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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE DEBORAH DELPHINO CONCEITUAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA PARQUE EM BRASÍLIA, RIO DE JANEIRO, SALVADOR E SÃO PAULO. DE 1931 A 2013 SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

DEBORAH DELPHINO

CONCEITUAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA PARQUE EM BRASÍLIA, RIO DE JANEIRO, SALVADOR E SÃO PAULO.

DE 1931 A 2013

SÃO PAULO

2013

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DEBORAH DELPHINO

CONCEITUAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA PARQUE EM BRASÍLIA, RIO DE JANEIRO, SALVADOR E SÃO PAULO.

DE 1931 A 2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do titulo de mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Righi

Com apoio do Mackpesquisa.

SÃO PAULO

2013

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DEBORAH DELPHINO

CONCEITUAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA PARQUE EM BRASÍLIA, RIO DE JANEIRO, SALVADOR E SÃO PAULO.

DE 1931 A 2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do titulo de mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Roberto Righi

Universidade Prebisteriana Mackenzie

Profa. Dra. Gilda Collet Bruna

Universidade Prebisteriana Mackenzie

Prof.Dr. Alexandre Delijaicov

Universidade de São Paulo

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Dedico àqueles que querem desenvolver as condições para um ensino fundamental de melhor qualidade. E aos adultos que sofrem as consequências deste ensino precário brasileiro.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por estar presente em todo percurso desta caminhada.

A minha famlia, em especial a Regis, meu marido, por ter me apresentado a

data de inscrição e me incentivado a fazer o mestrado e depois as revisões

necessárias; aos meus filhotes, Marcos e Heloisa que compreenderam quando não

podia dar-lhes a atenção devida, e foram auxiliados pela avó Neuza Leme; aos

meus pais, Sergio ( in memorium) e Maria Eugênia pelo que sou e por insistirem na

minha formação academica, aos meus irmãos: Katia, Martha, Sergio que não

esqueceram de me fortalecer nas dificuldades e em especial minha irmã Jussara

que me auxiliou nas correções.

Ao Prof. Roberto Righi, eterna gratidão, por ser orientador persistente, com

diretrizes seguras, paciência constante e incentivo no desenvolvimento deste

trabalho.

A Profª Gilda Collet Bruna pela leitura atenciosa do trabalho e contribuições.

Ao Prof. Alexandre Delijaicov pelos comentários e sugestões apontadas no

decorrer do trabalho e a André Takiya pelas utéis informações.

Ao diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, Dr. Walter Caldana, a Coordenação da Pós-Graduação

Dra Angélica Alvim e a Dra Eunice Abascal que foram muito atenciosos as minhas

dificuldades; agradeço aos Professores da Pós-Graduação por transmitirem seus

conhecimentos.

Aos diretores, vice-diretores, coordenadores e professores das Escolas

Parques visitadas em Salvador, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, em especial:

J.F.Barros, Ariane, Cleber, Ivonilde, Elton, Everaldo, Andrea, Marcia, Esmeralda,

Nejela, Gisela e Dirceu por terem concordado em me receber para desenvolvimento

desta pesquisa.

Agradecimento especial ao Toninho do Bookstore que me indicou algumas

leituras de grande valia para o mestrado.

Ao apoio do Mackpesquisa que tornou possível a realização das viagens

investigativas.

A todos que colaboraram com meu trabalho de pesquisa, aos colegas de

turma Andre e Aline que me emprestarm algum conhecimento,meu muito obrigada.

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Não me consolo de constatar todo dia que o Brasil não deu certo. Ainda não deu certo. Não por culpa da terra, que é boa, nem do povo, que é ótimo. Mas por culpa das nossas classes dirigentes, tão tenazmente tacanhas que só sabem gastar gente a fim de lucrar e enricar. (...) Ponha o ombro no andar, companheiro, faça força você também. Se não cuidarmos deste país que é nosso, os gerentes das multi e seus servidores e sagazes civis continuarão forçando o Brasil a existir para eles. Darcy Ribeiro

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RESUMO

Este trabalho investiga sete modelos de escolas públicas brasileiras construídas

com a orientação filosófica de Anísio Teixeira (1900-1971), caracterizada por uma

escola de período integral onde a criança pudesse experimentar, raciocinar, pensar,

formar hábitos e valores democráticos As escolas estudadas e visitadas possuem

proposta arquitetônica que reflete um programa funcional diferenciado, com espaços

como: auditório, ateliê, estúdio, biblioteca e áreas de convivência A primeira escola

brasileira idealizada com este novo conceito foi a Escola Platoon, em 1931, situada

na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, projetada pelo arquiteto Enéas

Silva. Em 1949, em Salvador, os arquitetos Diógenes Rebouças, Hélio Duarte e

Paulo Antunes Ribeiro projetaram o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, composto

por uma Escola-Parque e quatro Escolas-Classes. Em 1957, o arquiteto José Reis

construía na nova capital federal, Brasília, o Centro Educacional Elementar.

Saliente-se que Anísio Teixeira orientou diretamente o programa arquitetônico

destas três escolas. Outras escolas se implantaram partindo de seu legado; em

1949 foi formalizada uma parceria entre o Governo do Estado de São Paulo e a

Prefeitura da Capital, da qual resultou a construção de 52 Escolas Parques sob o

comando do arquiteto Hélio Duarte. A partir de 1983, foram construídos no Estado

do Rio de Janeiro, 502 Centros Integrados de Educação Pública. Em 1991, em

Brasília, foi criado o Centro de Atenção Integral a Criança. Finalmente, no ano de

2001, foi proposto o Centro de Educação Unificado, em São Paulo. Observou-se

que, com o passar dos anos, apesar de terem sido mantidas as construções

originais das Escolas Parques, foram alteradas algumas formas de ocupação e

utilização dos espaços arquitetônicos, a fim de elevar a capacidade de atendimento

do número de alunos, o que descaracterizou parcialmente o projeto original de

Anísio Teixeira.

Palavra Chave: Escola Parque, Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Centro Educacional Elementar, Centro Integral de Educação Pública, Centro de Atenção Integral a Criança, Centro Educacional Unificado e Anísio Teixeira.

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ABSTRACT:

This paper investigates seven models of Brazilian public schools built with the

philosophical orientation of Anísio Teixeira (1900-1971), characterized by a full-time

school where the child could experience, reasoning, thinking, habits and form

democratic values and visited schools studied have architectural proposal that

reflects a differential functional program, with spaces such as the auditorium, studio,

studio, library and living areas. The first Brazilian school designed with this new

concept was the Platoon school in 1931, located in the city of Rio de Janeiro, then

the Federal District, designed by architect Enéas Silva. In 1949, in Salvador,

architects Diogenes Rebouças, Hélio Duarte Paulo Antunes Ribeiro designed the

Centro Educacional Carneiro Ribeiro, composed of a School Park and four Class

Schools. In 1957, the architect José Reis built in the new capital, Brasília, the Centro

Educacional Elementar. It should be noted that Teixeira directly guided architectural

program of these three schools. Other schools have implemented starting with his

legacy, in 1949 was formalized a partnership between the State Government and the

Municipality of São Paulo Capital, which resulted in the construction of 52 schools

under the command of architect Hélio Duarte. From 1983, were built in the State of

Rio de Janeiro, 502 Centros Integrados de Educação Pública. In 1991, in Brasília,

was created the Centro de Atenção Integral a Criança. Finally, in 2001, was

proposed Centro de Educação Unificado, in São Paulo. It was observed that, over

the years, despite being held the original buildings of Schools Parks, have changed

some forms of occupation and use of architectural spaces in order to increase the

service capacity of the number of students, which partially misread the original

design of Anísio Teixeira.

Keyword: Park School, Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Centro Educacional Elementar, Centro Integral de Educação Pública, Centro de Atenção Integral a Criança, Centro Educacional Unificado e Anísio Teixeira.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES:

Fig. 01- Escola Modelo da Luz em São Paulo, 1930.............................................................24 Fig. 02- Escola Estadual Prudente de Moraes em São Paulo, 1950.....................................25 Fig. 03- Brady School em Detroit ..........................................................................................40 Fig. 04- Escola Municipal Estados Unidos no Rio de Janeiro................................................41 Fig. 05- Escola Municipal República Argentina no Rio de Janeiro.........................................53 Fig. 06- Mapa de localização do Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador..........58 Fig. 07- Fotos interna da Escola Parque- corredores-............................................................59 Fig. 08- Implantação da Escola-Parque no Bairro da Liberdade em Salvador.....................60 Fig. 09- Pátio Central da Escola Parque................................................................................60 Fig. 10-Vista área da Escola-Parque em 1953.......................................................................61 Fig. 11-Pavilhhão do Trabalho em 1973 e em 2012..............................................................63 Fig. 12-Fachada Pavilhão do Trabalho..................................................................................65 Fig. 13-Pavilhão Esportivo e Recreativo.- Pav. Térreo..........................................................66 Fig. 14-Fotos internas Pavilhão Esportivo e Recreativo -Pav. Inferior..................................66 Fig. 15-Pavilhão Socializante................................................................................................67 Fig. 16-Pavilhão Administrativo.............................................................................................67 Fig. 17-Pavilhão da Cantina..................................................................................................68 Fig. 18-Teatro.......................................................................................................................69 Fig. 19-Arena........................................................................................................................69 Fig. 20-Biblioteca..................................................................................................................70 Fig. 21-Escola-Classe IV......................................................................................................73 Fig. 22-Escola-Classe III.......................................................................................................73 Fig. 23-Escola ClasseII.........................................................................................................74 Fig. 24-Escola-Classe I ........................................................................................................75 Fig. 25-Implantação da Escola Estadual Doutor Octavio Mendes.......................................82 Fig. 26-Área piscina da E Doutor Octavio Mendes em 1950 e 2012...................................82 Fig. 27-Biblioteca da E Doutor Octavio Mendes em 1950 e 2012........................................83 Fig. 28-Escola-Parque SQ307/308 Sul em Brasília em 1959...............................................87 Fig. 29-Escola-Parque Salas ateliês vista externa e interna ................................................87 Fig. 30-Auditório Escola-Parque 307/308 Sul.......................................................................88 Fig. 31-Pavilhão das Oficinas e Quadra...............................................................................88 Fig. 32- Área externa com vista da piscina 307/308.............................................................89 Fig. 33- Entrada Escola-Classe da SQS 308 .....................................................................89 Fig. 34- Escola-Classe da SQ 308 Sul................................................................................90 Fig. 35-Vista da entrada Escola-Parque da SQ 303/304 Norte...........................................90 Fig. 36-Comparativo das Escolas Parques...........................................................................91 Fig. 37-Vista interna da Escola-Parque da SQN 303/304 ....................................................91 Fig. 38-Vista da Escola-Parque da SQ 303/304 Vista da Piscina........................................92 Fig. 39-Vista do jardim de Infância SQ304 Norte e Escola Classes SQ304 Norte.............92 2 Fig. 40-Implantação e Vistas do CIEP Tancredo Neves........................................................98 Fig. 41-Croquis de Oscar Niemeyer para o Sambódromo com a escola.............................101 Fig. 42-CIEP Avenida dos Desfiles.......................................................................................102 Fig. 43-Implantação CAIC Planaltina -Assis Chateaubriand................................................107 Fig. 44- CAIC Planaltina -Assis Chateaubriand, refeitório e play ground............................107 Fig. 45- CAIC Planaltina -Assis Chateaubriand sala de aula e pátio coberto......................108 Fig. 46-Implantação do CAIC na cidade de Pirassununga...................................................108 Fig. 47-Implantação de CAIC diversos.................................................................................109 Fig. 48-Croqui de Alexandre Delijaicov para o CEU Butantã em 2001................................115 Fig. 49- Vista total do Conjunto Edificado do CEU Butantã construído................................116 Fig. 50-Fotos do Bloco Didático, Cultural e Esportivo..........................................................117

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Fig. 51-CEU Agua Azul - Vista geral da Escola...................................................................118 Fig. 52- Implantações que comparam o CEUs....................................................................119 Fig. 53- CEU Celso Augusto Daniel São Bernardo do Campo............................................121 Fig. 54- CEU Celso Augusto Daniel São Bernardo do Campo............................................121 Fig. 55- Painel Mario Cravo com o titulo: ‘O homem e a maquina’.....................................144 Fig. 56-Painel de Carybé ‘ A energia’.................................................................................145 Fig. 57-Painel de Maria Célia de Mendonça em ‘ A transformação da matéria’................146 Fig. 58-Afresco de Carlos Mangano a 'Evolução Humana'.................................................146 Fig. 59-Afresco de Jenner Augusto a 'Evolução Humana'...................................................147 Fig.60- Painéis na entrada dos alunos das Escolas Classes I e II......................................148

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LISTA DE QUADROS E ORGANOGRAMA

Quadro 01 As fases evolutivas do sistema educacional americano:......................................39 Quadro 02 Quadro Resumo das Escolas Parques Pesquisadas:...........................................45 Quadro 03 Localização dos Cieps – Total Construídos: 502.................................................96 Quadro 04 1ª Fase de implantação dos Centros Educacionais Unificados (2001-2003)......111 Quadro 05 2ª fase de implantação dos Centros Educacionais Unificados após 2004..........112 Quadro 06 Quadro comparativo cronológico da Construção das escolas de Salvador e São Paulo no final da década de 1940...................................................................... 130 Quadro 07 As Escolas propostas por Anísio Teixeira..........................................................132 Quadro 07 Legado das escolas que Anísio Teixeira influenciou filosoficamente................133 Quadro 09 Cronologia dos Fatos Marcantes na época de implantação das Escolas Parques................................................................................................................138

Organograma 01 As ligações dos arquitetos que projetaram as Escolas Parques.......126

Organograma 02 Fatos importantes para formação das Escolas Parques...................141

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................16

2 DA ESCOLA-CLASSE A ESCOLA PARQUE............................20 2.1 COMO ERA A ESCOLA CLASSE................................................................21 2.1.1 As primeiras Escolas Classes antes da República.................................21 2.1.2 A Escola-Classe com a Proclamação da República................................22 2.1.3 A proposta inovadora da Escola Parque..................................................28 2.2 SOBRE ANÍSIO TEIXEIRA...........................................................................30 2.2.1 A Trajetória..................................................................................................30 2.2.2 A Filosofia da Escola Nova........................................................................31 2.3 A FORMAÇÃO DAS ESCOLAS PARQUES AMERICANAS........................35 2.4 PROGRAMA DA ESCOLA-PARQUE DE DETROIT....................................38 2.5 A MUDANÇA DE RUMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.............................41 2.5.1 O Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932: ...............................41 2.5.2 Os sete casos estudados...........................................................................44

3 OS PROGRAMAS E OS PROJETOS DAS ESCOLAS PARQUES.....................................................................................46 3.1 A PRIMEIRA ESCOLA PARQUE NO RIO DE JANEIRO (1931-1935)........47 3.1.1 A primeira escola idealizada por Anísio Teixeira ....................................47 3.1.2 A Escola Municipal República Argentina tipo Platoon............................51 3.2 CENTRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO ( CECR) EM SALVADOR (1949-1963)...................................................................................................54 3.2.1 A formação da Escola Parque e Escola Classe em Salvador.................54 3.2.2 A Escola Parque no Bairro da Liberdade..................................................58 3.2.3 As Escolas Classes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro................71 3.3 ESCOLA NOVA EM SÃO PAULO – 2º CONVÊNIO ESCOLAR (1949- 1952)...............................................................................................................76 3.3.1 A iniciativa de São Paulo para construção de escolas públicas no final da década de 1940.........................................................................................76 3.3.2 A Escola de Hélio Duarte e sua equipe......................................................78 3.3.3 A Escola Estadual Doutor Octavio Mendes...............................................80 3.4 CENTRO DE EDUCAÇÃO ELEMENTAR EM BRASÍLIA (1957-1963)..........83 3.4.1 A Escola idealizada por Anísio Teixeira para a Capital Federal, Brasília............................................................................................................83 3.4.2 A Escola Parque e Escola Classe na Super Quadra 307 e 308 ASA Sul..86 3.4.3 A Escola Parque pré-moldada na Super Quadra 303 e 304 ASA Norte....90

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3.5 CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PÚBLICA (CIEP) NO RIO DE JANEIRO ( 1983-1987 e 1991-1994).............................................................93 3.5.1 A revitalização da Escola Parque na década de 1980..............................93 3.5.2 O primeiro Centro Integral de Educação Pública.....................................97 3.5.3 O CIEP de Brizola para a Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro, (Sambódromo).............................................................................................100 3.6 CENTRO INTEGRAL DE APOIO A CRIANÇA (CIAC) EM BRASÍLIA CRIADO EM 1990.......................................................................................................103 3.6.1 Como o CIAC se transforma em CAIC......................................................103 3.6.2 O Centro de Atenção Integral a Criança localizado em Planaltina.........106 3.6.3 Implantações atuais dos Centros de Atenção Integral a Criança..........108 3.7 CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO (CEU) EM SÃO PAULO PROPOSTO EM 2001.......................................................................................................109 3.7.1 A releitura da Escola Parque em São Paulo............................................109 3.7.2 O CEU Butantã............................................................................................115 3.7.3 Os Centros Educacionais Unificados após 2004....................................117 3.7.4 Construção do CEU em São Bernardo do Campo em 2012...................119

4 AS LIGAÇÕES PROJETUAIS E CAUSAIS DOS ARQUITETOS DAS ESCOLAS PARQUES...............................123

4.1 LIGAÇÕES ATEMPORAIS...........................................................................124 4.2 SOBRE OS ARQUITETOS DA ESCOLA PARQUE DE SALVADOR COM DESTAQUE PARA O ARQUITETO HÉLIO DUARTE.................................126 4.2.1 Diógenes Rebouças...................................................................................126 4.2.2 Paulo Antunes Ribeiro...............................................................................127 4.2.3 Hélio Duarte o arquiteto que projetou a Escola Parque em São Paulo e Salvador...................................................................................................... 128

5 OS SETE MODELOS DE ESCOLAS PARQUES ......................132 5.1 TESTEMUNHO DAS ESCOLAS QUE ANÍSIO TEIXEIRA DIRETAMENTE DIRIGIU.........................................................................................................133 5.2 LEGADO DAS ESCOLAS QUE ANÍSIO TEIXEIRA INFLUENCIOU FILOSOFICAMENTE....................................................................................133 5.3 ANALISE DOS PROJETOS ESTUDADOS...................................................134

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................135

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................149

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APÊNDICE A - O QUE SE PASSAVA NO MUNDO E NO BRASIL NO PERÍODO DE CONSTRUÇÃO DAS ESCOLAS PARQUE....................................................................138

APÊNDICE B- A IMPORTÂNCIA DOS MURAIS NO CENTRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO EM SALVADOR...............................................................142

ANEXO A - DECLARAÇÃO DAS ESCOLAS VISITADAS................................................................154

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1 INTRODUÇÃO

A qualidade da educação revela o padrão de desenvolvimento de um país.

Pelo levantamento do Censo Escolar da Educação Básica 2010, feito pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP

existe no Brasil 194.939 estabelecimentos de educação básica por todo o país,

estão matriculados 51.549.889 alunos, sendo que 43.989.507 (85,4%) estão em

escolas públicas e 7.560.382 (14,6%) em escolas da rede privada. Deste total,

31.005.341 estão matriculadas no Ensino Fundamental (crianças de 7 a 14 anos) em

diversas dependências administrativas, sendo a participação das redes municipais

corresponde a 54,6% das matrículas, cabendo às redes estaduais 32,6%, enquanto

as escolas privadas atendem 12,7%, restando à rede federal 0,1% do atendimento

nessa etapa de ensino1. Este contingente de crianças demonstra a importância em

oferecer ensino público de qualidade para formação de uma nação voltada para o

desenvolvimento humano e tecnológico.

A busca por um ensino público de qualidade não é recente. Os estudos

demostram que já na década de 19302, intelectuais e estudiosos acreditavam que só

com uma educação preparada para o futuro se conseguiria atingir o patamar

almejado de desenvolvimento humano, cientifico e tecnológico. Passados 80 anos

ainda não resolvemos os problemas educacionais que comprometem a evolução do

ensino no país, não só pedagogicamente, mas em relação aos espaços planejados

e construídos.

