da escola pÚblica paranaense 2009 - … · temos opiniões sobre tudo que nos acontece ou acontece...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
O OLHAR PLURAL DA CHARGE
Professora PDE 2009 – Carlinda Aparecida da Rosa
Orientadora – Profª Drª Regina Maria Gregório
Universidade Estadual de Londrina
Paraná
APRESENTAÇÃO
O nosso aluno do Ensino Médio, assim como todo indivíduo, traz consigo uma
história como leitor.
A realidade imposta nas escolas, muitas vezes não considera essa soma de
conhecimentos, hoje tão vinculada às imagens, e acaba por limitar as possibilidades
de uma leitura crítica. Percebemos, portanto, que mesmo fazendo parte da parcela
que vive num mundo letrado, após anos de escolaridade em ambientes que circulam
livros, revistas e outros meios persiste o problema da aquisição da leitura
libertadora, talvez pela presença ainda do caráter formal sobre os sócio-
comunicativos nas práticas de leitura e produção de textos em sala de aula.
Os instrumentos usados pelos meios de comunicação exigem de educadores e
educandos compreensão das especificidades dos diversos gêneros ali
apresentados para agir com autonomia e criticidade frente à condição de poder
pensar, interagir a partir do lido e ser capaz de dizer sua palavra cidadã.
Nosso objetivo principal é propor um trabalho com os gêneros do discurso no
processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa, incentivando a
interpretação da realidade apresentada no gênero charge, enquanto texto de
circulação social, sua função de produzir crítica através do riso e sua presença na
mídia jornalística como leitura imagética da contemporaneidade.
Sabemos que o manuseio do jornal na escola propicia uma atmosfera dinâmica e
multidisciplinar; permite a ação dialógica baseada nos conceitos interacionistas de
Bakhtin; desenvolve a habilidade seletiva e filtra as informações que circulam nessa
mídia.
Como metodologia vamos utilizar uma sequência didática, que consiste em um
conjunto de atividades organizadas com a intenção de orientar o estudo de um
gênero analisando o contexto de produção, o conteúdo temático, organização geral
(construção composicional) e as marcas linguísticas enunciativas como elementos
norteadores da análise das charges.
Sendo assim, este presente trabalho se justifica pela oportunidade do aluno lidar
com a língua materna de forma coloquial, crítica e ativa socialmente.
“É do buscar e não do achar que nasce o que eu não sabia.”
Clarice Lispector
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO INICIAL E DO GÊNERO TEXTUAL ................. 04
OFICINA 1: INTERPRETAÇÃO DE UMA CHARGE ................................................ 05
OFICINA 2: RECONHECIMENTO DO GÊNERO CHARGE .................................... 06
OFICINA 3: PRIMEIRA PRODUÇÃO DE CHARGE ................................................ 08
OFICINA 4: ASSIM SE FAZ A CHARGE ................................................................. 09
OFICINA 5: PRODUÇÃO FINAL .............................................................................. 21
OFICINA 6: REFACÇÃO DO TEXTO ....................................................................... 21
OFICINA 7: MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO DOS TRABALHOS ............................. 22
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 24
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O GÊNERO TEXTUAL CHARGE NUMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
O OLHAR PLURAL DA CHARGE
APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO INICIAL E DO GÊNERO TEXTUAL
RECURSOS: Caixa contendo modelos autênticos de vários gêneros textuais;
Papel Kraft; cola; tesouras; canetas coloridas;
OBJETIVO: apresentação e sensibilização sobre o projeto.
Apresentamos um trabalho diferente daqueles que costumamos fazer em sala de
aula. Propomos um olhar atento ao nosso jornal diário, em especial à charge. A
charge: seu olhar plural. Quer dizer que em uma única imagem há informações
múltiplas e nossa tarefa é “ler” esse texto e buscar as interpretações possíveis
contidas nas marcas do autor. Ao final produziremos nossas próprias charges e
organizaremos uma exposição de nosso trabalho para a comunidade escolar.
