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José Rubens Morato leite.
Sumário
1. Noções gen6ricas. 2. Meio ambiente em sentidoJurídico.3. Meio ambiente como macrobem. 4. Meio ambiente eco-logicamente equilibrado como direito fundamental. S. Sin-tetizando conceito operacional de meio ambiente. 6. Refe-rências bibliográficus.
1 NOÇÕESGENtRICAS,...",
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Visando delinear um conceito operacional, que sirva de base paradiscussão de aspectos jurídicos da questão ambiental, faz-se mister anali-sar as diversas tonalidades do conceito de meio ambiente. De fato. o quese pretende é fonnar um conceito jurídico de meio ambiente e seus
elementos, como pressuposto lógico e necessário à pesquisa do tema.Adverte-se.preliminannente,que os termosmeio e ambiente são
cquivalentes, c a exprcssão mcio ambiente é, de fato. um pleonasmo2,No entanto. a expressão meio ambierlte se consagrou e foi incorporadaamplamenteà Constituiçãoda República Federativa do Brasil, bemcomo em várias legislações esparsas3.,,-
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Este artigo é oriundo da monogrnfia apresentada no Curso de pós-graduaçAo da UFSC.Mestre em Direito pela University College de Londres. Doutorando em Direito pelaursc c Professor de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 6. ed.. São Paulo:
Malheiros. 1996, p.69: "O que acontece ~ que ambiente e meio são sinônimos. porquemeio ~ precisamente aquilo que envolve. ou seja, ambiente".
Vide o artigo 225 da Constituição da Repúhlica Federativa do Brasil e como destaque aLei Federal n, 693R/81.
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JUSI I\VIIIN~ I\IUr{A1U LLlH.A preocupaçào jurídica do ser humano com a qualiJ,llk ue vida c
. a proteçãodo mcio ambiente,como bem difuso,é tcma recente.Pode-sedizer que estasquestõessó vieram alcançarinteressedosestadosapartir da constatação da deterioração da qualidade amhiental e daIlIuilahiliJaue do uso dos recursos naturais4.
Pontua-setambém que os estudosatinentesà relaçãoentreseresvivos e meio ambiente é ramo recente da biologia, através da ecologia.Nota-se ainda que, nos estudos iniciais da ecologia,5 prevalecia umaabordagem' denominada auto-ecológica, isto é, sem considerar o ho-mem.O ProLSallllleJMurgel Bra1/coesclarece que uma dimensão maisamplada ecologia.representadapelainteraçãode váriosoutrosfatoresc circunstfincias amhicntais, somente slir~)ucom a sinecologia.~Assim,verifica-sepelasinecologia7que. paraobterumconceitomaisamplodemeio ambiente. há necessidade da integração e interação de várias áreasdo sabc=r.
Esta visãode integraçãoe interaçãoé destacadapelo Prof.PaIlL~Freire Vieira: "O tema meio ambiente designa não tanto um objetoespecífico(natureza,espaço natural. paisagem.assentamentos).mas élima relação de interdependência,"8 Ta] interdependência, é verificada~Icmaneira incontestáve] pela relação homem-natureza, posto que nãohá possibilidade de se separar o homem da natureza, pelo simples fatoda impossibilidade de existência material, isto é, o homem depende danatureza para sobreviver. O meio ambienteé conceito que deriva do
4 Occlaraçi\ode Estocolmo,junho de t972, publicado no livro: SILVA.Geraldo Eutáliodo Nascimento. Direito ambiental internacional. Rio de Janeiro: Thex, p.162/165,2491'1.,1995.
5 LAGO, Antônio Pátlua, Jo~~ Augustn. () que i eco/nRin7. 7. ed.. sno PauJo: Bmilien~c.
)IIIIX.p. 7 "Em 111M,n biólogo alemno Hern!'A! lIoeckel, !'m ~UAohlo M",/()/oRil/ Rfflll
(IIIJ lIrBOlli.rmos, propôs n criaçAode uma nnvn e mod!'~!Bdhciplinn denlffirn, li!!ada nocampn dll biolojlin. que teria por funçnoe~ludara~II'laç!\es entre n~ e~rhics nnilll:,i~ (' li
seu ambienle orgnnico e inorgnnico. Para denominá-lu. ele utilizou a palavra grega oikos(casa) e cunhou o tema 'ecologia' (ciência da casa)'"
6 COllf/ilO.fC(",ai'14Q;.rnos ~stuJos sobre meio ombi~nte. Silo Paulo: Estudos A\'ançado~.v. 9, n. B, p.217/222.23~. 1995.
7 FE\{REIRA, Aurc!lio BURrquede Uolanda. Nn\ln niC'io,.,fr;o da /(nf{rm"nrll/RI/na. S~OPaulo: Nova Fronteira. p. 1590: 5lnecol08la: "Ramo da Ecologia que trata das rclaç()l'senlre IIScomunidades animal5 ou vegetais e o meio ambiente".
K Vidc: Ml'io ambitlul', dl'Senvolvimentn e cidadania: desofi05 para as Ciência5 Sociais.S~o raulo; Corte7.1UFSC. 1995, 219p., p.49. .
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homem. e a ele está relacionado; entretanto. interdependc da naturezaCOlllOduas partes de uma mesma fruta ou dois elos do mesmo feixe.