No final da década de 1920, o educador Anísio Teixeira (1900-1971),

conheceu interessante sistema pedagógico americano denominado "Platoon"

implantado em 1890, na Brady School, situada na cidade de Detroit - USA. Este

sistema se caracterizava pela formação de grupos (pelotões) de alunos para

1 Fonte: Ministério da Educação (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP)- Censo Escolar 2010-Visão geral dos principais resultados - Brasília 20 de dezembro de 2010.

2 Em 1932 Intelectuais brasileiros preocupados com a educação publica fizeram um Manifesto dos Pioneiros da

Educação, que vai ser abordado no item 1.5.1, pg. 37 deste trabalho.

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frequentar diversos tipos de disciplinas em horários alternados, ministradas em

diferenciados espaços arquitetônicos, uma escola de período integral1.

Trazia o conceito de Escola-Parque, onde as crianças poderiam passar o dia

na escola, num ambiente agradável, com áreas verdes, salas com janelas voltadas

para o exterior, onde as crianças tivessem uma educação completa, com aulas de

matérias fundamentais (português, matemática, história, ciências), mas também

completassem o ensino com matérias especiais como esportes, artes e cultura.

Fascinado pelo resultado desta escola, Anísio Teixeira tentou implantar o

mesmo sistema no Brasil. Realizou três tentativas diretas (1931, no Rio de Janeiro,

1949 em Salvador e 1957 em Brasília), e indiretamente, aqui em São Paulo, na

década de 1950, quando o arquiteto Hélio Duarte que havia trabalhado com Anísio

Teixeira na Escola de Salvador, captou sua ideologia de escola de período integral,

e projetou 52 escolas-parques.

Depois, tentativas esparsas e pontuais como o conceito de Escola-Parque

são retomadas, por Darcy Ribeiro, no governo de Leonel Brizola, na década de

1980, que trabalhou com Anísio Teixeira na Universidade de Brasília, e utilizou os

conhecimentos adquiridos pela convivência com o mestre, para implantação no Rio

de Janeiro, do Centro Integral de Educação Pública (CIEP); na década de 1990,

houve outra tentava quando o presidente Fernando Collor de Mello tentou implantar

por todo o Brasil, escolas de ensino integral denominado Centro Integral de Apoio a

Criança (CIAC), posteriormente denominado de Centro de Atenção Integral a

Criança (CAIC). Por fim, como forma de suprir o déficit de escolas nas periferias da

cidade de São Paulo, a Prefeita Martha Suplicy, criou o Centro de Educação

Unificado (CEU) em 2001.

Para se conhecer estas experiências escolares algumas indagações são

pertinentes: Como estas escolas se formaram? Como foram projetadas? Que

quantidades de alunos atingiram? Como se encontram atualmente? Questões que

foram respondidas através de: consultas em livros, artigos da época e

principalmente visitas às escolas (um modelo em cada caso estudado); outras fontes

como: levantamentos fotográficos e depoimentos de funcionários das escolas.

1 TEIXEIRA, Anísio. Aspectos americanos de educação. [Salvador]: Diretoria Geral de Instrução, de São

Francisco: 1928 (Relatório de viagem na América do Norte). http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/aspameri educacao/indice.htm acesso em 11-12-2011.

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Este trabalho resgata a história da implantação da Escola Parque, que é a

principal experiência de renovação do sistema educacional público, tendo sido

escolhido sete casos por estarem nas capitais mais populosas do Brasil1.

Conforme citado, a partir da década de 1930, Anísio Teixeira idealizou e

construiu para os poderes políticos, três tipos de escolas referências nas seguintes

cidades:

1º caso: Escola Platoon, no Rio de Janeiro (1931).

2º caso: Escola Parque e Escola Classe (Centro Educacional Carneiro

Ribeiro) em Salvador (1949).

3º caso: Centro Educacional Elementar em Brasília (1957).

Dada a sua importância, o mestre influenciou arquitetos e governos, que

realizaram outras quatro obras que são objeto deste estudo, nas capitais dos

estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

4º caso: Escola Nova, coordenado pelo o arquiteto Hélio Duarte em São

Paulo, da década de 1950.

5º caso: Centro Integrado de Educação Pública (CIEP), coordenado por Darcy

Ribeiro da década de 1980, e projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

6º caso: Centro Integral de Apoio a Criança (CIAC), idealizado por Fernando

Collor da década de 90, em Brasília, com o arquiteto João Figueira Lima.

7° caso: Centro Educacional Unificado (CEU), idealizado pela prefeita Marta

Suplicy, da década de 2000 em São Paulo, com projeto do departamento de

arquitetos do Município (EDIF).

Este estudo mostra que no Brasil, lamentavelmente, as aplicações da

conceituação pedagógica e espacial são pontuais e sem continuidade, o que ocorre

de forma crônica em quase todos os setores da sociedade. Apesar disto, os projetos

em analise foram de extrema importância para o país, pois trouxeram bagagem

ideológica e aceleraram o progresso do serviço educacional. Contudo, por razões

políticas, foram esquecidos ou ainda modificados sem explicação adequada.

No Brasil sempre houve pensadores e intelectuais preocupados com o futuro

da nação, que consideram a educação como grande impulsor da verdadeira

democracia e ferramenta para elevar o grau de desenvolvimento humano, político e

1 População Municipal pelo censo de 2010 (fonte IBGE): São Paulo (SP) - 11 300.000 habitantes; Rio de

Janeiro(RJ) -6.400.000 habitantes; Salvador(BA) - 2.700.000 habitantes; Brasília(DF)- 2.600.000 habitantes

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econômico. No início do século XX esta preocupação estava intimamente

relacionada ao ideal republicano.

Uma mostra desta preocupação está relatada na carta escrita 1 em 1927 por

Monteiro Lobato (1882-1948), enviada à Fernando Azevedo (1894-1974),que era na

época líder do movimento da renovação educacional no Brasil e dirigia o ensino no

Distrito Federal (RJ). Esta carta apresentava Anísio Teixeira a Fernando de Azevedo

como mensageiro das ideias conceituais da Escola Nova Americana. Monteiro

Lobato era Adido Comercial do Brasil nos EUA e lá se encontrou com Anísio, que

era estudante do departamento de educação da Universidade de Colúmbia, USA, e

se tornaram amigos.

Escolha correta, pois Anísio Teixeira tentou mudar os rumos da educação,

superando muitos obstáculos e incompreensões. Seus ensinamentos continuam a

influenciar as gerações subsequentes. Conhecendo o passado pode-se construir o

presente e ajudar a tornar o futuro melhor.

Ele nos deixa uma lição, num discurso visionário de 1930 que diz:

O estudo do passado é um grande recurso para a imaginação, acrescenta uma nova dimensão á vida, mas com a condição de que seja compreendido como o passado do presente e não como outro mundo formoso e isolado. Em vez de fugir das cruezas do presente para os refinamentos do passado, o estudante deve utilizar o passado para amadurecer e refinar o presente (TEIXEIRA, 1930, p. 28).

1 Carta de Monteiro Lobato a Fernando Azevedo: “Fernando”. Ao receber esta, para! Bota pra fora qualquer

senador que esteja aporrinhando. Solta o pessoal da sala e atende o apresentado, pois ele é o nosso grande Anísio Teixeira, a inteligência mais brilhante e o maior coração que já encontrei nestes últimos anos de minha vida. O Anísio viu, sentiu e compreendeu a América e ali te dirá o que realmente significa esse phenômeno novo no mundo. Ouve-o, adora-o como todos os que conhecemos o adoramos e torna-te amigo dele como me tornei como nos tornamos eu e você. Bem sabes que há certa irmandade no mundo e que é desses irmãos, quando se encontram, reconhecerem-se. Adeus. Estou escrevendo a galope, a bordo do Navio que vai levando uma grande coisa para o Brasil: Anísio lapidado pela América. LOBATO

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2 DA ESCOLA-CLASSE A ESCOLA PARQUE

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2.1 COMO ERA A ESCOLA CLASSE

2.1.1 As primeiras Escolas Classes antes da República.

Pelos levantamentos do arquivo do Estado de São Paulo, em 1857 foram

feitas Normas para a Instrução Provincial que dividia a educação em primária, média

e secundária, podendo ser pública, particular e doméstica, onde a educação pública

era dada nas escolas, internatos, institutos sustentados ou meramente subsidiados

pela Província. A instrução particular era definida como aquela fornecida em

qualquer estabelecimento que não fosse criado, regulado ou sustentado pelo

Governo Imperial ou pela Província. E a instrução doméstica era aquela ensinada

pelos pais ou avós a seus filhos ou netos, ou por estranhos a alunos individualmente

dentro das casas, no seio das respectivas famílias destes. Era terminantemente

proibido o ensino ‘promíscuo de ambos os sexos’. Havia escolas para meninos e

outras para as meninas (http://www.arquivoestado.sp.gov.br/educacao/publicacoes

.php- acesso em 21- 08 - 2012).

O ensino era obrigatório para todos os menores de 7 a 15 anos, que residiam

dentro do raio de um quarto de légua da povoação onde houvesse escola pública ou

particular subsidiada. (Artigo 51 do Cap.II. 1857).

Quanto aos locais de ensino, o Governo fornecia uma casa "em um dos locais

mais silenciosos, e centrais da Cidade, Vila ou Freguesia, suficientemente espaçosa

e salubre" (artigo 148. Cap. IX. 1857). Onde não houvesse edifício público ou

convento, o Governo alugava uma casa particular, até que o Subinspector

promovesse a construção de um edifício próprio com o auxílio do ‘Cofre Provincial’.

O Governo também fornecia os móveis necessários para cada escola, segundo o

número de alunos; e os professores seriam responsáveis por eles. No artigo 152 do

capítulo IX fala que: "a casa, móveis e utensílios das escolas não podem ser

aplicados a usos diferentes do ensino, sendo que o Diretor Geral pode permitir ao

professor a residência na casa da escola, devendo para esse fim ser preferido o que

fosse casado" (artigo,152 do Capitulo IX, 1857).

As escolas ofereciam disciplinas do ensino primário: a leitura, a escrita, as

noções elementares de gramática nacional, as primeiras operações práticas da

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aritmética, o sistema de pesos e medidas da Província, e ainda, instrução moral e

religiosa; e para as meninas, além destas matérias era ensinado bordado e trabalho

com agulha. Este panorama revela o grau e limite de conhecimento que o Governo,

na época do Império, tentava impor a população da Província.

As estatísticas referentes à instrução primária evidenciam a distância que

diferenciava a elite e o povo, os poucos letrados e eruditos e o enorme contingente

de analfabetos existentes na Província. Em 1867 estavam matriculados no ensino

primário cerca de 107.500 alunos em todas as províncias, para uma população livre

de 8.830.000, sendo que 1.200.000 indivíduos estavam em idade escolar. Todavia,

somente 120.000 recebiam instrução primária, ou seja, a décima parte da

população, o que corresponde a indivíduo a cada 80 habitantes (AZEVEDO, 1958, p.

82).

Em 1889, para uma população de quase 14.000.000, foram oferecidas

aproximadamente 250.000 vagas nas escolas primárias. O número de inscritos não

chegava a 300.000, que significa que apenas a sétima parte da população em idade

escolar estava matriculada nas escolas dos diversos tipos e graus existentes no país

(AZEVEDO, 1958, p. 111).

2.1.2 A Escola-Classe com a Proclamação da República

A instrução pública foi implantada no Brasil como parte do projeto das elites letradas que pretendiam criar uma nova sociedade. A população, alfabetizada e instruída, abandonaria as tradições arcaicas e adotaria princípios e comportamentos científico-racionais. Dessa maneira, supostamente, o Brasil se transformaria numa nação próspera e civilizada, tanto material quanto espiritualmente. (SILVA 2006, p.41)

Após a Proclamação da República (1889), em São Paulo1, os grupos

escolares começaram a organizar-se exigindo uma nova forma do espaço escolar.

No final do século XIX, educadores, políticos republicanos e elites intelectuais

mostraram a necessidade de espaços especialmente construídos para comportar

1 Trata-se do Estado de São Paulo, pois cada Estado brasileiro após a proclamação da República adequou seu

sistema educacional segundo as condições pertinentes a realidade do local.

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estabelecimentos de ensino, como os vistos na Europa. "Eram necessários prédios

grandes, arejados e bonitos componentes da paisagem urbana, servindo para

testemunhar a importância dada pelos setores governamentais à educação"

(BUFFA, 2002, p.32). De acordo com este critério, o planejamento dos grupos

escolares compreendia múltiplas salas, diversas classes de alunos e um professor

para cada uma delas (BUFFA, 2002).

O primeiro edifício projetado no intuito de abrigar uma escola primária foi a

Escola Modelo da Luz, na Av. Tiradentes- São Paulo-SP, em 1893, época em que o

Departamento de Obras Públicas (DOP) estava encarregado da construção dos

prédios escolares no Estado de São Paulo.

Consultando os arquivos da Fundação para Desenvolvimento Escolar (FDE),

sabe-se que em 28 de setembro de 1893, foi lançada, por Cesário Motta, a pedra

fundamental do prédio onde funcionou esse grupo escolar da Escola Modelo da Luz.

Junto com outros edifícios importantes que se erguiam no bairro da Luz, o governo

de São Paulo escolheu a Av. Tiradentes, 273 para ali instalar o primeiro edifício

projetado para essa escola primária na capital do Estado de São Paulo. Com projeto

de Ramos de Azevedo, o prédio foi construído ao lado do jardim público da cidade.

A construção teve início em 1893, mas só em 1 º de fevereiro de 1895 foi publicado

pelo Conselho Superior de Instrução Pública o decreto n º 280, criando a Escola

Modelo da Luz, denominada mais tarde Grupo Escolar Prudente de Moraes (MELLO

M,1991).

Do projeto original, existem alguns desenhos recopiados ou reproduzidos

através de levantamento no local, efetuado entre 1930 e 1933 pela Diretoria de

Obras Públicas, que relatam que no porão funcionavam três salas de aula, além de

oficinas de marceneiro e torneiro, de modelagem em gesso e arrecadação do

batalhão escolar. Isto demonstra a preocupação de oferecer ensino

profissionalizante para uma época de crescimento industrial.

A inauguração oficial foi em 17 de agosto de 1895, quando Bernardino de

Campos era Governador do Estado, e Alfredo Pujol o Secretário do Interior. Pelo

decreto n º 427, de 6 de fevereiro de 1897, assinado por Campos Sales, Presidente

do Estado, e por Antônio Dino da Costa Bueno, Secretário do Interior, criou-se a

Escola Complementar, anexa a esse grupo, que funcionou durante nove anos e

diplomou 291 professores em seis turmas. Em dezembro de 1902, a Escola

Complementar foi transferida para Guaratinguetá (MELLO M,1991).

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Durante a Revolução de 1924, o prédio da escola foi requisitado para servir

de Quartel da Força Pública. No início da década de 1930, ainda como quartel, teve

suas instalações completamente destruídas por um incêndio, conforme evidenciado

na figura 01.

Figura 01- Fachada da Escola Modelo da Luz destruída pelo incêndio em 1930

Fonte: Foto do mural histórico da Escola Prudente de Moraes copiado por Deborah Delphino.(julho de 2012)

Nos anos seguintes foram feitos alguns estudos para a construção de um

novo edifício, o que efetivamente não ocorreu. Somente em 1950, depois de duas

décadas, foi edificada pela prefeitura uma nova escola naquele local e entregue ao

Estado para administrá-la.

Esta nova escola foi projetada por Hélio Duarte, seguindo o programa

funcional da Escola-Parque, filosofia que assimilou trabalhando ao lado de Anísio

Teixeira nos projetos em Salvador. O desenho da escola é marcado por linhas retas,

espaço reservado para recreação e convívio entre meninos e meninas. Atualmente,

esta escola oferece ensino Fundamental (1ª a 4ª série) e atende um número

reduzido de alunos, e possivelmente pode ser desativada para dar lugar a um Anexo

da Pinacoteca do Estado (informação da diretora da escola), como mostrada na

figura 02.

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Figura 02 - Escola Prudente de Moraes projetada por Hélio Duarte, em 1950 no local da Escola Modelo da Luz,

Av. Tiradentes, 273.

Fonte: Foto do Mural Histórico da escola Prudente de Moraes copiado por Deborah Delphino (julho 2012)

Para continuar as construções de Grupos Escolares do modelo Republicano e

para atender a crescente demanda de alunos, no Estado de São Paulo foram

contratados diversos arquitetos, dentre eles: Francisco de Paula Ramos de

Azevedo, Victor Dubugras, Hipólito Pujol e Carlos Eckmann, este último pelo projeto

da Escola de Comercio Álvares Penteado, de propriedade privada (MELLO M,1991).

A arquitetura utilizada na edificação dos grupos escolares, devido à urgência

em construir um grande número de edifícios com prazos reduzidos e baixo custo, foi

o decorrente do uso do projeto-tipo na construção, caracterizado como genérico. Um

aspecto importante do projeto-tipo é que devido ao uso de porões, esses edifícios

poderiam ser implantados em diversas situações topográficas. Vários critérios eram

utilizados para identificar o tipo da escola:

1) Número de salas de aula.

2) Planejamento da circulação separando alas masculinas das femininas.

3) Alguns ambientes administrativos.

4) Recreio coberto com sanitários anexos.

5) Fachada específica.

Como características destes edifícios se sobressaiam às paredes de tijolos

autoportantes, os porões altos, os grandes pés-direitos, as coberturas de telhas de

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barro, guarnecidas por platibandas, o forro de madeira, as janelas estreitas, os pisos

em madeira nas áreas secas e em ladrilho hidráulico nas áreas molhadas.

Os projetos espaciais constituíam-se basicamente de edifícios de dois ou três

pavimentos, divididos em duas alas, uma para meninos e outra para meninas,

segundo exigências do regimento dos grupos escolares, com entradas

independentes para ambos e muros que se prolongavam até o fundo do lote,

proporcionando separação entre os recreios. Em escolas de dois andares, a divisão

dos alunos por sexo era feita por pavimentos. As edificações eram simétricas,

compostas geralmente por oito salas de aula, quatro para cada sexo e um número

reduzidos de ambientes administrativos. O galpão coberto era construído

isoladamente no fundo ou nas laterais do terreno, ligados por passadiços cobertos

ao prédio principal, destinados ao recreio, à ginástica e às festas cívicas. Os

sanitários ligados ao galpão eram instalados isolados do prédio principal (BUFFA,

2002).

Como curiosidade, outra proposta de escola foi criada na época pelo médico

Dr. B. Vieira de Mello, e remetido ao Secretário do Interior, encontrado no Arquivo

Histórico Público de São Paulo num estudo elaborado em 1917 no qual propunha:

'Escolas ao Ar Livre e Colônias de Férias'. Ele descreve a experiência das escolas

em tempo integral na Alemanha, Itália, França e nos Estados Unidos, como sendo

escolas que se utilizavam de grandes áreas verdes próximos às edificações para

favorecer a saúde e bem estar dos alunos. A seguir, ele sugere algumas medidas

para que algumas crianças paulistas que tivessem algum tipo de enfermidade como

obesidade, raquitismo, tuberculose ou debilidade mental, pudessem usufruir deste

novo tipo de escola. Deu como possiblidade a construção de um galpão que seria na

periferia da cidade de São Paulo, no bairro da Lapa. Para tanto, cita:

Onde poderiam ser abertas alamedas ou clareiras para os jogos desportivos, permanecendo os colegiais debaixo das árvores, durante as horas de mais intensa irradiação solar. E quanto ao mau tempo deveriam ser construídos galpões de madeira de nove metros de comprimento por seis metros de largura, com grandes janelas nas laterais, fechado na frente e atrás com uma grande porta de correr. Caberiam 45 alunos em sua lotação máxima por sala de aula. Haveria um refeitório,

vestiários, salas administrativas e consultório médico. (MELLO V,1917. p.6)

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Caso concretizada a proposta, poderia ter surgido nesta época, em São

Paulo, a inovadora Escola Parque. Como isto não ocorreu, restou a prova da

dificuldade de trazer novas ideias ao Brasil.

