constipação intestinal

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Constipação intestinal Intestinal constipation Mauro Batista de Morais Professor associado, livre-docente e chefe da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Pediatra gastroenterologista da Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein. Soraia Tahan Médica assistente, doutora da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Endereço para correspondência: Mauro Batista de Morais - Rua dos Otonis, 880 - apto. 63 - CEP 04025-901 - São Paulo - SP. © Copyright Moreira Jr. Editora. Todos os direitos reservados. Indexado na Lilacs Virtual sob nº LLXP: S0031-39202009002400001 Unitermos: constipação intestinal, infância, diagnóstico, tratamento. Unterms: intestinal constipation, childhood, diagnosis, treatment. Resumo Os autores destacam a importância da constipação intestinal, por sua alta incidência e tendência à cronificação, apresentando inicialmente sua conceituação e, a seguir, a definição dos distúrbios funcionais da defecação, os fatores etiológicos, apresentação clínica, diagnóstico diferencial e tratamento. Citam, igualmente, o papel da manometria anorretal na investigação do doença de Hirschsprung e a relação entre constipação e alergia ao leite de vaca. Finalmente, analisam as inter-relações entre constipação, prebióticos e probióticos. Constipação intestinal: um distúrbio funcional do aparelho digestivo Os distúrbios funcionais do aparelho digestivo englobam grande parcela dos pacientes atendidos com afecções gastrointestinais pelos pediatras e pediatras gastroenterologistas. Os adultos também apresentam, com frequência, distúrbios funcionais do aparelho digestivo, cuja classificação diagnóstica depende, fundamentalmente, da anamnese e do exame físico, considerando que não existe método subsidiário específico para sua diferenciação e comprovação diagnóstica. Em certo sentido, a avaliação dos distúrbios funcionais digestivos contraria os princípios básicos predominantes na Medicina tradicional, que exigem a demonstração de uma anormalidade anatômica para definir cada doença. Nos distúrbios funcionais digestivos se destacam as informações vindas da palavra do próprio paciente (em Pediatria, muitas vezes as palavras da mãe), ressaltando-se que, com frequência, eles são caracterizados exclusivamente por sintomas(1,2). No passado, os distúrbios funcionais eram descritos como os que não eram (diagnóstico de exclusão), apesar de serem suficientemente reais para comprometer a saúde e a qualidade de vida do paciente. Neste contexto, por ser um diagnóstico de exclusão, muitos exames subsidiários eram realizados com o intuito de descartar inúmeras doenças orgânicas. Outro aspecto importante era a heterogeneidade ou mesmo ausência de critérios diagnósticos padronizados para os distúrbios funcionais do aparelho digestivo. No final da década de 1980, mais da

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Constipação intestinal

Intestinal constipation

Mauro Batista de Morais

Professor associado, livre-docente e chefe da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Pediatra gastroenterologista da Clínica de Especialidades Pediátricas

do Hospital Israelita Albert Einstein.

Soraia Tahan

Médica assistente, doutora da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.

Endereço para correspondência: Mauro Batista de Morais - Rua dos Otonis, 880 - apto. 63 - CEP 04025-901 - São Paulo - SP.

© Copyright Moreira Jr. Editora.

Todos os direitos reservados.

Indexado na Lilacs Virtual sob nº LLXP: S0031-39202009002400001

Unitermos: constipação intestinal, infância, diagnóstico, tratamento.

Unterms: intestinal constipation, childhood, diagnosis, treatment.

Resumo

Os autores destacam a importância da constipação intestinal, por sua alta

incidência e tendência à cronificação, apresentando inicialmente sua conceituação

e, a seguir, a definição dos distúrbios funcionais da defecação, os fatores

etiológicos, apresentação clínica, diagnóstico diferencial e tratamento.

Citam, igualmente, o papel da manometria anorretal na investigação do doença de

Hirschsprung e a relação entre constipação e alergia ao leite de vaca. Finalmente,

analisam as inter-relações entre constipação, prebióticos e probióticos.

Constipação intestinal: um distúrbio funcional do aparelho digestivo

Os distúrbios funcionais do aparelho digestivo englobam grande parcela dos

pacientes atendidos com afecções gastrointestinais pelos pediatras e pediatras

gastroenterologistas. Os adultos também apresentam, com frequência, distúrbios

funcionais do aparelho digestivo, cuja classificação diagnóstica depende,

fundamentalmente, da anamnese e do exame físico, considerando que não existe

método subsidiário específico para sua diferenciação e comprovação diagnóstica.

Em certo sentido, a avaliação dos distúrbios funcionais digestivos contraria os

princípios básicos predominantes na Medicina tradicional, que exigem a

demonstração de uma anormalidade anatômica para definir cada doença. Nos

distúrbios funcionais digestivos se destacam as informações vindas da palavra do

próprio paciente (em Pediatria, muitas vezes as palavras da mãe), ressaltando-se

que, com frequência, eles são caracterizados exclusivamente por sintomas(1,2).

No passado, os distúrbios funcionais eram descritos como os que não eram

(diagnóstico de exclusão), apesar de serem suficientemente reais para

comprometer a saúde e a qualidade de vida do paciente. Neste contexto, por ser

um diagnóstico de exclusão, muitos exames subsidiários eram realizados com o

intuito de descartar inúmeras doenças orgânicas. Outro aspecto importante era a

heterogeneidade ou mesmo ausência de critérios diagnósticos padronizados para os

distúrbios funcionais do aparelho digestivo. No final da década de 1980, mais da

metade dos poucos estudos sobre a terapia da síndrome do intestino irritável em

adultos não apresentava os critérios diagnósticos para inclusão dos pacientes, o

que constitui uma importante limitação metodológica(1,2).

Neste cenário científico desorganizado, entre 1984 e 1988, concluiu-se pela

necessidade de padronizar critérios diagnósticos clínicos para a síndrome do

intestino irritável(2). Após muitas discussões, com o envolvimento de número

crescente de especialistas de vários países do mundo, foram publicados os critérios

de Roma. Na segunda edição do critério de Roma (Roma II, em 1989), a faixa

etária pediátrica também foi contemplada(3). No critério de Roma III, publicado em

2006, a faixa etária pediátrica foi distribuída em dois capítulos: 1) lactentes e pré-

escolares e 2) escolares e adolescentes(4,5). Após analisar estas publicações,

acreditamos que teria sido mais apropriada uma distribuição por grupos

sintomáticos, a exemplo do que é feito comos adultos, do que segundo faixas

etárias pediátricas.

