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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Sumário 1 – INTRODUÇÃO 5 2 - OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO 6 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO 6 3.1 - Inserção Regional 6 3.2 – Dinâmica Populacional 11 3.2.1 - Crescimento populacional 11 3.2.2 - Caracterização Etária e Étnica da População 15 3.3 – Perfis das Rendas Domiciliares e dos Responsáveis pelos Domicílios 22 3.4 – Domicílios de Uso Ocasional 29 3.5 – Caracterização da População Flutuante 36 4. INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA 41 4.1. Relações Sociopolíticas em Praia Grande 41 4.1.1. A Organização e Articulação da Sociedade Civil 41 4.1.2. Os Espaços de Gestão Participativa 43 4.2. Leitura Comunitária: Visão do Município e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentável 50 4.2.1. A Gestão Pública e as Políticas Públicas em Praia Grande 50 4.2.2. A Vocação Econômica de Praia Grande 61 4.2.3. Os Paradoxos da Atividade Turística 62 4.2.4. Sinais de Crescimento Acelerado: Praia Grande nos últimos anos 63 4.2.5. A Influência do Pré-sal no Crescimento Acelerado do Município 64 4.2.6. Efeito Dominó: Praia Grande no rastro da valorização imobiliária 66 4.2.7. Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável de Praia Grande 67 4.3. Considerações Finais e Aspectos Relevantes de Praia Grande 70 5. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 74 5.1. Introdução 74 5.2. Mercado Produtivo (Produção de Bens e Serviços) 74 5.2.1. Informações Gerais 75 5.2.2. A estrutura produtiva da economia local 80 5.2.3. Algumas decisões cruciais que podem atingir a economia local 82 5.2.4. Rede Petro Bacia de Santos (BS) 92 5.3. Mercado de Trabalho 95 5.3.1. A especialização produtiva do trabalho no Município 97 5.3.2. A Capacitação do Mercado Local de Trabalho 99 5.4. Algumas conclusões 103 6 - ORDENAMENTO TERRITORIAL 104 6.1. Evolução da Mancha Urbana entre 1970 e 2010 104 6.2. - Regulação dos princípios e diretrizes de política urbana e ordenamento territorial 108 6.2.1. Regulação do ordenamento territorial 109 6.2.2. Praia Grande e o Zoneamento Econômico Ecológico da Baixada Santista 111 6.3. Regulação das Áreas de Expansão Urbana 116 6.4. Áreas de Monitoramento Territorial 117 6.4.1 .Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial – Litoral Paulista 120 6.5 Áreas com Restrições à Ocupação 131 6.6. Dinâmica Imobiliária 132 6.6.1. Empreendimentos Imobiliários Verticais 132 6.6.2 . Regulação dos Empreendimentos Imobiliários Verticais 152 6.6.3. Loteamento e condomínios horizontais 155 6.6.4 - Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais 156 6.7. Bens da união no município 158

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Sumário 1 – INTRODUÇÃO 5 2 - OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO 6 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO 6 3.1 - Inserção Regional 6 3.2 – Dinâmica Populacional 11 3.2.1 - Crescimento populacional 11 3.2.2 - Caracterização Etária e Étnica da População 15 3.3 – Perfis das Rendas Domiciliares e dos Responsáveis pelos Domicílios 22 3.4 – Domicílios de Uso Ocasional 29 3.5 – Caracterização da População Flutuante 36 4. INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA 41 4.1. Relações Sociopolíticas em Praia Grande 41 4.1.1. A Organização e Articulação da Sociedade Civil 41 4.1.2. Os Espaços de Gestão Participativa 43 4.2. Leitura Comunitária: Visão do Município e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentável 50 4.2.1. A Gestão Pública e as Políticas Públicas em Praia Grande 50 4.2.2. A Vocação Econômica de Praia Grande 61 4.2.3. Os Paradoxos da Atividade Turística 62 4.2.4. Sinais de Crescimento Acelerado: Praia Grande nos últimos anos 63 4.2.5. A Influência do Pré-sal no Crescimento Acelerado do Município 64 4.2.6. Efeito Dominó: Praia Grande no rastro da valorização imobiliária 66 4.2.7. Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável de Praia Grande 67 4.3. Considerações Finais e Aspectos Relevantes de Praia Grande 70 5. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 74 5.1. Introdução 74 5.2. Mercado Produtivo (Produção de Bens e Serviços) 74 5.2.1. Informações Gerais 75 5.2.2. A estrutura produtiva da economia local 80 5.2.3. Algumas decisões cruciais que podem atingir a economia local 82 5.2.4. Rede Petro Bacia de Santos (BS) 92 5.3. Mercado de Trabalho 95 5.3.1. A especialização produtiva do trabalho no Município 97 5.3.2. A Capacitação do Mercado Local de Trabalho 99 5.4. Algumas conclusões 103 6 - ORDENAMENTO TERRITORIAL 104 6.1. Evolução da Mancha Urbana entre 1970 e 2010 104 6.2. - Regulação dos princípios e diretrizes de política urbana e ordenamento territorial 108 6.2.1. Regulação do ordenamento territorial 109 6.2.2. Praia Grande e o Zoneamento Econômico Ecológico da Baixada Santista 111 6.3. Regulação das Áreas de Expansão Urbana 116 6.4. Áreas de Monitoramento Territorial 117 6.4.1 .Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial – Litoral Paulista 120 6.5 Áreas com Restrições à Ocupação 131 6.6. Dinâmica Imobiliária 132 6.6.1. Empreendimentos Imobiliários Verticais 132 6.6.2 . Regulação dos Empreendimentos Imobiliários Verticais 152 6.6.3. Loteamento e condomínios horizontais 155 6.6.4 - Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais 156 6.7. Bens da união no município 158

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6.9 - Patrimônio Histórico Cultural 160 6.10. Regulação dos Bens da União nas Legislações Municipais e Federais 162 6.10.1. Regime Jurídico dos Bens Públicos Municipais 162 6.10.2 Uso Privativo dos Bens Municipais 162 6.10.3 Alienação ou Aquisição de Bens Públicos 165 6.10.4. Bens Públicos Municipais e os Loteamentos e Condomínios 166 6.10.6. Bens federais no Município 166 7 – MEIO AMBIENTE E TERRITÓRIO 167 7.1. Unidades de conservação instituídas no Município de Praia Grande 168 7.3. O Núcleo Itutinga – Pilões do PESM no contexto do Município de Praia Grande 171 7.4. Parque Estadual Xixová - Japuí (PEXJ) 194 7.5. Parque Municipal do Piaçabuçu 235 7.6. APA Marinha Litoral Centro (APAMLC) 239 7.7. Ocupação urbana em Áreas de Preservação Permanente 262 7.7.1. Aspectos conceituais 262 7.8. Áreas naturais tombadas 268 7.8.1. Aspectos conceituais 268 7.8.2. ANT das Serras do Mar e Paranapiacaba 269 7.9. Meio Ambiente e Território na legislação municipal 271 8 - GRANDES EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA 272 8.1 Introdução 272 8.2. Legislação municipal de avaliação de impacto 275 9 - MOBILIDADE URBANA E REGIONAL 277 9.1.Pesquisa Origem-Destino da Região Metropolitana da Baixada Santista 277 8 - GRANDES EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA 429 8.1. introdução 429 8.2. Legislação municipal de avaliação de impacto 431 9 - MOBILIDADE URBANA E REGIONAL 433 9.1.Pesquisa Origem-Destino da Região Metropolitana da Baixada Santista 434 9.2. Evolução da frota municipal 457 9.3. A Legislação Municipal e a Mobilidade Urbana e Regional 458 9.4. Sistema Cicloviário 463 9.5. Sistema de transportes coletivos municipal e intermunicipal 466 9.5.1. Sistema municipal de ônibus 466 9.5.2. Sistema de Ônibus Metropolitanos 475 9.5.3.Transporte Coletivo Intermunicipal 493 9.6. Pontos críticos do sistema viário 1 9.7. Projetos e obras de melhorias no sistema viário 3 10 - HABITAÇÃO E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA 5 10.1. Assentamentos precários e informais 6 10.2 - Necessidades Habitacionais 26 10.2.1 - Dimensionamento da Demanda Prioritária Por Novas Moradias no Município de Praia Grande 27 10.2.2 - Dimensionamento das Moradias Precárias Existentes no Município de Praia Grande 28 10.2.3 - Dimensionamento das Demandas Futuras por Novas Moradias no Município de Praia Grande 31 10.3. Promoção pública de habitação de interesse social 32 10.3.1. Promoção pública na produção de novas unidades 32 10.3.2. Promoção pública na urbanização, regularização fundiária e melhoria habitacional. 36 10.4. Pontos críticos no antendimento habitacional 36 10.5. A legislação Municipal e a Questão Habitacional 37 11 - SANEAMENTO AMBIENTAL 42 11.1 Sistema de Abastecimento de Água Potável 42 11.1.1 Cobertura do sistema públicos de abastecimento de água 43 11.1.3 Caracterização do Sistema Melvi 47 11.1.4 Avaliação Geral do Sistema e ações propostas 51

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11.2. Sistema de Coleta e Tratamento de Esgotos 67 11.2.1 Demandas por Sistemas de Coleta e Tratamento de Esgoto 67 11.2.2 Sistema de Coleta e Tratamento de Esgotos 68 11.2.3 Cobertura do sistema de coleta e tratamento de esgoto 68 11.2.4 Caracterização do Sistema de Coleta e Tratamento de Esgotos de Praia Grande 71 11.3 Macro e Microdrenagem 82 11.4 Resíduos Sólidos 92 11.4.1 Situação da geração, coleta, tratamento, destinação de resíduos sólidos domiciliares, da construção civil e saúde e da limpeza urbana 92 11.4.2 Geração, coleta, transporte e caracterização dos resíduos sólidos 95 11.4.3 Disposição Final e Unidade de Transbordo/Transferência 97 11.4.4 ORÇAMENTO 99 11.4.5 Análise do município da perspectiva de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade socioambiental e econômica em diálogo com as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos 101 11.5. Saneamento e resíduos sólidos na legislação municipal 102 12.SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR 103 12.1.Segurança Alimentar e Nutricional – SAN / Município de Praia Grande 103 12.1.1. Rede Operacional de Programas - políticas, programas e ações do setor público municipal e sociedade civil segundo os seguintes eixos: acesso à alimentação; produção e abastecimento agroalimentar; educação, formação e cultura alimentar; povos e comunidades tradicionais; alimentação e nutrição no nível da saúde. 103 12.1.2. Sistema de ação política – conselhos, conferências e orgãointersetorial 112 12.1.3. Considerações Finais 115 12.2. Saúde 116 12.2.1. Situação de Saúde 117 12.2.2. Diagnóstico dos Serviços de Saúde e dos atendimentos 119 12.2.3. Princípios e Diretrizes Políticas do SUS em Praia Grande 122 12.2.4. O desempenho do SUS de Praia Grande: o IDSUS 123 12.2.5. Os gastos e investimentos em saúde 125 12.2.6. Considerações e aspectos relevantes: os desafios da saúde em Praia Grande 126 13. CULTURA 128 13.1. Breve Histórico 128 13.2. Caracterização cultural do município 129 13.3. Comunidades e culturas tradicionais 133 13.4. Gestão cultural e políticas culturais 134 13.5. Regulação, Preservação e Uso dos Imóveis de Interesse Histórico e Cultural do Município. 135

13.6. Principais desafios para o desenvolvimento cultural 136 14 - SEGURANÇA PÚBLICA 137 14.1 Segurança Pública – um tema para o Brasil 137 14.2. Praia Grande e um quadro geral da criminalidade 144 14.3. Raio X institucional e Marco Legal: primeiros apontamentos 153 14.4. Percepção de outros atores do cenário da Segurança Pública no município 154 14.5. Considerações finais 155 15. FINANÇAS PÚBLICAS 156 15.1 Introdução156 15.2. O Orçamento de Praia Grande – 2010 157 15.3. Convênios com o governo Federal 161 15.4. Convênios por indicação parlamentar - Estado de São Paulo – 2010 162 15.5. Despesa Orçamentária 164

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15.6. Resumo da situação Financeira/Orçamentária 172 ANEXO: REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 174

1 – INTRODUÇÃO

O presente relatório apresenta um conjunto de leituras técnicas sobre as condições e tendências urbanas e socioambientais do Município de PRAIA GRANDE.

As leituras sobre as condições urbanísticas e socioambientais apresentadas neste relatório estão articuladas com análises sobre diferentes aspectos como, por exemplo, o desenvolvimento econômico, a cultura, a segurança alimentar e nutricional, a saúde, a segurança pública, as finanças publicas entre outros. Tais leituras estão articuladas também com um exame detido sobre marcos jurídicos relativos às políticas públicas que incidem nos espaços territoriais daquele Município, bem como com a visão de moradores e representantes de entidades sobre o município. Os marcos regulatórios e conceituais a nível federal e estadual foram tratados no volume 1 do relatório, e os temas e questões no âmbito regional, serão tratados em relatório especifico.

Este relatório faz parte de um conjunto de estudos que abrangem as realidades de 13 municípios do litoral paulista que estão sendo analisados no âmbito do convênio entre a Petrobras e o Instituto Polis. Esses relatórios municipais deverão servir como base para a consolidação de um estudo regional. Como posto adiante, todos esses estudos tem como objetivo principal formular programas de desenvolvimento local e regional considerando as transformações que poderão ocorrer no litoral paulista em função de diversos projetos e obras de impacto tais como as explorações de petróleo e gás nas camadas do pré sal, a ampliação dos portos, duplicação de rodovias, entre outros.

A organização dos conteúdos do presente relatório segue uma estrutura básica, constituída pelos seguintes componentes:

- caracterização geral do município a partir dos seguintes aspectos: (i) inserção regional; (ii) dinâmicas populacionais, inclusive da população flutuante; (iii) domicílios de uso ocasional;

- análises do ordenamento territorial a partir dos seguintes aspectos: (i) crescimento da mancha urbana no período entre 1970 e 2010; (ii) dinâmica imobiliária, especialmente da implantação de empreendimentos verticais, loteamentos e condomínios horizontais; (iii) áreas potenciais para ocupações urbanas futuras; (iv) imóveis públicos; (v) imóveis de interesse histórico e cultural e (vi) áreas com restrição à ocupação urbana;

- análises sobre os diferentes tipos de necessidades habitacionais, especialmente aquelas existentes em assentamentos precários e irregulares, e sobre a provisão habitacional recente promovida pelo poder público;

- análises sobre as demandas e desempenhos relativos ao sistema de saneamento básico constituído pelos sistemas de abastecimento de água, de coleta e tratamento de esgoto, de drenagem urbana e de gestão de resíduos sólidos;

- análises sobre as condições de mobilidade local e regional, especialmente aquelas relacionadas aos problemas relativos aos sistemas viários e às diferentes modalidades de transportes coletivos municipais e intermunicipais;

- análises sobre as características e implicações dos grandes equipamentos e infraestruturas de logística existentes e previstos, principalmente as ferrovias, rodovias, armazéns, indústrias, portos e aeroportos;

- análises sobre os espaços territoriais especialmente protegidos, em especial as diferentes modalidades de unidades de conservação instituídas pelos governos federal, estadual e municipal e as áreas de interesse ambiental definidas no zoneamento ecológico-econômico e em zoneamentos municipais;

- análises sobre as questões relativas ao desenvolvimento econômico local, à cultura,à segurança pública, à segurança alimentar e nutricional e à saude;

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- análises sobre aspectos da gestão pública e democrática considerando especialmente as finanças municipais.

- análises a partir de escutas da sociedade, sobre suas organizações, a participação em espaços de gestão democrática e suas visões sobre o município e seu desenvolvimento;

Vale dizer que todas essas análises se referenciam em políticas e programas públicos nacionais e estaduais que envolvem atuações dos governos municipais e incidem nos territórios locais. Nesse sentido, leva-se em conta, entre outras, as seguintes políticas nacionais:

- política nacional e estadual de desenvolvimento urbano, compostas pelas políticas de ordenamento territorial, de habitação, de regularização fundiária, de mobilidade urbana e de saneamento ambiental;

- política nacional e estadual de resíduos sólidos;

- política nacional e estadual de segurança alimentar e nutricional.

- politica nacional e estadual de segurança publica

- polittica nacional e estadual de saúde;

- polittica nacional e estadual de cultura;

Ademais, aquelas análises procuram traçar um quadro geral das ofertas e demandas relativas a serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas em âmbitos municipais e regionais a fim de identificar déficits, gargalos e pontos críticos que necessitam ser superados na busca por um desenvolvimento que promova o dinamismo econômico, mas também melhore as condições de vida das pessoas e não provoque perdas e desequilíbrios ambientais.

2 - OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO

Os principais objetivos do presente diagnóstico são subsidiar a formulação de programas de desenvolvimento local, regional e no litoral paulista baseados no envolvimento dos diversos agentes governamentais e da sociedade civil. Tais programas deverão se referenciar na articulação entre políticas públicas nacionais já instituídas no país. Deverão se referenciar também em políticas, programas e ações realizadas pelo Governo do Estado de São Paulo inscritas em diferentes setores. As análises que compõem esse diagnóstico não se encerram em si mesmas. Pretendem se constituir em instrumentos que orientem ações estruturantes direcionadas ao ordenamento territorial e ao atendimento de diferentes tipos de necessidades sociais.

3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO

3.1 - Inserção Regional

O Município de Praia Grande possui fortes articulações com toda a Baixada Santista, que por sua vez, articula-se intensamente com outras regiões do Estado de São Paulo, com outras partes do país e até com países da América Latina e de outros continentes. Tais articulações não são recentes e possuem determinantes históricos, econômicos, políticos, culturais e ambientais. No século XVI, a colonização portuguesa do Brasil começou com a ocupação da costa marítima onde portos foram construídos para

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permitir a atracagem das embarcações oriundas de outras partes do mundo e também de pontos distintos do extenso litoral brasileiro. Nessa costa, os colonizadores construíram sólidos fortes militares utilizados na defesa do Brasil Colônia. Algumas das primeiras cidades brasileiras se formaram nas proximidades desses fortes militares. Outras, como Santos e Rio de Janeiro, se estruturaram nos arredores daqueles portos marítimos. Essas cidades serviram como pontos de articulação entre a economia colonial das regiões litorâneas e os mercados europeus. Com os avanços da colonização em direção ao interior do Brasil Colônia, outros núcleos urbanos surgiram em pontos mais distantes da orla marítima. O litoral paulista foi um dos locais onde houve os primeiros núcleos de ocupação que logo foram acompanhados por outros que se implantaram nas terras altas do planalto após vencer os obstáculos impostos pelas encostas da atual Serra do Mar. Com o passar do tempo, algumas dessas cidades se tornaram importantes polos regionais, capitais estaduais e sedes de grandes regiões metropolitanas.

As atividades portuárias realizadas no período colonial influenciaram diretamente a formação dos núcleos que deram origem à ocupação urbana na Baixada Santista. No território do atual Município de Santos foram instalados os primeiros trapiches do Porto que passou a ter o mesmo nome. No último quarto do século XIX o Porto de Santos ganha importância econômica com o desenvolvimento da produção do café nas fazendas do interior da então Província de São Paulo direcionada para exportação. Essa produção cafeeira oriunda das fazendas do interior paulista chegava ao Porto de Santos por meio da antiga ferrovia São Paulo Railway, inaugurada em 1867. Na cidade de São Paulo, essa ferrovia atravessava as várzeas dos Rios Tietê e Tamanduateí que, nas décadas seguintes, passaram a receber importantes plantas industriais que buscavam se instalar nos terrenos mais planos. No final do século XIX, o aumento da importância econômica do Porto de Santos colocou a necessidade de expansão física e de melhoramentos nas infraestruturas e nas condições de funcionamento. Em 1892, marco oficial da inauguração desse Porto, a Companhia Docas de Santos entregou os primeiros 260 metros de cais na área que até hoje é denominada como Valongo, localizado no centro histórico de Santos. Nesse período, “os velhos trapiches e pontes fincados em terrenos lodosos foram sendo substituídos por aterros e muralhas de pedra” (Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Santos - PDZPS, 2012: p. 13).

Já no século XX, o Porto de Santos ganha novo impulso com a abertura da Rodovia Anchieta (SP-150) realizada na década de 1940, com o desenvolvimento industrial da atual Região Metropolitana de São Paulo, especialmente na Região do Grande ABCD (com os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema) e com o processo de industrialização de Cubatão. Esse processo de industrialização representa um ponto de inflexão na economia paulista iniciado a partir da década de 1950. Trata-se de uma inflexão marcada pela instalação de grandes empresas multinacionais em cidades que passaram a receber grandes contingentes migratórios e iniciaram acelerado processo de urbanização periférica baseada na produção de assentamentos precários, muitas vezes irregulares do ponto de vista fundiário, ocupados pelas moradias das populações de baixa renda. Essa imbricação entre crescimento da base econômica e urbanização precária estruturou grande parte dos territórios das grandes cidades brasileiras, inclusive da metrópole paulista e das cidades da Baixada Santista. As características desse processo de urbanização são examinadas adiante.

O fortalecimento e a estruturação do trinômio porto-indústria automobilística-indústria de base no sistema econômico regional formado por Santos, São Paulo e Cubatão é baseado na conexão do Porto de Santos com os parques industriais do Município de São Paulo e da atual Região do Grande ABC, onde se instalaram indústrias da cadeia de produção de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis, e de Cubatão onde se instalou um polo industrial de base formado pela Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), hoje parte do grupo USIMINAS, e pela Refinaria de Petróleo Presidente Bernardes da Petrobras. A Rodovia Anchieta (SP-150), importante eixo articulador desse trinômio, amplia a ligação entre o Porto de Santos e aqueles parques industriais formando um complexo sistema econômico e logístico de importância nacional e internacional. Na década de 1970 essa ligação se fortalece com a abertura da Rodovia Imigrantes (SP-160).

Apesar de o Porto de Santos ter forte articulação com os polos industriais mais próximos, é necessário levar em conta a sua influência macrorregional. De acordo com o PDZPS (2012) a vocação natural desse Porto é “atender às necessidades de movimentação de cargas dos estados do Sudeste e de grande parte do Centro-Oeste do país” (PDZPS, 2012: p. 44). O PDZPS define o chamado “vetor Logístico Centro-Sudeste” como a área de influência primária do Porto de Santos. Segundo esse documento, a “área de influência secundária

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compreende todo o restante do Brasil e alcança também parte de outros países sul-americanos, como Paraguai e Uruguai e parte da Argentina, Bolívia e Chile” (PDZPS, 2012: p. 45).

Os municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista, instituída pela Lei Complementar Estadual nº 815 de 30 de julho de 1996, conectam-se com as áreas de influência primária do Porto de Santos a partir de vias de acessos rodoviários, ferroviários e dutoviários existentes. O “modal rodoviário é responsável por aproximadamente 73% da carga movimentada, o ferroviário por aproximadamente 20% e o dutoviário por aproximadamente 7%” (PDZPS, 2012: p. 74). Os dutos são basicamente utilizados para a movimentação de derivados de petróleo e produtos petroquímicos transportados de/para as refinarias de Cubatão (principalmente) e o terminal da Transpetro, na Alemoa.

Os acessos rodoviários que chegam ao Porto de Santos também promovem fortes ligações da Baixada Santista com diferentes regiões do planalto e do litoral paulistas. As já mencionadas Rodovias Anchieta (SP-150) e Imigrantes (SP-160) ligam o Planalto Paulista com a Baixada Santista. Esse complexo rodoviário Anchieta-Imigrantes estreita as relações entre as atuais Regiões Metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. Milhares de moradores dessa parte do litoral paulista se dirigem para aquela Região Metropolitana para trabalhar e estudar todos os dias. A Rodovia Manoel Hyppolito Rego (SP-055) faz a conexão entre Santos e o Litoral Norte. Nos meses de verão, muitos turistas vindos de outras metrópoles paulista ou dos municípios do interior usam essa Rodovia para chegar ao Litoral Norte passando pela Baixada Santista. A Rodovia Cônego Domênico Rangoni (SP-055), mais conhecida como Piaçaguera-Guarujá, interliga o Sistema Anchieta-Imigrantes, que chega a Santos e Cubatão vindos do Planalto Paulista, com o Município de Guarujá. Muitos empregados das indústrias de Cubatão usam essa Rodovia. A Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-055) liga Santos e os municípios vizinhos com os municípios na porção Sul da Região Metropolitana da Baixada Santista (Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe) e, a partir daí, com os municípios do Litoral Sul (Iguape, Cananéia e Ilha Comprida). Moradores dos municípios localizados nas porções Sul da Baixada Santista usam essa Rodovia para ir a Santos, São Vicente e Cubatão para trabalhar e estudar. Isso provoca congestionamentos como se verá adiante.

Ademais, o PDZPS descreve rotas que ligam regiões produtoras do país com Santos e seu importante Porto. Trata-se das rotas Rondonópolis-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas e derivados como soja, farelo milho, entre outros, produzidos no Centro Oeste do país); Dourados-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas produzidos no Mato Grosso do Sul) e Brasília-Triângulo Mineiro-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas produzidas em regiões de Goiás). Além dessas rotas mais longas, há rotas curtas que servem para o escoamento da “produção de açúcar e etanol do interior do Estado de São Paulo e a produção e importação de bens manufaturados acondicionados em contêineres na Grande São Paulo e no Vale do Paraíba” (PDZPS, 2012: p. 64).

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Mapa. PRAIA GRANDE. Inserção Regional

Fonte: Ministério dos transportes (2009 - 2010), IBGE, 2011 e. ESRI (Ocean BaseMap).

As ferrovias operadas pelas empresas MRS Logística, ALL Logística e FCA se somam àqueles acessos terrestres regionais e macro regionais ao Porto de Santos. A ferrovia da MRS faz a ligação do Porto de Santos com regiões dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais enquanto as da ALL conecta aquele Porto com os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, demais regiões do Estado de São Paulo e com estados do Sul do Brasil. As ferrovias da FCA (Ferrovia Centro Atlântica) acessam o Porto de Santos a partir de uma malha que se espalha por 7 estados: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. Vale citar, com base no PDZPS (2012) que a “MRS utiliza os trilhos da antiga Santos-Jundiaí, enquanto a ALL utiliza os trilhos da antiga FERROBAN; as duas se encontram em Cubatão no pátio de intercâmbio de Perequê. Do pátio as composições são conduzidas até as duas margens do Estuário, onde a PORTOFER (que realiza as operações somente no interior das dependências do Porto de Santos) assume as composições” (PDZPS, 2012: p. 69).

O acesso aquaviário é o que interliga os diferentes terminais portuários e berços de atracação do Porto de Santos. Esse tipo de acesso é de abrangência local e consiste no Canal da Barra com extensão de aproximadamente 25 km dos quais 13 km com instalações de acostagem, largura de 150 m até a Barra do Saboó e de 110 m desse ponto em diante e profundidade variável entre 12 me e 14 m (PDZPS, 2012: p. 50-51). Nas margens direita (Santos) e esquerda (Guarujá) desse Canal distribuem-se aqueles berços de atracação e terminais portuários utilizados na movimentação de cargas e descargas.

O Porto de Santos não é beneficiado por acessos hidroviários importantes devido às condições geográficas existentes. Segundo o PDZPS (2012), a “hidrovia Tietê-Paraná movimenta cargas (principalmente grão, farelo e açúcar) do sudeste e centro-oeste, tendo como destino final o Porto de Santos. A maior parcela é

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transbordada para a ferrovia ALL (malha da antiga Ferroban), em Pederneiras, ou para caminhões em Anhembi, no interior do Estado, antes de acessar o porto” (PDZPS, 2012: p. 56).

Além das bases econômicas e logísticas descritas anteriormente, outros fatores promovem as articulações regionais que inserem a Baixada Santista em outras dinâmicas urbanas e demográficas. Trata-se dos fatores relacionados com as características de balneário existentes em municípios de todo o litoral paulista. Em meados do século XX, o Município de Santos era um importante destino turístico para os moradores dos municípios localizados no planalto, especialmente da capital paulista e dos seus municípios vizinhos. Nas décadas de 1950 e 1960 o Município de Santos recebeu vários empreendimentos imobiliários constituídos pelas chamadas “segundas residências” destinadas ao veraneio. Tais empreendimentos se implantaram principalmente nas orlas marítimas, junto às praias de maior interesse dos investidores e dos consumidores de renda média e alta. Esse segmento imobiliário se expandiu a partir de Santos avançando sobre as áreas junto às praias do Guarujá, São Vicente, Praia Grande e demais municípios da Baixada Santista. A influência dessas atividades de veraneio no processo de uso e ocupação do espaço urbano de Praia Grande será analisada mais detalhadamente adiante. Do ponto de vista da inserção regional, vale dizer que, até hoje, muitas famílias que vivem nos municípios do planalto e do interior paulista, e em outras partes do país, se dirigem para os municípios da Baixada Santista durante os feriados e os períodos de férias. A maior parte desses visitantes se instalam nas “segundas residências” que permanecem ociosas parte do ano.

Com o fortalecimento e crescimento das atividades portuárias, industriais, comerciais e de serviços, houve certa retração no turismo de veraneio em no núcleo central da baixada santista, principalmente nas décadas de 1970 e 1980 quando as condições de balneabilidade das praias estavam muito ruins por causa da poluição provocada por esgotos domésticos e efluentes líquidos oriundos do porto e até das indústrias. Porém, isso não significa que essas atividades de veraneio deixaram de existir. Tais atividades sempre existiram na Baixada Santista, principalmente nos município localizados a Sul de Santos e São Vicente (Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe). Nas últimas décadas houve melhorias nas condições de saneamento básico e no controle de emissão de poluentes com reflexos positivos nas praias. Ademais, foram realizados investimentos em melhorias urbanas e paisagísticas nessas praias. Isso tem provocado valorização nos imóveis mais próximos ao mar e atraído grande quantidade veranistas e visitantes de veraneio e de fins de semana. Vale dizer que as rodovias mencionadas anteriormente facilitam o acesso de centenas de milhares de turistas que se dirigem para suas casas de veraneio, hotéis e pousadas na Baixada Santista.

Como dito anteriormente, a Região Metropolitana da Baixada Santista, instituída pela Lei Complementar Estadual nº 815 de 30 de julho de 1996. O Município de Santos polariza essa Região Metropolitana junto com São Vicente, Guarujá e Cubatão. A Sul desses municípios, a Região Metropolitana da Baixada Santista contem Praia Grande, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe e a Norte Bertioga. Essa Lei autoriza o Poder Executivo a instituir o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista - Condesb, uma autarquia responsável pela gestão metropolitana e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista (FUNDESB). Em 23 de dezembro de 1998, a Lei Complementar Estadual nº 853 cria a Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM) entidade autárquica vinculada à Secretaria dos Transportes Metropolitanos, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum nesta região. Em 2004, Lei Complementar nº 956 transfere a AGEM para a Secretaria de Economia e Planejamento.

3.2 – Dinâmica Populacional

3.2.1 - Crescimento populacional

O município de Praia Grande apresentou um alto ritmo de crescimento populacional nas últimas duas décadas. Entre 1991 e 2000 a taxa geométrica de crescimento anual (TGCA) foi de 5,12%a.a., acompanhando a maior parte dos municípios do litoral paulista que, em sua maior parte, durante o mesmo período também apresentaram um alto crescimento. Na década de 2000 a 2010 houve uma queda no ritmo do crescimento populacional que, no entanto, permaneceu alta atingindo 3,17%a.a. Nesse período Praia Grande saltou de 193.582 para 262.051 habitantes, conforme tabela ___ abaixo.

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Tabela. Municípios do Litoral Paulista - População Residente e Taxa Geométrica de Crescimento Anual - TGCA - 2000-2010

Município

Ano TGCA 1991 - 2000

TGCA 2000-2010 1991 2000 2010

Bertioga - SP 11.426 30.039 47.645 11,34 4,42

Cubatão - SP 91.136 108.309 118.720 1,94 0,96

Guarujá - SP 210.207 264.812 290.752 2,60 0,93

Itanhaém - SP 46.074 71.995 87.057 5,08 1,92

Mongaguá - SP 19.026 35.098 46.293 7,04 2,80

Peruíbe - SP 32.773 51.451 59.773 5,14 1,52

Praia Grande - SP 123.492 193.582 262.051 5,12 3,17

Santos - SP 417.100 417.983 419.400 0,02 0,04

São Vicente - SP 268.618 303.551 332.445 1,37 0,94

São Sebastião - SP 33.890 58.038 73.942 6,16 2,48

Ilhabela - SP 13.538 20.836 28.196 4,91 3,12

Caraguatatuba - SP 52.878 78.921 100.840 4,55 2,49

Ubatuba - SP 47.398 66.861 78.801 3,90 1,72

Fonte: Censos Demográficos IBGE, 1991, 2000 e 2010.

Os mapas ___abaixo permitem visualizar as diferenças nessas taxas geométricas de crescimento anual dos municípios litorâneos que estão sendo analisados.

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Mapa. Municípios do Litoral Paulista – Taxa Geométrica de Crescimento Anual - TGCA 1991–2000 e 2000-2010

Fonte: Censos Demográficos IBGE, 1991 e 2000 e Censos Demográficos IBGE, 2000 e 2010.

De acordo com o IBGE, o município de Praia Grande se divide em dois distritos: distrito de Praia Grande, com menor extensão territorial e ; o distrito de Solemar, que abrange maior extensão territorial e possuía a maior parte das áreas de proteção ambiental, fazendo divisa com o município de Mongaguá. Ver figura___.

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Figura. – Divisão de distritos

A população residente do Praia Grande está em sua maior parte localizada no distrito de Praia Grande. Ambos apresentaram crescimento populacional, sendo que o distrito de Praia Grande cresceu em um ritmo um pouco maior que o distrito de Solemar. Ver tabela___.

Tabela. Distritos de Praia Grande - População Residente e Taxa Geométrica de Crescimento Anual - TGCA - 2000-2010

Município e Distrito Ano TGCA 2000

- 2010 porcentagem

2000 2010

Município de Praia Grande - SP

191.811 262.051 3,17 100,0%

Distrito de Praia Grande

145.153 200.725 3,29 76,6%

Distrito de Solemar 46.658 61.326 2,77 23,4%

Fonte: Censos Demográficos IBGE, 2000 e 2010.

O município de Praia Grande possui uma área total de 14 mil hectares, sendo que a maior parte de seu território, inserida em unidades de conservação, permanece não ocupada resultando em uma densidade populacional total do município bastante baixa, de apenas 17 hab/ha. A área efetivamente urbanizada ocupa aproximadamente 26% do território, resultando em uma densidade populacional da área urbanizada do município de 66 hab/ha.

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Tabela. Municípios do Litoral Paulista - Área do Município e Densidade demográfica – 2010

Município População 2010

Área total do município (hectare)

Densidade demográfica do município (Habitante por hectare)

Área urbanizada (hectare)

Densidade demográfica da área urbanizada (Habitante por hectare)

Bertioga 47.645 49.000 1,0 2.723 17,5

Caraguatatuba 100.840 48.540 2,1 3.368 29,9

Cubatão 118.720 14.240 8,3 2.411 49,2

Guarujá 290.752 14.290 20,3 3.804 76,4

Ilhabela 28.196 34.750 0,8 831 33,9

Itanhém 87.057 59.960 1,5 4.948 17,6

Mongaguá 46.293 14.210 3,3 1.531 30,2

Peruíbe 59.773 31.140 1,9 3.447 17,3

Praia Grande 262.051 14.750 17,8 3.927 66,7

Santos 419.400 28.110 14,9 3.507 119,6

São Sebastião 73.942 40.040 1,8 2.508 29,5

São Vicente 332.445 14.890 22,3 2.462 135,0

Ubatuba 78.801 71.080 1,1 2.456 32,1

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

No município de Praia Grande, a maior parte de sua área urbanizada possui densidade populacional de até 250hab/ha. São poucas as áreas que apresentam maiores densidades populacionais.

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Mapa. Praia Grande - Densidade Demográfica de População Residente Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

3.2.2 - Caracterização Etária e Étnica da População

O município de Praia Grande possui população bastante jovem, mas que vem envelhecendo na última década. A população jovem de até 29 anos passou de 55% em 2000 para 48% da população total em 2010, enquanto a população de 30 até 59 anos aumentou de 35% para 39% da população total. Neste período, também percebe-se um ligeiro envelhecimento da população com mais de 60 anos que passou de 9% para 12% sobre a população total, ver figura____.

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Figura. Praia Grande - Pirâmides Etárias – 2000 e 2010

Fonte: Censos Demográficos IBGE, 2000 e 2010.

Em relação à classificação da população de acordo com as categorias de cor e raça utilizadas pelo IBGE, a população residente de Praia Grande acompanha parte dos municípios litorâneos paulistas onde o percentual da população parda e negra sobre a população total está acima do percentual verificado para o Estado de São Paulo.

Tabela. Estado de São Paulo e Municípios do Litoral Paulista - População Residente Segundo Cor ou Raça - 2010

Unidade da Federação e Municípios

Cor ou raça

Total Branca Preta Amarela Parda Indígena

Estado de São Paulo

41.262.199 63,9% 5,5% 1,4% 29,1% 0,1%

Bertioga - SP 47.645 47,0% 7,6% 1,1% 43,8% 0,5%

Cubatão - SP 118.720 42,6% 7,7% 0,7% 48,8% 0,2%

Guarujá - SP 290.752 47,0% 6,7% 0,6% 45,5% 0,2%

Itanhaém - SP 87.057 58,4% 5,0% 0,7% 35,5% 0,4%

Mongaguá – SP 46.293 58,2% 6,3% 0,6% 34,2% 0,7%

Peruíbe - SP 59.773 57,8% 6,0% 1,3% 34,1% 0,7%

Praia Grande – SP 262.051 57,1% 5,9% 0,8% 36,1% 0,1%

Santos - SP 419.400 72,2% 4,7% 1,0% 22,0% 0,1%

São Vicente – SP 332.445 53,5% 7,1% 0,6% 38,7% 0,1%

São Sebastião – SP 73.942 53,9% 6,4% 0,7% 38,5% 0,4%

Ilhabela - SP 28.196 52,2% 5,1% 0,7% 41,8% 0,2%

Caraguatatuba – SP 100.840 66,2% 4,4% 0,9% 28,3% 0,1%

-15.000 -10.000 -5.000 0 5.000 10.000 15.000

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 anos ou mais

População Fa

ixas

Etá

rias

Pirâmide Etária - Praia Grande 2010

-15.000 -10.000 -5.000 0 5.000 10.000 15.000

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 anos ou mais

população

faix

as e

tári

as

Pirâmide Etária - Praia Grande 2000

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Ubatuba - SP 78.801 59,2% 5,9% 1,0% 33,5% 0,4%

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

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Gráfico. Praia Grande – Distribuição Percentual da População Segundo Cor ou Raça – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

A distribuição da população de Praia Grande no território segundo raça ou cor mostra uma clara segregação territorial. A população caracterizada como branca está concentrada nos setores censitários mais próximos às faixas litorâneas, beneficiada pela proximidade com a praia, enquanto as populações pardas e negras estão mais distantes da orla marítima, concentradas do outro lado da Rodovia SP-055 (Rodovia Padre Manoel de Nóbrega).

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Mapa. Praia Grande. Distribuição dos Percentuais da População Branca Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Mapa. Praia Grande – Distribuição dos Percentuais da População Parda Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

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Mapa. Praia Grande – Distribuição dos Percentuais da População Preta Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

De acordo com dados do censo, não há uma concentração expressiva de população indígena no município de de Praia Grande.

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Mapa. Praia Grande – Distribuição dos Percentuais da População Indígena Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

3.3 – Perfis das Rendas Domiciliares e dos Responsáveis pelos Domicílios

Para analisarmos os perfis de renda no município de Praia Grande utilizaremos dois tipos de variáveis: a renda mensal do responsável pelo domicílio; e a renda mensal domiciliar, composta de todos os rendimentos dos moradores. Estes são importantes indicadores da capacidade de consumo e de condição de vida das famílias.

A pessoa responsável pelo domicílio é identificada pelo IBGE como homem ou mulher, de 10 anos ou mais de idade, reconhecida pelos moradores como responsável pela unidade domiciliar. No Município de Praia Grande, 62% das pessoas responsáveis por domicílios com rendimento mensal de 0 a 3 salários mínimos, apresentando perfil bastante similar a maior parte dos municípios do litoral paulista analisados no presente trabalho.

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Gráfico. Praia Grande – Distribuição Percentual das Pessoas Responsáveis Segundo Faixas de Renda Mensal – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010. Elaboração: Instituto Polis.

Dentre esses municípios, Santos se distingue por ter maiores percentuais de responsáveis por domicílios que possuem níveis mais altos de renda, conforme gráfico___ a seguir.

Gráfico. Municípios do Litoral Paulista – Distribuição Percentual das Pessoas Responsáveis Segundo Faixas de Renda Mensal – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010. Elaboração: Instituto Polis.

14%

62%

14%

8%

2% 0%

Rendimento nominal mensal das Pessoas responsáveis por domicílios - Praia Grande

Sem rendimento

Até 3 S.M.

Acima de 3 até 5 S.M.

Acima de 5 até 10 S.M.

Acima de 10 até 20 S.M.

Acima de 20 S.M.

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Com o objetivo de observar a distribuição espacial dos domicílios e dos responsáveis domiciliares segundo os níveis de renda, somamos o valor do rendimento nominal mensal de todos os responsáveis pelos domicílios em cada setor censitário. O resultado foi dividido pelo número total de responsáveis pelo domicílio do próprio setor. Com isso se obteve o rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios segundo os setores censitários.

A espacialização desse indicador segundo diferentes faixas de renda (conforme mapa____ abaixo) permite visualizar as desigualdades socioespaciais existentes em Praia Grande. Verificamos maior presença de responsáveis domiciliares com os maiores níveis de rendimento na orla marítima, especialmente nos bairros próximos ao município de Santos, onde parte dos setores censitários possuem renda entre R$ 1.866,00 e R$ 6.220,00. Já a população de média renda se concentra espalhada em vários pontos do território, em setores censitários onde a renda média dos responsáveis domiciliares fica entre R$ 622,00 e R$ 1.866,00. Interessante observar que os setores onde esse indicador fica abaixo de R$ 622,00 estão ao interior da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega (SP-055).

Mapa. Praia Grande – Rendimentos Nominais Médios dos Responsáveis pelos Domicílios Segundo Setores Censitários – R$ - 2010

Conforme mapa ___ abaixo, há poucos setores censitários na divisa com Santos, onde o percentual de responsáveis domiciliares com renda maior do que 10 salários mínimos fica entre 15 e 30%, os maiores do município.

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Mapa. Praia Grande – Percentuais de Responsáveis por Domicílios com Rendimento Nominal Mensal Acima de 10 Salários Mínimos Segundo Setores Censitários – 2010

Já os responsáveis por domicílios sem rendimento estão em setores dispersos no município, mas com maiores concentrações ao interior da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega (SP-055), conforme pode ser visto no mapa ___ abaixo.

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Mapa. Praia Grande – Percentuais de Responsáveis por Domicílios Sem Rendimentos Segundo Setores Censitários – 2010

Como visto anteriormente, 62% dos responsáveis por domicílios de Praia Grande possuem renda até 3 s.m. Este grupo social se distribui em praticamente todo o território municipal, mas com maiores concentrações no interior juno a Rodovia Padre Manuel da Nóbrega (SP-055), conforme pode ser visto no mapa ___ abaixo.

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Mapa.Praia Grande – Distribuição, Segundo Setores Censitários, do percentual de concentração da pessoa responsável com rendimento nominal mensal de até 3 Salários Mínimos – 2010

Outra importante variável de rendimento observada é a renda domiciliar que corresponde à somatória da renda individual dos moradores de um mesmo domicílio. Como dito antes, este indicador tem relação com a capacidade de consumo da família e deve ser considerado para a definição de critérios para a formulação e implementação de diversas políticas públicas, especialmente no setor habitacional.

Foram adotadas as faixas de renda utilizadas pelo IBGE nas tabulações realizadas.Desse modo, foram consideradas as seguintes faixas: sem rendimentos; de 0 a 2s.m.; mais de 2 a 5 s.m.; mais de 5 a 10 s. m.; e mais de 10 s.m. O município de Praia Grande possui 31% dos domicílios com renda até 2 salários mínimos, 41% dos domicílios com renda entre 2 e 5 salários mínimos e 18% com renda domiciliar entre 5 e 10 salários mínimos.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Gráfico. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios Segundo Faixas de Renda Domiciliar Mensal – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

3.4 – Domicílios de Uso Ocasional

Segundo dados censitários do IBGE, o Município de Praia Grande passou de 160.289 domicílios em 2000 para 200.061 domicílios em 2010, acompanhando o crescimento populacional ocorrido neste mesmo período. De acordo com dados do Censo 2010, 52% dos domicílios recenseados de Praia Grande são de uso ocasional, sendo que ambos os distritos possuem expressivo número de domicílios ocasionais. Estes dados são condizentes com sua condição enquanto município com grande atividade turística e de veraneio.

Domicílio de uso ocasional é o domicílio particular permanente que serve ocasionalmente de moradia, geralmente usado para descanso nos fins de semana, férias, entre outras finalidades. A existência de desse tipo de imóveis, associado à presença de hotéis e pousadas no município, tem relação direta com a significativa população flutuante analisada adiante. Essa população ocupa o município principalmente no verão, durante a temporada de férias e feriados.

Tabela. Praia Grande - - Domicílios Recenseados Segundo Condição de Ocupação – 2010

Domicílios recenseados- dados 2010

Município e distritos

Total recenseados

Particular - ocupado

Particular - não ocupado - uso ocasional

Particular - não ocupado - vago Coletivos

Nº Nº

% do total de domicílios Nº

% do total de domicílios Nº

% do total de domicílios Nº

% do total de domicílios

Município de Praia Grande 200.061 83.513 41,74% 104.912 52,44% 11.519 5,76% 117 0,06%

4%

31%

41%

18%

6%

Rendimento mensal domiciliar Praia Grande

% sem rendimento

% até 2SM

% mais de 2 a 5 SM

% mais de 5 a 10

% mais de 10 SM

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Distrito de Praia Grande

149.849 64.594 43,11% 76.451 51,02% 8.710 5,81% 94 0,06%

Distrito de Solemar

50.212 18.919 37,68% 28.461 56,68% 2.809 5,59% 23 0,05%

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Gráfico. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios Recenseados Segundo Condição de Ocupação – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Entre 2000 e 2010, o crescimento dos domicílios de uso ocasional no município de Praia Grande ocorreu num ritmo muito menor que o crescimento dos domicílios ocupados, seguindo a tendência da maior parte dos municípios do litoral paulista que tiveram um crescimento mais intenso dos domicílios ocupados indicando fixação crescente de moradores. (ver tabela___abaixo) .

Tabela. Municípios do Litoral Paulista – Variação no Percentual de Domicílios Particulares Permanentes Ocupados, de Uso Ocasional e Vagos – 2000-2010

Municípios

Crescimento (%) entre os anos de 2000 e 2010

Domicílios ocupados permanentes

Domicílios de uso ocasional

Domicílios não ocupados vagos

Bertioga - SP 13,05% 27,18% 1,72%

Caraguatatuba - SP 15,00% 4,80% -0,23%

Cubatão - SP 16,76% -0,24% -2,15%

Guarujá - SP 9,15% 0,99% -1,52%

Ilhabela - SP 22,32% 6,72% 4,15%

ocupado; 41,74%

ocasional; 52,44%

vago; 5,76% coletivo ; 0,06%

Domicílios recenseados Praia Grande

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Itanhaém - SP 11,44% 12,07% 0,63%

Mongaguá - SP 11,32% 9,91% -0,47%

Peruíbe - SP 11,92% 6,69% 1,49%

Praia Grande - SP 14,29% 5,82% -0,10%

Santos - SP 7,54% -0,42% -2,76%

São Sebastião - SP 16,99% 6,69% 0,17%

São Vicente - SP 14,76% -2,31% -2,39%

Ubatuba - SP 11,25% 10,07% 1,62%

Fonte: Censos Demográficos IBGE, 2000 e 2010.

