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Conteúdo Programático: Coesão e Coerência Texto Dissertativo Articulação de Idéias Construção de Parágrafos Dicas Importantes Temas e Orientações I Temas e Orientações II Coesão e Coerência Antes de tudo é preciso saber o que é coesão e coerência, pois elas são as principais chaves de qualquer texto. Coesão - é a ligação existente entre as ideias, feita através de conectivos apropriados, como conjunções, pronomes e artigos. O uso indevido de elementos de ligação e mesmo a má escolha vocabular podem comprometer os processos coesivos do texto. Coerência - é a relação lógica entre as várias ideias que compõem um texto. O problema básico envolvido na produção da coerência é o do acerto das partes com relação ao todo textual, do ajuste sequencial das ideias, da progressão dos argumentos, das afirmativas que são explicadas. Texto Dissertativo .......Dissertar consiste em argumentar em torno de uma ideia, baseando-se em um ponto de vista para fazer defesas ou acusações. Através de fundamentação, um texto dissertativo é construído. Nesse tipo de texto você estará expondo suas ideias sobre um determinado tema. Antes de começar a escrever, é preciso ter em mente qual é o seu principal objetivo e o que você quer provar ao leitor. .....A maioria dos vestibulares cobram a dissertação. Trazem uma orientação e a partir dela você cria seu texto. Não fuja do tema proposto e organize seu texto em um rascunho. Fique sempre atento ao que está escrevendo! Coloque-se sempre no lugar do leitor e nunca deixe ideias vagas em seu texto. Articulação de Ideias Desenvolvendo parágrafos. Uma sugestão: Cada parágrafo, ao ser desenvolvido, deve ser organizado em torno de certas frases-básicas, que têm as suas funções originais:

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Page 1: Curso de redação

Conteúdo Programático:

Coesão e Coerência Texto Dissertativo

Articulação de Idéias Construção de Parágrafos Dicas Importantes Temas e Orientações I Temas e Orientações II

Coesão e Coerência

Antes de tudo é preciso saber o que é coesão e coerência, pois elas são as principais chaves de qualquer texto.

Coesão - é a ligação existente entre as ideias, feita através de conectivos apropriados, como conjunções, pronomes e artigos. O uso indevido de elementos de ligação e mesmo a má escolha vocabular podem comprometer os processos coesivos do texto. 

Coerência - é a relação lógica entre as várias ideias que compõem um texto. O problema básico envolvido na produção da coerência é o do acerto das partes com relação ao todo textual, do ajuste sequencial das ideias, da progressão dos argumentos, das afirmativas que são explicadas.

Texto Dissertativo

.......Dissertar consiste em argumentar em torno de uma ideia, baseando-se em um ponto de vista para fazer defesas ou acusações. Através de fundamentação, um texto dissertativo é construído. Nesse tipo de texto você estará expondo suas ideias sobre um determinado tema. Antes de começar a escrever, é preciso ter em mente qual é o seu principal objetivo e o que você quer provar ao leitor.

.....A maioria dos vestibulares cobram a dissertação. Trazem uma orientação e a partir dela você cria seu texto. Não fuja do tema proposto e organize seu texto em um rascunho. Fique sempre atento ao que está escrevendo! Coloque-se sempre no lugar do leitor e nunca deixe ideias vagas em seu texto.

Articulação de Ideias

Desenvolvendo parágrafos. Uma sugestão:

Cada parágrafo, ao ser desenvolvido, deve ser organizado em torno de certas frases-básicas, que têm as suas funções originais:

Tópico Frasal: é a frase inicial, desenvolvida a partir da temática da orientação. Para se achar a temática de uma orientação, basta resumir o conteúdo principal do tema apresentado.

Frase de desenvolvimento: é desenvolvida a partir das respostas à pergunta "por quê?", feita ao tópico frasal. Geralmente, um parágrafo se desenvolve com duas ou três dessas frases.

Frase de Conclusão: fecha a ideia do parágrafo. Iniciado por expressões do tipo "é preciso", "é necessário"; fazendo assim uma relação de análise e solução.

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Exemplo: "Viver na cidade tornou-se um grande desafio. A todo momento, as pessoas são vítimas das mais variadas formas de violência. É preciso que o governo se posicione urgentemente e crie medidas que mudem essa situação."

Construção de Parágrafos

Ao desenvolver uma dissertação, é preciso preocupar-se com a função dos parágrafos, além, é claro, da preocupação estética

A produção não deve ultrapassar cinco parágrafos, cada um com a função abaixo: Observação: o texto abaixo é para exemplificação da técnica, por isso sua fundamentação é superficial. Ao escrever, explore de forma mais abrangente seus argumentos.

1º. parágrafo - localização de tempo e espaço, reação social e índice de variação do assunto.

Exemplo: O Brasil é um país em que nos últimos anos apresenta um aumento assustador do índice de violência policial, gerando grandes revoltas por parte da população.

2º. parágrafo - Abrange o "falar a respeito", que pode ser iniciado a partir das ideias obtidas com a pergunta "por quê?", feita ao tópico frasal.

Exemplo: Os policiais atualmente são vítimas do desinteresse político que julga a preparação integral desses profissionais como uma atividade secundária.

3º. parágrafo - exemplificação. Localização de tempo e espaço, reação social e/ou nacional e o fato.

Exemplo: Há cerca de dois anos, a sociedade paulista e também nacional se chocou com o comportamento de policiais militares que usaram do poder que lhes é peculiar, para torturar pessoas inocentes com o objetivo de tirar-lhes dinheiro.

 

4º. parágrafo - conclusão. Evidencia seu ponto de vista direta ou indiretamente. Use expressões como "é preciso", "é importante", "é necessário" para iniciar seu parágrafo conclusivo.

Exemplo: É preciso que o governo assuma verdadeiramente seu papel e crie mudanças de combate à violência, sobretudo, policial. Afinal as pessoas têm direito à uma vida mais digna e tranquila.

Sugestão de Produção de Texto com Base em Esquemas

Esquema Básico da Dissertação

1º parágrafo: TEMA + argumento 1 + argumento 2 + argumento 32° parágrafo :desenvolvimento do argumento 13° parágrafo: desenvolvimento do argumento 24° parágrafo: desenvolvimento do argumento 35° parágrafo: expressão inicial + reafirmação do tema + observação final.

Exemplo:

TEMA: Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos.

Por Quê?

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arg. 1: Existem populações imersas em completa miséria. arg. 2: A paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais. arg. 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Texto definitivo

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações.

Além disso, nesta últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio.

Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou.

Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável.

Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.LIDADE DE VIDA NA CIDADE E NO CAMPOÉ de conhecimento geral, embora refutada por A QUALIDADE DE VIDA NA A Q

O VALOR DA DIFERENÇA

O desafio de se conviver com a diferença na sociedade é complicado, mas necessário. Diante da grande pluralidade cultural e étnica que se choca com frequência no mundo globalizado é preciso, além de tolerância, respeito incondicional aos direitos humanos.

Diariamente, nos deparamos com pessoas das mais variadas culturas, opiniões e classes sociais. Muitas vezes, são nossos vizinhos, colegas e amigos. Essa convivência enriquece nossas vidas, pois aprendemos a respeitar o nosso próximo, nos tornando pessoas mais fraternas. Porém nem sempre essa relação acontecem facilmente fatos divulgados pela mídia nos mostram que, para alguns ainda, a simples diferença fenotípica gera discriminação e violência, como no caso do brasileiro que foi confundido com um terrorista em Londres. Ele foi brutamente exterminado pela policia inglesa por ter feições diferentes da maioria dos britânicos.

Para o bom funcionamento das sociedades, a diferença precisa ser respeitada. Nas relações econômicas internacionais, se lida com diferentes culturas ao menos tempo. Não há espaço para discriminação para quem quer ser competitivo no mercado. idades, pelos fatores já expostos, de pouco tempo dispõem para interagir em relacionamentos interpessoais mais profundos.

Em virtude de tudo o que foi mencionado, entende-se que o campo propicia umaA NECESSIDADE DAS DIFERENÇAS

De acordo com a Teoria da Educação das Espécies, o que possibilita a formação do mundo como conhecemos hoje foi a sobrevivência dos mais aptos ao ambiente. A seleção natural se baseia na escolha das

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características mais úteis. Estas somente se originam a partir das diferenças determinadas por mutações em códigos genéticos com o passar do tempo.

Se no âmbito Biológico as variações são imprescindíveis à vida, no sociológico não é diferente. Uma vez todos iguais, seriamos atingidos pelos mesmos problemas sem perspectiva de resolução, já que todas as ideias seriam semelhantes.

A maioria das pessoas está inserida em um contexto social. Contudo grandes inovações se fazem a partir do reconhecimento da individualidade de seus integrantes. Assim é de nossa responsabilidade respeitar nossos semelhantes independentes do sexo, raça, idade, religião, visto que dependemos mutuamente.

Obviamente nem todas as diferenças são benéficas. Por exemplo, a diferença entre classes sociais não poderia assumir tal demissão. Para somá-la, necessitamos de uma melhor distribuição de renda aliada a oportunidades de trabalho, educação e saúde para todos.

Devemos nos conscientizar de que somos todos iguais em espécie e que é preciso conviver com as diferenças (por mais difícil que pareça), pois elas nos enriquecem como pessoas. Nossos esforços devem ser voltados contra discriminações anacrônicas e vis, como o racismo ou perseguições religiosas. Estas não nos levam a lugar algum, apenas nos desqualificam como seres humanos.da

Dicas Importantes

1)São condições de nulidade de redação no Vestibular:

- ser ilegível;

- fugir totalmente ao tema proposto;

- não obedecer aos tipos de composição propostos (narração, dissertação,descrição);

- apresentar 20 ou mais erros de ortografia, 20 ou mais erros de pontuação;

- estar escrita a lápis;

2) Nunca use em seu texto frases que estavam prontas na orientação apresentada. Isso pode ser considerado plágio e sua redação corre o risco de ser anulada.

3) Gírias ou ditados populares não devem aparecer em sua dissertação (é um caso de plágio também) Caso queira usar, por exemplo: Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura; que é um ditado.

4) Procure não utilizar a primeira pessoa em sua redação, principalmente quando for determinado texto objetivo. A primeira pessoa dá um caráter muito subjetivo ao seu texto, o que de certa forma prejudica sua argumentação.

CARTA ARGUMENTATIVA

a) Estrutura dissertativa: costuma-se enquadrar a carta na tipologia dissertativa, uma vez que, como a dissertação tradicional, apresenta a tríade introdução / desenvolvimento / conclusão. Logo, no primeiro parágrafo, você apresentará ao leitor o ponto de vista a ser defendido; nos dois ou três subsequentes (considerando-se uma carta de 20 a 30 linhas), encadear-se-ão os argumentos que o sustentarão; e, no último, reforçar-se-á a tese (ponto de vista) e/ou apresentar-se-á uma ou mais propostas. Os modelos de introdução, desenvolvimento e conclusão são similares aos que você já aprendeu (e você continua tendo a liberdade de inovar e cultivar o seu próprio estilo!);

b) Argumentação: como a carta não deixa de ser uma espécie de dissertação argumentativa, você deverá selecionar com bastante cuidado e capricho os argumentos que sustentarão a sua tese. É importante convencer o leitor de algo.

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Apesar das semelhanças com a dissertação, que você já conhece, é claro que há diferenças importantes entre esses dois tipos de redação. Vamos ver as mais importantes:

a) Cabeçalho: na primeira linha da carta, na margem do parágrafo, aparecem o nome da cidade e a data na qual se escreve. Exemplo: Londrina, 15 de março de 2003.

b) Vocativo inicial: na linha de baixo, também na margem do parágrafo, há o termo por meio do qual você se dirige ao leitor (geralmente marcado por vírgula). A escolha desse vocativo dependerá muito do leitor e da relação social com ele estabelecida. Exemplos: Prezado senhor Fulano, Excelentíssimo senhor presidente Luís Inácio Lula da Silva, Senhor presidente Luís Inácio Lula da Silva, Caro deputado Sicrano, etc.

c) Interlocutor definido: essa é, indubitavelmente, a principal diferença entre a dissertação tradicional e a carta. Quando alguém pedia a você que produzisse um texto dissertativo, geralmente não lhe indicava aquele que o leria. Você simplesmente tinha que escrever um texto. Para alguém. Na carta, isso muda: estabelece-se uma comunicação particular entre um eu definido e um você definido. Logo, você terá que ser bastante habilidoso para adaptar a linguagem e a argumentação à realidade desse leitor e ao grau de intimidade estabelecido entre vocês dois. Imagine, por exemplo, uma carta dirigida a um presidente de uma associação de moradores de um bairro carente de determinada cidade. Esse senhor, do qual você não é íntimo, não tem o Ensino Médio completo. Então, a sua linguagem, escritor, deverá ser mais simples do que a utilizada numa carta para um juiz, por exemplo, (as palavras podem ser mais simples, mas a Gramática sempre deve ser respeitada...). Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade dele. Mas, da mesma maneira que a competência do interlocutor não pode ser superestimada, não pode, é claro, ser menosprezada. Você deve ter bom senso e equilíbrio para selecionar os argumentos e/ou informações que não sejam óbvios ou incompreensíveis àquele que lerá a carta. 

d) Necessidade de dirigir-se ao leitor: na dissertação tradicional, recomenda-se que você evite dirigir-se diretamente ao leitor por meio de verbos no imperativo (“pense”, “veja”, “imagine”, etc.). Ao escrever uma carta, essa prescrição cai por terra. Você até passa a ter a necessidade de fazer o leitor “aparecer” nas linhas. Se a carta é para ele, é claro que ele deve ser evocado no decorrer do texto. Então, verbos no imperativo – que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor – e vocativos são bem-vindos. Observação: é falha comum entre os alunos-escritores “disfarçar” uma dissertação tradicional de carta argumentativa. Alguns escrevem o cabeçalho, o vocativo inicial, um texto que não evoca em momento algum o leitor e, ao final, a assinatura. Tome cuidado! Na carta, vale reforçar, o leitor “aparece”.

e) Expressão que introduz a assinatura: terminada a carta, é de praxe produzir, na linha de baixo (margem do parágrafo), uma expressão que precede a assinatura do autor. A mais comum é “Atenciosamente”, mas, dependendo da sua criatividade e das suas intenções para com o interlocutor, será possível gerar várias outras expressões, como “De um amigo”, “De um cidadão que votou no senhor”, De alguém que deseja ser atendido”, etc.

f) Assinatura: um texto pessoal, como é a carta, deve ser assinado pelo autor. Nos vestibulares, porém, costuma-se solicitar ao aluno que não escreva o próprio nome por extenso. Na Unicamp, por exemplo, ele deve escrever a inicial do nome e dos sobrenomes (J. A. P. para João Alves Pereira, por exemplo). Na UEL, somente a inicial do prenome deve aparecer (J. para o nome supracitado). Essa postura adotada pelas universidades é importante para que se garanta a imparcialidade dos corretores na avaliação das redações.

