diagnóstico integral e participativo em convivência e segurança cidadã

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa Diagnóstico Integral e Participativo em Convivência e Segurança Cidadã Empoderando vidas. Fortalecendo nações.

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã:Guias de Gestão Territorial Participativa

Diagnóstico Integral e Participativo em Convivência e Segurança Cidadã

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

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Guia do Diagnóstico Integral e Participativo em

Convivência e Segurança Cidadã

Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa

1ª Edição

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Programa das Nações UNidas Para o deseNvolvimeNto - Brasil

Jorge CHedieKRepresentante Residente

arNaUd PeralRepresentante Residente Adjunto

maristela marQUes BaioNiRepresentante Residente Assistente

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

Para elaboração dos textos desta Coletânea, optou-se pelo uso de linguagem não discriminatória em relação a gênero, raça, etnia ou classe social. Em muitos casos, foi necessário o uso genérico do masculino, a exemplo do termo “ator social”, ou de termos neutros como “crianças, adolescentes e jovens”. Mesmo nesses casos, entende-se que o genérico do masculino refere-se a homem e mulher e que os termos neutros reúnem as especificidades e direitos adquiridos de cada cidadão e cidadã aqui representados.

Coordenação | Érica Mássimo Machado – PNUD Brasil

equipe técnica | Alline Pedra, Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Cristiano Pereira da Silva, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi, Marialina Côgo Antolini, Paulo Ricardo de Souza e Paiva, Ricardo de Lacerda Ferreira e Rita de Cássia Lima Andrea

textos | Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi e Marialina Côgo Antolini

edição | Bruna Pegna Hercog e Marialina Côgo Antolini

Colaboradores | Claudia Ocelli, Daniel de Castro, Daniel Luz, Débora Sol, Eugenia Piza-Lopez, Fernanda dos Anjos, Gabriela Dutra, Gerardo Berthin, Hugo Acero, Jairo Matallana, João José Barbosa Sana, José Carlos Arruti Rey, Lina Salazar, Maristela Marques Baioni, Moema Freire, Nicolas Garrigue, Norma Peña

Projeto gráfico e editoração | Valentina Garcia

Publicado pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD).

© PNUD 2013Projeto Gráfico: Valentina GarciaPrimeira edição: dezembro de 2013Tiragem: 800 exemplaresImpressão: Estação Gráfica Ltda

Guia do diagnóstico integral e participativo em convivência e segurança cidadã. – Brasília : PNUD, 2013. 44 p. – (Coletânea convivência e segurança cidadã : guias de gestão territorial participativa).

Incl. bibl. ISBN: 978-85-88201-16-3

1. Segurança Cidadã 2. Direitos civis e políticos 3. Direitos humanos 4. Tolerância 5. Cultura de paz 6. Segurança humana 7. Participação social 8. Participação comunitária 9. Administração pública 10. Diagnóstico 11. Política de desenvolvimento 12. Desenvolvimento humano 13. Brasil 14. Guias I. PNUD

Impresso no Brasil

PREFÁCIO

A Redução da Vulnerabilidade e a Promoção da Segurança Cidadã formam um dos pilares da atuação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. São claras as evidências de que os altos índices de criminalidade e de insegurança nos países da América Latina e Caribe têm imposto entraves significativos para o pleno desenvolvimento econômico e social da região, mesmo face às recentes melhorias na governança e na qualidade de vida das populações mais vulneráveis. Neste sentido, o PNUD Brasil compartilha da prioridade brasileira de promover melhorias na segurança pública como caminho necessário ao que chamamos de desenvolvimento humano sustentável.

A contribuição a esta área vem da atuação de nossas equipes a partir da perspectiva conceitual da Convivência e Segurança Cidadã, que envolve a adoção de um enfoque integral, local e participativo no tratamento da segurança pública. Isto nos permitiu acumular, nos últimos anos, experiência corporativa relevante na área de Segurança, tanto em âmbito nacional quanto local, como resultado de várias atividades de prevenção do conflito, reforma institucional e construção de capacidades para a governabilidade democrática.

Por meio de práticas efetivas em gestão da Segurança Cidadã, o PNUD vem desenvolvendo um conjunto de metodologias, instrumentos e ferramentas que visam apoiar e fortalecer os municípios no âmbito das políticas de prevenção à violência. São instrumentos que recuperam experiências de sucesso da região

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sUmÁrio

aPreseNtaçÃo 6

o QUe É o diagNÓstiCo iNtegral 8 e PartiCiPativo de CoNviveNCia e segUraNça CidadÃ? 0

o diagnóstico integral: situacional e institucional 10

Por QUe elaBorar? 11

Realização de Diagnóstico Participativo 12 fortalece rede de organizações de Lauro de Freitas (BA)

Como elaBorar? 13

Firmando decisões e ações iniciais 15

elaborando um Plano de trabalho 16

A Participação do Ponto Focal é decisiva 21 na elaboração do Diagnóstico

Comitiva do Programa Conjunto visita Observatório 24 de Direitos Humanos e Segurança Cidadã de Vitória (ES)

Caráter participativo do Diagnóstico fortalece 40 laços em Contagem (MG)

reFerêNCias BiBliogrÁFiCas 41

em segurança cidadã e também colocam à disposição dos governos suas redes de especialistas certificados, com experiências concretas e exitosas em diversos países.

Um dos frutos desta experiência é esta Coletânea: Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa. As metodologias aqui apresentadas resultam do crescente compartilhamento de responsabilidades na prevenção e no enfrentamento da violência, do âmbito nacional ao local, revelando o quanto a participação das comunidades é fundamental para o sucesso de projetos e programas na área da segurança.

A Coletânea foi elaborada a partir da experiência de execução do Programa Conjunto Interagencial da Organização das Nações Unidas (ONU) Segurança com Cidadania: prevenindo a violência e fortalecendo a cidadania, com foco em crianças, adolescentes e jovens em condições vulneráveis nas comunidades brasileiras. Essa experiência de cooperação técnica foi desenvolvida entre os anos de 2010 e 2013, em três unidades territoriais das cidades brasileiras de Contagem (MG), Lauro de Freitas (BA) e Vitória (ES). A Coletânea apresenta não só as metodologias utilizadas, como também fatos e histórias marcantes, que ocorreram ao longo da implementação do Programa nos três municípios e que ilustram a riqueza e a diversidade de experiências bem-sucedidas e o impacto gerado nessas localidades.

Dessa forma, nosso objetivo é oferecer a governos, organizações, movimentos sociais, entre outros, materiais de referência para uma atuação local, integral e participativa na construção de uma cultura de prevenção à violência.

Desejamos uma excelente leitura a todas e todos bem como nossos votos de que este material encontre uso efetivo na promoção da Convivência e da Segurança Cidadã neste país.

Jorge ChediekCoordenador-Residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil e Representante-Residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil

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APRESENTAÇÃO

O Guia do Diagnóstico Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã faz parte da Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), composta por um encarte conceitual e sete Guias: Preparação, Curso de Convivência e Segurança Cidadã, Diagnóstico Integral e Participativo, Plano Integral e Participativo, Intercâmbio de Experiências, Monitoramento e Avaliação e Comunicação e Mobilização Social e o Jogo Fica Seguro, que convida - de forma lúdica e dinâmica - para a vivência de todas as etapas da implementação de um projeto de Convivência e Segurança Cidadã. O objetivo do PNUD é oferecer a governos, organizações e movimentos

sociais, entre outros, materiais de referência para a atuação local na construção de uma cultura de prevenção da violência.

Este Guia apresenta a descrição de todas as etapas que envolvem a realização de um Diagnóstico Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã. São apontados caminhos, estratégias e instrumentos para garantir que o território seja conhecido de forma ampla e representativa e que, desta forma, possa ser traçado um retrato dinâmico do espaço pesquisado, das pessoas e das instituições. Também são apresentadas nesta publicação sugestões para garantir o êxito no processo de realização do Diagnóstico, a partir das lições aprendidas com a prática.

