as crises financeiras

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1 Anatomia das crises financeiras internacionais Com o surgimento da globalização, as economias passaram a ser mais inter ligadas diminuindo, consideravelmente, suas barreiras alfandegárias, formando blocos econômicos e expondo-se mais aos agentes internacionais. Somando-se a esse fenômeno, a fragilidade de sistemas econômicos que não aplicam os fundamentos macroeconômicos pode levar a uma crise financeira. Podemos dizer que a globalização apresenta risco em função de três fatores: a intercomunicação instantânea que aumenta a volatilidade dos capitais; a interligação do sistema financeiro internacional; e os novos agentes financiadores, que estão além do controle dos bancos centrais. Uma crise financeira é uma forte e rápida perda de riqueza e substância social, política institucional em uma economia, manifestada pelo colapso dos preços dos ativos recessão e desemprego, gerando ameaça à estabilidade da moeda e do sistema bancário. Normalmente, uma crise financeira caracteriza-se pela falta de liquidez momentânea de um sistema. Ou seja, há desequilíbrio no sistema financeiro graças à supervalorização da moeda, déficit público incompatível com a arrecadação, grande dependência de capital estrangeiro, descredibilidade internacional que gera medo nos investidores e especuladores quanto à capacidade de serem quitados os compromissos, levando-os a retirar seus investimentos. Uma crise financeira seria então uma dificuldade momentânea em que um país se encontra por não conseguir administrar suas finanças e que, consequentemente, afetarão seu equilíbrio financeiro. Comumente, confunde-se crise financeira com uma crise econômica. Para evitar isto, cabe-nos ressaltar que a crise financeira envolve basicamente aspectos de liquidez momentânea de um sistema e nunca a incapacidade de um sistema em gerar riquezas; no momento em que um sistema não possui mais condições de gerar riquezas, aí sim, temos uma crise econômica. A questão mais complexa de uma crise financeira é que essas perdas de riqueza são distribuídas entre sete canais distintos, que atingirão, de forma diferenciada, os seguintes atores e variáveis: Taxa de juros (depositantes e devedores); Taxa de câmbio (detentores de ativos indexados em dólares); . Alíquotas tributárias (contribuintes); Inflação (produtores e consumidores); Preços de ativos (proprietários de riqueza econômica e financeira); Salários (trabalhadores); Transferências intergerações (por meio da dívida pública). Enquanto os bancos centrais tentam manter estável o valor de suas moedas, os investidores modernos possuem sofisticadas ferramentas para proteger o valor de seus ativos, medindo o risco inerente aos seus portfólios. Assim, em relação ao agregado, ocorrem grandes mudanças nesses portfólios, que criam volatilidade nos fluxos de capitais, como se tem verificado na última década. Neste contexto, a informação incompleta causa volatilidade nos valores dos ativos e o temor de quebras nos contratos aumenta ainda mais os riscos inerentes a esses portfólios. Algumas vezes, os especuladores pressionam os mercados, e os Bancos Centrais veem suas reservas caírem perigosamente, não tendo alternativa a não ser desvalorizar a moeda local. Depois da desvalorização, os especuladores realizam seus lucros, com negócios fechados quando o câmbio era outro, demonstrando a fragilidade no controle da economia de alguns países. A seguir, traçamos os perfis de várias crises financeiras de

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Apostila explicativa das maiores crises financeiras ocorridas no mundo

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    Anatomia das crises financeiras internacionais

    Com o surgimento da globalizao, as economias passaram a ser mais interligadas diminuindo, consideravelmente, suas barreiras alfandegrias, formando blocos econmicos e expondo-se mais aos agentes internacionais. Somando-se a esse fenmeno, a fragilidade de sistemas econmicos que no aplicam os fundamentos macroeconmicos pode levar a uma crise financeira.

    Podemos dizer que a globalizao apresenta risco em funo de trs fatores: a intercomunicao instantnea que aumenta a volatilidade dos capitais; a interligao do sistema financeiro internacional; e os novos agentes financiadores, que esto alm do controle dos bancos centrais.

    Uma crise financeira uma forte e rpida perda de riqueza e substncia social, poltica institucional em uma economia, manifestada pelo colapso dos preos dos ativos recesso e desemprego, gerando ameaa estabilidade da moeda e do sistema bancrio.

    Normalmente, uma crise financeira caracteriza-se pela falta de liquidez momentnea de um sistema. Ou seja, h desequilbrio no sistema financeiro graas supervalorizao da moeda, dficit pblico incompatvel com a arrecadao, grande dependncia de capital estrangeiro, descredibilidade internacional que gera medo nos investidores e especuladores quanto capacidade de serem quitados os compromissos, levando-os a retirar seus investimentos.

    Uma crise financeira seria ento uma dificuldade momentnea em que um pas se encontra por no conseguir administrar suas finanas e que, consequentemente, afetaro seu equilbrio financeiro.

    Comumente, confunde-se crise financeira com uma crise econmica. Para evitar isto, cabe-nos ressaltar que a crise financeira envolve basicamente aspectos de liquidez momentnea de um sistema e nunca a incapacidade de um sistema em gerar riquezas; no momento em que um sistema no possui mais condies de gerar riquezas, a sim, temos uma crise econmica.

    A questo mais complexa de uma crise financeira que essas perdas de riqueza so distribudas entre sete canais distintos, que atingiro, de forma diferenciada, os seguintes atores e variveis:

    Taxa de juros (depositantes e devedores); Taxa de cmbio (detentores de ativos indexados em dlares); . Alquotas tributrias (contribuintes); Inflao (produtores e consumidores); Preos de ativos (proprietrios de riqueza econmica e financeira); Salrios (trabalhadores); Transferncias intergeraes (por meio da dvida pblica).

    Enquanto os bancos centrais tentam manter estvel o valor de suas moedas, os investidores modernos possuem sofisticadas ferramentas para proteger o valor de seus ativos, medindo o risco inerente aos seus portflios. Assim, em relao ao agregado, ocorrem grandes mudanas nesses portflios, que criam volatilidade nos fluxos de capitais, como se tem verificado na ltima dcada. Neste contexto, a informao incompleta causa volatilidade nos valores dos ativos e o temor de quebras nos contratos aumenta ainda mais os riscos inerentes a esses portflios.

    Algumas vezes, os especuladores pressionam os mercados, e os Bancos Centrais veem suas reservas carem perigosamente, no tendo alternativa a no ser desvalorizar a moeda local. Depois da desvalorizao, os especuladores realizam seus lucros, com negcios fechados quando o cmbio era outro, demonstrando a fragilidade no controle da economia de alguns pases. A seguir, traamos os perfis de vrias crises financeiras de

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    origem macroeconmica e microeconmica, como a que chamamos de "Tulipamania".

    Ao citarmos alguns importantes fatos notveis que antecederam e precederam as crises financeiras, podemos evidenciar causas importantes que desencadeiam as crises, como seus impactos e trajetrias diferenciadas, embora frequentemente imprevisveis.

    Segundo Aschinger (1997), o desenvolvimento terico das crises financeiras internas pode ser decomposto em uma srie de estgios, a saber:

    1. Deslocamento

    Um choque exgeno afeta o sistema macroeconmico.

    2. Desenvolvimento de um boom

    Se novas oportunidades sobrepujam as antigas que foram perdas, os investimentos e a produo elevam-se e culminam em um surto de desenvolvimento.

    3.1ncio de especulao O surto de desenvolvimento alimentado por uma expanso do crdito bancrio e/ou a criao de novos instrumentos financeiros. Isso aumenta a demanda por bens ou ativos financeiros. Com as capacidades de oferta limitadas, os preos sobem. A especulao, neste estgio, ainda reflete as condies fundamentais prevalecentes.

    4. Especulao desestabilizadora Os aumentos de preos atraem mais investidores e intensificam a especulao. Como consequncia, os mercados reagem exageradamente, criando uma "bolha especulativa".

    5. Euforia

    O comportamento do mercado dominado pela dinmica social.

