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Departamento de História A COMPANHIA DE JESUS E OS ÍNDIOS NA CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO SÉCULOS XVI XVII E XVIII Aluna: Heloísa de Souza Vitorino Paúra Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes Introdução: O projeto de pesquisa, A Companhia de Jesus e os índios na Capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI, XVII e XVIII, do qual me tornei bolsista PIBIC em agosto de 2012, teve início quatro anos antes, em 2008, e tem como objetivos principais a visibilidade da ação da Companhia naquela capitania, a identificação do índio enquanto sujeito histórico e, a partir da percepção do indígena como sujeito objetiva também a investigação da relação entre indígenas e jesuítas. Sendo uma pesquisa coletiva, minha atuação complementa a ação de outros pesquisadores que vieram antes de mim e que desenvolveram reflexões sobre as estruturas ocupacionais colégio, aldeamento, fazenda - da mesma, no processo colonial. Para isso, em sua prática são produzidos e procurados materiais que buscam trabalhar o assunto por meio de levantamentos documentais e bibliográficos, fichamentos, resenhas, artigos, cronologias, verbetes, apresentações orais, leituras críticas e discursões de textos que nos sejam relevante como grupo, além da administração do blog e do grupo virtual de pesquisa. A pesquisa tem como prática, promover um levantamento de fontes nos acervos da cidade do Rio de Janeiro e bibliografias sobre a Companhia de Jesus entre o momento da criação da Capitania no século XVI até a sua expulsão no século XVIII. Para isso o trabalho de pesquisa foi dividido em subtemas colégio, aldeamento e fazenda e tendo a característica de uma pesquisa coletiva, cada pesquisador da Iniciação Científica ficou responsável por um subtema. Inicialmente as alunas Andréa Mota, Amanda Pasti, Cynthia Brandão, Débora Meira, Jéssicka D. Silva, Lívia Uchôa e Maria José, se dedicaram a fazenda, ao colégio e ao aldeamento. Atualmente, novas alunas fazem parte da pesquisa desde agosto de 2011 e adicionam ao trabalho já realizado pelas pesquisadoras anteriores, são elas: Aline de Souza, Ana Paula Rodrigues, Jessica Corrêa e eu Heloísa, trabalhando com Colégio, Fazendas, Aldeamentos e Índios, respectivamente. Metodologia: No primeiro semestre de 2012, fui convidada para participar do grupo de pesquisa pela professora Eunícia Fernandes, ingressando no grupo de pesquisa em agosto do mesmo ano. Com um grupo já formado, uma série de trabalhos já realizados e um conhecimento do panorama historiográfico sobre a Companhia de Jesus e sobre os índios das pesquisadoras da Iniciação Científica, foi-me necessário passar por um processo de adaptação e atualização teórica acerca da pesquisa como um todo. No início da minha participação na pesquisa foi priorizada um mínimo de conhecimentos, dando ênfase à leitura e discussão de textos. Como primeiro trabalho realizado, fui encarregada de ler a tese de doutorado da nossa orientadora: Futuros Outros: homens e espaços. Os aldeamentos jesuíticos e a colonização na América portuguesa. Onde a obra dá uma maior atenção aos aldeamentos de São Barnabé e São Lourenço, e pelo qual tive a oportunidade de ver as ações dos colonizadores, colonos e colonizados, e a sua articulação nos aldeamentos, em meio ao processo colonial. Como atividade individual, realizei uma lista de edições da obra História do Brasil de Frei Vicente do Salvador que me possibilitou ter uma ideia da gama de edições que me estarão disponíveis quando realizar minha monografia. Em cada edição terei a possibilidade de ter acesso a detalhes colhidos por seus organizadores, introdutores ou autores de notas referente ao autor e ao contexto de sua escrita, como por exemplo, sua motivação, suas dificuldades e outras mais, que me serão caras intelectualmente e à pesquisa como coletiva. Como atividade coletiva, o grupo fez a leitura crítica e a discussão do texto “Pragmática – a constituição do pensamento histórico na vida prática” de Jörn Rüsen, onde o autor analisa a história, que de acordo com o texto, não pertence aos profissionais que a escrevem sendo assim uma dimensão essencial da vida prática dos homens no mundo. A construção da história se daria primeiro no

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Departamento de História

A COMPANHIA DE JESUS E OS ÍNDIOS NA CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO

SÉCULOS XVI XVII E XVIII

Aluna: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes

Introdução:

O projeto de pesquisa, A Companhia de Jesus e os índios na Capitania do Rio de Janeiro

nos séculos XVI, XVII e XVIII, do qual me tornei bolsista PIBIC em agosto de 2012, teve início quatro

anos antes, em 2008, e tem como objetivos principais a visibilidade da ação da Companhia naquela

capitania, a identificação do índio enquanto sujeito histórico e, a partir da percepção do indígena

como sujeito – objetiva também a investigação da relação entre indígenas e jesuítas. Sendo uma

pesquisa coletiva, minha atuação complementa a ação de outros pesquisadores que vieram antes de

mim e que desenvolveram reflexões sobre as estruturas ocupacionais – colégio, aldeamento, fazenda -

da mesma, no processo colonial. Para isso, em sua prática são produzidos e procurados materiais que

buscam trabalhar o assunto por meio de levantamentos documentais e bibliográficos, fichamentos,

resenhas, artigos, cronologias, verbetes, apresentações orais, leituras críticas e discursões de textos que

nos sejam relevante como grupo, além da administração do blog e do grupo virtual de pesquisa.

A pesquisa tem como prática, promover um levantamento de fontes nos acervos da cidade do

Rio de Janeiro e bibliografias sobre a Companhia de Jesus entre o momento da criação da Capitania no

século XVI até a sua expulsão no século XVIII. Para isso o trabalho de pesquisa foi dividido em

subtemas – colégio, aldeamento e fazenda – e tendo a característica de uma pesquisa coletiva, cada

pesquisador da Iniciação Científica ficou responsável por um subtema. Inicialmente as alunas Andréa

Mota, Amanda Pasti, Cynthia Brandão, Débora Meira, Jéssicka D. Silva, Lívia Uchôa e Maria José, se

dedicaram a fazenda, ao colégio e ao aldeamento.

Atualmente, novas alunas fazem parte da pesquisa desde agosto de 2011 e adicionam ao

trabalho já realizado pelas pesquisadoras anteriores, são elas: Aline de Souza, Ana Paula Rodrigues,

Jessica Corrêa e eu Heloísa, trabalhando com Colégio, Fazendas, Aldeamentos e Índios,

respectivamente.

Metodologia:

No primeiro semestre de 2012, fui convidada para participar do grupo de pesquisa pela

professora Eunícia Fernandes, ingressando no grupo de pesquisa em agosto do mesmo ano. Com um

grupo já formado, uma série de trabalhos já realizados e um conhecimento do panorama

historiográfico sobre a Companhia de Jesus e sobre os índios das pesquisadoras da Iniciação

Científica, foi-me necessário passar por um processo de adaptação e atualização teórica acerca da

pesquisa como um todo.

No início da minha participação na pesquisa foi priorizada um mínimo de conhecimentos,

dando ênfase à leitura e discussão de textos. Como primeiro trabalho realizado, fui encarregada de ler

a tese de doutorado da nossa orientadora: Futuros Outros: homens e espaços. Os aldeamentos

jesuíticos e a colonização na América portuguesa. Onde a obra dá uma maior atenção aos

aldeamentos de São Barnabé e São Lourenço, e pelo qual tive a oportunidade de ver as ações dos

colonizadores, colonos e colonizados, e a sua articulação nos aldeamentos, em meio ao processo

colonial.

Como atividade individual, realizei uma lista de edições da obra História do Brasil de Frei

Vicente do Salvador que me possibilitou ter uma ideia da gama de edições que me estarão disponíveis

quando realizar minha monografia. Em cada edição terei a possibilidade de ter acesso a detalhes

colhidos por seus organizadores, introdutores ou autores de notas referente ao autor e ao contexto de

sua escrita, como por exemplo, sua motivação, suas dificuldades e outras mais, que me serão caras

intelectualmente e à pesquisa como coletiva.

Como atividade coletiva, o grupo fez a leitura crítica e a discussão do texto “Pragmática – a

constituição do pensamento histórico na vida prática” de Jörn Rüsen, onde o autor analisa a história,

que de acordo com o texto, não pertence aos profissionais que a escrevem sendo assim uma dimensão

essencial da vida prática dos homens no mundo. A construção da história se daria primeiro no

cotidiano, no qual os homens pensam, agem, buscam seus objetivos. Ao agirem no mundo, e se

expressarem por meio da linguagem, os homens constroem visões da história e do tempo, referem-se

aos fatos, criam concepções de causalidade e continuidade, interpretam o passado, o presente e o

futuro. Tal atividade coletiva me foi relevante como graduanda, pois me fez ter consciência de que, é

da sociedade que surgem as questões, e é a ela que as possíveis respostas devem ser levadas, por meio

da investigação histórica e do conhecimento acadêmico.

Ao longo do segundo semestre de 2012, foram realizados por mim alguns fichamentos:

“Vingança e temporalidade: os Tupinambá.” De Manuela da Cunha e Eduardo V. de Castro, onde

buscam analisar de forma minuciosa uma tradição componente da lógica de vida dos tupinambá, a

saber, a antropofagia. Foi realizado por mim também, o fichamento do texto “Xamanismo e tradução:

pontos de vista sobre a Floresta Amazônica.” de Manuela da Cunha, onde a autora busca

problematizar a questão do Xamã, discute como o conceito de tradução está inserido na lógica de vida

da Floresta Amazônica. Vem também tentar responder se o conceito de Xamanismo de outrora poderia

ser comparados com os chamados xamãs dos dias atuais.

