curativos feridas
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FUNDAMENTOS DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE
CURATIVOS DE FERIDAS AGUDAS E CRÔNICAS
Para uma melhor compreensão sobre os curativos realizados e priorizados nas
feridas agudas e crônicas, faz se necessário uma breve explanação sobre os tipos de
feridas e características peculiares de cada um desses grupos.
Assim, as feridas podem ser classificadas em dois grupos: feridas agudas e
feridas crônicas. A ferida é classificada como aguda quando há ruptura da
vascularização, a reação inflamatória aguda se caracteriza por modificações anatômicas
predominantemente vasculares e exsudativas. A ferida é classificada como crônica,
quando o processo de cicatrização se caracteriza por uma resposta mais proliferativa
(fibroblástica), do que exsudativa. Segundo Dealey (1996), as feridas agudas geralmente
respondem de maneira rápida ao tratamento e cicatrizam sem maiores complicações,
enquanto que as feridas crônicas são de longa duração e podem reincidir
freqüentemente.
As feridas agudas incluem feridas cirúrgicas, traumáticas e as causadas por
queimaduras.
As feridas cirúrgicas em sua essência são feridas intencionais e agudas que
podem ter seu curso complicado por fatores adversos. Para que ocorra reparação
tissular, a ferida cirúrgica pode ser mantida aberta ou fechada.
A ferida traumática é a lesão tecidual, causada por agente vulnerante que,
atuando sobre qualquer superfície corporal, de localização interna ou externa, promove
uma alteração na fisiologia tissular, com ou sem solução de continuidade do plano
afetado. As lesões traumáticas podem variar desde simples escoriações a lesões amplas,
que podem causar deformidades ou amputações.
As queimaduras são feridas traumáticas causadas, na maioria das vezes, por
agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Atuam no tecido de revestimento
do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos,
podendo atingir as camadas mais profundas, como: tecido celular subcutâneo, músculos,
tendões e ossos. A lesão térmica pode se manifestar através de flictema (bolha) ou em
formas mais graves, proporcionando alterações sistêmicas. É importante ressaltar que o
tecido lesado será desvitalizado, o que favorece rápida colonização de bactérias
patogênicas. Portanto, a manipulação correta do doente é fundamental.
As feridas crônicas incluem úlceras por pressão e úlceras de membros
inferiores, como as de origem vascular ou neuropática, decorrentes de doenças
crônicas e degenerativas, como o diabetes. De um modo geral, as feridas crônicas
ocorrem devido alterações vasculares, que comprometem o aporte sanguíneo e
conseqüentemente podem ocasionar isquemia, caso os fatores causais (excesso de
pressão, dificuldades circulatórias e neuropatias) não forem reduzidos ou eliminados, o
que torna o local propício para infecção e ulceração.
A úlcera por pressão é uma área de morte celular que se desenvolve quando um
tecido mole é comprimido entre uma proeminência óssea dura por um período
prolongado. Ocorrem quando a pressão aplicada à pele, por algum tempo, é maior que a
pressão capilar normal (32 mm Hg-arteriola e 12mmhg - vênula), por conseguinte
ocorre diminuição do aporte de O2. As localizações mais comuns são: região sacra,
nádegas, calcâneos, região trocântérica, membros inferiores, tronco e membros
superiores.
As úlceras vasculares podem ser de origem venosa ou arterial. As úlceras
venosas, também denominadas úlceras de estase ou varicosa, são lesões crônicas que
ocorrem na parte inferior das pernas e pés pela presença de hipertensão venosa.
Correspondem aproximadamente 70% a 90% das úlceras de membros inferiores e são
mais freqüentes em mulheres. No exame físico específico de membros inferiores estarão
presentes os seguintes achados clínicos: varizes, dermatite ocre, eczema,
lipodermatoesclerose, edemas e úlceras localizadas em proeminências ósseas ou áreas
suscetíveis a traumas. Os pulsos arteriais deveram estar preservados. Se existirem
complicações, como infecção local ou flebite, o paciente poderá ter dor.
