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Convibra Saúde Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br Prevalência e fatores epidemiológicos e clínicos de constipação intestinal em adolescentes, de acordo com os critérios de Roma III Bruna Suelen Raymundo Luz; Rafael Baroni Carvalho; Luciana de Almeida; Thiago Ravanini Mourão; Maria Aparecida Santos Araújo; Anna Luiza Pires Vieira; Félix Carlos Ocáriz Bazzano; Marcos Mesquita Filho. -Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS). Pouso Alegre MG. Resumo INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, devido à sua elevada prevalência, a constipação intestinal funcional (CIF) vem sendo considerada como um problema de saúde pública. É nesta faixa etária que existe uma série de fatores que se agravam pelos hábitos modernos. OBJETIVO: Determinar a prevalência de constipação intestinal nos adolescentes de 15 a 20 anos, de acordo com os critérios de Roma III e analisar os fatores epidemiológicos e clínicos da constipação intestinal na população estudada. MÉTODOS: Estudo do tipo transversal, observacional, individual e analítico, sendo aplicados 4 instrumentos a 449 estudantes de Pouso Alegre-MG. RESULTADOS: O maior consumo de frutas mostrou-se como fator de proteção para constipação intestinal, o diagnóstico de constipação intestinal prevaleceu no sexo feminino, sendo que 14,7% foi encaminhado para consultas especializadas e caracterizados como portadores de constipação intestinal crônica. CONCLUSÃO: Prevalência de CIF em adolescentes de 15 a 20 anos é de 14,7%. O hábito de comer frutas, praticar exercício físico 2 ou mais vezes por semana e mostrou-se fator de proteção para CIF. Palavras Chaves: Constipação; Adolescentes; Prevalência. Abstract INTRODUCTION: In recent years, due to its high prevalence, functional constipation (CIF) has been considered as a public health problem. It is at this age that there are a number of factors that are aggravated by modern habits. OBJECTIVE: To determine the prevalence of constipation in adolescents 15 to 20 years, according to the Rome III criteria and analyze the epidemiological and clinical factors of constipation in this population. METHODS: A cross- sectional, observational and analytical individual, with 4 instruments applied to 449 students Pouso Alegre-MG. RESULTS: Increased consumption of fruits proved to be a protective factor for constipation, the diagnosis of constipation prevailed in females, and 14.7% were referred for specialist consultations and characterized as suffering from chronic constipation. CONCLUSION: Prevalence of CIF in adolescents 15 to 20 years is 14.7%. The habit of eating fruits, physical exercise 2 or more times per week and proved to be a protective factor for CIF. Keywords: constipation; dietary fiber; life style.

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Prevalência e fatores epidemiológicos e clínicos de constipação

intestinal em adolescentes, de acordo com os critérios de Roma III

Bruna Suelen Raymundo Luz; Rafael Baroni Carvalho; Luciana de Almeida; Thiago Ravanini

Mourão; Maria Aparecida Santos Araújo; Anna Luiza Pires Vieira; Félix Carlos Ocáriz

Bazzano; Marcos Mesquita Filho.

-Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS). Pouso Alegre – MG.

Resumo

INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, devido à sua elevada prevalência, a constipação intestinal

funcional (CIF) vem sendo considerada como um problema de saúde pública. É nesta faixa

etária que existe uma série de fatores que se agravam pelos hábitos modernos. OBJETIVO:

Determinar a prevalência de constipação intestinal nos adolescentes de 15 a 20 anos, de

acordo com os critérios de Roma III e analisar os fatores epidemiológicos e clínicos da

constipação intestinal na população estudada. MÉTODOS: Estudo do tipo transversal,

observacional, individual e analítico, sendo aplicados 4 instrumentos a 449 estudantes de

Pouso Alegre-MG. RESULTADOS: O maior consumo de frutas mostrou-se como fator de

proteção para constipação intestinal, o diagnóstico de constipação intestinal prevaleceu no

sexo feminino, sendo que 14,7% foi encaminhado para consultas especializadas e

caracterizados como portadores de constipação intestinal crônica. CONCLUSÃO: Prevalência

de CIF em adolescentes de 15 a 20 anos é de 14,7%. O hábito de comer frutas, praticar

exercício físico 2 ou mais vezes por semana e mostrou-se fator de proteção para CIF.

Palavras Chaves: Constipação; Adolescentes; Prevalência.

