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CASSIANI GOTÂMA TASCA PEDROSO CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL AO PACIENTE HOSPITALIZADO: ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO FUNDAMENTADO NA HUMANIZAÇÃO FLORIANÓPOLIS 2007

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CASSIANI GOTÂMA TASCA PEDROSO

CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL AO PACIENTE

HOSPITALIZADO: ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

MODELO FUNDAMENTADO NA HUMANIZAÇÃO

FLORIANÓPOLIS

2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL AO PACIENTE

HOSPITALIZADO: ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

MODELO FUNDAMENTADO NA HUMANIZAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Nutrição, da

Universidade Federal de Santa Catarina, para

obtenção do grau de Mestre em Nutrição.

CASSIANI GOTÂMA TASCA PEDROSO

Florianópolis – Santa Catarina – Brasil

Fevereiro, 2007

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Dedico este trabalho ao meu pai

Ariovaldo e ao meu marido Júlio, pelo

amor e incentivo.

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AGRADECIMENTOS

À espiritualidade maior, que me guiou nesta caminhada;

À minha orientadora Anete Araújo de Sousa, por me mostrar os caminhos e compartilhar seus

conhecimentos no desenvolvimento da pesquisa;

À professora Raquel Küerten de Salles, por toda a contribuição para o crescimento do

trabalho;

Às nutricionistas do HU, pela participação essencial para o desenvolvimento deste trabalho;

À Sônia, secretária do SND/HU, pelo atenção e auxílio;

Ao meu marido Júlio, que esteve ao meu lado durante todo o processo, me confortando com

seu amor;

Ao meu pai Ariovaldo que me proporcionou mais esta oportunidade de aperfeiçoamento

profissional;

À minha mãe Denise, pois sei que torce sempre por mim;

Ao meu irmão Diego, que mesmo à distância não deixou de me incentivar e acompanhar

todos os meus passos;

À minha tia Silvana pelo incentivo e auxílio com as questões metodológicas;

À colega e amiga Alessandra Rossi, pelos trabalhos que fizemos juntas, alegrias e incertezas

compartilhadas, e principalmente pela amizade que nasceu durante o Mestrado;

Aos colegas do Mestrado, por todos os momentos que passamos juntos;

Aos professores do curso de Pós-Graduação em Nutrição pelos ensinamentos que muito

contribuíram para minha formação;

Aos professores componentes da Banca Examinadora pelas valiosas contribuições para o

enriquecimento deste trabalho;

À professora Lúcia Zeni por compartilhar suas experiências com a técnica do grupo focal;

À minha querida e amada avó, Dinorá (in memoriam), pela torcida para que eu fosse aprovada

no processo seletivo deste curso, sei que está sempre comigo!!!

A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho!

Muito obrigada!

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“A mente que se abre a uma nova idéia

jamais voltará ao seu tamanho original”.

(Albert Einstein)

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RESUMO

A pesquisa envolveu a discussão da alimentação e humanização no atendimento hospitalar, considerando as concepções, expectativas e percepções de um grupo de nutricionistas em um hospital público do município de Florianópolis, referência para a Política Nacional de Humanização (PNH) no Estado de Santa Catarina. O objetivo foi identificar elementos para a construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional humanizado para o hospital analisado. O referencial teórico possibilitou a elaboração de um modelo de análise composto por duas categorias: Ser nutricionista para um atendimento humanizado, abordando aspectos conceituais, práticas e éticas da assistência prestada aos pacientes, e Pensar em atitudes de humanização, baseada nos preceitos da PNH, bem como nas estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e produção de refeições com base em estudos recentes sobre o tema da alimentação hospitalar. O estudo, desenvolvido nos moldes da pesquisa qualitativa, utilizou como abordagem a técnica dos grupos focais com auxílio de três perguntas norteadoras e um guia de entrevistas. Os resultados evidenciaram os seguintes aspectos da prática dos nutricionistas: prioridade no atendimento individualizado ao paciente, respeitando suas preferências e promovendo orientações de hábitos alimentares saudáveis; pressão temporal (tempo escasso), número elevado de leitos por nutricionista, excesso de atividades burocráticas, falta de funcionários qualificados, dificuldade de relacionamento com outros profissionais de saúde, falta de autonomia e pouca interação entre as nutricionistas da área clínica e as da produção de refeições. Com relação às iniciativas de humanização algumas atitudes foram apontadas para qualificar o cuidado ao paciente: trabalho de harmonização em grupo; os significados da alimentação no cuidado ao paciente terminal; educação continuada aos funcionários com participação das nutricionistas da produção de refeições; rodízios entre nutricionistas da clínica e da produção de refeições; aproximação dos funcionários da produção de refeições com pacientes, para sensibilização; modificações freqüentes nos cardápios; conforto ao paciente ao se alimentar; conforto ao acompanhante, implementação de refeitórios ou mesas para duas pessoas nos quartos, valorizando a função convivial da alimentação; modificação dos horários das refeições e melhora dos aspectos sensoriais dos alimentos (temperatura, sabor, textura, apresentação). Como conclusão a pesquisa apontou alguns elementos considerados relevantes para a construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional humanizado, incluindo a sistematização das ações para qualificar este tipo de cuidado, destacando a importância de ações interdisciplinares e de conhecimentos técnico-científicos conjugados com ações de valorização do ser humano. PALAVRAS-CHAVE : alimentação hospitalar; cuidado alimentar e nutricional; humanização; nutricionistas; grupo focal; Unidades de Alimentação e Nutrição hospitalares.

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ABSTRACT

The research involved the quarrel of the food and humanization in the hospital attendance, considering the conceptions, expectations and perceptions of a dietitians group in a public hospital of the city of Florianópolis, reference for the National Politics of Humanization (PNH) in the State of Santa Catarina. The objective was to identify elements for the construction of a humanized alimentary and nutritional care model for the analyzed hospital. The theoretical background made possible the elaboration of a composed model of analysis for two categories: To be dietitian for a humanized attendance, approaching conceptual, practical and ethical aspects of the assistance given to the patients, and to Think about humanization attitudes, based on the rules of the PNH, as well as in the strategies of interaction between the attendance physician-nutritional and production of meals on the basis of recent studies on the subject of the hospital food. The study, developed in the molds of the qualitative research, the technique of the focal groups with aid of three questions used as boarding and a guide of interviews. The results have evidenced the following aspects of the practical of the dietitians: priority in the individualized attendance to the patient, respecting his preferences and promoting orientation of healthful alimentary habits; secular pressure (scarce time), high number of stream beds for dietitians, excess of bureaucratic activities, lack of qualified employees, difficulty of relationship with other professionals of health, lack of autonomy and little interaction enter the dietitians of the clinical area and of the production of meals. With relation to the humanization initiatives some attitudes had been pointed to characterize the care to the patient: work of harmonization in a group; the meanings of the feeding in the care to the terminal patient; continued education to the employees with participation of the dietitians of the production of meals; casters between dietitians of the clinic and the production of meals; approach of the employees of the production of meals with patients, for sensitization; frequent modifications in the menus; comfort to the patient to if feeding; comfort to the companion, implementation of refectories or tables for two people in the rooms, valuing the convivial function of the feeding; modification of the schedules of the meals and improvement of the sensorial aspects of foods (temperature, flavor, texture, presentation). As conclusion the research pointed some considered elements excellent with respect to the construction of a model of humanized alimentary and nutritional care, including the systematization of the actions to characterize this type of care, being detached the importance of inter-subject action and conjugated technician-scientific knowledge with action of valuation of the human. KEYWORDS: hospital food; alimentary and nutritional care; humanization; dietitians; focal group; Hospital Units of Food and Nutrition.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Atividades técnicas apontadas pelos nutricionistas entrevistados como componentes

do seu trabalho.............................................................................................................................25

Quadro 2. Atividades administrativas apontadas pelos nutricionistas entrevistados como

componentes do seu trabalho......................................................................................................26

Quadro 3: Descrição das atividades de cuidados diretos em nutrição clínica.............................28

Quadro 4 : Descrição das atividades de cuidados nutricionais em nutrição clínica....................28

Quadro 5: Diferentes níveis de intervenção de acordo com a complexidade do atendimento

nutricional ao paciente.................................................................................................................30

Quadro 6: Recomendações para a prática clínica do dietista segundo a ADFL (2006)..............37

Quadro 7: Atividades do dietista na produção de refeições hospitalares....................................41

Quadro 8: Fluxos e estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e da gestão

da produção das refeições do serviço de dietética e alimentação do Hôtel Dieu de Paris,

2000.............................................................................................................................................43

Quadro 9: Fluxos e estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e a gestão

da produção das refeições da divisão de nutrição e dietética do ICHC, São Paulo,

2001............................................................................................................................................43

Quadro 10: Categorias e subcategorias de análise referentes a construção de um modelo de

cuidado alimentar e nutricional humanizado para a instituição hospitalar estudada..................51

Quadro 11: Categoria 1: ser nutricionista para um atendimento humanizado............................56

Quadro 12: Categoria 2: Pensar em atitudes de humanização....................................................74

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC: Análise do Conteúdo

ADLF: Associação de Dietistas de Língua Francesa

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ANAES: Agência Nacional de Acreditação e de Avaliação

AP-HP: Assistência Pública dos Hospitais de Paris

ASG: Avaliação Subjetiva Global

CCQs: Círculos de Controle de Qualidade

CEPSH: Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos

CFN: Conselho Federal de Nutricionistas

CIPA: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

EUA: Estados Unidos da América

HU: Hospital Universitário

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBRANUTRI: Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar

JNE: Journal of Nutrition Education

MS: Ministério da Saúde

NUPPRE: Núcleo de Pesquisa em Produção de Refeições

OPAS: Organização Pan-Americana de Saúde

OMS: Organização Mundial da Saúde

PNH: Política Nacional de Humanização

PNHAH: Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar

SC: Santa Catarina

SND: Serviço de Nutrição e Dietética

SOAP: Subjetivo,Objetivo, Avaliação, Prescrição

SUS: Sistema Único de Saúde

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UAN: Unidades de Alimentação e Nutrição

UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina

UTI: Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................03

1.1 Objetivos...................................................................................................................10

1.1.1 Objetivo geral..........................................................................................................10

1.1.2 Objetivos específicos..............................................................................................10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................11

2.1 A HUMANIZAÇÃO NOS SERVIÇOS HOSPITALARES.................................11

2.1.1 Falando sobre humanização.....................................................................................11

2.1.2 Saúde: por um conceito fundamentado na dimensão humana.................................12

2.1.3 Política Nacional de Humanização: da origem à implementação............................13

2.2 O CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL.............. .....................................17

2.2.1 O cuidado nutricional: da avaliação do estado nutricional à avaliação do cuidado..17

2.2.2 Nutricionistas na prática hospitalar...........................................................................20

2.2.3 O cuidado alimentar e nutricional humanizado.........................................................31

2.3 AS DIFERENTES ABORDAGENS DOS ESTUDOS COM GRUPOS...............44

2.3.1 Grupo focal: a valorização de concepções individuais e coletivas............................45

3 PERCURSO METODOLÓGICO...............................................................................50

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA....................................................................50

3.2 O MODELO DE ANÁLISE......................................................................................50

3.2.1 Definição das categorias e subcategorias..................................................................50

3.2.1.1 Categoria 1: Ser nutricionista para um atendimento humanizado..........................51

3.2.1.2 Categoria 2 : Pensar em atitudes de humanização.................................................52

3.3 SELEÇÃO DO LOCAL E DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA..................52

3.4 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS.............................53

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3.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS..........................................................54

4 DESCRIÇÃO DO ESTUDO.........................................................................................56

4.1 SER NUTRICIONISTA PARA UM ATENDIMENTO HUMANIZAD O............56

4.1.1 Avaliação do paciente................................................................................................56

4.1.2 Planejamento do cuidado alimentar e nutricional.....................................................64

4.1.3 Implementação do cuidado alimentar e nutricional..................................................68

4.1.4 Avaliação do cuidado alimentar e nutricional...........................................................71

4.2 PENSAR EM ATITUDES DE HUMANIZAÇÃO..................................................73

4.2.1 Concepções da humanização no cuidado nutricional................................................74

4.2.2 Necessidades do paciente para receber um atendimento humanizado......................76

4.2.3 Necessidades das nutricionistas para realizar um atendimento humanizado............77

4.2.4 Iniciativas de humanização........................................................................................83

5 CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL HUMANIZADO: ELEME NTOS

PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO..............................................................91

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................102

GLOSSARIO..................................................................................................................115

APÊNDICES...................................................................................................................117

ANEXOS.........................................................................................................................123

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1 INTRODUÇÃO

O cuidado humano agrega valores que priorizam a paz, a liberdade, o respeito e o

amor, que, entre outros aspectos, podem ser enfocados por diversos ângulos e visualizados

por diferentes olhares. Este cuidado é um atributo para todos os seres humanos, porém, na

área da saúde ele difere na forma de expressão. Trata-se de um encontro estabelecido entre a

pessoa que cuida e quem é cuidado, reconhecendo a presença do outro através de troca, de

doação, de suporte e de preocupação. Manisfesta-se através de ações profissionais de natureza

disciplinar e interdisciplinar no processo de interação terapêutica entre os seres humanos,

fundamentadas no conhecimento empírico, pessoal, ético, estético e político, com a intenção

de promover a saúde e a dignidade no processo de vida humana. Portanto, é um fazer voltado

para a valorização do ser humano (ZAGONEL, 1997; BORESTEIN et al., 2003).

Em tempos de caos, impessoalidade e imprevisibilidade denota-se a necessidade do ser

humano voltar-se a si mesmo, para manter-se equilibrado diante de situações inusitadas, a fim

de clarear seu propósito central de vida. A realidade está continuamente renovando-se, e para

acompanhar tal dinâmica, é necessário compreender a cultura da gerência do cuidado no

contexto hospitalar, sendo essencial ao profissional da saúde estar atento a esse arcabouço

simbólico, para melhor compreender as vivências e, a partir disso, ser e agir com atitudes

conscientes e éticas (PROCHNOW et al., 2005).

Dentre os cuidados de saúde realizados no ambiente hospitalar encontra-se o cuidado

nutricional, considerado um dos aspectos mais relevantes para a melhoria da qualidade do

tratamento destinado aos pacientes.

Para Mahan & Arlin (1991, p. 383) cuidado ou assistência nutricional é o processo de

ir ao encontro das diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa, o que inclui “[...] a

avaliação do estado nutricional do indivíduo, a identificação das necessidades ou problemas

nutricionais, o planejamento de objetivos de cuidado nutricional que preencham essas

necessidades, a implementação de atividades nutricionais [...] e a avaliação do cuidado

nutricional”.

Boog (1999), destaca que o cuidado nutricional envolve o conjunto de medidas a

serem tomadas a fim de prover ao paciente uma alimentação com finalidade terapêutica,

através do fornecimento adequado de nutrientes, prevenir a desnutrição e contribuir para o

controle do processo patológico e recuperação da saúde, e ainda, proporcionar satisfação

sensorial e psicológica.

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No entanto, a alimentação hospitalar está longe de incorporar “outros comeres” que

não só o comer “nutriente”. Os indivíduos comem comida, sentem o cheiro das preparações

que lembram de pessoas queridas ou fases da vida. Assim, o alimento é difícil de ser

identificado pelo paciente, quando é reduzido a uma regra, norma ou rotina do nutriente

(GARCIA, 1992; SOUSA, 2005).

Para Corbeau (1998), os setores ligados à alimentação hospitalar devem aprender a

conhecer melhor e respeitar a pluralidade da população hospitalar. A alimentação não é

redutível aos nutrientes, mas, é fonte de prazer do início ao fim da vida e faz parte integrante

da manutenção ou da reconstrução da identidade do indivíduo hospitalizado. E ainda, a

alimentação, como um fato social, é um meio de comunicação entre as pessoas que cercam os

pacientes e com a instituição.

O mesmo autor ao discutir sobre as dimensões ocultas da comensalidade no meio

hospitalar, considera que o comer é um fenômeno social que engloba desde a decisão de

cultivar ou criar certos produtos, até o consumo propriamente dito. No entanto, a seqüência do

comer não se restringe ao ato que vai da colheita ao garfo. Após a ingestão dos alimentos,

emergem impressões, lembranças, discursos e comportamentos alimentares. No meio

hospitalar, compreende-se que essa seqüência do comer não é transparente, as dimensões

simbólicas são difíceis de representar e que certa ansiedade possa ser induzida aos pacientes

pelo desconhecimento de identificar os alimentos.

Esta reflexão é particularmente importante considerando-se o contexto de

humanização dos hospitais públicos brasileiros, aliado aos indicadores de morbidade e

demográficos da população, que serão discutidos a seguir, pois têm exigido do setor de saúde

abordagens diferenciadas para um atendimento qualificado.

Nos últimos vinte anos, diversos países da América Latina, incluindo o Brasil, estão

experimentando uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional. Entende-se

por transição nutricional, o “fenômeno no qual ocorre uma inversão nos padrões de

distribuição dos problemas nutricionais de uma dada população no tempo”, ou seja, uma

passagem da desnutrição para a obesidade. O aumento na prevalência de obesidade e a

mudança das práticas alimentares nos diversos subgrupos populacionais estão fortemente

associados à alta incidência de doenças crônicas não transmissíveis, influenciando desta

maneira, no perfil de morbidade e mortalidade das populações (KAC & VELÁSQUEZ-

MELÉNDEZ, 2003, p. 54).

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Além disso, de acordo com Chaimowicz (1997), desde a década de 60, vem ocorrendo

o fenômeno de transição demográfica, através do aumento de expectativa de vida da

população.

O Brasil, especificamente, é um país que caminha para o envelhecimento

populacional. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram

que no ano de 2020 o Brasil possuirá 30 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos de

vida. Estima-se que em 2025 o Brasil seja o sexto país com a maior população idosa mundial

(IBGE, 2000).

Na Espanha, Ramos et al. (2005) verificaram que o crescimento da população idosa

(maiores de 65 anos) está relacionado ao aumento da expectativa de vida, diminuição da

mortalidade e fecundidade e ao aumento de doenças crônicas, o que ocorre juntamente com as

mudanças fisiológicas que caracterizam o processo de envelhecimento, podendo resultar em

complicações nutricionais.

Entretanto, Garrido e Menezes (2002), destacam que o rápido processo de

envelhecimento ainda não tem sido suficientemente estudado para fornecer os elementos

necessários ao desenvolvimento de políticas adequadas para essa parcela da população.

Dessa forma, Jesus e Lana (2003), observam que é indispensável a elaboração de

ações em saúde que contribuam para a manutenção da qualidade de vida, uma vez que na

velhice, há maior suscetibilidade para ocorrer desequilíbrios em saúde. Isto significa que as

pessoas vivendo mais tempo tendem a necessitar com maior freqüência dos serviços formais

de saúde, incluindo a internação hospitalar.

A alimentação como um destes cuidados, exerce papel fundamental na promoção da

saúde dos indivíduos. Monteiro et al. (2000, p. 252), evidenciam que “as características

qualitativas da dieta são importantes na definição do estado de saúde”, em particular no que se

refere às doenças crônicas da idade adulta. Referem ainda que a maior parte dos estudos sobre

a relação entre características da dieta e obesidade evidencia uma “associação positiva entre

proporção da energia procedente de gorduras e risco de obesidade”.

Além disso, deve-se considerar o papel preponderante da alimentação na vida dos

indivíduos e a finalidade específica dos alimentos para cada fase, como crescimento e

desenvolvimento, prevenção, manutenção e recuperação da saúde. Por isso, as orientações

sobre alimentação devem ser o enfoque do trabalho do nutricionista em qualquer área de

atuação (PHILLIPPI, 2000, p. 44).

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Diante deste contexto e considerando a influência da alimentação na saúde dos

indivíduos, destaca-se a necessidade do desenvolvimento de ações e produção de informações

em alimentação e nutrição que possam contribuir com a promoção da saúde e a redução do

aparecimento de doenças. Do contrário, o setor hospitalar poderá não ter estrutura suficiente

para um atendimento qualificado.

Mas, se por um lado, o fenômeno da transição nutricional é um quadro preocupante,

por outro lado a desnutrição intra-hospitalar também é um fenômeno que vem ocorrendo de

forma globalizada.

Estudos realizados na década de 70 constataram que o estado nutricional dos

indivíduos passou a representar uma preocupação médica devido à incidência dos casos de

desnutrição intra-hospitalar e sua forte relação com a morbidade e mortalidade (BOLLET &

OWENS, 1973; BRISTIAN et al, 1974; BLACKBURN, 1977).

Gallagher-Allred (1996) em oito estudos realizados nos Estados Unidos, com 1347

pacientes hospitalizados, concluíram que 40 a 55% encontravam-se desnutridos ou em risco

para desnutrição, e 12% estavam severamente desnutridos.

De acordo com um estudo multicêntrico – o Inquérito Brasileiro de Avaliação

Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI) – desenvolvido em 12 estados do Brasil com quatro

mil pacientes, observou-se prevalência média de desnutrição hospitalar de 48,1% nos

hospitais públicos, sendo 12,6% desnutridos graves e 35,5% moderados, diagnosticados

através da Avaliação Subjetiva Global (ASG). A progressão da desnutrição durante a

internação chegou a atingir 61% quando a internação prolongou-se por mais de 15 dias, sendo

que a desnutrição primária – pacientes que já estavam desnutridos antes da internação –

acometeu 31,8% dos pacientes. Em apenas 14% dos prontuários foi encontrado registro do

peso dos pacientes. Neste estudo, destacou-se a falta de diagnóstico do estado nutricional e de

suporte nutricional por via enteral e parenteral, como intervenção nutricional específica

(WAITZBERG et al., 2001).

Outros estudos encontraram resultados semelhantes, e ressaltam que a incidência da

desnutrição hospitalar pode ser atribuída à falta de ações da equipe de saúde, que não estão

suficientemente direcionadas para modificar este quadro. Apontam ainda a falta de

conhecimento de médicos e enfermeiras, falta de interesse pelos dados nutricionais e

inexistência de especialistas em nutrição (PEREZ et al., 2002; MELLO et al., 2003;

WYSZYNSKI et al., 2003).

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Entre os fatores causais relacionados à desnutrição hospitalar, a alimentação assume

papel importante, visto que se observa que os pacientes não ingerem boa parte da dieta que

lhes é oferecida devido à falta de apetite, alteração do paladar, mudança de hábitos e horários

alimentares (PEREZ, 2002, IBRANUTRI, 1997, p.31).

O estudo de Sousa (2001) apontou que na política hospitalar francesa, o paciente tem

sido o centro das preocupações para os setores ligados à alimentação e nutrição. A

implantação de métodos de qualidade, incluindo aspectos nutricionais, higiênicos, sensoriais e

simbólicos; a personalização das refeições do paciente, através de sistemas informatizados; a

utilização de métodos para identificação prévia de pacientes com risco para desnutrição e

criação de equipes pluridisciplinares para coordenar os problemas de alimentação hospitalar,

são exemplos de ações visando o restabelecimento da convivialidade e da revalorização da

alimentação.

Um outro aspecto que merece destaque é o cotidiano assistencial. A este respeito

Medina & Backes (2002), apontam que a equipe de saúde depara-se com diversas pessoas que

possuem individualidade própria, problemas e características únicas. Mas, muitas vezes o

profissional as atende com eficiência técnica, de forma autômata esquecendo-se de que este

“ser” apresenta sentimentos e é sujeito de sua própria história.

Aliado a isto, com o acelerado processo de desenvolvimento tecnológico na área da

saúde, a singularidade do paciente (emoções, crenças e valores) ficou em segundo plano; sua

doença passou a ser objeto do saber reconhecido cientificamente e a assistência se

desumanizou (BAKTHIN, 1999; NOGUEIRA-MARTINS, 2001).

A Política Nacional de Humanização (PNH) em seu projeto destaca que,

contextualmente, não há ações específicas para o setor hospitalar, havendo necessidade de se

construir e implementar uma política que induza a uma reestruturação das instituições

hospitalares para responder às necessidades da saúde da população de forma integrada à rede

de serviços de saúde local e regional (BRASIL, 2005).

Recentemente, o Conselho Europeu estabeleceu uma resolução que consistiu de

recomendações a serem aplicadas nos hospitais de seus países membros. Tais recomendações

estão baseadas nos seguintes aspectos: o acesso à saúde e a uma alimentação variada são

direitos humanos fundamentais; cerca de 30 a 60% de pacientes hospitalizados na Europa são

desnutridos; a desnutrição intra-hospitalar aumenta com o prolongamento da internação e,

conseqüentemente, aumentam os custos médicos e a constatação dos efeitos benéficos da

alimentação hospitalar e do cuidado nutricional sobre a morbidade, recuperação e qualidade

de vida. A resolução indica opções para otimizar as ações em três níveis: cuidado ao paciente,

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suporte de serviços e administração. Além disso, destaca que todos os cuidadores devem se

envolver com a implementação das recomendações para adaptá-las aos limites e necessidades

locais (GOTTRAUX et al, 2004).

Reforçando este último aspecto, Sousa (2001) argumenta que, para a efetivação dos

cuidados alimentares e nutricionais, é necessário um conjunto de ações articuladas entre o

setor de produção de refeições e o setor de atendimento clínico-nutricional. Estas ações

consistem de estratégias coletivas que visam não só um atendimento qualificado em saúde e

nutrição, como também a realização dos profissionais envolvidos.

Diante das mudanças apresentadas no ambiente hospitalar, decorrentes dos perfis

demográficos e de morbidade e mortalidade da população, o cuidado alimentar e nutricional

não pode ser exceção dentro do processo de humanização, visto que são poucos os

indicadores e ações humanizadoras concebidos para os setores envolvidos com estes

cuidados.

Além destes aspectos, o desenvolvimento de ações dentro dos setores responsáveis

pela alimentação e nutrição nos hospitais, envolve o cotidiano do trabalho de profissionais de

diferentes categorias. Dentre estes profissionais situam-se os nutricionistas, cujos

procedimentos técnicos são desenvolvidos em estreita interação com a equipe de saúde.

A atuação do nutricionista nos hospitais compreende atribuições situadas em duas

grandes áreas de atuação: a alimentação coletiva, que consiste no gerenciamento do processo

de produção de refeições, e a nutrição clínica que abrange atividades relacionadas aos

cuidados nutricionais, com vistas à prevenção e à terapia nutricional (SOUSA, 2001; CFN,

1998).

A situação do trabalho do nutricionista tem sido objeto de alguns estudos. Os

resultados têm revelado acúmulo de atividades ligadas ao gerenciamento da prestação de

serviços (material, pessoal, custos, política de produção) e, conseqüentemente, não

aprofundamento das necessidades terapêuticas e alimentares dos indivíduos enfermos.

Problemas de operacionalização (porcionamento inadequado, falta de comunicação entre as

unidades de internação clínica e a produção de refeições) dificultam a interação entre a

prescrição e a execução da dieta, bem como a análise da efetividade do tratamento nutricional

oferecido. Além disso, a falta de definição clara de responsabilidades, formação insuficiente

dos profissionais, pouca influência com os pacientes, falta de cooperação entre a equipe e

falta de envolvimento da gerência dos hospitais, são alguns dos problemas enfrentados pela

categoria. Estas dificuldades devem-se possivelmente ao modelo de gestão empregada, às

atribuições complexas e à multiplicidade de ações a serem desenvolvidas (BOOG et al, 1989;

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CARMO et al. 1994; ANSALONI, 1999; SOUSA, 2001; BECK et al, 2001; SOUSA, 2002;

SOUSA & PROENÇA, 2004).

Estes dados são relevantes para uma reflexão sobre as competências e habilidades que

estes profissionais necessitam para a implementação de ações em alimentação e nutrição

qualificadas e constantemente avaliadas dentro do contexto de humanização. A possibilidade

de desenvolvimento destas ações depende de condições dignas de trabalho e da interação de

profissionais envolvidos com os cuidados ao paciente e pode ser uma rica construção em

grupo.

Conforme observado por Minayo (1996), a construção de concepções em grupo tem

inegável importância para se tratar das questões de saúde sob o ângulo social.

A característica de um grupo pode ser descrita como um conjunto de pessoas que

interagem, em função de objetivos, cooperativamente aceitos, onde a participação de cada um

se traduz no pensar com o outro, no ouvir o outro, no aceitar as possibilidades, reconhecer as

limitações existentes em si e nos outros, no respeito, no agir e no crescer com o outro. Os

grupos constituem um instrumento capaz de contribuir para a construção de novas práticas

interdisciplinares na assistência integral à saúde das populações (VIZZOLTO et al., 1995;

SANTOS, 2001).

Assim, diante destas considerações, para a gestão dos cuidados alimentares e

nutricionais, torna-se necessário o planejamento de estratégias, desenvolvidas com o intuito

de identificar o papel do nutricionista no setor hospitalar como promotor da saúde e agente de

prevenção de enfermidades.

Tais estratégias ou iniciativas de humanização concebidas com um grupo de

nutricionistas podem vir a contribuir com a qualidade do cuidado alimentar e nutricional aos

indivíduos hospitalizados. Poderão ainda oferecer aos profissionais subsídios que

fundamentem suas ações para o atendimento das necessidades de cuidado aos pacientes. Além

disso, a reprodução de estudos sobre este tema em diferentes contextos e com outros

profissionais pode contribuir com o aprofundamento da compreensão conceitual acerca do

cuidado em alimentação e nutrição.

A Política Nacional de Humanização é uma política generalista. Portanto, envolve

todos os níveis de saúde e não apresenta especificidades de ações relacionadas ao cuidado

alimentar e nutricional. Dessa forma, o projeto proposto envolve a discussão da alimentação e

humanização no atendimento hospitalar, considerando as concepções, expectativas e

percepções de um grupo de nutricionistas sobre o desenvolvimento de ações humanizadoras

em alimentação e nutrição, em um hospital de referência para a PNH.

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19

A questão de pesquisa que norteou o desenvolvimento do estudo pode ser assim

delineada:

Quais as ações que podem contribuir para concepção de um modelo de cuidado

alimentar e nutricional com a equipe de nutricionistas de um hospital de referência para

a PNH?

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Identificar ações que contribuam para conceber um modelo de cuidado alimentar e

nutricional fundamentado na humanização com a equipe de nutricionistas de um hospital de

referência para a PNH.

1.1.2 Objetivos específicos

• Identificar as concepções sobre cuidado alimentar e nutricional humanizado com a

equipe de nutricionistas do hospital estudado.

• Identificar as iniciativas de humanização relacionadas ao cuidado alimentar e

nutricional no hospital analisado.

• Caracterizar as ações referentes ao cuidado alimentar e nutricional realizado pela

equipe de nutricionistas do hospital analisado.

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20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A HUMANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS HOSPITALARES

2.1.1 Falando sobre humanização

Humanizar é uma medida que visa, sobretudo, tornar efetiva a assistência ao indivíduo

criticamente doente, considerando-o como um ser em sua integralidade. Além de envolver o

cuidado ao paciente, a humanização estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no

processo saúde-doença que são, além do paciente, a família, a equipe multiprofissional e o

ambiente (VILA & ROSSI, 2001).

Zusman (1998) destaca que a humanização admite o reconhecimento da realidade

interna, implica a aquisição de valores que levam ao refinamento da consciência moral, da

sensibilidade ao sofrimento alheio, da compaixão, da capacidade empática, da tolerância ao

sentimento de culpa e a consciência da fragilidade humana.

Na análise de Martins (2003) a humanização em saúde é um processo de mudanças de

envolvimento interdisciplinar, considerado um processo amplo, longo e complexo ao qual se

oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento que sempre despertam

insegurança. De uma maneira geral, os padrões conhecidos parecem mais seguros, uma vez

que os novos não estão determinados, não apresentam características generalizáveis e cada

profissional, equipe ou instituição terá seu processo singular de humanização.