Somos seres políticos. Temos opiniões sobre tudo que nos acontece ou acontece
com o mundo em que vivemos, mas muitas vezes agimos automaticamente e
deixamos de exercer nosso poder político de opinar, argumentar.
Neste primeiro momento vamos refletir sobre a necessidade de ler criticamente e
nos posicionarmos de maneira cidadã perante os textos lidos.
Na escola estamos em contato com diferentes tipos de textos que se comunicam
conosco, que exercem uma função específica e nem sempre refletimos sobre isso.
O que esperamos encontrar numa bula de remédio? E em uma receita culinária?
Uma conta de luz? Em uma conversa sobre um casamento? E assim por diante
estamos sempre nos comunicando e utilizando diferentes textos, cada um com
suas características próprias, que não mudam, mas se enquadram na hora e lugar
da fala, na ocasião, no encontro entre os falantes. Cada texto pertence a um
gênero do discurso, que se adapta às diferentes situações na participação dos
que dele se utiliza. Podemos exemplificar com uma conversa no consultório
médico e outra no salão de beleza.
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Antecipadamente é possível visualizar o ambiente onde se dá a conversa médica:
o local, as pessoas envolvidas e os assuntos tratados. Assim, no salão de beleza
também. Os diálogos nos dois lugares são mais ou menos previsíveis.
Apresentaremos agora diversos exemplos de gêneros textuais:
Anúncios, cartazes, adesivos, receitas culinárias, receitas médicas, aviso, bilhete, cartão de
visita, contas de luz, de água, de telefone, histórias em quadrinhos, tirinhas, charges,
cartum, notícia jornalística, e-mail, etc.
Com o apoio de materiais autênticos representando os diferentes gêneros vamos
identificá-los, separando e observando as características comuns entre eles.
Vamos separar os textos que são argumentativos (que discutem um assunto controverso,
que se posicionam) e colocá-los num mural em sala de aula.
Entre os textos argumentativos encontramos a charge.
O próximo passo será organizarmos outro mural somente com charges encontradas nos
jornais, revistas, internet e outros meios. Pode ser charge que trata de qualquer assunto
de interesse geral.
Quem são os leitores das charges encontradas? Tentaremos separá-las por destinatários
possíveis.
OFICINA 1
INTERPRETAÇÃO DE UMA CHARGE
RECURSOS: charge disponível no pendrive; TV pendrive; papel sulfite.
OBJETIVO: entrar em contato com a charge e sua intertextualidade.
Vamos interpretar essa charge?
Charge: Jornal de Londrina, 14 de dezembro de 2009.
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OFICINA 2
RECONHECIMENTO DO GÊNERO CHARGE:
RECURSOS: laboratório de informática (internet); charges retiradas de meios diversos.
OBJETIVO: reconhecer e compreender a função social da charge.
O que é uma charge, afinal?
Faça, por escrito, uma interpretação da charge apresentada na TV pendrive.
Onde essa charge foi publicada?
Quem é o autor?
Qual é o assunto abordado?
Quem é o leitor atingido pelo assunto tratado?
Quais questionamentos são possíveis perceber nas críticas do autor?
Será que a imagem apresenta uma situação absurda? Qual?
Após anotar as respostas individualmente discuta com os colegas.
Quais as questões relevantes que podem ser levantadas a partir das leituras de cada um?
Anote.
Debate: em grupos discutam sobre o fato abordado pela charge, como a presença do
cigarro na vida social dos jovens, os malefícios do tabaco, as opiniões dos fumantes e dos
não fumantes.
Apresentem oralmente as conclusões e promovam um levantamento sobre as opiniões
conflitantes.