Neste mesmo ano era feita a Lei n. 1579, de 19 de Dezembro de 1917, que

estabelecia diversas disposições sobre a Instrução Pública do Estado de São Paulo,

as chamadas Escolas Isoladas Primárias eram classificadas em: escolas rurais,

distritais e urbanas. As escolas rurais se localizavam nas propriedades agrícolas,

nos núcleos coloniais e nos centros fabris distantes da sede do município, e

ofereciam curso de dois anos. Escolas distritais eram as situadas em bairro ou sede

de distrito de paz, com curso de três anos. Já as Escolas urbanas se encontram na

sede de município, com curso de duração de quatro anos

(http://www.arquivoestado.sp.gov.br acesso em 21-08-2012).

Ocorria também, que em todos os tipos de escolas, a distribuição dos alunos

em classes era feita de acordo com o desenvolvimento mental e adiantamento dos

mesmos, não importando a faixa etária. Ao término do curso normal primário era

feito um exame de admissão para ingressar no Curso Complementar de dois anos,

onde a criança deveria ter no mínimo 11 anos e no máximo 16, que na atualidade

corresponderia ao 2º ciclo do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano). Este processo

causou, naquela época, uma grande evasão escolar.

Neste mesmo Decreto de 19 de Dezembro de 1917, do artigo 74 ao artigo 84

foram descritas as normas estaduais para construção de escolas:

1) As escadas devem ser retas ou quebradas em ângulos retos, e seus degraus não ter mais de 15 cm de altura e 30 cm de largura, evitando se possível o corrimão isolado. 2) As dimensões das salas de aula serão proporcionais ao número de alunos, que deverão ser de 40, no máximo dispondo cada um de 1 m² de superfície. 3) A altura mínima da sala de classe deve ser de 3 metros. 4) As janelas das salas de classes deverão ser abertas na altura de 1 m sobre o assoalho e se aproximarem do teto tanto quanto possível. As superfícies úteis das janelas das classes deve ser pelo menos, igual à sexta parte da superfície do pavimento. 5) A forma das salas de classes devem ser, de preferência, a retangular e a largura do retângulo deverá ser calculada de modo que esta não exceda de dois terços o comprimento. 6) O interior das escolas , sempre que possível, deve ser revestido com material que permita lavagens frequentes, sendo adaptadas as meias cores amarelo-creme, cinzenta, azulada ou esverdeada.

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7) O número de latrinas e lavabos será no mínimo de um para a frequência de trinta alunos, nas secções masculinas, e de um para cada vinte, nas secções femininas.

8) Os assentos nas latrinas serão de preferência em forma de ferradura aberta na frente e não circular. (http://www.arquivoestado.sp.gov.br/educacao/ publicacoes.php acesso. 21-08-2012).

Segundo Júlio Katinsky (2006), a primeira República, do ponto de vista dos

edifícios escolares, encerra-se com a Revolução de 1930, introduzindo o conceito da

New School (Escola Nova) americano e da Escola Parque.

2.1.3 A proposta Inovadora da Escola Parque.

A Escola-Parque permite às crianças viverem em escolas agradáveis, em meio a jardins, em edifícios claros devidos ao ar e a luz que entram livremente, isto significa cumprir a primeira função da escola: educar o espírito a viver no meio de arquitetura adequada e que corresponda à época, desperta no espírito dos jovens, ideias simples e otimistas, preparando-os para atitudes francas e abertas. (Revista Habitat.1952, n° 9 p.4).

O conceito de Escola-Parque que Anísio Teixeira idealizou para as escolas

brasileiras, tem como base os preceitos americanos da Escola Nova (New School),

Ela consiste em trazer condições científicas à atividade educacional, nos três

aspectos fundamentais:

1) Seleção de material para o ensino.

2) Método e disciplina.

3) Organização e administração das escolas.

Segundo Anísio Teixeira (1954) trata-se de levar a educação para o campo

das grandes artes já cientificas - como a engenharia e a medicina, e trazer nos seus

métodos, processos e materiais, a segurança inteligente, a eficácia controlada e a

capacidade de progresso.

A escola passa a desempenhar um papel social no ambiente da cidade, com

as conquistas pedagógicas e arquitetônicas, incorpora novos ambientes em seu

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programa como: os anfiteatros, a biblioteca, o refeitório, os ateliês, as oficinas, os

jardins e as ‘áreas livres’.

Desta forma, a Escola-Parque deve seguir o Programa Funcional assim

estabelecido:

1) É para criança que a escola é projetada.

2) A primeira questão a ser resolvida passa pela quantidade de edifícios a

serem construídos, assim como as definições de projeto que devem passar

necessariamente pelas questões econômicas.

3) A natureza deve fazer parte do desenho das escolas, de maneira a

integrar-se aos ambientes construídos para a criança.

4) Os funcionários da escola também devem ser considerados no

dimensionamento dos espaços.

5) Os espaços devem ser desenhados, considerando-se a mobília infantil,

seus passos, acessos verticais, distâncias a serem percorridas, e integração

entre os espaços livres e construídos.

6) A iluminação da sala de aula deve estar voltada para a face norte, a fim de

obter o máximo de iluminação natural.

7) A ventilação cruzada é recomendada para que haja uma renovação de ar

na sala de aula. O caixilho basculante, com abertura na parte inferior para

tomada de ar frio e saída de ar quente a partir de seu basculante superior.

8) A circulação vertical deve obedecer ao passo da criança de 45 cm e ter sua

pisada e espelho respectivamente de 17 cm para 12,5 cm e de 30 cm para 20

cm.

9) As salas de aula devem ter área mínima de 40 m² (padrão anteriormente já

utilizado)

10) Atender e prover assistência educacional a toda criança no Brasil em um

curto período de tempo.

Resumidamente a Escola Parque deve conter: bom terreno, boa iluminação, boa

ventilação e acústica, equipamento funcional apropriado e bom acabamento na

arquitetura.

Ao longo da dissertação as características dos projetos das Escolas Parques,

serão avaliadas em sete casos referenciais, todas elas influenciadas pelas ideais de

Anísio Teixeira, que trouxe dos Estados Unidos a filosofia da Escola Nova (New

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School), metodologia e pedagogia que já era aplicada nas escolas americanas

desde o final do século XIX e será visto com detalhe no decorrer do texto.

2.2 SOBRE ANÍSIO TEIXEIRA.

2.2.1 A Trajetória:

Anísio Teixeira nasceu na cidade de Caetité na Bahia em 12 de julho 1900,

em família de fazendeiros. Após estudar em colégio jesuíta em sua cidade natal, em

1922 formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Rio de

Janeiro. Neste mesmo ano, voltou à Salvador e foi nomeado Inspetor Geral de

Ensino do Estado da Bahia. Interessado pelo tema pedagógico foi estudar mestrado

nos Estados Unidos, na Universidade de Columbia, onde conheceu John Dewey

(1859-1952) e a teoria New School.

Em 1927 voltou dos Estados Unidos. Passados quatro anos, em 1931, foi

convidado a assumir o cargo de Secretário da Educação do Estado do Rio de

Janeiro, então Capital Federal, no governo Getúlio Vargas, onde se dedicou a criar

uma rede municipal de ensino. Em 1932, com um grupo de intelectuais, lançou o

‘Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova’, defendendo a universalização da

escola pública, laica e gratuita, com o pedagogo Lourenço Filho (1897-1970) e

Fernando Azevedo (1894-1974), Secretário da Educação do Distrito Federal.

Em 1935, Anísio Teixeira foi destituído do cargo de Secretário da Educação

do Rio de Janeiro e perseguido pelo governo de Getúlio Vargas. Na ocasião, voltou

para sua cidade natal, onde permaneceu até 1945.

Passado um ano, em 1946, assumiu o cargo de Conselheiro da Organização

das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Com o fim do

Estado Novo, em 1947, voltou à Bahia, e assumiu a Secretaria da Educação do

Estado, quando pode, em 1949, idealizar o Centro Educacional Carneiro Ribeiro

(Escola Parque- Escola Classe).

Em 1951 assumiu o cargo de secretário-geral da Coordenação de

Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES). No ano de 1952 ocupou o

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cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), onde ficou

até 1964. Em 1963 tornou-se reitor da Universidade de Brasília, tendo com discípulo

Darcy Ribeiro, antropólogo.

Com o golpe militar em 1964, Anísio Teixeira deixou o país e foi lecionar na

Universidade de Columbia, Estados Unidos. Somente em 1965 retornou ao Brasil e

continuou suas atividades pedagógicas e literárias.

Em 1971, de forma misteriosa e trágica, foi encontrado morto no fosso do

elevador do edifício em que morava Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, no Rio de

Janeiro.

2.2.2 A Filosofia da Escola Nova:

Para conhecer o pensamento de Anísio Teixeira adota-se a leitura de duas

obras de sua autoria, Vida e Educação publicada em 1954, que traduz as ideias de

John Dewey, filósofo americano; e o livro: Educação e o Mundo Moderno, de 1969,

que analisa os primeiros filósofos clássicos que procuraram reformular os valores da

sociedade, que na realidade é a base para a reforma da educação. Conclui que a

educação é um processo de perpetuação da cultura, um meio de transmitir a visão

do mundo e do homem.

Considera que os sofistas foram os primeiros educadores da civilização

ocidental, transformando os estudos filosóficos formais em estudos da educação.

Filosofia e educação se fazem campos correlatos de estudo e prática, primeiro quanto à função da educação na formação e distribuição dos indivíduos pela sociedade e, em segundo lugar quanto ao reconhecimento de que a sociedade ordenada e feliz será aquela em que o individuo esteja a fazer aquilo a que o destinou a natureza. (TEIXEIRA, 1969, p. 12)

Anísio declara que o homem alcança o seu destino na medida em que se

liberta das ilusões e aparências e depara com o mundo das realidades ou das

formas, que vem a conhecer pela atividade intelectual e pela apreciação da beleza e

harmonia. Com a volta da observação, que as concepções platônicas havia tornado

possível interromper, religa o espírito científico aos períodos anteriores à época de

Platão e de Aristóteles, restaurando a cosmologia e criando, com o método

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experimental, uma nova linha física e nova ciência da natureza, considera que a

educação é o processo pelos quais os indivíduos desvendam suas potencialidades e

se distribuem pelas diferentes classes, formulando a filosofia grega a mais perfeita

teoria das funções do processo educativo. Até nos tipos de escolas encontram-se a

hierarquia platônica, assegurando as formas contemplativas do saber, depois as do

conhecimento cientifico experimental e por último ao ensino prático ou técnico, como

último estágio da ordem educacional (TEIXEIRA, 1969).

Finalmente, elabora uma teoria geral do conhecimento fundada no método do

conhecimento científico, adaptada aos novos meios de trabalho industrial, criados

pela ciência e uma nova teoria política da democracia. E salienta a contribuição de

John Dewey ao integrar os estudos filosóficos no campo dos estudos de natureza

cientifica fundada na observação e na experiência, na hipótese, na verificação e na

revisão constante das conclusões. Trouxe a formulação do método da ‘inteligência’,

como prefere chamá-lo, revisando o conceito de razão e experiência. Conclui que

Dewey negou-se a formular toda uma filosofia da educação destinada a conciliar os

velhos dualismos e a dirigir o processo educativo com o espírito de continuidade,

num permanente movimento de revisão e reconstrução, em busca da unidade

básica da personalidade em desenvolvimento, mas a buscar conceitos que resultam

na percepção das conexões e coordenação dos elementos constitutivos dos

processos de experiência e constituem normas de ação ou padrões de julgamento. (

TEIXEIRA,1954)

Anísio Teixeira (1954) compara Dewey a Platão quando versa sobre os

aspectos em que une conhecimento e virtude dizendo que o comportamento moral é

aquele que leva o indivíduo a crescer, e crescer é realizar-se em suas

potencialidades. Como tais potencialidades somente se desenvolvem em sociedade,

o individuo cresce tanto mais quando todos os membros da sociedade crescem, não

podendo o seu comportamento prejudicar o dos demais, porque, com isto, o seu

crescimento se prejudica; formando-se assim a Democracia. Sociedade democrática

é definida como aquela em que há o máximo de participação dos indivíduos entre si

e entre os diferentes grupos sociais, em que se subdivide a sociedade complexa,

diversificada e múltipla, transformando a associação humana. Então o grande

problema contemporâneo, para Anísio, é como se dá a organização da sociedade

democrática, com uma filosofia adequada, em face dos novos conhecimentos

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científicos, das novas teorias do conhecimento, da natureza, do homem e da própria

sociedade.

A educação institucionalizada em escolas resiste à ação das novas ideias e

novas teorias, e só lentamente se transformara, até chegar a constituir a verdadeira

aplicação da nova filosofia democrática da sociedade moderna:

O caso da sociedade moderna é sob muitos aspectos o oposto da sociedade grega e mesmo da medieval. Estamos, desde o aparecimento da ciência, como é ela concebida hoje, a tentar uma organização social em que todos os homens tenham oportunidades iguais para se desenvolverem segundo as suas aptidões individuais a viverem aqui e agora uma vida decente e de progressivo bem-estar, fundada no trabalho e em uma organização social justa. (TEIXEIRA, 1969, p.31)

Anísio declara que o que caracteriza a sociedade moderna é o trabalho. E

ainda, que o trabalho para produzir coisas e conhecimentos científicos, são

idênticos. Um e outro são equivalentes com simples diferencial de ênfase e

refinamento quanto aos alvos e à planificação, aliás, conectados em interação e

interdependência constantes. (TEIXEIRA, 1969)

Não se trata de criar uma ciência da educação, mas de dar condições

científicas à atividade educacional, nos seus três aspectos fundamentais: de seleção

de material para o ensino, de método e disciplina e de organização e administração

das escolas.

Segundo Anísio trata-se de levar a educação para o campo das grandes artes

já científicas, como a engenharia e a medicina e de dar nos seus métodos,

processos e materiais a segurança inteligente, a eficácia controlada e a capacidade

de progresso. O mesmo é o que há de ocorrer no domínio da educação, da arte de

educar, onde utilizam ateliês, laboratórios ou oficinas, é a sala de aula, onde oficiam

os mestres, eles próprios também investigadores, desde o jardim de infância até a

universidade. E diz: “São as escolas o campo de ação dos educadores, como os

hospitais e as clínicas são os dos médicos.” (TEIXEIRA 1969).

Compreende-se que ‘aprender’ é algo muito mais complexo do que se poderia

supor e francamente uma atividade prática a ser governada, se possível por uma

psicotécnica amadurecida e não pela psicologia, que estuda problemas de uma

especialidade; mas original, com os profissionais estudando para ‘praticas

educacionais’. O educador terá de levar em conta que o aluno não aprende nunca

uma habilidade isolada; que simultaneamente esta aprendendo outras coisas no

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gênero de gosto, aversões, desejos, inibições, inabilidades, enfim que toda a

situação é um complexo de ‘radiações, expansões e contrações’, na linguagem de

Dewey, não permitindo nem comportamento uniforme, nem rígido, mas no sentido

de coordená-la e articulá-la com o outro mundo de fatores que entram na situação

educativa, caracterizando como próprio crescimento do indivíduo, entendido este

crescimento como um desenvolvimento, um refinamento ou uma modificação no

comportamento como ser humano. E assim descreve toda a teoria de Dewey na arte

de educar:

A capacidade humana de transformação simbólica da experiência, só amadurece e se faz adulta e objetivamente eficaz quando o homem a desenvolve até o ponto de poder unir a sua percepção dos dados da experiência, como sinais à percepção deles, como símbolos, retificando nestes toda parte metafórica e fazendo com que o pensamento simbólico se faça ele próprio realístico. (TEIXEIRA, 1969, p.95).

A realidade é que a ciência somente pode surgir com a vitória dos métodos de

observação sobre os métodos de especulação, de que se faz símbolo a famosa e

legendária experiência de Galileu na torre de Pisa, criando o ‘critério de

experimentação’, para guiar a nossa observação e rever as nossas intuições,

conceitos, ideias e julgamentos. Desta forma a teoria de evolução, no séc. XIX e da

relatividade no séc. XX dá a ideia moderna de hoje, pelas quais se passa a

compreender o universo e o homem como processo dinâmico de criação

permanente, em que natureza e homem não se distinguem, mas são partes do

mesmo processo. Nesse processo, há começo, continuidades, repetições,

terminações constantes e variáveis que permite plano e previsão. (TEIXEIRA, 1969).

Anísio Teixeira (1969) faz uma observação interessante quando relata que a

inteligência humana passa por um período de liberdade, ausência de controle

imposto e externo ao seu desenvolvimento, "a mente humana explode em riquezas

de imaginação e observação, que abrem novos horizontes à sua suprema aventura"

( TEIXEIRA,1969, p.150).

Foi assim entre os gregos, no seu período áureo, e assim com o

Renascimento, com o Humanismo e a Reforma, e foi assim no séc. XVI que se

estendeu até o séc. XIX. No séc. XX (quando escreveu) se reacende a necessidade

dessa liberdade para tomada de consciência e uma nova superação. Não crê que se

tenha conseguido oferecer uma educação a altura do desafio dos nossos tempos. O

que os tempos modernos pedem é uma forte educação intelectual para o jovem, a

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despeito dos diferentes interesses que se revelam e das diferentes carreiras a que

se destina. Segundo Anísio Teixeira é uma educação comum que dilui o conteúdo

dos diferentes programas, causando degradação na difusão do conhecimento,

semelhante ao que se observa hoje com a utilização dos meios de comunicação em

massa.

Cada meio de comunicação alarga o espaço dentro do qual vive o homem e torna impessoal a comunicação, exigindo, em rigor do cérebro humano compreensão mais delicada do valor, do significado e das circunstâncias em que a nova comunicação lhe é feita. (TEIXEIRA, 1969, p.151)

Anísio Teixeira conclui que educação para este período da civilização ainda

está para ser concebida e planejada e, depois disto, para executá-la, será preciso

verdadeiramente um novo mestre, dotado de grau de cultura e treino que apenas

começa a imaginar. Sugere que a escola de amanhã lembrará muito mais um

laboratório, uma oficina, uma estação de televisão do que a escola de ontem e ainda

hoje. Entre as coisas mais antigas lembrará muito mais uma biblioteca e um museu

do que o tradicional edifício de salas de aulas. E como intelectual, o mestre de

amanhã lembrará muito mais um bibliotecário apaixonado pela sua biblioteca, do

que o antigo mestre-escola a repetir nas classes um saber superado. É profética

esta sua perspectiva, quando hoje se pensa no ensino baseado nas novas técnicas

de informação, como a internet, a fonte mais universal e completa já alcançada.

Assim com os conceitos trazidos da Escola Nova norte-americana, Anísio

transmite os conhecimentos adquiridos e implanta no Brasil ideias modernas e

valores renovados para a educação. Na sequência de seu trabalho há diversas

outras iniciativas que confirmam a correlação de suas ideias, motivo desta

dissertação de mestrado.

2.3 A FORMAÇÃO DAS ESCOLAS PARQUES AMERICANAS.

A ideia de Escola Nova ( New School) foi proposta por John Dewey (1859-

1952), professor da Universidade de Columbia, USA, como filosofia pedagógica

inovadora através de vários livros, foram eles: “Psychology of number”

(1895),“Interest as related to will” (1895), “Ethical principles underlying education”

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(1897), “My pedagogic creed” (1897),“The school and the Society” (1900),

“Psychology and social practices” (1901),“The child and the curriculum” (1902), “The

educational situation” (1902), “Relation of theory to practice in the training of

teachers” (1904), “The school and the child” (1906), “Educational Essays” (1910),

“How we think” (1910),“The schools of tomorrow” (1913), “Democracy and Education”

(1916), e “Human nature and conduct” (1921).