Cabe ressaltar que a humanização não ocorre de modo mágico, mas sim, é uma

filosofia que deve ser trabalhada e desenvolvida de acordo com os interesses de uma pessoa

ou grupo; trata-se, sobretudo de um processo vivencial (MEDINA & BACKES, 2002).

Neste contexto, é essencial observar as considerações dos profissionais do setor

hospitalar que, além do respaldo teórico sobre o assunto, vivenciam a realidade dos hospitais,

apresentando uma visão voltada à prática e à operacionalização frente à humanização.

Tarabousli apud Medeiros (2004, p. 44) apresenta alguns depoimentos de profissionais

do Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília:

“Essas coisas não vão curar a doença, mas tornam o sofrimento mais tolerável”.

“A nossa experiência mostra que a socialização dos pacientes diminui muito os

problemas de reabilitação, principalmente os quadros depressivos”.

Conforme os princípios da PNH para que a humanização hospitalar seja efetivada, é

necessário que os atores envolvidos incorporem medidas de assistência éticas, seguras,

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embasadas em cuidados técnico-científicos (BRASIL, 2005). Mas, ao mesmo tempo, a

concepção de saúde, frequentemente focada na doença, pode envolver outros elementos que

possibilitem fortalecer e fundamentar a dimensão humana.

2.1.2 Saúde: por um conceito fundamentado na dimensão humana

A maior parte das estatísticas sobre saúde, fundamenta-se no conceito biomédico que

define saúde como “ausência de doença”. Tal conceito constitui a moderna medicina

científica, que considera o corpo humano uma máquina, enquanto a doença é vista como um

mau funcionamento dos mecanismos biológicos (CAPRA,1982; HELMAN, 2003).

Para Gelbcke (1991), o processo saúde e doença pode ser definido como um conjunto

de categorias contraditórias na unidade dialética, que estão em constante movimento e

transformação, constituído de um todo biológico, psíquico e social determinado pelas

condições de vida e de trabalho, conferindo-lhe um caráter social e historicamente

determinado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS (1986), as condições e os recursos

que fundamentam a saúde são: paz, abrigo, instrução, alimentação, ecossistema estável,

recursos financeiros, justiça social e equidade. Ser saudável é, portanto, agregar de forma

favorável os fatores: políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, psicológicos e

biológicos.

Dentro dos propósitos do presente estudo, buscou-se um conceito de saúde, que fosse

além do pensamento biomédico, construído a partir de uma visão holística do indivíduo,

através da integração de seu corpo, mente e espírito. Assim, mais do que o conceito de saúde

optou-se por autores que adotam o conceito de “ser saudável”.

Assim, segundo Meleis (1992), ser saudável não implica em oferecer uma visão

estatística de saúde. Quando considerado a partir da perspectiva de pacientes, ser saudável é

um modo de vida, uma atitude, uma concepção, uma história, um contexto com normas sócio-

culturais, uma crença, uma tradição. Para a autora, ser e tornar-se saudável pode constituir

partes de uma percepção global de saúde, envolvendo conscientização, desenvolvimento,

acesso, capacitação, oportunidade e recursos. A saúde pode ser considerada um estado, um

processo de desenvolvimento, uma realização pessoal, um resultado ou um estilo de vida. E,

ainda, pode ser definida sob a perspectiva de algumas condições essenciais à compreensão do

seu significado, tais como padrões, tendências, contexto, respostas e percepções.

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Para Capra (1982), a doença é definida como uma conseqüência de desequilíbrio e

desarmonia, podendo frequentemente ser decorrente de uma falta de integração, uma vez que

a vida humana quando moldada para agir somente a partir de determinadas regras, sem o

atendimento de suas necessidades, tende a ausência de equilíbrio e, conseqüentemente, o ser

humano adoece se os mecanismos fisiológicos forem requisitados de forma inadequada.

Nesta abordagem, para alcançar um estado adequado de bem-estar, o ser humano deve

ser capaz de identificar e realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou

adaptar-se ao meio ambiente (OMS, 1986).

Ser saudável significa, portanto, estar em sincronia consigo mesmo e com o mundo

circundante, física e mentalmente. Saúde é o bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico

entre os aspectos físico e psicológico do organismo, assim como suas interações com o

ambiente social e cultural (CAPRA, 1982, p. 317).

A adoção desta concepção orienta a assistência à saúde, para uma nova abordagem,

que deve ter o objetivo de restaurar e manter o equilíbrio dinâmico de indivíduos, famílias e

grupos sociais, considerando a interdependência da saúde individual e dos sistemas sociais e

ecológicos. Além disso, deve ser acompanhada por ações e programas sociais que deverão

compor duas ações: a educação para a saúde e a política de saúde, incluindo programas nas

escolas, campanhas de educação sobre saúde pública e uma política de governo (CAPRA,

1982, p. 326).

Considerando a crise no sistema de saúde brasileiro, a atenção hospitalar vem se

constituindo objeto de análise permanente por parte do Ministério da Saúde (MS). Dessa

forma, compreende-se que a reformulação do modelo de atenção à saúde é um desafio, que

envolve a formulação de novos conceitos e mudanças no sistema de valores, a exemplo dos

princípios que norteiam o processo de humanização.

2.1.3 Política Nacional de Humanização: do surgimento à implementação

A constituição brasileira estabelece que saúde é um direito fundamental do ser

humano, e é dever do Estado garanti-la a toda a população. Embora a saúde seja um direito

constitucionalmente garantido, um olhar sob o cotidiano das práticas de saúde revela

facilmente a enorme contradição existente entre as conquistas estabelecidas no plano legal e a

realidade da crise vivenciada pelos usuários e profissionais deste setor (TRAVERSO-YÉPEZ

& MORAIS, 2004).

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A situação do setor de saúde no Brasil é marcada por crises tanto para gestores

públicos, empresários e profissionais, quanto para a população usuária. Admite-se que tal

situação possui várias dimensões estreitamente vinculadas, que incluem não só fatores de

formação profissional e social, mas também aspectos financeiros, organizacionais e

assistenciais (OPAS/OMS, 2004).

Por este motivo, o Brasil vem buscando, especificamente a partir dos anos 90,

reorganizar o modelo de atenção à saúde, de forma a superar a história de um sistema nacional

modelado pela assistência médica curativa, de baixa resolubilidade e inacessível a maioria da

população (BRASIL, 2004).

Por um lado, há a necessidade de uma reformulação do sistema como um todo,

ampliando o acesso, facilitando a utilização dos serviços de saúde por meio da

desburocratização e da descentralização das ações. Por outro lado, discute-se a necessidade de

mudanças conceituais no foco da atenção hospitalar prestada, deslocando-a da ótica

privilegiada da doença, centrada na disponibilidade dos serviços e profissionais de saúde, para

um modelo de cuidado centrado nas necessidades de saúde do usuário, contemplando suas

relações e espaços de vida (OPAS/OMS, 2004).

Considerando que a eficiência técnico-científica e a racionalidade administrativa nos

serviços de saúde, focalizando as doenças, procedimentos e tarefas, não se mostraram

suficientes para garantir a qualidade no atendimento à saúde, o Ministério da Saúde reconhece

a necessidade de mudanças profundas na cultura do atendimento. Ao longo dos anos, muitos

esforços foram realizados de forma isolada, por algumas instituições que criaram projetos,

comissões e grupos para pensarem em humanização e, atualmente, estas ações fazem parte

dos objetivos governamentais (BRASIL, 2005).

Segundo o Ministério da Saúde a humanização em saúde originou-se no instituto “A

CASA”, em 1999: um grupo de profissionais da área da saúde foi formado pelo Ministério da

Saúde, para pensar um projeto nacional de humanização que enfrentasse a necessidade de

melhorar a qualidade das relações humanas no atendimento à saúde entre profissionais de

saúde e usuários, entre as diferentes categorias de profissionais de saúde e entre os hospitais e

a comunidade (BRASIL, 2003).

Esse grupo implementou um projeto piloto, com dez hospitais, distribuídos em

diferentes regiões do Brasil, com diferentes realidades sócio-culturais, no intuito de

desenvolver e testar uma metodologia que pudesse ser implementada para um número maior

de instituições (BRASIL, 2003).

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Em junho de 2001, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Humanização

de Assistência Hospitalar (PNHAH), através da Portaria GM nº 881/2001, em hospitais

públicos que integram o SUS. O programa surgiu com a expectativa de disseminar e articular

uma cultura de atendimento humanizado, uma vez que já existiam iniciativas isoladas de

humanização, que vinham sendo desenvolvidas há muitos anos em áreas específicas da

assistência (BRASIL, 2003).

O conjunto de iniciativas proposto pelo programa fundamentou-se em três dimensões:

humanização do atendimento ao usuário (cuidar do usuário); humanização das condições de

trabalho do profissional de saúde (cuidar de quem cuida); e o atendimento da instituição

hospitalar em suas necessidades básicas administrativas, físicas e humanas (BRASIL, 2003,

p.6). São objetivos do programa:

• Difundir uma nova cultura de humanização na rede hospitalar pública brasileira.

• Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários dos hospitais

públicos no Brasil.

• Capacitar os profissionais dos hospitais para um novo conceito de assistência à saúde

que valorize a vida humana e a cidadania.

• Conceber e implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que venham a

beneficiar os usuários e os profissionais de saúde.

• Fortalecer e articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede

hospitalar pública.

• Estimular a realização de parcerias e intercâmbio de conhecimento e experiências

nesta área.

• Desenvolver um conjunto de indicadores de resultados e sistema de incentivos ao

tratamento humanizado.

• Modernizar as relações de trabalho no âmbito dos hospitais públicos, tornando as

instituições mais harmônicas e solidárias, de modo a recuperar a imagem pública

dessas instituições junto à comunidade.

A primeira fase de difusão do programa realizou-se em junho de 2001, junto a 96

hospitais da rede pública de saúde, dos quais três localizavam-se no Estado de Santa Catarina:

Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Tiago (Florianópolis); Hospital Governador

Celso Ramos (Florianópolis) e Hospital Regional Lenoir V. Ferreira (Chapecó) (BRASIL,

2003).

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25

Posteriormente, a forma de trabalho adotada foi a extensão progressiva do programa

de humanização para um número cada vez maior de hospitais da rede pública, estimando-se a

inclusão de 450 novos hospitais durante a segunda fase do programa, que ocorreu entre maio

e dezembro de 2002 (BRASIL, 2003).

Em junho de 2003, o programa foi substituído por uma perspectiva transversal,

constituindo uma política de assistência, e não mais um programa específico. A política,

denominada Política Nacional de Humanização (PNH) – Humaniza - SUS, foi regulamentada

pelo Decreto nº 4.726, sob a coordenação da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde

(BRASIL, 2005).

A PNH consiste basicamente na mudança de modelos de atenção e gestão dos

processos de trabalho focalizando as necessidades dos cidadãos e a promoção de saúde. A

política visa mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário, valorizando a

dimensão humana e reconhecendo-a no ato de assistência à saúde (BRASIL, 2005).

Neste contexto, a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) destaca que este

projeto propõe uma nova relação entre usuários do Sistema Único de Saúde, os que os

atendem e a comunidade, visando proporcionar um SUS mais humano, que ofereça

tratamento igual a todos brasileiros e que esteja comprometido com a qualidade dos serviços e

da saúde integral (BRASIL, 2005).

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005, p. 11-15), a PNH visa à

integralidade, à universalidade, ao aumento da eqüidade e à incorporação de novas

tecnologias e especialização dos saberes. Apesar dos avanços acumulados no que se refere aos

seus princípios norteadores e à descentralização da atenção e da gestão, o Sistema Único de

Saúde (SUS) hoje ainda enfrenta dificuldades, como por exemplo:

• Fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais.

• Fragmentação da rede assistencial dificultando a complementaridade entre a rede

básica e o sistema de referência.

• Precária interação nas equipes e despreparo para lidar com a dimensão subjetiva nas

práticas de atenção.

• Sistema público de saúde burocratizado e verticalizado.

• Baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, especialmente no que se refere

à gestão participativa e ao trabalho em equipe.

• Poucos dispositivos de fomento à co-gestão e à valorização e inclusão dos gestores,

trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde.

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• Desrespeito aos direitos dos usuários.

• Formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação da política

pública de saúde.

• Controle social frágil dos processos de atenção e gestão do SUS.

• Modelo de atenção centrado na relação queixa-conduta.

Dentre os princípios básicos que norteiam a política estão:

• Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão,

fortalecendo e estimulando processos integradores de compromisso;

• Aumentar o grau de co-responsabilidade, dos diferentes atores que constituem a rede

do SUS, o que implica mudanças na atenção aos usuários e na gestão dos processos e

trabalho;

• Valorizar, no atendimento, o vínculo com os usuários, a garantia de seus direitos e de

seus familiares;

• Estimular a população a ser protagonista do sistema de saúde, por meio de sua ação

de controle social;

• Garantir condição para que os profissionais atuem de modo digno e participem como

co-gestores do sistema, incluindo o fortalecimento de trabalho em equipes

multiprofissionais.

Assim, espera-se, que a implantação da Política Nacional de Humanização possibilite

mudanças nas instituições hospitalares, através de ações efetivas que visem a melhoria da

qualidade do atendimento prestado. A alimentação hospitalar como um dos componentes dos

cuidados de saúde pode contribuir de forma determinante para o atendimento humanizado nas

instituições hospitalares, sendo fundamental buscar elementos e identificar ações para o

aprimoramento deste tipo de atenção.

2.2 O CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

2.2.1 O Cuidado nutricional: da avaliação do estado nutricional à avaliação do cuidado.

No ambiente hospitalar, os indivíduos internados recebem inúmeros cuidados, visando

o restabelecimento do seu equilíbrio. Dentre estes cuidados, destacam-se os relacionados à

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alimentação e à nutrição, em seus diferentes níveis de complexidade e intervenção, de acordo

com as características individuais e a enfermidade.

A concepção de alimentação aplicada à saúde ou dietética tem como base uma série de

conhecimentos que fazem dela um dos ramos fundamentais da medicina e constituiu-se em

um dos primeiros recursos terapêuticos com que contou a medicina em seus primórdios.

Hipócrates, pai da medicina, em seus tratamentos enfatizava mais a alimentação, os exercícios

físicos e a exposição aos raios solares, do que em drogas (MAZZINI, 1998).

Sabe-se que uma boa dieta assegura não só um crescimento e um desenvolvimento

normais; também contribui para o aumento da resistência às doenças, bem como a prevenção

das doenças crônicas, retarda o envelhecimento, assegura o bem-estar geral, além de proteger

o homem contra as toxinas do meio-ambiente (GOLAPAN, 1997).

De acordo com Helman (2003) a alimentação apresenta finalidades específicas

exercendo funções importantes na vida dos indivíduos, atuando, desde o crescimento e

desenvolvimento, até mesmo na prevenção, manutenção e recuperação da saúde.

Dentro desta argumentação, a concepção de atenção ou cuidado nutricional,

comumente está relacionada ao atendimento clínico-nutricional, ou seja, a terapia

nutricional.

Mahan & Arlin (1991, p. 383) sistematizaram este conceito destacando diferentes

etapas interdependentes: O cuidado nutricional é um processo de ir ao encontro das

diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa, o que inclui “[...] a avaliação do estado

nutricional do indivíduo, a identificação das necessidades ou problemas nutricionais, o

planejamento de objetivos de cuidado nutricional que preencham essas necessidades, a

implementação de atividades nutricionais [...] e a avaliação do cuidado e nutricional”.

Estas etapas encontram-se descritas abaixo, conforme Brylinsky (2002, p. 416 -422):

• Avaliação do estado nutricional: consiste na identificação das necessidades

nutricionais individuais através de uma ampla coleta de dados específicos (clínicos,

dietéticos, antropométricos, bioquímicos e sociais) que servirão de base para se traçar

um plano de cuidado nutricional, contribuindo para a identificação de pacientes em

risco nutricional. Ressalta-se que uma avaliação completa aumentará a eficácia do

tratamento nutricional.

• Identificação das necessidades ou problemas nutricionais: consiste na análise do risco

nutricional, uma vez que a supernutrição e a subnutrição tem mostrado um impacto

negativo na resposta do paciente ao tratamento médico. Para facilitar a identificação

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de pacientes em risco nutricional, é utilizada a seleção ou triagem nutricional que

envolve técnicas simples e rápidas, podem ser aplicadas por qualquer membro da

equipe de saúde e deve incluir todos os pacientes. Os dados necessários para a

realização da triagem são: idade, altura, peso usual, peso ideal, peso atual,

porcentagem de mudança de peso a partir do peso ideal ou usual, mudança no apetite,

disfagia ou dificuldade de mastigação, presença de náusea vômito ou diarréia,

albumina sérica, hemoglobina ou hematócrito, contagem total de linfócitos. A seleção

nutricional deve ser repetida durante a estadia do paciente, uma vez que o risco

nutricional aumenta em pacientes hospitalizados por duas semanas ou mais. Pacientes

identificados como sendo de risco, devem ser avaliados por um nutricionista. Um bom

programa de triagem pode ser uma ferramenta valiosa para fornecer custo-efetividade

e cuidados apropriados ao paciente.

• Planejamento do cuidado nutricional: a identificação dos problemas nutricionais

leva à formulação de um plano para lidar com cada um individualmente, sendo

dada maior atenção a problemas de maior prioridade. Se a informação nutricional

não é completa, o primeiro objetivo é coletar os dados necessários. Os objetivos

devem ser realistas e apropriados, considerando nível educacional, fatores

econômicos e sociais do paciente ou família.

• Implementação do cuidado nutricional: esta etapa do processo traduz os dados de

avaliação em estratégias, atividades ou intervenção que farão o paciente capaz de

atingir os objetivos definidos. Pode incluir: variações na prescrição da dieta,

aconselhamento do pacientes, fornecimento de alimento ou suplementação

nutricional, implementar alimentação por sonda para pacientes que não podem

comer ou fornecer informações sobre fontes financeiras ou alimentares. O processo

de cuidado é contínuo; o plano inicial pode mudar como condição das alterações do

paciente quando novas necessidades são identificadas.

• Avaliação do cuidado nutricional: é o último passo no processo de cuidado

nutricional. Torna o plano de cuidado dinâmico e suscetível às necessidades do

paciente. A meta do cuidado nutricional é atingir as necessidades nutricionais do

paciente; portanto os objetivos devem ser frequentemente revisados para assegurar

que aqueles ainda não alcançados sejam redirecionados e que o cuidado é avaliado

e modificado quando necessário.

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Este tipo de cuidado é considerado complexo e requer o trabalho integrado da equipe

de saúde, envolvendo além do nutricionista, enfermeiros, médicos e todos os profissionais

auxiliares. Pode-se dizer que a qualidade do atendimento ao paciente hospitalizado está

relacionada ao nível de integração da equipe de saúde. Todos em suas diferentes funções

podem contribuir com a qualidade dos serviços referentes à alimentação e, especificamente,

nas diferentes etapas do cuidado nutricional.

2.2.2 Nutricionistas na prática hospitalar

De acordo com Vasconcelos (2002, p. 131), o nutricionista no Brasil inicialmente era

formado dentro de um curso técnico de nível médio e denominava-se dietista, a exemplo dos

países da Europa, Estados Unidos (EUA) e Canadá. Aos poucos, conforme Icaza apud

Vasconcelos (2002, p. 131), os cursos brasileiros foram sofrendo alterações, aproximando-se

das características do curso do Instituto Nacional de Nutrição da Argentina, formando um

profissional de nível universitário, com conhecimentos específicos de Nutrição, com funções

e responsabilidades próprias de atenção dietética ao indivíduo sadio ou enfermo, de forma

individual ou coletiva.

Vasconcelos (2002, p. 136) referindo-se ao processo de emergência e evolução da

profissão de nutricionista no Brasil, destaca:

Há cerca de sessenta anos emergia no Brasil a profissão de nutricionista. Àquela época, frente à tortuosa tarefa de construção da nacionalidade brasileira e de implantação das bases para a consolidação de uma sociedade capitalista urbano-industrial, o principal desafio que se colocava a este profissional era a superação do perfil epidemiológico nutricional daquele contexto, caracterizado sobretudo pelas doenças carenciais (desnutrição protéico-calórica, hipovitaminose A, pelagra, anemia ferropriva, etc.), associadas às condições de “subdesenvolvimento”, de pobreza, de fome, de desigualdades regionais. Nos dias atuais, àquele perfil epidemiológico sobrepuseram-se as doenças nutricionais degenerativas (obesidade, diabetes, dislipidemias, etc.), associadas às condições de desenvolvimento e de modernidade existentes no país e, assim, novos dilemas e desafios são apresentados aos nutricionistas.

Nos últimos anos, segundo Gambardella et al. (2000), o campo de atuação do

nutricionista tem se ampliado consideravelmente. Esse profissional conquistou espaços e,

cada vez mais, está se inserindo em setores e serviços diferenciados.

No Brasil, algumas pesquisas tiveram com objetivo conhecer a inserção de

nutricionistas no mercado de trabalho.

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Vasconcelos (1991), em estudo realizado em Florianópolis/SC, constatou que o setor

hospitalar absorve 48,4% dos profissionais; administração de Serviços de Alimentação de

Empresas, 18,7%; a docência, 17,2% e a nutrição em Saúde Pública, 10,9%.

Já no Rio de Janeiro, Prado & Abreu (1991), detectaram que 51,3% dos profissionais

encontravam-se alocados em hospitais; 22,4% em empresas prestadoras de serviços de

alimentação e nutrição, 22% não trabalhavam na área de nutrição e os demais estavam

empregados em outros campos de atuação desse profissional. Segundo conclusões do estudo,

o afastamento da profissão pode ser devido a dificuldades de trabalho, como a falta de cursos

regulares oferecidos pelo estabelecimento para atualização e aperfeiçoamento técnico,

insuficiência de material básico de trabalho e de pessoal na equipe e jornada de trabalho

elevada.

Na área da saúde, especificamente no setor hospitalar, o nutricionista tem seu

trabalho reconhecido e desenvolve atividades em duas grandes áreas de atuação: a área de

alimentação coletiva e a área de nutrição clínica, estabelecidas pelo Conselho Federal de

Nutricionistas (CFN) através da resolução de n° 200, de 1998.

De acordo com o CFN (1998) são atividades do nutricionista ligado à alimentação

coletiva: gerenciamento das atividades relacionadas ao fluxo operacional da produção de

refeições, responsabilizando-se por ações que iniciam desde o planejamento de cardápios,

compras, preparação e distribuição, até o controle de todos os procedimentos envolvidos.

As atribuições principais e específicas da área de alimentação coletiva para o

nutricionista, segundo CFN, encontram-se descritas abaixo:

Atribuição Principal

• Planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de Unidades de

Alimentação e Nutrição (UAN).

Atribuições Específicas em UAN (restaurantes industriais, hospitais, produção de

congelados, refeições transportadas e catering)

• Participar do planejamento e gestão dos recursos econômico-financeiros da UAN;

• Participar do planejamento, implantação e execução de projetos de estrutura física da

UAN;

• Planejar e executar a adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios, de

acordo com o avanço tecnológico;

• Planejar, coordenar e supervisionar a seleção, compra e manutenção de veículos para

transporte de alimentos, equipamentos e utensílios;

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• Planejar cardápios de acordo com as necessidades de sua clientela;

• Planejar, coordenar e supervisionar as atividades de seleção, compra e armazenamento

de alimentos;

• Coordenar e executar os cálculos de valor nutritivo, rendimento e custo das

refeições/preparações culinárias;

• Avaliar tecnicamente preparações culinárias;

• Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo,

distribuição e transporte de refeições e/ou preparações culinárias;

• Desenvolver manuais técnicos, rotinas de trabalho e receituários;

• Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as atividades de higienização de

ambientes, veículos de transporte de alimentos, equipamentos e utensílios;

• Efetuar controle periódico do resto-ingestão;

• Estabelecer e implantar formas e métodos de controle de qualidade de alimentos, de

acordo com a legislação vigente;

• Participar do recrutamento e seleção de recursos humanos;

• Integrar a equipe de atenção à saúde ocupacional;

• Coordenar, supervisionar e executar programas de treinamento e reciclagem de

recursos humanos;

• Participar dos trabalhos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA;

• Coordenar, supervisionar e executar as atividades referentes a informações

nutricionais e técnicas de atendimento direto aos clientes;

• Promover programas de educação alimentar para clientes;

• Detectar e encaminhar ao hierárquico superior e autoridade competente, relatórios

sobre condições da UAN impeditivas da boa prática profissional e/ou que coloquem

em risco a saúde humana;

• Colaborar com as autoridades de fiscalização profissional e/ou sanitária;

• Desenvolver pesquisas e estudos relacionados à sua área de atuação;

• Colaborar na formação de profissionais na área de saúde, orientando estágios e

participando de programas de treinamento;

• Efetuar controle periódico dos trabalhos executados.

As atividades que envolvem a prática do nutricionista da área clínica, de acordo com o

CFN (1998) são: assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial, prescrição, planejamento,

análise, supervisão e avaliação de dietas para enfermos.

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As atribuições principais e específicas da área de nutrição clínica para o nutricionista

são:

Atribuição principal

• Assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e em consultórios de nutrição e

dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas

para enfermos.

Atribuições específicas em hospitais e clínicas

• Definir, planejar, organizar, supervisionar e avaliar as atividades de assistência

nutricional aos clientes;

• Avaliar o estado nutricional do cliente a partir de diagnóstico clínico, exames

laboratoriais, anamnese alimentar e exames antropométricos;

• Estabelecer a dieta do cliente, fazendo as adequações necessárias;

• Solicitar exames complementares para acompanhamento da evolução nutricional do

cliente, quando necessário;

• Recorrer a outros profissionais e/ou solicitar laudos técnicos especializados, quando

necessário;

• Prescrever complementos nutricionais, quando necessário;

• Registrar diariamente em prontuário do cliente, a prescrição dietoterápica, a evolução

nutricional, as intercorrências e a alta em nutrição;

• Promover orientação e educação alimentar e nutricional para clientes e familiares;

• Desenvolver manual de especificações de dietas;

• Elaborar previsão de consumo periódico de gêneros alimentícios e material de

consumo;

• Orientar e supervisionar o preparo e confecção, rotulagem, estocagem, distribuição e

administração de dietas;

• Integrar a equipe multidisciplinar, com participação plena na atenção prestada ao

cliente;

• Desenvolver estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação;

• Colaborar na formação de profissionais na área da saúde, orientando estágios e

participando de programas de treinamento;

• Efetuar controle periódico dos trabalhos executados;

• Planejar, implantar e coordenar a UAN, de acordo com as atribuições estabelecidas

para área de alimentação coletiva.

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Além das atribuições descritas, é importante destacar outras resoluções referentes à

área da nutrição clínica.

De acordo com a resolução do CFN nº 223/1999, do Conselho Federal de

Nutricionistas, é de competência do nutricionista avaliar a dieta, por meio de diferentes

métodos, diagnosticando sua adequação frente às necessidades nutricionais e dietoterápicas,

considerando os hábitos alimentares, incluindo padrão alimentar quanto ao número, tipo e

composição das refeições, rotinas, restrições, preferências alimentares e apetite.

A prescrição dietética segundo a Resolução nº 63/2000 da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA), a prescrição dietética deve ser feita por um nutricionista,

inserido na equipe multiprofissional envolvida na responsabilidade do atendimento ao

cliente/paciente.

A Resolução nº 390/2006, do Conselho Federal de Nutricionistas, regulamenta a

prescrição dietética de suplementos nutricionais realizada pelo nutricionista, devendo ser

precedida de avaliação nutricional sistematizada, envolvendo critérios subjetivos e ou

objetivos que permitam a identificação ou risco de deficiência nutricional, e não deve ser

realizada isoladamente, devendo fazer parte da correção alimentar. O nutricionista deve ainda

considerar diagnósticos, laudos e pareceres dos membros da equipe multidisciplinar e ser

definida com estes profissionais sempre que pertinente à conduta da atenção.

Considerando as duas grandes áreas de atuação do nutricionista em instituições

hospitalares (alimentação coletiva e a área clínica), buscou-se os resultados de estudos que

analisaram e descreveram as ações deste profissional, como forma de subsidiar as análises e

discussões posteriores do presente estudo.

Na área da alimentação coletiva poucos foram os estudos que caracterizaram as ações

na produção de refeições, não só em Unidades Produtoras de Refeições comerciais e

coletivas, como também especificamente para o setor hospitalar. No Brasil, o estudo de

Ansaloni (1999, p. 249-256) trabalhou a tipificação das ações do nutricionista, analisando a

situação de trabalho destes profissionais que atuavam em empresas de refeições coletivas em

Minas Gerais, procurando classificar suas atividades em técnicas ou administrativas e

gerenciais, e suas inter-relações no trabalho diário e a predomínio de um ou outro nos cargos

por eles ocupados. As atividades técnicas e administrativas listadas pelos entrevistados,

encontram-se nos quadros 1 e 2 a seguir:

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Quadro 1. Atividades técnicas apontadas pelos nutricionistas entrevistados como componentes do seu trabalho.

Fonte: Ansaloni (1999, p. 248).

Atividade técnica Descrição Atendimento ao consumidor

Informações quanto à produção e ao funcionamento da unidade

Atendimento dietoterápico e Orientação dietética

Atendimento individualizado para aconselhamento dietético e elaboração de dietas.

Atividades educacionais

Realização de palestras, painéis e seminários a respeito de nutrição e alimentação.

Auditoria técnica Checagem do trabalho dos gerentes e coordenadores de unidades.

Balanceamento de cardápio Adequação dos cardápios às necessidades nutricionais dos usuários do restaurante, estabelecendo pesos e medidas per capita

Campanhas de saúde Implementação junto aos empregados da concessionária e aos das empresas contratantes. Ênfase em nutrição, higiene, prevenção de doenças, prática de atividades físicas

Controle de qualidade dos serviços Avaliação quanto aos padrões estabelecidos: conteúdo nutricional, pesos e medidas, aspectos higiênico-sanitários.

Controle microbiológico Análise de materiais das matérias-primas, dos manipuladores, das instalações, do ambiente, vigilância sanitária

Elaboração de normas técnicas Descrição para aquisição de matéria-prima, para

uniformização do trabalho, normas de conduta e de higiene.

Orientação nutricional Desenvolvimento de trabalho educativo Orientação técnica Informações quanto à seleção e ao preparo de alimentos.

Padronização de processos Racionalização dos processos de produção Responsabilidade técnica Desenvolvimento de ações referentes ao Programa de

Alimentação do Trabalhador, ao setor ou unidade que comanda, a produção e ao trabalho de subordinados.

Supervisão técnica Supervisão das Unidades de Produção Treinamento técnico-operacional Treinamento dos empregados; orientação de estágios para

estudantes

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Quadro 2. Atividades administrativas apontadas pelos nutricionistas entrevistados como componentes do seu trabalho.

Atividade administrativa Descrição Administração de materiais Dimensionar matérias-primas, insumos e serviços;

contratar serviços; compras Administração de pessoal Estabelecer tarefas, rotinas e escalas de serviço;

controlar horários e freqüência dos empregados.

Apoio operacional Assessoria administrativa às unidades, representação junto às matrizes e outros departamentos das empresas.

Apuração do controle de custos Contabilidade e registros diários Assistência ao cliente Relações com os contratantes.

Avaliação da gerência de unidades Avaliar e acompanhar gerentes sob a sua supervisão.

Avaliação de pessoal Avaliação de desempenho.

Chefia de pessoal Liderar empregados Controle de estoques Controle do setor de almoxarifado, aquisições e

consumo de matérias-primas e insumos.

Coordenação das operações Acompanhamento da produção das refeições.

Desenvolvimento de pessoal Treinamento Dimensionamento de recursos humanos Prever número e perfil dos profissionais necessários às

operações, em todas as suas etapas.

Direção Chefia da empresa ou de sua filial na região.

Gerência de unidade Chefia de uma unidade de produção.

