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Departamento de História
A COMPANHIA DE JESUS E OS ÍNDIOS NA CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO
SÉCULOS XVI XVII E XVIII
Aluna: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes
Introdução:
O projeto de pesquisa, A Companhia de Jesus e os índios na Capitania do Rio de Janeiro
nos séculos XVI, XVII e XVIII, do qual me tornei bolsista PIBIC em agosto de 2012, teve início quatro
anos antes, em 2008, e tem como objetivos principais a visibilidade da ação da Companhia naquela
capitania, a identificação do índio enquanto sujeito histórico e, a partir da percepção do indígena
como sujeito – objetiva também a investigação da relação entre indígenas e jesuítas. Sendo uma
pesquisa coletiva, minha atuação complementa a ação de outros pesquisadores que vieram antes de
mim e que desenvolveram reflexões sobre as estruturas ocupacionais – colégio, aldeamento, fazenda -
da mesma, no processo colonial. Para isso, em sua prática são produzidos e procurados materiais que
buscam trabalhar o assunto por meio de levantamentos documentais e bibliográficos, fichamentos,
resenhas, artigos, cronologias, verbetes, apresentações orais, leituras críticas e discursões de textos que
nos sejam relevante como grupo, além da administração do blog e do grupo virtual de pesquisa.
A pesquisa tem como prática, promover um levantamento de fontes nos acervos da cidade do
Rio de Janeiro e bibliografias sobre a Companhia de Jesus entre o momento da criação da Capitania no
século XVI até a sua expulsão no século XVIII. Para isso o trabalho de pesquisa foi dividido em
subtemas – colégio, aldeamento e fazenda – e tendo a característica de uma pesquisa coletiva, cada
pesquisador da Iniciação Científica ficou responsável por um subtema. Inicialmente as alunas Andréa
Mota, Amanda Pasti, Cynthia Brandão, Débora Meira, Jéssicka D. Silva, Lívia Uchôa e Maria José, se
dedicaram a fazenda, ao colégio e ao aldeamento.
Atualmente, novas alunas fazem parte da pesquisa desde agosto de 2011 e adicionam ao
trabalho já realizado pelas pesquisadoras anteriores, são elas: Aline de Souza, Ana Paula Rodrigues,
Jessica Corrêa e eu Heloísa, trabalhando com Colégio, Fazendas, Aldeamentos e Índios,
respectivamente.
Metodologia:
No primeiro semestre de 2012, fui convidada para participar do grupo de pesquisa pela
professora Eunícia Fernandes, ingressando no grupo de pesquisa em agosto do mesmo ano. Com um
grupo já formado, uma série de trabalhos já realizados e um conhecimento do panorama
historiográfico sobre a Companhia de Jesus e sobre os índios das pesquisadoras da Iniciação
Científica, foi-me necessário passar por um processo de adaptação e atualização teórica acerca da
pesquisa como um todo.
No início da minha participação na pesquisa foi priorizada um mínimo de conhecimentos,
dando ênfase à leitura e discussão de textos. Como primeiro trabalho realizado, fui encarregada de ler
a tese de doutorado da nossa orientadora: Futuros Outros: homens e espaços. Os aldeamentos
jesuíticos e a colonização na América portuguesa. Onde a obra dá uma maior atenção aos
aldeamentos de São Barnabé e São Lourenço, e pelo qual tive a oportunidade de ver as ações dos
colonizadores, colonos e colonizados, e a sua articulação nos aldeamentos, em meio ao processo
colonial.
Como atividade individual, realizei uma lista de edições da obra História do Brasil de Frei
Vicente do Salvador que me possibilitou ter uma ideia da gama de edições que me estarão disponíveis
quando realizar minha monografia. Em cada edição terei a possibilidade de ter acesso a detalhes
colhidos por seus organizadores, introdutores ou autores de notas referente ao autor e ao contexto de
sua escrita, como por exemplo, sua motivação, suas dificuldades e outras mais, que me serão caras
intelectualmente e à pesquisa como coletiva.
Como atividade coletiva, o grupo fez a leitura crítica e a discussão do texto “Pragmática – a
constituição do pensamento histórico na vida prática” de Jörn Rüsen, onde o autor analisa a história,
que de acordo com o texto, não pertence aos profissionais que a escrevem sendo assim uma dimensão
essencial da vida prática dos homens no mundo. A construção da história se daria primeiro no
cotidiano, no qual os homens pensam, agem, buscam seus objetivos. Ao agirem no mundo, e se
expressarem por meio da linguagem, os homens constroem visões da história e do tempo, referem-se
aos fatos, criam concepções de causalidade e continuidade, interpretam o passado, o presente e o
futuro. Tal atividade coletiva me foi relevante como graduanda, pois me fez ter consciência de que, é
da sociedade que surgem as questões, e é a ela que as possíveis respostas devem ser levadas, por meio
da investigação histórica e do conhecimento acadêmico.
Ao longo do segundo semestre de 2012, foram realizados por mim alguns fichamentos:
“Vingança e temporalidade: os Tupinambá.” De Manuela da Cunha e Eduardo V. de Castro, onde
buscam analisar de forma minuciosa uma tradição componente da lógica de vida dos tupinambá, a
saber, a antropofagia. Foi realizado por mim também, o fichamento do texto “Xamanismo e tradução:
pontos de vista sobre a Floresta Amazônica.” de Manuela da Cunha, onde a autora busca
problematizar a questão do Xamã, discute como o conceito de tradução está inserido na lógica de vida
da Floresta Amazônica. Vem também tentar responder se o conceito de Xamanismo de outrora poderia
ser comparados com os chamados xamãs dos dias atuais.
Como atividade individual, o grupo realizou uma análise de livro didático em História. Para se
realizar tal experiência, primeiramente foi feita a leitura crítica e a discussão coletiva do texto
“Imagens de índios e livros didáticos: uma reflexão sobre representações, sujeitos e cidadania” de
Eunícia B. B. Fernandes, para que a partir dos conceitos teóricos à cerca do modo como se tem
abordado a experiência indígena nos livros didáticos e nos bancos escolares nos últimos trinta anos,
nós pudéssemos dar início à análise.
O objetivo desse trabalho foi pensar como o conhecimento que é construído na academia é
posto em prática nos bancos escolares. O foco desta análise foi o conteúdo programático e sua ordem
cronológica. Neste sentido os livros são contemplados em especial à sua abordagem sobre a
Companhia de Jesus na capitania do Rio de Janeiro. A partir da análise do livro didático foram
apresentadas reflexões em relação ao uso de suas metodologias e organização dos conteúdos.
No caso, optei pela coleção do Projeto Araribá de História – 6º ao 9º ano do Ensino
Fundamental, e sugeri uma aula com o uso de uma ou mais imagens do livro didático, para que fossem
analisadas e discutidas pelo corpo discente, pois penso que por vivermos em um mundo cada vez mais
imagético, torna-se imperativo que o aluno desenvolva a capacidade de ler não só letras, palavras e
sentenças, mas que possa também buscar interpretar o mundo visual ao seu redor. Tal atividade
proposta por mim, busca construir com o aluno uma autonomia crítica diante a aula e a oportunidade
de compartilhar a autoria da mesma.
No final do segundo semestre de 2012, realizei o fichamento da obra “A Heresia dos índios:
catolicismo e rebeldia no Brasil colonial.” De Ronaldo Vainfas, onde o autor familiariza-nos com o
fenômeno religioso entre os tupis, conhecido como Santidade, fala de suas singularidades em meio às
influências colonizadoras, fala também um pouco sobre seu líder e profeta Antônio, conhecido entre
os índios como Tamandaré. Além de nos fazer entender o nascimento desta religiosidade onde o índio
é lido como sujeito em meio a experiência de colonização
Como atividade individual, no início do primeiro semestre de 2013, produzi uma resenha da
tese de mestrado “O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre Antônio
Vieira.”, de Samuel Pontes Alves, que como de praxe, foi apresentada por mim para o grupo, tendo a
oportunidade de conhecer de forma mais plena a Companhia enquanto uma instituição que se
esmerava em formar mestres da persuasão. O conhecimento teológico não era o suficiente para lidar
com “o outro”, mas requeria o domínio da escrita, da oratória, do silogismo e do uso da analogia, para
que assim, houvesse uma identificação entre a palavra pregada e o cotidiano pensado e vivido pelo
ouvinte. Atributos de grande importância no processo de negociação colonial.
Ao longo de fevereiro a maio de 2013 foram realizadas por mim, uma atividade individual de
pesquisas no arquivo da Biblioteca Nacional, de revisão e catalogação de documentos diversos do
século XVI e XVII. Documentos de diversas naturezas que versam sobre questões administrativas e
políticas de Portugal, sobre a Companhia de Jesus no Brasil, a invasão holandesa, entre outros, com o
objetivo de serem feitos levantamentos documentais; coube a mim dar continuidade ao trabalho
iniciado por Lívia Uchôa através de levantamento de documentos históricos sobre os jesuítas.
