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1 PÁGINA 1 PÁGINA 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA CONTEÚDO DO CADERNO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I – 2009.1 Assuntos de Introdução ao Estudo do Direito I LIVROS RECOMENDADOS PARA A DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I - Lições preliminares de Direito, Editora Saraiva, Autor: Miguel Reale; - Curso de Introdução ao Estudo do Direito; Editora Noeses, Autor: Professor Rubem Nogueira; - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, Editora Saraiva, Autores: Maria Helena Diniz e Antônio Luís Machado Neto; - Introdução ao Estudo do Direito, Editora Atlas, Autor: Tércio Sampaio Ferraz Jr; - Curso de Introdução ao Estudo do Direito, Editora Juspodium. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - Direito, justiça e princípios constitucionais, Editora Juspodium. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - A Nova Interpretação do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Editora Saraiva. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - Devido Processo Legal: uma visão pós-moderna. Editora Juspodium. - O caso dos exploradores de caverna, Edição de Sérgio Antônio Fobres. Autor: Lon Füller, da Harvard Law; - O que é Direito? Editora Brasiliense, Coletânea Primeiros Passos. Autor: Roberto Lyra Filho; - Para Entender Kelsen, Editora Saraiva. Autor: Fábio Ulhôa Coelho. ACEPÇÕES DA PALAVRA DIREITO SUBJETIVA Enquanto faculdade ou prerrogativa, reconhecida pela lei às pessoas em suas relações recíprocas; OBJETIVA Enquanto conjunto de normas éticas que organizam o Estado e a sociedade; NATURAL Enquanto realização de uma idéia universal; CIENTÍFICA Enquanto forma de concepção do fenômeno jurídico. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PROPEDÊUTICA Tudo aquilo que serve de Introdução ao Estudo de uma ciência; ENCICLOPÉDICA Visão multidisciplinar do Direito; EPISTEMOLÓGICA Estudo crítico da ciência. Problematiza os conceitos; ZETÉTICA Perquirir, investigar (atenção: Zetética ≠ Dogmática). Sendo que a dogmática não é característica da Introdução ao Estudo do Direito. Direito seria um conjunto de regras necessárias à convivência em sociedade, buscando um convívio harmônico e pacífico; Direito é um aparato de idéias, devidamente conservadas em textos jurídicos, que servem para conduzir a sociedade humana com harmonia, senso de justiça fraterna e responsabilidade mútua entre seus membros; Recomendação: Ler e inter-relacionar o Direito com outras ciências. As demais disciplinas circulam o Direito, no mesmo tempo em que se inter-relacionam. DIREITO Sistema de normas de conduta imposto por um conjunto de instituições para regular as relações sociais. Se relaciona com outras ciências, como Sociologia, Filosofia, Economia e Política.

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PÁGINA 1 PÁGINA 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA CONTEÚDO DO CADERNO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I – 2009.1

Assuntos de Introdução ao Estudo do Direito I

LIVROS RECOMENDADOS PARA A DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I - Lições preliminares de Direito, Editora Saraiva, Autor: Miguel Reale; - Curso de Introdução ao Estudo do Direito; Editora Noeses, Autor: Professor Rubem Nogueira; - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, Editora Saraiva, Autores: Maria Helena Diniz e Antônio Luís Machado Neto; - Introdução ao Estudo do Direito, Editora Atlas, Autor: Tércio Sampaio Ferraz Jr; - Curso de Introdução ao Estudo do Direito, Editora Juspodium. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - Direito, justiça e princípios constitucionais, Editora Juspodium. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - A Nova Interpretação do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Editora Saraiva. Autor: Ricardo Maurício Freire Soares; - Devido Processo Legal: uma visão pós-moderna. Editora Juspodium. - O caso dos exploradores de caverna, Edição de Sérgio Antônio Fobres. Autor: Lon Füller, da Harvard Law; - O que é Direito? Editora Brasiliense, Coletânea Primeiros Passos. Autor: Roberto Lyra Filho; - Para Entender Kelsen, Editora Saraiva. Autor: Fábio Ulhôa Coelho.

ACEPÇÕES DA PALAVRA DIREITO

SUBJETIVA – Enquanto faculdade ou prerrogativa, reconhecida pela lei às pessoas em

suas relações recíprocas; OBJETIVA – Enquanto conjunto de normas éticas que organizam o Estado e a

sociedade; NATURAL – Enquanto realização de uma idéia universal; CIENTÍFICA – Enquanto forma de concepção do fenômeno jurídico.

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

PROPEDÊUTICA – Tudo aquilo que serve de Introdução ao Estudo de uma ciência; ENCICLOPÉDICA – Visão multidisciplinar do Direito; EPISTEMOLÓGICA – Estudo crítico da ciência. Problematiza os conceitos; ZETÉTICA – Perquirir, investigar (atenção: Zetética ≠ Dogmática). Sendo que a

dogmática não é característica da Introdução ao Estudo do Direito. Direito seria um conjunto de regras necessárias à convivência em sociedade, buscando um convívio harmônico e pacífico; Direito é um aparato de idéias, devidamente conservadas em textos jurídicos, que servem para conduzir a sociedade humana com harmonia, senso de justiça fraterna e responsabilidade mútua entre seus membros; Recomendação: Ler e inter-relacionar o Direito com outras ciências. As demais disciplinas circulam o Direito, no mesmo tempo em que se inter-relacionam. DIREITO – Sistema de normas de conduta imposto por um conjunto de instituições para regular as relações sociais. Se relaciona com outras ciências, como Sociologia, Filosofia, Economia e Política.

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TEORIA DA NORMA JURÍDICA

SOCIEDADE SUB-HUMANA – Formada por animais que apresentam um padrão social

diferente da sociedade humana. São regidas pelo determinismo biológico porque o comportamento é pré-determinado por suas características biológicas. Não necessitam, inclusive, da organização de um sistema de normas sociais. Ex.: sociedade das abelhas, das formigas, dos cupins;

SOCIEDADE HUMANA – Composta por indivíduos da espécie homo sapiens sapiens. Inexistência do determinismo biológico. O ser humano é essencialmente livre, sendo que a todo instante ele pode comportar-se de modo novo e imprevisível. A necessidade de organização e harmonia justifica a criação de normas. Toda e qualquer sociedade necessita dos padrões de comportamento das normas sociais.

A lógica normativa é a lógica do “dever ser” que difere da lógica “do ser”. Em termos do “dever ser”, o Brasil tem um dos Direitos mais avançados do globo terrestre. Mas, no nível “do ser” não é tão bom.

TIPOS DE NORMAS

NORMAS TÉCNICAS – São aquelas normas sociais que regulam de forma neutra o comportamento humano, buscando otimizar a realização de determinado resultado. NORMAS ÉTICAS – São aquelas normas sociais que procuram tutelar a dignidade da pessoa humana, priorizando a busca de meios socialmente legítimos para a realização de determinadas finalidades. Muitas vezes normas técnicas e éticas entram em conflito.

