desenvolvimento rural sustentÁvel: … · debate sobre desenvolvimento no brasil ancorados no novo...
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DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL: POSSIBILIDADE REAL OU UTÓPICA?
Nayara Pasqualotto
UTFPR – Pato Branco [email protected]
Ana Paula Stasiak
UNIOESTE – Francisco Beltrão [email protected]
Danielle Pasqualotto
Resumo O presente artigo faz uma breve discussão a respeito do desenvolvimento rural sustentável, bem como suas possibilidades de real efetivação. Para contemplação de tais questões, são abordados no trabalho, inicialmente o histórico e o conceito de desenvolvimento sustentável, seguindo de uma análise sobre o desenvolvimento rural sustentável. Por fim, são discutidas as reais possibilidades de se atingir um desenvolvimento equitativo no campo, contemplando todas as dimensões necessárias para a sustentabilidade. Desta forma, apresenta-se como alternativas reais para o desenvolvimento rural sustentável o fortalecimento da agricultura familiar, a aposta em novas formas de comercialização, o investimento na escala local de desenvolvimento, entre outras.
Palavras-chave: Desenvolvimento rural sustentável. Agricultura familiar.
Introdução
O debate sobre “desenvolvimento” foi colocado em evidência por dois momentos nas
últimas décadas no Brasil, sendo que o primeiro ocorreu entre os anos 1950 e 1970.
Neste período, impulsionada pelo novo padrão e estilo de vida imposto pelos países
dominantes, a expectativa pelo desenvolvimento estimulou iniciativas em diversas
partes do mundo (NAVARRO, 2001).
Devido ao grande percentual de população vivendo em áreas rurais e a relativa
participação da agricultura na economia, o desenvolvimento rural tornou-se de interesse
social e político. A concepção de desenvolvimento rural foi conduzida sob a óptica da
modernização, visto que esta época foi marcada pelas inovações tecnológicas,
científicas e de produção, comumente denominada Revolução Verde (NAVARRO,
2001).
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O segundo momento, perpassa a década de 1990 e, de acordo com as afirmações de
Navarro (2001), ressurge com um enfoque inverso ao dos anos 1950. De acordo com o
autor, a concepção de desenvolvimento foi colocada novamente em evidencia devido às
inquietudes da sociedade em relação às impossibilidades de desenvolvimento
acarretadas pela grande crise ambiental, social e econômica do período.
Para o sociólogo Sérgio Schneider (2007), esta década representou o ressurgimento do
debate sobre desenvolvimento no Brasil ancorados no novo cenário político e
econômico que surgia. Após a estabilização da economia e a baixa nos índices de
inflação no governo de Fernando Henrique Cardozo, houve a retomada das discussões a
respeito do desenvolvimento do país.
A organização social, através do surgimento de cooperativas, associações e ONG’s
(organizações não governamentais) começam a ganhar força, reivindicando melhorias
tanto em áreas urbanas como rurais. Desta forma, pode-se afirmar que “a sociedade civil
readquiriu e ampliou a diversidade de formas de expressão de sua complexidade política
o que, sem surpresa, acaba estimulando conflitos e disputas, e às vezes revelando suas
contradições” (SCHNEIDER, 2007, p.9).
Assim como Navarro (2001), Schneider (2007) também considera a crise ambiental que
surge na década de 1960 como uma das propulsoras para o enfoque sobre o
desenvolvimento rural no período. Neste contexto, o autor aborda sobre a emersão do
discurso a respeito do desenvolvimento sustentável, onde as questões ambientais
começam a ter peso na sociedade, motivando políticas públicas e pesquisas a fim de
amenizar as consequências da crise.
Desta forma, o presente artigo busca a realização de uma análise teórica sobre as
concepções acerca do desenvolvimento rural sustentável, suas possibilidades e desafios.
Para isso, serão abordados temas referentes ao conceito de sustentabilidade e
desenvolvimento, bem como os caminhos a serem percorridos para alcança-los.
Desenvolvimento sustentável
O conceito de “desenvolvimento” vem sendo adotado erroneamente a nível mundial. A
busca de crescimento econômico pelos países baseia-se na exploração irracional dos
recursos naturais e na desigualdade social. O desenvolvimentismo propagandeado pelo
neoliberalismo desconsidera agentes importantes: o meio ambiente e a sociedade.
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Os questionamentos sobre a sustentabilidade do desenvolvimento surgem a partir da
crise ambiental, que se origina da consciência ambiental iniciada na década de 1960.
