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Crises de segurança do alimento e a demanda por carnes no Brasil (CNPq, Fapemig e UnB) Moisés A. Resende Filho, Karina J. Souza, Luís Cristóvão F. Lima Departamento de Economia, UnB Outubro de 2013 Moisés Resende Filho (ECO/UnB) Segurança do alimento e demanda 10/13 1 / 21

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Crises de segurança do alimento e a demanda por carnesno Brasil

(CNPq, Fapemig e UnB)

Moisés A. Resende Filho, Karina J. Souza, Luís Cristóvão F. Lima

Departamento de Economia, UnB

Outubro de 2013

Moisés Resende Filho (ECO/UnB) Segurança do alimento e demanda 10/13 1 / 21

Introdução

Todo alimento apresenta características de bem privado: oconsumidor ao ingerir uma unidade de alimento recebe todo obenefício deste e elimina a possibilidade de alguém mais consumiresta mesma unidade.

Todo alimento também possui atributos de mau público: custosexternos são gerados quando alguém adoece ou morre ao consumiruma unidade de alimento.

Se os consumidores reagem a crises de segurança do alimento,reduzindo inesperadamente o consumo do alimento, parte do custoda crise passa a ser do setor produtor deste alimento.

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Introdução

CMP+CMPCSA = Custo Marginal Privado + Custo MarginalPrivado da Crise de Segurança do Alimento.

Quantidade

R$

CMP

BMP

CMS=CMP+CME

EM

CMP+CMPCSA

A· ··

Idéia: a reação dos consumidores a crises de segurança do alimentopode tornar o equilíbrio de mercado (ponto A) mais próximo doequilíbrio eficiente (ponto E).

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Introdução

Objetivo principal: investigar se os consumidores de carne bovina,suína e de frango no Brasil reagem a crises de segurança do alimento.

Objetivos específicos:1 Especificar e estimar seis sistemas de equações de demanda alternativospara as principais carnes consumidas no mercado brasileiro (carnebovina, suína e de frango), incorporando índices que captem o númerode eventos negativos veiculados na mídia sobre problemas de segurançado alimento relacionados a estas carnes;

2 Efetuar testes estatísticos de especificação de modo a detectar, dentreas seis especificações dos sistemas de equações, a melhor;

3 Utilizar a especificação escolhida para testar se crises de segurança doalimento afetam as demandas por carnes no Brasil;

4 Estimar elasticidades.

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Esquema da apresentação

1 Revisão da literatura recente sobre a detecção de efeitos de crises desegurança do alimento sobre a demanda por alimentos.

2 Descrição dos dados e procedimentos utilizados na obtenção dasséries de índices de segurança do alimento, preços e quantidades.

3 Descrição das etapas seguidas na especificação dos modeloseconométricos e os testes de seleção.

4 Resultados das estimações dos modelos, as estimativas daselasticidades e as análises dos resultados.

5 Conclusões.

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Revisão da literatura

Há um grande número de trabalhos dedicados a detectar os impactosde crises de segurança do alimento na demanda por alimentos empaíses outros que não o Brasil.

No Reino Unido, Burton et al. (1999)Na Bélgica, Verbeke e Ward (2001)Na Itália, Mazzocchi et al. (2004)Nos EUA, Carter e Smith (2007); Resende Filho e Buhr (2011) ePiggott e Marsh (2004).

Trabalhos que se dedicam ao estudo da reação dos consumidores acrises de segurança do alimento no Brasil ainda são escassos: Spers(2003), Fonseca (2004), Behrens et al. (2010) e baseiam-se empesquisas de opinião.

O presente trabalho parece ser o primeiro no Brasil a investigar sea percepção do consumidor com respeito à segurança do alimentoafeta a demanda por carnes.

