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Rosângela Araújo Darwich Emmanuel Zagury Tourinho 2 3 Universidade da Amazônia Universidade Federal do Pará 1 2 3 Trabalho parcialmente financiado pela FIDESA e CNPq (Processo 305743/2004-0). E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Resumo Abstract Emoções e sentimentos devem ser abordados, segundo a análise do comportamento, com os conceitos e princípios validados na investigação empírica de fenômenos comportamentais. Uma dessas referências consiste do modo causal de seleção por conseqüências. No entanto, a compatibilidade de tal modo causal com a explicação de respondentes, nos quais a resposta é função de um estímulo a ela antecedente, requer esclarecimentos. O presente artigo examina algumas possíveis relações entre processos respondentes e operantes e a possibilidade de explicar respostas emocionais com a referência ao modelo selecionista. Aponta-se a ocorrência de condicionamento de respostas emocionais à presença do estímulo antecedente à emissão do operante a partir da eliciação de tais respostas pelo estímulo conseqüente. Mediante a compreensão das interações respondente-operante, o modo causal de seleção por conseqüência seria explicativo de componentes operantes e respondentes de respostas emocionais. Palavras-chave: emoções e sentimentos; resposta emocional; análise do comportamento; seleção por conseqüências. According to behavior analysis, feelings and emotions should be approached with the concepts and principles empirically validated in the study of behavioral phenomena. One of these references is the causal mode of selection by consequences. However, the compatibility of this causal mode with respondent behavioral phenomena, with regard to which it is said that the response is a function of an antecedent (eliciting) stimulus, requires clarification. The present paper examines some possible relations among respondent and operant responses in the case of emotions, and the possibility of explaining emotional phenomena based on the causal mode of selection by consequences. It is pointed that emotional responses may be conditioned to the presence of a stimulus which antecedes an operant response, after the emotional response has been elicited by the stimulus which is consequent to the emission of that operant response. With regard to such relations, the causal mode of selection by consequences would be explanatory of both operant and respondent components of emotions. Key words: emotions and feelings; emotional response; behavior analysis; selection by consequences. ISSN 1517-5545 2005, Vol. VII, nº 1, 107-118 Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 107 Respostas emocionais à luz do modo causal de seleção por conseqüências1 Emotional responses based on causal mode of selection by consequences

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  • Rosngela Arajo Darwich

    Emmanuel Zagury Tourinho

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    Universidade da Amaznia

    Universidade Federal do Par

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    Trabalho parcialmente financiado pela FIDESA e CNPq (Processo 305743/2004-0).E-mail: [email protected]: [email protected]

    Resumo

    Abstract

    Emoes e sentimentos devem ser abordados, segundo a anlise do comportamento, com osconceitos e princpios validados na investigao emprica de fenmenos comportamentais. Umadessas referncias consiste do modo causal de seleo por conseqncias. No entanto, acompatibilidade de tal modo causal com a explicao de respondentes, nos quais a resposta funo de um estmulo a ela antecedente, requer esclarecimentos. O presente artigo examinaalgumas possveis relaes entre processos respondentes e operantes e a possibilidade de explicarrespostas emocionais com a referncia ao modelo selecionista. Aponta-se a ocorrncia decondicionamento de respostas emocionais presena do estmulo antecedente emisso dooperante a partir da eliciao de tais respostas pelo estmulo conseqente. Mediante acompreenso das interaes respondente-operante, o modo causal de seleo por conseqnciaseria explicativo de componentes operantes e respondentes de respostas emocionais.

    Palavras-chave: emoes e sentimentos; resposta emocional; anlise do comportamento; seleopor conseqncias.

    According to behavior analysis, feelings and emotions should be approached with the conceptsand principles empirically validated in the study of behavioral phenomena. One of thesereferences is the causal mode of selection by consequences. However, the compatibility of thiscausal mode with respondent behavioral phenomena, with regard to which it is said that theresponse is a function of an antecedent (eliciting) stimulus, requires clarification. The presentpaper examines some possible relations among respondent and operant responses in the case ofemotions, and the possibility of explaining emotional phenomena based on the causal mode ofselection by consequences. It is pointed that emotional responses may be conditioned to thepresence of a stimulus which antecedes an operant response, after the emotional response has beenelicited by the stimulus which is consequent to the emission of that operant response. With regardto such relations, the causal mode of selection by consequences would be explanatory of bothoperant and respondent components of emotions.

    Key words: emotions and feelings; emotional response; behavior analysis; selection byconsequences.

    ISSN 1517-5545

    2005, Vol. VII, n 1, 107-118

    Revista Brasileira deTerapia Comportamentale Cognitiva

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    Respostas emocionais luz do modo causalde seleo por conseqncias1

    Emotional responses based on causal modeof selection by consequences

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  • Rosngela Arajo Darwich - Emmanuel Zagury Tourinho