Gerência estratégica Atuação global com vistas ao alcance das metas.

Gerência operacional Chefia de unidades Negociação com clientes Fomentar o aprimoramento das relações do dia-a-dia

com a empresa contratante e com seus empregados.

Negociação com fornecedores Gerenciar processos de compras.

Negociação de contratos Discutir e otimizar a relação com as empresas contratantes, para prestação do serviço.

Orçamentos Solicitar e avaliar preços em concorrências Organização do trabalhos Elaborar normas, critérios e procedimentos; divisão do

trabalho; provimento de materiais e de condições para a realização do trabalho.

Planejamento de operações Desenhar o funcionamento do setor ou da unidade que chefia.

Planejamento estratégico Estabelecer diretrizes e metas.

Promoção de pessoal Treinar, ensinar, motivar e qualificar.

Recrutamento Fazer recrutamento interno e externo.

Relações comerciais Estabelecer relações com fornecedores e prestadores de serviços.

Relações públicas Atuar como porta-voz da empresa.

Seleção de pessoal Aplicar entrevistas, teste e provas práticas Supervisão de operações Acompanhar as rotinas na unidade. Fonte: Ansaloni (1999, p. 249).

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Ansaloni (1999), em sua análise, observou que havia maior conteúdo administrativo

do que técnico na atuação dos nutricionistas nas empresas de refeições coletivas estudadas.

No entanto, várias atividades classificadas como técnicas traziam um componente

administrativo subjacente, como planejamento de cardápios, controle de qualidade, auditoria e

supervisão técnicas. Verificou situação semelhante em algumas atividades administrativas

ficando implícito o caráter técnico em extensão variável: apoio operacional, assistência ao

cliente e controle de estoque. Observou a impossibilidade de separar o conteúdo técnico e

administrativo em algumas atividades peculiares ao trabalho dos nutricionistas na gestão da

UAN. No entanto, sua pesquisa apontou uma tendência ao abandono progressivo dos aspectos

técnicos e educacionais inerentes à profissão, em prol do conhecimento administrativo e

gerencial.

Além disso, os resultados do estudo destacaram que grande parte dos nutricionistas

entrevistados se referiu a um baixo nível de utilização dos conhecimentos adquiridos nos

cursos de graduação, paralelamente a uma crescente exigência de conhecimentos

administrativos e gerenciais que os cursos não oferecem, pelo menos com o caráter

instrumental e funcionalista que as empresas parecem desejar.

O estudo de Veiros (2002), que analisou as condições de trabalho do nutricionista e

sua atuação como promotor de saúde a partir de um estudo de caso em uma UAN, apontou em

seus resultados que a nutricionista chefe está envolvida, prioritariamente, com as atividades

ligadas à gestão geral da UAN, e a nutricionista da produção desenvolve atividades mais

voltadas à supervisão direta do fluxo produtivo das refeições, acompanhando todas as etapas

do processo. Observou ainda que as questões mais complexas na influência sobre a atuação

das nutricionistas, como promotoras de saúde, foram relacionadas à gestão da qualidade, tanto

a nutricional, quanto a higiênico-sanitária e de processo. A gestão da qualidade nutricional

compreendeu planejamento e execução do cardápio, ficha técnica, relação do alimento com o

operador e o comensal e a educação nutricional, revelando algumas deficiências no

planejamento do cardápio e modo de trabalhar o alimento, com os operadores e os comensais.

Já na análise da questão higiênico-sanitária e de processo, observaram-se algumas falhas no

recebimento, armazenamento e preparo dos alimentos, que podem ser aprimoradas para

assegurar maior segurança alimentar na refeição produzida. Para a autora a atuação da

nutricionista como promotora de saúde, ainda não está apresentando a efetividade necessária

em todos os aspectos de ação profissional nesta UAN. A autora recomenda a adoção de

estratégias que gerem mudanças ambientais e organizacionais, na gestão da qualidade

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nutricional e higiênico-sanitária, interligando-as para possibilitar a melhoria da atuação desta

profissional.

Assim, os aspectos que envolvem o trabalho do nutricionista em UAN e sua relação

com a saúde vêm sendo discutidos gradativamente.

Na área de nutrição clínica, Labonté & Ouellet (1996, p. 25) e Ouellet & Pigeon

(1997, p. 6-7), em pesquisas realizadas em hospitais no Canadá, objetivaram a definição de

parâmetros numéricos, correlacionando horas despendidas e as atividades envolvidas com

o cuidado nutricional de nutricionistas das unidades de internação em diferentes níveis de

intervenção. Os quadros 3, 4 e 5 apresentam os principais grupos de ações utilizadas no

estudo e os diferentes níveis de intervenção de acordo com a complexidade do atendimento

nutricional.

Quadro 3: Descrição das atividades de cuidados diretos em nutrição clínica

Avaliação nutricional Toda tarefa necessária para determinar a necessidade, utilizando-a para uma intervenção nutricional

Cuidados nutricionais Toda tarefa necessária para implementar os cuidados nutricionais (planejamento, aplicação e verificação)

Aconselhamento nutricional

Toda tarefa necessária para educar ou aconselhar o paciente e sua família (ou grupos de pacientes/famílias) sobre os princípios pertinentes da nutrição, da escolha dos alimentos e a adaptação de um plano de cuidados nutricionais ao modo de vida do paciente, que consisti de avaliações da aprendizagem do paciente e a verificação de sua cooperação.

Documentação clínica O registro da evolução clínica e informações pertinentes no prontuário Interdisciplinaridade Todas as trocas de informação sobre o prontuário do paciente em encontros

formais ou por ocasião de visitas da equipe Fonte: Labonté & Ouellet (1996, p. 25)

Quadro 4 : Descrição das atividades de cuidados nutricionais em nutrição clínica

ATIVIDADE DEFINIÇÃO A.DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL Processo de identificação de características associadas a problemas nutricionais. Para ser incluído dentro das atividades deve ser realizado pela unidade de nutrição clínica, ser registrada no prontuário do paciente, incluir coleta de dados e determinar a pertinência de uma avaliação nutricional B. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Atividade que tem como objetivo determinar o estado nutricional de uma pessoa. B.1 Avaliação básica Para ser incluída dentro das atividades deve ser documentada no prontuário do paciente e incluir os seguintes elementos: •Razão da admissão, problemas e antecedentes médicos •Idade, gênero, peso, altura, história ponderal e psico-social. •Farmacoterapia e interações medicamentos-alimentos •Presença e grau de estresse fisiológico •Integridade do sistema digestivo (mastigação, deglutição, digestão, absorção, eliminação). •Prognóstico e plano de tratamento médico e cirúrgico •Análise e interpretação dos resultados laboratoriais no prontuário. Solicitar se necessário. •Estado de hidratação, presença de edema, de ascite ou de sinais clínicos de desidratação. •Levantamento e interpretação do aporte alimentar recente ou habitual •Presença de alergias ou intolerâncias alimentares •Presença de etilismo, de farmacodependência, de toxicomania ou de problemas de comportamento alimentar

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Continuação Quadro 4: Descrição das atividades de cuidados nutricionais em nutrição clínica

B.2 Freqüência de consumo Para ser incluída dentro das atividades deve ser documentada no prontuário do paciente e incluir um registro detalhado por grupo de alimentos do consumo alimentar por período de tempo e análise deste registro B.3Exame dos sinais clínicos de desnutrição Para ser incluído dentro das atividades deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir a observação de diferentes partes do corpo e um registro dos sinais clínicos de deficiência: cabelos, língua, face, orelhas, olhos, lábios, cavidade bucal, pescoço, pele, membros superiores e inferiores, tronco e esqueleto. B.4Medidas antropométricas detalhadas Para serem incluídas dentro das atividades devem ser documentadas no prontuário do paciente e incluir avaliação das reservas adiposas e musculares do organismo. B.5 Avaliação completa da deglutição Para ser incluída dentro das atividades deve ser documentada no prontuário do paciente e incluir: • Motivos da avaliação, postura, avaliação da cavidade oral (dentição, mobilidade da língua, avaliação do céu da boca). •Percepção dos sabores, mobilidade do maxilar inferior, controle dos lábios, qualidade da voz antes e após a alimentação. •Tosse voluntária e reflexa, elevação da cartilagem tiroidiana, mastigação, reflexo da deglutição, sufocação. •Testes alimentares variados, consistência, textura dos sólidos e viscosidade dos líquidos adaptada as capacidades do paciente. B.6 Assistência e análise de um teste diagnóstico da deglutição tais como a videofluoroscopia ou endoscopia nasofaringea Para ser incluída dentro das atividades deve ser documentada no prontuário do paciente. C.PLANEJAMENTO DOS CUIDADOS NUTRICIONAIS Estabelecimento do tratamento nutricional incluindo a resposta à prescrição médica, a determinação das necessidades dos pacientes e a identificação dos objetivos. C.1Planejamento básico dos cuidados Para ser incluído dentro das atividades deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir: •Identificação das necessidades e dos objetivos •Registro dos gostos e aversões do paciente •Implementação de um plano de alimentação sem cálculos e adaptado às preferências e intolerâncias alimentares e às características bio-psico-sociais que podem influenciar a aplicabilidade do planejamento dos cuidados. Havendo necessidade de cálculos, incluir o planejamento básico e os cálculos. C.2 Cálculo e análise de um registro alimentar Para ser incluído dentro das atividades, o cálculo deve ser documentado no prontuário do paciente. C.3Planejamento básico com cálculo de um nutriente Para ser incluído dentro das atividades, este plano de cuidados deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir os cálculos detalhados para o nutriente. C.4Planejamento dos cuidados com cálculo de proteínas, glicídios e lipídios Para ser incluído dentro das atividades, este plano de cuidados deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir os cálculos detalhados das necessidades energéticas e de proteínas, glicídios e lipídios. C.5Planejamento dos cuidados com cálculo para vários minerais e vitaminas Para ser incluído dentro das atividades, este plano de cuidados deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir os cálculos detalhados para vários minerais e vitaminas C.6 Acompanhamento do planejamento dos cuidados Para ser incluído dentro das atividades, o acompanhamento deste plano de cuidados deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir: • Acompanhamento da evolução do aporte dos nutrientes ou •Acompanhamento dos resultados da intervenção: exames de laboratório, de radiologia, medidas antropométricas ou funcionais ou • Verificação da presença de novos sintomas físicos ou psicológicos que influenciam a aceitação da alimentação ou • Verificação do plano de tratamento médico e os objetivos a serem atendidos. Se um planejamento é modificado, ele é considerado um novo planejamento de cuidados

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Continuação quadro 4: Descrição das atividades de cuidados nutricionais em nutrição clínica

D.ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL Atividade que favorece a pesquisa conjunta de soluções entre o nutricionista (dietista no Canadá), o paciente ou acompanhante D.1Aconselhamento nutricional básico D.2Aconselhamento nutricional para um plano modificado em proteínas, glicídios e lipídios D.3Aconselhamento nutricional para um plano modificado para vários minerais e vitaminas

Para ser incluído dentro das atividades deve ser documentada no prontuário do paciente e incluir: •Adaptação e negociação com o paciente ou acompanhante de um plano de cuidados contendo uma modificação nutricional e/ou alimentar •Revisão e explicação do material apropriado •Informação sobre os recursos •Verificação da compreensão e da motivação

D.4Acompanhamento do aconselhamento Para ser incluída dentro das atividades, o acompanhamento do aconselhamento deve ser documentado no prontuário do paciente e incluir: • Verificação da adesão do paciente ao plano de cuidados •Acompanhamento da evolução da aprendizagem do paciente OU •Acompanhamento dos resultados da intervenção sobre as modificações do comportamento alimentar Fonte: Ouellet & Pigeon (1997, p. 6-7)

Quadro 5: Diferentes níveis de intervenção de acordo com a complexidade do atendimento nutricional ao paciente

Níveis de intervenção Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4

Perfil do paciente

•Nenhum problema nutricional

•Estado nutricional não comprometido

•Estado nutricional comprometido.

•Desnutrição

•Aporte alimentar adequado

•Aporte alimentar adequado

•Aporte nutricional variável ou alimentação enteral estável

•Aporte alimentar insuficiente ou necessidades energéticas aumentadas

• Patologia não necessita de uma intervenção dietética

•Patologia necessitando de ligeiras modificações alimentares

•Patologia necessitando de modificações alimentares moderadas

•Patologia metabólica importante

•Boa compreensão e adesão ao plano nutricional

•Paciente com suporte nutricional: enteral instável ou parenteral.

•Breve revisão do plano orientado anteriormente

• Revisão completa do aconselhamento nutricional

• Necessidade de aconselhamento complexo.

Definição •A intervenção se situa no nível da prevenção

•A intervenção mantem o estado nutricional e previne os problemas

•A intervenção diminui a progressão e estabiliza a condição e melhora o estado nutricional. Presença de problemas nutricionais e/ou de baixo risco. Prevenção da progressão de problemas nutricionais desde a hospitalização.

•A intervenção influencia a sobrevida do paciente. A nutrição é ponto central dentro de um ambiente onde a condição clínica muda rapidamente.

Fonte: Labonté et al. (1996, p. 25).

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No entanto, como destacado por Deslandes (2004, p. 08) apesar da humanização

definir uma nova perspectiva nos serviços assistenciais que valoriza a qualidade do cuidado

do ponto de vista técnico, também devem ser reconhecidos os direitos do paciente, de sua

subjetividade e referências culturais.

Figueiredo et al. (1995) referem que o cuidado envolve duas esferas distintas: uma

objetiva que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e uma subjetiva, que

se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição para cuidar o outro ser. Cooperação,

disponibilidade, envolvimento, cientificidade, confiança mútua, olho no olho, comunicação,

sorriso e calor humano, são elementos essenciais que fazem a diferença no cuidado.

2.2.3 O cuidado alimentar e nutricional humanizado

Para Medina e Backes (2002) a terapêutica vai além da aplicação de medicações. Para

um cuidado especial, após reconhecer que o paciente é um ser que está doente, deve ser

levado em consideração o que surge na consciência dele ao sucumbir à doença, o que torna

implícita a necessidade de uma aproximação existencial, ou seja, de uma atitude humana.

Portanto, o cuidado implica na compreensão do ser humano nos seus direitos, na sua

especificidade, na sua integralidade. Orientar-se pelo cuidado é romper com a lógica de

formação excessivamente baseada na hegemonia biomédica, no autoritarismo das relações, no

poder construído a partir de uma saber que silencia outros e coisifica os sujeitos (OPAS/OMS,

2004).

Assim, conceber um cuidado alimentar e nutricional humanizado implica em

compreender que para cada indivíduo, o comer e a comida têm um significado especial,

dependendo da sua história alimentar desde a infância, dos sabores que tem vivenciado, das

formas e dos locais de consumo. Cada ser humano constrói, ao longo da sua vida, uma

identidade própria com relação ao ato de se alimentar. Portanto, a alimentação encerra também

o sentido de satisfazer aspectos emocionais, psicológicos e motivacionais dos indivíduos,

fazendo com que essa experiência se torne positiva ou não, em função de como ela se

desenvolve (SOUSA, 2001; PAULA, 2002).

Considerando que o alimento e o ato de se alimentar estão relacionados à cultura do

indivíduo, Poulain & Saint-Sevin (1990, p. 13-21) apontam que um alimento, para ser capaz de

manter a vida, não deve possuir somente qualidades nutricionais, expressadas pelas

quantidades de glicídios, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais; é necessário que ele seja

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conhecido e/ou aceito pelo indivíduo que o consome e pelo grupo social ao qual pertence. Com

relação às qualidades do alimento, os autores destacam quatro categorias:

• qualidades nutricionais: o alimento deve ser capaz de oferecer ao organismo do indivíduo,

dentro de condições de equilíbrio mais ou menos satisfatórias, os nutrientes energéticos

(glicídios e lipídios), os nutrientes energéticos com função plástica (proteínas), os elementos

minerais, as vitaminas e a água.

• qualidades higiênicas: o alimento deve estar isento de elementos tóxicos; seu consumo não

deve provocar problemas digestivos secundários sob pena de ser rejeitado por condicionamento

negativo; a toxicidade alimentar pode ter causa microbiológica e química;

• qualidades psicosensoriais: as características físicas dos alimentos provocam sensações

psicofisiológicas nos indivíduos, da ingestão até a eliminação. Estas sensações são definidas

como exteroceptivas (visuais, olfativas, gustativas, táteis, térmicas e auditivas), proprioceptivas

(sinestésicas, presença do alimento no estômago) e sensações gerais secundárias (efeito

eufórico do álcool, sensação tranqüilizante de estômago cheio, excitação produzida pelo café,

efeito estimulante da carne, etc.).

• qualidades simbólicas: o alimento apresenta um significado para o indivíduo, se inscrevendo

em um quadro cultural, em uma rede de comunicações, em uma constelação imaginária, em

uma visão de mundo. O alimento nutre o ser humano em sua totalidade e ignora o recorte

acadêmico que existe entre o corpo e o espírito. O homem é consumidor de símbolos tanto

quanto de nutrientes. Este simbolismo alimentar possui diferentes níveis: o alimento ligado aos

pratos regionais; o alimento concebido pelas diferentes classes sociais e estilos de vida, o

alimento como base da comunicação (rituais sociais) e como símbolo religioso (o pão, o

vinho).

No ambiente hospitalar, a alimentação é um aspecto importante no tratamento do

paciente, porém, a comida de hospital é comumente percebida como sinônimo de insossa, sem

gosto, fria, servida em horários diferentes dos habituais, e ainda, com conotações de proibição

(IBRANUTRI, 1997; PEREZ, 2002; SOUSA, 2005).

Neste sentido, Poulain e Saint-Sevin (1990, p. 13-21) consideram que a alimentação

hospitalar não deve oferecer somente as respostas nutricionais adaptadas ao indivíduo, em sua

condição de saúde, mas sim apresentar além das funções nutricionais e higiênico-sanitárias, a

função hedônica e convivial, que se encontram descritas abaixo:

• função nutricional: corresponde às características da alimentação com relação ao aporte

de nutrientes necessários ao indivíduo, de acordo com as suas necessidades.

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• função higiênica: relaciona-se à necessidade de os alimentos estarem isentos de

elementos tóxicos, tanto de origem química quanto de origem microbiológica, e dessa

forma, seu consumo não deve provocar problemas digestivos nem possibilitar a

propagação de infecções.

• função hedônica relaciona-se ao prazer. Os alimentos, por suas qualidades sensoriais,

pelas suas dimensões simbólicas e conviviais, fornecem ao ser humano um sentimento

de bem-estar, de prazer, de harmonia com seu corpo, com a sociedade e com o mundo.

Esta função assegura ao indivíduo a sua presença no mundo.

• função convivial: refere-se ao fato de que o alimento faz parte dos sistemas de

comunicação. O alimento situa o ser humano em um espaço social, possibilitando a

percepção do indivíduo de pertencer a um grupo e concorrendo para a construção da

identidade social e individual.

Para estes autores, a desvalorização simbólica das refeições hospitalares se reflete na

perda de apetite por parte do paciente. Destacam que:

Esta alteração do comportamento alimentar pode ser devido a angústia da hospitalização, mas também a rejeição por uma alimentação com forte conotação industrial. Portanto, é importante conectar o paciente a um contexto familiar, insistindo na humanização do serviço, restabelecendo a identidade do alimento, informando ao paciente sobre sua produção e origem.

Trentin (2003), em seu estudo sobre a realidade da assistência nutricional hospitalar

ressalta que existe certa tensão em considerar o alimento como algo que faz referência à

dimensão subjetiva do paciente e sua maneira de relacionar-se prazerosamente com ele. Ao

mesmo tempo, o alimento deve ser inserido através do cuidado terapêutico, tomado como

medicação. Porém, sob a ótica instrumental da medicina tal fato pode significar um

empobrecimento da sua própria expressão terapêutica.

Com base nestas considerações, o cuidado alimentar e nutricional pode ser

reconcebido, a partir da aproximação com o paciente hospitalizado, conhecendo sua totalidade

como pessoa, valorizando sua essência e respeitando sua individualidade.

Visando contribuir para o cuidado alimentar e nutricional, atendendo as diferentes

dimensões de qualidade e funções da alimentação, os estudos de Sousa (2001, p. 224-226);

Sousa (2002, p.17-21); Proença et al. (2005, p. 35-41) propõem estratégias de organização e

interação entre a clínica e a produção de refeições: avaliação da qualidade alimentar e

nutricional, testes de degustação, comissão de cardápios, enquetes de satisfação, comissão de

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avaliação dos serviços prestados e ações educativas com os comensais. Tais estratégias

encontram-se descritas a seguir:

• Avaliação da qualidade alimentar e nutricional: refere-se a um conjunto de

indicadores que são definidos pela unidade e monitorados diariamente como forma de

avaliar o que foi planejado ou estabelecido como padrão de qualidade das preparações

prontas durante a etapa de porcionamento e o que foi de fato realizado. Podem fazer

parte da avaliação indicadores qualitativos e quantitativos como a apresentação, a

temperatura, a manutenção da programação do cardápio, o peso da preparação, a

conformidade das preparações com fichas técnicas (componentes e tipo de cocção) e

observações pertinentes para cada tipo de refeição (desjejum, almoço, jantar, lanches).

Os instrumentos de monitoramento utilizados são o termômetro de inserção e a

balança digital. Os dados, anotados em formulário próprio, servirão para os

nutricionistas e operadores envolvidos como critérios para avaliação contínua das

refeições servidas, possibilitando o desenvolvimento de medidas corretivas em curto

prazo.

• Testes de degustação: são estratégias que possibilitam a avaliação da qualidade

sensorial das preparações. Todas as preparações podem ser degustadas em pequenas

amostras, durante e no final do processamento, e antes da expedição aos comensais

por nutricionistas e operadores. Além disso, como forma de avaliar novas preparações

que possam ser introduzidas no cardápio, as unidades ao responsabilizarem-se pela

preparação dos produtos, podem envolver nutricionistas e operadores de diferentes

setores, de forma coletiva, exercitando-se o caráter convivial da alimentação, a

avaliação de diferentes percepções e o espírito de equipe.

• Comissão de cardápios: é uma das estratégias organizacionais caracterizada por

representantes da equipe de trabalho das Unidades Produtoras de Refeições para

avaliação dos cardápios, com relação aos componentes planejados, antes de eles serem

viabilizados para efeito de compras e produção. A discussão sobre as formas de

preparo e a avaliação das condições de realização das preparações (equipamentos,

fornecimento da matéria-prima, pessoal), por exemplo, podem possibilitar a troca de

conhecimentos e experiências entre os profissionais envolvidos, tendo como referência

as necessidades dos comensais e a relação da alimentação a ser oferecida com as

preparações previstas.

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• Enquetes de satisfação: representam um dos instrumentos mais importantes para

avaliação dos serviços prestados aos comensais nas Unidades Produtoras de Refeições.

Podem ser utilizados como indicadores a variedade dos cardápios, a apresentação dos

pratos, a temperatura, o uso e a quantidade de temperos, a qualidade dos serviços, com

as alternativas indicando satisfação ou insatisfação, além das sugestões e comentários.

Outros indicadores e formas de avaliação podem ser propostos considerando as

particularidades das unidades e do tipo de comensal atendido. Os resultados podem

gerar momentos para discussão conjunta pelos setores envolvidos com a produção das

preparações e servir como referência para a melhoria das ações entre os setores. Os

cuidados com a seleção da amostra estão na dependência das características das

Unidades Produtoras Refeições e do tipo de comensal. Em enquetes realizadas em

uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar brasileira, por exemplo, as

questões são aplicadas por nutricionistas das unidades de internação em 50% mais um

dos pacientes que recebem alimentação oral. O setor hospitalar público francês realiza

enquetes anuais em todas as unidades a partir de regras estatísticas definidas

previamente. Os questionários são aplicados por pessoal externo, devidamente

treinado. O objetivo das enquetes de satisfação é analisar a evolução da opinião dos

comensais, avaliando os efeitos das melhorias realizadas nos serviços ligados à

produção e à distribuição das refeições, e ao mesmo tempo, os resultados podem servir

de objeto para planejamentos de ações futuras.

• Comissão de avaliação dos serviços prestados: é uma das estratégias organizacionais

caracterizada pela representação da equipe de trabalho de diferentes setores das

unidades produtoras de refeições que podem se reunir para avaliação conjunta dos

serviços ligados à gestão de todo processo operacional. Podem-se avaliar as

possibilidades de soluções e melhorias ligadas ao fluxo operacional relacionadas a

horários, equipamentos, materiais, pessoal e condições de trabalho. Trata-se de um

grupo de discussão, a exemplo dos CCQs (Círculos de Controle de Qualidade), que

envolve representantes de todos os serviços ligados ao setor. Os assuntos tratados

podem referir-se à qualidade dos serviços prestados, às falhas ocorridas e às sugestões

para mudanças. A comissão busca a resolução e a gestão das soluções para os serviços

prestados.

• Ações educativas com os clientes/pacientes: podem ser implementadas considerando a

necessidade de desenvolvimento de atividades com caráter preventivo junto a eles.

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exemplo das Unidades de Alimentação e Nutrição no setor hospitalar, recomenda-se o

desenvolvimento de dinâmicas de grupo durante as quais se possa explorar o

conhecimento dos alimentos, incluindo a relação dos alimentos com a patologia e as

formas de preparo. Recomenda-se, de acordo com as possibilidades, a discussão

coletiva com os comensais promovendo a participação no processo de aprendizagem e

a reflexão sobre saúde, alimentação e nutrição. Como exemplo, durante a semana de

internação ou mesmo no hospital dia, podem ser agendadas atividades teórico-práticas

– seminários sobre os aspectos bioquímicos e fisiológicos da doença, as características

das dietas com exercícios de avaliação e de aprendizagem, ateliês de cozinha com

discussão do cardápio, e grupo de alimentos e preparo de refeições, exercícios físicos

com fisioterapeutas, entre outras atividades. Além disso, formas alternativas podem

ser pensadas para comensais (pacientes) que não saibam ler e escrever: modelos de

alimentos, jogos e recortes de embalagens são algumas das opções para todos os

grupos. Podem ser previstos folhetos explicativos com recomendações sobre

alimentação, nutrição e saúde, além de informações sobre a Unidade Produtora de

Refeições, a composição da equipe dos serviços, a estrutura das refeições, entre

outros. Da mesma forma, tais atividades, com as suas devidas adaptações, podem ser

implementadas também para outras Unidades Produtoras de Refeições. O aspecto

relevante destas vivências é a necessidade de resgatar estas unidades como um espaço

onde o comensal possa ter acesso a todas as informações dos serviços que são

prestados – desde visitas coletivas ao processo de produção até a composição dos

cardápios e as formas de preparação. Além destas ações, podem ser fornecidas

informações, dicas de receitas e listas de substituições baseadas no sistema de

equivalência dos alimentos – esta ação é particularmente importante nas unidades com

bufê livre. Cabe destacar que é função da própria unidade auxiliar na orientação da

escolha pelo comensal. Outros exemplos de metodologias podem ser aplicados e

construídos pelos nutricionistas, equipe de saúde, operadores da produção de refeições

e outros parceiros, a partir da própria experiência do grupo, seja em unidades com

atendimento ambulatorial individual ou em grupo, seja em refeitórios, espaço da

produção de refeições, cozinhas experimentais, etc. Alguns exemplos podem ser

destacados: utilização de modelos de porção de alimentos para o atendimento

ambulatorial; realização de semanas de saúde e semanas temáticas propondo refeições

com temas regionais (preparações típicas) ou com ênfase em determinados alimentos;

oficinas culinárias, palestras, cursos ou rodas de discussão periódicas sobre

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alimentação; informações renováveis em displays nas mesas dos refeitórios, em

murais, via internet, em boletins internos da empresa.

Além de estratégias de interação entre a nutrição clínica e a produção de refeições, faz-

se necessária a elaboração de um conjunto de ações sistematizadas da prática clínica, que

contribuam na promoção de um cuidado alimentar e nutricional de qualidade.

Na França, a Associação de Dietistas de Língua Francesa (ADLF, 2006) estabeleceu

recentemente recomendações para a prática do dietista em clínica nos estabelecimentos de

saúde, ou ainda como profissional liberal em consultórios ou atuando na rede de saúde e em

ações de prevenção. Tais recomendações foram desenvolvidas pela ADLF no âmbito de uma

parceria com a Agência Nacional de Acreditação e de Avaliação (ANAES). O quadro abaixo

apresenta a síntese das principais atividades recomendadas.

Quadro 6: Recomendações para a prática clínica do dietista segundo a ADFL (2006)

A. AÇÕES RELACIONADAS AO CUIDADO DIETÉTICO

O cuidado dietético é um conjunto de ações realizadas como parte do cuidado nutricional. O objetivo é garantir o aporte nutricional, quantitativa e qualitativamente, de acordo com o estado fisiológico das pessoas, sua patologia e os tratamentos subseqüentes, levando-se em consideração seus hábitos culturais e religiosos, sua capacidade individual e preservando o prazer de se alimentar. As ações relacionadas ao cuidado dietético é um processo evolutivo, centrado sobre a saúde da pessoa que está sendo cuidada, considerando a sua integralidade. Compreende diferentes etapas: • a coleta de dados gerais e específicos • o diagnóstico dietético: etapa essencial para o cuidado dietético. É realizado a partir do raciocínio clínico do dietista. Compreende uma coleta sistemática e detalhada de informações sobre análises da avaliação dietética, das desordens nutricionais, dos objetivos médicos, da vivência e dos hábitos de vida da pessoa. A finalidade é possibilitar uma estratégia personalizada formulando-se objetivos dietéticos para fins nutricionais que sejam exeqüíveis para a pessoa que está sob cuidados, além da negociação com a pessoa em tratamento sobre o plano de cuidados e avaliação. • a coordenação e o planejamento das ações • a implementação das ações específicas do dietista • a avaliação da efetividade das ações e os reajustes

A.1 CONSULTA DIETÉTICA A.1.1Definição da consulta dietética A consulta dietética é um, conjunto de ações desenvolvido através de entrevista face a face entre a pessoa em tratamento (com acompanhante ou não) e o dietista. A consulta dietética é realizada em seguida a uma prescrição. A consulta compreende:avaliação dietética, implementação de uma estratégia , negociação com a pessoa em tratamento sobre os objetivos do cuidado dietético. O acompanhamento nutricional tem objetivos educativos, preventivos ou terapêuticos. É uma atividade em colaboração com os outros profissionais de saúde, de acordo com a pessoa atendida e segundo os objetivos da consulta.