Os livros foram traduzidos em: francês, alemão, espanhol, búlgaro, grego,

turco, russo, húngaro, japonês, chinês e árabe; mostrando a importância mundial

desta filosofia, e a difusão de destes conceitos. Em português foi traduzido pela

primeira vez em 1930, num pequeno folheto da União Pan-Americana. Somente

anos mais tarde Lourenço Filho1(1897-1970), então solicita a Anísio Teixeira, em

1954, que traduzisse a obra de Dewey e escrevesse o prefácio do livro com o título:

Dewey e a Pedagogia Americana: ( Esboço da teoria de educação de John Dewey).

No prefácio Anísio Teixeira escreve resumidamente este pensamento em duas

partes:

1ª parte - Educação como Reconstrução da Experiência:

Explica qual a natureza do processo da experiência, que ocorre através de

dois fatores: o agente e a situação, levando a perceber, analisar e pesquisar a

aquisição do conhecimento; a percepção das relações entre as coisas leva a

aprendizagem de algum novo aspecto para cultura e educação. A vida social se

perpetua por intermédio da transmissão de valores e em comunicação destes

valores. Educa-se para participar gradualmente na vida social. Declara que um dos

grandes méritos da teoria de Dewey foi o de restaurar o equilíbrio entre educação

tácita e não formal recebida diretamente da vida, e a educação direta e expressa

das escolas, integrando a aprendizagem obtida através de um exercício específico a

isto destinado (escola), com aprendizagem diretamente absorvida nas experiências

sociais (vida).

1 Em 1922, a convite do governo cearense, assume o cargo de Diretor da Instrução Pública e leciona na Escola

Normal de Fortaleza. As reformas por ele empreendidas no Ceará podem ser entendidas como germe dos conhecidos movimentos nacionais de renovação pedagógica das primeiras décadas do século.Sua participação política também merece destaque: presente nas Conferências Nacionais de Educação de 1927 e 1928, respectivamente em Curitiba e Belo Horizonte, apresenta suas ideias quanto ao ensino primário e à liberdade dos programas de ensino. Se não autor, é certamente um dos atores mais importantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932.

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2ª parte - A escola e a Reconstrução da Experiência:

Afirma que se vive aprendendo, e o que se aprende leva-nos a viver melhor.

Todo o interesse humano pela educação e pela escola é, fundamentalmente, uma

questão de tornar a vida melhor, mais rica e mais bela. Para tanto diz que só se

aprende o que se pratica, aprende-se através da reconstrução consciente da

experiência e que não se aprende nunca uma coisa só, mas várias coisas são

simultaneamente aprendidas, tudo deve ser ensinado, tendo em vista o seu uso e

função na vida. O professor é elemento essencial da situação , segundo relata

Anísio, e sua função é a de orientar, guiar e estimular a atividade através dos

caminhos conquistados pelo saber e experiência do adulto .

Finaliza o prefácio dizendo que as experiências realizadas com escolas com

esta filosofia nova já vão bem adiantadas no mundo, escolas em que o curriculum

não é organizado por matérias, mas como um processo de vida, uma sucessão de

experiências, em que cada uma se desenvolve da anterior, permitindo uma continua

e frutuosa reconstrução da experiência. E completa: "para Dewey, o fim da

educação não é a vida completa, mas a vida progressiva, vida em constante

ampliação e em constante ascensão, e tanto melhor quanto mais alargamos nossas

atividades, colocando em exercício todas as nossas capacidades" (TEIXEIRA,1954P

p.28).

É importante conhecer quem foi John Dewey e sua biografia, Dewey nasceu

em 20 de outubro de 1859 em Burlington, Vermont, USA. Fez seus estudos na

Universidade de John Hopkins, graduando-se em filosofia em 1884. Nomeado

assistente da Universidade de Michigan, no mesmo ano, passou a professor

catedrático, cargo que ocupou até 1894. Chamado para reger o ensino de filosofia e

pedagogia da Universidade de Chicago, teve ocasião de fundar e dirigir a University

Elementary School, primeira tentativa do gênero, pondo em experiência as teorias

de educação renovada. Em 1904, foi chamado pela Universidade de Columbia, em

Nova York, como professor de filosofia, cargo que ocupou por quase trinta anos.

Faleceu em 2 de junho de 1952.

Anísio Teixeira conheceu John Dewey (1859-1952) durante a Pós-Graduação

realizada na Universidade de Columbia, nos EUA em 1927. Dewey transmitiu a ele

os ensinamentos da New School, teoria difundida para vários países e que Anísio

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assimilou e trouxe ao Brasil. Em 1954, Teixeira traduziu o livro: Vida e Educação1 de

John Dewey (prof. Emérito da Universidade de Colúmbia, Nova York) ,que possui

os seguintes capítulos:

I- A criança e o programa escolar.

II- Interesse e esforço: 1ª parte: Atividade integrada x atividade dissociada.

2ª parte: Interesse direto e interesse indireto.

3ª parte: Esforço, atividade mental e motivação.

4ª parte: Tipos de interesse educativo.

5ª parte: Papel do interesse na educação.

Assim, aprofunda a teoria que tinha como proposta a educação como

processo permanente pelo qual se reconstroem a experiência e perpetuamente

ajusta-se ao meio essencialmente móvel e dinâmico da vida humana. Acredita que a

estabilidade da educação, como a estabilidade da vida moderna, se mantém pelo

constante movimento. Desta forma, na teoria da educação americana, pensar é o

método do ensino inteligente. As crianças devem ser postas em contato com a real

situação de experiência, em cujo desenvolvimento lhe seja necessário pensar,

refletir, raciocinar e por esse modo adquirir o conhecimento. Desta atitude nasceu a

filosofia do New School chamada Escola Nova que transformou consequentemente

os espaços físicos e programas das escolas em todo mundo.

2.4 PROGRAMA DA ESCOLA-PARQUE DE DETROIT

O programa americano de educação passou por evolução no decorrer da

segunda metade do século XIX, como explica Anísio Teixeira através de seu

Relatório de viagem a América do Norte em 1928, demonstrada pela descrição

resumida do Quadro 1 abaixo:

1 Tradução de The Child and The Curriculum, edição de The University of Chicago Press (University of Chicago

Contributions to Educations) livro escrito em 1902.

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Quadro 1 : As fases evolutivas do sistema educacional americano:

Fonte: dados do Relatório de Viagem de Anísio Teixeira a Detroit em 1928.

Neste Relatório Anísio Teixeira anota sete pontos importantes da escola

americana, que estavam presentes no Programa da Escola Platoon de Detroit –

Brady School, visitada por ele em 1928, e que aplicava a filosofia da New School

desde 1890. Este se constitui em:

1) Fundamentos: As matérias básicas do ensino primário são desenvolvidas

durante três horas por dia, em aritmética, ortografia e leitura.

2) Aulas Especiais: Sala de música – onde cada criança tem dois períodos de 30

minutos por semana; Estúdio – é a sala para trabalho artístico e a Sala de Literatura

– é a sala destinada a desenvolver a apreciação literária.

3) Saúde: Ginásio – onde são realizados todos os exercícios, jogos e danças

aconselhadas para a educação das crianças; Recreio - além da meia hora de

trabalho de saúde, o programa determina meia hora de jogo ao ar livre, geralmente,

esse campo de recreio esta no teto do edifício.

4) Socialização das atividades escolares: Auditório - as atividades dão às crianças

sentido de responsabilidade e de consciência social.

5) Atividades vocacionais: As salas de trabalho manual, de costura e de cozinha,

constituem as atividades do ensino vocacional.

6) Ciências: A sala de ciência é aparelhada para o ensino de historia natural e de

geografia. A sala tem herbário e aquário e outros detalhes que permitem estudo da

natureza.

7) Atividades especiais: na Biblioteca está a cargo de um professor bibliotecário;

no Refeitório da escola tem serviço de almoço; na Clínica o médico e a enfermeira

atendem diariamente na escola a qualquer emergência, ao mesmo tempo em que

exercem larga vigilância sobre as condições gerais de saúde.

Também muito importante é o plano de organização diferenciado para

acomodar todas as aulas proposta pelo novo conceito, assim descrito:

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O dia escolar é de seis horas, em duas sessões de três horas; das 8:30h às

11: 30h e das 12:30h ás 3:30h. Para a concretização deste processo os alunos são

divididos em dois grupos ou ‘platoons’(pelotões).

A Grade escolar é dividida em dois blocos de matérias, a saber:

• Matérias fundamentais (ou home-room-subjects), formados por: leitura,

escrita, ortografia, aritmética e língua. (2 períodos de 90 minutos - 3 horas)

• Matérias especiais, que constituíam as demais matérias que enriqueciam o

currículo: arte, música, desenho, trabalho manual, ciência, etc. (6 períodos de

30 minutos - 3 horas).

A escola visitada na época por Anísio Teixeira ainda esta funcionando e pode

ser acessada pela internet, como apresenta a figura 03.

Figura 03 – Brady School em Detroit. Implantação e Vista frontal da Fachada.

Fonte: http://maps.google.com.br/maps/place?pq=escola+americana+sistema+platoon+de+detroit&hl acesso

em 07-02-2012.

Por outro lado, na mesma época, no Brasil, em 1893, surgiu a ideias de

Grupo Escolar, inicialmente no Distrito Federal no Estado do Rio de Janeiro, onde

cada Grupo continha: ginásio, biblioteca e museu escolar.

Em 1914, iniciou-se a reforma Azevediana no Distrito Federal, proposta por

Fernando de Azevedo 1. Já era a 4ª reforma de ensino, onde as escolas começavam

a prestar assistência médica, imprimir noções de higiene e ensinar as disciplinas de

trabalhos manuais, ginástica, moral e cívica e ciências. Porém, as Escolas

construídas apresentavam uma linguagem arquitetônica neocolonial. São exemplos

1 Fernando Azevedo era Secretário da Educação do Rio de Janeiro (Distrito Federal até 1931) e era adepto as transformações

da Escola com a filosofia da New School. Em 1927 conhece Anísio Teixeira que lhe foi apresentado por Monteiro Lobato.

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desta fase a Escola Municipal Estados Unidos inaugurada em 1929. (TAVARES

FILHO.2005), mostrado na figura 04.

Figura 04- Fachada principal e pátio central da Escola Municipal Estados Unido no Rio de Janeiro, na Rua

Itapuru.

Fonte: Fotos da dissertação de mestrado Arthur Tavares Filho tirada pelo autor 12-11-2004

2.5 A MUDANÇA DE RUMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

2.5.1 O Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932:

A elite Letrada brasileira fez um protesto para melhoria do ensino público, que

ocorreu depois de 43 anos da Proclamação da República e infelizmente depois de

80 anos de sua publicação (2012), encontramo-nos nos mesmos dilemas,

plenamente atuais às necessidades educacionais.

Seguem alguns pontos do discurso que foram extraídos da Revista Brasileira

de Estudos Pedagógicos, publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

Pedagógica Anísio Teixeira (INEP) que ao comemorar 40 anos de circulação, em

1972, traz questões educacionais que perduram com o passar dos anos. Teve o

objetivo de suscitar a reflexão sobre a influência das ideias e propostas contidas no

documento sobre o processo educacional brasileiro. Foram publicadas na íntegra as

ideias dos pioneiros da educação nova. No final do discurso seguiram os nomes dos

que apoiaram e aprovaram o Manifesto: Fernando de Azevedo; Afranio Peixoto; A.

de Sampaio Doria; Anísio Spinola Teixeira; M. Bergstrom Lourenço Filho; Roquette

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Pinto; J. G. Frota Pessoa; Júlio de Mesquita Filho; Raul Briquet; Mario Casasanta; C.

Delgado de Carvalho; A. Ferreira de Almeida Jr; J.P. Fontenelle; Roldão Lopes de

Barros; Noemy M. da Silveira; Hermes Lima; Attílio Vivacqua; Francisco Venâncio

Filho; Paulo Maranhão; Cecília Meirelles; Edgar Sussekind de Mendonça; Armanda

Álvaro Alberto; Garcia de Rezende; Nobrega da Cunha; Pascoal Lemme; Raul

Gomes. Foram vinte e seis os educadores que participaram da edição do documento

em 1932, que em linhas gerais propunha:

A reconstrução educacional no Brasil- ao povo e ao governo- dizia que na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação [...] A situação atual, criada pela sucessão periódica de reformas parciais e frequentemente arbitrárias, lançadas sem solidez econômica e sem uma visão global do problema, em todos os seus aspectos, nos deixa antes a impressão desoladora de construções isoladas, algumas em ruinas, outras abandonadas em seus alicerces, e as melhores, ainda não em termo de serem despojadas de seus andaimes [....] (Manifesto dos Pioneiros da Educação 1932)

Impressionante como o conteúdo do discurso se repete hoje, não há meios

de aprender com o passado, mostrando a nossa incapacidade de construir um futuro

autêntico e desenvolvido. A reflexão nos faz pensar que país seria o Brasil se

tivesse cumprido o proposto por este documento sem interrupções.

O discurso dos Pioneiros da Educação falava que a Escola Nova1, certamente

pragmática, se propunha ao fim de servir não aos interesses de classes, mas aos

interesses do indivíduo, e que se fundamenta sobre o princípio da vinculação da

escola com o meio social, tinha o seu ideal condicionado pela vida social atual,

profundamente humano, de solidariedade, de serviço social e cooperação.

Comparava a escola tradicional como instalada para concepção burguesa, vinha

mantendo o indivíduo na sua autonomia isolada e estéril, resultante da doutrina do

individualismo libertário. Retoma os conceitos da Escola Nova quando diz que:

"a escola socializada, reconstituída sobre a base da atividade e da produção, em que se considera o trabalho como a melhor maneira de estudar a realidade em geral (aquisição ativa da cultura) como fundamento da sociedade humana". E conclui: " é certo que é preciso fazer homens, antes de fazer instrumen - tos de produção [....]. Se se quer servir à humanidade, é preciso estar em comunhão com ela" (MANIFESTO,1932 apud.

1 A Educação Nova ou New School foi proposta por John Dewey e difundida com mais veemência por Anísio

Teixeira no Brasil.

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Revista Brasileira dos Estudos Pedagógicos, Brasília, 65(150); pag. 407-425,maio/ago. 1984).

O Manifesto tinha como pontos essenciais os seguintes itens:

a) A educação é uma função essencialmente pública- neste item aceita a escola

particular uma vez que o Estado não consegue gerir tantas escolas, mas

desde que fosse monitorada e seu programa seguisse o mesmo da escola

pública.

b) A questão da existência da escola única- com a proposta de escola para

todos, em que todas as crianças de 7 a 15 anos fossem confiadas à escola

pública, tivessem uma educação comum.

c) A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação - que coloca o ensino

escolar acima de crenças e disputas religiosas, gratuita extensiva a todas as

instituições oficiais de educação, é um principio igualitário, que tornava a

educação acessível não a uma minoria, por privilégio econômico, mas a todos

os cidadãos que tivessem vontade e estivessem em condição de recebê-la. E

o Estado não pode torná-lo obrigatório, sem torná-lo gratuito. A escola

unificada não permite ainda, entre alunos de um e outro sexo outras

separações que não fossem as que aconselham as suas aptidões

psicológicas e profissionais, estabelecendo a educação em comum ou

coeducação. E concluem:

De mais, se o problema de educação deve ser resolvido de maneira cientifica, e se a ciência não tem pátria, nem varia, nos seus princípios, com os climas e as latitudes, a obra de educação deve ter, em toda parte uma unidade fundamental, dentro da variedade de sistemas resultantes da adaptação a novos ambientes dessas ideias e aspirações que, sendo estruturalmente cientificas e humanas, tem um caráter universal. (...) Mas, de todos os deveres que incumbem ao Estado, o que exige maior capacidade de dedicação e justifica maior soma de sacrifícios; aquele com que não é possível transigir sem a perda irreparável de algumas gerações; aquele em cujo cumprimento os erros praticados se projetam mais longe nas suas consequências, agravando-se à medida que recuam no tempo; o dever mais alto, mais penoso e mais grave é, de certo, o da educação que, dando ao povo a consciência de si mesmo e de seus destinos e a força afirmar-se e realiza-lo, entretém, cultiva e perpetua a identidade da consciência nacional, na sua comunhão intima com a consciência humana. (MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA. 1932) apud. Revista Brasileira dos Estudos Pedagógicos, Brasília, 65(150); pag. 407-425,maio/ago. 1984).

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A indignação manifestada pelos educadores de 1932 continua sendo o

repertório da atualidade, ressuscitando e morrendo a cada época, sem firmar como

ponto fundamental para o desenvolvimento da Nação.

Anísio Teixeira, patriota ao extremo, lutou para transformar os princípios

educacionais. Como promotores desta mudança são estudados os três principais

casos em que teve a influência direta na construção de uma nova escola, e os

quatro principais casos que influenciou indiretamente com sua teoria transmitida aos

idealizadores das outras escolas.

2.5.2 Os sete casos estudados:

O critério para escolha de estudo dos sete casos de Escola Parque foram os

seguintes:

1) As escolas estão nas Capitais dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro,

Bahia e Distrito Federal, capitais mais populosas do Brasil.

2) As escolas propostas segundo Anísio Teixeira na sua concepção e programa.

3) As escolas que os idealizadores seguiram Anísio Teixeira na conceituação da

Escola Parque.

4) As escolas que tem como filosofia o período integral para os alunos, na sua

idealização, e como período integral entende-se um turno de pelo menos 7

horas na escola diariamente.

5) Escolas que valorizam terrenos grandes e possuem infraestrutura para

atividades esportivas, recreativas e socializantes.

Os sete casos estudados são demonstrados no Quadro 2 constando: época de

inicio de cada construção de Escola-Parque nas diferentes capitais do Brasil,

arquiteto que projeta a escola selecionada, político que empreende a iniciativa de

implantação da Escola e quantidade de alunos que comportam.

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Quadro 2 : Resumo das Escolas Parques Pesquisadas:

Fonte: Quadro proposto pela autora em junho 2011.

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3 OS PROGRAMAS E OS PROJETOS DAS ESCOLAS PARQUES

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3.1 A PRIMEIRA ESCOLA PARQUE NO RIO DE JANEIRO (1931- 1935).

3.1.1 A primeira escola idealizada por Anísio Teixeira:

Em outubro de 1931, Anísio Teixeira assumiu a Diretoria Geral de Instrução

Pública do Distrito Federal, "onde encontrou um cenário pouco favorável à educação

pública na capital do país, e o seu ‘objetivo era dotar a capital de um verdadeiro

sistema educacional que pudesse servir de exemplo a todo país" (OLIVEIRA,1991,

p.169).

Ao iniciar o Relatório do primeiro ano de sua administração ele observou que

para uma população escolar mínima – crianças de 6 a 12 anos – de 196.000

indivíduos, só existiam escolas para 45% das crianças.

Considerava que mais grave do que a negligência em abrir escolas, era julgar que o programa escolar se limitasse à simples 'alfabetização'. A escola deveria ensinar à criança a 'viver melhor', proporcionando padrões mais razoáveis de vida familiar e social, promovendo o progresso individual e criando hábitos de leitura, estudo e meditação (TEIXEIRA, 1930, p.4).

O Serviço de Prédios e Aparelhamentos Escolares do Departamento de

Educação realizou inquéritos e levantamentos dos prédios existentes, tanto os

públicos como alugados, e identificou que a maioria deles se constituía de residências

particulares adquiridas pela Prefeitura, impróprios ou inadequados ao funcionamento

escolar. Até as salas de aula, unidades primordiais do edifício escolar, em sua grande

maioria, não tinham a área mínima de 40m², além dos problemas de localização do

prédio, da forma, da iluminação, da aeração, e dos equipamentos (DÓREA, 2000).

Com base nesses levantamentos, os prédios escolares foram classificados de

acordo com suas condições de uso. Dos 79 prédios próprios existentes em 1932,

apenas 12 deveriam ser conservados; 32 adaptados, reformados, ampliados ou

totalmente reconstruídos, e 35 condenados, podendo ser utilizados para qualquer

outra coisa, menos para escolas. Diante dessa situação o Departamento de

Educação avaliou a necessidade de construção de 74 prédios novos, para abrigar

uma população escolar de 156.480 alunos, ainda assim, inferior à população atual

(TEIXEIRA, 1935 apud DOREA, 2000).