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    A partir da proposta behaviorista elaboradapor J. B. Watson, que tomava o comporta-mento como objeto de estudo da psicologiacomo uma cincia natural, B. F. Skinner desen-volveu um programa de pesquisas que foi oponto de partida para a construo do modeloexplicativo da anlise do comportamento.Com base na investigao da variabilidade derelaes reflexas e, posteriormente, de rela-es operantes, Skinner (1945) apresentou obehaviorismo radical como uma propostafilosfica que instituiu o monismo como visode homem e recomendou a abordagem desentimentos e pensamentos por uma cinciado comportamento.Srio (2001), aps enumerar quatro aspectosbsicos como caractersticos do behaviorismoradical (trs dos quais diretamente relacionados questo dos eventos privados), acrescentou a eles o modo causal de seleo porconseqncias com a justificativa de que "neleencontramos a mais contundente resposta spropostas de buscar no interior do organismoas causas do comportamento" (p. 166). Deacordo com esse modo causal, estmulosconseqentes ocorrncia de uma respostaexplicam a mudana na probabilidade deocorrncia futura de respostas da mesmaclasse. No presente artigo, o foco no modocausal de seleo por conseqncias justificado justamente por seu papel central na caracterizao do programa de pesquisas skinneriano. Alm disso, d-se destaque anlisede respostas emocionais pelo fato de apresentarem, alm de componentes operantes, componentes respondentes, os quais, por definio, so relaes entre respostas e estmulos

    . A fim de esclarecer os processosde interao operanterespondente no contexto de anlise de respostas emocionais, este artigo examina: a) o modo causal de seleo porconseqncias; e b) respostas emocionais nocontexto de um modelo selecionista de anlise.

    Na tentativa de compreender o compor-tamento independentemente de mediadores

    fisiolgicos ou mentais, Skinner iniciou suasinvestigaes considerando trs temas comoimportantes para o estudo do reflexo e, por-tanto, do comportamento conforme o compre-endia inicialmente: o , o condicionamentoe a emoo. Na medida em que avanou na in-vestigao do condicionamento, Skinner reco-nheceu estar diante de dois tipos de relaescomportamentais substancialmente diferen-tes: o prprio reflexo e a relao que chamoude operante (Srio, 1990).Skinner apresentou o reflexo como sendo uma

    entre classes de estmulos e de res-postas e, deste modo, como relao do orga-nismo como um todo, no invadido, comvariveis ambientais. Na medida em que ocomportamento no mais compreendidomeramente como ao, um primeiro passo foidado para uma definio de homem que explicado por meio das relaes que esta-belece com eventos a ele externos. Tal pers-pectiva tornou-se mais clara com a descriodo operante e, com ele, de como a seleo peloambiente possibilitada a partir da ocorrnciade variaes comportamentais.Tendo sempre como referncia a problemticadas respostas emocionais, apresentam-se aseguir alguns aspectos da elaborao skin-neriana sobre o modo causal de seleo porconseqncias a partir de duas questes: a) aevoluo do mecanismo de seleo: do nvelfilogentico ao ontogentico e cultural; e b) arelao resposta-conseqncia: da questo dasensibilidade questo da conscincia.

    O modo causal de seleo por conseqnciasfoi sendo elaborado ao longo da obra de Skin-ner como explicao do comportamento ope-rante e, posteriormente, da evoluo das cul-turas, refletindo o modelo explicativo da evo-luo das espcies que caracteriza a teoriadarwinista de seleo natural.

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    1. O Modo Causal de Seleo por Conse-qncias

    1.1. Evoluo do mecanismo de seleo: donvel filogentico ao ontogentico e cultural.

    O comportamento humano o produto con-junto (i) das contingncias de sobrevivnciaresponsveis pela seleo natural da espcie e (ii)das contingncias de reforamento respon-sveispelos repertrios adquiridos por seusmembros,incluindo (iii) as contingncias

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    Respostas Emocionais e Selees por Conseqncias

    especiais mantidas por um ambiente social queevoluiu. (No final das contas, claro, tudo umaquesto de seleo natural, posto que condicio-namento ope-rante um processo que evoluiu,do qual prticas culturais so aplicaesespeciais) (Skinner, 1981/1984, p. 14).

    A reproduo sob as mais variadas condiestornou-se possvel com a evoluo de dois pro-cessos atravs dos quais organismos individuaisadquiriram comportamento apropriado a novosambientes. Atravs de condicionamento respon-dente (pavloviano), respostas elaboradas ante-riormente pela seleo natural puderam ficar sobcontrole de novos estmulos. Atravs de condi-cionamento operante, novas respostas puderamser fortalecidas ("reforadas") por eventos ime-diatamente posteriores a elas (Skinner,1981/1984, p. 12).

    Tanto no condicionamento operante, quanto naseleo evolutiva de caractersticas comportamentais, as conseqncias alteram a probabilidade futura. Reflexos e outros padres inatos decomportamento evoluem porque aumentam aschances de sobrevivncia da . Operantes sefortalecem porque so seguidos por conseqncias importantes na vida do (p. 90).

    diferentes culturas surgem de diferentes contin-gncias de variao e seleo e diferem pelaamplitude com a qual ajudam seus membros asolucionar seus problemas. Membros que ossolucionam tm mais probabilidade de sobre-viver, e com eles sobrevivem as prticas da cul-tura (p. 1207).