As úlceras arteriais ou isquêmicas são lesões crônicas que ocorrem na parte
inferior das pernas e dos pés pela presença de insuficiência arterial. Acometem com
mais freqüência pacientes do sexo masculino e acima de 50 anos. No exame físico,
somente será evidenciado edema de estase se o membro estiver na posição pendente; os
pulsos pediais estarão diminuídos ou ausentes. Pés frios e pálidos quando elevados e
vinhosos quando em declive, pele brilhante, tensa, queda de pelos, unhas grossas e
opacas. Haverá queixas de claudicação (cãibras) intermitente e dor. As úlceras arteriais
apresentam pouco exsudato, dificuldade de granulação, pouco sangramento à
manipulação e demarcação de cor branca rosácea. Localizam se nos dedos dos pés,
calcâneos ou região lateral da perna e podem apresentar necrose nas bordas.
A úlcera diabética é uma complicação comum em pacientes portadores de
diabetes melito, que se origina de problemas em diversas áreas suscetíveis da doença,
como nervos, pele, vasos e sistema musculoesquelético-ligamento dos pés. As
ulcerações no pé de pessoas diabéticas são um dos problemas indesejados que acarretam
perdas importantes para o paciente. Alteram sua autoimagem, sua independência e
acarretam gastos tanto para o paciente como para os serviços de saúde. Essas lesões são
desencadeadas por uma tríade de patologias bastante clássica que envolve neuropatia
(autonômica, sensorial e/ou motora), doença vascular periférica e infecção. É
importante enfatizar que de 15% a 20% dos portadores de úlceras plantares do tipo mal
perfurante podem possuir etiologia mista envolvendo a neuropatia e arteriopatia
obstrutiva. De 15% a 20% apenas insuficiência arterial isolada e 60% neuropatia
periférica.
Frente ao exposto, verifica-se que existem enormes diferenças entre uma ferida
aguda e uma ferida crônica. Com as feridas agudas, as maiores preocupações são a
infecção e a formação de hematoma. Em contraste, as feridas crônicas são geralmente
colonizadas, mas a contaminação com novos microorganismos pode aumentar o risco
de infecção. A maior preocupação com relação às feridas crônicas é a otimização do
microambiente da ferida sem comprometer a integridade da pele circundante. Por causa
dessas diferenças, os curativos para feridas agudas e crônicas costumam ser diferentes.
Com base no conhecimento da causa e características de cada tipo de ferida,
pode se iniciar o processo de escolha de um curativo. Para isso, é necessário conhecer as
finalidades dos curativos em geral. O propósito mais simples do curativo é proteger a
ferida do ambiente externo e evitar contaminação. Um segundo propósito para o
curativo é promover o deslocamento e a remoção dos tecidos necrosados. Um terceiro
propósito é o preenchimento do espaço no interior de uma ferida, para evitar a formação
de hematomas, abcessos, túneis e fistulas. O controle da secreção, seja, um exsudato
purulento ou um transudato seroso, é um quarto propósito. Os curativos que mantêm os
líquidos no interior da ferida (curativo oclusivo) promovem a cicatrização ao manter a
umidade, retendo fatores de crescimento e enzimas e permitindo um desbridamento
autolítico. Os curativos devem também ser capazes de manter uma temperatura
adequada e constante no leito da lesão, ser de fácil remoção sem provocar dano ao leito
e à pele adjacente e não deixar resíduos sobre o leito da lesão após sua remoção.
O curativo é um processo que envolve a limpeza, o desbridamento e a escolha
da cobertura. Podem ser realizados por meio de técnica estéril ou técnica limpa. Para
realização do mesmo, é importante avaliar o aspecto do tecido presente no leito da
ferida, pois este reflete a sua cicatrização, bem como a ocorrência ou não de
complicações. Os tecidos podem ser classificados em viáveis e inviáveis. Os tecidos
viáveis são o tecido de granulação, a fibrina e o tecido epitelial e os inviáveis são os
esfacelos e a necrose.
