também são preestabelecidas, com um agravante: o de que, ao assinar o contrato, o contratante NÃO SABE QUAIS SÃO ESSAS CLÁUSULAS. A questão é? Isso é válido ou não?

Podem ou não podem existir essas CLÁUSULAS GERAIS? Ver o Art. 46 do Codecon.

CAPÍTULO VI - Da Proteção Contratual SEÇÃO I - Disposições Gerais

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Se ocorrer um fato que limitar o direito do consumidor, que estiver nas "cláusulas gerais", ANTES de ele receber tais cláusulas gerais, ele poderá pedir indenização com essa justificativa: não ter tido a oportunidade de conhecer tais cláusulas. Se o fato ocorrer DEPOIS, estará de acordo com o Art. 46: "previamente informado".

PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS Em latim, este princípio é conhecido como "res inter alios acta". Este princípio significa que, "a princípio", os contratos só geram direitos e obrigações para as pessoas que dele participaram. Se compro uma casa da Maria, não posso querer que o João, irmão da Maria, entregue-me a casa. Exemplo concreto: uma pessoa firmou um plano de saúde. Ela teve de ser internada às pressas, e, como de praxe, seu acompanhante teve de assinar um "termo de responsabilidade". A acompanhante era sobrinha. A paciente faleceu, e o plano de saúde não quis pagar a internação; essa sobrinha entrou na Justiça. Essa sobrinha é parte no contrato? NÃO. Nessa condição, essa sobrinha tem legitimidade processual para discutir "validade de cláusula contratual"? NÃO. Quem pode discutir tais direitos? Quando alguém morre, somente os HERDEIROS do de cujus podem discuti-los. No caso, o professor julgou improcedente a ação, por ilegitimidade da requerente. O princípio da relatividade significa que o contrato gera direitos e obrigações somente às partes que o subscreveram. Este princípio nunca foi absoluto. Apesar de um contrato somente gerar direitos e obrigações para os seus subscritores, tal contrato deve ser RESPEITADO POR TODOS. Todas as pessoas devem respeitar tal contrato, sob pena de serem responsabilizadas por perdas e danos.

Page 11: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 11

Exemplo: há alguns anos, os postos de gasolina firmaram contratos de compra e venda com determinada distribuidora - Shell, Ipiranga, etc. Tais contratos são de "exclusividade", e devem comprar X litros/mês. Há alguns anos não havia a liberdade que há hoje. Assim, alguns postos conseguiram combustível mais barato. Ocorria que todos preferiam a gasolina do posto mais barato. Assim, um posto que compra da Shell recebe uma proposta da Texaco, que oferece combustível mais barato. O que a Shell fez? Entrou com uma ação de rescisão de contrato, e a multa prevista era de "X" milhões. Paralelamente, entrou com outra ação contra a Texaco, que foi a "causadora" da rescisão do contrato, e pediu indenização. (Os nomes são fictícios) O professor viu um parecer juntado a esse processo, em que o jurista achava que a segunda distribuidora TEM SIM responsabilidade; ela deveria ter respeitado o contrato, e portanto ela responderá pelo prejuízo. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL: está interligado a outros princípios, e acaba interferindo muito no princípio da RELATIVIDADE DOS CONTRATOS. Hoje em dia, o contrato não é mais visto como algo que interessa somente aos contratantes. Hoje, com a FUNÇÃO SOCIAL, o raciocínio muda um pouco: o contrato deve ter uma FUNÇÃO SOCIAL. Exemplo: a Coca-Cola quer firmar contrato com o Pão de Açúcar para vender garrafas de 2 litros por 0,80 centavos. Isso interessa somente aos contratantes? NÃO. Interessa a TODOS OS CONSUMIDORES. A médio e longo prazos, esse ato vai acabar prejudicando os concorrentes. Assim que ela "quebrar" os concorrentes, ela, que passou a deter o monopólio, irá aumentar o preço do seu produto. Aqui, está em jogo O INTERESSE COLETIVO, O INTERESSE SOCIAL. Esta é a FUNÇÃO SOCIAL do Contrato. Outra exceção - pela doutrina - ao princípio da relatividade dos contratos: CONTRATO EM BENEFÍCIO DE TERCEIROS.

OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS Este princípio é conhecido, e muito, pelo termo latino "pacta sunt servanda", que prevê que o contrato, uma vez firmado, DEVE SER CUMPRIDO. Ou seja: "assinou, tem que cumprir"; não se discute mais. Inclusive, verbalmente, "contrato de boca".

O princípio da obrigatoriedade é este: uma vez que houve o consentimento de todos os contratantes, o contrato deve ser FIELMENTE CUMPRIDO. Este contrato teve seu auge NA REVOLUÇÃO FRANCESA; final do Séc. XIX, começo do Séc. XX. Apesar de ter tido seu apogeu, SEMPRE TEVE EXCEÇÕES: 1 - Ocorrência de caso fortuito ou força maior, que impossibilitem o cumprimento da obrigação. 2 - Ocorrência de ATO SUPERVENIENTE que pudesse causar DESEQUILÍBRIO na relação contratual, autorizando o Estado a intervir de modo a restabelecer aquele equilíbrio, aplicando-se leis de ORDEM PÚBLICA em benefício do INTERESSE COLETIVO. Assim, à luz da nova ordem constitucional, não se tolera mais a “obrigatoriedade” quando as partes se encontram em patamares diversos e, dessa disparidade, ocorra proveito injustificado. Sobre o ARREPENDIMENTO: ele, a princípio, é incompatível com o princípio da obrigatoriedade dos contratos. Caso contrário, criaria uma grande INSEGURANÇA JURÍDICA. O arrependimento só existe como EXCEÇÃO. O arrependimento pode ser CONVENCIONAL (uma cláusula prevendo o arrependimento; este direito está diretamente relacionado à chamada "arras", penitenciais ou confirmatórias) ou LEGAL (a lei, em algumas situações, permite que a parte se arrependa do contrato, dentro de determinado prazo: 1 - Contrato de Transporte, Art. 740 caput e par. 1, e Art. 741 do CC. A pessoa tem o direito de se arrepender. Parágrafo 1: iniciada a viagem, o passageiro tem o direito de sair, mas não diz nada sobre devolução de dinheiro). Argüição: Próxima aula: - Boa fé; Próxima semana: - Classificação dos Contratos (TODAS) ==================================

Aula do dia 1/03/2005 ARGÜIÇÃO - O que é boa-fé objetiva? E subjetiva? - O que é boa-fé pré-contratual, e pós-contratual? - O que é o "dever de informação" da boa-fé?

Page 12: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 12

- O que entende por "limitação do direito subjetivo" da boa-fé? - Quais as funções da boa-fé objetiva? ====== AULA:

DIREITO DE ARREPENDIMENTO Existe uma outra hipótese de ARREPENDIMENTO LEGAL - Art. 49 do Codecon: o chamado "prazo de reflexão, ou de desistência", que é de 7 dias, no Brasil. Um aspecto importante: o consumidor não tem o direito a se arrepender em QUALQUER hipótese, mas SOMENTE quando a aquisição for feita FORA do estabelecimento comercial. Ou o vendedor foi até o domicílio do consumidor - caso da Avon, etc., ou no caso de compras por telefone, como no caso do canal ShopTour, ou pela Internet. Não precisa justificar o motivo, bastando afirmar que não deseja mais o produto ou serviço. Nestes casos, o fundamento está no fato de que a compra pode ter ocorrido por "impulso". Existe uma hipótese em que se aplica o Art. 49, e o consumidor VAI ao estabelecimento comercial: no caso de uma "propriedade mitigada", no caso de uma rede de hotéis. O que se discute é a "forma" utilizada para fazer parte do "clube". Eles pegam o cadastro de algumas pessoas, e as convidam para assistir a uma "palestra", com oferta de jantares e outras conveniências, desde que o convidado permaneça no mínimo 2 horas na reunião inicial, cuja reunião dura normalmente umas 3 horas. Ocorre que essa seqüência de palestras pode causar confusão no consumidor, que pode acabar firmando o contrato por impulso. Por isso, a Embratur determinou que nesses casos se aplica o Art. 49 do Codecon, e o consumidor pode se arrepender. Último Princípio:

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA Não confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva; são coisas diferentes. BOA-FÉ SUBJETIVA: Nada mais é do que um "erro de consciência" que um sujeito faz em decorrência de uma situação. Exemplo: eu erro, por achar que estou numa situação, que na verdade não estou. No usucapião, que é uma forma de aquisição de propriedade imóvel ou móvel, em decorrência da posse DE BOA-FÉ durante determinado período. Exemplo: compro um terreno. Chego no local, e pergunto ao porteiro do condomínio; "Qual é o meu terreno?" "É aquele lá", ele responde. Vou lá e construo uma casa, e

moro por quinze anos, achando que não pertence a ninguém. Depois, vem o real proprietário, e quer retomar a posse, mas não poderá. BOA-FÉ OBJETIVA: está ligada à questão COMPORTAMENTAL: como as pessoas devem se comportar dentro de uma relação contratual perante as outras pessoas. Além disso, trata-se do fato de ela dever se comportar de forma LEAL, CORRETA, HONESTA. É o comportamento que se espera que as partes tenham numa relação contratual. A boa-fé objetiva toma corpo com o Direito Canônico, pois na Idade Média, a Igreja Católica com o Direito canônico estabeleceu que as pessoas deveriam agir de forma correta, cumprir a palavra dada, e de uma forma honesta. Ao longo do tempo, no Séc. XIX surgem os Códigos legais, do jeito que conhecemos hoje: um agrupamento de normas, como o Código napoleônico, que é redigido no final do Séc. XVIII e entra em vigor em 1804. Até hoje tal código tem um Artigo que fala da boa-fé objetiva. Naquela época se estava no auge do individualismo, e por isso tal artigo acabou caindo no esquecimento. Por volta de 1850, na Alemanha, os tribunais que cuidavam de questões comerciais, passaram a julgar com a idéia da BOA-FÉ OBJETIVA. Tal idéia se incorpora ao Cód. Civil Alemão - BGB - em seu Artigo 242 (que na realidade é o "parágrafo" 242). O BGB diferencia a boa-fé subjetiva da subjetiva. Isso suscitou o surgimento de certas TEORIAS fundadas na boa-fé objetiva: - CULPA IN CONTRAHENDO: responsabilidade pré-contratual (o professor perguntou sobre isto numa argüição). Em que momento um contrato se forma? Quando há o consentimento verbal escrito, há a convergência das vontades. A partir desse momento, uma das partes pode desistir? Como regra, não. Pode haver uma ação para cumprir, ou ação de indenização por perdas e danos. Exemplo concreto: nosso professor procurava um apartamento, e encontrou. Conversou com o proprietário, e decidiram fechar o negócio. O proprietário achou desnecessário fechar um “compromisso de compra e venda”. Depois de o promitente comprador tomar algumas providências, o vendedor disse ter mudado de idéia. Alguns contratos de compra de imóveis, não se perfazem verbalmente, sendo necessária uma escritura pública. Antes disso, NÃO HÁ CONTRATO. Onde não existe contrato, não existe obrigação. A dúvida é: o promitente comprador poderia pedir indenização? Mesmo sem um compromisso de compra e

Page 13: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 13

venda? Depende. É a chamada "culpa in contrahendo", ou "responsabilidade pré-contratual", muito discutida na doutrina. A resposta a esta pergunta pode ser extraída da boa-fé objetiva. O vendedor agiu de forma honesta, justa, correta? Ele nem sequer telefonou para o comprador, para avisar que tinha mudado de idéia. O princípio da boa-fé objetiva serve para fundamentar a teoria da "culpa in contrahendo". Esta teoria pode sim se aplicar ao caso de ROMPIMENTO DE NOIVADO. Podemos usar o princípio da boa-fé para solucionar o problema. Outra teoria que teve como fundamento a boa-fé objetiva: o ABUSO DE DIREITO. O que é o abuso de direito? Quando alguém ultrapassa a linha divisória do seu direito, e invade a área do direito da outra pessoa. Exemplo: o policial, que dentro do seu direito, e dever, de prender alguém, dá além disso uns tapas no preso, abusando do seu direito. Outro exemplo: numa casa, você quer construir uma churrasqueira, e você detesta seu vizinho. Então, você constrói a churrasqueira com a chaminé apontada para o quarto do vizinho. Isso configura ABUSO DE DIREITO, violando o princípio da boa-fé objetiva. Na prática, existe uma dificuldade de se definir a "linha imaginária" que delimita onde termina o direito de uma pessoa e onde começa o direito da outra pessoa. Outra teoria que está muito "na moda", pela mania dos brasileiros de importar coisas dos outros, e que tem por fundamento a boa-fé objetiva: "venire contra factum proprium". Foi objeto DUAS VEZES de CONCURSO PÚBLICO para magistratura. Dois exemplos, do direito alemão: 1 - Uma pessoa trabalha numa empresa, e diz ao patrão que recebeu uma boa proposta de emprego, onde vai ganhar o dobro, ao que o patrão lhe diz para não ir, que dali a dez meses ele vai estar ganhando mais do que o dobro, etc. E, depois de dois meses, é demitido sem justa causa. Ou seja, o empregado perdeu uma oportunidade e foi prejudicado, por uma promessa de outra pessoa. 2 - O locatário decide sair da locação, pois achou uma casa melhor. O locador insiste para ele ficar, e ele fica. Depois de um tempo, ele recebe uma ação de despejo sem justa causa.

Aula do dia 2/03/2005

A BOA-FÉ

DENTRO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO A boa-fé objetiva tem, como uma de suas funções, o dever de comportamento. Outra função da boa-fé objetiva é a FUNÇÃO INTERPRETATIVA: ao fechar um contrato, deve-se ter em consideração a INTENÇÃO DOS CONTRATANTES, que deve ser uma intenção justa e leal. É buscar MAIS DO QUE AS PALAVRAS: a vontade autêntica das partes. Esta função da boa-fé não é nova; no Cód. Comercial de 1850, Art. 131, já constava positivada a boa-fé. Artigo 85 do CC de 1916: leitura. Aqui está a "função interpretativa". Portanto, nosso CC antigo tinha, pelo menos na função "interpretativa", o princípio da boa-fé. O atual CC de 2002, Art. 112, repete a mesma regra: da "FUNÇÃO INTERPRETATIVA". Portanto, o princípio da boa-fé existia desde 1850 no Cód. Comercial, existia no CC de 1916, e existe hoje no CC de 2002. Uma segunda função da BOA-FÉ: a chamada "LIMITAÇÃO DO DIREITO SUBJETIVO". A questão é saber: o que é DIREITO SUBJETIVO? É a faculdade de alguém de agir para defender um direito que a lei tutela. DIREITO OBJETIVO e SUBJETIVO: Imagine-se entrando numa farmácia, em que há os remédios; todos os remédios seriam o DIREITO OBJETIVO: todas as normas do ordenamento. O DIREITO SUBJETIVO seria: dê-me esse remédio aqui para dor de cabeça. Ou seja, DIREITO SUBJETIVO é a faculdade que temos de usar uma norma para proteger determinado direito. Quais os caminhos ou instrumentos processuais, em caso de descumprimento de um contrato: (1) execução do contrato; (2) rescisão do contrato. Em qualquer dessas duas alternativas, pode-se acumular com perdas e danos. Exemplo: compro um imóvel, e o contrato prevê que os metais sanitários serão da marca Deca. Ao receber o imóvel, constata-se que os metais não são Deca. Não houve cumprimento INTEGRAL do contrato. Pode-se entrar com ação de "rescisão" do contrato, com devolução do dinheiro e perdas e danos, eventualmente? A lei diz que pode. Entretanto, teria sentido rescindir um contrato de 300 mil reais, por causa de algumas torneiras, que são um detalhe em vista do todo? Os prejudicados seriam, provavelmente, as duas partes.

Page 14: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 14

Moral da história: em teoria, a LEI AUTORIZA. O direito subjetivo permite que usemos tal caminho. Mas, pela boa-fé objetiva, não tem sentido rescindir o contrato quando o descumprimento é mínimo e insignificante. A boa-fé, de fato, LIMITA UM DIREITO QUE UMA DAS PARTES TEM. Obviamente, deve-se analisar cada caso concreto. Outro exemplo: compro uma passagem, cujo vôo sairá às 9h00. Mas ao chegar no aeroporto, a companhia informa que o vôo partirá às 9h10min. O princípio da boa-fé vem novamente limitar o direito subjetivo. Terceira função da boa-fé, e a mais ligada à idéia de COMPORTAMENTO: DEVERES ACESSÓRIOS OU DEVERES ANEXOS de CONDUTA. O que seriam estes deveres laterais? Além do que foi pactuado no contrato, a lei exige que as partes tenham um determinado comportamento, MESMO QUE ISSO NÃO CONSTE EXPRESSAMENTE NO CONTRATO. São deveres implícitos dos contratantes. É irrelevante se tais deveres constam ou não no contrato. Estes deveres sempre existem. Grande parte da doutrina divide estes deveres ANEXOS em três tipos: I) DEVER DE PROTEÇÃO: por esse dever de proteção, ambos os contratantes devem agir de modo a NÃO CAUSAR DANO AO OUTRO CONTRATANTE, ou de EVITAR OU ATENUAR algum dano à outra parte. Exemplo: vou ao mercado; o gerente vê que caiu um produto, e não manda limpar. Passo sobre o arroz, caio e bato a cabeça. Não é necessário ter comprado nada ainda. É dever do dono do mercado evitar um risco de dano. Este é um dever de proteção, que todo mundo tem. Esta discussão é muito comum no caso de passageiros de ônibus assaltados ou mortos. Mas isso sai fora do risco normal razoável esperado de uma empresa de ônibus. Porém, se isso ocorre num banco, o banco será responsabilizado, uma vez que o banco envolve a atividade de proteção; vamos encontrar muitos julgados deferindo isso. "Evitar" ou "amenizar" o dano. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a AMBOS os contratantes. Hoje, todos acham que o consumidor é sempre a vítima, mas ocorre que o consumidor às vezes agem de má-fé. Exemplo: sou advogado, compro um computador e ele quebra; mas eu aguardo 40 dias para ir reclamar, e vou reclamar os 40 dias que fiquei parado sem trabalhar. Outro exemplo: chamo uma empresa de táxi para ir fechar um negócio de grande monta, e o táxi não vem me buscar. Posso reclamar a perda do negócio? Não. Poderia eu pegar outro táxi. II) DEVER DE LEALDADE: por este dever, não basta mais que o contratante compra sua obrigação.

Além disso, deve-se COLABORAR, ou no mínimo não dificultar, que o outro cumpra a parte dele. Exemplo: fictício: ao comprar apartamento pelo Sistema Financeiro de Habitação, os bancos exigem várias coisas. O banco exige que um engenheiro vá fazer uma perícia e avaliação no imóvel. Mas o promitente vendedor nunca se encontrava em casa para permitir tal avaliação. E então ele entra com uma ação de rescisão de contrato. Outro exemplo: um pai procurou uma agência de modelos para o filho. Ele tirou algumas fotos, e pagou a primeira parcela. Então o pai entra com uma ação alegando que o fotógrafo não cumpriu o contrato, pois não tirou as fotos. Mas o fotógrafo respondeu que o pai nunca permitia que o filho fosse posar para a sessão de fotos. O papel do pai era justamente colaborar para a concretização do negócio. III) DEVER DE INFORMAÇÃO - OU DE ESCLARECIMENTO (este é o tema da dissertação de mestrado do professor Paulo Scartezzini Guimarães); DEVER DE INFORMAR OU DE ESCLARECER. Para firmarmos um contrato, o que é básico? Saber EXATAMENTE o que estamos comprando, alugando, etc. Ter as informações CORRETAS para manifestar: quero, ou não quero. Muitas vezes decidimos fazer um negócio, e somente depois vimos a saber de um detalhe importante. Assim, AMBOS OS CONTRATANTES devem dar um ao outro TODAS as informações necessárias para sabermos se vamos decidir fazer ou não o negócio. Hoje podemos ver com muita freqüência a quantidade de informação que se coloca em algo pa tentar esclarecer o consumidor, notadamente na publicidade. O EXCESSO de informação traz mais prejuízo do que benefício. EXCESSO DE INFORMAÇÃO = NÃO-INFORMAÇÃO. Exemplo: ao comprar uma lata de leite condensado, recebemos um manual de 500 páginas. Hoje, o DEVER do fabricante/prestador de serviços é informar TUDO O QUE FOR INDISPENSÁVEL o consumidor saber. Existe um órgão do governo que faz uma analise previa das informações que irão constar no rotulo das embalagens. A questão do DEVER DE INFORMAR, com BOA-FÉ, coloca o chamado "dolus bonus". O dolo é um VÍCIO DO CONSENTIMENTO que permite a ANULAÇÃO do negócio jurídico. Dentro do DOLO ha uma divisão: "dolus malus" e "dolus bonus". Desde Roma, o dolus malus é o que possibilita a anulação do negócio jurídico, que traz má-fé. O dolus

Page 15: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 15

bonus não; é apenas uma "mentirinha". Ao contrário do ERRO, em que erramos sozinhos. Será que, ainda hoje, podemos aceitar o "dolus bonus", a ‘mentirinha’? Podemos admitir essa exceção ao dever de lealdade e honestidade? NÃO, definitivamente. Se a admitíssemos, seria como promulgar, acima da nossa CF, uma outra Constituição, do "Gerson". O Prof. Junqueira, da USP, afirma que o dever de INFORMAR com boa-fé, não vai ao ponto de que o vendedor tenha de informar tudo o que possivelmente poderia acontecer de errado com o objeto da venda. Hoje em dia, as empresas estão fornecendo, além do manual completo, um "resuminho" do manual, o manual de início rápido do uso, ou "quick start guide" em inglês. A "precaução" é que dá o tom. O dever de informar não existe somente na fase em que antecede o contrato, mas também na fase de EXECUÇÃO do contrato, e na fase PÓS-CONTRATUAL. É o caso do fabricante que pára de fabricar um modelo, e continua a fabricar peças para fazer sua manutenção. Na EXECUÇÃO: em pleno vôo, o piloto avisa que a aeronave está passando por turbulência, e que todos devem se sentar. É o dever de informar na "execução". Caso do microondas, em que uma senhora colocou seu gato dentro, para aquecê-lo. Ela entrou com uma ação por falta do dever de informar, e ganhou. Nos EUA, as ações civis podem ser julgadas por um júri popular, e não por um juiz. No Brasil, o júri popular se aplica somente a casos dolosos. É lógico que os advogados preferem sempre o júri popular. Chama-se "punitive damages". Caso do automóvel chamado Ford Pinto: os engenheiros da Ford descobriram que havia a possibilidade de explodir o veículo em caso de colisão. A empresa discutiu isso internamente, e resolveu assumir o risco de pagar as indenizações, por ser muito mais barato do que fazer o recall; porém, essa decisão causa danos aos consumidores, diante de uma conveniência financeira para a empresa. Aí nasceu a história nos EUA de indenizações milionárias, por conter uma PUNIÇÃO ao agente. E se falou do caso da senhora que se queimou com um café do McDonalds. A indenização levou em consideração o quanto o McDonalds ganha em vendas de café num único dia nos EUA. O professor falou sobre o caso “Gore vs. BMW”, do Estado do Alabama. Chegou na Suprema Corte dos EUA. No Brasil o Judiciário não adotou essa linha. Aliás,

mesmo nos EUA, a tendência de indenizações milionárias está em queda. Observação: estas funções não são "ponto pacífico" na doutrina. Para se aprofundar na questão da boa-fé, ler as obras do autor português MENEZES CORDEIRO: Editora Almedina, de Coimbra. Pode-se comprar pela Internet.

Aula do dia 7/3/2005

INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE O COAR é um órgão que exerce um CONTROLE sobre a publicidade. É um código, mas não em sentido de "lei", e sim que orienta as ações em termos de publicidade. Paralelamente a isso, existe o Codecon (Código de Defesa do Consumidor), que traz algumas regras sobre a publicidade. Art. 30 do CDC, sobre o qual falaremos futuramente, ao falar sobre "Oferta". Agora trataremos dos Artigos 36 e 37 do CDC, que tratam apenas de ALGUNS TIPOS de publicidade enganosa ou abusiva.

SEÇÃO III - Da Publicidade Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

Exemplo: publicidade SUBLIMINAR, que é uma técnica publicitária, para veículos audiovisuais. Cada segundo de

Page 16: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 16

publicidade na TV, contém 24 quadros, ou negativos. A técnica consiste em inserir em apenas UM desses 24 quadros, uma imagem/símbolo, ou algo visual. O consciente das pessoas não percebe isso, mas o SUBCONSCIENTE percebe. Na década de 1970 isso foi usado pela Coca-Cola e pipoca, aumentando as vendas em 60%. Alguns anos atrás, uma vinheta da MTV continha algumas cenas de sadomasoquismo. Merchandising: pode ser "escancarado", ou sutil, como um carro usado por um artista de novela. Artigo 36: a publicidade deve ser "FÁCIL E IMEDIATAMENTE IDENTIFICÁVEL". Publicidade enganosa não é somente publicidade que afirma inverdades. Há publicidade que INDUZ O CONSUMIDOR EM ERRO. Exemplos: a publicidade contém uma afirmação falsa. Outro exemplo: o suco Tang, numa publicidade na França, mostrava um copo meio vazio, com um resíduo, no copo, que aparentava conter um suco natural. Os cartazes foram retirados de circulação, por induzir o consumidor em erro. Há ainda a publicidade que fala sobre homossexualidade, racismo, etc, de forma negativa. Exemplo: num comercial da Xuxa, esta mandava as crianças jogarem fora seus tênis, para comprar o tênis que a Xuxa recomendava. Não se pode induzir crianças a jogarem fora seus tênis. Comerciais da Benetton, abusivos: uma freira beijando o padre. Outro: uma mulher negra amamentando uma criança branca. Muitos dizem que tais comerciais são abusivos. O da freira beijando o padre foi retirado de circulação. Hoje, cada vez mais, os publicitários estudam a mente do consumidor, para saberem utilizar todas as técnicas em suas peças publicitárias a fim de persuadir. Livro do professor Scartezzini: "A publicidade ilícita e a responsabilidade civil das celebridades". Editora RT. Exemplo: o vilão da novela nunca faz comerciais, sendo apenas os "bonzinhos". Argüição: 1 - O que são contratos unilaterais e bilaterais? Dê exemplos. 2 - Contrato bilateral é o mesmo que "negócio jurídico bilateral"? 3 - Qual a diferença entre contrato oneroso e contrato gratuito? ================================

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS Vamos nos referir a algumas classificações ou denominações dadas pela doutrina ou pelo legislador, já que o entendimento não é pacífico entre os doutrinadores, principalmente as mais modernas. Podemos traçar um paralelo para isto: para o médico poder tratar uma doença, ele precisa saber qual é a doença. O mesmo raciocínio serve para um jurista: qualquer operador do direito deve saber classificar um contrato, pois é básico para podermos entender a estrutura do contrato. Um contrato pode ser: "bilateral, oneroso, de adesão, de execução instantânea, principal, etc.". Uma coisa é o conceito de NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL e UNILATERAL: negócio jurídico bilateral: é aquele que necessita da MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DE DUAS PESSOAS, enquanto o negócio jurídico UNILATERAL precisa da manifestação de vontade de apenas uma das partes. O CONSENTIMENTO é essencial para que haja contrato. Este conceito varia de acordo com a existência de duas ou mais vontades. CONTRATO BILATERAL: ver abaixo. Classificações que veremos: 1 - Quanto à NATUREZA: A - BILATERAL: quando AMBAS AS PARTES têm DIREITOS E OBRIGAÇÕES. Costumam-se utilizar os termos CREDOR e DEVEDOR. Credor e devedor está ligado à idéia de OBRIGAÇÃO. No exemplo da COMPRA e VENDA, típico contrato BILATERAL. LOCAÇÃO É BILATERAL? Por quê? B - UNILATERAL: existem DUAS partes, e duas manifestações de vontade, mas apenas UMA DAS PARTES ASSUME UMA OBRIGAÇÃO. Exemplo: DOAÇÃO pura. Somente há obrigação para o DOADOR. Ele não é credor de nada. O credor não tem nada. Contratos SINALAGMÁTICOS: nestes tipos, a prestação de um está diretamente ligada à prestação do outro. Importância prática de se diferenciar contrato bilateral e unilateral: Art. 392 CC. Contratos BENÉFICOS = Contratos GRATUITOS.