No município de Praia Grande é possível verificar uma clara distinção na distribuição no território dos domicílios de uso ocasionais e dos domicílios ocupados. Os domicílios de uso ocasional se concentram nos setores censitários ao longo da faixa litorânea, enquanto os domicílios ocupados, que servem de moradia para a população residente, estão concentrados nos setores censitários para o interior da Rodovia SP- 055 (Rodovia Padre Manoel da Nobregra). Ver figuras___e_____.

Mapa. Praia Grande – Distribuição dos Percentuais dos Domicílios Particulares Permanentes Ocupados Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

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Mapa. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios de Uso Ocasional Segundo Setores Censitários – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Em relação ao tipo de domicílio, ou seja, se são casas ou apartamentos, o Censo 2010 classifica somente os domicílios particulares permanentes ocupados. Vale dizer que os domicílios particulares permanentes de uso ocasional, correspondentes a 52% do total de domicílios de Praia Grande, não são computados nessa classificação. O resultado disso é que o Censo 2010 computou somente 2% dos domicílios de Praia Grande como casas em vilas e condomínios e 21% como apartamento, o que pode estar bastante subdimensionado, pois o universo da contagem deixa mais da metade dos domicílios de fora. Os apartamentos identificados estão concentrados na faixa litorânea coincidindo com as áreas de predominância de domicílios de uso ocasional.

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Gráfico. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes Ocupados Segundo Tipo (Casa, Casa de Vila ou de Condomínio, Apartamento) – 2010

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Figura. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes com Residentes Fixos do Tipo Apartamento Segundo Setores Censitários – 2010

76%

2%

21%

1%

Praia Grande tipo de domicílio

Casa

Casa de vila ou emcondomínio

Apartamento

Habitação em casa decômodos, cortiço oucabeça de porco

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Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Figura. Praia Grande – Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes com Residentes Fixos do Tipo Casa Segundo Setores Censitários – 2010

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Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

3.5 – Caracterização da População Flutuante

Dentre as diversas formas de turismo, a modalidade balneária é um dos segmentos mais significativos da economia regional, contribuindo efetivamente para o crescimento do setor terciário. No entanto, há um grave desequilíbrio provocado pela adoção, ao longo do século XX, de um modelo de turismo baseado na sazonalidade, e na criação de um significativo parque de residências de veraneio, em diversas cidades litorâneas de São Paulo.

No município de Praia Grande, como na maior parte dos demais municípios do litoral paulista, o turismo balneário é um importante segmento da economia local e regional, contribuindo efetivamente para a constituição do setor terciário. Nesses municípios, há um grave desequilíbrio provocado pela adoção de um modelo de turismo baseado na sazonalidade associado com a criação de um significativo parque de residências de veraneio.

A modalidade de turismo denominada de “segunda residência” traz enormes inconvenientes e desafios. Na região da Baixada Santista, a modalidade turística baseada em meios de hospedagem é menos importante do que o turismo baseado na comercialização de unidades habitacionais. Este segundo tipo de turismo demanda a implantação de infraestrutura urbana para atender os picos das temporadas de veraneio, deixando-a ociosa grande parte do ano.

Assim, os sistemas de saneamento básico, de fornecimento de energia elétrica, de transportes e trânsito, além de serviços de saúde e do terciário, devem estar dimensionados de forma a atender população muito superior à residente. Esta dinâmica, historicamente, sempre implicou em investimentos estatais necessários ao atendimento desta demanda, os quais sempre foram realizados em nível insuficiente, produzindo significativo passivo socioambiental.

Os dados do Censo 2010 apontam que mais de 50% dos domicílios existentes no município de Praia Grande são de uso ocasional, ou seja, são os domicílios que abrigam grande parte da população flutuante que frequenta a cidade. Para calcular a estimativa da população flutuante em Praia Grande e nos demais municípios litorâneos, pode-se utilizar dados de consumo de água e de energia elétrica, além da quantidade de lixo coletado.

Enquanto, na Ilha de São Vicente, a população flutuante vem reduzindo seus impactos há várias décadas, como demonstra o gráfico ___ e o mapa ___ abaixo, no município de Praia Grande, ela continua a ser bastante expressiva, configurando mais de 55% da população total.

Gráfico ___. Municípios do litoral paulista: Aumento populacional baseado nas contagens populacionais oficiais de 2002 e 2011.

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Fonte: IBGE apud Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.18).

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Mapa ___. Municípios do litoral paulista: População fixa e flutuante para o ano de 2011.

Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.21).

De acordo com o Plano Diretor de Abastecimento de Água da Baixada Santista, a população total (população residente + população flutuante no verão) de Praia Grande é estipulada em 657.346 pessoas.A população residente corresponde a aproximadamente 45% e. a população flutuante corresponde a aproximadamente 55% da população total do município, numa proporção um pouco maior em relação aos domicílios de uso ocasional que correspondem a 51% do total de domicílios estimados.

Quadro . Resumo do Número de habitantes e de Domicílios da Região Sul da RMBS (2010)

LOCALIDADE

POPULAÇÃO (hab) NÚMERO DE DOMICÍLIOS

RESI-DENTE

FLUTUANTE (INCREMENTAL) PERMA-

NENTES

USO OCA-SIONAL

FECHA-DOS

VAGOS TOTAL

VERÃO PICO

Peruíbe 60.759 62.510 77.448 19.841 19.841 14 3.675 43.371

Itanhaém 86.897 107.511 136.461 27.766 34.125 798 6.647 69.336

Mongaguá 44.681 83.734 103.647 12.839 26.578 793 2.109 42.319

Praia Grande 293.889 363.457 470.682 90.127 115.363 340 19.245 225.075

S. Vicente Continental

101.138 321 461 29.824 102 414 4.270

Fonte: SABESP. Revisão e Atualização do Plano Diretor de Abastecimento de Água da Baixada Santista, Relatório Final – Vol. VI - Planejamento dos SAA – Região Sul. São Paulo: SABESP, 2011, 162 p.

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O estudo da evolução populacional realizada para a elaboração dos planos de saneamento da baixada (DAEE, 2010) apresenta projeções da população fixa e flutuante para todos os municípios da baixada. Esta projeção foi realizada através de diferentes técnicas, antes da elaboração do Censo Demográfico 2010.

O referido estudo estipulou três cenários de evolução para o crescimento populacional: o cenário 1 – inercial - onde a evolução acompanha os dados do Censo; o cenário 2 – dinâmico - considera a atratividade populacional em função dos investimentos previstos na região e; cenário 3 – que considera o cenário 2 incluindo a implementação do porto Brasil em Peruíbe.

Na projeção denominada “Inercial”, os saldos migratórios aumentavam ligeiramente entre 2005 e 2010. Conforme o estudo, esta seria a projeção recomendada para a avaliação dos investimentos em melhorias e ampliação dos sistemas de saneamento básico, “caso não estivesse a região sujeita a uma série de investimentos que atraem população, além de sua vocação turística por excelência devido à proximidade da RMSP e de pertencer ao Estado de São Paulo, que tem grande contingente populacional com renda crescente”.

Segundo o mesmo estudo, a ênfase nessa análise recaiu sobre as variáveis e fatores que afetam os movimentos migratórios, pois esse é o componente mais importante para entender a dinâmica demográfica brasileira. A razão principal reside no fato de que as taxas de fecundidade e de mortalidade baixaram significativamente nos últimos anos e apresentam tendência nítida à estabilização e à homogeneização. Assim, restaria à migração a explicação das maiores mudanças na dinâmica populacional futura dos municípios do país e, especificamente, da Baixada Santista.

O referido trabalho, baseado nos estudos acima mencionados, apresenta o gráfico ___ abaixo, que mostra a projeção para o município de Praia Grande nos diferentes cenários.

Gráfico ___. Praia Grande segundo diferentes projeções de 1980 a 2030.

Fonte: SABESP (2011) apud RELATÓRIO R3 –Volume 2 - PROPOSTA DO PLANO MUNICIPAL INTEGRADO DE SANEAMENTO BÁSICO - Itanhaém (DAEE, 2010, p.35).

Optou-se por adotar a projeção dinâmica (Cenário 2) por ser considerada como mais representativa da provável evolução populacional da RMBS. As projeções foram realizadas até o ano de 2030, conforme apresentado na tabela ___ a seguir, para o caso de Praia Grande

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Tabela ___. Praia Grande: Projeção populacional 2000 a 2030

Ano

População Domicílios

residente flutuante total ocupados ocasionais total

2000 193.582 333.409 526.991 55.030 93.457 160.215

2005 239.472 349.916 589.388 70.767 104.522 190.313

2010 293.889 363.457 657.346 90.127 115.363 224.735

2015 353.532 383.514 737.046 112.274 128.442 264.691

2020 405.978 408.770 814.749 133.192 143.315 304.948

2025 442.390 430.183 872.573 149.543 157.020 338.496

2030 465.998 445.282 911.280 161.862 169.955 366.380

Fonte: Concremat Engenharia e Tecnologia S/A. RELATÓRIO R3 - PROPOSTA DO PLANO MUNICIPAL INTEGRADO DE SANEAMENTO BÁSICO – Itanhaém. Elaboração: Instituto Polis

Observa-se que a projeção acima apresentada superestimou a população residente, que segundo o Censo Demográfico de 2010 era de 262.051 habitantes, enquanto o estudo apresentou população de 293.889 habitantes para o mesmo ano. Segundo esta projeção e mantendo o ritmo de crescimento com o cenário2, o município ganharia mais 172.109 novos moradores entre os anos de 2010 e 2030. Já a população flutuante cresceria num ritmo muito menor mas num número bastante expressivo de cerca de 81.825 pessoas no mesmo período. O acréscimo populacional total chegaria em mais de 250.000 pessoas até 2030. Ressaltamos, no entanto, que esta projeção provavelmente será revista, uma vez que o crescimento populacional do município teve seu ritmo bastante reduzido na última década.

4.INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA

4.1. Relações Sociopolíticas em Praia Grande

O mapeamento das organizações da sociedade civil de Praia Grande identificou 37 organizações civis, das quais 07 foram entrevistadas e 26 pessoas, representando 11 diferentes organizações, estiveram presentes na Oficina Pública, realizada no dia 12 de junho. Dentre as organizações mapeadas, encontram-se ONGs, associações de moradores de bairro, entidades representativas de categorias profissionais, associações de classe, Pontos de Cultura, centros comunitários e redes socioassistenciais, organizações religiosas, movimento de moradia, entre outras.

É com base nas conversas, entrevistas, informações públicas disponíveis e debates estabelecidos junto a essa gama de atores que se faz as ponderações e análises a seguir, a respeito da sociedade civil organizada de Praia Grande.

4.1.1. A Organização e Articulação da Sociedade Civil

Emancipado de São Vicente no final da década de 60, o município tem conseguido modificar gradualmente a estrutura do seu território (sobretudo, a partir da década de 90), logrando transformar seu antigo ‘slogan’ - popularmente difundido por toda a Baixada Santista - de “cidade dos farofeiros” em “cidade para o futuro”,

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de acordo com grande parte dos entrevistados. A enorme quantidade de obras e de empreendimentos imobiliários, majoritariamente de alto padrão e espalhados por toda a malha urbana, com ênfase na orla, parece constituir na principal explicação para essa alteração na visão dos interlocutores.

A implementação de políticas públicas, principalmente aquelas ligadas aos direitos sociais básicos dos cidadãos (como assistência social, saúde, habitação etc), não teria acompanhado o mesmo ritmo das transformações ocorridas nos últimos anos, entretanto, impulsionando, provavelmente, o surgimento das organizações civis de Praia Grande e moldando o seu perfil organizativo. Trabalhos com portadores de HIV, com mulheres vítimas de violência doméstica, com mulheres acometidas pelo câncer de mama, com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, além de movimento por moradia, exemplificam o tipo predominante de atuação dessas entidades civis organizadas, que assumem a forma de ONGs em geral:

“A fundação da Sociedade de Melhoramentos, em 1982, foi devido à carência de serviços de saneamento, luz, transporte, saúde... Hoje é carente, mas imagine há 30 anos atrás. Tava faltando o cunho político para dar o boom das coisas”.

”Existe há sete anos e nasceu para trabalhar com mulheres vítimas de violência doméstica, porque não havia nenhum trabalho nesse sentido e a demanda é grande”.

“Reclamava com a Prefeitura, mas, como simples moradora, não era ouvida. Falava 1 hora para eles não ouvirem, nem um minuto, (...) até que um amigo me encorajou a montar uma ONG, para ter voz no município”.

“Me assustou, quando aqui cheguei, o nível de desemprego, principalmente, das mulheres. Socorria as crianças que sofriam acidentes domésticos (queimaduras, quedas), porque ficavam sozinhas enquanto suas mães trabalhavam em outros municípios vizinhos. Quando chegava nos hospitais, me deparava com situações de falta de estrutura nos prontos-socorros e o despreparo da polícia ao abordar as pessoas”.

“Nosso principal objetivo era trabalhar com a geração de renda, para as mulheres não saírem de casa e eu não ter mais que socorrer ninguém”.

Para além das ONGs, das associações de bairro e do movimento de moradia, que procuram reivindicar melhorias nas condições de vida da população local e direitos sociais básicos, também encontramos organizações dos pescadores artesanais do município.

A cidade conta com pequenos grupos de pescadores artesanais que atuam na costa do município. Sendo a pesca artesanal uma atividade que vem perdendo cada vez mais força em toda a região, os pescadores de Praia Grande vivem espalhados pelos bairros periféricos do município localizados entre o Parque Estadual da Serra do Mar e a rodovia. Para realizar as atividades de embarque e desembarque, estes pescadores se reúnem em, pelo menos, três pequenos grupos dispersos na praia, sendo eles localizados no Canto do Forte, Ocian e Vila Mirim. Cada um destes núcleos apresenta uma média de doze pescadores com diferentes níveis de organização e comercialização. Em termos de organização política, não há uma representação formal dos pescadores atuantes no município de Praia Grande, e estes são, em sua maioria, associados à Colônia Z-4 “André Rebouças” de São Vicente. Segundo informações do relatório Walm, o núcleo de pescadores artesanais concentrados em Ocian está reunido apenas pelo espaço físico, não havendo uma organização comum entre eles, a não ser pelo fato de a maioria estar filiado à Colônia de Pescadores Z-4 de São Vicente. Além disso, não há uma relação com os demais pescadores artesanais do município e, ao contrário, detectou-se uma rivalidade entre o núcleo de pescadores de Ocian e aqueles concentrados na Boutique do Peixe, no Canto do Forte (informações em acordo com relatório elaborado pela Walm).

Nota-se que as organizações da sociedade civil, em geral, além de se ocuparem com suas próprias demandas, conhecem os problemas mais comuns à cidade e a atuação da maioria das organizações locais existentes, sem que isso signifique o estabelecimento de uma pauta comum e constante de lutas e reivindicações entre elas. O grau de participação da sociedade civil organizada parece acompanhar essa característica: quando o assunto orbita em torno do rol das preocupações de cada uma das organizações, as entidades locais exercem, com bastante eficácia, seu poder de mobilização e de articulação, para o enfrentamento e a resolução dos seus problemas. Contudo, a parceria e o envolvimento nas discussões de outros segmentos do Terceiro Setor se mostram ainda incipientes.

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Interessante observar, no entanto, que uma das organizações ligadas ao tema da Moradia se articula, ainda que de forma inicial, com a União Nacional por Moradia Popular (UNMP). Esta se organiza a partir da base nos estados, articulando movimentos populares de moradia, em suas diversas expressões – movimentos de sem-teto, cortiços, favelas, loteamentos, mutirões, ocupações –, no Brasil, assim como com a União dos Movimentos de Moradia, representação estadual da UNMP. Ou seja, mesmo não tendo uma articulação forte local, esse setor mantém relações com instituições de cunho nacional.

Foi mencionada reiteradamente, nas entrevistas e nos debates da Oficina Pública, a relação de proximidade entre políticos profissionais e algumas organizações locais. Segundo parte dos interlocutores, esse fato comprometeria, sobremaneira, uma participação mais qualificada e autônoma tanto nos espaços formais de discussão e de elaboração de políticas públicas (Conselhos municipais, Conferências) quanto em fóruns de debate:

“Terceiro Setor da cidade também é muito ligado a um politico, a um vereador, a uma personalidade da cidade”.

“Em Praia Grande, tem muita ONG picareta, só fachada. Aqui, tem ONGs que são usadas só para politicagem. Em ano de eleição, aparece em tudo quanto é mídia local”.

“Nas associações de bairro, os caras vão lá e colocam alguém do Prefeito”.

De um modo geral, as queixas sobre o baixo nível de participação da sociedade civil local assumiram um tom quase unânime entre os entrevistados. Os argumentos lançados para justificar essa fragilidade recaem, dentre outras coisas, sobre a já mencionada relação com os políticos (profissionais), sobre o fato de Praia Grande possuir um perfil de “cidade-dormitório” e, portanto, haver pouca identificação com o município e pouco envolvimento de grande parte dos moradores na dinâmica local cotidiana:

“Hoje, eu cheguei abismada [com o número de presentes na Oficina]. Mas isso é algo que é parte da dinâmica da cidade, as pessoas não participam. Não sei se é porque as pessoas não têm amor pela cidade ou é a questão de ser uma cidade-dormitório. E quando chega o fim de semana, ele também não fica aqui. Então, ele não vai à praia, ele não participa, porque ele não vive a cidade” [segundo os relatos, até existem alguns espaços sendo articulados pela sociedade civil, mas a população não teria uma cultura de ocupar esses espaços de maneira participativa].

“A dificuldade é movimentar essa massa pra participar”.

Relevante também é o reconhecimento de que a participação popular, ainda que considerada insuficiente, encontra-se latente, podendo vir a ser uma grande potencialidade, se houver o necessário incentivo à cultura de participação política e à constituição de espaços propícios a essa prática:

“Ao mesmo tempo que é uma fragilidade, que hoje não funciona, é uma potencialidade, ou seja, com um trabalho de reeducação política, há muita possibilidade de consolidar uma cultura de organização popular que busque mudanças pra região”.

Os debates e as entrevistas não captaram menções a outros modelos de gestão participativa ou a fóruns de debates no município, como o Orçamento Participativo e a Agenda 21, e nem fizeram referência a essa ausência como uma lacuna a ser preenchida.

4.1.2. Os Espaços de Gestão Participativa

4.1.2.a. Legislação Municipal

São verificados na Lei Orgânica da Praia Grande alguns instrumentos de exercício da soberania popular, tais como a o referendo e o plebiscito1 - que devem ser respectivamente autorizado e convocado, de forma

1 Existe previsão expressa de consulta plebiscitária nos casos de supressão ou fusão de distritos, à população diretamente interessada

(art. 5º).

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privativa pela Câmara (art. 16), e a iniciativa popular de projeto de Lei Ordinária, Complementar (art. 48) e emenda à Lei Orgânica (art. 47, inciso III), sempre subscritas por no mínimo 5% dos eleitores inscritos no Município (art. 50).

A proposta popular deverá ser articulada, exigindo-se, para o seu recebimento pela Câmara, a identificação dos assinantes, mediante indicação do número do respectivo título eleitoral, bem como a certidão expedida pelo órgão eleitoral competente, contendo a informação do número total de eleitores de Praia Grande (art. 50, § 1º).

A Lei Orgânica Municipal também pode ser emendada por iniciativa do Prefeito e por um terço, no mínimo, dos membros da Câmara. Em todo caso, a proposta deverá ser discutida e votada em dois turnos, sendo considerada aprovada quando obtiver, em ambos, dois terços dos votos (art. 47).

Quanto às leis complementares, estas exigem para sua aprovação o voto favorável da maioria absoluta dos membros da Câmara e podem ter por objeto as seguintes matérias (art. 51):

- Código Tributário Municipal;

- Código de Obras ou de Edificações;

- Código de Posturas;

- Código de Zoneamento;

- Código de Parcelamento do Solo;

- Plano Diretor;

- Estatuto dos Servidores Municipais:

- Plano Plurianual;

- Diretrizes orçamentárias;

- Criação, estruturação e atribuições de órgãos da Administração Municipal, direta ou indireta.

Existe previsão, também, de que às comissões permanentes e especiais constituídas pela Câmara caberá realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil, bem como receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas, em razão da matéria de sua competência (art. 33, § 2º, incisos I e II).

O Plano Diretor2 , a seu turno, se apresenta como referência obrigatória para a aplicação dos instrumentos de gestão democrática da cidade (art. 2º inciso V da Lei) e afirma este princípio como orientador da ação municipal por meio da participação da comunidade nas decisões de matérias de interesse local (art. 12, inciso II).

Para tanto prevê os seguintes instrumentos: órgãos colegiados de política urbana; debates, audiências e consultas públicas; conferências sobre assuntos de interesse urbano, e iniciativa popular de projetos de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano (art.6º).

Além destes, destaca como institutos jurídicos e políticos de apoio à implementação do Plano Diretor a assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos, e o referendo popular e o plebiscito (art. 5º, incisos XVII e XVIII).

Por fim, determina que o processo de planejamento do Município, a ser coordenado pelo Executivo, garantirá a participação da comunidade na tomada de decisões sobre temas de interesse da coletividade, em especial, e necessariamente, no que concerne a (art. 116):

I. Lei de Diretrizes Orçamentárias;

II. Plano Plurianual de Investimentos;

III. Orçamentos anuais;

2 Lei Complementar nº 473 de 2006.

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IV. Revisões regulamentares e extraordinárias do Plano Diretor;

V. Revisões regulamentares e extraordinárias dos Planos Setoriais e da Lei de Ordenamento do Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo.

Contudo, a forma da participação nesses casos será regulamentada por ato do Executivo (art. 117, caput).

A participação popular em questões da vida do município também fica assegurada pela Lei Orgânica, pela existência e funcionamento de setores da comunidade não institucionalmente organizados, tais como os Conselhos Populares, os movimentos sociais espontâneos e as associações não formais. Perante estes, deve o Poder Público considerar os encaminhamentos que venham a dar ou suas solicitações (art. 263 e 264).

Nesse sentido, quanto aos Conselhos, no que tange ao planejamento municipal da política urbana, fica previsto pela Lei Orgânica a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano pelo Poder Executivo, o que foi feito por meio da Lei Complementar nº 152 de 1996, e cuja composição ficou determinada pelo Decreto nº 3.335 de 2002, alterado pelo Decreto nº 3.987 de 2005.

Conforme o Plano Diretor, este Conselho é o órgão de assessoramento do Executivo Municipal na formulação da política de desenvolvimento urbano e na implementação do processo de planejamento, com as seguintes finalidades (art. 11):

I. Opinar sobre as revisões sistemáticas e extraordinárias do Plano Diretor;

II. Opinar sobre planos e projetos decorrentes do Plano Diretor;

III. Zelar pelo cumprimento das prescrições desta Lei Complementar;

IV. Propor programas voltados ao aprimoramento do processo de planejamento e do desenvolvimento local.

Importante destacar a criação do Conselho Gestor do Fundo de Habitação pela Lei nº 1.326 de 2006, a quem cabe, entre outras atribuições, apreciar os programas de intervenção da política habitacional (art. 29, inciso V, do Plano Diretor).

Ademais, quanto à metropolização do município, está prevista a sua participação no Conselho criado pelo Decreto estadual nº 41.361, de 1996, com o nome de Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (art. 157 da LOM). A ele serão encaminhadas pelo poder público municipal as sugestões relativas ao equacionamento das soluções para problemas de âmbito regional tais como a superlotação das cadeias públicas e a insuficiência da unidade regional de internação para o adolescente infrator (art. 42 do Plano Diretor), e a busca de soluções visando a ampliação da oferta para a superação dos déficits atuais de abastecimento de água e para garantir atendimento do crescimento futuro da demanda (art. 83 do Plano Diretor).

No âmbito do desenvolvimento econômico, prevê a Lei Orgânica a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico, integrado por empresários, técnicos e representantes dos diferentes setores de atividade, com o objetivo de apresentar subsídios para o planejamento desta política setorial (art. 167) e de agilizar e potencializar a execução das diretrizes de desenvolvimento econômico fixadas pelo Plano Diretor (art. 13 e 15). Contudo, este Conselho não foi criado por lei posterior.

Com vistas ao atendimento dos princípios da preservação do meio ambiente, também está prevista a criação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, enquanto órgão autônomo e deliberativo, composto por representantes da comunidade em geral (art. 213, LOM; Lei nº 1.108 de 2000). .

Além destes conselhos, estão previstos na legislação de Praia Grande outros conselhos gestores de políticas públicas: o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Geográfico, Arqueológico, Artístico e Turístico (art. 237, LOM), o Conselho de Saúde (Lei nº 720 de 1991), o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (Lei nº 724 de 1991), Conselho do Idoso (Lei nº 865 de 1994), Conselho de Assistência Social (Lei nº 936 de 1996), Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Lei nº 981 de 1997), Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

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Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação – FUNDEB (Lei nº 1.350 de 1997), Conselho de Segurança Municipal e Entorpecentes (Lei nº 971 de 1997), Conselho de Defesa do Meio Ambiente3 (Lei nº 1.108 de 2000), Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Lei nº 1.221 de 2004), Conselho de Educação (reestruturado pela Lei nº 1.241 de 2005), Conselho de Defesa dos Direitos do Negro e Promoção da Igualdade Racial (Lei nº 1.509 de 2010), Conselho dos Direitos da Mulher (Lei nº 1.550 de 2011), Conselho da Juventude (Lei nº 599 de 2011), Conselho dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Lei nº 1.595 de 2011), e Conselho de Turismo (Lei nº 1.298 de 2006), Conselho Municipal Antidrogas (Lei nº 1.551 de 2011).

Desta forma, Plano Diretor e Lei Orgânica apresentam coerência na garantia de participação cidadã nos espaços decisórios da gestão pública municipal.

4.1.2.b. Espaços de Gestão Participativa e seus Desafios

A política de gestão participativa, no município de Praia Grande, parece se concentrar em torno dos Conselhos Municipais de Políticas Públicas. Entretanto, quando se procura maiores informações sobre esses espaços, no site da Prefeitura, chama atenção a ausência de dados importantes: se, por um lado, estão disponíveis as legislações que instituíram os respectivos Conselhos, por outro, as suas funções e atribuições específicas, a composição de cada um desses espaços (com as organizações que os compõem), suas agendas de reuniões e a documentação de suas últimas resoluções e atividades não estão disponíveis ao público por essa ferramenta. O que existe é um link chamado “Órgãos e Conselhos”, no qual é possível encontrar informações apenas do Conselho de Saúde e do Conselho para Assuntos das Pessoas com Deficiência. O Conselho de Saúde fornece ainda informações mais completas que aquelas disponíveis para o Conselho para Assuntos das Pessoas com Deficiência. O Conselho de Saúde, nesse sentido, poderia ser tomado como modelo para os outros Conselhos, ao disponibilizar: seu histórico, sua composição (apresenta o presidente e o vice-presidente, mas falta identificar os outros conselheiros), seu calendário de reuniões, suas atas de reuniões, seu regimento interno, seus pareceres, suas deliberações etc.

Praia Grande possui um número significativo de Conselhos de Políticas Públicas, abrangendo as mais diversas temáticas e totalizando 18 Conselhos municipais. A cidade não conta apenas com um Conselho de Políticas Culturais/Incentivo à Cultura – que seria de grande importância para pensar democraticamente em políticas públicas integradas nessa área, não apenas voltadas ao turismo/turistas, mas para desenvolver programas e ações voltados à população local. Além desse, Praia Grande parece ter desativado os Conselhos de Esportes e de Desenvolvimento Econômico, que antes existiam (o primeiro foi instituído pela Lei n. 958/96, o segundo, pela Lei Complementar n. 56/93).

O site da Prefeitura, de modo geral, é bem estruturado, claro e fornece informações úteis aos munícipes, assim como aos turistas (como links para a história do município e para o guia de atrações turísticas e culturais de Praia Grande). Existe um link específico para as ‘Contas Públicas’ e outro para o Portal da Transparência do município - (http://praiagrande.prefeitura. sp.etransparencia.com.br/portal/transparencia.aspx), -obedecendo à Lei Complementar nº 131 de 2009, que acrescentou novos dispositivos à Lei de Responsabilidade Fiscal, para a qual Praia Grande seria legalmente obrigada a ter esse Portal instituído, uma vez que possui mais de 50 mil habitantes. O site também conta com um link específico para a divulgação de notícias de Praia Grande (PGNotícias) e para a pesquisa de notícias postadas anteriormente. Por fim, existe espaço específico para a consulta de legislações do município.

Ao navegar pelo site da Prefeitura, entretanto, não foi encontrado um serviço online para contato direto com a Ouvidoria Pública municipal. Apesar de fornecer informações sobre os Secretários municipais, não foram encontrados dados sobre as funções das Secretarias e seus respectivos contatos para atendimento ao público. Além disso, não foi encontrado link para o Diário ou Boletim Oficial do município. Esse canal de comunicação seria uma ferramenta importante para ampliar a divulgação das atividades, reuniões e resoluções dos Conselhos municipais inclusive, permitindo um maior controle social desses espaços de gestão participativa. Seria interessante, também, instituir um mecanismo mais refinado de busca e de pesquisa dos conteúdos disponíveis no site da Prefeitura.

3 É princípio básico da política ambiental do Município a participação comunitária na defesa do meio ambiente (Artigo 44, inciso III do

Plano Diretor).

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O site da Câmara Municipal, por sua vez, é bem estruturado e conta com seu próprio Portal da Transparência (http://www.lei131.com.br/camarapraiagrande), bem como links para notícias, Ordem do Dia, Resumo das Sessões, apresentação dos Vereadores e das Comissões Permanentes, além de link direcionado à página de consulta de legislações do site da Prefeitura. No tocante à disponibilização das legislações que instituíram os Conselhos, caberia um trabalho conjunto com o Executivo municipal, para sistematizar e disponibilizar, em uma única página (como a de “Órgãos e Conselhos”), as legislações de todos os Conselhos existentes (seguindo o exemplo do Conselho de Saúde e do Conselho para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência).

Tratando de espaços de gestão participativa e de mecanismos de transparência da gestão pública, é importante mencionar que Praia Grande parece não ter realizado a Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social (Consocial) no início de 2012, diferente da maioria dos municípios paulistas, mas à semelhança de alguns municípios do litoral sul da Baixada Santista (como Itanhaém e Peruíbe). A realização da Conferência teria sido de grande importância para o aprofundamento da temática no município. O conjunto das resoluções tiradas costuma lançar luz sobre os principais problemas locais relativos aos espaços de gestão participativa (por exemplo, os Conselhos municipais de Políticas Públicas) e à transparência no trato da gestão pública, possibilitando novas medidas formuladas democraticamente. Os assuntos debatidos, na Consocial, têm sido divididos em quatro eixos temáticos centrais, sendo eles: Promoção de Transparência Pública e Acesso à Informação e Dados Públicos (Eixo 1), Mecanismo de Controle social, Engajamento e Capacitação da Sociedade para o Controle da Gestão Pública (Eixo 2), Atuação dos Conselhos de Políticas Públicas como Instância de Controle (Eixo 3) e Diretrizes para Prevenção e Combate à Corrupção (Eixo 4). Dentro de cada eixo, são então aprovadas algumas propostas, encaminhadas depois às etapas estadual e federal. O Eixo 3, referente à atuação dos Conselhos municipais, seria especialmente ilustrativo das principais dificuldades encontradas hoje por esses espaços de gestão participativa no município, fornecendo um instrumental a mais para a análise desses problemas pela presente pesquisa.

Tendo em vista a centralidade dos Conselhos de Políticas Publicas para a política de gestão participativa de Praia Grande, foi realizado um mapeamento desses espaços a partir dos dados oficiais disponíveis nos sites da Prefeitura e da Câmara e dos dados fornecidos pela gestão municipal. O resultado é esboçado, de forma sintética, conforme é possível visualizar no quadro anexo.

Além das informações disponíveis nos sites, as informações disponibilizadas pelas organizações da sociedade civil, por meio das entrevistas, serviram para guiar a avaliação dos Conselhos. O quadro acima permite apontar e destacar algumas características, previstas nas legislações que os instituíram e no funcionamento que foi possível aferir, portanto, também através dos entrevistados.

Parece que a totalidade dos Conselhos tem prevista uma composição paritária ou tripartite, o que sinaliza, pelo menos formalmente, a intencionalidade de garantir uma representação equilibrada entre o Poder Público e a sociedade civil. É evidente que a previsão legal não é, por si só, garantidora da representatividade do conjunto da sociedade civil e do equilíbrio na participação entre sociedade civil e Estado. Entretanto, pode-se afirmar que a maior parte dos Conselhos municipais de Praia Grande possui uma composição numericamente igualitária entre Poder Público e sociedade civil. Exceção deve ser feita apenas ao Conselho de Segurança Municipal e Entorpecentes, cuja lei estabelece sete assentos ao Poder Público contra somente cinco da sociedade civil. O Conselho de Educação também merece destaque aqui, por não garantir uma composição tripartite entre os seus membros. Com efeito, esse Conselho não tem estipulado, por lei, assento para entidades da sociedade civil, para alunos ou para pais de alunos (fato que perece ser pouco habitual nesse tipo de Conselho).

O caráter de boa parte dos Conselhos parece ser deliberativo. Formalmente, portanto, a maioria dos Conselhos teria o poder de propor e deliberar sobre as políticas públicas a serem implementadas nas respectivas temáticas. Entretanto, alguns Conselhos importantes para o município são, por lei, apenas consultivos. É o caso dos Conselhos do Idoso, de Desenvolvimento Urbano e de Segurança Alimentar e Nutricional. Seria importante garantir a natureza deliberativa desses Conselhos por lei, para que a população possa participar, de fato, da formulação de suas respectivas políticas públicas. No entanto, apesar do caráter

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formal, a efetividade do processo deliberativo levantou certa polêmica entre os interlocutores da sociedade civil:

“Todos os Conselhos Municipais, exceto Saúde, não existem; o governo discute o tema da forma que querem. Não há espaço nem informação. Os que recebem Fundos do governo federal têm que ter discussão; os outros são mera formalidade”.

“O Conselho Municipal foi criado para gerir o Fundo Municipal de Habitação. A gente influencia muito pouco nas políticas de habitação”.

“Deliberativo, assim como está no papel, mas é um rolo compressor”.

“As deliberações são aceitas pelo Poder Público e aplicadas? São”.

É importante destacar que vários Conselhos de Praia Grande (pelo menos, oito) têm previsto como atribuição específica, nas legislações que os instituíram, a convocação e proposição de Conferências públicas municipais, instrumentos importantes para a definição democrática das grandes diretrizes de suas respectivas políticas públicas, que serão implementadas no município, através da participação de todos os segmentos relacionados com a temática. Seria importante, nesse sentido, explicitar essa atribuição nas legislações que instituíram os demais Conselhos, garantindo-lhes essa autonomia. Vale mencionar a fala entusiasmada de um dos representantes da sociedade civil entrevistado:

“Participei da Conferência de Saúde em 2002 e me orgulho muito de ter participado disso, porque conseguimos a implementação de uma UTI”.

Está prevista uma periodicidade mensal para as reuniões ordinárias de quase todos os Conselhos, por lei, além de possíveis reuniões extraordinárias. Todavia, o tema do funcionamento também gerou relativa polêmica no que toca as opiniões cedidas pelos entrevistados da sociedade civil. Há quem frise o funcionamento regular dos Conselhos de Praia Grande, assim como há quem critique a redução do número de reuniões de um dos Conselhos, por exemplo:

“O Conselho se realizava mensalmente, mas no mês passado mudaram a reunião para a cada três meses, porque, segundo eles, não tem papo para discutir”.

“As reuniões [dos Conselhos] são mensais, e todos [são] deliberativos. Os outros, CMAS, CMDCA, também funcionam muito bem”.

“Os Conselhos funcionam bem. Conselho do Idoso, Conselho Tutelar... aqui, em Praia Grande, funciona”.

No que diz respeito ainda ao funcionamento dos Conselhos, é importante ressaltar que uma parte significativa desses espaços (foram contabilizados cinco ao todo) deve ser, por lei, presidida pelo Poder Público ou, em última instância, a escolha de sua presidência deve recair sobre o Poder Público (como são os casos do Conselho de Educação e do Conselho de Segurança Municipal e Entorpecentes). Entretanto, essa previsão legal, para alguns interlocutores, pode ser um impeditivo à plena autonomia dos Conselhos municipais, influindo sobre o seu real poder deliberativo.

“É deliberativo, mas é um rolo compressor. O Secretário de Obras preside o Conselho”.

Esse tipo de legislação costuma sinalizar a importância estratégica assumida por certos Conselhos municipais. São ilustrativos dessa característica, em Praia Grande, os Conselhos de Defesa do Meio Ambiente, de Desenvolvimento Urbano, de Turismo, de Segurança Alimentar e Nutricional e o Conselho Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social:

No que tange a representação da sociedade civil, a insuficiência de informações oficiais disponíveis não tornou possível um mapeamento mais aprofundado da composição da sociedade civil de cada Conselho.

O que foi possível averiguar é que a legislação pertinente reserva todos os assentos de representação da sociedade civil, de antemão, para algumas organizações específicas. No caso do Conselho de Desenvolvimento Urbano, por exemplo, são elas: 1) a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Praia Grande, 2) a Associação de Construtores da Baixada Santista, 3) o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais do Estado de São Paulo, 4) o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, 5) a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Praia Grande, 6) o Centro de Desenvolvimento em Estudos e Pesquisas Ambientais e 7) o Núcleo de Planejamento

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de Desenvolvimento Habitacional. O perfil das organizações destacadas para terem assento, no Conselho em questão, é de natureza técnica em sua maioria e/ou identificadas com os representantes do setor imobiliário em geral. O Conselho não prevê, de antemão, a participação de associações de bairro e nem de movimentos populares, a exemplo do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social, que garante a proporção de ¼ das vagas para os movimentos populares relacionados à problemática habitacional.

Outro ponto que merece destaque se refere ao perfil da sociedade civil exigido para a representação no Conselho de Educação. Por lei, os representantes civis desse Conselho deverão ter necessariamente formação escolar de nível superior (previsão legal esta que não parece ter uma natureza democrática, mas que, na realidade, reforça a ideia da participação como algo de caráter técnico e não político).

Por fim, cabe fazer uma menção positiva às legislações que instituíram o Conselho da Juventude e o Conselho para Assuntos das Pessoas com Deficiência, ao preverem assentos específicos para o segmento da população que pretende defender (nesse caso, para as pessoas portadoras de alguma deficiência e para os jovens), e não apenas para as entidades que prestam algum serviço voltado a esse segmento.

A infraestrutura necessária à realização das atividades dos Conselhos não foi apontada como um ponto crítico ao funcionamento dos Conselhos de Praia Grande, durante as entrevistas realizadas. Em outros municípios do litoral paulista, esse ponto foi mais explorado nas Conferências Municipais sobre Transparência e Controle Social (Consocial). À primeira vista, partindo das legislações que os instituíram, pelo menos, a metade dos Conselhos dependeria do apoio administrativo e material das Secretarias às quais são vinculados, não prevendo nenhuma dotação orçamentária própria por lei. Tal dependência também costuma estar associada ao baixo grau de autonomia desse tipo de espaço participativo, sendo desejável uma maior autonomia financeira por parte dos Conselhos, para que possam realizar seus objetivos.

Não foi possível aferir o grau de incidência dos Conselhos no Orçamento Público, devido à insuficiência de dados oficiais disponíveis ou de dados que foi possível ter acesso. Pôde ser identificado que cinco dos 18 Conselhos possuem um Fundo próprio (todos ligados a algum sistema nacional de políticas públicas), sendo que outros quatro podem vir a propor a criação de algum Fundo semelhante por lei. O Conselho para Assuntos das Pessoas com Deficiência, por sua vez, é o único que tem estabelecido legalmente como uma de suas atribuições: "apresentar propostas à Administração Pública para o Orçamento nos Planos Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária – LO, integrando o deficiente nas políticas públicas municipais". Entretanto, pode-se afirmar que a capacidade e a possibilidade dos Conselhos de intervirem, no Orçamento Público, perpassa também a criação de espaços públicos específicos para esse fim, que possibilitem a participação e a intervenção da sociedade na definição e na priorização de políticas, no âmbito do processo orçamentário (através, por exemplo, do “Orçamento Participativo”, instrumento amplamente conhecido no país).

Por fim, não foi possível atestar a existência, ou não, de atividades formativas regulares e sistemáticas para os conselheiros, nem de iniciativa da sociedade civil, nem do Poder Público. Esse ponto deverá ser objeto de posterior averiguação por parte da presente pesquisa. Contudo, vale ressaltar que a capacidade de discutir e de interferir nas políticas públicas, o conhecimento sobre o processo orçamentário, o conhecimento da temática tratada pelo respectivo Conselho, bem como da questão da autonomia, da representação e da representatividade, se apresentam como temáticas importantes para os processos formativos a serem desencadeados, fortalecendo a atuação dos conselheiros nos seus espaços e o funcionamento dos Conselhos consequentemente.

4.2. Leitura Comunitária: Visão do Município e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentável

(O olhar da sociedade civil organizada e o olhar dos moradores pela pesquisa de opinião)

As considerações, abaixo, resultam do processo participativo desencadeado no município de Praia Grande, junto às organizações da sociedade civil, por meio de entrevistas com 07 organizações, além de uma oficina pública com a participação de 26 pessoas de 11 instituições e de uma pesquisa qualitativa junto a dois grupos

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de moradores de Praia Grande. Os dados resultantes desse processo foram compilados e sistematizados abaixo, procurando refletir as principais questões e visões apresentadas sobre o município, suas políticas públicas, perspectivas de desenvolvimento e visão sobre os possíveis impactos dos grandes projetos previstos para o litoral paulista.

Procuramos explicitar, no texto, os diferentes pontos de vista dos mais variados segmentos entrevistados e os interesses diversos evidenciados pelos mesmos, sempre a partir de uma perspectiva democrática e inclusiva, no sentido de considerar legítimas todas as opiniões que se colocaram, ainda que contraditórias e/ou excludentes entre si. As citações destacadas são ilustrativas das sínteses alcançadas.

4.2.1. A Gestão Pública e as Políticas Públicas em Praia Grande

Gestão Pública

A avaliação da atual gestão pública, por parte dos entrevistados da sociedade civil, esteve vinculada recorrentemente à gestão anterior e à figura política de seu ex-prefeito, Alberto Mourão. Parece haver certo consenso em torno da visão de que Praia Grande se desenvolveu e despontou durante a gestão passada, seja porque esta teria imprimido fôlego à imagem turística de Praia Grande, seja porque teria trazido infraestrutura e serviços públicos a bairros carentes do município:

“O governo atual é de continuidade, e o Mourão fez um ótimo trabalho, enfrentando sérios problemas. Entretanto, a cidade não parou, e a aceitação dele chega a mais de 80%, porque mostrou uma ótima gestão”.

“O prefeito Mourão tinha uma visão de futuro, uma visão de empreendedor do investimento do turismo”.

“O Mourão deu o grande boom para estruturar a cidade”.

“Reavalio minha posição sobre o Mourão. Antes Mourão e depois Mourão. Não existia saneamento, saúde, educação. Continua sendo um ditador, mas um ditador a favor do povo. (...) Se ele trabalhar como na última gestão, ouvindo as pessoas, já está bom. Saneamento, água, na terceira zona. Temos uma Prefeitura que as pessoas nos tratam bem”.

Contudo, surgiram críticas quanto à falta de rotatividade na ocupação dos cargos públicos de gestão de Praia Grande, evidenciada pelo revezamento sucessivo de figuras do mesmo partido político há cerca de vinte anos. Em alguns momentos, essa crítica à predominância continuada de um mesmo grupo político, à frente do Poder Público local, é identificado como uma forma de coronelismo arraigado (e associado ao atraso):

“Praia Grande é uma cidade que está perto de uma das maiores cidade do mundo e que ainda tem coronel”.

“Quem pensa a cidade? O poder local daquela época é o mesmo poder de agora. Quem manda em 70, pensa hoje”.

Do ponto de vista da gestão propriamente dita, foram levantadas críticas no que diz respeito à ausência de uma política de planejamento urbano efetivo, de modo a se antecipar aos efeitos negativos do rápido crescimento pelo qual tem passado o município nos últimos anos, o que resultaria na ocupação desordenada do território. Durante a oficina pública, também foi destacada a falta de planejamento integrado entre as políticas das respectivas secretarias:

“A cidade não se preparou para a realidade que enfrenta hoje. Para se preparar, seria necessário mais 20 anos”.

“Quando fizeram a terceira zona, construíram bairros sem saída. Fizeram um viaduto, tinha que passar ônibus. Já é a terceira vez que tem de reformar tudo”.

De forma semelhante, críticas contundentes foram endereçadas, por parte de organizações locais da sociedade civil, no que toca o fechamento da Secretaria Municipal de Habitação. Nesse quesito, lamenta-se a ausência de um espaço próprio para a discussão de temas ligados à moradia, uma das grandes demandas do município hoje, bem como se denuncia a postura omissa da gestão municipal para atender essa demanda:

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“O governo municipal fechou a Secretaria de Habitação. Eles não têm um espaço que recebe a comunidade para falar de moradia. A interlocução hoje é com a Secretaria de Obras. Ficou mais difícil, pois não tem um Secretário que trate exclusivamente de habitação. Tem menos tempo para atender as famílias, para falar de moradia, porque eles também têm que dividir o tempo com outras coisas pra fazer”.

“Até hoje, a administração não assume a responsabilidade da política de habitação. Delegam ao Governo do Estado”.

Quanto à relação estabelecida entre gestores públicos e sociedade civil, os participantes da Oficina Pública apontaram para a existência de uma prática comum de apadrinhamento político em benefício de certos políticos e entidades locais, configurando relações clientelistas e de utilização indevida da máquina pública para fins privados, através das quais essas entidades conseguiriam disputar recursos para executar tarefas que, a priori, seriam de responsabilidade do Poder Público municipal:

“Em Praia Grande, tem muita ONG picareta, só fachada. Aqui, tem ONGs que são usadas só para politicagem. Em ano de eleição, aparece em tudo quanto é mídia local”.

“Terceiro Setor da cidade também é muito ligado a um politico, a um vereador, a uma personalidade da cidade”.

Políticas Públicas

O sistema de transporte foi apontado por todos interlocutores como um dos problemas centrais do município, prejudicando a mobilidade urbana e regional diária de seus habitantes. As críticas e insatisfações se dirigem, em geral, à demora nos trajetos, à superlotação dos ônibus, aos poucos veículos em circulação, ao preço da tarifa e ao monopólio existente no setor. A retirada das lotações de circulação, por sua vez, parece ser polêmica. Nos grupos de discussão da pesquisa qualitativa junto a moradores, a tendência foi lamentar tal fato, responsabilizando-o pela piora na qualidade do serviço de transporte prestado:

“O transporte aqui é um dos piores que tem”.

“Se você hoje for pra Santos, pegando o ônibus, chega mais rápido a São Paulo do que à Ponta da Praia” [demora-se 1h50 aproximadamente].

“Saí quatro e meia da tarde para chegar às sete e meia em Santos. Se tivéssemos peruas, para chegar no terminal, seria mais fácil. Voltar, então, é um caos. Se eu perder o ônibus das dez, não chego até meia-noite, e os ônibus param nesse horário. Até dez anos atrás, tínhamos uma cidade dormitório e era impossível as pessoas trabalharem. Na temporada, fica aberto o terminal, por que só para turismo?”.

