conversÃo de bovinocultura leiteira convencional em biodinÂmica no sÍtio paiol fundo - cunha - sp

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UNIVERSIDADE DE UBERABA INSTITUTO ELO DÉBORA TIEKO PARLATO SAKIYAMA CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP BOTUCATU - SP 2011

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Trabalho de Conclusão de Curso - TCC do Curso de Especialização em Agricultura Biológica Dinâmica 2011. Universidade de Uberaba (Uniube) / Instituto Elo - Botucatu - SP, Brasil

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Page 1: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

UNIVERSIDADE DE UBERABA INSTITUTO ELO

DÉBORA TIEKO PARLATO SAKIYAMA

CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

BOTUCATU - SP 2011

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DÉBORA TIEKO PARLATO SAKIYAMA

CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

Trabalho de conclusão apresentado à Universidade de Uberaba, como requisito para obtenção do título de Especialista em Agricultura Biológico Dinâmica.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Mendoza-Rodriguez

BOTUCATU - SP 2011

Page 3: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

DÉBORA TIEKO PARLATO SAKIYAMA

CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

Trabalho de conclusão apresentado à Universidade de Uberaba, como requisito para obtenção do título de Especialista em Agricultura Biológico Dinâmica.

Área de concentração: Ciências Agrárias

Aprovado em / / 2011

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Mendoza-Rodriguez

- Orientador -

__________________________________________________

Prof. M. H. Reginerio Soares de Faria

- Membro -

__________________________________________________ Prof.

- Membro-

Page 4: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

“Devemos saber, por exemplo, que as

influências cósmicas que se expressam

em uma planta vem do interior da terra e

são levadas para a superfície. Assim, se

uma planta especialmente rica nestas

influências cósmicas é consumida pelo

animal, o esterco que este animal

proporciona será o remédio certo para o

solo onde essa planta cresce.”

Rudolf Steiner

Page 5: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

RESUMO

O Sítio Paiol Fundo é uma propriedade rural familiar cuja principal atividade é a

bovinocultura leiteira extensiva convencional. Atualmente a média da produção é de

40 litros de leite por dia e o leite in natura é vendido à cooperativa do município. O

presente projeto teve como objetivo converter a produção de leite convencional em

produção de queijo mussarela biodinâmico. Primeiramente foi realizado o

diagnóstico participativo com o intuito de compreender as expectativas do produtor e

observar o manejo da propriedade. Outra ferramenta utilizada foi o diagnóstico

técnico e fenomenológico, pelo qual foi possível analisar a dinâmica das forças

cósmicas e terrestres atuantes e sua relação com a qualidade do solo e das plantas

consumidas pelos animais. A partir dessas informações foram estabelecidas as

mudanças necessárias para a formação do organismo agrícola, de acordo com as

normas de certificação Demeter, como: adubação e aumento da biodiversidade de

espécies vegetais nas áreas de pasto e capineira para melhoria da fertilidade do

solo e da alimentação dos animais, uso de preparados biodinâmicos para

intensificação da vitalidade e processos biológicos, uso do esterco para preparação

do composto, uso de homeopatia e fitoterapia para prevenção e tratamento de

doenças nos animais e fim da prática de descorna dos animais. Estimou-se que com

a adoção das práticas de agricultura biodinâmica há possibilidade de aumentar

gradualmente o volume de leite produzido no decorrer dos anos. Além disso,

analisou-se que a fabricação e a comercialização direta de queijo mussarela

biodinâmico são atividades econômicas potencialmente viáveis, com previsão de

cinco anos para o retorno dos investimentos. Preservando a saúde do solo, das

plantas e dos animais, os moradores desfrutarão de alimentos mais saborosos,

nutritivos e saudáveis, com a possibilidade de melhoria da renda familiar.

Page 6: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 7

2 OBJETIVO 8

3 DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO 9

3.1 Visão do passado 9

3.2 Visão do presente 9

3.3 Visão do futuro 10

3.4 FOFA 10

4 DIAGNÓSTICO TÉCNICO E FENOMENOLÓGICO 11

4.1 Localização e características geográficas 11

4.2 Condições climáticas 11

4.3 Avaliação da área relacionada à bovinocultura leiteira 11

4.3.1 Impressão geral da área 12

4.3.2 Análise da trincheira 13

4.3.3 Análise química do solo 14

4.4 Diagnóstico fenomenológico 14

4.5 Conclusões sobre a avaliação dinâmica do solo e paisagem 15

5 MANEJO ANIMAL 16

5.1 Alimentação 16

5.2 Manejo de ordenha 16

5.3 Principais afecções que acometem o rebanho 17

5.4 Terapias utilizadas 17

5.6 Esterco 18

6. FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICA, ECONÔMICA E FILOSÓFICA DO

PROJETO 19

6.1 Aspectos técnicos 19

6.2 Aspectos econômicos 19

6.3 Aspectos filosóficos 19

7 PLANEJAMENTO DE IMPLANTAÇÃO 20

7.1 Área de pasto 20

7.2 Área de capineira 21

7.3 Sementes 21

7.4 Elaboração e uso dos preparados biodinâmicos 21

7.4.1 Preparado biodinâmico chifre-esterco (500) 22

7.4.2 Preparado biodinâmico chifre-sílica (501) 22

7.4.3 Preparados biodinâmicos de composto 22

7.5 Manejo animal 23

7.5.1 Alimentação 23

7.5.2 Manejo de ordenha 23

7.5.3 Medicamentos homeopáticos e fitoterápicos 25

8 PLANEJAMENTO ASTRONÔMICO AGRÍCOLA 26

9 FORMAÇÃO DO ORGANISMO AGRÍCOLA 27

10 MÃO-DE-OBRA, INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS 28

Page 7: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

11 ANÁLISE DO RETORNO SÓCIO AMBIENTAL 29

12 ANÁLISE DO RETORNO ECONÔMICO 30

12.1 Gastos diretos e despesas 30

12.2 Investimentos 31

12.3 Receita 32

12.4 Retorno econômico 32

13 VIABILIDADE DE CERTIFICAÇÃO DEMETER 33

14 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO 35

15 CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS 37

Page 8: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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1 INTRODUÇÃO.