Os distúrbios funcionais do aparelho digestivo passam a ser considerados, no seu

conjunto, como resultantes da interação de fatores biopsicossociais, conforme

ilustra a Figura 1(1).

A Tabela 1 apresenta os distúrbios funcionais incluídos no critério de Roma III e a

Tabela 2 as condições abordadas na faixa pediátrica.

Definição dos distúrbios funcionais da defecação

Do ponto de vista assistencial, constipação intestinal pode ser conceituada como a

eliminação de fezes endurecidas com dor, dificuldade ou esforço, a ocorrência de

escape fecal secundário à retenção fecal (comportamento de retenção) ou por

aumento no intervalo entre as evacuações (menos que três evacuações por

semana). Podem ocorrer, também, dor abdominal crônica e laivos de sangue na

superfície das fezes. Considere-se, também, que mais de 90% dos casos de

constipação em Pediatria são de natureza funcional(6-8).

Outros termos vinculados à constipação funcional são o comportamento de

retenção e escape fecal ou “soiling”. Outros distúrbios da defecação devem ser

mencionados com o objetivo de diferenciação com a constipação funcional:

disquesia do lactente, pseudoconstipação e encoprese.

Em 2005, antecedendo a publicação dos critérios de Roma III, foi proposta uma

padronização na nomenclatura dos distúrbios da defecação, excluindo-se termos

que geravam confusões na literatura e/ou que eram considerados pejorativos,

especialmente “soiling” (escape fecal) e encoprese(9).

As letras G e H são utilizadas na codificação dos distúrbios funcionais que incluem

também os distúrbios funcionais na faixa etária dos adultos conforme consta da

Tabela 1.

Conforme já mencionado, em 2006 foram publicados os critérios de Roma III,

considerando duas faixas de idade: neonatos/lactentes/pré-escolares e

crianças/adolescentes. Nesta oportunidade, a nomenclatura proposta em 2005 foi

mantida.

Assim, de acordo com o critério de Roma III, o diagnóstico de constipação funcional

do recém-nascido ao pré-escolar deve ter como base a presença de pelo menos

duas das seguintes manifestações por, pelo menos, um mês em menores de quatro

anos(4):

1. Duas ou menos evacuações por semana

2. Pelo menos um episódio de incontinência involuntária de fezes por semana, após

aquisição do controle esfincteriano anal

3. Retenção excessiva de fezes (comportamento de retenção para evitar a

defecação)

Figura 1 - Modelo conceitual dos distúrbios funcionais gastrointestinais. Segundo

Drossman (2006)(1).

4. Evacuações com dor ou esforço intenso à eliminação das fezes

5. Presença de grande quantidade de fezes no reto

6. Eliminação de fezes com grande diâmetro, que podem entupir o vaso sanitário.

Deve ser mencionado que na nova nomenclatura a incontinência fecal associada

com constipação (eliminação involuntária de parte do conteúdo retal) é secundária

ao acúmulo de fezes impactadas no reto e/ou cólon. No Brasil este tipo de perda é

tradicionalmente denominado escape fecal (“soiling”)(6,7). O comportamento de

retenção se caracteriza por tentativas de evitar a eliminação de fezes quando as

mesmas atingem o reto e se inicia o processo da evacuação. Assim, contraem-se os

músculos voluntários do assoalho pélvico, incluindo o esfíncter externo do ânus e

músculos da região glútea, com a criança assumindo posições típicas até que ocorra

o esgotamento da contração da musculatura estriada sob controle voluntário.

Antes mesmo da divulgação formal do critério de Roma III, nosso posicionamento

foi no sentido de que este critério era extremamente restritivo, principalmente no

primeiro ano de vida(10). Apenas um pequeno percentual dos lactentes, nos

primeiros dois anos de vida, com quadro sugestivo de constipação (em geral,

eliminação de fezes duras em cíbalos, com dor ou esforço) apresenta duas ou

menos evacuações por semana, não se enquadrando, portanto, na definição de

constipação do critério de Roma III. Assim, ao não se reconhecer o quadro de

constipação neste período inicial, o processo pode persistir cronicamente, até que

surjam complicações, como o comportamento de retenção e a incontinência fecal

retentiva (escape fecal ou “soiling”).

Disquesia do lactente é caracterizada pela ocorrência de pelo menos dez minutos

de esforço e choro, que antecedem a eliminação de fezes moles. Ocorre no primeiro

semestre de vida. Trata-se de uma situação transitória que desaparece

espontaneamente quando o lactente adquire a capacidade de relaxar o esfíncter

anal e a musculatura pélvica, quando se estabelece a prensa abdominal, no

momento da evacuação. Não requer tratamento(3,4).

A pseudoconstipação ocorre em lactentes que recebem aleitamento natural

exclusivo ou predominante. Caracteriza-se pela eliminação de fezes amolecidas em

intervalos superiores a três dias e que, às vezes, podem atingir duas a três

semanas. Estudo realizado no Brasil mostrou que sua ocorrência é de 5% dos

lactentes em aleitamento natural(11). No critério de Roma III não consta o termo

pesudoconstipação, mas é mencionado que o hábito intestinal do lactente em

aleitamento natural pode incluir longos intervalos entre as evacuações (três a

quatro semanas)(4).

Para crianças e adolescentes a proposta do critério de Roma III para definir

constipação requer a presença de pelo menos duas das manifestações listadas

abaixo, em uma criança com desenvolvimento compatível com pelo menos quatro

anos de idade e que não preencham os critérios para o diagnóstico da síndrome do

intestino irritável. As manifestações devem ter a duração mínima de dois meses(5):

1. Duas ou menos evacuações no vaso sanitário por semana

2. Pelo menos um episódio de incontinência involuntária de fezes por semana, após

aquisição do controle esfincteriano anal

3. Retenção voluntária das fezes e/ou comportamento de retenção para evitar a

defecação

4. Evacuações com dor ou esforço intenso para a eliminação das fezes

5. Presença de grande quantidade de massa fecal no reto

6. Eliminação de fezes com grande diâmetro que podem entupir o vaso sanitário.

Na prática, a grande limitação do critério de Roma III é a própria definição de

constipação, que é muito restritiva também para crianças e adolescentes, a

exemplo do mencionado para lactentes. Assim, deixa de identificar como

portadores de constipação crianças e adolescentes com quadros mais leves e que

deveriam ser identificados, na comunidade ou em consultas médicas de rotina, para

que medidas corretivas fossem recomendadas. Este grupo de pacientes se

diferencia daqueles com constipação grave, atendidos em serviços especializados

de Gastroenterologia Pediátrica, nos quais o critério de Roma III tem a capacidade

de enquadrar praticamente a totalidade dos pacientes.

