desenvolvimento moral e conduta anti-social: que relaÇÕes?

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Esta comunicação pretende rever alguns estudos e contributos teóricos que permitem compreender as relações entre o desenvolvimento moral a e a conduta anti-social. Destaca-se o contributo de Gibbs, que sugere a integração dos modelos teóricos de Hoffman e Kohlberg para esclarecer o sentido dessas relações, isto é, salienta o papel complementar da empatia e do raciocínio moral enquanto mecanismos promotores da conduta pró-social e inibidores da conduta anti-social. O autor salienta também o papel que determinadas distorções cognitivas (viés egocêntrico; exteriorização e deslocação da culpa; categorização e minimização da humanidade do outro) desempenham no desencadear das condutas agressivas.

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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‐ A teoria de Kohlberg que pressupõe a primazia da cognição, ao definir o acto moral  como  aquele  que  segue  um  processo  de  raciocínio  moral  baseado  em princípios  de  justiça,  propondo  seis  estádios  de  desenvolvimento  do  raciocínio moral (ver Kohlberg, 1984a; 1984b);  

‐ A teoria de Hoffman que define o acto moral mais em termos motivacionais do que cognitivos, enfatizando o papel da empatia, enquanto reacção afectiva perante o  sofrimento ou necessidade do outro, que predispõe à ajuda ou acto moral  (ver Hoffman, 1987; 1991).  

A INTEGRAÇÃO DOS MODELOS DE HOFFMAN E KOHLBERG NA EXPLICAÇÃO DA MORALIDADE – O CONTRIBUTO DE GIBBS

Gibbs  (1991a,  1994, 1995b)  tem vindo  a propor  a  integração dos modelos de Kohlberg e Hoffman a fim de melhor se explicar a conduta moral, ou seja, o autor considera que é a inter‐relação entre os princípios de justiça e os afectos empáticos que melhor permitirá compreender a natureza, não apenas das condutas morais, mas também das condutas anti‐sociais. 

Segundo Gibbs (1991a, p.183) «as teorias de Kohlberg e Hoffman proporcionam contributos  importantes  e  complementares  para  a  nossa  compreensão  do desenvolvimento  e  motivação  morais.  O  trabalho  de  Kohlberg  enfatiza  a construção  progressiva,  por  parte  do  indivíduo,  do  significado  da  moralidade madura,  e  explica  as  motivações  morais  em  termos  de  um  processo  de descentração que desencadeia prescrições de igualdade e reciprocidade, isto é, de justiça. O trabalho de Hoffman enfatiza a transmissão, por parte da sociedade, de normas morais através da interiorização e encara o afecto empático e as emoções com  ele  relacionadas  como  a  base  da motivação moral»  Por  isso,  Gibbs  (1991a; 1994; 1995b) tem vindo a propor que se integrem os dois modelos a fim de se ter uma compreensão mais alargada e profunda do desenvolvimento sociomoral e que se leve em consideração essa integração em investigações e estudos futuros.  

Gibbs (1991a) começa por estabelecer uma comparação entre os dois modelos, no  que  se  refere  a  dois  aspectos  centrais:  «primeiro,  o  desenvolvimento  da moralidade  e  especificamente  o  significado para  os  dois  autores  das  orientações morais  externas  e  internas;  e,  segundo,  as  interpretações  cognitiva  e  afectiva  da motivação moral» (p. 184). 

Para  Kohlberg  (1984)  o  facto  de  ser  possível  verificar‐se  uma  orientação progressivamente  interna  no  desenvolvimento  moral  não  deve  ser  interpretada como uma interiorização de dados do ambiente, mas antes como um progresso no sentido da maturidade. Kohlberg  (1984) salienta mesmo que seria mais  correcto falar‐se de uma progressão do juízo moral do superficial para o profundo, do que do exterior para o interior do indivíduo (ver Gibbs, 1991a, p.185). 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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A moralidade interna resultaria, assim, de um processo de construção, por parte do  indivíduo,  a  partir das  oportunidades de descentração  (“role‐taking”)  que  lhe vão sendo dadas ao  longo da vida, na  interacção, quer com a  família, quer com o grupo de pares. Kohlberg não nega a importância das práticas educativas parentais no  desenvolvimento  moral  da  criança,  tal  como  sugeridas  por  Hoffman,  mas considera  que  a  interacção  com  os  grupos  de  pares,  nas  diferentes  idades, desempenha um papel igualmente, senão mais importante, nesse desenvolvimento. A motivação para a conduta moral surge, assim, à semelhança do que acontecia no domínio  cognitivo  lógico,  como  uma  necessidade  de  restaurar  a  igualdade  e reciprocidade face a situações de injustiça. Gibbs (1991a) recorda a este propósito as expressões de Kohlberg e de Piaget, respectivamente, relativas ao mecanismo de actuação  da  motivação  para  as  condutas  sociomoral  e  puramente  cognitiva.  O primeiro  autor  afirmava  que  «violar  a  lógica  e  violar  a  justiça  despertam  os afectos» (Kohlberg, 1984, p.63) e o segundo disse que «a lógica é a moralidade do pensamento  tal  como  a moralidade  é  a  lógica  da  acção»  (Piaget,  1932,  p.398).  A motivação  para  agir  é  pois  encontrada  no  desequilíbrio,  momentaneamente experimentado, ao nível das estruturas cognitivas ou sociocognitivas do indivíduo e  do  impulso  natural  para  a  restruturação,  em  um  nível  superior  de  maior integração  e  coordenação,  de  perspectivas,  no  caso  do  desenvolvimento sociomoral (ver Kohlberg, 1984; Gibbs, 1995b).  

