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Apostila Didática 2020 SOCIOLOGIA

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Page 1: Determinante - Enem - Sociologia 2019

Apostila Didática 2020

SOCIOLOGIA

Page 2: Determinante - Enem - Sociologia 2019

Capítulo 1 - Socioantropologia

Capítulo 1 - Socioantropologia - Exercícios

312

356

380

332

369

389

Capítulo 2 - Ciência Políticas

Capítulo 2 - Ciência Políticas- Exercícios

Capítulo 3 - Ciências Sociais em Temas

Capítulo 3 Ciências Sociais em Temas - Exercícios

SOCIOLOGIA

Page 3: Determinante - Enem - Sociologia 2019

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

312 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

INTRODUÇÃO: EM BUSCA DA IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA

CAPÍTULO 1Socioantropologia

Socioantropologia

APRESENTAÇÃO

Este material foi pensado e projetado para ser executado por você, estudante do Percurso, em parceria com seus colegas e amigos, sob a supervisão e as orientações do seu mestre, o professor. Seja muito bem-vindo (a)!

No decorrer de nossa trajetória, buscaremos integrar duas dimensões fundamentais: Por um lado, conhecer teorias so-ciológicas, antropológicas e políticas. Por outro lado, aprender a fazer sociologia, antropologia e ciência política. Isso impli-cará, ao menos, uma tríplice atenção e cultivo. Inicialmente, uma conversão de nosso olhar para as múltiplas dimensões da realidade social, antropológica e política, buscando captar singularidades, relações, confl itos, e diferentes processos de construções históricos. Implicará, igualmente, leitura atenta das teorias que caracterizam os autores mais expressivos das áreas de conhecimento que compõem as ciências sociais. Em terceiro lugar, implicará a aprendizagem de competências e habilidades relacionadas ao aprender a fazer análises socioló-gicas, leitura e interpretação de textos

O conteúdo que veremos poderá não nos ser estranho. Ele provavelmente será muito familiar, uma vez que o vemos ou ouvimos diariamente em diferentes meios. Contudo, a forma de abordar essa realidade familiar deverá ser diferente da for-ma corriqueira de como tratamos o assunto. Conforme Gil-berto Velho, “O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo pon-to, conhecido” (VELHO;1987:126). Desse modo, deveremos aprender a “estranhar o familiar”, com uma atitude de distan-ciamento crítico.

Essa nossa tarefa de sermos aprendizes de sociologia, de an-tropologia e de ciência políticas em espaços sociais cada vez mais complexos e diversifi cados, pede de nós uma atitude capaz de desnaturalizar as questões, de reconhecer a dimen-são histórica presente em tudo o que constitui as sociedades humanas.

Dito isso, reitero o convite a fazermos uma aprendizagem ver-dadeiramente signifi cativa, na qual possamos nos apropriar das muitas conquistas das ciências sociais, ao mesmo tempo em que nos capacitemos e habilitemos para podermos inter-vir no universo social e político tendo em vista uma sociedade democrática, plural e inclusiva.

O autor.

1. A modernidade científi ca e opositivismo

a) A sociologia na emergente sociedade industrial e ca-pitalista

O que precisam [os indivíduos de hoje em dia] e o que sentem precisar é uma qualidade do espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fi m de perceber com lucidez o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar ocorrendo dentro de-les mesmos. É essa qualidade, afi rmo, que jornalistas e professores, artistas e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginação sociológica [...]

O primeiro fruto dessa imaginação e a primeira lição da ciência social que a incorpora é a ideia de que o in-divíduo só pode compreender a sua própria experiên-cia e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu próprio período; só pode conhecer suas pos-sibilidades na vida tornando-se cônscio das possibili-dades de todas as pessoas, nas mesmas circunstancias em que ele. [...].

Para compreender as modifi cações de muitos ambien-tes pessoais temos a necessidade de olhar além deles. E o número e a variedade dessas modifi cações estru-turais aumentam à medida que as instituições dentro das quais vivemos se tornam mais gerais e mais com-plicadamente ligadas entre si. Ter consciência da ideia da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser capaz de identifi car as ligações entre uma grande va-riedade de ambientes de pequena escala. Ser capaz de usar isso é possuir a imaginação sociológica.

(MILLS;1982: p. 9-17)

Num período de oitenta anos, ou seja, entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia mudado de forma marcante a sua fi sionomia. País com pequenas cidades, com uma

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA313

CAPÍTULO 1Socioantropologia

Curso Enem 2019 | Sociologia

c) O positivismo e os estágios da humanidade

No primeiro estagio da humanidade , o ser humano explica os fenômenos fazendo referência a vontades exteriores, sobre-naturais, divindades. Comte denomina esse estado de teológi-co ou fi ctício, encarnado historicamente no período medieval.

A passagem do primeiro estado, o teológico, para o segundo estágio, o metafísico ou abstrato representou uma verdadeira revolução, por trazer uma nova visão de mundo. No segundo estado, estado da metafísica, acontece um deslocamento dos deuses para as abstrações. Trata-se ainda de uma preocupa-ção com o absoluto, só que agora localizado não mais em se-res sobrenaturais, mas em ideias abstratas. Historicamente, a revolução francesa seria representação desse estagio.

Finalmente, o terceiro estágio, o estado físico, é aquele em que o ser humano abandona as pretensões metafísicas ou absolutas, concentrando-se nas evidencias empíricas, naqui-lo que é relativo, e não absoluto. Há uma radical mudança da imaginação abstrata para a observação. Augusto Comte, na obra Discurso sobre o espírito positivo, caracteriza o positivis-mo como a saber compromissado com a realidade, por meio de pesquisas verifi cáveis através da experiência.

d) Nos caminhos da antropologia

Nos processos renascentistas e modernos de colonização, não é difícil imaginar a reação dos viajantes europeus ao se depa-rarem com povos bem distintos, tanto física quanto cultural-mente. A antropologia cultural nasce com esse olhar sobre as culturas não europeias. E como foram esses primeiros olhares? O que sabemos desses olhares? Veremos isso a seguir.

O Evolucionismo Cultural

A concepção evolucionista está no contexto da publicação da obra “A origem das espécies”, de Charles Darwin, em 1859. Um postulado histórico específi co do século XIX é o princípio do monogenismo, postulado pós-darwiniano que afi rma que toda a humanidade teria uma origem comum. Nesse caso, tendo os seres humanos a mesma ou comum origem, como se deveria compreender e explicar a diversidade que existe entre as diferentes tradições culturais?

Essa é a grande questão com a qual os antropólogos evolu-cionistas se defrontaram. E a resposta que constitui o modo singular de pensar dessa tradição afi rma que os povos evo-luem numa mesma direção de modo uniforme e ascen-dente, partindo do estágio selvagem, passando pelo estágio da barbárie, até chegar no estágio civilizacional. Haveria desse modo uma natureza homogênea da humanidade. Entre os antropólogos mais importantes desse período merecem des-taque o americano Lewis Henri Morgan (1818-1881) e o Inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917) e o escocês James George Frazer (1854-1941).

Esse evolucionismo cultural serviu como a ideologia que moti-vou os processos de colonização realizados pelo imperialismo europeu nos diferentes continentes. Nesse contexto, enten-de-se a ideia de que haveria diferentes raças humanas. E não é difícil imaginar como esse conceito, situado historicamen-te, pode ser usado para justifi car a exploração dos europeus sobre outros povos, outras etnias. Atualmente, o termo que se usa para essa atitude é etnocentrismo ou, especifi camente, eurocentrismo.

As revoluções Industrial e Francesa provocaram profundas transformações na sociedade moderna, especialmente rela-cionadas à industrialização e urbanização. A rapidez das mu-danças fez com que a sociedade moderna se transformasse em um problema a ser investigado e explicado. A sociologia se forma nesse contexto com essa fi nalidade, tentando com-preender as novas condições sociais do mundo em mudança. Portanto, pode-se afi rmar que a Sociologia é a forma de co-nhecimento genuinamente moderna, expressando uma nova visão de mundo.

b) O positivismo e o otimismo técnico-científi co

Para Comte, o objeto e o objetivo da ciência deve ter relação com a pesquisa e o conhecimento das leis que regem os fe-nômenos. E as leis são como que as relações necessárias que derivam da natureza de cada fenômeno. Uma vez tendo ciên-cia dessas leis, o resultado disso será a possibilidade efetiva de prever o funcionamento futuro desses fenômenos. E com essa habilidade, o ser humano poderá ter uma vida melhor, poderá usar isso para o seu proveito, poderá agir sobre a natureza. Desse modo, para Comte, ciência possibilita conhecimento, conhecimento possibilita previsão, previsão possibilita ação.

Buscando conhecer as leis dos fenômenos sociais, a Sociologia coloca-se no caminho da observação dos fatos e neles busca as regularidades. Embora a sociologia, como ciência, busque o conhecimento, esse conhecimento não é fi m em si mesmo.Em Comte, a sociologia volta-se também para fi ns práticos, de natureza intelectual, moral e política, para o aperfeiçoamento moral do ser humano.

Desse modo, os sociólogos deveriam atuar como “sacerdotes”, capazes de aconselhar, de orientar. Por um lado, existiria o Es-tado, com o poder temporal. Por outro lado, existiria o poder espiritual, que seria o poder da sociedade civil, na qual os so-ciólogos deveriam estar e atuar com formadores ou reforma-dores da opinião publica.

população rural dispersa, passou a comportar enor-mes cidades, nas quais se concentravam suas nascen-tes indústrias, que espalharam produtos para o mundo inteiro. Tais modifi cações não poderiam deixar de pro-duzir novas realidades para os homens dessa época. A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente implicava a reorde-nação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patricial etc. A transfor-mação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como en-gajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhan-do um salário de subsistência. Em alguns setores da indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores era constituída por mulheres e crianças, que ganha-vam salários inferiores dos homens. A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos indepen-dentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho etc. tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi car radicalmente suas formas habituais de vida. Estas transformações, que possuíam um sabor de cataclisma, faziam-se mais visíveis nas cidades industriais, local para onde convergiam todas estas modifi cações e explodiam suas consequências.

(MARTINS; 1994: p. 12)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

314 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

ridade em suas singularidades foi preciso superar o “olhar de fora e de longe” e instaurar a etnografia definida como o olhar “de perto e de dentro” (MAGNANI; 2002:11).

*ALTERIDADE provém do vocábulo latino alteritas, que significa “outro”. Desse modo, alteridade significao encontro entre “outros”, o plano das relações inter-subjetivas, heterogêneas, entre individuos diferentesque se reconhecem e se respeitam como outros.

Nessa habilidade de colocar-se na ótica do outro e buscar ver o mundo com os olhos dos “nativos”, em um encontro auten-tico com as expressões culturais do outro, podem aconteceralterações nas próprias expressões culturais dos indivíduos ou grupos que entram em relação.

A abordagem antropológica provoca, assim, uma ver-dadeira revolução epistemológica, que começa por uma revolução do olhar. Ela implica um descentra-mento radical, uma ruptura com a ideia de que exis-te um "centro do mundo" e, correlativamente, uma ampliação do saber e uma ampliação de si mesmo. (LAPLANTINE;2000:p. 22)

Cultura: Um conceito polissêmico

Etimologicamente, a palavra cultura deriva do verbo latino co-lere, que significa cultivar, criar, cuidar. Desse modo, da forma de cultivar e de cuidar nascem certos hábitos, comportamen-tos, produtos, objetos e técnicas. Nesse sentido, cultura é tudo o que foi cultivado e criado pelo fazer humano, tanto em suadimensão material, de objeto criado, quanto em sua dimen-são psíquica ou espiritual, das ideias, dos valores, das crenças.

2. Karl Marx e a sociologia docapitalismo

a) O materialismo histórico e dialético

Os homens fazem sua própria história, mas não a fa-zem como querem, não a fazem sob circunstancias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. (MARX; 1974: p.335)

O pensamento filosófico e sociológico de Karl Marx Karl Marx (1818-1883) a concepção filosófica segundo a qual o modo de pensar do ser humano está condicionado pelo seu contexto material, por suas relações sociais, pelos meios de produção e reprodução de sua existência, conforme consagrada e repeti-da expressão de Marx: “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência” ( MARX; 1997: 254).

Contra uma perspectiva liberal centrada no indivíduo e seus direitos individuais, Marx parte do pressuposto de que o ser humano é um ser social e político. E isso não de maneira abs-trata, mas bem concreta, como um ser que tem sua vida con-dicionada historicamente pelo meio onde vive, pelas condi-ções que afetam a sua realidade de vida e os modos como vai

O Culturalismo americano de Franz Boas

Para o antropólogo Franz Boas (1858-1942), cada cultura tem sua história singular. E não se deveria proceder a comparações à luz de um pretenso sentido único, ascendente, evolutivo, uma vez que a história seria múltipla e variada. Contrapondo a cultura à natureza biológica, Franz Boas critica um dos valo-res liberais mais fortes, o valor da igualdade, por reconhecer na forma como essa ideia estava sendo pensada um caráter etnocêntrico, que não permitia reconhecer as diferentes his-tórias, as diferentes sociedades. Isso representou uma grande revolução nos começos da antropologia, uma vez que a con-dição humana não deve ser olhada sob o ângulo da biolo-gia, mas sob a perspectiva da cultura.

O funcionalismo inglês de Malinowski

O antropólogo polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) é considerado um dos fundadores da Antropologia Social. Sua reflexão antropológica supera a visão evolucionista e, com seu o novo método antropológico, conhecido como etnografia*, trouxe uma decisiva contribuição para os caminhos que a an-tropologia iria percorrer a partir de então.

Boas e Malinowski identificam o antropólogo como um pro-fissional da “pesquisa de campo”. Cabe ao antropólogo ir ao campo e ele mesmo deverá fazer as pesquisas e estudar os modos particulares de vida de cada grupo cultural. Por essa razão, podemos afirmar que esses dois antropólogos são con-siderados os fundadores da etnografia.

*ETNOGRAFIA: Observação participante .

Segundo Malinowski, para que haja uma verdadeira aproximação à compreensão de uma cultura, em sua singularidade, é preciso que o pesquisador ou o antro-pólogo faça etnografia, ou seja, que seu método con-sista em uma pesquisa de profundidade, tornando-se membro da comunidade cuja vida e relações serão estudadas e analisadas. Trata-se de uma “observação participante”, que capta ações e palavras no ato, no momento em que acontecem.

Para compreender uma cultura singular, o antropólo-go mergulha em suas tradições, passando a conviver com a comunidade local. Desse modo poderá evitar a formulação de juízos abstratos e preconceituosos. Esse método de compreensão e de interpretação dos traços de uma cultura, de sua língua, de seus costu-mes, de seus valores e de suas práticas, por meio de diferentes técnicas e instrumentos é conhecido como etnografia.

Com essas reflexões torna-se compreensível o quanto a antropologia é bem definida como ciência da alte-ridade* ou da diversidade cultural. Para se conseguir ver e reconhecer a alteridade em suas singularidades foi preciso superar o “olhar de fora e de longe” e ins-taurar a etnografia definida como o olhar “de perto e de dentro”

(MAGNANI; 2002:11).

Com essas reflexões torna-se compreensível o quanto a an-tropologia é bem definida como ciência da alteridade* ou da diversidade cultural. Para se conseguir ver e reconhecer a alte-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA315Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

produzir e reproduzir a sua sobrevivência e a sua existência, em termos materiais e imateriais, econômicos e espirituais, di-mensões que caminham juntas, de modo inseparável.

b) A divisão social em Classes sociais.

Para Marx, a divisão social no sistema capitalista deve ser com-preendida como sendo estruturada a partir de classes antagô-nicas. Existe a classe dos proprietários dos meios de produção e existe a classes dos não proprietários, dos trabalhadores. Nessa divisão em classes, a classe dominante é a dos proprie-tários que cria estratégias para perpetuar essa situação.

c) O trabalho humano alienado.

Segundo Marx, a automação do processo produtivo implica não só a alienação do trabalhador e a alienação do produto do seu trabalho, mas produz uma vida estranha, de opressão não natural.

Estes trabalhadores, que precisam vender a si próprios aos poucos, são uma mercadoria como qualquer outro artigo do comércio, e são, por consequência, expostos a todas as vicissitudes da competição, a todas as flu-tuações do mercado. Em virtude do uso excessivo de maquinarias e da divisão do trabalho, o trabalho dos proletários perdeu todo o seu caráter individual e, em consequência, todo o estímulo para o trabalhador. Ele se torna um apêndice da máquina e dele só é exigi-da a habilidade mais simples, mais monótona e mais facilmente adquirida. Por isso, o custo da produção de um trabalhador é restrito, quase completamente, aos meios de subsistência que ele requer para a sua manutenção e para a propagação de sua raça. (MARX e

ENGELS; 1998: p. 20).

Para o operário, o trabalho, no sistema capitalista, transforma-se em mortificação do ser do trabalhador, uma atividade es-tranha, que não realiza a personalidade do trabalhador

d) A ideologia como instrumento de classe

O instrumento que a classe dominante cria para a manuten-ção do status quo, para a perpetuação da situação de explo-ração, é a ideologia, capaz de fazer a classe dominada pensar que a situação na qual se encontra seja natural. Desse modo, a ideologia é instrumento da burguesia para dominar a consciência do oprimido, invertendo o sentido das coisas, mascarando a realidade e impedindo a percepção da ação opressora de uma classe sobre a outra. Portanto, a dimen-são ideológica consiste em manipular a consciência a partir de cima, de cima para baixo, dos interesses da burguesia que são universalizados, impostos a todos. Com isso, a consciência do trabalhador fica refém de uma mentalidade estranha à ver-dadeira realidade. É nesse estranhamento, no qual o operário não mais se pertence, que consiste em a alienação.

e) A Natureza classista do Estado

Marx (1818-1883) analisa o Estado em perspectiva oposta a de Hobbes. Em Hobbes, o Estado aparece como a solução criada pela sociedade, pois dará fim ao reino da violência que resulta da impulsividade agressiva do ser humano, lobo do homem. Para Marx, o Estado seria um conjunto de meios de coerção, criado por uma classe para dominar a outra. Sob a ótica de Marx, na contramão de Hobbes e do idealismo de Hegel, e

influenciado por Feuerbach, o Estado não resultaria de um acordo entre os indivíduos de uma sociedade, mas do poder organizado da classe dominante..

f) Infraestrutura e superestrutura.

Esses são dois conceitos centrais no pensamento de Karl Marx. Na contramão do idealismo, a teoria materialista de Marx afir-ma que no centro de toda a vida social está a estrutura eco-nômica, a infraestrutura que forma a unidade central e que tudo conecta. Por isso nada pode ser pensado fora da estru-tura econômica, a base material de tudo, a matéria-prima, os meios de produção e a relações de produção. Assim, por exemplo, a linguagem é um fenômeno social, a religião é um fenômeno social, as leis, os valores, tudo deve ser visto como decorrência dessa base material, da produção material da existência humana. É dessa necessidade humana de produzir e reproduzir a vida que se forma a consciência.

A consciência não se forma do nada. Ela pressupõe uma base concreta, constituída pelas relações humanas concretas. E essa consciência situada no concreto se exterioriza ou se ex-pressa por meio da linguagem. A superestrutura, na visão de Marx, seria um produto, uma criação da classe dominante para consolidar a dominação que ela exerce sobre a classe dos trabalhadores ou operários. Assim, a super-estrutura seria a estrutura jurídica, política e ideológica (Estado, Leis, Religião, Meios de comunicação, etc.), que não pode ser explicada por si mesma ou em si mesma, ela é uma criação a serviço de algo. Em Marx, são criações burguesas a sérvio dos interesses de sua classe.

g) A mais-valia

Desse processo de exploração e alienação, segundo Marx, nascem margens cada mais amplas de lucro, mola mestra do capitalismo. A força de trabalho seria mera mercadoria, mas uma mercadoria capaz de criar valor, e o valor criado terá di-reta relação com o tempo dispendido e com as tecnologias investidas no serviço da mercadoria. Com efeito, todo o in-vestimento capitalista está em função do lucro. Dessa forma, a organização do trabalho é feita com o objetivo de adquirir sempre maior mais-valia

A mais valia refere-se ao excedente ou à diferença en-tre o que o patrão gasta com o operário e o que ele ganha com o produto desse trabalho. Pode-se falar em “um trabalho não pago, disfarçado pela forma de sa-lário, do qual se extrai a mais-valia” (DUSSEL; 2000: p. 327).

Com o investimento em novas tecnologias, e com as exigên-cias de um mundo cada vez mais acelerado em todos os âmbi-tos da vida capitalista, a tendência desse excedente ou desse lucro é ser crescentemente maior, uma vez que não haveria significativas contrapartidas para o trabalhador. E o mais sério ou profundo seria a progressiva substituição do trabalhador por máquinas que realizariam esse trabalho com mais efici-ência e rapidez.

h) As crises cíclicas do capitalismo

Para Marx e Engels, em termos econômicos, o capitalismo consiste num tripé: produzir mercadoria, circular mercadoria e consumir mercadoria. É disso que resulta o acúmulo privado de riqueza e é dessa lógica que decorrem as permanentes ou

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

316 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

cíclicas crises do sistema capitalista. Para esses autores, o capi-talismo tem um incontrolável impulso que vira uma epidemia, a epidemia da superprodução.

As condições da sociedade burguesa são estreitas de-mais para abranger toda a riqueza que criou. E como faz a burguesia para vencer essas crises? Por um lado, reforça a destruição da massa de forças produtivas; por outro lado, tenta conquistar novos mercados e busca uma exploração mais completa dos antigos. Ou seja, pavimentando o caminho para crises mais extensas e mais destrutivas e diminuindo os meios pelos quais previnem-se crises. (Marx e Engels;1998: p.19)

i) Revolução do proletariado

Considerando a histórica realidade de opressão e dominação por parte da classe dominante, a libertação do trabalhador vi-ria somente na negação das múltiplas negações que lhe são impostas. E como se faria essa afirmação da dignidade do tra-balhador? Marx se refere a uma revolução do proletariado, por meio da qual a propriedade de si mesmo e de sua produção deverá voltar aos trabalhadores. Isso implicaria a destruição da realidade da propriedade privada, que se encontra condi-cionada por uma realidade histórica de classe dominante.Quando os indivíduos que foram transformados em vítimas pelo sistema se unirem em comunidade, somente então, afir-ma Marx, poderá acontecer a superação da imposição capita-lista. Marx sinaliza para a condição de superação histórica das alienações: a atuação da comunidade.

E sem a opressão de classe, as relações humanas passariam a ser mais autônomas e livres, e os objetos produzidos não se-riam mais concebidos como propriedade privada, mas como propriedade coletiva, resultante de um trabalho cooperativo. A partir de Marx, podemos sintetizar o modo de produção so-cialista como o modelo econômico estruturado sobre a pro-priedade social ou coletiva dos meios de produção. Por meio do socialismo*, o comunismo poderia ser instaurado e com ele teríamos o fim do Estado classista que existe no capitalis-mo.

: O SOCIALISMO é um sistema econômico e político, um modelo de organização social, que nasce como um novo ideal, em reação às péssimas condições de vida dos trabalhadores no século XIX. Esse modelo se contrapõe ao liberalismo e ao capitalismo, fundados na propriedade privada dos meios de produção.

Entre os ideais de luta do socialismo temos a extin-ção da propriedade privada dos meios de produção, a tomada do poder por parte dos operários, por meio da revolução do proletariado, o controle do Estado no sentido de assegurar a igualdade social, a destruição do sistema de classes e uma divisão de renda iguali-tária, revolucionando o modo de produção que não mais estaria voltado para o lucro, mas para o bem co-mum, por meio da cooperação.

Segundo Marx, após a implantação desse novo mode-lo social, o comunismo poderia ser instalado.

3. Sociologia de Émile Durkheim

Émile Durkheim ( 1858-1917), ao lado de Comte, Marx e We-ber, é um dos pais da sociologia.

a) O método de trabalho: Os fenômenos sociais como “coi-sas”

As ciências sociais emergentes na era industrial necessitam de um método para fazer aparecer aquilo que é não evidente, para explicitar as relações implícitas. Dessa forma, há um rigor presente no método que o afasta do olhar mecânico e irrefle-tido do senso comum. Por isso, o primeiro passo do método de trabalho do cientista social é a atitude do olhar que toma distancia para ver com novos olhos a realidade, buscando perceber as tendências que estão se formando na vida so-cial. Dessa forma, transcendendo a intuição sensível, a atitu-de do cientista social vem marcada por profunda habilidade analítica.

É preciso considerar os fenomenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresen-tam a nós. [...] Essa regra aplica-se portanto à realidade social inteira, sem que haja motivos para qualquer ex-ceção. (DURKHEIM; 2007:p. 28-29)

Influenciado pelo pensamento positivista de Augusto Comp-te, Durkheim insiste em analisar os fatos sociais como coisas objetivas, externas, anteriores ao indivíduo. Desse modo, po-de-se encontrar uma ênfase na ideia de que as subjetividades não deveriam interferir no procedimento científico.

b) O objeto da sociologia: O fato social

FATO SOCIAL é toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais. (DURKHEIM; 2007: p.13)

A partir desse fragmento, vemos que o conceito de fato so-cial se refere à realidade social como independente e anterior ao sujeito que a vivencia. Assim, em primeiro lugar, os fatos sociais são marcados pela exterioridade e pela objetividade; ou seja, existem e atuam sobre os indivíduos independente-mente de sua vontade ou de sua livre e consciente adesão. Assim, cada indivíduo ao nascer em uma sociedade é recebido e educado numa tradição já existente. Em decorrência disso, uma segunda dimensão se impõe: a coercitividade; o fato social traz sua identidade vinculada à coerção social. Em ou-tros termos, as normas, as regras, os costumes sociais exercem força e pressão prévias sobre o indivíduo. Uma terceira carac-terística do fato social é a generalidade, ele se impõe a todos os indivíduos daquele grupo social. Vinculada à noção de ge-neralidade, Durkheim aborda a noção de consciência coletiva. Entendida como conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma comunidade, a consciência co-letiva forma a moral vigente na sociedade, em conformidade com a qual atitudes serão interpretadas como morais ou imo-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA317Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

Suicídio altruísta

Em relação ao tipo altruísta de suicídio, que pode ser classi-ficado como heroico ou religioso, um traço comum nesses casos é o excessivo vínculo ao grupo, predominando nele a paixão, a entrega vital.

Se uma individuação excessiva leva ao suicídio, uma individuação insuficiente produz os mesmos efeitos. Quando é desligado da sociedade, o homem se mata facilmente, e também se mata quando é integrado

rais, louváveis ou reprováveis. Em suma, sociologicamente, na perspectiva de Durkheim, estamos falando da prioridade do todo sobre as partes. Assim, o conjunto social não se reduz à soma dos elementos. Ao contrário, os indivíduos sentem a pressão do meio e suas ações são socialmente condicionadas.

c) O Suicídio como fato social normal e patológico

Suicídio é todo ato de morte provocado direta ou indi-retamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado. (DURKHEIM; 2000: p. 14)

Mesmo quando a solidão se associa ao desespero, levando o indivíduo ao suicídio, é a sociedade que está na raiz dessa de-cisão, é a sociedade que move a consciência desse indivíduo e o conduz a esse ato solitário.

Durkheim estava seguro de que o suicídio dependia de uma realidade social e não da vontade dos indivíduos, uma vez que era perfeitamente observável e verificável a sua regularidade, que acontecia sempre em conformidade com as mesmas ou similares condições históricas. É fato verificável: em condições normais, as taxas de suicídio nos países se mantêm constantes de um ano para outro.

Considerando que as circunstâncias sociais determinam as taxas de suicídio, Durkheim acredita que seja possível esta-belecer uma tipologia de suicídio. Nessa pesquisa, ele define quatro tipos de suicídio: suicídio egoísta, altruísta e anômico e fatalista

Suicídio egoísta.

Em relação ao suicídio egoísta, há maior tendência ao suicídio quando o pensamento do indivíduo está basicamente volta-do sobre si mesmo¸ sem a presença e a força integradora do grupo social. É o afastamento do grupo. Essa forma de suicídio se manifesta por um estado de apatia e pela ausência de vín-culo com a vida, decorrente do enfraquecimento do vínculo social.

Esse tipo de suicídio, portanto, bem merece o nome que lhe demos. O egoísmo não é apenas um fator au-xiliar dele; é sua caua geradora. Se nesse caso, o víncu-lo que liga o homem à vida se solta, é porque o próprio vínculo que o liga à sociedade se frouxou. Quanto aos incidentes da vida privada, que parecem inspirar ime-diatamente o suicídio e que passam por ser suas con-dições determinantes, na realidade são apenas causas ocasionais. Se o indivíduo cede ao menor choque das circunstâncias, é porque o estado em que a socieda-de se encontra fez dele uma vítima sob medida para o suicídio. (DURKHEIM; 2000: p. 266-267)

nela demasiado fortemente. [...]. Em todos esses casos, com efeito, vemos o indivíduo aspirar a se despojar de seu ser pessoal para mergulhar nessa outra coisa, que ele vê como sua verdadeira essência. Pouco importa o que lhe dê, é nela, e apenas nela, que ele acredita exis-tir, e é para existir que ele se inclina tão energicamente a se confundir com ela. Portanto, é porque o indivíduo se considera como não tendo existência própria. A im-pessoalidade, aqui, é levada a seu máximo; é o altruís-mo em estado agudo. (DURKHEIM; 2000: p. 269.280)

O exemplo clássico dessa modalidade de suicídio é o que foi praticado, durante a segunda guerra mundial pelos Kamika-zes, pilotos japoneses que voluntariamente se lançaram con-tra os navios inimigos. E você certamente se lembra do aten-tado terrorista de 11 de setembro de 2011, em Nova York, no ataque ocorrido contra as famosas Torres Gêmeas do World Trade Center, por dois aviões comerciais.

Nesse caso, não se trata evidentemente de suicídio por excesso de individualismo, mas, ao contrário, pelo completo desaparecimento do indivíduo no grupo. O indivíduo se mata devido aos imperativos sociais, sem pensar sequer em fazer valer seu direito à vida. Do mesmo modo, o comandante de um navio que não quer sobreviver à perda da sua nave se suicida por altruísmo; sacrifica-se a um imperativo social interiori-zado, obedecendo ao que o grupo lhe ordena, a ponto de sufocar o próprio instinto de conservação. (ARON; 2008: p. 484)

Suicídio anômico

Um terceiro tipo de suicídio, que é justamente o que mais in-teressava a Durkheim, é o denominado anômico. A palavra anômico tem sua origem no vocábulo grego nomos, que sig-nifica norma. Dessa forma, a palavra anomia refere-se à falta de normas ou de referências. Assim, suicídio anômico tem re-lação com a debilidade dos laços que vinculam o indivíduo ao grupo na sociedade moderna. Percebe-se uma correlação entre a frequência do suicídio e a instabilidade da vida social, econômica e cultural. Em tempos de crise ou de prosperidade econômica, situações que indicam “perturbações da ordem coletiva”, os índices de suicídio são mais elevados.

Se, portanto, as crises industriais ou financieiras au-mentam os suicídios, não é por empobrecerem, uma vez que crises de prosperidade têm o mesmo resulta-do; é por serem crises, ou seja, perturbações da ordem coletiva. Toda ruptura de equilíbrio, mesmo que resul-te em maior abastança e aumento da vitalidade geral, impele à morte voluntária. Todas as vezes que se pro-duzem graves rearranjos no corpo social, sejam eles devidos a um súbito movimento de crescimento ou a um cataclismo inesperado, o homem se mata mais facimente. Como isso é possivel? [...]

Qualquer ser vivo só pode ser feliz ou até só pode viver se suas necessidades têm uma relação suficiente com seus meios.[...]. Seja qual for o prazer que o homem tenha em agir, em se mover, em fazer esforços, é preci-so que ele sinta que seus esforços não são vãos e que andando ele avança. Ora, não avançamos quando não andamos na direçao de nenhum objetivo.(DURKHEIM; 2000: p.311-314)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

318 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

Suicídio fatalista

Sendo historicamente mais raro, o caso do suicídio fatalista é aquele que é realizado em situações de extrema pressão , de excessiva regulamentação social, em que o indivíduo se per-cebe como em situação de quase ausência de liberdade. Essa é a razão pela qual Durkheim afirma ser raro esse tipo de suicí-dio na modernidade. Esta tem sido uma das explicações para os muitos suicídios que aconteceram entre escravos que não suportavam a opressão social.

Assim se confrontarmos as tipificações de suicídios, construí-das por Durkheim, veremos que ele os coloca em relação aos critérios de alta ou baixa regulamentação social e alta ou bai-xa integração social. Assim, poderíamos esquematizar dessa forma

FORMAS DE SOLIDARIEDADE: MECÂNICA E ORGÂNICA

Durkheim se refere a duas formas de solidariedade. Inicial-mente, considerando as primeiras formas de sociedade, em contexto pré-capitalista, nas quais o processo de identificação dos indivíduos operava-se especialmente por meio da tradi-ção familiar e religiosa. Nesses modelos de sociedade, a forma de solidariedade reinante era a “mecânica”, uma forma de solidariedade por semelhança, na qual a consciência coleti-va estava marcadamente presente. Nessas sociedades, por exemplo, um filho costuma aprender de seu pai a profissão e o substitui. É uma forma de solidariedade mecânica, sem a dimensão da escolha explicita, consciente ou reflexiva.

Nessas sociedades, predominam na consciência do indivíduo os sentimentos e as crenças comuns a todos, que orientam a vida social. É possível perceber a força dessa consciência co-letiva por ocasião de algum crime. Quanto mais intensa for a consciência coletiva maior será a indignação e a revolta contra o crime, que é uma a violação do imperativo social que co-manda as vidas particulares

Nas sociedades de matriz capitalista, fundamentadas na divi-são social do trabalho, a forma de solidariedade passa a ser “orgânica”, pois existe maior e mais complexa interdependên-cia, devido ao processo de acentuada especialização das di-versas atividades e devido à crescente diferenciação existente entre os indivíduos. Apesar de haver maior interdependência entre as diversas atividades, o individualismo moderno enfra-quece a consciência coletiva. Isso é perceptível, por exemplo, na pouca mobilização social coletiva contra o crime. No reino da solidariedade orgânica, as reações coletivas contra a vio-lação daquilo que é considerado como proibido decrescem acentuadamente.

e) A Religião como Instituição social.

“A religião existe, é um sistema de fatos dados; numa palavra, ela é uma realidade”.

(DURKHEIM; 1978: p. 232)

Para Durkheim, importa analisar a religião sob a perspecti-va de uma instituição social. Nessa lógica de pesquisa, ele acredita que a sociologia ganhará muito em sua busca de compreensão e explicação da relação que existe entre com-portamentos individuais e vida social. Os rituais que existem nas religiões criam entre os indivíduos vínculos e alimentam sentimentos que corroboram uma consciência coletiva.

Um dos principais estudos de Durkheim encontra-se em As formas elementares da vida religiosa, obra publicada em 1912. Nela, afirma que a religião é um “sistema de crenças e de práticas”, que não necessariamente está vinculado a um Deus transcendente.

“A simples consideração das formas religiosas que nos são familiares fez acreditar durante muito tem-po que a noção de deus era uma característica de tudo o que é religioso. Ora, a religião que estudare-mos mais adiante é, em grande parte, estranha a toda ideia de divindade. (DURKHEIM; 1978: p. 209).

Para Durkheim, na religião a sociedade toma consciência de si mesma, uma vez que é expressão da consciência coletiva.

BAIXA INTEGRAÇÃO SOCIAL SUICIDIO ANÔMICO

ALTA (EXCESSIVA) INTEGRAÇÃO

SUICIDIO ALTRUÍSTA

BAIXA REGULAMENTAÇÃO SUICIDO ANOMICO

ALTA (EXCESSIVA) REGULAMENTAÇÃO

SUICIDIO FATALISTA

Embora o suicídio seja um fato social normal, o aumento da taxa de suicídio na sociedade moderna é fato social patoló-gico. E o principal sintoma patológico da sociedade moderna é a insuficiente integração do indivíduo na coletividade. Um dos traços da vida moderna é a permanente novidade, a supe-ração dos valores tradicionais e a ausência de valores sociais substitutivos daqueles que foram superados. Em decorrência, sentimentos modernos comuns são a frustração e o desgosto com a vida, relacionados com o hiato que existe entre a expec-tativa pessoal e o que a sociedade oferece.

d) A divisão social e as formas de consciência e solidarie-dade

Ao considerarmos o fenômeno da divisão social do trabalho, depois das análises de Karl Marx, talvez a nossa maior tentação seja fazer uma leitura econômica. Contudo, para Durkheim, a divisão social da sociedade produz em efeito moral muito mais significativo do que o efeito econômico. Por essa razão ele se concentra nessa dimensão moral. Para Durkheim, será graças à divisão do trabalho que a própria vida social se torna possível, uma vez que ela cria entre os indivíduos o sentimen-to da solidariedade, da percepção de que estão vinculados, de que um depende do outro.

Como pode uma reunião de indivíduos constituir uma socie-dade? Como nasce o consenso? Émile Durkheim constrói uma reflexão sobre as possibilidades e os fundamentos de uma vida em sociedade. Nessa reflexão, ele afirma que sociedade não é uma simples justaposição de indivíduos. A sociedade cria a moral. E a moral social cria o indivíduo social. E é por meio da moralidade que a própria sociedade de sustenta.

Assim, em Durkheim, a força motriz que gera e transforma a vida social é a solidariedade, produzida pela divisão social do trabalho. Durkheim reconhece duas formas de consciên-cia, duas formas de solidariedade. Em uma delas predomina a consciência coletiva; na outra, predomina a personalidade individual. Vejamos a reflexão que o sociólogo desenvolve

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA319Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

A religião é, decididamente, o sistema de símbolos pelos quais a sociedade toma consciência de si mes-ma; é a maneira de pensar própria do ser coletivo. Eis, portanto, um amplo conjunto de estados mentais que não se teriam produzido se as consciências particu-lares não se tivessem unido, os quais resultam dessa união e se sobrepuzeram aos que derivam das nature-zas individuais. (DURKHEIM; 2000: p.402)

Para Durkheim, a base humana que motiva essa busca coleti-va é de natureza emotiva. Os seres humanos têm necessidade da vivencia comunitária, e a buscam por questões afetivas. É o afeto que o conduz. A religião pode ser vista como expressão da autocriação humana. É muito interessante percebermos que ao submeter-se à religião, que é imagem e produto social, os indivíduos encontram-se condicionados à própria socieda-de. Sendo uma instituição social, a religião reflete a sociedade em todos os seus aspectos, positivos e negativos.

A religião é uma coisa eminentemente social. As repre-sentações religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que nascem no seio dos grupos reunidos e que são destinados a suscitar, a manter ou a refazer certos estados mentais desses grupos. DURKHEIM; 1978: p. 212)

Não existem religiões falsas

Mas, debaixo do símbolo, é preciso saber atingir a rea-lidade que ele figura e que lhe dá sua significação ver-dadeira. Os ritos mais bárbaros ou os mais extravagan-tes, os mitos mais estranhos traduzem alguma neces-sidade humana, algum aspecto da vida, seja individual ou social. As razões que o fiel concede a si mesmo para justificá-los podem ser __, e muitas vezes, de fato, são __ errôneas; mas as razões verdadeiras não deixam de existir e é tarefa da ciência descobri-las [...]É um postulado essencial da sociologia que uma ins-tituição humana não pode repousar sobre o erro e a mentira, caso contrário não pode durar”.[...].No fundo, portanto, não há religiões falsas. Todas são verdadei-ras a seu modo: todas correspondem, ainda que de maneiras diferentes, a condições dadas da existência. (DURKHEIM; 1978a: 206.Os fenômenos religiosos distribuem-se muito natural-mente em duas categorias fundamentais: as crenças e os ritos. As primeiras são estados da opinião, consis-tem em representações; os segundos são modos de ação determinados, e entre as duas classes de fatos existe toda a diferença que separa o pensamento do movimento [...]. DURKHEIM; 1978a: p.40

O sagrado e o profano

A divisão do mundo em dois domínios, compreenden-do um tudo o que é sagrado, o outro tudo o que é pro-fano, tal é o traço distintivo do pensamento religioso; as crenças, os mitos, os gnomos, as lendas são repre-sentações que exprimem a natureza das coisas sagra-

das, as virtudes e o poderes que lhe são atribuídos, a sua história, as suas relações umas com as outras e com as coisas profanas. Contudo, por coisas sagradas, não devemos entender simplesmente esses seres pes-soais chamados deuses ou espíritos; um rochedo, uma árvore, uma fonte, uma pedra, um pedaço de madeira, uma casa e, numa palavra, qua qualquer coisas, po-dem ser sagradas. Um rito pode ter o mesmo caráter e nem sequer existe rito que em certo grau não o tenha. Há termos, palavras, fórmulas, que não podem ser pro-nunciadas senão pela boca de personagens consagra-dos; há gestos, movimentos que nem por toda a gente podem ser executados. (DURKHEIM; 1978a:40 )

Religião motivação e ação

Para Durkheim, a verdadeira função da religião não está no campo das ideias, mas no campo da motivação e da ação.

A verdadeira função da religião não é fazer-nos pensar, enriquecer nossos conhecimentos, acrescentar às re-presentações que devemos à ciência representações de uma outra origem e de um outro caráter, mas a de fazer-nos agir, auxiliar-nos a viver. O fiel que se comu-nicou com seu deus, não é apenas um homem que vê novas verdades que o descrente ignora; ele é um ho-mem que pode mais. Ele sente em si mais força, seja para suportar as dificuldades da existência, seja para vencê-las. Ele está como que elevado acima das misé-rias humanas porque está elevado acima de sua condi-ção de homem; acredita-se salvo do mal, sob qualquer forma, aliás que ele conceba o mal. O primeiro artigo de toda fé é a crença na salvação pela fé. Ora não se vê como uma simples ideia poderia ter essa eficácia (DURKHEIM; 1978a:222 )

Desse modo, a religião é mais do que pensamento e ideia. É atitude de sair do profano e buscar o sagrado na esfera do sa-grado. Nessa dinâmica compreende-se a importância do cul-to, como mediação eficaz, que cria e recria periodicamente a fé e exalta a vida moral.

Para que a sociedade possa tomar consciência de si e manter, no grau de intensidade necessário, o senti-mento que ela tem de si mesma, é preciso que se re-úna e se concentre. Ora, esta concentração determina uma exaltação da vida moral, que se traduz por um conjunto de concepções ideais onde se exprime a vida nova que assim despertou. (DURKHEIM; 1978a:226)

4. A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER

a) A ação social: objeto e método da sociologia

Para Weber, a sociologia deve ser compreensiva, uma vez que seu objeto de estudo é a ação humana. Weber parte do pres-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

320 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

preocupada com a escolha dos melhores meios para atingir o objetivo desejado. Portanto, a ética da responsabilidade não é fim em si mesma, mas está voltada para fora de si, para os efei-tos desejados. Por outro lado, a ética da convicção age com base na convicção em si, sendo uma ação movida por uma ideia prévia, anterior a qualquer contexto.

Entre a ética da responsabilidade e a ética da convicção não encontramos uma necessária contradição; ao contrário, en-contramos complementaridade. Evidentemente, há muita diferente entre a ótica de um chefe de Estado e a ótica de um cidadão comum. O primeiro, seguramente, estará mais vincu-lado à dimensão pública; por isso, mais focado na responsabi-lidade, na preocupação pelos efeitos da ação e mais concen-trado na escolha dos meios mais eficazes. Em contrapartida, o cidadão comum, provavelmente, tenderá a agir mais em conformidade com a ética da convicção

Por um lado, encontramos a dimensão pura e abstrata de uma ética separada do contexto; por outro lado, a ética encarna-da na realidade histórica e política dos homens. Assim, se um indivíduo adere cegamente à ética da pura convicção, ele po-derá, inclusive, alimentar atitudes fundamentalistas, fanáticas e intolerantes. É no campo político que esses antagonismos costumam se manifestar.

c) Estado, poder e dominação, na ótica de Max Weber

No campo das ações sociais e políticas, Weber trabalha com os conceitos de poder e de dominação. Quanto à concepção weberiana de poder e de domínio, encontramos em Raymond Aron uma excelente síntese

O poder (Macht) é definido simplesmente como a probabilidade de um ator impor sua vontade a outro, mesmo contra a resistência deste. Situa-se, portanto, dentro de uma relação social, e indica a situação de desigualdade que faz com que um dos atores possa impor sua vontade ao outro. Estes atores podem ser grupos __ por exemplo, Estados __ ou indivíduos. A do-minação (Herrschaft) é a situação em que há um se-nhor (Herr); pode ser definida pela probabilidade que tem o senhor de contar com a obediência dos que, em teoria, devem obedecê-lo. A diferença entre poder e dominação está em que, no primeiro caso, o coman-do não é necessariamente legítimo, nem a obediência forçosamente um dever; no segundo, a obediência se fundamente no reconhecimento, por aqueles que obedecem, das ordens que lhe são dadas. As moti-vações da obediência permitirão, portanto, construir uma tipologia da dominação.

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. Trad. Sergio Bath. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 806-807.

d) Vocação política: paixão, responsabilidade e senso de proporção.

suposto de que o ser humano é movido pelo sentido que atri-bui às coisas e às relações; ou seja, toda ação humana recebe um sentido que orienta o ser humano em suas práticas coti-dianas. Por ação social, Weber entende toda ação motivada do indivíduo, influenciada socialmente. Trata-se de uma ação que acontece inserida em um contexto sociocultural, que recebe um sentido ou uma motivação subjetiva, tendo como referên-cia a ação do outro.

Dessa forma, a Sociologia é concebida como “uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos”.(WEBER; 1998:3). Assim, o objeto da sociologia seria captar e compreender a conexão de sentidos das ações humanas. Por ação entende-se qualquer conduta, já ação social seria uma “ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, refere-se ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso” (WEBER; 1998:3).

Na sociologia compreensiva de Weber, existem quatro tipos ideais de motivações dos comportamentos humanos: ação social realizada por tradição, por afeto, por valor, por uma finalidade. Inicialmente, inseridos na cultura, os seres hu-manos costumam agir pela força da tradição, do hábito ou do costume social. Nessa dimensão, estamos diante de uma conduta muitas vezes irrefletida, pouco ou nada racional. Isso dificulta a própria compreensão dessa conduta humana.

Em segundo lugar, a atividade humana é também passível de ser movida pelo afeto, pela dimensão emotiva, impulsiva. Nesse horizonte, inserem-se muitas de nossas ações cotidia-nas, também as ações movidas pelas paixões do ódio ou da vingança.

Outra forma de ação humana é aquela atividade racional mo-vida pelo valor. Nesse terreno, encontramo-nos na ética da convicção, pois o sujeito é movido por uma causa, seja ela reli-giosa, politica, artística ou científica. Aqui, o olhar traz uma co-erência interna, portador de convicções, não necessariamente conectado a uma consciência das decorrências de suas ações.

A forma racional de atividade, guiada pela finalidade, insere-se no horizonte da ética da responsabilidade, na qual o olhar considera as consequências possíveis da ação. Aqui se estabe-lece a relação entre fins e meios. Busca-se os melhores meios para chegar à meta estabelecida. Nessa escolha dos fins, cos-tuma também estar presente a ação guiada por valor. Nes-se caso, o indivíduo estabelece prioridades e, assim, atribui maior valor a um meio específico em detrimento de outros.

b) Ética da Responsabilidade e ética da convicção

Para Max Weber, em toda ação social deve-se ficar atento a dois aspectos fundamentais: por um lado, às influências do meio sociocultural e, por outro lado, as motivações individu-ais. Considerando as motivações individuais das ações sociais, Weber reconhece duas espécies de motivações, que darão ori-gem a duas formas fundamentais de ética, denominadas ética da responsabilidade e da convicção.

Nessa abordagem, de um lado, está a referência a Maquia-vel e, de outro, a Kant. Por um lado, a ação praticada sob a ótica ou ética da responsabilidade considera os efeitos ou consequências possíveis da ação. É o reino da política. Nes-sa dinâmica, o olhar se volta para a eficácia da ação, para os efeitos desejados. Por isso, a ética da responsabilidade está

Todo homem, que se entrega à política, aspira ao po-der ___ seja porque o considere como instrumento a serviço da consecução de outros fins, ideais ou egoís-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA321Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

Se, portanto, o amor a uma causa deve ser sentimento pre-ponderante na vida do indivíduo que exerce função pública, a vaidade é, então, a grande inimiga política, uma vez que essa leva o individuo a centrar-se em si mesmo, esquecendo os projetos sociais e políticos. Assim, a vaidade conduz à medio-cridade política.

Em verdade e em última análise, existem apenas duas espécies de pecado mortal em política: não defender causa alguma e não ter sentimento de responsabilida-de. [...]. De uma parte, a recusa de se colocar a serviço de uma causa o conduz a buscar a aparência e o brilho do poder, em vez do poder real; de outra parte, a au-sência do senso de responsabilidade o leva a só gozar do poder pelo poder, sem deixar-se animar por qual-quer propósito positivo. [...]. Política dessa ordem não passa jamais de produto de um espírito embotado, so-beranamente artifi cial e medíocre, incapaz de apreen-der qualquer signifi cação da atividade humana. Nada, aliás, está mais afastado da consciência do trágico, de que se penetra toda ação, e, em especial, toda ação política do que essa mentalidade. (WEBER: 2000, p.107-108)

tas, seja porque deseje o poder “pelo poder”, para go-zar do sentimento de prestígio que ele confere. (WEBER;

2000: p. 56)

e) Tipos e Fundamentos da legitimidade

Entre os fundamentos que conferem legitimidade, Max Weber indica a crença na tradição, o carisma pessoal e a legalidade. Ou seja, existe uma tradição de longo tempo, que criou a mo-ral da comunidade. Essa moral permite falar em identidade de um povo ou comunidade. E de acordo com esse povo, o seu representante, para chegar à eleição e ao exercício legitimo de seu poder, deve apresentar um carisma político que receba da comunidade sua efetiva e afetiva adesão.

Para Max Weber, quem se dedica à vida pública, assumindo a carreira política deve ter determinados traços de persona-lidade que esse estilo de vida requer. Quais são os riscos, os desafi os e as alegrias inerentes a essa vida? O que se espera de quem se dedica a essa vida?

A carreira política concede, antes de tudo, o sentimen-to de poder. A consciência de infl uir sobre outros seres humanos, o sentimento de participar do poder e, so-bretudo, a consciência de fi gurar entre os que detêm nas mãos um elemento importante da história que se constrói podem elevar o político profi ssional, mesmo o que só ocupa modesta posição, acima da banalidade da vida cotidiana.

Pode-se dizer que há três qualidades determinantes do homem político: paixão, sentimento de responsa-bilidade e senso de proporção. Paixão no sentido de “propósito a realizar”, isto é, devoção apaixonada a uma causa [...]. Com efeito, a paixão apenas, por sin-cera que seja, não basta. Quando se põe a serviço de uma causa, sem que o correspondente sentimento de responsabilidade se torne a estrela polar determi-nante da atividade, ela não transforma um homem em chefe político. Faz-se necessário, enfi m, o senso de proporção, que é a qualidade psicológica fundamen-tal do homem político. Quer isso dizer que ele deve possuir a faculdade de permitir que os fatos ajam so-bre si no recolhimento e na calma interior do espírito, sabendo, por consequência, manter à distância os ho-mens e as coisas. A “ausência de distância”, como tal, é um dos pecados capitais do homem político. [...] O que se chama “força” de uma personalidade política indica, antes de tudo, que ela possui essa qualidade. ( WEBER;

2000:105-106)

Existem, em princípio, três razões internas que jus-tifi cam a dominação, existindo, consequentemente, três fundamentos da legitimidade. Antes de tudo, a autoridade do “passado eterno”, isto é, dos costumes santifi cados pela validez imemorial e pelo hábito, en-raizado nos homens, de respeitá-los. Tal é o “poder tra-dicional”, que o patriarca ou senhor das terras, outrora, exercia.