Por não se tratar de distúrbios funcionais, outras causas de constipação e

incontinência não são incluídas no critério de Roma III. Tradicionalmente no Brasil

se utiliza o termo incontinência para indicar processos neurológicos e musculares

que podem ocasionar distúrbios da evacuação, como, por exemplo, constipação por

encefalopatia crônica não progressiva, mielomeningocele, malformações anorretais.

Devem ser mencionadas, ainda, outras doenças que podem determinar constipação

como o hipotireodismo, distúrbios metabólicos, doença celíaca, alergia ao leite de

vaca e doença de Hirschsprung. O uso de medicamentos como anticonvulsivantes e

opioides, usados no tratamento da dor em pacientes oncológicos, também pode

ocasionar constipação. Algumas causas de constipação crônica em Pediatria que

devem ser consideradas na anamnese e no exame físico. Ressalta-se que na

maioria dos casos a hipótese de constipação funcional é estabelecida com base nos

sintomas, a exemplo dos outros distúrbios funcionais do aparelho digestivo.

Para finalizar, no Brasil o termo encoprese é reservado para os quadros em que a

evacuação se faz em sua plena sequência fisiológica, mas em local e/ou momento

inapropriado. Considera-se que tenha causa psicogênica/psiquiátrica, não devendo

ser confundida com escape fecal (“soiling” ou incontinência por retenção) associado

à constipação crônica, especialmente os casos com evidente comportamento de

retenção.

Fatores etiológicos

De acordo com o enfoque dos distúrbios gastrointestinais funcionais, a constipação

intestinal é resultante da interação de fatores biopsicossociais.

Desta maneira, consolida-se um ponto fundamental, ou seja, a constipação não é

quase que exclusivamente “psicogênica”, como muitos pensavam há 30 anos.

Neste sentido, um estudo de revisão enfatiza que os distúrbios psicológicos de

maior gravidade são, em geral, secundários à constipação e ao escape fecal e

tendem à reversão espontânea com o controle do problema(12). Assim, em livros

de Pediatria da década de 1970 podem ser encontrados textos nos quais se afirma

que algumas crianças resistem à solicitação fisiológica por negativismo, ante ao

excessivo valor que seus pais atribuem às evacuações diárias, fazendo frequentes

indagações a este respeito. Estas crianças, em uma tentativa de fugir deste

controle excessivo, deixariam para evacuar quando estivessem necessitadas de

carinho e atenção. Os pais destas crianças seriam exigentes, perfeccionistas e

obcecados com a ideia de que seu filho deveria adquirir prematuramente o controle

esfincteriano anal.

Por esse motivo, acreditava-se que o treinamento esfincteriano coercitivo

ocasionaria o comportamento de retenção. Em contraposição a estes pensamentos,

um resultado contundente, obtido em casuística de crianças com constipação

crônica, mostrou que apenas 13,8% dos pacientes apresentaram o surgimento da

constipação na época do treinamento esfincteriano(13). Outros estudos confirmam

que esta ação repressiva no ambiente familiar, na época do treinamento

esfincteriano, não poderia ser o desencadeante mais frequente da constipação

diante do fato de que mais da metade dos casos de constipação tem início no

primeiro ano de vida(13-17). Atualmente, aceita-se que o comportamento de

retenção tenha seu aparecimento a partir de episódios de evacuação dolorosa,

conforme o esquema da Figura 2, modificado de Di Lorenzo(18).

Outro aspecto se relaciona a episódios passados na gênese da constipação. Em

mulheres adultas, considerava-se que o antecedente de abuso sexual poderia ser

um fator desencadeante de constipação. Apesar das controvérsias, estudos

posteriores não confirmaram este tipo de associação em mulheres adultas(19). Em

nossa experiência, não atendemos nenhum paciente com constipação no qual se

confirmasse este grave tipo de abuso, apesar de que sempre se deve estar atento

para a possibilidade de qualquer tipo de agressão à criança e ao adolescente. Por

outro lado, em nosso ambulatório são atendidos alguns pacientes vítimas de maus-

tratos de diferentes naturezas que apresentam constipação grave e escape fecal de

difícil controle e que se associam, muitas vezes, à falta de adesão ao tratamento.

Deve ser enfatizado que, além da assistência médica, estas crianças devem receber

atenção multiprofissional, conforme estabelece a legislação brasileira. Por outro

lado, experimentos com animais mostram que episódios dolorosos no tubo

digestivo no início da vida predispõem ao desenvolvimento ulterior de

hipersensibilidade visceral(20), presente em distúrbios digestivos funcionais,

especialmente na síndrome do intestino irritável e na dor abdominal crônica

funcional.

Recentemente, vem sendo demonstrado comprometimento da qualidade de vida

em pacientes com constipação crônica avaliados em centros especializados(21,22).

Intuitivamente, este fato seria esperado, especialmente, naqueles pacientes que

apresentam escape fecal.

Figura 2 - Círculo vicioso dor, retenção, dor, retenção. Modificado de Di Lorenzo

(2001)(18).

Em nosso ambulatório foi realizado um estudo comparando, do ponto de vista

psicológico, um grupo de crianças com e outro sem constipação, considerado como

controle(23). A partir do relato das mães se constatou, em análise qualitativa, que

seus filhos com constipação apresentavam intolerância à frustração, agressividade

e ambiente familiar hostil em maior proporção do que no grupo sem constipação,

sendo as associações com significância estatística. Um resultado que surpreendeu

foi a falta de associação da constipação crônica com separação dos pais e

alcoolismo na família, que ocorreram em proporções similares nos dois grupos. O

sentimento de agressividade e ambiente hostil foi confirmado em um relato das

crianças, estimulado pela visualização de uma gravura do teste de apercepção

temática que mostra uma figura adulta, de sexo indefinido, com uma criança no

colo em um banheiro(23). Este fascinante campo deve ser explorado com maior

profundidade, em novos projetos de investigação, assim como devem ser

elaboradas estratégias de incorporação efetiva de profissionais da área da

Psicologia nos programas de assistência do sistema público de saúde.

