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Page 1: Ebook Crises Conteúdo Livre
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“...pois somos levados pelo caminho que desejamos seguir.”

- Ensinamento Judaico

“Eis a maior bondade que nos deu o Rei do Universo neste mundo: colocar ‘sua caneta’ em nossas mãos e permitir que apreciemos a mais elevada dignidade

possível a fim de desenharmos a vida que desejamos ter. Assim, ao executar o projeto, depende de nós

construirmos um calabouço, um casebre ou um palá-cio.”

- Abraham Shapiro

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Se você quiser lidar bem com a vida, é preciso desenvolver

a capacidade de olhar para duas direções ao mesmo tempo:

para o passado e para o futuro. Quanto ao presente, só o

que se faz com um propósito tem o poder de preenchê-lo

com valor real. Sem isso, o tempo é meramente quantitativo

e a vida, apenas uma existência vazia.

Dedico este livro a todos os homens e mulheres que buscam

investir seu tempo com inteligência e creem no esforço

como meio para conquistar este objetivo.

“Ensina-nos com o contar de nossos dias a alcançar

a sabedoria do coração”

- Salmos 90,12

Dedicatória

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Haverá uma razão por que as crises acontecem?

Será questão de fé? De mérito pessoal? Ou coletivo?

Cada ação e fato da vida de um indivíduo, mesmo o mais aparentemente isolado, conectam-se a um

número imenso de ações e fatos de seus semelhantes e de tudo o que há no mundo como um todo

– sejam tais ações e fatos pequenos, grandes, fracos, fortes, intensos ou extensos. Estas conexões

geram resultados geralmente incalculáveis ou imprevisíveis, imediatos ou remotos. Mas chega a hora

em que as consequências dessas interações se acumulam. Uma das possibilidades emergentes são as

crises.

Existem crises pessoais e coletivas. Como se processam?

Creio que devamos começar a falar sobre crises partindo do princípio de que nada neste mundo é

aleatório ou casual. “Deus não joga dados”, disse Albert Einstein. Há leis naturais e sobrenaturais que

regem o funcionamento até mesmo de uma folha verde ou seca que se desprende do galho de uma

árvore, e cai; de uma lâmina de grama verde que cresce e fenece; de um grão de trigo que cai na terra

e germina... e de tudo mais.

Qual é a razão das minhas crises e desequilíbrios? Eu mesmo? As minhas escolhas? Os outros? Os de

perto ou de longe?

Ao pensar e falar das crises pessoais ou coletivas que vivi, a impressão mais nítida que tenho é que

seu impacto foi tão negativo quanto me deixei governar pela ansiedade e visão das minhas fraquezas

ou limitações.

INTRODUÇÃO

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Passei por crises que não me atingiram como calculei. Muitas não causaram prejuízos. Ao contrário.

Eu ganhei. O que me lembro bem é que, do lado de fora, eu e os demais prevíamos perdas graves.

Passado um tempo, o que ficou na realidade aproxima-se muito da imagem de uma violenta e bravia

tempestade marinha cuja turbulência não chegou senão a poucos metros da superfície. Daí para baixo,

tudo permaneceu calmo e tranquilo, sem qualquer sinal que permitisse detectá-la.

Algo manteve as vagas afora. O que terá sido? Fé, acredito. Fé em Deus. Pouca ou muita, não sei. Algo

me enchia da certeza de ser um evento necessário, imprescindível para a minha vida e cujo fim seria

acomodar itens importantes, até então em desordem.

Agi como pude. Agi sem parar. E o que me manteve em ação foi a ideia permanente de que Ele, o Rei

do Universo, age também. E sem parar. Com ou sem perturbação, tumulto, pressão e aperto, eu sei

que Ele está lá a fazer Sua parte em suster-me, prover-me força e ânimo, e eu, o meu trabalho, “pois o

homem nasceu para a labuta”, disse o velho e paciente Jó.

Eu aprendi que ser e estar ansioso corresponde, na prática, a um estado de cegueira parcial que nos

impede de ver as nossas potencialidades pessoais de que mais necessitamos para superar e vencer

problemas.

Crises requerem objetividade. Ser subjetivo e medroso é o mesmo que construir uma porta larga e

espaçosa para que seus danos tomem conta e destruam as nossas condições positivas internas – psi-

cológicas e físicas.

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O grande mestre e o guardião dividiam a administração de um mosteiro zen.

Certo dia, o guardião morreu e era preciso substituí-lo. O mestre reuniu todos os discípulos para

escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente a seu lado.

- “Vou apresentar um problema” - disse o Grande mestre – “e aquele que resolvê-lo primeiro, será o

novo guardião do nosso templo.”

Terminada sua fala, colocou um banquinho ao centro da sala e um raro e caríssimo vaso de porce-

lana sobre ele, com uma rama maravilhosa de flores de cerejeira frescas e perfumadas a enfeitá-

-lo.

- “Eis o problema” - disse o grande mestre.

Os discípulos, perplexos, deliciavam-se com o que viam seus olhos: desenhos sofisticados incrus-

tados na fina porcelana, a elegância e pureza das flores, o equilíbrio harmônico do conjunto, tudo

formava um quadro perfeito e digno de contemplação. O que, de fato, aquilo representava? O que

fazer? Qual enigma se escondia por trás da visão?

Minutos se passaram até que um dos discípulos levantou-se, olhou seu mestre, os alunos à sua

volta, caminhou até o vaso, e então, num golpe veloz, apanhou-o de sobre o banquinho e atirou-o

ao chão, destruindo-o em mil pedaços.

Seguiu-se um silêncio embaraçoso até que o mestre se levanta, toma a mão do rapaz e anuncia a

todos os presentes:

- “Eis o nosso novo guardião!”

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E explica:

- “Eu fui claro. Disse que vocês estavam diante de um problema. Aprendam definitivamente que

não importa quão belo e fascinante seja aos olhos físicos, um problema é um problema, e tem que

ser resolvido, eliminado.”

Tudo mudou de um momento para outro? O mundo parecia claro e organizado e agora de cabeça para

baixo? Seja bem-vindo. Eis a dinâmica das crises. Se alguma vez sentiu isso e teve tal consciência, você

aprendeu a lição. E como bônus, entendeu, enfim, o que é e como é estar vivo!

Eu quero lhe ajudar a passar pelas crises com força e domínio plenos. Primeiro, não pressuponha que

você sabe tudo, pois, não sabe.

Em segundo, inculque na mente que há uma razão para cada crise. E se esta crise lhe sobreveio, ela

diz algum respeito a você. Seja na causa ou no efeito, você é parte dela. De nada adianta negá-la ou

minimizá-la.

O que não se faz numa crise?

Esperar – sentado, dormindo ou acuado – que tudo se acomode por si: isto não condiz com a lógica deste planeta.

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Aliás, vai aqui um desagravo. Aquele que chamou a este planeta “Terra” – e não foi o Criador, tenho

certeza – estava longe demais de conhecer sua real essência ou finalidade. Mais realista e coerente

seria “Mundo das Ações”. Estaria ótimo e conforme sua realidade.

Permita-me uma ressalva para o bem da minha proposta. “Mundo das Ações” nada tem com investi-

mento em bolsa de valores. Antes, faz menção ao fato de ser este um lugar onde tudo só acontece

através do esforço, da atitude. O verbo sobre o qual se fundamenta este mundo é o verbo “agir”. Ação

é o que realiza pensamentos, ideias, inspirações e planos concebidos no cérebro, na imaginação, com

participação das emoções e de todos os demais elementos que compõem o homem.

É fundamental entender isto na análise das crises.

Ilusão é achar que tudo virá pronto e empacotado, como uma sopa instantânea. Talvez fosse a nossa

intenção ou desejo que assim fosse. Porém, a ação é o que importa, é o faz diferença. Isto é definitivo

em vista de tudo – do bem, da paz, da justiça, da educação, equilíbrio e elevação espiritual, ou tam-

bém do contrário disso.

Homens e mulheres são os executores de quaisquer projetos. Para tanto, fomos munidos de poten-

ciais maravilhosos que funcionam como meios pelos quais tudo sai do papel ou da ideia e se faz reali-

dade. Tudo dirigido pelo livre arbítrio.

“Se alguém reza pedindo paciência, Deus lhe dará paciência ou a oportunidade de ser paciente? Se

implorar por coragem, Deus lhe dá coragem ou a oportunidade de ser corajoso? Se orar pedindo

pela união da família, Deus dará sentimentos amorosos ou oportunidades para todos se amarem?”

- Discurso extraído do filme “O Todo Poderoso”, de 2007, com Steve Carell e Morgan Freeman

nos papeis principais.

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Nisso consiste o discurso do ator Morgan Freeman no filme citado anteriormente.

Alguns tomam as oportunidades para si, tiram o melhor proveito, e prosperam. Outros as menospre-

zam, e prosseguem pela vida reclamando de que foram injustiçados.

Quem jamais teve um colega de escola que vivia “duro”, e hoje está bem de vida? O que explica isso?

Oportunidades que você não teve, e ele sim?

Conseguir enxergar as oportunidades é a diferença entre o sucesso e o fracasso.

- “Como pode ser?” – diz o investidor revoltado. “Eu passava por aquele terreno há tanto tempo e nun-

ca observei que a região seria de imensa valorização!”

- “Por que não esperei dois anos mais para vender o sítio?” – diz o herdeiro. “Hoje vale cinco vezes

mais!”

Se você procurar, encontrará algo em casa que use velcro. Esta é uma invenção sensacional, de 1941,

criada por um curioso engenheiro suíço. Observando carrapichos que grudavam na sua roupa e no

pelo de seu cão nas caminhadas pelo campo, ele entendeu a potente aderência que o vegetal tinha

nos tecidos. Desenvolveu um produto para unir materiais de forma reversível, e daí nasceu a Velcro

S.A, uma empresa que fez dele um verdadeiro milionário. Para muitos o carrapicho é só um incômodo.

Não para aquele engenheiro. Ele pensou de modo útil sobre algo que esteve lá para todos, igualmente.

Sorte? Não. Visão!

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Em inglês há um interessante jogo de palavras: OPPORTUNITYISNOWHERE. É possível extrair duas fra-

ses dessa sopa de letras. Uma é:

São as mesmas letras, mas com sentidos opostos. Depende de como se lê.

É assim com qualquer oportunidade. Depende de ver, depende de enxergar, e depois, da atitude em

relação a ela! Deus e a natureza nos proporcionam oportunidades. O resto é conosco. É questão de de-

cisão, do tipo “fazer ou não fazer”, “aproveitar ou não” as chances que surgem a cada instante diante

dos olhos.

- “Não há vida sem crises”.

Todos concordam? Se sim, por que, então, as desprezamos ou fugimos delas em lugar de enfrentá-

-las?

Perguntas, perguntas e mais perguntas. O sucesso nunca dependeu tanto de se fazer perguntas como

agora. E a qualidade dessas perguntas faz toda a diferença.

Eu desejo trazer alguma luz sobre algumas questões neste livro. E, se Deus permitir, também mapear

algumas das possibilidades de superá-las.

OPPORTUNITY IS NOWHERE – oportunidade está longe. E a outra:

OPPORTUNITY IS NOW HERE – oportunidade está aqui agora.

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Será isto possível? Há algum ser humano capaz de reagir de modo tão elevado em um momento de

tamanha dificuldade?

A ausência de conceitos e valores na vida do homem traz sofrimentos e custa caro. Não ter entendi-

mento mínimo sobre o que é uma crise, por exemplo, torna-se um impedimento para quem busca

extrair real proveito da vida e desenvolver-se.

Disse um sábio:

“Mesmo com uma espada afiada sobre o pescoço, o homem não deve se desesperar e nem parar de rezar”.

- Pensamento Judaico

CAPÍTULO

1CRISES: MEDIDA DE GRANDEZA

“Quando você foge da responsabilidade que tem em um lugar para estar em outro, duas coisas ficam imperfeitas:

o local onde era preciso que você estivessee o local onde você se encontra agora”.

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Atingidas por uma crise, as pessoas exclamam:

- “E agora? Como vamos sair dessa?”

A resposta a esta pergunta – não em termos teóricos, mas práticos – é o mais preciso indicador da

grandeza ou pequenez de quem vive a situação a que ela se refere.

Por quê? Não há vida sem crises. Só os mortos não as têm.

O que é crise? Os dicionários definem como “estado de súbito desequilíbrio, incerteza, vacilação ou

declínio”. Mas um conceito muito especial é o que recebi, certa vez, do meu mestre. Ei-lo:

- “A crise é uma ruptura entre o coração e o cérebro. Razão e sentimentos funcionam como duas en-

grenagens de uma máquina. Cada uma aproveita as vantagens da outra, e assim, esta máquina mara-

vilhosa – o ser humano – funciona em harmonia. Na chegada de uma crise, elas tendem a se dissociar.

Se os sentimentos, que são mais imediatistas, predominarem, o que se vê a partir daí é desordem in-

terior. Emoções e razão tenderão a não operar mais com sinergia, e esse estado poderá levar a pessoa

ao desespero ou a perdas muito grandes”.

Tenho para mim que crise é um tema que todo ser humano deveria saber discorrer com desenvoltura.

É inerente à vida, do nascimento à morte. Mas parece que gente alguma entende. A reação natural e

frequente é negá-la, fugir dela, achar que o mundo acabou, ficar mentalmente paralisado ou bloque-

ado, cair na depressão e desespero, isolar-se da sociedade ou até ensimesmar-se de forma doentia.

Não raro há os que se refugiam nas drogas ou outros vícios. Porém, o mecanismo de defesa mais

comumente empregado é a negação!

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Fugir de uma crise é abandonar uma oportunidadeincomparável de tornar-se grande.

“Não existem dificuldades ou crises.O que há, sim, são oportunidades.”

As crises existem para extrair o melhor do ser humano. O sentido de qualquer crise está muito menos

em sua natureza – existencial, financeira, familiar etc – do que em seu objetivo.

Todos nós temos potencial intrínseco para a grandeza. Para externá-lo é preciso resistir às ondas da

vida e vencê-las. Trata-se de uma importante etapa de um projeto de capacitação do homem engenha-

do pelo Criador.

Daí serem as crises, em geral, circunstâncias em que os atributos ocultos, desconhecidos ou incons-

cientes tornam-se visíveis sob a forma de inteligência, brilhantismo, força, agilidade, eficácia, produti-

vidade, ideia criativa e mais.

UM ELEMENTO-CHAVE

Se é de sabedoria o que mais se necessita para entender o mecanismo das crises e superá-las, o ponto

de partida deste livro será um postulado que enunciarei a seguir:

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Qualquer crise só tem existência e endereço de destino justificados pelo objetivo de reforçar positiva-

mente a vida daquele sobre quem ela vem, isto é, amadurecê-lo e elevá-lo.

Hoje já se sabe que o caráter de um indivíduo não se desenvolve apenas durante algumas fases espe-

cíficas de seu crescimento, mas estende-se por toda a existência. As experiências que ele vive a cada

dia, a cada instante, as leituras que faz dos fatos mais insólitos, as reações que tem e mantém frente a

aspectos programados ou não do cotidiano moldam suas competências, características e valores.

Assim, na hora do aperto, caem as máscaras, as molduras e os rótulos. A pessoa se dá a conhecer

como é. E quanto à maturidade só se prova quando o homem é submetido a dificuldade. Por isso, é

certo dizer que não há vida criativa sem crise.

O PASSADO FAZ DIFERENÇA NO PRESENTE

Uma das formas de se conseguir sabedoria na vida é olhar e aprender com as gerações anteriores.

O que se precisa é desenvolver a capacidade de olhar para duas direções simultaneamente: passado e

futuro.

Olhar para o futuro, na prática, significa estar sempre alerta para que nada surpreenda. Não se trata

de perder tempo sonhando com um final feliz para os planos, mas avaliar as possíveis armadilhas que

eventualmente poderão surgir ao longo da caminhada.

E o que é “olhar para o passado”? É principalmente aprender com o que os antepassados fizeram de

certo e errado, não com ressentimento ou rancor contra o que nos desagradou, porém, buscando abs-

trair prudência e prontidão.

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Só deste modo o presente torna-se mais simples de ser vivido, contudo não mais fácil.

Viver não é fácil. Em tempo algum.

A coisa certa a ser feita para atingirmos o melhor da vida é não perder tempo com sonhos, muito

menos passar a existência como vivendo em um museu. Antes, aprender com tudo. Assim é que se

enfrenta a realidade sob sua real perspectiva.

Os nossos ancestrais podem ter aberto caminho para termos facilidades frente a muitas situações que

talvez julguemos inéditas, como nessa interessante história

Com a aproximação do inverno, os índios de uma tribo da América do Norte foram a seu cacique

perguntar:

- Chefe, será que teremos um inverno rigoroso ou será ameno?

O chefe, vivendo tempos modernos, não tinha se aplicado a aprender a tradição dos segredos de

meteorologia de seus ancestrais. Mas claro, não podia mostrar insegurança ou fraqueza a seus

liderados. Por algum tempo olhou para o céu, estendeu as mãos para sentir os ventos e em tom

sereno e firme disse:

- Teremos um inverno muito frio... é bom nos prepararmos colhendo muita lenha.

No dia seguinte, preocupado com o “chute” que deu sobre algo que não sabia, foi ao telefone e

ligou para o Serviço Nacional de Meteorologia e ouviu a resposta:

- O inverno que vem aí será muito frio.

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Sentindo-se mais seguro, o cacique dirigiu-se a seu povo e pronunciou-se novamente:

- É melhor recolhermos muita lenha... teremos um frio muito severo.

Dois dias depois, a fim de assegurar-se, ligou novamente para o Serviço Meteorológico e ouviu a

confirmação:

- Sim, senhor... Este ano terá um inverno será muito rigoroso.

Voltou ao povo e disse novamente:

- Teremos um inverno bastante rigoroso. Recolham todo pedaço de lenha que encontrarem e os

gravetos também.

Uma semana depois, ainda não satisfeito, ligou para o Serviço Meteorológico outra vez:

- Vocês têm certeza de que o inverno será forte?

- Sim. Neste ano o frio será intenso, nós temos certeza.

- Permita perguntar: como têm tanta certeza?

- Nós observamos os índios. Eles estão recolhendo muita lenha este ano e sua sabedoria sobre a

natureza é bastante considerável. Nós respeitamos seu comportamento diante da natureza como

uma informação importante na previsão do tempo.

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Se hoje o mundo enfrenta crises de amplitudes jamais vistas antes, confrontando valores morais e

éticos em proporções incalculáveis, o comportamento e a conduta de todos farão diferença para que

se saia delas com os benefícios para os quais elas vieram. E isto depende do modo ser de cada um e

da relação de confiança entre as pessoas. Bom seria se as instituições, os governos e todos os demais

componentes da sociedade fossem confiáveis. Afinal, estamos todos no mesmo barco.

FUGA

Todo ser humano tem a tendência natural de achar que a crise é uma perturbação injusta e, por isso,

dispensável ou evitável. Ninguém pensa ser ela importante e imprescindível para seu desenvolvimento.

Como foi dito na introdução, todos concordam que não há vida sem crise. Então por qual razão rejeita-

mos as dificuldades inerentes à vida? Por que reagimos com desânimo, depressão ou estresse em vez

de coragem e bravura para atacarmos os problemas, a exemplo daquele jovem discípulo no templo

zen? Se cremos existir algum benefício nas crises, este deveria ser o comportamento a ser adotado.

A resposta a estas questões é complexa. Mas importa saber desde já que

O sofrimento humano não está na crise em si,mas na ótica com que ele a encara.

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Todo ser humano tem a tendência inicial de achar que a crise é uma perturbação injusta e, portanto,

dispensável. Ele não lida com a hipótese de que ela é parte importante de seu desenvolvimento. Portan-

to, sempre há e haverá duas alternativas para se resolver uma crise:

► Primeira: mudar a situação – o que nem sempre é possível.

► Segunda: mudar o modo de vê-la e interpretá-la.

Não são os acontecimentos que nos ferem, mas a visão que temos deles.

As coisas em si não nos machucam, nem criam obstáculos. As pessoas também não. O problema está

no nosso ponto de vista particular.

Ninguém tem o poder de escolher todas as circunstâncias de sua vida. Algumas, sim. Porém, sempre

está a seu alcance escolher a maneira como reagir a elas.

Está no nosso pleno poder de decisão e controle o modo como nos relacionamos com as nossas cir-

cunstâncias pessoais.

Hoje, a psicologia sabe que a personalidade de um indivíduo está ligada a suas experiências e à leitura

dos fatos que ocorrem a sua volta.

Decorre daí ser nas horas de aperto que as pessoas se dão plenamente a conhecer. Caem as máscaras,

os rótulos e as molduras com que enquadram a realidade; vão-se as simples impressões e suposições;

entram em cena as certezas. A verdade, então, vem à tona.

Em condições normais, quando tudo vai bem, externamos uma fração insignificante daquilo que ver-

dadeiramente somos. Ao chegar as turbulências, salientam-se as qualidades e, então, quanto melhor

fundamentado estivermos sobre princípios e valores, maior aprendizado e crescimento iremos absor-

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ver. Quanto mais conceitos armazenados no nosso acervo interior, tanto mais entendimento teremos

sobre as circunstâncias em que nos encontramos.

É lamentável que as pessoas se percam em pensamentos de que as crises são destrutivas. É um equí-

voco. Se somos lapidados ou moídos pelos problemas da vida, isto depende apenas do material de

que somos feitos – se diamante ou barro.

VOCÊ É BOM MESMO?

Humildade é ferramenta de mil utilidades. E também o principal item da caixa de primeiros socorros

para momentos de crise. Em tempos de crise, faça bom uso dela e você verá tudo ir bem para você.

Contra-indicado é o orgulho.

O casal já não se falava há pelo menos três dias. Lembrando que na manhã seguinte teria uma

reunião bem cedo em seu escritório, o marido precisava levantar-se antes do horário costumeiro.

Assim, resolveu pedir à mulher que o acordasse. Mas para não dar o braço a torcer, escreveu sua

necessidade num bilhete, que dizia: “Acorde-me às 6 horas amanhã, por favor.”

O dia seguinte chegou, e o homem levantou-se espontaneamente. Ao olhar para o relógio, quase

teve uma síncope ao ver que já era nove e meia.

- “Que absurdo!” - disse para si. “Que falta de consideração! Ela não me acordou. Isto foi pirraça,

tenho certeza.”

Nesse momento ele olha sobre seu criado mudo e lá está um papel escrito: “São seis horas da ma-

nhã. Acorde e levante-se para não perder a sua reunião!”

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Isto me assusta. A que ponto somos capazes de chegar quando movidos por orgulho, arrogância e

egoísmo, Deus não nos permita!

Ainda que espantoso, vejo grandes e pequenas empresas em clima muito próximo deste trágico e

comum cenário conjugal. Na sua empresa, neste exato momento, coisas que deviam acontecer não

acontecem, ou o contrário. Sabe por quê? Por orgulho de alguém que age contra outro alguém. Um

gerente prejudica um diretor. Um vendedor recusa-se a fechar o pedido para que a meta do mês não

seja atingida. Um engenheiro compete com o responsável da produção. Um estagiário introduz um

vírus na rede de computadores. A recepcionista maltrata um visitante ou cliente ao telefone.

Descontada a falta de treinamento, a razão de quase todos estes desvios é apenas e tão somente o or-

gulho. Ele é o mais importante e definitivo ingrediente de muitas crises. E está aí, próximo de qualquer

homem e mulher: nas atitudes de gente boa ou má, religiosa ou leiga, profissional ou amadora. Todos

podem ser dominados pelo orgulho, se permitirem ou quiserem.

Um ambiente de trabalho apoiador nutrido pelos bons exemplos de um líder tem influência bárbara

sobre o controle deste mal.

Se você quiser minimizar a tendência do orgulho sobre os relacionamentos interpessoais e eliminar

poderosas chances de prejuízos, comece afastando-se do autoritarismo e do paternalismo. Nem um,

nem outro faz bem. Qualquer um destes dois modos de chefiar é o chamariz mais eficiente para o

orgulho.

Todavia, ser correto e justo; respeitar as pessoas e sua dignidade; manter seus direitos e a honra de

seres humanos; usar de bons modos; oferecer ajuda e orientação a quem necessita; treinar e autode-

senvolver competências... isto cura, além de ser regras claras e exequíveis para a construção de um

mundo melhor.

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Você que se desespera com as oscilações do mercado e acha que o lucro da sua empresa depende da

bolsa de valores Ostropólia Setentrional, mude o seu pensamento agora mesmo. A menos que você

seja um megaespeculador, é quase 100% certo que você está preocupado com o que pouco ou nada

tem a ver com você.

As análises econômicas não determinam nem predizem o seu sucesso. Elas tratam da macroeconomia.

tUma análise setorial, sim, talvez dissesse algo sobre o seu negócio. E, mesmo com uma análise desse

tipo, deve-se considerar o modo como você e o seu pessoal trabalham, e a saúde financeira da sua

empresa para chegarmos a uma conclusão realística.

Portanto, o melhor conselho que posso lhe dar em tempo de crise é: continue a produzir e a vender.

Aplique-se a conhecer o seu mercado, os clientes, os seus funcionários e explore as oportunidades

que estão aí para quem sabe aproveitar. Meta a crise na cabeça e comece a perder no instante seguin-

te. Você quer isso?

- “O dólar foi a R$ 2,10”. “Agora está a R$ 1,90”. “Subiu de novo e foi a R$ 2,70!!!”; “Desça da janela, Roberto. Já voltou a R$ 2,00 de novo.”

CAPÍTULO

2CRISES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS

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Todas as crises passadas se foram! E você continua aí! As pessoas não pararam de comprar o que

precisam. Sempre haverá nova fatia de mercado para a sua equipe de vendas buscar. Faça-a enxergar

isso! Talvez os membros dessa equipe não consigam ver e precisem da sua ajuda para que vejam isso.

Agora é o momento ótimo para refletir sobre o seu modo de trabalhar. Injete energia nova em si mes-

mo e na sua equipe. E conscientize-se de que, por pior que as coisas estejam em qualquer parte do

mundo, há gente demais precisando do seu produto ou serviço. Vá procurar estas pessoas e combata

a crise com trabalho duro!

Há algo que preciso esclarecer: ficar de braços cruzados não é uma reação a crises aceita por pessoas

conscientes do valor da vida e de seu papel no mundo. Talvez o seja para gente vazia de propósito,

que espera apenas por boa vida e benefícios gratuitos.

É preciso “fazer” algo. Agir! Atitude.

O ser humano tem a seu dispor três diferentes níveis de ação. O nível natural, para o qual não se

requer esforço algum para o desempenho. O nível situacional, que, em função da situação, a ação é

executada com algum esforço. E o nível atitudinal, que exige o investimento de boa energia para que

se desempenhe à altura da realização.

Quando se diz ser este o Mundo das Ações, isto significa que há a necessidade de que se invista esfor-

ços em tudo o que se faz para que um resultado seja obtido.

Está na Bíblia “...e Deus abençoará tudo o que as tuas mãos fizerem”. Isto se refere a “fazer”, ou me-

lhor: esforço real em tempo real.

“E Deus abençoará os feitos”, as obras. Esta bênção Divina destina-se àquilo que “foi feito ou realizado

por alguém”. Não é Deus quem faz, mas o homem. E a bênção do Todo-Poderoso sobrevem ao feito.

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O trabalho é um meio para se obter sustento,e não um fim.

O trabalho é um meio para se viver melhor, para se sentir melhor e para ser melhor – ajudando as pes-

soas a também alcançarem este estado e construindo um mundo justo e bom.

Segundo esta visão, o trabalho assemelha-se a um receptáculo com que é preenchido com bênçãos de

Deus – o sustento.

Imagine uma chuva torrencial. Você conseguirá juntar água na medida do recipiente que expuse à chu-

va. Se muito pequeno, pouco volume de água será retido. Se grande demais, você poderá frustrar-se

por não encontrá-lo cheio. A “chuva” aqui é bênção de Deus. A vasilha, o esforço no trabalho.

Vestir uma calça grande demais para se fazer uma longa caminhada pode só aumentar o risco de tro-

peçar. Se, por outro lado, ela for muito apertada, o outro problema será o desconforto. A calça ideal é

aquela que veste o tamanho correto do corpo de quem irá caminhar.

Todo trabalho requer um esforço. De nada adianta ser exagerado ou brando. Mas deve ser na medi-

da necessária para equilibrar-se com todas as outras situações importantes e necessidades da vida:

estudos, família, reflexão pessoal, autodesenvolvimento etc. O pré-requisito é que seja desempenha-

do com “a cabeça no lugar”, isto é, bem posicionada em relação aos relacionamentos e necessidades

humanas – os valores maiores da vida, os conceitos, os preceitos e a religião. Tudo isso deve estar

harmonizado no coração e na mente em vista de um trabalho bem feito.

Nesta vida há muitas coisas que merecem o nosso empenho para que tenham sucesso, não só o traba-

lho e ganhar dinheiro.

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Encontrar o sustento de cada dia é um dos maiores desafios. É tarefa complexa para qualquer um.

Mesmo para aqueles que causam a impressão de terem uma máquina de dinheiro na empresa.

Um homem de negócios deve saber que a saída para todas suas dificuldades não está onde ele progra-

ma ou calcula. Quase sempre as soluções aos problemas contradizem a lógica pré-estabelecida ou as

expectativas projetadas. A salvação sempre despista a lógica.

Em matéria de negócios, trabalho e sustento é preciso ter consciência do esforço para que se consiga

alcançar os objetivos.

A nós cabe fazer. Mas os resultados nem sempre são matemáticos.

Precisamos agir e, após isto, tudo quanto iremos conseguir depende também da forma como nos con-

duzimos na justiça, na verdade, no equilíbrio, nas regras da lei etc.

O seu esforço sozinho não cria realização. Ele lhe permite acessar a condição de “encontrar” os frutos

das sementes que você plantou.

É isso o que explica o insucesso de alguém que calcula e projeta todas as etapas de um negócio e

investe o devido capital, com know-how, contrata pessoas e realiza o marketing certo, enquanto outro

sujeito, que nunca se organizou nem fez planos, alcançou prosperidade de modo surpreendente. A di-

ferença entre estes dois vai acima da lógica. É invisível aos olhos e à contabilidade ou à administração.

Não se explica tecnicamente, pois envolve elementos que os olhos não veem.

Os sábios disseram:“Se você se esforçar, encontrará resultado!”

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O resultado que segue qualquer esforço é quase sempre não calculável e nem previsível.

Com esforço, planejamento, esforço, controle, mais esforço, justiça, conduta legal e correção, pode-se

ver coisas incríveis acontecendo acima do que as contas preveem.

Precisamos fazer planejamento e depois nos esforçarmos para atingir as nossas metas. Contudo, de-

vemos perceber que o sucesso final não está inteiramente nas nossas mãos. Apreciar o que temos é a

melhor das condições frente a isso.

Um homem sábio certa vez disse: “Se você não aprecia aquilo que já conseguiu, como irá dar valor a

qualquer outra coisa que venha a receber?”

Por isso, tudo nesta vida carece de ser conduzido passo a passo. Não devemos nos precipitar a fazer

tudo de uma só vez. Deus podia ter criado o mundo em um segundo, mas optou por fazê-lo em seis

dias. É prudente progredir medida por medida, ação por ação, etapa por etapa. Nada de ficar seduzido

pela tentativa de conquistar o máximo de uma só vez. Isto acaba em perda do controle da sequência

ou da situação. Num incêndio, acaba-se levando objetos sem nenhum valor ou utilidade por causa da

precipitação.

Negócios sempre causam a falsa e frequente sensação de que tudo deva ser feito com celeridade, se

não as chances passam. Não é verdade. Calma. Confie. Tenha fé de que “o que é seu é seu”. Comece a

agir, respeite o tempo de cada etapa do processo e esforce-se. O resultado virá.

É preciso ligar-se mais aos aspectos qualitativos do que apenas aos quantitativos do trabalho. Quem

se dedica exclusivamente a números, a medidas de eficiência e lucros, acaba confuso ou perdido no

emprego dos recursos de que dispõe. Via de regra, a recompensa por um bom e criterioso trabalho

com qualidade é seu consequente sucesso quantitativo.

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Certa vez, acompanhei a conversa entre o meu rabino e um engenheiro que passava por grandes

dificuldades em seus negócios. O homem voltou-se ao mestre, e disse:

- “É curioso. Por que é que Deus estaria interessado em submeter-se a uma prova? Será que Ele

precisa saber quem eu realmente sou?”

E o rabino respondeu:

- “Não se trata d´Ele saber quem é você, pois isto Ele sabe perfeitamente. Mas de você saber quem,

de fato, você é, e de que tipo de ‘material’ é feito. E como engenheiro, você sabe que isto só é possí-

vel através de testes.”

E o engenheiro riu desconcertado pela sabedoria do rabino e voltou a questionar:

- “Se existe um bem oculto por trás de um mal aparente, por que Deus age assim? Poderia não

ocultar nada e dar-nos este bem às claras.”

Agora foi o rabino que sorriu da ingenuidade do homeme e lhe disse:

- “De vez em quando um pai brinca de esconde-esconde com seu filho. A aventura do filho sair à

procura do pai reserva uma alegria por conta da descoberta. Deus também faz isso conosco. Ele

quer que nós O procuremos quando Ele Se esconde. Por que? Há uma alegria quando o achamos.

Este é Seu propósito nas crises.”

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GANHE-SE EM LUGAR DE PERDER-SE

Há aqueles que, em vez de tirar proveito da crise porque passam, perdem-se por causa da impressão

errada de que ela vem para trazer perdas e danos.

A mãe que se recusa a auxiliar o filho preguiçoso a fazer a tarefa escolar é uma mãe má? Ela conhece

seu filho esabe que, prosseguir ajudando-o será o modo mais rápido para desperdiçar sua potenciali-

dade e inteligência para os estudos. Assim ele será um vagabundo. Hoje, no entanto, ela se recusa a

dar socorro a fim de provocá-lo a tomar uma decisão responsável. Esta decisão poderá ser definitiva

para a vida do garoto. Ela sabe que esta rígida medida é uma prova de amor. Aparentemente é dura.

Mas por trás desta dureza, só existe bondade.

E o que dizer daquele vozerio desesperado de criança chorando que saia do interior de uma casa

quando eu fazia uma caminhada, dia desses? Ao averiguar, a imagem que se descortinou diante dos

meus olhos foi a de um menino de três ou quatro anos, sentado no colo da mãe, em cuja mão encon-

trava-se uma colher de remédio. A julgar só pela audição, qualquer um concluiria que uma maldade

estava em curso. Mas após examinar bem, cheguei ao veredito oposto. O que parecia mal, era agora

um bem. O pequeno não queria tomar o remédio, mas a mãe tinha o dever amoroso de obrigá-lo a

tomar para que se curasse.

Assim são as crises. Podemos dar a elas uma interpretação equivocada, que não corresponde ao real

objetivo de sua existência.

Voltando àquela conversa entre o rabino e o homem de negócios, o meu mestre ainda acrescentou:

- “Na relação de Deus com o homem, nós somos os filhos, e Ele é o Pai. O mal aparente de qualquer

crise contém um bem oculto e abundante. A crise, na verdade, é uma fonte presente de alegria

futura. O mal que imaginamos estar nos cercando agora é um bem pleno que está disfarçado, e só

veio para nos fazer melhores do que conseguimos ser.”

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Hoje eu sei que podemos demorar a constatar esta verdade. Mas com esforço, veremos que é cem

por cento real e concreta.

MANTENHA A CALMA

O que fazer quando o desespero chega junto da sensação de que tudo parece perdido?

A psicologia daria uma resposta. A religião, outra. A estratégia militar uma terceira. E por aí vai. A sa-

bedoria, entretanto, aconselha a não perder a calma e manter autocontrole.