Desenho sobre foto de ação do Programa Conjunto da ONU ”Segurança com Cidadania”

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atOr SOCIalUm determinado indivíduo é um ator social quando representa algo para a sociedade, encarna uma ideia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia. Uma classe social, uma categoria social ou um grupo podem ser atores sociais, assim como instituições: partidos políticos, jornais, igrejas etc. (SOUZA, 1991). Os atores sociais, são portanto, todos aqueles que tenham interesse na questão da Convivência e Segurança Cidadã. São, prioritariamente, aquelas que integram o território trabalhado, podendo se estender a todos que atuam com a temática. (Souza, 1991) e (RGCI, 2007)

O QUE É O DIAGNÓSTICO INTEGRAL E PARTICIPATIVO DE CONVIVÊNCIA E SEGURANÇA CIDADÃ?Conhecer os problemas e demandas de um território, suas causas, consequências e potencialidades locais auxiliam no processo de tomada de decisões. Esta análise permite que sejam elaboradas estratégias e planos para que os problemas identificados sejam superados de maneira oportuna, eficiente e articulada. Possibilita, inclusive, o fortalecimento das capacidades, das habilidades e dos conhecimentos relacionados à gestão de políticas públicas, a projetos e programas de Convivência e Segurança Cidadã nos quais é fundamental a articulação entre diferentes atores e níveis governamentais.

Apesar de a Constituição Federal estabelecer que a segurança pública é dever do Estado, sabe-se que as consequências da violência são sentidas de forma localizada. Sendo assim, para que o município estabeleça estratégias de intervenção e políticas públicas eficientes na área de segurança pública, é necessário compreender a dinâmica local da criminalidade e violência a partir de uma abordagem integral, pois

apenas entendendo quais fatores estão relacionados à violência é que se torna possível pensar em ações de prevenção a serem executadas pelas prefeituras para diminuir a sua ocorrência.

Uma ferramenta que possibilita conhecer as problemáticas de determinada região é o Diagnóstico Integral e Participativo, pois se propõe a traçar um retrato dinâmico do espaço pesquisado, das pessoas e das instituições. Busca descrever e explicar os problemas a partir do levantamento de informações diversas, tais como dados demográficos, qualitativos, mapeamentos e estatísticas. Tal levantamento permite realizar uma análise profunda de suas causas e conseqüências e compreender a dinâmica da violência e da criminalidade no território.

Nesse sentido, um Diagnóstico Integral e Participativo procura identificar principalmente os problemas que afetam a segurança dos cidadãos de uma determinada

A Constituição Federal, em seu art. 144, estabelece que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros

militares”.

região, a partir do enfoque integral de Convivência e Segurança Cidadã. Além disso, deve mapear as capacidades e potencialidades do território diagnosticado para superar os problemas identificados. Dessa forma, o Diagnóstico é uma ferramenta indispensável para o desenho do Plano Local Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã.

Sob o enfoque amplo e integral da abordagem da Convivência e a Segurança Cidadã, todos os atores sociais são convidados a participar

da elaboração do Diagnóstico. É um produto que integra os diversos saberes, pois é construído a partir do trabalho conjunto entre gestores públicos, integrantes das comunidades envolvidas, bem como de representantes da iniciativa privada. É um processo coletivo de conhecimento e aprendizagem mútuos, que cria condições para o exercício do controle social e da governabilidade democrática e promove a integração entre os diversos atores envolvidos no debate da segurança pública.

asPeCtos imPortaNtes do diagNÓstiCo iNtegral e PartiCiPativo de CoNvivêNCia e segUraNça CidadÃ:

Baseia-se na realidade local

Os dados são coletados em diversas fontes e obtidos de diferentes maneiras: estatísticas, pesquisas, grupos focais, entrevistas, mapeamentos, entre outros

Permite registrar tendências e determinar as características sociourbanas das áreas que apresentam maior concentração de crimes

Permite verificar futuros impactos de intervenções realizadas em áreas específicas

reflete a realidade sob a ótica de diversos atores sociais e instituições

requer uma atualização periódica e permanente

Leia mais sobre o conceito de Convivência e Segurança Cidadã no Guia de apresentação.

Leia mais no Guia do Plano Integral e Participativo.

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POR QUE ELABORAR?O Diagnóstico Integral e Participativo oferece subsídios para a organização dos esforços dos gestores e da sociedade civil para a prevenção ao crime. Pode, ainda, identificar boas práticas de prevenção para utilizá-las como exemplo, bem como conhecer as fragilidades e os pontos fortes das instituições envolvidas e, a partir disto, fortalecer suas capacidades, habilidades e seus conhecimentos para a prevenção e o controle da violência por meio de uma abordagem integral.

O próprio processo de elaboração do Diagnóstico é uma estratégia de fortalecimento do controle social, na medida em que a comunidade é estimulada a participar da

identificação das principais potencialidades e carências do seu território.

Muitas vezes, os problemas apontados pelo Diagnóstico são conhecidos, principalmente por quem mora na região, mas ainda não estão sistematizados num documento capaz de articular os dados colhidos com a abordagem da Convivência e Segurança Cidadã.

Em resumo, o Diagnóstico permite conhecer profundamente determinado território e, numa etapa seguinte, formular soluções mais próximas da realidade e dirigidas ao atendimento das causas da violência urbana, não só de suas manifestações.

Um diagNÓstiCo iNtegral serve Para:

Identificar os principais problemas de violência e criminalidade que afetam um município ou região e suas diferentes causas

Comprometer as pessoas a participarem do processo e se apropriarem dos resultados

Identificar temas e áreas prioritárias para intervenções

Conhecer as ações municipais, estaduais e federais executadas ou em execução que tenham relação direta com o tema da segurança

Analisar as relações sociais estabelecidas e o nível de coesão social da região

O DIAGNÓSTICO INTEGRAL: SITUACIONAL E INSTITUCIONALO Diagnóstico é chamado de Integral pois compreende não somente informações situacionais, como estatísticas criminais, mas também informações institucionais, ou seja, sobre as instituições que trabalham no território no âmbito da Convivência e Segurança Cidadã, apontando suas ações e potencialidades. Ele recorre a diversas fontes de informação que permitem tanto conhecer a situação atual do território, quanto a tendência apresentada nos últimos anos.

O Diagnóstico Situacional consiste no levantamento e análise de dados que quantifiquem e qualifiquem a criminalidade, sob o ponto de vista das ocorrências registradas, da descrição do perfil socioeconômico do espaço estudado e das vítimas, ou potenciais vítimas, das percepções e experiências dos residentes naquele espaço.

Já o Diagnóstico Institucional é o levantamento de informações junto a instituições envolvidas direta

ou indiretamente na temática da Convivência e Segurança Cidadã, com o objetivo de descrever e avaliar suas capacidades e potencialidades para gerir as estratégias que reduzem e previnem o crime e a violência. São informações sobre a gestão das autoridades locais e dos órgãos de segurança e justiça: pontos fortes, fragilidades e restrições das instituições (governamentais e não governamentais); instalações físicas; iniciativas; equipamentos de comunicação, mobilidade e trabalho; sistema de gestão da informação, monitoramento e acompanhamento de metas e indicadores.

Juntos, o Diagnóstico Institucional e o Situacional convertem-se numa ferramenta essencial para o trabalho do governo local, subsidiando os gestores locais na identificação das áreas de trabalho que requerem um atendimento prioritário e no fortalecimento de suas equipes.

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integração

Em Lauro de Freitas (BA), a realização dos grupos focais, entrevistas e outras metodologias previstas no processo de elaboração do Diagnóstico Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã em Itinga, no âmbito das ações do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, fortaleceu a integração entre diferentes atores e instituições atuantes no município. Segundo a socióloga do Gabinete de Gestão Integrada do Município (GGIM), Araci Oliveira, os grupos focais possibilitaram, por exemplo, que guardas municipais e jovens e adultos da Escola de Cadetes Mirins partilhassem informações e experiências sobre problemas ligados à falta de segurança, despreparo e desvalorização profissional de alguns

guardas, desrespeito com os jovens em situação de vulnerabilidade social, entre outros. Segundo Araci, a construção do Diagnóstico, também contribuiu para integrar as ações da Rede de Proteção à Mulher à Rede de Atendimento aos Usuários de Drogas e ao Projeto Consultório de Rua realizado pela Secretaria Municipal de Saúde, assim como a integração dos policiais militares atuantes na Base Comunitária de Itinga. “Esta integração foi iniciada com o Curso de Convivência e Segurança Cidadã, quando a intenção de formar uma rede integrada composta por diferentes instituições começou a ser colocada para frente. O Diagnóstico deu continuidade a este processo, chamando todos e todas para o trabalho conjunto”, destaca a socióloga.

