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CORTE ESPECIAL

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CORTE ESPECIAL

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AÇÃO PENAL N~ 33-0 - RS

(Registro n 2 92.0000027-4)

Relator: O Sr. Ministro Assis Toledo

Revisor: O Sr. Ministro Garcia Vieira

Autor: Ministério Público Federal

Réu: Celso 'Iesta

Advogados: Drs. Eduardo Ferrão e outros

Assistente: Dr. Alexandre Machado da Silva

Advogados: Drs. Henrique Fonseca de Araújo e outro

EMENTA: Ação penal originária contra Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Lesões corporais resultantes de agressão praticada em sessão ple­nária do Tribunal (art. 129, caput, do Cód. Penal).

Autoria e materialidade comprovadas. Defesa apoiada na tese da legítima defesa real ou, alternativamente, putativa. Não compro­vação de uma ou de outra, por ausência de injusta agressão real ou suposta e pela ocorrência de evidente excesso doloso na reação con­tra a pretensa provocação da vítima.

Procedência da denúncia para condenação do acusado, pelo cri­me do art. 129, caput, do Cód. Penal, a três meses de detenção, com sursis.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo-

tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, julgar proce­dente a denúncia, condenando o réu como incurso no art. 129, caput, do Código Penal à pena-base de 3 me­ses de detenção e, na ausência de

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causa de aumento ou de diminuição, tomando-a definitiva. Em conseqüên­cia, conceder a suspensão condicio­nal pelo prazo de 2 anos, sem condi­ção especial; deixar de converter a pena em multa por considerar que esta última seria insuficiente para reprovação do fato, se considerada a circunstância em que ocorreu e a qualidade do agente, tudo nos ter­mos do voto do Ministro-Relator. Vo­taram de acordo os Ministros Garcia Vieira, Revisor, Edson Vidigal, Wal­demar Zveiter, Fontes de Alencar, Cláudio Santos, Anselmo Santiago, José Dantas, Antônio 'Ibrreão Braz, Bueno de Souza, José Cândido de Carvalho Filho, Américo Luz, Jesus Costa Lima, Costa Leite, Nilson Na­ves, Eduardo Ribeiro, Dias Trindade e José de Jesus. O Ministro Antônio de Pádua Ribeiro não participou do julgamento. Os Ministros Hélio Mo­simann, Peçanha Martins, Pedro Acioli e Cid Flaquer Scartezzini não compareceram à sessão por motivo justificado. Os Ministros Edson Vi­digal e Anselmo Santiago compare­ceram à sessão para compor quo­rum regimental. Sustentaram, oral­mente, os Drs. Paulo André Fernan­do Sollberger, pelo Ministério Públi­co Federal, Henrique Fonseca de Araújo, Assistente do Ministério Pú­blico Federal, e Eduardo Ferrão, pe­lo réu.

Brasília, 21 de março de 1994 (da­ta do julgamento).

Ministro WILLIAM P ATTERSON, Presidente. Ministro ASSIS TOLE­DO, Relator.

Publicado no DJ de 18-04-94.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ASSIS TOLE­DO: O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Celso 'res­ta, Conselheiro do Tribunal de Con­tas do Estado do Rio Grande do Sul, pelo crime de lesões corporais (art. 129, caput, do Código Penal), assim relatando o fato:

"2. Na Sessão Plenária de 4 de setembro de 1991, o Tribunal de Contas votava a 'Ibmada de Con­tas da Brigada Militar do Estado, exercício de 1984, sendo Relator o denunciado, Conselheiro Celso 'resta.

3. A certa altura do julgamen­to, o Conselheiro Alexandre Ma­chado da Silva suscitou questão de ordem, da qual se originou ás­pera troca de palavras entre S. Excia. e o denunciado. Este, ino­pinadamente, levantou-se e pas­sou a agredir com socos na cabe­ça o Conselheiro Alexandre, que permaneceu sentado sem poder levantar-se, até que a agressão cessou pela intervenção de outros Conselheiros, tendo o Conselhei­ro Porfírio Peixoto contido o de­nunciado e o Conselheiro Marce­lo Tostes ajudado a vítima a levantar-se de sua cadeira.

