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no E.F2. Prof. Ker do bem comum passa pela fraternidade, e dura mais do que quem a faz."(Felipe Tiago Diáspora: descubra como os judeus se espalharam pelo mundo Eles se distribuíram por mais de 100 países e ainda assim conseguiram manter vivos seus valores e tradições Texto Eduardo Szklarz | Ilustrações Marcos Rufino | 06/06/2013 16h18 Os judeus são o único povo que nasceu com o dever divino de habitar uma região do planeta: Canaã (Israel). No entanto, ao longo de seus 4 mil anos de história, eles se tornaram a nação mais cosmopolita do mundo. As comunidades judaicas hoje se espalham em mais de 100 países - do México à Inglaterra, do Cazaquistão à África do Sul, de Cuba ao Japão. Com exceção de Israel, os judeus têm vivido como minorias em todos esses lugares. "A história judaica é marcada por sucessivas dispersões e diásporas dentro de diásporas", diz Luis S. Krausz, professor de Literatura Hebraica e Judaica na Universidade de São Paulo (USP). "Essa história começa com a destruição do Templo de Salomão pelo rei Nabucodonosor, no século 6 a.C., quando os judeus foram levados ao cativeiro na Babilônia. E continua até o século 20, com a dispersão e o genocídio dos judeus da Europa." Tantas travessias produziram uma diversidade de grupos judaicos que cristalizaram costumes, idiomas e culinárias dos lugares onde viveram. E também contribuíram para enriquecer as culturas locais. Nesta reportagem, vamos viajar pelos momentos mais importantes da saga judaica através das fronteiras. Babilônia e Império Romano Os judeus botaram o pé no mundo em 587 a.C., quando o rei babilônio Nabucodonosor invadiu o antigo reino de Judá (ao sul de Israel). O monarca arrasou Jerusalém e mandou parte de seus habitantes para a Babilônia, na Mesopotâmia (hoje Iraque). Mas o que havia sido um degredo imposto à força contribuiu para o florescimento do judaísmo. "Foi durante o exílio que se impôs pela primeira vez a todos os judeus a prática regular de sua religião", diz o historiador britânico Paul Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Centro Educacional Cenecista Prof.ª Isabel de Queiroz

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Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Centro Educacional Cenecista Prof. Isabel de QueirozPgina 2

Nome: N.:Srie: 7 Ano E.F2. Turma: A B U Data: __/___/2015 Prof. Kerollen SouzaI TRIMESTREConhecendo mais!"A obra do bem comum passa pela fraternidade, e dura mais do que quem a faz."(Felipe Tiago Gomes)Centro Educacional Cenecista Prof. Isabel de QueirozCampanha Nacional de Escolas da Comunidade

Dispora: descubra como os judeus se espalharam pelo mundoEles se distriburam por mais de 100 pases e ainda assim conseguiram manter vivos seus valores e tradies

Texto Eduardo Szklarz | Ilustraes Marcos Rufino | 06/06/2013 16h18

Os judeus so o nico povo que nasceu com o dever divino de habitar uma regio do planeta: Cana (Israel). No entanto, ao longo de seus 4 mil anos de histria, eles se tornaram a nao mais cosmopolita do mundo. As comunidades judaicas hoje se espalham em mais de 100 pases - do Mxico Inglaterra, do Cazaquisto frica do Sul, de Cuba ao Japo. Com exceo de Israel, os judeus tm vivido como minorias em todos esses lugares.

"A histria judaica marcada por sucessivas disperses e disporas dentro de disporas", diz Luis S. Krausz, professor de Literatura Hebraica e Judaica na Universidade de So Paulo (USP). "Essa histria comea com a destruio do Templo de Salomo pelo rei Nabucodonosor, no sculo 6 a.C., quando os judeus foram levados ao cativeiro na Babilnia. E continua at o sculo 20, com a disperso e o genocdio dos judeus da Europa."

Tantas travessias produziram uma diversidade de grupos judaicos que cristalizaram costumes, idiomas e culinrias dos lugares onde viveram. E tambm contriburam para enriquecer as culturas locais. Nesta reportagem, vamos viajar pelos momentos mais importantes da saga judaica atravs das fronteiras.

Babilnia e Imprio Romano

Os judeus botaram o p no mundo em 587 a.C., quando o rei babilnio Nabucodonosor invadiu o antigo reino de Jud (ao sul de Israel). O monarca arrasou Jerusalm e mandou parte de seus habitantes para a Babilnia, na Mesopotmia (hoje Iraque). Mas o que havia sido um degredo imposto fora contribuiu para o florescimento do judasmo. "Foi durante o exlio que se imps pela primeira vez a todos os judeus a prtica regular de sua religio", diz o historiador britnico Paul Johnson no livro Histria dos Judeus.