Em meio ao desespero é bem capaz que se pergunte:

- “Será possível ter algum controle sobre si em condições críticas, perigosas ou de alto risco?”

Bem, eu não sou um expert no assunto. Para ser franco, sou um humilde aprendiz com médias não

muito altas nas provas a que já fui submetido. Mas posso dividir com você uma história que ouvi certa

vez e cuja reflexão tem me inspirado a compreender as bases de um princípio de que eu e você ne-

cessitamos empregar. Como Judeu, por toda a vida acreditei em histórias e ilustrações para comunicar

ideias. Isso, aliás, funciona há milhares de anos no meu Povo. Penso que irá ajudá-lo também. E eu

desejo isto.

Havia um pobre homem que ganhava a vida extraindo argila de escavações do solo e vendia para

construtores de casas.

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Um dia, enquanto escavava, encontrou uma pedra preciosa de rara beleza. Era muito grande e

brilhante, parecia de valor incalculável. Como ignorava seu real valor, foi a uma joalheria para

avaliá-la. O joalheiro declarou que naquele país não havia ninguém capacitado a fazer uma avalia-

ção à altura do preço provável da pedra, muito menos a pagar por ela. Somente em Londres seria

possível.

O homem era pobre. Não podia pagar uma viagem dessas. Decidiu vender tudo o que possuía,

mendigou de porta em porta, mas tudo o que conseguiu foi reunir dinheiro para chegar até o por-

to de seu país. Precisava embarcar em um navio, porém, não tinha recursos para o bilhete.

Dirigiu-se ao capitão e mostrou a ele sua pedra preciosa. Este ficou atônito com a beleza daquela

gema e convidou-o a subir a bordo: “O senhor é um homem digno de confiança”, disse o capitão ao

homem a quem conferiu todas as honras. Ofereceu a ele uma cabine de primeira classe com con-

forto de milionário. A cabine tinha uma escotilha que dava para o mar. Nosso herói passava longo

tempo deleitando-se e regozijando-se com o seu diamante enquanto absorvia a brisa fresca do mar

que penetrava em sua cabine.

Durante as refeições, seu coração enchia-se de alegria em pensar no diamante e todos sabem que

um coração alegre é garantia de boa digestão. Tanto que, certo dia, adormeceu profundamente

após o almoço tendo deixado sobre a mesa de sua cabine a fantástica gema.

Nesse ínterim, o marinheiro que limpava as cabines entrou, recolheu a toalha de sobre a mesa e

sacudiu-a afora da escotilha para jogar as migalhas e não percebeu o diamante. Tudo foi lançado

ao mar.

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Quando o nosso herói despertou e compreendeu o que tinha ocorrido, aborreceu-se tanto que

quase enlouqueceu.

O que fazer? O capitão era um interesseiro. Poderia matá-lo pelo preço do seu bilhete.

Foi neste momento que ele resolveu não perder a calma, parecer contente, como se nada tivesse

acontecido. Manteve a mesma postura satisfeita e tranquila que adotara até que acontecesse sua

pessoal tragédia.

Naquele dia, subiu ao convés para a costumeira conversa que tinha durante horas com o capitão.

Fez tudo como nos dias anteriores. Fingiu tão bem, que o capitão não observou nenhuma diferen-

ça.

- “Eu sei muito bem” – disse o capitão – “que o senhor é um homem honesto e sensato. Meu navio

leva uma grande carga de trigo que comprei especialmente para revendê-lo em Londres. Posso

ganhar muito dinheiro com isso, mas temo ser acusado de ter desviado a reserva real. Portanto,

façamos a compra em seu nome. Eu posso pagar-lhe muito bem por este serviço e favor”.

O homem aceitou a proposta e eles fecharam o negócio.

Na chegada a Londres, o capitão teve um mal-estar e faleceu repentinamente. Nosso homem her-

dou todos os seus bens, pois, aceitara assinar com ele um contrato de propriedade sobre o navio

e sua carga. Isso valia duas ou três vezes o valor do diamante.

As conclusões a que chegamos desta história são muitas, e todas práticas. Comecemos observando

primeiramente que o diamante não devia pertencer ao homem. A prova é que ele o perdeu. O trigo

sim lhe pertencia. Tanto que ficou com ele.

A segunda – e mais importante – lição. O que permitiu ao homem atingir sua grande meta foi ter

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mantido o autodomínio a ponto de conseguir superar o sentimento de desespero que naturalmente

provou ao constatar a perda de seu tesouro. Isto é o que lhe possibilitou raciocinar de modo claro.

Desespero só gera confusão e perturbação interiores. Com o cérebro agitado ninguém consegue man-

ter uma linha de raciocínio lógico. Por conseguinte, algo importantíssimo a ser trabalhado com esforço

a fim de atingirmos maturidade e excelência é o autodomínio.

Finalizo lembrando um belíssimo pensamento dito por um sábio no livro “A Ética dos Pais”:

O que dizer? Nada. É preciso, sim, pôr tudo isso em prática.

“Quem é forte?Aquele que consegue controlar suas paixões.”

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ANTES OU DEPOIS?

Pode acontecer que, por motivo desconhecido, não nos seja dado ver o bem oculto por trás da crise

que estejamos passando. Mas ter fé e certeza de que este bem está presente nela, apesar de oculto, é

a chave para encontrarmos a energia e a paz que necessária para a transposição de todas as barreiras

que estão e estarão diante de nós – imprevisíveis, diga-se.

Crises são superadas com criatividade. Desenvolver a criatividade e ajudar todos a fazerem o mesmo

é crucial.

Há uma história curiosa sobre isso. Passa-se em uma igreja de uma cidade secular inglesa.

As pessoas que lá se reuniam notaram que as pedras de mármore que formavam os degraus de

acesso à porta de entrada estavam gastas pelos anos de uso. Decidiram substituí-las.

Fizeram uma reunião para discutir o assunto, porém, perceberam que o dinheiro em caixa não

lhes permitia fazer um gasto imediato. Alguém apresentou uma brilhante ideia que adiaria por

muitos anos a troca das pedras. Sugeriu que se mandasse simplesmente virar os blocos de pedra

do avesso. Todos gostaram e acharam que a solução era criativa.

Quando a colocaram em prática, surpresa. Descobriram que seus bisavôs tinham tido a mesma

ideia há muitos e muitos anos.

A moral desta história é: com enfoque criativo podemos encontrar soluções para muitos problemas.

Todavia, por mais brilhantes que consigamos ser, não temos o direito de achar que os nossos ante-

passados não foram criativos. Talvez eles tenham sido mais brilhantes que nós. Nem sempre nossas

ideias são inéditas.

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Não poucas vezes, veremos que a situação porque choramos hoje, tornar-se-á uma boa vantagem

amanhã. Passado um tempo, começamos a entender que, se tudo tivesse sido diferente quando acon-

teceu, nada estaria bem hoje. E então?

Não é fácil a pessoas comuns enxergar o bem oculto nos apertos. Mas saber que por trás deles escon-

de-se um projeto de bondade e de exposição das nossas potencialidades é o que está reservado aos

verdadeiramente vitoriosos.

Nem todo indivíduo consegue chegar a este nível já que aparências quase sempre enganam.

Um iceberg é um enorme bloco ou massa de gelo que se desprende das geleiras existentes nas ca-

lotas polares. Eles representam um enorme perigo à navegação, especialmente por um fato muito

curioso: o que se vê de um iceberg geralmente representa menos de dez por cento de seu tamanho

real. Os demais cerca de 90% permanecem submersos no oceano. Por isso é que se diz popularmente

que “isto ou aquilo é apenas a ponta do iceberg”, referindo-se a situação que deve ser muito maior do

que aparenta ser.

Os fatos da vida têm muito a ver com a figura de um iceberg.

Nossa interpretação corresponde, quase sempre, só ao que poderia se chamar “visível aparente”. O

“oculto não aparente” fica quase sempre fora de foco, e vamos assim somando interpretações parciais

às nossas crenças, achando que estamos certos enquanto o resto do mundo – injusto e errado – passa

cada vez mais a um estágio piorado de inimigo ou opositor contumaz. Então uma questão:

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A CADA ANO NOVO

Todo ano há gente demais à espera que tudo melhore no dia 1° de Janeiro do ano seguinte. Acham

que nesta data o gosto pela vida irá mudar. Mas nada muda. Nem para melhor, nem para pior. E tudo

funciona como aquela frase que roda o mundo da Internet:

Nós, sim, podemos mudar. O ano, não muda nada; só os algarismos no calendário, na agenda e no

alto das páginas dos jornais.

O Carlão é pedreiro. É seu primeiro dia numa nova obra, hora do almoço. Ele abre a lancheira, tira

de dentro um sanduíche, e antes de comê-lo, resmunga em voz alta:

- “Sanduíche de mortadela? Detesto mortadela”.

Dia seguinte, mesma coisa.

Quando, no terceiro dia, ele diz a ladainha:

- “Mortadela? Detesto mortadela”, um dos colegas que comia no refeitório vira-se para ele e o inter-

pela:

- “Por que você não pede à sua mulher que faça um sanduíche diferente?”

Ao que Carlão responde:

- “Impossível, meu amigo. Sou eu quem prepara meus sanduíches todos os dias”.

“Chocolate não engorda;quem engorda é quem o come.”

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Esta é uma anedota aparentemente infantil e despretensiosa. Mas bastante próxima à realidade de

tanta gente que se porta do mesmo modo em relação aos fatos da vida.

Reclamar do que não se gosta é fácil. Quase todos o fazem. Mas ao analisar as situações que mais

nos incomodam, descobrimos que elas são quase todas obras das nossas mãos. Nós as criamos. Elas

nasceram dos pressupostos e crenças que criamos sem nunca investigar se são verdadeiros, positivos

ou construtivos. Apenas fomos depositando-os em algum lugar, dentro de nós e lançamos mãos deles

como juízes de todas as causas. Você confiaria num juiz inculto e parcial? Assim são as nossas cren-

ças.

O Rafael é um rico empresário que esteve passando pela crise que aparece tipicamente na vida de

muitos homens aos 50 anos. Ele decidiu fazer algo diferente. Resolveu entrar para um mosteiro

onde poderia meditar e elevar sua espiritualidade.

Ao chegar, informaram-no as regras – que por sinal eram bastante rígidas. A mais impressionante

e complicada de todas dava a cada pessoa a permissão para falar somente duas palavras por ano.

Ele topou o desafio.

O primeiro ano passou. E chegou, enfim, a data em que Rafael diria algo. Ele se aproxima do mon-

ge que o convida a falar, e Rafael diz: “Cama dura!”.

Para sua surpresa, no dia seguinte ele encontra uma nova e macia cama em seu quarto.

Mais um ano se passa, e Rafael fez o possível e o impossível para controlar-se e continuar respei-

tando a regra de não falar. Chega o momento mágico. Ele é convidado a falar outra vez aquela

cota de duas palavras. Ele respira e diz: “Comida salgada”. No mesmo dia comidas diferentes e

saborosas foram especialmente preparadas para ele. E, agora, com menos sal.

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Outro ano passa. Rafael não aguenta mais. Ele quer retornar a sua vida no mundo dos negócios e

na agitação da cidade grande. O monge se aproxima dele e o convida a falar. Rafael, então, dispa-

ra suas duas palavras: “Eu renuncio!”.

O monge, expressa um pequeno sorriso e, olhando firme, lhe diz: “Não me surpreende a sua deci-

são! Tudo o que você tem feito desde que chegou aqui foi se queixar!”

O “sanduíche” de cada dia somos nós que preparamos. Difícil é ter de comê-lo. Está em nosso poder

mudar o recheio, o pão e o modo de preparar, se não nos agrada. Como? Com atitude. Ação.

Se desejamos atingir novas metas, somar valor a algo que nada vale ou dar nova orientação àquilo

cujo rumo parece perdido, a coisa que não fará por isso é reclamar; resmungar e lamentar-se não aju-

da em ocasião nenhuma.

dizem Kenneth Blanchard e Spencer Johnson no best seller “O Gerente Minuto”.

“Pessoas que se sentem bem consigo mesmasproduzem bons resultados”,

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Na época das festas de fim de ano, é evidente que a atmosfera das empresas, dos lares e de qualquer

ambiente se encha com um novo ar. As pessoas ficam ávidas por renovação e, por isso, derrubam as

barreiras típicas de resistência ao novo. Aquelas imagens mentais que desanimam e dissipam energia

boa ralo abaixo são substituídas pela esperança em um futuro positivo. É quando existe mais fé nas

palavras e nos pensamentos.

O cenário da festa de Ano Novo é em geral curioso e único. Gente extasiada, cheia de encanto pela im-

portância da data, expressando, à meia noite, vibrantes votos de um tempo feliz. Boa comida e bebida

são indispensáveis. Amigos, parentes, familiares, juntos, idealizam um período novo e colorido de

grandes oportunidades que são aproveitadas para o sucesso de todos. Germinam sentimentos fantás-

ticos de uns para com outros. Tudo parece que será próspero, produtivo e rentável.

Planos, planos. Planos de final de ano funcionam? Quase nunca. Por duas razões. Primeira: são ge-

ralmente feitos para um longo prazo. Segunda: ninguém leva em conta os recursos que deverão ser

empregados em sua realização.

Um ano é tempo demais. São doze meses; cada mês com quatro semanas; a semana com sete dias. E

todo dia: vinte e quatro horas de coisas acontecendo, opções sendo feitas, crenças geradas, impres-

sões gravadas, percepções registradas. Isto é o que que acumulamos desde a infância. Essas crenças

nos regulam. Elas poderão ajudar ou prejudicar as escolhas que fazemos o tempo todo.

Cada novo segundo é um novo tempo. Cada novo segundo é o início de um ano novo. E já está aqui.

Este segundo já é. E só pode ser “visto”, “sentido” e “vivido” por quem tem consciência para assumi-lo

como uma verdade inconteste.

Uma data em si nada tem de novo ou diferente. O tempo nada faz de bom ou ruim. Mudar o calen-

dário não fará a vida tornar-se cor-de-rosa ou azul. Usar roupa branca, então, ir à praia “pular ondes”

– sete ou setenta – pode até ser um bom exercício físico, mas não trará augúrio nenhum. Contudo,

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a cor das “lentes dos óculos” que você usa para enxergar a vida, isto sim poderá fazer diferença por

terem poder, de fato, de mudar o modo como você vê e interpreta os eventos da sua vida. Elas podem

influenciar as suas ações e lhe conduzir a uma nova realidade.

O tempo flui. É como as águas de um rio que correm para o mar. Fluem sem parar. Se existimos ou

não, se temos ou não projetos de vida, o tempo está aí, independente de nós.

Na primeira manhã de janeiro, nada terá mudado além dos marcadores convencionados.

Para quem faz planos e espera que funcionem, a primeira providência inteligente é diminuir o prazo a

que se aplicam.

Warren Buffet, um dos milionários mais inteligentes da atualidade, diz:

Faça planos simples, práticos e que devam ser empreendidos em curto espaço de tempo; não planos

para um ano inteiro. Calma.

Homens vencedores e capazes têm a habilidade de olhar para grandes problemas e não permitir que

lhes pareçam grandes. Eles os diminuem a seus olhos, não como auto-engano, mas para despertar e

maximizar sua autoconfiança.

“Eu não tento saltar barreiras de dois metros de altura.Prefiro procurar as de trinta centímetros,

que eu posso transpor com apenas um passo.”

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Cada dia é fundamental na conta do sucesso. Cada hora tem importância. Quanto mais simples as me-

tas e próximos os alvos, mais fácil é alcançá-los, e a contabilidade da semana produzirá nova energia

para a continuidade do processo. Assim se chega a um mês e, na soma, a um ano bem sucedido.

O segredo é acertar “na mosca” sempre. Assim construímos pressupostos positivos e reabastecemos o

reservatório de energia para o que vem depois.

Mude o seu modelo mental. A unidade básica de medida do sucesso na vida não é o tempo, mas a

atitude. É o comportamento e o modo como se decide que determinam o que somos, quem somos e

seremos, nossa estatura e qualidades individuais.

A metáfora do sucesso é um cofrinho. De moeda em moeda é que se enche. Os atos bem sucedidos

fazem o resultado positivo de um dia. Daí, o sucesso de todo um ano corresponde à coleção de suces-

sos que fomos capazes de juntar, um a um, em todas as áreas da vida, a cada mínima fração de tem-

po.

E tem mais. Para aqueles que desenvolveram a habilidade de aprender com tudo, até os erros e prejuí-

zos se convertem em ganhos reais.

Tudo depende da conduta, da atitude e do modo como vemos os fatos.

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A FONTE DO SUCESSO

Nosso estado interior é determinante.

Há estados que habilitam – confiança, amor, energia interior, alegria, êxtase, fé – e deixam sair gran-

des mananciais de poder pessoal e realizações.

Há, também, os estados paralisantes – confusão, depressão, medo, ansiedade, tristeza, frustração –

que nos deixam sem poder.

Todos nós entramos e saímos de bons e maus estados. Entender os estados pessoais é a chave para

promover mudanças e conseguir excelência.

Sempre fazemos o melhor com os recursos de que dispomos. Mas, algumas vezes, nos encontramos

em estados sem recursos. A chave, então, é tomar conta dos nossos “estados” e, assim, assumirmos

poder sobre os nossos comportamentos.

Isso é possível.

A participação da nossa fisiologia é grande, e tem peso. Coisas como tensão muscular, alimentação,

respiração, postura, nível global do funcionamento bioquímico – enzimas, hormônios, glicemia, eletró-

litos etc – provocam impacto sobre o nosso estado e, por conseguinte, influenciam o comportamento.

Pensando bem, a maioria dos nossos estados interiores acontece sem qualquer direcionamento cons-

ciente. Vemos alguma coisa e respondemos a ela entrando num estado positivo ou negativo sem fazer

um balanço de quais serão as consequências. Por isso, muitos dos nossos planos se frustram. Sem

controle do nosso estado, acabamos agindo de modo contraditório à expectativa com que fizemos os

nossos planos.

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A diferença entre os indivíduos que falham em realizar suas metas de vida e os que se saem bem é

a exata diferença entre aqueles que não conseguem se colocar num estado de alto recurso e os que,

com segurança, se põem num estado de energia que os ajuda em suas realizações.

Isso depende de cada um. Nada a ver com réveillon, fogos de artifício, com o local onde estamos ou

com a cor da roupa que se usa.

Não podemos descartar desta análise a possibilidade de não obtermos sucesso em determinada em-

preitada. Neste caso, é preciso se conformar. Faz parte da vida.

é normal e estatisticamente provável. Mas o mundo não pode acabar por isso.

Conta-se, no folclore Judaico, a história de um homem que saiu da Europa para viver nos Estados

Unidos. Antes de partir, movido pelo desejo de levar consigo uma lição profunda de vida, encon-

trou-se com seu rabino e fez-lhe uma pergunta:

- “Rabino, qual o significado da vida?”

E o mestre respondeu:

- “A vida é como uma montanha.”

O homem partiu. Viajou para a América e pelos dez anos seguintes esforçou-se para entender a

profundidade e o significado das palavras do rabino. Finalmente, não conseguindo mais se conter,

comprou uma passagem e voltou para a Europa, com o fim de questionar o mestre sobre o signifi-

cado daquela indecifrável comparação.

- “Hoje tentei, mas não consegui...”

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- “Rabino, ao longo dos últimos dez anos tudo o que mais fiz foi refletir em suas palavras. Esforcei-

-me em vão, pois receio não estar apto para atingir o significado de seu pensamento. Por favor,

conte-me, enfim, o que o senhor quis dizer-me com ‘A vida é como uma montanha’.”

O rabino percebeu a ansiedade do jovem e, após cofiar demoradamente suas barbas, respondeu:

- “Bem, meu rapaz... talvez a vida não seja como uma montanha!”

Aparentemente estranha, essa história contém uma lição aplicável a vários contextos. Romper com os

princípios convencionais que, em vez de nos causarem bem, empurram-nos a uma crise é uma medida

dura, mas viável e concludente para que a transformemos numa situação favorável.

Temos de treinar fanaticamente a nossa capacidade de repensar ou “reformatar” a vida, seja onde for

ou quando for. Isso confere sabedoria.

POR QUE ALGUMAS COISAS NÃO DÃO CERTO?

Poderemos não entender no momento em que o insucesso se desencadeia. Mas a vida continua. Tal-

vez demore um pouco a entender ou que não se entenda jamais. Nem sempre é possível compreender

a grandeza ilimitada do Divino e a contabilidade que é feita no desencadear de cada fato. Tudo o que

se faz tem um efeito. Mesmo o que não se vê.

Pensemos que você tenha diante de si um quebra-cabeças de 5.000 peças e conseguiu encaixar 4.999.

Uma só não se encaixou. Onde estará o problema? A sua reação imediata não é dizer que o quebra-

-cabeças tem um defeito de fábrica. Você certamente pensará que cometeu algum erro na montagem.

Não encaixar esta última peça deve-se ao fato de alguma outra ter sido mal colocada. Mas você só viu

agora, pois a consequência só apareceu agora. O erro, na verdade, está em você, em algum momento

do passado.

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Cena que tem lugar em um consultório psiquiátrico. O médico diz ao paciente deitado num divã:

- “O problema é que você é paranoico. Pergunte a qualquer um e terá a confirmação disso!”

Quando uma pessoa sofre de complexo de inferioridade, ela projeta sua autoimagem insegura nos

outros.

Da mesma forma numa guerra a batalha pode ser perdida ou ganha antes que um só tiro seja dispara-

do. Pois se o moral está baixo, tudo o mais estará a um pequeno passo para que o inimigo o vença.

Somos pequenos, limitados e falíveis. Não é possível entender tudo, principalmente o motivo e a raiz

de todos os acontecimentos à nossa volta. Mas parte da fé aceitar o que a vida nos dá. Especialmen-

te aquilo em que empreendemos esforço e não o vimos converter-se no resultado que calculávamos.

Mesmo sem entender.

Quero dizer: não ficamos de braços cruzados, mas agimos, lutamos e esperneamos. Mas os frutos não

vieram. Agora temos de refletir, repensar o contexto geral da situação à luz dos nossos atos e recon-

textualizar.

Além disso, podemos ter cometido erro de julgamento.

Uma mulher pede uma xícara de capuccino e cinco cookies no café do shopping. Senta-se a uma

mesa tendo à frente um senhor desconhecido, que lê uma revista. Ela prova a bebida, tira um

cookie do pacote e assim que começa a comê-lo, o homem também pega um biscoito do mesmo

pacote.

Ela não acredita no que vê e começa a pensar o que fazer.

Curiosa, ela apanha um segundo biscoito. O homem, confiante, faz o mesmo, porém, estampan-

do um enorme sorriso.

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Ela se controla com muito esforço, mas está se ardendo de vontade de protestar contra este que se

mostra petulante aproveitador.

Com apenas um biscoito sobrando, ela vai novamente ao pacote. Mas o homem é mais rápido. Sem

dizer uma palavra, ele quebra o cookie ao meio e oferece a metade a ela. Inconformada, a moça

levanta-se, pega sua bolsa e caminha rapidamente ao estacionamento do shopping rumo a seu

carro.

Indignada, ela procura as chaves na bolsa enquanto resmunga ofensas ao homem ousado. É quan-

do se surpreende ao encontrar o seu pacote de cookies junto das chaves. São os mesmos que ela

havia comprado no café. Está fechado, exatamente como a atendente lhe deu!

Este episódio ensina principalmente que a régua que adotamos como medida das pessoas e de

suas atitudes é aquela que criamos com base exclusiva no nosso modelo mental – os nossos para-

digmas. O lamentável disso é que, quando não todos, muitos dos nossos paradigmas nem sempre

estão corretos.

Ao abrir sua bolsa, a mulher dessa história viu mudar completamente a visão de que o homem era

um cara de pau. Só então entendeu estar completamente enganada. Ela é que aproveitava-se dos

biscoitos dele. Esta verdade enfim apareceu... agora!

Sempre que julgamos situações e pessoas levando em conta somente as nossas tendências par-

ciais, damos de cara com o nosso erro quando o fato real e objetivo se revela. O quadro completo é

sempre maior do que a estreita faixa com que nos contentamos ver.

Bem que podíamos inverter esta sequência desgraçada. Refiro-me a buscar primeiro ver o quadro

inteiro, para só depois julgar ou decidir. Calcule quantos conflitos nem sequer nasceriam. Quão

felizes e satisfeitos seríamos! Perderíamos muito menos. Ou provavelmente nada!

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REAGINDO À CRISE O momento de aperto deve ser um sinal de alerta para fazermos considerações pessoais e comporta-

mentais ainda não realizadas.

- Como fui comigo mesmo?

- Como tratei o demais?

- Com o anda a minha espiritualidade?

Esta é a hora de olhar para estas áreas.

Não existe problema exclusivamente lógico. Por mais mensurável ou “tridimensional” que pareça, suas

implicações são também de natureza emocional, comportamental e até espiritual. Infelizmente poucos

dedicam tempo a avaliar possibilidades não lógicas envolvidas.

A medicina moderna já reconhece que uma grande parte da cura de muitas doenças está na fé e espe-

rança do doente. A bioquímica talvez seja insuficiente para recobrar perfeita saúde.

Depressão e tristeza são grandes males da vida. Quando a fé se revela como certeza de que por trás

de tudo há um bem, sabe-se, por conseguinte, que não existe acaso nem coincidências.

Mesmo nas adversidades e apertos, aquele que tem fé sabe e move-se pela convicção de que não se

trata de um mal. O bem há de se revelar. Ou não! Mas ele está presente – ainda que oculto.

O homem que se entrega à depressão e à tristeza em decorrência de uma crise, ou não tem fé ou não

tem fé suficiente.

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Assim como uma bússola defeituosa, o senso humano pode dirigi-lo para o polo do desânimo. É

preciso endireitá-lo para que o rumo certo seja indicado sempre. Isso é o preparo para as provas mais

graves e difíceis de que depende a existência neste mundo.

VER O BEM ANTES OU DEPOIS? QUAL A VANTAGEM?

Para alguns é fácil crer no bem oculto nas dificuldades que lhes sobrevém antes mesmo que ele se

revele. Eles sabem que está lá. Não o procuram, pois assim sua certeza e convicção não carecem.

É como um paciente que, acometido de grave doença, submete-se à cirurgia sabendo que tudo será

difícil: paga altos honorários médicos, permite que lhe cortem o corpo e até retirem algum órgão. A

perspectiva de que tudo acabará bem é a coragem e compensação da dor e transtorno por que ele

passa agora.

Veja essa história que ouvi do meu mestre.

Há muitos e muitos anos, vivia na Terra de Israel um homem justo e sábio, cujo nome era Nahum

Ish Gam Zu. O significado deste nome é interessante: “Nahum, o homem do isso também”. A razão

disso era sua conduta frente a todos os fatos da vida. Não importa o que acontecesse, ele sempre

dizia: “Gam Zu Letová”, que em hebraico significa: “isso também é para o bem”.

Certa vez os Judeus da Terra de Israel disseram:

- “Vamos mandar um presente ao imperador romano para que ele não nos oprima”.

Aassim fizeram. Encheram um baú com pedras preciosas e pérolas. O problema era encontrar a

pessoa certa para cuidar deste presente na longa viagem até Roma. O trajeto era perigoso. Quem

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seria honesto, fiel e sábio para se confiar a missão?

Decidiram enviar Nahum Ish Gam Zu. E ele concordou.

Iniciou sua viagem sem medo. “Isto também é para o bem” – repetia para si mesmo o tempo todo.

Nahum viajou de navio por muitos dias. Caminhou dia e noite, quando então, chegou a uma esta-

lagem onde parou para descansar. Fez suas preces, colocou a caixa de joias a seu lado e deitou-se

para dormir.

O dono da estalagem vira a belíssima caixa e ficou curioso para conferir o que ela continha.

Após Nahum adormecer, aproximou-se silenciosamente e a abriu. As pedras preciosas e as péro-

las cintilavam. Ele ficou observando e cobiçando o tesouro durante muito tempo. E então, cometeu

uma maldade. Pegou para si todas as joias e deixou em lugar areia e seixos. Fechou a caixa cuida-

dosamente e devolveu-a à cabeceira de Nahum.

Na manhã seguinte, Nahum madrugou, fez suas rezas, pegou a caixa e dirigiu-se ao palácio do

Imperador.

Quando chegou diante do rei, disse:

- “Saudações, Majestade. Trouxe-vos um lindo presente dos Judeus da Terra de Israel.”

O rei olhou a caixa com curiosidade incontida, abriu-a, e o que encontrou nela? Areia e pedregu-

lhos!

A face do rei enrubesceu de raiva.

- “O que é isso? – gritou o imperador. “Você o chama de lindo presente? Será que não tenho areia

e pedras suficientes no meu próprio pátio? Os Judeus querem caçoar de mim. Pois então eu os

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punirei, e o homem que trouxe esta ofensa será morto imediatamente.”

Mas Nahum, diante desta crise em que estava diretamente envolvido e correndo risco de morte,

disse, como sempre:

- “Isto também é para o bem. Tudo o que Deus faz é para o bem! Não importa que eu não consiga

ver!”

Inexplicavelmente, um dos ministros pede permissão e aproxima-se do imperador para lhe dizer:

- “Por que Vossa Majestade está tão irada com o presente dos Judeus? Esta, certamente, não é uma

areia qualquer. Os Judeus são intligentes demais para desejar provocar a ira de Vossa Majestade!

Talvez seja uma areia especial. Vamos arremessar um pouco dela no ar. Há uma lenda de que

Abraham, o patriarca do povo de Israel, lançou areia ao ar em uma de suas batalhas e cada grão

se transformou miraculosamente em flechas, dando-lhe vitória contra os inimigos. Pode ser que

esta seja uma areia mágica”.

O imperador pensou por um instante e decidiu:

- “Muito bem, disse. Vamos experimentar.”

Fizeram o teste e, eis que a areia se transformou em flechas e lanças. O imperador maravilhou-se

e guardou consigo o fabuloso presente. Então declarou a Nahum:

- “Peço-lhe que me perdoe. Realmente você me trouxe um presente precioso e inigualável. Agora

preencherei a sua caixa com ouro e pérolas em lugar da areia milagrosa que me trouxe. Leve-a de

volta para si em lembrança do seu imperador. Faça bom uso deste tesouro e, por favor, agradeça

o povo Judeu em meu nome.”

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Essa história está narrada numa obra Judaica que se chama Talmude da Babilônia. Eu a contei do

modo como ouvi do meu mestre.

Por outro lado, há indivíduos que não têm a habilidade de investir sua convicção no bem oculto por

trás da crise antecipadamente. Talvez precisem de evidências ao longo dos acontecimentos para che-

garem à certeza do bem.

Outra história contada que ouvi do meu mestre.

Certa vez, um grande sábio de Israel chamado Rabi Akiva partiu para uma longa viagem. Levou

consigo um burro, um galo e uma vela. O burro, para que pudesse montar quando estivesse can-

sado e transportar sua bagagem. O galo, para despertá-lo à aurora. A vela para que, ao anoite-

cer, estudasse o Livro Sagrado com a luz de sua chama.

Rabi Akiva levantou-se muito cedo, recitou as preces matinais e seguiu seu caminho. Viajou o dia

todo e, ao cair da tarde chegou a uma cidadezinha onde desejou pernoitar. Quando perguntou se

poderia dormir na casa de alguém, disseram-lhe não ter lugar disponível.

O sábio não quis permanecer numa cidade habitada por pessoas más, a quem faltava a virtude da

hospitalidade, tão exaltada pelos povos do Oriente. Por isso, dirigiu-se ao campo. Ali escolheu um

lugar sob uma árvore, acendeu a vela, alimentou o burro e o galo, depois sentou-se e estudou até

esquecer-se completamente de que estava só na floresta, em plena escuridão da noite.

De repente, Rabi Akiva escutou um terrível rugido. Em seguida, viu um gato do mato sair da mata

e devorar o galo. O burro, com medo, saiu correndo, e antes que o sábio tivesse a chance de cor-

rer e agarrar a corda que estava solta, uma rajada súbita de vento apagou sua vela.

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Ele estava agora na mais completa escuridão. Nesse momento, ouviu um grande tumulto e gritos

vindos da cidade. Inimigos atacavam a cidade e levavam seus habitantes como prisioneiros. Pas-

saram a poucos metros do lado do local onde Rabi Akiva se encontrava, mas, devido à escuridão,

não puderam vê-lo, e sua vida foi poupada.

Então Rabi Akiva disse:

- Se o animal não tivesse devorado o galo, o burro não tivesse fugido, e o vento não apagado a

vela, eu seria visto, os soldados teriam me encontrado e me levariam prisioneiro. Agora vejo e

reconheço que tudo aconteceu para o bem”.

Só depois de observadas as boas consequências da crise algumas pessoas fazem-se capazes de teste-

munhar o bem que dela emergiu – ainda que aparentemente nada fosse bom.

Este posicionamento geralmente advém de desconhecer o contexto global. Vemos só uma parte do

todo e nos fiamos nela. Mas devíamos esperar até ver o quadro completo.

Imagine, por exemplo, um índio retirado do interior da floresta amazônica e levado diretamente para

o interior da sala de cirurgia de um grande hospital no momento em que acontece um transplante de

órgão. Ele vê os médicos e enfermeiros paramentados, com os rostos cobertos, ferramentas cirúrgicas

nas mãos, seringas, tubos e tudo acoplado a um corpo humano cujos órgãos internos estão expostos.

O que este pobre índio interpretaria do quadro que está diante de seus olhos? Pensará talvez ser um

ritual de sacrifício. Julgará que aquele pobre sujeito está sendo morto e esquartejado por um grupo de

cruéis assassinos. Os médicos lhe parecerão extremamente perigosos. Ele, no mínimo, tentará fugir

dali motivado pelo terror de que poderá ser o próximo a morrer.

Mas a verdade é que ele não sabe de nada!

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O próprio paciente desejou imensamente estar nesta situação. Esta é sua única alternativa para livrar-

-se de um mal que compromete a própria existência. Naquele exato momento não existem melhores

mãos a que ele devesse estar confiado e entregue. Estes médicos estão concentrados ao máximo no

objetivo de extirpar uma doença para sempre pela troca de um órgão ruim por um bom.

Note que a interpretação pessoal do indígena não é de todo errada tamando-se por base que ele

desconhece os fatos anteriores que fizeram o curso das coisas. Ele foi exposto à visão restrita de um

fragmento do quadro completo. Sequer imagina a existência de informações que mudariam diametral-

mente suas conclusões.

A maior parte das pessoas vive segundo esta figura quando diante de uma crise. A falta de conhe-

cimento completo sobre a situação produz interpretação falsa e, por isso, traduz-se em sofrimento,

descontrole e desequilíbrio.

Hoje você ficou chateado por não ter comprado um imóvel. Passado um ano ou mais, você finalmente

entende não tratar-se de um bom negócio. Começa a enxergar que a causa de uma frustração anterior

converteu-se agora numa vantagem. Você foi literalmente poupado de um problema que não conse-

guia ver antes.

Estas pessoas podem acreditar que tudo irá bem. Mas só ficarão confortadas quando constatarem o

bem totalmente revelado.

São muito elevados aqueles que, em meio a problemas, assumem a convicção do bem por trás do apa-

rente mal. No aperto e na adversidade, ver isto é uma transcendência.

Assim, não existem vítimas da natureza. Tudo tem um propósito. Podemos crer plenamente nisto ago-

ra ou parcialmente – para constatarmos depois. Mas isto não muda a verdade.

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Se crermos plenamente em que não há mal absoluto, mas um bem oculto, independentemente do

quanto entendermos o contexto geral da dificuldade, estaremos guardados e protegidos pela crença

de um grande propósito por trás da crise.