Vamos construir um terceiro mural com informações sobre a lei antifumo:
Vamos pesquisar notícias da época em que a lei foi sancionada, a repercussão entre os
jovens fumantes e não fumantes, buscar cartazes nos órgãos de saúde pública, fotos,
fazer entrevistas com os colegas do colégio, saber sobre a continuidade do cumprimento
da lei, tudo que possa estimular o debate e formar opiniões.
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O que significa a palavra CHARGE?
Quais as principais características que a difere de outros textos?
Onde a encontramos?
Quem são os leitores possíveis de uma charge?
Quem produz charge?
Esse tipo de texto exige uma habilidade além da escrita com as palavras,
pois é a manifestação visual da capacidade de construir textos que o ser
humano possui. Portanto o chargista é um artista.
Os leitores são aqueles que procuram na charge a interpretação criativa e
cômica da notícia. A interpretação do leitor dependerá dos conhecimentos
exigidos pela leitura, no próprio jornal ou outros meios. O leitor da charge
entende a representação da imagem buscando significados que dependerá das
notícias publicadas ou de acontecimentos de conhecimento do público.
Partindo do princípio de que texto é qualquer tipo de comunicação
realizado através de um sistema de signos, a charge está inserida nas
possibilidades textuais presentes no jornal assim como os textos verbais, as
fotografias, os quadrinhos.
A charge é um gênero humorístico que ataca a realidade com imagens e,
às vezes, com palavras. Constrói o sentido denunciando fatos da realidade
cotidiana divulgados na mídia, utilizando-se do humor. Provoca o riso crítico e a
interação autor/leitor.
O termo Charge vem do francês e significa carregar, exagerar. A realidade
se reapresenta por imagens e palavras. O primeiro objetivo é fazer uma crítica
humorística de um fato do dia.
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A charge é o texto visual, temporal (que passa com o tempo, transitório), que faz
crítica a uma situação, pessoa ou fato específico.
A caricatura é o desenho da figura humana de forma exagerada, com
características humorísticas e depreciativas. Está presente nas charges de modo
geral.
OFICINA 3
PRIMEIRA PRODUÇÃO DE CHARGE:
RECURSOS: papel sulfite; lápis de cor; papel Kraft; cola; laboratório de informática
(internet).
OBJETIVO: diagnosticar as capacidades dominantes sobre o gênero charge.
Agora é a sua vez: produzir uma charge sobre a lei antifumo.
A proposta é que cada aluno da sala produza uma charge para mostrar aos colegas de
classe o que sabem sobre esse gênero.
Expor, em sala, os trabalhos produzidos para um debate sobre a lei, como foi recebida
pelos fumantes e por aqueles que sofrem por conviver com os mesmos.
Após a produção, exposição e discussão respondam:
É fácil produzir uma charge?
Quais as dificuldades encontradas?
Será que todo desenho humorístico é charge?
Qual a diferença entre charge, caricatura e cartum?
Todos os dias quando abrimos o JL na sala de aula nos deparamos com uma das charges
do Sassá, não é mesmo? Os leitores gostam de olhar para elas, buscar o sentido que
trazem, relacioná-las com outros textos.
Vamos juntar diversas charges, de diferentes jornais, revistas, sites da internet e tentar
interpretá-las usando nosso conhecimento de mundo?
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OFICINA 4
ASSIM SE FAZ A CHARGE
RECURSOS: internet, charge disponível na TV pendrive.
OBJETIVOS: apresentar o contexto de produção, o conteúdo temático, a organização geral
e as marcas linguísticas enunciativas do gênero charge.
Perceber as diversas possibilidades de interpretação em uma imagem chárgica.
Reconhecer a necessidade de conhecimento artístico, cultural, social, histórico, político e
econômico para interpretar e produzir charge.
A charge faz parte de um grupo de textos cuja função é argumentar, discutir assuntos
polêmicos, posicionar-se diante deles transmitindo informações, opiniões e críticas.
A partir da charge abaixo vamos propor uma possibilidade de análise em que todos os
envolvidos são levados em conta.
