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Page 1: Desventuras da Vida Cristã

Desventuras da Vida Cristã – Resenha

Paulo Marins Gomes

O livro Desventuras da vida cristã é uma compilação de doze textos, escritos alguns por Philip Yanceye outros por Tim Stafford, nos quais eles abordam doze grandes desafios da vida cristã: naturalismo, tentação,competição, culpa, solidão, egoísmo, raiva, obediência, dúvida, oração, legalismo e hipocrisia. Com umalinguagem simples, eles discorrem sobre estas questões de forma descontraída, sempre usando exemplospessoais deles mesmos ou de outros. Em alguns capítulos há também quadros com depoimentos de outraspessoas. Apesar desta simplicidade, suas abordagens não são nada superficiais. Em cada uma destas questõeseles se propõem a apresentar uma forma mais saudável e bíblica possível de encarar a questão.

Um dos pontos fortes do livro é a sinceridade com que os autores encaram as dificuldades da vidacristã. Ao falar sobre o naturalismo, por exemplo, Yancey confessa sua incredulidade em sua juventude e aforma como escarnecia os seus colegas cristãos; mas depois conclui confessando que mesmo hoje, após ter seconvertido, ainda lhe surgem dúvidas eventualmente. Por outro lado, em um capítulo sobre a dúvida, Staffordfala sobre os vários tipos de dúvidas que geralmente surgem na vida de um cristão e conta como ele mesmofaz para lidar com elas. Segundo ele, as dúvidas intelectuais são as mais raras de todas, pois a maioria dasdúvidas, apesar de se manifestarem em forma de perguntas, é na verdade desabafos de quando estamoscansados, tristes, em crise, etc.

Em alguns capítulos a abordagem é a quebra de mitos, como é o caso do capítulo sobre culpa e daquelesobre raiva. No primeiro, Stafford chama a atenção para o erro de confundirmos o reconhecimento da culpa,com o sentimento da culpa. Ou, em outras palavras, o sincero arrependimento com o sentimento de culpaincurável. Segundo ele, Cristo nos mostra que somos realmente culpados, para então nos livrar da culpa. Porisso acusa uma discrepância entre a forma como a bíblia e a maioria das pessoas religiosas lida com a culpa. Amesma coisa acontece com a raiva, como mostra o mesmo autor no outro capítulo. Segundo ele, os cristãostêm errado em tentar reprimir toda forma de ira. O argumento é de que a raiva reprimida só gera um mal domesmo tamanho do mal causado pela raiva manifesta violentamente. A diferença é que quando a ira éreprimida seus efeitos são dissimulados. A atitude correta, então, seria cultivar sabedoria e autocontrole parapoder expressar o descontentamento sem pecar.

Às vezes a questão fica aberta, como é o caso do capítulo sobre a oração. Neste, Yancey debate a grandedúvida causada pelas promessas de Jesus de que “Qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome, crendo,receberão”. Ele admite que na prática isto geralmente não funciona, e por isso muitas pessoas perdem a fé.Para tentar responder a esta questão ele recorre ao contexto desta fala de Jesus, mostra outros textos bíblicossobre oração e ainda os exemplos de oração de Jesus e outras pessoas descritas na Bíblia. Por fim, a suaconclusão é de que a oração deve ser encarada como uma conversa com Deus, onde o objetivo é umrelacionamento íntimo com o Criador, e não uma “lista de pedidos” ou uma fórmula mágica. Entretanto, elereconhece que as palavras “qualquer coisa” são muito claras, e admite que não sabe “porque Jesus usoupromessas tão extravagantes”.

Outros capítulos se destacam pela profundidade com que tratam questões com as quais geralmentelidamos de forma simplista. No capítulo sobre competição, Philip Yancey mostra como a nossa vida émarcada pela competitividade. O nosso vício de classificar as pessoas entre vencedores e perdedores, segundoele, nos impede de amar ao próximo como semelhante. Neste capítulo ele chama a atenção para aquelas

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pessoas “estranhas”, tímidas, etc., que por não nos serem agradáveis são ignoradas por nós, são vistas como“perdedoras”. Yancey conta que sempre se preocupou em ser bem visto, chamar atenção, em estar entre os“vencedores”, mas mudou de atitude quando considerou as bem-aventuranças descritas por Jesus.

Outro tema tratado no livro com rara profundidade é o da obediência. Tim Stafford reafirma anecessidade de obedecermos às autoridades, mas também ressalva que a obediência é devida apenas naquiloem que uma pessoa é autoridade. Por exemplo, um professor é autoridade enquanto professor, mas fora da salade aula os alunos não lhe devem a não ser o respeito que se deve a todo ser humano. Ele toca na questãodelicada da obediência a autoridades más, e convence que esta obediência deve ser observada sempre que nãoconflite com a obediência à autoridade maior que é Deus. Mas o foco do texto é a obediência a Deus. Staffordreconhece que a lei de Deus é impossível de ser cumprida, por sua grande exigência, mas que somoscapacitados por ele mesmo para cumprirmos a sua vontade.

Desventuras da vida cristã trata ainda de vários outros temas, sempre marcado por esta sinceridade,realismo e profundidade. Em geral, a mensagem que fica é a de que a vida cristã realmente não é fácil, e émais complexa do que nos parece no início. Entretanto, é uma jornada que vale a pena, e, apesar deste desafioestar além das nossas capacidades, o que nos dá esperança é a ação de Deus, o Deus Vivo.

YANCEY, Philip; STAFFORD, Tim. Desventuras da vida cristã: as dificuldades existem, mas o final podeser feliz. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.