“Está R$2,90, muito caro, e eles não colocaram mais ônibus (...) porque só tem uma empresa e não é permitido nenhuma empresa entrar (...) passou da meia-noite, não tem mais ônibus (...) o intervalo entre os ônibus é muito grande, são poucos ônibus, no horário de pico é terrível, os ônibus lotados... (...) de lotação, o preço seria menor e ela te levaria até mais perto da sua casa”.

“É monopolizado pela [empresa] Mar Azul. Gostaria que aprovasse o transporte alternativo”.

“Transporte é monopólio, é só uma empresa (...) tinha lotação e todo mundo usava, mas a Prefeitura tirou. Meu colega aqui do lado é contra, mas eu sou a favor da lotação, porque é mais barato, mais rápido, mais eficiente, mais tudo (...) a quantidade de ônibus é pouca, é muita gente (...) para você ir para o Boqueirão, você fica quase uma hora no ponto (...) eu pego o ônibus às seis e meia e venho pendurada na porta”.

Os problemas vivenciados no uso do sistema de transporte parecem ser significativos para aquela parcela considerável da população que se desloca diariamente para outros municípios vizinhos, para trabalhar. A mobilidade intermunicipal seria desgastante devido aos longos trajetos e à consequente demora:

“Aqui, na Praia Grande, tem muita gente que trabalha em Santos, São Vicente e Cubatão. Daqui pra Cubatão, é uma eternidade pra chegar, você atravessa São Vicente, Santos até chegar lá”.

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É interessante notar que apenas uma organização da sociedade civil fez menção ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o que pode sinalizar que o novo sistema talvez não seja visto como saída para o problema da mobilidade ou mesmo que não é ainda de amplo conhecimento público:

“VLT vai sair, sim! Do Samaritá pra Santos. Como vai diminuir a frota, por conta do VLT, as pessoas antes do Samaritá irão se prejudicar”.

“É assim, ó, o Veículo Leve sobre Trilhos vai começar no Samaritá e vai deixar toda essa população, que deveria ser atendida sem a utilização desse transporte. Pra você utilizá-lo, você vai ter que pegar outro ônibus, que (...) acho que vai diminuir a frota por conta, inclusive, do VLT”.

No que se refere às políticas públicas de incentivo ao emprego e à qualificação profissional, também parece haver um amplo consenso em torno da percepção de que existem poucas oportunidades disponíveis no município, forçando seus habitantes a buscar postos de trabalho e formação profissional em municípios vizinhos da Baixada Santista. Uma das preocupações centrais dos interlocutores, nesse sentido, costuma recair sobre a falta de oportunidades voltadas aos jovens, na medida em que é identificada como um dos estímulos à falta de perspectiva de futuro e à entrada precoce no universo das drogas:

“Oportunidades, quem é da Praia Grande tem que sair para outras cidades”.

“Falta qualificação profissional. Em Santos e Cubatão, há várias que são comentadas. Aqui, não há escolas para pessoas que não têm condição”.

“Perspectiva pro jovem tem que ser buscada lá fora, Santos, São Paulo”.

“A vida dos jovens? Uma porcaria, porque falta qualificação e oportunidade para os jovens”.

“Não tem um curso gratuito de capacitação, curso técnico. Se não tiver uma estrutura boa, muitos pendem a ir pra outros campos, pras drogas...”.

“O jovem de Praia Grande não conhece a cidade, eles conhecem seu bairro, ele não sai dali. É preciso criar coisas que façam com que ele crie raízes com sua cidade. É cada um por si, Deus por todos”.

“Por isso que eu tô falando que a gente tem que começar a cuidar das drogas, pra gente conseguir resgatar esses jovens, pra conseguir inserir eles no mercado de trabalho. Porque, se por um acaso, chegasse aqui uma empresa, ia ser difícil. Porque a droga emperra eles”.

Outra faceta da busca por emprego em municípios vizinhos, devido à insuficiência de oportunidades locais de trabalho para a população de Praia Grande, apontado por duas organizações da sociedade civil, diz respeito à situação vulnerável na qual são deixadas as crianças e os adolescentes do município – seja porque os pais que trabalham fora não conseguem dar a devida orientação, seja porque (de forma complementar) o governo municipal não garante a rede de serviços públicos necessários ao acompanhamento desses jovens:

“Falta abertura para geração de emprego e isso acarreta outros problemas, como o monitoramento dos filhos adolescentes, que ficam sozinhos por muito tempo, por trabalharem em municípios vizinhos. As crianças não comem bem, por exemplo, por falta de orientação dos pais, e, se trabalhassem aqui em Praia Grande, eles teriam condições de atender os filhos”.

A questão do emprego e da qualificação profissional mobiliza as atenções dos interlocutores, ademais, pelas perspectivas de novas oportunidades que se vislumbram a partir da chegada da Petrobras à região. Para além da natureza temporária de boa parte dos empregos (característica do perfil sazonal da atividade turística) e da reduzida oferta de trabalho existente na cidade (sobretudo, que exija um alto grau de qualificação), o foco das atenções recai sobre a ausência de mão de obra qualificada. Prevê-se que haverá uma forte demanda futura por trabalhadores qualificados, para atuar na cadeia de petróleo e gás e nas demais empresas-satélites que chegarão à cidade, mas avalia-se que a população não está capacitada para ocupar esses novos postos de trabalho, faltando políticas públicas de estímulo à qualificação profissional para a ocupação desses postos mais bem remunerados e valorizados socialmente:

“Aqui tem emprego de praia: quiosque, lanchonete, essas coisas (...) tem serviço temporário, até Banco tem Operação Verão (...). Passou a temporada, falta capacitação para a gente”.

“Aqui tem emprego no mercado, em loja, porteiro, segurança, contabilidade (...) se eu me formo em enfermeira, se eu me formo em curso superior, nessa área de informática, eu vou ter que trabalhar em

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Santos. RH, essas coisas, eu vou fazer curso para trabalhar lá em Santos, aqui infelizmente não tem (...). Se eu quiser ser engenheiro, advogado, aqui eu não posso”.

“Eu, como mecânico, conheço tudo que é concessionária aqui, e cadê os cursos profissionalizantes daqui? Não tem. Sabe quem são os profissionais? São tudo de fora. Aqui não tem mão de obra, não tem qualificação”.

“Aqui tem vários cursos de porteiro, não é só portaria que tem na Praia Grande (...). Aqui não tem SENAI, não tem SENAC, não tem SESI, nada (...) tem faculdade de enfermagem, mas é cara”.

“Aqui vai ter um aeroporto. Claro que vai ter trabalho braçal, mas vai ter muito trabalho para profissional qualificado. Você vai ter que falar três línguas. Se esses jovens de hoje não for estudar, eles vão trazer gente de fora”.

Quando o assunto é educação, as opiniões parecem se dividir: ora ela é avaliada de forma positiva, ora negativa. Em geral, as avaliações positivas destacam o avanço da área nos últimos anos ou costumam comparar a situação de Praia Grande com aquela verificada em municípios vizinhos:

“A questão do estudo está bom; perto do que era, está muito bom”.

“Em relação à educação, é o pior. Falta tudo, falta professores, os diretores trabalham no vermelho, é tudo péssimo. As estaduais são piores ainda. A verba, quando é mandada lá de cima, quase não chega para aqui, na nossa cidade”.

“Nossas escolas são referências em monitoramento eletrônico e em várias outras coisas. Vejo, em comparação com outras cidades, que nós estamos à frente”.

“Está melhorando muito. Estrutura, valorizando o professor...”.

“A maioria das crianças, em Praia Grande, estuda em escola pública”.

Para alguns participantes da pesquisa qualitativa, a distribuição de material e uniforme representa um avanço; para outros, essa medida tem distorções que precisam ser sanadas. A iniciativa de implantar escolas municipais de tempo integral é bastante valorizada, mas lamenta-se que essa experiência tenha um raio de alcance muito limitado:

“Eu acho que está bom a educação, a escola; perto do que era, está muito bom (...) na escola, eles dão material, dão uniforme, dão tênis, dão meia (...) Santos sempre deu uniforme, mas agora faz dois anos que aqui está dando (...). O tênis não entrava no pé, a roupa não entrava...”.

Quanto à oferta de creches, o tom das avaliações ganha contornos mais críticos. A falta de vagas e a exigência de apresentação de holerite, para matrícula, geram insatisfação. Da mesma forma, parece não ser comum as escolas consultarem os pais sobre qual o melhor turno para os filhos, o que pode ocasionar transtornos à vida familiar:

“Moro em Samambaia, tenho uma filha de 4 anos, estou esperando a creche. Fiz inscrição para ela com 8 meses, não saiu, e agora ela vai pra a escola meio período. Mas creche, agora ainda precisa de holerite (...) tem gente que não trabalha registrada, mas trabalha por conta, igual eu que não trabalho registrado, e aí quando eu precisar, como que fica? (...). Minha prima também está tentando pôr o menino na creche e não consegue”.

“Agora eles usam um horário que não é você que escolhe, é das 8h às 11h e depois tem das 3h às 7hs. Agora, o meu está nesse horário das 3h às 7h, e quem é que pode se deslocar, você tem horário fixo de trabalho, você vai sair às 3h para poder levar seu filho na escola?”.

A carência de profissionais qualificados, para atuar tanto na educação quanto na saúde, é outra lacuna apontada pelos interlocutores da pesquisa qualitativa e por algumas organizações da sociedade civil:

“Tanto na área da educação quanto na saúde, faltam profissionais. Veja bem, profissionais tem, só que não estão capacitados. Temos que recapacitar os profissionais”.

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“Trabalhar qualificação profissional dentro das próprias escolas estaduais”.

Nesse ponto, houve quem destacasse ainda a situação específica das pessoas portadoras de deficiência nas escolas, uma vez que receberiam menos atenção do que aquilo que seria considerado o desejado:

“Com 40, 50 alunos em sala de aula, como as professoras vão olhar só pra mim? Não tem como fazer isso”.

Apontou-se a necessidade de uma política pública local que ultrapassasse a questão da acessibilidade estritamente, buscando incorporar uma noção de inclusão social total, e que pensasse na qualificação profissional, na formação/educação especial direcionada às pessoas portadoras de deficiência:

“Vim de um lugar onde o portador era mais respeitado [em Varginha]. Aqui, você não vê. Parece até que portador aqui é escondido pela família e tal. A gente queria que o Poder Público desse mais atenção à questão da inclusão aqui. Porque, na verdade, não funciona”.

Quanto às políticas de incentivo à cultura e ao lazer, as opiniões também parecem se dividir entre aqueles que criticam a baixa oferta cultural e de lazer na cidade - nesse caso, vista como restrita à temporada de verão e/ou inacessíveis ao bolso da maioria da população -, e os que apontam as opções existentes, ainda que aquém do desejado:

“Não tem muitas opções, é shopping e praia”.

“O jovem está sem nada na Praia Grande. Não tem um teatro, um cinema, nada”.

“O Palácio das Artes custa 400 reais, como eu vou pagar? (...) As únicas peças que eu vi gratuita foi infantil (...). O acesso à cultura aqui é que nem ela falou: é muito caro e as pessoas não tem acesso (...). Sobre o teatro, eles divulgam cada coisa que a gente não tem acesso nenhum, só as pessoas da Prefeitura, quem conhece alguém lá... (...). Teve festinha de Natal no Palácio das Artes, meu irmão trabalha lá e ele liberou ingresso para levar a minha filha. Eu mesmo vi que só tinha pessoal da Prefeitura. Eu mesma nem sabia (...). No aniversário de Praia Grande, também teve alguma coisa, mas quem foi? Os barões, peixe grande, só empresas”.

“Melhorou muito. Temos incentivo por parte dos gestores locais e equipamentos muito bons em vários aspectos. Cursos de capacitação, ballet (...), casa do poeta, aulas de viola para realização de serestas, apoio aos cantores locais, festa tradicional junina... Tentando recuperar a cultura tradicional caiçara”.

“Nossa cidade tem 40 anos, é muito nova. A gente tem o Palácio das Artes, é pouco? É pouco, mas a gente já tem o portinho que é de graça. Lá é uma área de lazer para você pegar a sua família e ir lá. Tem esportes, você pode estar fazendo churrasco, você pode estar pescando, lá tem aula de caiaque, de iatismo, pista de Motocross...”.

O Palácio das Artes é um equipamento cuja construção é valorizada, e o Porto do Saber é citado por alguns interlocutores como uma iniciativa positiva que possibilita o desenvolvimento de habilidades artístico-esportivas. O ‘portinho’ é lembrado como uma boa alternativa por quem defende que Praia Grande não é tão carente de opções de lazer. Também foram mencionadas, pontualmente, como outras iniciativas positivas de cultura e lazer do município, a ‘Creche do Idoso’ e o Programa de Integração à Cidadania (PIC):

“Lazer é só praia (...), mas tem academia de graça na praia (...), tem o Belas Artes, que é o teatro. Meu filho faz violino lá (...). Tem a escola chamada Porto do Saber, que é um espaço que lá eles têm aula de karatê, balé, tem dança de salão, dança de rua, trabalho manual, violino... é da Prefeitura”.

“Não, se for falar de maravilha da Praia Grande, tem o Porto do Saber, a Creche do Idoso. Ele fica lá jogando dama (...). As creches são pra famílias que vão trabalhar e aí deixam o idoso lá. Eles levam de manhã e à tarde vão buscar”.

“Tem também o equipamento que a gente não falou ainda, que é o PIC – Programa de Integração à Cidadania. É maravilhoso”.

“[O Programa de Integração à Cidadania] é um equipamento pra toda a comunidade, pra família toda. (...) Fazendo uma comparação, vai, é tipo o SESC”.

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“Tem sete [PICs] no município, agora tem oito, né? Esse meu filho, que hoje tem 16 anos, ele foi campeão brasileiro e paulista de judô [porque teria aprendido judô de graça no PIC]”.

A violência e a falta de segurança estão entre os problemas mais comentados, tanto pelos entrevistados da sociedade civil quanto pelos moradores participantes da pesquisa qualitativa, e costumam figurar no rol de problemas considerados mais sérios de Praia Grande:

“Violência está complicada na Praia Grande”.

“Hoje, a questão da fragilidade é a segurança”.

“Em relação à segurança, a nossa cidade está muito precária também”.

Além de preocupantes, a violência e a insegurança vividas em Praia Grande são vistas como aspectos que comprometem a qualidade de vida, o usufruto das oportunidades de lazer ao ar livre e a imagem turística da cidade:

“Um show, num bairro, não tem mais como fazer por quê? Porque é muita briga entre si. Aqui é horrível, o pessoal se mata, quando abre uma casa de show, já fecha porque é violência demais (...). Não pode levar teu filho para apreciar um show, tanto é que são 7 anos que eu não levo meu filho para ver show na praia”.

“As pessoas falam: ‘Praia Grande? Ah, não vou porque é uma cidade violenta, só tem bandido’”.

“Em Praia Grande, tem muita molecada de bicicleta para assaltar. Pega correntinha, pega celular. E aí, onde o turista vem para curtir a cidade, ele não vem mais. Vai procurar outras cidades, porque aqui não tem mais condições por causa dessa criminalidade”.

Diferentes razões, entretanto, foram acionadas para justificar os níveis de violência do município e a falta de segurança pública: o perfil turístico da cidade, o número insuficiente de profissionais para o policiamento, a falta de preparo para realizar o atendimento nas delegacias, o incentivo público ao policiamento restrito às épocas de alta temporada e às áreas nobres do município ou, ainda, o repasse insuficiente de verbas por parte do governo estadual:

“[A segurança é] o principal problema da cidade. Somos uma cidade balneária e, por isso, chama atenção de bandidos. Falta contingente humano, mas as pessoas não notificam e, com isso, não aumenta o número de profissionais”.

“Na temporada, aumenta o número de pessoas e, portanto, aumenta o número de policiais. Mas, fora da temporada, o morador fica sem proteção. Tem que ter ações de proteção com rondas... chamar, nas escolas, palestras com a PM para os adolescentes e os pais, que, em geral, não conseguem cobrar dos seus filhos. As delegacias não tratam bem, as pessoas são agredidas e, até agora, a polícia não foi ver nada. Tem tempo para a pessoa matar, por falta de atitude da polícia. Se mora [próximo à orla], o atendimento é VIP e, onde mora o povão, não tem atendimento”.

“Segurança (...) é uma pedra no sapato de qualquer Prefeito que assumir. (...) Tudo volta pra Santos, São Vicente. Vêm 400 policias, só vem 10 pra cá. Praia Grande era a terceira opção, né? Quando vinham descer, falavam: “vou pra Bertioga, pra Guarujá, Deus me livre Praia Grande”. Hoje mudou, mas a questão da segurança ainda é um problema. Eu acho que Praia Grande ainda é desprezada, porque tudo vai pra Santos. Repasse de verba”.

Ao tratarem da problemática da violência no município, os interlocutores da sociedade civil frequentemente relacionaram-na ao aumento do tráfico e do uso de drogas nos últimos anos, inclusive, entre os mais jovens. A denúncia também parece vir sempre acompanhada da cobrança por uma postura mais ativa por parte do Poder Público, na forma de políticas sociais abrangentes, que possam fazer frente a esse problema:

“A questão do crack tá demais. É assustador, existe criança com dez, onze anos de idade na boca de fumo, vendendo a droga”.

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“O tráfico de drogas aqui, hoje, é o quarto setor. Ele é organizado, tem dinheiro e tem poder. Chega o traficante, dá uma cesta básica, um barraquinho pra mãe do garoto, é quem cumpre o papel do Estado! Assim, o Poder Público tem que ter muitas outras ações, pra dar conta dessa questão”.

“É preciso uma política social sobre isso”.

“A gente acha que tem que ser criado, pelo governo federal ou estadual, lugares de reabilitação”.

“Seria também uma questão de prevenção. Poderia ser feito muito mais coisas pelo Poder Público”.

A situação vulnerável da criança e do adolescente, em particular, parece ser um tema recorrente entre as falas das entidades da sociedade civil entrevistadas. Novamente, o fato dos pais terem que trabalhar fora, de não conseguirem dar a devida orientação aos filhos e de não haver oportunidades suficientes de emprego e de formação profissional, em Praia Grande, contribuiria para que os jovens se envolvessem com as drogas – o que desencadearia um ciclo de criminalização e de exclusão difícil de ser quebrado posteriormente, para ressocialização desses jovens, a exemplo do que tem ocorrido com a Fundação Casa. Além disso, as drogas desestabilizariam as relações familiares e estariam na raiz de outros problemas sociais, possivelmente, como o aumento da taxa de mortalidade infantil do município:

“A Fundação Casa me faz chorar, porque imagino um monte de crianças que poderiam estar absorvidas por projetos, e deveria haver uma inversão, dar universidades ao invés da Fundação Casa, como solução de Praia Grande”.

“A maior preocupação do bairro, que a gente percebe através do nosso trabalho com saúde, é a dependência química. É muito forte aqui. A gente tem famílias inteiras com este problema”.

“Praia Grande tá aumentando o índice da mortalidade infantil. Em alguns lugares, chegamos à conclusão que a causa são as drogas”.

Por fim, houve também quem mencionasse a falta de preparo dos profissionais de segurança pública para atender as mulheres vítimas de violência doméstica do município, bem como a falta de um conjunto de serviços e equipamentos públicos essenciais para compor a rede protetiva de atendimento dessas mulheres, sem os quais a Lei Maria da Penha não pode ter efetividade:

“A Lei Maria da Penha é excelente, mas, infelizmente, não é cumprida. Falta capacitação para as pessoas que atendem as mulheres”.

“Falta um Centro de Referência à Mulher e outros serviços voltados a essa demanda”.

No que se refere à saúde, em geral, parece predominar a percepção de que a situação desse serviço público, ainda que aquém do desejado, tem tido avanços importantes, principalmente, quando se compara a saúde do município com aquela verificada em nível nacional:

“Está dentro do possível, não está tão ruim assim”.

“Sempre está faltando algo”.

“A questão da saúde era e ainda é um tema complicado”.

“Apesar de aquém do necessário, a saúde até melhorou um pouco”.

“São problemas nacionais. Em Praia Grande, o atendimento é melhor do que muito plano de saúde. Quando vou visitar as unidades, percebi o quanto ela é boa, não é a melhor do Brasil, mas é ótima. Eles, fundação ABC, vão administrar a UPA”.

“A UPA, o hospital estão bons...”.

Surgem críticas quanto à demora na marcação de consultas, à falta de estrutura de algumas unidades e à qualidade do atendimento. Em um dos grupos de discussão da pesquisa qualitativa junto a moradores, houve menções críticas ao número limitado de consultas/mês por família nos postos de saúde:

“O postinho é assim: para marcar uma consulta, é um só por família e eu tenho 6 filhos. Então, é um só a cada 15 dias, lá no postinho da Vila Antártica. Então, você tem esse cartão da família e o pior é que você tem que ir na fila às 5 horas da manhã para conseguir”.

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“Eu tive que ir para outro posto, para imprimir o resultado do exame, porque lá não tem impressora. Uma vergonha isso (...). Uma consulta demora demais, oftalmo demora 3 meses”.

“O secretário do Prefeito disse que eles vão trazer médico de fora para colocar aqui (...). A intenção foi boa, de tentar colocar um médico de horário integral, só que para os médicos o valor era pouco, acabou atrapalhando tudo, nem paga bem, nem tem médico”.

“Tem muito para melhorar (...). Marcamos consulta com gineco, por exemplo, e quem nos atende é uma enfermeira. Médicos que atendem nessas unidades [Unidade de Saúde da Família] ou não são orientados ou são mal pagos, e eles nos tratam mal”.

O hospital Irmã Dulce parece não responder às necessidades da população local, havendo comentários de que ele se encontra saturado (sobretudo, em razão de atender moradores de municípios vizinhos), ao passo que a UPA e o AME são valorizados e serviriam para desafogar um pouco o hospital. Contudo, houve quem elogiasse a administração do hospital Irmã Dulce feita pela Fundação ABC:

“Essa Santa Casa Irmã Dulce, lá não atende crianças. Chega lá, é 3 horas de espera, aí você tem que ir lá numa outra cidade para atender criança pequena (...). Esse hospital daqui atende Mongaguá e Itanhaém. Esse hospital, há 20 anos atrás, estava bom, mas hoje não dá, tem que crescer e não cresce. É muita gente. Está sobrecarregado”.

“UPA estou feliz, mas precisamos de acompanhamentos. A faculdade do ABC está administrando o Hospital Irmã Dulce e é maravilhoso, dando atenção total para cada um”.

“Aqui tem o Posto, tem o Cemas, que é um centro médico que tem aqui na Kennedy, e o AME (...). O AME ajudou um pouco (...), ajudou a desafogar um pouco as especialidades”.

A dependência química, mais uma vez, foi citada por algumas entidades da sociedade civil como um sério problema de saúde a ser enfrentado, junto com as suas consequências indiretas, necessitando de maior atenção e investimentos por parte do Poder Público:

“A gente faz nosso trabalho, a gente sente que a saúde está aqui, as portas estão abertas, mas precisa ser feito um trabalho muito forte em relação à dependência química”.

“Dependência química, que é o forte aqui no bairro [referindo-se às causas prováveis dos problemas na gestação]”.

“Eu acho que é urgente que seja criado pelo governo estadual, federal, o tratamento. Clínicas”.

No que toca o saneamento básico de Praia Grande, os participantes da pesquisa qualitativa apontam os investimentos em curso para a necessária ampliação da rede de esgoto na cidade:

“A rede de esgoto está melhorando (...), mas, quando chove, entope os bueiros”.

“Está começando agora. Aqui, a SABESP está começando a mexer agora (...), mas a parte de esgoto nem está mexendo, teria que mexer em tudo (...), mas está mexendo no esgoto todinho sim”.

Contudo, a maior parte dos comentários recaiu sobre o sistema de coleta de lixo, tendo esse serviço público recolhido avaliações positivas em razão de sua regularidade, do serviço de coleta seletiva e da existência do Cata-Treco. Por vezes, entretanto, destaca-se a maior preocupação do Poder Público municipal com a limpeza urbana da região que concentra as moradias de veraneio dos turistas:

“Está muito boa a limpeza urbana (...), tem coleta seletiva e agora tem até Cata-Treco, é só você ligar lá (...). Nos nossos bairros, o lixo só passa três vezes por semana, mas na orla da praia todinha, eu sei que é todo dia (...)”.

“Aqui, tem lixeiro três vezes por semana. Tem o Cata-Treco que busca dentro da sua casa”.

Foi mencionada a existência de uma cooperativa de catadores e de uma unidade de separação de materiais recicláveis localizada em um antigo lixão da cidade. Como destino final do lixo, aponta-se a região do ABC

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paulista: quer Mauá, ou então São Bernardo. O transporte do lixo seria realizado por uma empresa terceirizada, tida como uma das mais influentes na cidade e cujo nome (‘Rubão’) parece ser bem conhecido por todos os interlocutores:

“Carroceiro tem bastante. Eles pegam porque tem a cooperativa, pega papelão, pega lata de alumínio, porque tem a cooperativa pela Prefeitura. É bom porque gera dinheiro para eles e dá emprego também (...). Estão querendo sumir com os catadores de papelão, porque para a cooperativa não é bom ter eles pegando, porque também pega o lixo que é para eles”.

“Você sabia que Praia Grande, com 400 mil habitantes, ela produz lixo pela cidade de um milhão? (...) O lixo vai para Mauá. Aqui tinha o lixão, agora lá, é o reciclável e é contratada a firma que leva para Mauá (...). Faltando uns dois anos, três anos, para desativar o lixão, falaram que iam criar uma área de lazer (...), mas demora para fazer isso por causa do gás que produz. Tem todo um processo, tem que tirar o gás”.

“Então, o lixo vai para Mauá, só o reciclável fica na cidade (...). Isso gasta dinheiro, mas eles pagam e é uma terceirizada que leva. É a transportadora do Rubão”.

“Vai para São Bernardo de caminhão da empresa que chama Rubão. Às vezes, você pega a estrada e vê caminhão dele passando”.

Junto à questão do sistema de transporte e da segurança pública, a política urbana e habitacional de Praia Grande esteve entre os temas mais comentados – sobretudo, entre as organizações da sociedade civil –, e os problemas decorrentes dessa política parecem ser vivenciados de forma dramática, no cotidiano de boa parte da população residente. Existe um amplo consenso em torno da percepção de que existe uma profunda desigualdade social, que se plasma no (e é plasmada pelo) processo de urbanização, sob a forma de uma cidade representada por três zonas hierarquizadas:

“Foram fatiando a cidade de acordo com o nível social”.

“A zona 1 é cuidada para os turistas, a zona 2 serve de divisão entre os ricos e pobres. Embora a maior parte da população more na zona 3, os equipamentos públicos ficam todos na zona 1”.

A desigualdade socioespacial, nesse sentido, seria alarmante e viria acompanhada de um forte sentimento de contraste: por um lado, um grande déficit habitacional entre a população residente, ocasionando assentamentos irregulares mesmo em áreas de preservação ambiental; de outro, um grande número de domicílios de uso ocasional (segundas residências), usados pela população flutuante apenas em épocas de veraneio. A percepção de contraste, ademais, se agudiza quando se trata da distribuição espacial desigual de equipamentos e serviços públicos, entre as três zonas, e, portanto, da atenção diferenciada despendida pelo Poder Público municipal em cada uma das zonas:

“A gente vê as casas crescendo, com casas bonitas, mas são casas que ficam desocupadas para atender a temporada de férias”.

“Temos área de preservação e há muitas invasões”.

“Os principais espaços públicos ficaram formados na zona 1, que não é constituído pela população da Praia Grande. Se a Prefeitura se voltasse para a zona 3, o setor privado iria também para a zona 3”.

A Zona 1 seria a área de alta renda da cidade, de grandes empreendimentos verticais na orla e com maior investimento público em infraestrutura e serviços, representando o cartão postal da cidade, sua imagem turística. Nela, também estão concentrados os domicílios de uso ocasional da população flutuante, que seria a privilegiada pela política de investimentos da Prefeitura, segundo os interlocutores:

“Quem consegue morar na Ponta da Praia são só os engenheiros” [referindo-se à diferença de preços entre as diferentes zonas da cidade. Ponta da Praia seria área nobre].

A Zona 2, por sua vez, é vista como a linha que separa a cidade ‘rica’ da ‘pobre’, servindo como área de “reserva imobiliária”: a Prefeitura não estimularia a regularização fundiária de seus moradores atuais por ter outros planos reservados para essa parcela do território. Tal fato, segundo os participantes da Oficina Pública, pressionaria os moradores a se deslocar para a Zona 3 da cidade e para as áreas de mangue. O processo de

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urbanização de Praia Grande estaria fundado nos interesses do mercado imobiliário, e a Zona 2, em particular, seria a “carta na manga” para a expansão futura desse mercado, com o auxílio da Prefeitura.

A rodovia SP 055 também foi citada como um divisor físico muito claro entre a área turística da cidade, de alta renda, e a área onde residiria a população fixa do município.

Por fim, a Zona 3 representaria, no tecido urbano, a área mais pobre, mais populosa, onde estaria concentrada boa parte da população fixa do município, embora seja aquela que receba menos investimentos públicos em infraestrutura e serviços, também, contraditoriamente. Não são raros os comentários que expressam um tom de ressentimento:

“A grande população está na Zona 3, que é a área mais abandonada. É como se a terceira zona fosse uma outra cidade”.

“A terceira zona está jogada. Agora que estão fazendo uma coisinha... época de eleição, né?”.

“Zona 3 é a parte de cá, direita, que ninguém vê”.

“Se for feito um mapeamento da zona C, do que está e do que não está regularizado. A Prefeitura só está preocupada com a malha rodoviária, enquanto a Zona 3, Zona C, é deixada de lado”.

Afora o ordenamento territorial socialmente desigual, as organizações da sociedade civil entrevistadas e participantes da Oficina endereçaram críticas às políticas de habitação. Segundo os relatos, o tratamento da questão da moradia popular e do déficit habitacional de Praia Grande teria sido obstaculizado pelo fechamento da Secretaria municipal de Habitação, cujas responsabilidades teriam sido transferidas para a pasta da Secretaria de Obras. Outra queixa diz respeito à falta de apoio da Prefeitura no que toca a regularização fundiária ou a construção de moradias populares, mesmo que autogestionadas. Mencionam-se também as dificuldades encontradas para a regulamentação de instrumentos urbanísticos de interesse popular, como as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS):

“A gente tem toda uma dificuldade, porque o governo municipal não ajuda na questão da moradia, por mais que as cidades da Baixada sejam as que mais cresçam em população. Só a Praia Grande, hoje, tem em torno de 250 mil habitantes. E aqui temos uma necessidade muito grande em relação à Secretaria de Habitação, que foi destituída e unida à Secretaria de Obras, mas que dificulta uma discussão sobre habitação. Outra coisa é que não há uma lei que aprove projetos de interesse social aqui na cidade. Para o nosso projeto ser aprovado, nós teríamos que pagar R$ 58 mil, portanto, tirar das famílias para pagar”.

“Mas, além disso, cada família também pagou sondagem, topografia, CETESB, elétrica e todos os outros projetos. Pagamos muitos encargos e, até hoje, pelas minhas contas, foram cerca de R$ 27 mil, dividido entre todos. Hoje, a gente não recebe ajuda, verba de ninguém. Somos nós e Deus. A Prefeitura só nos doou o terreno e nada mais”.

“Um prefeito que se recusa receber uma associação de movimento, mas que construiu 192 moradias e vai construir mais 400, imagina quanto eles não vão receber de IPTU... Eles não ajudam em nada”.

“Em 2006, foram feitas as ZEIS, mas não foram regulamentadas com leis”.

“A Prefeitura está colocando conjuntos habitacionais na entrada, para esconder o que tem atrás, de forma parecida com o que o Maluf fez em São Paulo”.

Segundo alguns interlocutores da sociedade civil, o déficit habitacional de Praia Grande teria crescido nos últimos anos, estimulado pelo crescimento populacional. Em paralelo, a Prefeitura teria uma política de desenvolvimento fortemente voltada às demandas do setor da construção civil - interessado na valorização imobiliária baseada em domicílios de uso ocasional, sobretudo -, sem atender às necessidades de moradia digna de larga parcela de sua população residente:

“Sim [tem aumentado o déficit habitacional no município], porque a cidade está crescendo muito. A Praia Grande é uma das cidades que mais cresce no litoral. E, na realidade, aqui é uma cidade de construtoras”.

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“No começo desse ano, o governo municipal, para beneficiar algumas construtoras da cidade, criou uma lei de subsídio para isenção de taxas e impostos”.

“Nas reuniões, as construtoras tão tomando conta”.

“(...) o que percebemos é que o desenvolvimento que está posto na cidade pela classe dominante, que controla o poder político, trata o potencial de desenvolvimento baseado na exclusão social. Esses empreendimentos, como o Parque da Mônica ou o aeroporto, são feitos para que uma minoria possa obter lucro, não são pensados para a manutenção da cidade (...). Todos os empreendimentos não levam em consideração o ecossistema, levam em consideração apenas o lucro imediato”.

Em contraposição, surgiram comentários positivos em relação aos efeitos das políticas habitacionais do governo federal, no município, identificados através do programa Minha Casa, Minha Vida e da criação do Ministério das Cidades:

“Houve uma certa mudança por conta do Governo Lula, porque ele pegou a questão habitacional como prioridade e, por conta disso, independente do governo municipal, o governo federal possibilitou que os movimentos de moradia pudessem fazer uma discussão mais ampliada”.

“Se não viesse o Minha Casa, Minha Vida, o movimento de moradia teria construído mais casas que a Prefeitura”.

“É muito financiamento de casa própria. Você vê quatro casinhas lá sendo construídas e uma placa ‘Financiamos pelo Minha Casa, Minha Vida’”.

“Se não fosse o Governo Federal, a situação aqui seria muito pior”.

“Eu acho que houve uma certa mudança com o governo Lula, porque ele pegou a questão da moradia como prioridade: criou o Ministério das Cidades, traduziu para as cidades que existe a necessidade real de se pensar política para a habitação”.

“Hoje, dinheiro não é mais problema para construir. O Governo Federal tem muito recurso e muitos programas, assim como o Governo do Estado, que lida com milhões de reais para construção de habitação. Ao invés de construir, eles desviam para outros projetos, fazem o Rodoanel etc”.

4.2.2. A Vocação Econômica de Praia Grande

Breve menção vale ser feita a respeito da vocação econômica de Praia Grande. Embora não tenha suscitado tantos comentários em torno de si, parece haver uma ideia relativamente generalizada de que o setor de comércio e serviços é o responsável pela ocupação de boa parte da população local, o que também se deve ao perfil turístico da cidade. Desse modo, a vocação econômica de Praia Grande parece ser o turismo. Além do comércio e do turismo, a administração pública também aparece como uma das grandes empregadoras do município, seguida da construção civil (ainda que esta tenha uma natureza menos estável que a primeira). Por fim, como foi mencionado acima, uma parcela da população teria que buscar emprego em municípios vizinhos da Baixada Santista:

“Nós aqui só temos o comércio. É só isso que sobrou, ou a Prefeitura é o grande suporte de emprego no município, ou é o comércio”.

“A maior demanda da cidade é a construção civil”.

“Aqui, na Praia Grande, tem muita gente que trabalha em Santos, São Vicente e Cubatão”.

“Por exemplo, o meu marido trabalha em Santos, meu filho treina no SESI de Cubatão, meu outro filho trabalha no Guarujá, ou seja, não tem ninguém que trabalha aqui”.

4.2.3. Os Paradoxos da Atividade Turística

O turismo é visto nas suas várias facetas e contradições na cidade. Por um lado, ressente-se que as ações e os investimentos do Poder Público sejam focados mais nas demandas da população flutuante do que naquelas

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da população residente. Por outro, são desejados maiores investimentos para o desenvolvimento turístico, para que o município possa atrair turistas que se hospedem por mais tempo.

Destarte, surgem críticas quanto à atenção dada aos turistas em detrimento dos moradores locais. Na visão dos interlocutores, em grande parte, isso ocorreria devido à dependência de Praia Grande em relação ao turismo. A sazonalidade dos empregos, do policiamento e das oportunidades de lazer, associada à sazonalidade característica da atividade turística, são aspectos que compõem o rol de queixas relacionadas à cidade. Lamenta-se que a cidade “não tenha vida própria”, tal qual em Santos:

“A gente mora aqui e você vai querer uma coisa, você não tem. Agora, final de ano, tem show na praia, tem tudo, porque é cidade turística (...). Tem para eles. A gente que mora aqui, eles não têm de pensar em quem vem de fora, mas infelizmente é assim que funciona (...). Deveria fazer melhor para os moradores daqui”.

“Lazer só tem fim de ano. Passou o carnaval, você não acha mais nada, só o shopping para você ir (...). Tinha que ter uma alternativa durante o ano”.

“Como a gente falou, aqui a cidade prepara tudo para o turismo, mas não deixam nada para nós (...). Show de verão é só na temporada”.

“É uma cidade turística. Aqui depende muito da temporada, principalmente os quiosques, essas coisas assim (...). Se você for ver esses barzinhos, agora, está tudo lotado. Agora, vem depois do Carnaval aqui. Não vai estar nem aberto esses barzinhos, já começa por aí”.

“Os moradores precisam de policiamento e não tem. Na temporada, você anda na orla e cada meio quarteirão tem policiamento. Eles mostram serviço na temporada. Para a população, não existe policiamento, não existe segurança”.

“Acontece que, na Praia Grande, a coisa funciona melhor para o turista do que para o próprio morador. O turista vai passar dois, três meses aqui, e o morador passa os 12 meses aqui”.

“As ações são focadas no bem-estar dos turistas, não para a população local. Não há obras de infraestrutura como há ações para a população flutuante”.

“O turista foi atraído pelo mar e pela cidade, que foi maquiada. Para a população de baixa renda, resta a luta por coisas básicas. Nosso destino é se organizar, é ter informação que a gente não tem (...)”.

“Boa parte dos prédios é de paulistanos. É tudo fechado. É tudo de paulista, tudo de fora”.

Como foi visto acima, apesar das críticas à atenção diferenciada por parte do Poder Público, que investiria mais recursos na atração turística, em detrimento dos interesses de sua população residente, ainda parece existir a defesa de um maior investimento na recepção e nos atrativos turísticos, como forma de garantir um turismo menos sazonal e mais baseado na hospedagem prolongada de seus visitantes:

“Não adianta, é pequeno [o turismo]. É só de veraneio”.

“Aqui, deveria haver investimentos, para que atraia o turismo para cá, não apenas o morador de São Paulo que vem no final de semana, consome e volta”.

“Aqui, era pra ter mais atrações turísticas devido à frequência regular de turistas”.

“Turismo não vejo a não ser a praia. Nosso turismo de Praia Grande é o shopping. Em dia de chuva, não tem lugar pra parar o carro, precisa ampliar o shopping”.

“O ponto turístico daqui é a praia”.

“Aqui, em Praia Grande, tem muitos artesãos de mão cheia, mas aqui não tem espaço pra esses artesãos. Eles vão pra Santos” [seria preciso, segundo o interlocutor, criar um espaço adequado para o desenvolvimento dessa atividade].

“Tem toda essa coisa da cultura caiçara também. Isso não é explorado”.

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“Como quiosqueira, percebo que o turismo não é bem trabalhado. Falta capacitação e, consequentemente, mão de obra qualificada para atender o turista”.

É importante mencionar que houve também quem destacasse alguns problemas relacionados à atividade turística, como o aumento da prostituição infantil, os baixos salários e os limites colocados para Praia Grande em virtude de ter sido designada ‘Estância Balneária’:

“Aumentou muito o número de prostituição infantil na Kennedy. Os quiosqueiros não têm a consciência sobre a prostituição. Exigem, como uniforme, short do mais curto e miniblusa, e isso é, ou não é, um estímulo à prostituição? Do Forte ao Solemar. Crescimento desorganizado gera isso, aumento da prostituição (...). Os quiosques geram trabalho, mas é trabalho escravo e, a nível feminino, arrastar caixa pesada, debaixo de sol quente, pagam de 10 a 30 por dia. Faz três turnos então, e eles ganham pra isso”.

“Enquanto for Estância Balneária, não pode trazer grandes empresas pra cá” [desejam grandes empresas, indústrias não poluentes, mas principalmente cooperativas populares, para geração de renda].

Se as falas convergem na crítica à lógica de investimentos da cidade, considerada excessivamente focada nos turistas (ainda que se deseje desenvolver o turismo municipal), por outro lado, as visões parecem não coincidir ao se discutir o perfil turístico de Praia Grande face às mudanças em curso. Praia Grande se mantém como uma cidade cuja dinâmica econômica está fortemente ancorada no turismo, mas começam a surgir sinais que apontam para uma diversificação das atividades econômicas da cidade e para uma possível mudança de rumo da centralidade do turismo na dinâmica local:

“A gente vivia muito do turismo, hoje em dia não vive tanto do turismo. Antigamente, era considerada cidade dormitório: a cidade acordava no verão e dormia o resto do ano”.

“Mesmo assim, acho que a vocação turística ainda se mantém, mas quem manda nesta cidade já está pensando em outro norte, apontando para a questão do Pré-sal”.

“Hoje em dia, você pode ver que, em questão de moradores, é muita gente que está morando aqui. Eu presto serviço num prédio e são 228 apartamentos e tinha, mais ou menos, uns 10 moradores. Hoje, tem 70”.

“A cidade hoje vive dela mesmo. Não tem mais aqueles turistas que, graças a Deus, esse Prefeito acabou. Eles vinham naqueles ônibus, aí vinha e ficava um dia na praia. Aí, quando ia embora, deixava aquelas montanhas de lixo. Só que a sujeira que a população que morava aqui produzia o serviço de limpeza dava conta”.

4.2.4. Sinais de Crescimento Acelerado: Praia Grande nos últimos anos

Na visão dos entrevistados, Praia Grande é um município de apenas 40 e poucos anos, “novo”, portanto. As melhorias alcançadas, desde a emancipação, são inegáveis: pavimentação de ruas, novos equipamentos públicos, formatação da orla etc. Pontualmente, comenta-se o seu status de estância balneária, diferencial que, para alguns, justificaria a cidade apresentar outro patamar de qualidade de vida aos seus moradores:

“Aqui não tinha nada, agora está crescendo. Aqui não era nada, a cidade não era nada (...), porque melhorou bastante, mesmo que seja assim para os turistas ver, mas do jeito que era antigamente, que só tinha lama, melhorou 100%”.

“Se vocês pegarem Mongaguá, Peruíbe, ou se pegar Santos, são todas prefeituras, prefeitura municipal. Praia Grande é a única que é estância, por que é estância? Todos os prefeitos continuaram com isso, porque ela recebe uma subvenção, e essa subvenção é para alocar na cidade para ela poder crescer, como acontece com Águas de Lindoia, Serra Negra. Por isso que era para estar melhor a cidade e não está (...). Praia Grande tem muito a crescer, muito a oferecer, mas poderia estar bem melhor”.

No geral, ao discorrer sobre a cidade hoje, o que chama atenção são as transformações ocorridas no decorrer dos últimos anos. Se para alguns esse processo começou há 10 anos, é consenso que recentemente ele se intensificou sobremaneira. São evidentes os sinais de que a cidade vem crescendo e crescendo num ritmo acelerado. O vigor do mercado imobiliário, o surgimento de alguns mercados considerados de luxo (como o automobilístico), o aumento no número de moradores, a presença de faculdade e até a elevação dos índices

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de violência são citados como exemplos das mudanças vividas pela cidade. Não raras vezes, surgem referências indiretas ao processo paralelo de crescimento da desigualdade social no município:

“Tem muito prédio agora! (...) porque a cidade cresceu, cresceu a violência também”.

“Porque era uma cidade de aposentados, isso é uma realidade. Poucas pessoas moravam aqui. O que aconteceu é que alguns, que tinham imóvel em São Paulo e aqui, preferiram vender o de lá e ficar aqui. Então, a cidade foi crescendo, isso daí criou uma valorização, só que quem morava aqui já não tinha nada e ficou com nada e mais nada”.

“A cidade cresceu muito, só que a evolução não está acompanhando. É prédio e mais prédio”.

“Há uns anos atrás, onde você ouvia dizer que construtor aqui tinha Ferrari? E hoje tem. Tem três, quatro Ferraris aqui. Tem Ferrari, tem Lamborghini...”.

“Hoje, você vê aqui uma concessionária da Mitsubishi, outra concessionária não sei do quê, então, tem a ver que eles estão acreditando na cidade, estão investindo na cidade (...), está crescendo a cidade”.

“Antigamente, quando você dizia que morava na Praia Grande, as pessoas já te olhavam diferente. Hoje em dia, já é diferente. As pessoas respeitam mesmo”.

4.2.5. A Influência do Pré-sal no Crescimento Acelerado do Município

Os argumentos acionados para explicar o súbito crescimento da cidade recaem, em última instância, sobre o Pré-sal. A percepção geral é que o boom ocorrido em Santos atingiu, na sequência, São Vicente, chegando agora à Praia Grande. Tal qual uma onda, esse processo desencadeado em Santos estaria, então, contagiando as cidades do entorno, que passam a receber e abrigar os moradores vindos das áreas mais diretamente afetadas pela atividade da Petrobras, em razão do alto preço dos imóveis, ou a acomodar os novos agentes envolvidos na dinâmica cadeia de exploração do petróleo e gás da camada do Pré-sal. Aliado à expansão da população residente e do consequente aquecimento do mercado imobiliário, Praia Grande estaria sendo alvo também de novos empreendimentos de infraestrutura e logística voltados à exploração do Pré-sal, como a construção de um aeroporto e a reforma das estradas de acesso ao município. Houve quem mencionasse um “projeto de offshore na quarta zona” e a “construção de um parque industrial portuário” em Praia Grande. Espera-se um possível aumento do número de empresas instaladas na cidade, por fim, para o atendimento das demandas diretas e indiretas geradas pela presença da Petrobras na região:

“Santos cresceu muito e lá não tem mais espaço, e o pessoal está vindo para cá (...). Quem não consegue comprar lá vem para São Vicente. Aí, São Vicente já estava ficando caro e aí veio para Praia Grande (...). É por causa do petróleo. A Bacia de Santos valorizou muito os apartamentos e casas. Então, eu conheço muita gente que morava em Santos e, porque o custo de vida lá está muito alto, está vindo para Praia Grande. E aqui, na Praia Grande, está crescendo muito rápido o valor das casas por causa disso também, de vir pessoas de fora”.

“Agora, com o Pré-sal, vai vir muita empresa de fora para cá. O Pré-sal, o que acharam de petróleo aqui diz que é algo espantoso, incalculável (...). Esse negócio do Pré-sal está chegando (...), as pessoas estão vindo morar aqui, porque Santos não comporta mais ninguém, São Vicente também não. O pessoal está correndo para cá. Se você perguntar para eles: ‘ onde você trabalha? Eu trabalho aqui em Santos’”.

“Estão reformando a estrada, para melhorar o acesso. O Pré-sal vai trazer muito movimento. As pessoas que só dormem aqui, durante o final de semana, estão aqui”.

“Tem um aeroporto que vai começar a entrar em Praia Grande, porque, em Santos, está pequeno, não cabe mais nada. Santos não tem mais espaço e está vindo para cá (...). Santos não tem onde crescer mais, São Vicente também não...”.

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“Tocando na questão do Pré-Sal, existe um projeto enorme aqui, para construção de um parque industrial portuário, que já foi abraçado por uma empresa multinacional. Vão ser 58 galpões e um aeroporto de cargas e para funcionários”.