Abstract

INTRODUCTION: In recent years, due to its high prevalence, functional constipation (CIF)

has been considered as a public health problem. It is at this age that there are a number of

factors that are aggravated by modern habits. OBJECTIVE: To determine the prevalence of

constipation in adolescents 15 to 20 years, according to the Rome III criteria and analyze the

epidemiological and clinical factors of constipation in this population. METHODS: A cross-

sectional, observational and analytical individual, with 4 instruments applied to 449 students

Pouso Alegre-MG. RESULTS: Increased consumption of fruits proved to be a protective

factor for constipation, the diagnosis of constipation prevailed in females, and 14.7% were

referred for specialist consultations and characterized as suffering from chronic constipation.

CONCLUSION: Prevalence of CIF in adolescents 15 to 20 years is 14.7%. The habit of

eating fruits, physical exercise 2 or more times per week and proved to be a protective factor

for CIF.

Keywords: constipation; dietary fiber; life style.

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INTRODUÇÃO

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (2001), o período da adolescência

compreende a idade dos 12 aos 18 anos e para a World Health Organization ocorre dos 10 aos

19 anos de idade¹. A fase da puberdade inicial da adolescência, de 10 a 14 anos, ocorre o

estirão de crescimento, com um aumento rápido das secreções hormonais, aparecimento dos

caracteres sexuais secundários e maturação sexual. A fase final da adolescência, dos 15 aos 19

anos é caracterizada pela desaceleração anterior 2,3,4,5

.

Nos últimos anos, devido à sua elevada prevalência, a constipação intestinal crônica

(CIC) vem sendo considerada como um problema de saúde pública. A constipação intestinal é

definida como um sintoma, mais do que uma doença, que atinge indivíduos de qualquer sexo

e idade 6,7

.

A definição formal de constipação intestinal através dos critérios de Roma III 6,7

foi

adotada como importante ferramenta no diagnóstico de constipação intestinal, assim como na

comparação de dados ou estudos8. A proposta do critério de Roma III para definir a

constipação intestinal em crianças com desenvolvimento compatível com pelo menos 4 anos

de idade, e adolescentes que não preencham os critérios para o diagnóstico da síndrome do

intestino irritável, requer a presença de pelo menos duas das manifestações abaixo, por

período mínimo de dois meses: evacuação duas ou menos vezes por semana; um episódio por

semana de incontinência fecal; história de retenção de fezes excessivas ou postura de

retenção; história de dor ou dificuldade para evacuar; presença de grande massa fecal no reto,

e história de fezes de diâmetro largo para entupir o vaso sanitário 9,10

.

A classificação da constipação intestinal pode ser de origem orgânica, quando é

secundária a alguma doença, ou funcional quando relacionada a hábitos alimentares

impróprios, hábitos sedentários, inibição do reflexo de evacuação e outros

costumescomportamentais e alimentares inadequados adquiridos devido à postura do homem

moderno8,11

.

Lopez e Victória12

relatam que a constipação intestinal chega a representar cerca de

50% dos atendimentos em ambulatório de clínica especializada em gastroenterologia e 14% a

15% da população em geral.

A fisiopatologia da constipação é complexa e de etiologia multifatorial. Dentre os

fatores etiológicos destacam-se as práticas alimentares, círculo vicioso de evacuação dolorosa

gerando comportamento de retenção fecal, distúrbios da motilidade intestinal e fatores

constitucionais e hereditários13

.

O reconhecimento precoce da constipação e a adoção de medidas para seu controle,

em função das conseqüências negativas associadas ao diagnóstico tardio, que acarreta

prejuízo financeiro por gerar tratamentos prolongados e caros e, às vezes, hospitalizações por

uso inapropriado de laxantes que podem causar distúrbios hidroeletrolíticos13

.

O tratamento de constipação intestinal funcional consiste em 4 etapas: educação,

desimpactação, terapia de manutenção, e modificação do comportamento 14

.

No enfoque nutricional, a manutenção aborda uma alimentação rica em fibras: feijão,

ervilha, grão de bico, milho, pipoca, coco, verduras, frutas in natura e secas, aveia em flocos,

farelo de trigo, cereais integrais, ameixa, frutas com casca e bagaço e hortaliças, quando

necessário, suplementos industrializados 15,16

.

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Embora os estudos na área tenham contribuído para importantes avanços no

diagnóstico e tratamento dessa doença, observa-se ainda uma prevalência relativamente

elevada, porque pouco se tem feito em relação à prevenção e ao diagnóstico precoce. A forma

como a constipação funcional é percebida, isto é, uma doença benigna que cura ou melhora

com o tempo e/ou maturação da criança, tem como conseqüência um atraso na intervenção

médica, às vezes até por alguns anos. Esses fatores contribuem para que a doença se agrave e

sintomas como, o escape fecal, sejam responsáveis por repercussões graves na qualidade de

vida das crianças e no seu desenvolvimento emocional, assim como pelo estresse familiar 17

.