4. A agressão produziu na víti­ma as lesões corporais descritas no laudo de fls. 04." (Fls. 2/3).

O laudo pericial, a que se reporta a denúncia, foi positivo para lesões corporais, registrando a existência

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de escoriações e equimoses no corpo da vítima.

Recebida a denúncia, em sessão da Corte Especial de 14/5/92 (fls. 86), seguiu-se a instrução.

No interrogatório judicial, o acu­sado dá sua versão da ocorrência, nestes termos:

" ... Conselheiro Alexandre Macha­do, há algum tempo vinha agre­dindo verbalmente não só o de­nunciado como também a outros conselheiros e auditores; que na data descrita na denúncia o inter­rogando em sessão da Corte ini­ciou o exame das contas da Briga­da Militar do Estado, referentes ao exercício de 84 e 85. E nessa ocasião, o Conselheiro Alexandre, se encontrava sentado na cadeira ao seu lado; que tanto a cadeira do Conselheiro Alexandre, como aquela usada pelo interrogando era do tipo giratório; que logo no início dos trabalhos, o Conselhei­ro Alexandre interpelou o interro­gando sobre o exame conjunto de contas referentes a dois exercícios, mas com o mesmo ordenador de despesas; após breve debate, o in­terrogando concordou em dividir o exame dessas contas, passando a fazer o relato sobre as contas do exercício de 84; terminado este re­latório o Conselheiro volta a inter­pelá-lo sobre se ia ou não passar ao exame do exercício de 85; que em resposta o interrogando pediu ao Conselheiro Alexandre que ti­vesse calma, pois acabara de fazer o relato do exercício de 84 e em seguida passaria ao exame da

matéria restante; que na ocasião, o interrogando declarou que o Conselheiro Alexandre estava muito nervoso, ao que este retru­cou, que nervoso era o interrogan­do, nesse momento, houve troca de palavras em tom alto entre ambos, ocasião em que o Conse­lheiro Alexandre girou a cadeira em que estava sentado atingindo as pernas do interrogando; que o interrogando então se levantou tendo sido agarrado em sua toga pelo Conselheiro Alexandre; que quando o Conselheiro Alexandre agarrou-o pela toga, levantou o pé encostando-o no ventre do interro­gando; nessa ocasião, houve agres­sões recíprocas entre o interrogan­do e o Conselheiro Alexandre, com troca de tapas de lado a lado;" ... (Fls. 116/117).

Deferi as provas requeridas na defesa prévia, vindo para os autos levantamento e laudo pericial do re­cinto do 'fribunal de Contas onde se deu o fato (fls. 133 e segs.), bem co­mo texto de degravação de fita cas­sete da 42!! sessão plenária do 'fribu­naI de Contas, realizada em 4/9/91 (fls. 150 e segs.).

Como prova de acusação, ouvi­ram-se a vítima (fls. 212) e as teste­munhas Conselheiro Marcelo Morei­ra 'lbstes (fls. 216), Conselheiro Por­fírio Peixoto (fls. 220), funcionários do 'fribunal de Contas Rui Moreira da Silva (fls. 224) e Murilo Timm (fls. 227) e o advogado Thales Bastos de Araújo (fls. 230).

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Como prova de defesa, foram ou­vidos Ricardo Goulart J ahn (fls. 304), Deputado Jorge Alberto Men­des Ribeiro (fls. 346), Senador Pedro Simon (fls. 348), Conselheiro Algir Lorenzon (fls. 403), Milton Renato Varella de Mello (fls. 408), Décio An­tônio Hartmann (fls. 409) e Conse­lheiro Romildo Bolzan (fls. 420).

No prazo do art. 499 do CPP (arts. 226 do Regimento Interno e 10 da Lei 8.038/90), nenhuma diligência foi requerida, limitando-se a defesa a juntar recortes de jornais com notí­cias sobre a ocorrência objeto da de­núncia (fls. 454 e segs.).

Em alegações finais manifesta­ram-se o Ministério Público (fls. 469/478) e o Assistente (fls. 480/495).

Sustenta o primeiro, em síntese, que as testemunhas oculares do fa­to são convergentes ao confirmar, sem exceção, a agressão praticada pelo acusado contra a vítima, que fi­cara semi-inconsciente "ante a vio­lência e o inesperado da agressão".

Examina a prova e conclui pedin­do a condenação.

