dcv0311 fontes das obrigacoes (morato) - isac costa (2015) - responsabilidade civil (1)

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RESPONSABILIDADE CIVIL - 2 A PROVA DCV0311 – Responsabilidade Civil Prof. ANTONIO CARLOS MORATO 1º Semestre de 2015 – Sala 22 – Turma 186 Anotações: Isac Silveira da Costa ([email protected]) Versão: 1.0 (19/06/2015) PENSE ANTES DE IMPRIMIR. Hoje temos tablets e outros meios para evitar que se imprimam textos desnecessariamente. Sumário Legislação ......................................................................................................................................... 3 Bibliografia ................................................................................................................................. 3 1. Responsabilidade Civil .............................................................................................................. 4 1.1. Função, Conceito e Etimologia........................................................................................... 4 Funções da Responsabilidade CIvIl .......................................................................................... 4 Etimologia .................................................................................................................................. 4 1.2. Histórico.............................................................................................................................. 5 1.3. Dano ................................................................................................................................... 7 Dano Social ............................................................................................................................... 8 1.4. Ato Ilícito e Abuso de Direito .............................................................................................. 8 Ato Ilícito .................................................................................................................................... 8 Abuso de Direito ........................................................................................................................ 9 1.5. Dever de Indenizar ............................................................................................................. 9 Valor de Desestímulo ................................................................................................................ 9 1.6. Culpa ................................................................................................................................ 10 Classificações da Culpa .......................................................................................................... 11 1.7. Evolução da Responsabilidade Civil ................................................................................ 12 Culpa Presumida ..................................................................................................................... 13 Teoria Objetiva ........................................................................................................................ 14 Responsabilidade Objetiva ...................................................................................................... 15 Fato do Produto ....................................................................................................................... 16 Fato do Animal ......................................................................................................................... 16 1.8. Teorias do Risco............................................................................................................... 16 Teoria do risco proveito ........................................................................................................... 16 Teoria do risco profissional ...................................................................................................... 17 Teoria do risco excepcional ..................................................................................................... 17

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  • RESPONSABILIDADE CIVIL - 2A PROVA DCV0311 Responsabilidade Civil Prof. ANTONIO CARLOS MORATO 1 Semestre de 2015 Sala 22 Turma 186 Anotaes: Isac Silveira da Costa ([email protected]) Verso: 1.0 (19/06/2015)

    PENSE ANTES DE IMPRIMIR. Hoje temos tablets e outros meios para evitar que se imprimam textos desnecessariamente.

    Sumrio Legislao ......................................................................................................................................... 3

    Bibliografia ................................................................................................................................. 31. Responsabilidade Civil .............................................................................................................. 4

    1.1. Funo, Conceito e Etimologia ........................................................................................... 4Funes da Responsabilidade CIvIl .......................................................................................... 4Etimologia .................................................................................................................................. 4

    1.2. Histrico .............................................................................................................................. 51.3. Dano ................................................................................................................................... 7

    Dano Social ............................................................................................................................... 81.4. Ato Ilcito e Abuso de Direito .............................................................................................. 8

    Ato Ilcito .................................................................................................................................... 8Abuso de Direito ........................................................................................................................ 9

    1.5. Dever de Indenizar ............................................................................................................. 9Valor de Desestmulo ................................................................................................................ 9

    1.6. Culpa ................................................................................................................................ 10Classificaes da Culpa .......................................................................................................... 11

    1.7. Evoluo da Responsabilidade Civil ................................................................................ 12Culpa Presumida ..................................................................................................................... 13Teoria Objetiva ........................................................................................................................ 14Responsabilidade Objetiva ...................................................................................................... 15Fato do Produto ....................................................................................................................... 16Fato do Animal ......................................................................................................................... 16

    1.8. Teorias do Risco ............................................................................................................... 16Teoria do risco proveito ........................................................................................................... 16Teoria do risco profissional ...................................................................................................... 17Teoria do risco excepcional ..................................................................................................... 17

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    Teoria do risco integral ............................................................................................................ 17Teoria do risco criado .............................................................................................................. 17Teoria do risco administrativo .................................................................................................. 17

    1.9. Pressupostos da Responsabilidade Civil ......................................................................... 17Nexo Causal ............................................................................................................................ 18

    1.10. Excludentes da Responsabilidade Civil ........................................................................ 19Precedentes Selecionados .......................................................................................................... 22

    Estradas de Ferro .................................................................................................................... 22Teorias do Risco e Direito Ambiental ...................................................................................... 23Fato do Animal ......................................................................................................................... 24

    Smulas ...................................................................................................................................... 25Seminrio 3 ................................................................................................................................. 26Seminrio 4 ................................................................................................................................. 27

  • Legislao

    Lei n. 4.591/1964 Condomnio em edificaes e incorporaes imobilirias

    [link]

    Lei n. 6.530/1978 Corretor de Imveis [link]

    Lei n. 8.078/1990 Cdigo de Defesa do Consumidor

    [link]

    Lei n. 9.610/1998 Direitos Autorais [link]

    Lei n. 10.406/2002 Cdigo Civil [link]

    Bibliografia AZEVEDO, lvaro Villaa. Teoria Geral dos Contratos Tpicos e Atpicos. 3. ed. So Paulo: Atlas, 2009. BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade. Atualizado por Eduardo Carlos Bianca Bittar. 7. ed.

    Rio de Janeiro: Forense, 2008. CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9. ed. So Paulo: Atlas, 2010. DIAS, Jos de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. GODOY, Claudio Luiz Bueno de. Responsabilidade Civil pelo Risco da Atividade. 2. ed. So Paulo: Saraiva,

    2010. GOMES, Orlando. Contratos. Atualizado por Antnio Junqueira de Azevedo e Francisco Paulo de

    Crescenzo Marino. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus; SILVA, Regina Beatriz Tavares da.

    Curso de Direito Civil: Direito das Obrigaes: 2 Parte. 39. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. NORONHA, Fernando. Direito das Obrigaes. 3. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade Civil. 5. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1994. ROSENVALD, Nelson. As Funes da Responsabilidade Civil: a Reparao e a Pena Civil. So Paulo,

    Atlas, 2013. SIMO, Jos Fernando. Responsabilidade Civil do Incapaz. So Paulo: Atlas, 2008. STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil: Doutrina e Jurisprudncia. 9. ed. So Paulo: Revista dos

    Tribunais, 2013.

  • 1. Responsabilidade Civil

    1.1. Funo, Conceito e Etimologia

    Responsabilidade civil um tema de gigantesca relevncia. Temos trs espcies de responsabilizao: civil, administrativa e penal. O tema estudado no apenas em direito civil, mas tambm em direito internacional, direito administrativo, direito ambiental e direito do consumidor. O papel normativo da responsabilidade civil pedaggico de amoldar condutas, de dissuaso e preveno de comportamentos antissociais. A recomposio patrimonial por meio da sano tambm relevante, mas no nico. A ideia patrimonialista se subdivide no dano positivo (dano emergente) e no dano negativo (lucro cessante). H tambm uma funo compensatria que existe no dano extrapatrimonial, por vezes chamado de dano moral. Uma indenizao muito reduzida acaba por estimular a conduta em vez de inibi-la. Existe no Brasil a indstria do dano moral ou a indstria do dano? Por que o dano continua a ocorrer? A responsabilidade civil tem sido eficaz para prevenir a ocorrncia de danos? Por outro lado, no razovel ocorrer uma condenao a um valor inexequvel. preciso haver um equilbrio. Dependendo do contexto, uma sano pecuniria pode ser mais eficaz do que uma pena privativa de liberdade. Um dado importante que quando se tem provada a autoria na esfera penal, no se discute mais sobre a autoria do fato no mbito civil, pois neste se exige apenas a culpa e no o dolo. CC, Art. 935. A responsabilidade civil independente da criminal, no se podendo questionar mais sobre a existncia do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questes se acharem decididas no juzo criminal.

    Na funo normativa da personalidade civil, podemos dizer que h a afirmao de certos direitos da personalidade, o que foi especialmente ressaltado aps a CF/88, particularmente no art. 5o, V, X e XVIII, a. Temos, por exemplo, a proteo da liberdade, da integridade fsica. CF, art. 5o [...] V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem; X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao; XXXVIII - reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; [direito voz]

    Funes da Responsabilidade CIvIl Primeiro, temos a funo reparatria, de ressarcir o dano causado, tanto em termos de recomposio quanto de compensao. Se a indenizao for excessiva, contudo, h enriquecimento sem causa. Segundo, temos a funo sancionatria ou punitiva. Argumenta-se que o direito civil no tem penas. Na verdade, no h cominao de penas da mesma forma que h no direito penal, h uma lgica distinta, sem tipificao das condutas, sem normas com preceito primrio e preceito secundrio. Terceiro, temos a funo preventiva (ou dissuasora). O objetivo da responsabilidade civil dissuadir condutas ilcitas.

    Etimologia Com respeito etimologia da palavra, o termo responsabilidade descende do verbo latino respondere, que advm de spondeo, primitiva obrigao de natureza contratual do direito quiritrio romano, pelo qual o devedor se vinculava ao credor nos contratos verbais, por intermdio de pergunta e resposta (spondesne mihi dare centum? spondeo - ou seja, prometes-me dar um cento? prometo), como nos ensina LVARO VILLAA AZEVEDO.

  • 5

    A responsabilidade civil, ns a diferenciamos da obrigao, surge em face do descumprimento obrigacional. Realmente, ou o devedor deixa de cumprir um preceito estabelecido num contrato, ou deixa de observar o sistema normativo, que regulamenta sua vida. A Responsabilidade nada mais do que o dever de indenizar o dano Responsabilidade no se confunde com obrigao.

    A distino fica clara em face do descumprimento obrigacional. Realmente, ou o devedor deixa de cumprir um preceito estabelecido num contrato, ou deixa de observar o sistema normativo, que regulamenta sua vida. A responsabilidade nada mais do que o dever de indenizar o dano. Quando imaginamos as obrigaes naturais, h dbito, mas no h exigibilidade ou responsabilidade (ex. dvida de jogo ou dvida prescrita). Por outro lado, o fiador no tinha o dbito original, mas pode vir a ter a responsabilidade. Desse modo, principalmente no campo contratual, a responsabilidade surge em momento posterior ao dbito, quando do descumprimento dos termos avenados. Contudo, por escolha do legislador, h situaes que ensejam o surgimento da responsabilidade (extracontratual ou aquiliana). H o descumprimento de um dever pr-existente fundado na vontade do legislador. Dever, obrigao, sujeio e nus so termos que no se confundem. A obrigao um dever de cunho patrimonial. O dever pode ser extrapatrimonial ( gnero do qual a obrigao espcie). H, por exemplo, o dever de coabitao no direito de famlia. O nus um imperativo de prprio interesse, h um sentido de vantagem em seu cumprimento ou desvatangem no seu descumprimento. O termo sujeio est ligado ao conceito oposto de potestade ou poder. Os filhos esto sujeitos ao poder familiar.