Este estudo teve como objetivo determinar a prevalência e fatores associados à

ocorrência de constipação intestinal nos adolescentes da faixa etária dos 15 aos 20 anos de

Pouso Alegre-MG.

MÉTODOS

Delineamento: O estudo foi do tipo transversal, observacional, individual, controlado e

analítico.

Local do estudo: Escola Estadual Presidente Bernardes; Escola Estadual Dr. José Marques

Oliveira; Colégio Objetivo e Colégio do Vale do Sapucaí (Anglo), todos quatro localizados no

município de Pouso Alegre – MG.

População: O questionário foi aplicado a 400 estudantes do ensino médio e cursos pré-

vestibulares, todos com idade entre 15 a 20 anos, de ambos os gêneros.

Amostragem: Tipo aleatório simples. Foi determinada uma amostra de 449 sujeitos. O

critério utilizado para se obter o tamanho amostral foi: erro alfa= 0,05; erro beta=0,2;

prevalência= 50,0%; precisão desejada?= 5,0%; numa população de 8725 pessoas. Ao se

calcular o tamanho da amostra segundo estes critérios obteve-se n=368. Para prevenir de

possíveis perdas ou recusas estabeleceu-se uma amostra de 449 indivíduos.

Critérios de inclusão:

- Faixa-etária de 15 a 20 anos;

- Cursando o ensino médio ou curso pré-vestibular do município de Pouso Alegre;

- Concordar em participar do estudo.

Critérios de exclusão:

- Ser portador de doença endócrina, neurológica e de anormalidade intestinal;

- O não preenchimento adequado dos formulários;

Instrumentos: foram utilizados quatro instrumentos.

1) Questionário de classificação sócio-econômica do adolescente, utilizando-se de

critérios validados da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa18

: O

Critério de Classificação Econômica Brasil, tem a função de estimar o poder de

compra das pessoas e famílias urbanas, não tendo a pretensão de classificar a

população em termos de “classes sociais”. A divisão de mercado definida é

exclusivamente de classeseconômicas (A, B, C, D e E).

2) Formulário de marcadores de consumo alimentar de indivíduos com 5 anos ou

mais de idade19

: Este formulário é validado pelo Sistema de Vigilância Alimentar e

Nutricional (SISVAN) – Ministério da Saúde. Ele é dividido em 10 tipos de alimentos

e questiona o indivíduo qual foi a freqüência de consumo desses no período dos

últimos sete dias. Os alimentos que compõem o questionário são: salada crua (alface,

tomate, cenoura, pepino, repolho, etc), legumes e verduras cozidos (couve, abóbora,

chuchu, brócolis, espinafre, etc) (não considerar batata e mandioca), frutas frescas ou

salada de frutas, feijão, leite ou iogurte, batata frita, batata de pacote e salgados fritos

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(coxinha, quibe, pastel, etc), hambúrguer e embutidos (salsicha, mortadela, salame,

presunto, lingüiça, etc), bolachas/ biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote,

bolachas/ biscoitos doces ou recheados, doces, balas e chocolates (em barra ou

bombom) e refrigerante (não considerar os diet ou light).

3) Questionário composto de questões objetivas acerca de constipação intestinal,

com o objetivo de se avaliar o preenchimento dos critérios diagnósticos de Roma

III para constipação intestinal e 4) Características das fezes pela The Bristol StoolScale: O questionário contem

variáveis como: gênero, idade, data de nascimento, cor, atividade física, religião, série

e se possui alguma doença.

Com objetivo de procurar formas mais precisas para o diagnóstico das doenças

funcionais do aparelho digestivo, entre as quais se insere a constipação intestinal funcional,

um grupo de especialistas se reuniu primeiramente em 1988 e posteriormente em 1999, em

Roma. Em recente publicação, no ano de 2006, houve uma nova revisão dos critérios de

Roma, que estabelece praticamente os mesmos parâmetros, mas propõe tempo menor de

observação dos sintomas considerados. Dessas reuniões de consenso resultaram as três

publicações denominadas Critérios de Roma para o Diagnóstico de Doenças Funcionais

Gastrointestinais, atualmente conhecidas como ROMA, ROMA II e ROMA III. Roma III foi

a primeira a abranger os sintomas de baixa frequência evacuatória e os relacionados à

dificuldade de esvaziamento do reto, e, por representar critério mais uniforme, foi adotada

como importante ferramenta no diagnóstico de constipação intestinal, assim como na

comparação de dados ou estudos6.