Os documentos acessados se apresentam em sua grande maioria no formato de cartas dos
séculos XVI e XVII que se encontram em um estado de deterioração natural pelo tempo. Esta
deterioração trouxe-me alguma dificuldade para visualizá-los, além de serem documentos escritos em
outra temporalidade, o que me suscitou questões diversas sobre a escrita daqueles religiosos e as
possíveis influências que os levavam a se expressar daquela forma específica. Em meio à experiência
de tentar decifrar tal linguagem, confrontei-me com uma fusão de sentimentos. Uma mistura de
alegria, ansiedade e um estranhamento e talvez ainda, frustração frente às dificuldades enfrentadas
durante a atividade em questão. O trabalho ainda está sendo realizado, tendo previsão de conclusão no
próximo semestre de 2013.2.
Além disso, fizemos a leitura coletiva de duas resenhas sobre uma mesma obra Les Ouvriers
d’une Vigne Stérile: Les Jésuites et la Conversion des Indiens au Brésil -1580-1620 ("Os
trabalhadores da vinha estéril".( Os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil 1580-1620), de
Charlotte de Castelnau-Lestoile, sendo elas: Tirando frutos de uma vinha estéril: acordos e
adaptações do projeto jesuítico no Brasil ( 1580-1620), de Maria Regina Celestino, e Ação
missionária e identidade jesuíta na província do Brasil, de Regina Célia Gonsalves. Tal atividade foi
realizada para que tivéssemos uma base teórica sobre o como se fazer uma resenha, e as formas mais
usuais de resenhas.
Também assistimos a três apresentações de mestrandos e suas respectivas teses, com o
intuito de ampliarmos nossos conhecimentos acerca da experiência prática de uma dissertação. Além
disso, tal experiência foi para o grupo e para mim, uma oportunidade de aprofundar o conhecimento
em áreas que possam ser de nosso interesse e saber um pouco mais do que é produzido na
universidade. Também, para alguns do grupo que estão perto de passar pela mesma experiência
(mesmo sendo em nível de graduação) pode ser uma forma de se preparar.
Essa experiência nos deu uma ideia do que é a defesa, já que não é simples. Penso que
assistir a uma defesa, é bom para quem deseja entrar no mestrado, saber o que está acontecendo no
meio acadêmico e conseguir orientar melhor sua pesquisa, inovando no direcionamento.
Foram elas: Os Jesuítas na China: O Tratado da Amizade de Matteo Ricci e sua
contribuição para o diálogo cultural entre o Oriente e Ocidente séculos XVI-XVII. de Luiz Felipe
Urbieta Rego, onde tivemos a oportunidade de entender o perfil intelectual daqueles jesuítas que,
abraçaram o ministério missionário, viajando para todos os cantos do mundo, se deparando com o
desafio de falar e escrever outras línguas, e pôr em prática a capacidade de se adaptar à outras culturas;
Joaquim José da Natividade: o artista e sua presença no sul de minas, na virada do século XVIII e
XIX de Maria Cristina N. de Azevedo, onde o grupo veio a ampliar a sua compreensão acerca da
importância da religiosidade mineira, de todo um patrimônio histórico-religioso construído ao longo
do processo colonial e a posteriormente, e o processo de crescimento da vida urbana em torno das
igrejas; e Os Jesuítas na América portuguesa: a conquista de riquezas na capitania Rio de Janeiro,
de Ronaldo Teixeira de Couto, foi nos dada a oportunidade de deslocar o nosso foco para um campo
mais pragmático e econômico da Companhia enquanto uma instituição, ou seja, ter uma visão geral da
lógica econômica que sustentava literalmente, aquela estrutura ocupacional colonial.
Por fim realizamos a leitura crítica e a discussão coletiva dos textos “Introdução: Reduzir a
palavra indígena.”, “Apontamentos gerais sobre a catequese: traduzir o verbum.”, “Síntese do
Percurso e Problemática Históricas Anexas.” e “As Novas Gramáticas Sociais do Encontro Ritual.”
de Adone Agnolin, que analisa a tradução feita pelos jesuítas, dos dogmas doutrinais cristãos para os
indígenas americanos. Os missionários faziam uma tradução de uma tradição religiosa ocidental para
uma cultura que não a reconhecia como familiar. Os códigos culturais daquela cultura “estranha”
deviam servir para introduzir a tradição religiosa ocidental entre os indígenas. Para fazer isso, a
“redução” que se forjou em catecismo, devia corrigir os costumes e as crenças dos novos catecúmenos
americanos. Os costumes impunham uma disciplina, enquanto que as crenças incutiam a doutrina.
Durante essa caminhada, a troca cultural deu origem uma relação com o sagrado que se apresenta
numa nova estrutura, tipicamente colonial. O texto tem relevância à pesquisa por mostrar a
importância do catecismo enquanto instrumento jesuítico de evangelização nos aldeamentos, em busca
da confissão e conversão dos índios no processo colonial.
Conclusão:
Nesse um ano de pesquisa pude aprender mais sobre o ofício do historiador, seja fazendo
levantamentos na Biblioteca Nacional e de teses acerca do tema. A dificuldade em decifrar
documentos específicos sobre a Companhia me ajudou a ampliar o meu potencial acadêmico por
desenvolver e incentivar em mim o pensamento crítico.
Com as dificuldades – já quase superada – na leitura desses documentos pude perceber o
crescimento do meu aprendizado, Aprendi a ser paciente e a não desistir ao primeiro obstáculo, e isso
fará toda diferença à minha formação de historiador/pesquisador, fora das leituras e das discussões
apresentadas no grupo. Pude ver também que o grupo aumentou as minhas perspectivas acera do tema
da colonização.
Fazer parte do grupo de pesquisa e analisar a Companhia de Jesus e suas estruturas ocupacionais como meios para consolidar o projeto missionário, vem a elucidar minha ideias com
relação a minha monografia, quanto à reflexão sobre o processo de negociação entre colonizador e
colonizado, em meio ao encontro catequético, o nascimento de uma relação especificamente colonial
com ao sagrado.
Referências:
AGNOLIN, Adone. “Introdução: Reduzir a palavra indígena” In: Jesuítas e Selvagens: a negociação
da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São Paulo:
Humanitas/FAPESP, 2007.
_________ “Apontamentos gerais sobre a catequese: traduzir o verbum.” In: Jesuítas e Selvagens: a
negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São
Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.
_________ “Síntese do Percurso e Problemática Históricas Anexas.” In: Jesuítas e Selvagens: a
negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São
Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.
_________ “As Novas Gramáticas Sociais do Encontro Ritual.” In: Jesuítas e Selvagens: a
negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São
Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.
ALVES, Salomão Pontes. O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre
Antônio Vieira. 2007. 119 pp. Dissertação de Mestrado em História Social. Universidade
Federal Fluminense. Niterói.
AZEVEDO, Maria Cristina N. de. Joaquim José da Natividade: o artista e sua presença no sul de
minas, na virada do século XVIII e XIX. 2013. Dissertação de Mestrado – Departamento de
História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. 2000. Les Ouvriers d’une Vigne Stérile: Les Jésuites et
la Conversion des Indiens au Brésil (1580-1620). Lisboa/ Paris: Centre Culturel Calouste
Gulbenkian/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 557
pp.
COUTO, Ronaldo Teixeira de. Os Jesuítas na América portuguesa: a conquista de riquezas na
capitania Rio de Janeiro. 2012. Dissertação de Mestrado – Departamento de História,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
CUNHA, Maria Manuela Ligeti Carneiro da; CASTRO, Eduardo Viveiro de. “Vingança e
temporalidade: os Tupinambá”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo, Editora
Cosac Naify, 2009.
________ “Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta Amazônica” . In: Cultura com
aspas e outros ensaios. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2009.
FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos. “Imagens de índios e livros didáticos: uma reflexão sobre
representações, sujeitos e cidadania”. In: A história na escola. Rio de janeiro: Editora
Fundação Getúlio Vargas, 2008.
REGO, Luiz Felipe Urbieta. FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos. A China dos jesuítas: o Tratado
da Amizade de Matteo Ricci e sua contribuição para o diálogo cultural entre Oriente e
Ocidente. Rio de Janeiro, 2012. 158p. Dissertação de Mestrado – Departamento de História,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
RÜSEN, Jörn. “Pragmática – a constituição do pensamento histórico na vida prática”. In: Razão
histórica – Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UnB, 2001.
MELANI, Maria Raquel Apolinário (Ed. Responsável). Projeto Araribá: História – 6º ao 9º ano do
ensino fundamental. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.
VAINFAS, Ronaldo. “Crenças: o paraíso tupi e seu profeta”. In: A Heresia dos índios: catolicismo e
rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Rio de Janeiro: Typ de G. Leuzinger e Filhos, 1889,
261p.
Anexos:
(1)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro séculos XVI, XVII e XVIII.
Departamento de História
Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes.
Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2012.2
FICHAMENTO
Obra:
CUNHA, Maria Manuela Ligeti Carneiro da; CASTRO, Eduardo Viveiro de. “Vingança e
temporalidade: os Tupinambá”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo, Editora Cosac
Naify, 2009.