Existe, em segundo lugar, a autoridade que se funda em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma) ___ devoção e confi ança estritamente pes-soais depositadas em alguém que se singulariza por qualidades prodigiosas, por heroísmo ou por outras qualidades exemplares que dele fazem o chefe. [...].

Existe, por fi m, a autoridade que se impõe em razão da “legalidade”, em razão da crença na validez de um es-tatuto legal e de uma “competência” positiva, fundada em regras racionalmente estabelecidas ou, em outros termos, autoridade fundada na obediência, que reco-nhece obrigações conformes ao estatuto estabeleci-do. Tal é o poder, como o exerce o “servidor do Estado” em nossos dias e como o exercem todos os detentores do poder que dele se aproximam sob esse aspecto. (WEBER; 2000:57-58)

f) O Estado, a burocracia e o uso legítimo da força

Sociologicamente, o Estado não se deixa defi nir a não ser pelo específi co meio que lhe é peculiar, tal como é peculiar, a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coação física. [...]. Em todos os tempos, os agrupamentos políticos mais diversos ___ a começar pela família ___ recorreram à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâ-neo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território ___ a noção de terri-tório corresponde a um dos elementos essenciais do Estado ___ reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. [...]. O Estado se transforma, portanto, na única fonte do “direito” à violência. (WEBER; 2000:56).

O ESTADO pode ser concebido sob duas perspectivas diferentes: juridicamente e politicamente.

Sob o ponto de vista jurídico, para que haja Estado, é preciso haver território, povo, governo e soberania.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

322 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

pole, onde se verifi ca não só a mais elevada divisão econômi-ca do trabalho, como também o acentuado divórcio entre a cultura subjetiva e objetiva. E nesse divórcio o mais grave de tudo é que a luta humana não é por humanização, evolução e aperfeiçoamento da subjetividade, mas por sobrevivência, como na natureza, só que agora em uma disputa na qual o produto será concedido, à duras penas, por outros homens.

b) A divisão do trabalho e a tragédia da cultura

Simmel se refere à modernidade como tragédia cultural. A tra-gicidade desse fenômeno consiste especialmente no fato de os objetos culturais, que são produtos do espírito humano e que formam a cultura objetiva, caminham para a autonomiza-ção de tal nível que deixam de ser objetos ou meios e passam a se tornar fi ns, alienando a si seus próprios criadores.

Simmel usa a expressão “tragédia cultural” para referir-se a essa acentuada discrepância entre as conquistas materiais da sociedade e o estado pouco evoluído do próprio ser humano. Nessa grande tragédia cultural, os sujeitos que criam a cultura não mais se reconhecem e nem são reconhecidos na cultu-ra que criam. Portanto, a sociedade moderna, marcada pelas crescentes metrópoles, iniciou um processo de automatiza-ção da vida, que implicou a alienação do indivíduo.

A sobreposição da cultura objetiva sobre a cultura subjetiva tem sua origem na divisão do trabalho e da imposição da eco-nomia monetária, uma vez que a especialização crescente da produção está fundamentada no princípio da calculabilidade precisa, mediada pelo dinheiro. Dessa forma, o que possibilita tanto a produção quanto o consumo é a economia monetá-ria, da impessoalidade e generalidade do dinheiro que tudo nivela sob o princípio da quantifi cação, do calculabilidade, da previsibilidade, da ação e razão instrumental ou estratégica. Trata-se de uma sociedade governada pelo impessoalidade do dinheiro, sem consideração à pessoa.

c) Comportamento reserva e atitude blasé

Se, por um lado, a vida moderna exalta a liberdade como li-bertação das amarras e coloca no centro o indivíduo e suas buscas, por outro lado, o estilo de vida moderna deixa as rela-ções sociais com vínculos mais débeis ou fracos, se compara-dos com as relações sociais em sociedades mais tradicionais. A nova mediação fundamental entre as pessoas seria realizada pelo aspecto monetário, pelo dinheiro, que é algo impessoal e universal. E nessa dinâmica, segundo Simmel o que mais se intensifi ca é a vida nervosa, os estímulos, as múltiplas exci-tações. Em razão disso, os indivíduos passam a adquirir um comportamento de reserva em relação aos outros, o que fun-cionaria como uma forma de defesa de sua individualidade. Assim, o individualismo é apresentado como a marca do es-pírito moderno.

Considerando os estilos e os ritmos da vida moderna, Simmel afi rma que os indivíduos são cotidianamente submetidos a um excesso de estímulos. Hiperestimulado, o indivíduo acaba fi cando sem forças de reação; nas palavras de Simmel: “inca-paz de reagir a novos estímulos com as energias adequadas”. Com isso, nasceria uma impessoalidade que caracterizaria a vida do indivíduo metropolitano moderno, produzindo indi-ferença. Para falar desse sentimento e atitude Simmel fala em atitude blasé, uma espécie de anestesia, de insensibilidade, de não reação, de não espanto, de distanciamento passivo.

Assim, por exemplo, a nação cigana não constitui um Estado, por não ter um território; igualmente, não exis-te o Estado da Palestina, pois não tem uma autonomia, embora haja povo e território. O povo é a população que tem vínculo jurídico com o Estado: certidão de nascimento, carteira de identidade, título de eleitor, etc. O governo corresponde aos indivíduos inseridos no poder executivo: prefeito, governador, presidente. Diferentemente do Estado, é importante lembrar que o governo, que é um componente do Estado, é tempo-rário, como foram os governos FHC, Lula, Dilma, Temer.

Politicamente, como se defi ne o Estado? O conceito mais claro foi construído por Max Weber, para quem o Estado é a Instituição que detém o monopólio legí-tima do uso da força física dentro de um determinado território.

No âmbito do Estado, que é o do domínio legal, a burocracia exerce um papel decisivo para a criação, o fortalecimento e a perpetuação do Estado Moderno.

A BUROCRACIA, em Max Weber, é uma forma de ad-ministrar na qual cada funcionário, aprovado em con-curso público sob critérios igualmente públicos e uni-versais, exerce uma função específi ca e especializada, dentro de uma hierarquia reconhecida. Estabelecendo uma relação de superioridade, a burocracia é um me-canismo de poder.

Em sua atuação a serviço do Estado, o funcionário tem uma série de proteções e garantias, que fazem com que muitos busquem esse serviço.

Essa estrutura burocrática acentua a impessoalidade nas repartições públicas, uma vez que o funcionário deve fazer com que sua especialidade funcione, com que sua função seja bem exercida, com que o regula-mento seja bem cumprido, buscando atender e admi-nistrar a igualdade reivindicada pelas pessoas.

5. A sociologia de G. Simmel: a vida na metrópole

a) A vida na metrópole moderna

Nesse contexto moderno de migração para os centros urbanos e de formação das metrópoles, onde a vida acontece de modo mais agitado, a sociologia de Georg Simmel (1858-1918) está focada nas reações dos indivíduos a esse rápido processo de urbanização, no qual torna-se problemática a questão da au-tonomia do sujeito diante das forças impessoais da cultura em rápida expansão. O indivíduo sente a pressão, a força coerciti-va de uma sociedade que está fi cando cada mais mecanizada e provoca alterações profundas na vida privada e social dos indivíduos. Afi nal, para Simmel, a sociedade não é constituída pelos indivíduos, mas ela é a eles anterior, ela preexiste a eles e os condiciona, ao mesmo tempo que os socializa.

O locus por excelência dessa modernidade é a grande metró-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA323Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

6. A natureza repressora da cultura, em Sigmund Freud O mal-estar na civilização

Na parte V de sua obra O mal-estar na civilização, de 1930, Sigmund Freud (1856-1939) fala da natural agressividade que existe no ser humano. Sendo assim, a vida em sociedade não aparece como algo natural. Com efeito, a instituição da socie-dade civil acarretará no ser humano um necessário mal-estar, devido à impulsividade e natural busca pelo prazer que terá de ser reprimida pela sociedade.

dade de liberdade sexual remanescente. Aqui, como já sabemos, a civilização está obedecendo às leis da necessidade econômica, visto que uma grande quan-tidade da energia psíquica que ela utiliza para seus próprios fins tem de ser retirada da sexualidade

FREUD S. Mal-estar na civilização. Obras psicológicas completas. Edição Standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago editora, 1996; p. 109.

7. Processo civilizador em Norbert Elias.

a) O processo civilizador e o refinamento das ações e dos sentimentos

Em O processo Civilizador, Norbert Elias Norbert Elias (1897-1990) analisa a formação dos valores sociais e os efeitos que o Estado moderno provoca sobre os costumes e a conduta moral dos indivíduos. O Olhar de Elias favorece a desnaturali-zação dos valores e dos sentimentos morais. Os nossos sen-timentos e valores seriam uma construção história, que tem contexto, e atenderiam a objetivos ou interesses de classe.

Desse modo, no percurso histórico de construção da cultu-ra, os valores sociais aprendidos e apreendidos ou assimi-lados e internalizados passam a ser vistos como se fossem naturais, e incorporam a estrutura da personalidade do indivíduo. Por exemplo, o sentimento de vergonha, que mui-tos julgam como natural, Elias evidencia como socialmente aprendido nas relações sociais.

Uma das mais significativas contribuições de Norbert Elias está justamente na crítica que faz à ideia de civilização que imperava, evidenciando que as maneiras “civilizadas” não são naturais, mas resultado de um lento e progressivo desenvol-vimento histórico, no qual vai sendo processado um “refina-mento” das ações e dos sentimentos dos indivíduos, por meio de coações e coerções sociais, transformando modos de pensar, de perceber, de sentir e de agir .

Metodologicamente, Elias se concentra em uma documen-tação referente à instituição de regras e padrões de condu-ta, manuais de boas maneiras que lentamente promovem o “refinamento” das ações e dos sentimentos dos indivíduos. Norbert Elias mostra como, historicamente, a centralização do poder nas monarquias absolutistas exigia maior controle das emoções e dos impulsos entre os indivíduos que se relacionavam nesse nível hierárquico a ponto de ser um elemento definidor da identidade, que distinguia a elite social. A partir do momento em que a burguesia passa a as-sumir funções governamentais, a instituição família receberá como uma de suas principais funções a educação das crian-ças, na direção do seu condicionamento para os padrões de comportamento socialmente aceitos.

Esse processo civilizador seria um processo de internaliza-ção dos comportamentos considerados “civilizados”, cul-minando no autocontrole das ações e emoções, produzindo uma mudança profunda na personalidade do sujeito. Para Elias, a condição de sobrevivência de uma sociedade está atre-lada à canalização das pulsões e emoções do indivíduo na

A existência da inclinação para a agressão, que po-demos detectar em nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros, constitui o fator que perturba nossos relacionamentos com o nosso próxi-mo e força a civilização a um tão elevado dispêndio de energia. Em consequência dessa mútua hostilidade primária dos seres humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada de desintegração. [...]. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamen-tos amorosos inibidos em sua finalidade, daí a restri-ção à vida sexual e daí, também, o mandamento ideal de amar ao próximo como a si mesmo, mandamento que é realmente justificado pelo fato de nada mais ir tão fortemente contra a natureza original do homem. A despeito de todos os esforços, esses empenhos da civilização até hoje não conseguiram muito. Espera--se impedir os excessos mais grosseiros da violência brutal por si mesma, supondo-se o direito de usar a violência contra os criminosos; no entanto, a lei não é capaz de deitar a mão sobre as manifestações mais cautelosas e refinadas da agressividade humana.

FREUD: Mal-estar na civilização. Obras psicológicas completas. Edição Standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago editora, 1996. p.

160-161

Uma das estratégias da cultura para reprimir a libido humana tem relação com o culto ao trabalho, conduzindo os indivídu-os a trabalharem cada vez mais. Contudo, isso também acaba contribuindo para um profundo mal-estar no indivíduo nessa sociedade.

Sobre a repressão social, na parte IV de sua obra Mal-estar na civilização Freud assim se expressa:

A tendência por parte da civilização em restringir a vida sexual não é menos clara do que sua outra ten-dência em ampliar a unidade cultural. Sua primeira fase, totêmica, já traz com ela a proibição de uma es-colha incestuosa de objeto, o que constitui, talvez, a mutilação mais drástica que a vida erótica do homem em qualquer época já experimentou. Os tabus, as leis e os costumes impõem novas restrições, que influen-ciam tanto homens quanto mulheres. Nem todas as civilizações vão igualmente longe nisso, e a estrutura econômica da sociedade também influencia a quanti-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

324 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

direção de algo socialmente aceito e valorizado. É nesse contexto que nascem ou se formam as normas de conduta.

OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA: O OUTRO

Mostramos como o controle efetuado através de ter-ceiras pessoas é convertido, de vários aspectos, em autocontrole, que as atividades humanas mais ani-malescas são progressivamente excluídas do palco da vida comum e investidas de sentimentos de vergonha, que a regulação de toda a vida instintiva e afetiva por um firme autocontrole se torna cada vez mais estável, uniforme e generalizada. Isso tudo certamente não re-sulta de uma ideia central concebida há séculos por pessoas isoladas, e depois implantada em sucessivas gerações como a finalidade da ação e do estado de-sejados, até se concretizar por inteiro nos “séculos de progresso”. Ainda assim, embora não fosse planejada e intencional, essa transformação não constitui uma mera sequência de mudanças caóticas e não estrutu-radas. ( ELIAS; 1993: 193-194

Desse modo, o processo civilizador, muito mais do que um processo racional, se constituiria como um processo no qual aumenta o sentimento de vergonha sobre determinados comportamentos indesejados socialmente, gerando profun-das alterações emocionais e mentais nos sujeitos culturais.

Na verdade, [a limitação dos instintos] é cultivada des-de tenra idade no indivíduo, como autocontrole ha-bitual, pela estrutura da vida social, pela pressão das instituições em geral, e por certos órgãos executivos da sociedade (acima de tudo, pela família) em particu-lar. Por conseguinte, as injunções e proibições sociais tornam-se cada vez mais partes do ser, de um supere-go estritamente regulado. (ELIAS; 1993: 186-187)

Assim, a força coercitiva da cultura move os comportamentos sociais de seus membros. O próprio indivíduo passa a exercer um autocontrole para não frustrar as expectativas sociais e sentir-se incluído socialmente.

Nesse sentido, para Norbert Elias, o critério que define ou orienta o processo civilizador de uma cultura é a passagem da coerção externa para a autocoerção, estágio no qual, de forma antecipada, o indivíduo evita a necessidade da punição externa, necessidade através de um comportamento social-mente esperado, sendo gentil, polido e generoso. Portanto, o processo civilizador acontece na medida em que os impulsos primários e agressivos do ser humano são controlados e cana-lizados para a vida social.

8. A Antropologia de Lévi-Strauss.

a) O estruturalismo como método

O antropólogo Lévi-Strauss (1908-2009) é considerado funda-dor da antropologia estrutural. Ele introduziu na Antropologia o método estruturalista, que consiste em descobrir os ele-mentos mais profundos que existem numa cultura e que sustentam determinados costumes e valores.

“Enquanto as maneiras de ser ou de agir de certos ho-mens forem problemas para outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre estas diferenças, que, de forma sempre renovada, continuará a ser o domínio da antropologia.” (LÉVI-STRAUSS; 1962: p.54)

Em sua obra, o pensamento selvagem, Lévi- Strauss ao falar do objeto e da metodologia do etnólogo ou do antropólogo afirma:

(...) O que todo etnólogo tenta fazer com culturas dife-rentes: colocar-se no lugar dos homens que aí vivem, compreender sua intenção em seu princípio e em seu ritmo, perceber uma época ou uma cultura como um conjunto significante. (LÉVI-STRAUSS,1989: p. 292)

No reconhecimento da singularidade das diferentes etnias, afirma:

Um povo primitivo não é um povo ultrapassado ou atrasado; num ou noutro domínio pode demonstrar um espírito de invenção e realização que deixa aquém os êxitos dos civilizados. (LÉVI-STRAUSS, 1967: P.122)

Além da visão distorcida e preconceituosa, costuma prevale-cer, no senso comum, uma concepção essencialista de identi-dade cultural. Quando se pergunta sobre o significado de ser índio costuma-se ouvir uma resposta padrão, universalizada, como se houvesse uma única identidade indígena, desvincu-lada de seu movimento histórico.

Cada vez que somos levados a qualificar uma cultura humana de inerte ou estacionária, devemos, portanto, nos perguntar se este imobilismo aparente não resulta da ignorância que temos de seus interesses verdadei-ros, conscientes ou inconscientes, e se, tendo critérios diferentes dos nossos, esta cultura não é, a nosso res-peito, vítima da mesma ilusão. (LÉVI-STRAUSS,1976: P. 346)

Portanto, a identidade cultural não é simplesmente sin-gular e fixa, ou seja, não há um único jeito de ser índio, por exemplo, e nem permanece de uma única forma ao longo da história. A identidade é complexa e dinâmica. Sendo histórica, toda cultura é comunidade imaginada, pensada, inventada, em projeção e em realização.

Em Lévi-Strauss, encontramos uma preocupação mais focada em olhar para a singularidade de cada povo na situação atual em que se encontra, um olhar sincrônico, e não tanto para a dimensão diacrônica, ou seja, um olhar mais voltado para a estrutura do que para o movimento histórico das transforma-ções. Lévi-Strauss busca captar no momento, na situação real os elementos mais profundos de uma cultura e nelas perceber a presença de algo universal. E somente após haver compre-endido como a cultura está estruturada e como ela opera seria possível refletir e compreender os processos de mudança.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA325Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

De acordo com Lévi-Strauss, ao olhar para as relações sociais, para os modos de vida, para os sistemas de representação, o antropólogo encontra a matéria-prima para construir os mo-delos que evidenciam a estrutura social. O foco especial do seu olhar era chegar ao que fosse comum ao grupo, algo que fosse um universal humano. Diferentemente da metodologia emprega pela História, focada em expressões conscientes, a etnologia (Antropologia cultural e social) busca as relações inconscientes da vida social, aqueles elementos não conscien-tes, profundos, os invariantes universais que funcionam como cimento ou elo da vida social. Ao optar pela estrutura, a antro-pologia não estava recusando a história, mas concentrando-se metodologicamente num aspecto.

Levi- Strauss foi um antropólogo que dedicou sua vida ao es-tudo do comportamento e do pensamento dos índios ameri-canos. Para esse estudo, ele usou o método estruturalista, que consistia em captar os invariantes profundos da mente huma-na, a “procura por harmonias inovadoras”. Para tanto, sempre partia da empeiria, da experiência, e nela percebeu que não há motivos para aceitar a noção de que a civilização ocidental é privilegiada.

Em seus inúmeros estudos, que aconteciam entre inúmeras viagens para muitas tribos indígenas, sempre reconhecia que a mente “selvagem” é igual à “civilizada”. Afirmava que as ca-racterísticas humanas são as mesmas. Ele se dedicava espe-cialmente a buscar a racionalidade nativa.

A passagem da natureza para a cultura é o ponto central de sua reflexão. Ele afirma que essa passagem se dá pela media-ção da linguagem. O ser humano usa, por exemplo a língua, que tem sua própria racionalidade, que nós mesmos não co-nhecemos.

No estudo de natureza e cultura, afirmava que o ser huma-no é uma espécie passageira, que um dia estará extinta. Em 2005, quando completou 97 anos, ele recebeu, na Espanha, um premio internacional. Na ocasião, ele se pronunciou nes-ses termos: "Fico emocionado porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".

b) A proibição do incesto e a formação da cultura

Em  As estruturas elementares do parentesco, Lévi-Strauss afir-ma que existem na natureza humana ou no espírito humano determinados esquemas ou modelos universais de pensa-mento. E nesses modelos se encontraria o fundamento da passagem da natureza à cultural, a partir da proibição do in-cesto e a partir das instituições matrimoniais.

Para Lévi-Strauss, a proibição do incesto deve ser vista den-tro de uma regra de reciprocidade positiva, na dinâmica da dádiva, que exige a troca das mulheres nos sistemas de alian-ça matrimonial. Como avesso negativo dessa regra surgiu a proibição do incesto. Dessa forma, a troca aparece como o fundamento da vida social. Existe aqui um postulado de uma unidade estrutural do ser humano na diversidade das cultu-ras, no interior das quais sempre se encontram modelos clas-sificatórios duais.

No princípio da reciprocidade, existe uma transferência de va-lor, consentida entre indivíduos, que faz com que uma nova qualidade seja acrescentada ao valor transferido. A proibição do incesto aparece assim como a verdadeira certidão do nas-cimento da vida social, “a passagem do fato natural da consan-guinidade para o fato cultural da aliança” (Lévi-Strauss, 1967: p.35). O que faz o incesto ser interdito socialmente é o fato de ele ser uma ameaça a uma ordem social estabelecida.

Lévi-Strauss se recusa a pensar ou a aceitar a proibição do in-cesto em termos biológicos ou psíquicos. Ele chega a afirmar que: “ Nada existe na irmã, na mãe, nem na filha que as desqua-lifique enquanto tais. O incesto é socialmente absurdo antes de ser moralmente condenável (LÉVI-STRAUSS, 1976: p. 526)

Portanto, não aceita qualquer explicação essencialista ou substantiva, como se houvesse alguma coisa intrínseca às pessoas. Sua abordagem é estruturalista, ou seja, o fator explicativo deve ser buscado não nos termos em si, mas na relação entre os termos. E, no caso do incesto, deve-se atentar para a posição dos indivíduos dentro de um sistema de parentesco. Quem está na posição de pai ou irmão, deve dar suas filhas e irmãs em casamento a outros homens que, por sua vez estão submetidos à mesma regra geral dentro do grupo. Assim, a proibição do incesto institui, além do casa-mento, o parentesco

A proibição do incesto é menos uma regra que proíbe casar-se com a mãe, a irmã ou a filha do que uma regra que obriga a dar a outrem a mãe, a irmã e a filha. É a regra do dom por excelência (LÉVI-STRAUSS, 1976A: P. 522).

9. O processo de vigilância social em Michel Foucault

a) O monitoramento do individuo

Nas reflexões de Michel Foucault (1926-1984) fica evidencia-do o quanto o sujeito é sempre um resultado de determinada prática social. Ou seja, o indivíduo é produzido pela socieda-de, e uma das instituições responsáveis por essa fabricação de um determinado ou esperado sujeito é a escola. E a escola funcionaria como uma das “instituições de sequestro”, que re-tiram o individuo do seio familiar e, durante, um determinado período de tempo, vão moldando suas condutas e discipli-nando seus comportamentos, à luz das expectativas sociais

Quando Foucault reflete sobre o poder, insiste no reconheci-mento de que os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos aos quais nada ou nin-guém escapa. Por essa razão, Foucault apresenta forte inte-resse nos aspectos microfísicos do poder, em sua presença estendida por todo o corpo social. Em decorrência disso, ele combate a ideia de um Estado como força repressora que es-teja em algum lugar específico.

Em sua obra “Vigiar e punir”, Foucault nos mostra como o Esta-do moderno exerce seu poder de monitoramento, de controle e punição, por meio de um complexo aparato, que inclui esco-las, igrejas, instituições de trabalho, prisões etc. Assim, o que existe na verdade são infinitos mecanismos de saber e poder

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

326 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

que perpassam todo o tecido social, gerando e modificando condutas nos indivíduos.

Essa força relacional oculta, não personalizada, atua em todos os âmbitos produzindo um ser humano domesticado ou do-cilizado. Assim, o poder difuso realiza um controle difuso. Um exemplo no qual podemos fazer ou perceber a aplicação des-sa ideia encontra-se na estrutura das fábricas ou dos presídios, nos quais se encontra ou uma torre ou vidros transparentes, por meio dos quais a absoluta vigilância se exerce, nela o vi-giado acaba interiorizando o olhar do vigia.

O Panóptico, na inspiração de Jeremy Bentham, era um edifí-cio circular. No centro do pátio havia uma torre com vigilantes, a partir de onde se via todas as celas e tudo o que acontecia em seu interior. Esse “grande olho que tudo vê”, foi tematizado no romance 1984, de George Orwell. A partir desse romance, percebemos a atualidade do Big Brother, do olho que tudo fiscaliza, fazendo circular o poder, criando um sistema per-manente de recompensas e penalidades que classificam as condutas, com o objetivo de, acima de tudo, homogeneizar os indivíduos. Segundo Foucault, “o panóptico é uma máqui-na maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogêneos de poder”. (FOUCAULT; 2008:167):

As relações de poder

Na introdução à obra Microfísica do poder, Roberto Machado afirma

tempo todo. Por isso, o estruturalismo é uma radical denúncia da ideia existencialista de que o homem é ser livre, sujeito au-tônomo de sua história. O pensamento de Karl Marx também sinaliza, em seu materialismo, que as relações materiais de produção da existência determinam a forma de pensar e de agir do ser humano; ou seja, o ser social do homem, seu meio cultural, determina a sua consciência.

Sobre o poder como rede que atravessa todo o corpo social, Foucault assim expressa:

O poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Não existem de um lado os que têm o poder e de outro aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamen-te falando, o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E que funciona como uma maquinaria, como uma máquina social, que não está situada em um lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda estrutura so-cial. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação. ( MACHADO; 1970: XVI).

Foucault reflete sobre o Estado e a não identidade ou o não monopólio que o Estado teria do poder, afirmando que o po-der não pertence a alguém especificamente ou esteja em um lugar determinado. O que há são múltiplas práticas ou rela-ções de poder.

Por dominação eu não entendo o fato de uma domi-nação global de um sobre outros, ou de um grupo so-bre outro, mas as múltiplas formas de dominação que podem se exercer na sociedade. Portanto, não o rei em sua posição central, mas os súditos em suas relações recíprocas: não a soberania em seu edifício único, mas as múltiplas sujeições que existem e funcionam no in-terior do corpo social. (FOUCAULT; 1985: 181)

Segundo esses termos, Foucault sinaliza para o fato de o po-der atuar de forma ramificada, circular, em rede, não podendo ser monopólio de alguém.Com essa concepção de poder difu-so e atuante na sociedade contemporânea, Foucault explicita que vivemos dentro de uma estrutura que nos condiciona o

Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produ-tiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instancia negativa que tem por função repri-mir. (FOUCAULT;1979: p.8.)

Para Foucault, o indivíduo moderno é fortemente monitora-do e controlado por muitas instâncias de poder. Esse moni-toramento generalizado acontece atualmente, também, nas compras que um indivíduo faz, por exemplo, com seu cartão de crédito, nos produtos que consume, etc.

Foucault argumenta que em toda sociedade existem os dis-cursos de verdade, linguagens que vão moldando corpos e comportamentos, condicionando os indivíduos:

Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “polí-tica geral” de verdade, isto é, os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdadeiros..., os meios pelo qual cada um deles é sancionado, as técnicas e procedimentos valorizados na aquisição da verdade; o status daqueles que estão encarregados de dizer o que conta como verdadeiro. (FOUCAULT; 1979:12)

10. Pierre Bourdieu: O Habitus e o Efeito “Lugar”.

a) O espaço social e o espaço físico

O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) traz análises decisivas para compreendermos a dinâmica e dialética relação que existe entre indivíduo e sociedade. Ele traz uma especial sensibilidade para abordar o modo como acontecem os pro-cessos de socialização, de interiorização e de exteriorização de crenças, tradições, valores, princípios, ações comuns a grupos.

Entre os temas fundamentais encontramos o tema da intera-ção social, do capital social, cultural e simbólico, a questão do poder e da dominação, a questão das classes sociais, do sen-tido atribuído pelos indivíduos às suas ações. Acima de tudo, sua reflexão gira em torno do problema da mediação entre o indivíduo, como agente social e a sociedade. E será no concei-to de habitus, como aprendizagem socialmente situada, que ele encontrará essa mediação .

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA327Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

Para Bourdieu, “o espaço social se traduz no espaço físico”. Considerando nossa sociedade capitalista, quanto mais ca-pital alguém historicamente possuir mais ele costuma fazer parte de um grupo que se distancia socialmente de outros grupos privados do capital. E nessa distância social, os bens e os serviços costumam estar concentrados com aqueles que detém o capital econômico, cultural, simbólico. Relacionado a isso, formam-se as diferentes regiões do espaço social, e cada região vai recebendo o seu valor, considerando a oportunida-de ou não de acesso aos melhores bens e serviços disponíveis, os mais raros e mais cobiçados, de melhor qualidade em edu-cação, saúde, segurança, transporte, lazer.

ele ocupa, influenciado pelas instituições sociais de socializa-ção às quais ele tem acesso. Desse modo, habitus se forma nos grupos e nos indivíduos no interior de uma sociedade que traz as marcas de seus antepassados.

Partindo do pressuposto de que o homem é um ser social, situado historicamente em uma comunidade, a sua conduta sempre sofrerá as influências do meio. Em decorrência disso, afirma Bourdieu, o indivíduo assimilará diferentes grupos de esquemas e a partir dessa assimilação vai construindo seus esquemas e os aplica a situações particulares. É isso que se entende por habitus. Trata-se de um instrumento de percepção e de ação. Cada Indivíduo aprende a ver o mundo e cria um estilo de vida influenciado pelo meio em que vive.“O capital permite manter à distância as pesso-

as e as coisas indesejáveis ao mesmo tempo que aproximar-se de pessoas e coisas desejáveis [...] Inversamente, os que não possuem capital são mantidos à distância, seja física, seja simbolica-mente, dos bens socialmente mais raros [...] A falta de capital intensifica a experiência da finitude: ela prende a um lugar.

BOURDIEU, P. “Efeitos do lugar”. In: BOURDIEU, P (Org). A miséria do

Mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.p. 164

Quem ocupa qual lugar no espaço social? De modo geral, indi-víduos socialmente distantes, como ricos e pobres, costumam ter fronteiras bem definidas entre eles. E essas fronteiras não são somente definidas pelo capital econômico, mas também pelo capital cultural, social e simbólico. A tendência é de esses grupos se fecharem em si mesmos, em bairros tidos como no-bres ou chiques, por um lado, e em bairros periféricos, favelas, morros e guetos, por outro lado.

O bairro estigmatizado degrada simbolicamente os que o habitam, e que, em troca, o degradam simbolicamente, porquanto, estando privados de todos os trunfos necessários para participar dos diferentes jogos sociais, eles não têm em comum senão sua comum excomunhão. A reunião num mesmo lugar de uma população homogênea na despossessão tem também como efeito redobrar a despossessão, principalmente em matéria de cul-tura e de prática cultural. ( BOURDIEU; 1997:166)

Construindo o Habitus

Todo individuo é situado socialmente e passa por um proces-so de socialização, por meio do qual aprende a ver o mundo, apreende modos de ser e de pensar, a dar valor a certas coisas, a agir de determinadas maneiras. E nesse processo o conceito de habitus, do modo como foi desenvolvido por Bourdieu, tor-na-se um conceito chave para compreender os modos como as socializações acontecem..

O habitus tem uma dimensão social e uma dimensão in-dividual. Inicialmente, existe o elemento externo e objetivo, o coletivo, o grupo, a classe social. Esse grupo tem seus va-lores, seus princípios, sua visão de mundo. O indivíduo que nasce no referido grupo irá internalizar ou interiorizar essa objetividade, a visão do grupo e formará um habitus subjetivo relativamente homogêneo ao do grupo. E essa internalização que o sujeito faz está condicionada pela posição social que

O habitus adquirido na família está no princípio da es-truturação das experiências escolares, o habitus trans-formado pela escola, ele mesmo diversificado, estan-do por sua vez no princípio da estruturação de todas as experiências ulteriores (BOURDIEU. P. Esquisse d'une theo-rie de la pratique, p. 162-189. In: ORTIZ; 1983: 18)

Desse modo, Bourdieu define habitus como

um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, fun-ciona a cada momento como uma matriz de percep-ções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas, que permitem resolver os problemas da mesma for-ma, e às correções incessantes dos resultados obti-dos, dialeticamente produzidas por esses resultados. (BOURDIEU. P.Esquisse d'une theorie de la pratique. In: ORTIZ; 1983: 65)

Em suma, para Bourdieu existe uma relação dialética, dinâ-mica e conflitiva entre sociedade e indivíduo. Servimo-nos das palavras a seguir como síntese, nas quais Bourdieu cria o rótulo de “estruturalismo construtivista” para definir seu pen-samento

Por estruturalismo, ou estruturalista, quero dizer que existem, no próprio mundo social e não apenas nos sistemas simbólicos - linguagem, mito, etc. -, estrutu-ras objetivas, independentes da consciência e da von-tade dos agentes, as quais são capazes de orientar ou coagir suas práticas e representações. Por construtivis-mo, quero dizer que há, de um lado, uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e ação que são constitutivos daquilo que chamo de habitus e, de outro, das estruturas sociais, em particular do que cha-mo de campos e grupos, e particularmente do que se costuma chamar de classes sociais.

BOURDIEU. P. Coisas ditas. São Paulo, Brasiliense, 1990. p. 149

11. Gilberto Freyre: O Brasil miscigenado

a) Contra a tese do branqueamento

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

328 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

Gilberto Freyre (1900- 1986) busca uma nova interpretação da formação brasileira. Nessa nova leitura, fará forte oposição às interpretações racistas, naturalistas e ao determinismo ge-ográfico.Para Freyre, o ser humano deverá ser pensado como ser biológico e cultural. Apoiado na antropologia de seu mes-tre Franz Boas, rejeita a tese racista do branqueamento* do Brasil, explicitando como as relações interétnicas aconteciam no Brasil, afirmando que o determinismo seja racista ou climá-tico não exercia influência no desenvolvimento de um país. Freyre vai propor uma interpretação positiva do Brasil como país Miscigenado tanto biológica quanto culturalmente

c) A potencialidade para uma democracia étnico-racial no Brasil

Se considerarmos todas as sociedades escravocratas ameri-canas, encontraremos como elementos comuns a produção escravocrata, em sistema econômico de monocultura e em regime de família patriarcal. Para Freyre, contudo, a identida-de cultural do Brasil colônia deve ser estudada a partir desse encontro singular entre o português e o negro, que une de modo ambíguo despotismo e proximidade algo que seria bem singular da escravidão efetivada no Brasil.

Um aspecto que fez com que Freyre viesse a pensar a possibi-lidade de o Brasil ter em si o potencial para uma democracia étnica foi, por exemplo, a educação conjunta ou “co-educa-ção” que havia entre negros e brancos no mesmo espaço. Re-alidade essa que ele não via fora daqui, em outros países que também estavam em regime de escravidão. A presença dessa realidade vislumbrava um possível caminho de “democracia racial”. Ele não afirmava que ela existia, mas que havia como que sementes.

d) Dois modelos diferentes de escravidão

No intuito de compreender a singularidade da escravidão bra-sileira, Freyre compara e distingue duas formas de escravidão, a ocidental europeia pós-industrial e a oriental árabe pré-in-dustrial. Na primeira, o escravo seria reduzido à máquina de trabalho, na escravidão de tipo árabe, à qual a escravidão bra-sileira se assemelha, o escravo seria praticamente uma pessoa da família. Essa caracterização ajuda em muito a compreender o modo como Freyre percebia a formação social no Brasil co-lônia.

Em citação extraída de Novo mundo nos trópicos, Freyre se refere explicitamente a essa singularidade:

Tese do branqueamento

Em fins do século XIX e primeira metade do século XX, em várias partes do mundo defendiam-se teses eu-genista, que afirmavam a superioridade europeia, da “raça” branca, supostamente mais bela e mais civilizada, comparando com outros povos, concebidos na época como as outras “raças”: a amarela, a vermelha e a negra, ou seja, os asiáticos, os indígenas e os africanos. Essa perspectiva se desenvolver a partir da teoria de Arthur de Gobineau (1816-1882), que afirmava que a inevitável mistura de raças conduziria a humanidade à degenera-ção física e intelectual. Além dessa teoria, a perspectiva do Darwinismo social, desenvolvida por Herbert Spen-cer (1820-1903) também marcará forte influencia para a formação da tese do branqueamento.

No Brasil, a teoria ou tese do branqueamento afirma-va que com a vida dos europeus, que deveria ser cada vez mais estimulada, a miscigenação faria com que, em cada nova geração, os negros ficassem cada vez mais brancos. Um dos representantes brasileiros des-sa perspectiva foi o antropólogo João Baptista Lacerda (1846-1915) que defendia como muito positivo a mis-cigenação brasileira, pois ela favoreceria o branquea-mento, uma vez que o branco iria se sobrepor às mais cores. Essa teoria racialista, de fato, começará a ser de-sacreditada somente após a segunda guerra mundial, com as intervenções da Organização das Nações Uni-das (ONU), criada em 1945.

b) O patriarcalismo familial rural e escravocrata: Despotis-mo e proximidade.

Segundo Freyre, desde 1532, percebe-se na organização econômica e civil do Brasil, que os portugueses mudariam da perspectiva extrativista para a atividade agrícola. Dessa forma, em termos econômicos, o que passa a predominar era a monocultura latifundiária desenvolvida por meio do trabalho escravo. Em termos sociais, o aspecto a destacar passa a ser a família patriarcal resultante da união do homem português com a mulher índia. Em termos políticos, o senhor de terras e dos escravos reinava como autoridade absoluta. Em termos culturais, devido à forte presença do catolicismo associada à enorme dependência política e econômica que o Brasil vivia em relação ao patriarcado, era comum encon-trar dentro da casa do senhor de terras e de escravos”, altar religioso, e em seu território, um exército particular. Dessa forma, material e simbolicamente, o patriarcalismo familiar reinou com grandes poderes, sendo expressão da organiza-ção da própria sociedade.

Em toda parte, fiquei impressionado pelo fato de que o parentesco sociológico entre os sistemas português e maometano de escravidão parece responsável por certas características do sistema brasileiro. Caracte-rísticas que não são encontradas em nenhuma outra região da América onde existiu a escravidão. O fato de que a escravidão, no Brasil, foi, evidentemente, menos cruel do que na América inglesa, e mesmo do que nas Américas francesa e espanhola, já me parece docu-mentado de forma idônea [...]

A concepção maometana da escravidão, como siste-ma doméstico ligado à organização da família, inclu-sive às atividades domésticas, sem ser decisivamente dominada por um propósito econômico-industrial, foi um dos valores mouros ou maometanos que os portu-gueses aplicaram à colonização predominantemente, mas não exclusivamente cristã, do Brasil  (FREYRE, 1969: p.179-180).

Em “Sobrados e mocambos” (1936), o sociólogo e antropó-logo mostra como o patriarcado rural começa a ruir e o que nasce e se eleva são as elites brasileiras urbanas, de matriz europeia. Assim, as “casas-grandes” dão lugar aos sobrados europeus e as senzalas migram para os casebres dos bairros pobres das cidades.

Com a crescente urbanização, haverá uma profunda mudança na concepção de hierarquia social. Agora, o status destacado

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA329Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

passará a estar relacionada aos valores burgueses dos centros urbanos. O patriarca perde aquela tradicional referência. No-vos valores passam a comandar a sociedade, e o senhor pa-triarca terá de adaptar-se inclusive a esses novos valores, de natureza impessoal e abstrata.

Com a urbanização, inicia-se o processo moderno da burocra-tização. A presença do Estado, por meio da figura do Impe-rador, com seus burocratas, os juízes, os fiscais, normalmente muito mais próximos dos que possuíam as melhores condi-ções econômicas.Com a revolução urbana, valorizam-se o mercado, a máquina, a inovação técnica, o conhecimento, o talento individual, ideias liberais. Como decorrência, teremos a diminuição da cultura patriarcal. Contudo, os velhos pro-blemas sociais continuavam. A urbanização não melhorou as condições de vida dos negros e mestiços pobres.

e) Um Brasil miscigenado.

A reflexão antropológica e sociológica de Gilberto Freyre co-meça a superar o conceito “raça” e sua substituição pelo con-ceito “cultura”. Assim, a ideia de mescla cultural passa a ser do-minante. A miscigenação étnica é o resultado do encontro ou do cruzamento de indivíduos de diferentes etnias ou culturas: povos indígenas, negros africanos, colonizadores europeus, imigrantes europeus, árabes, japoneses, sul-americanos, etc.

O sociólogo Jessé Souza apresenta a visão de Freyre nesses termos:

nantes em nossa cultura. Com os termos dualistas “trabalho” e “aventura”, “semeador” e “ladrilhador”, o autor cria tipos ideais para ler a história que se construiu no Brasil.

Segundo Freyre, a singularidade de nossa cultura é a propensão para o encontro cultural, para a síntese das diferenças, para a unidade na multiplicidade. É por isso que somos únicos e especiais no mundo. Deve-mos, portanto, ter orgulho e não vergonha de sermos “mestiços”; o tipo físico funcionaria como um referen-te de igualdade social e de um tipo peculiar de “demo-cracia”. (SOUZA, 2004: p. 94)

Em suma, a visão de Freyre destoa de uma visão etnocêntri-ca, ao mostrar que negros e índios são portadores de cultu-ras que contribuem para constituição da identidade plural do povo brasileiro.

12. Sergio Buarque De Holanda: Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) publica sua obra Raízes do Brasil em 1936, uma análise de nossa história, re-fletindo sobre as perspectivas para superar a nossa herança colonial. Embora o Brasil, na década de 30, já estivesse par-cialmente integrado à modernidade, sua economia ainda era muito debilitada, a sociedade era basicamente agrária e bas-tante pobre, com altos índices de analfabetismo. Em termos políticos, o que se via eram permanentes disputas entre as di-ferentes oligarquias agrárias. A elite brasileira, segundo Sergio Buarque, era profundamente conservadora e autoritária.

a) Ética do trabalho e ética da aventura: Semeador e ladri-lhador

Na obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda serve-se de uma linguagem plástica para descrever os padrões domi-

Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encar-nam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador [...]. Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. [...]. Entre esses dois tipos não há tanto uma oposição absoluta como uma incompreensão ra-dical. Ambos participam, em maior ou menor grau, de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro, nem o trabalhador possuem exis-tência real fora do mundo das ideias. Mas também não há dúvida que os dois conceitos nos ajudam a situar e a melhor ordenar nosso conhecimento dos homens e dos conjuntos sociais. (HOLANDA, 2004: p. 44-45).

Servindo-nos do conceito weberiano de tipo-ideal, um con-ceito idealizado, um instrumento para a compreensão da rea-lidade, Sérgio Buarque se refere a duas éticas distintas. A ética da aventura e a ética do trabalho. A ética da aventura tem, como o nome sugere, uma plasticidade, uma adaptabilidade, que fez com que o português se adaptasse aos trópicos e ocu-passe o território criando um modelo de geração de riqueza fundamentado no latifúndio e na mão de obra escrava.

Ao se referir aos portugueses no Brasil, Buarque fala em “se-meador”, em oposição ao planejador, uma vez que a coloniza-ção busca a riqueza fácil e mais imediata ou próxima sem ter de produzir grandes obras. Para Sérgio Buarque de Holanda, os portugueses não apresentavam um destacado amor ao tra-balho disciplinado; ao contrário, o que os caracterizava era o espírito aventureiro. E isso, segundo Buarque, marcará forte-mente no tipo de colonização que aqui se operou.

b) A família patriarcal como modelo de relação

A realidade do patriarcado rural atravessará séculos e influen-ciará na configuração do Estado brasileiro, inserindo aí seus elementos singulares, como o clientelismo e a aversão a im-pessoalidade, por exemplo. Esse padrão de convívio que tem como modelo as relações privadas construídas no patriarca-do, receberá o nome de “cordialidade”, em oposição à civilida-de, uma vez que civilidade implica impessoalidade e polidez.

Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo de-mocrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimila-mos efetivamente esses princípios até onde coincidi-ram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes. ( HOLANDA, 1995: p. 160)

Será nesse contexto do poder patriarcal que se desenvolve “ o homem cordial”, um tipo ideal, um modelo de sociabilidade.

c) O homem cordial como o avesso do “cidadão” Sendo avesso à impessoalidade e às responsabilidades típi-cas da vida pública, o homem cordial, das relações afetivas e

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

330 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

pessoais, torna-se referência negativa, que vai na contramão da cidadania moderna. Se lembrarmos das reflexões feitas por Max Weber, recordaremos que a modernidade tem como marcas distintivas a burocracia e a racionalidade, a legalidade, acompanhadas da impessoalidade e de necessários formalis-mos. Desta forma, pode-se afirmar, a partir de Buarque, que o homem cordial é o inverso do protestante ascético descrito por Max Weber. Aqui, entre nós, destaca Buarque, predomina a indiferença à lei geral, quando essa contraria as afinidades emotivas dos indivíduos.

13. Florestan Fernandes e a escravidão que continua

a) Uma sociologia da sociedade a partir das vítimas

Para Florestan (1920-1995), pensar sociologicamente a reali-dade é pensa-la como uma totalidade. Dessa forma, a socio-logia consistiria em captar as relações, os nexos muitas vezes invisíveis que tecem o tecido social.

Em sociedade de origens tão nitidamente persona-listas como a nossa, é compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até ex-clusivos de qualquer tendência para a cooperação au-têntica entre os seus componentes, tendo em vista um fim exterior a eles, foram sempre os mais decisivos. De onde, com certeza, a vitalidade, entre nós, de certas forças afetivas e tumultuosas, em prejuízo das qualida-des de disciplina e método, que parecem melhor con-vir a um povo em vias de se organizar politicamente

(HOLANDA, 2004: p.61).

Dessa forma, na contramão de uma visão de senso comum, com a expressão “homem cordial”, Sérgio Buarque de Holan-da não se refere a uma suposta generosidade, afabilidade ou inocência do brasileiro, mas às relações impessoais, à hostili-dade à formalidade da lei, da burocracia. O acento recai sobre relações amistosas e lealdades pessoais não conflitivas, corpo-rativismos, personalismos, o que acaba gerando uma instabi-lidade no campo da norma e das instituições. No caso de con-flitos, “o homem cordial” apresenta-se passional, comumente com reações impulsivas e violentas.

Em suma, na narrativa de Sérgio Buarque de Holanda, o ethos específico predominante em Raízes do Brasil pode ser visto a partir dos pares antagônicos: trabalho x aventura; civilidade x cordialidade; racionalização x afetividade; igualdade x hie-rarquia; lei impessoal x personalismo e relações afetivas; pro-cedimentos e rituais sociais formais x diluição da separação público e privado; justiça como equidade x “você sabe com quem está falando?”

d) A superação do “homem cordial”

Sérgio Buarque escreve o livro “Raízes do Brasil” para pensar o passado brasileiro e para projetar um futuro que, em sua perspectiva deveria ser radicalmente democrático. O homem cordial aparece como uma herança da família rural, que é pa-triarcal, na qual o pai manda e desmanda sem contestação.Com o processo de modernização, Sérgio Buarque acreditava que haveria o processo de urbanização e com esse processo de constituição das grandes cidades, a característica mais marcante seria a do anonimato, e não mais as relações de ca-ráter tão pessoal e íntimo.

Dessa forma, para Sérgio Buarque, a transformação da socie-dade brasileira seria possível somente por meio dessa mudan-ça radical na qual o homem cordial teria ficado para trás, como algo do passado, e não mais presente no horizonte futuro. Será pela modernização, como Max Weber a pensava, que im-plica racionalização e burocracia, que se conseguirá superar a tríade do espírito aristocrático, personalista e autoritário.

Nos estudos realizados sobre índios, negros e brancos no Brasil, em especial focalizando suas chances edu-cacionais, Florestan Fernandes não esconde sua sim-patia e solidariedade incondicionais pelos oprimidos, excluídos, desprivilegiados.. (FREITAG, 2015)

As linhas gerais de seu pensamento são marcadas pela análise crítica das desigualdades sociais, explicitando as contradições da sociedade de classes. Em suas reflexões sobre a formação do povo brasileiro, destaca inicialmente a história colonialista e imperialista marcada pelo escambo e escravidão, ao mesmo tempo que marcada por lutas e revoltas. Posteriormente, em contexto de urbanização e industrialização, acentua a forma-ção de castas e da sociedade de classes..

Criticando a noção de democracia racial, presente na obra “Casa grande e senzala”, de Gilberto Freyre, Florestan Fernan-des afirma que esse “mito” está fundamentado em duas no-ções equivocadas: na ideia do Senhor de terras como um bom senhor e na ideia de que o escravo é um escravo submisso. Para Florestan, haveria uma pseudocordialidade, vista como cordialidade, e que essa noção exerceria um papel funda-mental para a manutenção das condições adversas à efetiva integração do negro na sociedade. Além disso, a noção de submissão acabaria sendo um desvio da realidade, uma não percepção da violência que caracterizava a escravidão.

No fragmento a seguir, Florestan Fernandes toca em um pon-to central para percebermos a construção histórica e a manu-tenção história da escravidão e das desigualdades sociais no Brasil.

A desagregação do regime escravocrata e senhorial operou-se, no Brasil, sem que se cercasse a destitui-ção dos antigos agentes de trabalho escravo de as-sistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado ou a Igre-ja ou outra qualquer instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objetivo prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho. O liberto viu-se convertido, sumária e abruptamente, em senhor de si mesmo, tornando-se responsável por sua pessoa e por seus dependentes, embora não dis-pusesse de meios materiais e morais para realizar essa proeza nos quadros de uma economia competitiva. (FERNANDES, 1790: p.1).

b) A escravidão que continua

Com base nessa reflexão de Florestan Fernandes, evidencia-se a razão histórica da escravidão que perdurou. Verdadeiramen-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA331Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

De forma similar, não menos violenta, aconteceu a formação do mulato-brasileiro. Darcy se refere aos atos desumanizado-res e destruidores da etnia que o povo negro sofreu ao ser tratado como animal de carga. Assim como o brasilíndio, o afro-brasileiro também se forma numa terra que etnicamente não pertence a ninguém. Com efeito, no Brasil em formação existem os que não são mais nem índios, nem africanos, nem europeus. Será dessa “ninguendade” que nascerá a identidade étnica brasileira.

A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da

te, não basta assinar uma lei que decrete o fi m da escravidão, quando os até então escravizados permanecem excluídos dos direitos sociais e não têm a oportunidade histórica de se prepararem para competirem com os outros em condições de dignidade humana.

Embora, ofi cialmente, o tipo escravista não mais seja aceito na atualidade, ele subsiste inclusive dentro do capitalismo. Ainda existem muitos setores que usam do trabalho escravo no mundo.

Se considerarmos a globalização da nossa economia e a po-pulação empobrecida nos grandes centros urbanos, perce-bemos que as condições para a permanência da escravidão estão dadas. A mão-de-obra barata está fartamente disponí-vel como estratégia e fruto do próprio sistema que dela se ali-menta. Esse fenômeno recebe o nome de dumping social; ou seja, a atitude praticada por Estados ou governos que consiste em reduzir drasticamente o custo da mão de obra, praticando salários de miséria e condições desumanas de trabalho, para assim fazer com que seus produtos alcancem o mercado in-ternacional com preços bem competitivos. Contudo, o custo social disso é alto.

14. Darcy Ribeiro e o processo de formacão do povo brasileiro

a) O processo civilizatório: a luta por reconhecimento

Em sua obra, O processo civilizatório: Etapas da evolução so-ciocultural, Darcy Ribeiro (1922-1997) escreve, a partir do ter-ceiro mundo, uma nova teoria explicativa do processo histó-rico global, buscando as especifi cidades esquecidas ou omiti-das em outras explicações, como a dos colonizados, africanos ou indígenas, historicamente considerados inferiores em re-lação à metrópole. Para Darcy, as leituras até então realizadas seguiam uma matriz eurocêntrica e, portanto, etnocêntrica.

Ele, em perspectiva anticolonialista, busca novas categorias explicativas que contemplem e reconheçam as singularidades dos povos nativos, em suas identidades culturais. Assim, ele pensa uma teoria da história com as marcas do materialismo histórico e dialético, no qual a história é compreendida como movimento e resultado do confl ito entre contrários.

Para Darcy, entre os povos “primitivos” e os da civilização moderna não existe linearidade evolutiva, como se houves-se na história uma lógica ascendente que caminhasse de um povo menos evoluído para um mais evoluído. Na história, o que existe são diversas culturas que interagem. A história é marcada pelo confl ito de povos, por rupturas. Essa sua visão é marcada profundamente pelo materialismo histórico e dialé-tico, segundo o qual a história vai sendo escrita em meio às tentativas de dominação de uns sobre outros.