O segundo, após exame extenso e detalhado da prova, conclui no mes­mo sentido, pedindo a condenação do réu nas penas do art. 129 do Código Penal, levadas em conta as circuns­tâncias do art. 59 e a agravante pre­vista na letra c, n, do art. 61.

A defesa ofereceu, igualmente, suas alegações finais sustentando a improcedência da acusação.

Salienta, inicialmente, o seguinte:

"1. A prova colhida no curso da instrução longe está - e muito

longe! - de emprestar conforto à pretensão condenatória. Se é ver­dade que autoria e materialidade do fato imputado emergem dos autos como incontroversas, não menos certo é que suas reais cir­cunstâncias norte adoras desauto­rizam, in totum, a procedência da peça inaugural.

2. Cumpre ressaltar, ab initio, como dado eloqüentemente sinto­mático, que a acusação, tanto em sua vertente oficial como em sua manifestação particular, pratica­mente delimitaram o âmbito de suas alegações finais à reprodução fragmentada da prova testemu­nhal, mediante a transcrição de trechos de depoimentos. Não pro­cederam à leitura de todos os ter­mos e de todas as peças. Talvez por isso tenham laborado em im­precisões desta natureza:

a) às fls. 469/470 Sua Excelên­cia o Subprocurador-Geral da Re­pública, em suas alegações finais, assevera que Todas as testemu­nhas sem qualquer exceção - con­tam basicamente a mesma histó­ria: após áspera troca de palavras o réu levantou-se de sua cadeira e passou a agredir com socos a víti­ma que permaneceu sentada, sem levantar-se ou defender-se ...

Permissa maxima venia, tal afirmação não é verdadeira! Ou, pelo menos, é frontalmente desau­torizada pelas declarações da tes­temunha Ricardo Goulart J ahn, Auditor do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, que assim narra o episódio:

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... que o depoente ficou atônito quando percebeu que os Conse­lheiros antes referidos se engal­finharam, podendo perceber que ambos estavam, já nessa ocasião, em pé, sendo apartados por outros Conselheiros ... (v. fls. 304).

Ora, não é de ignorar-se que a expressão engalfinhar-se é deno­tativa de briga, de contenda, cir­cunstâncias que pressupõem, ne­cessariamente (até mesmo por seu conteúdo semântico), reciprocida­de de gestos agressivos. Assim, resta nítido que não procede a alegação de que todas as testemu­nhas - sem qualquer exceção -contam basicamente a mesma his­tória ... Portanto, ao deduzi-la, a acusação não homenageia o con­junto probatório em toda sua am­plitude. Ao contrário, labora nu­ma mutilação indesculpável!

b) por outro lado, a douta assis­tência da acusação, ao concluir suas eruditas razões finais, pro­pugna por veredito condenatório com reconhecimento de circuns­tância agravante que sequer foi objeto de articulação específica na denúncia (v. fls. 495)." (Fls. 501/502).

Faz um confronto entre a condu­ta pretérita do acusado e do ofendi­do, afirmando que este último sem­pre se revelou "polêmico, explosivo, temperamental, violento", enquanto que o primeiro se apresentava como "bem educado, culto, de fino trato".

'Iece considerações sobre o cenário e as circunstâncias do dia da ocor­rência. Afirma que houve provocação da vítima e, finalmente, expõe a te­se de defesa com este raciocínio:

"O movimento brusco feito pe­la vítima, virando-se para o lado do Acusado e batendo nas pernas deste, autoriza a conclusão por uma dentre as duas hipóteses possíveis:

a) ou a vítima pretendeu efeti­vamente agredir o Acusado por baixo da mesa, de tal sorte que o fez de forma imperceptível para as testemunhas;

b) ou a vítima simplesmente pretendeu virar-se e, inopinada e inadvertidamente, acabou baten­do com os pés nas pernas do acu­sado.

A prosperar a primeira hipóte­se, a reação do Acusado estaria sob o pálio da legítima defesa real, eis que presentes os requisi­tos da atualidade e da injustiça da agressão, bem como da mode­ração no emprego dos meios ne­cessários à defesa.

Se a verdade material abrigar a segunda hipótese, evidente se mostra a configuração, na reação do Réu, da legítima defesa puta­tiva. Afinal, o clima de tensão existente no local, os antecedentes da vítima e a conduta desta vi­rando-se repentinamente e baten­do-lhe nas pernas, geraram para o Acusado a convicção de que es­tava sendo agredido. As circuns-

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tâncias, no caso, justificam plena­mente o erro de percepção da rea­lidade." (Fls. 507).