Os fatores constitucionais da constipação são difíceis de avaliar. Um estudo

explorou, em escola de segundo grau, a concomitância de constipação em

adolescentes e seus em pais. Com o emprego de um coeficiente se constatou baixa

concordância(24). Este estudo na comunidade contrapõe-se aos relatos de elevada

frequência de antecedentes de constipação em familiares de crianças atendidas em

ambulatórios especializados. Estudo italiano(25) analisou a participação de fatores

genéticos, com base na avaliação de impressões digitais, encontrando associação

entre o padrão de arcos e constipação crônica entretanto, outros estudos(26,27)

não confirmaram este achado. Assim, a participação de fatores genéticos

permanece fundamentada, basicamente, nas clássicas informações obtidas em

gêmeos monozigóticos e dizigóticos(28), ou seja, maior concordância de

constipação em gêmeos monozigóticos.

Quanto aos fatores alimentares, a fibra alimentar é o nutriente com maior

destaque. Considerando a importância do aleitamento natural como promotor de

crescimento e desenvolvimento ideais, o leite materno também proporciona maior

frequência de evacuações e de fezes com menor consistência(29). Quantificação da

influência do aleitamento natural foi realizada em um projeto de nosso grupo e

mostrou que, no primeiro semestre de vida, lactentes em aleitamento natural

apresentavam risco de constipação quatro vezes menor do que aqueles em

aleitamento artificial(11). Estudos com fórmulas lácteas contendo carboidratos não

absorvíveis e ação prebiótica, mimetizando os oligossacarídeos do leite materno,

permitiram atribuir, pelo menos em parte, a este componente do leite materno o

papel protetor contra a constipação(30,31).

A relação das fibras com constipação pode ser avaliada sob duas perspectivas: 1)

dieta pobre em fibra alimentar como fator de risco para constipação e 2) fibra

alimentar no tratamento da constipação. Apesar da importância das fibras

alimentares para a saúde ser reconhecida há muitos anos, apenas no início da

década de 1970 seu papel ganhou maior destaque na literatura especializada e a

avaliação direta da relação entre dieta pobre em fibra alimentar e constipação em

Pediatria teve início no Brasil. Maffei et al. (1994)(13) constataram que um grupo

de crianças com constipação grave consumia quantidade muito pequena de fibra.

Em 1996, Morais et al.(13), no primeiro artigo no qual se avaliou a ingestão de

fibra alimentar por crianças com constipação, demonstraram que a mesma era

menor do que o consumo de fibras por crianças com hábito intestinal normal.

Posteriormente, outros estudos brasileiros mostraram maior risco de constipação

associado com ingestão de fibra abaixo do mínimo recomendado (idade + 5

gramas/dia)(32,33). Todos estes estudos foram realizados em ambulatórios

especializados onde são atendidos os casos mais graves de constipação. Em 1999,

na Grécia, constatou-se risco crescente de constipação em uma grande amostra da

população geral(34). Esta associação não se confirmou em duas investigações

realizadas em amostras de crianças brasileiras de duas faixas etárias específicas:

lactentes avaliados em unidades básicas de saúde(11) e adolescentes avaliados em

escolas de segundo grau(35). O papel das fibras no tratamento da constipação será

discutido no capítulo correspondente.

Outro ponto que faz parte da etiologia da constipação são os distúrbios da

motilidade intestinal. A motilidade digestiva pode ser avaliada por meio do tempo

de trânsito nos vários segmentos do trato gastrointestinal.

Vários estudos mostraram que cerca de metade dos pacientes com constipação

apresenta aumento do tempo de trânsito colônico total, aferido com a análise de

sua passagem através dos cólons e retossigmoide, com o emprego de radiografia

simples de abdome(36-39). Definem-se diferentes distúrbios da motilidade

colônica, segundo os locais onde ocorrem atraso na evolução dos marcadores

radiopacos: obstrução de via de saída, retenção predominante na região do

retossigmoide obstrução distal, aumento de tempo do trânsito no cólon esquerdo,

associado ou não com aumento no trânsito no retossigmoide e estase de cólon

direito. Tradicionalmente, considerava-se que a obstrução da via de saída fosse o

distúrbio mais frequente, sendo a provável expressão do comportamento de

retenção no trânsito colônico. Por outro lado, em um grupo de pacientes analisado

em nosso ambulatório, constatou-se predomínio da estase de cólon direito,

reversível com o tratamento convencional(38). Neste grupo, observou-se que a

evolução clínica nos pacientes que aderem ao tratamento é boa,

independentemente da presença ou não de aumento do tempo de trânsito colônico

total e do padrão de dismotilidade(38).

Por sua vez, o teste do hidrogênio no ar expirado permitiu a identificação de alguns

aspectos interessantes relacionados à constipação crônica funcional. Com a

utilização da lactulose como indicador do tempo de trânsito orocecal não se

evidenciou aumento do trânsito na parte proximal do tubo digestivo(16). Utilizando

uma refeição com feijão como fonte de carboidratos, para fermentação a partir do

ceco, constatou-se maior tampo de trânsito orocecal em crianças com aumento do

tempo de trânsito colônico(16). Este achado pode explicar sintomas digestivos altos

em crianças com constipação e fecaloma, como, por exemplo, anorexia ou

saciedade precoce(15). Constatou-se, ainda, maior frequência de crianças com

produção colônica de metano, em associação com escape fecal, conforme

assinalado na literatura e, de forma inédita, correlação entre maior tempo de

trânsito colônico e a concentração do metano no ar expirado. Na evolução se

constatou que o sucesso terapêutico e o desaparecimento do escape fecal se

associaram com desaparecimento do metano no ar expirado(39). Outro estudo

brasileiro mostrou diminuição na velocidade de esvaziamento da vesícula biliar na

constipação crônica grave em crianças(40), mostrando que a dismotilidade da

constipação funcional não está restrita apenas ao tubo digestivo.

Em síntese, na etiologia da constipação funcional se destaca o círculo vicioso da dor

nas evacuações, levando ao comportamento de retenção, fezes mais endurecidas e

evacuações ainda mais dolorosas(18). Participam, também, fatores constitucionais,

dieta pobre em fibra alimentar e distúrbios da motilidade digestiva, ocasionando

aumento do tempo de trânsito intestinal, especialmente nos cólons. Alguns perfis

de personalidade e de ambiente podem ser predisponentes ao desenvolvimento da

constipação. Os distúrbios psicológicos, quando presentes são, em geral,

reversíveis com o controle clínico da constipação e do escape fecal (incontinência

por retenção).