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Considerando-se um plano de atuação, a ser desenvolvido no período de 10

anos, projetou-se uma população escolar de 320.000 alunos para o ano de 1942, o

que exigia a construção de mais 82 novos prédios. Dado a extensão do problema e a

impossibilidade de resolvê-lo em um só período administrativo, adotou-se uma

solução progressiva e gradual: a construção de um plano geral diretor das edificações

escolares e um programa anual de construções (DOREA, 2000).

O programa anual de construções dos edifícios escolares para o Distrito

Federal proposto por Anísio Teixeira foi dividido em dois períodos de 5 anos. No

primeiro período, o plano mínimo de construção, a ser realizado até o ano de 1938,

compreendia as seguintes etapas: 16 ampliações de prédios municipais existentes,

que ficariam com 306 salas de aula; 74 edificações novas, com o tipo médio de 25

classes, que ficariam com 1.431 salas de aula; 25 prédios que poderiam ser

aproveitados, com 219 salas de aula. Assim, se cumprido dentro de cinco anos,

seriam 1.956 salas de aula que, funcionando em dois turnos, comportariam 156.480

alunos, isto é, aproximadamente 80% das crianças que, no ano de 1932, estavam em

idade escolar (TEIXEIRA, 1935, apud. DÓREA, 2000).

Anísio Teixeira tinha clareza de que era necessário prover um orçamento

específico para o financiamento da educação pública, e que era necessário constituir

fundos, independentemente das oscilações de critério político dos administradores.

Ele entendia que as instituições educativas, por sua própria natureza, eram

instituições materiais que envolviam despesas de construção e instalação, que não

podiam ser esquecidas nas verbas regulares de sua manutenção. Para resolver o

problema da escassez de prédios escolares era necessário, também, levar em

consideração as dificuldades encontradas em relação ao terreno, a localização, as

condições o prédio, a economia ou ao programa educacional, principalmente quanto

às grandes concentrações escolares. Era preciso encontrar soluções que se

contrabalançassem as deficiências de cada um desses elementos, sem diminuir,

entretanto, as condições recomendáveis para a escola (DOREA, 2000).

Dessa forma, no período que foi diretor da Instrução Pública (1931-1935),

Anísio Teixeira concebeu uma proposta baseada nos estudos que realizou nos

Estados Unidos, para as edificações escolares, um sistema escolar que conciliava a

falta de salas de aulas e melhoria na qualidade de ensino, permitindo as crianças

passar mais tempo na escola, propôs edificações de duas naturezas: as escolas

nucleares, ou escolas classe e os parques escolares, onde cada criança devia

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frequentar regularmente as duas instalações, em dois turnos diários. No primeiro

turno, a criança receberia num prédio adequado e econômico, contendo salas de aula

para o ensino propriamente dito (escola-classe); no segundo turno, receberia, em um

parque escolar aparelhado e desenvolvido, a sua educação propriamente social, a

educação física, a educação musical, a educação sanitária, a assistência alimentar e

o uso da leitura. Utilizaria os conhecimentos apreendidos na escola platoon em

Detroit, adaptado a realidade brasileira. Com o plano educacional traçado, esperava

resolver os problemas emergentes de: Terrenos seriam necessários somente 25%

de terrenos de grande área (10.000m2 em média), uma vez que cada parque escolar

serviria a quatro escolas-classe; e os demais terrenos poderiam ter uma área

equivalente a um lote de casa particular (13 m x 40 m); Economia, cada escola

possuiria somente o que fosse estritamente indispensável para o ensino em classe,

reduzindo os custos de construção; Programa, nenhum dos objetivos da escola

deixaria de ser atendido; a escola seria educativa, sem a diminuição das suas

funções instrutivas; Localização, as crianças teriam escolas mais próximas de casa,

e os terrenos menores seriam mais fáceis de serem encontrados nos locais

necessários; e finalmente, Prédio, divididas as funções da escola entre o parque

escolar e a escola classe, tornava mais fácil atender às condições adequadas de

instalação (TEIXEIRA, 1935, apud DOREA,2000).

Anísio Teixeira pela primeira vez conseguiu concretizar seu projeto de ensino,

com apoio de Pedro Ernesto, então Prefeito do Distrito Federal (1931-1935),

contratando os arquitetos da equipe da Divisão de Prédios e Aparelhamento

Escolares do Departamento de Educação do Distrito Federal, que tinha como chefe

o arquiteto Enéas Silva que projetou com sua equipe1 25 edifícios, dos 82

idealizados, no período de cinco anos.

As escolas são construções em estrutura de concreto armado e fechamento

de alvenaria, cobertura em terraço-jardim, circulações e ventilações cuidadosamente

concebidas em função de um programa pedagógico com acabamentos

1 Trabalhavam com Enéas Silva na equipe da Divisão de Prédios e Aparelhamento Escolares de educação no

Distrito federal os arquitetos formados pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, na década de 1930, Wladimir Alves de Souza, Paulo Camargo de Almeida e Affonso Reidy.

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padronizados. Compunham-se de cinco tipos, descritos por Célia Rosangela Dantas

Dorea1(2000) descritos:

a) Escola Tipo Mínimo, com duas salas de aula e uma sala de oficinas, destinava-

se a região de reduzida população escolar;

b) Escola Tipo Nuclear ou escola-classe constituída de 12 salas de aula, além de

locais apropriados para administração, secretaria, biblioteca e sala de professores, e

complementada com o parque escolar;

c) Escola Platoon 12 classes (6 salas comuns e 6 salas especiais);

d) Escola Platoon 16 classes (12 salas comuns e 4 salas especiais);

e) Escola Platoon 25 classes (12 salas comuns, 12 salas especiais e o ginásio).

É importante destacar que os últimos três tipos receberam este nome porque

obedecia ao sistema administrativo Platoon, de origem americana. Este sistema era

constituído de salas de aula comuns e salas especiais para auditório, música,

recreação e jogos, leitura e literatura, ciências, desenho e artes industriais. Seu

funcionamento dava-se pelo deslocamento dos alunos, através de pelotões, pelas

diversas salas, conforme horários pré-estabelecidos. Era a primeira iniciativa de se

construção de uma Escola-Parque no Brasil.

No final de 1935, época da demissão de Anísio Teixeira da Diretoria de

Instrução Pública do distrito Federal (RJ), foram construídos 25 novos prédios

escolares em conformidade com o plano diretor. Esses prédios estavam distribuídos,

de acordo com o tipo arquitetônico adotado: 02 Escolas Tipo Mínimo de três classes,

11 Escolas Tipo Nuclear de doze classes, 05 Escolas Platoon de doze classes, 02

Escolas Platoon de dezesseis classes, 03 Escolas Platoon de vinte e cinco classes,

01 Escolas Tipo Especial de seis classes e 01 Acréscimo de doze classes. (DÓREA,

2000).

É importante ressaltar que, embora o Relatório Administrativo de 1935, do próprio

Departamento de Educação, faça referência ao parque escolar ou escola-parque,

como complemento aos demais tipos de escola; bem como as onze escolas

nucleares ou escolas-classe, construídas dentro dessa nova proposta, pelos

1 DÓREA, Célia Rosângela Dantas. Anísio Teixeira e a arquitetura escolar: planejando escolas, construindo

sonhos. Revista da FAEEBA. Salvador, n.13, jan./jun. 2000, p.151-160.

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depoimentos elas funcionavam nos antigos moldes, impossibilitando dessa maneira,

a permanência da criança na escola durante os dois turnos, como havia sido

previsto inicialmente. Como se pode observar, a proposta de educação integral

idealizada por Anísio Teixeira, para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, na

prática não se efetivou.

3.1.2 A Escola Municipal República Argentina tipo Platoon:

A Escola Municipal República Argentina está localizada no bairro de Vila

Isabel, no endereço: Boulevard 28 de Setembro nº 125 foi projetada pelo arquiteto

Enéas Silva da Divisão de Aparelhamento do Estado e inaugurada em 1935.

Originalmente foi designada pela classificação Platoon de 25 classes, dimensionada

para atender um total de 2000 alunos, dispondo de 12 salas de aula comuns,

destinadas a abrigar turmas de 40 alunos cada, mais 13 salas especiais de

laboratórios e ateliês. Fazia parte do plano idealizado por Anísio Teixeira como das

Escolas norte americanas, onde os alunos para irem às aulas especiais se

deslocavam através de pelotões, em turma de uma forma ordenada. Atualmente isto

não é mais necessário, pois as turmas são reduzidas e há sobra de salas de aula,

pelos dados da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro1, hoje (dado

coletado em 02/10/2012) a Escola atende de 788 alunos, da Educação Infantil ao 9º

ano do Ensino Fundamental, tendo horário parcial em dois turnos e utiliza 30 salas

de aula para o 1º e 2º turno (15 em cada turno).

A importância história da pedagogia e do projeto arquitetônico inovador para

época, fez com que a escola fosse tombada em fevereiro de 2012, pelo Projeto de

Lei Nº 1284/2012, do Vereador Rubens Andrade encaminhado a Câmara Municipal

do Rio De Janeiro. A justificativa para este ato é feita no final da carta de

tombamento assim descrita:

O presente Projeto é justificável mediante a preocupação para com o patrimônio histórico da cidade. Afinal, o imóvel em questão representa parte do acervo arquitetônico da cidade do Rio de Janeiro. Na arquitetura prevalecia o estilo do

1 http://webapp.sme.rio.rj.gov.br/jcartela/publico/pesquisa.do?cmd=load&idSetro=10876 acesso02/10/2012

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Modernismo Republicano, com um projeto arquitetônico voltado para os modelos europeus, embora contemporâneos, com influência do art déco protomoderno. Tendo como principais características, a articulação de volumes geometrizados e simplificados; a sucessão de superfícies curvas; a composição com linhas e planos verticais e horizontais, fortemente definidos e contrastados; a estrutura em concreto armado; o uso de materiais nobres e as janelas em basculantes de ferro. Há de se averbar que com a proposta em questão há evidente demonstração pela sociedade com um todo de interesse pela evolução da nossa arquitetura, acrescenta-se a possibilidade de observar a relação entre a concepção da educação pública nos diferentes governos e a sua influência na definição dos espaços destinados às realizações das práticas pedagógicas e de sociabilidade escolar. (15 de fevereiro de 2012).

Fica evidente o desconhecimento do vereador da proposta pedagógica de

Anísio Teixeira, pois não faz menção ao conceito da filosofia da Escola Nova ou do

Sistema Platoon. Atenta-se basicamente ao projeto arquitetônico.

O programa arquitetônico da escola voltado a nova prática pedagógica é

dividido em:

1) Conjunto pedagógico, onde ocorre o desenvolvimento das atividades de

ensino e aprendizagem propriamente ditas, estão às funções essenciais do

edifício escolar.

2) Conjunto de vivência e assistência, onde estão as atividades recreativas e

esportivas, e as de assistência a saúde da criança, consultório dentário e médico.

3) Conjunto administrativo e apoio técnico-pedagógico, acomodando os

ambientes da administração da unidade escolar, assim como os ambientes

responsáveis pelas relações diretas com a comunidade, essenciais para o

funcionamento regular da escola.

4) Conjunto funcional dos Serviços Gerais compreendendo os serviços de

infraestrutura do prédio, como: limpeza, manutenção, armazenamento de

materiais de consumo geral e limpeza, guarda e preparo de alimentos e também

controle da entrada e saída de pessoas.

5) Conjunto artístico onde esta localizada o auditório, que pode ser utilizado para

realização de palestras e aulas especiais, como também na apresentação de

peças teatrais ou de festivais.

O material utilizado em larga escala é o concreto armado, nas coberturas,

varandas e marquises; notória volumetria, com a caracterização do estilo da época

do protomodernismo, como mostra a figura 05.

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Figura 05: Implantação da Escola Municipal República Argentina e fotos diversas, modelo de Escola Platoon de

25 classes. Fonte: Imagens retiradas do Google maps http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&q= - acesso 04-11-2012 e

fotos de Deborah Delphino - junho 2012.

Conclusão Parcial: Quando Anísio Teixeira assumiu a Diretoria de Instrução

Pública do Distrito Federal na década de 1930, seu antecessor Fernando de

Azevedo já havia feito quatro reformas educacionais na década de 1920, já

compartilhava a ideia da Escola Parque, como mostra o mestrado de Arthur Campos

Tavares Filho (2005), quando faz um estudo comparativo entre duas escolas

cariocas, a Escola Municipal Estados Unidos de 1929 (reforma Azevediana) e a

Escola Municipal República Argentina de 1935 (reforma de Teixeira). Ambas

diferenciam-se no estilo arquitetônico, a primeira neocolonial e a segunda com o

protomodernismo, possuíam o mesmo programa funcional de espaços físicos, porém

o diferencial estava quando Anísio Teixeira tentou implantar a ideia do horário

integral para os alunos e o deslocamento para aulas especiais e fundamentais

através dos pelotões.

Anísio Teixeira conseguiu fazer uma segunda tentativa de adequar os

conhecimentos aprendidos da escola americana em Salvador (BA) no final da

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década de 1940 com o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), que será

estudado a seguir.

3.2 CENTRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO (CECR) EM SALVADOR

CAPITAL BAIANA (1949-1963):

3.2.1 A formação da Escola Parque e Escola Classe em Salvador:

Em 1947, a convite do governador Otávio Mangabeira, Anísio Teixeira, recém-

chegado de um trabalho de educação na UNESCO, assumiu a Secretaria de

Educação e Saúde do Estado da Bahia (1947-1951),e retomou a luta pela causa da

educação pública em sua terra natal.

No Relatório datado de 1949, Anísio Teixeira apresentou ao Governador da

Bahia um balanço da situação em que se encontravam os serviços educacionais e

elaborou um plano de atuação específico para o interior e para a capital.

Para o interior do Estado, além do sistema de educação elementar, prevendo

atendimento para a zona rural, planejou um sistema de ensino médio ou secundário,

com a previsão de construção de Centros Regionais de Educação, a serem

localizados em 10 regiões administrativas, e que deveriam compreender: Jardim de

Infância, Escola Elementar Modelo, Escola Normal, Escola Secundária, Parque

Escolar, Centro Social e de Cultura, além dos Internatos para crianças órfãs.

Para capital, Salvador, o plano escolar compreendia um Sistema de Escolas

Elementares, seguido de um conjunto de Escolas Secundárias, de Cultura Geral e

Técnica, além de uma escola para Formação de Professores em nível de Ensino

Superior. Segundo Anísio Teixeira, as Escolas Elementares teriam uma organização

especial, constituindo os Centros de Educação Popular, localizados na periferia da

cidade de Salvador, que funcionariam como um núcleo de articulação do bairro, e

onde as funções tradicionais da escola seriam preenchidas em determinados prédios

equidistantes da Escola destinada às atividades de educação física, atividade social,

artística e industrial, que ficariam em outro terreno, muito maior, que pudesse

acomodar as construções destinadas às atividades extracurriculares, o conjunto

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compreenderia assim a chamada Escola Parque, já as escolas menores para aulas

fundamentais, com matéria especifica e curriculares seriam as chamadas Escolas-

Classes, e o conjunto de uma Escola-Parque atenderia até quatro Escolas-Classe,

formando assim o Centro Popular Educacional a ser implantado (DÓREA, 2000).

Foram planejados por Anísio Teixeira dez Centros Populares na periferia da

cidade de Salvador, segundo seu discurso de inauguração parcial do Centro

Educacional Carneiro Ribeiro (CECR) em 21 de outubro de 1950; mas pela citação no

livro de Hélio Duarte (que participou da elaboração dos CECR), sobre a Escola

Parque e Escola Classe (1973), foram planejados sete Centros Populares, nos

seguintes bairros: Itapagipe, Liberdade (local do atual CECR), Brotas, Santo Amaro,

Barris, Barra e Rio- Vermelho, em locais carentes de infraestrutura educacional.

Inicialmente, porém só foi possível a construção de um deles: o Centro

Educacional Carneiro Ribeiro, que constitui uma Escola Parque situada no bairro da

Liberdade, próximo a Caixa D’agua, na região oeste da cidade, em Salvador, à Rua

Saldanha Marinho nº 134. E quatro Escolas-Classes, construções distintas, próximas

umas das outras e da Escola-Parque. O conjunto destas escolas é denominado

Centro Educacional Carneiro Ribeiro e se transformou numa obra referencial de seu

idealizador.

Uma escola que é marcadamente caracterizada por sua organização espacial e que se notabilizou pela adoção de uma proposta pedagógica inovadora, como experiência pioneira de escola pública de educação integral em meados do século XX (DÓREA, 2000, p.155).

A Escola-Parque do Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi construída em

duas etapas: de 1949 a 1956 e concluída em 1963, numa área de 42 293m², com

terreno de pouca declividade, que possibilitou adoção de um plano geral semelhante

a uma grande praça; segundo Valdinei Nascimento (1998), remete a lembrança das

aldeias e praças jesuíticas, origem de grande número de cidades brasileiras. A área é

composta por exuberantes plantas e árvores, que foram mantidas ao máximo pelo

projeto, o terreno tem com boa ventilação e suficiente insolação o dia todo; o que

torna um lugar saudável e acessível a toda vizinhança (NASCIMENTO,1998).

Os projetos do CECR foram encomendados a três arquitetos, o projeto

arquitetônico ficou a cargo do arquiteto Diógenes Rebouças (19914-1994), que

trabalhava no estado da Bahia, e projetou os sete pavilhões da Escola Parque e a

Escola Classe 3 e 4, ao arquiteto Hélio Duarte (1906-1989) que havia trabalhado em

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Salvador e na época desenvolvia também em São Paulo projetos escolares, ele

projetou as Escolas-Classes 1 e 2, e o outro arquiteto contratado foi Paulo Antunes

Ribeiro, que possui escritório de arquitetura no Rio de Janeiro, que ficou responsável

pelos desenhos burocráticos (NASCIMENTO,1998).

O CECR foi planejado para atender um grupo de 4.000 alunos, em sua

capacidade máxima. O conjunto seria constituído por outras quatro escolas,

chamadas de Escola Classe, compostas tão somente de salas de aula e

dependências para o professor, para atender a 1.000 alunos cada uma, em dois

turnos de 500 alunos; além de uma Escola-Parque para 2.000 alunos em cada turno,

totalizando 4000 alunos; compreendendo salas de música, dança teatro, educação

artística e social, salas de desenho e artes industriais, ginásio de educação física,

biblioteca, restaurante, serviços gerais, além de residência ou internato para as

chamadas crianças abandonadas que infelizmente não foi construído.

A conclusão desse Centro só foi possível graças ao empenho do próprio Anísio

Teixeira que ao ser nomeado diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

(INEP) em 1952, viabilizou um convênio de colaboração e assistência técnica com a

Secretaria de Educação da Bahia, possibilitando o prosseguimento e a conclusão da

obra da Escola Parque. Em 1964, com o término da construção da Escola-Classe IV,

o Centro foi dado por concluído, mas, ainda assim, sem a construção do orfanato.

No discurso de inauguração parcial do CECR em 1950, Anísio Teixeira falou

do marco que era implantado na cidade, relatando que com a deterioração do ensino

desde o ano de 1925, quando foram criadas as escolas de meios períodos, reduzindo

a educação primária não só aos três anos escolares de Washington Luís, mas aos

três anos de meios-dias. "Ao lado desta simplificação de quantidade, seguiram-se

todas as demais simplificações de qualidade [...] Foi contra essa tendência à

simplificação destrutiva que se construiu este Centro Popular de Educação"

(TEIXEIRA, 1950, apud EBOLI, 1969. p.14).

Continuou seu discurso proferindo que desejava dar à escola primária, seu dia

letivo completo, com: leitura, aritmética e escrita, ciências físicas e sociais, artes

industriais, desenho, música, dança e educação física. Que, além disso, a escola

deveria educar formar hábitos, formar atitudes, cultivar aspirações, preparar a criança

para a civilização técnica e industrial, e ainda mais complexa, por estar em mutação

permanente. E conclui que "a escola deveria fornecer saúde e alimento à criança,

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visto não ser possível educa-la no grau de desnutrição e abandono em que viviam"

(EBOLI, 1969. p.14).