Nessa década, junto com a consciência ambiental e a busca de um desenvolvimento
mais racional, surgem movimentos de “contracultura” que buscam reduzir
drasticamente, os níveis de consumo adotando-se estilos de vida mais simples ou
naturais (EHLERS, 1999).
Esses movimentos apoiados em eventos e obras que abordam a problemática ambiental
são discussões que vêm abarcando décadas em busca de soluções viáveis, capazes de
realizar o crescimento econômico aliado à conservação ambiental e equidade social. No
entanto, são propostas que questionam uma ordem estabelecida, onde valores
econômicos transformaram-se em prioridades.
Caporal e Costabeber (2007) apresentam um resumo de estudos e conferências sobre o
processo de desenvolvimento, nos quais é abordada a problemática da
insustentabilidade do sistema convencional (Quadro 1).
Quadro 1- Eventos e alertas de advertência sobre a insustentabilidade dos processos de desenvolvimento convencional.
Ano Obras/Eventos Repercussões/Alertas 1962 “Primavera
Silenciosa” (Rachel Carson) Impactos dos Agrotóxicos (organo-clorados)sobre a saúde e o meio ambiente (cadeia tróficas).
1970 a 1972
Primeiro trabalho do clube de Roma -“Blueprint for survival” (Dennis e Donella Meadows). -“Limites do crescimento (Meadows et.al)
Primeiros estudos oficiais (modelagem) É impossível o crescimento econômico infinito com recursos naturais finitos. Alertas para a necessidade de outro enfoque de desenvolvimento, menos agressiva ao meio ambiente.
1972 Conferência de Estocolmo
Sociedades ricas “descobrem” a existência de um só mundo. A culpa é dos subdesenvolvidos. Criação do PNUMA.
1973 “Smaillisbeautiful” (E.F. Shumacher) – Traduzido para “El pequeñoeshermoso” e “O negócio é ser pequeno”
O desenvolvimento pode ser sustentável se for baseado na pequena propriedade. É viável economicamente e mais integrado à natureza.
1974 Segundo trabalho do Clube de Roma
As crises atuais não são passageiras e suas soluções só podem ser
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-“La humanidad ante La encrucijada” (MihanhjiloMesarovic)
alcançadas no contexto do sistema mundial. A busca de soluções exige cooperação e a adoção de estratégias não tradicionais.
1976 Terceiro trabalho do Clube de Roma ( Jan Tinbergen)
As soluções requerem uma “nova ética global”, baseada na “cooperação”.
1980 Informe Global 2000 (encomendado pelo presidente Carter – EUA)
Diagnóstico: a vida no planeta está ameaçada. Conclusão: o modelo de desenvolvimento não é extensível. O estilo de vida do “norte” não pode chegar a todos, pois o planeta não suportaria.
1987 Informe Burtland (Nosso Futuro Comum) da CMMAD
Conceito oficial de Desenvolvimento Sustentável (proposições ainda centradas no crescimento econômico)
1992 Rio 92 (Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento)
Carta da Terra Agenda 21 (Código de Comportamento par o século XXI) Carta climática - Ações para evitar os efeitos da mudança em andamento. - Acordos sobre Biodiversidade.
1996 Conferência da Alimentação (Roma)
FAO e Banco Mundial: há alimentos para todos. O problema é de distribuiçãoe de capacidade de acesso aos alimentos. Meta: reduzir a fome de 50% dos famintos até2025.
1997 Rio + 5 Alerta: “nada mudou”. 2002 Rio +10 (Conferência
de Johanesburg) Retomada dos debates e avaliação dos resultados da Rio 92. Problemas gerados pela globalização.
Fonte: Adaptado de Caporal e Costabeber (2007)
De acordo com Leff (2005), o discurso sobre o desenvolvimento sustentável foi
oficializado e difundido amplamente com base na Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. No
entanto a consciência ambiental teria surgido na década de 1960, com a obra de Rachel
Carson “Primavera Silenciosa” e se expandiu nos anos 1970 com a conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.
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Leis (1996), avalia que nenhuma conferência realizada antes da “Rio 92”, teve tanta
importância nas discussões relativas ao meio ambiente. Principalmente pela
representatividade composta por chefes de Estados e de organizações não
governamental.
No entanto, o autor afirma que a década de 1990 se destacou por apresentar outras
cúpulas realizadas pela ONU, como a Viena-93 (conferência mundial sobre os direitos
humanos) e a Cairo-94 (conferência internacional sobre a população), que produziram
importantes documentos e demonstraram preocupações sobre o tema, mas, não
garantiram nenhum mecanismo efetivo de alcance global para proteger os direitos
humanos, o meio ambiente e a população mundial.