    6. Pnico

    Durante longo perodo de boom, aumenta' gradativamente a instabilidade do mercado e os preos mostram tendncia de aumento exponencial, As expectativas dos investidores tornam-se mais frgeis. Algum fragmento de informao suficiente para gerar o abandono do mercado. O pnico das vendas faz os preos despencarem, A bolha especulativa estoura. A crise faz os preos retomarem ao patamar compatvel-com as condies fundamentais prevalecentes na economia.

    Como vemos, esta sequncia no facilmente identificvel nem determinstica, mas so importantes para as peculiaridades de cada caso.

    Crises financeiras na histria do pensamento econmico Segundo Garca Herrero (2001), as crises financeiras tm-se situado no centro da ateno dos economistas desde os tempos de Adam Smith, que se referiu a elas qualificando-as de "excesso de intercmbio" seguido pelo rechao e desprestgio. Lord Overston, distinguido monetarista de meados do sculo XIX, ampliou para nove a classificao das trs fases descritas por Adam Smith: tranquilidade, confiana, prosperidade, exaltao, excesso de intercmbio convulso, presso e estancamento, para concluir de novo em tranquilidade. Em sua famosa obra, Lombard street, Bagehot (1962) assinalou que "todas as grandes crises revelam a excessiva especulao de muitas casas de investimento das quais nada havia suspeitado anteriormente, e que, habitualmente, no haviam iniciado ou no haviam chegado muito longe em tais especulaes at que se viram tentadas por um incremento dirio dos preos e da febre circulante".

    J para Guitin e Varela Parache (2000), o desenvolvimento moderno das teorias sobre ataques especulativos encontra sua origem num estudo de Salant e Henderson (1978) dentro das investigaes elaboradas pelo Federal Reserve dos Estados Unidos, sobre o

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    colapso do Sistema de Breton Woods. Nele, os autores analisam o ataque especulativo provocado pela percepo da insuficincia do "estoque" de ouro utilizado para respaldar convertibilidade de uma moeda. Krugman (1979) partiu da mesma ideia, aplicando-a ao ataque especulativo contra uma moeda que mantenha taxas de cmbio fixos com respeito outra. Seu modelo mostra as inconsistncias que podem produzir-se entre o objetivo de manter taxas de cmbio fixos e algum objetivo de carter interno perseguido pelas autoridades, como a manuteno de certo nvel de crescimento.

    Depois destas primeiras tentativas de definir crise financeira, centradas principalmente na especulao, surgiro duas escolas principais de pensamento econmico sobre estas questes: os monetaristas e os defensores da teoria do ciclo econmico.

    COMPARAO DAS ESCOLAS SOBRE CRISE FINANCEIRA

    As turbulncias financeiras no so um fenmeno recente, como apresenta o quadro a seguir, que faz um breve retrospecto das ltimas turbulncias financeiras internacionais.

    Reviso das grandes turbulncias financeiras

    Perodo Crise Pases Diretamente Afetados

    1634 at 1637 Tulipamania Holanda

    1716 at 1720 Bolha do Mississpi Frana

    1717 at 1720 South Sea Bubble Gr-Bretanha

    1929 Crise de 1929 Estados Unidos

    1987 Crise de 1987 Estados Unidos

    1990 Crise Japonesa Japo

    1994 at 1995 Crise do Mxico Mxico

    1997 at 1998 Crise Asitica Tailndia; Filipinas; Malsia; Indonsia;

    Cingapura; Careia do Sul; Taiwan; e

    Hong Kong.

    1998 Crise Russa Rssia

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    1999 Crise Brasileira Brasil

    2001 Crise Argentina Argentina

    A seguir desenvolveremos esta reviso, agrupando as crises em trs grandes grupos:

    Breve reviso das grandes turbulncias, incluindo: Tulipamania; a Bolha do Mississipi; The South Sea Bubble; e as Crises de 1929 e 1987;

    Turbulncias da dcada de 90, incluindo: a Crise Japonesa; a Crise do Mxico; a Crise Asitica; e a Crise Russa;

    Turbulncias financeiras no MERCOSUL, incluindo as ltimas turbulncias ocorridas: a Crise Brasileira e a Crise Argentina.

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    Crises da dcada de 90

    A trajetria de consistente crescimento apresentada pelo Japo aps a Segunda Guerra Mundial surpreendeu as maiores potncias econmicas capitalistas. No perodo entre 1953 e 1973, esse crescimento atingiu a taxa mdia de 10% e, em 20 anos, uma economia considerada destruda tornou-se uma das maiores potncias econmicas mundial.

    A crise do Japo teve incio com a desvalorizao da moeda japonesa, o iene e, consequentemente, queda de preo dos produtos nipnicos no mercado. A adoo desta poltica aumentou a vantagem dos artigos japoneses, mas obrigou os outros pases a desvalorizarem tambm suas moedas. O iene chegou cotao de Y147,20 por dlar, gerando quedas nas principais bolsas de valores do mundo. Em 2 de abril de 1990, o ndice Nikkei 225 da bolsa de Tquio fechou em 28.002 pontos (uma baixa de 28% com respeito ao fechamento do ano anterior), o processo continuou e em 1 Q de outubro a queda foi de 48%. At 18 de agosto de 1992, no se chegou ao fundo, mas nesse dia o ndice chegou aos 14.309 pontos e marcou um solo. Diante de possvel catstrofe internacional, os Estados Unidos trocaram US$ 2 bilhes por ienes, evitando o perigo de uma crise pior do que a crash dos "Tigres Asiticos". Resumindo, em pouco mais de 30 meses o ndice perdeu 63% do nvel mximo alcanado ao final de 1989. A bolha financeira no se produziu unicamente no mercado de capitais; os preos dos imveis e do solo registraram comportamentos sincronizados com os preos das aes. A euforia teve seu fim em 1992, quando as aes japonesas que estavam supervalorizadas foram ofertadas no mercado. A baixa procura dos compradores gerou a queda do preo destas aes, ocasionando o incio da crise.

    Causas da crise

    A situao difcil em que se encontrava o Japo pode ser explicada pelo excessivo crescimento de sua economia sem correspondente melhora nas variveis fundamentais.

    Durante a segunda metade dos anos 80, ocorreram mudanas importantes no mbito da regulamentao financeira do Japo. Nesse perodo, iniciou-se a liberalizao financeira, tanto no mbito internacional como nos mercados internos, que relaxaram progressivamente os controles sobre as taxas de juros das operaes bancrias e ampliaram a possibilidade de obteno de financiamento exterior por parte de residentes. O aumento de liquidez combinado com as baixas taxas de juros facilitou o financiamento da

    compra de ativos, tanto financeiros quanto reais. O preo dos ativos sobre a presso da forte

    demanda teve importantes reavaliaes. A partir dessas subidas iniciou- se um processo de

    retroalimentao, j que o aumento dos preos dos ativos incrementou a riqueza financeira

    dos investidores, com uma melhora aparente em seu nvel de solvncia, enquanto o valor

    patrimonial era utilizado como garantia de novos endividamentos.

    Este fenmeno provocou aumento do valor sem precedentes nos ativos do Japo

    (principalmente aos e imveis), desencadeando um processo especulativo. Nas seis cidades mais

    importantes do Japo, entre 1985 e 1990 os preos imobilirios tiveram cresci-

    mento mdio de 20% anual. Em Tquio, no mesmo perodo, os preos se multiplicaram por 2,4. Os

    imveis comprados a um preo muito elevado serviam de garantia para aquisio de novos imveis

    (para se ter ideia, segundo Torres (1997), o valor dos terre-

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    nos do Japo saltou de US$ 4,2 trilhes para US$ 18,4 trilhes neste perodo). O consumismo era to

    grande que bens de consumo, como eletrodomsticos, eram trocados a cada dois anos.

