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14/6/2014 Contributo da Filosofia para o Direito Internacional dos Direitos Humanos - Jus Navigandi - O site com tudo de Direito

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Breves consideraes sobre o contributo da Filosofia para o

Direito Internacional dos Direitos Humanos

Divo Augusto Cavadas

Publicado em 05/2014. Elaborado em 05/2014.

O presente artigo cientfico busca descrever a importncia da Filosofia

na construo histrica dos Direitos Humanos, especialmente no

campo da tica segundo as produes intelectuais de Immanuel Kant

(sculos XVIII / XIX) e Ronald Dworkin (sculo XX).

1. CONSIDERAES PRELIMINARES.

As breves reflexes que passamos a desenvolver neste artigo tm por objetivo traar um

panorama da importncia que os estudos filosficos produzidos a partir do sculo XIX

exerceram na construo dos Direitos Humanos, desde uma concepo individual e setorizada

em suas origens cientficas, at a atualidade, em que so analisados segundo uma viso

universalista na sociedade ocidental, principalmente aps a criao da Organizao das Naes

Unidaas (ONU), em 1945.

Nesse sentido, as fontes manejadas para a apresentao de nossa pesquisa sero focadas na

anlise de normas e documentos internacionais (consubstanciados em tratados e resolues

das principais Organizaes Internacionais vocacionadas para a proteo do indivduo e de

grupos no cenrio global), e no levantamento bibliogrfico de obras jurdicas e filosficas -

notadamente a produo intelectual de dois estudiosos: Immanuel Kant e Ronald Dworkin,

que promoveram em momentos distintos na construo histrica da doutrina dos Direitos

Humanos verdadeiras inovaes, quebras de paradigma que estimularam a evoluo dessa

disciplina e a produo normativa em larga escala, de forma especial a partir do sculo XX.

Justifica-se a relevncia destas breves consideraes na premente necessidade das

instituies universitrias brasileiras em promover o ensino e a conscientizao do corpo

discente nos principais aspectos jurdicos, polticos e filosficos que fundamentam a proteo

do ser humano no plano internacional, visando elaborao de instrumentos mais eficazes da

aplicabilidade dos direitos humanos no territrio ptrio. Para atingir tal mister, cremos na

essencialidade do conhecimento da produo intelectual dos supracitados estudiosos,



adquirindo maior importncia nos Bacharelados em Cincias Jurdicas, onde os profissionais

do Direito usaro tal conhecimento na defesa da sociedade, fim maior em sua formao

acadmica.

2. LINHAS GERAIS DA EVOLUO HISTRICA DOS DIREITOS

HUMANOS.

A proteo internacional do indivduo, embora em tese fosse um dos grandes objetivos do

Direito Internacional Pblico (especialmente em decorrncia de sua origem cientfica no fim da

Idade Mdia, ligado s basilares noes de Direito Natural na educao crist), somente veio a

adquirir robustez a partir do sculo XIX, devido grande produo intelectual do perodo (que

veremos adiante) e criao de organismos intergovernamentais e organizaes no

governamentais de cariz privado e transnacional que assumiam como principal objetivo a

proteo dos seres humanos - em um primeiro momento, em situaes especficas como a de

conflitos armados, e aps algumas dcadas, de forma universal, culminando na criao da Liga

das Naes (LdN) e de sua material sucessora, a ONU.