Ao ver da defesa, as escoriações no punho esquerdo da vítima deno­tam sua ação ofensiva e a equimose na região temporal esquerda indica sua posição de frente para o acusa­do.

Conclui pedindo a absolvição, nos termos do art. 386, V e VI, do Códi­go de Processo Penal.

Com o relatório, encaminhem-se os autos ao Ministro-Revisor (§ 12 do art. 228 do Regimento Interno).

VOTO

O SR. MINISTRO ASSIS TOLE­DO (Relator): A autoria e a materia­lidade do fato não são negadas pela defesa. Nem poderiam sê-lo porque estão comprovadas pela fita grava­da que registrou a sessão da Corte e pelo laudo de exame de corpo de de­lito.

Diz o acusado que fora provocado pela vítima e - mais que isso -chegou a ser atingido em suas per­nas, por baixo da mesa, por um mo­vimento brusco. O Conselheiro Ale­xandre, durante acalorados debates, "girou a cadeira em que estava sen­tado atingindo as pernas do interro­gando" (fls. 116).

O laudo de fls. 136/145 revela ser pouco provável que isso tivesse real­mente acontecido, já que as cadeiras

guardam entre si uma distância de 50 centímetros. Mas como se trata de poltronas giratórias com encosto, braços e assento estofados (ver fotos de fls. 143/145), eventual esbarrão nas pernas do acusado seria bastan­te amortecido e, portanto, não teria o condão de justificar a reação agres­siva por ele desencadeada contra a vítima.

Veja-se como relata o lamentável episódio a testemunha ocular, Con­selheiro Marcelo Moreira lbstes:

" que o depoente estava presente à sessão, quando se tratava de um processo da Brigada Militar; ra­zões que desconhece imediatamen­te, fizeram que os dois Conselhei­ros alterassem suas vozes, mo­mento que, pelo fato inusitado da­quela alteração, o depoente olhou onde assentavam-se os dois Con­selheiros e, imediatamente após, ao retornar seu olhar para o Ple­nário, viu que se estabelecia um tumulto de alguém que se levan­tava açodadamente; foi quando percebeu que iniciava uma agres­são do Senhor Conselheiro Celso Testa contra o Conselheiro Ale­xandre Machado, que estava sen­tado. Vencido o primeiro momen­to de surpresa do depoente, notou que se intensificava o pugilato, es­tando nítidas as desvantagens do Senhor Conselheiro Alexandre Machado, porque continuava sen­tado, e o Senhor Celso Testa em pé desferia socos em seqüência contra a cabeça do Senhor Ale-

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xandre Machado; talvez porque seja o depoente de formação mé­dica, percebeu a gravidade do fa­to e correu em direção aos dois, buscando interferir de tal sorte a pôr fim em tal agressão. Nesse momento em que se aproximava dos dois Conselheiros, o depoente, entre os dois, segurou o Conse­lheiro Alexandre Machado, se pondo de costas para o Conselhei­ro Celso Testa, e impedindo, com o corpo, que fosse novamente atingido o Senhor Alexandre Ma­chado; que o depoente tentou re­tirar o Conselheiro Alexandre da cadeira, levantando os dois bra­ços, no que já foi auxiliado por ou­tra pessoa - ao que lhe pareceu, o Conselheiro Porfírio. Ao levan­tar o Conselheiro Alexandre, gi­rou com ele 180 graus, e gritou várias vezes o nome dele, pois o mesmo estava, usando termo mé­dico, "semi-obnubilado", e não conseguia identificar o que esta­va acontecendo, nem a identifica­ção de pessoa a pessoa. Ao mesmo tempo em que segurava o Conse­lheiro Alexandre, viu que, ao seu lado, o Conselheiro Celso Testa ainda desferia socos no Conselhei­ro Alexandre Machado, por cima da cabeça do depoente, mas veri­ficou que o Conselheiro Porfírio Peixoto já segurava o Conselhei­ro Celso Testa." (Fls. 217/218).

