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DIFERENTES PERCEPÇÕES DE GÊNERO: HISTÓRIA DO ASSENTAMENTO PADRE JOSIMO CONTADA PELOS MORADORES PIONEIROS Renata Tikako de Jesus Kato (Universidade Estadual de Maringá) Luara Paula Vieira Baia (Universidade Estadual de Maringá) [email protected] [email protected] Resumo O presente trabalho teve por objetivo analisar como as percepções referentes à história da criação do assentamento Padre Josimo, localizado na cidade de Cruzeiro do Sul, no norte do Paraná, onde as falas se distinguem entre si a partir do recorte de gênero. Para apreensão dessa dualidade, foram realizadas entrevistas com pioneiros do assentamento, sendo que entre eles, havia um casal, podendo-se supor que ambos estavam vivenciando o mesmo momento na criação do assentamento. Tendo em vista a busca pela apreensão da história do assentamento Padre Josimo, é possível durante os relatos realizados perceber as nuances nas percepções de cada um segundo o gênero, mesmo quando ambos vivenciaram o mesmo momento, como é relatado em uma das entrevistas, onde há um confronto com pistoleiros contratados. O presente trabalho considera importante dimensionar essas diferenças entre as percepções de cada gênero, para que haja uma reflexão a respeito desse recorte na fala de cada um deles.

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Page 1: DIFERENTES PERCEPÇÕES DE GÊNERO: HISTÓRIA DO … · história do assentamento, ... pegou, tinhas as nossas coisas, criação, tinha um pouco assim sabe, quando nós veio pra cá

DIFERENTES PERCEPÇÕES DE GÊNERO: HISTÓRIA DO ASSENTAMENTO PADRE JOSIMO CONTADA PELOS MORADORES

PIONEIROS

Renata Tikako de Jesus Kato (Universidade Estadual de Maringá)

Luara Paula Vieira Baia (Universidade Estadual de Maringá)

[email protected]

[email protected]

Resumo

O presente trabalho teve por objetivo analisar como as percepções referentes

à história da criação do assentamento Padre Josimo, localizado na cidade de

Cruzeiro do Sul, no norte do Paraná, onde as falas se distinguem entre si a partir do

recorte de gênero.

Para apreensão dessa dualidade, foram realizadas entrevistas com pioneiros

do assentamento, sendo que entre eles, havia um casal, podendo-se supor que

ambos estavam vivenciando o mesmo momento na criação do assentamento.

Tendo em vista a busca pela apreensão da história do assentamento Padre Josimo,

é possível durante os relatos realizados perceber as nuances nas percepções de

cada um segundo o gênero, mesmo quando ambos vivenciaram o mesmo momento,

como é relatado em uma das entrevistas, onde há um confronto com pistoleiros

contratados.

O presente trabalho considera importante dimensionar essas diferenças entre

as percepções de cada gênero, para que haja uma reflexão a respeito desse recorte

na fala de cada um deles.

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Palavras-chave: Mulheres; Pioneiros; Assentamento. Introdução

O assentamento Padre Josimo faz parte de um conjunto de assentamentos

que recebem assistência técnica da Unitrabalho (órgão vinculado a UEM). Nas

oportunidades em que estivemos em campo através desse vínculo entre a

Unitrabalho e o assentamento Padre Josimo, vivenciamos conversas informais com

as moradoras mais antigas do assentamento, e percebemos em suas falas a

recorrência em atribuir a seus maridos um conhecimento "maior" sobre a história da origem do assentamento.

Baseando-me no capítulo de Guida Debert, do livro "A Aventura

Antropológica", a autora destaca a importância de incorporar outras versões

históricas, e aponta como um caminho possível para pesquisa a história de vida.

Nossa escolha se deu a partir disso, escolhemos como tema deste trabalho

investigar a versão dos moradores pioneiros sobre a história da formação do assentamento Padre Josimo.

A primeira visita ao assentamento, conhecemos a pioneira Luzia (os nomes

dos interlocutores foram substituídos para manter o sigilo dos mesmos) e em uma

conversa informal, ela contou a quanto tempo eles estavam no assentamento, como

criou os filhos e como era o local quando chegaram, inicialmente não nos

preocupamos na maneira como ela contava ou se havia outras versões, apenas nos atemos a história do assentamento.

Após escolhermos como questão de pesquisa a versão das pioneiras sobre a

história do assentamento, buscamos nas conversas informais questiona-las ainda

mais sobre seus conhecimentos a esse respeito, e em certo momento das nossas

conversas sempre vinha à afirmação de que seus maridos saberiam responder de

maneira mais completa aos nossos questionamentos, isso aguçou ainda mais nossa

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curiosidade em relação à versão apenas delas.