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

Page 17: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 17

Comodato: empréstimo gratuito de coisa não-fungível. Um apartamento na praia emprestado a alguém que deixa a janela aberta e acaba estragando o tapete. Art. 476 CC. O conceito aqui é: "exceção do contrato não cumprido".

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Art. 475: também se referem a rescisão contratual - inadimplemento.

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

2 – Quanto às VANTAGENS PATRIMONIAIS A) Contrato ONEROSO: existe um diminuição do patrimônio de um. Exemplo: compra e venda, locação, etc. B) GRATUITO: neste, apenas UM dos contratantes PERDE, enquanto o outro ganha. O COMODATO é um contrato gratuito. Diferença: Todo contrato bilateral é oneroso, e vice-versa. Existem contratos UNILATERAIS, porém não onerosos. Exemplo: EMPRÉSTIMO DE COISA FUNGÍVEL. Exemplo de mútuo: Empréstimo em dinheiro. É um contrato. UNILATERAL. A entrega é necessária, sendo requisito para que o contrato se aperfeiçoe. TODO CONTRATO BILATERAL É ONEROSO Exemplo de contrato gratuito: emprestar dinheiro para a irmã. Não existe contrato de "MÚTUO GRATUITO", com bancos, etc. Dá-se o nome de mútuo FENERATÍCIO; tema de pergunta de prova de exame de Magistratura: é o MÚTUO em que é necessária uma remuneração pelo dinheiro emprestado.

Aula do dia 8/3/2005 Em que situações é importante distinguir os contratos onerosos dos gratuitos? Art. 447 CC; a evicção se aplica somente aos contratos onerosos, não se podendo aplicar o vício redibitório na doação pura, por exemplo. A doação com encargo não é gratuita, por outro lado.

Outra distinção: a fraude contra credores que, quando ocorre, o credor ingressa com uma ação pauliana (ação pauliana: foi perguntado na primeira prova) objetiva-se anulação do ato jurídico. Trata-se de tornar ineficaz, nula, a venda feita depois de iniciada a execução. Não confundir "fraude contra credores" com "fraude à execução", que é um instituto processual onde, no curso de um processo, o devedor transfere seu patrimônio, e também o credor não tem como executar seus bens, pois foram transferidos. Daí o risco que todos temos, na prática, ao comprar qualquer bem de qualquer pessoa. Até mesmo bens móveis, como carros. Por uma ação pauliana, o carro pode ser retirado do comprador e ser levado a leilão. Fraude contra credores: ESTUDAR! AÇÃO PAULIANA: qual é a importância do negócio jurídico que se visa anular, se ele é gratuito ou oneroso? Na ação pauliana, o autor da ação deve provar que? CC, Art. 158. O autor deve provar que o outro TINHA CONHECIMENTO. Se for gratuito: José era credor do João, que dá o carro de presente para o filho. O legislador pensa assim: entre proteger o credor e deixar de beneficiar alguém - o filho - ele prefere proteger o credor. O filho "deixará de ganhar", mas não perderá nada. Alguns autores também colocam a distinção quando se pretende a anulação de negócio jurídico por erro EM FACE DA PESSOA - erro in personae. Quem está recebendo a doação é João, mas no fundo o doador queria beneficiar o irmão gêmeo do João. Nos contratos gratuitos, é muito mais importante A PESSOA BENEFICIÁRIA, e não o ato em si. Se houver "erro quanto à pessoa", o ato pode ser anulado, e em um contrato gratuito é muito mais fácil de ser anulado por esse motivo. 3 - CONTRATOS COMUTATIVOS E ALEATÓRIOS - Está dentro da classificação de CONTRATOS BILATERAIS ONEROSOS. - COMUTATIVO: os contratantes, DE ANTEMÃO, sabem qual será a prestação a ser dada, e também qual será a contraprestação. Cada um sabe o que vai dar e o que vai receber. Exemplo: contrato de compra e venda de um veículo. - ALEATÓRIO: são aqueles contratos que ENVOLVEM SORTE, RISCO. aleatório vem do termo latino "alia", ou seja, "sorte". Uma das partes sabe qual é a prestação dela, mas não sabe qual será sua contraprestação, se a houver. EXEMPLO: na compra de um bilhete da loteria federal - quem compra sabe a prestação, mas pode ou não haver contraprestação. EXEMPLO: contrato de

Page 18: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 18

SEGURO; a prestação é determinada, pelo segurado. Pode haver prestações de graus diferentes, de acordo com o sinistro ocorrido. Contratos aleatórios POR SUA PRÓPRIA NATUREZA: seguro, jogo, aposta. Mas um contrato pode SE TRANSFORMAR. Por exemplo, um contrato COMUTATIVO é firmado, e as partes resolvem transformá-lo em aleatório. EXEMPLO: transporte de mercadoria, num contrato de importação. Se estiver claro que o contrato envolve um risco, pode-se transformá-lo em contrato aleatório. Artigos 458 a 461. Artigo 458: dá-se o nome de "emptio spei" (“venda da esperança”) a este tipo de contrato. Ou "emptio rei sperateo".

Seção VII - Dos Contratos Aleatórios Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

A diferença, do 458 para o 459, é que no 459 O RISCO ENVOLVE DETERMINADA QUANTIDADE, enquanto no 458 envolve a coisa em si. [perguntado na primeira prova] Exemplo: joga-se uma rede no mar; pode vir um ou muitos peixes, mas se contratou o pescador para jogar a rede, pelo que ele receberia 500 reais - Artigo 458. Envolve a existência da coisa. Se vier um peixe, a quantia será paga. Se não vier nenhum, não haverá pagamento. Se vierem 500 peixes, o outro contratante sairá ganhando. Artigo 459: João contrata o pescador para pegar no mínimo 10 peixes. Se ele pegar 9 peixes, nada feito. Se ele pegar 11 peixes, ele receberá a quantia acordada previamente no contrato. Se ele pegar 500 peixes, João sairá ganhando.

Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

Todo contrato de compra a prestação, por natureza envolve um risco, mas isso não o transforma num contrato aleatório. E quando esse risco, ou seja, O FATO ULTRAPASSA O RISCO PREVISÍVEL? Caso do Plano Collor, por exemplo. A doutrina clássica afirma que as teorias não se aplicam. Exemplo: faço um seguro do carro que prevê "enchente". A seguradora tem uma estatística (cálculos atuariais), e calcula o valor do seguro com base nisso. Digamos que chova 350 dias num ano em São Paulo: esse fato ULTRAPASSA DEMAIS todas as expectativas da seguradora. 4 - CONTRATOS PESSOAIS E IMPESSOAIS Esta classificação está diretamente ligada ao que já estudamos sobre OBRIGAÇÕES PERSONALÍSSIMAS E NÃO-PERSONALÍSSIMAS. Nas personalíssimas, o que importa é A PESSOA DO DEVEDOR, como ao contratar o cirurgião "Pitanguy". Não serve o filho dele, deve ser ELE MESMO. Não-personalíssimas: ao lavar o carro, normalmente não importa quem é que vai lavar o carro. 5 – CONTRATOS PESSOAIS Se o contrato não for pessoal e se o credor não quiser cumprir, posso fazer que um TERCEIRO cumpra a prestação, às custas do devedor. Quando o contrato é pessoal, não adianta eu pedir a um terceiro fazer, porque não me interessa; se houver descumprimento, cabe a ação de indenização por PERDAS E DANOS. Outra distinção importante: num contrato PESSOAL, com a morte do devedor, A OBRIGAÇÃO NÃO SE TRANSFERE A TERCEIROS. No caso do Pitanguy, se ele morrer, um filho dele não estará obrigado a cumprir. Se for OBRIGAÇÃO DE DAR, a obrigação SE TRANSFERE SIM A UM TERCEIRO. Ficando ressalvado que os herdeiros somente assumem a obrigação no limite da herança que tiverem recebido do "de cujus". A obrigação de arcar vai até o limite da herança. ================================

ARGÜIÇÃO DE AMANHÃ:

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ================================

Argüição da PRÓXIMA SEMANA: - CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS - INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS - ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO

Page 19: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 19

- CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR =================================

Aula do dia 9/3/2005 6 - CONTRATOS PLURILATERAIS Ocorre com a PLURALIDADE DE PARTES, e não de "pessoas". EXEMPLO típico: Contrato de CONSÓRCIO, em que existe a EMPRESA de consórcio, e vários CONSORCIADOS, cada um deles com uma "obrigação AUTÔNOMA". Mas existe uma interferência: se um consorciado sai ou deixa de pagar, os que ficam deverá arcar com a contribuição daquele que saiu. Outro: um consorciado pode sair, e entrar outro, sem a necessidade de consentimento dos demais consorciados. 7 - CONTRATOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS - INDIVIDUAIS: estamos acostumados a ver no dia-a-dia. É o Pedro comprando do Carlos, o Paulo comprando do José, etc. - COLETIVOS: são relativamente NOVOS, no sentido seguinte: nos contratos individuais, os contratantes são pré-identificados. Nos contratos COLETIVOS, pelo menos um dos contratantes representa um GRUPO de PESSOAS NÃO-IDENTIFICADAS. EXEMPLO – Direito do Trabalho - nos acordos coletivos. O Sindicato dos Metalúrgicos firma um contrato coletivo, que vai gerar conseqüências para todos os que estiverem no pólo do sindicato, até mesmo para quem não concordava com seus termos, e mesmo para pessoas que vierem a ingressar posteriormente na empresa. Outros contratos coletivos, um deles um previsto no CDC: CONTRATO COLETIVO firmado ou pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, ou por associações de defesa do consumidor EM PROL do consumidor. Exemplo: há alguns anos, as empresas de cartões de crédito assinaram um contrato pelo qual se comprometiam a não enviar cartões de crédito não-solicitados, com previsão de multa em caso de violação. Este acordo, quando é firmado pelo MP, é chamado TERMO DE AJUSTAMENTO - vale para meio ambiente, consumidor, etc. - pelos chamados DIREITOS DIFUSOS. Artigo 107 do CDC.

QUANTO À MANEIRA DE APERFEIÇOAR: - CONSENSUAIS: quando basta o CONSENTIMENTO DOS CONTRATANTES para que ele se aperfeiçoe. A manifestação de vontade é requisito básico. Quando ela existe, o contrato já se aperfeiçoa.

EXEMPLO: compra e venda de BENS MÓVEIS - carros, etc. Até mesmo verbais são válidos. E a compra de uma Ferrari? Será válido o contrato consensual? SIM, pois o bem móvel INDEPENDE DO VALOR. O raciocínio por trás disso é a mentalidade mais arcaica segundo a qual os bens IMÓVEIS teriam mais valor do que quaisquer outros. - FORMAIS: o legislador exige, além do consentimento, uma determinada SOLENIDADE, formalidade; não são válidos se não preencherem tais requisitos. A regra é os contratos serem consensuais. EXEMPLO: compra e venda de IMÓVEL, A PARTIR DE UM DETERMINADO VALOR - Ver o Art. 108 CC. Somente quando o objeto tiver valor superior a 30 salários mínimos. Não confundir o contrato aperfeiçoado, com a "transferência da propriedade" para outro nome, em um registro de imóveis. Atenção: aeronaves e navios, para efeitos de GARANTIA, são considerados BENS imóveis. O CASAMENTO é um ato solene: deve ser feito em local aberto ao público, e na presença de testemunhas. - CONTRATOS REAIS: exigem uma solenidade/formalidade ESPECÍFICA, determinada, qual seja, a ENTREGA DA COISA. EXEMPLO: contrato de MÚTUO, COMODATO e DEPÓSITO. Colocar o carro em um estacionamento é DEPÓSITO, que somente se concretizará/firmará quando o carro for efetivamente colocado no estacionamento.

QUANTO à previsão DO LEGISLADOR:

- CONTRATOS típicos / NOMINADOS: Alguns doutrinadores os chamam de "nominais ou inominados", não preferida pelo nosso professor. Contrato típico: é todo aquele que está REGULAMENTADO pelo legislador. - CONTRATOS atípicos / INOMINADOS: O Artigo 425 CC fala da autonomia da vontade. Contratos atípicos são aqueles que não foram previstos nem regulamentados pelo legislador. EXEMPLO: contrato de CARTÃO DE CRÉDITO, CONTRATO DE HOSPEDAGEM EM HOTÉIS, não estão previstos em lei. Os contratos típicos são aqueles que, de tão sedimentados na sociedade, já foram regulamentados pelo legislador. Existe uma corrente doutrinária que chama de "contratos típicos" aqueles que já estão sedimentados na prática da sociedade, mas é uma corrente MINORITÁRIA.

EM RELAÇÃO A OUTROS CONTRATOS:

Page 20: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 20

Esta classificação está ligada à classificação antiga de BENS principais e BENS acessórios. Esse mesmo raciocínio se aplica aos contratos. - PRINCIPAL: existe por si só, e independe de qualquer outro contrato paralelo. Exemplo: contrato de compra e venda. - ACESSÓRIO: este, depende de outro contrato, não tem vida própria, não tem autonomia. EXEMPLO: contrato de FIANÇA. A fiança sempre está ligada a um outro negócio: contrato de locação, por exemplo. A conseqüência PRÁTICA disso: o acessório segue a sorte do principal. Se o contrato principal for NULO, a princípio nulo também será o acessório. Entretanto, SE O acessório FOR NULO, isso NÃO AFETA O CONTRATO PRINCIPAL. Exemplo: num contrato de locação, verifica-se que o fiador não tem capacidade legal, tornando a fiança NULA. Esse fato não tornará nulo o contrato de locação. Ver o Artigo 167 DO CC de 1916 - ver o novo qual é - sobre a PRESCRIÇÃO.

QUANTO AO TEMPO EM QUE DEVEM SER EXECUTADOS - INSTANTÂNEOS: aquele que COMEÇA E TERMINA NO MESMO "INSTANTE". Ele nasce e se extingue senão no exato momento, em frações de segundo. EXEMPLO: compra e venda à vista, como comprar pão numa padaria. Esta classificação é importante quando formos estudar a rescisão do contrato. - DE DURAÇÃO: - DE EXECUÇÃO DIFERIDA: Neste dois contratos, existe um LAPSO TEMPORAL entre o início e sua extinção, ou seja, o cumprimento da obrigação. No contrato de DURAÇÃO, as obrigações/prestações se dividem em VÁRIAS ETAPAS. EXEMPLO: contrato de LOCAÇÃO - mês a mês o locatário tem a obrigação de pagar o aluguel. No de EXECUÇÃO DIFERIDA, a prestação é UMA SÓ, mas seu cumprimento se dará depois de certo tempo, depois de um lapso temporal. EXEMPLO: compra um carro, recebe o carro mediante um sinal, comprometendo-se a quitá-lo em outras três prestações iguais e mensais, conforme acordado pelas partes. - CONTRATO COLIGADOS, OU "DERIVADOS". Não há uma classificação uniforme, mas a que predomina é a seguinte:

Os CONTRATOS COLIGADOS SÃO "AUTÔNOMOS". Cada um deles pode existir por si só. Entretanto, em dado caso concreto, existe uma ligação direta entre um e outro: José somente fez um contrato X por ter firmado um outro contrato. José vai na Casas Bahia para comprar uma TV, mas não tem todo o dinheiro à vista, e faz um financiamento, que é outro contrato. Os dois contratos: "compra e venda" e "mútuo", são principais. Entretanto, José apenas firmou o contrato de mútuo/financiamento porque ele fez, primeiro, um de compra e venda. A maioria da doutrina entende, ao falar de contratos coligados, que um influencia o outro, na maior parte dos casos. Em certos casos, um pacote turístico também pode incluir contratos coligados: contrato de depósito de bagagem, de transporte, de hospedagem, etc.

Aula do dia 14/3/2005 Argüição: - O que são contratos paritários? - O que são contratos preliminares? - O que são contratos "de consumo" e contratos "civis"? - POR PRAZO DETERMINADO: Um contrato em que se tem um termo inicial - o termo de seu início - e o de seu fim, ou termo final. - POR PRAZO INDETERMINADO: Tem-se a data de seu início, mas não a data do seu fim. Esta forma é muito comum nos contratos de TRABALHO: em regra, não temos o seu fim, não se sabe até quando durará essa relação jurídica. A importância prática disso: no contrato por prazo indeterminado, QUALQUER dos contratantes poderá DENUNCIAR esse contrato em qualquer momento - exemplo típico do Contrato de Trabalho. A DENÚNCIA é exatamente a comunicação, por uma das partes, de que deseja rescindir ou terminar o contrato. É comum, por ocasião da DENÚNCIA, conceder um prazo para o término do contrato. Isso pode, por outro lado, já estar previsto em contrato, ou em Lei. Caso contrário, as partes devem dar um PRAZO "razoável" à outra para a descontinuação da relação jurídica. O que vem a ser "razoável", é algo a se determinar caso a caso. - DE EXECUÇÃO DIFERIDA:

QUANTO AO OBJETO:

- CONTRATOS PRELIMINARES: também conhecido como PROMESSA ou PRÉ-CONTRATO: em que as partes se comprometem a firmar um contrato definitivo. a

Page 21: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 21

PRESTAÇÃO é a de FAZER: fazer um contrato DEFINITIVO. Exemplo: na compra e venda. É comum as partes fazerem um compromisso de compra e venda, onde consta que as partes farão um contrato DEFINITIVO. Os mesmos requisitos do contrato definitivo devem constar no Contrato Preliminar. Exemplo: no contrato de compra e venda, são requisitos: o preço, a coisa e o consentimento. No contrato preliminar, esses mesmos requisitos também deverão constar. O contrato preliminar não necessariamente segue a mesma FORMALIDADE do contrato definitivo. A VANTAGEM do contrato preliminar: o compromissário comprador pode passar um imóvel a terceiros sem ter de pagar tributos. É uma forma, para quem lida comercialmente com imóveis, de evitar a tributação de algo que não ficará em seu nome. - DEFINITIVOS QUANTO À MANEIRA COMO SÃO FORMADOS: - Contratos PARITÁRIOS: ambos os contratantes NEGOCIAM LIVREMENTE as cláusulas contratuais. - Contratos de Adesão/ por Adesão: são os contratos IMPOSTOS por um dos contratantes ao outro contratante. Exemplo: contrato de empréstimo, de cartão de crédito, etc. O conceito de contrato de adesão: o Codecon veio expressamente - Art. 54 - conceituar o contrato de adesão. São o OPOSTO dos contratos paritários. - Contratos Derivados ou Coligados (ou Subcontratos): dependem de outros contratos. Os contratos derivados têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato. Exemplo: sublocação, subempreitada, subconcessão. - CONTRATOS CIVIS E CONTRATOS MERCANTIS (têm a figura de dois círculos concêntricos). Anteriormente, tínhamos os chamados contratos civis, e os contratos MERCANTIS, ou Comerciais, que tinham como característica, em UM DOS PÓLOS, ter um COMERCIANTE. Sempre que havia isso, tínhamos um contrato MERCANTIL, a ser regido pelas leis do Direito Comercial. PARTICULARES, antigamente, eram os contratos que não tinham em um dos pólos um empresário ou comerciante. Mas tais denominações deixaram de existir. Na década de 1940-1950 houve uma tendência de UNIFORMIZAÇÃO: unir os contratos comerciais aos contratos civis, tendência que foi ACOLHIDA pelo Cód. Civil de 2002, posto que este retira quase todos os

contratos mercantis, e passa a regulamentá-los pelo código comercial. Hoje, temos apenas UM contrato de compra e venda que NÃO É regido pelo Código Civil - é o CONTRATO DE SEGURO MARÍTIMO, que é mercantil. O Cód. Comercial NÃO foi, nessa parte, TOTALMENTE revogado. Lei 8078/90: ao falar de contratos, ela criou uma terceira espécie de contratos: CONTRATOS DE CONSUMO, OU DE "RELAÇÕES DE CONSUMO". Esta lei TIRA grande parte dos contratos que eram denominados de "civis" ou "mercantis", e os coloca como "de consumo". Ao ver um contrato, a primeira coisa que devemos vericicar é se ele é civil, mercantil, etc. Há três REQUISITOS para o CONTRATO DE CONSUMO - conceituação do legislador: Art. 3: - CONSUMIDOR, - FORNECEDOR; e, ligando esses dois sujeitos: - UM PRODUTO OU UM SERVIÇO. Se faltar qualquer, qualquer desses três requisitos, NÃO SERÁ CONTRATO DE CONSUMO.

Art. 3° (CDC) Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Artigo 3 do CDC: 1 - FORNECEDOR não é apenas pessoa jurídica, o artigo é claro neste aspecto. Não é apenas uma empresa "brasileira", nacional, que é "fornecedor". Além disso, "FORNECEDOR", não é somente a pessoa jurídica de direito PRIVADO, mas também as AUTARQUIAS, empresas públicas, podem ser consideradas FORNECEDORAS. Pessoa Jurídica de Direito PÚBLICO: em regra, a distinção entre P.J. de Dir. Público que se caracteriza ou não como de CONSUMO: quando não há uma contraprestação DIRETA pelo serviço prstado, mas sim o pagamento de um TRIBUTO, não há relação de consumo. Exemplo: se meu carro é furtado na rua, não podemos dizer que isso é uma RELAÇÃO DE

Page 22: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 22

CONSUMO, pois não há uma CONTRAPRESTAÇÃO DIRETA OU IMEDIATA. Por outro lado, quando a prestação do Estado tem como contraprestação o pagamento de um VALOR DIRETO - TARIFA OU PREÇO - aqui sim, teremos uma relação de consumo. Exemplo: PEDÁGIO. A estrada não é privatizada. Da mesma forma, TARIFAS PÚBLICAS: água, energia elétrica, etc. Parágrafo 1: conceituação de "produto", que é QUALQUER COISA. Parágrafo 2: conceito de serviço: QUALQUER ATIVIDADE. O legislador deixa claro que as relações de TRABALHO JAMAIS SÃO RELAÇÕES DE CONSUMO. O SERVIÇO GRATUITO DESCARACTERIZA RELAÇÃO DE CONSUMO. As palavras "mediante remuneração" são importantes. Gratuito: aquilo que for EFETIVAMENTE gratuito. Às vezes pode haver uma "remuneração indireta". Exemplo: estacionamento em hipermercados, que poderiam ser reputados "gratuitos", mas é óbvio que não tem apenas remuneração DIRETA, tendo porém remuneração INDIRETA. Outro exemplo: milhagem em companhias aéreas. Nas passagens gratuitas – por programas de milhagem, HÁ SIM REMUNERAÇÃO INDIRETA, e se pode sim usar o Codecon. Terceiro - conceitos de CONSUMIDOR, são quatro: 1 - Art. 2, caput: Pessoa JURÍDICA também pode ser "consumidor", além das pessoas físicas, consumindo um produto ou utilizar um serviço. Outros 3 conceitos: CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO - o legislador equipara tais pessoas a consumidores. DUAS CORRENTE DOUTRINÁRIAS para interpretar o termo DESTINATÁRIO FINAL: - FINALISTA: tende a RESTRINGIR o conceito de consumidor ou destinatário final. - MÁXIMALISTA: tende a AMPLIAR o conceito de destinatário final. Exemplos: Uma empresa adquire de outra empresa um produto - matéria-prima - que será usado para fazer os seus próprios produtos, como uma empresa que compra plástico para fazer copos de plástico. 1 - Existe um produto ou serviço? Sim: o plástico

2 - A empresa que vende é FORNECEDORA"? Sim. 3 - Quem compra é consumidor? Sim ou não? Se você não é o destinatário FINAL do produto, você não é considerado CONSUMIDOR. O produto final não tem seu "elo final" da cadeia na empresa que produz copos. Outro EXEMPLO: Contrato que uma empresa firma com a Eletropaulo: é ou não uma RELAÇÃO DE CONSUMO? Resposta: DEPENDE. Depende da "corrente" que formos pegar para analisar. Quem é adepto da Teoria Finalista, afirma NÃO haver "relação de consumo", pois o que a empresa gasta com energia, será repassado para o seu produto ou serviço. Deve-se analisar sempre, no caso concreto, O GRAU DE HIPOSSUFICIÊNCIA. O STF julgou recentemente a relação entre "Empresa de cartão de Crédito" e o "Comerciante". É ou não 'contrato de consumo'? A Conclusão: NÃO É RELAÇÃO DE CONSUMO. O Comerciante não é hipossuficiente, não precisando de uma "proteção a mais" a fim de equilibrar as relações jurídicas. O STF acolheu nesse caso a TEORIA FINALISTA DA AÇÃO. A Teoria MÁXIMALISTA tende a AMPLIAR o conceito. No exemplo da energia elétrica, HAVERIA SIM RELAÇÃO DE CONSUMO. Por esta teoria, SEMPRE a empresa repassa seus custos para seu produto/serviço. Quando, então, uma pessoa jurídica seria "consumidora", se ela sempre repassa seus custos ao consumidor? Existem pessoas jurídicas que não tem "fins lucrativos", e apenas estas é que poderiam ser consumidoras. Esta, porém, é a teoria mais "radical". Exemplo: advogado que compra um computador para trabalhar. Para muitos, o advogado não poderia se utilizar do CDC - teoria finalista. Para a máximalista, sim, poderia. Este é o "conceito padrão", mas há três OUTROS CONCEITOS: CONCEITOS POR "EQUIPARAÇÃO": 1 - Em um condomínio edilício, que firma um contrato para a manutenção de elevadores: há um serviço, há remuneração. Existe um consumidor? "Condomínio" NÃO É UMA PESSOA JURÍDICA, sendo um exemplo de "ENTE DESPERSONALIZADO". Justamente, vem aqui a EQUIPARAÇÃO a consumidor. 2 - Art. 17 do CDC

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

Page 23: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 23

Também conhecido por "ACIDENTE DE CONSUMO", ou "Responsabilidade pelo FATO do Produto ou do Serviço": O CDC se preocupa pelo maior dos bens do ser humano: a vida. Aqui, o que está em jogo é a INTEGRIDADE FÍSICA OU PSÍQUICA, e a VIDA do consumidor. Se compro uma geladeira e ela não gela, isto não é "acidente de consumo", e sim "vício", ou "vício redibitório". É diferente quando essa mesma geladeira emite um gás tóxico, ou explode, causando algum tipo de dano à saúde ou à integridade física. Hoje em dia, esta é uma das MAIORES PREOCUPAÇÕES em matéria de responsabilidade civil. Se analisarmos os Artigos 12 e 14, estamos diante da RESPONSABILIDADE OBJETIVA: aquela em que NÃO se discute culpa: se causou o dano, quem causou VAI TER QUE PAGAR.

Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Se pego um avião, ele explode e morro, meus herdeiros podem pedir indenização com base no CDC? - Existe um produto/serviço? Sim - Existe uma remuneração? Sim - Existe um consumidor? Existiu, com base no Art. 2. O Art. 17 cuida deste caso? Ele cuida das VÍTIMAS, que são EQUIPARADAS a consumidor, aqueles que tiveram

danos ou morte porque a turbina ou destroços caíram sobre eles. Outro exemplo: pessoas estão paradas num ponto de ônibus, e o ônibus invade a calçada: podem essas vítimas SIM usar o CDC para serem indenizadas. É a figura do chamado "BYSTANDER". Artigo 29 CDC: Está ligado às pessoas EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS COMERCIAIS. O simples fato de alguém ASSISTIR A UM COMERCIAL DE TV, será equiparado a consumidor. Exemplo: pessoa física que vai a uma loja comprar um carro usado. É sim relação de consumo, por ter os três requisitos. Outro exemplo: uma pessoa física compra um carro de outra pessoa física. É relação de consumo? NÃO, porque o Art. 3 diz "ATIVIDADE", que é uma conduta reiterada, diferente de "ATO", que é uma conduta eventual. Portanto, É UM CONTRATO CIVIL!!! ====================================

MONITORA DE DIR. CIVIL IV

Evelin Goya:

MONITORA DE DIR. CIVIL IV. Sala 302, do 6 S.

