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XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Condições de trabalho e saúde no meio rural da região da chapada no município de Itabira - MG Fernanda Flávia Cockell (Doutoranda em Eng. Produção) Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção CPF: 01233196685 R. Viriato Fernandes Nunes, n º30 apt 35B, Santa Paula, CEP13564-070; São Carlos -SP [email protected] Daniel Perticarrari (Doutorando em Sociologia) Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Ciências Sociais CPF: 26360693801 R. Viriato Fernandes Nunes, n º30 apt 35B, Santa Paula, CEP13564-070; São Carlos -SP [email protected] Gisella Verônica Morillo Vigil (Médica) Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais CPF: 03000773606 R Paraíba, 607/1304-funcionários- cep 30.130-140 Belo Horizonte-MG [email protected] Francisco José da Costa Alves (Dr. em Economia) Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção CPF: 29665990730 Rod. Washington Luiz, km 235 CEP: 13.565-905 São Carlos - SP. [email protected] Agricultura familiar Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural 1

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XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”

Condições de trabalho e saúde no meio rural da região da chapada no município de Itabira - MG

Fernanda Flávia Cockell (Doutoranda em Eng. Produção) Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção

CPF: 01233196685 R. Viriato Fernandes Nunes, n º30 apt 35B, Santa Paula, CEP13564-070; São Carlos -SP

[email protected]

Daniel Perticarrari (Doutorando em Sociologia) Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Ciências Sociais

CPF: 26360693801 R. Viriato Fernandes Nunes, n º30 apt 35B, Santa Paula, CEP13564-070; São Carlos -SP

[email protected]

Gisella Verônica Morillo Vigil (Médica) Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

CPF: 03000773606 R Paraíba, 607/1304-funcionários- cep 30.130-140 Belo Horizonte-MG

[email protected]

Francisco José da Costa Alves (Dr. em Economia) Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção

CPF: 29665990730 Rod. Washington Luiz, km 235 CEP: 13.565-905 São Carlos - SP.

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Agricultura familiar Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor

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Condições de trabalho e saúde no meio rural da região da chapada no

município de Itabira - MG

Resumo Este artigo apresenta os resultados da avaliação das condições de trabalho e saúde da população rural da região da chapada, no município de Itabira – MG. O objetivo foi estudar o perfil sócio-demográfico desta população, a infra-estrutura dos locais de trabalho e de moradia, as relações de trabalho, bem como conhecer as cargas laborais e descrever a prevalência de algumas patologias na população referida. Foram entrevistados 77 trabalhadores rurais, correspondendo a 92% da população pesquisada. Os resultados evidenciaram baixa escolaridade, saneamento básico incipiente, baixa prevalência de seguridade social, baixos níveis salariais, altas cargas físicas e psíquicas e altos índices de acidentes de trabalho. Foi encontrada, também, alta prevalência de problemas de saúde que alerta para a necessidade de se priorizar ações de proteção para a saúde do trabalhador rural. Palavras-chave: Trabalhadores Rurais; Condições de trabalho, Saúde.

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Condições de trabalho e saúde no meio rural da região da chapada no município de Itabira - MG

1. INTRODUÇÃO Este artigo surgiu de um esforço entre a Faculdade de Ciências Médicas de Minas

Gerais (FCMMG) e a Secretária de Saúde do Município de Itabira-MG, para o levantamento das condições de trabalho da população rural da chapada durante o período de desenvolvimento do programa de Internato Rural no último trimestre de 2001.

O internato rural da FCMMG tem como objetivo a integração ensino, serviço e comunidade, buscando articular a teoria apreendida na universidade, pelos alunos de Medicina e Fisioterapia, às realidades socioeconômicas das comunidades carentes do estado de Minas Gerias. As atividades desenvolvidas pelos alunos compreendiam o atendimento da população no posto de saúde da região da chapada, atendimento domiciliar, orientação dos grupos comunitários para gestantes, hipertensos e diabéticos, palestras nas escolas da região, campanhas de vacinação e cadastramento da comunidade local.

Para COURY et al., (2004, p.02) o Internato Rural é um espaço formado a partir das relações entre a Universidade, serviços de saúde, administrações municipais e população, “englobando processo de ensino, produção de saber e aplicação do mesmo na solução de problemas”.

Pôde-se constatar que menos de 5% dos trabalhadores rurais eram cadastrados ao Programa de Saúde da Família (PSF) da região. Desta forma, a falta de informações referentes à situação de saúde dos trabalhadores da chapada, somada à má qualidade das informações sobre ocupação nos registros de saúde da cidade, dificultava o desenvolvimento de ações preventivas e mesmo curativas para esta população específica, fato este bastante comum na realidade social brasileira (CORDEIRO, 2001). As informações referentes à situação de saúde da classe trabalhadora da região limitavam-se a algumas publicações sobre a população de mineradores - reflexo da grande exploração mineral na cidade - e aos dados oficiais do Sistema Único de Saúde e da sub-delegacia regional do trabalho, porém encontravam-se desarticulados e sem sistematização, o que não possibilitava ao PSF a caracterização das principais necessidades da população de trabalhadores rurais da região da Chapada.

Diante desse quadro, os alunos da FCMMG procuraram a secretária de saúde da cidade para expor o problema e propor o desenvolvimento de um estudo na região para conhecer as condições de trabalho e saúde no meio rural da chapada. O objetivo geral era descrever o trabalhador rural da região segundo amplo mapeamento de exposições ocupacionais, perfil sócio-demográfico, prevalências de acidentes de trabalho e exposição às cargas de trabalho, bem como verificar as condições de moradia e do local de trabalho. Dessa forma, pretendia-se conhecer, inicialmente, os trabalhadores da chapada para que ações preventivas para essa região fossem adotadas pela Prefeitura Municipal e pelo PSF e, além disso, corroborar com o desenvolvimento de um projeto futuro para a caracterização da diversidade de processos de trabalho presentes na cidade de Itabira e com a articulação do processo saúde-enfermidade versus processo laboral dentro do contexto de formações econômico-sociais específicas.