    1.2. Histrico

    A primeira fase a de barbrie, de vingana coletiva, a que se seguiu a fase de vingana privada, na qual vigeu a lei de talio, inscrita na Lei das XII Tbuas. De acordo com LVARO VILLAA AZEVEDO:

    Primitivamente, aplicava-se a pena do Talio (olho por olho, dente por dente), baseada na vingana privada, em que os homens faziam justia pelas prprias mos. Resqucios dessa pena do Talio encontram-se na Lei das XII tbuas. A Tbua VII, Lei Xla - De Delictis - consagra-a, com o seguinte texto: 11 - Si membrum rupsit, ni cum eo pacit, talio esto (Se algum fere a outrem, que sofra a pena do Talio, salvo se existir acordo). A responsabilidade contratual, entre os romanos, poca da Lei das XII tbuas, de 450 a.c., nascia do nexum e da mancipium, com todos os inconvenientes da execuo pessoal do devedor, demonstrados no Captulo 4, item 2 (evoluo histrica do conceito de obrigao). Mesmo com o advento da Lex Poetelia Papiria, do sculo IV a.c., com a proibio da execuo pessoal, em certos caso, ela continuou a existir, vindo a renascer no baixo imprio e na Idade Mdia.

    A grande revoluo ocorreu na terceira fase, com o estabelecimento da indenizao pecuniria e a responsabilidade aquiliana (Lex Aquilia). Consoante LVARO VILLAA AZEVEDO:

    A responsabilidade extracontratual, a seu turno, tambm conhecida como responsabilidade aquiliana, tendo em vista que a Lex Aquilia de damno (do sculo III a.c.) cuidou de estabelecer, no Direito Romano, as bases jurdicas dessa espcie de responsabilidade civil, criando uma forma pecuniria de indenizao do dano, assentada no estabelecimento de seu valor.

    Com respeito lei Poetelia Papiria, editada por Gaius Poetelius Libo Visolus Lucius Papirius Cursor, nos ensina JOS CARLOS MOREIRA ALVES1:

    O devedor respondia pela dvida com seu prprio corpo; mais tarde, a partir da lei Poetelia Papiria (326 a.C.), passou a ser um vnculo jurdico (isto , imaterial, respondendo, ento, pelo dbito, no mais o corpo do devedor, mas seu patrimnio (...) A obrigao, em consequncia, deixa de vincular o corpo do devedor ao credor. A partir de ento no mais deveria haver a impossibilidade de transmisso de crdito ou dbito. No entanto, o Direito romano, em todas as

    1 Direito Romano. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, pp. 382-436.

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    suas fases de evoluo, conservou teoricamente o princpio da intransmissibilidade do crdito e do dbito. Na prtica, porm, alcanaram-se, economicamente, os resultados da transmisso por meios indiretos [ex. novao].

    A sano corporal, prpria da Lei das XII Tbuas, foi substituda por uma sano pecuniria. O conceito de que o patrimnio responde extremamente relevante para nosso estudo. A quarta fase foi caracterizada pela estruturao do conceito de dolo e culpa e pela distino da responsabilidade civil da responsabilidade penal. Num acidente de trnsito, pode incidir uma norma penal (leso corporal, homicdio culposo), podemos ter uma ao de responsabilidade civil tanto com dano patrimonial como dano moral ou at mesmo dano esttico. Ainda, podemos ter responsabilidade administrativa por infrao a normas de trnsito. Os danos em cada esfera no se confundem, podendo haver uma tripla incidncia de sanes (civil, administrativa e penal). De acordo com JOS DE AGUIAR DIAS2, no tocante evoluo da Responsabilidade Civil e a importncia das regras fundamentais de Direito:

    No prefcio obra de SAVATIER, escreveu GEORGES RIPERT que nada lhe parece to ilusrio como a convico de que se deve o extraordinrio desenvolvimento da responsabilidade civil ao sentimento mais elevado de Justia e ao progresso do Direito. A seu ver, trata-se agora, exatamente como antes, de estabelecer a norma de prudente limitao atividade humana. Nada mais certo, se bem que o fato no justifique certas consideraes pessimistas do professor de Paris. A razo est em que as regras fundamentais de Direito so suficientes como standard. No se pode duvidar de sua eterna juventude e do seu incorruptvel valor, se se repara em que, na matria da responsabilidade, permanece ntegro o ureo princpio do neminem laedere. O que o tempo, o progresso, o aparecimento de novas e febris atividades industriais determinam e o aparecimento de novas e febris atividades industriais determinam o ajustamento daquela regra s necessidades atuais Nem sempre, porm, pode o legislador faz-lo, porque as leis devem ter carter, tanto quanto possvel, estvel. Basta que, em termo razovel, recomponham as normas de acordo com as exigncias da prtica. Aos tribunais que compete extrair dos preceitos fundamentais o pronunciamento que seja, na ocasio, o mais apto a realizar o fim do Direito. O sentimento de Justia, nos que o tm, no , por certo, mais refinado hoje do que anteriormente. Sucede, porm, que ele , agora, muito mais solicitado a manifestar-se e a intervir, do que antigamente. por isso que se tornou mais acentuadamente uma concepo social, em lugar de noo caracterizadamente individual. Mas, ainda que se no queira aceitar uma retrao do egosmo, em face da civilizao atual, ao menos se deve reconhecer que tambm ele tem, contribudo para a extenso da responsabilidade civil. A multiplicao dos infortnios, derivada da vida moderna, induz, com efeito, o mais egosta a pensar que amanh ser o seu dia de experimentar a desgraa, razo utilitria, decerto, mas nem por isso menos eficiente, para que aceite e sustente a necessidade de reparao com mais frequncia do que antigamente. medida que a civilizao se desenvolve, dizem Mazeud et Mazeud, tornam-se mais e mais complexas as relaes sociais, com interpenetrao cada vez mais profundas dos crculos de atividade jurdica de cada um. inevitvel, em tais condies, o atrito de interesses, cada vez mais intenso, desdobrando-se em problemas de responsabilidade civil.

    Cada um pode inferir que pode vir a sofrer danos no futuro e, com isso, modula seu comportamento com o intuito de no causar dano a outrem, com a cincia de que poder sofrer uma sano. Na Conveno de responsabilidade civil oriunda de objetos lanados ao espao, estes princpios tambm podem ser observados3. Neste caso, a responsabilidade pelo dano se funda na culpa e no no risco. Convention on International Liability for Damage caused by Space Objects (29/03/1972)

    2 Da Responsabilidade Civil. v. 1. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 10. 3 Cf. IJAR MILAGRE DA FONSECA; ANTONIO CARLOS MORATO. Private enterprise liability for space servicing. Revista da Faculdade de Direito. v. 104. Universidade de So Paulo, 2009. pp. 441-442.

  • 7

    Article III - In the event of damage being caused elsewhere than on the surface of the earth to a space object of one launching State or to persons or property on board such a space object by a space object of another launching State, the latter shall be liable only if the damage is due to its fault or the fault of persons for whom it is responsible. It is necessary that the International Space Law envisages situations like that and establishes recommendations to input liabilities in an ethical and fair way. It is worse to point out here that space services to clean the orbital environment may become much more attractive because of ISS assembling in orbit, becoming the largest target for space debris ever built by mankind. A look at the numbers may indicate the possibility of private business in space: it is estimated that there are at least 8000 trackable objects in near-Earth orbits. Those objects are baseball size or larger and can be tracked by ground-based radars. Of those 8000 objects about 400-500 are operational spacecraft. The others are space junk! This space junk or orbital debris includes things such as hatches blown off space modules, garbage discarded into space from past space stations, or dead satellites. In addition to the 8000 trackable objects, there are millions of flecks of paint, metal or plastic that are currently in space. Much of this smaller space junk has come from the explosion of rocket stages or the explosion of satellites and their parts.

    Para entender ou contestar este modelo, precisamos retroceder aos princpios mais elementares, presentes no Digesto4: Ttulo I - Da Justia e do Direito (I, 1, 3): 3. Os preceitos do Direito so estes: viver honestamente, no causar dano a outrem e dar a cada um o que seu. 3. luris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere.

    1.3. Dano

    Dano o prejuzo, de natureza individual ou coletiva, econmico ou no econmico, resultante de ato ou fato antijurdico que viole qualquer valor inerente pessoa humana, ou atinja coisa do mundo externo que seja juridicamente tutelada (FERNANDO NORONHA). Nem todo prejuzo, contudo, dano. Certa vez, havia duas plantaes vizinhas de morango (dos dois maiores produtores de um pas) e um dos produtores pulverizou a sua plantao com inseticidas, prejudicando a produo do vizinho. Porm, com a reduo da oferta, houve aumento de preos e, na prtica, o prejuzo converteu-se em lucro. Caberia indenizao do dano sofrido ao vizinho que teve sua plantao prejudicada? No sistema vigente no Brasil, caberia. Poderamos ter um dano moral, pela insegurana que se lanaria ao mercado com respeito ao produto que seria oferecido. Podemos ter danos individuais e danos transindividuais. Tanto o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) como a Lei de Ao Civil Pblica (Lei 7.347/1985)5 tratam de danos resultantes de atos ou fatos antijurdicos. A antijuridicidade est ligada responsabilidade objetiva e a culpabilidade responsabilidade subjetiva. FERNANDO NORONHA, em sua definio, no cuida da reparao de danos pessoa jurdica, inclusive dano moral. Sabemos que no apenas a pessoa humana que tem direito indenizao. Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuzos, perdas que atingem o patrimnio corpreo de uma pessoa natural, pessoa jurdica ou ente despersonalizado. A responsabilidade o dever jurdico de recompor e compensar o dano, existindo a violao de um dever jurdico pr-existente, seja este geral (lei) ou particular (contrato) (CARLOS ALBERTO BITTAR).

    4 Texto integral: http://biblio.juridicas.unam.mx/libros/libro.htm?l=600 5 Disciplina a ao civil pblica de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico (VETADO) e d outras providncias.