NodizerdoProf.Sam/lelJ'vlurgeJBranco,estaintcrdependênciaéassim cxemplificada:
"O homempertenceà naturezatantoquanto- numaimagemqueme parece apropriada - o embrião pertence ao ventre matemo:
originou-sedelae canaliza todos os seus recursos para as própri~<;funções e desenvolvimento, não lhe dando nada em troca. E seudependente, mas não participa (pelo contrário, interfere) de suaestrutura e função nonnais. Será um simples embrião se conse-guir sugar a natureza, permanentemente de forma compatível,isto é. sem produzir desgastes significativos e irreversíveis; casocontrário, será um câncer, o qual se extinguirá com a extinção dohospedeiro."9
Qualquer que seja o conceito que se adotar. o meio ambienteengloba, sem dúvida. o homem e a natureza. com todos os seus elemen-tos. Desta forma, se ocorrer uma danosidade ao meio ambiente. esta seestende à coletividade humana, considerando se tratar de um bemdifuso'o interdcpendente.
Saliente-se que a noção genérica de meio ambiente pode serconstruída a partir de diversas perspectivas teóricas e de escalas. consi-derando-se a opção escolhida de especificação científica. Isto se deveao caráter multidisciplinar" do meio amhiente e por se tratar de umtemadinâmicoe em constanteestadode transformação.
Elegendo-se uma noção genérica de meio ambiente e. a títuloinicial, adota-se a posição de Prof. Paulo Fl'eire Vieira, que o define"comoo conjuntode componentesfísico-químicose biol6gicosas-sociudos11fatoressocioclllturaissuscetíveisde afetar, direta ou índi-
9 Br~nco.o". cit., p.23I.10 OifllSO,a litulo ilu5trativo. lem, como umll de SUIIS cnracterísticas, a indetcnnlna"ilidade
dm ~1I1c:iIO~.011~e-Jn,t! de fnto 11mdireito de-Imeresse nn/'lnlrno.
11 50"re a questão interdisciplinar ou transdisciplinar no enfoquejur(dlco, ver pe~quiso deOLIVEIRA JIJNIOR. Jm!! Alrehiades de. O desafio dos novos direit05 parI! 11cilnciajurídica. 111:OLIVEIRA JÚNIOR, Jos~ Alcebfades de e MORATO LEITE, Jos~ Rubens(Collrd.) Cidadania m/etil'o. 1996, p. 21.
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n:(aIlH.:nt~,a curto ou longo prazos,os seresvivos c as atividadeshumanas no ambiente gJobalizantc da ecos fera "11.
1'UIoulro lado. nân é possível concciluar o meioambicnte fora deuma visão antropocêntrica, pois sua proteção jurfdica depenJe de umaação hUl1lL1nal.l. Ressalta-se, no entanto. que esta visão antropocêntricapode ser aliada a outros elementos e UIn pouco menos ccntrada nohomem, admitindo-se uma reflexão de :;eus valores. tendo em vista aproteçiio ambiental globalizada.
Articulada uma noção genérica, cabe, agora, frisar algumas preo-cupações centrais c alguns valores que devem guiar a condutaantropocêntrica em relação ao meio ambiente:
"a) o ser humanopertencea um todo maiorque é complexo,articuladoe interdependente;h) a nalureza é finita e pode serdegradadapela utilizaçãoperdu-
I~hiade seus recursos naturais;c) o ser humano não domina a natureza, mas tem de buscar'
caminhosparaumaconvivênciapacíficaentreelae suaprodução,sob pena de extermínio da espécie humana;d) a luta pela convlvencla hnnnÓnlca com o meio ambiente n110~somente responsabilidade de alguns grupos 'preservacionistas'.lIlas missão política, ética e jurfdica de todos os cidadãos quetenbam consciência da destruição que ° ser humano está realizan-do,em nomeda produtividadee do progresso"14.
É obvio que a visão antropocêntricacentradanaposiçãoem que ohomem lratava o "ar puro" como res nulis está superada, e hoje estebem é considerado res omlliulI, e assim deve ser entendido. Advoga-seunia superação de um antropocentrismo do passado e a inclusão uevalores que incluem, por exemplo, a bioética. na proteção jurfdica do
12 Op. cit. Conceilo formulado com basenassuacstOcsde Jolllvct e Pavt , p.49.13 PrincfpioI - Confer~nciado Rio/92; "Os sereshumanose~1110no centro da~preocupa-
çi\e~ com o de~env\llvimento sustentável. Temdireito a uma vida saudávc\ e produtiva,em harmonia com a natureza"
14 AGUIAR. Robcrto Amando Ramos. Direito de {f,eioambienree participaçãopopular.Brasnia; Ministério do Meio Ambiente e da Ama7.ônla Legal - Ibama.1994,p, 20/21.
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meio ambiente. A bioética se relaciona com o direito da seguintefOlma.~egullJo o Prof. Francisco Vu'ira Lima Nc'(o:
"Entendemos a Bioética como ramo do saber ético que se ocupada discussão e conservação de valores morais de respeito à pessoahumanano campo das ciências da vida. O tema, porém, abandonaperfeitamente os limites da biologia para alcançar também odireito, pois, na sociedade moderna, marcada pela racionalizaçãodo real.todas as condutas morais do homem, em qualquer de sua~atividades,necessariamentese regulampelas normasjurídicas,de tal sorte que o debatee a instituição de comportamentos éticos.no campoda medicinae da biologia,tornar-se-ãojuridicamenteobrigatóriossomentecomachancelado direito"lS.
Frisandoa importânciada vertente ética, salienta-se que a mani-pulação genética de organismos geneticamente modificados, comoilustração, pode ocasionar desastres ecológicos.'6
Não se postula um biocentrismo, mas apenas uma superação domodelo derrogado do homem como senhor e destruidor dos recursosnaturais.