Assim,  enquanto  para  Kohlberg  (1984)  a  orientação moral  externa  (um  juízo moral  superficial)  reflecte  a  imaturidade  ou  o  atraso  do  desenvolvimento sociomoral,  para  Hoffman  (1984,1994)  a  orientação  moral  externa  (uma orientação para as sanções externas) reflecte uma história de práticas educativas parentais  predominantemente  afirmativas  de  poder.  A  moralidade  interna  seria autoconstruída para Kohlberg e auto‐adoptada para Hoffman (ver Gibbs, 1991a).  

Gibbs  (1991a,  p.207)  considera  que  é  plausível  que,  quer  os  processos  de construção cognitiva, propostos por Kohlberg, quer os processos de interiorização moral através da socialização, propostos por Hoffman, contribuam para a formação de  uma  orientação  moral  interna.  É  curioso  o  papel  que  a  cognição  e  o  afecto desempenham na motivação da conduta moral, nas duas teorias. Enquanto que na teoria de Kohlberg (1984) a cognição é uma fonte de motivação primária e o afecto é  secundário,  para  Hoffman  (1991)  o  afecto  empático  é  a  fonte  de  motivação primária, sendo a cognição a secundária. Ambos os teóricos têm afirmações válidas sobre a questão. A construção cognitiva da atribuição de significado moral a uma situação vista como injusta, pode bem gerar a motivação moral, tal como o afecto empático desencadeado por uma vítima em sofrimento o pode também fazer. Pode ainda  acontecer  que  as  duas  fontes  de  motivação  entrem  em  conflito,  isto  é,  a justiça  e  a  empatia  podem  impelir  a  comportamentos  opostos  em  situações  de conflito de justiça distributiva em que, por exemplo, um indivíduo merece mais e um  outro  indivíduo,  embora  menos  merecedor,  está  em  situação  de  maior necessidade (ver Gibbs, 1991a, pp. 207‐208). Para obviar a este tipo de problema, Frankena (citado por Gibbs,1 991a, p. 208) propôs mesmo que a «justiça deva ser temperada  pela  beneficência  quando  uma  decisão  justa  resulte  num  sofrimento grave,  tal  como  a  beneficência  deve  ser  temperada  com  a  justiça  quando  o  acto 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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beneficente  resulte  em  grande  desigualdade  moral».  Embora  as  duas  fontes  de motivação  possam  estar  em  conflito,  Gibbs  (1991a,  p.208)  considera  que  «elas estão intimamente ligadas e frequentemente são compatíveis, e embora a cognição tenha um  importante papel  na motivação para  corrigir  injustiças,  a  empatia  tem um  papel  crítico  na  intensidade  e  persistência  do  esforço  para  assegurar  o  bem estar  da  vítima/receptor  de  ajuda»  e  eventualmente  pode  ter  um  papel  no desencadear de emoções que poderão depois conduzir ao raciocínio por princípios.  

Por  tudo  o  que  foi  exposto,  Gibbs  sugere  que  a  descentração  cognitiva  com  a aplicação dos princípios de justiça e o afecto empático são, provavelmente, ambas fontes de motivação primária no desencadear da conduta moral. Do mesmo modo, os conceitos de construção do significado moral e socialização moral, não seriam incompatíveis mas dois aspectos que se interligam no desenvolvimento moral dos indivíduos (ver Gibbs, 1991a, 1995b). 

