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Naomi Sugita Reis CONTRATOS EMPRESARIAIS ____________________________________________________________ CONTRATOS POR COLABORAÇÃO São contratos de parceria empresarial, como uma forma contratual de “associação” entre atividades empresariais com atuação complementar, porém, não no sentido societário. Tendem a ser de trato sucessivo (contínuo), comportando-se de forma relacional, justamente por fazer uma relação. Desta forma, normalmente é criada certa “dependência” recíproca. Neste tipo de negócio, o colaborador assume a obrigação de criar ou ampliar mercado (para os bens e/ou serviços) do fornecedor. Existem dois tipos de contratos por colaboração: por aproximação e de intermediação. Apesar da denominação, ambos estabelecem uma certa ponte de ligação e a diferença consiste na forma com que isso se dará. Na segunda, o colaborador constitui um dos elos da cadeia de circulação de mercadorias, enquanto na primeira o colaborador apenas promove a aproximação dos interessados pelas mercadorias com o fornecedor. I. Colaboração por aproximação: o colaborador não adquire os bens, produtos e/ou serviços para revendê-los. Seu papel é identificar interessados neles, fazendo uma espécie de ligação entre quem produz e quem compra, isto é, uma forma de “intermediação” (por isso, a denominação não seria tão correta). O colaborador faz um papel de aproximação entre o fornecedor e um comprador, não fazendo parte da cadeia de circulação e sendo remunerado pelas vendas realizadas. A. São os comitentes e os representantes comerciais. Aqui, há remuneração por percentual do negócio realizado, como por exemplo a corretagem. O colaborador é um prestador de serviços que obtém sua receita através da remuneração paga pelo fornecedor, sendo esta a comissão. II. Colaboração por intermediação: o colaborador tem seu lucro através da revenda do produto etc. O colaborador adquire os bens, produtos e/ou serviços para “revende- los”, comprando de quem vende, e revendendo pra quem compra. São os distribuidores e o franqueados. Aqui, a remuneração é a diferença entre o preço de aquisição e revenda. A. Distribuição por intermediação: um dos empresários contratantes (distribuidor) tem a obrigação de comercializar os produtos do outro (distribuído). B. Concessão mercantil: um empresário, o concessionário, se obriga a comercializar os produtos fabricados por outro, o concedente. 1

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Page 1: Contratos Empresariais 1 - WordPress.com · 2019. 1. 17. · São contratos de parceria empresarial, como uma forma contratual de “associação” entre atividades empresariais

Naomi Sugita Reis

CONTRATOS EMPRESARIAIS ____________________________________________________________

CONTRATOS POR COLABORAÇÃO

São contratos de parceria empresarial, como uma forma contratual de “associação” entre atividades empresariais com atuação complementar, porém, não no sentido societário. Tendem a ser de trato sucessivo (contínuo), comportando-se de forma relacional, justamente por fazer uma relação. Desta forma, normalmente é criada certa “dependência” recíproca.

Neste tipo de negócio, o colaborador assume a obrigação de criar ou ampliar mercado (para os bens e/ou serviços) do fornecedor.

Existem dois tipos de contratos por colaboração: por aproximação e de intermediação. Apesar da denominação, ambos estabelecem uma certa ponte de ligação e a diferença consiste na forma com que isso se dará. Na segunda, o colaborador constitui um dos elos da cadeia de circulação de mercadorias, enquanto na primeira o colaborador apenas promove a aproximação dos interessados pelas mercadorias com o fornecedor.

I. Colaboração por aproximação: o colaborador não adquire os bens, produtos e/ou serviços para revendê-los. Seu papel é identificar interessados neles, fazendo uma espécie de ligação entre quem produz e quem compra, isto é, uma forma de “intermediação” (por isso, a denominação não seria tão correta). O colaborador faz um papel de aproximação entre o fornecedor e um comprador, não fazendo parte da cadeia de circulação e sendo remunerado pelas vendas realizadas.

A. São os comitentes e os representantes comerciais. Aqui, há remuneração por percentual do negócio realizado, como por exemplo a corretagem. O colaborador é um prestador de serviços que obtém sua receita através da remuneração paga pelo fornecedor, sendo esta a comissão.

II. Colaboração por intermediação: o colaborador tem seu lucro através da revenda do produto etc. O colaborador adquire os bens, produtos e/ou serviços para “revende-los”, comprando de quem vende, e revendendo pra quem compra. São os distribuidores e o franqueados. Aqui, a remuneração é a diferença entre o preço de aquisição e revenda.

A. Distribuição por intermediação: um dos empresários contratantes (distribuidor) tem a obrigação de comercializar os produtos do outro (distribuído).