Lugar de fala do autor: Manuela graduou-se em matemática pura na Faculté des Sciences, Paris, em 1967. Em 1970,
ingressou na pós-graduação em antropologia social da Unicamp, instituição na qual lecionou de 1972 a
1984.
A partir de 1978 engajou-se na defesa dos direitos dos índios no Brasil. Foi cofundadora e
primeira presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, de 1979 a 1981. Como presidente da
Associação Brasileira de Antropologia (ABA) de 1986 a 1988, levou essa instituição a desempenhar
um papel fundamental no desenho e na aprovação do capítulo sobre os direitos dos índios na
Constituição de 1988.
Docente do Departamento de Antropologia Social da USP desde 1984, fundou em 1990 o
Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII). A partir da década de 1990, dedicou-se aos
conhecimentos e questões de direitos intelectuais de povos tradicionais.
Professora titular de antropologia da USP, se tornou “full professor” no Departamento de
Antropologia da Universidade de Chicago, onde lecionou até 2009. Foi também professora visitante
em várias universidades e fellow do Center for Advanced Studies in Behavioral Sciences. Foi membro
do Conselho Deliberativo do CNPQ e membro do IAG, o órgão independente de especialistas que
monitorou o Programa de Florestas Tropicais financiado pelo PPG-7.
Recebeu, entre outros, o Prêmio Érico Vanucci Mendes em 1992, a Médaille de Vermeil, da
Academia Francesa (1993), a Ordem do Mérito Científico (2002) e, em 2007, em conjunto com Mauro
W. B. de Almeida, o Prêmio Chico Mendes do Acre. Desde 2002, é membro da Academia Brasileira
de Ciências.
Resumo: Os autores em Vingança e temporalidade: os tupinambá, vem por nos trazer uma análise
minuciosa de uma tradição singular, porém, fundamental para a lógica de vida dos tupinambá, a saber,
a antropofagia. O texto problematiza e suscita questionamentos em face de uma realidade que, para
eles, se apresenta de uma forma mais que natural. Na realidade, quase que uma necessidade visceral,
onde o conceito de vingança, memória e tempo estão firmemente atrelados.
Conteúdo:
Os autores iniciam o texto, mencionando a inconstância dos Tupinambá em se converterem e
desconverterem e, falam também sobre sua obstinação maior, a saber, a vingança. Na visão do
colonizador, a guerra nada mais é do que fonte de escravos e lucro. Enquanto que na guerra índia, o
inimigo é apresado. O " comer parecia vicário em relação ao matar. Havia formas crescentemente
perfeitas de realizar a vingança." (p79)
Para o Tupinambá, libertar o inimigo é uma indignidade, já que, mata-lo e comê-lo representa
o conceito de vingança por excelência. Sendo assim, em um ritual cerimonial no terreiro, o prisioneiro
era abatido e sua carne distribuída entre a tribo e os visitantes.
O abatedor "ganhava um nome" que, poderia ser de várias formas, desde que fosse quebrada a
cabeça do abatido. E, é nesta atitude que se prefigura a essência da vingança que só se tornava
completa com o ato da antropofagia. A vingança só tem sentido na relação entre o morto e o abatedor.
"bastava também matar os inimigos no campo de batalha - desde que lhe
quebrasse devidamente a cabeça - ou mesmo, prática muito corrente,
desenterrar mortos inimigos e lhes esfacelar o crânio." (p 80)
Ela, a vingança, lhe dá ascensão social e, o faz plenamente homem. Confere ao abatedor
honra, prestígio político, acesso a poligamia que, nesta sociedade é um sinal de ostentação do
guerreiro, além de ser uma honra também ao abatido morrer em terreiro.
De acordo com os autores, a vingança é o acesso ao paraíso que, seria a instituição por excelência
da sociedade Tupinambá. Toda sua organização social se remete à ela. Sua religião é definida pelo
ponto de chegada, ou seja, a Terra sem Mal que os faz deuses. E, é pelos feitos guerreiros que se tem
acesso mais rápido à essa 'terra.'
A festa canibal tem a participação de todos e, é uma forma de qualificar os devoradores em
possíveis vítimas. A antropofagia é neste contexto, um sinal de lealdade e cumplicidade que resulta em
uma relação permanente de hostilidade. A morte de agora é consequência das mortes futuras. Ou seja,
a vingança é perpétua e inconclusa. Os inimigos são permanentes.
O canibalismo é a condição de perpetuação deste sistema, a saber, os ódios requentados. Seu
ponto de partida é virtual e, de acordo com o mito de origem, na realidade o primeiro canibalismo foi
uma retaliação.
“Uma mulher tinha um filho único que havia sido morto na guerra. Seu
matador é capturado. A mulher lança-se sobre ele e morde-lhe a espádua. O
prisioneiro escapa e conta aos seus que os inimigos haviam tentado devorá-
lo vivo: decidiram que assim fariam no futuro, comeriam os prisioneiros; os
inimigos então decidiram da mesma forma."(88-89)
A vingança Tupinambá é a tradução de uma morte eminente e uma transição, uma dívida de
mortes antigas, um pretexto de futuras mortes que se desdobra em um ciclo vicioso. Fala do passado e
do futuro, mantendo uma conexão entre os que se foram e os que estão por vir.
Os autores ressaltam a vingança como única e singular instituição forte dos Tupinambá.
"Singularidade essa que era realçada pela aparente desproporção entre
meios e fins: esses índios que percorriam, escreve Anchieta, até mais de
trezentas milhas quando iam à guerra, contentavam-se com quatro ou cinco
inimigos aprisionados, dando por finda a expedição." (p 90)
Para a vítima, é uma honra a morte em terreiro, ou seja, " a morte gloriosa". Então, qual o
significado dessa morte por esfacelamento do crânio? A autora tenta nos responder dizendo que
"poderia sugerir uma liberação rápida da alma, que encontraria imediatamente o caminho da terra
sem Mal: a quebra do crânio de Maíra-Monan seria seu paradigma." (pg 90)
Para a vítima, a morte em terreiro é a preservação de uma memória atrelada a vingança. Ao
morrer, ele adquire glória, renome e fama tanto quanto o seu abatedor. Se tornando assim objeto de
rememoração e projeção do futuro. Há uma partilha da glória entre vencedores e vencidos, onde “a
cumplicidade, o partilhar da glória, entre matadores e vítimas, que deixou perplexos os cronistas. A
memória de cada grupo, o futuro de cada grupo, se dá por inimigos interpostos." (p 92)
De acordo com os autores, o túmulo honroso seria o estômago do inimigo, que une o que foi
com o que há de vir. A morte gloriosa, é também uma morte social. Sendo um jogo de vingança onde a
circulação da memória se perpetua. O morto deixa por herança uma promessa. A memória cria uma
identidade que é produzida com o tempo.
Os autores então, se questionam: para que fim dá essa morte? E concluem que todos buscam
alcançar a imortalidade por meio do canibalismo. Para que haja futuro, é preciso uma morte por meio
da vingança, que é a herança dos antepassados. Sendo assim, a memória será o motor de novas
vinganças. O inimigo é o guardião da memória do grupo," passam a ser indispensáveis para a
continuidade do grupo, ou melhor, a sociedade tupinambá existe no e através do inimigo."(p 93)
Nesta parte do texto, os autores notam o contraste entre a sociedade tupinambá e as
sociedades de língua Jê, onde tudo tem seu lugar. Sendo tudo lugar, que ao ser imutável, vem a
exorcizar o tempo. A aldeia é o microcosmo.
"o conceito de estrangeiro tem seu lugar alocado na estrutura cerimonial,
já que é o nome dado a um dos grupos de praça." (...) ou seja, o chefe
honorário dos Apinayé na aldeia krahô será um krahô, como o chefe krahô
no Rio de Janeiro será um carioca." (p94)
Para os de língua Jê, as relações com os inimigos são concluídas, e a vingança é cancelada. Na
batalha não há uma relação com o passado. Sua utopia é dada no tempo. Enquanto que aos tupis, ela é
dada no espaço. Este contraste vem resaltar as características tupis, onde a memória trabalha para um
futuro, e não com o passado.
Finalmente surge a problematização principal do texto, que é o esforço de responder a questão:
será que" a clássica representação da sociedade primitiva" como fria, basta para dar conta de todos as
sociedades indígenas americanas. Afinal, o que é uma sociedade fria?
" essas sociedades são recalcitrantes ao evento: nelas, o acontecimento é
digerido sem que se converta em questão. Sociedades quentes ou
históricas... seriam aquelas... em que o acontecimento passa a ser elemento
de um debate que se refere ao passado para antecipar sobre o futuro." ( p
98)
Considerações finais:
"a vingança tupinambá, longe de remeter à aquelas máquinas de suprimir o
tempo que povoam a fábrica social primitiva (mito e rito, totem e linhagem,
classificação e origem), é antes uma máquina de tempo, movida a tempo e
produtora de tempo, vindo a construir a forma tupinambá integralmente
nessa dimensão." (pg 98)
"A guerra de vingança tupinambá é uma técnica da memória, mas uma
técnica singular: processo de circulação perpétua da memória entre os
grupos inimigos, ela se define, em vários sentidos, como memória dos
inimigos (...) É abertura para o alheio, o alhures e o além: para a morte
como positividade necessária. É enfim, um modo de fabricação do
futuro."(p99)
Conceitos utilizados:
Vingança, memória e tempo.