UM EXEMPLO DE CARTA

Leia agora uma carta argumentativa baseada num tema proposto pela UEL em 2002. Preste muita atenção ao que foi pedido no enunciado e aos textos de apoio (suprimiu-se, por questões de espaço, um trecho do texto b). Note que os elementos da estrutura da carta foram respeitados pelo autor:

A partir da leitura crítica dos textos de apoio, escreva uma carta dirigida a um jornal da cidade, sugerindo medidas para conter a violência em Londrina.

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a) A violência, quem diria, já não é o que mais preocupa o brasileiro. Chegamos à era da selvageria.

(Marcelo Carneiro e Ronaldo França)

Não é preciso ser especialista em segurança pública para perceber que o crime atingiu níveis insuportáveis. Hoje, as vítimas da violência têm a sensação quase de alívio quando, num assalto, perdem a carteira ou o carro - e não a vida.

Essa espiral de insegurança gerou uma variante ainda mais assustadora. É o crime com crueldade. A morte trágica de Tim Lopes, o repórter da Rede Globo que realizava uma reportagem sobre tráfico de drogas e exploração sexual de menores em um baile funk numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, é apenas o exemplo mais recente de uma tragédia que se repete a toda hora. Desta vez, com uma questão ainda mais aguda: por que um bandido precisa brutalizar as suas vítimas?  

O fato de as cenas mais chocantes da brutalidade estarem quase sempre associadas a regiões pobres das áreas metropolitanas das capitais brasileiras criou, em alguns especialistas, a ideia de que boa parte dos problemas de segurança poderia ser resolvida com investimentos maciços na área social. Trata-se de um equívoco.

Um levantamento do jornal O Globo mostra que, desde 1995, a prefeitura do Rio já investiu quase 2 bilhões de reais em projetos de urbanização, saneamento e lazer em favelas. Isso não impediu que, nos últimos dez anos, houvesse um crescimento de 41% no número de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, na maioria moradores de áreas carentes.

O aumento da criminalidade desafia qualquer lógica que vincule, de modo simplista, indicadores sociais a baixos índices de violência. Desde a década de 80, quando o tráfico de drogas passou a se estabelecer definitivamente nas principais cidades brasileiras, os números relativos à educação, saúde e saneamento só fazem melhorar no país.

O investimento dos governos estaduais em segurança também é crescente. Só neste ano, o governador paulista, Geraldo Alckmin, prometeu destinar 190 milhões de reais para o combate à criminalidade, a construção de três penitenciárias e a aquisição de novos veículos - um recorde.    

"Vincular violência somente a problemas sociais, por exemplo, é um erro. O crime organizado e a brutalidade que ele gera são um fenômeno internacional", diz a juíza aposentada Denise Frossard. Os códigos de crueldade das organizações criminosas chinesas, com mutilações do globo ocular, ou da máfia italiana, especializada em decepar a língua dos traidores, não diferem em nada do "microondas", criação dos traficantes cariocas para incinerar seus inimigos.

As soluções para tentar diminuir a espiral da brutalidade também podem ser encontradas no exterior. Criado em 1993, o projeto de Tolerância Zero, da prefeitura de Nova York, tinha desde o início o objetivo de combater os violentos crimes de homicídio por tráfico de drogas. Descobriu-se que o furto de veículos, um crime mais leve, tinha relação direta com os assassinatos.

Combatendo-se o furto, caía também o número de mortes. Assim feito, ao mesmo tempo que uma faxina nas delegacias eliminou centenas de policiais corruptos. São medidas que, no Brasil, ainda estão no campo da discussão. Quando finalmente se decidir pela ação, talvez já seja tarde. Por enquanto, a sociedade se pergunta, perplexa, como pode uma parte dela comportar-se de modo tão bárbaro. (Veja, jun. de 2002)

       b) Iniciativas contra sete gatilhos da violência urbana

É imprescindível discutir a violência quando ocorre um homicídio por hora só na grande São Paulo. A cifra prova que o poder público fracassou numa das principais obrigações determinadas pela Constituição: garantir a segurança dos cidadãos. Este artigo apresenta iniciativas que tentam minimizar algumas causas da violência como as detalhadas no quadro abaixo. Elas atuam sobre sete fatores que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania, qualidade de vida, identidade e família.

Page 7: Curso de redação

Vigário Geral

Nome: Grupo Cultural Afro Reggae

Área de atuação: combate ao narcotráfico e ao subemprego

Comunidades atendidas: Vigário geral, Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas, Rio  de Janeiro (RJ)

População atendida: 744 jovens e adultos (números atuais)

Quando começou: 21 de janeiro de 1993

Quem financia: Fundação Ford (apoio institucional)

Jardim Ângela

Nome: Base Comunitária da Polícia Militar

Área de atuação: policiamento e atendimento social

Comunidades atendidas: Jardim Ângela

População atendida: 260 mil habitantes

Quando começou: 1998

Quem financia: Governo do Estado de São Paulo

 Exemplo de carta

Londrina, 10 de setembro de 2002.

 Prezado editor,

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de "sorte" para constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranqüilidade na terceira cidade mais importante do Sul do país.

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero, adotado pela prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.

Page 8: Curso de redação

Convenhamos, senhor editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que, como todos os londrinenses, deseja viver tranquilamente em nossa cidade.

Atenciosamente,

 M.

Percebeu como a estrutura da carta é dissertativa? No primeiro parágrafo – releia e confira – é apresentada a tese a ser defendida (a de que a situação da violência é grave, mas não irremediável); nos dois parágrafos subsequentes (o desenvolvimento), são apresentadas, obedecendo ao que se pediu no enunciado, propostas para combater a violência na cidade de Londrina; e no último parágrafo, a conclusão, propõe-se que as autoridades sigam exemplos como os citados no desenvolvimento.

O leitor, o editor do jornal, “apareceu” no texto, o que é muito positivo em se tratando de uma carta. E, como não poderia deixar de ser, foram respeitados os elementos pré-textuais (cabeçalho e vocativo) e pós-textuais (expressão introdutora de assinatura e assinatura).

Temas e Orientações I

Há três opções sugeridas pela redação. Cada uma contém em seu enunciado, motivação textual e comunicativa, considerada

necessária para que você possa construir seu texto. Você deve escolher uma delas e desenvolvê-la, segundo o tipo de texto indicado, seguindo

estritamente as orientações dadas pelo enunciado.

OPÇÃO A

Na reportagem especial "Eleja o artista cênico do século", da Revista Isto é(10/02/99), são apresentados os perfis dos artistas mais votados pela crítica especializada para receberem o prêmio de brasileiro do século nas Artes Cênicas.

Nelson Rodrigues. Desafiador O dramaturgo pernambucano era um transgressor da moral e dos bons costumes. Escandalizou as plateias com personagens trágicos, incestuosos, mentirosos, adúlteros e amargurados. Deixou clássicos como Engraçadinha, Beijo no asfalto e A dama do lotação, muitos deles transformados em filmes nos anos 70 e 80. Além de dramaturgo, foi um brilhante cronista esportivo. Morreu em 1980, aos 68 anos, vítima de insuficiência cardíaca e respiratória.

 

Fernanda Montenegro. A carioca Arlete Pinheiro Esteves da Silva, 69 anos, filha de um funcionário da Light, é um talento luminoso. Em quase meio século, fez dezenas de novelas e quase 60 peças. No cinema, atuou em Tudo bem (1978), de Arnaldo Jabor, e Eles não usam blach-tie, de Leon Hirszman, que ganhou o Festival de Veneza, em 1981. Seu último sucesso foi Central do Brasil, que lhe valeu a indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz (o filme ganhou o Globo de Ouro de melhor fita estrangeira).

BASEANDO-SE NOS RESUMOS TRANSCRITOS ACIMA, ESCREVA UMA CARTA PARA A REVISTA, ARGUMENTANDO EM FAVOR DO ARTISTA QUE VOCÊ CONSIDERA MERECEDOR DO PRÊMIO.

OPÇÃO B

Page 9: Curso de redação

O texto a seguir foi retirado do livro Quadrante I, de Fernado Sabino (Rio de Janeiro: Editora do Autor, 5 ed. ):

"Estou numa esquina de Copacabana, são duas horas da madrugada. Espero uma condução que me leve para casa. À porta de um "Dancing", homens conversam, mulheres entram e saem, o porteiro espia sonolento. Outros se esgueiram pela calçada, fazendo a chamada vida fácil.

De súbito a paisagem se perturba. Corre o frêmito no ar, pânico no rosto das mulheres que fogem. Que aconteceu? De um momento para o outro, não se vê mais uma saia pelas ruas - e mesmo os homens se recolhem discretamente à sombra dos edifícios..."

CONTINUE A NARRATIVA ACIMA, RELATANDO O EVENTO QUE DESENCADEOU O PÂNICO REPENTINO.

OPÇÃO C

Imagine que você é gerente de recursos humanos de uma empresa e necessita de uma funcionária para exercer o cargo de secretária.

REDIJA UM TEXTO PARA SER COLOCADO EM JORNAL, DESCREVENDO AS TAREFAS QUE DEVERÃO SER DESEMPENHADAS E O PERFIL ESPERADO DA CANDIDATA.

Proposta I - Dissertação

Todo texto dissertativo aborda um tema, ou seja, a delimitação de um assunto. Após leitura atenta do editorial da Folha de S. Paulo e percepção das suas ideias principais, verifique qual é o seu tema.

TEXTO

O fenômeno meteorológico batizado de "El Niño" começa a assumir, no mundo todo, o papel antes reservado às pragas bíblicas, responsáveis por todas as desgraças.

Sem negar os efeitos do fenômeno, parece um raciocínio simplista e cômodo atribuir a ele todos os males, do inverno que foi verão forte no Centro-Sul brasileiro às enchentes na Espanha, passando pelas queimadas no Sudeste Asiático. Culpar um fenômeno natural exime as autoridades e a sociedade de refletir sobre os danos à natureza provocados pelo homem, cada vez mais graves.

 Típica do comodismo é a reação do governo brasileiro contra relatório do Fundo Mundial para a Natureza que aponta o Brasil como campeão mundial de desmatamento de florestas tropicais nos últimos anos.

Para o porta-voz da Presidência, os dados do governo indicam diminuição do desmatamento. O importante não é tanto se o desmatamento aumentou ou diminuiu, mas o fato de que ocorra sem que fique clara uma política de ocupação da Amazônia.

É preciso levar em conta que, segundo a ONU, o Brasil é o terceiro país do mundo em área preservada de florestas de fronteira, atrás apenas de Rússia e Canadá.

Se considerar que quase a metade das florestas mundiais já virou pasto ou campo agrícola, fica evidenciada a importância internacional de se preservar o que resta.

Mas o comodismo se estende também aos governos dos países ricos (que, aliás, já promoveram uma devastação quase total de suas florestas). O presidente dos EUA, Bill Clinton, por exemplo, nega-se a aceitar um aumento nos preços dos combustíveis fósseis, uma forma de tentar conter a emissão dos gases que geram o efeito estufa, responsável pelo crescente aquecimento da Terra.

Page 10: Curso de redação

Tudo somado, entende-se o motivo da cômoda satanização do "El Niño": ela evita que cada um enfrente suas próprias responsabilidades.

A importância dos conectivos

      A coesão de um texto depende muito da relação entre as orações que foram os períodos e os parágrafos. Os períodos compostos precisam ser relacionados por meio de conectivos adequados, se não quisermos torná-los incompreensíveis.

      Para cada tipo de relação que se pretende estabelecer entre duas orações, existe uma conjunção que se adapta perfeitamente a ela. Por exemplo, a conjunção MAS só deve ser usada para estabelecer uma relação de oposição entre dois enunciados. Porém, se houver um relação de adição ou idéia de concessão, a conjunção deverá ser outra:

      EMBORA. Se não for assim, o enunciado ficará sem nexo. Observe um caso de escolha inadequada da conjunção:

      "EMBORA O BRASIL SEJA UM PAÍS DE GRANDES RECURSOS NATURAIS, TENHO CERTEZA DE QUE RESOLVEREMOS O PROBLEMA DA FOME"

      Veja que não existe a relação de oposição ou a ideia de concessão que justificaria a conjunção EMBORA. Como a relação é de causa-efeito, deveria ter sido usada uma conjunção causal:

      COMO O BRASIL É UM PAÍS DE GRANDES RECURSOS, TENHO CERTEZA DE QUE RESOLVEREMOS O PROBLEMA DA FOME.

      Para que problemas desse tipo não aconteçam em suas redações, acostume-se a relê-las, observando se suas palavras, orações e períodos estão adequadamente relacionados.

      (Extraído do livro: Escrevendo Melhor, 8ª série, Dileta Delmanto, 1995, Editora Ática.)

      Conectivos

      Conectivos ou elementos de coesão são todas as palavras ou expressões que servem para estabelecer elos, para criar relações entre segmentos do discurso, tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim, daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras. Veja o exemplo:

      Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a exportar certos produtos agrícolas.

      No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados existe uma contradição. Seria descabido permutar o porém pelo porque, que serve para indicar causa.

      Relação dos principais elementos de coesão:

      1) assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se disse antes.

      O Governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa pela liderança do partido. Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que venha a vencer.

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      2) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito antes; indica uma progressão que adiciona, acrescenta, algum dado novo. Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser evitada. Ao dizer:

      Tudo permanece imóvel e fica sem se alterar.

      3) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto qualquer.

      O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos. Convém lembrar ainda que os serviços públicos são extremamente deficientes.

      4) aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe final no argumento contrário.

      Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminui consideravelmente seu poder de compra. Além de tudo são considerados como renda e taxados com impostos.

      5) isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos, retificações ou desenvolvimento do que foi dito anteriormente.

      Muitos jornais, fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de seu não comprometimento com nenhuma das forças em ação no interior da sociedade.

      6) mas, porém e outros conectivos adversativos: marcam oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não se podem ligar, com esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz entre significados implícitos no texto.

      Choveu na semana passada, mas não o suficiente para se começar o plantio.

      7) embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento.

      Trata-se de um expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário. Observe o exemplo:

      Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos confortáveis, pés velozes como o raio, olhos de longo alcance e asas para voar, não resolveram o problema das injustiças.

      Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da técnica e da ciência, afirma-se uma desvantagem maior.

      O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de contradição, que, se não houve, deixa o enunciado descabido. Exemplo:

      Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis, vamos resolver o problema da fome.