B. Concessão mercantil: um empresário, o concessionário, se obriga a comercializar os produtos fabricados por outro, o concedente. 

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Naomi Sugita ReisCOMISSÃO

comitente → comissário → terceiros

Art. 693 CC. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente.

Um exemplo seria a produtora {comitente} de arroz em grão que consigna a produção de arroz no armazém {comissário} para venda. Em outras palavras, a comitente terá o seu produto vendido pelo comissário - mas o comissário não participa da cadeia porque ele não comprou o produto do comitente, apenas o vendeu para terceiro.

Características

I. Responsabilidade do Comissário perante terceiros:

Art. 694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem contratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes.

II. Comissário deve seguir instruções do comitente e deve exercer diligência na guarda das mercadorias:

Art. 695. O comissário é obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a tempo, proceder segundo os usos em casos semelhantes.

Parágrafo único. Ter-se-ão por justificados os atos do comissário, se deles houver resultado vantagem para o comitente, e ainda no caso em que, não admitindo demora a realização do negócio, o comissário agiu de acordo com os usos.

III. Comissário deve agir de modo a proporcionar lucro ao comitente, evitando prejuízos e riscos:

Art. 696. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio.

Parágrafo único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.

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Naomi Sugita Reis

IV. O Comissário não é mero subordinado do comitente, podendo mesmo agir com certa liberdade negocial:

Art. 699. Presume-se o comissário autorizado a conceder dilação do prazo para pagamento, na conformidade dos usos do lugar onde se realizar o negócio, se não houver instruções diversas do comitente.

Ou seja, embora tenha que seguir certas instruções, o comissário tem um tipo de liberdade contratual de acordo com os usos e costumes, a não ser que seja disposto de forma distinta. O mesmo raciocínio se repete na previsão do art. 701:

Art. 701. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os usos correntes no lugar.

V. A remuneração é a “comissão”, normalmente baseada em percentual do negócio e relativamente padronizada em certos mercados (art. 701), sendo devida a remuneração mesmo em caso de “dispensa”.

Art. 703. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir daquele os prejuízos sofridos.

Art. 705. Se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.

VI. Cláusula del credere: o comitente cobra do comissário, que cobra do terceiro, assim, se o terceiro não pagar o comissário, por esta cláusula, este terá de realizar o pagamento, pois passa a ser garantidor. Neste caso é presumida uma remuneração superior em razão do risco. É possível, portanto, que por meio desta cláusula se estabeleça que o comissário responda solidariamente com os terceiros com quem lidar.

Art. 698. Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus(risco) assumido.

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL representado ← cliente → representante →

Também denominada de agência comercial. Ocorre quando o agente comercial ou representante autônomo se obriga, em localidade delimitada, a obter pedidos de compra

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Naomi Sugita Reise venda de mercadorias fabricadas ou comercializadas pela outra parte (representado), cumprindo o papel de representação para a venda. Não há vínculo empregatício entre representado e representante; ele é autônomo, empresário por si só.

A. Agência X Representação: após a edição do Código Civil, colocou-se em dúvida a distinção entre os contratos. A melhor doutrina os diferencia, admitindo que a agência compõe parte da representação (Orlando Gomes e Rubens Requião). O critério normativo: é convivência do CC e da Lei especial. Assim, aqui estudaremos a representação (contrato empresarial), deixando de lado a agência (contrato civil).

Art. 710 CC. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.

Art. 1º Lei 4.886/1965. Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprêgo, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmití-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.

Parágrafo único. Quando a representação comercial incluir podêres atinentes ao mandato mercantil, serão aplicáveis, quanto ao exercício dêste, os preceitos próprios da legislação comercial.

O representado fatura diretamente com o cliente, sendo que o representante ganhará um percentual do negócio. Assim, conceitua-se: é a mediação não eventual (em caráter profissional) de negócios (art. 1º da Lei 4.886/65 e 710 CC). É o “agenciamento” de vendas; o representante é intermediário nesta relação.

“Assim, é o representante quem consegue a venda, aproxima o fabricante do adquirente, recebendo uma comissão por esse trabalho. A compra e venda é celebrada, diretamente, entre o fornecedor e o consumidor.” (Forgioni, p. 95).

Ao lado do “agenciamento”, cabe ao representante a prática de atos relacionados com a execução dos negócios (apenas de forma acessória) e o exercício de poderes de mandato.

São suas características: caráter profissional, não eventual, sem dependência hierárquica.

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Naomi Sugita Reis São suas exigências:

1. Registro no Conselho Regional:

Art. 2º Lei 4.886/65. É obrigatório o registro dos que exerçam a representação comercial autônoma nos Conselhos Regionais criados pelo art. 6º desta Lei. Parágrafo único. As pessoas que, na data da publicação da presente Lei, estiverem no exercício da atividade, deverão registrar-se nos Conselhos Regionais, no prazo de 90 dias a contar da data em que êstes forem instalados.