Como decorrência dessa visão histórica confl itiva, o hibridis-mo torna-se uma concepção que marcará sua obra.

Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daque-

conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. (RIBEIRO, 2001: p.120).

b) O Cunhadismo na formação do povo brasileiro

Em O povo brasileiro, Darcy fala que a criação do Brasil somen-te se deu devido ao cunhadismo, que era a prática indígena de fornecer uma moça índia como esposa para que o estranho se incorporasse à comunidade nativa e formasse com ela um parentesco. Dessa forma, assim que crescer, o brasileiro, brasi-líndio ou mameluco, não aceitará a mãe índia, será ignorado pelo pai branco, rejeitado por seus irmãos europeus. É assim que se formou o brasil.

les pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se

Como cada europeu posto na costa podia fazer mui-tíssimos desses casamentos, a instituição funcionava como uma forma vasta e efi caz de recrutamento de mão-de-obra para os trabalhos pesados (...). A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. (...) Sem a prática do cunhadismo, era impraticável a criação do Brasil.

(RIBEIRO, 1995: p.83)

b) A “ninguendade” e a escravidão

Darcy refl ete sobre o brasileiro em sua busca por identidade, a partir da empresa escravista que produz a ninguendadeoriginal.

Os brasilíndios como o afro-brasileiros existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguen-dade de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se vêem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira. [...].

Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguen-dade. (RIBEIRO; 1995: pp 131.453)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

332 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma mó desumanizadora e deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compreensão, qualquer povo é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver-se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga; depois, para ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses. RIBEIRO, 1995: p.118)

EXERCÍCIOS 1. Ter consciência da ideia da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser capaz de identificar as ligações entre uma grande variedade de ambientes de pequena escala. Ser capaz de usar isso é possuir a imaginação sociológica.

MILLS, C.Wright. A imaginação sociológica. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

P.17.

Entre os objetivos da sociologia destaca-se o esforço em iden-tificar o que não está evidente, buscando explicitar as relações causais existentes entre os fenômenos sociais, não transparen-tes ao senso comum. Em decorrência, o que identifica o papel do sociólogo são a observação e a análise das forças sociais e das tendências que podem ser generalizadas ao relacionar fatos sociais.

Com base nesses fragmentos, fica evidenciado que o objetivo do estudo e da atividade sociológica consiste em

a) combater a ingenuidade da imaginação sociológica, uma vez que não apresenta a necessária dimensão empírica.

b) compreender a estrutura da sociedade a partir do estudo dos comportamentos individuais que a constituem.

c) elaborar uma profunda e sistemática crítica da estrutura social, em busca de uma vida pessoal mais autônoma.

d) explicitar e reforçar a concepção que existe no senso comum, uma vez que nele a imaginação sociológica encontra-se naturalmente formada.

e) perceber as relações causais que existem na dinâmica da vida social, uma vez que os comportamentos sociais sempre são socialmente condicionados.

2. “A existência humana não podia, pois, sistematizar-se ple-namente, enquanto o regime teológico prevalecesse, porque nossos sentimentos e nossos atos imprimiam então a nossos pensamentos dois impulsos essencialmente inconciliáveis. Se-ria, ademais, supérfluo apreciar aqui a inanidade necessária da coordenação metafísica, que, a despeito de suas pretensões absolutas, nunca pôde retirar da teologia o domínio afetivo, sendo sempre menos própria a abarcar a vida ativa.”

COMTE, Augusto. Discurso sobre o conjunto do positivismo. Trad. José Ar-thur Giannotti. SP: Nova Cultural, 1991. p. 48.

A partir do fragmento, em conformidade com o positivismo de Augusto Comte,

a) o espírito metafísico é força motriz que produz conhecimento seguro, uma vez que não necessita do vínculo com a experiência empírica.

b) o verdadeiro conhecimento parte da interpretação do fato social, ocasionando diferentes formas de leituras do real, resultando na impossibilidade de neutralidade científica.

c) o verdadeiro homem, que superou as superstições, crenças e idealizações, desconfia também do saber científico, alimentando postura cética.

d) torna-se impossível qualquer pretensão de emancipação do espírito teológico, que está na base de toda forma de pensamento.

e) o estágio atual da humanidade é o estágio positivo, do método científico que busca captar a verdade do objeto e descrever suas leis de funcionamento.

3. (Unioeste 2012) A filosofia da História – o primeiro tema da filosofia de Augusto Comte – foi sistematizada pelo próprio Comte na célebre “Lei dos Três Estados” e tinha o objetivo de mostrar por que o pensamento positivista deve imperar entre os homens. Sobre a “Lei do Três Estados” formulada por Com-te, é correto afirmar que 

a) Augusto Comte demonstra com essa lei que todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se na seguinte ordem em três fases distintas ao longo da história: a positiva, a teológica e a metafísica. 

b) na “Lei dos Três Estados” a argumentação desempenha um papel de primeiro plano no estado teológico. O estado teológico, na sua visão, corresponde a uma etapa posterior ao estado positivo. 

c) o estado teológico, segundo está formulada na “Lei dos Três Estados”, não tem o poder de tornar a sociedade mais coesa e nenhum papel na fundamentação da vida moral. 

d) o estado positivista apresenta-se na “Lei dos Três Estados” como o momento em que a observação prevalece sobre a imaginação e a argumentação, e na busca de leis imutáveis nos fenômenos observáveis. 

e) para Comte, o estado metafísico não tem contato com o estado teológico, pois somente o estado metafísico procura soluções absolutas e universais para os problemas do homem. 

4. (Unimontes 2010)  Uma das grandes preocupações de Auguste Comte era a crise de sua época, causada, segundo ele, pela desorganização social, moral e de ideias. A solução se encontraria na constituição de uma teoria apropriada – a Sociologia –, capaz de extinguir a anarquia científica vigente, origem do mal. Esse seria, precisamente, o momento em que se atingiria o estado positivo, o grau máximo de complexida-de da ciência.

Estão corretos  os conceitos que foram discutidos e defendi-dos por Auguste Comte como os mais importantes para a sua Sociologia:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA333Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

a) estática, dinâmica, individualismo e alienação.   

b) positivismo, ordem e progresso, autoridade moral.   

c) cientificismo, organicismo, evolucionismo e indústria cultural.  

d) consenso moral, altruísmo, contratualismo e individualismo.    

5. (Enem 2010) O movimento operário ofereceu uma nova resposta ao grito do homem miserável no princípio do século XIX. A resposta foi a consciência de classe e a ambição de clas-se. Os pobres então se organizavam em uma classe específica, a classe operária, diferente da classe dos patrões (ou capita-listas). A Revolução Francesa lhes deu confiança: a Revolução Industrial trouxe a necessidade da mobilização permanente.

(HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.)

No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa e Industrial para a organização da classe operária. Enquanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era originária do significado da vitória revolucionária sobre as classes dominan-tes, a “necessidade da mobilização permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria da compreensão de que:

a) a competitividade do trabalho industrial exigia um permanente esforço de qualificação para o enfrentamento do desemprego.    

b) a completa transformação da economia capitalista seria fundamental para a emancipação dos operários.  

c) a introdução das máquinas no processo produtivo diminuía as possibilidades de ganho material para os operários.    

d) o progresso tecnológico geraria a distribuição de riquezas para aqueles que estivessem adaptados aos novos tempos industriais.    

e) a melhoria das condições de vida dos operários seria conquistada com as manifestações coletivas em favor dos direitos trabalhistas.   

6. (UEM - 2011) O evolucionismo social do século XIX teve um papel fundamental na constituição da sociologia como ramo científico. Sobre essa corrente de pensamento, que reu-nia autores como Augusto Comte e Herbert Spencer, assinale o que for correto.

a) O evolucionismo define que as estruturas, naturais ou sociais, passam por processo de diferenciação e integração que levam ao seu aprimoramento.

b) O evolucionismo propõe que a evolução das sociedades ocorre em estágios sucessivos de racionalização. 

c) O evolucionismo considera o Estado Militar como a forma mais evoluída de organização social, fundamentada na cooperação interna e obrigatória. 

d) O evolucionismo rejeita o modelo político e econômico liberal, baseado na livre iniciativa e no laissez-faire, considerando-o uma orientação contrária à evolução social.

e) O evolucionismo defende a unidade biológica e cognitiva da espécie humana, independente de variações particulares

7. (UEM - 2011) Sobre a relação entre a revolução industrial e o surgimento da sociologia como ciência, assinale o que for correto.

a) A consolidação do modelo econômico baseado na indústria conduziu a uma grande concentração da população no ambiente urbano, o qual acabou se constituindo em laboratório para o trabalho de intelectuais interessados no estudo dos problemas que essa nova realidade social gerava. 

b) A migração de grandes contingentes populacionais do campo para as cidades gerou uma série de problemas modernos, que passaram a demandar investigações visando à sua resolução ou minimização. 

c) Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos fenômenos provocados pela revolução industrial compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os efeitos do desenvolvimento econômico baseado no modelo capitalista. 

d) Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados pela concentração dos operários nas fábricas, foram tema de pesquisa dos precursores da sociologia e continuam inspirando debates científicos relevantes na atualidade.   

e) A necessidade de controle da força de trabalho fez com que as fábricas e indústrias do século XIX inserissem sociólogos em seus quadros profissionais, para atuarem no desenvolvimento de modelos de gestão mais eficientes e produtivos

8. A sociologia surgiu para suprir a necessidade de se enten-der os fenômenos sociais e as regras fundamentais pelas quais se baseiam nossas relações. Entretanto, a sociologia contem-porânea difere-se da ideia original, na medida em que:

a) entende-se que as sociedades são como organismos vivos, com leis de funcionamento estabelecidas e imutáveis.

b) é amplamente aceito que as diferenças raciais determinam características do convívio do sujeito, uma vez que é a raça que estabelece o comportamento social.

c) entende-se que as sociedades e as relações sociais possuem infinitas variações, não sendo possível traçar leis gerais que justifiquem ou expliquem, em termos absolutos, todas as formas de interação humana no mundo social.

d) deixou de ser uma área do conhecimento válida, uma vez que não é possível estudar uma sociedade em razão da enorme quantidade de diferenças entre os sujeitos que a compõem.

9. (Ueg 2013) A sociologia nasce no séc. XIX após as revolu-ções burguesas sob o signo do positivismo elaborado por Au-gusto Comte. As características do pensamento comtiano são:

a) a sociedade é regida por leis sociais tal como a natureza é regida por leis naturais; as ciências humanas devem utilizar os mesmos métodos das ciências naturais e a ciência deve ser neutra.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

334 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

b) a sociedade humana atravessa três estágios sucessivos de evolução: o metafísico, o empírico e o teológico, no qual predomina a religião positivista.

c) a sociologia como ciência da sociedade, ao contrário das ciências naturais, não pode ser neutra porque tanto o sujeito quanto o objeto são sociais e estão envolvidos reciprocamente.

d) o processo de evolução social ocorre por meio da unidade entre ordem e progresso, o que necessariamente levaria a uma sociedade comunista.

10. (Ufu 2013) Na parte mais tardia de sua carreira, Comte elaborou planos ambiciosos para a reconstrução da socieda-de francesa em particular, e para as sociedades humanas em geral, baseado no seu ponto de vista sociológico. Ele propôs o estabelecimento de uma “religião da humanidade”, que aban-donaria a fé e o dogma em favor de um fundamento científico. A Sociologia estaria no centro dessa nova religião

(GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 28. )

Com base nessa assertiva, Comte aponta para o papel da So-ciologia como ciência fundamental para a compreensão

a) da ideia da revolução, como solução para sanar as questões da desigualdade social.

b) da crença na ação dos indivíduos, como fator de intervenção na realidade.

c) do consenso moral, como solução para regular e manter unida a sociedade.

d) dos elementos subjetivos da sociedade, tendo em vista a pluralidade social.

11. (Unimontes 2012) Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador positivista que propôs uma nova ciência social à So-ciologia, que inicialmente foi chamada de Física Social. Sobre os princípios dessa ciência para esse autor, analise as afirmati-vas e assinale as alternativas, marcando V para verdadeiro ou F para falso.

( ) No estágio positivo, a vida social será explicada pela filo-sofia, triunfando sobre todas as outras formas de pensamento.

( ) A imposição da disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da escola, pois ali os membros de uma so-ciedade aprenderiam, desde pequenos, a importância da obe-diência e da hierarquia.

( ) A maturidade do espírito seria encontrada na ciência; por isso, na escola de inspiração positivista, os estudos literários e artísticos prevalecem sobre os científicos.

( ) Defendeu a necessidade de substituir a educação euro-peia, ainda essencialmente teológica, metafísica e literária, por uma educação positiva, conforme o espírito da civilização moderna.

A sequência correta é

a) F,V,V.F.

b) F,V,F,V.

c) V,F,F,F.

d) V,V,V,F.

12. (Uel 2011)

O positivismo foi uma das grandes correntes de pensamento social, destacando-se, entre seus principais teóricos, Augusto Comte e Émile Durkheim. Sobre a concepção de conhecimen-to científico, presente no positivismo do século XIX, é correto afirmar:

a) A busca de leis universais só pode ser empreendida no interior das ciências naturais, razão pela qual o conhecimento sobre o mundo dos homens não é científico.

b) Os fatos sociais fogem à possibilidade de constituírem objeto do conhecimento científico, haja vista sua incompatibilidade com os princípios gerais de objetividade do conhecimento e a neutralidade científica.

c) Apreender a sociedade como um grande organismo, a exemplo do que fazia o materialismo histórico, é rejeitado como fonte de influência e orientação para as investigações empreendidas no âmbito das ciências sociais.

d) A ciência social tem como função organizar e racionalizar a vida coletiva, o que demanda a necessidade de entender suas regras de funcionamento e suas instituições forjadas historicamente.

e) O papel do cientista social é intervir na construção do objeto, aportando à compreensão da sociedade os valores por ele assimilados durante o processo de socialização obtido no seio familiar.

13. (Ufu 2010)

A Sociologia surge em um período em que o fazer científico encontrava-se influenciado por algumas teses desenvolvidas durante o século XIX. Herbert Spencer, Charles Darwin e Au-guste Comte, por exemplo, tiveram grande importância para o pensamento sociológico. O primeiro, por aplicar às ciências humanas o evolucionismo, mesmo antes das teses revolucio-nárias sobre a seleção das espécies do segundo. Com relação a Comte, houve a influência de seu “espírito positivo” na for-mação dos muitos intelectuais do período. Sobre as ideias de evolução e progresso e seu impacto no pensamento socioló-gico, podemos afirmar que:

a) A ideia de progresso, apesar de ter grande influência na área das ciências naturais, não teve impacto decisivo na constituição da sociologia.

b) A ideia de evolução foi uma das palavras de ordem do período, mas a sociologia rejeitou a sua adoção, assim como qualquer comparação entre seus efeitos no reino natural e no mundo social.

c) A explicação sociológica procurou, desde o seu início, afastar-se de qualquer forma de determinismos, fossem biológicos ou geográficos, pois se contrapunha fortemente às explicações de cunho evolucionista.

d) Em sua busca por constituir-se como disciplina, a Sociologia passou pela valorização e incorporação dos métodos das ciências da natureza, utilizando metáforas organicistas, assim como conferindo ênfase à noção de função.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA335Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

14. (Ufpa 2009)

Auguste Comte identificou os movimentos vitais da socieda-de como dinâmicos e estáticos. Em relação a esses movimen-tos, é correto afirmar que o movimento dinâmico

a) se refere à velocidade na produção industrial da Europa do século XIX.

b) representa mudanças nos modos de vida em sociedade para formas mais complexas.

c) preserva a base de todas as instituições sociais totalizantes.

d) proporciona a coesão das instituições e a competição entre os indivíduos.

e) incentiva a manutenção da ordem, valendo-se de modos tradicionais de viver em sociedade.

15. (Ufu 2003) Auguste Comte foi quem deu origem ao termo Sociologia, pensada como uma física social, capaz de pôr fim à anarquia científica que vigorava, em sua opinião, ainda no século XIX. A respeito das concepções fundamentais do autor para o surgimento dessa nova ciência, todas as alternativas abaixo são corretas, EXCETO:

a) O objetivo era conhecer as leis sociais para se antecipar, racionalmente, aos fenômenos e, com isso, agir com eficácia, na direção de se permitir uma organização racional da sociedade.

b) As preocupações de natureza científica, presentes na obra de Comte, não apresentavam relação prática com a desorganização social, moral e de ideias do seu tempo.

c) Era necessário aperfeiçoar os métodos de investigação das leis que regem os fenômenos sociais, no sentido de se descobrir a ordem inscrita na história humana.

d) Entre ordem e progresso há uma necessidade simultânea, uma vez que a estabilidade (princípio estático) e a atividade (princípio dinâmico) sociais são inseparáveis.

16. (Ufu 2001) Surgida no momento de consolidação da so-ciedade capitalista, a Sociologia tinha uma importante tarefa a cumprir na visão de seus fundadores, dentre os quais se des-taca Augusto Comte. Assinale a alternativa correta quanto a essa tarefa:

a) Desenvolver o puro espírito científico e investigativo, sem maiores preocupações de natureza prática, deixando a solução dos problemas sociais por conta dos homens de ação.

b) Incentivar o espírito crítico na sociedade e, dessa forma, colaborar para transformar radicalmente a ordem capitalista, responsável pela exploração dos trabalhadores.

c) Contribuir para a solução dos problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, tendo em vista a necessária estabilização da ordem social burguesa.

d) Tornar realidade o chamado “socialismo utópico”, visto como única alternativa para a superação das lutas de classe em que a sociedade capitalista estava mergulhada.

17. (Ueg 2015) 

Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a realida-de e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de co-nhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que deveria ser explicado como resultado da ação histórico--social dos homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse de todos. A partir de tal concepção de ideolo-gia, constata-se que

a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de consciência em representações ilusórias da realidade conforme os interesses da classe dominante.   

b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera um elemento fundamental no processo de emancipação da classe trabalhadora.   

c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da classe dominante.   

d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições do trabalho alienado no modo de produção capitalista

18 . (Uem 2012)

A sociologia marxista propõe uma interpretação da sociedade que toma as condições materiais de existência dos homens como fator determinante dos fenômenos sociais. Sobre essa concepção, assinale o que for correto. 

I - Forças produtivas e relações sociais de produção são os dois componentes básicos da infraestrutura que determinam em última instância as demais dimensões da vida social. II - Instituições como a Escola, o Estado e a Igreja fazem parte da superestrutura social, dotada de autonomia frente às de-terminações econômicas de cada momento histórico. III - Mudanças na estrutura social são desencadeadas quando se desenvolvem incongruências entre a infraestrutura produ-tiva e a superestrutura, com predomínio da primeira sobre a última. IV - As instituições que compõem a superestrutura desem-penham importantes funções de controle social e ideológico que contribuem para a manutenção das relações produtivas vigentes. V - As classes sociais são definidas segundo a posição que ocu-pam nas instituições que compõem a dimensão superestrutu-ral das sociedades. 

Estão corretas:

a) I, II, V

b) II, III, IV

c) I, IV, V

d) II, III, V

e) I, III, IV

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

336 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

19. (Ufu 2003) Considere a citação abaixo e, a seguir, marque a alternativa correta acerca da concepção materialista da his-tória formulada por Karl Marx. "... na produção social de sua existência, os homens estabe-lecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvi-mento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência."

MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973. p. 28. 

a) Marx expressa, também nessa passagem, sua concepção determinista e finalista, segundo a qual o conjunto das relações sociais reduz-se ao âmbito da produção econômica. 

b) Marx afirma que a moral, os sistemas políticos, os princípios jurídicos e as ideologias não têm vida própria diante do modo pelo qual os homens produzem e reproduzem a existência. 

c) Marx nega todo e qualquer papel ativo na história à consciência, sendo esta, antes, um mero reflexo da esfera da produção material. 

d) Marx sustenta que o ser social que pensa, que atua politicamente e que representa o seu espaço reproduz simplesmente as condições históricas vigentes, independente de sua classe social.

20. (Uel 2005) Analise a figura a seguir. 

A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que a pers-pectiva sociológica baseada nas reflexões teóricas de Karl Marx (1818-1883) faz ao caráter ideológico de certas noções de Estado.

Sobre a relação entre Estado e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar:

a) A finalidade do Estado é o exercício da justiça entre os homens e, portanto, é um bem indispensável à sociedade.

b) O Estado é um instrumento de dominação e representa, prioritariamente, os interesses dos setores hegemônicos das classes dominantes.

c) O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade dos cidadãos e garantir, também, a liberdade individual dos homens.

d) O Estado visa atender, por meio da legislação, a vontade geral dos cidadãos, garantindo, assim, a harmonia social.

e) Os regimes totalitários são condição essencial para que o Estado represente, igualmente, os interesses das diversas classes sociais.

21. (Enem 2015) O principal articulador do atual modelo eco-nômico chinês argumenta que o mercado é só um instrumen-to econômico, que se emprega de forma indistinta tanto no capitalismo como no socialismo. Porém os próprios chineses já estão sentindo, na sua sociedade, o seu real significado: o mercado não é algo neutro, ou um instrumental técnico que possibilita à sociedade utilizá-lo para a construção e edifica-ção do socialismo. Ele é, ao contrário do que diz o articulador, um instrumento do capitalismo e é inerente à sua estrutura como modo de produção. A sua utilização está levando a uma polarização da sociedade chinesa.

OLIVEIRA, A. A Revolução Chinesa. Caros Amigos, 31 jan. 2011 (adaptado)

No texto, as reformas econômicas ocorridas na China são co-locadas como antagônicas à construção de um país socialista. Nesse contexto, a característica fundamental do socialismo, à qual o modelo econômico chinês atual se contrapõe é a

a) desestatização da economia.

b) instauração de um partido único.

c) manutenção da livre concorrência.

d) formação de sindicatos trabalhistas.

e) extinção gradual das classes sociais.

22. (Ufrgs 2012) Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx identificam imperfeições na sociedade industrial capitalista, embora cheguem a conclusões bem diferentes: para o posi-tivismo de Comte, os conflitos entre trabalhadores e empre-sários são fenômenos secundários, deficiências, cuja correção é relativamente fácil, enquanto, para Karl Marx, os conflitos entre proletários e burgueses são o fato mais importante das sociedades modernas. A respeito das concepções teóricas desses autores, é CORRETO afirmar:

a) Comte pensava que a organização científica da sociedade industrial levaria a atribuir a cada indivíduo um lugar proporcional à sua capacidade, realizando-se assim a justiça social.

b) Comte considera que a partir do momento em que os homens pensam cientificamente, a atividade principal das coletividades passa a ser a luta de classes que leva necessariamente à resolução de todos os conflitos.

c) Marx acredita que a história humana é feita de consensos e implica, por um lado, o antagonismo entre opressores e oprimidos; por outro lado, tende a uma polarização em dois blocos: burgueses e proletários.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA337Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

d) Para Karl Marx, o caráter contraditório do capitalismo manifesta-se no fato de que o crescimento dos meios de produção se traduz na elevação do nível de vida da maioria dos trabalhadores embora não elimine as desigualdades sociais.

e) Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx concordam que a sociedade capitalista industrial expressa a predominância de um tipo de solidariedade, que classificam como orgânica, cujas características se refletirão diretamente em suas instituições.

23. (Unimontes) A questão das classes sociais ocupa um papel fundamental na teoria de Karl Marx. Para ele, existem condicionantes e determinantes na complexa relação entre indivíduo e sociedade e entre consciência e existência social. Considerando as reflexões de Karl Marx sobre esse tema, mar-que a alternativa incorreta.a) A luta de classes desenvolve-se no modo de organizar

o processo de trabalho e no modo de se apropriar do resultado do trabalho humano.

b) A luta de classes está presente em todas as ações dos trabalhadores quando lutam para diminuir a exploração e a dominação.

c) Em meio aos antagonismos e lutas sociais, o indivíduo pode repensar a realidade, reagir e até mesmo transformá-la, unindo-se a outros em movimentos sociais e políticos.

d) As classes sociais sustentam-se em equilíbrios dinâmicos e solidários, sendo a produção da solidariedade social o resultado necessário à vida em sociedade.

24. (Uema) As sociedades modernas são complexas e multi-facetadas. Mas é com o capitalismo que as divisões sociais se tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que só o conflito entre as classes pode mover a história. Assim sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia uma característica de classe social?

a) O status social e cultural dos indivíduos.

b) A função social exercida pelos indivíduos na sociedade.

c) A ação política dos indivíduos nas sociedades hierarquizadas.

d) A identidade social, cultural e coletiva.

e) A posição que os indivíduos ocupam nas relações de produção.

25. (Uema) É a condição material dos indivíduos que determi-naria os demais aspectos de sua vida. A importância dada por Marx a esse quesito de nossas vidas é justificada, segundo sua teoria, em razão do impacto que a situação econômica de um sujeito tem em sua trajetória de formação.

a) Essa linha de pensamento é chamada de:

b) Evolucionismo material.

c) Capitalismo selvagem.

d) Contratualismo.

e) Materialismo histórico.

26. (Enem 2013) Na produção social que os homens reali-zam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas rela-ções constitui a estrutura econômica da sociedade – funda-mento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. 

MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, K. ENGELS F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado).

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que

a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.

b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material.

c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.

d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. 

e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

27. (UNICAMP, 2010)

A história de todas as sociedades tem sido a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo feudal, a burgue-sia conquistou a soberania política no Estado moderno, no qual uma exploração aberta e direta substituiu a exploração velada por ilusões religiosas.

A estrutura econômica da sociedade condiciona suas formas jurídicas, políticas e religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção que ela contrai que de-terminam a consciência.

(Adaptado de K. Marx e F. Engels. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa-Ômega, s/d. vol. 1. P. 21-23, 301-302)

As proposições dos enunciados acima podem ser associadas ao pensamento conhecido como

a) materialismo histórico, que compreende as sociedades humanas a partir de ideias universais independentes da realidade histórica e social.

b) materialismo histórico, que concebe a história a partir da luta de classes e da determinação das formas ideológicas pelas relações de produção.

c) socialismo utópico, que propõe a destruição do capitalismo por meio de uma revolução e a implantação de uma ditadura do proletariado.

d) socialismo utópico, que defende a reforma do capitalismo, com o fim da exploração econômica e a abolição do Estado por meio da ação direta.

28. (Enem 2016) A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a ta-refa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

338 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamen-te tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova .DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na

a) vinculação com a filosofia como saber unificado.

b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.

c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.

d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais.

e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político

29. O fato social consiste em maneiras de agir, pensar e sentir, exteriores ao indivíduo e dotados de um poder coercitivo do qual se lhe impõem. (...). É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior; ou ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais

(DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Editora Martins Fontes. 2007, p. 2.)

A partir dessa reflexão de Émile Durkheim, infere-se que o fato social diz respeito

a) à forma de agir, sentir e pensar do indivíduo que pode ser independente e autônomo em relação ao tecido social.

b) à realidade social que passa a ser relevante a partir do momento em que o indivíduo a considera e percebe sua importância em sua vida.

c) à realidade social que é exterior e anterior ao indivíduo e que sobre ele exerce forte poder coercitivo.

d) a realidades sociais que poderão ou não exercer pressão sobre os indivíduos, dependendo da capacidade de autonomia do sujeito.

e) aos objetos materiais, que são o conteúdo de análise dos cientistas sociais no objetivo de melhor compreender a alma humana.

30. “Há razão para crer que esse agravamento (da taxa de sui-cídio) deve-se não à natureza intrínseca do progresso, mas às condições particulares em que ele se realiza em nossos dias, e nada nos assegura que essas condições sejam normais. (...).Em menos de cinquenta anos esse número triplicou, quadrupli-cou ou quintuplicou, de acordo com o país.

DURKHEIM, Émile. De la division du travail social. p. 422

Para E. Durkheim, o que explica o elevado aumento na taxa de suicídios na moderna sociedade industrial deve-se

a) ao divórcio entre a estrutura e a dinâmica da vida social, por um lado, e as escolhas e as decisões individuais, por outro lado

b) ao fato de o suicídio ser uma decisão pessoal que revela a fragilidade da estrutura humana que encontra enormes dificuldades na adaptação a um novo modelo de sociedade.

c) ao processo de industrialização e de progresso da civilização que traz naturalmente um sentimento de mal-estar, que condiciona o espírito humano para a busca de saídas para essa situação.

d) às rápidas mudanças estruturais da sociedade moderna, que implicaram em radicais mudanças na natureza humana e, em decorrência, nos comportamentos das novas gerações.

e) ao modo como o processo de industrialização se efetivou, formando um estado de anomalia, de patologia, de anormalidade, comprometendo a coesão social.

31. É, pois, uma lei da historia a de que a solidariedade mecânica, que, a princípio, é única ou quase, perde tereno progressivamente e que a solidariedade orgânica se torna pouco a pouco preponderante [...]

DURKHEIM. É. Da divisão do trabalho social. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 157.

A partir desse fragmento e considerando o corpo das refle-xões realizadas por E. Durkheim, sobre as formas de solidarie-dade existentes na vida social, infere-se que

a) a interdependência que passa a existir nas modernas sociedades industriais, torna a solidariedade entre os indivíduos algo mecânico.

b) o individualismo moderno solicita uma nova forma de educação, na qual os seres humanos sejam educados para a competitividade social.

c) nas sociedades pré-capitalistas predominam na consciência do indivíduo os sentimentos comuns a todos, constituindo a solidariedade orgânica.

d) nas sociedades capitalistas forma-se uma acentuada especialização nas tarefas, instaurando a solidariedade orgânica.

e) nas sociedades modernas, a especialização é crescente e a solidariedade passa a ser um valor do passado.

32. (Ufu 2003) Sobre as duas definições de solidariedade de acordo com o pensamento sociológico de Durkheim, conside-re o texto a seguir para responder a questão proposta.

“É completamente diferente a solidariedade produzida pela divisão do trabalho. Enquanto a precedente implica que os indivíduos se assemelhem, esta supõe que difiram uns dos outros. A primeira só é possível na medida em que a perso-nalidade individual é absorvida pela personalidade coletiva. A segunda é apenas possível se cada um tem uma esfera de ação que lhe é própria, por conseguinte, uma personalidade. É preciso, pois, que a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual, para que aí se estabele-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA339Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

çam estas funções especiais que ela não pode regulamentar; quanto mais extensa esta região, tanto mais forte é a coesão resultante desta solidariedade.”

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2 ed. São Paulo: Cultural, 1983. Coleção Os Pensadores. pp. 69-70.

Marque a alternativa correta, considerando a citação acima, que explicita os efeitos da evolução a) da solidariedade individualista à solidariedade coletivista.

b) da solidariedade coletivista à solidariedade individualista.

c) da solidariedade mecânica à solidariedade orgânica.

d) da solidariedade orgânica à solidariedade mecânica.

33. (Ufu 2017) A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba alerta pais e responsáveis por crianças e adolescentes e os profissionais da educação e saúde em relação ao ‘jogo’ Baleia Azul, que propõe 50 desafios aos participantes e sugere o sui-cídio como última etapa.

Disponível em: <http://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/jogo--baleia-azul-deixa-curitiba-em-alerta-oito-ja-brincaram-com-morte/>. Acesso

em: 22 abr. 2017.  Esse foi um dos alertas, nos últimos meses, relacionados ao “jogo Baleia Azul” e à possibilidade de suicídios de ado-lescentes (13 a 17 anos) ligadas a ele.

Pode-se realizar uma relação desses possíveis suicídios com os tipos de suicídios de Durkheim, pois, para esse pensador, os indivíduos são determinados pela realidade coletiva.

Assim, os suicídios gerados pelo “jogo” seriam classifica-dos como:

a) Suicídio egoísta.    

b) Suicídio anômico.   

c) Suicídio etnocêntrico.    

d) Suicídio cultural.   

34. (Ufu 2016)  A Sociologia surge no século XIX, momen-to marcado por uma intensa crise social na Europa. Émile Durkheim não deixou de ser influenciado por esse contexto. Nesse sentido, um dos seus objetivos era fazer da Sociologia uma disciplina científica capaz de criar repostas aos desafios enfrentados pela sociedade moderna.

Entre os desafios, colocava-se a crescente contradição entre capital e trabalho, entendida pelo autor como um exemplo dos efeitos de um estado de anomia, caracterizado

a) pela excessiva regulamentação estatal sobre as atividades econômicas.   

b) pela intensificação dos laços de solidariedade mecânica no interior das corporações.   

c) pela ausência de instituições capazes de exercerem um poder moral sobre os indivíduos.   

d) pelo aprofundamento da desigualdade econômica. 

35. (Ufu 2016)  Em 1987, a então Primeira-Ministra da Grã--Bretanha, Margaret Thatcher, deu uma declaração durante uma entrevista que resumia, em parte, o seu ideário político liberal: “A sociedade não existe. Existem homens, existem mu-lheres e existem famílias”.

O governo de Thatcher ficaria conhecido como um dos pre-cursores do chamado Estado neoliberal, que enfatizava, entre outros ideais, o individualismo. Assim, esta concepção de go-verno contradiz os fundamentos da Sociologia de Durkheim, segundo o qual a sociedade poderia ser identificada

a) como a soma de indivíduos que definem seus valores em comum, unindo-se por laços de solidariedade voluntária.   

b) a partir da existência de um contrato social que dá origem ao Estado e à sociedade civil.   

c) como o resultado da ação da classe dominante, capaz de reunir e controlar as massas.   

d) pela síntese de ações e sentimentos individuais que originam uma vida psíquica sui generis

36. (Ueg 2016)  O objeto de estudo da sociologia, para Durkheim, é o fato social, que deve ser tratado como “coisa” e o sociólogo deve afastar suas prenoções e preconceitos. A construção durkheimiana do objeto de estudo da sociologia pode ser considerada

a) dialética, pois reconhece a existência de uma realidade exterior ao pesquisador.   

b) weberiana, pois aborda a ação social racional atribuída por um sujeito.

c) positivista, pois se fundamenta na busca de objetividade e neutralidade.   

d) kantiana, pois trata da “coisa em si” e realiza a coisificação da realidade.   

e) nietzschiana, pois coloca a “vontade de poder” como fundamento para a pesquisa.   

37. (Unioeste 2015)  “Solidariedade orgânica” e “solidarieda-de mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a 'coesão social' em diferentes tipos de sociedade. De acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades ocidentais modernas, prevalece a 'solidariedade orgânica', onde os indivíduos se percebem diferentes embora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado capitalista, entretanto, baseada na competição in-dividualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos de solidariedade que asseguram a coesão social e conduzir a uma situação de 'anomia'.

De acordo com os postulados de Durkheim, é CORRETO dizer que o conceito de “anomia” indica

a) a necessidade de todos demonstrarem solidariedade com os mais necessitados.   

b) uma situação na qual aqueles indivíduos portadores de um senso moral superior devem se colocar como líderes dos grupos dos quais fazem parte.   

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

340 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

c) a condição na qual os indivíduos não se identificam como membros de um grupo que compartilha as mesmas regras e normas e têm dificuldades para distinguir, por exemplo, o certo do errado e o justo do injusto.   

d) o consumismo exacerbado das novas gerações, representado pelo aumento do número de  shopping centers nas cidades.   

e) a solidariedade que as pessoas demonstram quando entoam cantos nacionalistas e patrióticos em manifestações públicas como os jogos das seleções nacionais de futebol.  

38. (Unimontes 2015) Coube a Émile Durkheim (1858-1917) a institucionalização da Sociologia como disciplina acadêmi-ca. Para o sociólogo clássico francês, a sociedade moderna implica uma diferenciação substancial de funções e ocupa-ções profissionais. Sobre as análises desse autor, é CORRETO afirmar:

a) O problema social é estritamente econômico e depende de vontades individuais.   

b) O desenvolvimento da sociedade moderna deve passar por um processo de ruptura social e permanente anomia.   

c) A questão social é também um problema de moralização e organização consciente da vida econômica.   

d) Para Durkheim, na sociedade moderna não há possibilidades de desenvolvimento das coletividades, por necessitar de novos pactos políticos dos governantes. 

39. (Ufu 2015)  A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é demons-trar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científi-ca, conforme o modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social.

(ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336)

Em vista do exposto, assinale a alternativa correta.

a) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado dos padrões de comportamento culturais do indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas alguns tipos de sociedade.   

b) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamental, é considerar os fatos sociais como coisas para serem analisadas.   

c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado de anomia, quando todos os indivíduos exercem bem os fatos sociais.   

d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena divisão do trabalho social, como pode ser demonstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade.

40. (Uel 2014) A cidade desempenha papel fundamental no pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o desen-volvimento das formas de integração quanto por intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada.Com base nos conhe-cimentos acerca da divisão de trabalho social nesse autor, as-sinale a alternativa correta.

a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença de instituições. 

b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade de classes, pois a vida social necessita de trabalhos diferenciados.

c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em detrimento da solidariedade orgânica.

d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da desintegração social em razão de trabalhos parcelares e independentes. 

e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente divisão do trabalho decorrem das vontades e das consciências individuais.

41. (Unioeste 2012) Émile Durkheim é considerado um dos fundadores das Ciências Sociais e entre as suas diversas obras se destacam “As Regras do Método Sociológico”, “O Suicídio” e “Da Divisão do Trabalho Social”. Sobre este último estudo, é correto afirmar quea) a divisão do trabalho possui um importante papel social.

Muito além do aumento da produtividade econômica, a divisão garante a coesão social ao possibilitar o surgimento de um tipo específico de solidariedade.

b) a solidariedade mecânica é o resultado do desenvolvimento da industrialização, que garantiu uma robotização dos comportamentos humanos.

c) a solidariedade orgânica refere-se às relações sociais estabelecidas nas sociedades mais tradicionais. O nome remete ao entendimento da harmonia existentes nas comunidades de menor taxa demográfica.

d) indiferente dos tipos de solidariedade predominantes, o crime necessita ser punido por representar uma ofensa às liberdades e à consciência individual existente em cada ser humano.

e) a consciência coletiva está vinculada exclusivamente às ações sociais filantrópicas estabelecidas pelos indivíduos na contemporaneidade, não tendo nenhuma relação com tradições e valores morais comuns.

42. (Ufu 2011) Segundo Durkheim, o crime é um fato social presente em toda sociedade. Para o autor, nem todo crime é anômico, mas apenas aquele que corresponde a uma crise de coesão social.A partir do exposto acima, assinale a alternativa correta sobre o significado de anomia social em Durkheim.

a) Ocorre quando há, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, uma situação em que o conjunto de regras, valores e procedimentos são reconhecidos por todos os indivíduos, levando ao desenvolvimento da sociedade.

b) Conceito que descreve os sentimentos de falta de objetivos e de desespero provocados pelo processo de mudanças do mundo moderno, os quais resultam na perda da influência das normas sociais sobre o comportamento individual.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA341Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

c) Conceito que descreve a ocorrência, nas sociedadesmodernas, com seus intensos processos de mudança, deum estado de complementaridade e interdependênciaentre os indivíduos, o que leva a uma menor divisãodo trabalho social e ao fortalecimento das instituiçõessociais.

d) Ocorre quando os sentimentos de falta de objetivos ede desespero provocados pelo processo de mudançasdo mundo moderno resultam no fortalecimento dacoesão social e da influência das normas sociais sobre ocomportamento individual.

43. (Ufu 2011) De acordo com Durkheim, para se garantir aobjetividade do método científico sociológico, torna-se ne-cessário que o pesquisador mantenha certa distância e neu-tralidade em relação aos fatos sociais, os quais devem ser tra-tados como “coisas”.

Considerando a frase acima, assinale a alternativa correta so-bre fato social.

a) Corresponde a um conjunto de normas e valores que são criados diretamente pelos indivíduos para orientar a vida em sociedade.

b) Corresponde a um conjunto de normas e valores criadosexteriormente, isto é, fora das consciências individuais.

c) É desprovido de caráter coercitivo, uma vez que existefora das consciências individuais.

d) É um fenômeno social difundido apenas nas sociedadescuja forma de solidariedade é orgânica.

44. Sociologicamente, o Estado não se deixa definir a não serpelo específico meio que lhe é peculiar, tal como é peculiar,a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coaçãofísica.[...]. Em nossa época, entretanto, devemos conceber oEstado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território ___ a noção de ter-ritório corresponde a um dos elementos essenciais do Estado___ reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física.[...]

WEBER, Max. Ciência e Política. Duas vocações. Trad. Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mora. São Paulo: Cultrix, 2000, p.56.

A partir desse fragmento, a alternativa que melhor expressa a concepção weberiana de Estado afirma que

a) o uso da repressão, por meio da força policial, é violência ilegítima, pois mostra o fracasso do Estado no exercíciode suas funções.

b) o recurso à violência física, nas formas históricas deassociação, foi concebido como barbárie, mal a sersuperado.

c) o Estado contemporâneo é a única organização quereivindica para si o monopólio do uso legítimo daviolência física.

d) o uso da violência é inerente à natureza humana, marcada pela impulsividade natural, que denuncia o fracasso dastentativas de socialização bem sucedida.

e) o uso da violência destrói toda forma de poder, poisdispersa e dilui a comunidade, que é a verdadeira fontedo poder.

45. Existem, em princípio, três razões internas que justificam a dominação, existindo, consequentemente, três fundamentosda legitimidade. Antes de tudo, a autoridade do “passado eter-no”, [....]. Existe, em segundo lugar, a autoridade que se funda em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma). [...]. Existe, por fim, a autoridade que se impõe em razão da “le-galidade”, em razão da crença na validez de um estatuto legal e de uma “competência” positiva, fundada em regras racional-mente estabelecidas [...].

WEBER, Max. Ciência e Política. Duas vocações. Trad. Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mora. São Paulo: Cultrix, 2000, p.57-58

A partir desse fragmento, existe uma profunda relação entre autoridade, domínio e obediência. Dessa relação infere-se que

a) a dominação degenera a legítima relação entre os sereshumanos, transformando-a em imposição unilateral eem obediência obrigatória.

b) a obediência à autoridade torna-se possível somentedevido à imposição das leis, mediante as quais existe adominação da impulsividade humana.

c) a dominação política deve caminhar com a legitimidade, uma vez que é condição fundamental para a existênciadas comunidades, construídas sobre tradições, crenças eleis.

d) o poder que existe nas relações humanas é semprelegítimo, uma vez que sua existência implica liberdadede adesão à ação sofrida.

e) o exercício da autoridade na vida política é a realizaçãodo natural desejo humano de influenciar e impor suasvontades individuais sobre a vida de outros.

46. Toda a atividade orientada segunda a ética pode ser su-bordinada a duas máximas inteiramente diversas e irredu-tivelmente opostas. Pode orientar-se segundo a ética daresponsabilidade ou segundo a ética da convicção. [...]. Dirí-amos em linguagem religiosa, “o cristão cumpre seu dever e,quanto aos resultados da ação, confia em Deus” ___ e a atitudede quem se orienta pela ética da responsabilidade, que diz:“Devemos responder pelas previsíveis consequências de nos-sos atos”. [...]. Vemos, assim, que a ética da convicção e a ética da responsabilidade não se contrapõem, mas se completam e, em conjunto, formam o homem autêntico, isto é, um homemque pode aspirar à “vocação política”.

WEBER, Max. “A política como vocação”. In: Ciência e Política. Duas vocações. Trad. Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mora. São Paulo: Cultrix, 2000,

p.110-122.A partir da leitura desse fragmento, no confronto entre as éti-cas da convicção e da responsabilidade, infere-se que

a) a ética da responsabilidade é incompatível com a éticada convicção, pois uma refere-se à dimensão subjetiva eoutra à dimensão objetiva.

b) a ética da convicção, em si mesma, apresenta umadimensão abstrata e metafísica, e pode, inclusive,alimentar atitudes fundamentalistas e fanáticas.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

342 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

c) o homem público, inserido na espera política, deve sempre agir motivado pela ética da convicção, pois os conflitos são a mola da vida social.

d) a ética da convicção é a causa suficiente para a autenticidade da vida humana e política, pois nela aparece a dimensão da consciência e da autonomia.

e) a ética da responsabilidade é insuficiente para julgar as ações políticas dos representantes legitimamente eleitos.

47. Weber é frequentemente apontado como o mais antigo defensor das perspectivas de ação social. Ainda que reconhe-cesse a existência das estruturas sociais __ como classes, parti-dos, grupos de status e outros __ , ele sustentava que essas es-truturas foram criadas através de ações sociais dos indivíduos.

(GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª ed. Trad. Sandra Regina Netz. Porto Alegre,

Artmed, 2005. p. 35)

Considerando o conceito de ação social, na perspectiva de Max Weber, infere-se que:

a) as ações sociais são ações individuais cujo foco concentra-se nas motivações do sujeito, de onde decorrem os sentidos da ação humana.

b) as ações individuais são socialmente motivadas, comprometendo o campo da liberdade e da autonomia do sujeito.

c) o indivíduo é fruto do meio, razão pela qual a consciência coletiva determina o sentido da ação individual.

d) a ação social é sinônimo de senso comum, pois são ações exercidas por grupos sociais com base em sua consciência comum

e) existe uma oposição entre indivíduo e sociedade, de modo que as motivações e as ações individuais não mantem relação com a tradição.

48. (cafecomsociologia.com) 2 – A respeito dos estudos comparativos, a resposta de Weber foi a elaboração de “ti-pos ideais”, que constituem um dispositivo generalizante, um modelo heurístico, sobre o qual era possível aplicar a com-paração. Nas suas explicações históricas comparadas, Weber rejeita sempre a hipótese de leis ou de monocausalidade; ele pensa, portanto, que um evento pode ter diversas causas e que conjuntos diversos de causas podem ter o mesmo efeito. A validade das comparações em Weber provém das suas cons-truções empíricas dos processos de indução e de introspecção mais do que de uma verificação causal de hipóteses.

REBUGHINI, Paola. A comparação qualitativa de objetos complexos e o efeito

da reflexividade. In: Alberto Melluci (org.) Por uma sociologia reflexiva: pesqui-

sa qualitativa e cultura. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 242

Tendo o fragmento de texto acima como referência ini-cial, assinale a opção correta a respeito de “tipos ide-ais”, segundo a formulação proposta por Max Weber.

a) Os “tipos ideais” não são construções empíricas.

b) B- A causalidade única é a base dos “tipos ideais”.

c) A comparação não é essencial para a construção dos “tipos ideais”.

d) Os “tipos ideais” não permitem uma explicação histórica.

e) Os “tipos ideais” são construídos essencialmente a partir da verificação causal de hipóteses.

49. (cafecomsociologia.com) Um exemplo clássico da rela-ção entre ética e política é a teoria weberiana sobre a “ética de convicção” e a “ética de responsabilidade”. Assinale a opção que representa a forma como Max Weber definia essas duas éticas.a) “A ética de convicção” está vinculada à ideia de revolução,

e a “ética de responsabilidade”, à ideia de bom senso.

b) A “ética de convicção” diz respeito àqueles que vivem “da” política; a “ética de responsabilidade”, àqueles que vivem “para” a política.

c) A “ética de convicção” está relacionada ao nosso sistema de crenças e valores; a “ética de responsabilidade”, ao dever de respondermos pelas previsíveis conseqüências de nossos atos.

d) A “ética de convicção” relaciona-se ao cumprimento da lei; a “ética de responsabilidade”, ao nosso senso de proporção.

e) A “ética de convicção” equivale ao compromisso com a sociedade; a “ética de responsabilidade”, ao compromisso com o governo.

50. (cafecomsociologia.com) Sobre os conceitos de poder e dominação, tal como elaborados por Max Weber, é correto afirmar que:a) a dominação prescinde do poder, uma vez que

os indivíduos que se submetem a uma ordem de dominação não levam em conta os recursos que possuem aqueles que exercem a dominação.

b) são equivalentes, pois tanto um quanto outro são relações sociais às quais os indivíduos atribuem sentido, compartilhando, portanto, motivações.

c) toda relação de poder implica uma relação de dominação, já que a força sem uma base de legitimação não pode ser exercida.

d) não são equivalentes, pois a dominação supõe a presença do consentimento na relação entre “X” e “Y”, o que,  necessariamente, não se dá com o poder.

51. ( cafecomsociologia.com) Sobre o legado do pensa-mento científico de Max Weber, Carlos B. Martins afirma que: “A obra de Weber representou uma inegável contribuição à pesquisa sociológica, abrangendo os mais variados temas, como o direito, a economia, a história, a religião, a política, a arte, de modo destacado, a música. Seus trabalhos sobre a burocracia tornaram-no um dos grandes analistas deste fenô-meno.”

!MARTINS, Carlos B. O Que é Sociologia? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1991, 28 ed.,

p. 66).

A respeito das contribuições de Weber acerca dos conceitos de poder e dominação, assinale a alternativa correta.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA343Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

a) Ao passo que poder é toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, considerada legítima.

b) Há, para Weber, não mais que dois tipos puros de dominação, quais sejam, a carismática (típica das sociedades tradicionais) e a legal-racional (típica das sociedades modernas).

c) A transição de uma ordem política patrimonial-tradicional para uma ordem burocrática-legal é acompanhada por uma consolidação do tipo de dominação carismática.

d) A dominação legal-racional dá-se por meio da obediência do quadro administrativo à pessoa do senhor, em detrimento de estatutos impessoalmente estabelecidos

52. (http://sociologia-religioso.blogspot.com) O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) definiu dominação como a “possibilidade de encontrar obediência para ordens específi-cas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas” 

(WEBER, M. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 1991. p. 139).

Em Weber este conceito está relacionado à ideia de autorida-de e a partir dele é possível analisar a estrutura das organi-zações e instituições como empresas, igrejas e governos. Na sociedade capitalista, dentre os vários tipos de dominação existentes, predomina a dominação burocrática ou racional.

Assinale a alternativa que indica corretamente a quem se deve obediência nesse tipo de dominação.

a) “Ao líder carismaticamente qualificado como tal, em virtude de confiança pessoal na sua capacidade de revelação, heroísmo ou exemplaridade.”

b) “À pessoa do senhor nomeada pela tradição e vinculada a esta, em virtude de devoção aos hábitos costumeiros.”

c) “Ao senhor, mas não a normas positivas estabelecidas. E isto unicamente segundo a tradição.”

d) “À ordem impessoal, objetiva e legalmente estatuída e aos superiores por ela determinados, em virtude da legalidade formal de suas disposições.”

e) “Aos mais velhos, pois são eles os melhores conhecedores da tradição sagrada.”

53. (http://sociologia-religioso.blogspot.com) Sobre a defi-nição de ação social para Weber, assinale a alternativa correta.

a) Está fundada na coletividade, de forma a estabelecer uma relação social.

b) Implica necessariamente uma relação social, prescindindo de significação.

c) É um conceito de análise típico-ideal, sem nenhuma correspondência com a realidade histórica.

d) É aquela que se orienta pela ação dos outros, sendo, portanto, reciprocamente referida.

54. (Uel 2011) O conceito de ação social desempenha papel fundamental no conjunto teórico construído por Max Weber. Sobre este conceito utilizado por Max Weber, considere as afirmativas a seguir:

I. A ação social foca o agente individual, pois este é o único capaz de agir e de atribuir sentido à sua ação. II. Interpretar a reciprocidade entre as ações sociais possibi-lita ao cientista social a compreensão sobre as regularidades nas relações sociais. III. A imitação e as ações condicionadas pelas massas são exemplos típicos de ação social, pois são motivadas pela consciência racional da importância de viver em sociedade. IV. O que permite compreender o agir humano enquanto ação social é o fato de ele possuir um sentido único e objeti-vo para todos os agentes envolvidos. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) B. Somente as afirmativas II e IV são corretas

c) C. Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) D. Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) E. Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

55. (UEM (2011)  Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, assinale o que for correto.

I) Segundo essa perspectiva sociológica, a ordem social im-põe-se aos indivíduos como força exterior e coercitiva, sub-metendo, assim, as vontades desses indivíduos aos padrões sociais estabelecidos.II) A ação social é entendida como um comportamento dota-do de sentido subjetivamente visado e orientado para o com-portamento de outros atores.III) O sociólogo tem como tarefa fundamental a identificação e a compreensão causal dos sentidos e das motivações que orientam os indivíduos em suas ações sociais.IV) O que garante a cientificidade da análise sociológica é o recurso à objetividade pura dos fatos.V) As instituições sociais são definidas como resultados de re-lações sociais estáveis e duráveis, passíveis de serem alteradas a partir de transformações nos sentidos atribuídos pelos indi-víduos às suas ações.