      8. Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo, situam alguma coisa no topo da escala; outros, como ao menos, pelo menos, no mínimo, situam-na no plano mais baixo.

      O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio semelhante, até mesmo do futuro e da morte.

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      ou

      É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou, no mínimo, a moradia, o alimento e a saúde.

      Às vezes o conectivo tem seu uso inadequado de forma proposital, que revela um preconceito ou uma ironia. Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, referiu--se à ex-ministra Dorothea Werneck desta forma:

      Ela é mulher, mas é capaz.

      A retomada ou a antecipação de termos

      Observe o trecho que segue:

      José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é calmo, aquele é explosivo.

      O termo este retoma a nome próprio “Renato”, enquanto aquele faz a mesma coisa com a palavra “José”. Este e aquele são chamados de anafóricos.

      Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve para retomar um termo já expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão depois.

      São anafóricos:

      pronomes demonstrativos: esse, aquele

      pronomes relativos: que, o qual, onde

      advérbios e expressões adverbiais: então, dessa feita, acima, atrás.

      Eis alguns exemplos de ambiguidade por causa do uso dos anafóricos:

      O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua proposta de aumento de salário.

      No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do PMDB. Desfazendo a ambiguidade, ficaria assim:

      A proposta de aumento de salário formulada pelo PT provocou desacordo com o PMDB.

      Texto:

      Um argumento cínico

      (1)Certamente nunca terá faltado aos sonegadores de todos os tempos e lugares o confortável pretexto de que o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de administradores incompetentes e desonestos. (2) Como pretexto, as invocação é insuperável e tem mesmo a cor e os traços do mais acendrado civismo. (3) Como argumento, no entanto, é cínica e improcedente. (4) Cínica porque a sonegação, que nesse caso se pratica não é compensada por qualquer sacrifício ou contribuição que atenda à necessidade de recursos imanente a todos os erários, sejam eles bem ou mal administrados. (5) Ora, sem recursos obtidos da comunidade não há policiamento, não há transportes, não há escolas ou hospitais. (6) E sem serviços públicos essenciais, não há Estado e não pode haver sociedade política. (7) Improcedente porque a sonegação, longe de fazer melhores os maus governos, estimula-os à prepotência e ao arbítrio, além de agravar a carga tributária dos que não querem e dos que, mesmo querendo, não têm como dela fugir - os que vivem de salário, por exemplo. (8) Antes, é preciso pagar, até mesmo para que não faltem legitimidade

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e força moral às denúncias de malversação. (9) É muito cômodo, mas não deixa de ser, no fundo, uma hipocrisia, reclamar contra o mau uso dos dinheiros públicos para cuja formação não tenhamos colaborado. (10) Ou não tenhamos colaborado na proporção da nossa renda.

      VILLELA, João Baptista. Veja, 25 set. 1985.

      Os períodos estão numerados.

      Comentários:

      1º período: o autor começa a desmontar o argumento dos sonegadores através da expressão “confortável pretexto”.

      2º período: o autor admite como pretexto a justificativa dos sonegadores.

      3º período: o conectivo “no entanto” introduz uma argumentação contrária, dizendo que a justificativa é cínica e improcedente.

      4º período: através do conectivo “porque” ele diz a causa pela qual considera cínico o argumento dos sonegadores.

      5º período: o conectivo “ora” dá início a uma argumentação contrária à idéia de que o Estado possa sobreviver sem arrecadar impostos e sem se prover de recursos.

      6º período - o conectivo “e” introduz um segmento que adiciona um argumento ao que se afirmou no período anterior.

      7º período - depois de demonstrar que o argumento dos sonegadores é cínico, o autor passa a demonstrar que é também improcedente, o que já foi afirmado no terceiro período. É usado o conectivo “porque” para isso. Mais adiante o conectivo “além de” introduz um argumento a mais a favor da improcedência da sonegação.

      8º período - o autor usa dois conectivos: “antes” e “até mesmo” que reforçam sua argumentação.

      9 º parágrafo - o conectivo “mas” estabelece a contradição das duas argumentações (dos sonegadores e do autor).

      10º período - o conectivo “ou” inicia uma passagem que contém uma alternativa que caracteriza ainda a atitude hipócrita dos sonegadores.

      (in Para Entender o Texto - Leitura e Redação - Platão & Fiorin, Editora Ática, 1995)

Apresentação visual da redação

      1.1 .O aluno deve preencher corretamente todos os itens do cabeçalho com letra legível.

      1.2.Centralizar o título na primeira linha, sem aspas e sem grifo. O título pode apresentar interrogação desde que o texto responda à pergunta.

      1.3. Pular uma linha entre o titulo e o texto, para então iniciar a redação.

      1.4. Fazer parágrafos distando mais ou menos três centímetros da margem e mantê-los alinhados.

      1.5. Não ultrapassar as margens (direita e esquerda) e também não deixar de atingi-las.

Page 14: Curso de redação

      1.6. Evitar rasuras e borrões. Caso o aluno erre, ele deverá anular o erro com um traço apenas. .

      1.7. Apresentar letra legível, tanto de fôrma quanto cursiva.

      1.8. Distinguir bem as maiúsculas das minúsculas.

      1.9. Evitar exceder o número de linhas pautadas ou pedidas como limites máximos e mínimos. Ficar aproximadamente entre cinco linhas aquém ou além dos limites.

      1.10. Escrever apenas com caneta preta ou azul. O rascunho ou o esboço das idéias podem ser feitos a lápis e rasurados. O texto não será corrigido em caso de utilização de lápis ou caneta vermelha, verde etc. na redação definitiva.

      OBSERVAÇÕES:

      Números

      A) Idade - deve-se escrever por extenso até o nº 10. Do nº 11 em diante devem-se usar algarismos;

      B) Datas, horas e distâncias sempre em algarismos: 10h30min, 12h, 10m, 16m30cm, 10km (m, h, km, I, g, kg).

      Palavras Estrangeiras

      As que estiverem incorporadas aos hábitos linguísticos devem vir sem aspas: marketing, merchandising, software, dark, punk, status, offlce-boy, hippie, show etc.

Aprimoramento linguístico

      O que você deve evitar na redação

      Por ser um conjunto de opiniões pessoais logicamente concatenadas, a redação deve ser precisa, rigorosa. Para despertar interesse, deve ser sugestiva e original. A vulgaridade é o nível em que a mensagem é só redundância. Vejamos os casos mais frequentes de vulgaridades, em que a redundância desnecessária e mesmo prejudicial informação:

      1.Adjetivação excessiva

      A incômoda e nociva poluição ambiental pode tornar o já problemático e atrasado Brasil uma terra inabitável.

      2. Queísmo

      O fato de que o homem que seja inteligente tenha que entender os erros dos outros e perdoá-los não parece que seja certo.

      3. Intromissão

      Cultura, na minha opinião, é ...

      4. Projeção da linguagem oral

      Hoje em dia a gente não vive, a gente vegeta; dizem que antigamente a coisa era melhor porque havia mais tempo para as diversões, para as conversas, para a família, e assim sucessivamente.

Page 15: Curso de redação

      5. “Atualidade” redundante

      O sistema de disco laser , hoje, pouco acessível à maioria dos consumidores que, atualmente, continuam preferindo os toca-discos tradicionais. Porém, na atualidade, tem havido um crescente interesse pela aquisição dessa recente inovação tecnológica.

      6. Abstração grosseira

      Porque aí nós pegamos e pensamos: para onde vai a humanidade?

      7. Predominância do gerúndio (endorréia)

      Entendendo dessa maneira, o problema vai-se pondo numa perspectiva melhor, ficando mais claro...

      8. Palavras de introdução embromatória

      A vida, única e exclusivamente, é tão complexa que, apesar de tudo, não obstante o que possam dizer, torna-se altamente problemática.

      9. Adjetivos cristalizados

      "Silêncio mortal", "calorosos aplausos", "mais alta estima", "sol quente”, "cabelos negros como a noite", "grande homem", séria conversa, "notável artista", "mulher fatal”, 'lábios de mel", "dentes de pérola", "semblante carregado", "sinceros votos de feliz natal “, “merecidos aplausos", "calorosa polêmica”, “gol espetacular", "amor inesquecível", "alma trasbordante", “esmagadora maioria".

      10. Lugar-comum ou clichê

      "Subir os degraus da glória”, "fazer das tripas coração", "encerrar com chave de ouro", “a nível de", "a grosso modo”, "solução para este problema", “colocar os pingos nos ii ", “sair com as mãos abanando", "fazer fé em", "da melhor maneira possível", "em todos os cantos do mundo”, “com a voz embargada pela emoção", "muita gente pensa que", "isto quer dizer que", "pedra sobre pedra", "dos males o menor", "encher os bolsos", "agora ou nunca", "contorcendo-se em dores”, "chorando copiosamente", " uma vergonha".

      11. Truísmo - (verdade evidente)

      Todos os homens são mortais. / São Paulo, o maior centro industrial da América Latina./ Pelé considerado rei do futebol. / A criança de hoje será o adulto de amanhã. /Os idosos são pessoas que viveram mais que os jovens.

Argumentação pelo exemplo (Hélio Consolaro* )

Argumentar por meio de exemplo não é um procedimento defeituoso, pois é uma forma de revelar os dados que vão servir de base para as conclusões que virão posteriormente, por isso precisa ser coerente com a tese defendida na introdução da dissertação. Mas deve ser real e verdadeiro, correspondendo à realidade.

Exemplo: No Brasil, a maioria da população ativa ganha acima de dez salários mínimos.

Esse dado é simplesmente falso, não corresponde à realidade, e dele não se pode concluir nada que tenha conteúdo de verdade.

O exemplo abaixo contém generalização apressada e o fato narrado não tem valor comprobatório:

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Venho acompanhando pelo jornal um debate acalorado entre professores universitários a respeito de um tema da especialidade deles: literatura moderna. O debate, que se iniciou com dois professores e acabou envolvendo outros mais, terminou sem que se chegasse a uma conclusão uniforme. Isso nos leva a concluir que o homem não é mesmo capaz de entrar em entendimento e, por isso, o mundo está repleto de guerras. (Baseado no material didático do Sistema Uno)

*Hélio Consolaro é professor de Português, cronista diário da Folha da Região - Araçatuba -SP, presidente da Academia Araçatubense de Letras e coordenador do site Por Trás das Letras.

A difícil arte de simplificar textos

”Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil compreensão para o grande público. Torna-se necessário simplificá-los, tornando-os mais acessíveis. Observem abaixo os estágios da simplificação.” – Assim escreveu Dad Squarisi no Correio Braziliense, 2 de fevereiro de 2003.

Reproduzo a versão da colega que tem coluna congênere no jornal de Brasília.

Texto original (versão Ph.D.)

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da ramínea Saccharus officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifica, Linneu. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena deformidade que lhe é peculiar.

Primeira simplificação (mestre)

A sacarose, extraída da cana-de-açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

Segunda simplificação (graduação universitária)

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

Terceira simplificação (ensino médio)

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

Quarta simplificação (ensino fundamental)

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Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

Simplificação final (linguagem popular)

Rapadura é doce, mas não é mole, não!

A impessoalidade nos textos dissertativos (Associação de Ensino Guararapes )

Todo texto independentemente do gênero textual a que pertence, pode trazer marcas de pessoalidade ou impessoalidade. Quando o autor se apresenta de modo evidente, manifestando-s como locutor, dizemos que o texto é pessoal. Quando há um esforço da parte do autor em se distanciar do assunto abordado, tratando objetivamente dos fatos, dizemos que o texto é impessoal.Em textos científicos e argumentativos, como a crítica, o editorial, a dissertação, quase se procura escrever com impessoalidade, pois essa característica confere maior credibilidade ao texto, como se ele contivesse verdades universais e indiscutíveis . O texto com marcas de pessoalidade, ao contrário, tende a ser considerado subjetivo e, portanto, menos confiável quanto ao ponto de vista que defende.Leia este excerto de texto argumentativo, que discute a obrigatoriedade do uso de uniforme nas escolas:

Sempre defendi a ideia de que nossos alunos não devem usar uniforme. Acho que, se a sociedade em que vivemos é marcada pelas diferenças, é natural, pelo menos do meu ponto de vista, que na escola essas diferenças apareçam nas roupas, nos penteados. No meu modo de ver, a democracia está nas pequenas coisas do dia-a-dia; nas discussões que tenho com meus filhos em casa, nas decisões que eu tenho de tomar com minha mulher, e está também na liberdade de escolha de meus filhos quanto à roupa que lês vão usar para ir à escola.

Nesse excerto, há várias marcas de pessoalidade do discurso, Seja no emprego da 1.ª pessoa e verbos e pronomes (defendi, nossos, vivemos, tenho, meus, eu tenho, minha), seja em expressões, como: Acho que, do meu ponto de vista, No meu modo de ver, é visível o interesse do locutor em relatar a sua visão sobre o assunto, a partir de sua experiência. Trata-se, portanto, de uma visão subjetiva.Compare o excerto lido com este outro, sobre o mesmo assunto:

Na década de 60, os nossos alunos utilizavam uniforme. Nessa época a escola passou por grandes alterações. Novos métodos de ensino foram implantados. Conceitos como consciência crítica e social, criatividade e respeito a valores comunitários tornaram-se vivos na prática da escola. Optou-se, tam¬bém, pela não-utilização do uniforme. A prática peda¬gógica da escola tem sido construída ao longo do tempo: educandos e educadores são os principais agentes dessa construção. Regras e normas são elabo¬radas e devem refletir a necessidade do grupo, ou seja, estar a serviço desse mesmo grupo. A utilização do uniforme deveria proporcionar benefícios significati¬vos à comunidade escolar.(Eduardo Roberto da Silva. Pais & Teens, nov./dez./jan. 1997.)

Observe que, em quase todo o texto, o autor trata do tema de forma distanciada. Sua presença é sentida mais diretamente apenas no emprego da expressão “nossos alunos”. No restante do texto, há uma série de mecanismos linguísticos que tornam a linguagem impessoal. Veja estes trechos:

1º - “Nessa época a escola passou por grandes alterações. Novos métodos de ensino foram implantados.”2.º “Conceitos como consciência crítica e social, criatividade e respeito a valores comunitá¬rios tornaram-se vivos na prática da escola.”3.º - “Optou-se, também, pela não-utilização do uniforme.”4.º - “Regras e normas são elaboradas e devem refletir a necessidade do grupo, ou seja, estar a serviço desse mesmo grupo.”

Perceba que, no 1.º trecho, o autor afirma que a escola passou por grandes alterações. É eviden¬te que ele se refere à instituição como um todo, o que inclui as pessoas, isto é, os profissionais da educação. Em seguida, afirma que “novos métodos foram implantados”. Quem teria implantado esses métodos?