E-mail: [email protected] =====================================

Aula do dia 15/3/2005 TEMAS DA ARGÜIÇÃO DAS PRÓXIMAS AULAS (LEMBRANDO QUE NA SEMANA QUE VEM NÃO TEREMOS AULA DE DIREITO CIVIL) 1 - FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 2 - OFERTA Temos de ver os tópicos acima no Cód. Civil e no Codecon 3 - ARRAS ======================== Argüição: 1 - dê um exemplo de regras de interpretação dos contratos - da doutrina ou da lei. 2 - O que é estipulação em favor de terceiro? 3 - O que é "promessa de fato de terceiro"?

Page 24: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 24

4 - O que é "contrato com pessoa a declarar"? ========================== Aula:

INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS O nosso Cód. Civil, ao contrário de vários Códigos estrangeiros, não traz um capítulo específico sobre como interpretar contratos. Mas discorre sobre algumas técnicas de interpretação, trazidas da doutrina. Art. 112 CC:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

No Art. 423 CC há uma regra de interpretação. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 819 CC: em regra, a fiança é "gratuita", e o legislador quis proteger aquele que está oferecendo algo.

Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.

Art. 843: Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.

O que é "transação"? É o acordo que duas pessoas fazem a fim ou de evitar um litígio, ou de liquidar um litígio. Tal acordo pode ser extrajudicial ou judicial. Sempre que houver "transação", esse contrato será interpretado restritivamente: INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. Na dúvida, se o contrato for benéfico - ou gratuito - interpreta-se em benefício do DEVEDOR. Interpretação EXTENSIVA: o intérprete amplia a interpretação. "É proibido fumar cigarro." Chega uma pessoa e acende um charuto. O objetivo da norma não é esse, e sim proteger a saúde. O intérprete amplia para outras coisas congêneres, como se o legislador tivesse "dito menos" do que deveria. Interpretação RESTRITIVA: o intérprete vai restringir aquele texto, como se o legislador tivesse "falado mais do que deveria". Exemplo: sai uma lei prescrevendo: é obrigatório o uso do cinto de segurança em TODO veículo de transporte". Dúvida: e nas carroças, é obrigatório também? O intérprete diz que não precisa, RESTRINGINDO. Sempre que um contrato, na interpretação de uma cláusula contratual, gerar duas interpretações, sendo que uma delas torna o contrato sem efeito, as disposições que não trouxerem nenhuma UTILIDADE ao negócio jurídico serão descartadas.

Se houver dúvida na interpretação, deve-se utilizar a interpretação que estiver mais de acordo com os USOS E COSTUMES. Em um CONTRATO DE ADESÃO, sempre que houver uma cláusula ADICIONADA À MÃO que for colidente com a cláusula pré-impressa, prevalecerá a cláusula manuscrita. NÃO CABE "RECURSO ESPECIAL" quando a discussão no processo for sobre DÚVIDA DE INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO. Se o que as partes estiverem discutindo for a interpretação de uma cláusula contratual, não é possível o recurso especial. A súmula 454 do STF - Supremo Tribunal Federal. Por que é do STF? Porque esta súmula é antiga, e ainda não havia o STJ.

ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO Quando estudamos o princípio da Relatividade dos Contratos, a exceção a esse princípio é a estipulação em favor de terceiros, em que dois contratantes firmam um contrato que trará benefício a uma terceira pessoa que NÃO FAZ PARTE DO CONTRATO. Neste instituto jurídico existem três FIGURAS: 1 - PROMITENTE: aquele que assume a obrigação de fazer algo a um terceiro; 2 - ESTIPULANTE: outro contratante, que pede que um benefício seja em favor de um terceiro; 3 - BENEFICIADO: EXEMPLO típico: seguro de vida. Eu contrato um seguro, e fica pactuado que se eu morrer, minha filha receberá o valor segurado. Esse terceiro somente irá se vincular a esse contrato se ele QUISER receber o benefício. Pergunta: se houver uma cláusula autorizando que o benefício vá para outro terceiro, pode ser feito. Ou então ao contrário: coloca-se uma cláusula dispondo que o beneficiário necessariamente iria receber o benefício. Se houver silêncio sobre isso, o terceiro passa a ter o direito de exigir o cumprimento da obrigação - Art. 437 CC.

PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO Eu me obrigo a fazer uma coisa, mas a obrigação está sempre ligada às pessoas que estão contratando. Por outro lado, pode-se envolver um terceiro: conheço um bom cantor; eu prometo para meu amigo que ele irá cantar na festa de aniversário desse meu amigo. Posso ou não fazer isso? POSSO SIM. É PLENAMENTE VÁLIDO. A questão é: se o terceiro NÃO QUISER CUMPRIR, qual será a conseqüência disso? Se o cantor não for cantar, haverá INADIMPLEMENTO

Page 25: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 25

CONTRATUAL daquele que prometeu. O que resta a fazer? Aquele que prometeu terá de pagar PERDAS E DANOS a quem ele prometeu, o qual, por exemplo, teve gastos para preparar o local onde o cantor iria se apresentar. Pelo novo Cód. Civil, se o terceiro aceitar a promessa, acaba toda a responsabilidade do terceiro contratante, que pode ter até o "benefício", mas acaba a responsabilidade. Se o cantor não for ao local, ele é que pagará as perdas e danos - Art. 440.

Seção IV - Da Promessa de Fato de Terceiro Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.

CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR Arts. 467 a 471 Onde se autoriza que, em um contrato, principalmente - mais comum em um compromisso, num pré-contrato ou contrato preliminar - um dos contratantes prefere que, em vez de ter o bem passado para seu próprio nome, que o bem seja passado para uma pessoa ainda a ser determinada. A transação é concretizada, mas no contrato preliminar consta que a pessoa será "a declarar". Ocorre muito isso no caso de compra e venda de VEÍCULOS USADOS, ou ainda de imóveis.

Seção IX - Do Contrato com Pessoa a Declarar Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado. Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato. Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado. Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:

I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la; II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.

Aula do dia 28/03/2005 ============================================ ARGÜIÇÃO: 1 - O que são arras? 2 - Quais os tipos de arras, e as explique. 3 - Qual a diferença entre arras penitenciais e o outro tipo? ============================================ Argüição para a próxima semana: - REVISÃO E rescisão DOS CONTRATOS POR FATO SUPERVENIENTE. Para este tema, estudar vários temas: 1 - Cláusula rebus sic stantibus 2 - Teoria da Pressuposição 3 - Teoria da Imprevisão 4 - Teoria da Excessiva Onerosidade 5 - Exceção dos contratos não cumpridos - Art. 476 e 477 Fazer pesquisas em outras obras, a respeito da Teoria da Pressuposição ============================================ AULA:

ARRAS Arras nada mais é do que um SINAL dado numa determinada obrigação/contrato. A regra é que as arras sejam dadas em dinheiro, mas não necessariamente: pode-se oferecer arras através de COISA. Temos DOIS TIPOS DE ARRAS: 1 - CONFIRMATÓRIAS: é a regra, é a mais comum. Quando não se disser nada no contrato, tratar-se-á de arras confirmatórias. Ela tem por finalidade CONFIRMAR um negócio. Teoricamente, pode-se dar de arras até 99,99% do valor total da obrigação; caso contrário não será arras, e sim o pagamento total. 2 - PENITENCIAIS: somente existem quando as partes manifestam expressamente que naquele negócio existe um DIREITO DE ARREPENDIMENTO. Quando há arras penitenciais, existe um DIREITO DE

Page 26: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 26

ARREPENDIMENTO: uma das partes pode se arrepender daquele negócio. Qualquer dos contratantes pode oferecer as arras. Até mesmo AMBOS os contratantes podem oferecer arras - é raro - e se chama "arras recíprocas".

CAPÍTULO VI - Das Arras ou Sinal Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

As arras podem servir como início do pagamento, ou apenas a CONFIRMAÇÃO, quando se devolve as arras e se paga o valor previsto/acordado. Art. 418 - leitura - ARRAS confirmatórias.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Qual é a conseqüência prevista pelo legislador? O inadimplemento contratual, tanto por quem deu as arras como por quem as recebeu. Se o inadimplemento for da parte que recebeu as arras, "o EQUIVALENTE" significa O DOBRO das arras oferecidas pela outra parte. É o MESMO VALOR que seria perdido por aquele que ofereceu as arras. Se o prejuízo sofrido por uma das partes for MAIOR do que as arras, quem sofreu o prejuízo pode cobrar o valor total do prejuízo, DESDE QUE SE PROVE TAL FATO.

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

No Art. 419, em vez de somente receber as arras, a parte descumpridora pode ser acionada para EXECUTAR/CUMPRIR o contrato, e paralelamente a ressarcir a outra parte pelos prejuízos sofridos. Exemplo: uma pessoa oferece um apartamento à venda. A outra parte dá arras de 20 mil, e o promitente vendedor desiste de vender. O promitente comprador, além de poder reaver as arras mais o equivalente, pode entrar com ação de indenização, pois fizera planos e prometeu seu antigo apartamento a outro comprador, tendo que sair daquele

imóvel e morar de aluguel em um hotel por culpa daquele promitente vendedor que descumpriu o contrato. ARRAS PENITENCIAIS: existem quando há ARREPENDIMENTO. As conseqüências são AS MESMAS DAS ARRAS confirmatórias. Se o arrependimento for de quem recebeu, devolver-se-á o dobro. Diferenças com as confirmatórias: Procurar a Súmula 412 do STF:

SÚMULA 412 DO STF No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo.

Nas arras penitenciais (se não houver cláusula expressa em algum contrato preliminar quanto às arras) não se pode cobrar NADA MAIS do que o valor dado como arras; depois de muita discussão, o STF chegou a esta posição jurisprudencial, que foi confirmada outras vezes. Diferenças entre - Cláusula penal: - Multa/multa moratória: - Arras: A distinção BÁSICA está em que as ARRAS são uma OBRIGAÇÃO REAL (contratos reais: só se aperfeiçoam com a ENTREGA da coisa); só existe arras quando se entrega o valor ou a coisa móvel como arras. Isto não existe na cláusula penal, que é uma multa prevista em caso de inadimplemento. A diferença básica é a necessidade DA EFETIVA ENTREGA da coisa ou valor, no caso das arras. Outra diferença: a cláusula penal pode ter seu valor reduzido se for ele abusivo. Quando se fala em arras, não há possibilidade de o juiz reduzir seu valor. O valor das arras não sofre variação. Para que seja ARRAS, deve ser dada por UM DOS CONTRATANTES. O inadimplemento: se ocorrer por caso fortuito ou força maior, NÃO SE APLICAM a perda do sinal ou a indenização. Nestes dois casos, devolve-se o dinheiro ou bem, e nenhuma das partes perde nada. Leitura do Art. 420:

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste

Page 27: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 27

caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

ARRAS ASSECURATÓRIAS: não está prevista em lei. A idéia das arras assecuratórias surgiu pelo seguinte: quero comprar um carro, mas quero levá-lo a um mecânico, e deixo um "sinal", ou arras assecuratórias. Se o mecânico disser que o carro não está bom, há DUAS CORRENTES: 1 - O sinal não é perdido por quem o deixou, sendo devolvido à parte que as deu. 2 - A outra corrente diz que as arras ficariam com a outra parte. As arras são diferentes, ainda de "pré-contrato", pois este é um contrato firmado pelas partes.

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

OFERTA O contrato necessita de uma DUPLA MANIFESTAÇÃO DE VONTADES. Entretanto, muitas vezes ocorre um LAPSO TEMPORAL entre a oferta e a aceitação. A dúvida, quando tal resposta não é imediata, é se o oferente está ou não vinculado à proposta. O tema que estudaremos amanhã está ligado à VINCULAÇÃO À PROPOSTA. Isto tem implicações tanto na RELAÇÃO CIVIL como na RELAÇÃO DE CONSUMO. Até mesmo da publicidade. Se alguém fizer uma publicidade: vendo TV por dois mil reais, será vinculado a essa oferta.

Aula do dia 29/3/2005 Muitas vezes, entre uma parte declarar que desejar celebrar o contrato, e o outro aceitar, ocorre um lapso temporal: é a fase das "tratativas", ou da puntuação. É a fase em que as partes travam as negociações EFETIVAMENTE. A primeira coisa que devemos analisar nesta fase é a importância do SILÊNCIO no ordenamento jurídico. A frase "quem cala consente" vale, para o direito? NÃO VALE NADA!!! Para o direito, a princípio, "quem cala, não diz nada". O papel do silêncio tem uma importância muito grande, pois há certo tempo era comum recebermos cartões de

crédito não-solicitados, afirmando que, se não o quiséssemos, o silêncio do consumidor valeria como manifestação de vontade. O ordenamento jurídico, até mesmo antes do Codecon, já protegia o consumidor contra tais práticas, e o Codecon veio consolidar tal entendimento. O mesmo raciocínio serve para um SERVIÇO: hipótese em que que o consumidor envia um eletrodoméstico à assistência técnica para averiguar um orçamento de conserto, e a oficina já conserta, sem aprovação do consumidor; nestes casos, o consumidor não é obrigado a pagar, se não tiver havido aprovação, ou "manifestação da vontade". Esta idéia foi consagrada no CC, Art. 111 - sobre o silêncio.

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

O silêncio JAMAIS pode gerar o consentimento. Ver o Art. 39, inciso VI, do CDC - sobre o consentimento EXPRESSO.

Art. 39 (CDC). É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

A primeira exceção: não pode haver lei exigindo manifestação expressa. Aqui, sim, é possível o silêncio - como exceção. Parêntesis: gravação telefônica: é ou não válida? No caso de a gravação ser feita por terceiros, que não os interlocutores, não será válida a gravação. Já quando a

Page 28: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 28

gravação é feita por um dos interlocutores, mesmo que o outro não consinta nem saiba, pode usar, ainda mais para proteger um direito de um dos interlocutores. Há uma corrente que não aceita tal interpretação. Outra exceção, no caso do silêncio: desde que haja costume, nas relações entre as partes. Além das duas exceções acima, O SILÊNCIO NÃO VALE COMO ANUÊNCIA. Alguns doutrinadores dão o nome de "silencio qualificado"; é um silêncio revestido de uma situação especifica.

OFERTA Existe uma FASE DE NEGOCIAÇÃO. Sempre há alguém que faz a oferta ou proposta: O OFERTANTE, ou POLICITANTE. Essa proposta é dirigida a alguém. Esse alguém é chamado de OBLATO: aquele a quem a proposta se dirige. Só existirá contrato quando o oblato afirma "aceito". A partir daí, nenhum dos dois poderá desistir. E ANTES, ANTES da aceitação, podem as partes voltar atrás? De acordo com a teoria da BOA-FÉ OBJETIVA, é a RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL, ou CULPA IN CONTRAHENDO (perguntado à Beth na argüição). A princípio, não há obrigação, mas os contraentes têm a obrigação de AGIR DE BOA-FÉ para não causar prejuízo aos “quase contratantes” perante terceiros. Vejamos o Art. 427 CC

Seção II - Da Formação dos Contratos Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

Este artigo se refere ao PROPONENTE, AO POLICITANTE, ÀQUELE QUE FAZ A OFERTA. Quem faz a oferta, a princípio fica vinculado, salvo as exceções, constantes nos incisos do Art. 428, e no Art. 427.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;

II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.

Sobre a exceção baseada na "natureza" do negócio: uma oferta de vaga de emprego: tal vaga só será preenchida quando forem preenchidos os requisitos para a função. Art. 428 - DEIXA DE SER OBRIGATÓRIA a proposta. Este artigo diferencia proposta "entre presentes" de proposta "entre ausentes". Entre "presentes" significa a hipótese em que ambos os contratantes tem condições de comunicação imediata, ao mesmo tempo, em que um pode responder ao outra. Telefone, messenger do MSN, ICQ, Skype, etc., será entre PRESENTES. Fax, e-mail, carta, telegrama, é entre AUSENTES. Inciso I: se, feita SEM PRAZO, ... Se não for dado um prazo para responder, a resposta deve ser IMEDIATA. Se transcorrer qualquer lapso temporal, o proponente fica desobrigado à proposta feita. A resposta "IMEDIATA" deve ser analisada em cada caso concreto; é a resposta dada na primeira oportunidade possível. Assim que o oblato afirma "ACEITO", surge o CONTRATO: é "pacta sunt servanda". Se houver desistência, pode-se exigir o cumprimento específico do contrato, ou rescisão com indenização por perdas e danos. Outras hipóteses: referem-se a propostas feitas ENTRE AUSENTES: Inciso II do Art 438: "tempo suficiente para chegar a resposta". Exemplo: quero vender meu apartamento, e me lembro de que meu amigo do Rio de Janeiro queria comprar, e lhe envio uma carta: proposta ENTRE AUSENTES, E SEM PRAZO. Qual seria esse prazo "razoável"? O tempo de uma carta chegar ao RJ é de no máximo 3 dias. Mais 3 dias para voltar, e alguns dias para ele ler e se decidir. CABE AO JUIZ DECIDIR O QUE SERÁ ESSE TEMPO razoável, NO CASO CONCRETO. Inciso III:

Page 29: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 29

Se for entre AUSENTES, COM PRAZO: deve-se aguardar o prazo que foi dado. Exemplo: 10 dias para o oblato decidir se quer o apartamento. Depois desses 10 dias, o proponente ficará desobrigado com sua proposta. Estas são as exceções; fora destas, a proposta sempre vinculará. Art. 429 CC:

Art. 429 (Cód. Civil). A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

Este artigo adota o MESMO RACIOCÍNIO DO Código de Defesa do Consumidor, Art. 30:

SEÇÃO II - Da Oferta Art. 30 (CDC). Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Artigo 30 do Codecon: além de obrigar quem fez a publicidade, tais termos passam a fazer parte integrante do contrato a ser celebrado. Se o folheto de um edifício contém ilustrações de piscina e quadra poliesportiva, e na realidade o contrato não prever tais benefícios, e nem sequer houver espaço físico, pode-se pedir o abatimento do preço do apartamento, ou então a rescisão do contrato. Quando o oblato aceita, forma-se o contrato. E se ele quiser ALTERAR a proposta? Só há aceitação quando o oblato aceita NOS TERMOS EXATOS DA PROPOSTA. Se houver CONTRAPROPOSTA do oblato, o oblato se tornará o proponente, e o outro, que inicialmente era o proponente, passa a ser o oblato. Invertem-se os papeis, conforme previsto no Art. 431.

Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.

Voltando à PROPOSTA ENTRE AUSENTES: aqui, a questão é: em que MOMENTO o contrato se aperfeiçoa? A respeito disto, existem VÁRIAS TEORIAS: 1 - Teoria da COGNIÇÃO (conhecimento): por esta teoria, o contrato somente se aperfeiçoa quando a aceitação chega ao CONHECIMENTO do proponente.

2 - Teoria da AGNIÇÃO (declaração em geral): esta se subdivide em três subespécies: i - Teoria da DECLARAÇÃO propriamente dita: aqui, o contrato se aperfeiçoa no momento em que o oblato MANIFESTA, EXPRESSA a sua aceitação. Exemplo: por e-mail, no momento em que ele estiver DIGITANDO a aceitação, já haverá contrato; ii - Teoria da EXPEDIÇÃO (teoria adotada no Brasil): o contrato se aperfeiçoa quando a manifestação da vontade é EXPEDIDA PARA O PROPONENTE. Por exemplo, no momento em que se coloca a carta no correio, se for por carta. iii - Teoria da RECEPÇÃO: o contrato se aperfeiçoa no momento em que o PROPONENTE RECEBE A RESPOSTA. Qual a distinção entre a teoria da COGNIÇÃO e a da recepção? "Receber" é uma coisa, "tomar ciência" é outra. Pela COGNIÇÃO, não basta receber a carta, deve-se ABRIR A CARTA. Pela da recepção, basta receber a carta, não há a necessidade de tomar conhecimento de seu conteúdo. Qual a importância disso? Os críticos da COGNIÇÃO dizem que ela deixa a critério do PROPONENTE o momento em que o contrato é firmado. Se o proponente quiser se evadir de sua obrigação oriunda da proposta, basta ele NÃO ABRIR A CARTA OU O E-MAIL. Pergunta: e se o proponente estiver doente, no hospital, e só abrir a carta de aceitação depois de 30 dias? Resposta: a teoria adotada no Brasil é a da EXPEDIÇÃO, pelo Art. 434 do CC. Portanto, assim que a aceitação for enviada por e-mail ou carta, ou fax, já existirá CONTRATO!!

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado.

A REGRA, NO BRASIL, É A TEORIA DA EXPEDIÇÃO, MAS EXISTEM exceções admitidas pelo CC, que admite a da Agnição pela cognição. O CC admite que o oblato retifique sua opção, DESDE QUE ELA CHEGUE AO PROPONENTE ANTES OU AO MESMO TEMPO DO QUE SUA ACEITAÇÃO. Exemplo: o oblato expede sua aceitação por carta, mas se arrepende e faz um telefonema avisando que mudou

Page 30: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 30

de idéia, antes de a carta chegar ao destino. Esta hipótese de desistência desobrigará o oblato para com o proponente. Vejamos o Art. 426 CC:

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Não está ligado à formação do contrato, mas é importante, sobre a HERANÇA DE PESSOA VIVA. Meu pai está doente, e começo a nutrir uma "expectativa" de ele falecer e eu herdar, e então começo a "negociar" a herança dele. É a denominada "pacta corvina". ISTO NÃO É PERMITIDO EM DIREITO.

Aula do dia 4/4/2005 ARGÜIÇÃO: - Há alguma relação entre o pacta sunt servanda e as teorias que deveríamos ter estudado: da imprevisão e da onerosidade excessiva? - Tais teorias se aplicam aos contratos aleatórios? Sim ou não? O que são contratos aleatórios? - O que é "exceptio non adimpleti contractus"? É a regra da exceção de contrato não cumprido – Art. 476 CC. Terá uma TERCEIRA CHAMADA PARA TODOS, e a primeira prova valerá sete - 7.0. ======================== MATÉRIA PARA A ARGÜIÇÃO DA PRÓXIMA SEMANA - EVICÇÃO - VÍCIO REDIBITÓRIO - tanto do Código Civil como no Código de Defesa do Consumidor Dica do Fernando Furlani: estudem esta matéria, principalmente “Vícios Redibitórios”, pelo livro do Professor Paulo Jorge Scartezzini Guimarães: “Vícios do Produto e do Serviço or Qualidade, Quantidade e Insegurança – Cumprimento Imperfeito do Contrato, Editora RT. Edição de 2004.” É uma obra muito boa e esclarecedora, de leitura muito agradável, ao mesmo tempo profunda e interessante dada a aplicação prática nas situações com que nos deparamos no dia-a-dia. ========================

EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO "exceptio non adimpleti contractus"

Art. 476 e 477

Seção III - Da Exceção de Contrato não Cumprido

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. (Este artigo prevê um MEIO DE DEFESA) Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Esta "exceção" diz respeito somente aos CONTRATOS BILATERAIS. Este artigo parte do pressuposto de que as duas prestações são simultâneas. Esta exceção, do Art. 476 é um MEIO DE DEFESA PROCESSUAL; jamais se pode entrar com uma ação EXIGINDO o CUMPRIMENTO da prestação com esta ação, e sim se DEFENDENDO. Existe o que se costuma chamar na doutrina da "exceptio non ritii". Exemplo: contrato uma viagem completa, com transporte aéreo mais hospedagem. Se ao chegar no lugar eu não conseguir a hospedagem, que já contratei e paguei parcialmente, eu posso - PROPORCIONALMENTE - recusar-me a pagar PARTE DA OBRIGAÇÃO, na hipótese em que o hotel, em vez de ser de cinco estrelas, for de quatro estrelas. "Exceptio ritii adimplenti contractus". Há uma divergência na doutrina quanto ao Art. 477. EXEMPLO: o caso da construtora ENCOL, que faliu e não entregou os apartamentos às pessoas que estavam pagando, ou já tinham pagado integralmente. O que se pode fazer? Entra-se com a seguinte ação: Exmo. Juiz, pelo contrato eu tenho a obrigação de pagar à Encol; entretanto, eu soube, por algumas pessoas, que a Encol está quase falindo; quero meu direito de deixar de efetuar os pagamentos, até que a Encol prove que tem reais condições de cumprir sua prestação de me entregar o apartamento. Enquanto a veracidade desse fato vai ser verificada – falência, tenho de depositar judicialmente as prestações devidas para não me enquadrar em MORA. "Exceptio non adimplenti contractus." A diferença entre a situação do 476, é que esta é sempre uma DEFESA. A situação do Art. 477, é uma AÇÃO, e não defesa. Discute-se muito na doutrina e jurisprudência se o Art. 476 é NORMA DISPOSITIVA ou NORMA COGENTE. O que é Norma DISPOSITIVA? As partes podem dispor entre elas de forma DIVERSA da prevista em lei.