Estão corretas:

a) A. Todas estão corretas

b) B. I, II, III e IV

c) C. II, III e V

d) D. III, IV, V

e) E. I, III e IV

56. (cafecomsociologiacom)

– Leia o texto a seguir, escrito por Max Weber (1864-1920), que reflete sobre a relação entre ciência social e verdade: 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

344 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

“[…] nos é também impossível abraçar inteiramente a seqüên-cia de todos os eventos físicos e mentais no espaço e no tem-po, assim como esgotar integralmente o mínimo elemento do real. De um lado, nosso conhecimento não é uma reprodução do real, porque ele pode somente transpô-lo,  reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte, nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos são perfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que eles se esforçam em explicar e compreender. Entre conceito e realidade existe um hiato intransponível. Disso resulta que todo conhecimento, in-clusive a ciência, implica uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade e a significação  que damos a isto que tentamos apreender”.

(Traduzido de: FREUND, Julien. Max Weber. Paris: PUF, 1969. p. 33.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é cor-reto afirmar que, para Weber:

a) A ciência social, por tratar de um objeto cujas causas sãoinfinitas, ao invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-se a descrever sua aparência.

b) A ciência social revela que a infinitude dasvariáveis envolvidas na geração dos fatos sociais permite a elaboração teórica totalizante a seu respeito.

c) O conhecimento nas ciências sociais podeestabelecer  parcialmente as conexões internas de umobjeto,  portanto, é limitado para abordá-lo em suaplenitude.

d) Alguns fenômenos sociais podem ser analisados cientificamente na sua totalidade porque são menos complexos do que outros nas conexões internas de suas causas.

e) O obstáculo para a ciência social estabelecerum  conhecimento totalizante do objeto é o fatode  desconsiderar contribuições de áreas comoa  biologia e a psicologia, que tratam dos eventos físicose mentais.

57. (Uel 2014)

Weber compreende a cidade como uma expressão tipica-mente ligada à racionalidade ocidental. Com base nos co-nhecimentos da sociologia weberiana sobre a racionalidade ocidental, considere as afirmativas a seguir.

I. A compreensão da cidade ocidental moderna é possívelquando se considera uma sequência causal universal na his-tória. II. A existência do capitalismo como sociedade específica domundo ocidental moderno explica o surgimento das cidades. III. A explicação da cidade no Ocidente exige compreender aexistência de diferentes formas do poder e da dominação. IV. Um dos traços fundamentais da cidade no Ocidente é aconstituição de um corpo burocrático administrativo regular.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

58. (Uel 2014) Leia o texto a seguir. Antigamente nem emsonho existia tantas pontes sobre os rios, nem asfalto nas es-tradas. Mas hoje em dia tudo é muito diferente com o progres-so nossa gente nem sequer faz uma ideia. Tenho saudade derever nas currutelas as mocinhas nas janelas acenando umaflor. Por tudo isso eu lamento e confesso que a marcha doprogresso é a minha grande dor. Cada jamanta que eu vejocarregada transportando uma boiada me aperta o coração. Equando olho minha traia pendurada de tristeza dou risada pra não chorar de paixão.

(Adaptado de: Nonô Basílio e Índio Vago. Mágoa de Boiadeiro.)

O texto aproxima-se sociologicamente da leitura teórica de

a) Comte, que defende a necessidade de formas tradicionais de vida em detrimento da desilusão do progresso.

b) Durkheim, que analisa o progresso como elementodesagregador da vida social ao provocar oenfraquecimento das instituições.

c) Marx, que condena o desenvolvimento das forçasprodutivas por seus efeitos alienantes sobre o homem.

d) Spencer, que tem uma leitura romântica da sociedade evê o passado como mais rico culturalmente.

e) Weber, para quem a modernização e a racionalização são acompanhadas pelo desencantamento do mundo.

59. (Ufu 2013) Ao contrário de outros pensadores sociológi-cos anteriores, Weber acreditava que a Sociologia deveria seconcentrar na ação social e não nas estruturas.

(GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 33)

De acordo com esta assertiva, Weber considera que

a) as ideias, os valores e as crenças têm o poder de ocasionar transformações.

b) o conflito de classes é o fator mais relevante para amudança social.

c) as estruturas existem externamente ou independentemente dos indivíduos.

d) os fatores econômicos são os mais importantes para astransformações sociais.

60. (Ufu 2013) Em artigo intitulado “Clientelismo ainda do-mina política no interior do Brasil”, da BBC, de 27 de outubrode 2002, o jornalista Paulo Cabral desenha o painel de parteda política nacional. Ele destaca que, em comício de uma certa deputada, um grande churrasco foi oferecido para os eleitores de uma vila: "Sob um sol escaldante, um caminhão de somtocava o jingle – forró da candidata a todo o volume, a popula-ção sentia o cheiro da carne sendo assada trancada dentro de uma casa. Comida, só quando chegasse a candidata”.

BBC. Disponível em: . Acesso: 11 mar. 2013.

A relação descrita entre os eleitores e a candidata aproximase, na matriz teórica weberiana, de um tipo puro de relação de dominação, uma vez que

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA345Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

a) inscreve-se como relação de poder em que a candidataaproveita-se de uma probabilidade de impor suavontade, ainda que sem legitimidade.

b) estabelece-se, retirando das relações os elementosnão racionais, isto é, em evidente processo dedesencantamento do mundo.

c) sua natureza remonta uma tradição inimaginavelmenteantiga e conduz ou orienta a ação habitual do eleitorpara o conformismo.

d) expõe características típicas das formas carismáticasde dominação, demonstrada pelo dom da graçaextraordinário e pessoal manifesto nas práticasclientelistas.

61. (Unioeste 2013) A Sociologia de Max Weber é considera-da uma ciência compreensiva e explicativa. Na sua concepção, compete ao sociólogo compreender e interpretar a ação dosindivíduos, assim como os valores pelos quais os indivíduoscompreendem suas próprias intenções pela introspecção oupela interpretação da conduta de outros indivíduos. Sobre asociologia compreensiva de Max Weber, é correto afirmar que

a) segundo o método da sociologia compreensiva de MaxWeber, há uma ênfase metodológica sobre a sociedadecomo a unidade inicial da explicação para se chegar asignificados objetivos de ação social.

b) na sociologia compreensiva de Max Weber, a primeiratarefa da sociologia é reformar a sociedade ou gerar algum tipo de teoria revolucionária. Weber herda efetivamenteum ponto de vista sociológico compreensivo imputado à escola marxista.

c) para Max Weber, a sociologia está voltada unicamentepara a compreensão dos fenômenos sociais. Na sociologia compreensiva, o homem não consegue compreenderas intenções dos outros em termos de suas intençõesprofessadas.

d) no método compreensivo de Weber, os fenômenossociais são considerados como a simples expressão decausas exteriores que se impõem aos indivíduos. Weberdefine a sociologia compreensiva em termos de fatossociais e não em termos de atividade ou ação.

e) Max Weber entende por sociologia compreensiva umaciência que se propõe a compreender a atividade sociale, deste modo, explicar causalmente seu desenrolare seus efeitos. Para explicar o mundo social, importacompreender também a ação dos seres humanos doponto de vista do sentido e dos valores.

62. (Unicentro 2012) Do ponto de vista do agente, o motivoé o fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é com-preender essa ação, a reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura como a causa da ação.Numerosas distinções podem ser estabelecidas e Weber real-mente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quan-do se fala de sentido na sua acepção mais importante paraa análise, não se está cogitando da gênese da ação, mas simdaquilo para o que ela aponta, para o objetivo visado nela;para o seu fim, em suma.

(COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 1979).

A categoria weberiana que melhor explica o texto em evidên-cia está explicitada em

a) O sociólogo deve investigar o sentido das ações que não são orientadas pelas ações de outros.

b) O tipo ideal é uma construção teórica abstrata quepermite a análise de casos particulares.

c) Os fatos sociais não são coisas, e sim acontecimentos que precisam ser analisados.

d) A ação social possui um sentido que orienta a condutados atores sociais.

e) A luta de classes tem sentido porque é o que move ahistória dos homens.

63. (Uema 2012) No conjunto da sua Sociologia compreen-siva, o sociólogo alemão Max Weber define ação social comoação

a) racional em que o agente associa um sentido objetivoaos fatos sociais.

b) desprovida de sentido subjetivo e motivacional.

c) humana associada a um sentido objetivo.

d) cuja intenção fomentada pelos indivíduos se refere àconduta de outros, orientando-se por ela.

e) não orientada significativamente pela conduta do outroem prol de um bem comum.

64. (Ufu 2012) Nas Ciências Sociais, particularmente na Ci-ência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa prioritá-ria. As tentativas nesta direção fizeram com que vários intelec-tuais vissem o Estado de formas diferentes, com naturezas di-ferentes. Numa palestra intitulada Política como vocação, Max Weber nos adverte, por exemplo, que o Estado pode ser en-tendido como uma relação de homens dominando homens.

No trecho da canção d´O Rappa, Tribunal de Rua, dominação é o que se percebe, também, na relação entre cidadãos e poli-ciais (braço armado do Estado).

A viatura foi chegando devagar E de repente, de repente resolveu me parar Um dos caras saiu de lá de dentro Já dizendo, aí compadre, você perdeu Se eu tiver que procurar você tá fodido Acho melhor você ir deixando esse flagrante comigo [...].

(O Rappa. Lado A Lado B. Warner, 1999)

A partir da perspectiva weberiana, relacionada ao trecho da canção acima, evidencia-se que a dominação do Estado

a) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, aindaque contra as vontades dos cidadãos que, normalmente,àquela resistem.

b) é estabelecida por meio da violência prioritariamenteexercida contra grupos e classes excluídos social eeconomicamente.

c) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daícaracterizar-se fundamentalmente como dominaçãoracional legal.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

346 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

d) a exemplo da dominação de outras instituições, opera de forma genérica, exterior e coercitiva.

65. (Unisc 2016)  Leia atentamente o texto e responda a ques-tão assinalando uma das alternativas abaixo.

“Max Weber frequentemente utilizou a imagem da máquina na análise da natureza da organização burocrática. Tal como uma máquina, a burocracia era o sistema de utilização de energias para a execução de tarefas específicas. O membro de uma burocracia ‘é apenas uma peça em um mecanismo móvel que lhe prescreve uma marcha essencialmente fixa. A buro-cracia, em comum com a máquina, poderia ser posta a serviço de muitas questões diferentes. Mais ainda, uma organização burocrática funciona tão eficientemente a ponto de seus membros serem ‘desumanizados’: a burocracia ‘desenvolvida mais perfeitamente... mais completamente tem sucesso em eliminar das atribuições dos funcionários amor, ódio e todos os elementos puramente pessoais, irracionais e emocionais que escapem ao cálculo’. [...] O avanço da burocracia aprisio-nava as pessoas na Gehäuse der Hörigkeit, a ‘jaula de ferro’ da divisão especializada do trabalho da qual dependia a adminis-tração da ordem social e econômica moderna [...]”. 

GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social clássico e contemporâneo. São Paulo: Fundação Editora da

UNESP, 1998, p. 58-59.

   Segundo o texto acima, sobre o conceito de burocracia de Max Weber, é correto afirmar que

a) a burocracia é um sistema eficiente de organizaçãodo trabalho somente quando é aplicado em poucasquestões específicas.

b) a burocracia consiste em um sistema de divisãoespecializada do trabalho que busca a eficiência apartir de atribuições impessoais, racionais e calculadasimpostas aos seus funcionários.

c) os funcionários burocráticos podem se expressarlivremente, desde que dentro de regras prescritas deforma impessoal e calculada.

d) a burocracia é um sistema arcaico que deve ser superado por outros processos de administração do trabalhotípicos da modernidade.

e) nenhuma das alternativas acima pode ser afirmadacorretamente sobre o conceito de burocracia.

66. (Unioeste 2012) Para Max Weber a economia capitalistanão é marcada pela irracionalidade e pela “anarquia da produ-ção”. Ao contrário de Karl Marx, que frisava a irracionalidadedo capitalismo, para Weber as instituições do capitalismo mo-derno podem ser consideradas como a própria materialização da racionalidade. Segundo Weber, uma das características docapitalismo moderno é a estrutura burocrática com institui-ções administradas racionalmente com funções combinadase especializadas. Para o sociólogo alemão, o controle buro-crático é marcado pela eficiência, precisão e racionalidade.Considerando a importância do tema da burocracia na obrade Weber, é correto afirmar que

a) Marx Weber identifica a burocracia com a irracionalidade, com o processo de despersonalização e com a rotinaopressiva. A irracionalidade, nesse contexto, é vista como favorável à liberdade pessoal.

b) segundo Weber, a ocupação de um cargo na estruturaburocrática é considerada uma atividade com finalidadeobjetiva pessoal. Trata-se de uma ocupação que nãoexige senso de dever e nenhum treinamento profissional.

c) na burocracia moderna os funcionários são altamentequalificados, treinados em suas áreas específicas, enfim,pessoas que tem ou devem ter qualificações consideradas necessárias para serem designadas para tais funções.

d) para Weber, o elemento central da estrutura burocráticaé a ausência da hierarquia funcional e a obediência àordem pessoal e subjetiva.

e) a burocratização do capitalismo moderno impedesegundo Weber, a possibilidade de se colocar em práticao princípio da especialização das funções administrativas.

67. A mente moderna se tornou mais e mais calculista. A exa-tidão calculista da vida prática, que a economia do dinheirocriou, corresponde ao ideal da ciência natural: transformar omundo num problema aritmético, dispor todas as partes domundo por meio de fórmulas matemáticas.[...].

Não há talvez fenômeno psíquico que tenha sido tão incon-dicionalmente reservado à metrópole quanto a atitude blasé. A atitude blasé resulta em primeiro lugar dos estímulos con-trastantes que, em rápidas mudanças e compressão concen-trada, são impostos aos nervos. [...]. Uma vida em perseguição desregrada ao prazer torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até o seu ponto de mais forte reatividade por um tem-po tão longo que eles finalmente cessam completamente de reagir.

SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In:VELHO, Otávio G. O fenômeno

urbano. Rio de Janeiro: Editor: Zahar Ed.,1967. p.14-15

Georg Simmel, em seu texto clássico A metrópole e a vida mental, menciona profundas alterações na mente humana causadas pela cidade grande. Sobre esse tema infere-se que

a) A vida na metrópole encontra nos laços afetivos maisintensos a forma privilegiada de proteção do indivíduo.

b) A vida nas metrópoles abre para o indivíduo novaspossibilidades de emancipação, superando o sentimento e a realidade da alienação.

c) A modernidade realiza uma grande integração entre asculturas objetiva e subjetiva, permitindo ao indivíduo um melhor processo de identificação.

d) A modernidade intensifica os estímulos a tal ponto quegera nos indivíduos atitudes de reserva e de indiferençaàs questões que transcendem seu mundo pessoal .

e) As divisões do trabalho na sociedade moderna fortalecem os laços comunitários contribuindo para autorrealizaçãodo sujeito

68. (IFB 2017) De acordo com Norbert Elias (1994), o proces-so de transição de um modo de pensar mais autônomo, aomenos no tocante aos eventos naturais, esteve intimamenteligado ao avanço mais generalizado da individualização nosséculos XV, XVI e XVII. Sobre o conceito de processo de indivi-dualização, julgue os itens abaixo. 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA347Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

I) A individualização é um processo contínuo e não planeja-do, construído nos avanços e recuos do processo civilizadorindividual, no qual todos os indivíduos, como fruto de umprocesso civilizador social em construção a longo tempo, sãoautomaticamente ingressos desde a mais tenra infância, emmaior ou menor grau e sucesso. II) O processo de individualização se diferencia do processode civilização, visto que este último faz parte de uma crescen-te interação com as atividades sociais, sem qualquer relaçãocom as atividades psíquicas dos indivíduos no interior dasconfigurações. III) O conceito de individualização está intimamente ligadocom o de autocontrole, que é o processo que vai da exteriori-zação à interiorização. O indivíduo interioriza os sentimentos,paixões, emoções, controles e representações produzidas nasrelações sociais e em suas atividades mentais, e depois eleexterioriza suas representações através de comportamentos,hábitos e relações de poder. IV) A ideia de individualização torna-se mais visível ao passoque a história humana avança, demonstrando que a huma-nidade, o indivíduo e a sociedade são processos sem início e fim à vista. Nessa história, torna-se perceptível a transferência cada vez maior de funções relativas à proteção e ao controle do indivíduo, previamente exercidas por pequenos grupos tradicionais e consanguíneos (tribo, feudo, igreja etc.), para os grupos densamente habitados, como podemos perceber na configuração dos Estados modernos altamente complexos e urbanizados. V) Na individualização existe um indivíduo biológico e indi-viduado socialmente, que busca ser controlador das forçasnaturais. Desde os primeiros dias da humanidade até o século XXI, não foram somente as estruturas sociais e as condiçõesmateriais de existência que mudaram. O biológico parecemais ‘sólido’ e ‘resistente’, as forças naturais não-humanas pa-recem ser cada vez mais ‘controladas’ e ‘previstas’, enquantoo social parece mais ‘controlador’, ‘mutável’ e ‘vulnerável’ àsmudanças ao longo da história humana. Assinale a alternativa que apresenta apenas sentenças CORRETAS. 

a) A) I, III, IV e V

b) B) I, II, III e IV

c) C) III, IV e V

d) D) I, IV e V

e) E) I, II, IV e V 

69. (IF-AC – 2014)  O conceito de indivíduo adquiriu maiorforça no século XVI com a Reforma Protestante, A partir daideia de que o indivíduo poderia relacionar-se diretamentecom Deus, sem o intermédio de outra pessoa. Com a Revolu-ção Industrial, esta ideia firmou-se definitivamente, pois se co-locou a felicidade individual como objetivo principal da novasociedade. Para Norbert Elias, o estudo do indivíduo deveráser realizado dinamicamente a fim de compreendê-lo dentrodo contexto social e, vice-versa. Para explicar essa relação deinterdependência entre indivíduo e sociedade, esse sociólogo utiliza o conceito de 

a) configuração. 

b) estrutura social. 

c) relação social. 

d) ação social

70. Mostramos como o controle efetuado através de terceiras pessoas é convertido, de vários aspectos, em autocontrole,que as atividades humanas mais animalescas são progressiva-mente excluídas do palco da vida comum e investidas de sen-timentos de vergonha, que a regulação de toda a vida instinti-va e afetiva por um firme autocontrole se torna cada vez mais estável, uniforme e generalizada. Isso tudo certamente nãoresulta de uma ideia central concebida há séculos por pessoas isoladas, e depois implantada em sucessivas gerações como a finalidade da ação e do estado desejados, até se concretizarpor inteiro nos “séculos de progresso”. Ainda assim, emboranão fosse planejada e intencional, essa transformação nãoconstitui uma mera sequência de mudanças caóticas e nãoestruturadas.

Elias, N. O processo civilizador. Vol.II. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993, p. 193-194.

Com base na leitura desse trecho e em outras informações sobre o pensamento de Norbert Elias, sobre o processo civi-lizador infere-se que:

a) a trajetória da história é algo absolutamente aleatório,casual e inesperado, sem a possibilidade de umplanejamento racional.

b) no passado, pessoas projetaram a direção do progressoda humanidade, que caminha ordenadamente dentro de sua lógica preconcebida.

c) a história possui um sentido e uma lógica que não nosautoriza afirmar a possibilidade da imprevisibilidadehistórica.

d) a trajetória da história da civilização traz é uma históriana direção de um controle cultural sobre os impulsosnaturais primários do ser humano.

e) as manifestações da impulsividade passional e daagressividade humanas não conseguirão ser minimizadas e canalizadas para a vida social.

71. (UFMT - 2015 - IF-MT - Em) “A sociedade dos indivíduos”,Norbert Elias discute um problema epistemológico da socio-logia, que se localiza no enviesar dicotômico para leitura dosfenômenos indivíduo e sociedade. De fato, o autor propõeuma análise do indivíduo e da sociedade na longa cadeia deinterdependência, entrelaçando estrutura social e estruturapsíquica.

Leia atentamente o texto.

[...] é um processo contínuo e não planejado, construído nos avanços e recuos do processo civilizador individual no qual todos os indivíduos, como fruto de um processo civilizador social em construção a longo tempo, são automaticamente ingressos desde a mais tenra infância, em maior ou menor grau e sucesso. Pois nenhum ser humano chega civilizado ao mundo, o individual é obrigatoriamente social e vice-versa.

(ELIAS, N. Introdução à sociologia. Edições 70. Lisboa: Pax, 1980.) 

O texto acima define o conceito de 

a) (Habitus. 

b) Individualização.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

348 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

c) Civilização. 

d) Configuração social

72. (FGV – 2016 – SME - SP) “Na sociedade aristocrática decorte, a vida sexual era por certo muito mais escondida doque na sociedade medieval. O que o observador de uma so-ciedade industrializada-burguesa amiúde interpreta como‘frivolidade’ da sociedade de corte nada mais é do que essaorientação rumo à privacidade. Não obstante, medidos pelopadrão de controle dos impulsos na própria sociedade bur-guesa, o ocultamento e a segregação da sexualidade na vidasocial, tanto quanto na consciência, foram relativamente semimportância nessa fase. Aqui, também, o julgamento de fasesposteriores é com frequência induzido em erro porque os pa-drões, da pessoa que julga e da aristocracia de corte, são con-siderados como absolutos e não como opostos inseparáveis,e também porque o padrão próprio é utilizado como medidade todos os demais.” 

(ELIAS, N. O Processo Civilizador: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994, v. 1, p. 178). 

Em O Processo Civilizador, Norbert Elias analisa a história dos costumes, buscando compreender o curso das transforma-ções gerais da sociedade ocidental que, na longa duração, contribuíram para um processo civilizatório. A esse respeito, com base no fragmento acima, assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a falsa. 

( ) O autor examina a dinâmica civilizadora, entendida como as reações dos indivíduos às condições materiais de vida. ( ) O autor estuda os processos de naturalização de hábitos e costumes, como os processos de controle das emoções in-dividuais. ( ) O autor identifica representações sociais e hábitos anali-sando o processo cognitivo pelo qual lhe são atribuídos signi-ficados. As afirmativas são, respectivamente,

a) (A) F, V e F. 

b) (B) F, V e V. 

c) (C) V, F e F. 

d) (D) V, V e F. 

e) (E) F, F e V

73. (UEL/2017) O homem ocidental nem sempre se compor-tou da maneira que estamos acostumados a considerar como típica ou como sinal característico do homem “civilizado”. Seum homem da atual sociedade civilizada ocidental fosse, derepente, transportado para uma época remota de sua própria sociedade, tal como o período medievo-feudal, descobririanele muito do que julga “incivilizado” em outras sociedadesmodernas. Sua reação em pouco diferiria daquela que neleé despertada no presente pelo comportamento de pessoasque vivem em sociedades feudais fora do Mundo Ocidental.Dependendo de sua situação e de suas inclinações, sentir--se-ia atraído pela vida mais desregrada, mais descontraída eaventurosa das classes superiores dessa sociedade ou repeli-do pelos costumes “bárbaros”, pela pobreza e rudeza que nele encontraria. E como quer que entendesse sua própria “civiliza-ção”, ele concluiria, da maneira a mais inequívoca, que a socie-dade existente nesses tempos pretéritos da história ocidental

não era “civilizada” no mesmo sentido e no mesmo grau que a sociedade ocidental moderna.

(Adaptado de: ELIAS, N. O processo civilizador. v.1. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p.13.)

 Com base no texto e nos conhecimentos de Norbert Elias so-bre as normas e as emoções disseminadas nas práticas coti-dianas, especialmente no tocante à formação da civilização na sociedade moderna ocidental, assinale a alternativa correta.

a) A construção social do processo civilizador comprovaque este é um fenômeno sem características evolutivas,dadas as sucessivas rupturas e descontinuidadesobservadas, por exemplo, em relação aos controles dasfunções corporais.

b) Os estudos do processo civilizador comprovam que asemoções são inatas, com origem primitiva, o que garante a empatia entre indivíduos de diversas sociedades eculturas, bem como de diferentes classes sociais.

c) Os mecanismos de controle e de vigilância da sociedadesobre as maneiras de gerenciar as funções corporaiscorrespondem a um aparelho de repressão que se forma na economia política da sociedade, sendo, portanto,exterior aos indivíduos.

d) O modo de se alimentar, o cuidado de si, a relação com o corpo e as emoções em resposta às funções corporais são produtos de um processo civilizador, de longa duração,por meio do qual se transmitem aos indivíduos as regrassociais.

e) O processo civilizador propiciou sucessivas aproximações sociais entre o mundo dos adultos e o das crianças,favorecendo a transição entre etapas geracionais ereduzindo o embaraço com temas relativos à sexualidade.

74 . (MJ 2009)

Norbert Elias define o conceito de estigmatização como um aspecto da relação entre estabelecidos e outsiders onde mui-tas vezes é criado pelo grupo dos estabelecidos um tipo de fantasia coletiva para justificar a aversão e o preconceito deste grupo sobre o dos outsiders. Como justificativa para compro-var a veracidade deste tipo infundado de fantasia coletiva, é habitual

a) a sistematização de atributos jurídicos ao estigma social.

b) a desqualificação da religiosidade do grupoestigmatizado.

c) a demarcação espacial como estratégia de separação deum grupo do outro.a negação dos atributos humanos do grupo estigmatizado.

d) a objetificação e a atribuição de características inatas oubiológicas ao estigma social.

75. Claude Lévi-Strauss, em “As estruturas elementares doparentesco” escreve o seguinte: “A proibição do incesto nãoé nem puramente de origem cultural nem puramente deorigem natural, e também não é uma dosagem de elementosvariados tomados de empréstimo parcialmente à naturezae parcialmente à cultura. Constitui o passo fundamentalgraças ao qual, pelo qual, mas sobretudo no qual se realiza

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA349Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

a passagem da natureza à cultura”. Vê-se que a temática com a cultura traz nesse embate enfoques disciplinares diferentes entre antropólogos, historiadores, sociólogos, psicólogos e filósofos.

Nesse contexto, escolha o item correto sobre cultura, verificando (na afirmativa do item) tal noção entre as visões das disciplinas, assim como correspondem, ou não.

a) Os filósofos, a partir do século XVIII, passam a considerarque os humanos não diferem da natureza.

b) Para muitos historiadores, o ponto de ação que demarca a instituição da cultura é o trabalho do homem. Mas assim como os filósofos (e antropólogos) incluem as categorias: pensamento, linguagem e ação voluntária.

c) A antropologia estuda os seres humanos na condição de seres naturais.

d) A diferença entre homem e natureza, que dá origemà cultura, surge com a lei da proibição do incesto, leiexistente entre os animais.

e) Os seres humanos dão sentido à sexualidade: ela nãoé apenas a satisfação imediata de uma necessidadebiológica.

76. No dia 16 de junho de 2010, o Senado brasileiro aprovou o Estatuto da Igualdade Racial. Os senadores [...] suprimiram do texto o termo “fortalecer a identidade negra”, sob o argumento de que não existe no país uma identidade negra [...]. “O queexiste é uma identidade brasileira. Apesar de existentes, opreconceito e a discriminação não serviram para impedir aformação de uma sociedade plural, diversa e miscigenada”,defende o relatório de Demóstenes Torres.

(Folha.com. Cotidiano, 16 jun. 2010. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2010.)

Com base no texto e nos conhecimentos atuais sobre a ques-tão da identidade, é correto afirmar:

a) A identidade nacional brasileira é fruto de um processohistórico de realização da harmonia das relações sociaisentre diferentes raças/etnias, por meio da miscigenação.

b) A ideia de identidade nacional é um recurso discursivodesenraizado do terreno da cultura e da política, sendosua base de preocupação a realização de interessesindividuais e privados.

c) Lutas identitárias são problemas típicos de paísescoloniais e de tradição escravista, motivo da sua ausência em países desenvolvidos como a Alemanha e a França.

d) Embora pautadas na ação coletiva, as lutas identitárias,a exemplo dos partidos políticos, colocam em segundoplano o indivíduo e suas demandas imediatas.

e) As identidades nacionais são construídas socialmente,com base nas relações de força desenvolvidas entreos grupos, com a tendência comum de eleger, comouniversais, as características dos dominantes

77. (IF/RS, 2015) Sobre o conceito de cultura na obra deClaude Lévi-Strauss, indique a alternativa CORRETA.

a) A cultura não é o assunto central na obra do pensador,

que se dedica mais fortemente ao tema da estrutura social, compreendida como conjunto de relações estabelecidas em um determinado contexto social em um dado contexto histórico.

b) A oposição entre Natureza e Cultura é central na obrade Claude Lévi-Strauss, e o ponto fundamental de suaobra foi demonstrar a unidade da humanidade emtermos de seu potencial para produzir cultura, apesar deargumentar que as estruturas profundas de pensamento entre povos “selvagens” é radicalmente diferente daquela dos povos civilizados.

c) O princípio da comunicação assume uma dimensãoimportantíssima na antropologia estrutural propostapelo autor, de modo que o objeto de sua produção naantropologia recai sobre os sentidos dos mitos em suariqueza semântica e suas feições culturais em contextosetnográficos específicos.

d) Para o autor francês, a proibição do incesto é tomadacomo a primeira regra, e o universo das regras é ouniverso da cultura. Apesar de assumir feições diferentes em diferentes culturas, a universalidade da proibiçãodo incesto pode ser compreendida como síntese domomento de passagem da natureza à cultura.

e) O princípio da reciprocidade é fundamental para esteautor, pois a cultura pode ser compreendida comoconjunto de sistemas simbólicos, de modo que as trocaseconômicas, materiais e de pessoas não assumem tantaimportância quanto a troca de mensagens.

78. (UFU 2016/2) A humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto,que um grande número de populações ditas primitivas se au-todesigna com um nome que significa 'os homens' (ou às ve-zes – digamo-lo com mais discrição? – os 'bons', os 'excelentes', 'os completos'), implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza humana, mas são, quando muito, compostos de 'maus', 'mal-vados', 'macacos da terra' ou de 'ovos de piolho'.

LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural Dois. São Paulo:

Tempo Brasileiro, 1989: p. 334.

Nesse trecho, o antropólogo Claude Lévi-Strauss descreve a reação de estranhamento que é comum às das sociedades hu-manas quando defrontadas com a diversidade cultural.

Tal reação pode ser definida como uma tendência:

a) Iluminista

b) Relativista

c) Etnocêntrica

d) Ideológica

79. (UENP 2011)

Na madrugada de 1º de novembro de 2009, morre na França o etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss aos 101 anosde idade. Sua morte teve grande repercussão no Brasil, sobre-tudo porque foi um dos primeiros professores de sociologiada Universidade de São Paulo, logo na sua fundação, tendo

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

350 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

feito várias expedições ao Brasil Central. Seu pensamento in-fluenciou gerações de filósofos, antropólogos e sociólogos. É correto afirmar:

a) A corrente estruturalista, da qual Lévi-Strauss é o principal teórico, surgiu na década de 40 com uma propostadiferente do funcionalismo, predominante até então.O funcionalismo se preocupava com o funcionamentode cada sociedade e em saber como as coisas existiamna sua função social. O estruturalismo queria saber dotrabalho intelectual. Olhar para os povos indígenas ebuscar uma racionalidade e uma reflexão propriamentenativa.

b) Lévi-Strauss não encontrou evidências de que os povosnativos desenvolvessem um pensamento selvagem, nem que ocorresse a passagem de homem natural para ohomem cultural entre os povos indígenas.

c) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é uma espécie transitória, e sugeriu uma visão essencialista do serhumano, já que o mundo existe quando o homem ointerpreta, chegando a afirmar, em várias passagens, que o mundo começou com o homem e vai terminar com ele.

d) Lévi-Strauss concorda com Sartre que não existeoposição entre sociedades com história e sociedades sem história, sendo que isso é demonstrando pela sociologiae pela etnografia contemporâneas ao constatarem quetoda sociedade se desenvolve no curso de uma históriaespecífica.

e) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi-Strauss orespeito ao pensamento dos chamados povos primitivos, em especial dos povos indígenas da América, pelasdiferenças culturais e pela diversidade, sem as quais acriatividade humana cessa e, por tudo que há no mundo, antes e depois da passagem do humano pela Terra.

80. ( DPE-SP – FCC- 2015) A teoria antropológica de ClaudeLévi-Strauss (1908-2009) envolve as seguintes categorias: 

a) Interpretação, descrição densa, símbolos, sentido e teias de significado.

b) Diversidade, relativismo, indução e história.

c) Progresso, linearidade, estágios, leis gerais e monogenismo.

d) Invariantes, sistema, inconsciente, linguagem e sincronia.

e) Fato social total, potlatch, trocas simbólicas e representações

81. (PUC-PR, 2008) Michel Foucault, em Vigiar e Punir, apre-senta duas imagens de disciplina: a disciplina-bloco e a disci-plina-mecanismo. Para mostrar como esses dois modelos sedesenvolveram, o autor destaca dois casos: o medieval da pes-te e o moderno do panóptico. Assinale, portanto, a alternativa INCORRETA:

a) A disciplina-bloco se refere à instituição fechada,totalmente voltada para funções negativas, proibitivas eimpeditivas.

b) A disciplina-mecanismo é um dispositivo funcional quevisa otimizar e tornar mais rápido o exercício do poder,mediante o modelo panóptico.

c) A disciplina-mecanismo tem como estratégia a vigilância múltipla, inter-relacionada e contínua, pela qual oindivíduo deve saber que é vigiado e, por consequência,o poder se exerce automaticamente.

d) É possível dizer que houve um processo de mudança dadisciplina-bloco para a disciplina-mecanismo, passandopelas etapas de inversão funcional das disciplinas,ramificação dos mecanismos e estatização dosmecanismos disciplinares.

e) A disciplina-bloco se estabeleceu com o esquemamoderno do panóptico, uma vez que a disciplina -mecanismo, desenvolvida no período medieval pararesolver o problema da peste, estava em falência.

82. (ENEM 2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das bata-lhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades in-cendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famososinocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.

FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade. São

Paulo: Martins Fontes. 1999

O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é

a) combater ações violentas na guerra entre as nações.

b) coagir e servir para refrear a agressividade humana.

c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre osindivíduos de uma mesma nação.

d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.

e) organizar as relações de poder na sociedade e entre osEstados

83. (ENEM 2013) O edifício é circular. Os apartamentos dosprisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los,se quiser, de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chama-lo, se quiser, de alojamento do inspetor. Amoral reformada; a saúde preservada; a indústria revigorada;a instrução difundida; os encargos públicos aliviados; a econo-mia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdioda Lei sobre os Pobres não contado, mas desfeito – tudo poruma simples ideia de arquitetura!

BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2006

Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanis-mos

a) religiosos, que se constituem como um olho divinocontrolador que tudo vê.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA351Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação,impedindo a visão da dominação sofrida.

c) repressivos, que perpetuam as relações de dominaçãoentre os homens por meio da tortura física.

d) sutis, que adestram os corpos no espaçotempo por meio do olhar como instrumento de controle.

e) consensuais, que pactuam acordos com base nacompreensão dos benefícios gerais de se ter as própriasações controladas.

84. (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Fou-cault (1926-1984) apresentam interfaces que corroboram para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre as quais aFilosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicinae Direito. Em 1975, Foucault publicou a obra “Vigiar e Punir:história da violência das prisões”, na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual abandonava alguns postuladosque marcaram a posição tradicional da esquerda do período.

Sobre a concepção de poder foucaultiana, é CORRETO afirmar.

a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de umprivilégio adquirido pela classe dominante que detém opoder econômico.

b) O poder está centralizado na figura do Estado e estálocalizado no próprio aparelho de Estado, que é oinstrumento privilegiado do poder.

c) Todo poder está subordinado a um modo de produção e a uma infraestrutura, pois o modo como a vida econômica é organizada determina a política.

d) O poder tem como essência dividir os que possuempoder (classe dominante) daqueles que não têm poder(classe dos dominados).

e) O poder não remete diretamente a uma estruturapolítica, ao uso da força ou a uma classe dominante: asrelações de poder são móveis e só podem existir quando os sujeitos são livres e há possibilidade de resistência.

85. (Unioeste 2016) O filósofo e teórico social Michel Fou-cault (1926-1984) dedica sua obra “Vigiar e punir” (1999) parao entendimento das formas de controle social externas e in-ternas. Segundo o autor, a construção do sujeito dócil, útil esubmisso à ordem estabelecida é possível apenas por meiode processos “disciplinadores”, nos quais o corpo e a mente do sujeito são moldados de acordo com o que se pede no meiosocial. Para entender esse fenômeno, Foucault voltou-se paraa observação de instituições disciplinadoras, como a escolae os quartéis, onde os indivíduos que ali permanecem vivemsob o controle da instituição.

Podemos concluir que, para Foucault, controle social é:

a) a forma de controlar a reprodução biológica de um grupo social.

b) a forma de estabelecer critérios em relação à reprodução humana em países superpopulosos.

c) um conjunto entre formas externas e internas deintervenção no comportamento do sujeito desviante.

d) um conjunto de regras que limita a interação entreindivíduos de classes e estratos diferentes em sociedades estamentais.

86. Foucault, em Vigiar e Punir, faz uma reflexão importan-te sobre os mecanismos de disciplina. Considere os itens abaixo.

I- Foucault notou que o controle disciplinar não era exclu-sivo das prisões e, sim, permeava várias instituições, como as fábricas, exércitos, hospitais e escolas.

II- A disciplina não pode se identificar com uma instituição nem com um aparelho, mas com uma sociedade discipli-nar.

III- É pela disciplina que as relações de poder se tornammais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que se estabelecem as relações.

IV- A prisão é o final previsível da passagem por institui-ções pela qual a sociedade acredita impedir a delinquên-cia, como os abrigos e medidas socioeducativas.

A alternativa com a indicação correta dos itens que melhor representam o pensamento de Foucault é:

a) I e II

b) I e III

c) I, II e III

d) II e IV

87. (PUC - PR 2008) A partir do livro Vigiar e Punir, deMichel Foucault, considere as seguintes afirmações a respeito da disciplina:

I. Ela é exercida de diferentes formas e tem como finalidade única a habilidade do corpo. II. Ela pode ser entendi da como a estratégia empregadapara o controle minucioso das operações do corpo, sendo seu efeito maior a consti-tuição de um indivíduo dócil e útil. III. Ela se constitui também pelo controle do horário deexecução de atividades, em que o tempo medido e pago deve ser sem defeito e, emseu transcurso, o corpo deve ficar aplicado a seu exercício.

De acordo com as afirmações acima, pode mos dizer que:

a) Todas as afirmações estão corretas .

b) A afirmação I está incorreta.

c) Apenas a afirmação III está correta.

d) As alternativas II e III estão incorretas.

e) Apenas a afirmação II está correta.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

352 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

88. (PUC- PR 2008) Michel Foucault, em Vigiar e Punir,apresenta duas imagens de disciplina: a disciplina-bloco e a disciplina -mecanismo. Para mostrar como esses dois modelos se desenvolvera m, o autor destaca dois ca-sos: o medieval da peste e o moderno do panóptico.

Assinale, portanto, a alternativa INCORRETA:

a) A disciplina-bloco se estabeleceu com o esquemamoderno do panóptico, uma vez que a disciplinamecanismo, desenvolvi da no período medieval pararesolver o problema da peste, estava em falência.

b) A disciplina-bloco se refere à instituição fechada, total mente voltada para funções negativas, proibitivas eimpeditivas.

c) A disciplina- mecanismo é um dispositivo funcionalque visa otimizar e tornar mais rápido o exercício dopoder, mediante o modelo panóptico.

d) É possível dizer que houve um processo de mudança da disciplina-bloco para a disciplina mecanismo,passando pelas etapas de inversão funcional dasdisciplinas, ramificação dos mecanismos e estatizaçãodos mecanismos disciplinares.

e) A disciplina-mecanismo tem como estratégia avigilância múltipla, inter -relacionada e contínua, pelaqual o indivíduo deve saber que é vigiado e, porconsequência, o poder se exerce automaticamente.

89. A expressão microfísica do poder , cunhada pelo filóso-fo Michel Foucault, designa:

a) as mudanças de regi me político nos períodosrevolucionários.

b) uma rede de dispositivos ou mecanismos de poderque se disseminam por toda a estrutura social.

c) a forma repressiva da dominação capitalista .

d) o Estado como instância coercitiva que origina efundamenta todo tipo de poder social.

e) o aparato de pompa envolvido no espetáculo daspunições durante o Antigo Regime.

90. (Unioeste 2016)

Os estudos realizados por Michel Foucault (1926 -1 984) apresentam interfaces que corroboram para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre as quais a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault publicou a obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”, na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual abandonava alguns postula-dos que marcaram a posição tradicional da esquerda do período.

Sobre a concepção de poder foucaultiana, é CORRETO afir-mar.

a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de umprivilégio adquirido pela classe dominante que detém o poder econômico.

b) O poder está centralizado na figura do Estado e está localizado no próprio aparelho de Estado, que é oinstrumento privilegiado do poder.

c) Todo poder está subordinado a um modo deprodução e a uma infraestrutura, pois o modo comoa vida econômica é organizada determina a política.

d) O poder tem co mo essência dividir os que possuempoder (classe dominante ) daqueles que não têmpoder (classe dos dominados).

e) O poder não remete diretamente a uma estruturapolítica, ao uso da força ou a uma classe dominante:as relações de poder são móveis e só podem existirquando os sujeitos são livres e há possibilidade deresistência

91. (SANEPAR/2006) O sociólogo francês Pierre Bourdieu éum dos principais teóricos da sociologia contemporânea. Suaabordagem sociológica, autodenominada estruturalismo--construtivista, propõe-se a superar a divisão existente na So-ciologia entre as abordagens teóricas objetivistas e subjetivis-tas. Dentro da construção conceitual desse autor, destacam-se duas noções utilizadas para a compreensão/explicação daspráticas sociais: as noções mutuamente relacionadas de ha-bitus e de campo. O conceito de campo, segundo Bourdieu,expressa um espaço “no interior do qual há uma luta pela im-posição de uma definição do jogo e dos trunfos necessáriospara dominar este jogo” (BOURDIEU, P. Coisas Ditas). É um lu-gar em que se manifestam relações de poder, de estratégiae de interesse. Em número indeterminado e estruturado emdois polos, dos dominantes e dos dominados, existirão tantos campos quantos interesses forem postos em confronto. Naunião entre um campo e um habitus se manifestam as con-dições não intencionadas que estruturam as ações coletivase individuais.

Levando em consideração o exposto acima, assinale a alter-nativa que expressa o conceito de habitus, segundo Pierre Bourdieu.

a) Sistema formado por quatro funções elementares:adaptação, perseguição de objetivos, integração elatência.

b) Sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a agir como estruturas estruturantes.

c) Estruturas formadas por elementos universais einvariantes da sociedade humana presentes na própriamente humana.

d) Estruturas subconscientes da personalidade quepredispõem os indivíduos a comportamentos sociaisdeterminados.

e) Estruturas econômicas da sociedade que diferenciam osindivíduos em classes sociais com interesses antagônicos.

92. ( ENADE, 2011)

A cultura legítima, referendada pelos exames e diplomas, vem a ser aquela pertencente às classes privilegiadas. Logo, para os filhos de camponeses, de operários, de empregados ou de pequenos comerciantes, a cultura escolar é aculturação.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA353Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Les héritiers: les étudiants et laculture. Paris: Minuit, 1964, p. 37

No fragmento acima, Bourdieu e Passeron

a) ressaltam a centralidade e importância da cultura nasociedade contemporânea.

b) utilizam o conceito de aculturação como sinônimo doconceito de socialização.

c) enfatizam a importância da instituição escolar, que, comseus exames e diplomas, contribui para a manutenção da cultura.

d) apontam para o fato de que a cultura legítima deuma sociedade é aquela que tem origem nas classespopulares, especialmente entre os não escolarizados.

e) sinalizam que, em uma mesma sociedade, existemdiversas culturas, que são desigualmente valoradas emfunção dos recortes de classe social.

93. ( FGV, 2013 – SEDUC -SP) Para Pierre Bourdieu, a escolaé um espaço de produção de capital cultural, com diversosagentes e valores sociais envolvidos nesse processo. As op-ções a seguir consideram a escola a partir do quadro concei-tual oferecido pelo sociólogo, à exceção de uma. Assinale–a.a) A escola é uma ferramenta de poder, que reproduz

desigualdades, ao perpetuar de forma implícitahierarquias e constrangimentos.

b) Na escola se desenvolvem lutas pela obtenção emanutenção do poder simbólico, produzindo valoresque acabam sendo aceitos pelo senso comum.

c) A escola é um espaço de socialização que proporcionao desenvolvimento integral dos indivíduos, tendo emvista que somos produtores e produtos do meio em quevivemos.

d) O aluno é um ator social ligado à engrenagem daprodução simbólica, dela participando como herdeiro etransmissor inconsciente de valores.

e) A escola é um artifício de reafirmação de poderes, ondeestruturas sociais diferentes convivem e se enfrentamcom seus variados estilos de vida

94. ( Bourdieu) (IF -RS, 2015)

A noção de habitus cumpre um papel central na teoria de Pierre Bourdieu quanto à análise das desigualdades so-ciais. A este conceito pode-se associar todas as perspecti-vas abaixo, EXCETO:  

a) Na medida em que se trata de princípios geradores depráticas distintas e distintivas entre as classes sociais,o  habitus  está expresso, por exemplo, no que se comee na maneira de comer, bem como no esporte que sepratica e na forma de praticá-lo.

b) O habitus, como um sistema de disposições incorporadas, está ligado aos esquemas inconscientes da cultura, umavez que a teoria de Bourdieu privilegia em suas análisesas dimensões subjetivas do gosto e da estética dosindividuos sociais.

c) O habitus se apresenta, ao mesmo tempo, como social eindividual, de modo que a pessoa, em suas experiênciasde vida, vai construindo um  habitus  individual próprio,ainda que indissociável do primário.

d) O  habitus  é estruturado por meio das instituições desocialização dos agentes, que impõem aos indivíduoscertos princípios classificatórios, de visão de mundo edivisão de gostos. 

e) A partir do habitus, se estabelece o que é bom e o que émau, o que é distinto e o que é vulgar, o que é valorizado e o que é desvalorizado em dado segmento social.

95. ( SEE/MG,2012) A importância da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, para a análise do comportamento dos diferentes grupos raciais na sociedade brasileira, consiste na

a) Afirmação de uma democracia racial na sociedadebrasileira

b) Substituição de uma explicação biológica das diferentesraças por uma interpretação cultural

c) Elaboração de uma interpretação biológica das diferenças raciais por oposição a uma ênfase em elementos culturais

d) Ênfase nas diferenças socioestruturais por oposição àsdiferenças culturais.

96. ( ENADE, 2005) Gilberto Freire, no livro Casa Grande eSenzala, analisa aspectos das relações inter-raciais no Brasil.Considerando a maneira como esse autor desenvolve, em sua análise, o mito da harmonia entre as três raças que constituí-ram a nação brasileira, assinale a opção correta.

a) Para o autor, o fenômeno da miscigenação indica umdesequilíbrio entre as três raças constitutivas da naçãobrasileira

b) No mito da harmonia racial, Gilberto Freire sugere apreponderância absoluta do elemento branco sobre osnegros e os índios.

c) O preconceito racial é, segundo esse autor, um elemento fundador do mito da nação brasileira.

d) A análise de Gilberto Freire está focada na ideia dedissidência entre as três raças, o que constitui o principal ponto de conflito da nação brasileira.

e) Segundo esse autor, a miscigenação produz umasociedade singular nos trópicos, caracterizadaprincipalmente pela convivência pacífica entre as raças.

97. (ENADE, 2011) Já se disse, numa expressão feliz, que acontribuição brasileira para a civilização será de cordialidade- daremos ao mundo o “homem cordial”. A lhaneza [afabili-dade] no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tãogabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, comefeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, aomenos, em que permanece ativa e fecunda a influência ances-tral dos padrões de convívio humano, informados no meio ru-ral e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes expressões deum fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Nossa

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

354 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1

Curso Enem 2019 | Sociologia

Socioantropologia

forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez.

HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp. 146-147.

Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda utiliza o con-ceito de “homem cordial”

a) para definir o caráter nacional brasileiro, cuja origemencontra-se em nossos ancestrais ibéricos.

b) como fruto da análise da psicologia do brasileiro, pormeio da qual busca estabelecer os traços genéricos dacultura nacional.

c) para descrever o modo de ser de todo brasileiro, istoé, um indivíduo afetuoso e acolhedor, característicaselogiadas pelos estrangeiros que visitam o país.

d) como um tipo ideal, sem existência efetiva; com esseconceito, busca compreender a conduta dos agentessociais sem pretender fixar um caráter nacional.

e) para indicar como a cordialidade foi imprescindívelpara a consolidação da democracia no Brasil, criandoinstituições marcadas pelas relações familiares e pessoais.

98. (Enem 2015) Em sociedade de origens tão nitidamentepersonalistas como a nossa, é compreensível que os simplesvínculos de pessoa a pessoa, independentes e até exclusivosde qualquer tendência para a cooperação autêntica entre osindivíduos, tenham sido quase sempre os mais decisivos. Asagregações e relações pessoais, embora por vezes precárias,e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias, entreregionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. Opeculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional,do passional e uma estagnação ou antes uma atrofia corres-pondente das qualidade ordenadoras, disciplinadoras, racio-nalizadoras.

HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

Um traço formador da vida pública brasileira expressa-se, se-gundo a análise do historiador, na

a) rigidez das normas jurídicas.

b) prevalência dos interesses privados.

c) solidez da organização institucional.

d) legitimidade das ações burocráticas.

99. (UEL, 2011) Leia o texto a seguir. Na verdade, a ideologiaimpessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizouentre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios atéonde coincidiram com a negação pura e simples de uma au-toridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror àshierarquias e permitindo tratar com familiaridade os gover-nantes.

(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 160.)

O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio Buarque de Holanda sobre a tradição política brasileira. A esse respeito, considere as afirmativas a seguir.

I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando ele-mentos patrimonialistas e paternalistas que dificultam a con-solidação democrática. II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a recu-sa das relações hierárquicas, as quais são incompatíveis comregimes democráticos. III. As relações pessoais entre governantes e governados in-viabilizaram a instauração do fenômeno democrático no paíscom a mesma solidez verificada nas nações que adotaram oliberalismo clássico. IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou quese enraizassem, no país, práticas sociais opostas aos princípios do clientelismo político.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e III são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

100. (UNIOESTE, 2013) O antropólogo brasileiro Darcy Ri-beiro, em sua obra O Povo Brasileiro, afirma: “Nós, brasileiros,somos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foicrime ou pecado. Nela, fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-na-cional, a de brasileiros.”

(RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. 1995, p.453)

Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a alter-nativa INCORRETA.

a) A identidade nacional brasileira nasceu do encontro emestiçagem entre diversos grupos étnicos.

b) A miscigenação do povo brasileiro se deu fisicamente eprincipalmente no seu modo de ser e agir.

c) A mestiçagem no Brasil foi um erro histórico e umobstáculo para a construção de uma identidade nacional.

d) As identidades não são coisas com as quais nascemos, são formadas e transformadas no interior das representações coletivas.

e) O homem é o resultado do meio cultural em que foisocializado, é herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e as experiências adquiridaspelas numerosas gerações que o antecederam.

101. (Uema 2016)  (...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, osociólogo espanhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...)“A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no samba. Na relação entre pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata”. [...] “Para os leitores de Sergio Buarque de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as raízes da sociedade brasileira

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA355Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 1Socioantropologia

plantadas nos terraços da escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. (...) Sob a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da discriminação e da desigualdade.” 

BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade gourmet. Carta Capital, Ano XXI, Nº

854.