Esses eventos a nível mundial mostram o surgimento tímido de uma nova
racionalidade, mesmo que os objetivos econômicos sejam priorizados em relação aos
aspectos ambientais e sociais. Uma questão relevante é que nesse contexto surge à
noção e conceito de desenvolvimento sustentável.
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) das
nações unidas, desenvolveu o conceito de desenvolvimento sustentável em 1987, o qual
definiu que o conceito de sustentabilidade envolve três condições básicas:
(1) a condição paretiana de que seja assegurada, pelo menos, a manutenção do bem-estar dos que hoje vivem nas economias avançadas; 2) o requisito de se dar absoluta prioridade ao atendimento das “necessidades básicas dos pobres de todo o mundo”; (3) a condição fundamental de que tudo isso seja feito “sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas necessidades (MUELLER, 1999, p. 514).
Nessa citação percebe-se a contradição imposta pela racionalidade capitalista, pois, ao
mesmo tempo em que se usa o discurso de desenvolvimento sustentável, busca-se a
manutenção das mesmas estruturas sociais. Onde, as condições de consumo se
mantenham e as desigualdades entre países também. Além disso, tal definição
apresenta-se com um enfoque e preposições centradas no crescimento econômico, a
qual visa à preservação dos recursos naturais, para que o processo de desenvolvimento
econômico possa continuar.
De acordo com Leff (2005), o conceito de desenvolvimento sustentável disseminado
pela “Rio 92”, foi sendo vulgarizado até fazer parte do discurso oficial e da linguagem
comum. Então, não se estabeleceu um sentido teórico e prático capaz de unificar as vias
de transição para a sustentabilidade.
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Para o autor, há a constituição de um neoliberalismo ambiental, o qual vê a
sustentabilidade aliada ao crescimento econômico, sendo que o mesmo procura
internalizar as condições ecológicas da produção, afirmando que o livre mercado é o
meio eficaz de assegurar o equilíbrio ecológico e a igualdade social. A degradação
ambiental causada pelos processos produtivos, distribuição e circulação seria revertida a
partir da tecnologia.
Essa lógica de desenvolvimento baseada na equação do crescimento, sociedade e meio
ambiente mediante a adoção de um otimismo tecnológico (excludente do ponto de vista
socioambiental) é denominado decorrente Ecotecnocrática (CAPORAL E
COSTABEBER, 2007). A qual dá base de sustentação à agricultura convencional.
Em oposição à corrente ecotecnocrática, surge quase ao mesmo tempo, a corrente que
Caporal e Costabeber (2007) denominam de corrente ecossocial, a qual é formada de
inúmeras ramificações como: o ecodesenvolvimento, os enfoques culturalistas e
ecossocialistas, economia ecológica e a teoria marxista ecológica.
Essa corrente “se caracteriza por suas reivindicações de mudanças estruturais profundas
na sociedade e de um novo pacto de solidariedade, permitindo a construção de um novo
projeto histórico e a busca de novos rumos nas estratégias de desenvolvimento”
(Caporal e Costabeber, 2007, p.84).
A partir da influência de diversas correntes, a corrente ecossocial parte da crítica do
processo de desenvolvimento liberal de exploração do meio ambiente e social, para
fornecer uma alternativa que tenha como enfoque a valorização étnica/cultural, assim
como, dos ecossistemas locais, através da adoção de tecnologias favoráveis as
condições culturais e locais para promoção de um desenvolvimento sustentável baseado
no tripé: econômico, social e ambiental.
Desta forma, parte-se do princípio de que não há desenvolvimento sustentável, baseado
apenas no crescimento econômico, onde os ecossistemas são vistos como “recursos”
naturais ilimitados, e a sociedade como “mão-de-obra” disponível para o mercado.
A efetiva construção de um desenvolvimento sustentável deve partir da
emancipação/equidade social e preservação/conservação do meio ambiente onde o
crescimento econômico esteja aliado ao bem estar social e a sustentabilidade ambiental,
mantendo sua capacidade produtiva ao longo do tempo, atendendo as necessidades das
atuais e futuras gerações.
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Desenvolvimento Rural Sustentável Muitos são os discursos acerca do desenvolvimento rural sustentável. É comum
encontrarmos estudos e obras que partem do princípio que a sustentabilidade do
desenvolvimento baseia-se apenas nas condições econômicas, onde os aspectos sociais e
os recursos naturais não são considerados importantes para o desenvolvimento rural
sustentável.