Interlocutores: Varnhagen, Hélène Clastres, Gândavo, Leite, Métraux, Florestan Fernandes, Vernant, Azanha,
Vidal, Schultz, Crocker, Melatti, Hugh-Jones, Lévi-Strauss, Rosaldo, Dumont, Lefort e Pierre Clastres.
Fontes:
Os autores fizeram uso de fontes primárias do séculos XVI, XVII e XVIII. Em sua maioria cartas
e anotações dos jesuítas e viajantes que se encontravam em terras brasileiras.
(2)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI -XVIII.
Departamento da História
Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes
Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2012.2
FICHAMENTO
Obra:
CUNHA, Manuela Carneiro da. “Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta
Amazônica”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2009.
Lugar de fala do autor:
Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, formou-se em matemática pura na Faculté des
Sciences, Paris, em 1967. A partir de 1978 engajou-se na defesa dos direitos dos índios no Brasil. Foi
co-fundadora e primeira presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, de 1979 a 1981. Como
presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) de 1986 a 1988, levou essa instituição a
desempenhar um papel fundamental no desenho e na aprovação do capítulo sobre os direitos dos
índios na Constituição de 1988.
Docente do Departamento de Antropologia Social da USP desde 1984, fundou em 1990 o
Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII). A partir da década de 1990, dedicou-se aos
conhecimentos e questões de direitos intelectuais de povos tradicionais. Atualmente realiza estudos
sobre os mecanismos sociais responsáveis pela agrobiodiversidade no médio Rio Negro e dirige um
projeto de pesquisa sobre os efeitos dos direitos intelectuais sobre as populações tradicionais e seus
sistemas de conhecimentos.
Professora titular de antropologia da USP, se tornou “full professor” no Departamento de
Antropologia da Universidade de Chicago, onde lecionou até 2009. Foi também professora visitante
em várias universidades e fellow do Center for Advanced Studies in Behavioral Sciences. Foi membro
do Conselho Deliberativo do CNPQ e membro do IAG, o órgão independente de especialistas que
monitorou o Programa de Florestas Tropicais financiado pelo PPG-7.
Recebeu, entre outros, o Prêmio Érico Vanucci Mendes em 1992, a Médaille de Vermeil, da
Academia Francesa (1993), a Ordem do Mérito Científico (2002) e, em 2007, em conjunto com Mauro
W. B. de Almeida, o Prêmio Chico Mendes do Acre. Desde 2002, é membro da Academia Brasileira
de Ciências.
Resumo: A autora em Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta Amazônica, busca
problematizar a questão do Xamã, entidade de suma importância para os povos indígenas e, vem a
discutir como o conceito de tradução está intrínseco em sua existência e na Floresta Amazônica. Vem
também tentar responder se o conceito de Xamanismo de outrora teria semelhança, nos dias atuais.
Conteúdo:
Manuela já inicia o capítulo com uma afirmação: “Aquilo que se chamava “cultura” e cujo
sujeito era a “sociedade” se dissolveu” (pp 102). E logo suscita uma questão: como pode pontos de
vista separados, ter coerência?
Em seguida, a autora relaciona o crescimento do xamanismo com a queda das instituições
tradicionais, observando que sua clientela é em maioria regional, porém sem distinção étnica, desde o
princípio da colonização. Sendo assim atemporal.
“O crescimento do xamanismo pode se manifestar, assim, no interior de
certos grupos indígenas, em movimentos milenaristas, mas também no meio
urbano, na maioria das vezes – e essa é minha terceira observação – com
técnicas heteróclitas que se autoproclamam tradicionais” ( p 103).
A partir de então, a autora passa a falar de algumas organizações sociais e políticas, mas se
atendo a uma em especial: a estrutura em rede ou fractal, onde cada unidade tem semelhanças com as
que estão em seu redor. Manuela nos dá o exemplo dos Aruaque sub-andinos do período colonial, que
eram comunidades autônomas e unidades que podem ser locais e regionais, definidas pelo rio ou seu
segmento. Todas se revestindo da mesma forma.
A autora fala um pouco sobre a mestiçagem do xamã, dando mais relevância à posição
relativa das redes fluviais que são uma metáfora ao grau generalizador do ponto de vista particular.
Sua mestiçagem seria uma síntese de experiências locais e do ponto de vista geral. Os xamãs por
serem viajantes por excelência, sob o efeito de alucinógenos, vêm tudo, por isso não se surpreendem.
Manuela dá-nos um exemplo de xamã poderoso, que mora em um lugar chamado Divisão,
“partilha da águas”, cabeceira de seis bacias. Apesar de nascido em extremo jusante ( rio abaixo), ele
se encontra em uma hiper montante ( rio a cima onde por estar centralizado, tem uma visão local e
global), sendo assim um tradutor. Um viajante do tempo e espaço. Um profeta.
“Cabe-lhes, sem dúvida, interpretar o inusitado, conferir ao inédito um
lugar inteligível, uma inserção na ordem das coisas. Essa ordenação não se
faz sem contestação e, frequentemente, é objeto de ásperas disputas que se
assentam tanto na política interna quanto nos sistemas de interpretação.” (
p 107)
Traduzir seria mais do que a função de arrumar, e sim remanejar o novo. Não sendo assim um
legislador. Por viajar por vários mundos, vê por todos os ângulos, dando nome ao que vê, usando um
linguagem distorcida e incerta de quem enxerga sob uma perspectiva particular.
Nesse momento a autora nos lança uma pergunta: o que é tradução? E, nos responde
afirmando que a “ boa tradução é, então, aquela capaz de apreender os pontos de ressonância, de
fazer com que a intentio em uma língua reverbere em “outra.” ( p 108)
Então ela nos revela a tarefa do tradutor e o por quê dela ser tão grandiosa,
“(...) por ser ela a busca da verdadeira linguagem, da qual as línguas
particulares seriam apenas fragmentos (Benjamin 1968: 78), como cacos de
um vaso que, embora diferentes entre si, se ajustam perfeitamente para
restituir um conjunto que os ultrapassa: o ajustamento dos cacos atesta a
existência do vaso.” ( p108)
Manuela então, vem a nos lembrar da dificuldade que o tradutor se depara em sua função.
Lidar com códigos e fazer-lhes ganhar sentido. Sentido é a percepção de relações, que fazem conexões
e enriquece o mesmo, ganhando significados. Ao xamã compete o esforço de reconstruir o sentido,
estabelecendo-lhe relações, achando ligações.
“A codificação sonora das visões e sua decifração permitem, assim, obter
tanto desenhos imateriais, aplicados sobre os doentes a serem curados,
quanto desenhos materializados sobre vasos, tecidos e corpos. Os aromas
acrescentam um código olfativo aos precedentes, de tal modo que ‘os sons,
as cores e os odores correspondem’.” ( pp 109-110)
A autora nos traz um exemplo contemporâneo, Carlito que é Kaxinawa. Ele as vezes
desempenha algumas atividade tais como, assistente de antropólogo, porém é também xamã. Mistura
técnicas indígenas de diversas etnias, com rituais da umbanda. Além de ser relativista. Os kaxinawa
consideram muito aos Japós, que designam uma espécie de pássaro mas, têm uma condição humana.
“(...) Japós: vivem ao modo dos homens, cultivam mandioca, bebem
kamarãpi (ayahuasca), bebem cerveja de mandioca (caissuma). São
inclusive superiores aos homens, na medida em que observam a paz interna
e vivem sem discórdia. São os filhos que Pawa, o sol, deixou na terra, são os
filhos do ayahuasca.” ( p111)
Os Japós são pássaros tecelões, entre eles em especial, os tisirotsi ou japiim (Cacicus cela),
vivem em bandos de trinta, em uma mesma árvore. São pacíficos e imitam qualquer dos chamados e
ruídos que ouvem. O xamã tem uma relação especial com esses pássaros. Pois eles são descendentes
de xamãs, que sabiam imitar todos os gritos de animais e eram grandes caçadores. Como bom caçador
o xamã usa de uma linguagem sedutora, assim como os animais também o fazem.
Em um mundo urbano e globalizado, o xamã faz uso de novas técnicas e aprendizados, afim
de por em prática seu ofício, que é “reunir em si mais de um ponto de vista”, afinal, só ele pode
enxergar de diferentes modos, “colocar-se em perspectiva”, ver com os olhos do outro ( p112). O
xamã é o geógrafo, é o decifrador, o tradutor. E, é por meio dele, ou seja, pela ressonância e harmonia
que traz consigo, que há “a totalização dos pontos de vista singulares e irredutíveis”, ou seja, o
traduzir ( p 113).