Segundo FACCHINI (1994) é possível apreender os elementos que corroem a força de trabalho ou desgastam as capacidades vitais do trabalhador através do estudo das cargas de trabalho. Para o autor, as cargas de trabalho são “exigências ou demandas psicobiológicas do processo de trabalho”, determinando ao longo do tempo

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particularidades do desgaste do trabalhador, sendo classificadas segunda as suas naturezas e suas características básicas em cargas físicas, químicas, orgânicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas. SILVA et al. (2001) apontam também o monitoramento ocupacional da população de trabalhadores rurais como a forma mais eficiente para prevenir e diagnosticar precocemente os danos ou agravos que incidem sobre a saúde do trabalhador rural causados, desencadeados ou agravados por agentes ou condições nocivas presentes nos locais de trabalho.

É importante salientar que nem todas as situações são igualmente nocivas. Cada um reage singularmente a uma situação penosa, dado o caráter idiossincrático de cada indivíduo, como por exemplo, histórias profissionais e pregressas distintas, submissão a condições de vida e extraprofissional particulares, posse de características fisiológicas particulares, etc. (GUÉRIN et al., 2001). Assim, o trabalho pode tornar-se nocivo e perigoso devido à forma pela qual o homem o organiza e não como se intrinsecamente possuísse esses atributos (COHN & MARSIGLIA, 1994).

2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa ocorreu na região rural da chapada, situada há 20 km da cidade de

Itabira localizada a 105 Km de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A base de sua economia é mineração de minério de ferro (SILVA, 2004), mas desde do final da década de 90 vem tentando se desenvolver no setor agropecuário e, nos últimos anos na implantação de um distrito industrial. O Município possui cerca de 98.221 mil habitantes, sendo que destes 8.606 encontram-se na zona rural. A chapada representa uma das localidades rurais pertencentes à região rural da cidade de Itabira-MG. Engloba as micro-áreas de barro branco, rio de peixe, mamoeiras, bateias de cima, chapada, boa esperança, areias, biboca, cabral, itabiruçu, bateias e capoeirão. As propriedades rurais da região foram visitadas uma a uma durante o período de quatro semanas. Devido às dificuldades de transporte, não foram visitadas, neste primeiro momento do estudo, as regiões de Bateias e Capoeirão.

O questionário O estudo foi concentrado na informação referida, obtida por entrevista semi-

estruturada, a partir da percepção do trabalhador. O grupo de entrevistadores era formado por duas alunas do internato rural e uma funcionária da secretária de saúde. Segundo SHEPARD (1993) as entrevistas estruturadas – diretivas – ou semi-estruturadas são aquelas efetuadas a partir de um questionário previamente elaborado, útil para o conhecimento de aspectos específicos como as tarefas, a organização do trabalho, os acordos existentes, as dificuldades e queixas dos trabalhadores.

O questionário era formado por perguntas abertas e/ou fechadas, subdivididas de acordo com o conteúdo das mesmas. Todos os trabalhadores e proprietários das propriedades rurais estudadas receberam orientações claras sobre os objetivos do trabalho e quanto ao sigilo de informações e, antes do início do estudo, assinaram o termo de consentimento. Vale ressaltar ainda que, durante o estudo piloto em três propriedades rurais da região foram testadas previamente as perguntas quanto à validade e confiabilidade de conteúdo e quanto à clareza de entendimento pelos trabalhadores. O questionário englobou perguntas específicas sobre os seguintes pontos:

a) Sócio-demográficos: Nome, Idade (anos completos), Sexo, Escolaridade (anos completos), Estado civil, Número de filhos e de filhos menores de 14 anos que trabalham;

b) Infra-estrutura: Tamanho da propriedade rural (alqueires), Tipo de produção, Número de trabalhadores; Tipo de moradia, Tipo de casa, Número de cômodos, Tipo de abastecimento de água, Forma de tratamento da água, Destino fezes/urina, Destino do lixo;

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c) Relações de trabalho: Atividade (nome e descrição), Tempo de atividade, Renda per-capita, Formas de recebimento, Salário, Relação de trabalho, Tipo de Atividade anterior, Outras fontes de rendas; Horas trabalhadas/dia, Número e freqüência das folgas, Férias, Tipo de Lazer;

d) Cargas laborais: Utilização de agrotóxicos, Freqüência do uso, Tipo das substâncias utilizadas, Forma de utilização, Local de armazenamento, Destino de embalagem, Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), Manuseio de carga, Postura assimétricas, Grau de impedimento de trabalho, Tipo de Ferramentas de trabalho, Tipo de acidentes pérfuro-cortantes, Exposição a animais peçonhentos, Exposição a poeira, ao ruído e ao ambiente, Satisfação no trabalho;

e) História médica pregressa: Tabagismo, Número de cigarros/dia, Consumo de álcool, Doenças, Cirurgias e internações anteriores, Freqüência de procura ao Posto de Saúde da Chapada;

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de 29/10/2001 a 28/11/2001 foram visitadas trinta e duas fazendas da região da Chapada, correspondendo a 100 % das propriedades rurais, excluídas àquelas localizadas nas micro-áreas Bateias e Capoeirão conforme anteriormente citado.

As entrevistas foram feitas, em sua maioria, no próprio local de trabalho ou na residência do trabalhador, quando localizada dentro da propriedade rural visitada. Considerou-se trabalhador rural todo indivíduo que realizava no mínimo 15 horas semanais em atividades de agricultura e pecuária para fins de comercialização e/ou consumo (FARIA et al., 1992). Foram encontrados 72 trabalhadores rurais nestas propriedades, porém seis deles não puderam ser entrevistados (8.3% da amostra total) por motivos diversos, tais como: embriaguez, recusa do patrão em liberar o trabalhador para a entrevista e motivo de doença na família.

Perfil Sócio-demográfico dos trabalhadores Na amostra estudada, 95.3% eram do sexo masculino. Em média, os trabalhadores

entrevistados tinham 36 anos de idade (desvio padrão (D.P) = 13.3) sendo a idade mínima dos entrevistados de 11 anos e a máxima de 70 anos. Através da Figura 01, podemos observar que mais da metade dos trabalhadores (57.8%) tinham a idade entre 21 e 40 anos, ou seja, a população estudada encontra-se predominantemente na faixa da população economicamente ativa. Vale ressaltar que foi encontrado apenas um trabalhador rural menor que 14 anos.