Charge. Jornal de Londrina, 30 de setembro de 2009.
No cartum é realizada a crítica social atemporal (que independe do tempo),
focaliza uma realidade genérica. Utiliza-se da caricatura para criticar o
comportamento humano em suas fraquezas.
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É possível saber onde a charge foi publicada?
Quem é o autor que produziu essa charge?
É comum a presença de suas charges nos jornais?
Esse jornal possui alguma característica que o difere dos outros jornais?
Qual é o assunto abordado no texto chargístico?
Para que tipo de leitor a charge se dirige?
Qual é o assunto abordado?
Tem alguma relação com notícias publicadas na época de sua divulgação?
Quais são essas notícias? Pesquise.
Qual é a intenção do autor ao publicar essa charge?
Produtor: o produtor da charge é um desenhista, artista, com o sentido voltado
para a realidade contemporânea retratada em seu trabalho, que está a par dos
atos e conhecimentos relativos ao cotidiano.
Destinatário: leitor habitual de jornais, revistas e outros suportes de notícias, pois
a charge se constrói com informações publicadas, exigindo um leitor fiel, que
relaciona a charge com textos do repertório jornalístico e realiza construção de
sentidos para uma leitura enunciativa. O leitor deve ser capaz de construir o
texto da enunciação estabelecendo um “contato comunicacional” com a charge,
para que a mesma não se limite apenas ao papel de mera ilustração.
Objetivos: construir a crítica, estimular outras leituras nos jornais, reconstruir o
contexto por meio da intertextualidade, utilizando o humor, o riso, a zombaria, a
ironia e principalmente divertir ao explorar fatos do cotidiano.
Esfera: Ao considerar a charge pertencente ao gênero da ordem do argumentar,
vamos encontrá-la na esfera midiática, circulando entre outras formas de
comunicação jornalística.
Local e época de circulação: em jornais, na internet, revistas de informação e
outros meios de comunicação geralmente ligados ao noticiário.
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Blog: http://sassacartoon.blogspot.com
Banda: http://www.myspace.com/bandatrilobit
http://www.craniostore.com/
Mashups: http://soundcloud.com/brutalredneck
Fanzine: http://muambazine.blogspot.com
Youtube: http://www.youtube.com/view_play_list?p=AA5AB383C6D571F1
Twitter: http://twitter.com/sassatattoo Flickr: http://www.flickr.com/photos/sassatattoo
Contexto de produção:
Produtor: O autor dessa charge é Gustavo Sandoval
Dantas, conhecido como Sassá. Desde cedo
interessado por histórias em quadrinhos desenhava
todos os dias, copiava personagens do Maurício de
Souza e Disney em seus cadernos, fazia caricaturas
dos amigos e professores.
Iniciou o curso de Arquitetura, mas não se identificou com o desenho técnico.
Formado em Artes Plásticas em 1998 pela Faculdade de Belas Artes de São
Paulo, voltou a Londrina e trabalha no Jornal de Londrina onde diariamente
publica uma charge. Também desenvolve atividades paralelas como grafite,
tatuagem, ilustração editorial, estampas de camisetas, caricaturas, participa da
banda Trilöbit e do projeto de colagem sonora Brutal Redneck. Sassá tem
retratado, por meio de charges, com muita criatividade e humor, os
acontecimentos mais relevantes da cidade de Londrina e de interesse geral para
a população.
Visite alguns dos endereços virtuais do Sassá e conheça um pouco mais desse
chargista que vive em nosso meio, compartilha conosco dos acontecimentos de
nossa cidade e tem um olhar crítico e amoroso pela nossa terra.
www.
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O termo tabloide designa um formato de jornal surgido em meados do
século XX, no qual cada página mede aproximadamente 33 x 28 cm, as notícias
são tratadas num formato mais curto e o número de ilustrações costuma ser
maior do que o dos diários de formato tradicional.