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Revisão da literatura

Forneceu os seguinte direcionamentos ao presente trabalho:1 É relevante realizar trabalhos econométricos com sistemas deequações e dados agregados de séries temporais (Tonsor et al.,2010; Glynn e Olynk, 2010; meta-análise de Gallet, 2009 e Gallet, 2010)

2 É fundamental incluir em modelos de demanda por alimentos,variáveis que captem o nível de confiança do consumidor comrelação ao alimento que consome, em especial, algum índiceconstruído com base em notícias de jornais sobre crises de segurançado alimento (Jonge et al., 2010).

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Descrição das variáveis e dados

Séries das Quantidades Consumidas:USDA/FAS (2012): consumo aparente da i-ésima carneprodução da carne i + estoque inicial da carne i + quantidadeimportada da carne i — estoque final da carne i — exportações da carnei ;O consumo aparente é dividido pela população residente no Brasil em1o de julho do ano (IBGE) - Ipeadata (2012)

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Séries dos Preços das Carnes Bovina, Suína e de Frango:

Séries dos preços no varejo da cidade de São Paulo em R$ por kg,obtidos do Instituto de Economia Aplicada de São Paulo (IEA/SP,2012) e deflacionadas pelo IGP-di.

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As três séries de índices de segurança do alimento:Pesquisa no acervo on-line da Folha de São Paulo, disponível nosítio web http://acervo.folha.com.br/busca_detalhada;Inseriu-se individualmente no campo “com todas as palavras” doformulário de consulta, cada uma das seguintes palavras-chave:segurança alimentar, contaminação, recall de produtos ou recall ourecolha de produtos, surto, Salmonella, Listeria, E. coli, triquinose,estafilococos ou staphylococcus, intoxicação alimentar, BSE,Encefalopatia Espongiforme Bovina, vaca louca, febre aftosa, bactéria,moléstia, gripe suína e gripe aviária

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As três séries de índices de segurança do alimento:Afim de separar os resultados por tipo de carne, foi inserido no campo“com pelo menos uma das palavras”, separadamente, cada um dos trêsconjuntos de palavras: carne hambúrguer ; porco presunto, frango.Cada pesquisa retornava, em média, 300 resultados, que eramavaliados individualmente para verificar se a notícia, de fato, seenquadrava no tema pesquisado.A proporção média foi de 1 notícia relevante para cada 5 notíciasavaliadas.

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Primeiro pico: surto de peste suína em junho e julho de 1978;Segundo pico: primeiro caso no Canada de vaca louca entre janeiro emarço de 2003;Terceiro pico: devido a gripe aviária, nos três primeiros meses de 2006;Quarto pico: devido a gripe suína, entre julho e outubro de 2009;Em média, entre 1,865 páginas/ano para a carne bovina e 1,027página/ano para a carne de frango.

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Descrição das variáveis e dados

A série de preços do bem composto, “outros bens de consumo”:

Série do gasto com todos os outros bens de consumo = Gasto percapita com consumo - Gasto per capita com carnes.Gasto per capita com consumo = consumo das famílias/populaçãoresidente no Brasil em 1o de julho de cada ano do IBGE (Ipeadata(2012)).Série dos preços deflacionados dos outros bens de consumo (série p4):obtida resolvendo a igualdade IGP-dit = Â4i=1 pitwit para p4t , onde pite wit são o preço e a parcela do gasto com o i-ésimo bem no tempo t.

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Estatísticas descritivas dos dados, 1975 a 2011

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Modelo econométrico

wit = ait +ÂNj=1 gij ln pjt + bi (ln xt lnPt ) + nit , i = 1, .., 4 (1)

pit , pjt são os preços do i-ésimo e j-ésimo bem no tempo t;wit =

pit qitxit: parcela do gasto com o i-ésimo bem no tempo t;

xt = ÂNj=1 pitqit : gasto per capita com o i-ésimo bem no tempo t;

nit é o termo de erro;

lnPt = a0 +Â4i=1 ln pit +

12 Â4

i=1 Â4j=1 gij ln pit ln pjt (2)

é o indice de preço translog;

Seguimos Piggott et al. (1996), incluimos deslocadores da demandavia modificadores dos interceptos das equações (1):

ait = ai0 + ti Tt + qiDt + fi0bft + pi0pkt + ki0pyt , i = 1, .., 4 (3)

D recebe 1 após o plano real (1994).