Essa versão, que evidentemente não apóia as alegações de defesa do acusado, está confirmada por outra importante testemunha ocular - o

Conselheiro Porfírio Peixoto -, cita­da pelo Conselheiro Marcelo Morei­ra 'Ibstes como aquele que o ajudou a socorrer a vítima.

Eis o que diz o segundo Conse­lheiro:

" ... que houve uma discussão ás­pera entre os dois e logo a seguir o Conselheiro Testa agrediu o Conselheiro Alexandre; que o Conselheiro Celso Testa sentava ao lado do Conselheiro Alexandre, que, por ocasião da agressão, o Conselheiro Celso Testa se levan­tou e passou a agredir o Conse­lheiro Alexandre Machado, que estava sentado; que o Conselhei­ro Celso Testa desferiu alguns so­cos mais na cabeça do Conselhei­ro Alexandre Machado; que a agressão durou alguns segundos; que o depoente procurou segurar o Conselheiro Celso Testa; que o declarante, juntamente com ou­tras pessoas, conseguiu afastar o Conselheiro Celso do Conselheiro Alexandre, e aí se apaziguaram os ânimos;" ... (Fls. 221).

Outra testemunha ocular, o fun­cionário Rui Moreira da Silva, corro­bora essa mesma versão:

" ... que o Conselheiro Celso Testa era o relator de ambos os proces­sos; que, nesta ocasião, o Conse­lheiro Celso Testa se incomodou com a manifestação do Conselhei­ro Alexandre Machado e lhe dis­se que este estava "muito nervo­sinho"; que, aí, o Conselheiro Ale-

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xandre retrucou ao Conselheiro Celso 'resta com a seguinte frase: "nervosinho está Vossa Excelên­cia"; que, nesta ocasião, o Conse­lheiro Celso 'resta levantou-se de seu lugar e, dando impressão de que iria se retirar do Plenário, fez um gesto como se estivesse arru­mando a beca e desferiu um vio­lento soco, de cima para baixo e da esquerda para a direita, atin­gindo o lado direito da cabeça do Conselheiro Alexandre; que os Conselheiros Celso 'resta e Ale­xandre Machado estavam senta­dos lado a lado na bancada; que, logo em seguida, o Conselheiro Celso desferiu vários socos, atin­gindo, normalmente, o rosto do ofendido; que o Conselheiro Ale­xandre Machado continuou na po­sição sentada, em sua cadeira;" ... (Fls. 224).

No mesmo sentido a testemunha ocular Murilo Timm:

" ... que o Conselheiro Celso 'resta, dirigindo-se ao Conselheiro Ale­xandre Machado, usou uma ex­pressão tal como: ''Vossa Excelên­cia está nervosinho", ao que o Conselheiro Alexandre Machado respondeu: "nervosinho está Vos­sa Excelência"; que, nesta ocasião, o Conselheiro Celso 'resta levan­tou-se de seu lugar, sendo que o mesmo se encontrava sentado ao lado do Conselheiro Alexandre Machado da Silva, ajeitou a toga e, em seguida, desferiu um soco, de cima para baixo, no Conselhei-

ro Alexandre Machado, que esta­va sentado, tendo o depoente cer­teza de que o soco atingiu algum ponto da cabeça do ofendido, pa­recendo-lhe ter sido na parte su­perior direita;" ... (Fls. 227/228).

As demais testemunhas presentes não discrepam dessa versão, como se pode ver pelos depoimentos do advo­gado Thales Bastos de Araújo Cha­ves (fls. 230), do Conselheiro Algir Lorenzon e do Presidente da Corte, Conselheiro Romildo Bolzan.

Este último, depondo em juízo, a fls. 420, foi textual:

" ... que, na referida sessão, en­quanto estava sendo relatada a referida tomada de contas, o Con­selheiro Alexandre fez uns dois apartes, bem como, levantou questão de ordem de natureza processual; que, em seguida, hou­ve entre os referidos Conselheiros, isto é, Celso 'resta e Alexandre Machado da Silva, uma troca de palavras não regimentais e, às ve­zes, que até poderiam ser conside­radas irônicas; que, após alguns segundos de silêncio, o Conselhei­ro Celso 'resta, que estava senta­do ao lado do Conselheiro Alexan­dre Machado da Silva, levantou­se, desferindo dois ou três tapas que atingiram o Conselheiro Ale­xandre Machado da Silva; que, neste instante, como Presidente da Sessão, pediu calma aos refe­ridos Conselheiros, sendo também que os demais Conselheiros se co­locaram entre os dois; que o Con-

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selheiro Alexandre Machado da Silva permaneceu sentado, mas esclarece que o mesmo fez movi­mentos com braços e pernas, não podendo precisar se o mesmo es­tava apenas se defendendo ou en­tão reagindo."