Para sintomas de constipação intestinal, segundo Roma III, foi questionado sobre

episódios de perda de fezes involuntária naroupa íntima, episódios de adiar o desejo de

evacuar, se há dor ou dificuldade de evacuar, se há grande massa fecal no reto e se apresentou

fezes de diâmetro largo para entupir o vaso sanitário.

A avaliação do tipo de fezes eliminadas mais frequentemente pelo indivíduo foi feita

através da escala de Bristol (The Bristol Stool Chart)20

(figura 1), variando de endurecidas ou

em cíbalos (tipo 1) a totalmente aquosas e sem pedaços sólidos (tipo 7).

Figura 1: Tipos de fezes de acordo com a escala de Bristol.

Procedimentos: Os pesquisadores compareceram às escolas e aos cursos pré-vestibulares dos

adolescentes selecionados na amostragem, convidando-os a participar da pesquisa. Nessa

ocasião foram expostos os objetivos do estudo e a explicação dos instrumentos utilizados. Na

concordância de participação o sujeito menor de 18 anos recebeu o Termo de Consentimento

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Livre e Esclarecido (TCLE) para sua residência, onde seu responsável assinou, e o que

possuía idade maior ou igual a 18 anos, assinou o TCLE no momento da entrevista.

Após um curto período, foi ministradopelos autores do projeto uma palestra com o

tema Constipação Intestinal aos alunos que tiveram seus termos devidamente assinados. Na

palestra foram abordados alguns assuntos quanto à classificação, fisiopatologia, diagnósticos

e tratamento da constipação intestinal.

Após a palestra, aplicaram-se os questionários individualmente aos adolescentes.

Os adolescentes diagnosticados nesta triagem foram encaminhados para o HCSL

(ambulatório de coloproctologia) para tratamento e acompanhamento adequado.

Banco de dados: Foi construído um banco de dados através do programa Microsoft Excel®.

Análise estatística: Os procedimentos de análise estatística foram dos tipos descritivos e

analíticos. As estatísticas descritivas foram efetuadas utilizando-se da média, mediana e moda

para as variáveis contínuas. Para as variáveis categóricas utilizou-se das proporções. Já na

fase analítica para a comparação de medidas de tendência central de duas populações o teste t

para variáveis paramétricas e o teste de Mann-Whitney para as não paramétricas foi utilizado.

Na comparação de mais de duas populações foram usadas a Análise de Variância ou o teste de

Kruskall-Wallis. O teste de Kolgomorov-Smirmov foi usado para determinar se o

comportamento das variáveis era normal. Para a comparação de proporções utilizou-se o teste

do qui-quadrado. Foi considerado p≤0,05 para rejeição da Hipótese de Nulidade (H0).

O estudo obedeceu aos preceitos contidos na resolução 196/96 do Conselho Nacional

de Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Vale do

Sapucaí.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 449 adolescentes, sendo a idade média de 16,63 anos,

Desvio padrão (DP) de 1,25 e mediana de 16,0. da faixa etária dos 15 aos 20 anos,

prevalecendo os menores de idade (74,7%) e do sexo feminino (52%), sendo que 67% foram

classificados nas classes econômicas A e B e 72,4% se declararam brancos. Estes alunos

freqüentavam o ensino médio e cursinhos pré-vestibulares, sendo que a maioria abordada

estava no primeiro ano do ensino médio (42,7%). 32,1% da amostra declararam não praticar

exercício físico, constatando-se maior proporção (p<0,001) de constipados naqueles que não

praticavam exercícios físicos (19,3%) e naqueles que praticavam apenas uma vez por semana

(26,5%). 87,8% negaram patologia prévia (Tabela 1).

Mais da maioria (60%) relatou evacuar todos os dias. Foi explicado que a cada dois

meses os sintomas a seguir estavam sujeitos a ocorrer, caso ocorresse em um tempo menor era

sinal de anormalidade, assim 2,7% afirmou um episódio por semana de incontinência fecal,

sendo encontrado neste estudo uma proporção consideravelmente (p<0,05) maior de

constipados em pacientes que apresentavam este sintoma (41,7%) do que aqueles que não

apresentavam (14%); 45% relataram postura de retenção de fezes; 11,6% sentem dor ou

dificuldade para evacuar; 10,2% descreveram presença de grande massa fecal no reto; 6,7%

apresentou fezes de diâmetro largo para entupir o vaso sanitário e 23,8% não relataram sinais

de anormalidade (Tabela 2). 60% dos adolescentes afirmaram que as consistências de suas

fezes eram semelhantes a “banana, com rachos superficiais” (Tabela 3). Todos aqueles

adolescentes que relataram dois sintomas ou mais de anormalidades (14,7%), foram

encaminhados para consultas especializadas e caracterizados como portadores de constipação

intestinal crônica funcional, segundo os critérios de Roma III.