Sobre a ~voluçno antropocentrista, vale 11pena mencionar a posi-ção do Prof. Paulo de BeHa AlI(lme.r:
"A questão que se coloca. contudo. é a dc não confundir a supera-ção do antropocentrismo como uma modalidade de
irracionalismo. muito em voga atualmente. que. colocando em péde igualdade o homem e os demais seres vivos, de fato. rebaixa ovalor da vida humana e transfo"rma-aem algo sem valor em sipróprio, em perigoso movimento de relativação de.valores. O queo direito ambiental busca é o reconhecimento do ser humanocomo parte integrante da natureza. Reconhece também, como éevidente, que a açãodo homem é fundamentalmente modificado-ra da natureza, culturalizando-a . Entretanto, o Direito Ambientalnega as concepçõespassadas,segundoas quais, ao ser humano
LIMA NETO.FranciscoVieira. Responsabilidadedas empresasde engenharia genéti-ca. Leme Editora de Direito, 1997, 274p.. p.46.Ver em lermo~da legi~laç!lofederalhra~ileira,a LrI n. R.197/9S.
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lOll\pclia subjugara natureza.Nã O Direito Ambicntal estanc-Ieee a normatividade da hanlloniz.tção entre todos os componen-tes do mundo natural culturalizado, no qual, são todas as luzes, oser humano desempenha o papel essencial"l7.
Rallficando o ponto de vista exposto, cita-se a posição do Prof.Paulv A./Ji)l/.fOLemeMachado,a respeitoda visãoantropocêntricadocompromisso do homem diante da natureza, que pondera:
"O terceiro caminho coloca o homem como centro das preocupa-ções do desenvolvimento sustentado. Onde há centro, há perife-ria. O fato de o homem estar no centro das preocupações, comoafirma o mencionado princípio I, não pode significar um homemdesligado e sem compromissos com as partes periféricao;ou maisdistantes de si mesmo. Não é o homem isolado, ou fora doecossistema, o agressor desse ecossistema"18.
2 MEIO AMBIENTE EM SE~
Feitas as colocações iniciais a respeito do meio ambiente, é omomento de voltar à construção do conceito opcracional que se preten-de edificar.
Partir-se-á do conceito legal, para que se possa posteriormenteesmiuçá-lu e chegar à definição pretendida. De acordo com o artigo 3",inciso I da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sohre aPolítica Nacional do Meio Ambiente:
"Para fins previstosnestaLei, entende-sepor:
I - meio ambiente, o conjunto de ('ondições,leis, influênciaseintcrações de ordem física, química e biológica, que permite,ahrigae rege a vida em todasas suasfonnas".
17 ANTIJNüS.P~ulodIÜ'I Dinliloambi./I/al. Riod. Janeiro:LumemJdtil. 1996,p. IB.IK MACIIADO. Paulo Afoll~oLeme. Es/utlosde direito ambiental.SiloPauto:Malheiros.
1994.p.18.
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Conforme se verificou, de início, o legislador brasileiro optoupor urna conceituaçãoquerealçaa interaçãoe a interdependênciaentreo homem e a natureza.
Não há como refutar que o legislador adotou uma definição ampla,COnf0\111eesclarece o Prof. Patl/n Ajf01un u'/IIl' Maclllldn: "a definiçãofederal é ampla. pois vai atingir tudo aquilo quc permite a vida, que aabriga e rege" IQ. No dizer de A/varo Luiz Valery Mirra, "o legislador, emcomparação com o posicionamento doutrinário foi até mais longe, na suapreocupação de proteção global do meio ambiente. ao situar a vidaanimal (não humana) e a vida vegetal, no mesmo patamar de importânciada vida humana - protege-se a vida sob todas as suas formas". 20
Por seu turno, Bemadete Ferreira Farias diz que é qucstionável aamplitude da conceituação legal, pois entende existir "uma falta declarezól tcrminol6gica dada ao significado jurfdico, podendo estar tudoincluído no termo". 11
A crftica atinente à falta de clarcza terminólogica da definiçãolegal pode tcr sua lógica. Entretanto, acredita-se ser mais conveniente aexistência de um conceito que, embora pecando pela qualidade técnico-conccltual,abraçaumconteúdomaisamplo,ao invés de uma definiçãorestrita.quereduza csfcrade proteçãoambienta!. .
A doutrina prevalecentc no direito brasileiro posiciona-se comvisão globalizante c abrangente do conceito jurídico de meio ambiente,conformc é asseverado pelo Prof. José Ajmlso da Silva:
"O conceito de meio ambiente há de ser, pois, glohalizante,abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como osbens culturais correlatos, compreendendo,portanto, o solo, aágua. o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimôniohistórico,
19 MACHADO. Diui/a amhit/l/al hrasileiro. p.n.20 Dissertação apresentada para obtenção do Diploma de ESludos Superiores
E~pecialilados em Direito Ambiental na Faculdade de Direito da Universidade DeE~lra~burj~o - França - em t 988. intitulada "L 'arrion Civilt publique d'l droi/ brisilimt'/ Ia rlpararian dll damlnagt cawr a /'environnl'lnt'n''', traduzida e alualizada peloautor. p. 3. 59p..1997.
21 A aulora. citando lAMARQUE. Jean. Noção de meio ambienle no direilO brasileiro.Rrl'is/a da faculdade dI' Dirl'i/a/C/lri/iba. v.27.IIno 27. p.85. 81/91.1992/3.Ver lamMmMILAHt-., Édls. Are}oeMI p,ihl/ca. Silo Paulo: Revilla dos Tribunais, 1995, Sti p. .p.202: "NumA vlsRn eSlrlta. n meio ambiente nada OIals ~ do que 8 upressão dopatrim/lnio nalural e sua~ relações com o ser vivo. Tal noção. ~ evidente, despreza ludoaquilo que não seja relacionado com os recursos naturais."