Por todos os motivos acima elencados, o Pré-sal é visto como um potencial de geração de futuros empregos (associados à imagem da Petrobras e, por isso, socialmente valorizados). Ao mesmo tempo, se reconhece a necessidade de maior investimento público na qualificação profissional da população local, para que esta possa usufruir das novas oportunidades. Há quem sinalize algumas mudanças já em curso, nesse sentido:

“Traz emprego. Minha primeira visão [da Petrobras] é emprego. Emprego bom, entendeu? Você fala: ‘ah, trabalho na Petrobras’, já dá um...”.

“Hoje, com esse Pré-sal, o desenvolvimento vai ser muito maior. Então, a gente tem que saber aproveitar isso aí, e os prefeitos de cada região devem dar um incentivo pra formação e qualificação profissional da população”.

“Sem qualificação, o progresso pode vir, mas vai acabar sendo aproveitado por outras pessoas que vêm de fora”.

“Precisamos preparar o ser humano para lidar com esse negócio de gás e petróleo”.

“Tenho fé que consigam trazer capacitação por causa da Bacia de Merluza. Tudo que fazem, fazem bem feito [referindo-se à Petrobras]”.

“Já está começando. Meu menino já faz um curso lá no CAMP, de petróleo e gás”.

Quantos aos impactos negativos observados na cidade, a partir da descoberta do Pré-sal e da chegada da Petrobras à região, a percepção é a de que o boom, que agora chega à Praia Grande, responde pela elevação do custo de vida, em especial o da moradia, numa cidade cujos preços já são altos em razão do seu perfil turístico. A valorização do preço da terra e dos imóveis é citada como um sinalizador e uma decorrência do atual crescimento acelerado do município:

“O custo de vida aqui é caro (...). Aqui se ganha bem, mas se gasta (...). O IPTU aqui é muito alto, principalmente, quando tem muita melhoria (...), porque é cidade turística”.

“Aqui faz show na praia para quem é paulista, para quem vem de São Paulo, e aí você vai comprar um pão e é 7 reais o quilo no Extra (...). Tudo aumenta em dezembro, janeiro e fevereiro”.

“A moradia hoje, na Praia Grande, não tá barata. Nunca foi, né? A minha tia comprou a casa dela por 50 mil, hoje, pra vender, vende por 320 mil”.

“Você vai pagar aluguel, é 500 pau (...). É porque a cidade cresceu (...). Aqui você não consegue comprar uma casa por menos de 120 mil”.

“Há uns 10 anos atrás, a gente comprava meio lote de terreno aqui por 3 mil reais, 4 mil reais no máximo. Hoje em dia, lá na terceira zona, meio lote lá é 10, 12, 15 mil reais”.

“Moradia está ficando um problema. Está ficando caro (...), está muito caro para a gente comprar, porque valorizou muito”.

“Já estamos sentindo os impactos nos imóveis, no trânsito, porque Praia Grande está se desenvolvendo, e as cidades de Santos e São Vicente já não comportam mais ninguém”.

Além dos impactos sentidos na elevação dos custos de vida local, houve quem se preocupasse com os rumos futuros da cidade em termos de capacidade de infraestrutura e serviços públicos, tendo em vista o crescimento populacional previsto. Tal crescimento beneficiaria, sobremaneira, os interesses ligados ao mercado imobiliário:

“Vai ser um chamariz de gente. E cria uma expectativa para a região que não condiz, porque não há estrutura suficiente, como escolas e hospitais, só pra citar alguns exemplos. Ao contrário, vai contribuir muito com as construtoras e imobiliárias”.

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“Muitas pessoas de várias cidades têm vindo pra cá, por causa do emprego, por causa do Pré- sal. Estamos condicionados a esse desenvolvimento de lucro imediato sem nos preocupar com as próximas gerações”.

Também foram destacados os possíveis impactos sobre a atividade turística, que a nova dinâmica engendrada pelo Pré-sal poderia vir a trazer ao município:

“A cidade não é mais tão turística como antes, porque as pessoas vieram para morar e estão tomando conta de tudo. Falta emprego e tudo mais. O pessoal mora aqui, mas vai trabalhar e estudar em outras cidades, até mesmo em São Paulo”.

É interessante notar que quase não houve referência a potenciais impactos sobre o meio ambiente não urbano, entre os interlocutores, gerados a partir das atividades de exploração da Petrobras. Apenas uma organização da sociedade civil citou esse aspecto negativo da empresa estatal, aventando a possibilidade de contrapartidas ou de compensações que poderiam ser empregadas no desenvolvimento de projetos do Terceiro Setor de Praia Grande:

“Um leque para todas as entidades, porque ela [a Petrobras] é a que mais deteriora o meio ambiente e deveria dar uma contrapartida”.

4.2.6. Efeito Dominó: Praia Grande no rastro da valorização imobiliária

Como mencionado acima, a partir da nova dinâmica regional alavancada pela exploração da camada do Pré-sal, Praia Grande teria passado a absorver parte da demanda por moradia dos habitantes de seus municípios vizinhos (como Santos e São Vicente), onde o preço dos imóveis seria mais caro, experimentando assim um crescimento intenso e “desordenado” na ocupação de seu território, bem como a própria valorização imobiliária de seus imóveis e terrenos devido ao aumento da procura:

“Na verdade, observa-se um esvaziamento de Santos por causa da renda, e Praia Grande se torna uma cidade que absorve essa demanda”.

“Percebemos que o desenvolvimento da Baixada Santista não é com inclusão, mas com exclusão social”.

“Sobre as relações com outros municípios, vemos que está acontecendo o mesmo crescimento desordenado. Eles vêm morar na Praia Grande e vêm morar na Zona 3. Moram aqui, mas trabalham em outras cidades”.

Segundo os relatos das organizações da sociedade civil, a nova população residente, que teria migrado recentemente de municípios do entorno, teria passado a ocupar as áreas mais carentes de infraestrutura e serviços públicos de Praia Grande - muitas vezes, em áreas de preservação ambiental -, vivendo em condições precárias e em assentamentos irregulares:

“Pessoas que saíram de Santos e Guarujá, que ocuparam e compraram terreno irregular na Praia Grande”.

“Aqui, na Praia Grande, ainda é mais barato, e as pessoas que não podem pagar vão para áreas de mangue, ocupando terrenos, dividindo com pessoas, além da sua família, para abater o valor do aluguel. E vivem uma situação precária. Por isso que a gente vê a importância de se ter a Secretaria de Habitação, para discutir mais moradia para as pessoas que estão chegando”.

“Hoje, ainda tem gente migrando pra cá, mas vem tudo pras áreas precárias, fragilizadas... Por isso, é a importância da Secretaria de Habitação na cidade. Hoje, tem muitos programas de habitação do Governo Federal que investe recursos para que isso aconteça...”.

A preocupação, por parte de algumas organizações da sociedade civil, recai sobre os efeitos da especulação imobiliária para a garantia do direito à moradia digna dos habitantes de baixa renda de Praia Grande. Além do processo em curso poder aprofundar a desigualdade socioterritorial já existente no município, marcada

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por uma cidade dividida por zonas hierarquizadas de acordo com os entrevistados, o aumento do preço do solo urbano tem obstaculizado a compra de terrenos para construção de moradias populares:

“Praia Grande caminha para uma superpopulação. Praia Grande está se preparando para receber esse povo todo que vai vir para cá, para morar aqui. Estão construindo muitos prédios e quem está comprando? Geralmente quem está comprando esses apartamentos já é tudo dono das empresas que vão chegar (...), estão migrando adiantado e comprando prédio na maquete”.

“Hoje, fazemos uma avaliação que é melhor buscar terrenos. Na verdade, até tem terrenos desocupados; quando a gente vai atrás, os terrenos já estão especulados. Os corretores sabem do nosso interesse”.

“Ainda existem [terrenos para a construção de moradias populares], mas estão na mão de poucos. Ou seja, está tudo especulado. A gente vai atrás das imobiliárias, pra localizar os terrenos, e, no dia seguinte, o corretor já vem com uma proposta”.

“A especulação é um risco de barrar as demandas vindouras. Daqui a pouco, não terá áreas para construção das moradias”.

“Cada vez, vai ficando mais difícil. O preço, por exemplo, já é incompatível com o programa Minha Casa, Minha Vida que nós estamos tratando, mas, mesmo assim, estamos mantendo a esperança”.

4.2.7. Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável de Praia Grande

Perspectivas e Potencialidades de Desenvolvimento Sustentável

Ao projetarem o futuro de Praia Grande, a previsão generalizada é a de que a cidade siga a sua trajetória recente de crescimento acelerado. Na ótica dos interlocutores, o que sustenta tal crescimento é o estoque de espaço disponível, ativo requisitado pelos negócios relacionados à exploração do Pré-Sal e inexistente em Santos e em São Vicente. Outro fator levantado que contribuiria positivamente para a posição estratégica do município – e, portanto, para a atração de novos empreendimentos e consequente geração de empregos - seria o acesso viário direto para São Paulo, viabilizado após a construção de uma nova ponte (uma vez que antes haveria a necessidade de passar por Santos e/ou São Vicente):

“O futuro é crescente. A gente vai ser melhor porque a gente estava falando que Santos não tem para onde crescer, São Vicente não tem mais onde crescer. Então assim, Mongaguá creio que vem depois”.

“Eu vejo que o grande potencial da cidade é que ela é nova. Por isso, tem muito ainda a crescer, a oferecer, a expandir. Por isso também, por outro lado, ela cresceu e se desenvolveu já tão rápido”.

“A gente tem jeito de crescer, porque Santos não tem mais espaço, e nós temos uma área ainda. E Praia Grande é a cidade que mais cresce do país.”

“Um futuro com mais escola, mais hospital, indústria, isso eu creio que vai acontecer, cursos, vai acontecer sim (...). Tem um fator mais importante. Santos não vai crescer mais, não tem espaço, São Vicente não tem espaço e aqui ainda tem espaço”.

“A gente vai se beneficiar porque as maiores instalações vêm para cá (...). O estudo deles é para instalar uma unidade da Petrobras aqui, espaço tem. Se você pegar do Real até o Solemar, tem 15 km em linha reta por 20, 30 até chegar o pé do morro (...). Quanto emprego não ia gerar, nossa! Essa cidade tem muita área para a Petrobras, muita coisa que pode desenvolver”.

“O acesso para ir para São Paulo é mais fácil, o acesso pela curva do S é mais rápido do que você ir por Santos”.

A perspectiva é que haja um adensamento populacional no município e que ele cresça em direção à “terceira zona”. Já a mudança da sede da Prefeitura e do Fórum para a segunda zona são sinalizadores do potencial de crescimento dessa região da cidade. Para os participantes da Oficina, a segunda zona se caracteriza como uma reserva de mercado. O aeroporto previsto para ser construído aparece como um componente importante também desse ciclo de crescimento da cidade:

“Aqui, em Praia Grande, a pista expressa divide tudo. A praia é a primeira zona e tem a terceira zona, que é dos pobres, menos favorecidos; só que a cidade está crescendo daqui para lá, por isso que tiraram a

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Prefeitura daqui e colocaram no centro da Praia Grande, para que ela possa começar a crescer (...). A área para crescimento é da Prefeitura para trás”.

Se o crescimento da cidade parece ser inevitável e a disponibilidade de grandes áreas é mencionada como o potencial futuro de Praia Grande, por meio da instalação de novos empreendimentos, aponta-se que o setor da construção civil será largamente beneficiado por esse processo de urbanização. Embora o crescimento da cidade seja bem-vindo, alguns alertam que ele implica em riscos ao meio ambiente, já que parte da “terceira zona” encontra-se em área de preservação ambiental:

“Construção civil vem crescendo e aponta como principal potencialidade, por ter ainda muito terreno ocioso. Isso melhora, mas também piora tudo por envolver políticas com desenvolvimento sustentável. Se aumenta o número de habitantes, deve haver um planejamento, para dar conta de forma sustentável”.

“[Potencial do município] eu acho que é construção civil. Eu tô falando assim, a longo prazo”.

Nesse cenário, parte dele já em curso, vislumbram-se novas oportunidades de emprego. Empregos não sazonais e que exigem mão de obra qualificada. E, nesse caso, reforça-se o temor de que os moradores fiquem à margem desse processo, isto é, não sejam beneficiários diretos do ciclo de exploração do Pré-sal. Em ambos os grupos de discussão da pesquisa qualitativa, surgiu a demanda por uma reserva de vagas/ empregos para a população local. Mas, segundo os entrevistados, isso requer ampliar as oportunidades de formação/ qualificação dos moradores, através de políticas públicas de estímulo, especialmente ao segmento jovem:

“A cidade vai ficar comprimida. Vai ser um chamariz de gente. Não vão utilizar a mão de obra local”.

“Qualificação não é se você tem um trabalho ou não. É você ser qualificado para a área que vai aparecer, porque daqui pra frente vai ser línguas, internet...”.

“Mas aí é que entra a ação da Prefeitura: ‘você vai montar um negócio aqui, eu vou te dar 10% de isenção, para as concessionárias de carro ela deu, só que você tem de contratar 30 a 40 funcionários daqui”.

“Eles vão trazer firmas de fora, mas devia chegar e falar com eles que 30, 40 ou 50% tem que ser trabalhador daqui. Porque eles trazem os trabalhadores de fora (...). Tinha que ser 30% pessoal daqui, porque senão vamos continuar iguais. O povo daqui sem nada, e os que chegam vão enriquecer”.

“Se a cidade não se estruturar em relação a cursos profissionalizantes, vai ficar como está. Se a gente não apertar nossos governantes, a gente vai ficar para trás, porque não vai ter curso profissionalizante para se especializar nessas empresas (...), porque eles preferem pagar bem mais o pessoal lá fora (...). Não é nem questão de que eles queiram pagar mais; é questão que não tem qualificação aqui, porque não tem curso para isso”.

“Potencial é o ser humano. Deveria ter universidade e não tem. Jabuticabal é bem menor e tem três faculdades. Vai beneficiar toda a população regional. Educação é um potencial, não dá pra crescer sem a educação”.

Ao pensarem sobre esse futuro promissor, ficam no ar duas perguntas: como garantir a preservação ambiental nesse cenário que se avizinha? Qual o peso relativo do turismo no novo contexto econômico da cidade?

Se a dinâmica econômica de Praia Grande ainda se encontra ancorada hoje, em larga medida, na atividade turística, através do setor de comércio e serviços, percebe-se que o crescente adensamento populacional e a progressiva transformação das feições da cidade – cada vez mais urbanas – já têm impactado o perfil turístico do município. Para alguns, apesar de suas praias, Praia Grande deixará de ser turística em um futuro próximo. Para outros, a cidade pode continuar trilhando a via do turismo, mas desde que o faça de uma forma sustentável (por oposição, talvez, àquela imagem construída sobre o turismo “farofeiro”, que antes teria predominado em Praia Grande):

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“Com certeza Praia Grande vai continuar sendo cidade turística. Por causa da praia. A extensão da praia é muito grande. São 23 km de praia! (...) Praia Grande é uma cidade praística, não é turística (...). Creio que, no futuro, não vai ser turística. Hoje em dia, não é mais não. Vai encher de morador aqui...”.

“O potencial da cidade não é mais turístico por conta do fluxo de gente que vem pra cá. Tá virando uma cidade. Não conseguimos encontrar perspectiva de desenvolvimento. Falta emprego, qualificação, mobilidade para estudo, e trabalho é muito ruim”.

“A Praia Grande tem uma vocação turística por conta da praia que, em tese, é democrática, pública, mas quem está no comando dessa cidade está apontando para outro norte, visando o acúmulo de capital”.

“Tem que ser turismo, mas um turismo sustentável. Não o turismo que vem e destrói toda a cidade”.

De modo mais pontual, durante a Oficina Pública, foram endereçadas outras sugestões para o desenvolvimento futuro de Praia Grande. Por exemplo, para fazer frente aos problemas políticos do município, defendeu-se o estímulo à formação política da população, como forma de induzir a participação crítica, a organização popular e o controle social sobre a gestão pública, a fim de alcançar transformações reais para a região:

“Tem que reeducar politicamente a população. Aqui, infelizmente, ainda existe isso, a pessoa não põe a cara à tapa”.

“Mudar a cultura da população. Fazer a população ser opinante, ser pensante”.

“Ao mesmo tempo que é uma fragilidade, que hoje não funciona, é uma potencialidade, ou seja, com um trabalho de reeducação política, há muita possibilidade de consolidar uma cultura de organização popular que busque mudanças pra região”.

Outra sugestão apresentada procurou frisar os benefícios do transporte ferroviário para a mobilidade metropolitana da Baixada Santista, uma vez que já existiria uma malha, na região, que não seria utilizada e que esse sistema de transporte teria como vantagem o fato de ser menos poluente que o automobilístico. Também houve quem defendesse a implementação de um rodízio regional para carros ou desejasse a expansão das ciclovias:

“Outra potencialidade são as ciclovias. Mesmo existindo muitos usuários do serviço, não há investimentos à expansão da ciclovia”.

Por fim, destacou-se a necessidade de maior discussão e planejamento municipais e metropolitanos, para orientar as ações e as políticas do Poder Público, antecipando-se às transformações futuras de Praia Grande:

“Já deveríamos ter pensado nisso [em todos os problemas do município] lá atrás, para hoje estarmos usufruindo. Então, devemos pensar hoje, para que possamos usufruir em 20 anos”.

“As questões não são discutidas de forma metropolitana. Cada cidade tem que discutir seus problemas, já que Santos já está com tudo organizado”.

4.3. Considerações Finais e Aspectos Relevantes de Praia Grande

Emancipado de São Vicente no final da década de 60, o município de Praia Grande tem modificado gradualmente a estrutura do seu território (sobretudo, a partir da década de 90), logrando transformar seu antigo ‘slogan’ - popularmente difundido por toda a Baixada Santista - de “cidade dos farofeiros” em “cidade para o futuro”, de acordo com grande parte dos entrevistados. A enorme quantidade de obras e de empreendimentos imobiliários, majoritariamente de alto padrão e espalhados por toda a malha urbana, com ênfase na orla, parece constituir na principal explicação para essa mudança de visão em relação ao município, na ótica dos interlocutores.

A implementação das políticas públicas – principalmente, aquelas ligadas aos direitos sociais básicos dos cidadãos (como assistência social, saúde, habitação etc) - não teria acompanhado o mesmo ritmo das transformações ocorridas nos últimos anos, entretanto, o que parece ter impulsionado o surgimento das organizações civis de Praia Grande e moldado o seu perfil organizativo específico. Trabalhos com portadores de HIV, com mulheres vítimas de violência doméstica, com mulheres acometidas pelo câncer de mama, com

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crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, além de movimento por moradia, exemplificam o tipo predominante de atuação dessas entidades civis organizadas, que assumem a forma de ONGs em geral.

As entidades, além de se ocuparem com suas próprias demandas, parecem conhecer tanto os problemas mais comuns à cidade quanto a atuação da maioria das organizações locais existentes, sem que isso signifique o estabelecimento de uma pauta comum e constante de lutas e reivindicações entre elas. O grau de participação da sociedade civil organizada parece acompanhar essa característica: quando o assunto orbita em torno do rol das preocupações de cada uma das organizações, as entidades locais exercem, com bastante eficácia, seu poder de mobilização e de articulação, para o enfrentamento e a resolução dos seus problemas. Contudo, a parceria e o envolvimento nas discussões de outros segmentos do Terceiro Setor se mostram ainda incipientes.

As queixas sobre o baixo nível de participação da sociedade civil local assumiram um tom quase unânime entre os entrevistados. Os argumentos lançados para justificar essa fragilidade recaem, dentre outras coisas, sobre a relação com os políticos profissionais e sobre o fato de Praia Grande possuir um perfil de “cidade-dormitório” - havendo, portanto, pouca identificação com o município e pouco envolvimento de grande parte dos moradores na dinâmica local cotidiana.

Já a política de gestão participativa, no município de Praia Grande, parece se concentrar em torno dos Conselhos Municipais de Políticas Públicas (foram contabilizados 18 desses espaços ao todo, perpassando as mais diversas temáticas). Entretanto, quando se procura maiores informações sobre esses espaços, no site da Prefeitura, chama atenção a ausência de dados importantes: se, por um lado, estão disponíveis as legislações que instituíram os respectivos Conselhos, por outro, as suas funções e atribuições específicas, a composição de cada um desses espaços (com as organizações que os compõem), suas agendas de reuniões e a documentação de suas últimas resoluções e atividades não estão disponíveis ao público por essa ferramenta. Alguns Conselhos importantes para o município são, ademais, por lei, apenas consultivos. Mesmo alguns dos Conselhos formalmente deliberativos levantaram certa polêmica entre os interlocutores da sociedade civil, por não respeitarem efetivamente esse princípio. No que diz respeito ainda ao funcionamento dos Conselhos, é importante ressaltar que uma parte significativa desses espaços (foram contabilizados cinco ao todo) deve ser, por lei, presidida pelo Poder Público ou, em última instância, a escolha de sua presidência deve recair sobre o Poder Público.

A avaliação da atual gestão pública, por parte dos entrevistados da sociedade civil, esteve vinculada recorrentemente à gestão anterior e à figura política de seu ex-prefeito, Alberto Mourão. Parece haver certo consenso em torno da visão de que Praia Grande se desenvolveu e despontou durante a gestão passada, seja porque esta teria imprimido fôlego à imagem turística de Praia Grande, seja porque teria trazido infraestrutura e serviços públicos a bairros carentes do município. Contudo, surgiram críticas quanto à falta de rotatividade na ocupação dos cargos públicos de gestão de Praia Grande, fato identificado como uma forma de coronelismo local, e quanto à existência de uma prática comum de apadrinhamento entre políticos e entidades locais, configurando relações de favor indevidas.

Do ponto de vista da gestão propriamente dita, foram levantadas críticas no que diz respeito à ausência de uma política de planejamento urbano efetivo, de modo a se antecipar aos efeitos negativos do rápido crescimento pelo qual tem passado o município nos últimos anos, aliada às críticas referentes ao fechamento da Secretaria Municipal de Habitação.

Quanto à avaliação das políticas públicas setoriais, o sistema de transporte foi apontado como um dos problemas centrais do município, em virtude de diversos fatores: a demora nos trajetos, a superlotação dos ônibus, os poucos veículos em circulação, o preço da tarifa e o monopólio existente no setor.

Assim como o sistema de transporte, a violência e a falta de segurança estão entre os problemas mais comentados e costumam figurar no rol de problemas considerados mais sérios de Praia Grande. Além de preocupantes, a violência e a insegurança são vistas como aspectos que comprometem a qualidade de vida, o usufruto das oportunidades de lazer ao ar livre e a imagem turística da cidade. Os interlocutores da

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sociedade civil frequentemente as relacionaram ao aumento do tráfico e do uso de drogas nos últimos anos, inclusive, entre os mais jovens. A denúncia também parece vir sempre acompanhada da cobrança por uma postura mais ativa por parte do Poder Público, na forma de políticas sociais abrangentes, que possam fazer frente a esse problema.

No que se refere às políticas públicas de incentivo ao emprego e à qualificação profissional, parece haver um amplo consenso em torno da percepção de que existem poucas oportunidades disponíveis no município, forçando seus habitantes a buscar postos de trabalho e formação profissional em municípios vizinhos da Baixada Santista (e, nesse quesito, a preocupação recai sobre as perspectivas de futuro dos jovens ainda mais). A questão do emprego e da qualificação profissional mobiliza as atenções dos interlocutores, ademais, pelas perspectivas de novas oportunidades que se vislumbram a partir da chegada da Petrobras à região. Para além da natureza temporária de boa parte dos empregos (característica do perfil sazonal da atividade turística) e da reduzida oferta de trabalho existente na cidade (sobretudo, que exija um alto grau de qualificação), o foco das atenções recai sobre a ausência de mão de obra qualificada. Prevê-se que haverá uma forte demanda futura por trabalhadores qualificados, para atuar na cadeia de petróleo e gás e nas demais empresas-satélites que chegarão à cidade, mas avalia-se que a população não está capacitada para ocupar esses novos postos de trabalho, faltando políticas públicas de estímulo à qualificação profissional para a ocupação desses postos mais bem remunerados e valorizados socialmente.

Quando o assunto é educação, as opiniões parecem se dividir: ora ela é avaliada de forma positiva, ora negativa. Em geral, as avaliações positivas destacam o avanço da área nos últimos anos (como a distribuição de material e uniforme) ou costumam comparar a situação de Praia Grande com aquela verificada em municípios vizinhos. Já a oferta de vagas e o processo para matrícula, em creches, gera o maior número de insatisfações nessa área.

No que toca as políticas de incentivo à cultura e ao lazer, as opiniões também parecem se dividir entre aqueles que criticam a baixa oferta cultural e de lazer na cidade - nesse caso, vista como restrita à temporada de verão e/ou inacessíveis ao bolso da maioria da população -, e os que apontam as opções existentes, ainda que aquém do desejado: o Palácio das Artes, o Porto do Saber, a ‘Creche do Idoso’ e o Programa de Integração à Cidadania (PIC).

No que se refere à saúde, em geral, parece predominar a percepção de que a situação desse serviço público, ainda que aquém do desejado, teria tido alguns avanços importantes. Contudo, surgem críticas quanto à demora na marcação de consultas, à falta de estrutura de algumas unidades e à qualidade do atendimento.

No que toca o saneamento básico de Praia Grande, os participantes da pesquisa qualitativa apontam os investimentos em curso para a necessária ampliação da rede de esgoto na cidade. Contudo, a maior parte dos comentários recaiu sobre o sistema de coleta de lixo, tendo esse serviço público recolhido avaliações positivas em razão de sua regularidade, do serviço de coleta seletiva e da existência do Cata-Treco. Por vezes, entretanto, destaca-se a maior preocupação do Poder Público municipal com a limpeza urbana da região que concentra as moradias de veraneio dos turistas.

Por fim, a política urbana e habitacional de Praia Grande esteve entre os temas mais comentados – sobretudo, entre as organizações da sociedade civil –, e os problemas decorrentes dessa política parecem ser vivenciados de forma dramática, no cotidiano de boa parte da população residente. Existe um amplo consenso em torno da percepção de que existe uma profunda desigualdade social, que se plasma no (e é plasmada pelo) processo de urbanização, sob a forma de uma cidade representada por três zonas hierarquizadas. A desigualdade socioespacial viria acompanhada de um forte sentimento de contraste: por um lado, um grande déficit habitacional entre a população residente, ocasionando assentamentos irregulares mesmo em áreas de preservação ambiental; de outro, um grande número de domicílios de uso ocasional (segundas residências), usados pela população flutuante apenas em épocas de veraneio. A percepção de contraste, ademais, se agudiza quando se trata da distribuição espacial desigual de equipamentos e serviços públicos, entre as três zonas, e, portanto, da atenção diferenciada despendida pelo Poder Público municipal em cada uma das zonas.

A Zona 1 seria a área de alta renda da cidade, de grandes empreendimentos verticais na orla e com maior investimento público em infraestrutura e serviços, representando o cartão postal da cidade, sua imagem turística. Nela, também estão concentrados os domicílios de uso ocasional da população flutuante. A Zona

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2, por sua vez, é vista como a linha que separa a cidade ‘rica’ da ‘pobre’, servindo como área de “reserva imobiliária”: a Prefeitura não estimularia a regularização fundiária de seus moradores atuais por ter outros planos reservados para essa parcela do território. Tal fato, segundo os participantes da Oficina Pública, pressionaria os moradores a se deslocar para a Zona 3 da cidade e para as áreas de mangue. Por fim, a Zona 3 representaria, no tecido urbano, a área mais pobre, mais populosa, onde estaria concentrada boa parte da população fixa do município, embora seja aquela que receba menos investimentos públicos em infraestrutura e serviços, também, contraditoriamente. Não são raros os comentários que expressam um tom de ressentimento.

Quanto à vocação econômica de Praia Grande, parece haver uma ideia relativamente generalizada de que o setor de comércio e serviços é o responsável pela ocupação de boa parte da população local, o que também se deve ao perfil turístico da cidade. Além do comércio e do turismo, a administração pública também aparece como uma das grandes empregadoras do município, seguida da construção civil.

O turismo é visto nas suas várias facetas e contradições na cidade. Por um lado, ressente-se que as ações e os investimentos do Poder Público sejam focados mais nas demandas da população flutuante do que naquelas da população residente. Por outro, são desejados maiores investimentos para o desenvolvimento turístico, para que o município possa atrair turistas que se hospedem por mais tempo.

No geral, ao discorrer sobre a cidade hoje, o que chama atenção são as transformações ocorridas no decorrer dos últimos anos. Se para alguns esse processo começou há 10 anos, é consenso que recentemente ele se intensificou sobremaneira. São evidentes os sinais de que a cidade vem crescendo e crescendo num ritmo acelerado. O vigor do mercado imobiliário, o surgimento de alguns mercados considerados de luxo (como o automobilístico), o aumento no número de moradores, a presença de faculdade e até a elevação dos índices de violência são citados como exemplos das mudanças vividas pela cidade.

Os argumentos acionados para explicar esse súbito crescimento da cidade recaem, em última instância, sobre o Pré-sal. A percepção geral é que o boom ocorrido em Santos atingiu, na sequência, São Vicente, chegando agora à Praia Grande. Tal qual uma onda, esse processo desencadeado em Santos estaria, então, contagiando as cidades do entorno, que passam a receber e abrigar os moradores vindos das áreas mais diretamente afetadas pela atividade da Petrobras, em razão do alto preço dos imóveis, ou a acomodar os novos agentes envolvidos na dinâmica cadeia de exploração do petróleo e gás da camada do Pré-sal. Aliado à expansão da população residente e do consequente aquecimento do mercado imobiliário, Praia Grande estaria sendo alvo também de novos empreendimentos de infraestrutura e logística voltados à exploração do Pré-sal, como a construção de um aeroporto e a reforma das estradas de acesso ao município. Espera-se um possível aumento do número de empresas instaladas na cidade, por fim, para o atendimento das demandas diretas e indiretas geradas pela presença da Petrobras na região – o que viria a ser um potencial de geração de novos empregos. Entretanto, a percepção predominante é a de que o boom, que agora chega à Praia Grande, responde pela elevação do custo de vida, em especial o da moradia, numa cidade cujos preços já são altos em razão do seu perfil turístico. Também foram destacados os possíveis impactos sobre a atividade turística, que a nova dinâmica engendrada pelo Pré-sal poderia vir a trazer ao município.

Praia Grande estaria experimentando, assim, um crescimento intenso e “desordenado” na ocupação de seu território, aliado à própria valorização imobiliária de seus imóveis e terrenos devido ao aumento da procura. Segundo os relatos das organizações da sociedade civil, a nova população residente, que teria migrado recentemente de municípios do entorno, teria passado a ocupar as áreas mais carentes de infraestrutura e serviços públicos de Praia Grande - muitas vezes, em áreas de preservação ambiental -, vivendo em condições precárias e em assentamentos irregulares. A preocupação parece recair sobre os efeitos da especulação imobiliária para a garantia do direito à moradia digna dos habitantes de baixa renda de Praia Grande. Além do processo em curso poder aprofundar a desigualdade socioterritorial já existente no município, identificada por uma cidade dividida por zonas hierarquizadas, o aumento do preço do solo urbano tem obstaculizado a compra de terrenos para construção de moradias populares.

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Ao projetarem o futuro de Praia Grande, a previsão generalizada é a de que a cidade siga a sua trajetória recente de crescimento acelerado. Na ótica dos interlocutores, o que sustenta tal crescimento é o estoque de espaço disponível, ativo requisitado pelos negócios relacionados à exploração do Pré-Sal e inexistente em Santos e em São Vicente. A perspectiva é que haja também um adensamento populacional no município e que ele cresça em direção à “terceira zona”. Embora o crescimento da cidade seja bem-vindo, alguns alertam que ele implica em riscos ao meio ambiente, já que parte da “terceira zona” encontra-se em área de preservação ambiental.

Nesse cenário, parte dele já em curso, vislumbram-se novas oportunidades de emprego. Empregos não sazonais e que exigem mão de obra qualificada. E, nesse caso, reforça-se o temor de que os moradores fiquem à margem desse processo, isto é, não sejam beneficiários diretos do ciclo de exploração do Pré-sal.

Se a dinâmica econômica de Praia Grande ainda se encontra ancorada hoje, em larga medida, na atividade turística, através do setor de comércio e serviços, percebe-se que o crescente adensamento populacional e a progressiva transformação das feições da cidade – cada vez mais urbanas – já têm impactado o perfil turístico do município. Para alguns, apesar de suas praias, Praia Grande deixará de ser turística em um futuro próximo. Para outros, a cidade pode continuar trilhando a via do turismo, mas desde que o faça de uma forma sustentável.

5. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

5.1. Introdução

O projeto “Diagnóstico Urbano Socioambiental e Planejamento de Políticas Públicas”, a ser realizado nos municípios da Baixada Santista e do Litoral Norte do estado de São Paulo, tem por objetivo contribuir com a sociedade civil e o setor público, em seus diversos níveis governamentais, por meio de subsídio a programas de desenvolvimento, articulação de esforços de políticas públicas e pela proposição de instrumentos de ações estruturantes.

Dentro desse objetivo, insere-se o presente diagnóstico de desenvolvimento econômico de Praia Grande, pela consideração das condições socioambientais e dos empreendimentos econômicos, bem como, da gestão de políticas públicas, que permitam pensar a inclusão de toda a população num processo de desenvolvimento sustentável no território.

O grande desafio ao desenvolvimento que se coloca nesse horizonte regional está na capacidade de especialização da economia, que possibilite o aumento da produtividade e da agregação local de valor. Esses fatores são fundamentais para a melhoria das condições de vida em geral da população, mas em especial tendo em vista, as comunidades tradicionais, locais e de migrantes, e a preservação dos sistemas ambientais.

O processo de ocupação do território, os ciclos econômicos e os ativos locais, seja em valores monetários, culturais e ambientais, constituem traços marcantes da sociedade e da economia local. Frente a isso, também importa considerar os potenciais impactos urbanos e socioambientais decorrentes da exploração da camada do Pré-sal, da expansão da infraestrutura de portos, vias, saneamento e produção imobiliária nessa região.

A cidade de Praia Grande teve sua instalação em 1964, no entanto sua construção histórica teve inicio com a habitação por pescadores desde o século XIX, constituiu-se de vários núcleos espalhados ao longo da faixa litorânea. Lá pelos idos de 1902,iniciou-se na região a construção do Forte de Itaipu.

O acesso a suas terras, a partir de São Vicente, tornou-se mais fácil com a inauguração, em 1914, da Ponte Pênsil, que passava a ligar o Morro dos Barbosas, na ilha, ao Morro Japuí, no continente, vencendo a parte estreita do Mar Pequeno. A ponte foi construída para conduzir um emissário de esgoto, parte do plano de saneamento de Santos.

Outro importante fator de desenvolvimento para a região foi a construção do ramal Santos–Juquiá da Estrada de Ferro Sorocabana. Mas sua ocupação só veio a se tornar mais efetiva, na década de 50, com a construção da rodovia Padre Manoel da Nóbrega e da abertura do Bairro Cidade Ocian.

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A primeira medida administrativa ocorreu em 18 de fevereiro de 1959, com a criação do 2º subdistrito (Boqueirão) do distrito-sede do município de São Vicente. A autonomia municipal foi adquirida em 28 de fevereiro de 1964, quando além do próprio município de Praia Grande, foi criado um distrito com o mesmo nome, com sede no 2º subdistrito (Boqueirão) e território desmembrado de São Vicente. (Fonte: SEADE)

5.2. Mercado Produtivo (Produção de Bens e Serviços)

A utilização dos dados secundários nos permite realizar uma caracterização preliminar do contexto econômico do município, considerando informações gerais, como população, número de domicílios, valor adicionado, emprego e ocupação, para o conjunto territorial, em que se insere, seja na região metropolitana, estado de São Paulo e no país.

As bases de dados nacional e estadual possibilita, dessa maneira, o diagnóstico da especialização do trabalho, da escala das empresas, segundo as atividades econômicas, considerando a sua relação sócio-espacial no território.

Para isso, optou-se pela utilização de dados e de informações sempre atualizadas, levando em conta as restrições de tempo inerentes às bases estatísticas nacionais4. A elaboração deste tópico se pautará, além da utilização de dados secundários, por informações primárias levantadas no trabalho de campo da equipe do Instituto Pólis, junto ao poder público, sociedade civil organizada, por meio de oficinas e entrevistas, de forma complementar a análise.

5.2.1. Informações Gerais

A população local passou de 193.582 em 2000, para 260.769 mil pessoas em 2010, representando um aumento de 34,7%5, saindo de 160.289 domicílios em 2000 para 200.061 domicílios em 2010. Segundo dados do censo 2010, 52% dos domicílios recenseados de Praia Grande são de uso ocasional, sendo que ambos os distritos possuem expressivo número de domicílios ocasionais. No que se refere à renda domiciliar, identificamos que pouco menos de 1/3 (em torno de 31%) vivem com renda de até 2 salários mínimos, e cerca de 41% dos domicílios percebem renda entre 2 e 5 salários mínimos, enquanto que aproximadamente, 18% dentre estes domicílios reúnem renda domiciliar entre 5 e 10 salários mínimos, o que possibilita inferir que cerca de 10% destes domicílios dependem de programas de distribuição de renda, doações, ajuda de familiares, e ou vivem em estado de pauperizados, pois não possuem renda 6 oficialmente.

Na cidade de Praia Grande, o Produto Interno Bruto (PIB) do município em 2009 (dado mais recente publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) foi de RS 2,78 bilhões, mais que o dobro do verificado no início da década, uma vez que, em 2000, o PIB de Praia Grande era de aproximadamente R$ 1,1 bilhão. Como pode ser observado, este município também teve uma dinâmica econômica forte, levemente maior que seus vizinhos uma vez que parte de uma base baixa (com exceção de Santos).

Outro indicador importante de se analisar é o PIB per capita, no entanto, com algumas ressalvas. O PIB per capita refere-se ao PIB (soma de todas as riquezas produzidas no país) dividido pelo número de habitantes do país. Vale notar que o PIB pode subir enquanto o PIB per capita diminui, quando, por exemplo, a população

4 Os dados e informações levantados buscam uma compreensão do município, que permitirão, posteriormente, ao cruzar com os

diagnósticos de outras áreas, realizar uma análise integrada e multidimensional. Especificamente ao tema desenvolvimento econômico, para cada município, inicialmente, caberá conhecer alguns dados, visando iniciar o processo de elaboração de diagnóstico econômico dos municípios, cujo quadro geral – para os 13 municípios – nos permitirão traçar o diagnóstico regional. 5 Praia Grande (260.769 ) é a quarta Cidade mais populosa da Baixada Santista ficando atrás de Santos (419.757 moradores), São

Vicente (332.424) e Guarujá (com 290.607), segundo dados do Censo – 2010 - IBGE.

6 Essas informações podem ser encontradas neste relatório, na parte inicial de caracterização do território, no Gráfico da Distribuição

Percentual dos Domicílios Segundo Faixas de Renda Domiciliar Mensal em 2010.

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cresce mais do que a produção num determinado ano, mostrando que, na média, a população empobreceu. Como se pode notar, Praia Grande apresenta um PIB per capita baixo, de R$ 11.142,95, abaixo da média estadual (R$ 26,2 mil) e, sobretudo, à média nacional (R$ 15,9 mil), para o ano de 2009.

É necessário lembrar que o PIB per capita é apenas uma média indicativa: a distribuição desse ganho ou perda se dá de forma desigual, e esse efeito não pode ser registrado neste indicador.

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Figura 1.PIB per capita em reais no município de Praia Grande, SP (2009)

Quando consideramos os dados do PIB, o crescimento em termos absolutos foi pujante, porém é em termos de VA que é possível identificar em quais setores este crescimento ocorreu.

Essa consideração é importante, pois a riqueza produzida no município, em termos de Valor Adicionado (VA), constitui-se o 6º maior centro de produção de riqueza da Baixada Santista 7, na sua relação per capita de cerca de R$ 10.000,00 mil, bem abaixo da média da região que é de R$ 15.639 mil, em que pese a sua população (mais de 260 mil pessoas), se comparada à média dos demais municípios.

Outra constatação relevante é que a taxa de crescimento do VA, nesta década considerada, teve um resultado em Praia Grande de 174%, ficando acima da média regional 145 %, e com um bom desempenho em termos absolutos, em quase todo o período.

Quadro 1. Valor Adicionado (VA) 8, em milhões de reais, no município de Praia Grande - SP (1999- 2009), Percentual de Crescimento do VA, a População em 2010 e o VA por Pessoa.

População

1999 2009 em 2010

Praia Grande 941,39 2.578,57 174% 260.769 9.888

Média do Litoral

Considerado954 2.338 145% 149.511 15.639

Valor Adicionado Taxa de

Crescimento

VA

por PessoaRegiões

Fonte: Informações dos Municípios Paulistas (IMP) - F. SEADE, Censo Demográfico – IBGE.

Os dados de renda per capita devem ser relativizados, pois nem todas as pessoas do município possuem rendimentos ou possuem um nível de renda adequado para satisfazer suas condições básicas.

7 O valor adicionado da produção é distribuído, por meio dos salários, lucros, juros e renda fundiária, aos trabalhadores, empresários,

proprietários do capital e da terra. O valor adicionado, como Proxy da renda distribuída no município, deve considerar o fato de que muita renda é apropriada fora do local, onde se localizam os proprietários, das organizações empresariais, do patrimônio imobiliário e do capital financeiro. Mais do que os proprietários locais recebem de rendas realizadas em outros territórios, ou seja, o valor adicionado provavelmente seja substancialmente menor do que a renda distribuída localmente. 8 Valor adicionado (VA) é o valor que a atividade agrega aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo, obtido pela

diferença entre o valor de produção e o consumo intermediário, segundo a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

1 1 . 1 4 2 , 9 5

2 6 . 2 0 2 , 2 2

1 5 . 9 0 0 , 0 0

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000

PraiaGrande

São Paulo

Brasil PIB 2009

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Segundo dados do Portal ODM9, elaborado a partir do Censo 2010, neste município, de 1991 a 2010, em que pese a redução daqueles que vivem abaixo da linha de pobreza, ainda existem 13,5% da população nesta situação e 8% abaixo da linha de indigência10. No Estado de São Paulo, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo, em 2010, é de 18,9% em 2010.

Outra forma de analisar este grupo de pessoas consideradas como vulneráveis social e economicamente, são os dados e Informações do Cadastro Único, a partir dos Relatórios de Informações Sociais do MDS. No município de Praia Grande há estimadas 12.250, famílias pobres11 e 9.397 famílias beneficiárias do PBF até agosto de 201212.

Considerando o número médio de pessoas por família, estimado pelo IBGE, de 3,3 pessoas, pode-se depreender que, em Praia Grande, há cerca de 40.425 pessoas de baixa renda e 31.010 que dependem da renda disponibilizada pelo PBF, ou seja, respectivamente, 15,5% e 3,6% do total dos habitantes são de baixa renda e dependentes respectivamente do maior programa de transferência de renda.

Figura 2. Proporção de moradores abaixo da linha da pobreza e indigência - Praia Grande, 2010

Fonte: Censo Demográfico - 2010

Um dado complementar de caracterização socioeconômica do município refere-se ao Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS. Partindo-se do pressuposto da insuficiência da renda per capita como indicador das condições de vida de uma população, o IPRS propõe a inclusão de outras dimensões, tais como a longevidade e a escolaridade (assim como o IDH). Desta forma, a Fundação SEADE procurou construir, para o Estado de São Paulo, um indicador que preservasse estas três dimensões, mas com certas especificidades13. Vale mencionar que em cada uma das três dimensões do IPRS, foram criados indicadores sintéticos que

9 http://www.portalodm.com.br/relatorios/sp/PraiaGrande (Acesso em: 04.2012).

10 Para estimar a proporção de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza foi somada a renda de todas as pessoas do domicílio, e o

total dividido pelo número de moradores, sendo considerado abaixo da linha da pobreza os que possuem rendimento per capita menor que 1/2 salário mínimo. No caso da indigência, este valor será inferior a 1/4 de salário mínimo. 11

A estimativa de famílias pobres com perfil de atendimento par o Programa Bolsa Família foi feita a partir dos dados do Censo Demográfico 2010, levando em consideração a renda familiar de até R$ 140,00 por pessoa (MDS, 2012). 12

http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/index.php 13

A primeira consistiu na elaboração de uma tipologia de municípios que permitisse identificar, simultaneamente, o padrão de desenvolvimento de determinado município nas três dimensões consideradas: renda, escolaridade e longevidade. Esse tipo de indicador, apesar de não ser passível de ordenação, permite maior detalhamento das condições de vida existentes no município, ndamental para o desenho de políticas públicas específicas para áreas com diferentes níveis e padrões de desenvolvimento. Em segundo lugar, incluíram-se, na medida do possível, variáveis capazes de apreender mudanças nas condições de vida do município em períodos mais curtos que os dez anos que separam os censos demográficos, fonte específica de informações do IDH municipal. E, em terceiro, foram adotados como base de informações, prioritariamente, os registros administrativos que satisfizessem as condições de qualidade, periodicidade e cobertura, necessárias à produção de um indicador robusto, passível de atualização nos anos entre os censos demográficos e com a cobertura de todos os municípios do Estado. Assim, apesar de representarem as mesmas dimensões, as variáveis escolhidas para compor o IPRS são distintas daquelas empregadas no cálculo do IDH.

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permitem hierarquizar os municípios paulistas conforme seus níveis de riqueza, longevidade e escolaridade. Esses indicadores são expressos em escala de 0 a 100 e constituem uma combinação linear das variáveis selecionadas para compor cada dimensão. A estrutura de ponderação foi obtida de acordo com um modelo de análise fatorial, em que se estuda a estrutura de interdependência entre diversas variáveis. Os indicadores do IPRS sintetizam a situação de cada município no que diz respeito à riqueza, escolaridade e longevidade.

Como se percebe no Quadro abaixo, Praia Grande se posiciona, em termos de escolaridade e longevidade, em situação inferior à de sua Região Administrativa e ao Estado de São Paulo. Tal constatação certamente se relaciona com dois aspectos: a) como se verá, a falta de educação formal e profissionalizante no município e b) a questão da poluição. Em termos de riqueza, Praia Grande apresenta uma desempenho pouco melhor que à do Estado de São Paulo, embora inferior ao conjunto da Região Administrativa de Santos.

Quadro 1. Índice Paulista de Responsabilidade Social, 2008

Localidade Riqueza Longevidade Escolaridade

Estado de S.P 58 73 68

Região Adm. de Santos 68 67 63

Paia Grande 61 65 51

Fonte: Fundação SEADE

Do ponto de vista da participação dos setores da atividade econômica na agregação de valor, nota-se no Quadro 2, que do total de riquezas produzidas no município, o setor da agropecuária não representa nem 1% do total, mesmo com um ligeiro crescimento em 2009 em termos absolutos, continuou perdendo peso em termos percentual, relativo ao conjunto da economia.

Enquanto o setor de serviços na sua totalidade representa (86,2%) do total do VA, englobando os sub-setores do comércio e outros serviços (73,42%) e o sub-setor da administração pública (26,57junto aos setores da indústria, que representa 13,6% do total do VA do município em 2009. Nota-se que, na década analisada, a indústria cresceu em termos absolutos e diminuiu em termos percentuais a sua participação % do VA no conjunto econômico do município.

A administração pública foi o sub-setor com destaque tendo obtido uma expansão no VA, de R$ 156,79 milhões para R$ 590,70 milhões, de 20,92% para 26,57%, do total do setor de serviços que representa 86,20% do total de VA. O setor de serviços representa a grande parte do valor adicionado da economia local, no qual teve um ganho considerado alto, de quase três vezes o valor do ano de 1999, o setor de serviços alcançou de todo o VA, cerca R$ 2.222,77 bilhões em 2009.