A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que o brasileiro teria como característica a cordialidade, sendo, ao contrário, preconceituoso e agressivo. As frases expressivas da arrogância discriminativa presente no cotidiano da sociedade brasileira estão indicadas em

a) “Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade.” “Quem poderia resolver essa situação?” 

b) “E você, quem é mesmo?” “Um momento enquanto verifi co o seu processo.” 

c) “A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o número do seu protocolo, agora é só esperar”.

d) “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor será o próximo a ser atendido.” 

e) “O senhor sabe com quem está falando?” “Coloque-se no seu lugar.” 

102. (Uenp, 2010)Do ponto de vista sociológico, no Brasil seconstituiu sobre o mito da democracia racial principalmentedepois da publicação de Casa grande e senzala de GilbertoFreyre (2003). De acordo com Florestan Fernandes (1965) oideal de miscigenação fora difundido como mecanismo deabsorção do mestiço não para a ascensão social do negro, mas para a hegemonia da classe dominante. O mito da democracia racial assentou-se sobre dois fundamentos: 1) o mito do bomsenhor; 2) o mito do escravo submisso.

Analise as afi rmações: 

I. A crença no bom senhor exalta a vulgaridade das elitesmodernas, como diria Contardo Calligaris, e juntamente comuma espécie de pseudocordialidade seriam responsáveis pela manutenção e o aprofundamento das diferenças sociais.

II. O mito do escravo submisso fez com que a sociedade de um modo geral não encarasse de frente a violência da escravidão, fez com que os ouvidos se ensurdecessem aos clamores domovimento negro, por direitos e por justiça.

III. As proposições legislativas sobre a inclusão de negros vãodesde o Projeto de Lei que reserva aos negros um percentu-al fi xo de cargos da administração pública, aos que instituemcotas para negros nas universidades públicas e nos meios decomunicação. 

Assinale a alternativa correta:

a) todas as afi rmações são verdadeiras. 

b) apenas a afi rmação II e verdadeira. 

c) as afi rmações I e III são verdadeiras. 

d) as afi rmações I e II são falsas. 

e) todas as afi rmações são falsas

1 E 27 B 53 D 79 A

2 E 28 D 54 A 80 D

3 D 29 C 55 C 81 E

4 B 30 E 56 C 82 E

5 B 31 D 57 C 83 D

6 B 32 C 58 E 84 E

7 A 33 A 59 A 85 C

8 C 34 C 60 C 86 C

9 A 35 D 61 E 87 B

10 C 36 C 62 D 88 A

11 B 37 C 63 D 89 B

12 D 38 C 64 D 90 D

13 D 39 B 65 B 91 B

14 B 40 B 66 C 92 E

15 B 41 A 67 D 93 C

16 C 42 B 68 A 94 B

17 D 43 B 69 A 95 B

18 E 44 C 70 D 96 E

19 B 45 C 71 B 97 D

20 B 46 B 72 A 98 B

21 E 47 A 73 D 99 B

22 A 48 A 74 D 100 C

23 D 49 C 75 E 101 E

24 E 50 D 76 E 102 A

25 E 51 A 77 D

26 B 52 D 78 C

GABARITO

Page 47: Determinante - Enem - Sociologia 2019

Curso Enem 2019 | Sociologia

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

356 Sociologia | Curso Enem 2019

Ciência Políticas CAPÍTULO 2

15. A democracia na Atenasclássica

Falar em política na história da civilização ocidental implica considerar a emergência de Atenas como a mais destacada polis ou “cidade-estado”, ou ainda “cidade-república”, no sécu-lo V a.C. Atenas tornou-se o ápice de um movimento que já vinha acontecendo na Grécia há mais tempo. O contexto era de crescimento marítimo e comercial, especialmente em cida-des costeiras. Esse crescimento acentuado e rápido foi histori-camente possível devido ao modelo escravista de economia, no qual a existência dos trabalhadores escravos permitiu aos cidadãos o status de iguais e livres para a atividade política.

Entre os gregos, especialmente entre os atenienses aconte-ceu o que Robert Dahl denomina a “primeira transformação democrática”, a instituição da cidade-Estado democrática, depois de uma história de governos de outra natureza que não democráticos, como a tirania, a oligarquia e aristocracia. Se considerarmos as diferenças entre a cidade-Estado demo-crática e uma não democrática, um dos fatores decisivos foi que as pessoas consideradas iguais, os cidadãos, homens adultos livres adquiriram o direito de participar direta-mente do governo, tendo em suas mãos os recursos ne-cessários e as instituições necessárias para o bom funcio-namento da cidade-Estado.

a) Democracia de pequena escala

O modelo ateniense de Democracia emerge em comunida-des relativamente pouco numerosas, nas quais os indivíduos moravam relativamente próximos e a comunicação entre eles também era, por isso, relativamente rápida e fácil. Mesmo nessa primeira forma de democracia, encontramos uma de-mocracia restritiva, da qual participavam somente os iguais, que eram os atenienses nativos, homens adultos. Além dos elementos da igualdade e da liberdade dos cidadãos, a rela-ção dos atenienses com a lei e a com a justiça tem sido outro fator definidor do que viria a se tornar uma forma democrática de vida e de governo.

Essa democracia de pequena escala era, portanto, uma demo-cracia na qual havia uma relativa homogeneidade que facilita-va os acordos ou consensos políticos sobre o melhor para to-dos, sendo esses todos os cidadãos iguais e livres. O contexto moderno será bem diferente, nele a democracia será marcada pela heterogeneidade, sendo mais inclusiva.

b) A virtude cívica

O pressuposto antropológico do ser humano como animal político, expresso por Aristóteles, fazia com que a concepção de vida humana plena, feliz e realizada passava pela partici-pação na vida da pólis. Dessa forma, a boa vida humana era também vida política, ou seja, a ética e a política caminhavam juntas. O indivíduo era concebido como membro de corpo social. E a função do membro é trabalhar para a unidade, a saúde e a harmonia do corpo. Nesse modelo de democracia direta, na qual todos os que são cidadãos tem a possibilidade de se reunirem, debaterem os problemas da cidade-estado e de promulgarem as leis da cidade.

Democracia grega implicava a isonomia, a igualdade dos cida-dãos diante da lei, e a isegoria, ou seja, todo cidadão tinha o direito de falar na assembleia soberana e de ser ouvido, de ex-pressar suas convicções. Será dessas partilhas de convicções que nascem e se reforçam as leis, que emergem como livre au-toimposição de limites. Assim, ser livre será respeitar e obede-cer a lei, que é fruto da própria liberdade. A oposição não será, portanto entre liberdade e lei, mas entre lei e tirania. A virtude cívica será então compreendida como aquela na qual o bem do indivíduo coincide como bem comum. Nessa perspectiva grega, a boa cidade é aquela produz bons cidadãos, felizes, participativos, íntegros, que fazem o bem e praticam a justiça.

Com efeito, a paixão transforma todos os homens em irracionais. A animosidade, principalmente, torna ce-gos os altos funcionários, até mesmo dos mais ínte-gros. A lei, pelo contrário, é o espírito desembaraçado de qualquer paixão. ( ARISTÓTELES, 2002: p.153)

c) As características da democracia, segundo Aristóteles

Em seu livro “A Política”, Aristóteles nos fornece os elementos centrais, as características comuns de uma perspectiva demo-crática de vida e de governo. “Deve-se antes chamar demo-cracia o Estado que os homens livres governam, e oligarquia o que os ricos governam”. (ARISTÓTELES, 2002: p.120). Dessa forma, um princípio básico da constituição de uma democracia é aliberdade.

David Held (1987:pp 18-19) apresentando a concepção aristo-télica de democracia, assim sintetiza as características demo-cráticas mencionadas por Aristóteles:

CAPÍTULO 2 Ciência Políticas

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA357Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

a. Eleições para cargos públicos por todos dentre todos.b. Governo de todos sobre cada um e de cada um, em turno, sobre todos.c. Cargos públicos ocupados por diferentes pessoasde cada vez, ou, pelo menos, aqueles cargos que nãoexigem experiencia ou habilidade.d. A qualifi cação para a posse de um cargo públiconão depende de posses ...e. O mesmo homem não pode deter o mesmo postoduas vezes, ou apenas raramente...f. Mandatos de curta duração para todos os servidores públicos, ou pelo menos, para tantos quanto for pos-sível.g. Todos devem participar de juris... h. A assembleia com autoridade soberana em tudo,ou, pelo menos, nos assuntos mais importantes... [...]

distintiva a busca por conciliar os poderes do estado e os po-deres dos cidadãos ou, em outros termos, conjugar a sobera-nia do estado com a soberania popular.

Considerando o contexto de instabilidade reinante na Itália de seu tempo, Maquiavel renuncia ao idealismo e busca pensar de acordo com as demandas do momento histórico. Nesse re-alismo político, a escolha do Príncipe deve submeter-se ao cri-tério da funcionalidade, buscando a efi cácia do seu governo, a estabilidade do Estado, na preservação da ordem e da paz social. Assim, Maquiavel reforça a concepção de soberania do poder do Estado e nunca da pessoa do príncipe.

a) A Autonomia da política

Seguramente, uma das marcas mais distintivas de Maquiavel, sua novidade política, consiste em afi rmar que não há nada anterior à política à qual ela deva estar subordinada: uma or-dem natural, uma religião ou um deus. A política deve ter au-tonomia em relação a qualquer outra instancia, especialmen-te religiosa. E a grande razão para buscar essa autonomia está no fato de a política ter de ser realista, fugindo dos idealismos.

“Todavia, como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas do que pelo que delas se possa imaginar. [...]. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria vi-ver, que quem se preocupar com o que se deveria fa-zer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria do que o modo de se preservar [...]. Assim é necessário a um Príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso se-gundo a necessidade.

MAQUIAVEL.N. O príncipe.Trad. Livio Xavier. São Paulo: Folha de São

Paulo, 2010. Cap. XV. p. 36.

d) A Crítica de Platão à democracia.

Para Platão, na democracia, os desiguais são tratados como iguais, e qualquer um pode assumir um cargo por sorteio, mesmo que não tenha qualifi cação para tal. Além disso, a li-berdade de fazer o que se quer, marca da democracia, não era vista com bons olhos por Platão. Em sua obra A República, Pla-tão desenvolve a metáfora do navio, em cujo leme deve estar alguém qualifi cado nas técnicas da navegação. Nessa metá-fora, Platão critica a democracia na qual acontecem disputas pelo poder sem haver, experiência, conhecimento ou qualifi -cação para tanto. Será muito comum, nessa dinâmica, que a democracia se torne um interminável campo de confl itos pelo poder, que traga em si a possibilidade da tirania, da imposição de uns sobre os outros.

Na mesma obra, Platão desenvolve uma segunda metáfora, a partir da qual ele apresenta a sua forma ideal de governo. Ele associa o povo à metáfora da besta ou do “grande e poderoso animal”, que tem desejos admiráveis e abomináveis. Será pre-ciso saber cuidar desse animal e harmonizar suas tendências contraditórias. E quem será capaz de fazer esse governo? Se-gundo Platão, somente um grupo de sábios, uma aristocracia intelectiva, os fi lósofos, uma vez que a virtude de um bom go-verno depende de conhecimento. E ó conhecimento que está na base de toda virtude.

“Enquanto os fi lósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente fi lósofos, enquanto o poder político e a Filosofi a não convergirem num mes-mo indivíduo [...],não terão fi m, meu caro Glauco, os males das cidades, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edifi cada.

PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 2000. Livro V. p. 180-181.

16. A república: o humanismocívico, em Maquiavel.Com Nicolau Maquiavel (1469-1527), podemos afi rmar que estamos no início da política moderna, que tem como marca

E sua função será a de ordenar o mundo, ou seja, colocar or-dem no mundo político, que tende ao caos, devido à natureza egoísta e interesseira do ser humano. Por essa razão, a política terá relação com a conquista e a manutenção do poder e da unidade do corpo social. Mas como fazer isso, se os homens naturalmente não estão propensos a isso?

No texto a seguir, Maquiavel usa a metáfora do leão e da rapo-sa, para simbolizar duas estratégias diferentes de ação, quan-do a ação com base na lei não é sufi ciente.

Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis; outra, ela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, po-rém, muitas vezes, a primeira não é sufi ciente, é preci-so recorrer à segunda. Ao Príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] E uma sem a outra é a origem da instabi-lidade. Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bemservir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qua-lidades da raposa e do leão, pois este não tem defesaalguma contra os laços*, e a raposa, contra os lobos.

MAQUIAVEL.N. O príncipe. Trad. Livio Xavier. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. p. 40. cap. XVIII. (Fragmento).

*Em outras traduções a expressão usada é “armadilha”.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

358 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

Quando Maquiavel se refere às formas de governo, afirma que há três espécies de governo: o monárquico, que traz em si o risco de cair no despotismo, o aristocrático, que traz em si o risco de cair na oligarquia, e o popular, que traz em si o riscoda permissividade. O remédio contra as formas corrompidasdesses governos seria, para Maquiavel, o governo misto que,devido à melhor representatividade, tende a ser o mais durá-vel. A forma mista de governo tem a seu favor o fato de nelaser muito mais provável ou possível um equilíbrio de interes-se entre grupos sociais antagônicos, como ricos e pobres, porexemplo, o que essa forma de governo mais apta para resistirao tempo. Contudo, sempre é preciso considerar a realidade e nela perceber qual a forma de governar que potencialmenteterá maior probabilidade de resistir ao tempo, proporcionan-do segurança ao país e liberdade aos cidadãos.

Para Maquiavel, uma cidade cresce quando nela existe o es-pírito da liberdade, assegurado por uma constituição mista, condição essencial para evitar a dominação dos interesses de determinados grupos sobre outros e por uma permanente vigilância por parte do Estado para que os interesses da co-munidade sempre estejam acima dos interesses de indivíduos particulares. Em outras palavras, a cidadania implicava deve-res com a “coisa pública”. Em nome desse bem, em nome da ordem e da harmonia na sociedade, o Estado podia fazer uso da força. Para Maquiavel, era fundamental que o Estado fosse instituição forte e segura, pois sem ela não haveria sequer li-berdade assegurada aos cidadãos. Dessa forma, encontramos em Maquiavel o precursor do que será uma concepção mo-derna de Estado.

b) Do conflito de interesses às boas instituições e às boasleis

Maquiavel faz uma clara distinção entre os cidadãos ricos e poderosos, por um lado, e o povo, por outro lado; Os nobres querem dominar e expandir seus podres e o povo deseja não ser dominado. Os poderosos estariam claramente em oposi-ção aos interesses do bem comum.

Tendo a liberdade como objetivo a ser conquistado e assegu-rado, as divisões sociais jogariam um importante papel nesse sentido, sendo o povo, para Maquiavel, o guardião da liberda-de, a partir de seu desejo de não ser dominado. Em termos ins-titucionais, as leis devem assegurar essa liberdade em regime de governo misto, buscando atender aos interesses em jogo sem comprometer o bem comum.

A preservação do bem comum será conseguida com a virtú do governante mas também com boas leis e instituições que as-seguram a liberdade, bem como com a ação do povo que ama a pátria e o bem comum. Liberdade e virtú, associada à habili-dade de bem agir de acordo com as circunstancia, juntas, são as condições que fomentam uma boa vida política.

17. Thomas Hobbes: naturezahumana e contrato socialNo contexto da vida política de Hobbes (1588-1679), as mo-narquias absolutistas eram um regime político difundido por toda a Europa e busca-se fundamentar e justificar os poderes ilimitados dos monarcas.

a) A passagem do estado de natureza para a sociedadecivil

Hobbes é conhecido com um dos contratualistas que afirma que a origem do Estado ou da sociedade regida por leis está num contrato. Hobbes chegou a imaginar uma situação hi-potética, que serviu de instrumento e de experimento para a sua teoria. Imaginou os seres humanos em situação anterior à existência de um estado, de um poder comum a todos. Nesse condição originária, que ele denominou “estado de natureza”, os indivíduos tomariam com referencia para as suas ações e decisões os chamados “direitos naturais’’, que incluíam tudo o que fosse possível e necessário para assegurar a própria vida. Não é difícil imaginar a conclusão. Resulta disso a clássica ex-pressão: “a vida é uma guerra de todos contra todos”.

No capítulo XIII, de O Leviatã, “Da condição natural da huma-nidade relativamente à sua felicidade e miséria”, Hobbes assim se expressa:

Desta guerra de todos os homens contra todos os ho-mens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e mal, de justiça e injustiça não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há justiça. (HOBBES, 1984: 78.

Segundo Hobbes, nesse estado de natureza, no qual o confli-to seria generalizado, os indivíduos percebem e reconhecem quão solitária, brutal, desagradável e curta é a vida humana. E nisso todos são iguais. Se uns tem mais força, outros podem ser mais espertos. Nesse estado natural, nada estaria assegu-rado, a não ser a discórdia, motivada por competição por al-gum lucro, desconfiança em relação à desejada segurança e o desejo de glória e reputação.

Outra consequência da mesma condição é que não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a cada um aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo. É pois esta a miserável condição em que o homem realmente se encontra, por obra da simplesnatureza. Embora com uma possibilidade de escapara ela, que em parte reside nas paixões, e em parte emsua razão. (HOBBES, 1984: 78)

Enquanto perdurar este direito da cada homem a to-das as coisas, não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que ele seja) a segurança de vi-ver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver HOBBES, 1984: 82)

E será para sair dessa condição e assegurar longevidade e segurança que os indivíduos, nesta hipótese de Hobbes, che-gam à conclusão da necessidade de um pacto social, em favor de um poder comum, que assegurasse a vida dos indivíduos. Mas esse desejo implicaria abrir mão daquele direito natural a todas as coisas. Sob quais condições? Sob a condição de que todos façam o mesmo. Desse acordo nasceria o Estado, todo poderoso, o poder soberano, uma autoridade conferida pelo povo.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA359Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

Da primeira lei fundamental da natureza que consistiria em buscar a paz com os outros, se nela acreditar, e fazer tudo para a seguir ou, em caso contrário, servir-se da guerra, para as-segurar sua vida, nasça esta segunda lei da qual resultaria o pacto:

Assim, o contrato surge dessa mútua renúncia de direito e de sua transferência a um outro, seja ele uma pessoa ou uma assembléia de pessoas. Sendo um ato voluntário, cada um o faz pensando no bem para si mesmo. Mas, considerando a natureza humana egoísta, passional e impulsiva, cada um aceitará transferir o direito sob alguma garantia. Imaginemos que alguém quebre o pacto e agride o outro. Nesse caso, ten-do um renunciado ao direito natural de autodefesa, a vida voltara ao estado de guerra, caso ele revide a agressão sofri-da. É por essa razão que Hobbes, no capítulo XVII, afirma que o “pacto sem a espada é nulo”, que “os pactos sem a espadanão passam de palavras, sem força para dar qualquer seguran-ça a ninguém” (HOBBES, 1984: p. 107), fazendo clara referen-cia ao poder do Estado, que teria sido criado a partir do pacto para defender os direitos individuais na vida em sociedade. “E ninguém tem a liberdade de resistir à espada do Estado, emdefesa de outrem, seja culpado ou inocente”. (HOBBES, 1984:p. 138)

Dessa forma o poder do Estado é um poder pleno, absoluto, que não pode ser contrabalanceado por algum outro poder. E esse Estado, para Hobbes, seria a condição para que a socie-dade fosse possível.

b) Da obediência ao Estado soberano e da liberdade dedesobediência

O soberano não tem a obrigação de atender aos caprichos ou desejos de cada súdito. Sua ação está relacionada ao de-ver de agir, como julgar melhor, no campo da segurança ,da proteção, da defesa da vida dos súditos. Contudo, o indivi-duo tem uma obrigação natural, de acordo com o direito de natureza, de não agir contra sua própria vida e de fazer tudo o que estiver ao seu alcance contra a ameaça à sua vida. Porisso, Hobbes, no capítulo XXI, dedicada à liberdade dos súdi-tos, afirma:

Todo súdito tem liberdade em todas aquelas coisas cujo di-reito não pode ser transferido por um pacto. Portanto, se o soberano ordenar a alguém ( mesmo que justamente conde-nado) que se mate, se fira ou se mutile a si mesmo, ou que não resista aos que o atacarem, ou que se abstenha de usar os alimentos, o ar, os medicamento, ou qualquer outra coisa sem a qual não poderá viver, esse alguém tem a liberdade de desobedecer. (HOBBES, 1984: p. 137).

c) A lei civil como comando do soberano

No pensamento de Hobbes, o poder de editar leis, as leis da sociedade, as leis civis, é um atributo do soberano, que decor-re de seu poder de constrangimento; é somente o Estado (ou república) que enuncia uma regra, e o legislador da república é somente o soberano. É ele que prescreve algo e isso será um comando que emana de sua autoridade e se impõe como obrigação de obediência nas ações dos indivíduos na vida em sociedade.

18. O constitucionalismo liberalem John LockeO século XVII na Inglaterra é de muitos conflitos entre a coroa e o parlamento, entre o absolutismo e a burguesia liberal ascendente. Praticamente durante 10 anos, entre 1640 e 1649, reinou uma profunda guerra civil na Inglaterra, conhecida como revolução puritana, em cuja raiz estava radical confronto entre Carlos I e o Parlamento. O fim dessa revolução termina com Cromwell mandando decapitar o rei Carlos I. Com isso, termina a guerra civil e se implanta na Inglaterra a república.

John Locke (1632-1704),.entre 1679-1680, Locke escreve os Dois tratados, publicados após a Revolução Gloriosa. No pri-meiro volume, o foco de Locke está em combater e refutar a teoria do direito divino dos reis. Existia a forte ideia de que o poder do monarca tinha relação com a autoridade de Adão, o primeiro homem criado por Deus e que teria sido comoque uma espécie de primeiro monarca. No segundo volume,Locke indica e estabelece os critérios da autoridade política.Estes não mais se encontram vinculados a uma suposta auto-ridade religiosa ou a uma tradição. A única fonte legítima depoder político, para Locke, será o que for decidido ou pactua-do pelos indivíduos, o consentimento da população.

a) O estado de natureza

Para Locke, os indivíduos teriam direitos naturais. O estado de natureza é um estado de perfeita liberdade, no sentido de que as ações humanas são livremente executadas pelo indi-víduo, sem autorização de outra pessoa, no intuito de prote-ção de sua vida e de suas posses. A propriedade é um direito fundamental, concedido por Deus no ato da criação. Por meio do trabalho o indivíduo poderia assegurar esse direito. Esse estado de natural liberdade é também um estado de natural igualdade, não havendo hierarquias ou superioridade natural entre os indivíduos.

Para Locke a liberdade e a igualdade de todos encontra-se tra-duzida na única submissão que a todos se impõe: seguir a lei de natureza, que é uma lei da razão natural, segundo a qual ninguém pode destruir a vida de si e ou de um outro indivi-duo, além do dever de respeitar a propriedade do outro, sua vida e não prejudicar o outro em qualquer aspecto. Caso haja uma agressão ou transgressão dessa lei de natureza, todos igualmente têm o direito de castigar o seu transgressor. Essa é uma lei da natureza. Dessa forma, vemos que em Locke, o estado de natureza não é um estado de guerra de todos con-tra todos, mas um estado de liberdade e de direitos naturais. O Estado de guerra nasceria quando um indivíduo usar sua “força sem o direito” sobre o outro, na ausência de um juiz co-mum.

b) O Contrato social e da sociedade civil

Nem sempre os indivíduos respeitam as leis da natureza e os di-reitos dos outros, especialmente o direito de propriedade, e ini-ciam um estado de guerra. Por essa razão, especialmente para evitar esse estado e assegurar os direitos, especialmente o direi-to à propriedade de si, de sua vida e de seus bens, nasce o con-trato social no qual o povo soberano delega a governantes a função de assegurar os direitos dos governados, aplicando a lei, que nasceu do consentimento da comunidade. Assim,

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

360 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

havendo agora um uma autoridade comum a todos, a lei, for-ma-se a sociedade civil, na qual a soberania pertence ao povo. Caso os governantes não respeitassem os termos do que foi contratado ou pactuado, o povo soberano, justificadamente, poderia destituir os governantes e institui um novo governo.

Ao afirmar que são os membros da comunidade política que escolherão seus representantes para as funções de governo, Locke se coloca contra a legitimidade da monarquia como for-ma de governo civil. A autoridade de decisão estará vinculada à maioria do corpo político, conforme vem expresso no capí-tulo VIII, do Segundo Tratado Sobre o Governo

uma sociedade política bem organizada só pode haver um poder supremo, que é o legislativo; contudo, cabe ao povo o poder supremo de destituir ou alterar o legislativo quandojulgar que os representantes do legislativo já não mais estãoatuando como instrumentos da confiança popular. Com IssoLocke afirma que o poder supremo permanece com a comu-nidade política.

19. Os governos e a liberdade, emMontesquieuO filósofo e político francês Charles-louis de Secondat, Barão de Montesquieu (1689-1755), viveu e sofreu o contexto do absolutismo mais radical, o governo de Luis XIV, que governou na França de 1661-1715. Luis XIV era conhecido como Rei Sol, e ele afirmava: “O Estado sou eu”.Profundamente crítico do absolutismo, Montesquieu tinha uma preocupação e um objetivo permanente: como estabelecer as condições e quais seriam elas, capazes de assegurar um governo representativo, capaz de preservar a liberdade dos cidadãos e de combater e prevenir a corrupção e as muitas formas de desmando. Ele escreveu muito sobre os necessários e intransponíveis limites à ação do Estado.

a) O governo constitucional

A forma de governo para assegurar as liberdades dos cida-dãos deveria ser, para Montesquieu, assim como já era para Locke, um governo constitucional, ou seja, um Estado no qual não houvesse chance para o personalismo, para os abusos de autoridade, um Estado no qual os governos deveriam estar submetidos a leis, que condicionassem o exercício de seu pró-prio governo; um Estado no qual houvesse uma Constituição construída sobre a base da separação dos três poderes.

De modo mais claro que Locke, Montesquieu distinguiu os três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. O executivo deveria ter o poder de vetar leis que fossem inaceitáveis. Fazia parte do legislativo o poder de vetar ações ilegais do executi-vo. O poder judiciário tinha de ser independente do executivo e do legislativo. Para combater abusos e desmandos, é preciso que haja instituições sociais e políticas capazes de canalizar as energias humanas para a cidadania. Com efeito, havendo a distribuição dos poderes, todo e qualquer abuso seria con-tido e, com isso, a liberdade poderia florescer. E por liberdade Montesquieu compreendia “o direito de fazer tudo o que a lei permite”; ou seja, só há liberdade dentro dos limites da lei.

Em Montesquieu a ideia de lei já não mais apresenta resquí-cios da ideia de lei sob inspiração divina. As leis passam a ser pensadas na esfera da política, e a política pensada fora do âmbito religioso ou teológico. Em sua obra O espírito das leis, Montesquieu evidencia as leis como um produto das relações políticas, das relações entre os diferentes grupos sociais. Des-sa forma, seu foco são as leis positivas, ou seja, as leis e as ins-tituições criadas pelos seres humanos pensando nas relações que os indivíduos devem ter na vida em sociedade. Essa é a ideia básica presente em o espírito das leis.

b) As formas de governo e seus princípios

Ao se referir à natureza do governo, Montesquieu pensa em quem detém o poder. E isso seria possível de três formas di-ferentes. Inicialmente, existe a monarquia, na qual o poder se

E assim todo homem, concordando com os outros em formar um corpo político sob um governo, assume a obrigação para com todos os membros dessa socieda-de de se submeter à resolução da maioria conforme esta assentar; se assim não fosse, esse pacto inicial, pelo qual ele juntamente com os outros se incorpora a uma sociedade, nada significaria, e deixaria de ser pacto, se aquele indivíduo ficasse livre e sob nenhum outro vínculo senão aquele em que se achava no esta-do de natureza. ( LOCKE, 1973: p. 77)

Sobre a finalidade de uma sociedade política e sobre a finali-dade da existência de um governo comum, Locke afirma que essa finalidade está em assegurar o que não se encontra assegurado no estado de natureza, ou seja, a fruição dos direitos, o gozo da propriedade que é muito incerto e inse-guro no estado natural. No capitulo IX do Segundo Tratado Sobre o Governo encontra-se a seguinte afirmativa

O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunidades, colocando-se eles sob governo, é a preservação da propriedade. Para este objetivo, muitas condições faltam no estado de na-tureza. Primeiro, falta uma lei estabelecida, formada, conhecida, recebida e aceita mediante consentimen-to comum, como padrão do justo e injusto e medida comum para resolver quaisquer controvérsias entre os homens [...] LOCKE: 1973: p. 88

c) Da divisão dos poderes

No capitulo XI e XII do Segundo Tratado Sobre o Governo ao falar dos poderes legislativo, executivo e federativo da co-munidade civil, Locke afirma que, devido à tentação humana pelo poder, não convém que as mesmas pessoas que detém o poder de fazer as leis sejam também as pessoas que tenham o poder de executar essas leis, pois facilmente elas própriasse isentariam de cumprir a lei. Em uma sociedade civil, bemorganizada, afirma Locke, o poder de legislar pertence a vá-rias pessoas que se reúnem para fazer as leis que valem paratodos. Na seqüência, essas pessoas se dispersam e todas elasse encontrarão submetidas às mesmas leis que fizeram. O po-der legislativo é também denominado por Locke de podersupremo, pois nele se encontra o poder conjunto de todos os membros da sociedade, poder cedido à pessoa ou grupo depessoas que constitui o legislador.

No capítulo XIII deste mesmo Segundo Tratado Sobre Locke se refere à hierarquia dos poderes e conclui dizendo que em

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA361Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

encontra em um só que governa, o príncipe, por meio de leis e de instituições estabelecidas.

Nessa forma monárquica de governo, o princípio que move o pensamento e as ações é a honra, uma paixão social, rela-cionada a um sentimento de desigualdade, no qual a nobre-za tem seus privilegias que a diferenciam dos demais. Sendouma paixão, a busca pela honra poderá fazer com que o nobre supere seus impulsos mais primários ou os canalize para se ex-pressarem na paixão e no interesse pela coisa pública. Graçasao governo das instituições, que caracteriza a monarquia, esta pode ter uma estabilidade.

É verdade que nas democracias o povo parece fazer aquilo que quer, mas a liberdade política não consis-te em se fazer aquilo que se quer. Num Estado, isto é, numa sociedade onde existem leis, a liberdade não pode consistir senão em se poder fazer aquilo que se deve querer, e em não se ser constrangido a fazer aqui-lo que não se deve querer. É preciso, portanto, que se tenha em mente o que é a independência e o que é a liberdade. A liberdade é o direito de fazer aquilo que as leis permitem; e, se um cidadão pudesse fazer aqui-lo que as leis proíbem, ele já não teria mais liberdade, porque os outros teriam também esse mesmo poder.

(MONTESQUIEU, 2012: p. 189)

Nas monarquias, a política faz com que se executem as grandes coisas com a menor soma de virtude pos-sível; tal como nas mais belas máquinas, a arte empre-ga a menor soma possível de movimentos, de forças e de rodas. O Estado subsiste independentemente do amor pela pátria, do desejo da verdadeira glória, da renúncia a si próprio, do sacrifício dos seus mais caros interesses, e de todas essas virtudes heróicas que nós encontramos nos antigos, e das quais temos somente ouvido falar. As leis ocupam o lugar de todas essas vir-tudes [...](MONTESQUIEU, 2012: p. 49)

Na república, quem governa é o povo, seja de modo pleno ou parcial. Por isso, esse regime depende da qualidade dos cidadãos. O princípio fundamental na forma republicana de governar é a virtude, o espírito cívico, a consciência de que o bem público está acima dos interesses particulares. Será apresença desse espírito que evitaria a anarquia e o despotis-mo, que são tendência presente em governos nos quais to-dos são tidos como iguais. Segundo Montesquieu, é comumque os “grandes” não queiram a república, e o povo não saibacomo preservar a república, por falta de virtude cívica. Por es-sas razões, a república traz em si uma grande fragilidade, querequer um grande investimento em educação para ensinar,desde a mais tenra idade, o amor às leis e a pátria.

De acordo com Montesquieu uma república pode ser demo-crática ou aristocrática. “Quando, na república, o povo incor-porado exerce o poder soberano, isso significa uma democra-cia. Quando o poder se acha entre as mãos de uma parte do povo, dá-se o nome de aristocracia” . (MONTESQUIEU, 2012: p.33). E uma aristocracia, segundo Montesquieu se corrompe quando o poder dos nobres se torna arbitrário e hereditário, faltando--lhes a virtude.

O despotismo, praticamente, é o espaço não político, pois nele não há instituições ou princípios estabelecidos a serem compartilhados e seguidos. Com efeito, o despotismo tende às rebeliões, à desagregação social uma vez que “no despóti-co, um só individuo, sem lei e sem regra, submete tudo à sua vontade e a seus caprichos”. (MONTESQUIEU, 2012: p.32)

c) A defesa da liberdade política

Para Montesquieu, a boa vida política, na qual se assegura e se promove a liberdade política, tem como exigência ou con-dição a existência de mecanismos nos quais um poder possa frear outro poder, evitando os abusos de poder.

A liberdade política existe ali onde há governo moderado, no qual existem instituições que fazem a mediação e impedem o abuso do poder por alguma das partes. Nas clássicas palavras de Montesquieu: “Para que não se possa abusar do poder, é preciso que, pela disposição as coisas, o poder refreie o po-der”. (MONTESQUIEU, 2012: p. 190)

20. O Radicalismo Democrático deRousseau

Na contramão das monarquias e dos governos absolutos, nos quais a soberania se encontrava nas mãos de um rei, de um se-nhor soberano, Jean Jacques Rousseau (1712-1778) constrói um pensamento político no qual a soberania deve perten-cer a todo o corpo político da comunidade. Mas, para bem entender esse ponto, vamos voltar aos fundamentos que o levaram a essa conclusão.

a) A hipótese do estado natural

Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigual-dade: uma que chamo de natural ou física [...] a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou polí-tica, porque depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos vários privilégios de que gozam uns em prejuízo de outros, como o serem mais ricos, mais poderosos e homena-geados do que outros, ou ainda por fazerem-se obe-decer por eles. (ROUSSEAU, 1991: p. 235)

Rousseau começa dizendo “Comecemos, pois, por afastar to-dos os fatos” e concentrar-se em “raciocínios hipotéticos”.

Concluamos que, errando pelas florestas, sem indús-trias, sem palavra, sem domicílio, sem guerra e sem ligação, sem qualquer necessidade de seus semelhan-tes, bem como sem qualquer desejo de prejudicá-los, talvez sem sequer conhecer alguns deles individual-mente, o homem selvagem, sujeito a poucas paixões e bastando-se a si mesmo, não possuía senão os senti-mentos e as luzes próprias desse estado [...] Então não havia nem educação, nem progresso [...]:a espécie já era velha e o homem continuava sempre criança. (ROU-

SSEAU, 1991: p. 256-257)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

362 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

b) A sociedade civil e a instituição da propriedade

No início da segunda parte do discurso sobre a desigualdade, Rousseau afirma que será com a instituição da propriedade privada que se funda a sociedade civil e com ela se originam muitas misérias humanas e os males sociais.

berania. Dessa forma, o soberano não será o executivo, mas o povo, autor das leis, e o governante passa a ser um agente dessa soberania.

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri-meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer: isto é meu e encontrou pessoas suficientemen-te simples para acreditá-lo: Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gê-nero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos de ouvir esse impostor, estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a ter-ra não pertence a ninguém!” (ROUSSEAU, 1991: p. 259)

Desse modo, a imposição de uns sobre outros, fez com que uns se afirmassem como poderosos, usando sua força sobre outros, que se tornaram enfraquecidos e necessitados, e que passaram a trabalhar para os outros. Uns passam a se perceber como senhores do direito sobre a manipulação do outro. Dis-so decorrem as mais generalizadas desordens, vinculadas às mais variadas ambições, usurpações e extorções.

Segundo Rousseau, os que se tornaram poderosos teriam se servido de uma espécie de ideologia, de um discurso que, in-vertendo a realidade, tinha por propósitos seduzir e manipu-lar a mente dos dominados e justificar as suas posses conse-guidas com a exploração.

Para Rousseau, a natureza humana foi violentada. A solução virá por um Contrato social que irá dirigir ou direcionar a evo-lução da humanidade.

c) A soberania que decorre do contrato social

O fragmento a seguir explicita a concepção de Rousseau so-bre a passagem do estado de natureza para a sociedade civil

A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes falta-va. É só então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem até aí levando em consideração apenas a sua pessoa, vê-se forçado a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir as inclinações.[...[ O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo quanto aventura e pode alcançar. O que ele ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui. (ROUSSEAU, 1991:107-108)

Dessa forma, na vida política, por meio do contrato social, o ser humano adquire a liberdade civil, que é a liberdade vivida sob as orientações da lei, que é construída pelo próprio corpo político, que é a sociedade. Para essa conquista da liberda-de civil e da igualdade civil, o preço que ele pagou foi a alie-nação da liberdade natural e da igualdade natural. Forma-se um corpo social, e esse corpo é soberano, e cada individuo, como membro do corpo, dele participa como membro da so-

A soberania não pode ser representada pela mesma razão por que não pode ser alienada, consiste essen-cialmente na vontade geral e a vontade absolutamen-te não se representa. É ela mesma ou é outra coisa, não há meio-termo. Os deputados do povo não são, nem podem ser seus representantes; não passam de comis-sários seus, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei que o povo diretamente não ratificar. Em absoluto, não é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; uma fez estes eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso que dela faz, mostra que merece perde-la. (ROUSSEAU, 1991:107-108)

d) Vontade geral e vontade da maioria

No capítulo III do livro segundo Do Contrato Social encontra--se uma das mais clássicas distinções de Rousseau ao afirmarque a vontade geral não deve ser confundida com vontadede todos. A primeira é de natureza qualitativa e a segunda équantitativa. A vontade geral, diz Rousseau, “é sempre certa e tende sempre à utilidade pública”, pois está vinculada ao bem comum, ao passo que a vontade de todos ou da maioria “nãopassa de uma soma das vontades particulares”, estando vincu-lada a interesses privados.

21. A República extensa, emJames MadisonJames Madison ( 1751-1836), foi o quarto presidente dos Estados Unidos, entre 1809 e 1817. Sua excelente formação em Direito e seu exercício em advocacia foram fatores fundamentais em sua decisiva colaboração na elaboração e na promoção da constituição americana, a tal ponto que ficou conhecido como “pai da constituição”. Junto com Alexander Hamilton e John Jay escreveram O Federalista, uma obra composta por 85 artigos nos quais ratificam a Constituição do Estados Unidos.

a) O remédio contra as facções.

Madison parte do pressuposto já presente em Hobbes de que os seres humanos não são anjos, mas seres movidos por interesses pessoais e agem tendo em vista a proteção de seus direitos, especialmente o da liberdade e da propriedade. No artigo 10 de O Federalista, Madison assim expressa.

A natureza humana encerra germes escondidos de facções. [...]. Os homens são arrastados por uma incli-nação tão poderosa a animosidades recíprocas que, quando eles não tem ocasiões importantes para exer-citá-las, as distinções mais frívolas e mais extravagan-tes tem bastado para acordar paixões inimigas e para fazer nascer violentos combates (O FEDERALISTA, 1973: p.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA363Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

Madison retoma e fortalece a crítica de Platão à democracia pura, na qual a vida política fica restrita a alguns, a algumas poucas facções que brigam entre si com fortes rivalidades e conflitos entre seus participantes, com tendência a uma se impor sobre a outra. Nesses governos populares não há ins-tituições capazes de gerenciar esses conflitos e harmonizar a vida social, o que deixa essa forma de governo muito instável e incapaz de gerar prosperidade.

No capítulo X de O Federalista, Madison afirma que todos os lados ouvem-se queixas e duras críticas de virtuosos cidadãos a esses governos populares:

o povo escolhe. [...]. Num tal governo é mais possívelque a vontade pública, expressa pelos representantes, esteja em harmonia com o interesse público do queno caso de ser ela expressa pelo povo mesmo, reunido para tal fim. (O FEDERALISTA, 1973: p. 104)

Essa república ampliada será o remédio contra a tirania das facções. Assim, paradoxalmente, o remédio contra os efeitos das facções é aumentar as facções para que nenhuma chegue a ser majoritária.

No capítulo ou artigo 51, Madison reflete sobre a necessidade de combater a ambição dos indivíduos por meio da própria ambição, combinar de tal modo o interesse pessoal com o di-reito constitucional que a defesa do bem comum, por parte dos indivíduos em comandos de poder, também seja a defesa de interesses e direitos pessoais.

22. O Estado mínimo noUtilitarismo de J. Bentham e MillJeremy Bentham (1748-1832) foi um iluminista, filósofo e jurista preocupado com o mundo da vivência moral, com a construção de uma sociedade reformada, na qual fosse possível construir uma felicidade geral. Por essa razão, sua filosofia ou teoria ética ficou conhecida como utilitarismo, por estar voltada para a construção de ações que tragam em si a tendência de maior felicidade para o maior numero de pessoas.Nas reflexões de Jeremy Bentham, James Mill e John Stuart Mill realiza-se uma das mais consagradas características da modernidade ocidental: o individualismo como ideia e va-lor. A filosofia e a ética desenvolvidas por esses expoentes fi-cou conhecida como utilitarismo clássico.

a) Do cálculo da maior felicidade do maior numero

Seguindo um pressuposto já presente em uma vasta tradição ocidental, sintetizada em Hobbes, na qual os seres humanos são movidos por interesses e desejos pessoais, sendo os critérios motivadores das ações humanas a dor e o prazer, conforme vem expresso e formulado por Bentham no trecho 1 e por James Mill, no trecho 2:

Trecho 1

A natureza colocou a humanidade sob o governo de dois senhores soberanos, dor e prazer. Somente a eles cabe indicar o que devemos fazer, assim como deter-minar o que faremos. Ao seu trono estão atados, de um lado, o critério do certo e errado e, de outro, a ca-deia de causas e efeitos (BENTHAM, 1948: p. 1).

Todos eles se queixam de que nossos governos têm muito pouca estabilidade; que o bem público é sem-pre esquecido nos conflitos dos partidos rivais; que as questões são muitas vezes decididas pela força supe-rior de uma maioria interessada e opressiva, sem aten-der às regras da justiça e aos direitos do partido mais fraco. Por muito que desejássemos que tais queixas fossem sem fundamento, a notoriedade dos fatos não permite negar-lhes até certo grau de justiça. (MADISON,

1973: p. 100)

Dessa forma, para Madison, o grande problema da política será o de como lidar com as facções, com as disputas entre as partes. Por facção ele entende um grupo de cidadãos unidos entre si e age com base em alguma paixão, em al-gum impulso ou interesse conflitivo com o de outros cida-dãos ou conflitivo em relação com algum interesse geral comum.

Ele afirma que não é possível acabar com essas facções, pois em sua origem está a natureza humana que tende às divisões. Então, se não há possibilidade de atacar as causas, a questão que se coloca será a de controlar ou corrigir os efeitos das facções.

Entre as causas que tem feito despertar mais e mais facções “tem sempre sido a desigual distribuição das propriedades. Os interesses dos proprietários têm sempre sido diferentes dos interesses daqueles que não o são” ( p.102) E essa ideia vale para todos os campos da sociedade. Existem diferentes gru-pos, cada qual com seus diferentes interesses, muitas vezes conflitantes e entre si contraditórios. E como fazer para que a balança da justiça não tenda para um dos lados? Como regu-lar os vários interesses em jogo?

O governo representativo será uma das exigências funda-mentais. Contudo não basta a representação para proteger os direitos dos cidadãos. Madison está falando em contexto de Estados Unidos da América, e fala da necessidade de uma república extensa, com vasta extensão territorial e com gran-de número de cidadãos, bem diferente da democracia de pe-quena escala como a da antiga Atenas. Além disso, na repúbli-ca, os poderes são delegados por todo o povo a um pequeno número. Com isso, pode-se aumentar a depuração, o filtro dos melhores candidatos, evitando o domínio ou a tirania de uma facção, em um vasto território marcado pela diversidade so-cial.

A república aparta-se da democracia em dois pon-tos essenciais; não só a primeira é mais vasta e muito maior o número de cidadãos, mas os poderes são nela delegados a um pequeno numero de indivíduos que

Trecho 2

As posições que já estabelecemos no que tange à na-tureza humana, e que assumimos como fundamentos, são as seguintes: que as ações dos homens são gover-nadas por suas vontades, e suas vontades por seus de-sejos; que seus desejos são direcionados ao prazer e ao alívio da dor como fins, e à riqueza e ao poder como os principais meios (MILL, 1978: p. 69).

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

364 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

Os utilitaristas pensam em um parâmetro para julgar as ações na vida social. E esse critério para julgar as ações humanas será aritmético, quantitativo, será o cálculo da utilidade, movida pela fórmula da maior felicidade do maior numero possível de indivíduos. Nas palavras de Bentham:

para si e para os outros. Por essa razão, muitos se referem a essa ética como ética hedonista, na qual se busca evitar tudo o que produza como resultado a dor e o sofrimento e se busca ativamente aquilo que traga bem estar.

23. As novas condiçõesda democracia em MaryWollstonecraft.a) A Reivindicação dos direitos das mulheres

Mary Wollstonecraft (1759-1797) foi escritora inglesa, filósofa, humanista, libertária, defensora dos direitos das mulheres. Sua vida pessoal foi marcada por essa originalidade, sendo referência histórica para o movimento feminista. Lutou por abrir caminho para uma nova condição histórica das mulheres e de sua participação na vida política. Com isso, ela também traz novas bases para a democracia moderna.

O princípio da utilidade significa aquele princípio que aprova ou desaprova cada ação de acordo com a ten-dência que apresenta a aumentar ou a diminuir a feli-cidade daqueles cujo interesse está em jogo; ou, o que é o mesmo em outras palavras, a promover ou se opor àquela felicidade. Eu digo de toda e qualquer ação, e portanto não somente de toda ação de um indivíduo privado, mas também de toda medida de governo (BENTHAM, 1948: p. 2).

b) O Estado no processo de civilização

Considerando essa diversidade de interesses, como harmonizar as divergências para que a vida social seja viável? Quem será o mediador para aplicar o que a razão julgar como mais universal? Será o Estado. Caberá ao Estado essa difícil tarefa. Os utilitaristas, em contexto de iluminismo e ascensão da burguesia, embora concordem com a ideia de que o ser humano seja um átomo de egoísmo, colocam a ênfase em um novo aspecto, na perfectibilidade, na potencialidade a ser trabalhada pela educação. Esse ser bruto e imperfeito, de impulsos egoístas pode ser lapidado.

Em termos políticos, portanto, a democracia é apresentada como o instrumento mais apto ou a melhor forma de gover-no e estilo de vida, pois tem como objeto e objetivo a defe-sa dos direitos individuais, contra o uso despótico do poder político; além de zelar pela liberdade nas diferentes esferas e estar construída sobre a separação dos poderes. E será na democracia representativa que se encontraria o melhor caminho para a realização da felicidade geral. Em uma so-ciedade democrática, com uma ótima legislação, os interesses individuais poderiam ser canalizados de acordo com realida-des nas quais a utilidade pública poderia ser assegurada.

A grande descoberta dos tempos modernos será tal-vez o sistema de representação, a solução de todas as dificuldades, tanto especulativas como práticas. [...] A própria comunidade deve controlar esses indivíduos, pois do contrário eles seguirão seus interesses e pro-duzirão mau governo (MILL, 1978: p. 73).

.A razão da obediência às decisões do pacto encontram-se portanto, nas vantagens que ele proporciona para cada indi-viduo e para a sociedade. Essa é a razão da obediência do cidadão ao Estado, que teria a função de zelar pela maior feli-cidade do maior numero possível de pessoas.

Assim, uma ação será boa ou melhor na medida em que pro-duzir bons efeitos e colaborar para a felicidade geral, para o maior numero de pessoas.

No utilitarismo, o foco sempre se volta ao campo empírico movido, pelo princípio da utilidade prática, como fundamen-to de toda conduta de vida em sociedade; em termos concre-tos, as ações humanas devem proporcionar prazer e felicidade

Contudo, Rousseau e a maioria dos escritores masculi-nos que seguiram seus passos, calorosamente inculca-ram que toda a tendência da educação feminina deve ser direcionada para um ponto: torná-las agradáveis. [...]. Para ganhar os afetos de um homem virtuoso, o fingimento é necessário? A natureza deu a mulher uma estrutura física mais fraca que a do homem; [...] A fraqueza pode estimular a ternura, e gratificar o or-gulho arrogante do homem, mas os afagos insolentes de um protetor não gratificarão uma mente nobre que pede e deseja ser respeitada. [...]. Além disso, a mulher que fortalece seu corpo e exercita sua mente irá, ao administrar sua família e praticar várias virtudes, tor-nar-se uma amiga, e não a dependente humilde de seu marido (WOLLSTONECRAFT, 2015: p. 52 e 54).

b) A imagem culturalmente produzida da mulher submissa

Para Mary Wollstonecraft, não se trata de uma incapacidade natural, mas de produção cultural, de um produto criado pela educação. As mulheres foram criadas para se tornarem o que se tornaram, mulheres isoladas à esfera doméstica, longe do campo político. Nessa perspectiva, são as circunstancias históricas e os condicionamentos socioculturais das épocas que estão na raiz da atual situação de submissão e exclusão na qual as mulheres se encontram. Nesse mesmo sentido, a filósofa e ativista política Simone de Beauvoir (1908-1986) inicia o segundo volume de sua obra “O Segundo Sexo” com essa afirmativa: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”

De acordo com o diagnóstico de Mary Wollstonecraft, se a Re-volução Francesa anunciou igualdade e liberdade, na vida co-tidiana, porém, as mulheres ficaram excluídas dessas dimen-sões, voltadas quase que exclusivamente para os homens. Para Mary Wollstonecraft, essas ridículas distinções de posição social fazem com que a humanidade acabe por não evoluir como poderia e deveria. Para Wollstonecraft, somente com a emancipação política das mulheres e sua participação na vida pública, a razão humana e a moral estarão em melhores con-dições de se realizarem e de se expressarem historicamente de modo mais digno.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA365Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

Para Mary Wollstonecraft, se a humanidade está se libertando do direito divino dos reis, chegou a hora de ela também se libertar da tirania dos homens, do “direito divino dos maridos”. Em suma, a grande falta ou deficiência da sociedade como um todo consiste nessa desigualdade entre os sexos, que acabou abafando as condições para a emancipação feminina, inviabi-lizando a mulher na história.

Para o sociólogo Raymond Aron, ao olhos de Tocqueville

“Para se tornar respeitável, o exercício do entendi-mento é necessário; não há outro fundamento para a independência de caráter; eu quero explicitamente di-zer que elas devem apenas se curvar para a autoridade da razão” (WOLLSTONECRAFT, 2015: p. 81).

24. A liberdade política em Alexisde TocquevilleAlexis-Charles-Henri Clérel, visconde de Tocqueville ( 1805-1859) foi um pensador político francês dedicado ao tema da liberdade política em contexto de uma democracia não mais da pólis, não mais das pequenas comunidades ou cidades, mas em contexto de modernidade, em contexto de sociedade de massa.

a) Despotismo democrático: Os riscos de uma manipulação da igualdade.

Considerando a abordagem de Tocqueville, a democracia americana moderna em sua dimensão burguesa, está centrada no individualismo, em assegurar a igualdade de oportunidades, mais do que a igualdade econômica. Dessa forma, ao acentuar o valor do individuo, a democracia estaria fragilizando o individuo, uma vez que ele sozinho não tem poder para a defesa de seus direitos. A própria democracia poderia estar desmobilizando os indivíduos. É por isso que ele afirma que essa igualdade poderia estar dando inicio a uma nova forma de tirania, a tirania da maioria, um despotismo das massas.

Refletindo a partir da democracia nos Estados Unidos da América, na qual o espírito e a prática do associativismo já é uma longa tradição, Tocqueville assume que esse espírito é fundamental para garantir a liberdade política. A liberdade não se impõe de cima para baixo, ela deve ser um desejo que brota da alma de um povo, de uma nação. Dessa forma, a liberdade de associação torna-se um antídoto e uma ga-rantia contra a tirania de alguns sobre a maioria.