A vida dura algumas décadas. Uma dificuldade que dure alguns meses representa uma pequena fração

do todo. Não podemos derivar o valor da vida inteira a partir de alguma circunstância que tenhamos

ou estejamos passando momentaneamente. Há milhares de elementos diferentes dos quais as dificul-

dades são apenas alguns. É um quebra-cabeças de milhares de peças. Não podemos invalidar a mon-

tagem toda por duas ou três peças que ainda não conseguimos encaixar. Daqui a pouco dará certo e

teremos atingido a meta.

Todas as crises passam.

SOLUÇÃO

Maturidade é a melhor saída para as dificuldades e crises.

É arrogância pretender entender tudo o que uma crise.

• Por que certas pessoas sofrem, às vezes, por toda a vida.

• Por que algumas padecem de doenças crônicas durante anos e anos até a morte?

Isso transcende a nossa capacidade.

Um assalto, uma tragédia, um estupro – Deus não permita – são eventos cuja razão foge do entendi-

mento, mesmo a longo prazo.

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Numa coisa devemos crer: coincidências não existem.

O Teorema de Thomas vem da sociologia. Publicado em 1928, propõe o seguinte:

Traduzindo: o modo como você interpreta um fato influencia diretamente as suas atitudes, e o que

você interpretou acontece.

Parece natural?

O problema é que a interpretação que fazemos dos fatos objetivos do dia a dia quase sempre é subje-

tiva e, por isso, perigosa, já que ela poderá, sgundo Thomas, acontecer, pois atua diretamente sobre o

nosso modo de agir.

A crise do petróleo de 1973 causou, entre outras más consequências, o “Pânico do Papel Higiênico”.

Com a queda na importação de petróleo, espalhou-se um boato que iria faltar papel higiênico no mer-

cado. As pessoas começaram a comprar o produto em enormes quantidades e isso realmente causou

uma escassez. Frente à comprovada falta, as pessoas diziam: “Não disse que não era boato? Veja como

está mesmo faltando papel higiênico no mercado!”

Entendeu agora?

“Quando as pessoas assumem uma situação como sendo real,ela se realiza em suas consequências.”

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VISÃO NÃO É SÓ O QUE SE VÊ

Meu cliente se lamentava enquanto fazia cálculos do potencial de venda de seus produtos. Ele provava

numericamente que o mercado era mil vezes maior do que seus vendedores imaginavam enquanto

reclamavam da dificuldade de encontrar clientes. Mas os clientes potenciais estavam lá. Os números

provavam isso. A força de venda só não conseguia ver.

Parecia novela mexicana. O diretor mostrava a cifra calculada, rebatia 50%, e outros 50%. Ainda assim

as oportunidades para os negócios mostravam-se gigantescas. Os vendedores riam com desdém,

julgando exagero. Insistiam em que o consumo real do produto era pífio.

Certo dia, um dos gerentes regionais teve de preparar uma apresentação a toda a equipe comercial.

Um dos slides devia conter o potencial de mercado do produto. Ele teve de pesquisar, fazer suas pró-

prias contas e, junto de seus subordinados, chegou ao número que, não por coincidência, era exata-

mente aquele sobre o qual o diretor insistia há dois ou três anos.

Desde então, as coisas mudaram. As vendas cresceram e o preço médio final de venda do produto

aumentou.

O que se aprende disso?

Ao que chamamos “visão” não consiste em atributo exclusivo dos olhos físicos. Depende – e muito –

da massa de informações registradas e processadas no cérebro, onde tudo ocorre. Não conseguimos

“ver” o que não conhecemos.

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O que veem os seres humanos? Não tudo o que é considerado visível. Dependerá do acervo registrado

em seu cérebro através das experiências, estudos, abstrações, foco sobre os eventos da vida e dconhe-

cimento e sabedoria por meio de todos os processos. Por isso, as pessoas são tendenciosas. Deixam-

-se guiar por crenças e premissas não provadas. Apenas creem no creem. E é com isso que julgam. Daí

não terem boa visão.

Animais veem diferente – alguns menos que o homem, outros mais.

O investimento de maior rentabilidade que você pode fazer consiste em conhecer e viver experiências.

Só por este caminho você consegue aumentar a sua amplitude de visão.

Relembrando William Blake, já mencionado anteriormente:

“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvoreque o tolo vê.”

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Nas últimas décadas, o conforto e as facilidades impuseram-nos o imediatismo como modo de vida.

Queremos resultados, e que sejam agora mesmo. Este padrão causa-nos elevados prejuízos e nada da

praticidade que se desejava que trouxesse.

Se fosse possível resumir em uma só palavra tudo de que mais carecemos para enfrentar as crises da

vida, esta palavra seria: “confiança”.

Confiança é o antídoto do imediatismo e da pressa. Quem confia, sabe esperar. Refiro-me à confiança

em si mesmo e em Deus.

Numa noite, a três anos atrás, meu primo foi para a cama chateado e triste. Não ter fechado um negó-

cio que acreditava ser único, fez dele um profissional derrotado. Noites e noites de insônia e inconfor-

mismo.

- “Onde foi que eu errei?”

- “Sou um inútil!!!”

Eram as expressões que mais povoavam sua mente. E a resposta invariável era: “eu não presto para

nada”.

Há poucos dias, um corretor informou-o casualmente que a oportunidade não era tão boa quanto se

CAPÍTULO

3COMO ACESSAR OS BENEFÍCIOS DAS DÚVIDAS

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imaginava. Se o negócio tivesse acontecido, hoje seria um grande prejuízo. O lucro calculado no princí-

pio seria um fatal engano. Agora!

Isto resume a vida de muitos homens e mulheres de negócios.

Do primeiro ao último momento deste caso, tudo poderia ter acontecido – desde o mais profundo

estágio de frustração e desespero até a máxima satisfação e sensação de conforto. No momento em

que a situação soi, finalmente, conhecida por completo, o que parecia uma perda converteu-se em

benefício. Brotou, enfim, a compreensão de que o bom e único negócio era, na verdade, um pesadelo

irremediável.

O que resolveu o impasse? Conhecimento! Puro e certo conhecimento... na hora certa.

Mas tudo podia ter sido diferente para o meu primo. Menos tensão, tristeza, inferioridade, auto-flagelo

psicológico. Como? Uma boa dose de confiança. Se existisse a certeza do “filho” que acredita nas boas

ações do “pai”– ainda que haja alguma dor momentânea – a coragem e a convicção do bem teriam sido

seu alimento de todas as horas.

“Quando as coisas não estiverem dando certo, confie em Deus e fique calmo. Mesmo se for culpa sua

e você merecer tudo o que estiver recebendo, confie em Deus. Acredite que tudo é para o bem e fique

calmo. Quando vir o quanto você confia n´Ele, Deus disporá tudo para o bem”.

Confiar, sentir-se seguro, só é possível crendo que não existe mal perene, mas, sempre, um imenso

bem que se esconde nos bastidores de tudo. Este bem irá aparecer. Ninguém sabe a que hora exata,

mas surgirá como a aurora após a noite escura.

Quando um avião penetra uma zona de nuvens densas, tem-se a impressão de que a turbulência nun-

ca passará. De repente, quando menos se espera, o céu abre, e a esperança retorna.

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Um homem perdeu seu emprego. Chega triste em casa. A depressão o ameaça. Para refrescar seus

pensamentos resolve dedilhar algumas notas musicais no teclado de sua filha. Depois de anos, ele

recorda lições de música da juventude.

Dias se passam e ele se encoraja a tocar uma canção na festa de aniversário de um amigo. Surpresa

geral. Os aplausos o convencem de que sua interpretação não foi de se jogar fora. Ele começa a tocar

em festas e casamentos e a cobra por isso. Sente-se motivado em ver que as pessoas estão dispostas a

pagar quanto ele cobra. Em pouco tempo sua agenda já é concorrida entre muitos interessados.

O novo negócio torna-se sua fonte de sustento. Ele consegue o ganho que nunca obteve em sua profis-

são, e agora sente um prazer que antes não tinha. Ele nunca apostou em seu talento musical. A crise

mostrou um caminho novo. E isso sempre é possível.

A solução, portanto, é abrir os olhos para ver.

“Aprendi muito dos meus mestres, e mais dos meus colegas” – disse, um ilustre professor –

“mas dos meus alunos o quanto aprendi superou tudo mais.”

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Dos mestres é normal aprender. Também dos amigos. Esta é a regra. Mas os alunos formulam pergun-

tas sagazes; propõem desafios que motivam e estimulam o professor. Isto não o deixa manter seus

conhecimentos estáticos, em desuso – como livros na prateleira. Deste desconforto surgem novas

facetas de sabedoria não pensadas até então, novos níveis de aprendizagem. A qualidade das aulas

melhora. Todos ganham com isso e se orgulham do professor.

Mas quem, de fato, é responsável por este processo dinâmico? A crise imposta pelos alunos.

Por isso, as crises são oportunidades reais à nossa disposição.

Quando há a necessidade de se realizar algo e uma barreira se opõe, acionamos forças imensas para

sobrepujá-la. E quando a superamos, o sentimento que desponta é:

- “Veja só! Eu nem imaginava que podia fazer isso!”

Para que tenhamos finais como este é que existem as crises.

O ENSINO DOS PRIMEIROS PASSOS

Olhe para um pai ensinando seu filho a andar. Ele segura e ampara a criança. São os primeiros passos.

É chegada a hora de o filho viver a experiência de caminhar por si.

O pai sabe que o sucesso não chegará no primeiro momento, mas o garoto precisa experimentar o que

é inevitável nesta etapa. Ele não conhece nada daquilo que o adulto sabe ser necessário e importante.

Não há outra forma de aprender. A criança deve praticar um temeroso e solitário passo com suas pró-

prias condições.

O que o bebê estará sentindo? Incapacidade, medo, insegurança. Ele está em crise.

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Sofre algumas quedas. A seguir, chorando, encena alguns passos mais firmes. Ele já prova um misto

de medo e alegria. O temor começa a deixá-lo. Cresce a compreensão e o entendimento da dificul-

dade. Ele está experimentando a magnífica sensação de andar independentemente, com liberdade.

Agora, já pode entender que a atitude do pai, quando tudo começou, era amor e não abandono ou

desprezo, como sentiu.

Quão infeliz é ignorar este segredo.

Quão triste é encarar a crise como um castigo ou como um evento vazio, sem qualquer propósito.

Para quem confia, no entanto, a crise é imutavelmente uma fonte presente de futura alegria. É apenas

questão de tempo. Daí confiar!

Confiando é possível antecipar os proventos da felicidade que chegariam após meses, anos, ou, às

vezes décadas. Confiar abrevia o tempo, aumenta o gozo e antecipa os benefícios. É só crer e concen-

trar-se em que há um propósito em cada obstáculo. Há um objetivo em cada crise. Nada – nem o que

achamos ser “mal” – acontece por mera casualidade.

ISSO TAMBÉM PASSARÁ

Uma das sensações mais amargas de quem enfrenta uma dificuldade é que ela nunca irá passar.

Muitos sucumbem por acreditar nisso. Mas o fato é que, de um momento para outro, todo o quadro

muda. E torna-se favorável.

Ninguém tem o poder de prever o tempo de duração de uma crise. Mas é saudável saber que de modo

inesperado ela se instala e assim também se vai.

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Nós trabalhamos, fazemos planos, lutamos e muitas vezes as coisas parecem ter acabado em uma

grande confusão, muito distante do que desejávamos. Aquela célebre questão vem à tona:

Como encaixar as peças deste quebra-cabeça?

Esta inquietante pergunta origina-se de uma perspectiva errada.

De alguma maneira todos nós achamos que o mundo começa quando nascemos e acaba quando mor-

remos. Tudo o que passa antes disso chamamos de “antigamente”. Por esta lógica, se eu não posso

entender o que está acontecendo neste exato momento, então é seguro que não há qualquer sentido.

Mas na verdade nós estamos neste mundo por um espaço de tempo muito curto: setenta, oitenta,

noventa anos, nas melhores condições! Ainda que sejamos tão longevos, não estamos assistindo ao

“Grande Filme” onde todos os fatos fazem parte de uma história única.

Não conhecemos todos os detalhes que passaram antes de estarmos aqui e certamente não sabere-

mos o que passará quando não estivermos mais.

Podemos não ter a resposta imediatamente. Corremos o risco até de não tê-la ao longo de toda a nos-

sa existência neste mundo.

“O bom sofre e o malvado prospera”.

- “Por que tal evento ocorreu?”

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Talvez este seja o caminho pelo qual grandes homens atingem a sabedoria. Eles têm maior perspecti-

va do tempo. Eles veem mais e melhor o modo como os eventos aparentemente não relacionados se

conectam.

Observe que quando as coisas parecem mais desalentadoras, então é que elas se invertem. A noite

está na mais absoluta escuridão exatamente no momento que antecede o amanhecer. Assim, a escu-

ridão não é algo negativo, mas um estágio necessário para que a luz se faça presente. Só pela nossa

limitada percepção achamos a escuridão um fim em si mesma e, por isso, negativa.

Uma semente quando lançada na terra está em um lugar obscuro, frio e sujo. Então começa a enrugar-

-se e apodrecer. Alguém que a observa de fora chegaria a pensar que ela está morta. Aí, no mesmo

momento que chegou a seu pior estado aparente, algo milagroso ocorre. Ela começa a brotar e a dar

origem a uma nova vida.

Da escuridão surge a luz.

AUTO-APRESENTAÇÃO: UM MOMENTO ESPECIAL NA VIDA

O sentimento de inferioridade é um grande erro.

Acreditar em si não é orgulho. Se você é possuidor de uma segura confiança em si mesmo, pode ficar

certo de que é senhor de um bem admirável, desejado praticamente por todos, pois a autoconfiança é

um dos maiores valores da vida.

Não há benefício algum no negativismo em nosso pensamento. Confundir ser negativo com prudência

ou prevenção é sinal de urgente necessidade de rever conceitos.

Não deixe o mal da inferioridade lhe invadir. Como?

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Um exemplo pode ilustrar melhor. Você está em casa, sossegado. Um vendedor ambulante vem lhe

oferecer algo de que você jamais precisaria. Recebê-lo com hospitalidade e oferecer chá com torra-

das é tudo o que ele mais precisa para se estender por duas ou três horas em uma palestra sobre seu

produto. Mas lembre-se: você permitiu e até proporcionou isso. Ele irá aproveitar a chance e talvez até

lhe constranja a comprar. Passado o evento, você talvez se desaponte consigo mesmo devido à tama-

nha ingenuidade em receber um chato que lhe tenha tomado tempo.

Se, por outro lado, ao tocar a campainha você o ignora, ele irá insistir mais algumas vezes e acabará

desistindo. Não mostre interesse. Dificilmente ele voltará depois. Saberá que você não se abre para

conversas inúteis.

O medo e o sentimento de inferioridade funcionam na nossa mente como este vendedor ambulante.

Se ao aparecerem você os deixa ir, ignora sua presença e desvia o foco de sua mente, eles vão-se em-

bora e não criam raízes interiores de nenhuma espécie. Você pode, então, investir em outros pensa-

mentos e dar preferência àqueles que lhe fazem sentir-se forte e em estado de alto recurso e energia.

Ocupe a mente com idéias positivas, que lhe façam bem. Não concentre atenção somente em proble-

mas. Relaxe. Faça pausas constantes. Execute algo que quebre a insistência em um só pensamento.

Evite perder o sabor e o conteúdo de outros momentos, até porque um deles pode ser a solução ou

uma boa inspiração para as dificuldades presentes. Disponha-se a aprender com tudo o que se passa.

Não podemos continuar vivendo sem consciência, sem foco sobre as coisas de que precisamos e em

que devemos nos concentrar. Falta de foco pode não apenas levar à ineficiência, mas um risco peri-

goso.

Durante um estudo com assaltantes numa penitenciária dos Estados Unidos, os pesquisadores mostra-

ram vídeos de pessoas caminhando pelas calçadas. Perguntaram quais daqueles pedestres eles esco-

lheriam para roubar se estivessem “na ativa”. Eles foram unânimes de que concordaram que seriam

aquelas que pareciam estar “fora do eixo”, mais desequilibradas e não as de aparência mais frágil.

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As que caminhavam de modo centrado e equilibrado quase nunca eram escolhidas como potenciais

vítimas.

A vida é assim. Precisamos ser focados, concentrados, conscientes, sem perder visão daquilo que nos

mantém vivos e em estado de altos recursos.

Não atribua grande dificuldade prévia às coisas difíceis e nem imagine peso exagerado ao que apenas

lhe parece pesado. Se você ainda não sabe o que lhe espera, admita o contrário – até por poupar-se de

dor. Enfraqueça os obstáculos em pensamento e eles não assustarão. Diminua-os, e eles ficarão pe-

quenos. Desligue os holofotes de cima deles, e quando enfrentá-los já nem serão percebidos. Agora,

sim, você está pronto para vencê-los.

Tome consciência disso do mesmo modo como você pode deixar de imaginar que vermelho é a cor da

paixão frente a um semáforo.

Não gaste tempo precioso e energia com preocupações. Observe a psicologia adotada no treinamento

dos lutadores de boxe, que consiste em fortalecer-se, manter a forma e diminuir mentalmente o poder

do adversário. Isso equivale a criar imagens mentais que desvalorizam e desativam as possíveis quali-

dades do inimigo.

Na prática do dia-a-dia, adote para si a determinação de ser uma grande pessoa, um ser humano expe-

rimentado e pronto a enfrentar situações difíceis. Mantenha diante dos olhos os benefícios e conquis-

tas que você obterá ao dedicar-se à construção de uma pessoa forte e valorosa.

Insista em estabelecer uma generosa visão de dignidade e honra a respeito de si mesmo.

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PARA ONDE VOCÊ OLHAR

Cada fato, situação, tudo o que existe ou possa existir contém uma mensagem a respeito do potencial

do homem e do motivo de sua criação. Basta querer e se esforçar.

É possível aprender com o futebol. O objetivo do jogo é mover a bola com os pés até o gol do campo

oposto. Cada jogador conta com outros dez aliados. Juntos, formam um time com a mesma meta. O

gol seria muito fácil de ser atingido se não houvesse outro time adversário fazendo todo o possível

para impedir. E não é só. Eles também querem marcar seus próprios gols.

Pensemos melhor neste cenário de alta competitividade. Sem que existisse o time adversário, toda a

habilidade e força dos jogadores jamais seriam mostradas.

O rei Pelé só foi o maior jogador do mundo por ter conseguido superar seus adversários. Eles o desa-

fiaram em cada partida. Eles o marcaram e o perseguiram a ponto de tê-lo obrigado a dar o máximo

de si. E ele deu. Seu sucesso, portanto, dependeu deles. Sem os adversários, Pelé teria vivido mais

tranquilamente, sem problemas e sem oposições. Mas não teria alcançado seus excelentes e históricos

resultados.

Para as pessoas que entendem esta particular dinâmica da vida, quanto mais resistentes e fortes forem

seus obstáculos, mais brilhante e respeitosa será sua superação.

Nossos mais fortes potenciais somente são despertados quando há desafio e adversidade. Este é o

propósito da inteligência e capacidade com que somos dotados. Não nascemos para o comodismo,

mas para a ação intensa e dinâmica.

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UM EXEMPLO

Por definição a doença é um agente limitador. As doenças, quando não mortais, atuam de forma de-

primente e angustiante ao atingir setores do organismo habitualmente solicitados nas atividades de

rotina.

Esta situação não é rara nem excepcional. Está presente, por exemplo, na vida de artistas em todas

as modalidades de arte. Podem acarretar abatimento, isolamento e renúncia ou revolta e luta contra o

infortúnio. É o caso da surdez de Ludwig van Beethoven.

A perda da audição de Beethoven deve ter se iniciado entre vinte e trinta anos, por volta de 1795.

Progrediu de forma imperdoável. Admitem os pesquisadores que por volta dos trinta e cinco anos sua

dificuldade de conversação já era máxima. Nos períodos finais de sua vida, talvez ele nada conseguis-

se ouvir.

É fácil compreender a profunda angústia que ele sentiu diante da doença.

Várias teses dão conta de técnicas próprias que desenvolveu para não interromper o ritmo intenso

com que compunha. Em uma dessas tentativas de superar limites, tocava as teclas ao mesmo tempo

em que sua cabeça reclinada encostava-se à tampa do piano em busca de produzir ressonância das

notas musicais em seu crânio e, desta forma, identificar algum som, um pouco de harmonia.

Grandes composições – as maiores, na opinião de muitos – foram escritas no período de surdez. Ao

ouvi-las, pode-se avaliar qual não terá sido o esforço e a obstinação com que ele perseguia sua missão.

Ele não optou por entregar-se à surdez e fazer dela uma justificativa para lançar ao lixo sua inspira-

ção. Ele não mendigou a piedade das pessoas de seu círculo ou da sociedade de sua época. Apenas

encarou a vida com coragem e fez de seu fluxo mental intenso uma obra que se tornou a verdadeira e

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autêntica revolução da história da música.

Nunca mais o mundo foi o mesmo depois de Beethoven.

Ele superou sua dificuldade. Voltou seus olhos para a beleza e à grandeza que emergiam de seu inte-

rior. Seu êxito chegou a tal nível que o sentimento de liberdade de sua música causou temor em reis e

governos tiranos levando-os a impor restrição à sua execução pública.

A biografia de Beethoven é uma penosa e triste sequência de fatos infelizes. Nunca foi reconhecido

unanimemente como gênio pelos críticos de sua época. Viveu frustrações amorosas em proporções

tais, que, aliadas a seus problemas de saúde, o empurraram ao vício da bebida. O álcool levou-o à

morte aos 57 anos por cirrose hepática.

Suportou dificuldades decorrentes da educação de um sobrinho a quem desejou criar como filho e que

arruinou-o financeira e moralmente. Passou tribulações sérias para obtenção de seu sustento, vez que

os ganhos mais polpudos dos músicos da época advinham da interpretação do piano em concertos

públicos. Tudo isso ele enfrentou no mais profundo estado de surdez.

Face a face com a surdez total, inverteu e suplantou sua situação – aparentemente insolúvel e irrever-

sível. Transformou as inspirações mais profundas em páginas de beleza inigualável em seu tempo e

nos séculos que o sucederam. O fascínio pela superação de Beethoven mexe com pessoas de todas as

áreas. Desde sua morte, cerca de cinco livros sobre sua biografia são lançados por ano.

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NOSSA LEMBRANÇA ÀS VEZES É CURTA

Tia Rebeka foi uma pessoa ímpar para todos de minha família. Era bondosa, generosa e tratava a

todos com muito carinho.

Sua grande “virtude” estava em fazer os bolos, tortas e biscoitos mais deliciosos que a humanidade

já pôde provar ao longo de toda a história.

Havia uma gaveta pequena em sua mesa de trabalho que mantinha permanentemente trancada.

Sempre a víamos abri-la e tirar de dentro uma folha de papel bem amarelada pelo tempo. Ela lia

atentamente o papel, devolvia-o à gavetinha e a trancava como ato imediato.

Tínhamos certeza de que aquele papel continha o grande segredo do sucesso de suas fabulosas

receitas.

O quadro se repetiu por décadas até que, um dia, infelizmente, tia Rebeka, já muito velha, veio a

falecer. Não tardaram uma hora, após o enterro, a arrombar a gavetinha para conhecer, enfim,

aquele que todos acreditavam ser o excelso segredo culinário da querida tia.

Qual não foi a decepção de todos ao constatarem que no papel estava escrito: “Para que um bolo

fique bom, nunca se esqueça da farinha, do açúcar e do fermento”.

Algumas vezes, as coisas mais comuns e óbvias são as de que mais precisamos recordar. Eu sugiro

que não nos esqueçamos de que o livre-arbítrio é o que principalmente faz o homem diferente dos

animais. Aprender a usá-lo da maneira correta demanda esforço e dedicação.

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O Rei Salomão disse que a diferença entre o homem e o animal é nula. Quando fui pesquisar o texto

original em Hebraico, descobri algo maravilhoso. Ao pé da letra, o que ele disse foi:

Só o homem tem a seu dispor a faculdade de dizer “não”. Um cachorro diabético não recusa-se a co-

mer doces. Um homem, se quiser, sim.

Observe uma turma de estudantes. Aqueles que dizem “não” ao comportamento de manada do grupo

tornam-se os líderes no futuro.

O sucesso de muitos de nossos empreendimentos e planos está sob controle da nossa vontade, da

nossa capacidade de escolha consequente. E tais coisas dependem daquilo em que acreditamos.

Tudo o que for possível para não esquecer o que é importante, é crucial. O que é grandioso e belo no

mundo e na vida pode funcionar como lembrete de nosso potencial para a grandeza.

De todas as maravilhas da criação, você é a mais especial. Trate-se com zelo e carinho. Olhe para si

com o mesmo espanto com que você contemplaria um vulcão em erupção. Veja de perto os seus sen-

timentos, o seu raciocínio, o fluxo de seus pensamentos, sua criatividade. Conheça a genuína e valiosa

vocação para ser elevado que está instalada em você. Faça o contrário com o contrário, isto é, pare de

dar atenção ao que lhe faz sentir-se pequeno e rebaixado. Abandone isso.

Desvie os olhos das suas limitações. Focalize algo maravilhoso que você já tenha agora. Partindo dis-

so, pense no que você pode chegar a ser.

“Pois a diferença entre o homem e o animal é ‘não’.”

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As pessoas que alcançaram bom êxito nesta vida acreditaram em coisas que contradiziam as maiores

tendências de seu mundo. O sucesso é atingido por quem segue o sentido inverso ao que as pessoas

comuns escolhem. As massas acreditam e louvam a mediocridade. Muitos dos grandes seres humanos

remaram contra a correnteza a maior parte do tempo. Contudo, mantinham a visão no alvo e alimen-

tavam suas expectativas todo o tempo. Não renunciavam em hipótese alguma a luta ao final da qual

continha uma vitória. Esta é uma virtude própria dos vencedores.

Sempre seremos o que queremos e o que acreditamos ser. Considere, por exemplo, uma barra de

ferro que vale cerca de R$ 10,00. Transforme-a numa ferradura e ela valerá cerca de R$ 20,00. Se

transformada em chaves de fenda, valerá cerca de R$ 40,00. Transformada em agulhas, valerá perto

de R$ 3.000,00. O mesmo se aplica a você. Seu valor é determinado por aquilo em que você se decide

transformar.

Um aluno chegou a seu professor com um problema:

- “Venho aqui, professor, porque me sinto tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada.

Dizem que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e idiota. Como posso me-

lhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?”

O professor sem olhá-lo, disse:

- “Sinto muito, meu jovem, mas agora não posso ajudá-lo. Vá e resolva um problema que tenho.

Talvez depois”. E fazendo uma pausa falou: “Se você me ajudar, eu posso resolver meu problema

com mais rapidez e depois talvez possa ajudar você a resolver o seu”.

- “Claro, professor” – respondeu o rapaz, mas se sentiu, outra vez, desvalorizado. O professor tirou

um anel que usava no dedo, deu-o ao garoto e ordenou: “Monte no cavalo e vá até o mercado. Você

deve vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida. É preciso que obtenha por ele o má-

ximo possível, porém, não aceite menos que uma moeda de ouro. Vá e volte com a moeda o mais

rápido possível”.

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O jovem pegou o anel e partiu.

Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum

interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia. Ao mencionar uma moeda de ouro, alguns

riam, outros saiam sem ao menos olhar para ele. Um velhinho foi amável a ponto de explicar que

uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.

Alguns, tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de

cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava

tais ofertas.

Depois de oferecer a joia a todos que passavam pelo mercado e abatido pelo fracasso, o jovem

montou no cavalo e voltou. Desejava ter uma moeda de ouro para que pudesse, ele mesmo, com-

prar a peça e, assim, livrar seu professor de preocupações. Talvez assim pudesse receber a ajuda

e conselhos de que tanto necessitava.

Entrou na casa e disse ao mestre:

- “Sinto muito, professor, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir

duas ou três moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do

anel”.

- “Importante o que me disse, meu jovem” – contestou sorridente. “Devemos saber primeiro o valor

do anel. Volte a montar o cavalo e vá até o joalheiro. Quem melhor para saber o valor exato do

anel? Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dá por ele. Contudo, não importa o

quanto ele te ofereça, não o venda. Volte para cá com meu anel”.

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O jovem foi até o joalheiro. Este examinou a joia com uma lupa, pesou e disse:

- “Diga ao seu professor que, se ele quer vender agora, não posso dar mais que cinquenta e oito

moedas de ouro pelo anel”.

- “Cinquenta e oito moedas de ouro?” – exclamou o jovem. “Sim” – foi a resposta do joalheiro – “eu

sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de setenta moedas, mas se a venda é urgente...”

O jovem correu emocionado a casa do professor para contar o que correu.

- “Sente-se”, disse o professor. E depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou, falou: “Você é como

esse anel, uma jóia valiosa e única. Só pode ser avaliada por um especialista. Pensava que qual-

quer um podia descobrir o seu verdadeiro valor?” E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.

Todo homem é como uma joia. Valioso e único. O problema é que anda por todos os mercados da

vida pretendendo que pessoas inexperientes o valorizem.

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VISÕES

PRÁTICAS

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“O homem é comparado a um pedaço de terra: pedregoso e árido, porém, repleto de tesouros em potencial. Sob a superfí-cie estão mananciais de águas vivificantes, reservas de energia, e depósitos de metais e pedras preciosas. O solo está vivo com a promessa de colheitas luxuriantes, prontas a brotar sob o devido investimento de trabalho árduo e devotado. Para ter acesso a esses tesouros, a pessoa deve em primeiro lugar ter o discerni-mento e a previsão de olhar além da parte superficial. Deve-se sondar cuidadosamente o terreno e pontualmente sulcar, esca-var, bombear, arar, semear e irrigar para que seja colhida a recompensa. Cada ser humano – a topologia superficial, pelo menos – é solo rico e fértil”.

PRÁTICA

1OLHE PARA O POTENCIAL

- Rabi Menachem Mendel Schneerson – O Rebe

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Todo homem possui um potencial interior que lhe é inseparável e intransferível.

Quanto já se falou em motivação nas últimas décadas! Pouca gente mencionou, porém, que a motiva-

ção tem relação íntima e direta com a potencialidade humana.

O que é o potencial humano? A potencialidade tem a função de ser o ponto de partida do processo

interior do homem para a realização de ideias, sonhos, inspirações, desafios e superação de limites,

incluindo-se a luta pela sobrevivência e a transcendência. É o lastro de recursos internos para se alcan-

çar a realização.

Uma analogia entre o potencial e o fogo é bastante didática. Uma chama acesa pode ser usada de múl-

tiplas maneiras: aquecendo uma frigideira com óleo para fritar um ovo, aquecer uma panela de sopa

até a fervura ou assar uma carne. O calor que ela transmite tem o poder de transformar os alimentos e

torná-los apropriados para o consumo.

O potencial humano é infinito em sua essência. É uma faculdade, uma capacidade estática, recursos, é

a habilidade humana para agir. Este poder não é físico, mas de proporções magníficas. O potencial não

é a ação e isso é o mais importante na consideração que estamos fazendo.

A ação é o resultado de um processo que se origina na vontade, na necessidade ou na intenção. O

potencial é, como dissemos, a habilidade que possibilita ao homem agir. É um meio e não o fim.

Ter consciência do potencial como um lastro de recursos e riquezas disponíveis é a verdadeira motiva-

ção para se alcançar toda e qualquer tarefa. Quero dizer que ao pensar: “tenho o potencial para isso e,

portanto, vou conseguir atingir meu objetivo”, suas dificuldades em alcançar o que planeja diminuem

radicalmente. A partir de então, você aciona forças poderosas que geram entusiasmo, visões, sensa-

ções e vontade de executar a ação desejada até manter o seu foco e concentração no alvo a ser atingi-

do.

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Dois amigos estavam, certa vez, caminhando no campo e, enquanto conversavam, um homem os

chamou:

- “Ei, vocês, por favor ajudem-me a descarregar minha carroça”.

Como estavam com pressa para chegar ao seu destino, um deles respondeu:

- “Desculpe, mas não podemos”.

- “Ah! Vocês podem, sim.” – replicou o homem – “Apenas não querem”.

Na vida, sempre há muito a ser feito. Temos a sensação de que “tudo” falta fazer. Pensar que não po-

demos é talvez o maior de todos os obstáculos. Corresponde à metáfora de se desconectar o tanque

de combustível do motor do carro. Ele não irá funcionar.

Pense em quantas situações já o levaram – ou levam – a pensar que estão além do seu alcance e que,

por isso, você não conseguirá executá-las. No entanto, se realmente quer, vá em frente e tente. Tente,

ao menos. Dê o primeiro passo e então novas visões surgirão, novas perspectivas farão mudanças em

seu ponto de vista atual. Entre elas, um novo caminho poderá ser percebido e, através dele, o seu ideal

finalmente é atingido. O que no primeiro instante era impossível tornou-se um novo estado após o

primeiro passo.

Existem na química m algumas substâncias inertes cuja propriedade é interferir na velocidade das

reações. São os chamados catalisadores. Alguns compostos levariam longo tempo para reagir com ou-

tros. Na presença de um catalisador entre eles a interação acontece rapidamente e os produtos resul-

tantes são obtidos em tempo vertiginosamente menor.

Ter consciência de nosso potencial acelera a nossa ação.

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“Eu posso fazer” – é propulsor.

Um exemplo curioso. Todos aprendemos que a água é a combinação molecular entre o oxigênio e o

hidrogênio. A ciência demonstra que o contato entre os dois elementos não resulta em nada até que

uma faísca elétrica passe entre estes gases. Uma explosão ocorre e, em seguida, gotículas de água se

formam instantaneamente. O simples contato entre os gases poderia demandar dias ou meses para

a reação acontecer. Mas o agente estimulador “facilitou” o encontro das moléculas e a consequente

reação química de formação da água. Ter consciência do seu potencial é o correspondente ao papel da

faísca neste experimento científico.

É claro que a ênfase sempre é dada à ação. O potencial é uma capacidade entre muitas outras faculda-

des humanas. Esta colocação tem implicações importantes, afinal, o mundo em que vivemos é o “Mun-

do das Ações”. Estamos aqui para agir e, assim, atingirmos a realização e o ideal da vida. Nossa voz

interior e intenções nos impelem todo o tempo a tomarmos uma atitude com respeito a tudo.

Entre o pensamento e a ação há um intrincado e complexo processo. São derivações das imagens e

modelos mentais que construímos, dos desejos, das necessidades instintivas, etc.

No que concerne à ação, os recursos com que contamos para decidir são vários. O mais importante

deles é o livre-arbítrio.

O que é livre-arbítrio? É o sistema de opção com que o homem é dotado com a finalidade de fazer

escolhas livres, considerando as possíveis consequências. É a capacidade de decisão consciente. Não é

uma ferramenta que empregamos em qualquer situação de escolha, mas somente quando a decisão é

consciente.

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Você vai a um café e vislumbra tortas expostas em uma vitrine. Pede um capuccino com creme e fica

em dúvida entre a torta de damascos ou a de cerejas. Decide-se, enfim, pela de damascos. Terá você

usado o livre-arbítrio para esta decisão? Não. Apenas a sua preferência pessoal. Assim também um

cão escolheria carne em vez de ração à base de soja aromatizada.

Livre-arbítrio relaciona-se com uma categoria de ações só encontrada no ser humano: as ações mo-

rais e os atos cujas consequências são passíveis de análise consciente prévia. Toda ação humana que

envolve tais parâmetros, passa, obrigatoriamente, pelo crivo do livre-arbítrio:

- “Faço ou não faço?”;

- “Devolvo ou não devolvo o que encontrei?”;

- “Minto ou conto a verdade?”

Homens e animais têm em comum diferentes impulsos biológicos: fome, sede, desejo de conforto, de-

fesa física, etc. Só o homem, contudo, pode recusar-se a comer por motivos religiosos, por exemplo.