Considerações finais: Para concluir, a autora vem a afirmar, mesmo que com uma margem de dúvida, uma
existência de sistema e, não uma cultura que corresponda ao mesmo. Sendo assim, também não
existiria uma cultura global. A correspondência dos sentidos é mais local. Por isso é o local que dá ao
xamã seus poderes. Ao xamã cabe-lhe a tentativa de traduzir, de totalizar, de construir sentido.
Conceitos utilizados: Xamanismo, tradução, cultura global, cultura local e sistema.
Interlocutores: Almeida, Anne-Christine Taylor, Aquino & Cataiano, Benjamin, Bhabha, Brown & Fernandes,
Chaumeil, Crick & Koch, Descola, Erikson, Gebhardt-Sayer, Gilles Deleuze, Gruzinski, Hertz,
Hugh-Jones, Kensinger, Lagrou, Lima & Aquino, Maurice Bloch, McCallum, Michel Serres,
Peter Gow, Piyãko & Mendes, Renard-Casevitz, Sahlins, Smith, Taussig, Terence Turner,
Townsley, Vainfas, Viveiro de Castro, Weiss, Wright & Hill.
Referência:
http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/1320/Manuela-Carneiro-da-Cunha-.aspx
(3)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do rio de janeiro nos séculos XVI-XVIII.
Departamento de História
Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes
Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2012.2
FICHAMENTO
Obra:
VAINFAS, Ronaldo. “Crenças: o paraíso tupi e seu profeta”. In: A Heresia dos índios: catolicismo e
rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Lugar de fala do autor: Ronaldo Vainfas formou-se em história pela UFF (Universidade Federal Fluminense), onde
leciona desde 1978, onde também concluiu seu mestrado em 1986; doutor pela USP (Universidade de
São Paulo), além de pesquisador 1-A do CNPq.
Resumo:
O autor neste capítulo familiariza-nos com o fenômeno religioso entre os tupis, conhecido
como Santidade, e fala de suas singularidades em meio as influencias coloniais. Fala também, um
pouco sobre seu líder e profeta Antônio, conhecido entre os índios como Tamandaré. Além de nos
fazer entender a lógica desta religiosidade.
Conteúdo:
Terra sem Mal, Nova Jerusalém.
O autor inicia o capítulo, tentando explicar o que seria a santidade ameríndia.
“(...) era, antes de tudo, uma cerimônia particular - caraimonhaga ou
acaraimonhang -, na qual, por meio de bailes, transes, cânticos e ingestão
de tabaco, os índios encenavam e vivenciavam o mais caro de seus mitos: a
busca da Terra sem Mal. O rito do caraimonhaga e a peregrinação
contínua, que dela resultava permitiam aos tupis, liderados pelos caraíbas,
sair do mundo dos homens e ingressar no mundo dos ancestrais; abandonar
o tempo cotidiano e vivenciar o tempo eterno, o tempo dos deuses.” (p 105)
A seguir, Ronaldo nos faz conhecer o sentido do título do capítulo, a Terra sem Mal: espaço e
tempo sagrado.
(...) Espaço sagrado: o único concebido como verdadeiramente real, na
medida em que encerra o “lugar de origem”, a “morada dos deuses e
heróis”. Espaço sagrado, espaço cósmico: oposto a todo o resto, ao caos, à
“extensão informe que o cerca”. Tempo sagrado: tempo da origem e do fim,
tempo que se renova eternamente, circularmente. Tempo sagrado: o tempo
dos mitos cosmogônicos e escatológicos, tempo cíclico do “eterno
retorno”.’ ( p 105)
Para os índios, a ideia de santidade ganhava significado mediante a Terra sem Mal. Ela é
narrada nos cânticos tupis como o começo e o fim que vem a se converter em eternidade. O triunfo da
santidade seria a descoberta da Terra sem Mal, pois se ancorava no próprio mito, e de forma radical e
inerte vivia sob a tradição tupi. Mesmo assim, era a fusão da mitologia tupi com o pensamento
anticolonial, antiescravista e anticristão caraíba, onde a história era absorvida para que fosse
transformada, e “vinha para emendar a lei dos cristãos”, promover “um fogo novo”, eliminar os
brancos da face da Terra, fazer com que os escravos virassem “senhores de seus senhores”.’ (p 107)
O autor chama a atenção para a importância da transformação que os mitos tupis sofreram sob o
impacto colonial. O mito da Terra sem Mal, ganhou um sentido de resistência social e cultural.
Contudo, tal crença, acaba por absorver características culturais de quem tanto odiavam. “A própria
ideia da Terra sem Mal embutida na profecia do triunfo da santidade assemelhava-se em diversos
relatos, ao modelo do paraíso celestial cristão. Os que aderissem à santidade, pregavam os índios,
“iriam voar para o céu”.’ (p 109)
Ronaldo então traz a tona, a questão do processo aculturador, que se apresenta como uma via
de mão dupla. Lembra-nos que a maioria dos adeptos da santidade e seu clero, tiveram contato com os
jesuítas e com os costumes católicos. Também, os jesuítas se viram obrigados a adaptar a doutrina às
tradições tupis. O mito dos tupis se embriagou de tal forma dos costumes católicos que chagaram ao
ponto de chamar a igreja da santidade de Nova Jerusalém.
Entretanto, A Terra sem Mal se faz presente aqui no mundo terreno, enquanto que o Paraíso
Celestial dos cristãos só seria conhecido no pós- morte. Além da noção de tempo, onde para os índios
o tempo sagrado é cíclico, e para os cristãos ele é construído de forma linear, com começo, meio e
fim. Os nativos sabiam “integrar o que lhes convinha do “outro”, chegando, no limite, a advogar
como sua a “verdadeira Igreja” e a pretender “emendar a lei dos cristãos”.’ (p112)
O caraíba católico e sua corte celeste.
O autor então, passa a falar um pouco do líder da santidade, o índio Antônio, grande profeta da
santidade, que ganha nome cristão na aldeia de Tinharé, litoral de Ilhéus, onde foi catequisado.
Fugindo para o sertão, acaba nas matas de Jaguaribe. Pelo caminho traz consigo uma mensagem
guerreira e uma esperança da Terra sem Mal. Venerado, dizia ser dotado de poderes divinos.
Semelhante aos “heróis da mitologia tupi, o caraíba-mor da santidade dizia ser capaz de
metamorfosear os outros e a si mesmo, de transformar as velhas em moças, de fazer as plantas
crescerem sozinhas.” (p113)
Antônio tinha esposa e filhos. Caraíba, seguia o exemplo dos pajés-açu, e acreditava ser
descendente dos deuses, dos heróis tupis, além de nascer de mãe, somente. Diferente dos caraíbas
míticos, que herdavam o heroísmo dos pais.
‘(...) dizia mesmo ser deus, e ninguém menos do que Tamandaré, o
ancestral dos tupinambá, o filho de Monan que escapara do dilúvio” metido
no olho de uma palmeira” com sua mulher. Era Tamandaré que nele
encarnava e por ele falava quando Antônio, em transe, anunciava o iminente
triunfo da santidade. Descendente dos deuses, e ele mesmo um homem-deus,
Antônio Tamandaré ancorava seu discurso e legitimava o seu poder nas
mais arraigadas tradições tupis: a mitologia heroica da criação do mundo e
a busca da Terra sem Mal – o almejado refúgio eterno dos índios.’ ( p113)
Educado por jesuítas, conhecia boa parte da doutrina cristã e seus principais símbolos. Pode
então construir, uma identidade híbrida, onde mensagem bíblica e tupi, se fundem. Chega ao ponto de
se intitular um papa, nomear bispos, vigários, e outros. Além de batizar e dar nomes de santos à sua
corte. Esta “ambiguidade do caraíba, e da ´própria santidade que liderava, espelha o hibridismo da
catequese, e do método evangelizador, que traduzia o catolicismo para língua tupi e o moldava aos
costumes nativos.” ( p 114)
O autor faz menção e destaca o prestígio às índias Santa Maria da Santidade de Jaguaripe, que
apesar das fontes incertas, é considerada Mãe de Deus. Tais mulheres seriam as esposas de Antônio e
de seu irmão Santinho, que no mito seriam Tamandaré e Aricute, sobreviventes de um dilúvio por
estarem trepados no alto das árvores.
Ronaldo sempre nos lembra que a incerteza das fontes, reflete o temor que os nativos tinham
do visitador, e era uma forma de mascarar suas “heresias” aos olhos do mesmo. Também menciona
que, a importância da mulher e, em especial da Mãe de Deus na santidade ameríndia, seria um legado
jesuíta. Fora ela, “Mãe de Deus” que passou a comandar a seita na fazenda de Fernão Cabral.’ (p
116)
Conclusões finais:
Para concluir, o autor se diz convencido de que o “papa” ou Antônio, filtrou e refez da forma
tupi, tudo o que apreendera dos jesuítas. Além disso, Ronaldo diz carregar consigo, uma suspeita
maior. Toda essa cultura híbrida teria sido forjada nos aldeamentos da Companhia de Jesus.