Depois de perceber que havia uma lacuna e ao mesmo tempo uma questão

latente nessas afirmações, escolhemos fazer entrevistas com as mulheres pioneiras

e seus respectivos maridos, analisando suas falas e buscando considerar as perspectivas de cada gênero e suas interpretações a respeito do assentamento.

Percepções de Gênero

Como metodologia de pesquisa, utilizamos a história de vida temática por

diferentes motivos, o primeiro deles porque essa metodologia permite a pesquisa

uma grande riqueza de detalhes e a segunda e não menos importante o tempo

disponível para o trabalho era escasso e esse modelo tornou-se o mais viável.

Mesmo nesse modelo tivemos problemas em coletar todas as entrevistas, pois,

como o assentamento é a 71km de distância da cidade de Maringá-PR e o

deslocamento dependia do auxílio da Unitrabalho/UEM, foi possível entrevistar as

duas mulheres pioneiras que selecionamos, mas por causa dessa dificuldade de

locomoção e o pouco tempo, não conseguimos obter a entrevista do marido de uma

das minhas interlocutoras.

Como já havia feito as demais entrevistas, resolvemos não descartar

nenhuma, pois acreditamos que a história de uma das mulheres complementa a

outra, sendo assim a versão final ficou com as entrevistas das duas mulheres e apenas um homem, ambos pioneiros do assentamento.

Na primeira entrevista, Luzia descreve como era sua vida antes de ir para o

assentamento e a influência do marido na sua decisão, sua fala parece um pouco

confusa e essa situação já havia sido alertada por Debert, na qual a autora afirma

também que é papel do pesquisador desfazer esses nós e apresentar um quadro "mimimamente coerente" dos relatos.

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"Eu vim di.., nós tava morando em Atalaia, mas nós somos de Uniflor, criado em Uniflor, até que, nós

pegou, tinhas as nossas coisas, criação, tinha um pouco assim sabe, quando nós veio pra cá nós só

veio com um carrinho e com um cavalo, um cavalo daí até que eu não queria vim mas a minha mãe

disse "Oh filha você casou você tem que ir" aí nós pegou e veio." (LUZIA)

Em outra fala, Luzia destaca novamente como marido foi decisivo para sua vinda ao assentamento, o mesmo ocorre na entrevista de Maria.

" o sonho do meu marido era ter um pedacinho de terra , pra..ele gosta de criação tudo daí nos veio

pra cá" (LUZIA)

"Eu comecei a namorar o José*, e ele já fazia parte desse movimento através da Pastoral da Terra,

naquela época tava sendo fundada a Pastoral da Terra que é junto com a Igreja, e a gente sempre foi

muito da Igreja Católica a gente participava do grupo de jovens, daí eu comecei a namorar com ele,

meu pais não gostavam muito, tava meio assim, acabo que a gente quase acabou enganando todo

mundo, tava tudo certo pra gente casar e mudar pra Maringá, ele já tinha trabalhado lá, já tinha

conhecimento, tava tudo certo pra gente ir pra lá, mas aí tinha o padre que tava ajudando a ocupação dessa área aqui e ele era o mesmo padre nosso lá, daí o padre na última hora lá, quando a gente ia

confessar pra fazer o casamento ele convenceu nós, mais eu que estava com mais medo de vir para

o assentamento, ele ( o marido) era mais acostumado com o Sem Terra tava achando era bom, aí o

padre me convenceu, aí nois casou ficamos dois dias na cidade, terceiro dia, casado, viemo pra cá,

nisso ele já tinha vindo aqui já tinha feito o barraco né, aí a gente veio pro barraco." (MARIA)

Na entrevista de Luzia, quando a sua mãe lhe diz que ela tem que

acompanhar o marido, isso evidencia a cultura patriarcal, e a sua reprodução tanto

pela sua mãe quanto por ela mesma, que concorda que realmente isso deve

acontecer. No patriarcalismo, o homem aparece como aquele que comanda as

relações firmadas em uma base material de acordo com Hartmann (1994), a autora afirma que:

Entiendo por patriarcado un conjunto de ralaciones sociales que tiene

una base material y en el cual hay relaciones jerárquicas entre los

hombres y una solidaridad entre ellos, que els permiten controlar a las

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mujeres. El patriarcadi es lo por lo tanto el sistema de opresión de las

mujeres por los hombres. (Hartmann, p.256)

A entrevista de Luzia indica o que Hartmann (1994) entende por patriarcado,

um tipo de relação hierárquica que faz com que mulheres ajam através do desejo de

seus maridos, construindo como indica a interlocutora, caminhos de vida marcados

pelos desejos inicialmente de seus companheiros. Além da hierarquia e do controle,

a categoria gênero estabelece divisões dos papéis sociais de cada um, divisões de

características atribuídas para cada gênero, como por exemplo, sendo atribuídos

para os homens características de força e coragem, e para as mulheres

características de medo e paciência (tabela 1). Sendo características masculinas

aquelas que mais se aproximam do número 1 e características femininas aquelas que mais se aproximam do número 2 .