1,66,2

57,8

29,9

4,8

0102030405060708090

100

Perc

entu

al

Idade

< 14 anos15 a 20 anos21 a 40 anos41 a 60 anos61 a 70 anos

FIGURA 01- Freqüência da idade dos trabalhadores (anos).

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Entre os trabalhadores, 54.7% eram casados, 32.8% solteiros e 67.2% tinham pelo menos um filho. O número médio de filhos encontrados foi de 1.97 (D.P = 2.05). Apenas dois entrevistados tinham mais de 06 filhos e 68.75% tinham filhos menores que 14 anos. Entre os filhos menores de 14 anos apenas 2.3% trabalhavam para ajudar no sustento familiar.

A escolaridade foi avaliada de acordo com os anos completos de estudo. Predominou o baixo nível de escolaridade, sendo 12.5% dos trabalhadores rurais entrevistados analfabetos. A avaliação do nível de instrução mostrou uma média de apenas 3.53 anos de estudo (D.P = 6.79). Este quadro chama mais atenção quando consideramos que 57.8% dos trabalhadores entrevistados não chegaram a cursar a 5 ° série. Como podemos observar a partir da Figura 02, os trabalhadores que completaram o 2° grau representavam apenas 6.2% da população estudada.

Outro fato observado foi que aproximadamente 70% dos trabalhadores analfabetos ou semi-analfabetos começaram a trabalhar com menos de oito anos de idade. Conforme nos foi relatado, a região da chapada não possuía escolas do ensino secundário, fato este descrito por alguns trabalhadores como limitador para a continuidade do ensino fundamental.

0%

5%

10%

15%

20% Sem estudo1 ano2 anos3 anos4 anos5 anos6 anos7 a 8 anosacima 9 anos

FIGURA 02 – Escolaridade do grupo populacional estudado (%).

Infra-estrutura As propriedades rurais eram compostas de, no mínimo um até o máximo de treze

trabalhadores, sendo em média três trabalhadores em cada propriedade rural. Predominava a agricultura de subsistência em 60% das propriedades visitadas. O restante das propriedades (40%), eram voltadas para a atividade de pecuária leiteira para fins de comercialização e/ou consumo.

A dimensão das propriedades não era de conhecimento de todos entrevistados. Este item não foi respondido em 6% dos locais visitados. Alguns trabalhadores não sabiam informar exatamente o tamanho da propriedade, mas em média tinham a dimensão total de 23 alqueires.

Grande parte dos trabalhadores residia no trabalho (54.7% do total entrevistado) e 34.4% em casa própria. As casas tinham, em média, cinco cômodos (39.1%) e 3,94 (D.P =1.96) moradores. A maioria tinha sido construída de tijolo (96.9%), sendo que as demais residências (3.1%) eram feitas, pelos próprios trabalhadores, de taipa revestida (Figura 03).

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FIGURA 03- Casa de taipa revestida O abastecimento de água era fornecido pela rede pública local em apenas 10.9%

das casas. Observou-se que 56.3% dos trabalhadores retiravam a água para consumo próprio de nascentes e 29.7% de cisternas. Esses resultados são preocupantes quando constatamos que 45.3% dos entrevistados não tratavam a água que consumiam (Tabela 01) e 73.3% eliminavam as fezes no córrego (Tabela 02), aumentando consideravelmente o risco de contaminação da água potável.

TABELA 01 - Tratamento da água consumida pelos trabalhadores (%).

Tratamento da água Porcentagens Cloração 12.5% Filtração 42.2% Sem tratamento 45.3%

TABELA 02 - Destino das fezes e urina (%).

Destino fezes e urina Porcentagens Céu Aberto 3.1% Córrego 73.3% Fossa 15.6% Rede de esgoto 10.9%

Além disso, não havia um sistema eficaz de coleta de lixo fazendo com que 60.9% dos entrevistados queimassem o lixo por eles produzidos, aumentando a poluição atmosférica. Não obstante, 6.3% deixavam o lixo em céu aberto podendo contaminar nascentes e córregos da região e aumentando o risco de infestação de doenças (Tabela 03).

TABELA 03- Destino do lixo (%).

Destino do lixo Porcentagens Céu Aberto 6.3 % Enterrado 6.3% Queimado 60.9% Coletado 26.5%

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Relações de trabalho Os trabalhadores também foram questionados sobre os tipos de tarefas por eles

desempenhadas. As principais tarefas descritas pelos trabalhadores rurais da região foram: vaqueiro, lavrador, serviços gerais, fabricantes de ração e caseiro. Não foi possível determinar o número exato de trabalhadores em cada atividade, pois a maioria é fichada como Auxiliar de Serviços Gerais e, muitos descreveram sua função de acordo com as tarefas por eles realizadas, tais como: cuidar da criação – gado, suínos, aves, eqüinos e coelhos (Figura 04) –, roçar, capinar, limpar curral, ordenhar – manual e mecânica –, plantar, cortar madeira, colher (Figura 05), fabricar ração (triturar e misturar) e cuidar da propriedade rural (limpeza, cercar e tomar conta).

As exceções estão nas atividades de Vaqueiro, responsáveis pela inseminação artificial nas vacas, dos encarregados gerais e dos produtores de cachaça, pois estes trabalhadores exerciam durante a maior parte da jornada de trabalho uma única atividade e, por isso, identificaram facilmente quais eram as suas funções dentro da propriedade rural.

FIGURA 04- Cuidar da criação FIGURA 05- Colheita da cana-de-açúcar

O tempo médio de trabalho foi de 94 meses (D.P = 91.1), ou seja, mais de sete anos e meio de serviço na mesma propriedade rural. É possível observar na Tabela 04 que somente 23.3% dos trabalhadores estavam a menos de um ano no mesmo local de trabalho.

TABELA 04 – Tempo de trabalho na mesma propriedade rural (meses)

Tempo na atividade (meses) Porcentagens < 12 meses 23.0% 13 meses a 36 meses 14.7% 37 meses a 60 meses 6.6 % 61 meses a 84 meses 11.4% Acima de 85 meses 44.3%

Entre os entrevistados, 51.6% não tinham carteira assinada. Este fato é bastante preocupante, uma vez que esses trabalhadores não recebiam os seus direitos, tais como: férias, 13° salário, aposentadoria, seguro desemprego, entre outros.