Como atividade individual, o grupo realizou uma análise de livro didático em História. Para se

realizar tal experiência, primeiramente foi feita a leitura crítica e a discussão coletiva do texto

“Imagens de índios e livros didáticos: uma reflexão sobre representações, sujeitos e cidadania” de

Eunícia B. B. Fernandes, para que a partir dos conceitos teóricos à cerca do modo como se tem

abordado a experiência indígena nos livros didáticos e nos bancos escolares nos últimos trinta anos,

nós pudéssemos dar início à análise.

O objetivo desse trabalho foi pensar como o conhecimento que é construído na academia é

posto em prática nos bancos escolares. O foco desta análise foi o conteúdo programático e sua ordem

cronológica. Neste sentido os livros são contemplados em especial à sua abordagem sobre a

Companhia de Jesus na capitania do Rio de Janeiro. A partir da análise do livro didático foram

apresentadas reflexões em relação ao uso de suas metodologias e organização dos conteúdos.

No caso, optei pela coleção do Projeto Araribá de História – 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental, e sugeri uma aula com o uso de uma ou mais imagens do livro didático, para que fossem

analisadas e discutidas pelo corpo discente, pois penso que por vivermos em um mundo cada vez mais

imagético, torna-se imperativo que o aluno desenvolva a capacidade de ler não só letras, palavras e

sentenças, mas que possa também buscar interpretar o mundo visual ao seu redor. Tal atividade

proposta por mim, busca construir com o aluno uma autonomia crítica diante a aula e a oportunidade

de compartilhar a autoria da mesma.

No final do segundo semestre de 2012, realizei o fichamento da obra “A Heresia dos índios:

catolicismo e rebeldia no Brasil colonial.” De Ronaldo Vainfas, onde o autor familiariza-nos com o

fenômeno religioso entre os tupis, conhecido como Santidade, fala de suas singularidades em meio às

influências colonizadoras, fala também um pouco sobre seu líder e profeta Antônio, conhecido entre

os índios como Tamandaré. Além de nos fazer entender o nascimento desta religiosidade onde o índio

é lido como sujeito em meio a experiência de colonização

Como atividade individual, no início do primeiro semestre de 2013, produzi uma resenha da

tese de mestrado “O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre Antônio

Vieira.”, de Samuel Pontes Alves, que como de praxe, foi apresentada por mim para o grupo, tendo a

oportunidade de conhecer de forma mais plena a Companhia enquanto uma instituição que se

esmerava em formar mestres da persuasão. O conhecimento teológico não era o suficiente para lidar

com “o outro”, mas requeria o domínio da escrita, da oratória, do silogismo e do uso da analogia, para

que assim, houvesse uma identificação entre a palavra pregada e o cotidiano pensado e vivido pelo

ouvinte. Atributos de grande importância no processo de negociação colonial.

Ao longo de fevereiro a maio de 2013 foram realizadas por mim, uma atividade individual de

pesquisas no arquivo da Biblioteca Nacional, de revisão e catalogação de documentos diversos do

século XVI e XVII. Documentos de diversas naturezas que versam sobre questões administrativas e

políticas de Portugal, sobre a Companhia de Jesus no Brasil, a invasão holandesa, entre outros, com o

objetivo de serem feitos levantamentos documentais; coube a mim dar continuidade ao trabalho

iniciado por Lívia Uchôa através de levantamento de documentos históricos sobre os jesuítas.

Os documentos acessados se apresentam em sua grande maioria no formato de cartas dos

séculos XVI e XVII que se encontram em um estado de deterioração natural pelo tempo. Esta

deterioração trouxe-me alguma dificuldade para visualizá-los, além de serem documentos escritos em

outra temporalidade, o que me suscitou questões diversas sobre a escrita daqueles religiosos e as

possíveis influências que os levavam a se expressar daquela forma específica. Em meio à experiência

de tentar decifrar tal linguagem, confrontei-me com uma fusão de sentimentos. Uma mistura de

alegria, ansiedade e um estranhamento e talvez ainda, frustração frente às dificuldades enfrentadas

durante a atividade em questão. O trabalho ainda está sendo realizado, tendo previsão de conclusão no

próximo semestre de 2013.2.

Além disso, fizemos a leitura coletiva de duas resenhas sobre uma mesma obra Les Ouvriers

d’une Vigne Stérile: Les Jésuites et la Conversion des Indiens au Brésil -1580-1620 ("Os

trabalhadores da vinha estéril".( Os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil 1580-1620), de

Charlotte de Castelnau-Lestoile, sendo elas: Tirando frutos de uma vinha estéril: acordos e

adaptações do projeto jesuítico no Brasil ( 1580-1620), de Maria Regina Celestino, e Ação

missionária e identidade jesuíta na província do Brasil, de Regina Célia Gonsalves. Tal atividade foi

realizada para que tivéssemos uma base teórica sobre o como se fazer uma resenha, e as formas mais

usuais de resenhas.

Também assistimos a três apresentações de mestrandos e suas respectivas teses, com o

intuito de ampliarmos nossos conhecimentos acerca da experiência prática de uma dissertação. Além

disso, tal experiência foi para o grupo e para mim, uma oportunidade de aprofundar o conhecimento

em áreas que possam ser de nosso interesse e saber um pouco mais do que é produzido na

universidade. Também, para alguns do grupo que estão perto de passar pela mesma experiência

(mesmo sendo em nível de graduação) pode ser uma forma de se preparar.

Essa experiência nos deu uma ideia do que é a defesa, já que não é simples. Penso que

assistir a uma defesa, é bom para quem deseja entrar no mestrado, saber o que está acontecendo no

meio acadêmico e conseguir orientar melhor sua pesquisa, inovando no direcionamento.

Foram elas: Os Jesuítas na China: O Tratado da Amizade de Matteo Ricci e sua

contribuição para o diálogo cultural entre o Oriente e Ocidente séculos XVI-XVII. de Luiz Felipe

Urbieta Rego, onde tivemos a oportunidade de entender o perfil intelectual daqueles jesuítas que,

abraçaram o ministério missionário, viajando para todos os cantos do mundo, se deparando com o

desafio de falar e escrever outras línguas, e pôr em prática a capacidade de se adaptar à outras culturas;

Joaquim José da Natividade: o artista e sua presença no sul de minas, na virada do século XVIII e

XIX de Maria Cristina N. de Azevedo, onde o grupo veio a ampliar a sua compreensão acerca da

importância da religiosidade mineira, de todo um patrimônio histórico-religioso construído ao longo

do processo colonial e a posteriormente, e o processo de crescimento da vida urbana em torno das

igrejas; e Os Jesuítas na América portuguesa: a conquista de riquezas na capitania Rio de Janeiro,

de Ronaldo Teixeira de Couto, foi nos dada a oportunidade de deslocar o nosso foco para um campo

mais pragmático e econômico da Companhia enquanto uma instituição, ou seja, ter uma visão geral da

lógica econômica que sustentava literalmente, aquela estrutura ocupacional colonial.

Por fim realizamos a leitura crítica e a discussão coletiva dos textos “Introdução: Reduzir a

palavra indígena.”, “Apontamentos gerais sobre a catequese: traduzir o verbum.”, “Síntese do

Percurso e Problemática Históricas Anexas.” e “As Novas Gramáticas Sociais do Encontro Ritual.”

de Adone Agnolin, que analisa a tradução feita pelos jesuítas, dos dogmas doutrinais cristãos para os

indígenas americanos. Os missionários faziam uma tradução de uma tradição religiosa ocidental para

uma cultura que não a reconhecia como familiar. Os códigos culturais daquela cultura “estranha”

deviam servir para introduzir a tradição religiosa ocidental entre os indígenas. Para fazer isso, a

“redução” que se forjou em catecismo, devia corrigir os costumes e as crenças dos novos catecúmenos

americanos. Os costumes impunham uma disciplina, enquanto que as crenças incutiam a doutrina.

Durante essa caminhada, a troca cultural deu origem uma relação com o sagrado que se apresenta

numa nova estrutura, tipicamente colonial. O texto tem relevância à pesquisa por mostrar a

importância do catecismo enquanto instrumento jesuítico de evangelização nos aldeamentos, em busca

da confissão e conversão dos índios no processo colonial.

Conclusão:

Nesse um ano de pesquisa pude aprender mais sobre o ofício do historiador, seja fazendo

levantamentos na Biblioteca Nacional e de teses acerca do tema. A dificuldade em decifrar

documentos específicos sobre a Companhia me ajudou a ampliar o meu potencial acadêmico por

desenvolver e incentivar em mim o pensamento crítico.

Com as dificuldades – já quase superada – na leitura desses documentos pude perceber o

crescimento do meu aprendizado, Aprendi a ser paciente e a não desistir ao primeiro obstáculo, e isso

fará toda diferença à minha formação de historiador/pesquisador, fora das leituras e das discussões

apresentadas no grupo. Pude ver também que o grupo aumentou as minhas perspectivas acera do tema

da colonização.

Fazer parte do grupo de pesquisa e analisar a Companhia de Jesus e suas estruturas ocupacionais como meios para consolidar o projeto missionário, vem a elucidar minha ideias com

relação a minha monografia, quanto à reflexão sobre o processo de negociação entre colonizador e

colonizado, em meio ao encontro catequético, o nascimento de uma relação especificamente colonial

com ao sagrado.