"Tambm foi reforado o ritual da circunciso, que os distinguia dos pagos, e o costume do shabat (dia do descanso)", diz Johnson. Os escribas redigiram as tradies orais e compilaram os pergaminhos vindos do templo destrudo. O calendrio judaico se aprimorou com a astronomia babilnica e incluiu festas como o Pessach (Pscoa), que recorda a sada dos hebreus da escravido no Egito. Apenas 50 anos depois, em 538 a.C., o rei persa Ciro permitiu a volta dos judeus a Jerusalm e a reconstruo do templo. "Muitos preferiram ficar na Babilnia, que permaneceu como um centro da cultura judaica por 1,5 mil anos", diz Johnson. Em 63 a.C., uma nova reviravolta. O general Pompeu invadiu a Judeia e a transformou em provncia do Imprio Romano. Terminava assim o reino dos Hasmoneus - o ltimo pas judeu independente que existiu at a criao do Israel moderno, em 1948.

A tenso culminou com uma rebelio. Em 70, o general romano Tito reprimiu os revoltosos, destruiu o segundo templo e mandou os judeus a uma nova dispora, que alcanou a sia, a Europa e o norte da frica. Mas ao contrrio dos anos na Babilnia, o exlio nos domnios romanos marcou o incio das perseguies. "Os romanos no toleravam o culto judaico a um Deus nico nem costumes como o shabat", diz o historiador francs Gerald Messadi no livro Histria Geral do Antissemitismo. A situao piorou com a converso do imperador Constantino ao cristianismo, no sculo 4. Em 325, o Conclio de Niceia acusou os judeus pela morte de Jesus, o que serviu de base para o mito medieval de que tinham poderes sobrenaturais e eram aliados do diabo. Nas terras da cristandade, os judeus foram proibidos de exercer funes pblicas, ter empregados e se casar com no judeus. Qualquer semelhana com as Leis de Nuremberg, promulgadas em 1935 pelo nazismo, no coincidncia.

Os sefaradim

No sculo 9, a comunidade judaica da Babilnia comeou a declinar e muitos rumaram para outros cantos do globo. Parte foi para o norte da frica, regio que hoje corresponde a Arglia, Marrocos, Sahara Ocidental e Mauritnia. L se assentaram nos domnios de duas tribos muulmanas: os berberes, que eram exmios guerreiros; e os mouros, mais tolerantes, que se dedicavam ao comrcio, ao artesanato e cincia.

Como os exrcitos mouros estavam em franca expanso pela Espanha, os judeus pegaram carona com eles - e ficaram conhecidos como sefaradim (de Sefarad, "Espanha" em hebraico). Produziram uma lngua prpria, o ladino, impregnando de vocbulos hebraicos o espanhol medieval. A unio entre mouros, judeus e ciganos daria origem ao flamenco, que at hoje tocado e bailado como um hino liberdade.

Nos demais pases muulmanos, os judeus viviam como cidados de segunda classe. Podiam seguir suas crenas nos dhimmis (comunidades protegidas) desde que pagassem impostos. Seu status era superior ao de pagos e escravos. "No mundo islmico, os judeus desfrutaram de prosperidade nos sculos 10, 11 e 12. Houve exploses de violncia contra eles, mas espordicas e locais", diz o historiador britnico Nicholas de Lange em Povo Judeu. Alguns chegavam a ser ministros dos califas. O rabino Maomnides (1135-1204), um grande filsofo da Idade Mdia, foi mdico dos sultes do Egito. "No sculo 13, quando o mundo muulmano passou a sofrer presses dos cristos no oeste e dos mongis no leste, a condio dos judeus piorou de forma dramtica", diz Lange. "Os lderes islmicos deram carta branca intolerncia religiosa." Pior: no sculo 15, Fernando de Arago e Isabel de Castela (os reis catlicos) se uniram para acabar com o domnio muulmano no sul da Espanha. A Santa Inquisio queimava judeus como

"hereges" e pilhava seus bens. Em 1492, os reis catlicos derrotaram Granada, o ltimo bastio mouro na Pennsula Ibrica. E expulsaram os judeus que no aceitassem a converso imediata f crist. Os que quiseram praticar o judasmo de forma aberta emigraram para o Imprio Otomano, que abrangia a Turquia, o norte da frica e o Oriente Mdio. "A maioria, cerca de 100 mil, optou pela soluo mais fcil: fugir para Portugal", diz Lange. "Foi uma deciso equivocada. Cinco anos depois, o rei dom Manuel batizou os judeus fora."