Tabela 1- Imputação de atributos de gênero, por sexo, em 1999(%)

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Fonte: Pesquisa Relações de Gênero nos Assentamentos Rurais, Unesco, 2000.

O Paraná, em comparação com outros estados é uma exceção, a esse

respeito às autoras Maria das Graças Rua e Miriam Abramovay (2000) do livro

"Companheiras de luta ou "coordenadoras de panelas"? As relações de gênero nos

assentamentos rurais", tratam especificamente no capítulo "Percepções de Gênero,

Cidadania e Empoderamento" esse tema, e relata como em outros assentamentos a

divisão de papéis é tão demarcada e justificada pela atribuição de características dada para cada gênero.

Os resultados são muito instigantes. Por um lado, os atributos de força,

coragem, e superioridade são geralmente imputados aos homens. As mulheres mostram uma tendência a atribuir mais coragem aos homens do

que eles próprios. A exceção está nos Estados do Sul, onde elas acreditam

que são mais corajosas do que os homens imaginam. Por outro lado, os

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atributos de paciência, dedicação e medo são, em geral, considerados mais

típicos do sexo feminino. Constata-se, que, como regra, as mulheres se

consideram ainda mais pacientes e dedicadas, porém menos medrosas do

que os homens as julgam. (ABRAMOVAY & RUA, 2000, p.230)

Algumas dessas características atribuídas para cada gênero aparecem na

fala dos entrevistados, como medo e coragem, como quando questionados sobre os

acontecimentos de ocupação da fazenda, se houve conflito e quais os problemas

enfrentados. Quando essa questão foi direcionada as mulheres, Luzia descreve a

situação com certa ansiedade, já Maria recorrentemente afirma que "foi muito sofrido".

"É, nois ficamos acampados na beira da estrada, daí a gente pegava, nois quando ficava 3 dias aqui

depois a gente ia embora de novo pra beira da estrada (...) daí passava, passava, daí nois pegou um dia que nois entrou de novo aqui, quando nois tava descendo ali , porque era outra estrada, quando a

gente tava descendo ali, pistoleiro, caminhão cheio de pistoleiro, daí nois pegou e veio e tudo, depois

nos desceu aí já veio, depois nois veio de novo , e já começamo fazer o barraco e aí nois ficamos,

nois eu acho que um mês, acho que nem um mês, daí nois volto de novo, daí eles pegou e falou

assim, "É , nois vamos sair daqui, vai ter que sai, tava pra lá pro lado da casa da Lucimara mora, daí

nois veio, menina do céu, todo mundo falou assim "Não é pra ficar nenhum no barraco"

(Entrevistadora: : E vocês estavam acampados lá fora?) É, nois tava tudo aqui( o local que ela se

refere é a Sede da fazenda), daí nois sabe o que nois fez? Nós pegou e saiu dos barracos e nois veio aqui (referente a Sede) e aqueles tiro "POU POU POU" , daí eu falei, meu Deus do céu, e depois

falou assim "É pra vocês desacupa (...), aí nois pegou Menina e foi pra beira da estrada, aí ficou,

ficou, ficou ficou daí até que nois falou assim nois vamos embora, daí todo mundo falou não, se vai

fica os anos perdidos, aí nós voltou, e daquele dia que nois voltou, até hoje nois tá aqui."( LUZIA)

"Olha vou te fala (20 anos no assentamento), foi como se fosse 50, tantas coisas que eu passei, participei de marchas, de movimentos, eu acho que se eu não tivesse entrado no movimento e nem

tinha conhecido tantas coisas, tantas cidades, tantos projetos, tantas coisas boas, eu não me

arrependi, apesar de todo sofrimento que passei, eu não me arrependi(...)mas o dia que eu fiquei

muito preocupada, veio repórter, deu até jornal, que disse que vinha um ônibus de pistoleiro, a gente

entrou tudo aqui dentro( o local que ela se refere é a Sede da fazenda), ficou trancado, deram tiro, ai

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esse dia eu nunca esqueci, depois daquela noite que a gente não conseguiu dormi de medo, no outro

dia a gente já desocupou a sede, foi lá pra estrada de novo, só sei que aqui dentro eu já morei em

onze lugares, porque tinha que fica indo pra um lugar, depois pra outro, morava numa casinha que

tinha aqui, depois mudava de novo, morei na tulha aí, morei em vários lugares que não me recordo"

(MARIA)

Já na entrevista com Mauro, marido de Luzia, ele conta a história do começo

do assentamento por uma outra perspectiva, relatando como os homens do

assentamento enfrentaram os pistoleiros contratados pelo dono da fazenda ocupada.