  • 8

    Recompor tem natureza patrimonial (dano patrimonial). Temos o dano emergente (o que se efetivamente se perdeu) e o lucro cessante (aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar). No dano moral, no possvel se desfazer a situao atual, objetivando-se uma compensao (dano extrapatrimonial). No possvel recompor a perda de um filho, por exemplo. O dano moral enfrentou resistncia para ser reconhecido pela doutrina, em face da viso da teoria concreta do direito da ao6. Quanto pessoa atingida, o dano moral pode ser assim classificado: Dano moral direto aquele que atinge a prpria pessoa, a sua honra subjetiva (autoestima) ou

    objetiva (repercusso social da honra). Dano moral indireto ou dano moral em ricochete aquele que atinge a pessoa de forma reflexa,

    como nos casos de morte de uma pessoa da famlia ou de perda de um objeto de estima (coisa com valor afetivo). Nos casos de leso a outra pessoa, tero legitimidade para promover a ao indenizatria os lesados indiretos. Podem ser citados os casos de leso aos direitos da personalidade do morto, como consta do art. 12, pargrafo nico, do CC.

    Com respeito ao dano imagem, importante trazer dois conceitos. Imagem-atributo se refere honra objetiva, o conceito geral que se tem sobre algum. Imagem-retrato a retratao fsica que se faz de algum. A Smula 227 do STJ afirma que a pessoa jurdica pode sofrer dano moral. necessrio ressaltar a criao da categoria do dano esttico. Nesse sentido, destacamos a Smula 387 do STJ, editadas mais em razo dos valores aviltantes que so pagos a ttulo de dano moral do que como decorrncia de uma matriz terica.

    STJ - Smula 387 lcita a cumulao das indenizaes de dano esttico e dano moral.

    O dano esttico tem fundamento no seguinte dispositivo: Art. 949. No caso de leso ou outra ofensa sade, o ofensor indenizar o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes at ao fim da convalescena, alm de algum outro prejuzo que o ofendido prove haver sofrido.

    Dano Social A responsabilidade civil deve impor indenizao por danos individuais e por danos sociais, sendo os primeiros patrimoniais e morais e os ltimos leses sociedade, no seu nvel de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimnio moral principalmente a respeito da segurana quanto por diminuio de sua qualidade de vida. Os danos sociais so causa, pois de indenizao punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condies coletivas de segurana e de indenizao dissuasria, se atos em geral da pessoa jurdica, que trazem uma diminuio do ndice de qualidade de vida da populao. A indenizao no iria para um fundo (como ocorre quando h violao de interesses trans-individuais), pois o autor, vtima, que move a ao, age tambm como um "promotor pblico privado" e, por isso, merece a recompensa. Tal ponto no facilmente aceito no quadro da mentalidade jurdica brasileira, mas preciso recompensar e estimular, aquele que, embora por interesse prprio, age em benefcio da sociedade, pois h um incentivo para um aperfeioamento geral e a indenizao, qualquer que seja,dever ser entregue prpria vtima. (ANTNIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO)

    1.4. Ato Ilcito e Abuso de Direito

    Ato Ilcito 6 CC/1916, Art. 76. Para propor, ou contestar uma ao, necessrio ter legtimo interesse econmico, ou moral. Pargrafo nico. O interesse moral s autoriza a ao quando toque diretamente ao autor, ou sua famlia.

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    Ato Ilcito a ao ou omisso culposa, com a qual se infringe, direta e imediatamente, um preceito jurdico do Direito Privado, causando-se dano a outrem. (ORLANDO GOMES) CC, Art. 186 Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.

    Temos tambm a atividade ilcita. Existe a responsabilidade dos incapazes, mas via de regra se considera a vontade ("voluntria"). CC, Art. 928. O incapaz responde pelos prejuzos que causar, se as pessoas por ele responsveis no tiverem obrigao de faz-lo ou no dispuserem de meios suficientes. Pargrafo nico. A indenizao prevista neste artigo, que dever ser eqitativa, no ter lugar se privar do necessrio o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

    Abuso de Direito CC, Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes.

    RUI STOCCO afirma que s cabe responsabilidade subjetiva no tocante ao abuso de direito. Registra-se que na I Jornada de Direito Civil da Justia Federal foi formulado o Enunciado 37 acerca do art. 187 do CC, nos seguintes termos: a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critrio objetivo-finalstico.

    1.5. Dever de Indenizar

    O professor VILLAA define a responsabilidade civil como o dever de indenizar. H autores que a definem como a obrigao de indenizar. Em face da distino apresentada, a ressalva na utilizao do termo obrigao est no na questo da natureza patrimonial, mas sim no momento em que surge a responsabilidade, que posterior ao momento da obrigao, quando de seu descumprimento. Deixa-se de cumprir um preceito contratual ou um preceito normativo e da surge a responsabilidade: o dever de indenizar o dano (retirar o dano, fazer voltar ao estado anterior). O dever de indenizar decorre do art. 927 c/c arts. 186 e 187. CC, Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. [Responsabilidade objetiva prevista em lei especfica e pela atividade de risco] Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito. Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes. [abuso de direito] Art. 188. No constituem atos ilcitos: I - os praticados em legtima defesa ou no exerccio regular de um direito reconhecido; II - a deteriorao ou destruio da coisa alheia, ou a leso a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Pargrafo nico. No caso do inciso II, o ato ser legtimo somente quando as circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo os limites do indispensvel para a remoo do perigo.

    O dever de indenizar tambm decorre dos casos de responsabilidade objetiva, conforme veremos oportunamente.

    Valor de Desestmulo Um dos pontos de maior discusso quando do reconhecimento do dano moral foi a fixao do montante a ser pago. Seria adotado um valor tarifado? Ou um valor capaz de desestimular a conduta?

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    Adotada a reparao pecuniria, vem-se cristalizando orientao na jurisprudncia nacional que, j de longo tempo, domina o cenrio indenizatrio nos direitos norte-americano e ingls. a da fixao do valor que serve como desestmulo a novas agresses. Em consonncia com essa diretriz, a indenizao por danos morais deve traduzir-se em montante que represente advertncia ao lesante e sociedade de que se no se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importncia compatvel com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de modo expressivo, no patrimnio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurdica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em razo das potencialidades do patrimnio do lesante. (CARLOS ALBERTO BITTAR) O pargrafo nico do art. 883 do Cdigo Civil condena os atos ilcitos, imorais ou proibidos por lei, evitando a torpeza do agente. Se no se admite a torpeza daquele que deu alguma coisa para obter o fim ilcito, tampouco se permite a torpeza e o enriquecimento do ofensor do dano moral, o que fatalmente ocorrer se ele no reparar o dano em toda a sua extenso, ou deixar de sofrer o castigo que lhe doa no bolso e sirva de lio para no repetir a mesma conduta, que muitas vezes lhe garante proveito lucrativo. A constatao emprica e o juzo de valor mostram a preponderncia das semelhanas sobre as diferenas para permitir a utilizao do dispositivo legal em referncia, permitindo a nossa concluso de que j podem ser arbitradas reparaes punitivas justamente para evitar o enriquecimento direto ou indireto do ofensor, devendo tal parcela da condenao ser destinada a estabelecimento de beneficncia. Sempre que o montante reparatrio ultrapassar a extenso do dano, seja em virtude do carter de desestmulo ou punio da condenao fixada a instituio de fins comunitrios, por aplicao analgica ao pargrafo nico do art. 883 do CC. (RENATA MALUF)

    CC, Art. 883. No ter direito repetio aquele que deu alguma coisa para obter fim ilcito, imoral, ou proibido por lei. Pargrafo nico. No caso deste artigo, o que se deu reverter em favor de estabelecimento local de beneficncia, a critrio do juiz.

    So argumentos contrrios ao valor de desestmulo nas indenizaes por dano moral: Enriquecimento sem causa Aplicao de pena no prevista pelo legislador O Direito Civil no prev a aplicao de penas

    1.6. Culpa

    H trs modalidades culposas: imprudncia, negligncia e impercia. Imprudncia fazer o que no deve ser feito. um comportamento ativo, comissivo. Negligncia no fazer o que deve ser feito. uma omisso. Impercia um fazer errneo no lugar de um fazer correto. Tambm um comportamento ativo. H incompetncia tcnica no agir. O legislador no mencionou a impercia. A doutrina entende que h uma previso implcita, porque todo aquele que imperito , antes de tudo, imprudente. A impercia seria uma forma qualificada de imprudncia, uma imprudncia no exerccio de uma atividade que exija qualificao tcnica. No mbito da responsabilidade civil, preciso fugir da comum tendncia de confundir ato antijurdico com ato ilcito, dizendo simplesmente que este proibido por lei. A ilicitude verdadeira e prpria, consagrada no art. 186, comporta dois elementos, um objetivo, que a antijuridicidade, e outro subjetivo, que a culpabilidade: a antijuridicidade aponta para a contrariedade norma, a violao de direito alheio; a culpabilidade possibilidade de imputao ao agente do ato praticado, a ttulo de dolo ou culpa. Uma pessoa culpada quando poderia e deveria ter agido em conformidade com a prescrio legal. (FERNANDO NORONHA) A antijuridicidade elemento objetivo da ilicitude. A culpabilidade elemento subjetivo.

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    Classificaes da Culpa Classificao quanto ao agente: Direta: da pessoa imputada (ato prprio); Indireta: se ato de terceiro, vinculado ao agente (CC, art. 932), de fato de animal (CC, art.