Sassá também escreveu um livro de charges, com tiragem de 2.000 cópias.
Metade desses livros foi doada para escolas e bibliotecas.
sassacartoon.blogspot.com
No site: http://www.bigorna.net/index.php?secao=entrevistas&id=1193373876
pode ser lida uma entrevista dada por Sassá a outro cartunista de nossa cidade
que é o Eloyr Pacheco.
Destinatário: Leitor do Jornal de Londrina, que diariamente acompanha as
notícias publicadas, acostumado com a presença parafrástica da charge.
Esfera: As charges do Sassá são publicadas no JL, como é conhecido o Jornal
de Londrina. Esse jornal tem formato de tabloide e foi fundado em 31 de julho de
1989, publicado de domingo a sexta-feira, distribuído gratuitamente nas escolas,
residências e estabelecimentos comerciais, desde maio de 2006 na cidade de
Londrina e região metropolitana, com tiragem diária de 30 mil exemplares.
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Como uma charge é construída?
Qual o fato sério que é tratado aqui com irreverência?
Quais as múltiplas informações contidas na imagem?
Quais outros textos devem ser de conhecimento do leitor para que a interpretação
da charge seja satisfatória?
Qual o significado do dito popular contido na charge?
Qual a relação do dito popular com a notícia em questão?
Construção composicional:
Charge é um texto opinativo, uma ilustração crítica da realidade.
Argumenta, valendo-se da ironia, humor e irreverência ao tratar o fato. Utiliza-se
da caricatura para se referir a personalidades do mundo artístico, político, além
de outros mais ao tratar de assuntos noticiados. Oferece uma visão diferente e
divertida de fatos sérios. Transmite um grande número de informações em uma
única imagem. Por ser um texto imagético agrada o leitor pela rapidez da leitura.
Gênero opinativo diferente dos demais por fazer uso da crítica humorística como
uma constância. A leitura de outros textos, o conhecimento prévio, é necessária
para a construção do seu sentido.
Local e época de circulação: A charge acima foi publicada no Jornal de Londrina
no dia 30 de setembro de 2009.
Objetivo: Chamar a atenção para a questão da lei Estadual de nº 16.239 de 29
de setembro de 2009 que proíbe o fumo em locais fechados de uso coletivo em
todo o Estado do Paraná. Aprovada pelos deputados do Estado prevê multas
aos estabelecimentos que não cumprirem as determinações da lei.
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A notícia que deu origem à charge foi de relevância na época de sua publicação?
Qual a relação do dito popular com a notícia em questão? Há duplo sentido?
As imagens apresentam argumentos como forma de posicionamento crítico?
É possível perceber a ironia presente na imagem como forma de crítica ao fato
anunciado?
Conteúdo temático:
A lei instituída proíbe o fumo em locais fechados de uso coletivo em todo
o Estado do Paraná. Além de apresentar o fato de que, de agora em diante, o
fumante não poderá fumar seu cigarro nos bares, boates e restaurantes, também
os estabelecimentos serão punidos com multas caso desobedeçam.
Conteúdo temático:
Releitura de fatos importantes, temporais, sempre relacionados a outros
textos de divulgação na mídia, mas de interesse do leitor. Apresenta a opinião, o
posicionamento crítico de um determinado acontecimento de relevância social.
Faz-se uso da distorção como estratégia discursiva, do exagero das formas e
dos acontecimentos; usa o ridículo, a quebra da lógica na construção do
discurso, a paródia, o duplo sentido, a síntese, a estilização.
Construção composicional:
O texto chárgico acima apresenta um homem jovem, com cigarro na boca,
os braços presos por uma grande cobra que enrolada em seu corpo prende-lhe
os braços impossibilitando-o de pegar o cigarro da boca, e ainda vidrado com o
olhar hipnotizador da cobra que o prende e o enfrenta com uma multa em suas
presas.
Presença de argumento fortemente assumido em forma de texto verbal.