Realização de Diagnóstico Participativo fortalece rede de organizações de Lauro de Freitas (BA)

COMO ELABORAR?O Diagnóstico Integral e Participativo tem como função identificar os principais problemas de violência e criminalidade que afetam um território, bem como identificar temas e áreas prioritárias de intervenção. Para garantir que ele funcione, de fato, como um instrumento participativo de gestão local para o enfrentamento

da violência e da criminalidade, antes de se iniciar sua elaboração é preciso firmar alguns acordos e tomar decisões que garantam o comprometimento do poder público e a participação da comunidade. Em seguida, sugere-se a elaboração de um plano de trabalho, a partir de seis passos principais.

Passo a Passo Para elaBorar Um PlaNo de traBalHo:

1. Apresentação do método do Diagnóstico no território

2. Coleta de informações (situacionais e institucionais)

3. Análise da situação e das capacidades institucionais

4. Pré-validação

5. validação

6. revisão, complementação e socialização do documento final do Diagnóstico

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PLANO DE TRABALHO DO DIAGNÓSTICO

COLETA DE INFORMAÇÕES

INSTITUCIONAL (GOV E NÃO GOV)

ENTREVISTA COM REpRESENTANTES DA GESTÃO

ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DOS EQUIPAMENTOS

ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA

LEVANTAMENTO DE POLÍTICAS, PROGRAMAS E PROJETOS

ANÁLISE DA SITUAÇÃO E DAS CAPACIDADES INSTITUCIONAIS

PRÉ-VALIDAÇÃO

COMITÊ LOCAL PODERES PÚBLICOS COMUNIDADE SETOR PRIVADO

VALIDAÇÃO

documento final do diaGnÓStico

SITUACIONAL

QUANTIDADE

BANCO DE DADOS

QUALIDADE

GRUPO FOCAL E VISITAS

APRESENTAÇÃO DO MÉTODO DO DIAGNÓSTICO NO TERRITÓRIO

O infográfico abaixo ilustra o caminho para a elaboração de um Diagnóstico Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã.

FIRMANDO DECISõES E AÇõES INICIAISPartindo da abordagem de Convivência e Segurança Cidadã e entendendo que a violência é um fenômeno complexo e multicausal, a estratégia para promover uma Cultura de Paz é de responsabilidade de todos: comunidade, polícia, poder público, justiça. Desta forma, a metodologia proposta aponta as seguintes pré-condições que devem ser estabelecidas para a elaboração do Diagnóstico:

Compromisso da gestão e vontade política | para um Diagnóstico preciso e objetivo, que verdadeiramente represente o território abordado, é indispensável o compromisso real e efetivo da gestão local. O compromisso não deve se limitar somente às ações formais, tais como a assinatura de acordos e documentos de projeto, mas incluir uma postura decisiva do chefe do executivo para trabalhar e liderar o tema e apoiar suas ações, mediante a indicação de uma equipe com capacidade de ação e decisão, que promova a integração, a articulação, e a intersetorialidade entre os atores envolvidos, tanto dos poderes executivo municipal, estadual e federal, quanto dos poderes judiciário e legislativo.

Participação da comunidade | a metodologia proposta prevê que o Diagnóstico seja a base para a construção e implementação de um Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã – que funcionará como espelho de soluções para os problemas identificados no Diagnóstico - o que confere a ele um importante valor do ponto de vista do comprometimento da comunidade. Dessa forma, o Diagnóstico deixa de ser apenas mais um estudo entre tantos realizados e passa a ter um potencial de intervenção e transformação da realidade, com a efetiva participação da sociedade civil durante todas as etapas, inclusive no processo de avaliação e monitoramento das ações.

Um diagnóstico participativo gera expectativas e demandas por parte da comunidade, com as quais a Equipe Técnica precisa lidar o tempo todo. Mas, por outro lado, facilita a mobilização da comunidade, amplia sua participação, seu engajamento e sua corresponsabilidade no processo e na discussão sobre violência, qualificando suas demandas e criando espaços nos quais comunidade e poder público constroem juntos a resolução dos problemas e a implementação das soluções.

Leia mais no Guia de avaliação e Monitoramento.

EQUIPE tÉCNICaProfissionais responsáveis por implementar as iniciativas no território. Tem uma função técnica e requer conhecimentos específicos na temática de Convivência e Segurança Cidadã, bem como experiência em mobilização comunitária, trabalho com grupos, mediação de conflitos e análise de dados e da realidade local.

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PrÉ-reQUisitos Para iNiCiar a elaBoraçÃo do diagNÓstiCo:

Etapa de preparação concluída, com Comitê Local, Ponto Focal e Equipe Técnica já instituídos

Apoio do executivo local no momento das visitas a instituições de Convivência e Segurança Cidadã e a locais pré-determinados, tais como os de maior incidência de delitos

Disponibilização dos números e estatísticas de violência e criminalidade

Facilitação do acesso a documentos de projetos, programas e políticas da área de Convivência e Segurança Cidadã

Mobilização dos atores do governo municipal, estadual e federal, órgãos de segurança e justiça, da comunidade, da sociedade civil organizada e do setor privado visando assegurar um diagnóstico participativo

Mapeamento de estudos, diagnósticos e trabalhos sobre segurança já existentes no território

Apresentação aos atores locais da abordagem integral da Convivência e Segurança Cidadã e de suas ferramentas de trabalho durante eventos como o Curso de Convivência e Segurança Cidadã

ELABORANDO UM PLANO DE TRABALhO

O Diagnóstico é dinâmico: o processo vai além do produto apenas, pois pode ser constantemente realimentado. Outros dados, principalmente qualitativos, sempre surgirão. No entanto, para desenvolvê-lo e, em seguida, passar para a etapa de construção do Plano Integral e Participativo a partir dos desafios constatados, é preciso definir um planejamento de ações que inclua o término formal desta etapa.

O plano de trabalho detalhado para a realização do Diagnóstico orientará a

atuação da Equipe Técnica. O tempo para a elaboração e validação do Diagnóstico pode variar, a depender das condições locais, da organização e da mobilização da comunidade, do processo de tomada de decisões e do tamanho do território, entre outros, variando, em média, de cinco a dez meses.

O plano de trabalho estabelece tanto atividades, responsáveis e prazos, quanto os mecanismos de comunicação entre os membros da equipe, para

COMItê GEStOr lOCal É a instância de acompanhamento e tomada de decisões relativas a um projeto na área de Convivência e Segurança Cidadã. É composto por representantes do poder público (municipal, estadual, federal e outros poderes), da comunidade, forças policias, da justiça e da iniciativa privada.

assegurar que a informação flua entre eles de maneira frequente e clara. O documento deve contemplar, ainda, reuniões, entrevistas, oficinas e grupos focais com os atores estratégicos para a elaboração do Diagnóstico.

É o Comitê Gestor Local que acompanha o progresso, os entraves e o cumprimento do plano de trabalho, sugerindo e apoiando, inclusive, possíveis modificações.

Passo 1: aPreseNtaçÃo do mÉtodo do diagNÓstiCo No territÓrio

Antes de a Equipe Técnica dar início aos trabalhos de campo, deve ser realizada uma exposição da metodologia para todos os envolvidos no processo, com o objetivo de mostrar a importância do Diagnóstico, apresentar a equipe que o realizará e a função de cada um, além de buscar o comprometimento dos atores locais. Esse primeiro contato com as pessoas que apoiarão o desenvolvimento do Diagnóstico no território é essencial, já que, neste momento, serão mostrados a importância e o papel que cada um deles desempenhará. É neste encontro que são lançadas as sementes para a formação de redes e relações de apoio que irão sustentar as ações. Trata-se do momento de ambientação, do contato inicial com as dinâmicas locais e do início da criação de laços de confiança.