O  referido  autor  considera  ainda  que  os  dois  aspectos  discutidos  ‐  raciocínio moral baseado em princípios de justiça e empatia ‐ são importantes não apenas na compreensão  da  conduta  pró‐social,  mas  também  na  compreensão  da  conduta anti‐social.  Mais  ainda,  é  de  opinião  que  esses  dois  aspectos  devem  ser  ambos levados  em  consideração  quando  se  pensa  na  elaboração  de  programas  de educação moral ou reeducação social (ver Gibbs, 1987;1991b,1994, 1995a). 

Gibbs  (1987,  1991b)  estudou  especificamente  o  caso  de  adolescentes delinquentes  e  explicou  a  conduta  anti‐social  com  base  no  modelo  de desenvolvimento que integra os contributos de Kohlberg e Hoffman, tendo mesmo sistematizado  um  programa  de  intervenção  com  vista  ao  tratamento  de  jovens delinquentes (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

AS RELAÇÕES ENTRE A MORALIDADE E A CONDUTA ANTI-SOCIAL

Gibbs  (1991b,  1994,  1995b)  salienta  a  importância  de,  quando  se  estuda  a relação  entre  juízo  e  conduta  morais,  considerar‐se  o  que  o  autor  designa  por distorções  cognitivas,  pois  estas  parecem  desempenhar  um  papel  crucial  no aparecimento e manutenção da conduta anti‐social em adolescentes.  

As  distorções  cognitivas  «são  atitudes  ou  crenças  não  verídicas  que  estão enraizadas  na  pessoa  e  na  sua  conduta  social.  O  viés  egocêntrico  constitui  com efeito uma distorção cognitiva natural na criança pequena (...) a persistência desta distorção egocêntrica na adolescência coloca o indivíduo em alto risco no sentido do  comportamento  anti‐social,  dado  o  tamanho,  força,  independência,  impulsos sexuais e capacidades do ego dos adolescentes» (ver Gibbs, 1995b, pp.43‐44). 

Assim,  Gibbs  (1991b,  p.95)  sugere  que  os  adolescentes  que  manifestam  o distúrbio da conduta anti‐social (no sentido da DSM IV) apresentam um atraso no seu  desenvolvimento  sociomoral,  no  sentido  em que  evidenciam um  grau  pouco 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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vulgar de viés egocêntrico, isto é, uma orientação moral centrada no eu e um juízo moral imaturo (do tipo previsto pelos estádios 1 e 2 de Kohlberg e de Gibbs). Este dado  apresenta  ainda  alguma  polémica,  pois  alguns  autores  não  encontraram diferenças  significativas  ao  nível  do  raciocínio  moral  de  delinquentes  e  não delinquentes.  Nomeadamente,  Fonseca  (1993)  em  um  estudo  com  a  escala  de Kurtines  &  Pimm  que  avalia  as  dimensões  Piagetianas  de  heteronomia  e autonomia  moral,  não  encontrou  diferenças  significativas  entre  jovens delinquentes e não delinquentes, e entre crianças com distúrbios da conduta anti‐social  e  crianças  sem  esse  distúrbio.  O  esclarecimento  desta  questão  torna‐se pertinente quando pensamos nas implicações que tal facto pode ter no tratamento de jovens delinquentes e na prevenção das condutas anti‐sociais.  

Apesar  de  tudo,  tal  como  avaliados  pelas  medidas  de  produção  do desenvolvimento moral (com a M.J.I. de Kohlberg & Colby, 1987; ou com o SRM‐SF de Gibbs, Basinger & Fuller, 1992), encontram‐se percentagens significativamente mais elevadas de delinquentes ou jovens com desordem da conduta anti‐social nos estádios 1 e 2, por comparação aos estádios mais maduros e por comparação aos restantes  jovens.  Porém,  segundo  Gibbs  (1991b,1994),  o  atraso  no desenvolvimento sociomoral, só por si, pode não conduzir a conduta criminosa ou anti‐social  severa, a menos que certos processos defensivos desempenhem o seu papel. Assim, associadas ao atraso de desenvolvimento sociomoral, aparecem certo tipo  de  distorções  cognitivas  que  reforçam  a  centração  no  eu  e  inibem  os mecanismos da empatia e da culpa de actuarem no sentido da inibição da conduta anti‐social e da desactivação da conduta pró‐social. Nas palavras de Gibbs (1991b, p. 98): «É preciso considerar que, teoricamente, todos os indivíduos, mesmo os que evidenciam  atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  possuem:  algum  grau  de predisposição  empática  (uma  vez  que  esta  seria  uma  predisposição  com  raízes biológicas  e  inata);  e  uma motivação  para manter  a  autoconsciência  ou  evitar  a dissonância cognitiva entre o autoconceito e o comportamento. E particularmente, quando o dano infligido aos outros é óbvio e difícil de ignorar, os jovens envolvidos na  conduta  anti‐social  podem  sentir  tensão  psicológica  proveniente  da:  a)  culpa incipiente,  sentida  a  partir  da  empatia  despertada  pelas  pistas  salientes  do mal‐estar  da  vítima;  e  b)  dissonância  cognitiva  entre  a  conduta  que  é injustificadamente prejudicial aos outros e um autoconceito que prescreve que não se deve prejudicar os outros  sem  justificação. É precisamente na defesa  contra a tensão  provocada  por  estes  inibidores  potenciais  da  conduta  anti‐social,  que  o jovem anti‐social congela o seu atraso no desenvolvimento, através da elaboração e recurso a certas distorções cognitivas que servem os interesses do eu egoísta»  