NORMAS DE ETIQUETA SOCIAL OU DE CORTESIA OU FOLKSWAIS – São aquelas que disciplinam certos hábitos de educação e polidez no trato com as pessoas e as coisas. A sua inobservância não fere a estrutura social. O descumprimento configura uma descortesia, que é punida através de uma sanção difusam, pois ela é aplicada pelo conjunto da opinião pública (todos os agentes sociais) sem que esteja pré-determinada pelo sistema social;

NORMAS MORAIS – São aquelas normas ética que regulam aquelas padrões de comportamento e valores mais relevantes para a vida social. É mais relevante do que a descortesia quando não-observada. A sanção moral apresenta também natureza difusa, revelando-se mais contundente que a sanção oriunda da descortesia;

NORMAS JURÍDICAS – São aquelas de maior relevância para a vida social, visto que tutelam o chamado “mínimo ético”, aquele padrão de valores e condutas que são indispensáveis para a vida social. Seu descumprimento configura uma ilicitude, punida através de sanções idealizadas.

ATRIBUTOS DA NORMA JURÍDICA

- Hans Kelsen propôs a hierarquia das normas jurídicas:

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VALIDADE – É a quelidade que diz respeito à pertinência da norma jurídica para o

ordenamento jurídico, seja para requisitos formais seja para requisitos materiais.

o VALIDADE MATERIAL – Quando há compatibilidade da norma jurídica inferior com o conteúdo da norma jurídica superior.

o VALIDADE FORMAL – O atributo da norma guarda pertinência com a competência (quem produz a norma).

COMPETÊNCIA – É a habilitação para produzir a norma inferior. PROCEDIMENTOS – É o conjunto de ritos que devem ser observados

para a produção de uma lei (Artigos 59 a 69 da Constituição Federal de 1988);.

VIGÊNCIA – Se refere à questão temporal da norma. Diz-se que a norma tem “vigência” no momento em que ela entra em vigor até quando ela é revogada ou acaba seu prazo de duração.

o VIGÊNCIA DETERMINADA – O próprio termo da lei já determina e especifica o prazo de duração da lei.

o VIGÊNCIA INDETERMINADA – Só deixa de valer se for revogada. o Vigência ≠ Incidência. o Vigência ≠ Vigor.

VALIDADE

MATERIAL FORMAL

COMPETÊNCIA PROCEDIMENTO

CONSTI

TUIÇÃO

LEGISLAÇÃO

ATOS ADMINISTRATIVOS

CONTRATOS / TESTAMENTOS /

DECISÕES JUDICIAIS

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EFICÁCIA – É a possibilidade concreta de produção do efeito jurídico, seja porque a norma jurídica não depende de outra norma jurídica (aplicabilidade) seja porque seus efeitos se produzem no campo da realidade social (efetividade).

LEGITIMIDADE – É o atributo normativo que designa a compatibilidade vertical da norma jurídica com o valor social do justo. Sendo assim, norma jurídica legítima é aquela considerada justa pelos agentes sociais.

INCIDÊNCIA – O nexo entre a data da publicação e o início da vigência da lei. o INCIDÊNCIA MEDIATA – Há um espaço entre a data da publicação e o início da

vigência da lei. Por exemplo, o Novo Código Civil. o INCIDÊNCIA IMEDIATA – A incidência ocorre logo após a publicação. Ex.:

Constituição de 1989. o Quando a lei não expressar o período de vacatio legis, este será de 45 dias. Se

for de vigência no exterior, será de 3 meses o vacatio legis. VIGOR – Diz-se que a norma tem vigor enquanto a força impositiva vigora. Se após

certo tempo uma lei mudar e um fato ter ocorrido naquele tempo em que ele ainda vigorava, esse fato será julgado com base naquela lei anterior.

o LEI EXCEPCIONAL – É aplicada em razão de calamidade pública. Em enchentes, por exemplo.

o LEI TEMPORÁRIA – Tem um tempo pré-estabelecido. Por exemplo, a Regulamentação Orçamentária Anual.

o ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL (Art. 3º) – Exceção aplicada à lei do vigor da norma. Dispõe a adequação à lei penal mais benéfica ao réu.

o Recomendações de filmes: “As duas faces de um crime”; “Náufrago”, com Tom Hanks.

o Os comportamento sociais, em sua grande maioria, são lícitos porque a vida é um contínuo de licitudes e um descontínuo de ilicitudes. Logo, tudo que não está juridicamente proibido está jurdicamente permitido. Sendo assim, muitas descortesias e imoralidades se enquadram no campo da licitude.

REVOGAÇÃO – Pode ser feita por lei de igual ou superior hierarquia (nunca de inferior). Pode ser classificada em expressa ou tácita, e em total ou parcial.

o REVOGAÇÃO EXPRESSA – A revogação está escrita na nova lei. o REVOGAÇÃO TÁCITA – Dá para perceber a partir da análise teleológica. É

implícita. Observa-se que a frase “Revoga-se as disposições em contrário”, constitui exemplo de revogação tácita.

o REVOGAÇÃO TOTAL – Quando modifica plenamente o sistema normativo anterior.

o REVOGAÇÃO PARCIAL – Quando somente alguns trechos sofrem alteração significativa.

o Revogação ≠ Repristinação. REPRISTINAÇÃO – É a restauração dos efeitos jurídicos de uma norma revogada pela

renovação da norma revogadora. É um dispositivo que fere a segurança jurídica. Exemplo: A lei 1 foi revogada por uma lei 2. Contudo, a lei 2 foi, posteriormente,

revogada por uma lei 3. Assim, a lei 1 retorna com seus efeitos jurídicos. o REPRISTINAÇÃO EXPRESSA – A repristinação está escrita na lei mais nova.

Admitida no Brasil. o REPRISTINAÇÃO TÁCITA – Represtinação que é perceptível com uma análise

teleológica. Caso que não existe no Brasil. QUÓRUM DE APROVAÇÃO – Número mínimo de pessoas presentes exigido por lei ou

estatuto para que uma lei seja aprovada. o LEI ORDINÁRIA – É aprovada com a decisão da maioria simples dos presentes.

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o LEI COMPLEMENTAR – É aprovada com a decisão da maioria absoluta (ausentes e presentes).

RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA – João, casado com Maria, pratica adultério com Joana em 2000, quando essa ação constituía crime. Em 2009, ao ser julgado, vigora a lei 2, na qual adultério não é crime. Assim, se aplicará a lei 2 a João, mesmo que o “crime” ocorrera no vigor da lei 1. Isso porque a lei 2 é mais amena, mais benéfica ao réu do que a lei 1.

DIFERENÇAS ENTRE DIREITO E MORAL

O Direito não é algo diverso da Moral, mas é uma parte desta, armada de garantias específicas. Há um campo de ação comum a ambos, pelo mínimo ético.

DIREITO MORAL

BILATERALIDADE – As normas jurídicas disciplinam sempre as relações inter-subjetivas, pois em toda e qualquer situação jurídica pode-se visualizar um sujeito ativo (titular de um direito subjetivo) e de outro lado um sujeito passivo (obrigado ao cumprimento de um dever jurídico). Logo, o dever jurídico pode ser exigido institucionalmente.

UNILATERALIDADE – O dever moral se dirige à consciência do indivíduo isolado, sem que houvesse a possibilidade de exigir-se institucionalmente ao cumprimento do dever moral.

EXTERIORIDADE – A aplicação de normas jurídicas demanda a exteriorização do comportamento humano no mundo concreto.

INTERIORIDADE - O descumprimento das normas morais poderia convenientemente ocorrer na dimensão psíquica do próprio sujeito ético, independentemente de qualquer conduta manifestada no plano das relações sociais.

HETERONOMIA – As normas jurídicas, em sua maioria, são impostas por uma instituição distinta dos indivíduos (o Estado), independentemente da sua vontade.