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,lItlstico, turístico, paisagístlCoe an,luitetÔnico.O meio amhlenk~,assim,a inlcraçãodoconjuntodee!cmentosnaturais,arti1lci.me culturaisquepropiciemo desenvolvimcntoequilihradoda vidacm lodasassuasformas."
Nestesentido,um dispositivodaConvençãode LugaJlo,de 21 dejaneiro de 1993- convençãoeuropéiasobreresponsahilidadecivil pordanos resultantes de atividades prejudiciais ao meio ambiente, asseverouquc "o meio ambiente inclui recursos naturais, sejam ahióticos, sl"jambióllI:OS,como o ar, a água, o solo, a fauna e a flora, e a inleração entrctais fatores; - propriedades que formam parte da herança cultural c - osaspectos característico da paisagem" (artigo 2, parágrafo décimo)22.
Porém, deve-se alertar que a adoção da visão ampla do conceitopode servir para um discurso jurídico, "correndo o risco da alquimiaccolÜgica transmudar os problemas sociais, culturais c econômicos(alllbiente social), biológicos, ecológicos (amhiente natural) em prohle-mas jurídicos do ambiente. Do ambiente transita-se para a amhial1r.I'sociopolítica, sem que os específicos problemas jurfdicos do amhienteslIl:jamcom conlOI"l1OSnítidos", conforme rel1ete o Prof. CC/l/otilllO.]1
As reflexões do ilustre jurista são, sem dúvida, no sentido de seadotar com cautela a visão ampla da definição de meio ambiente.CO:lIudo,é preciso salientar que os entraves da eonceituaç1ioacontecemdevido às crescentes transformações na órbita da problemáticaambienta!. Entende-se que o legislador brasileiro teve que optar em suaconccituaçi\o e o fez de maneira correta2A,pois adotou uma conceitua-çào mais atual, abarcando vários elemc;llI,s culturais do ser humano, osquais n?iopodiam ser excluídos da definição.
A perspectiva conceitual mais atualizada é assim demonstradapor Antônio Carvalho Mart;ns:
"O movimento passou aocupar-sede todososaspectosrelaciona-dos com o ambiente natural: terra, água, minerais, todos os orga-
22 R,'\'i.I'taGl/lridira Dl'i/ 'amb;tll't. MilAo: Giuffr~, v. 9, n. t. feb" p.144-1 /íO.p,146. feIJ,.1994,
2.\ CANOTILlIO, José Joaquim de Gomes. Procedimento administrativo c dcfe~a do11l1Ibicnl,'.R"l'ista dI' Lt'Ri.rlnçrln t J'lri.r/'rfldh,cia Coinrbra:, n. 3799, r 2M!,)2HO.11J91,
.24 Espccir.c8I\dn a visilo ahrangente de meio ambienle. Mi/ar; (Df'. cit.. 20.l), ilustra "Ncssl\pcrspectiva ampla, o meio ambiente seria '3 InteraçAodo conjunto de elemt'nlos natlJrai~,IIItificiais c ,'uhurais que propiciem o desenvolvimenlo equilibrado da vida humana"
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IN1I{, )l1( I'. ÃO AO (ONC[iTO JURíDICO Df MflO AMAIENTf- - .-
ni.\mos VIVOSe processosvitais, atmosfera c clima, calolas pola-res e profundidades oceânicas remotas, e alé mesmo o espaço.Voltou-se também para a situação do homcm, tanto no plano dascomunidades como no das necessidadesindividuais de habitaçãoc condições de vida, e deu ênfase à relação entre os ambientesartificiale natural.Estenovo movimento tentauma percepção maisampla e cientificamente mais sofisticada da relação.existenteentreo homem e o ambiente. Preocupava-se não só com a condição dos'recursos naturais, mas também com os valores. instituições. tecno-Ingia, organização social e, em particular, com a popultição, influ-enciou o uso e a conservação daqueles recursos"(...)
E mais:
"Preocupou-se com uma gama muito mais vasta de fenômenos
ambientais, com base no fato de a violação dos princípios ecológicos teratingido o ponto em que, na melhor das hipóteses, a qualidade de vidaeslava ameaçada e, na pior das hipóteses, em perigo, a longo prazo, asobrevivência própria da humanidade"25.
Desta fonna entende-se, como a maioria dos doutrinadores citados,que acertou o legislador brasileiro, pois acoplou, na sua definição de meioambiente, uma concepção mais atuale vasta,queaceitavários elementos,em oposição ao conceito restritode proteção aos recursos naturais.
3 MEIO AMBIENTECOMO MACROBEM
Torna-se necessário também vcrificar se o legislador observou atendênciaconceitual,já descrita,e considerouo meio ambientecomomacrobem, Istoé, em umavisãoglobalizadaunitáriae integrada.
Pela análise literal chega-se à conclusão que sim, pois meioambiente é considerado como "o C01ljUlIlOde relações e interaçõesque condiciona a vida em todas as suas fonnas"26.
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25 MARTtNS, AntÔnio Cl\rvalho, A potítica dI' a",hit"te da rO/lllllJiJade tconômica turo-pha. Coirnhrn: C'oirnhrn. 1990, 261')1'. 1',32/3),
Ui Ver ar\. 3", I, da Lei Federal n. 6.938/81.