Note-se que o Presidente Romildo Bolzan depôs como testemunha de defesa.

Outras testemunhas de defesa, Deputado Jorge Alberto Mendes Ri­beiro (fls. 346), Senador Pedro Si­mon (fls. 348), Milton Renato Varel­la de Mello (fls. 408) e Décio Antônio Hartmann (fls. 409), não presencia­ram os fatos. E o depoimento de Ri­cardo Goulart Jahn (fls. 304), a que se apega a defesa, r~sta isolado nos autos quando afirma "que os conse­lheiros antes referidos se engalfinha­ram". Mas, mesmo assim, esse de­poimento não deixa de registrar que a iniciativa da agressão coube ao acusado (fls. 304).

Penso que, diante dessa prova ro­busta, ficou sobejamente demonstra­da a procedência da denúncia. O acusado, efetivamente, sem motivo justo, no calor de um debate acirra­do e talvez pouco regimental, partiu para a agressão causadora das le­sões constatadas pelo laudo pericial, no corpo da vítima, consistentes em escoriações e equimoses, portanto le­sões dolosas simples ou leves (art. 129, caput, do Código Penal).

A legítima defesa, real ou putati­va, não ficou provada, seja pela ine­xistência da injusta agressão, atual

ou iminente (art. 25 do Código Pe­nal), seja porque não se demonstrou a ocorrência de qualquer indício de razoável suposição, pelo acusado, de situação de fato que, se existente, tornaria legítima a sua conduta.

Aliás, mesmo que se reconheça a presença de alguma provocação por parte da vítima, pela forma em que se desenvolveram os debates em ple­nário, isso não bastaria para autori­zar a legítima defesa. Primeiro, pela imoderação na reação; segundo, pe­lo caráter doloso do excesso na con­duta de quem prossegue na agressão mesmo depois de separado da vítima pela interferência de terceiros.

Passo à dosimetria da pena.

As circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal) são favoráveis ao acusado, em sua maioria. Pelos elementos dos autos, é primário e de bons antecedentes. Fixo, pois, a pe­na-base privativa da liberdade em três meses de detenção, mínimo do art. 129, caput.

Não vejo caracterizada a agravan­te da surpresa ou traição (art. 61, II, c), pedida pelo Assistente, porque o fato ocorreu no calor dos debates.

Assim, na ausência de causa de aumento ou diminuição, torno defi­nitiva a pena de três meses de de­tenção. Em conseqüência, concedo a suspensão condicional, sem condição especial, pelo prazo de dois anos. Deixo de converter a pena em mul­ta, por considerar que esta última seria insuficiente para a reprovação de um fato tão grave, se considera­das as circunstâncias em que ocor­reu e a qualidade do agente.

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Entre a data do fato (4/9/91) e o recebimento da denúncia (14/5/92) e desta até a presente data, não decor­reu o prazo prescricional de dois anos.

Em conclusão, julgo procedente a denúncia para condenar o acusado, pelo crime do art. 129, caput, do Código Penal, à pena de três (3) me­ses de detenção, com sursis pelo pra­zo de dois anos.

É como voto.

VOTO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA (Revisor): Sr. Presidente. Mate­rialidade e autoria estão comprova­das. A primeira pelo auto de exame de corpo de delito (fls. 10) e a segun­da por testemunhas idôneas, Conse­lheiros e Assessores do Egrégio Tri­bunal de Contas que assistiram aos fatos. 'lbdas as testemunhas de acu­sação e até algumas da defesa, con­firmaram que, na Sessão Plenária do Tribunal, realizada no dia 04 de setembro de 1991, após ligeiros e acalorados debates entre o denuncia­do e a vítima, o prim.eiro agrediu o Conselheiro Alexandre Machado, com vários socos, quando este esta­va sentado. A agressão continuou mesmo após a intervenção dos cole­gas e de estar a vítima sendo socor­rida pelo Conselheiro Marcelo 'lbs­teso A agressão produziu no Conse­lheiro Alexandre as lesões constata­das pelo auto de exame de corpo de delito. As testemunhas ouvidas, em depoimentos claros, harmônicos, con-