2. Fixação de área de atuação (Art. 27 “d” Lei 4.886/65);

Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente:  a) condições e requisitos gerais da representação; b) indicação genérica ou específica dos produtos ou artigos objeto da representação; c) prazo certo ou indeterminado da representação d) indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação; e) garantia ou não, parcial ou total, ou por certo prazo, da exclusividade de zona ou setor de zona; f) retribuição e época do pagamento, pelo exercício da representação, dependente da efetiva realização dos negócios, e recebimento, ou não, pelo representado, dos valôres respectivos; g) os casos em que se justifique a restrição de zona concedida com exclusividade; h) obrigações e responsabilidades das partes contratantes: i) exercício exclusivo ou não da representação a favor do representado;

j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. 

3. Deveres específicos (Art. 19 Lei 4.886/65):

Art . 19. Constituem faltas no exercício da profissão de representante comercial: a) prejudicar, por dolo ou culpa, os interêsses confiados aos seus cuidados; b) auxiliar ou facilitar, por qualquer meio, o exercício da profissão aos que estiverem proibidos, impedidos ou não habilitados a exercê-la; c) promover ou facilitar negócios ilícitos, bem como quaisquer transações que prejudiquem interêsse da Fazenda Pública; d) violar o sigilo profissional;

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Naomi Sugita Reise) negar ao representado as competentes prestações de contas, recibos de quantias ou documentos que lhe tiverem sido entregues, para qualquer fim; f) recusar a apresentação da carteira profissional, quando solicitada por quem de direito.

4. Possibilidade de exclusividade (art. 27 “g” Lei 4.886/65), que, no entanto, não é presumida (art. 31, §único);

Art. 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade de zona ou zonas, ou quando este for omisso, fará jus o representante à comissão pelos negócios aí realizados, ainda que diretamente pelo representado ou por intermédio de terceiros. Parágrafo único. A exclusividade de representação não se presume na ausência de ajustes expressos.

5. Despesas (em princípio não há);

6. Remuneração (arts. 32 e 33), devida quando do pagamento(art. 32);

Art. 32. O representante comercial adquire o direito às comissões quando do pagamento dos pedidos ou propostas. § 1° O pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do mês subseqüente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias das notas fiscais. § 2° As comissões pagas fora do prazo previsto no parágrafo anterior deverão ser corrigidas monetariamente. § 3° É facultado ao representante comercial emitir títulos de créditos para cobrança de comissões. § 4° As comissões deverão ser calculadas pelo valor total das mercadorias. § 5° Em caso de rescisão injusta do contrato por parte do representando, a eventual retribuição pendente, gerada por pedidos em carteira ou em fase de execução e recebimento, terá vencimento na data da rescisão. § 6° (Vetado). § 7° São vedadas na representação comercial alterações que impliquem, direta ou indiretamente, a diminuição da média dos resultados auferidos pelo representante nos últimos seis meses de vigência.

Art . 33. Não sendo previstos, no contrato de representação, os prazos para recusa das propostas ou pedidos, que hajam sido entregues pelo representante, acompanhados dos requisitos exigíveis, ficará o representado obrigado a creditar-lhe a respectiva comissão, se não manifestar a recusa, por escrito, nos prazos de 15, 30, 60 ou 120 dias, conforme se trate de comprador domiciliado, respectivamente, na mesma praça, em outra do mesmo Estado, em outro Estado ou no estrangeiro.

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Naomi Sugita Reis§ 1º Nenhuma retribuição será devida ao representante comercial, se a falta de pagamento resultar de insolvência do comprador, bem como se o negócio vier a ser por êle desfeito ou fôr sustada a entrega de mercadorias devido à situação comercial do comprador, capaz de comprometer ou tornar duvidosa a liquidação. § 2º Salvo ajuste em contrário, as comissões devidas serão pagas mensalmente, expedindo o representado a conta respectiva, conforme cópias das faturas remetidas aos compradores, no respectivo período. § 3° Os valores das comissões para efeito tanto do pré-aviso como da indenização, prevista nesta lei, deverão ser corrigidos monetariamente.

7. Resilição (Art. 34) – aviso prévio e indenização.

Art . 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um têrço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores.

8. Indenização (art. 27, “j”): 1/12 do total da retribuição auferida durante o contrato em caso de rescisão imotivada.

9. Proibição de cláusula del credere (art. 43): cláusula que tornaria o representante responsável pelo inadimplemento nos contratos por ele agenciados.

Art. 43. É vedada no contrato de representação comercial a inclusão de cláusulas del credere.  