Apresentação clínica

As manifestações clínicas da constipação apresentam variabilidade, segundo a faixa

etária e a gravidade.

Quanto à idade de início, metade dos casos atendidos por volta dos quatro a sete

anos em ambulatórios especializados tem comemorativo de início do processo no

primeiro ano de vida(14-17). Quanto à duração da constipação, antes do primeiro

atendimento, em um grupo de 561 pacientes de nosso ambulatório foi observado

que quanto maior a faixa etária, maior a mediana do intervalo entre o início da

constipação e o primeiro atendimento: lactentes, 8 meses pré-escolares, 24 meses

escolares, 55 meses e adolescentes, 68 meses(17). Longo período entre o início da

constipação e a primeira consulta em serviço especializado já havia sido registrado

previamente(12), enfatizando-se que grande parte dos pacientes já apresentava

quadro de constipação com complicação.

Lactentes tendem a apresentar constipação caracterizada pela eliminação de fezes

em cíbalos, com esforço, conforme observação de suas mães. Este é o padrão mais

frequente dos atendimentos nas unidades básicas de saúde. É infrequente aumento

no intervalo entre as evacuações(11). Atenção deve ser dada para que não ocorra

confusão com a disquesia do lactente e a pseudoconstipação em amamentados

exclusivamente com leite materno(11). Por outro lado, em ambulatório

especializado se constatou que metade dos lactentes apresentava menos de três

evacuações por semana(17). Em aproximadamente 25% dos pacientes foi

identificada massa palpável no abdome(17). Estes dados mostram, também, como

reflexo da gravidade, diferença nas manifestações, segundo o local de atendimento.

A partir da faixa etária pré-escolar, após a aquisição do controle do esfíncter anal,

nos ambulatórios especializados passa a ocorrer o escape fecal (incontinência por

retenção). Assim, em nosso ambulatório, comportamento de retenção foi

evidenciado em 68% dos pré-escolares, 41% dos escolares e 27% dos

adolescentes. Escape fecal ocorreu em 77%, 81% e 74%, respectivamente, nestas

três faixas de idade, sendo mais comum no sexo masculino (81%) do que no

feminino (51%) entre os escolares. Em pré-escolares e adolescentes não se

evidenciou diferença na frequência de escape fecal entre os gêneros(17).

Medo de evacuar foi constatado em 70% dos pré-escolares, 44% dos escolares e

30% dos adolescentes, enquanto medo de sentar no vaso sanitário ocorreu em

45%, 26% e 10% dos pacientes, respectivamente, nestes três grupos de

idade(17).

Ao exame físico, os dados positivos de maior relevância são a palpação de massa

fecal no abdome, principalmente em hipogástrio e fossa ilíaca esquerda, e presença

de fezes impactadas na ampola retal. A inspeção anal pode revelar a presença de

fissura anal e plicomas(17).

Outras descrições de casuísticas mencionam dados semelhantes. Em Botucatu

foram avaliados 163 pacientes com idade entre 2 e 146 meses (51,5% do sexo

masculino), atendidos com constipação crônica em ambulatório especializado, entre

1981 e 1989(13). Observou-se grande intervalo entre o início da constipação e a

primeira consulta (mediana = 38 meses), mediana da idade de início da

constipação no terceiro mês de vida, menos que três evacuações por semana em

59,5%, escape fecal em 56,0% dos meninos e em 34,2% das meninas. Nesse

mesmo estudo(13) constatou-se enurese e infecção urinária atual ou pregressa em

cerca de 10% a 20% dos pacientes com constipação crônica. Em ambulatório

especializado de Iowa, EUA, em 174 crianças com idade inferior e 215 com idade

superior a quatro anos se observou, respectivamente, início da constipação no

primeiro ano de vida em 84% e 49%, comportamento de retenção em 97% e 71%,

massa abdominal palpável em 42% e 42% e, finalmente, escape fecal em 90,5%

dos maiores de quatro anos(41). Esses dados confirmam que parcela expressiva

dos pacientes atendidos em serviços especializados apresenta constipação desde o

primeiro ano de vida. Revisão da literatura(42), fundamentada em 13 artigos,

demonstrou que a constipação pode provocar redução da frequência de

evacuações, incontinência fecal (escape fecal) e massa fecal palpável no abdome.

Assim, de forma geral, é possível afirmar que pacientes atendidos em serviços

especializados do exterior têm características clínicas similares aos atendidos em

serviços especializados do Brasil.

Um ponto importante, analisado por Maffei et al.(12), é a possibilidade de a

constipação ser identificada a partir de outras manifestações clínicas

predominantes. Assim, dentre 163 pacientes atendidos com constipação crônica, 13

(8,0%) tiveram o diagnóstico estabelecido a partir da queixas de escape fecal, dor

abdominal crônica, distensão abdominal, sangue nas fezes, enurese e vômitos. Este

grupo de pacientes eram portadores da chamada constipação oculta.

Apesar de não dispormos de dados quantificados, em nosso ambulatório é

marcante o sofrimento e desgaste familiar e do paciente com a constipação crônica,

principalmente naqueles com escape fecal. Com frequência identificamos

tratamentos pregressos realizados de forma inadequada, sem seguir os esquemas

tradicionalmente preconizados. Algumas vezes se constata, ainda, rejeição do

paciente e/ou de sua família por alguns profissionais da área da saúde,

especialmente quando existe a necessidade de esvaziamento de grandes fecalomas

em ambiente hospitalar.

Diagnóstico diferencial

Na maior parte dos casos, anamnese e exame físico são suficientes para se

estabelecer o diagnóstico inicial de constipação crônica funcional.

São sinais de alarme que devem alertar o médico para indicar avaliação

complementar(43,44):

1. Histórico de retardo na eliminação de mecônio

2. Febre, vômitos e períodos intercalados de diarreia com sangue e constipação

3. Distensão abdominal acentuada

4. Déficit de crescimento

5. Estenose anal

6. Ampola retal vazia, hipertônica e com calibre diminuído

7. Eliminação explosiva de fezes logo após o toque retal

8. Retardo no desenvolvimento e/ou anormalidades motoras.

Na Tabela 3 são apresentadas as principais condições que devem ser consideradas

no diagnóstico diferencial da constipação funcional.

