costa val- resumo cap1- texto e textualidade
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COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. Resumo Capítulo 1:
Texto ou discurso: ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade
sociocomunicativa, semântica e formal.
Texto: unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação
sociocomunicativa.
São elementos desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, tais como: as intenções do
produtor; o jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro em
relação a si mesmo e ao tema do discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na
comunicação face a face.
Propriedades básicas do texto:
1) Contexto sociocultural – delimita os conhecimentos compartilhados pelos interlocutores, inclusive
quanto às regras sociais de interação comunicativa.
2) Unidade semântica – precisa ser percebida pelo recebedor como um todo significativo.
3) Unidade formal – constituintes lingüísticos integrados, de modo a permitir que o texto seja percebido
como um todo coeso.
Um texto será bem compreendido quando avaliado sob três aspectos:
1) Pragmático – funcionamento enquanto atuação informacional e comunicativa.
2) Semântico-conceitual – coerência.
3) Formal – coesão.
Textualidade – conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma
sequência de frases.
Beaugrande e Dressler (1983) – sete fatores responsáveis: coerência, coesão (material conceitual e
linguístico do texto), intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade
(fatores pragmáticos no processo sociocomunicativo).
Coerência: Configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes à superfície textual. Fator
fundamental da textualidade – responsável pelo sentido do texto. Envolve os aspectos lógicos, semânticos,
cognitivos.
Um texto é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o
conhecimento de mundo do recebedor.
Construção do sentido do texto: produtor / recebedor.
Receptor: pressuposição / inferência
Coesão: manifestação linguística da coerência. Maneira como os conceitos e relações subjacentes são
expressas na superfície textual. Responsável pela unidade formal do texto, constrói-se através de
mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos
verbais, conjunções, etc.) e lexicais (reiteração, substituição, associação).
Reiteração – simples repetição de um item léxico ou outros processos, como a nominalização (ex:
retomada, através de um substantivo cognato, da ideia expressa por um verbo – adiar/adiamento).
Substituição – feita pelos processos de sinonímia, antonímia, hiponímia (o termo substituído representa
uma parte ou um elemento e o substituidor representa o todo ou a classe – ex: carroça/veículo), hiperonímia
(o termo substituído representa o todo ou a classe e o substituidor uma parte ou um elemento – ex:
objeto/caneta).
Associação – relacionar itens do vocabulário pertinentes a um mesmo esquema cognitivo (ex: bolo,
velinha, presentes, alusivos ao mesmo evento).
Conectividade textual – interrelação semântica entre os elementos do discurso, garantida pela coerência e
pela coesão
Coerência – nexo entre os conceitos.
Coesão – expressão desse nexo no plano lingüístico.
O nexo nem sempre precisa estar explícito na superfície do texto por um mecanismo de coesão gramatical.
Pode ser apreendido no nível semântico-cognitivo.
Mecanismos de coesão – fatores de eficiência do discurso.
A presença de recursos coesivos interfrasais não garante textualidade.
Resumindo: o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as ideias. A explicitação
dessa relação através de recursos coesivos é útil, mas nem sempre obrigatória. Uma vez presentes,
esses recursos devem ser usados de acordo com regras específicas.
Intencionalidade e aceitabilidade referem-se aos protagonistas do ato de comunicação.
Intencionalidade: empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os
objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa.
Aceitabilidade: expectativa do recebedor de que o conjunto de ocorrências com que se defronta seja um
texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os
objetivos do produtor.
Situacionalidade: Elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em
que ocorre. Adequação do texto à situação sociocomunicativa.
É importante para o produtor saber com que conhecimentos do recebedor ele pode contar e que, portanto,
não precisa explicitar no seu discurso.
Coerência pragmática: necessidade de o texto ser reconhecido pelo recebedor como um emprego normal
da linguagem num determinado contexto.