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A lei citada não apontou os elementos corrÓreo~ que cotnp;il.:lJIomeio ambiente c. assim o fazendo, considerou-o um bem IIIcorp/lren c
imatcrial. Citamos, para enfatizar a fundamentação de AII'aro Llli:.Valer)' Mirra:
"Os elementos corpóreos integrantes do meio ambiente têmconceituaçào e regime próprios e estãosubmetidos a uma legisla-çflo prÔpriae específica à legislação setorial ( o Código Florestal.a Lci de Proteção à Fauna, o Código de águas,a legislação sobreproteção do patrimÔnio cultural, ete.). Quando se fala, assim, naproteção da fauna, da flora, do ar, da águae do solo, por exemplo,mio se busca propriamente a proteção desses elementos cm si,mas deles como elementos indispensáveis à proteção do meioambiente como bem imaterial, objeto último c principal visadopelo Jegislador,"27
No mesmo sentido, o enfoque de Antonio Hemwn VasconcelosBenjamin:
"Como bem - enxergado como verdadeiro wtiversitas corporalisé imaterial - não se confundindo com esta ou aquela coisa materi-al (floresta, rio, mar, srtio histórico, espécie protegida, etc.) quc oforma, manifestando-se,ao revés, como o complexo de bensagregados que compõem a realidade ambienta\.
Assim, o meio ambiente é bem, mas como entidade, onde sed~stacam vários bens materiais em que se firma, ganhandoproeminência, na sua identificação, muito mais o valor relativoà composição, característica ou utilidade da coisa do que aprópria coisa.Uma definição como esta de meio ambiente, como macrobem,não é incompatível com a constatação de que o complexoambiental é composto de entidades singulares (as coisas, porexemplo) que, em si mesmas, também são bensjurídicos: é o rio,
27 01'. cit.. p. 4. e aindado mesmoautor: Fundamentosdo direito ambientalno Brasil.R",';slaTrimestral deDinilo Público,SAoPaulo,v.7,p.179.t994,
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Além de macrobem, o meioambiente,conforme a Constituiçãoda República Federativa, é um "bem de uso comum do pOVO",29Issosignifica que o proprietário. seja ele público ou pal1icular, não poderádispor da qualidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado, devi-do ;1previsão constitucional, considerando-o macrobem de todos. Adita-se, no que se refere à atividade privada, a qualidade do meio ambientedeve ser considerada, pois o constituinte diz que a atividade econômicadeverá observar, entre outros, o principio da proteção ambiental, confor-me cstatui o art.170. inciso VI da Constituição Federal.
Não obstante o legislador constitucional inserir o meio ambientecomo rl'J COmll11l1lf',ro"mium. este não legitimou, exclusivamente, oPoder Público para sua tutela jurisdicional civil, como interessedifuso.JOAssim fazendo-o, apal10Uo meio ambiente de uma visão debem público estrito senso, mas, ao que tudo indica, elencou o bemambiental como disciplina autônoma e a título jurídico autÔnomo. Umasegunda distinção é verificada quando há o pagamento pecuniário, atitulo indenizatório dos danos aos bens ambientais. Nestes casos, osmontantes arrecadados do depositados em um fundo, que não é geridoe administrado exclusivamente pelo Poder Público. Ressalta-se, aindaque, no processo reparatório do macrobem ambiental, o que se busca é,primcirmnente, a recuperação do dano e, como segunda hipótese, umacompensação pecuniária à coletividade que foi subtrafda da qualidadeambiental deste bem, e não a reparação para seu proprietário, seja elepúblico ou privado.
Não se deve aceitar,desta forma, a qualificação dobemambienta!como patrimônio público, considerando ser o mesmo essencial à sadiaqualidade de vida, Nestes termos, conclui-se que o bem ambiental(macrobem) é um bem de interesse público, afeto à coletividade, entre-tanto, a titulo autÔnomoe como disciplina autônoma, conforme já foimencionado.
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28 Vide: FunçAoamhiental. 111:00110 ambielltal prevl!lIçdo. reparaçdo e repreuilo. SãoPaulo:Revistados Trihunais. 1993.470p.. p,75.
29 Vide art225. caplll, da ConstilulçAo Federal.30 Conforme Lei Federal n, 7347/85. art. 5.
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Nestcsentido,o entendimentode Cano/ilho:
"Em plillleiro lugar, o bcm ambientalpode qualirilar-sc CUIIJOhem Jurídico, se e na medida em que é objetode uma disciplinaautÔnoma distinta relativamente ao regime jurídico patrimonialdos bcns, privados ou públicos, ou da rCJ COmmll1leJo1flllium quco constituem. Conseqüentemente, é necessário que a proteção doambiente tenha na lei ou em outras fontes (p.ex.: comunitárias ouJo dircito internacional) um título jurídico autônomo. O funda-llI~nlO da tutela específica e autônoma reconduzir-se-,í, logica-mente, ~ necessidade da conservacão ou gozo do bem ambientalpor parle da coletividade ou do pl'in.icularuti cives."J'
Assim, não resta dúvida que o bem ambienta] de interesse públicodeve ser separado da definição de bens públicos e privados do CódigoCivil Brasileiro.J2 Outrossim, a concepção da lei civil é destoante doestipulado na Constituição Federal, que trata o meio ambiente comobem da coletividade, e não como re.rnullius. .