Referências:

AGNOLIN, Adone. “Introdução: Reduzir a palavra indígena” In: Jesuítas e Selvagens: a negociação

da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São Paulo:

Humanitas/FAPESP, 2007.

_________ “Apontamentos gerais sobre a catequese: traduzir o verbum.” In: Jesuítas e Selvagens: a

negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São

Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.

_________ “Síntese do Percurso e Problemática Históricas Anexas.” In: Jesuítas e Selvagens: a

negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São

Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.

_________ “As Novas Gramáticas Sociais do Encontro Ritual.” In: Jesuítas e Selvagens: a

negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séculos XVI- XVII). São

Paulo: Humanitas/FAPESP, 2007.

ALVES, Salomão Pontes. O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre

Antônio Vieira. 2007. 119 pp. Dissertação de Mestrado em História Social. Universidade

Federal Fluminense. Niterói.

AZEVEDO, Maria Cristina N. de. Joaquim José da Natividade: o artista e sua presença no sul de

minas, na virada do século XVIII e XIX. 2013. Dissertação de Mestrado – Departamento de

História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. 2000. Les Ouvriers d’une Vigne Stérile: Les Jésuites et

la Conversion des Indiens au Brésil (1580-1620). Lisboa/ Paris: Centre Culturel Calouste

Gulbenkian/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 557

pp.

COUTO, Ronaldo Teixeira de. Os Jesuítas na América portuguesa: a conquista de riquezas na

capitania Rio de Janeiro. 2012. Dissertação de Mestrado – Departamento de História,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

CUNHA, Maria Manuela Ligeti Carneiro da; CASTRO, Eduardo Viveiro de. “Vingança e

temporalidade: os Tupinambá”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo, Editora

Cosac Naify, 2009.

________ “Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta Amazônica” . In: Cultura com

aspas e outros ensaios. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2009.

FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos. “Imagens de índios e livros didáticos: uma reflexão sobre

representações, sujeitos e cidadania”. In: A história na escola. Rio de janeiro: Editora

Fundação Getúlio Vargas, 2008.

REGO, Luiz Felipe Urbieta. FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos. A China dos jesuítas: o Tratado

da Amizade de Matteo Ricci e sua contribuição para o diálogo cultural entre Oriente e

Ocidente. Rio de Janeiro, 2012. 158p. Dissertação de Mestrado – Departamento de História,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

RÜSEN, Jörn. “Pragmática – a constituição do pensamento histórico na vida prática”. In: Razão

histórica – Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UnB, 2001.

MELANI, Maria Raquel Apolinário (Ed. Responsável). Projeto Araribá: História – 6º ao 9º ano do

ensino fundamental. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

VAINFAS, Ronaldo. “Crenças: o paraíso tupi e seu profeta”. In: A Heresia dos índios: catolicismo e

rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Rio de Janeiro: Typ de G. Leuzinger e Filhos, 1889,

261p.

Anexos:

(1)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro séculos XVI, XVII e XVIII.

Departamento de História

Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes.

Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2012.2

FICHAMENTO

Obra:

CUNHA, Maria Manuela Ligeti Carneiro da; CASTRO, Eduardo Viveiro de. “Vingança e

temporalidade: os Tupinambá”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo, Editora Cosac

Naify, 2009.

Lugar de fala do autor: Manuela graduou-se em matemática pura na Faculté des Sciences, Paris, em 1967. Em 1970,

ingressou na pós-graduação em antropologia social da Unicamp, instituição na qual lecionou de 1972 a

1984.

A partir de 1978 engajou-se na defesa dos direitos dos índios no Brasil. Foi cofundadora e

primeira presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, de 1979 a 1981. Como presidente da

Associação Brasileira de Antropologia (ABA) de 1986 a 1988, levou essa instituição a desempenhar

um papel fundamental no desenho e na aprovação do capítulo sobre os direitos dos índios na

Constituição de 1988.

Docente do Departamento de Antropologia Social da USP desde 1984, fundou em 1990 o

Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII). A partir da década de 1990, dedicou-se aos

conhecimentos e questões de direitos intelectuais de povos tradicionais.

Professora titular de antropologia da USP, se tornou “full professor” no Departamento de

Antropologia da Universidade de Chicago, onde lecionou até 2009. Foi também professora visitante

em várias universidades e fellow do Center for Advanced Studies in Behavioral Sciences. Foi membro

do Conselho Deliberativo do CNPQ e membro do IAG, o órgão independente de especialistas que

monitorou o Programa de Florestas Tropicais financiado pelo PPG-7.

Recebeu, entre outros, o Prêmio Érico Vanucci Mendes em 1992, a Médaille de Vermeil, da

Academia Francesa (1993), a Ordem do Mérito Científico (2002) e, em 2007, em conjunto com Mauro

W. B. de Almeida, o Prêmio Chico Mendes do Acre. Desde 2002, é membro da Academia Brasileira

de Ciências.

Resumo: Os autores em Vingança e temporalidade: os tupinambá, vem por nos trazer uma análise

minuciosa de uma tradição singular, porém, fundamental para a lógica de vida dos tupinambá, a saber,

a antropofagia. O texto problematiza e suscita questionamentos em face de uma realidade que, para

eles, se apresenta de uma forma mais que natural. Na realidade, quase que uma necessidade visceral,

onde o conceito de vingança, memória e tempo estão firmemente atrelados.

Conteúdo:

Os autores iniciam o texto, mencionando a inconstância dos Tupinambá em se converterem e

desconverterem e, falam também sobre sua obstinação maior, a saber, a vingança. Na visão do

colonizador, a guerra nada mais é do que fonte de escravos e lucro. Enquanto que na guerra índia, o

inimigo é apresado. O " comer parecia vicário em relação ao matar. Havia formas crescentemente

perfeitas de realizar a vingança." (p79)

Para o Tupinambá, libertar o inimigo é uma indignidade, já que, mata-lo e comê-lo representa

o conceito de vingança por excelência. Sendo assim, em um ritual cerimonial no terreiro, o prisioneiro

era abatido e sua carne distribuída entre a tribo e os visitantes.

O abatedor "ganhava um nome" que, poderia ser de várias formas, desde que fosse quebrada a

cabeça do abatido. E, é nesta atitude que se prefigura a essência da vingança que só se tornava

completa com o ato da antropofagia. A vingança só tem sentido na relação entre o morto e o abatedor.

"bastava também matar os inimigos no campo de batalha - desde que lhe

quebrasse devidamente a cabeça - ou mesmo, prática muito corrente,

desenterrar mortos inimigos e lhes esfacelar o crânio." (p 80)

Ela, a vingança, lhe dá ascensão social e, o faz plenamente homem. Confere ao abatedor

honra, prestígio político, acesso a poligamia que, nesta sociedade é um sinal de ostentação do

guerreiro, além de ser uma honra também ao abatido morrer em terreiro.

De acordo com os autores, a vingança é o acesso ao paraíso que, seria a instituição por excelência

da sociedade Tupinambá. Toda sua organização social se remete à ela. Sua religião é definida pelo

ponto de chegada, ou seja, a Terra sem Mal que os faz deuses. E, é pelos feitos guerreiros que se tem

acesso mais rápido à essa 'terra.'

A festa canibal tem a participação de todos e, é uma forma de qualificar os devoradores em

possíveis vítimas. A antropofagia é neste contexto, um sinal de lealdade e cumplicidade que resulta em

uma relação permanente de hostilidade. A morte de agora é consequência das mortes futuras. Ou seja,

a vingança é perpétua e inconclusa. Os inimigos são permanentes.

O canibalismo é a condição de perpetuação deste sistema, a saber, os ódios requentados. Seu

ponto de partida é virtual e, de acordo com o mito de origem, na realidade o primeiro canibalismo foi

uma retaliação.

“Uma mulher tinha um filho único que havia sido morto na guerra. Seu

matador é capturado. A mulher lança-se sobre ele e morde-lhe a espádua. O

prisioneiro escapa e conta aos seus que os inimigos haviam tentado devorá-

lo vivo: decidiram que assim fariam no futuro, comeriam os prisioneiros; os

inimigos então decidiram da mesma forma."(88-89)

A vingança Tupinambá é a tradução de uma morte eminente e uma transição, uma dívida de

mortes antigas, um pretexto de futuras mortes que se desdobra em um ciclo vicioso. Fala do passado e

do futuro, mantendo uma conexão entre os que se foram e os que estão por vir.

Os autores ressaltam a vingança como única e singular instituição forte dos Tupinambá.

"Singularidade essa que era realçada pela aparente desproporção entre

meios e fins: esses índios que percorriam, escreve Anchieta, até mais de

trezentas milhas quando iam à guerra, contentavam-se com quatro ou cinco

inimigos aprisionados, dando por finda a expedição." (p 90)

Para a vítima, é uma honra a morte em terreiro, ou seja, " a morte gloriosa". Então, qual o

significado dessa morte por esfacelamento do crânio? A autora tenta nos responder dizendo que

"poderia sugerir uma liberação rápida da alma, que encontraria imediatamente o caminho da terra

sem Mal: a quebra do crânio de Maíra-Monan seria seu paradigma." (pg 90)

Para a vítima, a morte em terreiro é a preservação de uma memória atrelada a vingança. Ao

morrer, ele adquire glória, renome e fama tanto quanto o seu abatedor. Se tornando assim objeto de

rememoração e projeção do futuro. Há uma partilha da glória entre vencedores e vencidos, onde “a

cumplicidade, o partilhar da glória, entre matadores e vítimas, que deixou perplexos os cronistas. A

memória de cada grupo, o futuro de cada grupo, se dá por inimigos interpostos." (p 92)

De acordo com os autores, o túmulo honroso seria o estômago do inimigo, que une o que foi

com o que há de vir. A morte gloriosa, é também uma morte social. Sendo um jogo de vingança onde a

circulação da memória se perpetua. O morto deixa por herança uma promessa. A memória cria uma

identidade que é produzida com o tempo.

