constitucional pedro taques
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DIREITO CONSTITUCIONAL – Pedro Taques
05/02/2010
Poder na CF:
FALTOU A 1ª ACEPÇÃO.
2ª Acepção:
Poder = órgão – Divisão orgânica. art. 2º
Tecnicamente, o Brasil não adotou a divisão tripartite de Montesquieu, pq o poder é
uno, é indivisível. Esse poder é a soberania popular. Este poder tem 3 órgãos: L, E. J. É
melhor usar divisão orgânica.
No momento em que uma lei é criada, quem fala é o próprio Estado e não o
Legislativo.
3ª Acepção:
Poder = função
Arts. 44: função legislativa.
Art. 76: função executiva
Art. 92: função jurisdicional.
Esse poder é uno, indivisível.
Todas as nossas Constituições adotaram a divisão orgânica de Montesquieu (1748 –
Livro Espírito das leis), menos a Constituição de 24 (nesta adotou-se a teoria do Poder
Moderador – teoria de A. Benjamim Constant).
Montesquieu: tudo estaria perdido, se no mesmo homem ou no mesmo colégio de
homem se concentrassem todas as funções.
Antes de Montesquieu, em 340 antes de Cristo, Aristóteles já havia identificado que
aquele que exerce poder dentro de uma comunidade exerce basicamente 3 funções
(inova a ordem geral criando regras de conduta, aplica a norma ao caso concreto,
resolve os conflitos de interesse). Na Idade Média, os gregos foram traduzidos.
Também, um pensador inglês, em 1690, escreveu o segundo tratado do governo civil,
Jonh Locke, que já havia identificado as 3 funções de quem exerce o poder.
Apesar de ter se inspirado nesses dois pensadores, não ter sido o primeiro a pensar na
divisão tripartite do poder, Montesquieu deu um passo além e disse: para evitar o
arbítrio, para se evitar o absolutismo, cada uma dessas atribuições deve ser exercida
por um órgão independente. Assim, Montesquieu cria a divisão orgânica em 1748.
Essa divisão orgânica de Montesquieu deve ser aplicada hoje sem maiores
preocupações?
Essa divisão é importante (tem um significado na luta contra o absolutismo), mas é
histórica, não é científica. A realidade de hoje é diversa.
Gilmar Mendes: Devemos fazer uma compreensão constitucionalmente adequada da
divisão orgânica de Montesquieu. Ou seja, entendê-la de acordo com o momento em
que vivemos.
A partir de agora, vamos fazer essa compreensão constitucionalmente adequada da
divisão orgânica:
Atribuições precípuas dos órgãos:
Legislativo:
-Inovar a ordem jurídica, criando aquilo que conhecemos genericamente como lei. 59.
-Fiscaliza. Existem duas espécies: fiscalização político-administrativa (58: Comissões),
fiscalização econômico-financeira (70/75: TC: auxilia o Legislativo nesta sua atribuição
de fiscalização econômico-financeira)
Essa atribuição de inovar a ordem jurídica pelos parlamentos europeus surge a partir
da Rev. Francesa, de 1789, daí o positivismo. Antes disso, o Legislativo já tinha a
atribuição de fiscalizar.
Essas duas atribuições são básicas, típicas do Legislativo.
Executivo:
-aplica a lei ao caso concreto, administrando a coisa pública. 37 (princípio da
legalidade)
Judiciário:
Se estivéssemos em 1748, o Judiciário tinha a atribuição de aplicar a lei ao caso
concreto, substituindo a vontade das partes, resolvendo o conflito, com força
definitiva. Isso porque Montesquieu desconfiava dos juízes (faziam parte do segundo
Estado. A França era dividida em 3 estados, por isso o juiz devia ser neutro: 1ª
Religiosos; 2º: nobres; 3º: burguesia). Hj sabemos que os juízes não são neutros, mas
impessoais.
Hj, temos as seguintes atribuições precípuas do Judiciário:
-defende e busca a concretização de direitos fundamentais. O judiciário está vinculado
aos direitos fundamentais.
-faz o controle de constitucionalidade. Esse controle mantém a força normativa e a
supremacia da CF. A CF é norma jurídica super imperativa e, portanto, deve ser
obedecida.
-legislação judicial. Ex: súmula vinculante, sentenças aditivas, mandado de injunção.
Essa função não existia antes.
-faz a mediação dos conflitos entre os poderes. Funciona quase que como um poder
moderador, notadamente o STF.
Zilmar Faquin e LFG falam dessas atribuições precípuas do Judiciário nessa
interpretação constitucionalmente adequada da divisão orgânica de Montesquieu.
Hoje é melhor falar em divisão orgânica, em atribuição precípua dos órgãos exercentes
de poder.
Para se evitar que um órgão se sobreponha aos outros, para garantia da
independência, cada órgão exerce a sua atribuição precípua e outras duas de forma
atípica.
Funções atípicas:
Legislativo:
-julga. 52, §: julga o PR por crime de responsabilidade.
-administra seus assuntos internos. 51, IV e 52, XIII.
Executivo:
-julga. Ex: concurso público, PAT, PADisciplinar, licitação.
-inova a ordem jurídica. Ex: MP
OBS: Lei Delegada não é atribuição legislativa do Executivo, já a MP é exercício de
função atípica do Executivo. MP e lei delegada têm naturezas diferentes. A lei delegada
é exceção ao princípio da indelegabilidade.
Judiciário:
-administra seus assuntos internos. É o alto governo dos tribunais.
-inova a ordem jurídica. Quando cria os regimentos internos dos tribunais.
Razão de existência das funções atípicas: garantia da independência, evitar que um
poder possa se imiscuir dos assuntos dos outros, evita-se a hipertrofia de um poder.
Evolução histórica das atribuições:
Sec. XIX: Depois da Revolução Francesa, tivemos o sec XIX, quando tivemos o Estado
Liberal. Este estado é só garantidor. O sec XIX foi o século do Legislativo, notadamente
tivemos os direitos de primeira geração.
Sec. XX: surge o Estado Social. Este Estado, além de garantidor, é tb prestador. Direitos
fundamentais de 2ª geração. Temos maior força do Executivo.
Sec. XXI: temos o Estado Constitucional Humanitário, de direito, Social. Estado
Democrático de Direito. É um estado além de garantidor, além de prestador, é
transformador. Essa transformação se faz através do Judiciário. Esse poder é inerte,
daí temos o MP, a Defensoria. Hj, o Judiciário está em nossas vidas. As principais
decisões são tomadas pelo STF. Daí começam a existir críticas: ativismo judicial,
judicialização de políticas públicas. São críticas a respeito da força do Judiciário,
notadamente do STF. Isso é algo recente.
FUNÇÃO LEGISLATIVA
Disposições gerais sobre o Legislativo da União:
O Legislativo da União é exercido pelo CN. É bicameral: existem duas casas ou câmaras
no Legislativo. Nos Estados e Municípios, o Legislativo é unicameral.
Na Inglaterra tb tem o bicameralismo (Câmara Baixa e Alta).
Diferença entre Inglaterra e Brasil:
Aqui temos um bicameralismo do tipo federativo (temos uma câmara onde estão os
representantes do povo – art. 45 e temos uma câmara onde estão os representantes
dos Estados – art. 46). Isso é assim por uma característica do nosso Federalismo: Para
que exista uma federação, necessário se faz que os Estados tenham representantes na
criação da lei.
Na Inglaterra tem um bicameralismo do tipo aristocrata. Há a casa baixa
(representantes dos comuns) e casa alta (representantes dos lordes).
Formas de manifestação do Legislativo da União:
1. Pela Câmara dos Deputados (art. 51), sozinha, através de uma resolução. Só a
Câmara, sem o Senado, sem o papa, sem o PR. Competências privativas.
2. Pelo Senado Federal (52), sozinho, através de uma resolução. Competências
privativas.
3. Pelo CN (49), através de Decreto Legislativo. Competências exclusivas.
Mas, falar em competência privativa ou exclusiva não faz diferença como faz nos
artigos 20 a 25.
Nessas 3 formas de manifestação, não existe sanção ou veto, o PR não participa, por
isso é privativa, exclusiva.
4. Pela Câmara dos Deputados + Senado Federal/ Senado + Câmara. Art. 48, através de
LO ou LC. Aqui, com sanção ou veto do PR.
5. Pelo Legislativo investido do poder constituinte derivado reformador, através de EC.
Art. 60. Aqui é sem sanção/veto do PR.
Câmara dos Deputados:
A CD é composta hj de 513 deputados federais. Eles são representantes do povo
(brasileiros natos e naturalizados – art. 12. Estrangeiro, apátrida não fazem parte do
conceito de povo).
Cada estado tem de 8 a 70 deputados federais. Este número leva em conta a
população, os habitantes, em proporção.
População: abrange brasileiros natos, naturalizados, estrangeiros, quase-nacionais e
apátridas.
Assim, os deputados são representantes do povo, mas seu nº na Câmara é de acordo
com a população.
SP: 70 deputados; AC: 8 deputados.
Se territórios forem criados, cada um terá 4 deputados federais.
O nº dos deputados federais repercute no nº dos estaduais, assim, se um Estado tiver
o número mínimo, terá 24 deputados estaduais: 8 x 3=24. Se tiver 12 x 3= 36. Mas, se
o tiver 13: 36 + 1=37. Se tiver 15: 36 + 3=39. Art. 27.
O deputado federal exerce mandato de 4 anos.
São eleitos pelo sistema eleitoral proporcional. Nesse sistema, nem sempre o mais
votado será o eleito. Valoriza-se o partido político em detrimento do candidato.
Deputados Federais, Estaduais e Vereadores adotam esse sistema.
Senadores:
São representantes dos Estados-Membros e do DF. 46. Cada estado e o DF tem 3
senadores, são iguais no pacto federativo. Temos 81 senadores no total.
Mandato: 8 anos. A renovação é diferente da da Câmara. A cada eleição a renovação
se dá por 1/3 intercalado com 2/3 dos senadores. Nas eleições passadas, cada estado
elegeu 1 senador (27 novos senadores); em 2010, cada estado elegerá 2 senadores (54
novos senadores).
Assim, sempre temos senadores exercendo mandato, representando o pacto
federativo.
Na Câmara a renovação é 100%.
Sistema eleitoral: majoritário (como nas eleições para PR, Governadores e Prefeito). O
candidato mais votado será o eleito, valorizamos o candidato.
Não teremos senadores nos territórios, somente 4 deputados federais.
Legislatura:
É o lapso temporal de 4 anos, que corresponde ao mandato do deputado federal. 44,
§.
Sessão legislativa: 57
Cada sessão legislativa se divide em dois períodos legislativos.
Mesas: 57, §§4º e 5º
Órgão de direção de um colegiado, exercendo atribuições administrativas e
legislativas.
Temos 3 mesas: mesa da Câmara (só deputados), mesa do Senado (só senadores),
mesa do CN (senadores e deputados, nessa ordem).
Nas mesas, temos o
-Presidente, Primeiro Vice-Presidente, Segundo Vice-Presidente
-1º, 2º, 3º e 4º Secretário.
Todas essas pessoas exercem mandato de 2 anos. Temos 2 mesas por casa, em cada
legislatura.
É proibida a reeleição para o mesmo cargo na eleição subseqüente.
As Constituições Estaduais podem estabelecer de forma diferente, podem permitir a
reeleição para o mesmo cargo da mesa nas assembléias legislativas.
O Presidente do Senado, automaticamente, é o PR do CN.
A CF valoriza a mesa, esta exerce atribuições importantíssimas:
*Mesas do Senado e da Câmara:
-podem ajuizar ADI. 103
-Podem promulgar EC. 60, §
-art. 80: o PR do Senado e da Câmara estão na linha sucessória do PR.
Atribuições do Legislativo da União:
1. Inova a ordem jurídica, criando o que conhecemos genericamente como lei.
*Relação entre lei e direitos fundamentais: o art. 5, II nos dá notícia do princípio da
liberdade de ação ou legalidade (“Tudo é permitido, desde que não seja proibido”). O
que pode nos proibir é a lei, esta é o limite, podendo estabelecer restrições aos
direitos fundamentais. O princípio da legalidade funciona como muro de contenção,
evitando o arbítrio, o absolutismo. A lei é a proteção dos indivíduos, mas não é qq lei. É
uma lei criada em obediência ao devido processo legislativo constitucional.
Devido processo legislativo constitucional: é a receita, a forma pela qual uma lei é
construída. É um conjunto de fases, etapas, constitucionalmente previstas que têm por
objetivo a criação da norma jurídica.
*Relação entre o devido processo legislativo constitucional e o controle de
constitucionalidade: se a lei desobedece ao devido processo legislativo constitucional,
a lei será inconstitucional. Inconstitucionalidade formal ou orgânica ou monodinâmica.
Espécies de processos legislativos:
1. Processo Legislativo Ordinário ou Comum
É a regra, a base. Aquele que deve ser seguido, obedecido, respeitado pelos projetos
de LO ou pelos projetos de LC.
2. Processo Legislativo Sumário
Curto, reduzido. É aquele em que o chefe do Executivo, nos projetos de lei de sua
iniciativa solicita urgência. Temos duas espécies do sumário: facultativo e obrigatório.
3. Processo Legislativo Especial
Na realidade, existem vários processos legislativos especiais, um para cada espécie
normativa que não seja LO ou LC. É um processo diferente.
Art. 59: espécies normativas:
I: especial
II e III: ordinário
IV: especial...
Pq o processo legislativo de elaboração da emenda é diferente do da LC/LO? Porque a
nossa CF é do tipo rígida, ela tem um processo mais solene, mais dificultoso, mais
burocrático para a reforma da CF. (Poder constituinte decorrente reformador).
Processo legislativo ordinário ou Comum:
Fases:
1. Iniciativa:
2. Debate ou discussão
3. Votação ou aprovação
4. Sanção ou veto
5. Promulgação
6. Publicação
JAS reduz essas fases a 3:
1. Iniciativa
2. Fase constitutiva: dividida em duas:
a. Constitutiva por deliberação legislativa (debate e votação)
b. Constitutiva por deliberação executiva (sanção/veto)
3. Fase complementar (promulgação/publicação)
1. Iniciativa:
Tb chamada de competência legislativa ou capacidade legiferante ou proposição ou
disposição.
Quem apresenta projeto de LO e LC? Art. 61: autoridades, entidades dotadas de
iniciativa.
Espécies de iniciativas:
*Iniciativa privativa, reservada ou exclusiva: a CF reserva exclusivamente a um dos
legitimados a apresentação do PL. art. 61, §1º, art. 93, art. 125, §3º (só o TJ pode
apresentar PL para criação da Justiça Militar estadual).
*Iniciativa geral ou comum: a CF não reserva a matéria a nenhum dos legitimados. É a
exclusão.
*Iniciativa popular: é uma exceção à democracia semi-direta. Em regra, no Brasil, a
democracia é semi-direta (o povo exerce o poder através dos representantes eleitos).
Excepcionalmente, o povo exerce o poder diretamente: art. 61, §2º (iniciativa
popular), Tribunal do Júri (5º, XXXVIII), Ação Popular (5º, LXXIII) e Consulta Popular (14:
referendo ou plebiscito).
Em regra, todo PL inicia na Câmara dos Deputados (casa iniciadora – Senado: casa
revisora). Há duas exceções de PL que começam no Senado: PL apresentado por
Senador e PL apresentado por comissão do Senado.
2. Debate ou discussão:
Ocorre em 3 momentos, na Câmara e depois Senado:
a. CCJ (faz o controle preventivo de constitucionalidade. Todo PL,
obrigatoriamente, deve passar pela CCJ).
b. Comissão Temática ou Comissão Material. Cada matéria tem uma comissão
(comissão de saúde, de educação,...). Se o PL tem relação com a saúde, vai para
a comissão de saúde e respectivamente.
c. Plenário da casa legislativa.
3. Votação ou aprovação:
Essência do parlamento: Na democracia, a maioria vence, mas respeita os direitos das
minorias. Estas devem ser respeitadas.
PL de lei ordinária: aprovação por maioria simples. 47.
PL de LC: aprovação por maioria absoluta. 69
Teoria das Maiorias:
*Maioria absoluta: é o primeiro nº inteiro acima da metade dos membros da casa
legislativa. Não é metade mais um. Sempre fixa.
*Maioria simples: é variável. Depende do nº de presentes na sessão legislativa. É
qualquer maioria desde que se faça presente ao menos a maioria absoluta.
*Maioria qualificada: se representa em uma fração. É situação especial. Ex: 1/3, 2/3,
3/5.
4. Sanção ou veto:
Mecanismo de controle. Freios e Contrapesos. Legislativo cria o projeto, o Executivo
pode vetar o projeto. Isso evita que o Legislativo seja hipertrofiado.
-Sanção é a concordância do chefe do executivo aos termos do projeto. A sanção pode
ser de duas espécies: tácita (é o silêncio do PR criando direitos. É o transcurso em
branco do prazo de 15 dias úteis, sem manifestação do chefe do Executivo.) ou
expressa (exarada, editada, no prazo de até 15 dias úteis).
-Veto é a discordância, a contrariedade do chefe do Executivo com os termos do PL.
Não existe veto tácito. Todo veto deve ser expresso, no prazo de até 15 dias úteis.
Todo veto é relativo, o PR não tem a última palavra ao vetar, o veto pode ser
derrubado, (em sessão conjunta, por maioria absoluta, por escrutínio secreto, em 30
dias). 76, §4º. Em 24, o veto era absoluto.
O PR tem 48 horas para levar o veto ao CN e suas razões.
*Espécies de veto:
-Veto quanto ao conteúdo:
-Quanto ao conteúdo jurídico: o PR veta por entender que o PL é inconstitucional.
Esse veto é um controle preventivo de constitucionalidade.
-Quanto ao conteúdo político: o PR entende que o PL não é oportuno ou não é
conveniente, pq falta interesse público. 66
-Veto quanto à extensão
-Total: a contrariedade se manifesta em relação a todo o projeto.
-Parcial: a contrariedade se manifesta em relação a partes do PL. Não é possível o
veto de palavras, expressões. O veto deve ser do artigo, § ou alínea inteiros. §2º, 66.
*Qual a relação do veto parcial com o controle de constitucionalidade? No veto
parcial, não pode ser reconhecida a inconstitucionalidade de palavras, o que pode ser
feito no controle concentrado pelo STF. É o princípio da parcelaridade (possibilidade
de o STF “vetar” expressões).
Mas, atenção: atendendo ao princípio da correção funcional, o STF não pode atuar
no controle concentrado de constitucionalidade como legislador positivo.
16/03/10
*Derrubada do veto:
Em 48 horas do veto, o PR leva suas razões ao Senado, na pessoa do presidente do
Senado, que é o presidente do CN.
O CN pode rejeitar o veto, desde que cumpra os seguintes requisitos (66, §4º):
1. Sessão conjunta do CN.
2. O CN tem o prazo de até 30 dias para se manifestar em sessão conjunta
3. Quórum para derrubada: maioria absoluta
4. Escrutínio secreto
1. Sessão conjunta: é # de sessão unicameral. A sessão conjunta se faz num único
momento, mas por casa: maioria absoluta de 513 deputados e maioria absoluta
de 81 senadores.
Na sessão unicameral, a reunião tb se faz no mesmo instante, mas a maioria
absoluta é de 594 (deputados + senadores). Temos sessão unicameral no art. 3
do ADCT (revisão constitucional).
2. Prazo de 30 dias para o CN deliberar sobre a derrubada do veto. Se o CN não
delibera em 30 dias, há o trancamento da pauta (sobrestamento de todas as
deliberações, menos de MP).
3. Maioria absoluta de 513 deputados e maioria absoluta de 81 senadores.
4. O escrutínio se faz de forma sigilosa para manutenção da independência, da
liberdade do CN.
É possível ser emendado essa parte do §4º para fazer com que o escrutínio seja
aberto? Isso é uma cláusula pétrea?
Escrutínio secreto não é cláusula pétrea, pode ser modificado, o que é cláusula
pétrea é o voto do art. 14.
Se o CN afastar o veto, o projeto vai ao PR para que ele promulgue a lei. PL não é
promulgado, mas a lei.
5. Promulgação:
O que se promulga é lei.
Promulgação é autenticação. Com a promulgação, o PR declara a existência da lei. É o
reconhecimento de que a ordem jurídica foi inovada.
6. Publicação:
A publicação marca a coercibilidade da lei. A partir da publicação, a lei passa a ser
obrigatória (respeitada a vacatio), ninguém poderá alegar desconhecimento da lei.
Em regra, quem promulga, publica.
LO x LC:
*Existe hierarquia entre lei ordinária e lei complementar?
O STF entende que não existe hierarquia entre LO e LC, porque ambas retiram seu
fundamento de validade, seu nexo jurídico da CF. Não é a LC que dá nascimento à LO.
Não existe hierarquia, mas existem diferenças:
1. Diferença formal: LO tem quórum para aprovação de maioria simples (47); a LC
tem quórum para aprovação de maioria absoluta (69).
2. Diferença material: a CF reserva um campo material para a LC. Algumas
matérias, alguns temas só podem ser veiculados através de LC. Se a CF
expressamente não exige LC, a regra é a LO. Ex: art. 93, CF (se a LOMAN se
veicular através de LO, será inconstitucional). Ex: Art. 79, §único (atribuições do
vice-presidente por LC, sob pena de inconstitucionalidade).
3. Se a CF exige LC, o tema não pode ser tratado em MP e, muito menos, em lei
delegada.
*O que é pseudo-lei complementar? Pseudo-lei complementar é aquela que foi
aprovada por maioria absoluta, mas trata de matéria de LO, só tem a forma de LC. A
pseudo-lei complementar (só formal) é constitucional.