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Tabela 1: Variáveis socioeconômicas e de Saúde dos adolescentes

Variável Frequência

absoluta

Porcentagem

(%) Total de adolescentes 449 100,0 Sexo

Feminino 234 52

Masculino 215 48

Faixa etária (em anos)

< 18 anos 340 74,7

> 18 anos 109 24,3

Classe Econômica

AB 301 67

C 128 28,5

DE 20 4,5

Cor

Branco 325 72,4

Não branco 134 27,6

Série

1ºano 192 42,7

2ºano 122 27,2

3ºano e cursinho 135 30,1

Prática regular Exercício

Físico

Não pratica 166 37

2 a 3 x sem 56 12,5

> 3 x sem 129 28,7

Patologia Prévia

Não 397 87,3

Sim 57 12,7

Tabela 2: Sintomas de CIF (sinais de anormalidade), de acordo com o critério de Roma III.

Variável Frequência

absoluta

Porcentagem

(%) Total de adolescentes 449 100,0 1 x sem. Incontinência fecal 12 2,7

Postura de retenção de fezes 202 45

Dor ou dificuldade para evacuar

52 11,6

Presença de grande massa fecal no reto 46 10,2

Fezes de diâmetro largo para entupir o vaso

sanitário

30 6,7

Frequência da evacuação

Todos os dias

270 60,1

Dia sim, dia não

123 27,4

Uma vez a cada 2 dias

31 6,9

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Evacua duas ou < vezes por sem 25 5,6

Tabela 3:Consistência das fezes

Variável Frequência absoluta Porcentagem (%)

Total de adolescentes 449 100,0 Pedaços duros separados

b. ( ) Banana, com rachos profundo

c. ( ) Banana, com rachos superficiais

d.( ) Banana macia

e. ( ) Pedaços macios separados

f. ( ) Pedaços fofos com borda imperfeita

g. ( ) Diarreico, sem pedaços sólidos.

22 4.9 Banana, com rachos profundo 48 10,7 Banana, com rachos superficiais 269 60 Banana macia 77 17 Pedaços macios separados 28 6,2 Pedaços fofos com borda imperfeita 4 0,9 Diarreico, sem pedaços sólidos 1 0,2

A partir do preenchimento do Formulário de Marcadores do Consumo Alimentar para

Indivíduos com cinco anos de idade ou mais, do SISVAN (vigilância alimentar e nutricional),

foi possível observar que 20% consomem salada todos os dias na semana, e 16,3% não

consumiu este tipo de alimento na última semana; em relação a legumes e verduras cozidas,

35,6% não havia comido nos últimos sete dias; em relação ao consumo de frutas, 20,7% as

consumiram todos os dias daquela semana; mais da metade da amostra, 56,3% e 58,4%, havia

se alimentado de feijão e leite/derivados, respectivamente, nos últimos sete dias; batata frita e

salgadinhos fritos foram consumidos principalmente entre um a dois dias na semana pelos

adolescentes analisados; o consumo de hambúrgueres/embutidos, salgadinhos de pacote e

bolachas salgadas tiveram seus consumos variando entre nenhum dia a três dias na semana

por mais da metade da amostra; já o consumo de bolachas doces, chocolates, doces e bolos

mostraram que mais da metade ingeriu estes tipos de alimentos de um a quatro dias na semana

e 15,4% todos os dias da semana; 19,2% da amostra fizeram uso diário de refrigerante durante

aquela semana.

Ao fazer uma análise comparativa, foi possível observar que o fato de receber o

diagnóstico de constipação intestinal, segundo os critérios de Roma III, esteve associado ao

menor consumo de frutas naquela população (p<0,001). Estes dados podem ser visualizados

na Tabela4.

Salada

Legumes verduras cozidos

Frutas frescas Feijão

Leite e Laticinios

Batatas salgados

Hamb. embutido

Bolacha salgad.

Doces Chocol. Refriger.

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Tabela 4: Consumo Alimentar de acordo com o Formulário de marcadores para indivíduos com cinco anos de

idade ou mais (SISVAN)

Legenda: N: sem constipação

CI: constipado

NS: não constipado

O sexo feminino prevaleceu na população que recebeu o diagnóstico, correspondendo

a 65,2% (p<0,05); as classes econômicas predominantes entre esta parcela da amostra foram

as classes D e E (65% -p<0,05).

De acordo com os resultados encontrados, a freqüência de evacuação de duas ou

menos vezes por semana, foi a que apresentou a maior proporção de constipados, vindo a

seguir a freqüência de um a cada dois dias (p<0,001).Observa-se também neste estudo que a

medida que a frequencia evacuatória diminuía, aumentava-se a percentagem de constipados.