O município de Cunha - SP é uma Estância Climática situada na região do

Vale do Paraíba, visitada por turistas, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro,

que apreciam a paisagem serrana, os famosos ceramistas e as pousadas e

restaurantes com comidas regionais. Para atrair o turismo a prefeitura da cidade tem

promovido, cada vez mais, festivais que divulgam e valorizam a cultura regional e os

produtos oriundos dos produtores familiares da zona rural.

Tradicionalmente a cidade com aproximadamente 25.000 habitantes, dos

quais 50% habitam a extensa área rural, tem como principais atividades econômicas

o turismo, a pecuária extensiva de leite e de corte e o cultivo de milho, feijão e

batata.

Há aproximadamente quatro anos iniciou-se um conjunto de ações de

organizações não governamentais locais e da prefeitura em prol do desenvolvimento

da agricultura agroecológica e orgânica na região, sendo que atualmente já existem

agricultores familiares produzindo hortaliças orgânicas para venda na feira de

produtos locais, que acontece semanalmente há sete meses.

O presente projeto será realizado no Sítio Paiol Fundo, propriedade rural

familiar cuja principal fonte de renda é a bovinocultura leiteira convencional, através

da venda do leite in natura à cooperativa do município, como faz a maioria dos

produtores de leite da região.

A implementação do projeto possibilitará a formação de um organismo

agrícola biodinâmico e a fabricação de queijo de leite de vaca biodinâmico, um

produto diferenciado e com maior valor agregado.

A importância do desenvolvimento deste trabalho é a melhoria da qualidade

de vida do homem do campo, o enriquecimento da cultura e do turismo rural da

região, com a oferta de um produto ecológico da agricultura familiar local a uma

demanda já existente.

Page 9: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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2 OBJETIVO.

Realizar o processo de conversão do Sítio Paiol Fundo, Cunha - SP,

propriedade de bovinocultura leiteira convencional, em uma propriedade biodinâmica

produtora de derivados lácteos.

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3 DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO.

O Sítio Paiol Fundo pertence ao Sr. Mirite e a Sra. Ditinha. A família é

constituída por 5 pessoas (2 mulheres e 3 homens), sendo que o neto mais velho,

Davi, é o principal responsável pelo manejo das vacas de leite. Durante as duas

visitas à propriedade, Davi, sua irmã Maira e sua avó Dona Ditinha participaram do

diagnóstico participativo (histórico e evolução do sítio ao longo do tempo e

desenvolvimento do FOFA) e também auxiliaram no diagnóstico técnico (relatos

sobre o manejo vegetal e animal, desenho do mapa da propriedade e do mapa de

enfermidades das vacas leiteiras, análise de trincheira e coleta de solo para análise

química).

Os dados obtidos, descritos ao longo do trabalho, foram extremamente

importantes para fundamentar e nortear o projeto a ser implantado na propriedade.

3.1 Visão do passado

Há aproximadamente 30 anos a produção animal e vegetal da propriedade

era basicamente destinada à subsistência da família. A renda familiar era obtida com

a venda de milho, feijão, fumo e porcos.

3.2 Visão do presente

Há aproximadamente 10 anos a principal atividade da propriedade é a

produção e comercialização de leite de vaca in natura para a cooperativa do

município. Há 6 anos a propriedade dispõe de energia elétrica, o que possibilitou a

aquisição de um picador de capim e cana-de-açúcar e de um tanque de refrigeração

para armazenar o leite.

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Para complementar o sustento da família é mantida a produção de

subsistência de horta, feijão, milho, frango e porco, com a venda do excedente de

milho e feijão.

3.3 Visão do futuro

Os desejos do responsável pela atividade leiteira, Davi, são aumentar a

produção de leite (100 a 150 litros/dia), melhorar a renda familiar, melhorar a

alimentação dos animais, não ser totalmente dependente da cooperativa para a

comercialização do leite, produzir queijo para vender na cidade e instalar uma

ordenhadeira mecânica.

3.4 FOFA

Fortalezas

- Região que preserva a agricultura familiar

- Turismo que valoriza produtos ecológicos e oriundos da agricultura familiar

- Experiência com agricultura e produção de leite

Fraquezas

- Dificuldade para introduzir mudanças no manejo de rotina da propriedade

- 16 km de estrada de terra mal conservada para chegar até a cidade

Oportunidades

- Pontos de venda de produtos regionais, como pousadas e restaurantes

- Feira semanal que promove venda de produtos locais e ecológicos

- Divulgação e disseminação da agricultura orgânica e biodinâmica na região

- Construir no futuro um laticínio artesanal

Ameaças

- Migração dos mais jovens para a cidade

- Venda e partilha das terras entre os familiares

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4 DIAGNÓSTICO TÉCNICO E FENOMENOLÓGICO .

4.1 Localização e características geográficas

O Sítio Paiol Fundo está localizado no bairro da Capivara, município de

Cunha - SP, Vale do Paraíba, possui 48 hectares e suas coordenadas são latitude

sul 23°06"22'32 e longitude oeste 45°04"02'61, com altitude média de 900m. A

vegetação característica é floresta estacional semi-decidual.