Se houver nessa pseudo-lei complementar 90 artigos que tratam de matéria de LC e
10 que tratam de matéria de LO, esses 10 podem ser alterados por LO ou por MP.
Processo Legislativo sumário (64, §1º):
Sumário é o processo reduzido, curto. É aquele em que o chefe do executivo, nos
processos de lei de sua iniciativa, solicita urgência.
64, §1º: o PR pode solicitar urgência, não é obrigado, e só pode de projetos de sua
iniciativa.
Nós vivemos num momento de sociedade de risco: somos imediatistas, em razão do
avanço tecnológico, globalização. Essa sociedade de risco importa com que nos
preocupemos com o que acontece no Butão, que irá influenciar na bolsa do Japão.
O processo sumário deve ser votado na Câmara em até 45 dias. A Câmara deve votar
em até 45 dias, não aprovar. Se a Câmara não votar em até 45 dias, haverá o
trancamento da pauta, menos MP, que tem prazo constitucional.
O Senado tem o prazo de até 45 dias para manifestar sobre o projeto, sob pena de
trancamento da pauta. Se o Senado emendou o projeto que veio da Câmara, o projeto
volta para Câmara, que pode apreciar a emenda em até 10 dias. Total: 100 dias. 64,
§2º.
O processo legislativo sumário é facultativo.
Ao lado desse facultativo, existe um obrigatório (223).
No 223, a CF manda aplicar obrigatoriamente o processo legislativo sumário, não
existe faculdade do PR (lei que outorga ou renova concessão, permissão ou
autorização de radiofusão sonora, de sons e imagens.)
*Processo legislativo sumário # processo legislativo abreviado:
Processo legislativo abreviado: art. 58, §2º, I. “votar”. No Brasil, a comissão temática
pode aprovar projetos de lei, independente da manifestação do plenário (delegação
interna ou delegação imprópria). Delegação interna é o poder que a CF dá à comissão
temática para aprovar projetos de lei, independentemente da manifestação do
plenário.
Princípio da soberania do plenário: aqueles que estão no plenário podem discordar da
comissão temática, no processo legislativo abreviado, desde que um décimo do
plenário recorra.
Processo legislativo especial:
Esse processo é diferente, foge à regra.
Processo legislativo especial das Emendas Constitucionais:
O poder constituinte originário criou 3 poderes constituídos: PL, PE, e PJ.
Poder constituinte originário é ilimitado juridicamente, a cada constituição surge um
novo Estado.
As Constituições nascem para serem eternas, mas não podem ser imodificáveis. Isso
porque a realidade social é cambiante e a CF deve espelhar a mudança social.
O Poder Constituinte originário delega a um dos poderes constituídos a força de
alterar a CF. Essa força recebe o nome de poder constituinte derivado reformador.
A CF dos EUA possui 7 artigos e 25 emendas e existe desde 1787. Mas, nos EUA
funciona mais o poder constituinte difuso (mutação constitucional) do que o poder
constituinte derivado reformador.
Mutação constitucional é a alteração informal da Constituição, através dos costumes,
das tradições, da interpretação.
A CF dos EUA é principiológica sintética, concisa. Os princípios fazem com que a CF dos
EUA respire.
Nossa CF é analítica, prolixa. Ela tem menos princípios do que a CF dos EUA.
A CF dos EUA é desde 1787. Em 1860 ocorreu a secessão tendo em vista a decisão da
Suprema Corte de que a escravidão era constitucional. Em 1950 foi dito que a
escravidão era inconstitucional. No ano de 2010 um negro é presidente dos EUA. O
que mudou não foi o texto da CF, mas a norma: poder constituinte difuso: mutação
constitucional.
No Brasil, a mudança da CF se dá mais pelo poder constituinte derivado reformador do
que pelo poder constituinte difuso.
*Limites ao poder constituinte derivado reformador:
1. Limite procedimental ou formal: é o processo legislativo especial da EC.
2. Limite circunstancial: síncopes constitucionais: estado de sítio, estado de defesa,
intervenção federal (sistema constitucional de crises). Legalidade extraordinária: não
se fala em EC.
3. Limite material: cláusulas pétreas
*Os mortos podem vincular os vivos? Posso ficar vinculada por cláusulas pétreas
criadas em 2100?
4. Limite temporal: não existe para o poder reformador, somente para o poder revisor
(5 anos, art. 3, ADCT).
O processo legislativo de alteração da CF é mais dificultoso, mais burocrático, mais
demorado, pelo que nossa CF é do tipo rígida. E, só existe controle de
constitucionalidade porque nossa CF é do tipo rígida.
*Processo legislativo da EC:
1ª Fase: iniciativa: há 3 legitimados: é mais difícil
-1/3 no mínimo dos deputados federais (171. Começa na Câmara) ou 1/3 no mínimo
dos senadores (27. Começa no Senado).
-Presidente da República. Vice-Presidente não possui legitimidade, salvo se estiver no
exercício da presidência (ex: Lula viajou). Nesse caso, começa na Câmara.
-Mais da metade das assembléias legislativas. Nesse caso, começa no Senado, porque
os senadores são representantes dos Estados.
A CF não diz que existe possibilidade de proposta de EC de iniciativa popular. No
entanto, o JAS entende ser possível a iniciativa popular para a proposta da EC. Para ele,
se interpretarmos o §único do art. 1 e o §2º do art. 61, seria possível a iniciativa
popular.
Muitas Constituições Estaduais possuem previsão de proposta de iniciativa popular
para EC e o STF, até hoje, não disse ser inconstitucional.
2ª Fase: debate ou discussão
3ª Fase: votação ou aprovação
Haverá 2 turnos na Câmara com aprovação de 3/5 em cada turno. Tb haverá 2 turnos
no Senado com aprovação de 3/5 em cada turno. São 4 turnos no total.
3/5: maioria qualificada. Art. 60.
4ª Fase: não existe sanção ou veto de proposta de EC. A 4ª fase aqui é a promulgação,
pelas mesas da Câmara e do Senado. Promulga-se a EC e não proposta de EC.
*Um projeto de LO ou de LC, se arquivado em uma sessão legislativa (1 ano), só pode
ser novamente apresentado na próxima sessão legislativa, salvo se a maioria absoluta
dos membros de qualquer das casas do CN admitir na mesma sessão legislativa. 67.
*Uma proposta de EC, se arquivada em uma sessão legislativa, ela nunca poderá ser
reapresentada na mesma sessão legislativa, não há exceções. 60, §5º.
Lei delegada e MP:
Lei delegada não tem a mesma natureza que a MP. Lei delegada é uma exceção ao
princípio da indelegabilidade: em regra, um poder não pode delegar ao outro o
exercício de suas funções típicas. Essa delegação só é possível excepcionalmente se for
expressa.
MP é exercício de função atípica do Executivo, sua natureza é diversa da da lei
delegada.
Só existem 2 leis delegadas: 12 e 13 de 89.
O PR pode apresentar projeto de lei. Se ele tiver urgência, solicita o processo
legislativo sumário. Se o PR não puder esperar 100 dias, ele pede autorização para
fazer uma lei delegada. Se for muito urgente, faz uma MP.
61→64→68→62.
A MP é uma distorção do sistema, porque veio do sistema parlamentarista e o PR não
respeita a ordem 61→64→68→62.
Processo Legislativo da Lei delegada:
Só existe lei delegada se o PR solicitar ao CN
1ª Fase: iniciativa solicitadora. O CN não pode autorizar sem que o PR peça. 68. O PR
manda uma mensagem e o CN responde através de uma resolução.
Essa resolução pode seguir 3 caminhos:
1. Resolução fala que o CN não autoriza a delegação
2. Resolução fala que o CN autoriza a delegação nos termos do pedido.
3. Resolução fala que o CN autoriza a delegação, mediante condição. Condição de
o CN analisar previamente o projeto de lei delegada, sem possibilidade de
emenda.
Existem matérias que não podem ser objeto de delegação. Nem toda matéria pode ser
objeto de delegação (limites materiais à delegação):
Limites materiais à delegação são determinadas matérias que não podem ser tratadas
através de lei delegada: 68, §1º
Existe quase uma semelhança entre os limites materiais da LD e da MP.
68, §1º: art. 49, 51, 52, LC.
68, §1º, I a III: temas que não podem ser veiculados nem por LD nem por MP.
68, §3º: sem possibilidade de emenda.
*Qual a relação da lei delegada com o controle de constitucionalidade?
O PR solicita autorização para tratar do tema X e o CN autoriza. Mas o PR tratou do
tema X e do tema Z. Essa parte Z é inconstitucional. O PR exorbitou do poder de
delegação. Essa parte Z pode ser reconhecida inconstitucional pelo PJ ou pelo PL (49,
V: controle repressivo político). Essa é uma exceção importante do controle de
constitucionalidade repressivo que é, em regra jurisdicional. Nesse caso, o controle
repressivo poderá ser político, através de decreto legislativo.
Decretos legislativos e resoluções:
A CF não trata do processo legislativo dos decretos legislativos e das resoluções. Isso se
encontra no regimento interno de cada casa.
A doutrina define o que é resolução e o que é decreto legislativo, conceitos estes às
vezes não seguidos pela CF.
Decreto legislativo: ato normativo que tem por objetivo veicular matéria de
competência exclusiva do CN (49). Em regra, o decreto legislativo produz efeitos fora
do CN.
Resolução: ato normativo que tem por objetivo veicular matéria de competência
privativa da Câmara (51) e privativa do Senado (52). Em regra, a resolução produz
efeitos internos, dentro de cada casa legislativa.
Texto de lei não se confunde com norma.
Texto é o enunciado lingüístico, é o símbolo, é a disposição. É a proposição legislativa,
é o objeto da interpretação.
Norma é o resultado da interpretação. É a conseqüência jurídica do texto, o significado
jurídico do texto. O texto é o corpo, a norma é a alma.
Existe texto sem norma? Sim. Ex: preâmbulo da CF: não tem efeitos jurídicos.
Existe norma sem texto? Sim. Ex: princípio do duplo grau de jurisdição, princípio da
presunção de constitucionalidade das leis.
Existe texto com mais de uma norma. É um corpo com várias almas. Ex: o STF pega um
texto e dele retira várias interpretações possíveis, mas só uma delas é constitucional
(interpretação conforme a CF).
A norma jurídica, antes, era a mesma coisa que regra, que lei. Lei = direito. Isso foi em
1804, com o Código Civil Napoleônico. Surge, nessa época, o positivismo.
Depois da IIGM, houve o Tribunal de Nuremberg, que condenou o general alemão,
apesar de este ter apenas cumprido a lei. A condenação foi com base na afirmação de
que existem valores básicos que devem ser observados antes da lei (dignidade da
pessoa humana).
Após a IIGM surgiram as norma-regra e norma-princípio.
Há valores que todos devemos reconhecer.
Atribuições do Legislativo da União:
1. Legislar
2. Fiscalizar:
Temos 2 espécies:
a) Fiscalização econômico-financeira (TCU,...)
b) Fiscalização político-administrativa:
A fiscalização político-administrativa se faz através das comissões:
-Comissão Temática/Material
-Comissão Representativa ou de Representação
-Comissão Parlamentar de Inquérito
*Disposições gerais sobre as comissões:
As comissões devem obediência à representação proporcional.
As comissões devem obediência ao princípio da colegialidade.
Existem 2 espécies de comissões, tendo em vista sua composição:
-Comissão simples: formada só por deputados federais ou só por senadores.
-Comissão mista ou conjunta: formada por deputados federais E por senadores.
No tocante ao tempo de duração, as comissões podem ser permanentes ou
temporárias, que tb recebem o nome de especiais.
-Comissão permanente: ultrapassa uma legislatura (4 anos), mas não têm tempo
determinado.
-Comissão temporária ou especial: nasce, desenvolve seus trabalhos e se encerra na
mesma legislatura.
Comissão temática ou material:
A mais importante é a CCJ (faz o controle preventivo de constitucionalidade).
Todo projeto passa ao menos por duas comissões temáticas: a CCJ e a Comissão da
área de abrangência do projeto (função de aprimorar o projeto de lei).
Comissão representativa ou de representação:
Existem 2 recessos no CN. Durante os recessos, forma-se uma comissão representativa
ou de representação. Esta comissão é temporária (só durante o recesso) e conjunta ou
mista (composta por deputados e senadores). 58, §4º.
Comissão representativa: representa o CN e tem outras atribuições definidas no
regimento interno.
Comissão Parlamentar de Inquérito:
As questões de CPI são retiradas do site do STF (publicações temáticas, CPI, sumário).
A CF deu importância à CPI, num momento em que o PL estava e está abrindo mão de
sua função de legislar para fortalecer sua função de fiscalização.
Ocorreu esse abandono da função de legislar, valorizando-se a de fiscalizar porque,
com a CF:
-o Executivo passou a inovar a ordem jurídica: decreto lei, MP.
-o Judiciário passou a caminhar no ativismo judicial, enfraquecendo as atribuições do
Legislativo de inovar a ordem jurídica.
58, §3º: valorização da CPI pela CF: poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais.
*Mas Juiz investiga? Juiz no Brasil não investiga em razão do sistema processual penal
acusatório disposto na CF. Desta feita, conforme o STF, juiz não tem poder
investigatório. Assim, a lei 9034/95, que dava ao juiz o poder de investigar, foi
considerada inconstitucional.
Dentre as características do sistema processual penal acusatório, importa-nos que há
uma separação entre quem acusa e quem julga. O processo tem que ser justo (art. 5,
LIV), pelo que é preciso que o juiz seja imparcial, não podendo, para isso, investigar.
Exceção de que o juiz não investiga: a LOMAN (LC 35/79) permite que um juiz
investigue outro juiz.
Conclusão: a CPI possui poderes INSTRUTÓRIOS próprios das autoridades judiciais.
Leis 1579/72 e 10001/00: regulamentam a CPI.
Além dessas duas leis, aplica-se subsidiariamente na investigação feita pela CPI, o CPP.
Requisitos necessários para a criação da CPI:
1. 1/3 no mínimo dos deputados federais (171) e/ou senadores (27) devem
subscrever o pedido para criação da CPI.
2. Fato determinado.
3. Prazo certo.
As constituições estaduais não podem trazer outros requisitos. Elas seriam
inconstitucionais se trouxessem outros requisitos, dificultando a criação de uma CPI.
A CE/SP dizia que além dos 3 requisitos, o pedido de instauração da CPI deveria ser
apreciado pelo Plenário da Casa Legislativa: isso foi julgado inconstitucional pelo STF.
CPI simples: só deputados federais ou só senadores: 171 ou 27.
CPI mista: formada por deputados e senadores: 171+27.
*Por que a CF exige 1/3 e não 2/3? Porque a CPI é um instrumento das minorias
parlamentares contra as maiorias.
O fato que ensejar a CPI deve ser específico, objetivo. No momento de sua criação, a
CPI deve se circunscrever ao objeto da investigação.
*Qualquer fato pode ser investigado pela CPI? Não, só pode ser investigado pela CPI o
fato que tenha repercussão no espaço público. O fato que tenha apenas repercussão
no espaço privado, não pode ser investigado na CPI. Ex: se o presidente do Senado tem
uma amante, isso não pode ser investigado na CPI. Se a pensão da amante é paga com
dinheiro público de lobista, isso pode ser investigado na CPI.
O fato determinado a ser investigado deve se encontrar dentre as atribuições daquela
casa legislativa. A CPI não pode investigar fato que tenha a ver com o legislativo
municipal ou estadual. Ex: fraude na prefeitura de Porto Alegre ou desvio de ICMS no
Paraná: não pode ser investigado pela CPI.
Judiciário não é fato determinado, o judiciário não pode ser investigado como um
todo, mas alguns fatos: superfaturamento da obra do TRT, venda de decisões
judiciais,...
A CPI de Rondônia não pode investigar um fato que teve repercussão no Rio de
Janeiro.
Na CPI dos correios foram investigados fatos e não os Correios como um todo.
Fato a ser investigado: fato determinado, com repercussão pública, que se encontre
dentre as atribuições daquela casa legislativa.
30/03/10
Prazo certo: não existe CPI permanente, tendo em vista o princípio da segurança
jurídica. Esse princípio, previsto no caput do art. 5, exige que as situações fáticas se
estabeleçam, exige a estabilização das situações fáticas, das relações, uma pessoa não
pode ficar sendo investigada pelo resto da vida, sob pena de essa pessoa não ter
estabilidade. Daí o inquérito ter prazo, para que todos tenham segurança jurídica.
Segurança pública não está no art. 5, mas no caput do art. 6, como direito social.
Toda CPI deve ser constituída com prazo para seu término. Esse prazo se encontra no
regimento interno da Casa Legislativa, onde a CPI será constituída (normalmente é de
120 dias até 180 dias). Esse prazo do regimento pode ser prorrogado, dentro da
mesma legislatura (4 anos, art. 44, §único).
Não é possível que uma Constituição Estadual estabeleça outros requisitos nas
Constituições Estaduais. Isso porque a CPI é um direito das minorias e a CE não pode
dificultar esse instrumento. Ex: A CE de SP exigia que o pedido para constituição da CPI
fosse votado pelo plenário da Assembléia Legislativa. Tal artigo foi declarado
incompatível com a CF.
Poderes da CPI:
CPI pode (é dotada de autoridade própria e não depende de autorização judicial
CPI não pode (nesses casos não tem autoridade própria, precisa do PJ)
1. Notificar testemunhas e determinar a sua condução coercitiva.
*O cidadão comparece na CPI como testemunha, convidado ou investigado (indiciado). *E se a testemunha for índio, a CPI pode determinar sua condução coercitiva? Não, pois isso significaria remoção forçado do índio sem autorização do CN, proibida pelo art. 231 da CF. (ver índice do STF). *Membro do MP e Magistrado podem ser obrigados a depor na CPI? Eles podem depor, mas não estão obrigados a justificar as suas manifestações. Ex: juiz de direito vai depor, mas não lhe pode ser indagado porque ele condenou um cidadão. Os motivos de uma decisão do juiz não precisam ser contados. O MP tb não precisa justificar porque denunciou alguém. Não cabe o PL, através da CPI sindicar os acertos e erros dos membros do MP.
2. A CPI pode prender em flagrância, desde que seja caso de flagrante, como qq do povo.
Como o juiz possui poder de polícia na audiência, o presidente da CPI tb pode prender em flagrante. É o flagrante facultativo. (Normalmente se dá por desacato).
3. A CPI pode realizar perícias, vistorias,
exames, necessário a demonstrações fáticas.
4. A CPI pode determinar diretamente o afastamento do sigilo bancário e fiscal.
A CPI do CN e do parlamento estadual (da assembléia) podem afastar diretamente o sigilo
1. CPI não pode expedir mandado de prisão.
Só o juiz pode prender provisoriamente.
2. CPI não pode expedir mandado de busca e apreensão (casa é asilo inviolável: art. 5, XI).
Casa: todo espaço corporal autônomo e delimitado. Pode ser dividida em 2 espécies: -Casa em sentido restrito: local em que o cidadão habita, podendo inclusive ser habitações coletivas (hotel, motel, pensão, hospedaria, barraca do MST, caverna). -Casa por extensão: art. 150, §4º, CP. É o local em que o cidadão exerce seu trabalho, ofício ou profissão. O escritório do advogado é casa por extensão.
3. CPI não pode expedir
mandado de interceptação telefônica (art. 5, XII).
A CPI não pode fazer a gravação da conversa em tempo real, mas pode requisitar da companhia telefônica os extratos telefônicos.
Essas 3 diligências são reserva constitucional de jurisdição: diligências em que existe o monopólio restrito de jurisdição.
fiscal e bancário do cidadão, já a CPI do parlamento municipal (câmara de vereadores) não pode. Isto para se evitar ofensa à intimidade do cidadão. A doutrina tem 2 motivos para essa restrição à Câmara dos Vereadores:
a) No Brasil, temos mais de 6000 municípios. Os dados bancários e fiscais poderiam servir como chantagem política.
b) Não existe no Brasil juiz municipal, portanto, o Legislativo Municipal não poderia ostentar poderes que não possui.
OBS: o cidadão pode se utilizar de MS ou de HC para proteger seu patrimônio jurídico, e deve impetrá-los no STF (CPI do CN) ou no TJ (CPI estadual) ou no Juiz da comarca (CPI municipal). OBS: quem decide o afastamento do sigilo bancário/fiscal não é o presidente da CPI, mas o Colegiado da CPI. Essa decisão, como todas da CPI, devem ser fundamentadas. O juiz tem obrigação constitucional de fundamentar suas decisões, bem como a CPI.
Aqui o juiz detém a primeira, a única e última palavra. Há diligências que o STF não permite que a CPI realize, apesar de não haver previsão expressa na CF de reserva de jurisdição:
1. CPI não pode proibir que o cidadão deixe o território nacional.
2. CPI não pode fazer apreensão de passaporte.
3. CPI não pode determinar medidas assecuratórias. Ex: seqüestro, arresto, hipoteca legal, indisponibilidade de bens.
A CPI termina seus trabalhos e elabora um relatório. Esse relatório poderá ser
remetido ao MP. Isso depende de oportunidade e conveniência política. A CPI não tem
obrigação de remeter o relatório. O MP pode requisitar o relatório.
Se a CPI remete o relatório, mesmo sem o MP requisitar, ele pode ou não fazer a
promoção das responsabilidades. O relatório não vincula o MP (como o inquérito
policial), pois o MP tem autonomia funcional.
Lei 10.001/00: o MP deve priorizar os trabalhos decorrentes de CPI.