Os autores então, se questionam: para que fim dá essa morte? E concluem que todos buscam

alcançar a imortalidade por meio do canibalismo. Para que haja futuro, é preciso uma morte por meio

da vingança, que é a herança dos antepassados. Sendo assim, a memória será o motor de novas

vinganças. O inimigo é o guardião da memória do grupo," passam a ser indispensáveis para a

continuidade do grupo, ou melhor, a sociedade tupinambá existe no e através do inimigo."(p 93)

Nesta parte do texto, os autores notam o contraste entre a sociedade tupinambá e as

sociedades de língua Jê, onde tudo tem seu lugar. Sendo tudo lugar, que ao ser imutável, vem a

exorcizar o tempo. A aldeia é o microcosmo.

"o conceito de estrangeiro tem seu lugar alocado na estrutura cerimonial,

já que é o nome dado a um dos grupos de praça." (...) ou seja, o chefe

honorário dos Apinayé na aldeia krahô será um krahô, como o chefe krahô

no Rio de Janeiro será um carioca." (p94)

Para os de língua Jê, as relações com os inimigos são concluídas, e a vingança é cancelada. Na

batalha não há uma relação com o passado. Sua utopia é dada no tempo. Enquanto que aos tupis, ela é

dada no espaço. Este contraste vem resaltar as características tupis, onde a memória trabalha para um

futuro, e não com o passado.

Finalmente surge a problematização principal do texto, que é o esforço de responder a questão:

será que" a clássica representação da sociedade primitiva" como fria, basta para dar conta de todos as

sociedades indígenas americanas. Afinal, o que é uma sociedade fria?

" essas sociedades são recalcitrantes ao evento: nelas, o acontecimento é

digerido sem que se converta em questão. Sociedades quentes ou

históricas... seriam aquelas... em que o acontecimento passa a ser elemento

de um debate que se refere ao passado para antecipar sobre o futuro." ( p

98)

Considerações finais:

"a vingança tupinambá, longe de remeter à aquelas máquinas de suprimir o

tempo que povoam a fábrica social primitiva (mito e rito, totem e linhagem,

classificação e origem), é antes uma máquina de tempo, movida a tempo e

produtora de tempo, vindo a construir a forma tupinambá integralmente

nessa dimensão." (pg 98)

"A guerra de vingança tupinambá é uma técnica da memória, mas uma

técnica singular: processo de circulação perpétua da memória entre os

grupos inimigos, ela se define, em vários sentidos, como memória dos

inimigos (...) É abertura para o alheio, o alhures e o além: para a morte

como positividade necessária. É enfim, um modo de fabricação do

futuro."(p99)

Conceitos utilizados:

Vingança, memória e tempo.

Interlocutores: Varnhagen, Hélène Clastres, Gândavo, Leite, Métraux, Florestan Fernandes, Vernant, Azanha,

Vidal, Schultz, Crocker, Melatti, Hugh-Jones, Lévi-Strauss, Rosaldo, Dumont, Lefort e Pierre Clastres.

Fontes:

Os autores fizeram uso de fontes primárias do séculos XVI, XVII e XVIII. Em sua maioria cartas

e anotações dos jesuítas e viajantes que se encontravam em terras brasileiras.

(2)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI -XVIII.

Departamento da História

Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes

Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2012.2

FICHAMENTO

Obra:

CUNHA, Manuela Carneiro da. “Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta

Amazônica”. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2009.

Lugar de fala do autor:

Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, formou-se em matemática pura na Faculté des

Sciences, Paris, em 1967. A partir de 1978 engajou-se na defesa dos direitos dos índios no Brasil. Foi

co-fundadora e primeira presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, de 1979 a 1981. Como

presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) de 1986 a 1988, levou essa instituição a

desempenhar um papel fundamental no desenho e na aprovação do capítulo sobre os direitos dos

índios na Constituição de 1988.

Docente do Departamento de Antropologia Social da USP desde 1984, fundou em 1990 o

Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII). A partir da década de 1990, dedicou-se aos

conhecimentos e questões de direitos intelectuais de povos tradicionais. Atualmente realiza estudos

sobre os mecanismos sociais responsáveis pela agrobiodiversidade no médio Rio Negro e dirige um

projeto de pesquisa sobre os efeitos dos direitos intelectuais sobre as populações tradicionais e seus

sistemas de conhecimentos.

Professora titular de antropologia da USP, se tornou “full professor” no Departamento de

Antropologia da Universidade de Chicago, onde lecionou até 2009. Foi também professora visitante

em várias universidades e fellow do Center for Advanced Studies in Behavioral Sciences. Foi membro

do Conselho Deliberativo do CNPQ e membro do IAG, o órgão independente de especialistas que

monitorou o Programa de Florestas Tropicais financiado pelo PPG-7.

Recebeu, entre outros, o Prêmio Érico Vanucci Mendes em 1992, a Médaille de Vermeil, da

Academia Francesa (1993), a Ordem do Mérito Científico (2002) e, em 2007, em conjunto com Mauro

W. B. de Almeida, o Prêmio Chico Mendes do Acre. Desde 2002, é membro da Academia Brasileira

de Ciências.

Resumo: A autora em Xamanismo e tradução: pontos de vista sobre a Floresta Amazônica, busca

problematizar a questão do Xamã, entidade de suma importância para os povos indígenas e, vem a

discutir como o conceito de tradução está intrínseco em sua existência e na Floresta Amazônica. Vem

também tentar responder se o conceito de Xamanismo de outrora teria semelhança, nos dias atuais.

Conteúdo:

Manuela já inicia o capítulo com uma afirmação: “Aquilo que se chamava “cultura” e cujo

sujeito era a “sociedade” se dissolveu” (pp 102). E logo suscita uma questão: como pode pontos de

vista separados, ter coerência?

Em seguida, a autora relaciona o crescimento do xamanismo com a queda das instituições

tradicionais, observando que sua clientela é em maioria regional, porém sem distinção étnica, desde o

princípio da colonização. Sendo assim atemporal.

“O crescimento do xamanismo pode se manifestar, assim, no interior de

certos grupos indígenas, em movimentos milenaristas, mas também no meio

urbano, na maioria das vezes – e essa é minha terceira observação – com

técnicas heteróclitas que se autoproclamam tradicionais” ( p 103).

A partir de então, a autora passa a falar de algumas organizações sociais e políticas, mas se

atendo a uma em especial: a estrutura em rede ou fractal, onde cada unidade tem semelhanças com as

que estão em seu redor. Manuela nos dá o exemplo dos Aruaque sub-andinos do período colonial, que

eram comunidades autônomas e unidades que podem ser locais e regionais, definidas pelo rio ou seu

segmento. Todas se revestindo da mesma forma.

A autora fala um pouco sobre a mestiçagem do xamã, dando mais relevância à posição

relativa das redes fluviais que são uma metáfora ao grau generalizador do ponto de vista particular.

Sua mestiçagem seria uma síntese de experiências locais e do ponto de vista geral. Os xamãs por

serem viajantes por excelência, sob o efeito de alucinógenos, vêm tudo, por isso não se surpreendem.

Manuela dá-nos um exemplo de xamã poderoso, que mora em um lugar chamado Divisão,

“partilha da águas”, cabeceira de seis bacias. Apesar de nascido em extremo jusante ( rio abaixo), ele

se encontra em uma hiper montante ( rio a cima onde por estar centralizado, tem uma visão local e

global), sendo assim um tradutor. Um viajante do tempo e espaço. Um profeta.

“Cabe-lhes, sem dúvida, interpretar o inusitado, conferir ao inédito um

lugar inteligível, uma inserção na ordem das coisas. Essa ordenação não se

faz sem contestação e, frequentemente, é objeto de ásperas disputas que se

assentam tanto na política interna quanto nos sistemas de interpretação.” (

p 107)

Traduzir seria mais do que a função de arrumar, e sim remanejar o novo. Não sendo assim um

legislador. Por viajar por vários mundos, vê por todos os ângulos, dando nome ao que vê, usando um

linguagem distorcida e incerta de quem enxerga sob uma perspectiva particular.

Nesse momento a autora nos lança uma pergunta: o que é tradução? E, nos responde

afirmando que a “ boa tradução é, então, aquela capaz de apreender os pontos de ressonância, de

fazer com que a intentio em uma língua reverbere em “outra.” ( p 108)

Então ela nos revela a tarefa do tradutor e o por quê dela ser tão grandiosa,

“(...) por ser ela a busca da verdadeira linguagem, da qual as línguas

particulares seriam apenas fragmentos (Benjamin 1968: 78), como cacos de

um vaso que, embora diferentes entre si, se ajustam perfeitamente para

restituir um conjunto que os ultrapassa: o ajustamento dos cacos atesta a

existência do vaso.” ( p108)

Manuela então, vem a nos lembrar da dificuldade que o tradutor se depara em sua função.

Lidar com códigos e fazer-lhes ganhar sentido. Sentido é a percepção de relações, que fazem conexões

e enriquece o mesmo, ganhando significados. Ao xamã compete o esforço de reconstruir o sentido,

estabelecendo-lhe relações, achando ligações.