AUTONOMIA – Preceitos morais seriam livremente aceitos pelos sujeitos, independentemente da imposição de um ente exterior aos indivíduos

MAIOR COERCITIVIDADE – O temor de aplicação de uma sanção emanada pelo direito seria maior do que o medo emanado das normas morais nas sociedades ocidentais contemporâneas.

MENOR COERCITIVIDADE - O temor de aplicação de uma sanção difusa advinda das normas morais seria menor do que o medo emanada por uma sanção do direito nas sociedades ocidentais contemporâneas.

CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

QUANTO AO SISTEMA

NORMAS JURÍDICAS INTERNAS – São normas jurídicas produzidas no âmbito do ordenamento jurídico nacional. Por exemplo, a Constituição Federal de 1988.

NORMAS JURÍDICAS ESTRANGEIRAS – São normas jurídicas produzidas no âmbito da comunidade jurídica internacional. Por exemplo: Protocol de Kyoto.

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As normas jurídicas nacionais, sustentam os tratados internacionais através de suas constituições, sendo que o ápice das normas internacionais são os costumes internacionais.

QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO LEGAL

NORMAS EXTRAVAGANTES – Normas jurídicas que disciplinam um campo específico da convivência humana.

NORMAS CONSOLIDADAS – Normas jurídicas que integram uma consolidação, a qual pode ser entendida como uma reunião assistemática de leis extravagantes e esparsas. Por exemplo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

NORMAS CODIFICADAS – Normas jurídicas que empregam o conceito de Código, que expressa uma lei dotada de grande sistematização lógica. Por exemplo, o Código Civil e o Código Penal. O Século XIX foi a era das grandes codificações, tendo, por exemplo, o Código Napoleônico de 1804. O Século XX, contudo, marcou a era da descodificação com o surgimento de um número expressivo de leis extravagantes, inclusive no Brasil, formando as chamadas minorias jurídicas. O Código é a obra-prima da racionalidade jurídica.

QUANTO À RELAÇÃO COM A VONTADE DAS PARTES

NORMAS COAGENTES – Normas jurídicas que restringem a liberdade individual, devendo ser obedecidas independentemente da vontade dos cidadãos. Por exemplo: artigo 14 da Constituição Federal, que refere-se à obrigação do voto.

NORMAS DISPOSITIVAS – São aquelas normas jurídicas que admitem a modulação de seus efeitos pela vontade dos cidadãos. Exemplo: o regime legal é o regime parcial de bens, ao que diz respeito ao casamento; mas este pode ser mudado com o consentimento de ambas as partes.

QUANTO À RELAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS ENTRE SI

PRIMÁRIAS – São aquelas normas jurídicas que disciplinam diretamente o comportamento humano, proibindo ou permitindo uma dada conduta. Por exemplo: a norma do Artigo 121 do Código Penal, que estabelece que matar alguém constitui crime de homicídio.

SECUNDÁRIAS – São aquelas normas jurídicas que disciplinam o modo de criação, interpretação e aplicação de outras normas jurídicas. Atingem, portanto, indiretamente o comportamento humano em sociedade. Por exemplo, a lei de Introdução do Código Civil, na parte que expressa a obrigatoriedade de aplicar as normas almejando o bem-comum. Miguel

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Reale as chama de norma de organização e Tércio Sampaio as chama de normas dependentes.

QUANTO À VALIDADE

QUANTO À VALIDADE ESPACIAL

NORMAS GERAIS – Normas jurídicas que são válidas na totalidade do território de um estado soberano. Por exemplo, as leis federais, no Brasil.

NORMAS ESPECIAIS - Normas jurídicas que são válidas em parcelas específicas do território de um estado soberano. Por exemplo, leis estaduais e leis municipais.

QUANTO À VALIDADE TEMPORAL

NORMAS DE VIGÊNCIA DETERMINADA – Normas jurídicas que apresentam um tempo de validade pré-estabelecido.

NORMAS DE VIGÊNCIA INDETERMINADA – Normas jurídicas que não apresentam um tempo de validade pré-estabelecido.

NORMAS DE VIGÊNCIA IMEDIATA – São normas jurídicas que as quais o início de sua vigência ocorre na data de publicação.

NORMAS DE VIGÊNCIA MEDIATA – Normas jurídicas que prevêem caso de vacatio legis.

NORMA JURÍDICA RETROATIVA – São aquelas normas jurídicas que alcançam os fatos ocorridos antes do início de sua vigência. Exemplo: Retroatividade da lei penal mais benéfica.

NORMA JURÍDICA IRRETROATIVA – São aquelas normas jurídicas que não alcançam as situações ocorridas antes da sua vigência, respeitando-se, em nome da segurança jurídica, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

QUANTO À VALIDADE MATERIAL

PÚBLICO – São aquelas normas jurídicas que disciplinam as relações entre o Estado e a sociedade, bem como a relação entre os órgãos estatais, buscando realizar a supremacia do interesse coletivo sobre os interesses individuais. Por exemplo: normas de direito tributário, de direito administrativo, de direito constitucional. As normas de direito público são, literalmente, coagentes. Hoje verifica-se o fenômeno da privatização do Direito Público. Por exemplo, a Lei que criou o PPP (Parceria Público Privada).

PRIVADO – Normas jurídicas que disciplinam as relações entre particulares. Priorizam a busca da supremacia da vontade e dos interesses individuais. Exemplo: normas contratuais, civis, trabalhistas. Inclusive, verifica-se hoje o fenômeno da publitização do Direito Privado que passa a ser regido pelo princípio da supremacia do interesse coletivo.

QUANTO À VALIDADE PESSOAL

NORMAS GENÉRICAS – São aquelas normas jurídicas que se dirigem à totalidade da comunidade jurídica. Por exemplo, as leis.

NORMAS INDIVIDUALIZADAS – São aquelas normas jurídicas que se dirigem a destinatário específico. Por exemplo, contrato de compra e venda e o contrato de trabalho.

ATO JURÍDICO PERFEITO – Qualquer negócio jurídico celebrado à luz de um sistema

jurídico anterior. COISA JULGADA – É aquela decisão judicial que não admite mais recurso.

REGRAS JURÍDICAS – São aquelas que regem situações específicas e determinadas. Impõem, previamente, as conseqüências advindas de sua aplicação no mundo do Direito. Concedem segurança e previsibilidade ao Direito. As regras são aplicadas de modo quase

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mecânico e automático pelos operadores do Direito. Por exemplo: “Brasília é a capital Federal”; “A língua portuguesa é o idioma oficial”. PRINCÍPIOS JURÍDICOS – São aqueles que corporificam um dos mais altos fins e valores do Direito. Desempenham os princípios jurídicos a função de poder se habilitar a tomada de decisões mais justas. Pela sua maleabilidade e abertura semântica o princípio requer uma atividade de concretização pelo intérprete do Direito. A aplicação destes exige a valoração e a construção do significado mais justo da norma jurídica, à luz do caso concreto. Embora os princípios jurídicos possam ser aplicados autonomamente num dado caso concreto, podem também servir de vetores interpretativos para a aplicação das regras jurídicas, propiciando a construção de opções hermenêuticas mais justas. Logo, embora não haja uma hierarquia formal entre regras e princípios que estejam no mesmo patamar do sistema jurídico, prode-se dizer que os princípios são superiores às regras no sentido valorativo.

MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

Pensar dogmático: Inegabilidade dos pontos de partida e proibição do ”non liquet” (não-

decisão); “Decidibilidade do conflito”; COERÊNCIA – Esse método pressupõe que se deve almejar a melhor interpretação da

norma. Em que há coesão, ligação ou adesão recíproca, que procede com lógica, conseqüente.

CONSENSO – A busca do sentido funcional da norma. Deve haver um respaldo social através da interpretação da norma.

JUSTIÇA – Busca o sentido justo da norma para atender ao pressuposto axiológico do Direito – a Justiça.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL – É o mais antigo dos métodos de interpretação, já usado no tempo do Corpus Juris Civilis. Propõe a interpretação da norma a partir do entendimento das palavras que a compõe. No entanto, há certos incovenientes, pois esse método analisa cada uma das palavras especificamente, sem atender ao todo. Além disso, ele se despreende da questão ideológica da norma, ou seja, da realidade prática. Serve mais como análise do que como solução de problema.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO LÓGICO – Ainda se prende ao sentido textual da norma e baseia-se na razão das leis “axio legis”. Pode criar uma série de retóricas. Por exemplo, as qualificações de posse e as classificações de princípios.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICO – Deve-se fazer uma compreensão paralela entre a teoria das fontes do Direito e a teoria da Interpretação. Ademais, deve-se interpretar o artigo com os incisos e as alíneas, concatenando-as.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO – Trabalha com a ideia de respaldo da norma, em conformidade com o momento histórico na qual foi criada.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICO – Privilegia, outrossim, os fatos, concatena a lei com a realidade na qual ela está inserida. Baseia-se nas ideias de Émile Durkheim, em sua obra “As regras do método sociológico”. Leva em conta análises culturais e sociais, não fazendo uma análise unicamente textual.

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MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICO – Vem de “telos” (fim). É um método diretamente ligado ao aspecto prático da decisão. Toda norma tem um propósito, o qual deve ser almejado numa interpretação.

QUESTÕES PROPOSTAS DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

1 – POR QUE SE DIZ QUE A DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO APRESENTA NATUREZA ZETÉTICA? FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. A disciplina Introdução ao Estudo do Direito se propõe a questionar os fenômenos jurídicos nas suas mais variadas dimensões na procura da legitimidade do ato jurídico em busca do justo, e não em descrever objetivamente a normatização do sistema de direito. Ex. Análise do roubo famélico; aborto de fato anencéfalo. 2 – AS NORMAS TÉCNICAS E AS NORMAS ÉTICAS PODEM ENTRAR EM CONFLITO NA REGULAÇÃO DA CONDUTA HUMANA. FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. Sim. Isso porque as normas técnicas são normas sociais que regulam de forma neutra o comportamento humano, buscando otimizar a realização de determinados resultados, ou seja, priorizando-se os fins em detrimento dos meios, logo podem permitir meios que não são legítimos e que atentem à dignidade humana. Ex.: Bomba atômica lançada em Hiroshima e Nagasaki. As normas éticas são normas sociais que procuram meios legítimos para preservar a dignidade humana, regulamentam a conduta humana sob o alicerce da moral para realização de determinadas finalidades. Exemplo: análise de pesquisas bio-moleculares. 3 – POR QUE SE AFIRMA QUE O DIREITO, DIFERENTEMENTE DA MORAL, É UM FENÔMENO ÉTICO BILATERAL? FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. O Direito é um fenômeno bilateral porque (para alguns pensadores) as normas jurídicas disciplinam sempre as relações intersubjetivas. Em toda e qualquer situação jurídica pode-se visualizar um sujeito ativo titular de um direito subjetivo e de outro um sujeito passivo obrigado ao cumprimento de um dever jurídico, logo o dever jurídico pode ser exigido institucionalmente. No caso da moral, tal fenômeno é unilateral, haja vista que o dever moral está relacionado à consciência do indivíduo isolado, sem que houvesse possibilidade de exigir-se institucionalmente o cumprimento deste dever. Exemplo: Mau pensamento de matar. “O indivíduo isolado pode cometer imoralidade, mas sozinho não pode cometer ilicitudes” Em resumo: o dever moral não pode ser exigido institucionalmente, mas o Direito pode ser cobrado judicialmente, isto porque a bilateralidade faz parte da essência do fenômeno jurídico. 4 – O DIREITO É SEMPRE MAIS COERCITIVO QUE A MORAL? FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. Não, dentro do campo particular. Do ponto de vista contemporâneo tanto as sociedades orientais quanto ocidentais são bons exemplos. No caso das sociedades orientais contemporâneas a moral e a ética religiosa são mais fortes que o Direito (Ex. O adultério tem pena de morte). Nas sociedades ocidentais, em algumas comunidades, o código de ética e moral contra um estrupador é a pena capital por meio de linchamento, embora o Código Penal preveja pena privativa de liberdade. Vale ressaltar que saindo deste universo particular, no geral, as normas jurídicas são mais coercitivas que as normas morais porque o temor da aplicação de uma sanção gerada pelo Direito infunde no sujeito uma ação social reguladora de seus atos, iso porque as normas jurídicas causam “dor” quando infligidas.

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5 – DIFERENCIE VALIDADE MATERIAL DA VALIDADE FORMAL NA TEORIA DAS NORMAS JURÍDICAS. FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. A validade é a qualidade da norma jurídica que designa a pertinência da norma jurídica para o ordenamento jurídico seja para requsitos formais seja para requisitos materiais. A validade material é um atributo normativo que exprime a relação de hierarquia da norma jurídica, ou seja, a compatibilidade da norma jurídica inferior com a norma jurídica superior. Refere-se à matéria. A validade formal é quando a norma cumpre os requisitos do processo de elaboração e de competência de quem elabora. Refere-se à forma dividindo-se entre competência (quem produz) e procedimento (ritualística [como]). Por exemplo – Competência: “Um juiz da vara de execução penal não pode acolher uma petição de divórcio”; Por exemplo – Procedimento: “Um juiz da vara de execução penal decide um crime doloso sem convocar o tribunal do júri”. Em resumo: a validade relaciona-se com três perguntas básicas: O quê? (matéria contida na norma – pertinência); Quem? (competência de quem elabora a norma); Como? Procedimento para elaboração da norma). Podemos nos valer da pirâmide kelseniana, na qual a Constitução Federal está no ápice, subordinando as Leis (ordens, complementos), as quais subordinam os Atos Administrativos que, por sua vez, são hierarquicamente superiores às sentenças, aos contratos e aos testamentos. 6 – DIFERENCIE OS ATRIBUTOS JURÍDICOS DA VIGÊNCIA E DA INCIDÊNCIA. Vigência refere-se ao aspecto temporal da norma (data da publicação). Esta se inicia no momento em que entra em vigor até quando ela é revogada ou acaba seu prazo de duração. Neste caso, a vigência pode ser determinada (quando no próprio corpo da lei já vem especificado seu prazo de duração, por exemplo, nas medidas provisórias (60+60 dias), e na Lei Orçamentária Anual); ou indeterminada (quando o próprio corpo da lei não especifica o prazo de duração, por exemplo a Constituição Federal de 1988). Incidência refere-se à data do cumprimento da norma. A incidência pode ser imediata (sincronização entre data de publicação – vigência – e data do seu cumprimento – por exemplo, a Constituição Federal de 1988) ou mediata (diferenciação entre a data da publicação – vigência – e a data do seu cumprimento, ocorrendo vacatio legis). 7 – PODE UMA NORMA JURÍDICA PERDER A VIGÊNCIA E CONTINUAR EM VIGOR? FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. Sim. Nas hipóteses de ultratividade da lei penal (art. 13) (norma vigente anterior continua produzindo seus efeitos, perfeitamente aplicável nos casos de lei excepcional temporária. Ex. Improbidade Administrativa durante a vigência da Lei Orçamentária de 2008, cujo julgamento será em 2009), o que corrobora com o conceito de vigor: “o tempo rege o ato”. Temos uma exceção: retroatividade da lei penal em benefício ao réu. 8 – PODE UMA NORMA JURÍDICA SER EFETIVA SEM APRESENTAR LEGITIMIDADE? FUNDAMENTE E EXEMPLIFIQUE. Sim, bata que a norma seja observada pelos agentes sociais dentro dos preceitos do “ser” ainda que não sejam justos no plano do “dever ser”. Por exemplo, cobrança da CPMF, voto obrigatório. A eficácia é a possibilidade concreta de a norma jurídica produzir seus efeitos seja porque independe de outra norma – aplicabilidade, por exemplo, Constituição Federal de 1988 –, seja porque seus efeitos se produzem na vida social (efetividade, por exemplo, Lei Seca – 2008). Embora a efetividade possa ser negativa como é o caso do não-cumprimento da lei municipal