    Crise do Mxico (crise cambial-financeira)

    o Mxico foi o primeiro pas emergente a passar por profunda crise financeira. Em 1989, o pas sofreu o primeiro ataque especulativo, que resultou na desvalorizao de sua

    moeda e gerou uma fuga de capitais. Aps a passagem por um ajuste fiscal drstico, com

    gerao de supervit nas contas pblicas, ampla abertura comercial, descompresso financeira e livre

    movimento de capitais, acompanhados de intensa privatizao de empresas estatais, da

    desregulamentao e da eliminao de subsdios e incentivos, a economia

    mexicana viu-se em runas, com um dficit em conta corrente que se aproximava dos US$

    30 bilhes por ano. Alm disso, foram acumulados passivos em moeda estrangeira, no setor pblico e

    na esfera privada, que podem chegar a US$ 200 bilhes. Entre estes dbitos,

    os mais problemticos, a curto prazo, so os Tresobonos, que vencem razo de US$ 700

    milhes por semana ao longo de 1995. Com isso, o pas no conseguiu honrar seus compromissos,

    entrando numa recesso.

    No perodo 1988-1993, o governo desenvolveu uma poltica econmica de austeridade fiscal e

    monetria. Segundo Edwards (1997), o programa de reformas conduzido pelo

    governo pode ser resumido em quatro pontos:

    Uma forte abertura da economia concorrncia internacional; Um processo drstico de privatizaes e desregulamentao; Um programa de estabilizao baseado em ancoragem da taxa cambial nominal,

    apoiado no desenvolvimento de polticas restritiva monetria e fiscal; Um amplo acordo econmico e social estabelecido entre o governo, o setor privado e os

    sindicatos.

    Aps o ajuste promovido a partir de meados da dcada de 80, a economia do Mxico adota um novo perfil de funcionamento. Desde ento, o pas perseguiu a estabilizao da economia apoiando-se basicamente na ncora cambial e na abertura comercial e financeira, que geraram dficits comerciais crescentes, financiados pelo aporte de capitais volteis e especulativos.

    Em decorrncia desse quadro, em 1994 o governo mexicano desembolsou cerca de US$ 30 bilhes apenas para saldar as despesas com o servio das dvidas interna e externa, o que acarretou verdadeiro colapso em suas contas pblicas.

    A grave situao econmica a que chegou o Mxico, aliada s conturbaes polticas, resultou num clima de desespero no ms dezembro, que culminou em uma forte desvalorizao do peso - em apenas dez dias, a moeda mexicana perdeu cerca de 50% de seu valor.

    Em 20 de dezembro de 1994, as autoridades mexicanas, diante da impossibilidade de manter o valor do peso, ampliaram a banda cambial em 15%, gerando uma perda nas reservas de mais de 4 bilhes de dlares. Diante destes fatos, as autoridades deixaram flutuar o peso mexicano, conscientes de que tentar defend-lo dentro da banda s resultaria no esgotamento das reservas. A partir desse momento, produz-se a sada massiva de capitais, especialmente nos investimentos de carteira. As vendas massivas de aes e bnus nomeados em pesos e a compra de dlares produziram uma sangria nas reservas e uma forte presso queda da taxa cambial.

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    Quebrado, o Mxico recebe uma ajuda de US$ 65 bilhes dos Estados Unidos e de organismos internacionais, como o FMI, e consegue recuperar-se.

    Causas e repercusses da crise

    A liberalizao financeira e a abertura econmica foram peas importantes da poltica econmica e que tiveram grande incidncia sobre os acontecimentos posteriores. Outro fator importante foi a evoluo do sistema bancrio mexicano, que havia sido nacionalizado em 1982 e, nos anos 90, foi privatizado, sendo seus compradores, em muitos casos, grupos vinculados a empresas, sem muita experincia bancria.

    Em 1994, a economia mexicana viu-se novamente dentro de uma crise, ocorrendo diversos acontecimentos que debilitaram o otimismo reinante at chegar ao desenlace da crise. As reformas econmicas do incio dos anos 90 e a queda das taxas de juros nos EUA levaram os investidores a buscarem o exterior, o que resultou numa macia entrada de recursos no Mxico.

    Fuga de capitais

    O motivo apontado para o desencadeamento da vigorosa fuga de capitais no Mxico a partir da segunda metade de dezembro foram as sucessivas revoltas ocorridas na regio de Chiapas, agravando a crise poltica no pas. Nas vsperas de uma eleio, foi assassinado Luis Dolado Colosio, candidato pelo PRI, e tornou-se pblico o movimento zapatista na regio de Chiapas. Como consequncia, os preos dos ttulos e aes subiram expressivamente, bem como o dficit na conta corrente e os gastos pblicos. Quando se registrou um incio de distrbio poltico, no final de 1994, os investidores internacionais apavoraram-se, temendo uma nova moraria mexicana.

    Tal alegao, no entanto, pouco para se compreender as verdadeiras razes da deflagrao do processo de sada de recursos e seus desdobramentos sobre a economia mexicana. A mudana da paridade de um dlar para 3,46 pesos (registrada antes da desvalorizao de 15%, em 19 de dezembro) at atingir mais de seis pesos por dlar em poucos dias resultou na perda de US$ 10 bilhes para os investidores estrangeiros e mexicanos.

    Da ocorreu a espetacular fuga de capitais noticiada pela imprensa. As reservas cambiais mexicanas, que atingiam no incio de 1994 mais de US$ 25 bilhes, chegaram a somar no final de dezembro menos de US$ 6 bilhes, impedindo assim a desvalorizao do peso, at acumular perdas superiores a 60%.

    Dficit comercial

    Em 1987, as importaes mexicanas totalizaram o equivalente a US$ 19 bilhes e saltaram, em 1993, para US$ 63 bilhes. Sem contar com uma slida estrutura industrial que possibilitasse alavancar as exportaes no rumo da integrao competitiva, as vendas externas do Mxico diminuram em relao ao volume das importaes. O resultado foi um dficit de US$ 24,5 bilhes na balana comercial, em 1994, o que tornou o pas dependente de capitais externos em cerca de US$ 30 bilhes para conseguir fechar o balano de pagamentos.

    Com um dficit de US$ 8,4 bilhes na balana comercial e inflao alcanando trs

    dgitos, o novo presidente assume e tenta fazer uma desvalorizao controlada de 15%, mas, sem

    credibilidade internacional, a desvalorizao perde o controle e chega a 80%.

    A crise mexicana foi considerada a mais importante , no s para o Mxico, como

    tambm para a economia internacional , j que foi o primeiro pas emergente a passar

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    por profunda crise financeira, tambm a primeira crise num mercado financeiro mundial

    livre e globalizado. Outras economias tiveram problemas de presses elevadas sobre suas

    divisas e episdios de instabilidade financeira. Um caso importante foi a Argentina.

    Na segunda-feira, 27 de outubro de 1997, assustada com a queda recorde do ndice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong (1.211 pontos em um s dia), a Bolsa de New York afundou. Foi uma queda livre de 554 pontos, lembrando a catstrofe em outros dois outubros negros: 1929 e 1987. Ondas de choque varreram o mundo. As bolsas caram 27% no Brasil, 21 % no' Japo, 12% na Austrlia, 10% no Mxico e 9% na Inglaterra.

    A crise asitica explodiu na Tailndia em julho de 1997, quando os emprestadores estrangeiros deram-se conta do enorme dficit na conta corrente do pas e do rpido incremento de sua dvida externa. Mas, para sua melhor compreenso, descreveremos alguns episdios que ocorreram no ano de 1997:

    em janeiro, a Hambo Steel, uma das grandes chaebol coreanas, declara falncia, gerando

    uma dvida de US$ 6 bilhes. a primeira vez, em dez anos, que uma das grandes empresas coreanas fecha dessa forma;

    em fevereiro, a Somprasong a primeira empresa tailandesa a falhar um pagamento de sua dvida externa;

    em maro, o governo tailands promete apoio s empresas financeiras, em forte exposio a dvidas do setor imobilirio, mas depois retrocedeu;

    em maio, o baht tailands, a mais frgil das moedas da regio devido ao desempenho fraco de sua economia, atacada por especuladores;

    em julho, o Banco Central da Tailndia anuncia a entrada do baht num regime de taxa flutuante administrada e pede ajuda ao FMI. O FMI oferece US$ 1,1 bilho ao governo das Filipinas e o Bank Negara (Banco Central da Malsia) abandona a defesa do Ringgit;

    a Indonsia (outubro) e Coreia do Sul (novembro) declaram que solicitariam apoio financeiro ao FMI. Tailndia Onde a crise comeou. Sendo o pas mais frgil de todos os "Tigres",

    quando os especuladores apostaram contra sua moeda, o baht, esta se

    desvalorizou em 41 % e sua bolsa caiu 53%. Filipinas Teve seu dlar desvalorizado em 37% e queda em sua

    bolsa de 36%.