“A codificação sonora das visões e sua decifração permitem, assim, obter

tanto desenhos imateriais, aplicados sobre os doentes a serem curados,

quanto desenhos materializados sobre vasos, tecidos e corpos. Os aromas

acrescentam um código olfativo aos precedentes, de tal modo que ‘os sons,

as cores e os odores correspondem’.” ( pp 109-110)

A autora nos traz um exemplo contemporâneo, Carlito que é Kaxinawa. Ele as vezes

desempenha algumas atividade tais como, assistente de antropólogo, porém é também xamã. Mistura

técnicas indígenas de diversas etnias, com rituais da umbanda. Além de ser relativista. Os kaxinawa

consideram muito aos Japós, que designam uma espécie de pássaro mas, têm uma condição humana.

“(...) Japós: vivem ao modo dos homens, cultivam mandioca, bebem

kamarãpi (ayahuasca), bebem cerveja de mandioca (caissuma). São

inclusive superiores aos homens, na medida em que observam a paz interna

e vivem sem discórdia. São os filhos que Pawa, o sol, deixou na terra, são os

filhos do ayahuasca.” ( p111)

Os Japós são pássaros tecelões, entre eles em especial, os tisirotsi ou japiim (Cacicus cela),

vivem em bandos de trinta, em uma mesma árvore. São pacíficos e imitam qualquer dos chamados e

ruídos que ouvem. O xamã tem uma relação especial com esses pássaros. Pois eles são descendentes

de xamãs, que sabiam imitar todos os gritos de animais e eram grandes caçadores. Como bom caçador

o xamã usa de uma linguagem sedutora, assim como os animais também o fazem.

Em um mundo urbano e globalizado, o xamã faz uso de novas técnicas e aprendizados, afim

de por em prática seu ofício, que é “reunir em si mais de um ponto de vista”, afinal, só ele pode

enxergar de diferentes modos, “colocar-se em perspectiva”, ver com os olhos do outro ( p112). O

xamã é o geógrafo, é o decifrador, o tradutor. E, é por meio dele, ou seja, pela ressonância e harmonia

que traz consigo, que há “a totalização dos pontos de vista singulares e irredutíveis”, ou seja, o

traduzir ( p 113).

Considerações finais: Para concluir, a autora vem a afirmar, mesmo que com uma margem de dúvida, uma

existência de sistema e, não uma cultura que corresponda ao mesmo. Sendo assim, também não

existiria uma cultura global. A correspondência dos sentidos é mais local. Por isso é o local que dá ao

xamã seus poderes. Ao xamã cabe-lhe a tentativa de traduzir, de totalizar, de construir sentido.

Conceitos utilizados: Xamanismo, tradução, cultura global, cultura local e sistema.

Interlocutores: Almeida, Anne-Christine Taylor, Aquino & Cataiano, Benjamin, Bhabha, Brown & Fernandes,

Chaumeil, Crick & Koch, Descola, Erikson, Gebhardt-Sayer, Gilles Deleuze, Gruzinski, Hertz,

Hugh-Jones, Kensinger, Lagrou, Lima & Aquino, Maurice Bloch, McCallum, Michel Serres,

Peter Gow, Piyãko & Mendes, Renard-Casevitz, Sahlins, Smith, Taussig, Terence Turner,

Townsley, Vainfas, Viveiro de Castro, Weiss, Wright & Hill.

Referência:

http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/1320/Manuela-Carneiro-da-Cunha-.aspx

(3)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do rio de janeiro nos séculos XVI-XVIII.

Departamento de História

Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes

Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2012.2

FICHAMENTO

Obra:

VAINFAS, Ronaldo. “Crenças: o paraíso tupi e seu profeta”. In: A Heresia dos índios: catolicismo e

rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Lugar de fala do autor: Ronaldo Vainfas formou-se em história pela UFF (Universidade Federal Fluminense), onde

leciona desde 1978, onde também concluiu seu mestrado em 1986; doutor pela USP (Universidade de

São Paulo), além de pesquisador 1-A do CNPq.

Resumo:

O autor neste capítulo familiariza-nos com o fenômeno religioso entre os tupis, conhecido

como Santidade, e fala de suas singularidades em meio as influencias coloniais. Fala também, um

pouco sobre seu líder e profeta Antônio, conhecido entre os índios como Tamandaré. Além de nos

fazer entender a lógica desta religiosidade.

Conteúdo:

Terra sem Mal, Nova Jerusalém.

O autor inicia o capítulo, tentando explicar o que seria a santidade ameríndia.

“(...) era, antes de tudo, uma cerimônia particular - caraimonhaga ou

acaraimonhang -, na qual, por meio de bailes, transes, cânticos e ingestão

de tabaco, os índios encenavam e vivenciavam o mais caro de seus mitos: a

busca da Terra sem Mal. O rito do caraimonhaga e a peregrinação

contínua, que dela resultava permitiam aos tupis, liderados pelos caraíbas,

sair do mundo dos homens e ingressar no mundo dos ancestrais; abandonar

o tempo cotidiano e vivenciar o tempo eterno, o tempo dos deuses.” (p 105)

A seguir, Ronaldo nos faz conhecer o sentido do título do capítulo, a Terra sem Mal: espaço e

tempo sagrado.

(...) Espaço sagrado: o único concebido como verdadeiramente real, na

medida em que encerra o “lugar de origem”, a “morada dos deuses e

heróis”. Espaço sagrado, espaço cósmico: oposto a todo o resto, ao caos, à

“extensão informe que o cerca”. Tempo sagrado: tempo da origem e do fim,

tempo que se renova eternamente, circularmente. Tempo sagrado: o tempo

dos mitos cosmogônicos e escatológicos, tempo cíclico do “eterno

retorno”.’ ( p 105)

Para os índios, a ideia de santidade ganhava significado mediante a Terra sem Mal. Ela é

narrada nos cânticos tupis como o começo e o fim que vem a se converter em eternidade. O triunfo da

santidade seria a descoberta da Terra sem Mal, pois se ancorava no próprio mito, e de forma radical e

inerte vivia sob a tradição tupi. Mesmo assim, era a fusão da mitologia tupi com o pensamento

anticolonial, antiescravista e anticristão caraíba, onde a história era absorvida para que fosse

transformada, e “vinha para emendar a lei dos cristãos”, promover “um fogo novo”, eliminar os

brancos da face da Terra, fazer com que os escravos virassem “senhores de seus senhores”.’ (p 107)

O autor chama a atenção para a importância da transformação que os mitos tupis sofreram sob o

impacto colonial. O mito da Terra sem Mal, ganhou um sentido de resistência social e cultural.

Contudo, tal crença, acaba por absorver características culturais de quem tanto odiavam. “A própria

ideia da Terra sem Mal embutida na profecia do triunfo da santidade assemelhava-se em diversos

relatos, ao modelo do paraíso celestial cristão. Os que aderissem à santidade, pregavam os índios,

“iriam voar para o céu”.’ (p 109)

Ronaldo então traz a tona, a questão do processo aculturador, que se apresenta como uma via

de mão dupla. Lembra-nos que a maioria dos adeptos da santidade e seu clero, tiveram contato com os

jesuítas e com os costumes católicos. Também, os jesuítas se viram obrigados a adaptar a doutrina às

tradições tupis. O mito dos tupis se embriagou de tal forma dos costumes católicos que chagaram ao

ponto de chamar a igreja da santidade de Nova Jerusalém.

Entretanto, A Terra sem Mal se faz presente aqui no mundo terreno, enquanto que o Paraíso

Celestial dos cristãos só seria conhecido no pós- morte. Além da noção de tempo, onde para os índios

o tempo sagrado é cíclico, e para os cristãos ele é construído de forma linear, com começo, meio e

fim. Os nativos sabiam “integrar o que lhes convinha do “outro”, chegando, no limite, a advogar

como sua a “verdadeira Igreja” e a pretender “emendar a lei dos cristãos”.’ (p112)

O caraíba católico e sua corte celeste.

O autor então, passa a falar um pouco do líder da santidade, o índio Antônio, grande profeta da

santidade, que ganha nome cristão na aldeia de Tinharé, litoral de Ilhéus, onde foi catequisado.

Fugindo para o sertão, acaba nas matas de Jaguaribe. Pelo caminho traz consigo uma mensagem

guerreira e uma esperança da Terra sem Mal. Venerado, dizia ser dotado de poderes divinos.

Semelhante aos “heróis da mitologia tupi, o caraíba-mor da santidade dizia ser capaz de

metamorfosear os outros e a si mesmo, de transformar as velhas em moças, de fazer as plantas

crescerem sozinhas.” (p113)

Antônio tinha esposa e filhos. Caraíba, seguia o exemplo dos pajés-açu, e acreditava ser

descendente dos deuses, dos heróis tupis, além de nascer de mãe, somente. Diferente dos caraíbas

míticos, que herdavam o heroísmo dos pais.