“(...)a maior parte das crenças e hibridismos culturais urdidos na
santidade ameríndia foi gerada não em Palmeiras Compridas, nem na
fazenda de Fernão Cabral, mas nos aldeamentos da Companhia de Jesus.”
(...) jesuítas e tupinambá teceram, juntos, a teia da santidade. Promoveram,
juntos, a metamorfose da mitologia tupi, transformando-a, para desespero
dos colonizadores, em idolatria insurgente. Parece ter sido no interior da
missão, em fim, que se elaborou o exótico e surpreendente catolicismo
tupinambá.” (p 117)
Conceitos:
aculturação, tradição, mitologia, cristianismo.
Interlocutores:
Álvaro Rodrigues, Bakhtin, Fernão Cardim, Hans Staden, Hélène Clastrés, Jean de Léry, Mircea
Eliade, Nóbrega, Yves D’Evreux
(4)
A companhia de Jesus e os índios na capitania do rio de janeiro nos séculos XVI - XVIII.
Departamento de História
Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes
Aluno(a): Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2013.1
RESENHA
Obra: ALVES, Salomão Pontes. O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre
Antônio Vieira. 2007. 119 pp. Dissertação de Mestrado em História Social. Universidade Federal
Fluminense. Niterói.
Resumo:
O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre Antônio Vieira, é um
estudo que trabalha a defesa do jesuíta Vieira aos cristãos-novos e judeus no reino português. O autor
diferentemente de outros pesquisadores, busca relacionar tal defesa não só aos aspectos obviamente
econômicos e pragmáticos, mas também ao que tange ao transcendental, o imaginário profético-
messiânico, que vem a pregar um glorioso destino para o reino português. Construindo uma tradição
em Portugal, com o decorrer dos séculos.
Lugar de fala do autor:
O autor, Salomão Pontes Alves, é Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal
Fluminense (2005), mestre pela mesma universidade em História Social (2007). Funcionário do
Arquivo Nacional desde 2008, atua como membro da equipe de pesquisa do Projeto Mapa (Memória
da Administração Pública Brasileira) da mesma instituição. Além de atuar no exercício do magistério
em história, pelos municípios de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Mesquita e pelo Estado do Rio de
Janeiro.
Sobre a obra:
A obra é dividida entre a Introdução e três capítulos. O autor fez uso, para a pesquisa de fontes
diversas tais como: Sermões, Cartas, pareceres endereçados aos monarcas, os autos do Processo de
Vieira na Inquisição e etc. Além de uma vasta bibliografia, com nomes tais como: João Lúcio de
Azevedo, Hernani Cidade, Elias Lipner, Jaqueline Hermann e Gonçalo Puente Ojea entre outros.
Conteúdo:
No primeiro capítulo: O jesuíta e sua obra, o autor busca apresentar a obra do jesuíta e sua
mentalidade de acordo com o contexto em que está inserido. Por meio dos sermões e cartas, Salomão
esforça-se em mostrar as características que deram a Vieira a capacidade de oratória que obedeciam a
critérios e normas hierárquicas sociais, junto a uma realidade histórica.
Na época de Vieira, Portugal é por excelência um reino católico, e considera-se “o segundo
povo eleito” com a missão de cristianizar os quatro cantos da Terra. Tal mentalidade é construída a
partir do século VXII, mediante o “Mito de Ourique”. No século XVII, o texto bíblico é considerado
uma verdade tanto religiosa quanto científica.
O apego à Escritura Sagrada como uma fonte de verdade moral e científica, alude à fé na
presença e interferência divina na realidade e no cotidiano do Homem. Sendo assim, há uma
conjunção entre política e teologia. É neste contexto que Vieira, como bom jesuíta, deve proferir seus
sermões de forma clara e profunda, apesar de seguir as normas e critérios de Santo Inácio, fundador da
Companhia de Jesus.
No segundo capítulo, O jesuíta, judeus e cristãos-novos: a recuperação econômica de
Portugal, o autor busca explanar as razões políticas e econômicas relacionadas à defesa de Vieira aos
cristãos-novos e judeus, fala um pouco sobre a trajetória de vida de Vieira, da adesão do jesuíta à
causa da Restauração Portuguesa e seu dom de oratória.
Antônio Vieira nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa. Aos seis anos mudou-se com a
família para o Brasil, vivendo em Salvador. Lá frequentou o colégio jesuíta, não se destacando a
princípio. Mais tarde, após o seu noviciado, e como estágio obrigatório, é transferido para as missões
do Espirito Santo. Em 1626, após concluir seu noviciado na Companhia, prossegue nos estudos de
filosofia e teologia, onde aprimora sua erudição, retórica e silogismo por mais oito anos. Em 1634, na
Bahia, é ordenado sacerdote, onde começa a carreira de pregador.
Em dezembro de 1640, um golpe da nobreza portuguesa e letrados, põe o duque de Bragança no
trono, com o título de D. João IV. Vieira é incumbido de partir do Brasil à Portugal, para lhe fazer
juramento de fidelidade. O notável pregador, ganha a admiração do monarca. Neste interim, Castela,
não reconhece a legitimidade do rei, além disso, há a possível guerra com a Holanda. Sem falar na
crise econômica que Portugal se encontra.
De acordo com o jesuíta, somente com a criação de companhias de comércio, oriental e ocidental,
os navios vindos da Índia e do Brasil teriam segurança. Tal estratégia já era usada por muitos reinos
europeus, exceto Portugal, por ter de se valer dos recursos dos cristãos-novos. Como muitos foram
obrigados a fugir de sua terra natal, seria necessário para isso, o retorno dos mesmos e dos judeus à
Portugal e o perdão do confisco de seus bens.
Por seu domínio do púlpito, talento e audácia, Vieira logo se destaca. O jesuíta faz uso das Escrituras, não abrindo mão de seu arsenal de erudição, além de abusar das analogias e do silogismo. Isso lhe dava um poder de persuasão frente ao público diverso. Era a retórica sendo posta em prática por excelência. No terceiro capítulo, O jesuíta, judeus e cristãos-novos: profecia e a maior glória de Portugal,
relaciona a defesa aos cristãos-novos e judeus ao pensamento profético do padre, que vem a pregar
uma certeza do futuro glorioso ao reino português, e como tais ideias foram mal interpretadas pelo
Tribunal do Santo Ofício.
O pensamento profético de Vieira, se baseava no imaginário que resultou do mito de Ourique,
onde Cristo aparecera a Afonso Henrique, fundador do reino, e lhe incumbe de propagar o catolicismo
aos quatro cantos da Terra. No século XV e XVI, com as grandes navegações de um reino tão
pequeno, tal pensamento de eleição divina ganha força, e permanece no imaginário ao longo dos
séculos.
O surgimento de vários profetas e indivíduos que se proclamavam messias, criticando os
costumes da época, falando aos ouvidos do povo, o que almejavam escutar, e fazendo uso das
escrituras como base para isso, alimentou mais ainda tal imaginário. Além do fato do rei D. Sebastião
ter desaparecido no Marrocos em 1578, sem ter o corpo encontrado, se tornando o “último rei
cruzado”. Sob o domínio de Castela, a esperança do retorno milagroso de um rei salvador se faz
urgente. Muitos santos conhecidos também proferiram profecias de espíritos semelhantes.
Como a Companhia se Jesus era uma forte resistente à dominação castelhana, Vieira no Brasil,
estava a par de tudo que se dava no reino português. Ao chegar em terras lusitanas, abraça a causa da
Restauração. A partir de então, passa a fazer uso de sua erudição e retórica, a favor do monarca D.
João IV, que acreditava ser a encarnação do cavaleiro medieval, que levaria salvação à todo o mundo.
De acordo com as profecias, Portugal seria o Quinto Império que conduziria as tribos perdidas
de Israel à se converterem ao catolicismo. E, para isso os judeus teriam um papel importante. Tal
defesa leva o padre a debater frente ao Santo Ofício, onde é exaustivamente sabatinado sobre suas
intenções para com os hereges.
Considerações pessoais:
O interessante do trabalho de Salomão é que ele não se limita á razão mais óbvia, a saber, a
pragmática e econômica, respeitando assim a mentalidade da época, onde o homem ainda não se
desvencilhou do apego às tradições teológicas transcendentais. Também, foi muito feliz em fazer um
bom uso de um vasto número de documentos, que auxiliam o leitor a ter entendimento melhor do
assunto.
E, é justamente nos documentos que se encontra a relevância deste estudo para a pesquisa.
Apesar do assunto à princípio não ser de muita valia aos nossos estudos, por se tratar de um outro
recorte espacial, a saber, Portugal como pano de fundo. Ao ler os documentos, nota-se logo a extrema
erudição e o grande poder de retórica de Vieira, sendo as vezes até sarcástico. Sendo assim, tais
adjetivos, de certa forma, eram comuns aos integrantes da Companhia de Jesus.