A limpeza constitui-se no primeiro componente a ser considerado em todos os
tipos de ferida (aguda ou crônica). O objetivo da limpeza é remover matéria estranha e
reduzir o número de microorganismos no leito da ferida, viabilizando a cicatrização. A
melhor técnica de limpeza do delicado leito da lesão compreende a irrigação com jatos
de solução salina isotônica (0,9%) que serão suficientes para remover os corpos
estranhos e os tecidos frouxamente aderidos. Deve-se também evitar a agressiva
esfregação de pele em volta da ferida, pois pode ocorrer traumatismo, propiciando a
introdução de bactérias, além da destruição da barreira protetora. Convencionou-se que
para irrigação do leito da ferida, devemos estabelecer pressões entre 8 a 15 psi, obtidas
através de seringa de 20 ml adaptadas a agulha de calibre 18 (40x12 mm). A limpeza da
ferida durante a visita inicial e a cada troca de curativo tem sido recomendada.
As feridas comprometidas com tecido necrótico requerem além da limpeza
mecânica, o desbridamento, isto é, a remoção do material estranho ou tecido
desvitalizado de lesão infectada ou não, até expor-se o tecido saudável. Ressalta-se que
o tecido necrótico pode aparecer na ferida por diferentes causas e ser produto de uma
lesão aguda ou crônica. Uma sutura demasiadamente apertada provoca o
estrangulamento do tecido que une, especialmente se a ferida estiver edemaciada ou se
as bordas se põem em aposição com demasiada pressão. Neste exemplo, o aporte
sanguíneo será reduzido, levando o aparecimento da necrose. Outra causa para o
aparecimento da necrose pode ser a infecção. As feridas traumáticas, podem deixar a
pele intacta, porém há risco de lesão dos vasos e do tecido subcutâneo. Os hematomas
podem aumentar a tensão da pele e reduzir o aporte sanguíneo, levando ao aparecimento
de necrose. A cura da ferida só acontecerá se forem eliminados por drenagem e
absorção o hematoma e a escara.
Existem quatro tipos de desbridamento (cirúrgico, mecânico, químico e
autolítico). O desbridamento cirúrgico (não seletivo) é realizado com auxílio de
instrumental cortante (bisturi, tesouras, pinças), sendo o método que mais compromete
os tecidos viáveis, porém é o mais rápido de remoção dos débris. O desbridamento
mecânico (não é seletivo) é feito através da aplicação de forças físicas, pela fricção do
leito da ferida por 2 a 3 minutos, em movimentos centrífugos, utilizando-se gaze
umedecida em soro fisiológico, ou pela aplicação de gazes úmidas, irrigação e
hidroterapia (Esta técnica provoca dor e sangramento desnecessários e aumento de
edema tecidual local). O desbridamento químico (não é totalmente seletivo/causa dor)
utiliza enzimas proteolíticas que estimulam a degradação do tecido necrótico, para
facilitar a infiltração do agente enzimático (Ex: colagenase e papaína). O
desbridamento autolítico (seletivo) é o menos agressivo, porém mais lento, pois utiliza
os próprios recursos orgânicos, leucócitos e enzimas para degradarem a necrose. É
necessário, porém, que se obtenha umidade no leito da lesão através da aplicação de
filmes transparentes (poliuretanos), hidrógeis (ferida seca), ou hidrocolóides (ferida
pouco ou médio exsudato) para amolecerem o tecido desvitalizado.
O tipo de desbridamento indicado para determinada ferida depende de fatores
como: quadro clínico completo, o tipo de ferida, a quantidade de tecido necrótico, a
condição do cliente, incluindo doença grave sem resposta ao tratamento, etc.
Ressalta-se que o desbridamento não deve ser realizado em gangrena seca
causada por insuficiência arterial, pois a falta de fluxo sanguíneo não apenas retarda a
cicatrização, mas impede que o sistema imunológico atue contra as bactérias, assim, a
exposição do tecido necrosado ao contato direto com bactérias traz o risco de uma
infecção potencialmente grave. O desbridamento pode não ser necessário para ulceras
de calcanhar estáveis.