Nenhuma fêmea animal irá decidir livremente pelo não cruzamento com um macho estando no perío-

do de cio. Muitos homens e mulheres optam conscientemente pelo celibato.

O livre-arbítrio é uma das características que faz do homem um ser único e livre.

Ser livre significa não ter as ações, os pensamentos e os comportamentos sob controle externo. É, sem

dúvida, o maior de todos os valores da vida.

O homem possui o direito irrevogável e intransferível à vida, à liberdade e à conquista da felicidade. O

fato de uma pessoa não ser propriedade de outra não a torna livre. Liberdade não é um conceito que

se restringe ao espaço, mas de caráter emocional. Está ligado, antes de tudo, à relação da pessoa con-

sigo mesma. Livre, de fato, é quem não está escravizado a ninguém, nem a si mesmo, principalmente.

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É bastante conhecida uma lenda de origem indígena Sioux.

Conta essa linda história que, certa vez, o guerreiro Touro Bravo e a bela Nuvem Azul chegaram à

tenda do velho feiticeiro da tribo e lhe pediram:

- “Nós nos amamos e queremos nos casar. Nosso amor nos exige que tomemos um conselho que

nos garanta ficar sempre juntos até a morte. Há algo que possamos fazer?”

O velho, emocionado, ao vê-los tão jovens, apaixonados e ansiosos por uma palavra, disse:

- “Há o que possa ser feito, sim, ainda que muito difícil. Você, Nuvem Azul, deve escalar o monte

ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida,

até o terceiro dia depois da lua cheia. E você, Touro Bravo, deve escalar a montanha do trono. Lá

em cima, encontrará a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverá apanhá-la,

trazendo-a para mim viva!”

Os jovens se abraçaram com ternura e logo partiram para cumprir a missão. No dia estabelecido,

na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves. O velho tirou-as dos sacos e cons-

tatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.

- “E agora, o que faremos?” – os jovens perguntaram.

Respondeu-lhes o velho sábio:

- “Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem

amarradas, soltem-nas para que voem livres”.

Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar,

mas conseguiram apenas saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas, as aves arremessaram-se

uma contra a outra, bicando-se até se machucar.

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Então o velho disse:

- “Jamais esqueçam o que estão vendo. Esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão.

Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como

também, cedo ou tarde, começarão a se machucar entre si. Se quiserem que o amor entre vocês

perdure, voem juntos, mas jamais amarrados. Libere a pessoa que você ama para que ela possa

voar com as próprias asas”.

Essa é uma verdade para ser seguida em todas as relações – especialmente no casamento.

Respeitar o direito que todas as pessoas têm de voar rumo ao próprio sonho é a principal lição a ser

aprendida quando se busca saber que somente livres elas são verdadeiramente capazes de amar.

A liberdade do homem tem um objetivo: preencher a vida com algo importante, que tenha valor e que

resulte na sensação de ser valorizado por isso e através disso.

Há diferentes níveis de liberdade. Existe a liberdade física – concernente a onde ir, como ir, à dimensão

física. Há uma segunda categoria: liberdade de pensamento. A mais significativa para o contexto que

estamos tratando é o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de tomar decisões morais.

Como já dissemos, decidir entre sorvete de morango ou de flocos, usar um sapato preto ou marrom

não estão no mesmo nível de decisão que optar por devolver ao dono uma carteira encontrada no

assento de um ônibus.

Em se falando de liberdade, a questão “quem é mais livre” pode depender inteiramente da circunstân-

cia de vida em que a pessoa se encontre no momento. Ela pode estar fechada em uma prisão e sentir-

-se tanto ou mais livre que qualquer indivíduo caminhando a céu aberto em um parque, respirando ar

puro. A liberdade acontece, de fato e antes de tudo, em nível mental.

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Nossos atos determinam as condições interiores que propiciam ou não o sentimento de liberdade em

nós. Decisões morais são muito mais difíceis de serem tomadas que decisões físicas, por exemplo. No

entanto, tomar decisões físicas quando se está preso não significa muito, pois, existem restrições ao

movimento.

Nas decisões morais as barreiras a serem vencidas são os desejos interiores e a capacidade de racio-

cinar para justificar os impulsos. Quanto maior o desejo, automaticamente maior será a persuasão

interior tentando nos persuadir a que o realizemos.

Nossa capacidade de medir e prever as possíveis consequências de nossos atos precisa receber

constantes e ininterruptas doses de aperfeiçoamento. Como tornar isso possível? O estudo, o auto-

-conhecimento, o acervo das experiências vividas por nós e por outros, a religião, a filosofia e a ética

se somam para fazer de nosso livre-arbítrio um recurso positivo e sempre pronto a nosso serviço. Do

contrário, agir sem considerar as consequências corresponde a fazer de nossa liberdade um instru-

mento de derrota e autodestruição.

Todo homem possui potencialidade suficiente para mudar o mundo – seja “todo o mundo” ou tão

somente seu “mundinho privado”. Usar a liberdade de escolha de modo adequado é o meio mais efi-

ciente de que ele dispõe para conseguir isto. Em igual medida, seu mau uso tem o poder de destruí-lo.

Este é o esforço e a luta da vida.

OS LIMITES DO POTENCIAL

Uma mulher magra, de estatura baixa, franzina, surpreende-se com seu filho preso debaixo de um

pesado objeto. A vida do filho está sob terrível ameaça. Com assombrosa e implacável força, ela ergue

aquele peso sozinha e liberta o menino sem nenhuma alavanca ou ferramenta. Ninguém esperava que

ela fosse capaz do que acaba de fazer.

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De onde surgiu esta força? O fato é que já existia nas profundezas do ser desta mulher. Estava latente.

O risco que subitamente sobreveio ao filho exigindo uma urgente solução acionou esta “força misterio-

sa” como artifício único e imediato de socorro.

Nas condições normais, o comportamento e as ações a serem desempenhadas por uma pessoa ori-

ginam-se de um processo mental demasiado complexo que envolve experiências emocionais, físicas,

conjectura de dificuldades e obstáculos, probabilidades, riscos, etc.

Quando a situação se altera, chegando a um limite, ou demandando procedimentos de emergência,

o cérebro não dispõe do tempo habitual para efetuar todas as etapas de um evento normal. As resis-

tências de praxe não se desenvolvem. Em função de um “ataque-surpresa” à velocidade de um relâm-

pago, a extensão e a intensidade das limitações não são completamente desconsideradas. Há casos

em que são desprezadas por completo. Nestes momentos, o paralítico anda, o cego enxerga e aquele

sujeito que se afogaria até numa banheira consegue nadar extensões incríveis no oceano. Esta é a

realização verdadeira do potencial.

E quando há uma crise, a tendência de quem age é obter a maximização de seu potencial.

Dois garotos brincavam juntos num campo aberto quando o mais velho, com o dobro da idade do

menor, caiu em um poço fundo.

Diante do eventual afogamento, o menor lançou para dentro do buraco uma corda que estava

enrolada na boca da cisterna. Com muito esforço, puxou até tirar fora o rapaz.

Passado o susto, o pequeno foi indagado pelos adultos sobre como tivera tanta força e coragem.

Pasmados, pensavam ser impossível que o menino levantasse um peso quase duas vezes maior

que o seu próprio. Ao que ele simplesmente respondeu:

- “É que eu não sabia que não podia.”

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Quando o ser humano enfrenta situações incomuns, graves, aquelas cuja solução requer ação imediata

e total desprendimento ou desapego, deixam de existir a preguiça e o temor. Os empecilhos não são

mensurados. O ponteiro da potencialidade humana atinge valores máximos.

Um empresário e cliente meu, que sempre acreditou no treinamento como forma de mudar o com-

portamento profissional dos funcionários, tem um pensamento que se encaixa perfeitamente nesta

reflexão. Diz ele:

- “Na etapa final de qualquer campeonato esportivo todos os competidores encontram-se igual-

mente preparados sob a ótica técnica, física e tática. Todos estão em condições muito próximas –

praticamente as mesmas. Um único aspecto fará toda a diferença entre o vencedor e os demais: a

condição de autodomínio e independência. Quem conseguir desempenhar sua arte com um prazer

que se aproxime da paixão conseguirá o melhor resultado”.

Os obstáculos parecem maiores quando lhes prestamos grande atenção. O foco que jogamos sobre

eles os faz superdimensionados. E sua grandeza é inversamente proporcionais à nossa autoestima,

motivação, autoconfiança e senso de valor próprio.

Quanto mais frágil e débil for a autoimagem do indivíduo, mais as expectativas negativas produzidas

por sua mente serão resistentes. Ele irá encontrar mais barreiras e obstáculos em sua trajetória. E,

pior, será crescente sua probabilidade de derrota. Na mesma proporção com que as imagina pesadas,

elas ganham força, influenciam negativamente sua psique e, desta forma, esmagam as chances ou

esperanças de vitória que inicialmente eram possíveis.

A lição é: ao conceber situações negativas na imaginação, você as traz à existência no mundo real.

Como disse Jó, na Bíblia,

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“Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece.”

Dois amigos estavam no mesmo quarto de hotel. Um deles falou, de sua cama:

- “Está tão quente aqui, não consigo dormir”.

Levantou-se, então, e abriu a janela.

O outro, insistindo que estava frio, correu para fechá-la. Isso continuou durante algum tempo, um

abrindo a janela e o outro fechando.

De repente, o homem que gostava de ar ficou frustrado e, no escuro, simplesmente atirou um pé de

sapato na direção da janela. O barulho de vidros indicou que a janela, de uma vez por todas, estava

aberta e assim continuaria pelo resto da noite. Adormeceu, satisfeito com a brisa que entrava pela

abertura e com um pensamento de vitória. O segundo homem virava de um lado para o outro, preocu-

pado com o frio que sentiria durante a noite inteira e até amargando uma derrota, mas, a essa altura,

nada podia fazer a respeito.

Ao amanhecer ambos ficaram surpresos. Não era a janela que estava quebrada afinal, mas o espelho

que ficava ao lado.

Moral da história: uma situação problemática pode ser nada mais do que um produto da nossa ima-

ginação. Devemos ver as coisas como elas são antes de reagir aos obstáculos que apenas pensamos

existir sem nem mesmo ter certeza.

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Li uma reportagem de Steve J. Ayan, atleta e jornalista norte-americano, que traz conclusões práticas

de grande valor em vista de tudo o que expusemos até aqui.

“No estádio, reina silêncio absoluto. Os espectadores prendem a respiração à espera do tiro de

partida. Na pista, musculosos atletas assumem posição de largada. Agora é para valer. Durante

anos, os corredores trabalharam duro, preparando-se para o dia decisivo. Mas, no fim, para ser o

primeiro a cruzar a linha de chegada, não só pernas contam.

Desenvolver o próprio potencial em sua plenitude é algo que demanda toda concentração mental.

De que adiantam a força muscular adquirida e uma técnica elaborada se, na hora H, os nervos

vacilam?

O perigo maior está nos segundos que antecedem a largada, quando a tensão se torna quase lite-

ralmente palpável. A mesma excitação que faz tremer os espectadores pode muito bem significar o

desastre para os atletas. Mas a mera tentativa de não contrair os músculos aumenta ainda mais a

apreensão. Põe suas chances em risco também aquele que se distraiu no instante do tiro ou corre

muito relaxado pela raia.

Para que corpo e espírito caminhem na mesma direção, tudo depende do equilíbrio exato. Concen-

tração e relaxamento são ambos necessários, bem como a confiança nas próprias forças. O melhor

é que os atletas “desliguem” os pensamentos perturbadores, como se apertassem um botão. E nisso

os psicólogos do esporte podem ajudar. Mas quais métodos de treinamento mental se mostraram

eficientes? E em que se baseia sua capacidade de melhorar o desempenho?”

Em outro trecho dessa importante reportagem, Ayan acrescenta:

“Mas como pode o esportista colocar-se nessa ‘condição ideal de desempenho’? Para não sentir

medo do fracasso ou tédio, ele tem de saber o que pode exigir de si mesmo. Deve, então, mergu-

lhar na própria sequência de movimentos que está desenvolvendo, e pode fazê-lo, por exemplo,

dando instruções a si mesmo. O melhor é recorrer a instruções concretas, relacionadas às próprias

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ações – tais como ‘erguer o braço, esticar, bater!’, em se tratando de um saque numa partida de

tênis – desligando-se das perturbações do entorno.

O êxito esportivo baseia-se, portanto, na capacidade de direcionar a própria atenção. Um caso

típico é o do atleta que só consegue ser “campeão” nos treinos: acumula grandes desempenhos na

preparação para uma competição, mas falha no momento decisivo. Uma conversa motivadora

consigo mesmo pode ajudar. A lembrança de êxitos anteriores ou a mente voltada para os supos-

tos pontos fracos do adversário podem afastar pensamentos ou sentimentos inibidores. É o que os

especialistas chamam de ‘psicorregulação interna’.

A personalidade do atleta exerce influência determinante sobre o êxito esportivo. O fato de o ucra-

niano Serguei Bubka – o ex recordista mundial do salto com vara – ter dominado sua modalidade

esportiva como nenhum outro nas décadas de 80 e 90 não se deveu a seu físico espetacular. Ele

corre para o salto como um louco, como se não tivesse medo de nada. A corrida para o salto faz

tremer as pernas de qualquer um. Mas Bubka não tremia.

Ao lado da coragem, outra forma de auto superação conta bastante no esporte: a capacidade

de suportar sofrimento. Os atletas que têm de vencer grandes distâncias, como maratonistas ou

ciclistas, especialmente, precisam ser capazes de forçar o corpo até o limiar da dor, e além dele.

Quem não possui o dom - inato em Bubka - de minimizar mentalmente o medo ou a dor pode, em

certa medida, desenvolvê-lo. Mas, para tanto, será necessário que se exponha seguidas vezes a

situações extremas, até que se tornem rotina. E, para diminuir o correspondente estresse físico

e mental, técnicas de relaxamento, como o relaxamento muscular progressivo ou o treinamento

autógeno, ajudam.

Saber lidar com o stress e as pressões constitui um importante objetivo do treinamento mental.

Esportistas expostos a esse tipo de situação começam a duvidar de si mesmos e perdem o interesse

pelo desafio. Quando isso acontece, o clamor por um psicólogo logo se faz ouvir. Mas muitos trei-

nadores e ligas desportivas somente recorrem ao auxílio especializado quando é tarde demais.

Uma pessoa extrovertida e impetuosa tem necessidades diferentes de uma introvertida. Isso de-

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manda uma abordagem flexível e diferenciada. De modo geral, porém, esportistas de alto desem-

penho exibem requisitos já favoráveis, ou não teriam chegado aonde chegaram. Diferentes estudos

atestam que, comparados aos ‘mortais’, atletas de ponta são muito inteligentes e têm grande

capacidade de concentração. Ficam acima da média também no que se refere à vontade do desem-

penho. Entretanto, ‘muitos atletas profissionais apresentam enorme motivação ao desempenhar

seu esporte, mas deixam cair a peteca em se tratando da vida pessoa’.

O comportamento de muitos esportistas em competição sugere uma pronunciada consciência de

si - basta pensar na aparência estelar dos corredores olímpicos na final dos 100 metros rasos. É

certo que isso está relacionado à capacidade de se impor diante do adversário. Mas, em geral, é a

expressão de uma crença inabalável em si mesmo. Para os atletas, é importante, em primeiro lu-

gar, fixar metas elevadas mas alcançáveis, em relação à própria capacidade de desempenho. Num

dado momento, essa fase de automotivação, como é chamada, é substituída pela da vontade em

si, quando o que importa é atingir de fato a meta almejada. Nesse estágio, o atleta, confiante, deve

pôr de lado toda e qualquer dúvida.

O modelo Muhammad Ali – “Eu sou o maior!” – ajuda, portanto, apenas no alcance concreto da

meta; antes disso, porém, quando da fixação da meta, uma avaliação realista sobre si próprio

revela-se mais adequada, a fim de evitar a frustração constante.

Conversas motivadoras do atleta consigo mesmo lhe oferecem a importante possibilidade de des-

montar dúvidas e medos

Diz a sabedoria popular que a fé move montanhas. Mas há também um nome científico para esse

dito: auto-eficácia, self efficacy. Resumidamente, o conceito diz o seguinte: aquilo de que nos acre-

ditamos capazes determina a nossa capacidade real. Se invertermos essa afirmação, veremos que

ela significa também que somente quando acreditamos com firmeza no alcance de determinada

meta, sem nos deixar intimidar pelo difícil caminho que conduz até ela, conseguiremos alcançá-la.”

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Você é capaz de perceber a gravidade e a seriedade da influência das nossas condições mentais mais

internas sobre o resultado que desejamos atingir?

Veja um jovem concluindo o curso médio, prestes a enfrentar as provas do vestibular. Por mais que se

esforce para dominar os conhecimentos mínimos exigidos, o medo, a ansiedade, o descontrole emo-

cional e as forças negativas a que ele permitir participar de suas imagens mentais, irão se opor com

rigor incalculável ao seu desempenho.

A menos que aprenda a se desfazer desta carga nociva, ele porá em risco de perda meses ou anos de

severos e custosos estudos.

Há algum ganho em trocar uma chance de vitória por fantasmas imaginários e destrutivos? Por tudo a

perder devido à falta de autocontrole?

Uma vez que a opção seja pelo uso pleno da capacidade pessoal de luta acreditando no seu potencial

inato para vencer, grande parte dos limites imaginários – senão todos – será automaticamente derru-

bada e os limites reais superados de acordo com o nível real de preparo.

Leia o episódio que narro a seguir. Aprenda uma fabulosa lição.

Cinquenta dias após ter saído do cativeiro egípcio, o povo hebreu recebeu as tábuas dos Dez

Mandamentos no Monte Sinai. Estava, nesta data, pronto, em plena forma física e espiritual, para

entrar e tomar posse definitiva da terra de seus antepassados patriarcas, a Terra de Israel.

Neste exato ponto, houve um consenso entre o povo e sua liderança de que deviam mandar espiões

para verificar se era possível conquistar o território. O líder Moisés sabia perfeitamente que a pro-

messa de Deus de lhes dar aquela terra incluía, também, a garantia de sua conquista. No entanto,

o Todo-Poderoso manteve-se na condição de quem concede a cada um o livre-arbítrio para seguir a

direção que bem escolher.

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Frente a este acordo, Moisés decide, então, enviar líderes representantes de cada uma das doze

tribos em que estava organizada a nação, para espionarem a terra. Doze espiões são mandados.

Dias depois, retornam da jornada. Dez deles fazem o relato de que existiam grandes fortificações

e perigosos gigantes naquele lugar. Incitam o povo a não entrar na terra. Curiosamente, faz parte

do relato destes líderes as seguintes palavras: “Nós nos sentimos como gafanhotos diante deles, e

assim parecemos a seus olhos.”

Esta é uma das passagens mais impressionantes da história do povo Hebreu de onde podemos extrair

profundas e práticas reflexões. Chamo a sua atenção para o seguinte:

Porque os líderes espiões viram-se como gafanhotos a seus próprios olhos, os outros também

os tomaram por “gafanhotos”.

Observe bem a relação de causa e efeito que existe aqui.

Ver-se a si próprio como um fracasso é perigoso e comprometedor devido a ser uma autovisão que

não ficará restritta aos nossos domínios. Tão prontamente nos vejamos assim, a mensagem será ins-

tantaneamente comunicada aos outros. Todos ficarão sabendo. De que modo? Não faz a menor dife-

rença. Mas eles passarão a ver-nos exatamente deste modo.

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Lembre-se: quem pensa em obstáculos, cria obstáculos. Há um provérbio iídiche que diz:

Estamos constantemente simulando situações mentais. Havendo uma mínima tendência ao pessimis-

mo, enxergaremos problemas e uma infinidade de coisas danosas começará a aparecer. Quando as

encontrarmos no mundo real, parecerão bem maiores do que são. Este é o fruto que colhemos por

investir a nossa imaginação fértil em coisas deste tipo.

É de Napoleão Bonaparte a frase:

Esta máxima alude à figura mental em que o imperador centrava seus pensamentos e objetivos. Ele

não contava com a palavra ‘impossível’ em seu acervo mental. Através de uma atitude verbalizada

excluía as influências negativas que uma simples expressão poderia exercer sobre seus atos, planos e

desejos.

“Tracht gut, un vet zayn gut! – Pense no bem e tudo será bom!”

“Impossible n’est pas français” – “impossível não é francês”.

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Podemos, com raras exceções, produzir muito mais do que já produzimos. Podemos atingir alvos mais

difíceis e desempenhar nossa missão com grande desenvoltura. Só é preciso que tenhamos nossa po-

tencialidade sob controle. Como? Conscientes dela todo o tempo.

Se você vai iniciar uma tarefa qualquer, se você pretende dar os primeiros passos na realização de um

projeto, não almeje de imediato grandes resultados. Comece estabelecendo metas simples e fáceis de

serem atingidas. Vá desenvolvendo, aos poucos, as suas habilidades e orientando a sua capacitação, o

seu desempenho. Observe as suas reações naturais frente ao novo. Aumente a sua aptidão em cami-

nhar neste “novo terreno” sem pressa ou ansiedade. Permita que o propósito e a consciência de valor

de cada novo passo cresçam na mesma medida que o sentimento de conquista.

Concentre-se nos esforços que está empregando e não no quanto você já tenha andado ou conquis-

tado. Vou repetir: esforce-se e observe seu esforço. Não se apresse em chegar ao destino ou ao topo

rapidamente. O esforço é sumamente importante, ou melhor, tenha satisfação em descobrir o signifi-

cado de cada etapa vencida. Isto é o que fica e se transforma em riqueza real dentro de você.

Aqui, vale repetir: existe alguma coisa que você realmente queria ou gostaria que acontecesse? Pense

bem nela. Pense muito bem e com força. Focalize sobre ela cada parcela de sua concentração. Visuali-

ze-a nos mínimos detalhes, tal como você a deseja. Se fizer isto com muita energia e a sua concentra-

ção for suficientemente intensa, você poderá torná-la realidade.

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VERDADEIRA GRANDEZA

Cada um de nós nasce só e morre só.

Nos dias de hoje, temos a impressão de que a comunicação atingiu seu auge com o smartphone, os

recursos da Internet e as facilidades de locomoção. As distâncias se encurtaram realmente. Talvez seja

possível afirmar que nunca, antes, as pessoas sentiram tanta necessidade de estarem próximas.

A despeito desta realidade, todo ser humano em sua essência está só. Haverá uma razão para isso?

Estamos tão acostumados com explicações para tudo! Pode ser que o homem tenha em algum lugar

de sua mente a certeza de que o mundo foi criado para ele.

Quando ouvimos que centenas de milhares de pessoas morreram em um tsunami na Indonésia e que

milhões estão desabrigados, nossa primeira reação mental é analisar o fato como tendo alguma rela-

ção conosco.

- “Devo colaborar com alguma ajuda?

- “Como posso me manifestar a respeito?”

O nosso pensamento reage mais ou menos como:

- “Em meu mundo o que isto significa para mim?”

Esta é nossa natureza.

“O mundo foi criado só para mim” parece fazer parte das premissas pelas quais pensamos e agimos.

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Seria bom se as nossas tendências se inclinassem apenas para o bem e fizéssemos questão disso. O

problema é que temos boas e más inclinações. Esta polarização existe em função do livre-arbítrio e

para que aprendamos com as consequências de cada ato.

Imagine um sujeito numa longa fila de atendimento do caixa de um banco. Ele começa a murmurar:

- “O que fazem estes imbecis aqui! Todos vêm na mesma hora? Se pudesse eu os faria desaparecer!”

Esta pessoa estressada e nervosa também pensa que o mundo foi criado para si. Mas na circunstância

em que está agora, o que ela quer é abocanhar este mundo que pensa ser seu como uma fruta. Ela

gostaria de pô-lo no bolso e levá-lo para casa, ou regê-lo de acordo com suas próprias conveniências.

Chega a ponto de achar que tudo o que a rodeia lhe pertence, de fato. O efeito deste pensamento não

é outro senão o autoritarismo, a tirania, palavrões e coisas deste gênero!

Conheci um empresário que, de tão prepotente e autoritário, chegou a desejar controlar a vida pessoal

de seus funcionários interferindo até nas decisões sobre com quem deviam ou não namorar, conviver

e manter amizade.

O sábio e prudente irá conscientizar-se de que o mundo, sendo seu, consiste em uma série quase infi-

nita de grandes obrigações e responsabilidades. Tomará para si o dever de fazer dele um lugar melhor

para todos viverem. Terá como alvo ser feliz e ajudar os outros a serem felizes; ter conforto e propor-

cionar o mesmo aos demais.

Pense e responda:

Se soubesse que uma grande guerra está na iminência de acontecer,

você tomaria alguma iniciativa?

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Sozinho, talvez, não. E se soubesse que pode contar com uma ajuda incondicional e extremamente

poderosa? Como reagiria agora? Eu lhe direi que Deus é a sua ajuda incondicional!

Com os recursos necessários sempre é possível fazer grandes coisas.

Não cheguemos ao extremo de pensar em nossa intervenção individual em um conflito de tão grandes

proporções. Porém, em outras áreas poderíamos ser mais presentes e tentar dar um rumo diferente a

elas.

Pois bem. Sabemos como pensa e age o sábio. E o tolo? Ele pensa:

- “Ah, se eu tivesse ao menos dois reais. Com este dinheiro eu poderia apostar na loteria. Se eu ga-

nhasse, me candidataria a presidente da república e assim, resolveria os problemas do Brasil e depois

os do mundo. Mas, ai de mim e pobre do mundo. Eu não tenho nem mesmo um real no bolso!”

“Consertar o mundo” é uma expressão que, nos ouvidos de um cidadão do século XXI, é uma absolu-

ta utopia. Parece impossível para uma sociedade cujo principal atributo é limitar o poder de ação do

indivíduo.

A burocracia e os órgãos de governos são, desde certa ótica, instituições que fazem as pessoas co-

muns acharem que nada podem fazer a respeito da corrida armamentista, da pobreza ou da crimina-

lidade. Parece-lhes impossível lutar por convicções e ideais em um mundo sofisticado e tão bem “or-

ganizado”, sob a responsabilidade de governos que cobram impostos para realizarem estas “missões”

que, na verdade deviam ser de todos e de cada um.

O materialismo tira das pessoas a necessidade de se sentirem responsáveis. E, tristemente, muitas

vezes a religião faz o mesmo.

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Se, no entanto, analisarmos mais profundamente, como explicaremos os grandes feitos da História?

Indivíduos simples têm sido os protagonistas dos últimos 3.800 anos da Civilização, entre eles: o pa-

triarca Abraão, o Rei Salomão, Aristóteles, Gutenberg, Cristóvão Colombo, Beethoven, Pasteur, Eins-

tein, Sabin, tantos e tantos outros.

- “Ah!” – alguns dirão – “estes foram gigantes, enquanto eu sou um simples mortal. Que tipo de coisa

eu poderia, de fato, fazer sendo tão pobre e inútil?”

Lamentavelmente Hollywood causa mais prejuízos às nossas crenças do que entretenimento. Os filmes

nos fazem crer que os gigantes deste mundo não são de carne e osso. Arnold Schwarzneger só vence.

Clint Eastwood nunca perde.

“O que eu posso fazer?” não é uma pergunta. Quem indaga essa questão não o faz em busca de uma

solução real. Está apenas fazendo uma alegação:

“Olhe para a realidade! Não seja ingênuo! Gente como eu não pode fazer nada.”

É isso o que querem dizer.

As pessoas são rápidas em opinar sobre os problemas dos outros e sobre assuntos de dinheiro. Mas

exageradamente lentas quando chamadas a resolver questões humanitárias, sociais ou até suas pró-

prias situações emocionais.

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O mundo globalizado está ocasionando a perda da noção de amplitude individual que, no passado,

produziu os grandes líderes. Refiro-me à visão de indivíduo único que cada um deve ter ao mirar suas

próprias capacidades e o poder de impacto de suas ações e decisões.

Nós fazemos parte de uma entediante população que vive seus dias movida por ideais cujas palavras

de ordem são: “Eu-não-posso” e “Eu-não-consigo”. Por isso, a vida, em geral, está monótona e cansati-

va. Só vemos derrotas e derrotados, preguiçosos e vagabundos, gente que só quer se divertir e obter

prazer com as drogas, com os feriados e os fins de semana.

Uma coisa, no entanto, é inegável. O computador não irá produzir uma nova geração de pensadores.

Ela nascerá daqueles que se esforçam e lutam em favor de convicções e idéias, os que investem esfor-

ço real em realizar e construir.

Muito bem. Sejamos práticos. Tomemos uma atitude objetiva.

Enumere algumas das tantas anormalidades e problemas que estão acontecendo à sua volta, diante

dos quais você tenha se mantido passivo ou indiferente. Pense na sua empresa, na sua vizinhança ou

na sua casa. Se você dedicasse ao menos alguns minutos a pensar sobre esses problemas, com toda a

capacidade e experiência já acumuladas na sua vida, uma solução surgiria. Esta poderia ser a solução

definitiva de uma questão séria e até agora insolvível.

Enxergue-se realizando algo útil a esse ponto.

A boa notícia é que você tem todos os recursos de que necessita para esta realização. Tudo de que

você mais precisa para encará-la de frente e vencê-la, já lhe foi dado. Resta apenas assumir.

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Numa fria noite de inverno em Toronto, Canadá, uma mulher bem vestida percebeu um garotinho

descalço de pé na rua, tremendo, e espreitando pela janela de uma loja de sapatos. A mulher sen-

tiu pena do menino e, tomando-o pela mão, entrou com ele na loja.

Ela pediu ao vendedor que trouxesse um par de sapatos e meias, e curvou-se para ver se serviam.

Pagando pela compra, ela deu uma palmadinha no ombro do garoto e disse:

- “Sem dúvida, meu rapaz, agora você vai se sentir melhor”.

Quando ela se virou para ir embora, o menino tomou-lhe a mão, olhou-a bem e com lágrimas nos

olhos, respondeu a ela com uma pergunta:

-“Você é um anjo?”

Construir um mundo melhor – começando por nós mesmos – não é opcional. É responsabilidade. Te-

mos esta vocação naturalmente semeada em nós. É a nossa real potencialidade! Ignorá-la ou desprezá-

-la nos deixará em dívida com a nossa consciência e com a própria humanidade. A alma cobrará dia e

noite. A sensação permanente será de “há-algo-a-fazer-e-não-sei-bem-o-que-é”.

Em todo indivíduo persiste o desejo de cooperar com sua parcela de melhoria do mundo – a mais con-

siderável e abrangente possível. Está logo aí, ao alcance das nossas mãos. Não significa que devamos

planejar uma revolução, mas, antes, realizar uma obra de elevação da qualidade e do valor humanos,

seja onde e quando for.

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Não temos a alternativa de desistir antes de lutar. E jamais a concluiremos. Nós a legaremos para a

próxima geração. Nossos filhos e netos continuarão de onde paramos. E assim será, sempre.

Você e eu queremos ser grandiosos, sim. E você pode ser grandioso porque tem que ser. Eu também.

O que resta agora é sermos grandes.

Quando nada parece ajudar, olho o cortador de pedras martelando uma gema cem vezes, talvez, sem

que uma só rachadura apareça. Na centésima primeira, porém, a pedra se parte em duas. Sei que não

foi a última martelada a que atingiu o objetivo, mas o efeito de todas as que vieram antes, somadas.

Assim é a busca dos ideais. Todos os momentos para os alcançarmos são importantes.

Jamais desistir.

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PRÁTICA

2QUERER OU DESEJAR?

Você já deve ter observado algumas pessoas que cometem atos impróprios se defenderem dizendo

que a tentação era forte demais para resistir. Há um erro nesta afirmativa!

Uma lei do comportamento humano declara que quando existem duas opções, as pessoas podem

escolher somente aquela que acreditam trazer menor sofrimento. No entanto, a escolha individual

decide qual sofrimento é maior e qual é menor. Por exemplo, quando um bebê faminto chora no meio

da noite, os pais se levantam. Escolhem naturalmente livrar-se do aborrecimento maior – ficar na cama

escutando o choro do bebê – em troca do menor – levantar e alimentar o filho.

Em casos extremos há o exemplo dos mártires – que escolheram a morte para não violar princípios

que consideravam sagrados ou ideais nos quais acreditaram muito. Nesse caso, a morte dói menos do

que uma vida com concessões.

As pessoas podem avaliar por si mesmas o que é bem e o que é mal. Cada um é responsável por suas

próprias avaliações. Portanto, ceder à tentação de fazer algo proibido ou impróprio, indica que há

falhas na avaliação.

Vejamos sob outro aspecto.

“Eu quero, mas não desejo.”

Já ouviu isso antes? Crianças falam isso em tom de brincadeira quando não estão completamente con-

vencidas sobre fazer algo.

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“Querer e desejar” parecem a mesma coisa?

Analisemos.

Suponha que você tenha causado um dano emocional a alguém. Você “quer” pedir perdão. Claro, é

correto. E se o fizer você sentirá paz interior. Contudo, no fundo, você não “deseja” fazê-lo. Por quê?

Pode ser desagradável e até vergonhoso aos olhos de outras pessoas e outros fatores externos a você.

A tomada de decisão entre o que você “quer” – isto é: o que sabe e acredita ser certo –, e o que você

“deseja”– a perspectiva do momento atual, o constrangimento e demais situações particulares decor-

rentes do cenário em que tudo está se transcorrendo –, é o emprego do seu livre-arbítrio.

Isso permite entermos de que modo todas as pessoas realizam escolhas, mesmo que não saibamos

explicar os atos de maldade que, infelizmente, vemos a cada dia.

Talvez você não concorde, e eu respeitarei. Mas a meu ver, com raras exceções, quase ninguém esco-

lhe conscientemente fazer o mal pelo mal em si. Quantas pessoas decidem ser más e infligir sofrimen-

to a alguém? Somente as mentalmente doentes.

A opção pelo mal é feita especialmente quando, em curto prazo, é a forma menos dolorosa de lidar

com uma situação difícil ou desesperadora.

Quando o homem se vê frente a um aperto iminente e lhe surge o “desejo” momentâneo de fazer algo

mal, a certeza que essa alternativa lhe oferece é a de que, quase sempre, é a mais fácil – mesmo que

não “queira” praticá-la.

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O que nos leva a praticar um ato ruim é o “desejo” fortuito que surge como esperança e a atração dos

benefícios ilusórios que teremos na realização deste desejo. É muito provável que, de fato, não esteja-

mos “querendo” optar por isso. Mas acabamos fazendo-o porque momentaneamente é um “jeitinho”,

uma espécie de “gambiarra” ou solução de curto prazo para uma situação incômoda ou insuportável.

Enquanto tudo isso se transcorre, existe uma certeza interior de que a dificuldade será brevemente re-

mediada ou superada e tudo ficará bem. Esta é a “certeza” de que temos o controle absoluto de todas

as variáveis, e “certeza” de que nenhuma dará errado.

Mas quase sempre isto não se confirma. E, como toda ação gera uma reação, o que, antes, parecia ter

curta duração ou ser um remédio, rapidamente transforma-se em estragos de grandes e duradouras

proporções. O que era para ser efêmero torna-se “eterno”, um peso a ser carregado por anos ou por

toda a existência.

Querer e desejar. “Querer” se relaciona aos nossos conceitos – à formação que recebemos, aos prin-

cípios e valores que herdamos. “Desejar” liga-se à influência dos interesses imediatos que ocupam o

cenário atual de nossa mente. É aquilo com que nos permitimos envolver, ou seja, as vantagens e

desvantagens ao longo do tempo que temos disponível para atingir determinada meta.

Desde este prisma, tente aplicar na prática o conceito de livre-arbítrio à sua vida. Por exemplo:

Pergunte-se: “Quero eu ser uma grande pessoa?”

