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DEIXA VIR ...

Elementos clínicos de Psicologia Biodinâmica

Ricardo “Guará” Amaral Rego 2014

Publicado com apoio do Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica

www.ibpb.com.br

Axis Mundi Editora Rua Martinico Prado, 144, cj 02 - Vila Buarque

CEP 01224-010 - São Paulo - SP - Brasil. www.axismundieditora.com

+55.11.23861929

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Copyright © 2014 by Ricardo Amaral Rego Todos os direitos desta edição são reservados à Ricardo Amaral Rego. Capa: Ariel Velloso Rego Coordenação: Joe Ribeiro Diagramação: Ana Carolina Orsolin Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Índices para catálogo sistemático: 1. Psicanálise

Axis Mundi Editora Ltda Rua Martinico Prado, 144, cj 2, Vila Buarque CEP 01224-010 – São Paulo – SP Telefone: +55 (11) 2386 1929 www.axismundieditora.com

Rego, Ricardo Amaral Deixa vir… : elementos clínicos de psicologia biodinâmica/Ricardo “Guará”

Amaral Rego; ilustrado por [Ariel Velloso Rego]. – São Paulo : Axis Mundi Editora, 2014.

232 p. : il.

Bibliografia ISBN 978-85-85554-40-8 1. Psicologia Biodinâmica 3. Boyesen, Gerda 4. Psicoterapia corporal 5. Associação livre (Psicologia) 6. Reich, Wilhelm 7. Freud, Sigmund I. Título II. Rego, Ariel Velloso

14-0403 CDD 150.195

2

Dedicado à comunidade biodinâmica, razão e motivação para a produção desta obra

Agradecimentos: Breno Serson, Cláudio Mello Wagner, Gerson Fujiyama, Glória Cintra, José Fonseca, Laura Villares de Freitas, Léia Cardenuto, Liane Zink, Luiza Revoredo, Maria Forlani, Odila Weigand e Paulo Albertini.

3

ÍNDICE PRÉ-AMBULANDO ................................................................................ 1

Introduz-indo ............................................................................ 3

A que se propõe esta obra ........................................... 3

O mapa do caminho ..................................................... 5

Parte I - DE-AMBULANDO ................................................................... 7

Capítulo 1- Fundamentos psicanalíticos ................................... 9

A regra fundamental .................................................... 9

A atenção flutuante e a interpretação ....................... 14

A resistência .............................................................. 15

O processo primário .................................................. 17

Transferência e contratransferência ......................... 18

A teoria psicanalítica e a técnica de associação livre ................................................. 19

Capítulo 2- Wilhelm Reich e a associação livre ...................... 23

O psicanalista Reich ................................................... 23

O recalque e a couraça muscular ............................... 26

Reich e a autorregulação ........................................... 27

A bioenergia ............................................................... 29

Capítulo 3- A associação livre na análise biodinâmica ........... 33

Gerda Boyesen e a teoria do recalque ....................... 33

O método da parteira ................................................ 36

A resistência .............................................................. 38

O método das pequenas palavras ............................. 39

Personalidade primária, personalidade secundária e pressão organísmica interna ........40

4

Parte II - PER-AMBULANDO ............................................................... 43

Capítulo 4- Entre Psique e Soma ............................................ 45

Associação livre de movimentos e atos falhos ....................................................... 45

Particularidades da livre associação no campo da psicoterapia corporal ......................... 49

Semelhanças na diferença ......................................... 54

Capítulo 5- Conexões .............................................................. 55

Donald Winnicott e o gesto espontâneo ................... 55

Os parentes mais próximos: Análise Bioenergética e Biossíntese ................................ 59

Jung e o inconsciente criativo ................................... 63

O psicodrama interno de Fonseca ............................. 67

Klein e Lacan: o Outro em mim ................................. 69

Técnica e teoria ......................................................... 74

Capítulo 6- Neurobiologia e associação livre .......................... 77

Mente, corpo e cérebro em Reich ............................. 77

Movimentos involuntários ......................................... 77

Memória procedural .................................................. 80

O “novo” inconsciente ............................................... 83

Devaneios .................................................................. 86

Propriocepção e interocepção ................................... 87

Livre-arbítrio .............................................................. 92

Caos, ordem e ilusão ................................................. 97

Consciência .............................................................. 100

Comentários ............................................................ 101

5

Parte III - FUN-AMBULANDO ............................................................ 103

Capítulo 7- Lidando com diferentes graus de resistência .......................................................... 105

Um jeito particular ................................................... 105

Associação livre de movimentos ............................. 105

Um esquema didático .............................................. 107

Graus de resistência como parâmetro do tipo de intervenção do analista ............................... 109

Capítulo 8- Momentos clínicos ............................................. 119

Considerações iniciais ............................................. 119

Paulo: empatia, propriocepção e interocepção ..................................................... 121