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Modelo econométrico

Restrições diretamente impostas:

Adding-up: toda a renda é gasta;Homogeneidade de grau zero da demanda nos preços e renda:ausência de ilusão monetária;Simetria da matriz de substituição de Slutsky.

Correção para autocorrelação dos erros:0

@wb,twp,twy ,t

1

A =

0

@r1 r2 r3r4 r5 r6r7 r8 r9

1

A

0

@wbt1wpt1wpt1

1

A+

0

@AIDSb,tAIDSp,tAIDSy ,t

1

A0

@r1 r2 r3r4 r5 r6r7 r8 r9

1

A

0

@AIDSb,t1AIDSp,t1AIDSy ,t1

1

A, onde AIDSi ,t é a equação (1);

F-Rmatriz =

0

@r1 r2 r3r4 r5 r6r7 r8 r9

1

A ; D-Rmatriz =

0

@r 0 00 r 00 0 r

1

A ; N-Rmatriz =

matriz de zeros.

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Resultados e discussão

Foram estimadas seis especificações diferentes para os sistemas deequações: três estruturas de correções para a autocorrelação dos erros(N-Rmatriz, D-Rmatriz e F-Rmatriz), sem a não inclusão das séries deíndices agregados de segurança do alimento (No-FS) e com a inclusão(L = 0);

Eviews: Full Information Maximum Likelihood (FIML) e o métodointerativo não linear de regressão aparentemente não relacionada(ITSUR);

Passo 1: a hipótese de existência de raiz unitária nas séries deresíduos é rejeitada em cada modelo estimado ao nível de 1% deprobabilidade => as variáveis nos modelos podem sercointegradas, o que justifica a estimação dos modelos (FISHER etal., 2001).

Passo 2: Testes de hipóteses e seleção do modelo preferido.

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Colunas 4 a 6: D-Rmatriz N-Rmatriz, F-Rmatriz D-Rmatriz eF-Rmatriz N-Rmatriz => F-Rmatriz D-Rmatriz N-Rmatriz => háautocorrelação de primeira ordem dos resíduos, mas o modelo F-Rmatriz écapaz de corrigir este problema.Moisés Resende Filho (ECO/UnB) Segurança do alimento e demanda 10/13 18 / 21

Coluna 2, referente a linhaF-Rmatriz: não é possível rejeitar a hipótesede que os índices de segurança do alimento não são conjuntamentesignificantes <=> crises de segurança do alimento não afetamas demandas por carnes no Brasil.

Moisés Resende Filho (ECO/UnB) Segurança do alimento e demanda 10/13 19 / 21

Conclusões

Crises de segurança do alimento não afetam as demandas dacarne bovina, suína e de frango no Brasil.Consequência: o Custo Marginal Privado da Crise de Segurança doAlimento (CMPCSA), como apresentado na Figura 1, é zero no setorde carnes no Brasil, o que torna o equilíbrio de mercado (ponto M)muito distante do equilíbrio eficiente (ponto E).

Frequência anual dos dados, enquanto outros trabalhos utilizamdados trimestrais (PIGGOTT e MARSH, 2004; RESENDE FILHO eBUHR, 2011; TONSOR et al., 2010; GLYNN e OLYNK, 2010).

O Plano Real não afetou as demandas por carnes e outros bens deconsumo.

Moisés Resende Filho (ECO/UnB) Segurança do alimento e demanda 10/13 20 / 21

Conclusões

Elasticidades próprio-preço: carnes bovina, suína e de frango sãoinelásticas

Elasticidades preços-cruzados: as carnes são bens substitutosbrutos e líquidos uns dos outros no Brasil.

Elasticidades-gasto:

Os bens são normais, exceto pela carne suína que é um bem inferior;O consumo de carnes perderá importância para o consumo de outrosbens de consumo (lei de Engel para alimentos);O consumo de carne de frango deve perder importância para a carnebovina;O consumo de carne suína deve perder espaço para as demais carnes.

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