É importante, também, que o trabalho de sensibilização de gestores

públicos municipais, estaduais e federais da área de Convivência e Segurança Cidadã que atuam na região pesquisada – coordenadores, diretores e técnicos dos equipamentos públicos como escolas, unidades de saúde, Centros de referência da Assistência Social (CrAS), policiais, entre outros, seja constante e ininterrupto.

reuniões e conversas de socialização da metodologia devem acontecer ao longo das diferentes etapas do Diagnóstico, já que proporcionam a sensibilização e o engajamento de um número maior de envolvidos. Esses encontros também se constituem em momentos de troca de informações e de esclarecimentos sobre a gestão local da área. Ao mesmo tempo, permitem à Equipe Técnica ter maior clareza sobre o funcionamento e as prioridades do poder público da região.

Leia mais no Guia do Curso.

Leia mais no Guia de Preparação.

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Passo 2: Coleta de iNFormações

Após a apresentação da metodologia, inicia-se a etapa de coleta das informações que vão alimentar tanto o Diagnóstico Situacional quanto o Diagnóstico Institucional. Tais informações podem ser divididas nas seguintes categorias:

Estatísticas oficiais de violência e criminalidade

Dados de percepção e sensação de insegurança, confiança nas instituições e vitimização cidadã

Políticas, projetos ou programas para prevenção e redução da violência e da criminalidade

Estrutura e recursos humanos, físicos, tecnológicos e financeiros para a gestão das políticas de Convivência e Segurança Cidadã

Os dois diagnósticos são elaborados no mesmo período de tempo e, algumas vezes, os dados de um alimentam o outro. O processo de coleta de informações pode, portanto, ser feito de maneira simultânea. Geralmente, as estatísticas de violências e criminalidade estão disponíveis e são publicadas pelos órgãos de segurança e justiça. Outros dados levam um tempo adicional para

serem coletados, como é o caso das pesquisas de vitimização e percepção de insegurança e dos grupos focais com os cidadãos e cidadãs, já que necessitam de uma organização dos grupos e os dados precisam ser obtidos e tabulados.

Em resumo, à medida que os dados forem sendo disponibilizados, podem ser coletados, agrupados e direcionados para a análise situacional ou a institucional.

Para a coleta de informações, propõe-se, uma combinação do método quantitativo com o qualitativo. O quantitativo consiste na coleta de informações que possam ser quantificadas, tais como estatísticas criminais, socioeconômicas e demográficas, além das sondagens de vitimização.

O método qualitativo, por sua vez, possibilita a obtenção de informações de sensações e percepções que normalmente não são reveladas a partir de estatísticas criminais. É um método que pode ser utilizado para se obter detalhes sobre um fenômeno, sobre sentimentos, emoções que são difíceis de coletar, por exemplo, a partir

de entrevistas diretas, com um roteiro fechado de perguntas e respostas (STrAUSS & COrBIN, 1998). Permite, também, descrever de maneira rica o mundo dos fatos, dada sua proximidade com o espaço da pesquisa (DENzIN & LINCOLN, 2005).

A combinação de dados quantitativos e qualitativos enriquece todos os tipos de pesquisas. No caso específico de um diagnóstico sobre violência, ela se faz ainda mais necessária por conta da histórica baixa notificação à polícia

de crimes e situações de violência, fazendo com que inúmeras ocorrências nem cheguem às estatísticas oficiais.

É importante salientar que nem todos os dados são confiáveis. Para serem utilizadas no Diagnóstico é necessário que as informações sejam, na medida do possível, de fontes públicas, abertas e regulares. Muitos dados divulgados na mídia, por exemplo, devem ser vistos com cautela. Para utilizar dados no Diagnóstico, sugere-se atenção aos seguintes aspectos:

Simplicidade Os dados e informações analisadas devem aparecer de maneira simples e acessível para quem quiser consultá-los.

Flexibilidade O dado deve ser capaz de se adaptar, a um custo mínimo, a fim de incorporar todas as mudanças que sejam necessárias para melhorar, continuamente, a informação fornecida por meio dele.

credibilidade Os dados costumam ser diferentes, dependendo da fonte consultada (mais ainda quando se trata de temas sensíveis ao público); portanto, as fontes devem ser preferencialmente primárias, isentas e confiáveis.

Utilidade A informação fornecida deve ser útil e deve contribuir para melhorar o conhecimento sobre o tema analisado.

atUalização A informação deve ser regularmente atualizada, com um custo econômico e de pessoal razoáveis (não muito alto).

periodicidade A informação não pode ser exclusivamente pontual; as fontes devem fornecer dados numa periodicidade regular, com formato e conteúdo semelhantes.

UniverSalidade Os dados selecionados devem compreender o universo analisado da maneira mais ampla possível.

É importante sempre registrar a fonte de informação coletada e o ano a que se refere.

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Leia mais sobre Missões técnicas no Guia de Intercâmbio de Experiências.

acesso aos dados

Abrir caminhos dentro dos diversos órgãos da administração para que as informações possam ser acessadas: esta é uma das principais funções do Ponto Focal, principalmente, quando se trata da etapa de elaboração do Diagnóstico Integral e Participativo. Exemplo disso aconteceu em Vitória (ES), um dos municípios de atuação do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, como destaca João José Barbosa Sana, Ponto Focal do município (período de 2010 a 2012) na época da construção do Diagnóstico da Região de São Pedro: “temos que

ter a capacidade da leitura dos dados, e, para isso, precisamos de parcerias para colher estas informações. Nós tivemos que quebrar algumas resistências aqui dentro da prefeitura para fazer transitar as informações de uma secretaria para outra - e acredito que conseguimos fazer isso razoavelmente bem”. Sana destaca, ainda, que este papel de “abrir os caminhos e quebrar resistências” também foi desempenhado pelos demais pontos focais dos municípios de Lauro de Freitas (BA) e Contagem (MG), na etapa de elaboração do Diagnóstico.

A Participação do Ponto Focal é decisiva na elaboração do Diagnóstico

Com quem contar para a coleta dos dados?

O Diagnóstico é uma construção coletiva e consensual. Desta forma, sua metodologia de coleta de informações, e até mesmo sua elaboração, inclui a participação de diversos atores sociais para além dos membros da Equipe Técnica, dentre os quais destacam-se:

Ponto Focal | Deverá facilitar o acesso às estatísticas; convocar atores para reuniões, oficinas e entrevistas, tanto para a elaboração como para a validação do Diagnóstico; entrar em contato com pessoas que atuem na área de Convivência e Segurança Cidadã cuja participação seja essencial.

Comitê Gestor Local | Deverá acompanhar o processo de elaboração do Diagnóstico, sugerindo, informando e facilitando a comunicação com instituições dos diferentes níveis de governo, organizações não governamentais, bem como com outros atores relevantes para a Convivência e Segurança Cidadã. Poderá, se necessário, colaborar no levantamento das informações, fornecendo dados e acompanhando a Equipe Técnica nas suas visitas de observação na região pesquisada, entre outras funções.

PONtO FOCalRepresentante do governo, designado pelo chefe do executivo, com acesso direto a ele e poder de decisão, que acompanha todo o processo de implementação da metodologia. O Ponto Focal se relaciona diretamente com a Equipe Técnica e com o Comitê Gestor Local durante o desenvolvimento do projeto.

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É importante envolver os jovens – principais vitimadores e vítimas da violência – e as mulheres, principal grupo afetado pela violência invisibilizada e silenciada – na realização do Diagnóstico Situacional, para que a situação dos grupos vulneráveis e excluídos do território seja contemplada.