Anísio Teixeira neste mesmo discurso descreveu o funcionamento do Centro

Popular de Educação idealizado como uma escola dividida em dois setores, o da

Instrução, ou seja, escola de letras que constituía o ensino de leitura, escrita e

aritmética e mais ciências físicas e sociais e o da educação, como escola ativa com

atividades socializantes, educação artística, trabalho manual, as artes industriais e a

educação física. Assim divididos no espaço físico, para cada quatro Escolas Classe,

para a instrução das letras, seria necessário uma Escola Parque, para a instrução

ativa, para este sistema o horário da escola seria dividido em dois turnos, sendo um

turno na Escola-Classe e o segundo turno na Escola Parque. O Centro funcionaria

como um semi-internato, recebendo os alunos às 7h30 da manhã o e devolvendo-os

às famílias às 4h30 da tarde. (DUARTE. 1973, p.121).

São adotados princípios como norma no CECR para desenvolvimento das

crianças, descritos no livro de Hélio Duarte (1973):

- estabelecer a promoção automática;

- colocar o aluno no grupo etário que lhe for próprio;

- possibilitar a frequência à escola durante 7 anos, independente do aproveitamento;

- desenvolver programas variados para um ensino diversificado;

- estimular, por todos os meios, a participação e a criatividade da criança;

- estimular o funcionamento dos grupos de interesse e das unidades de trabalho;

- inculcar os princípios democráticos e incentivar o respeito pelo próximo.

O CECR, em Salvador, é na opinião de Anísio Teixeira, "a primeira

demonstração do modelo que tem a oferecer a passagem da escola de poucos para a

escola de todos e completa, com que poderá se criar a igualdade e oportunidade, que

é a essência do regime democrático" (TEIXEIRA, 1950, apud DUARTE, 1973, p. 121).

Na figura 06 é expressa espacialmente a proposta de Anísio Teixeira para o

Centro Educacional Carneiro Ribeiro.

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Figura 06 - Implantação da Escola-Parque com a localização das 4 Escolas Classe no Bairro da Liberdade-

Salvador- definindo o Centro Educacional Carneiro Ribeiro Fonte: http://maps.google.com.br/maps acesso 30-10-2012 - Foto de Satélite

A Escola-Parque fica a uma distância variável de 100m a 1,5 km das Escolas

Classes, sendo a mais próxima a Escola-Classe IV e a mais distante a Escola Classe

I. Atualmente as distâncias são percorridas a pé ou com transporte público,

acompanhados do responsável familiar até a Escola Parque, o que anteriormente era

feito com funcionários da própria escola organizados através dos pelotões.

Hoje também fazem parte do Centro Educacional Carneiro Ribeiro mais três

escolas públicas, que utilizam o espaço físico da Escola-Parque para suas atividades

extracurriculares.

3.2.2 A Escola Parque no Bairro da Liberdade:

A Escola-Parque tem 6.203m² de área construída é formada por sete

pavilhões assim distribuídos de forma concêntrica num terreno de 42 292m².

1) Pavilhão de trabalho.

2) Pavilhão recreativo e esportivo.

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3) Pavilhão socializante.

4) Pavilhão administrativo.

5) Pavilhão assistência alimentar.

6) Pavilhão artístico (Teatro).

7) Pavilhão da Biblioteca

A entrada principal da Escola-Parque faz-se por um corredor coberto que dá

acesso ao Pavilhão administrativo de um lado e ao Pavilhão Socializante do outro,

Seguindo um corredor que acessa as salas de professores, diretoria, sanitários para

funcionários e Secretaria, é possível chegar ao refeitório feito para acomodar 4000

crianças, em vários turnos. A circulação aos outros Pavilhões é feita em área

coberta, percurso mostrado pela figura 07 e o conjunto na figura 08.

Figura 07- Imagens do caminho percorrido até chegar ao refeitório. Fonte: Fotos tiradas por Deborah Delphino em abril 2012

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Figura 08- Implantação da Escola Parque, Rua Saldanha Marinho nº134 - Liberdade. Fonte: Foto de satélite através do www.googlemaps.com.br – acesso outubro de 2012.

Da porta de distribuição da recepção é possível avistar um grande pátio, que

inicialmente foi um campo de futebol, mas com as várias reformas, tornou-se

estacionamento e área de praça. Neste retângulo se faz a distribuição dos outros

pavilhões, expresso na figura 09.

Figura 09 - Pátio Central da Escola-Parque Fonte: Foto tirada por Deborah Delphino em abril 2012.

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Em 1950 foi feita uma inauguração parcial do CECR, o interior da praça

funcionava duplamente como campo de futebol e esplanada, de onde todo o conjunto

podia ser visto. Os três primeiros pavilhões construídos foram: Pavilhão Socializante

e Administrativo, o Pavilhão Recreativo e Esportivo e o Pavilhão de Trabalho,

mostrado na figura 10.

No primeiro plano esta o Pavilhão do Setor de Trabalho, na lateral direita o

Pavilhão Administrativo com o Refeitório e na lateral esquerda o Pavilhão Esportivo

e Recreativo. Na data da foto, a Biblioteca e o Teatro ainda não tinham sido

construídos, o que aconteceu em 1963. Pelos depoimentos de Terezinha Eboli o

uso efetivo dos pavilhões de trabalho, recreativo e esportivo, refeitório e

administrativo foi formalizado em 1955 (EBOLI,1969, p.11-12).

Figura 10- Vista aérea em 1953

Fonte: Foto do acervo da Escola-Parque – fotografada por Deborah Delphino em abril 2012.

Marcam as volumetrias as coberturas em abobadas, como suporte de criação

do espaço arquitetônico, amplamente utilizado por Hélio Duarte nos projetos das

escolas paulistas em 1950.

Segue a descrição dos Pavilhões:

1)- Pavilhão de Trabalho: tem uma área coberta de 4000m², envidraçada,

semelhante a um hangar de avião (Eboli,1969, p.39), que possui 100 metros de

comprimento por 40 metros de largura. É nesta área que os alunos desenvolvem as

atividades de artes aplicadas, indústrias e plásticas. Nele os alunos, na década de

1960 e 1970 aprendiam os ofícios de alfaiate, sapateiro, marceneiro, tecelão, pintor,

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artesão, manipulador de sisal, o couro e tudo o mais para torna-los conhecedores de

uma profissão.

A entrada ao Pavilhão de Trabalho é feito através de uma rampa, aonde se

chega ao primeiro pavimento, que é uma ampla área central destinada à

administração do setor, com armários e arquivos. Este mezanino central é protegido

por guarda corpo que permite a visão total das duas alas do pavilhão. Anteriormente

a ala da direita era reservada às técnicas de interesse das meninas e da esquerda

para os meninos. Frequentava o Setor de Trabalho alunos de 9 a 14 anos, que

escolhiam as técnicas de seu interesse, no ato da inscrição da turma. Anteriormente

o desenho era atividade que todo aluno realizava, pois era de fundamental

importância para as outras técnicas.

Na época de formação do Centro Popular de Educação, possivelmente Anísio

Teixeira tinha conhecimento do livro: Educação pela Arte de Herbert Read (1893-

1968) escrito em 1941-42, que para entender sobre ensino Read recorreu às teorias

de John Dewey; Anísio Teixeira para implantar o Centro Educacional Carneiro

Ribeiro, em especial o Pavilhão do Trabalho, sabia da importância da educação

artística para o aprendizado das crianças; por isto tanto valor e cuidado espacial foi

dado a este Pavilhão.

Herbert Read tem a intenção de mostrar que a função mais importante da

educação é a educação da sensibilidade estética, não só para a educação visual ou

plástica, mas compreende todos os modos de autoexpressão, literária e poética,

bem como musical e constituem uma abordagem integral da realidade.

A educação dos sentidos nos quais a consciência, a inteligência e o julgamento do indivíduo humano estão baseados. É só quando esses sentidos são levados a uma relação harmoniosa e habitual com o mundo externo que se constitui uma personalidade integrada. (READ, 1942. p.8).

Para cada técnica utilizada havia no passado, até meados da década de 1970

um objetivo claro que era defendido pelos coordenadores e professores , assim

definidos no livro de Terezinha Epoli, no desenho o objetivo geral era o

desenvolvimento da imaginação, da sensibilidade, da capacidade artística e do

espírito de observação, familiarização do aluno com os diversos materiais utilizados

e conhecimento dos diversos processos adotados no desenho. Quanto aos objetivos

específicos deviam provovar experiências através do desenho, desenvolver a

sensibilidade e a imaginação para a composição da arte, obtenção de um desenho

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bem integrado nas superfícies, aguçar e levar a sentir o efeito da aplicação de

variadas cores e a distribuição das formas, ajudando-a desse modo no domínio das

artes gráficas e decorativas (EBOLI, 1969).

As técnicas que se ocupavam os alunos eram as seguintes: cartonagem,

encadernação, artefatos de couro, de metal, de madeira, modelagem, cerâmica,

cestaria, alfaiataria, corte e costura bordados diversos, confecção de bonecas e

bichos, tapeçaria e tecelagem. (EBOLI, 1969. P. 39). Este setor da Escola-Parque

visava principalmente educar o aluno pelo trabalho e para o trabalho, levando-o a

adquirir atitudes, hábitos e ideais relativos ao trabalho. Era entendido que pelo

trabalho, o mais simples artesão estava sabiamente ensinando os alunos a pensar,

a prever, a ter paciência e tenacidade, a ser responsável e exato. Este era o

conceito esclarecido por Terezinha Eboli no livro: Uma experiência de Educação

Integral onde relata que: "não existe a preocupação de se ensinar determinado

trabalho, mas, fundamentalmente, de oferecer oportunidade para se aprender a

trabalhar" (EBOLI,1969, p.41). A amplitude e transformação de uso do Pavilhão do

Trabalho evidenciam-se na figura 11.

Figura 11 - Fotos Comparativas do Pavilhão de Trabalho: em 1973 e em 2012 Fonte: primeira foto retirada do livro Terezinha Eboli p. 41 e segunda foto de Deborah Delphino abril de 2012

Para a técnica da Modelagem e Cerâmica o objetivo era desenvolver a

habilidade manual; formar hábitos de higiene, dar conhecimento as formas,

dimensões dos objetos; desenvolver a observação e concorrer para o equilibrio

emocional.

Na técnica de Cartonagem e encadernação o objetivo era dar aos alunos

noção prática de medidas e métricas, com o desenvolvimento do senso de exatidão;

tendo como meta exercitar a criança no uso dos instrumentos para obtenção de

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trabalhos perfeitos com medidas determinadas e despertar o senso de

responsabilidade e zelo pelo material da técnica nas diversas etapas do trabalho.

Terezinha Eboli (1969) relata que com a prática desta técnica houve a recuperação

de livros usados para as bibliotecas municipais.

Trabalhavam com outras matérias primas como Metal, Couro e Madeira, na

confecção de armação de metal, cinzeiros, cantoneiras e figuras decorativas,

quando manuzeavam vergalhões de ferro, folhas de zinco, cobre, arame e lata.

Quando trabalhavam com o couro produzia-se bolsas, sacolas, pastas, porta

revistas, capas para livros, carteiras, cintos e pulseiras. Também desenvolvia a

técnica de sapataria, pelos meninos, que constituiam grupo à parte na ala

masculina, na confecção de variados tipos de sapatos, desde sandálias abertas até

o sapato escolar fechado. Quando o material era madeira fazia miniatura de

mobiliário, caminhão, carro e casas de brinquedo, porta-jóia, além de cadeiras,

tambores e algumas vezes reparava o próprio móvel da escola. Para tanto o material

empregado consisitia de compensado de 4 a 6 mm, tábuas de pinho de ½", de ¾" e

de 1”; cola, tinta, veniz, pregos e lixas , com ferramentas e instrumentos próprios

para manuzear a madeira ( EBOLI, 1969, p.47).

Outras habilidades ensinadas aos alunos eram: Alfaiataria para os meninos e

Corte e Costura para as meninas. Bordados diversos, confecção de brinquedos

flexíveis como bonecas de pano e outros animais de tecido; tapeçaria; tecelagem e

cestaria; bijuteria; flores em plástico ou tecido que era bastante apreciado pelas

meninas.

Agora o mais interessante deste Setor é que todo material confeccionado

pelos alunos era vendido numa lojinha dentro da própria escola, dirigida pelos

próprios alunos, no Setor Socializante. Terezinha Eboli descreve como esta lojinha

funcionava, no final de cada ano, a volumosa produção de trabalhos era vendida na

exposição geral e o lucro era depositado nas cadernetas individuais dos alunos, do

“Banco Economico” do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), de acordo com

a venda de seus trabalhos. Este procedimento era resultado da situação educativa,

e o que importava, o aluno orientado pelo mestre para que conseguisse sugerir e

aceitar projetos de trabalho e participasse de sua elaboração; realizasse com

exatidão todas as fases, mantendo-se em atividade; julgasse o resultado obtido e o

mais importante que aprendesse real e integralmente os conhecimentos, habilidades

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e atitudes necessários à vida em sociedade. Estando neste Setor realmente o

espirito do CECR (1969, p.51).

Para completar a magnitude deste Pavilhão encontram- se na parede frontal

de entrada um afresco da artista plástica Maria Célia Amado, e depois de cada lado

do setor masculino e do feminino estão dois imensos painéis de Mário Cravo e do

outro lado de Caribé. Quando se desce a escada de aceso ao setor de trabalho

existe em toda extensão das paredes de um lado um afresco de Carlos Magano e

de outro um afresco de Jenner Augusto. Esses painéis representam patrimônio

artístico de valor incalculável, detalhados no Apêndice B.

Visitado em abril 2012, o Pavilhão encontra-se hoje deteriorado e desvirtuado

com atividades de alunos em pequenos grupos e sem a divisão de alas masculina e

feminina; as atividades não são mais obrigatórias, mas extracurriculares duas vezes

por semana, expresso pela figura 12.

Figura 12- Pavilhão do Trabalho- Vista externa e Vistas Interna.

Fonte: Foto de Deborah Delphino abril de 2012.

.

As grandes janelas permitem iluminação natural o dia todo no Pavilhão, e

contribuem para uma ventilação cruzada, tornando o ambiente de trabalho agradável

a qualquer hora do dia. Este espaço inovador demonstra a grandiosidade do projeto

educativo de Anísio Teixeira.

2) O Pavilhão Recreativo e Esportivo: possui dois andares, aproveitando o

desnível do terreno. Tem uma área coberta de 2 775 m², sendo o pavimento superior

para quadras cobertas de voleibol, basquete ou futebol, e no pavimento inferior estão

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os vestiários com 130 duchas, pequena cantina, quatro salas para ginásticas,

depósito e sala de reunião para coordenação.

A preocupação do projeto com a ventilação e iluminação do pavilhão está

presente, à medida que coloca grandes janelas nas laterais e aberturas frontais e

zenitais, fazendo com que a troca de ar seja constante num ambiente que requer

muito esforço físico e atividades recreativas e as temperaturas do local são

elevadas, aclarado pela figura 13 e 14.

Figura 13 - Pavilhão Esportivo e Recreativo–Vista externa e interna- Pavimento Térreo.

Fonte : Foto de Deborah Delphino- abril de 2012

Figura 14- Pavilhão Esportivo e Recreativo-; Vista da Salas de Ginástica Olímpica e Balé: Vista do Vestiário

com as duchas. Pavimento Inferior.

Fonte: Foto de Deborah Delphino- abril de 2012.

3) Setor Socializante: abrangia pelo depoimento de Terezinha Eboli (1969),

o Banco Comércio e Indústria, o Jornal, a Rádio, o Grêmio e a Loja, que eram

instituições inteiramente dirigidas pelos alunos da 5ª e 6ª série. Hoje o Banco não

existe mais e algumas salas são de Informática, como mostra a figura 15.

As atividades neste setor têm como objetivo geral dar aos alunos

oportunidade de maior interação na comunidade escolar, ao realizar atividades que

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levam à comunicação com todos os colegas ou a maioria deles; preparar para atuar

na comunidade, consciente de seus direitos e deveres, como agentes do processo

social e econômico; desenvolvendo lhes a autonomia, a iniciativa, a

responsabilidade, a cooperação, a honestidade, o respeito a si e aos outros

(EBOLI,1969, P.69).

Figura 15 - Pavilhão Socializante – Vista externa e interna.

Fonte: Foto de Deborah Delphino março de 2012.

4) Direção e Administração Geral: incluindo assistência médico-

odontológico aos alunos; funciona na Escola-Parque o gabinete médico com

atendimento diário para todos os alunos do Centro Educacional Carneiro Ribeiro

(CECR), e quatro gabinetes dentários que contam com pessoal designado pela

Secretária de Saúde do Estado.

Este prédio é bem iluminado e ventilado devido à presença de combogos em

toda lateral do prédio e aberturas vedadas com vidro fixo de 1x1m em intervalos

determinados, visto na figura 16.

Figura 16- Pavilhão Administrativo- Secretaria, Direção, Coordenação e Sala Professores. Vista externa.

Fonte: Foto de DeborahDelphino abril de 2012

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5) Pavilhão Assistência alimentar: O refeitório se liga ao pavilhão

administrativo através de uma circulação coberta que permite chegar a este espaço.

O Pavilhão Assistência Alimentar tem área coberta de 1 200m², uma cantina

completa, com capacidade para atender 4 000 crianças e todo o grupo de

professores, estagiários ou bolsistas, funcionários, visitantes, não apenas com leite e

farinha, mas uma refeição completa de legumes, carne e pães. Mostrada na figura

17. Teve seu funcionamento nos padrões almejados até meados de 1965, quando

parou de receber recursos públicos, ficando a cargo das agências estrangeiras o

fornecimento de leite em pó ( EBOLI ,1969, p.39).

Atualmente é servida uma refeição aos alunos que se matriculam nos cursos

extras e, portanto almoçam em pelo menos dois dias da semana na Escola Parque.

O lugar apresenta limpeza e asseio dos funcionários. No final da tarde a padaria,

que também ensina os alunos que se interessam pela profissão, faz receitas de pão

caseiro, deixando o ambiente com aroma agradável.

Figura 17 - Pavilhão da Cantina –Vista frontal e interna do refeitório.

Fonte: Fotos de Deborah Delphino em abril de 2012 .

6) Pavilhão Artístico: foi inaugurado em 1963. É composto por um Teatro

tipo italiano com palco giratório, para atender um público de 500 pessoas

aproximadamente; uma Arena ao lado do teatro que atende aproximadamente 5000

pessoas para eventos de música instrumental, canto, dança e peças teatrais,

evidenciadas nas figuras 18 e 19.

Como explica Terezinha Eboli todas as atividades de teatro da Escola-Parque

constam de pesquisa, preparo das peças, desenhos de vestimentas e cenário,

exercício de dicção, improvisação, canto e dança. Favorecem no educando a atitude

de observação, a desinibição e o espírito criador. O ensino de música tem como

objetivo oferecer ao aluno o aprendizado, desenvolver a sensibilidade rítmica, a

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capacidade de ouvir tanto música erudita como popular, favorecendo ainda o senso

crítico, enfim colaborar no desenvolvimento total da personalidade da criança

( EBOLI,1969, p.63).

Figura 18- Teatro – Foto frontal da plateia e Entrada, sendo uma escultura em primeiro plano. A entrada do

teatro se faz por duas portas laterais que dão acesso a plateia.

Fonte: Foto de Deborah Delphino março de 2012.

Figura 19- Arena- vista parcial do palco e das arquibancadas.

Fonte: Foto de Deborah Delphino março de 2012.

O Teatro esta em perfeito estado de conservação possui camarins para

meninos e meninas, nos andares superiores existem salas para música, canto, curso

de teatro, e estava sendo totalmente utilizado quando da visita (abril 2012).

7) Pavilhão da Biblioteca: o prédio foi um dos últimos a ser inaugurado, com

linhas modernas, redondo e envidraçado. Há luz por todos os lados no seu interior.

Um balcão central circular separa os arquivos, fichários, mesas de professores e

armários, da área de recantos de leitura e descontração, visto na figura 20.