Outras manifestações clínicas podem direcionar para o diagnóstico de doença

celíaca, fibrose cística, hipotireoidismo e doenças do tecido conectivo, entre outras.

A própria anamnese pode revelar o uso das drogas que podem provocar

constipação.

Pode-se observar que a inspeção anal e o toque retal permitem identificar causas

anatômicas, como ânus anteriorizado e estenose anal. Outros sinais clínicos podem

indicar, por exemplo, encefalopatia crônica e síndrome de Down.

Modificado de J Ped Gastroenterol Nutr 200643:e1-e13.

Tratamento

O tratamento da constipação não sofreu grandes mudanças nas últimas décadas.

Um dos grandes marcos foi a definição de doses para os laxantes, publicada nos

artigos de Loening-Baucke a partir da década de 1990(45,46). Até então se

ressaltava a importância de doses individualizadas no entanto, a falta de um

referencial induzia à prescrição de doses baixas ocasionando inúmeros insucessos

da terapêutica.

O primeiro ponto a ser definido na avaliação do paciente, do ponto de vista do

programa terapêutico, é se existe ou não fecaloma. Para tanto, o exame físico

(palpação abdominal e toque retal) e, quando necessário, radiografia simples de

abdome são os pontos fundamentais. Escape fecal, em nossa experiência, na

esmagadora maioria das vezes é secundário à retenção fecal.

Assim, a primeira etapa do tratamento é a desimpactação das fezes acumuladas. A

duração do processo é variável, dependendo da quantidade de fezes impactadas.

Pode ser feita com o emprego de enemas retais ou com doses altas de laxantes por

via oral, em especial com óleo mineral e polietilenoglicol 3350. Em nosso

ambulatório ainda não tivemos a oportunidade de padronizar protocolos de

desimpactação por via oral. Utilizamos enemas com fosfato hipertônico, uma vez ao

dia, durante três a cinco dias para as crianças maiores de três anos(7,43-46). Para

os menores, minienemas com sorbitol. Para casos mais graves pode ser necessária

hospitalização, para a realização de lavagem intestinal com solução glicerinada a

10%.

Após a desimpactação é necessária a administração de laxantes, para prevenção de

sua recorrência. Pode ser usado óleo mineral, leite de magnésia, lactulose ou

polietielonoglicol 3350 (Tabela 4). São laxantes que não estimulam o peristaltismo.

Óleo mineral não deve ser prescrito para lactentes e pacientes com quadros

neurológicos em função do risco de aspiração, com consequente pneumonite

lipoídica. Os estimulantes do peristaltismo (senne, bisacodil, picossulfato) não têm

indicação na maioria dos casos de constipação funcional. Nossa conduta é usar na

manutenção um único laxante, em dose capaz de proporcionar uma evacuação

diária de fezes pastosas, eliminadas sem dor ou dificuldade. Em geral, após a

desimpactação e prescrição do laxante em dose adequada desaparecem o escape

fecal e o comportamento de retenção. O reaparecimento de escape fecal é sinal de

recorrência da impactação, que na quase totalidade dos casos se associa com

redução prematura da dose ou interrupção do laxante, muitas vezes por iniciativa

da própria família. Ao se escolher o laxante a ser prescrito é importante considerar

o custo do tratamento. A eficácia dos diferentes laxantes não osmóticos é

semelhante e a escolha depende de sua aceitação e custo.

De acordo com NASPGHN: J Ped Gastroenterol Nutr 2006 43:e1-e13.

As mudanças na dieta fazem parte do tratamento de manutenção.

Fundamentalmente, devem ser corrigidos erros alimentares, como, por exemplo,

alimentação exclusivamente láctea em crianças com mais de seis meses de vida.

Quando possível, devem ser incluídos ou aumentados na alimentação feijão,

ervilha, lentilha, grão-de-bico, milho, pipoca, coco, verduras, frutas in natura e

secas, aveia, ameixa preta, pão integral(7). Quando apropriado, as frutas devem

ser consumidas com a casca. Estudo realizado em nosso ambulatório mostrou que a

prescrição de dieta rica em fibra se acompanhou de mudança na frequência do

consumo de alimentos fontes de fibra alimentar no entanto, muitos pacientes

continuaram consumindo menos que o mínimo recomendado a partir dos dois anos

(idade + 5 gramas de fibra alimentar)(15). Neste contexto, pode ser útil a

prescrição de suplementos de fibra, naturais como o farelo de trigo(13), ou

suplementos industrializados de fibra. Ainda são poucos os ensaios clínicos que

avaliaram o efeito das fibras no tratamento da constipação(47-49). Portanto, a

recomendação de dieta balanceada, com grãos integrais, frutas e vegetais é

considerada de valor no tratamento da constipação, com base na opinião de

especialistas(44). Outra recomendação, sem evidências científicas definitivas é o

aumento do consumo de líquidos.

Treinamento no vaso sanitário deve ser feito por 10 a 15 minutos, após um das

refeições principais e sempre que houver vontade de evacuar. Lembrar que o apoio

dos pés é importante para otimizar o papel da prensa abdominal no ato

evacuatório(7).

Assim, o tratamento da constipação complicada com escape fecal e impactação

compreende: 1) desimpactação 2) orientação geral do paciente e família,

explicando o tratamento e encorajando para uma expectativa positiva de resposta

favorável, quando há adesão ao tratamento 3) treinamento no vaso sanitário 4)

dieta e 5) laxante.

Outras modalidades terapêuticas não têm confirmação de sua eficácia. O

biofeedback foi considerado como tendo valor adjuvante no tratamento da

constipação crônica funcional associada com anismo entretanto, os resultados não

são uniformes.

Programa de terapêutica psicológica associado com laxante não teve vantagem em

relação ao tratamento clínico isolado(50).

Casos que não apresentam boa evolução ou recorrências devem realizar avaliação

especializada. Conforme mencionado no diagnóstico diferencial, devem ser

descartados distúrbios metabólicos, hipotireoidismo e doença celíaca com o

emprego de exames laboratoriais. Neste artigo será dedicado um espaço especial

para o papel da manometria anorretal na triagem da doença de Hirschsprung e da

alergia ao leite de vaca como causa de constipação.