Ex: Maria teve uma indigestão embora o relógio estivesse estragado. (Essa informação só fará sentido se o
interlocutor souber que Maria sofre de problemas gástricos de fundo nervoso e que passa mal sempre que
come tensa, preocupada com o horário).
Informatividade: O interesse do recebedor pelo texto vai depender do grau de informatividade de que o
último é portador. Medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no
plano conceitual e no formal.
Intertextualidade: Fatores que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro (s)
texto (s).
A unidade textual se constrói:
* No aspecto sociocomunicativo: através dos fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade,
situacionalidade, informatividade, intertextualidade)
* No aspecto semântico: através da coerência, informatividade, intertextulalidade.
* No aspecto formal: através da coesão.
Informatividade e intertextualidade, ao mesmo tempo que contribuem para a eficiência pragmática do texto,
conferindo-lhe interesse e relevância, também se colocam como constitutivos da unidade lógico-semântico-
cognitiva do discurso, ao lado da coerência.
"REDAÇÃO E TEXTUALIDADE", DE MARIA DA GRAÇA COSTA VAL
O livro “Redação e textualidade”, da autora Maria da Graça Costa Val, divide-se em duas partes: a primeira aborda o assunto texto, textualidade, coerência e coesão, fatores pragmáticos da textualidade e coloca alguns critérios para a análise da coerência e da coesão, como: a continuidade, a progressão, a não-contradição, a articulação e também a escritora aborda os critérios para a análise da informatividade, tais como: imprevisibilidade, suficiência de dados.
Já a segunda parte traz a análise de cem redações do vestibular da Universidade de Minas Gerais.
Nessa perspectiva, primeiramente a autora faz uma explicação para situar o leitor, a respeito do que vem a ser um texto, quais as características de um texto, quanto podemos chamar algo de texto e não apenas um amontoado de palavras.
Conforme a autora, para que um texto seja considerado texto é necessário que possua uma relação sociocomunicativa, semântica e formal; isso é muito importante, pois na segunda parte desse livro a escritora faz o estudo de algumas redações, e pode-se perceber que tais aspectos não são encontrados.
Um texto será bem compreendido quando ele atingir os seguintes fatores:
→ o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento enquanto atuação informacional e comunicativa;
→ o semântico-conceitual, de que depende sua coerência;
→ o formal, que diz respeito à sua coesão.
Entre os cinco fatores pragmáticos estudados , os dois primeiros se referem aos protagonistas do ato de comunicação: a intencionalidade e a aceitabilidade.
A intencionalidade , quer dizer a capacidade do produtor do texto, produzi-lo de maneira coesa, coerente, capaz de alcançar os objetivos que tinha em mente, em uma determinada situação de comunicação.
A aceitabilidade é se o que o produtor produziu pode ser considerado um texto, se alcançou o objetivo proposto quando chegou até o locutor, ou seja, pode-se ser considerado um texto, possui coerência, coesão, é relevante, traz informatividade, é útil para o leitor, tudo isso vai direcionar se realmente é um texto.
A situacionalidade, diz respeito à pertinência e relevância entre o texto e o contexto onde ele ocorre, isto é, é a adequação do texto à situação sociocomunicativa. É o que diz Maria da Graça Costa Val, “O contexto pode, realmente, definir o sentido do discurso e, normalmente, orienta tanto a produção quanto a recepção. Em determinadas circunstâncias, um texto menos coeso e aparentemente menos claro pode funcionar melhor, ser mais adequado do que outro de configuração mais completa”. (Costa Val, 1991, p.12)
Quanto à informatividade, aqui, vamos perceber o interesse do recebedor, pois, depende do grau de informação, para existir o interesse do leitor. Entretanto, Val faz um alerta, se o texto permanecer com elementos muito inusitados, correrá o risco do leitor não conseguir processá-la, então, fica o alerta, de produzir um texto mediano de informatividade.
Já o aspecto da intertextualidade, é a capacidade de relacionar o texto com outros textos já produzidos, assim, a utilização de um texto, depende do conhecimento de outros textos que já circulam socialmente. Muitos textos só têm sentido quando relacionados a outros textos.