De  facto,  o  criminologista  Stanton  Samenow  (citado  por  Gibbs,  1994,  p.17) verificou  que  «mesmo  o  mais  severo  e  duro  dos  criminosos  evidencia  alguns sentimentos de empatia genuínos pelos outros, embora superficiais e ocasionais». Assim, apesar de ser provável que o desenvolvimento da empatia  também tenha algum  atraso  no  seu  próprio  desenvolvimento  (tal  como  conceptualizado  por Hoffman  e  para  além  do  atraso  decorrente  da  associação  com  o  atraso  moral), Gibbs  (1991b)  sugere  que  o  processo  das  distorções  cognitivas  actua  como 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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mecanismo  inibidor  quer  da  empatia,  quer  da  responsabilização  pelos  actos  nos jovens delinquentes.  

O  viés  egocêntrico  e  o  pensamento  centrado  nas  necessidades  do  eu frequentemente  encontrados  em  jovens  com  desordem  da  conduta  anti‐social podem considerar‐se distorções  cognitivas primárias  (com pensamentos do  tipo: desejo algo, logo é legítimo que o obtenha), mas logo surgem, associadas a estas, as distorções cognitivas secundárias, ou racionalizações, ou erros de pensamento, ou falsas  crenças  ou  falsas  concepções,  segundo  expressões  já  utilizadas  por  outros autores (e.g., Ellis, citado por Gibbs, 1991b).  

Aliás,  outros  autores  já  tinham  constatado  algo  de  semelhante  à  ideia  das distorções cognitivas. Nomeadamente, Dodge & Frame (1982) constataram que as crianças mais agressivas tendiam a atribuir exagerada e excessivamente intenções hostis aos seus pares, mesmo em circunstâncias nas quais essa atribuição não era lógica, nomeadamente em situações ambíguas. Crick e Dodge  (1994)  consideram que as crianças agressivas reactivas cometem um erro atribucional de hostilidade, relativamente  às  intenções  dos  pares,  numa  situação  de  interacção  social  não ameaçadora.  

No  seu  trabalho  com  jovens  delinquentes,  Gibbs  (1991b,  p.  95)  encontrou predominantemente  duas  categorias  principais  de  distorções  cognitivas secundárias: a exteriorização e deslocação da culpa (“externalization of blame”) e a etiquetagem ou categorização (“mislabing”), com minimização da humanidade do outro.  

A  exteriorização  da  culpa  consiste  num  processo  de  racionalização  defensivo que atribui a culpa do dano infligido à própria vítima. Gibbs (1991b, pp.100‐101) apresenta alguns exemplos esclarecedores do modo de actuação desse mecanismo: quando  um  jovem  justifica  o  assalto  a  uma  loja,  dizendo  que  a  culpa  foi  do proprietário  que  não  tinha  activado  o  alarme;  ou  justifica  o  assalto  a  uma  casa particular,  dizendo  que  a  porta  da mesma  não  estava  bem  trancada,  atribuindo também  neste  caso  a  culpa  ao  próprio  proprietário,  vítima  do  assalto.  Este mecanismo,  de  exteriorização  da  culpa,  é  frequentemente  também  utilizado  em casos  de  violação,  em  que  a  vítima  é  vista  como  tendo  feito  algo  que  justifica  a violação,  ou  como  tendo  provocado  a  conduta  agressiva.  O  processo  visa  inibir quer  mecanismos  cognitivos  (e.g.,  responsabilização  pelos  próprios  actos)  quer mecanismos  afectivos  (e.g.,  empatia  pela  vítima),  que  são  inibidores  da  conduta agressiva mesmo quando não se verifica um atraso do desenvolvimento. A conduta anti‐social não é um corolário imediato do atraso de desenvolvimento sociomoral, pois  ser  deficiente  mental  não  implica  envolvimento  em  conduta  anti‐social, porque  nesse  caso  existe  a  actuação  dos  mecanismos  afectivos  da  empatia.  Só quando  o  atraso  no  desenvolvimento  se  associa  às  distorções  cognitivas,  que inibem  os  mecanismos  afectivos  de  actuar,  se  manifesta  a  conduta  anti‐social. Gibbs  (1991b)  verificou  mesmo  que  alguns  delinquentes  eram  capazes  de apresentar  raciocínio  do  estádio  3  e,  eventualmente,  do  estádio  4  do 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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desenvolvimento moral (embora  fosse uma percentagem reduzida), sendo nestes casos específicos que a actuação das distorções cognitivas era mais acentuada. 