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O que é informação para o Diagnóstico Situacional?

a) estatístiCas oFiCiais de CrimiNalidade e violêNCia

Em geral, as estatísticas de criminalidade e violência são coletadas, analisadas, consolidadas e publicadas anualmente por órgãos de segurança e justiça como ministérios, secretarias estaduais, institutos de pesquisas e autoridades judiciais e policiais. Centros de pesquisas, universidades e observatórios, entre outros órgãos, também analisam estatísticas e disseminam estudos sobre o assunto.

Além dos dados quantitativos de criminalidade, é também extremamente importante colher dados socioeconômicos e demográficos sobre a região em questão, já que estes podem ser indicadores das causas da criminalidade, ou variáveis de maior ou menor importância, quando se pretende explicar o fenômeno do crime. Isto porque esses dados ajudam a demonstrar os problemas socioeconômicos que podem influenciar

- mas não determinar - os níveis de criminalidade do local. Tais dados são também importantes, pois poderão ser utilizados no planejamento de projetos primários de prevenção da criminalidade.

Apesar de geralmente não terem as informações sistematizadas, as prefeituras, por meio de suas secretarias, são boas fontes de informação por disponibilizarem dados estatísticos, socioeconômicos e demográficos. Os dados das Secretarias Estaduais de Segurança são gerados a partir dos boletins de ocorrência e servem para dimensionar o volume de homicídios dolosos ou latrocínios em um período de tempo, trazendo informações genéricas e iniciais sobre essas ocorrências. Já os dados da Saúde, produzidos a partir das declarações de óbito, trazem informações que permitem traçar o perfil sociodemográfico das vítimas, bem como informações sobre os meios utilizados para matar. Como as fontes podem ser distintas, é importante realizar o cruzamento dos dados obtidos.

vale destacar que alguns municípios não têm acesso direto às estatísticas das secretarias estaduais e dos demais órgãos de Convivência e Segurança Cidadã. Nesse sentido, é necessário um empenho das autoridades locais, em especial do Ponto Focal, para estabelecer um diálogo que permita o acesso às informações dessas instituições. O Diagnóstico pode ser uma boa oportunidade para os governos construírem uma política de gestão da informação, que assegure a produção e a retroalimentação permanente dos dados entre os

distintos atores e para formalizar compromissos para o intercâmbio permanente das informações.

Centros de Pesquisa de Universidades também desenvolvem projetos e estudos de prevenção da violência e publicam informações úteis para o Diagnóstico. Há também institutos estaduais responsáveis pelo processamento de alguns números dos municípios, a exemplo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - Seade, em São Paulo.

SUgeStõeS de FonteS para coleta de dadoS SecUndárioStipoS de dadoS FonteS

Índice de Desenvolvimento Humano - IDH www.pnud.org.br ou www.atlasbrasil.org.br

Índice de Homicídios na adolescência (IHA) www.unicef.org/brazil

Fórum Brasileiro de Segurança Pública www.forumseguranca.org.br/

Mapa da violência dos municípios brasileiros www.institutosangari.org.br/ mapadaviolencia/

Sistema de informações sobre juventude e violência no Brasil www.seade.gov.br/projetos/fbsp

Ministério da Saúde www.tabnet.datasus.gov.br

Portal Comunidade Segura www.comunidadesegura.org

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE www.ibge.gov.br

Portal Sistema Nacional de Estatística de Segurança Pública e Justiça Criminal www.mj.gov.br

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B) iNFormações ForNeCidas Pelos grUPos FoCais

A essência do grupo focal consiste na interação entre os participantes e o pesquisador, que objetiva colher dados a partir da discussão focada em tópicos específicos e diretivos, num ambiente agradável e participativo. A metodologia de grupos focais se aplica, por exemplo, quando se deseja conhecer opinião, percepção, atitudes e experiência pessoal a respeito de temas relevantes para o Diagnóstico, ou quando se deseja investigar ou sanar alguma dúvida levantada a partir dos dados secundários ou, ainda, buscar informações que não aparecem

de forma completa nos dados, como, por exemplo, a violência contra mulheres ou crianças.

Os grupos podem ser montados com diferentes públicos: jovens, mulheres e demais minorias sociais, gestores públicos, agentes de segurança e lideranças comunitárias, entre outros. A composição dos grupos focais varia entre 6 a 12 participantes por grupo e eles devem apresentar características comuns: ter relação com o território e serem atores importantes para a Convivência e Segurança Cidadã.

intercâmbio

A troca de informações e as experiências de gerenciamento de dados podem romper barreiras territoriais durante a execução do Diagnóstico. Um exemplo aconteceu no Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, quando representantes dos municípios integrantes do Programa tiveram a oportunidade de conhecer a experiência do Observatório de Direitos Humanos e Segurança Cidadã de Vitória. O observatório foi apresentado durante a mostra Doadores de Experiências, uma modalidade de Intercâmbio de Conhecimentos em Convivência e Segurança Cidadã. Após o evento a comunidade da Região do Nacional e gestores de Contagem (MG) se mobilizaram para visitar in loco a experiência, pois perceberam a importância de ações articuladas e demonstraram o interesse do poder público em construir uma política forte

de gestão da informação. A ação foi viabilizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A partir da visita, os representantes do município puderam perceber a rotina do Observatório de Vitória, as atividades desenvolvidas e de que forma elas eram executadas, além de poderem entender os mecanismos usados para superarem as dificuldades na obtenção de dados, tais como a parceria firmada com a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Espírito Santo. Para James Márcio Rizo, jovem integrante do Comitê Gestor Local de Contagem, que participou da visita técnica ao Observatório, é de extrema importância o envolvimento da comunidade em ações desse tipo. “Ficou evidente que todas as experiências horizontais podem funcionar. Quem tem o maior nível de informação é a comunidade. É muito importante a participação da população”, diz o jovem.

Comitiva do Programa Conjunto visita Observatório de Direitos Humanos e Segurança Cidadã de Vitória (ES)

Elabore previamente um roteiro com as principais questões e os dados que se deseja conhecer, de acordo com o perfil do grupo, e utilize-o como norteador da conversa sem que ele funcione como fator limitador

Sugira que os representantes da comunidade no Comitê Local e os técnicos que atuam na região indiquem pessoas com o perfil adequado para participar dos grupos. É importante, no entanto, que a Equipe Técnica do Diagnóstico ratifique o convite, nãodeixando que ele seja feito apenas pelo representante comunitário ou pelo gestor local

Utilize técnicas projetivas, principalmente com os grupos compostos por pessoas da comunidade, para “quebrar o gelo” inicial e estimular, de forma lúdica, a troca de informações que muitas vezes não são ditas verbalmente. Assim, podem ser usadas dinâmicas, recortes, desenhos e associações de figuras a comportamentos, entre outros recursos

Ofereça, se possível, um lanche, o que pode contribuir para tornar o ambiente menos formal e mais agradável

vai realizar Um grUPo FoCal? algUmas diCas:

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Se possível, realize as visitas tanto durante o dia, quanto a noite, levando-se em conta as horas em que à maior parte dos delitos é cometida e onde há maior percepção de insegurança

Faça as visitas a pé, para que se consiga uma aproximação semelhante à experiência dos cidadãos

Fotografe, quando possível, os espaços e locais visitados

Registre o estado dos locais numa planilha, especificando o tipo de espaço, sua localização e suas características; quando a visita for realizada com algum membro da comunidade, registre, além das características físicas, a sensação que o espaço gera no indivíduo, de dia ou à noite, estando só ou acompanhado

Realize a visita com diferentes moradores, para alcançar distintos pontos de vista de um mesmo local, o que enriquece a análise

vai realizar Um PerCUrso Nos loCais de vitimizaçÃo e seNsaçÃo de iNsegUraNça? algUmas diCas:

Ao mesmo tempo em que se levantam os dados secundários junto aos órgãos oficiais, é importante buscar informações com pessoas que tenham bom convívio na região, que não se restrinjam aos moradores, mas incluam aqueles que trabalham no território.

Um processo de entrada na região, com passeios guiados pelos bairros, visita a moradores que são lideranças ou referências e participação em reuniões comunitárias e/ou em redes locais ajuda a conhecer e a ser conhecido pela comunidade. Nessas visitas é possível coletar informações “não oficiais”, mas de grande relevância para compreender melhor os movimentos políticos e sociais do território. A interação com a comunidade e a identificação de informantes privilegiados é fundamental para se trabalhar a gestão local.