Contraditório e ampla defesa em CPI:
*Qual o papel do advogado na CPI? Não existe contraditório e nem ampla defesa em
CPI. Mas, isto não quer dizer que o investigado na CPI seja um objeto, ele tem direitos
constitucionais que devem ser respeitados. Portanto, o papel do Advogado na CPI é
importantíssimo, pois resguardará os direitos do investigado. Mas, o adv não pode
fazer perguntas e nem verificar docs, os questionamentos devem ser levados ao PJ
(STF, TJ ou juiz, sempre através de MS ou HC).
FUNÇÃO EXECUTIVA- parei aqui
Art. 76 da CF: o Poder executivo é exercido pelo PR.
O Poder Executivo aplica a lei ao caso concreto (princípio da legalidade, art. 37),
administrando a coisa pública.
No Brasil, o poder executivo é monocrático, porque uma única autoridade exerce as
funções de chefe de estado e chefe de governo. Adotamos o regime ou sistema de
governo presidencialista.
No exercício da função de chefe de Estado o PR defende a unidade nacional, vela pelo
pacto federativo, da república federativa do Brasil, dos estados, dos municípios. Art.
84, VII e VIII, CF.
No exercício da função de chefe de governo, o PR desempenha a chefia superior da
Administração Pública. Art. 84, II, CF.
Se o Executivo não fosse monocrático, ele seria executivo dual (regime ou sistema de
governo parlamentarista). No parlamentarismo (executivo dual), temos duas ou mais
autoridades exercendo a função executiva, uma desempenhando a função de chefe de
estado, outra desempenhando a função de chefe de governo. Existem várias espécies
de parlamentarismo pelo mundo. Espécies de parlamentarismo:
1. Parlamentarismo monárquico constitucional: Espanha, Inglaterra. O chefe de
estado é o rei, o chefe de governo é o primeiro ministro.
2. Parlamentarismo republicano: França, Alemanha, Israel, Itália. O chefe de
estado é o presidente, o chefe do governo é o primeiro ministro.
Presidencialismo x Parlamentarismo:
Presidencialismo Parlamentarismo
*Executivo monocrático. *Independência do PE em relação ao PL.
*Executivo dual *Dependência política do PE em relação ao PL (Parlamento). MP é um instrumento de um Estado parlamentarista. Se o primeiro ministro edita uma MP que é rejeitada pelo parlamento, haverá uma desconfiança. O Parlamento ainda pode reduzir o mandato do primeiro ministro.
No Brasil, em 1848, tivemos o “Parlamentarismo à brasileira”: o rei era o chefe de
Estado e tínhamos um gabinete que exercia a chefia de governo.
Ainda, em setembro de 61 a fevereiro de 63, tb tivemos o parlamentarismo: Tancredo
Neves era o primeiro ministro (chefe de governo) e João Goulart era chefe de Estado
(presidente da república). Em 63 houve uma consulta popular e voltamos ao
presidencialismo.
Hoje, o sistema de governo presidencialista não é uma cláusula pétrea. Podemos nos
tornar parlamentaristas (há um PEC do Collor nesse sentido).
Requisitos para ser PR ou vice-presidente:
1. Ser brasileiro nato. (12, §3º)
2. Idade mínima de 35 anos. (14, §3º). Aos 35 anos o cidadão pode exercer qq
cargo na república (capacidade política absoluta). Não existe idade máxima
para o exercício de cargos eletivos, só para fazer concurso.
Essa idade de 35 anos deve ser considerada:
1ª corrente: no registro da candidatura.
2º corrente: na data da eleição.
3ª corrente: na data da posse. Posição que prevalece. Lei 9504/97, art. 11, §2º.
3. Filiação partidária. (14, §3º). A filiação partidária é condição de elegibilidade.
No Brasil, não existem candidaturas avulsas, independentes, como ocorre em
Portugal ou nos EUA.
4. Plenitude do exercício dos direitos políticos: não incorrer em nenhuma das
causas de perda ou suspensão dos direitos políticos (art. 15 da CF).
Eleição do PR e do Vice-Presidente:
São eleitos conjuntamente, no instante que estão votando no PR, vc está votando no
vice.
Eleição do PR e do Vice: Sistema eleitoral majoritário: o candidato mais votado será o
eleito. Valoriza-se o candidato registrado por partido político. Adotado nas eleições de
PR, governadores, senadores e prefeitos. Esse sistema majoritário tem duas espécies:
1. Absoluto ou com segundo turno de votação (PR, governadores e prefeitos de
municípios com mais de 200.000 eleitores.). A CF exige que o candidato eleito
atinja ao menos a maioria absoluta dos votos válidos (os votos em branco e
nulos não entram na contagem). 77, §§2º e 3º. Se no primeiro turno nenhum
candidato atingir a maioria dos votos válidos, deverá haver um segundo turno.
A idéia é que o candidato governe com a concordância da maioria absoluta.
2. Simples (senadores e prefeitos de municípios com menos de 200.000
eleitores). A CF contenta-se com qq maioria. Não existe segundo turno.
No Brasil, adotamos o sistema proporcional para deputados federais, estaduais e
vereadores: leva-se em conta o número de votos ofertados ao partido político. Nem
sempre o mais votado será o eleito.
Posse do PR e do Vice:
O PR e o vice tomam posse em sessão conjunta do CN, no dia 01/01 do ano seguinte
ao das eleições.
Eles fazem compromisso de obedecer à constituição, sob pena de crime de
responsabilidade (85).
O PR ou o vice devem tomar posse até o dia 11. Se nenhum dos dois tomar posse, os
cargos serão declarados vagos, salvo motivo de força maior. Quem declara vago é o
CN, porque a matéria é política (não é o TSE porque a eleição já se findou; não é o STF
pq a matéria não é judicial).
Linha sucessória do PR:
Sucessão, gênero, é dividido em 2 espécies:
a) Sucessão em sentido restrito: ocorre nos casos de vacância. A vacância é
definitiva. Ex: morte do PR, renúncia do PR, condenação pela prática de crime
de responsabilidade (Impeachment).
b) Substituição: ocorre nos casos de impedimento. O impedimento é temporário.
Ex: viagens, férias, licença médica.
Na sucessão gênero, as autoridades da linha sucessória são:
1. Vice-Presidente.
2. Presidente da Câmara
3. Presidente do Senado
4. Presidente do STF
Só o vice-presidente sucede definitivamente o PR, nos casos de vacância. O presidente
da Câmara, do Senado ou do STF apenas substitui, nos casos de impedimento. 78 e 79.
*O que faz o vice do PR? CF exige uma LC que defina as atribuições do vice. Essa LC
ainda não existe. Enquanto não existe essa lei, o vice cumpre missões especiais a
pedido do Presidente. §único do 79.
*O presidente da Câmara substitui o PR, antes do Presidente do Senado, pq aquele é
representante do povo.
O presidente, atualmente, exerce mandato de 4 anos, com a possibilidade de
reeleição, recandidatura.
*Primeiro período de 2 anos da mandato: se o PR ou se o vice desaparecerem, assume
o presidente da Câmara e convoca-se eleição direta para daí a 90 dias. Ex: Lula foi no
Pantanal e piranha comeu o Lula. Quem assume é o vice (sucessão). Se o vice tb
morrer, assume o PR da Câmara e ocorrerão eleições diretas daí a 90 dias.
*Segundo período de 2 anos do mandato: se o PR e o vice desaparecerem, a eleição é
indireta, daí a 30 dias. Único caso de eleição indireta na CF.
Eleição indireta: existem intermediários entre o povo (titular do poder) e os seus
representantes. É o que ocorre nos EUA. Aqui, a eleição indireta é excepcional, porque
o voto direto é uma cláusula pétrea.
Eleição direta: não existem intermediários entre o povo (titular do poder) e os seus
representantes.
Os eleitos, nas duas situações, terão mandato tampão, só completam o mandato do PR
que desapareceu, não terão 4 anos de mandato.
Responsabilidade do chefe do Executivo:
Falar em responsabilidade é falar de forma de governo.
Forma de governo: a maneira com que o poder é exercido dentro do território.
Aristóteles disse que existem 3 formas de governo:
-Monarquia: governo de um só. Corrompida se transforma em uma tirania.
-Aristocracia: governo de mais de um, porém poucos. Corrompida, se transforma em
uma oligarquia.
-República: governo de muitos. Corrompida, se transforma em uma demagogia.
Maquiavel, em 1513, no seu livro “O Príncipe”, disse que só existem duas formas de
governo:
-Principados (monarquias).
-Repúblicas.
O poder, na monarquia, o pode é exercido de maneira hereditária, vitalícia,
irresponsável (a Constituição de 24 disse que o rei não erra).
Na república, o poder é exercido de maneira eletiva, temporária e responsável (essa
responsabilidade, que é conseqüência do princípio republicano, é chamada de
republicanismo ou honestidade cívica, dever de ser honesto).
Aquele que exerce parcela da soberania do Estado deve ser responsável pelos seus
atos. O PR exerce parcela maior, tem maior responsabilidade. Quem exerce maior
parcela da soberania, tem maior responsabilidade (proporcionalidade).
O PR pode ser responsabilizado de 2 maneiras:
1. Responsabilidade política do PR: estamos falando de crime de
responsabilidade, impedimento, impeachment.
Crime de responsabilidade: é uma infração de natureza jurídica político-
administrativa. A ele se aplicam os princípios administrativos (oportunidade,
conveniência,...) e políticos.
2. Responsabilidade criminal do PR: estamos falando de infração penal comum.
Infração de natureza jurídica criminal. Aqui, os princípios aplicados são do
direito penal.
Responsabilidade política / Crime de responsabilidade:
1) Do PR:
Pela prática de crime de responsabilidade, o PR será julgado pelo Senado Federal (juízo
natural).
O Senado Federal será presidido pelo Presidente do STF (mecanismo de controle
recíproco: teremos 2 poderes julgando um 3º).
O julgamento do PR é bifásico:
1ª Fase: na Câmara. É o juízo de admissibilidade da acusação.
2º Fase: no Senado. É o julgamento.
O Senado não pode julgar sem a autorização da Câmara. Mas, esta não julga, apenas
autoriza ou não. (para o julgamento dos parlamentares não há autorização da Câmara.
Princípio da processabilidade.)
1ª Fase: Juízo de Admissibilidade da Câmara:
A lei 1079/50 regula a responsabilidade do PR.
QQ cidadão (EM SENTIDO RESTRITO: brasileiro nato ou naturalizado. Ele tb exerce a
ação popular.) é parte legítima para denunciar o PR, na Câmara, pela prática de crime
de responsabilidade.
Existem 2 tipos de cidadãos: cidadão em sentido restrito (nacional que exerce direitos
políticos. Art. 12 c/c 14) e cidadão em sentido amplo (todo indivíduo que exerce
direitos inerentes a cidadania e pode contrair obrigações. Ex: Madonna no Brasil).
Quais as condutas do PR que importam em sua responsabilização política? 85.
85, I: Se Lula vender o RS para o Uruguai comete crime de responsabilidade.
O rol do artigo 85 da CF é meramente exemplificativo. Além dessas condutas, existem
outras condutas, em lei especial (Lei 1079/50).
Essa lei especial 1079 é federal (competência privativa da União). Súmula 722 do STF:
“São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e
o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.”
O crime de responsabilidade tem natureza político-administrativa, não criminal.
Aplicam-se os princípios administrativos. Os tipos são abertos (# do direito penal, em
que há correspondência direta, tipicidade formal).
Forma-se uma comissão de deputados que vai analisar a procedência formal da
denúncia. Essa comissão oferta um parecer que será votado pelo plenário da Câmara.
O PR tem o direito de exercer o contraditório e a ampla defesa na Câmara. Exercido
contraditório e ampla defesa, a Câmara marca dia para fazer o juízo de
admissibilidade. Esse juízo pode ser positivo ou negativo. Esse juízo é político (de
oportunidade e conveniência), não jurídica. Ás vezes, nada está provado, mas o juízo é
positivo e vice-versa.
A Câmara edita uma resolução, na qual expressa seu juízo de admissibilidade.
A Admissibilidade se dá por 2/3 dos deputados federais, com votação aberta.
2ª Fase: Julgamento do Senado:
Se a Câmara autorizou, o Senado é obrigado a dar início ao julgamento, ele não tem
discricionariedade.
*Consequências do início do julgamento no Senado:
1. O PR será cientificado do início do julgamento.
2. O PR se afastará de suas funções por até 180 dias (temporário: substituição
pelo Vice).
3. O Senado passará a ser presidido pelo PR do STF.
*Início do julgamento pelo Senado:
O PR tem o direito de exercer o contraditório e a ampla defesa.
*Dia do julgamento no Senado:
No dia do julgamento de Collor, ele renunciou ao cargo de PR. O julgamento continuou
para que ele recebesse a segunda pena.
Julgamento do PR: O Collor foi julgado pela prática de crime de responsabilidade e
recebeu a sanção de inabilitação para o exercício de função pública por 8 anos. Ele não
sofreu a segunda pena (perda do cargo), pq já tinha renunciado.
08/04/10
Julgamento do Collor:
No dia 28 de dezembro de 1992 foi o julgamento do Collor.
No dia do julgamento, o adv protocolou um pedido de renúncia.
Duas penas existiam na época: perda do cargo e inabilitação para o exercício de função
pública por 8 anos.
Collor achava que a segunda pena era acessória da primeira, pelo que a renúncia faria
com que fosse afastada tanto a primeira quanto a segunda pena.
Mas, o presidente do STF, à época, Sidney Sanches, falou que as 2 penas eram
independentes.
2/3, votação aberta, juízo político: como foi atingido esse quorum, Collor foi
condenado pelo crime de responsabilidade.
A condenação de Collor pelo Senado não pode ser modificada pelo PJ, a decisão do
Senado é definitiva, no tocante ao mérito. Exceção: se princípios constitucionais forem
violados, o STF pode anular o julgamento e determinar a ocorrência de outro. Ex: se ao
Collor não tivesse sido ofertado contraditório e ampla defesa.
Crime de responsabilidade dos Governadores:
Se o governador cometer crime de responsabilidade, ele será julgado por um tribunal
misto (desembargadores + deputados estaduais). Esse tribunal misto será presidido
pelo presidente do TJ.
Lei 1079/50: estabelece as condutas dos governadores que importam em crime de
responsabilidade.
A CE de SP diz que o tribunal misto será formado por 7 desembargadores + 7
deputados estaduais. Mas, o STF disse que esse dispositivo era inconstitucional, tendo
em vista que não cabe aos estados-membros legislarem sobre processo e crime de
responsabilidade. Essa competência é privativa da União.
Súmula 722: “São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento.”
*Qual o tribunal que julga os governadores? Tribunal misto com 5 desembargadores +
5 deputados estaduais, com a presidência do presidente do TJ, conforme lei 1079/50.
*Penas do governador condenado:
1. Perda do cargo
2. Inabilitação para o exercício de função pública por 5 anos (não são 8 como a CF).
Durante o prazo de 8 anos do PR ou de 5 anos do governador, o condenado exerce
direitos políticos, ele vota? Sim, a inabilitação para o exercício de função pública não
impede o exercício de direitos políticos. Collor, em 2000, foi, inclusive, candidato a
prefeito de SP, mas perdeu. Se Collor tivesse vencido as eleições, poderia tomar posse
(entrar em exercício), porque esta se daria em 01/01/2001, 3 dias depois do término
de seu prazo de 8 anos.
Crime de responsabilidade dos prefeitos:
As condutas que importam em crime de responsabilidade dos prefeitos estão no DL
201/67 e no art. 29-A da CF.
O Prefeito é julgado pela Câmara dos Vereadores.
Nesse DL existem 2 espécies de crime de responsabilidade:
1. Crime de responsabilidade próprio:
É infração de natureza jurídica penal. O prefeito será julgado pelo PJ. Art. 1 do DL.
2. Crime de responsabilidade impróprio:
É infração de natureza jurídica político-administrativa. O prefeito será julgado pela
Câmara dos Vereadores. Art. 4 do DL.
CRIME COMUM PRATICADO PELO CHEFE DO EXECUTIVO
Crime comum praticado pelo PR:
O PR será julgado pelo STF. Artigos 86 e 102, I, b da CF.
Infração penal comum nesses artigos: significa:
1. Crime comum em sentido restrito
2. Crime eleitoral
3. Crime militar
4. Crime doloso contra a vida
5. Contravenção penal.
No Brasil, o PR é dotado de irresponsabilidade relativa (imunidade temporária à
persecução penal). Art. 86, §§3º e 4º da CF.
Nenhum outro chefe de executivo ou outra autoridade é dotada dessa
irresponsabilidade relativa. Deputado federal e senador podem ser presos em
flagrante no caso de crime inafiançável. 53.
Essa irresponsabilidade relativa pode ser dividida em duas espécies:
a. Em relação à prisão: o PR não pode ser preso em nenhuma circunstância. Única
exceção: sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Art. 86, §3º. O
PR não pode ser preso em flagrante, preventivamente ou temporariamente.
b. Em relação ao processo: durante o mandato, o PR não pode ser processado por
atos estranhos ao exercício da função. Ou seja, durante o mandato, o PR só
pode ser processado por crimes ex officio (crime praticado em razão do
exercício da função). 86, §4º.
Ex: o candidato a PR comete um crime. Ele começa a ser processado, mas nesse
tempo toma posse como PR. A partir da posse, ele não pode continuar a ser
processado, pois é um crime estranho ao exercício da função, não é crime ex
oficio. O processo deverá ser suspenso.
Ex: O PR chega de viagem e vê sua esposa o traindo. O PR mata os dois. O PR
não pode ser preso. 86, §3º. O PR não poderá ser processado durante o
mandato e nem durante um eventual próximo mandato (por reeleição), pois
não é crime ex oficio.
O prazo prescricional dos crimes cometidos pelo PR, estranhos ao exercício da
função não corre, pois o MP está impedido de ajuizar a ação penal, em razão
de determinação constitucional. HC 83154.
Prescrição dos parlamentares, ao contrário, está prevista na CF.
Ex: O PR determina ao presidente do BACEN que diminua os juros, o que não é
feito. O PR mata o presidente do BACEN. O PR não pode ser preso, mas poderá
ser processado por ser crime ex oficio.
Os autos irão ao PGR, que oferecerá denúncia no STF. O STF não pode se
manifestar sobre o recebimento da denúncia sem que haja autorização da
Câmara dos Deputados. Isso é diferente do art. 53 (o STF pode receber a
denúncia contra parlamentares, sem que haja autorização da CD).
A CD, em um juízo político (oportunidade e conveniência) autoriza ou não que
o STF se manifeste sobre o recebimento da denúncia contra o PR.
Se o juízo de admissibilidade for negativo: STF não se manifestará sobre o
recebimento da denúncia.
Se o juízo de admissibilidade for positivo (tem que o ser por 2/3 dos deputados
federais, numa votação aberta): STF se manifestará sobre o recebimento da
denúncia. Se o STF autoriza o recebimento da denúncia, antes de receber a
denúncia, notifica o PR para apresentar defesa prévia. Lei 8038/90. Esgotado o
prazo da defesa prévia, o STF recebe ou não a denúncia.
Se o STF receber a denúncia, o PR ficará afastado de suas funções por 180 dias.
Assume o vice, substituindo o PR.
Se, ao final, o PR for condenado (não cabe recurso da decisão do STF), ele
perderá o cargo de presidente e poderá ser preso. Perderá o cargo porque terá
suspenso os direitos políticos (artigo 15 da CF) com a condenação pelo crime
comum ex oficio.
A suspensão dos direitos políticos dura enquanto durar a condenação. Cuidado:
se for condenação por crime de responsabilidade, o PR continua no exercício
de seus direitos políticos (lembrar do Collor, que se candidatou a governador.).
Crime comum praticado pelos governadores:
Os governadores são julgados pelo STJ. Art. 105, I, a.
Crimes comuns do 105 são:
1. Crime comum em sentido estrito (CP)
2. Crime eleitoral
3. Crime militar
4. Crime doloso contra a vida
5. Contravenção penal.
O TSE não detém competência originária para julgar governador, quem detém
competência originária para julgar crimes comuns dos governadores, inclusive
eleitorais, é o STJ.
*Mas, o vice não está no 105. Quem julga o vice por crime comum? (Cuidado: O STF
julga o Vice do PR por crime comum). Depende da CE. A CE pode ofertar foro por
prerrogativa de função do vice no TJ.
Se o crime do vice foi praticado enquanto ele estava substituindo o governador, ele
continuará a ser julgado pelo TJ. Substituição não importa modificação de
competência. Sucessão sim. Se o vice estivesse sucedendo o governador, porque este
morreu, por exemplo, aí sim o vice seria julgado pelo STJ.
Algumas CE’s estabelecem que o STJ não podem receber a denúncia sem que antes
haja autorização da Assembléia Legislativa.
Está sendo discutido no STF a constitucionalidade da previsão das CE’s e da lei orgânica
do DF sobre a necessidade de autorização da Assembléia Legislativa para o
recebimento da denúncia pelo STJ.
*O governador não é dotado de irresponsabilidade relativa. Os §§ 3º e 4º do artigo 86
só se aplicam ao PR, não se aplicam aos governadores. A CE tb não pode ofertar
irresponsabilidade relativa para os governadores. A norma do artigo 86, §§3 e 4 são de
extensão proibida aos Estados-Membros.
Governador pode ser preso em flagrante ou provisoriamente e ainda pode ser
processado por crime comum não ex oficio. Ex: Arruda do DF.
Crime comum praticado por prefeito:
Pela prática de crime comum, o prefeito é julgado em regra pelo TJ. Isso porque a
súmula 702 do STF nos dá notícia do princípio da simetria.
Súmula 702: “A competência do TJ para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a competência originária
caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.”
Pela prática de crime estadual, o prefeito é julgado pelo TJ. Art. 29, X.
Pela prática de crime federal, o prefeito é julgado pelo TRF. Súmula 702 (Princípio da
simetria).