Existem feridas que não precisam de cobertura, como incisões cirúrgicas após
48h. No entanto, a maioria das feridas precisa de coberturas e estas podem ser
classificadas em cobertura seca, úmida ou compressiva. Nas coberturas secas são
utilizadas gazes ou compressas com intenção de proteger a ferida. Estas coberturas
podem ser usadas para cobrir feridas agudas fechadas por 1ª intenção ou pequenas
feridas agudas, sendo utilizadas para absorver secreção e promover hemostasia (Ex:
feridas suturadas e locais de inserção de drenos). Esse tipo de curativo normalmente não
é utilizado em feridas grandes ou crônicas. Nas coberturas úmidas são utilizadas gazes
ou compressa umedecida com soro fisiológico ou produtos para terapia tópica
prescritos (feridas com cicatrização por segunda ou terceira intenção). A cobertura
compressiva é utilizada para manter compressão através de bandagens ou cintas
elásticas sobre a ferida, em casos de hemorragia, evisceração e outras.
Existem muitos produtos disponibilizados no mercado utilizados no tratamento
de feridas. Nesse sentido, serão abordados apenas aqueles por meio dos quais tenham
sido obtidos resultados satisfatórios.
A Solução fisiológica a 0,9% é o curativo convencional, é composta por
cloreto de sódio a 0,9%. Mantém a umidade da ferida, favorece o desbridamento
autolítico e a formação de tecido de granulação. Amolece os tecidos desvitalizados. É
indicada para todos os tipos de ferida, objetivando manter a umidade da ferida. As
trocas deverão ser feitas conforme a saturação das gazes e a umidade da ferida ou no
máximo a cada 24 horas
O Acidos graxos essenciais (AGE) – São compostos principalmente por ácido
linoléico e sua apresentação dá-se na forma oleosa. Promove a quimiotaxia (atração dos
leucócitos) e angiogênese. Mantém o meio úmido e acelera o processo de granulação
tecidual, por facilitar a entrada de fatores de crescimento, na célula, promover a mitose
e a proliferação celular. A aplicação tópica em pele íntegra tem grande absorção,
formando uma película protetora na pele, previne escoriações devido a alta capacidade
de hidratação e proporciona nutrição celular local. É utilizado no Brasil para a
prevenção de úlceras por pressão e tratamento de feridas agudas ou crônicas, desde que
debridadas previamente. Não é agente debridante, porém estimula o debridamento
autolítico. Pode ser associado à cobertura com alginato de cálcio e sódio. Atentar para o
fato de que esse não é o óleo de girassol comprado nos supermercados. O nome
comercial mais difundido é o Dersani e o Saniskin. Ressalta-se que este produto tem
registro no Ministério da Saúde como cosmético e não como medicamento, devendo
portanto, ser utilizado somente em pele íntegra. Requer trocas diárias ou quando o
curativo secundário estiver saturado.
O Alginato de Cálcio e Sódio são compostos derivados de algas marinhas
marros, compostos pelos ácidos gulurômico e manurômico, ânions de cálcio e sódio
incorporados em sua fibra. Os íons de sódio e de cálcio presentes no sangue e no
exsudato interagem com os mesmos íons encontrados nos curativos, ocasionando trocas
iônicas. Os açucares de cadeia longa obtidos das algas marinhas têm a propriedade de
mudar de fibra para gel à medida que absorvem os líquidos, o que induz à hemostasia
em 3-5 minutos, auxiliando no debridamento autolítico e promovendo alta capacidade
de absorção do exsudato, além de manter o meio úmido. É indicado no tratamento de
feridas sangrantes, feridas com exsudação de moderada quantidade, feridas com
esfacelo, com ou sem infecção, planas ou cavitárias. Se a ferida for plana, recomenda-se
a utilização do produto em forma de placa. Se cavitária, preenchê-la com produto em
forma de fita. É contra indicado em feridas secas, com pouca exsudação ou
queimaduras. Requer trocas diárias ou quando o curativo secundário estiver saturado.