10. Foro: entendimento não firmado.

Processual civil. Competência. Representação comercial. Foro de eleição. I. - Havendo lei especial que taxativamente determine o foro do domicílio do representante como o local apropriado para dirimir conflitos entre as partes, contrato de adesão não poderá modificá-lo. II. - Recurso especial não conhecido. (STJ Resp nº 608.983 – MG)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO C O M E R C I A L . C O N T R AT O D E R E P R E S E N TA Ç ÃO COMERCIAL. FORO DE ELEIÇÃO. POSSIBILIDADE. RESSALVADA HIPOSSUFICIÊNCIA OU DIFICULDADE NO ACESSO À JUSTIÇA. SÚMULA N. 7/STJ. (...) É válida a cláusula de eleição de foro pactuada em contrato de representação comercial, desde que inexistente hipossuficiência entre as partes

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Naomi Sugita Reisou dificuldade de acesso à justiça. Precedente da Segunda Seção do STJ. (AgRg no Resp nº 992.528)

CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO

O único conceito legal de distribuição se encontra no artigo 710 do Código Civil:

Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.

Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos.

Conforme a doutrina existem dois cenários, um primeiro em que há uma distribuição clássica “distribuidor revendedor” e um segundo em que tem um agente distribuidor.

Coca-Cola → Mercadorama por venda indireta → Consumidor

Coca-Cola → Distribuidor de bebidas por venda indireta → Ponto de venda {relacional e possui algumas características organizacionais} → Consumidor

Cola-Cola → Consumidor

Aqui, estudamos a distribuição como lógica de “concessão comercial”. Isso poderá se dar por meio de vendas indiretas, quando os distribuidores adquirem do fornecedor para revender para um ponto de venda ou mesmo o destinatário final. Assim, aspectos concorrenciais ganham relevo.

Seria uma lógica compra e venda, porém, é relacional, além de possuir outras características e cláusulas que a tornam em uma compra e venda muito mais complexa, se prestando a organizar essa rede de distribuição, seja em um sentido ou outro. Na revenda, o distribuidor (concessionário) adquire a coisa para si, para depois aliená-la a terceiros.

Cláusulas comuns: exclusividade territorial; exclusividade de aprovisionamento; sugestão e fixação de preços de revenda; aquisição de estoques mínimos; custeio de publicidade institucional; autorização para uso de marca/logos e sinais; prazo vs. investimento realizado; não concorrência.

A denominada Lei Ferrari, Lei nº 6.729/1979, trabalha com um contrato de concessão comercial de veículos automotores. Essa é a única parte de Lei que se tem para a matéria de distribuição, além do art. 710 CC. Porém, por entendimento firmado no STJ,

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Naomi Sugita Reisnão é possível a aplicação analógica dela; passa-se a trabalhar, portanto, com normas gerais do Código Civil. Esse contrato não poderá ser confundido, ainda, com um contrato de consumo, em que pese o CDC faça menção à ele, pois trata da responsabilidade em relação à cadeia de consumo.

É lícita, ainda, a cláusula de exclusividade de compra de produtos da distribuidora de combustíveis.

CONTRATO DE FRANQUIA FRANCHISING

A franquia, para se iniciar, depende de um COF, e o contrato será necessariamente escrito. Franquia de fato é quando o COF não existe e o contrato se dá verbalmente.

Art. 2º Lei nº 8.955/1994. Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

Existe uma série de exigências do contrato, para, principalmente, assegurar o acesso a informação e o livre exercício do proprietário. A legislação aplica-se também ao subfranqueador/subfranqueado.

I. Condições necessárias para que se possa vender uma franquia: via de regra, são oferecidas como um produto, em si.

Art. 3º Lei nº 8.955/1994. Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações: I - histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do franqueador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os respectivos nomes de fantasia e endereços; II - balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos dois últimos exercícios; III - indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos o franqueador, as empresas controladoras e

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Naomi Sugita Reistitulares de marcas, patentes e direitos autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando especificamente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a impossibilitar o funcionamento da franquia; IV - descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades que serão desempenhadas pelo franqueado; V - perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior, nível de escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente; VI - requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na administração do negócio; VII - especificações quanto ao: a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implantação e entrada em operação da franquia; b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas condições de pagamento; VIII - informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as respectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam, indicando, especificamente, o seguinte: a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos serviços efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties); b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial; c) taxa de publicidade ou semelhante; d) seguro mínimo; e e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam ligados; IX - relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueadores da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome, endereço e telefone; X - em relação ao território, deve ser especificado o seguinte: a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu território ou realizar exportações; XI - informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou administração de sua franquia, apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo

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Naomi Sugita Reisfranqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses fornecedores; XII - indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no que se refere a: a) supervisão de rede; b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado; c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos; d) treinamento dos funcionários do franqueado; e) manuais de franquia; f) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado; XIII - situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - (INPI) das marcas ou patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador; XIV - situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em relação a: a) know how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função da franquia; e b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador; XV - modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão de franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respectivos anexos e prazo de validade.

