alberto de oliveira, raimundo correia e olavo bilac · e triste, e triste e fatigado eu vinha....

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Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac

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Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac

• “Quanto à forma, isto é, a construção nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração cada paixão requer sua linguagem própria.” Gonçalves de Magalhães

• Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, o Parnasianismo representou na poesia o retorno à orientação clássica, ao princípio do belo na arte, à busca do equilíbrio e da perfeição formal.

• Arte pela arte.

• Influência clássica: elementos e equilíbrio.

• A “Batalha do Parnaso”: ampla divulgação dos realistas.

• Abolicionismo, República e vasos gregos: “Eu hoje dou de ombros, pouco me importam paz ou guerra e não leio jornais.” – Alberto de Oliveira

Vaso grego

Esta de áureos relevos, trabalhada

De divas mãos, brilhante copa, um dia,

Já de aos deuses servir como cansada,

Vindo do Olimpo, a um novo deus servia

Profissão de fé (Olavo Bilac) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste: Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito: E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil, Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril. E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento, A trabalhar, longe de tudo O pensamento. Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer, Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer. Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!

• O poeta se compara ao ourives, pois também quando escreve, aprecia a minúcia, o detalhe e a perfeição formal.

• O material do poema é comparado a materiais de ourivesaria e da escultura. Considerando o valor desses materiais, o poeta revela a concepção que o poeta tem sobre a poesia: por um lado, a vê como arte requintada e superior; por outro, identifica-a também como decoração.

• De acordo com a 6ª, 9ª e 10ª estrofes o fundamento maior do projeto estético do Parnasianismo é a perfeição formal.

• Arte pela arte: na 8ª estrofe, o poeta mostra-se distanciado da realidade e desinteressado de seus problemas. Isolado, preocupa-se apenas com a arte.

• Conforme Gonçalves de Magalhães, o poeta romântico valoriza mais a livre expressão das emoções, sem se importar tanto com a perfeição formal do poema. Já Bilac defende o contrário: a forma está acima de tudo, principalmente acima dos sentimentos, que devem ser contidos.

Olavo Bilac: o ourives da linguagem

• Dedicou-se a temas de caráter histórico-nacionalista.

• A primeira obra de Bilac foi Poesias (1888). Nela, o poeta já demonstrava estar plenamente identificado com as propostas do Parnasianismo, como comprova se poema “Profissão de fé”. Porém, nem mesmo ele seguiu à risca toda a concepção poética excessivamente formalista defendida pelo poema.

• Valorização de sentimentos que remete ao Romantismo, embora sua poesia nem sempre alcançasse uma visão profunda sobreo homem e sua condição.

NEL MEZZO DEL CAMIN

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo...Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.

Dante Alighieri: “Nel mezzo Del camin de nostra vida / mi ritrovai numa selva oscura”, que fala dos trinta e cinco anos do poeta italiano, da metade do caminho da vida.

SATÂNIA (fragmento)

Nua, de pé, solto o cabelo às costas, Sorri. Na alcova perfumada e quente, Pela janela, como um rio enorme Profusamente a luz do meio-dia Entra e se espalha, palpitante e viva. Como uma vaga preguiçosa e lenta, Vem lhe beijar a pequenina ponta Do pequenino pé macio e branco. Sobe...cinge-lhe a perna longamente; Sobe...- e que volta sensual descreve Para abranger todo o quadril” – prossegue. Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo Da axila, acende-lhe o coral da boca. (...)

E aos mornos beijos, às carícias ternas Da luz, cerrando levemente os cílios Satânia os lábios úmidos encurva, E da boca na púrpura sangrenta Abre um curto sorriso de volúpia. (...)

• Apesar de ser composto apenas por versos decassílabos, o que revela alguma preocupação formal, não há nele uma preocupação com a rima nem com o tamanho das estrofes.

• Há um modo idealizado como é descrito esta figura feminina. Por outro lado, não há nesta descrição a participação direta de um “eu” romântico, que sofre ao perceber a beleza desta mulher. A descrição que é feita traz grande dose de objetividade, de distanciamento, além de conter um alto grau de sensualidade, elemento bastante presente nesta obra de Olavo Bilac, Sarças de Fogo.