A propriedade fica a 22 km da cidade de Cunha (16 km de estrada de terra e

6 km de estrada asfaltada). O município de Cunha está a 45 km de Guaratinguetá,

210 km da cidade de São Paulo e 303 km do Rio de Janeiro.

4.2 Condições climáticas

De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região é CWA tropical

de altitude. A temperatura média é de 20,9oC, com mínima de 4,5oC e máxima de

37,0oC . A precipitação média anual é de 1356 mm, com chuvas concentradas no

período de outubro a abril e período seco bem definido entre maio e setembro.

4.3 Avaliação da área relacionada à bovinocultura leiteira

A principal atividade é a bovinocultura leiteira, sendo que praticamente toda a

área produtiva está destinada à pastagem (36 hectares). Além do pasto, há uma

área de capineira de dois hectares (Figura 1).

Page 13: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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Figura 1. Desenho do Sítio Paiol Fundo, Cunha - SP, feito pelos moradores Davi e Maira durante visita à propriedade.

4.3.1 Impressão geral da área

A área de pasto tem predomínio de relevo inclinado, e as principais

gramíneas são Brachiaria decumbens e braquiarão (Brachiaria brizanta). Em alguns

pontos há presença de capim barba de bode (Aristida pallen) e rabo de burro

(Andropogon bicornis), plantas indicadoras de acidez e baixa fertilidade do solo. A

presença de cupinzeiros também indica o desequilíbrio da saúde do solo. Há

algumas árvores e arbustos espalhados nas áreas de pastagem.

Há presença de leve erosão laminar nas áreas de maior declividade,

relacionada ao excesso de pastoreio, e formação de alguns sulcos decorrentes do

escoamento da água da chuva. Não é realizado nenhum manejo para manutenção

da pastagem.

A área de capineira possui predomínio de relevo plano e as plantas

apresentam viçosidade. É destinada à plantação de capim napier (Pennisetum

purpureum) e cana-de-açúcar para complementação da dieta dos animais. O único

manejo realizado nessa área é a aplicação de esterco de vaca curtido.

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4.3.2 Análise da trincheira

Quadro 1. Resultados da análise da trincheira na área de pasto.

Umidade do solo superfície seca; subsolo úmido

Odor do solo (0 - 20cm) cheiro agradável de terra

Odor do subsolo (20 - 50cm) nenhum

Cor do solo marrom escuro avermelhado

Tipo de solo pesado (argila limosa)

Teor de argila (0 - 50%) aproximadamente 30%

Partículas do solo (0 - 20cm) grumo

Partículas do subsolo (20 - 50cm) cascalho

Estratificação do solo (camadas)

1ª: matéria orgânica

2ª: subsolo marrom avermelhado

3ª: cascalho

4ª: subsolo vermelho amarelado

Avaliação do húmus (%) aproximadamente 0,5%

Estado do húmus (%) no solo (0 - 20cm) fino

Estado do húmus (%) no subsolo (20 - 50cm)

fino

Matéria orgânica não decomposta camada superficial

Desenvolvimento radicular e restos radiculares no solo (0 - 20cm)

bom

Desenvolvimento radicular e restos radiculares no subsolo (20 - 50cm)

fraco

Vida do solo pouca vida; apenas cupim

Compactação do solo (0 - 20cm) alta compactação

Compactação do subsolo (20 - 50cm) média compactação

Page 15: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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4.3.3 Análise química do solo

Quadro 2. Resultados da análise química do solo (0 - 20cm).

Amostra Ph Ca Cl2

M.O. g/dm

3

P mg/dm

3

K mmolc/

dm3

Ca mmolc/

dm3

Mg mmolc/

dm3

Al mmolc/

dm3

CTC mmolc/

dm3

SB V %

Al mmolc/

dm3

Pasto 4,8 18 2 2,6 4 2 2 32,1 8,9 28 21,2

Obs

Solo ácido (excesso de H+), não apresenta acidez por alumínio, pobre em

matéria orgânica e nutrientes (P, K, Mg), apresenta baixas CTC (capacidade

de troca catiônica), SB (somatória de bases) e V% (porcentagem de

saturação por bases).

4.4 Diagnóstico fenomenológico

O diagnóstico fenomenológico (Quadro 3) foi feito pela observação da área de

pasto, a qual apresenta relevo montanhoso e acentuadamente convexo, com

vegetação de folhas pontudas e recortadas de coloração variando entre verde,

amarelo e marrom. No momento da observação sentia-se o vento seco e quente que

balançava a vegetação rasteira e os poucos arbustos existentes na área. Assim

como o ar, o solo também estava seco e alguns de seus elementos pedregosos

refletiam a forte radiação solar.

Quadro 3. Resultados do diagnóstico fenomenológico da área de pasto.

Características Forças Terrestres Pontos Forças Cósmicas Pontos

Altitude Vale 2 Planalto, montanha 8

Microrelevo Côncavo 3 Convexo 7

Luminosidade Face Sul 4 Face Norte 6

Solo Cálcio 2 Silício 8

Clima Úmido, abafado 2 Seco, arejado 8

Temperatura Fresco 6 Quente 4

Biodiversidade

Folhas arredondadas,

predomínio da cor verde.

2 Folhas pontudas e

recortadas, diversidade de cores.

8

Total - 21 - 49

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4.5 Conclusões sobre a avaliação dinâmica do solo e paisagem

A área de pastagem possui solo argilo limoso, ácido, pedregoso, pobre em

matéria orgânica e nutrientes. A composição do solo com tendência para um perfil

de silício e a presença de intensa luminosidade, ventos e vegetação com formas

predominantemente pontiagudas, caracterizam a forte presença de forças cósmicas

no ambiente analisado.