Quadro 2. Valor Adicionado (VA) dos Setores Econômicos, em milhões de R$ e percentual do conjunto dos setores econômicos, em Praia Grande, entre 1999 e 2009

Valor Adicionado

(EM MILHOES DE REAIS CORRENTES) 1999 % 2009 %

Agropecuária 0,85 0,09 4,44 0,17

Indústria 190,98 20,29 351,36 13,63

Serviços 749,56 79,62 2.222,77 86,20

(Administração Pública) 156,79 (20,92%) 590,7 (26,57%)

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Fonte: Fundação SEADE

A capacidade de agregação de valor local, cuja taxa de crescimento é maior do que a média do litoral considerado, inicia-se no entanto, de um já importante VA no ano de 1999, pelas atividades já estabelecidas de imobiliária, e do setor serviços, especialmente, de turismo de negócios e de veraneio. O aumento da administração pública deve-se ao aquecimento da economia no período, e das dotações de recursos do setor público municipal, notadamente, pelo crescimento das transferências dos diversos entes governamentais e royalties do Petróleo.

Figura.3 - Participação % dos setores e sub-setores no VA do Município em 2009.

Fonte: SEADE

Mas deve-se qualificar que o destaque do VA por pessoa, com rebatimento das atividades da Petrobras e do Porto de Santos - dado que uma parcela da população trabalha fora da cidade -não repercutiu numa distribuição ou nível de renda, muito melhor em Praia Grande, do que nos outros municípios do litoral considerado, de Peruíbe à Ubatuba. Porém, abre a possibilidade, por conta da riqueza fiscal arrecadada no município, de melhores condições financeiras para a expansão das políticas sociais, de forma específica, saúde, educação, segurança alimentar e etc.

5.2.2. A estrutura produtiva da economia local

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

0,17% 13,63%

86,20%

26,57%

73,42%

1999

2009

(Comércio e outros serviços) 592,77 (79,08%) 1.632,07 (73,42%)

Total 941,39 100% 2.578,57 100%

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A observação da atividade econômica, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, (CNAE versão 2.0), através dos dados do banco estatísticos do Cadastro Central de Empresas (CCE) do IBGE, possibilita aferir a escala e a especialização da estrutura produtiva, existente em Praia Grande no ano de 2010. Para isso as atividades econômicas foram agrupadas em alguns conjuntos, a saber: atividades industriais; atividades de serviços gerais; e de administração pública e serviços sociais, dentre outros. Esses conjuntos de atividades orientam-se a detalhar os setores econômicos antes apresentados (serviços, administração pública e a indústria), em termos de VA, e verificar a composição e escala14 das empresas estabelecidas na produção.

Quadro 3. Número de Empresas e Outras Organizações, por Conjuntos de Atividades Econômicas, total e percentual, em Praia Grande 2010.

Conjunto de Atividades Econômicas 2010 Participação

Industrias de transformação 205 2,6%

Construção 390 5,0%

Comércio; reparaç veíc automot/motocicletas 2.952 37,8%

Adm. Pública, agua e esgoto, gestão de residuos descontam e serviços sociais 85 1,1%

Serviços:educ,saúde,cultura,imob,fin,comun, transp.armaz, correios e outros 1.074 13,8%

Alojamento e alimentação 756 9,7%

Ativ administ e serv complement 2.341 30,0%

Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura 6 0,1%

Empreendimentos 7809 100,0%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

O maior conjunto de serviços gerais é formado pelas atividades de comércio, reparação, veículos automotores e bicicletas, seguido de atividades administrativas e serviços complementares, serviços em educação, saúde, cultura, imobiliárias, financeiras, comunicação, transporte, armazenagem, correios e outros, depois de atividades administrativas e serviços complementares de um total de 7.809 empresas.

Outras atividades relevantes desse conjunto, é ade transporte, armazenagem e correio, que abrangem provavelmente as iniciativas empresariais com suas associadas, controladas e subordinadas, e as operadoras, agentes e as transportadoras, apresentaram um número expressivo de empresas, mas algumas unidades importantes de médio e grande porte.

As outras atividades profissionais, científicas e técnicas, informação e comunicação, e de serviços financeiros apresentaram um número de empresas de pequena e média escala de ocupação de pessoal.

Quadro 4. Distribuição das empresas por atividades econômicas de serviços e comércio, total e por faixa de pessoal ocupado, em Praia Grande - 2010

14

Para fim de mensuração da escala econômica das empresas estabelecidas, define-se como parâmetros, mesmo que arbitrariamente: pequena empresa, unidades com menos de 20 pessoas ocupadas; empresa de média escala, as organizações com 20 ou menos de 50 pessoas ocupadas. e as empresas de grande escala, os empreendimentos com mais de 50 pessoas ocupadas.

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Faixa de pessoal ocupado em 2010 Total 0 a 4 5 a 9 10 a 19 20 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 500 e mais

Agric, pecuár, prod.florest, pesca e aquic 6 6 - - - - - - - -

Indústrias de transformação 205 142 27 19 10 7 - - - -

Comércio e Repar.veículos e motocicletas 2.952 2.341 374 157 40 22 12 5 1 -

Transporte, armazenagem e correio 129 100 14 9 3 3 - - - -

Alojamento e alimentação 756 599 86 49 12 7 3 - - -

Informação e comunicação 70 59 4 5 - 2 - - - -

Ativid financ, seguros e serv relacionados 31 26 3 2 - - - - - -

Ativid profissionais, científicas e técnicas 133 109 14 6 1 2 1 - - -

Atividades administ e serviços complement 2.341 1.898 237 181 8 3 7 6 1 -

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

As atividades de administração pública, defesa e seguridade social, destacaram-se por algumas poucas unidades que geralmente representam um grande número de pessoas ocupadas.

Os setores de educação, saúde, serviços sociais, arte e cultura, esporte e recreação eram responsáveis por poucos estabelecimentos de maior porte, com ocupação de mais de 50 pessoas, algumas poucas unidades de média escala e mais concentradas nas de pequena escala, de menos de 20 pessoas.

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Quadro 5. Distribuição das empresas por atividades econômicas de administração pública e serviços sociais, total e por faixa de pessoal ocupado, em Praia Grande 2010.

Faixas de pessoal ocupado em 2010 Total 0 a 4 5 a 9 10 a 19 20 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 500 e mais

Administ. pública, defesa e seguridade social 4 1 - 1 - - 1 - - 1

Saúde humana e serviços sociais 73 52 12 9 - - - - - -

Educação 112 69 14 14 4 9 1 1 - -

Artes, cultura, esporte e recreação 67 55 4 4 3 1 - - - -

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

As unidades empresariais ativas no ramo da construção somam 12 empresas com mais de 100 pessoas ocupadas, algumas de média escala e muitas pequenas empresas. Se considerado ainda a escala das atividades imobiliárias, água, esgoto, gestão de resíduos sólidos e descontaminação, do ponto de vista do número de pessoas ocupadas, vê-se um desenvolvimento ainda menor da escala dessas empresas, se comparado às correlatas na economia dos municípios vizinhos de São Vicente e Santos, mesmo que com um maior número de unidades em todas as atividades relacionadas. A indústria extrativa não existe no município, não possui ninguém ocupado.

Quadro 6. Distribuição das empresas por atividades econômicas produtivas e de serviços da produção, total e por faixa de pessoal ocupado, em Praia Grande 2010.

Faixas de pessoal ocupado em 2010 Total 0 a 4 5 a 9 10 a 19 20 a 29 30 a 49 100 a 249 250 a 499

Atividades imobiliárias 104 83 9 8 2 1 1 -

Água, esgoto, ativ.gestão - resíd. e descont 8 5 1 1 - - - 1

Construção 390 258 48 39 14 17 11 1

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

Entretanto, esta economia formal apresentada, formada por empresas e outros tipos de organizações de iniciativas (fundações, autarquias, Ong´s e Oscips e etcs), de diversas escalas de produção e ação, com trabalho assalariado, mais ou menos especializado, forma a estrutura produtiva de bens e serviços, estabelecida até recentemente no município. Com esse quadro geral de informações, apresenta-se um componente importante da estrutura produtiva local, para a reflexão a cerca das condições de desenvolvimento econômico. Como se verá, a partir das considerações do mercado de trabalho, existe outro circuito da economia, que por não aparecer nas estatísticas oficiais de emprego, é denominado de informal, ausente da análise realizada nesta seção.

5.2.3. Algumas decisões cruciais que podem atingir a economia local

De acordo com o Relatório da Cespeg (2011), os investimentos previstos no setor de petróleo e gás são, em média, de US$ 5 bilhões/ano (US$ 3,7 bilhões relacionados à exploração, produção e refino) e devem produzir impactos altamente significativos na economia brasileira. Os impactos diretos, indiretos e de efeito-renda são potencialmente de US$ 12 bilhões por ano – relação de 1:2,5 com o investimento. A realização total desse potencial depende da parcela de fornecimento local de insumos e serviços.

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Atualmente, cada R$ 1 investido na cadeia do pré sal e atividades correlatas, gera benefícios diretos e indiretos de R$ 1,26, além de R$ 1,9 em termos de efeito-renda (Cespeg, 2011).

O efeito potencial em termos de crescimento do PIB anual brasileiro é da ordem de 0,6%, com uma geração adicional de 234.000 empregos. Os segmentos mais impactados pelos investimentos na produção de petróleo e gás são os de prestação de serviços a empresas (que inclui consultorias, serviços jurídicos, informática, segurança, entre outros), siderurgia, metalurgia, máquinas e equipamentos, construção civil, comércio e agropecuário. Os maiores beneficiados em termos de valor da produção são: serviços prestados a empresas (15,6%), siderurgia (11,3%), petróleo e gás (9,1%), máquinas e equipamentos (8,8%), peças e outros veículos (principalmente indústria naval, 7,4%) e construção civil (6,4%).

Segundo levantamentos realizados com base em leitura de documentos, relatórios e estudos específicos sobre os impactos dos investimentos do pré-sal e de seus desdobramentos (porto, rodovia etc.), bem como, com base em conversas e entrevistas com especialistas e gestores, indicam alguns segmentos potenciais que serão mais impactados. Entre eles, os que potencialmente sofrerão maiores impactos em toda a região, são: Indústria de Transformação; Construção Civil; Infraestrutura; Turismo; Resíduos Sólidos, Agricultura, Pesca e Extração.

A luz de deste relatório para a dimensão da habitação, identificamos dinamismo relativo, uma vez que a totalidade de sua realização ocorre ao termino das vendas das unidades construídas.

5.2.3.a. Habitação e Infraestrutura Urbana

As atividades de construção civil, obras públicas, abastecimento de água, tratamento do esgoto, gestão de resíduos, descontaminação e imobiliárias, tem entre si um relação especial de interdependência, que se deve observar no conjunto da gestão da política urbana. O mercado local da construção civil era formado por 390 empresas em 2010. Esse conjunto era 59% maior do que o de 2006, com o crescimento da escala da ocupação de pessoas, em empresas maiores, mesmo que em algumas empresas o crescimento tenha sido zero, por não terem registro de empresa em 2006. Vinte e duas (22) empresas ultrapassaram a escala de 30 pessoas ocupadas.

Dos recursos repassados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2010 15), segundo as funções de governo de urbanismo e habitação, o município acessou, cerca de R$ 150 milhões, que representa mais que 10 % do total destinado ao litoral considerado. Enquanto na função de governo de saneamento, o recurso foi de cerca de R$ 400 milhões, representando pouco mais de 20%. O que indica que a expansão das empresas da construção, orientou-se menos a produção de bens e serviços, para as faixas de renda mais baixas, e mais às de renda média e alta.

Maiores detalhes dos programas e a origem dos repasses podem ser obtidas no Ministério das cidades, em grande parte disponível no sítio da Caixa. Estes recursos foram e estão sendo realizados em projetos de planejamento, regularização e construção de infraestrutura para moradia popular, inclusive nos bairros vizinhos aos de maior atratividade turísticas (como o Jardim Aprazível, Vila Sonia, Jd. Aeroclube, e ampliações de diversos SES: Ocian, Tupy, Vila Mirim III, Sitio do Campo, Jd. Trevo, bem como a construção de um Galpão de triagem para catadores).

A expansão das empresas da construção recebeu dessa maneira um importante estímulo, no entanto sem se preocupar com a produção de produtos e serviços, para as faixas de renda mais baixas, produzindo considerando as melhorias da infraestrutura urbana destinada aos serviços turísticos e sua consequente especulação imobiliária.

15

Conforme o Balanço o 4 anos do PAC I – 2007 – 2010.

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Quadro 7. Número de Construtoras, por Faixa de Pessoal Ocupado,em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Construção 2006 2010Taxa de

Crescimento

0 a 4 154 258 68%

5 a 9 41 48 17%

10 a 19 32 39 22%

20 a 29 9 14 56%

30 a 49 5 17 240%

50 a 99 2 11 450%

100 a 249 - 1 100%

250 a 499 1 1 0%

500 ou mais 1 1 0%

Total 245 390 59%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

O crescimento das empresas no mercado imobiliário deu-se tanto em número absoluto, em unidades, como na sua escala. Ainda que mantendo-se concentrada em pequenas empresas.

A taxa de crescimento total das empresas imobiliárias foi pouco maior que a taxa das construtoras. A dinâmica de ambas se relaciona, seja, pela produção de imóveis residenciais, de diversos usos (permanente, especulação, veraneio e hospedagem) e pela produção de “obras” pesadas da infraestrutura (viária, saneamento ambiental (água e esgoto), equipamentos públicos e etc.), que valoriza os estoques de moradia produzida.

Quadro 8. Número de Imobiliárias, por Faixa de Pessoal Ocupado,em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Atividades

imobiliárias2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 46 83 80%

5 a 9 6 9 50%

10 a 19 7 8 14%

20 a 29 2 2 0%

30 a 49 - 1 100%

50 a 99 - 1 100%

Total 61 104 70%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

A atividade de saneamento teve o crescimento perceptível da ocupação de pessoal numa única empresa. Apesar de que o crescimento em geral das atividades têm foram negativo neste período analisado. Isso pode ser explicado em parte, pela contabilização das empresas ativas no local em outras cidades.

Os empreendimentos de abastecimento de água, tratamento do esgoto, gestão de resíduos e descontaminação, são poucos e de pequena escala, o que significa os limites de oferta de produtos e serviços locais. Por outro lado, esta atividade é uma importante oportunidade para expansão da política pública, como para a articulação do capital e trabalho local, especialmente nas atividades de gestão de resíduos, inclusive a partir dos recursos federais, como do PAC, muito utilizado pelo município em diversas modalidades.

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Quadro 9. Número de Empresas de Saneamento, por Faixa de Pessoal Ocupado,em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Água, esgoto, gestão de

resíduos e descontaminação2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 7 5 -29%

5 a 9 1 1 0%

10 a 19 1 1 0%

20 a 29 - - 0%

30 a 49 - - 0%

50 a 99 - - 0%

100 a 249 - 1 100%

Total 9 8 -11%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

Nesse breve momento analisado, entre 2006 e 2010, as empresas de produção habitacional, infraestrutura e imobiliárias tiveram um crescimento tanto na entrada de novas empresas no mercado, com o aumento da escala de ocupação de pessoal, em ambas as atividades. As empresas locais ligadas à atividade de saneamento (ambiental, resíduos e descontaminação) não tiveram o mesmo dinamismo, com a redução das unidades locais e o crescimento de escala de ocupação de uma única unidade.

Com isso, destaca-se um arranjo setorial da construção local que poderia expandir com maior dinamismo por força do estímulo da demanda pública por obras de infraestrutura e serviços degestão de resíduos. Além da consequência do atual arranjo produtivo local, que se orienta mais aos lançamentos de melhor padrão, ausentando-se da produção de habitação popular, reforçando a divisão econômica e territorial da sociedade.

5.2.3.b. Infraestrutura Produtiva e Logística

A infraestrutura produtiva e logística de Praia Grande insere-se na divisão social do trabalho e espacial da produção, como importante conector de fluxos de bens finais, de capital (máquinas e equipamentos) e insumos industriais (matéria-prima).

Para isso, comporta um importante segmento de serviços especializados de logística, notadamente, de transporte, armazenagem, comércio e reparo, muito superior à capacidade de transformação produtiva estabelecida no município. Uma estrutura produtiva que se caracteriza por circular muita mercadoria e agregar pouco valor no espaço local.

As empresas de transporte, armazenagem e correio, relacionadas principalmente à logística de fluxo de mercadorias, tiveram um crescimento representativo em todas as escalas de empreendimentos, a pesar da redução das empresas com mais de 50 pessoas ocupadas. Isso denota uma melhoria da inserção do muncípio na dinâmica metropolitana, no sentido de receber empresas, que antes se localizam mais no centro do polo econômico da Baixada Santista, notadamente Santos e Cubatão.

Quadro 10. Número de Empresas de Logística, por Faixa de Pessoal Ocupado, em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

2006 2010

0 a 4 50 100 100%

5 a 9 7 14 100%

10 a 19 3 9 200%

20 a 29 1 3 200%

30 a 49 - 3 300%

50 a 99 2 - -200%

Total 63 129 105%

Transporte,

armazenagem e correio

Ano Taxa de

Crescimento

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

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As atividades de Comércio no atacado , varejo e Reparação de Automotores são estimuladas diretamente pelo fluxo de cargas, fortemente mobilizadas na interconexão do transporte hidroviário-rodoviário, na exigência não só de novos equipamentos, mas da sua manutenção e conservação.

O crescimento dessas atividades apresentou um desempenho total menor do que o do setor de logística, mais positivo nas unidades de produção, de média escala, com mais de 20 e menos de 50 e de pequena escala, com menos de 20 funcionários. As empresas de média e grande escala, com 50 ou mais funcionários, reduziram-se em quantidade, com um contraditório crescimento das empresas com menos de 50 empregados.

Quadro 11. Número de Empresas de Comércio e Reparação, por Faixa de Pessoal Ocupado, em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Comércio e

Reparação2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 2.032 2.341 15,2%

5 a 9 293 374 27,6%

10 a 19 104 157 51,0%

20 a 29 19 40 110,5%

30 a 49 15 22 46,7%

50 a 99 13 12 -7,7%

100 a 249 6 5 -16,7%

250 a 499 1 1 0,0%

Total 2.483 2.952 18,9%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

A frota de veículos no município vem crescendo principalmente, no caso das caminhonetes (224%), motonetas (167%), motocicletas (134,5%), camionetas, utilitários e outros tipos (100%). Entretanto, a maioria dos veículos no município era de automóveis mais de 45 mil, do total de veículos 81.558 de Praia Grande inscritos no Sistema Nacional de Trânsito. Os caminhões e tratores também cresceram nesse período, respectivamente 36% e 89,4%, provavelmente relacionados a expansão do conjunto de atividades relacionadas à logística da produção.

Quadro.12 Frota total de veículos inscritos no Sistema Nacional de Trânsito, por tipo leve, ônibus, caminhão, trator e outros, entre 2005, 2010 e taxa de crescimento em Praia Grande

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Praia Grande 2005 2010Taxa de

Crescimento

Participação

em 2010

Caminhonetes 1.188 3.849 224,0% 4,7%

Motonetas 2.187 5.839 167,0% 7,2%

Motocicletas 8.737 20.491 134,5% 25,1%

Camionetas 2.321 100,0% 2,8%

Utilitários 166 100,0% 0,2%

Outro tipo 970 100,0% 1,2%

Caminhões trator 179 339 89,4% 0,4%

Automóveis 25.056 45.219 80,5% 55,4%

Micro-ônibus 185 276 49,2% 0,3%

Trator de rodas 42 62 47,6% 0,1%

Caminhões 1.321 1.802 36,4% 2,2%

Ônibus 279 224 -19,7% 0,3%

Frota Total

de Veículos 39.174 81.558 108,2% 100,0%

Fonte.1:http://www.informacoesdobrasil.com.br/dados/sao-paulo/praia-grande/frota-automoveis-2005/2010 - Fonte.2: Departamento Nacional de Trânsito – Denatran e F. Seade.

Os congestionamentos ocorrem tanto nos feriados como nos dias uteis. No que se refere a locais para guardar estes veículos. Os diversos prédios e garagens que foram construídas e estão sendo inauguradas desde 2010 em Santos, Guarujá e Praia Grande dão conta de cerca de 7.000 vagas de veículos, contribuindo para aumentar a explosão da frota e do trânsito nessas cidades.

As quantidades de veículos cresceram nestas cidades mais que 94% nos últimos dez anos (Fonte?). Aproximadamente são mais de 500 mil veículos. Segundo os jornais locais, a titulo de ilustração: “Santos, que tem área menor que a abrangida pela Subprefeitura da Lapa, em São Paulo, surfa na onda do pré-sal e tem vários lançamentos de prédios de mais de 30 andares com até seis vagas na garagem por unidade. É a cidade que mais ganha vagas - 3.403 somente no ano de 2010, Fonte: Empresa de consultoria Geoimovel, consulta efetuada pela imprensa local”.

Segundo a Prefeitura de Praia Grande, foi anunciado um aumento em 2010 de cerca de 25% na arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). No primeiro quadrimestre deste ano, o Estado já repassou quase R$ 14 milhões aos cofres da prefeitura, contra R$ 11 milhões do ano passado.

No ano de 2010, foram licenciados, em Praia Grande, 55.971 automóveis a previsão para 2011 é foi de a que cheguem a aproximadamente 62 mil licenciamentos, dado este ainda não confirmado (fonte?). Cerca de 20% do valor repassado à prefeitura são automaticamente descontados para o Fundo de Educação Básica (Fundeb) e, obrigatoriamente, devem ser aplicados em áreas da educação básica. Segundo a prefeitura: “Parte da arrecadação do IPVA compõe o orçamento do município e é utilizado na melhoria dos serviços, como, hospitais, segurança, estradas entre outros”.

A Sefin orienta os proprietários de veículos de Praia Grande para que licenciem seus veículos dentro do município. “Ao emplacar seu automóvel na cidade, o proprietário estará contribuindo com a sua Cidade”. Uma espécie de guerra fiscal. Esta matéria foi publicada no site da prefeitura (fonte? Link... nota de roda pé).

No que se refere às atividades de transformação industrial, constitui-se num dos grupos mais diversificados, em seus ramos e especialidades, como informa a CNAE 2.0, com cerca de 24 divisões, 83 grupos, 259 classes e 418 subclasses. Essa infinidade de conceitos para a compreensão da economia industrial permite que seja verificada a importância da economia local, por conta da diversidade das mais de 205 unidades de transformação instaladas em Praia Grande até o ano de 2010. A atividade teve uma expansão das unidades instaladas, especialmente, na escala de 20 a 49 pessoas ocupadas. Apesar de atividades de pequena escala, terem crescido nas empresas de até 4 pessoas, reduziram-se nas de ocupação entre 10 até 19 pessoas.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Quadro 13. Número de Empresas Industriais de Transformação, por Faixa de Pessoal Ocupado, em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande.

Indústrias de

transformação2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 124 142 14,5%

5 a 9 27 27 0,0%

10 a 19 21 19 -9,5%

20 a 29 5 10 100,0%

30 a 49 2 7 250,0%

Total 179 205 14,5%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

A articulação da infraestrutura e dos serviços de logística, com as atividades de turismo, tem apresentado um incremento do número de empresas no mercado local, bem como, na sua escala de ocupação de empregados, indicando a expansão das atividades de armazenamento, transporte, comércio e reparo.

As atividades da indústria de transformação mostraram-se em 2010, restritas em número e escala, considerando que existe uma vantagem relativa para o município, em função da sua proximidade com relação ao Porto de Santos, no transporte de insumos industriais, como no escoamento da produção no mercado nacional e internacional.

Isto deve intensificar a promoção de atividades econômicas mais voltadas aos serviços, e infraestrutura para as novas atividades industriais e mesmo outras que demandem espaço a fim de a serem instaladas na cidade de Praia Grande, concorrendo ainda com algumas das cidades vizinhas.

Já, em que pese o desejo e expectativa positiva de forma geral, a população de Praia Grande parece estar cética quanto aos benefícios desses grandes projetos de investimentos em curso, seja da Petrobras, de imobiliárias e mesmo da duplicação de estradas.

As pessoas presentes nas oficinas e entrevista, especialmente, os moradores da região central, como percepção, falaram dos efeitos negativos advindos desses projetos, como aumento da prostituição, roubo, o impacto sobre a paisagem, poluição dos mangues e praias do entorno, além da vinda de migrantes, restringindo as oportunidades de trabalho e ocupando muitas vezes áreas vulneráveis e preservadas (morros, mangues, rios e etc.).

5.2.3.c. Turismo e Lazer

O turismo abrange um grande número de atividades de serviços (CNAE), desde as atividades administrativas, complementares, alojamento, alimentação, artes, cultura, esporte e recreação. Esses serviços, direta ou indiretamente, exploram as riquezas locais, que passam mais pela beleza da paisagem, e menos pela cultura e a gente que se dispersa ao longo da serra e do mar, como se vê nos registro das oficinas e entrevistas.

O crescimento das atividades de turismo, que em parte é formada por serviços administrativos e complementares 16, apresentou um crescimento, especialmente de empresas pequenas, de até 20 funcionários, mas com o crescimento de empresas médias e o surgimento de 9 empresas de mais de 50 funcionários. Essas atividades caracterizam-se, em sua maioria, por ser de pequena escala e ter apresentado um crescimento quantitativo importante.

16

Entre as atividades administrativas e serviços complementares, destacadas para esta análise, estão as de aluguéis não imobiliários, gestão de ativos intangíveis (meio de transporte, máquinas e equipamentos, objetos domésticos e pessoais), agências de viagens, operadores de turismo e serviços de reserva, além de serviços paisagísticos e para edifícios ou condomínios, segundo a CNAE 2.0.

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Quadro 14. Número de Empresas de Administração e Serviços Complementares, por Faixa de Pessoal Ocupado em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Atividades administrativas e

serviços complementares2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 1.673 1.898 13,4%

5 a 9 196 237 20,9%

10 a 19 141 181 28,4%

20 a 29 4 8 100,0%

30 a 49 6 3 -50,0%

50 a 99 3 7 133,3%

100 a 249 2 6 200,0%

250 a 499 - 1 100,0%

Total 225 332 47,6%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

As atividades de alojamento e alimentação, que representam respectivamente, os hotéis, campings, pousadas e etc. e os restaurantes, tiveram pequeno crescimento em todas as escalas de ocupação no período observado. Entretanto, as pequenas empresas, apresentaram um menor crescimento, mais pronunciado nas empresas de mais de 20 empregados e menos de 50. Ocorreu também nesse período o início das atividades de 2 empresas com mais 50 pessoas ocupadas. Isso configura um setor em expansão, se não explicitamente no número de empresas, pelo crescimento das empresas por meio da incorporação de novos empregados.

Quadro 15. Número de Empresas de Alojamento e Alimentação, por Faixa de Pessoal Ocupado em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

Alojamento e

alimentação2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 523 599 14,5%

5 a 9 72 86 19,4%

10 a 19 35 49 40,0%

20 a 29 11 12 9,1%

30 a 49 3 7 133,3%

50 a 99 1 3 200,0%

Total 645 756 17,2%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

Os empreendimentos relacionados a artes, cultura, esporte e recreação, de pequena escala de ocupação, até 9 pessoas, apresentaram um crescimento importante. No caso das unidades de mais de 10 pessoas ocupadas, houve uma ascensão na ocupação de pessoas, provavelmente, em atividades do setor público e organizações da sociedade civil sem fins lucrativos.

A expansão das empresas ligadas ao lazer, no período considerado, parece ser tímida, apresentando uma da taxa de crescimento de 31,4%, no número de empreendimentos, constituindo um conjunto de 67 empreendimentos engajados nessa finalidade, fundamental para o desenvolvimento da atividade de turismo, especialmente, pelo estímulo a permanência dos visitantes.

Quadro 16. Número de Empreendimentos de Artes, Cultura, Esporte e Recreação,

por Faixa de Pessoal Ocupado em 2006, 2010 e Taxa de crescimento, em Praia Grande

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Artes, cultura,

esporte e recreação2006 2010

Taxa de

Crescimento

0 a 4 46 55 19,6%

5 a 9 1 4 300,0%

10 a 19 2 4 100,0%

20 a 29 - 3 300,0%

30 a 49 - 1 100,0%

50 a 99 2 - -200,0%

Total 51 67 31,4%

Fonte: IBGE-SIDRA-CCE 2010.

Existe uma divisão no município que separa duas estruturas de produção de serviços de turismo uma destinada ao turismo de negócios, esporte, histórico e cultural, e outra ao veranismo, domicílios de uso ocasional, caracterizado pelo produto imobiliário e serviços associados, que se relaciona menos com os serviços, comércio e produção e mesmo com a população como se registrou nas entrevistas e oficinas. Além disso, a forte expansão territorial dos condomínios, promovida pelas construtoras e imobiliárias, associa-se a conflitos em muitas direções, como na da preservação ambiental, na elitização e restrição de acesso ao uso público da praia, na relação com a economia e os trabalhadores locais.

5.2.4. Rede Petro Bacia de Santos (BS)

Uma importante iniciativa é a “Rede Petro”, parceria entre o SEBRAE e a Petrobrás, cujo objetivo é promover a inserção competitiva e sustentável dos micro e pequenos negócios, fornecedores efetivos e potenciais, na cadeia. Segundo informações do SEBRAE, até 2014, deverão ser investidos R$ 41 bilhões em todo esse segmento17.

Vale lembrar que a primeira Rede Petro foi criada no Rio Grande do Sul, em 1999, num cenário onde o setor agrícola enfrentava grave crise no Estado e em todo o país. Diante da situação, alguns empresários e empreendedores começaram a pesquisar onde poderiam encontrar novas oportunidades para negócios.

De forma geral, os objetivos específicos deste Convênio entre a Petrobras e o Sebrae, também chamados de “Temas Estratégicos” são18: 1) Desenvolvimento de diagnóstico e de mapeamento de oportunidades de negócios para as micro e pequenas empresas (MPEs); 2) Formação, consolidação das Redes PETRO e promoção da interação entre elas; 3) Sensibilização e mobilização de grandes empresas para apoiar o desenvolvimento de micro e pequenas empresas (MPEs); 4) Capacitação e qualificação de micro e pequenas empresas(MPEs); 5) Promoção de Rodadas de Negócios entre grandes empresas e micro e pequenas empresas fornecedoras (MPEs).

17

Informação acessada em: http://www.busca.sebrae.com.br 18

De acordo com informações do próprio site, a primeira fase do Convênio, finalizada em 2007, contou com investimentos de R$ 32 milhões – R$ 12 milhões aportados pela Petrobras e Sebrae e R$ 20 milhões pelas empresas parceiras, envolvendo 12 estados do Brasil: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe. Em 2008, o Convênio Petrobras-Sebrae foi renovado por mais três anos, com aporte inicial de recursos de R$ 32 milhões (R$ 16 milhões de cada parte), a contrapartida mínima das empresas de R$ 8 milhões e a inclusão de mais dois estados: Pernambuco e Santa Catarina, totalizando 14 estados envolvidos. No período de 2004 a 2010, cerca de 3.400 empresas foram capacitadas para se tornarem fornecedoras da cadeia produtiva de petróleo e gás. Além disso, foram realizadas 65 Rodadas de Negócios, que geraram expectativas para fornecimento de bens e serviços em torno de R$ 2,6 bilhões.

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Quadro 17. Empresas Cadastradas, por Origem do Fornecedor, na Rede Petros da Bacia Santos em 2012

Origem da Empresa Unidades

Exterior 5

Nacional 8

Interior de SP 13

Litoral de SP 115

RMSP 43

Total 184

Fonte: Rede Petros Baixa Santista.

Em que pesem as potencialidades dos investimentos da Petrobras, dos cerca de R$123,6 bilhões do PAC a ser realizado na Baía de Santos (PAC 2010), a análise no banco de dados das empresas cadastradas pela Rede Petros, indica a baixa participação de registro de empresa de Praia Grande, no banco de fornecedores da Petrobras, até abril 2012.

Destaca-se a concentração de grande parte dos interessados, empresas localizadas no núcleo Metropolitano mais denso da Baixada Santista, notadamente em Santos, também na Região Metropolitana de São Paulo e em outras centralidades econômicas nacionais e do exterior.

Quando observamos a caracterização por faixa Etária e Étnica da População, o município de Praia Grande possui população bastante jovem, mas que vem envelhecendo na última década. A população jovem de até 29 anos passou de 55% em 2000 para 48% da população total em 2010, enquanto a população de 30 até 59 anos aumentou de 35% para 39% da população total. Neste período, também se percebe um ligeiro envelhecimento da população com mais de 60 anos que passou de 9% para 12% sobre a população total, obviamente este fenômeno de forma geral ocorreu no país todo, o que possibilita dado a esta janela de oportunidades, enfrentar algumas dificuldades e heranças do passado tanto na educação, e acesso a novas tecnologias, como as questões de saúde, no qual estão vinculadas sobremaneira a estrutura social vigente, de moradia, saneamento, alimentação, níveis e tipos de trabalho que ainda são degradantes, para parcela significativa da população, como resultante da estrutura concentradora e segregadora da sociedade como um todo e em alguns locais ainda mais.

Perfis das Rendas Domiciliares e dos Responsáveis pelos Domicílios

A análise dos perfis de renda no município de Praia Grande utiliza-se de dois tipos de variáveis: a renda mensal do responsável pelo domicílio; e a renda mensal domiciliar, composta de todos os rendimentos dos moradores. Estes são importantes indicadores da capacidade de consumo das famílias. A pessoa responsável pelo domicílio é identificada pelo IBGE como homem ou mulher, de 10 anos ou mais de idade, reconhecida pelos moradores como responsável pela unidade domiciliar. Estas informações detalhadas podem ser vistas no relatório, na dimensão de territórios, densidade geográfica e condições sociais nos domicílios.

Segundo dados censitários do IBGE, obtidos e sistematizados pela equipe Pólis, e apresentada na dimensão de territórios e condições sociais, o “Município de Praia Grande passou de 160.289 domicílios em 2000 para 200.061 domicílios em 2010, acompanhando o crescimento populacional ocorrido neste mesmo período. De acordo com dados do Censo 2010, 52% dos domicílios recenseados de Praia Grande são de uso ocasional, sendo que ambos os distritos possuem expressivo número de domicílios ocasionais.”

Esta situação em geral condiz com cidades que possuem grande atividade turística e de veraneio.

O conceito de “Domicílio de uso ocasional” se refere ao domicílio particular permanente que serve ocasionalmente de moradia, geralmente usado para descanso nos fins de semana, férias, entre outras finalidades.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

A existência de desse tipo de imóveis, associadas à presença de hotéis e pousadas no município, tem relação direta com a significativa população flutuante analisada também na parte que trata da dimensão de territórios, e aqui apresentada um quadro a titulo de ilustração.

Quadro. Praia Grande - - Domicílios Recenseados Segundo Condição de Ocupação – 2010

Domicílios recenseados- dados 2010

Município

Total recenseados Particular - ocupado

Particular - não ocupado - uso

ocasional

Particular - não ocupado - vago

Coletivos

Nº Nº Média % do total de domicílios

Nº Média % do total de domicílios

Nº Média % do total de domicílios

Nº Média % do total de domicílios

Município de Praia Grande - Geral

400.122 167.026 40,84% 209.824 53,38% 23.038 5,6% 234 0,056%

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010. Elaboração: Equipe Polis – Dimensão Territórios. Ajustes para a cidade: Desenvolvimento Econômico

No município de Praia Grande é possível verificar uma distinção na distribuição no território dos domicílios de uso ocasionais e dos domicílios de ocupados, ver no relatório da dimensão territórios maiores detalhamentos.

5.3. Mercado de Trabalho

Com base nos dados do IBGE, de 2010, sabe-se que o município possuía 260.769 habitantes e sua População em Idade Ativa (PIA) era de 223.057, ou seja, 85,53% de sua população total. Vale lembrar que a PIA refere-se ao segmento da população total com idade entre 15 e 65 anos, ou seja, parcela disponível na sociedade para a realização de sua produção nacional.

No entanto, no Brasil, onde as políticas públicas tiveram alcance limitado, considera-se como integrante da PIA as pessoas com 10 anos ou mais, sem critérios de estabelecimento de idade limite19.

Mas nem todas as pessoas com 10 anos ou mais estão “disponíveis” para a vida produtiva, pois parcela desta encontra-se estudando, doente, como donas de casa e aposentados. Assim, apenas uma parcela da PIA realiza alguma atividade produtiva. Esta parcela chama-se População Economicamente Ativa (PEA).

A PEA (128.806 pessoas) era de 57,75% da PIA em 2010. Do total da PEA, há um segmento que se encontra efetivamente trabalhando (ocupados) e outro que está fora do mercado de trabalho em busca de ocupação (desocupado).

A taxa de ocupação local (população ocupada dividida pela PEA) era de 89,25%, visto que havia 114.965 ocupados. Isto demonstra que a taxa de desocupação de 10,74%, é uma das maiores verificadas na Região Metropolitana da Baixada Santista, no Estado de São Paulo e na média nacional.

Outro indicador é a informalidade do mercado de trabalho no município. Sabe-se que não há consenso teórico-conceitual em torno da informalidade, sendo necessária a elaboração de proxys para a sua análise.

19

Conforme nos atenta Dedecca (1998:96): “Os limites de idade da PIA variam de acordo com o nível de desenvolvimento de cada país”.

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Neste trabalho, com o intuito de analisar o peso das ocupações em situação de informalidade (sem carteira de trabalho assinada), optou-se por somar os empregados sem carteira e os por conta própria e dividi-los pelo total de empregados.

Entende-se que este exercício nos permite ter uma ideia de quanto “pesa” o mercado de trabalho informal no município.

Com base nesta construção, nota-se que a taxa de informalidade do mercado de trabalho é de 42,73% em Praia Grande, superior às taxas registradas no Estado de São Paulo e superior à média nacional.

Em relação aos anos anteriores ocorreu uma redução do peso das ocupações informais no mercado de trabalho de Praia Grande, o que inclusive, nos permite pensar quais foram as atividades formais ocupadoras dessas pessoas.

Quadro 20. População em Idade Ativa, Economicamente Ativa, Taxas de Desocupação e de Informalidade em Praia Grande – 2010.

Região PIA PEA Tx Desocupação* Tx Informalidade**

Praia Grande 223.057 128.806 10,74 42,73 RMBS 1.433.818 827.560 9,8 37 Estado de SP 35.723.254 21.639.776 8,1 33 Brasil 161.981.299 93.504.659 7,6 41

Fonte: IBGE, SIDRA – Censo 2010 (Elaboração Própria).* População Desocupada/PEA ** Proxy considerando os empregados sem carteira e os por conta própria/total de ocupados

Em relação aos empregos formais no município de Praia Grande em 2010 (havia contabilizado naquele ano 38.252 empregos formais), têm-se o seguinte cenário: 34,70% estão no setor de serviços (com destaque dos serviços de alojamento e alimentação e serviços domésticos); 30,60% no comércio; 23,13% na administração pública; 7,80% na construção civil; 3,13% na indústria de transformação e 0,63% nos serviços industriais de utilidade pública; no setor agropecuário a participação não chega a meio porcentual, enquanto que o setor de extrativismo mineral inexiste na participação porcentual dos empregos.

É válido mencionar que o emprego formal captado pelos dados do RAIS/MTE refere-se aos vínculos empregatícios regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e estatutários (regidos pelo Estatuto do Servidor Público), marcos institucionais formais do mercado de trabalho nacional.

A partir destes dados, percebe-se que os empregadores neste município são o setor de serviços, de comércio, a administração pública e o da construção civil, sendo marginal a geração de emprego em outros setores.

A construção civil, apontada como empregadora potencial em Praia Grande, em que pese a sua representatividade de 7,8% dos empregos formais, certamente é ainda mais representativa quando levada em conta a informalidade inerente ao setor.

Figura 5. Distribuição (%) dos empregos formais, por setores da atividade econômica, em Praia grande 2010.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Serviços; 34,7%

Comércio; 30,6%

Administração Pública; 8,3%

Construção Civil; 7,8%

Indústria de transformação; 3,1%

Serviços industriais de utilidade pública; 0,6% Agropecuária; 0,0%

Extrativa mineral ; 0,0%

Serviços

Comércio

Administração Pública

Construção Civil

Indústria de transformação

Serviços industriais de utilidadepública

Agropecuária

Extrativa mineral

Fonte: MTE, RAIS.

No que se refere à remuneração média auferida no município, para o ano de 2010, verifica-se (Figura 6), que os maiores salários estavam no setor de serviços industriais de utilidade pública R$1.945,83, na administração publica R$ 1.728,00, no setor da construção civil R$1.172,10, este inclusive maior do que no da indústria, apresentando na cidade no que se refere ao trabalho formal, salário médio de cerca de R$ 1.300,00, abaixo da média de São Paulo e do Brasil.

Do outro lado, o menor rendimento auferido está no setor da agropecuária, com R$ 561,17, abaixo inclusive do salário mínimo paulista. Enquanto que os setores de serviços industriais de utilidade pública, serviços em geral e comércio, que em conjunto tem significativa importância para a geração de empregos formais no município, mas registram respectivamente remunerações médias de R$ 1.945,83, R$ 1.115,85 e R$ 973,71, sempre abaixo da média do estado.

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Figura 6. Remuneração média em reais, por setores da atividade econômica em Praia Grande - 2010

Fonte: MTE, RAIS.

Os dados do emprego formal, em boa consonância com os números das empresas, mostram um dinamismo das atividades de construção civil, administração pública, indústria e serviços, como os melhores pagadores em termos de salários médios, na cidade. As atividades de comércio em geral, que são grandes ocupadores de pessoas, apresentaram os mais baixos níveis salariais.

5.3.1. A especialização produtiva do trabalho no Município

No que se refere à distribuição dos estabelecimentos pelos setores da atividade econômica, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), verifica-se que, em 2010, do total de 4.926 estabelecimentos registrados, 58,61% dedicavam-se aos serviços, 34,08% a comércio, 4,61% a construção civil, 2,64% na indústria e nem 1% na agropecuária. Estes dados reiteram o exposto acima, de alta participação dos serviços e comércio, baixo nível de industrialização e da agropecuária, o que denota a característica de cidade turística e cidade dormitório com tendência fora de temporada a demonstrar indícios de estagnação econômica, com baixo valor agregado da produção, baixa competitividade e inovação, baixo nível de formalização do emprego etc. Sobre a agropecuária, cabe lembrar que por se tratar de uma fonte de dados que abarca os empreendimentos formais da economia (RAIS), a parcela substancial desta atividade, pode estar sendo realizada de maneira informal, no qual não é nesta base de dados até aqui registrada.

Figura 7. Distribuição (%) dos estabelecimentos por setores da atividade econômica em Praia Grande – 2010.

Indústria; 2,64 Construção Civil; 4,61

Comércio; 34,08

Serviço; 58,61

Agropecuária; 0,06

Indústria

Construção Civil

Comércio

Serviço

Agropecuária

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios e RAIS, MTE

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

1 . 0 2 2 , 3 2

1 . 1 7 2 , 1 0

9 7 3 , 7 1

1 . 1 1 5 , 8 5

5 6 1 , 1 7

1 . 9 4 5 , 8 3

1 . 7 2 8 , 1 0

0

Praia Grande

São Paulo

Brasil

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Outro dado interessante de mencionar, para uma melhor caracterização da atividade econômica, é o Quociente Locacional (QL20). Conforme Silva et al. (2008), para a elaboração de critérios de identificação de aglomerações produtivas locais, “é desejável elaborar um indicador que seja capaz de captar pelo menos três características de uma aglomeração produtiva local: a) a especificidade de um setor dentro de uma região (município); b) o seu peso em relação à estrutura empresarial da região (município) e c) a importância do setor para a economia do Estado” (p.6). Dados da RAIS21, do MTE, foram coletados para o cálculo do QL de cada setor econômico no município.

Quadro 21. Quociente Locacional (QL) para o município de Praia Grande, entre 2000 e 2010

Praia Grande 2000 2010 Praia Grande 2000 2010

01-Extrativa Mineral 0,00 0,00 14-Serviço Utilidade Pública 0,79 0,80

02-Prod. Mineral não Metálico 0,18 0,73 15-Construção Civil 2,53 1,58

03-Indústria Metalúrgica 0,30 0,08 16-Comércio Varejista 2,00 1,72

04-Indústria Mecânica 0,15 0,06 17-Comércio Atacadista 0,88 0,90

05-Eletrico e Comunicações 0,01 0,02 18-Instituição Financeira 0,44 0,51

06-Material de Transporte 0,01 0,02 19-Adm Técnica Profissional 1,60 1,22

07-Madeira e Mobiliário 0,08 0,12 20-Transporte e Comunicações 1,00 0,43

08-Papel e Gráf 0,13 0,18 21-Aloj Comunic 1,05 1,11

09-Borracha, Fumo, Couros 0,00 0,00 22-Médicos Odontológicos Vet 0,76 0,58

10-Indústria Química 0,06 0,07 23-Ensino 0,68 0,74

11- Indústria Têxtil 0,11 0,13 24-Administração Pública 1,07 1,83

12- Indústria de Calçados 0,00 0,00 25-Agricultura 0,00 0,01

13-Alimentos e Bebidas 0,32 0,34 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/RAIS

Os dados para Praia Grande (Quadro 21) apontam, no ano de 2010, para os seguintes setores de maior potencial: alojamento e comunicação (certamente alojamento, tendo em vista a cadeia do turismo, que inclui serviços de hotelaria (QL de 1,11); a construção civil do ponto do vista da formalidade teve destaque negativo (QL de 1,58), tendo diminuído em relação ao ano de 2000 , a administração pública (QL de 1,83)apontando que, quando o mercado não supre as necessidades, cabe ao setor público suprir, já o

20

Este exercício realizou-se com base no cálculo do QL. O QL refere-se a um indicador típico na literatura de economia regional, de comparação de duas estruturas setorial-espaciais, a partir da razão entre as duas estruturas econômicas, sendo considerada, no numerador, a “economia em estudo” (município) e, no denominador, a “economia de referência” (estado). Desta forma, o cálculo leva em conta, no numerador, a relação entre o emprego do setor ou atividade “x” no município “j” em estudo e, no denominador, a relação entre o emprego do setor “x” no Estado em que está este município “j” pelo emprego total no Estado deste município. Após os cálculos, considera-se como potenciais Arranjos Produtivos Locais (APLs) aqueles setores com QL superior a 1. Vale lembrar que há estudos que adotam como critério o QL maior ou igual a dois ou três. Em quaisquer das situações (QL superior a 1, 2 ou 3), o resultado indica que a especialização do município “j” na atividade ou setor “x” é superior à specialização do conjunto do Estado nessa atividade ou setor (Silva et al., 2008). Nossa opção por analisar os QLs superior a 1 deve-se ao fato dos municípios em análise serem pequenos, de baixa renda e/ou estagnados. 21

Em relação aos dados da RAIS, cabe mencionar que sua utilização para este exercício justifica-se pela possibilidade de desagregação setorial e geográfica dos dados, o que permite desagregá-los até o nível municipal e, em termos setoriais, até o nível de subsetores da atividade econômica seguindo a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE). Por outro lado, é sabido que esta base de dados traz consigo a restrição de somente contemplar o emprego formal, não permitindo, portanto, medir a “força” da economia/empreendimentos informais, constituída de pequenas empresas familiares e outras atividades de pequena escala; empreendimentos estes de importância nesta pesquisa. Por estas limitações, este exercício nos serviu apenas como ponto de partida para aplicação dos questionários e mapeamento de setores estratégicos e potenciais do município, e outros perfis de estabelecimentos (inúmeros informais, por exemplo) foram sido visitados e analisados a partir dos questionários e entrevistas realizadas.