A ideia principal do legislador é que se façam presentes todas as informações necessárias para que o cliente possa decidir, daí porque a COF ter de ser entregue com antecedência mínima de 10 dias à assinatura de qualquer tipo de contrato ou pagamento.

Art. 4º A circular oferta de franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ou pessoa ligada a este. P.ú. […]

Se desrespeitado, o contrato será anulável e as verbas são devidas de volta, o mesmo ocorre se a COF veicular informações falsas que induzam o franqueado em erro. Deverá, ainda, ser feita por escrito, com assinatura de duas testemunhas, em que pese não se faça necessário o registro.

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Naomi Sugita ReisArt. 6º. O contrato de franquia deve ser escrito e assinado na presença de 2 testemunhas e terá validade independente de ser levado a registro perante cartório ou órgão público.

A. Hipóteses de anulabilidade e repetição de valores pagos:

1. Desrespeitar o prazo de antecedência:

Art. 4º […] Parágrafo único. Na hipótese do não cumprimento do disposto no caput deste artigo, o franqueado poderá argüir a anulabilidade do contrato e exigir devolução de todas as quantias que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele indicados, a título de taxa de filiação e royalties, devidamente corrigidas, pela variação da remuneração básica dos depósitos de poupança mais perdas e danos.

2. Veicular informações falsas:

Art. 7º A sanção prevista no parágrafo único do art. 4º desta lei aplica-se, também, ao franqueador que veicular informações falsas na sua circular de oferta de franquia, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.

A legislação assegura ao franqueador ampla possibilidade de condicionamento da atividade do franqueado, a este a liberdade é de gestão. A discussão que surge é até onde este controle pode ir sem oferecer risco ao próprio negócio, como por exemplo concorrência e lojas próprias. Das discussões judiciais mais comuns, encontram-se: concorrência indevida, marca que gera prejuízo e aplicação de verba de publicidade. Cláusulas de não concorrência são normais.

CONTRATO DE SEGURO

Em razão de sua importância econômica, é um dos contratos mais utilizados pelo Estado. Do ponto e vista conceitual, pra que serve o contrato de seguro?

Conceito doutrinário tradicional: “contrato […] em que uma empresa assume a obrigação de ressarcir o prejuízo sofrido por outrem, em virtude de um evento incerto, mediante o pagamento de certa importância”.

Conceito legal: Art. 757. “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.”

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Naomi Sugita Reis Do ponto de vista do professor, um conceito mais correto seria o legal. Em relação ao primeiro conceito, ele é meramente ressarcitório, o contrato quase que se confunde com “poupança”.

I. Seguros obrigatórios:

Art 20 DL 73/66. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são obrigatórios os seguros de: a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais; b) responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e do transportador aéreo; c) responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas urbanas por danos a pessoas ou coisas; d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de instituições financeiras pública; e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e construtor de imóveis; f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil, inclusive obrigação imobiliária; g) edifícios divididos em unidades autônomas; h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas jurídicas, situados no País ou nêle transportados; j) crédito à exportação, quando julgado conveniente pelo CNSP, ouvido o Conselho Nacional do Comércio Exterior (CONCEX); l) danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não; m) responsabilidade civil dos transportadores terrestres, marítimos, fluviais e lacustres, por danos à carga transportada. Parágrafo  único.  Não se aplica à União a obrigatoriedade estatuída na alínea "h" deste artigo.

II. Sistema Nacional de Seguros:

A. Formado por:

Art 8º Fica instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados, regulado pelo presente Decreto-lei e constituído: a) do Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP; b) da Superintendência de Seguros Privados - SUSEP; c) dos resseguradores;  d) das Sociedades autorizadas a operar em seguros privados; e) dos corretores habilitados.

1. SUSEP: autarquia;

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Naomi Sugita Reis

2. Corretores: pessoas jurídicas ou físicas; deve ser habilitado pela SUSEP.

Art 122. O corretor de seguros, pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e promover contratos de seguro entre as Sociedades Seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado.

a) Remuneração: é a “comissão”; só deve ser paga ao corretor habilitado, porém, ele deverá ser independente (não empregado).

Art 124. As comissões de corretagem só poderão ser pagas a corretor de seguros devidamente habilitado.