    Skinner (1981/1984) deu especial importnciaao argumento segundo o qual a seleo natu-ral apresenta uma falha na medida em que,atuando ao longo de milhes de anos, nonecessariamente garante que os indivduossejam aptos para a sobrevivncia em um am-biente diferente daquele no qual caracte-rsticas genticas foram selecionadas. Consi-derando-se um "meio que muda constante-mente, a bagagem gentica no acompanha oambiente e o organismo apresenta ento sus-cetibilidades que so pouco teis, pouco efi-cientes e at ameaadoras no mundo trans-formado" (Micheletto, 1995, p. 162). A sobre-vivncia de organismos em um ambienteconstantemente em mudana tornou-se pos-svel na ontognese, portanto, apenas namedida em que foram selecionados meca-nismos que possibilitam a aquisio de novasrespostas, para alm das garantidas geneti-camente.

    Assim sendo, o condicionamento operante tido como um segundo tipo de seleo porconseqncias cuja evoluo, de acordo comSkinner (1981/1984), ocorreu "paralelamentea dois outros produtos das mesmas contin-gncias de seleo natural a sensibilidade oususcetibilidade a reforamento por certos - deconseqncias e um suprimento de compor-tamentos menos especificamente ligados aestmulos eliciadores ou liberadores" (p. 12)

    como so, por exemplo, os conjuntos de com-portamento tidos como instintivos. Antes,Skinner (1953/1965) assim se pronunciou arespeito:

    No entanto, mesmo a aquisio de um reper-trio comportamental durante a ontognese,em contato com o ambiente presente a cadamomento, mostra-se insuficiente para expli-car a adaptao humana a um ambiente com-plexo e em permanente mudana. A seleocomportamental por contingncias sociaisgarante que, participando de grupos, cadaindivduo usufrua da aprendizagem deoutros, de forma que a aquisio de seu reper-trio comportamental no permanea limita-da s relaes estabelecidas diretamente como ambiente. Skinner (1990) argumentou que

    Com sua argumentao sobre o alcance dosprocessos seletivos do comportamento hu-mano, Skinner buscou ultrapassar a postu-lao de um "eu" consciente e determinadorde si mesmo para permitir uma anlise que,pretendendo dar conta inclusive das variveisque levam um indivduo a considerar qual suavontade ou preferncia em um dado mo-mento, ressalte a necessidade de investigaode relaes especficas com o ambiente exter-no. A necessidade de se conhecer mais acercado comportamento individual do que o pr-prio indivduo consegue verbalizar caracte-riza, pois, um movimento que valoriza a com-plexidade do ser humano.

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    1.2. A relao resposta-conseqncia: Daquesto da sensibilidade questo daconscincia.

    No mbito do modelo explicativo da anlisedo comportamento, a questo da sensibili-dade ou suscetibilidade ao reforamento importante para que se compreenda a noode que seres humanos so passveis de modi-ficao pelo contato com contingncias ope-rantes, no sentido de que a conseqn-cia emisso de uma resposta no pre-sente in-fluencia sua repetio (ou no) em situaosemelhante no futuro. A este respeito, Srio(1990) apontou que

    De acordo com a abordagem skinneriana, arelao com o ambiente modifica o organismoapenas na medida em que ele sensvel aeventos presentes, de forma que a sensi-bilidade ou suscetibilidade ao reforamento um pr-requisito para a aquisio de respos-tas operantes por um indivduo. Acerca docondicionamento de funes reforadoras ouaversivas dos estmulos durante a ontog-nese, Catania (1998) salienta que "existe umagrande variedade de reforadores. ... Algunsparecem ser eficazes na primeira experinciaque o organismo tem com eles. Outros ad-quirem suas propriedades reforadorasdurante a vida do organismo" (p. 78). Skinner(1953/1965) comentou essa questo afir-mando:

    Catania (1998) indicou tambm que "ne-nhuma propriedade fsica comum permite-nos identificar reforadores indepen-dentemente de seus efeitos sobre ocomportamento" (p. 78). E acrescentou: "refor-adores no podem ser definidos indepen-dentemente das respostas que reforam. ...como o reflexo, o reforamento uma relao.... Essa relao inclui respostas, suasconseqncias e as mudanas no comporta-mento que da se seguem" (pp. 79-81).Tal questo, referente efetividade de umestmulo reforador ser dependente da relao por ele estabelecida com a resposta que oantecede, relevante porque chama a atenopara o que acontece no plano das relaesorganismo-ambiente (abordagem externalista), em contraste com a perspectiva mentalista ( qual Skinner se ope) e sua nfase noque acontece indivduo (recorte internalista). Alm disso, a compreenso da noode operante envolve o suposto de que oscomportamentos tendem a ser selecionados emantidos independentemente de o indivduoque se comporta ter conhecimento verbal (ouconscincia) do que seja a causa da emisso desuas respostas. Skinner (1969/1980) indicouque "raramente um sujeito pode descreverexatamente o modo pelo qual realmente foireforado. Mesmo quando foi treinado aidentificar algumas poucas contingnciassimples, ele ento no ser capaz de descreveruma nova contingncia, particularmentequando ela for complexa" (p. 258).Em linhas gerais, tendo demarcado dois tiposdistintos de relaes comportamentais, respondentes e operantes, que podem interagirde modos complexos, Skinner (1945) apresentou o behaviorismo radical como abordagem que rejeita a dicotomia mente-corpo eressalta a unidade do ser humano nosmoldesde um monismo. A referncia di-menso fsica dos eventos pblicos eprivadosque participam de relaes comportamen-

    Ao caminhar com o conceito de reflexo at ocomportamento operante, [Skinner] parece ir,gradativamente, introduzindo a propriedade desensibilidade; pelo menos assim que se entendea possibilidade aberta pela concepo de est-mulo reforador, cujo efeito retroage sobre oorganismo ou a classe de respostas (p. 364).