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dos 15 minutos em estabelecimentos bancários e da lei municipal concernente a ceder o lugar para idosos em ônibus. A legitimidade é o atributo jurídico que designa a relação da norma jurídica com o valor justiça. A norma jurídica pode não ser efetiva nem legítima. Exemplo: aborto em clínicas clandestinas. 9 – CLASSIFIQUE ATO À RELAÇÃO DA NORMA JURÍDICA ENTRE SI O ART. 5, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, SE É PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA. “Art 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]”. Trata-se de norma primária, pois regula diretamente o comportamento humano sem precisar de outra norma. 10 – CLASSIFIQUE QUANTO AO GRAU DE APLICABILIDADE O ARTIGO 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. “Art. 2º - São poderes da União, independentes e harmônicos entre si: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Norma plena, pois produz amplos efeitos – ainda que, neste exemplo específico, de efetividade duvidosa.

TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO

Campo da Teoria Geral do Direito que discute as condições de sistematização do conhecimento jurídico. Busca-se, assim, a aplicação da noção de sistema ao estudo do Direito. Entende-se por sistema o conjunto ordenado de elementos. Todo sistema se compõe de um repertório e de uma estrutura. - Recomendação de autores a serem analisados: Puchta, da Escola de Savigny; e Merkel, discípulo de Hans Kelsen.

A NOÇÃO DE SISTEMA JURÍDICO – No que se refere ao sistema jurídico, a visão mais utilizada e difundida na Ciência Jurídica é aquela oferecida por Hans Kelsen, para quem o sistema jurídico seria uma pirâmide de normas organizadas hierarquicamente, relacionando-se através de laços de validade formal e material. O repertório do Sistema Jurídico é composto de normas jurídicas.

SISTEMA

REPERTÓRIO – Conjunto de

elementos do sistema.

ESTRUTURA – Padrão de

organização dos elementos do

sistema.

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O DOGMA DA COMPLETUDE

Todo sistema racional precisa ser considerado completo. O sistema jurídico seria completo caso pudesse oferecer respostas para todos os problemas da vida social. Discute-se, assim, sobre a completude do sistema jurídico.

ARGUMENTOS EM PROL DA COMPLETUDE o O sistema jurídico seria completo porque se poderia sempre aplicar o axioma

lógico – “Tudo o que não está proibido está juridicamente permitido”. o O sistema jurídico seria completo porque o juiz, em última análise, não poderia

deixar de julgar alegando a falta ou obscuridade da lei. No momento em que decide a norma jurídica individualizada - a decisão judicial – oferece resposta para os problemas da vida.

- Recomendações de consulta na legislação: Artigo 4 da Lei de Introdução ao Código Civil e Artigo 126 do Código de Processo Civil.

ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À COMPLETUDE o O Direito é incompleto e, portanto, lacunoso, porque não logra regular todas as

situações da vida social, pois a sociedade se transformaria sempre num ritmo mais célere que o Direito. Conforme dizia o pensador Condorcet – “O Direito é o último vagão do comboio das transformações sociais”.

o O sistema jurídico seria aberto e lacunoso porque a ordem jurídica preveria instrumentos de integração ou de preenchimento de lacunas (analogia, costumes, princípios gerais e equidade).

Salvo o melhor juízo, o sistema jurídico é completável, porque a todo instante os profissionais do Direito estariam preenchendo as suas lacunas provisórias. TIPOS DE LACUNAS JURÍDICAS – Lacunas jurídicas são vazios que comprometem a totalidade do Sistema Jurídico.

LACUNAS NORMATIVAS – São as lacunas jurídicas propriamente ditas, que se evidenciam toda vez que as situações sociais carecem de regulação normativa expressa. Por exemplo, não existe legislação acerca do Comércio Eletrônico.

LACUNAS FÁTICAS – Se verificam toda vez que as normas jurídicas vigentes não estiverem sendo cumpridas no plano dos fatos sociais (perda de efetividade). Por exemplo, o art. 229 do Código Penal.

LACUNAS VALORATIVAS – Se verificam toda vez que a norma jurídica ferir a ideia de justiça, consensualmente aceita (perda de legitimidade). Por exemplo, o artigo 14 da Constituição, que trata da obrigatoriedade do direito do voto; e a legislação tributária brasileira que ordena o imposto de renda.

INTEGRAÇÃO DO DIREITO – É o processo de preenchimento das lacunas jurídicas (normativas, fáticas e valorativas). Existem quatro tipos de Integração do Direito:

A ANALOGIA – Consiste na busca da correlação de uma norma jurídica vigente com uma situação jurídica semelhante que não está expressamente regulada pelo Direito. Ela não é somente lógica, mas também axiológica. Não confundi-la com a interpretação extensiva, que amplia o sentido e o alcance de uma dada norma jurídica.

OS COSTUMES – São práticas sociais reiteradas que estabelecem elementos jurídicos capazes de servir para o preenchimento das lacunas do Direito.

OS PRINCÍPIOS JURÍDICOS – São preceitos éticos expressos ou implícitos no sistema jurídico que podem ser utilizados para o preenchimento de lacunas jurídicas a fim de potencializar decisões mais justas.

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A EQUIDADE – A aplicação da justiça particular do intérprete à luz do caso concreto. Uma espécie de aplicação do sentimento do justo. A lei de arbitragem no Brasil prevê a possibilidade de uma solução extra-judicial pela equidade.

A VONTADE DO LEGISLADOR E A VONTADE DA LEI

A hermenêutica jurídica pode ser sintetizada através do grande debata que se estabelece entre a vontade do legislador e a vontade da lei. SUBJETIVISMO - Para os subjetivistas, na interpretação do Direito e especialmente na interpretação da lei, caberia ao intérprete do Direito reproduzir a vontade originária do legislador. Sendo assim, a interpretação jurídica deve privilegiar a utilização do método de interpretação gramatical, com a redução do intérprete no processo hermenêutico. Resulta num sistema jurídico fechado e estático. Foi o modelo hegemônico durante a Era positivista do Direito (Séc. XIX à primeira metade do Séc. XX).

VANTAGENS DO SUBJETIVISMO o Preservação da legalidade e do valor da segurança jurídica. o Manutenção do princípio da separação de poderes.