Art 125. É vedado aos corretores e seus prepostos: a) aceitar ou exercer emprêgo de pessoa jurídica de Direito Público; b) manter relação de emprêgo ou de direção com Sociedade Seguradora. Parágrafo único. Os impedimentos dêste artigo aplicam-se também aos Sócios e Diretores de Emprêsas de corretagem.

b) Responsabilidade: vai da responsabilidade subjetiva à objetiva, a depender dos seguros que fizer. Assim, o corretor é civil e administrativamente responsável. (1) Subjetiva (culpa): art. 126 DL (2) Objetiva (risco): art. 14 CDC

B. Sociedades: apenas as sociedades anônimas, autorizadas, de capital mínimo e sempre nominativa.

III. Elementos definidores do próprio conceito:

A. INTERESSE SEGURÁVEL: quer dizer quanto ao que está sendo coberto, isto é, a cobertura. “A relação econômica ameaçada por um ou vários riscos, que une segurado ou beneficiário a uma determinada pessoa ou coisa” (Priscila Corrêa). É um evento lícito, possível e valorável economicamente. É “inovação” em relação a antiga fórmula justamente para se permitir a cobertura de “atos ilícitos” (não dolosos) cometidos em face de terceiros — seguro de responsabilidade civil.

1. Indenização: não pode ultrapassar o valor do interesse segurado nos seguros de danos.

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da

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Naomi Sugita Reisconclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber.

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.

2. Proibição: proíbe-se mais de um seguro sobre o mesmo interesse segurável. A proibição é absoluta quando houver emissão de bilhete.

3. Cosseguro: uma seguradora sozinha pode não dar conta, assim, este sistema existe para se assegurar isso, assim, um só risco é coberto por mais de uma seguradora.

B. RISCO: evento aleatório que pode ou não acontecer, assim, o seguro refere-se a um acontecimento futuro e incerto. Serve, portanto, de condição para a obrigação de pagamento de indenização. Na apólice é onde está comprovada a condição de contratação, de forma que o seguro deverá estar nela declarado, sob pena de não cobertura. O dolo nulifica o contrato, assim como o agravamento intencional do risco causa a perda da garantia. Isto impõe, por exemplo, a obrigação ao segurado de informar o agravamento do risco e de prestar a mais adequada informação; o mesmo se diga em relação ao segurador que tinha conhecimento do risco.

Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.

Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.

Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. § 1º O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato. § 2º A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e

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Naomi Sugita Reisveracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.

Art. 773. O segurador que, ao tempo do contrato, sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende cobrir, e, não obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado.

1. Agravamento de risco: o suicídio, por exemplo, conforme art. 798 CC, prevê o pagamento da indenização desde que o seguro tenha sido feito dois anos antes do suicídio. Havia uma antiga discussão jurisprudencial sobre a intenção ou não do sujeito se suicidar: Súmula 61 STJ: “O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado”; cancelada pela nova Súmula 610 STJ.

Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.

Súmula 610 STJ: “O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada”.

a) Justificativa: se fosse intencional seria agravamento do risco e haveria perda da garantia. Por que a regra é assim? Cálculo atuarial (probabilidade de ocorrer o evento risco), é menos provável que alguém se suicide caso tenha que esperar (e pagar) dois anos.

2. Não é coberto: risco intrínseco, não encontrado em outros de mesma espécie, não declarado pelo segurado. Aplicar-se-ia a vícios redibitórios e/ou vícios produto/serviço.

Art. 784. Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, não declarado pelo segurado. Parágrafo único. Entende-se por vício intrínseco o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em outras da mesma espécie.

3. Proibição: transação com terceiro, sem anuência do segurador.

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Naomi Sugita ReisArt. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro. […] § 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

C. PRÊMIO: é o valor que o segurado paga, pelo seguro, ao segurador.

Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio.

1. Valor: dependerá da maior ou menor probabilidade de ocorrência do sinistro, razão pela qual depende do cálculo atuarial (prêmio puro). Leva-se em consideração a vigência (probabilidade de se acontecer no período de um ano); a ele se soma a taxa de carregamento (custos da seguradora). A seguradora não pode conceder abatimento do prêmio.

Art 30 DL. As Sociedades Seguradoras não poderão conceder aos segurados comissões ou bonificações de qualquer espécie, nem vantagens especiais que importem dispensa ou redução de prêmio.

2. Probabilidade do risco: a sua variação não importará, necessariamente, em alteração do valor do prêmio.

Art. 770 CC. Salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a redução do prêmio estipulado; mas, se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do contrato.

3. O prêmio é devido por inteiro e a mora importa perda da garantia.

Art. 763 CC. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.

Art 12 DL. A obrigação do pagamento do prêmio pelo segurado vigerá a partir do dia previsto na apólice ou bilhete de seguro, ficando suspensa a cobertura do seguro até o pagamento do prêmio e demais encargos.