Carvão ativado e prata – trata-se de carvão impregnado com prata (0,15%) e
envolto em tecido de náilon poroso selado nas quatro bordas. O carvão tem a
capacidade de absorver o exsudato da ferida, retêm microorganismos em suas fibras
(adsorção) e filtra o odor e a prata confere poder bactericida ao curativo. É indicado
para feridas fétidas, infectadas ou com grande quantidade de exsudato, sendo contra-
indicado para feridas com exposição óssea e tendinosa, necrose de coagulação, feridas
limpas, secas, com pouca exsudação, queimaduras e em clientes que apresentem
hipersensibilidade ao náilon. Não é aconselhável o uso em tecido de granulação e pode
lesar a pele íntegra. Dependendo da quantidade do exsudato, a evolução da ferida pode
permanecer até sete dias. O invólucro não deve ser recortado, para não liberar prata e
carvão no leito da lesão. Requer cobertura secundária. O produto poderá ser associado
ao AGE e alginatos.
A Sulfadiazina de prata é um antibiótico, sob a forma de uma pomada espessa
e suave, pode utilizada como curativo. Possui características bactericidas imediatas e
bacteriostáticas residuais, pois provoca precipitação protéica e age diretamente na
membrana citoplasmática bacteriana pela liberação de pequenas quantidades de prata
iônica. É utilizada principalmente em queimaduras, com gaze ou sem gaze, para
proteger as feridas, mas pode ser aplicado em alguns tipos de feridas agudas. Quando
associada a nitrato de cério, tem importante ação imunomoduladora, pois o cério age
como inibidor da ação tóxica do complexo lipoproteíco (LPC). O LPC é um agregado
de lipoproteínas das membranas celulares da pele queimada, sendo altamente tóxico
para o organismo. Este uso associado reduziu a morbi/mortalidade e o índice de
complicações do paciente grande queimado. Estas substancias tem ação em bactérias
gram-positivas e negativas, em vírus, fungos e dermatófitos. Sua desvantagem, é que
pode prejudicar a visualização do leito, por se tratar de um creme que não é facilmente
absorvido, deixando resíduos sobre a lesão. Deve ser trocado pelo menos duas vezes ao
dia. Exige cobertura final secundária.
A Papaína é formada por enzimas proteolíticas e peroxidases do látex do
mamoeiro e atua de forma rápida como desbridante químico, sem danos teciduais, tem
ação bacteriostática e bactericida e possui ação antiinflamatória. Aumenta a força tênsil
da cicatrizes, diminui a formação de quelóides e acelera o processo de cicatrização.
Efetua desbridamento seletivo (obs: há controvérsias). Seu uso está indicado em feridas
com tecido desvitalizado, necrótico ou infectado que necessitam de desbridamento.
Está contra-indicado em feridas limpas e granuladas. Em tecido necrótico, utilizar em
concentração a 10% e, em necrose de coagulação deve se efetuar primeiramente
escarotomia e, em seguida, a aplicação do produto. A troca deve ser realizada de 12 a
24h.
O Hidrocolóide é uma placa composta de gelatina pectina e
carboximetilcelulose sódica que promove umidade fisiológica (desbridamento
autolítico), através de interação com a camada interna do curativo com a lesão,
formando um gel que proporciona microambiente ótimo para cicatrização e o
desbridamento por autólise. A angiogênese é facilitada pelo meio hipóxico e protege as
terminações nervosas, evitando o ressecamento e diminuindo a dor, devido a
manutenção da umidade. É indicado no tratamento de feridas abertas, limpas e não
infectadas com média e pequena quantidade de exsudato e prevenção ou tratamento de
úlcera por pressão. O produto é contra indicado em queimaduras grau 3, lesões com
dano expressivo, feridas infectadas (principalmente fúngicas), exsudativas e com
necrose (outros livros dizem com ou sem necrose - ???) e em ulcera resultante de
infecções como Tb, sífilis ou infecções fúngicas. Ressalta-se que, com a absorção do
exsudato, o gel formado na camada interna do curativo assume “aspecto purulento” e
com odor desagradável. O cliente deverá ser informado dessa eventualidade. O diâmetro
do hidrocolóide deve ultrapassar as bordas em pelo menos 2,5 cm e deve ser trocado a
cada 7 dias. As placas extrafinas podem ser utilizadas como cobertura para incisões
cirúrgicas e como adesivos protetores de pele; em criança servem para fixar tubos e
drenos.