Page 31: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 31

NORMA COGENTE, DE ORDEM PÚBLICA, OU "IMPERATIVA": não permite que as partes disponham de forma contrária. Primeiramente, segundo a grande maioria da doutrina, em um CONTRATO DE CONSUMO, o Art. 476 seria uma NORMA COGENTE (nas relações de consumo), principalmente quando tal cláusula impedisse o CONSUMIDOR - hipossuficiente, de exigir tal coisa. Por outro lado, na hipótese de um CONTRATO CIVIL, seria norma DISPOSITIVA. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: Tratando-se de contrato administrativo, é PLENAMENTE VÁLIDA A CLÁUSULA QUE IMPEDE CONTRATANTE/CONTRATADO DE ALEGAR A "EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO". Ex.: a construtora que está fazendo a nova linha do Metrô: existe uma cláusula válida: "mesmo que o Estado não pague, a construtora tem a obrigação de prosseguir as obras do Metrô contratadas". Às cláusulas que declaram que NÃO PODE haver a Exceção do Contrato Não Cumprido, existe a cláusula "solve et repete": primeiro cumpra a sua obrigação, e somente depois vá exigir do outro o cumprimento da obrigação. ========================= TEORIA DA IMPREVISÃO: rescisão por onerosidade

excessiva (cláusula “rebus sic stantibus”) Vamos conhecer rapidamente a evolução histórica da TEORIA DA PRESSUPOSIÇÃO, até chegarmos na Teoria da Imprevisão. Desde o Código de Hamurábi existe a cláusula sobre a rescisão por "onerosidade excessiva". Entretanto, essa TEORIA SURGE PELO DIREITO CANÔNICO. Parece até uma incoerência, pois no direito canônico existe o princípio da "fé na palavra dada". Entretanto, esse "cumprir o prometido" gerava mais injustiça do que justiça. então, criou-se esta cláusula, que consiste numa EXCEÇÃO, que, de uma frase longa (“Contractus qui habent tractum succesivum et dependentiam de futuro rebus sic stantibus intelliguntur”), restou apenas:

Cláusula “REBUS SIC STANTIBUS”

CLÁUSULA "REBUS": "As coisas devem permanecer no estado em que foram pactuadas". A cláusula rebus sic stantibus é considerada implícita em todo contrato COMUTATIVO DE TRATO SUCESSIVO e de EXECUÇÃO DIFERIDA. Ou seja, aplica-se sempre

que os negócios jurídicos sofrerem as conseqüências de MODIFICAÇÕES POSTERIORES DAS CIRCUNSTÂNCIAS, com quebra insuportável da equivalência/equilíbrio; é o princípio da REVISÃO DOS CONTRATOS. Esta teoria da IMPREVISÃO acabou sendo a base de várias outras teorias. No Direito Romano, com cada povo tendo sua própria cultura jurídica, tal idéia ressurge pelo jurista alemão Windscheidt, que criou a TEORIA DA PRESSUPOSIÇÃO, pela qual, ao fazermos um contrato, imagina-se que 1 - vai ocorrer uma coisa no futuro; 2 - não vai acontecer uma coisa no futuro; ou que 3 - ??? CONDIÇÃO IMPLÍCITA: Paralelo entre a CONDIÇÃO implícita e a CONDIÇÃO EXPRESSA. O que é um ATO CONDICIONAL? É o ato subordinado a EVENTO FUTURO E INCERTO. A CONDIÇÃO é EXPRESSA; O FATO É INCERTO. Exemplo: entro numa loja para comprar um terno. Depois, volto na loja dizendo que eu comprara para ir a uma festa, e não houve tal festa, portanto fui lá devolver. Desta forma, pareceria que todo contrato poderia ser rescindido. A Teoria da Pressuposição foi muito criticada pela falta de segurança jurídica em virtude de seu SUBJETIVISMO. Mas ela foi discutida e aplicada pelos tribunais. Exemplo dos "CORONATION CASES": os casos da Coroa da Inglaterra: em 1904-5, sobe ao Trono da Inglaterra o Rei Edward, e havia um cortejo tradicional nas ruas, acompanhado por barcos. Alguns cidadãos "alugavam" suas janelas para quem quisesse ter uma vista privilegiada do cortejo. Ocorre que não houve o cortejo, excepcionalmente. Surgiram inúmeras ações na justiça para se discutir se o pagamento era ou não devido. Houve decisões a favor e contra. =======================

PRIMEIRA PROVA: DIA 26/4, TERÇA-FEIRA

MATÉRIA: TUDO, ATÉ A AULA ANTERIOR À PROVA. O PROFESSOR ACONSELHA A ESTUDAR MUITO PARA A PROVA. =======================

Aula do dia 5/4/2005 Depois da TEORIA DA PRESSUPOSIÇÃO, que não fora muito aceita pelo seu SUBJETIVISMO, surgiu outra teoria: a da ALTERAÇÃO DA BASE DO NEGÓCIO, do

Page 32: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 32

alemão LARENZ. Larenz cria essa teoria, que pode-se dividir em dois tipos: 1 - Há uma EFETIVA ALTERAÇÃO NA BASE DO NEGÓCIO - DO "PORQUE", no sinalagma - ou "equilíbrio" - do contrato. No momento em que tal sinalagma se quebrava, havia a possibilidade de aplicar esta teoria. 2 - Quando a prestação SE TORNAVA DESNECESSÁRIA. Exemplo: Uma empresa que tivesse um dos seus navios encalhado. Outra empresa iria empregar um guindaste para desencalhar o navio. Entretanto, antes de o guindaste chegar, a maré sobe e o navio se desencalha sozinho. O valor a ser INDENIZADO diria respeito aos gastos da empresa de guindaste efetivamente incorridos, mas NÃO INCLUIRIA OS SERVIÇOS QUE IRIAM SER PRESTADOS. Depois desse tempo, surgiu outra teoria: A TEORIA DA imprevisão. A idéia da teoria da IMPREVISÃO surge com a I Guerra Mundial, em conseqüência da qual houve uma enorme dificuldade em cumprir muitos contratos, e o governo francês, por uma Lei Failliot, acabou por generalizar e permitir a REVISÃO dos contratos. Qual era o argumento? Sempre que um fato posterior tornar um fato "EXTRAORDINÁRIO E IMPREVISÍVEL", haveria a possibilidade de rescindir ou rever os contratos. Aqui consiste A DIFERENÇA entre as outras teorias: A IMPREVISIBILIDADE. Doutrina e jurisprudência, na década de 1940, passaram a admitir a possibilidade de aplicar a teoria da imprevisão no Brasil. Na época das altas taxas de inflação no Brasil, foi muito comum haver um grande número de ações aceitando a Teoria da Imprevisão. O STF dizia, contudo, que "inflação, no Brasil, é FATO previsível". Ele admitia tal teoria, mas dizia que naqueles casos não havia a "imprevisibilidade". Quando o nosso ordenamento jurídico passou a acolher a teoria da IMPREVISÃO de modo positivado? Através do Código de Defesa do Consumidor: Art. 6, inciso V.

CAPÍTULO III - Dos Direitos Básicos do Consumidor Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

Quem podia alegar o inciso V do Art. 6 do CDC? SOMENTE O CONSUMIDOR. O outro contratante não se poderia beneficiar desse inciso. O artigo fala em 'revisão' das cláusulas. Pelo princípio da MANUTENÇÃO DOS CONTRATOS, o PRIMEIRO PRINCÍPIO É A REVISÃO, mas pode-se chegar também à rescisão. QUAIS OS "REQUISITOS" DESSE ARTIGO? Ou seja, o que importa realmente? 1 - "FATOS SUPERVENIENTES" - é possível sua aplicação aos "contratos instantâneos"? NÃO, porque ele se extingue no mesmo momento; daí não poderíamos falar em "fato superveniente". Esse fato superveniente há de ocorrer no lapso temporal entre A FORMAÇÃO DO CONTRATO E A EXECUÇÃO DO CONTRATO. 2 - "QUE TORNEM EXCESSIVAMENTE ONEROSA A OBRIGAÇÃO" - este artigo não fala em fato que IMPOSSIBILITE a obrigação. Ao falarmos em "caso fortuito e força maior", existe a IMPOSSIBILIDADE, mas aqui, na "onerosidade excessiva", gera uma DIFICULDADE de cumprir. Mas não basta "qualquer" dificuldade, e sim a dificuldade QUALIFICADA - segundo a doutrina, uma "excessiva" onerosidade. 3 - O artigo não fala nada de FATO imprevisível. A "imprevisibilidade" é ou não é requisito? A doutrina fala que a teoria da imprevisão rege o Codecon - esta é uma corrente doutrinária. Outra corrente afirma que o CDC não adotou nenhuma teoria da imprevisão, não se tendo que discutir nada acerca da previsibilidade. Esta questão ficou acirrada no segundo período do Real, quando houve uma grande desvalorização do real frente ao dólar, prejudicando consumidores que haviam comprado seus carros por leasing, e suas prestações se multiplicaram por 3. Alguns pediram a revisão do contrato. Outros pediram a rescisão do contrato. Assim sendo: a desvalorização da moeda naquela época é fato previsível OU imprevisível? O fato era previsível, pois isso

Page 33: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 33

sempre pode ocorrer. Muitos juízes julgaram a ação improcedente dizendo que não era fato imprevisível, e outros juízes alegaram que a imprevisibilidade não estava em questão. O STJ acabou dizendo o seguinte: esta matéria era discutida pela terceira e quarta turmas. A terceira turma decidiu que não podia manter aquela taxa, e mandou aplicar o INPC. A quarta turma mandou as partes contratantes "dividirem o prejuízo pela metade", uma decisão nada jurídica. O professor tem a seguinte opinião: os consumidores, ao comprarem por leasing, tinham duas opções: 1 comprar pelo INPC, com taxa alta de juros; 2 - comprar pela taxa do dólar, que era muito mais baixa. Nesta segunda opção, é claro que havia um risco embutido, caso contrário a taxa não seria TÃO MAIS BAIXA. Havia outra discussão: a de se fixar as parcelas em moeda estrangeira - ou PRINCÍPIO DO NOMINALISMO. Não se admite no Brasil, salvo hipóteses previstas em lei, pagamento em moeda estrangeira ou em ouro, e sim apenas na moeda corrente nacional. No caso acima, foi o BC que autorizou que esse reajuste pelo dólar fosse feito. E na hipótese de um dos contratantes deixar de cumprir APÓS o fato superveniente? Exemplo: se a pessoa JÁ ESTAVA EM MORA QUANDO OCORREU O FATO SUPERVENIENTE, ela não poderá alegar a onerosidade excessiva, pois já estava em mora. Ou seja: A CAUSA DA DIFICULDADE HÁ DE SER O FATO SUPERVENIENTE. O Código Civil de 2002 veio adotar uma outra teoria: a TEORIA DA EXCESSIVA ONEROSIDADE, prevista nos Artigos 478 a 480 do CC de 2002. - Primeiro requisito: não se aplica em contratos instantâneos (aplica-se somente a contrato comutativo de trato sucessivo e execução diferida). - Segundo requisito: o fato deve ser extraordinário. O que é esse fato? Aquele que ULTRAPASSA A ESFERA PESSOAL DO DEVEDOR. Não é que diz respeito a uma única pessoa, e sim ocorre com a coletividade, com um grupo de pessoas. Por isso é que o CC não a aplica no caso em que a pessoa perdeu o emprego. Este fato está ligado à ESFERA PESSOAL, e não é considerado extraordinário. Se fosse assim considerado, geraria uma insegurança jurídica muito grande. - Terceiro requisito: o da imprevisão. Se formos pensar, TUDO seria previsível; mas não podemos pensar desta forma. Quer-se dizer o “RAZOAVELMENTE” previsível pelo "homem médio", pelo "bonus paterfamílias". O legislador pátrio INOVOU com relação ao Código Civil Italiano, de onde foi tirada esta teoria, afirmando que "não

basta que a onerosidade seja excessiva", devendo-se observar que haja um NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O FATO SUPERVENIENTE E O PREJUÍZO SOFRIDO PELO CONTRATANTE. No caso acima exposto, da maxidesvalorização do Real, os bancos NÃO TIVERAM NENHUM BENEFÍCIO, por isso todos os casos deveriam ser julgados improcedentes. O requisito acima tem feito surgir muitas polêmicas, tanto que existem quatro ações no Supremo pedindo a revisão/rescisão de contratos com base nesse requisito. Podemos fazer, no caso concreto, com que o Código de Defesa do Consumidor seja aplicado SUBSIDIÁRIAMENTE ao Código Civil. Artigo 479 - leitura:

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.

A PRIMEIRA ALTERNATIVA DEVERÁ SEMPRE SER A "REVISÃO do contrato". Isto é importante. Tanto é que, na hipótese de um contratante mover uma ação pedindo, logo de cara, a RESCISÃO do contrato, o juiz vai criar uma cláusula contratual em SUBSTITUIÇÃO À VONTADE DAS PARTES. É o Estado fazendo valer sua vontade; o poder que o juiz tem para devolver o devido EQUILÍBRIO À RELAÇÃO CONTRATUAL. Daí aquela velha alegação de que os juros cobrados pelo não-pagamento na data prevista são abusivos, e encontraremos vários julgados dizendo que o juiz pode e deve REDUZIR A TAXA DE JUROS a um patamar que não seja abusivo, fixando uma cláusula EQUILIBRANDO O CONTRATO. Vejamos o Art. 480:

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

O pedido de revisão dos contratos pode ser feito no caso de CONTRATO UNILATERAL; MESMO ASSIM, se ficar muito DIFÍCIL DE CUMPRIR A OBRIGAÇÃO, o legislador PERMITIRÁ alegar a teoria da EXCESSIVA ONEROSIDADE. Outro exemplo da aplicação da teoria da EXCESSIVA ONEROSIDADE: Art. 317

Page 34: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 34

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Duas ultimas questões: - Discute-se se duas ou mais partes podem incluir no contrato uma cláusula que IMPEÇA os contratantes de alegar a EXCESSIVA ONEROSIDADE. É mais ou menos pacífico que que uma cláusula dessas seria NULA, pois essa é uma NORMA COGENTE. Pode acontecer: se ocorrer um fato determinado, não se poderá alegar "excessiva onerosidade". Até porque, se as partes de alguma forma JÁ PREVIRAM a possibilidade de ocorrer um fato, ele automaticamente já terá deixado de ser imprevisível. Outro ponto que se discute, acerca da onerosidade excessiva: discute-se se é possível alegar essas teorias nos CONTRATOS ALEATÓRIOS (não é possível não!). Primeira coisa:o que são contratos aleatórios? São contratos DE RISCO - uma das partes sabe qual é a sua prestação, mas a outra parte NÃO SABE QUAL SERÁ, E SE TERÁ DE CUMPRIR. Exemplo: SEGURO, JOGO, APOSTA. Quando a seguradora calcula o prêmio, ela faz uma previsão pelos chamados CÁLCULOS ATUARIAIS, ou seja, pelas estatísticas de ocorrência de sinistro. Suponhamos que a seguradora calculou que a cidade de São Paulo inunda 10 dias por ano. Se inundar 20 ou 30, ainda estará dentro do risco previsto. Mas, por outro lado, na hipótese de a cidade ficar 200 dias inundada, isso EXTRAPOLA qualquer possibilidade de previsão. Concluindo: esta TEORIA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA NÃO SE APLICA AOS CONTRATOS ALEATÓRIOS, SALVO SE O FATO EXTRAPOLAR MUITO O RISCO RAZOAVELMENTE previsível no momento da contratação.

Aula do dia 11/4/2005 ARGÜIÇÃO: - O que é evicção? - Quando se dá a evicção parcial e suas conseqüências - O que é "denunciação à lide" (matéria de processo civil)? Qual a sua relação com a evicção? Quem chama o alienante à lide? Se a ação for julgada procedente, o que ocorre com relação à denunciação à lide. - Como se chamam as partes da evicção? - Pode-se falar em evicção para contratos GRATUITOS? Para que tipo de contratos se aplica a evicção?

================================

EVICÇÃO Em primeiro lugar: ao falarmos em qualquer contrato ONEROSO, por exemplo compra e venda, existem as chamadas GARANTIAS para quem adquire, fornecida por quem vende - ou alienante. Essa GARANTIA, por sua vez, subdvide-se em DOIS TIPOS: 1 - GARANTIA DE FATO: Estamos falando em VÍCIO REDIBITÓRIO. 2 - GARANTIA DE DIREITO - do VÍCIO DO DIREITO: Aqui, falamos de EVICÇÃO, que é uma garantia dada ao adquirente, se acontecer uma determinada situação: é a garantia dada ao adquirente caso ele venha a perder essa coisa, total ou parcialmente. Mas não é a perda de qualquer forma que caracteriza a EVICÇÃO. Pelo Código de 1916, a doutrina dizia que só se falava em evicção ao ocorrer a perda da coisa em virtude de uma sentença JUDICIAL. Entretanto, com o passar do tempo, a doutrina e a jurisprudência passaram a admitir que a evicção pode ocorrer em função de uma decisão de uma AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. Exemplo clássico: uma pessoa compra um carro, e, numa blitz, a polícia constata seu chassis adulterado. O que ocorre? A polícia apreende o veículo, e, se achar o proprietário, entrega-lhe o carro. Ou seja, o Código de 2002 veio e RETIROU o termo "de decisão judicial", dando a entender que passa a acolher o entendimento da doutrina, aceitando ato de AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. Não ocorre a evicção quando se perde a coisa da seguinte forma: eu perco meu sítio por causa de uma invasão dos Sem-Terra, pois a perda da coisa foi por ato de terceiro, e não por autoridade pública nem decisão judicial. Exemplo: Manoel vende para Joaquim um sítio. Depois, Roberto move uma ação contra Joaquim, alegando que Joaquim não é dono, e o dono é o Roberto. Digamos que nessa ação, Manoel vendeu mas não era o legítimo proprietário, e Joaquim perde o imóvel para Roberto, surgindo para Joaquim o direito a evicção, e ele poderá pedir a Manoel que lhe indenize.

Quem vendeu (Manoel) = ALIENANTE Joaquim é o EVICTO, QUEM PERDE A COISA Quem entra com a ação é Joaquim

Page 35: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 35

Conceito de EVICÇÃO, por Silvio Rodrigues: "Há evicção quando o adquirente de uma coisa se vê total ou parcialmente privado da mesma, em virtude de sentença judicial (CC de 2002: também por decisão de qualquer autoridade administrativa) que a atribui a terceiro, seu verdadeiro dono." Observação: este conceito de Silvio Rodrigues é ANTERIOR AO NOVO CÓDIGO. Art. 447 - leitura

Seção VI - Da Evicção Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

Não há evicção nos contratos gratuitos; pois, se uma pessoa vier a perder alguma coisa, tal pessoa não terá sofrido nenhum prejuízo. Em relação à DOAÇÃO - ler o Art. 552.

Art. 552. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às conseqüências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário.

Doação é um contrato oneroso ou gratuito? DEPENDE. Pode ser a DOAÇÃO PURA, mas há também a DOAÇÃO ONEROSA - remuneratória, ou por encargo. No Art. 552, o legislador se refere à DOAÇÃO PURA, ou GRATUITA. E nas doações COM ENCARGO - em que existe uma contraprestação? Até o valor equivalente à contraprestação, aplica-se a evicção, e não além desse valor. Art. 447 (acima) - HASTA PÚBLICA: o que é "hasta pública"? É o leilão JUDICIAL, e não qualquer leilão. Art. 448 - As partes podem aumentar, diminuir ou EXCLUIR o direito a INDENIZAÇÃO PELA EVICÇÃO. Nada impede que exista uma cláusula prevendo isso. É plenamente possível EXCLUIR TODA A RESPONSABILIDADE PELA EVICÇÃO, ou até aumentar a responsabilidade.

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

Art. 51 do CDC: a cláusula de isenção de responsabilidade por EVICÇÃO É NULA, pelo Inciso I do Art. 51 do CDC.

SEÇÃO II - Das Cláusulas Abusivas

Art. 51 (CDC). São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

A cláusula do Art. 448 DEVE SER EXPRESSA. E vai além: Art. 449:

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

Dentro daquela idéia que havia no CC antigo: dava-se prevalência à boa-fé objetiva. Não basta que o contrato tenha uma cláusula GENÉRICA sobre isso, mas o adquirente deve ter CONHECIMENTO EFETIVO DO REAL RISCO QUE SEU NEGÓCIO ENVOLVE. O legislador diz que PODE TER ESSA CLÁUSULA DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE, MAS JUNTO COM ESSA CLÁUSULA DEVE HAVER A NOTIFICAÇÃO DO RISCO SOBRE O OBJETO. Pode haver a possibilidade de que o evicto SABIA que a coisa iria ser reivindicada por um terceiro (fato que deve ser provado por cartas, e-mail ou meios similares), e depois resolve alegar a evicção (de má-fé). A doutrina entende que o evicto não poderá se beneficiar da ação de evicção. Art. 70 do Cód. Processo Civil - leitura

Seção III - Da denunciação da Lide Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção Íe resulta; II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada; III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.

"Denunciação da lide" é uma forma de intervenção de terceiros, em que o réu "denuncia a lide". A princípio, a denunciação seria obrigatória. Há algum tempo, a

Page 36: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 36

posição dos tribunais era da interpretação literal, ou seja: se B não denunciasse a lide ao alienante A, B ficaria prejudicado pois posteriormente não poderia mais reivindicar seu direito. Ocorria que o advogado poderia "esquecer" de denúnciar a lide naquele momento. Agora, entretanto, a denunciação da lide é diferente; este entendimento está atenuado. Por cautela, DEVEMOS DENUNCIAR, devido às mudanças na jurisprudência. Na hora em que o alienante for condenado a devolver o valor, que valor é esse? É o valor que a coisa vale (porque pode ter sofrido valorização - imóvel, p.ex.), ou é o valor que foi pago? Vamos ler o parágrafo Único do Art. 450 CC.

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

Ou seja: é o valor da coisa quando se evenceu, ou seja, exatamente aquilo que o bem VALIA quando o contrato foi firmado. EVICÇÃO: PODE SER TOTAL OU PARCIAL Pode-se perder TODA A COISA, ou PARTE DA COISA. Ex.: compro um sítio com 10 alqueires. Dois anos depois, chega uma pessoa alegando que UM alqueire daqueles é dela. Aplica-se o Art. 455 CC.

Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.

Suponhamos que esse UM alqueire seja fundamental: a pessoa que comprou pode pedir rescisão DO CONTRATO. Entretanto, se esse alqueire não for uma parte SUBSTANCIAL para o sítio de dez alqueires, pode-se pedir a EVICÇÃO. ====================== ARGÜIÇÃO:

1 - O que são vícios redibitórios? 2 - Em que tipo de contratos se aplicam? 3 - Quais os requisitos para que haja vícios redibitórios? 4 - O que são "ações edilícias"? 5 - Qual a diferença entre "erro" e "vício redibitório"? Qual o conceito de erro? dê um exemplo. 6 - Diferença de vício redibitório no CC e no CDC =======================

VÍCIO REDIBITÓRIO Conceito: “VÍCIOS REDIBITÓRIOS são defeitos ocultos em coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destina, ou lhe diminuam o valor. A coisa defeituosa pode ser ejeitada pelo adquirente, mediante devolução do preço e, se o alienante conhecia o defeito, com satisfação de perdas e danos.” [Conceito do autor Carlos Roberto Gonçalves, tirado do seu livro “Direito Civil Brasileiro – Vol. III – Ed. Saraiva, 2004.”] Quando falamos em vício redibitório, não falamos em PERDA. Ocorre é que a coisa adquirida tem um PROBLEMA - não uso a palavra “defeito” - que torna essa coisa não apta ao uso a que se destinava, ou que lhe diminua o valor. Ex.: comprei exatamente o liquidificador que eu queria: não houve "DEFORMAÇÃO" na minha vontade (o que ocorre no "erro"); porém, o liquidificador não funciona como deveria. O ERRO está ligado a um ELEMENTO SUBJETIVO da pessoa, que imaginava algo a respeito dessa coisa, e o VÍCIO diz respeito a um elemento OBJETIVO. Depois de 1990, surgiu o Código de Defesa do Consumidor. Portanto, passamos a ter 3 diplomas falando sobre vícios redibitórios: CC, Cód. Comercial e Codecon. Mas, HOJE, há somente o CC (para relações de natureza civil - pessoa-pessoa) e o Codecon (para relações e consumo). Segundo o professor, é o MESMO INSTITUTO nos dois diplomas, mas com uma "roupagem um pouco mais nova e moderna" dada pelo CDC. Estudem as diferenças entre os requisitos aplicáveis. Aulas que começarão mais tarde, às 19h30: dia 25/4, e dia 2/5. Serão quatro no total.

Aula do dia 12/4/2005 ARGÜIÇÃO:

Page 37: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 37

- É possível, em caso de vício redibitório, mover uma ação de "indenização" por perdas e danos? ===================== Aula: A que TIPO DE CONTRATOS se aplicam os vícios redibitórios? Aos contratos COMUTATIVOS, bilaterais, onerosos. Não há que se falar em vícios redibitórios nos contratos gratuitos. Entretanto, pode-se aplicar no caso da DOAÇÃO ONEROSA. REQUISITOS CLÁSSICOS: 1 - Vício OCULTO Pela doutrina clássica: aquele vício que não foi percebido e que não poderia ter sido percebido por uma pessoa de diligência MÉDIA. O que mudou em relação a este item comparando com o Codecon? Art. 26 do CDC - leitura.

SEÇÃO IV - Da Decadência e da Prescrição Art. 26 (CDC). O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

No art. 26, o legislador prevê a possibilidade de o vício ser APARENTE. O que significa "aparente", aqui? É aquilo que PODERIA TER SIDO DESCOBERTO, MAS NÃO O FOI. Portanto, no CDC, não interessa o "grau médio de diligência e cuidado da pessoa". Pois, se o vício FOI DE FATO DESCOBERTO PELO ADQUIRENTE, não haverá a possibilidade de pedir a redibição. O raciocínio que predominava até o século passado era o chamado “Caveat emptor”: "o adquirente que se

acautele". Hoje, o raciocínio é completamente o contrário: é o "cavet vendictor": ou seja, hoje "cabe ao vendedor se acautelar". IMPORTANTE: não confundir a possibilidade de TROCAR uma coisa com a possibilidade de REDIBIR uma coisa por VÍCIO. A "troca" se dá por questões subjetivas, enquanto o vício é de natureza OBJETIVA. Ao contrário do que se imagina, o consumidor não tem o direito legal de troca. Entretanto, se o lojista "informar" esse direito, passará a ser realmente um direito. Vício redibitório não existe somente em COISA NOVA. Mercadoria usada também pode apresentar vício redibitório, mas o adquirente não pode exigir que a coisa tenha as MESMAS características de uma coisa que nunca foi usada. Aplica-se a "expectativa normal". 2 - Segundo Requisito Pela doutrina clássica, dizia-se que havia vício redibitório somente se o vício fosse SIGNIFICANTE, IMPORTANTE. Essa idéia, segundo os autores modernos, NÃO PREVALECE MAIS, nem no CC nem no CDC nem nas práticas comerciais. A questão é: se o vício for de pouca monta, qual ação que posso mover? 3 - Terceiro Requisito O Vício deverá ser ANTERIOR à TRADIÇÃO DA COISA. Por quê? Pois, se o vício se manifestou depois, a responsabilidade será do adquirente. Há uma PRESUNÇÃO RELATIVA de que o vício já existia antes da tradição - a beneficiar o adquirente. É como se fosse a inversão do ônus da prova. 4 – Quarto Requisito O vício deve tornar a coisa não-apta para o fim a que se destina. É algo que afeta EFETIVAMENTE a utilidade. Quais são os caminhos/alternativas do adquirente quando há vícios redibitórios? Utilizar-se das AÇÕES EDILÍCIAS, que são duas: Por que "EDILÍCIAS"? Porque surgiram com os "edis" romanos. 1 - Ação redibitória Por que "ação redibitória"? Porque o adquirente visa "redibir" - ou DESFAZER - o contrato. O adquirente, além de ter direito a pedir restituição do valor pago, poderá pedir a devolução das despesas incorridas. 2 - Ação Estimatória Pelo Codecon, além dessas duas alternativas, abre ele OUTRAS ALTERNATIVAS AO CONSUMIDOR - DOIS CAMINHOS:

Page 38: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 38

1 - O consumidor DEVE dar a chance de o fornecedor consertar o vício. Vejamos o Art. 18 - parágrafo 1

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço.

A primeira dúvida que surgiu foi: pode o consumidor pedir automaticamente ?

2 - Ação redibitória 3 - Ação estimatória 4 - Substituição da coisa

Exemplo: um consumidor comprou da concessionária um carro zero km, mas por vícios ficou 30 dias na concessionária. Ele moveu ação contra a concessionária e contra a montadora. A responsabilidade é SOLIDÁRIA, o consumidor escolhe quem processar; os processados resolverão entre eles quem arcará com os custos. O autor pediu indenização de 3.000 reais, porque ele tinha receita mínima normal de 100 reais/dia. Quem vende, deve vender "objeto perfeito". O fornecedor terá o direito de consertar, mas o DEVER de indenizar. EXISTE SIM VÍCIO REDIBITÓRIO EM "SERVIÇOS". Contratamos um pintor de construção civil, mas ele faz o serviço e deixa as paredes piores do que antes do serviço. Conseqüência: o REFAZIMENTO do serviço. Outro exemplo: o curso promete que o aluno que ingressasse no curso "aprenderia inglês fluente em 8 semanas", e o aluno não aprende inglês nesse prazo. O aluno terá direito ao "refazimento" do serviço - fazer o curso novamente sem custo. OU então, será o caso de publicidade enganosa; uma das duas hipóteses. Outro exemplo: um aluno aceita fazer um serviço de digitação (que não é a "atividade" habitual dele), e faz tudo errado. Houve vício redibitório, mas não se aplica o CDC, e sim o CC.