Outra importante fonte de informação de caráter qualitativo é o conteúdo coletado durante as visitas para conhecer a situação de alguns

espaços públicos. Em especial, devem ser visitados aqueles locais com maior incidência de crimes, conhecidos como hotspots (pontos quentes), ou seja, espaços que reúnem condições favoráveis ao crime ou a fatores de risco, que costumam ser identificados a partir de denúncias ou ocorrências que a polícia recebe, bem como de informações provenientes dos grupos focais, das visitas à comunidade e da percepção de segurança e medo dos cidadãos.

A localização geográfica dos hotspots geralmente é realizada pela Policia Militar, por meio de georreferenciamento, que registra as ocorrências e seu local de origem. Esse sistema permite identificar onde se concentra a violência, desenvolver hipóteses sobre o desenvolvimento urbano irregular, espaços públicos inadequados, infraestrutura e serviços e sua relação com a violência. Para obter os mapas, pode ser encaminhada uma solicitação formal à Secretaria Estadual de Segurança.

C) visitas à ComUNidade e PerCUrso Pelos lUgares de vitimizaçÃo, Crime e seNsaçÃo de iNsegUraNça da PoPUlaçÃo

Pesquisa de vitimização, confiança nas autoridades e percepção cidadã

Deseja realizar uma pesquisa de vitimização? O PNUD pode colaborar para a realização da pesquisa de confiança nas autoridades e de percepção cidadã e avaliar seus resultados, considerando todos os aspectos do Enfoque Integral de Convivência e Segurança Cidadã.

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As pesquisas de vitimização são estudos que buscam conhecer a percepção dos cidadãos sobre a segurança, as polícias, os demais cidadãos, o nível de temor experimentado no contexto urbano, bem como as atitudes diante de fatores

de risco como armas, álcool e outras drogas. Tais dados são captados numa amostra representativa da população, de maneira direta e presencial, nos domicílios, por meio de questionários, e são comparados com os dados oficiais registrados pelas polícias.

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O que é informação para o Diagnóstico Institucional?

Paralelamente à realização do retrato dinâmico da situação de violência e criminalidade local – Diagnóstico Situacional – é necessário conhecer as capacidades das instituições e organizações instaladas na localidade que executam ações na área de Convivência e Segurança Cidadã. Para levantar tais informações – tanto de caráter quantitativo quanto qualitativo – devem ser realizadas visitas de campo, entrevistas com órgãos públicos, agências de segurança e com a população. Soma-se a isso a

leitura de documentos e a análise de projetos, programas e políticas, sejam governamentais ou da sociedade civil.

vale destacar que o objetivo do Diagnóstico Institucional não é desenvolver uma avaliação das instituições, mas sim conhecê-las, saber o que estão fazendo e como estão desenvolvendo a política de Convivência e Segurança Cidadã.

Para isso, podem ser utilizados os dados descritos a seguir.

a) eNtrevistas Com os ÓrgÃos resPoNsÁveis Pela gestÃo e exeCUçÃo da segUraNça CidadÃ

No intuito de levantar informações qualitativas e dados sobre as instituições governamentais, devem ser realizadas entrevistas com os Secretários Municipais e/

ou Estaduais e seus funcionários e gestores.O objetivo das entrevistas é conhecer as capacidades da gestão local na área de Convivência e Segurança Cidadã.

A entrevista pode ser conduzida como uma conversa, com um roteiro para direcionar as temáticas

Agendar previamente as entrevistas e confirmar com pelo menos um dia de antecedência

Contar com o apoio do Ponto Focal para ter acesso aos secretários e agendar as entrevistas

Realizar um rapport (construção do espaço de confiança, momento de quebrar o gelo, de introdução do assunto da entrevista), explicando no início de cada entrevista o que é o diagnóstico, seu objetivo e importância

Realizar a entrevista presencialmente, sempre que possível, de preferência no próprio órgão para conhecer o estado das instalações, a infraestrutura e a localização, entre outros

vai realizar Uma eNtrevista Com os ÓrgÃos resPoNsÁveis Pela segUraNça CidadÃ? algUmas diCas:

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C) eNtrevistas e visitas a ÓrgÃos de segUraNça, JUstiça e CoNvivêNCia

B) eNtrevistas e visitas aos eQUiPameNtos PúBliCos oU a oUtros ÓrgÃos loCais relaCioNados Com a gestÃo da CoNvivêNCia e segUraNça CidadÃ

O conhecimento das capacidades de gestão no contexto da Convivência e Segurança Cidadã precisa ser observado in loco, não se restringindo as entrevistas com os gestores públicos. Quais os programas, políticas e projetos existentes? Como estão funcionando? Quais as responsabilidades e prioridades de cada secretaria, gerência, departamento e coordenadoria no território? Quais os recursos humanos e financeiros disponíveis? Desenvolve ações de maneira integrada com outras secretarias? Como se dá essa integração? Quem são os atores estratégicos? As respostas para essas e outras perguntas relacionadas são importantes para enriquecer o cenário de potencialidades previsto no Diagnóstico e serão ainda mais relevantes na etapa de construção dos planos e definição das ações a serem implementadas.

Muitas vezes a comunicação entre a alta gestão e as equipes que trabalham “na ponta”, ou seja, nos territórios, é frágil. Por

isso, em algumas situações, os primeiros conhecem pouco sobre a atuação, dificuldades concretas e potencialidades dos segundos. Ouvir os secretários, bem como as equipes locais, qualifica a informação e pode, muitas vezes, ajudar a adequar os procedimentos da gestão.

Sugere-se que sejam visitados Unidades de Saúde, Centros de referência da Assistência Social (CrAS), Centros de referência Especializados da Assistência Social (CrEAS), Conselho Tutelar, escolas, creches, projetos culturais, de prevenção e mediação de conflitos, esportivos e ONGs, bem como o órgãos correspondentes na instância estadual.

A partir das visitas, é possível montar um mapa dos equipamentos públicos, programas e projetos desenvolvidos no território. Quanto mais informações o mapa tiver, mais útil será para a análise de dados, combinando informações criminais com a existência ou não de equipamentos públicos e de outros serviços.

Outra fonte de informação são as visitas feitas aos órgãos de segurança, justiça e convivência. São instituições que executam serviços públicos para a concretização dos direitos fundamentais da segurança, acesso a justiça e convivência. As visitas incluem os órgãos das áreas de:

Prevenção e resolução pacífica de conflitos

Coerção, controle e intervenção

Prevenção e atenção a emergências

Investigação e judicialização

Penalização e reabilitação

Essas visitas permitem conhecer o estado das instalações, dos equipamentos e da infraestrutura de atendimento ao público, sua localização e acessibilidade. Também permitem avaliar os recursos que as instituições possuem para realizar seu trabalho, enfatizando os perfis,

o número de pessoas e as capacidades e habilidades técnicas do pessoal que nelas atua.

No caso da polícia, por exemplo, as visitas avaliam o número, a localização, o desenho e o estado das unidades de atendimento ao público (postos policiais). Avaliam também a quantidade, o modelo, as características e o estado dos equipamentos de mobilidade como caminhonetes, viaturas, motocicletas e bicicletas, bem como os equipamentos de comunicação como telefones, rádios e câmeras. Finalmente, as visitas registram o número de policiais, seu preparo e treinamento, os turnos e o tipo de trabalho que desempenham. Perguntas sobre dados quantitativos (ocorrências e casos disponíveis) e projetos, programas e políticas de Convivência e Segurança Cidadã já existentes ou em desenvolvimento também podem ser feitas.