Aqui vigora o critério da regionalidade (região do prefeito): esse critério afasta o
critério do lugar da infração (art. 69, I, CPP). Ex: um prefeito de SP que comete um
crime em Amapá não será julgado no TJ do AM, mas no TJ de SP ou no TRF de SP.
*Prefeito pode ser julgado por órgão fracionário como turma, câmara ou sessão, desde
que o seja por um colegiado. Isso depende do regimento interno do tribunal. A CF
exige que ele seja julgado por um colegiado, mesmo que seja em turma, câmara ou
sessão.
*Não é necessária a autorização do legislativo municipal para que o prefeito seja
processado.
*Não se aplica aos prefeitos a irresponsabilidade relativa do 86, §§3º e 4º. Ele pode ser
preso e processado por crime comum não ex oficio.
Reclamação 2138:
Agente político que comete crime de responsabilidade tb pode ser processado por
improbidade administrativa?
Improbidade administrativa: art. 37, §4º da CF e lei 8429/92.
O agente político processado por crime de responsabilidade não pode ser processado
por improbidade administrativa porque seria um bis in idem. Mas, na verdade, esse
julgamento é um retrocesso.
FUNÇÃO JURISDICIONAL
*Interpretação constitucionalmente adequada da atribuição precípua ou básica do PJ:
Montesquieu falava que o juiz apenas retirava sentido do que estava na lei, não dava
sentido à lei. Para Montesquieu, o juiz deveria ser neutro.
Hj, não podemos entender as atribuições do PJ como em 1748.
1ª atribuição do PJ: aplicação da lei ao caso concreto, o PJ substitui a vontade das
partes e resolve o conflito com força definitiva.
2ª atribuição do PJ: ele defende e busca a concretização dos direitos fundamentais.
Não há que se falar em PJ sem falar em concretização dos direitos fundamentais.
3ª atribuição do PJ: faz o controle de constitucionalidade, buscando defender a força
normativa da CF.
4ª atribuição: o PJ busca resolver o conflito entre os demais poderes.
5ª atribuição: o PJ é dotado da legislação judicial. Ex: MI, interpretação conforme a
constituição, sentenças aditivas, súmula vinculante. O PJ atua como legislador positivo.
6ª atribuição: o PJ faz o auto-governo dos tribunais.
Nos EUA, temos a Suprema Corte, o tribunal de apelação federal, os juízes federais, o
tribunal de apelação estadual, os juízes estaduais e a Câmara Marcial. Isso não está na
Constituição deles.
No Brasil, temos:
STF (este é supremo, não é nem superior, está acima)
CNJ (criado pela EC 45, está abaixo do STF e acima dos tribunais superiores).
STJ (Justiça Comum) TSE, STM, TST (Justiças Especializadas)
TRF’s e TJ’s TRE’s e (Tribunais Militares) e TRT’s
Juízes Federais e Estaduais Juízes Eleitorais e Auditorias Militares e Juízes do Trabalho
Juntas Eleitorais
OBS: há previsão constitucional sobre os tribunais militares, mas eles ainda não foram
criados.
Adotamos uma cultura jurídica romano-germânica, pelo que sempre estamos
procurando justiça. Em regra, um processo no Brasil demora 12 anos. No Chile,
demora 8 meses.
Nos EUA, a cultura jurídica é anglo-saxônica, buscam a resolução do conflito,
pragmatismo, o resultado útil, não a justiça. Daí terem poucos tribunais. Lá a maioria
dos casos é resolvida por transação.
STF:
Composto por 11 juízes que recebem o nome de ministros. Art. 101.
*Requisitos para ser ministro do STF:
1. Ser brasileiro nato: isso pq um dos ministros será o presidente do STF e este
comporá a linha sucessória do PR.
2. Idade mínima de 35 anos (capacidade política absoluta, poderá exercer qq
cargo na república) e idade máxima de 65 anos (ele poderá exercer suas
atividades por 5 anos e depois se aposentar compulsoriamente com 70 anos).
3. Notório conhecimento jurídico (conhecimento que dispensa prova). A doutrina
diz que no mínimo ser bacharel em direito deve ser. Médicos já foram
recusados pelo Senado.
4. Reputação idônea, ilibada. O conceito de reputação ilibada muda de acordo
com a época. Significa uma vida passada sem qualquer mancha, sem qualquer
nódua.
Em regra, o presidente escolhe brasileiros que preencham esses requisitos, indica ao
Senado e ele aprova por maioria de votos. A escolha do presidente é livre, não
vinculada a categorias. Não tem que escolher um juiz ou um promotor, pode ser qq
pessoa. A aprovação do Senado recebe o nome de sabatina.
STJ:
Composto no mínimo de 33 ministros. Art. 104.
*Requisitos para ser ministro do STJ:
1. Ser brasileiro (nato ou naturalizado)
2. Idade mínima de 35 e idade máxima de 65. Mesmos motivos do STF.
3. Notável conhecimento jurídico.
4. Reputação idônea, ilibada.
*Temos duas diferenças para com o STF:
-Brasileiro naturalizado pode ser ministro do STJ.
-Escolha do PR está vinculada a 3 categorias: 1/3 dentre juízes dos tribunais federais
(hoje são 11), 1/3 dentre juízes dos tribunais de justiça (hoje são 11), 1/3 dentre
membros do MP (MPF e MPE) e advogados.
O ministro que se aposentou ou morreu e era oriundo do TRF e estava no STJ: STJ
manda ofício para os TRF’s: desembargadores federais se candidatam: STJ escolhe 3 e
manda para o PR. O PR escolhe 1 e manda para o Senado aprovar.
O ministro que se aposentou ou morreu e era oriundo do TJ e estava no STJ: STJ
manda ofício para os TJ’s: desembargadores estaduais se candidatam: STJ escolhe 3 e
manda para o PR. O PR escolhe 1 e manda para o Senado aprovar.
O MP faz uma eleição interna e manda para o STJ 6 nomes, a OAB faz uma eleição
interna e indica 6 para o STJ. O STJ faz uma votação e escolhe 3 nomes dos 12 e manda
os 3 para o PR. PR escolhe 1 e manda para o Senado aprovar. Hj tem mais ex-
advogados no STJ que ex-julgadores.
PEC 358/95: quer mudar a escolha dos ministros do STJ para equilibrar sua
composição.
Justiça Comum Federal:
A CF divide o território nacional em 5 regiões federais, criando, em cada região, os
TRF’s. Até 88 existia o TFR.
É possível que mais TRF’s sejam criados por EC.
TRF da 1ª Região: Brasília e mais 14 estados da federação.
TRF da 2ª Região: serve RJ e ES.
TRF da 3ª Região: SP e MS.
TRF da 4ª Região: RS, PR e SC. Sede em Porto Alegre (RS).
TRF da 5ª Região: todos os estados do nordeste, menos BA, MA e PI que estão na 1ª
região.
Cada estado é uma seção judiciária federal. Não existem comarcas na justiça federal. A
seção judiciária é dividida em sub-seção judiciária federal.
Cada TRF tem o número mínimo de 7 desembargadores federais. Nenhum tem só 7
hoje.
A JF em 1º grau de jurisdição foi criada pela lei 5010/66. Os juízes eram nomeados pelo
presidente da república. Apenas em 71 passou a ser por concurso.
Justiça Comum Estadual:
Art. 25 da CF: Poder de auto-organização dos estados-membros.
Nenhum TJ pode ter menos de 7 membros. O número depende do número de
processos e de habitantes.
Idade mínima para ser desembargador: 30 anos.
O 1º grau de jurisdição é dividido em comarcas. Lei estadual estabelece a divisão entre
as comarcas.
Justiça Especializada Eleitoral:
No Brasil, não existe um quadro próprio de juízes eleitorais. Juízes estaduais e federais
são emprestados para a justiça eleitoral.
Todos aqueles que exercem jurisdição eleitoral exercem mandato de 2 anos,
permitindo-se uma única recondução por mais 2 anos.
A justiça eleitoral é uma justiça federal especializada.
Todos aqueles que exercem atribuições na justiça eleitoral são servidores públicos
eleitorais para fins penais (art. 327 do CP).
*TSE: tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional. Composto por 7
juízes NO MÍNIMO, chamados de ministros. Esses ministros são escolhidos de forma
diversa:
-3 são oriundos do STF (os 11 do STF escolhem os 3, que oficiarão tb no TSE)
-2 são oriundos do STJ (os 33 do STJ escolhem os 2, que oficiarão tb no TSE).
-2 são advogados escolhidos pelo PR de uma lista fornecida pelo STF. Esses advogados
podem continuar a advogar, menos em matéria eleitoral.
02/06/10
As sessões nos TSE são às terças e quintas.
Nos período macro eleitoral (próximo das eleições), há o dobro de sessões.
Um dos 3 do STF presidirá o TSE.
Um dos 2 do STJ será o corregedor geral eleitoral.
A partir do art 118, a CF faz referência aos órgãos da justiça eleitoral. São eles:
-TSE
-Tribunais Regionais Eleitorais
-Juízes Eleitorais
-Juntas Eleitorais.
Tribunais Regionais Eleitorais:
São 27 TER’s, um por estado da federação, e mais o do DF.
A justiça eleitoral é uma justiça federal especializada. (na justiça estadual, a única
justiça especializada é a militar).
Estranhamente, quem comanda os TER’s são juízes estaduais.
O TRE é composto de 7 membros (7 juízes). Desses 7:
-2 são desembargadores do tribunal de justiça daquele estado. Esses 2 são escolhidos
pelos seus próprios pares.
-2 são juízes de direito da entrância mais elevada, escolhidos pelo TJ.
-2 são advogados escolhidos pelo PR de uma lista fornecida pelo Tribunal de Justiça.
-1 representante da justiça federal (este representante pode ser um juiz federal ou um
desembargador federal). Naqueles estados que sejam sede de TRF, o representante da
justiça federal será um desembargador. Nos estados que não sede de TRF, o
representante da JF será um juiz federal.
Os membros do TER são efetos para um mandato de 2 anos, admitida uma
recondução por mais 2 anos.
O presidente do TRE será um dos dois desembargadores do TJ.
Juízes Eleitorais:
São juízes de direito que exercem jurisdição eleitoral. São servidores públicos
estaduais exercendo função federal (princípio da delegação).
Se esse juiz de direito pratica um crime ou é vítima de um crime no exercício da
delegação, quem julga é a JF, tendo em vista que naquele momento estava exercendo
jurisdição eleitoral.
Como temos poucos juízes federais n Brasil, eles não dariam conta de exercer toda a
jurisdição eleitoral.
Os juízes de direito exercem a jurisdição eleitoral por 2 anos, permitida uma
recondução por mais dois anos.
Na 1ª instância eleitoral temos a zona eleitoral. Em cada zona temos um juiz.
Junta Eleitoral:
Sua atribuição está no código eleitoral.
É composto por 2 ou 4 cidadãos mais o juiz eleitoral que a preside.
Esses cidadãos são eleitos para um mandato de 2 anos, admitida uma recondução por
mais 2 anos.
OBS: os advogados que oficiam perante o TSE, na categoria de juristas, podem advogar
na justiça eleitoral somente após uma quarentena de 3 anos.
*Existe no Brasil um Ministério Público Eleitoral? Não. Existe um MP com função
eleitoral.
STM (Justiça Militar da União)
A justiça Militar da União só julga crimes militares, ela não tem competência cível.
Os crimes militares estão previstos no decreto-lei 1001/69 (CPM).
A justiça militar julga membros das Forças Armadas (exército, marinha e aeronáutica) e
tb civis.
Eventual MS será impetrada na JF Comum.
STM:
Composto por 15 ministros, escolhidos pelo PR, aprovados pelo SF.
Desses 15, 10 são militares, 5 são civis.
Todos os 10 militares são oficiais generais (última patente):
-3 oficiais gerais da Marinha
-4 oficiais gerais do Exército.
-3 oficiais gerais da aeronáutica.
Esses 10 militares têm que ser brasileiros natos, conforme art. 12 (somente brasileiro
nato pode ser oficial das Forças Armadas, em razão da segurança nacional)
Os 5 civis são:
-3 advogados
-1 juiz auditor militar
-1 membro do MP Militar (Renato Brasileiro). MP Militar é federal.
Esses 5 civis podem ser brasileiros naturalizados.
Lei 8457/92: Lei que organiza a justiça militar da União.
Abaixo do STM deveria haver os Tribunais Militares, conforme citado na CF, mas ainda
não foram criados. Art. 122, CF.
Auditoria Militar:
Temos 12 auditorias militares no Brasil, que funcionam de forma colegiada (juiz
auditor militar + oficiais militares).
A auditoria militar judica de 2 maneiras:
-Conselho de Justiça Especial: julga oficiais das Forças Armadas, salvo os oficiais
generais que são julgados pelo STM.
-Conselho de Justiça Permanente: julga não oficiais (praças das Forças Armadas) e civis.
Se houver guerra, os juízes da justiça militar da União podem ser mandados para a
guerra, para que o julgamento seja feito no sítio de guerra. A justiça militar
acompanha a tropa. O CPPM (lei 1002/69) estabelece essa mobilidade da justiça
militar.
JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS
É a única justiça estadual especializada que pode ser criada pelo estado-membro.
*Quem pode apresentar projeto de lei para criar a justiça militar estadual? Art. 125,
§3º, CF: proposta do TJ, junto à Assembléia Legislativa (iniciativa privativa do TJ). O
governador não pode.
A justiça militar estadual só julga oficiais militares e policias bombeiros militares, nunca
julga civis (a justiça militar da União julga civis).
Súmula 53 do STJ: “Compete a justiça comum estadual processar e julgar civil acusado
de prática de crime contra instituições militares estaduais.”
A partir da EC 45/04, a justiça militar estadual passo a ter competência civil (a justiça
militar da União não julga matéria civil) e competência para julgar ações judiciais
contra atos disciplinares militares. (125, §4º)
A justiça militar estadual não julga crimes dolosos contra a vida praticados por policial
militar contra civil (isso é para o júri).
Crimes de tortura e crimes de abuso de autoridade praticados por policial militar são
julgados pela justiça comum.
Abuso de autoridade: lei 4898/65.
Organização da justiça militar estadual:
-em 1º grau: Conselho de Justiça
-em 2º grau: o próprio Tribunal de Justiça.
Cuidado: nos estados em que o efetivo da Polícia Militar ultrapasse 20 mil
componentes, é possível a criação do TJM. Temos TJM em SP, RS, MG.
Conselho de Justiça (1º Grau):
Jurisdiciona de 2 maneiras:
-Colegiada (com um juiz de direito e oficiais militares): quando a vítima tb for policial
militar. O autor é sempre um policial militar.
-Singular ou monocrática (só o juiz de direito): quando a vítima for civil (não-militar)
Ex: policial militar pratica crime doloso contra a vida e a vítima é civil, quem julga é a
Justiça Comum.
Ex: policial militar pratica crime de lesão corporal e a vítima é civil, quem julga é o juiz
de direito do Conselho de Justiça singularmente.
Ex: policial militar pratica crime doloso contra a vida ou lesão corporal e a vítima tb é
militar, quem julga é o Conselho de Justiça, colegiadamente.
Tudo isso evita o corporativismo.
OBS: o juiz de direito que oficia na Justiça Militar Estadual é, em regra, um juiz de
direito designado pelo próprio Tribunal de Justiça (pode ser qq juiz de direito, de
família, sucessões, ...). Mas, em SP, RS e MG, onde há TJM, há concurso próprio para
juiz militar.
Art. 125, §3º, CF
Art. 125, §4º: a justiça militar estadual tb julga ações judiciais contra atos disciplinares
militares.
125, §5º
JUSTIÇA DO TRABALHO
Justiça especial federal.
A justiça do trabalho é organizada;
-TST
-TRT
-Juízes do Trabalho
TST:
Composto de 27 ministros, escolhidos pelo PR, com os nomes aprovados pelo SF.
Desses 27, 1/5 é formado por advogados e membros do MP do Trabalho. 1/5 dos 27
quer dizer 6 (3 advogados e 3 MP).
Os 21 restantes são juízes do trabalho DE CARREIRA promovidos dos TRT’s.
TRT:
Hj são 25 TRT’s no Brasil. Existem estados que não possuem TRT. Ex: O Acre faz parte
do TRT de Rondônia.
Em SP temos dois TRT’s, um na capital e outro em Campinas.
Nº mínimo de desembargadores: 7.
Se o TRT possuir só 7, 1 entrou pelo 1/5 e é advogado, 1 entrou pelo 1/5 e é promotor
do trabalho. Os 5 restantes são juízes de carreira.
Os advogados e promotores que entraram pelo 1/5 no TRT não podem ser promovidos
ao TST. Só juízes de carreira podem ser promovidos do TRT para o TST. Isso para se
evitar o que existe no STJ.
No STJ são 33 ministros no mínimo: 1/3 dentre advogados e membros do MP; 1/3
dentre desembargadores do TJ e 1/3 dentre desembargadores do TRF. Desses 2/3 de
desembargadores, podem ser promovidos advogados e promotores que entraram no
TRF/TJ pelo 1/5. Daí, hj no STJ existem mais ex-advogados e ex-promotores do que
juízes de carreira.
No STF só existe um juiz de carreira, o Pelluzo.
Existe a PEC 358/05 (2ª Reforma do Poder Judiciário), que vai trazer a vedação do TST
ao STJ.
Art. 111-A.
CNJ
Está abaixo do STF e acima dos tribunais superiores.
Foi criado pela EC 45.
Art. 103-B
O CNJ foi criado como órgão administrativo, que se encontra abaixo do STF e acima
dos tribunais superiores.
O CNJ não exerce jurisdição. Apesar do CNJ fazer parte do Poder Judiciário, ele não diz
o direito no caso concreto com força definitiva.
Art. 92: o CNJ é órgão do Judiciário.
§1º: sede na capital federal.
*O CNJ é órgão de controle externo do Judiciário? STF: Não é órgão de controle
externo do Poder Judiciário por 3 motivos:
-O CNJ faz parte do Judiciário, é controle interno. 92
-O CNJ é composto por 15 membros. Destes, 9 são juízes. A maioria, portanto, são
juízes.
-O CNJ não pode adentrar em decisões judiciais. Não pode julgar o acerto de decisões
judiciais.
Os membros do CNJ exercem mandato de 2 anos, permitida uma única recondução
por mais 2 anos.
O Poder Judiciário é dotado de garantias, com a finalidade de assegurar a segurança, a
independência das decisões e assegurar toda a sociedade.
Garantias do Judiciário:
a) Garantias institucionais: se referem ao Judiciário como um todo. Objetivo:
assegurar a independência do poder, frente aos demais órgãos do Estado. Para
que o Judiciário não possa ser reduzido, a CF lhe empresta algumas garantias
institucionais, que lhe asseguram independência frente ao Legislativo e frente
ao Executivo.
Podem ser divididas em duas:
-Garantias institucionais de autonomia administrativa
-Garantias institucionais de autonomia financeira
b) Garantias funcionais: se referem ao membro do Judiciário, ao magistrado, para
que ele possa decidir sem o receio de descontentar quem quer que seja.
Podem ser divididas em 2:
-Garantias funcionais de independência
-Garantias funcionais de imparcialidade
a) Garantias Institucionais:
Garantias institucionais de autonomia administrativa (Art. 96):
Assegura ao Judiciário o auto-governo dos tribunais. O judiciário trata de seus assuntos
internos sem qq ingerência dos outros 2 poderes.
Ex: o Judiciário elege seus órgãos diretivos sem qq participação dos outros poderes.
Ex: o Judiciário vota, cria seu próprio regimento interno. É a lei interna do tribunal.
Ex: o Judiciário organiza seu quadro interno de servidores.
Garantias institucionais de autonomia financeira (Art. 99):
O Judiciário possui dotação orçamentária própria. O Judiciário elabora seu orçamento
(99, §1º).
A CF garante orçamento ao judiciário para que possa fazer suas frentes. O Executivo
deve repassar ao judiciário o duodécimo. Se não é feito esse repasse, é caso de
intervenção federal no Estado, por inviabilização de um poder pelo outro.
b) Garantias Funcionais:
Garantias funcionais de independência ou Predicativos da Magistratura (95):
Se referem aos membros do Judiciário.
São 3 os predicativos da magistratura:
-Vitaliciedade (95, I): o magistrado atinge a vitaliciedade após 2 anos de exercício, em
1º grau de jurisdição. Nos tribunais a vitaliciedade é atingida a partir da posse. Com a
vitaliciedade, o magistrado só pode perder o cargo em razão de uma decisão judicial
com trânsito em julgado.
*Vitaliciedade x Estabilidade:
Vitaliciedade: atributo de agente político. Ex: membros do MP, magistrados, membros
dos tribunais de contas são dotados de vitaliciedade. É atingida em 1º grau após 2 anos
de estágio probatório. Só pode perder o cargo em razão de uma decisão judicial com
trânsito em julgado.
Estabilidade: atributo do servido público em sentido estrito. É atingida após 3 anos de
estágio probatório. Pode perder o cargo em razão de processo administrativo
disciplinar.
-Inamovibilidade (95, II): para se evitar perseguições políticas o magistrado não pode
ser removido, a não ser que concorde. O servidor público em sentido estrito pode ser
removido em virtude da conveniência e oportunidade da Administração.
Exceção: se houver interesse público, o magistrado pode ser removido (93, VIII).
Ex: um magistrado foi encontrado pelado saindo de uma casa às 2 horas da manhã, a
polícia o encontrou. Remoção por interesse público.
-Irredutibilidade de subsídio: para que o magistrado tenha tranqüilidade para decidir.
Temos 2 espécies de irredutibilidade.