Papel da manometria anorretal na investigação da doença de Hirschsprung

A doença de Hirschsprung (megacólon congênito) é uma causa comum de

obstrução intestinal no recém-nascido no entanto, é considerada uma causa rara de

constipação de difícil controle em crianças maiores e adolescentes. Ocorre em um

de cada 5.000 nascidos vivos. Caracteriza-se pela ausência de células ganglionares

nos plexos submucoso e mioentérico. O segmento de aganglionose tem extensão

variável, a partir do esfíncter anal em direção proximal. Em cerca de 75% dos

casos a aganglionose se limita à região do reto e sigmoide. A região de

aganglionose permanece contraída e as porções proximais se dilatam pelo esforço

de vencer a região agangliônica obstruída. Portanto, a parte do colón que forma o

megacólon possui as células ganglionares. O diagnóstico é anatomopatológico(43).

Retardo na eliminação do mecônio por mais de 24 horas pode ser a primeira

manifestação da doença de Hirschsprung. No período neonatal pode ocasionar

vômitos biliosos, distensão abdominal e anorexia. A enterocolite, que em geral

ocorre no segundo ou terceiro mês de vida, é a manifestação mais grave da doença

de Hirschsprung e é caracterizada por quadro de início súbito, com febre, distensão

abdominal e diarreia explosiva, às vezes com sangue.

Posteriormente pode ocorrer déficit de crescimento, distensão abdominal, presença

de fecaloma e eliminação de fezes em fita. O toque retal pode mostrar contração

anal e retal, ausência de fezes na ampola retal e saída de fezes explosivas no

momento do término do exame digital.

Ressalta-se que na doença de Hirschsprung com segmento curto ou ultracurto as

manifestações clínicas podem ser semelhantes às da constipação crônica funcional.

Se houver suspeita da doença de Hirschsprung, o paciente deve ser avaliado em

um centro especializado. O diagnóstico deve ser confirmado por biópsia com a

caracterização de ausência das células ganglionares. A presença de nervos

hipertrofiados é outra característica da doença de Hirschsprung(44). Biópsias de

sucção podem falhar no diagnóstico, especialmente com resultados falso-positivos,

o que torna necessária a realização de biópsia cirúrgica.

Na doença de Hirschsprung não ocorre o reflexo inibitório anal, caracterizado pelo

relaxamento do esfíncter interno do ânus, quando ocorre distensão do reto por

fezes ou gases. A manometria anorretal permite a pesquisa do reflexo inibitório

anal, desencadeado pela insuflação de um balão colocado no reto. Em pacientes

com megarreto secundário à constipação funcional grave pode ser mais difícil obter

o reflexo inibitório anal, sendo necessário para tal realizar a insuflação do balão

retal com maiores volumes. Apesar de serem relatados na literatura resultados

falso-positivos e negativos com a manometria anorretal, em nossa experiência, a

demonstração da presença de reflexo inibitório anal típico permite descartar o

diagnóstico de doença de Hirschsprung (51). Por outro lado, em cerca da metade

dos pacientes com ausência do reflexo inibitório anal o diagnóstico de doença de

Hirschsprung é confirmado no exame histológico. Assim, no âmbito assistencial a

manometria apresenta boa efetividade, considerando que ausência do reflexo

ocorre em cerca de 5% dos exames realizados em pacientes com constipação

crônica grave.

Deve ser lembrado que o tratamento da doença de Hirschsprung é cirúrgico.

Constipação e alergia ao leite de vaca

Em artigo publicado na década de 1950 se observou constipação em 6% de uma

série de 206 casos de alergia ao leite de vaca(52). Vale lembrar que o diagnóstico

foi estabelecido com base no desaparecimento dos sintomas durante dieta de

exclusão das proteínas do leite de vaca e reaparecimento dos mesmos quando o

leite de vaca era reintroduzido na dieta. Vale ressaltar que até os dias de hoje, a

despeito dos avanços no conhecimento da imunologia do intestino e aprimoramento

dos testes laboratoriais, este procedimento clínico básico continua sendo o melhor

método para estabelecer o diagnóstico de alergia ao leite de vaca.

Em 1998, um grupo de pediatras gastroenterologistas italianos descreveu uma

série de pacientes com constipação, que regrediu com a dieta de exclusão do leite

de vaca e derivados(53). Foram estudados 65 pacientes, dos quais 44 (68%)

apresentavam constipação secundária a alergia ao leite de vaca, conforme as

respostas à dieta de exclusão e teste de desencadeamento. Fissura e eritema

perianal foram evidenciados em 90% dos pacientes com constipação secundária à

alergia ao leite de vaca. Vários pacientes com alergia por constipação não

apresentaram teste cutâneo positivo ou presença de anticorpo da classe IgE contra

o leite de vaca, sugerindo que este tipo de manifestação de alergia alimentar não é

mediada por IgE. Na biópsia retal encontraram com frequência inflamação, além de

maior número de eosinófilos na lâmina própria e intraepitelial(53).

Em nosso ambulatório foi avaliado um grupo de crianças com constipação

secundária à alergia ao leite de vaca, confirmando a ausência de mecanismo do tipo

IgE em sua fisiopatogenia(54). Na Finlândia identificou-se associação entre

constipação secundária a alergia ao leite de vaca e hiperplasia nodular linfoide,

identificada em exame colonoscópico, mais frequente na região do íleo

terminal(53). Constataram, também, maior número de linfócitos intraepiteliais gd+.

É interessante mencionar que no grupo-controle 20% dos indivíduos apresentavam

hiperplasia nodular linfoide(55). Análise de toda a literatura sobre este assunto não

permite estimar a prevalência de constipação secundária ao leite de vaca dentre os

casos atendidos por constipação em ambulatórios especializados. Acreditamos, com

base em 25 casos de constipação diagnosticados em nosso ambulatório(56), que

corresponda a cerca de 4% dos casos. Ocorre com maior frequência em crianças

com menos de três anos de idade, com constipação iniciada à época de introdução

do leite de vaca e que tenham antecedente de perda de sangue nas fezes.

Na constipação por alergia ao leite de vaca pode ocorrer dor às evacuações, em

função da proctite e das fissuras anais. Neste contexto, maior pressão anal e

hipersensibilidade retal foram demonstradas na manometria anorretal e podem

refletir o quadro de inflamação retal(57). Hipoteticamente, a inflamação

demonstrada na mucosa e submucosa pode estender-se mais profundamente na

parede intestinal, interferindo na atividade das camadas de músculo liso do

intestino e no sistema nervoso entérico. Especula-se que situação semelhante

ocorre na esofagite eosinofílica, considerando-se que a dor e impactação de

alimentos no esôfago sejam consequência de dismotilidade associada com a

infiltração eosinofílica(58). São necessários mais estudos para elucidar com maior

precisão a interação entre a inflamação ocasionada pela reação à proteína e a

dismotilidade digestiva.