Cerca de 36.5% dos trabalhadores não pagava a Previdência Social, o que irá prejudicar a qualidade de vida futura desta população. Parte dos trabalhadores (6.3%) que não tinham carteira assinada pagava a Previdência Social como autônomos e 8.8% recebiam do patrão o valor para o pagamento da Previdência Social.

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Conforme elucidado na Tabela 05, as relações de trabalho encontradas eram diversas. Os trabalhadores considerados como assalariados fixos (67.2%) eram aqueles que recebiam o mesmo valor todos os meses. Entretanto, não significava que essa população tinha carteira assinada.

Foram entrevistados dois trabalhadores (3.1% da amostra total entrevistada) que não recebiam nenhum tipo de pagamento pelos serviços realizados. Uma criança de 11 anos e uma senhora de 63 anos trabalhavam dentro das propriedades rurais por mais de 15 horas semanais, mas não recebiam nada por isso.

Apenas 15.7% tinham outra fonte de renda além da atividade estudada, entre elas: venda de panos de prato bordados, criação de coelho e ganso e transporte de animais.

TABELA 05- Relação de trabalho

Relação de trabalho Porcentagens Aposentado por doença 1.6% Ajudante (sem remuneração)* 3.1% Autônomo 4.7% Diarista 6.3% Assalariado não fixo 17.2% Assalariado Fixo 67.2%

*Criança de 11 anos e uma senhora de 63 anos

Entre aqueles que eram assalariados, a forma de recebimento era mensal em 86.7% dos casos. Dois trabalhadores recebiam por dia de trabalho (3.3%) e quatro deles eram pagos semanalmente (6.7%). Os salários variaram de 90 a 560 reais por mês, sendo que o salário mínimo da época era de R$ 180,00. Os Vaqueiros que faziam inseminação artificial tinham os maiores salários fixos e podiam aumentar ainda mais o salário de acordo com o número de vacas que fossem inseminadas com sucesso.

Em relação à renda per capita dos trabalhadores, constatou-se que 89,9% deles possuíam uma renda inferior a um salário mínimo e 63.1% inferior a meio salário mínimo (Figura 06).

9%

47%

33%

9%2%

Menos 1/41/4 a 1/21/2 a 11 a 22 a 5

FIGURA 06 - Renda per capita dos trabalhadores (em relação ao salário mínimo)

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Cargas laborais1

Nesta etapa da pesquisa procurou-se identificar as condições de trabalho que, segundo DEJOURS (1986) dizem respeito às condições físicas, químicas e biológicas do ambiente de trabalho – temperatura, vibrações, radiações, poeiras, ruídos, etc. - que repercutem sobre as condições de saúde do trabalhador. Buscamos investigar também alguns fatores da organização do trabalho relacionados à divisão técnica e social do trabalho, uma vez que estes fatores podem repercutir sobre a saúde mental do trabalhador.

As jornadas de trabalho eram em média de 9 horas diárias (D.P =1.9). Dois sujeitos trabalhavam quatro horas/dia (3.1%) e sete (11%) trabalhavam acima de 12 horas. Na maioria das propriedades não existia um sistema de revezamento de folgas o que sobrecarrega os trabalhadores.

Em relação ao número de folgas anuais foi encontrado um alto percentual de trabalhadores que não tinham nenhum dia livre para descanso durante todo o ano (42.9%). Os trabalhadores justificaram a ausência de folgas pelo tipo de atividade que realizavam nas propriedades. Conforme nos relataram, eles cuidavam sozinhos da criação e “os animais comem todos os dias”. Desta forma, mesmo nos feriados nacionais dedicam parte do dia para o cuidado da criação.

Esse resultado pode ser também agravado pelo alto percentual de indivíduos que não tinham direitos a férias (47.5%). Entre aqueles que tinham carteira assinada, 23% vendiam os 30 dias de férias e 4.9% vendiam uma parte das férias que os eram de direito. Portanto, somente 24.6 % da população da chapada saia de férias anualmente.

A despeito das altas cargas psíquicas de trabalho, a satisfação no trabalho foi considerada satisfatória pela maioria dos trabalhadores entrevistados. Conforme constatamos, apesar das longas jornadas de trabalho – que podem chegar a 12 horas diárias – falta de lazer, baixa freqüência de dias de folga, baixos salários, baixa condição de moradia, da falta de direitos trabalhistas e da grande exposição a fatores de risco, 41.3% dos trabalhadores atribuiu nota máxima de satisfação (escala de Linkert de satisfação no trabalho2) para a atividade que realizam. A média das notas atribuídas foi de 8.1 (D.P = 2.2) e somente 9.5% dos entrevistados atribuíram notas inferiores a 5 pontos.

Em relação ao uso de agrotóxicos e substâncias químicas, constatamos que os trabalhadores utilizam de maneira indiscriminada na região da Chapada. Semelhante ao observado em outras regiões do Brasil e em outros países (SILVA et al., 2001; PERES, 1998, FARIA et al., 2000) o uso de agrotóxicos é intensivo na região, estando presente em 100% das propriedades estudadas. Para PERES (1998) o nível de educação por parte dos usuários desses produtos, o difícil acesso às informações e à educação, bem como o baixo controle sobre sua produção, distribuição e utilização são alguns dos principais determinantes na constituição dessa situação como um dos principais desafios de saúde pública.

A utilização dos agrotóxicos no meio rural estudado não é somente um problema de saúde pública, pois tem contribuído tanto para o aumento das intoxicações ocupacionais, como para a degradação ambiental, devido à precariedade do armazenamento e das formas de utilização destes produtos pelos trabalhadores rurais da Chapada. Os trabalhadores

1 “Em termos conceituais, as cargas de trabalho são exigências ou demandas psicobiológicas do processo de trabalho, gerando ao longo do tempo particularidades do desgaste do trabalhador. Em termos operacionais, pode-se considerar que uma carga de trabalho é um atributo de um processo de trabalho determinado, cuja presença no ambiente de trabalho pode aumentar a probabilidade de que um grupo de trabalhadores ‘expostos’ experimente uma deterioração psicobiológica, comparada com aqueles que não tiveram expostos ou que tiveram uma exposição diferencial de tal atributo” (FACCHINI, 1994, p.180).