Para o STF, a irredutibilidade do art. 95 é jurídica, não real. Assim, o subsídio não
precisa ser indexado pela inflação do período anterior. O subsídio não precisa
transparecer o poder de compra do magistrado.
Irredutibilidade real: a cada período inflacionário o subsídio deveria ser corrigido pela
inflação do período, para regular o poder de compra.
Garantias funcionais de imparcialidade (95, §único):
Visam conferir ao magistrado sua capacidade subjetiva (não envolvimento psicológico
com a causa). Essa garantia é um direito constitucional dos cidadãos.
Essa garantia é uma exigência do devido processo legal (art. 5, LIV, CF). O devido
processo legal nos garante um processo justo e para isso o juiz deve ser imparcial.
Resolução do CNJ: o magistrado só pode gastar até 20 horas semanais no magistério.
Magistrado não pode receber custas, não pode ter filiação partidária.
Se o magistrado quiser se candidatar ele deve se exonerar do cargo. LC 64/90: 6 meses
antes das eleição, o juiz deve pedir a exoneração.
Período de janela ou quarentena: para advogar, tem que esperar 3 anos.
Órgão Especial (93, XI):
Só existe em tribunais com mais de 25 membros. Não existe no STF, mas existe no STJ.
É composto por no mínimo 11 e no máximo 25 membros.
Tem competência administrativa e jurisdicional delegada do tribunal pleno.
A composição do órgão especial mudou com a EC 45: até a EC45 eram os membros
mais antigos que compunham o tribunal. Após a EC 45, passou a ser metade os mais
antigos e metade por eleição. Houve uma democratização do órgão especial.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Visão topográfica:
O título IV da CF é dividido em capítulos:
-Capítulo I (art. 44): Poder Legislativo
-Capítulo II (art. 76): Poder Executivo
-Capítulo III (art. 92): Poder Judiciário
-Capítulo IV: Funções essenciais da justiça: MP (127) e Advocacia (art. 133: Advocacia
Pública, Advocacia Privada e Defensoria Pública).
*Pq o MP é denominado como uma das funções essenciais da justiça?
Uma das características da função jurisdicional é a inércia, justamente pela
imparcialidade. Assim, há duas funções que provocam processualmente o juiz: MP e
advogados: são dotados de capacidade postulatória.
O MP e os advogados não são apenas funções essenciais à justiça, mas são funções
essenciais à própria existência do Estado, pois não existe Estado sem justiça, porque o
MP defende a democracia, os direitos fundamentais.
*Qual a posição constitucional do MP hoje?
-Constituição de 1824: não fez qq referência ao MP. Adota a teoria do Poder
Moderador, de Benjamim Constante.
Em 1832, o Código de Processo Criminal do Império fez referência ao promotor de
acusação.
-Constituição de 1891 (1ª Constituição Republicana): dizia que o procurador geral da
republica seria escolhido dentre um dos ministros do STF. Portanto, por essa
constituição, o MP estava contido no Judiciário.
-Constituição de 1934: o MP estava num capítulo denominado atividades de
cooperação governamental. O MP estava junto com o Tribunal de Contas. Alguns
defendem que o MP aqui estaria dentro do Executivo.
-Constituição de 1937 (outorgada por Getúlio Vargas): diminui a importância do MP,
não trata o MP como uma instituição.
-Constituição de 1946 (democrática): o MP foi tratado de forma independente, não
estava em nenhum dos 3 poderes.
-Constituição de 1967: o MP foi colocado dentro do Judiciário.
-Constituição de 1969: o MP foi colocado dentro do Executivo.
-Constituição de 88: MP não é um 4º poder, pois temos formalmente 3 poderes,
conforme o art. 2. O MP é uma instituição extra-poder e, sem ser Poder, exerce
atribuições e possui garantias de poder.
Hj não interesse ser poder, mas sim possuir garantias de poder e o MP as tem. Na
realidade o Poder é uno e indivisível, do povo. O que existe são órgãos que exercem
parcelas do Poder estatal. O poder pertence ao Povo. O correto é falar divisão
orgânica de poder é não divisão tripartite de Montesquieu.
Montesquieu escreveu o espírito das leis em 1748 na França.
Há quem entenda que o MP faz parte do Poder Executivo. Isso em razão da natureza
jurídica dos atos praticados pelo MP.
Os atos praticados pelo MP não são genéricos, não têm força de lei, pelo que não faz
parte do Legislativo.
Os atos praticados pelo MP não têm a característica da definitividade, pelo que não faz
parte do Judiciário.
JAF: defende que o MP faz parte do Executivo, por não se enquadrar nem no
Legislativo e nem no Judiciário.
Organização do MP:
Art. 128. O MP se divide em razão da forma federativa de Estado. Os Estados-Membros
precisam de autoridades próprias (poder de auto-organização dos estados-membros):
-MPU: se divide em 4 categorias:
-MPF
-MPDFT
-MPT
-MPM
-MPE
16/06/10
· Organização do MP brasileiro:
Esta expressão “MP brasileiro” não está na Constituição. É uma construção
doutrinária. Mas a organização do MP brasileiro se encontra sim na Constituição, em seu
art. 128, e ela compreende o MPU e o MPE. Vejamos:
Art. 128. O Ministério Público abrange:
I - o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II - os Ministérios Públicos dos Estados.
Temos 2 MPs: o MPU e o MPE. Qual a razão disso? A resposta nós encontramos
na nossa forma de Estado, que é Federação ou Federalista. Em assim sendo, cada pessoa jurídica com capacidade política possui as suas autoridades próprias. Há um poder de auto-organização próprio. Art. 25, CR: este art. se refere ao poder de auto-organização dos Estados, e desse poder resulta a existência de autoridades próprias.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
Por que os municípios não são dotados de MP? Os municípios não têm Poder
Judiciário próprio e nem MP próprio, apesar de serem pessoa jurídica com capacidade política. Foi uma opção política da Constituição.
Qual a razão pela qual o MPDFT se encontra posicionado dentro do MPU? A razão é que o DF é uma pessoa jurídica com capacidade política híbrida (com competência material dos Estados e dos Municípios), sendo diferente dos Estados Membros. O DF possui menos autonomia que o Estado Membro, ao possuir menos autonomia, o DF possui maiores limites que o Estado Membro. A CR fez uma opção por uma menor autonomia, por causa da sua finalidade política. Quem organiza e mantém as polícias do DF é a União, foi uma opção do legislador a menor autonomia. Os Estados Membros podem dividir-se em Município, diferentemente do DF que não pode dividir-se em Municípios (art. 32 CR).
§ MPU:
Como visto acima, no art. 128, CR, o MPU se divide em 4 ramos ou categorias: - MPF, - MPT, - MPM, e - MPDFT. O chefe administrativo do MPU é o PGR – Procurador Geral da República. Ele
é escolhido pelo Presidente da República, dentre os integrantes da carreira com mais de 35 anos. O seu nome é indicado ao Senado, que deve aprová-lo por maioria absoluta de votos. Ele exerce um mandato de 2 anos, permitindo-se reconduções, não há limites, quantas o Presidente da República desejar. O PR não pode destituir o PGR, apenas o Senado pode destituir, por maioria absoluta dos votos.
Até 1988 a escolha pelo PR do PGR era livre, não precisava ser nem integrante da carreira. A partir da CR/88 exige-se que ele seja escolhido dentre um dos integrantes da carreira. Mas de qual carreira? Há duas posições quanto a isso:
1ª) só pode ser PGR membro integrante do MPF – esta é a tese majoritária, e, inclusive, a PEC 358/05, que já foi aprovada no SF e se encontra atualmente na CD, vai deixar expresso na CR esta determinação. Justifica-se tal exigência porque os membros do MPF tratam de matéria genérica, e não específica como as tratadas pelo MPM e MPT. Dentro dos 4 ramos do MPU o único que não possui um procurador geral próprio é o MPF. O procurador geral próprio é o PGR. Cada ramo do MPU possui o seu Procurador Geral próprio, menos o MPF. Não existe um procurador geral do MPF – ele é o próprio PGR –, apenas dos demais MPs (MPM, MPT, MPDFT). Este é mais um argumento que justifica a tese de que para ser PGR é preciso ser membro do MPF.
2ª) a Constituição não diz que o PGR deve ser membro do MPF, e se ela não diz
isso expressamente, não se poderia fazer esta interpretação restritiva. Mas esta é uma tese minoritária.
O MPU é regulado pela LC 75/93.
Pergunta: Como são escolhidos os procuradores gerais desses 3 ramos do MPU
(MPT, MPM e MPDFT)?
- A escolha do Procurador Geral do Trabalho é feita pelo PGR, de uma lista com
3 nomes fornecida pela Instituição. O Procurador-Geral do MPT exerce mandato de 2
anos, permitindo-se uma única recondução.
- No MPM, o PGJM (procurador geral da Justiça Militar) é escolhido pelo PGR,
de uma lista com 3 nomes, fornecida pela Instituição. O mandato é de 2 anos,
permitindo-se uma única recondução.
- No MPDFT, por sua vez, o procedimento é diverso: quem escolhe o
Procurador-Geral aqui não é o PGR, mas sim o Presidente da República, de uma lista
com 3 nomes, fornecida pelos membros do MPDFT. O mandato é de 2 anos,
permitindo-se também uma única recondução. Há uma falta de autonomia do MPDFT.
Obs.: até a CR/88 o PGR poderia ser demitido ad nutum, a qualquer momento,
pelo PR. A partir da CR/88 isso não é mais possível. Ele só pode ser afastado por
decisão da maioria absoluta do Senado Federal. O PR pode representar ao SF para que
ele se manifeste a respeito.
MPF
Concurso nacional, diferente do da magistratura federal, que é regional.
O procurador da república oficia em regra perante o juiz federal.
Depois de certo tempo, o procurador da república é promovido a procurador regional
da república, que oficia perante um dos 5 TRF’s.
Depois de um certo tempo, o procurador regional da república é promovido a sub-
procurador geral da república, que oficia perante o STJ.
Dentre os sub-procuradores gerais da república, o PR escolhe o procurador geral da
república, que oficiará perante o STF. A CF não diz isso expressamente, mas é o que
prevalece na doutrina.
O PGR é ao mesmo tempo procurador geral da república e procurador geral eleitoral.
Não existe no Brasil um Ministério Público Eleitoral, como existe a justiça eleitoral.
Existe um Ministério Público com atribuições eleitorais. A CF não fala em nenhum
momento em um Ministério Público Eleitoral.
O PGR oficia perante o TSE e perante o STF.
MPE:
O MPE é regulado pela Lei 8.625/93 (lei nacional). Cada Estado possui a sua LC
própria.
O chefe administrativo do MPE é o Procurador Geral de Justiça. Este é
escolhido pelo governador dentre os três nomes mais votados pela categoria. O
governador só pode escolher dentre estes 3 nomes.
OBS: o parlamento estadual (Assembléia Legislativa) não precisa aprovar o PGJ.
Se a Constituição Estadual assim exigir, será inconstitucional.
O PGJ exercerá mandato de 2 anos, permitida uma única recondução.
→ Diferenças entre o PGR e o PGJ:
PGR PGJ
- É escolhido pelo Presidente da República, dentre os sub-procuradores gerais da república; - A escolha é livre, não existe lista; - Deve ter o seu nome aprovado pelo Senado Federal; - Pode ser reconduzido quantas vezes o Presidente da República desejar.
- É escolhido pelo Governador; - É escolhido dentre os 3 nomes mais votados (então existe lista); o governador pode escolher o menos votado dentre os 3. - Não precisa ter o seu nome aprovado pela Assembléia Legislativa (e a CE que determinar isso será inconstitucional); - Só pode ser reconduzido uma única vez.
Como é a carreira do MP estadual?
A carreira abrange o promotor de justiça, que oficia, em regra, perante os
juízes de direito. Depois de um certo tempo, ele é promovido a procurador de justiça,
que oficia, em regra, perante o TJ.
Quem pode ser PGJ? Depende da CE. Algumas Constituições Estaduais e leis
complementares estaduais permitem que o procurador geral de justiça possa ser
promotor de justiça ou procurador de justiça, outras só admitem ser procurador de
justiça.
OBS: A LC 75/93 regra o MPU. A lei 8625/93 (lei nacional) regra o MPE. Além
dessa lei 8625, cada estado possui sua LC própria. Além da Constituição Estadual, a LC
própria do Estado pode permitir que o PGJ seja promotor ou procurador de justiça.
→ Arquivamento: art. 28, CPP.
Se o PGJ requer o arquivamento dos autos ao TJ, o TJ não está obrigado a
arquivar. Em sede estadual, a Lei 8.625/93, em seu art. 12, XI, traz o caminho,
afirmando que haverá a remessa ao Colégio de Procuradores de Justiça, que pode
rever o ato do PGJ.
Já no caso do PGR não, pois isso não existe no MPF. Caso ele requeira o
arquivamento de determinado procedimento, o STF estará obrigado a arquivar.
MP junto ao Tribunal de Contas:
*O MP junto ao Tribunal de contas faz parte do MPU ou do MPE? O art. 130, CR/88 se refere a um Ministério Público especial, independente do
MPU ou MPE. Ou seja, trata-se de um MP especial, junto ao TC, que não faz parte nem do MPU e nem do MPE.
A lei n° 8.443/92 é a lei que regulamenta o art. 130, CR. Ela criou o Ministério Público especial junto ao TCU.
O PGR ajuizou uma ADI para discutir a constitucionalidade dessa lei, afirmando
que o art. 130 não criou um MP especial. No entanto, o STF entendeu que sim, que o
art. 130 faz referência sim a um MP especial, que se encontra na economia doméstica
do TC.
Cargos do MP especial junto ao TCU:
- 1 procurador geral do MP Especial junto ao TCU;
- 3 subprocuradores gerais do MP Especial junto ao TCU;
- 4 procuradores do MP Especial junto ao TCU.
Quem nomeia estes procuradores do MP Especial, depois do concurso público
(que é próprio), é o Presidente da República.
Um dos cargos de ministro do TCU deve ser provido por um membro do MP
junto ao TC.
E junto aos TC dos Estados, qual MP oficia?
No TCE temos os conselheiros e não ministros.
Na maioria dos Estados, ainda são os representantes do MPE que oficiam
perante o TCE, não existe um MP Especial. No entanto, em alguns Estados já foram
realizados concursos para o cargo de Ministério Público de Contas ou MP Especial
junto ao TC.
OBS: O CNMP já deu prazo aos Estados para que criem os MP Especiais junto
aos Tribunais de Contas e deixem de lado o MPE.
*Mas, o CNMP possui atribuições para fiscalizar o MP Especial junto ao TC?
Não. O CNMP só fiscaliza o MPE e o MPU. O CNMP não tem nada a ver com o TC.
Atenção: Não existe MP Eleitoral! A CR/88 não faz referencia à existência de
um MP Eleitoral. O que existem são atribuições eleitorais (MP com atribuições
eleitorais). O promotor eleitoral oficia perante o juiz eleitoral. Ele é um promotor de
justiça que tem atribuições eleitorais, em razão do Principio da delegação.
Junto ao TRE oficia o Procurador Regional Eleitoral. Ele é um membro do MPF
com atribuições eleitorais.
No TSE oficia o Procurador Geral Eleitoral. É uma função exercida pelo PGR.
Pode haver a delegação ao vice-procurador geral eleitoral, que será um dos
subprocuradores gerais da República.
Atenção: quem faz as funções do art. 28 do CPP na Justiça Eleitoral é o
procurador regional eleitoral.
Princípios Institucionais do MP:
Princípio: local, lugar em que algo se inicia. Constitui a verdade primeira.
Natureza dos princípios:
Em um primeiro momento, todos acreditávamos na existência de alguns
valores que independiam do direito posto pelo estado. Esses valores, nessa época,
eram os princípios. Ex: se não tivéssemos o art. 213 do CP, os pais continuariam a
estuprar suas filhas. Essas pretensões humanas decorriam de Deus, era a época do
Teocentrismo.
Após um tempo, veio o Antropocentrismo. Os valores passaram a depender da
razão (Jusnaturalismo de origem racional). Ocorreu a separação entre o Estado e a
Igreja (mais ou menos no ano de 1500).
Com a Revolução Francesa (1789) e o Código Civil Napoleônico de 1824, alguns
valores foram codificados e outros abandonados. A partir daqui, surge o dogma direito
= lei. O direito se resume à lei. (foi com o Código Civil Napoleônico que surgiu a
máxima: pacta sunt servanda). Aqui surgiu uma das espécies do positivismo. Neste
momento, os princípios passaram a ter um papel subsidiário, suplementar (o juiz só se
vale dos princípios quando não existir lei). Ex: art. 4 da LICC e art. 126 do CPC (1973).
Com o fim da 2ª GM (1945), houve o tribunal de Nuremberg que julgou os
generais nazistas. Os nazistas alegavam que apenas cumpriram a lei e o direito é igual
a lei. Mas, os julgadores disseram que acima da lei existem os valores, as pretensões
humanas, que independem do direito posto, que formam o núcleo da dignidade da
pessoa humana. A partir daqui, no mundo, as normas jurídicas passaram a ser de 2
espécies:
-norma-regra
-norma-princípio.
Acima da lei, existe a igualdade, a liberdade,... Nessa época, recuperamos os
princípios, espécies de norma jurídica.
No Brasil, isso só chegou com a CF de 88.
Art. 7 do CDC (1990): “...bem como dos princípios gerais de direito...”
Tratar o princípio como norma jurídica é uma das características do
NEOCONSTITUCIONALISMO ou NEOPOSITIVISMO.
Outras características do Neoconstitucionalismo:
-força normativa da Constituição (a CF é imperativa, manda)
-controle de constitucionalidade.
*Qual a diferença entre regra e princípio se os dois são norma jurídica?
A diferença é apenas qualitativa.
Os princípios têm um maior teor de abstração, têm uma finalidade destacada no
sistema, têm uma maior carga normativa, valorativa. Os princípios têm um
fundamento ético, revelam um determinado caminho a seguir.
Se houver um conflito entre princípios, resolvemos pela ponderação: o princípio mais
pesado deve prevalecer.
Às regras, aplica-se o critério “se...então...” (ex: se atingiu 70 anos, deve-se aposentar
compulsoriamente).
O conflito entre regras é resolvido pela aplicação de 3 critérios: hierarquia, cronologia
e especialidade.
A CR/88, no art. 127, §1º, faz referência expressamente a 3 princípios
institucionais do MP:
- Princípio da unidade;
- Princípio da indivisibilidade;
- Princípio da independência funcional.
Além desses 3 princípios, a doutrina faz referência a um princípio institucional
que decorre do sistema institucional: o Princípio do Promotor Natural.
Trata-se de um princípio implícito.
Por fim, além desses, encontramos outros 2 princípios na LC 75:
- Princípio da Federalização; e
- Princípio da Delegação.
Vamos a análise de cada um deles:
Princípio da Unidade:
Só existe um MP dentro de cada ramo do MP, e cada um deles está sob o
comando de um chefe administrativo.
A unidade pode ser entendida também se levando em conta que o membro do
MP, no exercício de suas atribuições constitucionais, fala em nome da instituição. Ou
seja, quando um Promotor assina uma peça, quem está se manifestando é a própria
instituição, o próprio MP.
O Promotor ou Procurador presenta a instituição: no exercício de suas
atribuições constitucionais, o promotor/procurador é o próprio MP. Assim sendo,
tecnicamente, não é correto afirmar que o MPF está representado pelo seu Procurador
da República. Quem fala pela instituição é o seu chefe, mas quem assina a peça não diz
“o PGR, representando por...”, mas sim “presentado por”. Ele é a instituição (já a
representação exige representante e representado, o que não é o caso).
Fora dos autos, quem fala pelo MP é o chefe administrativo.
Princípio da Indivisibilidade:
É uma conseqüência da Unidade. Decorre da Unidade. E se é assim, só existe
indivisibilidade dentro de cada ramo, de cada categoria do MP.
A indivisibilidade é a possibilidade de substituição de uns pelos outros, da
mesma unidade, dentro da mesma relação processual.
Cuidado: um membro do MPF não pode substituir um membro do MPE.
Ex.: um MP oferta a denúncia e sai de férias, outro faz as alegações e morre,
outro recorre. Não existe a necessidade de outorgar procuração para este último. Não
existe a necessidade de outorga de poderes. Todos fazem parte da mesma unidade.
Princípio da Independência Funcional:
Art. 127, §1º, CR:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional.
A independência funcional é do membro, do presentante, no exercício de suas
atribuições constitucionais. Isso significa que no MP não existe subordinação
hierárquica no exercício de suas atribuições constitucionais. Não existe ingerência do
procurador-geral no exercício das atribuições dos membros. Cada membro deve
obediência apenas à CF. Isso não retira a importância do procurador geral, que é o
chefe administrativo.
Art. 127, §2º, CR:
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao
Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e
títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá
sobre sua organização e funcionamento.
A autonomia funcional é da instituição frente o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
Assim, a independência funcional se refere ao membro, como presentante do
MP, já a autonomia se refere à instituição frente ao PL, PE e PJ. Para que o MP não se
subordine aos demais poderes, a CR/88 faz referência a uma autonomia funcional.
A independência funcional também pode ser entendida a partir da seguinte
máxima: o membro do MP em razão de sua independência funcional, só deve
obediência à Constituição. Por isso se diz que o MP é o fiscal da Constituição. Ex: o
promotor pode pedir o arquivamento do inquérito policial e das peças de informação
da ação civil pública e o procurador geral não irá obrigá-lo a denunciar ou a prosseguir
com a ação.
Pré-compreensões: no instante em que o sujeito analisa um objeto, ele possui
pré-compreensões. Ele não é neutro. Ninguém é neutro. Estas pré-compreensões
decorrem de 2 fatores: do determinismo histórico e do inconsciente. E o limite dessas
pré-compreensões é a própria Constituição.