    Malsia Elevou suas taxas de juros em 50% e desvalorizou sua moeda em 39%. Como consequncia, sua bolsa de valores teve uma queda de 39%

    Indonsia Desvalorizou em 83% a rpia e teve queda de 58% em sua bolsa de valores.

    Cingapura Desvalorizao de 15% no dlar filipino e queda de 46% em suas bolsas de valores.

    Coreia do Sul Desvalorizao de 35% no uon e queda de 56% na bolsa de valores Taiwan Desvalorizao de 19% no dlar taiwans e queda em sua bolsa de 16%. Hong Kong Pas no qual a crise ganhou propores catastrficas, quando os

    especuladores decidiram atacar o centro financeiro da sia e o dlar.

    Como resultado, sua bolsa caiu 46%.

    A crise asitica resolve-se, ou comea a resolver-se, com a grande operao de apoio do

    FMI, que conseguiu ampla colaborao dos bancos internacionais, isto no caso da Coria,

    no caso da Tailndia, h tambm apoio do Fundo e um profundo Ajuste econmico.

    No caso da Indonsia, houve uma negociao com o Clube de Paris.

    Causas da Crise:

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    Fragilidade de alguns fundamentos econmicos dos "Tigres": uma das principais causas que

    afetaram o desempenho dos "Tigres" baseia-se na estratgia que

    quase todos eles empreenderam ao atrelar sua moeda ao dlar, o chamado pego O

    modelo exportador das economias do Sudeste Asitico funcionou bem, enquanto

    o iene valorizava-se diante do dlar. Entretanto, em 1995, quando o dlar desceu

    quase marca dos 75 ienes, os Estados Unidos e o Japo decidiram: desvalorizar a

    moeda japonesa em relao americana. Com isso, houve uma valorizao relativa das moedas

    no Sudeste Asitico, que diminuiu a competitividade dos "Tigres"

    no mercado internacional. De um lado, o Japo aprimorou seu apetite exportador,

    desaquecendo sua moeda, e roubou mercado dos "Tigres" em bens de alto valor,

    gerados em indstrias de uso intensivo de capital, como computadores, semicondutores e

    produtos petroqumicos. De outro, a subida do dlar e a consequente valorizao de suas moedas

    prejudicaram os "Tigres" na competio com a China em bens de baixo valor, gerados em

    'indstrias de uso intensivo de mo de obra, como txteis, sapatos e brinquedos'. Comprimidas

    entre dois pesos pesados, um no high end e outro no low end do mercado, as economias do

    Sudeste Asitico experimentaram desacelerao em suas exportaes e, por conseguinte,

    deteriorao em suas contas. A Tabela a seguir mostra o saldo em transaes correntes em

    porcentagem do PIE de 1990 a 1996 dos Tigres Asiticos e Asian Four.

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

    Tailndia (8,7) (7,7) (5,6) (5,1) (5,6) (8,0) (8,0)

    Indonsia (3,1) (3,8) (2,4) (1,5) (1,7) (3,3) (3,4)

    Malsia (3,2) (8,8) (3,8) (4,8) (7,8) (10,0) (4,9)

    Filipinas (6,1) (2,3) (1,9) (5,5) (4,6) (4,4) (4,7)

    Coreia do Sul (0,9) (3,0) (1,5) (0,1) (1,2) (2,0) (4,7)

    Taiwan 6,8 6,9 4,0 3,2 2,7 2,1 4,0

    Cingapura 8,3 11,2 11,3 7,5 17,1 16,9 15,0

    Hong Kong 8,9 7,1 5,7 7,4 1,6 (3,1) (0,6)

    China 3,1 3,1 1,1 (2,1) 1,2 0,0 0,6

    Outro fator que impactou a economia dos "Tigres" foi o endividamento externo. Evidentemente, economias crescendo a taxas anuais prximas dos dois dgitos necessitam de financiamento. O problema que boa parte do financiamento, contrada em sua maioria pelo setor privado com o aval do governo, em vez de ser investida no aumento da produtividade e no desenvolvimento de novas tecnologias, acabou sendo desviada para a especulao imobiliria ou para o incremento da produo em indstrias j saturadas, como metalurgia, automveis e transporte areo. Em vez de investir na capacitao de sua fora de trabalho ou na reduo de seus problemas de infraestrutura, muitos Tigres contraram emprstimos para construir campos de golfe, condomnios de luxo ou investir em indstrias de baixa rentabilidade. Assim, acabaram criando para si um problema adicional: capacidade ociosa. Alm disso, bilhes foram enterrados em projetos do governo, faranicos, que no tinham a menor condio de gerar o retorno necessrio para a cobertura dos emprstimos. Outro fator foi o trfico de influncia e a troca de favores entre o governo e as grandes corporaes. Redes de interesse e conchavos realizados nos bastidores dificultam a averiguao do que pertence ao Estado e do que da iniciativa privada. Muito dinheiro pblico foi emprestado em condies excepcionais a

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    empresas que o governo considerava vitais para a economia ou para o prestgio do pas. A anlise objetivado perfil do tomador, das condies do mercado e do risco da transao pesava pouco nas decises de crdito;

    Dinmica dos mercados financeiros internacionais: o setor bancrio na sia mostrou-se fechado concorrncia internacional, e boa parte das instituies que o compem servia apenas para canalizar capital para projetos de prioridade e valor muitas vezes duvidosos. O fato que o dinheiro fcil que os bancos do Sudeste Asitico captaram no exterior e jogaram em seus mercados nos ltimos anos, sem cuidar da qualidade dos investimentos, jamais retornou. Essa bola de neve gerou a necessidade de socorro externo.

    Repercusses da crise

    Descapitalizao das bolsas: as quedas vertiginosas das bolsas de valores e a desvalorizao Tailandesa, a capitalizao total, em dlares, valia menos de 15% de seu valor de trs anos antes. O mercado indonsio sofreu queda semelhante em pouco menos de um ano;

    Insolvncia de bancos: a sbita queda da demanda interna, as altas taxas de juros e os emprstimos externos, que a desvalorizao das moedas deixou proibitivamente caros, aumentaram a inadimplncia das empresas e consequente insolvncia dos bancos;

    Tutelamento do FMI: com o desenrolar da crise, os orgulhosos regimes nacionalistas da Tailndia, Indonsia e Coreia estavam submetidos aos condicionamentos econmicos impostos pelo FMI. Foram forados a abrir seus mercados, abolir monoplios, acabar com subsdios de natureza arbitrria e prestar informaes com transparncia e prontido.

    Crise Russa

    No ano de 1998, a economia russa passou por uma srie de episdios que culminaram

    no que se chamou de a moratria russa.

    Em maio, numa tentativa desesperada de acalmar o mercado financeiro, conter a fuga de

    investidores internacionais e manter o valor do rublo, o Banco Central da Rssia triplicou

    suas principais taxas de juros de curto prazo (redesconto e Lombarda) de 50%

    para 150% ao ano.

    Para reduzir a presso gerada pela liquidez, em agosto, o Banco Central liberou um

    emprstimo de US$ 100 milhes para o SBS-AGRO Bank, segunda maior instituio

    bancria do pas, para ajudar a estabilizar o sistema financeiro. Como consequncia, em

    15 de agosto, o principal ndice de aes da bolsa de Moscou reagiu com alta de 13,67%,

    o que ocasionou uma suspenso temporria dos negcios no incio da sesso.