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2 A escala de Linkert - Presente no programa do modelo de risco ocupacional – OSU (COCKELL et al. 2002)

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relataram aplicar com freqüência carrapaticidas, formicidas (em grãos e em pó) e raticidas. Algumas propriedades faziam também uso de herbicidas e produtos para a limpeza do curral e das ordenhas mecânica. Os produtos de uso veterinário mais encontrados foram: Butox, Ciperthion, Furacin, Ectoplus, Neguvon, Clipatic, Bolfo, Cypermil, Berneque, Benilene, Triatox, Barrage, Sarcolin, Mirex, entre outros.

Entre os trabalhadores que manuseiam estes produtos durante a jornada de trabalho, 37.5% utilizavam freqüentemente (mais de dez vezes por mês) e 32.8% esporadicamente. Somente 29.9% dos trabalhadores não lidavam diretamente com estas substâncias.

Embora um número razoável de indivíduos (80.6%) tenha relatado utilizar algum tipo de Equipamento de Proteção Individual durante o manuseio destas substâncias, os EPI’s nem sempre eram adequados para o tipo de produto manuseado. Observamos que os EPI’s não se encontravam em bom estado de conservação ou suficientes para a proteção dos agentes químicos, como no caso de utilização exclusiva de botas (45.2%) de acordo com a Tabela 06. A precariedade das condições de conservação dos EPI’s e o uso inadequado têm também sido observado em outros estudos realizados com trabalhadores rurais em países em desenvolvimento (PINHEIRO et al.,1999;ALESSI & NAVARRO, 1997).

TABELA 06 – Uso dos equipamentos de proteção individual- EPI’s

EPIs Porcentagens Botas, luvas, máscara, protetor auricular e óculos 1.6% Botas, luvas, máscara e protetor auricular 1.6% Botas, e luvas 4.8% Botas, e máscara 4.8% Máscara 6.5% Botas e protetor auricular 9.4% Botas, luvas e máscara 11.3% Não utiliza nenhum EPI’s 19.4% Botas 45.2%

Segundo os relatos dos trabalhadores que possuíam os EPI’s apropriados para o tipo de produtos manuseados, eles não utilizavam freqüentemente os EPI’s. Para SILVA et al. (1994, p.315), é preciso entender os motivos reais que levam a um trabalhador a não utilizar os EPI’s antes de rotulá-lo de “inconsciente, desleixado, machão, peão ou de não tem jeito”. A recusa pelo uso dos EPI’s ocorria devido ao incômodo causado por tais equipamentos e pela falta de orientação específica sobre o modo de utilização.Outro fator agravante é o nível de escolaridade destes trabalhadores, o que os impedia a leitura adequada das instruções contidas nos rótulos dos produtos manejados nas propriedades rurais.

Observamos que além do contato direto com o produto devido a não utilização freqüente de EPI’s (Figura 07), havia também o armazenamento inadequado dos frascos vazios. Alguns trabalhadores afirmaram que armazenavam os frascos dentro do quarto de dormir, de armários da cozinha próximo a alimentos ou mesmo dentro da geladeira da casa.

O destino dos frascos vazios também era um fator agravante para a contaminação desta população e do meio ambiente. Nenhum trabalhador rural lavava as embalagens após o termino do produto e nem retornava os frascos vazios aos locais de venda dos produtos.

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FIGURA 07 – Trabalhador rural sem EPI pulverizando produtos de uso veterinário. A Tabela 07 descreve quais eram os destinos dados pelos trabalhadores às

embalagens vazias. Todas as formas de eliminação das embalagens possibilitavam a contaminação das nascentes, dos alimentos e da população da região.

TABELA 07 – Destino das embalagens vazias.

Destino das embalagens vazias Porcentagens Joga no rio 1.9 % Joga no mato 3.8% Reaproveita 5.8 % Enterra e queima 13.5% Joga no lixo 21.2% Enterra 34.6% Queima 40.4%

Além do uso de substâncias químicas, os trabalhadores foram questionados sobre acidentes anteriores com animais peçonhentos e quais foram às providências por eles tomadas em tal situação3. Um alto percentual de trabalhadores, cerca de 32% já tinha sido picados por escorpião, 6.3% por cobra e 4.7% por ambos (cobra e escorpião) e 3,1% por aranha.

O tratamento realizado foi em 34.4% a automedicação e tratamentos caseiros, tais como: bebedeira, passar a tripa do escorpião no local, bezendeira, colocar jiló no local, batata com álcool e lavar com água e sal. Somente 37.9% dos trabalhadores picados por animais peçonhentos procuraram o posto de saúde por conta própria e cerca de 27.0% dos trabalhadores picados não receberam nenhum tipo de tratamento. Esses resultados demonstram a necessidade de campanhas preventivas sobre cuidados gerais e sobre as ações que devem ser tomadas por esta população em caso de acidentes com animais peçonhentos.

Os acidentes com animais peçonhentos são considerados acidentes do trabalho4, pois são decorrentes da atividade profissional desempenhada pelo trabalhador. No meio

3 Segundo a NR 33 “em casos de acidentes com animais peçonhentos, após os procedimentos de primeiros socorros, o trabalhador acidentado deve ser encaminhado imediatamente à unidade de saúde mais próxima do local O empregador deve garantir remoção do acidentado em caso de urgência, sem ônus para o trabalhador” (BRASIL/MTE, 2002).

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4 “A Lei no 8.213, que rege desde 1991 o acidente do trabalho no Brasil, considera em seu artigo 19: acidente do trabalho é todo aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando

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rural estudado, este tipo de ocorrência não foi notificado em nenhum dos casos identificados ao Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS.

Outro tipo de acidente do trabalho comum entre a população estudada, relaciona-se ao manuseio de ferramentas de trabalho pérfuro-cortantes. Na Tabela 08 podemos observar que 57.8% da amostra estudada já havia sofrido algum tipo de acidente pérfuro-cortante durante o exercício da atividade. Entre os acidentes ocorridos com as ferramentas de trabalho, 7.9% aconteceram durante o manuseio do Machado. Segundo os trabalhadores, os acidentes já fazem parte da rotina de trabalho. Muitos afirmaram não terem nenhum tipo de cuidado com o local da ferida, segundo eles não utilizam nada para a assepsia do local e nem mesmo lavam a ferida após o acidente, pois o trabalho não poderia ser interrompido “apenas por causa de um cortezinho”.