Na questão referente às características apresentadas das fezes da população estudada,

observou-se que houve uma proporção significativamente (p < 0,001) maior de constipados

entre aqueles que a apresentavam de forma de pedaços fofos com bordas imperfeitas.

Em

relação

aos

sinais de

anormal

idade

(Tabela

5),

todos foram significativamente (p < 0,005) mais prevalentes nos pacientes diagnosticados.

Tabela 5: Comparação dos Sinais de CIF entre os diagnosticados (CI) e os não diagnosticados (N).

Legenda: N: sem constipação

CI=3,2 N=3,7

CI=2,2 N=2,4

CI=2,2 N=3,6

CI=N=5,4 CI=N=5,2 CI=N=2,6 CI=2,7 N=2,5

CI=2,9 N=2,8

CI=N=3,3

p= 0,122 p= 0,787 P<0,001 p= 0,577 p= 0,184 p= 0,647 p= 0,547 p= 0,520 p= 0,864 p= 0,185

N=CI N=CI CI < N N=CI N=CI N=CI N=CI N=CI N=CI N=CI

1 x sem.

Incontinência

fecal

Postura de

retenção de fezes

Dor ou

dificuldade para

evacuar

Presença de

grande massa

fecal no reto

Fezes de

diâmetro largo

para entupir o

vaso sanitário

<Frequência de

evacuação

semanal

p =0,007 p < 0,001 p < 0,001 p < 0,001 p < 0,001 p < 0,001

CI > N CI > N CI > N CI > N CI > N CI > N

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CI: constipado

DISCUSSÃO

A classificação da constipação intestinal pode ser de origem orgânica, quando é

secundária a alguma doença, ou funcional, tipo estudado neste trabalho, quando relacionada a

hábitos alimentares impróprios, hábitos sedentários, inibição do reflexo de evacuação e outros

costumes comportamentais e alimentares inadequados adquiridos devido à postura do homem

moderno8,11

.

A amostra estudada foi composta por 449 adolescentes, da faixa etária dos 15 aos 20

anos, prevalecendo os menores de idade (74,7%) e do sexo feminino (52%), sendo que 67%

foram classificados na classe econômica A e B. O estudo de Oliveira et al estudou

adolescentes de 9 a 18 anos aproximadamente, sendo 59,6% meninas.

Estes alunos frequentavam o ensino médio e cursinhos pré-vestibulares, sendo que a

maioria abordada estava no primeiro ano do ensino médio (42,7%). Um fator importante a ser

considerado é a associação entre a constipação intestinal e condições psicológicas

particulares, como estresse, ansiedade e depressão; tais manifestações parecem predispor à

constipação intestinal, com possível implicação na patogênese da doença21

.Vale lembrar, que

de maneira similar, é conhecido que adolescentes da faixa etária dos 15 aos 20 anos, dada a

natureza do momento em que vivem, como o término do ensino médio e escolha da profissão

futura, primeiro emprego, moradia fora da casa dos pais, angústia de enfrentar o vestibular,

etc, apresentam maior suscetibilidade ao desenvolvimento de distúrbios de natureza

psicológica. Neste estudo, constatou-se maior proporção de constipados naqueles que não

praticavam exercícios físicos (19,3%) e naqueles que praticavam apenas uma vez por semana

(26,5%). O estudo de Lira22

mostrou que o exercício físico é importante, pois ajuda na

prevenção ao aparecimento de algumas doenças como o câncer de cólon, diverticulite, a

colelitíase e a constipação intestinal. O sedentarismo resulta em enfraquecimento da

musculatura abdominal e consequentemente dificuldade para aumentar a pressão intra-

abdominal durante a defecação. A prática de atividades físicas pode melhorar a amplitude das

contrações no cólon e facilitar a eliminação das fezes23

. Portanto, a prática de exercícios,

principalmente aeróbicos, é bastante útil no controle e prevenção da constipação intestinal,

resultando em redução da freqüência de constipação e melhora do padrão intestinal6.

Nesse presente estudo foi utilizado o critério diagnóstico de Roma III, que foi o

primeiro a abranger os sintomas de baixa frequência evacuatória e os relacionado à

dificuldade de esvaziamento do reto, e, por representar critério mais uniforme, foi adotada

como importante ferramenta no diagnóstico de constipação intestinal, assim como na

comparação de dados ou estudos6,7

.