Outra distinção: o Código Civil, ao falar em vício, fala em VÍCIO DE QUALIDADE. O Codecon expressamente fala em VÍCIO DE QUANTIDADE. Compro um saco de açúcar de 5 quilos que vem com 4,8 kg. Poderemos pedir COMPLEMENTAÇÃO. Caso também do papel higiênico e biscoito - no caso, houve "propaganda enganosa", tentativa de iludir o consumidor. Portanto: - Código Civil Vício de QUALIDADE - Código do Consumidor Vício de QUANTIDADE PRAZO: O Cód. Civil de 1916 falava que o prazo era de 15 dias ou 6 meses a contar do CONTRATO - partindo da pressuposição de que só havia "vício OCULTO". A diferença entre o Art. 445 do CC e do Art. 26 do CDC, é que o CC fala em BEM móvel OU IMÓVEL, e o CDC fala em BEM DURÁVEL NÃO-DURÁVEL. Não se pode traçar um paralelo entre "bem consumível" com "bem não-durável" e vice-versa - cuidado com isto! Bem DURÁVEL = não se deteriora com o uso rápido e imediato. O problema todo está em conceituar “SERVIÇO durável E NÃO-DURÁVEL”. O professor elaborou um conceito ainda não-perfeito, mas chega perto: o que importa é QUAIS SÃO OS "EFEITOS" desse serviço. Exemplo: dedetização residencial - o que importa é "quanto tempo" vai durar o efeito daquela dedetização. Esta idéia não é perfeita, porque há muitos serviços de difícil determinação - exemplo: serviço de transporte. Na dúvida, a interpretação será EM BENEFÍCIO DO CONSUMIDOR - portanto, será considerado que o bem É durável, pois o prazo é mais benéfico ao consumidor.

PRAZO DECADENCIAL O que é decadência? É A PERDA DO DIREITO EM SI. Pode ser interrompida. PRESCRIÇÃO: perda da "PRETENSÃO". A decadência NÃO SE INTERROMPE/SUSPENDE. Art. 26 do CDC (acima): faz referência a se o prazo é "decadencial", ou se é "prescricional". O Artigo 26 é claro: É DECADÊNCIA DOS DOIS. Mas, "obsta" o prazo. Quando o CDC entrou em vigor, houve uma polêmica sobre o "obsta", já que "decadência não se interrompe,

Page 39: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 39

não se suspende". De fato, o legislador seguiu uma tendência moderna, segundo a qual a lei pode, POR EXCEÇÃO, dar a interrupção ao prazo decadencial. Por exemplo, até o Cód. Civil, no Art. 207, "salvo...", admite exceção no prazo decadencial. Conclusão do professor: Sempre que o legislador fala em INTERRUPÇÃO, é um ATO DO CREDOR - ele é que age. QUANDO O CC fala em SUSPENSÃO, são ATOS DE TERCEIROS QUE suspendem o prazo. Se analisarmos as duas hipóteses do Art. 26, numa hipótese é o Consumidor que age, e na outra é o ministério PÚBLICO. Quando for o Consumidor que reclamar, no momento em que ele leva na assist técnica, o PRAZO DELE ESTÁ INTERROMPIDO. Na interrupção, quando o prazo recomeça, RECOMEÇA DO ZERO. Na PRESCRIÇÃO NÃO: computa-se novamente o prazo anterior transcorrido. A segunda hipótese: O MP abre o chamado INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO para verificar o que está acontecendo, mormente quando quase todos, ou todos os produtos apresentam o mesmo problema. Neste caso, o PRAZO É SUSPENSO. Se era noventa dias, quando abriu o inquérito já tinha corrido 60 dias; quando o inquérito SE TRANSFORMA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA, só terá mais 30 dias - o fornecedor terá de se adiantar.

GARANTIA Temos DOIS TIPOS de garantia: 1 - garantia LEGAL: a garantia que o Código, que a Lei dá; esta garantia legal não pode ser jamais negada ou recusada, seria até crime. Esta garantia não pode ser "limitada", nem "cobrada"; ela existe sempre, e é completa sempre. 2 - garantia CONTRATUAL: o fornecedor, fabricante, ou comerciante oferece a garantia contratual – está dentro da LIBERDADE CONTRATUAL – para se diferenciar da concorrência e conquistar clientela. A garantia que o consumidor pode PERDER: é a contratual, e não a LEGAL. Aquela "garantia EXTRA" oferecida pelas lojas, é a CONTRATUAL, não a legal. A garantia LEGAL completa, se soma à garantia CONTRATUAL. Detalhe: é muito comum os livros usarem como sinônimas as palavras "defeito" e "vício". Entretanto, a

partir do Codecon, NÃO SE PODE MAIS USAR A PALAVRA DEFEITO COMO SINÔNIMO DE VÍCIO. "DEFEITO": está ligada a ACIDENTE DE CONSUMO. Não usar esta palavra como sinônima de "vício".

====================================== Primeira PROVA de Direito Civil: adiada para o DIA 3 DE MAIO, e a matéria da prova até a semana ANTERIOR DA PROVA

======================================

PRÓXIMA ARGÜIÇÃO – Aulas dos dias 18 e 19 de ABRIL:

- CONTRATOS DE COMPRA E VENDA

========================

Aula do dia 18/4/2005

RESILIÇÃO; DISTRATO A resilição não deriva de “inadimplemento” contratual, e sim unicamente da manifestação da vontade, que pode ser bilateral ou unilateral (resilire, em latim, significa “volta atrás”). Resilição é o acordo de vontades que tem por fim EXTINGUIR um contrato anteriormente celebrado. A resilição “unilateral” é exceção à regra, podendo ocorrer somente em determinados contratos. Para DISTRATO, há também o termo RESILIÇÃO BILATERAL. Vejamos o Art. 472 do Código Civil:

CAPÍTULO II - Da Extinção do Contrato Seção I - Do Distrato

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Se o contrato foi feito por instrumento público, o distrato deve ser feito por instrumento público, e assim nos demais casos, da mesma forma, conforme o Cód. Civil.

QUITAÇÃO

Page 40: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 40

Conceito: é a forma pela qual o credor atesta o cumprimento de uma parte da obrigação, ou de toda a obrigação. Vulgarmente chamado de RECIBO. TERMOS TÉCNICOS: dependendo da forma como o contrato é desfeito/extinto, usa-se uma terminologia própria: 1 - RESOLUÇÃO: quando o descumprimento do contrato se dá por culpa de um dos contratantes, por caso fortuito ou força maior, ou nos casos de excessiva onerosidade. 2 - REDIBIÇÃO: extinção do contrato em decorrência do VÍCIO REDIBITÓRIO. 3 – RESILIÇÃO UNILATERAL. Alguns contratos se caracterizam pela CONFIANÇA. Exemplo: contrato de mandato. O elemento básico desse contrato é a CONFIANÇA. É possível que qualquer uma das partes peca a resilição, DENUNCIANDO o contrato. Se for o mandante, chama-se REVOGAÇÃO; se for o mandatário, chama-se RENÚNCIA. Ambos são "atos unilaterais", mas com obrigação de dar ciência. 4 - CLÁUSULA RESOLUTÓRIA É uma cláusula que existe em TODO CONTRATO; nem que seja de forma implícita. É a cláusula que prevê que, aquele que cumpriu sua obrigação e o outro não, pode entrar com uma AÇÃO DE RESOLUÇÃO do contrato. Leitura do Art. 474. Se esta cláusula não constar do contrato, só será possível rescindir o contrato se INTERPELAR o descumpridor; ultrapassado o prazo e não cumprido,

Seção II - Da Cláusula Resolutiva Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

=========================

CONTRATOS DE COMPRA E VENDA ARGÜIÇÃO: 1 - Quais são os elementos necessários? 2 - É possível comprar com valor vil e insignificante? 3 - o contrato de compra e venda por si só transfere a propriedade? Qual é o papel da "tradição" no contrato?

4 - Como se classifica o contrato de compra e venda? Pode ser aleatório, ou só comutativo? Paritários ou de adesão? 5 - Pode existir compra e venda de coisa futura? (Emptio spei) dê um exemplo. Pode-se vender bem objeto de litígio judicial? Isto tem alguma relação com a "evicção"?

========================

CONTRATOS EM ESPÉCIE

CONTRATO DE COMPRA E VENDA É o primeiro contrato tratado no Código Civil, por ser o mais importante e o mais comum. Este contrato é relativamente "novo" na história, pois só passou a existir depois de se inventar a moeda; antes da moeda, havia as trocas, ou escambos. Antes da moeda, o "gado" já foi moeda de troca. Pecus = gado. Daí, o termo "pecuniário". Posteriormente veio o sal, e então os metais preciosos cunhados. O que pode ser OBJETO do contrato de compra e venda? Qualquer coisa que tenha VALOR econômico. Bens "fora do comércio". Pode ser objeto de compra e venda tudo o que está no comércio, desde coisas móveis e imóveis, até corpóreas e incorpóreas. Sempre que tivermos como OBJETO do contrato um DIREITO, este contrato recebe o nome de CESSÃO: cessão de direitos autorais, cessão de crédito, cessão de know-how, etc. No que toca ao contrato de compra e venda e seus EFEITOS, existem três sistemas jurídicos que tratam dos efeitos do contrato de compra e venda: 1 - Sistema romano-germânico; por este sistema, a compra e venda gera apenas EFEITOS OBRIGACIONAIS. Não transfere a propriedade, mas OBRIGA o vendedor a transferir a coisa posteriormente. 2 - Sistema francês; totalmente o contrário: o contrato de compra e venda, por si só, TRANSFERE O DOMÍNIO, ou a PROPRIEDADE. 3 - O chamado Sistema Soviético: seria uma MISTURA dos dois anteriores, porque se faz uma distinção entre venda de COISA DETERMINADA e de COISA genérica. Os contratos de compra e venda geram direitos OBRIGACIONAIS ou REAIS. Artigos do Código Civil: 481, 1.226, 1.227 e 1.267.

Page 41: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 41

TÍTULO VI - Das Várias Espécies de Contrato CAPÍTULO I - Da Compra e Venda

Seção I - Disposições Gerais Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição. Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.

Seção IV - Da Tradição Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.

O CONTRATO, POR SI SÓ, MESMO QUE PERFEITO, NÃO TRANSFERE A PROPRIEDADE, adotando o sistema romano-germânico. Importante: para bem "móvel", a TRADIÇÃO é a "entrega da coisa". No caso de bens imóveis, ocorre a chamada "tradição jurídica", que é a transcrição no registro de imóveis correspondente. Exemplo da venda do carro: se, verbalmente, duas pessoas concordam em fazer a compra e venda do carro, o contrato está aperfeiçoado. Falta a TRADIÇÃO. Exemplo para bens imóveis: se quem comprou primeiro não registrou no registro de imóveis, e o vendedor de má-fé vendeu a uma outra pessoa o mesmo bem, que o registrou de imediato, esta outra pessoa será o DONO. Quem comprou primeiro vai perder sim o dinheiro pago; pode até entrar com ação de perdas e danos, mas vai ser difícil recuperar. Primeira EXCEÇÃO: DECRETO-LEI 911/69: alienação fiduciária em garantia. Afirma que se transfere o domínio sem que haja necessidade de ENTREGA da coisa. De fato, é uma "entrega ficta". Segunda exceção: DECRETO-LEI 3.545/41. Dispõe sobre a venda de títulos da dívida pública; transferem-se títulos da dívida pública independentemente da entrega do título.

COMPRA E VENDA: continuará amanhã, esta semana e a semana que vem.

Aula do dia 19/4/2005 ARGÜIÇÃO: 1 - Qual a diferença entre Contrato de compra e venda e Compromisso de Compra e venda? Nos dois, as partes se obrigam a quê? 2 - Leia o Art. 492. Que instituto tal artigo contém? dê um exemplo. O que significa para você a regra do res perit domino? ============================================ Aula: NATUREZA jurídica DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA:

É um contrato: - BILATERAL - ONEROSO - CONSENSUAL.

É contrato real? Ou seja, só se aperfeiçoa com a ENTREGA da coisa? JAMAIS É REAL. Em regra, é CONSENSUAL. Pode ser imóveis, no caso de o valor for superior a 30 salários mínimos. Dê um exemplo de um contrato de compra e venda comutativo: compra e venda de carro. Por que ele é comutativo? As prestações são recíprocas. Pode ser aleatório. Leitura do Art. 482 CC: Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS do CONTRATO 1 - CONSENTIMENTO: é um consentimento "específico" entre a coisa e o preço; não é a manifestação de vontade genérica sobre qualquer coisa. Cuidado com a diferença entre "Contrato de Compra e Venda" e "Compromisso de Compra e Venda", também chamado de pré-contrato, que antecede o contrato principal, em que as partes se obrigam a celebrar o contrato principal, e que deve ter os MESMOS requisitos da compra e venda. 2 - OBJETO/COISA: qualquer "coisa" que tenha valor e que esteja no mercado, pode ser objeto de compra e venda. Mas há casos em que as partes colocam uma restrição na venda desses bens: as CAUSAS DE

Page 42: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 42

INALIENABILIDADE, ou INTRANSMISSIBILIDADE. Exemplo: a mãe, temendo que a filha "torre" seu patrimônio, transfere um imóvel para a filha com essa cláusula que a impede de vender seu imóvel - Art. 1.911 CC. Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros.

Sobre a chamada COISA LITIGIOSA: posso vender um bem cuja propriedade está sendo discutida em juízo? PODE, é exatamente a hipótese de EVICÇÃO. Se o comprador tinha conhecimento de que a coisa era objeto de litígio, não é evicção, e sim CONTRATO DE RISCO, aleatório. COISA ALHEIA: em regra, não pode ser vendida. A doutrina admite exceções: 1 - A pessoa vende algo que não é dela, mas remedia a situação antes de a pessoa perceber/ter algum dano. Exemplo: minha irmã viaja e me deixa seu carro temporariamente. Eu vendo o carro. Mas, antes de ela voltar e me mover uma ação, posso "sanar" O VÍCIO, comprando dela o carro. 2 - Hipótese em que ambos os contratantes SABEM que o bem pertence a um terceiro. A doutrina afirma ser PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO. É como se eu estivesse prometendo a um terceiro que minha irmã lhe venderá o carro. 3 - PREÇO: é um elemento ESSENCIAL no contrato de compra e venda. Em regra, as partes fixam o preço - ele é DETERMINADO. Mas nada impede que tal preço fique condicionado à indicação de um terceiro. Ou seja, comprarei o carro pelo preço que o mecânico João determinar como de mercado. Se o terceiro não desejar fixar preço, o negócio será desfeito. O que não se admite é que o contrato tenha o preço vinculado à vontade de um contratantes – seria a cláusula potestativa: em que fica ao livre e exclusivo arbítrio de uma das partes. A lei não admite. O preço pode ser determinado por ÍNDICE ou PARÂMETRO. Outra questão: a do PREÇO VIL ou INSIGNIFICANTE. Exemplo: um carro vale vinte mil reais, mas eu o vendo por 200.000: isto é uma SIMULAÇÃO. O chamado “preço vil” deve ser analisado em cada caso concreto, pelas circunstâncias.

O preço não necessariamente deve ser em dinheiro, PODENDO SER EM TÍTULOS DE CRÉDITO, e até em TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA. Ou na cláusula: "pagarei a importância de 20.000 reais em tijolos". Mas isto pode configurar TROCA, e não compra e venda, dependendo da prevalência da percentagem de dinheiro ou de bens. Entretanto, a diferença entre TROCA e COMPRA E VENDA é mínima. Questão da CORREÇÃO MONETÁRIA ao falar em dinheiro. Correção monetária = mera atualização da moeda. Como existe a inflação = perda do valor da moeda, criou-se o instituto da correção monetária. Depois de certo tempo, precisa-se de mais dinheiro para comprar a mesma coisa. Correção monetária NÃO É SANÇÃO; é manutenção de poder aquisitivo. O Novo CC de 2002, ao falar de contratos, adota o princípio do nominalismo - Art. 315, ao dizer "pelo valor NOMINAL". Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. Exemplo: se os contratantes convencionarem a compra e venda de algo cujo preço de vinte mil reais será pago depois de 12 meses, isso não inclui correção monetária. Se as partes quiserem, é necessário colocar uma cláusula expressa de correção monetária. Mais: é PROIBIDA qualquer cláusula que atrele o pagamento a moeda estrangeira, ao ouro (metais preciosos), ou ao salário mínimo. Também é proibido fixar o preço do contrato em moeda estrangeira. - Pagamento através de CHEQUE ou de CARTÕES DE CRÉDITO: a discussão consiste em saber se o vendedor pode SE RECUSAR a receber. CHEQUE é uma "ordem de pagamento à vista". Para a maioria da doutrina, prevalece o entendimento de que NÃO É OBRIGATÓRIO O RECEBIMENTO DE PAGAMENTO EM CHEQUES, e a explicação está no Art. 491 do Código Civil: o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. - Cartão de CRÉDITO: o contrato de cartão de crédito envolve três CONTRATOS: 1 - Contrato do proprietário do cartão com a Administradora; 2 - Contrato com a Administradora e o estabelecimento comercial; e

Page 43: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 43

3 - Contrato entre o cliente e o estabelecimento comercial. Discute-se se a compra por cartão de crédito é uma compra "a prazo" ou "à vista". A importância disso diz respeito a que os comerciantes querem vender por preços diferentes se fosse à vista ou por cartão de crédito. Ocorre que a DOUTRINA entende pacificamente que se trata de VENDA À VISTA. Na jurisprudência, por outro lado, há inúmeros julgados entendendo que compra e venda por cartão de crédito é COMPRA A PRAZO. O STJ que entendeu que se trata de venda A PRAZO. Qual é o fundamento do STJ? É porque o comerciante DEMORA para receber. O professor Paulo S. Guimarães acha mais correta a POSIÇÃO DOUTRINÁRIA. Uma vez que o recebimento por cartões de crédito faz parte do negócio do comerciante: atrai mais clientes, e proporciona maior segurança por reduzir o inadimplemento.

CONSEQÜÊNCIAS SECUNDÁRIAS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA

1 - Responsabilidade civil pela EVICÇÃO e pelo VÍCIO REDIBITÓRIO: já vimos este tópico. 2 - Riscos pela PERDA DA COISA. A questão é: em um contrato de compra e venda, quem assume o risco pela perda da COISA e pela perda do PREÇO? A resposta está no Art. 492 do CC. Aqui está a regra do "res perit domino" = a coisa perece com o dono. O dono da coisa é que sofre com os riscos da perda da coisa. A questão é: no lapso temporal entre a celebração do contrato e a entrega da coisa, quem sofre o prejuízo? O dono. A partir do momento em que é feita a entrega, o novo dono é que sofrerá a perda. Exemplo: João vendeu seu carro a uma loja de carros, e já recebeu o dinheiro. No dia seguinte ele, com seu carro no estacionamento da loja de carros, um caminhão acabou com seu carro, sem seguro. As partes fizeram um acordo, mas, tecnicamente falando a tradição AINDA NÃO HAVIA SIDO FEITA.

Aula do dia 25/4/2005 Uma das exceções à regra do res perit domino: o contrato de compra e venda COM RESERVA DE DOMÍNIO: é aquele pelo qual a pessoa compra a coisa, a recebe, mas como ela compra a prestação, ela não tem o domínio, mas somente a POSSE DIRETA. O comprador, possuidor direto, não dono, é que SOFRE OS RISCOS SOBRE A COISA.

3 - Art. 490 do Cód. Civil - trata-se de norma DISPOSITIVA, e não cogente. Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição. Despesas contratuais e pagamento de tributos. Quem arca com as despesas de escritura e de registro é o COMPRADOR, mas isto pode ser alterado pela vontade das partes. Da mesma forma, em regra, a entrega da coisa cabe ao vendedor. 4 - Art. 491 - A GARANTIA Este artigo completa a regra da "exceção do contrato não cumprido". Este Art. 491 se refere à venda À VISTA. Pois, se estivermos diante da venda A PRAZO, obviamente o recebimento do dinheiro será POSTERIOR à entrega da coisa.

LEGITIMIDADE O que é CAPACIDADE? O poder que a pessoa tem de adquirir direitos e contrair obrigações. O que é PERSONALIDADE? É o direito, ou os pressupostos que TODO INDIVIDUO TEM, desde que nasça com vida, até a morte, e desde que é considerado "nascituro".

LEGITIMIDADE ou LEGITIMAÇÃO Não confundir "legitimidade" de direito material, aqui considerada, com a "legitimidade processual". Aqui, diz respeito a que uma pessoa precisa preencher determinados requisitos para realizar certos atos. Uma pessoa pode ter personalidade, capacidade, e não ter legitimidade. Exemplo: um homem casado tem personalidade, capacidade, mas lhe falta "legitimidade" para vender o imóvel do casal, sem a respectiva "outorga uxória". Leitura dos Arts. 496 a 499 Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:

Page 44: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 44

I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito. Art. 498. A proibição contida no inciso III do artigo antecedente, não compreende os casos de compra e venda ou cessão entre co-herdeiros, ou em pagamento de dívida, ou para garantia de bens já pertencentes a pessoas designadas no referido inciso. Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.

Em algumas hipóteses, algumas pessoas não podem fazer parte do contrato de compra e venda, sob pena de nulidade; e em outras hipóteses, sob pena de "anulabilidade". 1 - Venda de ascendente a descendente O legislador, com esta limitação, buscou proteger os direitos de todos os netos diante de uma venda "simulada". Se um pai tinha três filhos; dois estão vivos, e um morreu e deixou netos. Estes netos também devem dar sua concordância, posto que representam seu pai falecido; sob pena de o ato ser ANULÁVEL. Significa: o ato não é "nulo", mas pode ser anulado. O legislador diz que é necessário o consentimento dos HERDEIROS e do CÔNJUGE DO VENDEDOR/ALIENANTE (não sendo necessária a concordância dos cônjuges dos herdeiros). O CC de 2002 deixou claro: o ato não é nulo; é ANULÁVEL. Qual é o prazo de DECADÊNCIA PARA PEDIR A ANULAÇÃO? O código Novo de 2002 NÃO SOLUCIONOU ESTE PROBLEMA, por não trazer expressamente este prazo. O raciocínio do Professor Paulo Scartezzini - ver o Art. 179. Aqui, há uma "cláusula genérica" para a anulabilidade do ato, a partir da conclusão do ato. Entretanto, esta questão NÃO É PACIFICA.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. Quem pode PROPOR A AÇÃO (quem tem LEGITIMIDADE ATIVA para propor tal ação)? Os herdeiros que NÃO AUTORIZARAM, e que hipoteticamente poderiam ser afetados. Além disso: o CÔNJUGE DO ASCENDENTE QUE VENDEU e não tinha tal legitimidade. Não há "litisconsórcio ativo necessário"; ou seja: não precisa ser "todos" os herdeiros, bastando apenas UM DELES. IMPORTANTE: a diferença entre "prescrição = perda do direito"; E A "DECADÊNCIA = perda da pretensão". Uma forte corrente afirma: se a ação proposta for CONDENATÓRIA, o prazo é PRESCRICIONAL. Se for ação DECLARATÓRIA, será DECADENCIAL. Neste caso, é DECADENCIAL, pois a ação busca DESCONSTITUIR O ATO JURÍDICO, por uma “declaração”. Quem deve estar no PÓLO PASSIVO desta ação? O ascendente que vendeu, e o descendente que adquiriu. Caso o bem já tenha sido adquirido por um terceiro, o terceiro também deve fazer parte do pólo PASSIVO. Esse consentimento dos herdeiros, deve ser EXPRESSO. A questão é: se for bem móvel, se o valor da coisa for inferior a dez salários mínimos, deve-se provar exclusivamente por PROVA TESTEMUNHAL - que existe este limite de validade (10 salários mínimos). Outra questão: Suponhamos que um dos descendentes não queira dar seu consentimento. Pode-se "suprir" aquele consentimento? PODE, segundo grande parte da doutrina, desde que essa recusa do consentimento seja INJUSTIFICADA. O juiz pode alegar que não há NENHUM MOTIVO para tal recusa. Podem os réus provar que o negócio foi feito de forma honesta? Que o valor foi "real" e não houve nenhum prejuízo ao suposto herdeiro? SIM, PODE. A ação vai ser julgada improcedente por AUSÊNCIA de prejuízo. E no caso do filho RECONHECIDO POSTERIORMENTE à venda? Ele já era filho; mas conta-se aquele prazo DECADENCIAL de DOIS ANOS para mover a ação. Na DAÇÃO EM PAGAMENTO: é uma forma de "extinção da obrigação", pois o credor recebe do devedor coisa diversa do que fora combinado. É necessário o consentimento dos outros herdeiros? Existem DUAS

Page 45: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 45

CORRENTES doutrinárias e jurisprudenciais: 1) Interpreta-se pela regra: toda; 2) (perdi a explicação do professor...). HIPOTECA: o banco exige do filho uma garantia para lhe emprestar dinheiro, e seu pai oferece um imóvel com valor muito superior. Aqui, também há DOIS entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. O bom senso diz para, SEMPRE, obter o consentimento dos demais descendentes. Venda de SOGRA A NORA OU GENRO: precisa-se do consentimento dos demais? NÃO.

Aula do dia 26/4/2005 ============================================== ARGÜIÇÃO: 1 - O tutor ou curador podem comprar bens do tutelado? 2 - O ato é nulo ou anulável? 3 - Pode o tutor adquirir "direitos", ou só está proibido de comprar "bens"? 4 - Qual a diferença entre compra e venda, e cessão? 5 - O que é compra por "amostra"? E no CDC? 6 - O que é "venda com reserva de domínio"? Por que se diz que o proprietário tem o domínio "resolúvel"? 7 - O que é venda "ad corpus" e "ad mensuram"? ============================================== Aula: Veremos as outras hipóteses previstas no Art. 497, que prevê as outras hipóteses de AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE Venda de ascendente a descendente: a conseqüência é a ANULABILIDADE. Na hipótese em que a compra e venda diz respeito à pessoas que administram bens de outra pessoa, a conseqüência é a NULIDADE. O curador não pode adquirir os bens do curatelado. O ato é NULO, e não anulável, mesmo que tal aquisição se dê em hasta pública (leilão). A mesma questão se refere aos FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS EM GERAL que têm poderes de ADMINISTRAÇÃO sobre certos bens; bens públicos, por exemplo. Igualmente, o JUIZ não pode adquirir nenhum bem objeto de um litígio em que ele atua; igualmente, todos os funcionários que trabalham em cartório, nem

peritos (estes é que avaliam os bens). O juiz, porque é quem decide o valor da venda. Lembrando: o legislador diz que se aplicam tais impedimentos aos casos de CESSÃO: a única diferença para a compra e venda é o OBJETO. Cessão de "direitos autorais", Cessão de "crédito", que diz respeito a um direito (e não a uma coisa/bem). Ver o Art. 504 CC. Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço.

O condomínio (condomínio "tradicional", e não o edilício) também tem PREFERÊNCIA na aquisição de um bem.

DOMÍNIO = PROPRIEDADE (são sinônimos). POSSE É OUTRA COISA.

Neste artigo, "condomínio" = CO-PROPRIEDADE, que é uma pluralidade de pessoas como proprietários de um mesmo bem. É o "condomínio tradicional", em oposição ao condomínio edilício. A questão do Art. 504 é: havendo condomínio, pode um dos condôminos vender a sua parte? A resposta é PODE. Existem DOIS critérios: "indivisibilidade física" (um cavalo é fisicamente indivisível); e a indivisibilidade jurídica (fisicamente podem ser divididos, mas se o forem perderão seu valor econômico: caso de um diamante). Um imóvel pode ser divisível ou indivisível. Um apartamento é INDIVISÍVEL. Uma fazenda ou propriedade rural, dependendo do tamanho, é divisível. Não se pode ter um terreno, de acordo com a lei, com MENOS DO QUE 125 metros quadrados. Assim, juridicamente falando, não se pode dividir uma área com menos do que 125 m2. Cada lugar tem o chamado "módulo rural", que é a "unidade mínima". Sempre que o bem for INDIVISÍVEL, o condômino que pretende vender tem a obrigação de oferecer PREFERÊNCIALMENTE ao condômino/co-proprietário. O negócio é válido,não há nulidade nem anulabilidade, mas gera ao condômino que não recebeu a oferta

Page 46: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 46

preferêncial, o DIREITO DE INDENIZAÇÃO contra o alienante que não obedeceu o "direito de preempção".