    No dia 17 de agosto de 1998, o governo russo declarou o que se chamou de a moratria

    russa. O ncleo das decises tomadas afetava aos compromissos de pagamentos privados

    com os no residentes e os pagamentos da dvida pblica, cujo vencimento estava situado

    antes de 1999. Tambm se incluam mudanas relevantes na conduo da poltica de taxa

    cambial com a ampliao da banda de flutuao do rublo em relao ao dlar dos Estados

    Unidos.

    A incerteza poltica, aliada crise na sia e queda nos preos do petrleo (a Rssia

    um grande exportador de petrleo), afasta os investidores e a Rssia sofre um "ataque

  • 13

    especulativo". A bolsa de valores russa j havia acumulado perdas de 50%, o que leva o

    governo russo a cogitar pedido de ajuda ao FMI

    Causas da Crise:

    Atrofia econmica produzida por quase oito dcadas de burocracia estatal

    sob o regime comunista: a abertura do pas ao resto do mundo a partir de 1991,

    com a dissoluo da Unio Sovitica e o fim do comunismo, serviu para expor o

    tamanho da crise. Alm disso, os russos no souberam administrar sua economia depois

    dessas mudanas. Os anos de comunismo trouxeram algumas vantagens, como, por

    exemplo: bom nvel de educao, moradia e acesso sade. O que no se conhecia era a

    dimenso dos problemas que se acumularam nesse mesmo perodo. Na Rssia, por

    exemplo, o governo no conseguia arrecadar com os impostos, porque no existiam

    fiscais. No existiam fiscais porque na poca do comunismo no se recolhiam impostos.

    Havia mais de 200 taxas que as empresas e as pessoas deveriam pagar, mas como nada

    acontecia com os sonegadores, a sonegao era geral;

    A inflao estava nas ruas, em forma de filas, porque havia escassez de pro-

    dutos: o modelo sovitico entrou em colapso, porque a economia planejada por

    burocratas no foi capaz de suprir os russos dos produtos de que eles precisavam. O

    dinheiro para a produo de manteiga era transferido arbitrariamente para a fabricao

    de msseis, ou de arame farpado para prender os dissidentes. A insatisfao cresceu,

    produziu uma presso interna para modificaes polticas, e todo o sistema caiu em 1991,

    quando o presidente Ieltsin assumiu;

    Abertura do mercado sem o devido preparo das estatais russas: as empresas estatais

    russas, que sob regime comunista nunca tiveram de enfrentar a concorrncia estrangeira,

    tomaram um choque quando foram expostas competio. Descobriu- se com isso que

    eram improdutivas, que fabricavam carros e roupas ruins e que no havia mercado para

    seus produtos no exterior. Sem dinheiro para moderniz-las, o governo decidiu vend-las.

    Entre 1991 e 1994, mais de 120.000 empresas foram privatizadas, mas o programa no

    deu certo. Como elas j estavam sucateadas, o: investidores estrangeiros no se

    interessaram muito. As estatais acabaram sendo vendidas aos prprios russos, que

    tambm no tinham dinheiro nem interesse para moderniz-las. No campo das

    importaes, at as caixas de fsforos eram importadas. Como importaes so pagas em

    divisas, houve a sangria que quebrou o pas.

    No campo das exportaes, a Rssia dependia basicamente do petrleo e do gs

    natural, bens cujos preos despencaram nos ltimos tempos no mercado internacional.

    Repercusses da crise:

    Cmbio interno: quando o presidente Ieltsin declarou moratria por 90 dias, a dvida

    externa das empresas privadas russas era avaliada em 40 bilhes de dlares. A promessa

    do Kremlin era pag-la aps esse prazo, mas em rublos, e sem correo. A dificuldade

    gerada que o rublo no era conversvel no mercado internacional e quem comprou esses

    ttulos pagando em dlares iria receber, se recebesse, em rublos. Depois veio outro calote,

    desta vez em parte da dvida interna de 32 bilhes de dlares em ttulos que venceriam at

    o final de 1999. O presidente Ieltsin trocou os ttulos do governo federal russo, que

  • 14

    venceriam nos prximos dias, por outros papis, com vencimento em at cinco anos. Ou

    seja, s poderia comprar algo dentro da prpria Rssia. Outro problema que o rublo no

    valia mais nada. Sofreu uma desvalorizao real de 75% em relao ao dlar;

    Taxa de juros: para conter a fuga de capitais, o Banco Central russo triplica a taxa de juros

    bsicos para 150%, depois de quedas nos ttulos russos e no mercado de aes. Com taxa

    de juros muito alta e o j agravado dficit do pas, ele no poderia ficar com essas taxas

    altas por muito tempo. Como o mercado tinha mais ou menos se estabilizado, o governo

    achou melhor, depois de uma semana, reduzir as taxas de juros de 150% para 60%. O

    governo tambm disse que havia aumentado a taxa de juros para que o mercado visse que

    ele estaria disposto a fazer qualquer coisa para defender o rublo.

    Bolsas de valores:

    queda no volume negociado: quando o ataque especulativo contra o rublo intensificou-se,

    a bolsa de valores da Rssia, que no ano anterior crise negociava 200 milhes de

    dlares por dia; passou a girar apenas 10 milhes de d- lares. Para resumir, em 15 dias

    um capital da ordem de 33 bilhes de dlares pertencentes a investidores estrangeiros

    evaporou-se;

    mercados internacionais: a bolsa sua caiu 5%. O Credit Suisse First Boston, suo,

    declarou uma perda de 250 milhes. O dlar canadense, que s se altera de meio em

    meio sculo, foi desvalorizado. Atingiu a menor cotao em 140 anos de existncia. Em

    Wall Street, o ndice Dow Jones industrial caiu 4,2%, a terceira pior queda em 11 anos. O

    americano Bank of America perdeu 220 milhes;

    investidores internacionais: a imploso da economia russa abalou investi-

    dores experientes, que ganhavam muito dinheiro especulando em economias

    emergentes. O mais importante exemplo foi o do megainvestidor George Soros, um

    hngaro naturalizado americano conhecido por ter ganho um bilho de dlares numa

    aposta contra a moeda inglesa em 1992, num dos primeiros e mais famosos ataques

    especulativos contra um pas. Ele enviou uma carta ao jornal ingls Financial Times,

    afirmando que a Rssia deveria ancorar o

    rublo ao dlar. Os investidores desataram a vender aes e ttulos e o governo russo

    acabou caloteando seus credores. Soros, que administra mais de 20 bilhes de dlares

    em diversos fundos de investimento e o maior aplicador estrangeiro na Rssia, perdeu

    dois bilhes de dlares em aes e ttulos do governo. Outros fundos de investimento

    americanos, menos conhecidos do grande pblico, como o Everest Capital, o Omega

    Fund, do investidor Leon Cooperman, e o Hub Fund, perderam mais de 500 milhes de

    dlares, cada um, na Rssia.

  • 15

  • 16

    Crises Financeiras no Mercosul

    O fenmeno da globalizao exigiu a formao de blocos de cooperao entre pases de

    uma mesma regio com o objetivo de fortalecer-se ante o mercado internacional. No

    caso dos pases da Amrica do Sul, esse bloco foi chamado "Mercosul".

    o Mercosul, composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, teve sua origem

    com a assinatura do Tratado de Assuno em 26 de maro de 1991, constituindo um dos

    mais importantes blocos econmicos do mundo, em virtude de sua posio geogrfica,

    das dimenses territoriais-e demogrficas dos pases-membros.

    O objetivo do tratado era criar um mercado unificado entre esses pases, o que pres-

    supunha a livre circulao de mercadorias, servios e fatores de produo, trabalho e

    capital, com o fim de aumentar a eficincia econmica reduzindo barreiras tarifrias e

    custos de exportao, propiciar condies para um nvel maior de concorrncia no setor

    produtivo.