    935) ou ainda de coisa inanimada sob sua guarda (CC, art. 937, 938). Classificao pela natureza do dever violado (ou quanto ao fato gerador): Culpa contratual inobservncia do dever contratual (oriunda da inexecuo contratual)

    Importante - Responsabilidade Contratual Culpa extra-contratual ou aquiliana: Importante - Responsabilidade Aquiliana ou Extra-

    Contratual (resultado da violao de um dever geral de absteno) Classificao pela gravidade da culpa7: Grave inteno dolosa ou negligncia imprpria da pessoa comum; Leve falta evitvel com ateno ordinria; Levssima falta evitvel com ateno extraordinria. Na culpa lata ou culpa grave, h uma imprudncia ou negligncia crassa. O agente at que no queria o resultado, mas agiu com tamanha culpa de tal forma que parecia que o quisesse. Em casos tais, o efeito o mesmo dolo, ou seja, o ofensor dever pagar indenizao integral (a culpa grave equipara-se ao dolo). No havendo culpa concorrente, da vtima ou de terceiro, no merecer aplicao a reduo proporcional da indenizao (arts. 944, pargrafo nico, e 945 do CC). A culpa leve ou culpa mdia a culpa intermediria, situao em que a conduta se desenvolve sem a ateno normalmente devida. Utiliza-se como padro a pessoa humana comum (culpa in abstrato). Em havendo essa culpa intermediria e concorrente em relao a terceiro ou prpria vtima, merecem aplicao os arts. 944 e 945 do CC. Por fim, surge a culpa levssima, no menor grau possvel, situao em que o fato s teria sido evitado mediante o emprego de cautelas extraordinrias ou de especial habilidade. Como afirmava Aguiar Dias, a culpa levssima aquela relacionada com uma conduta que no poderia ser observada nem por um diligentssimo pater familias ou diligentssimo chefe familiar, conceito adaptado nova realidade do Direito de Famlia . No Direito Civil, em regra, responde-se inclusive pela culpa levssima, porque se tem em vista a extenso do dano (art. 944 do CC). Continua valendo, portanto, aquele antigo norte romano, baseado no brocardo in lege Aquilia et levssima culpa venit. Todavia, presente a culpa levssima, a indenizao a ser paga dever ser reduzida mais ainda, eis que o art. 945 do CC determina que o quantum deve ser fixado de acordo com o grau de culpabilidade. Essencialmente no que interessa aos danos morais, o grau da culpa deve influir no quantum indenizatrio arbitrado, por no se tratar propriamente de um ressarcimento em sentido estrito, mas de uma compensao satisfativa (reparao). Classificao pelo contedo da conduta culposa: In eligendo deriva da m escolha do representante ou do preposto; In vigilando ausncia de fiscalizao pelo empregador, quer quanto ao empregado, quer

    quanto coisa; In custodiendo falta de ateno ou cuidado em torno da pessoa, do animal ou do objeto sob

    a guarda do agente; In commitendo ato positivo; In ommitendo ato negativo. Na culpa in vigilando haveria uma quebra do dever legal de vigilncia como era o caso, por exemplo, da responsabilidade do pai pelo filho, do tutor pelo tutelado, do curador pelo curatelado, do dono de hotel pelo

    7 CC, Art. 944. A indenizao mede-se pela extenso do dano. Pargrafo nico. Se houver excessiva desproporo entre a gravidade da culpa e o dano, poder o juiz reduzir, eqitativamente, a indenizao.

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    hspede e, ainda, do educador pelo educando. J a culpa in eligendo era a culpa decorrente da escolha ou eleio feita pela pessoa a ser responsabilizada, como no caso da responsabilidade do patro por ato de seu empregado. Por fim, na culpa in custodiendo, a presuno da culpa decorreria da falta de cuidado em se guardar uma coisa ou animal. Classificao quanto ao modo de apreciao: In concreto o agente falta diligncia que as pessoas devem ter com as prprias coisas; In abstrato relacionada falta de ateno que um homem observador emprega em seus

    negcios. Classificao quanto ao fundamento: Subjetiva (culpa ou dolo) Objetiva (risco) Importante: a teoria da culpa objetiva (inverso do nus da prova presuno de culpa) est superada pela teoria do risco fundada somente na demonstrao do nexo causal entre a atividade e o dano ocorrido (que a verdadeira responsabilidade objetiva, o que o Prof. LVARO VILLAA AZEVEDO denominou de responsabilidade objetiva pura).

    1.7. Evoluo da Responsabilidade Civil

    Analisaremos nesse tpico algumas tendncias: Da culpa ao risco O nus da prova Tendncia de objetivao da responsabilidade civil no ordenamento jurdico brasileiro O avano da tecnologia trouxe algumas vantagens, como a maior comodidade e presuno de maior qualidade de vida dos utentes (usurios) e beneficirios, tendo como contrapartida algumas desvantagens, como o maior risco tanto segurana econmica como segurana bio-psquica. Observa-se uma ampliao da responsabilidade civil. Devemos ter em conta que a responsabilidade civil surgiu histrica e dogmaticamente perante factos ilcitos danosos ou delitos. Razes diversas levaram a que ela fosse alargada a situaes de repercusso de riscos e a ocorrncias de danos lcitos. E ainda razes desse tipo conduziram a que ela devesse acudir aos prprios contratos, quando, por inobservncia, ocorressem danos (ANTONIO MENEZES CORDEIRO). Na atualidade, no h mais a orientao primitiva da retaliao e do individualismo - h a substituio pela solidariedade social. O CC/2002 informado pelos princpios da socialidade e da eticidade. No tocante a acidentes do trabalho, ensina MAX RUNFF:

    Os perigos advindos dos novos inventos, fontes inexaurveis de uma multiplicidade alarmante de acidentes, agravados pela crescente impossibilidade tanta vez, de se provar a causa do sinistro e a culpa do autor do ato ilcito, foraram as portas, consideradas, at ento, sagradas e inexpugnveis da teoria da culpa, no sentido de se materializar a responsabilidade, numa demonstrao eloquente e real de que o Direito , antes de tudo, uma cincia nascida da vida e feita para disciplina a prpria vida. RAYMOND SALEILLES, na edio de sua obra Essai d'une thorie gnrale de l'obligation d'apres le projet de Code Civil allemand, separava a responsabilidade sem culpa dos acidentes de trabalho por exceo, como simples dever de segurana. S mais tarde, no seu livro Les accidents de travail et Ia responsabilit civile, que o notvel jurista pregou a teoria da responsabilidade sem culpa (...) SALEILLES combate a teoria de SAUZET e SAINCTILETTE, que faziam derivar a responsabilidade do patro, no caso de acidente do trabalho, da violao de uma obrigao contratual, que consistia em declarar o patro garantidor da segurana do operrio. SALEILLES, ao contrrio de JOSSERAND (De Ia responsabilit du fait des choses - Paris - Rousseau -1897), que limitara sua teoria objetiva ao fato das coisas inanimadas, proclamara como princpio geral, deduzido do art. 1.382 do CC francs, a responsabilidade extracontratual resultante do prprio fato Afirmando que a idia de culpa sobrevivncia de longnquo sistema de penas privadas, sustentava que no se trata seno de uma

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    questo de riscos a regular, como preo e resgate de uma atividade do agente, que deve suportar as consequncias d e sua iniciativa. A atividade, o fato primitivo, eis o que aparece claramente como passvel do dano.

    Com respeito ao risco, veja-se o discurso de HENRIQUE FERRI no Tribunal Criminal de Potenza, defendendo as vtimas do desastre ferrovirio de Grassano, quando a companhia queria se eximir do dever de indenizar lanando mo de argumentos como a necessidade de culpa provada, no caso uma prova diablica8:

    Para mim o direito do novo, melhor e mais vivamente nascido das condies e das necessidades da sociedade moderna, do que silogisticamente destilado de formas antiquadas, deve estabelecer o princpio de puro bom senso e de justia social de quem tem os lucros deve sofrer os prejuzos. Quando rebenta uma locomotiva ou deteriora uma carruagem, a sociedade annima despende dinheiro para reparar o dano, sem fazer a sutil e, por vezes, bizantina distino jurdica, se houve culpa ou caso fortuito. Para o material, destinado a uma empresa, a uma dada especulao, o capitalista, que todos os dias recebe os lucros, inclui no balano as perdas, ordinrias e extraordinrias. Se, pelo contrrio, um seu empregado ou um viajante que morre ou fica ferido, surgem logo as complicadas questes sobre a culpa, sobre o caso fortuito e sobre a responsabilidade direta ou indireta, e em suma, um perfeito labirinto de discusses mais ou menos jurdicas, as quais tm em vista um nico fim: evitar o pagamento da indenizao do dano. S porque em vez de mquinas e de viaturas, se trata de homens.

    A teoria evoluiu da culpa, passando pela culpa presumida e chegando, finalmente, ao risco. CARLOS ALBERTO BITTAR ensinou que devemos perquirir na teoria da culpa (subjetiva), a subjetividade do causador, a fim de demonstrar-se, em concreto, se este realmente quis o resultado (dolo), ou se atuou com imprudncia, impercia ou negligncia (culpa em sentido estrito), sendo que nessa hiptese a prova , quase sempre, de difcil realizao, o que cria grandes dificuldades para a ao da vtima ("prova diablica"), que acaba, injustamente, suportando os respectivos nus.

    Culpa Presumida A culpa presumida, de acordo com PAULO LOBO, constitui um avano na tendncia evolutiva que aponta para a necessidade de no se deixar o dano sem reparao, interessando menos a culpa de quem o causou e mais a imputar a algum a responsabilidade pela indenizao. O Decreto 2.681/1912 traz uma previso de responsabilidade de culpa presumida no tocante atuao das estradas de ferro (disposio anterior ao CC/1916, que consagraria a responsabilidade subjetiva com culpa provada em seu art. 159). Decreto 2.681 (07/12/1912) Regula a responsabilidade civil das estradas de ferro. Art. 1 As estradas de ferro sero responsveis pela perda total ou parcial, furto ou avaria das mercadorias que receberem para transportar. Ser sempre presumida a culpa e contra esta presuno s se admitir alguma das seguintes provas: 1) caso fortuito ou fora maior; 2) que a perda ou avaria se deu por vcio intrnseco da mercadoria ou causas inerentes a sua natureza; 3) tratando-se de animais vivos, que a morte ou avaria foi consequncia de risco que tal espcie de transporte faz naturalmente correr; 4) que a perda ou avaria foi devida ao mau acondicionamento da mercadoria ou a ter sido entregue para transportar sem estar encaixotada, enfardada, ou protegida por qualquer outra espcie de envoltrio; 5) que foi devida a ter sido transportada em vages descobertos, em consequncia de ajuste ou expressa determinao do regulamento; 6) que o carregamento e descarregamento foram feitos pelo remetente, ou pelo destinatrio ou pelos seus agentes e disto proveio a perda ou avaria; 7) que a mercadoria foi transportada em vages ou plataforma especialmente fretada pelo remetente, sob a sua custdia e vigilncia, e que a perda ou avaria foi consequncia do risco que essa vigilncia devia remover.