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Marcas linguísticas e enunciativas:
Texto visual, informativo, humorístico, pretensioso, temporal. O código
verbal muitas vezes está presente para auxiliar a compreensão, representado
por frases, ruídos, sinais.
As legendas são utilizadas para esclarecer e auxiliar no entendimento do
assunto tratado, dar informações adicionais ou marcar o tempo cronológico das
ações.
Os balões são o espaço que contém as falas das personagens. Seus
contornos podem sugerir diálogo (contorno com linha contínua e uma seta
indicando quem está falando), pensamento (contorno com linha contínua, mas
com pequenas bolhas indicadoras do falante), pode expressar amor (contorno
em forma de coração), voz estridente ou grito (contorno em forma de dentes de
serra) e muito mais.
Onomatopeias podem aparecer dentro dos balões ou não, muitas vezes
imitando com as letras, os sons que deseja produzir. Elas tem a função de
sonorizar a charge.
As metáforas visuais são os desenhos que substituem palavras como, por
exemplo: uma lâmpada acesa sobre a cabeça da personagem indicando que ela
teve uma ideia, ou uma fumaça indicando irritação. Também são metáforas os
sinais de pontuação quando querem expressar espanto (ponto de exclamação),
dúvida ou surpresa (ponto de interrogação).
SPLASH ♪DING ♫DONG VRUUMMM!!
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Como pode ser interpretada a imagem da cobra enrolada no corpo do fumante?
Como é possível perceber a marca de temporalidade presente na charge que ora
analisamos?
Essa marca está apresentada claramente (explícita)? Ou apenas subentendida
(implícita) no texto imagético?
Signos cinéticos são os traços paralelos ou curvos que sugerem
deslocamento da figura indicando movimento e direção.
Um mundo “às avessas”, fora da ordem natural é o mundo das charges.
Com a intenção de provocar o riso crítico, o teor de paródia, o verso e o reverso
da notícia. “É viver uma vida desviada de sua ordem natural” enunciando
reflexão e posicionamento.
O termo explícito vem do latim explicitus, e é uma forma de explicar
através de modelos claros e documentados uma ideia ou conhecimento. Por
outro lado, implícito ou implicitus, é a capacidade de, sem especificar ou
declarar, transmitir uma ideia, comportamento ou vontade de forma
subentendida.
(http://guerreirojrpm.wordpress.com/2007/10/01/conhecimento-explicito-e-
conhecimento-implicito/)
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O que é um dito popular?
Como o dito popular está inserido na fala da vida cotidiana?
Os ditados ou ditos populares são expressões que através dos anos se
mantêm imutáveis, aplicando exemplos morais, filosóficos e religiosos. Esses
ditos populares tomam por base a história humana, a sabedoria acumulada no
curso do tempo e aplicada segundo os costumes da sociedade.
(http://www.ufac.br/informativos/ufac_imprensa/2004/11nov_2004/artigo1708.html)
A jibóia é a mais conhecida das
serpentes da família Boidae, que inclui
as maiores cobras do mundo. A jibóia,
com cerca de 4 m. de comprimento, é a
sétima maior, atrás da sucuri, das pítons
e da Cobra-rei indiana (esta a única
venenosa das sete).
As cobras desta família usam seu grande corpo e enorme força para
matar suas presas; em geral aves, mamíferos de médio e pequeno porte e
outros répteis; através de um processo chamado de constrição. A constrição é
o chamado “abraço de cobra”, e deu o nome científico a esta espécie (Boa
constrictor). Quando pega uma presa, a jibóia se enrola nela e aperta
firmemente, até que sente, com o corpo, que a respiração e os batimentos
cardíacos da presa cessaram. Então, abre a boca e engole a presa inteira,
pois as cobras não possuem dentes para mastigar seu alimento. É muito
rápida, e consegue pegar até mesmo morcegos em pleno vôo na entrada das
cavernas onde eles moram! http://www.zoologico.sp.gov.br/repteis/jiboia.htm
http
://trave
l.mo
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lize
/600/b
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e_
66
22.J
PG
18
Quem é o homem que aparece na charge?