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5 MANEJO ANIMAL.

A propriedade possui 14 vacas mestiças (cruzamentos da raça gir e

holandesa) sob manejo extensivo em pasto sem divisões de piquetes. É realizada a

descorna dos animais.

Os bezerros machos são mantidos na propriedade para engorda e

posteriormente são vendidos, sendo que alguns bois permanecem na propriedade

para tração animal. As fêmeas são mantidas no sítio para a produção leiteira.

As vacas ficam no pasto juntamente com os dois touros e não há nenhum

tipo de manejo reprodutivo.

5.1 Alimentação

Durante todo o ano as vacas alimentam-se basicamente de pastagem de

Brachiaria decumbens e as que estão em lactação recebem complementação, logo

após as ordenhas, de farelo de trigo (1L/dia/animal), cana-de-açúcar e/ou napier

picados e sal mineral (100g/dia/animal). No pasto o sal mineral fica disponível no

cocho.

5.2 Manejo de ordenha

As vacas são ordenhadas manualmente, duas vezes ao dia, e não é realizado

nenhum procedimento para prevenção de mastite como desinfecção dos tetos antes

e após a ordenha (pré e pós dipping).

Em média são retirados 40 litros de leite por dia (aproximadamente 3,5

litros/vaca/dia) os quais são armazenados em tanque de refrigeração, com

capacidade de 670 litros, localizado dentro da propriedade e a cada quatro dias são

coletados pelo caminhão da Cooperativa de leite do município.

Page 18: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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5.3 Principais afecções que acometem o rebanho

As principais afecções dos animais relatadas pelos proprietários são:

ectoparasitas, principalmente bernes, e diarréia decorrente de verminose (Figura 2).

Figura 2. Mapa de enfermidades desenhado pelos moradores Davi e

Maira durante visita à propriedade.

5.4 Terapias utilizadas

Para controle de ectoparasitas são aplicados Ivomec®, Neguvon® e óleo

queimado. Para tratar a diarréia e verminose utiliza-se Ripercol® (Figura 2).

Antibióticos como tetraciclina e penicilina são utilizados para tratamento de

eventuais mastites infecciosas ou outras infecções.

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5.6 Esterco

O esterco das vacas é mantido ao lado do local da ordenha e após curtido

uma parte é utilizada para adubação da capineira e outra parte é levada pela água

da chuva.

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6 FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICA, ECONÔMICA E FILOSÓFICA DO PROJETO.

6.1 Aspectos técnicos

O conjunto de técnicas a ser implementado visa melhorar a fertilidade do solo

e a biodiversidade das áreas de pastagem, com consequente melhoria da dieta e

condições de bem-estar dos animais. Aliando mudanças na alimentação e no

manejo sanitário da ordenha, pretende-se melhorar o volume e a qualidade do leite

produzido. Além disso, uma maior integração das atividades visa otimizar o trabalho

de rotina na propriedade.

6.2 Aspectos econômicos

O projeto visa aumentar a rentabilidade da atividade leiteira e proporcionar

maior independência econômica ao produtor através da venda direta de queijo

biodinâmico, produto menos perecível do que o leite in natura e com maior valor

agregado. Além disso, o manejo biodinâmico, tanto da pastagem, quanto dos

animais, diminuirá a aquisição de insumos externos à propriedade.

6.3 Aspectos filosóficos

A produção de queijo biodinâmico visa aumentar a renda e proporcionar mais

um alimento de subsistência para a família, gerando melhoria da qualidade de vida.

A integração entre as atividades pretende incentivar e melhorar o envolvimento dos

colaboradores e moradores com o meio que os cerca, contribuindo para a formação

de um organismo agrícola saudável.

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7 PLANEJAMENTO DE IMPLANTAÇÃO.

7.1 Área de pasto

Para adoção do sistema de pastejo rotacionado (MELADO, 2003),

primeiramente será realizada a medição da área para divisão de piquetes de

grandes dimensões que poderão ser posteriormente subdivididos de acordo com o

aumento do número de animais. Na propriedade já existe uma divisão da área de

pasto que poderá ser melhor aproveitada com o manejo correto dos animais,

respeitando os períodos de descanso do pasto.

Será realizada a aplicação de calcário dolomítico (1 ton/ha) uma vez ao ano,

durante três anos, no período de março a abril (PRIMAVESI, 2004) .

Na época da chuva (outubro), a cada 10 metros será feito o plantio direto, em

nível, com plantadeira de tração animal, de sementes de feijão guandu. Entre as

linhas será feito plantio manual a lanço de sementes de estilosantes (Stylosanthes

humilis), soja perene (Glycine wightii), calopogônio (Calopogonio muconoides),

braquiarão (Brachiaria brizanta), quicuio-da-amazônia (Brachiaria humidicola) e

capim gordura (Melinis minutiflora) (PRIMAVESI, 2004).

Quatro piquetes de aproximadamente 0,5 ha serão reservados para o plantio

de capim-elefante (Pennisetum purpureum) e colonião (Panicum maximum),

facilitando o manejo e diminuindo a necessidade de levar um grande volume de

forragem até o cocho. Estas áreas serão utilizadas para o pastejo somente das

vacas em lactação (MELADO, 2003; PRIMAVESI, 2004).

O plantio de sementes nos piquetes precisa ser feito de forma escalonada, de

modo que não haja pisoteio do gado nos piquetes recém semeados.

Antes da calcareação e do plantio de sementes é importante que o pasto

esteja baixo, por roça ou pastejo intensivo (PRIMAVESI, 2004).