    8 Tribunal de Potenza In: HLIO SODR. Histria Universal da Eloquncia. 4. ed, pp. 513-514.

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    Nos precedentes selecionados, veremos que o TJ-SP entendeu se tratar de responsabilidade objetiva, a despeito de o texto do diploma legal indicar se tratar de culpa presumida. As presunes de culpa consagradas na lei, invertendo o nus da prova, vieram melhorar a situao da vtima, criando-se a seu favor uma posio privilegiada. Tratando-se, contudo, de presunes iuris tantum, no nos afastamos do conceito de culpa na teoria clssica, mas apenas derrogamos um princpio dominante em matria de prova. Tais presunes so, em geral, criadas nos casos de responsabilidade complexas, isto , das que decorrem de fatos de outrem. (ALVINO LIMA)

    Teoria Objetiva De acordo com ALVINO LIMA, pela teoria objetiva, o dano e a reparao no devem ser aferidos pela medida da culpabilidade, mas devem emergir do fato causador da leso de um bem jurdico, a fim de se manterem inclumes os interesses em jogo, cujo desequilbrio manifesto, se ficarmos dentro dos estreitos limites de uma responsabilidade subjetiva. Ainda, para a adoo da teoria objetiva, contribuem aspectos de carter moral, que tm significativa influncia nesse movimento, uma vez que o crescente nmero de vtimas sofrendo as consequncias das atividades do homem, dia a dia mais intensas, no af de conquistar proventos; o desequilbrio flagrante entre os "criadores de risco" poderosos e as suas vtimas; os princpios de equidade que se revoltavam contra esta fatalidade jurdica de se impor vtima inocente, no criadora do fato, o peso excessivo do dano muitas vezes decorrente da atividade exclusiva do agente. Para a caracterizao da responsabilidade civil, pela teoria objetiva, a responsabilidade surge apenas do fato, sendo a culpa considerada apenas um resqucio da confuso primitiva entre a responsabilidade civil e a penal. Pela teoria objetiva, deve-se ter em vista a vtima, tornando possvel a reparao do dano e evitando entender que a reparao do dano constitui pena ao autor do mesmo, mas sim uma decorrncia econmica da atividade do autor do dano, na qual existe um proveito e, por via de consequncia, igualmente existe um risco. JOS DE AGUIAR DIAS alertou que no devem ser confundidos os casos de presuno de culpa com os de responsabilidade objetiva, verificando que realmente o expediente da presuno de culpa , embora o no confessem os subjetivistas, mero reconhecimento da necessidade de admitir o critrio objetivo, embora no plano terico observa-se a distino, motivo por que s inclumos como caso de responsabilidade objetiva os que so confessadamente filiados a esse sistema. Por essa razo, JOS DE AGUIAR DIAS no inclui nos casos de responsabilidade objetiva o Decreto n. 2.681/1912, regulador da responsabilidade das estradas de ferro, que se funda, por declaraes reiteradas de seus textos, em presuno de culpa, nem a outros dispositivos de lei, no qual houve o propsito de conservar a culpa como base da responsabilidade. Finalizou o autor do mais clebre trabalho, em nosso pas, acerca da responsabilidade civil que, essencialmente, a assimilao entre um e outro sistema perfeita, significando o abandono disfarado ou ostensivo, conforme o caso, do princpio da culpa como fundamento nico da responsabilidade e isso porque teoricamente a distino subsiste, ilustrada por exemplo prtico: no sistema da culpa, sem ela, real ou artificialmente criada, no h responsabilidade; no sistema objetivo, responde-se sem culpa, ou melhor, esta indagao no tem lugar. Quanto objetivao, tal realidade se inicia desde 1912, com o decreto 2.681, de 07.12.1912, que regulamente a responsabilidade civil das estradas de ferro, embora no trate exatamente de responsabilidade objetiva. Ao fundar-se na presuno de culpa do transportador, admitindo rol taxativo de afastamento de presuno, no parece acolher a responsabilidade objetiva do mesmo modo como o fazem leis mais recentes. (SILMARA CHINELLATO)

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    Argumentos contrrios responsabilidade objetiva sustentam que se retorna a uma fase de vingana privada ao se dar relevo vtima em detrimento da conduta do agente. Contudo, esta tese no prosperou. Interessante classificao feita por LVARO VILLAA AZEVEDO, dividindo a responsabilidade civil objetiva (ou decorrente do risco) em pura (risco) e impura (culpa presumida). Em sua viso, a impura tem, sempre, como substrato, a culpa de terceiro, que est vinculado atividade do indenizador, enquanto a pura implica ressarcimento, ainda que inexista culpa de qualquer dos envolvidos no evento danoso. Nesse caso, indeniza-se por ato lcito ou por mero fato jurdico, porque a lei assim o determina. Foi CARLOS ALBERTO BITTAR quem, mais uma vez, examinou com acuidade a repercusso constitucional nesse campo, posto que a Constituio de 1988 edita, dentro da tendncia de objetivao da responsabilidade civil, vrias regras em que adota a diretriz da responsabilidade sem culpa, instituindo assim o risco como fundamento da teoria em questo. Com isso, esse princpio ser inscrito na futura codificao privada, sufragando-se a tese da responsabilidade objetiva nas atividades perigosas. Concluiu o professor da Universidade de So Paulo, dizendo que a teoria do risco, ao lado da culpa, passaria a compor o Cdigo como esteio de responsabilidade no campo privado e, tambm, no plano da responsabilidade do Estado (arts. 21, XXIII, c e 37, 6).

    Responsabilidade Objetiva Podemos observar a tendncia objetIvao da responsabilidade civil nos seguintes dispositivos constitucionais: CF, art. 21, XXIII - explorar os servios e instalaes nucleares de qualquer natureza e exercer monoplio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrializao e o comrcio de minrios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princpios e condies: d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existncia de culpa; Art. 37. (...) 6 - As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa. Art. 225. (...). 3 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados. [este dispositivo trouxe a possibilidade de responsabilizao penal da pessoa jurdica]

    Como veremos nos precedentes selecionados, o dano ambiental no admite qualquer tipo de excludente. De acordo com SILMARA JUNY CHINELLATO, a tendncia objetivao da responsabilidade civil atende sociedade ps-moderna, sociedade de massa e globalizada, caracterizada pelos riscos da produo e do desenvolvimento, nos quais se inclui a tecnologia, que tornam mais vulnerveis as pessoas, possveis vtimas. A quarta era dos direitos, conforme denomina NORBERTO BOBBIO, ou era da tcnica, no dizer de HANS JONAS, traz uma responsabilidade diferenciada aos produtores de tecnologia, imputando-lhes indenizar os lesados sem indagao de culpa, bastando a comprovao do nexo causal entre o ato ou fato lesivo e o dano. Prestigia a vtima, parte mais fraca, seguindo a tendncia da legislao em vrios mbitos, ao reconhecer expressamente que o menos forte ser protegido de modo expresso. No Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), optou-se pela responsabilidade fundada na culpa, apesar de a jurisprudncia estar se firmando no sentido de atribuir responsabilidade objetiva ao provedor de internet no caso de publicao de contedo ilegal. A responsabilidade objetiva, i. e., independente de culpa, tem previso tanto no pargrafo nico do art. 927 quanto nos arts. 931 do CC e arts. 12 e 14 do CDC, respectivamente, responsabilidade pelo fato do produto e pelo fato do servio.

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    Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresrios individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulao. [Responsabilidade do empresrio em relao que no de consumo] CDC, art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos. [Responsabilidade pelo fato do produto] CDC, art. 15. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos. [Responsabilidade pelo fato do servio]

    Fato do Produto Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresrios individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulao.

    Encontramos previso semelhante no CDC art. 12 nas relaes de consumo. Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos. [...] 2 O produto no considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

    A figura do 2o no se confunde com o risco de desenvolvimento, desenvolvido nas diretivas da Unio Europeia, excludente da responsabilidade civil. O risco transferido para a vtima, seria uma espcie de retrocesso. Se prevalecesse a tese de que o 2o concretizasse o risco de desenvolvimento, no caso do medicamento talidomida, seu fabricante estaria isento do dever de indenizar, dado que outros medicamentos de melhor qualidade estariam disponveis no mercado. A ideia do risco de desenvolvimento no essa. Trata-se do caso de, por exemplo, um automvel ter vrios dispositivos de segurana e outro vem a ser comercializado com mais dispositivos de segurana ainda. O primeiro no pode ser considerado defeituoso por conta da colocao em mercado do segundo, mais sofisticado. O medicamento talidomida nunca foi seguro, por isso no h falar em excludente de responsabilidade.

    Fato do Animal CC, Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcir o dano por este causado, se no provar culpa da vtima ou fora maior.

    No h porque sustentar que este dispositivo trate de responsabilidade objetiva, salvo quando a relao puder ser qualificada como relao de consumo. Ver precedentes selecionados.

    1.8. Teorias do Risco

    Teoria do risco proveito Assim que, para alguns, responsvel aquele que tira o proveito, raciocinando que onde est o ganho a reside o encargo - ubi emolumentum ibi onus. Esta concepo batizou-se com o nome de teoria do risco proveito. "Quem aufere os bnus, tem que suportar os nus".

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    A falha central desta teoria a de que bastaria a empresa apresentar uma demonstrao financeira indicando que teve prejuzo para se isentar do dever de indenizar (no teve proveito, ento no criou risco).

    Teoria do risco profissional Para outros o que prevalece o risco profissional, considerando o dever de indenizar quando o fato prejudicial decorrncia da uma atividade ou profisso do lesado.

    Teoria do risco excepcional Num outro sentido, d-se realce idia segundo a qual a reparao devida quando o dano consequncia de um risco excepcional, que escapa da craveira comum da atividade da vtima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente exera.

    Teoria do risco integral No campo do Direito Pblico, e enfocando a responsabilidade civil do Estado, enfrentou-se a teoria da culpa e do mau funcionamento do servio pblico (teoria do acidente administrativo) que assumiu as preferncias, inclusive ganhando o nosso direito positivo constitucional. Tomou maiores propores a teoria do risco integral, como o meio de repartir por todos os membros da coletividade os danos atribudos ao Estado. Esta teoria NO ADMITE EXCLUDENTES e hoje adotada no direito ambiental. O particular pode ser responsvel. A teoria no caracterizada pelo lesante. Asim, o sentido da teoria do risco integral no interpretado como o apresentado por CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA. Veja os precedentes selecionados ao final.

    Teoria do risco criado A meu ver, o conceito de risco que melhor se adapta s condies de vida social o que se fixa no fato de que, se algum pe em funcionamento uma qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os indivduos, independentemente de determinar se em cada caso, isoladamente, o dano devido imprudncia, negligncia, a um erro de conduta, e assim se configura a teoria do risco criado. (CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA9)

    Teoria do risco administrativo A teoria do risco administrativo (CF, art. 37, 6o) segue a mesma linha da teoria do risco criado, mas adstrita do Estado, mas admite excludentes.