A.1.2Objetivos e características da consulta dietética

Cada consulta tem um objetivo específico podendo ser para: •elaboração de um diagnóstico dietético • uma ação de prevenção • implementação de um tratamento nutricional • uma educação terapêutica

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Continuação Quadro 6: Recomendações para a prática clínica do dietista segundo a ADFL (2006)

• um acompanhamento do estado nutricional • a realização de uma avaliação geral Ao longo da consulta, o objetivo inicial pode ser reorientado ou complementado por outros objetivos em função das necessidades e das expectativas do paciente. A informação do paciente e a abordagem educativa são partes integrantes da implementação do cuidado dietético. A definição das orientações e do conteúdo dos diferentes tipos de consulta pode permitir ao médico orientar sua prescrição e ao dietista ser guiado em suas práticas. A.1.3 Procedimento para a consulta dietética A entrevista face a face realizada pelo dietista se desenvolve em diferentes níveis de atenção: consultório, hospitalização ou em ações de prevenção. Os princípios da entrevista dietética são os seguintes : • a consulta dietética baseia-se na utilização de técnicas de comunicação apropriadas e a criação de condições de diálogo que permitem estabelecer uma relação de confiança • a consulta requer por parte do dietista, atitudes relacionais e competências em comunicação • para ser bem sucedido nas etapas de condução da entrevista dietética, é indispensável estabelecer o tempo necessário, em torno de 1 hora para a primeira consulta. A fase de diagnóstico e de elaboração dos objetivos necessitam provavelmente de várias seções de consulta em função do detalhe da investigação. A.1.4 Coleta de dados e instrumentos Os dados necessários para a consulta dietética provêm de diferentes fontes: • das informações contidas no prontuário do paciente • da entrevista com a pessoa a ser cuidada e/ou seu acompanhante • da entrevista com os profissionais de saúde Os dados podem ser gerais, úteis a todos os profissionais de saúde, ou específicos para a elaboração de uma estratégia de cuidado dietético. Os dados específicos a serem coletados são selecionados pelo dietista em função da patologia, das situações de vida e dos objetivos da consulta. •Dados gerais: administrativos, socioprofissionais, clínicos, atividades da vida cotidiana e a qualidade de vida. •Dados específicos: ♦Dados clínicos complementares disponíveis • Antecedentes nutricionais relacionados com o motivo de hospitalização • Medidas antropométricas •Dados biológicos nutricionais: exploração de sinais clínicos nutricionais •Existência de problemas de comportamento alimentar •Indicadores de má nutrição (obesidade, sobrepeso, desnutrição) •Existência de problemas de mastigação e de deglutição •Existência de problemas digestivos ♦Dados sobre as condições de vida •Hábitos de vida, composição da família • Hábitos alimentares religiosos e/ou culturas, terapêutica • História do peso •Apreciação das condições financeiras (modalidades de compras alimentares (onde, quando, com quem ?) •Apreciação dos hábitos para a preparação e o consumo dos alimentos: equipamentos domésticos, número de refeições, local das refeições e condições (sozinho (a) ou acompanhado (a), duração e horário das refeições, consumo entre as refeições, etc.). •Refeições extras : prazer ou compulsão, sensação de fome ou de saciedade, preferências (gostos, alimentos, etc.) •Nível de autonomia psicológica (em colaboração com o psicólogo ou psiquiatra) •Presença de deficiência física podendo ter repercussões sobre as compras alimentares, a preparação de refeições, a forma de se alimentar •Apreciação da atividade física ou esportiva • Apreciação do consumo de tabaco ♦Dados sobre o conhecimento da pessoa em tratamento •Apreciação das expectativas referentes ao problema nutricional •Apreciação das motivações •Apreciação das crenças alimentares

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Continuação Quadro 6: Recomendações para a prática clínica do dietista segundo a ADFL (2006)

♦Avaliação das experiências (conhecimentos, competências, representações) das pessoas As pessoas têm experiências em matéria de alimentação. Estas experiências são avaliadas no momento do diagnóstico e durante as consultas da rotina para medir a evolução dos comportamentos em relação às modificações negociadas e esperadas ♦Avaliação dos consumos alimentares Quantitativas e qualitativas, calculadas ou não A.2DIAGNÓSTICO E OBJETIVOS DIETÉTICOS

O diagnóstico dietético considera os aspectos médicos, psicoafetivos, sociais e pessoais, tais como, a avaliação das motivações e expectativas, dos hábitos de vida, principalmente a atividade física e o consumo alimentar da pessoa. Os objetivos dietéticos são integrados aos objetivos nutricionais. Estes últimos podem necessitar da intervenção de outros profissionais de saúde para serem atingidos, assim como as ações de apoio (organização do auxílio para oferecer às refeições aos pacientes, por exemplo). Os objetivos dietéticos devem ser discutidos com o médico e negociados (parceria) entre o dietista e a pessoa sob cuidados. A.3PLANEJAMENTO DOS CUIDADOS E REALIZAÇÃO DAS AÇÕES DO DIETISTA

A.3.1 Ações realizadas diretamente pelos dietista O dietista seleciona suas ações em função das orientações da consulta e dos objetivos dietéticos e nutricionais determinados a partir de um diagnóstico dietético. Ele não se limita a uma distribuição de documentos ou de “dietas padronizadas” que não permitem modificar um comportamento alimentar. ♦ Ações de avaliação complemenar : •avaliação do consumo alimentar e dos hábitos de vida : o dietista é o profissional de saúde mais habituado e experiente para avaliação qualitativa e quantitativa do consumo alimentar •avaliação global das dificuldades e dos meios necessários para modificar um comportamento alimentar, comparada aos resultados obtidos (sinais clínicos, resultados de exames biológicos e antropométricos) ao final de um ciclo de consultas. ♦ Ações relacionadas aos conhecimentos : • explicação das recomendações personalizadas, adaptadas aos hábitos de vida da pessoa e individualizadas pelo dietista • informações fornecidas a pessoa em tratamento : o dietista auxilia a pessoa a estabelecer uma relação entre a patologia e o comportamento alimentar, a reconhecer os seus próprios fatores de risco, explica sobre a composição dos alimentos, a preparação e conservação dos alimentos e os benefícios de uma recomendação dietética. ♦ Ações de educação terapêutica nutricional que se apóiam sobre os princípios e as etapas da educação terapêutica. ♦Ações de auxílio à tomada de decisões. ♦Ações de educação nutricional: • adaptação do consumo alimentar aos parâmetros nutricionais em relação ao tratamento ou uma patologia. • auxílio e acompanhamento da elaboração de uma estratégia para resolução das dificuldades em uma situação cotidiana, reproduzindo situações de vida. ♦ Ações de recomendações seguida após as dos médicos: • complementos nutricionais orais e/ou produtos de nutrição enteral • complementos vitamínicos ou minerais. A.3.2 Ações de apoio • distribuição de refeições em domicílio • organização de auxílio para a refeição ou para a compra de alimentos • contato com um prestador de serviço para a alimentação enteral ou de complementos nutricionais orais • prevenção de riscos no momento da alimentação com a supervisào de enfermeira • contato com profissional para problemas de deglutição • contato com ergoterapeuta para adaptação de mobiliário ou talheres e recomendações de instalação para as refeições • contato com um psicólogo para trabalhar, de acordo com a pessoa, aspectos psicológicos que tenham impacto direto sobre o comportamento alimentar e a saúde da pessoa. A.3.3 Instrumentos pedagógicos • situações de aprendizagem adaptadas a cada pessoa em tratamento : a discussão, a análise do “como fazer”, a resolução de problemas, os jogos de papéis, etc. • suportes informativos : sites da Internet pertinentes, programas informatizados, videocassetes, modelos de

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Continuação Quadro 6: Recomendações para a prática clínica do dietista segundo a ADFL (2006)

alimentos, jogos interativos. • alimentos ou representações de alimentos utilizados para simular ações de escolha alimentar, refletir sobre sua composição e sua associação. A.3.4Informações as pessoas em tratamento

Elas devem ser : • realizadas a partir das recomendações nacionais ou internacionais ou da literatura reconhecida pela qualidade metodológica. • adaptadas à pessoa em tratamento (língua, hábitos alimentares e culturais). • práticas e úteis para o dia a dia. • confiáveis, claras, cuidadas em sua apresentação e sua estrutura. A.4 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DAS AÇÕES

Os critérios de avaliação do impacto dos cuidados são adaptados a cada situação de cuidado, as patologias, aos objetivos da consulta, em especial às situações de educação terapêutica e as ações de saúde pública. Eles compreendem: •os conhecimentos das pessoas em tratamento: conhecimentos da doença e os tratamentos, tanto teóricos quanto práticos, as capacidades existentes e adquiridas. •os aspectos físico-sociais relativos às pessoas em tratamento: controle percebido sobre a sua saúde, apoio social, etc., pertinência dos objetivos e das ações determinados previamente. •os comportamentos da pessoa em tratamento: comportamentos de saúde, autocuidado, adesão (como a adaptação das escolhas alimentares, a regulação das tomadas alimentares, a utilização dos instrumentos entregues à pessoa, a evolução do comportamento de vida, a adesão das ações negociadas). •os aspectos biomédicos e clínicos: variações de peso e do estado nutricional, rapidez de melhoria do estado de saúde, diminuição das seqüelas, as complicações e as recaídas, a estabilidade e melhoria das funções digestivas, a evolução dos dados antropométricos e os parâmetros biológicos. •a qualidade de vida do doente: índice de satisfação e bem-estar, de tolerância e aceitabilidade do paciente, dificuldades encontradas. B.COMUNICAÇÃO INTERPROFISSIONAL

O cuidado nutricional é frequentemente o resultado de um trabalho em equipe. Para certas patologias, quando o acompanhamento necessita de cuidados específicos, o dietista recorre a outros profissionais de saúde para elaborar e levar a efeito uma conduta para o cuidado dietético complexo: colegas dietistas, médicos, enfermeiros, ergoterapeutas, assistentes sociais, auxiliares médicos, psicólogos, etc., bem como as pessoas próximas a pessoa cuidada. Os dietistas permitem então implementar uma estratégia dietética coordenada. Fonte: ADLF (2006, p. 7-19)

Puissant et al. (2000, p. 38-58), em seu estudo sistematizaram as atividades do dietista

ligado à produção de refeições hospitalares, destacando que neste setor a alimentação servida

deve responder as necessidades dos pacientes hospitalizados, seguindo ou não uma dieta

específica, assim como do pessoal que trabalha no estabelecimento. A alimentação tem um

papel curativo e pode contribuir com a recuperação do paciente, respondendo a critérios

nutricionais. Portanto, a intervenção do dietista é relevante e constitui em uma ação

diretamente terapêutica.

No entanto, os autores argumentam que além deste aspecto, para o conjunto dos

pacientes hospitalizados, a alimentação constitui um fator importante para a qualidade de vida

dentro da rotina hospitalar. Portanto, há necessidade de considerar não só as necessidades

nutricionais dos pacientes, como também as suas expectativas com relação à composição das

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refeições, dentro das possibilidades de sua patologia. Estas considerações podem tornar o

clima mais agradável durante a hospitalização.

O quadro a seguir apresenta as principais atividades e respectivas definições dos

dietistas:

Quadro 7: Atividades do dietista na produção de refeições hospitalares

Missão do dietista: na produção de refeições coletivas o dietista tem um papel de “consultor em alimentação”. Sua tarefa essencial consiste em promover uma alimentação respondendo a critérios nutricionais, sanitários e sensoriais, segundo os comensais a serem atendidos. Para isto, a intervenção é ao longo de todo o fluxo de alimentos, conforme descrição abaixo: ♦ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS ♦Para a elaboração de cardápios o dietista considera: •os conhecimentos atuais da nutrição. •a legislação, assim como as circulares referentes à composição das refeições, a distribuição dos alimentos, as gramaturas recomendadas. •as condições orçamentárias e materiais. •o ambiente sociocultural dos comensais. ♦Etapas da elaboração de menus: •estabelecimento de um plano alimentar: estrutura das refeições e freqüência da rotatividade dos tipos de alimentos e preparações, variando de duas a seis semanas, ou mais, segundo o tipo de comensal. •verificação das necessidades nutricionais das diferentes categorias de comensais, segundo o sexo, a idade, a atividade... •elaboração dos cardápios propriamente ditos em colaboração com o cozinheiro, considerando as gramaturas recomendadas para cada tipo de comensal; a distribuição dos alimentos no dia, na semana, no mês; uma variedade que possibilite a escolha dos alimentos e preparações (por exemplo, variedade de queijos, ou ainda receitas inovadoras para os peixes e aves com legumes para que possam ser mais bem apreciadas...). • garantir uma boa digestibilidade: limitar legume com gosto marcante ou ainda mais de uma preparação rica em gordura por dia (por exemplo maionese, batatas fritas...). •garantir uma boa apresentação. Especificamente nos hospitais, as diferentes dietas têm como base o cardápio padrão. Para cada dieta são detalhados: • as quantidades dos diferentes tipos de alimentos • a distribuição durante o dia • os alimentos a serem excluídos •os modos de cocção • o tipo de apresentação (consistência) O plano alimentar é concebido e serve de referência para todos os cardápios servidos: da alimentação normal e a partir desta os cardápios da alimentação dos pacientes com dietas individualizadas. ♦O dietista participa sistematicamente da comissão de cardápios e estabelece as fichas técnicas de preparações em conjunto com o chefe de cozinha. ♦♦♦♦A SELEÇÃO E A COMPRA DOS PRODUTOS •participa da análise das amostras dos diferentes produtos e analisa os resultados em função dos critérios estabelecidos. •implementa os procedimentos de controle durante a entrega dos produtos. •atualiza a aplicação da legislação referente aos produtos e à higiene. • realiza estudos comparativos referentes à qualidade / preço dos diferentes produtos propostos, tendo como objetivo, a qualidade do produto final e sua aceitabilidade. • realiza contatos regulares com os fornecedores para acompanhar a evolução de técnicas. • participa em conjunto com o setor de compras na oferta de dados sobre os aspectos nutricionais complementares. •participa da elaboração do caderno de encargos para os produtos, auxiliando na definição de critérios de escolha: nutricional, sensoriais, tecnológicas ou práticas de acordo com as necessidades dos pacientes (textura, aroma, gramatura...). •participa de comissões específicas, implementando protocolos de avaliação de produtos dietéticos utilizados.

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Continuação Quadro 7: Atividades do dietista na produção de refeições hospitalares

♦♦♦♦O CONTROLE E A REALIZAÇÃO DAS PREPARAÇÕES ♦♦♦♦Participa da organização do trabalho, do controle para atendimento às regras de higiene e do controle da produção. ♦A responsabilidade é exercida sob diferentes níveis: • recepção e armazenamento das matérias primas: implementação de fichas de controle para a recepção e procedimentos para a rotatividade do estoque. •preparação: gramaturas e modos de cocção, criação de receitas, diagramas de produção, informação sobre novos produtos e novas técnicas de cocção, controle da qualidade sensorial dos produtos preparados, análise de riscos. •porcionamento: atendimento às quantidades previstas, supervisão da qualidade da apresentação. ♦ Observa a higiene do local, dos materiais, das preparações e do pessoal. ♦A responsabilidade é exercida também em Unidades Especializadas de Produção, tais como a cozinha dietética, o lactário, o setor de preparação da alimentação enteral, o setor de preparação de alimentação esterilizada ou destinada à pesquisa, etc. • responsabiliza-se pelo pessoal que trabalha nestas unidades (formação, organização e controle do trabalho). •estabelece fichas para a realização das preparações e verifica a execução das tarefas (pesagens precisas, higiene rigorosa, protocolos a serem respeitados por ordem de introdução dos alimentos ou pelas temperaturas a serem atendidas). ♦♦♦♦A DISTRIBUIÇÃO E O CONSUMO ♦ No momento da refeição, o dietista controla: •a qualidade sensorial das preparações: temperatura dos alimentos, apresentação final. •o respeito às regras de higiene. •a aceitabilidade e o nível de consumo. •o aspecto convivial da refeição. ♦Pode aconselhar sobre o ambiente, o sistema de recepção, os móveis, os pratos, a decoração, a sonorização, a ergonomia e a organização do trabalho do pessoal otimizando sua eficácia. Todos estes aspectos da qualidade do serviço de refeições estão relacionados a importância do acolhimento e da abordagem psicológica ao comensal. ♦Ainda para as refeições dos pacientes: • controla as preparações servidas: conformidade com as solicitações e assegurar a dieta prescrita. • avaliação quantitativa da ingestão alimentar para verificar se a necessidades nutricionais foram atendidas e, se não, adaptar a dieta aos gostos e/ou a capacidade fisiológica do paciente ou prever eventualmente uma suplementação. •participa da elaboração de enquête de satisfação e de sua análise, e, complementando a avaliação da ingestão. ♦♦♦♦OUTROS •formação e aperfeiçoamento do pessoal de cozinha e de distribuição: temas referentes à higiene, a nutrição, a organização racional do trabalho, a animação das refeições, aplicação do método de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). •ações para assegurar a aceitabilidade dos serviços prestados. •observação do aspecto convivial do serviço, ouvindo os comensais no momento da refeição. •ações de prevenção da saúde: sensibilização dos comensais (animações, encontros, elaboração de documentos, etc) com o objetivo de conscientizá-los sobre a importância de uma alimentação variada e equilibrada.

Fonte: Puissant et al. (2000).

No mesmo sentido, Sousa (2001, p. 123-124) destaca algumas ações desenvolvidas em

hospitais, através de fluxos e estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e

a gestão da produção das refeições nas Unidades de Alimentação e Nutrição, conforme

quadros 8 e 9:

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52

Quadro 8: Fluxos e estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e da gestão da produção das refeições do serviço de dietética e alimentação do Hôtel Dieu de Paris, 2000

ATENDIMENTO

CLINICO- NUTRICIONAL

ESTRATÉGIAS DE

INTERAÇÃO

GESTÃO DA PRODUÇÃO DE

REFEIÇÕES (SERVIÇO DE

ALIMENTAÇÃO E DIETÉTICA)

ESTRATÉGIAS DE

INTERAÇÃO

GESTÃO DA PRODUÇÃO DE

REFEIÇÕES (CONCESSIONÁ-

RIA)

CONHECIMENTO DO PACIENTE

COMISSÃO DE MENUS

ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS

CADERNO DE ENCARGOS

COMPRAS E ARMAZENA-

MENTO ⇓

ESTABELECIMENTO DA DIETA

ALIMENTAR ⇒ ⇓

INFORMAÇÕES DO PACIENTE REPASSADAS

PARA SISTEMA⇒ INFORMATIZADO

NÚMERO DE REFEIÇÕES E

TÍQUETES INDIVIDUAIS/

REQUISIÇÕES DE SUPLEMENTAÇÃO

ORAL ⇓

RECEPÇÃO DE INFORMAÇÕES NO ESCRITÓRIO

DOS AGENTES DE GESTÃO DA

COZINHA CENTRAL

PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES

(FICHAS TÉCNICAS)

RESFRIAMENTO RÁPIDO E

ACOMPANHAMEN-TO CLÍNICO-

NUTRICIONAL ⇓

COMISSÕES ⇔

DE DIETISTAS

ROTINAS DE QUALIDADE

NUTRICIONAL, HIGIÊNICA E GUSTATIVA

CADERNO DE ENCARGOS E COMISSÕES

ARMAZENA-MENTO

⇓ PORCIONAMENTO

⇓ REAQUECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO

ORIENTAÇÃO NA ALTA

Fonte: Sousa (2001, p. 12)

Quadro 9: Fluxos e estratégias de interação entre o atendimento clínico-nutricional e a gestão da produção das refeições da divisão de nutrição e dietética do ICHC, São Paulo, 2001.

ATENDIMENTO CLÍNICO-

NUTRICIONAL (NDCM/NDCC)

ESTRATÉ-GIAS DE INTERA-

ÇÃO

GESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO

(NDT)

ESTRATÉ-GIAS DE INTERA-

ÇÃO

GESTÃO DA PRODUÇÃO

DE REFEIÇÕES (NPC/NDEX)

ESTRATÉ-GIAS DE

INTERAÇÃO

GESTÃO DA RECEPÇÃO E ARMAZENA-

MENTO

PACIENTE

�RECEPÇÃO

�PLANEJA-

MENTO

PLANEJA-

MENTO DO CARDÁPIO

� � �

AVALIAÇÃO

DO CARDÁPIO

PRESCRIÇÃO DIETÉTICA �

REQUISIÇÃO �

REQUISIÇÃO�

SOLICITA-

ÇÃO DAS

UNIDADES �

�PREVISÃO DE

GÊNEROS

� � � � REGISTRO DO PRONTUÁRIO

INSPEÇÃO

PRÉ-PREPARO

RECEPÇÃO DE

GÊNEROS � � � �

EVOLUÇÃO DIETOTERÁPI-

CA

DISTRIBUIÇÃO

COCÇÃO ARMAZENA-MENTO

� � � � ORIENTAÇÃO

DE ALTA

SOLICITA-ÇÃO DE �

DIETAS

HIGIENIZAÇÃO

SOLICITA-ÇÃO DE�

REFEIÇÕES

INSPEÇÃO E ENVASE

ORDEM DE COCÇÃO

DISRIBUI-ÇÃO

� DISTRIBUI-

ÇÃO

Fonte: Sousa (2001, p. 173)

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A partir da sistematização do conjunto destas ações e para alcançar os objetivos do

presente estudo, buscou-se elementos para a elaboração de um modelo de cuidado alimentar e

nutricional fundamentado na dimensão humana. Assim, utilizou-se uma abordagem

metodológica centrada na pesquisa qualitativa, cuja técnica valorizasse a interação e a

construção deste tipo de cuidado, com base em uma construção coletiva.

2.3 AS DIFERENTES ABORDAGENS DOS ESTUDOS COM GRUPOS

É característica dos seres humanos reunirem-se em grupos: nascem, crescem,

desenvolvem-se e morrem dentro de grupos sociais. Em grupos trabalham, se divertem e

descansam, e em grupos atravessam os momentos de alegria e crescimento, de tristeza e

involução em todos os seus ciclos de vida (OSÓRIO, 1986). Dentro do sistema de assistência

à saúde, o espaço grupal representa a oportunidade de desenvolvimento da cidadania e da

consciência do direito à saúde, tanto para usuários, como para profissionais, contribuindo,

sobretudo para a construção não apenas individual, mas também social e política (SANTOS,

2001).

De acordo com Flick (2004), por muito tempo, em períodos mais antigos da pesquisa

qualitativa, a discussão metodológica girou em torno da observação como método principal

para a coleta de dados. Entretanto, as entrevistas semi-estruturadas individuais ou em grupos

têm atraído interesse, sendo cada vez mais utilizadas. Tal interesse, segundo o autor, está

vinculado à expectativa de que é provável que os pontos de vistas dos sujeitos entrevistados

sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento relativamente aberto,

do que em uma entrevista padronizada. Dentre os vários tipos de entrevistas semi-

estruturadas, destaca-se a técnica do grupo focal, devido a sua contribuição para o

desenvolvimento de pesquisas em geral.

Neste contexto, as diferentes abordagens de estudos com grupos que vem sendo

amplamente utilizadas na área da saúde, apontam como principal característica a busca da

compreensão particular daquilo que estuda, não se preocupando com generalizações

populacionais, princípios e leis. O foco da sua atenção é centralizado no específico, no

peculiar, buscando mais a compreensão do que a explicação dos fenômenos estudados.

Entretanto seus achados podem ser utilizados para compreender outros fenômenos que

apresentem relação com o fato ou situação estudada, desde que o pesquisador atinja um nível

conceitual através dos dados obtidos (BARDIN, 1977; MARTINS, 2001).

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Meier et al. (2003) relatando experiências com a abordagem qualitativa em estudos da

área da enfermagem, destacam alguns aspectos positivos da pesquisa realizada através de

grupos focais. Os grupos proporcionam um vínculo entre os participantes, o que favorece o

surgimento de respostas consistentes, reflexões novas e originais. Além disso, a observação

desta técnica permite que o pesquisador conheça em loco as condutas, comportamentos e

percepções dos pesquisadores, e ainda apresenta custos reduzidos.

Esta abordagem metodológica vem sendo inserida cada vez mais na área da saúde, em

especial na nutrição. De acordo com uma pesquisa retrospectiva nos periódicos do Journal of

Nutrition Education (JNE) no período de 1969 a 1999, apenas 8% dos artigos publicados no

jornal utilizaram a pesquisa qualitativa, dos quais 85% na década de 90, mostrando uma

tendência atual em explicar fenômenos a partir de dados qualitativos na área de nutrição

(SOBAL, 2001).

Para Minayo & Sanches (1993), a abordagem qualitativa realiza uma aproximação

fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma

natureza: ela se envolve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a

partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas.

Considerando as características da pesquisa qualitativa e as contribuições para as

ciências da saúde advindas dos estudos realizados com grupos, optou-se, para o presente

estudo, a utilização da técnica do grupo focal.

2.3.1 Grupo focal: a valorização das concepções individuais e coletivas

O grupo focal é uma técnica de coleta de dados para pesquisa qualitativa inspirada em

técnicas de entrevistas não-direcionadas e técnicas grupais utilizadas na psiquiatria. Consiste

em entrevistas em grupo, sobre um “foco” ou “tópico” específico. Busca colher informações

que possam proporcionar a compreensão de percepções, crenças, atitudes sobre um tema,

produto ou serviço. Difere da entrevista individual por basear-se na interação entre as pessoas

para obter dados necessários à pesquisa. Sua formação deve obedecer a critérios previamente

determinados pelo pesquisador, de acordo com os objetivos da investigação, cabendo a esse a

criação de um ambiente favorável à discussão, que propicie aos participantes manifestar suas

percepções e pontos de vista (MINAYO, 1996; CARLINI-COTRIM, 1996).

Esta técnica vem sendo amplamente utilizada na pesquisa qualitativa, pois, ao mesmo

tempo em que permite ao pesquisador obter dados para seus estudos, garante aos pesquisados

um espaço de reflexão de suas próprias concepções, de uma auto-avaliação, o que possibilita a

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mudança de comportamento. Este tipo de pesquisa objetiva a revelação das diferenças e das

diversidades existentes no mesmo contexto (VICTORA et al., 2000).

O objetivo principal da técnica é extrair os conceitos, relevâncias e valores de um

grupo de entrevistados, de acordo com o interesse da pesquisa.

Do ponto de vista operacional, o grupo focal se desenvolve em reuniões com um

pequeno número de participantes. De acordo com Sobal (2001) recomenda-se um total de 3 a

5 grupos focais, com adição de outros se necessário, contendo entre 6 e 10 participantes;

enquanto Tanaka & Melo (2001) sugerem de 3 e 12 grupos, com no mínimo 6 e no máximo

10 participantes cada um. Ainda com relação à composição dos grupos, Lara et al. (2004)

sugerem entre 6 a 12 pessoas por grupo, recomendando-se ainda, que sejam convidados mais

20% do número de participantes para cobrir possíveis ausências.

Entretanto, segundo Bosi (1994), em se tratando de uma perspectiva qualitativa, no

que se refere a amostragem, não se fazem necessárias questões como representatividade,

verificabilidade ou generalização nos termos que estas características, entre outras, são

necessárias à tradição quantitativa. Nesse caso preocupa-se menos com a generalização e mais

com o aprofundamento e abrangência da compreensão, portanto, um critério não numérico.

Portanto, o importante é selecionar pessoas com diferentes opiniões em relação ao

tema a ser discutido, e o objetivo é obter não uma representação quantitativa de diferentes

opiniões e setores, mas sim o relato de cada segmento sobre o objeto da avaliação (TANAKA

& MELO, 2001).

Com respeito à composição do grupo focal, os autores indicam que deve ser

homogênea (mesmo sexo, faixa etária aproximada, experiência profissional semelhante),

preservando certas características heterogêneas, um balanço entre uniformidade e diversidade

do grupo, permitindo dessa forma, que os participantes sintam-se confortáveis e livres para

participar da discussão. O local para as reuniões deve favorecer a interação entre os

participantes e exemplificam que uma sala com cadeiras confortáveis ou em volta de uma

mesa é o suficiente. Recomenda-se ainda que os encontros tenham duração aproximada de

uma hora e trinta minutos a no máximo três horas, e para registrar as discussões, pode-se

utilizar gravadores, salientando a importância da identificação dos participantes com cartões,

crachás ou etiquetas, facilitando o trabalho do pesquisador.

Ressel et al. (2002) recomendam que as entrevistas sejam sistematizadas em

encontros, sendo pré-estabelecido para cada um, objetivos de investigação, bem como uma

técnica específica a critério do pesquisador (entrevistador). Podem ser utilizadas técnicas

como, por exemplo, a explosão de idéias, que consiste em colocar a questão: “qual a primeira

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idéia que lhe vem a mente quando se fala em determinado assunto”, para que surjam as

primeiras concepções sobre o tema pesquisado; além da utilização de pequenos textos ou

frases que tragam conceitos pertinentes ao trabalho, funcionando como incrementador do

debate.

Cabe ressaltar que os participantes devem ser vagamente informados sobre o tema da

discussão, para que não compareçam com idéias preestabelecidas (TANAKA & MELO,

2001).

Outro aspecto considerado importante é o estabelecimento prévio dos dias e horários

dos encontros, juntamente com os entrevistados, respeitando-se o início e o término do

horário previsto (RESSEL et al., 2002).

Uma vez que a fala é o que possibilita acessar o fenômeno interrogado, o qual se

insere na experiência de vida do homem, realiza-se a entrevista como forma de acessar a

vivência do sujeito, bem como dos significados a ela atribuídos. Segundo Bruns & Holanda

(2003, p. 89) para realizar esta trajetória é possível seguir alguns passos: após a obtenção dos

discursos, obtidos por intermédio de uma questão norteadora, empreende-se uma leitura

global de todos os discursos, buscando-se neste momento captar o modo como cada

entrevistado vivencia o fenômeno interrogado e, sendo assim, a entrevista é mediada por uma

única questão para que a pessoa tenha liberdade para se expressar, da maneira que melhor

convier.

De acordo com os mesmos autores, todas as formas de análise podem ser feitas a partir

de qualquer relato, sendo o pesquisador incumbido durante a coleta de permanecer ativo,

presente como um interlocutor que solicita e acolhe e também pedindo às pessoas que

retornem à sua experiência concreta quando elas fogem para a opinião ou a teoria.

Alguns estudos na área da saúde e especificamente na nutrição, destacam a relevância

da utilização desta técnica quando o objetivo é a construção de propostas a partir da

experiência vivenciada pelos grupos.

Watters et al. (2003), desenvolveram um estudo para avaliar a percepção de pacientes

sobre o serviço de alimentação hospitalar. Os temas dos grupos focais enfatizaram a saúde, a

qualidade, a adequação da refeição, assim como a variedade, a seleção, a capacidade de

escolha, os erros no cardápio, dentre outros aspectos. Os pontos que emergiram dos grupos

focais foram explorados através de entrevistas coletivas com os pacientes (n=116) para

determinar áreas de melhorias. Os pacientes consideravam que o alimento servido no hospital

deve ser um modelo de alimentação saudável. Por outro lado, foi destacado que a educação e

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a comunicação com os pacientes e equipe de enfermagem são importantes para a melhoria da

satisfação com o serviço de alimentação.

Zeni (2004), utilizou a técnica para análise do comportamento alimentar de

trabalhadores idosos, e destacou que, através das entrevistas em grupos, evidenciou-se a

percepção dos entrevistados sobre a influência do envelhecimento e do trabalho no

comportamento alimentar destes trabalhadores, e considerou este tipo de metodologia válida e

confiável.

Lima et al. (2004), investigaram conhecimentos, atitudes e comportamentos para

hipertensão arterial entre adultos de uma comunidade de baixa renda, na região do Ceará.

Além disso, analisaram as razões que norteiam suas atitudes com relação aos fatores de risco

comportamentais - tabagismo, hábito de ingerir bebidas alcoólicas, ingestão de sal e gorduras

na dieta e a prática de exercícios físicos. Os achados do estudo revelaram que as razões

norteadoras dos comportamentos e atitudes investigadas estão ligadas a emoções, a questões

sociais e econômicas. Em relação às mudanças comportamentais, evidenciou-se o abandono

de alguns prazeres para pessoas que lutam para sobreviver em condições de vida de pobreza.

O estudo concluiu que a situação de pobreza interfere nas possibilidades de mudança de

comportamentos.

Mckinley et al. (2005), analisaram as percepções de 106 escolares com idade entre 11

e 12 anos sobre comida e nutrição. As entrevistas abordaram aspectos como sabor, textura e

aparência da comida, escolha dos alimentos, imagem corporal e controle de peso. Os

resultados evidenciaram que muitas barreiras e motivações em relação à alimentação saudável

devem ser consideradas, ressaltando a necessidade de estratégias de intervenção e educação

nutricional direcionadas ao público adolescente.

No estudo de Lara et al. (2004), na área da psicologia, explorou-se o modo como a

depressão em mulheres é conceituada e vivenciada e buscou-se dar significado às perspectivas

das mulheres sobre si mesmas. Através das discussões em grupo, as mulheres encontraram

similaridade entre as maneiras com que a depressão era percebida e descrita, e

compartilharam suas experiências, contribuindo muito para os achados da pesquisa.