Tralando da matéria, adote-se a posição de vanguarda do ProLJose: A.follSo da Silva:
,..A doutrina vem procurandoconfiguraroutracategoriade bens,os bens de interesse público, em que se inserem tanto bens perten-centcs a entidades públicas, como bens dos sujeitos privados,subordinados a uma particular disciplina para a consecução deum fim pÜblico. Ficam eles subordinados a um peculiar regimejurídico relalivamente a seu gozo e disponihilidade e tllmhém aUIl1particular regime de polfcia de intervenção e de tutela pública. Essadisciplinacondicionaa atividadec os negóciosrelativosaesses bens, sob várias modalidades.com dois objetivos:contro-lar-Ihes a circulação jurídica ou controlar-Iheso uso, de onde asduas categorias de bens de interesse público: os de circulaçãocontrolada e os de uso controlado.
JI CANOTILlIQ. Rl'ViJla d~ Ullislaçdn ~ Jr4risprtld1ncla, n. 3ROO,p. 32~/326..U o ar\. 66, Lci n. 3.07\ de janeiro de 1916, e alterações po~terlores. dispõe: "Os hens
Pllhlicns são: I. de uso comum do povo, tais como os mnres, estradas. ruas e praças; (...)"
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., São considerados dessanatureza os bens imóveis de valor históri-co, artístico, arqueolÓgico, lurístico e as paisagens de notávelbeleza natural, que intcgnul1 o meio ambicllIc cultural, assimcomo os bens constitutivos do meio ambiente natural (qualidadedo solo, da água, do ar, ele.)", J3
Resta acrescentarà análisefeitaque a definiçãode bem ambien-lal, de interesse público,é executadano sentido de macrobem,nãoobstante existir uma concepção de microbem,
Na concepção de microbem, isto é, dos elementos que o compõem(florestas, rios, propriedade de valor paisagístico, etc.), o meio ambiente
pode ler o regime de sua propriedade variado, ou seja, pública e privada,no que conccrne à titulariedade dominial. Na outra categoria, aocontário, é um bem qualificado como de interesse públicoJ4, seu desfruteé necessariamente comunitário e reverte-se ao bem-estar individual.
4 MEIO AMBIENTEECOLOGICAMENTEEQ!,lIUBRADO_COMO DIREITO FUNDAMENTAL
Perseguindo os vários matizes do conceito operacional de meioambicnte,necessáriofazer-seumaanálisemais detidana Constituiçãoda República Fcderativa do BrasilJ5,que ampliou muito a definiçãonormativa anterior.
Resultadodas transformaçõesJ6ocorridas nas últimas décadas,em relação à proteção e preservação ambiental, o constituinte brasileiro
33 SILVA. Op. cit, p.~6..14 N~stesentido: BENJAMIN, np. cit, p. 79.
35 A Con~tiluição dedicou um Inteiro capCtuloao meio ambiente. Para iluslrar. {ar-se-áindicação dos principais dispositivos constitucionais relacionadosà proteçãoambienta!.tai~como:art 5. incisosXXIII. LXXI. LXXIII;art.20. incisos 1.11.11I.IV. V, VI. VII,IX, X. XI, e §§ I e 2; art.21, inciso~ XIX. XX. XXIII. a((neasa, h, e c. XXV; art.22.incisos IV. XII, XXVI: art, 23. inciso~I. 11I.IV, VII, IX, XI; art.24,lncims IV, VII. VIII;nrt43. § 2, IV e § 3; art.49, incisos XIV. XVI; art.91; IIrt.129. inciso 11I;art.170. incisoVI. art. 174. §§ J e 4: ar1.176 e pnrá~rnfos; IIrt.1R2 ~ pnr~grafos: nrt.! 86; art. 200. inclsosVII,VIII; art.216.incho V c H I. J e 4; nrt.225; nrt.231; art. 232.
3(. Nmhrrto 801>I>io(A ~ra dos dir~ito.t. Rio de Janeiro' Campus. 1()q2. p. 69) ressaltll:"NosMovimcntos E<:oI6gicos,eslá emergindo qunsequeum dircito da nalUrczaa ser respeitadaou não cxplurada,onde as palavras'respeito' c 'cxploração' ~ãoexatamenteas mesmasusadastradicionalmentena definiçãoc justificativadosdireitos do homcm".
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dedicou um capítulo inteiro ao meio ambiente. Podemos salientar que op,llall1al'inicialdesta transformaç:io,relacionadacom o meio ambientcc a qualidade de vida, surgiu, como interesse internacional e comopreocupação de cada Estado, a partir da Declaração do Meio Ambiente,adotada pela Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, emjulho de1972.Aevidênciadestatransformaçãop;)deserdemonstradapeloprincí-pio n. I da referida Declaração, que elevou o meio amhiente de qualidadeaonfveldedireito fundamentaldoserhumano."Princfpion. 1.O homemtcm o direito fundamentalà liberdade,à igualdadee ao desfrute decondições de vida adequada em um meio, euja qualidade lhe pcnrutalevar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a solene obrigação deproteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras."
. Esteprincípiosignificou,do pontode vistainternacional,umreco-nhccimento do direito do ser humano a um bem jurídico fundamental, omeioambienteecologicamenteequilibradoe a qualidadede vida.Alémdisto, afmnou um comprometimento de todos a preservar o meio ambi-elue ecologicamente equilibrado, para as gerações presentes e futuras.
Como resultado deste reconhecimento internacional, o constituintebrasileiro estabeleceu, no seu artigo 225, caplit, da Constituição daRepública Federativa do Brasil, quc "todos têm direito ao meio ambienteccologicall1cnte equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade odever de defendê-Io ou preservá-Io paraas presentese futurasgerações".