Porém, a concepção de desenvolvimento rural sustentável adotada no presente trabalho
visa necessária não somente as condições econômicas para que se possa alcançá-la, mas
também a dependência de fatores socioculturais e naturais, como educação, saúde,
qualidade de vida e os recursos naturais necessários para sua subsistência no campo sem
prejudicar as gerações futuras. Veiga (2001) salienta a importância desses aspectos
quando afirma que ambos oportunizam a ampliação de possibilidades de escolha,
expandindo assim as potencialidades humanas.
Assis (2006) aborda que com a eclosão da crise ambiental a partir da década de 1980,
foram realizados estudos explicando que os custos da produtividade vão além dos que
aparecem nos contabilizados pelos processos produtivos, o que aprofundou a crítica de
que o crescimento econômico não seria suficiente para obter o desenvolvimento. Para
tal, o autor coloca como alternativa a busca por um crescimento econômico qualitativo,
ou seja, a manutenção do conjunto de bens ecológicos, socioculturais e econômicos,
favorecendo a igualdade de oportunidades.
Neste sentido, o desenvolvimento sustentável tem como viés central o avanço na
qualidade de vida da população respeitando os limites de capacidade dos ecossistemas.
Desta forma, ao passo que se beneficiam do processo, as pessoas tornam-se
instrumentos de transformação, tornando-se fundamental para o sucesso que almejam
(ASSIS, 2006).
Partindo do entendimento que o desenvolvimento se dá a partir da realização de
potenciais econômicos, culturais e sociais em perfeita sintonia com os aspectos
ambientais de uma determinada sociedade, Costabeber e Caporal (2003, p.03) defendem
o desenvolvimento rural sustentável como um processo gradativo de mudança que
“encerra em sua construção e trajetória a consolidação de processos educativos e
participativos que envolvem as populações rurais, conformando uma estratégia
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impulsionadora de dinâmicas socioeconômicas mais ajustadas ao imperativo
ambiental”.
Contudo, independentemente da adoção de um conceito conciso sobre desenvolvimento
rural sustentável, torna-se necessário o entendimento sobre as estratégias que
possibilitem o alcance da sustentabilidade. Para isso, serão abordadas a seguir algumas
alternativas para a real efetivação da sustentabilidade no meio rural.
Possibilidades para o desenvolvimento sustentável no campo Ao analisarmos os caminhos a serem percorridos para que de fato ocorra um
desenvolvimento rural sustentável, fica clara a necessidade de que esses perpassem
pelas diferentes dimensões da sustentabilidade, que dentre as quais podem ser citadas a
dimensão social, ambiental, econômica, cultural, política e ética. Costabeber e Caporal
(2003) salientam a importância de cada dimensão nas estratégias para o
desenvolvimento rural sustentável, pois constatam que cada uma dará o suporte
necessário a outra, e ambas formarão o que se torna necessário para alcançar a equidade,
ou seja, o desenvolvimento sustentável.
Como estratégias de apoio ao desenvolvimento rural sustentável, Costabeber e Caporal
(2003) elencam os seguintes caminhos: a opção pela agricultura familiar, a aposta em
novas formas de comercialização e a dimensão local do desenvolvimento. O primeiro
ponto refere-se à questão de que a agricultura familiar tem a real capacidade de alcançar
a soberania e segurança alimentar, pois grande parte do que é produzido permanece nas
comunidades rurais como forma de autoconsumo.
Outra questão que evidencia a agricultura familiar como estratégia para o
desenvolvimento rural sustentável é que essa tem demonstrado maior capacidade para
alcançar os seguintes aspectos: “i) multifuncionalidade e policultivos; ii) eficiência
produtiva e eficiência energética e/ou ecológica; iii) conservação dos recursos naturais
não renováveis; iv) proteção da biodiversidade e sustentabilidade futura; v) manejo”
(COSTABEBER E CAPORAL, 2003, p.12).
No que se refere às apostas em novas formas de comercialização cabe ressaltar a
importância das práticas agroecológicas no processo, pois essas garantem renda sem
agredir de forma tão intensa o meio ambiente. Além disso, a perspectiva agroecológica
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representa um componente de forte sensibilidade social, pois essa escolhe a agricultura
familiar como o motivador dos processos de desenvolvimento rural.
Desta forma, Costabeber e Caporal (2003) evidenciam como alternativas de novas
formas de comercialização: a criação de redes de confiança entre os agricultores e
consumidores; o investimento na distribuição de alimentos através de feira-livres e
mercados locais; o incentivo ao comércio solidário, onde os agricultores recebam um
valor junto pelo produto; e o investimento no consumo institucional.