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Eu sei que você “quer”. Mas, é provável que não esteja “desejando” esforçar-se o bastante para con-

quistar este alvo precisamente agora. O seu desejo mais presente é adiar o início dessa tarefa – que é

árdua porque exige estratégia, tática e muita dedicação – para “amanhã”. A sua inclinação mais imedia-

ta é deixar a proposta para depois, para o futuro.

Você quer ser grande, tem todo o interesse e acredita que um dia sairá em busca disso.

Muitos têm um plano bem desenhado para colocar em prática. Mas no âmago do pensamento a asser-

tiva é

- “Não agora. Não hoje. Amanhã, talvez!”

A dinâmica deste processo está clara.

Diálogo entre o mestre e o aluno:

- “Você quer ser uma grande pessoa?”

- “É claro que sim. Quero ser um excelente profissional, um ser humano consciente, um ótimo pai e

marido. Quero ser sábio também”.

- “Ótimo” – diz o mestre. “Mas você sabe quanto esforço isso exige? É preciso estudar, examinar-

-se bem, aconselhar-se com pessoas experientes, desenvolver conceitos e revê-los à medida que o

tempo passar. É um projeto de crescimento pessoal nada fácil de concretizar”.

- “Mas eu tenho trabalhado como um condenado ultimamente. Estou apuradíssimo. Minhas tarefas

consomem quase todo meu tempo. Preciso descansar um pouco, me divertir, senão eu entro em

crise e posso estressar.” – diz o aluno.

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- “Está me parecendo que você quer continuar sua vidinha medíocre. Ser grande não é a sua priori-

dade”.

- “Você está enganado sobre mim” – afirma o jovem. “Eu quero ser um homem brilhante. Chega de

viver uma vida pequena e sem realizações. Só que, da forma como você está expondo, hoje não é

possível”.

- “Por que não hoje?” – o professor questiona.

- “Porque não sinto o desejo de colocar tanto esforço nisso. Hoje, eu desejo relaxar um pouco”.

O que se pode concluir?

Nada é tão difícil, como muitos acham. O problema para a concretização ou realização de qualquer

meta está no modo como processamos o nosso “querer” e “desejar” na mente. Decida-se pela conju-

gação e entrosamento destes dois impulsos, e tudo estará a seu favor.

Existe alguma coisa que você realmente queira ou gostaria que acontecesse? Você tem uma meta?

Tem um plano? Quer realizá-lo, mas acha doloroso demais sair em busca e atingi-lo? Muito bem, há

um procedimento infalível. Aqui vai:

Pense bem nele. Mas pense muito bem e claramente. Focalize sobre ele cada mínima parcela da sua

capacidade de concentração. Visualize-o em todos os seus vários detalhes. Na sua mente você “quer”

realizá-lo porque acredita que será bom para você. Mas o seu “desejo” ainda vacila por causa dos obs-

táculos ou do esforço que será preciso investir. Então, neste momento, deseje poderosamente vê-lo

concretizado. Faça o seu desejo chegar ao mesmo patamar do seu querer. Mentalize isto com energia

total e nada nem ninguém lhe deterá. Se você desejar com comando total, irrestritamente e a sua con-

centração for suficientemente intensa, você irá torná-lo realidade.

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Remova a preguiça e a fraqueza de dentro de você. Só assim irá conseguir. Nada de bom acontece

sem esforço intenso e enfrentamento corajoso das dificuldades. É de acordo com o esforço no plantio

que se pode saber que, no final, a colheita será obtida.

Encontrei entre os textos do psicólogo norte-americano William James, algo que tem muito a ver com o

assunto e poderá ajudar. Veja que maravilha:

“A ação parece seguir-se ao sentimento. Mas, na realidade, a ação e o sentimento caminham jun-

tos. Regulando a ação, que se encontra sob um controle mais direto da vontade, podemos, indire-

tamente, regular o sentimento que não se encontra nessa mesma situação. Assim, o caminho para

a cordialidade, caso você perca sua cordialidade espontânea, é levantar-se cordialmente, agir e

falar como se a cordialidade já estivesse em você. Se uma conduta tal como esta não o fizer sentir-

-se cordial, nada mais o fará nessa ocasião. Desta forma, para sentir-se bravo, aja como se você

fosse bravo, empregue toda a sua vontade até o fim e um revestimento de coragem, muito prova-

velmente, substituirá o revestimento do medo”.

Algumas vezes, separar o que desejamos do que queremos pode ser difícil ou confuso. É óbvio que

queremos muitas coisas, porém o desejo se mete no caminho e confunde o pensamento. Aí nos perde-

mos.

Você concorda que todos nós queremos ser felizes? Pergunte a qualquer um:

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A resposta, sem dúvida, será:

- “Prefiro ser feliz. Se eu tiver suficiente comida para comer, roupa para vestir e um abrigo seguro para

viver, estarei pronto para sair em busca da felicidade. Afinal, quem é tolo de ser um milionário triste?”

O que está sendo realmente mais importante para esta pessoa: felicidade ou dinheiro?

É claro que a felicidade é mais significativa, porém, o dinheiro está enraizado em seu desejo e é sobre

isso que ela está concentrada.

Isso é o que nos faz tirar o foco de sobre aquilo que realmente queremos. Em seguida, ficamos enfra-

quecidos e a nossa bravura e coragem perdem o efeito.

O “desejo” entorpece o pensamento fazendo-se tão atrativo e interessante a ponto de nos enganar e

fazer-nos pensar que ele é, de fato, a nossa vontade. É preciso entender que, se nós permitirmos, ele

passará a ser a nossa efetiva vontade.

A menos que se esforce para entender e aprender a diferença entre o que você deseja e o que quer,

descubrindo qual destes dois está controlando as suas ações, é provável que acabe perdendo valiosas

oportunidades de alcançar metas elevadas de vida.

Cedo ou tarde você irá saber definitivamente que a vontade é, mesmo, o elemento imprescindível para

a realização de todos os projetos e objetivos.

“O que você prefere: ser rico ou ser feliz?”

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PRÁTICA

3NÃO TENHA MEDO

Medo, falta de confiança, dolorosas e desagradáveis experiências do passado, culpa, angústia, visão

restritta do mundo e tudo o que pertence a esta categoria de sentimentos comprometem a nossa po-

tencialidade.

Pensamentos negativos são veneno para os propósitos de elevação e aperfeiçoamento que mantemos.

Eles nos fazem acreditar que não temos condições sequer de chutar uma bolinha de papel amassado,

quando chegar ao espaço sideral ou produzir uma sinfonia são as nossas reais vocações.

Mesmo sendo tão grande a ponto de não atingirmos a dimensão de seu real poder, o potencial fará

muito pouco por quem se deixa dominar pelo negativismo e derrota antecipada.

Sem luta não há vitória nem derrota, de fato. Mas psicologicamente, sim.

Assim como a bomba atômica tem uma gigantesca capacidade de destruição concentrada em uma di-

minuta massa de material radioativo, o potencial humano pode parecer uma faculdade de proporções

elementares, mas com poderes vultosos para a realização de grandezas e auxiliar na escalada das altu-

ras mais transcendentes da vida.

Seria fácil demais se tivéssemos um botão que permitisse regular a potencialidade ao máximo, tal

como o volume de um aparelho de som. Infelizmente não é assim. Por maior que seja a nossa vontade

de maximizar a consciência da potencialidade em determinado momento ou evento, as dificuldades e

obstáculos com que nos deparamos ou criamos a contrabalançam.

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Ainda que as chances favoráveis sejam muitas, os obstáculos lá estarão, sempre, para promover difi-

culdades. Mas vistos de outra ótica, estes óbices existem para serem superados. É imperioso superá-

-los.

Há uma razão para isso.

O problema de atingirmos nossos alvos é que, na grande parte das vezes, olhamos para as limitações

e obstáculos como facetas negativas, contrárias à missão que almejamos cumprir. Não os vemos como

o que verdadeiramente são: desafios cujo benefício, ao serem vencidos, é fazer-nos melhores e mais

sábios. A ótica, aqui, faz toda a diferença.

Nossos olhos parecem vendados para a força e abertos para a fraqueza.

Sempre houve uma potência tremenda depositada no nosso interior e à nossa total disposição. Só é

preciso que a arranquemos de nós profundeza e puxemos para fora. Com vontade e esforço, querer

e desejar – ao mesmo tempo e na mesma intensidade. Esta é a parte mais importante e notável do

trabalho da vida.

“Os maiores desafios do homem são aqueles queestão mais perto do propósito de sua existência.

A ponto que, se desejar saber qual é o principal propósito da sua vida,

você só precisa olhar para onde estão os seus maiores desafios”.- Rabi Menachem Mendel Schneerson

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Você já assistiu a uma decisão de título mundial de boxe? E de um campeonato de futebol, tipo Copa

do Mundo? Se tiver esta oportunidade, observe bem.

Numa luta, ou no futebol, o vencedor é aquele que dá tudo de si, o que extrai de seu interior o máxi-

mo possível de esforço e bravura.

Todos nós estamos frequentemente diante de momentos de decisões – pessoais, nos negócios, nos

relacionamentos, sobrevivência etc. Quantos desistem e optam pela derrota, mesmo tendo forças e

inteligência para prosseguir lutando? Quantos desistem e optam por levar seus anos na mais completa

mediocridade?

Quantos desistem e, ao invés de viver com a intensidade que é a regra da vida, optam por simples-

mente existir como seres indiferentes e inválidos, vendo o tempo passar, recordando-se de um passa-

do glorioso envolvido por dias e noites sem razão e sem sentido!

Um momento de decisão é muito próximo do inferno. É tenebroso. É instável. É escuro e amedronta.

Perturba. Ter que decidir tira-nos fora do que chamamos “normal”. Arranca-nos com violência de qual

seja o conforto. Nestas horas, podemos ficar parados e levar um soco na cara, ou lutar e sair das tre-

vas, em direção à luz.

“Em qualquer luta é o cara que está disposto a morrer quem ganha”

Al Pacino, no filme “Any Given Sunday”.

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Só vence aquele que está disposto a morrer. Isto incomoda. Quase fere. Mas é a verdade incondicio-

nal. Não é fácil encará-la. Muito menos fácil é assumi-la. Porém, para entendermos isto é preciso com-

preender que enquanto há vida existe sempre a possibilidade de optar pela disposição de morrer a

fim de vencer – morrer por um ideal de valor, morrer para alcançar o mais elevado propósito. É assim.

Isto é viver!

Sempre vencem aqueles que estiverem predispostos a enfrentar todos os obstáculos e superá-los.

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PRÁTICA

4RECONTEXTUALIZE

Um admirável recurso à disposição do homem para superar problemas, obstáculos e todas as demais

limitações é sua capacidade de recontextualizar a realidade.

“Recontextualizar” significa rever o contexto, isto é, interpretar um acontecimento ou fato desde uma

perspectiva nova, e, partindo dela, reorientar ações e reações. É uma arte de incalculáveis benefícios

para quem a domina.

Vi um documentário que enunciava a seguinte situação:

“Se à cabeça de uma pessoa forem ligados eletrodos de tomografia e captação de sinais para se-

rem transformados em imagem de tecnologia computacional e pedir que ela olhe para um objeto,

certas áreas de seu cérebro se ‘acendem’ à tela do equipamento de imagem. Aí, se pede para que

ela feche os olhos e imagine, agora, aquele mesmo objeto. Ao imaginar, as mesmas áreas do cére-

bro se acendam, exatamente como se ela o estivesse vendo.

Isto fez os cientistas questionarem: ‘Em que consiste ver? O cérebro vê ou são os olhos que veem?

Será a realidade o que vemos com o nosso cérebro ou o que vemos com nossos olhos?’ A verdade é

que o cérebro não sabe diferenciar entre aquilo que vemos em nosso ambiente e aquilo de que nos

lembramos, porque são as mesmas redes neurais específicas que se acendem. Logo: o que, de fato,

é a realidade?”

Uma coisa parece certa: os eventos ou fatos que acontecem são a realidade objetiva da vida. O modo

como os encaramos, todavia, é totalmente subjetivo. É função do propósito que queremos dar a eles.

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“Não vemos com nossos olhos, mas através deles”

disse William Blake. Foi ele quem também afirmou:

“A árvore que o sábio vênão é a mesma árvore que o tolo vê.”

É como se tivéssemos o poder de recriar a realidade.

Observe bem. A interpretação dada a cada situação depende exclusivamente de quem a interpreta e

do modo como a faz. Por conseguinte, a “realidade” e a “percepção da realidade” podem ser completa-

mente diferentes. É possível que cheguem a ser opostas.

Uma criança norte-americana pode distinguir entre um grande número de diferentes marcas de carros.

Se uma criança esquimó fosse colocada em lugar da americana, ela não veria senão as maiores dife-

renças entre as várias marcas. Assim também, se a criança americana visitasse os esquimós do Ártico,

ficaria maravilhada diante da facilidade com que eles reconhecem entre duas dúzias de diferentes

modelos de esconderijos de renas, e de sua capacidade para distinguir as menores variações nos tipos

de neve.

Quando se pede aos Baganda, de Uganda, na África, que classifiquem pedaços de papelão de formas,

tamanhos e cores diferentes, os nativos quase nunca os classificam pela cor. Além disso, sua língua é

quase totalmente desprovida de palavras para distinguir cores. Entretanto, os Baganda, educados em

escolas ocidentais, fazem o mesmo teste e classificam de acordo com as cores, precisamente como

nós.

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A percepção trata das várias maneiras pelas quais as pessoas interpretam as coisas no mundo exterior

e como elas agem com base nessas percepções.

Cinco membros de uma equipe poderão dar várias interpretações para um aumento de salário de 4%

no ano seguinte. No entanto, essas mesmas cinco pessoas poderiam partilhar a mesma percepção

precisa de que um edifício de escritórios está sendo erguido do outro lado da rua.

As pessoas criam atalhos para tornar a realidade menos dolorosa ou perturbadora. São dispositivos

que elas desenvolvem psicologicamente para lidar com a informação sensorial que as ameaça ou gera

dúvidas. Esses processos mentais são defesas.

Esta forma particular de fazer a leitura de um fato influencia diretamente o momento presente, o

comportamento, a motivação e todos os demais aspectos decisivos no desempenho pessoal futuro. Ela

pode impactar sobre todas as variáveis futuras.

Um exemplo disso foi apresentado em uma experiência científica com peixes.

O lúcio é um peixe encontrado em rios e lagos europeus, que pode atingir até um metro e meio de

comprimento. Sua cabeça é pontuda e o corpo é esverdeado com faixas cinzas. Ele se alimenta de

barrigudinhos, peixes que vivem em águas com pouco oxigênio e que levam este nome pela barriga

volumosa das fêmeas.

Um lúcio foi colocado em um aquário com muitos barrigudinhos que nadavam à sua volta. Depois de

estar acostumado à abundância de alimento, um vidro foi colocado entre o lúcio e os barrigudinhos.

Quando o lúcio sentia fome, tentava pegar os barrigudinhos, mas continuamente batia com a cabeça

no vidro.

Inicialmente, a necessidade de alimento aumentou e o lúcio tentava, com intensidade cada vez maior,

atingir os barrigudinhos. Seu repetido fracasso na realização do objetivo resultou em tal frustração

que já não tentava mais comer barrigudinhos.

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Com efeito, quando finalmente se retirou a separação de vidro, os barrigudinhos novamente nadavam

em torno do lúcio, mas este já não buscava atingir seu objetivo. Acabou morrendo de fome embora co-

locado no meio de muito alimento.

A percepção de uma mesma realidade pode ser positiva ou negativa, dependendo de como a fazemos.

Nos dois casos, o lúcio atuou de acordo com a maneira pela qual percebia a realidade e não de acordo

com ela.

O que ocorre é que somos bombardeados por imensas quantidades de informação. Elas chegam atra-

vés do nosso corpo e estamos processando-as conforme passam por nossos órgãos sensoriais.

Elas são filtradas e a cada passo estamos eliminando informação pois não há como armazenar todas.

Finalmente, o que fica borbulhando para a consciência é aquilo que mais nos serve. O cérebro proces-

sa quatrocentos bilhões de bits de informações por segundo, mas só temos consciência de dois mil

bits. E a nossa consciência desses dois mil bits de informação é apenas sobre o ambiente, o corpo e

sobre o tempo.

Estamos vivendo num mundo em que tudo o que vemos é somente a ponta aguda e minúscula de um

gigantesco iceberg.

Nossos julgamentos, interesses, condicionamentos e crenças comandam que vejamos apenas o que

queremos ver.

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Certa vez, um jovem visitou um sábio e, consciente da grande oportunidade de estar na presença

de alguém com tamanha experiência, perguntou-lhe qual o segredo da vida. O sábio respondeu:

- “Respirar”.

O rapaz, embaraçado diante de algo aparentemente tão óbvio, sorriu, desconcertado. O sábio,

então completou:

- “O segredo da vida são duas coisas: respirar e atitude. Assim como você tem certeza de que um

corpo vive enquanto estiver respirando, as atitudes de uma pessoa irão determinar a qualidade de

vida que ela leva”.

De fato, a realidade, está intimamente ligada à atitude.

Imagine uma linda jovem que viaja a uma cidade distante para o casamento de uma amiga. Ela leva na

mala um maravilhoso vestido, desenhado exclusivamente para a ocasião. Chegando lá, instala-se em

um hotel. Minutos antes de sair para a cerimônia, um cálice de vinho tinto cai acidentalmente sobre o

vestido.

Um desastre!

Imediatamente, a pobre moça começa a pensar nas possíveis medidas: encontrar uma lavanderia a

jato, pedir outro vestido emprestado a alguém ou simplesmente ir ao casamento com o vestido no

estado em que se encontra. Ela tem que tomar uma decisão.

Depois de pensar bem, chega à conclusão de que a melhor opção é ir ao casamento com o vestido

manchado. Mas isto desencadeia outra série de decisões, pois, quando perguntarem por que o vestido

está sujo, o que ela responderia? Uma das possibilidades: “Isto não importa. O que mais vale é estar

aqui e gozar o casamento de minha melhor amiga”. A outra resposta poderia ser: “Veja como sou aza-

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rada” – e passar o resto do tempo queixando-se por seu infortúnio, sentindo-se arruinada pelo desas-

tre em que seu sonho se transformou.

Trazendo a situação para a vida real, se você decide:

então você viverá desta maneira. Se, por outro lado, sua opção é:

“A vida é boa e é um prazer viver”,

“O mundo é um desastre e é horrível ter que estar aqui”,

desta maneira você viverá, por mais problemas que tenha.

Se é bom estar vivo, você precisa saber o que há de bom em viver, como está sendo usado o seu poten-

cial, quais obstáculos você está encontrando, o quê e como fazer para suplantá-los, etc.

Na maior parte das vezes, o verdadeiro problema é que a pessoa não sabe bem o que quer. Se é o seu

caso, você está naturalmente impossibilitado de atingir qualquer objetivo. Desde que você conheça a ra-

zão da vida, não haverá o que seja capaz de lhe deter. Você irá de encontro aos seus alvos com a força de

um herói e com a coragem de um bravo guerreiro. Você irá se levantar todas as manhãs com a esperteza

e energia de uma criança em dia de festa.

Se o mundo lhe parece feio, você tem duas opções: ou você se queixa ou você ajuda a melhorá-lo. A chave

está na atitude que você escolhe para tomar.

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Não se acomode dizendo: “Ah!!! Bem que tudo podia ser diferente!”

A coisa mais fantástica desta vida é a alternativa que temos de poder embelezar qualquer coisa ou

situação que nos pareça feia. Você tem potencial para absolutamente tudo, basta decidir usá-lo.

Neste mar infinito de potenciais que existe dentro de nós e à nossa volta, porque somos tão viciados

a viver sempre do mesmo modo e contando com os mesmos recursos? Não é incrível que não sejamos

sequer conscientes de milhões e milhões de potenciais disponíveis dentro de nós?

Somos condicionados ao nosso cotidiano, à forma como desenvolvemos a nossa vida e a fizemos che-

gar até aqui. Isso nos faz esquecer que temos controle. No entanto, sempre há um imenso número de

caminhos para escolher.

A vida é a decisão de cada indivíduo, e a cada momento. Ninguém decide pelo outro. Cremos que o

mundo externo é mais real que o mundo interno. Mas não é verdade. O acontece em nosso interior irá

criar o que acontece fora de nós.

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PRÁTICA

5SEJA LIVRE PARA VIVER

Nossas necessidades básicas se satisfazem através dos chamados “consolos sociais”. Mas até que

ponto podemos ou devemos ceder às influências sociais? Como fica a nossa consciência em relação ao

que devemos fazer por nós próprios? Falo da nossa missão pessoal e individual em contraste às exi-

gências da sociedade.

A pressão social é positiva quando nos estimula a um comportamento que se harmoniza com os

nossos padrões e valores. Todavia, é preciso cuidado para que a pressão social não nos force a adotar

uma vida submissa aos padrões que, em particular, jamais adotaríamos.

A sociedade diminui o individualismo das pessoas segmentando-as por raças, status sócio-econômico

e outras estratificações. Exerce pressão para implantar moda, comidas, lazer, profissões e tudo o que

lhe é conveniente. Faz as pessoas encararem as tendências de ocasião como uma necessidade de so-

brevivência.

Isto é perigoso!

Não podemos perder o controle das nossas próprias responsabilidades nem deixar de ser firmes em

relação a elas, assumindo-as como base de direcionamento do nosso livre arbítrio. Nossa visão de

importância pode fazer toda diferença, pois, somos, de fato, importantes.

Cada um de nós é um indivíduo único. Nossa genética o comprova. É vital que nos vejamos assim.

Desde esta perspectiva, o nosso comportamento pode ser efetivamente afetado. Por exemplo, ao nos

sentirmos únicos não nos compararemos a outros. Assim, portanto, não sentiremos inveja; lutare-

mos para desempenhar bem o nosso papel e ter valor próprio. Nossa percepção de que estamos em

busca de uma direção e uma meta pessoal aumenta consideravelmente, o que não é só significativo

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para nossa auto-imagem como também o é para a maneira com que olhamos e tratamos os outros. O

respeito por nós próprios será maior e também o será em relação aos demais.

Assim como nós somos únicos, também os outros o são. Por conseguinte, não devemos julgar os

outros de acordo com os nossos padrões, tanto quanto não devemos julgar a nós próprios segundo os

dos outros.

Toda pessoa com quem você se encontra é única no mundo inteiro e, por isso, merece a sua atenção e

consideração. Procure guardar bem seu nome. Ao contá-la, lembre-se de fazê-lo como uma só pessoa.

Se isto é o que pensa dos outros e assim os trata, você entenderá o quão único você é.

Por isso, olhe para si mesmo e pense em tudo o que você pode fazer. Em seguida, faça aquilo que

indivíduos verdadeiramente únicos fazem: viva a sua própria vida e não os indecentes modelos que a

sociedade lhe impõe. Ouça a sua voz interior e não os falsos conselhos dos jornais, revistas, censos

populacionais e de todos os segmentos que nos enxergam como números ou estatísticas. Siga suas

próprias metas e desejos.

O fato de compreender que você e cada ser humano são únicos sobre a face da terra é razão suficiente

para não viver as crenças da sociedade como sendo suas – a menos que já tenha pensado muito bem

sobre elas e tenha decidido aceitá-las. Evite ser um fantoche.

Igualmente, não se ligue passivamente às decisões que você tomou no passado. Submeta cada uma

delas ao discernimento que hoje você tem. Suas percepções mudaram. Também suas premissas, suas

crenças e visões. Faça um novo julgamento delas partindo do acervo de experiências que acumulou.

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OPÇÕES

“Não tenho escolha. Não tenho saída. O que posso fazer?” Foi o que ouvi de um empresário cujo movi-

mento das vendas caiu assustadoramente nas últimas semanas. Estas são frases que expressam letar-

gia, resignação ou submissão a um aparente caos. Isso mostra que ele não apenas está em crise, como

derrotado também. A julgar pela permanência nesse status psicológico, nada o ajudará a superar.

Se você se rende e aceita as imposições de uma crise, apronte-se para o fato de que nada acontecerá a

seu favor. Eu aprendi do meu mestre que somos levados pelo caminho que desejamos seguir. Se para

o sucesso, sucesso. Se para a derrota, derrota.

Quando chega uma adversidade de qualquer natureza, o primeiro atributo a se evitar é a ausência de

ação. Concordo ser difícil crescer ou acumular grandes ganhos. Mas havendo ao menos o desejo de

agir, as pessoas à sua volta tendem a ajudá-lo porque sabem que é preciso esforço para que todos

vençam. No entanto, se elas percebem que você está paralisado e permite-se ser tragado pela turbu-

lência, ninguém será voluntário a oferecer ajuda, afinal, quem se aliará a um perdedor por antecipa-

ção?

No passado recente do Brasil, havia um clima de ilusão e de festa entre as pessoas. Todos se achavam

ricos, e a gastança alimentava esta ilusão. Endividaram-se acima de sua capacidade de pagamento,

criaram hábitos insustentáveis e agora as restrições desanimam. O preço de tudo subiu. Os ganhos

não. Por anos seguidos houve inflação. Pouco se falou nisso, exceto ao final do ano passado. Agora é a

realidade. E, na melhor das hipóteses talvez seja como a rapadura: doce, mas não é mole.

Mas espere um pouco. Há vendas. Talvez estejam diminuindo em alguns setores, de fato, e não esco-

em mais na mesma velocidade de antes. Porém, o consumo continua – em nível mais baixo, sim. Há

negócios – e bons negócios – em curso. Por que você não venderia? Só se desistir. Você vai?

Crie campanhas. Compre melhor para vender melhor. Negocie – se nunca foi preciso, aprenda agora.

Leia sobre crises. Estude vendas e marketing. Faça propaganda – com quem sabe fazer, por favor.

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Envolva o seu grupo de colaboradores, chame-os para atuar em conjunto e faça deles um time. Com-

partilhe decisões e ações e você encontrará saídas.

Esforce-se e não tema, pois aquilo de que você tem medo lhe sobrevém. Está na Bíblia. Só não pare.

Não se entregue. Isso não cai bem aos bravos. E você, eu sei, nunca foi covarde!

Avalie constantemente em que ponto de sua vida você se encontra. Assegure-se de que é você quem

está guiando as suas decisões.

Posto ter decidido algo em particular há cinco ou dez anos, não tome incondicionalmente isto como

sendo a melhor coisa para você nos dias de hoje. Caso conclua que realmente não é, encare com fir-

meza a possibilidade de mudança. Não assuma, por exemplo, que por ter decidido um dia que Deus

não existe, hoje você esteja impedido de encontrar mais evidências sobre Ele e pensar de modo me-

lhor posicionado.

Examine sempre todas as suas ideias, teorias, suposições, hipóteses, pressupostos e certifique-se de

que sejam realmente seus e de ninguém mais.

Não se permita ser manipulado por ninguém. A vida é curta para tomar o trem errado, a direção errada

ou se alicerçar sobre areia movediça.

Dois homens foram colocados em um labirinto, e um deles logo achou a saída. Ao sair, declarou

que toda vez que chegava a um ponto sem saída voltava atrás e marcava a entrada daquela trilha

para que pudesse saber qual caminho não pegar.

Se este princípio é válido quando se trata de estradas, muito mais se aplica aos caminhos da vida,

onde o aparentemente fácil quase sempre termina mal, e o caminho curto é sempre o mais longo,

arriscado e perigoso.

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Neste mundo, grande parte das trilhas leva a lugar nenhum.

Podemos descobri-las por nós mesmos ou perguntar para quem já tenha passado pela experiência de

percorrê-las. Pode ser que já tenham assinalado quais levam a nada e nos mostrem. Iremos poupar

tempo e desgastes.

O mais importante e definitivo é: o que quer que você decida, tenha certeza de ser significativo. Co-

nheça perfeitamente as razões que lhe inspiraram tal decisão. Alguém já disse que a vida consiste em

10% de acontecimentos e 90% de interpretação.

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PRÁTICA

6DIMINUIR A ANSIEDADE

Estabeleça alvos para o seu desenvolvimento pessoal. Há muito o que fazer. Chegou a hora de dar

mais atenção ao seu crescimento interior. Sempre que pensamos coisas assim, uma voz interna nos

diz: “Amanhã eu começarei. Nada vai mudar até amanhã. Vou descansar um pouco”.

Este é um simples exemplo da luta interior do ser humano. Nesta vida é impossível alcançar equilíbrio

e tranquilidade imutáveis.

Fomos criados com um poderoso raciocínio. Nossa sensibilidade e capacidade de superação de obstá-

culos são fantásticas. Mas isso tem um preço: enquanto vivermos neste mundo, jamais alcançaremos

conforto completo, mas estaremos em “ebulição” o tempo todo.

Quando a sociedade nos incita ao “conforto paradisíaco”, está nos iludindo, porque é utopia. Só um

animal irracional consegue. Nós, humanos, fomos dotados com tantos recursos a mais que os ani-

mais, que é inconcebível todo este potencial servir como mero item de distinção na pirâmide zoológica

ou cadeia alimentar.

Quem quiser ser “gente” deve saber que sua meta não se resume em conquistar a calma de um carnei-

ro pastando em prados verdejantes numa serena manhã de primavera. Nossos pensamentos, reflexão

e decisões nos fazem naturalmente insatisfeitos quando não estabelecemos metas e, novamente,

quando não as atingimos. Portanto, viver exige um plano, e muita luta para realizá-lo.

Mas é preciso cuidado. O padrão básico da nossa cultura considera a felicidade como meta final da

vida, e a define como “estar livre de qualquer aflição ou tormento”. Por esta ótica, ser feliz é sinônimo

de “curtir” todos os prazeres possíveis. Mas para que uma pessoa tenha auto-estima e senso de valor,

a vida precisa ser trilhada com esforço, propósito e significado.

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A palavra “estima” origina-se do latim, e significa avaliar, mensurar valor. De que modo costumamos

atribuir valor às coisas? Entre os objetos que temos em casa, com exceção de alguns cujo valor é senti-

mental, avaliamos as coisas por razões estéticas ou funcionalidade.

Uma caixa de música que herdamos de nossos avós, por exemplo. Seu mecanismo pode estar que-

brado há muito tempo e não existir por perto um especialista que a restaure. Mas provavelmente ela

estará em um lugar de destaque. É uma peça atraente e significativa para nós e nossos familiares.

Enquanto isso, se um simples despertador quebrar, sem dúvida iremos nos livrar dele porque não tem

nenhum valor estético e, como não serve a seu propósito funcional, não vale mais nada.

Por este mesmo critério podemos fazer uma autoanálise.

Mesmo existindo algumas pessoas que sejam tão atraentes a ponto de se considerarem “ornamentais”,

ninguém pode realmente pensar de si mesmo como tendo um grande valor estético. Isso nos deixa

apenas a funcionalidade como quesito para uma auto-avaliação.

Assim, qual é a nossa função? Para que propósito servimos? A que viemos a este mundo?

Os hedonistas dizem que o nosso bem supremo é a conquista do prazer e a gratificação dos nossos

desejos físicos. Buscando tais atributos poderíamos encontrar um sentido real? O prazer pode resol-

ver uma questão de consciência? O máximo que se pode conseguir com prazeres é desviar a atenção

do fato de existir uma missão elevada nesta vida e entorpecer a mente com mentiras e ilusões. Logo,

se não existe um sentido intrínseco no conforto, como uma pessoa pode preencher sua vida com um

significado verdadeiro?

Se você deseja alcançar este elevado propósito, um bom começo pode ser perguntando-se:

- “Pelo quê vale a pena morrer?”

Por este meio você terá um bom entendimento de “pelo quê vale a pena viver”.

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Na prática, diminuir a ansiedade pelo conforto material produz excelentes resultados.

Anos após sua formatura na escola primária, os alunos se reuniram num encontro festivo. Um dos

professores, que participava da reunião, liderou uma conversa animada durante a qual cada ex-

-aluno falou sobre o dia mais feliz da sua vida.

Um deles disse que tinha sido o dia que leu seu nome na lista de aprovados no vestibular. O profes-

sor respondeu:

- “Bem, e o dia seguinte?”

Outro aluno falou:

- “O dia mais feliz para mim foi quando me formei na faculdade”.

E novamente o professor perguntou:

- “Bem, e o dia seguinte?”

Um terceiro falou sobre o dia de seu casamento. E mais uma vez, o professor apenas indagou:

- “Sim, mas e o dia seguinte?”

Isso continuou por algum tempo, e então o professor explicou:

- “Vocês estão todos me dizendo qual foi o dia mais feliz de sua vida. Sem dúvida cada uma dessas

ocasiões foi um momento de júbilo, entusiasmo e inspiração. Mas o que aconteceu no dia seguinte?

Vocês continuaram tão entusiasmados, felizes, determinados à medida que os dias, semanas e me-

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ses passavam? O importante é que a mesma alegria, inspiração e energia que sentiram naquele

momento permaneçam com vocês durante toda a vida. A empolgação do momento deve se espa-

lhar em todos os dias”.

Alguns anos atrás, um estudante estava andando pelo campus de sua faculdade, em Chicago, nos

EUA, quando se ouviu um tiro e ele caiu no chão, vítima de um crime racial. Quando acordou no hos-

pital, descobriu que estava tetraplégico. Ele perguntou-se: “Será que vale a pena viver sem mover as

mãos ou os pés?” Creio que esta é a pergunta que qualquer um de nós faria nesta situação.

Depois de muito meditar, o rapaz começou a rir. Ele havia chegado à conclusão que o grande propósi-

to da vida não se resume na capacidade de mover o corpo.

A única razão porque nós não nos questionamos sobre o objetivo da vida é que estamos muito distraídos

com todas as coisas que ‘fazemos e podemos’ quando o nosso corpo funciona bem.

Como ele mesmo disse: “Levar um tiro foi a melhor coisa que me aconteceu. Passei mais de 200 ho-

ras preparando minha tese de doutorado sobre Beowulf – um poema escrito entre os séculos V e XI,

em inglês antigo – e nunca havia dedicada dois minutos sequer para pensar sobre qual o objetivo de

minha vida”.

Hoje, este rapaz dedica sua vida a ajudar pessoas menos afortunadas que ele.

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PRÁTICA

7UM DEGRAU POR VEZ

Todas as pessoas desejam ser respeitadas.

A necessidade de se sentir importante tem sido identificada cada vez mais como um dos elementos

básicos da natureza humana.

Abraham Maslow, psicólogo Judeu americano, colocou a autoestima no topo da hierarquia das neces-

sidades humanas, atrás somente de alimento, moradia e as relações interpessoais.

Infelizmente, poucos indivíduos têm em seu interior uma fonte consistente e suficiente de auto-respei-

to. A maioria depende daquilo que os outros pensam deles. Há os que acham que uma bela carreira

profissional e realizações materiais os farão respeitados. Esta é a razão porque tão prontamente as

pessoas se identificam por sua profissão. Se conseguirem impressionar através disso, então se senti-

rão importantes. Do contrário, pensam que nada valem.

Facilmente nós nos identificamos por aquilo que fazemos, e não pelo que somos. Mas acontece que a

finalidade principal de uma ocupação é prover meios para o sustento. A menos que tenhamos algum

objetivo supremo, trabalhamos para sobreviver, e sobrevivemos para trabalhar. Isto é um ciclo.

A filosofia que rege a cultura predominante nos dias de hoje coloca as realizações externas como con-

dição básica para produzir autorrespeito. A roupa que vestimos e o carro que dirigimos denunciam

isso.

Não é difícil entender o estado atual da humanidade.

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Na Grécia antiga os sábios sustentavam que o conhecimento é o segredo da felicidade. Diziam que o

uso do intelecto é o caminho que conduz o homem a uma vida feliz e tranquila. Mas havia discordân-

cias deste ponto de vista.

Os estoicos, por exemplo, diziam que a força de vontade é a principal virtude da existência. Aquele

que sabe dominar sua vontade, controlar seus apetites e desejos é, segundo eles, merecedor de estí-

mulo e louvor.