Rosa e a autopercepção .......................................... 123

Silvana e o gesto espontâneo .................................. 126

Márcia e a amizade com a resistência ..................... 131

Marina e a associação livre de movimentos ............ 136

Clarice: massagem, recalque e resistência .............. 141

Cibele e o setting flexível ......................................... 143

Lúcia e a baixa resistência ........................................ 153

Catarina e a barreira de contato .............................. 158

Maria e a sabedoria natural do organismo .............. 160

Sandra e a desvitalização como forma de resistência......................................... 165

Helena e as situações de alta carga ......................... 172

Roberto e a pressão pulsional ................................. 177

Lidia: do sintoma ao significado do sintoma, por meio da propriocepção ................. 182

Tereza: o fluxo associativo pode se expressar de muitas formas .............................. 184

6

Alexandre: um paciente ilustre ................................ 188

Orson: o analista é quem dirige ............................... 191

Parte IV - CIRCUM-AMBULANDO ..................................................... 199

Capítulo 9- Finalizando ......................................................... 201

Singularidade e reducionismo ............................... 201

Psicologias ............................................................ 202

Identidade, filosofia e linguagem ......................... 205

Referências bibliográficas ..................................................... 211

QUADROS E FIGURAS

Figura 1 – Esquema da circulação pulsional ........................................ 49

Figura 2 – Diagrama esquemático de como o psicoterapeuta deve lidar com os graus de resistência ........................................ 111

Quadro 1 – Graus de resistência em um processo analítico ............. 113

PRÉ-AMBULANDO

Antes de começar a caminhada

propriamente dita,

o autor faz alguns comentários introdutórios

Introduz-indo

Conhece-te a ti mesmo 1

A que se propõe esta obra

Apresento neste texto aquilo que considero a essência (ou pelo menos um dos fundamentos básicos) da abordagem clínica da Psicologia Biodinâmica, que consiste numa forma peculiar de manejo da resistência. Este é o conceito central que permeia o assunto e o organiza, especialmente em relação ao que fazer na prática clínica.

Como proceder quando há pouca ou nenhuma resistência? O manejo da resistência é sempre igual, ou devem ser usados recursos diferentes conforme o tipo de resistência? São perguntas do dia a dia de quem se propõe a ser analista e que nortearão a exposição a seguir.

Interligado a este tema, existe outro, que pode ser enunciado como algo relacionado aos dilemas que um ser que se percebe não-todo enfrenta ao lidar com esta sua incompletude.

Fico achando que esta frase pode não ser tão fácil de compreender. Vou tentar explicar melhor. A consciência é algo que se compõe de dois aspectos básicos: a) um conjunto de elementos percebidos (sensações, sentimentos, pensamentos etc.); e b) um senso de identidade, um EU ao qual tudo isso se refere, e que se sente proprietário de uma certa porção do Universo (ele diz meus braços, meus olhos, meus desejos, minhas fantasias, minhas crenças, meu nome) e supõe ser responsável por determinadas ações realizadas por uma entidade que ele designa como meu corpo.

Após Freud (e outros), ficou claro que isso que percebemos como um eu, esse centro da sensação de que existe uma identidade própria, não abarca todo o meu Ser. Existe muita coisa que está para além da consciência e que também pode ser considerada como parte da minha pessoa. E mais: muitos dos problemas e dilemas que enfrento poderão encontrar uma solução muito melhor se eu olhar para essa outra parte de mim que desconheço; se eu ouvir as mensagens que ela me envia por meio de sonhos, sensações e devaneios; se eu aprender a

1 Aforismo grego inscrito no pórtico do Oráculo de Apolo em Delfos.

apreciar esses elementos estranhos que perturbam o meu pensar coerente.

Tão central é este ponto, que daí deriva o termo metapsicologia, o qual “é utilizado por Freud para definir a originalidade da sua própria tentativa de edificar uma psicologia ‘... que leve ao outro lado da consciência’ em relação às psicologias clássicas da consciência” (Laplanche e Pontalis, 1991, p. 284).

Ou seja, uma visão menos ingênua do que é o Eu deve levar em conta o fato de este conceito abarcar muito mais coisas além do que a minha percepção consciente e o senso comum designam como sendo a minha pessoa. Cada um dos autores visitados tem sua própria ideia sobre o que seja Isso2, esse estranho algo que faz parte de mim sem que seja eu (como me conheço).

Os dois temas se interligam, pois, como se verá ao longo do livro, em geral a resistência da qual falamos é uma resistência exatamente a entrar em contato com esse outro lado do nosso ser.