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d) levaNtameNto e revisÃo de PolítiCas, Programas e ProJetos

Disponibilize um formulário no momento da entrevista ou o envie por e-mail, juntamente com uma breve explicação do Diagnóstico e os contatos da equipe, para que seja preenchido

Solicite, durante as entrevistas, o acesso a documentos de projetos, programas e políticas que tenham o

objetivo de prevenir ou de controlar a violência e o crime para conhecer o conteúdo e o progresso de cada um

Aplique o formulário em instituições da sociedade civil, principalmente as que executam programas e projetos por meio de convênios com o poder público

vai realizar Um levaNtameNto e revisÃo das PolítiCas, ProJetos e Programas? algUmas diCas:

Passo 3: aNÁlise da sitUaçÃo das CaPaCidades iNstitUCioNais

Em muitos casos, as políticas públicas de Convivência e Segurança Cidadã carecem de uma correta identificação dos problemas. Este fato ocorre por duas razões fundamentais: por um lado, existe pouco conhecimento da situação devido à baixa qualidade das informações e da ausência de uma análise detalhada. Por outro, as pré-concepções sobre os problemas são usadas como base para a tomada de decisões relacionadas com este tipo de fenômeno.

Em alguns casos, as informações existem, mas não são analisadas, convertendo-se em insumo inútil para a compreensão dos problemas. Em matéria de violência, qualquer resultado que os indicadores reflitam pode ser visto como um problema, uma vez que sempre será possível melhorar. Assim, a eficácia das políticas públicas depende da qualidade do exercício de priorização dos problemas a serem resolvidos.

Outra fonte de informação para o diagnóstico institucional são os textos de projetos, programas e políticas desenvolvidos no território. recomenda-se observar objetivos, atividades e componentes contemplados no desenho do projeto, sua execução e adequação metodológica, assim como sua efetividade por meio da identificação dos impactos causados.

Esse mapeamento tem início nas entrevistas com os secretários municipais e com os responsáveis pela gestão dos órgãos de justiça, Convivência e Segurança Cidadã. Para conhecer o conteúdo e o progresso deles recomenda-se recorrer a documentos de projeto, relatórios de progresso e avaliações realizadas. No que se refere aos resultados ou ao impacto de projetos, programas e políticas, é possível consultar a população por meio dos grupos focais.

A metodologia que sustenta a ferramenta de Diagnóstico

O processo de realização do Diagnóstico utiliza a metodologia da árvore de problemas. É uma técnica empregada para identificar uma situação negativa (problema central), que se tenta solucionar mediante a intervenção de um projeto ou a formulação de uma política ou plano, utilizando-se uma relação do tipo causa-efeito.

Definido o problema central (por exemplo: alto índice de homicídios de jovens), que deve ser passível de ser solucionado, parte-se para a construção da árvore de problemas, de acordo com os eixos da abordagem de Convivência e Segurança Cidadã. O problema central

é o “tronco da árvore”; os problemas que se derivam dele são considerados os efeitos ou consequências, ilustrados pelas “folhas da árvore”. Em seguida, são identificados os problemas que representam as causas ou os fatores geradores do problema central, ou seja, a “raiz”. É justamente onde os projetos que vão integrar o Plano Local devem atuar.

O Diagnóstico proposto parte da quantificação dos efeitos para depois identificar e avaliar a incidência dos fatores associados - ou das causas - e, com base nisto, apontar, avaliar e categorizar os problemas centrais.

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Como utilizar e interpretar os dados?

Comparações | a partir de indicadores de referência, a situação da região diagnosticada pode ser comparada com indicadores de territórios do mesmo estado, país, outros países da região e, inclusive, com o mesmo território em momentos anteriores. Aconselha-se recorrer a comparações com lugares de tamanhos semelhantes e que pertençam a países com contextos políticos, econômicos e sociais parecidos.

Tendências | no que se refere aos números históricos da região analisada, é válido observar a tendência dos principias delitos durante os últimos anos. A análise detalhada da tendência da criminalidade e da violência no território fornece elementos chave para se entender as causas associadas aos níveis atuais de segurança e de percepção da população. A omissão dos números apresentados anteriormente pode levar a interpretações errôneas. Uma alta taxa de homicídios no momento presente, precedida por uma tendência a baixa durante os últimos anos, não deveria ser considerada da mesma maneira que uma taxa de homicídios alta no presente, precedida por uma tendência ascendente. É importante, portanto, considerar o contexto histórico.

Cruzamentos | ao identificar os principais problemas, é importante cruzá-los com as potencialidades locais identificadas. Quanto mais ampla for a visão destas informações, ou seja, que identifique onde há problemas e onde há potencialidades, permitindo fazer correlações, mais rica e útil será a análise, permitindo que se trace hipóteses e se vislumbre desafios e ações mais direcionadas com a realidade. Assim, os planos poderão ser mais exequíveis, fortalecendo o que já existe e não “reinventando a roda”.

Análise de conteúdo | significa transformar informação subjetiva em categorias ou em informação objetiva. A análise de conteúdo pode ser resumida nos seguintes passos:

1. leia as transcrições das entrevistas e identifique a informação que interessa objetivamente ao problema da pesquisa;

2. faça perguntas: O que? Quem? Quando? Por quê? Onde? Como? Quanto?;

3. encontre palavras e frases repetidas;

4. faça uma lista das possíveis interpretações que esta palavra ou expressão pode ter;

5. elimine irrelevâncias ou repetições (STrAUSS, 1987; STrAUSS & COrBIN, 1998);

6. transforme esta informação em categorias como sim ou não, melhor ou pior, ruim, médio ou bom, seguro ou inseguro, etc., além de números;

7. categorize em grandes temas (a serem criados pelo pesquisador que estiver desenvolvendo a análise)aquilo que não puder ser categorizado em respostas objetivas;

8. registre essa informação numa base de dados na qual perguntas e respostas já estejam categorizadas;

9. transforme, por fim, a informação categorizada em números e percentuais. Isto não significa quantificar informação qualitativa, mas objetivar sua análise e facilitar sua apresentação para o público destinatário do Diagnóstico.

Passo 4: PrÉ-validaçÃo

Com a definição da estrutura básica e das hipóteses iniciais sobre os principais problemas e potencialidades da Convivência e Segurança Cidadã do local, dá-se início à etapa de revisão, complementação e ajuste das informações. A partir das análises, ajusta-se o Diagnóstico para que seja formalmente validado e aceito como ferramenta de trabalho da gestão. É o momento chamado de Pré-validação. Essa primeira etapa é realizada com o Comitê Local.

Porém, é importante que o Diagnóstico seja apresentado primeiro ao Ponto

Focal, para que ele possa avaliar o impacto político dos achados do Diagnóstico, e estabeleça um consenso sobre o conteúdo do documento e a estratégia de apresentação e validação do documento para os demais públicos.

A metodologia do Diagnóstico deve ser bem esclarecida para o Ponto Focal, já que o Diagnóstico Integral e Participativo identifica, além das potencialidades locais, diversos problemas situacionais e institucionais do território, evidenciando alguns possíveis gargalos da gestão pública.

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No entanto, o Diagnóstico deve ser visto como uma oportunidade para a melhoria das capacidades da gestão local, especialmente quando se trata de um diagnóstico participativo, como é o caso, já que ele não só compartilha os problemas, mas também as responsabilidades, pelo seu enfrentamento.

Como o Comitê Gestor Local é o grupo que vem participando de todo processo de construção do Diagnóstico, o grau de familiaridade com os temas tratados é alto. Portanto, o momento de pré-validação com esses atores deve se concentrar na ampliação das informações sobre os problemas identificados; conseguir dados adicionais que sejam úteis para complementar o Diagnóstico e conhecer as reações, opiniões e percepções do grupo.

É importante que os integrantes do Comitê Local tenham acesso ao documento do Diagnóstico antes da reunião de pré-validação, pois, assim, eles terão mais elementos para avaliar e complementar o documento.

Após a apresentação do Diagnóstico e sua discussão com o Comitê Local, recomenda-se realizar um processo de votação para que os participantes escolham entre aprovação integral do documento, aprovação parcial ou não aprovação. Caso haja comentários e sugestões de mudanças, deverão ser analisados pela equipe técnica e, se relevantes, incluídos no Diagnóstico, de acordo a relevância da informação e a possibilidade da informação poder ser comprovada por meio de dados (fonte oficial).