Para Tocqueville, com a modernidade instaura-se na América um processo de gradual desenvolvimento da igualdade de condições entre os cidadãos. E será essa crescente igualdade que deve ser vista como o aspecto fundamental da democra-cia. E a grande preocupação se traduz na questão: “como pre-servar a liberdade nesses tempos”?

Duas exigências fundamentais: a existência de instituições democráticas, que trabalhem no sentido de descentralizar a administração e incentivar maior participação do povo, cha-mado à soberania, e a existência de uma constituição e leis que possam assegurar a manutenção das liberdades funda-mentais, por meio de uma permanente vigilância para que não ocorra a manipulação ou a alienação da liberdade por parte de minorias políticas.

A democracia consiste na igualização das condições. Democrática é a sociedade em que não subsistem dis-tinções de ordens e de classes; em que todos os indi-víduos que compõem a coletividade são socialmente iguais, o que não significa que sejam intelectualmente iguais, o que é absurdo, ou economicamente iguais, o que, para Tocqueville, é impossível. A igualdade social significa a inexistência de diferenças hereditárias de condições (ARON, 2008: p.320-321)

As verdadeiras causas da liberdade de que goza a de-mocracia americana são as boas leis e, mais ainda os hábitos, os costumes e as crenças, sem as quais não pode haver liberdade (ARON, 2008: p.328)

25. A Teoria Elitista de Democraciaem SchumpeterEntre os representantes da teoria contemporânea da democracia, destaca-se o pensamento do cientista político austríaco Joseph Alois Schumpeter, (1883-1950) conhecido como crítico da democracia clássica, tendo desenvolvido um pensamento que ficou conhecido como teoria elitista de democracia. Seu modelo de democracia está condicionado pelos problemas enfrentados pelas grandes nações industriais modernas na Europa no período entre guerras.

a) A crítica aos pressupostos da teoria clássica dademocracia

Em sua obra Capitalismo, Socialismo e Democracia, publicada originalmente em 1942, Schumpeter realiza uma crítica a certos pressupostos da doutrina clássica da democracia, especialmente no que tange ao pressuposto de que existiria uma vontade comum, que corresponderia exatamente ao interesse, ao bem-estar ou à felicidade comuns e que seria o “farol orientador da vida política” (SCHUMPETER, 1984:p.305). Na consideração do indivíduo moderno, o que pareceser a forma motriz de suas ações é muito mais um “feixe indeterminado de impulsos vagos” e não um desejo efetivo e uma vontade racional definida. Quando muito, poderá haver uma vontade popular manufaturada, manipulada por algunsagentes ou interesses particulares que, ao modo de umapublicidade comercial, fabricam as pautas políticas. Isso, paraSchumpeter equivale a afirmar que “a vontade do povo é oproduto e não o motor do processo político”. (SCHUMPETER, 1984: p. 329). Dessa forma, Schumpeter posiciona-se contra opressuposto da democracia do século XVIII.

A filosofia da democracia do século XVIII pode ser ex-pressa na seguinte maneira: o método democrático é o arranjo institucional para se chegar a certas decisões políticas que realizam o bem comum, cabendo ao pró-prio povo decidir, através da eleição de indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe a vontade (SCHUMPETER, 1984: p.305)

Para Schumpeter não haveria um bem comum inequivoca-mente determinado ou determinável que o povo assumisse

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

366 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

por uma argumentação racional. Na contramão do utilitaris-mo, afirma que a diversidade e o desencontro de interesses na sociedade contemporânea atestam que a afirmativa de um bem que seja “comum” não passa de uma idealização ou romantização. Para Schumpeter, o equívoco da teoria clássica da democracia decorreu da não percepção de que a sociedade burguesa transformou radical e substancialmente o mundo dos valores, a ponto de o “bem comum” ficar cadavez mais distante da busca dos indivíduos concretos; transfor-mou-se em um princípio metafísico.

b) A democracia como método político para eleger líderes

Schumpeter constrói uma visão de democracia reduzida a um método político capaz de ser eficaz para tomar decisões, bem longe não só da ideia de soberania popular como também afastada da noção de que o povo elege seus representantes que seriam expressão de sua vontade.

opiniões sejam facilmente manufaturas, manipuladas, molda-das por discursos e por propagandas políticas.

26. A Política em Hannah ArendtHannah Arendt (1906-1975), cientista política, foi enviada a Is-rael, em 1961, como representante da revista The New Yorker, para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann, acusado de cri-mes de guerra durante o período da II grande Guerra Mundial, crimes contra a humanidade, crimes contra o povo judeu. Ei-chmann foi um executante de ações que resultaram na morte de milhões de judeus. Hannah Arendt escreveu uma série de artigos sobre o caso, de onde resultou o lançamento, 1963, do seu livro Eichmann em Jerusalém.

a) Da superficialidade e da banalidade do mal à profundidade da reflexão.

Para Hannah Arendt, ao acompanhar as declarações do Eichmann durante o julgamento, o que mais lhe chama a atenção é para a normalidade com a qual o acusado fala de sua inocência e de que somente cumpriu ordens, sem se sentir responsável por absolutamente nada. Ele teria cumprido ordens do Estado. A frieza e a ausência de reflexão seriam características dessa banalidade do mal.

Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos atomizados e isolados. Distinguem-se dos outros partidos e movimentos pela exigência de lealdade total, irrestrita, incondicional e inalterável de cada membro individual. [...].

"o método democrático é aquele acordo institucional para se chegar a decisões políticas em que os indivídu-os adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da população".» (SCHUMPE-TER, 1984: p.336)

De modo pragmático, diz Schumpeter, a vida real nos mostra, que o povo não passa de um eleitor de pessoas interme-diárias ou líderes que serão os responsáveis por tomar decisões e produzir um corpo que será o governo. E consi-derando o principio do imediatismo que move cada vez mais as decisões dos indivíduos modernos, Schumpeter, ainda, se posiciona contra a perspectiva clássica da democracia ao se referir ao fato de os eleitores não terem em seu horizonte uma perspectiva de nação; ao contrário, serem muito mais con-dicionados pelo imediatismo, o que os caracterizaria como maus juízes.

"os eleitores são maus juízes, frequentemente corrup-tos e muitas vezes até mesmo são maus juízes de seus próprios interesses de longo prazo, pois apenas a pre-missa de curto prazo diz alguma coisa politicamente e apenas a racionalidade de curto prazo se afirma de modo efetivo". (SCHUMPETER, 1984: p. 326)

Contudo, não são somente os eleitores seriam maus juízes. Nas próprias lideranças, a força motriz seriam as perspectivas dos interesses imediatos ou muito próximos, interesses de uma nova classe que se formou, a classe dos políticos, profis-sionais de carreira.

Em suma, considerando a crítica de Schumpeter à democracia clássica, podemos reter como elementos principais, em pri-meiro lugar, a critica à ideia da existência de um bem comum com o qual o povo concorde e em torno do qual ela vai agir; ao contrário, o que existe e predomina são os interesses indi-viduais e, muitas vezes, conflitantes e contraditórios. Em se-gundo lugar, essa ideia leva Schumpeter a afirmar que o povo não sabe o que quer, não havendo portanto uma vontade do povo, mas apenas vontades e interesses particulares, que podem até, em alguns momentos, se somar umas às outras. Em terceiro lugar, o individualismo também se expressaria na apatia ou na indiferença em relação às questões políticas em geral. E, finalmente, essa apatia das massas faz com que suas

Eu quero dizer que o mal não é radical, indo até as raí-zes (radix), que não tem profundidade, e que por esta mesma razão é tão terrivelmente difícil pensarmos so-bre ele, visto que a razão, por definição quer alcançar as raízes. O mal é um fenômeno superficial, e em vez de radical, é meramente extremo. Nós resistimos ao mal em não nos deixando ser levados pela superfície das coisas, em parando e começando a pensar, ou seja, em alcançando uma outra dimensão que não o hori-zonte de cada dia. Em outras palavras, quanto mais superficial alguém for, mais provável será que ele ceda ao mal. Uma indicação de tal superficialidade é o uso de clichês, e Eichmann, (...) era um exemplo perfeito. (ARENDT, 2001: p.145)

Para Arendt, o totalitarismo que se impôs entre 1914-1945 ti-nha como características fundamentais a exaltação do Estado e, com ele a imposição de uma ideologia oficial, que implicava em completa vigilância da vida dos indivíduos. O Estado de-tinha os meios de comunicação e as técnicas de propaganda política, por meio dos quais veiculava notícias de seu interesse no intuito de moldar consciências, de manipulação da massa e nela produzir um difuso sentimento de nacionalismo e paixão política, conduzindo à atrofia da razão, à anestesia do pensa-mento crítico, ao fanatismo, a formas irracionais de conduta.

Em sua obra, Origens do totalitarismo, Hannah Arendt associa governo totalitário com processo de massificação e com au-sência de relações sociais normais.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA367Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

instituições, assegurar a convivência pacífica. Assim, é somen-te nesse plano político que se pode pensar, lutar e assegurar “direitos humanos”.

c) Para além das fronteiras dos Estados-Nacionais: a Humanidade

Depois dos horrores do totalitarismo, criou-se, 1945, a Orga-nização das Nações Unidas, a ONU, no interior da qual uma das comissões tratava dos direitos humanos. Essa comissão criou a “Declaração Universal dos Direitos Humano”, aprovada em Assembleia, em 1948, em cujo preâmbulo encontra-se a seguinte afirmativa: "o reconhecimento da dignidade ineren-te a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo". Esse torna-se o grande ideal comum a ser efetivado por todos os povos e todas as nações. Permanece no horizonte, uma vez que ainda não se efetivou um espaço político internacional que assegure os direitos humanos.

Se consideramos como critério não o Estado-nação, mas a humanidade, não haverá lugar para os “sem lugar”. Sob a perspectiva da humanidade, só haverá inclusão. Diante desse horizonte, cabe-nos a luta contra formas, sistemas e regimes de governo que ainda perpetuam múltiplas formas de exclu-são. Afinal, todos os direitos não são dados pela natureza, eles são construídos ou conquistados no campo da comunidade política.

27. O Holocausto e amodernidade, na ótica deZygmunt Baumana) Modernidade. Racionalidade instrumental e holocausto

As análises de Zygmunt Bauman (1925-2017) concentram-se nos temas da modernidade, do holocausto e da pós-modernidade. Sobre a pós-modernidade, tece profundas análises buscando retratar as características do que ele chama de “tempos líquidos”, pelas mudanças rápidas que vem acontecendo na sociedade globalizada e tecnológica, em um tempo definido como tempo de relações frágeis, marcadas pela superficialidade, numa rede na qual a atratividade está na facilidade que existe em poder conectar e desconectar sem os traumas que essa atitude implicaria na vida real, no face a face. Com a metáfora da “liquidez”, Bauman caracteriza a modernidade tardia ou pósmoderna em sua incapacidade de manter a forma, em as novas crenças poderem se solidificar em costumes. Tudo se torna muito fugaz e provisório.

No terreno da política, uma das óticas ou reflexões de Zyg-munt Bauman alerta para a necessidade de um novo olhar para o fenômeno do Holocausto. Em sua abordagem, apre-senta uma dimensão desconcertante, que incomoda, uma vez que apresenta o Holocausto não como uma antítese da civilização moderna; ao contrário, como um fruto dessa civi-lização marcada pela racionalidade técnica, instrumental. As-sim, o Holocausto mostra o quanto o projeto de dominação, construído desde a revolução industrial, é efetivo, funciona perfeitamente.

O totalitarismo jamais se contenta em governar por meios externos, ou seja, através do Estado e de uma máquina de violência; graças à sua ideologia peculiar e ao papel dessa ideologia no aparelho de coação, o tota-litarismo descobriu um meio de subjugar e aterrorizar os seres humanos internamente. (ARENDT, 2012: p. 453-455)

Uma das destacadas características do governo totalitário é, portanto, a instauração do terror, que aniquila o poder popu-lar e perpetua a violência. Nas palavras de Arendt:

“O terror não é o mesmo que violência; ele é, antes, a forma de governo que advém quando a violência, tendo destruído todo o poder, ao invés de abdicar, permanece como controle total”. (ARENDT, 1994: p. 43)

Todas essas experiências vividas afetaram profundamente o pensamento de Hannah Arendt, que foi buscar na Grécia Clás-sica, no pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles os fun-damentos da vida política, suas características e seus ideais.

b) A política como fundamento dos direitos. Os direitos humanos e os direitos civis.

Para Hannah Arendt, a realidade contemporanea dos apátri-das e das minorias, dos excluídos socioculturais mostra que a simples natureza humana não é portadora de direitos. Para Hannah Arendt, esses direitos nascem com a política. Será so-mente no espaço público (da política) que terá lugar o uni-verso da isonomia e da liberdade. Portanto, os direitos não se fundamentariam na natureza humana, mas no universo da cultura, na vida política.

Para Hannah Arendt, com as Revoluções Americana e Fran-cesa, teria acontecido a subordinação dos direitos humanos, defendidos pelos contratualistas como inerentes à natureza humana, aos direitos dos nacionais, em contexto de absoluta valorização da soberania nacional. E aqui surge uma das mais graves questões das sociedades contemporâneas: Quais são os direitos dos refugiados, dos apátridas, quando os direitos humanos, nas democracias liberais, estão atrelados ou até re-duzidos aos direitos dos cidadãos (em seu próprio país)?

Para Arendt, seria próprio do contratualismo identificar di-reitos humanos com direitos dos cidadãos, subordinados às leis dos Estados-nacionais, Com isso, os direitos humanos es-tariam reduzidos aos direitos civis. Contudo, a desintegração dos Estados-nação, durante e imediatamente após o período das duas grandes guerras, provocou uma nova realidade: os apátridas, os deslocados, as minorias, os imigrantes econô-micos, pessoas e povos sem Estado, expulsos de seus países pelos governantes vitoriosos. Com isso, esses indivíduos ou povos, ficando sem um Estado nacional, sem cidadania, não pertenciam a um corpo político no interior do qual tivessem proteção.

Em suma, Arendt apresenta uma dupla critica à noção con-tratualista de direitos humanos e à concepção de direitos humanos presente nas revoluções francesa e americana. Em primeiro lugar, para Hannah Arendt, os homens não são iguais por natureza, como vinha sendo afirmado na tradição contra-tualista. A igualdade brota no horizonte da política, pois so-mente neste campo será possível, por meio de determinadas

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

368 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

O mundo dos campos da morte e a sociedade que engendra revelam o lado progressivamente mais obs-curo da civilização judaico-cristã. Civilização significa escravidão, guerras, exploração e campos da morte. Também significa higiene médica, elevadas ideias re-ligiosas, belas artes e requintada música. É um erro imaginar que civilização e crueldade selvagem sejam antíteses. Em nosso tempo as crueldades, como mui-tos outros aspectos do nosso mundo, passaram a ser administradas de maneira muito mais efetiva que em qualquer época anterior. Não deixaram e não deixa-rão de existir. Tanto a criação como a destruição são aspectos inseparáveis do que chamamos civilização.

RUBENSTEIN, Richard. The Cunning of History. Nova York: Harper, 1978, p. 91, 195. Citado em BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e

Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 28.

Há duas maneiras de subestimar, desdenhar e se equi-vocar no julgamento da importância do Holocausto para a sociologia como teoria da civilização, da mo-dernidade, da civilização moderna. Uma é apresentar o Holocausto como algo que aconteceu aos judeus,como um evento da história judaica. Isso torna o Holo-causto único, confortavelmente atípico e sociologica-mente inconsequente. [...]. Outra maneira de apresen-tar o Holocausto [...] é como um caso extremo de uma ampla e conhecida categoria de fenômenos sociais,categoria seguramente abominável e repulsiva, mascom a qual podemos (e devemos) conviver. [...] Assim, o Holocausto é como mais um item (embora de desta-que) numa ampla categoria que abarca muitos casos“semelhantes” de conflito, preconceito ou agressão. ”

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 19-20

28. Teoria da Justiça e oLiberalismo Político em John Rawlsa) Como tornar as sociedades mais justas? Dois princípios.

O filósofo norte-americano John Rawls (1921-2002) é espe-cialmente conhecido por sua teoria da justiça como equidade. Essa teoria, de natureza contratualista, integra, basicamente, dois princípios: O primeiro princípio de sua teoria da justiça é o princípio da igual liberdade para todos. Cada individuo deve ter direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades bá-sicas para todos os envolvidos ou pactuantes. Trata-se de uma teoria liberal da justiça, não reduzida ao aspecto econômico.Se o primeiro princípio determina a liberdade, o segundo re-gula sua aplicabilidade, corrigindo desigualdades irracionais e antiprodutivas para o corpo da sociedade. O segundo princí-pio aborda a diferença e discorre sobre os arranjos que deve-rão ser dados às desigualdades sociais e econômicas.Assim, o Holocausto se encontra no fio da coerência do pro-

jeto iluminista moderno. Não se trata de uma aberração, mas de uma expressão da própria civilização, de “seu verdadeiro potencial”.

Em sua obra, cita a reflexão do teólogo Richard L. Rubenstein:

A partir dessa citação, Bauman considera como um mito a ideia que temos da civilização como história da humanização do homem e mostra como a modernidade possibilitou o Ho-locausto.

A civilização moderna não foi condição suficiente para o Holocausto; foi, no entanto, com toda a certeza, suacondição necessária”. Sem ela, o Holocausto seria im-pensável. Foi o mundo racional da civilização moderna que tornou viável o Holocausto

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 32.

Continuando, pois, os dois princípios de justiça são os seguintes:

1. Cada pessoa tem direito igual a um esquema ple-namente adequado de direitos e liberdades básicasiguais, sendo  esse  esquema compatível com um es-quema similar para todos.

2. As desigualdades sociais e econômicas devemsatisfazer duas condições: primeiro, elas devemestar ligadas a cargos e posições abertos a todosem condições de justa igualdade de oportunida-de; segundo, elas devem beneficiar maiormenteos membros menos favorecidos da sociedade.(RAWLS,John. 1992)

b) A hipótese do véu da ignorância

Imagine-se em uma situação original, na qual você não saiba de sua própria posição, nessa situação você está ignorante in-clusive de suas perspectivas sociais futuras. Imagine que você se encontra atrás de um véu de ignorância, que seja impedi-mento para atribuir benefícios ou privilégios a quem quer que seja. Universalize, agora, essa situação, aplicando-a para to-dos, inclusive para si mesmo. Na posição original, em virtude do véu de ignorância, nada se sabe sobre posições religiosas, morais ou filosóficas.

Se alguém tiver de escolher alguns princípios para a ação, mas estiver encoberto pelo véu da ignorância, nada sabendo da posição das pessoas envolvidas, sem nada saber sobre passa-do ou futuro de cada um, ou sobre o que seria mais vantajoso ou desvantajoso para si e para os demais, que princípios es-colheria? Segundo Ralws, as escolhas seriam voltadas para o interesse geral, que combina o bem individual com o social. Tendo em mente não serem prejudicados, segundo Rawls, os indivíduos iriam escolher justamente os dois princípios que ele estabeleceu acima.

c) A justiça como equidade. Um conceito político.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA369Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

O que marca distintivamente a justiça como equidade é o fato de colocar as partes envolvidas, em condição inicial, ou em seu ponto de partida, como racionais e consensuadas no que se refere a dois elementos essenciais: igualdade na atribuição de deveres e direitos básicos e a possibilidade da desigualda-de econômica e social, sob condição de que dela resultarão benefícios compensatórios para cada um, de modo particular para os menos favorecidos da sociedade. Dito de outro modo, não há injustiça nos benefícios maiores conseguidos por uns poucos, desde que, com isso, também melhore a situação dos menos afortunados.

Considerando as liberdades fundamentais, Rawls destaca a li-berdade política, que se realiza na possibilidade de participar da vida política: votar e ser votado, ocupar cargos públicos; a liberdade de consciência, de pensamento, de expressão, de proteção contra opressão de diferentes naturezas; o direito à propriedade privada; direito à proteção contra prisão e de-tenção arbitrárias, em contexto de sociedade marcada pelo estado de direito. Todas essas dimensões da liberdade, reco-nhecidas para cada individuo em particular, é condição previa fundamental para a cooperação social.

EXERCÍCIOS

1. (IFP/2009) A democracia ateniense antiga (dos séculos V eIV a. C.) possui algumas características que a torna diferentedas democracias modernas, ainda que estas se inspirem nelapara se constituírem. São características da democracia ate-niense, referentes ao período acima relacionado, as seguintesassertivas:

I. Na democracia ateniense, nem todos são cidadãos. Mulhe-res, criança, escravos e estrangeiros são excluídos da cidadania. II. É uma democracia representativa, como as modernas. Umcidadão? Mais sábio? É escolhido para representar o povo, ga-rantindo, portanto, o poder de um sobre os outros.III. É uma democracia direta ou participativa, e não umademocracia representativa, como as modernas. Na de-mocracia ateniense, os cidadãos participam diretamen-te das discussões e da tomada de decisões, pelo voto. IV. A democracia ateniense não exclui da política a ideia decompetência ou de tecnocracia: em política uns são mais sá-bios e competentes que outros (os cidadãos comuns), aqueles devendo exercer o poder sobres estes.

Assinale a alternativa corretas

a) As assertivas III e IV são corretas.

b) As assertivas I e III são corretas.

c) As assertivas I, II e IV são corretas.

d) Apenas a assertiva I está correta.

e) As assertivas II, III e IV estão corretas.

2. (Enem 2014)Compreende-se assim o alcance de uma reivindicação quesurge desde o nascimento da cidade na Grécia antiga: a reda-ção das leis. Ao escrevê-las, não se faz mais que assegurar-lhes permanência e fixidez. As leis tornam-se bem comum, regrageral, suscetível de ser aplicada a todos da mesma maneira.

(VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 1992).

Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga, ainda vigente no mundo contemporâneo, buscava garantir o se-guinte princípio:

a) Isonomia – igualdade de tratamento aos cidadãos.

b) Transparência — acesso às informações governamentais.

c) Tripartição — separação entre os poderes políticosestatais.

d) Equiparação — igualdade de gênero na participaçãopolítica.

e) Elegibilidade — permissão para candidatura aos cargospúblicos.

3. (UDESC 2017/2) “Mas, já que estamos a examinar qual é aconstituição política perfeita, sendo essa constituição a quemais contribui para a felicidade da cidade... os cidadãos nãodevem exercer as artes mecânicas nem as profissões mercan-tis; porque este gênero de vida tem qualquer coisa de vil, e écontrário à virtude. É preciso mesmo, para que sejam verda-deiros cidadãos, que eles não se façam lavradores; porque odescanso lhes é necessário para fazer nascer a virtude em sua alma, e para executar os deveres civis.

(Aristóteles. A política. Livro IV, cap. VIII)

A partir da citação acima e de seus conhecimentos sobre a es-trutura político-social da Grécia Antiga, assinale a alternativa correta.

a) A ideia de democracia grega está ligada ao fato deque todos aqueles que habitavam uma cidade-estadodispunham dos mesmos direitos e deveres, uma vezque todos os trabalhos e profissões eram igualmentevalorizados

b) A cidadania era uma forma de distinção social porquenem todos os habitantes de uma cidade eramconsiderados cidadãos. Estrangeiros e mulheres, porexemplo, não dispunham dos direitos de cidadania e não tinham direito a voto nas assembleias

c) As profissões mercantis eram desencorajadas devido àsupremacia da Igreja Católica na administração políticagrega, durante o Período Clássico. Neste período, a usura e o exercício do lucro eram vivamente condenados porferirem os princípios cristãos.

d) Todos os homens que habitavam uma cidade eramconsiderados cidadãos. A cidadania, na Grécia Clássica,era qualificada em ordens, sendo que os proprietáriosde terras eram cidadãos de primeira ordem e ostrabalhadores braçais de segunda ordem. Todos, porém,tinham direito de voz e voto nas assembleias.

e) A ideia de cidadania, descrita por Aristóteles, éconsiderada ainda hoje um ideal, uma vez que éplenamente inclusiva e qualifica de forma igualitáriatodos os trabalhos e profissões.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

370 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

4. (UFRGS 2017) Na sua narrativa da Guerra do Peloponeso,Tucídides assim relata as práticas funerais atenienses.

“Desse cortejo participam livremente cidadãos e estrangeiros; e as mulheres da família estão presentes, ao túmulo, fazendo ouvir sua lamentação. Depositam-se, em seguida, os despo-jos no monumento público, situado na mais bela avenida da cidade, e onde as vítimas de guerra são sempre sepultadas – à exceção dos mortos de Maratona: a estes, considerando--se seu mérito excepcional, concedeu-se sepultura no próprio lugar da batalha. Uma vez que a terra recobre os mortos, umhomem escolhido pela pólis, reputado por distinguir-se inte-lectualmente e gozar de alta estima, pronuncia em sua honra um elogio apropriado; depois disto, todos se retiram. Assimtêm lugar esses funerais; e, durante toda a guerra, quando era o caso, aplicava-se o costume”.

Citado em LORAUX, N. A invenção de Atenas. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 39.

Assinale a alternativa correta a respeito da história da antigui-dade grega, a partir do texto apresentado.

a) Os ritos funerais na Grécia antiga eram cerimôniasreligiosas, destinadas apenas a conduzir ao paraíso osheróis mortos.

b) Os metecos, participantes das práticas funerais,formavam parte do demos ateniense e possuíam osmesmos direitos políticos que os cidadãos da pólis.

c) Todos os soldados atenienses mortos nos confrontoscom Esparta, em razão do grande mérito de seus feitos,eram sepultados no próprio lugar da batalha.

d) A cena descrita, ocorrida na democracia ateniense, indica o valor dado aos cidadãos mais eloquentes da cidade.

e) A realização de um discurso fúnebre por alguémescolhido na massa de cidadãos de Atenas revela ocaráter secundário e improvisado da cerimônia.

5. (PUCCAMP)  “É precisamente para assegurar o reino daigualdade, para permitir que os mais humildes cidadãos assu-mam uma parte legítima na vida política, que o Estado conce-de uma remuneração àqueles que se colocam ao seu serviçoparticipação das Assembleias.” 

O texto referente à Atenas, no século V, expressa:

a) o interesse do Estado em criar uma sociedade igualitária, remunerando melhor os funcionários públicos. 

b) a necessidade de estimular os desinteressados habitantes da das Assembleias políticas. 

c) a fragilidade da democracia ateniense, uma vez que aoscidadãos não correspondiam direitos políticos, apenasobrigações. 

d) a preocupação do regime democrático em garantir odireito de igualdade política aos cidadãos ateniensesmais pobres. 

e) a determinação dos tribunais atenienses em banir aescravidão no vasto território grego sob o seu domínio.

6. (UFSCar-2002) E muitos a Atenas, para a pátria de geração divina,reconduzi, vendidos que foram - um injustamente, ooutro justamente; e outros por imperiosas obrigações exila-dos, e que nem mais a língua ática falavam, de tantos lugarespor que tinham errado; e outros, que aqui mesmo escravidãovergonhosa levavam, apavorados diante dos caprichos dossenhores, livres estabeleci.

O texto, um fragmento de um poema de Sólon–arconte ate-niense, 594 a.C. - , citado por Aristóteles em A Constituição de Atenas, refere-se

a) ao fim da tirania.

b) à lei que permitia ao injustiçado solicitar reparações.

c) à criação da lei que punia aqueles que conspiravamcontra a democracia.

d) à abolição da escravidão por dívida.

e) à instituição da Bulé.

7. (Enem 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais seramado que temido ou temi do que amado. Responde-se queambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difíciljuntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado,quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens sepode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis,simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está lon-ge; mas quando ele chega, revoltam-se.

(MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991)

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas. Maquiavel define o homem como um ser

a) munido de virtude, com disposição nata para praticar obem a si e aos outros

b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas paraalcançar êxito na política

c) guiado por interesse, de modo que suas ações sãoimprevisíveis e inconstantes

d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-sociale portando seus direitos naturais

e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas comseis pares

8. (Ciência Política - UNIP)

Ao pensar como deve comportar-se um príncipe com seus súditos, Maquiavel questiona as concepções vigentes em sua época, segundo as quais consideravam o bom governo depende das boas qualidades morais dos homens que diri-gem as instituições. Para o autor, “um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus. Assim, é necessário a um príncipe, para se manter , que aprenda a poder ser mal e que se valha ou dei-xe de valer-se disso segundo a necessidade”

(Maquiavel, O Príncipe, São Paul o: abril cultural, Os Pensadores, 1973, p.69)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA371Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

Sobre o pensamento de Maquiavel, a respeito do comporta-mento de um príncipe, é correto afirmar que

a) a atitude do governante para com os governadosdeve estar pautada em sólidos valores éticos, deven-do o príncipe punir aqueles que não agem eticamente.

b) o Bem comum e a justiça não são os princípios funda-dores da política; esta, em função da finalidade que lheé própria e das dificuldades concretas de realizá-la, nãoestá relacionada com a ética.

c) o governante deve ser um modelo de virtude, e é preci-samente por saber como governar a si próprio e não sedeixar influenciar pelos maus que ele está qualificado agovernar os outros, isto é, a conduzi-los à virtude.

d) o Bem supremo é o que norteia as ações do go-vernante, mesmo nas situações em que seus atospareçam maus.

e) a ética e a política são inseparáveis, pois o bem dos indivíduos só é possível no âmbito de uma comuni-dade política onde o governante age conforme a virtude.

9. (Ciência Política - UNIP) “Creio que a sorte seja árbitroda metade dos nossos atos, mas que nos permite o controlesobre a outra metade, aproximadamente. Comparo a sorte aum rio impetuoso que, quando enfurecido, inunda a planície, derruba casas e edifícios, remove terra de um lugar para de-positá-la em outro. Todos fogem diante de sua fúria, tudocede sem que se possa detê-la. Contudo, apesar de teressa natureza, quando as águas correm quietamente épossível construir defesas contra elas, diques e barragens,de modo que, quando voltam a crescer, sejam desviadaspara um canal, para que seu ímpeto seja menos selvagem edevastador. O mesmo se dá com a sorte, que mostra todo oseu poder quando não foi posto nenhum empenho para lhe resistir, dirigindo sua fúria contra os pontos que não há di-que ou barragem para detê-la. [...] O príncipe que baseia seu poder inteiram ente na sorte se arruína quando esta muda.Acredito também que é prudente quem age de acordocom as circunstâncias, e da mesma forma é infeliz quemage opondo-se ao que o seu tempo exige”.

Considerando o pensamento político de Maquiavel e o texto acima, é INCORRETO afirmar que

a) o êxito da ação política do príncipe depende do modocomo ele age de acordo com as circunstâncias.

b) a manutenção do poder e a estabilidade políticasão proporcionadas pelo príncipe de virtù,independentemente dos meios por ele utilizados.

c) o sucesso ou o fracasso da ação política para amanutenção do poder depende exclusivamente dasorte e do uso da força bruta e violenta.

d) na manutenção do poder, a ação política do príncipe sefundamenta, não no uso da força bruta e da violência,mas na utilização da força com virtù.

e) o êxito da ação política, com vistas à manutenção dopoder, resulta do saber aproveitar a ocasião dada pelas circunstâncias e da capacidade de entender o que o seutempo exige

10. (Ciência Política - UNIP) Certamente, a brusca mudançade direção que encontramos nas reflexões de Maquiavel, emcomparação com os humanistas anteriores, explica-se emlarga medida pela nova realidade política que se criar a emFlorença e na Itália, mas também pressupõe uma grande crise de valores morais que começava a grassar. Ela não apenasconstatava a divisão entre “ser” e “dever ser”, mas também ele-vava essa divisão a princípio e a colocava como base da nova visão dos fatos políticos.

(REALE, G.; ANTISERI , D. História da Filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990. V. II, p. 127.)

Dentre as contribuições de Maquiavel à Filosofia Política, é correto afirmar:

a) Inaugurou a reflexão sobre a constituição do Estadoideal.

b) Estabeleceu critérios para a consolidação de um governo tirânico e despótico.

c) Consolidou a tábua de virtudes necessárias a um bomhomem.

d) Fundou os procedimentos de verificação da correçãodas normas.

e) Rompeu o vínculo de dependência entre o poder civil e a autoridade religiosa

11. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difun-dida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diaria-mente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos,mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra me-tade.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).

Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentis-ta ao

a) valorizar a interferência divina nos acontecimentosdefinidores do seu tempo.

b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.

c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana.

d) romper com a tradição que valorizava o passado comofonte de aprendizagem.

e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé erazão.

12 . Nicolau Maquiavel (1.469 - 1527) assim se expressara em sua obra  O Príncipe:“(...) O mesmo acontece com a  fortuna, que demonstra sua força onde não encontra uma virtú (virtu-de) ordenada, pronta para resistir-lhe e volta seu ímpeto [im-pulso; força] para onde sabe que não foram erguidos diques ou barreiras para contê-las. Se considerares a Itália, que é sede

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

372 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

e origem dessas alterações, verás que ela é um campo sem di-ques e sem qualquer defesa; caso ela fosse convenientemente ordenada pela virtú, como a Alemanha, a Espanha e a Fran-ça, ou esta cheia não teria causado as grandes mudanças que ocorrem, ou estas nem sequer teriam acontecido.”

(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973 – p. 109.) 

Sobre o conceito de  Virtú, peça chave para se entender as ações de um governante (ou príncipe), CONSIDERE as asser-tivas abaixo: 

I – A virtú é a qualidade dos oportunistas, que agem guiados pelo instinto natural e irracional do egoísmo e almejam, ex-clusivamente, sua vantagem pessoal. II – O homem de virtú é antes de tudo um sábio, é aquele que conhece as circunstâncias do momento oferecido pela fortuna e age seguro do seu êxito. III – Mais do que todos os homens, o príncipe tem de ser um homem de virtú, capaz de conhecer as circunstâncias e utili-zá-la a seu favor. IV – Partidário da teoria do direito divino, Maquiavel vê o príncipe como um predestinado e a virtú como algo que não depende dos fatores históricos. 

ASSINALE a ÚNICA alternativa que contém as assertivas ver-dadeiras:

a) I, II, III

b) II e III

c) II e IV

d) II, III e IV

e) I, II e IV

13. (UEL 2005) Em O Príncipe, Maquiavel (1469-1527) formu-lou ideias e conceitos que firmaram a sua reputação de o fun-dador da Ciência Política moderna. Dentre elas, pode-se citar os aspectos relacionados às ações políticas dos governantes e à dominação das massas. Para ele, a política deveria ser com-preendida pelo governante como uma esfera independentedos pressupostos religiosos que até então a impregnavam.Ao propor a autonomia da política (esfera da vida pública eda ação dos dirigentes políticos) sobre a ética (esfera da vidaprivada e da conduta moral dos indivíduos), é legítimo afirmar que Maquiavel não deixou, entretanto, de reconhecer e valo-rizar a religião como uma importante dimensão da vida emsociedade. Segundo Maquiavel, a religião dos súditos deveriaser objeto de análise atenta por parte do governante. Sobre a relação entre política e religião, de acordo com Maquiavel, écorreto afirmar: 

a) A religião deve ser cultivada pelo governante paragarantir que ele seja mais amado do que temido.

b) Por se constituírem em personagens importantes na vida política de uma comunidade, os líderes religiosos devem formular as ações a serem executadas pelos príncipes.

c) O sentimento religioso dos súditos é um valor moral e,portanto, deverá ser combatido pelo príncipe, uma vezque conduz ao fanatismo e prejudica a estabilidade doEstado.

d) A religião dos súditos é sempre um instrumento útil nasmãos do Príncipe, o qual deve aparentar ser virtuoso emmatéria religiosa.

e) O dirigente político deve se esforçar para tornar-se,também, o dirigente religioso de seu povo, rompendo,assim, com o preceito do Estado laico.

14. (UEL 2003  )“Sendo, portanto, um príncipe obrigado abem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as quali-dades da raposa e do leão, pois este não tem defesa algumacontra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, serraposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de leões não serão bem-suce-didos. (…) E há de se entender o seguinte: que um príncipe,e especialmente um príncipe novo, não pode observar todasas coisas a que são obrigados os homens considerados bons,sendo freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião.”

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 74-75).

A partir das metáforas propostas por Nicolau Maquiavel, pen-sador italiano renascentista, considere as afirmativas sobre a noção do poder próprio ao governante.

a) A sabedoria e o uso da força fundamentam o poder.

b) O poder encontra seu fundamento na bondade e nacaridade.

c) A sobrevivência do poder depende das virtudes da fé eda religião.

d) Os fins podem justificar os meios, para resolver conflitosna disputa pelo poder.

Estão de acordo com o pensamento de Maquiavel apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) I e IV.

d) II e III.

e) III e IV

15. Analise o texto político, que apresenta uma visão muitopróxima de importantes reflexões do filósofo italiano Maquia-vel, um dos primeiros a apontar que os domínios da ética eda política são práticas distintas. “A política arruína o caráter”,disse Otto von Bismarck(1815-1898), o “chanceler de ferro”da Alemanha, para quem  mentir era dever do estadista. Osditadores que agora enojam o mundo ao reprimir ferozmen-te seus próprios povos nas praças árabes foram colocados emantidos no poder por nações que se enxergam como faróisda democracia e dos direitos humanos: Estados Unidos, Ingla-terra e França. Isso é condenável? Os ditadores eram a únicaesperança do Ocidente de continuar tendo acesso ao petró-leo árabe e de manter um mínimo de informação sobre asorganizações terroristas islâmicas.  Antes de condenar, reflitasobre a frase do mais extraordinário diplomata americano doséculo passado, George Kennan, morto aos 101 anos em 2005: “As sociedades não vivem para conduzir sua política externa:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA373Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

seria mais exato dizer que elas conduzem sua política externa para viver”.

(Veja, 02.03.2011. Adaptado.)

A associação entre o texto e as ideias de Maquiavel pode ser feita, pois o filósofo

a) considerava a ditadura o modelo mais apropriado degoverno, sendo simpático à repressão militar sobrepopulações civis.

b) foi um dos teóricos da democracia liberal, demonstrando-se avesso a qualquer tipo de manifestação deautoritarismo por parte dos governantes.

c) foi um dos teóricos do socialismo científico, respaldando as ideias de Marx e Engels.

d) foi um pensador escolástico que preconizou a moralidade cristã como base da vida política.

e) refletiu sobre a política através de aspectosprioritariamente pragmáticos.

16. (Enem 2010) O príncipe, portanto, não deve se incomo-dar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter opovo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos durospoderá ser mais clemente do que outros que, por muita pie-dade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e aoroubo.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009

No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da or-dem social, segundo esse autor, baseava-se na

a) inércia do julgamento de crimes polêmicos.

b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários.

c) compaixão quanto à condenação de transgressõesreligiosas.

d) neutralidade diante da condenação dos servos.

e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe.

17. (Ufpa 2013) “Desta guerra de todos os homens contra to-dos os homens também isto é conseqüência: que nada podeser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça,não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse,poderiam existir num homem que estivesse sozinho no mun-do, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.” 

HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.

Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às faculdades do corpo e do espírito, considere as afirmativas:

I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos ho-mens em sociedade, e não na solidão.II. No estado de natureza, o homem é como um animal: agepor instinto, muito embora tenha a noção do que é justo einjusto.III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o poder do Estado.

IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em confor-midade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes.

Estão corretas as afirmativas:a) I e II

b) I e III

c) II e IV

d) I, III e IV

e) II, III e IV

18. (Ufsj, 2013) 

Thomas Hobbes afirma que “Lei Civil”, para todo súdito, é

a) “construída por aquelas regras que o Estado lhe impõe,oralmente ou por escrito, ou por outro sinal suficiente de sua vontade, para usar como critério de distinção entre o bem e o mal”.

b) “a lei que o deixa livre para caminhar para qualquerdireção, pois há um conjunto de leis naturais queestabelece os limites para uma vida em sociedade”.

c) “reguladora e protetora dos direitos humanos, e fazintervenção na ordem social para legitimar as relaçõesexternas da vida do homem em sociedade”.

d) “calcada na arbitrariedade individual, em que as pessoasbuscam entrar num Estado Civil, em consonância com odireito natural, no qual ele – o súdito – tem direito sobrea sua vida, a sua liberdade e os seus bens”.

19. (Ufu 2013) 

Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a mo-déstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que que-remos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. 

HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria

Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.

Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que:  

a) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nascecom o advento do contrato social deve assiná-lo, parasubmeter-se aos compromissos ali firmados.

b) A condição natural do homem é de guerra de todoscontra todos. Resolver tal condição é possível apenascom um poder estatal pleno.

c) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como instrumento de realização da isonomia entre tais homens.

d) A guerra de todos contra todos surge com o Estadorepressor. O homem não deve se submeter de bomgrado à violência estatal.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

374 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

20. (Ufu 2011) Os filósofos contratualistas elaboraram suasteorias sobre os fundamentos ou origens do poder do Estadoa partir de alguns conceitos fundamentais tais como, a sobe-rania, o estado de natureza, o estado civil, o estado de guerra, o pacto social etc. [...] O estado de guerra é um estado de ini-mizade e destruição [...] nisto temos a clara diferença entre oestado de natureza e o estado de guerra, muito embora certas pessoas os tenham confundido, eles estão tão distantes umdo outro

(LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1978)

Leia o texto acima e assinale a alternativa correta. 

a) Para Locke, o estado de natureza é um estado de destrui-ção, inimizade, enfim uma guerra “de todos os homenscontra todos os homens”. 

b) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o estado de guerra. 

c) Segundo Locke, para compreendermos o poder político,é necessário distinguir o estado de guerra do estado denatureza. 

d) Uma das semelhanças entre Locke e Hobbes está no fato de ambos utilizarem o conceito de estado de naturezaexatamente com o mesmo significado. 

21. (Unioeste 2010)

“Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua origem, devemos considerar em que estado todos os homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita li-berdade para ordenar-lhes as ações e regular-lhes as suas pos-ses e as pessoas conforme acharem conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem. [...] Estado também de igualdade, no qual é recíproco qualquer poder e jurisdição, ninguém tendo mais do que qualquer outro […]. Contudo, embora seja um estado de liberdade, não o é de licenciosi-dade; apesar de ter o homem naquele estado liberdade in-controlável de dispor da própria pessoa e posses, não tem a de destruir-se a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse, senão quando uso mais nobre do que a sim-ples conservação o exija. O estado de natureza tem uma lei de natureza para governá-lo, que a todos obriga. [...] E para impedir a todos os homens que invadam os direitos dos ou-tros e que mutuamente se molestem, e para que se observe a lei da natureza, que importa na paz e na preservação de toda a Humanidade, põe-se, naquele estado, a execução da lei da natureza nas mãos de todos os homens, mediante a qual qual-quer um tem o direito de castigar os transgressores dessa lei em tal grau que lhe impeça a violação, pois a lei da natureza seria vã, como quaisquer outras leis que digam respeito ao ho-mem neste mundo, se não houvesse alguém nesse estado de natureza que não tivesse poder para pôr em execução aquela lei e, por esse modo, preservasse o inocente e restringisse os ofensores.” (Locke)

Considerando o texto citado, é correto afirmar, segundo a teo-ria política de Locke, que 

a) o estado de natureza é um estado de perfeita concórdia e absoluta paz, tendo cada indivíduo poder ilimitado para

realizar suas ações como bem lhe convier, sem nenhuma restrição de qualquer lei, seja ela natural ou civil. 

b) concebido como um estado de perfeita liberdade e deigualdade, o estado de natureza é um estado de absoluta licenciosidade, dado que, nele, o homem tem a liberdade incontrolável para dispor, a seu belprazer, de sua própriapessoa e de suas posses. 

c) pela ausência de um juiz imparcial, no estado de natureza todos têm igual direito de serem executores, a seu modo, da lei da natureza, o que o caracteriza como um estadode guerra generalizada e de violência permanente. 

d) no estado de natureza, pela ausência de um juiz impar-cial, todos e qualquer um, julgando em causa própria,têm o “direito de castigar os transgressores” da lei danatureza, de modo que este estado seja de relativa paz,concórdia e harmonia entre todos.

22. (ENEM 2013) Para que não haja abuso, é preciso organi-zar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpodos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atu-ando de forma independente para a efetivação da liberdade,sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupoexercer os referidos poderes concomitantemente.

MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo Abril Cultural, 1979 (adaptado).

A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja

a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. 

b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. 

c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-cien-tifícas. 

d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às insti-tuições do governo. 

e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nasmãos de um governante eleito.

23. (ENEM 2012)

É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas pro-íbem, não teria mais liberdade, porque os outros também te-riam tal poder.

MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).

A característica de democracia ressaltada por Monstesquieu diz respeito

a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA375Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à confor-midade às leis.

c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.

d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proi-bido, desde que ciente das consequências.

e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais.

24. (Unioeste, 2017)

Texto 1:

“Por princípio da utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência de promover ou comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação, com o que tenciono dizer que isto vale não somente para qualquer ação de um indivíduo particular, mas também de qualquer ato ou medi-da de governo. [...] A comunidade constitui um corpo fictício, composto de pessoas individuais que se consideram como constituindo os seus membros. Qual é, nesse caso, o interesse da comunidade? A soma dos interesses dos diversos mem-bros que integram a referida comunidade”.

(BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 10)

Texto 2:

“Para compreendermos o valor que Mill atribui à democracia, é necessário observar com mais atenção a sua concepção de sociedade e indivíduo [...]. O governo democrático é melhor porque nele encontramos as condições que favorecem o de-senvolvimento das capacidades de cada cidadão”.

(WEFFORT, F. (org.). Os clássicos da política 2. 3 ed. São Paulo: Ática, 1991. p. 197-98).

Sobre o utilitarismo e o pensamento de Bentham e Stuart Mill, é INCORRETO afirmar.

a) Para o utilitarismo clássico, o principal critério para a mo-ralidade é o princípio da utilidade, que defende comomorais as ações que promovem a felicidade e o bem-es-tar para o maior número de pessoas envolvidas.

b) Para os utilitaristas Bentham e Stuart Mill, uma ação éconsiderada moralmente correta se promove a felicida-de e o bem-estar para o indivíduo, não importando suasconsequências em relação ao conjunto da sociedade.

c) Utilitaristas como Bentham defendem que o papel do le-gislador é o de produzir leis que sejam do interesse dosindivíduos que constituem uma comunidade e que resul-tem na maior felicidade para o maior número deles.

d) O pensamento de Stuart Mill propõe mudanças impor-tantes à agenda política, na medida em que reconheceque a participação política não pode ser tomada comoprivilégio de poucos. O Estado deverá, portanto, adotarmecanismos que garantam a institucionalização da par-ticipação mais ampliada dos cidadãos.

e) Enquanto Bentham defendia a democracia representati-va como sendo uma forma de impedir que os governosimponham seus interesses aos do povo, Stuart Mill de-fende tal forma de governo como a melhor forma para se controlar os governantes e ao mesmo tempo aumentar a riqueza total da sociedade.

25. (Enem 2012) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona con-sigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujovalor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturaro homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como umaparte da unidade, e só seja percebido no todo. 

ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que 

a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua pró-pria natureza. 

b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. 

c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as institui-ções sociais dependem dele. 

d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar ab-soluto. 

e) as instituições sociais expressam a natureza humana,pois o homem é um ser político.

26. (Pucpr 2015)  Leia o fragmento a seguir, extraído do Dis-curso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de Rousseau:

“É do homem que devo falar, e a questão que examino me indica que vou falar a homens, pois não se propõem questões semelhantes quando se teme honrar a verdade. Defenderei, pois, com confiança a causa da humanidade perante os sábios que a isso me convidam e não ficarei descontente comigo mesmo se me tornar digno de meu assunto e de meus juízes”.

ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.159.

A partir da teoria contratualista de Rousseau, assinale a alter-nativa que representa aquilo que o filósofo de Genebra pre-tende defender na obra.

a) Que a desigualdade social é permitida pela lei natural e,portanto, o Estado não é responsável pelo conflito social.

b) Que a desigualdade social é autorizada pela lei natural,ou seja, que a natureza não se encontra submetida à lei.

c) Que no estado natural existe apenas o direito depropriedade.

d) Que a desigualdade moral ou política é uma continuidade daquilo que já está presente no estado natural.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

376 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

e) Que há, na espécie humana, duas espécies de desigual-dade: a primeira, natural, e a segunda, moral ou política.

27. (Ufpa 2011) “A soberania não pode ser representada pela mesma razão por que não pode ser alienada, consiste essen-cialmente na vontade geral e a vontade absolutamente nãose representa. (...). Os deputados do povo não são nem po-dem ser seus representantes; não passam de comissários seus, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei que opovo diretamente não ratificar; em absoluto, não é lei.”

(ROSSEAU, J.J. Do Contrato social, São Paulo, Abril Cultural, 1973, livro III, cap.

XV, p. 108-109)

Rousseau, ao negar que a soberania possa ser representada preconiza como regime político: 

a) um sistema misto de democracia semidireta, no qualatuariam mecanismos corretivos das distorções darepresentação política tradicional. 

b) a constituição de uma República, na qual os deputadosteriam uma participação política limitada. 

c) a democracia direta ou participativa, mantida por meiode assembleias frequentes de todos os cidadãos. 

d) a democracia indireta, pois as leis seriam elaboradaspelos deputados distritais e aprovadas pelo povo. 

e) um regime comunista no qual o poder seria extinto,assim como as diferenças entre cidadão e súdito

28. (Unicamp 2012)  “O homem nasce livre, e por toda a par-te encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos demais nãodeixa de ser mais escravo do que eles. (...) A ordem social, po-rém, é um direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...) Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar umamultidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados,quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só, enão verei nisso senão um senhor e escravos, de modo algumconsiderando-os um povo e seu chefe. Trata-se, caso se quei-ra, de uma agregação, mas não de uma associação; nela nãoexiste bem público, nem corpo político.”

(Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. [1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.) 

No trecho apresentado, o autor 

a) argumenta que um corpo político existe quandoos homens encontram-se associados em estado deigualdade política. 

b) reconhece os direitos sagrados como base para osdireitos políticos e sociais. 

c) defende a necessidade de os homens se unirem emagregações, em busca de seus direitos políticos. 

d) denuncia a prática da escravidão nas Américas, queobrigava multidões de homens a se submeterem a umúnico senhor.

29. (Enem 2018)

TEXTO I

Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra se-gurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TEXTO II

Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse au-tor deveria dizer que, sendo o estado de natureza aquele em que o cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos outros, esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente ao gênero humano.

ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade

entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado).

Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os homens se dá em razão de uma

a) predisposição ao conhecimento.

b) submissão ao transcendente.

c) tradição epistemológica.

d) condição original.

e) vocação política.

30. (PUC-RJ-2010/adaptada) Alexis de Tocqueville, nobrefrancês que viajou pelos Estados Unidos e relatou suas im-pressões em seu livro “A Democracia na América”, de 1835,assim se referiu à sociedade norte-americana: 

“Os colonos americanos exerciam, desde o início, direitos de soberania. Nomeavam os seus magistrados, concluíam a paz, declaravam a guerra, promulgavam as leis, como se sua fide-lidade só fosse devida a Deus. (...) Nas leis da Nova Inglaterra encontramos o germe e o desenvolvimento da independên-cia local é a mola da liberdade americana de nossos dias.” 

(TOCQUEVILLE. A. A Democracia na América: Leis e Costumes. Livro I. São

Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 73.). 

A partir da leitura anterior, marque o item que apresenta uma correta interpretação do pensamento do autor.

a) Defende a ideia de que os poderes políticos devem estar concentrados sob a autoridade quase que de um únicoindivíduo, conforme defende o autor no texto, dentro de uma perspectiva iluminista.

b) A independência dos EUA foi influenciadaideologicamente por princípios do Iluminismo, entreeles, o de participação do individuo, na condição decidadão, no processo político.

c) Um dos elementos da transição do  status  de colôniapara um país autônomo é a formação de um movimento separatista, que o autor observou no texto, mas sem o

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA377Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

imperativo de qualquer ideologia ou condições prévias, que justifiquem o movimento.

d) Os EUA se tornaram a primeira independente da América justamente por que apresentou características diferentes as descritas por Tocqueville no texto de referência.

e) Apesar de centralizar seu discurso a respeito dosEUA, Tocqueville não conferiu grande importância àemancipação política daquele país.