A roça deverá ser seletiva, preservando ervas silvestres e leguminosas que

poderão ser consumidas pelas vacas e também alguns arbustos e árvores para

proporcionar áreas de sombreamento e descanso aos animais (MELADO, 2003).

Page 22: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

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7.2 Área de capineira

Para preparar o solo da área de capineira será feita a calagem, seguida de

gradeação pesada e realização de sulcos para o plantio.

O capim napier e a cana-de-açúcar serão consorciados com leguminosas

volumosas de crescimento rápido como galactia, siratro (Macroptiluim

atropurpureum) e calopogonio (Calopogonio muconoides), as quais deverão ser

semeadas nas entrelinhas (PRIMAVESI, 2004).

A cada rebrote das gramíneas deverá ser feita adubação com composto

biodinâmico.

7.3 Sementes

As plantas utilizadas na pastagem serão conduzidas de forma que a

ressemeadura natural seja preservada. Anualmente, na época de florada das

principais espécies, determinado talhão será mantido em descanso.

7.4 Elaboração e uso dos preparados biodinâmicos

Conforme exigências da certificação Demeter, cada preparado biodinâmico

será utilizado no mínimo uma vez ao ano.

No ambiente de estudo há predomínio de forças cósmicas. Portanto, para

contrabalancear o excesso das forças cósmicas deverá ser feito o uso intensivo do

preparado 500 e também dos preparados de composto (STEINER, 2000).

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7.4.1 Preparado biodinâmico chifre-esterco (500)

O preparado 500 será produzido na propriedade e será aplicado após o

plantio das gramíneas e leguminosas. Também será feita a aplicação anual nas

pastagens formadas após o pastoreio.

7.4.2 Preparado biodinâmico chifre-sílica (501)

O preparado 501 também será produzido na propriedade e sua aplicação

ocorrerá quando as pastagens estiverem em bom desenvolvimento e nas fases de

pré-floração, ajudando a planta a utilizar com todo potencial suas forças reprodutivas

para a ressemeadura natural.

7.4.3 Preparados biodinâmicos de composto

Os preparados 502 a 507 serão comprados e utilizados em pilhas de

composto (aproximadamente 1 kit para 20 toneladas de composto). A aplicação do

composto será feita por distribuição em linha, na área de dois hectares de capineira,

antes do plantio (1 litro de composto/metro) e das rebrotas (0,5 litro de

composto/metro). Nos quatro piquetes de meio hectare cada, destinados para as

vacas em lactação, serão jogadas a lanço 20 toneladas de composto por hectare,

uma vez ao ano.

Page 24: CONVERSÃO DE BOVINOCULTURA LEITEIRA CONVENCIONAL EM BIODINÂMICA NO SÍTIO PAIOL FUNDO - CUNHA - SP

23

7.5 Manejo animal

As vacas se beneficiarão com a melhoria das áreas de pastoreio, com um

ambiente mais limpo e confortável durante a ordenha e com terapias de tratamento

menos invasivas que priorizam a prevenção de doenças.

Melhorando o manejo nutricional e sanitário pretende-se aumentar a produção

de leite e produzir um produto final com qualidade superior.

7.5.1 Alimentação

Os animais terão acesso a uma pastagem muito mais diversificada, com

plantas de maior palatabilidade e alto valor nutricional. Na época da seca, a

complementação será feita no cocho com o corte das capineiras, que incluem tanto

gramíneas de alto valor energético, como leguminosas ricas em proteína.

Além disso, nos piquetes será feita a distribuição de água em bebedouros,

serão colocados cochos móveis com sal mineral e os animais terão áreas de

descanso sob as sombras das árvores preservadas.

7.5.2 Manejo de ordenha

A ordenha continuará sendo realizada duas vezes ao dia de forma manual.

No entanto, será realizado um treinamento para que sejam adotados alguns

procedimentos de controle da qualidade do leite e, consequentemente, da saúde da

glândula mamária (SANTOS; FONSECA, 2007):

1. Antes do início de cada ordenha o teto deve ser limpo com água corrente

para retirar a terra seca. É importante tomar cuidado para não molhar o

úbere e aumentar a contaminação do teto.

2. Teste de Tamis: desprezar, pelo menos em uma das ordenhas, os

primeiros jatos de leite numa caneca telada de fundo escuro para

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visualizar alguma alteração como grumos, pus e/ou sangue. Essas

alterações indicam que o quarto mamário apresenta mastite clínica

(inflamação aguda da glândula mamária) e que a vaca precisa ser

separada das outras e receber tratamento até a sua melhora. A mastite

clínica, quando não tratada rapidamente, pode ocasionar a perda do teto

acometido e até mesmo uma infecção generalizada, podendo levar o

animal a óbito. O leite do teto com mastite clínica deve ser descartado.

3. Após a realização do teste de Tamis deve-se realizar a imersão dos tetos

em uma caneca com solução desinfetante (água clorada a 2%) e em

seguida secá-los com papel toalha descartável. Esse procedimento

chama-se pré-dipping e previne a contaminação do leite.

4. Retirar o leite.

5. Após a retirada do leite, repetir o procedimento do item 3, mas não secar

os tetos. Essa desinfecção após a ordenha (pós-dipping) visa proteger o

teto, impedindo a entrada de microrganismos contaminantes e,

consequentemente prevenindo a ocorrência de mastite.

6. Será mantido o procedimento de alimentar as vacas imediatamente após a

ordenha com um pouco da capineira. Esse manejo faz com que os animais

permaneçam em pé até o orifício do teto se fechar novamente, impedindo

que as vacas se deitem e os tetos entrem em contato com sujidades.