Já os epicuristas afirmavam que o fim supremo da vida é o prazer. Este pensamento também foi

chamado de “hedonismo”. Para estes, o único bem que merece ser buscado é o prazer, assim como

a dor é um mal. Nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de consequências dolorosas.

Nenhum sofrimento deve ser aceito a não ser em vista de um prazer.

Por essa breve aula de ideias filosóficas podemos observar que o pensamento das pessoas mais co-

muns na atualidade é o hedonismo. Tudo está fundamentado na filosofia do prazer e da mínima – ou

nenhuma – dor.

A oferta de produtos nas propagandas propõe o aumento do seu prazer de viver através do consumo.

Esforço mínimo, prazer máximo. Tudo o que exige esforço acaba sendo classificado como fonte de

dor, logo, deve ser abandonado.

A tendência de quase toda a sociedade é adiar aquilo que exige luta e energia pessoal.

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Observe o desejo de conseguir riqueza fácil. Querem desfrutar do prazer da fortuna e de suas benes-

ses sem conquista ou suor. Mas fazer uma riqueza pelo trabalho exige esforço, e é doloroso. Requer

inteligência, trabalho, planos, estratégia e luta.

Como isso é detestável pelo modelo comumente divulgado, o que se vê é o aumento espantoso da

criminalidade, índices de violência urbana altíssimos, desvios sociais, escassez de líderes confiáveis,

quase nenhuma honradez e brio, rareza de homens brilhantes e humanitários e muito mais horror.

Não há salário que baste. Todo aumento produz satisfação por um período quase nunca maior que

três ou quatro semanas.

Nossa economia é hedonista. Nossa sociedade é hedonista e também a cultura. É preciso dizer mais?

“Ter” é o que orienta e inspira a vida. Quanto mais o indivíduo possui, mais valor atribui a si, maior

respeito contabiliza. Este é o padrão de contentamento geral.

Grande parte das pessoas que compra uma Mercedes último modelo o faz pelo conforto que o carro

proporciona ou pelo status que traduz?

Como os jovens escolhem uma profissão? Buscam autodesenvolvimento ou brilho social?

De certo modo, pautamos o nosso modo de pensar pela escolha do que nos tornará mais louváveis

aos olhos de terceiros. Adquirir coisas que façam as pessoas notar que temos destaque e distinção é

a nossa necessidade número um. Mas sabe o que conseguimos com isso? Medo aterrorizante de errar.

Se os que nos rodeiam não ficarem impressionados conosco, tememos que o castelo de cartas que

construímos – esta nossa frágil e doentia autoestima – caia por terra. A possibilidade de falhar chega

a lançar as pessoas à mais profunda depressão.

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“O que há de errado comigo? Eu não consigo emprego! Eu sou um inválido!”

Você sabia que as autoridades carcerárias são mais preocupadas com a tendência ao suicídio dos cri-

minosos de colarinho branco do que dos detentos comuns? Geralmente são pessoas que construíram

uma fantástica imagem perante a sociedade. Isso as faz sentirem-se pressionadas ao suicídio a terem

que conviver com uma imagem pública derrotada. Um caso famoso é o de Robert Maxwell, o bilionário

britânico que comprou o The New York Post. Quando o mundo soube de sua falência financeira, ele

escolheu matar-se a enfrentar a humilhação da opinião pública.

A FONTE DE AUTOESTIMA

Onde se concentra a nossa dificuldade em desenvolver autoestima?

O evolucionismo ensina que o ser humano é uma forma animal sofisticada, tendo não muito maior

valor intrínseco que um cão ou uma minhoca. Por este pensamento, não existe uma fonte de autoesti-

ma inerente e incondicional ao homem. Dignidade é algo que só se conquista a partir de realizações

físicas tangíveis. Este é o porquê das pessoas viverem sob tremenda pressão e tensão.

Muitos descobrem rapidamente que são limitados.

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Nem todos são talentosos o bastante, brilhantes o suficiente ou sortudos a ponto de conseguirem atin-

gir o que buscam ou desejam. Surgem, então, as desculpas:

- “Sou realmente talentoso, mas um mal-estar momentâneo me prejudicou durante a entrevista.”

- “Sou inteligente e estudei muito durante este ano, mas deu um branco e não fiz boa pontuação nos

exames.”

Atualmente, cometer uma falha é um risco de perda imediata do emprego ou do status. O sucesso é a

única porta de acesso ao autorrespeito. Assim, muitos não chegam, sequer, a oôr suas mãos na maça-

neta. Mesmo assim, os chamados vencedores enfrentam o pesadelo constante de não poderem come-

ter um erro mínimo, pois, será fatal.

Mas a realidade nada tem com este modo assombroso de ver a vida e de viver.

O homem foi criado com uma centelha divina – sua alma. Esta alma é seu valor intrínseco. Por meio

dela existe a possibilidade de uma existência objetiva e potencialmente plena de significado e conteú-

do.

É interessante observar que há cerca de três mil e quatrocentos anos, Moisés registrou em seu código

de leis, o Pentateuco, um grande número de preceitos que orienta o relacionamento entre as pessoas

através do reconhecimento da dignidade inerente a cada um.

Um exemplo. Se um homem cometia um crime punível de pena de morte por enforcamento, após sua

execução não era permitido que seu corpo permanecesse na forca até à noite. A despeito do fato de

ser um assassino, ele também tinha uma alma e, por isso, devia ser tratado com o devido respeito,

merecendo que fosse enterrado tão logo recebesse a punição prevista.

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“Não importa em que degrau você se encontra na escada, mas como você chegou aí.”

Com base nesta exposição, o único critério verdadeiramente importante para o nosso auto-julgamento

é:

Quanto mais esforço o homem faz para se tornar melhor, maior ele se torna. A palavra chave é: esfor-

ço.

Por ser de difícil mensuração, esforço tornou-se algo desprezível em nosso mundo.

Considere, por exemplo, a seguinte ilustração. Imagine que você esteja assistindo a uma corrida de

100 metros rasos disputada por dois atletas. Um deles acaba de bater o recorde mundial de 9,2 se-

gundos. O outro levou 15 segundos para cruzar a linha de chegada. Quem alcançou o sucesso? A

resposta deve ser: o que quebrou o recorde, naturalmente.

E se agora você soubesse que o corredor que levou 15 segundos teve uma paralisia quando criança,

ficou impedido de andar até a adolescência, gastou anos de dores com árduos exercícios e fisioterapia

até, finalmente, capacitar-se para esta corrida? Você não veria as coisas por outra perspectiva? Saben-

do “como” este segundo atleta chegou até aqui, você irá respeitá-lo mais. Terá um profundo respeito e

admiração por ele, mesmo não tendo ficado com a medalha de ouro.

Um fato verídico. Durante as Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, Estados Unidos, aconteceu a pri-

meira maratona feminina. No desfecho daquela competição, um fato especial marcou para sempre a

história das Olimpíadas.

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Naquela tarde fazia um calor de mais de 30º C. Ao final da prova, longo tempo após as medalhas de

ouro, prata e bronze terem sido definidas, chegava ao estádio, em trigésimo sétimo lugar, a suíça

Gabriella Andersen-Scheiss. Cambaleante e sofrendo uma terrível crise de exaustão, ela proporcionou

uma das cenas que ficará gravada na memória de todos e positivamente irá merecer destaque e men-

ção por várias gerações na história da maratona.

Ao dar a última volta dentro do Estádio, arrastando-se e vivendo uma crise muscular por possíveis pro-

blemas de hipoglicemia, ela chegou à marca final da prova.

Talvez ninguém que tenha assistido ao evento se lembre do nome das três vencedoras. Mas ninguém

se esquecerá de Gabriella.

Não é possível saber se ela é naturalmente calma ou se luta contra seu temperamento para conseguir

sê-lo; se nasceu com inteligência brilhante ou se enfrenta barreiras e dificuldades para aprender; se

obtém tudo com facilidade ou se os obstáculos que encontra requerem grande energia.

Nunca poderemos medir o valor de alguém pelo sucesso externo e visível. Estamos acostumados com

o sucesso como sendo um mérito instantâneo, aparente e mensurável. Mas nunca são reveladas as

reais circunstâncias daqueles a quem chamamos “perdedores”.

Nunca sabemos as reais circunstâncias com que outra pessoateve de contar em sua trajetória pessoal

para ser o que é ou para estar onde está.

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Se desejarmos viver uma vida de valores reais, precisamos começar desde já a não nos importar com

as conquistas que já atingimos, mas com o modo como as atingimos. Tente usar esta forma de inter-

pretação em uma possível situação que eventualmente você esteja enfrentado neste momento.

Algumas pessoas nasceram com mais inteligência, talento e habilidade física que outras. Mas isso não

determina grandeza. Antes de qualquer coisa, “como” você lida com circunstâncias particulares é o

que demonstra se você terá sucesso ou não.

Olhando bem, a única coisa sobre a qual realmente exercemos controle neste mundo é o esforço que

investimos para buscar o que desejamos. Por isso, quanto mais esforço para se tornar boa pessoa,

mais autorrespeito é gerado em você, aos seus próprios olhos.

O materialismo diz que você obtém o sucesso quando o concretiza em termos tangíveis. Os padrões

de medida são: dinheiro, fama, beleza estética, influência e poder. Até que não se submeta a tais cri-

térios e não demonstre estes sinais, você tem que viver na mediocridade, na falha e resignar-se a ser

vítima da “má sorte”.

Por outro lado, esforço gera autorrespeito e dignidade. E a motivação verdadeira advém disso.

Considere o exemplo dos homens e mulheres que lideraram o levante do Gueto de Varsóvia. Você

não sabe nada a respeito? Esta é uma bela sugestão de leitura que poderá mudar o seu conceito de

sucesso. Eles são inegavelmente heróis, mesmo se pensarmos que o resultado tangível de seu esforço

falhou.

O que aconteceu? O Gueto de Varsóvia foi destruído. Os nazistas acabaram vencendo – covardemente,

é claro. Os resistentes do Gueto de Varsóvia são dignos de respeito e admiração não pelo desfecho do

episódio, mas pelo esforço que fizeram.

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Tendo à frente os milhares de nazistas armados até os dentes e numerosos obstáculos, eles se esfor-

çaram ao máximo e deram tudo de si por um ideal de liberdade. Isso é o que importa. Isso é que os

faz respeitáveis e memoráveis. Portanto...

Não é preciso provar nada a si mesmo. Principal é focalizar no alvo de “ter o trabalho feito” e esforçar-

-se na busca de vê-lo realizado. Porém, se as coisas não funcionarem como se espera, é preciso atingir

o profundo senso de autorrespeito pelo conhecimento de que você deu o melhor de si em esforço.

Mas o que dizer do resultado? Não faz diferença?

O resultado final depende de um conjunto extenso de variáveis. Muitas delas são ocultas para nós.

Explicações não faltam. Aliás, desde os tempos da fábula da raposa há especialistas em procurar – e

encontrar – explicações que convencem qualquer tonto de que as uvas estão verdes.

Digamos que o resultado final seja um presente, uma dádiva.

... não coloque as suas preocupações em cima do resultado. Esforce-se. E muito. Se você está fazendo o melhor que pode,

você já é um sucesso por causa disso.

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“Se você se esforçar, encontrará resultados”.

Um sábio disse:

Por que o verbo usado foi “encontrar”? Não está dito: “Se você realizar, os resultados serão garantidos

e você os verá?” A resposta é que esforço e resultado não são causa e efeito.

Esforço é uma grandeza que está na nossa responsabilidade. Resultado é algo que se “acha” como se

fosse “dado” por uma mão invisível em um momento impossível de ser determinado.

Pense no maior agricultor de soja do mundo. Ele sabe tudo a respeito da cultura da soja. Tem milha-

res de hectares onde anualmente planta sua lavoura. Ali, ele investe tudo o que pode – se esforça ao

máximo – para adubar o solo, plantar sementes, aplicar defensivos e outras medidas técnicas especia-

lizadas.

No entanto, o resultado final de produtividade e colheita irá depender de chuvas e vários outros fato-

res totalmente fora de seu controle. Ainda assim, se tudo funcionar perfeitamente bem até a colheita,

o preço final do produto irá depender da bolsa de produtos agrícolas e da produtividade em outros

países. E não para aí.

Existe, ainda, uma contabilidade que foge da lógica humana. Ela computa os atos, a forma de trata-

mento que este agricultor imprimiu a seus relacionamentos, suas abordagens, comportamento, hones-

tidade, justiça, bondade etc. Logo, não há meios de ter domínio sobre tudo isso.

Mas o esforço que ele irá despender, isto sim está sob seu controle total.

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PRÁTICA

8MANTENHA-SE EM BOA FORMA

Há gente bastante consciente de sua saúde.

Uma poderosa indústria tem se desenvolvido em torno da forma física e da nutrição. Sentir-se são

causa-nos bem-estar, faz-nos mais produtivos e, em última instância, pode prolongar nossa vida.

Quando estamos saudáveis, podemos ficar mais concentrados na nossa família, no trabalho e nas ou-

tras coisas. Mais importante, porém, é que tendo um corpo são abre-se a possibilidade de maior foco

sobre as nossas necessidades interiores. Permite-nos consumar a missão que temos neste mundo:

viver uma vida cheia de sentido e construir um mundo melhor.

É preciso saber, no entanto, que a boa saúde é muito mais que o funcionamento adequado do corpo

físico, muito mais do que não estar com febre ou acometido de uma doença.

A medicina moderna começou a pesquisar o extraordinário efeito que a alma pode ter sobre o proces-

so de cura de um enfermo. Foi demonstrado que as pessoas otimistas e com a alma saudável têm um

sistema imunológico mais forte e resistente. Também na psicologia muitas descobertas a respeito da

influência da fé sobre a saúde física estão em curso.

Boa saúde é ‘uma alma sã em um corpo são’!

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De acordo com o pesquisador Paul Pearsall, quando uma pessoa ajuda outra, experimenta de imedia-

to uma resposta bioquímica que melhora seu sistema imunológico e o fortalece. Em outras palavras,

existe uma reação bioquímica real no nosso corpo quando somos altruístas. O sistema imunológico

se fortifica e isso resulta em saúde. As pesquisas demonstram que mesmo o ato de ver uma pessoa

ajudando outra produz um fortalecimento mensurável e imediato do sistema imunológico.

Entre 1967 e 1969, cientistas da Universidade de Michigan entrevistaram 2.754 pessoas e durante os

doze anos seguintes fizeram um acompanhamento de seus comportamentos e reações frente a suas

atitudes e hábitos. Os resultados foram incríveis.

Descobriram que as pessoas que faziam trabalho voluntário pelo menos uma vez por semana, ti-

nham duas vezes e meia a possibilidade de permanecer vivas durante o estudo que aquelas que não

faziam. Os que faziam menos trabalhos tinham 250% mais chances de morrer durante o período de

doze anos. Os resultados obtidos foram independentes de fatores como a idade, gênero ou estado de

saúde dos sujeitos no momento de começar o estudo.

O Dr Dean Ornish é o criador do único programa cientificamente provado para reverter enfermidades

cardíacas sem uso de medicamentos nem cirurgia. Em seu livro, ele faz uma recomendação: “realize

trabalho voluntário”. Diz que “você não só se sentirá bem, como também lhe abrirá o coração, desobs-

truirá artérias e fará que o sangue e o oxigênio fluam bem, novamente”.

Diz ele que atuar sem egoísmo é a forma de conduta mais egoísta, já que mantém o sentido de paz

interior e de alegria. Comenta ainda: “O altruísmo, a compaixão e o perdão – abrir o coração – podem

ser uma poderosa forma de cura do isolamento que produz o estresse, o sofrimento e a enfermida-

de. O altruísmo, a compaixão e o perdão podem agir em nosso benefício posto que nos libertam das

nossas limitações e nos dão força”.

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Nos nossos dias, muitas empresas de seguro de vida perguntam a seus potenciais clientes não só se

fumam, mas também se fazem trabalho voluntário de forma regular.

Pesquisadores modernos têm demonstrado que fazer atos de bondade realmente afeta a química do

corpo e do cérebro. Liberam-se hormônios – endorfinas – que melhoram o sistema imunológico. A

bondade ajuda a combater a depressão e a ansiedade. É um antídoto para a tristeza e o estresse.

Sair de si mesmo e centrar-se em outras pessoas diminui as preocupações e os temores próprios. A

próxima vez que você se sentir melancólico, triste ou ansioso, verá que fazer um ato anônimo de bon-

dade lhe fará sentir-se melhor.

Tente, ao menos. Mas cuide-se para não fazê-lo sem o devido valor e razão. O “sabor” de qualquer ato

está nisso.

A alma foi enviada a este mundo não para ser, mas para fazer; não para meramente existir, mas para

realizar. Recolher-se ao próprio “eu” é reverter o fluxo da vida.

Fundamentar a vida em uma religião, uma filosofia ou ideologia não é o mesmo que um passeio no

shopping para olhar vitrines e se encantar com a aparência de coisas que atraem.

Uma receita da qual se desprezam os principais ingredientes – ou por indiferença ou por não se impor-

tar com detalhes – não terá sabor algum a ser apreciado quando pronta.

Todos os conceitos, propostas e instruções com que você já se deparou na vida podem ou não se

converter em prática. Só depende da sua escolha. Mas qualquer opção que você fizer para integrar o

seu projeto pessoal de vida exige que você não despreze os detalhes que a compõem. Nada deve ser

descartado. Tenha seriedade em cumprir todas as regras à risca, sem adaptações, arranjos ou aproxi-

mações que descaracterizem o objetivo final a ser alcançado.

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PRÁTICA

9BUSQUE A ESPIRITUALIDADE

“Transcendência” e “sublimidade” são os termos que, a meu ver, melhor expressam o sentido da

palavra espiritualidade. Comumente, transcendência parece estar ligada somente à alma. Esta é uma

premissa falsa. Também a percepção de Deus não é uma exclusividade da alma. Tanto o físico quan-

to o espiritual têm seus meios de perceber Deus que, sendo Onipresente, faz-se encontrar em tudo e

pode ser percebido através de tudo.

Decorre disso a possibilidade de se alimentar a alma através de qualquer ato físico – comer, beber,

descansar e tudo quanto temos capacidade de exercer com o corpo e seus sentidos.

Há duas maneiras de se atuar fisicamente.

Uma, de modo apenas material, animal, em que a ação é concretizada mecânica ou habitualmente,

desprovida de qualquer consciência de seu valor.

Outra, envolvendo consciência de elevação e significado. Neste caso, há um sentido, um propósito

de se atingir um ideal de valor através do que se faz.

O corpo não foi-nos dado para ser desprezado em detrimento da alma. O desafio do enlace entre

corpo e alma está em conseguirmos elevar os desejos do corpo e submetê-los àquilo que quer a nossa

alma. Sempre que se chega a isso, realizamos o grande objetivo do projeto da criação.

Se insistirmos em fazer o contrário – submeter a alma aos desejos do corpo – jamais teremos paz.

Provaremos sentimentos de descontentamento e insatisfação.

A espiritualidade não se adquire meditando no alto de uma montanha, dentro de uma gruta, em um

monastério no meio do nada, isolado de todos – ainda que isso possa ser muito bom.

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A vida material e a espiritualidadenão são dois domínios separados.

Quem deseja a espiritualidade não precisa afastar-se da natureza, da vida, do trabalho, retirar-se da

sociedade para ir viver no deserto, asceticamente, dentro de muros ou em uma floresta e nem tornar-

-se celibatário.

Todos nós, e não apenas as pessoas especiais que vivem entre nós, podemos ser “espirituais”. Isto não

se dará pelo afastamento ou renúncia da vida, mas, através da elevação da vida. Não são atos específi-

cos. É a qualidade dos atos em geral conectados ao uso do livre-arbítrio e da consciência permanente.

A razão da nossa existência é ter prazer verdadeiro e dele derivar espiritualidade ao mesmo tempo em

que desempenhamos as tarefas essenciais para a vida.

Portanto, devíamos incluir nas nossas atividades diárias ou semanais hábitos como tomar sol, respirar

ar puro, caminhar, meditar em idéias que nos estimulem e causem sensações agradáveis, etc.

Enquanto fazemos cada uma destas coisas, podemos elevar a nossa consciência. Pensar, por exem-

plo, que a alma está desfrutando destas oportunidades e que ela poderá alimentar-se de todos os

benefícios junto com o corpo, vez que isso tem um sentido, uma razão que vem ao encontro da nossa

criação.

Corpo e alma merecem e necessitam destes cuidados.

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Não importa quanto uma pessoa aprecie a sabedoria, o estudo e a espiritualidade. Ela também tem

que se ocupar de seu corpo, manter boa forma, buscar saúde física, beleza, graça e renovação do

vigor. Deve comer frutas, tomar boa água, mergulhar seu corpo numa água corrente ou no mar, ter

contato frequente com a natureza, com o campo, dormir bem. Estas são coisas que jamais devem ser

recusadas ou adiadas.

Há um benefício físico e espiritual conjunto em cada elemento do mundo. O prazer físico – por maior

que seja – será, sempre, apenas uma parte deste benefício. A outra parte, referente ao espiritual, é

uma possibilidade potencial e depende da nossa decisão desfrutá-la ou não. É inteiramente subjetivo.

Precisamos almejar muito equilíbrio, tendo em mente que o corpo está para a alma assim como o au-

tomóvel está para o motorista. Manter o corpo “mecanicamente” bem e alimentá-lo com “combustível”

de qualidade é uma obrigação. Se o motorista abusar demais do veículo, este não o levará aonde ele

deseja.

O prazer está baseado tanto na experiência física como no significado da experiência em si. Quanto

mais significado tiver a experiência física, maior prazer ela proporcionará.

A espiritualidade ideal é aquela em que a interação do ser humano com o mundo eleva alma e corpo. E

isto só é possível se existir prazer físico junto com crescimento espiritual.

Quando isto não ocorre, podemos atingir todos os itens de nossa lista de desejos e ainda assim nos

sentirmos vazios. Podemos ter atingido o ápice do sucesso profissional, e pensar que nos falta alguma

coisa. Podemos saber que os amigos e conhecidos nos invejam, e ainda perceber a ausência de um

contentamento verdadeiro.

Nesse estado talvez sejamos obrigados a recorrer à terapia para ajudar a preencher o vácuo e ancorar

nossas vidas em águas seguras.

Você conhece o significado literal da palavra psicoterapia? É “tratamento e cura da alma”. Coincidên-

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cia? Você pode ver agora como tudo tem a ver com a satisfação da alma? Você vê quanto é importante

alimentá-la adequadamente?

Nenhum ser humano, até agora, ganhou a corrida para o conforto ideal. Mesmo dedicando a isto todo

seu tempo, todas suas forças, ele jamais chega a conquistar sequer uma fração do que almeja. O resul-

tado é uma imensa desilusão, angústia, amargura e frustração.

De uma vez por todas, a alma não está sedenta de fama, conforto, propriedades ou poder. Ela tem

sede e fome do significado da vida. Ela se alimenta quando a vida é vivida com dedicação à capacidade

de mudar o mundo ao menos um pouco estando nele.

As insatisfações que a nossa alma exprime ao longo de todo o ciclo da vida são motivações para o

nosso desenvolvimento e aperfeiçoamento. Se voltarmos a nossa energia para atender somente às

necessidades egoístas do corpo, a consequência será não atingir nível algum de elevação.

Qualquer ação física que favoreça a alma produz como resultado a confiança de que estamos dando

orientação e unidade para nossa vida. Este é o prazer que satisfaz, de verdade.

A alma deseja conduzir-nos à humildade, à cooperação e ao altruísmo. O corpo, por ser egoísta, ao

egocentrismo.

Através da alma temos a capacidade de erguer-nos acima de nós mesmos. Sem a experiência da alma

os desejos egoístas do corpo podem nos escravizar e, por fim, nos destruir.

Qual é o risco se não nos aplicarmos a este projeto? Passar toda a nossa existência

sem conhecer crescimento pessoal real.

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PRÁTICA

10COMO FICAR RICO

Em 1923, no hotel da Praia de Edgewater, em Chicago, aconteceu uma das mais importantes reuniões

de personalidades da época.

Os integrantes desta reunião eram nove dos maiores etmpresários e bem sucedidos homens do pla-

neta. Ali estavam: o presidente da maior companhia privada de aço; o presidente da maior companhia

de eletricidade mundial; o presidente da maior companhia de gás e petróleo; o maior especulador

de trigo das bolsas de mercadorias; o presidente da Bolsa de Valores de Nova Iorque; o Secretário do

Interior do gabinete do Presidente Harding, dos Estados Unidos; o maior investidor de Wall Street; o

presidente do maior monopólio mundial e o presidente do maior banco privado norte-americano. Im-

pressionante concentração de poder.

Naqueles dias, estes nomes detinham o segredo que fascina a maior parte dos habitantes deste plane-

ta: a arte de ganhar muito dinheiro.

Vinte e cinco anos depois deste evento, onde e como estavam eles?

Charles Schwab, o presidente da maior companhia privada de aço do mundo: falido, e vivendo à custa

de um empréstimo que lhe foi concedido por um grupo de amigos cinco anos antes de sua morte.

Samuel Insull, presidente da maior companhia elétrica: morreu como fugitivo da justiça numa terra

estrangeira e sem um tostão.

O presidente da maior companhia de gás e petróleo – Howard Hopson: insano num sanatório da Pen-

silvânia.

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O maior especulador de trigo das bolsas de mercadorias – Arthur Cutten: morto no exterior, insolven-

te.

O presidente da Bolsa de Valores de Nova Iorque – Richard Whitney: foi libertado da penitenciária de

Sing Sing após 10 anos de prisão.

O membro do gabinete do presidente do E.U.A. – Albert Fall: foi libertado da prisão para morrer em

casa.

O maior “urso” investidor de Wall Street – Jesse Livermore: se suicidou.

O cérebro do maior monopólio mundial – Ivar Krueger: também se suicidou.

O presidente do maior banco privado norte-americano, International Settlements - Leon Fraser: tam-

bém se suicidou.

Qualquer um ficaria atônito com estes fatos.

O que mais impressiona é a imensa concentração de talentos e potencialidades que se perdeu por

completo com estes homens.

Mas é possível imaginar que suas vidas estavam baseadas em alicerces sem nenhuma consistência.

Estavam todos sem equilíbrio.

Aprenderam bem a arte de fazer dinheiro. Mas, por alguém possuir dinheiro e perdê-lo, isto significa

que não pode continuar vivendo?

Cometer um crime ou um suicídio é uma gigantesca demonstração de falta de entendimento da vida.

É ausência total de apreciação de seu real valor e objetivo. Há muito mais motivos para viver do que

apenas ganhar dinheiro.

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Abraham Maslow pesquisou o comportamento humano buscando as razões por que as pessoas não

são felizes. Chegou a um estágio em que entendeu não ser este o alvo de sua procura. Na verdade, ele

não buscava entender pessoas com distúrbios de comportamento, mas aquelas que, sendo realiza-

das, mostrariam a ele porque e em quê são diferentes.

Seus estudos concluíram que pessoas realizadas têm em comum amor próprio, autoconfiança e boa

visão de si mesmas.

Após esta pesquisa, tendo acumulado um imenso banco de informações, Maslow concluiu que apenas

1% das pessoas pesquisadas se sentia realizada.

Vamos pensar um pouco.

Imagine os 7 bilões de habitantes do Planeta Terra. Será possível que somente 1% de todos estes é e

sente-se realizado.

Como é a vida destas pessoas?

Segundo Maslow, elas têm características interessantes. Eu li seus estudos e reproduzo a resposta

que ele próprio deu a esta pergunta: “Para as pessoas realizadas, o mundo material não lhes ofereceu

nenhum prazer que se igualasse aos instantes nos quais elas experimentaram liberdade interior e sua

capacidade própria de se alegrar”.

O que você pensa disso? Não, as pessoas realizadas não estão fechadas num mosteiro. Elas apenas

são pessoas bem ajustadas e equilibradas em relação àquilo que possuem. Para elas, os bens mate-

riais são meios, e não um fim.

Pessoas verdadeiramente felizes não têm sua realização condicionada ao dinheiro. Elas precisam dele

para viver, manter a saúde e o dia a dia. Mas o material não é prioridade. Elas almejam situações supe-

riores e, para elas, isso tem valor real e verdadeiro.

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Às vezes achamos que as pessoas ricas são realizadas e atingiram o êxito. Na verdade, conseguiram

ser vencedoras em uma área específica: a financeira.

O real sucesso na vida encontra-se em descobrir que não somos apenas carne e osso e que não só

com dinheiro podemos pautar a nossa existência ou medir as nossas conquistas. Há outras necessida-

des e outros setores nos quais precisamos investir esforços e buscar ser mos vencedores igualmente.

Dinheiro é energia. Ele representa a verdadeira energia da vida. Dependendo de como você o usa, ele

pode ser a sua liberdade ou a sua escravidão.

Há quem diga que dinheiro é mau. Outros dizem que é bom.

Sabe por que existe uma tendência das pessoas se sentirem melhores quanto mais dinheiro tiverem? É

porque normalmente investe-se muita energia vital em ganhá-lo. As pessoas comuns pensam que elas

mesmas – e só elas – são as responsáveis diretas por seu sucesso. Julgam que sua inteligência e habili-

dades têm o poder de gerar sucesso na medida em que o imaginam ou planejam.

Estão enganadas.

Será dinheiro bênção ou maldição? Você mede o seu valor pessoal pelo

saldo da sua conta bancária?

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A riqueza põe o homem frente a um desafio: não se deixar levar pela paixão do próprio poder e de

saber que a contabilidade do sucesso tem a ver com uma aritmética que não envolve apenas as quatro

operações matemáticas. Há comportamento envolvido. Há postura, justiça e muitos outros mistérios

que não compreendemos e não estão a nosso alcance mensurar.

Não significa dizer que o sucesso não se relacione com esforço. Há uma relação direta e clara entre

um e outro ainda que humanamente não saibamos em que proporção. Investir esforço e luta para se

conseguir bons resultados é reconhecidamente necessário como já tratamos anteriormente.

Nada se obtém de braços cruzados, além de dores musculares. Mas a consciência de que esforço, ape-

nas, não gera riqueza e de que existe uma conexão entre o ganho e a bênção de Deus, são alicerces

importantes a serem reconhecidos em uma fortuna verdadeira.

O dinheiro pode ser uma maldição. Pode causar ansiedade infinita, senso de falso mérito, despotismo,

arbitrariedade, perda da noção do valor das pessoas e do valor das virtudes. O rico está permanente-

mente experimentando o desejo de ter mais e mais, sem limites.

Quando nos alegramos com as coisas que temos, nosso prazer com a vida aumenta. Além de ser uma

chave para a felicidade, este comportamento nos torna merecedores de muito mais e abre o acesso

para novos conhecimentos, experiências vibrantes, responsabilidades e maior compreensão do mun-

do.

Um dos modos mais eficientes e corretos de se relacionar com dinheiro e com coisas que possuímos

é portando-nos sem apego. Não é preciso ter a preocupação de guardar e proteger ansiosamente o

que quer que seja, pois, aquilo que tem que ser nosso, será nosso de qualquer forma. Ninguém tem

o poder de tomar para si as nossas posses verdadeiras. Assim também eu não conseguirei tomar de

ninguém o que não for, de fato, meu.

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No entanto, a melhor e mais livre sensação em relação a bens materiais é aquela vivida exclusivamente

por quem não se enxerga como proprietário, mas como depositário ou administrador. Em geral, todas

as pessoas confessam crer nisto, mas não os vivenciam, não os põem em prática.

Como “gastar” dinheiro? É fácil responder. A forma mais elementar é adquirir os objetos do desejo pes-

soal, os sonhos de consumo. Outro modo é fazer caridade, filantropia ou desprendimento generoso e

justo para com outros.

O maior benefício da caridade sobrevém àquele que a pratica. A razão é simples: a caridade impede o

que a faz de afundar-se em seus próprios interesses.

Caridade – ou ato de bondade, como prefiro chamar – é virtude que merece dedicação ampla de todo

ser humano. Dar dinheiro a quem necessita é a forma mais poderosa de se elevar neste mundo, pois,

quem o dá, cede uma parte de si – suas habilidades, seus esforços, suas ambições, sua compaixão e

energia.

Aliás, a chave para a caridade é compreender que ela não se define como fazer algo por alguém.

Antes, ela consiste em fazer por si mesmo. Não se dá pelos outros. Dá-se por si mesmo, ou seja, pela

necessidade de praticar a doação como uma atitude para ser melhor.

Existe uma noção de que através da caridade o dinheiro se torna uma bênção.

Há quem diga que, por este caminho, ele se torna eterno.

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Temos em nós algo que chega a nível da obrigação de compartilhar com outros o que nos foi dado. O

verdadeiro sentido do “ter” está em “dar”, pois, “só dá quem tem”, e você só tem, de fato, aquilo que

dá aos outros.

Há uma bonita história sobre o notável anglo-Judeu vitoriano, Sir Moses Montefiore. Ele foi uma

das figuras mais destacadas no século dezenove, amigo pessoal da Rainha Victória e feito cavalei-

ro por ela. Sua filantropia se estendia a todo tipo de pessoa que necessitasse.

Uma reflexão da vida deste importante homem foi especialmente tocante. Alguém lhe perguntou:

- “Sir Moses, qual é o seu valor?”

Moses pensou por um instante e declarou um número.

- “Mas certamente” – disse a pessoa que perguntava – “sua riqueza deve ser muito maior do que

isso.”

Com um sorriso, Sir Moses respondeu:

- “Você não perguntou quanto eu possuo. Perguntou quanto eu valho. Portanto, calculei mais ou

menos quanto eu doei para caridade este ano. Veja” – continuou ele – “você vale aquilo que está

disposto a partilhar com os outros.”

A caridade é uma das necessidades humanas mais fundamentais. Encontra-se no mesmo patamar

da alimentação, da segurança e do amor.

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Se uma pessoa rica dá arrogantemente, pensando que está fazendo um grande favor, estará engana-

da. Na verdade o favor está sendo feito a ela mesma.

Desde a perspectiva da aritmética ou do simples negócio pode-se discutir que a caridade reduz os

recursos financeiros de quem a dá. Mas quando reconhecemos que não é só o esforço que produz ver-

dadeira riqueza e existe a bênção de Deus como importante componente, a caridade se transforma no

mais sábio de todos os investimentos. Tanto é verdade, que há, neste campo, uma regra prática capaz

de deixar muita gente espantada pela aparente contradição que encerra.

A regra é: se alguém estiver enfrentando dificuldades financeiras em seus negócios, aumentar suas

contribuições irá propiciar, igualmente, a bênção para a riqueza. Não, isto não é uma troca. Não é

chantagem e muito menos “compra de indulgências”. É a compreensão profunda de uma dinâmica que

suplanta a paupérrima lógica humana.

“Mais do que o rico faz para o pobre, o pobre faz para o rico”, disse um sábio.

Dizem os sábios: “Dê caridade de tal modo que você possa prosperar”.

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A caridade abre novos canais de riqueza que desconhecemos. Inspire-se – e quando puder, inspire

outros – a fazer da caridade uma parte integrante e ativa de suas vidas.

Há muitas maneiras práticas de incentivar a doação regular de caridade. Não importa quanto seja.

Você pode colocar uma caixa de caridade em algum cômodo da sua casa, no seu escritório ou no seu

carro. Pode ensinar os seus filhos a dar dinheiro e tempo de dedicação a outros que necessitem. Basta

ser criativo e devotar-se seriamente a isso.

As escolas deviam cultivar a generosidade regularmente distribuindo dinheiro e bens que seus estu-

dantes possam dar aos necessitados.

As empresas podem fazer o mesmo com seus funcionários – independentemente de se chamar a isso

“responsabilidade social”, moda ou programa de governo. Importante é que as ações se efetivem e

sejam cada vez mais regulares e organizadas, incorporadas ao modo de vida da sociedade.