VENDA POR AMOSTRA Art. 484

Nas relações CIVIS, a venda por amostra perdeu importância, pois na prática isso diz respeito a RELAÇÕES DE CONSUMO. Se alguém adquire um bem por este meio, terá direito a receber não a coisa em si, e sim uma coisa que apresente AS MESMAS características da amostra. Caso das fotos de refeições. Exemplo: vou ao McDonalds e digo, apontando para um Sundae: "quero AQUELE SUNDAE", com as castanhas caindo, e marshmellow transbordando. Ou então, "quero AQUELE sanduíche, cheio de recheio". Quanto aos dizeres: "foto meramente ilustrativa": é PUBLICIDADE ENGANOSA. É óbvio que, muitas vezes, pode o produto entregue não ser EXATAMENTE o mesmo bem, mas deve ser SUBSTANCIALMENTE EQUIVALENTE, para não induzir o consumidor a erro. É o caso das fotos de agências de viagens também. A venda por amostra só se aplica, na prática, aos CONTRATOS COMERCIAIS (em oposição aos contratos CIVIS). Pelo CDC, Art. 35, temos as ALTERNATIVAS que o consumidor tem caso as prerrogativas não sejam cumpridas - em complemento ao Art. 30 do CDC.

Art. 35 (CDC). Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

SEÇÃO II - Da Oferta Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

VENDA AD CORPUS e venda AD MENSURAM

Art. 500 CC

Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer

dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço. § 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio. § 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso. § 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.

Esta questão se refere a bens imóveis. Isto, na opinião do Professor Paulo Scartezzini Guimarães, diz respeito a VÍCIO DE QUANTIDADE. Mas, se estivermos em uma RELAÇÃO CIVIL, será vício de qualidade. Se estivermos em uma RELAÇÃO DE CONSUMO, e o imóvel não tiver a área prevista, a solução estará no código de Defesa do Consumidor. Exemplo: compro uma chácara de dez alqueires, porque preciso dessa área para plantar o que pretendo. Mas depois o comprador verifica que tal imóvel tem apenas nove alqueires. PRIMEIRA MEDIDA: a COMPLEMENTAÇÃO da área do imóvel. Na impossibilidade de complementar a área, abrem-se outras DUAS alternativas:

1 - A resolução do contrato; ou 2 - O abatimento proporcional do preço.

O ideal é que, as partes, ao celebrarem um contrato, deixassem claro que a venda em questão é AD CORPUS ou AD MENSURAM. Como isso não é praxe, o juiz vai averiguar pela VONTADE das partes se foi o caso de uma ou outra característica, em cada caso concreto. Na venda ad mensuram, O FUNDAMENTO do negócio é o TAMANHO, ou seja, a área. Na venda AD CORPUS, A COISA EM SI é o fundamento, sendo a metragem mero elemento adicional. Na venda ad corpus, a princípio não é possível pedir-se NADA EM COMPLEMENTO, nem abatimento de preço nem rescisão de contrato. parágrafo 1 do Art. 500. "Um vigésimo = CINCO POR CENTO (5%)".

Page 47: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 47

A doutrina diz que, mesmo uma diferença sendo INFERIOR A CINCO POR CENTO, a presunção, aqui, seria 'RELATIVA', posto que tal diferença pode ser extremamente IMPORTANTE no negócio. O código de 1916 só falava em tal COMPLEMENTAÇÃO se apenas o COMPRADOR era o prejudicado. Mas, no NOVO Cód. Civil de 2002, isso foi solucionado, no parágrafo 2 do Art. 500. Agora, o VENDEDOR também terá o direito de receber o preço a mais, proporcionalmente. Estas AÇÕES (para pedir a COMPLEMENTAÇÃO) chamam-se EX EMPTO. E, o contrário, daquele que pede para pagar, porque deu A MAIS: EX VENDITO. Qual o PRAZO DECADENCIAL para estas ações? É de UM ANO - Art. 501. MATÉRIA DA PROVA DA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA? TUDO, TUDO TUDO, até o que for dado na próxima segunda-feira, quando também haverá argüição SIM sobre os temas ainda não expostos em aula. TRAZER o código civil; entretanto, pode ser que, na hora, pelo tipo de prova, o código não possa ser usado.

Aula do dia 2/4/2005

VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO Constitui modalidade ESPECIAL de venda de COISA MÓVEL, em que o vendedor tem a própria coisa vendida como GARANTIA do recebimento do preço. SOMENTE A POSSE É TRANSFERIDA AO ADQUIRENTE. A propriedade permanece com o alienante, e só passa ao adquirente depois do recebimento integral do preço.

Subseção IV - Da Venda com Reserva de Domínio Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. Art. 522. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros.

Está ligada a uma compra e venda em parcelas. O vendedor entrega a coisa, mas essa tradição não significa transferência da propriedade. O domínio do vendedor vai se extinguindo pouco a pouco, à medida em que o comprador vai pagando as parcelas. A partir do pagamento da última parcela, o comprador passa a ser dono.

DOMÍNIO RESOLÚVEL: essa obrigação se resolve com o pagamento de todas as parcelas. Além disso, o pagamento integral do preço resolve a propriedade do vendedor sem necessidade de acordo adicional. Essa venda deve ser registrada no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do comprador. O registro gera a publicidade do ato. Exceção dessa venda: “res perit domino”: o possuidor, por estar com a guarda da coisa, responde pelos riscos. Se não houver o pagamento, o vendedor poderá:

- entrar com uma ação de execução do contrato e pedir os valores que não foram pagos;

ou - entrar com uma ação de busca e apreensão da coisa (depósito).

Arts. 1070 e ss, CPC Arts. 525, 526, CC Art. 525. O vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou interpelação judicial. Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.

Para propositura dessas ações é necessária uma prévia notificação ao devedor. Essa notificação é um pressuposto processual para esta demanda.

CAPÍTULO XIII

DAS VENDAS A CRÉDITO COM RESERVA DE DOMÍNIO

Art. 1.070 (CPC). Nas vendas a crédito com reserva de domínio, quando as prestações estiverem representadas por título executivo, o credor poderá cobrá-las, observando-se o disposto no Livro II, Título II, Capítulo IV. § 1o Efetuada a penhora da coisa vendida, é licito a qualquer das partes, no curso do processo, requerer-lhe a alienação judicial em leilão. § 2o O produto do leilão será depositado, sub-rogando-se nele a penhora.

VENDA A CONTENTO (do comprador) e VENDA

SUJEITA A PROVA

Subseção II - Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova

Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará

Page 48: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 48

perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado. Art. 510. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.

Em ambas o comprador recebe a coisa, não significando, porém, que já se tem a propriedade nem a aceitação.

- Venda a contento: a manifestação tem caráter subjetivo. - Venda sujeita a prova: a manifestação tem caráter objetivo. O bem/serviço deverá ter as qualidades e características que o vendedor afirmou ter. Está ligada ao vício, mas neste caso o contrato não está firmado.

Exemplo 1: a pessoa compra um tênis e acha que não “ficou bem” no pé dela – manifestação subjetiva = venda a contento. Exemplo 2: Uma pessoa compra um tênis próprio para fazer trilha, mas o tênis “escorrega”. Não tem as qualidades e características que o vendedor afirmou ter – manifestação objetiva: venda sujeita a prova. Como um tênis próprio para fazer trilha pode escorregar?!? * Nessas duas hipóteses o contrato é firmado sob condição suspensiva, sujeita ao fato de a coisa ser “do agrado” do potencial comprador. Deste modo, a tradição da coisa NÃO TRANSFERE O DOMÍNIO, limitando-se a transferir a POSSE DIRETA, por causa da condição suspensiva.

Resumindo: a compra e venda NÃO SE APERFEIÇOA enquanto não houver a MANIFESTAÇÃO DE AGRADO do potencial comprador.

Aula do dia 9/4/2005

RETROVENDA, ou "Venda a Retro"

Art. 505 do Cód. Civil

Seção II - Das Cláusulas Especiais à Compra e Venda

Subseção I - Da Retrovenda Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.

É uma CLÁUSULA ACESSÓRIA: pode ou não existir em um contrato. Se existir, em que termos? Quando se inclui esta cláusula, o vendedor faculta a ele mesmo a possibilidade de desfazer o contrato se assim o desejar, dentro de determinado prazo. Estamos falando de BEM IMÓVEL. Pode-se dizer que a RETROVENDA é uma CONDIÇÃO? Pode, do tipo RESOLUTIVA. O que é "condição" no Direito Civil? É um evento FUTURO E INCERTO. Dois tipos: SUSPENSIVA e RESOLUTIVA. A diferença entre elas: - SUSPENSIVA: o ato não gera efeitos enquanto não ocorrer o evento futuro e incerto. - RESOLUTIVA: o ato gera efeitos desde o início, mas deixará de gerar efeitos caso ocorra o evento futuro e incerto. Deve-se registrar a retrovenda no cartório de registro de imóveis. DIRETO DE SEQÜELA: se vendo uma casa a alguém com cláusula de reserva de domínio e isto está registrado no cartório, o terceiro que comprou estará sempre adquirindo algo SUJEITO A CONFIRMAÇÃO. O registro gera a publicidade do ato. Não é uma "recompra". PRAZO MÁXIMO PARA A RETROVENDA: TRÊS ANOS - Art. 505. Significa: passado este prazo, automaticamente a cláusula perde a eficácia, e qualquer pessoa poderá comprar; o vendedor originário não poderá desfazer o negócio. As partes poderão estipular um prazo inferior, mas qualquer prazo que exceder três anos não será válido. O que acontece quando o vendedor opta pela RETROVENDA? Se houvesse uma recompra, haveria necessidade de novo pagamento de tributos. Mas na retrovenda NÃO HÁ tal necessidade. O que vendeu por cem mil reais opta pela retrovenda, e terá direito a reaver o bem imóvel, e o dever de PAGAR o preço pago. Hoje em dia, há uma dúvida sobre a atualização monetária - ver o Art. 315 CC: traz o "princípio do nominalismo", do valor NOMINAL. No Art. 316, dá-se a possibilidade às partes de combinar a correção monetária, em conformidade com os limites legais. Ou seja, é recomendavel SEMPRE - não apenas na retrovenda - colocar uma cláusula estipulando a valorização do dinheiro, pois há o risco de a jurisprudência entender que tal atualização monetária não seria necessária. Na RETROVENDA, a valorização ou DESVALORIZAÇÃO do imóvel no período, é irrelevante. IMPORTANTE!! Na retrovenda, não é necessário justificar. Basta exercer seu direito subjetivo. Hoje em dia, temos vários outros institutos que são mais usados do que a retrovenda. A retrovenda ocorreu na novela recente "Senhora do Destino", quando o

Page 49: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 49

jornalista (do ator José Mayer) penhorou todos os seus bens para levantar o dinheiro para abrir seu jornal. A personagem Maria do Carmo ofereceu um empréstimo, o que o jornalista recusou, mas aceitou passar os bens dele para ela, com uma cláusula (de retrovenda) segundo a qual ele poderia desfazer o negócio se ele conseguisse levantar o dinheiro com a venda de um quadro valioso. A retrovenda é um artifício usado pelos AGIOTAS para garantir que irão receber o dinheiro emprestado. Se o agiota não receber, o imóvel fica definitivamente em seu nome. Entretanto, isso é uma SIMULAÇÃO, que caracteriza a NULIDADE. Da mesma forma, não se dmite a retrovenda quando as partes estipularem que, se o vendedor optar por desfazer o negócio, ele terá de devolver um valor MAIOR. Por quê? Porque normalmente tem "agiotagem" por trás disso. Durante o período em que o comprador é DONO do imóvel, os FRUTOS CIVIS - aluguéis, etc. - são de propriedade do COMPRADOR. Ele não precisará devolver os frutos. Se o vendedor optar pela cláusula de retrovenda e o comprador não quiser devolver, entra com ação de obrigação de fazer, ou com ação de consignação. A retrovenda, pelo novo Código Civil, é passivel de cessão e transmissão CAUSA MORTIS: o direito de retrovenda pode ser cedido/transferido a um terceiro. É a cessão do "direito de optar pela retrovenda". Tal direito também se transfere aos herdeiros. Tratando-se de RELAÇÃO DE CONSUMO, entende-se que NÃO É VÁLIDA - É NULA - A CLÁUSULA DE RETROVENDA. Artigos: 51, incisos 4, 11, e 15 do CDC.

DIREITO DE PREFERÊNCIA, ou Direito de PREEMPÇÃO, ou PRELAÇÃO

O que é este direito? É também CLÁUSULA ACESSÓRIA onde fica previsto que, se o comprador quiser vender, quando, e pelo preço que ele quiser (se, quando e por quanto), o vendedor originário, se tiver que concorrer com um terceiro, terá PREFERÊNCIA. Ao contrário da retrovenda, aqui é uma NOVA COMPRA E VENDA, sujeita a um novo imposto. Exemplo: vendo minha casa e meu carro para João. João arrumou alguém que paga 500, sendo que ele havia coprado de mim por apenas 100. Antes de ele vender para aquele terceiro, João deve me oferecer: "Tenho um comprador que paga 500; vc quer comprar por este

preço?". O vendedor originário só terá preferência se estiver concorrendo em CONDIÇÕES IGUAIS. Qual o PRAZO MÁXIMO, para a preferência: 2 ANOS = IMÓVEIS. E 180 dias para bens MÓVEIS. Ultrapassados tais prazos, deixa de existir o direito de preferência. Quais são as diferenças entre retrovenda e preempção/preferência? Retrovenda = fica a critério do vendedor originário fazer a opção. Na preferência, a opção fica com o comprador. Quanto ao preço: na retrovenda, será o combinado inicialmente; na preferência, será o preço que o comprador quiser ou conseguir no mercado. Na retrovenda: o negócio se DESFAZ, e na preferência há um NOVO NEGÓCIO. Se a cláusula de preferência não for respeitada, por algum motivo, somente haverá DIREITO DE INDENIZAÇÃO, e somente se houver prejuízo efetivo. Se não tiver havido nenhum prejuízo, não terá direito a ação. Diferença entre ARRAS e CLÁUSULA PENAL: na cláusula penal, se o valor for abusivo, o juiz poderá reduzir seu valor. Nas arras, o juiz não pode alterar o valor. EM caso de BEM IMÓVEL, o direito de preferência está previsto em LEI: Art. 27 a 34 da Lei 8.245/91 Na locação, existe o direito real; o locatário pode, em 180 dias, depositar o valor da venda e pedir o imóvel para si. Ele pode pedir a coisa, depositando o valor da venda. O legislador impõe DOIS REQUISITOS para o locatário: primeiro, que o contrato de locação seja registrado em cartório. Segundo, o prazo para exercer tal direito. Se o imóvel estiver sublocado - somente quando o locador autoriza. Em caso de posto de combustível: é comum a Shell (por exemplo) alugar o terreno, e depois sublocar ao dono do posto. O locatário o subloca de modo TOTAL. O sublocatário terá a PREFERÊNCIA, em segundo lugar o Locatário, e depois terceiros. No caso de residências, ou cortiços, TODOS - locatários ou sublocatários - podem exercer seu direito de preferência, sob uma condição: quem o quiser, deverá comprar o IMÓVEL INTEIRO, e não apenas uma fração dele.

Aula do dia 10/5/2005

PREEMPÇÃO LEGAL, ou RETROCESSÃO

Page 50: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 50

Art. 519 CC

Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.

Aqui é a hipótese em que um bem é DESAPROPRIADO PELO PODER PÚBLICO POR INTERESSE SOCIAL/COLETIVO OU UTILIDADE PÚBLICA; é matéria de Direito Administrativo. O legislador repetiu aqui no CC este artigo. Exemplo: o poder público necessita de uma área, DE FORMA FORÇADA, para realizar as obras do metrô. Não há o que reclamar; a "briga" será somente acerca do valor da desapropriação. Sai o "motivo e a utilidade" da desapropriação em Diário Oficial. No Art. 519 - um bem é desapropriado, mas não lhe é dada a FINALIDADE prevista no edital. Neste caso, o ente público deveria oferecer novamente ao expropriado, que perdeu o bem, a devolução do bem. O legislador impõe que o expropriante dê ao bem o destino que constar no edital. Entretanto, os tribunais fizeram uma interpretação mais LIBERAL deste artigo. Exemplo: o edital dizia que ia construir uma escola pública, mas era feito um hospital. Os tribunais ampliaram o entendimento, alegando que se houver INTERESSE PÚBLICO - que é o OBJETIVO FINAL da desapropriação - então não haverá o direito de o ex-proprietário, expropriado, reaver o seu bem. Para reaver seu bem, este deverá entrar com uma ação reivindicando seu bem de volta.

PACTO DE MELHOR COMPRADOR Este instituto já estava previsto no CC de 1916. O que era isto? Este Pacto de Melhor Comprador ocorria no caso de uma pessoa vender um bem com a seguinte cláusula: se dentro de certo prazo aparecer um comprador oferecendo um preço maior, será vendido a este ofertante. Pelo princípio da liberdade contratual: está permitido tudo o que não estiver proibido pelas leis em vigor. Portanto, esta cláusula é possível sim nos contratos.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA Foi regulamentada pelo Decreto Lei 911/69 - leitura. Não confundir "NEGÓCIO FIDUCIÁRIO" (Artigos 1.361 a 1.368) com a "ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA". Na alienação fiduciária, temos, inicialmente, três FIGURAS - e não "partes" contratuais:

1 - Vendedor - alguém que quer vender 2 - Comprador - alguém que quer comprar, mas não tem o dinnheiro 3 - Instituição financeira, que recebe a coisa e passa a ser a PROPRIETÁRIA da coisa. O banco paga o carro para a loja, adquirindo a PROPRIEDADE do bem. Entretanto, não existiu a TRADIÇÃO (requisito para a transferência da propriedade; aqui, trata-se de uma das EXCEÇÕES). O banco passa a ser dono, sem ter tido contato físico da coisa. O banco não "pega" essa coisa, pois o bem é entregue ao COMPRADOR, A TÍTULO DE mero "POSSUIDOR DIRETO". Assim, a propriedade, ou domínio do bem, é detido pela instituição financeira. O que existe é "posse direta" e "posse indireta", e não "domínio direto ou indireto". Esta, na verdade, é uma forma de GARANTIA que é dada ao banco, que pagou a coisa; se a dívida não for paga, o banco retoma a posse da coisa. PENHOR (bem MÓVEL) e HIPOTECA (bem IMÓVEL): são duas espécies de GARANTIA que se dá em decorrência de uma obrigação. Qual a desvantagem do penhor na alienação em garantia? No penhor, há necessidade de fazer a ENTREGA da coisa. A coisa fica retida com a instituição. Na alienação fiduciária, o devedor TEM A POSSE DA COISA, podendo usufruir dela. "Penhora" em ATO PROCESSUAL: não confundir com PENHOR. "Teoricamente", a alienação fiduciária deveria pressupor as três figuras. Mas os tribunais entendem que é possível a alienação fiduciária SEM ENVOLVER UM COMPRA. Exemplo: devo ao banco, que me oferece dar meu carro em garantia daquela dívida. Transfiro só a PROPRIEDADE, e NÃO A POSSE. Procurar no Código a SÚMULA 28 DO STJ: não é necessário que o bem seja de um terceiro, podendo incidir sobre um bem que já integrava o patrimônio do devedor.

SÚMULA 28 DO STJ O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor. Referência: Lei 4.728, de 14.07.65, art. 66, redação do art. 1º do Decreto-lei 911, de 01.10.69. (entre outras referências)

A obrigação do DEVEDOR fiduciário é PAGAR AS PARCELAS. No momento em que ele paga tudo, quita, a propriedade do bem retorna para ele.

Page 51: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 51

Se o devedor não pagar a dívida: o credor - banco - tem DOIS caminhos processuais: 1 - Pode ele EXECUTAR OS TÍTULOS que tiverem sido assinados (cheques, etc.); ou 2 - Propor uma AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - é o meio mais comum. Pois, se o devedor não pagou, não adianta executá-lo; o mais eficaz é retomar a posse do bem. A AÇÃO de busca e apreensão (Decreto-Lei 811) NÃO TEM NADA A VER COM A "CAUTELAR de busca e apreensão (do Cód. de Processo Civil). REQUISITO PROCESSUAL para esta ação: deve-se NOTIFICAR O DEVEDOR. Se o devedor não pagar, aí sim será feita a busca e apreensão. Tal notificação não serve para constituir o devedor em mora; a MORA, aqui, é AUTOMÁTICA; mora 'ex re'. É como se o legislador desse uma "segunda chance". Ver a Súmula 72 do STJ: nessa notificação, o credor deverá deixar claro O QUE está em atraso pelo devedor: deve-se fornecer uma descrição suficiente em detalhes para a compreensão de qualquer pessoa - Súmula 245 (dispensa a indicação do valor do débito). Ver a Lei 10.931/2004: altera muitos pontos, até do Cód. Civil, e até do Decreto-Lei 911.

SÚMULA Nº 72 do STJ A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente. Referência: Decreto-lei 911, de 01.10.69, art. 2º, §§ 2º e 3º.

Depois de o juiz determinar a busca e apreensão: se o bem for apreendido, consolida-se nas mãos do autor a propriedade, e irá averiguar as alegações o réu - pelo contraditório. Esse bem é levado a leilão, é vendido, e se faz um balanço. É feita uma conta de saldo positivo ou negativo. A dúvida que surge, ocorre quando esse bem NÃO É ENCONTRADO NAS MÃOS DO DEVEDOR, o que é muito comum. Se isso ocorrer, o oficial certifica e o credor, ao tomar conhecimento, pede, nos PRÓPRIOS AUTOS da busca e apreensão, a sua CONVERSÃO DA BUSCA E APREENSÃO EM "AÇÃO DE DEPÓSITO". No contrato de depósito, a obrigação do depositário é DEVOLVER A COISA. É uma NOVA AÇÃO, dentro daquela antiga. O réu será novamente citado, PARA DEVOLVER A COISA. Nesta nova ação, não se discute mais o contrato de financiamento, e sim a OBRIGAÇÃO DE DEVOLVER A COISA. Se o réu devolver, está tudo certo. Se não devolver, alegando que o bem foi furtado, será o caso de se verificar se foi "caso fortuito ou força maior", o que iria ensejar a isenção da obrigação dele, sem penalidade. O posicionamento dos tribunais é o seguinte: FURTO NÃO CARACTERIZA CASO

FORTUITO OU FORÇA MAIOR. Em muitos julgados, também se vê: ROUBO TAMBÉM NÃO CONFIGURA CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR, ainda mais se tratando de carros, na cidade de São Paulo. Por isso, é comum um CONTRATO DE SEGURO PARALELO. SENTENÇA: três partes - relatório - fundamentação - decisório. Normalmente, condena-se o réu a devolver o bem, sob PENA DE PRISÃO (PRISÃO CIVIL, da CF). Prisão civil: em caso de alimentos, e DEPOSITÁRIO INFIEL - é este o caso. Há então a questão a respeito da prisão do depositário infiel: quem adota esta corrente: MUITOS JULGADOS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que afirmam que É POSSÍVEL A PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL. A corrente oposta diz: NÃO É POSSÍVEL A PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL, com 2 argumentos: 1 - O depósito que permite a prisão é o depósito do CÓDIGO CIVIL: O "CONTRATO DE DEPÓSITO", e somente este. Na alienação fiduciária em garantia não há nenhuma entrega real; a alienação é ficta, e, por ser ATÍPICO, não está sujeito às normas constitucionais. 2 - Existe o Pacto de San José, Costa Rica. Em um dos seus artigos, há uma norma que proíbe a prisão decorrente de OBRIGAÇÃO CONTRATUAL, de dívida inlusive. Para valer no Brasil, tal Tratado Internacional deve ter sido RATIFICADO, e este o foi. O nível hierárquico do tratado é o seguinte: como ele fica ABAIXO da Constituição Federal, ele NÃO PODE revogar a CF brasileira. Qual é o argumento do STJ? Francisco Rezek sustentava que os tratados insternacionais estão em nível infra-constitucionais; entretanto, pelo Art 5º, Parágrafo 2 da CF (leitura), que se refere a DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS, entram na CF pela porta do Par. 3 (??) e, portanto, ESTÃO NO MESMO NÍVEL DA CF, suscitando este conflito - esta é a posição do STJ.

§ 2º (Art. 5º da CF) - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º (Art. 5º da CF) - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

A prisão decorre de DESCUMPRIMENTO DA ORDEM DO JUIZ; no momento em que ele pagar, ele readquire a liberdade. Não tem nada a ver com sua obrigação, que continua, de devedor.

Page 52: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 52

A EC 45 - REFORMA DO JUDICIÁRIO - entre outras coisas, no Parágrafo 3, segue exatamente a orientação que a doutrina e alguns tribunais já tinham: todo tratado sobre direitos e garantias individuais ingressa no ordenamento jurídico brasileiro com a hirarquia de uma Emenda Constitucional. O que tem sustentado a doutrina é: diante da EC 45, os tratados ANTIGOS NÃO ESTÃO AUTOMATICAMENTE DENTRO DA CF, pois precisam ser RATIFICADOS POR AQUELE QUORUM ESPECIAL DE TRÊS QUINTOS referido no Par. 3º (Art. 5º) da CF. Depois disso sim, terão a mesma força de uma Emenda Constitucional; antes disso, estarão em nível infra-constitucional.

Aula do dia 16/5/2005 Tema da Argüição na próxima semana: "DOAÇÃO" ============================================= Argüição: 1 - O que é doação? 2 - O que é "doação pura"? 3 - Doação pura, é contrato "real" ou "consensual"? 4 - O que é "real" e "consensual"? 5 - O que é contrato "real"? 6 - O que é "doação com encargo"? 7 - O que ocorre quando o encargo não é cumprido pelo donatário? 8 - O que significa "revogação da doação por ingratidão"? 9 - O que é doação remuneratória? Ela é onerosa ou gratuita? Por quê? =============================================

TROCA A troca é um contrato muito similar ao contrato de compra e venda. A troca, permuta ou escambo, é a forma mais "antiga" da compra e venda. A compra e venda passou a ser feita com mais freqüência a partir da existência da moeda; em vez de fazer escambos, as pessoas trocavam bens por "moeda". A doutrina sustenta que se trata de compra e venda, quando o que prevalece é a PERCENTAGEM em dinheiro. Se a percentagem do todo é maior em bens, será troca.

Para a troca, valem as mesmas regras aplicáveis na compra e venda: em caso de bens imóveis, quem arca com as despesas do contrato e da escritura é o comprador; e, no caso de bens MÓVEIS, quem arca com as despesas da entrega é o vendedor. Inciso II do Artigo 533 CC: sempre que a troca pressupor valores iguais, não há necessidade de consentimento dos outros descendentes e do cônjuge alienante.

CAPÍTULO II - Da Troca ou Permuta Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.

DOAÇÃO

Artigo 538 CC: aqui temos o CONCEITO de doação - doação PURA.

Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.

Doação pura: é a doação por MERA LIBERALIDADE, ou animus donandi - a intenção de doar. Na doação temos DUAS FIGURAS: - Doador: aquele que faz a doação e cujo patrimônio é reduzido; - Donatário: aquele que tem seu patrimônio aumentado. Qual a DIFERENÇA ENTRE DOAÇÃO E LEGADO? A DOAÇÃO ocorre EM VIDA; o LEGADO gera efeitos CAUSA MORTIS, ou seja, apenas depois da morte de uma pessoa. Natureza jurídica: 1 - É um contrato 2 - Contrato gratuito (a doação pura); 3 - É um contrato SOLENE - é necessário no mínimo um instrumento particular, ou então é, em caso de imóveis, necessária uma escritura pública. 4 - É contrato CONSENSUAL. Assim como na compra e venda, "contrato de doação" por si só NÃO TRANSFERE A PROPRIEDADE. Há a necessidade da TRADIÇÃO - coisa móvel - ou da TRANSCRIÇÃO NO REGISTRO em caso de coisa imóvel.

Page 53: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 53

Se temos um contrato, é necessário haver um CONSENTIMENTO - de ambas as partes. Art. 539 - leitura.

Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.