DESVANTAGENS DO SUBJETIVISMO o Impede a adaptação do sistema jurídico aos novos fatos e valores sociais, pois a

valorização da vontade do legislador “petrifica” o sistema jurídico. o Alguns aplicadores do Direito asseveram que não existiria uma “vontade” do

legislador, pois este é, concretamente, um colegiado formado por diversas pessoas, com interesses, valores e visões de mundo distintos.

OBJETIVISMO – Para os defensores da vontade da lei (objetivistas), a lei se destacaria do legislador para adquirir uma vida própria através da mediação interpretativa. Valoriza-se o papel criativo e construtivodo intérprete do Direito na adaptação constante do sistema jurídico na realidade social. Priorizam-se os métodos sociológicos e teleológicos de interpretação do Direito. Daí advém a visão prospectiva de um sistema jurídico aberto e dinâmico.

VANTAGENS DO OBJETIVISMO o Conciliação da norma jurídica com os atributos da legitimidade e da eficácia

social. Um tratamento mais realista e axiológico. o A busca da vontade da lei potencializa o desenvolvimento de interpretações de

origens mais justas e condizentes com os anseios sociais. DESVANTAGENS DO OBJETIVISMO

o Gera a insegurança jurídica, exigência fundamental do Estado Democrático do Direito.

o Ampliação dos riscos de interpretação arbitrária. o O conceito de “vontade da lei” é ilusório, pois quem detém essa “vontade” é o

intérprete.

O DOGMA DA COERÊNCIA

Exigência racional de que o sistema jurídico resolva as contradições internas da ordem jurídica. Nesse sentido a Ciência do Direito busca oferecer mecanismos capazes para a solução das chamadas “antinomias jurídicas”. ANTINOMIAS JURÍDICAS – Contradições normativas existentes no sistema jurídico, seja porque uma norma permite um dado comportamento social, seja porque outra norma proíbe o

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mesmo comportamento social. Diante dessas ocorrências serão chamados os juristas para restaurar a racionalidade do sistema jurídico.

PRÓPRIAS – Se verificam quando ocorre uma contradição direta entre uma norma que proíbe e outra norma que permite uma conduta humana.

IMPRÓPRIAS – Não expressam uma contradição interna entre uma norma que proíbe e outra norma que permite a conduta humana. A contradição envolve valores, fins e terminologias dos modelos normativos.

o ANTINOMIA IMPRÓPRIA VALORATIVA – Não confundir com “lacuna valorativa”. Ocorre toda vez que um sistema jurídico pune severamente uma conduta menos grave e, ao mesmo tempo, pune de forma mais branda uma conduta mais lesiva à sociedade.

o ANTINOMIA IMPRÓPRIA TELEOLÓGICA – Se verifica toda vez que uma norma jurídica não logra oferecer os meios para a realização dos fins de outra norma jurídica.

o ANTINOMIA IMPRÓPRIA SEMÂNTICA – Quando um vocábulo é utilizado com sentidos diversos, a depender da norma do determinado ramo jurídico. Diz respeito ao conflito semântico.

o ANTINOMIA IMPRÓPRIA PRINCIPIOLÓGICA – Assim que há conflito entre princípios jurídicos que sinalizam para soluções hermenêuticas diversas.

CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO DAS ANTINOMIAS JURÍDICAS

CRITÉRIO HIERÁRQUICO – Havendo conflitos entre normas de diferentes hierarquias, prevalecerá a norma jurídica superior em face da norma jurídica inferior. Por exemplo, a revogação da lei de Imprensa, que foi produzida no contexto da ditadura militar brasileira.

CRITÉRIO CRONOLÓGICO – Havendo conflitos de normas de mesma hierarquia, prevalecerá a norma jurídica anterior.

CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE – Havendo norma de mesma hierarquia em conflito, prevalece aquela que trata mais especificamente do tema, em detrimento daquela outra mais abrangente.

CRITÉRIO DE NUMERAÇÃO DE BENS E INTERESSES – Nova técnica hermenêutica, aplicada em hipóteses de contradição entre diversos princípios jurídicos. Caberá ao intérprete do Direito estabelecer uma prioridade concreta entre as normas principiológicas, a fim de aplicar aquele princípio que se revele mais justo.

ANTINOMIA DE SEGUNDO GRAU – Se verifica toda vez que há um conflito entre uma norma jurídica anterior especial e outra norma jurídica posterior geral (choque entre critérios cronológico e de especialidade). Usualmente resolve-se em favor do critério de especialidade. Contudo, realmente, vai depender das circunstâncias de cada caso concreto.

O DOGMA DA UNIDADE

É a exigência racional de que o sistema jurídico ofereça um ponto de convergência para os seus elementos normativos. Trata-se do debate acerca da existência de uma norma jurídica fundamental. Assim, o sistema só será completo se for coerente e uno em seu ponto de convergencia. A solução de Hans Kelsen foi a construção da teoria da norma hipotética fundamental, também chamada de “Grundnorm”. Segundo ele, os juristas deveriam pressupor uma norma jurídica hipotética que estivesse a par de fundamentar toda a ordem jurídica, que fosse axiologicamente neutro e desvinculado da realidade social.

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A norma hipotética estabeleceria, assim, a aceitação dogmática do Sistema Jurídico, independentemente de sua coloração político-ideológica. Os críticos de Kelsen sustentam que a norma hipotética fundamental seria um excesso metafísico da Teoria Pura do Direito, pois, em realidade, ela seria uma criação dos juristas, sem respaldo concreto. Um dos críticos é Norberto Bobbio, jurista italiano, para quem dever-se-ia buscar o fundamento mais concreto para a ordem jurídica. Segundo ele, seria a norma fundamental o ato de vontade do poder constituinte originário, que cria a ordem jurídica a partir do nascimento de uma Constituição. Salvo o melhor juízo, o ponto de unidade do Sistema Jurídico pode ser representado pelo conjunto de valores corporificados nos princípios constitucionais fundamentais de cada constituição. Essa é a tese preconizada por autores pós-positivistas, como Canaris e Larenz acerca do conceito de unidade axiológica da Constituição. Cada Constituição traria um princípio fundamental que mediaria a relação do sistema jurídico com a realidade dos fatos nos sistemas sociais, espelhando as circunstâncias históricas que justificam a ordem jurídica. No Direito brasileiro, esta poderia ser o Princípio de Dignidade da Pessoa Humana.

FONTES DO DIREITO

Remete à raiz, ao local de onde advém o Direito, saber o que é e o que não é Direito. Podem ser classificadas em: materiais e formais, estatais e não-estatais.

MATERIAIS – Externo do estudo jurídico em si, mas servem de material ao Direito. São o conjunto de valores e circunstâncias sociais que contribuem para a formação do conteúdo das normas jurídicas (segundo Maria Helena Diniz). Tudo aquilo que está no externo, mas gravita em torno do Direito.

FORMAIS – É a forma como o Direito se manifesta. Indispensavelmente deve haver um centro de poder que sirva de sustentáculo para a manifestação do direito formal.

o ESTATAIS – Emanam do Estado e têm esse centro de poder. A legislação e a jurisprudência são bons exemplos.