O Hidrogel é um gel composto de água, carboximetilcelulose e propilenoglicol,
que amolece e remove tecido desvitalizado ou necrosado. O carboximetilcelulose
promovendo um meio úmido e desbridamento autolítico, sem danificar o tecido de
granulação e o propilenoglicol estimula a liberação de exsudato. É utilizado
principalmente para hidratar feridas secas, sendo indicado na remoção de crostas e
tecidos desvitalizados em feridas abertas, limpas ou infectadas, com granulação, planas
ou cavitárias, com pouca quantidade de exsudato. (obs: Lira diz que é indicado para
feridas superficiais). O hidrogel não deve ser utilizado para o preenchimento de uma .
ferida,A troca é indicada a cada 24h. Aplicado com filme transparente em ferida
necrótica após escarotomia, favorece o debridamento autolítico em curto período de
tempo.
O Hidropolímero é revestido externamente por espuma de poliuretano.
Mantém a umidade, absorvendo e retendo o excesso de exsudato através de sua
estrutura porosa, que se expande aderindo ao leito da ferida e evitando maceração. É
indicado no tratamento de feridas abertas, limpas, não infectadas, em fase de
granulação, com média ou pequena quantidade de exsudato. Está contra-indicado para
feridas infectadas, com necrose e grande quantidade de exsudato, queimaduras de
segundo e terceiro grau, lesões com vasculite ativa e em feridas tunelizadas em caso de
hipersensibilidade. A cobertura deve ser trocada sempre que houver presença de fluido
da ferida nas bordas da almofada de espuma ou no máximo a cada sete dias.
A terapia por compressão - bota de unna é um método aceito universalmente
e recomendado para o tratamento da hipertensão venosa, contribuindo assim para a
prevenção ou tratamento da ulceração venosa nos membros inferiores. Esta compressão
pode ser obtida com o uso de meias compressivas, bandagens elásticas flexíveis,
bandagem rígida, entre outros. A compressão obtida pela aplicação de bandagem rígida,
feita de pasta de zinco, também chamada de Bota de Unna, é utilizada há mais de 100
anos e considerada eficiente para a melhoria do retorno venoso. Durante a deambulação,
ela aumenta a pressão contra os músculos da panturrilha, auxiliando o retorno venoso.
Não deve, portanto, ser indicada para pacientes que não deambulam (TIAGO, 1995).
Este tratamento é absolutamente contra-indicado nas patologias arteriais, onde a
compressão agravaria o quadro de isquemia. Necessita prescrição médica, de
preferência após criteriosa avaliação, seja de um cirurgião vascular, ortopedista ou
dermatologista, cabendo ao enfermeiro a responsabilidade da execução e
acompanhamento de todo o tratamento.
A fórmula manipulada da pasta contém 10% de óxido de zinco, glicerina,
gelatina e água, na qual o zinco tem por função auxiliar o processo de cicatrização,
aumentando a proliferação celular e inibindo o crescimento bacteriano. Pode ser
utilizada diretamente na gaze que cobre a ferida ou combinada com outras coberturas
indicadas para o momento. Desde que não haja solução de continuidade, pode
permanecer de 7 a 15 dias, dependendo das condições da lesão. Em caso de exsudação
intensa, ou se o paciente referir sensação tanto de garroteamento do membro, quanto de
afrouxamento da bota a troca deve ser imediata. Algumas pesquisas apontam que,
quando a Bota de Unna é associada a coberturas, o tempo da cicatrização é menor.