Princípio do Promotor Natural:
Decorrente do sistema constitucional, o principio do promotor natural significa que o cidadão tem o direito fundamental de ser acusado por um membro do MP previamente estabelecido. Ou seja, por um membro do MP que tenha sido designado através de critérios objetivos. Esse membro do MP não pode ser designado pós-fato,
sob pena de se configurar uma designação arbitrária, por encomenda, o que seria inconstitucional.
Trata-se de uma proteção individual que garante que o indivíduo não será perseguido.
Este princípio não se encontra expresso na CR/88. Mas na verdade, qual é o seu fundamento? Na doutrina encontramos vários pontos de vista, inclusive de quem defenda que esse princípio não existe.
Esse princípio tem fundamento no devido processo legal (art. 5º, LIV, CR), que é um conjunto de regras que garantem a existência de um processo justo. Para que esse processo seja justo, o promotor deve ser pré-estabelecido através de regras constitucionais.
O outro fundamento para esse princípio encontra-se no art. 5°, LIII, CR/88: ninguém será processado ou sentenciado, senão pela autoridade competente.
As garantias da inamovibilidade e da independência funcional também
fundamentam esse princípio.
Esse principio evita designações de encomenda.
Atenção: durante a investigação não há que se falar em princípio do promotor
natural. Ele só existe no momento do ajuizamento da ação. Assim, o PGJ pode designar
grupos especiais para a investigação. Ex: GAECO (grupo de investigação para
organizações criminosas).
Em algumas ações, o promotor natural pode solicitar auxílio de outros colegas
em algumas ações, desde que o promotor natural não deixe de participar do processo.
Isso é comum em júris complexos.
Princípio da Federalização:
Não existe um MP eleitoral. A atribuição eleitoral é do MPF, já que a justiça
eleitoral é federal e especializada. Isso é possível por conta da federalização.
Se ela é federal, especializada, quem possui atribuição na justiça eleitoral é o
MPF.
Princípio da Delegação:
Quem oficia perante a zona eleitoral é o promotor eleitoral, pelo Princípio da
delegação. Ocorre, pois, uma delegação do MPF para o “MPE”.
Ocorre que não existe o número de membros do MPF suficiente que podem
exercer a função e este tem sido um problema. O MPF tb delega a promotores de
justiça a função de oficiar perante a Justiça Eleitoral.
PEC para extinção ou reposicionamento do MP:
Seria Constitucional uma PEC que extinguisse o MP? Ou ainda, seria constitucional uma PEC que posicionasse o MP dentro de um dos poderes da República (executivo, legislativo ou judiciário)?
Segundo Alexandre de Morais, o MP é marcado pela permanência, é uma instituição perene. Assim, uma PEC em qualquer desses sentidos seria inconstitucional.
O MP é imprescindível para a defesa dos direitos fundamentais. Assim, sua extinção diminuiria a defesa desses direitos. E é imprescindível também para a existência do próprio Estado Democrático de Direito.
Se a independência do MP for retirada pela sua inclusão em um dos três
poderes acima, estaria havendo uma hipertrofia de um daqueles poderes, ou seja, o
seu fortalecimento, em detrimento dos outros dois. E isso viola a independência e a
harmonia entre os poderes (que é cláusula pétrea). Portanto, não é possível PEC que
extinga ou que posicione o MP dentro de um dos outros poderes.
Atribuições do MP:
As atribuições do MP estão genericamente descritas no caput do art. 127, CR.
Além disso, elas estão também minudeciadas, esclarecidas, especificadas a partir do
art. 129, CR.
É preciso, pois fazer uma ligação entre os arts. 127 e 129, CR, que tratam,
respectivamente, das atribuições genéricas e específicas do MP.
Vejamos:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. § 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. § 3º - O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º. § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do §
3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a
realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se
previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
suplementares ou especiais.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. § 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei. § 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. § 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. § 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.
Atenção: esse rol trazido pelo 129 é meramente exemplificativo. Não temos
um rol taxativo de atribuições para o MP. É, pois, possível que outras atribuições lhe
possam ser definidas. Prova disso é o disposto no inciso IX do art. 129, CR: “cabe ao
MP exercer outras funções que lhe forem conferidas...”.
Quais requisitos devem estar presentes para que outras atribuições sejam
ofertadas?
Temos requisitos de 3 ordens: formal, material e, ainda, o requisito negativo ou
obstativo.
- O requisito formal determina que só a lei pode conferir outras funções ao MP.
Pode ser lei federal ou estadual, nunca lei municipal.
- O requisito material determina que as novas atribuições devem ser
compatíveis com as finalidades constitucionais/institucionais do MP. Ex: o MP não
pode começar a fazer a defesa de direitos individuais disponíveis.
- O requisito negativo significa que é vedada ao MP a representação judicial ou
consultoria jurídica de entidades públicas (para isso existem procuradores federais,...).
Isso é vedado pela própria CR, no 129, IX.
Análise das atribuições genéricas do MP, dispostas no 127:
Art. 127, CR – Princípio da essencialidade e Princípio da Permanência.
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Instituição permanente: O MP é uma instituição permanente, não sendo
possível a sua extinção justamente porque o MP é essencial à prestação jurisdicional. Uma lei falando o contrário seria inconstitucional. Ex: art. 142 da CF: tb seria inconstitucional acabarmos com as Forças Armadas.
Seria inconstitucional tb posicionarmos o MP em um dos 3 órgãos (PJ, PE e PL) que exercem uma parcela da soberania do Estado. Assim estaríamos hipertrofiando o PL, ou o PJ ou o PE, ofendendo a soberania dos poderes, que é uma cláusula pétrea.
Essencial à função jurisdicional do Estado: princípio da essencialidade ou
necessidade ou imprescindibilidade do MP. Em regra, não há jurisdição sem autor, o juiz não pode julgar sem pedido e quem pede em regra é o MP (nas causas de sua atribuição).
Ordem jurídica: conjunto de normas que organiza a sociedade através do
direito. O ordenamento jurídico é o conjunto de regras de um Estado em um
determinado momento histórico.
O MP, conforme a previsão do art. 127, CR, faz a defesa deste ordenamento
jurídico. É o fiscal da lei, entendendo-se lei como ordenamento jurídico. O MP atua, dessa forma, na defesa do ordenamento jurídico, de duas formas: - MP como órgão agente; e - MP como órgão interveniente. O MP como órgão agente demanda junto ao Estado, ajuíza ações penais e
ações civis, sempre na defesa da ordem jurídica. É uma parte instrumental. Além de órgão agente, o MP oficia também como órgão interveniente e, como
órgão interveniente o MP não é parte, mas possui os poderes das partes, também na defesa do ordenamento jurídico. Ex.: ação penal de iniciativa privada: o MP não é parte instrumental, mas funciona como fiscal da lei, fiscal da indivisibilidade da ação penal, é, pois, órgão interveniente. Outro ex. (agora no processo civil): na ação popular o MP obrigatoriamente deve se manifestar como órgão interveniente.
Se o MP ajuizar o HC, ele é agente; se ele não ajuíza, ele deve se manifestar obrigatoriamente, atuando nesse caso como órgão interveniente.
O CPC que é mais recente do que o CPP, já elenca de forma expressa, nos arts. 81 e 82, as formas de atuação do MP como órgão interveniente: em razão da natureza da parte (menor, índios, ausentes) ou em razão da qualidade da relação processual (casamento, sucessão, nacionalidade, mudança de nome).
A defesa do ordenamento jurídico por parte do MP só existe em uma relação
jurídica processual? Não. O MP também defende o ordenamento jurídico em atividades extraprocessuais, como ocorre, por ex., nas recomendações e nos termos de ajustamento de condutas.
Ademais, o art. 127 diz ainda que ao MP incumbe a defesa do regime
democrático. Em uma primeira leitura deste dispositivo, com olhos desarmados, poderíamos
imaginar que essa defesa do regime democrático só significa a participação do MP no processo eleitoral. Mas não é só isso. Regime democrático significa muito mais do que a atribuição do MP no processo eleitoral.
Regime democrático não quer dizer só o direito de votar e ser votado. Democracia é muito mais que eleição. Quando se fala em regime democrático, nesse art. 127, devemos entender que a atuação do MP deve ser pautada na defesa da liberdade, da igualdade e da dignidade da pessoa humana.
*Qual a diferença entre liberdade para os antigos e liberdade para os
modernos? Essa diferença foi feita por Benjamim Constante. Liberdade para os antigos é de índole essencialmente política, consistia na participação do homem na vida da polis (cidade) (mulher e escravos não eram livres porque não votavam). Liberdade para os modernos é auto-determinação, a realização na existência individual e pessoal de cada um. É a aptidão para escolher seu destino. O MP, na defesa do regime democrático, defende a liberdade, mas não só a liberdade de locomoção (ajuizando HC), e sim a liberdade no seu sentido mais genérico. Se o MP defende o
direito constitucional de reunião, de associação, de culto, de religião etc., ele está fazendo a defesa dessas liberdades.
Igualdade aqui, por sua vez, não significa o tratamento igualitário de todos. Não significa que tenhamos que tratar todos da mesma forma. Igualdade é o tratamento desigual dos desiguais, na medida em que se desigualam. A igualdade aqui é a igualdade de condições e igualdade de oportunidades. Ex: ações afirmativas feitas pelo MP (discriminações positivas: políticas públicas ou privadas obrigatórias ou facultativas que têm por finalidade superar desigualdades históricas, buscando a criação de personalidades emblemáticas, como Ellen Gracie, Joaquin Barbosa). Temos:
-Políticas de ações afirmativas para acabar com a discriminação de gêneros (homem e mulher): um nº mínimo de mulheres como candidatas (lei 9504), menor tempo de aposentadoria para a mulher, ajuizamento das ações de divórcio e alimentos pela mulher em seu domicílio. O MP do Trabalho fiscaliza a igualdade de salários entre homem e mulher.
-Políticas de ações afirmativas em razão da identidade sexual: o companheiro recebe auxílio previdenciário, benefícios, herança.
-Políticas de ações afirmativas em razão da idade: benefícios para os idosos. 17/06/2010
-Políticas de ações afirmativas para superação de desigualdade regionais: SUDAM, SUDENE, FINAM. -Políticas de ações afirmativas para acabar com a discriminação da cor: cotas nas universidades, cotas nas escolas públicas de ensino médio.
Na defesa do regime democrático, o MP busca tb a defesa da dignidade da pessoa humana. A dignidade da pessoa humana não é um direito, é um sobre princípio, é pré-estatal. Mesmo se não existisse Estado, o indivíduo teria direito à dignidade. A CF, em seu artigo 1º, apenas reconheceu o direito à dignidade ao cidadão, não criou o direito. Essa dignidade é o que diferencia o ser humano da coisa. O indivíduo é um fim em si mesmo, por isso tem dignidade. A coisa é sempre um meio para atingir um fim.
A dignidade identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um conjunto de valores civilizatórios, incorporados ao patrimônio da humanidade.
Na defesa da dignidade da pessoa humana, o MP defende dois conteúdos de dignidade: moral e material.
A existência digna em sentido moral é o direito de ter direitos (de não ser desrespeitado).
Ao lado dessa dignidade está a dignidade em sentido material, e, para que se tenha dignidade em sentido material o Estado deve fornecer um piso mínimo de dignidade, que significa o mínimo existencial (art. 6º, CR): educação (o MP busca escolas), saúde (o MP busca hospitais), moradia (o MP busca casas), segurança (o MP busca polícia), trabalho (o MP fiscaliza o trabalho). Não há que se falar em regime democrático sem esse mínimo existencial. Nesse aspecto, somos credores do Estado. A atuação do MP na defesa dessa dignidade se dá, por ex., quando o promotor ajuíza
uma ação para que um município seja condenado à obrigação de fazer para garantir a todas as crianças desse município uma escola pública.
*Mínimo Existencial x Reserva do possível: De um lado, o indivíduo precisa desse mínimo existencial, de outro, o Estado
precisa de dinheiro para fazer frente a essas necessidades, é a reserva do possível. A reserva do possível é uma construção do direito constitucional alemão. O cidadão tem o direito a esse piso mínimo de dignidade. Mas, para isso, o
Estado precisa de orçamento. A reserva do possível é uma teoria de Estados Centrais, desenvolvidos. Aqui,
como somos um Estado sub-desenvolvido, periférico, tudo ainda precisa ser feito, pelo que não cabe importarmos essa teoria. Aqui, a reserva do possível não pode servir para que o Estado deixe de prover as necessidades básicas.
Para AGU: defender a reserva do possível. Interesses, no art. 127, está como sinônimo de direitos. Quer dizer posição
jurídica necessária à satisfação de uma necessidade. O MP deve defender o interesse, ou seja, deve defender posições jurídicas
necessárias à satisfação de necessidades. A Constituição fala em dois tipos de interesses: os interesses sociais e os
interesses individuais indisponíveis. Os interesses sociais são os interesses de toda a sociedade. Aqui o MP atua
como advogado da sociedade, como o representante dos interesses de toda a sociedade. Interesse social aqui significa, portanto, bem comum, ou seja, os interesses dos membros da sociedade. Como ex. desse interesse temos: a moralidade, o meio ambiente, a legalidade etc.
Os interesses individuais indisponíveis são indisponíveis porque em relação a eles não existe a disponibilidade por parte do titular, eles são imprescindíveis para a própria existência dos seus titulares.
Eles são indisponíveis levando-se em conta duas realidades, dois fatores: são indisponíveis em razão da qualidade do sujeito (ex.: processos de menores, de índios, de incapazes) ou em razão da natureza da relação processual (ex.: questões de família, nacionalidade, questão de Estado). Art. 82, CPC.
Em todos esses exemplos acima citados, o MP deverá se manifestar. Vimos, até aqui, portanto, todas as atribuições genéricas do MP (art. 127, CR). As atribuições específicas, por sua vez, estão dispostas no art. 129, CR. Aqui
trataremos dos principais aspectos sobre o tema. Primeiramente, é preciso recordar que o art. 129, CR decorre do art. 127, CR.
Ademais, este artigo traz um rol meramente exemplificativo. Ou seja, outras atribuições podem ser ofertadas ao MP.
Vamos, pois, a análise do art. 129, CR e dos principais aspectos de cada um de seus incisos:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
O MP é o titular constitucional da ação penal. Em regra a ação penal é pública. O art. 129, I, nos informa que no Brasil nós adotamos o Sistema Penal
Processual Acusatório, que possui várias características, dentre as quais uma delas é a separação total entre quem acusa e quem julga (no Brasil, é vedada a investigação feita por magistrado). O STF já reconheceu inconstitucional a lei 9034/95, que estabelecia o poder de investigação do juiz. Uma outra conseqüência desse sistema penal acusatório é a necessidade do MP provar a existência dos fatos por ele alegados (quem alega tem que provar). Em razão desse sistema penal acusatório, cabe ao MP a busca por uma sentença justa, inclusive absolutória, se for o caso.
Desse inciso I podemos inferir a vedação a tortura. O investigado é sujeito de direitos.
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
Isso significa que o MP defende o efetivo respeito aos poderes ao fiscalizar se
os princípios da AP (art. 37, CR) estão ou não sendo obedecidos. Para tanto, ele faz uso das ações civis públicas ou ações de improbidade administrativa (Lei 8.429/92). Essas ações meios de defesa (129, III).
A saúde é exemplo de serviço de relevância pública, que deve ser defendido pelo MP.
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
O MP preside o inquérito civil público, que é um dos instrumentos de defesa do
patrimônio público e social. Patrimônio público, aqui, significa não só os bens materiais, mas todos os bens
de uma sociedade, não necessariamente materiais, corpóreos. Bens patrimoniais, portanto, significa bens de todos, é o patrimônio difuso indivisível, podendo ser bens materiais ou imateriais (cultura).
Hoje se fala, inclusive, que ao MP incumbe a defesa também do patrimônio ético e moral da comunidade, que é a moralidade, a probidade, a honestidade cívica. Art. 37 da CF.
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
A ação de inconstitucionalidade de que trata o inciso IV é o gênero do qual
temos as 5 espécies de ações que o MP (PGR) é titular: ADPF, ADC, ação declaratória por omissão, ADI comum, ADI interventiva. Art. 103 da CF.
Ao promover essas ações de inconstitucionalidade, o MP é o fiscal da Constituição, defendendo a força normativa da CF.
O PGJ deve ter obrigatoriamente legitimidade para ajuizar representação de inconstitucionalidade em sede estadual. Seria inconstitucional a lei ou a constituição estadual que negasse essa atribuição ao MP Estadual, tendo em vista o 129, IV.
MP como fiscal da federação: o PGR pode ajuizar a ADI Interventiva, que está prevista no art. 35, CR, em busca da defesa dos princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII, CR) – o MP estará assim fazendo a defesa do pacto federativo, como fiscal da Federação.
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações
indígenas; Todos os ramos do MP brasileiro têm por atribuição a defesa da população
indígena. Mas os direitos indígenas devem ser discutidos na justiça federal (art. 109, XI, CR). Assim, em regra, é o MPF que possui atribuição para a defesa dos direitos indígenas.
Pergunta: Só o MP defende os direitos e os interesses das populações indígenas? Trata-se de legitimidade exclusiva do MP? Não. O art. 232, CR nos dá a resposta quanto a isso quando fala em legitimidade concorrente do MP com outros legitimados, vejamos:
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
São, pois, 4 os legitimados (índios, comunidades, organizações, MP). E se o MP
não for o órgão agente (que ajuizou a ação), ele obrigatoriamente deve ser órgão interveniente, deve falar na ação.
Quando a Constituição faz referência a organizações (em seu art. 232), pode-se falar em organizações governamentais (ex.: FUNAI) ou em organizações não governamentais (ONGs). Ambas podem fazer a defesa das populações indígenas.
Voltemos ao art. 129, CR:
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
A Resolução nº 13 do Conselho Nacional do MP regra estes procedimentos administrativos, estas requisições.
Esta requisição de informações e documentos é um pedido, uma ordem ou uma determinação? Qual a sua natureza jurídica? E se ela for desatendida, qual a conseqüência? Esta requisição não é pedido, não é solicitação. É determinação. Mas não é uma ordem, para a ordem, necessário que exista subordinação hierárquica. Esta requisição é denominada de poder-dever de requisição do MP. Este poder de requisição não existe somente em inquéritos civis, mas tb em outros procedimentos administrativos. O MP tem este poder-dever e se esta requisição for desatendida, haverá uma conseqüência jurídica para tanto: a Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85)
estabelece um tipo penal, em seu art. 10, para este desatendimento – trata-se de crime punido com pena de reclusão de 1 a 3 anos o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação, quando requisitados pelo MP.
LC 75/93, art. 8, II e III: fala da requisição do MP. Essa LC 75 é utilizada subsidiariamente pelos MP’s Estaduais. Em cada LC Estadual tb está previsto esse poder de requisição.
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;
A Resolução do Conselho Nacional do MP (Resolução nº 20) regra esse controle
externo da atividade policial. O que é controle externo da atividade policial? É o controle da atividade fim, da
atividade típica da polícia, abrangendo todas as agências de polícia elencadas no art. 144, CR.
A atividade típica de polícia é investigar indícios de autoria e materialidade de crime. Essa atividade é voltada para a segurança pública, para coibir ilícitos penais. Atenção: só podemos falar em controle externo da atividade policial em se tratando de atividade finalística, atividade típica da polícia.
Exs.: o MP deve visitar as delegacias, deve fiscalizar se os inquéritos policiais estão sendo instaurados no prazo correto, se os prazos processuais estão sendo cumpridos pela autoridade policial, se foi cumprido um determinado alvará de soltura, se foi cumprido um mandado de prisão etc.
O MP não pode fiscalizar a expedição dos passaportes com base no inciso VII, que é uma atividade atípica de polícia.
O MP até pode controlar atividades atípicas de polícia, mas com base no inciso II. Ex: Se um delegado de polícia usa um carro da superintendência da polícia federal para uso pessoal, ou se ele chega atrasado ao serviço, tudo isso não é objeto de controle externo pelo MP. São ilícitos administrativos que serão analisados com fundamento no inciso II do art. 129, CR.
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
A requisição que o MP faz ao delegado para instaurar inquérito policial obriga
o delegado a dar início à investigação? Sim, em regra a requisição deve ser atendida, sob pena de prevaricação ou ação de improbidade administrativa. Mas é preciso lembrar que requisição não é ordem, é uma determinação (não existe subordinação hierárquica entre o MP e o delegado).
Art. 5º, II, CPP – requisição para instauração de IP. O MP deve fundamentar a sua requisição. Se esta não for fundamentada, não
precisará ser atendida. Esta requisição do MP marca a autoridade coatora em MS e HC. Se o MP
requisita a instauração de IP e o delegado o instaura, o membro do MP é que será a autoridade coatora. E, um eventual HC deverá ser ajuizado perante o TJ ou TRF (dependendo se o MP é federal ou estadual). O delegado não é autoridade coatora.
*Poder de investigação do MP:
Argumentos contrários a esse poder Argumentos favoráveis
-a CF, em nenhum dispositivo, diz expressamente que o MP pode investigar. O silêncio da CF é proposital. -a CF, no art. 144, §1º, IV, diz que cabe a polícia federal exercer com exclusividade as funções de polícia judiciária da União. -se o MP investigar, ele se compromete psicologicamente com a investigação e somente trará para a investigação elementos de prova desfavoráveis àquele que está sendo investigado. O delegado seria imparcial, mas o MP será parcial.