    A partir de janeiro de 1995, consolidou-se a unio aduaneira, o que implica a existncia

    de uma zona de livre comrcio, dada pela inexistncia de barreiras de importao entre

    os pases que o constitui, e uma tarifa externa comum.

    Atualmente, o Mercosul est em fase de implementao do Mercado Comum, o que

    implicar a livre mobilidade de servios e fatores produtivos entre os membros e a

    adoo de uma poltica comercial comum para exportar .

    Crise Brasileira:

    A primeira grande crise ocorrida no Mercosul foi a crise brasileira, que afetou todos

    os outros membros do bloco, principalmente a Argentina, sua principal parceira no

    comrcio exterior.

    O modelo da "ncora cambial" adotado pelo Brasil para controlar a inflao baseou-

    se no conceito das "bandas cambiais" (intervalos restritos de variao do preo do dlar).

    O Plano Real conseguiu seu objetivo bsico, contendo a inflao e estabilizando a

    moeda, mas para sua sobrevivncia era necessria e imprescindvel a realizao de

    reformas polticas, fiscais, tributrias, entre outras, que, em funo da falta de respaldo

    poltico, foram deixadas em segundo plano, expondo o Brasil a uma situao econmico-

    financeira vulnervel diante do mercado internacional.

    A crise no mercado internacional forou a desindexao do real em relao ao dlar,

    e a introduo do cmbio flutuante.

    Ao liberar o cmbio, em 14 de janeiro de 1999, o governo brasileiro desestabilizou o

    Plano Real e abalou a sua imagem internacional. Essa mudana na poltica cambial foi

    realizada por falta de opes, em momento inadequado. Houve um erro do Banco Central

    do Brasil na avaliao dos impactos dessas medidas, provocando crise de natureza

    cambial e desequilbrio nas contas externas.

    Como primeira tentativa para controlar a crise foi criado o sistema de flutuao do

    real contido em "bandas" mais amplas que anteriormente, mas isso no durou muito

    tempo e, como consequncia, o Banco Central foi obrigado a vender um bilho de dlares

  • 17

    para defender-se dos especuladores.

    A sada da crise ocorre com uma combinao de: ajuste oramentrio; flutuao de

    sua moeda; um importante pacote de ajuda organizado pelo FMI e pelo BIS; e implicao

    dos bancos internacionais na manuteno do financiamento a curto prazo.

    Causas da Crise:

    sobrevalorizao do real ante o dlar: o Brasil vinha mantendo o dlar em uma

    cotao irreal, gastando bilhes de dlares de suas divisas para manter a fora de sua

    moeda. Somente durante os seis meses anteriores crise foram gastos cerca de 40

    bilhes de dlares, sendo cinco bilhes somente nas duas primeiras semanas de janeiro,

    tentando se defender do ataque dos especuladores. O governo federal per- deu a

    oportunidade de fazer um ajuste cambial em condies favorveis e teve que faz-lo em

    um ambiente internacional menos ameno. As reservas do governo caram para mais da

    metade em 18 meses, passando de US$ 72 para US$ 30 bilhes no auge da crise;

    dficit fiscal de 8% do PIE: mais recentemente, o ajuste fiscal, considerado, juntamente

    com o cmbio, uma ncora do Plano Real, sofreu um forte revs, Com a derrota do

    governo na votao relativa contribuio previdenciria de servidores pblicos ativos e

    inativos, caiu a credibilidade do pas e comearam a surgir rumores sobre um possvel

    calote da dvida pblica interna brasileira;

    dficit pblico: o Brasil tem uma despesa pblica incompatvel com o que produz e,

    sobretudo, com sua capacidade de financi-la. Alguns governadores de Estados

    comearam a questionar seus contratos de renegociao de dvidas assinados com o

    governo federal;

    dficit nas contas correntes de 4% do PIE: o crescente dficit comercial comprometia a

    estabilidade da economia, uma vez que o desequilbrio das transaes insistia em

    repetir-se ms aps ms;

    juros altos: o crescente aumento da dvida pblica federal e dos Estados em razo da

    poltica de juros defendida pelo governo federal gerou um dficit extraordinrio nas

    contas dos governos em todas as esferas;

    desemprego: o Brasil encontrava-se em recesso, com retrao econmica desde o final

    de 1998. Houve crescente aumento das taxas de desemprego, que de 5,313 passaram

    para quase 8% no momento mais profundo da crise cambial;

    especulao "Smart Money": o cenrio mundial, vivido nos mercados financeiros nos

    ltimos tempos, com as crises do Mxico, Tailndia, Indonsia, Coreia do Sul e da Rssia,

    estava voltil e criou uma teia de dependncia entre os pases emergentes,

    particularmente porque tornaram expostas as suas vulnerabilidades;

    as crises russa e asitica: o Banco Central do Brasil perdeu muitos dlares nos

    meses que se seguiram crise russa, em agosto de 1998. Os investidores comea-ram,

    naquela poca, a desconfiar que a combinao de dficit fiscal e dficit externo no seria

    sustentvel no mdio prazo. E isso deflagrou a fuga de capitais. As reservas caram de

    mais de 70 bilhes de dlares para cerca de 35 bilhes em seis meses. As crises

    internacionais levaram a um aumento da retrao nos fluxos de capital para os pases

    emergentes.

  • 18

    Repercusses da crise

    cmbio interno: a taxa de cmbio brasileira era rigorosamente controlada desde o incio

    do Plano Real. No dia 13 de janeiro de 1999 sofreu sua primeira desvalorizao, chegando

    casa dos 9,09%, j no dia 15 de janeiro de 1999, foi adotado sistema de cmbio

    flutuante, o que implicaria a determinao do valor do dlar em funo do mercado. O

    dlar teve sucessivas altas, chegando a ser negociado a R$ 2,17 no dia 29 de janeiro de

    1999 e comeando a cair depois. Logo aps a desvalorizao, os bancos internacionais

    cortaram a maioria das linhas de financiamento comercial brasileiras. No auge da crise,

    menos de 30% das linhas de comrcio eram renovadas. A volta dos dlares ao pas teve

    reflexo direto na taxa de cmbio. Em um regime flutuante puro, o cmbio resultado da

    oferta e demanda da moeda americana. Na poca mais grave da crise, a oferta quase se

    tornou nula, uma vez que o Banco Central parou de intervir e os investidores estavam

    apostando na alta do dlar. A normalizao do fluxo de dinheiro resultou em uma taxa

    entre 1,60 e

    1,70 real por dlar. Essa cotao corresponde a uma desvalorizao do real de cerca de

    35%, muito abaixo dos quase 80% vistos no auge da crise;

    inflao: de imediato, todos os produtos importados sofreram reajustes na casa dos 20%;

    os produtos com componentes importados tambm sofreram reajustes e algumas

    empresas aproveitaram o momento para reajustar seus preos. A fundao Procon

    percorreu cerca de 70 supermercados, no dia 21 de janeiro de 1999, e constatou uma

    variao de preos de 0,25% somente naquele dia. A Fipe apurou alta de 0,5% dos preos

    de janeiro, que subiu para 0,75% no ms de fevereiro. A Fundao Getlio Vargas apurou

    uma inflao de 0,84% em janeiro e 3,6% em fevereiro. Contudo, aps o repique

    inflacionrio, a taxa de inflao retomou aos baixos patamares anteriores;

    taxa de juros: no "olho da crise" o Banco Central elevou a taxa de juros cobrada em

    emprstimos a bancos de 19% para cerca de 42,5% ao ano. O aperto espalhou-se. Cheque

    especial, credirio e todos os tipos de financiamento ficaram mais caros. Essa poltica de

    juros contaminou as taxas do comrcio varejista, que fez com que girassem em algo como