De acordo com os critérios de Roma III, constipação intestinal funcional é: quando o

paciente apresenta pelo menos dois sintomas relatados: evacuação duas ou menos vezes por

semana; um episódio por semana de incontinência fecal; história de retenção defezes

excessivas ou postura de retenção; história de dor ou dificuldade para evacuar; presença

de grande massa fecal no reto, e história de fezes de diâmetro largo para entupir o vaso

sanitário. Nas crianças até quatro anos esses sintomas podem aparecer uma vez por mês e

acima dessa idade a cada dois meses 9, assim, todos os adolescentes que responderam duas ou

mais opções no formulário de sinais de anormalidade, foram diagnosticados como

constipação intestinal funcional.

Neste estudo observou-se que à medida que a frequencia evacuatória diminuía,

aumentava-se a percentagem de constipados. No estudo de Sweeney e Soffer24,25

, referem que

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a CI é caracterizada pela menor frequência das evacuações a intervalos maiores que 2 dias,

levando a um aumento da absorção de água pelas paredes do cólon, resultando em fezes

mais duras. Esse dados também vão de encontro com os dados obtidos nessa presença

pesquisa, em que pode-se observar uma proporção significativamente (p < 0,001) maior de

constipados entre aqueles que a apresentavam de forma de pedaços duros separados.

É fundamental em termos clínicos e de pesquisa o estabelecimento de critérios

diagnósticos para a doença; os critérios de Roma III cumprem adequadamente esse desígnio,

ao mesmo tempo em que consideram a larga variação dos sintomas da CI e os alocam de

acordo com parâmetros cronológicos22

. Porém, é necessário ressaltar que algumas limitações,

podem aparecer quando se analisam estudos realizados entre diferentes populações, de

diferentes faixas etárias, e que usam diferentes critérios diagnósticos; ainda assim, há certa

dificuldade em se encontrar estudos com características homogêneas que facilitem

comparações. Uma revisão de literatura26

recentemente publicada, considerando 21 estudos

conduzidos entre 34 grupos populacionais diferentes, revelou que nenhum dos estudos havia

usado os critérios de Roma III na determinação da prevalência de CI; isso talvez se deva ao

fato da classificação ser recente.

Ao observar a Tabela 2, a qual representou os sintomas de constipação de acordo com

os critérios de Roma III, percebe-se que 45% relatou postura de retenção de fezes. Isto se

deve a postura inadequada da população em geral, a qual tende a não respeitar o reflexo

gastro-cólico fisiológico, principalmente após as refeições. Muitos alegaram que preferiam

esperar chegar em casa para evacuar, e muitos adiavam a evacuação por conta de “falta de

tempo”.Em relação aos sinais de anormalidade (Tabela 5), todos foram significativamente

(p<0,005) mais prevalentes nos pacientes diagnosticados. Foi encontrado neste estudo uma

proporção consideravelmente maior de constipados em pacientes que apresentavam escape

fecal. A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos relacionados às varias formas de CI é

importante, pois facilita um diagnóstico mais preciso a partir dos sintomas do paciente. Os

que apresentam CI de trânsito lento e de trânsito normal (CI funcional), queixam-se mais de

esforços evacuatórios, menor frequência de evacuações e fezes mais duras, mesmo que os

resultados de exames do trânsito intestinal sejam diferentes entre os dois grupos. Já os

pacientes que possuem alterações defecatórias (obstruções anorretais ou enfraquecimento da

musculatura pélvica e/ou abdominal) relatam esforços evacuatórios maiores, sensação de

evacuação incompleta e muitas vezes utilizam manobras digitais27

.

Todos aqueles adolescentes que relataram dois sintomas ou mais de anormalidades

(14,7%), foram encaminhados para consultas especializadas e caracterizados como portadores

de constipação intestinal crônica, segundo os critérios de Roma III. A constipação intestinal

identificada em adolescentes varia de 9,5% a 22,3% em várias regiões do Brasil 10,13

. No

estudo de Oliveira et al, dos 349 adolescentes, 78 apresentaram constipação, ou seja, a

prevalência de constipação na população estudada foi igual a 22,3%. Já no estudo de Jaime et

al 11

foi encontrado uma prevalência de constipados de 40% de um total de uma amostra de

200 universitarios maiores de 18 anos selecionados aleatoriamente.

Esta discrepância entre os valores de prevalência pode ser explicado pela diferente

caracterização das amostras entre os grupos. Vale ressaltar que a faixa etária correspondente à

adolescência tardia (15 aos 20 anos), utilizada neste estudo, não foi avaliada especificamente

em nenhum destes estudos realizados no Brasil. Outro fator pode ser devido a diferenças nas

definições de constipação adotadas em vários estudos.