A  etiquetagem  ou  categorização  consiste  também  num  processo  de racionalização defensivo, que  faz com que se considere a outra pessoa (potencial vítima) como pertencendo a um grupo à parte, minimizando a sua humanidade ou merecimento a  ser bem tratado. O mecanismo actua  também através de uma re‐interpretação  dos  dados  dos  acontecimentos;  por  exemplo,  numa  situação  de tráfico de droga, um jovem re‐interpreta a situação, afirmando que estava apenas ajudar um amigo, ignorando a ilegalidade do acto e os danos que poderá causar aos consumidores (ver Gibbs, 1991b, p.101).  

Em  suma,  o  atraso  do  desenvolvimento  sociomoral  dos  jovens  delinquentes consiste na persistência do viés egocêntrico, bem como de um juízo moral imaturo, radicados  numa  atitude  que  visa  servir  exclusivamente  os  interesses  do  eu. Quando  o  atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  está  associado  a  conduta  anti‐social  séria  é  provável  que  a  ela  estejam  associadas  as  distorções  cognitivas secundárias – exteriorização da culpa e etiquetagem. Estas têm um efeito inibidor dos  mecanismos  de  responsabilização  pelos  próprios  actos  e  da  empatia  pelas vítimas,  provocando  assim  um  efeito  de  congelamento  ou  fixação  do  atraso  no desenvolvimento sociomoral nos estádios 1 e/ou 2. Estes dois aspectos – atraso no desenvolvimento sociomoral e distorções cognitivas – caracterizam não só o jovem anti‐social mas  também o grupo de pares ou gang ao qual ele se pode associar e filiar (ver Gibbs, 1991b).  

Barriga e Gibbs (1996) desenvolveram e validaram um questionário para medir as  distorções  cognitivas  centradas  no  eu.  Trata‐se  do  questionário  «Como  eu penso?» («How I think?» ‐ HIT), que engloba itens distribuídos por quatro grandes tipos  de  distorções  cognitivas:  viés  egocêntrico;  exteriorização  da  culpa  ou culpabilização do outro; etiquetagem com minimização da humanidade do outro; e atribuição de hostilidade ao outro. Os itens foram também redigidos com base nos sintomas descritos na DSM – IV a respeito dos síndromas do distúrbio de conduta e do distúrbio desafiante de oposição.  

O  questionário  HIT  foi  aplicado  a  três  grupos  de  adolescentes:  um  primeiro grupo  que  cumpria  pena  num  colégio  de  reeducação  de  menores;  um  segundo grupo de jovens de uma escola pública que apresentava problemas disciplinares; e um  terceiro  grupo  de  adolescentes  de  uma  escola  pública  bem  considerada  na comunidade.  Os  resultados  obtidos  com  o  HIT  permitiram  discriminar  entre  o primeiro  e  o  terceiro  grupo.  Contudo  no  que  se  refere  ao  segundo  grupo  este apresentava níveis baixos de delinquência  (similares  aos do  terceiro grupo) mas apresentava  níveis  elevados  de  distorções  cognitivas  (similares  aos  do  primeiro grupo). De qualquer modo, a validade de constructo do  instrumento  foi razoável, pois  o  HIT  correlacionava  com  duas  medidas  de  comportamento  anti‐social registado  pelo  próprio  e  foi  parcialmente  eficaz  na  discriminação  dos  grupos  de critério.  Em  suma,  os  resultados  obtidos  com  o  HIT  foram  globalmente consistentes com o modelo teórico atrás descrito (ver Barriga & Gibbs, 1996).  