O semântico-conceitual, de que depende sua coerência. A coerência do texto deriva de sua lógica interna, é o sentido do texto. A esse respeito menciona Costa Val: “É considerada fator fundamental da textualidade, porque é responsável pelo sentido do texto. Envolve não só fatores lógicos e semânticos, mas também cognitivos na medida em que depende do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores.” (Costa Val, 1991, p. 05)
Nessa perspectiva, um texto é considerado coerente quando partilhar informações também conhecidos pelo recebedor, isto é, conhecimentos que fazem parte da realidade de mundo desse leitor. Isso equivale a dizer que o texto não é pronto e acabado, mas vai adquirir sua complementação quando chega ao seu leitor. Assim, o leitor tem que deter de algumas informações para conseguir dá sentido ao texto.
O formal, que diz respeito à sua coesão. A coesão é a manifestação lingüística da coerência. Mas ela não é condição nem suficiência de coerência. Ela é responsável pela unidade formal do texto, constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.
Tal fato é comprovado nas análises das redações, porque o que é evidenciado é a preocupação com a estrutura formal. O que significa que os candidatos preocupam-se somente em fazer uma redação “certinha”, dividindo-a em três partes, ou seja, introdução, desenvolvimento e conclusão; sabemos que a escola enfatiza esse procedimento e também os cursinhos preparatórios de vestibular.
A preocupação centra-se apenas na estrutura como se o conteúdo não contasse, isto é, o semântico não é levado em consideração, o que ocasiona redações com falhas na coerência, coesão, informatividade, etc.
Nota-se na leitura das redações apresentadas é que muitas citam um determinado assunto, porém não dão continuidade; o assunto não é retomado, é simplesmente abandonado, ou o elemento é retomado a todo o tempo não dando progressão ao assunto, ficando sempre no mesmo lugar, parafraseando o que já foi dito.
Além disso, há falha no aspecto da contradição, pois muitas redações analisadas sobre o tema da violência social falam de fatos que não têm a ver com a nossa realidade. Muitos candidatos generalizam a violência social, colocando tal problema ocasionado pelos pobres, os menores abandonados, as favela, etc., como se todos os problemas sociais fossem por essas pessoas.
Finalmente, a articulação, aqui a autora fala como os fatos e conceitos se encadeiam no texto, ou seja, se as ideias se articulam umas com as outras; isso acontece quando o produtor do texto faz comentários, no entanto, não articula esses comentários, deixando o recebedor, leitor com dificuldade de entendimento.
Maria da Graça Costa Val chama a atenção do leitor para essas falhas e coloca esse problema como fruto de um estudo mecânico das redações na escola, ou seja, o professor pede que os alunos escrevam daquilo que eles não dominam, preocupando-se apenas com a estrutura dos textos, não proporcionando ao discente que desenvolva seu texto num processo natural, pois dessa maneira o estudante vai criando vínculo com a produção escrita, para que consiga desenvolver sua competência textual intuitiva.
Mas, ao contrário, a escola não proporciona isso aos alunos, e, sim, faz com que os discentes pensem que escrever é apenas colocar uma quantidade X de palavras em um tempo marcado, contado no relógio.
Assim, consoante Costa Val, é isso que gera essas falhas apontadas pela escritora, e também as condições a que esses candidatos são submetidos no ato de avaliação, no vestibular, fazendo com
que eles fiquem nervosos e não consigam refletir, colocando no papel o que estão acostumados a ouvir, o que está na boca de todos.
O intuito desse texto é que possamos refletir sobre um assunto muito importante, o ato da escrita, porque desse jeito não pode continuar; escrever por escrever não importa o quê, importando apenas com a estética do texto; sabemos que só a estrutura não é importante, aliás, o mais importante é o conteúdo, e que possa desenvolver esse conteúdo com competência, para que um texto seja considerado um texto relevante.