    1.9. Pressupostos da Responsabilidade Civil

    No quadro geral da Responsabilidade Civil, delineado por CARLOS ALBERTO BITTAR, temos os seguintes pressupostos: Ao: comportamento comissivo ou omissivo; Dano: o prejuzo (como resultado final) - pode ser material ou moral (obs: Morato -quanto ao

    dano esttico) Nexo Causal: o vnculo entre ao e dano - resultado lesivo, o reflexo direto ou indireto da

    ao lesiva. Nesse sentido, a culpa seria pressuposto ou fundamento? Pela teoria subjetiva, o fundamento da responsabilidade civil seria a culpa. Pela teoria objetiva, tal fundamento seria o risco. Dois so os fundamentos para a responsabilizao do agente: a) a culpa e b) o risco, o primeiro que inspirou a construo da teoria e, o segundo, proveniente das transformaes operadas na sociedade, a partir de meados do sculo passado. Com efeito, erigida sob a gide da noo de

    9 Responsabilidade Civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 268.

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    culpa, a teoria da responsabilidade encontrou espao para avanar, de incio, com a introduo de mquinas e de veculos perigosos na sociedade (na denominada Revoluo Industrial) e, depois, com a deflagrao das atividades nucleares e a explorao industrial do tomo (...) Com isso, trouxe para seu contexto a idia de risco como fundamento para responsabilizao, objetivando a sua base de sustentao, com duas concepes: uma, com a preservao da exigncia do nexo causal para sua caracterizao; outra, prescindindo mesmo dessa noo (na chamada responsabilidade nuclear ou agravada). (CARLOS ALBERTO BITTAR) Alguns autores colocam a culpa como pressuposto e o resultado que se apaga a teoria do risco (e so excludas todas as atividades que causam risco). Os fatos geradores da responsabilidade civil so o ato ilcito e as atividades perigosas (CC, art. 927, pargrafo nico).

    Nexo Causal O nexo de causalidade, elo que liga o dano ao fato que o ocasionou, difere do nexo de imputao, elemento que aponta o responsvel, que estabelece a ligao do fato danoso com este, como a atuao culposa ou a atividade de risco. O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a relao de causa e efeito entre a conduta culposa ou o risco criado e o dano suportado por algum. De acordo com a doutrina de SRGIO CAVALIERI FILHO, trata-se de noo aparentemente fcil, mas que, na prtica, enseja algumas perplexidades (...). O conceito de nexo causal no jurdico; decorre das leis naturais. o vnculo, a ligao ou relao de causa e efeito entre a conduta e o resultado. Com respeito ao nexo causal, h algumas teorias que merecem meno. Aparentemente o Cdigo Penal teria adotado a teoria da equivalncia das condies: Relao de causalidade Cdigo Penal, Art. 13 - O resultado, de que depende a existncia do crime, somente imputvel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido. Supervenincia de causa independente 1 - A supervenincia de causa relativamente independente exclui a imputao quando, por si s, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

    Se algum mira em uma pessoa e atinge seu ombro e a vtima vem a ser colocada em uma ambulncia e esta vem a capotar e todos os que nela estavam vm a falecer, o agente que atirou deve ser imputado por leso corporal ou por homicdio? A morte da vtima est ligada ao inicial. Pelo caput do art. 13, a imputao seria de homicdio. Pelo 1o, porm, a imputao ser de leso corporal. Este raciocnio pode ser transposto para o direito civil. Para quem aceita a responsabilidade civil por infidelidade matrimonial, se um marido infiel surpreendido, de quem a responsabilidade? Do cnjuge que trai ou da amante? A traio no teria ocorrido se no existisse, por exemplo, o motel e poderia haver um regresso ao infinito. Para evitar o regresso ao infinito, foi proposta a teoria da causalidade adequada. Busca-se uma causa mais prxima, mais adequada para ensejar o dano. A conduta analisada em abstrato. A teoria da causalidade adequada no se confunde com a teoria do efeito direto e imediato. CC, Art. 403. Ainda que a inexecuo resulte de dolo do devedor, as perdas e danos s incluem os prejuzos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuzo do disposto na lei processual.

    A teoria do efeito direto e imediato nos parece a mais adequada, embora na jurisprudncia encontremos meno adoo da teoria da causalidade adequada. Sinteticamente: Teoria da equivalncia das condies ou do histrico dos antecedentes (sine qua non)

    todos os fatos relativos ao evento danoso geram a responsabilidade civil. Segundo TEPEDINO,

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    considera-se, assim, que o dano no teria ocorrido se no fosse a presena de cada uma das condies que, na hiptese concreta, foram identificadas precedentemente ao resultado danoso. Essa teoria, no adotada no Brasil, tem o grande inconveniente de ampliar em muito o nexo de causalidade, at o infinito.

    Teoria da causalidade adequada teoria desenvolvida por VON KRIES, pela qual se deve identificar, na presena de uma possvel causa, aquela que, de forma potencial, gerou o evento dano. Na interpretao deste autor, por esta teoria, somente o fato relevante ou causa necessria para o evento danoso gera a responsabilidade civil, devendo a indenizao ser adequada aos fatos que a envolvem.

    Teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupo do nexo causal havendo violao do direito por parte do credor ou do terceiro, haver interrupo do nexo causal com a consequente irresponsabilidade do suposto agente. Desse modo, somente devem ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessrios da conduta do agente.

    Superado esse ponto, ainda no que diz respeito ao nexo de causalidade, no se pode esquecer, tambm, da teoria das concausas (concausalidade). Em algumas situaes o evento danoso surge diante de um conjunto de causas que tenham provocado o dano (causalidade mltipla). De acordo com os ensinamentos de ROBERTO SENISE LISBOA, concausalidade a concorrncia de causas de determinado resultado. Com respeito s concausas, podemos ter uma concausa preexistente, concomitante ou superveniente.

    1.10. Excludentes da Responsabilidade Civil

    Nem sempre quem causa o dano deve repar-lo. A nica exceo so os casos em que se adota a teoria do risco integral, como o caso do dano ambiental. Consoante o esclio de CARLOS ALBERTO BITTAR10:

    As excludentes esto previstas no ordenamento jurdico, exatamente em funo da prpria textura do instituto da responsabilidade, em que a individualidade da sano impera, alcanando apenas aquele que produziu o resultado lesivo, demonstrada em concreto a existncia do vnculo correspondente, salvo quando por lei dispensada a causao interna. Assim, reconhecida, na prtica, a excludente que deve ser provada no caso concreto exime-se da reparao o imputado. Por outras palavras, demonstrado que a ao do imputado, embora deflagrada, no alcanou o resultado, pela ingerncia do fator externo, fica este livre dos efeitos da teoria em anlise, o qual, sendo voluntrio, desloca para o respectivo titular a responsabilidade (assim, se o fato do terceiro o causador do dano, passa este a responsvel). Algumas excludentes esto mencionadas, explicitamente nos Cdigos; outras resultam de trabalho jurisprudencial, depois da maturao doutrinria. Tradicionalmente, so referidos a fora maior e o caso fortuito em textos legais, ao lado do exerccio normal de direito e da legtima defesa. O fato de terceiro e o da vtima, como ou sem concorrncia com o do imputado so, outrossim, freqentes em casos concretos.

    CC, Art. 393. O devedor no responde pelos prejuzos resultantes de caso fortuito ou fora maior, se expressamente no se houver por eles responsabilizado. Pargrafo nico. O caso fortuito ou de fora maior verifica-se no fato necessrio, cujos efeitos no era possvel evitar ou impedir.

    Sabemos que quando algum est em mora, no se pode alegar fora maior. O CC/1916 assim dispunha sobre a questo: CC/1916, Art. 1.058. O devedor no responde pelos prejuzos resultantes de caso fortuito, ou fora maior, se expressamente no se houver por eles responsabilizado, exceto nos casos dos arts. 955, 956 e 957. Pargrafo nico. O caso fortuito, ou de fora maior, verifica-se no fato necessrio, cujos efeitos no era possvel evitar, ou impedir. SEO VI DA MORA

    10 Responsabilidade Civil: Teoria e Prtica. 3. ed., pp. 58-59.

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    Art. 955. Considera-se em mora o devedor que no efetuar o pagamento, e o credor que no quiser receber no tempo, lugar e forma convencionados (art. 1.058). Art. 956. Responde o devedor pelos prejuzos a que a sua mora der causa (art. 1.058). Pargrafo nico. Se a prestao, por causa da mora se tornar intil ao credor, este poder enjeita-la, e exigir, satisfao das perdas e danos. Art. 957. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestao, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito, ou fora maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar iseno de culpa, ou que o dano sobreviria, ainda quando a obrigao fosse oportunamente desempenhada (art. 1.058).

    A impossibilidade, sem culpa do devedor, de cumprir a prestao devida equivaleria fora maior ou ao caso fortuito, que se caracterizam pela presena de dois requisitos (MARIA HELENA DINIZ)11: objetivo que se configura na inevitabilidade do acontecimento, sendo impossvel evit-lo ou

    imped-lo e logo, no caso fortuito e na fora maior h sempre um fato que produz prejuzo; subjetivo que a ausncia de culpa na produo do evento. Na fora maior conhece-se o motivo ou a causa que d origem ao acontecimento, pois se trata de um fato da natureza, como p. ex. um raio que provoca um incndio, uma inundao que danifica produtos ou intercepta as vias de comunicao, impedindo a entrega da mercadoria prometida, ou um terremoto que ocasiona grandes prejuzos, etc. No caso fortuito o acidente que acarreta o dano advm de causa desconhecida p. ex. o cabo eltrico areo que se rompe e cai sobre fios telefnicos causando incndio, a exploso de caldeira de usina que provoca mortes. Pode ser ocasionado por fato de terceiro como a greve (que provoca a paralisao da fbrica e impede a entrega de certo produto prometido pelo industrial), um motim, a mudana de governo, a colocao de um bem fora do comrcio, de modo a causar graves acidentes ou prejuzos, devido impossibilidade de cumprimento de certas obrigaes. LVARO VILLAA AZEVEDO traz uma posio diversa:

    Pelo que acabamos de perceber, caso fortuito o acontecimento provindo da natureza, sem qualquer interveno da vontade humana, como por exemplo, a inundao de um rio, em conseqncia do que se arrasta uma ponte,impossibilitando tal fato o devedor, com seu caminho de transportar o objeto da prestao ao local certo, no dia certo. Esse devedor restar exonerado da responsabilidade de indenizar. Por outro lado, a fora maior o fato de terceiro, ou do credor, a atuao humana, no do devedor, que impossibilita o cumprimento obrigacional. Suponham que o devedor se obrigue a vender sua casa, recebendo parte do preo, sendo, logo em seguida, desapropriado esse imvel, ou que algum deixe de entregar determinada mercadoria em certo lugar, por nele ter eclodido uma sedio (obs: revolta, tumulto popular, agitao, motim, crime contra a ordem pblica dicionrio melhoramentos). Nenhuma culpa pode caber ao devedor, tanto do imvel, como da mercadoria.