7. Após cada ordenha o mangueiro deve ser limpo, retirando-se o esterco e a

urina acumulados e depois lavando com água corrente. A limpeza do

ambiente controla a infestação de moscas e previne o desenvolvimento de

endo e ectoparasitas. Além disso, proporciona bem-estar aos

colaboradores e aos animais.

Um manejo de ordenha higiênico e eficiente previne a ocorrência de mastite,

doença que desequilibra a saúde do animal e diminui a capacidade de produção de

leite. Além dos gastos com medicamentos, o leite proveniente de uma glândula

mamária com mastite, possui microrganismos contaminantes que prejudicam o

beneficiamento do leite e a produção de seus derivados, diminuem o tempo de

prateleira dos produtos e algumas espécies de microrganismos patogênicos podem

causar doenças nos consumidores, como intoxicações alimentares (SANTOS;

FONSECA, 2007).

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7.5.3 Medicamentos homeopáticos e fitoterápicos

A substituição dos medicamentos alopáticos por medicamentos homeopáticos

e fitoterápicos visa reduzir gastos, utilizar substâncias naturais e menos tóxicas ao

organismo e resgatar e valorizar o conhecimento popular.

Será realizado um treinamento para que os próprios familiares sejam capazes

de fabricar e administrar os medicamentos para prevenção das principais doenças

que acometem o rebanho em questão. Na propriedade será mantida uma

farmacinha homeopática com os medicamentos mais indicados para prevenção e

tratamento das afecções que comumente acometem o rebanho e, conforme a

necessidade, será escolhido o medicamento mais compatível com o quadro clínico

(BENITES, 2002). Da mesma forma, serão selecionados os fitoterápicos e os

bioterápicos produzidos no próprio sítio.

Para facilitar o manejo e minimizar o estresse dos animais, os medicamentos

homeopáticos serão misturados ao sal mineral e administrados no cocho juntamente

com a alimentação (MITIEDRO, 2002).

De acordo com as características e o histórico do rebanho, foram escolhidos

alguns medicamentos homeopáticos e fitoterápicos para tratamento e prevenção das

seguintes doenças (BENITES, 2002; MITIEDRO, 2002):

- Ectoparasitas: bioterápicos de carrapato e berne.

- Endoparasitas intestinais: folhas de bananeira picada e alho; Sulphur 30CH.

- Diarréia: chá de folha de goiabeira e jabuticabeira; Arsenicum album 6CH;

China officinalis 6CH.

- Mastite clínica (aguda): Phytolacca decandra 6CH; Silicea 6CH; Pulsatilla

nigricans 6CH; Belladonna 6CH.

- Mastite subclínica (crônica): Phosphorus 30CH; Calcarea carbonica 30CH;

Silicea terra 30CH.

- Lesões e ferimentos: Arnica montana 12CH; Hypericum perfolatum 6CH;

tintura de calêndula (Calendula officinalis) e de casca de barbatimão

(Styphnodendron barbatimao).

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8 PLANEJAMENTO ASTRONÔMICO AGRÍCOLA..

Nas pastagens os manejos como semeadura e aplicação do preparado 500

devem ser feitos em dias de folhas, escolhendo dias em que a Lua esteja passando

pelas constelações ligadas ao elemento água, que são Peixes, Câncer e Escorpião.

Para aplicação do preparado 501 na fase de pré-floração deve-se escolher um dia

de fruto.

Para roçada do mato deve-se optar por dias de flor, pois a rebrota é lenta. Se

o intuito for estimular a rebrota vigorosa e formação de biomassa, a roçada deve ser

feita em dias de folha.

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9 FORMAÇÃO DO ORGANISMO AGRÍCOLA.

A proposta do projeto é gerar uma maior interdependência entre os

processos, promovendo a vivificação do solo do pasto pelo plantio de um mix de

diversas espécies de gramíneas e leguminosas, e a intensificação das forças

terrestres pela aplicação de composto biodinâmico e preparado biodinâmico 500. A

roça seletiva preservará áreas com arbustos e árvores na pastagem, favorecendo o

aumento da biodiversidade vegetal e animal e o equlíbrio entre corpo etérico e corpo

astral.

As vacas terão uma dieta muito mais nutritiva e diversificada e farão um

pastejo rotacionado entre os piquetes, permitindo o descanso da terra e o

rompimento do ciclo de ecto e endoparasitas (PRIMAVESI, 2004).

Para manutenção do bom estado geral dos animais e da produtividade leiteira

durante o inverno, as vacas receberão complementação nutricional com o corte de

uma capineira enriquecida com leguminosas. Na capineira também serão aplicados

os preparados biodinâmicos a fim de equilibrar as forças cósmicas e terrestres e

fortalecer as plantas no período da seca.

O esterco gerado pelas vacas será utilizado no preparo das pilhas de

composto e do fladen, para depois ser reintroduzido nas áreas de pastagem e

capineira, fechando o ciclo de reciclagem dos nutrientes e minimizando a aquisição

de insumos externos.

O resgate do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais da

região e a transmissão de conhecimentos e técnicas para uso de medicamentos

homeopáticos e preparo dos próprios fitoterápicos e bioterápicos, além de diminuir

custos com medicamentos alopáticos industrializados, fortalecerá a ligação do

produtor com a natureza e com a cultura regional.

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10 MÃO-DE-OBRA, INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS.

Os colaboradores do projeto, membros da família, serão: um responsável pelo

manejo dos animais e entrega dos queijos nos pontos de venda e mais duas

mulheres responsáveis pela fabricação dos queijos e contato de comercialização.