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Naomi Sugita ReisParágrafo único. Qualquer indenização decorrente do contrato de seguros dependerá de prova de pagamento do prêmio devido, antes da ocorrência do sinistro.

a) A jurisprudência brasileira tem trabalhado neste tópico com a teoria do adimplemento substancial. Enunciado CJF 371.

4. Seguro de vida: nestes específicos, há uma outra diferença, dado o direito segurado ser tão sensível, não se pode cobrar o atrasado, mas ou se resolve o contrato e não cobre mais nada ou diminui a cobertura. Por óbvio, em ambas as soluções a seguradora precisa informar o segurado, se não, ela se tem como não existente.

Art. 796 CC. O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado. Parágrafo único. Em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.

D. INDENIZAÇÃO: é o que se recebe caso o risco ocorra. Contraprestação do segurador que dever ser em dinheiro. A reposição da coisa depende de cláusula específica. A indenização securitária tem natureza jurídica distinta de outras: não pode ser objeto de penhora; nos casos de seguros de pessoas não está sujeita às regras da sucessão.

Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa.

Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.

1. Adoção pelo Código da orientação jurisprudencial de sub-rogação nos limites do valor indenizado (art. 786). Exceção: não se aplica ao seguros de pessoa (art. 800).

2. Seguro DPVAT: proporcional ao grau de invalidez.

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Naomi Sugita ReisSúmula 474 STJ - A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez.

IV. Fundamentos econômicos: premissas que fazem com que o contrato de seguro seja diferente de outros.

A. Mutualidade: o seguro é baseado na diluição de riscos e não mera transferência deles. Pagar o prêmio não quer dizer o recebimento de indenização, há a possibilidade de agravamento de risco.

B. Cálculo: a probabilidade de ocorrência do sinistro de modo a se possibilitar a diluição dos riscos;

C. Homogeneidade: os riscos calculados devem ser homogêneos, ou seja, levadas em consideração as mesmas condições;

D. Ampla pulverização dos riscos: se faz a diluição da probabilidade de sua ocorrência;

E. Seleção de riscos: cobre apenas os riscos que quiser, alguns riscos (agravados ou impossíveis de cobertura) não devem ser cobertos.

V. Técnica contratual:

São documentos por adesão em que basicamente se descrevem os riscos.

VI. Proposta:

A quebra da inércia negocial se dá com a “oferta” (art. 759), dela constam: dados pessoais e respostas fornecidas pelo proponente (art. 765 CCB); Estaria condicionada a aceitação da Seguradora mediante avaliação dos riscos. É possível que a emissão do bilhete se dê por pedido do interessado (art. 9° e 10 do DL73/66). Fator sensível é o acesso e disponibilização das informações. Preocupação do legislador: Boa-fé (art. 765); Declarações inexatas ou omissas (art. 766); No seguro de responsabilidade civil: conhecimento do dano e de suas consequências (art. 787, §1°) e conhecimento da ação (art. 787, §3°).

VII.Apólice:

Formado o contrato de seguro, ele é provado pelo instrumento denominado apólice (art. 758 CCB). Documento necessariamente escrito em que irão constar dados do segurado, da cobertura, do beneficiário, se for o caso etc.

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Naomi Sugita Reis A cobertura será o que estiver descrito ali, nada além disso, assim, a cobertura está delimitada pelos termos da apólice (art. 760 CCB e art. 83 DL 73/66), em relação ao prazo, extensão, exclusões, etc. Sua interpretação é, portanto, restritiva.

A. Danos morais: mesmo que não tenha cláusula, está incluído. Só não estará se, excepcionalmente, isto estiver devidamente previsto.

Súmula 402 STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

VIII.Limites:

A. Renovação tácita limitada a uma única vez (art. 774 CCB).

B. Apólice não pode conter: (não são as únicas hipóteses, mas as mencionadas na legislação). 1. Cláusula que permita rescisão unilateral ou que lhe subtraia eficácia e validade,

“além das hipóteses legais” (art. 13 DL73/66): é abusiva a resilição unilateral do contrato de seguro, vigente por muitos anos, e ofende os princípios da boa-fé objetiva.

2. Exclusão de cobertura em caso de suicídio (art. 798, § único).

IX. Mora da seguradora:

Art. 772 CC A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização monetária da indenização devida segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros moratórios.

Art. 402 CC c/c art. 389 CC. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. c/c Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Súmula 426 STJ Os juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação.

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Naomi Sugita ReisX. Seguro contra “terceiros”:

A insolvência da seguradora cria a responsabilidade para o segurado para o pagamento da indenização do terceiro (art. 787, §4°). Segurado mantém direito de regresso (art. 283 CCB).