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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IMPLICAÇÕES DAS TEORIAS COM VISTA À IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE INTERVENÇÃO COM JOVENS DELINQUENTES

Estas  descobertas  conduziram  Gibbs  (1991b,  1994)  a  sistematizar  algumas implicações  da  teoria  descrita  para  o  tratamento  de  jovens  delinquentes.  Aliás, conduziram  o  referido  autor  a  trabalhar,  em  conjunto  com  outros  autores especialistas  nesse  domínio,  na  elaboração,  implementação  e  aplicação  de  um programa ‐ o programa EQUIPAR ‐ que visa o tratamento e recuperação de jovens delinquentes (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995).  

Gibbs (1991b,1994) considera que, uma vez que os jovens delinquentes têm um atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  (relativamente  àquilo  que  era  esperado para  a  sua  idade),  ao  qual  se  associam  as  distorções  cognitivas  já  descritas, qualquer programa de reeducação de jovens com desordem anti‐social deve levar em consideração esses aspectos e tentar remediá‐los ou ultrapassá‐los de alguma forma.  

O facto dos jovens terem um atraso no desenvolvimento sociomoral implica que precisam  de  vivenciar  um  meio  sobre‐enriquecido  com  oportunidades  de descentração social  (“role‐taking”), de modo a estimulá‐los a avançar para níveis mais  profundos  e  elaborados  de  raciocínio moral.  Isto  é,  aos  sujeitos  devem  ser dadas oportunidades de considerar as perspectivas dos outros e de coordená‐las com a  sua própria perspectiva.  Isso  implica  adaptar duas  estratégias  importadas dos estudos de Kohlberg: uma micro‐intervenção ao nível da discussão de dilemas hipotéticos e de vida real; e uma macro‐intervenção no sentido de reestruturar a instituição  de  modo  a  permitir  a  participação,  de  todos  os  que  nela  vivem,  nos processos  de  elaboração  e  cumprimento  de  regras,  isto  é,  uma  abordagem  de comunidade justa (ver Gibbs, 1991b, p. 102‐103).  

A respeito desses aspectos, Gibbs (1991b) cita as investigações de Arbuthnote e Gordon, e de Niles (citado também por Sprinthall & Collins, 1994), que consistiram em  micro‐intervenções  com  jovens  delinquentes  e  que  conduziram  a  ganhos sobretudo ao nível do raciocínio moral. Porém, os ganhos ou melhorias ao nível da conduta eram mais controversos e, por vezes,  inexistentes. Esse dado tem levado Gibbs  (1991b,1994)  a  enfatizar  a  importância  de  combater  ou  corrigir  as distorções  cognitivas,  no  âmbito  dos  programas  de  reeducação  de  jovens delinquentes.  

Para  combater  as  distorções  cognitivas  secundárias,  o  autor  recomenda fundamentalmente duas técnicas (aliás, já utilizadas por Vorrath & Brentro, citados por  Gibbs,  1991b),  a  saber:  reverter  ou  inverter,  isto  é,  recolocar  a responsabilidade pela acção no próprio  indivíduo,  em vez de  se permitir que ele exteriorize a culpa e a atribua às vítimas da sua própria acção; e recategorizar ou re‐etiquetar,  isto  é,  contrapor  à  tendência  do  jovem  anti‐social  para  as representações e interpretações ao serviço de si próprio, outras interpretações da 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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realidade mais ajustadas.  Isto  significa, por exemplo,  conduzir o  jovem a atribuir valor de força e maturidade ao acto de dar e receber ajuda, em vez de atribuir esse valor às condutas agressivas, como é típico desses jovens (ver Gibbs, 1991b; Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

Deve‐se  ainda  combater  as  distorções  cognitivas  primárias,  confrontando  os jovens  com  o  efeito  das  suas  acções  sobre  os  outros,  de  modo  a  torná‐los conscientes  do  dano  que  provocam  nas  vítimas  (uma  técnica  similar  à  indução, sugerida  por  Hoffman  para  uma  educação  parental  eficaz).  O  confronto  dirige  a atenção  do  jovem  para  a  mágoa  que  inflige  aos  outros,  possibilitando,  assim,  o reaparecimento  de  respostas  empáticas  inibidoras  da  conduta  agressiva  (ver Gibbs, 1991b; Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

Gibbs, Potter & Goldstein (1995) elaboraram um programa de intervenção que inclui  as  ideias  e  técnicas  já  descritas,  complementando‐as  com  abordagens  e técnicas que têm vindo a ser utilizadas na reeducação de jovens delinquentes, por vários especialistas desse domínio. O programa foi designado: Programa EQUIPAR, no  sentido  em  que  os  autores  pretendem  motivar  e  equipar,  ou  apetrechar,  os jovens delinquentes a ajudar‐se uns aos outros e a si próprios e, também, a viver em sociedade de forma social e emocionalmente ajustada. 