Quando necessário, serão contratados dois colaboradores temporários para ajudar

na construção de cercas, instalação de cochos e bebedouros, aplicação dos

preparados biodinâmicos na área de pasto, roça seletiva do pasto e outras

atividades.

O curral para ordenha das vacas será mantido, com acréscimo de alguns

utensílios para a realização das práticas de ordenha recomendadas.

No início a produção do queijo será realizada na cozinha da casa principal e

serão adquiridos utensílios apropriados e adotadas boas práticas de fabricação

(SILVA, 2005).

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11 ANÁLISE DO RETORNO SÓCIO AMBIENTAL.

As práticas agrícolas biodinâmicas implementadas possibilitarão alcançar ao

longo dos anos uma fertilidade do solo duradoura e um equilíbrio do organismo

(Figura 3), facilitando e otimizando o trabalho de rotina na propriedade.

Figura 3. O homem como mediador do equilíbrio entre solo, planta e animal.

Preservando a saúde do solo, das plantas e dos animais, os moradores

também desfrutarão de alimentos mais saborosos, nutritivos e saudáveis para

consumo próprio.

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12 ANÁLISE DO RETORNO ECONÔMICO.

O volume de leite produzido aumentará gradualmente no decorrer dos anos.

Para o primeiro ano estima-se uma média de produção de 50 litros de leite por dia

(aproximadamente 4,5 litros/vaca/dia), sem a aquisição de novos animais.

Considerando-se que para fabricar cada quilo de queijo mussarela são necessários

10 litros de leite, inicialmente serão produzidos aproximadamente 60 queijos, de 500

gramas cada, semanalmente.

12.1 Gastos diretos e despesas

Quadro 5. Gastos diretos e despesas no primeiro ano do projeto.

GASTOS DIRETOS Valor (R$)

Pasto e Capineira

Calcáreo 540,00

Sementes 1.000,00

Preparados 502 a 507 150,00

Manutenção das cercas 570,00

Vacas de leite

Sal mineral 800,00

Medicamentos homeopáticos 100,00

Vacinas 50,00

Papel toalha descartável 900,00

Produção de queijo

Embalagens 292,00

Etiquetas 730,00

Coalho líquido 60,00

Fermento (cultura tipo “start”) 730,00

Sal sem iodo e flúor 182,50

Cloreto de cálcio líquido 109,50

Venda do queijo

Transporte (gasolina e manutenção) 1.081,60

Subsistência da família

Mantimentos 2.400,00

Sementes de hortaliças 40,00

TOTAL (Gastos Diretos) 9.735,60

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DESPESAS Energia elétrica 480,00

Álcool 120,00

Cloro 30,00

Detergente 135,00

TOTAL (Despesas) 765,00

TOTAL (Gastos Diretos e Despesas) 10.500,60

12.2 Investimentos

Quadro 6. Investimentos no primeiro ano do projeto.

INVESTIMENTOS Valor (R$)

Pasto e Capineira

Distribuição de água 4.000,00

Cocho móvel 1.800,00

Cercas 5.700,00

Pulverizador costal 180,00

Vacas de leite

Recipientes para fitoterápicos 50,00

Canecas de fundo escuro 40,00

Produção de queijo

Utensílios de cozinha 1.200,00

Formas 204,00

Termômetros 70,00

Uniformes 350,00

Refrigerador 2.000,00

Venda do queijo

Transporte (carro) 6.000,00

Barraca de feira 250,00

Caixa isotérmica 500,00

TOTAL 22.324,00

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12.3 Receita

Quadro 7. Receita anual atual e no primeiro ano do projeto.

Receita anual atual Valor

Leite in natura R$ 0,65 / litro

TOTAL R$ 9.360,00

Receita no primeiro ano de projeto Valor

Queijo mussarela biodinâmico R$ 7,00 / uni

TOTAL R$ 25.550,00

12.4 Retorno econômico

No presente projeto, a cada dois anos estima-se um aumento de 20% da

produção de leite e, consequentemente, da receita. No entanto, ocorrerá o aumento

proporcional dos gastos diretos e com o aumento da fabricação e das vendas o

salário dos colaboradores também será reajustado.

Espera-se recuperar o investimento realizado em cinco anos (payback).

Quadro 8. Fluxo de caixa.

ANO 1 2 3 4 5

Gastos diretos (-) 9.735,60 10.709,15 11.682,70 12.851,00 14.019,30

Despesas (-) 765,00 765,00 765,00 765,00 879,75

Receitas (+) 25.550,00 28.105,00 30.660,00 33.726,00 36.792,00

Lucro Bruto 15.049,40 16.630,85 18.212,30 20.110,00 21.892,95

Colaboradores 11.340,00 11.340,00 12.740,00 12.470,00 15.680,00

Investimento 5.860,00* 5.860,00* 5.860,00* 5.860,00* 4.743,80**

Lucro Líquido -2150,60 -569,15 -387,70 1780,00 1469,15

Lucro Acumulado -2150,60 -2719,75 -3107,45 -1327,45 141,70

*investimento inicial do projeto dividido em quatro anos

**investimento em utensílios de cozinha e aquisição de novos animais

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13 VIABILIDADE DE CERTIFICAÇÃO DEMETER.

No início o queijo biodinâmico produzido não será certificado, pois o pequeno

volume de produção não compensaria os custos com a certificação. Portanto, a

comercialização terá como base a venda direta, estabelecendo uma relação de

confiança entre produtor e consumidor, tanto pela venda em feiras, quanto pela

abertura do sítio a visitação.