    H, claro, diferenas extensas entre indiv duosquanto aos eventos que se provam refor adores.... Entre os membros de uma mesma espcie, menos provvel que as diferenas extensas sedevam dotao hereditria e, assim sendo,podem ser ligadas a circuns tncias na histriado indivduo. O fato de que os organismosevidentemente herdam a capa cidade de serreforados por certos tipos de eventos no nosajuda na previso do efeito reforador de umestmulo no experimen tado. Nem a relaoentre o evento reforador e a privao ouqualquer outra condio do organismo dota o

    evento reforador de qual quer propriedadefsica particular. especial mente poucoprovvel que eventos que seu poderde reforar passem a ser marcados de um modoespecial qualquer. Contudo estes eventos so umtipo importante de reforador (p. 75).

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    Respostas Emocionais e Selees por Conseqncias

    tais, em um contexto de anlise que ressaltaseu carter relacional, demarcou o objeto deestudo skin-neriano no mbito das cinciasnaturais (cf. Tourinho, 1987).Desta perspectiva de anlise, o estmulo con-seqente emisso do operante ocupa umpapel central na explicao das relaes indi-vduo-ambiente, sendo a ele atribudas asfunes de alterar a probabilidade futura daresposta em situaes semelhantes e de tornaro evento antecedente resposta diferenciado,pois adquire, nesta relao, a funo de est-mulo discriminativo e suas propriedades con-troladoras. Como se argumentar adiante,processos operantes tambm podem interagirde modos complexos com processos respon-dentes, de forma que um mesmo eventoadquira diferentes funes em relaes dosdois tipos, e isso tudo independentemente dequalquer conscincia.

    Em certos contextos tericos, possvel en-contrar-se uma diferenciao entre emoes esentimentos, correspondendo as primeiras aestados corporais referentes a acontecimentosfisiolgicos e os ltimos a processos verbais(cf. Damsio, 2000; Iversen, Kupfermann eKandel, 2000). Uma traduo analtico-com-portamental dessas posies poderia levar identificao de emoes com processosrespondentes e sentimentos com processosoperantes com componentes verbais. Toda-via, na literatura da anlise do comporta-mento, emoes e sentimentos so conceitosempregados na referncia tanto a processosrespondentes quanto a processos operantes e,freqentemente, na abordagem de fenmenosque revelam interaes entre respondentes eoperantes. No presente artigo, serempregado o termo "resposta emocional" emreferncia s relaes mencionadas indistin-tamente como emoes ou sentimentos pelaanlise do comportamento. A adoo de taltermo justificada na medida em que ele notende a destacar a participao de compo-nentes respondentes e/ou operantes e, assim,

    facilita a compreenso das possveis inter-relaes entre os dois tipos de processos.A anlise de eventos privados envolve, demaneira geral, relaes comportamentaisreferentes ao pensar e ao sentir. Em setratando especificamente de respostasemocionais, Skinner destacou, para suadefinio, a importncia de operantes, bemcomo relegou sua ocorrncia e alterao arelaes respondentes. Este ponto ser dis-cutido adiante, de forma a introduzir umaperspectiva de anlise de respostas emo-cionais que valoriza as inter-relaes entrecontingncias respondentes e operantes.

    Com base nos procedimentos iniciais de expe-rimentos de condicionamento operante deresposta de presso barra, Holland e Skinner(1961) descreveram como respostas emo-cionais podem ser eliciadas, nos moldes derelaes respondentes, "pela estranheza dacmara, pelo barulho do alimentador etc." (p.80). Alm disso, apontaram que "geralmenteno conveniente modelar comportamentosdesejveis com um reforador negativo[estmulo aversivo] porque ele muitosrespondentes que podem interferir (entrar emconflito, ser incompatveis) com o compor-tamento a ser modelado" (p. 219, itlico acres-centado).Neste sentido, respostas emocionais so expli-cadas como comportamento respondente,como tambm exemplificado por Holland eSkinner (1961): "quando um jornal identifica acor de uma pessoa que cometeu um crimeparticularmente odioso, a cor apontada podetornar-se estmulo condicionado que eliciaras respostas emocionais produzidas por ou-tras partes da reportagem do crime" (p. 31).Assim como Catania (1998), que definiu"comportamento emocional" ressaltando seuscomponentes respondentes e operantes,Holland e Skinner (1961), reunindo compo-nentes respondentes e contingncias operan-tes, utilizaram o conceito de "situao emo-

    2. Respostas emocionais no Contexto de umModelo Selecionista de Anlise

    2.1. Definio, ocorrncia e alterao de res-postas emocionais.

    elicia

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    cional" em referncia a arredores ouambientes muito pouco familiares de onde afuga seria reforadora, acrescentando que"desde que 'muito pouco familiar' implicaausncia de condicionamento anterior,tratamos os reflexos resultantes como reflexosincondicionados" (p. 214). Tambm Skinner(1953/1965) apontou a participao tanto decomponentes respondentes quanto deoperantes para a descrio completa daresposta emocional em um caso de fobia:

    Em suma, aps afirmar que "as condies quelevam um organismo a ser 'emotivo' nuncaforam estudadas exaustivamente ou mesmosatisfatoriamente classificadas" (p. 256),Skinner (1957/1992) apontou que tais con-dies so relacionadas com o reforo e comestados de privao e de estimulao aversiva.Assim sendo, Skinner props uma anlise dosentir no contexto de relaes compor-tamentais operantes. Em outros termos, ape-sar de distinguir a presena de componentesrespondentes e operantes de respostasemocionais, Skinner destacou a tambm aimportncia das conseqncias.Pode-se concluir, portanto, que respostasemocionais so apresentadas como fen-menos complexos que envolvem tanto a eli-ciao de condies corporais especficasquanto a emisso de operantes. Assim, adefinio ou nomeao de uma respostaemocional advm da discriminao verbaldas condies corporais presentes nomomento e da relao de contingncia entre apresena de tais estmulos (pblicos e priva-

    dos) e a emisso de operantes anteriormenteselecionados.Dentre as para que umaresposta emocional seja identificada, Hollande Skinner (1961) indicaram a importncia daspredisposies para a ao:

    A nfase nas predisposies para a emisso dedeterminados operantes, nos termos de variaes na probabilidade do responder, decorreda observao de que um conjunto de alteraes nas condies corporais muitas vezesfisiologicamente idnticas caracteriza diferentes respostas emocionais, o que torna ascondies corporais insuficientes para a discriminao verbal do que sentido. SegundoHolland e Skinner (1961), "um estmulodoloroso ou elicia muitasrespostas que fazem parte do comportamentorespondente observado nas emoes de medoou raiva" (p. 209). Casos de medo, raiva,ansiedade e mesmo sensaes resultantes deesforo fsico envolvem a chamada

    , a qual "descreve o efeito de umgrande nmero de respostas que so eliciadasao mesmo tempo por certos estmulos" (p.211). Considera-se, pois, que alteraes quecaracterizam respostas emocionais possuemtambm uma relao com a histria dereforamento que permite a um indivduoresponder verbalmente ou no verbalmentesob controle discriminativo de alteraes emsuas condies corporais.Percebe-se ainda que a definio de respostaemocional, envolvendo a noo de predis-posies, est relacionada com o conceito deoperaes estabelecedoras (cf. Michael, 1993) -"as condies de privao alteram a proba-bilidade de toda uma classe de respostas. Domesmo modo, as condies de emoo alte-ram a probabilidade de toda uma classe de

    a viso inesperada de um pssaro morto eliciarespostas reflexas considerveis palidez, suor ... Seesta fosse a dimenso da fobia, poderamos des-crev-la completamente como um conjunto dereflexos condicionados evocados pela viso de umpssaro morto, mas h outros efeitos importantes. Ocomportamento de fuga ser bastante poderoso.Parte dele - como voltar-se ou correr - pode serincondicionada ou ter sido condicionada muito cedona histria do organismo. Outra parte - chamaralgum para retirar o pssaro, por exemplo tem,obviamente, origem mais recente. O restante dorepertrio passa por uma mudana geral. Se nossosujeito estiver jantando, observamos que pra decomer ou come menos rapidamente. ... Ser menosprovvel que fale com uma freqncia natural, queria, que brinque e assim por diante (p. 167).

    sob diferentes condies emocionais, diferenteseventos servem como reforadores e diferentesgrupos de operantes tm sua probabilidade deemisso aumentada. Por essaspodemos definir uma emoo especfica. ... Aspredisposies caracterizam uma emooparticular. Um homem pode esmurrar a mesa, bater a porta ou comear uma briga. Ohomem enraivecido mais predisposto a emitircertos operantes do que outros (pp. 213-214).

    relaes que so tateadas

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    amedrontador

    sndrome deativao

    predisposies

    enraivecido -

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    Respostas Emocionais e Selees por Conseqncias

    respostas" (Holland & Skinner, 1961, p. 215).Segundo Dougher e Hackbert (2000), "eventosque eliciam fortes reaes emocionais, como amorte de um ente querido, estupro, abuso ouos eventos que fazem com que nos apaixo-nemos, so exemplos de operaes estabele-cedoras com efeitos a longo prazo" (p. 17).Apesar da valorizao de componentes ope-rantes para a definio do que sentido, quan-do Skinner (1953/1965) se voltou para o quechamou de "uso prtico da emoo", ele atri-buiu importncia fundamental aos compo-nentes respondentes, na medida em que ape-nas condies ambientais antecedentes foramapontadas como capazes de adquirir controlesobre sua ocorrncia.

    Em suma, o reconhecimento de que respostasemocionais implicam interaes respondentes e operantes culminou com uma valorizao de componentes operantes para a defi

    nio e de componentes respondentes para amanipulao do que sentido. Apresenta-se,a seguir, uma anlise voltada aos efeitoscolaterais de contingncias operantes e smltiplas funes de um estmulo como basepara uma argumentao que aponta para aimportncia dos componentes operantes derespostas emocionais tambm para suamanipulao. Tal perspectiva coerente comum modelo explicativo baseado no modocausal de seleo por conseqncias namedida em que possibilita indicar comoalteraes em contingncias operantestendem a envolver o organismo como umtodo e, neste sentido, que respostas emocionais podem da emisso de operantes abertos. Neste contexto, explicitam-se,ainda, relaes entre respostas emocionais epredisposies ao (no sentido das variaes na probabilidade do responder) apartir de uma histria anterior de contato comcontingncias operantes.