É possível dizer que ele é o centro da imagem e do assunto?
Quais são suas características próprias?
Pertence a um grupo social em especial?
Quais as marcas que demonstram o personagem como um representante do grupo
atingido pela lei antifumo?
Quais as metáforas visuais o autor utiliza para mostrar a aflição do personagem?
O que é uma multa? Quem aplica multas? Qual a função do poder fiscalizador das
leis?
O que é um símbolo?
A legenda presente na charge nos remete ao dito
popular “A cobra vai fumar...”
Como surgiu o dito?
O dito apresentado em nosso texto de análise está de
acordo com o assunto discutido?
A palavra “fumar” apresenta um único sentido, ou apresenta um sentido próprio
(denotativo) e outro figurado (conotativo) no intuito de brincar com a palavra e seus
significados?
O sentido denotativo é objetivo, explícito, constante, real da palavra. Já o
sentido conotativo é o emprego de uma palavra tomada em um sentido
incomum, figurado, circunstancial, que depende sempre de contexto.
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Apresentamos alguns símbolos universais.
E o símbolo “$$$” que está representado na multa da charge, também é universal?
Qual o seu significado?
A presença repetida do símbolo “S” tem importância na charge? Qual a razão?
E o símbolo abaixo? É também possível fazer uma leitura universal?
O assunto da charge foi amplamente abordado na época de sua publicação?
Quais os meios de comunicação abordaram o assunto da charge e qual foi sua
repercussão?
Ainda hoje é possível compreender, emitir uma opinião e defender um ponto de
vista sobre o assunto?
Marcas lingüísticas e enunciativas:
É possível perceber as vozes discursivas harmônicas presentes: a lei
antifumo, obrigatória, de 29 de setembro de 2009, presente na temporalidade
uma vez que a charge é do dia 30 de setembro de 2009, apresentada apenas no
implícito da charge; a falta de saída do fumante, que não tem permissão de
fumar, aprisionado pelas voltas da cobra em seu corpo; o dito popular contido na
charge que apresenta a palavra “fumar” compreendida tanto no sentido
denotativo como conotativo. A imagem do homem apresenta-se ao leitor num
enquadramento próximo, tentando programar uma recepção direta, numa função
fática. Ele é jovem, veste uma camiseta, aparentemente um representante da
classe média, comum, identificando-se com o leitor do jornal onde circula a
charge.
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Com o cigarro na boca ele representa o grupo atingido pela lei. Preso ao vício e
ao mesmo tempo acuado pelas medidas proibitivas. Gotinhas de suor que
parecem sair do rosto do jovem são metáforas visuais indicando sua aflição por
se encontrar em uma situação embaraçosa. Com os olhos esbugalhados,
assustado com a cobra que o prende e o aterroriza, as sobrancelhas altas, o
autor carrega de significação a mensagem pictórica.
A cobra se apresenta ocupando um tamanho no espaço e no
enquadramento da charge correspondente ao do humano. Homem e cobra
estabelecem uma relação conversacional onde o animal simboliza o poder
fiscalizador da lei. Sua expressão é de enfrentamento, com olhar hipnotizador
exige atenção para a multa que destaca os cifrões (símbolo universal do
dinheiro) num aspecto metonímico do recurso: os três cifrões como sendo um
valor alto a ser aplicado ao infrator.