    Esquematizando:

    Caractersticas Quanto ao grau Quanto origem

    Caso Fortuito Imprevisibilidade Maior possibilidade de resistncia

    Fato Humano

    Fora Maior Inevitabilidade Menor possibilidade de resistncia

    Fato Natural

    11 Reforando, conforme ARNOLDO WALD: O Cdigo Civil conceitua o caso fortuito ou de fora maior como fato necessrio cujos efeitos no era possvel evitar ou impedir(o termo necessrio significa inevitvel). Tal definio abrange tanto os fatos naturais (incndio, inundao), como os fatos de terceiros ou do Poder Pblico (guerra, ato de governo, desde que caracterizados pela inevitabilidade e irresistibilidade). No Direito brasileiro, o caso fortuito ou a fora maior necessita para a sua prova, que deve ser feita por quem o alega, da existncia de dois elementos: um objetivo a inevitabilidade do evento e o outro subjetivo a ausncia de culpa.

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    Sobre o assunto, arremata ARNOLDO WALD: Alguns autores confundem o caso fortuito ou a fora maior com a ausncia de culpa, quando na realidade so critrios distintos para a exonerao de responsabilidade. A ausncia de culpa se prova pela diligncia normal do causador do dano, enquanto o caso fortuito ou a fora maior, deve apresentar-se como fato irresistvel, podendo afirmar-se que a ausncia de culpa gnero do qual o caso fortuito espcie. Assim, toda hiptese de caso fortuito ou fora maior pressupe necessariamente a ausncia de culpa, podendo todavia ocorrer tal ausncia de culpa sem que haja caso fortuito ou fora maior. O problema de densidade maior na apreciao do critrio para exonerar algum de uma responsabilidade.

    Alm do caso fortuito e da fora maior, temos outros excludentes: Legtima defesa; Exerccio regular de direito; Estado de necessidade; Culpa ou fato exclusivo da vtima; Culpa ou fato exclusivo de terceiro (exceo no caso de contrato de transporte). Art. 188. No constituem atos ilcitos: I - os praticados em legtima defesa ou no exerccio regular de um direito reconhecido; II - a deteriorao ou destruio da coisa alheia, ou a leso a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Pargrafo nico. No caso do inciso II, o ato ser legtimo somente quando as circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo os limites do indispensvel para a remoo do perigo. Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, no forem culpados do perigo, assistir-lhes- direito indenizao do prejuzo que sofreram. Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este ter o autor do dano ao regressiva para haver a importncia que tiver ressarcido ao lesado. Pargrafo nico. A mesma ao competir contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I). Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro no elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ao regressiva.

    Os atos do art. 188 so aqueles em que a ilicitude afastada. No caso do contrato de transporte, a responsabilidade contratual do transportador no elidida por culpa de terceiro, indo alm da previso do CDC. Porm, o Cdigo Civil admite a excluso de responsabilidade por fora maior, ao contrrio do CDC. Vejamos: CDC, art. 12, 3 O fabricante, o construtor, o produtor ou importador s no ser responsabilizado quando provar: I - que no colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. CDC, art. 14, 3 O fornecedor de servios s no ser responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o servio, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

    Seria taxativo o rol arrolado nos dispositivos do CDC? H posies que admitem a incluso implcita de caso fortuito e fora maior. Uma viso intermediria considera que se a hiptese de caso fortuito e fora maior ocorrer antes de o produto ser colocado no mercado, h responsabilizao da empresa. Se ocorrer depois, incidira a excludente de responsabilidade. Uma terceira posio afirma que o rol taxativo e para ser aumentado precisaria de alterao legislativa (ROBERTO SENISE LISBOA, linha seguida pelo professor).

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    No que concerne culpa exclusiva da vtima e de terceiro, destaque-se que parte da doutrina prefere utilizar as expresses fato exclusivo da vtima e fato exclusivo de terceiro, visando aplicao dessas excludentes tambm nos casos de responsabilidade objetiva. Discute a doutrina se o estrito cumprimento do dever legal tambm excludente da responsabilidade civil. Trata-se de excludente de responsabilidade penal, apenas. Fala-se em culpa concorrente quando, paralelamente conduta do agente causador do dano, h tambm conduta culposa da vtima, de modo que o evento danoso decorre do comportamento culposo de ambos. A doutrina atual tem preferido falar, em lugar de concorrncia de culpas, em concorrncia de causas ou de responsabilidade. Discute-se se a culpa concorrente um meio de atenuao da responsabilidade civil. O CDC utiliza o termo culpa exclusiva. A ideia seria a de responsabilizao integral pela utilizao do termo: a excludente s incidiria na hiptese de culpa exclusiva. Nas hipteses de culpa concorrente, discute-se se poderia haver um fracionamento, uma repartio do nus entre a vtima e o agente. SRGIO CAVALIERI FILHO aponta que, havendo culpa concorrente, a doutrina e a jurisprudncia recomendam dividir a indenizao proporcionalmente ao grau de culpabilidade de cada um dos envolvidos.

    Precedentes Selecionados

    Estradas de Ferro TJ-SP -003467170.2005.8.26.0100 Apelao Relator(a): lvaro Torres Jnior Comarca: So Paulo rgo julgador: 20a Cmara de Direito Privado Data do julgamento: 15/08/2011 Data de registro: 12/09/2011 Outros nmeros: 990101296179 Ementa: Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO N 003467170.2005.8.26.0100, da Comarca de So Paulo, sendo apelantes Companhia Paulista de Trens Metropolitanos CPTM e Ricardo Silva dos Santos e reciprocamente apelados. ACORDAM, em Vigsima Cmara de Direito Privado do Tribunal de Justia, por votao unnime, dar provimento em parte aos recursos. (...) 2.1. Em se cuidando de transporte ferrovirio de passageiro, no caso regido pelo Decreto 2.681/12, a responsabilidade do transportador presumida, somente podendo ser excluda em caso de culpa exclusiva da vtima, caso fortuito ou fora maior. Trata-se de verdadeiro caso de responsabilidade objetiva, e no de simples culpa presumida, na medida em que o transportador s se esquiva da responsabilidade se provar a culpa exclusiva da vtima, caso fortuito ou fora maior. TJ-SP -0034671-70.2005.8.26.0100 Apelao Relator(a): Alvaro Torres Jnior Comarca: So Paulo rgo julgador: 20a Cmara de Direito Privado Data do julgamento: 15/08/2011 Data de registro: 12/09/2011 Outros nmeros: 990101296179 Ementa: Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO N 003467170.2005.8.26.0100, da Comarca de So Paulo, sendo apelantes Companhia Paulista de Trens Metropolitanos CPTM e Ricardo Silva dos Santos e reciprocamente apelados. ACORDAM, em Vigsima Cmara de Direito Privado do Tribunal de Justia, por votao unnime, dar provimento em parte aos recursos. (...) Ensina Srgio Cavalieri Filho que "a melhor doutrina e jurisprudncia evoluram no sentido de reconhecer responsabilidade objetiva ao transportador, fundada na teoria do risco (Aguiar Dias, Responsabilidade Civil, v. I, n 109; Agostinho Alvim, op. cit., p. 318). Embora falasse em presuno de culpa, a lei realmente havia estabelecido uma presuno de responsabilidade contra o transportador, que s poderia ser elidida por aquelas causas expressamente nela previstas. Ocorrido o acidente que vitimou o viajante, subsistir a responsabilidade do transportador, a despeito da ausncia de culpa, porque esta despicienda em face da teoria do risco, a nica compatvel com a clusula de incolumidade, nsita no contrato de transporte" (cf. Programa de Responsabilidade Civil, So Paulo, Atlas, 2010, p. 314). Assim, para que seja elidida a presuno de sua responsabilidade necessrio que o transportador prove a conduta culposa da vtima que teria provocado o evento lesivo, ao passo que o autor da ao no precisa nada provar alm da existncia do acidente e de sua legitimidade ativa ad causam (cf. JTACSP-RT

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    115/112). No fica isento o transportador se as circunstncias no esto claras, se a prova duvidosa, se no ficar demonstrado o comportamento da vtima.

    Teorias do Risco e Direito Ambiental TJ-PR -10a Cmara Cvel - AC: 4461794 PR 0446179-4 APELAO CVEL N 446.179-4, DA 2a VARA CVEL DA COMARCA DE PARANAGU APELANTE: REDINEGUES CORDEIRO VALVANA APELANTE: PETROBRS PETRLEO BRASILEIRO S/A APELADOS: OS MESMOS Relator: Marcos de Luca Fanchin Data de Julgamento: 26/08/2008 APELAO CIVIL. AO DE INDENIZAO POR DANOS MORAIS. PESCADOR QUE PRETENDE SER INDENIZADO PELA PETROBRS EM RAZO DO ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM 16.02.2001. VAZAMENTO DE LEO COMBUSTVEL DO POLIDUTO "OLAPA" QUE IMPEDIU A PESCA NOS RIOS E BAAS DE ANTONINA E PARANAGU. SENTENA QUE JULGOU PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO FORMULADO PELO AUTOR, CONDENANDO O RU A PAGAR-LHE, A TTULO DE INDENIZAO PELOS DANOS MORAIS, O VALOR DE R$16.000,00, CORRIGIDO A PARTIR DA SENTENA E ACRESCIDOS DE JUROS DESDE A CITAO. (...) . 1.2. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRNCIA. PROVA DOCUMENTAL JUNTADA QUE PERMITE SATISFATORIAMENTE EXTRAIR A CONDIO DE PESCADOR E O LOCAL ONDE O AUTOR EXERCIA A ATIVIDADE LABORATIVA. OFENSA AO ART. 396, DO CPC. INOCORRNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA CONFIGURADA. PROVA DO EVENTO DESNECESSRIA POR SE TRATAR DE FATO PBLICO E NOTRIO. PRELIMINAR AFASTADA. 1.3. DANO AMBIENTAL. PRETENSO DE EXCLUIR A RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RECONHECER A EXISTNCIA DE CASO FORTUITO E FORA MAIOR. ALEGAO NO ACEITA. APLICAO DA TEORIA DO RISCO INTEGRAL NA RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DEVER DE REPARAR O DANO INDEPENDENTEMENTE DA CULPA. CIRCUNSTNCIAS DO FATO CAUSADOR DO DANO QUE SE MOSTRAM IRRELEVANTES. INTELIGNCIA DOS ARTS. 225, 3, C/C ART. 14, 1, LEI 6938/81. APELAO DESPROVIDA NESTE ASPECTO. Para o Direito Ambiental, so irrelevantes as circunstncias do fato causador do dano. Se o evento ocorreu no curso ou em razo de atividade potencialmente degradadora, incumbe ao responsvel reparar eventuais danos causados, independentemente de culpa. 1.4. danos morais. PRETENSO DE EXCLUIR OU REDUZIR O VALOR DA INDENIZAO POR DANOS MORAIS. EXCLUSO TOTAL QUE NO PODE SER ATENDIDA PORQUE HOUVE IMPOSSIBILIDADE DE EXERCER ATIVIDADE PROFISSIONAL. HONRA E ESFERA NTIMA ATINGIDA. PRETENSO DE REDUO DO VALOR FIXADO. INVIABILIDADE, EM VISTAS GRAVIDADE DA LESO E DAS CONDIES ECONMICAS DO OFENSOR. MANUTENO DA CONDENAO EM R$16.000,00. APELAO DESPROVIDA NESTE ASPECTO. 1.5. JUROS DE MORA NOS DANOS MORAIS. TERMO INICIAL. FIXAO A PARTIR DA PUBLICAO DA DECISO QUE OS FIXOU. INOCORRNCIA DE OFENSA SMULA 54, DO STJ. RECURSO PROVIDO NESTE PONTO. TJ-PR -10a Cmara Cvel - AC: 4461794 PR 0446179-4 APELAO CVEL N 446.179-4, DA 2 VARA CVEL DA COMARCA DE PARANAGU 1.3. Responsabilidade objetiva e fato imprevisvel; A alegao de o rompimento do poliduto "Olapa" se deu por fora maior no exime a r da responsabilidade que lhe foi imputada. que, em se tratando de dano ambiental, aplica-se responsabilidade objetiva pelo dano ambiental a teoria do risco integral, conforme inteligncia dos arts. 225, 3, c/c art. 14, 1, Lei 6938/81. Isso significa que o agente poluidor responsvel pela reparao do dano causado independentemente de existir um fato culposo. Para o Direito Ambiental, irrelevante as circunstncias do fato causador do dano. As excludentes do fato de terceiro, de culpa concorrente da vtima e do caso fortuito ou fora maior no podem ser aceitas, de modo que, se o evento ocorreu no curso ou em razo de atividade potencialmente degradadora, incumbe ao responsvel reparar eventuais danos causados. entendimento da doutrina: "No Brasil, e em muitos pases, foi adotada, na rea ambiental, a teoria da responsabilizao objetiva, pelo risco criado e pela reparao integral. Entendem-se, por riscos criados, os produzidos por atividades e bens dos agentes que multiplicam, aumentam ou potencializam um dano ambiental. O risco criado tem lugar quando uma pessoa faz uso de mecanismos, instrumentos ou de meios que aumentam o perigo de dano.