    No que tange a respostas emocionais, a expo-sio a contingncias diversas pode resultarem inter-relaes entre processos respon-dentes (referentes s alteraes nas condiescorporais a partir do contato com um estmuloeliciador) e operantes (referentes nomeaodo que sentido e predisposio para a ao,compreendidas por meio da noo de seleopor reforamento).

    Da mesma forma que a presena decondicionamento respondente pode interferirna emisso de um operante, a eliciao derespondentes emocionais pode ser funo de

    O comportamento emocional e as condies queo geram so mais facilmente examinados quandopostos em uso prtico. s vezes queremos eliciaros que comumente ocorrem na emoo.Reflexos, como vimos, no podem ser executadossegundo a demanda, como o "comportamentovoluntrio". O poeta que exclama: "Oh, choraipor Adonais!" no espera realmente que o leitorresponda dessa maneira, segundo o pedido. Noh relao interpessoal que permita a uma pessoaevocar comportamento emocional em outra deacordo com essa frmula. A nica possibilidade usar um estmulo eliciador, seja condicionado ouincondicionado (p. 169).O comportamento reflexo ampliado atravs docondicionamento respondente e aparentementeno pode ser condicionado de acordo com opadro operante. ... O comportamento de enru-bescer, como o de empalidecer ou de secretarlgrimas, saliva, suor etc., no pode ser colocadodiretamente sob o controle do reforo operante.Se se pudesse encontrar alguma tcnica que con-seguisse este resultado, seria possvel treinaruma criana a controlar suas emoes to facil-mente quanto ela controla as posies de suasmos (p. 114).Quando queremos eliminar respostas desse tipo[emocionais], adotamos procedimentos apro-priados ao reflexo condicionado. ...Com freqncia tambm desejvel alterar

    emocionais. Em uma "conversa paraencorajar", o tcnico de uma equipe pode tirarvantagem do fato de que os jogadores se empenham com mais agressividade contra seus oponentes se estiverem zangados (p. 169).

    um estmulo que preceda sistematicamente ousinalize um choque pode no apenas eliciarflexes de pata; ele pode tambm interferir nocomportamento que esteja sendo mantido porsuas conseqncias, como o pressionar a barramantido por reforo alimentar. Algumas vezesdescrevemos comportamentos comparveis emhumanos com base no medo ou na ansiedade;assim, procedimentos como esses sofreqentemente considerados como relevantespara a emoo (Catania, 1998, p. 213).

    reflexos

    pre-disposies

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    -resultar -

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    2.2. Inter-relaes entre processos respon-dentes e operantes de respostas emocionais:mltiplas funes de estmulo.

  • Rosngela Arajo Darwich - Emmanuel Zagury Tourinho

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, n 1, 107-118114

    estmulos ambientais conseqentes emissode um operante pelo prprio indivduo. Nestesentido, as alteraes nas condies corporaiseliciadas por estmulos que ocorrem em conseqncia emisso de um operante so tidascomo ou da contingncia operante.Catania (1998) indicou que os de comportamento emocional so mais bem definidospelas operaes que os produzem do quesimplesmente com base em classes de respostas. Nos exemplos dessas operaes oferecidos por Catania,

    Tambm no caso de contingncia de refor-amento positivo, por exemplo, exultao,prazer e alegria so comumente apontadoscomo efeitos emocionais colaterais, enquantoque a punio produziria raiva, culpa eansiedade (Holland & Skinner, 1961; Keller &Schoenfeld, 1950/1973; Skinner, 1989/1991).De acordo com Holland e Skinner (1961), "umnico estmulo aversivo usado na punio[com funo, portanto, de estmulo conse-qente] elicia respondentes, condiciona ou-tros estmulos [alguns dos quais com funodiscriminativa] a eliciar tais respondentes etorna possvel o condicionamento do compor-tamento de esquiva" (p. 283).Quando da presena de um estmulo refor-ador, o evento antecedente emisso da res-posta operante pode adquirir, portanto, almda funo de estmulo discriminativo, a fun-o de estmulo eliciador condicionado dasalteraes nas condies corporais que carac-terizam as respostas emocionais produzidaspor tal estmulo (e que, enquanto eventoconseqente, tambm apresenta funoeliciadora). Assim, quando um operante selecionado, os estmulos que passaro asinalizar possveis conseqncias aps umanova emisso da resposta podero estar rela-cionados no apenas aos aspectos do am-biente externo presentes quando do condi-

    cionamento, mas tambm s alteraes nascondies corporais condicionadas. Compre-ende-se, desta forma, que o mecanismo deseleo ontogentica tambm opera sobre res-postas encobertas.Apresenta-se, a seguir, um exemplo de inte-rao interpessoal por meio da qual so dis-cutidos aspectos como relao entre respostaoperante e eventos ambientais a ela ante-cedentes e conseqentes, seleo compor-tamental, efeitos colaterais de contingnciasoperantes, identificao verbal de respostasemocionais, condicionamento respondente decondies corporais, e aquisio de funo deestmulo discriminativo por eventos am-bientais externos e internos. Para tanto, lana-se mo da disposio de relaes compor-tamentais abaixo esquematizada (as setasindicam a direo seguida pela seqncia derelaes, com incio em EA; termos acima desetas referem-se a funes de estmulo, o quetambm ocorre no caso de SR, indicado pormeio do sinal de igualdade).