LEGISLAÇÃO – Fonte primordial do ordenamento jurídico. Tem as características de abstração e impessoalidade. Sua elaboração é competência do Poder Legislativo, com exceção de alguns casos em que o poder Executivo pode criar Medidas Provisórias. Abaixo denota-se os tipos de legislação: Emendas Constitucionais Leis Ordinárias Leis Complementares Leis Delegadas Resoluções Legislativas Medidas Provisórias Decretos Legislativos Ainda assim, pode ser idealizada em conformidade com a “civil law”, de origem romano-germânica, cuja fonte primária é a lei; ou com a “common law”, a qual vigora nos EUA e na Inglaterra, cuja fonte primária são os costumes e precedentes judiciais. Hoje estuda-se a possibilidade de “simbiose” da common law com a civil law.

JURISPRUDÊNCIA – Conjunto de decisões reiteradas dos juízes e tribunais. Súmulas são entendimentos reiterados, com valor vinculante,

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sujeitas a um processo específico dentro do Supremo Tribunal Federal. Servem como fundação da convicção do juiz. Súmulas vinculantes são sujeitas a um processo específico dentro do Supremo Tribunal Federal. São objetos de discussão, pois dificultam a livre expressão e decisão do juiz.

o NÃO-ESTATAIS – Não emanam diretamente do estado. Os costumes, a doutrina, os negócios jurídicos e o poder normativo dos grupos sociais.

DOUTRINA – Conjunto de obras e pareceres daqueles que são os pensadores do Direito. Constitui toda a produção teórica do Direito. Serve para a elaboração de conceitos, com uma importante função crítica. Contudo são a última fonte, hierarquicamente, no que diz respeito à importância. Serve para elaboração de conceitos. Tem uma importante função crítica, não obstante.

COSTUME JURÍDICO – São práticas sociais que, uma vez reiteradamente ocorrentes na sociedade, são acrescidas da convicção da sua necessidade jurídica, servindo para a disciplina bilateral das relações humanas. SECUNDUM LEGEM – Oferece suporte para a criação e a interpretação do Direito. PROETER LEGEM – Visam suprir as lacunas da lei. Coexistem com o nosso ordenamento jurídico. CONTRA LEGEM – Ferem frontalmente a lei. Podem produzir um desuso. No âmbito do Direito Internacional e do Direito Comercial o costume tem uma importância bem mais relevante.

NEGÓCIO JURÍDICO – São normas particulares individualizadas que ocorrem de acordos de vontades e que geram direitos e deveres.

PODER NORMATIVO DOS GRUPOS SOCIAIS – São prerrogativas que o ordenamento jurídico estatal assegurou para criação de legislação própria em determinados grupos de pessoas, como condomínios e sindicatos.

- A intervenção da política e da economia na “confecção” de normas de Direito; - Fontes materiais e fontes formais; - Jurisprudência: conceitos e exemplos; - A jurisprudência cria um sistema “vivo” e concreto. Ela recebe críticas de autores que idealizam algo mais conservador. Embora haja essas críticas, a jurisprudência é bastante utilizada; - Súmulas são enunciados escritos que dão maior clareza às decisões dos tribunais. Elas simplificam a própria atuação do intérprete do Direito (seja advogado, promotor, juiz, procurador, doutrinador). Ela robustece o entendimento, concedendo forças de convencimento; - Diferenciação entre súmula vinculante e súmula não-vinculante; - Doutrina – Conjunto das obras de tradutores jurídicos. Pode ser utilizada para embasar peças processuais. Configura o chamado “argumento de autoridade”; - Costumes – Práticas sociais repetidas, acrescidas da concepção de sua importância jurídica. Por exemplo, o cheque pré-datado, que transformou o cheque comum – à vista – numa garantia de dívida; - Negócios jurídicos; - Poder normativo dos grupos socias.

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RELAÇÃO JURÍDICA

O DIREITO COMO FENÔMENO BILATERAL – O estudo da relação jurídica no plano da

Teoria Geral do Direito pressupõe a diferenciação entre Direito e Moral. Enquanto o fenômeno jurídico só se manifesta com base na existência da intersubjetividade humana, conferindo exigibilidade ao dever jurídico, os preceitos morais podem ser internalizados pelo indivíduo isolado, sem que possa falar da exigibilidade do dever moral. Sendo o Direito uma instância ética marcada pela bilateralidade dos comportamentos humanos, apresentará sempre um caráter relacional.

O CONCEITO DE RELAÇÃO JURÍDICA – É o vínculo bilateral atribuído pelo sistema normativo do Direito que enlaça o sujeito ativo, titular do direito subjetivo e o sujeito passivo, obrigado ao cumprimento de um dever jurídico, possibilitando, assim, a exigibilidade institucional desse dever jurídico, englobando, ainda, na hipótese de descumprimento do dever jurídico pela ilicitude, a possibilidade de aplicação da sanção jurídica.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELAÇÃO JURÍDICA

FATOS JURÍDICOS – É o acontecimento natural ou humano capaz de realizar um

suposto normativo produzindo conseqüências no indivíduo. Tanto pode criar, como modificar, como extinguir uma parcela do Direito posta ao indivíduo. São três as características.

1. Manifestar no plano exterior para que ocorra a relação de intersubjetividade; 2. Afetar duas ou mais pessoas; 3. Podem ser naturais ou humanos.

Hipótese normativa

Fato

Situação Ativa (direitos)

Relação Jurídica Fato Jurídico

Situação Passiva (deveres)

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- CONCEITO DE FATO JURÍDICO NATURAL; - CONCEITO DE FATO JURÍDICO NATURAL ORDINÁRIO – Quando são previsíveis e que geram conseqüências para o direito: vida, morte, tempo; - CONCEITO DE FATO JURÍDICO NATURAL EXTRAORDINÁRIO – São resultados de “caso fortuito” ou “força maior”, como terremotos, temporais; - CONCEITO DE FATO JURÍDICO HUMANO – Produzido por pessoas – podem ser voluntários ou involuntários, conforme realizados ou não com liberdade, discernimento e vontade. - CONCEITO DE JURÍDICO HUMANO VOLUNTÁRIO – Podem ser classificados em atos lícitos e atos ilícitos. - CONCEITO DE JURÍDICO HUMANO INVOLUNTÁRIO – Não produzem efeitos na ordem jurídica, salvo algumas situações específicas, como hipnose, sonambulismo, entre algumas outras. As demais formas de manifestação involuntária não são classificadas como pertinentes ao âmbito dos fatos jurídicos. “Alguns autores distinguem os fatos jurídicos em fatos naturais ou exteriores, em que a vontade não tem parte, como disse Teixeira de Freitas, ou fatos jurídicos em sentido estrito, e atos humanos, os quais são constituídos pelos fatos lícitos e ilícitos, sendo os lícitos subdivididos em meramente lícitos e negócios jurídicos. Os atos humanos meramente lícitos são aqueles

FATOS JURÍDICOS

Produz conseqüências

NATURAIS

Advindo da natureza

HUMANOS

Advindo do ser humano

ORDINÁRIO

Previsíveis

EXTRAORDINÁRIO

Imprevisíveis

VOLUNTÁRIO

Feito com discernimento

INVOLUNTÁRIO

Feito sem discernimento

LÍCITOS

Conformes à lei

vigente

ILÍCITOS

Não-conformes à lei

MERAMENTE LÍCITOS

Inexiste intuito

negocial

NEGÓCIOS JURÍDICOS

Existe intuito negocial

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nos quais inexiste intuito negocial. O agente alcança aí um efeito jurídico vantajoso que não tinha em mira obter. Os atos lícitos providos do intuito negocial são os negócios jurídicos. O núcleo central do negócio jurídico é uma declaração de vontade”. Trecho das páginas 108-109 do Curso de Introdução ao Estudo do Direito, de Rubem Nogueira, 2ª Edição. “A expressão fato jurídico aplica-se ora no sentido lato, para designar todo e qualquer suposto de direito, ora no sentido restrito, para designar apenas as hipóteses normativas constantes de um acontecimento natural e, pois, independentes da vontade humana. No primeiro sentido, a expressão fato jurídico abrange os chamados atos jurídicos, nos segundo, é a sua antítese. Temos aí a mais antiga e tradicional classificação dos fatos jurídicos: se acontecimentos naturais e, pois, independentes da vontade humana, são fatos jurídicos (strictu sensu), se decorrentes da vontade humana, atos jurídicos”. Trecho da página 167 do Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, de Antônio Luís Machado Neto. SUJEITOS DE DIREITO Podem ser ativos ou passivos, de acordo com a situação na qual o indivíduo está inserido numa forma de “aliança” jurídica.