31. (...) Como a Revolução Francesa não teve apenas por obje-tivo mudar um governo antigo, mas abolir a forma antiga dasociedade, ela teve de ver-se a braços a um só tempo com ospoderes estabelecidos, arruinar todas as influências reconhe-cidas, apagar as tradições, renovar os costumes e os usos e,de alguma maneira, esvaziar o espírito humano de todas asideias sobre os quais se tinham fundado até então o respeitoe a obediência. [...].

[…] A centralização não pereceu com a Revolução porque era o próprio começo e o próprio sinal desta Revolução... A revolução democrática que destruiu tantas instituições do an-tigo regime tinha, portanto, que consolidar esta unidade, e a centralização encontrava com tanta naturalidade seu lugar na sociedade formada pela Revolução que é fácil entender por que a consideram obra sua”

(A. Tocqueville. O Antigo Regime e a Revolução. Brasília: Ed.UnB, 1979. p. 56. 89

Em conformidade com o pensamento de Tocqueville, é corre-to afirmar que:

a) Os franceses queriam recuperar os valores da tradição,especialmente o valor da descentralização política eadministrativa.

b) Tocqueville denomina como aristocráticas as sociedadeshistóricas que estavam saindo das estruturas sociaisherdadas do feudalismo

c) A democracia anunciada por Tocqueville tem como foco a igualdade econômica, como expressão de justiça social

d) A democracia é apresentada como uma totalidadeabstrata fundada no valor da hierarquia para administrar a cidade.

e) A liberdade não pode ser construída sobre o fundamento da desigualdade, mas da igualdade de condições,asseguradas por instituições democráticas.

32. (ENEM PPL,2014)

No sistema democrático de Schumpeter, os únicos participan-tes plenos são os membros de elites políticas em partidos e em instituições públicas. O papel dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limitado, mas frequentemente retrata-do como uma intrusão indesejada no funcionamento tranqui-lo do processo "público" de tomada de decisões. 

HELD, D. Modelos de democracia. Belo Horizonte: Paideia, 1987.

O modelo de sistema democrático apresentado pelo texto pressupõe a

a) consolidação da racionalidade comunicativa.

b) adoção dos institutos do plebiscito e do referendo.

c) condução de debates entre cidadãos iguais e o Estado.

d) substituição da dinâmica representativa pela cívico-participativa.

e) deliberação dos líderes políticos com restrição daparticipação das massas.

33. (POLITEC-MT/2017)  De acordo com a filósofa HannahArendt, o totalitarismo é uma forma de governo essencialmen-te diferente de outras formas de opressão política conhecidas, como o despotismo, a tirania e a ditadura. Considerando ascaracterísticas e as expressões históricas do totalitarismo noséculo XX, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O totalitarismo procura reforçar a distinção entre esferapública e esfera privada.

b) Nazismo e stalinismo são dois exemplos históricos deregimes totalitários.

c) A propaganda é um meio importante para a difusão daideologia oficial nos governos totalitários.

d) O terror é um princípio fundamental da ação políticatotalitária

34. (UEMG 2012) LEIA, abaixo, o comentário que a filósofaHannah Arendt fez sobre as ações do comandante do Reich,Adolf Karl Eichmann,acusado de crimes contra o povo judeu:

“Os feitos eram monstruosos, mas o executante (...) era ordiná-rio, comum, e nem demoníaco nem monstruoso.”

Hannah Arendt, A vida do espírito. In: Eduardo Jardim de Moraes e Newton

Bignotto,

Hannah Arendt: diálogos, reflexões e memórias. Belo Horizonte: Editora UFMG,

p.138.

Assinale a alternativa em que o fator cultural presente nas ações comentadas explica CORRETAMENTE o fenômeno his-tórico acima mencionado:

a) A execução de atos criminosos com requintes decrueldade, ordenada pelas autoridades, foi praticada porpessoas comuns, afetadas principalmente pela falta dealimento e de emprego.

b) A banalidade na execução de crimes contra ahumanidade se deve à burocratização do genocídio,implementada pela cúpula nazista, para liberar aspessoas de preocupações com a moral comum e com asleis.

c) A participação da juventude hitlerista no processo deconstrução do nacionalismo reforçou o senso político de oposição aos regimes socialistas autoritários.

d) A experiência nazista é um exemplo de fortalecimentoda sociedade pelo Estado, criador de símbolos e valoresculturais, que reforçam os princípios autoritários degoverno.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

378 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciência Políticas

35. Visto que a autoridade sempre exige obediência, ela écomumente confundida com alguma forma de poder ouviolência. Contudo, a autoridade exclui a utilização de meiosexternos de coerção; onde a força é usada, a autoridade emsi mesma fracassou. A autoridade, por outro lado, é incom-patível com a persuasão, a qual pressupõe igualdade e operamediante um processo de argumentação.

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 3ª ed. Trad. Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992. p. 129ss)

Hannah Arendt desenvolve um conceito de autoridade inspi-rado no pensamento de Platão. Considerando esse conceito de autoridade política, assinale a alternativa que melhor ex-pressa essa concepção. Segundo Hannah Arendt, a autorida-de

a) pertence ao governante, cuja obediência nãonecessariamente se faz necessária.

b) implica, por ela mesma, obediência e exige o recurso e ouso da violência.

c) está associada à ideia de um determinado saber ouconhecimento para o exercício do poder

d) está associada à natural igualdade e que, por isso, seimpõe pelo convencimento.

e) tem em si o poder de impor a violência, quando apersuasão não basta.

36.

Trecho 1

Ora, a Democracia surge, penso eu, quando após vitória dos pobres, estes matam uns, expulsam outros, e partilham igual-mente com os que restam o governo e as magistraturas, e es-ses cargos são, na maior parte, tirados à sorte. (...). É natural, portanto, que a tirania não se estabeleça a partir de nenhuma outra forma de governo que não seja a democracia, e, julgo eu, que do acúmulo da liberdade é que surge a mais completa e mais selvagem das escravaturas.

(PLATÃO, A República. Livro VII. [557 a - e]).

Uma sociedade na qual os que têm direito ao voto são os ci-dadãos masculinos maiores de idade é mais democrática do que aquela na qual votam apenas os proprietários e é menos democrática do que aquela em que têm direito ao voto tam-bém as mulheres

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 31

Com base na leitura desses fragmentos, considerando a cami-nhada histórica da democracia na cultura ocidental, infere-se que

a) Na Atenas Clássica, a arte de livremente discutir osdestinos da cidade, na praça pública, foi expressão deuma democracia estendida e ampla

b) Na perspectiva de Platão, a democracia é forma positivade governo, na qual os poderes são distribuídos deacordo com as competências individuais.

c) Pelo voto, os cidadãos gregos escolhem um grupode sábios para governarem a pólis, por serem os maisqualificados

d) Na perspectiva de Platão, a democracia é formacorrompida de governo, pois o que se verifica é a tiraniada liberdade individual sem freio.

e) Segundo Bobbio, não é possível comparar uma formahistórica de democracia com outra forma histórica.

37. “Em primeiro lugar, se hoje existe uma ameaça à pazmundial, esta vem ainda uma vez do fanatismo, ou seja, dacrença cega na própria verdade e na força capaz de impô-la.(...). Em segundo lugar, temos o ideal da não violência: Jamaisme esqueci do ensinamento de Karl Popper segundo o qualo que distingue essencialmente um governo democrático deum não democrático é que apenas no primeiro os cidadãospodem livrar-se dos seus governantes sem derramamento desangue. As tão frequentemente ridicularizadas regras formaisda democracia introduziram pela primeira vez na história astécnicas de convivência, destinadas a resolver conflitos sociais sem o recurso à violência. Apenas onde essas regras são res-peitadas o adversário não é mais um inimigo (que deve serdestruído), mas um opositor que amanhã poderá ocupar onosso lugar. Em terceiro lugar: o ideal da renovação gradualda sociedade através do livre debate das ideias e da mudança das mentalidades e do modo de viver: apenas a democraciapermite a formação e a expansão das revoluções silenciosas(...). O método democrático não pode perdurar sem se tornarum costume.

(BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, 4ª ed. RJ: Paz e terra, 1986 p. 38-40)

Com base nesse fragmento e em outras informações sobre o pensamento de Norberto Bobbio, acerca da democracia infe-re-se que:

a) as regras formais da democracia são, muitas vezes,ridicularizadas por introduzirem dimensões artificiais naconvivência humana.

b) a democracia é o regime político que iguala os não iguais; por isso, está destinada a perpetuar injustiças sociais.

c) a democracia é a forma de governo e método quepossibilita a revolução gradual da sociedade através derevoluções silenciosas não violentas.

d) a democracia, por sua defesa da liberdade de expressão,alimenta fanatismos que impedem o amadurecimentoda raça humana.

e) o derramamento de sangue pode ser aceito somentecomo última condição para derrubar um governodemocraticamente eleito.

38. (ENEM 2018)

TEXTO I.

As fronteiras, ao mesmo tempo que se separam, unem e arti-culam, por elas passando discursos de legitimação da ordem social tanto quanto do conflito.

CUNHA, L. Terras lusitanas e gentes dos brasis: a nação e o seu retrato literário. Revista Ciências Sociais, n. 2, 2009.

TEXTO II

As últimas barreiras ao livre movimento do dinheiro e das mercadorias e informação que rendem dinheiro andam de mãos dadas com a pressão para cavar novos fossos e erigir novas muralhas que barrem o movimento daqueles que em consequência perdem, física ou espiritualmente, suas raízes.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA379Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 2Ciência Políticas

BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

A ressignifi cação contemporânea da ideia de fronteira com-preende e

a) liberação da circulação de pessoas.

b) preponderância dos limites naturais.

c) supressão dos obstáculos aduaneiros.

d) desvalorização da noção de nacionalismo.

e) seletividade dos mecanismos segregadores.

39. (ENEM 2018) Um dos teóricos da democracia moderna,Hans Kelsen, considera elemento essencial da democracia real (não da democracia ideal, que não existe em lugar algum) ométodo da seleção dos líderes, ou seja, a eleição. Exemplar,neste sentido, é a afi rmação de um juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos, por ocasião de uma eleição de 1902: “A cabi-ne eleitoral é o templo das instituições americanas, onde cada um de nós é um sacerdote, ao qual é confi ada a guarda da arca da aliança e cada um ofi cia do seu próprio altar”.

BOBBIO, N. Teoria geral da política. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000 (adaptado).

As metáforas utilizadas no texto referem-se a uma concepção de democracia fundamentada no(a)

a) justifi cação teísta do direito,

b) rigidez da hierarquia de classe.

c) ênfase formalista na administração.

d) protagonismo do Executivo no poder.

e) centralidade do indivíduo na sociedade.

40. (ENEM 2018) A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo de defi nir toda reali-zação humana, uma evidente degradação do ser para o ter. Afase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados da economia, leva a um deslizamento generaliza-do do ter para o parecer, do qual todo ter efetivo deve extrairseu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente de-pendente da força social, moldada por ela.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.

Uma manifestação contemporânea do fenômeno descrito no texto é o(a)

a) valorização dos conhecimentos acumulados.

b) exposição nos meios de comunicação.

c) aprofundamento da vivência espiritual.

d) fortalecimento das relações interpessoais.

e) e) reconhecimento na esfera artística

1 B 11 C 21 D 31 E

2 A 12 B 22 D 32 E

3 B 13 D 23 B 33 A

4 D 14 C 24 B 34 B

5 D 15 E 25 A 35 C

6 D 16 E 26 E 36 D

7 C 17 B 27 C 37 C

8 B 18 A 28 A 38 E

9 C 19 B 29 D 39 E

10 E 20 C 30 B 40 B

GABARITO

Page 71: Determinante - Enem - Sociologia 2019

Curso Enem 2019 | Sociologia

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

380 Sociologia | Curso Enem 2019

Ciências Sociais em Temas CAPÍTULO 3

Ciências Sociais em TemasCAPÍTULO 3

29. Preconceitos e Discriminações

a) Preconceito de “raça” e de “marca”

Uma das melhores abordagens sobre o tema do preconceito encontra-se em Oracy Nogueira (1917-1996), um dos cien-tistas sociais brasileiros que integrou as primeiras turmas de mestres formados pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.

Ao se referir ao preconceito racial, Oracy NOGUEIRA afirma que ele é

Para Norberto Bobbio (1909-2004), o preconceito é uma opi-nião errônea tomada fortemente por verdadeira.

uma disposição (ou atitude) desfavorável, cultural-mente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatiza-dos, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pre-texto para as suas manifestações, os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem. (NOGUEIRA, 2007)

Diferentemente do que acontece em sociedades mais igua-litárias, aqui no Brasil, o preconceito que predomina não é o de origem, mas de marca. Quando o indivíduo é vítima do preconceito de marca, sua reação difere daquela do indivíduo que é discriminado por preconceito de origem, conforme con-tinua a reflexão de Oracy Nogueira:

[...] onde o preconceito é de marca, a reação tende a ser individual, procurando o indivíduo "compensar" suas marcas pela ostentação de aptidões e caracterís-ticos que impliquem aprovação social tanto pelos de sua própria condição racial (cor) como pelos compo-nentes do grupo dominante e por indivíduos de mar-cas mais "leves" que as suas; onde o preconceito é de origem, a reação tende a ser coletiva, pelo reforço da solidariedade grupal, pela redefinição estética etc (NOGUEIRA, 2007)

Entende-se por “preconceito” uma opinião ou um con-junto de opiniões, às vezes até mesmo uma doutrina completa, que é acolhida acrítica e passivamente pela tradição, pelo costume, ou por uma autoridade de quem aceitamos as ordens sem discussão [...], por inér-cia, respeito ou temor, e a aceitamos com tanta força que resiste a qualquer refutação racional, vale dizer, a qualquer refutação feita com base em argumentos racionais. Por isso se diz corretamente que o precon-ceito pertence à esfera do não racional, ao conjunto das crenças que não nascem do raciocínio e escapam de qualquer refutação fundada no raciocínio. (BOBBIO, 2002: p. 103)

Em 2019, o Brasil celebra os 30 anos da Lei 7.716/89, que defi-ne os crimes resultantes de preconceito racial, determinando a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de discrimi-nação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedên-cia nacional”.

b) Os desafios para uma ética da reciprocidade

Em 21 de março de 2003, através de Medida Provisória conver-tida na Lei nº 10.678, de 23 de maio de 2003, o presidente da República cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) Com efeito, o tema da igualdade é tema recorrente na modernidade, como expressão e exigên-cia de cidadania.

O que as análises em ciencias humanas e sociais têm demons-trado é que o que produz a exclusão não é a situação de po-breza ou de carencia material, mas a mentalidade precon-ceituosa em relação às vítimas dessa situação. Isso pode ser um indicativo da dificuldade em se aceitar a ideia moderna de cidadania, definida por Marshall como “igualdade humana básica” (Marshall, 1967), ou a ideia de uma “ética da reciproci-dade”, desenvolvida por Elisa Reis (REIS, 2000). Com efeito, o preconceito é, seguramente, a mola de impulsiona multiplas formas de violencia.

Estigma. Erving Goffman (1922-1982), antropólogo e sociólogo canadense, parte da categoría estigma para entender determinadas situações depreciativas. Em suas reflexões e análises. “O estigma é a situação do

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA381Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

indivíduo que está inabilitado para a aceitação social plena (GOFFMAN, 1988: p. 7). O estigma, como um pre-conceito, acaba produzindo uma lógica de exclusão.

Um fato social é normal para um tipo social determi-nado, considerado numa fase determinada de seu desenvolvimento, quando ele se produz na média das sociedades dessa espécie, consideradas na fase cor-respondente de sua evolução. (DURKHEIM, 2007: p.65)

As pesquisas relacionadas a essa realidade apontam para a mesma realidade: confrontando um negro pobre com um branco pobre, as chances de ascensão social são muito maio-res para o branco. Todos os indicadores sociais mostram a mesma perversidade.

Com efeito, a superação do etnocentrismo, da discriminação étnica e do “racismo” requer políticas afirmativas da diversida-de. Em outros termos, seremos democracia substancial, e não apenas formal, se houver igualdade de condições ou possibili-dades de as diferentes etnias culturais serem os sujeitos ativos de sua história e não permanecerem vítimas da dominação branca. Portanto, a questão étnica deixa a periferia e passa para o centro, para o coração da democracia brasileira e de seu desenvolvimento.

c) O respeito à diversidade como garantia para paz

“Em primeiro lugar, se hoje existe uma ameaça à paz mundial, esta vem ainda uma vez do fanatismo, ou seja, da crença cega na própria verdade e na força ca-paz de impô-la” (BOBBIO, 1986: p. 38)

E como superar isso?  Não há outro caminho senão a educa-ção democrática, conforme a afirmativa de Bobbio:

“a renovação gradual da sociedade através do livre de-bate das ideias e da mudança das mentalidades e do modo de viver. Apenas a democracia permite a forma-ção e a expansão das revoluções silenciosas.”. (BOBBIO,

1986: p. 40)

30. O crime como fato sociale a violência como problemasociológicoa) Crime como fato social normal

Vivemos em uma sociedade com camadas sociais bem contrastantes, bem definidas. Nos extremos, há os da camada “de cima” e há os da camada “de baixo”; para “os de cima”, existe toda uma rede de proteção; para os outros, a vulnerabilidade, a permanente exposição a toda sorte de desequilíbrios. É nesse contexto de desigualdade que a nossa reflexão sobre a violência está inserida.

Vimos que o objeto de estudo e análise da sociologia é o fato social, marcado pela regularidade, exterioridade, coerção e generalidade. Essas características também encontramos no crime, um fato social normal. A normalidade do fato social vem expressa e verificada na sua continuada presença histó-rica nas sociedades, desde que não extrapole determinados limites.

Contudo, pode haver fatos que extrapolem os limites do acei-tável e tolerável pela ordem social e moral da cultura. Esse é o caso dos fatos sociais patológicos, que devem receber trata-mento especial, para que sejam transitórios.

Sociologicamente, o crime é um ato proibido pela consciên-cia coletiva; portanto, será sempre definido desde o exterior, a partir da consciência coletiva. Nesse sentido, criminoso é aquele que deixou de obedecer às leis do Estado. Dessa viola-ção nasce a sanção. E o objetivo da sanção, inicialmente, não está vinculado à ideia de ressocialização ou de prevenção de crimes futuros, mas consiste, essencialmente, em satisfazer a consciência coletiva. Nessa dinâmica, o castigo repara o sen-timento de todos.

O sentido da violência deve ser procurado menos no interior da subjetividade do ator, e mais a partir do referencial das redes sociais e das coações materiais legítimas onde o indivíduo está colocado. A violência nesse quadro é sempre o outro nome para designar a desigualdade na falta de ligação social. (MARTUC-

CELLI,1999: p.172.

Sociologicamente, trata-se de buscar no âmbito social os ele-mentos explicativos do fenômeno, visto como um fato social. Trata-se de estudar a natureza das relações sociais, situadas em contextos culturais, de onde derivam as múltiplas formas de violência.

“Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais”. (MICHAUD, A Violência, 1989: p. 10-11)

A segunda definição buscamos em Alba Zaluar, em seu artigo “Um debate disperso: violência e crime no Brasil da redemo-cratização”:

Violência vem do latim violentia, que remete a vis (for-ça, vigor, emprego de força física ou os recursos do corpo em exercer sua força vital). Esta força torna-se violência quando ultrapassa um limite ou perturba acordos tácitos e regras que ordenam relações, adqui-rindo carga negativa ou maléfica. É, portanto, a per-cepção do limite e da perturbação (e do sofrimento que provoca) que vai caracterizar um ato como violen-to, percepção essa que varia cultural e historicamente. (ZALUAR, 1999: p. 8 )

Tipos de violência

O tema da violência integra a análise da natureza das ações humanas e das relações sociais que acontecem em contexto.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

382 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

Nessa observação, percebemos que não se trata de vio-lência no singular, mas no plural. São muitas as formas de violência. Se considerarmos as tipologias de violência, são

inúmeros os âmbitos, para os quais o nosso olhar deve fi-car atento: seus atores, seus motivos, suas vítimas, tipos de dano causado etc.

“É tentador encarar explosões de violência coletiva “vinda de baixo” como sintomas de crise moral, de pa-tologias das classes baixas, ou como tantos outros in-dícios de iminente ruptura societal da “lei e da ordem”. (...) Entretanto, a atenta análise comparativa de seu tempo, contexto e desenvolvimento mostra que, lon-ge de expressões irracionais e atávicas de incivilidade, a recente inquietação pública dos pobres urbanos da Europa e da América do Norte constitui uma resposta (socio)lógica à compacta violência estrutural liberada sobre eles por uma série de transformações econômi-cas e sociopolíticas que se reforçam mutuamente.” (WA-

CQUANT, 2001: p. 28-29.)

TIPOS ESPAÇOS MOTIVOS ATORES VÍTIMASFORMAS

DE MANIFESTAÇÃO

AbertaFísica

VermelhaBrancaVisível

InterpessoalColetivaPública

SimbólicaVerbal

Ideológica Invisível

AnônimaPrivada

Auto-infl igida

Privado Público

Rural Urbano

PoliticosReligiosos

ÉtnicosAfi rmação identitária

Orientação sexual

AdolescentesJovensAdultosPolícia

FamiliaresEstado

Crianças Adolescentes

JovensMulheres

IdososHomoafetivos

PobresDesempregados

Imigrantes

FísicaPsicológica

SexualDe GêneroPatrimonial

PrivaçãoAbandono

Socioeconômica

Segundo o Atlas da Violência 2018, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)

“Em 2016, o Brasil alcançou a marca histórica de 62.517 homicídios, segundo informações do Minis-tério da Saúde (MS). Isso equivale a uma taxa de 30,3 mortes para cada 100 mil habitantes, que corresponde a 30 vezes a taxa da Europa. Apenas nos últimos dez anos, 553 mil pessoas perderam suas vidas devido à violência intencional no Brasil. (IPEA, 2018)

31. Pobreza Multidimensional,Desigualdade e Políticas Públicas.a) Pobreza: um problema político, social e econômico

NO texto a seguir, Milton Santos nos prepara para a comple-xidade do tema da pobreza. Para Milton Santos ( 1926- 2001) a realidade da pobreza deve ser tematizada e compreendida como um problema científi co e político. Deve-se buscar uma teorização adequada e evitar posturas reducionistas. Para exemplifi car a natureza política da pobreza, podemos citar co-locar algumas questões: Qual é o nível de desigualdade social-mente aceito? “Quem estabelece as metas do planejamento, é o Estado, a Constituição, são os governos, os ministros,” Quem estabelece a linha que separa pobreza da miséria?

A pobreza não é apenas uma categoria econômica, mas também uma categoria política acima de tudo. Estamos lidando com um problema social. Ora, um problema sintético e complexo não pode ser compre-endido através do estudo isolado de fragmentos de informação. Somente um exame do contexto, respon-sável num dado momento por uma determinada com-binação, pode ser de alguma ajuda para a construção de uma teoria coerente e capaz de servir como base para a ação.[...].

O assunto exige um tratamento dinâmico, no qual todo o conjunto de fatores é levado em conta __ pois do contrário haverá ênfase em soluções parciais que são mutuamente contraditórias. O problema essencial está na estrutura analítica escolhida, ou seja, na tenta-tiva de uma teorização adequada.

As explicações simplistas ou falsas a respeito do que é pobreza e como ela é criada, como funciona e evolui continuam sendo o verdadeiro problema. [...] Há mui-tas maneiras de esquivar-se ao problema da pobreza, seja tratando o assunto como uma questão isolada, seja ignorando que a sociedade é dividida em classes.[...]

Por que existem pobres? Que explicação poderíamos dar a esse problema que tem suscitado uma multipli-cidade de interpretações, as quais, em sua maioria, não fornecem uma explicação satisfatória? (SANTOS,

2013: P. 18-23)

Para salientar a complexidade da pobreza que não cabe em um conceito matemático e estático, Milton Santos recorre à afi rmativa de Buchanan

O termo ‘pobreza” não só implica um estado de priva-ção material como também um modo de vida __ e um conjunto complexo e duradouro de relações e institui-ções sociais, econômicas, culturais e políticas criadas para encontrar segurança dentro de uma situação in-segura.

BUCHANAN, I. Singapore in Southeast Asia. London: Bell and Sons, 1972: p. 225

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA383Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

Para Milton Santos, são exemplos de explicações parciais e in-suficientes as interpretações que reduzem o fenômeno a da-dos climáticos, a questões de educação como relação causal, a insuficiência da produção agrícola, a questões de crescimento demográfico como causa da pobreza urbana. Nessa última in-terpretação, “um raciocínio mecânico conduz a outro: a limita-ção do crescimento demográfico é considerada indispensável á eficácia da manutenção do crescimento econômico” ( SANTOS, 2013: p. 24)

Ao considerar essas múltiplas dimensões para medir a pobre-za, os governos terão melhores condições para pensar políti-cas públicas integradas e mais eficazes.

Nessa obra, o filósofo e economista indiano Amarthya Sen, in-fluenciado pela teoria da justiça de Jonh Rawls, constrói uma reflexão sobre a justiça social fundamentada na ideia de efeti-vas liberdades e capacidades individuais.

Uma ideia constante em suas reflexões consiste em afirmar que o meio e o fim do desenvolvimento deve estar voltado para a expansão das liberdades, removendo os vários tipos de restrições, que no dia a dia da vida prática acabam por reduzir o poder de escolha dos indivíduos e as oportunidades de po-derem agir de modo racional e livre.

Ao pensarmos no que uma pessoa pode efetivamente fazer é condicionado ou influenciado pelas oportunidades econô-micas, sociais, culturais e políticas, pelo seu acesso a uma boa educação escolar, à saúde com qualidade, a um bom nível de segurança e infraestrutura, etc.

b) A má distribuição dos recursos na raiz da pobreza

Na introdução de sua obra, O espaço do Cidadão, Milton Santos de modo sintético afirma a realidade da pobreza em contexto mais abrangente.

MOVIMENTOS SOCIAIS: são ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam for-mas distintas de a população se organizar e expres-sar suas demandas. Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobiliza-ções, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, nego-ciações etc.) até as pressões indiretas para a sociedade (GOHN, 2011: p. 335)

O progresso material obtido nestes últimos anos no Brasil teve como base a aceitação extrema de uma racionalidade econômica exercida pelas firmas mais poderosas, estrangeiras ou nacionais, e o uso extremo da força e do poder do Estado na criação de condições gerais de produção propícias à forma de crescimen-to adotada. Essas condições gerais da produção não se cingiam à criação de infraestruturas e sistemas de engenharia adequadas, mas chegavam à formulação das condições políticas que assegurassem o êxito mais retumbante à conjugação de esforços públicos e pri-vados, no sentido de ver o país avançando, em passo acelerado, para uma forma “superior” de capitalismo. Por isso, a noção de direitos políticos e de direitos in-dividuais teve que ser desrespeitada, se não frequen-temente pisoteada e anulada. Sem esses pré-requisi-tos, seria impossível manter como pobres milhões de brasileiros, cuja pobreza viria de fato a ser criada pelo modelo econômico anunciado como redentor. (SAN-TOS; 2012: 15)

32. Movimentos Sociais e NovosAtores da Sociedade CivilOrganizadaa) Ações coletivas organizadas que emergem como reação

Esse engajamento social e coletivo por reconhecimento de direitos, em busca de uma sociedade justa, caracteriza os mo-vimentos sociais contemporâneos. Dessa forma, não se trata mais de movimentos necessariamente vinculados a uma clas-se social, mas que brotam da sociedade civil organizada.

Se os tradicionais movimentos modernos eram basica-mente movimentos de classe, vinculados a sindicatos, pertencentes ao mundo do trabalho, atualmente o que congrega as pessoas em movimentos sociais é o desejo de ver seus direitos afirmados, a luta pelo reconhecimento do direito das minorias.

Nesse sentido, são exemplos os movimentos feministas, estu-dantis, afrodescendentes, de mobilização pela sustentabilida-de socioambiental, de orientação sexual etc

Em sentido alargado, a ideia de Movimento Social se cons-trói em torno do tema da identidade ou da identificação social, étnica, ideológica, de orientação sexual etc. Assim, trata-se da articulação de sujeitos e atores coletivos que lutam por um projeto, luta que implica superar uma opo-sição ou resistência.

Esses novos movimentos contemporâneos não se prendem a fronteiras geográficas. A possibilidade da conexão transnacio-nal, a partir da sociedade da tecnologia e da informação, traz uma nova faceta a muitos desses movimentos. Um exemplo disso é o Forum Social Mundial, um evento altermundialista; ou seja, um movimento social que propõe alternativas em busca por um outro mundo possível.

33 . Comunidades Quilombolas: sua resistencia e suas lutasa) As dinâmicas de identificação quilombola

De acordo com a Associação Brasileira de Antropologia, o que distingue as comunidades quilombolas é o fato deserem “grupos que desenvolveram práticas de resistênciana manutenção de reprodução de seus modos de vida ca-racterísticos num determinado lugar”. Dessa forma, desdeos 300 anos de escravidão e continuando após a aboliçãoda escravidão no século XIX, as comunidades quilombolastrazem em suas experiências vividas uma brutal e injustarealidade de desigualdade e, no interior desse quadro, vêm compartilhando valores característicos que reforçam suacoesão social.

Uma de suas lutas consiste na conquista da titularidade das terras, assegura pela constituição de 1988.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

384 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

“Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos.”(BRASIL. Constituição Federal. Artigo 68)

O primeiro paradigma, da assimilação, está vinculado ao con-texto do século XVIII, marcado pelo processo de colonização e escravização dos índios, tanto pelas atividades dos colonos quanto pela atuação do catolicismo, que os confinava em al-deias, em reduções missionárias para a evangelização, cate-quese e conversão ao cristianismo. Portanto, é um paradigma decorrente do colonialismo, preso a uma visão etnocêntrica ou eurocêntrica.

b) O direito ao território e ao reconhecimento étnico

Em conformidade com a Constituição da República Federativa do Brasil, ao falar da Ordem Social, no capítulo VIII, artigo 231, vem expresso:

Nesse mesmo sentido, o alcance da definição de comuni-dades remanescentes de quilombos contida no decreto n. 4.887/2003, conjuga a referência à identidade ao uso do ter-ritório:

Art. 2º – Consideram-se remanescentes das comuni-dades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatri-buição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. (Brasil, 2003: art. 2)

As comunidades quilombolas de hoje já não são simples re-manescentes dos quilombos, são formadas por uma identi-dade étnica dinâmica e não mais tão homogênea como no passado. Elas se compreendem e se definem como comunida-de bem viva e atuante, organizada social e politicamente de forma a cultivar sua resistência e sua autonomia.

Ao quilombo contemporâneo deve estar associado uma interpretação mais ampla, não somente de resis-tência no passado, mas, sobretudo, no presente. De um território étnico capaz de se organizar e se repro-duzir diferentemente no espaço geográfico de condi-ções adversas, ao longo do tempo e com resistência para a manutenção da sua forma particular de viver” (ANJOS, 2009: p. 108.).

Seguramente, o exemplo que vem à memória de todos é Zumbi, herói da resistência e da luta do Quilombo de Palma-res, em Alagoas, no Brasil Colônia, em 1600. Sua presença no quilombo de Palmares foi a de um exemplar guerreiro e de líder da comunidade, entre o 1675 e 1695, quando é violen-tamente morto, aos quarenta anos de idade. Sua memória é anualmente celebrada no dia 20 de novembro, que ficou ins-tituído como o dia da consciência Negra, e que hoje integra oficialmente o calendário escolar.

34. Diversidade Indigena e “Terra Livre”a) O Estado brasileiro e as sociedades indígenas

A história das relações entre o Estado brasileiro e so-ciedades indígenas no Brasil tem um percurso em que se podem reconhecer dois paradigmas: o paradigma da assimilação, da dominação e homogeneização cul-tural, e o paradigma do pluralismo cultural, ou melhor, a perspectiva de reconhecimento, da afirmação de uma sociedade nacional multilíngue e pluricultural, vislumbrada pelos princípios constitucionais a partir de 1988. (GUIMARÃES, 2002.)

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocu-pam, competindo à União demarcá-las, proteger e fa-zer respeitar todos os seus bens.

Nas palavras de Kretã Kayngang,:

“Somos mais de 305 povos indígenas no Brasil, não somos iguais, somos povos com culturas e conheci-mentos diferentes, depende de cada um e dos seus interesses a maneira que quer viver”, disse. “A única po-lítica comum para todos se trata de resolver a questão fundiária para acabar com o genocídio desses povos”

http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-12/indigenas-pedem-que-funai-continue-no-ministerio-da-justica . Acesso: 26/12/2018).

c) Por uma nova educação: Intercultural e Bilíngue,Específica e Diferenciada.

O desafio para a educação é a construção de uma concepção na qual a unidade seja concebida como plural. O enfoque nes-sa pluralidade ou interculturalidade do povo brasileiro enfati-za a relação, o intercâmbio de visões de mundo que formam a unidade da nação. Educar para a multiculturalidade e para o diálogo intercultural torna-se compromisso fundamental de todo projeto educativo, especialmente em contexto brasileiro.

O grande desafio para o Estado brasileiro é garantir que as comunidades indígenas tenham seu direito à preservação da sua memória e da sua identidade respeitado e cultivado me-diante um processo de educação voltada para tal finalidade e não refém da matriz etnocêntrica. Para tanto, as Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena esta-belecem que a educação escolar indígena seja “intercultural e bilíngue, específica e diferenciada”.

Há muito tempo as comunidades indígenas vinham exigindo que a educação de seus filhos fosse bilíngue, para que as suas tradições, transmitidas oralmente, fossem preservadas como seu patrimônio cultural. E a esperança renasce quando nos deparamos com orientações e fundamentos que se encami-nham para um novo paradigma que constrói o pensamento e a política para o horizonte da pluralidade cultural, do respeito e da promoção das múltiplas identidades étnicas existentes no país.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA385Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

A Constituição Brasileira reconhece aos índios o direi-to à diferença, isto é, à alteridade cultural, rompendo com a postura com que sempre procurou incorporar e assimilar os índios à "Comunidade Nacional" e que os entendia como categoria étnica e social transitória, fadada ao desaparecimento certo. Com o mais recen-te texto constitucional em vigor, os índios deixam de ser considerados como espécie em via de extinção, sendo-lhes reconhecida sua organização social, costu-mes, línguas, crenças e tradições. À União não mais ca-berá a incumbência de incorporá-los à comunhão na-cional, mas de legislar sobre as populações indígenas, conforme o artigo 22 da Nova Constituição, no intuito de protegê-las.

DIRETRIZES para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena. Brasília: MEC, SEF, 1993. (Cadernos educação básica. Série

institucional, 2).

35. Industria cultural, sob a ótica daEscola de Frankfurt.Entre os temas sobre os quais escola de Frankfurt constrói suas reflexões, encontram-se a sociedade tecnológica altamente desenvolvida e suas implicações na vida dos indivíduos, o tema da razão crítica, ou da crítica a um modelo de razão e de pensamento moderno, uma critica ao frutos que o iluminismo trouxe, entre os quais o fenômeno do totalitarismo.

a) A Dialética do esclarecimento na sociedade tecnológica

Em parceria com Max Horkheimer, Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969) escreve a conhecida obra “Dialética do Iluminismo”, analisando a contemporânea sociedade tecno-lógica. Adorno e Horkheimer concebem “iluminismo” não somente como a era das luzes e o seu movimento de pensa-mento, mas, fundamentalmente, como o próprio caminho que a razão vai traçando na cultura ocidental. Esse caminho seria um caminho de exploração e de manipulação técnica, que tudo busca dominar. Ora, o que esperar como decorrên-cia dessa lógica exploradora e destrutiva?

Se, inicialmente, o iluminismo queria libertar os indivíduos das alienações, das trevas, da menoridade, na prática teria tornado os indivíduos reféns, escravos de uma razão técnica, manipuladora, que tudo reduz a objeto. Assim, a razão filosó-fica teria sido esquecida e em seu lugar teria surgido o que se denomina atualmente de razão instrumental. Segundo essa critica da Escola de Frankurt, a razão que governa a vida da sociedade tecnológica já não seria mais uma razão crítica, dos fundamentos, que discute a finalidade das ações humanas e da própria destinação da vida humana. Ao contrário, uma ra-zão instrumental, razão serva dos interesses econômicos de grandes corporações no interior do sistema capitalista, cujo objetivo está construído em torno do lucro e da exploração.

No texto a seguir, Horkheimer e Adorno criticam o iluminismo pela essência técnica de seu saber, que tudo reduz a objeto de exploração e manipulação.

No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivode livrar os homens do medo e de investi-los na posi-

ção de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamen-to do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substi-tuir a imaginação pelo saber. [...] O entendimento que vence a superstição deve imperar sobre a natureza desencantada. O saber que é poder não conhece bar-reira alguma, nem na escravização da criatura, em na complacência em face dos senhores desse mundo. [...] A técnica é a essência desse saber, que não visa con-ceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital. [...] O que os homens querem aprender da natureza écomo empregá-la para dominar completamente a elae aos homens. Nada mais importa. [...]Doravante, a matéria deve ser dominada sem o re-curso ilusório a forças soberanas ou imanentes, sem ailusão de qualidades ocultas. O que não se submeteao critério da calculabilidade e da utilidade torna-sesuspeito para o esclarecimento. A partir do momentoem que ele pode se desenvolver sem a interferênciada coerção externa, nada mais pode segurá-lo. [...] Oesclarecimento é totalitário.

(ADORNO e HORKHEIMER, 1985: p. 17-19)

Dessa forma, a razão se transforma em razão manipuladora e fabricadora de instrumentos e dos meios adequados à reali-zação dos fins previamente estabelecidos e controlados pelo sistema, através da indústria cultural, que transforma tudo em mercadoria, em objeto para o mercado. Essa razão seria uma razão doente necessitada de ser denunciada,criticada e supe-rada.

b) A atrofia da imaginação e do pensamento critico

Nos fragmentos a seguir, extraídos do texto: “A industria cultu-ral:O Esclarecimento como Mistificação das Massas”, Adorno e Horkheimer expressam a massificação produzida pela indús-tria cultural.

Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontanei-dade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos [...] paralisam essas capacidades em virtude de sua pró-pria constituição objetiva. São feitos de tal forma que sua apreensão adequada exige [...] de tal sorte que proíbem a atividade intelectual do espectador, se ele não quiser perder os fatos que desfilam velozmente diante de seus olhos.[...]

A violência da sociedade industrial instalou-se nos ho-mens de uma vez por todas. Os produtos da indústria cultural podem ter a certeza de que até os distraídos vão consumi-los alertadamente. Cada qual é um mo-delo da gigantesca maquinaria econômica que, desde o início, não dá folga a ninguém, tanto no trabalhoquanto no descanso, que tanto se assemelha ao tra-balho.

A industria cultural permanece a industria da diversão.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

386 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

[...] O poder da industria cultural provém de sua iden-tificação com a necessidade produzida. [...] A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tar-dio. Ela é procurada por quem quer escapar ao proces-so de trabalho mecanizado, para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo. [...] Ao processo de trabalho na fábrica e no escritório só se pode escapar adaptan-do-se a ele durante o ócio. [...]

(ADORNO e HORKHEIMER, 1985: p. 104-113)

O consumidor moderno integra e assume esponta-neamente esta obrigação sem fim: comprar a fim de que a sociedade continue a produzir, a fim de se poder pagar aquilo que foi comprado [...]. Em cada homem o consumidor é cúmplice da ordem de produção e sem relação com o produtor – ele próprio simultaneamen-te – que é vítima dela. Esta dissociação produtor-con-sumidor vem a ser a própria mola da integração: tudo é feito para que não tome jamais a forma viva e crítica de uma contradição.

BAUDRILLARD, J. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva 2006, p. 169-17036. A mídia de massa e o

consumismoA hiper-realidade do consumo, sob a ótica de Jean BAUDRILLARD

O sociólogo francês Jean Baudrillard (1927–2007) concentrou suas análises sobre os impactos da comunicação e das mí-dias na vida das pessoas, nas sociedades contemporâneas ou pós-modernas. Sua obra deve ser lida nesse contexto de ca-pitalismo avançado, de elevado poder técnico e tecnológico, onde impera uma comunicação de massa, repleta de imagens e códigos.

Seu pensamento ganhou notoriedade a partir da revolução estudantil de maio de 68, na França. Nesse momento históri-co, percebe-se a influência que recebeu do pensamento anti-capitalista de Karl Marx. Progressivamente, seu pensamento vai se especificando no tema do consumo.

Superando a teoria econômica clássica, que afirmava que os objetos possuíam um valor de uso e um valor de troca, Bau-drillard acentua o valor de signo que os objetos passam a assumir, pois, o atribuem um determinado status aos seus proprietários.

Nessa sociedade pós-moderna, o consumo aparece como uma necessidade. Mas, na verdade, é uma realidade criada, uma hiper-realidade, que nunca entra em saturação ou satis-fação. A ideia central de Baudrillard é a de que o objeto de consumo, além do valor de uso e de troca, tem um valor sim-bólico. Nessa abordagem, o olhar sobre o objeto não é consi-derado somente como mercadoria e objeto de uso, mas como signo, portador de mensagem.

A sociedade pós-moderna é marcada pelo marketing e pela publicidade, que vendem estilos de vida, ideais a serem per-seguidos. Por isso, ao desejarmos um objeto de consumo, não é somente o objeto que desejamos, mas a inserção em um modo de vida, consumimos uma ideia, um sistema. Para Bau-drillard, o consumo deve ser visto dentro de uma ordem ou de uma lógica social. Assim, o consumo não é uma realidade individual, mas algo socialmente instituído, um estilo coletivo de vida, um sistema de valores que fornece sensação de per-tencimento a uma coletividade. Em decorrência dessa impul-sividade consumidora, somos inundados por objetos. Somos rodeados não por pessoas, mas por objetos sempre mais de-sejados, e nos objetos, consumimos marcas.

Nessa lógica, os meios de comunicação desempenham um importante papel, uma vez que a inundação de imagens e mensagens acaba criando uma banalização que nos afasta da realidade, negando-a.

“A imagem, o signo, a mensagem, tudo o que ‘consu-mimos’ é a própria tranquilidade selada pela distância em relação ao mundo, o que ilude, mais do que com-promete, a alusão violenta ao real”.

BAUDRILLARD, J. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva 2006, p. 2.

Nesse distanciamento da vida real, produzido pela indústria cultural, indivíduos são induzidos ao consumo inconsciente-mente, por uma pressão social. Por essa razão, questiona-se a liberdade no interior do ato de consumir. O consumo acontece impulsivamente, como uma comunicação em massa. Assim, a sociedade de consumo se comunica por meio dos objetos de consumo, signos, marcas.

O consumo se torna o fim almejado. Para tanto a produção de objetos e o próprio trabalho estão orientados para esse consumo. Assim, os indivíduos são condicionados pelo siste-ma a buscarem e assumem um sistema de valores que cria a “cultura do simulacro”, da sombra, da imagem, da marca, da exterioridade, da ilusão.

b) O Consumismo inconsequente e insustentável, na óticade Zygmunt BAUMAN.

Sem a repetida frustração dos desejos, a demanda de consumo logo se esgotaria e a economia voltada para o consumidor ficaria sem combustível. [...]

Bombardeados de todos os lados por sugestões de que precisam se equipar com um ou outro produto fornecido pelas lojas se quiserem ter a capacidade de alcançar e manter a posição social que desejam, de-sempenhar suas obrigações sociais e proteger a auto-estima __ assim como serem vistos e reconhecidos por fazerem tudo isso __, consumidores de todos os sexos, todas as idades e posições sociais irão sentir-se inade-quados, deficientes e abaixo do padrão a não ser que respondam com prontidão a esses apelos.

BAUMAN, Zygmunt. A vida para o consumo. A transformação das pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008,

p. 64-65. 74

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA387Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

“Nada no mundo se destina a permanecer, muito me-nos para sempre [...] nada é necessário de fato, nada é insubstituível [...] tudo deixa a linha de produção com um prazo de validade afixado [...] A modernidade líqui-da é uma civilização do excesso, da superfluidade, do refugo e da sua remoção”.

BAUMAN, Zygmunt. A cultura do lixo. In: Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004, pág.120

aparência e a afirmação de toda a vida humana - isto é, social- como simples aparência”

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo – Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de

Janeiro: Contraponto, 1997. p.14.16

Vejamos um fragmento do livro da psicóloga Maria de Fátima Vieira Severiano 

Na idealização, o sujeito, ao fascinar-se pelo objeto fetichizado, cria um estado a-conflitivo, no qual toda falta está ausente. Esse movimento regressivo da psi-que, aos moldes do ego narcísico primitivo, de natu-reza conservadora, gera uma atitude de imobilidade e ausência de qualquer negatividade ou crítica. Pro-vavelmente, essa pseudocompletude fornecida pelo “fascínio” do objeto-fetiche é um dos principais res-ponsáveis pelo poder de sedução que a “marca” exerce e os mass media em geral, sobre seus consumidores, fornecendo-lhes “prestígio” e “personalidade”, atenu-ando e gerenciando conflitos.

SEVERIANO, M. F. V. Narcisismo e publicidade: uma análise psicossocial dos ideais do consumo na contemporaneidade. 2ª

edição. São Paulo: Annablume, 2007.p.222

c) A Sociedade do espetáculo, na ótica de Guy Debord

Guy Debord (1931-1994) é um escritor francês, que influenciou muito o movimento estudantil nas manifestações de maio de 68. Seus escritos difundem a teoria crítica sobre a sociedade do espetáculo. O contexto de sua vida e época, especialmente após a segunda guerra mundial, foi marcado pela popularização de máquinas que projetavam imagens, como a câmera fotográfica, cinema e televisão. Por essa razão, o espetáculo já se tornava algo comum; contudo, não a crítica à sociedade do espetáculo que estava sendo construída.

Debord escreve, em 1967, sobre o capitalismo após a segunda guerra, e faz uma análise crítica desse capitalismo tardio, fun-damentado nas análises de Karl Marx, servindo-se dos concei-tos de alienação, fetichismo da mercadoria e coisificação do indivíduo. Na análise de Debord, a sociedade capitalista é uma sociedade de mercadorias. Nela tudo adquire a forma de mer-cadoria. Essa formatação é uma exigência da sociedade do espetáculo, que requer representações, aparências.

O conceito de espetáculo traduz o espírito de fruição, de prazer fugaz, de consumo exacerbado de imagens e marcas. Não é o espaço do diálogo e da transparên-cia, mas da separação, da manipulação e da ilusão. Esse conceito pressupõe a separação entre o ator e o público. Assim, trata-se de uma metáfora. É algo muito mais profundo do que uma mera crítica ao que se as-siste nos programas de televisão, por exemplo.

Para Debord, “o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade”, [...] “é a afirmação da

É importante pensar nessa ideia do espetáculo que implica separação. Com isso, compreenderemos melhor a ótica de Karl Marx que está no fundamento da reflexão de Debord. Por exemplo, considerando o cotidiano do trabalhador, existem muitas separações: Inicialmente, o trabalhador vende a sua força de trabalho; posteriormente, aconteça a alienação do produto do seu trabalho; encontramos, ainda, entre outras, a separação entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores. No espetáculo, existe a separação entre o ex-pectador e o ator.

O espetáculo é a ideologia por excelência, porque expõe e manifesta na sua plenitude a essência de qualquer sistema ideológico: o empobrecimento, a submissão e a negação da vida real. O espetáculo é, materialmente, «a expressão da separação e do afas-tamento entre o homem e o homem». O «novo pode-rio do embuste» que se concentrou aí tem a sua base nesta produção pela qual «com a massa dos objetos cresce... o novo domínio dos seres estranhos aos quais o homem está submetido». É o estádio supremo duma expansão que virou a necessidade contra a vida. «Anecessidade de dinheiro é, portanto, a verdadeira ne-cessidade produzida pela economia política, e a única necessidade que ela produz» (Manuscritos económi-co-filosóficos). O espetáculo alarga a toda a vida social o princípio que Hegel concebe como o do dinheiro; é«a vida do que está morto movendo-se em si própria».[...]. A necessidade de imitação que o consumidor sen-te é precisamente a necessidade infantil, condiciona-da por todos os aspectos da sua despossessão funda-mental [...]

DEBORD. G. A sociedade do espetáculo. Cap. IX: A ideologia materializada. n. 215. 219

Essa tendência ao espetáculo, como objetivo buscado, verifi-ca-se nos “reality shows”, programas de auditório, programas e publicações que buscam reproduzir cenas e fatos de pes-soas comuns. Nesses programas, indivíduos desconhecidos rompem o anonimato e são transformadas em celebridades. Vai-se do vazio à fama, num piscar de olhos.

Nessa massificação social, os meios de comunicação fortale-cem a sociedade do espetáculo, mediante a excessiva explo-ração da vida privada, das emoções e dos sentimentos, mani-pulando e banalizando o cotidiano das pessoas, gerando um processo de alienação.

37: A CRISE AMBIENTAL e A SOCIEDADE DE RISCOA modernidade reflexiva e a sociedade do risco em Ulrich Beck

Ulrich Beck ( 1944-2015) desenvolveu a teoria da moderniza-ção reflexiva, na qual defende a tese de que na modernidade

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

388 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

se configurou uma sociedade de risco, como uma forma de reação às decorrências destrutivas dos processos de industria-lização e modernização. E considerando que as decorrências desses processos são globais, também vem se tornando cada vez mais global a modernização reflexiva.

Segundo Beck a modernidade pode ser concebida em duas etapas. A primeira fase seria marcada pela modernidade como rompimento com o passado, inaugurando um espírito otimista, de quem crê na razão humana e na liberdade como potenciais emancipadores, capazes de construir uma nova sociedade, livre das alienações típicas do passado medieval. Na reflexão de Beck, as instituições criadas nessa primeira fase fracassaram. E cita, como exemplo, concepção positivista de progresso linear infinito, a luta de classes como geradora de emancipação do proletariado, o Estado-nacional capaz de ge-rar um Bem-estar social.

A segunda fase seria propriamente a sociedade de risco, cons-tituída pelas decorrências desse processo técnico e científico de intervenção humana sobre o mundo natural e o universo cultural. E é aqui que se entende a noção do risco, uma vez que o futuro é sempre imprevisível e seus efeitos incontrolá-veis, embora sejam uma decorrência das ações humanas no presente. Nessa segunda fase emergem o cálculo de risco, o princípio do seguro e da compensação diante dos riscos futu-ros, que são perigos fabricados pelo processo de industriali-zação. A partir da sociologia de Beck, evidencia-se a realidade do risco como uma marca da modernidade ocidental. A nova condição humana, neste século XXI, tem como característica mais radical a incerteza decorrente desses riscos incalculáveis e imprevisíveis. Dessa forma, o risco torna-se princípio organi-zador da sociedade moderna e cria uma nova ética vinculada ao ideal de vida possível.

Na sociedade de risco, a ciência e tecnologia já não mais são vistas como instituições que conseguem prever e controlar os efeitos das ações humanas. E aqui está um das mais significa-tivas contribuições de Beck: a sociologia do risco ou a análise sociológica sobre a realidade do risco, afastando-se de uma perspectiva positivista e do império das ciências da natureza.

Considerando as mudanças climáticas, a crise ambiental, o fe-nômeno do terrorismo, as crises financeiras, evidenciam-se os riscos globais, para além de qualquer fronteira. Nessa nova condição de ameaça e risco que caracteriza as sociedades do século XXI, e que afeta democraticamente a todos, forma-se a reflexividade, a crítica contra uma forma de razão que impe-rou na primeira fase da modernidade, a razão técnico-cientí-fica, razão instrumental, que transforma tudo em meio para atingir fins econômicos.