    -

    efeitos colaterais subprodutos -

    tipos -

    --

    o , a ou, com outro organismopresente, a , [so] produzidos por estmulosaversivos primrios ou condicionados; o ,produzido pelo trmino de estmulos aversivos;a ou , produzidas por reforadores primrios ou condicionados; e a ,produzida pelo trmino de reforadores (p. 388).

    medo ansiedaderaiva

    alvio

    alegria esperana -tristeza

    R2SE1

    SD2

    EA R1 EC = SR

    SE1

    SE2

    SD1

    Figura 1. Inter-relaes entre processos respondentes eoperantes.

    EA: evento antecedente resposta operanteR1: resposta operanteEC: evento conseqente resposta operanteSR: estmulo reforadorSE1: estmulo eliciador incondicionado ou condicionadoR2: respostas fisiolgicas, respondentes (efeito colateral dacontingncia ou resposta emocional)SD1: estmulo discriminativo presente no ambiente externoSE2: estmulo eliciador condicionadoSD2: estmulo discriminativo presente no ambiente interno

  • Diante de uma moa, em uma festa (EA), umrapaz pergunta se ela gostaria de danar (R1) eela aceita o convite (EC). Considerando que oevento conseqente (EC) apresenta a funode estmulo reforador (SR) para o rapaz, arelao R1-SR propicia a ocorrncia de seleocomportamental e a aquisio de funodiscriminativa por eventos semelhantes a EA(SD1). Na medida em que EC tambm apre-sente funo eliciadora (SE1), ele evoca res-postas fisiolgicas correspondentes a altera-es nas condies corporais do indivduo(R2). A mesma relao respondente (SE1-R2)pode, ento, ficar condicionada presena deEA (funo de SE2). Em situao futura seme-lhante a EA, as alteraes nas condiescorporais (R2), evocadas por SE2 (identi-ficadas verbalmente como motivao paraconvidar uma moa para danar, porexemplo), tambm adquirem funo discri-minativa (SD2) para a emisso de R1.Em linhas gerais, na presena de uma moa,em uma festa, o rapaz emite a resposta deconvid-la para danar, a qual seguida pelaapresentao de um estmulo reforador.Como efeito colateral do contato com refora-mento positivo, o rapaz apresenta determi-nadas alteraes respondentes. A partir deento, os eventos ambientais antecedentes classe de resposta referente ao convidar paradanar, tanto externos quanto internos (in-cluindo, portanto, as condies corporaiscondicionadas situao) apresentam funode estmulo discriminativo para a emisso daresposta operante. Deve-se tambm salientarque, como aponta Tourinho (1997), a funodiscriminativa de uma condio corporalcomo a referida no exemplo (correspondente aR2) depender de sua correlao com umevento pblico (EA) com funo discrimi-nativa (para R1).Em suma, tanto possvel que um S elicie asrespostas emocionais resultantes do contatocom um estmulo conseqente emisso deum operante, quanto que estmulos queadquiram funo discriminativa e eliciadorade respostas emocionais tambm adquiram

    funo reforadora. Em todo caso, a seleo dooperante deve-se sua relao direta e imediata com os estmulos antecedente e conseqente (noo de contingncia trplice). A presena de uma possvel histria de condicionamento de funes do estmulo antecedenteno significa que o operante passa a sereliciado, como nos moldes respondentes.

    Skinner (1953/1965) aponta que a nomeaode respostas emocionais dependente derelaes anteriores entre o sentir e a emissode respostas abertas, com base nas quais acomunidade verbal refora sua autodescrio(por exemplo, respostas abertas de agressopodem constituir a base para o ensino derespostas autodescritivas de "raiva"). Uma vezinstalada a resposta verbal, no entanto, umindivduo pode agir assertivamente emrelao a outro e, de alguma forma, estarsentindo raiva. A aparente incongruncia en-tre o sentir e o agir, neste caso, poderia estarfundamentada em uma histria na qualrespostas que envolvem o "persistir comtranqilidade" foram reforadas positiva-mente, da raiva sentida.De acordo com a noo de contingncia trpli-ce, a emisso de um operante gera uma altera-o ambiental que possui efeitos diretos sobrea probabilidade futura de nova emisso de taloperante no contexto em questo e sobre aaquisio de funo de S pelo estmuloantecedente, bem como efeitos indiretos, ditoscolaterais, sobre as condies corporais que,alteradas ou mantidas, distinguem o que sentido no momento presente. As questesrelativas aos efeitos colaterais de contingn-cias operantes e s mltiplas funes de umestmulo do suporte compreenso docondicionamento de respostas emocionais(eliciadas por um estmulo conseqente emisso de um operante) presena do est-mulo que antecedeu tal emisso quando docondicionamento. Neste sentido, deve-se con-

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    2.3. Respostas emocionais no contexto decontingncias operantes.