Somente a DOAÇÃO PURA admite o silêncio COMO CONSENTIMENTO. É a manifestação tácita. Na doação com encargo, o silêncio não serve como consentimento. O silêncio, aqui, é uma das EXCEÇÕES da regra prevista na própria lei. Art. 542: nascituro: é o ser concebido, mas ainda sem vida própria, que goza de proteção pelo ordenamento jurídico brasileiro. O nascituro PODE RECEBER DOAÇÃO, com uma condição: NASCER COM VIDA, tratando-se de "evento futuro e incerto". Mas é o representante do nascituro que dirá se aceita ou não a doação.

Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.

Art. 543: INCAPAZ. O legislador, na doação pura, DISPENSA O CONSENTIMENTO DO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ.

Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura.

Art. 546: neste caso, a doação irá ocorrer SE ocorrer algo, como o nascimento de uma criança, na CONDIÇÃO de que essa pessoa se case ou não.

Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar.

Uma corrente doutrinária acredita que tal artigo é INCONSTITUCIONAL, pois fere a liberdade na formação da família. O nosso professor Paulo Guimarães e a doutrina dominante acreditam que é CONSTITUCIONAL, não há nada de errado. Exemplo: doarei 10.000 se José casar com Maria, e se desse casamento nascer um filho homem. Neste caso,

não há necessidade de aceitação, porque o ato do CASAMENTO É A ANUÊNCIA. TIPOS DE DOAÇÃO: 1 - DOAÇÃO PURA: envolve "mera liberalidade". 2 - DOAÇÃO CONDICIONAL O que é "condição"? Aquilo que vincula um determinado negócio a EVENTO FUTURO E INCERTO. Sujeita-se a doação a um evento futuro e incerto. Existe CONDIÇÃO SUSPENSIVA e CONDIÇÃO resolutiva. Na SUSPENSIVA: o negócio NÃO SE APERFEIÇOA enquanto não ocorrer o evento futuro e incerto. Na RESOLUTIVA: o contrato está aperfeiçoado desde o início, mas pode DEIXAR DE VALER se OCORRER o negócio futuro e incerto. Ex.: o pai doa um carro ao filho; mas se o filho ficar de DP em direito civil, deixará de ter o carro. 3 - DOAÇÃO A TERMO A diferença entre "condição" e "termo"? NO "TERMO", significa EVENTO FUTURO E "CERTO". Ex.: darei meu carro a você quando você completar 18 anos. Ao se falar o "termo", está ligado a uma DATA que não há dúvida de que irá ocorrer. 4 - DOAÇÃO COM ENCARGO, ou DOAÇÃO "MODAL" Aqui, NÃO TEMOS CONTRATO "GRATUITO"; e sim, pelo menos em parte, um contrato ONEROSO. O doador sujeita o donatário a PRATICAR DETERMINADA "CONTRAPRESTAÇÃO". Ex.: dou-lhe meu carro se você levar minha filha à escola este ano. Mas DEVE HAVER "LIBERALIDADE". Neste exemplo, se a condição fosse "levar minha filha à escola durante 10 anos", seria como se fosse uma compra e venda, pois o custo de levar por 10 anos seria igual ou maior do que o valor do bem "doado". Art. 539: O SILÊNCIO "NÃO" GERA ANUÊNCIA na doação com ENCARGO. Como na doação com encargo temos um contrato ONEROSO, podem-se aplicar os institutos do VÍCIO REDIBITÓRIO e da EVICÇÃO. Exemplo: no carro doado para levar a menina à escola, e o carro não funciona. O donatário pode pedir para o doador CONSERTAR o carro. Se não houver PRAZO, o donatário devedor deve ser constituido em mora, notificado: você tem 24 horas para aceitar, caso contrário irei REVOGAR - e não "anular" - a doação.

Page 54: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 54

5 - DOAÇÃO REMUNERATÓRIA: É aquela que tem por trás uma OBRIGAÇÃO "NATURAL": aquela que NÃO PODERIA SER EXIGIDA EM JUÍZO. O direito existe, mas não se pode exigir em juízo. Exemplo: DÍVIDA DE JOGO. Dívida prescrita. Exemplo: a pessoa faz algo por você, mas não cobra e você decide “retribuir” aquele favor com alguma coisa; como um médico que lhe salva a vida e não lhe cobra. Você resolve doar um automóvel para ele, por gratidão; é uma "compensação" por um benefício recebido. É um gesto de AGRADECIMENTO; não existe cobrança por parte do donatário; é uma "liberalidade".

Aula do dia 17/5/2005 6 - DOAÇÃO POR SUBVENÇÃO PERIÓDICA O doador se compromete a transferir ao donatário, POR DETERMINADO PERÍODO, e PERIODICAMENTE, determinada coisa. Exemplo: a pessoa que se compromete a fornecer a outra uma cesta básica por uns dois anos, até a outra conseguir um emprego. Outro exemplo: o valor da mensalidade escolar. Esta modalidade tem em vista a "personalidade", ou seja, a pessoa do donatário. Significa: morrendo o doador ou o donatário, "cessa" a doação; não se transfere aos herdeiros do doador essa obrigação.

Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário.

Leitura do Art. 545. Entretanto, nada impede que o doador deixe em seu testamento a sua vontade de que o donatário continue recebendo a doação após sua morte. Com a morte do donatário, também cessa a obrigação de doar. 7 - DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE RETORNO, ou Cláusula de REVERSÃO

Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário.

Esta situação é aquela em que se o donatário falecer ANTES DO DOADOR, a coisa dada em doação VOLTA ao patrimônio do doador. Exemplo: faço doação de uma casa a um irmão; mas, se esse irmão falecer antes de mim, a casa voltará para o meu patrimônio, não integrando a herança desse irmão.

É diferente de USUFRUTO!! A doação é - em regra - um ATO SOLENE, ou formal, porque exige documentos para se concretizar. As EXCEÇÕES à regra: Art. 541 CC - Parágrafo ÚNICO: versa sobre doação verbal de bens de pequeno valor.

Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.

O que é coisa de "pequeno valor"? Em cada caso concreto se avalia isso, levando-se em conta o PATRIMÔNIO DO DOADOR. Exemplo: quando o Ayrton Senna deu para a Adriane Galisteu um Uno Mille. [Por isso, ao fazer uma doação de um presente de maior valor a namoradas e "amantes", o doador, para se proteger, não deveria dar nenhum cartão assinado, etc., que poderia servir de prova para aquela "doação". Se não houver essa prova, o doador poderá pedir a reintegração de posse da coisa.] Art. 544 Venda de ascendente a descendente: o legislador quis proteger os direitos dos demais herdeiros, para evitar que um pai beneficie um filho em detrimento dos outros. A regra é essa, do Art. 544: quando o pai morrer, o filho que tiver recebido algo antecipado, terá de trazer de volta o bem recebido à colação, a fim de não prejudicar nenhum outro herdeiro necessário. O legislador permite, por outro lado, que o ascendente doe, da sua METADE DISPONÍVEL (legítima), A QUEM ELE QUISER, sem a necessidade de trazer de volta à colação. Exemplo: se um casal tem 500.000 de patrimônio, a "metade disponível" será de 125.000 (checar esta informação com o professor). Não confundir METADE DISPONÍVEL para efeitos de herança, com a MEAÇÃO DO CÔNJUGE - que tem METADE do patrimônio. Ao fazer essa opção, o doador ascendente deverá fazer constar da doação que ela se trata da METADE DISPONÍVEL DELE. Esta é uma possibilidade de um ascendente beneficiar um descendente. Art. 2005 - COLAÇÃO.

Page 55: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 55

Como vamos analisar se o doador ULTRAPASSOU ou NÃO sua metade disponível? É no momento da doação, e NÃO no momento da morte do doador.

RESTRIÇÕES DO DOADOR Art. 548 e seguintes: DOAÇÃO UNIVERSAL, ou de TODO o patrimônio do doador. O doador NÃO PODE DOAR TUDO O QUE TIVER; ele deverá manter no mínimo o necessário para a sua própria sobrevivência. Se o bem doado for divisível, será nula apenas a parcela doada que seja necessária para a sobrevivência. DOAÇÃO COM USUFRUTO: transfere-se a propriedade para alguém, mas continua tendo alguns direitos, como o uso e o gozo; o doador poderá morar no imóvel doado, cobrar aluguel, etc. Exceção à doação universal: a pessoa doadora recebe alguma vantagem que possibilita a sobrevivência dela, como por exemplo no caso de o doador receber alguma pensão do Estado que lhe permita a sobrevivência. Ou, então, outra exceção: a DOAÇÃO COM ENCARGO, em que o doador doa todo o seu patrimônio, mas o encargo ao donatário será prover o sustento da pessoa. Art. 549: somente a METADE do patrimônio "pertence" aos HERDEIROS NECESSÁRIOS que têm apenas, na realidade, uma mera "expectativa" de direito de herança.

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

A lei apenas proíbe que uma pessoa deixe, para terceiros, MAIS do que a METADE dos bens. E quem NÃO TEM NENHUM HERDEIRO? O limite só se aplica se o doador tiver HERDEIROS NECESSÁRIOS: descendentes, ascendentes, e o cônjuge - agora, pelo novo Código Civil. Aquele que não tem herdeiros necessários não pode doar TUDO pela proibição legal da "doação universal". Doação para animais: os animais - caes, gatos, e bichos de estimação de todo gênero - não têm capacidade de adquirir direitos. Assim, o que se pode fazer é uma DOAÇÃO COM ENCARGO: doa-se um montante para alguém, com o encargo de cuidar daquele animal, provendo isso e aquilo, mais os mimos X e Y, etc., caso contrário a doação será desfeita. Art. 550 – leitura

Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

Cuida da proibição de doação de uma pessoa casada à sua companheira/seu companheiro. É o caso do/da AMANTE. O legislador proíbe isso. Os herdeiros têm legitimidade para ANULAR esse tipo de doação. Por isso, quando se deseja doar algo ao AMANTE, acaba ocorrendo SIMULAÇÃO DE VENDA ao amante. Ato simulado gera NULIDADE DO ATO JURÍDICO. Exemplo: "vende-se" por cinco mil reais (mediante simulação) uma casa que vale cem mil reais. A discussão toda está em torno da SEPARAÇÃO DE FATO: os cônjuges já não vivem juntos, mas ainda não se separaram. E em caso de UNIÃO ESTÁVEL: equipara-se a união estável ao casamento. O problema é PROVAR a união estável. DOAÇÃO ENTRE OS CÔNJUGES A princípio, sim, é válido. Só não se permite em duas hipóteses: 1 - Se o regime de casamento for o de COMUNHÃO UNIVERSAL: a doação não teria efeitos. 2 - Situações em que o homem acima de 60 anos, é obrigado por LEI a adotar o regime da SEPARAÇÃO DE BENS. Aqui também não se permite doação, caso contrário seria "burlada" a lei, a vontade de proteger do legislador.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO Art. 555 Cód. Civil - leitura

Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo.

DUAS HIPÓTESES DE REVOGAÇÃO: 1 - Descumprimento do encargo: se o donatário NÃO cumprir o encargo, entra-se com a AÇÃO REVOCATÓRIA, que é personalíssima - só o doador pode entrar com a ação, pois só ele tem "legitimidade ativa". Seus herdeiros não têm legitimidade, somente podendo "prosseguir" na ação já iniciada pelo doador, em caso de morte deste. Se o encargo for do tipo que beneficia a COLETIVIDADE, em que o favorecido é um terceiro/público, o MP tem legitimidade na ação. 2 - É NULA a cláusula contratual onde há renúncia prévia ao direito de revogar tal doação. A nulidade é da cláusula que prevê PREVIAMENTE a revogação. Mas o doador pode, DEPOIS de a doação se formalizar, abrir mão do direito de reaver o bem doado.

Page 56: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 56

Art. 557: doação por ingratidão. As hipóteses aqui são TAXATIVAS: são "apenas" estas hipóteses, dos QUATRO INCISOS do 557. Os três primeiros incisos se referem a CRIMES. O inciso IV: não é ingratidão praticar o ato "somente" contra o doador, e sim também se a ingratidão for contra irmão, pai, mãe do doador. Prazo DECADENCIAL da AÇÃO REVOCATÓRIA: UM ANO. Se o donatário NÃO TIVER MAIS a coisa, ele terá de DEVOLVER ao doador o EQUIVALENTE EM DINHEIRO.

Aula do dia 18/5/2005 Art. 565 e seguintes do CC

LOCAÇÃO O que é o contrato de locação? Conceito no Art. 565.

CAPÍTULO V - Da Locação de Coisas Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.

Uma pessoa entrega algo a alguém algo NÃO-FUNGÍVEL. O locatário recebe a POSSE de uma coisa para usufruir dessa coisa DURANTE UM PERÍODO DE TEMPO, tendo por contraprestação o pagamento do chamado “aluguel”, ou “alugueres”. É comum usar como sinônimo o termo "arrendamento". A distinção é que o ARRENDAMENTO está ligado à locação de IMÓVEL RURAL. E, LOCAÇÃO, REFERE-SE A "QUALQUER" COISA. No CC antigo tínhamos TRÊS modalidades. Por isso é que o Novo CC solucionou o problema, e deixa APENAS A LOCAÇÃO DE "COISA" COMO LOCAÇÃO, retirando a empreitada e a prestação de serviço. Apesar de o CC continuar se referindo à "prestação de serviço", é a "exceção da exceção", pois ou está ligado ao direito do trabalho, ou ao Codecon (Código de Defesa do Consumidor). O CC manteve a tradição, ultrapassada, falando desses casos.

CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO 1 - Contrato BILATERAL: ambos os contratantes têm prestações recíprocas. Existe prestação e contraprestação para ambos os contratantes.

2 - Contrato ONEROSO: necessariamente a locação é onerosa. A onerosidade é fundamental, pois se fosse retirada, seria COMODATO (comodato = empréstimo gratuito de coisa não-fungível). 3 - Contrato CONSENSUAL: é aquele que se perfaz pela manifestação de vontade das partes; não há necessidade de nenhuma formalidade. Pode-se fazer "de boca" um contrato de locação de um imóvel de 10 milhões de reais, ou de uma Ferrari. 4 - Contrato COMUTATIVO: porque as partes sabem, de antemão, quais serão as prestações e contraprestações. Não existe risco, álea, ou SORTE. 5 - O bem é NÃO-FUNGÍVEL: não pode ser substituído por outro da mesma quantidade, qualidade e gênero. E se for BEM FUNGÍVEL: será MÚTUO. O que distingue LOCAÇÃO de MÚTUO é que o bem da Locação é não-fungível, e no mútuo é fungível. O CC cuida da locação de COISAS EM GERAL. Se formos locar um carro, na Hertz por exemplo, o contrato será regido pelo CC, e também, se for relação de consumo, será pelo Codecon. Existe uma lei específica que regulamenta a LOCAÇÃO DE BENS IMÓVEIS: é a Lei de Locação, ou Lei do Inquilinato - Lei 8245/91. Tudo o que veremos hoje diz respeito ao contrato de locação do CÓDIGO CIVIL, que pode DIFERIR para casos de locação de BEM IMÓVEL. São TRÊS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS: 1 - A Coisa: não há novidade 2 - O Preço: 3 - O Tempo: NÃO EXISTE LOCAÇÃO "ETERNA". Toda locação deve ser feita durante um tempo, que pode ser determinado ou determinável; mas, SEMPRE TERÁ UM FIM. O legislador também NÃO PREVÊ nenhum prazo; só não pode ser eterno o contrato, senão não será válido. Qual a ação que se propõe no caso de inadimplemento? AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. Como o locador ENTREGOU a coisa, o pedido é CUMULADO COM "REINTEGRAÇÃO DE POSSE". Pede-se que o contrato seja rescindido, além da devolução da coisa. Se estivermos diante da Locação da Lei 8245, será a AÇÃO DE DESPEJO. Aqui, refere-se à obrigação de BEM IMÓVEL da Lei 8245, não interessa o despejo para que fim; importa que é ação de DESPEJO.

Page 57: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 57

Leitura do Art. 573.

Art. 573. A locação por tempo determinado cessa de pleno direito findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso.

Isto significa: se eu alugar um carro por um mês, depois desse mês, AUTOMATICAMENTE o contrato estará rescindido. Se o bem não for devolvido, não é mais RESCISÃO, e sim REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Mas se o locador não PEDIR DE VOLTA o bem, o contrato fica PRORROGADO POR PRAZO INDETERMINADO. Se o prazo for DETERMINADO, não há necessidade de NOTIFICAR a pessoa. Se o contrato "for" ou "estiver" por PRAZO INDETERMINADO, haverá a necessidade de NOTIFICAR o locatário - Art. 574.

Art. 574. Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação pelo mesmo aluguel, mas sem prazo determinado. Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito. Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade.

Art. 575: hipótese em que o locador NOTIFICA o locatário, e este NÃO devolve. Obviamente, a conseqüência é que o locador pode pedir a coisa de volta. Só se aplica ao contrato de locação de COISA, e não de imóvel. O locador poderá exigir um PREÇO de locação que bem entender, e tem CARÁTER PUNITIVO: em vez de $500/mês, vou querer $500/dia!! Entretanto, tal estipulação PUNITIVA pode ser REDUZIDA PELO JUIZ se este a achar ABUSIVA. Discussão sobre a locação de FLATs, apart-hotéis, etc.. Art. 1º, inciso IV. Esta situação NÃO SE ENQUADRA na Lei 8245. Se o locatário firmar um contrato por dois meses, no balcão, com o "pool" do flat, é um contrato de HOSPEDAGEM. Por outro lado, pode-se locar um FLAT de uma pessoa física: aqui, será contrato de locação, que NÃO INCLUI SERVIÇO DE HOTELARIA. Art. 577: havendo a morte de um dos contratantes, o contrato SE TRANSFERE aos herdeiros, que continuam como locatários. Quais são as OBRIGAÇÕES das partes:

Obrigações do LOCADOR: a obrigação principal é entregar a coisa. Mas responde por vício redibitório e por evicção. O carro que for alugado, deverá estar funcionando, sob pena de vício redibitório; se o ar-condicionado não funcionar, pode-se pedir ABATIMENTO DE PREÇO. Se o carro for roubado: EVICÇÃO. Obrigações do LOCATÁRIO: 1 - Pagar os alugueres 2 - Devolver a coisa quando findo o contrato; 3 - Devolver a coisa no MESMO ESTADO em que foi recebida, resguardando o desgaste pelo uso normal da coisa. Pode o locador VENDER A COISA no curso do contrato de locação? PODE SIM! Nada impede o locador de vender a coisa alugada - Art. 576: a princípio, QUEM COMPROU PODE PEGAR A COISA DE VOLTA, observados os requisitos aplicáveis. Exemplo: coloca-se uma CLÁUSULA no contrato segundo a qual se o bem for alienado, o contrato não poderá/poderá ser rescindido. É NECESSÁRIO FAZER UM CONTRATO ESCRITO, E REGISTRÁ-LO, caso contrário o locatário poderá perder o bem para o novo proprietário. Qual é o prazo que deve ser concedido ao LOCATÁRIO? 90 DIAS - Art. 576.

Art. 576. Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro. § 1o O registro a que se refere este artigo será o de Títulos e Documentos do domicílio do locador, quando a coisa for móvel; e será o Registro de Imóveis da respectiva circunscrição, quando imóvel. § 2o Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão observado o prazo de noventa dias após a notificação.

A questão do DIREITO DE RETENÇÃO, por benfeitorias - melhorias feitas na coisa a fim de manter o uso, melhorar sua utilidade ou acrescentar alguma coisa. O locatário tem direito a ser INDENIZADO pelas benfeitorias ÚTEIS ou NECESSÁRIAS. Exemplo: alugo um carro, ocorre um problema no motor, e eu conserto. Voltando à Hertz, por exemplo, peço a indenização daquele conserto. Se a Hertz não concordar, TENHO O DIREITO DE RETER A COISA - direito de retenção.

Art. 578. Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção, no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas com expresso consentimento do locador.

Aula do dia 23/5/2005

Page 58: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 58

LOCAÇÃO - continuacao

Lei de Locação de Bens Imóveis - Lei 8245/91

(ou “Lei do Inquilinato”) Esta lei aplica-se a IMÓVEL URBANO. O Artigo 1º já especifica o que NÃO é regido por esta lei, sendo regido ou pelo Cód. Civil ou por leis especiais. O que se entende por imóvel URBANO? Não interessa a LOCALIZAÇÃO do imóvel, e sim sua DESTINAÇÃO. Se o imóvel não se destinar a atividades agropecuárias, será ele URBANO. O que é importante ao falar de LOCAÇÃO de imóvel? É a denúncia VAZIA ou DENÚNCIA CHEIA: relacionado ao fato de o inquilino poder deixar o imóvel sem ter de dar nenhuma justificativa. Segundo a lei antiga (CC 1916), não havia denúncia VAZIA: mesmo que terminasse o prazo, o locador somente poderia pedir o imóvel de volta se preenchesse alguns requisitos previstos na lei de locação antiga. Somente provando tais justificativas ele poderia reaver a posse de seu imóvel. De tanto querer proteger o locatário, ele acabava prejudicando o locador. Lei antiga: 6649. Já a lei nova, 8245/91, permite a chamada denúncia VAZIA, ou DENÚNCIA IMOTIVADA: consiste em que, FINDO O PRAZO, O LOCADOR PODE PEDIR O IMÓVEL AO LOCATÁRIO, observados alguns requisitos. Leitura do Art. 46.

Seção I - Da locação residencial (Lei 8.245/91) Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resolução do contrato ocorrerá findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. § 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado por mais de trinta dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do contrato. § 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação.

Requisitos da denúncia VAZIA: contrato RESIDENCIAL feito POR ESCRITO, com PRAZO IGUAL OU SUPERIOR A 30 MESES. É válido o contrato de locação VERBAL? SIM. Qual a conseqüência? Não se poderá pedir denúncia vazia. Exemplo: firma-se um contrato de locação por 3 anos. Depois desse prazo, não é necessário apresentar

nenhuma justificativa. Depois desse prazo, se o locador não pedir o imóvel de volta nem o locatário o devolver, o contrato passa a vigorar COM PRAZO INDETERMINADO, o que irá exigir NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. Qual a desvantagem do locatário que permanece no imóvel por prazo indeterminado? O locador pode PEDIR O IMÓVEL a qualquer momento, e ele terá de sair. Assim, o ideal seria fazer OUTRO CONTRATO com o locador, para se precaver. O ideal, sempre, é firmar um contrato por 30 meses, dispondo que, caso o locatário quiser sair do imóvel, não haverá nenhuma multa. Art. 47 da Lei 8245: "extinção do contrato de trabalho". É o caso do ZELADOR que, quando mandado embora, extingue-se a locação. Outro caso: a pessoa que mora no Rio e trabalha em São Paulo. Todas estas hipóteses do Art. 47 eram as hipóteses da denúncia CHEIA da lei antiga. Art. 9: "por falta de pagamento...". Óbvio: se o locatário não pagou o aluguel, move-se uma ação contra ele.

Art. 9º (Lei 8.245) A locação também poderá ser desfeita: I - por mútuo acordo; II - em decorrência da prática de infração legal ou contratual; III - em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; IV - para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti-las.

Sempre que o contrato for verbal ou escrito inferior a 30 meses, a denúncia cheia só poderá ocorrer nas hipóteses previstas em lei. Art. 17: preço. Este artigo diz que o valor do aluguel É LIVRE: as partes podem fixar o que bem entederem. A lei só proíbe que o valor seja fixado em moeda estrangeira. E a CORREÇÃO/AUMENTO do aluguel? Art. 18: pelo pressuposto da autonomia da vontade, as partes podem a qualquer momento alterar o valor do aluguel, para mais ou para menos - DESDE QUE AMBOS CONCORDEM. Se não houver acordo entre as partes, o reajuste será ANUAL, pelos índices inflacionários previstos no contrato, ou então na lei: INPC, IGP-M, etc. NÃO se pode fixar aluguel em um valor ATRELADO AO SALÁRIO MÍNIMO.

Page 59: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 59

Qual a conseqüência do fato de o LOCATÁRIO NÃO PAGAR O ALUGUEL? O locador pode mover uma ação de DESPEJO: Art. 62. Nesta hipótese, faz-se um PEDIDO CUMULATIVO, matéria de Processo Civil. Em toda ação existe um PEDIDO. O CPC permite que haja "pedidos cumulativos": pede-se uma coisa E OUTRA. Cumula-se o PEDIDO DE DESOCUPAÇÃO COM O PEDIDO DE COBRANÇA. Dessa forma, o autor terá de juntar à petição um cálculo pormenorizado dos valores que estão em atraso, com o total pendente. Por quê? Para POSSIBILITAR o réu PURGAR A MORA (ou seja: QUITAR A DÍVIDA). Se o réu purgar a mora, ele EVITA o despejo. Desde que essa Lei 8245 de 1991 entrou em vigor, os tribunais passaram a ter o seguinte entendimento: Antigamente, se o valor do aluguel era R$1.000, mas o locador cobrava 1.100: o juiz extinguia a ação, por erro no valor, acarretando em prejuízo. Agora, pela nova lei (8245), se o juiz julgar a ação PROCEDENTE, aqueles 1.000 serão recebidos. Qualquer valor adicional será pago posteriormente, se aplicável. RECURSOS em geral: têm os seguintes EFEITOS normais: - Suspensivo: ele SUSPENDE A EFICÁCIA da sentença. - Devolutivo: TODO recurso tem - este, devolve ao tribunal a reapreciação daquela questão. "Todo recurso tem efeito devolutivo. A REGRA É: que os recursos tenham os EFEITOS devolutivo e suspensivo. O recurso pode NÃO TER somente o EFEITO SUSPENSIVO. Numa APELAÇÃO, demora em média 4-5 ANOS PARA "DISTRIBUIR". Por isso se diz que a "Justiça é aliada dos picaretas"; um "bom" advogado “segura” uma ação por dez anos. Com base na lei antiga, NINGUÉM QUERIA MAIS ALUGAR IMÓVEL; de tanto querer proteger, a lei acabava gerando desproteção. A LEI, hoje, tem efeito meramente DEVOLUTIVO. Não é necessário aguardar a reanálise pelo Tribunal, mas é uma SITUAÇÃO PROVISÓRIA, pendente da análise pelo Tribunal. Se o juiz julgar PROCEDENTE a ação, automaticamente pode-se entrar com uma ação. Para

tentar "diminuir" o prejuízo do locatário, se restar provado que este não descumpriu nada, a lei EXIGE UMA CAUÇÃO/GARANTIA, equivalente a 12 meses do valor do aluguel, a título de garantir um valor de indenização para o locatário. Esta CAUÇÃO para EXECUÇÃO PROVISÓRIA não precisa ser em DINHEIRO. A doutrina/jurisprudência autoriza que tal caução seja REAL: o próprio imóvel locado é dado em garantia, na hipótese de o locatário ter sido prejudicado com aquela ação. REFERENTE AO PREÇO: anualmente, o aluguel pode ser reajustado: reajuste LEGAL. Além disso, a lei autoriza a ambas as partes, 3 anos a partir do contrato ou do último ACORDO que elevou ou diminuiu o valor do aluguel: ou o locador ou o locatário pode propor uma AÇÃO REVISIONAL do ALUGUEL (matéria de prova): ela visa a recolocar o valor locativo DENTRO DOS PARÂMETROS DO MERCADO. Isto se faz, depois de três anos, se o locador e o locatário não chegarem a nenhum acordo. O juiz nomeia um PERITO, para avaliar, por um laudo, o VALOR DE MERCADO, e com base nesse laudo o juiz vai determinar um NOVO VALOR LOCATIVO. Estes exemplos acima dizem respeito à ação MOVIDA PELO LOCADOR. Hoje em dia, tem ocorrido o seguinte: pela GRANDE oferta de imóveis no mercado, o VALOR DOS ALUGUÉIS, NA PRÁTICA, TEM DIMINUIDO. O vizinho, freqüentemente, ainda está alugando um imóvel semelhante por metade do preço (comparado ao preço em vigor num contrato de locação mais antigo). O locatário pode entrar com uma AÇÃO REVISIONAL. O objetivo é sempre recolocar o valor no parâmetro de mercado. Em primeira instância, uma ação revisional em média demora de seis a doze meses. Depois da sentença do juiz, o valor reajustado passa a valer a contar do prazo em que o contrato de locação completa TRÊS ANOS. É o juiz que vai FIXAR O VALOR EFETIVO DE MERCADO. A revisão é A CONTAR: ou do CONTRATO, ou do ÚLTIMO ACORDO, que reajustou o valor dos aluguéis ACIMA DOS ÍNDICES OFICIAIS. Exemplo: contrato assinado em 12/01/2004. Em janeiro de 2005 o reajuste oficial aumentou o valor para 1.100, dos 1.000 oficiais. Em marco de 2005, as partes reajustaram o valor para 1.500. Na realidade, o juiz avalia, em cada caso concreto, se houve um "reajuste" ou um "arredondamento" de valor.