‘(...) dizia mesmo ser deus, e ninguém menos do que Tamandaré, o

ancestral dos tupinambá, o filho de Monan que escapara do dilúvio” metido

no olho de uma palmeira” com sua mulher. Era Tamandaré que nele

encarnava e por ele falava quando Antônio, em transe, anunciava o iminente

triunfo da santidade. Descendente dos deuses, e ele mesmo um homem-deus,

Antônio Tamandaré ancorava seu discurso e legitimava o seu poder nas

mais arraigadas tradições tupis: a mitologia heroica da criação do mundo e

a busca da Terra sem Mal – o almejado refúgio eterno dos índios.’ ( p113)

Educado por jesuítas, conhecia boa parte da doutrina cristã e seus principais símbolos. Pode

então construir, uma identidade híbrida, onde mensagem bíblica e tupi, se fundem. Chega ao ponto de

se intitular um papa, nomear bispos, vigários, e outros. Além de batizar e dar nomes de santos à sua

corte. Esta “ambiguidade do caraíba, e da ´própria santidade que liderava, espelha o hibridismo da

catequese, e do método evangelizador, que traduzia o catolicismo para língua tupi e o moldava aos

costumes nativos.” ( p 114)

O autor faz menção e destaca o prestígio às índias Santa Maria da Santidade de Jaguaripe, que

apesar das fontes incertas, é considerada Mãe de Deus. Tais mulheres seriam as esposas de Antônio e

de seu irmão Santinho, que no mito seriam Tamandaré e Aricute, sobreviventes de um dilúvio por

estarem trepados no alto das árvores.

Ronaldo sempre nos lembra que a incerteza das fontes, reflete o temor que os nativos tinham

do visitador, e era uma forma de mascarar suas “heresias” aos olhos do mesmo. Também menciona

que, a importância da mulher e, em especial da Mãe de Deus na santidade ameríndia, seria um legado

jesuíta. Fora ela, “Mãe de Deus” que passou a comandar a seita na fazenda de Fernão Cabral.’ (p

116)

Conclusões finais:

Para concluir, o autor se diz convencido de que o “papa” ou Antônio, filtrou e refez da forma

tupi, tudo o que apreendera dos jesuítas. Além disso, Ronaldo diz carregar consigo, uma suspeita

maior. Toda essa cultura híbrida teria sido forjada nos aldeamentos da Companhia de Jesus.

“(...)a maior parte das crenças e hibridismos culturais urdidos na

santidade ameríndia foi gerada não em Palmeiras Compridas, nem na

fazenda de Fernão Cabral, mas nos aldeamentos da Companhia de Jesus.”

(...) jesuítas e tupinambá teceram, juntos, a teia da santidade. Promoveram,

juntos, a metamorfose da mitologia tupi, transformando-a, para desespero

dos colonizadores, em idolatria insurgente. Parece ter sido no interior da

missão, em fim, que se elaborou o exótico e surpreendente catolicismo

tupinambá.” (p 117)

Conceitos:

aculturação, tradição, mitologia, cristianismo.

Interlocutores:

Álvaro Rodrigues, Bakhtin, Fernão Cardim, Hans Staden, Hélène Clastrés, Jean de Léry, Mircea

Eliade, Nóbrega, Yves D’Evreux

(4)

A companhia de Jesus e os índios na capitania do rio de janeiro nos séculos XVI - XVIII.

Departamento de História

Professora e Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes

Aluno(a): Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2013.1

RESENHA

Obra: ALVES, Salomão Pontes. O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre

Antônio Vieira. 2007. 119 pp. Dissertação de Mestrado em História Social. Universidade Federal

Fluminense. Niterói.

Resumo:

O paladino dos hereges: a defesa dos cristãos-novos e judeus pelo padre Antônio Vieira, é um

estudo que trabalha a defesa do jesuíta Vieira aos cristãos-novos e judeus no reino português. O autor

diferentemente de outros pesquisadores, busca relacionar tal defesa não só aos aspectos obviamente

econômicos e pragmáticos, mas também ao que tange ao transcendental, o imaginário profético-

messiânico, que vem a pregar um glorioso destino para o reino português. Construindo uma tradição

em Portugal, com o decorrer dos séculos.

Lugar de fala do autor:

O autor, Salomão Pontes Alves, é Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal

Fluminense (2005), mestre pela mesma universidade em História Social (2007). Funcionário do

Arquivo Nacional desde 2008, atua como membro da equipe de pesquisa do Projeto Mapa (Memória

da Administração Pública Brasileira) da mesma instituição. Além de atuar no exercício do magistério

em história, pelos municípios de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Mesquita e pelo Estado do Rio de

Janeiro.

Sobre a obra:

A obra é dividida entre a Introdução e três capítulos. O autor fez uso, para a pesquisa de fontes

diversas tais como: Sermões, Cartas, pareceres endereçados aos monarcas, os autos do Processo de

Vieira na Inquisição e etc. Além de uma vasta bibliografia, com nomes tais como: João Lúcio de

Azevedo, Hernani Cidade, Elias Lipner, Jaqueline Hermann e Gonçalo Puente Ojea entre outros.

Conteúdo:

No primeiro capítulo: O jesuíta e sua obra, o autor busca apresentar a obra do jesuíta e sua

mentalidade de acordo com o contexto em que está inserido. Por meio dos sermões e cartas, Salomão

esforça-se em mostrar as características que deram a Vieira a capacidade de oratória que obedeciam a

critérios e normas hierárquicas sociais, junto a uma realidade histórica.

Na época de Vieira, Portugal é por excelência um reino católico, e considera-se “o segundo

povo eleito” com a missão de cristianizar os quatro cantos da Terra. Tal mentalidade é construída a

partir do século VXII, mediante o “Mito de Ourique”. No século XVII, o texto bíblico é considerado

uma verdade tanto religiosa quanto científica.

O apego à Escritura Sagrada como uma fonte de verdade moral e científica, alude à fé na

presença e interferência divina na realidade e no cotidiano do Homem. Sendo assim, há uma

conjunção entre política e teologia. É neste contexto que Vieira, como bom jesuíta, deve proferir seus

sermões de forma clara e profunda, apesar de seguir as normas e critérios de Santo Inácio, fundador da

Companhia de Jesus.

No segundo capítulo, O jesuíta, judeus e cristãos-novos: a recuperação econômica de

Portugal, o autor busca explanar as razões políticas e econômicas relacionadas à defesa de Vieira aos

cristãos-novos e judeus, fala um pouco sobre a trajetória de vida de Vieira, da adesão do jesuíta à

causa da Restauração Portuguesa e seu dom de oratória.

Antônio Vieira nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa. Aos seis anos mudou-se com a

família para o Brasil, vivendo em Salvador. Lá frequentou o colégio jesuíta, não se destacando a

princípio. Mais tarde, após o seu noviciado, e como estágio obrigatório, é transferido para as missões

do Espirito Santo. Em 1626, após concluir seu noviciado na Companhia, prossegue nos estudos de

filosofia e teologia, onde aprimora sua erudição, retórica e silogismo por mais oito anos. Em 1634, na

Bahia, é ordenado sacerdote, onde começa a carreira de pregador.

Em dezembro de 1640, um golpe da nobreza portuguesa e letrados, põe o duque de Bragança no

trono, com o título de D. João IV. Vieira é incumbido de partir do Brasil à Portugal, para lhe fazer

juramento de fidelidade. O notável pregador, ganha a admiração do monarca. Neste interim, Castela,

não reconhece a legitimidade do rei, além disso, há a possível guerra com a Holanda. Sem falar na

crise econômica que Portugal se encontra.

De acordo com o jesuíta, somente com a criação de companhias de comércio, oriental e ocidental,

os navios vindos da Índia e do Brasil teriam segurança. Tal estratégia já era usada por muitos reinos

europeus, exceto Portugal, por ter de se valer dos recursos dos cristãos-novos. Como muitos foram

obrigados a fugir de sua terra natal, seria necessário para isso, o retorno dos mesmos e dos judeus à

Portugal e o perdão do confisco de seus bens.

Por seu domínio do púlpito, talento e audácia, Vieira logo se destaca. O jesuíta faz uso das Escrituras, não abrindo mão de seu arsenal de erudição, além de abusar das analogias e do silogismo. Isso lhe dava um poder de persuasão frente ao público diverso. Era a retórica sendo posta em prática por excelência. No terceiro capítulo, O jesuíta, judeus e cristãos-novos: profecia e a maior glória de Portugal,

relaciona a defesa aos cristãos-novos e judeus ao pensamento profético do padre, que vem a pregar

uma certeza do futuro glorioso ao reino português, e como tais ideias foram mal interpretadas pelo

Tribunal do Santo Ofício.

O pensamento profético de Vieira, se baseava no imaginário que resultou do mito de Ourique,

onde Cristo aparecera a Afonso Henrique, fundador do reino, e lhe incumbe de propagar o catolicismo

aos quatro cantos da Terra. No século XV e XVI, com as grandes navegações de um reino tão

pequeno, tal pensamento de eleição divina ganha força, e permanece no imaginário ao longo dos

séculos.

O surgimento de vários profetas e indivíduos que se proclamavam messias, criticando os

costumes da época, falando aos ouvidos do povo, o que almejavam escutar, e fazendo uso das

escrituras como base para isso, alimentou mais ainda tal imaginário. Além do fato do rei D. Sebastião

ter desaparecido no Marrocos em 1578, sem ter o corpo encontrado, se tornando o “último rei

cruzado”. Sob o domínio de Castela, a esperança do retorno milagroso de um rei salvador se faz

urgente. Muitos santos conhecidos também proferiram profecias de espíritos semelhantes.

Como a Companhia se Jesus era uma forte resistente à dominação castelhana, Vieira no Brasil,

estava a par de tudo que se dava no reino português. Ao chegar em terras lusitanas, abraça a causa da

Restauração. A partir de então, passa a fazer uso de sua erudição e retórica, a favor do monarca D.

João IV, que acreditava ser a encarnação do cavaleiro medieval, que levaria salvação à todo o mundo.