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No 2.º trecho, “consciência crítica e social, criatividade e respeito a valores comunitários tornaram-se vivos” para quem? No 3.º, quem teria optado pela não-utilização do uniforme? Os diretores de esco¬la, os pais, os professores, os alunos? No 4.º, as regras e normas escolares foram elaboradas por quem?Como se vê, o autor do 2.º excerto busca conscientemente a impessoalização do texto. Isso o torna mais objetivo e as ideias defendidas ganham maior credibilidade junto ao leitor.Assim, se desejamos conferir maior impessoalidade e objetividade aos nossos textos, devemos substituir expressões como: Eu acho, Na minha opinião, No meu modo de ver, Do meu ponto de vista, etc. por outras como: Convém observar, É bom lembrar, É preciso considerar, Não se pode esquecer, É indispensável, É importante, etc.

EXERCÍCIOS1. Uma das formas de impessoalizar a linguagem é indeterminar o sujeito. Para isso, existem duas possibilidades: •suprime-se o sujeito e põe-se o verbo na 3ª pessoa do plural;•emprega-se verbo intransitivo ou transitivo indireto ou de ligação + pronome se.

Veja os exemplos:

O presidente da associação já redigiu o requerimento. Já redigiram o requerimento. (verbo na 3.ª pessoa do plural)

Os diretores de escola e os professores optaram pela não-utilização do uniforme.“Optou-se pela não-utilização do uniforme.” (VTI + se)

Faça o mesmo com as frases que seguem. Impessoalize o sujeito, empregando um desses dois recursos ou os dois, quando possível. a) As pessoas carentes nunca precisaram tanto de ajuda como agora.R.

b) Naqueles tempos, aos domingos, os moradores iam tomar banho no rio. R.

c) As pessoas hoje já não se importam com bons modos.R.

d) Como as crianças eram felizes naquela casa! R.

e) A professora perguntou de você na escola. R.

Outra forma de impessoalizar a linguagem é passar as orações da voz ativa para a voz passiva, suprimindo o agente da passiva. Veja:

Uma candidata chamou o fiscal da prova. (voz ativa)O fiscal da prova foi chamado. (voz passiva analítica com verbo ser)Chamou-se o fiscal da prova. (voz passiva sintética ou pronominal com pronome apas¬sivador se)

Faça o mesmo com as frases a seguir:a) A diretora nunca exigiu o uso do uniforme. R.

b) Os médicos iniciaram a campanha de vacinação. R.

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c) Várias pessoas contestaram os argumentos do candidato. R.

d) Os deputados aprovaram uma lei de validade discutível.R.

e) Os governantes tomam decisões sem consultar o povo. R.

f) As autoridades proibiram a xerocópia de livros. R.

g) Os interessados devem enviar carta por escrito à Secretaria de Saúde. R.

A revista Atrevida fez a seguinte pergunta às suas leitoras: “Você sairia com o namorado da sua melhor amiga?”. Leia a resposta de uma das leitoras:

Mesmo que eu estivesse perdidamente apai¬xonada, não seria capaz de sair com o namorado da minha melhor amiga. Além de o garoto poder estar só querendo brincar comigo e com minha amiga, ainda correria o risco de acabar com uma amizade verdadeira.Na minha opinião, uma das coisas mais importantes na vida são os amigos. E, numa ami¬zade, é a confiança, o respeito. No momento em que eu estivesse com o garoto, estaria separan¬do esses laços de confiança, podendo até causar o rompimento de uma amizade.Enfim, mesmo que eu [...]. quisesse muito sair com ele, com certeza deixaria a nossa ami¬zade falar mais alto e me conteria. Só assim demonstraria a ela que sou uma amiga de verda¬de! Porque amores a gente vai cruzar muitos pela vida, mas as amizades, não. Essas a gente escolhe para durarem para sempre.(Ingrid Frank de Ramos, Porto Alegre, RS).(Atrevida, n.º 42.)

O texto apresenta uma linguagem informal, com marcas de pessoalidade. Reconheça essas marcas e reescreva o texto fazendo uso da variedade padrão formal e impessoal, suprimindo ou adaptando o que for necessário. (FAZER NA FOLHA DE REDAÇÃO)

Do livro Português: Linguagens William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães Atual Editora

Coerência textual As ideias numa dissertação precisam se completar, a geral se apoia na particular, a particular sustenta a geral. Na narração, se uma personagem for magra no começo, deve permanecer assim até o final. Caso ela chegue gorda no final, precisa haver um motivo, a razão que será dada pela própria narrativa..

A coesão colabora com a coerência, porque os conectivos ajudam a dar o sentido à união de duas ou mais ideias: alternância, conclusão, oposição, concessão, adição, explicação, causa, consequência, temporalidade, finalidade, comparação, conformidade, condição.

Veja um exemplo de incoerência na dissertação: “O verdadeiro amigo não comenta sobre o próprio sucesso quando o outro está deprimido. Para distraí-lo, conta-lhe sobre seu prestígio profissional, conquistas amorosas e capacidade de sair-se bem das situações. Isso, com certeza, vai melhorar o estado de espírito do infeliz”.

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Exemplo de incoerência em narração: “O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare”.

Coesão textual

      Coesão significa união íntima das partes de um todo. Os caroços de um prato de arroz “unidos venceremos”, que, se jogado na parede, não cairá nenhum grão, possui uma forte coesão.

      Assim é a construção de um texto, todas as palavras não necessárias. Os conectivos possuem função muito importante, pois sem eles o texto não seria tecido, mas um amontoado de palavras sem nexo.

      Comparo a feitura de um texto à construção de encanamento de água. Só com as barras de cano (6 m cada) não seria possível construí-lo, fazem-se necessárias as conexões: tê, cotovelo, curva. Elas fazem o papel de conectivos nos textos. Veja o exemplo abaixo:

      “O Duque de She dirigiu-se a Confúcio, dizendo:

      - Temos em nossa terra um homem direito. Seu pai furtou uma ovelha, e o filho depôs contra ele.

      – Na nossa cultura, retrucou Confúcio, ser direito é proceder de maneira diferente. O pai oculta a culpa do filho, e o filho, a do pai. Gente direita é assim que se comporta.”

(Bertrand Russel, Máximas de Confúcio, 1957)

      Os conectivos estão em negrito. Eles são divididos em articuladores e anafóricos.

Coerência e coesão (Um estudo aprofundado sobre os dois temas. )

Pretendemos, neste tema, trabalhando com os conceitos de coerência e coesão, mostrar o papel e a importância de cada um desses mecanismos não só para a leitura e a compreensão de textos como também para sua produção.

A coerência e a coesão contribuem para conferir textualidade a um conjunto de enunciados. Assim, a coerência, manifestada em grande parte no nível macrotextual, é o resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade ou relação entre os elementos do texto. E a coesão, manifestada no nível microtextual, se refere ao modo como os vocábulos se ligam dentro de uma sequência.

Ao analisar esses mecanismos, mostramos, por meio de exemplos, as formas em que podem ocorrer. Ao mesmo tempo, procuramos fazer com que os usuários saibam empregar adequadamente cada mecanismo não só para depreender o sentido de um texto como para produzir textos com sentido, estabelecendo uma continuidade entre as partes, de modo a instaurar entre elas uma unidade, ou seja, a coerência.

É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da coerência, embora, às vezes, a coesão nem sempre se manifeste explicitamente através de marcas linguísticas, o que faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo que não tenham coesão explícita.

Este tema será, portanto, desenvolvido com o objetivo de mostrar aos usuários da língua que:

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1) mais importante que conhecer os conceitos de coerência e coesão é saber de que maneira esses fenômenos contribuem para tornar um texto inteligível;

2) a coerência (conectividade conceitual) e a coesão (conectividade sequencial) são requisitos fundamentais para a elaboração de qualquer tipo de texto;

3) enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de sentidos, a coesão pode se apresentar por meio de marcas linguísticas, observadas na gramática ou no léxico;

4) é necessário perceber como coerência e coesão se completam no processo de produção e compreensão do texto.

Considerações sobre o conceito de coerência

No nosso dia-a-dia, são comuns comentários do tipo:

Isto não tem coerência. Esta frase não tem coerência. O seu texto está incoerente.

O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente, é o fato de perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma frase ou de todo o texto.

Coerência está, pois, ligada à compreensão, à possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escreve. Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou lê. Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela, poema...), uma conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um livro, uma canção ..., enfim, qualquer comunicação, independente de sua extensão, precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência.

A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:

        o conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou é compartilhado pelos interlocutores;

        o domínio das regras que norteiam a língua - isto vai possibilitar as várias combinações dos elementos linguísticos;

        os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto.

Portanto, a coerência se estabelece numa situação comunicativa; ela é a responsável pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais existe um acordo pré-estabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um domínio comum da língua.

A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela tem uma dimensão semântica - caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os elementos constituintes do texto. Tem principalmente uma dimensão pragmática - é fundamental, no estabelecimento da coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao longo de nossa existência, de maneira ordenada.

Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer que a ele se acrescentam as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode se tornar incoerente devido à não-

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familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de informações. É isto que acontece, por exemplo, quando lemos um texto muito técnico, de uma área na qual somos leigos.

Na verdade, quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma determinada situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, não valorizou suficientemente a questão da comunicabilidade, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta o fato de que a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto.

Embora nosso objetivo não seja teorizar em demasia o conceito de coerência, achamos necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e Travaglia (1989), como pontos de partida para o trabalho com textos que se segue: "A coerência é profunda, subjacente à superfície textual, não-linear, não marcada explicitamente na estrutura de superfície. (...) Ela tem a ver com a produção do texto, à medida que quem o faz quer que seja entendido por seu interlocutor. (...) A coerência diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. (...) A coerência, portanto, longe de constituir mera qualidade ou propriedade do texto, é resultado de uma construção feita pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela atuação conjunta de uma série de fatores de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional."

Observando o grupo de frases abaixo, consideradas do ponto de vista estritamente referencial,

O homem construiu uma casa na floresta. O pássaro fez o ninho. O lenhador derrubou a árvore. O trabalhador acompanhou o noticiário criticamente. As árvores estão plantadas no deserto. A árvore está grávida.

podemos notar que as quatro primeiras não oferecem qualquer problema de compreensão. Dizemos, então, que elas têm coerência. Já não ocorre o mesmo em relação às duas últimas. Em As árvores estão plantadas no deserto, há duas ideias opostas, uma contraria a outra. Em A árvore está grávida, há uma restrição na combinatória ser vegetal + grávida, o que não ocorre em A mulher está grávida, em que temos a combinatória possível ser racional + grávida.

Examinemos agora as frases:

a) O pássaro voa.

b) O homem voa.

A frase a tem um grau de aceitação maior do que a frase b, que depende de uma complementação para esclarecer qual o meio utilizado pelo homem para voar - O homem voa de asa delta, por exemplo. A combinação de homem com voa tem outras significações no plano da conotação: O homem sonha, o homem delira, o homem anda rápido. Neste plano, muitas outras combinações são possíveis:

     As nuvens estão prenhes de chuva.

     Sua boca cuspia desaforos.

Observe os três pares que se seguem:

1.     a) Todo mundo destrói a natureza menos eu. b) Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.

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2.     a) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não. b) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar.

3.     a) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive. b) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.

        as frases de letra a de cada par são facilmente compreendidas, têm coerência;

        as frases de letra b de cada par apresentam problema de compreensão.

1 a. Todo mundo destrói a natureza menos eu. o vocábulo menos indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste caso, pode ser combinado com o pronome eu

1 b.Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo

há uma restrição, porque o vocábulo menos indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste caso, não pode ser combinado com todo mundo, que indica o grupo inteiro

2 a.Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não mas introduz uma idéia oposta, que é perfeitamente aceitável, porque todo mundo se diferencia de eu

2 b. Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar

mas introduz uma idéia oposta, que é inaceitável porque o conteúdo da idéia introduzida por mas não é o contrário da idéia anterior. Assim, a primeira parte Todo mundo viu o mico-leão não pode ser combinada com eu não ouvi o sabiá cantar por intermédio do vocábulo mas

3 a. Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive

o uso de apesar de pressupõe a presença de idéias contrárias, qualquer que seja a ordem : negativa/positiva, positiva/negativa

3 b. Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores

o uso de apesar de pressupõe a presença de idéias contrárias, qualquer que seja a ordem: negativa/positiva, positiva/negativa. Daí a incoerência da frase b, em que ocorrem duas negativas simultâneas

Estas observações mostram que a coerência de uma frase, de um texto, não se define apenas pelo modo como elementos linguísticos se combinam; depende também do conhecimento do mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão. Podemos ainda dizer que, nas frases de letra b, os elementos de coesão não foram usados de forma adequada, por isto não contribuíram para estabelecer a coerência.

O trecho abaixo

Assim como milhões de brasileiros, os habitantes da Mata Atlântica estão sentindo na pele os efeitos da crise econômica. As verbas são curtas, a fiscalização é pouca, e, com isso, as leis de proteção nem sempre são respeitadas. Resultado : mesmo sendo uma das mais importantes florestas tropicais do mundo - portanto, essencial à sobrevivência do planeta - pouco a pouco a Mata Atlântica vai desaparecendo do mapa.

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mostra as dificuldades sentidas pelos habitantes da Mata Atlântica como conseqüência da crise econômica. O sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes numa progressão harmoniosa. Observe como este sentido vai sendo construído a partir da ocorrência de vocábulos relacionados entre si. Por exemplo:

milhões de brasileiros habitantes

mundo planeta mapa

curta pouca

Mata Atlântica florestas tropicais

importante essencial

proteção sobrevivência

verbo fiscalização lei

e portanto (conectores) com isso

 

Observe finalmente:

Se está difícil sobreviver aí na cidade, imagine aqui.

Numa primeira leitura, esta mensagem parece vaga : aqui aponta para várias possibilidades de significação, entretanto cada uma elas claramente se opõe a "cidade". Mas, se situarmos esta frase como introdutória ao texto sobre a Mata Atlântica, o sentido fica mais explícito, sobretudo se a frase for acompanhada da imagem de um habitante da Mata Atlântica.

Tipos de Coerência

Em obra na qual discutem as estratégias cognitivas de compreensão do discurso, Van Dijk e Kintsch (1983) falam de coerência local e de coerência global. Enquanto a primeira se refere a partes do texto, a segunda se refere ao texto como um todo. Embora já tenha sido dito anteriormente que a coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo, de maneira cooperativa, com o seu interlocutor, acontece de, em um mesmo texto, ocorrerem partes ou passagens com problemas de incoerências - incoerências locais no caso - que acabam por perturbar a compreensão daquela passagem. A presença de uma incoerência local pode não prejudicar a compreensão do texto, mas é claro que assim não será se houver um grande número de problemas desse tipo.

Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber, coerência semântica, coerência sintática, coerência estilística, coerência pragmática.

Coerência Semântica

Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Exemplos:

1) ... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e telegrafistas para registrarem o fato.

O uso do vocábulo telegrafista é inadequado neste contexto, pois o fato que causa espanto será documentado por fotógrafos e, talvez, por cronistas, que, depois, poderão escrever uma crônica sobre ele, mas certamente telegrafistas não são espectadores comuns nessas circunstâncias.

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Ao lado deste, há um outro problema, de ordem sintática: trata-se do emprego de para onde, que teria vozes exaltadas como referente, o que não é possível, porque esse referente não contém ideia de lugar, implícita no pronome relativo onde.

Cabe ainda uma observação quanto ao tempo verbal de ouvem-se e acorreram, presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais adequado os dois verbos estarem no mesmo tempo.

2) O governo principalmente não corresponde de uma maneira correta em relação ao nível de condições que para muitos seriam uma decisão óbvia.

Nesta frase, há duas incoerências semânticas. A primeira decorre do uso inadequado de corresponder - corresponder em relação ao nível - que poderia ser substituído por responder, mas, mesmo assim, o complemento teria que ser modificado, para resolver o problema da incoerência sintática - corresponder a (alguma coisa). A segunda está na expressão nível de condições. O vocábulo nível é desnecessário, podendo-se dizer simplesmente em relação às condições.

3) Educação, problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.

A inadequação, parece-nos, se deve ao fato de não ficar claro qual é o antecedente do pronome que. Da maneira como foi escrita a frase, o antecedente é problema universal, e, neste caso, a incoerência semântica está na não-combinação entre os sentidos de ter acesso e problema. Um problema precisa ser resolvido, solucionado, mas não ser alcançado, que é o sentido de ter acesso. É muito mais provável que o autor desta frase tenha pensado que todo indivíduo deve ter acesso à educação, mas, da forma como ordenou as palavras, causou ambiguidade com relação ao antecedente do que.

Ainda dentro deste tipo de coerência, lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos e das restrições combinatórias podem também gerar frases com problemas de compreensão, como as que seguem:

O jardim que circula a casa estava maltratado.

Entramos em um círculo de mudanças.

O rei quis obter as luxúrias que sua posição oferecia.

... sendo este o dominador comum das mudanças.

O Brasil é um país em alta-rotatividade.

O que existe é um apontamento dos erros do vestibular.

A televisão transmite lazer.

Não deu asas ao pensamento, obviamente com medo de aferir a opinião dos outros.

Isto acontece quando você está batendo uma conversa informal.

O quarto era o maior ambiente do barraco.

Minhas suspeitas se atrapalham.

O sol deixa um rastro de cor reflexada na água.

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A audiência no Maracanã é grande quando jogam Vasco e Flamengo.

... vencendo a oscilação que repousava em sua mente.

Jamais fui a uma igreja seja ela de qual raça ou costume.

O tempo nos proporciona muitos sacrifícios.

O armário estava desarrumado, com as gavetas afogadas de tantas roupas dispersivas.

Coerência Sintática

Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes, etc. Exemplos:

1) Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. Onde há métodos, equipamentos e até professores melhores.

A coerência deste período poderia ser recuperada se duas alterações fossem feitas. A primeira seria a troca do relativo onde, específico de lugar, para no qual ou em que (ensino particular, no qual/ em que há métodos ...), e a segunda seria a substituição do ponto por vírgula, de maneira que a oração relativa não ocorresse como uma oração completa e independente da anterior. Teríamos a seguinte oração, sem problemas de compreensão: Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular, no qual há equipamentos e até professores melhores.

2) Na verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto, mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.

Há, nesta frase, vários problemas que prejudicam a sua coerência. O primeiro é o não-paralelismo entre leitura (nome) e escrever (verbo); seria desejável, por exemplo, dizer falta de ler, de escrever, ou falta de leitura, falta de treino de escrita. Depois foi empregada a conjunção seja, que geralmente se usa para apresentar mais de uma alternativa: seja porque tudo já vem pronto, seja porque não há estímulo por parte dos professores; usada isoladamente, ela perde o seu sentido alternativo. Talvez o autor estivesse querendo dizer seja porque tudo já vem mastigado; a elipse da conjunção na segunda expressão foi inadequada. Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de leitura acabou não se juntando a nenhum predicado, e a frase ficou fragmentada. Por último, não foi explicitado o termo que pode preencher essa função.

3) O papel preponderante da escola, que seria de formar e informar, principalmente crianças e adultos, hoje não está alcançando esse objetivo.

Esta frase apresenta o seguinte problema: ela é longa demais, por isso o predicado, muito distante do sujeito, acaba discordando dele, não gramaticalmente, mas pela inadequação do vocabulário. Pode-se dizer que há um cruzamento na estrutura da frase, o que causa uma incoerência sintática.

O papel da escolaX

não está alcançando esse objetivo.

A escola não está sendo cumprido.

(As frases usadas como exemplos foram produzidas por alunos recém-ingressos na universidade.)

Coerência Estilística

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Percebemos, pelos exemplos citados abaixo, que este tipo de coerência não chega, na verdade, a perturbar a interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à mistura de registros linguísticos. É desejável que quem escreve ou lê se mantenha num estilo relativamente uniforme. Entretanto, a alternância de registros pode ser, por outro lado, um recurso estilístico.

Leia este poema de Manuel Bandeira:

Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você e te jurar uma paixão do tamanho de um bonde

Se ele chorar

Se ele ajoelhar

Se ele se rasgar todo

Não acredita não Teresa

É lágrima de cinema

É tapeação

Mentira

CAI FORA

O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo sobre uma possível "cantada". Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o autor utiliza várias expressões da língua oral, como "do tamanho de um bonde", "se ele se rasgar todo", "cai fora" , ao mesmo tempo em que emprega o futuro do subjuntivo, tempo mais comum num registro mais cuidado.

Agora leia este trecho, extraído de uma aula gravada:

... isso aí é um conceitozinho um pouco maior, é que nós sabemos que os cloretos, por decoreba, aquele negócio que eu falei, os cloretos e prata, chumbo são insolúveis, todos os outros cloretos são solúveis. Agora pergunto: aquilo lá não é uma cascata muito grande? Quando a gente agora está por dentro do assunto? O que o cara quer dizer com solúveis, muito solúveis, pouco solúveis? Apenas um conceito relativo. AgCl é considerado insolúvel porque o que fica de AgCl é um troço tão irrisório que a gente não considera ... Entendeu qual é a jogada? O que tem na solução daqueles íons não vai atrapalhar ninguém. Você pode comer quilos desse troço que a prata não vai te perturbar. (Corpus do Projeto NURC/RJ - UFRJ- Informante: Homem, 31 anos, Professor de química numa aula para o terceiro ano do segundo grau.)

Nesta exposição, chamada, dentro do corpus do projeto, de elocução formal, o professor emprega uma grande variação de registro, movendo-se todo o tempo entre o formal, para explicar o conceito de solubilidade, e o informal, servindo-se de gírias (troço, cascata, estar por dentro, jogada, decoreba, cara), talvez com o objetivo de tornar a explicação menos pesada e a exposição mais interessante para os alunos, aproximando-se deles ao usar essa maneira de falar. Portanto, nesta passagem, a mistura de registros, sem causar incoerência, pode ter uma causa objetiva.

Coerência Pragmática

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Refere-se ao texto visto como uma seqüência de atos de fala. Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta a outra, a resposta pode se manifestar por meio de uma afirmação, de outra pergunta, de uma promessa, de uma negação. Qualquer uma dessa seqüências seria considerada coerente. Por outro lado, se o interlocutor não responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou mesmo dizer algo totalmente desconectado do tema da pergunta, estas seqüências seriam consideradas incoerentes. Exemplo:

A: Você pode me dizer onde fica a Rua Alice?

B: O ônibus está muito atrasado hoje.

Piadas podem ser elaboradas a partir de incoerências:

No balcão da companhia aérea, o viajante perguntou à atendente:

A - A senhorita pode me dizer quanto tempo dura o voo do Rio a Lisboa?

B - Um momentinho.

A - Muito obrigado.

Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um pouco incoerente a resposta obtida. Entretanto, a frase de B não é a resposta, é simplesmente um pedido de tempo para depois dar atenção ao interlocutor A. Nós é que percebemos a incoerência da sequência e tomamos o conjunto como uma piada.

Há ainda incoerências geradas a partir da desobediência a articulações de conteúdo. Se você ouvir a frase Meu irmão é filho único pode pensar que quem a pronunciou desconhece o sentido dos vocábulos usados, pois a sequência contém uma contradição. O sentido de irmão inclui o fato de que esse indivíduo tem, pelo menos, uma irmã ou irmão.

E um último exemplo pode ser esta frase, ouvida recentemente em um programa de televisão: "Me inclui fora dessa." Parece que o emissor não conhece o sentido do verbo incluir, que certamente não pode ocorrer combinado com fora. Ou então, usa expressamente o advérbio fora para explicar sua intenção de não ser incluído em algum projeto.

Texto e Coerência

Em outros temas desenvolvidos nesta série - O texto narrativo (tema 6), O texto descritivo (tema 7), O texto dissertativo e a argumentatividade (tema 8) -, mostramos como a coerência e a coesão ocorrem nos diversos tipos de texto. Retomando este ponto, lembramos que cada tipo de texto tem sua estrutura própria, por isso os mecanismos de coerência e de coesão também vão se manifestar de forma diferente na superfície linguística, conforme se trate de um texto narrativo, descritivo ou dissertativo-argumentativo.

No texto narrativo, a coerência existe em função, sobretudo, da ordenação temporal. Tomemos como exemplo o conhecido poema A pesca, de Affonso Romano de Sant’Anna, em que não há elementos coesivos. No entanto há coerência em função de uma sequência temporal depreendida não só da ordem em que foram colocados os substantivos, mas da escolha de vocábulos de campos semânticos relacionados à pesca.

A pesca

o anil a garganta

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o anzol

o azul

o silêncio

o tempo

o peixe

a agulha

   vertical

   mergulha

a água

a linha

a espuma

o tempo

a âncora

o peixe

a âncora

o peixe

a boca

o arranco

o rasgão

aberta a água

aberta a chaga

aberto o anzol

aquelíneo

ágil claro

estabanado

o peixe

a areia

o sol

material

anzol isca "agulha" linha

peixe

boca rasgão chaga garganta

mar

azul anil areia sol mergulhar

A história infantil A Casa Sonolenta, um texto narrativo e descritivo, é mais um bom exemplo de como a sequência é fundamental para que se estabeleça a coerência textual.

Era uma vez

uma casa sonolenta

onde todos viviam dormindo

Nessa casa

tinha uma cama

uma cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

Em cima desse cachorro tinha um gato

um gato ressonando,

em cima de um cachorro cochilando,

em cima de um menino sonhando,

em cima de uma avó roncando,

numa cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

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onde todos viviam dormindo.

Nessa cama

tinha uma avó,

uma avó roncando,

numa cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

onde todos viviam dormindo.

Em cima dessa avó

tinha um menino,

um menino sonhando,

em cima de uma avó roncando,

numa cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

onde todos viviam dormindo.

Em cima desse menino

tinha um cachorro,

um cachorro cochilando,

em cima de um menino sonhando,

em cima de uma avó roncando,

numa cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

onde todos viviam dormindo.

onde todos viviam dormindo.

Em cima desse gato

tinha um rato,

um rato dormitando,

em cima de um gato ressonando,

em cima de um cachorro cochilando,

em cima de um menino sonhando,

em cima de uma avó roncando,

numa cama aconchegante,

numa casa sonolenta,

onde todos viviam dormindo.

E em cima desse rato

tinha uma pulga...

Será possível?

Um pulga acordada,

que picou o rato,

que assustou o gato,

que arranhou o cachorro,

que caiu sobre o menino,

que deu um susto na avó,

que quebrou a cama,

numa casa sonolenta,

onde ninguém mais estava dormindo.

A história se estrutura com base em dois momentos:

1º momento - todos estão dormindo.

2º momento - todos acordam, cada um por sua vez, movidos pela ação da pulga.

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A coerência, na primeira parte, se dá pela escolha de vocábulos do campo semântico de dormir - cama, sonolenta, aconchegante, roncando, sonhando, ressonando, dormitando, cochilando. Não houve repetição de nenhum verbo, e cada um deles foi combinado coerentemente com cada habitante da casa. O caráter descritivo desta parte se apóia em adjetivos (caracterizando os seres inanimados) e verbos no gerúndio e pretérito imperfeito (atribuídos aos seres animados).

A segunda parte do texto apresenta a mudança desencadeada a partir da picada da pulga. Os verbos estão no pretérito perfeito, marcando a ação finalizada.

casa sonolenta casa acordada

dormindo roncando sonhando ressonando cochilando viviam tinha

picou assustou arranhou caiu deu quebrou  

Lembramos ainda o título do conto de Carlos Drummond de Andrade - Flor, telefone, moça. Os três vocábulos juntos, aparentemente, não constituem título coerente para um conto. No entanto, a coerência advém do próprio conto, que se resume na seguinte história: uma moça, que tinha o costume de passear no cemitério, um dia, com um gesto distraído, arrancou uma flor de um túmulo, machucou-a com as mãos e depois jogou-a fora. A partir daí, passa a receber insistentes telefonemas feitos por uma voz que reclama de volta a sua flor. A família se envolve, tentando uma solução para os telefonemas que, a cada dia, deixam a moça mais nervosa e sem apetite. O caso termina em tragédia. A moça, sem ânimo para coisa alguma, acaba definhando e morrendo. Nunca mais houve telefonemas. Apenas os fatos narrados no conto justificam a ordem em que os vocábulos foram organizados no título.

No texto descritivo, a coerência se estabelece, sobretudo, em função de uma ordenação espacial. Quem descreve procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma pessoa, seja um cenário, seja um objeto, obedecendo a uma sequência, com a finalidade de auxiliar o leitor/ouvinte a compor o todo a partir dessas informações parciais. No trecho abaixo, extraído de "Vidas Secas", temos uma série de atos que, se alterada, prejudica a coerência do texto.

"(Sinhá Vitória) Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogo longe uma cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extravagante associação, relacionou esse ato com a lembrança da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se - e não conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. O resultado foi secar a garganta. Ergueu-se desapontada. Besteira, aquilo não valia. Aproximou-se do canto onde o pote se erguia numa forquilha de três pontas, bebeu um caneco de água. Água salobra."