• Descrição desta figura feminina segue um padrão pouco usual: o truque utilizado pelo poeta foi o de colocar ante esta mulher a luz do sol. Esta luz, que entra pela janela do quarto e se desenrola pelo chão, pelos tapetes, vai iluminar primeiramente os pés de Satânia e, a partir daí, vai fazer uma sensual viagem pelo corpo desta mulher, descrevendo-o à medida que ele vai sendo iluminado pelo sol.

• O sol é uma figura distante, não é um “eu” romântico, não é um indivíduo colocado frente a esta mulher, mas tem reações humanas. Pode-se, então, dizer que a luz do sol simboliza qualquer observador que pudesse ser colocado nesta cena, o que reforça o poder de sedução da personagem.

• No fragmento final, percebemos que faz Satânia ao sentir-se observada: ciente de seu poder de sedução e de controle, simplesmente sorri.

Vila Rica (Olavo Bilac)

O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, O último ouro do sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção. Agora, para além do cerro, o céu parece Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, Como uma procissão espectral que se move... Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.

• As sugestões sonoras (badalar do sino)

• Sugestões cromáticas do ouro (luz do sol e do ouro das minas) e do negro (da noite, do passado e do próprio nome da cidade).

• Além disso, podemos notar as oposições que reforçam o contraste entre passado e presente, riqueza e pobreza, o passado glorioso e o presente humilde.

• “No soluçar de Dirceu”, ao mesmo tempo que há a repetição do som s , lembrando um choro, sugere também o sofrimento amoroso de Marília e Dirceu e dos inconfidentes mineiros.

• É um poema que reúne técnicas de construção a um rico conteúdo histórico.

Alberto de Oliveira

• Foi o poeta que melhor se adequou aos princípios parnasianos e, ao mesmo tempo, uma espécie de líder do movimento. Sua poesia é fria e intelectualizada, com um gosto acentuado pelo preciosismo formal e linguístico. Defendia a “arte pela arte” e, em vez de se interessar pela realidade brasileira, preferia buscar inspiração nos modelos clássicos que perseguia: os poetas barrocos e árcades portugueses.

Raimundo Correia: a pesquisa da linguagem • Fase romântica

• Fase parnasiana

• Fase pré-simbolista

Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E á tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais...

• PARNASIANISMO X REALISMO

O parnasianismo no Brasil foi um movimento essencialmente poético tornando-se sinônimo de “academicismo” durante cerca de quarenta anos.

• Os parnasianos cultivaram uma arte sem ideologia social e política, centrando suas preocupações básicas na estética, e, por isso, foram chamados de “poetas da torre de marfim”.

• Tematicamente, a poesia parnasiana foi uma reação à subjetividade e à idealização romântica, enquanto que do ponto de vista formal reduplicou a ideologia clássica de “beleza e perfeição”.

A Música

A música p'ra mim tem seduções de oceano! Quantas vezes procuro navegar, Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano, Minha pálida estrela a demandar! O peito saliente, os pulmões distendidos Como o rijo velame d'um navio, Intento desvendar os reinos escondidos Sob o manto da noite escuro e frio; Sinto vibrar em mim todas as comoções D'um navio que sulca o vasto mar; Chuvas temporais, ciclones, convulsões Conseguem a minh'alma acalentar. — Mas quando reina a paz, quando a bonança impera, Que desespero horrível me exaspera!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal" Tradução de Delfim Guimarães

Sepultura d'um Poeta Maldito

Se, em noite horrorosa, escura, Um cristão, por piedade, te conceder sepultura Nas ruínas d'alguma herdade, As aranhas hão-de armar No teu coval suas teias, E nele irão procriar Víboras e centopeias. E sobre a tua cabeça, A impedi-la que adormeça. - Em constantes comoções, Hás-de ouvir lobos uivar, Das bruxas o praguejar, E os conluios dos ladrões.

Auto Retrato, Auguste Renoir (1875)

Retrato de Romaine Lacaux (1864)

A Grenouillère (1869)

Impressão – Nascer do Sol, Claude Monet (1873)