    apesar

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, n 1, 107-118 115

    Respostas Emocionais e Selees por Conseqncias

  • siderar a ocorrncia de respostas emocionaiscomo resultado da emisso de operantesabertos.Em outros termos, a emisso de operantes noapenas participa do quadro que caracterizauma resposta como emocional, como tambmrepresenta um possvel caminho para suaocorrncia e, alm disso, para sua alterao,pois, na medida em que um novo operante seguido por um estmulo conseqentediferente, esperado que respostas emocionais tambm diferentes acompanhem arelao de contingncia. Considera-se, porexemplo, a possibilidade da emisso de operantes de enfrentamento como forma desubstituir respostas de esquiva o que maisprovvel de ocorrer da presena, inicialmente, de sensao de ansiedade (eliciadapor determinados estmulos condicionados).Em suma, as duas ltimas argumentaesaqui levantadas pretendem embasar aafirmativa do prprio Skinner em refernciaao modo causal de seleo por conseqnciasser suficiente para dar conta da explicao docomportamento, tendo em vista que altera-es na emisso de operantes acarretamalteraes no organismo como um todo,inclusive nos aspectos respondentes derespostas emocionais.

    O ponto referente aplicao do modo causalde seleo por conseqncias na ontognesede forma restrita ao condicionamento ope-rante pode ainda ser considerado contro-verso. Skinner (1981/1984), apesar de ter indi-cado que "atravs de condicionamento res-pondente (pavloviano), respostas elaboradas[prepared] anteriormente pela seleo naturalpuderam ficar sob controle de novosestmulos" (p. 12), tambm ressaltou o con-dicionamento operante como sendo "umsegundo tipo de seleo por conseqncias"(p. 12), o qual, portanto, define o mecanismo

    de seleo ao nvel da ontognese.Segundo Micheletto (1995),

    Holland e Skinner (1961) afirmaram que "ocomportamento operante influenciado pelasconseqncias de respostas semelhantes, an-teriormente emitidas, enquanto no compor-tamento respondente um estmulo antecede aresposta" (p. 48). Considerando que respon-dentes tambm sejam objeto de anlise funcio-nal, parece ser necessrio indicar que, no casode tais comportamentos, o modelo explicativodeve ser aplicado a relaes de causa e efeito.Desta forma, a seleo por conseqncias seriaum modelo explicativo desenvolvido no m-bito da anlise do comportamento e por elaadotado, embora no unicamente.Por outro lado, a prpria lgica behavioristaradical contrria a argumentos que fragmentam o indivduo. Assim, seria contraditrio pensar um objeto de estudo apenas

    compreendido por meio do modeloexplicativo adotado. Deve-se considerar,inclusive, que, em seu livro ,Skinner (1976/1974) apresentou o seguinte argumento em relao ao papel do condicionamento respondente no contexto de suaproposta de anlise: "Assim como apontamoscontingncias de sobrevivncia para explicarum reflexo incondicionado, tambm podemosapontar 'contingncias de reforo' para explicar um reflexo condicionado" (p. 37). Nestesentido, faz-se necessrio esclarecer asinteraes entre os diferentes processos comportamentais que ocorrem no contexto deseleo comportamental, o que implicou, neste artigo, a discusso acerca de como a anlisedo comportamento trata de respostas emocionais.

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    -apesar -

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    par-cialmente

    About behaviorism--

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    2.4. Aplicao restrita do modo causal deseleo por conseqncias ao condicio-namento operante.

    A preocupao com o operante como centro dasinvestigaes do comportamento e sua conseqente nfase no operar sobre o ambiente levaSkinner [1938/1966] a sugerir que o respondente,aquele que definia o comportamento em 1931,tenha pequeno poder de explicao do comportamento e seja objeto dae no da cincia do comportamento (p. 75 itlicoacrescentado).

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    -como um todo fisiologia

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    Rosngela Arajo Darwich - Emmanuel Zagury Tourinho

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, n 1, 107-118116

  • Consideraes finais

    Respostas emocionais incluem relaes res-pondentes, como alteraes nas condiescorporais diretamente eliciadas por estmulosambientais, dependentes de relaesoperantes com as quais esto entrelaadas. Nocontexto de tais relaes, alteraes nas con-dies corporais podem adquirir funo deestmulo discriminativo, como quando sinali-zam a ocasio para uma nomeao apropriadado que est sendo sentido e quando sinalizamque se est diante de uma alta (ou baixa)probabilidade de emitir resposta que serreforada.Ressalta-se, mais uma vez, que estmulos dis-criminativos no causam operantes. Indepen-dentemente de quais conseqncias adiscriminao de alteraes em condiescorporais sinalize, a emisso de operantes de-

    pende das conseqncias passadas de respos-tas da mesma classe em situaes seme-lhantes. Afirmativas como " impossvel en-frentar situaes assustadoras", por exemplo,so invertidas, de uma perspectiva externa-lista, implicando que o enfrentamento noapenas possvel como muito provavelmentenecessrio para que a sensao sentida comomedo venha a ser enfraquecida.Em linhas gerais, estmulos conseqentes emisso de respostas abertas selecionam tantoestas quanto respostas encobertas, o queviabiliza a compreenso de alterao de res-postas emocionais a partir da manipulao decontingncias operantes. O entrelaamento derelaes operantes e respondentes que consti-tuem o sentir permite, portanto, a abordagemde tais fenmenos comportamentais comple-xos luz do modo causal de seleo por conse-qncias.

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    The Behavior Analyst 16Uma questo de conseqncias: a elaborao da proposta metodolgica de Skinner

    -Um caso na histria do mtodo cientfico

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    A.Sobre comportamento e cognio Vol. 1

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