Com respeito a essa ordenação das informações num texto descritivo, é interessante assinalar que a ordem em que são percebidos os objetos ou os componentes de uma cena pode determinar a organização linear das sequências usadas para descrevê-los, como no parágrafo abaixo:  

O homem estava sentado num tamborete rústico, com os joelhos cruzados e a cabeça baixa. À sua direita havia uma mesinha de desarmar, entulhada de lápis de vários tipos e cores, folhas de papel em branco, borrachas, tesoura e um pouco de estopa. Havia ainda uma tabuleta em cima da

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pequena mesa, apoiando-se na pilastra onde estavam expostos seus trabalhos: fotografias coloridas de grandes personalidades e caricaturas também de grandes personalidades.

(Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil)

Entretanto, isto pode não acontecer, ou seja, a ordenação é feita a partir da seleção das informações julgadas relevantes, como no texto abaixo:

A cerimônia esteve muito concorrida. Presidiu o Presidente da República, que fez o discurso inaugural. Foi preciso esperar meia hora pelo Primeiro Ministro, que chegou, como sempre, atrasado e sorridente.

No texto dissertativo-argumentativo, é muito importante para a coerência a ordenação lógica das ideias. As possibilidades de correlacionar os argumentos decorrem dos operadores lógico-discursivos empregados. Há conectores específicos para se expressar as diferentes articulações sintáticas - causa, finalidade, conclusão, condição etc. - e eles devem ser usados adequadamente, de acordo com a relação que se quer exprimir ao desenvolver uma argumentação. É ainda muito importante, com respeito à coesão, uma combinação cuidadosa dos tempos verbais empregados. Observe:

Depois que um rolo compressor passou pelo cinema brasileiro, alijando-o intempestivamente do mercado, é bom saber que existem fórmulas ao alcance de diretores, produtores, roteiristas e artistas para retomar o diálogo. O mercado consumidor tem fôlego, mas tende, por distorção natural, a se voltar para o filme estrangeiro. Precisa de boa sacudida que o faça retomar o caminho de casa, desde que, evidentemente, o produto da casa satisfaça suas expectativas.

Temos, neste parágrafo, os conectores mas (ideia adversativa) e desde que (condição), que não podem ser substituídos por conectores de outro sentido, sob pena de alterar o que se quer expressar. As expressões é bom saber, evidentemente têm a finalidade de introduzir e reforçar os argumentos. Finalmente, lembramos que o uso do conector desde que pede o emprego do verbo no modo subjuntivo, tempo presente, o que foi feito pelo autor do texto (desde que ... satisfaça). O mesmo se verifica na frase anterior: Precisa de boa sacudida que o faça... É importante, pois, escolher os conectores adequados, quando o objetivo é argumentar de maneira coerente e coesa.

Considerações sobre o Conceito de Coesão

São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão. Apoiados nos trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e Marcuschi (1983), apresentamos algumas considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a presença e a importância desse fenômeno na produção e interpretação dos textos.

Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido." Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A." Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: "são aqueles que dão conta da sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido."

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A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto em enunciados mais complexos. Observe:

1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências. 2) Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas de mulheres decidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida. 3) Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a terra e todos os outros seres vivos.

Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três gerações e o fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de mulheres e os seres humanos, respectivamente. Estes são apenas alguns mecanismos de coesão, mas existem muitos outros, como veremos mais adiante.

Vejamos agora a coesão num período mais complexo:  

Os amigos que me restam são da data mais recente; todos os amigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.

(Machado de Assis, Dom Casmurro)

Observemos os elementos de coesão presentes neste texto.

No primeiro período, temos o pronome que remetendo a amigos, que é o sujeito dos verbos restam e são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo modo, amigos é o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se relacionam a amigos.

Já no segundo período, em que o autor discorre sobre as amigas, os pronomes algumas, outras, todas remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a amigas, que, por sua vez, é o sujeito de datam, creem, fariam, falam; nela retoma a expressão na mocidade, evitando sua repetição; que representa a língua. E, para retomar muita vez, o autor usou a expressão sinônima tal frequência.

Esses fatos representam mecanismos de coesão, assinalando relações entre os vocábulos do texto. Outros mecanismos marcam a relação de sentido entre os enunciados. Assim, os vocábulos mas (mas a língua que falam), e (e quase todos creem na mocidade, e tal frequência é cansativa) assinalam relação de contraste ou de oposição e de adição de argumentos ou ideias, respectivamente. Dessa maneira, por meio dos elementos de coesão, o texto vai sendo "tecido", vai sendo construído.

A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra clássica sobre coesão textual, que tem servido de base para grande número de estudos sobre o assunto, afirmam que a coesão é condição necessária, mas não suficiente, para que se crie um texto. Na verdade, para que um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver relações de sentido entra essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades linguísticas presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva, por algumas razões. Uma delas é que podemos ter conjuntos linguísticos destituídos de elos coesivos que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma continuidade semântica, como vimos no texto "Circuito Fechado", de Ricardo Ramos.

Um outro bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos coesivos explicitados linguisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só existem verbos.  

Como se conjuga um empresário

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Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ...

Neste texto, a coerência é depreendida da sequência ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se ... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de um empresário.

Podemos constatar que "Como se conjuga um empresário" não precisou de elementos coesivos para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para garantir a coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir:

As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando. A água da piscina parece limpa, entretanto foi tratada com cloro. A vista que tenho da casa é muito agradável.

Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos didáticos, expositivos, jornalísticos depende da utilização explícita de elementos conectores.

Mecanismos de Coesão

São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização.

Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como instrumentos de coesão." Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:

Coesão Gramatical

Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal.

De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão gramatical, a saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial.

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        Coesão Frásica - este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos:

1)Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas, sofisticadas.

concordância nominal

praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas

(subst.) (adjetivos)

todos os gostos

(pron.) (artigo) (substantivo)

concordância verbal

Florianópolis tem

(sujeito) (verbo)

2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo que poucas cantoras, no mundo inteiro, têm.

concordância nominal

voz rascante, oclusiva, suingada

poucas cantoras

música brasileira

mundo inteiro

concordância verbal

voz é

cantoras têm

Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, deslocamentos de vocábulos ou expressões dentro da oração podem levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado. Observe estas frases:

a) O barão admirava a bailarina que dançava com um olhar lânguido.

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A expressão com um olhar lânguido, devido à posição em que foi colocada, causa ambiguidade, pois tanto pode se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é preciso alterar a ordem dos vocábulos.

O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina que dançava.

O barão admirava a bailarina que, com um olhar lânguido, dançava.

b) A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada..

A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da estrada e em que ele estava passeando. A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente? Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade, recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos. Poderíamos ter, então:

A moto em que lentamente ele estava passeando saiu da estrada.

A moto em que ele estava passeando saiu lentamente da estrada.

Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a relação que estabelecem com o seu complemento.

Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos frases como: Ainda não assisti o filme que foi premiado no festival. Ou A peça que assisti ontem foi muito bem montada (ao invés de a que assisti).

No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com proposição ou não. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite.Os Anjos do Asfalto assistiram as vítimas do acidente.

No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem se prestar a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim do verão, podemos entender que a Mesbla foi liquidada, foi vendida ou que a Mesbla promoveu uma liquidação de seus produtos. Isso acontece porque o nome liquidação está acompanhado de um outro termo (da Mesbla). Dependendo do sentido que queremos dar à frase, podemos reescrevê-la de duas maneiras:

A Riachuelo foi liquidada no fim do verão.

A Riachuelo promoveu uma liquidação no fim do verão.

        Coesão Interfrásica - designa os variados tipos de interdependência semântica existente entre as frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos conectores ou operadores discursivos. É necessário, portanto, usar o conector adequado à relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos diferentes tipos de conectores que podemos empregar:

a) As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias encontram as condições ideais para acasalar, parir e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, que ainda amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa, porque é difícil conciliar amamentação e viagem, já que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite por dia para

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atingir a média ideal de aumento de peso: 35 quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e, por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram dezenas de milhares na época do descobrimento, quando estacionavam em vários pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía de Guanabara.

  (Revista VEJA, no 30, julho/97)

b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água.

  (idem)

c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que, depois de cinco anos, é completamente diferente da original.

  (idem)

d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos, porém tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta.

  (idem)

e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos.

  (idem)

f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar na superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água. Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. Em seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e usa a língua como uma canaleta a fim de jogar o que interessa goela adentro.

  (idem)

g) Várias publicações estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes valha a pena comprar a versão original.

  (idem)

h) Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere, portanto, descobrir através dele o horário de funcionamento dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o turista pode comprar roupas, óculos, sapatos, discos, livros, no entanto, não fornece as faixas de preço das lojas.

  (idem)

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i) Se já não é possível espantar a chicotadas os vendilhões do templo, a solução é integrá-los à paisagem da fé. (...) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados de ficar de fora, mas também das pessoas que frequentam o interior do templo para exercer a mais legítima de suas funções, a oração.

  (Revista VEJA, no 27, julho/97)

j) Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão entre a cruz e a caixa registradora. Vivem a dúvida de preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendimento que pode trazer benesses materiais.

  (idem)

l) A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve gerar pelo menos 1000 empregos.

  (idem)

m) Aparentemente boa, a infraestrutura da Basílica se transforma em pó em outubro, por exemplo, quando num único fim de semana surgem 300 mil fiéis.

  (idem)

n) O shopping da fé também contará com um centro de eventos com palco giratório.

  (idem)

Conectores:

e (exemplos a,d,f) - liga termos ou argumentos. porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exemplos b, f) - introduzem uma explicação ou justificativa. para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - indicam uma finalidade. porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam uma contraposição. como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam uma comparação. portanto (h) - evidencia uma conclusão. Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que (c) - servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos. então (d) - operador que serve para dar continuidade ao texto. se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra. não só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos. na verdade (exemplo j) - expressa uma generalização, uma amplificação. ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa. por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes. também (exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado.

Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a coesão se dá em função da sequência do texto, da ordem em que as informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um exemplo de justaposição.

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Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di.

(Revista VEJA, no 37,setembro/97)

Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração "Quando se irritava com alguém, não media palavras". Os demais possíveis conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula.

        Coesão Temporal - uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos:

A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4 milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971]

(Muniz Sodré, A comunicação do grotesco)

Temos, neste parágrafo, a apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta trajetória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje.

Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro.

        Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos. Exemplos:

a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele também o faz.

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 -(Revista VEJA, no 30,julho/97)

ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe. ele - retoma o termo filhote ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.

b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido". Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade.

 -(Revista VEJA, nº 36, setembro/97)

que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa. princesa retoma a expressão princesa Diana. papa retoma a expressão Papa João Paulo II. onde refere-se à cidade de Calcutá.

Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que, que introduzem, respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa.

c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho,e aceita copular. Como há mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter certeza de que engravidarão.

 -(Revista VEJA, no 30, julho/97)

Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência - a anafórica. Os pronomes elas (que retoma jubartes), ela (que retoma fêmea), elas (que se refere a fêmeas) e deles (que se refere a machos) ocorrem depois dos nomes que representam.

d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-costas não se lembra de nada.

 -(Revista VEJA, no 37, setembro/97)

e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por isso, muitas vezes, as mulheres precisam fazer escolhas difíceis.

 -(Revista VEJA, no 30, julho/97)

Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente a guarda-costas e mulheres aparecem antes do nome que retomam.

f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava pilotos experientes.

 -(Revista VEJA, no 27, julho/97)

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Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas por elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo - é que indica a referência.

Existe ainda a possibilidade de uma idéia inteira ser retomada por um pronome, como acontece nas frases a seguir:

a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm alcançando bons resultados.

 -(Revista VEJA, no 30, julho/97)

O pronome esse retoma toda a seqüência anterior.

b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo

 -(Revista VEJA, junho/97)

O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.

c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os demais habitantes transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida para os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego de argumentos falsos.

 -(Revista VEJA, julho/97)

Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão.

ali - faz referência a área pública, anteriormente citada.

disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a partir do operador ou seja.

ou seja, pelo contrário - conectores que introduzem uma retificação, uma correção.

Além disso - conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao que está sendo discutido.

Primeiro e Segundo - estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos assuntos.

Coesão Lexical

Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição.

Por reiteração entendemos a repetição de expressões linguísticas; neste caso, existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas vezes é repetido o nome da refinaria.

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Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar certo.

Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional, muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível.

Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era incomum.

E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam outra direção.

Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga se transformaria numa das principais empresas do país, com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares?

E, que além de tudo, está preparada para o futuro?

É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias.

(Revista VEJA, nº 37, setembro/97)

Outro exemplo:

A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros espanhóis, aventureiros ingleses e aventureiros franceses, que procuraram portos naturais, portos seguros para proteger suas embarcações de tempestades.

(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)

A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. Vamos ilustrar cada um desses mecanismos por meio de exemplos.

Sinonímia

a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a ilha da Fantasia.

 -(Revista VEJA, nº 39, outubro/97)

Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso, há um julgamento de valor na substituição de Cuba por ilha da Fantasia, numa alusão a lugar onde não há seriedade.

b) Aos 26 anos, o zagueiro Júnior Baiano deu uma grande virada em sua carreira. Conhecido por suas inconsequentes "tesouras voadoras", ele passou a agir de maneira mais sensata, atitude que já levou até a Seleção Brasileira.

Patrícia, a esposa, e os filhos Patrícia Caroline e Patrick são as maiores alegrias desse baiano nascido na cidade de Feira de Santana. "Eles são a minha razão de viver e lutar por coisas boas", comenta o zagueiro.

Na galeria do ídolos, Júnior Baiano coloca três craques: Leandro, Mozer a Aldair. "Eles sabem tudo de bola, diz o jogador. O zagueiro da Seleção só questiona se um dia terá o mesmo prestígio deles.

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Deixando para trás a fase de desajustado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora orienta os mais jovens e aposta nesta nova geração do Flamengo.

 -(Jornal dos Sports, 24/08/97)

Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as constantes repetições que tornam um texto cansativo e pouco atraente. Observe quantas diferentes maneiras foram empregadas para fazer alusão à mesma pessoa. Dentro desse parágrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesão já vistos anteriormente: sua, ele, o, que retomam o jogador Júnior Baiano, e deles, que retoma os três craques.

c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no abrigo do bonde, o homem mantinha-se concentrado no seu serviço. Era especialista em colorir retrato e fazia caricatura em cinco minutos. No momento, ele retocava uma foto de Getúlio Vargas, que mostrava um dos melhores sorrisos do presidente morto.