XI. Dificuldades práticas: (art. 787, §3°).

Juizados Especiais: “Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.”

XII.Ação direta?

Súmula 529/STJ: “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano”.

XIII.Seguro obrigatório:

Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado. Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.

XIV.Prescrição: 1 ano. (art. 206, §1°, II)

A. Seguro de responsabilidade civil: (i) data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado ou (ii) da data que a este indeniza, com a anuência do segurador.

B. Para os demais seguros, o prazo corre da ciência do fato gerador da pretensão.

O entendimento atual é que será contado a partir da recusa formal ao pagamento da indenização.

Súmula 229/STJ: “O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.”

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Naomi Sugita ReisSúmula 101/STJ: “A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano.”

Súmula 405/STJ - A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos.

CONTRATO DE TRANSPORTE

I. Transporte público:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

II. Transporte de pessoas: obrigação do transportador é conduzir a pessoa, de acordo com o trajeto e horário contratado {art. 737}. Responderá o transportador pelos danos causados às pessoas e bens transportados {art. 734}. Essa responsabilidade é objetiva, pois só é ilidida se demonstrado força maior {art. 734}. Ou culpa exclusiva da vítima {ausência de nexo}. Existe um risco agravado. Exemplo: Uma companhia aérea tem responsabilidade contratual objetiva, eis que faz transporte de pessoas. Em caso de acidente aéreo, pode ser deixado de lado o CDC e pode ser pleiteada uma responsabilização por meio do CC mesmo.

A. Força maior: excludente de responsabilidade civil. Mas nem toda força maior irá ilidir a responsabilidade contratual objetiva no caso de transportes.

1. Fortuito externo: estranho à atividade de transporte e rompe o nexo de causalidade elidindo a responsabilização do transportador. Essas seriam de fato as forças maiores, que afastariam a responsabilidade contratual objetiva.

2. Fortuito interno: próprio do risco da atividade de transporte, não tendo força para romper o nexo de causalidade e não elidindo a responsabilidade do transportador. Essas hipóteses não seriam consideradas como força maior para efeitos do contrato de transporte.

a) Abuso sexual, assédio sexual — deveria ser culpa exclusiva de terceiro, mas acaba encaixando como fortuito externo porque o motorista não tem ingerência sobre isso, a transportadora não tem como controlar o comportamento dos seus passageiros e não tem como tomar as devidas precauções. Sendo assim, ele não deve ser responsabilizado por esse dano. Mas, por outro lado, ele poderia fornecer vagões exclusivos para mulheres, ou então ter alguém para controlar o que acontece nos vagões: esse caso então se encaixaria como fortuito interno. O STJ considera que esta hipótese não é um fortuito externo.

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Naomi Sugita ReisB. Passageiro: obrigação do pagamento da tarifa, de comportar-se fe forma adequada

{art. 738}; direito de desistir do transporte {art. 740}; direito de prosseguir a imagem e caso de interrupção {art. 741}.

C. Condutor: direito a ser remunerado, inclusive com direito de retenção sobre a bagagem {art. 742}; pode se recusar a transportar alguem inconveniente {art. 738} ou aquele que por motivos de saúde, higiene ou comportamentos agressivos, coloque os demais em risco {art. 739}.

D. Prova do contrato de transporte: bilhete.

III. Transporte de coisas: a responsabilidade é objetiva do transportador. Se no transporte de pessoas chamamos de passagem, no transporte de coisas chamamos de “conhecimento de transporte”. Há uma forte vinculação tributária - para poder transportar algo, deverá ter uma NF acompanhando a coisa. O conhecimento de transporte, que limita a responsabilidade do transportador {art. 750}. O conhecimento de transporte é título de crédito impróprio. O transportador tem direito de retenção sobre a coisa transportada.

A. Prova: conhecimento de transporte {art. 744}. Nele, devem estar descritas as condições do transporte, as peculiaridades da mercadoria {art. 745}. A prova par ao transportador de que a mercadoria fora entregue é uma parte do conhecimento de transporte.

B. Incortems: interferem em quem pode pleitear a responsabilização objetiva. Vão vir descritos em um determinado local da NF.

1. CIF 2. FOB

IV. Transporte cumulativo/ multimodal: 1+1+1+1. Neste tipo de transporte, a mercadoria é carregada utilizando-se vários meios de transporte e a responsabilidade será de cada transportador — cada transportador se responsabiliza por cada transporte {art. 733}. Caso haja unicidade de operação {contrata a agencia X, que será responsável ela mesma por todos os transportes, todas as etapas}, o responsável será o agente de transporte {a agência} por todo o transporte, que buscará regresso em face do responsável {art. 2º da Lei 9611/98}.

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