Apesar de não estar localizado no capítulo dos direitos e deveresindividuais e coletivos, não é possível afastar o seu conteúdo de direitofundamental.H Da leitura global dos diversos preceitos constitucionaisligados à proteção ambiental, chega-se à conclusão que existe verdadeiraconsagração de uma polfticn amhiental, como tamhém de um deverjurfllico conslitucional atribuído ao Estndo'~.Acrescente-se ainda a cons-latação em que o anigo 225 inclui a expressão"todos têm direito" e
.\7 Ne~tl! sl!nlido; CANOTILHO, 1. J. Gomes. Proce~so admlniMrativo e defe~a do amhien-
te. H.t'vi.r/(Ide ugislClçdo l Juris/Jrudêllcia. Coimbra, n. 3.R02, p. 7. Na Ordem Jurfdico-con~liIUCi()nalportuguesa, o "direito a um ambiente de vida humano, ~adio e ecologlca.mente cquilihrado"(CRP ar\. 66, 1.) é um verdadeiro direito rund:llnental. rormal ematerialmente constitucional". Observa-se que ~ r:onslituiç~o da Repl!hlica Portuguesa,lal qual a CnmliIUiç~() hrasilelra, inseriu o cApr'ull1do meio amhiente dentro do tll\Jln daOrJem Soch,\'
.\H CANOTILlIO. J.J.Gomes. O". cit.. 11.3.R02.p.8 e 9.
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impÔeposteriormenteincumbênciasdo Estadoe da coletividade,signifi-cando inequivocumcntetratar-se de Ullldireito fundamental do homem.
Revisando a análise do anigo 225, na primeira parte, observou-seum direito fundamental que, à primeira vista é, simultaneamente, umdireito social e individual, pois deste direito de fruição ao meio ambien-te, ecologicamente equilibrado, não advém nenhuma prerrogativa pri-vada. Não é possfvel, em nome deste direito, apropriar-se individual-mente de parcclas do meio ambiente para consumo privado. O caráterjurfdico do meio ambiente, ecologicamente equilibrado, é um bemcomum do povo. Assim, a realização individual deste direito funda-mental está intrinsecamente ligada à realidade sociaJ.39Noberto Bobbio.ao retratar os novos direitos, dá ênfase ao direito fundamental do meioambiente: "O mais importante deles é o reivindicado pelos movimentosecológicos: o direito de viver num ambiente não polufdo"40.
Na verdade, entende-se, com suporte na doutrina do ProLCanotilho, que ex.iste um verdadeira evolução histórica dos direitosfundamentais e dos expressos no artigo 22.5, COpUl,da Constituição daRepública Federativa do Brasil.
"são os direitos de quarta geração (...) que abrangem as suassucessivas sedimentações históricas ao longo do tempo: Os tradi-cionais direitos negativos, conquista da revolução liberal; osdireitos de participação polftica, emergentes da superação demo-crática do Estado liberal; os direitos positivos de natureza econô-mica, social e cultural (usualmente designados, de forma abrevia-da, por direitos sociais), constituintes da concepção social doEstado: finalmente, os direitos de quana geração, como o direitoao ambiente e à qualidade de vida". 41
Verifica-se que o direito fundamental ao meio ambiente se insereao lado do direito à vida, à igualdade,à liberdade,carncterizando-sepdo cunhosocialamploe n~omeramenteindividual.
39 DERANI. Cristiane. Dirl!ito ambimtal tconôrnico. São Paulo: Max i.inionad, 1997,297p.. 1'.256.
40 DERANI. ar. dt. p. 6. .4t Ci\NOTIUIO, J.J.Gome,; MORElRA,Vital. Fllnd(lltll'lltr>s da Constituirdo. Coimhra:
Coimbrn Editora. 1991,3101'., p.QJ.
'II,1COPEl/SADSBA 65
BIBLI(\TF.CA
. Se o meio ambienteecologica14'l.:nteequilibrado é um Jireito(uIIJalllcl1lal. o que significa para todos estaqualificação?SignIficaqlie. p;u'a efclividadc deste direito. há necessidade da participação doESladoc da coletividade, em consonânciacom o preceitoconstitucio-nal. O ESlado, desta forma, deve fornecer os meios instnuncntaisnecessários à implementação deste direito. Além desta ação positiva doEstado, é neéessária também a abstenção de práticas nocivas ao meioambienlc por parte da coletividade. O cidadão deve, desta forma, empe-nhar-se na consecução deste direito fundamental, participando ativa-mente das ações voltada!' à proteção do meio ambiente. O que ~ real-mcnle inovador no artigo 225 é o reconhecimento da indissolubilidadedo vínculo Estado-sociedade civil. Essa vinculação de interesses púhli-cos c privados redunda em verdadeira noção de solidariedade em tornode um bem comum.
A conjugaçãode interessessignificaqueestaconcepçãode direi-10 fundamental está "pautada numa premissa essencial, que é a de que.as liberdades individuais são indissociáveis das liberdades sociais ecoletivas"42.
Pejo que se pode concluir, este direito fundamental inclui limaconcepção jurídico-política de solidariedade, pois não se buscam agarantia ou a segurança individual contra determinados atos, nem mes-1110a ganllHia e segurança coletiva, mas, sim, tem-se como deslinaláriofinal o próprio gênero humano.43
Ou ponto de vista internacional, a participação solidár'iaé eviden-ciada, a partir do momento em que se percebe que, para a efetivaçãodeste direito fundamental, há necessidade de um sistema de cooperaçãogJobalizado entre os estados. Neste sentido, o princípio n. 7, da Decla-ração uo Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,1992, estahelece:
"Os ESlados devem cooperar, em cs~írilo de parceria global, paraa conservação, proteção e restauração da saúde e da integridadedo ccossistema terrestre. Considerando as distintas contribuições
42 CANOTI LI 10. ê>". dI.. p. 220.4.\ LAFER.Celso. Dnafio: ~tica e política. SAoPaulo: Sicillano, 1995,p. 239, e MIRRA.
O". ril" p. 7.