- PESSOA NATURAL – É o ser humano ou o indivíduo. Segundo o artigo 2º do Código Civil, o surgimento se dá com o nascimento com vida. - PESSOA JURÍDICA – São associações ou sociedades que são realidades às quais o mundo jurídico atribui personalidade. São pessoas constituídas para realização de fins coletivos e permanentes a quem a ordem jurídica reconhece capacidade de Direito. As pessoas jurídicas, assim como as pessoas físicas, têm começo e fim. Elas surgem com a inscrição do registro de seus atos institutivos e findam em hipótese de falência, fusão.

ATIVO – O indivíduo está na situação de detentor de direitos. PASSIVO – O indivíduo está na situação de detentor de deveres.

SUJEITO DE DIREITO =

PESSOAS

INDIVIDUAIS (Pessoa

Natural) – ou (pessoa física)

COLETIVOS (Pessoa

jurídica)

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DIREITO SUBJETIVO – É a faculdade conferida ao sujeito ativo de uma relação jurídica para exigir o cumprimento do dever jurídico pelo sujeito passivo, dentro da própria bilateralidade inerente ao fenômeno jurídico. Discute-se muito sobre a natureza do Direito Subjetivo, havendo quatro posições fundamentais de discussão sobre a matéria:

1. O fundamento do Direito Subjetivo seria a vontade humana; 2. O Direito Subjetivo repousaria na ideia de interesse; 3. O Direito Subjetivo seria um misto de interesse e vontade; 4. O Direito Subjetivo é uma decorrência pura e exclusiva da norma jurídica, não existindo

como uma realidade estanque. Segundo Hans Kelsen, ele seria como o direito objetivamente previsto no sistema normativo.

5. O Direito Subjetivo atua como manifestação da liberdade humana no campo do juridicamente permitido.

No que se refere à conduta que concretiza o Direito Subjetivo: o AÇÃO – Comportamentos positivos (fazer algo); o OMISSÃO – Comportamentos negativos (não fazer algo).

No que se refere à classificação de oponibilidade: o ABSOLUTOS – Oponíveis perante toda a comunidade jurídica. Aqui o

sujeito passivo é indeterminado. O dever passivo correlato é o de omissão. Geralmente possuem natureza extra-patrimonial.

o RELATIVOS – Oponíveis perante um sujeito de Direito especificamente considerado. Corresponde a deveres jurídicos de ação diante de sujeitos passivos determinados.

DEVER JURÍDICO – Conduta realizada pelo sujeito passivo da relação jurídica a fim de satisfazer o conteúdo do Direito Subjetivo titularizado pelo Sujeito Ativo. Nesse sentido, pode-se afirmar que o objeto do dever do Direito Subjetivo é a materialização de um dever jurídico. O dever jurídico pode consistir numa obrigação de fazer, dar, ou não fazer um determinado comportamento. Por exemplo de relação “de fazer”: um pintor contratado a pintar um quadro; “de dar”: o contribuinte é obrigado a recolher o Imposto de Renda ao Fisco; “de não fazer”:

PESSOAS JURÍDICAS

(duas classificações)

DIREITO PRIVADO – Algumas

com fins econômicos e outras não

(associações).

UNIVERSITAS BONORUM –

Composta por reunião de bens

com um fim específico. Por

exemplo, as Fundações.

DIREITO PÚBLICO EXTERNO –

São, por exemplo, a União, a

ONU, a Santa Sé.

UNIVERSITAS PERSONARUM –

Composta por reunião de pessoas

(Associações ou Sociedades)

DIREITO PÚBLICO INTERNO – A

União, os Estados-membros, os

Municípios.

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PÁGINA 21 PÁGINA 21 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA CONTEÚDO DO CADERNO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I – 2009.1

“deve-se respeitar a vida humana, ou seja, não fazer algum mal que possa comprometê-la”. Diferentemente dos deveres morais, os deveres jurídicos podem ser exigidos institucionalmente. Isso ocorre usualmente através da propositura de uma ação judicial perante o Poder Judiciário, cabendo ao Estado-Juiz exigir compulsoriamente a realização do dever jurídico ou o seu correspondente pelo infrator. ILÍCITO – É o comportamento que o sujeito passivo expressa toda vez que descumpre um dado dever jurídico. Nesse sentido, enquanto agente livre, poderá o infrator ingressar na zona mais restrita dos comportamentos proibidos juridicamente. A ilicitude se apresenta, pois, como a mais grave modalidade de infração ética, quando comparada com a descortesia e a imoralidade. A ilicitude pode se concretizar quando através de uma ação contrária ao Sistema Normativo, quando mediante o exercício dessarazoado de um Direito Subjetivo. Nesse último caso, verifica-se uma forma muito peculiar de ilicitude: o abuso de Direito. Por exemplo: o credor de uma dívida exigindo que o devedor saia de casa, com batidas fortes na casa e gritarias, para efetuar o pagamento da dívida. SANÇÃO – É a conseqüência imputada pelo Sistema Normativo à ilicitude. Caso o sujeito passivo da relação jurídica descumpra um dever jurídico, deve ser aplicada uma sanção. Diferentemente das oriundas de uma descortesia, que seria uma sanção difusa, as sanções jurídicas apresentam, nas socieades ocidentais contemporâneas, uma natureza organizada. A sanção jurídica é organizada porque a sua natureza e os critérios de sua aplicação estão pré-determinados pela primazia do Estado na sua criação e também na sua aplicação aos infratores, uma vez observado o devido processo legal. A sanão jurídica pode acarretar, basicamente, duas espécies de constrangimento:

PESSOAL – Quando afeta diretamente o “ser” do indivíduo, como na hipótese de aplicação da pena de morte ou de uma pena privativa de liberdade.

PATRIMONIAL – Quando afeta o seu patrimônio financeiro. Atualmente verifica-se uma progressiva substituição da feição repressiva pela função restituitiva do Direito (valorização das sanções patrimoniais em detrimento das sanções penais), algo tratado por Émile Durkheim.

O termo “sanção” é também empregado das seguintes maneiras no plano da Ciência Jurídica: Ato de aprovação de um projeto de lei pelo Chefe do Poder Executivo; Conjunto de prêmios, recompensas ou estímulos oferecidos pela ordem judicial para

induzir comportamentos socialmente aceitos. São as chamadas “sanções premiais”, a exemplo das isenções fiscais, do livramento condicional e da delação premiada”.