Utilizando-se do código verbal a charge apresenta uma legenda que
remete ao intertexto fora do jornal com o slogan: “A cobra vai fumar...”. Este
termo começou a ser usado durante a Segunda Guerra Mundial: ninguém
acreditava que o Brasil tomasse parte da guerra, pois Getúlio Vargas mantinha
uma política dupla, mantendo-se simpático aos Estados Unidos e ao mesmo
tempo discursava a favor dos países fascistas da Europa. Seu comportamento
oscilava de acordo com os benefícios que conseguia dos dois lados. Dizia-se
então que “era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”,
assumindo um posicionamento. Mas, depois de cinco anos de Segunda Guerra
Mundial, o país declarou guerra aos fascistas em 31 de agosto de 1942 e enviou
suas tropas à Itália. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) adotou o desenho
de uma cobra fumando como símbolo para calar os que ironizavam a nossa
presença no conflito (INVESTIGALOG, 2010). Hoje em dia entendemos como “a
situação vai piorar” ou “algo difícil vai acontecer”. A presença das reticências no
final do enunciado pode ser entendida como uma antítese com o propósito
expressivo de atenuar o impacto da notícia ou uma inflexão de natureza
sarcástica.
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OFICINA 6
REFACÇÃO DO TEXTO
RECURSO: Papel sulfite, lápis de cor, canetas coloridas e outros materiais.
OBJETIVO: avaliar sua própria produção final e refazer o texto.
Depois de todas as oficinas é possível perceber o quanto aprendeu
analisando a interpretação da primeira charge e as duas produções de sua
autoria. Portanto, após um processo de aprendizagem é possível realizar uma
auto-avaliação:
OFICINA 5
PRODUÇÃO FINAL
RECURSO: Papel sulfite, lápis de cor, canetas coloridas, revistas, jornais, Internet,
livros, livro didático, textos, entre outros.
OBJETIVO: produzir uma charge colocando em prática as noções aprendidas nas
oficinas anteriores.
Produzir individualmente uma charge sobre a temática antifumo.
A produção da charge deve conter as características aprendidas durante as
oficinas, os objetivos que deseja atingir e direcionada ao provável destinatário (no
caso os alunos do colégio e a comunidade escolar).
Reorganizar os murais construídos durante as oficinas como fonte de
informações.
A professora será a leitora no processo de produção, revisão e refacção da
charge.
O assunto da charge analisada foi abordado em vários meios de comunicação
como televisão, ampla divulgação pelas Secretarias de Saúde, campanhas nos
locais de grande circulação, escolas, nos artigos de opinião e editoriais de
jornais, estabelecendo amplas relações intertextuais
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OFICINA 7
MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO DOS TRABALHOS
RECURSO: Papel sulfite, lápis de cor, canetas coloridas, painéis e outros.
OBJETIVO: finalizar a sequência didática com a exposição dos trabalhos e a
verificação de ter provocado mudanças nos sujeitos que dela se apropriaram.
Prepare sua produção final para a exposição no colégio.
Identifique o texto com os seus dados de autoria.
Divulgue o evento da exposição com convites à comunidade escolar.
Revise seu trabalho comparando as informações de sua última charge e do
cartaz. Faça as modificações necessárias.
Vamos expor um cartaz com os critérios que devemos observar no momento de
avaliação do trabalho realizado:
1. A minha charge é um texto opinativo, crítico?
2. Utiliza-se de humor, ironia, irreverência ao apresentar o fato?
3. Transmite um grande número de informações em uma única imagem?
4. É a releitura de um fato de importância para a comunidade?
5. Apresenta os recursos visuais capazes de dar vida, movimento, fala e
sentimento aos personagens?
6. Utiliza-se de legendas ou balões para auxiliar no entendimento do assunto
tratado?
7. Relaciona o assunto com outros textos e fatos?
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Assim, completamos o nosso trabalho como
planejamos: aprendemos sobre a charge, interpretamos
e produzimos textos do gênero e nossa produção vai
chegar até nosso leitor através da exposição. Fecha-se
o circuito da interação autor-texto-leitor.
24
Referências
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
______. Língua, gêneros textuais e ensino: considerações teóricas e implicações pedagógicas. Florianópolis, v.20, n.1, p.65-76, jan./jun. 2002.
BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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