No  programa  citado,  Gibbs  conjuga  as  suas  técnicas  de  promoção  do desenvolvimento  moral  e  correcção  das  distorções  cognitivas  (que  equipam  o jovem,  segundo  expressão  de  Gibbs),  com  abordagens  que  utilizam  o  grupo  de pares  enquanto  grupo  de  ajuda mútua,  nomeadamente  através  da  promoção  de uma  cultura  positiva  do  grupo  de  pares  (PPC)  para  motivar  os  jovens  para  a mudança, transformando a influência negativa do grupo de pares numa influência positiva.  Esta  última  abordagem  havia  sido  utilizada  por  Potter  com  resultados limitados,  na  medida  em  que,  embora  motivados  para  mudar,  nem  sempre  os jovens estavam preparados (equipados, na expressão de Gibbs) com as estratégias e competências sociais que  lhes permitiam ajudar‐se uns aos outros eficazmente, reduzindo‐se,  por  vezes,  essas  tentativas  a  ameaças,  gritos  e  intimidação.  A conjugação  das  estratégias  propostas  por  Gibbs  (promoção  do  desenvolvimento moral  e  correcção  das  distorções  cognitivas)  com  a  prática  de  Potter  (utilizar  o grupo de pares enquanto grupo de ajuda mútua, para  induzir uma mudança pela positiva  nos  jovens)  permitia,  respectivamente,  equipar  os  jovens  no  sentido  de serem  capazes  de  se  ajudar  entre  si,  e  motivá‐los  para  a  mudança  ao  nível  das condutas.  O  programa  EQUIPAR  incluiu  ainda  o  ensino  de  técnicas  de desenvolvimento  e  utilização  de  competências  (“skills”)  sociais  para  lidar  com situações  interpessoais  tensas  e  problemáticas,  técnicas  de  gestão  da  raiva  e controlo  pessoal  (um  contributo  específico  de  Goldstein  ‐  um  dos  autores  que participaram na elaboração do programa) (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

O programa desenrolava‐se ao longo dos cinco dias da semana, em sessões que oscilavam  entre  a  uma  hora  e  a  uma  hora  e  meia,  com  seis  a  nove  jovens,  e orientadas  por  um  adulto.  Abordavam  em  alternância  várias  componentes curriculares:  educação  moral,  correcção  de  distorções  cognitivas  ou  erros  de 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? In,  V.  Trindade, N.  Trindade & A.A.  Candeias  (Orgs.). A Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: Universidade de Évora. 

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pensamento,  gestão  da  raiva,  treino  de  competências  (“skills”)  sociais  para  lidar eficazmente com situações interpessoais problemáticas. Incluíam também sessões de  ajuda mútua,  baseando‐se  no  registo  de  problemas  específicos  e  tentativa  de contribuir  para  a  sua  resolução  em  grupo  de  auto‐ajuda  (ver  Gibbs,  Potter  & Goldstein, 1995). 

O  programa  EQUIPAR  consiste  pois  numa  abordagem  multifacetada, enfatizando  múltiplas  componentes  e  integrando‐as  num  todo  coerente.  O programa foi objecto de uma avaliação sistemática e controlada, numa instituição correctiva  com  57  jovens  delinquentes  e,  segundo  os  seus  autores,  provou  ser bastante eficaz. Os ganhos obtidos com o programa situavam‐se quer ao nível de uma melhoria significativa das condutas no interior da instituição de reeducação, quer ao nível de uma diminuição da  taxa de reincidência para menos de metade, nos jovens que tinham sido libertados um ano depois de participarem no programa (Gibbs, Potter & Goldstein, 1995).  

O  programa  inclui  dois  instrumentos  de  avaliação  principais  (para  além  de várias “check lists” utilizadas no seu decorrer), a saber: 

‐  O  Social  Reflection  Questionnaire  of  the  Sociomoral  Reflection  Measure  – Short‐form (SRM‐SF), para avaliar a maturidade do juízo moral; 

‐ O Inventory of Adolescent Problems ‐ Short‐form (IAP‐SF) que foi construído para  avaliar  as  competências  sociais  dos  adolescentes  face  a  situações interpessoais problemáticas ou tensas. 