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comércio varejista também teve uma queda quando comparado com o ano 2000, ficando em 2010 com (QL de 1,72).

Olhando esses dados com relação a mudança de potencial ao longo da década verificada, a administração pública ganhou importância na ocupação (QL varia de 1,07 para 1,83), e no sentido contrário o comércio varejista (QL cai de 2,0 para 1,72), além da administração técnica e profissional (QL segue de 1,60 para 1,22).

Dessa maneira, destaca-se que a ocupação do mercado formal de trabalho, provavelmente deve ter ocorrido por conta das atividades de alojamento, comunicação, hotelaria, serviços de utilidade pública, construção, e principalmente na administração pública, com perdas na atividade do comércio varejista, onde apresentaram, através de sua concentração relativa, uma especialização próxima da média regional.

5.3.2. A Capacitação do Mercado Local de Trabalho

Os impactos dos investimentos na cadeia de petróleo e gás natural, bem como seus desdobramentos em investimentos de infraestrutura (portos, rodovias etc) indubitavelmente trarão oportunidades e desafios para os trabalhadores locais. Um recente estudo (ONIP, 2011), aponta para a possibilidade de geração de mais de 2 milhões de postos de trabalho no país, como desdobramento dos investimentos que já vem se efetivando e que se manterá até 2020 nesta cadeia.

A magnitude e a abrangência da cadeia de petróleo e gás natural fazem com que o setor apresente necessidades diversificadas de trabalhadores. Estudos realizados pelo SEBRAE Nacional22 identificam os perfis de recursos humanos, de nível médio e superior, que serão demandados como corolário destes investimentos. São eles:

Engenheiros: Químico; Civil; de Inspeção de Equipamentos; de Instalações Marítimas; de Manutenção; de Materiais; de Perfuração; de Processamento de Petróleo; de Produção; de Reservatório; de Telecomunicações; Eletricista; Eletrônico; Metalurgista; Naval; Submarino. Além de Geofísico; Geólogo; Paleontólogo; Químico de Lama e de Petróleo, Analistas; Eletricistas; Inspetor de Ensaios não Destrutivos; de Equipamentos; Instrumentistas; Mecânicos; Operadores de Processo; de transferência e Estocagem; de VCR; Soldadores; Sondadores; Técnicos de Laboratório; de Produção; de Perfuração; de Suprimentos; de Instrumentação; de Manutenção; de Processamento.

Para suprir as necessidades da indústria petrolífera nacional, foi criado em 2006, o Plano Nacional de Qualificação Profissional (PNQP) do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural - Prominp, cujo objetivo é o treinamento e capacitação (com o oferecimento de bolsas de estudo para os participantes) demandada pelos empreendimentos do setor de petróleo, principalmente para as empresas fornecedoras de bens e serviços nos 17 estados do País onde foram previstos investimentos por parte da Petrobrás.

A estruturação de cursos do PNQP é baseada na previsão de demanda, calculada com base no portfólio e projetos da Petrobrás. O foco do PNQP é a qualificação profissional por meio de cursos de curta duração (semestrais), destinados ao ensino básico, médio e superior, além de cursos de formação gerencial.

Praia Grande, não inseriu moradores, ao menos declarados com endereços da cidade no PROMIMP, no entanto conta com a inserção de pessoas nos cursos promovidos pelo Programa Pronatec em parceria com a Prefeitura de Praia Grande onde em 2012, oferece cursos profissionalizantes grátis para a população da cidade.

No total são 960 vagas em cursos grátis no SENAI da Praia Grande para 2012 em 13 opções de cursos, sendo eles: Curso de Soldador elétrico e soldador TIG em Praia Grande SP; Curso de Auxiliares Administrativo e Logística; Curso de Mecânico e Costureiro em PG; Almoxarife; assistente de produção; Eletricista de

22

Disponível em: http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/8760602B214695CA832573BE004E6135/ $File/Ind%C3%BAstria_do_Petr%C3%B3leo.pdf

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automóveis Laminador e pintor de embarcação em fibra de vidro; Lubrificador industrial; Mecânico de manutenção de refrigeração e climatização doméstica; Operador de computador Operador de logística portuária, etc.

A população local pôde fazer a sua inscrição no projeto educacional que é promovido pelo Governo Federal através do Programa de Acesso ao Ensino Técnico na cidade de Praia Grande o Pronatec SENAI PG, no SERET. Porém as aulas ocorrerão fora da cidade, tendo inicio em 6 de agosto a 8 de outubro e 10 de outubro a 20 de dezembro, no Senai de Santos.

Um desafio à sociedade local é estimular os trabalhadores tanto a capacitação profissional como a organização empresarial, seja tradicional, associativa ou cooperativa. Nesse sentido, o crescimento das operações de crédito, em número e valor, no período considerado desde os anos 2000 à 2011 em Praia Grande, mostra a vontade local de empreender e tomar recurso com finalidade produtiva.

Quadro 23. Operação do Banco do Povo Paulista, em Praia Grande, em R$ correntes, entre 2000 e 2011.

Ano Número de Operações

Valores emprestados

Total Média

2000 28 66.004 2.357

2001 63 150.015 2.381

2002 63 149.859 2.379

2003 121 280.407 2.317

2004 94 182.244 1.939

2005 80 203.457 2.543

2006 59 145.871 2.472

2007 46 133.210 2.896

2008 47 150.494 3.202

2009 63 183.813 2.918

2010 61 207.767 3.406

2011 94 347.821 3.700

2012 57 255.469 4.482

Total 876 2.456.432 2.804

Fonte: Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – Sert. Banco do Povo Paulista; Fundação Seade.Acesso: http://bi.seade.gov.br/SimTrabalho

O estímulo fiscal, de formalização e fortalecimento produtivo, especialmente de pequenos grupos de trabalhadores locais, no acesso a espaços físicos, máquinas e equipamentos e crédito, como do Banco do Povo Paulista e outros, constitui-se num importante projeto de largo horizonte.

Dado estas condições diagnosticadas, observamos que: As atividades ligadas a administração pública, construção e serviços industriais de utilidade pública, tiveram ainda o destaque, pelo baixo nível de salário médio, junto com à atividade de agropecuária, que além da pouca representatividade, obteve um baixíssimo

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salário em média. De maneira geral, em relação às décadas de 2000 e 2010, a economia local passou por um processo de redução da taxa de desemprego e de redução da taxa de informalidade das atividades.

O mercado local de trabalho formado pela especialização da produção e infraestrutura de serviços públicos recebe estímulos diretos das instituições Públicas. Muito mais do que observar os aspectos econômicas, estas instituições precisam envolver-se num projeto que passa por capacitação das pessoas, e acesso condições social (moradia, transporte, saneamento, dentre outras).

A especialização local do emprego nas atividades de alojamento, comunicação, serviços industriais de utilidade pública, construção, administração pública e comércio, indica a ocupação de pessoas em regimes formais de trabalho, segundo a legislação da CLT, abaixo da ocupação média da atividade no estado.

5.4 Finanças Públicas e Desenvolvimento Socioeconômico municipal

No caso das finanças públicas observamos que o município de Praia Grande arrecadou em 2010 R$ 668,2 milhões (Receitas Correntes + Receitas Capital + Receitas Intra - Orçamentárias – Dedução da Receita Corrente). Segundo Censo do IBGE daquele ano a população era de 262.051 habitantes, portanto, a receita per capita correspondia a R$ 2.626,08.

Olhando de forma geral (maiores detalhamentos podem ser vistos no relatório, na dimensão de Finanças Públicas) para essa receita observa-se que a Receita Corrente representou 91,1% do total da arrecadação, R$ 627,2 milhões, enquanto a Receita de Capital atingiu 9,1%, isto é, R$ 62,7 milhões, por sua vez as Receitas Intra - Orçamentárias foram de R$ 19,1 milhões, 2,8% e, a Dedução da Receita, foi de R$ 20,8 milhões, o que diminuiu 3,0% da receita corrente.

A Receita Tributária compreende os impostos, as taxas e contribuições de melhoria, nos termos da Constituição e das leis vigentes em matéria financeira. Este grupo representou a segunda maior fonte de recursos do município com 33,5% do total arrecadado - R$ 230,3 milhões. O destaque foi o IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana que representou 20,4% da receita orçamentária do município – R$ 140,6 milhões. Outro tributo, o ITBI – Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis, teve 2,9% de participação na receita orçamentária total – R$ 19,7 milhões. A soma destes dois impostos que envolvem a área imobiliária representou 23,6% do total da arrecadação.

Em seguida as Taxas participam com um total de R$ 42,1 milhões, o que representaram 6,1% da arrecadação total. A arrecadação com o Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza - ISS representou 2,5% da arrecadação com R$ 17,1 milhões. Já o Imposto de Renda atingiu R$ 10,6 milhões o que representou 1,5% da arrecadação total.

As Receitas de Contribuições23 atingiram R$ 23,2 milhões que representou 3,4% da arrecadação, sendo que a Contribuição para o Regime Próprio de Previdência do Serviço Público arrecadou 15,8 milhões, 2,3% da arrecadação e as Contribuições Econômicas representaram 1,1% com R$ 7,4 milhões.

Em relação à Receita Patrimonial, arrecadação que se baseia em aluguéis de próprios municipais, juros e dividendos, esta receita atingiu R$ 19,5 milhões – 2,8% do total. Destaca-se neste grupo a Receita de Valores Mobiliários com R$ 19,1 milhões que representou praticamente a totalidade da receita Patrimonial.

Já as transferências correntes no qual são aquelas que a União (FPM; SUS; Royalties do Petróleo demais transferências), o Estado (ICMS; IPVA) e o Fundo de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, entre outras, fazem para os municípios. No Brasil, as Transferências Correntes são responsáveis pelo reforço fiscal da maioria dos municípios principalmente as relativas ao Fundo de Participação do Município – FPM.

23

Na Receita de Contribuições é registrado o total dos valores da arrecadação de receita de contribuições sociais, de intervenção no

domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de intervenção nas respectivas áreas. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em beneficio destes, de sistemas de previdência e assistência social.

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Em Praia Grande as Transferências Correntes representaram 40,7% do total da arrecadação em 2010 com R$ 280,6 milhões, a maior fonte de receitas do município, demonstrando a sua importância para a manutenção dos serviços do município.

Dentro dessas transferências a União contribuiu com 13,7% do total arrecadado - R$ 94,4 milhões. A receita de Transferência da União mais elevada foi a Transferência de Receita SUS – Sistema Único de Saúde - que representou 5,5% do total da receita orçamentária com R$ 38,0 milhões. Já a transferência do FPM representou 5,4% da receita total com R$ 36,9 milhões.

A Transferência relacionada à Compensação Financeira/Royalties Petróleo foi de R$ 550,7 mil, o que representou apenas 0,1% da receita total. É possível que com o desenvolvimento do Pré-Sal este tipo de receita ocupe um espaço maior como fonte de recursos.

As Transferências do Estado representaram 9,9% do total da receita, R$ 68,3 milhões. A maior parte desses recursos foi das transferências do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, com R$ 50,0 milhões, isto representou 7,3% do total da receita. O potencial de aumento dessa fonte de arrecadação também está diretamente ligado às perspectivas de aumento do PIB e também a uma fiscalização mais eficaz. Outra forma de se potencializar esse tipo de arrecadação é a implantação de novas empresas no município, o que já vem sendo trabalhado com o projeto de espaço disponibilizado para a instalação de indústrias na cidade.

Em relação ao IPVA – Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores esse tipo de transferência representou R$ 17,3 milhões, ou seja, 2,5% do total. A perspectiva de crescimento de arrecadação está ligada diretamente ao número de veículos licenciados no município. O aumento de veículos no município está vinculado ao aumento da renda, do emprego e também das formas de financiamento desses.

As transferências relacionadas aos recursos do Fundo de Manutenção Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB ficaram em R$ 104,4 milhões o que representou 15,2% do total. No âmbito dessa transferência é importante lembrar que o Município de Praia Grande contribuiu com R$ 20,7 milhões para esse Fundo, portanto, esse valor precisa ser deduzido do conjunto das receitas orçamentárias. No grupo de Outras Receitas Correntes houve uma arrecadação de R$ 71,8 milhões, perfazendo 10,4% do total da receita.

O item Multas e Juros de Mora que é uma arrecadação baseada nas multas em relação ao pagamento em atraso dos tributos municipais representaram R$ 14,4 milhões, ou seja, 2,1% do total da receita. Em relação à Dívida Ativa do Município, este tipo de arrecadação foi bem mais significativo e representou R$ 33,1 milhões da receita orçamentária – 4,8% do total.

A Dívida Ativa por sua vez representa os valores dos tributos em atraso que passaram de um exercício para o outro e que o município tem a receber de empresas e cidadãos. O total acumulado da dívida ativa até 2010 era de R$ 392,6 milhões. Para aumentar sua arrecadação é necessário analisar a possibilidade de se desenvolver um programa de cobranças mais efetivo em relação aos devedores.

O grupo de Receitas de Capital é formado pelas Operações de Crédito, Alienação de Bens, Transferências de Convênio, Amortização da Dívida e Outras Receitas de Capital. As Receitas de Capital contribuíram com 9,1% da receita total, R$ 62,7 milhões. Neste grupo de receitas não houve arrecadação no item Alienação de Bens.

As Operações de Crédito tiveram uma receita de R$ 59,2 milhões, 8,6% da arrecadação total. Em relação a Operações de Crédito é preciso fazer uma análise da capacidade de endividamento do município. Esta capacidade está determinada pela Resolução 40 do Senado Federal, a qual define que os municípios podem se endividar até 120% de sua receita corrente líquida.

A arrecadação baseada em Transferências de Convênios teve R$ 1,1 milhão. Vale destacar que este total foi firmado com o governo Federal. Em relação às Receitas Intra Orçamentárias, receitas provenientes de transação entre órgãos, fundos, autarquias, fundação e/ou empresa estatal no âmbito da mesma esfera de governo, a arrecadação foi de R$ 19,1 milhões, o que representou 2,8% da arrecadação total.

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O total da Dedução foi de R$ 20,8 milhões, ou 3,0% do total da arrecadação. Praticamente toda a dedução foi para a formação do FUNDEB – R$ 20,7 milhões - o que significa que o valor real recebido daquele Fundo pelo município foi de R$ 83,7 milhões (valor do FUNDEB menos a dedução da receita para a formação deste Fundo). As Transferências de Convênios de capital, como já salientado acima, representaram R$ 1,1 milhão – 0,2% do total do orçamento.

5.4. Algumas conclusões

Estes dados são condizentes com sua condição enquanto município com relativa atividade turística e de veraneio. A concentração relativa da riqueza, como verificado em Praia Grande, não resulta numa distribuição ou nível de renda, muito melhor do que nos outros municípios do litoral considerado. Contudo, abre a possibilidade, pelo aumento da riqueza fiscal arrecada, para a expansão das políticas sociais.

Entretanto, tem havido uma relativa aderência da política pública local ao PAC (PAC 2010), constatada pela participação nos volumes recebidos das transferências federais de urbanismo, habitação e saneamento. O crescimento das construtoras e imobiliárias, em número e escala de ocupação de pessoas, tem ocorrido pela produção de residência de uso ocasional e do estoque de moradias, das atividades econômicas do centro e as ligadas a prefeitura. Essa dinâmica que se orienta mais aos lançamentos de melhor padrão e infraestrutura associada, e menos à produção de habitação popular, reforça a divisão econômica e territorial da sociedade local, em termos de suas condições sociais. Os do lado de cá próximo ao mar, os do meio entre a faixa da praia e a rodovia, e os do lado de lá depois da rodovia já beirando os morros e a serra.

A divisão do município também ocorre pelas estruturas de produção de serviços, cujo trabalho se dá em partes fora da cidade, relaciona-se menos aos serviços dentro da cidade, e por consequência com o comércio e produção e mesmo com a população local. Um conflito potencial importante entre as unidades logísticas e de serviços industriais, frente aos serviços de turismo, hotelaria e alimentação, se deve a situação de cidade de passagem.

A articulação da infraestrutura e serviços de logística, relacionados a cidade de Santos, tem apresentado um incremento do número de empresas no mercado local, bem como, na sua escala de ocupação de empregados, indicando a expansão das atividades de armazenamento, transporte, comércio e reparo. Quanto aos investimentos e impactos dos projetos da Petrobras nas cidades vizinhas, a população de Praia Grande demonstra ceticismo quanto aos benefícios desses grandes projetos de investimentos, o que reflete na pequena adesão ao estímulo lançado pela Petrobras, em seu programa Rede Petro. A grande atração diz respeito a novos moradores que tem sido empurrado de outras cidades da Baixa Santista para o município.

Neste sentido algumas obras de acesso às demais cidades no seu entorno e a possível melhora no transporte coletivo pode estimular o fluxo de pessoas pelo município, sejam visitantes ou moradores, e melhorar a integração dos circuitos de produção e serviço.

A vocação turística e de logística dará conta de suprir o desenvolvimento sustentável tão desejado? Ou ainda, no curto prazo é possível articular tecnologias, conhecimentos, capacitações e instalação de algum tipo de indústria vinculada aos novos paradigmas de preservação do meio ambiente, tais como: a ainda em gestação, “indústria verde” (tecnologias limpas, diminuição da emissão do carbono, produtos naturais sem agrotóxicos e fertilizantes, etc.), ou a mescla de serviços vinculados ao atendimento de pessoas e as empresas, na logica de reprodução já existente nos outros municípios também se coloca para a cidade de Praia Grande?

6 - ORDENAMENTO TERRITORIAL

6.1. Evolução da Mancha Urbana entre 1970 e 2010

O local que hoje é território da Praia Grande começou a ter importância a partir da década de 1930. Até esta época, Praia Grande era ocupada apenas por alguns núcleos localizados à orla, cujas atividades principais

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destinavam-se às plantações de milho, feijão e mandioca e exploração de lenha, sendo, neste momento, a pesca uma atividade de mínima importância econômica.

A partir da década de 1930, em consequência da intensa propaganda realizada na região e das facilidades oferecidas na compra de terrenos no município, o crescimento turístico de veranistas torna-se mais evidente. Esse desenvolvimento se acentua com a implantação, por volta de 1950, do bairro Cidade Ocian. Este bairro destinava-se, principalmente, aos veranistas de maior poder aquisitivo provenientes da capital paulista, uma vez que, o local dispunha de infraestrutura básica e de serviços (abastecimentos de água, mercados, etc.) ainda não encontrados em outros loteamentos, o que acabou provocando o crescimento da região e o surgimento de bairros no entorno.

Depois da emancipação do município na década de 1960, Praia Grande apresentou um crescimento mais acelerado, com maior disponibilidade e qualidade de serviços públicos.

Com o município já instaurado, na década de 1970, o desenvolvimento se deu em termos da qualidade dos serviços públicos, acompanhados de um maior crescimento populacional. É nessa década que os fluxos populacionais começam a tomar maior força, quando evidenciando uma transferência na direção dos fluxos migratórios, de Santos para a Praia Grande e Guarujá, fato que acelerou os processos de expansão física e ocupação urbana destes municípios. Assim, nesta década, Praia Grande destaca-se na RMBS como um dos municípios com maior crescimento populacional, passando de um pouco mais de 19 mil habitantes em 1970 para 60 mil habitantes em 1980, segundo os dados dos censos demográficos do IBGE.

Como se pode observar na figura___, abaixo, no fim desta década quase toda a orla do município já estava ocupada. Restavam apenas pequenas porções vazias, principalmente na região de Caiçara, Real e Florida.

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 1979/1980

Fonte: Imagens Landsat 1979, 1980.

Na década de 1980, a inauguração da Ponte do Mar Pequeno (trecho final da Rodovia dos Imigrantes ligando a Ilha de São Vicente à Praia Grande), facilitou o acesso ao município, tanto por desafogar o trânsito na saturada Ponte Pênsil, quanto pela ligação direta à Capital paulista (pois, cria-se uma rota rumo à Baixada sem a necessidade de se passar pelas cidades de Santos e São Vicente. Com esta interligação, Praia Grande passou a ser o balneário mais próximo da capital e seu crescimento populacional ganha um novo impulso.

Até este momento, o município de Santos liderava e polarizava os demais municípios da região, seja pela diversificação que seu setor terciário alcançou, seja pelo seu próprio peso demográfico, que equivalia a cerca de 43% da população residente na região, em 1980, e 28%, segundo o Censo Demográfico de 2000. Mas a

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polarização é visivelmente enfraquecida, principalmente, depois dos anos 80, com uma desconcentração demográfica desde o eixo Santos/São Vicente em direção aos demais municípios, em particular Praia Grande e Guarujá. Nesta década, enquanto o município de Santos passa a perder seu valor na representatividade da região, os municípios mais periféricos, como Praia Grande, começam a ganhar força nesse quadro.

A facilidade de acesso e a conseqüente atratividade trouxeram algumas características novas ao município, como, por exemplo, o grande contingente de “turistas de um dia” com um perfil de baixa renda. Segundo a Agem (2006), o aumento o número desses turistas, somado ao grande crescimento populacional e ao quase inexistente saneamento básico, tornaram a balnearibilidade das praias quase impossível, uma vez que os canais de esgoto cortavam as areias, lançando no mar os dejetos sem qualquer tratamento. Em 1991, por exemplo, a população de Praia Grande era de mais de 120 mil habitantes, sendo que apenas 25% dos seus domicílios possuíam rede geral de esgoto.

Como pode-se observar na figura abaixo que retrata a ocupação da mancha urbana do município no começo da década de 1990, já neste período, todo a orla estava praticamente ocupada, e a ocupação em direção ao interior já estava bem avançada

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 1991/1992

Fonte: Imagens Landsat 1991, 1992.

A década de 1990, principalmente a partir de 1993, foi marcada por grandes mudanças na infraestrutura da cidade, uma vez que o sistema de transportes foi remodelado e mais de 90% das ruas foram pavimentadas. De acordo com os dados levantados pela SEADE (2003), no ano de 2000 o abastecimento de água atendia a 98,18% da população, e a coleta de lixo a 99,07% dos domicílios. Nesta década a redistribuição espacial da população foi mais acentuada, pois antes havia uma maior concentração de habitantes junto à orla, principalmente, na região compreendida entre a praia do Boqueirão (onde está localizado o centro da cidade) e a praia do Ocian. No decorrer dos anos 90, o forte crescimento do setor da construção civil, que ocorreu em função de uma série de obras de infraestrutura, paisagismo e urbanização, acabou atraindo milhares de famílias de baixa renda para o município. Tal fenômeno causou um imenso inchaço populacional na região compreendida entre a atual Via Expressa Sul, a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a Serra do Mar, criando grandes bairros todos ocupados por população de baixa renda, como Jardim Quietude, Ribeirópolis, entre outros. Neste contexto, a Via Expressa Sul, que corta o município, acabou se transformando em um marco divisor entre classes sociais distintas, sendo que as classes sociais de maior poder aquisitivo permanecem próximas à orla, enquanto que os estratos de média e baixa renda se distanciam e até mesmo ultrapassavam esse marco divisor, na medida em que não conseguem adquirir unidades residenciais em áreas mais valorizadas, numa espécie de estratificação social definida por setores distintos.

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Assim, como se pode observar na figura abaixo, no começo da década de 2000 a mancha urbana do município já estava praticamente consolidada, com a ocupação integral da orla e com grandes manchas urbanas que se estendem em direção à Serra do Mar.

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 2000

Fonte: Imagens Landsat 2000

Na década de 2000, o crescimento populacional do município desacelera um pouco. E apesar de ainda apresentar uma taxa de crescimento anual de 3,17% e ter havido um incremento populacional de quase 70.000 habitantes, o município não apresentou grande expansão da sua mancha urbana nesta década, como pode-se observar na figura abaixo que mostra uma mancha urbana ocupada em 2011 que é praticamente igual à ocupada em 2000. O que se observou no município nesta época foi a densificação do território.

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 2011

Fonte: Imagens Landsat 2011

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6.2. - Regulação dos princípios e diretrizes de política urbana e ordenamento territorial

A Lei Orgânica de Praia Grande (1990) estabelece uma série de princípios e diretrizes da política urbana.

Estabelece, por exemplo, que “a ação municipal desenvolve-se em todo o seu território, sem privilégios de distritos e bairros, reduzindo as desigualdades regionais e sociais, promovendo o bem-estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 1º, parágrafo único, LOM).

São elencadas diversas competências do Município, dentre elas (art. 7º, LOM): promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do solo, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; elaborar e executar o plano diretor; e planejar o uso e a ocupação do solo em seu território, especialmente na zona urbana.

São consideradas como atribuições da Câmara de Vereadores de Praia Grande, dentre outros (art. 15, LOM) assuntos de interesse local, inclusive suplementando a legislação federal e a estadual, notadamente no que diz respeito ao incentivo à indústria e ao comércio, bem como à criação de distritos industriais; plano diretor; ordenamento, parcelamento, uso e ocupação do solo urbano; planos e programas municipais de desenvolvimento.

Ao Prefeito compete privativamente enviar à Câmara o plano diretor, celebrar convênios com entidades públicas ou privadas para realização de objetivos de interesse do Município, aprovar projetos de edificação e planos de arruamento e zoneamento urbano, apresentando, anualmente, a Câmara Municipal, relatório circunstanciado sobre o estado das obras e dos serviços municipais (art. 69, LOM). Cabe também ao Prefeito promulgar Decreto com as medidas executórias do plano diretor (art. 104, LOM).

Algumas leis relacionadas à política urbana devem ser leis complementares e aprovadas pela maioria absoluta dos membros da Câmara. É o caso do Código de Obras ou de Edificações; do Código de Posturas; do Código de Zoneamento; do Código de Parcelamento do Solo e do Plano Diretor (art. 32 § 2º c/c art. 51, LOM).

Sobre a questão regional, a legislação de Praia Grande aponta para a necessidade de integrar a organização, planejamento e execução de funções públicas de interesse comum, e garante a realização de associações, consórcios, convênios com outros Municípios ou entidades localistas, mediante lei específica (art. 3º, LOM c/c art. 158)

Há um título específico para tratar do planejamento municipal, política urbana e metropolização (arts. 132 e ss. LOM), no qual se reconhece o papel do plano diretor como central para a definição das funções sociais da cidade e da propriedade urbana tal como previsto pelo texto constitucional de 88 e pelo Estatuto da Cidade.

Com efeito, as funções sociais da cidade e da propriedade urbana em Praia Grande estão fundamentadas nas diretrizes da organização territorial da cidade estabelecidas pelo plano diretor à luz de seu art. 67.

A progressividade do IPTU visa assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana em Praia Grande (art. 122, inciso I, §1º). A Lei Orgânica prevê os instrumentos aplicáveis no caso de descumprimento da função social da propriedade urbana previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade: parcelamento e edificação compulsórios, IPTU progressivo no tempo e desapropriação mediante pagamento das dívidas pública (art. 7º, inciso XXVIII, LOM).

Tais instrumentos serão utilizados em Praia Grande quando necessários para expansão ou desenvolvimento urbano, nos seguintes casos (art. 101, plano diretor):

- Lotes ou glebas cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo estabelecido em lei.

- Lotes com edificações abandonadas, ou seja, não ocupadas há mais de 1 (um) ano, quando deterioradas e quando constituírem potenciais focos de insalubridade e insegurança públicas.

Mais adiante, estabelece o plano diretor que poderão ser objeto de parcelamento, edificação e utilização compulsórios apenas:

- Áreas já dotadas ou facilmente dotáveis de infra-estrutura;

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- Áreas destinadas pelo Plano Diretor a projetos habitacionais de interesse social ou projetos de interesse econômico;

- Áreas cuja ocupação não esteja condicionada pela legislação ambiental e que não tenham pendências jurídicas.

Por fim, vale notar que a Lei Orgânica de Praia Grande determina uma série de princípios e diretrizes para as mais diversas políticas setoriais: para a segurança pública (art. 97 e ss.); para seguridade social (arts. 170 e ss.); para saúde (arts. 171 e ss.); assistência social (arts. 182 e ss.); educação (arts. 188 e ss.); meio ambiente (arts. 209 e ss.); esporte e lazer (arts. 222 e ss.); cultura (arts. 230 e ss.); turismo (arts. 238 e ss.); recursos hídricos (arts. 239 e ss.); comunicação social (arts. 246 e ss.); saneamento (arts. 248 e ss.); habitação (arts. 255 e ss.).

O plano diretor de Praia Grande (Lei complementar municipal nº 473/2006) também prevê diretrizes para políticas setoriais: desenvolvimento econômico (arts. 13 e ss.); para o turismo (arts. 16 e ss.), para o desenvolvimento social (art. 18 e ss.); incluindo-se diretrizes para educação (arts. 13 e ss.), saúde (arts. 25 e ss.), habitação (arts. 27 e ss.), promoção social (arts. 31 e ss.), cultura, esportes e lazer (arts. 32 e ss.), segurança pública (arts. 39 e ss.); desenvolvimento ambiental (arts. 44 e ss.).

6.2.1. Regulação do ordenamento territorial

O ordenamento territorial em Praia Grande é regulado por diversas leis municipais, especialmente a Lei Orgânica (1990), o plano diretor (Lei complementar municipal nº 473/2006) e a lei de uso, ocupação e parcelamento do solo (Lei municipal complementar nº 615/2011).

O plano diretor foi aprovado para o período de 2007 a 2016, devendo ser revisto a cada 4 (quatro) anos ordinariamente ou em casos extraordinários por “contingências específicas” (art. 7º a 10, plano diretor).

De acordo com o plano diretor, o território do Município de Praia Grande é subdividido em (art. 69):

- Parque Estadual da Serra do Mar/Morro do Estaleiro

- Parque Estadual do Xixová-Japuí

- Parque do Piaçabuçu

- Área de Transição

- Área Residencial Especial

- Área Predominantemente Residencial

- Área Comercial de Âmbito Regional

- Área de Usos Diversificados de Porte Regional

- Zonas Especiais de Interesse Social: ZEIS 1, ZEIS 2 e ZEIS 3 (Art. 28)

Tais unidades territoriais estão espacializadas em mapas constantes das cartas oficiais da Prefeitura (art.121).

O plano diretor estabeleceu também outras duas unidades de planejamento. São elas:

- Áreas Especiais de Interesse Ecológico (art. 47): o mangue, a Serra do Mar, o Morro do Xixová e a restinga

- Áreas degradadas (art. 61): áreas de mineração da Indústria Santa Suzana, áreas utilizadas anteriormente para disposição final de resíduos sólidos no Bairro Vila Sônia, áreas ocupadas anteriormente pela empresa Profundir

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Os bairros da cidade são os definidos pela Carta Oficial “Logradouros públicos, loteamento e bairros” e pelo Anexo I do plano diretor (art. 122, plano diretor).24

Os parâmetros de uso, ocupação e parcelamento do solo são elencados pelo plano diretor e , posteriormente, detalhados na Lei de uso, ocupação e parcelamento do solo:

- Dimensões mínimas dos lotes;

- Recuos mínimos das edificações com relação às divisas dos respectivos lotes,

correlacionados à altura das edificações;

- Área construível por unidade de área dos lotes;

- Área mínima construível por unidade de área dos lotes para fins de definição de imóvel subutilizado

- Área máxima da projeção da edificação por unidade de área dos lotes;

- Área mínima ideal de terreno por unidade residencial;

- Área mínima ideal de terreno por unidade residencial inferior aos valores normativos, mediante outorga onerosa

- Gabarito máximo de altura das edificações;

- Taxas de impermeabilização do solo.

Há dezenas de instrumentos previstos para implementação do plano diretor (arts. 3º, 4º, 5º, 6º). Alguns deles têm sua regulamentação mais detalhada, como no caso do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios (arts. 101 e ss., plano diretor), do direito de preempção (arts. 104 e ss.), outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso (arts. 106 e ss.), operações urbanas consorciadas (art. 112) e transferência do direito de construir (arts. 113 e ss.). A outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso já tem suas áreas de aplicação definidos pelo próprio plano diretor (art. 107 e 108) bem como a transferência do direito de construir (art. 114) e o direito de preempção (arts. 28, 48 e 60). O Plano Diretor ainda, muito adequadamente, delimita as áreas no Município em que serão aplicados os instrumentos urbanísticos.

Todavia, não obstante a previsão dos instrumentos da política urbana, o plano diretor exige leis específicas para sua implementação como no caso dos instrumentos do parcelamento, edificação e utilização compulsórios (art. 101 c/c 103); preempção (art. 105), outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso (art. 106 c/c 111), operações urbanas (art. 112), transferência do direito de construir (art. 115) e o direito de preempção (art. 105).

A Lei de uso, ocupação e parcelamento do solo de Praia Grande também estabelece um zoneamento e detalha os parâmetros de uso e ocupação do solo (art. 9º, Lei municipal complementar nº 615/2011) .

ZONA DE TRANSIÇÃO - ZT

ZONA RESIDENCIAL ESPECIAL - ZRE

ZONA EXCLUSIVAMENTE RESIDENCIAL - ZR

ZONA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL - ZPR 1, ZPR 2 e ZPR 3

ZONA MISTA - ZM

ZONA COMERCIAL: ZC 1, ZC 2 e ZC 3

24

De acordo com as informações encaminhadas pela Prefeitura de Praia Grande, há equívocos na classificação de bairros apresentada pelo censo do IBGE uma vez que não segue as determinações do plano diretor.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

CORREDOR COMERCIAL - CC 1 e CC 2

CORREDOR DE INTERESSE TURÍSTICO – CIT 1 e 2

ZONA DE USOS DIVERSIFICADOS - ZUD 1 e ZUD 2

ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL - ZEIS 1, ZEIS 2 e ZEIS 3

ZONA ESPECIAL DE RECOMPOSIÇÃO - ZECOMP

ZONA ESPECIAL DE INTERESSE ECOLÓGICO - ZEIE 1, ZEIE 2 e ZEIE 3

ZONA ESPECIAL DE INTERESSE PAISAGÍSTICO E AMBIENTAL - ZEIPA

6.2.2. Praia Grande e o Zoneamento Econômico Ecológico da Baixada Santista

A política nacional e estadual de gerenciamento costeiro também estabelece regras de uso e ocupação do solo para a Zona Costeira no Estado de São Paulo. Os desafios do ordenamento territorial no litoral relacionam-se diretamente à tentativa de compatibilizar as regras dos diversos entes federativos na gestão urbana e ambiental do território da cidade.

Com efeito, Praia Grande integra a Região Metropolitana da Baixada Santista (Lei complementar estadual nº 815/96) bem como o setor da Baixada Santista da Zona Costeira conforme definição do art. 3º, inciso II da Lei estadual nº 10.1019/98.

No dia 13 de dezembro de 2011, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) aprovou a minuta de decreto que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da Baixada Santista25 .

Embora ainda não tenha sido promulgado o Decreto do Governador – o que de fato lhe daria validade jurídica - há que se considerar que o Zoneamento Econômico Ecológico é instrumento da política nacional e estadual de gerenciamento costeiro, regulado pela Lei federal nº 7.661/88, Decreto federal nº 5.300/04 e na Lei estadual 10.019/98. Como tal, poderá estabelecer importantes diretrizes de uso e ocupação do solo aos Municípios integrantes da Zona Costeira.

A minuta de Decreto26 disponível no site da Secretaria Estadual de Meio Ambiente reconhece as peculiaridades, diversidade e complexidade dos processos econômicos e sociais da Baixada Santista e não foi feito necessariamente conforme suas características atuais, mas respeitando a dinâmica de ocupação do território e metas de desenvolvimento econômico e ambiental (art. 8º da Minuta de Decreto).

Destaque-se também a necessidade de compatibilização das metas previstas e as previsões dos planos diretores regionais, municipais e demais instrumentos da política urbana (art. 8º, parágrafo único, minuta de Decreto).

Como efeito, é importante que a eventual instituição do ZEE Baixada Santista leve em consideração as regras de uso e ocupação do solo estabelecidas pela legislação municipal de Praia Grande.

A legislação do Município de Praia Grande também prevê alguns dispositivos legais relacionados à política de gerenciamento costeiro.

É vedada a concessão e/ou renovação de licenças para funcionamento de barracas destinadas ao comércio de comestíveis na orla da praia a pessoas que não residam em Praia Grande (art. 137 , LOM). Além disso está previsto como dever da Prefeitura, a arborização da orla da praia, jardins, praças e logradouros públicos do Município (art. 145, LOM). As praias seus jardins do Município de Praia Grande, são considerados patrimônios da coletividade (art. 14, LOM, Disposições Gerais e Transitórias).

25

Deliberação CONSEMA 34/2011. 290ª Reunião ordinária do Plenário do Consema. 13/12/2012 conforme endereço eletrônico:

http://www.ambiente.sp.gov.br/uploads/arquivos/deliberacoes/2011/DEL34.pdf .Consulta em 02/04/2012, 18h30m. 26

Disponível no seguinte endereço eletrônico http://www.ambiente.sp.gov.br/wp/cpla/files/2011/05/ZEE-Baixada-Santista_Encaminhado-SMA.pdf . Consulta em 16/07/2012.

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Por fim, vale notar que não foi elaborado o Projeto Orla em Praia Grande.

m Praia Grande é definido pelo plano diretor, que o determina na carta oficial “Diretrizes do Ordenamento Territorial” e descrição do perímetro (anexo V, plano diretor).

Sobre expansão urbana propriamente, prevê o plano diretor que o Executivo poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado quando necessário para a expansão ou desenvolvimento urbanos, mediante revisão do Plano Diretor para a inclusão da delimitação das áreas onde será aplicado (art. 101, plano diretor). .

Destaque-se que a exata definição de áreas urbanas e expansão urbana de Praia Grande relaciona-se diretamente com as modificações trazidas pela Lei Federal 12.608/12, que alterou o art. 42 do Estatuto da Cidade.

Com efeito, a partir da publicação da nova lei, os Municípios que pretendam ampliar seu perímetro urbano deverão elaborar projeto específico que contenha no mínimo (art. 42 – B, Estatuto da Cidade):

I - demarcação do novo perímetro urbano;

II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de ameaça de desastres naturais;

III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais;

IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda;

V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido;

VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural; e

VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público.

Com efeito, esse projeto específico deverá ser instituído por lei municipal e atender à diretrizes do plano diretor (art. 42-A, §1º, Estatuto da Cidade). Além disso, é considerado como condição para a aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro (art. 42-B, §2º, Estatuto da Cidade).

ocal que hoje é território da Praia Grande começou a ter importância a partir da década de 1930. Até esta época, Praia Grande era ocupada apenas por alguns núcleos localizados à orla, cujas atividades principais destinavam-se às plantações de milho, feijão e mandioca e exploração de lenha, sendo, neste momento, a pesca uma atividade de mínima importância econômica.

A partir da década de 1930, em consequência da intensa propaganda realizada na região e das facilidades oferecidas na compra de terrenos no município, o crescimento turístico de veranistas torna-se mais evidente. Esse desenvolvimento se acentua com a implantação, por volta de 1950, do bairro Cidade Ocian. Este bairro destinava-se, principalmente, aos veranistas de maior poder aquisitivo provenientes da capital paulista, uma vez que, o local dispunha de infraestrutura básica e de serviços (abastecimentos de água, mercados, etc.) ainda não encontrados em outros loteamentos, o que acabou provocando o crescimento da região e o surgimento de bairros no entorno.

Depois da emancipação do município na década de 1960, Praia Grande apresentou um crescimento mais acelerado, com maior disponibilidade e qualidade de serviços públicos.

Com o município já instaurado, na década de 1970, o desenvolvimento se deu em termos da qualidade dos serviços públicos, acompanhados de um maior crescimento populacional. É nessa década que os fluxos

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populacionais começam a tomar maior força, quando evidenciando uma transferência na direção dos fluxos migratórios, de Santos para a Praia Grande e Guarujá, fato que acelerou os processos de expansão física e ocupação urbana destes municípios. Assim, nesta década, Praia Grande destaca-se na RMBS como um dos municípios com maior crescimento populacional, passando de um pouco mais de 19 mil habitantes em 1970 para 60 mil habitantes em 1980, segundo os dados dos censos demográficos do IBGE.

Como se pode observar na figura___, abaixo, no fim desta década quase toda a orla do município já estava ocupada. Restavam apenas pequenas porções vazias, principalmente na região de Caiçara, Real e Florida.

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 1979/1980

Fonte: Imagens Landsat 1979, 1980.

Na década de 1980, a inauguração da Ponte do Mar Pequeno (trecho final da Rodovia dos Imigrantes ligando a Ilha de São Vicente à Praia Grande), facilitou o acesso ao município, tanto por desafogar o trânsito na saturada Ponte Pênsil, quanto pela ligação direta à Capital paulista (pois, cria-se uma rota rumo à Baixada sem a necessidade de se passar pelas cidades de Santos e São Vicente. Com esta interligação, Praia Grande passou a ser o balneário mais próximo da capital e seu crescimento populacional de ganha um novo impulso.

Até este momento, o município de Santos liderava e polarizava os demais municípios da região, seja pela diversificação que seu setor terciário alcançou, seja pelo seu próprio peso demográfico, que equivalia a cerca de 43% da população residente na região, em 1980, e 28%, segundo o Censo Demográfico de 2000. Mas a polarização é visivelmente enfraquecida, principalmente, depois dos anos 80, com uma desconcentração demográfica desde o eixo Santos/São Vicente em direção aos demais municípios, em particular Praia Grande e Guarujá. Nesta década, enquanto o município de Santos passa a perder seu valor na representatividade da região, os municípios mais periféricos, como Praia Grande, começam a ganhar força nesse quadro.

A facilidade de acesso e a conseqüente atratividade trouxeram algumas características novas ao município, como, por exemplo, o grande contingente de “turistas de um dia” com um perfil de baixa renda. Segundo a Agem (2006), o aumento o número desses turistas, somado ao grande crescimento populacional e ao quase inexistente saneamento básico, tornaram a balnearibilidade das praias quase impossível, uma vez que os canais de esgoto cortavam as areias, lançando no mar os dejetos sem qualquer tratamento. Em 1991, por exemplo, a população de Praia Grande era de mais de 120 mil habitantes, sendo que apenas 25% dos seus domicílios possuíam rede geral de esgoto.

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Como pode-se observar na figura abaixo que retrata a ocupação da mancha urbana do município no começo da década de 1990, já neste período, todo a orla estava praticamente ocupada, e a ocupação em direção ao interior já estava bem avançada

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 1991/1992

Fonte: Imagens Landsat 1991, 1992.

A década de 1990, principalmente a partir de 1993, foi datada de grandes mudanças na infraestrutura da cidade, uma vez que o sistema de transportes foi remodelado e mais de 90% das ruas foram pavimentadas. De acordo com os dados levantados pela SEADE (2003), no ano de 2000 o abastecimento de água atendia a 98,18% da população, e a coleta de lixo a 99,07% dos domicílios. Nesta década a redistribuição espacial da população foi mais acentuada, pois antes havia uma maior concentração de habitantes junto à orla, principalmente, na região compreendida entre a praia do Boqueirão (onde está localizado o centro da cidade) e a praia do Ocian. No decorrer dos anos 90, o forte crescimento do setor da construção civil, que ocorreu em função de uma série de obras de infraestrutura, paisagismo e urbanização, acabou atraindo milhares de famílias de baixa renda para o município. Tal fenômeno causou um imenso inchaço populacional na região compreendida entre a atual Via Expressa Sul, a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a Serra do Mar, criando grandes bairros todos ocupados por população de baixa renda, como Jardim Quietude, Ribeirópolis, entre outros. Neste contexto, a Via Expressa Sul, que corta o município, acabou se transformando em um marco divisor entre classes sociais distintas, sendo que as classes sociais de maior poder aquisitivo permanecem próximas à orla, enquanto que os estratos de média e baixa renda se distanciam e até mesmo ultrapassavam esse marco divisor, na medida em que não conseguem adquirir unidades residenciais em áreas mais valorizadas, numa espécie de estratificação social definida por setores distintos.

Assim, como se pode observar na figura abaixo, no começo da década de 2000 a mancha urbana do município já estava praticamente consolidada, com a ocupação integral da orla e com grandes manchas urbanas que se estendem em direção à Serra do Mar.

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Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 2000

Fonte: Imagens Landsat 2000

Na década de 2000, o crescimento populacional do município desacelera um pouco. E apesar de ainda apresentar uma taxa de crescimento anual de 3,17% e ter havido um incremento populacional de quase 70.000 habitantes, o município não apresentou grande expansão da sua mancha urbana nesta década, como pode-se observar na figura abaixo que mostra uma mancha urbana ocupada em 2011 que é praticamente igual à ocupada em 2000. O que se observou no município nesta época foi a densificação do território.

Figura. PRAIA GRANDE – Mancha Urbana – 2011

Fonte: Imagens Landsat 2011

6.3. Regulação das Áreas de Expansão Urbana

O perímetro urbano em Praia Grande é definido pelo plano diretor, que o determina na carta oficial “Diretrizes do Ordenamento Territorial” e descrição do perímetro (anexo V, plano diretor).

Sobre expansão urbana propriamente, prevê o plano diretor que o Executivo poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não

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utilizado quando necessário para a expansão ou desenvolvimento urbanos, mediante revisão do Plano Diretor para a inclusão da delimitação das áreas onde será aplicado (art. 101, plano diretor). .

Destaque-se que a exata definição de áreas urbanas e expansão urbana de Praia Grande relaciona-se diretamente com as modificações trazidas pela Lei Federal 12.608/12, que alterou o art. 42 do Estatuto da Cidade.

Com efeito, a partir da publicação da nova lei, os Municípios que pretendam ampliar seu perímetro urbano deverão elaborar projeto específico que contenha no mínimo (art. 42 – B, Estatuto da Cidade):

I - demarcação do novo perímetro urbano; II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de ameaça de desastres naturais; III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais; IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda; V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido; VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural; e VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público.

Com efeito, esse projeto específico deverá ser instituído por lei municipal e atender à diretrizes do plano diretor (art. 42-A, §1º, Estatuto da Cidade). Além disso, é considerado como condição para a aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro (art. 42-B, §2º, Estatuto da Cidade).

6.4. Áreas de Monitoramento Territorial

No Município de Praia Grande, como já apresentado anteriormente, o ritmo de crescimento populacional, apesar de ter apresentado uma desaceleração na última década, ainda se mantém acelerado, com TGCA de 3,17% ao ano. Essa tendência leva a um processo de expansão urbana que aumenta as demandas por serviços, equipamentos e infraestruturas os quais já apresentam quadros deficitários e de saturação em regiões do município. Se esse crescimento urbano não for ordenado e ocorrer de modo inadequado junto aos cursos d’água, nos locais com topografia acidentada e em áreas com cobertura vegetal significativa, haverá problemas na ordem urbanística local. No contexto do litoral paulista como um todo, processos desordenados de urbanização também poderão pressionar o meio ambiente de modo negativo.

Praia Grande apresenta em seu território importante remanescentes de mata atlântica protegidos pelo Parque Estadual da Serra do Mar e ecossistemas associados, incluindo vegetação de restinga e manguezais. Entretanto, muitas destas áreas ambientalmente representativas são também consideradas áreas preferenciais para a urbanização e implantação de infraestrutura logística, configurando uma disputa pela apropriação do espaço que tem de por um lado a imperativa obrigatoriedade de se preservar o ambiente natural para as presentes e futuras gerações e por outro lado a necessidade de se garantir estoques de terra para a crescente urbanização do município.