Olhe ao redor e pergunte-se:

- “Daquilo que tenho, o que posso dar para ajudar a alguém?”

Não se preocupe se você não é socialmente conhecido pela grande generosidade ou se você não tem

tempo de sobra. Quando o desejo de dar flui do interior do ser, nada é tão pequeno, e nada é tão

grande.

Introduza em sua mente o seguinte pensamento: “eu recebi valores para serem vividos de forma obje-

tiva – a custo zero – para que eu alcance o significado desta vida”. Por tantas e tantas coisas boas que

nos foram dadas gratuitamente, os bens materiais precisam ser meios através dos quais possamos

praticar atos de bondade e, assim, aperfeiçoar a nós mesmos e ao mundo que está à nossa volta.

Esta é uma história que ouvi de um amigo.

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Nahum era um homem que vivia em uma pequena cidade na Polônia onde era muito difícil ga-

nhar a vida. Ele tentou muitos ofícios diferentes, sem sucesso. Chegando numa situação financeira

difícil, decidiu viajar para uma ilha na costa da África onde, lhe disseram, havia tantos diamantes

que era possível encontrá-los espalhados pelas ruas. Mesmo sendo a viagem por mar arriscada e

de longa duração, seguramente valeria a pena empreendê-la. Quando voltasse para casa com os

diamantes, poderia vendê-los e conseguir uma grande fortuna, vivendo então do jeito que sempre

sonhara.

Contou à família sobre sua decisão e começou os preparativos para a viagem. Após semanas de

excitação e planos, o dia da partida chegou. Ele se despediu dos amigos e da família, garantindo-

-lhes que voltaria riquíssimo em curto espaço de tempo.

O navio então partiu em direção ao horizonte, em sua longa jornada pelos mares.

Os navios não iam frequentemente a esta remota ilha e, portanto, teria que ficar lá por um ano,

no mínimo, até que tivesse uma possibilidade de regresso. Com grande ansiedade, assistia o navio

se aproximar da costa e imaginava, à distância, que poderia ver diamantes brilhando pelas ruas.

Ele desembarcou e enquanto andava pelo lugar, percebeu que os rumores eram verdadeiros:

havia diamantes facilmente visíveis e espalhados por todos os lados. As pessoas realmente anda-

vam por cima deles. Sem conseguir conter sua alegria, largou suas malas, abaixou-se e começou

a recolher as pedras preciosas. Grandes, pequenas, perfeitas ou não, pegou todas que suas mãos

conseguiam juntar e guardou-as em seus bolsos.

Enquanto pegava as pedras, percebeu que as pessoas que se aproximavam riam com vontade.

Ele não entendia. “Porque tanta pressa?” – perguntou-lhe um homem. “Você vai ficar aqui por um

bom tempo!”.

“Sim”, acrescentou um outro transeunte. “Olhe para todos aqui. Eles também vieram pela mesma

razão que você, mas temos tempo pela frente. Vá com calma!”.

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“Bem” – pensou Nahum – “talvez eles estejam certos. Alem disso, são mais experientes que eu.

Vou ficar aqui por algum tempo e parece haver um número sem-fim de diamantes na ilha. Não há

porque afobar. Há pedras para todo mundo”.

Nos dias que seguiram, enquanto se familiarizava com a ilha, ele de novo começou a recolher dia-

mantes. Mas percebeu que ninguém fazia isso e começou a sentir-se tolo. “Será que os diamantes

não significam nada por aqui? Como pode ser que todos ignoram esta riqueza?” – pensou ele. Ob-

servando o comportamento de todos descobriu que, realmente, os diamantes não tinham nenhum

valor naquela ilha. O produto que os habitantes daquele lugar davam mais valor era a banha,

usada para cozinhar e fritar. Era de extrema importância e muito difícil de ser encontrada. Qual-

quer um que conseguisse produzi-la, guardá-la e vendê-la ficaria muito rico. As pessoas da ilha

estavam tão isoladas da civilização que não tinham óleo para cozinhar, algo tão facilmente obtido

em qualquer outro lugar do mundo.

Nahum era um homem muito determinado e começou a procurar os ingredientes para fazer

banha e desenvolver métodos para guardá-la e vendê-la. O trabalho era duro e ele passou várias

semanas explorando a ilha até encontrar os ingredientes apropriados.

Com o passar das semanas, envolveu-se tão completamente em suas tentativas de fabricar banha

que acabou esquecendo completamente o motivo que o levara até a ilha.

Todo dia pisava sobre diamantes espalhados pelas ruas e os ignorava, como todos os demais ha-

bitantes. Quando acontecia de notar alguma pedra excepcionalmente brilhante, ele a examinava

e punha-a no bolso. Isto o fazia voltar um pouco à razão. Mas logo dizia para si mesmo: “Ainda há

muito tempo. Enquanto isto, preciso fazer meus suprimentos de banha!”

As semanas viraram meses e finalmente notícias chegaram à ilha que, em duas semanas o navio

estaria passando para pegar os ‘estrangeiros’.

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Nahum estava de tal forma envolvido em seus negócios com banha que nem prestou atenção ao

que ouviu. Todavia, alguns dias depois, quando o navio atracou, percebeu que precisava armaze-

nar convenientemente suas banhas e estar pronto o mais rápido possível para levá-las a bordo da

nau e, assim, para sua casa. Estava orgulhoso de si mesmo, pois teve um ano de muito sucesso.

As pessoas na ilha tinham dado muita honra a ele e agora sua esposa, sua família e amigos teriam

muito orgulho dele também.

No entanto, enquanto transportava os barris de banha para o navio, de súbito lembrou-se que este

não era o motivo real de sua viagem. Ele tinha vindo para juntar diamantes e não para ser um

comerciante de banha. Agora já era muito tarde, pensou. Mas a riqueza que faria com toda aquela

banha certamente o ajudaria. Pegou mais alguns diamantes no caminho para o navio e, depois de

despedir-se de todos, iniciou sua longa viagem de volta para casa.

Passadas algumas semanas no navio, a banha começou a derreter. O cheiro tornou-se tão ruim

que os passageiros foram reclamar ao capitão. Este ordenou à tripulação que descobrisse a ori-

gem do fedor e, assim, acharam os barris de banha apodrecidos, que Nahum admitiu serem dele.

Implorou-lhes que não jogassem ao mar toda a sua banha, pois, havia trabalhado muito duro

para consegui-la. Os marinheiros até que tentaram conter o cheiro cobrindo os barris, mas em

pouco tempo o fedor estava tão forte que não restava outra opção senão jogar toda a mercadoria

ao mar. A banha pela qual havia trabalhado tanto se tornara apenas toneladas de mau cheiro e

material podre.

Enquanto assistia ao último barril ser arremessado pela amurada, percebeu o quanto havia falha-

do. Tinha desperdiçado seu precioso tempo na obtenção de bens sem nenhum valor.

Os dias seguintes arrastavam-se numa medonha espera. Em sua mente, via sua esposa e filhos

esperando por ele e pelos ‘bons anos pela frente’ e seu ‘brilhante futuro’.

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O navio finalmente atracou, mas envergonhado, aflito e desesperançado, Nahum foi um dos últi-

mos a desembarcar.

Sua mulher e filhos cumprimentaram-no com excitação. Ele, porém, não conseguiu compartilhar

da alegria deles. Tudo o que queria era ficar sozinho. Amigos e parentes vieram a sua casa para

ouvir sobre a viagem, mas ele retirou-se para o quarto, deprimido e humilhado.

Em seu quarto, Nahum jogou-se na cama e chorou até cair num sono profundo. Sua mulher, pen-

sando que estava apenas exausto e sem querer acordá-lo, pegou seu casaco e deu uma olhada nos

bolsos. Viu dois enormes diamantes que ali estavam. Sem se conter, correu com grande alegria até

o joalheiro local e pediu que avaliasse. O joalheiro não acreditava no que viam seus olhos.

“Senhora” – disse ele após examinar as pedras – “a senhora é uma mulher de sorte. Seja lá quem

lhe trouxe estes diamantes, deu-lhe uma imensa fortuna. A senhora terá dinheiro por muitos anos

com sua venda”.

A mulher voltou para seu marido, que já havia despertado, e o agradeceu profundamente por seu

enorme esforço. Mas ele ainda estava abatido. “Por que você está tão infeliz?” – ela perguntou an-

siosamente. “Nós temos tanta sorte e você foi tão esperto em conseguir tudo isto!”.

“Eu não fui nada esperto”, respondeu com tristeza. “Se tivesse sido inteligente, manteria minha

mente concentrada no propósito pelo qual viajei para aquela ilha. Acabei me envolvendo com o

que as pessoas achavam que era o mais importante ao invés do que era, de fato, importante para

nós. É verdade, eu trouxe alguns diamantes, mas poderia ter recolhido uma fortuna que daria não

só para nós e nossos filhos, mas para nossos netos, amigos e muito mais”

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Há um motivo porque todos nós viemos a este mundo: “recolher diamantes”, isto é, praticar boas

ações de caridade, de ajuda às pessoas, de forma a construirmos aqui um mundo bom para todos nele

viverem. Enquanto estamos aqui, entretanto, são tantas as influências de coisas e pessoas para nos

desviarmos deste propósito que acabamos menosprezando-o, achando que teremos tempo de sobra

no futuro. Nossa vida está repleta de infinitas possibilidades de praticarmos atos de bondade. Mas

nossa ilusão repousa na esperança de que ficaremos ricos juntando itens sem nenhum valor na terra

de onde viemos e para onde voltaremos.

Durante toda a vida neste mundo, as possibilidades de praticar boas ações estão ‘espalhadas pelas

ruas’, esperando que alguém as faça. Auxiliar um necessitado, visitar um doente, consolar uma pessoa

de luto, melhorar as condições de nossos empregados, amar nossos semelhantes, dedicar a conside-

ração e atenção a nossos familiares e amigos, honrar nossos pais, etc. Há, ainda, os momentos livres

que poderiam ser utilizados para o estudo de assuntos que farão de nós pessoas melhores, mais

sábias e elevadas.

Se utilizássemos adequadamente o tempo de nossa “viagem” a este mundo, poderíamos ficar eter-

namente ricos. Pegar alguns “diamantes” aqui e ali é maravilhoso, mas imagine que nível poderemos

atingir se tivermos os “diamantes” como objetivo de vida.

Quando chegarmos aos nossos últimos anos neste mundo, teremos o prazer de olhar e constatar que

tudo o que experimentamos foi “vida” e não mera existência. Neste momento você sente estar sim-

plesmente “existindo” ou “vivendo”, de fato? De todas as atividades que você atualmente pratica, qual

lhe dará maior satisfação no futuro? Qual delas você considera ser perda de tempo? Se você pudesse

voltar ao passado e dar a si mesmo alguns conselhos chaves de que necessitaria no futuro, quais se-

riam? Você os seguiria?

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PRÁTICA

11ANALISE AS CONSEQUÊNCIAS

O homem é a força dominante e o foco de toda a criação. Em poder de seu livre-arbítrio estão a eleva-

ção e o rebaixamento dele próprio e de tudo o que o envolve.

Como é possível que simples atos de um ser humano comum tenham tão poderosa influência?

Olhe a sombra da folha de uma árvore projetada no chão. Faça uma marca de onde esta sombra se

encontra. Alguns minutos depois, você perceberá que ela se deslocou. Um único centímetro do des-

locamento desta sombra é a menor de todas as proporções de um fenômeno cujas dimensões são

imensas, astronômicas. Quantos milhares de quilômetros a Terra não terá se deslocado em torno do

Sol para causar aquele único centímetro de movimento na sombra?

Assim também são todos os nossos atos e decisões.

O que temos diante dos olhos é uma imagem restrita e elementar de algo cujas consequências po-

dem assumir medidas muitíssimo maiores. Nossos atos em si podem parecer insignificantes. Mas, ao

analisarmos todas as interações envolvidas, acabamos constatando uma magnitude que não imaginá-

vamos.

Quais decisões você está tomando na sua vida? Quais as consequências diretas e indiretas delas?

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Se você julga não ser importante pensar nisso, lembre-se que a vida é uma enxurrada de decisões. Co-

nhecê-las é a melhor forma de entender como se processam na mente. Dominá-las significa que você

estará conseguindo uma profunda e íntima ligação consigo mesmo. Isto se chama autoconhecimento.

O impacto acumulativo das decisões, mesmo as pequenas, é o que determina a nossa qualidade de

vida, em geral. Tomar decisões às pressas pode fazer mal à saúde. Compara-se a um veneno.

Decisões diferentes têm impactos diferentes. Se você não vai assistir a um jogo da seleção brasileira

de futebol, não verá grandes craques jogando. Porém, se não adquirir sabedoria para criar e educar

seus filhos, isto pode causar tragédias irrevogáveis na sua vida.

Em resumo: enquanto você viver, encare-se com a máxima seriedade.

Muita gente toma decisões de vida ou morte num rompante. Chegam a dizer: “Tomar certas decisões

é um incômodo, é chato. O mais fácil é deixar o assunto de lado e esquecer. Tudo se resolve por si”. É

certo adotar este método?

O que você acha de um sujeito que confia num médico só por medo de ofendê-lo? Estupidez. Está

comprometendo sua própria vida por vergonha ou orgulho. O mesmo acontece quando renunciamos

ao nosso direito de raciocinar e analisar as nossas decisões.

Havia um jovem ator que fora convidado para participar de uma peça de teatro onde teria uma

única aparição. Quando o canhão acabasse de disparar um tiro, deveria dizer: “Atenção todos os

presentes. Escuto um canhão a rugir!!!”

Durante duas semanas foi só o que fez.

Cada momento livre, ele dizia e repetia sua fala. Variava o tom de voz; acrescentava um pouco de

musicalidade, fazia todo esforço para desempenhar-se de modo diferenciado entre todos os demais

“atores”.

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Chega o grande dia. Ele está no palco. Na hora certa, o canhão faz um estampido ensurdecedor:

Buuuuuuummmm!!! E o rapaz, acometido de profundo e incontido assombro, grita:

- “Meu Deus, que barulho foi esse?”

Ele acaba de estragar tudo.

Por mais que saibamos bem ou tenhamos segurança em relação a um determinado conceito de vida,

devemos treinar muito e sempre, para que na hora da nossa atuação, não erremos e amarguremos a

desgraça de ver tudo perdido.

Busque atingir consciência máxima das suas ações. Avalie os efeitos possíveis em relação ao tempo –

o que acontecerá imediatamente ou no longo prazo. Avalie os impactos diretos e indiretos, intensivos

e extensivos. Visualize a implicação e o envolvimento de pessoas. Esta é uma prática para todos os

campos da vida. Com ela, você terá maior sensibilidade sobre os seus próprios atos.

É impossível passar um minuto sem tomar uma decisão ou agir.

Pare um instante. Feche os seus olhos e sinalize mentalmente o momento atual como sendo o “marco

zero” de um acordo consimo mesmo. Vamos dar um nome respeitável a ele. Que tal:

“Acordo de Continuidade da Vida Mediante Decisões Conscientes.”

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A partir de agora, passe a fazer uma avaliação criteriosa e interessada dos possíveis desdobramentos

das decisões que você tomar e das ações que irá praticar.

Investigue antecipadamente o impacto que elas causarão em você, na vida de todos os implicados

diretos e indiretos e até sobre a natureza.

Mesmo as ações mais sutis ou aparentemente imponderáveis – aparentemente fora da conta – podem

causar resultados significativos no mundo visível e nas esferas invisíveis.

Há uma frase popular que diz: “Não existe almoço de graça”. Esta vida terá um fim. Não importa o que

seja este final, mas tudo acontece em ciclos, e todo ciclo tem um final. Haverá recompensa para os

nossos atos bons e punição para as nossas transgressões.

Intimamente, pensamos que existe um clube de pessoas que morrem e do qual nós não somos sócios.

Infelizmente os fatos reais desmentem esta noção.

Se você tivesse um relógio sobre a sua televisão que mostrasse a contagem regressiva da sua própria

vida, em que ponto você desligaria a TV e começaria a fazer todas aquelas coisas que sempre quis,

mas decidiu deixar para a “próxima segunda-feira”?

Na verdade, as consequências estão contidas nos próprios atos. Tão logo uma idéia é posta em prá-

tica, seja do bem ou do mal, sua consequência é simultaneamente disparada. Podem ser imediatas

ou levar horas, semanas, anos. Um dia elas chegam. Sempre chegam. E se elas não existissem, não

haveria justiça. Seria impossível viver neste mundo.

Viver é sério. Toda ação implica numa reação. Isto é Física.

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“A vida é como uma noite escura em uma tempestuosa planí-cie. Açoitado pela chuva, perdido na escuridão, o homem é aco-metido pelo desespero. De repente, o fulgor de um relâmpago. Numa fração de segundo o cenário torna-se claro como o dia, mostrando-lhe o caminho a seguir. Porém, tão prontamente quanto teve a condição de percepção, a visão desaparece. Ele deve continuar lutando através da tempestade tendo na me-mória apenas aquele lampejo de orientação. O relâmpago tem uma breve duração; a escuridão pode parecer infindável. Mas uma curta inspiração pode ser a força que precisamos para prosseguir e vencer a batalha”.

PRÁTICA

12ACERTE O RELÓGIO

- Maimônides

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Pense em como justificaremos, no futuro, o que fizemos com o passado.

Crescer foi nossa prioridade?

As pessoas tiveram alguma importância para nós?

Como empregamos o tempo que nos foi dado?

Quanto desperdiçamos?

Quanto deixamos de empregar os recursos que tivemos a nosso dispor?

Muitas pessoas chegam a seus últimos anos de vida cheias de amargura. Olham para trás e contem-

plam sua adolescência, juventude, vida em família, carreira profissional e sentem culpa por não terem

feito bom uso do tempo. Seus “anos dourados” acabam danificados em tristeza pelo tempo perdido.

A melhor de todas as universidades para os jovens são as pessoas mais velhas. Para os que já pos-

suem um diploma, os idosos são o doutorado perfeito. Com eles pode-se aprender de tudo. É uma

pena não fazer uso desta fonte de experiências vitais. Há, inclusive, quem sinta vergonha ou precon-

ceito de pedir conselhos a alguém.

As pessoas que em seus dias de velhice refletem sobre o passado e reconhecem que poderiam ter

usufruído mais da convivência com a família, sentem o sofrimento pelo mal uso de todo o tempo que

tiveram ou por tê-lo preenchido com um conteúdo banal, sem significado.

Muitos dos que gastaram suas vidas com coisas fúteis ou em situações que lhes causaram falsa sen-

sação de segurança choram por ter abandonado seus queridos em função de coisas que, agora, para

nada servem. Não existe registro de alguém que, em seu leito de morte, tenha se lamentado por não

ter passado mais tempo em sua empresa, escritório ou fábrica.

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Envelhecer naturalmente é uma imposição obrigatória da vida. Envelhecer sabiamente é uma opção

pessoal. Enxergar tarde demais o quão tolamente passamos a vida é um dissabor que pode ser evita-

do hoje, se tivermos vontade e propósito. Por que aprender com os erros próprios quando podemos

nos beneficiar com a experiência de outros que os cometeram antes e sabem como serem vencidos?

Embora seja muito mais eficaz aprender através de experiências, algumas delas são caras demais para

serem vivenciadas na própria pele. O uso do tempo é uma delas.

Uma simples, educada e interessada conversa com uma só pessoa vivida e madura abre-nos a chance

de antever e evitar dissabores incalculáveis no nosso futuro.

O tempo deve ser precioso para você e para mim. Ele é insubstituível.

Dinheiro se recupera. Tempo não. Apesar de todos sabermos disso, protegemos mais o dinheiro. Dá

para entender?

A negligência máxima consiste em fazer nada. Há quem economize recursos duramente ao longo de

meses ou anos para, enfim, sair em direção a um lugar onde ficará sem fazer nada.

Matar tempo não é assassinato, é suicídio.

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Se você tivesse que optar entre perder cinco minutos ou cinco reais, talvez de imediato escolhesse

perder cinco minutos. A justificativa poderia ser que em cinco minutos não se faz nada e dinheiro é

difícil de ganhar. Mas dinheiro perdido ou não ganho é uma mercadoria que pode ser recuperada dez

ou cem vezes mais em pouco tempo. Tempo, em contrapartida, jamais voltará. Ele corre num único

sentido, sem retorno; quando mal empregado é “capital” perdido sem qualquer chance de se reaver.

Saber usá-lo em proveito da construção de uma grande pessoa – você mesmo – é uma estratégia que

resultará em “lucro” certo. Dinheiro é um ativo.

Quando nos vemos comprometidos com a construção de uma grande pessoa, cada detalhe se reveste

de significado e importância. Sabemos, então, que cada ato positivo que fizermos criará um ser huma-

no valoroso, cada movimento que efetuarmos será uma parcela imprescindível desta construção, com

um detalhe: não precisaremos esperar pelo final para apreciar a obra que estamos edificando. Senti-

mos a alegria de crescer até com os menores atos.

Em tudo o que você fizer – assistir às notícias, fazer um negócio, jogar com um amigo, ler um livro –

faça-o prestando total atenção, isto é, com consciência plena. Decida que você está disposto a manter-

-se consciente todo o dia. Esta é a sua garantia de que no futuro terá paz em relação ao que está

fazendo agora, e não culpa.

Alguém, certa vez, pediu que um sábio demonstrasse a natureza da mente. Ele apontou para um

comerciante numa loja de mel, que mergulhou seus dedos num pote e, sem perceber, lambuzou

a parede. Subitamente, dúzias de abelhas se aglomeraram em cima do mel. Então, surgiu uma

lagartixa, que passou a comer as moscas. Logo depois, um gato pulou na lagartixa e devorou-a.

Nesse momento, um cachorro viu o gato, perseguiu-o pela loja e, numa violenta luta, o matou. Mas

aquele era o gato de estimação do comerciante, que, furioso, ordenou que o empregado batesse no

cachorro. Só que aquele era o cachorro de um freguês, que ficou enfurecido quando viu o empre-

gado batendo em seu animal e caiu de socos e pontapés no comerciante.

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Disse então o sábio:

- “Esta é a natureza da mente. Ela cria toda sorte de desejos e distrações, como você acabou de

testemunhar. E faz isso a cada momento, em cada canto do mundo”.

Mas todo este esforço só terá algum valor se a vida tiver um propósito para você. Sem este “conteúdo”,

nada importa – nem o tempo, nem as pessoas, nem coisa alguma.

Se você crê na razão elevada da vida, sua opção será não jogar fora nem mesmo alguns minutos na

fila do banco. Você terá entendimento claro de cada aspecto da vida e verá neles uma finalidade e ob-

jetivo. O tempo sempre será limitado demais e você buscará fazer o máximo com ele.

Há uma experiência feita por pesquisadores que revelaram um fato curioso da percepção humana.

Submetidas à total escuridão, a maioria das pessoas conserva a noção de espaço. Mas mesmo com

luzes acesas, poucas horas em uma sala fechada bastam para que elas não consigam estimar quanto

tempo se passou. É provável que estas pessoas subestimem ou superestimem grosseiramente o tem-

po que passaram nesta sala. Interessante.

Talvez seja por esta noção defeituosa do fluxo e do valor do tempo, que estejamos sempre dispostos

a trocá-lo por dinheiro e nunca a investi-lo na fortificação de nossos valores e conceitos.

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ENTREMOS NO CONCEITO

Tempo é a quarta dimensão além das três medidas do espaço – comprimento, largura e altura. Seu

escoamento pode ser medido tanto pelo movimento da Terra em torno do sol como pelos períodos da

radiação dos átomos de Césio 133 em seu estado básico.

Entender o que é o tempo e como usá-lo é um meio de se aperfeiçoar como ser humano. É a forma

mais eficaz de penetrarmos na razão de nossa existência neste mundo. Porém, isto só ocorre quando

a percepção do tempo deixa de ser quantitativa e o vemos como um “vazio” a ser preenchido com um

conteúdo.

Normalmente, atribuímos ao tempo a “culpa” de ser uma oposição à vida. Nossas mais simples atitu-

des comprovam isso. Ele é visto como uma contrariedade, o meio por onde a vitalidade se escoa e a

morte se aproxima.

É próprio da nossa cultura a preocupação com o tempo e, em muitos casos, com certo temor, o medo

de envelhecer, medo de passar a hora de se cumprir os padrões sociais etc. O apego ao passado ou

a excessiva preocupação com o futuro são diferentes formas de comparação do tempo presente com

bons momentos já vividos ou com o risco de sofrimento por vir através de crises que modifiquem nos-

sa realidade atual.

Mas se uma oportunidade surgiu no passado e nós não soubemos aproveitá-la no período de tempo

de sua existência ou validade, resta-nos ainda um grande benefício em lugar do sentimento de der-

rota. Este benefício consiste em aprender a lição de como o tempo poderia ser melhor aproveitado

quando novas chances chegarem a nós. Isto é sabedoria.

É verdade que o tempo não volta mais. Mas as oportunidades, sim. Portanto, em vez de lamentar o

tempo, melhor é preparar-se para outras oportunidades.

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Gastamos uma considerável parte do tempo escutando os nossos pensamentos. Alguns são negati-

vos e nos depreciam. Outros tentam desgastar o que estamos fazendo agora e o que esperamos do

futuro. Aceitá-los como verdadeiros e não questioná-los é um grande mal. É perda real que poderia ser

investido na busca de boas e grandes oportunidades de desenvolvimento.

Devemos desviar o pensamento das coisas que já passaram. As perdas, as fraquezas e as derrotas

ficaram para trás. Presos ao passado, contaminamos o presente e o futuro com dores e lamentações.

Não devemos perder de vista o poder e a força que residem na possibilidade de reinício ou de um

novo ponto de vista.

O tempo é um senso e não apenas uma duração. Quando o percebemos como sendo “um vazio” a

ser preenchido com um significado de qualidade, nós nos elevamos acima do espaço. Firmamo-nos,

assim, no “quando”, no momento presente.

O tempo não nos envelhece. Ele é a única possibilidade de renovação. Nós viemos a este mundo para

aproveitar o potencial de renovação do tempo como uma conta bancária com um capital em dinheiro a

ser investido. Por conseguinte, a nossa vida se renova todos os dias. A cada manhã você é uma pessoa

nova, com novas chances e benefícios potenciais. O principal é que, agora, você pode contar com as

experiências que já acumulou e com os ensinamentos que aprendeu.

Por isso, esqueça as derrotas e as perdas. Recontextualize todos os planos; busque apague da lem-

brança tudo o que deu errado. Troque o que pode ser ruim por lembrar-se das boas experiências e do

aprendizado que juntou no seu acervo pessoal.

Todo ser humano tem o direito a um novo começo.

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Nossa energia e ânimo são integralmente renovados todos os dias. Não importa qual seja o erro que

ficou para trás. Deixe-o lá. Congele-o e deixe-o inativo. Temos plenos direitos de recomeçar a vida

agora mesmo, se quisermos.

Uma noite de sono é um período de renovação de ânimo físico. Com energia nova, podemos recome-

çar, investindo-a em atos novos.

Olhe para o céu. A lua renova seu ciclo mês a mês. Ela é nova, depois crescente, em seguida cheia e, e

então , minguante. Há uma lição preciosa aí.

Você precisa disso. Nunca lhe ocorreu o desejo de voltar no tempo e recomeçar a vida nos tempos

de juventude? Seria bom? Aliar a pouca idade a toda experiência acumulada até a data de hoje é uma

fantasia de muitos.

Ouço pessoas dizendo: “Ah! Se eu pudesse, voltaria aos vinte anos e recomeçaria com a bagagem que

tenho agora. Aí, sim, eu venceria!” Pois bem, você tem esta opção hoje. Ela está ao seu alcance. E não

há a menor necessidade de voltar aos vinte anos, pois, o tempo não é quantitativo. Não olhe para os

vinte, trinta, cinquenta, setenta ou oitenta anos de sua idade. Esse tempo é apenas uma medida. A

estrutura biológica de seu corpo mudou, é certo. Mas em sua mente, tudo pode acontecer.

Tempo é qualidade. Tempo é conteúdo. Se tudo o que você conseguiu foi acumular quarenta anos mal

aproveitados, você não merece impor-se o castigo de chorar nos próximos oitenta. Chega de proble-

mas! Não os crie. Se você recomeçar a vida neste exato momento tendo consciência do que, de fato, é

o tempo, em algumas semanas, talvez, sua nova perspectiva de resultado terá mudado e trará maior

satisfação e contentamento.

Quando uma pessoa sabe o sentido das coisas que faz e que o tempo deve ser preenchido com um

conteúdo de valor, ela vive de modo verdadeiro e autêntico. O tempo se torna flexível e extensível.

Deixa de ser um bem que flui em segundos, minutos e horas. Passa a ser um “ativo”.

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Observe como as pessoas ocupadas têm tempo para tudo. Quanto mais ocupadas, mais coisas reali-

zam. Quem reclama falta de tempo, é provável que acabe não fazendo nada.

O tempo é relativo. Relativo a quê? À importância que se dá a ele. Acharemos tempo para tudo o que

desejarmos fazer de todo o coração. Quando se entende o que é o tempo, tem-se tempo.

Castro Alves, um dos maiores poetas brasileiros, lido e venerado por românticos de todo o mundo,

morreu aos vinte e quatro anos de idade. Escreveu poemas que influenciarampositivamente a história

de milhares de escravos negros do Brasil. São vários os exemplos de pessoas que fizeram muito em

pouquíssimos anos de vida.

Como é possível, por exemplo, que o presidente dos Estados Unidos tenha tempo para pescar ou

jogar golfe? Um dos homens de maior responsabilidade em todo o mundo terá tempo para a diversão?

Imagina-se que alguém cujas decisões exercem impacto nos quatro cantos do Planeta mal encontraria

tempo para si e sua família. Mas a realidade não é esta. Ele não só tem tempo para a família, como

para seu cachorro, ginástica, entretenimento e mais.

Muitos procuram consultores financeiros e contadores para encontrar uma maneira de tirar o máximo

proveito do dinheiro. Porém, não se ouve falar de quem procure um especialista para maximizar seu

tempo e usá-lo de modo mais sábio.

Desde a antiguidade, a maior atenção das civilizações não foi para o tempo, mas para o espaço. E

até hoje fazemos isso. Onde estiver um ser humano, ele estará pensando e convencendo-se de que o

seu lugar é o centro do mundo, o ponto para o qual tudo converge. Mas se analisarmos com atenção,

concluiremos que o “onde”, pouco importa. O essencial, na verdade, é o “quando”, ou seja, o momento

que se vive e como está sendo preenchido. Só assim a visão se abre.

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Quando existe sentido e significado, o tempo se comprime ou se expande para dar lugar à realização.

É como a chegada de uma autoridade famosa a uma cidade em horário de trânsito congestionado. Por

pior ou mais difícil que esteja, os seguranças e “batedores” vão à frente em motocicletas com o objeti-

vo de abrir caminho. Assim, o carro oficial chega aos lugares determinados sem obstáculos ou interfe-

rências.

Você tem dificuldades com o seu tempo? Comece, então, deixando de criar obstáculos. Ame a vida

e deseje intensamente viver com qualidade. Pare de fazer planos para o futuro distante. Mantenha

expectativa para ter com que se surpreender amanhã e depois. Oriente o seu destino a cada momento

sem ansiar por desvendar o futuro longínquo.

Preocupe-se tão somente com o real valor das suas atitudes. Este é o conteúdo de cada instante. Não

se questione demais. Não duvide. Saiba que quem faz excesso de certas perguntas acaba por mostrar

que não está interessado. Uma cena pode ilustrar isso.

O marido chega em sua casa e diz à esposa:

- “Gostaria de levá-la para jantar”.

Ela lhe responde:

- “Onde? Por quê? O que iremos comer? É longe? Vamos voltar tarde?”.

O que ele pensará diante desse questionário? Tudo, menos que a mulher tenha o desejo sincero de

acompanhá-lo. Há motivos para interpretar má vontade nas entrelinhas.

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Evite perder-se com perguntas inócuas e que só dificultam. Pergunte-se, antes, o que a vida espera de

você. É diferente.

Tire o foco de cima das necessidades. Você se livrará da ansiedade e frustração. Deixará de dissipar

energia vital a ser usada no seu crescimento e desenvolvimento. Faça diferente. Note como as pessoas

e as coisas precisam de você. Entenda como você é importante!

Tome suas decisões permanecendo atento ao seu conteúdo e às suas consequências. Faça sempre as

mais elevadas escolhas. A vida não nasce pronta. Precisamos construí-la, dia após dia. Nossa liberdade

maior está em entender e usar isto.

Junte sabedoria dia após dia. Não se preocupe por estar mais velho hoje – isto é a visão quantitativa.

Seja mais sábio. Se ontem você perdeu dinheiro por causa de um furo no bolso da calça, costure-o

hoje e não perca mais. Assim é o arrependimento. Culpa é autoflagelo, pode machucar fundo. Por isso

é negativa.

PARE DE JOGAR CULPA

Pense bem. Sendo os nossos sentimentos sobre as coisas o que, de fato, nos atormenta e não as

coisas em si, conclui-se que culpar os outros é tolice. Logo, ao sofrermos reveses, perturbações ou

desgostos, não devemos culpar os outros, mas as nossas próprias atitudes.

Pessoas mesquinhas geralmente atribuem aos outros a culpa pelos próprios sofrimentos. Pessoas co-

muns atribuem a culpa a si mesmas. Mas as que se dedicam a viver uma vida de sabedoria e significa-

do sabem que o impulso de atribuir culpa a alguém ou a alguma coisa não passa de tolice e que nada

se ganha culpando seja quem for.

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Um dos sinais que indicam o início do progresso moral de um indivíduo é a extinção da culpa. Passa-

mos a ver como é inútil fazer acusações.

Quanto mais examinamos as nossas atitudes e desenvolvemos o nosso interior, menos estamos sujei-

tos a ser assolados por tempestuosas reações emocionais nas quais buscamos explicações fáceis para

aquilo que nos acontece.

As coisas são simplesmente o que são. As outras pessoas que pensem o que quiserem. Isso não é da

nossa conta. Se não há vergonha, não há culpa.

Amanhã você não se parecerá com o que é hoje. Com o imenso potencial para melhorar a cada dia,

você será, todos os dias, alguém diferente e melhor.

Progresso! Cada dia é um conteúdo novo. Dificuldades e tempestades inesperadas fazem parte dessa

aprendizagem.

Você pode estar em grande dificuldade agora. Mas irá se fixar na certeza de utilizar o seu potencial

para ser melhor e, assim, conseguirá avançar. Você estará movendo-se para frente e para o alto. Deve-

dor, sim, mas sem dever nada a ninguém. A sua dívida é o compromisso de dar conteúdo e sentido a

tudo.

O tempo está aí. Precisa ser edificado. Nós o construímos. Nós o preenchemos. Ele não nos é imposto

por um relógio ou por um calendário. Nós o recebemos de graça e o fazemos fluir. Uma pessoa que

viva segundo este princípio, jamais temerá a morte. Ela sabe que a vida vale o sentido que tem. A vida

vale seu conteúdo e não sua duração.

Cem anos vividos em vão valem muito menos que cinquenta com valor e razão. Pois, a dimensão do

tempo é sua qualidade.

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Um rei na África saiu para caçar. Seu companheiro e transpor-tador de armas era uma pessoa cuja atitude em relação à vida era do tipo: “Isto veio para o bem”.

O transportador de armas errou ao carregar um rifle, causando uma explosão que arrancou o dedo polegar do rei. Quando o homem exclamou “Isto veio para o bem”, o rei, irritado, lhe res-pondeu: “Não, não veio!” e mandou o transportador de armas para a cadeia.

Cerca de um ano depois, o rei sai novamente para caçar. Desta vez, porém, foi capturado por canibais. Eles já estavam prepa-rando o rei para o jantar quando perceberam que lhe faltava

PRÁTICA

13PREOCUPAR-SE AJUDA?