A partir do preenchimento do Formulário de Marcadores do Consumo Alimentar para

Indivíduos com cinco anos de idade ou mais, do SISVAN (vigilância alimentar e nutricional),

foi possível observar que em relação à maioria dos dados referidos em trabalhos(Estudo 3)

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(Estudo 1)26

quanto ao consumo alimentar, os adolescentes estudados nessa pesquisa

apresentaram hábito alimentar inadequados, revelado pela estatística referente ao alto

consumo de produtos industrializados e baixo consumo de fibras na dieta básica. Na

adolescência há uma série de fatores que se agravam pelos hábitos modernos, tais como

omissão de refeições, consumo de lanches rápidos, alimentação com refeições

nutricionalmente desequilibradas, “fast-foods”, refrigerantes, enlatados, entre outros, fatores

tradicionalmente associados à constipação intestinal6. Uma intervenção nutricional adequada

contribui para minimizar os sintomas em muitos casos de constipação intestinal, por vezes

reduzindo a necessidade do uso de métodos invasivos e desconfortáveis28,29,30

.

Um dos resultados mais importantes deste estudo,foi a comprovação de que o fato de

se alimentar com frutas tornou-se um fator de proteção para a constipação intestinal funcional

(p<0,001).A relação entre dieta pobre em fibra alimentar e constipação tem sido avaliada

sistematicamente no Brasil31

.No estudo Maffei et al31

evidenciou-se que a uma alimentação

do paciente, os seguintes alimentos devem ser incluídos ou aumentados na alimentação:

feijão, ervilha, lentilha, grão de bico, milho, pipoca, coco, verduras, frutas in natura e secas,

aveia em flocos, ameixa preta. As frutas, quando possível, devem ser consumidas com casca e

bagaço. Órgãos multinacionais têm destacado o baixo consumo alimentar de frutas e

hortaliças em todos os setores sociais, que predispõem o nosso organismo às doenças crônico-

degenerativas. Portanto uma alimentação adequada é essencial na promoção à saúde e deveria

estar nos objetivos do ensino nas escolas/universidades, empresas, nos esportes, enfim em

políticas públicas32,33

.Outro fator é a baixa ingestão de líquidos, que também se associa à

constipação intestinal, por acarretar trânsito intestinal lento e diminuição da exoneração fecal

em adultos sadios34

.No presente estudo não foi avaliado o hábito de ingestão de líquidos,

uma vez que seguimos o questionário do SISVAN, onde este item não era abordado.

Assim, medidas não medicamentosas podem contribuir na prevenção e no tratamento

da constipação intestinal funcional, incluem ações direcionadas à educação e ao controle dos

hábitos alimentares; atividades físicas e manejo delas; bem estar e privacidade do paciente

durante a evacuação.

Na presente pesquisa um dos fatos que merece destaque foi a elevada prevalência de

CI encontrada significativamente no sexo feminino - 65,2%. Uma das explicações para o fato

seriam os fatores hormonais, considerando-se que durante a fase lútea do ciclo menstrual o

risco de manifestações de sintomas de CI estaria aumentado em consequência da ação da

progesterona. Em Oliveira et al, a constipação foi mais freqüente no sexo feminino (27,4%),

do que no masculino (14,9%). Este resultado mostra que na adolescência, o padrão de

distribuição por gênero obedece ao que se observa na idade adulta2. A associação

epidemiológica entre sexo feminino e maiores taxas de prevalência de CI é amplamente

relatada na literatura21,35,36,37

.

Na literatura, encontra-se como fatores de risco para constipação: dieta pobre em

fibras, inatividade física, uso de medicações constipantes e baixo nível de renda e educação (38,39,40,41)

. Neste estudo, a população de baixa renda apresentou maior taxa de prevalência de

CI.

A relevância social deste trabalho se dá pela alta prevalência de constipação e suas

complicações, fazendo com que certos autores a considerem como relevante problema de

saúde pública 6,7

.

“É importante que se desenvolvam programas educacionais que estimulem os

adolescentes a procurar orientação para o controle da constipação, uma vez que o diagnóstico

precoce e o tratamento adequado podem reduzir o risco das complicações futuras da

constipação, especialmente as mudanças dietéticas e do estilo de vida”13,42.

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CONCLUSÃO

A partir deste trabalho conclui-se que a prevalência da constipação intestinal de

adolescentes entre 15 a 20 anos foi de 14,7% e que houve proporcionalmente maior número

de diagnosticados em mulheres, em sedentários, em adolescentes que apresentavam maus

hábitos evacuatórios (destacando-se a postura de retenção de fezes) e em invíduos da classe

econômica D e E.

Um dos resultados mais importantes deste estudo, foi a comprovação de que o fato de

se alimentar com frutas tornou-se um fator de proteção para a constipação intestinal funcional,

assim como a prática de exercícios físicos.

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