TABELA 08 – Acidentes pérfuro-cortantes

Objetos pérfuro-cortantes Porcentagens Enxada 1.6% Machado e Enxada 1.6% Machado e Foice 1.6% Machado e Arame 1.6% Facão e Foice 1.6% Prego e outros 1.6% Prego, Machado, Facão e outros 1.6% Prego 3.1% Arame 3.1% Facão 3.1% Prego e facão 3.1% Foice 6.3% Machado 7.9% Outros * 20.3% Total 57.8%

* máquina escavadeira, desintegradora, faca, coice de animal, girico, estilete, máquina de fazer ração , etc.

Apesar do alto índice de acidentes com objetos pérfuro-cortantes apenas 23.4 % dos trabalhadores estavam com a vacina antitetânica em dia (data da última aplicação menor que 05 anos)5. Pôde-se observar, também, que quase 30% dos trabalhadores nunca haviam recebido a vacina antitetânica e 33.4% dos trabalhadores tinham sido vacinados há mais de 10 anos, neste caso a vacina não exercia mais a função protetora esperada. É importante mencionar que a vacina antitetânica é fornecida gratuitamente pelo posto de saúde da região.

O trabalho intensivo com ferramentas manuais era freqüente na região da chapada. O baixo poder aquisitivo dos trabalhadores da região assim como a restrição tecnológica local impossibilitava aos trabalhadores de adquirir ferramentas de trabalho mais adequadas a atividades realizadas e, mesmo no caso onde estes trabalhadores prestavam serviços para os proprietários rurais da região os equipamentos não eram adequados.

lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho” (TEIXEIRA & FREITAS, 2003, p.83).

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5 Segundo a NR 33 “deve ser possibilitado o acesso dos trabalhadores aos órgãos públicos de saúde com fins a: prevenção e a profilaxia de doenças endêmicas e para a aplicação de vacina antitetânica” (BRASIL/MTE, 2002).

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Ademais, a maioria das atividades exigia dos trabalhadores a adoção prolongada de posturas assimétricas. A flexão de tronco acima de sessenta graus estava presente em várias tarefas observadas, tais como: plantar, alimentar a criação (Figura 08), roçar, capinar (Figura 09), colher, entre outras. Alguns trabalhadores adotam a postura de cócoras para semear durante as tarefas de jardinagem.

FIGURA 08– Alimentar a criação FIGURA 09 – Capinar

De acordo com a literatura atual existem evidências epidemiológicas e biomecânicas que demonstram que movimentos assimétricos da coluna vertebral, combinados ao levantamento de cargas são fatores de risco para lombalgia (COCKELL, 2002). Dentro deste enfoque, procuramos questionar aos trabalhadores a freqüência e o tipo de carga manuseada.

Os resultados das observações realizadas indicaram que, em geral, 20% dos trabalhadores manuseavam algum tipo de carga pelo menos uma vez por dia, 23.4% de duas a cinco vezes/dia, 9.4% de 6 a 10 vezes/dia, 18.8% durante toda a jornada de trabalho e 10.9% levantava esporadicamente, ou seja, de 2 a 3 vezes por semana. Somente 17.2% dos trabalhadores não levantavam nenhum tipo de peso durante a jornada de trabalho. Os pesos mais levantados eram: saco de milho – 30 a 60kg –, lata de água (Figura 10), tora de madeira (Figura 11), balaio de capim, saco de ração –20 a 50 kg – (Figura 12), vasilha de leite – 20 a 50 kg – (Figura 13), saco de esterco, adubo, entre outros.

Figura 10- Manuseio da Lata de água Figura 11- Manuseio de toras de madeira

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Figura 12- Manuseio de sacos de ração Figura 13- Manuseio de latas de leite Os trabalhadores que utilizavam as máquinas de fabricar ração animal (Figura 14),

de cortar capim (Figura 15), moer cana-de açúcar, ‘roçadeira’ e trator estavam expostos a altos índices de ruídos e de vibração. O ruído intenso e contínuo pode levar a Perda Auditiva Induzida pelo Trabalho (PAIR), ou seja, diminuição gradual da acuidade auditiva decorrente da exposição continuada a níveis elevados de ruído. A falta de equipamentos de proteção auricular e o desconhecimento sobre os riscos causados durante a operação destes equipamentos, expõem estes trabalhadores constantemente a este tipo de carga física. A exposição ao ruído, além da perda auditiva repercute sobre a saúde mental do trabalhador, causando sofrimento psíquico e doenças mentais, na medida que provoca irritação, nervosismo, dificuldade de concentração e de raciocínio, maior incidência de erros e de acidentes (SANTOS E FIALHO, 1995).

Figura 14- Máquina de fabricar ração Figura 15- Máquina de cortar capim

Além do desconforto ocasionado pelo ruído, há também o risco de doenças do aparelho respiratório devido à exposição à poeira produzida pelas máquinas de cortar capim, misturar ração, triturar ração e moer cana-de-açúcar. Torna-se mister ressaltar que doenças do aparelho respiratório podem ser ocasionadas também pelos gases e líquidos tóxicos dos agrotóxicos, pela terra levantada pelo vento e pela fumaça liberada pelos tratores.

Quanto às condições climáticas de trabalho, constatou-se que todos os indivíduos pesquisados trabalhavam sem nenhum tipo de proteção sob condições climáticas de chuva, para não interromperem as atividades. Os trabalhadores eram expostos diariamente, também, aos raios solares. Em alguns casos observamos trabalhadores utilizando bonés e chapéus para protegê-los da radiação solar.

Ao longo da pesquisa, os trabalhadores relataram uma série de queixas físicas à medida que iam sendo questionados sobre as condições de trabalho. Entre os trabalhadores que externaram algum tipo de incômodo, 58,6% queixavam de dores nas costas e 17% dor

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de cabeça. Vale ressaltar que todos os trabalhadores que queixaram de dores nas costas, manuseavam cargas pesadas (acima de 20 kg.) durante a jornada de trabalho.