Estes estudos demonstram que a pesquisa realizada com grupos se apresenta adequada

as análises das representações e relações de grupos de profissionais de diversas áreas e

processos de trabalho.

O universo de significados, percepções e valores emerge nas discussões grupais em

decorrência da interação do grupo em determinado ambiente social, além de provocar

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reflexões que podem conduzir a um maior conhecimento e conscientização dos sujeitos a

respeito da temática levantada (CAMPOS & BOOG, 2006).

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A presente pesquisa apresenta como concepção teórica, a abordagem qualitativa do

tipo estudo de caso. De acordo com Godoy (1995), tal estratégia tem sido apontada para

atender aos pesquisadores que procuram responder às questões “como” e “por que”

determinados fenômenos acontecem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os

eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais.

Considerando as características da pesquisa qualitativa, a técnica fundamental para a

coleta de dados neste estudo foi a dos grupos focais, compostos pela equipe de nutricionistas

de um hospital público do estado de Santa Catarina, referência na Política Nacional de

Humanização.

Assim, buscando alcançar os objetivos deste projeto de dissertação, foi utilizada a

pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, e a técnica do grupo focal. Dessa forma

pretendeu-se responder às questões apontadas no referencial teórico e à natureza do problema.

3.2 O MODELO DE ANÁLISE

3.2.1 Definição de categorias e subcategorias

A maior parte dos procedimentos de análise organiza-se através do processo da

categorização, que segundo Bardin (1977), é uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente por reagrupamentos segundo

o gênero, com os critérios previamente definidos. As categorias são classes que reúnem um

grupo de elementos (unidades de registro), cujo critério de classificação está relacionado com

a investigação que cada uma delas tem em comum com as outras.

Nesta pesquisa, elaborou-se a seleção das categorias e subcategorias, preliminarmente,

consideradas relevantes para a construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional

humanizado para a instituição hospitalar estudada, baseada na fundamentação teórica:

A categoria 1, Ser nutricionista para um atendimento humanizado, fundamentou-se

no conceito do cuidado alimentar e nutricional adaptado de Mahan & Arlin (1991), que

abordam questões conceituais, práticas e éticas, a respeito da assistência prestada por

nutricionistas aos pacientes. A categoria 2, Pensar em atitudes de humanização, baseou-se

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nos preceitos da Política Nacional de Humanização, bem como nas estratégias de interação

entre a o atendimento clínico-nutricional e produção de refeições citadas no estudo de Sousa

(2001), Sousa (2002) e Sousa & Proença (2004), denominadas para este estudo de iniciativas

de humanização. A sistematização destas categorias encontra-se no Quadro 10 e nos itens

abaixo:

Quadro 10: Categorias e subcategorias de análise referentes a construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional humanizado para a instituição hospitalar estudada

Categorias 1. Ser Nutricionista para um

atendimento humanizado

2. Pensar em atitudes de

humanização

Subcategorias a.Avaliação do paciente

b.Planejamento do cuidado

nutricional

c.Implementação do cuidado

nutricional

d. Avaliação do cuidado nutricional

a.Concepções da humanização no

cuidado nutricional

b. Necessidades do paciente para

receber atendimento qualificado

c. Necessidades do nutricionista para

desenvolver atendimento qualificado

d. Iniciativas de humanização

3.2.1.1 Categoria 1: Ser Nutricionista para um atendimento humanizado

A partir da questão “O que é ser nutricionista para um atendimento humanizado”,

buscou-se compreender os seguintes aspectos da atividade destes profissionais:

a) Avaliação do paciente: aspectos clínicos relacionados ao histórico clínico nutricional.

b) Planejamento do cuidado nutricional: aspectos clínicos referentes à prescrição dietética bem

como medidas que possibilitem ao paciente atingir suas necessidades nutricionais.

c) Implementação do cuidado nutricional: aspectos relacionados à produção de refeições,

modificações necessárias para tornar o alimento aceitável pelo paciente e educação nutricional

ao paciente e à família.

d) Avaliação do cuidado nutricional: aspectos relacionados à monitoração da ingestão

alimentar, alteração do comportamento alimentar e monitoração dos dados clínicos e

nutricionais.

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3.2.1.2 Categoria 2: Pensar em atitudes de humanização

Após compreender como a equipe de nutricionistas percebe e concebe o seu trabalho e

como nele se insere, as nutricionistas foram questionadas sobre atitudes de humanização

exeqüíveis, dentro do cuidado alimentar e nutricional. Com tal questão buscou-se compreender

os seguintes aspectos:

a) Concepções da humanização no cuidado nutricional

b) Necessidades do nutricionista para desenvolver atendimento qualificado

c) Necessidades do paciente para receber atendimento qualificado

d) Iniciativas de humanização

d.1) avaliação do serviço oferecido: apresentação, sabor, textura, horário e local onde são

realizadas as refeições.

d.2)possibilidade de escolha de preparações fora do cardápio padrão.

d.3) ações de melhoria na qualidade sensorial: testes de novas receitas, uso de temperos, testes

de degustação.

d.3) substituição ou complementação de alimentos após ingestão alimentar.

d.4) informações ao paciente e ações educativas.

Contudo, destaca-se que na construção coletiva a partir dos grupos focais, emergiram

outras subcategorias, fazendo com que o quadro acima contribuísse inicialmente para nortear a

pesquisa.

3.3 SELEÇÃO DO LOCAL E DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Os critérios para seleção do local e participantes no presente estudo foram embasados

na pergunta de partida, nos objetivos propostos e na técnica adotada (grupo focal).

Este estudo está inserido no contexto da linha de pesquisa Diagnóstico e Intervenção

Nutricional em Coletividades e do Núcleo de Pesquisa em Produção de Refeições – NUPPRE,

dando continuidade às análises de Sousa (2001) e Bertin (2005).

Foi desenvolvido em um hospital público do estado de Santa Catarina, referência na

PNH, apresenta 260 leitos exclusivos do Sistema Únicos de Saúde e dentre as ações que

integram a Política de Humanização interna do hospital destacam-se 22 programas voltados

para os trabalhadores da instituição e 42 programas e ações voltados aos usuários do sistema

de saúde.

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Desenvolveu-se esta pesquisa com a equipe de nutricionistas do hospital, que atuam

no setor denominado Serviço de Nutrição e Dietética (SND), compondo ao todo treze

profissionais do sexo feminino.

3.4 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS

Primeiramente a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética de Pesquisa com Seres

Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As treze

nutricionistas aceitaram participar da pesquisa mediante autorização e assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B), através do qual ficou clara a

garantia do anonimato e da participação espontânea, assegurando às entrevistadas o direito de

sair da pesquisa em qualquer momento, sem quaisquer prejuízos.

Para a coleta de informações foram realizados os grupos focais, com o auxílio de três

perguntas norteadoras além de um roteiro semi-estruturado, o Guia de Entrevistas (Apêndice

A), elaborado de acordo com questões norteadoras para a concepção de um modelo de

cuidado alimentar e nutricional fundamentado na dimensão humana, específico para o

hospital estudado. O referido guia foi avaliado através de um teste piloto, o que possibilitou

ao pesquisador definir, parcialmente, o tempo de duração da entrevista.

As treze nutricionistas foram distribuídas em dois grupos (Grupo 1 e Grupo 2),

estabelecendo-se como critério o tempo de serviço no hospital. O Grupo 1 foi composto por

seis nutricionistas, que trabalham entre nove e vinte e três anos no hospital, enquanto o Grupo

2 foi composto por sete nutricionistas, as quais trabalham entre sete anos e quatro meses no

hospital estudado.

Foram realizados quatro encontros de discussão, sendo dois com cada grupo, com

duração aproximada de 1 hora e 30 minutos, cujo horário foi acordado entre as participantes.

O local escolhido, também acordado entre as participantes, foi a sala de reuniões do SND.

Seguindo as recomendações de Ressel et al. (2002), cada encontro teve um objetivo e

uma técnica pré-estabelecidos. Ao início de cada reunião utilizou-se música ambiente e

solicitou-se às entrevistadas que fechassem os olhos, aplicando-se um exercício de respiração,

para proporcionar relaxamento e concentração. Para as entrevistas foi utilizada a técnica da

“explosão de idéias”, a partir das seguintes perguntas norteadoras, conforme destacado

anteriormente:

a) O que é ser um nutricionista para um atendimento humanizado?

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b) Que atitudes humanizadoras são exeqüíveis para um cuidado alimentar e nutricional

dentro do SND?

As entrevistas foram registradas em dois gravadores (digital e microcassete) e em

caderno de campo, sendo posteriormente transcritas, respeitando-se a recomendação de Levy

et al. (2004). Nesta pesquisa as entrevistadas foram identificadas com a abreviação da palavra

Nutricionista “NUT” seguida por algarismos cardinais (Ex: NUT 1; NUT 2).

Após a transcrição e a digitação das gravações, realizou-se a auto-confrontação,

através da qual cada participante recebeu uma cópia da entrevista para acrescentar ou retirar

algo ao material e assiná-lo, assim como contou com a pesquisadora para esclarecer possíveis

dúvidas.

3.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A partir do levantamento e análise dos dados, objetivou-se verificar se existe

concordância entre os resultados observados e as questões levantadas pelos pressupostos que

nortearam a pesquisa (QUIVY & CAMPENHOUDT, 1992). De acordo com os autores, o

tratamento e a análise dos dados devem ser realizados em três etapas:

• Descrição e agregação de informações

• Análise da relação entre as categorias

• Comparação entre os resultados esperados e os obtidos

Após a transcrição das gravações e digitação das mesmas, realizou-se o processo da

Análise do Conteúdo (AC), que segundo Bardin (1977, p. 42), consiste em “um conjunto de

técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo das mensagens que permitem inferir conhecimentos relativos às

condições de produção e recepção destas mensagens”, devendo obedecer as seguintes etapas:

a) Pré-análise do conteúdo das entrevistas transcritas: a partir de uma leitura e organização do

material coletado, considerando os critérios de:

• Exaustividade: o material selecionado deverá dar abrangência a todos os elementos

necessários;

• Representatividade: na amostragem, selecionar os documentos realmente

representativos;

• Homogeneidade: a escolha dos documentos deve estar baseada na mesma técnica;

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• Pertinência: o material precisa conter ou selecionar o problema.

b) A exploração do material: fazendo-se uma codificação dos dados a partir de unidades de

registro que correspondem ao segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base.

Para este estudo, as unidades de base foram a palavra ou frase, e o tema.

c) Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: a partir das categorias obtidas,

baseando-se nos pressupostos teóricos que serviram de fundamentação para o estudo, foram

realizadas a inferência e a interpretação dos dados, voltando à literatura pertinente, quando

necessário, para subsidiar o processo reflexivo.

Finalmente, a partir dos dados obtidos e analisados, foi realizado um levantamento dos

elementos que auxiliassem na construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional

fundamentado na humanização, como referência para a política de humanização do hospital.

Da mesma forma que na análise das categorias, a construção do modelo foi realizado a partir

de um confronto entre os dados obtidos durante a entrevista, com dados da literatura,

relacionando as seguintes sistematizações:

a)Concepções das nutricionistas

b)Realidade do trabalho das nutricionistas

c)Necessidades das nutricionistas

d)Necessidades do paciente hospitalizado

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4 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO

4.1 SER NUTRICIONISTA PARA UM ATENDIMENTO HUMANIZAD O

A partir da questão O que é ser nutricionista para um atendimento humanizado?

emergiram outros elementos para análise que foram agregadas nas subcategorias,

preliminarmente selecionadas. As subcategorias e os novos elementos encontram-se

sistematizados no quadro 11 e, posteriormente, realizou-se a descrição e discussão de cada um

destes aspectos.

Quadro 11: Categoria 1: Ser nutricionista para um atendimento humanizado Subcategorias Elementos de análise

Avaliação do paciente (aspectos clínicos e bioquímicos relacionados ao histórico clínico nutricional)

•Dados antropométricos e bioquímicos •Anamnese alimentar •Histórico de nutrição •Priorização do atendimento •O aspecto social

Planejamento do cuidado nutricional (aspectos clínicos referentes à prescrição dietética, bem como medidas que possibilitem ao paciente atingir suas necessidades nutricionais)

•Cálculos nutricionais •Cuidado alimentar: ações das nutricionistas da produção de refeições •Prescrição dietoterápica •Interação das nutricionistas com outros profissionais de equipe de saúde

Implementação do cuidado nutricional (dados relacionados à produção de refeições; modificações necessárias para tornar o alimento aceitável pelo paciente, educação nutricional ao paciente e à família).

•Disponibilidade de alimentos •Modificações da dieta •Qualificação e formação de profissionais da produção e distribuição das refeições •Condições de trabalho

Avaliação do cuidado nutricional (dados relacionados à monitoração da ingestão alimentar, alteração do comportamento alimentar, monitoração dos dados clínicos e nutricionais).

•Acompanhamento da aceitação da dieta •Visita diária •Desnutrição hospitalar •Cumprimento dos objetivos: sucesso do tratamento (produção de refeições e clínica)

4.1.1 Avaliação do paciente

As nutricionistas de ambos os grupos destacaram que a avaliação clínico-nutricional

faz parte do protocolo de atendimento do hospital, ocorrendo nas primeiras horas de internação

do paciente. Primeiramente, antes do contato pessoal, verificam-se no prontuário de cada

paciente, os registros feitos pela equipe de enfermagem, com respeito a dados clínicos,

bioquímicos, antropométricos e sociais.

Primeiro eu vejo o prontuário pra reconhecer qual a situação que o levou à internação, pra poder ir conversar preparada em relação a isso (NUT 1). Eu sempre procuro ler o prontuário primeiro, saber por que o paciente está internando, de onde ele veio, antes de falar com ele. Aí a gente conversa

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com o paciente já sabendo mais ou menos o que ele tem e o que não tem (NUT.7) O primeiro contato que eu tenho com o paciente é o prontuário, então sempre dou uma olhadinha, e ali sempre tem o histórico da enfermagem que fala um pouquinho até da história social dele que traz alguns pontos importantes (NUT. 6).

Após obter as informações sobre a história do paciente, as nutricionistas buscam

dados antropométricos (peso e altura), que normalmente constam do prontuário, uma vez que

são coletados pela equipe de enfermagem durante admissão do paciente no hospital. Porém

algumas vezes este procedimento é realizado pela equipe de estagiários (as) de nutrição, e

também pelas próprias nutricionistas, sempre que julgam necessário. Os relatos a seguir

evidenciam a preocupação das nutricionistas com a qualidade e fidedignidade destes dados

para uma correta avaliação nutricional:

Muitas vezes os dados antropométricos já estão no prontuário, daí a gente tem que se certificar que aqueles dados foram realmente mensurados e não apenas referidos pelo paciente. Aí na medida do possível a gente pesa e mede de novo. Quando o paciente vem da enfermaria normalmente a enfermagem recebe ele e já pesa e mede, só que às vezes eles só perguntam pro paciente, daí no outro dia quando você vai ver os dados não batem porque foi um dado referido. Às vezes a pessoa não se pesa e não se mede há muito tempo e dá diferença (NUT 7). A gente mesmo, quando vê que é necessário pesa novamente, mesmo quando não tem estagiária. Porque às vezes você olha e vê que não bate, a gente pergunta pro paciente, então se ele tiver condições de locomoção a gente mesmo verifica, não espera pela enfermagem (NUT 1).

A antropometria é uma ferramenta indispensável para o profissional da nutrição

clínica, considerada uma das abordagens mais antigas à quantificação da composição

corporal. Através de medições antropométricas relativamente simples e facilmente adquiridas

(peso atual, peso ao nascer, altura, pregas cutâneas, circunferência craniana, entre outras),

podem ser estabelecidos aspectos do risco nutricional dos indivíduos e até mesmo predizer a

mortalidade em idosos (HEYMSFIELD, et al. 2003).

Porém, é importante que os dados antropométricos sejam efetivamente coletados por

profissionais da equipe de saúde, pois dados referidos pelo paciente nem sempre são

fidedignos. Wyszynski et al. (2003), investigando o estado nutricional de pacientes

hospitalizados na Argentina, constataram que nos 38 hospitais estudados, somente em 38,8%

encontraram-se registros de dados sobre o estado nutricional dos pacientes, e apenas 12% dos

pacientes lembravam de seu peso usual e atual.

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De acordo com Campos & Boog (2006), a avaliação do estado nutricional que

pressupõe, entre outros procedimentos, a pesagem do paciente, a observação da aceitação da

dieta e sua correlação com a evolução do estado nutricional, pode ser realizada pelos

enfermeiros. Para tanto, é necessário conscientização por parte dos profissionais de saúde

acerca do cuidado nutricional adequado para a evolução clínica apropriada. Além dos

conhecimentos em nutrição, torna-se imprescindível que os profissionais tenham clareza de

seus papéis e responsabilidades nas condutas relativas ao processo do cuidado nutricional.

No campo da enfermagem, Perry (1997) também chama atenção para o fato de que os

conhecimentos sobre nutrição são imprescindíveis na formação do enfermeiro, visto que a

desnutrição hospitalar constitui um grave problema passível de prevenção.

A humanização também passa pela competência técnico-científica. A PNH visa entre

outros aspectos, a incorporação de novas tecnologias e a especialização dos saberes. Um dos

princípios básicos da PNH é o fortalecimento de trabalho em equipe, fomentando a

transversalidade e a grupalidade, e ainda, a humanização dos serviços de saúde deve ser

operacionalizada, entre outros fatores, com a troca de construção de saberes e com o trabalho

em rede com equipes multidisciplinares (BRASIL, 2005, p.11-15).

Labonté e Ouelét (1996) em seu estudo no Canadá constataram que a

interdisciplinaridade não é uma atividade frequentemente utilizada dentro da prática dietética.

Observaram ainda que, quanto maior o nível de intervenção nutricional, mais tempo é

dedicado ao paciente. Isso é verdadeiro para todas as atividades, salvo para a

interdisciplinariedade. O maior tempo destinado em ações interdisciplinares ocorre no nível

primário de intervenção, o que pode ser explicado pelo fato de que o tempo direcionado ao

paciente não está relacionado com a complexidade do tratamento nutricional. A atividade pela

qual dietistas parecem dedicar menor tempo é a documentação clínica.

Ainda com relação à antropometria, percebeu-se uma preocupação por parte das

nutricionistas em obter as medidas dos pacientes, mesmo que estes apresentem alguma

limitação física. Estas profissionais relataram que, em casos de dificuldade de deambulação,

algumas técnicas específicas são utilizadas para garantir a avaliação do estado nutricional:

Alguns pacientes que não têm condições de ficar de pé, a gente acaba lançando mão de técnicas pra mensurar peso e altura, pela medida da cama, da perna, do braço. A gente faz a inferência pra poder definir o estado nutricional e com isso faz uma conduta (NUT. 2).

Com relação aos dados bioquímicos considerados importantes para a avaliação

nutricional, as nutricionistas relataram que os exames mais freqüentemente solicitados pelos

médicos e disponíveis no prontuário são: hemograma, proteína total e albumina. Outros

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exames como: colesterol e frações, triglicerídeos, glicose, uréia, creatinina e potássio são

solicitados somente em casos específicos.

Pra minha avaliação, é importante o hemograma, esses exames tipo colesterol e triglicerídeos os médicos nem pedem, só pedem se tiver uma suspeita, alguma coisa, mas é difícil (NUT. 5). Quando tem exames de proteína total, albumina, eu olho. Mas nem sempre eles pedem [...] uréia, creatinina, potássio, glicose, colesterol e frações também são importantes (NUT. 9).

O interesse pelos marcadores bioquímicos como auxiliares na avaliação do estado

nutricional surge na medida em que se evidenciam alterações bioquímicas precocemente,

anteriores às lesões celulares e/ou orgânicas. No entanto, alguns fatores e condições podem

limitar o uso desses indicadores na avaliação do estado nutricional, com a utilização de

algumas drogas, condições ambientais, estado fisiológico, estresse, injúria e inflamação.

Assim, embora os parâmetros de avaliação laboratorial sejam muito importantes para auxiliar

na identificação precoce de alterações nutricionais, não devem de modo algum ser utilizado

isoladamente para estabelecer um diagnóstico nutricional (CUPPARI, 2002).

Para o grupo, os exames são usualmente solicitados pelos médicos, porém nem

sempre suprem suas necessidades para compor o diagnóstico nutricional. Nestes casos, a

nutricionista procura o médico responsável pelo paciente e explica sua necessidade, pedindo a

ele que solicite o (s) exame (s) em questão. Através da fala a seguir, pode-se observar certa

dificuldade para estabelecer parcerias entre médicos e nutricionistas:

Tem médicos que aceitam nossos pedidos, outros não. Normalmente os médicos mais jovens ou mais abertos, que sabem a importância, aceitam melhor (NUT. 9).

Percebeu-se também que em algumas situações, há inexistência ou insuficiência de

dados no prontuário, provavelmente por se tratar de pacientes recém internados, conforme a

fala a seguir:

Nessa primeira olhada no prontuário a gente já dá uma olhada em tudo, às vezes não tem nada ainda, porque são recém chegados. Mas aí a gente vai conversar pra ver o que está rolando (NUT 1).

Após a observação do prontuário, já contando com dados e informações sobre o

paciente, as nutricionistas dirigem-se ao quarto para uma primeira conversa, procurando-se

saber como o paciente está, como se sente em relação à doença, evidenciando-se atitudes

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humanizadoras na preocupação e valorização do ser humano. Neste momento também é

realizada a anamnese alimentar, no intuito de realizar a adequação da dieta:

Quando eu vou conversar com ele no primeiro momento eu faço algumas perguntas, como ele está, como está se sentindo [...] como é a relação dele com o alimento, o que ele costuma comer, o que gosta e o que não gosta, o que aceita ou não aceita, como é que estava se alimentando em casa, se estava se alimentando ou não, pra ter uma idéia da disponibilidade de alimentos na casa dele, procuro perceber como ele está em relação a doença dele, se ele sabe realmente o que ele tem (NUT 6). Nesse primeiro contato quando vamos ao quarto, fazemos uma série de perguntas do tipo: intolerâncias, alergias alimentares, preferências. Vê a aceitação da alimentação...na verdade são dados do histórico de nutrição (NUT 1).

A anamnese alimentar é utilizada como atividade de rotina na primeira visita ao

paciente, e, de acordo com Vasconcelos (2000), consiste na obtenção de informações sobre o

consumo e hábitos alimentares do indivíduo no decorrer de sua história de vida, o que

propicia ao profissional nutricionista um diagnóstico complementar do estado nutricional

atual, além de servir como base na orientação para a prescrição dietoterápica adequada.

Outro procedimento utilizado pelas nutricionistas na avaliação nutricional do

pacientes da instituição analisada é o Histórico de Nutrição (Anexo A), um formulário

específico da unidade, que consiste em dados gerais, história alimentar, análise dietética,

avaliação nutricional e conduta dietoterápica, usualmente anexado ao prontuário do paciente.

Porém, este formulário não é aplicado como atividade rotineira, somente em casos com maior

risco nutricional ou na presença de estagiários (as), como se pode verificar a seguir:

Os estagiários registram tudo, fazem todo o histórico e nós vamos acompanhando. Eles coletam coisas mais minuciosas que às vezes a gente não pergunta, por exemplo, escolaridade, condições sociais e econômicas, profissão [...]. Isso que normalmente nós não perguntamos na avaliação. E muitas coisas já têm no histórico da enfermagem (NUT. 8). Na verdade a gente não aplica o histórico, só quando tem estágio curricular ou extracurricular, daí as estagiárias fazem. E às vezes quando é necessário nós fazemos. Aplicamos o histórico quando há alteração importante, ou alguma doença plurimetabólica, que pode ter um prognóstico pior, com a necessidade de investigar mais. Mas normalmente é a avaliação, o dia alimentar (NUT. 11).

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Corroborando com estes dados, Bertin (2005), identificando as concepções e práticas

da atenção nutricional no mesmo local do presente estudo, verificou em entrevista com a

nutricionista responsável pela chefia do Serviço de Nutrição e Dietética (SND), que a

aplicação do histórico, que deveria atingir todos os pacientes, só se torna possível na presença

de estagiários, ou de acordo com o estado de saúde dos pacientes. Dessa forma, informações

essenciais muitas vezes não são possíveis de serem consideradas para a obtenção de um

diagnóstico adequado, comprometendo possivelmente a efetividade do tratamento nutricional.

De acordo com as nutricionistas, o histórico é um formulário extenso, tornando-se

impraticável, considerando o número elevado de pacientes para cada nutricionista, e a relação

das atividades diárias versus o tempo de trabalho.

Quando a gente está com 30 leitos, sem condições de fazer histórico, pelo menos a gente colhe as informações principais, que ficam com a gente para auxiliar na adequação da dieta. Nós temos o formulário oficial, que nós deveríamos aplicar em todos os pacientes, mas é muito grande, toma muito tempo, como a gente normalmente é uma para 30 leitos, não dá (NUT.1).

A resolução nº 201/98 do CFN dispõe sobre a aprovação dos critérios de

estabelecimento dos parâmetros numéricos para atuação dos nutricionistas. Especificamente

para a área clínica, a relação entre o número de nutricionistas e o número de leitos, é definida

conforme o grau de assistência prestada ao paciente, como pode ser observado a seguir:

* Grau Primário - 1 nutricionista para cada 50 leitos. Entende-se por grau primário a

assistência a pacientes cuja enfermidade de base e/ou problema associado exija cuidados

dietoterápicos básicos: cirurgia plástica, dermatologia, ginecologia, obstetrícia, oftalmologia,

otorrinolaringologia,traumato-ortopedia.

* Grau Secundário - 1 nutricionista para cada 30 leitos. Entende-se por grau secundário a

assistência a pacientes cuja enfermidade de base e/ou problema associado exija cuidados

dietoterápicos específicos: cardiologia, cirurgia cardiovascular, cirurgia geral, clínica médica,

emergência, endocrinologia, gastroenterologia, hematologia, nefrologia, neurocirurgia,

neurologia, oncologia, pneumologia, proctologia, geriatria.

* Grau Terciário - 1 nutricionista para cada 15 leitos. Entende-se por grau terciário a

assistência à pacientes cuja enfermidade de base e/ou problema associado exija cuidados

dietoterápicos intensivos: terapia intensiva, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal,

cirurgia pediátrica, pediatria, clínica de queimados e centros especializados.

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A resolução recomenda ainda que a carga horária mínima recomendada deverá ser de

30 horas semanais e a assistência nutricional diária ao paciente deverá ser de, no mínimo, 12

horas ininterruptas.

Contudo, ressalta-se que na maioria dos hospitais esta resolução, provavelmente, não é

respeitada.

Sousa (2001) em suas análises avaliou que tanto na França, quanto no Brasil, a relação

de dietistas/nutricionistas por paciente em risco nutricional, representava em média 30

pacientes/dia. Estes pacientes em ambas as situações analisadas são priorizados e

acompanhados diariamente.

Garcia (2006) em seu estudo desenvolvido em um hospital público e outro privado

destaca que, no primeiro, a média de número de leitos por nutricionista é de 36, e no segundo

44.

Na França, Guy-Grand (1997) analisando o número de dietistas / leito em 68 hospitais

ligados a Assistência Pública dos Hospitais de Paris (AP-HP), revelou insuficiência de

profissionais e uma grande heterogeneidade na proporção de dietistas / n° de leitos. A média

encontrada foi de 1 dietista / 117 leitos.

Considerando o número de pacientes por andar, as nutricionistas foram

questionadas sobre “quem é avaliado” e observou-se que há uma priorização do atendimento:

Às vezes é uma situação de uma pessoa normal, que não precisa de um controle cuidadoso. Se eu tenho outros pacientes mais graves com relação à alimentação, este eu só vou fazer um contato para adequação da dieta. No caso do paciente que só pelo prontuário eu já vejo que é uma situação mais complicada, já vou pro quarto com as anotações (altura, peso) que são coletados pela enfermagem (NUT. 1).

Na pediatria eu priorizo desnutrido, anêmico, crianças que estão desenvolvendo obesidade e doenças específicas (celíacos, DM, intolerância a lactose) e também diarréia..., algumas vezes por falta de higiene mesmo, depois melhora. Mas a prioridade é paciente em risco nutricional (NUT. 5).

A gente visita todos, mas avalia aqueles que a gente julga mais graves, que precisam de maior atenção. Pra isso não tem padronização ainda, então cada um na clínica vê o paciente que é mais grave, paciente diabético, com sonda, desnutrido, com doença gástrica importante, paciente que precisa fazer controle de peso, então a gente prioriza. Os outros você visita, mas dependendo da patologia ou até mesmo de como ele está evoluindo, não é necessária uma avaliação diária (NUT 6)..

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A priorização do atendimento para os pacientes com risco nutricional é uma prática

constante do grupo de nutricionistas. No entanto, o preenchimento do histórico de nutrição

não é uma ação rotineira, nem mesmo em pacientes com risco nutricional. Esta avaliação do

grupo levanta dúvidas com relação à visibilidade dos distúrbios nutricionais para toda a

equipe de saúde, o que pode comprometer a qualidade do atendimento clínico-nutricional e,

consequentemente o cuidado alimentar e nutricional. As ações são direcionadas para a oferta

de refeições.

Em contrapartida, verificou-se preocupação por parte das nutricionistas com a

repetição de ações da equipe com o paciente, que tem que responder tantas informações,

tendo em vista o trabalho de toda a equipe hospitalar:

O histórico é um formulário muito grande, a gente quer que ele seja bem completo e leva muito tempo pra se coleta [...] e às vezes o próprio paciente não está disponível pra aquilo (NUT 3).

Essa questão de histórico estávamos discutindo hoje no almoço, quem faz ou não faz, e tem toda a questão social de casa própria, água encanada,etc. E eu perguntei se o serviço social não faz isso, ou se tem alguém que já pergunta isso, depois as nutris vão perguntar tudo de novo, aí vira um negócio enorme que ninguém consegue fazer[...] então na verdade em cada pedacinho da estadia do paciente vai sendo feito o histórico, mas ele todo quebradinho assim, daí pode ficar repetitivo para o paciente (NUT.4).

Devido às dificuldades apresentadas, a equipe do SND está reformulando algumas

ações de trabalho, a exemplo das orientações dietoterápicas para a alta do paciente e o

histórico nutricional. A proposta baseia-se na aplicação da Avaliação Subjetiva Global (ASG),

no intuito de otimizar os serviços do cuidado nutricional:

Está em andamento uma proposta de reformulação. Algumas coisas estão sendo feitas primeiro com a elaboração e reformulação das orientações gerais para cada dieta de alta hospitalar (diabetes, hipertensão). O histórico vai ser reformulado pra ser utilizado em situações específicas, mas o que nós vamos usar mais é a ASG que também está sendo revista. Vai ser uma seqüência. Nós estamos fazendo uma triagem. Todos os pacientes vão ter a ASG, que é mais fácil e não demora tanto quanto o histórico. Mas para alguns pacientes ainda vamos precisar aplicar o histórico (NUT 11). Estamos propondo uma mudança, estamos querendo em reuniões próximas, re-implantar a ASG em conjunto com dados do histórico. Porque a ASG é bem mais rápida e então poderemos fazer com todos. Adicionaremos algumas coisas que já estão nessa nossa visita, que não estão indo pro histórico, mas que no final das contas se coloca na evolução. Então se não

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dá tempo de fazer o histórico, a gente visita e registra na evolução ou SOAP [Subjetivo,Objetivo, Avaliação, Prescrição] (NUT 1).

Aquino (2005) em seu estudo objetivando estudar os fatores associados ao risco de

desnutrição em adultos hospitalizados, destaca a importância da realização da triagem

nutricional e afirma que é o primeiro passo para o atendimento ao indivíduo hospitalizado, e

deve ser adotado por hospitais e seu desenvolvimento deve ser realizado a partir da

identificação dos fatores associados ao risco de desnutrição na população.