Esse outro eu, ou essa outra parte do meu eu, não fica quietinha, parada no escuro, esperando ser descoberta. Muito pelo contrário, ela pressiona para vir à luz, se insinua de forma disfarçada e às vezes evidente, fazendo sua aparição nos sonhos, nas escolhas, nos desejos, na imaginação, na postura, nos gestos, em toda parte. Vem daí o título DEIXA VIR. Ele faz um convite a superar a resistência (e o medo e a vergonha e a desconfiança) que levam a fugir, distorcer, abafar ou negar a existência d’ISSO.

Os percursos trilhados neste livro giram em torno deste tema: como o analista ou psicoterapeuta pode lidar com ISSO que teima em se fazer presente e que é tão importante para a saúde mental e a realização pessoal. A técnica de associação livre é tomada como fio condutor do percurso, por se apresentar como um dos recursos mais valiosos para viabilizar tal intento. Neste contexto, a discussão sobre quem deve comandar o processo analítico, se o paciente ou o analista, assume um lugar central.

O enfoque escolhido representa apenas um dos cômodos na vasta mansão da clínica. De maneira alguma se propõe aqui que apenas

2 Freud, influenciado por Groddeck (1984), usou expressão das Es, que significa literalmente “o Isso”, para designar “isso” que vem de dentro e domina e/ou perturba o Eu. No Brasil, o termo tem sido traduzido como “id”. Mais comentários sobre “isso” podem ser vistos no capítulo 1.

os temas acima citados merecem ser considerados importantes. Ocorreu simplesmente uma delimitação da abrangência, de modo a viabilizar o aprofundamento do assunto.

O mapa do caminho

Vem a seguir um roteiro que pode ajudar o leitor a encontrar aquilo que procura sem perder tempo com informações que já conhece ou que não lhe interessam.

Há uma ordem racional na sequência dos capítulos. Mas, pelo que conheço da natureza humana, pode ser cansativo seguir exatamente esse percurso na ordem direta.

Pensando que funcionamos mais numa lógica emocional, imagino que boa parte das pessoas aproveitará mais se começar pelo capítulo 8, que apresenta casos clínicos. Falar de gente, principalmente se o relato contem dilemas existenciais e conflitos emocionais, atrai de modo espontâneo nossa mente e torna mais atraente a leitura. Recomendo, portanto, que se inicie o percurso por aí.

Quando sentir necessidade de entender o que norteia as intervenções relatadas, poderá então ler o capítulo 7, que expõe a proposta clínica que fundamenta esses atendimentos. E daí, se quiser ir em busca dos antecedentes teóricos que me levaram a essas conclusões, é só buscar os pontos que lhe interessam segundo as especificações que exponho a seguir.

A primeira parte (capítulos 1, 2 e 3) consiste numa caminhada que percorre a linhagem básica da qual deriva o eixo conceitual da presente obra. Gerda Boyesen seria a mãe, Wilhelm Reich o avô e Sigmund Freud o bisavô. São ascendentes ilustres, muito aprendi com eles e espero dar aqui uma ideia resumida de seus pensamentos e propostas sobre o tema. Desculpe pelo grande número de citações nessas partes iniciais – sei que elas prejudicam a fluência da leitura. Mas falou mais alto a preocupação didática de referir com exatidão o pensamento dos autores em que me apoio.

Na segunda parte, circulo por entre comentários meus sobre a conexão Freud-Reich-Gerda (capítulo 4) e visito outros autores que julgo terem contribuições importantes para o desenvolvimento do tema (capítulo 5). Entre estes, Boadella, Fonseca, Jung, Klein, Lacan, Lowen e Winnicott. Lá estão também comentários sobre elementos de neurobiologia que julgo relevantes para o tema (capítulo 6).

Na terceira parte, apresento minhas opiniões sobre o assunto, ilustrando-as com exemplos oriundos da minha experiência clínica. No capítulo 7 apresento uma conceituação original sobre como lidar com o tema da resistência no contexto clínico. Esta forma de ver a clínica parte da ideia de que a conduta do analista ou psicoterapeuta deve estar em sintonia com o grau da resistência apresentada pelo paciente.

No capítulo 8 são relatados momentos de casos clínicos que ilustram aquilo que foi comentado anteriormente. É de longe o maior capítulo do livro, evidenciando a ênfase na crença de que os relatos derivados da prática concreta são essenciais para que o leitor possa vislumbrar como se dá a aplicação do método descrito.

O capítulo 9 trata das conclusões e comentários finais.

Espero que esta obra seja uma contribuição para o campo da Psicologia Biodinâmica, no qual a insuficiência da produção teórica não faz jus à riqueza da prática3.

3 Iaconelli (1997, p. 12-13) comenta sobre seu contato com a Biodinâmica: “a teoria biodinâmica está muito aquém da sua prática concreta (...) Existem os textos, mas estes têm deficiências evidentes, por vezes tão grandes que chegam a ser desanimadoras; e só a riqueza da prática biodinâmica é capaz de manter o aprendiz animado na busca.”