    12% ao ms, ou mais de 250% ao ano. Essa mesma poltica fez as taxas bancrias

    explodirem, obrigando um pequeno empresrio a pagar 60% para um simples desconto

    de uma duplicata de 30 dias, e embutiu no carto de crdito da classe mdia juros mdios

    de 11%, fazendo a festa das corretoras internacionais. Com isso, ruiu-se o sistema

    produtivo, comprometendo os encargos financeiros das empresas de mdio porte com

    at 40% do seu patrimnio. S de juros da dvida pblica o Tesouro pagou entre abril de

    1997 e abril de 1998 R$ 53,2 bilhes. Neste perodo, o dficit foi de 6,72% do PIB,

    avaliado em R$ 900 bilhes. Na ltima semana de janeiro, a taxa de juros para

    emprstimos entre bancos (CDI) chegou a 34,43%. Os juros comearam a cair em um

    ritmo de 0,5% ao dia a partir de fevereiro, quando a situao comeou a estabilizar-se.

    bolsas de valores: no incio, houve exploso de euforia nas bolsas brasileiras - nos trs

    dias que se seguiram liberao, a Bovespa teve valorizao superior a 40% - mas depois

  • 19

    ocorreram quedas em funo da fuga de capitais. Temerosas com a crise brasileira, as

    bolsas de valores da Europa, em janeiro, fecharam em queda. Em Paris, houve uma

    desvalorizao de 3,24%. A bolsa de Frankfurt fechou em baixa de 3,01%. No mercado

    londrino, o resultado do prego foi de -2,67%. A bolsa de Milo desvalorizou-se 2,47% e

    em Madri houve perda de 3,11 %. A bolsa de Moscou fechou em baixa de 3,32%.

    Observa-se que o impacto foi grande nas principais bolsas do mundo.

    Crise Argentina

    Desde o incio do sculo XX, a Repblica Argentina ocupou uma posio de grande

    destaque entre as naes sul-americanas. Sua renda per capita, taxa de analfabetismo e

    ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) so os melhores do continente. Mas os

    avanos que levaram o pas a ser caracterizado como uma nao europeia na Amrica

    enfraqueceram a partir da metade do sculo, e a Argentina comeou uma trajetria em

    direo a uma grande crise, que culminou com uma convulso social e a queda do

    presidente Fernando de La Ra.

    Causas da Crise:

    crise poltica: em 1989, o presidente Ral Alfonsn renuncia durante urna hiperinflao. O

    presidente eleito Carlos Sal Menem assume o governo seis meses antes da data

    marcada. Em 1999, o oposicionista Fernando de La Ra chega presidncia com crticas

    ao modelo econmico e, em 2000, seu vice-presidente Carlos Alvarez renuncia,

    rompendo a coligao governista. Em outubro de 2001, a oposio; Masnista sai

    fortalecida das eleies e assume o controle da Cmara dos Deputados e confirma sua

    maioria no senado. A Argentina no aprendeu a viver sem um caudilho que tomasse as

    decises com pulso forte. Logo depois da ditadura militar argentinos elegeram Ral

    Alfonsn e Carlos Sal Menem, dois polticos fortes tinham total controle das estruturas

    de seus partidos e tinham poder para governar. Fernando De La Ra era outro tipo de

    governante. De voz quase inaudvel e semnenhuma liderana, s foi candidato porque o

    caudilho da Unio Cvica Radical, Ral Alfonsn, estava muito desgastado depois do

    desastre de seu governo. A consequncia desses fatos foi urna grave crise poltica que

    no se limitava j a governo e oposio, mas s relaes do governo com as provncias, e

    inclusive do governo com seu prprio partido;

    dficit pblico: governos paternalistas promoveram longos perodos de gastos pblicos

    sem controle, apoio irrestrito s reivindicaes sindicais e endividamento geral. Os

    regimes militares deixaram a indstria estatal enfraquecer-se e a iniciativa privada

    quebrar. Durante vrias dcadas, caudilhismo - modelo de poder centralizado similar ao

    exercido pelos senhores feudais na Idade Mdia - e a corrupo - propagaram-se pelas

    provncias e pelo governo federal;

    a convertibilidade: depois da estabilizao macroeconmica conseguida com a

    Lei de Convertibilidade de 1991 (vinculava o peso ao dlar; por lei, 1 dlar valia

    1 peso), que eliminou o problema da hiperinflao e restaurou em grande medida

    a confiana dos investidores internacionais ao longo da primeira metade da dcada de 90,

    a economia argentina conseguiu crescer de forma relevante ao longo da segunda parte

    dos anos 90. Mas nenhum pas deve atar sua moeda a outra sobre a qual no influi. Atar

  • 20

    o peso ao dlar exigia esforos em matria de dficit, reformas e estabilidade econmica

    para equiparar os cnones de funcionamento da economia argentina americana. Como

    resultado, diminuiu a competitividade das exportaes argentinas, houve endividamento

    e a execuo de polticas econmicas eficazes ficou limitada.

    choques externos: desde 1997, todos os choques econmicos mundiais impactaram a

    Argentina. Por fim, a liberalizao do cmbio no Brasil, em 1999, gerou desequilbrio em

    suas relaes de compra e venda, revertendo-se bruscamente contra os argentinos.

    Dezenas de grandes empresas platinas transfeririam suas operaes para o Brasil,

    gerando grandes perdas econmicas;

    dvida externa: a dvida externa sempre foi uma preocupao do governo argentino. Com

    a desvalorizao do real brasileiro em 1999, a dvida argentina dobrou de valor. J no ano

    de 2000, a dvida chegou a 52% do PIE (US$ 141 bilhes) e os credores internacionais

    comeam a suspeitar de um possvel default, S os juros da dvida consumiam 20% (US$

    10 bilhes) da arrecadao, ou quase a metade das exportaes. Em dezembro de 2001,

    a Argentina suspendeu o pagamento de US$ 28 milhes de um ttulo italiano, o que

    fechou o acesso do pas ao mercado internacional de capitais e deu incio maior

    moratria oficial da histria. Ainda que nestes momentos a dvida tenha alcanado os

    US$ 132 bilhes, o problema no era seu valor, mas a capacidade de gerar ingressos para

    pag-la.

    A existncia de diversos choques externos, tais como a apreciao do dlar, a

    depreciao do real brasileiro, a queda dos preos das commodities primrias, a

    desacelerao da economia mundial, entre outras, acabou criando um contexto

    extremamente negativo para a economia argentina, no qual a escassa flexibilidade da

    poltica monetria pela convertibilidade fixa do peso, o mal desempenho fiscal e a

    incapacidade de ganhar a confiana dos investidores internacionais pioraram seu quadro

    macroeconmico.

    Repercusses da crise

    A crise argentina trouxe para o pas fortes consequncias, visto que o pas deixou de

    pagar a dvida externa, declarando moratria e prejudicando sua credibilidade diante dos

    credores internacionais. Alm disso, houve deteriorao profunda da estrutura

    econmica e social do pas, que levou a uma estagnao da economia externa, a alta taxa

    de desemprego (cerca de 40% da populao economicamente ativa) e o aumento

    sensvel da pobreza.

    presso inflacionria: como primeira consequncia do plano de Duhalde, houve

    presso inflacionria significativa (80% de variao cambial pode levar a 30 ou

    40% de inflao) e aumento da recesso.

    cmbio interno: o dlar teve sucessivas altas, chegando a ser negociado a $ 3,90

    no dia 25 de maro de 2002 e comeou a cair depois.

  • 21

    Brasil

    A Argentina um dos principais mercados para as exportaes brasileiras de

    manufaturados. Ela representa 15% das exportaes do Brasil. A crise no afetou

    seriamente as vendas realizadas nesse perodo no pas, porm o seu prolongamento

    dificultou exportaes de setores como automveis, ao, calados, papel e outros itens

    que faziam parte da pauta brasileira no comrcio com a Argentina. O efeito sobre o

    cmbio existiu na medida em que os mercados internacionais associavam a economia

    brasileira economia argentina no Mercosul. Foi esse famoso contgio que acabou

    elevando o chamado "risco Brasil", reduzindo o ingresso de capitais externos de curto

    prazo e, dessa forma, forando uma desvalorizao adicional do real. Outra consequncia

    ocorreu no turismo. Anteriormente, o Brasil lucrava muito com turistas argentinos,

    principalmente nos Estados do sul do pas; com a crise ocorrida na Argentina, essa fonte

    de renda reduziu significativamente.