Assim a identificação dos pacientes em risco nutricional através de uma seleção ou

triagem, poderia auxiliar na organização das ações das nutricionistas, e ao mesmo tempo

melhorar a qualidade do atendimento ao paciente. Proporcionaria também melhor divisão dos

serviços e melhor interação com a equipe de saúde, tendo em vista a complexidade das

unidades de internação.

Outro aspecto considerado importante para compor as informações necessárias ao

planejamento do cuidado alimentar e nutricional são os dados sociais do paciente. As

nutricionistas perguntam se o paciente já esteve internado, se tem diagnóstico de doença

crônica, ou se possui acompanhante, para compreender o estilo de vida do paciente. Para

verificar o consumo alimentar, especialmente açúcar e óleo, costumam perguntar se o

paciente é morador de rua, se mora sozinho ou com outras pessoas.

Segundo Vasconcelos (2000) os aspectos sócio-econômicos, tais como classe social,

grau de escolaridade, condições de moradia e saneamento básico, acesso aos serviços de

saúde e alimentação, renda mensal, profissão, juntamente com aspectos geográficos e

etnoculturais, figuram como dados fundamentais para a compreensão e explicação do estado

nutricional de cada indivíduo.

4.1.2 Planejamento do cuidado nutricional

Quando se perguntou sobre o planejamento do cuidado nutricional, as nutricionistas

afirmaram que este começa desde o primeiro contato com o paciente e é feito a partir de

informações coletadas e observadas.

O planejamento ocorre de imediato, quando você conhece o paciente já vê o que ele está recebendo, ou porque não está recebendo dieta ainda. Enfim qual é o tratamento médico dele, porque tudo depende disso. Se o paciente vem e já vai fazer um preparo para uma cirurgia no dia seguinte, eu tenho que correr e fazer as adaptações. Ou um paciente que não vai pra cirurgia, mas precisa perder peso, eu já faço os cálculos na hora, uso Harris Benedict. Daí vou

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acompanhando pra ver se perdeu peso, então quando o paciente chega você já tem que estar preparada pra desenvolver isso (NUT 8).

No entanto, os cálculos nutricionais que definem a dieta não são realizados com todos

os pacientes. Aqui, neste caso, percebe-se novamente a priorização do atendimento.

Não fazemos os cálculos com todos, depende da patologia (NUT 9).

Nem todo o paciente necessita de cálculo de necessidades, por exemplo uma cirurgia de hérnia, se o paciente não for diabético ou hipertenso, é uma dieta normal. Já um paciente que já traz no diagnóstico disfagia por alimentos sólidos, aí eu tenho que fazer um trabalho melhor. Faço os cálculos por Harris Benedict - fator injúria e atividade - acompanho a ingestão, calculo, peso diariamente (NUT 8).

Na prática clínica, a determinação das necessidades energéticas pode ser feita através

da equação de Harris-Benedict, criada em 1918, que apresenta coeficientes distintos de peso,

altura e idade, segundo os sexos. Igualmente, pode-se determinar o requerimento energético

pela calorimetria indireta, sobretudo quando pairam dúvidas sobre a aplicabilidade ou

precisão da equação de Harris-Benedict (HEYMSFIELD, et al. 2003).

Após a definição do tratamento dietoterápico são encaminhadas as informações para a

copeira do respectivo andar, e esta preencherá o mapa de dietas repassando-o para a o setor de

produção de refeições, como pode-se observar a seguir:

Definido qual é nosso plano dietoterápico, coloca-se no mapa de dietas, encaminhamos para a copeira. Como o cardápio é padronizado e é trabalhado com médias por tipo de dieta, aquele paciente vai entrar pra produção no rol das dietas brandas, pastosas. Mas quem vai definir isso e colocar dentro da produção é a copeira, que vai entregar o ticket (NUT 1).

Com relação às nutricionistas da produção de refeições, percebeu-se que seu contato

com o paciente, mesmo que indireto, está diretamente relacionado ao seu tratamento. Apesar

da prescrição dietética e suas modificações serem definidas pelas nutricionistas de clínica, é

através das nutricionistas da produção de refeições que a alimentação chega até o paciente.

Teoricamente, trata-se de um serviço integrado entre clínica e produção, uma vez que um

completa o outro. Porém, através das falas, percebeu-se uma fragmentação nos serviços,

quando as nutricionistas da produção demonstram uma visão do alimento em série, e revelam

dificuldades de perceberem o ser humano que vai comer. Uma das nutricionistas do setor de

produção evidencia que a identificação da individualização do paciente, ocorre através de

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modificações ou pedidos extras, que podem caracterizar, segundo ela, dados sociais do

paciente.

Meu contato com o paciente é indireto, faço o cardápio. A idéia é que o cardápio atenda o que as nutris estão passando, que as informações de preferências, por exemplo, estejam no cardápio. O cardápio segue um padrão dentro da alimentação normal, e dentro dele tem as preparações que são feitas de acordo com pedidos extras, pelas preferências ou necessidades deles e tal. A gente percebe ali embaixo que tem pessoas diferentes internadas quando tem pedidos diferentes, se não a gente olha e é tudo igual, por exemplo, uma dieta branda é toda igual, você não vê uma pessoa, e sim um monte de dietas. A não ser quando tem o pirão ou o peixe frito do Seu João ou sei lá (NUT 4). No geral segue-se o cardápio padronizado, o cardápio não é assim personificado. Na realidade tem os pedidos especiais que a nutricionista já elege. Aí entram as questões sociais, um paciente que mora lá no morro, não tem água encanada é evidente que ele vai comer pirão e peixe frito, que é o padrão dele em casa. E sempre o que é pedido especial é dentro dos ingredientes que têm no hospital, nada muito além (NUT. 4).

A alimentação, como parte da construção de identidades culturais e sociais, envolve

emoção, memória e sentimentos. Estas falas refletem a qualidade simbólica do alimento,

citada por Poulain e Saint-Sevin (1990), associada às vivências, prazeres e significados que o

alimento representa para o paciente. O atendimento humanizado também é caracterizado pelo

atendimento destas individualidades.

No processo patológico a alimentação tem um significado emocional tão importante,

quanto terapêutico ao paciente, estando diretamente relacionados aos fatores socioculturais,

étnicos e religiosos. Por isso, há necessidade de atendimento às individualidades,

considerando que a inapetência ou a rejeição aos alimentos pode comprometer o tratamento

como um todo (CAMPOS & BOOG, 2006).

Com relação aos dados do paciente, as nutricionistas demonstraram preocupação em

registrar informações completas no prontuário referentes ao seu tratamento, como as

alterações de dieta, a aceitação e a evolução. Dessa forma, todos os profissionais podem

acompanhar o que está acontecendo, o que contribui para a eficácia do tratamento do paciente

de um modo geral.

A prescrição dietoterápica rotineiramente é realizada pelos médicos das unidades de

internação. As nutricionistas fazem sua avaliação e havendo necessidade de alterações

comunicam-se com o médico responsável. Entretanto, algumas profissionais, sobretudo as

com menos tempo de experiência, novamente evidenciaram certa dificuldade na comunicação

com os médicos, e afirmaram que alguns profissionais não aderem ao trabalho

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multidisciplinar. Revelaram ainda, sentir insegurança com relação à autonomia de seus

serviços, como pode ser observado nas falas a seguir:

Eu já não acho muito fácil, depende da equipe, por exemplo, na Médica 1 tem gastro, pneumo, nefro, e é meio complicado chegar em quem tá ali, e eles também não vem falar com a gente. Com o pessoal da gastro é mais fácil o acesso. Acho que depende se o profissional teve uma formação baseada na multidisciplinaridade (NUT.7). Eu procuro conversar, mesmo sem ter muita abertura, registro no prontuário o que eu acho, mas nem sempre sou atendida, e muitas vezes, fica como está. Até porque eu não posso tomar nenhuma atitude, modificar sozinha. Não sei até quando isso é correto, não sei até onde vai nossa autonomia (NUT 7).

Como destacado anteriormente, a qualidade do atendimento ao paciente está

diretamente relacionada com a interação da equipe de saúde. O cuidado nutricional do

indivíduo hospitalizado é considerado complexo e requer o trabalho integrado de muitos

profissionais, envolvendo enfermeiros, nutricionistas, médicos e todo o corpo auxiliar. Para

Oliveira & Radicchi (2005) as relações sociais que se estabelecem entre os diferentes

profissionais de saúde não estão livres de tensões e discordâncias, como em todas as relações.

Contudo, cabe aos profissionais da equipe de saúde contribuir com a qualidade da

assistência hospitalar, respeitando além das relações hierárquicas, as funções e competências

de cada um.

De acordo com a resolução nº223/99, do Conselho Federal de Nutricionistas, é de

competência do nutricionista avaliar a dieta, por meio de diferentes métodos, diagnosticando

sua adequação frente às necessidades nutricionais e dietoterápicas, considerando os hábitos

alimentares, incluindo padrão alimentar quanto ao número, tipo e composição das refeições,

rotinas, restrições, preferências alimentares e apetite. Porém, na prática o que acontece nesta

instituição e, em muitos outros serviços hospitalares, é o não atendimento ao previsto pela

Resolução nº 63/2000 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo a qual a

prescrição dietética deve ser feita por um nutricionista, inserido na equipe multiprofissional

envolvida na responsabilidade do atendimento ao cliente/paciente.

Boog (1999) em seu estudo sobre as dificuldades encontradas por médicos e

enfermeiros na abordagem de problemas alimentares, considera o nutricionista como o

profissional habilitado por formação para adequar as orientações alimentares à realidade dos

pacientes.

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Nonino-Borges et al. (2006), pesquisando sobre desperdício de alimentos em uma

instituição hospitalar, observaram que a prescrição dietética deveria ser definida pelo

nutricionista, o que minimizaria erros na individualização de dietas, fracionamento de

refeições, seleção de alimentos e estimativas de porcionamento. Perseguindo a eficiência em

todos os níveis da assistência nutricional, a equipe de atendimento ao cliente/paciente deveria

ser estimulada a trabalhar efetivamente, concretizando a interdisciplinaridade. Isso significa a

tomada de consciência, por parte dos profissionais envolvidos, da importância do trabalho de

cada categoria, em prol do melhor tratamento do paciente. Obviamente, este objetivo só seria

atingido com um número adequado de profissionais em cada unidade, possibilitando a

prescrição da dieta e a revisão do cuidado nutricional.

Além disso, abordagens que procurem atender às expectativas do cliente/paciente, em

busca de sua satisfação, são essenciais. Informações sobre o serviço de alimentação para toda

a equipe de atendimento, e mesmo para o paciente, diminuiriam a distância entre o mesmo e o

cuidado nutricional. A capacitação da equipe para a prescrição de dietas e a implantação de

uma padronização das mesmas seriam úteis para minimizar erros e otimizar as prescrições

(WATTERS et al., 2003).

4.1.3 Implementação do cuidado nutricional

Com relação à disponibilidade de alimentos, as nutricionistas consideraram que,

apesar do hospital ser público, e apresentar restrições financeiras, existe grande variedade de

alimentos disponíveis, e na falta de determinado produto, comunicam-se com a família do

paciente ou com a direção do hospital no intuito de obtê-lo.

De acordo com as nutricionistas, é regra do SND que as modificações das dietas

passem a vigorar a partir do lanche da tarde. Porém em alguns casos a solicitação de alteração

ou liberação de dieta é feita antecipadamente, visando melhorar a aceitação da alimentação

pelo paciente, ou no caso de uma liberação de dieta, iniciar sua alimentação tão logo seja

possível. Porém, tal atitude pode acarretar dificuldades para o setor de produção:

Oficialmente as alterações do dia começam a vigorar a partir do café da tarde, só que quando a gente está na clínica, em algumas situações precisa melhorar a dieta, por exemplo, quando se trata de uma dieta de evolução, e a gente vê que já dá pra fazer na hora do almoço a gente já fala pra copeira, não espera chegar a tarde. Então isso às vezes é pra tentar adiantar o serviço. Por exemplo, a dieta era líquida restrita e já foi liberada líquida completa, porque eu vou esperar até a hora do lanche, se a gente vê que ele já pode comer melhor? (NUT 1).

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Tem coisas que as copeiras pedem na hora do almoço, mas não dá tempo de descongelar, daí fica pro janta, mas elas também perdem os pedidos. Às vezes chega pedido de alteração às 11h da manhã e nessa hora já está tudo feito, não tem como mudar. Então tem essa questão da disponibilidade, ás vezes não fecha (NUT 4). Se o paciente estava em dieta zero e já pode comer a gente não vai esperar até a tarde pra dar comida pra ele (NUT. 2). Às vezes eles pedem peixe, mas na hora não vai bem aquilo que eles esperam, porque o nosso peixe é filé congelado, às vezes eles esperam um tipo diferente, por exemplo posta, daí não tem (NUT. 3).

O grupo apontou dificuldades relacionadas ao cumprimento das solicitações das

alterações das características da dieta, como o modo de preparo e o tipo de alimento. Esta

situação as leva a questionar não só a falta de comprometimento por parte das copeiras na

realização desse serviço, mas também a qualificação dos profissionais da cozinha.

Às vezes não dá muito certo. (risos). Por exemplo, você pede purê mole, daí não vem mole, o paciente não come. Então você fica tão frustrada porque é só isso que ele pode comer então a gente tem que descer ir lá falar com a cozinheira (NUT 8). O certo era a gente ir lá pegar a batata, descascar, cozinhar [...] porque tem coisas assim que não dá pra acreditar, a pessoa não saber fazer um purê mole! O que é purê mole? Não sabem o que é pastosa, branda....Ai Jesus! E não é falta de treinamento (NUT 7).

Entretanto uma das nutricionistas afirmou não ter problemas com relação aos

serviços da copeira e produção na ala da qual é responsável.

Não sei se é sorte, mas geralmente o que eu peço vai certinho (NUT 10).

Por outro lado, ficou evidente a parceria e o trabalho integrado entre nutricionistas e

copeiras, durante o acompanhamento da aceitação da dieta pelo paciente:

Eu sempre estou em contato com a copeira, no caso de não dar tempo de eu observar a aceitação de um paciente naquele dia, eu pergunto pra ela o seu fulano comeu? Ou não?. É uma ajuda que eu peço pras copeiras na avaliação da ingestão. Afinal elas é que estão naquele momento, elas recolhem as bandejas. Às vezes elas mesmas vem falar (NUT 7).

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Tem que fazer acompanhamento direto, conversar com o paciente, tentando modificar o que é necessário muita conversa com copeira, que eu particularmente não tenho dificuldade (NUT 10).

O acompanhamento do tratamento se dá através de visitas diárias realizadas pelas

nutricionistas, ou seu contato com as copeiras. Devido a fatores como excesso de serviço

burocrático e tempo escasso, novamente verificaram-se a priorização das visitas conforme o

estado de saúde do paciente:

Aí a gente prioriza se o paciente é eutrófico, tem dentes, come, vai ficar uns 2 dias para exames e vai embora, não precisa ir lá todos os dias. Diferente de um paciente que internou cirrótico, ou semi-coma que a dieta vai evoluir. Este sim tem que ser avaliado diariamente. A gravidade da doença de base vai dar a prioridade. Porque a gente precisa fazer essa triagem, não dá tempo! (NUT 7).

De acordo com as nutricionistas, as condições de trabalho enfrentadas, dificultam o

cumprimento das ações que compõe a implementação do cuidado nutricional e alimentar, uma

vez que exercem diversas atividades em um curto espaço de tempo:

Não dá tempo pra acompanhar todos os pacientes. Há muito pra fazer, ver sonda, prontuários, registrar, conversar com médicos, copeiras, orientações de alta (NUT 9). Tem que supervisionar copeira, fazer atividades burocráticas aqui embaixo e muitas vezes não dá tempo fora as coberturas extras que a gente tem que fazer, sempre tem alguém de folga ou férias, emergência, enfim! (NUT 7).

Na atuação do nutricionista tanto nas instituições hospitalares, quanto em outras

unidades, há problemas diversificados e de diferentes graus de complexidade que exigem

atenção por parte deste profissional.

Boog et al (1989) em seu estudo sobre o trabalho de nutricionistas em hospitais

demonstraram que há acúmulo de atividades ligadas ao gerenciamento da prestação de

serviços, dificultando sua aproximação com os indivíduos enfermos, e no aprofundamento de

suas necessidades terapêuticas e alimentares. Os autores verificaram que apenas 50% fazem

anamnese alimentar, e em contrapartida, nesse mesmo grupo, 70% dos profissionais relataram

fazer, tanto atividades relacionadas ao acompanhamento nutricional do paciente

(dietoterapia), quanto as atividades relacionadas à gestão da produção de refeições.

Ansaloni (1999) em sua avaliação da situação de trabalho dos nutricionistas em

empresas de refeições coletivas em Minas Gerais observou que apesar de 90% dos

nutricionistas entrevistados estarem ligados aos setores e departamentos técnico-operacionais

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(dietoterapia, campanhas de saúde, balanceamento de cardápios e atividades educacionais),

tais atividades apresentavam maior enfoque administrativo (administração de materiais,

pessoal, controle de custos e estoques).

Beck et al. (2001) analisando as práticas do cuidado nutricional em pacientes da

Europa, apontam alguns aspectos que podem dificultar a manutenção da qualidade do

atendimento prestado pelo serviço de nutrição em hospitais: formação insuficiente dos

profissionais, falta de definição clara das responsabilidades no planejamento e gerenciamento

dos cuidados nutricionais, falta de cooperação entre as equipes e falta de envolvimento da

gerência dos hospitais.

Bertin (2005) em seu estudo verificou que as nutricionistas das unidades de internação

priorizam algumas ações para o atendimento dos pacientes, principalmente aquelas

relacionadas com o encaminhamento das rotinas ligadas à produção de refeições, tais como

coleta de prescrição médica, avaliação da adequação e aceitação e preenchimento dos mapas

de dietas. A avaliação nutricional não é realizada com todos os indicadores que contemplam

o histórico de nutrição. Da mesma forma, com as nutricionistas da produção de refeições,

devido a problemas de imprevistos, há dificuldades de avaliarem o processo de produção de

refeições, a qualidade dos serviços e implementarem medidas de controle de qualidade.

Assim, os estudos evidenciam a existência de um distanciamento do profissional

nutricionista dos aspectos técnicos, educacionais em favor de conhecimentos administrativos

e gerenciais.

4.1.4 Avaliação do cuidado nutricional

Durante a entrevista lançou-se a seguinte pergunta “Como você avalia o sucesso do

tratamento dietoterápico aplicado?”. As nutricionistas não responderam objetivamente,

podendo-se avaliar que, possivelmente, avaliar a efetividade de seus serviços, não seja uma

prática rotineira. Existe a avaliação diária, que passa pelo planejamento dietoterápico,

monitoração da ingestão alimentar e modificações para viabilizá-la.

Oliveira et al. (2005), apontam que a avaliação nutricional, além de ser realizada

quando da admissão do paciente, deve ser continuada durante o período da internação para

controle mais racional do tratamento, e recuperação do estado normal de saúde e nutrição.

Entretanto, para analisar a efetividade do tratamento e dessa forma, avaliar sua própria

conduta, é necessário que o profissional nutricionista realize uma avaliação final de seus

serviços.

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O acompanhamento da aceitação da dieta é importante para a adequada avaliação do

cuidado nutricional. Através do acompanhamento, é possível identificar alterações a serem

realizadas, dependendo das necessidades nutricionais (redução ou aumento da oferta de

nutrientes), preferências ou aversões do paciente:

Estaremos acompanhando se isso deu certo, se a aceitação é boa, e mesmo que seja boa se precisa acrescentar algum suplemento, tirar alguma coisa Às vezes tem pacientes obesos que não estão internados pra fazer dieta de emagrecimento, mas a gente reduz as calorias necessárias. Aí é o acompanhamento do dia-dia que é essa visita diária (NUT 1).

Hoje o paciente quer cenoura, amanhã ele não quer mais. É bom passar nos quartos principalmente após o almoço pra ver a aceitação. Hoje, por exemplo, as estagiárias anotaram tudo, e normalmente é assim, elas anotam o que cada um comeu, ou deixou de lado, me entregam tudo anotadinho, ou algo que eles pedem diferente, aí eu vejo se é possível e faço as alterações no mapa de dietas (NUT 2).

Se o paciente tem algum grau de desnutrição ou está caminhando pra isso, eu entro com suplemento, modifico alguma preparação, aumento a oferta calórica (NUT 8).

Um dos problemas de maior proporção em pacientes hospitalizados é a desnutrição, e

geralmente está relacionada com o aumento da morbidade e mortalidade, contribuindo para

prolongar o tempo de hospitalização e também o aumento dos custos hospitalares. Dessa

forma, a implementação de práticas que avaliem e acompanhem a evolução do estado

nutricional e o acompanhamento do paciente durante a internação, passou a ser não só uma

recomendação para redução de mortalidade, mas também dos custos hospitalares

(MCMAHON et al., 1998).

De acordo com Merhi et al. (2006), em um estudo comparativo entre pacientes

internados de um hospital público e outro privado, verificaram que na maior parte dos casos, a

desnutrição manifesta, por um lado, o perfil nutricional da população, e por outro, problemas

nutricionais associados à internação e a enfermidade.

A população idosa, particularmente, é propensa a desenvolver problemas nutricionais

devido a fatores relacionados com as alterações fisiológicas e sociais, ocorrência de doença

crônica, uso de várias medicações, problemas na alimentação (comprometendo a mastigação e

deglutição), depressão e alterações da mobilidade com dependência funcional (BECK et al.,

1999; JENSEN et al., 2001).

Conforme observado por Morimoto (2002), aspectos relacionados à doença, como

febre, náuseas e vômitos, diarréia, dores, incapacidade de se alimentar e alterações no paladar

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devido ao efeito colateral de medicamentos, interferem na aceitação da alimentação por parte

do paciente. A distância da família, horários e sabor da alimentação fora da rotina diária e o

estado emocional são outros fatores importantes para redução da ingestão alimentar.

Dupertuis et al. (2003), ao analisarem a adequação das refeições de 1700 pacientes

internados em hospitais, demonstraram que apesar da oferta suficiente de alimentos, a maioria

dos pacientes hospitalizados não atingiu as suas necessidades nutricionais. A ingestão

insuficiente era comumente atribuída a causas além das doenças e dessa forma, o estudo

recomenda a necessidade de melhorar os serviços ligados às refeições.

Outra questão a ser considerada diz respeito às preferências e aversões do paciente.

Em estudo sobre alimentação hospitalar, Kandela (1999), enfatiza que os pacientes bem

nutridos respondem melhor aos diversos tipos de tratamento e constata que a alimentação

ultrapassa o aspecto nutritivo, e apresenta outros significados para as pessoas. Ao

alimentarem-se, os indivíduos não estão satisfazendo somente as suas necessidades

fisiológicas, mas também muitas necessidades psicossociais.

Diante disso, o acompanhamento da aceitação da dieta, bem como a realização de

alterações necessárias, são fundamentais para um adequado cuidado alimentar e nutricional.

Outra questão evidenciada pelas nutricionistas foi a respeito da eficácia do sucesso do

tratamento, que depende de outros fatores, além de seus serviços:

A avaliação está num conjunto de coisas que a gente faz, desde o início do tratamento. O sucesso do tratamento, ou o cumprimento do objetivo também depende de outros fatores, que não só nós, porque entre a informação sair lá de cima e passar para a cozinha... nesse meio-campo aí acontece muita coisa (NUT 1). O planejamento, o tratamento caminha junto com a produção. Não adianta você saber tudo sobre o paciente, as preferências, aversões, se você não passa isso pra frente (NUT 8).

4.2 PENSAR EM ATITUDES DE HUMANIZAÇÃO

A partir da questão “Que atitudes de humanização são exeqüíveis para um cuidado

alimentar e nutricional dentro do SND?” emergiram outros elementos para análise que foram

considerados nas subcategorias, preliminarmente selecionadas. As subcategorias e os novos

elementos encontram-se sistematizados no quadro 12 e, posteriormente, realizou-se a

descrição e discussão de cada um destes aspectos.

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Quadro 12. Categoria 2: Pensar em atitudes de humanização Subcategorias Elementos de análise

Concepções da humanização no cuidado nutricional.

• Cuidado individual • Respeito ao paciente

Necessidades do paciente para receber atendimento qualificado

• Cumprimento dos pedidos especiais do paciente • Educação nutricional

Necessidades do nutricionista para desenvolver atendimento qualificado

• Redução das cargas de trabalho • Aumento de recursos financeiros para o hospital • Aumento do quadro de pessoal e qualificação dos

funcionários • Supervisão dos serviços do SND.

Iniciativas de humanização • Trabalho de harmonização em grupo

• Cuidado alimentar e nutricional ao paciente terminal • Educação continuada aos funcionários • Participação das nutricionistas da produção de

refeições nos cursos aos funcionários • Rodízio entre nutricionistas da clínica e da produção

de refeições • Aproximação dos funcionários da cozinha com os

pacientes (sensibilização) • Modificações mais freqüentes nos cardápios • conforto do paciente ao se alimentar / conforto do

acompanhante • Identidade social / função convivial da alimentação • Modificação dos horários das refeições • Aspectos sensoriais dos alimentos: temperatura,

sabor, textura, apresentação

4.2.1 Concepções da humanização no cuidado nutricional

Através da pergunta “como você conceitua humanização dentro do cuidado

nutricional?” as nutricionistas associam que para o cuidado humanizado deve-se considerar

características individuais, como apontado abaixo:

Eu não sei dizer um conceito mas eu acho que é ver o paciente de maneira individual, como um ser humano (NUT 3). Eu acho que é um cuidado individual, quando a gente fala em humanização a gente vê o indivíduo, não só a doença. É considerar o indivíduo. A expectativa dele, fazer com que ele se sinta confiante no teu tratamento, ele vai saber que é individual. É o nosso cuidado com a pessoa (NUT 8). Acho que a palavra humanizado tem muito a ver com respeito (NUT 1).

Focalizar a humanização no cuidado ao paciente compreende, antes de tudo, uma

relação efetiva de cuidado, que pode ser traduzida na acolhida, na ternura, na sensibilidade, no

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respeito e na compreensão do ser doente e não da doença. Significa, também, reduzir ao

mínimo a ruptura entre a vida normal do paciente e a que lhe impõe restrições (BACKES et

al., 2005).

No mesmo sentido, Betinelli et al. (2003), destacam que compreender o significado da

humanização inclui, além de técnicas do profissional, a capacidade de compreender o paciente

como ser humano, com seus valores, suas crenças, seus desejos e suas perspectivas. Implica,

pois, na construção de um novo quadro ético de referências para as relações, no qual, as

diferenças entre os seres humanos não signifiquem, necessariamente, assimetria de poder, mas

o resultado de relações construídas e decorrentes de experiências e vivências com os outros.

Ainda sobre a mesma questão, as nutricionistas ressaltam:

Conceituar eu não sei, mas acho que é ouvir muito o paciente, tentar entender a história dele, de onde ele veio, os hábitos dele, procurar entender se ele está seguro ou não quanto ao tratamento, tranqüilizá-lo quanto a isso, dizer que leva tempo, que ele tem que ter paciência, que é assim mesmo e que ainda bem que ele está aqui tendo a oportunidade de ser tratado. Que tem bastante gente cuidando dele, que a nossa parte é a nutrição, a gente procura adaptar a dieta aos hábitos dele dentro do que é possível, porque em muitos momentos são hábitos errados, então a gente explica pra ele que aqui ele não vai poder fazer aquilo, mas não simplesmente impõe, explica que ele não pode e por que, e visitar, ouvir. Às vezes não tem muita mudança pra fazer naquele dia, mas tu visitas, pergunta como ele está (NUT 6). A gente na nossa correria tem que lembrar de sempre olhar o paciente no olho, é importante ter essa noção de não ficar só falando e olhando pra prancheta e esse olhar eles se sentem valorizados, gostam disso (NUT 10).

Teixeira (2006, p. 48) argumenta que:

A base de um atendimento humanizado está no olhar de responsabilização do profissional pelo cuidado do usuário, o que exige mais que um interrogatório de anamnese centrado no procedimento. Exige um diálogo que produz momentos de fala e escuta, em que o paciente passa a se sentir confiante e reconhece aquele profissional como uma referência de cuidado. Tal conduta ainda é pouco perceptível nas práticas de saúde. O profissional de saúde compromissado com o usuário passa a ter um olhar para além do corpo que está à sua frente, palpável, visível ou diagnosticável através do estetoscópio, do exame clínico. O olhar deve se dirigir para a produção de cuidado daquele sujeito. Portanto, o profissional que tece o ato de cuidar no seu cotidiano está sempre ampliando suas ações.

Cada uma das profissionais comentou pessoalmente sobre a humanização, e ficou

evidente que todas concordam que o atendimento nutricional prestado no hospital é

humanizado, e por isso possui um diferencial, conforme pode ser observado a partir dos

relatos:

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Na maior parte do tempo e ó grande diferencial aqui, o atendimento humanizado (NUT 12). Eu acho que em qualquer ala, tanto na médica, na cirúrgica, na pediatria a gente tenta atender o paciente de maneira igual, de forma bem parecida, bem humana (NUT 7).

4.2.2 Necessidades do paciente para receber atendimento qualificado

A partir desta questão emergiram os seguintes elementos: o cumprimento dos pedidos

especiais do paciente e a educação nutricional. Outros aspectos relacionados ao paciente

foram apontados posteriormente, apresentados no subitem 4.2.4 “Iniciativas de

Humanização”.

As nutricionistas também revelaram a preocupação em cumprir o que se programa no

tratamento dietoterápico do paciente, principalmente quando há algum pedido especial em

relação ao tipo de alimento ou modo de preparo. Cumprir o que se combina com o paciente é

de extrema importância, uma vez que ele cria uma expectativa e a efetividade promove laços

de confiança entre o paciente e o profissional.

Humanizar também é cuidar com que aquilo que a gente programa aconteça. Porque se você combina com o paciente ele fica na expectativa, você prometeu pra ele purê na hora do almoço, ele vai esperar pelo purê. Isso é muito importante pro paciente, porque, se vem alguma coisa que ele não gosta, ele não come nada do que está em volta (NUT 6). A gente também tem que acompanhar se um dia prometeu uma coisa, verificar uma tolerância ou preferência, perguntar se veio, se gostou. Ele sente muito com isso. Eu vejo um feedback bem positivo com isso. Ele vê que você lembrou (NUT 10). Nosso atendimento é muito individualizado, se você vai em outro hospital, ninguém pergunta se o paciente gosta de cebola na comida ou não, ele que tem que separar no prato se não quiser comer. Aqui a gente se preocupa até com isso, pra ele poder comer, se sentir respeitado, e ver que vem do jeito que ele quer (NUT 2).

Outra ação realizada pelas nutricionistas é a orientação ao paciente, não só sobre o

tratamento dietoterápico que está sendo realizado durante a internação, mas também procuram

promover educação dos hábitos alimentares, para que o paciente possa segui-los após a alta

hospitalar.

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Eu acho que no cuidado, o contato é muito importante desde a internação até o momento da alta, pra que ele se sinta seguro também de estar seguindo as orientações nutricionais, recebidas durante a internação, a reeducação alimentar.. Então o paciente vem com uns hábitos culturais e familiares, que a gente tem muitas vezes que trocar, então a gente tem que estar sempre explicando o porquê, pra que no momento da alta o paciente se sinta seguro, de estar seguindo aquela orientação, e saber que é pra vida toda, eu acho que é isso que é humanização no nosso serviço (NUT 11). Acho que humanizado é respeitar os hábitos na medida do possível, claro que às vezes exige uma educação alimentar. Tento explicar não só a nutrição, mas também porque se deve comer isso ou não deve comer aquilo, pra elas entenderem. O pessoal mais simples, por exemplo, é uma questão de status dar um refrigerante ou algum tipo de leite. Fazendo a visita diária e acompanhar mesmo (NUT 5).