-Teoria dos Poderes Implícitos: se a CF oferta ao MP a atribuição de ajuizar ações, a CF implicitamente tb dá os meios para o atendimento dessas atribuições. -o §único do art. 4 do CPP diz que o inquérito policial não é atribuição exclusiva da polícia. Esse dispositivo não impede que o MP investigue. Ex: o Legislativo investiga através da CPI, o Executivo investiga através da Receita Federal e Estadual, o Judiciário investiga (LC 35/78: LOMAM permite que um juiz investigue outro). -Princípio da universalização das investigações: todos podem investigar. Existem tratados internacionais que fundamentam esse princípio. O tratado de Roma, que criou o TPI, permite que o MP investigue. Hoje, o STJ, os TJ’s e os TRF’s entendem que o MP pode investigar. No STF, existem decisões de turmas dizendo que o MP pode investigar.
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
Em regra, o MP não pode advogar. Exceção possível: membros do MPF que
adentraram na instituição antes de 1988 podem advogar. Isso porque até 1988 não existia a AGU, pelo que quem fazia a defesa da União era o MPF. Art. 29, §3º do ADCT.
Como vimos, o rol desse art. 129 não é taxativo, mas meramente
exemplificativo.
*Atividade político partidária de membros do MP: Temos que dividir a situação em 3 partes:
1) Quem entrou no MP até 1988: pode participar de atividades político-
partidárias. É só se licenciar 6 meses antes das eleições. É o caso do Capez.
2) Quem adentrou no MP de 1988 até a promulgação da EC 45/04:
Segundo Alexandre de Moraes, o membro do MP deve pedir licença para participar
das atividades partidárias.
Mas, segundo a maioria e segundo o próprio TSE, o membro do MP deve pedir
exoneração.
3) Quem adentrou no MP depois da EC 45/2004: o membro do MP tem que pedir
exoneração.
Ou seja, prevalece que após a CF/88, o MP não pode participar das atividades
partidárias.
COMPETÊNCIA CRIMINAL NA CF/88
Introdução:
Essa competência é expressa na Constituição.
Havendo conexão entre crime federal e estadual, aplica-se a Súm. 122, STJ,
prevalecendo a justiça federal:
“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a
regra do art. 78, II, a, do CPP”.
Dentro disso, o que sobra é competência da justiça estadual.
As contravenções são excluídas da Justiça Federal.
Lembrar que o foro por prerrogativa prevalece. Então, se um Deputado Federal
comete contravenção, será julgado na Justiça Federal, mas não por causa da
contravenção e sim por causa da prerrogativa.
Não há como se falar em competência sem mencionar jurisdição, nem em
jurisdição sem analisar a sentença.
O Estado possui 4 elementos constitutivos ou estruturais:
- Poder, soberania ou organização: capacidade ou possibilidade de impor
vontade sob vontade de terceiro. Aquele que impõe sua vontade sobre a de terceiros
está exercendo poder. O Estado exerce o chamado poder político (aptidão,
possibilidade e utilização da violência legítima. Nada mais que coercibilidade,
obrigatoriedade). O Estado pode impor sua vontade sobre terceiros. Exemplo de
violência legítima é o julgamento de uma ação penal, a prisão, subtração da liberdade
de locomoção. Outro exemplo é a interceptação. Esse poder político só pode ser
exercido dentro do território do Estado.
- Território: componente espacial do Estado. É a superfície da terra sobre a qual
o Estado exerce sua jurisdição. O Estado só pode aplicar sua soberania, jurisdição a
fatos ocorridos dentro de seu território, de acordo com o princípio da territorialidade.
Fatos ocorridos fora do território nacional, em regra, não são tutelados pelo
ordenamento nacional.
- Povo.
- Objetivos.
Todos os juízes exercem jurisdição, na medida em que o sujeito exerce parcela
de poder do Estado, parcela da violência legítima do Estado. Assim, tecnicamente, é
certo falar em Estado-juiz.
A despeito disso, a CR/88 limita a jurisdição. A competência é medida de limite
de jurisdição ofertada pela CR/88 ao magistrado. Portanto, há um sistema de
competências, divido em fases:
1ª Fase: competência internacional;
2ª Fase: competência originária dos Tribunais ou foro por prerrogativa
de função;
3ª Fase: competência das justiças especializadas;
4ª Fase: competência criminal da justiça federal.
Atenção: a competência criminal da justiça estadual é remanescente. A CF nada
fala. Art. 25, §1º, CF.
1ª Fase – Competência Internacional:
Principio da Territorialidade (art. 1, CPP) – a jurisdição nacional só pode ser
aplicada a fatos ocorridos dentro do território nacional, mas há exceções:
- Art. 7º, CP – aplicação da jurisdição penal a fatos ocorridos fora do território
nacional – extraterritorialidade penal.
- Lei de Tortura – Lei 9.455/97, no art. 2º, determina a aplicação da lei nacional
a fatos ocorridos fora do território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-
se o agente em jurisdição brasileira.
-Cooperação jurídica internacional em matéria penal: hoje existe uma
relativização da soberania nacional. Em razão do avanço da tecnologia, os crimes hoje,
em regra, são transnacionais. Assim, os Estados devem cooperar na repressão desses
crimes. Isso é uma conseqüência do Estado Constitucional Cooperativo (estado não
voltado somente para si. Mas é um estado que se disponibiliza como referência para
outros Estados Constitucionais, membros de uma comunidade internacional). O Brasil,
hoje, é um estado constitucional cooperativo. Assim, cooperamos com outros estados,
nas mais variadas áreas, inclusive em matéria penal. Ex: cartas rogatórias são
instrumentos de cooperação. Testemunhas de um crime que ocorreu na China podem
ser ouvidas aqui. Outros instrumentos de cooperação: homologação de sentença
estrangeira, assistência judiciária em matéria penal, troca de presos, extradição.
- Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 – precisa de crime antecedente. A
prática de crime antecedente é elementar do tipo. O crime antecedente pode ter sido
praticado fora do território nacional, que o crime de lavagem será julgado no Brasil. Ex.
Caso do traficante abadia.
Temos 3 espécies de legislação sobre lavagem de capitais:
a) Legislação de 1ª geração: estabelece um único crime antecedente: tráfico
de drogas.
b) Legislação de 2ª geração: estabelece um elenco taxativo de crimes
antecedentes, além do tráfico de drogas. É o caso da nossa lei 9613.
c) Legislação de 3ª geração: qq crime pode ser antecedente a lavagem de
dinheiro, não existe um rol taxativo de delitos.
OBS: Território é a superfície da terra sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição.
Temos 2 espécies de território:
1) Território por ficção/por extensão/ficto: abrange:
- aeronave pública nacional onde quer que esteja
-embarcação pública nacional onde quer que esteja
-aeronave particular nacional no espaço aéreo nacional e internacional
-embarcação particular nacional no espaço marítimo nacional e internacional
OBS: Representação diplomática não é território por extensão. Crime praticado dentro
da Embaixada do Brasil não será julgado no Brasil, salvo se o criminoso for um
representante diplomático (imunidade diplomática).
2) Território em sentido estrito/Real/Propriamente dito: estão contidos os
elementos: solo, sub-solo, espaço aéreo nacional, mar territorial e plataforma
continental. A lei 8617/93 define o mar territorial:
Mar territorial: 12 milhas.
Zona contígua: Após as 12 milhas, contamos mais 12 e temos a zona contígua.
Zona econômica exclusiva: Após o mar territorial, em 188 milhas, temos a zona
econômica exclusiva.
Em cada um desses espaços, o Estado pode exercer sua soberania.
Passagem inocente: art. 1 da lei 8617/93: é reconhecida a navios de todas as
nacionalidades a passagem inocente no mar territorial. Se ocorrer um crime nessa
passagem, não será julgado no Brasil, mas sim no destino do navio.
2ª Fase – Competência originária dos Tribunais - Foro Por Prerrogativa de Função:
A CR entende que algumas autoridades, em razão da dignidade do cargo,
devem ser julgadas originariamente pelos tribunais. Não é privilégio, é prerrogativa. A
prerrogativa é irrenunciável, diferentemente do privilégio.
Prerrogativa Privilégio
Ofertada em razão do cargo. Ofertado em razão da pessoa.
Obs.: A CR exige que o julgamento seja feito por um colegiado, não
necessariamente o tribunal, pode ser um órgão fracionário do tribunal, como turma,
câmara ou seção.
Obs.: A simples menção ao nome da autoridade dotada por foro de
prerrogativa de função não é suficiente para mudar a competência. Ex. juiz de direito
que está conduzindo uma interceptação telefônica, o deputado federal está envolvido.
O fato de o deputado federal estar envolvido não muda a competência, deve-se
analisar o caso concreto.
No dia 04/12/09, o Min. Eros Grau determinou ao juiz da 6ª vara do TJ/SP que
remetesse os autos ao STF, por estar envolvido um senador no processo de
investigação. Por conta desse entendimento, pode mudar a regra anteriormente dita.
Argumentos Favoráveis ao foro por prerrogativa de função:
Como os tribunais estão fisicamente longe das políticas locais, os seus julgamentos seriam imparciais.
Os membros dos tribunais, em razão das experiências acumuladas, dariam decisões melhor qualificadas.
O Prof. Nucci não concorda com esses argumentos, porque fere o princípio
republicano, do qual decorre o princípio da igualdade, corolário da república. Todos
devem ser julgados pelo mesmo juiz, independentemente do cargo que ocupa.
No Brasil, cada vez mais autoridades são julgadas por tribunal.
Para o prof. o foro por prerrogativa de função ofende também o princípio da
razoabilidade, porque não é razoável que algumas autoridades sejam julgadas por
outro órgão judiciário. No Brasil, o foro por prerrogativa de função é sinônimo de
impunidade.
Hoje há regras que são aplicáveis aqueles que são originariamente julgados por
tribunal:
- Quem é julgado originariamente por tribunais não pode valer-se dos recursos
comuns (apelação, RESE), mas apenas daqueles especiais ou extraordinários (Resp,
RE), quando couberem. Há uma mitigação ao princípio do duplo grau de jurisdição.
- A autoridade dotada por foro por prerrogativa de função não responde a
inquérito policial, mas sim judicial, supervisionado por um membro do tribunal. O
delegado de polícia não pode indiciar autoridade dotada de foro por prerrogativa de
função, sem que antes exista a determinação do membro do tribunal que esteja
conduzindo a investigação.
O Prof. LFG critica esse inquérito, porque ofende o sistema processual penal
acusatório, na medida em que ofende o princípio da imparcialidade, sobretudo, no
caso do mensalão. O delegado não pode indiciar sem autorização do ministro.
Aplica-se a Lei 8.038 às autoridades dotadas de foro por prerrogativa de
função.
Lei 8038/90:
A autoridade dotada de foro por prerrogativa de função tem direito a lei
8038/90 (julgamento nos tribunais). Há a defesa preliminar antes do recebimento da
denúncia, no prazo de 15 dias.
A Lei 8038 prevê o julgamento antecipado da lide penal. Por ocasião do
recebimento da denúncia, o tribunal faz um juízo de mérito da acusação.
Autoridades julgadas originariamente pelo STF:
Art. 102, I, c, CR:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente;
Pergunta: o que é infração penal comum?
A expressão aqui indica o gênero. Dentro desse gênero há: crime comum em
sentido restrito, crime eleitoral, crime militar, crime doloso contra a vida,
contravenção penal.
Critério utilizado: as autoridades do primeiro escalão do Executivo, Legislativo
e Judiciário serão julgadas pelo STF por crime comum.
Vamos à análise dessas autoridades:
a) 1º escalão do Poder Legislativo da União:
- Deputados Federais e Senadores: Os suplentes de deputados federais e
senadores, como não estão no exercício de cargo parlamentar, não podem ser
julgados pelo STF (a não ser que deixem de ser suplentes). A competência por
prerrogativa de função inicia-se com a diplomação, isto é, a última fase do processo
eleitoral, antes da posse.
STF entendeu ser passível de recebimento, a denúncia proposta uma dia antes
da diplomação, como no caso do José Genuíno.
- Ministros do TCU: o TCU é órgão que auxilia o legislativo da União, e, por isso,
seus ministros também são julgados pelo STF.
b) 1ª escalão do Poder Executivo da União:
- Presidente e Vice da República;
- Ministro de Estado: segundo o STF, para fins penais só são ministros de
Estado as autoridades elencadas no art. 25 da Lei 10.688 (ministro da justiça, ministro
da fazenda, ministro da economia,...). A previsão do art. 38 refere-se a ministros
protocolares (ex: ministro chefe da secretaria especial da igualdade racial, ministro
chefe da secretaria geral da presidência), não julgados originariamente pelo STF.
Informativo 374.
- Advogado Geral da União
-Presidente do BACEN.
- Comandantes Militares: marinha, exército e aeronáutica.
- Representante diplomático: não é qq representante diplomático, mas só o
chefe de missão diplomática permanente.
c) 1º escalão do Poder Judiciário da União:
- Ministros do STF,
- Ministros do STJ, TST, TSE e STM.
- PGR: é o único membro do MP julgado originariamente pelo STF.
Autoridades julgadas originariamente pelo STJ:
Art. 105, I, a, CR:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
O STJ foi criado em 1988 com a finalidade de uniformizar a jurisprudência dos
TRF’s e TJ’s. O STJ é nacional: julga autoridades federais e estaduais.
No art. 105, I, a, da CR utilizou o critério da origem das autoridades.
As autoridades julgadas originariamente pelo STJ são:
*Autoridades federais:
- Magistrados dos TRFs, TRTs, TRE´s
- Membros do MPU que oficiem perante tribunais. Membro do MPDFT
(Procurador de justiça do MPDFT) atua perante o TJDF e, portanto é julgado pelo STJ.
*Autoridades estaduais:
- Governador de Estado (e não o vice-governador, que é julgado de acordo com
a Constituição Estadual. 125, §1º, CF). Se o Vice estiver substituindo o governador e
cometer o crime, ainda assim ele não será julgado pelo STJ. Substituição
(impedimento) não importada em fixação ou modificação da competência. Já a
sucessão (vacância) importa em modificação de competência, quando o vice será
julgado pelo STJ.
- Desembargador do TJ
- Conselheiro do Tribunal de Contas
- Autoridade Municipal – membros de tribunais de contas dos municípios (onde
existir).
Obs.: Alguns manuais falam que o Governador será julgado pelo TSE, nas
infrações penais eleitorais. Está errado, porque o TSE não tem competência para julgar
ação penal condenatória, apenas HC. Quem julga o Governador pela prática de crime
comum (incluindo crime eleitoral) é o STJ.
Autoridades julgadas originariamente pelo TRF:
Tanto nos TRF’s quanto nos TJ’s, o critério da regionalidade afasta o critério do
lugar da infração.
O CPP adotou o critério do lugar da infração, previsto no art. 69, I. Os crimes
em relação ao resultado são materiais, deixam vestígios, por isso o CPP estabelece
como critério de julgamento o local da infração.
Ex: o prefeito de São Paulo que praticou um crime no RS, em razão de sua
função, será julgado em SP (foro por prerrogativa de função).
Grupos de autoridades:
1º Grupo:
1- Juízes federais;
2- Juízes do trabalho;
3- Juízes auditores militares;
4- Membro do MPU que oficie em primeiro grau de jurisdição.
Em todos os crimes e nas contravenções penais, menos nos crimes eleitorais.
Nesses crimes, as autoridades serão julgadas pelo TRE (princípio da simetria).
OBS: A Justiça Federal não julga contravenções penais (art. 109, IV, da CR).
Então porque essas autoridades são julgadas pelo TRF pela prática de infrações
penais?
Porque neste caso, está se tratando de foro de prerrogativa de função, a
competência é fixada em razão da pessoa, afastando a competência material.
- O Promotor de Justiça do MPDFT é julgado por quem?
É julgado pelo TRF da 1ª região, porque ele é membro do MPU e oficia em
primeiro grau de jurisdição.
Obs.: No regimento interno do TJ/DFT está fixado que ele julga promotor de
justiça. No entanto, essa previsão não é constitucional, porque o STJ já decidiu que é o
TRF.
2º Grupo:
- Deputados estaduais e Prefeitos: pela prática de crimes federais;
- E as autoridades estaduais, como secretários de estado que, de acordo com a
CE, são julgadas originariamente pelo TJ?
Ex. O MPF/TO ajuizou uma busca e apreensão contra secretário do estado do
MA, quem decidiu foi um juiz federal.
O secretário de estado se defendeu falando que o julgamento dele é pelo TJ e
já que trata de crime federal, ele deveria ser julgado pelo TRF.
No inquérito policial 2051-6/GO, o STF reconheceu que o secretário de estado
guarda relação simétrica com o ministro de estado. Sendo assim, o secretário de
estado que pratica crime federal será julgado pelo TRF.
Autoridades julgadas originariamente pelo TJ:
1º Grupo:
1- Juiz de direito;
2- Promotor de justiça.
Pela prática de todos os crimes, menos crimes eleitorais. Por estes, eles serão
julgados pelo TRE.
Obs.: Juiz de direito que comete crime federal, segundo o STF, ele será julgado
sempre pelo TJ, salvo crime eleitoral que será pelo TRE.
2º Grupo:
1- Prefeitos;
2- Deputado Estadual.
Pela prática de crimes estaduais.
Aqui, aplica-se a súmula 702 do STF: A competência do Tribunal de Justiça para
julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual;
nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo
grau..
3º Grupo:
1- Outras autoridades elencadas na CE.
O art. 125, § 1º, da CR permite que a CE oferte competência para o TJ. Ex. vice-
governador, procurador geral do estado, secretário de estado, procurador do estado.
Obs.: AS CE dos estados do PI e RJ afirmam que vereador é julgado
originariamente pelo TJ. E o STF disse que isso é constitucional.
Obs.: Na CE/GO, há procurador do estado e defensor público com foro no TJ. E
delegado de polícia.
O STF na ADI 2857 entendeu que a CE/GO era inconstitucional na parte em que
ofertava competência do TJ para julgar delegado de polícia, porque esta autoridade
não guarda simetria com as anteriormente citadas.
☺Súm. 721 do STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece
sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
estadual.
Se a competência estiver somente na CE e o crime praticado for o doloso contra
a vida, deve ser julgado pelo Tribunal do júri. O tribunal do júri está previsto na CF, por
isso, prevalece sobre a previsão da CE.
3ª Fase – Competência das Justiças Especiais ou Especializadas:
Justiça do trabalho:
A Justiça do trabalho não possui competência criminal. No entanto, a partir da
EC 45/04, em razão da alteração do art. 114 da CR, alguns juízes do trabalho passaram
a entender que a EC 45 havia lhes ofertado competência criminal. Ex. crimes contra a
organização do trabalho, trabalho escravo.
O STF julgou uma ADI 3684, manejada pelo PGR. O STF deu uma interpretação
conforme a CR ao art. 114, IV, ao decidir que a justiça do trabalho não possui
competência criminal.
O HC previsto no art. 114, IV da CR tem natureza de ação penal de natureza
constitucional de rito especial e sumaríssimo.
Conclusão: a justiça do trabalho julga ação penal (HC), mas não ação penal
condenatória, porque não tem competência criminal. O HC pode ser declaratório ou
constitutivo, mas não condenatório.
Justiça eleitoral:
A justiça eleitoral julga os crimes eleitorais previstos no código eleitoral. Crimes
eleitorais são os praticados durante o processo eleitoral.
Praticado crime comum e eleitoral em conexão, ambos serão julgados pela
justiça eleitoral, porque pelo CPP, prevalece a justiça especial (foro atrativo). Salvo se o
crime comum for doloso contra vida. Neste caso, separam-se os julgamentos.
Obs.: Falsificação de título de eleitor não é crime eleitoral e sim federal.
TSE: não possui competência para julgar originariamente nenhuma ação penal
condenatória.
TRE: julga originariamente pela prática de crimes eleitorais, as autoridades que
possuem foro por prerrogativa de função junto ao TJ ou ao TRF. Ex. juiz federal que
comete crime eleitoral será julgado pelo TER, mas se o crime for comum ele será
julgado pelo TRF.
Justiça militar:
A competência está prevista na lei 8457/92. E os crimes militares estão
previstos no DL 1001/69 (CPM).
STM: julga oficiais e generais originariamente.
Obs.: Os comandantes das forças armadas são julgados originariamente pelo
STF.
Auditoria militar:
- Conselho permanente: julga não oficiais das forças armadas (praças, e civis).
- Conselho especial: julga oficiais das forças armadas.
4ª Fase – Competência Criminal da Justiça Federal:
Obs.: O primeiro grau de jurisdição federal foi criado pela lei 5010/66. Até 1966
só existia justiça federal em segundo grau de jurisdição que era o extinto TFR.
Obs.: Há discussão para criação de mais quatro TRF para que haja a
descentralização da justiça federal.
De acordo com o art. 109, IV da CR, a justiça federal julga crimes praticados em
detrimento de serviços, bens ou interesses da União e pessoas jurídicas ligadas a ela.
→ Divisão doutrinária da competência da justiça federal em dois grupos:
1º GRUPO:
- Competência criminal geral da justiça federal (art. 109, IV da CR):
1.1) Crimes praticados em detrimento (prejuízo) econômico ou moral das
seguintes pessoas jurídicas:
a) União: pessoa jurídica de direito público interno, pessoa jurídica com
capacidade política. Quando a CR fala em União, ela está se referindo ao legislativo
(CN), executivo (presidência da república e ministérios) e judiciário da União.
Ex. uma arma do MPU é um bem da união.
b) Empresas públicas: está previsto no DL 267. Na lei criadora da empresa
pública, há a definição dos seus bens, serviços e interesses. Ex. CEF, CONAB,
INFRAERO.
Obs.: Banco do Brasil e Petrobrás são sociedades de economia mista e não
empresas públicas.
c) Autarquias: os interesses da autarquia se encontram relacionados na lei de
regência. Na lei criadora da autarquia, há a definição dos seus bens, serviços e
interesses.