"Eu vim cá em 97, aí dezembro, dia 7 de dezembro nois veio , aí eu vim de Uniflor, e quando ficamos

aqui 30 dias, aí veio a ordem pra gente sair pra fazer o inventário da área aqui. Aí pediu pra gente

sair 30 dias, até começar de novo(...) 105 famílias , que tava aqui dentro depois foi pra beira da

estrada, aí ficamos 3 meses lá e nada de vistoria(...) Aí nós falamos, vamos entrar , aí tinha 4

pistoleiros aqui dentro, aí nós peguemos o chefão deles lá na beira da estrada , tinha o mata burro né, aí quando ele entrou no mata burro nós puxou , e a roda caiu no buraco , aí nós descemos com

ele , aí descemos aqui dentro, deu uma bafafá danado , os caras começou a mete fogo na estrada

com nois ali, lá naquela bachada, aí foi bala bala, aí falava vai embora, vai embora(

Entrevistadora:Mas atiraram lá na estrada?) Encontrou com nois no meio da estrada, já ali, já dentro

do assentamento, na fazenda já, aí depois ele gritou com os caras : vai embora, vai embora se não

eles vai mata eu , tinha uma arma apontada pra ele, tava com a mãos amarradas , uma 12 apontada

pra ele aí conseguimos chegar aqui (Entrevistadora: Sua esposa estava me contando que vocês

ficaram aqui dentro (Sede) como foi?) Isso aí foi outra vez, outra vez que teve que sair de novo , aí ficamos no casarão aqui , foi um despejo meio bobado , aí voltemos de novo" (MAURO)

As entrevistas de Luzia e Maria diferem muito em relação a entrevista de

Mauro a respeito desse episódio do tiroteio na Sede da fazenda, sendo que para

elas isso foi um acontecimento marcado pelo medo e pela preocupação e já para

Mauro, o único momento de maior destaque é quando os homens do assentamento

expulsam o chefe dos pistoleiros. Segundo Abramovay e Rua (2000), os papéis de

gênero são passados "desde o nascimento" e consequentemente refletem nas

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percepções de cada gênero:

"Em consequência das percepções sobre masculino e o feminino e da forma como são educadas e socializadas as novas gerações, as mulheres são

submetidas a um aprendizado de virtudes, de abnegação e resignação,

conforme a representação domimante, fazendo-se as únicas responsáveis

pela educação e cuidado com os filhos. Aos homens também é imposta uma identidade social, que dentro de uma natureza biológica, torna-se um habitus,

uma lei social incorporada, onde não são admitidas certas maneiras de ser e

agir". ( ABRAMOVAY & RUA, 2000, p.239)

Considerações finais

Tendo em vista a discussão levantada ao longo desse trabalho, é possível

observar que os papéis de gênero marcam as elaborações dos/as interlocutores/as

do assentamento Padre Josimo. Nas narrativas de cada um deles consta os

marcadores de gênero, trazendo para as narrativas considerações muito distintas

dos mesmos fatos. Em uma versão há uma grande preocupação com os conflitos e

em outra só resta orgulho pela vitória dos primeiros embates.

Considerando o que nos aponta Kofes (2001) a respeito das narrativas, ao

contar os enredos os interlocutores constituem a si mesmos, portanto, no processo

de se constituírem o fazem também a partir de marcadores de gênero. Luiza, Maria

e Mauro contam sobre uma mesma experiência e se constroem enquanto homens e

mulheres (marcando também os problemas de gênero que os constituem). Referências

ABRAMOVAY, Miriam & RUA, Maria da Graça. Percepções de gênero, cidadania e

empoderamento. Companheiras de Luta ou Coordenadoras de Panelas? As

relações de gênero nos assentamentos rurais. Brasília: UNESCO, 2000 p.226- 254.

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CARDORSO, Ruth. Aventuras de antropólogos em campo ou como escapar das

armadilhas do método. In CARDOSO, Ruth. A Aventura Antropológica. Teoria e

pesquisa. São Paulo: Paz e Terra, 1986 p. 95 – 105.

HARTMANN, H. Capitalismo, Patriarcado y Segregación de los empleos por sexo.

Barcelona: Icaria: Fuhem, D.L, 1994.

KOFES, S. Uma trajetória, em narrativas. Campinas, Mercado de Letras, 2001.