De acordo com as profecias, Portugal seria o Quinto Império que conduziria as tribos perdidas

de Israel à se converterem ao catolicismo. E, para isso os judeus teriam um papel importante. Tal

defesa leva o padre a debater frente ao Santo Ofício, onde é exaustivamente sabatinado sobre suas

intenções para com os hereges.

Considerações pessoais:

O interessante do trabalho de Salomão é que ele não se limita á razão mais óbvia, a saber, a

pragmática e econômica, respeitando assim a mentalidade da época, onde o homem ainda não se

desvencilhou do apego às tradições teológicas transcendentais. Também, foi muito feliz em fazer um

bom uso de um vasto número de documentos, que auxiliam o leitor a ter entendimento melhor do

assunto.

E, é justamente nos documentos que se encontra a relevância deste estudo para a pesquisa.

Apesar do assunto à princípio não ser de muita valia aos nossos estudos, por se tratar de um outro

recorte espacial, a saber, Portugal como pano de fundo. Ao ler os documentos, nota-se logo a extrema

erudição e o grande poder de retórica de Vieira, sendo as vezes até sarcástico. Sendo assim, tais

adjetivos, de certa forma, eram comuns aos integrantes da Companhia de Jesus.

Tal instituição se esmerava em formar mestres da persuasão, onde o conhecimento teológico não

era o suficiente para lidar com “o outro”, mas requeria o domínio da escrita, da oratória, do silogismo

e do uso da analogia, para que assim, houvesse uma identificação entre a palavra pregada e o cotidiano

pensado e vivido pelo ouvinte.

Nesse interim, nos é de muita relevância entender o perfil intelectual destes homens que, com

bravura abraçaram o ministério missionário, viajando para todos os cantos do mundo, em especial a

América portuguesa. A tese várias vezes faz alusão ao conceito de unidade e obediência, tão caro à

Ordem mais rica e influente do mundo, a cosmopolita Companhia de Jesus.

(4)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI - XVIII.

Departamento de História

Professora e Orientadora: Eunícia Fernandes.

Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2012.2

Edições brasileiras da obra de Frei Vicente do Salvador.

Obra: História do Brasil

VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Rio de Janeiro: Typ de G. Leuzinger e

Filhos, 1889, 261p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de. . História do Brasil. Rio de Janeiro:

Weiszflog Irmãos, 1918, 632p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo. História do

Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1931, 632p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo. História do

Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1954, 476p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,

Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1964, 527p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,

Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1965, 527p.

VICENTE, do Salvador, Frei; ABREU, J. Capistrano de; GARCIA, Rodolfo; EWILLEKE,

Venâncio, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1975, 437p.

VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1982.

VICENTE, do Salvador, Frei; OLIVEIRA, Machado Leda. História do Brasil. Salvador:

Editora Odebrecht, 2007.

VICENTE, do Salvador, Frei; OLIVEIRA, Machado Leda. História do Brasil. Salvador:

Editora Odebrecht, 2008.

VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Brasília: Editora Seetec, 2010, 580p.

(5)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI – XVIII

Departamento de História

Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes. Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2012.2

ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO

MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História - (6° ao 9° ano)

Ensino Fundamental. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

Introdução: Os livros do projeto Araribá de história referentes ao 6º, 7º, 8º e 9º ano do Ensino fundamental,

da Editora Moderna, são divididos em oito unidades e cada uma delas se encontra subdividida em

temas.

Conteúdo:

Cada tema oferece na medida do possível, conteúdos claros e objetivos em um esforço abordar

os assuntos de maneira coerente e simplificada. Em toda coleção há uma tentativa de que a História, a

Cultura e a Arte, seja explanada de forma concomitante. Sem falar nas descobertas científicas, que

mantem um diálogo permanente com as transformações e temporalidades históricas.

Dentro do conteúdo dos livros encontramos alguns boxes que trazem várias curiosidades e

explicações mais detalhadas sobre algum termo contido no texto. Os glossários têm um papel

importante na compreensão do conteúdo, apesar do livro, fazer uso de uma linguagem mais simples e

de fácil entendimento.

Conceitos:

O material analisado tenta trabalhar com os conceitos históricos de uma forma mais amena,

com uma linguagem simples, porém gradual, tentando respeitar o desenvolvimento cognitivo médio de

seu público alvo, o adolescente. Pois, parece ter a pretensão de acrescer ao aluno uma visão histórica

global e, incutir-lhe a importância da conservação dos patrimônios históricos.

Em toda a coleção, faz-se uso do termo “fonte”, que vem assim a familiarizar o aluno com o

conceito e, lhe acrescentar o entendimento da importância da mesma à pesquisa histórica.

A coleção, apresenta uma dinâmica textual, onde a leitura não se torna cansativa ao aluno.

Além de textos extras, que o faz, ter acesso a várias hipóteses (de historiadores diferentes) sobre o

mesmo tema. Oferecendo também, algumas narrativas pertinentes ao entendimento do assunto, e que

dialoguem com o tempo presente. Em meio a um confronto de ideias, há desnaturalização do conceito

equivocado da existência de uma verdade absoluta e eterna. O uso de fontes mais recentes o faz

entender que a história pode mudar.

Metodologia: Os livros fazem uso de uma metodologia que encaminha o aluno a analisar gráficos, mapas e

imagens (incluindo filmes), tentando mantendo assim, um diálogo coerente com o texto que, e levar o

aluno a problematizar e questionar as fontes, para que possa desenvolver um pensamento crítico. Tal

metodologia, leva o aluno a construção de linhas do tempo e, análise de quadros cronológicos. Além

de manter um diálogo com outras disciplinas tais como: Ciências (poluição, doenças, ecologia,

tecnologia e outros), Geografia, Filosofia, Artes, e demais disciplinas.

Temporalidade: O material didático, é organizado a trabalhar com uma temporalidade, onde há um respeito a

ordem cronológica linear. Apesar de manter um diálogo com temas atuais, usa um método

comparativo, trazendo a tona, acontecimentos diversos de mesma temporalidade, além das

repercussões mundiais de tais eventos.

Sobre a cidade do Rio de janeiro:

No livro do 8º ano (antiga 7ª série), a cidade do Rio de Janeiro é explorada com um pouco mais

de atenção, apesar de somente se limitar, à partir da chegada da família real ao Brasil. Dando ao aluno

a impressão de que a cidade só ganha existência em 1808. Apesar disso, a obra contem cinco páginas

sobre o assunto incluindo atividades específicas.

A Companhia de Jesus na capitania do Rio de Janeiro:

A missão jesuítica é desenvolvida no livro do 7º ano (antiga 6ª série), e faz um esforço afim de

dar uma visão geral da Companhia de Jesus, sua importância na educação (o colégio), na catequização

(missões e aldeamento) e na exploração das drogas do sertão ( boticas).

Também fala um pouco sobre a importância da Companhia de Jesus para o ensino

fundamental no Brasil, o teatro jesuíta, a expulsão da ordem e da dificuldade que o Estado enfrentou

para substituir tal corpo docente, e apresenta cartas transcritas dos padres Anchieta e Nóbrega.

Atividades de fixação: As atividades propostas, incentivam o aluno à prática da redação por meio de sua interpretação

pessoal, faz uso de montagem e preenchimento de fixas, fazendo pouco uso de questionários objetivos.

Com isso, o aluno tem a oportunidade de opinar sobre algumas questões, problematizar e se for

possível, alcançar suas próprias conclusões.

Conclusão: O objetivo do livro parece ser, auxiliar o aluno na busca de uma autonomia e construção de

uma consciência histórica e social. Aparentemente, parece buscar manter uma imparcialidade e, não

se prender somente a Política ou a Economia, mas depositar à Cultura a importância devida.

Além de buscar plantar no jovem aluno, uma postura cidadã, incentivar a tolerância, por meio

de atividades que direcione o aluno à discussão temática, buscando auxiliá-lo a desenvolver uma

capacidade mínima de crítica e leitura do mundo em seu redor.

O papel do professor: Em relação ao professor, o livro se apresenta como uma das ferramenta de trabalho que lhe

auxiliará frente ao seu ofício. No Guia e Recursos Didáticos há várias sugestões e textos extras que

visam facilitar a exposição dos temas.

Foi-me interessante notar que entre os textos de sua bibliografia principal e de seu suporte

docente, encontram-se alguns autores amplamente conhecidos no mundo acadêmico tais como os

clássicos Aristóteles, Heródoto, Platão; os modernos Maquiavel, Thomas Hobbes e os contemporâneos

Capistrano de Abreu, Sérgio Buarque de Holanda, Manuela da Cunha, Laura de Mello e Souza, Ronaldo Vainfas; como também Karl Marx, George Duby, Ginzburg, Braudel, Walter Benjamin,

Jacques Le Goff, Todorov e Hobsbawm. Entretanto, penso que irá depender somente do professor,

deter a plena autoria de sua aula.

Bibliografia: MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História –

(6° ano). 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História –

(7°ano). 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História – (8°ano). 1ª ed.

São Paulo: Moderna, 2006.

MELANI, Maria Raquel Apolinário (ed. Responsável). Projeto Araribá: História – (9°ano). 1ª ed.

São Paulo: Moderna, 2006.

(6)

A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI – XVIII

Departamento de História

Orientadora: Eunícia Barros Barcelos Fernandes.