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Pelos depoimentos do livro: Uma experiência de Educação Integral. Centro

Educacional Carneiro Ribeiro de Terezinha Eboli (1969), a biblioteca funcionava com

as seguintes atividades: leitura; estudo livre ou dirigido; pesquisa; hora do conto,

criada para alunos menores; jornal mural; exposições e o teatro de sombra e

fantoche. Pelos dados de 1968 havia 10.934 livros na Biblioteca da Escola Parque,

"o que era pouco, observado a demanda de alunos interessados em leitura e

conhecimento" (EBOLI, 1969, p.66).

Figura 20 - Biblioteca- Vista externa e interna da recepção

Fonte: Fotos tiradas por Deborah Delphino- abril 2012

Consideração parcial:

Hoje os alunos não são obrigados a frequentar a Escola-Parque em todas as

atividades como era proposto no inicio do projeto. Percebe-se a participação da

comunidade em geral inclusive da 3ª idade, como nas aulas de dança e ginástica.

Muitos locais ficam sem utilização em boa parte do tempo. Os alunos desenvolvem

apenas uma atividade extracurricular por bimestre que não representa nota para

aprovação do ano letivo.

Todos os Pavilhões visitados no dia (abril 2012) realizavam algum tipo de

atividade, demonstrando a importância da Escola-Parque para a comunidade, como

polo gerador de cultura e lazer dirigido para o aprendizado. Fiquei emocionada ao

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saber que o guia que me conduziu para o conhecimento das Escolas Classe, foi

aluno do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, já ingressara da Faculdade e cursava

o 2º ano de Direito.

Atualmente matricula-se na Escola Parque no inicio do bimestre, e ao escolher

a grade das atividades oferecidas pelas oficinas, atividades esportivas e culturais,

pode fazer os cursos duas ou ate quatro vezes por semana, no período da manhã

das 8h às 11:30h , ou a tarde das 13:30h às 17h, respectivamente para os alunos que

estudam a tarde ou pela manhã nas Escolas-Classes.

Os que fazem atividades pela manhã na Escola Parque depois das atividades

tomam banho e almoçam no Refeitório para seguir a Escola Classe, e os que chegam

para as atividades à tarde, almoçam e depois fazem suas atividades na Escola

Parque, porém as atividades desenvolvidas pelo aluno são feitas em apenas um

Pavilhão por dia. Exemplo: um dia esta no Pavilhão de Trabalho, faz atividades por lá

no período completo. No dia seguinte faz atividades oferecidas no Pavilhão Esportivo,

se optou ficar um terceiro dia na Escola-Parque faz atividades no Pavilhão

Socializante por todo o período e o 4º dia que ficar na Escola-Parque deve ser

dedicado a Biblioteca.

As abstenções são raras, uma vez que é o aluno que escolhe o que quer fazer,

mediante a grade de opções apresentadas no programa bimestral e quantos dias da

semana vai participar das atividades, isto é se no mínimo duas ou os outros dias da

semana. A escola acolhe alunos do ensino fundamental e médio, que frequentam as

Escolas Classes do Centro Educacional e também a comunidade de terceira Idade. É

possível perceber que apesar do desvirtuamento do projeto original, algumas

sementes frutificam até hoje.

3.2.3 As Escolas Classes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro.

As Escolas Classes são prédios, frequentados atualmente por 3.770 alunos,

localizadas, respectivamente: Escola-Classe I na Rua Liberdade; Escola-Classe II na

Rua Pero Vaz; Escola-Classe III na Rua Marquês de Maricá; e Escola-Classe IV na

Rua Saldanha Marinho, muito próxima a Escola Parque. Nesta última, em 1964,

passou a funcionar o Ensino Médio.

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Anteriormente, até a década de 1970 a utilização das Escolas Classes se

fazia com os alunos permanecendo quatro horas em aprendizagem escolar das

chamadas matérias de ensino: linguagem, aritmética, ciências e estudos sociais.

Após o horário de classe, os alunos da manhã encaminham-se para a Escola

Parque (e desta para as classes, no horário desencontrado) onde permaneciam

mais quatro horas, completando seu tempo integral de educação com as atividades

dos diversos setores. A diretoria, vice-diretora, professores e serventuários destas

escolas eram designados e mantidos pelo Estado, e contava originalmente com

gratificação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira (INEP).

Inicialmente foi proposto às Escolas Classes serem dedicadas a educação

intelectual sistemática de menores, nas idades de 7 a 14 anos no curso completo de

oito anos e somente depois em meados da década de 1960, aprovou-se a utilização

da Escola Classe IV para ensino noturno do curso médio, jovens de 16 a 18 anos.

Através do levantamento in loco pode-se constatar como as Escolas Classes

se encontravam, tendo sido feito em abril de 2012.

A primeira escola a ser visitada foi a Escola Classe IV que está localizada à

Rua Saldanha Marinho, 194- Bairro da Caixa D’Agua- Salvador - BA. É a mais

próxima da Escola Parque, praticamente fazendo divisa com o muro da escola,

possui um portão de comunicação para facilitar a passagem dos alunos para as

aulas extras. Atende ensino fundamental do 6º ao 9º ano, onde estudam

aproximadamente 500 alunos no período da manhã e 500 alunos no período da

tarde. No período noturno atende o ensino médio com aproximadamente 400 alunos.

A Escola Classe IV tem 17 salas de aulas de tamanhos regulares de 7 x 8

metros, totalizando 56 m², uma classe um pouco maior com 59 m² e uma sala

pequena de 48 m². A média por alunos é de 38 a 40 alunos por sala de aula.

As outras dependências são: biblioteca, diretoria, secretaria, arquivo,

sanitários para professores e funcionários, coordenadoria, vice-diretora, sala dos

professores, despensa e sanitários para alunos, depósitos, cozinha, cantina e um

pequeno refeitório para lanche dos funcionários.

Área total do terreno 2900 m², mostrada na figura 21.

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Figura 21: fachada Principal, Circulação para as salas de aula, vista lateral dos dois Pavimentos e Interior da

Sala de Aula da Escola-Classe VI.

Fonte: Foto de Deborah Delphino- abril 2012

A Escola-Classe IV foi reformada recentemente, apresentando bom estado de

conservação. Projetada pelo arquiteto Diógenes Rebouças, que aproveitou o

desnível do terreno com dois pavimentos, sendo bem iluminada pelos vãos de janela

que estão na lateral das salas de aulas. O inconveniente da escola é ter a telha

aparente tipo ondulado de fibrocimento o que gera nos dias de calor muito

aquecimento na sala de aula e no frio, esfriamento do local.

Atualmente (abril de 2012) as crianças passam meio período na escola e no

mínimo duas vezes por semana se dirigem a Escola-Parque para fazer atividades de

educação física e artes. Não possui quadras esportivas e tem um espaço reduzido

para recreio dos alunos.

A Escola-Classe III está localizada à Rua Marquês de Maricá a

aproximadamente 500 metros da Escola-Parque. Segue o mesmo esquema de

alunos da Escola-Classe IV; as crianças passam meio período na escola e duas

vezes por semana se dirigem a Escola-Parque para fazer atividades de educação

física e artes. Não possui quadras esportivas e tem um espaço reduzido para recreio

dos alunos, conforme figura 22.

Figura 22 - Escola-Classe III- Fachada Principal, interior da Sala de Aula, Circulação dos alunos e pátio coberto

para recreio.

Fonte: Foto de Deborah Delphino em abril 2012.

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Esta escola apresenta a fachada bem elaborada, e internamente demonstra

boa distribuição espacial, projetada pelo arquiteto Diógenes Rebouças, possui laje

em todos os espaços, e as salas de aulas apresentam litocerãmico, bem como a

área de circulação dos alunos com barra impermeável até 2 metros.

A Escola-Classe II que foi visitada está localizada na Rua Pero Vaz s/n, fica a

aproximadamente 1 km da Escola Parque; passa por uma pequena reforma nas

instalações elétricas e pintura. Apresenta espaços agradáveis e próprios para

formação dos alunos, como expressa a figura 23. A escola foi projetada pelo

arquiteto Hélio Duarte quando esteve trabalhando em Salvador no final década de

1940. As salas de aula estão bem distribuídas em dois pavimentos e possui uma

área de recreio externa com quadra poliesportiva. Funciona da mesma maneira que

as Escolas Classes III e IV, tendo 12 salas de aulas em cada pavimento, as crianças

passam meio período na escola e duas vezes por semana se dirigem a Escola

Parque para fazer atividades de educação física e artes.

Figura 23- Escola Classe II- Fachada Principal, interior da Sala de Aula, Circulação dos alunos e pátio

descoberto para recreio dos alunos.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em abril de 2012.

Por ter sido uma das primeiras Escola Classe a ser construída, teve-se um

cuidado decorativo maior, pois na parede de frente a secretária há um grande painel

pintado na parede, de autoria desconhecida, que infelizmente está em péssimo

estado de conservação, o que comprova a preocupação com a arte e seu convívio

naquela época. E será mais bem discutido no Apêndice B desta dissertação.

A Escola Classe I- foi a última visitada por estar mais distante da Escola

Parque, aproximadamente 1,5 Km, pois a percurso até a escola foi feito de

transporte público. Está localizada na Rua Liberdade s/n, a entrada é recuada e foi

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feito um muro na divisa do terreno que esconde a fachada principal da Escola

Classe I está em bom estado de conservação e uma novidade para a época é ter

sido projetada com a circulação vertical feita através de rampas com declividade

agradável. Projetada pelo arquiteto Hélio Duarte sua situação está na foto 24.

FORO

Figura 24- Escola-Classe I- Fachada Principal, interior da Sala de Aula, Circulação dos alunos e pátio

descoberto para recreio dos alunos.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em abril 2012.

As salas de aula possuem lajes e mantém as características da época com

litocerâmica vermelha no piso e combogós para ventilação e iluminação natural, as

paredes possuem barramento impermeável até 1,50 metros. Na entrada dos alunos

se encontra um belíssimo painel na parede, que infelizmente encontra-se em

péssimo estado de conservação. (ver Apêndice B).

Consideração Parcial:

O Centro Educacional Carneiro Ribeiro é único na concepção do programa

funcional e arquitetônico original proposto por Anísio Teixeira que se concretizou

efetivamente. A grande área que ocupa a Escola Parque com a construção dos sete

pavilhões distribuídos lateralmente no terreno, permitiu que o centro do terreno

continuasse desocupado possibilitando a reunião de todos os alunos nas

festividades e encontros cívicos, e de se transformar numa enorme praça de

equipamentos para servir a população local periférica, carente de infraestrutura

urbana e que desde o final da década de 1950 se utiliza destes equipamentos.

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O diferencial desta escola esta no Pavilhão de Trabalho, um enorme espaço,

bem iluminado e com uma riqueza de detalhes, especialmente nos grandes painéis

pintados por artistas renomados da época e que demonstraram a filosofia requerida

para Escola Parque.

Quando São Paulo começa a construções de escolas apoiada na filosofia

trazida por Hélio Duarte a partir da convivência com Anísio Teixeira, ele tenta

construir escolas para atender os anseios Industriais e modernos, trabalha em áreas

grandes, procura um diferencial quando instala piscinas nas escolas públicas, para

os alunos terem um conhecimento de outro esporte, mas não consegue implantar

nenhum Pavilhão que se compare ao do Pavilhão Trabalho do Centro Educacional

Carneiro Ribeiro (CECR).

3.3 ESCOLA NOVA EM SÃO PAULO – 2º CONVÊNIO ESCOLAR (1949-1952). 3.3.1 A iniciativa de São Paulo para construção de escolas públicas no final

da década de 1940.

O 2° Convênio Escolar do Estado de São Paulo foi assinado em 28 de

dezembro de 1949. Formou-se a partir da Constituição de 1934, onde se estabelecia

cota da arrecadação para aplicação nos sistemas de ensino equivalente ao

recolhimento de 20% dos impostos arrecadados pelos Estados e de 15% dos

impostos arrecadados pelos Municípios com a finalidade de desenvolvimento e

manutenção dos sistemas educativos. São Paulo era um polo industrial, com

crescimento vertiginoso populacional, e com grande carência de escola para

crianças. Constatava-se um déficit de 1200 salas de aula, para população, para uma

população de 48.000 crianças, na idade escolar na cidade de São Paulo. A

comissão do 2º Convênio, então, dimensiona cada classe com 40 alunos para

escola com no máximo 12 salas de aula. Portanto seria necessário a construção de

100 novas escolas, no período de cinco anos, para zerar o déficit de salas de aula

até o ano de 1954, em comemoração ao IV Centenário de Fundação da Cidade de

São Paulo, onde previam a construção de 20 escolas por ano, mais 2 bibliotecas

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infantis, e parques infantis. Assim, fez-se o acordo que o Estado arcaria com a

administração da escola, com a formação dos professores e o Município ficaria

responsável pela construção das escolas. (ABREU, 2007). Foram projetadas e

construídas 52 escolas pelo 2º Convênio Escolar1, metade do previsto, com a

supervisão do arquiteto Hélio Duarte na equipe do Departamento de Projetos da

Prefeitura de São Paulo, até seu desligamento da chefia da subcomissão de

planejamento, que ocorreu em 1954.

O 2° Convênio Escolar caracterizou-se pela construção de edifícios de menor

porte com na maioria 12 salas de aula. Este critério adotado substituiu o anterior de

construir grandes edifícios, reflexo da carência de escolas que se generalizava por

toda a cidade, com falta de salas de aula. O novo projeto integrava as janelas e a luz

natural, incorporando a vegetação ao interior do prédio. A cada função correspondia

espaço determinado, ou seja, o lugar de lazer e o lugar de estudo, como já ocorriam

nas escolas anteriores, embora o programa do 2º Convênio, proposto pelo arquiteto

Hélio Duarte, agregasse outros espaços para diversas atividades, como música,

teatro, esporte, etc., adequados às diferentes faixas etárias. A Escola Nova, por

apresentar um novo programa arquitetônico, procurava formar hábitos de vida, de

comportamento, de trabalho e de julgamento moral e intelectual em todos os

brasileiros, sem selecionar ou excluir, valorizando sempre o processo de

aprendizagem, a relação entre idade da criança e a classe à qual deveriam

pertencer. (ABREU, 2007)

O programa constitui num conjunto de três Blocos Funcionais, assim

especificados:

a) Bloco de ensino: contém 12 salas de aula (com 48m²), circulação (1m para 100

alunos), sanitários (1 bacia e mictório por sala masculina e 1,5 bacia por sala

feminina), museu escolar, biblioteca infantil e área para ginástica programadas.

b) Bloco de recreação: com pátio coberto com área de 0,9m²/aluno ou 300m²,

contemplando cinema recreativo com palco para apresentações, vestiários e

sanitários (repete critério já exposto).

1 Foram firmados três Convênios entre a Prefeitura de São Paulo e o governo do estado de São Paulo, o 1º

acordado em 1943 e finalizado em 1948, com a construção de três edifícios escolares. Trataremos do 2º Convênio, onde se propunha os conhecimentos adquiridos por Hélio Duarte da Escola Nova na convivência com Anísio Teixeira e da ideia da escola em período integral, também influenciado pela escola americana. No 3º Convênio Escolar houve a construção de 17 escolas, no período de 5 anos(1954-1959).

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c) Bloco administrativo: composto por três subáreas: área de administração

propriamente dita, com salas para diretoria (10m²), secretária (16m²), arquivo,

material escolar (6m²), sala de professores com biblioteca didática (20 m²),

almoxarifado e cômodo dos serventes; área de assistência escolar, abrangendo as

especialidades de atendimento médico (10m²), atendimento dentário (10m²),

atendimento social e de nutrição (nutricionista, cozinha e distribuição de alimentos);

zeladoria com apartamento próprio para o(a) zelador(a).

Consideração parcial:

Praticamente o modelo proposto pela equipe de Hélio Duarte, que tinha

convivido em Salvador com o programa de Anísio Teixeira, se transforma no

conjunto completo de ensino, onde a Escola-Parque e a Escola-Classe fazem parte

do mesmo terreno, todas as aulas eram oferecidas num mesmo espaço físico,

parecidas com as escolas americanas. Observa-se a influência de arquitetos

estrangeiros como de Richard Neutra1 nos trabalhos de Hélio Duarte, como conta

em depoimento dos arquitetos do Departamento de Projetos da Prefeitura, que que

realizavam consultas em revistas estrangeiras ( DUARTE, 1973).

3.3.2 A Escola de Hélio Duarte e sua equipe.

Portanto o desafio enfrentado por Hélio Duarte era propor um programa arquitetônico que criasse classes com o conforto necessário. A iluminação, a ventilação, a dimensão das carteiras, a sala dos professores, do médico, do dentista, a biblioteca e o galpão para o ginásio de esportes deveriam responder às necessidades de cada faixa etária. O detalhamento interno do prédio era importante, pois as funções de cada um dos espaços construídos deveriam ser previstos no projeto. (SILVA, 2006, p. 54).

1 A influência da arquitetura dos edifícios públicos de Richard Neutra (1892-1970), arquiteto austríaco do pós-

guerra, deu-se sobretudo nos projetos escolares da Califórnia, nos Estados Unidos, e dos projetos de arquitetura social para Porto Rico, que foram estudados pela equipe do 2º Convênio Escolar chefiados por Hélio Duarte (TAKIYA, 2009)

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O bloco de ensino era construído, na maioria das vezes, por dois pavimentos

e salas de aula para 40 alunos cada ( 1,20 m² por aluno), formando um retângulo de

6x8 metros já tradicionalmente encontrado nas escolas públicas desde os primeiros

edifícios escolares construídos no século XX, totalizando 48 m² por sala ( as quatro

salas das pontas eram maiores para proporcionar arranjos espaciais diferentes da

organização tradicional da sala de aula).

O bloco de recreação era composto por recreio coberto em abobada

estruturada através de elementos pré-moldados de concreto ou madeira, contendo

um palco (podendo ser móvel), vestiário e cabines de projeção.

O bloco administrativo era térreo, na maioria das escolas, apresentava

pequenas aberturas, uma vez que, por principio econômico e de conforto da criança,

as grandes aberturas deveriam estar nas salas de aula.

A premissa que orientava a construção das escolas como equipamento da

comunidade e do bairro onde implantada, era de que elas abrangessem um raio

máximo de 1,5 km de forma a se tornarem acessíveis a todas as crianças desse

entorno.

Hélio Duarte opta por projetos simples e pelo uso de materiais em acordo com

a arquitetura moderna, como o concreto armado, o que permite que o edifício fosse

concebido a partir de uma linha horizontal, e ficasse inserido com muita leveza na

paisagem, exemplo é a Escola no Alto da Mooca, a do bairro do Limão e do

Jabaquara.

O partido arquitetônico de Duarte propõe formas generosas e luminosas, que

incorporam os jardins, como meio de estimular o desenvolvimento intelectual e físico

da criança. O edifício escolar é pensado como o equipamento urbano aglutinador da

comunidade local, ao mesmo tempo em que é o polo irradiador de experiências. A

separação dos programas de ensino e administração em dois blocos conectados por

circulação externa, a utilização de elementos recorrentes - como pérgulas e

marquises apoiadas em pilares de ferro em V, telhas de fibrocimento cobrindo os

volumes com telhados em asa de borboleta, a forma abobadada do galpão de

recreação infantil, obtida com arcos de concreto armado pré-moldados. Esta solução

usada na maioria dos projetos aparece na E.E. Pandiá Calógeras, 1949 e na E.E.

Visconde de Taunay, 1949, de sua autoria. Ela ajuda a dar mais graça e leveza aos

projetos bem como torná-los reconhecíveis na paisagem.