    Alm disso, tambm, o racionamento de energia na Argentina afetou o Brasil, visto que

    esta cortou 2,5milhes de metros cbicos de gs que fornecia ao Brasil diariamente sem

    sinalizar quando retomaria o abastecimento. Com o corte, a termeltrica de Uruguaiana,

    no Rio Grande do Sul, teve sua operao interrompida, o que afetou o abastecimento de

    energia eltrica na regio.

    Em matria de negcios, os empresrios brasileiros aproveitaram a crise para viajar at a

    Argentina para comprar empresas que estavam sendo vendidas por preos bem abaixo do

    mercado, aumentando assim a sua oportunidade de negcios.

    Peru e Paraguai

    A Amrica Latina, por um perodo, encontrou-se em convulso por causa de uma cri-

    se estrutural sem precedentes. Em 2001, o suposto pas-modelo do FMI, a Argentina,

    enfrentou uma crise poltica e econmica que mobilizou populao em assembleias,

    cortes de estradas e protestos. Diante da falncia daquele que uma vez foi um dos pases

    mais ricos do mundo, Peru e Paraguai disseram no privatizao das empresas nacionais

    por meio de manifestaes populares fortemente reprimidas com violncia e suspenso

    dos direitos civis.

    Uruguai

    No Uruguai, o confisco das poupanas dos bancos estaduais foi seguido por saques a

    supermercados e prises. A taxa de desemprego chegou a 18% e o presidente buscou US$

    1,5 bilho em um acordo de crdito com o FMI.

  • 22

    Crise do sub-prime

    A crise do sub-prime foi a maior noticia do cenrio econmico mundial de 2007.

    Considerada a maior crise desde a quebra da bolsa em 1929, ela gerou grande falta de

    liquidez no mercado, criando uma bola de neve na qual quem tem dinheiro no

    empresta, fazendo com que a moeda no gire e deixe toda a economia estagnada.

    O gatilho dessa crise foi o sub-prime, uma linha de crdito de alto risco em que o

    banco emprestava dinheiro para a compra de casas sem a necessidade do indivduo

    comprovar renda, ou qualquer outra garantia, apostando somente no crescimento do

    mercado imobilirio.

    Cronologia da Crise

    De 1968 a 1989: Os antecedentes da crise

    1968 A agncia estatal americana, Federal National Mortgage Association (Fannie Mae), transformada de uma agncia federal para uma entidade privada patrocinada pelo governo

    norte-americano com o propsito de criar liquidez no mercado imobilirio e garantir

    emprstimos a possveis compradores.

    1970 criado o Federal Home Loan Mortgage Corporation (Freddie Mac) como uma entidade patrocinada pelo governo norte-americano, cujo principal objetivo era comprar papis de

    hipoteca no mercado secundrio, combinar seus recursos e transform-Ios em seguros

    derivados das hipotecas para investidores.

    1977 O Community Reinvestment Act ratificado pelo congresso norte-americano, eliminando a necessidade de discriminao em emprstimos. O ato incentiva instituies financeiras a

    atender s necessidades de consumidores de todos os segmentos.

    1986 A Tax Reform Act (TRA) elimina a proibio de devedores pagarem seus emprstimos pessoais com juros das hipotecas.

    1989 O Financiallnstitutions Reform, Recovery and Enforcement Act (FIRREA) estabelece o Resolution Trust Corporation (RTC) para combater a inadimplncia que surgiu aps a TRA

    de 1986

    1997 Os investidores compram mais de US$ 60 bilhes em derivativos de hipotecas sub-prime (de baixa qualidade e alto potencial de inadimplncia). Este valor representou quase seis

    vezes o valor adquirido em 1991.

    1998 Inicia-se uma bolha no mercado imobilirio com a valorizao real dos imveis acima de 10% ao ano.

    2000 Fannie Mae facilita o crdito a inadimplentes e compra cerca de US$ 600 milhes em hipotecas suo-prime, enquanto o Freddie Mac compra US$ 18,6 bilhes de emprstimos

    sub-prime.

    Em dezembro, o Commodity Futures Modernization Act define Credit Default Swaps como

    ativos a serem negociados pelos hedge funds, bancos de investimentos e companhias de

    seguros com mnimo de regulamentao, contribuindo para a futura crise do Bear Stearns &

    Co, Lehman Brothers e AIG.

  • 23

    Entre 2001 e 2006: Os problemas do sub-prime

    2001 Em maro de 2001, a NBER (Escritrio Nacional de Pesquisa Econmica, na sigla em ingls) avaliou que a economia americana havia entrado em recesso na esteira da bolha das

    empresas "pontocom". O Federal Reserve iniciou ento uma sequncia de cortes de juros

    que levou a taxa a 1 % ao ano em junho de 2003. O Banco Central Americano (Federal

    Reserve) inicia uma trajetria de flexibilizao da taxa bsica de juros da economia no

    intuito de baratear os emprstimos e reaquecer o consumo, que vinha em processo de

    desacelerao com crise das empresas "pontocom"("bolha" de Internet).

    2002 Expanso do setor imobilirio em detrimento da reduo na taxa de juros continua alimentando a bolha imobiliria.

    2003 A taxa de juros americana atinge o seu menor patamar desde 1950, alcanando 1 % ao ano, de modo que o mercado americano atinge seu auge.

    2004 o Federal Reserve comea a aumentar a taxa de juros (passa de 1 % para 5,35%) como forma de conter as fortes presses inflacionrias.

    2005 Demasiada expanso da linha de crdito denominada sub-prime, elevando as taxas de retorno da negociao de ttulos imobilirios, o que levou grandes gestores de fundos e

    bancos nos EUA e Europa a adquirir ttulos das companhias imobilirias, gerando uma

    longa cadeia especulativa de venda desses papis.

    2006 Os preos dos imveis nos EUA comearam a cair. A elevao da taxa de juros americana, iniciada em 2004 encarecendo o custo do crdito, aumenta a inadimplncia e afasta os

    consumidores, gerando um desaquecimento no mercado imobilirio.

    Diante disso, o crdito desacelera no EUA e gera um clima de desconfiana nos principais

    bancos da Europa que adotaram medidas de preveno.

    Fevereiro a agosto de 2007: Contgio do sub-prime

    Fevereiro O no pagamento dos crditos hipotecrios nos Estados Unidos se multiplica e provoca as principais concordatas e falncias de bancos especializados do setor. O

    banco britnico HSBC anuncia um provisionamento de US$ 10,5 bilhes para

    cobrir eventuais perdas com emprstimos imobilirios nos Estados Unidos. O

    banco havia adquirido em 2005 e 2006 vrias carteiras de emprstimos

    hipotecrios para clientes sub-prime.

    Abril A New Century Financial, especializada em emprstimos suo-prime, pediu concordata e demitiu metade dos seus funcionrios. Com suas dvidas sendo

    repassadas para outros bancos, o mercado sub-prime comeou a entrar em

    colapso.

    Julho O banco de investimentos Bear Stearns anuncia que seus investidores no conseguiro resgatar o dinheiro investido em seus fundos de hedge em funo dos

    sub-prime. O diretor do Federal Reserve, Bem Bernanke,

    diz que a crise do sub-prime pode custar US$ 100 bilhes

    Agosto O crdito mundial comea a encurtar medida que pases descobrem a natureza

    de seus emprstimos derivados de hipotecas sub-prime. Bancos centrais

    coordenam esforos para aumentar a liquidez mundial pela primeira vez desde 11

    de setembro de 2001.

  • 24 Dezembro 2007 a maro de 2008: Medidas para conter a crise

    06/12/2007

    22/01/2008

    07/02/2008

    17/02/2008

    11/03/2008

    16/03/2008