Segundo a maioria dos jusinternacionalistas (dentre todos ver: SHAW, 2008), a proteo

internacional do indivduo pode ser dividida para efeitos histricos e didticos em trs grandes

vertentes: a) Direito Internacional Humanitrio, surgido em 1864 com a criao do Comit

Internacional da Cruz Vermelha pelo empresrio e filantropo Henri Dunnant; b) Direito

Internacional dos Refugiados, surgido no perodo "entreguerras" (1918-1939), no perodo de

vigncia material do Tratado de Versalhes; c) Direito Internacional dos Direitos Humanos,

surgido a partir da Declarao Universal dos Direitos Humanos de 1948 [Resoluo 217-A

(III) da Assembleia Geral das Naes Unidas]. Nesse sentido, os marcos histricos

apresentados apenas se prestam para uma melhor didtica, pois tais vertentes no

ultrapassam umas s outras em importncia, tanto que existem tratados internacionais para

proteo dos refugiados aps a criao da ONU (como a Conveno relativa ao Estatuto dos

Refugiados de 1951), e o Comit Internacional da Cruz Vermelha (CICV) detentor de

personalidade jurdica internacional (para maiores explicaes sobre origem e relevncia

jurdica do CICV ver: GUERRA, 2009).

O que se pode observar de forma mais clara na evoluo histrica dos Direitos Humanos e em

sua aplicabilidade na Sociedade Internacional que um dos grandes fatores que

impulsionaram seu desenvolvimento a partir do sculo XIX e sua verdadeira "exploso"

normativa no sculo XX foram as produes intelectuais no campo da Filosofia e da Teoria

Geral do Direito, em que destacamos como expoentes nesse estudo as figuras de Immanuel

Kant e Ronald Dworkin, respectivamente na tica e na Hermenutica Jurdica.

3. A PRODUO INTELECTUAL DE KANT E DWORKIN E SUA

INFLUNCIA NA CONSTRUO DOS DIREITOS HUMANOS.

Imannuel Kant (1724-1804) considerado um dos maiores estudiosos da filosofia moral e da

tica. Suas produes inspiraram a atuao de diversos governos e organizaes

internacionais, especialmente no que tange proteo do indivduo. O compndio de estudos



filosficos mais importante deste filsofo so suas crticas: Crtica da Razo Pura (1781),

Crtica da Razo Prtica (1788) e Crtica do Julgamento (1790). As ideias expostas em tais

obras influenciaram o pensamento filosfico e jurdico ocidental ao longo do sculo seguinte,

podendo ser considerados como verdadeiros determinantes para o desenvolvimento da

disciplina dos Direitos Humanos.

A tese de maior interesse no criticismo de Kant se d em torno do Imperativo Categrico,

enunciado em trs diferentes frmulas, com respectivas variantes: a) Lei Universal: "age

como se a mxima de tua ao devesse tornar-se, atravs da tua vontade, uma lei universal";

a.1) Variante da Lei Universal: "age como se a mxima da tua ao fosse para ser

transformada, atravs da tua vontade, em uma lei universal da natureza"; b) Fim em Si

Mesmo: "age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de

qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio"; c)

Legislador Universal (ou da Autonomia): "age de tal maneira que tua vontade possa encarar a

si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal atravs de suas mximas"; c.1)

Variante da Frmula do Legislador Universal: "age como se fosses, atravs de suas mximas,

sempre um membro legislador no reino universal dos fins" (para uma sistematizao didtica

sobre as frmulas apresentadas no compndio de Kant, conferir o verbete "Imperativo

Categrico" na enciclopdia virtual Wikipedia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Imperativo_categrico - acesso em 4 de maio de 2014).

A frmula mais importante para a compreenso futura da existncia de direitos fundamentais

ao indivduo a que considera a humanidade como um fim em si mesma (frmula do fim em si

mesmo): acreditamos que a propagao dessa tese nos meios acadmicos e, posteriormente,

polticos, influenciou os diversos sistemas jurdicos em momento posterior a adotar normas

protetivas dos direitos humanos, fortalecendo o iderio que no sculo XX serviu de supedneo

para a origem do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Por sua vez, Ronald Myles Dworkin (1931-2013) foi um dos mais conhecidos jusfilsofos do

sculo XX, e sua teoria exposta nas obras Levando os Direitos a Srio (1977) e Uma Questo

de Princpio (1985) influenciou no somente a nova viso dos direitos humanos no sculo

passado, como tambm um novo panorama do Direito Constitucional conhecido por

Neoconstitucionalismo (ou, segundo parte dos estudiosos, Constitucionalismo Contemporneo

- ver BULOS, 2010).