Page 60: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 60

Art. 48: LOCAÇÃO PARA TEMPORADA. Toda aquela em que o prazo para locação NÃO ULTRAPASSA NOVENTA DIAS, e tem como FIM: TEMPORADA. É sinônimo de FÉRIAS. Mas pode-se alugar um imóvel para temporada em São Paulo também. Exemplo: casa da praia. Qual a distinção entre contrato de TEMPORADA e o CONTRATO NORMAL? No contrato NORMAL, É "CRIME" a cobrança ANTECIPADA DO ALUGUEL. Somente na TEMPORADA, pode-se cobrar ANTECIPADAMENTE o valor não só das mensalidades, mas de TODO O VALOR. Findo o prazo desse contrato por temporada, o locatário deve DEVOLVER O IMÓVEL IMEDIATAMENTE, sob pena de o locador mover uma ação pedindo a devolução. Se nenhuma das partes se manifestar, o contrato torna-se DE PRAZO INDETERMINADO, passando a PAGAR POR MÊS "VENCIDO", passando a ser regido pelas regras do contrato de locação RESIDENCIAL. É caso de "contravenção penal": Art. 43 da lei 8.245/91.

Art. 43. Constitui contravenção penal, punível com prisão simples de cinco dias a seis meses ou multa de três a doze meses do valor do último aluguel atualizado, revertida em favor do locatário: I - exigir, por motivo de locação ou sublocação, quantia ou valor além do aluguel e encargos permitidos; II - exigir, por motivo de locação ou sublocação, mais de uma modalidade de garantia num mesmo contrato de locação; III - cobrar antecipadamente o aluguel, salvo a hipótese do art. 42 e da locação para temporada.

Não confundir PAGAMENTO ANTECIPADO com CAUÇÃO/GARANTIA DO ALUGUEL.

QUESTÃO DA VENDA DO IMÓVEL ALUGADO O imóvel locado pode ser vendido pelo locador? Em regra: PODE SIM. Quando o locatário se protege dessa venda? Quando o contrato estiver POR ESCRITO e REGISTRADO em cartório. O comprador, novo proprietário, terá de respeitar essa locação. Artigos 10 e 11: SUCESSÃO NO CONTRATO. Se locador ou locatário morrerem, o contrato SE PRORROGA com os respectivos herdeiros. Se a locação for feita a um casal - e também união estável: em caso de separação do casal, o imóvel e o contrato de locação ficarão com a pessoa que permanecer residindo no imóvel. Art. 13: SUBLOCAÇÃO. Alugo meu imóvel a Maria, que faz outro contrato de locação ao Pedro, que pode ser total ou parcial. É muito comum em postos de gasolina. A Shell aluga um terreno para fazer um posto de gasolina, e

depois subloca ao João, que desenvolverá a atividade de revenda de combustíveis.

Art. 13. A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo do imóvel, total ou parcialmente, dependem do consentimento prévio e escrito do locador. § 1º Não se presume o consentimento pela simples demora do locador em manifestar formalmente a sua oposição. § 2º Desde que notificado por escrito pelo locatário, de ocorrência de uma das hipóteses deste artigo, o locador terá o prazo de trinta dias para manifestar formalmente a sua oposição.

Só é possível a sublocação se houver a CONCORDÂNCIA PRÉVIA E EXPRESSA DO LOCADOR. Para a SUBLOCAÇÃO, NÃO HÁ HIPÓTESE DE CONCORDÂNCIA "TÁCITA"; deve ela ser "expressa". Além disso: Art. 21. O valor da sublocação NÃO PODE JAMAIS SER SUPERIOR AO VALOR DA LOCAÇÃO original. No máximo, deve ser IGUAL ao valor da locação.

Art. 21. O aluguel da sublocação não poderá exceder o da locação; nas habitações coletivas multifamiliares, a soma dos aluguéis não poderá ser superior ao dobro do valor da locação. Parágrafo único. O descumprimento deste artigo autoriza o sublocatário a reduzir o aluguel até os limites nele estabelecidos.

É o caso da sublocação do McDonalds aos franqueados, que depende do valor do FATURAMENTO. Normalmente, esse valor da sublocação EXCEDE o valor da locação. Existe uma corrente que quer desvincular a lei da locação à lei da franquia, mas, por enquanto, essa prática do McDonalds é ILEGAL!! Da mesma forma que o locatário não pode sublocar sem o consentimento do locador, NÃO pode o locatário fazer REFORMAS sem esse consentimento. PREFERÊNCIA do locatário na compra do imóvel. Se o locatário for prejudicado/preterido, ele pode entrar com uma ação de ADJUDICAÇÃO, desde que mova tal ação dentro do prazo de 180 dias. BENFEITORIAS: toda OBRA feita pelo ser humano à coisa. Existem três tipos de benfeitorias. 1 - Necessárias: preservam o imóvel, evitam a deterioração da coisa. 2 - ÚTEIS: aumentam o valor da coisa, bem como o uso/comodidade da coisa: garagem, mais um quarto. A piscina pode ser útil para uns, e para outros não - há certa divergência na doutrina.

Page 61: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 61

3 - VOLUPTUÁRIAS: Artigo 35 da Lei de Locação: leitura. Norma DISPOSITIVA: "salvo disposição em contrário". A princípio, o locatário tem direito a indenização pelas benfeitorias necessárias, e nas úteis quando autorizado pelo locador. As benfeitorias também garantem o DIREITO DE RETENÇÃO DO IMÓVEL PELO LOCATÁRIO que não for indenizado. TODO contrato de locação tem uma cláusula prevendo que TODAS as benfeitorias serão incorporadas ao imóvel sem o locatário ter direito a ser indenizado. Estas cláusulas SÃO válidas sim. Artigo 23, inciso IV.

Art. 23. O locatário é obrigado a: IV - levar imediatamente ao conhecimento do locador o surgimento de qualquer dano ou defeito cuja reparação a este incumba, bem como as eventuais turbações de terceiros;

Aula do dia 24/5/2005

GARANTIAS AO CONTRATO DE LOCAÇÃO I - CAUÇÃO: pode ser real ou fideijussória. O locador pode pedir ADIANTADO a quantia de TRÊS alugueres. Este dinheiro dado em garantia, teoricamente deveria ir para uma conta. Mas, no FINAL do contrato, se for cumprido na íntegra, tal quantia deverá ser DEVOLVIDA ao locatário. CAUÇÃO REAL: é um BEM que pode ser oferecido como garantia pelo locatário ao locador. II - FIADOR: é uma pessoa que GARANTE, assume a responsabilidade caso o devedor principal não cumpra a sua obrigação de pagar. Se o locatário não pagar, o proprietário pode cobrar do fiador. Existe o BENEFÍCIO DE ORDEM, a princípio: o credor/locador deve tentar cobrar primeiramente do LOCATÁRIO; somente se não tiver sucesso, poderá ele cobrar do fiador. Na PRÁTICA - e é válido porque a norma é DISPOSITIVA - é colocada uma cláusula no contrato dispondo que o fiador e o locatário assumem SOLIDARIAMENTE a responsabilidade pelo pagamento dos alugueres, abrindo mão desse benefício de ordem III - FIANÇA BANCÁRIA: "seguro-fiança". É relativamente novo, e ainda pouco utilizado: cerca de apenas 6%. Isso porque o locatário CONTRATA UMA SEGURADORA que assume a responsabilidade em caso de descumprimento do contrato. Qual é a ÚNICA desvantagem? Esta garantia é CUSTOSA para o locatário.

É CRIME O LOCADOR EXIGIR MAIS DO QUE UMA MODALIDADE DE GARANTIA dentre as indicadas ACIMA, do Artigo 37 da Lei 8245.

Art. 37. No contrato de locação, pode o locador exigir do locatário as seguintes modalidades de garantia: I - caução; II - fiança; III - seguro de fiança locatícia. Parágrafo único. É vedada, sob pena de nulidade, mais de uma das modalidades de garantia num mesmo contrato de locação.

Normalmente, o fiador assume a responsabilidade de garantia; entretanto, como ficam as garantias quando o contrato se prorroga por PRAZO INDETERMINADO? O entendimento dominante é que o fiador continuaria obrigado. Entretanto, o novo Código Civil abriu a possibilidade de o FIADOR PEDIR A EXONERAÇÃO DA FIANÇA, e o locador pode exigir outro tipo de garantia para suprir a eventual falta. Sobre a Lei 8.009 - Art. 3, inciso VI. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA.

Art. 3º (Lei 8.009/90) A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

Conselho do professor: "nunca sejam fiadores de ninguém". É a maior "fria/roubada" que existe. Caso algum fiador apresente um BEM DE FAMÍLIA para garantir um contrato de locação, ESSE FIADOR VAI PERDER O SEU ÚNICO BEM DE FAMÍLIA SIM!! A questão da impenhorabilidade era pacífica, até uns 29 DIAS ATRÁS, quando o STF, em julgado do Moreira Alves, entendeu que é INCONSTITUCIONAL esse artigo, por violar o princípio da dignidade da pessoa humana. Nada impede, entretanto, que tal entendimento do STF mude. Outra hipótese: quando locador e locatário pactuam um AUMENTO do aluguel, o fiador NÃO fica obrigado a cobrir aquele novo valor. Artigo 43, inciso II - Lei de Locação: exigir MAIS DE UMA MODALIDADE DE GARANTIA É CRIME. =====================

Page 62: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 62

A LEI DA LOCAÇÃO CUIDA TAMBÉM DA LOCAÇÃO COMERCIAL / NÃO RESIDENCIAL As diferenças: - Na locação COMERCIAL existe SEMPRE a hipótese de DENÚNCIA VAZIA (pode-se pedir o imóvel sem justificar o motivo), não havendo limitação de prazo. - Sempre que o contrato de locação comercial for feito por escrito e com prazo SUPERIOR A CINCO ANOS, o locatário pode pedir a RENOVAÇÃO do contrato de locação por OUTRO PRAZO IGUAL. Assim, o locatário fica PROTEGIDO, se ele fizer grandes investimentos para ocupar o imóvel. Esta norma é COGENTE: é nula a cláusula que impeça o locatário de pedir a renovação do contrato por igual prazo.

Art. 51 (Lei 8.245). Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos. § 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário. § 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade. § 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio sobrevivente fica sub-rogado no direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo. § 4º O direito a renovação do contrato estende-se às locações celebradas por indústrias e sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo. § 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.

REQUISITOS para a RENOVAÇÃO do contrato, em contratos de locação COMERCIAIS / NÃO-RESIDENCIAIS:

1 – O Contrato deve ser celebrado por escrito; 2 – Prazo mínimo de CINCO ANOS; 3 – O locatário deverá exercer a MESMA ATIVIDADE nos últimos TRÊS ANOS; 4 – O locatário deve estar em dia com suas obrigações contratuais. É muito comum se exigir que o locatário faça SEGURO sobre o imóvel, apenas para o locador poder alegar, em certo momento, o DESCUMPRIMENTO contratual pelo fato de o locatário se ter esquecido de fazer o seguro – o que é comum acontecer. Quando se pede a renovação do contrato, o locatário AUTOR da ação, deverá oferecer uma NOVA GARANTIA, ou então uma ANUÊNCIA dos FIADORES na prorrogação desse contrato. Não confundir AÇÃO REVISIONAL com AÇÃO RENOVATÓRIA. NO que toca à CESSÃO: A malandragem de alguns locadores: eles alugam por DOIS anos, e esperam passar alguns meses, e então fazem um OUTRO contrato por TRÊS-QUATRO ANOS. A jurisprudência entendeu que, caso transcorra apenas um pequeno lapso temporal entre um contrato e outro, sem que o locatário tenha saído do imóvel, é como se tivesse havido um único contrato, para justamente evitar que o locador burle/viole o direito do locatário pela AÇÃO RENOVATÓRIA. CESSÃO: o locatário aliena o bem - passa o imóvel "para frente" - a um novo dono do negócio. Quando ocorre a cessão do contrato, como fica o prazo? Exemplo: um locatário fica dois anos no imóvel, e o novo dono - cessionário - continua ocupando o mesmo imóvel por outros três anos. O entendimento é que O LOCATÁRIO CESSIONÁRIO tem sim a proteção da AÇÃO RENOVATÓRIA, desde que a mesma atividade tenha sido mantida naquele mesmo imóvel. Quando o locatário entra com a AÇÃO RENOVATÓRIA, um dos elementos essenciais é informar O VALOR QUE ELE PRETENDE PAGAR pela nova locação. Art. 52: DEFESA DO LOCADOR: 1 - Acerca do VALOR LOCATÍCIO. Neste caso, o juiz nomeia um perito para emitir um laudo sobre o VALOR. 2 - O réu pode contestar a ação, discordando da renovação em si, alegando que o locador ou seu ascendente ou descendente irá/irão usar aquele imóvel, MAS NÃO PODE SER PARA EXERCER A MESMA ATIVIDADE.

Page 63: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 63

Art. 55: Ao contrário do CC de 1916 Se o imóvel for locado para moradia de uma pessoa física, mas esta é funcionária de uma pessoa jurídica, a locação será NÃO RESIDENCIAL. É uma prática muito comum empresas alugarem imóveis para seus executivos ocuparem. Se por acaso o locatário quiser pagar os alugeres, e o locador não quiser receber, DEVE-SE MOVER UMA "AÇÃO CONSIGNATÓRIA de pagamento". Tanto o locatário como o sublocatário podem mover uma ação dessas. Ou seja: o sublocatário também tem alguns direitos perante o locador; embora ele esteja em relação jurídica direta com o locatário. Trata-se de prazo DECADENCIAL para propor AÇÃO RENOVATÓRIA: Parágrafo 5 do Art. 51. Como é DECADENCIAL, não se pode prorrogar para o dia útil seguinte. Lembrem-se: "decadência", o juiz reconhece de ofício, extinguindo o processo sem julgamento no mérito. Os advogados do locador costumam ir "enrolando" o locatário, até deixar o prazo passar. Portanto: nós, advogados, devemos ENTRAR COM AÇÃO RENOVATÓRIA logo, para evitar PERDER O PRAZO DECADENCIAL.

Aula do dia 30/5/2005

CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO CONCEITO: contrato pelo qual uma das partes entrega à outra uma coisa fungível ou infungível, com a obrigação de RESTITUÍ-LA. Este contrato tem por OBJETO a ENTREGA de uma coisa. Como somente se perfaz com a TRADIÇÃO, é contrato REAL. Antes da entrega, só poderia haver uma “promessa” de empréstimo. O Código Civil designa, com o vocábulo “empréstimo”, dois contratos importantes: o COMODATO e o MÚTUO. São muito diferentes, tendo em comum a ENTREGA de uma coisa.

COMODATO MÚTUO empréstimo para USO da coisa

empréstimo para CONSUMO

Restitui-se A PRÓPRIA COISA

Restitui-se COISA EQUIVALENTE

GRATUITO, em regra ONEROSO, em regra Comodatário: recebe só a POSSE, e não o domínio

Mutuário: recebe o DOMÍNIO (e assume os

riscos pela perda da coisa)

COMODATO: Conceito:

Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto.

Temos o comodante (que dá a coisa em comodato), e o comodatário – que recebe a coisa. Só há comodato quando se ENTREGA a coisa; esta entrega é REQUISITO para o aperfeicoamento do contrato. Portanto, é contrato REAL. O comodato tem origem na locução latina “commodum datum”, ou seja: “dado para ser cômodo” ao comodatário. É o empréstimo de uso. CLASSIFICAÇÃO: - Contrato GRATUITO: há umadiminuição no patrimonio do comodante, que abre mao, temporariamente, do uso de uma coisa. - Contrato UNILATERAL: se a entrega da coisa é "requisito", só existe obrigação principal pelo comodatário: de DEVOLVER a coisa. Exemplo: empresto um apartamento a alguém, que se obriga a pagar o imposto. Continua sendo comodato? SIM, pois as "despesas naturais do USO da coisa" não descaracterizam comodato. NÃO EXISTE "COMODATO ONEROSO"!!!! Quando passar a ser "oneroso", estaremos diante da LOCAÇÃO. No comodato, sempre precisamos atentar para a "contraprestação". Se esta for muito equivalente, deixará de ser comodato. A posse DIRETA fica com o comodatário, enquanto o comodante fica com a posse INDIRETA da coisa. Muitas vezes, o DONO é quem empresta; neste caso, ele vai manter a propriedade, o domínio. Mas pode acontecer de alguém dar em comodato - como "possuidor direto" - uma coisa que não lhe pertence. O comodatário JAMAIS pode adquirir a propriedade por USUCAPIÃO. Exemplo: empresto o carro a um amigo que disse precisar para sair de férias com a família, mas ele resolve participar de um "racha" de carros. Ele poderá ser responsabilizado por PERDAS E DANOS. A questão dos contratos verbais e escritos é sempre um problema, para PROVAR que de fato se trata de um COMODATO. É prática comum o comodatário alegar que não havia comodato, para USUCAPIR o bem.

Page 64: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 64

Artigo 580 do CC - leitura Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda.

Tutelados ou cutelados: pessoas que são ou foram INTERDITADOS, e a elas foi dado um tutor ou curador. O tutor ou curador SÓ poderá dar os bens deles em comodato MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, sob pena de o tutor ou curador responder por perdas e danos que tiver causado ao incapaz em geral. A obrigação do comodatário é: ENTREGAR a coisa, no mesmo estado em que a recebeu. O comodatário deverá cuidar da coisa recebida como se sua fosse, resguardado o desgaste pelo uso normal, porém no mesmo estado em que recebeu a coisa. Obrigações do comodatário:

1) Conservar a coisa como se sua fosse (Art. 582); 2) Usar a coisa de forma adequada; 3) Restituir a coisa

Quando o comodato tiver um PRAZO, findo esse prazo o comodatário passará a ter a OBRIGAÇÃO DE DEVOLVER, caso contrário incidirá em MORA (ex re), respondendo por CASO FORTUITO ou FORÇA MAIOR. O comodante, além disso, poderá estipular um VALOR A SER PAGO pelo comodatário durante o atraso na devolução da coisa. Independentemente disso, qual é o CAMINHO PROCESSUAL? Trata-se de ESBULHO: POSSE INDEVIDA. Portanto, cabe uma AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE (não é "manutenção” da posse, que é a "ameaça" de se perder a coisa). Diz-se "posse nova" quando o prazo ainda não passou de um ano e um dia. "Posse velha" é quando passa desse "ano e dia" que se está na posse indevida do bem. O "esbulho" se caracteriza pela "posse de má-fé", não necessariamente com violência contra a pessoa; a "violência" é contra a "coisa". A questão do TEMPO: o comodato pode ser por prazo determinado ou indeterminado. Se o contrato de comodato for OMISSO, PRESUME-SE que o comodatário persistirá com a posse enquanto continuar sua necessidade de manter a posse. É assunto "delicado", pois se pode alegar que o "prazo necessário" continua existindo. O comodante pode, entretanto, pedir a devolução da coisa. A MORA do DEVEDOR, em comodato por prazo INDETERMINADO, caracteriza-se pela NOTIFICAÇÃO ao comodatário. O comodatário pode USAR a coisa, enquanto que, no DEPÓSITO, a pessoa NÃO PODE USAR A COISA. Pensemos na hipótese de um DEPÓSITO GRATUITO,

em que haja permissão para o depositário USAR a coisa: é uma EXCEÇÃO. Vamos distinguir um instituto do outro porque, no COMODATO, o prazo corre em benefício do comodatário; por outro lado, no DEPÓSITO o prazo corre em benefício do depositante - e não do depositário. O comodatário deverá DEVOLVER A COISA COM TODOS OS FRUTOS que a coisa rendeu, devendo ser TUDO devolvido ao comodante. Exemplo do gado que se procria numa fazenda, por exemplo. Art. 583 – leitura

Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior.

Se o comodatário, numa emergência, tiver de optar entre salvar suas próprias coisas e salvar as coisas do comodante, ele deverá SALVAR PRIMEIRO as coisas do COMODANTE, sob pena de responder por perdas e danos. Na separação conjugal, em que um dos cônjuges sai do imóvel e o outro permanece: a princípio, PRESUME-SE QUE SE TRATA DE COMODATO, se nada for estipulado pelas partes. A partir do momento em que se NOTIFICAR a outra parte, passa a correr o prazo como se fosse LOCAÇÃO. Portanto, é importante, desde o início, fazer um contrato de comodato, com o devido prazo, ou locação. OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS do comodante: não turbar a posse do comodatário. Ex.: não posso me dirigir à casa de campo que cedi em comodato, e falar: "oi, vou tomar um banho aqui, hoje", ou “oi, vou fazer um churrasco aqui hoje”. Outra obrigação: em relação às BENFEITORIAS necessárias e úteis, que devem ser indenizadas pelo comodante; mas não as voluptuárias. Outro exemplo de obrigações: empresto minha casa de campo para um amigo, e sei que meu chuveiro dá choques fortes, mas não falo nada. O comodante responde por EVICÇÃO e VÍCIO REDIBITÓRIO. COMODATO MODAL, ou COM ENCARGO: Empresta-se algo a alguém, mas exige-se uma "co-obrigação”. É o caso dos freezers instalados pela Coca-Cola, ou pela Brahma, nos bares e restaurantes. O encargo é exatamente usar aqueles freezers SOMENTE para gelar produtos da marca daquele fabricante que é o comodante. Outro exemplo consiste nas bombas dos postos de gasolina, que são normalmente cedidas em comodato pela Shell, Texaco, etc.

Page 65: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 65

MÚTUO O mútuo é também chamado de contrato de empréstimo por consumo. Ele envolve um BEM FUNGÍVEL. Ao contrário do comodato, o MÚTUO pode ser GRATUITO ou ONEROSO. Na realidade, entretanto, o MÚTUO é SEMPRE ONEROSO, ou chamado também de FENERATÍCIO - cai em provas e concursos. Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

É o mútuo que envolve DINHEIRO: empréstimo bancário. Entre pessoas, não se pode cobrar mais do que 12% ao ano: decreto 22.626 - ou Lei de Usura. Mas, os BANCOS PODEM cobrar quanto eles quiserem: é a "agiotagem oficializada".

Partes: Mutuante: aquele que empresta. Mutuário: aquele que toma emprestado.

– É CONTRATO REAL: só existe quando ocorre a efetiva ENTREGA da coisa. – É contrato UNILATERAL, mas também ONEROSO - é o Muto Feneratício, que é o empréstimo de bancos. Existem alguns TIPOS DE JUROS: - Juros Compensatórios, ou Remuneratórios: são justamente o GANHO (frutos, rendimentos: o fruto civil) que o mutuante tem por ter emprestado. É a remuneração do dinheiro. É o "lucro" que o mutuante tem por ter dado emprestado certa quantia em dinheiro. Atenção: é ponto PACÍFICO na doutrina que os bancos NÃO estão sujeitos à Lei de Usura. CF: Art. 192: o paragrafo 3 foi REVOGADO. Este Artigo 3 fixava um limite para os "juros reais" que podiam ser cobrados. Os juros reais são efetivamente o "lucro", que no máximo era de 12% AO ANO. É o grande tema de discussão pelos bancos, que se viram "prejudicados", coitadinhos. Os bancos então ingressaram com uma ADIN. O STF entendeu que o Art. 192 não é "auto-aplicável", porque dependia de uma LEI COMPLEMENTAR, e o Congresso NÃO EDITOU tal lei. Além disso, pior: editou-se a "revogação” desses artigos constitucionais. Conclusão: NÃO EXISTE MAIS A LIMITAÇÃO de 12%. Assim, agora os bancos estão TOTALMENTE LIVRES para cobrar os juros que quiserem? SIM. Teoricamente, o Banco Central deveria LIMITAR isso. Quando falamos em "bancos", entendamos também "cartoes de crédito", que em vez de falar em "juros", falam em "taxa de administração”. Algumas Súmulas do STJ aplicam o CDC para classificar como taxas "abusivas"; portanto, o juiz PODE SIM

REDUZIR as taxas de juros se as considerar abusivas. Na própria CF, há um artigo que PERMITE SIM a interferência do juiz nos contratos: Art. 173, paragrafo 4: "aumento arbitrário de lucros". No ano passado, saiu uma Súmula do STJ dizendo que se aplica o CDC aos CONTRATOS BANCÁRIOS. Inicialmente, o CDC era aplicável somente aos contratos com pessoas FÍSICAS. - Juros Moratórios: decorrem da MORA. Em qualquer contrato, é comum prever juros de mora de X% ao mês. Não confundir "multa" com "juros moratórios"; são DUAS sanções distintas. Os juros moratórios são uma "pré-fixação” da indenização em caso de mora, o que não significa que não se poderá exigir MAIS do que isso a título de indenização. As normas juridicas se dividem em: - Norma EXISTENTE - Norma VÁLIDA - Norma EFICAZ Acima: já vimos em IED: Bobbio. Quando um mutuante pode pedir a coisa de volta ao mutuário? Se o contrato tiver prazo DETERMINADO, somente depois desse prazo. Exceção: o mutuante notifica o mutuário, e o constitui em MORA. Regra: o credor não é obrigado a receber coisa DIVERSA da pactuada. Tratando-se de MÚTUO, o PRAZO corre em benefício do DEVEDOR. O mutuário PODE PAGAR ANTECIPADO, e o mutuante não se pode recusar a receber a coisa ANTES do combinado. Exemplo: empresto 200 caixas de cerveja - bem fungível - para devolver no fim do ano, mas o mutuário me quer devolver amanhã: eu não tenho ainda espaco disponivel, e posso me recusar a receber. CDC: Art. 52, paragrafo 2º:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento. § 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação. § 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante

Page 66: dir civil iv - scartezzini 2005.pdf

Matéria de Dir. Civil IV, preparada por Fernando Furlani [4º T] com base nas aulas do Prof. Paulo Scartezzini Guimarães [Mackenzie] em 2005 66

redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

Além de o consumidor poder pagar ANTES da data prevista, se tiverem sido fixados os juros com uma taxa "predeterminada", o consumidor terá o direito a ABATIMENTO do valor total, porque aqueles juros pré-calculados ainda não fizeram efeito. Este é DIREITO DO CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO A MENOR: Art. 588-589 Uma vez emprestado alguma coisa a menores, NÃO SE PODE PEDIR DEVOLUÇÃO. Exceção: no caso em que o maior RATIFICAR o ato. Ou então: se ficar provado "estado de necessidade" do menor. Outra exceção: se o menor agir com DOLO, respondendo como se fosse maior. E, por último: se o valor se reverter EM BENEFÍCIO DO MENOR. Termina AQUI A MATÉRIA deste semestre. A prova conterá QUATRO PERGUNTAS, cada uma valendo 2,5. A matéria é: TUDO! Desde o primeiro semestre, até "conhecimentos gerais"!... O professor agradeceu à sala pela experiência acadêmica conjunta havida neste semestre, e se colocou à disposição para esclarecer dúvidas quando os alunos precisarem. ===============================================

FURLANI TRADUÇÕES Traduções juramentadas em todas as línguas

Fernando Furlani Tel.: (11) 9770-6800 [email protected]

===============================================