Após a consolidação das práticas biodinâmicas e conquista de mercado,

outros produtores da região poderão se interessar pela produção do leite

biodinâmico, favorecendo a expansão do volume de produção e das vendas,

inclusive para municípios próximos. Neste caso, a certificação Demeter será

importante para garantir a qualidade do produto ao consumidor.

Para a obtenção da certificação Demeter, na rotina do Sítio Paiol Fundo será

necessária a adoção das seguintes condições (ABD, 2009):

- Uso dos preparados biodinâmicos no mínimo uma vez ao ano, sendo que

estes devem ser preferencialmente produzidos na propriedade. Todos os adubos

orgânicos (esterco de curral, composto, etc.) devem ser tratados com os preparados

biodinâmicos.

- Em áreas extensivas de criação de gado, os preparados deverão ser

aplicados na área de maior atividade da propriedade (feno, silagem, culturas de

forrageiras e pastagem implantada), não sendo necessário aplicar no pasto nativo.

- A carga animal máxima não deve exceder 2,0 unidades animal/ha,

correspondente a um máximo de 1,4 unidade de esterco/ha, se a forragem for

adquirida.

- Não é permitido descornar os animais nem manter animais descornados na

propriedade. Os chifres dos ruminantes são muito importantes para o

desenvolvimento de forças vitais. Eles fornecem um equilíbrio de forças aos

processos intensivos de digestão e absorção.

- Os bezerros devem ser criados em liberdade e em grupos a partir da

segunda semana de vida.

- A certificação Demeter para o leite e seus derivados é possível tão logo o

alimento proceda de áreas certificadas como Demeter.

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- O uso de subprodutos de origem industrial não é permitido na alimentação

dos animais.

-Quando não houver disponibilidade de animais de propriedades biodinâmicas

e orgânicas, para reprodução ou aumento do rebanho, o IBD (Instituto Biodinâmico)

poderá permitir a aquisição de animais de propriedades convencionais (até um

máximo de 40% do rebanho).

- O leite de vacas de origem convencional somente poderá ser comercializado

como Demeter após seis meses de manejo biodinâmico.

- Para tratamento dos animais deve-se dar preferência aos medicamentos

orgânicos, antroposóficos, homeopáticos e outros medicamentos naturais.

- O armazenamento do leite ocorre em tanques designados somente para o

leite DEMETER.

- Os métodos oficiais permitidos de pasteurização, até uma temperatura

máxima de 80oC, podem ser empregados para pasteurizar o leite.

- A salmoura pode ser re-fervida e enriquecida com sal conforme for

necessário. A esterilização com hipoclorito de sódio, peróxido de hidrogênio etc. não

é permitida.

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14 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO.

QUADRO 8. Cronograma de execução para o primeiro ano do projeto.

OPERAÇÃO MESES

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Divisão dos piquetes X X

Instalação de água nos piquetes X X

Calcareação da capineira X

Gradeação da capineira X

Plantio da capineira e semeadura

das leguminosas X

Calcareação do pasto X

Plantio direto no pasto X

Semeadura a lanço no pasto X

Roça seletiva no pasto X

Preparação dos preparados 500

e 501 X

Preparação do composto X X X X

Aplicação do preparado 500 na

capineira X

Aplicação do preparado 500 no

pasto X X

Aplicação do preparado 501 X

Aplicação do composto na

capineira X X

Aplicação do composto no pasto X X

Treinamento manejo de ordenha X X X

Fabricação dos fitoterápicos X X

Fabricação dos bioterápicos X X

Treinamento fabricação de queijo X X

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15 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Com o sucesso do projeto, o produtor poderá complementar seu volume de

produção com a compra de leite de outros produtores rurais da região, após também

ser realizada a conversão das propriedades convencionais em biodinâmicas. Com o

beneficiamento de maior quantidade de leite, um projeto futuro será a construção de

um laticínio artesanal para fabricação de queijo biodinâmico e outros derivados

lácteos como iogurte, manteiga e ricota.

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REFERÊNCIAS

ABD. Normas de processamento para uso das marcas Biodinâmica®, Demeter e marcas relacionadas. Botucatu, SP: Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, 2009. Disponível em: <http://www.ibd.com.br/downloads/DirLeg/Diretrizes/NormasDEMETERProcessamento2009.pdf> Acesso em: 09 jul. 2010. ABD. Normas de produção para uso das marcas Biodinâmica®, Demeter e marcas relacionadas. Botucatu, SP: Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, 2009. Disponível em: <http://www.ibd.com.br/downloads/DirLeg/Diretrizes/NormasDEMETERProdução2009.pdf> Acesso em: 09 jul. 2010. BENITES, N. R. Homeopatia. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p. 700-708. MELADO, J. Pastoreio racional Voisin: fundamentos, aplicações, projetos. 1. ed. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2003. 296p. MITIEDRO, A.M.A. Potencial do uso de homeopatia, bioterápicos e fitoterapia como opção na bovinocultura leiteira: avaliação dos aspectos sanitários e de produção. Florianópolis/SC, 2002, 119p. Dissertação de Mestrado - Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina. PRIMAVESI, A. Manejo ecológico de pastagens: em regiões tropicais e subtropicais. 1. ed. São Paulo: Nobel, 2004. 185 p. SANTOS, M.V.; FONSECA, L.F.L.. Estratégias para controle de mastite e melhoria da qualidade do leite. 1. ed. Barueri, SP: Manole; Pirassununga, SP: Ed. Dos autores, 2007. 314 p. SILVA, F.T. Queijo mussarela (Agroindústria Familiar). Brasília, DF : Embrapa Informação Tecnológica, 2005. 52p. STEINER, Rudolf. Fundamentos da agricultura biodinâmica: vida nova para a terra. 2. ed. São Paulo: Antroposófica, 2000.