Constipação, probióticos e prebióticos

Na última década houve um aumento contundente no interesse científico pelos

probióticos e prebióticos. Probióticos são micro-organismos vivos que afetam

beneficamente o organismo, por melhorar o equilíbrio da microbiota intestinal. Por

sua vez, prebióticos são definidos como substâncias que, quando ingeridas, não são

digeridas e absorvidas no intestino delgado e, ao atingirem o cólon, estimulam

seletivamente uma bactéria ou grupo de bactérias da microbiota com

características de probiótico (por exemplo, bifidobactérias), proporcionando efeito

benéfico à saúde do hospedeiro. Finalmente, simbióticos são definidos como

produtos que contêm simultaneamente prebióticos e probióticos(59).

Os probióticos colonizam o intestino e se acredita que podem, potencialmente,

proporcionar efeitos benéficos, contribuindo no controle de doenças intestinais,

tanto infecciosas, como a diarreia aguda ou funcionais, como a síndrome do

intestino irritável e a constipação funcional(59). Entretanto, ainda são necessários

estudos para confirmar estes efeitos que são específicos para cada tipo de micro-

organismo probiótico. Portanto, os efeitos benéficos de um determinado micro-

organismo não podem ser generalizados para outros probióticos.

Surpreendentemente, são poucos os ensaios clínicos que avaliaram o efeito de

probióticos no tratamento da constipação, especialmente, na faixa etária pediátrica.

Ensaio clínico duplo-cego controlado por placebo realizado na Polônia não

evidenciou efeito adicional do Lactobacilo GG ao da lactulose usada no tratamento

de crianças com constipação grave(60). Um estudo não controlado, realizado na

Holanda, avaliou o efeito de uma mistura de bifidobactérias (B. bifidum, B. infantis,

B. longum) e lactobacilos (L. casei, L. plantarum, L. rhamnosus). Constatou-se

diminuição na frequência de incontinência fecal e aumento da frequência de

evacuações(61). Em Taiwan foi comparada a eficácia do Lactobacillus casei

rhamnosus com o óxido de magnésia e placebo, em ensaio clínico duplo-cego. Em

relação ao controle, as duas intervenções proporcionaram maior frequência de

evacuações e de sucesso terapêutico, com a diferença apresentando significância

estatística(62).

Em adultos se demonstrou que o Bifidobacterium animalis DN-173 010 diminui o

tempo de trânsito intestinal(63). O efeito desaparece após a interrupção da

administração do probiótico. Ensaio clínico com 274 mulheres francesas mostrou

que ao longo do estudo, ambos os grupos, intervenção e placebo, apresentaram

melhora da qualidade de vida em relação ao início do estudo. No subgrupo de

mulheres com menos de três evacuações por semana na admissão se constatou

efeito positivo do probiótico, no sentido de aumentar a frequência de evacuações

(64).

Os prebióticos têm efeito similar às fibras alimentares solúveis, além da capacidade

de estimular o crescimento e, assim, aumentar a participação de bactérias

probióticas na composição da microbiota intestinal(59). No primeiro ano de vida é

de extrema relevância o fato de o leite materno conter prebióticos. Trata-se dos

oligossacarídeos do leite materno, dentre os quais figura o fator bifidogênico,

responsável por aumentar a participação de bifidobactérias na microbiota intestinal

do recém-nascido e do lactente. Estes carboidratos, não absorvidos no intestino

delgado, ao atingirem o cólon são fermentados, gerando ácidos graxos de cadeia

curta que diminuem o pH intraluminal. É provável que estes elementos expliquem a

razão pela qual os lactentes amamentados exclusivamente apresentam maior

frequência de evacuações com menor consistência em relação aos alimentados com

leite de vaca(29). Assim, os oligossacarídeos podem explicar, também, a razão pela

qual lactentes em aleitamento natural apresentam menor risco de constipação do

que aqueles em aleitamento artificial(11).

Dentre os prebióticos de maior interesse se incluem lactulose, inulina, fosfo-

oligossacarídeos, fruto-oligossacarídeos, isomalto-oligossacarídeos e xylo-

oligossacarídeos, entre outros(59). A adição de prebióticos às fórmulas para

lactentes representa mais um passo no sentido de assemelhar a composicão das

fórmulas ao leite humano. Ensaios clínicos mostraram que uma fórmula infantil com

mistura de fruto-oligossacarídeo e galacto-oligossacarídeo aumenta a quantidade

de bifidobactérias e lactobacilos na microbiota dos lactentes, em relação aos

alimentados com fórmula(30,31). Outro aspecto se refere à maior frequência de

evacuações e menor consistência das fezes(30,31). Considerando que o período no

qual se interrompe o leite materno e se introduz uma fórmula infantil se associa

com o aparecimento da constipação funcional no lactente, é possível que as

fórmulas com prebióticos desempenhem um papel na prevenção da constipação no

lactente. Outro papel dos prebióticos adicionados às fórmulas para lactentes foi a

redução da incidência de dermatite atópica e processos infecciosos nos dois

primeiros anos de vida(65).

Este campo, de prebióticos e probióticos na regulação da motilidade intestinal, é

muito interessante e promissor, razão pela qual, com certeza, no futuro próximo

serão realizadas muitas pesquisas para ampliar suas aplicações, como

medicamentos ou alimentos.

Conclusão

Constipação intestinal é frequente na população pediátrica. Casos graves

necessitam de tratamento prolongado para evitar o reaparecimento de suas

complicações, especialmente o escape fecal ou incontinência fecal por retenção. O

critério de Roma III é muito restritivo, no sentido de não permitir a identificação de

casos mais leves de constipação que poderiam beneficiar-se de orientações para

sua correção, evitando o aparecimento das complicações. O tratamento

convencional quando realizado corretamente, apresenta bons resultados. Novas

alternativas para o tratamento de manutenção, em especial as fibras alimentares

solúveis e insolúveis, prebióticos e probióticos, são medidas promissoras que

deverão ter sua eficácia comprovada em futuro próximo.

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