Gibbs,  Basinger  &  Fuller  (1992)  constataram  um  facto  curioso  ‐  era  possível diferenciar  delinquentes  de  não  delinquentes,  ao  nível  do  raciocínio moral,  com testes  de  produção,  mas  não  com  testes  de  reconhecimento.  Este  dado  parece sugerir que os sujeitos seriam capazes de reconhecer juízos morais mais maduros do que aqueles que eram capazes de emitir espontaneamente, ou seja, do que eram capazes  de  produzir  por  si  próprios  sem  o  recurso  à  leitura  de  alternativas.  É preciso salientar a este respeito que nos testes de reconhecimento os sujeitos são confrontados com a leitura de alternativas representativas de todos os estádios, o que  os  poderia  levar  a  escolher  estádios  ligeiramente  acima  daquele  em  que funcionam.  Esta  interpretação  do  facto  parece,  aliás,  compatível  com  a  ideia Kohlbergiana  de  que  a  maioria  dos  sujeitos  é  capaz  de  compreender  o  estádio imediatamente acima daquele em que se encontra, e fundamenta a ideia de que a mera  exposição  a  argumentos  de  um  estádio  acima  daquele  em  que  os  sujeitos funcionam, pode conduzir a níveis mais avançados de raciocínio moral (ver Blatt & Kohlberg, 1977).  

Deste  modo,  pode  dizer‐se  que  Gibbs,  situando‐se  ainda  no  quadro Kohlbergiano sobre o desenvolvimento da moralidade, ao integrar vários modelos teóricos na explicação do desenvolvimento moral, deu um contributo válido para a compreensão e resolução de questões sociais práticas, como sejam a reeducação de delinquentes, permitindo antever formas de prevenção da conduta anti‐social nos 

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jovens,  em  contexto  escolar,  no  âmbito  das  abordagens  do  desenvolvimento sociocognitivo combinadas com elementos das teorias psicanalíticas.  

Diaz‐Aguado,  M.,  Royo;  P.,  Segura,  &  M.,  Andrés,  M.  (1996)  desenvolveram programas de prevenção da  violência  escolar  com adolescentes  que  levavam em consideração  as  componentes  cognitiva  (raciocínios,  crenças  e  estereótipos associados  à  eficácia das  condutas  agressivas  como  forma de  resolver  conflitos); afectiva (atitudes e identificação com modelos adultos que valorizam a violência) e comportamental (falta de competência social para resolver conflitos de forma não violenta e experiência da violência) que pareceram revelar eficácia na prevenção das condutas agressivas e também apontam no sentido de uma maior eficácia dos programas que integram os contributos de diferentes modelos teóricos.  

CONCLUSÕES

Gibbs sugeriu que para compreender as relações entre a moralidade e a conduta anti‐social era necessário  integrar os contributos das teorias sociocognitivas com os  contributos  teóricos  das  correntes  psicanalíticas  e  compreender  o  papel  que determinadas  distorções  cognitivas  ou  racionalizações  desempenham  no desencadear  das  condutas  agressivas.  Sistematizou  quatro  grandes  tipos  de distorções cognitivas como estando associadas à conduta anti‐social, a saber: viés egocêntrico  ou  centração  nas  necessidades  e  desejos  do  eu  de  um modo  que  os direitos  e  necessidades  dos  outros  são  ignorados  ou  mesmo  desrespeitados; exteriorização da culpa e culpabilização dos outros pela sua má sorte, condição de vítima;  etiquetagem  e  minimização  da  humanidade  do  outro  desvalorizando  o dano  causado,  valorizando  os  actos  agressivos  e/  ou  negando  a  humanidade  do outro;  atribuição  de  hostilidade  às  intenções  do  outro,  pressupondo  o  pior  nas situações  sociais  e  nas  intenções  dos  outros  e  assumindo  a  impossibilidade  de mudar  o  comportamento.  Contribuiu  também  para  esclarecer  como  estes mecanismos  interferiam  com  a  inibição  da  empatia,  bem  como  da responsabilização  pelos  próprios  actos  e  eventualmente  do  raciocínio  sobre princípios de justiça (ver Barriga & Gibbs, 1996, pp. 333‐334).  

Esta  conceptualização  das  relações  entre  o  desenvolvimento  moral  e  as condutas agressivas permitiu uma melhor compreensão dos mecanismos que lhes estão  subjacentes,  bem  como  a  elaboração  de  programas  de  intervenção  com jovens delinquentes que parecem ser eficazes na redução das condutas agressivas e na prevenção da reincidência. Este dado parece relacionar‐se com o facto de tais programas  levarem  em  consideração  as  componentes  cognitiva,  afectiva  e comportamental  da  violência  e  integrarem  contributos  de  diferentes  modelos teóricos  (psicanálise,  aprendizagem  social  e  teoria  sociocognitiva).  Esta abordagem  integrada  parece  também  eficaz  na  prevenção  da  agressividade  em contexto escolar.  

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