Entre os trabalhadores com queixas físicas, 60.9% afirmaram não ter nenhum tipo de impedimento para o trabalho, 12% precisavam diminuir algumas vezes o ritmo de trabalho devido ao desconforto físico percebido, 7.8% tinham que diminuir freqüentemente o ritmo de trabalho e 6.3% só conseguiam trabalhar em tempo parcial devido aos sintomas.

História médica pregressa A freqüência de trabalhadores que fumam foi de 32.8%. Destes 38.1% fumam

cigarro industrializado e 33,2% cigarro de palha. O número médio de cigarros por dia foi de 11.47 (D.P= 11.08). Em relação ao consumo de álcool, 46.9% afirmaram não consumir nenhum tipo de bebida alcoólica e 21,9% relataram beber apenas uma dose por semana (Tabela 04).

TABELA 04- Consumo de bebida alcoólica (%).

Consumo de álcool Porcentagens Abstêmios 48.5% 1 dose/dia 1.6% > 1 dose/dia e ≤ 3 doses/dia 3.1% > 3 doses/dia e ≤ 5 doses/dia 1.6% > 5 doses/ dia 3.1% 1 dose/ 1vez por semana 21.9% > 1 dose/semana a ≤ 3 doses/semana 9.4% > 3 dose/semana a ≤ 5 doses/semana 1.6% > 5 doses/ semana 9.4%

Quando questionados sobre a presença ou não de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), 57,8% dos trabalhadores afirmaram não ter hipertensão arterial. O quadro apresenta-se grave quando constatamos que 21,9% da população estudada relatou não saber se são hipertensos, pois nunca tiveram sua pressão arterial aferida.

Outra doença crônica investigada foi a Diabets Mellitus. Segundo os entrevistados, 34,4% nunca haviam feito nenhum exame para análise do teor de glicose sanguínea e 60.9% afirmaram não serem diabéticos, ainda que não lembrassem com exatidão a data do último exame realizado (Tabela 05).

TABELA 05–Presença de HAS e Diabetes Mellitus (%).

Prevalência % HAS %Diabetes Mellitus Não têm 60.9 % 60.9% Não sabem 21.9 % 34.4% Têm a doença, mais não tratam 9.4 % 3.1% Têm a doença, tratam com medicamento 7.8 % - Têm a doença, tratam com dieta - 1.6%

O percentual de indivíduos que não têm conhecimento sobre essas patologias crônicas demonstram a necessidade de campanhas junto à população de trabalhadores rurais para diagnosticar e controlar os possíveis portadores destas doenças. Como havia na região grupos de prevenção há mais de dois anos voltados para pessoas portadoras dessas

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doenças, era de se esperar que um percentual maior de indivíduos freqüentasse tais grupos. Entretanto, apenas um trabalhador portador de hipertensão arterial sistêmica freqüentava o grupo de reabilitação para hipertensos existente na região da chapada.

Apenas 17.2% dos entrevistados já tinham feito alguma cirurgia. Desses, 27% dos casos eram relacionadas ao trabalho por eles desempenhado. Porém, quando associamos as causas de internação (54.7% dos trabalhadores já ficaram internados por algum motivo) com a atividade por eles realizada, o percentual foi de 41,2 %. Os trabalhadores foram questionados também sobre o local que procuram quando adoecem. A proporção de entrevistados que afirmaram procurar o Posto de Saúde da chapada para serem consultados, em caso de doença, foi de 48.4%. O segundo local de preferência foi o Hospital público de Itabira com 31.3%, seguido pela farmácia em 7.8% dos entrevistados. As outras opções (10.9%) foram o hospital de Belo Horizonte e região, Médico da empresa6 e Médico particular. Apenas um trabalhador disse que não procura nenhum local, pois na fala dele “não gosto de ir ao médico”.

Quando perguntamos sobre a data da última consulta médica, 31.2% não freqüentavam um consultório médico há mais de 12 meses. Sendo que desses, 40% não eram avaliados por um médico entre dois a três anos e 20.5% mais de cinco anos. Um trabalhador afirmou que não era consultado por um Médico há mais de 12 anos e outro há cerca de 20 anos. Quanto ao local da última consulta, 50.8% procuraram preferencialmente o Posto de Saúde da chapada, seguido do Hospital de Itabira (20.6%), pelos consultórios particulares (11.1%) e pelo Médico da empresa (9.5%). Esses resultados assemelham-se com os encontrados sobre o local escolhido pelos trabalhadores para atendimento em caso de doença. Os motivos das consultas anteriores foram bastante variados (Tabela 06). Ressaltamos os altos percentuais encontrados para as doenças do Aparelho Respiratório (19%) e Músculo-esquelético (19%). Entre os trabalhadores que consultaram por problemas associados ao Aparelho Músculo-esquelético, 83.3% queixavam de dores na coluna tóraco-lombar. Esse resultado está de acordo com as cargas impostas pelas atividades feitas pelos trabalhadores rurais, tais como levantamento freqüente de peso, manutenção de posturas assimétricas e trabalho agachado.

TABELA 06- Motivo da última consulta.

Motivo da última consulta Porcentagens Aparelho Cardio- vascular 11.1 % Aparelho Gastro-intestinal 11.1 % Aparelho Músculo-esquelético 19 % Aparelho Reprodutor 9.5 % Aparelho Respiratório 19 % Outros* 19 % Rotina 9.5 % Sistema Nervoso 1.6 % *Intoxicação por agrotóxicos, alcoolismo e doenças de pele.

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6 Apenas uma das propriedades rurais visitadas, voltada para a pecuária leiteira, possuía um médico do trabalho. Neste caso, anualmente os trezes trabalhadores eram avaliados pelo médico da empresa.