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    Nestas hipteses, as pessoas que causaram dano respondem pela leso praticada devido criao de risco ou perigo, e no pela culpa. A reparao integral significa que o dano ambiental deve ser recomposto na sua integralidade, e no limitadamente, trazendo uma proteo mais efetiva ao bem ambiental. Benjamim diz que no direito brasileiro prevalece o princpio da reparabilidade integral do dano ao meio ambiente, por fora de norma constitucional. Resultam deste princpio todas as formas de excluso, modificao e limitao do reparo do dano ambiental. TJ-PR -10a Cmara Cvel - AC: 4461794 PR 0446179-4 Lembre-se, ademais, de que o autor do dano no se exime do dever de reparar, ainda que possua autorizao administrativa. oportuno reafirmar que a responsabilizao subjetiva, por culpa, limita a aplicao do regime da responsabilidade civil por dano ambiental, considerando que boa parte das condutas lesivas ao meio ambiente no so contra legem, pois contam, muitas vezes, com autorizao administrativa requerida, o que elimina a existncia de culpa. Neste caso, o fundamento de sua responsabilidade civil no a culpa, mas, sim, o risco, e sua obrigao no depende nem altera a existncia de autorizao, pois est alicerado em uma exigncia de justia e equidade, o lesado no deve suportar um dano que, em sua origem, beneficia economicamente o agente. Neste sentido se manifestou Custdio: Naturalmente, com a teoria do risco, o juiz no mais examina o carter lcito ou ilcito do ato reprovado, evidenciando-se que as questes de responsabilidade se transformam em simples problemas objetivos que se reduzem a simples verificao de um nexo de causalidade." (LEITE, Jos Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 128/130). Basta, por isso, provar o dano e o nexo de causalidade. O dano ambiental foi fato pblico e notrio. Em relao ao nexo de causalidade, tambm restou configurado, porquanto foi a atividade potencialmente degradadora e a intoxicao causada que impediu o exerccio profissional da autora. Por isso, no merece provimento o recurso neste ponto.

    Fato do Animal 0009434-30.2004.8.19.0014 - APELACAO - 2 Ementa - Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro - DES. JOSE CARLOS PAES - Julgamento: 23/02/2011 - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL AGRAVO INOMINADO NA APELAO CVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. EXCLUDENTES NO COMPROVADAS. 1. Nos termos do artigo 936 do Cdigo Civil, o dono ou o detentor do animal ressarcir o dano por esse causado, se no provar culpa da vtima ou fora maior. Doutrina. 2. In casu, foram comprovados que os danos sofridos pela vtima decorreram da mordida do cachorro de propriedade da r, restando, assim, configurada a responsabilidade civil. 3. O fato da demandada estar custodiada no dia do sinistro no exclui sua responsabilidade, uma vez que a mordida de um cachorro perfeitamente evitvel, pois o evento poderia ser evitado, bastando que os empregados da casa ou at mesmo sua filha, responsvel pela residncia no momento do ataque, tomasse todos os cuidados e medidas necessrias para evitar qualquer dano a terceiros, como por exemplo, prender o co no interior da residncia de forma eficiente, impedindo-o de fugir para rua. 4. De outro lado, no se h de falar em fora maior, a uma, porque inexiste qualquer fato da natureza, e a duas, porque no houve o preenchimento do elemento imprescindvel para a configurao dessa excludente, qual seja, um acontecimento inevitvel. 5. Manuteno dos danos morais. 6. Danos materiais configurados diante da incidncia da teoria da causalidade adequada. Precedente. 7. Recurso no provido. 0034251-32.2006.8.19.0001 - APELACAO - 1 Ementa - Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro - DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 22/06/2010 - NONA CAMARA CIVEL RESPONSABILIDADE CIVIL. AO INDENIZATRIA. AUTORA VITIMADA POR MORDIDA DE CACHORRO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. VEROSSIMILHANA DAS ALEGAES AUTORAIS. AUSNCIA DE PROVA NOS AUTOS DE CULPA EXCLUSIVA DA VTIMA. DANOS MATERIAIS E MORAIS CARACTERIZADOS. QUANTUM INDENIZATRIO ADEQUADAMENTE FIXADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO.1. Trata-se de caso de responsabilidade civil, tipificado no artigo 936, do Cdigo Civil, que prev a obrigao dos donos ou detentores de animal de indenizar pelos danos por este causados. A responsabilidade nesta hiptese objetiva, prescindindo da comprovao do elemento subjetivo, a saber, dolo ou culpa, bastando que restem provados o fato, o dano e o nexo de causalidade. 2. Da dinmica dos

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    fatos narrados, e provas carreadas aos autos, vislumbra-se a verossimilhana das alegaes autorais, no tendo restado comprovada a alegada culpa exclusiva da vtima, como querem os apelantes, e tampouco concorrente. 3. Logo, deve a parte r responder pelos prejuzos suportados pela parte autora, neles se incluindo os danos materiais comprovados nos autos, bem como os danos morais, inequivocamente presentes. 4. O quantum indenizatrio arbitrado na sentena, a ttulo de danos morais, no carece de reduo, afigurando-se adequado s circunstncias do caso em tela, e em consonncia com os princpios norteadores das reparaes sob essa rubrica, a saber, razoabilidade, proporcionalidade, e vedao ao enriquecimento sem causa. 0063695-13.2006.8.19.0001 (2009.001.70770) - APELACAO - 1 Ementa - Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro - DES. ANDRE ANDRADE - Julgamento: 02/03/2010 - DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL LESOES CAUSADAS POR MORDIDA DE CAO FEROZ - AMPUTACAO DE MEMBRO - HOSPITAL PUBLICO - PERDA DE UMA CHANCE - RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICIPIO - RESPONSABILIDADE CIVIL DE PROPRIETARIO DE ANIMAL AO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. LESES FSICAS E AMPUTAO DECORRENTES DE ATAQUE CANINO. PRIMEIROS ATENDIMENTOS PRESTADOS EM HOSPITAL MUNICIPAL. ENCAMINHAMENTO DO RGO AMPUTADO AO HOSPITAL. DESCARTE SUMRIO DO RGO. OFENSA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DANO ESTTICO QUE PODERIA TER SIDO EVITADO OU MINIMIZADO PELO HOSPITAL. MDICA QUE,INDEVIDAMENTE, DESCARTA O PEDAO AMPUTADO, JOGANDO-O NO LIXO. APLICAO DA "TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE". CONDENAO DO HOSPITAL AO PAGAMENTO DE INDENIZAO DO DANO ESTTICO. COMPOSIO CIVIL REALIZADA EM SEDE DE JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. VTIMA DESASSISTIDA. INEXISTNCIA DE PREJUZO PARA O PEDIDO FORMULADO NA ESFERA CVEL. ALEGAO DO DONO DO ANIMAL DE QUE SE TRATOU DE FATO IMPREVISVEL. DESCABIMENTO. NEGLIGNCIA NO TRATO DO ANIMAL, DE NDOLE VIOLENTA, QUE OFERECE RISCO VIDA E SADE DE PESSOAS ESTRANHAS. CONFIRMAO DA CONDENAO DO DONO DO CO AO CUSTEIO DO TRATAMENTO DE SADE DA VTIMA, PELO TEMPO QUE FOR NECESSRIO RECUPERAO DESTA. PROVIMENTO PARCIAL DO PRIMEIRO RECURSO E DESPROVIMENTO DO SEGUNDO. Vencido o Des. Pedro Raguenet. TJSP 0285722-09.2009.8.26.0000 Apelao Relator(a): Egidio Giacoia Comarca: So Paulo rgo julgador: 3 Cmara de Direito Privado Data do julgamento: 09/04/2013 Data de registro: 10/04/2013 Outros nmeros: 6780524100 Ementa: APELAO - Indenizao por danos morais - Ataque de co em estabelecimento comercial (estacionamento) - Empresa r que deve responder pelos danos causados pelo animal de sua propriedade (CC, art. 936) - Responsabilidade objetiva - Dano moral reconhecido - Valor bem arbitrado em R$ 5.000,00 - Parcial procedncia da ao mantida - Aplicao do art. 252 do Regimento Interno do TJSP. Recursos Improvidos. TJSP 0019445-05.2011.8.26.0362 Apelao Relator(a): Francisco L