Tal instituição se esmerava em formar mestres da persuasão, onde o conhecimento teológico não
era o suficiente para lidar com “o outro”, mas requeria o domínio da escrita, da oratória, do silogismo
e do uso da analogia, para que assim, houvesse uma identificação entre a palavra pregada e o cotidiano
pensado e vivido pelo ouvinte.
Nesse interim, nos é de muita relevância entender o perfil intelectual destes homens que, com
bravura abraçaram o ministério missionário, viajando para todos os cantos do mundo, em especial a
América portuguesa. A tese várias vezes faz alusão ao conceito de unidade e obediência, tão caro à
Ordem mais rica e influente do mundo, a cosmopolita Companhia de Jesus.
(4)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI - XVIII.
Departamento de História
Professora e Orientadora: Eunícia Fernandes.
Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2012.2
Edições brasileiras da obra de Frei Vicente do Salvador.
Obra: História do Brasil
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Rio de Janeiro: Typ de G. Leuzinger e
Filhos, 1889, 261p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de. . História do Brasil. Rio de Janeiro:
Weiszflog Irmãos, 1918, 632p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo. História do
Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1931, 632p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo. História do
Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1954, 476p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,
Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1964, 527p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,
Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1965, 527p.
VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,
Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1975, 437p.
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1982.
VICENTE, do Salvador, Frei; OLIVEIRA, Machado Leda. História do Brasil. Salvador:
Editora Odebrecht, 2007.
VICENTE, do Salvador, Frei; OLIVEIRA, Machado Leda. História do Brasil. Salvador:
Editora Odebrecht, 2008.
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Brasília: Editora Seetec, 2010, 580p.
(5)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI – XVIII
Departamento de História
Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes. Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2012.2
ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO
MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História - (6° ao 9° ano)
Ensino Fundamental. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.
Introdução: Os livros do projeto Araribá de história referentes ao 6º, 7º, 8º e 9º ano do Ensino fundamental,
da Editora Moderna, são divididos em oito unidades e cada uma delas se encontra subdividida em
temas.
Conteúdo:
Cada tema oferece na medida do possível, conteúdos claros e objetivos em um esforço abordar
os assuntos de maneira coerente e simplificada. Em toda coleção há uma tentativa de que a História, a
Cultura e a Arte, seja explanada de forma concomitante. Sem falar nas descobertas científicas, que
mantem um diálogo permanente com as transformações e temporalidades históricas.
Dentro do conteúdo dos livros encontramos alguns boxes que trazem várias curiosidades e
explicações mais detalhadas sobre algum termo contido no texto. Os glossários têm um papel
importante na compreensão do conteúdo, apesar do livro, fazer uso de uma linguagem mais simples e
de fácil entendimento.
Conceitos:
O material analisado tenta trabalhar com os conceitos históricos de uma forma mais amena,
com uma linguagem simples, porém gradual, tentando respeitar o desenvolvimento cognitivo médio de
seu público alvo, o adolescente. Pois, parece ter a pretensão de acrescer ao aluno uma visão histórica
global e, incutir-lhe a importância da conservação dos patrimônios históricos.
Em toda a coleção, faz-se uso do termo “fonte”, que vem assim a familiarizar o aluno com o
conceito e, lhe acrescentar o entendimento da importância da mesma à pesquisa histórica.
A coleção, apresenta uma dinâmica textual, onde a leitura não se torna cansativa ao aluno.
Além de textos extras, que o faz, ter acesso a várias hipóteses (de historiadores diferentes) sobre o
mesmo tema. Oferecendo também, algumas narrativas pertinentes ao entendimento do assunto, e que
dialoguem com o tempo presente. Em meio a um confronto de ideias, há desnaturalização do conceito
equivocado da existência de uma verdade absoluta e eterna. O uso de fontes mais recentes o faz
entender que a história pode mudar.
Metodologia: Os livros fazem uso de uma metodologia que encaminha o aluno a analisar gráficos, mapas e
imagens (incluindo filmes), tentando mantendo assim, um diálogo coerente com o texto que, e levar o
aluno a problematizar e questionar as fontes, para que possa desenvolver um pensamento crítico. Tal
metodologia, leva o aluno a construção de linhas do tempo e, análise de quadros cronológicos. Além
de manter um diálogo com outras disciplinas tais como: Ciências (poluição, doenças, ecologia,
tecnologia e outros), Geografia, Filosofia, Artes, e demais disciplinas.
Temporalidade: O material didático, é organizado a trabalhar com uma temporalidade, onde há um respeito a
ordem cronológica linear. Apesar de manter um diálogo com temas atuais, usa um método
comparativo, trazendo a tona, acontecimentos diversos de mesma temporalidade, além das
repercussões mundiais de tais eventos.
Sobre a cidade do Rio de janeiro:
No livro do 8º ano (antiga 7ª série), a cidade do Rio de Janeiro é explorada com um pouco mais
de atenção, apesar de somente se limitar, à partir da chegada da família real ao Brasil. Dando ao aluno
a impressão de que a cidade só ganha existência em 1808. Apesar disso, a obra contem cinco páginas
sobre o assunto incluindo atividades específicas.
A Companhia de Jesus na capitania do Rio de Janeiro:
A missão jesuítica é desenvolvida no livro do 7º ano (antiga 6ª série), e faz um esforço afim de
dar uma visão geral da Companhia de Jesus, sua importância na educação (o colégio), na catequização
(missões e aldeamento) e na exploração das drogas do sertão ( boticas).
Também fala um pouco sobre a importância da Companhia de Jesus para o ensino
fundamental no Brasil, o teatro jesuíta, a expulsão da ordem e da dificuldade que o Estado enfrentou
para substituir tal corpo docente, e apresenta cartas transcritas dos padres Anchieta e Nóbrega.
Atividades de fixação: As atividades propostas, incentivam o aluno à prática da redação por meio de sua interpretação
pessoal, faz uso de montagem e preenchimento de fixas, fazendo pouco uso de questionários objetivos.
Com isso, o aluno tem a oportunidade de opinar sobre algumas questões, problematizar e se for
possível, alcançar suas próprias conclusões.
Conclusão: O objetivo do livro parece ser, auxiliar o aluno na busca de uma autonomia e construção de
uma consciência histórica e social. Aparentemente, parece buscar manter uma imparcialidade e, não
se prender somente a Política ou a Economia, mas depositar à Cultura a importância devida.
Além de buscar plantar no jovem aluno, uma postura cidadã, incentivar a tolerância, por meio
de atividades que direcione o aluno à discussão temática, buscando auxiliá-lo a desenvolver uma
capacidade mínima de crítica e leitura do mundo em seu redor.
O papel do professor: Em relação ao professor, o livro se apresenta como uma das ferramenta de trabalho que lhe
auxiliará frente ao seu ofício. No Guia e Recursos Didáticos há várias sugestões e textos extras que
visam facilitar a exposição dos temas.
Foi-me interessante notar que entre os textos de sua bibliografia principal e de seu suporte
docente, encontram-se alguns autores amplamente conhecidos no mundo acadêmico tais como os
clássicos Aristóteles, Heródoto, Platão; os modernos Maquiavel, Thomas Hobbes e os contemporâneos
Capistrano de Abreu, Sérgio Buarque de Holanda, Manuela da Cunha, Laura de Mello e Souza, Ronaldo Vainfas; como também Karl Marx, George Duby, Ginzburg, Braudel, Walter Benjamin,
Jacques Le Goff, Todorov e Hobsbawm. Entretanto, penso que irá depender somente do professor,
deter a plena autoria de sua aula.
Bibliografia: MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História –
(6° ano). 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.
MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História –
(7°ano). 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.
MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História – (8°ano). 1ª ed.
São Paulo: Moderna, 2006.
MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História – (9°ano). 1ª ed.
São Paulo: Moderna, 2006.
(6)
A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI – XVIII
Departamento de História
Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes.
Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra
2013.1
PROJETO PEDAGÓGICO O projeto foi realizado a partir de uma análise de livro didático em uma coleção de Ensino
Fundamental II, Projeto Araribá: História – (6° ao 9°ano), dando ênfase ao livro do 6° ano, Unidade
8 sob o título de Expansão Colonial, tema 5 sob o subtítulo de Crises e Rebeliões na Colônia contido
na página 234. As minhas questões e reflexões acerca do material foram as seguintes: O Brasil cuja
Europa conheceu no século XVII, por intermédio das obras do pintor holandês Frans Post, era uma
extensão de Portugal (Europa), onde por meio de idas e vindas e por consequência de uma troca
cultural, o Brasil veio a se tornar parte do patrimônio europeu
Contexto histórico:
O Brasil holandês
No ano de 1578, durante a batalha contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei
português dom Sebastião desapareceu. Esse evento iniciou uma das mais complicadas crises
sucessórias do trono português, tendo em vista que o jovem rei não teve tempo suficiente para deixar
um descendente em seu lugar. Nos dois anos seguintes, o cardeal dom Henrique, seu tio-avô, assumiu
o Estado português, mas logo morreu sem também deixar herdeiros.