A dimensão local do desenvolvimento torna-se prioridade ao passo que as comunidades
rurais, bem como sua garantia de renda, tradições e qualidade de vida, formam a escala
de maior importância no processo para o desenvolvimento rural sustentável. Desta
forma, torna-se necessário que o processo de desenvolvimento contemple inicialmente
as comunidades locais para que depois se torne global.
Costsbeber e Caporal (2003) salientam a importância da criação de planos de
desenvolvimento rurais municipais e posteriormente regionais, os quais atendam as
reais necessidades da população presentes no espaço. Esses meios garantem além de
resultados positivos aos atores envolvidos, mas também o maior protagonismo das
famílias agricultoras.
Abordando possíveis soluções para o desenvolvimento rural, Veiga (2001) afirma que o
Brasil necessita de um arranjo institucional que auxilie as articulações intermunicipais a
elencar os principais problemas do meio rural, bem como delinear ações de
desenvolvimento. Desta forma, tem-se a necessidade de que o governo estimule
iniciativas que mais tarde possam ser financiadas a fim de obter um maior
desenvolvimento.
A diversificação das economias locais também é apontada por Veiga (2001) como um
passo importante para o desenvolvimento rural, visto que essa permite salubridade aos
trabalhadores e maior interação com o ambiente se comparada ás grandes propriedades
monocultoras. Esta estratégia garante ainda a pluriatividade do trabalho agropecuário,
fazendo com que muitos membros da família que haviam migrado para os centros
urbanos retornem com o objetivo de contribuir com as atividades.
Portanto, fica claro que muitos são os caminhos para alcançarmos o desenvolvimento
rural sustentável, e que esses devem ser pensados na perspectiva do local para o global,
pois nota-se que muitas das possibilidades encontradas por comunidades rurais de um
determinado município não se aplicam a outro.
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Assim, ao se pensar em estratégias de desenvolvimento para o campo, deve-se
considerar as dimensões necessárias para a real sustentabilidade, não deixando
interesses meramente econômicos prevalecerem sobre as questões ambientais, sociais e
culturais, pois somente contemplando tais dimensões é que conseguiremos expandir as
possibilidades humanas e garantir a igualdade de oportunidades.
Considerações finais
Um desenvolvimento rural sustentável é uma possibilidade real à medida que se
estabeleçam planos de ações a nível local, buscando a ampliação de oportunidades para
os agricultores familiares e a diversificação na produção e comercialização. O incentivo
através de políticas, que ampliem as oportunidades para a agricultura familiar através do
incentivo a permanência no campo é um dos grandes desafios a serem superados no
âmbito rural brasileiro. A adoção de medidas desenvolvimentistas adotada pelos
governos brasileiros durante o século XX priorizou a progressiva industrialização e
capitalização do campo, através da adoção do pacote tecnológico fornecido pela
Revolução Verde.
Nesse cenário a agricultura familiar é deixada de lado nas políticas públicas de
desenvolvimento, sendo que, de acordo com o censo agropecuário de 2006,
correspondiam a 84,4 % dos estabelecimentos brasileiros e muitos optaram a se adaptar
ao pacote tecnológico da Revolução Verde, mesmo que, esse não se adapte às suas
condições socioeconômicas. Outros segundo Costabeber e Caporal (2003), estão
excluídos do mercado, não obtendo renda de suas propriedades, mas, da venda de mão-
de-obra ou aposentadorias.
Assim, nota-se a necessidade de políticas que visem às condições locais de agricultores
familiares, e que os mesmos possam participar das decisões e planejamentos realizados
para o desenvolvimento rural em suas comunidades.
De acordo com Altieri (2004) e Costabeber e Caporal (2003), a Agroecologia fornece os
princípios para uma agricultura sustentável sendo que, busca ampliar as condições
sociais, a conservação ambiental e o crescimento econômico. Assim, o desenvolvimento
rural sustentável deve basear-se na Agroecologia para haver uma mudança no processo
produtivo, onde se amplie a geração de renda dos agricultores, através do uso de
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tecnologias apropriadas às condições socioeconômicas e ambientais locais e o baixo uso
de insumos.
Assim, o desenvolvimento rural sustentável deve estar baseado em ações que visem
promover o bem estar social, a preservação ambiental e o crescimento econômico, e
para isso, é necessário uma mudança de concepção de desenvolvimento, o qual não
esteja calcado apenas nos aspectos econômicos, e que abranjam as particularidades de
cada território, diferentemente da homogeneização de técnicas e modelos econômicos
promovidos pela “agricultura moderna”.
Referências
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