tundentes e convincentes, não deixa­ram a menor dúvida sobre o fato ob­jeto da denúncia. São significativos e não deixam a menor dúvida sobre os socos desferidos pelo réu contra a vítima que, durante toda a agressão, permaneceu sentada. A ação crimi­nosa foi perpetrada na presença de várias testemunhas. Elucidativos são os depoimentos das testemunhas Rui Moreira da Silva (fls. 19 e 224/226), Ornar Jacques Amorim (fls. 21), Murilo Timm (fls. 22/23 e 227/229), Thales Bastos de Araújo Chaves (fls. 25/26 e 230/232), Mar­celo Moreira Tostes (fls. 216/219), Porfírio Peixoto (fls. 220/222) e da própria vítima (fls. 212/215), além de cópia da ata da sessão em que o de­nunciado agrediu o Conselheiro Ale­xandre (doc. de fls. 29/43).

O Conselheiro Porfírio Peixoto, testemunha ocular, esclareceu que:

" ... houve uma discussão áspe­ra entre os dois e logo a seguir o Conselheiro 'Iesta agrediu o Con­selheiro Alexandre; que o Conse­lheiro Celso 'Iesta sentava ao la­do do Conselheiro Alexandre; que, por ocasião da agressão, o Conse­lheiro Celso 'Iesta se levantou e passou a agredir o Conselheiro Alexandre Machado, que estava sentado; que o Conselheiro Celso 'Iesta desferiu alguns socos mais na cabeça do Conselheiro Alexan­dre Machado; que a agressão du­rou alguns segundos; que o de­poente procurou segurar o Conse­lheiro Celso 'Iesta; que o declaran­te, juntamente com outras pes-

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soas, conseguiu afastar o Conse­lheiro Celso do Conselheiro Ale­xandre, e aí se apaziguaram os ânimos ... " (fls. 221)

Apesar de todo o esforço e brilho, não conseguiu a defesa ilidir a acu­sação, permanecendo íntegra a de­núncia. Não restou caracterizada a legítima defesa. Não se provou ne­nhuma agressão da vítima ao de­nunciado e muito menos injusta, atual ou iminente. Debates, ainda que acalorados, em sessão de tribu­nal, jamais justificam agressão a so­cos a um de seus membros. Foi uma agressão selvagem, criminosa e in­justa. A legítima defesa putativa também não restou caracterizada. Nenhuma circunstância existiu ca­paz de levar o denunciado a supor estas em face de agressão injusta (arts. 20, § I!!, 1~ parte e 21). Deba­tes acalorados em julgamentos nos tribunais são comuns e não justifi­cam sequer agressões verbais e mui­to menos físicas.

Não resta a menor dúvida de que o denunciado ofendeu a integridade corporal da vítima e cometeu o cri­me de lesões corporais (art. 129, ca­put).

Como o denunciado é primário, de bons antecedentes, e lhes são favo­ráveis quase todos os pressupostos contidos no artigo 59, sua pena-ba­se deve ser fixada no mínimo legal, e, por ausências de agravantes ou atenuantes, torná-la definitiva.

Assim sendo,

Julgo procedente a denúncia e condeno o denunciado, qualificado às

fls. 116, a três (03) meses de deten­ção, pelo crime do artigo 129, caput, do Código Penal, com sursis pelo prazo de dois anos.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: Senhor Presidente, rece­bi o memorial a que fez referência o nobre Relator. De sua leitura con­venci-me, assim como Sua Excelên­cia, de que, embora brilhante, a de­fesa não conseguiu elidir a peça acu­satória.

Por isso, pedindo vênia ao seu no­bre subscritor, acompanho os votos proferidos até agora, acolhendo a de­núncia, para julgar procedente a Ação Penal, nos termos do voto do Senhor Ministro-Relator.

VOTO

O SR. MINISTRO CLÁUDIO SANTOS: Sr. Presidente, li com atenção as peças do minucioso dos­siê que nos foi distribuído, assim co­mo ouvi, também, com toda atenção, as doutas considerações desenvolvi­das nesta assentada pelo Eminente Representante do Ministério Públi­co Federal, seu assistente de acusa­ção, bem assim da eloqüente e dou­ta defesa aqui proferida.