 -(Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil)

d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos longos como Jesus e barbas longas. Nos pés calçava sandálias para enfrentar o pó das estradas e, a cabeça, protegia-a do sol inclemente com um chapelão de abas largas. Nas mãos levava um cajado, como os profetas, os santos, os guiadores de gente, os escolhidos, os que sabiam o caminho do céu. Chamava os outros de "meu irmão". Os outros chamavam-no "meu pai". Foi conhecido como Antonio dos Mares, uma certa época, e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o intitulavam "Bom Jesus", "Santo Antonio". De batismo, era Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama, era Antônio Conselheiro, nome com o qual conquistou os sertões e além.

 -(Revista VEJA,setembro/97)

Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia para o nome de Antônio Conselheiro.Por ser um parágrafo rico em mecanismos de coesão, vale a pena mostrar mais alguns deles. Por exemplo, o sujeito de vestia, tinha, calçava, levava, chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo, isto é, Antônio Conselheiro, mas só ao final do texto esse sujeito é esclarecido. Dizemos, então, que, neste caso, houve uma referência por elipse.

Chamavam-no e o intitulavam - os pronomes oblíquos no e o retomam a figura de Antônio Conselheiro. Da mesma forma, o pronome a (protegia-a) refere-se ao nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como referente o mesmo Antônio Conselheiro.

e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é essa a intenção do presidente Kleber Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de seu atacante uma moeda de troca. "No ano passado me ofereceram US $ 9 milhões e mais o passe do Romário pelo Sávio e eu não fiz negócio", lembrou. Segundo Kleber, o jogador tem categoria suficiente para se transformar em um ídolo nacional. Por falar em prata da casa,o presidente do Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos jovens valores do clube para o segundo semestre. Ele acha que, mantendo a base, com Sávio, Júnior Baiano, Athirson, Evandro e Lúcio, o time rubro-negro terá condições de chegar às finais do Campeonato Brasileiro e Supercopa.

 -(Jornal dos Sports, 24/08/97)

As expressões assinaladas em azul se referem à mesma pessoa. Na verdade, temos em dirigente um sinônimo de fato, enquanto as outras substituições podem ser chamadas de elipses parciais, embora todas remetam ao presidente do clube carioca. Existe igualmente sinonímia entre Sávio, atacante e jogador.

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f) Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e benefícios dos trabalhadores, todo governante europeu hoje em dia baba de inveja dos Estados Unidos - o país do cada um por si e o governo, de preferência, bem longe dessas questões. Pois foi justamente na terra do vale-tudo entre patrão e empregado que 185000 filiados de um sindicato cruzaram os braços neste mês e pararam por quinze dias a UPS, a maior empresa de entregas terrestres do mudo.

 -(Revista VEJA, setembro/97)

Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo, os sinônimos escolhidos para Estados Unidos se revestem de um juízo de valor, são denominações de caráter pejorativo.

Antonímia - É a seleção de expressões linguísticas com traços semânticos opostos. Exemplos:

a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens catarinenses.

 -(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)

Hiperonímia e Hiponímia - Por hiperonímia temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia designamos o caso inverso: a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras, essas substituições ocorrem quando um termo mais geral - o hiperônimo - é substituído por um termo menos geral - o hipônimo, ou vice-versa. Os exemplo ajudam a entender melhor.

a) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos.

 -(Revista VEJA, no 30, julho/97)

b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir.

 -(Idem)

c) Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes são as únicas que cantam - tanto que são conhecidas também por "baleias cantoras".

 -(Idem)

d) A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma de artesanato catarinense.

 -(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)

e) O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadeiro festival de localidades famosas: a praia de Camboriu, a ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito.

 -(Idem)

f) Dado que, entre os assentados, é expressivo o número de analfabetos, pode-se ter uma idéia de quanto é difícil elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com pouco dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar sementes de qualidade baixa e voltar-se para a produção de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos de trabalho mais corriqueiros, também há escassez brutal, e a maioria dos assentados não dispõe nem mesmo de uma pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que

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os sem-terra tenham escolhido a foice como um dos seus símbolos de luta pela reforma agrária, o instrumento mais comum ainda é a velha enxada.

 -(Revista VEJA, nº 29, julho/97)

Hiperônimos (termos mais gerais)

Hipônimos (termos mais específicos)

baleias

animais

cetáceos

artesanato

litoral norte

instrumentos

jubartes

jubartes

baleias

renda de bilro

praia, ilha, enseada

pá, picareta, foice, enxada

Vale a pena apontar também a coesão lexical por sinonímia, entre assentados e sem-terra (exemplo f) e entre jubartes e baleias cantoras (exemplo c). Os pronomes eles (caso reto) e se (caso oblíquo) são exemplos de coesão gramatical referencial, pois remetem aos assentados.

Coerência e Coesão Seu Papel na Compreensão e Produção de

Textos

Neste último item, nosso objetivo é mostrar como o trabalho com os mecanismos de coerência e coesão é necessário para a atividade de compreensão e produção de textos. Este trabalho não deve se ater ou se restringir aos nomes e definições de cada mecanismo, isto não seria de grande proveito. É preciso, acima de tudo, mostrar aos alunos como devem, ao produzir seus textos, lidar com a coerência e a coesão.

Como afirma Koch (1990), "um professor pode fazer grandes modificações em sua metodologia de ensino de produção e compreensão de textos, baseando-se nas descobertas da Linguística Textual sobre coesão e coerência, sem fazer qualquer referência teórica sobre o assunto para seus alunos de 1º e 2º graus."

Às vezes, a grande preocupação do ensino de língua portuguesa é fazer com que os alunos decorem, por exemplo, uma interminável lista de conjunções, as coordenativas e as subordinativas. É muito mais produtivo eles entenderem o sentido das conjunções, sua função argumentativa, as relações que estabelecem entre as idéias como uma forma de evitar os períodos incoerentes do ponto de vista sintático e semântico.

Outro assunto que também é trabalhoso no ensino de língua portuguesa diz respeito à pontuação. São extremamente comuns as queixas não sei pontuar, não sei usar vírgulas, etc. Seria, talvez, mais proveitoso aliar o ensino da pontuação ao ensino dos mecanismos de coerência e coesão, mostrando a importância da pontuação para o estabelecimento do sentido do texto. Assim como podemos usar conectores e outros elementos de coesão para articular vocábulos ou orações e indicar as relações existentes entre eles, os sinais de pontuação também contribuem para a

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"costura" do texto. Observe o trecho abaixo, extraído de uma reportagem sobre o pintor Di Cavalcanti.

Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça. Nunca ficava bêbado. Tinha um poder enorme sobre o copo. Bebia, depois deitava, lia, relaxava.

(Revista VEJA, nº 37, julho/97)

Temos um período formado de quatro orações, separadas por ponto. Embora não haja conectores gramaticais explícito, percebemos de que forma essas orações se combinam, formando uma seqüência. Entretanto, se quiséssemos usar conjunções e outros coesores, poderíamos reescrever esse mesmo período da seguinte maneira:

Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça, porém (entretanto, mas, contudo) nunca ficava bêbado, pois (porque, visto que, dado que) tinha um poder enorme sobre o copo, isto é, bebia, depois deitava, lia, descansava.

Esta reescritura serve para mostrar o sentido das conjunções empregadas, sua adequação ao transmitir as relações entre as orações, e, sobretudo, a possibilidade de substituir os pontos por conectores explícitos antecedidos de vírgulas. Observamos ainda que essa forma de escrever (sem as conjunções) pode ser marca de um estilo, estando de acordo com as intenções e preferências do autor do texto.

Na atividade de produção de textos, percebemos que, muitas vezes, os problemas mais graves advêm das falhas na estruturação da frase, da incoerência das ideias, da ausência de unidade e encadeamento lógico dos argumentos. Daí a necessidade de saber lidar com a coerência e a coesão, mostrando como cada uma delas contribui para a elaboração de um bom texto.

Muitas vezes, o cuidado maior, por parte dos professores, é com a correção gramatical, como se ela fosse a qualidade mais importante do texto. Lembramos aqui as sempre atuais colocações de Othon M. Garcia (1973): "uma composição pode estar absolutamente correta do ponto de vista gramatical e revelar-se absolutamente inaproveitável." Mais adiante continua: "Quando o estudante aprende a concatenar as ideias e estabelecer suas relações de dependência, expondo seu pensamento de modo claro, coerente e objetivo, a forma gramatical vem com um mínimo de erros que não chegam a invalidar a redação. E esse mínimo de erros se consegue evitar com um mínimo de ‘regrinhas’ gramaticais."

Há, nos estudos sobre coerência e coesão, uma posição comum quanto à íntima relação entre esses dois mecanismos na produção e compreensão de textos. Vimos que a coesão não garante a coerência, embora concorra para que esta se estabeleça. Charolles (1986) é muito claro quando afirma que "o uso dos mecanismos coesivos tem por função facilitar a interpretação do texto e a construção da coerência pelos usuários. No entanto, eles [os mecanismos coesivos] podem produzir incoerências: como possuem, por convenção, funções específicas, não podem ser usados sem respeitar tais convenções. Se isto acontecer, isto é, se o seu uso contrariar a sua função, o resultado será a incoerência ou a falta de sequencialidade de modo que o leitor/ouvinte não será capaz de construir a interpretação adequada."

Finalmente, é bom lembrar que, se o professor quer que seus alunos produzam textos coerentes e coesos, pode, em primeiro lugar, mostrar a presença desses mecanismos em textos literários, não-literários, jornalísticos, publicitários. Desta forma, vai familiarizar seu público com essas novas aquisições linguísticas. Nesta etapa, os alunos vão perceber que fazem parte da língua elementos que têm a função de estabelecer relações textuais. Trata-se de processos de seqüencialização que

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asseguram uma ligação entre os elementos linguísticos formadores do texto - são os chamados recursos de coesão textual ou instrumentos de coesão.

Só então os alunos passariam a desenvolver a sua própria produção. Muitas vezes, não basta dizer que o texto do aluno é incoerente; é preciso mostrar onde estão os problemas e, sobretudo, como podem ser resolvidos.

Indicações Bibliográficas

1.    ABREU, Antonio S. Curso de redação. São Paulo, Ática, 1990.

2.    ANTUNES, Irandé C. Aspectos da coesão do texto. Recife, Editora da UFPE, 1996.

3.    CUNHA, Celso F. e CINTRA, L. F. Lindley. Gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985

4.    FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. São Paulo, Ática, 1991.

5.    FIORIN, José L. e SAVIOLI, Francisco P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo, Ática, 1996.

6.    GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1973.

7.    HALLIDAY, M.A.K. e HASAN, R. Cohesion in English. Londres, Longman, 1976.

8.    KOCH, Ingedore V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo, Contexto, 1997.

9.    ------------------------- A coesão textual. São Paulo, Contexto, 1990.

10. KOCH, Ingedore V. e TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e coerência. São Paulo, Cortez, 1989.

11. -------------------------------------------------------- A coerência textual. São Paulo, Contexto, 1990.

12. MIRA MATEUS, M. Helena et alii. Gramática da língua portuguesa. Coimbra, Livraria Almedina, 1983.

13. VAN DIJK, T.A. e KINTSCH, W. Strategies in discourse comprehension. New York, Academic Press, 1983.

Uma leitura de resenhas (Graziela R. S. Costa Pinto )

      As resenhas são textos críticos e informativos sobre livros. Geralmente publicadas em jornais e revistas especializadas, objetivam divulgar os novos lançamentos editoriais de forma sintética e comentada. O resenhista, além de ter lido o livro, precisa ser um conhecedor do assunto para poder discuti-lo e criticá-lo de forma abrangente e rigorosa.

      Uma resenha serve a seus propósitos quando desperta a atenção do leitor para o livro em questão, situando-o quanto à importância de tal lançamento editorial na área a que se destina (literatura, filosofia, psicologia etc.). Para que isso ocorra é necessário um texto fluente contendo as seguintes informações:

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      * o título do livro resenhado, o nome completo do seu autor e editora

      * uma pequena biografia do autor, contendo aspectos relevantes de sua vida e de sua obra

      * um resumo das principais ideias do livro

      * comentários críticos sobre o conteúdo e o estilo formal do livro

      1. Organizar a classe em grupos de 2 ou 3 alunos e distribuir diferentes tipos de textos (resenhas, crônicas, entrevistas etc.) publicados no Estadão.

      2. Solicitar aos alunos que selecionem somente as resenhas tendo em mente as características principais, relacionadas acima.

      3. Selecionadas as resenhas, propor aos alunos que justifiquem sua escolha por meio de uma análise do texto: destaque dos trechos que contenham as informações fundamentais para este tipo de texto jornalístico.

      4. Finalmente, propor que identifiquem a opinião pessoal do resenhista sobre o livro que analisou, se ele gostou ou não do livro e por quê.

      O professor pode também propor aos alunos que cada um escolha um livro e elabore individualmente uma resenha, como tarefa de casa. Em data combinada, eles trarão os resultados e pode-se promover uma discussão enfocando questões tais como: Por que você escolheu essa obra? Quais os aspectos mais importantes do livro analisado? Qual é sua opinião sobre ele?

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE COMO FAZER RESENHA (Prof. Dr. Pedro Cezar Dutra Fonseca )

      Resenha é um trabalho de síntese que revistas e jornais científicas publicam geralmente logo após a edição de uma obra, com o objetivo de divulgá-la. Não se trata de um simples resumo.

      O resumo deve se limitar ao conteúdo do trabalho, sem qualquer julgamento de valor. Já a resenha vai além, resume a obra e faz uma avaliação sobre ela, apresentando suas linhas básicas, deve avaliá-la, mostrando seus pontos fortes e fracos.

      A resenha pode ser de um ou mais capítulos, duma coleção ou mesmo dum filme. Apresenta falhas, lacunas e virtudes, explora o contexto histórico em que a obra fora elaborada e faz comparações com outros autores.

      Conhecida como resumo crítico, a resenha só pode ser elaborada por alguém com conhecimentos na área, pois sua elaboração exige opinião formada, pois além de resumir, o resenhista avalia a obra, sustentando suas considerações, deve embasá-las seja com evidências extraídas da própria obra ou de outras de que se valeu para elaborar a resenha.

      "Se o resumo do conteúdo da obra não está bem feito, o leitor que não a conhece encontrará dificuldades em acompanhar a análise crítica. Se, por outro lado, o recensor se limita a relatar o conteúdo, sem julgá-lo criticamente, ele estará escrevendo um resumo e não uma recensão crítica. Finalmente, se ele não sustenta ou ilustra seus julgamentos com dados extraídos da obra recenseada, ele não dá ao leitor a oportunidade de formar seus próprios julgamentos".