Assim, os efeitos não planejados e não desejados do progres-so negam o principio da linearidade e da previsibilidade desse mesmo progresso. Esse “voltar-se contra”, essa ideia de efeitos não projetados que negam o otimismo da primeira fase da modernidade constitui o sentido mais forte de reflexividade, conforme pensado por Beck. Mais do que a Idea de uma re-flexão pessoal sobre si, trata-se de reação aniquiladora da pró-pria modernidade sobre si mesma.

38. Bioética: Ética aplicada à vida.

Em todas as culturas, em suas diferenças, a análise dos concei-tos de vida e morte é decisiva para a compreensão da concep-ção de pessoa que existe em determinada cultura.

Embora em nossa sociedade ocidental, essas concepções es-tejam profundamente vinculadas à tradição religiosa judaico-cristã, o moderno processo de secularização fez com que a definição de vida e morte migrasse da esfera religiosa para a esfera da ciência, da biologia especificamente.

A história ocidental contemporânea, especialmente no perío-do entre guerras, assistiu a várias experiências científicas rea-lizadas em seres humanos, sem levar em consideração o tema da dignidade humana e tampouco ponderar sobre os limites éticos das ciências.

Com o avanço das tecnologias aplicadas à área da saúde, sur-gem novos desafios que necessitam de ser tematizados. Nes-se contexto, surge a bioética, um saber interdisciplinar, um estudo sistemático da conduta humana, que considera como objeto de estudo os conflitos éticos e morais resultantes da pesquisa envolvendo seres humanos.

O surgimento das novas tecnologias aplicadas ao diagnóstico e prolongamento da vida fomentam o debate sobre o início e o fim da vida. Hoje, tornou-se possível prolongar “artificial-mente” a vida, com respiradores artificiais. Tornou-se possível a reprodução assistida, a intervenção com os transplantes de órgãos vitais.

Princípios da bioética

Três são os princípios fundamentais da bioética: beneficência e não maleficência; o respeito à autonomia do paciente; a jus-tiça. Como se relacionam esses princípios? Os princípios da bioética articulam três dimensões: o profissional da saúde, o paciente e o Estado.

Aplica-se ao profissional em saúde os principio da bene-ficência e não maleficência e do o respeito à autonomia do paciente, devendo ele socorrer sempre e não causar dano in-tencional; maximizando os benefícios e minimizando os riscos potenciais para o paciente; além de buscar o consentimento do paciente e ou de seus familiares, no caso de o paciente não estar em condições de comunicar sua vontade. Quanto ao princípio da justiça, o Estado e os governos têm o dever de zelar por políticas de saúde que garantam a equidade, a igualdade de acesso aos melhores tratamentos.

Toda essa temática da bioética fica ainda mais polêmica uma vez que ela vem inserida no tema dos direitos individuais, dos direitos sobre os usos que a pessoa poderá fazer de seu pró-prio corpo. Por exemplo, a mulher tem o direito de interrom-per uma gestação? Nessa polêmica, a análise enfrentará duas óticas: as posições ou vertentes vinculadas às religiões e as da sociedade laica, da sociedade civil.

A BIOÉTICA é um discurso sobre a tolerância. Com o reconhecimento da pluralidade moral da humanida-de, e da ideia de que diferentes crenças e valores re-gem temas como o aborto, a eutanásia ou a clonagem, tornou-se imperativa a estruturação de uma nova dis-ciplina acadêmica que reflita sobre esses conflitos, fre-quentes no campo da saúde.

DINIS, Débora; GUILHEM, Dirce. O que é bioética. São Paulo: editora Brasiliense, 2001

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA389Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

EXERCÍCIOS1. A categoria movimentos sociais tem ocupado lugar privi-legiado na teoria sociológica clássica e contemporânea. Suaanálise baseia-se nas tensões da sociedade, na identificaçãode mudança e na passagem de um estágio de integração para outro por meio da transformação induzida por atores cole-tivos. (...). Alberto Melucci , por exemplo, considerou que nasociedade moderna a existência de sujeitos sociais extrapola a categoria das classes sociais, à medida que a posição do sujei-to nas relações de produção não determina, necessariamente, suas outras posições com relação às questões ambientais, dedireitos humanos, etc. Por essa razão, esse autor propõe focali-zar a análise sociológica dos movimentos sociais na categoriade ações coletivas. (...) Um resultado desse processo é que aorganização desses movimentos pela ampliação dos direitosde cidadania, por exemplo, se realiza de forma mais espontâ-nea na esfera da cultura, isto é, à margem dos sindicatos e dos partidos políticos.

DIMENSTEIN, Gilberto. Dez lições de sociologia para um Brasil cidadão. São Paulo: FTD, 2008. P.253.

A partir do trecho acima, a identidade e a função dos novos movimentos sociais expressa que

a) a identidade dos novos atores é essencialmentedeterminada pela estrutura social que determina a forma de pensamento especifica dos indivíduos de cada grupoe os mobiliza para a ação.

b) a identidade dos novos grupos sociais que atuam comosujeitos de transformação social encontra seu elementocentral na primazia das relações econômicas.

c) na sociedade pós-industrial, os movimentos sociais,como o feminista e o ecológico, realizam uma revoluçãoem sua identidade, que se desloca da categoria de classe para a esfera cultural.

d) o elemento comum aos movimentos sociais, nos séculos, XIX, XX e XXI é a reação contra a exploração realizada pela classe dominante sobre a classe dos trabalhadores.

e) a identidade democrática de nosso modelo políticoe cultural ainda não se tornou visível na natureza dosnovos movimentos sociais. ]

2. (UNICENTRO, 2019) “Movimentos sociais são ações socio-políticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certoscenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil.As ações se estruturam a partir de repertórios criados sobretemas e problemas em conflitos, litígios e disputas vivencia-dos pelo grupo na sociedade.”

GOHN, M.G. Teoria dos Movimentos Sociais. São Paulo: Loyola, 1997. Apud TASCNHER, Gisela. Cultura do consumo, cidadania e movimentos sociais. In:

Ciências Sociais Unisinos 46(1):47-52, janeiro/abril 2010, p. 49.

 Acerca dos movimentos sociais, é correto afirmar que, no Bra-sil,

a) os movimentos sociais foram substituídos pelos partidos políticos que, a partir de 2004, passaram a monopolizaras demandas de movimentos como o MST (Movimentodos Trabalhadores Sem Terra). 

b) o único movimento social revolucionário ainda atuante é o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). 

c) o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST),especialmente em São Paulo, não pode ser caracterizado como um movimento social, pois visa apenas à obtenção de moradia para os seus membros.

d) os movimentos sociais caracterizam-se pela abrangência das causas defendidas por diferentes atores sociaiscoletivos. 

e) os movimentos sociais são ações sociopolíticasconstituídas por atores sociais coletivos pertencentesunicamente à classe dos trabalhadores rurais sem terra eao movimento dos sem teto.

3. (ENEM 2015) Não nos resta a menor dúvida de que a prin-cipal contribuição dos diferentes tipos de movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstru-ção do processo de democratização do país. E não se trataapenas da reconstrução do regime político, da retomada dademocracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstru-ção ou construção de novos rumos para a cultura do país, dopreenchimento de vazios na condução da luta pela redemo-cratização, constituindo-se como agentes interlocutores quedialogam diretamente com a população e com o Estado.

GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003 (adaptado).

No processo da redemocratização brasileira, os novos movi-mentos sociais contribuíram para

a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticosentão criados.

b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa osmomentos eleitorais.

c) difundir a democracia representativa como objetivofundamental da luta política.

d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades detrabalhadores com os sindicatos.

e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociaisfrente ao Estado

4. (UFU, 2008) Movimentos e ONGs cidadãs têm se reveladoestruturas capazes de desempenhar papéis que as estruturasformais, substantivas, não têm conseguido exercer enquantoestruturas estatais, oficiais, criadas com o objetivo e o fim deatender a área social.

GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997. p. 303.

A respeito do papel político dos novos movimentos sociais e das organizações não governamentais no contexto brasileiro, marque a alternativa correta.

a) Os novos movimentos sociais surgiram no Brasil em umcontexto marcado pelo autoritarismo e pela exiguidadede espaços democráticos de participação política.

b) Em seus primórdios, na década de 1970, os novosmovimentos sociais constituíram-se como uma extensão do aparato estatal na sociedade civil.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

390 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

c) As bandeiras de luta defendidas pelos novos movimentos sociais, desde os anos 1970, limitam-se à problemáticatrabalhista e sindical.

d) Coube aos novos movimentos sociais, desde seuflorescimento nos anos 1970, reforçar as práticas eestruturas de poder centralizadas em torno do Estado.

5. Aos remanescentes das comunidades dos quilombosque estejam ocupando suas terras é reconhecida a proprie-dade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivostítulos.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 68 do Ato das disposições Constitucionais Transitórias.

A partir desse fragmento, considerando o tema e a realidade das comunidades quilombolas no Brasil, infere-se que:

a) a perspectiva histórica, a partir da inclusão socialdas minorias, aponta para o desaparecimento dascomunidades quilombolas.

b) a memória de Zumbi dos palmares é um exemplo queilustra o habitual reconhecimento oficial dos papeisdesempenhados pelos negros na construção da naçãobrasileira.

c) a partir das lutas de Zumbi dos Palmares, o resultadohistórico alcançado no Brasil Colônia foi o reconhecimento definitivo da propriedade e a delimitação das terras dosquilombolas.

d) as características essenciais das comunidadesquilombolas permanecem sendo a resistência a ummodelo de sociedade e a busca pelo cultivo suaidentidade, em uma terra própria.

e) as comunidades quilombolas devem atualmente servistas como comunidades de negros fugidos, refugiadose distanciados da vida cotidiana da sociedade.

6. (ENEM( 2017) A luta contra o racismo, no Brasil, tomou um rumo contrário ao imaginário nacional e ao consenso científi-co, formado a partir dos anos 1930. Por um lado, o Movimento Negro Unificado, assim como as demais organizações negras,priorizaram em sua luta a desmistificação do credo da demo-cracia racial, negando o caráter cordial das relações raciais eafirmando que, no Brasil, o racismo está entranhado nas re-lações sociais. O movimento aprofundou, por outro lado, suapolítica de construção de identidade racial, chamando de “ne-gros” todos aqueles com alguma ascendência africana, e nãoapenas os “pretos".

GUIMARÃES, Antônio. S. Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2012.

A estratégia utilizada por esse movimento tinha como obje-tivo

a) eliminar privilégios de classe.

b) alterar injustiças econômicas.

c) combater discriminações étnicas.

d) identificar preconceitos religiosos.

e) reduzir as desigualdades culturais.

7. (ENEM-2001) Os textos referem-se à integração do índio àchamada civilização brasileira.

I. “Mais uma vez, nós, os povos indígenas, somos vítimas deum pensamento que separa e que tenta nos eliminar cultural, social e até fisicamente.A justificativa é a de que somos ape-nas 250 mil pessoas e o Brasil não pode suportar esse ônus.(…) É preciso congelar essas idéias colonizadoras, porque elas são irreais e hipócritas e também genocidas.(…) Nós, índios,queremos falar, mas queremos ser escutados na nossa língua, nos nossos costumes.”

Marcos Terena, presidente do Comitê Intertribal Articulador dos Direitos Indígenas na ONU e fundador das Nações Indígenas, Folha de S. Paulo, 31 de

agosto de 1994.

II.  “O Brasil não terá índios no final do século XXI (…) E porque isso? Pela razão muito simples que consiste no fato de o índio brasileiro não ser distinto das demais comunidades pri-mitivas que existiram no mundo. A história não é outra coisasenão um processo civilizatório, que conduz o homem, porconta própria ou por difusão da cultura, a passar do paleolítico ao neolítico e do neolítico a um estágio civilizatório.”

Hélio Jaguaribe, cientista político, Folha de S. Paulo, 2 de setembro de 1994. 

Pode-se afirmar, segundo os textos, que

a) Tanto Terena quanto Jaguaribe propõem idéias inade-quadas, pois o primeiro deseja a aculturação feita pela “ci-vilização branca”, e o segundo, o confinamento de tribos.

b) Terena quer transformar o Brasil numa terra só de ín-dios, pois pretende mudar até mesmo a língua do país,enquanto a idéia de Jaguaribe é anticonstitucional, poisfere o direito à identidade cultural dos índios.

c) Terena compreende que a melhor solução é que os bran-cos aprendam a língua tupi para entender melhor o quedizem os índios. Jaguaribe é de opinião que, até o final do século XXI, seja feita uma limpeza étnica no Brasil.

d) Terena defende que a sociedade brasileira deve respeitar a cultura dos índios e Jaguaribe acredita na inevitabilida-de do processo de aculturação dos índios e de sua incor-poração à sociedade brasileira.

e) Terena propõe que a integração indígena deve ser lenta,gradativa e progressiva, e Jaguaribe propõe que essa in-tegração resulte de decisão autônoma das comunidadesindígenas.

8. (UFMG) Leia o texto.“A língua de que [os índios] usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos difere emalgumas partes; mas não de maneira que se deixem de en-tender. (...) Carece de três letras, convém a saber, não se achanela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assimnão tem Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desor-denadamente (...)."  (GANDAVO, Pero de Magalhães, História da Provínciade Santa Cruz, 1578.)

A partir do texto, pode-se afirmar que todas as alternativas expressam a relação dos portugueses com a cultura indígena, exceto:

a) A busca de compreensão da cultura indígena era umapreocupação do colonizador.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA391Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

b) A desorganização social dos indígenas se refletia noidioma.

c) A diferença cultural entre nativos e colonos era atribuídaà inferioridade do indígena.

d) A língua dos nativos era caracterizada pela limitaçãovocabular.

e) Os signos e símbolos dos nativos da costa marítima eram homogêneos

9. (ENEM 2009) Um certo carro esporte é desenhado na Ca-lifórnia, financiado por Tóquio, o protótipo criado em Wor-thing (Inglaterra) e a montagem é feita nos EUA e México, com componentes eletrônicos inventados em Nova Jérsei (EUA),fabricados no Japão. (…). Já a indústria de confecção norte--americana, quando inscreve em seus produtos ‘made in USA’, esquece de mencionar que eles foram produzidos no México,Caribe ou Filipinas. (Renato Ortiz, Mundialização e Cultura)

O texto ilustra como em certos países produz-se tanto um car-ro esporte caro e sofisticado, quanto roupas que nem sequer levam uma etiqueta identificando o país produtor. De fato, tais roupas costumam ser feitas em fábricas — chamadas “ma-quiladoras” — situadas em zonas-francas, onde os trabalhado-res nem sempre têm direitos trabalhistas garantidos.

A produção nessas condições indicaria um processo de globalização que

a) fortalece os Estados Nacionais e diminui as disparidadeseconômicas entre eles pela aproximação entre um centro rico e uma periferia pobre.

b) garante a soberania dos Estados Nacionais por meioda identificação da origem de produção dos bens emercadorias.

c) fortalece igualmente os Estados Nacionais por meioda circulação de bens e capitais e do intercâmbio detecnologia.

d) compensa as disparidades econômicas pela socializaçãode novas tecnologias e pela circulação globalizada damão-de-obra.

e) reafirma as diferenças entre um centro rico e umaperiferia pobre, tanto dentro como fora das fronteiras dos Estados Nacionais.

10. (ENEM 2015) No final do século XX e em razão dos avan-ços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técni-cas da informação, que passaram a exercer um papel de eloentre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistemauma presença planetária. Um mercado que utiliza esse siste-ma de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa.

SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado).

Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mun-do do trabalho advindas das transformações citadas no texto estão presentes, respectivamente, em:

a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação dalegislação laboral.

b) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento deassociações sindicais.

c) Diminuição dos investimentos industriais edesvalorização dos postos qualificados.

d) Concentração das áreas manufatureiras e redução dajornada semanal.

e) Automatização dos processos fabris e aumento dosníveis de desemprego

11. (Enem PPL 2015) Falava-se, antes, de autonomia da pro-dução significar que uma empresa, ao assegurar uma produ-ção, buscava também manipular a opinião pela via da publi-cidade. Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a pro-dução. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzirem os produtos. Umdado essencial do entendimento do consumo é que a produ-ção do consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dosserviços.

 SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência

universal.

Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no tex-to pressupõe o(a)

a) aumento do poder aquisitivo.

b) estímulo à livre concorrência.

c) criação de novas necessidades.

d) formação de grandes estoques.

e) implantação de linhas de montagem.

12. (Fgv 2015)  A regulamentação dos meios de comunicação tem gerado controvérsias, trazendo à tona a discussão sobreo direito de liberdade de expressão. Recentemente, no Brasil,esse debate se desenvolveu em torno do Marco Civil da Inter-net, sancionado em 2014.

Relacione os princípios do Marco Civil da Internet às normas listadas.

I. NeutralidadeII. PrivacidadeIII. Liberdade de expressão

(     ) O sigilo e a inviolabilidade dos fluxos de comunicação e de conversas armazenadas devem ser garantidos.

(     ) A remoção de conteúdo, para impedir a censura, não fica a cargo do provedor, podendo ser feita mediante ordem judicial.

(     ) As fotos de indivíduos devem ser autorizadas por eles para serem veiculadas em anúncios na rede.

(     ) Os pacotes de dados que circulam pela rede devem ser tratados de forma isonômica, sem distinção por conteúdo, origem, destino ou serviço.

Assinale a opção que mostra a relação correta, de cima para baixo.

Page 83: Determinante - Enem - Sociologia 2019

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

392 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

a) I, III, II e I.

b) II, I, II e III.

c) III, III, I e II.

d) I, II, III e III.

e) II, III, II e I

13. (Unesp 2014) Não somente os tipos das canções de su-cesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente como in-variantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo sóvaria na aparência. O fracasso temporário do herói, que elesabe suportar como bom esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para serem empregados arbitraria-mente aqui e ali e completamente definidos pela finalidadeque lhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já sesabe como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, des-de os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimentodo tema e sente-se feliz quando ele tem lugar como previs-to. O número médio de palavras é algo em que não se podemexer. Sua produção é administrada por especialistas, e suapequena diversidade permite reparti-las facilmente no escri-tório.

(Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. “A indústria cultural como mistificação

das massas”. In: Dialética do esclarecimento, 1947. Adaptado.)

O tema abordado pelo texto refere-se

a) ao conteúdo intelectualmente complexo das produçõesculturais de massa. 

b) à hegemonia da cultura americana nos meios decomunicação de massa.

c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios estatais.

d) ao aspecto positivo da democratização da cultura nasociedade de consumo.

e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de entretenimento.

14. (Unioeste 2017) O ensaio “Indústria Cultural: o esclareci-mento como mistificação das massas”, de Theodor W. Adornoe Max Horkheimer, publicado originalmente em 1947, é con-siderado um dos textos essenciais do século XX que explicam o fenômeno da cultura de massa e da indústria do entrete-nimento. É uma das várias contribuições para o pensamentocontemporâneo do Instituto de Pesquisa Social fundado nadécada de 1920, em Frankfurt, na Alemanha. Um ponto de-cisivo para a compreensão do conceito de “Indústria Cultural” é a questão da autonomia do artista em relação ao mercado.

Assim, sobre o conceito de “Indústria Cultural” é CORRETO afir-mar.

a) A arte não se confunde com mercadoria, e não necessitada mídia e nem de campanhas publicitárias para serdivulgada para o público.

b) Não há uniformização artística, pois, toda culturade massa se caracteriza por criações complexas ediversidade cultural.

c) A cultura é independente em relação aos mecanismos de reprodução material da sociedade.

d) A obra de arte se identifica com a lógica de reproduçãocultural e econômica da sociedade.

e) Um pressuposto básico é que a arte nunca se transforma em artigo de consumo.

15. ( Enem 2018) A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo de definir toda reali-zação humana, uma evidente degradação do ser para o ter. Afase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados da economia, leva a um deslizamento generaliza-do do ter para o parecer, do qual todo ter efetivo deve extrairseu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente de-pendente da força social, moldada por ela.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.

Uma manifestação contemporânea do fenômeno descrito no texto é o(a)

a) valorização dos conhecimentos acumulados.

b) exposição nos meios de comunicação.

c) aprofundamento da vivência espiritual.

d) fortalecimento das relações interpessoais.

e) reconhecimento na esfera artística.

16. (Enem 2014) Para o sociólogo Don Slater, as pessoascompram a  versão mais cara de um produto não porque tem maior valor de uso do que a versão mais barata, mas porquesignifica status e exclusividade; e, claro, esse status provavel-mente será indicado pela etiqueta de um designer ou de uma loja de departamentos.

BITTENCOURT, R. Sedução para o consumo. Revista Filosofia, n. 66, ano VI, dez. 2011.

Os meios de comunicação, utilizados pelas empresas  como forma de vender seus produtos, fazem parte do cotidiano so-cial e têm por um de seus objetivos induzir as pessoas a um(a) 

a) vida livre de ideologias. 

b) pensamento reflexivo e crítico. 

c) consumo desprovido de modismos. 

d) atitude consumista massificadora. 

e) postura despreocupada com estilos. 

17. (Enem 2005) Os plásticos, por sua versatilidade e menorcusto relativo, têm seu uso cada vez mais crescente. Da pro-dução anual brasileira de cerca de 2,5 milhões de toneladas,40% destinam-se à indústria de embalagens. Entretanto, estecrescente aumento de produção e consumo resulta em lixoque só se reintegra ao ciclo natural ao longo de décadas oumesmo de séculos.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA393Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

Para minimizar esse problema uma ação possível e adequada é

a) proibir a produção de plásticos e substituí-los pormateriais renováveis como os metais.

b) incinerar o lixo de modo que o gás carbônico e outrosprodutos resultantes da combustão voltem aos ciclosnaturais.

c) queimar o lixo para que os aditivos contidos nacomposição dos plásticos, tóxicos e não degradáveissejam diluídos no ar.

d) estimular a produção de plásticos recicláveis para reduzir a demanda de matéria prima não renovável e o acúmulo de lixo.

e) reciclar o material para aumentar a qualidade do produto e facilitar a sua comercialização em larga escala.

18.(ENEM 2004) A necessidade de água tem tornado cada vez mais importante a reutilização planejada desse recurso. Entretanto, os processos de tratamento de águas para seu re-aproveitamento nem sempre as tornam potáveis, o que leva a restrições em sua utilização.

Assim, dentre os possíveis empregos para a denominada “água de reuso”, recomenda-se

a) o uso doméstico, para preparo de alimentos.

b) o uso em laboratórios, para a produção de fármacos.

c) o abastecimento de reservatórios e mananciais.

d) o uso individual, para banho e higiene pessoal.

e) o uso urbano, para lavagem de ruas e áreas públicas.

19. (SANEPAR (UFPR -2006) Ao longo do século XX, as pre-ocupações com o meio ambiente adquiriram suprema im-portância. A problemática ambiental, como ficou conhecida,trouxe à tona uma série de críticas à ciência clássica, sendo aprincipal delas sua incapacidade para desvendar as inter-rela-ções de caráter complexo que envolvem o tema. Nesse con-texto, o pensamento sistêmico aparece como uma alternativa ao paradigma mecanicista, sendo que, por volta dos anos 30,a maior parte de seus critérios de importância-chave já tinhasido formulada.

Sobre o tema, considere as afirmativas abaixo.

1. Em qualquer sistema complexo, o comportamento do todo pode ser analisado em termos das propriedades de suas partes. 2. O pensamento sistêmico tem a capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis sistê-micos. 3. Os sistemas vivos são totalidades integradas cujas proprie-dades não podem ser reduzidas às de partes menores. 4. As propriedades das partes não são propriedades intrínse-cas, e só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior.

Assinale a alternativa correta, de acordo com os critérios do pensamento sistêmico.

a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.

20. (SANEPAR ( UFPR -2006) Os problemas ambientais têmquestionado seriamente os fundamentos da ciência moderna e o mesmo tem acontecido com as políticas públicas. Dentrodesse contexto, argumenta-se, por exemplo, que nem os sis-temas internacionais, baseados em Estados soberanos, nem a estrutura de gestão do Estado moderno, baseado em políticas setoriais, teriam condições de abordar corretamente a proble-mática ambiental, devido às características desses problemasque, em sua maioria, são do tipo transnacional e transetorial.Nesse sentido, percebe-se que há um esforço intelectual, ape-sar da diversidade disciplinar e teórica, em encontrar princí-pios (não regras ou receitas) que orientem o processo de to-mada de decisões e implementação de políticas públicas quelevem em consideração o meio ambiente.

Com relação ao tema, assinale a alternativa que está de acordo com os princípios que orientam a implementação de políticas públicas com uma visão ambientalista, democrática e ética.

a) As práticas institucionalizadas pelo Estado deveriammaximizar a ação das instâncias políticas e técnicas, emdetrimento dos canais de participação da sociedade civil, para agilizar a regulação pública ambiental.

b) As políticas ambientais devem ser independentes dasoutras políticas públicas (saneamento, saúde pública,educação, etc.), na medida em que as dimensões naturale social não estão correlacionadas.

c) Um dos fundamentos indispensáveis para agregarpreocupações ecológicas às políticas públicas é a ideiade que a sustentabilidade deve ser abandonada quandoimplicar uma limitação às possibilidades de crescimentoeconômico.

d) As políticas ambientais devem privilegiar a conservaçãodos ecossistemas e restringir o crescimento econômico,porque a preservação natural se sobrepõe às demandaspor desenvolvimento socioeconômico.

e) As políticas ambientais devem estar de acordo como estabelecimento de uma boa qualidade de vidaambiental, baseada numa relação equilibrada entre asociedade e a natureza.

21. ( ENADE, 2011) Em finais do século XIX, com o fortale-cimento do movimento abolicionista e as críticas crescentesà monarquia, uma série de modelos e teorias começavam achegar no Brasil. Positivismo, evolucionismo, determinismose darwinismo social transformavam-se em instrumentos debatalha nas mãos das novas elites intelectuais.

SCHWARCZ, L. M. Racismo à brasileira. Apud: CODATO, A.; LEITE, F. Classe Social. In: ALMEIDA, H. B.; SZWAKO, J. (Orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo:

Berlendis & Vertecchia, 2009.

A respeito do uso das teorias mencionadas no texto como ins-trumentos de batalha intelectual em finais do século XIX no Brasil, conclui-se que

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

394 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

a) preponderou a perspectiva liberal europeia, que orientou a instauração da República e a defesa dos princípios deigualdade e cidadania.

b) o tema do branqueamento racial favoreceu o movimento de instauração da República e dos princípios deigualdade, liberdade e cidadania.

c) a mobilização do positivismo, evolucionismo edarwinismo pelas elites intelectuais do período permitiua superação da naturalização das diferenças sociaispresente no senso comum.

d) a ênfase dada à interpretação racial na formação danação brasileira e na leitura sobre suas potencialidadesfuturas teve como consequência a desqualificação detemas como a cidadania e a igualdade social.

e) a formação de uma elite de médicos e juristas, e o avanço das instituições e do Estado formal possibilitaram asuperação das concepções racistas e dos dilemas sobreo futuro de uma nação formada por uma populaçãomiscigenada.

22. (FUVEST 2009) Trabalho escravo ou escravidão por dívida é uma forma de escravidão que consiste na privação da liber-dade de uma pessoa (ou grupo), que fica obrigada a trabalhar para pagar uma dívida que o empregador alega ter sido con-traída no momento da contratação. Essa forma de escravidãojá existia no Brasil, quando era preponderante a escravidão de negros africanos que os transformava legalmente em proprie-dade dos seus senhores. As leis abolicionistas não se referiram à escravidão por dívida. Na atualidade, pelo artigo 149 doCódigo Penal Brasileiro, o conceito de redução de pessoas àcondição de escravos foi ampliado de modo a incluir também os casos de situação degradante e de jornadas de trabalhoexcessivas.

(Adaptado de Neide Estergi. A luta contra o trabalho escravo, 2007.)

Com base no texto, considere as afirmações abaixo:

I. O escravo africano era propriedade de seus senhores no pe-ríodo anterior à Abolição.

II. O trabalho escravo foi extinto, em todas as suas formas,com a Lei Áurea.

III. A escravidão de negros africanos não é a única modalidade de trabalho escravo na história do Brasil.

IV. A privação da liberdade de uma pessoa, sob a alegação de dívida contraída no momento do contrato de trabalho, não éuma modalidade de escravidão.

V. As jornadas excessivas e a situação degradante de trabalho são consideradas formas de escravidão pela legislação brasi-leira atual.

São corretas apenas as afirmações:

a) I, II e IV

b) I, III e V

c) I,IV e V

d) II,III e IV

e) III,IV e V

23. (FUVEST 2009) O Brasil ainda não conseguiu extinguiro trabalho em condições de escravidão, pois ainda existemmuitos trabalhadores nessa situação. Com relação a tal mo-dalidade de exploração do ser humano, analise as afirmaçõesabaixo.

I. As relações entre os trabalhadores e seus empregadoresmarcam-se pela informalidade e pelas crescentes dívidas fei-tas pelos trabalhadores nos armazéns dos empregadores, au-mentando a dependência financeira para com eles.

II. Geralmente, os trabalhadores são atraídos de regiões dis-tantes do local de trabalho, com a promessa de bons salários,mas as situações de trabalho envolvem condições insalubrese extenuantes.

III. A persistência do trabalho escravo ou semi-escravo noBrasil, não obstante a legislação que o proíbe, explicase pelaintensa competitividade do mercado globalizado.

Está correto o que se afirma Em:

a) I, somente

b) II, somente

c) I e II, somente

d) II e III, somente

e) I,II e III

24. (Enem 2011) A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluino currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental emédio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino so-bre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conte-údo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasilei-ra e o negro na formação da sociedade nacional, resgatandoa contribuição do povo negro nas áreas social, econômica epolítica pertinentes à História do Brasil, além de instituir, nocalendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemo-rativa do “Dia da Consciência Negra”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque

a) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.

b) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.

c) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e suacultura.

d) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso àeducação.

e) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país.

25. (ENEM 2018) “A Declaração Universal dos Direitos Huma-nos está completando 70 anos em tempo de desafios crescen-tes, quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem vivos”, disse a diretora-geral da Organização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), AudreyAzoulay.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA395Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

“Ao final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade inteira resolveu promover a dignidade humana em todos os lugares e para sempre. Nesse espírito, as Nações Unidas adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos como um padrão comum de conquistas para todos os povos e todas as nações”, disse Audrey.

“Centenas de milhões de mulheres e homens são destituídos e privados de condições básicas de subsistência e de opor-tunidades. Movimentos populacionais forçados geram viola-ções aos direitos em uma escala sem precedentes. A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável promete não deixar ninguém para trás __ e os direitos humanos devem ser o alicer-ce para todo o progresso.”

Segundo ela, esse processo precisa começar o quanto antes nas carteiras das escolas. Diante disso, a Unesco lidera a edu-cação em direitos humanos para assegurar que todas as me-ninas e meninos saibam seus direitos e os direitos dos outros

https://nacoesunidas.org/unesco-declaracao-dos-direitos-humanos-chega-aos-70-anos-em-meio-a-desafios-crescentes/ Acesso em: 3 de abril de 2018

(adaptado)

Defendendo a ideia de que “os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso”, a diretora-geral da Unescoaponta, como estratégia para esse fim, a

a) Inclusão de todos na Agenda 2030

b) extinção da intolerância entre os indivíduos.

c) discussão desse tema desde a educação básica.

d) conquista de direitos para todos os povos e nações.

e) promoção da dignidade humana em todos os lugares

26. (Enem, 2011) No Brasil, a condição cidadã, embora de-penda da leitura e da escrita, não se basta pela enunciaçãodo direito, nem pelo domínio desses instrumentos, o que, sem dúvida, viabiliza melhor participação social. A condição cida-dã depende, seguramente, da ruptura com o ciclo da pobreza, que penaliza um largo contingente populacional.

Formação de leitores e construção da cidadania, memória e presença do PROLE. Rio de Janeiro: FBN, 2008.

Ao argumentar que a aquisição das habilidades de leitura e escrita não são suficientes para garantir o exercício da cida-dania, o autor

a) critica os processos de aquisição da leitura e da escrita.

b) fala sobre o domínio da leitura e da escrita no Brasil.

c) incentiva a participação efetiva na vida da comunidade.

d) faz uma avaliação crítica a respeito da condição cidadãdo brasileiro.

e) define instrumentos eficazes para elevar a condiçãosocial da população do Brasil.

27. (ENEM 2018) Em algumas línguas de Moçambique nãoexiste a palavra “pobre”. O indivíduo é pobre quando não temparentes. A pobreza é a solidão, a ruptura das relações familia-res que, na sociedade rural, servem de apoio à sobrevivência.

Os consultores internacionais, especialistas em elaborar rela-tórios sobre a miséria, talvez não tenham em conta o impacto dramático da destruição dos laços familiares e das relações de entreajuda. Nações inteiras estão tornando-se “órfãs”, e a mendicidade parece ser a única via de uma agonizante sobre-vivência.

COUTO, M. E se Obama fosse africano? & outras intervenções. Portugal: Caminho, 2009.

Em uma leitura que extrapola a esfera econômica, o autor as-socia o acirramento da pobreza à

a) Afirmação das origens ancestrais.

b) Fragilização das redes de sociabilidade

c) Padronização das políticas educacionais.

d) Fragmentação das propriedades agrícolas.

e) Globalização das tecnologias de comunicação.

28. Em 1996, a Presidência da República criou o Grupo de Tra-balho Interministerial (GTI) sobre a População Negra. Dessegrupo nasceu a primeira definição do que sejam ações afirma-tivas.Veja a definição:

Ações afirmativas são medidas especiais e temporárias, toma-das pelo Estado e/ou pela iniciativa privada, espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualda-des historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidade e tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, por motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.

GTI/População Negra. Brasília: Ministério da Justiça/Secretaria de Direitos Humanos, 1996. p. 10.

Considerando o conceito apresentado, sobre as ações afirma-tivas afirma-se que elas são

a) estratégias de ação governamental que buscam eliminar as diferenças, em nome do princípio da igualdadefundamental.

b) estratégias de ação política por meio das quais o Estadopretende fortalecer a consciência das vítimas para anecessidade da luta por emancipação.

c) expressões da justiça como equidade, uma vez que oEstado vem em auxílio das minorias que são naturalmente mais fracas e impotentes.

d) medidas históricas especiais e temporárias, no intuitode eliminar ou minimizar as injustas desigualdadesculturalmente construídas.

e) medidas necessárias, que integram essencialmente osistema democrático, pois nele as diferenças sociaistendem a aumentar.

29. Cultura é a dimensão qualitativa de tudo que cria o ho-mem. E o que tem sentido profundo para o homem é semprequalitativo [...] Os objetos de arte, pelo fato de que incorpo-ram uma mensagem que nos toca a sensibilidade, a imagina-ção, com frequência respondem a necessidades profundas de nosso espírito, aplacam nossa angústia de seres a um só tem-po gregários e solitários. O homem, com seu gênio criativo,

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

396 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

dá significação às coisas, e são essas coisas impregnadas de significação que constituem a nossa cultura.

FURTADO, Celso. Ensaios sobre Cultura e o Ministério da Cultura. Organização

Rosa Freire d’Aguiar Furtado. Rio de Janeiro: Contratempo: Centro Internacional

Celso Furtado, 2012. p.51.

Na antropologia cultural, existe um profundo trabalho de in-terpretação e análise da vida e dos hábitos de tribos e comuni-dades, em busca da compreensão da densidade e da comple-xidade de seus modos de vida. Tal procedimento de contato entre pesquisador e pesquisado, com o objetivo de captar va-lores e crenças do grupo cultural pesquisado, a partir dos seus comportamentos cotidianos, recebe o nome de etnografia. Os dois termos gregos que compõem a palavra são etno (povo, grupo cultural) e grafia (escrita). O pesquisador necessita fazer a experiência participante, vivida no interior daquela rede de relações e símbolos que caracteriza a comunidade local.

(MEIER, Celito. Sociologia. ( no prelo)

A partir desses fragmentos, considerando a dimensão cultu-ral do ser humano e os procedimentos de pesquisa cultural, infere-se que

a) A cultura pode ser reconhecida especialmenteobservando-se o caráter quantitativo das obrasproduzidas pelos grupos sociais.

b) A cultura representa uma dimensão antinatural do serhumano, que é essencialmente solitário e individualista,indisposto à dimensão coletiva

c) A etnografia é um procedimento metodológico dasociologia e da antropologia cultural, que consiste empublicar a memória dos povos.

d) A antropologia busca o conhecimento da identidadede uma cultura mediante a experiência participante, naqual o pesquisador mergulha no centro da comunidadee participa de sua vida.

e) Os valores são criações subjetivas e somente como taldevem sempre ser vistos, uma vez que naturalmente não existem valores.

30. A história das relações entre o Estado brasileiro esociedades indígenas no Brasil tem um percurso em quese podem reconhecer dois paradigmas: o paradigma daassimilação, da dominação e homogeneização cultural, e oparadigma do pluralismo cultural, ou melhor, a perspectivade reconhecimento, da afirmação de uma sociedade nacional multilíngue e pluricultural, vislumbrada pelos princípiosconstitucionais a partir de 1988.

GUIMARÃES, Susana Martelletti Grillo. A aquisição da escrita e diversidade

cultural: a prática de professores Xerente. Brasília: FUNAI/DEDOC, 2002.

A Constituição Brasileira reconhece aos índios o direito à di-ferença, isto é, à alteridade cultural, rompendo com a postura com que sempre procurou incorporar e assimilar os índios à "Comunidade Nacional" e que os entendia como categoria étnica e social transitória, fadada ao desaparecimento certo.

DIRETRIZES para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena. Brasília:

MEC, SEF, 1993. (Cadernos educação básica. Série institucional)

A partir desses fragmentos, infere-se que

a) o paradigma que sinaliza a atual relação do EstadoBrasileiro com os povos indígenas é marcado pelaassimilação e pela homogeneidade cultural.

b) o modelo que atualmente predomina na política deEstado é o que busca reconhecer e afirmar a línguabrasileira como elemento essencial da identidadenacional.

c) os povos indígenas estão se encaminhando para seremintegrados à civilização, condição previa para a afirmação de sua dignidade.

d) a concepção que predomina nas culturas ocidentaiscontemporâneas alimenta a ideia da progressiva extinção dos povos indígenas.

e) a tendência na política do Estado brasileiro caminha nadireção do reconhecimento da diversidade dos povose das expressões culturais que constituem a naçãobrasileira.

31. Um povo primitivo não é um povo ultrapassado ou atra-sado; num ou noutro domínio pode demonstrar um espíritode invenção e realização que deixa aquém os êxitos dos civi-lizados.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Tradução e Coordenação de

Maria do Carmo Pandolfo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 122

Quando vemos hoje um índio vestindo bermudas, boné e ca-miseta de time de futebol, é fácil acusá-lo de ter “abandona-do” sua identidade cultural. Esquecemo-nos, porém, que essa identidade cultural não é uma essência pura, que deve ser supostamente “preservada”, e sim um modo de se construir socialmente. Assim, seria melhor vermos a identidade cultural indígena como um conceito em disputa, sujeito a interações com outros grupos sociais e à própria interpretação feita pelos povos indígenas contemporâneos sobre suas origens e suas estratégias políticas

MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luis Fernando Almeida. Pensando com a

Sociologia. Rio de janeiro: Editora FGV, 2009. p. 82

Com base nesses fragmentos e considerando outras informa-ções relacionadas ao teor dessa reflexão, segue que

a) no senso comum já existe uma visão que compreende acultura indígena em sua e complexidade e dinamicidade histórica.

b) posturas evolucionistas e etnocêntricas leram econceberam as culturas dos povos indígenas comoculturas atrasadas, ainda não civilizadas.

c) historicamente, a visão que predomina sobre os povosindígenas é a que os compreende e reconhece comouma etnia brasileira em construção.

d) vem se consolidando no imaginário nacional aconsciência da relatividade e da provisoriedade dasformas históricas de expressão da identidade indígena.

e) cresce a consciência popular de que as culturas indígenas, historicamente vistas como atrasadas, tem aspectos mais evoluídos do que muitos na chamada “civilização”.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA397Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

32. É possível controlar os desvios institucionais? De acordocom a visão de Émile Durkheim, os desvios institucionais sãonormais na vida social [razão de sua proibição] (...) Os desviosinstitucionais produzem a ineficiência do Estado e, por con-seguinte, má alocação dos recursos públicos.(...). O primeiroelemento central é controlar o poder do Estado e proibir aexistência de qualquer forma de privilégio ou abuso de po-der.(...) É essencial para o controle dos desvios institucionais aexistência de mecanismos democráticos presentes no império da lei O Estado deve adotar princípios fundamentais, como oprincípio da publicidade, da moralidade e do dever de ofíciode funcionários públicos e agentes privados. Da mesma ma-neira, é fundamental a participação dos cidadãos nos proces-sos decisórios do Estado, bem como no acompanhamento da implementação de suas politicas públicas.

DIMENSTEIN, Gilberto. Dez lições de sociologia para um Brasil cidadão. São

Paulo: FTD, 2008. P.211

A partir desse texto, relacionando democracia e cidadania, a organização da vida social deve

a) considerar que os governantes, uma vez eleitos, templena autonomia para exercerem os poderes, naconfiança de seus governados.

b) interpretar o principio da publicidade como a necessáriavinculação dos meios de comunicação à esfera estatal.

c) partir do principio de que o governante é soberanopara legislar e aplicar a lei em conformidade com asorientações de sua consciência

d) obedecer ao princípio da soberania popular naimplantação da Vontade Geral, ao serviço da qual osfuncionários do Estado devem estar subordinados.

e) ser regulada pelo regime democrático, pois este defende o princípio da liberdade contra qualquer dispositivo legal restritivo da liberdade individual.

33. A doutrina democrática repousa sobre uma concepçãoindividualista de sociedade [...] Isso explica por que a demo-cracia moderna se desenvolveu e hoje exista apenas onde osdireitos de liberdade foram constitucionalmente reconheci-dos. [...].

Não há dúvida de que a democracia tenha nascido da concep-ção individualista, atomista, da sociedade. Não há também dúvida de que a democracia representativa nasceu do pressu-posto (equivocado) de que os indivíduos, uma vez investidos da função pública de escolher os seus representantes, esco-lheriam os melhores.

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São

Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 23 e 154.

Com base nesse fragmento, sobre a natureza e as históricas realizações da democracia, infere-se que

a) a natureza humana é essencialmente politica e social,razão pela qual a democracia é a forma equivoca degoverno.

b) a naturezas humana é racional e política, razão pela quala consciência amadurecida pela reflexão buscará osmelhores representantes para a coletividade.

c) a consciência política e os ideias do bem comum sãodimensões estranhas à natureza da democracia e doestado democrático de direito.

d) em nome da democracia, exalta-se o individualismo eos esforços políticos convergem para a afirmação daliberdade e dos direitos individuais.

e) o liberalismo é uma visão sistêmica da realidade socialque caminha na contramão de um Estado ou sistemademocrático de governo.

34. Na contramão das tendências dominantes, as políticas deorçamento participativo permitem fortalecer os direitos decidadania e resgatar a importância do espaço político e o sig-nificado dos interesses públicos, e dão início a um processode reforma radical do Estado centrada numa esfera públicarenovada ___ nem estatal, nem privada: pública [...]. Trata-se de reformular a relação dos governos com a cidadania, de colocar as estruturas de governo sob controle direto da população, de levar a cabo uma tentativa de mobilização permanente doscidadãos, apontando para outra forma de Estado, na práticaincompatível não apenas com os modelos políticos liberais,mas com a própria dinâmica do capitalismo, ainda mais emsua fase neoliberal, em que os mecanismos de mercado e deliberdade da propriedade privada primam sobre tudo.

SADER, Emir. Para outras democracias. In: SANTOS, Boaventura de Souza (Org.) Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de

janeiro: Civilização Brasileira, 2009. P. 670.

Com base nesse fragmento, considerando as exigências e o desafio da construção de uma nova forma de Estado e gover-no, afirma-se que

a) a forma de Estado essencialmente presente no modeloliberal caminha na direção da promoção das liberdadesindividuais e da justiça social.

b) a estrutura e a dinâmica do capitalismo, em sua faseneoliberal, universaliza o acesso aos direitos individuais,especialmente ao da propriedade privada.

c) a população deve exercer o controle absoluto e diretodas contas públicas do Estado, sob o risco de se perder o autêntico sentido da democracia.

d) o grande desafio é caminhar na direção de umademocracia verdadeiramente representativa dosinteresses da população.

e) o orçamento participativo é exemplo de política quepossibilita uma conversão do Estado, tornando-o público, aberto e acessível ao cidadão.

35. A desagregação do regime escravocrata e senhorial ope-rou-se, no Brasil, sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que osprotegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Ossenhores foram eximidos da responsabilidade pela manuten-ção e segurança dos libertos, sem que o Estado ou a Igreja ou outra qualquer instituição assumisse encargos especiais, quetivessem por objetivo prepará-los para o novo regime de or-ganização da vida e do trabalho. O liberto viu-se convertido,sumária e abruptamente, em senhor de si mesmo, tornando--se responsável por sua pessoa e por seus dependentes, em-bora não dispusesse de meios materiais e morais para realizar essa proeza nos quadros de uma economia competitiva.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

398 Sociologia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Sociologia

Ciências Sociais em Temas

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Dominus /Edusp. 1970. p.1

Segundo cálculos da Comissão Pastoral da Terra, no Brasil, 25.000 pessoas, a maioria homens semi-analfabetos, entre 25 e 40 anos de idade, trabalham em condições subumanas, sem acesso a água potável, alojamento, salário e com o cerce-amento de outro direito básico: o da liberdade. [...].

http://reporterbrasil.org.br/2006/09/escravos-do-seculo-XXI. Acessado em 20/09/2013.

Com base nesses fragmentos, sobre o fenômeno do trabalho escravo no Brasil e as implicações do processo de desagrega-ção do regime escravocrata infere-se que

a) a Igreja foi a única instituição que deu apoio e proteçãoaos escravos libertados, assegurando-lhes as condiçõesmínimas para a subsistência de uma vida humana.

b) desde que a Princesa Isabel assinou a lei áurea pondofim à escravidão no Brasil, o Estado Brasileiro tem seempenhado em erradicar efetivamente o trabalhoescravo no Brasil.

c) o escravo negro, quando libertado, pode assumircom autonomia moral a construção de sua história e aassistência material de seus dependentes.

d) há uma profunda relação entre a situação atual na qual se encontram negros e brancos no Brasil e a forma como foi feita a desagregação do regime escravocrata.

e) os contrastes étnicos ainda hoje existentes no Brasildevem-se ao fato da diferença e da desigualdadesnaturais que existem entre os seres humanos.

36. A desigualdade é a marca mais expressiva da sociedadebrasileira e apresenta-se como um fenômeno multidimensio-nal, transversal e durável. O perverso resultado que ela produz está associado a um pronunciado estiramento da estruturasocial e tem impacto sobre questões tão relevantes quantoo destino da democracia, a exposição ao risco fatal e a reali-zação da justiça social. Como uma construção social, ela de-pende das circunstâncias e das escolhas realizadas ao longoda história de cada sociedade. Todas as sociedades atuais ex-perimentam desigualdades, que se apresentam em diversasformas: poder, riqueza, renda, prestígio, entre outras; e as suas origens são tão variadas quanto as suas manifestações. O que torna o Brasil um caso especial é a sobrevivência de desigual-dades históricas em meio a um processo de modernizaçãoacelerado. Mais ainda, nossos níveis de desigualdade de renda são extremamente elevados, até mesmo para um continentetão desigual quanto a América Latina.

SCALON, Celi; SANTOS, José Alcides Figueiredo. Desigualdades, classes e Estratificação Social. In: Horizontes das ciências sociais no Brasil: sociologia. São

Paulo: ANPOCS, 2010. P. 79.

Com base nesse fragmento, sobre o fenômeno da estratifica-ção e da desigualdade existente no Brasil afirma-se que

a) a estratificação e a desigualdade são fenômenosuniversalmente presentes nos sistemas democráticos,uma vez que os homens livres são desiguais.

b) a realização da justiça social no Brasil não é incompatível com a desigualdade social, uma vez que os projetos e osesforços individuais são muito diferentes.

c) a desigualdade é uma realidade social multidimensional, transversal e durável, pois é expressão da condiçãohumana.

d) a desigualdade que existe no Brasil é diferenciada emrelação à mundial, pois aqui o elemento religioso édecisivo para a sua aceitação.

e) o contraste que existe no Brasil entre modernização edesigualdade desvela a estrutura injusta que perdura nopaís e que produz a estratificação social.

37. (Uel 2012) Leia

O ser humano, no decorrer da sua existência na face da terra e graças à sua capacidade racional, tem desenvolvi-do formas de explicação do que há no intuito de estabele-cer um nexo de sentido entre os fenômenos e as experiên-cias por ele vivenciados. Essas vivências, à medida que são passíveis de expressão através das construções simbólicas contidas na linguagem, apresentam um caráter eminente-mente social. 

(HANSEN, Gilvan. Modernidade, Utopia e Trabalho. Londrina: Edições Cefil, 1999. p.13.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-mento de Habermas, assinale a alternativa correta.

a) A linguagem, em razão de sua dimensão material,inviabiliza a (re)produção simbólica da sociedade. 

b) As construções simbólicas se valem do apreçoinstrumental e do valor mercantil. 

c) A importância do simbólico na sociedade decorre de sua adequação aos parâmetros funcionais e técnicos. 

d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à formacomo o homem assegura sentido à realidade. 

e) A forma de expressăo dos elementos simbólicos na arena social deve atender a uma utilidade prática

38. Se considerarmos a globalização da nossa economia eo excesso de contingente da população empobrecida nosgrandes centros urbanos, percebemos que as condições paraa permanência da escravidão estão dadas. A mão-de-obrabarata está fartamente disponível como estratégia e fruto dopróprio sistema que dela se alimenta. Esse fenômeno recebeo nome de dumping social; ou seja, a atitude praticada porEstados ou governos que consiste em reduzir drasticamenteo custo da mão de obra, praticando salários de miséria e con-dições desumanas de trabalho, para assim fazer com que seus produtos alcancem o mercado internacional com preços bem competitivos. O custo social disso é alto. [...]

Considerando somente os últimos 500 anos da civilização oci-dental, facilmente percebemos que os modos de produção e de dominação que determinados países exercem sobre ou-tros cria, alimenta e aumenta o fosso entre a riqueza e a pobre-za no mundo. A economia mundial que conhecemos está na raiz da atual situação de desigualdade entre os povos, desde o colonialismo presente na expansão europeia, especialmente de Portugal e Espanha, iniciada século XV. Com sua economia mercantilista e com sua política imperialista, criaram e domi-naram colônias, a serviço do enriquecimento das metrópoles. Inúmeras foram as práticas que criaram e alimentaram depen-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA399Curso Enem 2019 | Sociologia

CAPÍTULO 3Ciências Sociais em Temas

dências de toda espécie da colônia em relação à metrópole, que ainda hoje perduram na economia, na tecnologia, na po-lítica etc.

MEIER, Celito. Sociologia. ( No prelo)

Com base nesse trecho, considerando as formas contemporâ-neas de escravidão, infere-se que

a) o dumping social é uma estratégia politica e economiainternacionalmente praticada com vistas em corrigirdistorções históricas.

b) a fenômeno da globalização que passou a caracterizar aeconomia mundial é a grande oportunidade histórica de erradicar a escravidão contemporânea.

c) a história da civilização ocidental revela que a escravidão é, essencialmente, um fenômeno resultante da naturalagressividade dos indivíduos em sua ânsia por poder.

d) historicamente, a escravidão é uma expressão sociale política vinculada a paradigmas econômicos,que subsistem alimentando perversos vínculos dedependência.

e) a escravidão é uma realidade contemporâneaque subsiste, especialmente, devido à acentuadaconcentração da população nos grandes centrosurbanos.

1 C 11 C 21 D 31 B

2 D 12 E 22 B 32 D

3 B 13 E 23 C 33 D

4 A 14 D 24 E 34 E

5 D 15 B 25 C 35 D

6 C 16 D 26 D 36 E

7 D 17 D 27 B 37 D

8 A 18 E 28 D 38 D

9 E 19 B 29 D

10 E 20 E 30 E

GABARITO