Estou convicto de que, realmente, a prova coletada corrobora os fatos delituosos narrados na denúncia, co­mo aliás demonstrado no voto do Eminente Relator, bem assim no do Sr. Ministro-Revisor. De tal sorte,

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estou de acordo com S. Exas. e as­sim acompanho, em sua extensão, os votos do Sr. Ministro-Relator e do Sr. Ministro-Revisor.

VOTO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO TORREÃO BRAZ: Sr. Presidente, as provas da materialidade e da auto­ria são indiscutíveis. Ademais, não restou comprovada causa de exclu­são da ilicitude ou da culpabilidade. É verdade que ressuma dos autos ser a vítima um provocador de situa­ções de confronto, mas, no caso, as suas provocações não seriam de mol­de a autorizar o violento revide do acusado, que se excedeu e revelou ser portador de personalidade vio­lenta.

Acompanho o Ministro-Relator.

VOTO

O SR. MINISTRO AMÉRICO LUZ: Sr. Presidente, acompanhei de­tidamente as colocações feitas pelo Ministério Público e pelos Advogados e não tenho dúvida em fixar a pena em três meses de detenção, grau mí­nimo, afastada a agravante de trai­ção e surpresa, e conceder a suspen­são condicional da pena, nos termos dos votos proferidos pelos eminentes Ministros-Relator e Revisor.

VOTO

O SR. MINISTRO JESUS COSTA LIMA: De início, registro a excelên-

cia da sustentação oral que acaba de fazer o ilustre advogado encarrega­do da defesa do acusado.

No entanto, quem está denuncia­do, sendo processado e julgado, é o Conselheiro Celso Testa por fatos ocorridos no recinto do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul e durante uma sessão de julga­mento, e não a vítima, o Conselhei­ro Alexandre Machado por fatos ou condutas anteriores sem nenhuma relação de causa e efeito com a in­fração penal de que se trata.

A Defesa não nega a materialida­de e a autoria.

A perícia comprovou as lesões.

O eminente Ministro-Relator de­monstrou, em seu douto voto, que as agressões verbais e física correm por conta e iniciativa do acusado e realizadas de modo injusto. Ainda se admita tenha ocorrido o choque das pernas por baixo das poltronas, o re­vide foi excessivo, descaracterizan­do a pretendida legítima defesa a ri­gor do disposto no art. 25 do Código Penal.

Com essas considerações, acompa­nho o voto do Ministro-Relator.

VOTO

O SR. MINISTRO EDUARDO RI­BEIRO: Sr. Presidente, a bela defe­sa, uma das melhores que já ouvi neste Plenário, convenceu-me de que, realmente, é possível terem ocorrido aquelas provocações, mas, como o Relator mostrou muito bem,

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houve revide que foi muito além do que se poderia tolerar, razão por que também o acompanho.

VOTO

O SR. MINISTRO DIAS TRINDA­DE: Sr. Presidente, faço minhas as palavras do Ministro Eduardo Ribei­ro a respeito da brilhante defesa fei­ta pelo nobre advogado do réu.

O laudo do exame de corpo de de­lito, no entanto, não autoriza a con­clusão que pretendeu tirar o nobre advogado, porquanto demonstra que a vítima não se achava em posição de agressão ao réu, para justificar uma eventual legítima defesa. Até o gesto que S. Exa. fez da tribuna, de que a lesão verificada seria na face da mão fechada, como se estivesse

mesmo a agredir, não está corrobo­rada pelo laudo, uma vez que este diz que a lesão é na borda cubital do punho esquerdo.

Há notícia de uma lesão no quar­to quirodáctilo esquerdo, mas sem descrever que lesão era essa. E as outras lesões descritas são uma equimose na região temporal esquer­da e na frontal direita da vítima. Não há, de modo algum, como admi­tir-se a condição de agressão à víti­ma nesse momento.

A prova, bem examinada pelo Sr. Ministro-Relator, demonstra que, realmente, ainda que houvesse pos­sibilidade dessa primeira agressão por baixo da mesa, o réu se excede­ra no revide.

Acompanho o Sr. Ministro-Rela­tor.

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