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um dedo. Supersticiosos, os canibais não quiseram comer al-guém que não estivesse fisicamente completo, e o deixaram par-tir!

Imediatamente o rei foi à prisão para libertar seu transporta-dor de armas.

- “Você estava certo”, falou o rei, “isto veio para o bem! Estou muito arrependido de tê-lo mandado para a cadeia.”

- “Não”, respondeu o homem, “ficar na cadeia também foi para o bem.”

- “O que você quer dizer com isto? Olhe como você sofreu!”, dis-se o rei.

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- “Sim”, respondeu o carregador de armas, “se não estivesse na cadeia ... eu estaria com o senhor! E eu seria o jantar dos cani-bais.” Encarar a vida com seu devido positivismo é uma arte. Depende, antes de tudo, de boa vontade. Mas

também de muito treinamento.

Você acha isso “meloso” demais? Desculpe-me, mas eu não conheço outro modo melhor de viver. Não

que eu seja um mestre nessa arte, porém, nela consiste a minha luta de todos os dias.

O que a princípio nos parece ruim ou negativo acaba sendo uma bênção e uma lição benéfica de ado-

tarmos este modo. Até que enxerguemos com nitidez, no entanto, estamos mais dispostos a investir

tempo e energia em preocupações, culpa e conformismo. Esquecemos que estas coisas não nos favo-

recem em nada e podem acarretar danos irreparáveis.

Preocupação é, na verdade, o pagamento antecipado dos juros de uma dívida

que nem sequer sabemos se será, de fato, contraída.

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Contradizendo o senso comum, preocupação não é sinônimo de prudência. Os efeitos são diametrais.

Enquanto a preocupação desgasta, a prudência capacita. Preocupação é desnecessária e inócua.

Pare de gastar energia com preocupações.

Pensar assiduamente em problemas pode ser o ralo por onde perdemos inspiração e energia preciosas

para sua solução. Invista em confiança e esperança – meios que proporcionam altos recursos interio-

res.

Viva a vida segundo a certeza de que você já possui todos os meios para superar as dificuldades que

porventura chegaram. Se elas estão aí é porque você pode superá-las.

A confiança gera harmonia e paz interiores. É um antídoto contra o estresse e da depressão.

Observe o que ocorre quando se perde algum objeto de valor. O nervosismo deixa a pessoa tão de-

sequilibrada e negativa que pode até cegar seus olhos. Ela olha, mas não vê. Se, durante a busca, no

entanto, um amigo bate à porta, ela será capaz de passar horas conversando sobre variados assuntos

e não se preocupa como antes. Neste lapso, o pensamento saiu fora daquele ritmo estressante. Aí

está um método muito eficaz.

Romper com o negativismo e o nervosismo abre uma brecha interior para que a calma apareça. E “ca-

beça fresca” é o que mais ajuda em lugar de aflição e negativismo.

Se você é do tipo que se enerva e perde o controle da situação por causa de preocupações, uma saída

é desviar a atenção do problema. É aí que confiança pode ajudar.

O ciclo da ruína se inicia quando o otimismo dá lugar ao realismo e acabamos nos acostumando com

a depressão e expectativas desalentadoras. É quando começamos a desistir da alegria de viver. Muitos,

nessa hora, passam a acreditar, até, que é impossível ser alegre. Acabamos aceitando o fato de que

nunca conseguiremos nos comunicar com nosso cônjuge, com os filhos, colegas de trabalho e, enfim,

sucumbimos em um processo de falência em muitas áreas.

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Pais dizem a seus filhos:

- “Quando você tiver minha idade, vai entender.”

Entender o que? Infelizmente, o que querem, na verdade, dizer é:

- “Quando tiver minha idade, você terá desistido de si mesmo assim como eu.”

Com facilidade incrível as pessoas deixam de buscar crescimento e começam a se entregar à morte e à

derrota.

Um sábio declarou: “Há um ensinamento que recebi de meus pais e avós:

‘Com duas coisas não devemos nos preocupar: primeiro, com aquilo que é possível de se resolver;

segundo, com aquilo que é impossível de se resolver’. O que é possível resolver deve ser resolvido sem demora,

portanto não há com que se preocupar. Quanto ao que é impossível de se resolver,

de que adianta se preocupar?”

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Uma garota aproximou-se de um velho sábio de longa barba branca. Com sua natural espontanei-

dade foi logo se abrindo:

- “Tenho uma pergunta a lhe fazer. Quando você dorme, sua barba fica em cima ou embaixo do

cobertor?”

Ele pensou, pensou e reconheceu que não sabia.

A garota se espantou que um sábio tão experimentado e idoso não soubesse a resposta para algo

tão simples.

O velho, envergonhado, ficou tão preocupado que não mais dormiu tranquilo. Tão logo pegava no

sono, despertava ansioso para ver em que posição se encontrava sua barba.

O homem mais sábio da história, o rei Salomão, disse certa vez: “Quanto mais o homem pensa, mais

aflições e dores ele multiplica”. Isto nos ensina que quanto mais preocupado estiver a pessoa com

seus problemas e com aquilo a que chama “sua realidade”, pior serão suas condições de resolvê-los ou

superá-los.

Preocupar-se nunca é uma boa opção.

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QUANDO É PRECISO MUDAR O MODELO MENTAL

Mauro Weiss é um forte empresário do segmento de móveis e decorações de primeiríssima linha

em São Paulo. Sua família atua há cinquenta anos no setor. Ele deu o seguinte depoimento sobre

sua experiência durante recente crise econômica:

- “Eu atuo na minha empresa há vinte e cinco anos e meu pai, de quem a herdei, por outros vinte

e cinco. Sempre achei que ninguém conhecesse nossos negócios como a minha família, e que uma

consultoria jamais tivesse o que acrescentar à nossa experiência. Somos líderes de mercado. Todos

os concorrentes nos copiam. Quem poderia nos orientar?

Chegou a crise de 2009. Fomos atingidos de frente especialmente devido às nossas atuações inter-

nacionais. Não imaginávamos que as coisas ficassem tão ruins. Naquele momento eu percebi que

as nossas experiências não davam conta. Precisávamos de algo novo como visão diferente e outras

percepções. Mas eu não tinha de onde conseguir isto. Os funcionários não ‘jogavam’ mais para

valer. E eu não sabia como comprometê-los. Todos os livros que eu lia não resolviam.

Comecei a me desentender com os meus irmãos e sócios. Eu me vi na escuridão. Uma fornecedora

nos apresentou um profissional que fazia acompanhamento e orientação pessoal de empresários.

Meus preconceitos eram enormes contra qualquer forma de consultoria. Mas eu não tinha escolha.

Resolvi fazer uma experiência. Aos poucos, o fulano mostrou que o que eu sabia sobre pessoas e

sobre como ajudá-las a produzir mais e melhor era nulo. Eu era um rinoceronte no trato dos meus

empregados. Passei a vê-los como a parte mais importante do meu negócio. Meu consultor me

PRÁTICA

14CRISE E NEGÓCIOS

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provocava o tempo todo.

À custa disso, meus relacionamentos começaram a melhorar muito. As dicas eram todas coeren-

tes. Voltamos a atingir as metas de vendas e a trabalhar como uma equipe. Muitas coisas aconte-

ceram. Ele adicionou novas visões sobre vendas e marketing que foram eficazes e práticas.

Hoje eu não hesito em aconselhar todos os empresários a conhecerem de perto uma consultoria

que lhe chegue bem referenciada quanto a resultados anteriores. O executivo, especialmente o que

atua na frente de vendas, necessita do oxigênio de novos pontos de vista. E nas horas que ele mais

carece disso, não encontra. Aí o desespero chega e começa a somar erro sobre erro e a subtrair

lucros. Aquele consultor me ensinou a olhar para o que parecia ordinário e ver o extraordinário”.

Aí está como a mudança da maneira de encarar uma situação anteriormente negativa trouxe um bem

incalculável onde o sentimento de autossuficiência imperava anteriormente.

Reveses não são catástrofes.

Para o seu conhecimento, a etimologia da palavra crise é, no latim, crìsis, significando: “ponto de vira-

da”, “momento de mudança súbita”, e no grego, krísis, com sentido de “ação ou faculdade de distin-

guir ou tomar decisão em momento difícil”. Comece a ver oportunidades. Passe a usar a sua capacida-

de de transformar as coisas aparentemente negativas para positivas e úteis. Desenvolva isto em si!

Que tal passar a analisar de forma objetiva os motivos dos seus fracassos? Procurar a responsabilida-

de por eles também em você, e não, como sempre, só nos outros ou nas circunstâncias externas?

Se em linhas gerais você puder perceber claramente por que a coisa não deu certo desta vez, então

poderá atuar melhor da próxima vez ou, pelo menos, agirá de modo diferente.

Tome um novo impulso. Então de modo mais descontraído. Se você foi mimado até agora pelo suces-

so, deve evitar a sensação de que esteja agora sendo punido injustamente.

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Não expanda os seus negócios rapidamente quando há uma instabilidade econômica. Eles podem

crescer, é claro. Mas, é positivo provisionar recursos para um eventual arrocho financeiro mais intenso,

pois nunca se sabe o que virá. Muita gente faliu por ter “olhos grandes demais”... e dívidas maiores

ainda!

Dê a você mesmo e à sua empresa tempo para a construção de bases sólidas. E desfrute dos resulta-

dos disso, que são sempre bons.

Desenvolva o senso de prosperidade. Como? Concentre-se nos resultados de sucesso já obtidos. Faça

uma lista de todos os seus bens, por exemplo. Você vai descobrir que é mais rico do que pensa. Ser

arrojado e ambicioso é ótimo. Já ganancioso não. É mau.

Tenha lucidez para ver e analisar erros, traçando plano de ação para que sejam superados em suas

causas e não se repitam. Mas não faça auto-punição. Errar não é crime. Importante é aprender com os

erros e corrigi-los.

Cresça com as suas experiências pessoais e, mais ainda, com as experiências dos outros.

Recentemente a imprensa nos procurou para conhecer os nossos conselhos para as empresas na vira-

da do ano.

Eu evito falar de cenários macroeconômicos. Nunca entendi bem a macroeconomia e nem tive tempo

de estudá-la. A minha visão é estritamente microeconômica, e restringe-se à empresa e às finanças

pessoais. Além disso, tenho pra mim que os economistas também não entendem bem a macroecono-

mia.

Um cenário econômico, em si, tem pouquíssimos ou nenhum elemento passível de uma análise racio-

nal.

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O economista de Harvard John Kenneth Galbraith disse: “A única função das previsões econômicas é

fazer a astrologia parecer respeitável”.

Contam que um físico, um químico e um economista naufragaram e chegam a uma ilha deserta.

Ali eles encontraram centenas de latas de atum, mas nada que servia para abri-las. Famintos, os

três discutem o que fazer. O físico propõe: “Vamos pegar uma pedra e golpear a lata no ângulo

correto. Ela se abrirá”. O químico argumenta: “Isso exige muito cálculo. Vamos pôr as latas na

água salgada, o metal se oxida e poderemos abri-las facilmente”. O economista, finalmente con-

cluiu: “Para quê tanta confusão, pessoal? Vamos supor que temos um abridor de latas, e o proble-

ma acabou”.

No início da crise mundial de 2008, li numa revista o seguinte comentário:

“Nostradamus dizia ver o futuro numa bacia de água. Os modelos econômicos são mais complexos

que 2 litros de água num recipiente. O problema é que, por mais sofisticados que sejam, esses mo-

delos não conseguem antever as mudanças que as decisões de bilhões de pessoas podem causar à

economia”.

O comportamento das pessoas não é racional o tempo todo. Qualquer análise de cenário econômico

tem mais de suposição do que de realidade.

Toda crise econômica nos coloca frente à mesma perspectiva dos nossos avós, quando diziam que

dinheiro vivo é tão importante para a empresa quanto o oxigênio é para sangue. Assim, continue

cortando custos não essenciais a fim de garantir o andamento das atividades mais lucrativas da sua

empresa, ou pelo menos daquelas que garantem o seu fluxo de caixa. Mas cuide de cortar gordura e

não músculos.

Uma frase do querido e saudoso Joelmir Beting: “Em economia, é fácil explicar o passado. Mais fácil

ainda é predizer o futuro. Difícil é entender o presente”.

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DE PAI PARA FILHO

A família Safra, fundadora do banco de mesmo nome, é herdeira de uma tradição bancária secular que

foi recebida das mãos de seu patriarca, Jacob Safra, e de seus antepassados.

De tudo o que ouvi sobre a sabedoria do Sr Jacob, soube também que era o tipo de pessoa cuja pre-

ocupação não estava apenas em deixar aos filhos um bom negócio ou dinheiro. Ele legou exemplos,

princípios e valores que nortearam decisões de vida.

Seu intuito, como o de tantos pais verdadeiramente conscientes de seu papel no mundo, foi o de

transmitir experiências adquiridas a alto custo aos filhos a fim de que sua jornada pessoal contivesse

o lastro de um legado de conceitos e valores.

Não coincidentemente os conselhos de Jacob Safra são um roteiro excelente de como não gerar crises

ou, quando elas chegarem, de agir para que suas consequências não se traduzam em prejuízos irrepa-

ráveis.

Disseram-me que seus ensinamentos podem ser condensados em três princípios básicos. Vejamos a

seguir:

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O núcleo desta regra é a segurança. Para resistir a uma tempestade em alto mar, um navio precisa ser

forte, robusto, perfeitamente engenhado e, principalmente, governável. Oque é tempestade, neste

caso? Crises.

Uma empresa necessita de recursos, ferramentas e pessoas em níveis tais que possibilitem total e

assertivo controle tanto em tempos de êxito quanto nos de apuro. A mentalidade de vigilância e cons-

ciência total é condição sine qua non para isso. O gestor não deve permitir-se desviar o foco destes

elementos.

Liquidez, para quem não sabe, significa disponibilidade de dinheiro ou de meios que se convertam

rapidamente em dinheiro. Segundo este princípio, só com liquidez é possível empreender mudanças

que usufruam de liberdade a custos sustentáveis. Em linguagem mais ortodoxa esta regra poderia ser

interpretada como: “Faça caixa e mantenha-o alto! E tudo estará bem!”

Princípio número 1: “Construa o seu negócio como um navio:

sólido para enfrentar tempestades.”

Princípio número 2: “Mantenha alta liquidez”

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Para quê se expor? Por quê? Aparecer? Quem realmente ‘é’ não precisa mostrar a ninguém o que é.

“Sou bem sucedido” é uma expressão que dificilmente será dita por quem, de fato, o seja.

Em negócios – e na vida, creio –, os derrotados é que fazem questão de aparecer, e não os vencedores.

Fazer o que é necessário para atrair clientes, entregar-lhes valor e validar os melhores serviços para

satisfazê-los é o que traz dividendos no demonstrativo de resultados. Concentre energia nisso, com

qualidade e prioridade ao relacionamento, e não em ter aparência vazia. A glória de ser o primeiro ou

de meter-se em competições de grandeza é alvo dos tolos.

Os irmãos Safra – dois dos quais já falecidos – e seus filhos mantêm grandes negócios no Brasil, Amé-

rica do Norte, Europa e Oriente Médio.

Quando eu era jovem, tive a honra de conhecer o Sr Moise, um dos filhos do Sr. Jacob e de abençoada

memória. Em uma das nossas conversas, recebi dele um direcionamento que esteve na minha mente

todos os dias desde então.

- “O trabalho é uma luta sem parada. Enquanto tivermos forças para trabalhar é certo que crises vão e

vêm.Trabalhar é o nosso destino. Mesmo que sejamos donos de uma grande fortuna, somos obriga-

dos a sair todos os dias em busca do nosso sustento. Quem não se concentra nisto, compromete sua

vida e a de sua família!”

Princípio número 3: “Nunca seja o maior. Os raios atingem primeiro

as árvores mais altas da floresta.”

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HUMILDADE E COERÊNCIA

Elie Horn é um dos empresários de maior sucesso no setor de construções do país. Ele é O Diretor Pre-

sidente da Cyrela Brazil Realty. Em uma de suas raras entrevistas à imprensa, fez revelações impor-

tantes, que merecem ser analisadas e aprendidas no que concerne ao comportamente frente às crises.

Fiz um apanhado geral de suas falas mais significativas a fim de que sirvam como orientação. Vamos à

seleção enumerada de 1 a 11 a seguir.

Aprendi a apanhar, calar a boca e não ter orgulho. Talvez seja a maior lição que uma crise traz

para todos. Em geral a humanidade é arrogante. Mas uma crise faz todo mundo pagar o preço.

Teve gente que pagou muito no passado. Outros pagaram pouco, mas todo mundo pagou. Quando

a crise de 2008 começou, ouvi palestras e conversei com uns cem especialistas. A verdade é que

ninguém conseguia prever nada. E nunca consegue. Para mim, é uma lição divina para a humani-

dade, que diz: “Fique mais quieto, não seja arrogante, seja mais humilde, não pense só em lucro”.

Quando tem crise, a gente freia e fica bonzinho. Quando tem boom, a gente acelera. Não quero

ir contra a crise, não quero ser herói de causas perdidas. Não adianta falar agora: “Vou vender

tudo, de qualquer maneira”. Quem diz isso é ignorante ou estúpido. Em toda crise falta dinheiro, a

demanda reduz muito. Fazer o quê? A prioridade, nestas horas, é preservar o nome, a honradez, a

empresa.

Para as pessoas que trabalham comigo é sempre muito difícil entender uma crise, é um inferno.

A luta interna é muito pior do que a externa. As pessoas não conseguem entender o cenário ma-

cro. Lá fora havia sintomas da crise desde julho de 2007. Os sintomas americanos estavam muito

claros, e o fato de mantermos contato contínuo com economistas, analistas e banqueiros que vêm

todo dia aqui fez com que percebêssemos o que ia acontecer. Não sabíamos com que intensidade

nem com que rapidez, mas sabíamos que a tempestade chegaria. Quanto mais perto a crise che-

gava, mais eu me dedicava a entendê-la. Mas valeu a pena. Se amanhã ficar claro que erramos

um pouco nas previsões, podemos até perder um pouco de participação de mercado. Mas é melhor

perder mercado do que perder as calças.

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Tudo o que a minha empresa faz hoje tem relação com o conceito de perenidade. Estou com 64

anos. Trabalho para que a empresa sobreviva mil anos. Hoje mesmo tivemos uma reunião estraté-

gica na qual discutimos como a empresa vai sobreviver às crises que virão no futuro.

Recentemente, a Cyrela divulgou a previsão de resultado do quarto trimestre. O mercado reagiu

mal e as ações caíram 5% em apenas um dia. Sabe como é lidar com esse tipo de pressão? A pri-

meira vez que o namorado pega na mão da namorada, ela sente uma emoção forte. Na segunda

vez, aposto que não é a mesma coisa. E depois, vai ficando cada vez diferente. Com os analistas

é a mesma coisa. Na primeira vez em que eles falam sobre sua empresa você vai atrás. Hoje já

não presto muita atenção nisso, caso contrário mataria a empresa. É preciso olhar as reações do

mercado com bom senso para que a companhia se preserve. Os números de vendas caíram - e era

natural que isso ocorresse. Quero saber quem é o herói que consegue vender mais na crise. Eu não

sei como se faz isso. Quero aprender. Se você me ensinar, agradeço.

Trabalho seis dias por semana, numa média de 15 ou 16 horas por dia. Durmo 5, 6 horas e aca-

bou. O resto é trabalho. Isso tem sido minha rotina há 46 anos. Aos sábados, eu paro. É uma

bênção, porque é o único dia em que sou obrigado a parar. Aos sábados leio, me espiritualizo, con-

verso e passo meu tempo em casa. É o único dia em que estou livre, em que não sou escravo. Nos

outros dias da semana sou escravo, no bom sentido. Domingo é dia de produção normal.

Não revelo meu ponto fraco para ninguém. Não posso. O importante é não repetir os erros. Errar é

humano, perseverar no erro é diabólico. Se você repete um erro, você é burro.

Quando um negócio não dá certo, calo a boca, tento aprender com os erros e faço outra coisa.

Estou acostumado a perder e seguir em frente. Se não for humilde, vou apanhar mais. O humilde

sofre menos porque está acostumado a apanhar. Tive uma aula de religião muito boa ontem. Sabe

o que eu aprendi? “O que é este mundo? Por que Deus o criou?” A resposta a estas perguntas, em

uma palavra, é: teste. Sou testado o tempo todo como homem, pai, marido, empresário, constru-

tor. O teste vem para fazer evoluir, cada um em sua profissão, e deixar o mundo um pouco melhor

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do que quando chegamos aqui. Deus criou o homem imperfeito de propósito, para que ele possa

melhorar a si e ao mundo. Se você acerta mais do que erra, você já evoluiu. Se for o contrário,

você é um desastre.

Deus cria seres diferentes, com credos diferentes, para cada um, no fim, chegar a Ele à sua ma-

neira. Acredito em Deus e na missão humana. Qual a minha missão nesta Terra? Primeiro, fazer

o bem. Grande parte do meu patrimônio, não vou dizer quanto, irá para a caridade. Meu pai doou

100% do que tinha. Como isso dá um significado ao trabalho? Eu posso transformar o produto do

trabalho em dinheiro e depois usar o dinheiro para ajudar pessoas menos favorecidas. O dinheiro

pode ser santificado quando ajuda a salvar pessoas.

Estamos aqui com a missão de ligar o espiritual ao material. Na hora em que você ganhou um tos-

tão e esse tostão ajuda a salvar uma criança, você santificou e dignificou o dinheiro fruto de seu

trabalho. Nessa hora, tudo o que parece ser egoísta deixa de ser.

Hoje, Bill Gates e Warren Buffett são os maiores heróis do empresariado e da filantropia. Eles

deram o exemplo de como as coisas têm de ser e conseguiram unir as duas coisas. Ainda não está

claro o que eu vou fazer. Parte da minha missão é fazer com que o homem se aproxime mais de

Deus. Hoje, ser crente está um pouco fora de moda, mas isso está errado. A gente não pode ter

vergonha de acreditar em Deus. Se todos os homens fossem mais religiosos e respeitassem a ética

e o bem, não haveria tanta violência no mundo, nem maldade nem pobreza. O que precisamos é

fazer com que isso aconteça. Não é tão fácil, não é tão óbvio e não está na moda também. Mas

essa é a nossa missão.

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EPÍLOGO

PERSISTÊNCIA

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COMO MUDAR O FUTURO

“Nada neste mundo substitui a persistência. O talento não a substitui – nada é mais comum que

homens talentosos e fracassados. A genialidade não a substitui – gênios fracassados são quase

um provérbio. A cultura não a substitui – o mundo está cheio de cultos desventurados. A persis-

tência e a determinação são onipotentes. A palavra perseverar tem resolvido e sempre resolverá

todos os problemas da espécie humana”.

- Calvin Coolidge, Presidente dos Estados Unidos

Certa vez, li algo a respeito da vida de um personagem famoso da história mundial que julgo im-

portante e útil. Todos sabem que o conjunto de prêmios mais cobiçado do mundo é o Prêmio No-

bel, concedido para a mais destacada realização nas áreas de literatura, paz, economia, medicina e

ciências. Foi criado há um século por Alfred Nobel, um homem que viveu entre 1833 e 1896 e fez

fortuna produzindo explosivos.

Entre outras coisas, Nobel inventou a dinamite. O que motivou este sueco fabricante de munições a

dedicar sua fortuna a homenagear e recompensar aqueles que beneficiam a humanidade?

A criação dos Prêmios Nobel ocorreu por acaso. Quando faleceu seu irmão, um jornal publicou, por

engano, uma longa matéria de morte do próprio Alfred, acreditando que ele tivesse falecido. Nobel

teve, graças a este erro, uma oportunidade quase impossível a qualquer um: ler seu próprio obituá-

rio ainda em vida. Mas o que ele leu o horrorizou. O jornal o descrevia como o homem que tornara

possível matar mais pessoas em maior velocidade do que qualquer outro que jamais tinha vivido.

Naquele momento, Alfred Nobel percebeu duas coisas: que seria lembrado da forma como o jornal

noticiava, e que ele não desejava entrar deste modo para a história.

Pouco depois, ele estabeleceu a fundação que concederia os prêmios que levam seu nome. Hoje,

devido ao que ele fez, todos estão familiarizados com o Prêmio Nobel, ao passo que relativamente

poucos sabem como ele construiu sua fortuna.

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Na peça “Julio Cesar”, de Shakespeare , Marco Antônio diz a Brutus : “As boas obras que os homens

praticam são sepultadas com seus ossos. No entanto, só o mal sobrevive”. Marco Antônio estava erra-

do.

Pensar sobre como seria seu próprio obituário pode motivar alguém a repensar como está conduzindo

sua vida hoje.

Nenhum discurso no momento do enterro de alguém jamais disse como a pessoa se vestiu bem, as

extravagâncias que praticou, se teve férias fabulosas, se dirigiu um carro caríssimo ou construiu a casa

mais luxuosa das redondezas.

Nunca alguém foi elogiado após a morte por ter sido tão ocupado no trabalho a ponto de não achar

tempo para estar com os filhos.

Portanto, atitudes como um telefonema para alguém que está solitário, ter um ouvido atento a uma

pessoa com problemas, longas caminhadas com os filhos, dizer muito obrigado ao cônjuge, atos de

bondade e elevação, isto é a essência da vida!

As pessoas mais pranteadas não são as mais ricas ou mais famosas ou as mais bem-sucedidas. São as

que enriqueceram a vida de outros, as que foram bondosas e carinhosas, as que tinham elevado senso

de responsabilidade, faziam doações para caridade quando podiam ou davam seu tempo quando o

dinheiro era pouco, os que eram amigos leais e membros engajados na comunidade, os que foram

pessoas com as quais se podia contar.

O bem que fazemos permanece vivo depois que deixamos este mundo.

Para a maioria de nós, é o legado mais importante.

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Por isso,

Hoje eu compreendo quanto é importante para cada um de nós proporcionar a si mesmo a oportu-

nidade de recontextualizar, reengenhar a vida e estruturá-la sobre bases mais fortes do que aquelas

escolhidas no passado. Recomeçar melhor, sobre princípios e valores mais sólidos.

Havia um homem que, tendo desperdiçado sua vida por mais de quarenta anos com coisas sem

valor, dedicava, agora, duas ou três horas, todas as manhãs, à meditação e reflexão profunda nas

lições de um livro de sabedoria. Certo dia, alguém lhe questionou por que gastava tanto tempo

com o estudo quando podia empregá-lo em um negócio. Sua resposta foi:

- “Eu tenho muito tempo para recuperar! O que perdi no passado, estou salvando agora.”

Será possível salvar tempo perdido? Ninguém recupera tempo perdido. Mas o que este homem procu-

rava, agora, era resgatar o que perdera em futilidades. Como? Investindo uma parcela de sua existên-

cia em uma vida significativa.

Se antes não tínhamos consciência da grandeza e qualidade de vida que podemos usufruir, agora isso

pode tornar-se concreto. E é o que realmente importa. “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um

novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”, diz uma frase atribuída a um

sem número de possíveis autores.

enquanto há vida, um dos piores erros que se pode cometer é desistir de si mesmo.

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Buckminster Fuller olhava para a escuridão do Lago Michigan, em uma noite solitária de 1927.

Perdera a filha de 4 anos, Alexandra. Fora duplamente expulso de Harvard. Perdera sua empresa

e estava financeiramente arruinado. Em estado de depressão suicida, ele se perguntou: “Porque

sou este gigantesco fracasso?” Era pular ou pensar. Ele preferiu pensar.

Depois de muito raciocinar, concluiu que não tinha o direito de determinar sozinho o seu valor no

mundo e que era necessário entregar o seu destino à sabedoria divina. Pensou: “Tenho fé em Deus.

Eu é que sei, ou é Deus quem sabe se tenho algum valor para a integridade do universo?”

Neste momento, ouviu em seu interior uma resposta: “Você não sabe, e ninguém sabe, mas a fé

que você acabou de definir a partir de sua experiência, impõe o reconhecimento de saber a prio-

ri que você existe. Você não tem o direito de acabar com a sua vida. Você não se pertence, mas

pertence ao universo. Você faz parte de um plano no qual tudo faz diferença. Você nunca saberá

exatamente o quanto é importante, mas estará admitindo esta importância quando se dispuser a

converter todas as suas experiências em algo extremamente significativo e valioso para os outros.

Você e todos os seres humanos estão aqui para o bem da humanidade”.

A partir desse episódio, Bucky Fuller desenvolveu uma grande visão do seu propósito na vida e da

sua identidade como pessoa. Ele se autodenominou “explorador de projetos científicos antecipató-

rios de amplo espectro” – sua grande visão e missão. Foi engenheiro, projetista, arquiteto, escri-

tor, educador, filósofo e poeta. Inventou a cúpula geodésica, o carro Dymaxion e inúmeras outras

inovações, ficando conhecido no mundo inteiro como um dos principais pensadores e inventores

visionários do século XX.

Em 1968, o número de itens originais publicados com relação ao trabalho de Fuller já estava aci-

ma de 2100 por ano.

Dedicou uma boa parte da sua longa vida à concepção de cúpulas, em particular as geodésicas,

facilmente montáveis e desmontáveis, que podem funcionar como habitação, abrigo ou hangar.

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Em 30 anos foram construídas mais de trezentas mil, entre elas o Pavilhão Americano na EXPO 67,

em Montreal.

Quando, em 1985, Kroto, Smalley e Curl, três grandes cientistas, descobriram que a estrutura de

uma nova forma de carbono, C60, era um icosaedro truncado – uma das estruturas favoritas de

Buckminster Fuller – deram a ela o nome de Fullereno, em homenagem ao grande pensador.

NÃO DESISTA

Quando as coisas derem errado, como às vezes dão,

Quando a sua estrada parecer uma subida sem perdão,

Quando as dívidas forem altas e os recursos a expirar,

E você quiser sorrir e só conseguir suspirar;

Quando a preocupação for a única coisa diante da sua vista,

Descanse, se precisar, mas não desista!

A vida é caprichosa, vivem dizendo,

Conforme todos, um dia, acabam aprendendo,

E muitos dos que lutam, concluem desistindo

Quando teriam vencido se continuassem insistindo.

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Não desista, ainda que o seu progresso pareça lento.

Você pode conseguir, com outra investida a contento.

Muitas vezes o lutador deixa de perseverar

Quando a taça da vitória tão perto estava de conquistar

E acaba percebendo, já muito tarde,

Quando sobre a terra a lua lança sua luz prateada

Quão próximo ele estava da coroa dourada.

O sucesso é o avesso do fracasso!

Continue lutando, ainda que o mais duro golpe possa vir,

Porque quando piores estão as coisas, é aí que não se pode desistir.

- Charles M. Futrell

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Costumo fazer uma divertida experiência com as pessoas em minhas palestras. Seguro uma folha de

papel em branco com um pequeno ponto negro no centro, e pergunto a elas o que vêem. Quase sem-

pre dizem: um ponto preto. Digo então que aquele ponto representa muito menos de um por cento da

área daquela página. Ao olhar para este ponto com exclusividade, deixam de ver os mais de noventa e

nove por cento do papel que está em branco.

É por esse tipo de visão que as más notícias são notícias, ao passo que as boas raramente são nota-

das. Somos geneticamente determinados a notar de imediato as coisas diferentes, discrepantes ou

incomuns. O próprio fato de que percebemos o mal, mostra-nos que estamos rodeados pelo bem ou o

possuímos intrinsecamente. Talvez não o percebamos, da mesma forma como não vemos o papel em

branco ao redor do pontinho negro.

Se as boas notícias se tornarem novidade ou manchetes de primeira página, então teremos motivos

para nos preocupar.

Por que não tentar ver o mundo na posição certa?

Experimente ir a um parque sem seu telefone celular. Observe as crianças chutando as folhas caídas,

brincando e correndo. Tente lembrar-se de como o mundo parecia quando você tinha aquela idade.

Agora entenda que aquele mundo não mudou. É o mesmo mundo. Por que então você precisa mudar?

Recapitule a energia positiva que fluía em você como resultado daquela visão e das impressões que

mantinha.

Quando você estiver em um engarrafamento de trânsito, por exemplo, tente se aliviar da tensão que

porventura estiver lhe afetando – ouça uma palestra... grave-a num pendrive e leve consigo. Só não

permita arruinar-se por esta circunstância. Procure motivos para dar uma risada. Isso lhe deixará ani-

mado enquanto todos estão furiosos, numa hora em que a maioria está convencida de que os motoris-

tas estão desanimados e cansados. Atitudes assim lhe farão lembrar que o humor é muito mais huma-

no do que a raiva.

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Seja objetivo! Na próxima vez que for bombardeado por propagandas mostrando coisas que você não

tem, em vez de entregar-se aos desejos que são sugeridos e às fórmulas mágicas de felicidade, faça

um esforço e recorde-se de tudo o que você já tem. Alegre-se com isso. Gere contentamento com es-

tas coisas.

Se você achar que não tem nada, considere o puro milagre de estar vivo. Se não for bastante, abra a

janela e olhe para fora. Perceba que você tem olhos e eles podem ver. Pense que o mundo é bem aqui.

Vê-lo, agora, é, acima de tudo, um privilégio, afinal,

“Alegria é todos os dias que se pode ver a grama do lado de cima”.

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INFO

Sobre o autorAbraham Shapiro é palestrante, blogueiro há quase dez anos e escritor. Seu primeiro livro é: “Torta de

Chocolate Não Mata a Fome”.

Seus assuntos de sucesso: comportamento profissional, motivação, liderança, gestão e marketing. É

simples, prático, fácil de entender e objetivo. Sua comunicação ajuda a resolver questões do dia a dia.

Provavelmente você pensará que ele esteja falando sobre você, tamanha capacidade dele abstrair a

realidade e transformá-la em lição aplicável.

Desde 2007, seu blog foi um dos mais lidos por estudantes, profissionais, executivos e pessoas de

negócios do país e visitado em mais de 35 idiomas através da tradução automática do Google. Agora,

o PROFISSÃO ATITUDE transforma-se num portal de conteúdo.

Shapiro está há vinte anos em consultoria e coaching de Liderança e Modelos de Gestão, Trabalho em

equipe para o alcance de resultados e Desempenho profissional produtivo.

O conteúdo de seus trabalhos está sempre alinhado a objetivos e visões inovadoras para despertar

consciência e atitude nos leitores e ouvintes.

Milhares de pessoas já assistiram a suas palestras e efetivaram mudanças sem que ele fizesse mági-

cas, falasse besteiras, dançasse ou abordasse temas religiosos.

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Sua filosofia de trabalho é a soma de dois vetores:

[Esforço] + [Simplicidade]

Shapiro produz vídeos, artigos em revistas e jornais e o boletim de negócios com que tornou-se co-

nhecido no Paraná e Santa Catarina, difundido pela Rádio CBN e outras difusoras.

QUAL É O SEU POR QUÊ, SR. SHAPIRO?

“Eu acredito no esforço. Com o devido esforço, qualquer indivíduo produz resultados.

É um engano esperar da inteligência, do dinheiro, dos contatos, da formação acadêmica ou da ocasião

de mercado. Porém, crer no esforço para atingir o alvo, sim. Até mesmo o mais lento dos lentos pode

alcançar a grandeza. Como? Ao desejar conquistá-la com tamanha convicção e vontade, que chegue a

chorar por isso.”

– Abraham Shapiro

O QUE VOCÊ PODE FAZER?

Você pode imprimir este e-book e deixá-lo em seu café favorito, na sala de espera do seu médico ou

dentista.

Você pode transcrever as palavras do autor sobre uma calçada ou imprimi-las num papel e colá-las

numa parede.

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Você NÃO PODE alterar este texto de forma alguma.

Você NÃO PODE cobrar por ele.

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