      De uma boa resenha devem constar:

      a referência bibliográfica da obra, preferencialmente seguindo a ABNT;

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      alguns dados biográficos relevantes do autor (titulação, vínculo acadêmico e outras obras, por exemplo);

      o resumo da obra, ou síntese do conteúdo, destacando a área do conhecimento, o tema, as ideias principais e, opcionalmente, as partes ou capítulos em que se divide o trabalho. Deve-se deter no essencial, mostrando qual é o objetivo do autor, evitando recorrer a detalhes e exemplos, com máxima concisão. Este momento é mais informativo que crítico, embora a crítica já possa estar presente;

      as categorias ou termos teóricos principais de que o autor se utiliza, precisando seu sentido, o que ajuda evidenciar seu approach teórico, situando-o no debate acadêmico e permitindo sua comparação com outros autores. Aqui não só se deve expor claramente como o autor conceitua ou define determinado termo teórico, mas já se deve introduzir críticas, seja à utilização ou à própria conceituação feita pelo autor [em uma resenha para revistas especializadas, esta parte pode ser dispensada, até por economia de espaço, mas é essencial em trabalhos de aula, em que o recensor é também aprendiz];

      a avaliação crítica, nos termos já referidos anteriormente no item 1. Este é o ponto alto da resenha, onde o recensor mostra seu conhecimento, dialoga com o autor e/ou com leitor, dá-se ao direito de proceder a um julgamento. Há vários tipos de críticas, mas destacam-se: (a) a interna, quando se avalia o conteúdo da obra em si, a coerência diante de seus objetivos, se não apresenta falhas lógicas ou de conteúdo; e (b) a externa, quando se contextualiza o autor e a obra, inserindo-os em um quadro referencial mais amplo, seja histórico ou intelectual, mostrando sua contribuição diante de outros autores e sua originalidade.

      Atualmente quase todas as revistas científicas trazem boas seções de resenhas. Sempre é aconselhável ir a uma biblioteca e consultar alguns destes periódicos para observar atentamente como os mais destacados profissionais e pesquisadores da área as elaboram.

      Finalmente, deve-se lembrar que o recensor deve preocupar-se com a obra em sua totalidade, sem perder-se em detalhes e em passagens isoladas que podem distorcer ideias. Deve-se certamente apresentar e comentar pontos específicos, fortes ou fracos do trabalho, mas estes devem ser relevantes. Nada mais deplorável do que uma crítica vazia de conteúdo, sem base teórica ou empírica, que lembre preconceito. Ou elogios gratuitos, que podem parecer corporativismo ou "puxa-saquismo".

      Bibliografia:

      FRANÇA, Júnia Lessa et alii. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. Belo Horizonte, UFMG, 2000.

      SILVA, Rebeca Peixoto da Silva et alii. Redação técnica. 2.ed. Porto Alegre, Formação, 1976.

Como resumir texto

      Ler não é apenas passar os olhos no texto. É preciso saber tirar dele o que é mais importante, facilitando o trabalho da memória. Saber resumir as ideias expressas em um texto não é difícil. Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que o autor disse.

      Para se realizar um bom resumo, são necessárias algumas recomendações:

      1. Ler todo o texto para descobrir do que se trata.

      2. Reler uma ou mais vezes, sublinhando frases ou palavras importantes. Isto ajuda a identificar.

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      3. Distinguir os exemplos ou detalhes das ideias principais.

      4. Observar as palavras que fazem a ligação entre as diferentes ideias do texto, também chamadas de conectivos: "por causa de", "assim sendo", "além do mais", "pois", "em decorrência de", "por outro lado", "da mesma forma".

      5. Fazer o resumo de cada parágrafo, porque cada um encerra uma ideia diferente.

      6. Ler os parágrafos resumidos e observar se há uma estrutura coerente, isto é, se todas as partes estão bem encadeadas e se formam um todo.

      7. Num resumo, não se devem comentar as ideias do autor. Deve-se registrar apenas o que ele escreveu, sem usar expressões como "segundo o autor", "o autor afirmou que".

      8. O tamanho do resumo pode variar conforme o tipo de assunto abordado. É recomendável que nunca ultrapasse vinte por cento da extensão do texto original.

      9. Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descrições detalhadas, cenas ou personagens secundárias. Somente as personagens, os ambientes e as ações mais importantes devem ser registrados.

      (BISOGNIN, Tadeu Rossato Descoberta & Construção, 8ª série, São Paulo, FTD, 1994.)

Como fazer redação no Enem (Hélio Consolaro* )

O tema proposto pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sempre traz uma situação como tema, geralmente de caráter social, para que o estudante faça uma análise.

A banca apresenta textos de apoio, gráficos e (ou) figuras para que o estudante tenha subsídios para analisar o problema apresentado.

Nesse modelo, sempre proponho a meus alunos do ensino médio que façam uma dissertação de quatro parágrafos, quantidade ideal para atingir as 25 linhas propostas.

O aluno deve verbalizar no primeiro parágrafo o problema apresentado como tema, com suas próprias palavras. Nele, não se dá opinião, pois não se trata de dissertação argumentativa. A posição ideológica do aluno (não se omita) vai aparecer nos apontamentos da causa e da consequência, e principalmente na conclusão.

No segundo parágrafo, o estudante indica uma causa do problema, o porquê daquilo acontecer; no terceiro, uma consequência, em razão dele, ocorre tal coisa.

E na conclusão, como sempre, a banca examinadora pede para que o estudante apresente a solução para o problema.

Exemplo bem resumido:

Introdução: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez no Brasil.

Tópico frasal do 2.º parágrafo (causa): Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.

Tópico frasal do 3.º parágrafo (consequência): Tornam-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.

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Conclusão (solução): Fazem-se necessárias políticas públicas fortes de prevenção, com atividades culturais e esportivas para a juventude, ocupando-lhe o tempo, formando o caráter dos adolescentes.

Introdução e conclusão devem ser curtas, pois na primeira apresenta-se o problema; na segunda, a solução, sem delongas. A maior parte das linhas deve ser usada nos parágrafos da causa e da consequência.

Modelos de redações do ENEM

Modelo 1: Copa do Mundo

Excesso de confiança estraga

Aquilo que era ânimo virou desânimo. Alguns brasileiros caíram num baixo astral, outros ficaram raivosos porque a seleção brasileira foi desclassificada nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

Tudo isso aconteceu porque houve excesso de autoconfiança por parte da equipe brasileira. A conquista do penta, feita com muita dificuldade em 2002, como aconteceu com a Itália neste ano, cegou a todos. Devido ao sucesso da copa anterior, imprensa e torcida se empolgaram, achando que o Brasil seria campeão por antecipação. Isso contagiou jogadores e dirigentes, deixando-os de salto alto. Está provado que erra menos quem duvida e não acredita piamente em certezas.

Logo, com a realidade estampada, depois daquele jogo com a França, em que o Brasil foi derrotado e desclassificado , veio a revolta e a depressão da torcida. E como participantes de uma civilização judaico-cristã, os brasileiros foram atrás de culpados e vítimas, uma verdadeira caça às bruxas, como se em futebol não se pudesse conjugar o verbo perder. Carlos Alberto Parreira, o técnico, e os jogadores Roberto Carlos e Cafu foram crucificados.

Com certeza, na próxima copa, em 2010, na África do Sul, o Brasil não se submeterá a outro fiasco, porque tem como exemplo o amargo da derrota de 2006. E todos os brasileiros estarão com o senso crítico mais aguçado e não confiarão cegamente, exercendo o seu poder de crítica antecipadamente.

Modelo 2 - Violência

Amar e perdoar

O Brasil, infelizmente, vem sendo tomado pela violência. As pessoas estão indignadas, mas também não conseguem interpretar a nova realidade, por isso ficam meio perdidas, se perguntando: por que, meu Deus, acontece tudo isso.

Tudo isso acontece porque se injetou na sociedade brasileira um exacerbado espírito de competição. Todos querem vencer, não importa como, mesmo que seja sem ética. E a pessoa bem-sucedida é aquela que compra mais, usa produtos de boa marca, consome mais. A vida espiritual se reduziu a orar para TER mais e não para SER mais.

Nessa competição em que a vida foi transformada, instalou-se o vale-tudo, por isso "levar vantagem em tudo" é o grande slogan da pessoa vencedora, nem que para vencer precise massacrar outras pessoas. Deus não é o grande Pai, ninguém mais vê o outro como irmão, mas como um concorrente, uma pessoa a ser derrotada. Nem que seja pela violência. Vencer é mais importante do que perdoar.

Parece que a humanidade precisará viver uma catástrofe para acordar, pois está tomada pelo êxtase do capitalismo exacerbado. Assim descobrirá que é preciso viver, mas também deixar o outro viver. Amar e perdoar é mais importante que competir e vencer.

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Exercícios1. Corrija as incoerências das frases abaixo:a) Levantei-me às 6 horas, pois tinha me deitado às 3h30 min.; dormi, aliás, pouco mais de trêshoras.b) Não nos entendíamos, embora falássemos línguas diferentes.c) Posso esperá-lo sem preocupação, conquanto não tenha nenhum compromisso para hoje.d) O cão ladra e não morde.e) O livro é muito volumoso, porquanto é muito interessante.f) As crianças devem ser castigadas, se bem que se revelem desobedientes.g) Ele mora em São Paulo há mais de dez anos, ao passo que não conhece ainda o Butantã.h) Os turistas perderam-se na mata e, desorientados, no início da excursão, só foramencontrados duas horas mais tarde.

2. Se apagarmos as palavras “só” e “até”, no excerto abaixo, alterará o sentido do mesmo?Comente.

É quase impossível encontrar alguém que nunca tenha usado o telefone para comprar comida, remédios, passagens ou saber com anda o saldo no banco. A novidade é que não são mais só as empresas de serviços que têm no aparelho um fiel aliado. Há dois anos, a Souza Cruz, a maior fabricante de cigarros do país, também resolveu usar o telefone. Ao substituir alguns vendedores de rua por operadores de telemarketing, a companhia conseguiu cortar em 20% os custos para vender cigarros aos 11500 varejistas que pedem até 15 pacotes por semana.

3. Relacione as três ideias de cada grupo de sentenças abaixo em um só período, obedecendo às indicações entre colchetes. Utilize os operadores argumentativos.• As mulheres assumiram a cumplicidade no papel da dominação masculina. [tese ou ideia principal]• As pessoas atribuem às mulheres a responsabilidade fundamental do romantismo. [causa da primeira]• O problema da dominação masculina vem explodindo, ultimamente. [oposição à primeira]

• O fogo é, paradoxalmente, um importante regenerador de matas naturais. [Tese ou ideia principal]• O fogo destrói a matéria orgânica necessária à formação do humo no solo. [Oposição à primeira]• O fogo destrói o excesso de material combustível acumulado no chão. [Causa da primeira]

4. Se as questões abaixo fossem ditas numa entrevista de emprego, em qual das duas a possível candidata teria chances de ser contratada? Tendo em vista sua resposta, é correto afirmar que os operadores argumentativos podem evidenciar a posição ideológica de alguém? Discuta.

I. Embora faça um bom trabalho, ela é mulher.II. Embora ela seja mulher, faz um bom trabalho.

5. a) Ele é negro, mas fez um bom trabalho. b) Ele fez um bom trabalho, mas é negro.

Se tais sentenças fossem ditas numa entrevista de emprego, em qual das duas o possívelcandidato teria chances de ser contratado? Tendo em vista sua resposta, é correto afirmar que osoperadores argumentativos podem evidenciar a posição ideológica de alguém? Discuta.

6. “Pai-nosso, que estais no céu, santificado seja vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”

Na oração do “Pai Nosso” parece haver uma incoerência semântica devido ao uso do operador argumentativo mas.

Diga que incoerência é essa, substituindo o operador mas por um outro que não atente contra o sentido da frase.

DISSERTACÃO A PARTIR DE UM ESTÍMULO VISUAL

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         Aqui você vai aprender a como proceder no momento em que tiver de fazer uma  dissertação a partir de um desenho, gravura, "charge" ou qualquer outro tipo de estímulo visual.Estímulo visual sem texto 

            Para compreender  conteúdo básico do desenho, podem estabelecer, a princípio,  que não está havendo comunicação propriamente dita, pois o desenho sugere que um dos interlocutores não está ouvindo o outro. Caso esteja ouvindo, não o faz com a devida atenção, para que possa sustentar um diálogo produtivo.            Deste conteúdo, podemos elaborar um tema:                 Apesar da importância da comunicação para uma melhor convivência, nota-se claramente que falar é fácil, mas ouvir e dialogar é uma prática que não se encontra com facilidade.                     Para desenvolver esta redação, podemos aplicar a técnica básica da dissertação, ou seja, a do uso de argumentos.             Como  se pode perceber, devemos passar pelas seguintes etapas até chegar à dissertação:

                                                  

                                                     

                                    OUVIR:  MISSÃO  QUASE  IMPOSSÍVEL

            Caso um dia parássemos para analisar como são as conversas, os supostos diálogos ocorridos nas diversas situações do nosso cotidiano, ficaríamos surpresos com os inúmeros elementos que interferem negativamente no processo de comunicação. Dentre eles destacamos a agitação das cidades grandes, a falta de paciência em ouvir e a ansiedade de falar.             Envolvidos na rotina e na neurotizante correria das grandes cidades, já de início torna·se difícil imaginar que o diálogo entre duas ou mais pessoas possa ser diferente de frases interrompidas, mal-entendidos, perguntas sem resposta, ou mesmo a total falta de oportunidade de conversar. Quantas vezes nos corredores de firmas, fábricas, escolas e tantos outros lugares, a cena se repete:  duas pessoas andando em sentidos opostos, vão conversando enquanto se distanciam, aumentando o tom de voz até que se perdem de vista, interrompendo, assim, o assunto tratado.              Outro elemento que dificulta substancialmente o estabelecimento do diálogo é a incapacidade de ouvir. Ouvir não é s escutar o que o outro disse, mas entender o que o interlocutor falou e refletir sobre o que escutou, a fim de dar continuidade à conversa. O que mais podemos notar nos diálogos é a falta de paciência para ouvir o que a pessoa tem a dizer até que ela conclua seu raciocínio e possa, dessa forma, fazer-se entender. Ao que parece, essa impaciência é fruto, em parte, de um certa ansiedade que cada um tem  em comunicar sua ideias.              Assim, o que se costuma ver habitualmente é um arremedo de diálogo através do qual as pessoas dificilmente conseguem uma interação pela linguagem oral. Acreditamos que no dia em que essas dificuldades forem superadas, cada indivíduo poderá ampliar a compreensão do outro e, consequentemente, da própria natureza humana.     

1. Compreensão do conteúdo básico do desenho.2. Formulação de um tema  dissertativo.3. Aplicação de uma das técnicas.4. Elaboração de uma dissertação.