Aluno(a) Pesquisadora: Heloísa de Souza Vitorino Paúra

2013.1

PROJETO PEDAGÓGICO O projeto foi realizado a partir de uma análise de livro didático em uma coleção de Ensino

Fundamental II, Projeto Araribá: História – (6° ao 9°ano), dando ênfase ao livro do 6° ano, Unidade

8 sob o título de Expansão Colonial, tema 5 sob o subtítulo de Crises e Rebeliões na Colônia contido

na página 234. As minhas questões e reflexões acerca do material foram as seguintes: O Brasil cuja

Europa conheceu no século XVII, por intermédio das obras do pintor holandês Frans Post, era uma

extensão de Portugal (Europa), onde por meio de idas e vindas e por consequência de uma troca

cultural, o Brasil veio a se tornar parte do patrimônio europeu

Contexto histórico:

O Brasil holandês

No ano de 1578, durante a batalha contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei

português dom Sebastião desapareceu. Esse evento iniciou uma das mais complicadas crises

sucessórias do trono português, tendo em vista que o jovem rei não teve tempo suficiente para deixar

um descendente em seu lugar. Nos dois anos seguintes, o cardeal dom Henrique, seu tio-avô, assumiu

o Estado português, mas logo morreu sem também deixar herdeiros.

Imediatamente, Filipe II, rei da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, se

candidatou a assumir a vaga deixada na nação vizinha. Para alcançar o poder, além de se valer do fator

parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse

exercer tal direito. Com isso, observamos o estabelecimento da União Ibérica, que marca a

centralização dos governos espanhol e português sob um mesmo governo.

A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se

recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o

comércio de escravos com os portugueses, que controlavam tal atividade na costa africana. Além

disso, o controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação

dos lucros obtidos através da arrecadação tributária.

Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi

responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam

a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no

tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.

Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou

o monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640, a

chamada Restauração, definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente

extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV,

passou a controlar Portugal.

Invasão holandesa no Brasil, conquista e administração

A invasão holandesa fez parte do projeto da Holanda (Países Baixos) em ocupar e administrar

o Nordeste Brasileiro através da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Após a União Ibérica

(domínio da Espanha em Portugal entre os anos de 1580 e 1640), a Holanda resolveu enviar suas

expedições militares para conquistarem a região do Nordeste brasileiro. O objetivo holandês era

restabelecer o comércio do açúcar entre o Brasil e Holanda, proibido pela Espanha após a União

Ibérica.

A primeira expedição invasora ocorreu em 1624 contra Salvador (capital do Brasil na época).

Comandados por Jacob Willekens, mais de 1500 homens conquistaram Salvador e estabeleceram um

governo na capital brasileira. Em 1630, houve uma segunda expedição militar holandesa, desta vez

contra a cidade de Olinda (Pernambuco). Após uma resistência luso-brasileira, os holandeses

dominaram a região, estabeleceram um governo e retomaram o comércio de açúcar com a região

nordestina brasileira. Em 1637, a Holanda enviou o conde Maurício de Nassau para administrar as

terras conquistadas e estabelecer uma colônia holandesa no Brasil. Até 1654, os holandeses

dominaram grande parte do território nordestino.

Em sua administração no Nordeste do Brasil, Maurício de Nassau estabeleceu relações

amigáveis entre holandeses e senhores de engenho brasileiros; incentivou, através de empréstimos, a

reestruturação dos engenhos de açúcar; introduziu inovações com relação à

fabricação de açúcar; favoreceu um clima de tolerância e liberdade religiosa;

modernizou a cidade de Recife, construindo diques, canais, palácios, pontes e

jardins; estabeleceu e organizou os sistemas de coleta de lixo e os serviços de

bombeiros em Recife; Determinou a construção em Recife de um observatório

astronômico, um Jardim Botânico, um museu natural e um zoológico.

O pintor Frans Post (1612 – 1680) Frans Janszoon Post, nasceu na cidade de Haarlem, Holanda, em 1612, e morreu em 1680 em

sua terra natal. Chegou ao Brasil em 1637, com 24 anos de idade, a serviço de Nassau na comitiva que

o acompanhou ao Nordeste do Brasil em meados do século XVII, e tomou parte em diversas

expedições, ficou encarregado de documentar a topografia, a arquitetura militar e civil, cenas de

batalhas navais e terrestres, permanecendo aqui ate´ 1644, quando regressa à Alemanha.

O movimento estético do qual Frans Post fez parte foi o barroco holandês. A primeira de suas

telas sobre motivos brasileiros: "A Ilha de Itamaracá", foi pintada em 1637, logo que chegou nas

"Indias Ocidentais". Post ficou conhecido pela sua busca em representar as paisagens com exatidão,

detalhando a riqueza das cores da fauna, flora e o ser humano inserido neste contexto, em uma

delicada harmonia. Paisagem Pernambucana com Rio, 1668 Óleo sobre madeira 47 x 55 cm

Doada por Club do Canguru Mirim222 P, MASP-Museu de Arte de São Paulo, Brasil.

Os quadros de Frans Post,

influenciaram artistas holandeses que

nunca estiveram no Brasil mas, que

aproveitaram o temas das "Índias

Ocidentais", como Jillis Van Schendel

na paisagem imaginária em que incorpora elementos claramente inspirados no Brasil, como palmeiras,

índios e escravos negros. Seus quadros são uma reconstituição fiel das atividades em torno do

"banguê" e da cultura da zona da Mata, em Pernambuco, Post entra para a história como o pintor por

excelência do açúcar.

Em 1979, com o tricentenário do falecimento de Nassau, que ocorreu em 20 de dezembro de

1679, na Alemanha, foram editados no Recife: o álbum de gravuras O Brasil que Nassau conheceu

(Coleção Pernambucana v. 20) e a obra de Gaspar Barlaeus, História dos feitos recentemente

praticados no Brasil etc. (Coleção Recife, v. 4), uma espécie de relatório dos sete anos do seu

governo, ilustrado com lâminas desdobráveis assinadas por Frans Post e mapas de autoria de Georg

Marcgrav e Sebastianzoon Cornelis Goliath.

A maior parte dos quadros de Post encontra-se no Brasil: na cidade do Recife computam-se

dezessete no Instituto Ricardo Brennand (a maior colecção do artista no mundo, abrangendo todas as

fases de sua produção), e cinco divididos entre o Museu do Estado de Pernambuco, o Instituto

Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e o Palácio do Governo de Pernambuco;

existem quadros ainda no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, na Fundação Maria

Luísa e Oscar Americano, na Fundação Pimenta Camargo e no Museu de Arte de São Paulo, estes na

cidade de São Paulo, e no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.

Nos Países Baixos, podem ser encontrados quadros do artista na Mauritshuis da Haia ("Vista da

Ilha de Itamaracá"), no Rijksmuseum de Amsterdam ("Ruínas da Sé de Olinda") e no Boijmans van

Beuningen de Rotterdam ("O Engenho" e "O sacrifício de Manoah", uma pintura com tema bíblico

mas fundo de paisagem brasileira). Na França, existe exemplar no Louvre, em Paris, e na Grã-

Bretanha, no British Museum, em Londres.

Aula: O Brasil que a Europa conheceu no século XVII.

Objetivos:

Levar o aluno a uma reflexão sobre a importância do Brasil naquela época;

Desenvolver o pensamento crítico;

Estimular a autonomia do aluno na construção de um saber histórico;

Incentivar a interpretação pessoal do aluno;

Trabalhar a questão da memória, patrimônio e cultura.

Desenvolvimento:

1° – Primeiramente, a ideia é que seja feita pelo aluno, a leitura prévia e em casa de algumas textos

sobre o assunto (nas páginas ...) para que daí ele traga para a sala de aula, todas as questões e reflexões

mediante tal esforço de interpretação. Esta primeira etapa introdutória, é para que seja incentivado o

exercício da leitura crítica e o pensamento autônomo do aluno. Será com base nestas questões que a

aula se norteará.

2° – Tentar junto ao aluno buscar as respostas às questões e reflexões trazidas em sala, apresentar a

obra de Frans Post aos alunos, Paisagem brasileira com tatu, 1649 e assim lançar a questão: Por que

ou para que se pinta uma paisagem?

Estratégia:

Para que a questão seja respondida, serão tomadas algumas estratégias:

Apresentar um breve contexto histórico acerca das circunstancias que trouxeram o artista ao

Brasil. Quem ele é? Qual sua importância para a época?

Um pouco de Frans post no Brasil e suas obras. Qual seu papel aqui?

A importância de suas obras como patrimônio cultural da Holanda? O que é essa Holanda?

Falar da pintura como um dos meios de registro histórico (memória).

Apresentar a imagem ou documento iconográfico para que o aluno possa fazer sua interpretação e

possam buscar responder a questão suscitada no início da aula: Por que ou para que se pinta uma

paisagem? Vocês acham que o Brasil era realmente do jeito que foi representado na pintura ? Por

quê?

Imagem ou iconografia:

Paisagem Brasileira com Tatu, 1649 óleo sobre madeira 53 x 69 cm

Alte Pinakothek, Munich (Germany)

Recursos:

Uso de imagem em ppt, mapa da região do Nordeste (Bahia e Pernambuco) e lousa.

Metodologia:

Aula expositiva, leitura, compreensão e debate sobre o texto e a imagem.

Conceitos:

Patrimônio, cultura e memória.

BIBILOGRAFIA:

MELANI, Mª Raquel Apolinário. Projeto Araribá - História - 6º ano do Esino Fundamental

(Manual do Professor). 1ª Edição, São Paulo: Moderna, 2006.

MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil Holandês. São paulo: Pinguim - Cia das Letras, 2010. ( leitura

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http://br.groups.yahoo.com/group/acompanhiadejesuseosindios/

http://acompanhiadejesuseosindios.wordpress.com/