Para verificar as áreas que apresentam potencial para ocupação urbana, e que desta forma necessitam de um monitoramento mais atento, primeiramente foram identificadas as áreas que são resguardadas por espaços territoriais especialmente protegidos27 e que não permitem a ocupação urbana. Para tanto, realizou-

Os espaços territoriais especialmente protegidos expressos no Art. 225, § 1º, inc. III da Constituição Federal são gênero de áreas protegidas que engloba como espécies uma série de tipologias legais, incluídas aí as Unidades de Conservação (Parques Estaduais, Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, etc.), Áreas de Preservação Permanente, Terras Indígenas, entre outras. Estas tipologias legais fornecem tratamento especial a porções do território nacional no sentido

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se uma justaposição dos seguintes elementos: Unidades de Conservação de proteção integral ou de uso sustentável que vedam expressamente a possibilidade de urbanização; Terras Indígenas; e algumas tipologias de áreas de preservação permanente previstas no Novo Código Florestal, incluindo áreas com declividade superior a 45 graus, localizadas junto aos cursos d’água e manguezais. Ver Mapa___. (ver metodologia anexo___)

Mapa. Praia Grande – Áreas Protegidas e de ocupação urbana

Trata-se de uma primeira tentativa para a identificação de áreas que não são abrangidas por áreas protegidas e que devem, portanto, ser monitoradas para que tenham uma destinação adequada, sejam elas para expansão urbana futura ou para preservação ambiental. No Mapa___, as áreas em branco remanescentes, não protegidas de acordo com os critérios descritos acima, correspondem a cerca de 25% do território de Praia Grande, e que chamamos de áreas de monitoramento territorial.

Não se trata de uma identificação definitiva uma vez que há leis municipais que regulam e protegem essas áreas, bem como legislação específica voltada para a proteção da vegetação natural em âmbito estadual e federal que limitam ou vedam supressão da vegetação natural, como é o caso da Lei da Mata Atlântica . Além disso, análises complementares na escala local deverão ser realizadas a fim de que se tenha uma leitura mais precisa da situação do território, uma vez que não foram incorporados a este estudo mapeamentos referentes aos estágios sucessionais da vegetação devido à ausência de material cartográfico de âmbito regional em escalada adequada e disponível. Ademais, cumpre mencionar que algumas bases de dados utilizadas apresentam uma leitura bastante simplificada da realidade, incluindo aí a hidrografia utilizada para a delimitação das APPs que foi digitalizada a partir da base cartográfica do IBGE na escala 1:50.000, as imagens TOPODATA existentes no banco de dados geomorfométricos do Instituto Nacional de

de sujeitar estes locais a um regime de interesse público com o intuito de proteger os seus atributos ambientais e as suas potencialidades socioculturais.

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Pesquisas Espaciais (INPE) utilizadas para delimitar as áreas com declividade superior a 45° e a delimitação dos manguezais extraídas do banco de dados da S.O.S Mata Atlântica.

Em Praia Grande, as principais áreas desocupadas consideradas de monitoramento, concentram-se na porção onde o município se alarga em direção a Serra do Mar. Nesta região as áreas estão mais afastadas da Serra do Mar, apresentando uma grande extensão de terras planas. Estas áreas apresentam grande potencial, pois são as maiores porções de terras com possibilidade de ocupação da região central da Baixada Santista (Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande). Desta forma, esta grande porção de área, de cerca de 3,7mil hectares, deverá ser monitorada, especialmente no direcionamento do crescimento da mancha urbana.

Buscando contribuir para o monitoramento deste território e sua adequada destinação, realizou-se também um mapeamento das características geotécnicas do solo, o qual se cruzou com as áreas de monitoramento detectadas no mapa_____

Mapa. Praia Grande – Áreas de Monitoramento Territorial e Características Geotécnicas28

Apesar de Praia Grande apresentar ainda muitas áreas com potencial para ocupação, em relação aos fatores geotécnicos, como se pode observar no mapa _____, todas estas áreas apresentam algum grau de fragilidade geotécnica. Este fator traz a necessidade de um rígido controle sobre a ocupação urbana deste município, com o estabelecimento de regras de ordenamento urbano e de construção que garantam uma ocupação adequada às restrições geológicas.

A suscetibilidade apontada no mapa geotécnico é entendida como decorrente de um fenômeno natural relacionada a características intrínsecas ao meio físico, sendo assim determinante em sua capacidade de sofrer alterações e de resistência (resiliência). Trata-se de uma medida probabilística, e não impeditiva de ocupação, que devem estar associadas também a outros conceitos como o risco e a vulnerabilidade,

28

A carta geotécnica utilizada foi incorporada ao presente estudo a partir da digitalização da cartografia geológica geotécnica do litoral paulista produzida originariamente na escala 1:50.000 pelo IPT e disponibilizada pela base dados da AAE PINO (Avaliação Ambiental Estratégica do Litoral Paulista das atividades Portuárias, Industriais, Navais e Offshore). Ver metodologia no anexo___.

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incorporando dimensões humanas mais explícitas. Além disso, é importante mencionar que esta base cartográfica, apesar de trazer informações importantes para se pensar o planejamento do uso e ocupação do solo deste Município, não permite uma leitura com grande precisão dos riscos geotécnicos ali presentes e, portanto, não elimina a necessidade de estudos com melhor nível de detalhamento. 29

6.4.1 .Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial – Litoral

Paulista

INTRODUÇÃO

Este texto traz os procedimentos utilizados para a identificação de áreas de monitoramento territorial em municípios do litoral paulista, através do uso de procedimentos de análises espaciais realizado em ambiente Arcgis. O procedimento foi realizado visando uma leitura regional integrada para os treze municípios que configuram a área de estudo, sendo: Bertioga, Caraguatatuba, Cubatão, Guarujá, Santos, São Sebastião, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Ilhabela e Ubatuba. .

O principal instrumento de análise foi um sistema de Informações Geográficas, o qual pode ser definido como da seguinte forma:

“ Um SIG é sem dúvida nenhuma o “método” para desenhar, editar, e modificar um mapa urbano e para inserir, de um modo interativo, qualquer tipo de dados associados a objetos específicos representados nele. SIG é um sistema que combina computador, software, informação geográfica e operadores que podem receber, manusear, analisar e visualizar de um modo eficiente qualquer tipo de dado espacial que possui uma referência geográfica. O dado é representado em um mapa e qualquer objeto representado deve conter informação que pode ser analisada, a partir das quais modelos podem ser construídos , visualizados e, ao final, se necessário reproduzidos numa cópia impressa” (SARTORI, NEMBRINI e STAUFFER, 2001).

Tais características presentes em um SIG direcionam o fluxo de trabalho do exercício apresentado neste

texto.

objetivos e METODOLOGIA

O objetivo do estudo é identificar áreas para monitoramento de possíveis ocupações futuras em função de

restrições físicas e legais através de uma leitura regional integrada do território, visando auxiliar na

construção de políticas públicas tecnicamente apoiadas que possam subsidiar as políticas de zoneamento e

de uso e ocupação do solo.

Vale ressaltar que sobre as áreas identificadas ainda cabem uma série de análises e sobreposições, especialmente em nível local, sobre áreas contaminadas, áreas com importância ou interesse histórico cultural ou arqueológico, legislação municipal de uso e ocupação do solo, e verificação das áreas de risco e características geotécnicas do terreno, dentre outras variáveis locais.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

29

Ver anexo __ - Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial – Litoral Paulista.

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Para a identificação das áreas de monitoramento territorial, foram primeiramente levantadas as áreas que

não podem ser ocupadas em função de restrições de ocupação do solo, principalmente de natureza

ambiental, e relacionados a riscos de deslizamentos, quais sejam:

o os limites de ocupação da faixa de 300 m ao longo da costa (preamar), considerada a partir da linha

da maré, excluindo-se os costões rochosos;

o as áreas de mangues, bem como de rios e córregos e respeitados os limites das APPs hídricas, Áreas

de Preservação Permanente ao longo de nascentes e cursos d’água previstas na legislação vigente;

o os limites das Unidades de Conservação – UCs existentes, incluindo as RPPN – Reserva Particular do

Patrimônio natural;

o os limites das terras de ocupação indígenas;

o as áreas de encostas de morros com declividade superior a 45º devido ao risco de deslizamentos.

o as áreas já ocupadas que configuram a mancha urbana. A partir das restrições legais e ambientais apontadas acima, foram levantados dados em diversas fontes para montagem de banco de dados geográfico georreferenciado, representando as principais restrições à ocupação urbana.

COLETA DE DADOS

A base de dados utilizada é composta por um basemap formado por um mosaico de imagens de satélite

armazenadas em nuvem (cloud GIS), e que pode ser acessado via ArcGIS online (sistema de

compartilhamento de dados geográficos) ou via outras bibliotecas como o open layers. Esse mosaico é

popularmente conhecido como BING MAPS, e é hoje muito popular assim como outras bases utilizadas como

o Google Earth e outros derivados como os street maps de forma geral.

Estes dados funcionam através do armazenamento de tiles na máquina local de acesso, e por trabalhar em

diversas escalas esse mosaico é composto por imagens com resolução espacial diversas, datas de aquisição

diversas, as quais se alteram em função da escala associada ao nível de zoom empregado pelo operador e

uma relativa heterogeneidade, em função de cobrir a maior parte da superfície terrestre, o que a torna uma

espécie de colcha de retalhos. Essa é uma das principais restrições que se deve atentar no uso desses dados,

ressaltando também sua baixa qualidade geométrica em escalas cadastrais, a qual deve ser levada em

consideração em determinados usos. Não obstante, ainda que a aquisição de imagens de satélite tenha

passado por um grande processo de barateamento, em alguns casos, o uso deste tipo de basemap é uma boa

opção em função do custo benefício, além de abrir possibilidades de compartilhamento de dados espaciais

sobre base única.

Este basemap foi utilizado no ajuste dos dados restritivos a ocupação supra mencionados, o qual

proporcionou a validação visual das áreas apontadas além de enquadrar o layout de apresentação dos

resultados.

Em resumo, os dados utilizados são os que se apresentam na tabela 1:

Tabela 1: dados utilizados

Dado Descrição Fonte

Mapa base Bing maps e Bing http://www.esri.com/software/arcgis/explorer-online

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street maps linkados diretamento ao ArcGIS 10

Unidades de conservação

APA, ARIE, ESEC, Parques Estaduais e Parque Nacionais (SP) em formato shapefile

http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/downloads.html

Áreas de mangue

Delimitação das áreas de mangue no litoral paulista em formato shapefile

http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/downloads.html

Terras indígenas do litoral paulista

Delimitação dos polígonos de terras indígenas no litoral paulista

http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/downloads.html

Reservas particulares do patrimônio natural - RPPN

Delimitação dos polígonos de RPPN no litoral paulista

http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/downloads.html e complementação de Instituto Polis, 2012.

Declividades superiores a 45º

Polígono delimitando o cálculo efetuado para todo o litoral paulista

TOPODATA – BD Geomorfométricos SRTM, INPE, 2008

Faixa de APP de Preamar

Buffer de 300 metros ao longo das faixas de preamar

Linha delimitada visualmente sobre o mapa base (satélite), sobre a qual foi gerado o buffer correspondente

Faixas de APP hídrica

Buffers de 10, 30, 50 e 200 metros a partir da linha de margem dos cursos hídricos, de acordo com a largura do curso definida em legislação específica

Prefeitura Municipal de Bertioga; Dados complementados por Instituto Polis, 2012; Medição e inserção dos valores de largura de rio coletados em imagem de satélite e inseridos no banco de dados das linhas dos cursos hídricos.

Limites municipais

Poligono delimitando o município de Bertioga

IBGE, 2010. http://www.ibge.gov.br

Mancha Urbana existente - 2011

Poligono delimitando a mancha urbana existente em 2011

Imagem Landsat 2011 Elaborado por Instituto Polis, 2012

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software (sig) UTILIZADO

Para preparação, cruzamento e análise dos dados foi utilizado o software ArcGIS 10. Tal software possui atualmente uma grande inserção no mercado de geotecnologias e é um SIG no estado da arte, possuindo todas as funções a algoritmos necessários para o exercício proposto. Sua escolha se deu em função do atendimento aos requisitos do trabalho e do domínio já estabelecido sobre seu uso.

OPERAÇÕES COM MAPAS VETORIAIS

A lógica para indicação das áreas de monitoramento é relativamente simples, e seus resultados dependem dos dados de origem utilizados.

O principio básico do procedimento metodológico proposto é o de que excluindo-se as áreas restritivas e a mancha urbana, dentro do nível de informações coletadas e adotadas, identificamos, nos espaços do território não preenchidos ou inseridos nestas restrições, áreas de monitoramento territorial. Isto significa que é preciso um olhar atento sobre estas áreas, identificando suas características e potencialidades, seja para ocupação urbana futura, seja para preservação e proteção do meio ambiente. . Para tal, o geoprocessamento é ferramenta eficiente.

Inicialmente o que procedeu foi a coleta, ajuste e inserção dos dados em ambiente SIG, conforme ilustra a

figura 1:

Figura 1: dados inseridos no SIG

Como primeiro procedimento, foram gerados os buffers sobre os cursos hídricos e a faixa de Preamar. O

buffer ou banda, cria polígonos ao redor de feições, sejam elas pontos, linhas ou polígonos, numa ou

várias distâncias especificadas pelo usuário, gerados conforme a figura 2:

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Figura 2: Faixas de APP ao longo dos cursos hídricos com tamanho variável e faixa de preamar de 300 m

(restinga), conforme resolução Conama 303 de 2002.

Com estes buffers gerados, todos os polígonos restritivos considerados neste exercício já estão

consolidados e prontos para os próximos procedimentos. Na sequência efetuamos o recorte dos

polígonos em função dos limites municipais, visando obter resultados apenas na área específica de estudo

e minimizando o tempo de processamento necessário. Tal processo se deu através do comando CLIP no

ArcGIS, o qual recorta as feições de entrada em função da feição de CLIP, conforme ilustra a figura 3:

Figura 3: Exemplo do comando CLIP aplicado sobre as declividades superiores a 45º, onde se ver o resultado em vermelho comparado com o anterior em rosa. Como Imput feature foi utilizado o limite municipal.

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Para todos os outros polígonos de restrição foi utilizado o mesmo procedimento, utilizando como dado de

CLIP o limite municipal. Com todos os polígonos restritivos já ajustados ao limite municipal procedemos a

união de todos estes polígonos numa única feição, visando a construção de uma máscara única de

restrição para todo o município e região. No ArcGIS este processo se dá através do comando UNION, cujo

resultado pode ser visto na figura 4:

Figura 4: União de todas as áreas com restrição a ocupação consideradas, recortadas por seu polígono de

origem e sobreposição

O comando UNION possibilita que os dados originais do banco de dados do polígono sejam preservados, e nas áreas onde houve sobreposição de polígonos os dados de ambos os polígonos em situação de overlay são carregados.

Contudo, para o interesse deste exercício, optamos por criar um único polígono se divisões internas e

dados associados advindos dos polígonos de origem, visando a criação de uma máscara uniforme para

análise visual das áreas não restritas e continuidade das análises. O comando que possibilitou tal processo

no ArcGIS foi o chamado MERGE. Este comando faz com que os polígonos selecionados para tal tornem-se

uma única linha no banco de dados associado, ou seja, ainda que descontínuos, eles serão uma única

feição para o SIG, além disso, polígonos adjacentes unem-se espacialmente, cirando uma única feição com

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a eliminação dos lados adjacentes. O Resultado é um polígono continuo em suas áreas adjacentes,

conforme podemos ver na figura 5:

Figura 5: máscara formada por todas as áreas restritivas em Bertioga, através do comando MERGE

Tendo a máscara de restrições pronta e o limite municipal, o próximo passo foi o cálculo do inverso da

máscara gerada, através da diferença simétrica entre as áreas restritivas e o limite municipal. No ArcGIS

este procedimento é possível através do comando Symmetrical Difference (semelhante ao comando

diferença no gvSIG). Este procedimento computa em um novo polígono a diferença entre os polígonos de

entrada, gerando uma máscara oposta. Feito isso com a mascara de restrições e o limite municipal, o

resultado é mostrado a seguir na figura 6:

Figura 6: Resultado do Symmetrical Difference entre as áreas restritivas e o limite municipal

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O polígono resultante, no exemplo acima, corresponde ás áreas dentro do município de Bertioga que, replicado para todos os municípios da área de estudo, possibilita uma leitura regional. Com os dados de restrição à ocupação espacializados, chegou-se ao mapa Áreas Protegidas e de ocupação urbana, conforme exemplo abaixo.

Mapa. Áreas Protegidas e de ocupação urbana

As áreas deixadas em branco, ou seja, onde não incidem as restrições identificadas, são as chamadas áreas de monitoramento territorial.

Buscando contribuir para uma destinação adequada destas áreas de monitoramento, agregamos informações do perfil geológico do terreno. A carta de risco geotécnico utilizada no projeto Litoral Sustentável é uma carta do tipo “carta de suscetibilidade”, indicada para uso regional (escalas menores que 1:100.000) e foi produzida pelo IPT seguindo sua própria metodologia.

De acordo com Zuquette & Nakazawa (1998), a metodologia do IPT tenta buscar uma otimização entre

processos de investigação e utilidade da informação obtida, e para tanto é baseada em alguns

fundamentos básicos:

Identificar no território os problemas mais significativos do ambiente físico inicialmente e buscar as

condicionantes passíveis de mapeamento, as quais são: Geologia do terreno; Declividade do terreno

e Tipos de solo presentes, em função da associação aos processos físicos relacionados.

(escorregamento de encostas e matacões, deslocamentos de massa, processos erosivos,

declividades acentuadas, enchentes, assoreamentos, etc);

Fazer a integração dos problemas do ambiente físico levantados aos processos de uso e ocupação;

Coleta direcionada de dados para estabelecer para estabelecimento das unidades geológico-

geotécnicas de igual comportamento;

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Buscar a superação de conceitos de "aptidão", visando maximizar as opções plausíveis de uso do

solo;

Confeccionar cartas geotécnicas dinâmicas, as quais permitam a incorporação de novas análises e

conhecimentos sobre uso e ocupação do solo.

Nesse sentido, podem ser definidos 4 tipos distintos de Cartas Geológico-Geotécnicas (Proin/Capes &

Unesp/IGCE, 1999):

- CARTAS GEOTÉCNICAS (PROPRIAMENTE DITAS): expõem as limitações e potencialidades dos terrenos,

estabelecendo as diretrizes de ocupação, frente às formas de uso do solo.

- CARTAS DE ATRIBUTOS ou PARÂMETROS: apresentam a distribuição geográfica de características de

interesse (atributos, parâmetros geotécnicos) a uma ou mais formas de uso e ocupação do solo.

- CARTAS DE RISCOS GEOLÓGICOS: prepondera a avaliação de dano potencial à ocupação, frente a uma ou

mais características ou fenômenos naturais ou induzidos pelo uso do solo.

- CARTAS DE SUSCETIBILIDADE30: informam sobre a possibilidade de ocorrência de um ou mais

fenômenos geológicos e de comportamentos indesejáveis, pressupondo uma dada forma de uso do solo.

Em função da disponibilidade de dados e da possibilidade de análise regional, a carta utilizada no projeto

foi a carta de suscetibilidade. A suscetibilidade é entendida como decorrente de um fenômeno natural

relacionada a características intrínsecas ao meio físico, sendo assim determinante em sua capacidade de

sofrer alterações e de resistência (resiliência). Geralmente, em cartas de suscetibilidade é graduada em

baixa, média e alta, sendo associada ao potencial probabilístico de ocorrência de fenômenos naturais em

função da composição estrutural e funcional do meio, portanto, uma medida probabilística, e não

impeditiva de ocupação, que devem estar associadas também a outros conceitos como o risco e a

vulnerabilidade, incorporando dimensões humanas mais explícitas.

Mapa. Áreas de Monitoramento Territorial e risco geológico

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IPT 1991. Carta Geotécnica do município de Ubatuba - SP. São Paulo, (IPT-Relatório n° 28.975. Cliente: SCTDE)

LOPEZ, A.G. , BARROS , M.O. 1992. Cartografia Geológica Geotécnica do litoral norte do Estado de São Paulo. ln: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 37º, São Paulo, SP, Boletim de resumos expandidos, São Paulo, SP. Sociedade Brasileira de Geologia , V.l. Simpósios, p.47. Carta geotécnica do litoral norte composta por 14 folhas 1 :50.000.

PEDRASSOLI, J. C. Análise orientada a objeto para detecção de favelas e classificação do uso do solo em Taboão da Serra/SP – Dissertação de mestrado em Geografia Física, FFLCH USP, 2011

PRANDINI, F. L,; FREITAS, C. G. L. de & NAKAZAWA, V. A. : A cartografia geotécnica na prevenção e mitigação dos impactos ambientais. Anu. Inst. Geocienc. [online]. 1992, vol.15 [cited 2013-01-31], pp. 173-180 . Available from: <http://ppegeo.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-97591992000100022&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0101-9759.

PROIN/CAPES e UNESP/IGCE. Material didático: arquivos de transparências (CD). Rio Claro: Departamento de Geologia Aplicada, 1999.

SARTORI, G.; NEMBRINI, G.; STAUFFES, F.; Monitoring of urban growth of informal settlements (IS) and population Estimation from aerial photography and satellite imaging. Data Exchange Platform for the Horn of Africa (DEPHA), UNEP, Kenya.

RESOLUÇÃO CONAMA 303/2002 – Conama, MMA.

ZUQUETTE, L. V. Análise da cartografia geotécnica e proposta metodológica para as condições brasileiras. São Carlos, SP, 1987. Tese de Doutoramento – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo/USP.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

ZUQUETTE, L.V. & NAKAZAWA, V. A. Cartas de geologia de engenharia. In: OLIVEIRA, A. M. S. & BRITO, S. N. A. (Eds.). Geologia de engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de engenharia (abge), 1998. Cap. 17, p. 283-300.

Sites consultados:

http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/cartas

Consultado em jan/2013

6.5 Áreas com Restrições à Ocupação

Integrando a leitura sobre o potencial de ocupação do município de Praia Grande, realizou-se um mapeamento das características geotécnicas do solo, o qual se cruzou com as áreas com potencial de ocupação detectadas no mapa ____, acima.

Apesar de Praia Grande apresentar ainda muitas áreas com potencial para ocupação, em relação aos fatores geotécnicos, como se pode observar no mapa _____ abaixo, todas estas áreas potencialmente ocupáveis apresentam algum grau de fragilidade geotécnica. Este fator traz a necessidade de um rígido controle sobre a ocupação urbana deste município, com o estabelecimento de regras de ordenamento urbano e de construção que garantam uma ocupação adequada às restrições geológicas.

Mapa. Praia Grande – Áreas com Potencial para Ocupação Urbana e Características Geotécnicas

Fonte: Secretaria do Meio Ambiente, 2010, SP; IBAMA, 2011; MOSAICO SRTM, 2011; Google Earth, 2011; Prefeitura municipal de Praia Grande e Avaliação Ambiental Estratégica – PINO.

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6.6. Dinâmica Imobiliária

6.6.1. Empreendimentos Imobiliários Verticais

A crescente presença de empreendimentos verticais nos municípios da Baixada Santista e do Litoral Norte é reflexo do crescimento dos setores imobiliários e da indústria da construção civil. Esse crescimento é percebido em todo o Brasil, e está relacionado ao aumento da economia brasileira, ampliação do crédito e das linhas de financiamento do Governo Federal. A presença desses setores estimula o fenômeno da valorização do solo urbano e trazem aos municípios uma nova paisagem urbana.

A Região Metropolitana da Baixada Santista está passando por uma explosão de vendas de unidades habitacionais desde 2005, iniciada em sua cidade polo Santos, cujo território está cada vez mais saturado e com valores mais elevados, levando a população a buscar imóveis nas cidades vizinhas, como São Vicente, Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém, o que vem trazendo mudanças em suas paisagens e territórios. Assim, como as cidades de Santos, São Vicente e Guarujá, Praia Grande também passa por momento de valorização do solo urbano pela crescente atuação do mercado imobiliário e da construção civil.

A ocupação urbana de Praia Grande foi originada a partir do processo de crescimento econômico e populacional das cidades vizinhas Santos, Cubatão e Guarujá, que não comportando a constante demanda por áreas livres, fez com que a população se direcionasse as cidades mais próximas, estabelecendo uma relação de “cidade-condomínio” com as mesmas31.

Atualmente Praia Grande recebe contingentes populacionais de cidades como São Paulo e sua região metropolitana, que veem ao município em busca de lazer sazonal, o chamado turismo de veraneio, atividade que se tornou importante fator de crescimento urbano, incentivada pela facilidade de acessos que proporcionaram a abertura da Avenida Anchieta na década de 1950, Rodovia Imigrantes na década de 1970 e Rodovia Padre Manoel da Nóbrega na década de 1960.

Essa facilidade de acessos impulsionou a instalação da modalidade do turismo de veraneio não somente em Praia Grande, mas em todas as cidades litorâneas da Baixada Santista, baseada na comercialização de imóveis de tipologias horizontais e verticais, para serem utilizados em férias, feriados e finais de semana. Os municípios presenciaram então, um aumento da atividade turística balneária, acarretando em uma série de transformações em seu território, a partir do aumento da demanda por residências de veraneio e também de sua população residente, favorecendo o surgimento de empreendimentos verticais.

O município possui como principais vias a Av. Presidente Kennedy e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega que estruturam a cidade e a dividem em duas grandes porções de terra: a faixa de terra ao norte entre a rodovia e a Serra do Mar e a faixa de terra ao sul entre a rodovia e a orla, sendo nesta faixa onde se concentram quase que a totalidade das construções verticais.

Os empreendimentos imobiliários verticais aparecem de maneira consolidada nos bairros Canto do Forte, Boqueirão, Vila Guilhermina, Aviação, Tupi e Ocian, de maneira mais esporádica em Vila Mirim, Vila Caiçara e pontualmente e dispersa nos bairros Florida e Solemar32. Podemos observar no Mapa __ abaixo, a localização dos empreendimentos verticais33 e sua proximidade com a orla.

Mapa__– Distribuição dos Empreendimentos Imobiliários Verticais, 2012.

31 Plano Municipal de Habitação Praia Grande, 2009.

32 Logradouros públicos, loteamentos e bairros, da Lei Complementar Nº473, de 27 de dezembro de 2006 que institui o Plano Diretor do Município de Praia Grande.

33 A distribuição dos empreendimentos verticais foi mapeada através de identificação por foto aérea.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Fonte: Instituto Polis, 2012.

Os empreendimentos verticais existentes no município estão localizados, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo 34 nas Zonas Exclusivamente Residenciais (ZR), Zonas Predominantemente Residencial do tipo 2 (ZPR2), nas Zonas Comerciais do tipo 1 (ZC1) e alguns poucos na Zonas Predominantemente Residencial do tipo 3 (ZPR3), conforme mapa abaixo:

34 Lei Complementar n°615/2011

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Mapa__– Empreendimentos Imobiliários Verticais e Zoneamento da Lei nº615/2011

Elaboração: Instituto Polis, 2012.

Essas zonas onde se inserem os empreendimentos verticais possuem as seguintes características:

ZONA EXCLUSIVAMENTE RESIDENCIAL - ZR - Zona que inclui áreas já loteadas, que conservam até hoje características de uso exclusivamente residencial, com casas isoladas, na maior parte dos casos, por força de restrições impostas pelo loteador. A preservação desta condição visa atender à demanda de espaços urbanos de maior privacidade e tranquilidade, que constituem atributos requeridos por parte da população.

ZONA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL - ZPR 2 - Zona residencial com alta incidência de domicílios de uso ocasional. Em decorrência, apesar da intensa ocupação dos lotes em grande parte da zona, apresenta densidades residenciais de população fixa inferiores. Apresenta diferentes níveis de dotação de infraestrutura. A sua porção nordeste conta com os melhores níveis de dotação de infraestrutura do Município. As áreas menos atendidas, na sua porção sudoeste, correspondem aos setores em que predominam os domicílios de uso ocasional. Será mantida em toda a sua extensão como zona de intensa utilização do solo, tendo em vista que as condições críticas de adensamento na sua porção sudoeste, deficitária de infraestrutura, ocorrem exclusivamente nos picos da estação turística.

ZONA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL - ZPR 3 - Zona que apresenta grandes áreas por urbanizar, associadas a loteamentos com razoável disponibilidade de lotes vagos em setor beneficiado por importantes investimentos públicos, como o Centro Administrativo e o Terminal Rodoviário. Está situada próximo ao entroncamento da rodovia Padre Manoel da Nóbrega - SP-55 - com a Via Expressa Sul, principais eixos de conexão regional. Contém a última reserva de áreas livres com frente para a praia. É dotada das melhores condições de infraestrutura em sua maior extensão e apresenta facilidades para expansão da mesma no restante da área. Deverá ter seu desenvolvimento estimulado mediante a complementação da infraestrutura e a liberação de usos diversificados e índices urbanísticos favoráveis à atração de investimentos privados que propiciem a utilização racional desse espaço privilegiado.

ZONA COMERCIAL - ZC 1 - Compreende zonas comerciais tradicionais ou emergentes, que se desenvolvem juntamente com os usos residenciais. Incluem-se nesta categoria tanto o centro comercial principal da cidade, situado no Boqueirão, quanto os denominados “núcleos comerciais” que se desenvolveram

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

linearmente ao longo de ruas. Deverá ser permitida nestas zonas a maior gama de usos terciários, sempre que compatíveis com o uso residencial, visando desconcentrar o atual centro principal e propiciar a redução dos deslocamentos.

Conforme pode ser observado no Mapa __ acima os empreendimentos verticais estão localizados em sua grande maioria nas faixas de terras próximas a orla. Essas áreas são valorizadas não só pela proximidade com a praia, mas também pela disponibilidade de infraestrutura e equipamentos públicos, e por estarem próximas aos principais eixos da cidade. O trecho de terra localizado entre a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a orla é caracterizado pela alta densidade populacional durante temporada e baixa densidade fora de temporada, portanto, é uma área da cidade utilizada por população flutuante durante as férias e feriados. Percebe-se, que a grande massa de empreendimentos verticais da cidade está localizada justamente na ZPR2, que segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo, caracteriza-se por apresentar alta incidência de domicílios de uso ocasional, apresentando densidades residenciais de população fixa inferiores.

Segundo o Zoneamento municipal, definido pelo Plano Diretor35, os assentamentos precários estão localizados em Zona predominantemente residencial de alta densidade. Já conforme o zoneamento da Lei de Ordenamento do Uso, da Ocupação e do Parcelamento do Solo36, que possui uma descrição do zoneamento um pouco mais detalhada, pois divide a zona predominantemente residencial em 3 tipos: a ZPR-1, ZPR-2 e ZPR-3.

Os assentamentos precários identificados estão todos localizados em ZPR-1:

ZONA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL - ZPR 1 - Zona residencial ocupada essencialmente por domicílios permanentes, com infraestrutura incompleta. Deverá permanecer como zona de densidades residenciais médias e de média intensidade de ocupação do solo. Nessa zona foram reservadas áreas para a realização de empreendimentos residenciais preferencialmente promovidos e/ou financiados pelo setor público, destinados aos estratos de população de menor poder aquisitivo, conforme o disposto no Plano Diretor do Município.

35 Lei Complementar n° 473 de 27 de dezembro e 2006

36 Lei Complementar 615/11

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Mapa. Praia Grande – Assentamentos Precários e Zoneamento, 2012.

Elaboração: Instituto Polis, 2012.

Podemos perceber pela própria definição da área, que justamente onde se encontram essencialmente domicílios permanentes, há precariedade na existência de infraestrutura. Esse fato reforça a afirmação de que muitas vezes o poder público prioriza áreas da cidade onde o interesse do mercado imobiliário é maior. O resultado é que enquanto a população fixa de menor renda ocupa áreas com infraestrutura incompleta, a população de maior renda, muitas vezes moradoras de outras cidades, mas que possuem imóveis de veraneio, ocupam áreas com infraestrutura completa.

Conforme citado anteriormente, essa característica urbana e imobiliária não é especifica da dinâmica urbana de Praia Grande, mas das cidades que compõe a Baixada Santista e o Litoral Norte. Segundo dados do Censo 2010, 52,44% do total de domicílios particulares de Praia Grande são de uso ocasional, ou seja, um pouco mais da metade dos domicílios são ocupados somente durante certos períodos do ano, ocasionando um desequilíbrio das demandas por infraestrutura.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Tabela __– Situação dos Domicílios – IBGE 2010

Domicílios particulares - dados 2010

Município

Particular - total Particular - ocupado

Particular - não ocupado - uso ocasional

Particular - não ocupado - vago

No Absoluto

No Absoluto

% do total de domicílios particulares

No Absoluto

% do total de domicílios particulares

No Absoluto

% do total de domicílios particulares

Praia Grande -SP 200.061 83.513 41,74% 104.912 52,44% 11.519 5,76%

Fonte: IBGE, 2010.

Podemos verificar que a maior parte dos imóveis de veraneio da cidade se concentra nas áreas próximas à orla que são ocupadas pontualmente pelos empreendimentos verticais, com setores que variam de 50-75% e 75-100%, conforme pode ser observado no Mapa ___ a seguir. Portanto, os setores com a maior presença de domicílios de uso ocasional estão localizados nas faixas entre a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a orla.

Mapa__– Empreendimentos Imobiliários Verticais e Domicílios de Uso Ocasional por Setor Censitário – 2010

Elaboração: Instituto Polis, 2012.

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Para melhor compreendermos a dinâmica imobiliária do município, caracterizamos a seguir os empreendimentos imobiliários verticais presentes na cidade, onde foram levantadas referências de dados junto às imobiliárias locais, abrangendo informações quanto ao número de pavimentos, número de dormitórios, metragens, áreas úteis, vagas de automóveis e valores de mercado. Assim, poderemos visualizar as características do estoque residencial que se apresenta atualmente na cidade.

Os bairros Canto do Forte, Boqueirão, Guilhermina e Tupi possuem quase que toda a sua faixa de orla ocupada por empreendimentos verticais que possuem características semelhantes. O gabarito dos empreendimentos pesquisados variam de 03 a 25 pavimentos, com a presença de algumas construções com gabaritos acima dessa média no bairro da Vila Mirim. O Boqueirão apresenta uma mescla de construções novas e mais antigas, sendo essas útimas as que apresentam menores gabaritos que variam de 03 a 05 pavimentos. Já as construções recentes apresentam em média de 10 a 18 pavimentos.

O bairro Canto do Forte juntamente com o Boqueirão, a Vila Guilhermina e Vila Tupi, é um dos bairros que mais receberam novos empreendimentos nos últimos 10 anos, ocasionando uma verdadeira mudança na paisagem predominantemente horizontal da cidade. No Canto do Forte encontramos as construções verticais predominantemente nas faixas de terra entre a Av. Marechal Mallet e a orla com gabaritos que variam de 08 a 21 pavimentos. Encontramos também algumas construções de 03 a 04 pavimentos mais antigas, porém em menor quantidade. Os empreendimentos pesquisados variam de 01 a 04 dormitórios, com até 04 vagas de automóveis na garagem. As metragens das unidades variam de 65,0 a 250,0m² de área construída e os valores pesquisados variam de R$125.000,00 a 1.700.000,00, sendo estes últimos claramente direcionados às classes de maior pode aquisitivo. Os imóveis recentes de 02, 03 e 04 dormitórios são mais incidentes do que os de 01 dormitório, sendo estes menos comercializados neste bairro. Observa-se que os novos empreendimentos estão sendo comercializados para um público de maior renda, com valores que variam de R$628.000,00 a R$1.700.000,00. Os dados dos empreendimentos pesquisados estão sintetizados na Tabela __ a seguir.

Tabela__-Empreendimentos imobiliários comercializados no Bairro do Canto do Forte.

Bairro Nº Pavimentos

Nº Dormitórios

Vagas por UH

Área construída (m²)

Valor (R$)

Canto do Forte 03 01 01 65,0 125.000,00

Canto do Forte 08 02 01 68,0 240.000,00

Canto do Forte - 02 01 82,0 388.000,00

Canto do Forte - 04 04 220,0 500.000,00

Canto do Forte 15 03 02 131,0 628.000,00

Canto do Forte 18 04 03 146,0 825.000,00

Canto do Forte 17 04 04 220,0 1.100.000,00

Canto do Forte 21 04 04 181,0 1.468.000,00

Canto do Forte 18 04 04 219,0 1.700.000,00

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Fonte: Praia&Cia, Prime Imóveis, Plaza Imóveis, 2012.37

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro do Canto do Forte.

Fonte: Google Earth, 2012.

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro do Canto do Forte.

Fonte: Google Earth, 2012.

O Boqueirão é um dos bairros centrais e mais antigos da cidade. Ele apresenta uma variação de empreendimentos novos e antigos que se diferem em suas características. Os imóveis mais antigos possuem gabaritos de 03 a 05 pavimentos e os mais novos possuem gabaritos maiores que variam de 08 a 21 pavimentos. Os empreendimentos mais antigos são menos comercializados, e geralmente abrigam a população fixa da cidade. Já os imóveis construídos recentemente são direcionados tanto à população que

37 http://www.praiaecia.com.br – Acesso em Agosto/2012.

http://www.imovelprime.com – Acesso em Agosto/2012.

http://www.litoralplazaimoveis.com.br – Acesso em Agosto/2012.

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vem se fixando na cidade quanto para a população flutuante, e apontam uma tendência de se direcionarem cada vez mais às classes de média e alta renda. A principal diferença observada entre as construções antigas e recentes é a presença da varanda, que se tornou um item indispensável nos novos empreendimentos.

Os imóveis verticais pesquisados nesse bairro possuem de 01 a 04 dormitórios e metragens de unidades que variam de 80,0 a 400,0m² de área construída. Os valores de mercado variam de R$185.000,00 para construções mais antigas com 01 dormitório a R$1.700.000,00 com 04 dormitórios referente aos novos lançamentos. Os dados dos imóveis pesquisados encontram-se na Tabela __ a seguir.

Tabela__-Empreendimentos imobiliários comercializados no Bairro do Boqueirão.

Bairro Nº Pavimentos

Nº Dormitórios

Vagas por UH

Área construída (m²)

Valor (R$)

Boqueirão - 01 01 80,0 185.000,00

Boqueirão 14 03 03 - 366.000,00

Boqueirão 14 02 01 - 440.000,00

Boqueirão - 03 02 147,0 620.000,00

Boqueirão 21 03 02 126,86 638.000,00

Boqueirão 08 04 04 400,0 780.000,00

Boqueirão 09 03 03 190,0 850.000,00

Boqueirão - 04 04 - 1.700.000,00

Fonte: Praia&Cia, Prime Imóveis, Plaza Imóveis, 2012.38

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro do Boqueirão.

Fonte: Google Earth, 2012.

38 http://www.praiaecia.com.br – Acesso em Agosto/2012.

http://www.imovelprime.com – Acesso em Agosto/2012.

http://www.litoralplazaimoveis.com.br – Acesso em Agosto/2012.

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Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro do Boqueirão.

Fonte: Google Earth, 2012.

Além dos bairros do Canto do Forte e Boqueirão, os empreendimentos verticais também estão fortemente presentes nos bairros Guilhermina, Aviação e Tupi, que também receberam grande parte dos lançamentos imobiliários dos últimos anos. Os empreendimentos pesquisados nesses três bairros são comercializados por valores que variam de R$130.000,00 a R$1.414.000,00, possuindo de 01 a 05 dormitórios com até 04 vagas de automóveis na garagem. O gabarito das construções variam de 08 a 28 pavimentos e as metragens das unidades variam de 50,0 a 423,0m² de área construída. Os dados dos imóveis pesquisados estão representados na Tabela __ a seguir.

Tabela__-Empreendimentos imobiliários comercializados nos bairros Guilhermina, Aviação e Tupi.

Bairro Nº Pavimentos

Nº Dormitórios

Vagas por UH

Área construída (m²)

Valor (R$)

Guilhermina 07 01 01 64,0 130.000,00

Guilhermina 12 02 01 82,0 242.000,00

Guilhermina 16 03 02 118,0 380.000,00

Guilhermina 15 03 02 195,69 625.000,00

Guilhermina 28 04 02 160,0 850.000,00

Aviação 09 02 01 80,0 160.000,00

Aviação 17 02 01 96,0 310.000,00

Aviação 15 03 02 - 600.000,00

Aviação - 04 03 - 1.100.000,00

Aviação 13 03 03 342,0 1.300.000,00

Aviação 13 04 03 365,71 1.414.000,00

Tupi 10 01 01 55,0 150.000,00

Tupi 17 03 02 82,0 280.000,00

Tupi 19 03 02 110,0 480.000,00

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Tupi - 05 04 423,0 800.000,00

Tupi - 03 02 360,0 1.190.000,00

Tupi - 04 04 260,0 1.200.000,00

Fonte: Praia&Cia, Prime Imóveis, Plaza Imóveis, 2012. 39

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro Guilhermina.

Fonte: Google Earth, 2012.

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro Aviação.

Fonte: Google Earth, 2012.

39 http://www.praiaecia.com.br – Acesso em Agosto/2012.

http://www.imovelprime.com – Acesso em Agosto/2012.

http://www.litoralplazaimoveis.com.br – Acesso em Agosto/2012.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro Tupi.

Fonte: Google Earth, 2012.

Podemos ainda citar outros dois bairros que começaram a ser ocupados pelos empreendimentos verticais. BaIrros estes que antes eram quase que totalmente horizontais, vêm também se tornando cada vez mais verticalizados. As contruções pesquisadas nesses bairros possuem em média de 02 a 03 dormitórios, com a pouca presença dos imóveis de 04 dormitórios. As metragens das unidades variam de 77,0 a 245,0m² com até 02 vagas de automóveis na garagem. Os gabaritos variam de 09 a 14 pavimentos e os valores de mercado variam de R$130.000,00 a 583.000,00. Os dados dos imóveis pesquisados nesses bairros encontram-se na Tabela __ a seguir.

Tabela__-Empreendimentos imobiliários comercializados nos bairros Ocian e Caiçara.

Bairro Nº Pavimentos

Nº Dormitórios

Vagas por UH

Área construída (m²)

Valor (R$)

Ocian - 01 01 44,0 130.000,00

Ocian 09 02 01 82,0 220.000,00

Ocian 12 02 01 - 295.000,00

Ocian 14 03 02 105,0 350.000,00

Ocian - 04 02 245,0 460.000,00

Caiçara 09 02 01 77,0 160.000,00

Caiçara - 02 01 - 192.000,00

Caiçara - 02 01 80,0 235.000,00

Caiçara - 03 02 108,0 420.000,00

Caiçara - 03 01 115,0 583.000,00

Fonte: Praia&Cia, Prime Imóveis, Plaza Imóveis, 2012.

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Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro Ocian.

Fonte: Google Earth, 2012.

Figura__ - Empreendimentos Verticais no bairro Caiçara.

Fonte: Google Earth, 2012.

Podemos citar também um empreendimento construído recentemente localizado no Bairro Vila Mirim que se destaca entre os demais pelo seu gabarito. Localizado em frente a orla, o empreendimento possui 35 pavimentos e está localizado no único trecho da orla que é interrompido e que utiliza de um desvio para os automóveis, com a formação de um boulevard frente a orla.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Figura__ - Empreendimento Vertical que se destaca no bairro Vila Mirim.

Fonte: Google Earth, 2012.

São essas, portanto, as características dos imóveis sendo ofertados no mercado imobiliário de Praia Grande. Ressalta-se também que são vários os empreendimentos que foram lançados recentemente e que atualmente estão em construção, principalmente nos bairros Canto do Forte e Guilhermina. Observa-se que esses novos lançamentos seguem o padrão mais elevado dos novos empreendimentos residenciais, com a presença da varanda “gourmet” e amplos espaços de lazer, como parque aquático, salão de festas, brinquedoteca, sala fitness, sauna, etc, que representam o novo padrão elitizado de empreendimentos lançados que se estão sendo comercializados com valores cada vez mais elevados.

É importante salientar, que essa valorização e oferta de imóveis novos que se direciona, em alguns bairros, a um público de média e alta renda, contribui com o aumento da segregação socioespacial no município, onde a população sem acesso a essa oferta de imóveis, acaba por ocupar irregularmente e precariamente áreas urbanas mais afastadas.

Essa característica da verticalização em Praia Grande, não difere dos outros municípios litorâneos, e mostra uma tendência de produção do mercado imobiliário direcionado para uma demanda de média e alta renda formada, principalmente, por famílias interessadas em imóveis de veraneio.

Observa-se no Mapa ___ a seguir de distribuição espacial da renda segundo dados dos rendimentos nominais médios dos responsáveis pelos domicílios por setor censitário do IBGE 2010, que a porção de terra localizada próxima a orla é ocupada pela população de média, média/alta e alta renda com predominância nos Canto do Forte, Boqueirão, Guilhermina, Tupi e Caiçara, confirmando a renda mais elevadas predominante nesse bairros nas faixas próximas a orla. Observa-se, por outro lado, que as áreas mais afastadas são ocupadas pelas classes de baixa renda com rendimentos de 0 a 1 e 1 a 3 salários mínimos.

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Mapa__ – Empreendimentos Imobiliários Verticais e Rendimentos Nominais Médios dos Responsáveis pelos Domicílios Segundo Setores Censitários – IBGE 2010.

Fonte: IBGE 2012 Elaboração: Instituto Polis, 2012.

Verifica-se, portanto, a divisão da cidade por faixas de renda, com a população de baixa renda habitando áreas periféricas, impróprias à ocupação em mangues e áreas de risco e as classes de maior renda usufruindo de áreas valorizadas, servidas de infraestrutura e próximas à orla. Observa-se no mapa a seguir a relação entre os assentamentos precários e as áreas de empreendimentos imobiliários verticais no município.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Mapa__ – Empreendimentos Verticais e Assentamentos Precários.

Elaboração: Instituto Polis, 2012.

É importane observar, portanto, as fortes tendências de expansão do mercado imobiliário na cidade direcionado às classes de alta renda, que pode acarretar em uma maior exlusão social, empurrando cada vez mais as classes menos favorecidas para áreas afastadas. O município de Praia Grande já vem apresentando um forte crescimento do mercado imobiliário nos últimos anos, principalmente devido aos altos valores de imóveis comercializados em Santos, fazendo com que aumente consideravelmente a procura por imóveis em cidades vizinhas como Praia Grande, Monguaguá e Itanhaém, que também oferecem uma maior quantidade de terrenos e glebas vazias aptas à ocupação.

Segundo informações do Jornal O Estado de São Paulo (2010), a prefeitura de Praia Grande afirmou a autorização da construção residencial de comercial de 500 mil metros quadrados no ano de 2010 e a expectativa é de que esse número aumente para 700 mil metros quadrados. Ainda segundo o presidente do Creci-SP40, o perfil das contruções vem se alterando na cidade, principalmente com relação ao aumento dos gabaritos, o que já é fortemente percebido no município.

Segundo um estudo elaborado pelo Secovi-SP e a Robert Zarif Assessoria Econômico Ltda, entre março de 2009 e março de 2012, foram lançadas em quatro municípios da Baixada Santista (Santos, São Vicente, Guarujá e Praia Grande) 14.270 unidades verticais, sendo que o maior número de lançamentos foi no município de Santos, com 7.707 unidades, representando 54% do total de unidades lançadas, seguindo pelo município de Praia Grande com 5.360 unidades verticais lançadas, representando 37,6% do total. Esses dados apontam o acelerado ritmo do mercado imobiliário na cidade e a forte tendência de transformação do município, com o maior número de lançamentos residenciais nos próximos anos, ao passo que o território santista vem se tornando cada vez mais saturado.

40 José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Impóveis de São Paulo.

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O estudo aponta ainda que somente entre o ano de 2011 e 2012 foram lançadas 5.665 unidades verticais nos quatro municípios.

Tabela__ - Unidades verticais lançadas de 2009 a 2012.