- Fundação públicas federais. Ex. FUNAI e fundações mantenedoras das
Universidades Federais.
- Autarquia em sentido restrito. Ex. IBAMA, INCRA, INSS, Banco Central, CAD.
- Autarquias especiais. Ex. Agências reguladoras.
- Conselhos profissionais. Ex. OAB (autarquia sui generis), CRM.
Obs.: Para fins penais, esses conselhos profissionais são autarquias especiais.
Obs.: O STF já decidiu que os conselhos profissionais são autarquias para fins
penais.
Trilogia da competência criminal federal (art. 109, IV):
I) Bens: estão previstos no art. 20 da CR (rol exemplificativo)
II) Serviços: são as suas atribuições legislativas e administrativas previstas no
art. 21 e 22 da CR (decorrem da competência material e legislativa).
III) Interesses: decorrem da realização das suas atribuições. Os interesses não
estão taxativamente em um artigo, decorre da competência da União.
1.2) Crimes ambientais (lei 9605/98):
O art. 4º da lei 9605 foi vetado pelo Presidente da República, porque falava que
todos os crimes ambientais eram de competência da União.
a) Em detrimento da fauna:
1- Fauna silvestre nacional:
É aquela em que a espécie animal tenha um instante da sua vida natural livre
no território nacional. Ex. Lobo guará, jacaré de papo amarelo.
Obs.: Há um pelicano que é do Canadá e durante a sua rota migratória para a
Patagônia, ele passa pelo pantanal mato-grossense, por isso ele faz parte da fauna
silvestre nacional.
Regra: competência da justiça estadual (a súmula 91 do STJ foi cancelada).
Motivo: o art. 23 da CR diz que compete aos estados membros a preservação do meio
ambiente.
Exceção: será federal se o animal da fauna silvestre for um bem da União. E
ocorrerá isso, quando se encontrar em unidade de preservação federal. Ex. terras
indígenas (o acessório, que é o animal segue o principal que são as terras federais). Ex.
parques nacionais (bens da União).
Obs.: Animais da fauna silvestre em extinção, os crime praticado em
detrimento deles é da competência da justiça federal, uma vez que há interesse da
União em preservá-los, de acordo com a lista feita pelo IBAMA.
Obs.: A baleia (fauna epitológica) que se encontrar no mar territorial federal
será bem da União.
Fauna espeológica: ex. morcego. O morcego vive em cavernas e estas são bens
da União.
Fauna icteológica: peixes. Em geral compet~encia da justiça estadual, mas se
estiver em rio federal ou no mar territorial brasileiro será competência da justiça
federal.
2- Animais exóticos:
São aqueles não pertencentes à fauna silvestre nacional. Ex. zebra, elefante,
urso polar. Eles são encontrados em circo ou zoológico, mas não fazem parte da fauna
silvestre nacional.
Regra: competência da justiça estadual.
Exceção: será da justiça federal se forem bens da União.
3- Animais domésticos:
Regra: competência da justiça estadual.
Exceção: será da justiça federal se forem bens da União.
b) Em detrimento da flora:
Regra: a competência é da justiça estadual.
Exceção: se forem praticados em bens da União. Ex. unidades de conservação
federal (parques nacionais, reserva ecológica, reserva biolótica, terras indígenas e etc.
Art. 225, § 4º da CR:
1ª corrente: patrimônio nacional = bem da União = competência para julgar
crimes ambientais nesses biomas são da justiça federal (posição minoritária).
2ª corrente: patrimônio nacional = proteção de todos, pois perpassam mais de
uma unidade federada. O caput do art. 225 reforça essa idéia, pois afirma que o meio
ambiente é do bem de todos = competência da justiça estadual (posição majoritária).
Veja-se que dentro desses patrimônios nacionais podem haver unidades de
conservação, o que desloca a competência para justiça federal.
Obs.: Os lagos da hidrelétrica pertencem à União. Os crimes ambientais que
acontecem em detrimento dos lagos da hidrelétrica, será de competência da justiça
federal.
Se o impacto ambiental já existia antes da construção da usina hidrelétrica, a
competência será da justiça estadual.
2º GRUPO:
- Competência criminal específica, especial da justiça federal ou casuística
constitucional.
Matérias excluídas da Justiça Federal:
- Contravenção penal:
Obs.: Há exceção não em razão de prerrogativa de função e sim de privilégio,
em razão da pessoa. Ex. juiz federal que comete contravenção penal será julgado pelo
TRF.
Obs.: Havendo conexão entre contravenção penal e crime comum, haverá a
separação dos processos.
- Atos infracionais:
Haverá separação de processos. Atos praticados por menores de 18 anos.
- Crimes militares:
Há uma justiça própria para isso.
- Crimes eleitorais:
Há uma justiça própria para isso.
(16/12/09)
Crimes praticados por servidor público ou contra servidor público federal:
Crimes praticados pro servidor público e contra servidor público:
Funcionário público, segundo o art. 374 do CP, o funcionário não é um bem da
União, mas desempenha um serviço da União e, portanto, a União tem interesse nesse
servidor público.
Art. 109, IV, da CR:
Crime praticado por servidor público no exercício da função: tem que se
demonstrar o nexo entre o crime praticado e o exercício da função.
Só será da competência da justiça federal, se o servidor praticou crime no
exercício da função federal.
A atribuição da polícia federal (art. 144, § 1º da CR) é mais abrangente que a
competência da justiça federal.
Ex. polícia federal investiga o tráfico internacional de drogas.
Ex. quadrilha que rouba bancos em três Estados da federação, a repressão a
esse crime deve ser uniforme, o crime é estadual, mas quem investiga é a polícia
federal.
Ex. um juiz de direito expede mandado de prisão contra um traficante. A
competência é da justiça estadual, porque ele se encontrava no exercício da função
estadual.
Obs.: Mesmo que o servidor seja federal, se ele não cometeu crime no exercício
da função federal, ele será julgado pela justiça estadual. Ex. servidor federal que
matou uma pessoa no dia do natal, por motivo fútil (competência da justiça estadual).
Se o servidor federal for vítima de crime praticado em razão do exercício da
função, competirá à justiça federal.
Casos que demonstram o interesse da justiça federal:
- União tem interesse em uma testemunha e esta foi morta = competência da
justiça federal (crime praticado em detrimento de interesse da União).
- Cidadãos que não são servidores públicos, mas temporariamente exercem
função federal. Ex. padre jesuíta espanhol que veio para o Brasil por interesse da
FUNAI. Se esse padre for vítima de homicídio, a competência será da justiça federal.
- Ex. cidadão quer matar um membro do MPF em razão do exercício de suas
funções e ocorre aberratio ictus, ou seja, o agente acaba matando um terceiro, que
não é servidor público federal. A competência neste caso é controvertida. Para Rogério
Sanches, a competência será da justiça estadual e para Pedro Taques será da justiça
federal.
A empresa brasileira de correios e telégrafos é uma empresa pública federal. Os
crimes praticados contra esta empresa será da competência da justiça federal.
- Crime praticado em prejuízo das agências franqueadas dos correios a
competência será de quem?
Da justiça estadual, porque no contrato de franquia vem estabelecido que
quem arcará o prejuízo econômico será o franqueado.
Ex. um ladrão entra na empresa de correios e subtrai um telefone celular que
pertence a essa agência, a competência será da justiça estadual, porque o bem será do
franqueado. Agora se o que for subtraído forem os selos postais, a competência será
da justiça federal, porque é um bem federal da empresa de correios e telégrafos.
Obs.: Se a correspondência da empresa dos correios for subtraída, a
competência será da justiça federal, porque trata de serviço federal.
Art. 273, § 1º do CP = pessoa que foi presa em flagrante entrando no Brasil com
remédios e caixas de remédios falsificados que iria transportar para o Paraguai. Pena:
10 anos de reclusão.
Obs.: O aeroporto é território nacional, mas este cidadão não cometeu crime
algum, porque esse cidadão não teve acesso à bagagem, e esta seria transportada para
outro país e não tinha como destino o Brasil.
O fato de o crime ter sido praticado dentro de autarquia ou empresa pública
federal, não é o bastante para fixação da competência da justiça federal.
Ex. um cidadão que é roubado dentro da caixa econômica federal, a
competência é da justiça estadual, porque o crime não foi contra bem ou interesse da
justiça federal e sim do cidadão. Mas, nada impede que o cidadão invoque a
responsabilidade aquiliana da CEF.
Ex. SUS =AIH (autorização para internação hospitalar). O médico recebe essa
autorização. Se o médico receber essa AIH e ainda assim cobrar para atender pelo SUS,
a competência será da justiça estadual, porque não houve crime contra bem ou
interesse da União.
Ex. Prefeito que comete crime será julgado pelo TJ (em regra). Se o crime for
federal será julgado pelo TRF (súmula 702 do STF).
Ex. A União repassa para os Municípios recursos em razão de convênio
(contrato administrativo). Se o prefeito desvia esta verba federal, o crime será federal
ou estadual?
Depende. Há duas súmulas sobre o assunto:
Súm. 208 do STJ: compete à justiça federal processar e julgar prefeito por
desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Se o prefeito tem que prestar contas para órgão federal daquela verba = competência
da justiça federal (crime federal: o interesse da União foi prejudicado).
Súm. 209 do STJ: compete a justiça estadual processar e julgar prefeito por
desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio do Município.
Existe uma decisão do STF do ano de 2009, que não aplica a súmula 208. Para o
STF mesmo que o prefeito deixe de prestar contas ao órgão federal, a competência
desse crime será da justiça estadual. Não é o bastante para acarretar a competência da
justiça federal.
→ Síntese das principais situações a serem lembradas:
1 - Padre espanhol vem ao Brasil auxiliar na demarcação de uma reserva
indígena. Em razão da qualidade do trabalho desse padre, a Funai o nomeou como
membro do grupo de trabalho. A Funai é autarquia federal, logo, há sobre o padre
interesse federal. Se ele for vítima de crime, o crime é federal, ainda que o padre não
seja servidor público federal.
A atribuição da polícia federal é mais abrangente do que a competência
criminal da JF.
A atribuição da PF se encontra no art. 144, §1o.
Tendo em conta esse fato, a PF, muitas vezes desempenha suas funções
voltadas para a Justiça Estadual.
2 – Policial Federal que investiga tráfico de drogas, que, se for nacional, será de
competência da JE.
3 - Crimes que mereçam uma investigação uniforme devem ser investigados
pela PF. Um roubo de banco, por exemplo, em 3 cidades diferentes, mas nas mesmas
circunstâncias. A investigação deve ser uniforme. Ainda que investigado pela PF, o
inquérito deve ser remetido para a Justiça Estadual.
4 - Se um policial federal, no exercício da função, cometer ou sofrer um crime,
em regra, a competência é da JF.
No entanto, se o policial cometer ou for vítima de um crime no exercício de
função estadual, o a competência será da justiça estadual.
5 - Policial federal caminhando em uma área pertencente à universidade
federal. Esse policial é roubado. O objeto da subtração foram os bens do próprio
policial, que não estava no exercício de função. Assim, a competência será da Justiça
Estadual.
Se a arma subtraída for pertencente à União, será crime julgado pela JF.
6 - Se um policial federal está sendo ameaçado em razão do exercício de sua
função. Um dos ameaçadores fica esperando o policial sair da delegacia para matá-lo.
O matador, querendo matar o PF, acerta em cidadão transitando pela porta da
delegacia.
Trata-se de aberratio ictus.
O prof. Renato Brasileiro entende que a competência será da justiça estadual,
pois critérios para determinação de competência não podem levar em conta critérios
subjetivos.
O prof. Pedro Taques não concorda. Ele acha que a competência é da JF, pois
houve ofensa ao interesse federal.
O fato de um crime ter sido cometido dentro de um estabelecimento da
administração federal não é o bastante para levar a competência para a JF.
7 - O MST ocupou a fazenda do FHC, quando ele era presidente. O bem não era
da União, não ofendeu interesse da União.
8 - A ECT é empresa pública federal. Os correios possuem várias agências
franqueadas. A ECT faz um contrato de franquia com essas empresas. Nesse contrato
existem cláusulas que dizem que quem sofre o prejuízo econômico é o franqueado, é
ele quem arca.
Se um cidadão vai na agência e subtrai os bens ali existentes: a competência
será da justiça estadual se os bens pertencerem ao franqueado.
Por sua vez, se pertencerem à União (ex: selos postais), a competência será
federal.
9 - O SUS é administrado pelos Estados e Municípios. Existe o Fundo Nacional
de Saúde que arrecada valores e repassa para os Estados e Municípios. Os médicos que
desempenham atribuições junto ao SUS, recebem através de Autorização de
Internação Hospitalar (AIH).
Essa AIH segue uma tabela – cada procedimento corresponde a um valor. Os
médicos reclamam muito porque o valor da tabela é muito baixo.
Alguns médicos, além de receber a AIH, cobram por fora do paciente. Essa
cobrança por fora é de competência da JE, pois não ofende bens, serviços e interesses
da União.
10 - Crimes praticados em detrimento de interesses, bens e serviços de
sociedade de economia mista é de competência da JE súmula 42 do STJ.
Banco do Brasil é SEM.
11 - Crimes financeiros são de competência da JF, mesmo que a instituição
financeira seja uma sociedade de economia mista.
12 - Animais exóticos: competência, em regra da JE.
Importação de animais exóticos – necessita de autorização do Ibama, que é
autarquia federal. Se o animal entra no território nacional sem essa autorização do
Ibama, a competência é da JF, pois há interesse federal.
Depois que o animal entrou no território, havendo crime contra a fauna
exótica, a competência será da JE.
Competência Criminal Específica, Especial ou Casuística Constitucional:
1- Crimes políticos:
A justiça federal julga crimes políticos (art. 109, IV da CR).
- O que são crimes políticos?
1ª corrente (Vicente Greco Filho): não há no Brasil nenhum tipo que se encaixe
como crime político.
2ª corrente (Pacelli, Nucci e Mirabete): crimes políticos são os tipos penais
previstos na lei 7170/83 (lei de segurança nacional).
3ª corrente (STF): alguns dos dispositivos desta lei foram recepcionados pela
CR/88. E estes seriam crime político.
Obs.: Antes da CR/88 o julgamento desses crimes era da justiça penal militar.
Após a CR/88 a competência passou a ser da justiça federal.
Obs.: Contra a decisão que condena por crime político, só cabe recurso
ordinário constitucional ao STF (art. 102, II, b, da CR), não cabe apelação.
As ações do MST não são ações típicas, adequadas à lei 7170. Estas ações não
são crimes políticos, tratam-se de movimentos sociais.
Ex. pessoas que invadiram e depredaram a câmara dos deputados. Membros
do MPDFT denunciaram esses agentes com base na lei 7170. Conclusão: apesar de as
ações do MST, não serem crimes políticos, poderá configurá-los, dependendo do caso.
Obs.: O art. 20 da lei 7170 prevê sobre atos de terrorismo.
Terrorismo: defesa, proselitismo de idéias políticas ou religiosas através da
utilização da violência e da expansão do medo.
Duas espécies de terrorismo: religioso e político.
Obs.: Alguns autores entendem que há o terrorismo social. Ex. PCC.
A CR no art. 5º. XLIII tem um mandado expresso de criminalização. A CR manda
que haja um tipo penal chamado de terrorismo.
Capez: acha que o terrorismo está caracterizado no art. 20 da lei 7170/83. Este
artigo teria sido recepcionado pela CR.
STF: entende que não há tipo penal para terrorismo e que o art. 20 da lei 7170
não foi recepcionado pela CR.
2- Crimes previstos em tratado ou convenção internacional (art. 109, V da CR):
Há o chamado crimes à distância ou de espaço máximo. Para que exista este
crime à distância deve haver dois requisitos:
a) Crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional.
b) Comprovação da internacionalidade: existência de uma relação entre a
conduta e o resultado em mais de um Estado. O próprio inciso V do art. 109 faz
menção a essa internacionalidade ao dizer “quando iniciada a execução no país, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente”.
Ex. tráfico internacional ou transnacional de drogas. Ex. tráfico de pessoas (art.
231 do CP). Ex. pornografia infantil através da rede mundial de computadores. Ex.
subtração de carros submarinos. São crimes de competência da justiça federal, porque
fica caracterizada a internacionalidade.
Art. 109, VI da CR:
a) Crimes contra a organização do trabalho: só será de competência da justiça
federal se os direitos dos trabalhadores for atingidos coletivamente. Se for de forma
individual, será de competência da justiça estadual (súmula 115 do antigo TFR).
Trabalho escravo não é crime contra a organização do trabalho, mas é de
competência da JF, pois, no mais das vezes, há conexão entre trabalho escravo e crime
contra a organização do trabalho (frustração de direitos trabalhistas).
b) Crimes contra o sistema financeiro: nem todo crime contra o sistema
financeiro, a competência será da justiça federal. Só será dessa justiça, se a lei
estabelecer se o crime contra o sistema financeiro será da justiça federal.
A CR fala do sistema financeiro a partir do art. 192 da CR. O sistema financeiro é
fiscalizado pelo BACEN.
A lei 7492/86, art. 26 diz expressamente que os crimes contra o sistema
financeiro são de competência da justiça federal (a ação será promovida pelo MPF).
Obs.: O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista federal. Portanto,
os crimes contra bens e interesses dele será de competência da justiça estadual.
Obs.: Se o crime estiver previsto na lei 7492, não importa a natureza jurídica da
instituição que o crime será de competência da justiça federal, podendo ser mesmo
contra o banco do Brasil. O que está se considerando é a matéria e não a pessoa
prejudicada.
Essa Lei, em seu art. 26, diz que, nos crimes nela previstos, a ação será
promovida perante a JF. A Lei protege a segurança do sistema. O bem jurídico tutelado
é a higidez do sistema financeiro. Este sistema é composto de instituições financeiras.
A Lei, em seu art. 1o, define o que é instituição financeira:
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a
pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade
principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros (Vetado) de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão,
distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores
mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,
capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste
artigo, ainda que de forma eventual.
Ex. gestão fraudulenta (art. 4º da lei 7492): gerir fraudulentamente instituição
financeira.
O art. 1º da lei 7492 define o que seja instituição financeira.
Ex. gerente do banco do Brasil que faz um empréstimo para uma pessoa,
sabendo que ela não tem recursos para pagar, e faz em razão de amizade. O gerente
comete crime contra o sistema financeiro.
Pessoa jurídica de direito público ou privado: a instituição pode ostentar várias
naturezas jurídicas. É possível instituição financeira empresa pública, sociedade de
economia mista, particular.
Assim, o que interessa não é a natureza jurídica da instituição.
Ex: crime contra o BB é da competência da JF, em razão dele ser uma
instituição financeira, e não porque é uma SEM (já que JF não julga SEM).
O art. 1o da lei também define as atividades típicas de uma instituição
financeiras. Essas atividades só podem ser desempenhadas com autorização do Bacen.
Empresa de factoring não exerce atividade típica de instituição financeira, logo,
dispensa essa autorização. Se a empresa começar a captar recursos de terceiros.
Cidadão tem recurso de caixa 2, dá para a empresa de factoring que empresta esse
dinheiro para um terceiro.
Essa conduta é ilegal e tem previsão art. 16 da Lei 7492, logo, será de
competência da JF.
Casa de câmbio precisa de autorização do Bacen.
Manter dinheiro fora do território nacional não é crime. O que é crime é não
comunicar às repartições públicas competentes sobre essa realidade – art. 22:
competência da JF.
Cidadão quer cultivar soja e vai ao Banco do Brasil pedir empréstimo. O BB faz
um financiamento para safra agrícola.
A pessoa compra um apartamento com esse dinheiro. Os fiscais do Banco
descobrem que o cidadão não aplicou nenhum centavo com o cultivo da soja – art. 20.
Nesse caso, considerando-se que o bem jurídico tutelado é o sistema
financeiro, a competência para julgar é da JF.
Diferenças:
Empréstimo Financiamento
Não tem finalidade própria. A
pessoa pode gastar o dinheiro como
ela quiser.
Deve ter uma finalidade própria (ex.: cultivar soja). Se
houver o desvirtuamento dessa finalidade comete-se o
crime previsto no art. 20 da lei 7492.
Obs.: Empresa de factoring não pode emprestar dinheiro, sob pena de cometer
o crime do art. 16 da lei 7492. Motivo: não há autorização do BACEN. A empresa de
factoring só pode comprar títulos de crédito.
Ex. manter dinheiro fora do território nacional sem dar ciência às autoridades
brasileiras configura crime de evasão de divisas (art. 22 da lei 7492).
Art. 109, IX, da CR:
a) Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, ressalvada a competência
da Justiça Militar.
Navio: espécie do gênero embarcação. Navio é uma embarcação de grande
calado, que pode navegar maritimamente.
Aeronave: aparelho que possui instrumentos mecânicos ou de outra ordem
que sobrevoam. Aeronave deve ter navegabilidade própria. Mesmo se a aeronave
estiver aterrissada, se o crime foi praticado em seu interior, a competência é federal.
Obs.: Balão é aeronave para fins do art. 109, IX da CR. Portanto, crime no balão
o crime é de competência federal.
Submarino: também é competência da JF.
Art. 109, X da CR:
a) Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.
Expulsão: só estrangeiro pode ser expulso, pois não há pena de banimento no
Brasil. Estrangeiro adentra no território nacional e aqui, em regra, comete crime.
Ele é preso, processado, condenado, em regra, termina de cumprir a pena, e aí
será expulso.
Para ser expulso, tem que cometer crime.
Uma vez expulso, não pode mais ingressar no território. Se o fizer, comete
crime.
Pode ocorrer de a sua expulsão ser cancelada.