Os convertidos, os "cristos-novos", continuaram sendo alvo de suspeita dos inquisidores. Tanto que ficaram conhecidos como marranos ("porcos", em espanhol) ou anussim ("forados", em hebraico). "Para muitos, a sada foi praticar o judasmo secretamente, correndo risco de vida", diz o escritor americano-portugus Richard Zimler, autor de vrios livros sobre o tema. Outros botaram o p no mundo e se fixaram em todo o arco mediterrneo, sul da Frana, Holanda, Inglaterra e norte da Alemanha.

Segundo Johnson, a dispora sefaradim mobilizou judeus do mundo inteiro. A chegada de refugiados a uma cidade provocava a expulso dos que l viviam. "Muitos judeus converteram-se em vendedores ambulantes", diz. Vem dessa poca a lenda antissemita do Judeu Errante, o sujeito que teria negado gua a Jesus no trajeto at a crucificao e por isso havia sido condenado a uma vida sem rumo. O primeiro gueto da histria, em Veneza, data de 1516. Outros "cristos-novos" vieram para o Brasil, trabalhar em Minas Gerais ou nos engenhos de Pernambuco. Em 1636, fundaram no Recife a primeira sinagoga das Amricas sob a bno dos holandeses.

Os ashkenazim

A saga dos sefaradim foi simultnea de outro importante grupo: os ashkenazim (do hebraico medieval Ashkenaz, "Alemanha"). Eles se assentaram entre a Alemanha e a Frana, ao longo do Vale do Reno, a partir do sculo 8, incentivados pelo imperador Carlos Magno. A maioria se dedicava ao artesanato, fabricao de vinhos e ao comrcio - conheciam como poucos as rotas para o Mediterrneo e o Oriente Mdio.

"No sculo 13, muitos ashkenazim foram para a Polnia atrados pelas oportunidades econmicas", diz Lange. "Tinham em suas mos a maior parte do comrcio." A idade dourada dos ashkenazim acabou em 1648, ao serem alvo de uma rebelio dos cossacos, vindos da Rssia e da Ucrnia, que investiram contra os judeus, matando perto de 100 mil e dizimando 300 comunidades. O antissemitismo tornou a Europa um lugar perigoso. Judeus j haviam sido expulsos da Inglaterra em 1290 e da Frana em 1306.

"A ausncia de um Estado fez com que construssem sua identidade com base em parmetros mais religiosos e tnicos do que nacionais ou territoriais", diz Krausz. Em geral, viviam como estrangeiros, apenas tolerados. No podiam reivindicar os direitos dos outros cidados e pagavam impostos abusivos. No tinham terras nem participavam de corporaes de ofcios, que s aceitavam cristos. "Restava-lhes o pequeno comrcio e a lida com o dinheiro", diz Krausz. Os ashkenazim chegaram Litunia, Ucrnia, Moldvia e Rssia. Viviam num vilarejo semi-isolado, o shtetl. Assim como os sefaradim, criaram seu dialeto: o diche, que mescla alemo medieval com termos hebraicos e eslavos.

A emancipaoQuando os ventos da Revoluo Francesa sopraram na Europa, os judeus puderam sair do gueto e conquistar a cidadania. Figuras como Albert Einstein e Sigmund Freud moldaram o pensamento do Ocidente. Mas, se por um lado o sculo 19 trouxe emancipao, tambm instigou o nacionalismo. Os modernos Estados-nao acusaram os judeus de no participar da cultura

majoritria e, portanto, da identidade nacional.

A Rssia virou palco do pogrom - uma perseguio insuflada pelos czares. Algumas matanas acabaram com shtetls inteiros e motivaram levas de emigrantes para ir para os EUA. A partir de 1880, milhares de ashkenazim retornaram ao ponto de partida, a Palestina. A Inglaterra assumiu o controle da regio aps a Primeira Guerra e imps restries imigrao, apesar de defender um lar nacional para os judeus bem ali, onde Davi havia governado 3 mil anos antes. A imigrao aumentou nos anos 30, com o fluxo de judeus que fugiam do nazismo.

Aps a criao de Israel, em 1948, judeus foram expulsos de pases rabes onde residiam havia sculos. No Egito, que tinha 65 mil judeus em 1937, restaram menos de 100. Na Lbia, nenhum. "Quando meu pai era menino na Polnia, as ruas eram cobertas de pichaes dizendo: `Judeus, vo para a Palestina! Quando voltou, em visita Europa 50 anos mais tarde, os muros estavam cobertos de pichaes dizendo: `Judeus, saiam da Palestina!", recorda o escritor israelense Ams Oz no livro Contra o Fanatismo.