A responsabilidade social da nutrição inclui a redução da morbidade e mortalidade

pelas deficiências nutricionais ou pelos excessos alimentares. Uma ferramenta importante

para auxiliar na melhoria da qualidade e/ou quantidade da dieta é a educação nutricional. Esta

promove hábitos alimentares adequados, reduz as práticas dietéticas insatisfatórias,

conquistando a melhoria geral do estado nutricional (BOOG, 1997).

4.2.3 Necessidades do nutricionista para realizar um atendimento qualificado

A partir desta questão, emergiram as seguintes necessidades: redução das cargas de

trabalho; aumento de recursos financeiros para o hospital; aumento do quadro de pessoal;

qualificação dos funcionários auxiliares e supervisão dos serviços do SND.

As nutricionistas relataram que algumas vezes sentem-se limitadas pelo estresse,

cansaço ou tempo para realizar um cuidado humanizado, como pode ser observado em uma

das falas em seguida:

Acho que muitas vezes pelo estresse, pelo cansaço, ou tempo que se tem pra fazer alguma coisa, às vezes uma pessoa está relutante em aceitar alguma explicação, ou alguma coisa que está se oferecendo, na produção, principalmente no refeitório, as pessoas tem desejo que aquela porção fosse maior, insistem. E acho que eu posso estender também aos pacientes, durante o tempo que eu estive em andares nem sempre eu tenho a paciência, a resposta adequada pra hora. Às vezes eu não tenho o sorriso que eu gostaria de ter, a habilidade pra esse atendimento ser verdadeiramente humanizado mesmo sabendo que não vai ser possível fazer que a pessoa deseja, mas a maneira correta de estar dizendo isso, às vezes me acho rude, ou muito rápida. O atendimento não é tão humanizado quanto eu gostaria que fosse (NUT 12).

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As sobrecargas de trabalho do nutricionista podem envolver aspectos físicos,

emocionais e mentais. Bosi (2000, p. 110), em suas argumentações teóricas, destaca que carga

de trabalho incorpora várias dimensões, sobretudo: biológica (física), mental e a psico-afetiva.

Desta forma, para toda atividade se apresenta certa carga de trabalho, na qual três

componentes inter-relacionados estão presentes, afetando-se reciprocamente: a carga física -

resultado da interação entre o corpo físico do trabalhador em atividade, e o ambiente de

trabalho; a carga mental/cognitiva – resultante dos processos cognitivos envolvidos nas

atividades de trabalho, qualquer que seja a sua natureza; e a carga psíquica - aspecto analisado

pela chamada psicopatologia do trabalho e que diz respeito aos componentes afetivos

negativos desencadeados ou agravados pelo processo de trabalho.

Dentro deste contexto, outro aspecto apontado pelas nutricionistas é com relação à

falta de pessoal. Mesmo com um quadro de 14 nutricionistas, estas se sentem

sobrecarregadas, como pode ser observado a seguir:

Ah eu acho falta de pessoal aqui. Tudo bem tem 14 nutricionistas, mas eu acho assim, também tem que ter um atendimento humanizado pro funcionário. Você vai cuidar de alguém, mas alguém tem que cuidar de ti. É o cuidar do cuidador (NUT 7).

Neste momento da entrevista, todas exclamaram em um só coro a frase “cuidar de

quem cuida”. Ainda sobre a sobrecarga de trabalho e o cuidado com o funcionário, a

nutricionista discorreu:

Se tem uma nutricionista de férias, alguém tem que cobrir essa nutricionista, alguém vai ficar sobrecarregado. E sempre tem alguém de férias, entendeu? Então como é que você vai prestar um serviço humanizado como você gostaria, tendo 60 pacientes pra atender? E você, como é que você fica? A pessoa sai daqui esgotada, porque ninguém cuida de ti. Por isso eu acho uma grande dificuldade de se prestar um serviço humanizado, a gente não consegue atender o paciente direito...toda hora tem gente te chamando, querendo alguma coisa...e você é uma pessoa só. Então acho que isso é uma grande dificuldade, falta quem cuide da gente, do funcionário (NUT 7).

Com relação às condições estruturais de trabalho dos profissionais de saúde,

Deslandes (2004, p.13), afirma que:

Estes quase sempre são mal remunerados, muitas das vezes pouco incentivados e sujeitos a uma carga considerável de trabalho. Humanizar a assistência é humanizar a produção dessa assistência. Positivamente, as idéias de humanização como antítese da violência e da incomunicabilidade reforçam a posição estratégica das ações centradas na ética, no diálogo e na negociação dos sentidos e rumos da

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produção de cuidados em saúde. A humanização implica na valorização do profissional e do diálogo intra e interequipes.

A PNH preconiza a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de

promoção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Considera, entre outros fatores, a

identificação das necessidades, desejos e interesses dos diferentes sujeitos do campo da saúde.

Ainda sob este aspecto, as nutricionistas comentaram sobre a situação dos funcionários

que produzem e distribuem refeições, que possuem um único vestiário para ambos os sexos:

Atendimento humanizado não e só pro paciente, é pros funcionários também, e tem a questão do vestiário, agora com a reforma além de reduzirem o tamanho, fizeram homem e mulher junto, pode? (NUT 4). Até as copeiras já chegam lá em cima com aquela cara, já se incomodaram no vestiário antes de começar a trabalha (NUT 3).

Para prestar um atendimento mais humanizado, algumas nutricionistas apontaram

como um fator limitante a questão financeira, pois acreditam que certos produtos não

poderiam faltar, como por exemplo, a nata e o iogurte, que não fazem parte das aquisições

do setor de compras.

A questão financeira, por ser um hospital público, isso pega bastante. Hoje mesmo tinha pacientes querendo no café da manhã pão com nata, e não margarina ou geléia, mas a gente não tem. Na pediatria os pacientes pedem muito iogurte, e já foi colocado pra mim por um estudante de Medicina: “vocês tem leites aqui que custam R$ 180,00 uma lata, e não podem dar um iogurte pra essas crianças!!! Fica uma coisa conflitante, mas se for pensar, se fosse pra dar iogurte pra todas as crianças no café da manhã ia passar, e muito de R$ 180,00. A gente bate com a questão financeira de não ter todos os produtos ou ingredientes que gostaríamos de ter, isso que aqui é um hospital que tem bastante coisa, principalmente em relação às dietas enterais. Tem hospital por aí que via oral é só sopa e enteral é só leite ou sopa assim uma coisa mais artesanal é isso (NUT 5).

Apesar de ser um hospital público e com suas limitações financeiras, há grande

variedade de produtos alimentícios, como já mencionado anteriormente. Talvez a oferta de

alimentos como a nata e o iogurte, possa ser decorrente da falta de comunicação e

esclarecimento entre nutricionistas da clínica e da produção, sobre estas possibilidades de

substituição. Os produtos elencados nos editais de licitação podem ser substituídos

prevendo-se mecanismos alternativos de compra com os fornecedores, aumentando

consequentemente a variedade de itens nos processos licitatórios.

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Outra questão apontada pelas nutricionistas foi a necessidade de qualificação dos

funcionários auxiliares, para que estes possam exercer algumas atividades que facilitariam o

serviço das nutricionistas.

Eu acho que deveriam investir mais em pessoal trabalhando pra gente, qualifica. Por exemplo, a gente tem auxiliares de nutrição que na minha opinião fazem pouca coisa, deveriam fazer mais. Fica muita coisa pra gente supervisionar, pra gente ver (NUT 7). Tem grandes hospitais que trabalham com o técnico em nutrição e tira um pouco do trabalho que a gente faz que é mapa, pegar a prescrição são coisas assim que o técnico bem treinado pode faz até alguma coisa do histórico, avaliação antropométrica, supervisionar os carrinhos antes de subir, conferir as dietas, conta porque a gente não consegue descer pra fazer isso. A gente vai ver o carrinho quando está lá encima já..Isso quando vê, porque se não desce pra fazer o mapa, entendeu? Então, realmente é bem corrido, é a primeira visita da manhã e depois a gente não fala mais com o paciente (NUT 6).

Para as nutricionistas, o quadro de funcionários, especialmente auxiliares e copeiras,

encontra-se reduzido, e um dos problemas que dificulta a qualificação dos serviços é a

rotatividade de funcionários, uma vez que grande parte deles é contratada por firmas

terceirizadas, e muitas vezes não tem experiência em unidades hospitalares.

As pessoas estão entrando de firmas terceirizadas. Então essa pessoa tinha que ter curso de copeira, por exemplo, mas não às vezes diz que tem experiência, cai aqui e não conhece nenhuma dieta e já começa a trabalhar, e quem é que vai treinar? Não tem. Tem que ver esse lado (NUT 8). Muitas vezes a pessoa não deu certo em outro lugar e como cozinhar todo mundo sabe, daí cai num emprego no hospital. E a terceirização dificulta isso, porque a gente tem muita rotatividade, tem que largar uma pessoa que se vê que não tem condições aí dá um treinamento logo que ela chega, muda tudo (NUT 13).

Cavalli & Sallay (2004) em estudo desenvolvido em restaurantes comerciais, destacam

que a segurança do alimento está diretamente relacionada à qualificação dos recursos

humanos que atuam no setor. Verificou-se que somente 56% dos restaurantes analisados

oferecem cursos e treinamentos aos funcionários, e além disso, são escassos os recursos

humanos que possuem cursos em sua área de atuação, tendo encontrado somente gerentes

(43%), cozinheiros (28%), saladeiros (15%) e garçons (13%). Segundo as autoras, estes

fatores podem dificultar a garantia da segurança do alimento para o consumidor.

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Também foi evidenciado o baixo comprometimento dos funcionários, uma vez que

não se considera profissional da saúde, talvez por se sentir desvalorizado ou por não conhecer

as dimensões de seus atributos e a responsabilidade de seus atos. Algumas nutricionistas

acreditam que há falta de punição para os funcionários quando estes cometem erros graves,

como por exemplo, preparar um alimento de forma inadequada, ou trocar as bandejas no

momento da distribuição. Não há um funcionário ou nutricionistas que efetivamente

supervisione os serviços de funcionários da cozinha e copa, tais como: colocação correta de

tickets nas bandejas, porcionamento de dietas, adequado modo de preparo dos alimentos.

Cada nutricionista supervisiona o que pode, o que tem tempo, dentro da sua unidade ou setor.

Pra mim o profissional de saúde tem uma responsabilidade imensa, por exemplo, como que um médico vai entrar num centro cirúrgico sem estar uniformizado? Na cozinha não, todo mundo acha que pode ser aquela bagunça! Eu penso que o senso de responsabilidade do manipulador, do auxiliar é o mesmo que o meu, o mesmo que o médico, então essa consciência não tem sido trabalhada e nós precisamos disso! (NUT 13). E eu acho que a qualidade vem do teu compromisso, se cada um tiver o seu, a qualidade fica melhor. Agora, isso precisa ser trabalhado, o treinamento passa por aí, o discurso é bonito, a gente quer fazer, mas é complicada pela capacitação do funcionário (NUT 8).

Tem que ter supervisão das coisas. As regras existem pra serem cumpridas. Em cada etapa tem que ter um responsável. Teria que ter supervisão, mas não acontece. Principalmente na distribuição, no porcionamento. E não podemos ser nós porque não dá tempo. Aquela coisa: se é chá porque está indo café com leite? Se é 100g de sal porque está indo mais? Entendeu? Porque é desumano, o cara não toma, ou não pode tomar café e de repente vai, então eu acho que falta supervisão nos processos, nas etapas. Até a gente devia ser mais chamado pra avaliação do nosso trabalho individual, ou em grupo, todos devem ser supervisionados, até os médicos, alguém deveria ter esse papel. Como numa empresa, e o hospital é uma empresa (NUT 6). Acho que os funcionários devem ser punidos pelo que fazer errado (NUT 4). Acho que a administração deve ser bem rígida com relação aos deveres de todos (NUT 1).

A terceirização dos serviços é um processo que vem ocorrendo gradativamente nas

instituições hospitalares. Farhat & Erdmann (2003), em seu estudo refletem sobre a influência

desta abordagem na precarização do serviço de saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores,

e destacam que apesar de experiências com vários hospitais apontarem a terceirização como

um caminho para o futuro, muitos hospitais ainda tem receio na contratação deste tipo de

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serviço. Isso pode ser atribuído a fatores como o conservadorismo das pessoas, a resistência

natural às mudanças, o medo do novo, a dificuldade de conscientização da alta administração,

a falta de planejamento e visão estratégica da direção. Assumir competências antes designadas

a outros profissionais comumente gera resistência; os funcionários sentem-se sobrecarregados

pelo número de atividades e pouco tempo para realizá-las, principalmente os mais antigos,

que não se sentem motivados a participarem destas transformações. Assim, não basta apenas

ensinar como o serviço deve ser realizado, e esperar que todos façam a coisa certa; a própria

organização como um todo deve ser capaz de avaliar e corrigir a si mesma na busca da

qualidade dos serviços e da vida do trabalhador.

Esta discussão é importante quando se observa a falta de comprometimento dos

funcionários, que muitas vezes pode estar relacionada coma falta de preparo para o

desenvolvimento das atividades. No entanto, as falas referem as palavras punição e rigidez,

que são contrárias aos conceitos de humanização. Possivelmente, a melhor forma de qualificar

os recursos humanos seja investir na educação continuada e trabalhar a valorização e

conscientização destes profissionais sobre seus cargos e atividades.

Gonçalves apud Farhat & Erdmann (2003, p. 26), enfatiza a importância de estimular

e manter a motivação dos integrantes deste tipo de organização, estabelecendo novas

abordagens e políticas adequadas para enfrentar graves problemas como a alta rotatividade,

absenteísmo elevado e insatisfação no trabalho.

Com relação ao treinamento/qualificação dos funcionários, até o ano de 2003, as

nutricionistas do SND usualmente aplicavam treinamentos uma vez ao ano, condensado entre

dois ou três dias consecutivos. Porém, observou-se pouco rendimento e aproveitamento dos

funcionários, que consideravam muita informação em curto espaço de tempo. Além disso, não

havia um momento posterior ao treinamento que possibilitasse a avaliação da fixação dos

conhecimentos adquiridos, nem da adesão das práticas propostas.

A partir de 2004 as nutricionistas investiram em um outro tipo de treinamento, que foi

desenvolvido ao longo do ano e contou com 4 nutricionistas da equipe, e contemplou entre

outras coisas, preparação de novas receitas, em especial para as dietas pastosa e líquida,

enfocando aspectos como sabor, textura e apresentação.

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4.2.4 Iniciativas de humanização

Através deste tema as nutricionistas discorreram sobre ações que já ocorrem no

hospital como o trabalho de harmonização de grupos e o cuidado alimentar diferenciado ao

paciente terminal.

O grupo de nutricionistas é submetido constantemente a um trabalho de harmonização

de grupo, coordenado por uma psicóloga do hospital. Segundo as profissionais, este trabalho

auxilia nas relações individuais e com o próprio grupo, e consequentemente na qualidade de

suas ações.

Outra questão apontada foi em relação ao cuidado nutricional aos pacientes terminais.

Muitas vezes as nutricionistas atendem a pedidos que, nutricionalmente não seriam

adequados, mas elas levam em consideração o período pré-morte, que pode ser confortado

através da ingestão de um alimento desejado pelo paciente.

Às vezes o paciente apresenta um prognóstico muito ruim, ele está bem, está andando, mas tu sabe que dali a 20 dias ele vai a óbito. Ele tem um câncer de pulmão, ou algo muito avançado, então nesse caso eu não insisto na dieta pra DM, na dieta hipossódica porque eu sei que não é isso que vai mudar o curso da doença dele. Então ele fala eu quero comer isso aí eu peço pra família que traga, porque esse conforto no período pré-morte então eu não vou restringir coisas que ele quer muito, a gente tem que ter essa noção não é aquele açúcar que vai fazer o caso dele piorar e eu acho que eles morrem mais felizes. Se ele quer uma feijoada o cara está com a barriga desse tamanho, mas manda a feijoada, pode ser a última refeição que ele vai fazer. Vai vomitar, vai ter diarréia, mas não é isso que vai mudar, e tem muitos médicos que concordam com essa nossa postura (NUT 7).

O paciente terminal é caracterizado por apresentar um prognóstico de vida inferior a

seis meses e ser acometido de uma enfermidade avançada, progressiva e incurável. Pode ser

identificado ainda, por não responder razoavelmente ao tratamento específico ao qual é

submetido, à aparição de sintomas intensos e múltiplos e também pelo grande impacto

emocional do próprio paciente, familiares e equipe terapêutica com a aproximação da morte.

A diferença do tratamento dietoterápico para os outros tratamentos médicos, é que a

alimentação apresenta um significado simbólico. O ser humano se caracteriza por sua

capacidade de dar sentido às coisas através de símbolos ou funções simbólicas. Dar de comer

e beber é uma ação de respeito a vida e cuidado aos semelhantes, e pode se tornar muito

confortante no caso do paciente terminal (FERNANDEZ-ROLDÁN, 2005).

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Assim, a atitude da nutricionista em quebrar um protocolo e permitir que o paciente

experimente alguns momentos de prazer, enquanto degusta seu alimento preferido ou

desejado naquele momento, é uma atitude de humanização.

Também emergiram outras ações que, segundo as nutricionistas não ocorrem,

deveriam ocorrer e foram apontadas como iniciativas de humanização (educação continuada

aos funcionários; participação de nutricionistas da produção nos cursos de treinamento;

rodízio de nutricionistas entre área clínica e de produção; aproximação dos funcionários da

cozinha com os pacientes; modificações mais freqüentes nos cardápios).

Diante da PNH e das reformas dos sistemas de saúde, de um modo geral, a formação

dos profissionais deve considerar além dos aspectos técnico-científicos, aspectos relacionados

ao cuidado humano. É importante salientar que dentro da humanização todos podem ser

acolhidos para se verem neste processo de cuidar do outro.

De acordo com Santos et al. (2005), nas últimas décadas, a educação dos profissionais

de saúde tem sido profundamente repensada. Isso se deve, em geral, ao processo resultante

das mudanças estruturais do mundo contemporâneo nos mais diversos aspectos, destacando-se

o político, o econômico, o cultural, o social e o tecnológico. Essas mudanças têm implicado

em redirecionamentos nas políticas de educação e de saúde, que, por sua vez, resgatam

elementos fundamentais para repensar a educação dos profissionais de saúde.

Ceccim & Feuerwerker (2004, p. 42), evidenciam que a formação dos profissionais de

saúde precisa ser reconcebida como um projeto educativo que extrapole a educação para o

domínio técnico-científico da profissão e se estenda pelos aspectos estruturantes de relações e

de práticas em todos os componentes de interesse ou relevância social que contribuam à

elevação da qualidade de saúde da população, tanto no enfrentamento dos aspectos

epidemiológicos do processo saúde-doença, quanto nos aspectos de organização da gestão

setorial e estruturação do cuidado à saúde.

Com relação ao treinamento/qualificação dos funcionários as nutricionistas afirmaram

que este deve ser continuamente realizado. Colocaram ainda, que os funcionários da cozinha

têm muito potencial, porém não está sendo explorado, talvez pela falta de supervisão e

acompanhamento para que sejam colocados em prática os aprendizados dos cursos de

qualificação.

A gente não está explorando o potencial que a nossa cozinha tem. A gente deu treinamento ano passado e esse ano e elas fazem coisas maravilhosas, que vocês não imaginam aqui! A gente deu pra elas dieta de progressão pra fazer. Elas tiveram uma gama de coisas excelentes inclusive opções de

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colação, eles tem potencial, mas a gente tem que acompanhar, conscientizar, sabe, deixar teu cozinheiro demonstrar o que sabe, não só dar aquele cardápio hoje é frango desfiado e pronto! A gente tem que estar aberto (NUT 8). A educação tem que ser continuada (NUT 13). A gente fez esse treinamento como achava que deveria ser continuado, mas eu sei que aconteceu. Eram 4 nutricionistas para acompanhar os 80 funcionários, as colegas ficaram sobrecarregadas. A gente trabalhou muito lá, e elas aqui tiveram que trabalhar muito nas clínicas pra suprir isso. Além disso, tava todo mundo esgotado, terminou o treinamento. Aí a gente vai fazer uma avaliação, mas quem é que vai dar continuidade lá dentro? Eu não posso ficar na cozinha aplicando as receitas e atendendo mais 2 clínicas de manhã. Então é essa continuidade que falta, a gente tem que contratar alguém de fora pra dar essa capacitação. Agora tem que implantar pra não ficar solto. E tem que continuar, a direção esse ano deu todo apoio e tem que dar sempre. Mas a gente está cansada, será que vai ter pique pra implementar? Como vai ser agora? (NUT 13). Agora tem que ter alguém que continue isso lá dentro. Se não for cobrado não vai sair. E isso é uma preocupação porque além do tempo, foi um gasto era toda hora material pra lá e pra cá e não mudou nada! A gente sabe que não mudou, faltou a continuidade porque saber fazer eles sabem (NUT 8). O que eu vejo é que esse curso foi dado por nutricionistas de dietoterapia, não tinha ninguém da produção ali junto, então tem que integrar, a produção tem que saber o que aconteceu, pra integrar. Falta implementar e supervisionar (NUT 5).

A partir desta reflexão, as nutricionistas sugeriram rodízios entre a equipe, de forma

que todas trabalhassem por determinado período na área da produção de refeições e na área

clínica, de modo a conhecer ambas as realidades, e integrar os dois setores. Ao mesmo tempo,

houve uma percepção de melhora nos serviços, demonstrando uma atitude otimista:

A gente ainda está caminhando, a gente aprendeu junto, com todos os nossos erros, nós 4 estávamos sempre se avaliando, uma ajudando a outra. Então foi só o primeiro gente!!! Antes era um curso concentrado em 3 dias, uma carga de conhecimento imensa pro funcionário que não tinha condição de absorver. A educação tem que ser continuada, a avaliação tem que ter. A questão maior é essa paciência de sempre continuar (NUT 13).

Outro aspecto a ser ressaltado, refere-se à necessidade dos funcionários da cozinha

conhecerem a realidade das clínicas como proposta de sensibilização e construção para se ver

como um profissional da saúde.

A maioria das pessoas que trabalha aqui em baixo não conhece os pacientes, até mesmo pelo horário de serviço. Eu acho que existe uma

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sensibilização maior quando a pessoa vê quem ela vai atender, até mesmo pra entender porque a gente bate tanto nas mesmas teclas, eles nem vêem o paciente. Talvez isso ajudasse a eles darem mais importância ao próprio trabalho aqui dentro, a importância de fazer uma comida mais bem apresentada, mais saborosa. Eu já trabalhei em hotelaria, então cozinheiro não gosta de fazer feijão e arroz, gostam de fazer coisas diferentes, apresentar de formas diferentes. É a arte deles, cozinhar é uma arte. E às vezes eu acho que eles não conseguem associar que o trabalho é importante, que é uma arte. Não sei se por baixa escolaridade ou condições de trabalho. Mas falta isso, essa sensibilização (NUT 6). E fica como sugestão o cozinheiro em algum período do dia ir visitar as alas, acompanhar uma distribuição. Porque isso é muito positivo, ele ter o retorno lá, ver como a gente vê. Tem lugares que fazem esse trabalho. O cozinheiro pode perguntar pro paciente - o que você achou da comida?- Hoje fui eu que fiz - e sentir. Daria uma proximidade, aumentaria a humanização, ele não está fazendo um produto, ele está fazendo um produto pra alguém (NUT 13). Imagina o que ele vai sentir quando algum paciente abrir a tampa e falar - eu não vou comer essa porcaria- ele vai se sentir mal, vai querer melhorar. Essa coisa da individualização de a gente descer, falar com a produção, com a copeira, isso é um trabalho humanizado, mas como é que se faz isso sem ter tempo? Isso é uma utopia. Mas por exemplo a [nome da nutricionista] é responsável por 3 lugares, eu por 2. Então fica complicado! A gente dá prioridade pros pacientes graves. Aí têm aqueles pacientes que a gente sempre tem que mudar alguma coisa na dieta. Daí elas, copeiras e cozinheiras, acham o paciente chatinho (NUT 7). Tem copeira que só muda a maneira de ver o paciente quando ela passa de copeira pra paciente. Quando tem que ser internada. Já tive experiências assim, elas pedem coisas extras, ou quando um familiar delas interna (NUT 5).

Para as nutricionistas o cardápio deve ser modificado com maior freqüência, para

reduzir a monotonia das preparações tanto para quem prepara, estimulando a criatividade dos

funcionários e motivando-os, como para os comensais (pacientes e funcionários).

Acho que uma coisa que poderia ser feita é mudarmos o cardápio com mais freqüência, diminuir esses períodos e mexer na padronização, um cardápio menor que não se repetisse tanto. Algumas coisas ficam como arroz, feijão, mas variar mais os acompanhamentos, porque na normal não são só os pacientes, os servidores também comem (NUT 2).

As nutricionistas também apontaram iniciativas de humanização especificamente para

o paciente (conforto nos leitos; refeitórios nos andares; mudança dos horários das refeições;

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cuidado com a temperatura dos alimentos; melhora do sabor e da apresentação da dieta

pastosa).

Discorrendo sobre o conforto do paciente no momento de se alimentar, evidenciou-se

que algumas vezes há ausência de mesinhas para a cama, ou estas se encontram ocupadas com

os pertences pessoais do paciente ou acompanhante. Também foi observada a necessidade de

se ter um refeitório, ou um local que possibilitasse o contato entre os pacientes, para realizar

as refeições e também atividades de lazer:

A mesa do quarto, por exemplo, muitas vezes ou não tem, está bamba, ou está cheia de coisas pessoais. Seria bom ter um local dentro da unidade, um refeitório, eles gostam de se conhecer (NUT 3). Às vezes eles se juntam pra ver televisão, ou jogar canastra (NUT 10). Se não um refeitório, talvez ter mais conforto no quarto, uma cadeira para a mesinha (NUT 1). Ou uma mesa para dois (NUT 4).

Estas falas evidenciam a necessidade da valorização da identidade social do paciente,

no momento de sua refeição. Poulain & Proença (2003, p. 255) observam que a alimentação

se inscreve em uma série de ciclos temporais socialmente determinados, como o ciclo de vida

dos homens: alimentação de lactente, de criança, de adolescente, de adulto, de idoso. A cada

ciclo correspondem estilos alimentares: alguns alimentos autorizados, outros proibidos, os

ritmos das refeições, os status dos comensais, os papéis, as condicionantes, as obrigações e os

direitos. A alimentação adquire significado particular no que se refere à socialização nas suas

funções de troca e de comunicação. O alimento insere o homem num espaço social,

desenvolvendo nele a sensação de pertencer a um grupo, levando o indivíduo à manutenção

de sua identidade social.

Entretanto para Poulain et al (2002, p. 48) o ambiente hospitalar transforma

consideravelmente os papéis sociais do paciente, principalmente o contexto alimentar,

porquanto, em poucas horas, transforma e desorganiza as dimensões do espaço social do

indivíduo, que sai de seu grupo social e de seus hábitos de vida. Os ritmos alimentares e

cotidianos são perturbados na maioria dos casos: hora do almoço fora do horário habitual da

casa, geralmente muito cedo, o que perturba o ritmo biológico; o paciente realiza as refeições

sozinho, no mesmo ambiente onde dorme e onde passa o dia inteiro.

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As nutricionistas também comentaram sobre o acompanhante, que muitas vezes fica

desconfortável. Não há cadeiras suficientes para todos. Além disso, as visitas são liberadas,

então os quartos normalmente estão ocupados pelos visitantes.

Outro problema é sobre a temperatura dos alimentos, que, ao chegarem para o

paciente, normalmente estão frios. Isso ocorre porque não há carrinhos térmicos para o

transporte das refeições e nem balcão térmico no porcionamento. Porém, já está se pensando

em soluções:

A questão da temperatura, estamos pensando em utilizar carrinhos térmicos. O porcionamento também vai mudar. Vai ser feito um banho-maria para todos. A meia hora que dura o porcionamento vai ficar tudo quentinho. Hoje não tem o banho-maria então fica frio. Agora o carrinho térmico e mais complicado pra adquirir (NUT 4).

Discutiu-se também sobre os horários das refeições, que normalmente são bem

distintos dos horários habituais do paciente.

É estranho, os horários do café da manhã e ceia ainda vai, mas o almoço 11h e janta 5:30 h da tarde. Imagina no horário de verão jantar a essa hora. Isso não é a realidade quando não se está internado. Isso já foi falado várias vezes, mas o problema é que os funcionários têm que servir, recolher, limpar, então é meio inviável com o horário atual dos funcionários (7h – 13h / 13h – 19h /19h às 10h). Eu acho que poderiam mudar o horário dos funcionários, porque não entrar um turno das 12h – 20h? Se o pessoal da manhã deixasse o carrinho do café semi-pronto pra quem entraria às 2h, porque as copeiras que entram às 13h ficam mais de meia-hora na conversinha então daria tempo. Pra mim se eu tivesse internada num dia de verão, e chegasse o almoço às 11h ou uma sopa às 17h eu não comeria, no sol a pique. Meu Deus! (NUT 5).

Para as nutricionistas, a textura, a apresentação e o sabor das dietas precisam ser

melhorados, especialmente a dieta pastosa, que segundo elas é a mais complicada por ser

monótona e sem gosto.

Eu acho que a nossa dieta mais complicada aqui é a pastosa. É triste o paciente que fica em pastosa! É só o arroz papa, um purê de batata ou abóbora, carne moída ou peixe ou frango desfiado só. Não vai mais nenhum tipo, imagina comer isso durante 20 dias, às vezes pode ir um ovo também. Então é horrível, a gente evita ao máximo colocar essa dieta. É melhor colocar branda ou normal com purê ou carne da pastosa, sabe? É a dieta mais complicada, deveria ter outras opções de preparação, a apresentação tinha que ser melhor, a pastosa é muito ruim...eu tenho dó do paciente que come a pastosa...tenho dó! (NUT 6).

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A pastosa e é muito a mesma coisa. E é ruim, principalmente quando é o peixe desfiado, porque é congelado e as pessoas não gostam (NUT 8).

Novos conceitos para a alimentação hospitalar podem distorcer a idéia de ambiente

com cheiro de remédio e comida ruim e sem gosto. Jorge (2002) desenvolvendo estratégias

para o envolvimento de pessoal na gastronomia hospitalar, destaca que atualmente a visão da

dieta hospitalar está sendo ampliada e adaptada às tendências inovadoras da gastronomia no

mercado globalizado de alimentação e nutrição e que a busca de aliar a prescrição dietética e

as restrições alimentares de clientes a refeições atrativas e saborosas, é o desafio para integrar

as Unidades de Nutrição e Dietética a um sistema de hotelaria aprimorado.

Kunradi et al. (2007) em seu estudo investigando a aceitação de saladas pelos pacientes

hospitalizados, implementaram a elaboração de óleos aromatizados, combinando azeite de

oliva e ervas frescas. O objetivo principal foi aumentar a aceitabilidade e diminuir o índice de

resto-ingestão, tornando este tipo de alimento mais atrativo ao paciente. Os resultados

demonstraram que apesar de alguns pacientes terem aprovado o acréscimo dos óleos

aromatizados nas saladas e aumentado o consumo das mesmas, o índice de resto-ingestão

ainda continuou elevado. Tal fato pode ser atribuído ao tipo de salada servida e a forma de

preparo e apresentação das mesmas, portanto mais trabalhos devem ser realizados para

melhorar a apresentação e o sabor destes e de outros alimentos.