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Apenas 17.4% dos trabalhadores faziam uso contínuo de medicamento. Desses, seis trabalhadores utilizavam medicamentos para doenças do sistema Cardio-vascular (9.5%) e dois para sistema Músculo-esquelético (3.2%).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente nos defrontamos com uma situação desafiadora à medida que não sabíamos qual seria o tempo necessário para a realização do trabalho. Não havia nenhum registro do número de fazendas nem do número total de trabalhadores da região. Algumas vezes deparamos com a dificuldade de entrevistar os trabalhadores, devido à recusa do dono da propriedade. Porém, tal situação não foi tão freqüente como inicialmente esperávamos. Além disso, quando o trabalhador não era encontrado ou não tinha condições clínicas (embriaguez) não pudemos retornar ao local em virtude da distância das fazendas.

Os resultados encontrados justificam a necessidade de desenvolvimento de trabalhos semelhantes na região de Itabira, bem como demonstram a importância da ampliação da prática preventiva para a população de trabalhadores rurais dentro dos programas de Internato Rural.

Historicamente, o envolvimento com a classe trabalhadora das regiões rurais atendidas pelo programa de Internato Rural da FCMMG limitam-se à ações curativas ambulatoriais ou a participação dos grupos de prevenção voltados para toda a comunidade local. Para COURY et al. (2004, p01), “o posicionamento frente à luta dos trabalhadores faz parte do leque de relações estabelecidas pelo Internato Rural, as quais são elementos essenciais na formação dos alunos inseridos na construção do SUS, objeto principal desta atividade”.

Sabemos que na prática, o PSF local apresentava uma série de limitações para o cadastramento da comunidade e para a atenção voltada para grupos específicos, como no caso da população de trabalhadores rurais. Além disso, a Secretaria de Inspeção do trabalho (SIT), responsável de acordo com a Norma Regulamentadora de número 33 (NR-33)7 por “definir, coordenar, orientar e implementar a política nacional em segurança e saúde no trabalho rural” (BRASIL/MTE, 2002), não vinha desenvolvendo métodos efetivos de controle dos riscos e de melhoria das condições de trabalho na região da chapada nem medidas de prevenção dos riscos. Desta forma, a integração maior das atividades dos alunos do Internato rural com o PSF local permitia um primeiro levantamento sobre as condições de trabalho e saúde dos trabalhadores rurais.

Diante do diagnóstico realizado foi possível evidenciar os constrangimentos vivenciados pela população estudada e apontar os fatores a serem considerados para permitir a transformação das situações de trabalho analisadas. Os resultados encontrados foram apresentados para os funcionários do PSF, para o secretário de saúde de Itabira, funcionários da Prefeitura Municipal envolvidos no Programa de Saúde da Família e para membros da comunidade da chapada. Na época a Secretaria Municipal de Saúde contava apenas com as equipes do PSF da região da Pedreira e da chapada – o que correspondia somente à cobertura de 14% da população – e dava início ao projeto de ampliação do

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7 A Norma regulamentadora de número 33 refere-se a Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca, promulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Sendo a NR 33, compete ao Ministério do Trabalho e Emprego, através da Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT, “estabelecer os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho”(BRASIL/MTE, 2002).

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PSF8. Sendo assim, os resultados e as proposições deste estudo poderiam ser ampliados para as demais unidades do PSF caso houvesse interesse dos dirigentes municipais, de forma a identificar os principais problemas de segurança e saúde da população de trabalhadores rurais do município de Itabira, bem como garantir a continuidade das ações para promoverem melhorias nos ambientes e nas condições de trabalho rural no município de Itabira.

Inicialmente, foi proposto iniciar na região campanhas de promoção da saúde, de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, cujo público alvo deveria ser dirigido tanto aos empregadores quanto aos trabalhadores da região, abordando os seguintes assuntos: importância do uso dos EPI’s, primeiros socorros (acidentes pérfuro-cortantes e animais peçonhentos), sobre os riscos dos agrotóxicos e os cuidados que devem ser tomados durante o manuseio de produtos químicos, sobre os riscos de manuseio de cargas acima de 20 Kg e sobre os riscos causados pelo alcoolismo e pelo tabagismo.Uma outra sugestão feita foi à criação de uma campanha de vacinação antitetânica em massa para os trabalhadores da região, que poderia ser realizada no posto de saúde da chapada e nas escolas da região, como já acontecia nas outras campanhas de vacinação promovidas pelo município.

Propusemos também a implantação do exame médico periódico para os trabalhadores rurais no posto de saúde da região. Os trabalhadores rurais deveriam ser incluídos no Programa da Saúde da Família e, anualmente, seriam convocados pelas agentes de saúde para serem avaliados pela médica do programa, ampliando, assim, a ação do PSF a esta população específica.

Outras ações a serem realizadas dizem respeito à melhoria das condições de saneamento básico da região. Para isso é preciso integrar as ações das secretárias de Saúde, Meio ambiente, Trabalho e Vigilância Sanitária, junto com ao Programa da Saúde da Família da região, para definir estratégias sobre o destino do esgoto na região, sobre o destino do lixo, dos frascos de agrotóxicos e sobre as condições da água consumida pelos trabalhadores rurais.

Outro ponto primordial para a continuidade do projeto diz respeito ao aumento das ações de fiscalizações na região, buscando regular a compra e venda de agrotóxicos, o uso de máquinas e equipamentos cujos riscos de operação são altos para os trabalhadores, bem como para cobrar dos empregadores a garantia dos direitos trabalhistas, do fornecimento de EPI’s e da garantia das condições adequadas de trabalho, higiene e conforto, definidas pela NR-33 (BRASIL/MTE, 2002).

É preciso também assegurar a divulgação de direitos, deveres e obrigações que os trabalhadores devam conhecer em matéria de segurança e saúde no trabalho. É importante salientar que integração entre a universidade, a Prefeitura Municipal, à comunidade local e o Programa de Saúde da Família serão fundamentais para a implantação das proposições deste estudo, pois sem a inclusão de um programa voltado para a saúde do trabalhador dentro da política de saúde e trabalho da Prefeitura Municipal, esta população continuará exposta a condições precárias de trabalho, moradia e saúde apontadas neste estudo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALESSI, N.P. & NAVARRO, V.L. Saúde e trabalho rural: o caso dos trabalhadores da

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8 Acreditando ser este a melhor estratégia de modelo assistencial para município, a prefeitura iniciou a implantação de mais 21 equipes de PSF para alcançar a cobertura total de 100% da população, o que já foi plenamente realizado segundo o site oficial da prefeitura de Itabira.

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