Imediatamente, Filipe II, rei da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, se
candidatou a assumir a vaga deixada na nação vizinha. Para alcançar o poder, além de se valer do fator
parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse
exercer tal direito. Com isso, observamos o estabelecimento da União Ibérica, que marca a
centralização dos governos espanhol e português sob um mesmo governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se
recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o
comércio de escravos com os portugueses, que controlavam tal atividade na costa africana. Além
disso, o controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação
dos lucros obtidos através da arrecadação tributária.
Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi
responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam
a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no
tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou
o monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640, a
chamada Restauração, definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente
extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV,
passou a controlar Portugal.
Invasão holandesa no Brasil, conquista e administração
A invasão holandesa fez parte do projeto da Holanda (Países Baixos) em ocupar e administrar
o Nordeste Brasileiro através da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Após a União Ibérica
(domínio da Espanha em Portugal entre os anos de 1580 e 1640), a Holanda resolveu enviar suas
expedições militares para conquistarem a região do Nordeste brasileiro. O objetivo holandês era
restabelecer o comércio do açúcar entre o Brasil e Holanda, proibido pela Espanha após a União
Ibérica.
A primeira expedição invasora ocorreu em 1624 contra Salvador (capital do Brasil na época).
Comandados por Jacob Willekens, mais de 1500 homens conquistaram Salvador e estabeleceram um
governo na capital brasileira. Em 1630, houve uma segunda expedição militar holandesa, desta vez
contra a cidade de Olinda (Pernambuco). Após uma resistência luso-brasileira, os holandeses
dominaram a região, estabeleceram um governo e retomaram o comércio de açúcar com a região
nordestina brasileira. Em 1637, a Holanda enviou o conde Maurício de Nassau para administrar as
terras conquistadas e estabelecer uma colônia holandesa no Brasil. Até 1654, os holandeses
dominaram grande parte do território nordestino.
Em sua administração no Nordeste do Brasil, Maurício de Nassau estabeleceu relações
amigáveis entre holandeses e senhores de engenho brasileiros; incentivou, através de empréstimos, a
reestruturação dos engenhos de açúcar; introduziu inovações com relação à
fabricação de açúcar; favoreceu um clima de tolerância e liberdade religiosa;
modernizou a cidade de Recife, construindo diques, canais, palácios, pontes e
jardins; estabeleceu e organizou os sistemas de coleta de lixo e os serviços de
bombeiros em Recife; Determinou a construção em Recife de um observatório
astronômico, um Jardim Botânico, um museu natural e um zoológico.
O pintor Frans Post (1612 – 1680) Frans Janszoon Post, nasceu na cidade de Haarlem, Holanda, em 1612, e morreu em 1680 em
sua terra natal. Chegou ao Brasil em 1637, com 24 anos de idade, a serviço de Nassau na comitiva que
o acompanhou ao Nordeste do Brasil em meados do século XVII, e tomou parte em diversas
expedições, ficou encarregado de documentar a topografia, a arquitetura militar e civil, cenas de
batalhas navais e terrestres, permanecendo aqui ate´ 1644, quando regressa à Alemanha.
O movimento estético do qual Frans Post fez parte foi o barroco holandês. A primeira de suas
telas sobre motivos brasileiros: "A Ilha de Itamaracá", foi pintada em 1637, logo que chegou nas
"Indias Ocidentais". Post ficou conhecido pela sua busca em representar as paisagens com exatidão,
detalhando a riqueza das cores da fauna, flora e o ser humano inserido neste contexto, em uma
delicada harmonia. Paisagem Pernambucana com Rio, 1668 Óleo sobre madeira 47 x 55 cm
Doada por Club do Canguru Mirim222 P, MASP-Museu de Arte de São Paulo, Brasil.
Os quadros de Frans Post,
influenciaram artistas holandeses que
nunca estiveram no Brasil mas, que
aproveitaram o temas das "Índias
Ocidentais", como Jillis Van Schendel
na paisagem imaginária em que incorpora elementos claramente inspirados no Brasil, como palmeiras,
índios e escravos negros. Seus quadros são uma reconstituição fiel das atividades em torno do
"banguê" e da cultura da zona da Mata, em Pernambuco, Post entra para a história como o pintor por
excelência do açúcar.
Em 1979, com o tricentenário do falecimento de Nassau, que ocorreu em 20 de dezembro de
1679, na Alemanha, foram editados no Recife: o álbum de gravuras O Brasil que Nassau conheceu
(Coleção Pernambucana v. 20) e a obra de Gaspar Barlaeus, História dos feitos recentemente
praticados no Brasil etc. (Coleção Recife, v. 4), uma espécie de relatório dos sete anos do seu
governo, ilustrado com lâminas desdobráveis assinadas por Frans Post e mapas de autoria de Georg
Marcgrav e Sebastianzoon Cornelis Goliath.
A maior parte dos quadros de Post encontra-se no Brasil: na cidade do Recife computam-se
dezessete no Instituto Ricardo Brennand (a maior colecção do artista no mundo, abrangendo todas as
fases de sua produção), e cinco divididos entre o Museu do Estado de Pernambuco, o Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e o Palácio do Governo de Pernambuco;
existem quadros ainda no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, na Fundação Maria
Luísa e Oscar Americano, na Fundação Pimenta Camargo e no Museu de Arte de São Paulo, estes na
cidade de São Paulo, e no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Nos Países Baixos, podem ser encontrados quadros do artista na Mauritshuis da Haia ("Vista da
Ilha de Itamaracá"), no Rijksmuseum de Amsterdam ("Ruínas da Sé de Olinda") e no Boijmans van
Beuningen de Rotterdam ("O Engenho" e "O sacrifício de Manoah", uma pintura com tema bíblico
mas fundo de paisagem brasileira). Na França, existe exemplar no Louvre, em Paris, e na Grã-
Bretanha, no British Museum, em Londres.
Aula: O Brasil que a Europa conheceu no século XVII.
Objetivos:
Levar o aluno a uma reflexão sobre a importância do Brasil naquela época;
Desenvolver o pensamento crítico;
Estimular a autonomia do aluno na construção de um saber histórico;
Incentivar a interpretação pessoal do aluno;
Trabalhar a questão da memória, patrimônio e cultura.
Desenvolvimento:
1° – Primeiramente, a ideia é que seja feita pelo aluno, a leitura prévia e em casa de algumas textos
sobre o assunto (nas páginas ...) para que daí ele traga para a sala de aula, todas as questões e reflexões
mediante tal esforço de interpretação. Esta primeira etapa introdutória, é para que seja incentivado o
exercício da leitura crítica e o pensamento autônomo do aluno. Será com base nestas questões que a
aula se norteará.
2° – Tentar junto ao aluno buscar as respostas às questões e reflexões trazidas em sala, apresentar a
obra de Frans Post aos alunos, Paisagem brasileira com tatu, 1649 e assim lançar a questão: Por que
ou para que se pinta uma paisagem?
Estratégia:
Para que a questão seja respondida, serão tomadas algumas estratégias:
Apresentar um breve contexto histórico acerca das circunstancias que trouxeram o artista ao
Brasil. Quem ele é? Qual sua importância para a época?
Um pouco de Frans post no Brasil e suas obras. Qual seu papel aqui?
A importância de suas obras como patrimônio cultural da Holanda? O que é essa Holanda?
Falar da pintura como um dos meios de registro histórico (memória).
Apresentar a imagem ou documento iconográfico para que o aluno possa fazer sua interpretação e
possam buscar responder a questão suscitada no início da aula: Por que ou para que se pinta uma
paisagem? Vocês acham que o Brasil era realmente do jeito que foi representado na pintura ? Por
quê?
Imagem ou iconografia:
Paisagem Brasileira com Tatu, 1649 óleo sobre madeira 53 x 69 cm
Alte Pinakothek, Munich (Germany)
Recursos:
Uso de imagem em ppt, mapa da região do Nordeste (Bahia e Pernambuco) e lousa.
Metodologia:
Aula expositiva, leitura, compreensão e debate sobre o texto e a imagem.
Conceitos:
Patrimônio, cultura e memória.
BIBILOGRAFIA:
MELANI, Mª Raquel Apolinário. Projeto Araribá - História - 6º ano do Esino Fundamental
(Manual do Professor). 1ª Edição, São Paulo: Moderna, 2006.
MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil Holandês. São paulo: Pinguim - Cia das Letras, 2010. ( leitura
online)
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http://www.institutoricardobrennand.org.br/pinacoteca/fpost/index.html
http://www.sabercultural.com/template/pintores/FransPost.html
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia
&cd_verbete=1835&cd_idioma=28555
http://www.brasilescola.com/historiab/uniao-iberica.htm
http://oolhardefranspostsobreobrasil.blogspot.com.br/2012/08/paisagem-brasileira-com-tatu.html
http://oolhardefranspostsobreobrasil.blogspot.com.br/2012/08/paisagem-pernambucana-com-rio.html
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_________ “Síntese do Percurso e Problemática Históricas Anexas.” In: Jesuítas e Selvagens: a
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http://acompanhiadejesuseosindios.wordpress.com/