Para Sousa et al. (2006) a importância das características sensoriais do alimento é um

dos aspectos que as Unidades de Alimentação e Nutrição devem considerar em seus

procedimentos operacionais, no sentido de melhorar a aceitação das refeições. Em seu estudo,

avaliando a percepção dos pacientes com relação às preparações e às refeições oferecidas

percebeu-se que a interação de toda a equipe, considerando a capacitação das pessoas, de

forma humanizada e continuada, são determinantes para se alcançar o objetivo de uma

Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar, que é o de oferecer refeições com qualidade

ao paciente, em todos os seus aspectos – nutricionais, higiênico-sanitários, sensoriais e de

serviço. Evidenciou-se que copeiras e nutricionistas das unidades de internação, devem

manter um bom relacionamento profissional e constantes trocas de informações para que o

paciente receba as refeições, dentro dos padrões de qualidade e quantidade preconizados pela

unidade, mas ao mesmo tempo, obedecendo a critérios individuais e subjetivos, ligados ao

paciente. Verificou-se também que a percepção da qualidade do alimento está ligada às

limitações da patologia, às características individuais, que há necessidade de uma maior

aproximação dos profissionais da equipe durante o processo de cuidado com o paciente, para

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a construção de uma relação mais saudável com o alimento, as preparações, a patologia e os

serviços prestados.

Jorge (2005) destaca que estas mudanças conceituais da alimentação hospitalar, podem

ser atribuídas à humanização e à competitividade. A inclusão de alimentos nutricionalmente

adequados e saborosos traduz o respeito ao paciente, além disso, a boa imagem do hospital

passa ser difundida pelas características de alimentação que oferece.

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5. O CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL HUMANIZADO: EL EMENTOS

PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO

A implantação da PNH visa modificar os serviços de saúde através de ações efetivas

que busquem a melhoria da qualidade do atendimento prestado fundamentado na dimensão

humana.

O ser humano em sua multidimensionalidade integra espaços, condições e expressões

singulares, que contribuem para a construção de sua própria identidade. Assim, torna-se

necessário cuidar do ser humano em sua totalidade, respeitando os fatores éticos, aspectos

culturais, econômicos, sociais e educacionais (BETINELLI et al. 2003, p. 231).

No ambiente hospitalar o paciente deve ocupar o centro das atenções. No cuidado

nutricional e alimentar humanizado, deve-se considerar, além da patologia e condição clínica,

os anseios, sentimentos, significados sociais, culturais e emocionais que a alimentação encerra

para cada indivíduo.

Considerando a abrangência e o significado que os alimentos e a alimentação

representam para os seres humanos, conclui-se que, para proporcionar um cuidado alimentar e

nutricional aos pacientes hospitalizados de forma integrada, faz-se necessário o planejamento

de estratégias que contemplem as necessidades alimentares e nutricionais dos indivíduos,

fundamentando-se na valorização do ser humano.

Para elaborar elementos que contribuam para a construção de um modelo de cuidado

alimentar e nutricional humanizado, basearam-se nos referenciais teóricos apresentados,

especialmente os estudos que tipificaram as ações dos dietistas e nutricionistas (Ouellét &

Pigeon, 1997; Sousa, 2001; Brylinsky, 2002; Sousa & Proença, 2004; Associação das

Nutricionistas da Língua Francesa – ADLF - 2006) na descrição a partir dos grupos focais,

que permitiu a análise de aspectos que podem ser contemplados para qualificar o atendimento

ao paciente e o trabalho das nutricionistas e da equipe.

Observou-se que o cuidado alimentar e nutricional realizado pelas nutricionistas do

hospital analisado apresenta semelhanças e diferenças quando comparado às ações de cuidado

de outros estudos.

Segundo a ADLF (2006) o cuidado alimentar e nutricional inicia com a consulta

dietética, que consiste em um conjunto de ações desenvolvidas através de uma entrevista face

a face entre o dietista, o paciente e seu acompanhante. Ocorre logo após a prescrição e é

realizada juntamente com profissionais de saúde, conforme as necessidades do paciente e os

objetivos da consulta. Nesta entrevista é determinado se a consulta tem caráter preventivo, se

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o paciente necessita de intervenção ou educação nutricional, através de coleta de dados do

prontuário, referentes a registros de outros profissionais e também da própria entrevista. Para

realizar esta ação, o dietista busca utilizar linguagem apropriada, bem como estabelecer

relação de confiança com o paciente, negociando com o mesmo os objetivos do cuidado

dietético.

Esta medida antecipa algumas ações e demonstra preocupação em selecionar os casos

de maior complexidade.

Ouellét & Pigeon (1997) realizam primeiramente a ação denominada diagnóstico

nutricional, cujo objetivo principal e determinar a pertinência de uma avaliação nutricional.

Para a ADLF (2006) esta etapa consiste no segundo passo e são integrados os dados clínicos,

dietéticos, bioquímicos aos sociais, psico-afetivos para a determinação dos objetivos

dietéticos. Nesta etapa, a ADLF (2006), também destaca a interdisciplinaridade, uma vez que

os objetivos do cuidado dietético devem ser discutidos com médicos e negociados entre o

dietista e o paciente, demonstrando respeito e consideração ao mesmo.

A primeira ação de cuidado alimentar e nutricional sistematizada por Brylinsky

(2002), diz respeito a avaliação do estado nutricional do indivíduo, enquanto que as

nutricionistas do hospital avaliado iniciam com a Avaliação Clínico Nutricional. Nesta

avaliação consta a observação de dados do prontuário, o que vem ao encontro a primeira ação

realizado pela ADFL (2006). Os dados antropométricos podem já estar coletados ou não e há

necessidade de conferi-los, pois existe a possibilidade de terem sido referidos pelo paciente e

não aferidos tecnicamente. Em seguida, as nutricionistas observam os resultados de exames

laboratoriais, solicitando ao médico, exames complementares conforme o caso.

Posteriormente, a nutricionista vai ter seu primeiro contato pessoal com o paciente, onde

realiza uma anamnese detalhada incluindo dados dietéticos e sociais. Nesta etapa observa-se

preocupação em saber o que o paciente sabe sobre sua doença e como se sente em relação à

internação. Também realizam um registro do dia alimentar e consideram o consumo de

determinados alimentos como óleo e açúcar, a fim de pesquisar os hábitos alimentares,

preferências e aversões do paciente. Em alguns casos, realizam o registro do histórico de

nutrição, mas não é uma regra. Através desta etapa as nutricionistas priorizam os

atendimentos, porém sem auxílio de protocolo ou sistematização de ações.

Brylinsky (2002), aponta como segunda ação a identificação de necessidades e

problemas nutricionais, relacionados principalmente a risco de subnutrição ou supernutrição.

Para isso realiza-se a seleção ou triagem que consiste em uma técnica simples e rápida através

da avaliação de dados antropométricos, bioquímicos, clínicos específicos, que determinam se

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o paciente está ou não em risco nutricional. Assim verifica-se a priorização sistematizada do

atendimento.

O Planejamento dos cuidados nutricionais, apesar de apresentar-se em diferentes

denominações, é a terceira etapa e é realizada nos três estudos e também pelas nutricionistas

do hospital analisado. Nesta etapa todos estabelecem um plano dietoerápico, porém através de

diferentes considerações.

As nutricionistas analisadas realizam cálculos das necessidades nutricionais sempre

que necessário, determinam a dieta de acordo com os cálculos e também consideram as

preferências, aversões, hábitos alimentares do paciente e outros aspectos como o significado

simbólico do alimento. As informações são passadas para a copeira que encaminha a

nutricionista e a equipe da produção de refeições, transformando a prescrição dietética em

refeição, efetivamente. Ressalta-se que a dieta é alterada conforme a necessidade e mediante

comunicação com o médico responsável. As ações elencadas por Brylinsky (2002) nesta etapa

são semelhantes.

Ouellét & Pigeon (1997), na sistematização de suas ações incluem o acompanhamento

dos resultados da intervenção realizada, através de novos resultados de exames laboratoriais,

evolução do aporte de nutrientes, verificação da presença de novos sintomas físicos ou

pscicológicos que influenciem a aceitação da alimentação ou verificação do plano de

atendimento médico e possíveis alterações. Destacam ainda que todos os procedimentos

realizados devem ser registrados em prontuário, para que fiquem acessíveis a toda a equipe de

saúde.

Já a ADLF (2006), destaca que o cuidado é individualizado e algumas atitudes

demonstram o respeito e conforto proporcionado ao paciente, tais como: avaliação das

dificuldades e meios necessários para modificar um comportamento alimentar, auxílio na

tomada de decisões, a ainda ações de apoio, que visam proporcionar a alimentação adequada

ao indivíduo, e instrumentos pedagógicos que auxiliam no entendimento do paciente sobre

seu tratamento e na construção de hábitos alimentares adequados.

Nos estudos de Ouellét & Pigeon (1997), e nas ações descritas pela ADLF (2006),

alguns aspectos foram evidenciados para a prática do nutricionista na área clínica: a

interdisciplinaridade com a equipe de saúde; as ações referentes ao aconselhamento

nutricional incluindo educação nutricional e apoio ao paciente e também a avaliação da

eficácia das ações realizados no cuidado.

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Com base nesta análise comparativa, e buscando alcançar os objetivos propostos para

este trabalho, sistematizaram-se ações que possam contribuir para a construção de um modelo

de cuidado alimentar e nutricional humanizado para o hospital analisado.

Avaliação Clínico-Nutricional:

• observação de prontuário (se houver registros prévios realizados pela equipe de

saúde como: dados antropométricos, clínicos, bioquímicos, sociais bem como o

motivo de internação);

• dados pessoais e sociais (onde mora, se tem acompanhante, se possui doença

crônica, como se sente, o que sabe sobre sua doença);

• dados antropométricos (peso e altura) verificar se foram aferidos efetivamente

pela equipe de enfermagem no ato da admissão do paciente, caso contrário a

nutricionista deve aferir);

• anamnese alimentar (preferências e hábitos alimentares; alimentação em casa,

alergias alimentares, aceitação da dieta); freqüência de consumo e dia alimentar;

integridade do sistema digestivo (mastigação deglutição, digestão, absorção,

eliminação);

• farmacoterapia e interações medicamentos-alimentos; presença de grau de

estresse fisiológico; estado de hidratação (presença de edema ou ascite);

• solicitação de exames complementares. Todos os dados devem ser registrados no

histórico de nutrição (reelaborado e adaptado à instituição).

Triagem nutricional: identificação sistematizada de pacientes em risco nutricional

(subnutrição ou supernutrição) para priorizar o atendimento aos pacientes mais graves, e

otimizar os serviços das nutricionistas. Realizada através de dados (idade, altura, peso

usual, peso ideal, peso atual, porcentagem de mudança de peso, mudança de apetite,

disfagia ou dificuldade de mastigação, náusea, vômito ou diarréia, albumina sérica,

hemoglobina ou hematócrito, contagem de linfócitos). A triagem pode ser pode ser

sistematizada a partir de um protocolo de atendimento, preconizando no mínimo três

níveis de intervenção: primário (pacientes sem risco nutricional); secundário (paciente

sem risco nutricional cuja dieta interfere diretamente no tratamento) e terciário (paciente

com risco nutricional), conforme recomendado por Labonté & Ouellét (1996).

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Planejamento do cuidado alimentar e nutricional: estabelecer plano dietoterápico

através do cálculo das necessidades nutricionais, resultados de exames bioquímicos,

respeitando a individualidade do paciente (nível educacional, fatores sociais, econômicos

e culturais, significados simbólicos da alimentação, hábitos, preferências e intolerâncias

alimentares). Após a definição, passar informações detalhadas à copeira e ao setor de

produção de refeições para providenciar a alimentação do paciente.

Implementação do cuidado alimentar e nutricional: elaboração de estratégias,

atividades ou intervenção para atingir os objetivos do tratamento: visita diária ao paciente;

acompanhamento da aceitação da dieta e do tratamento; avaliação e reavaliação do plano

dietoterápico; realizar alterações conforme necessidades nutricionais e alimentares,

aversões e preferências do paciente; verificação da disponibilidade de alimentos na

instituição; fornecimento de alimento ou suplementação nutricional; implementação de

alimentação via sonda (quando necessário); fornecer informações ou fontes financeiras ou

alimentares.

Avaliação da eficácia das ações do cuidado nutricional: revisar frequentemente os

objetivos do cuidado para assegurar que aqueles que ainda não foram alcançados sejam

redirecionados; avaliar e modificar os planos de cuidado sempre que necessário; avaliar e

auxiliar o paciente acerca dos conhecimentos sobre sua doença e tratamento; avaliar o

comportamento do paciente (adesão ao tratamento, auto-cuidado, controle); avaliar

aspectos biomédicos e clínicos (variações de peso e estado nutricional, complicações e

melhoras obtidas durante o tratamento); avaliar a qualidade de vida do paciente

(satisfação, bem-estar, dificuldades para realizar o tratamento).

Aconselhamento nutricional: ação conjunta de soluções desenvolvida entre nutricionista,

paciente e acompanhante, que inclui materiais informativos sobre a alimentação, a doença

e o tratamento; verificação da adesão do paciente ao plano de cuidados; verificação da

compreensão e motivação; acompanhamento da evolução de aprendizagem do paciente ou

dos resultados de intervenção sobre as modificações do comportamento alimentar.

Interdisciplinaridade: O cuidado nutricional é resultado do trabalho em equipe. Quando

o acompanhamento necessita de cuidados específicos o nutricionista pode recorrer a

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outros profissionais de saúde: colegas nutricionistas, médicos, enfermeiros, assistentes

sociais, psicólogos, além de acompanhantes do paciente, e vise-versa.

Evolução Clínico-Nutricional: Todos os procedimentos devem ser registrados em

prontuários para que a equipe de saúde acompanhe a evolução do tratamento

dietoterápico.

Ações de apoio e educação nutricional: avaliação das dificuldades e meios necessários

para modificar um comportamento alimentar; educação nutricional (suportes

informativos: sites da internet adequados, programas informatizados, vídeos, modelos de

alimentos, jogos interativos; utilização de alimentos ou representações de alimentos para

simular ações de escolha alimentar, refletir sobre sua composição e associação); auxílo a

tomada de decisões referentes ao tratamento; cuidar para que todas as informações ao

paciente sejam claras, objetivas, práticas e úteis, adaptadas (língua, hábitos alimentares e

culturais).

Ressalta-se que o que torna um cuidado humanizado, é a busca por uma atenção que

atenda às particularidades do paciente. Assim, o cuidado alimentar e nutricional humanizado

considera os conhecimentos técnico-científicos aliado às necessidades individuais de cada ser

humano. Retornando às reflexões de Borestein et al. (2003), o cuidado manifesta-se através de

ações profissionais de natureza disciplinar e interdisciplinar que se dão no processo de

interação terapêutica entre os seres humanos, fundamentadas no conhecimento empírico,

pessoal, ético, estético e político, com a intenção de promover a saúde e a dignidade no

processo de vida humana.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pergunta de partida norteou o referencial teórico e metodológico da pesquisa,

possibilitando a análise do problema através da questão: “Quais as ações que podem

contribuir para concepção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional com a equipe de

nutricionistas de um hospital de referência para a PNH?”

Para tanto a pesquisa caracterizou o cuidado alimentar e nutricional realizado pela

equipe de nutricionistas do hospital analisado, buscando identificar as concepções e analisar

as iniciativas de humanização da equipe de nutricionistas, para finalmente sistematizar

elementos que contribuíssem para a construção de um modelo de cuidado alimentar e

nutricional humanizado para este hospital.

Assim, as principais conclusões obtidas através deste estudo estão delineadas abaixo:

� A prática das nutricionistas

As principais dificuldades apontadas pelas nutricionistas relacionam tempo escasso;

excesso de atividades burocráticas (mapa de dietas, histórico de nutrição, informações

adicionais à copeira, entre outras); falta de funcionários qualificados e número elevado de

leitos por nutricionista.

Sobre este último aspecto, a relação de número de leitos por nutricionistas no hospital

analisado, em termos generalizados, se mostra adequado com a resolução do CFN (201/98).

Possivelmente, as dificuldades apontadas, sejam decorrentes da falta de sistematização das

ações de cuidado alimentar e nutricional, que poderia, inclusive, otimizar os serviços do setor.

A falta de um protocolo de triagem também pode dificultar a realização do atendimento.

Como mencionado anteriormente, a identificação dos pacientes em risco nutricional

através de uma seleção ou triagem, poderia auxiliar na organização das ações das

nutricionistas, e ao mesmo tempo melhorar a qualidade do atendimento ao paciente.

Proporcionaria também melhor divisão dos serviços e melhor interação com a equipe de

saúde, tendo em vista a complexidade das unidades de internação.

Outro aspecto importante observado foi a falta de interação entre as nutricionistas da

área clínica e as da produção e refeições. Existe uma fragmentação das ações, uma vez que as

nutricionistas da produção de refeições parecem não se sentirem parte integrante da realização

dos cuidados ao paciente. Tal questão poderia ser revertida considerando ações de interação

entre os setores, como por exemplo, as propostas por Sousa (2001) nos quadros 8 e 9 desta

pesquisa.

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O cuidado alimentar e nutricional envolve, ao mesmo tempo, a avaliação do estado

nutricional, a identificação de necessidades nutricionais, o planejamento, implementação e

avaliação do cuidado, envolve também a compra de alimentos, o armazenamento, a

higienização, o pré-preparo, o preparo, o porcionamento, o transporte e a apresentação do

alimento. O paciente não come as necessidades energéticas calculadas pela nutricionista da

clínica, e sim a comida, a mesma que compõe o cardápio elaborado pela nutricionista da

produção de refeições e preparada pelos funcionários da cozinha. Portanto, as duas grandes

áreas estão inter-relacionadas nos cuidados do paciente, mesmo com problemas de

comunicação, e o nutricionista da produção de refeições está necessariamente inserido neste

cuidado.

Diante disso, observou-se a necessidade de promover o espírito de equipe entre as

nutricionistas de ambos os setores, que poderiam idealizar e organizar ações, em conjunto,

abrangendo diferentes visões, referentes às experiências e necessidades de cada nutricionista.

Percebeu-se também dificuldade de relacionamento com os outros profissionais de

saúde, especialmente a equipe médica, com relação às modificações da prescrição dietética e

solicitação de exames laboratoriais. Este fato poderia abrir discussão sobre a falta de

autonomia das nutricionistas e questionando-se a formação acadêmica dos profissionais da

saúde que poderia ser direcionada para a interdisciplinaridade.

Ainda sobre este aspecto, uma outra dificuldade apontada pelas nutricionistas é a

coleta de dados antropométricos realizada pela equipe de enfermagem antes da avaliação

nutricional. Por vezes estes dados não são aferidos e sim referidos pelo paciente o que nem

sempre estão corretos. Esta situação caracteriza um retrabalho, ou seja, o nutricionista tem

que conferir os dados novamente, utilizando um tempo precioso que poderia ser empregado

em outras atividades que dariam continuidade ao cuidado nutricional. Da mesma forma as

ações de interdisciplinaridade são prejudicadas.

� As iniciativas de humanização

As iniciativas de humanização apontadas pelas nutricionistas demonstraram forte

conotação de humanização em seu trabalho em alguns aspectos. Cabe ressaltar que algumas

destas ações já ocorrem no hospital estudado, enquanto outras foram sugeridas pela equipe de

nutricionistas, por acreditarem na possibilidade de sua implantação.

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Iniciativas de humanização que ocorrem no hospital estudado:

• Trabalho de harmonização em grupo: realizado com o apoio da psicóloga do hospital,

que segundo as nutricionistas tem contribuído para o fortalecimento das relações entre

a equipe;

• Cuidado alimentar e nutricional ao paciente terminal: conforto ao paciente terminal,

considerando a dimensão simbólica do alimento.

• Formação de funcionários e educação continuada: realização de cursos de qualificação

contínuos.

Iniciativas de humanização sugeridas pelas nutricionistas:

• Participação das nutricionistas da produção de refeições nos cursos aos funcionários,

com o objetivo de supervisionar a prática dos conhecimentos adquiridos durante os

cursos (educação continuada);

• Rodízios entre as nutricionistas da produção de refeições e as de clínica, fazendo com

que as profissionais conheçam ambas as realidades podendo auxiliar na interação entre

a equipe;

• Aproximação dos funcionários da cozinha com os pacientes para sensibilização,

através de visitas periódicas às clínicas médicas no momento das refeições;

• Conforto ao paciente para se alimentar e modificação dos horários das refeições;

valorizando a identidade social do indivíduo;

• Centralização nas preferências do paciente (melhorar a apresentação, textura e sabor

dos alimentos, realizar modificações freqüentes de cardápio, priorizando a variedade

de alimentos e forma de preparo);

Por outro lado, observou-se que não houve referência ao aconselhamento nutricional e

nem sobre a importância da presença do acompanhante e sua participação nos cuidados ao

paciente. O acompanhante pode auxiliar muito no sucesso do tratamento do paciente,

estimulá-lo a se alimentar, transmitir informações importantes à equipe de saúde, ouvir suas

queixas e desabafos, auxiliar nos cuidados gerais ao paciente.

� Reflexões da pesquisadora

Em primeiro lugar ao prestar concurso seletivo para o Mestrado não tinha certeza se

queria passar. Não me agradava o fato de me ausentar de casa, trabalhar poucas horas em

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empregos informais, ficar longe do meu marido (que na época ainda era namorado, apesar de

morarmos juntos), ficar em uma pensão muito simples, sem conforto. Por outro lado, sempre

me seduziu a idéia de me tornar pesquisadora e professora universitária. O fato é que passei

“E agora, mãos a obra!” organizei tudo e me joguei.

Simpatizei com minha orientadora Anete desde o início, porém o tema de pesquisa

sugerido por ela me deixou apreensiva, pois eu sabia muito pouco sobre humanização. Não

tinha idéia de como o trabalho seria delineado, que formato teria. Nem mesmo havia

trabalhado com pesquisa qualitativa. Mas, como minha essência guerreira de ariana, acreditei,

confiei em mim mesma e pensei: “não sei exatamente o que estou fazendo, mas descubro no

caminho”.

Então, durante o primeiro ano do curso, conheci colegas, professores, passei por

disciplinas. Estes três elementos me ajudaram a compreender o verdadeiro sentido de

estarmos ali; aprendi muito observando os diferentes atributos e limitações de cada colega, as

diferentes linhas de pesquisa. Todos estavam no mesmo barco, todos confusos com relação a

sua pesquisa, sofrendo, aprendendo e se divertindo com ela.

No decorrer do caminho pude conhecer e receber auxílio da Professora Raquel e a

Professora Lúcia, as quais colaboraram imensamente na elaboração das categorias e na

aplicação da técnica do grupo focal.

Foi através da aplicação desta técnica que emergiram os resultados deste estudo.

Durante a aplicação pude conhecer um pouco a equipe de nutricionistas, não apenas com

relação às questões profissionais, mas também algumas características pessoais, através de

seus gestos, expressões e falas.

Enfim era chegado o momento da coleta de dados. No início me senti empolgada e ao

mesmo tempo receosa com a escolha da técnica, e me questionava “Será que elas vão falar?

Ou vão ter vergonha? Haverá empatia entre nós? E eu saberei fazer o meu papel

adequadamente? Então rezei, pedi forças e auxílio ao meu anjo da guarda, mentalizei cores

favoráveis, me preparei através do guia de entrevistas, busquei criar uma atmosfera agradável

ao grupo através de música suave e um instante de silêncio para centralização do grupo antes

de começar a entrevista. E foi muito bom! Parece que deu certo!

Foi muito interessante e gratificante a maneira como as questões emergiram,

transformando as entrevistas em um material rico e consistente. A maior dificuldade foi

transcrever, organizar e analisar as falas em suas respectivas categorias e subcategorias.

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Além disso, a técnica proporcionou uma reflexão sobre minhas atitudes enquanto

profissional nutricionista. Coisas já esquecidas e há algum tempo sem aplicar vieram á tona,

fazendo com que eu pudesse ver certas experiências profissionais que tive com outro olhar.

Muitas coisas aconteceram no decorrer destes dois anos enquanto cursei o Mestrado.

Casei (foi lindo!), perdi minha avó tão querida, compramos nossa primeira casa, meu marido

se formou, passei por situações profissionais complicadas em empregos difíceis. Precisei lidar

com a falta de honestidade das pessoas e fiquei desempregada. Mas isso foi bom, do contrário

não teria tempo para me dedicar a minha nova casa e principalmente a esta pesquisa.

Foi uma ótima experiência, sinto um crescimento muito grande desde que passei neste

concurso até agora. Gostei muito da pesquisa qualitativa que é um universo abrangente, cheio

de subjetividades e difícil, pois não é exato. Espero que este seja o início de uma carreira

acadêmica, pois lutarei para que isso aconteça!

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GLOSSÁRIO

Definição dos termos utilizados na pesquisa

Saúde

Saúde é o bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico entre os aspectos físico e

psicológico do organismo, assim como suas interações com o ambiente social e cultural.

Neste sentido, ser saudável significa estar em sincronia consigo mesmo e com o mundo

circundante, física e mentalmente (CAPRA, 1982).

Humanização

O termo “humanização” pode ser definido como um processo que admite o

reconhecimento da realidade interna, implica a aquisição de valores que levam ao refinamento

da consciência moral, da sensibilidade ao sofrimento alheio, da compaixão, da capacidade

empática, da tolerância ao sentimento de culpa e a consciência da fragilidade humana

(ZUSMAN, 1998).

Humanizar é uma medida que visa, sobretudo, tornar efetiva a assistência ao indivíduo

criticamente doente, considerando-o como um ser biopsicossocioespiritual, envolvendo não só

o paciente, mas também a família, a equipe multiprofissional e o ambiente (VILA & ROSSI,

2001).

Política Nacional de Humanização - PNH

A PNH consiste basicamente na mudança de modelos de atenção e gestão dos

processos de trabalho focalizando as necessidades dos cidadãos e a promoção de saúde. A

política visa a integralidade, a universalidade, o aumento da eqüidade e a incorporação de

novas tecnologias e especialização dos saberes (BRASIL, 2005).

Alimentação

A alimentação apresenta um significado especial para o indivíduo, dependendo da sua

história alimentar desde a infância, dos sabores que tem vivenciado, das formas e dos locais

de consumo. Considerando que cada ser humano constrói, ao longo da sua vida, uma

identidade própria com relação ao ato de se alimentar, pode-se afirmar que a alimentação

encerra também o sentido de satisfazer aspectos emocionais, psicológicos e motivacionais dos

indivíduos, fazendo com que essa experiência se torne positiva ou não, em função de como

ela se desenvolve (SOUSA, 2001; PAULA, 2002).

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No ambiente hospitalar, Poulain e Saint-Sevin (1990) consideram que a alimentação

pode apresentar além das funções nutricionais e higiênico-sanitárias, as funções hedônica e

convivial, ou seja, o alimento pode propiciar prazer e situar o ser humano no seu espaço

social.

Nutrição

Denomina-se nutrição o processo de fornecimento de energia e materiais de formação

para incontáveis substâncias essenciais para o crescimento e sobrevivência dos seres vivos. A

maneira pelas quais os nutrientes se tornam partes integrantes do corpo e contribuem para sua

função depende dos processos biológicos e bioquímicos que governam suas ações (MAHAN

& SCOTT-STUMP, 2002).

Cuidado nutricional

De acordo com a definição adaptada de Mahan e Arlin (1991), o cuidado nutricional é

“o processo de ir ao encontro das diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa, o que

inclui (...) a avaliação do estado nutricional do indivíduo, a identificação das necessidades ou

problemas nutricionais, o planejamento de objetivos de cuidado nutricional que preencham

essas necessidades, a implementação de atividades nutricionais (...) e a avaliação do cuidado

nutricional”

Grupo focal

O grupo focal é uma técnica de coleta de dados para pesquisa qualitativa inspirada em

técnicas de entrevistas não-direcionadas, e técnicas grupais utilizadas na psiquiatria. Consiste

em entrevistas em grupo, sobre um “foco” ou “tópico” específico, e busca colher informações

que possam proporcionar a compreensão de percepções, crenças, atitudes sobre um tema,

produto ou serviço, baseando-se na interação entre as pessoas (MINAYO, 1996; CARLINI-

COTRIM, 1996).

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APÊNDICE

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Apêndice A: Guia de Entrevistas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

Título da pesquisa: CUIDADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL AO PACIENTE HOSPITALIZADO: ELEMNTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO FUNDAMENTADO NA HUMANIZAÇÃO

Mestranda : Cassiani Gotama Tasca Pedroso Orientadora: Profª Anete Araújo de Sousa

Perguntas Norteadoras

1. O que é ser um Nutricionista para um atendimento humanizado?

2. Que atitudes de humanização são exeqüíveis para um cuidado alimentar e

nutricional dentro do SND/HU/UFSC ?

GUIA DE ENTREVISTAS

A) Ser nutricionista para um atendimento humanizado

� Como é realizada a avaliação clínica e nutricional do paciente (aspectos

clínicos relacionados ao histórico clínico nutricional)?

� De que forma é realizado o planejamento do cuidado alimentar e

nutricional (aspectos clínicos referentes à prescrição dietética, bem como

medidas que possibilitem ao paciente atingir suas necessidades

nutricionais)?

� Como este cuidado é implementado (dados relacionados à produção de

refeições; modificações necessárias para tornar o alimento aceitável pelo

paciente, educação nutricional ao paciente e à família)?

� Como é realizada avaliação deste cuidado (monitoração da ingestão

alimentar, alteração do comportamento alimentar, monitoração dos dados

clínicos e nutricionais)?

B) Pensar em iniciativas de humanização

� Como pode ser conceituada a humanização no cuidado nutricional?

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� Quais as necessidades do paciente para receber um atendimento

qualificado?

� Quais as necessidades do nutricionista para desenvolver um atendimento

qualificado?

� Comente algumas ações que podem ser consideradas de humanização

para o SND/HU:

♦Avaliação do serviço oferecido pela equipe e por parte do

paciente (apresentação, sabor, textura, horário e local onde

são realizadas as refeições)

♦Possibilidade de escolha de preparações fora do cardápio

padrão

♦Ações de melhoria na qualidade sensorial (testes de novas

receitas, uso de temperos, testes de degustação)

♦Substituição ou complementação de alimentos após ingestão

alimentar

♦Informações ao paciente e ações educativas

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Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

Título do Projeto:

Cuidado alimentar e nutricional ao paciente hospitalizado: elementos para a construção de um modelo fundamentado na humanização.

Esta pesquisa tem como finalidade conceber um modelo de cuidado alimentar e nutricional fundamentado na humanização com a equipe de nutricionistas de um hospital de referência para a política nacional de humanização.

Para isto, serão realizadas entrevistas de grupo, nas quais serão aplicadas questões referentes ao assunto, conforme guia de entrevistas elaborado. Você está sendo convidado (a) a participar deste estudo que consiste em uma entrevista, que será realizada ou no próprio hospital ou em outro lugar que porventura o entrevistado preferir.

O hospital e os entrevistados NÃO serão identificados. Todas as informações são CONFIDENCIAIS assim como o material será utilizado apenas com fins desta pesquisa. A decisão em participar ou não deste estudo é pessoal.

Termo de consentimento livre e esclarecido Após receber as informações necessárias sobre o estudo, sob coordenação da professora Anete Araújo de Sousa, eu voluntariamente concordo em participar do mesmo. Sou consciente que todas as informações por mim reveladas para este estudo não poderão ser utilizadas para qualquer outro fim e que posso interromper a minha participação em qualquer instante, sem que essa minha decisão venha me prejudicar, para isso, bastando comunicar minha decisão à orientadora citada acima, através dos telefones: (48) 331 9784 ou 234 5967 ou do e-mail: [email protected]. Declaro que meu consentimento é livre e esclarecido, não tendo sofrido qualquer tipo de persuasão para minha participação.

Nome/Assinatura_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Data:

Pesquisador responsável:_______________________________________________________

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ANEXOS

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ANEXO A: Histórico de Nutrição – HU/UFSC, 2007.