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paraadegradaçãoambientalglobal,osEstadostêmresponsabili-dades comuns, porém, diferenciadas. Os países desenvolvidosreconhecem a responsabilidade que têm na busca intemacional dedesenvolvimento sustent.ivel, em vista das pressões excrcidas porsuas sociedades sobre o meio ambiente global. a tecnologia e osrecursos financeiros que controlam".
Ainda de acordo com o princípio n. 27 da referida Declaração,.registra-se que os estados e o povo devem cooperar e com esp(rito depararia, ou seja, com relevante solidariedade.
A importância da aplicação destes princípios para a efetividade datutela ambientaI deriva das exigências de justiça distributiva, o que éválido tanto em escala extra como intracomunilária nacional«.
Afinne-se. de acordocom o preceito constitucionalexaminado. quea preocupaçãocom a preservaçãoambientalultrapassao plano das presen-tes gerações, e busca proteção para as gerações futuras. É, de fato, aproclamação de um direito fundamental intergeracional de participaçãosolidária e, como conseqüência,extrapola,em seu alcance, o direito nacio-lIal de cada Estadosoberanoe atinge um patamar intercomunitári04S,caracterizando-secomo um direitoque assiste a toda humanidade46.
5 SINTETIZANDO CONCEITO OPERACIONAl DE MEIO- AMBIENTE -.- -
Alinhando os diversos matizes da tonalidade do conceito de meioambiente tem-se o seguinte conceito operacional41,que servirá de ali-cerce desta pesquisa:
44 MATEO. Ram6n Martins. Manl/al dI' duu'/ro ambit'nlal. Madri: Trlvium. 1995. 309p.,p. 48. 49 - 50.
45 REZEI<. José Francisco. Dirt'ilo inltrnacional plíbl,cn. São Paulo: Saraiva, t989. 3S6p.,p. 223 - 224.
46 nONA VIDES. Paulo. Cllrso dI! dirl!itn conslilucio/lal. 4. ed., São Paulo: Ma1heiros.1993, 640p.. p. 4RI. 05 direitos da terceira geração tendem a cristalitar-se neste fimde .\éculo, enquanto direitos que nlio se destinam especificamente à proteçAo dos interes-ses do indivlduo. de um grupo determinado ou de um determinado Estado, I~m porprimeiro destinatário o gl!nero humano mesmo , num momento expressivo de suaafirmaçAo como valor supremo, em termos de existencialidade concrela".
47 O conceitosClvede base rnetodológicaparaa análisejurldica das questões ambientais.~~!
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.A) Em sentidogcnérico:
1. o meio ambicnlc é um conceito inlerdepcndcnte que realça ailllcra\'ào homem-natureza;
2. o mcio ambiente envolve um caráter transdisciplinar; e3. o mcio ambientedeveserembasadoemuma visão antropôccntrica
IIlais alua}. quc admite a inclusão de outros elementose valores.
n) Em sentido jurídico:
1. a lei brasileira adotou um conceito amplo de meio ambiente,que cnvolve a vida em todas as suas formas. O meio ambiente envolveos elementos naturais, artificiais e culturais;
2. o meio ambiente, ecologicamente equilibrado, é um macrobcmunitllrio e integrado. Considerando-o macrobem. tem-se que é um bemincorpóreo e imaterial;
3. o meio ambiente é um bem de uso comum do povo. Trata-se deum bem jurídico autônomo de interesse público; e
4. o meio ambiente é um direito fundamental do homem, conside-rado de quarta geração. Trata-se, de fato. de um direito fundamental
illlcrgeracional, intercomunitário, incluindo a adoção de lima políticade solidariedadc.
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DO AMBIENTALlSMOA EMERGENCIADASNORMAS D[ PROTEÇÃOAM81ENTAlNO
BRASIL - ALGUMAS ILAÇÕES NECESSÁRIAS\
Carlos André Sousa Birnfeld*
Sumário
t. A emergênciado ambientalismo.2. A emergênciadasnormas de proteçãoambientalno Brasil. 2.1. O contextodas normasinternacionais.2.2. O contextodo direito inter.no. 3. Referênciasbibliográficas.
A relação entre a emergênciade um conjunto de disposiçõesnomlativas e os intensos processos sociais virtualmente conf1itivos queo antecedem constitui-se numa temálica escassamente explorada nouniverso doutrinário tradicional. Embora não seja possfvel reproduziraqui com a devida profundidade as inúmeras ilações existentes entre aspretensões do movimento ambientalista e seus diversos reflexosnormativos, os quais começam a configurar inclusive uma nova dimen-
são para a cidadanial. de conteúdo ecológico, há que se reconhecer queuma das possibilidades para o aumento da sensibilidade do operadorjurfdico para as questões ecológicas passa por uma maior compreensãoda dimensão e da importância dos valores que virtualmente estejammaterializados nas nOJ111asambientnis.
· Mestre em Direito pela Universidade Federal de Sanla Catarina e especialista em Adml-nistraçllo Universitária. Professor de Direito Administrativo e Ambiental da FURGIRSNeste sentido ver BfRNFELD.Carlos Andrt Sousa. À emergência de uma dimen.rãoecológica para a cidadania -alguns subsidias aos operadores jurídicos. Florianópolis.1997. 230 p. DissertaçAo (Mestrado em Direito) - Curso de Pós Graduação em Direilo.Universidade Federal de Santa Catarina.
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