A apresentação para o Comitê Local é fundamental por ser um momento que reforça a parceria e os compromissos estabelecidos. Vale a pena apresentar, com antecedência, não só a primeira versão do diagnóstico, como também alguns desafios identificados, para começar a visualizar os caminhos para o Plano.

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Passo 5: validaçÃo

A validação é um processo coletivo e participativo. Assim, todos os atores que contribuíram com o processo são convidados a conhecer, debater, complementar, ajustar e validar o Diagnóstico. Isto é, dar a ele viabilidade cidadã/comunitária, técnica e política. Da mesma forma, busca-se comprometer essas pessoas com a continuidade, a implementação e o monitoramento do Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã a ser construído.

Prioritariamente, o processo de validação deve contemplar a comunidade, os gestores locais, representantes dos poderes constituídos (executivo e legislativo) e as equipes técnicas dos equipamentos públicos e dos órgãos de justiça e Convivência e Segurança Cidadã. O Diagnóstico deve também ser apresentado aos representantes do setor privado do território.

Gestão local, legislativo, representantes de outros poderes e instituições de justiça, segurança e convivência cidadã | é fundamental para o processo poder contar com a participação de instituições e gestores locais nesta fase, uma vez que serão atores importantes na formulação

e execução do Plano Integral. Seu envolvimento desde a coleta de informações, passando pela validação do Diagnóstico, até a formulação do Plano, assegura um alto grau de apropriação e apoio de sua parte às ações propostas.

Da mesma maneira, a participação de instituições e gestores locais permite reconhecer os principais problemas identificados no território onde atuam e direcionar o trabalho de modo a enfrentá-los. Permite-lhes também aproximarem-se do trabalho realizado pelas outras instituições de segurança e justiça do território com quem, em muitos casos, devem realizar ações conjuntas.

O conhecimento sobre as limitações enfrentadas pelas outras instituições cotidianamente, bem como sobre a importância do trabalho que cada uma realiza, contribui para a geração de um ambiente de trabalho colaborativo e solidário. Em suma, a participação no processo é em si mesma um exercício de aprendizagem, sensibilização e fortalecimento de capacidades para os gestores locais, suas equipes técnicas e as diversas instituições de segurança, convivência e justiça.

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Comunidade | como o Diagnóstico é fruto de um processo participativo, sua apresentação e validação com a comunidade é fundamental para a legitimação do processo. Para tanto, sugere-se a realização de um momento para apresentá-lo, coletar percepções, opiniões e reações e chegar a um consenso sobre a situação de segurança. A participação ativa de pessoas da comunidade desde o início do processo de elaboração do Diagnóstico e, especialmente, nos momentos de

validação, é fundamental para a apropriação do Diagnóstico e seu apoio futuro, assim como para sua vinculação às ações do Plano Integral. Nesta mesma linha, pode-se aproveitar os momentos de validação e começar a recolher ideias na comunidade sobre como abordar os problemas identificados e escutar suas opiniões e sugestões em primeira mão. É importante que a validação com a comunidade seja realizada num espaço do território para facilitar a participação.

Apresente os resultados do Diagnóstico abrindo a possibilidade de perguntas e esclarecimentos ao longo da apresentação e destacando que os participantes terão um tempo limitado para perguntas e considerações

Disponibilize papel e caneta para que os participantes anotem suas dúvidas durante a apresentação. Caso contrário, o processo de apresentação poderá se prolongar

reserve pelo menos 20 minutos após a apresentação para perguntas e considerações

Divida os participantes em grupos para que discutam e aprofundem cada uma das temáticas do Diagnóstico. Quando o número de participantes for pequeno, cada grupo pode discutir duas temáticas ou mais

Estipule 30 minutos para cada grupo discutir sua temática e produzir um cartaz com os principais pontos debatidos, concordando ou discordando das análises do Diagnóstico e indicando possíveis soluções, além de iniciativas exitosas que são desenvolvidas na comunidade e que não aparecem no diagnóstico

Incentive os grupos a apresentar o cartaz para todos os participantes da validação.

realize um processo de votação para validação integral, parcial ou não validação do Diagnóstico

Sistematize as informações e sugestões dos grupos

vai realizar a validaçÃo do diagNÓstiCo? algUmas diCas:

Com base nas validações realizadas com os diferentes atores envolvidos, a Equipe Técnica realiza os ajustes, correções, ampliações e complementações necessários no documento.

Para que o Diagnóstico se converta na base para a formulação do Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã, ele deve ter viabilidade política e técnica, além de ser conhecido e reconhecido por todos os atores envolvidos.

O passo final do processo é a realização de uma apresentação pública das principais questões contempladas pelo Diagnóstico, geralmente convocada pelo poder executivo. Nesse momento, anuncia-se que a Equipe Técnica continuará trabalhando para formular uma estratégia de enfrentamento e de redução dos problemas identificados, que será compilada no Plano Integral. Neste cenário pede-se a colaboração dos cidadãos que queiram fazer parte

ativa do processo de elaboração e implementação do Plano.

Para garantir que o processo de disseminação pública seja efetivo e direcionado é importante planejar. Sugere-se, portanto, que seja elaborado um plano de divulgação com detalhamento de estratégias de comunicação e mobilização social. Um trabalho de divulgação do Diagnóstico junto à imprensa também pode ser realizado para dar maior visibilidade ao trabalho que está sendo realizado. Mas, é importante tomar cuidado com os dados que se revela, garantindo que sejam contextualizados, não estigmatizem certas comunidades e não gerem contradições junto aos moradores.

Assim, é recomendável divulgar a versão final e editada do Diagnóstico e ter conversas cuidadosas com jornalistas especializados no tema, que têm familiaridade com as questões que o problema da violência suscita junto à opinião pública.

Leia mais no Guia de Comunicação e Mobilização Social.

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O caráter participativo do Diagnóstico de Convivência e Segurança Cidadã em Contagem (MG), no âmbito das ações do Programa Conjunto da ONU ”Segurança com Cidadania”, proporcionou uma aproximação com a comunidade envolvida: moradores, comerciantes e integrantes do poder público que atuam nos territórios. Para Jacqueline Cabral, assistente social e coordenadora do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) da região do Nacional, em Contagem (MG), a participação no Diagnóstico “possibilitou que se estabelecessem vínculos mais fortes. As relações entre a rede privada e

pública ficou mais próxima e mais eficiente”.

A partir do Diagnóstico, situações antes naturalizadas pelo convívio foram visualizadas e possibilitaram mudanças graduais no modo de vida e no fortalecimento da gestão local na Região do Nacional, Contagem (MG). “Por mais que saibamos dos problemas, às vezes ficamos envolvidos na rotina do trabalho. O Diagnóstico, através de reuniões, encontros e formações trouxe esse envolvimento de alguém de fora, o que foi muito importante para podermos observar mais de perto a realidade dos grupos assistidos”, diz Jacqueline.

Caráter participativo do Diagnóstico fortalece laços em Contagem (MG)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Strauss, Anselm L. & Corbin, Juliet (1998). Basics of qualitative research, 2nd edition. Thousand Oaks: Sage Publications.

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD (2011). Diagnóstico Integral de Convivência e Segurança Cidadã de Contagem, MG (documento não publicado)

________. Diagnóstico Integral de Convivência e Segurança Cidadã de Vitória, ES (documento não publicado)

________. Diagnóstico Integral de Convivência e Segurança Cidadã: Guia para analisar e avaliar a situação de segurança e convivência cidadã no âmbito local e as capacidades institucionais para sua gestão, Brasília (documento não publicado)

_________. Ciudades Seguras: El ABC de la convivência y la seguridad ciudadana. Herramientas para la gestión local. San Salvador, 2010.

RGCI - GESTÃO COSTEIRA INTEGRADA. Glossário das Zonas Costeiras. 2007. Disponível em: http://www.aprh.pt/rgci/glossario/ator-social.html. Acesso em: 12 de novembro de 2012.

SOUZA, H. J. Como se faz análise de conjuntura. 11a ed. Petrópolis: Vozes, 1991. 54p.

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