Fonte: Estudo do Mercado Imobiliário da Baixada Santista, 2012.

Gráfico__ - Praia Grande – Porcentagem de unidades lançadas entre 2009 e 2012 segundo número de dormitórios.

Fonte: Estudo do Mercado Imobiliário da Baixada Santista, 2012.

Ainda segundo a Secovi, as unidades de 02 dormitórios lideram os lançamentos em Praia Grande, seguida das de 03 dormitórios, representando 55% e 23%, respectivamente. Segundo o estudo, as características das unidades lançadas se diferenciam de acordo com o número de dormitórios, a saber:

2 Dormitórios: Estes empreendimentos se caracterizaram por possuir, em média, dois blocos, 17 pavimentos, uma vaga de garagem e seis unidades por andar. Na área de lazer, 98% dos empreendimentos desta categoria possuem salão de festa. Na sequência estão a piscina (89% dos empreendimentos), a churrasqueira (88% dos empreendimentos), o salão de jogos (78% dos empreendimentos) e a sala de fitness (76% dos empreendimentos). A área privativa média dos imóveis de 2 dormitórios é de 78 m² e a área total, de 127m².

3 Dormitórios: Os imóveis de 3 dormitórios apresentam, na média, dois blocos, 19 pavimentos, duas vagas de garagem e cinco unidades por andar. Na área de lazer, todos os empreendimentos foram lançados com salão de festas. Aproximadamente 97% dos empreendimentos têm piscina, 88% contam com espaço para fitness, 86% possuem churrasqueira e 82% dos empreendimentos dispõem de salão de jogos. A área privativa média dos imóveis é de 118 m² e a área total média é de 197 m².

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Praia Grande

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

Como pudemos observar, os empreendimentos verticais em Praia Grande possuem um perfil que visa alcançar as populações de maior renda, muitas vezes, famílias de outras cidades que compram apartamentos como segunda residência para uso ocasional de veraneio.

A localização desses empreendimentos, nos bairros consolidados com disponibilidade de infraestrutura, equipamentos púlbicos e de serviços, reforça essa tese. Os bairros Canto do Forte, Boqueirão, Vila Guilhermina, Aviação, Tupi e Ocian, são os que mais apresentam empreendimentos verticais, presentes de maneira mais esporádica em Vila Mirim, Vila Caiçara e pontualmente e dispersa nos bairros Florida e Solemar.

Assim como nas demais cidades litorâneas de São Paulo, a conformação urbana que privilegia a ocupação de áreas mais valorizadas pelo mercado imobiliário junto à orla, é resultado da falta de intervenção do poder público voltada para a implantação de políticas de uso e ocupação do solo que visem diminuir a pressão da especulação imobiliária sobre as áreas nobres do município.

Assim, a população fixa de menor renda, que mais necessita das ações do poder público tanto para ofertar habitação de interesse social, evitando a exclusão socioterritorial, quanto para dotar as áreas menos valorizadas de infraestrutura e equipamentos públicos, acaba sendo impedida pelo mercado, de acessar moradia digna em terras urbanizadas. O resultado é a ocupação de áreas inadequadas e ambientalmente frágeis.Cabe, portanto, ao Poder Público, a regulação do uso e da ocupação do solo de maneira a garantir que áreas urbanizadas possam ser acessadas principalmente por população fixa, independente da classe social, sob risco de consolidação da segregação espacial pela valorização imobiliária.

6.6.2 . Regulação dos Empreendimentos Imobiliários Verticais

Em que pesem as disposições da Lei Orgânica do Município defendendo o exercício da função social da propriedade e da cidade, quando analisado o tema da verticalização dos empreendimentos imobiliários, não se registram orientações mais gerais nesse diploma legal acerca de um crescimento mais compacto do Município ou resguardo da paisagem. Em seu lugar, são encontradas na LOM disposições bastante específicas relacionadas a parâmetros edilícios. Tratam, por exemplo, da vedação de implantação de quitinetes ou conjugados no território municipal (art. 138), obrigatoriedade de uma garagem para cada apartamento no Município (art. 139), ou, ainda, o estímulo (por meio de isenção fiscal) à implantação de edifícios-garagens com mais de 7 pavimentos.

Passando-se à análise do Plano Diretor do Município, consubstanciado na Lei complementar nº 473/2006, verificamos que o art. 69 faz a divisão do Município em distintas zonas de uso , nos termos analisados anteriormente. Mas dialogando com essa forma de divisão do território, colacionam-se à discussão os dispositivos orientadores do parcelamento, uso e ocupação do solo, apresentados ainda de maneira bastante geral pelo Plano Diretor. Assim, dá-se especial relevo aos arts. 71 a 74.

Apesar de tradicionalmente conhecidas as legislações urbanísticas de vários municípios, a Praia Grande reforçou em seu Plano Diretor, art. 71, incisos II, III e VI algumas orientações sobre o adensamento da ocupação território a serem observadas por ocasião de sua oportuna regulamentação de uso e ocupação do solo. Dessa forma, é estabelecida a necessidade de “restrições à intensidade de ocupação do solo, diferenciadas de acordo com as zonas a serem instituídas no Município, com vistas a garantir a compatibilidade entre as densidades de ocupação e a capacidade de suporte do meio ambiente, bem como o necessário equilíbrio entre as demandas das atividades urbanas assentadas em cada porção do território municipal e a oferta de infraestrutura, de equipamentos urbanos e de serviços públicos nela existente ou projetada”; “restrições à ocupação do solo com vistas a garantir o resguardo das condições de ventilação e insolação das edificações dos lotes lindeiros e das possibilidades de ampliação futura dos logradouros públicos sem afetar as edificações, entre outros”; e, por fim, “condições de aplicação dos novos instrumentos da política urbana”.

O art. 72, por sua vez, discrimina os parâmetros a serem adotados:

• Dimensões mínimas dos lotes;

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• Recuos mínimos das edificações com relação às divisas dos respectivos lotes, correlacionados à altura das edificações;

• Coeficientes de aproveitamento dos lotes, incluindo-se coeficientes mínimos para caracterização de subutilização para fins de aplicação de instrumentos urbanísticos indutores de ocupação (parcelamento, edificação e utilização compulsórios, por exemplo);

• Taxa de ocupação dos terrenos;

• Cota mínima de terreno por unidade habitacional, abaixo da qual ficam sujeitos os empreendedores ao pagamento de outorga onerosa (arts. 72, inciso VII, 106 e 107);

• Gabarito máximo das edificações;

• Taxas de impermeabilização do solo.

Tais parâmetros seriam estabelecidos somente pela Lei nº 615/2011. Após analisados, faz-se pertinente a retomada da leitura do Plano Diretor, para melhor conhecer a aplicação dos instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade (Lei federal nº 10.257/2001) previstos na esfera municipal.

A legislação não estabeleceu gabaritos máximos para as edificações do Município, o que permite concluir que seu adensamento e verticalização operam-se de acordo com a combinação dos demais índices urbanísticos, em especial, em razão da área construída permitida (coeficiente de aproveitamento) em função da área de terreno passível de ocupação (taxa de ocupação). No caso de Praia Grande o índice é bastante relevante para a verticalização: a área ideal de terreno (AIT), compreendida como a cota ideal de terreno por unidade habitacional.

As hipóteses de verticalização decorrem da aplicação do Quadro 3 (Uso e Ocupação por Zona), estabelecido em conformidade com o art. 23 da LC nº 615/2011. Além da zona, a hierarquização viária prevista no Plano Diretor, em alguns casos, também implicou particularidades nas formas de ocupação do solo disciplinadas pela lei de 2011, no momento de eleição de corredores comerciais, categorizados como um zoneamento.

Considerando os usos permitidos (Quadro 3) e sua descrição (Quadro 1, estabelecido pelo art. 8º), desprezamos para análise de verticalização as seguintes zonas: ZT, ZRE, ZR, ZC2, CIT2, ZUD1 e ZUD2 por nestas serem permitidas instalações de usos de menor adensamento construtivo. Ainda que, em alguns casos, sejam passíveis de instalação de usos residenciais (condominiais com maiores exigências urbanísticas ou residências unifamiliares) e de atividades não residenciais de maior porte (como no caso da ZC2), tais zonas não merecem maior destaque na presente análise deste tópico justamente por não implicarem maior verticalização. Há que se registrar, ainda, que a verticalização na ZC3 é permitida, mediante “manifesto interesse público ou social, determinado pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito”, nos termos da observação nº 18 do Quadro 3. Enquanto isso, o uso R2 (tipologia residencial multifamiliar) na ZPR1 e no CIT2 afigura-se suficientemente restritivo para não acarretar gabaritos tão impactantes na paisagem urbana, mesmo que admissível a implantação de pequenos edifícios.

Portanto, a presente análise de verticalização concentra-se nas zonas mais permissivas para o adensamento populacional, quais sejam, ZPR2, ZPR3, ZM, ZC1, CC1, CC2 e CIT1. Como critério ora estabelecido, foram consideradas as tipologias de uso representativas de maior adensamento, com destaque para o uso residencial R2. Além desse critério, foram considerados outros usos que seriam capazes de permitir sua verticalização, mas ainda assim, a combinação de coeficientes de aproveitamento e taxas de ocupação mais rigorosos não parece induzir à construção de edificações com muitos pavimentos. É o caso da ZUD 1.

Conforme mencionado, a verticalização decorreria da combinação entre índices urbanísticos. Mas nas zonas ora destacadas, a legislação silenciou sobre taxas de ocupação máxima dos lotes, optando a norma por estabelecer cotas de terrenos exigíveis para cada unidade habitacional (ou autônoma, uma vez que o uso poderá ser não residencial). O índice é dado pela mencionada Área Ideal de terreno (AIT), índice relativamente permissivo na legislação. Para cada unidade autônoma de uma edificação devem corresponder 15m2 de terreno nas seguintes zonas:

• ZPR2;

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

• ZPR3;

• Uso exclusivamente residencial em ZC1 (conforme observação 14, do Anexo Único da Lei Complementar nº 615/2011);

• CIT1.

Aplica-se concomitantemente à AIT o coeficiente de aproveitamento dos lotes. E, novamente para as mesmas zonas discriminadas no parágrafo anterior, é estabelecido um parâmetro único: 5,5. Ou seja, permite-se a implantação de área construída de até 5,5 vezes a área do terreno. Desconsideram-se desse cálculo, de acordo com art. 28, todas as áreas comuns (hall, corredores, salões de festas, áreas de lazer etc.), terraços, independentemente de suas áreas e garagens, independentemente de se encontrarem no subsolo.

Ainda assim, combinando-se a (alta) possibilidade de construção (coeficiente de aproveitamento 5,5) com alta possibilidade de adensamento (decorrente da baixa exigência de fração de terreno por unidade habitacional) poder-se-ia concluir que a legislação induziria à maior verticalização combinada ao maior adensamento populacional.

Contudo, a observação nº 31 do Quadro 3 condiciona tal conclusão. O adensamento construtivo é possibilitado por um coeficiente de aproveitamento de 5,5 e a AIT é bastante permissiva, mas o adensamento populacional é condicionado ao agrupamento máximo de 10 unidades residenciais, de acordo com a observação 31. No esclarecimento fornecido pelo Município, em 27.11.2013, pela Chefia do SEURB 2, no entanto, informa-se que a observação nº 31 referir-se-ia ao número máximo “partes que o lote ou gleba pode ser desdobrado”. Entendendo-se que o referido posicionamento considera a observação 31 aplicável à criação de lotes – e não à criação de unidades autônomas ou frações ideais – vislumbra-se imprecisão da terminologia adotada na lei (observação nº 31), sob pena da aplicação do Coeficiente de Aproveitamento máximo condicionar-se a apenas 10 unidades habitacionais.

Nas hipóteses de edificações localizadas nas ZPR2, ZPR3, ZC1, CC1 e CIT1, a observação nº 10 do Quadro 3 possibilita, nos casos de usos exclusivamente residenciais com áreas médias de apartamentos iguais ou superiores a 100m2 (não se confundindo, portanto com a definição de AIT), a utilização gratuita do coeficiente de aproveitamento 8.

Foi configurada a existência de outorga onerosa no Município, mas vinculada à densidade da ocupação. Ou seja, não foi identificada na legislação a outorga onerosa por acréscimo de coeficiente de aproveitamento. Tais índices são conferidos gratuitamente. Por outro lado, as hipóteses de redução da AIT para permitir maior adensamento, mediante contrapartida financeira, encontram-se permitidos no Plano Diretor no seu art. 107 para os bairros Mirim, Maracanã, Caiçara e Real e nas Zonas Especiais, sempre se respeitando AIT não inferior a 15. O cálculo da onerosidade para redução da AIT é inferida a partir da Lei complementar nº 309/2001, que se presume vigente. Há apenas exigências relacionadas ao tipo de uso a ser instalado.

Entende-se pertinente a Lei complementar nº 309/2001 ao presente tópico estritamente pelo fato de conter a fórmula de cálculo da outorga onerosa. As hipóteses de aumento da densidade populacional que discrimina não parecem, contudo, aplicáveis a tipologias verticalizadas, conforme os demais índices que essa norma discrimina.

Não se identificam condições suficientes, a partir da LC nº 615/2011, para implementação do parcelamento, edificação e utilização compulsórios, uma vez não previstos coeficientes de aproveitamento diferenciados (sobretudo coeficientes mínimos) a configurarem a subutilização de imóveis no Município41.

Constituindo-se a relevância de domicílios de uso ocasional uma matéria de destaque da lei, bem como subsídio à elaboração de seu Plano Diretor42, a maior possibilidade de verticalização de empreendimentos

41 Não obstante, o art. 101 do Plano Diretor define imóvel “não utilizado”

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concentra-se justamente nas áreas de maior incidência de domicílios ocasionais. A descrição da ZPR 2, contida no art. 9º é bastante ilustrativa desse aspecto:

“ZONA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL - ZPR 2 - Zona residencial com alta incidência de domicílios de uso ocasional. Em decorrência, apesar da intensa ocupação dos lotes em grande parte da zona, apresenta densidades residenciais de população fixa inferiores ou análogas às da Zona ZPR-1. Apresenta diferentes níveis de dotação de infraestrutura. A sua porção nordeste conta com os melhores níveis de dotação de infraestrutura do Município. As áreas menos atendidas, na sua porção sudoeste, correspondem aos setores em que predominam os domicílios de uso ocasional. Será mantida em toda a sua extensão como zona de intensa utilização do solo, tendo em vista que as condições críticas de adensamento na sua porção sudoeste, deficitária de infraestrutura, ocorrem exclusivamente nos picos da estação turística.”

Curiosamente, no lugar de disciplinar o incremento da infraestrutura urbana a partir de contrapartidas custeadas pelos empreendimentos, o adensamento construtivo subaproveitado do Município é assumido pelo zoneamento local sem qualquer dispositivo para sua mitigação.

6.6.3. Loteamento e condomínios horizontais

Praia Grande teve sua ocupação originada a partir de um processo de crescimento econômico e populacional das cidades vizinhas, mais especificamente Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá. Isso fez com que o município fosse se tornando cada vez mais, opção e moradia para pessoas que trabalham nessas cidades vizinhas, caracterizando-o como “cidade-dormitório”.

A ocupação urbana em Praia Grande deu-se primeiramente a partir dos bairros Canto do Forte e Boqueirão, em direção ao litoral sul, até o bairro Ocian. A partir da década de 1990, com a implantação de uma série de obras de infraestrutura e urbanização, a ocupação dos bairros da orla se consolidou, e a cidade se expandiu então em direção à Serra do Mar.

Praia Grande tornou-se alternativa de veraneio, de maneira mais consolidada, a partira da construção da Ponde do Mar Pequeno, ligando a Ilha de São Vicente à cidade, solucionando dois problemas: desafogou o transito saturado da Ponte Pensil, e criou uma ligação direta com a capital, tornando-se assim o balneário mais próximo da cidade de São Paulo. Por isso, Praia Grande tornou-se atrativa do pondo de vista turístico e de veraneio, atraindo turistas de diferentes classes sociais.

Esse cenário juntamente com o crescimento da população fixa do município foi responsável pela ocupação dos bairros situados entre a orla e a Avenida Presidente Kennedy, ao passo que os bairros consolidados começaram a receber empreendimentos verticais como alternativa para o veraneio de alguns turistas.

Loteamentos e condomínios fechados de alta renda são de interesse do mercado imobiliário quando existe a possibilidade de implantação junto à praia. Pela característica de ocupação dos bairros da orla, cuja ocupação está consolidada e mescla imóveis de famílias fixas e de segunda residência, a implantação de loteamentos e condomínios horizontais de alta renda não se apresentou viável.

6.6.4 - Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais

O parcelamento do solo urbano em Praia Grande é inteiramente disciplinado pela Lei Complementar nº 615/2011. A começar pela própria definição das situações que configuram parcelamento no Município, assim definidas pelo art. 53:

• Loteamento;

• Desmembramento;

• Desdobro;

• Unificação;

42 Ver PRAIA GRANDE (Município), Síntese de estudos técnicos do Plano Diretor . Disponível em < http://www.praiagrande.sp.gov.br/planodiretor/ >, consultado em 10/08/2012.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

• Remanejamento.

Tal leitura permitiria a princípio concluir que exigências urbanísticas do parcelamento do solo aplicar-se-iam a todas as suas modalidades. Mas o art. 55, parágrafos 1º e 2º estabelece a obrigatoriedade de doação de áreas para uso público somente para o loteamento e desmembramento. O parágrafo 3º estende a exigência urbanística relativa aos lotes mínimos a todas as modalidades de parcelamento do solo.

Tais exigências são estabelecidas pelo Quadro 6, conforme caput do art. 55. Dele trazem-se à colação os percentuais de doação de áreas públicas, definidas por zonas, aplicáveis somente aos loteamentos e desmembramentos:

• ZR, ZPR1, ZPR2,ZPR3, ZM, ZC1, ZC2, ZC3, ZUD 2: 35% da área da gleba ou lote, sendo obrigatórios 10% para áreas livres de uso público e 5% para equipamentos urbanos ou comunitários;

• ZT, ZRE: 40% da área da gleba ou lote, sendo, nas ZT, 20% para áreas livres e 5% para equipamentos urbanos ou comentários; e nas ZRE, 15% para áreas livres e 5% para equipamentos;

• ZUD1: 50% da área da gleba ou lote, sendo 10% para áreas livres e 5% para equipamentos urbanos ou comunitários.

• Nas zonas especiais os parâmetros são especificados por legislação própria e nas CC1 e CC2, são aqueles aplicáveis à zona adjacente.

As dimensões mínimas e localização das áreas a serem doadas para o uso público são discriminadas nos arts. 66, 67 e 68.

Os lotes mínimos, aplicáveis a todas as modalidades classificadas como parcelamento, apresentam maior variação entre as zonas:

• ZT: 10.000m2;

• ZRE: 1.000m2;

• ZR, ZPR2, ZPR3, ZM, ZC1 e ZUD2 : 250m2

• ZPR1: 125m2;

• ZC2 e ZC3: 5.000m2;

• ZUD1 2.000m2.

Além disso, somente a ZR, ZPR1, ZPR2, ZPR3, ZM, ZC1 apresenta limitações contidas no Quadro 6 à dimensão máxima das quadras: 300m. Nas demais zonas não é exigido maior entrelaçamento com o sistema viário e demais logradouros. Também não há(?) limites máximos de tamanhos de lotes, ainda que constituam-se em condomínios.

Os condomínios podem ser implantados em glebas (não sujeitas a prévio parcelamento do solo, portanto), desde que localizados em ZRE, ZC2, ZPR1, ZPR2 e ZPR3, correspondendo ao uso R3, de médio ou baixo impacto, conforme categorização disposta no art. 8º.

São feitas exigências a essa modalidade de ocupação do imóvel, destacando-se as seguintes, discriminadas pelo artigo 52:

• 30% da área deve ser livre e destinada ao uso comum dos condôminos (propriedade privada);

• o sistema de circulação, ainda que exigida sua articulação com as vias oficiais, constitui-se propriedade particular;

• a AIT corresponde a 100m2 por unidade residencial, sendo elevada a 800m2 para empreendimentos implantados na ZC2,

• o coeficiente de aproveitamento permitido é 1,6;

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• a taxa de ocupação permitida é de 20% do terreno.

Somente casos de condomínios R3 que impliquem número superior a 100 unidades requerem parecer favorável da Comissão de Ordenamento e Ocupação do Solo, sendo obrigatória a doação de 5% de área da gleba para a implantação de área pública, de uso institucional, fora do perímetro restrito a acesso do condomínio.

Destacam-se ainda as disposições da Lei Complementar 309/2001, que também disciplina a implantação de conjuntos residenciais com mais de 20 unidades, na ZPR1, não caracterizadas como R3 (condomínios implantados em glebas). De acordo com essa norma, a densidade de ocupação limita-se a 100 unidades habitacionais por hectare (art. 3º), podendo, mediante contraprestação pecuniária ou doação de áreas ao Município (art. 14 e anexo da lei), chegar a 277 habitações por hectare.

A lei também previu a hipótese de implantação de vilas, implantadas em lotes derivados de prévio parcelamento do solo e caracterizadas pelo art. 4º, parágrafo 1º como conjunto de habitações dispostas de maneira a formar ruas internas, sem caráter de logradouro público.

Ainda sobre a lei de 2001, são estabelecidos parâmetros edilícios, impossibilidade de mais 10 casas geminadas, dimensionamento dos compartimentos das edificações, largura de vias particulares etc.

Registra-se também não haver qualquer disposição legal que limite a área máxima de empreendimentos condominiais ou lhes imponha seccionamento pelo sistema viário oficial, concluindo-se disso a possibilidade de grandes áreas sem qualquer possibilidade de acesso ou passagem de redes públicas de infraestrutura, salvo mediante desapropriação ou constituição de servidões administrativas.

6.7. Bens da união no município

O conhecimento da estrutura fundiária urbana identificando os imóveis de propriedade pública, especialmente imóveis vazios e ociosos, são uma importante variável de análise e proposição de ocupação do território. O reconhecimento e disponibilização dos imóveis sem uso no cumprimento da função social, sejam eles públicos ou privados, contribuem para a execução de projetos propostos nos municípios, de forma a constituir um banco de terras para a implantação de equipamentos, infraestrutura ou outros usos de seu interesse, como a moradia de interesse social ou uso institucional.

No caso dos imóveis públicos, ocupados por entidades ou empresas através de concessão ou outro instrumento (municipal, estadual ou federal) é fundamental identificar aqueles que muitas vezes não atendem ao interesse público. Nestes casos, a revisão das concessões pode contribuir para que o poder público destine estes imóveis para finalidades articuladas aos objetivos de planos e projetos existentes.

No caso do litoral paulista, as praias e seus acrescidos estão entre os bens públicos de uso comum do povo sob o domínio da União (art. 20, IV e VII, da CF/88). Além da questão da titularidade, estas áreas são recursos naturais integrantes da Zona Costeira. Nesse sentido, qualquer intervenção em área de praia deve ser precedida de autorização da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão da União responsável pela gestão dos bens públicos nacionais.

A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) estabeleceu procedimentos específicos de acordo com o tipo de imóvel e destinação. O município de Praia Grande possui apenas 7 imóveis da União de Uso Especial, ou seja, destinados a uso de interesse público sendo a maior parte sob responsabilidade da COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR, ver tabela ___

Tabela. Imóveis da União de Uso Especial – Praia Grande

No

Logradouro - SPIUnet

Número do Endereço - SPIUnet

RESPONSÁVEL PELO IMÓVEL

Data da Validade da Avaliação da Utilização

Área do Terreno Utilizado m2

1 MARECHAL 1 COMANDO DA 2 21/10/2006 576.146,00

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

MALLET REGIAO MILITAR

2 MARECHAL MALLET

1 COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR

21/10/2006 295.200,00

3 MARECHAL MALLET

1 COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR

21/10/2006 725.701,00

4

MARECHAL MALLET - FORTALEZA DE ITAIPU SITIO ITAQUITANDUVA

1 COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR

21/10/2006 193.520,00

5 MORRO DO XIXOVA

S/N COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR

21/10/2006 891.501,50

6

PRESIDENTE CASTELO BRANCO, EM FRENTE A RUA 1º DE JANEIRO

S/N

GERENCIA REGIONAL DE PATRIMONIO DA UNIAO/SP

22/11/2003 8.097,00

7 COSTA E SILVA 794

DELEGACIA DA REC.FEDERAL EM SANTOS/SP

01/01/2013 218,00

TOTAL 2.690.383,50

Fonte: SPU/SP – ofício GP-SPU/SP 462/12. Elaboração Instituto Polis

Além disso, a SPU vem realizando procedimento de atualização de seu cadastro e regularização das concessões das áreas de marinha. As áreas de marinha consistem na faixa de terra existente entre a preamar-média de 1.831 e uma extensão de 33 metros medidos a partir desse alinhamento inicial, nas áreas sujeitas a maré.

O cadastro e controle destas áreas é um importante instrumento de gestão do território. O Governo Federal vem incentivando um processo de construção de gestão articuladas das áreas costeiras através da construção de um plano para a orla marítima, o Projeto Orla. O projeto visa também estabelecer critérios para destinação de usos de bens da União, visando o uso adequado de áreas públicas e de recursos naturais protegidos compatibilizando as políticas ambiental e patrimonial. Embora a competência legal para o gerenciamento destas áreas encontre-se majoritariamente na órbita do Governo Federal, o Projeto Orla concebe o nível municipal, apoiado pelo estado, como agente executivo da gestão compartilhada da orla. Embora seja uma iniciativa interessante de gestão articulada destas áreas o projeto orla não é lei e nem condiciona o recebimento de recursos. Desta forma o projeto ainda foi pouco desenvolvido no litoral de São Paulo. No caso do município de Praia Grande, o plano para a orla marítima ainda não foi desenvolvido.

Além disso, o processo de cadastro e regularização das áreas de marinha ainda está em andamento. De acordo com cadastro da SPU/SP, já foram identificados 1.929 imóveis em Praia Grande, somando 3.349.671m².

Tabela. Imóveis de domínio da união – terrenos de marinha

MUNICÍPIOS Imóveis da União Soma de Área do

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Terreno da União (m²)

BERTIOGA 18 342.790

CARAGUATATUBA 914 3.482.349

CUBATAO 344 11.915.747

GUARUJA 5.072 16.774.400

ILHABELA 147 1.222.982

ITANHAEM 223 159.485

MONGAGUA 109 107.229

PERUIBE 20 27.247.677

PRAIA GRANDE 1.929 3.349.671

SANTOS 16.664 79.740.469

SAO SEBASTIAO 847 3.979.057

SAO VICENTE 8.783 15.706.910

UBATUBA 889 3.037.654

Total Geral 35.959 167.066.420

Fonte: SPU/SP – ofício GP-SPU/SP 462/12 Elaboração Instituto Polis

6.9 - Patrimônio Histórico Cultural

Diversos municípios do litoral paulista possuem em seu território parte da memória da história de formação do país, guardada nos seus espaços públicos e nos seus imóveis edificados. As especificidades dessas áreas, a historicidade de suas construções, seu caráter didático e sua vocação para cultura, lazer e turismo, são importantes fatores que devem ser considerados para a promoção de um desenvolvimento sustentável.

A previsão de novos usos e a realização de novos projetos de reabilitação ou requalificação em áreas de interesse de preservação deve passar, necessariamente, pela valorização do patrimônio cultural, tendo como objetivo principal o aproveitamento de seu potencial para alavancar processos de desenvolvimento social e econômico. No caso de imóveis de interesse cultural, o cumprimento da função social se dá na medida em que o imóvel consiga preservar os valores culturais que foram associados a ele e à área onde ele se insere.

Para preservar estes bens é preciso identificá-los como, por exemplo, através da elaboração de inventários. “O inventário é um instrumento de proteção dos imóveis de interesse cultural, assim como o tombamento. Juntos eles permitem a preservação dos bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. O tombamento é um instrumento de proteção que pode ser realizado pelo município, estados ou governo federal.” (BRASIL. CIDADES/IPHAN, 201143)

No município de Praia Grande, a secretaria de Cultura e Turismo é o órgão responsável pela “definição da política cultural que envolva o conjunto Iniciativas visando promover a produção, a distribuição, o uso da cultura, a preservação do patrimônio histórico e o ordenamento burocrático” (Lei no 4742/2010). A estrutura conta ainda com o Conselho Municipal de Turismo e Cultura, que auxilia a secretaria na gestão da cultura no município. O conselho é composto por 14 conselheiros, com representantes da municipalidade e da sociedade civil (lei no 1112/2011).

43 BRASIL. Ministério das Cidades; Iphan. IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES EM ÁREAS URBANAS CENTRAIS E CIDADES HISTÓRICAS - MANUAL DE ORIENTAÇÃO. Brasília, 2011.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

O município de Praia Grande possui somente imóveis e lugares considerados de interesse histórico e cultural tombados pelo município. Na cidade foram identificados monumentos representativos da memória da cidade, considerados patrimônio cultural de expressão local, protegidos pelo Plano Diretor (Lei 473/2006) coforme tabela e mapa abaixo.

Tabela – Monumento de interesse cultural – Praia Grande

No bem tombado Tombamento

1 Portal da entrada da cidade Lei complementar 473/2006

2 Conjunto praça e capela Nossa Senhora Guia incluindo a área de lazer Ezio dall´acqua

Lei complementar 473/2006

3 Rotatória parceria Lei complementar 473/2006

4 Conjunto das praças a tribuna e emancipadores Lei complementar 473/2006

5 Fortaleza de Itaipu Lei complementar 473/2006

6 Praça 19 de Janeiro Lei complementar 473/2006

7 Conjunto Ocian, incluindo a estátua de Netuno Lei complementar 473/2006

8 Pórtico aviação Lei complementar 473/2006

9 A Cidade da Criança Lei complementar 473/2007

10 A Capela Santa Mathilde Lei complementar 473/2008

11 A Igreja São Pedro Apóstolo Lei complementar 473/2009

12 A Igreja São João Batista Lei complementar 473/2010

13 As Estações Ferroviárias Lei complementar 473/2011

14 A Estátua de Iemanjá Lei complementar 473/2012

15 O Calçadão e a Ciclovia da praia Lei complementar 473/2013

Elaboração Instituto Polis

Figura. Mapa de monumentos culturais – Praia Grande

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Elaboração Instituto Polis

6.10. Regulação dos Bens da União nas Legislações Municipais e Federais

6.10.1. Regime Jurídico dos Bens Públicos Municipais

Os bens públicos do Município da Praia Grande são regulamentados pela Lei Orgânica do Município (LOM), no Capítulo VI, intitulado “Dos Bens Municipais”. Neste capítulo encontram-se os principais dispositivos relativos à regulamentação do uso e gestão de bens públicos, seus desdobramentos de competências e hipóteses de exceções às regras dispostas.

A Lei Complementar n° 473 de 2006, que aprova a Revisão do Plano Diretor da Estância Balneária de Praia Grande e a Lei Complementar n° 615 de 2011, que Disciplina o ordenamento do uso, da ocupação e do parcelamento do solo de Praia grande, também tratam dos próprios municipais, mesmo que de forma esparsa. Principalmente no que tange aos bens destinados ao uso comum oriundos do parcelamento do solo do município.

Define a LOM que os bens do município são “todas as coisas móveis e imóveis, direitos e ações que, a qualquer título, pertençam ao Município” (artigo 108) além das terras devolutas situadas em seu território, segundo regras dispostas no artigo 109. A inclusão das terras devolutas no rol de bens que integram os patrimônios dos municípios é dispositivo legal encontrado com frequência nas leis orgânicas. Contudo, cumpre indicar que a Constituição Federal não prevê terras devolutas que pertençam a estes entes federados, mas tão somente à União (artigo 20, inciso II, indica como pertencentes à União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei) e aos Estados (artigo 26, IV da Constituição Federal, define como pertencentes aos Estados as terras devolutas não compreendidas entre as da União), cabendo a estes trespassarem em suas Constituições as terras devolutas sob seu domínio às municipalidades.

No que tange à competência, a administração dos bens municipais é do Prefeito, com exceção para competência da Câmara naqueles que forem utilizados em seus serviços (artigo 110). A obrigatoriedade do cadastro dos bens públicos municipais também é determinada pela LOM (parágrafo único do artigo 111).

À Câmara Municipal cabe autorizar o uso de bens imóveis, mediante concessão administrativa ou de direito real, sua alienação e aquisição (artigo 15, incisos VII, VIII e IX da LOM).

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

6.10.2 Uso Privativo dos Bens Municipais

No caso da Praia Grande, as regras para outorga de uso privativo dos seus bens por meio dos instrumentos da concessão, servidão, permissão e autorização de uso estão previstos nos artigo 114 da LOM.

A concessão administrativa de bens de tipo especial e dominicais deverá ser objeto de contrato administrativo e licitação prévia (concorrência), esta quando o uso se destinar à concessionária de serviço público, a entidade assistencial ou quando houver interesse público relevante, devidamente justificado (artigo 114, § 1º).

Já a concessão de bens de uso comum somente poderá ser outorgada para finalidades “escolares, de assistência social ou turística, mediante prévia autorização legal (artigo 118, § 2º).

A Concessão de Direito Real de Uso - CDRU deverá ser utilizada preferencialmente à venda ou doação de seus bens imóveis, mediante prévia autorização legislativa e concorrência pública, que será dispensada quando o uso se destinar à concessionária de serviço público, entidade assistencial ou quando houver relevante interesse público (artigo 112, § 1º).

Verifica-se, portanto, que a legislação municipal observa os princípios dispostos na legislação federal atinente ao tema (Lei n°. 8.987/9544), que buscam conferir ao instrumento da concessão maior estabilidade do que os demais instrumentos de outorga de uso privativo de bem público (permissão, autorização e cessão) sem chegar a aliená-los ao particular.

É notório que as concessões deverão ser, em regra, precedidas de licitação em razão da regra geral constitucional do art. 37, XXI. Há que se ponderar, contudo, que podem haver situações em que a concessão ocorra sem prévia licitação, desde que caibam nas hipóteses de dispensa expressamente prevista em lei ou quando se verifique situação de inexigibilidade.

Uma dessas hipóteses, à qual a LOM não faz referência específica, é a dispensa de licitação quando da outorga de Concessão de Direito Real de Uso - CDRU para fins específicos de regularização fundiária prevista na legislação federal (artigo 7° do Decreto-Lei n° 271/67 e artigo 17, inciso I, alínea “f” da Lei 8.666 de 1993, ambas com redação dada pela Lei n°. 11.481/07). Contudo, a previsão genérica contida no § 1º do artigo 115, pode assegurar sua utilização.

Já o Plano Diretor (Lei Complementar n° 473 de 2006), faz menção à Concessão de Direito Real de Uso-CDRU e a concessão de Uso Especial para Fins de Moradia-CUEM, como institutos jurídicos e políticos de apoio à implementação do Plano Diretor e dos planos previstos.

Logo, instrumentos como a outorga de CDRU para fins específicos de regularização fundiária, que pode ser onerosa ou gratuita, conforme previsão legal (artigo 7° do Decreto-Lei n° 271/67 e artigo 17, inciso I, alínea “f” da Lei 8.666 de 1993, ambas com redação dada pela Lei n°. 11.481/07), a inscrição da ocupação e aforamento (regulamentados pela Lei Federal 9.636 de 2007, com redação dada pela Lei 11.481 de 2007), estão compreendidos por este dispositivo.

Com relação à competência, como já foi observado, a LOM determina a necessidade de autorização da Câmara Municipal, via lei específica, para a outorga da concessão de uso (artigo 15, incisos VII da LOM). Tal exigência é corroborada pela maior parte da doutrina pátria. Não é de se estranhar, portanto, ser alta a incidência de tal dispositivo em Constituições Estaduais e Leis Orgânicas de Municípios. No entanto, cumpre indicar que parte da doutrina tem entendimento distinto deste. A tese se apoia no fato da Constituição

44 Apesar desta norma ser voltada a reger a concessão de serviço público, nas palavras de Floriano de Azevedo Marques Neto, “ela contem linhas gerais relativas ao instituto da concessão, aplicando-se subsidiariamente aos contratos de concessão de uso” (2009, p. 351).

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somente indicar a necessidade de prévia autorização legislativa para a outorga de concessão de uso de bem público na hipótese de concessão ou alienação de terras públicas em área superior a dois mil e quinhentos hectares (cf. Artigo 188 § 1º e artigo 49, XVII, CF). Por ser taxativo, o constituinte teria limitado a ingerência do Legislativo na gestão dos bens públicos somente a esta hipótese, não se estendendo a qualquer outro tipo de bens (MARQUES NETO, 2009, p. 357).

Importante ressaltar a presença na legislação municipal (Plano Diretor) da concessão especial de uso para fins de moradia (CUEM), modalidade outorga de uso gratuita de bem público, prevista no Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) e disciplinada pela Medida Provisória n° 2.220/01, que dispensa a realização de procedimento licitatório, tendo em vista o interesse social na realização de regularização urbanística e fundiária.

Outros dois instrumentos que conferem uso privativo aos bens públicos são a autorização e a permissão de uso de bem público. A permissão de uso de bem público na Praia Grande é regulamentada pelo artigo 114, nos §3º, da LOM. Nele é ressaltado o caráter precário do instituto e que deverá ser outorgado por decreto. Sem necessidade, portanto, de prévia autorização legislativa. Para além do exposto, não há mais nenhum dispositivo na LOM que trate da permissão, logo, supõem-se que desdobramentos como prazo, condições de uso, fatos que ensejem penalidades, dentre outros, estarão presentes no decreto específico que autorizará o ato administrativo.

O último instrumento de outorga a ser analisado é o da autorização de uso de bem público. Regulamentado pelo artigo 114, §4º, a autorização poderá incidir sobre qualquer bem público, assim como a permissão, por portaria, para atividades ou usos específicos e transitórios, pelo prazo máximo de 60 dias. A restrição de no máximo 60 dias para a autorização de uso de bem público, deve ser relativizada tendo em vista outras espécies deste instrumento. Um bom exemplo é a prevista na Medida Provisória n° 2.220/01, que dispõe sobre a CUEM. Prevê a MP que caberá autorização de uso gratuita de bem público “àquele que, até 30 de junho de 2001, possui como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para fins comerciais” (art. 9°). Trata-se de uma derivação, para fins comerciais, da CUEM tratada pela referida MP e que busca regularizar a situação de precariedade fundiária existente no território brasileiro. Logo, não caberia neste tipo de autorização prazo tão exíguo como o determinado na LOM de Praia Grande.

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

6.10.3 Alienação ou Aquisição de Bens Públicos

A Lei de Licitações estabelece que os imóveis públicos somente podem ser alienados com autorização legislativa e, como regra geral, por meio de licitação, na modalidade concorrência, que poderá ser dispensada no caso de incorrer nas hipóteses especificadas na referida norma (art. 17, I, Lei nº 8.666/93).

A alienação e aquisição dos bens públicos do Município da Praia Grande estão subordinados à existência de interesse público devidamente justificado e a regras específicas de acordo com o tipo de bem (móvel e imóveis) e modalidade de alienação (alienação simples, doação, permuta), em consonância com a legislação federal (art. 23, § 3°, da Lei 8.666/93).

Quando imóveis, prevê a LOM a necessidade de autorização legislativa e concorrência pública (art. 112, inciso I), conforme determina a Lei de Licitações (Lei 8.666/93), com exceção para os casos de doação, que deve constar obrigatoriamente no contrato os encargos do donatário, o prazo de seu cumprimento e a cláusula de retrocessão, sob pena de nulidade do ato e permuta (art. 112, inciso I, alínea “a” e “b”).

Quando móveis também dependerá de licitação prévia, que será dispensada quando se der para fins de interesse social, no caso de permuta e ações, que serão vendidas em bolsas, conforme legislação específica (artigo 112, inciso II, alíneas “a”, “b” e “c”).

A hipótese da dispensa de licitação trazida pela LOM deverá se pautar na previsão da Lei de Licitações, que indica a dispensa de licitação para alienação de imóveis públicos quantos estes estiverem ocupados por pessoas carentes, desde que vinculada a políticas públicas consistentes, sob autorização legislativa, avaliação prévia e indiscutível demonstração de interesse social (art. 17, I, f, da Lei Federal n. 8.666/93, com redação dada pela Lei n° 11.481 de 2007),

Já a aquisição de bem imóvel ou móvel, inclusive mediante desapropriação ou por necessidade, utilidade pública ou interesse social, está prevista no rol de competências privativas do Município (art. 10 inciso VI da LOM). A aquisição de bens imóveis compra ou permuta, está sujeita à existência de interesse público e prévia avaliação, além de autorização legislativa, salvo quando se tratar de doação sem encargos, conforme previsão do artigo 14, inciso VIII c/c artigo 116 da LOM.

Cumpre indicar que a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) estabelece que as permutas de bens móveis públicos só serão permitidas quando se derem a favor de outro órgão ou entidade da administração pública de qualquer grau federativo (inciso II, alínea “b” do artigo 17) e a de bens imóveis somente quando este for destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia (artigo 17, inciso I, alínea “c”).

A LOM também proíbe a alienação, doação ou concessão de uso de bens públicos municipais de qualquer fração dos parques, praças, jardins ou largos públicos, salvos pequenos espaços destinados ao exercício do comércio eventual (artigo 117).

Por fim, o artigo 20 da LOM, indica que a Câmara Municipal deveria ter realizado em dois anos a revisão de todas as doações, vendas e concessões de áreas públicas, realizadas no período de 1° de janeiro de 1964 a 31 de dezembro de 1988. Não obtivemos informações se tal revisão foi de fato realizada ou não. Mas trata-se de uma importante ação fiscalizatória a fim de verificar a legalidade e se o uso que vem sendo feito dos bens públicos do município continua a atender o interesse público.

Sendo assim, de maneira geral, no que diz respeito à alienação e concessões de uso privativo de bens públicos que integram seu patrimônio, verifica-se o cumprimento da legislação municipal da Praia Grande com o disposto na legislação federal.

6.10.4. Bens Públicos Municipais e os Loteamentos e Condomínios

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O tema dos loteamentos e condomínios da Praia Grande é tratado no item “Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais” deste relatório. Aqui serão abordadas tão somente as diretrizes de áreas a serem doadas ao poder público quando da realização destes empreendimentos.

A regulamentação dos loteamentos e condomínios está presente na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Praia Grande (Lei Complementar n° 615 de 2011), no Capítulo VIII – Das Normas para o Parcelamento do Solo.

Nele está presente o “Quadro 6 – Índices Normativos para o Parcelamento”, do artigo 56, no qual são definidas diferentes porcentagens da área total do terreno destinado à reserva de áreas públicas, que vão do máximo de 50% para as ZUD1 até o mínimo de 35% definidos para diversas zonas (maioria das residências, comerciais e mistas).

Cumpre indicar que diferentemente da maioria dos municípios analisados ao longo deste diagnóstico, Praia Grande não define única e exclusivamente a porcentagem de 35% da área total dos loteamentos para fins públicos. Tal regra, oriunda da Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano (Lei 6.766/79), deixou de vigorar em 1999, ficando a cargo dos municípios estabelecer a porcentagem mínima de áreas a serem doadas quando realizado o parcelamento do solo.

Atualmente, a Lei 6.766/79 dispõe que a definição dos índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo do território do município são de sua responsabilidade e deverão ser proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem os projetos de parcelamento do solo (§ 1º, do artigo 4º da Lei 6.766/79, com redação dada pela Lei 9.785/99). Exatamente o procedimento constatado na LOM de Praia Grande.

Também é previsto na LUOS que os condomínios horizontais devem reservar áreas de uso comum, descobertas e com tratamento paisagístico equivalentes a, no mínimo, 30% do total da gleba, sendo 20% destinadas à preservação permanente, nos locais indicados pela Prefeitura (artigo 52, inciso V). Cumpre indicar que em todos os projetos de parcelamento do solo a definição da localização preferencial das áreas públicas a seres reservadas são de competência da Prefeitura (artigo 81, inciso III)

6.10.6. Bens federais no Município

Do ponto de vista jurídico, a localização do município em área de Zona Costeira eleva seu território ao status de “patrimônio nacional”, previsto § 4° do artigo 225 da Constituição Federal. Na prática determina um território com significativa concentração de bens públicos sob domínio da União (praias, mar territorial, terrenos de marinha e acrescidos, etc.), e que possuem um regime jurídico diverso das espécies de bens públicos sob domínio exclusivo do município (praças, sistema viário, edifícios públicos, etc.).

Ainda em seu território, Praia Grande possui áreas de Mata Atlântica e da Serra do Mar. Sendo assim, não é de se surpreender a existência de conflitos na regulação, gestão e uso destes bens entre os entes federados.

Daí decorre a necessidade de cooperação entre entes a fim de realizar a gestão compartilhada destes bens. Evitando assim a invasão de competência, o uso ou não uso com consequências danosas para um dos entes ou mesmo as intervenções judiciais, que acabam por dificultar ou mesmo impedir a gestão e o uso desses bens que ocupam extenso território dos municípios litorâneos e por isso tem papel fundamental no seu desenvolvimento.

Sob esta perspectiva é que devemos analisar a legislação da Praia Grande que disciplina o uso e ocupação de bens de domínio de outros entes federados, a fim de ponderar sobre sua legalidade e consonância diante da esparsa legislação federal e estadual que trata do tema.

As praias, terrenos de marinha e seus acrescidos estão entre os bens públicos de uso comum do povo sob o domínio da União (artigo 20, IV e VII da CF). Além da questão da titularidade, tais biomas são recursos naturais integrantes da Zona Costeira (artigo 225, § 4º da CF) tratado acima. Nesse sentido, qualquer intervenção em área de praia deve ser precedida de autorização da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão da União responsável pela gestão dos bens públicos nacionais. Logo, não cabe exclusivamente ao município dispor sobre a gestão e o uso deste bem.

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Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6

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BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013

A Lei Orgânica de Praia Grande também indica o caráter de usufruto comum das praias e seus jardins ao considerá-los patrimônios da coletividade (artigo 14, das Disposições Gerais). Já a gestão compartilhada deste tipo de bens é referida de forma genérica ao indicar a competência da Câmara para tratar da cooperação com a União e o Estado, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar, atendidas as normas fixadas em lei complementar federal (artigo 15).

Há dispositivo que dispõe sobre a ocupação de áreas sob domínio da União, vedando a concessão de licenças para funcionamento de barracas e quiosques nas orlas da praia a pessoas que não residam em Praia Grande (artigo 137).

Apesar de não fazer referência, qualquer ação da Prefeitura no sentido de destinar o uso ou ocupação do território abrangido pelas praias, terrenos de marinha e seus acrescidos, devem necessariamente ser objeto de apreciação por parte da SPU, sob pena de incorrer em grave ilegalidade, podendo causar prejuízos ao erário e à particulares.

Como já indicado no item “Bens da União no Município da Praia Grande”, a SPU vem realizando a atualização dos cadastros de imóveis pertencentes à União em todo o território nacional e a regularização das concessões das áreas de marinha.

No caso de Praia Grande, encontram-se cadastrados imóveis perante a Superintendência do Patrimônio da União- SPU, em São Paulo45 .

Em consequência de todo o quadro legal exposto advém a importância do Projeto Orla. Este instrumento materializado “Plano de Ação”, “Plano de Gestão Integrada” e, por meio de um Comitê Gestor, estabelece os critérios para o uso e ocupação dos bens da União em território Municipal. Mesmo não tendo força de lei, constitui-se num importante instrumento para a consecução da gestão compartilhada dos bens que integram o território da orla.

No entanto, segundo informações da Prefeitura, o Projeto Orla não foi realizado em Praia Grande.

45 Conforme informação prestada pelo Ofício GP SPU/SP nº 462, de 05 de abril de 2012.