A aplicabilidade dessas coberturas pode ser realizada conforme o tecido
encontrado no leito da ferida ora mencionados: tecido de granulação, fibrina, esfacelo,
necrose e tecido de epitelização.
Na presença de tecido de granulação, podem ocorrer quatro situações: com
pequena quantidade de exsudato; com média e grande quantidade de exsudato; com
cavidade e com supergranulação. Em cada situação demandam-se escolhas de
coberturas diferentes conforme objetivo. Na primeira situação, o objetivo será manter o
ambiente úmido, e para isso pode se utilizar as diversas coberturas que propiciam esta
umidade, tais como: AGE, hidrogel amorgo, hidrocolóide, hidropolímeros. Na segunda
situação, como ocorre a presença de exsudato, o objetivo será absorver o excesso de
exsudato, mas também manter o meio úmido. Neste caso, a cobertura indicada é o
alginato de cálcio e sódio, podendo ser associado ou não com AGE, que pode também
ser utilizado na terceira situação (ferida cavitária). Em caso de exposição óssea e
tendinosa, o hidrogel amorfo também poderá ser utilizado para manter o meio úmido.
Em caso de supergranulação, deve ser realizado cauterização com bastão de nitrato de
prata uma vez ao dia até regressão da hipertrofia celular, associado ao gel de papaína a
10% e curativo compressivo.
Na presença de fibrina, pode se proceder da mesma forma que descrito
anteriormente. Todavia, enfatiza-se que a retirada da fibrina só deve ser realizada
quando em excesso como ocorre na ulcera de origem venosa.
O esfacelo pode ocorrer tanto em lesões superficiais quanto em lesões cavitárias.
A escolha da cobertura se baseará na quantidade de exsudato, que poderá ser em pouca
ou em média e grande quantidade. Nos casos em que há pouco exsudato, o objetivo será
remover os esfacelos e manter o ambiente úmido. Neste caso, utiliza-se gel de papaína a
10% ou colagenase. Em casos de média e grande exsudação, além de manter o meio
úmido é necessário absorver o exsudato abundante. Para isso utiliza-se alginato de
cálcio e sódio associado ao desbridamento instrumental.
Em caso de necrose, quando a lesão apresenta escara necrótica dura, o objetivo é
remover o tecido necrótico. Se este tecido estiver começando a se soltar, pode se
realizar o desbridamento instrumental associado ao curativo com gel de papaína a 10%.
Se o tecido estiver intacto e totalmente aderido, utiliza-se o curativo fechado com gel de
papaína a 10%, pois por o desbridamento cirúrgico não ser seletivo, poderá lesionar
ainda mais o tecido. Quando além da necrose, há exsudato, além de remover o tecido
necrótico, é necessário absorver o excesso de exsudato. Para isso utiliza-se alginato de
cálcio e sódio e papaína a 10%. Em caso de odor fétido, utiliza-se carvão ativado e prata
associados ou não ao gel de papaína 10%.
Em feridas epitelizadas superficiais com exsudação em pequena quantidade, o
objetivo é manter úmido e proteger o tecido epitelial. Pode se usar AGE, hidrocoloide,
hidropolimero, hidrogel amorfo. Caso houver exsudato, em grande quantidade, utiliza-
se alginato de cálcio e sódio associado ou não ao AGE, ao hidrocoloide ou hidrogel
amorfo.
Mediante o exposto, ressalta-se a importância das abordagens voltadas à
prevenção de complicações das lesões teciduais, e isto demanda ações
multiprofissionais onde cada profissional da saúde, no cumprimento do seu papel,
desempenha ação fundamental na recuperação e manutenção da integridade da pele do
paciente. Sendo assim percebe-se a necessidade de capacitação para profissionais de
saúde, seja da atenção básica, seja de unidades hospitalares sobre as abordagens
preventivas ao surgimento de lesão tecidual em pacientes crônicos bem como acerca dos
aspectos ligados as novas tecnologias existentes no mercado para do tratamento de
lesões já instaladas, a fim de serem reduzidos custos e melhorar a qualidade de vida dos
portadores de lesões teciduais.