Segundo Dworkin, as normas jurdicas podem ser analisadas como regras e como princpios:

enquanto um conflito entre regras solucionado segundo os clssicos critrios expostos pela

Teoria Geral do Direito (cronolgico, hierrquico, especialidade), segundo uma ideia de "tudo

ou nada", os princpios so mandados abertos de otimizao e seu conflito resolvido pela

ponderao, pelo sopesamento entre tais espcies normativas, atravs da razoabilidade e da

proporcionalidade.

Nesse sentido, os princpios aplicados aos direitos humanos passaram a ter seus preceitos

positivados em diversos tratados internacionais no final do sculo XX, especialmente na

Conveno de Viena sobre Direitos Humanos de 1993, influenciados sobretudo por essa

mudana de paradigmas no positivismo jurdico que abriu o sculo, em um movimento



chamado Ps-positivismo, do qual decorreu o fenmeno igualmente novo denominado "virada

'kantiana' do Direito" (em referncia ao Imperativo Categrico de Immanuel Kant,

supramencionado.

4. CONSIDERAES FINAIS.

Portanto, pode-se verificar aps essa breve exposio que a influncia das produes

filosficas de Immanuel Kant e de Ronald Dworkin se fizeram presentes na poltica

internacional durante o desenvolvimento da disciplina dos Direitos Humanos, especialmente a

partir de meados do sculo XX, em que houve uma progressiva expanso da proteo jurdica

dos interesses individuais, coletivos e difusos, passando para a perspectiva do direito dos

povos e do direito ao desenvolvimento como aspectos do atual panorama dos Direitos

Humanos.

O Imperativo Categrico na tica de Kant e a Teoria dos Princpios na hermenutica jurdica

de Dworkin certamente compuseram o acervo terico apto a influenciar a expressiva

produo normativa protetiva do indivduo ocorrida ao longo do sculo XX, no transcorrer do

movimento ps-positivista, neoconstitucionalista e de expanso do Direito Internacional dos

Direitos Humanos, e so de grande relevncia sobretudo para a Filosofia, que no campo da

tica proporcionou a elaborao de variados estudos posteriores, tanto de cunho descritivo

quanto de natureza crtica.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. 6 Edio. So Paulo: Editora

Saraiva, 2010.

DWORKIN, Ronald Myles. Levando os Direitos a Srio. 1977 (mimeo).

DWORKIN, Ronald Myles. Uma Questo de Princpio. 1985 (mimeo).

GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Pblico. 4 Edio. Rio de Janeiro: Editora

Lumen Juris, 2009.

KANT, Immanuel. Crtica da Razo Pura. 1781 (mimeo).

KANT, Immanuel. Crtica da Razo Prtica. 1788 (mimeo).

KANT. Immanuel. Crtica do Julgamento. 1790 (mimeo).

SHAW, Malcolm Nathan. International Law. 6 Edio. Reino Unido: Cambridge University

Press, 2008.

Autor



Divo Augusto Cavadas

Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais (FND/UFRJ). Realizou estudos de

Ps-graduao em Direito Penal (UNESA/RJ), Filosofia dos Direitos

Humanos (AVM/UCAM) e em Direito na Carreira da Magistratura

(EMERJ). Possui aperfeioamento em Direito Internacional Pblico

(Universidade de Havana, Cuba) e em Direito do Comrcio Internacional

(Universidade de Viena, ustria).

ddassociados.wordpress.comdivoaugustolaw.blogspot.com

Informaes sobre o texto

Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

CAVADAS, Divo Augusto. Breves consideraes sobre o contributo da Filosofia para o Direito

Internacional dos Direitos Humanos. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3997, 11 jun. 2014.

Disponvel em: . Acesso em: 14 jun. 2014.

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