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Um bom exemplo de Escola Parque é a que foi feita em parceria com Ernest

Mange, seu sócio e amigo, que além dos trabalhos do departamento de projetos na

prefeitura desenvolveram projetos do SENAI. Ernest Robert de Carvalho Mange

(1922-2004) teve importância para cidade de São Paulo, onde nasceu, filho de pai

suíço, engenheiro e professor da Escola Politécnica, e de mãe professora. Ingressou

no Jardim da Infância da Escola Modelo Caetano de Campos em 1927, onde cursou

também o primário. Como arquiteto e urbanista participou da construção de várias

escolas públicas nos anos 50. Foi professor na Universidade de São Paulo. Como

presidente da Emurb, Empresa Municipal de Urbanização, defendeu a preservação

do prédio da Escola Caetano de Campos, ameaçada de demolição pelas obras do

Metrô paulistano. Foi primeiro diretor superintendente e responsável pela elaboração

da política cultural do Instituto Cultural Itaú. Foi também artista plástico. Em parceria

com Hélio Duarte projetou a escola no bairro de Santana, São Paulo, na Rua

Voluntária da Pátria 3.422, chamada atualmente Escola Estatual Dr. Octavio

Mendes, excelente exemplo de Escola-Parque por ter as principais características:

bom terreno, jardins, salas que dão para o exterior, quadras, teatro, piscina.

3.3.3 A Escola Estadual Doutor Octavio Mendes.

Foi projetada em 1952 pelo arquiteto Ernest Mange em parceria com arquiteto

Hélio Duarte, num terreno de aproximadamente 10 000m² e área construída de

3 500m². São três blocos de construção, todos eles interligados num formato de 'U',

o primeiro bloco, visto da fachada principal, esta localizada a área administrativa da

escola e a biblioteca. O segundo bloco estão as salas de aula, em dois pavimentos,

com 8 salas em cada andar, totalizando 16 salas de aula, com janelas que dão para

a lateral do terreno; o último e terceiro bloco está o recreio coberto dos alunos e no

pavimento superior estão localizadas mais 3 salas de aula, e um laboratório de

biologia (anteriormente nestas 3 salas de aula, eram utilizadas para outros dois

laboratórios de química e física e a outra sala maior era um multiuso). Esta escola

contém um número de salas maior que em geral tem as escolas do 2º Convênio,

devido a carência de escolas na região e o terreno favorecer esta disposição.

Conectado a este terceiro bloco no térreo tem a cantina e o refeitório que servem

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aproximadamente 300 refeições por dia para os alunos, nos três turnos, e para os

funcionários da escola. A figura 25 ilustra todos os aspectos salientados.

A área de recreação é composta por uma piscina medindo 8x 25 metros, uma

quadra de futebol coberta, uma quadra poliesportiva, com arquibancadas nas

laterais e uma pequena área nos fundos com jardim e árvores. Entre o Bloco de

ensino e a quadra coberta está o auditório para 280 pessoas, com palco tipo

italiano, todo revestido em madeira para favorecer a acústica. Uma escola

construída nos moldes das Escolas Platoon Americanas, uma escola notadamente

completa, mas que infelizmente perdeu a filosofia no decorrer do tempo.

Atualmente funcionam três períodos, com ensino fundamental 2 (6º ao 9º

ano) a tarde, e ensino médio (1º ao 3º colegial) de manhã e a noite. A piscina é

utilizada pelos alunos apenas no final do ano, para comemorar o encerramento das

aulas. Como aula extracurricular possui apenas ensino de teatro. A utilização do

auditório é feita somente pela escola, não se estende a comunidade. A Escola não

participa do programa federal 'Mais Educação', proposto em 2010, que visa

transformar em período integral para os alunos de ensino fundamental.

Hoje estão matriculados na escola, (números fornecidos pela diretora) 1300

alunos nos três turnos que começam as 7:00h às 12:30h ( ensino médio), a tarde

das 13:00h às 17:20 h (ensino fundamental 2) e a noite das 19:00h às 23:00h (

ensino médio)

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Figura 25 - Implantação da E Doutor Octavio Mendes, Vistas externa e Interna.

Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl acesso 09-11-2012- e fotos de Deborah Delphino

tiradas em nov.2012.

Comparativamente, quando foi inaugurada e atualmente algumas alterações

ocorreram como: os jardins já não existem mais, nem o trampolim da piscina, como

mostra a figura 26.

Figura 26- Foto da década de 1950( da esquerda) e foto atual (da direita) da piscina e bloco administrativo.

Fonte: Foto do arquivo da E Dr. Octávio Mendes e foto de Deborah Delphino tirada em novembro 2012.

A escola projetada na década de 1950 por Ernest Mange, sócio de Hélio

Duarte, trazia os conceitos da Escola Parque, com áreas verdes, infraestrutura

cultural e esportiva completa. Pela analise das fotos antigas é possível perceber que

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as diversas reformas não foram respeitadas, as características do projeto original,

pois foi retirado o trampolim e pedestal de salto, bem como o jardim que existia ao

redor da piscina. Quanto à biblioteca, também é possível constatar o abandono do

acervo e livros, bem como a inexistência de um bibliotecário em período integral de

vital importância. Hoje além de estar sobrecarregada de livros, ainda tenta aproveitar

um espaço colocando um equipamento de Multimídia, o que descaracterizou o

ambiente da biblioteca que deveria ser reservado à leitura e deveres de casa,

evidente na figura 27.

Figura 27- Foto da Biblioteca na década de 50 e foto atual, novembro de 2012.

Fonte: Foto do acervo da E Dr. Octavio Mendes e foto de Deborah Delphino em novembro de 2012.

3.4 CENTRO DE EDUCAÇÃO ELEMENTAR EM BRASÍLIA ( 1957-1963)

3.4.1 A Escola idealizada por Anísio Teixeira para a Capital Federal, Brasília.

No contexto do desenvolvimentismo configurado no governo do Presidente

Juscelino Kubitscheck, a construção da nova capital também devia implicar

mudanças significativas na instituição escolar. Na época Anísio Teixeira era diretor

do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Pedagógicos Anísio Teixeira (INEP), e

tinha como bagagem a implantação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR)

em Salvador, com uma proposta de ensino integral que poderia atender os objetivos

demandados pela civilização moderna da capital planejada. Então Anísio Teixeira

propõe um plano educacional para Brasília, do ensino infantil, fundamental, médio

até o ensino superior.

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Com perspectiva de escola básica, para crianças de 6 a 14 anos é planejado

o Centro de Educação Elementar que compreendia pavilhão de jardim de infância,

de escola-classe, de artes industriais, de educação física, de atividades sociais, de

bibliotecas escolares e de serviços gerais. (Modulo 20.1960. v.4.p.2)

O Projeto educacional foi concebido seguindo o ordenamento urbanístico do

Plano Piloto, proposto por Lúcio Costa, que consistia no princípio básico da organi-

zação da cidade como ‘Unidade de Vizinhança’1·.Na Unidade de Vizinhança, a

escola primária devia ser colocada, aproximadamente , no centro da área de modo

que a distância dos pontos mais afastados não excedessem 800 a 1000 metros, que

para a criança representasse 15 minutos de caminhada a pé (ideal), sendo que

poderia ser distante até 2 Km no máximo. Outro ponto importante da Unidade de

Vizinhança é que ela não devia ser atravessada por nenhuma via de transito de

passagem, para evitar que as crianças ao se dirigirem a escola corressem perigo ao

atravessá-la, protegendo a criança dentro de suas possibilidades físicas e mentais

restritas. (FERRARI,1973, p.14).

Brasília foi formada pelo agrupamento de superquadras, que abrangiam uma

área aproximada de 65 mil metros quadrados, dos quais 11 mil metros quadrados

foram construídos com edifícios de seis pavimentos e o restante para áreas

arborizadas, jardins, piscinas, passeios e entre os edifícios, outros espaços públicos.

Compreendiam além dos blocos residenciais, todos os equipamentos necessários: o

comércio local, a igreja, o clube, o cinema, a biblioteca, o posto de saúde, a

delegacia de polícia, correios, a Escola e outras facilidades. No interior de cada

quadra, portanto se localizava o jardim de infância, a Escola-Classe e a Escola-

Parque que ficava na Entrequadra, compondo o complexo educacional local,

levando em conta uma população variável escolarizável de 2500 a 3000 habitantes

em cada quadra (HOLSTON, 1993).

1 Considera-se que o conceito de Unidade de Vizinhança (UV) foi formulado originalmente por Clarence Arthur

Perry no contexto do plano de Nova York de 1929. Em uma das monografias que integra o plano (The

Neighborhood Unit), Perry definia a UV:1. "Tamanho. Uma unidade de vizinhança deve prover habitações para

aquela população a qual a escola elementar é comumente requerida, sua área depende da densidade

populacional. 2. Limites. A unidade de vizinhança deve ser limitada por todos os lados por ruas suficientemente

largas para facilitar o tráfego, ao invés de ser penetrada pelo tráfego de passagem.3. Espaços Públicos. 4. Áreas

Institucionais. 5. Comércio Local. 6. Sistema Interno de Ruas.

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Assim, as escolas primárias foram edificadas no interior das quadras de modo

que as crianças não tivessem que se deslocar por longo trajeto para atingir suas

respectivas escolas.

Com isso, após o período de iniciação escolar no Jardim de Infância, para

crianças de 4 a 6 anos, os alunos ingressavam na Escola Classe, destinada à

educação intelectual sistemática de menores de 7 a 14 anos. Paralelamente, os

alunos complementavam a sua formação na Escola Parque, mediante participação

em atividades diversificadas, desenvolvimento artístico, físico e recreativo, bem

como iniciação ao trabalho, perfazendo uma jornada escolar de oito horas diárias.

O desafio para pôr em prática essa proposta foi envolver a própria arquitetura

escolar, bastante complexa, já que não se tratava apenas de uma escola e salas de

aula, mas de um conjunto de locais diversificados, combinando aspectos da ‘escola

tradicional’ com a ‘oficina’, o ‘clube’ de esportes e recreio, da ‘casa’, do ‘comércio’,

do ‘restaurante’ e do ‘teatro’ (DUARTE, 1973. p.139). O conjunto arquitetônico, que

se manteve preservado e é possível se perceber a concepção original do projeto

compreende as quadras 307/308 e 107/108 Asa Sul do Plano Piloto, o qual foi

formado por:

a) Dois Jardins de Infância - destinados à educação das crianças nas idades de 4, 5

e 6 anos, para atender 160 crianças em dois turnos (4 salas em cada escola).

b) Quatro Escolas Classe - para educação intelectual sistemática de menores, nas

idades de 7 a 14 anos, curso completo de 8 anos ou séries escolares, para atender

480 crianças em dois turnos em cada Escola com 8 salas de aula.

c) Uma Escola Parque – com uma área de 20.544 m² em um conjunto arquitetônico

de três edificações: o bloco principal, conhecido como o Pavilhão de Salas de Aula,

o bloco do Auditório e o das Oficinas destinadas a completar a tarefa das escolas-

classe, além de uma piscina e várias quadras esportivas, para o desenvolvimento

físico, artístico, recreativo das crianças e sua iniciação no trabalho, mediante rede de

instituições ligadas entre si, dentro da mesma área e assim constituídas para

atender 2000 crianças em dois turnos. O programa era composto por:

1) Biblioteca infantil e museu.

2) Pavilhão para atividades de artes industriais.

3) Conjunto para atividades de recreação.

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4) Conjunto para atividades sociais (música, dança, teatro, clubes, exposições).

5) Dependência para refeitórios e administração.

Deveriam também ser construídos pequeninos conjuntos residenciais para

menores de 7 a 14 anos, sem família, sujeito às mesmas atividades educacionais

que os alunos externos, mas que nunca foi construído. ( Modulo 20.1960.p.4)

Tendo em vista o desenvolvimento desse programa abrangente, o plano

educacional estabelecia que os alunos frequentassem diariamente a Escola-Parque

e a Escola Classe em turnos diferentes, passando quatro horas nas classes de

educação intelectual e outras quatro nas atividades da Escola Parque, com intervalo

de almoço. Com isso o horário escolar se estenderia por oito horas, divididas entre

atividades de estudo e as de trabalho, de arte e de convivência social.

Cabe ressaltar que dos vinte e oito Centros Educacionais Elementares

previstos no plano da cidade para 500 mil habitantes, apenas cinco foram

construídos, nas Super Quadras: 308/307 Sul; 210/211 Sul; 313/314 Sul; 303/304

Norte e 210/211 Norte, que atendem atualmente a quase totalidade do universo das

escolas públicas do plano Piloto como das cidades satélites. Cada uma destas

escolas recebem em média, alunos de sete escolas classes, uma ou duas vezes por

semana, e desde 1962 o plano de escola em período integral se desfez, reduzindo o

período de permanência dos alunos, na escola, para uma jornada de seis horas.

Desfigurando o plano inicial de Anísio que ao se pronunciar foi taxativo: "mais uma

vez o critério de quantidade prevaleceu sobre o da qualidade" (TEIXEIRA,1967,

p.135).

3.4.2 A Escola Parque e Escola Classe na Super Quadra 307 e 308 ASA Sul

A Escola Parque formada nesta Super Quadra 307 e 308 Asa Sul localiza-se

numa terreno de 80 x 160 metros, totalizando 12.800m². Foi tombada pelo

Patrimônio Histórico da Cidade em 1988 e é composta por um conjunto arquitetônico

de três edificações, projetado por José de Souza Reis, são eles:

1) o bloco principal é conhecido como o Pavilhão de Salas de Aula.

2) o bloco de auditório.

3) o bloco das oficinas..

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Os edifícios são mostrados pela figura 28 e 29, apresenta as seguintes

características: o Pavilhão de Salas de Aula destaca-se por características próprias

do Modernismo, deixando o pavimento térreo livre para circulação e atividades

diversas, através dos pilotis e grandes vãos, utilizado como pátio coberto. Ocupa

uma área de 2500m² de projeção ( 50 x 50 metros), e abriga a administração da

escola, os módulos principais de banheiro e um grande refeitório. O pavimento

superior é composto por salas, ateliês para artes plásticas, música e outras

atividades, além da biblioteca.

Figura 28- Vista do Pavilhão Salas e Auditório ao fundo, na construção 1959 e implantação da Escola-Parque.

Fonte: Foto retirada da revista: MODULO 20, Revista de Arq. e Artes Visuais do Brasil , Rio de Janeiro, outubro

de 1960 vol. 4, p.4. e http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl acesso 06-12-2012

Figura 29- Vista atual do Edifício das Salas de Aula e Oficinas.

Fonte; foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

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O bloco de Auditório e o da Oficina, evidenciados peas figuras 30 e 31,

completam o conjunto, com edificações térreas, de linhas retas, com caracterísitcas

modernistas, próprio da época. O bloco das Oficinas ocupa uma área de 765m²,

contém dois grandes salões destinados a oficinas, laboratórios e depósito. Já o

bloco do Auditório mede 1000m² e possui foyer ajardinado, palco, coxias e serviços

complementares.

Figura 30- Auditório – Vista externa e interna-

Fonte; Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

Figura 31- Pavilhão das Oficinas e Quadras Cobertas - Vista externa e interna

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

Do lado oposto ao Pavilhão das Oficinas totalmente ajardinada, encontra-se a

área esportiva, com piscina e quadra de esportes, mostrados na figura 32. Há ainda,

próximo a piscina um pequeno bloco semi-enterrado com 220 m² para vestiário,

lavanderia e casa de máquinas da piscina.

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Figura 32- Área externa com vista da piscina e quadras descobertas.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio de 2012.

A Escola da Super Quadra 307/308 Sul foi a primeira a ser implementada e é

a maior das cinco. Atualmente atende alunos de dez escolas. São 3300 crianças de

1ª ao 6º ano, com idade entre 7 e 12 anos, que tem aulas durante um turno num

único dia da semana. Conforme mostram as figuras 33 e 34.

Figura 33- Entrada Escola-Classe da SQS 308 vista da entrada dos alunos e do pátio interno que leva as salas

de aula.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

A Escola Classe foi inaugurada em 1959. É térrea com dois blocos de

construção, um para área administrativa e de funcionários e o outro para salas de

aulas. São oito salas com grandes janelas para o exterior e cantina para lanche,

localizada no pátio coberto que levam ás salas de aula. Atende crianças de 1º a 5º

ano (de 7 a 11 anos) em dois turnos, acomodando aproximadamente 160 alunos por

turno, sendo partes de inclusão de alunos especiais.

Está localizada no meio das praças e áreas arborizadas existentes no interior

das Super Quadras. Anteriormente não existiam grades ao redor da escola

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Figura 34- Escola Classe da Super Quadra 308 ASA Sul – Fachada na praça e Vista sala de aula.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

3.4.3 A Escola Parque pré-moldada na Super Quadra 303 e 304 ASA Norte.

A Escola Parque existente nas Super Quadras 303 e 304 ASA Norte tem

arquitetura completamente diferenciada da Escola-Parque das Super Quadras 307 e

308 ASA Sul. Começa por estar encravada no terreno. Toda estrutura escolar está

abaixo do nível do terreo dos edifícios, mostrando quando se chega ao local da

escola apenas o telhado de calhas pre- moldadas, como pode ser observado na

figura 35:

Figura 35 -Vista da entrada Escola Parque da SQ 303/304 Norte e Vista da Cobertura do telhado pre-moldado.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

Internamente é feita toda em material pré-moldado. Não foi possível conhecer

a autoria do projeto, mas tem como características projetuais as mesmas dos

Centros de Atenção Integral à Criança (CAIC) projetado na década de 1990, pelo

arquiteto João Filgueira Lima (será tratado nos capítulos seguintes). Levando em

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consideração ser o CAIC um projeto com área muito maior que a Escola Parque,

construída em Brasília, evidenciado pela figura 36.

Figura 36- Comparativo das Escolas Parques, uma década 1960 e outra foto do CAIC de 1990.

Fonte: Escola Parque na Super Quadra 304 e segunda foto do Centro Atenção Integral à Criança (CAIC),

Fotos de Deborah Delphino tiradas em maio 2012.

O projeto da Escola Parque da Super Quadra 303 e 304 Norte, segundo

depoimento de funcionários, apresenta alguns problemas como projeto escolar: a

iluminação natural é fraca, causando a utilização constante de iluminação artificial e

por ter sido construído com material pré-moldado, nos pilares, vigas e cobertura,

sem nenhuma isolação interna as salas de aulas são abafadas no verão e geladas

no inverno.

A Escola foi toda construída em um único bloco, e consequentemente com

uma única cobertura, tornando necessário para a circulação dos alunos a

implantação de uma comunicação visual clara, com uso de cores diferenciadas nas

paredes e painéis descritivos, mostrados na figura 37.

Figura 37- Vista interna da Escola Parque da Super Quadra 303/304 ASA Norte, nos três setores.

Fonte: Foto de Deborah Delphino em maio de 2012.

O Setor de educação física é todo descoberto e por falta de manutenção a

piscina está abandonada há um bom tempo, mostrada na figura 38.

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Figura 38- Vista da Escola Parque da SQ 303/304 Vista da piscina em manutenção e das quadras.

Fonte: Foto de deborah Delphino tirada em maio 2012.

O conjunto do Centro de Educação Elementar desta Super Quadra possui a

Escola Classe e Jardim de Infância. Demonstram que não houve um padrão

arquitetônico estabelecido, as escolas são diferentes das instaladas nas SQ 308 Sul,

ambas estão localizadas no meio da praça com arvores e gramado, conforme figura

39.

Figura 39- Vista do jardim de Infância SQ304 Norte e Escola Classes Super Quadra 304 Norte.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

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3.5 CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PÚBLICA (CIEP) NO RIO DE

JANEIRO ( 1983-1987 e 1991-1994).

3.5.1 A revitalização da Escola Parque na década de 1980.

Os CIEPs exercem adicionalmente a função de autênticos centros culturais e recreativos numa perspectiva de integra- ção efetiva com a sociedade (RIBEIRO, 1986, p.43).

Leonel Brizola (1922-2004) foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1983

(governou por dois períodos 1983-1986 e 1991-1994), quando propôs mudar a

história da educação, com 14 milhões de habitantes e cerca de 2,5 milhões de

crianças. Assumiu o compromisso da educação popular como sua meta prioritária.

Criou, para isso, uma comissão Coordenadora, a cargo do Vice-Governador Darcy

Ribeiro1 (1922-1997), armando-a de poderes para elaborar um Plano Especial de

Educação e dotando-a de recursos que ultrapassavam US$400 milhões para custear

sua execução. As primeiras atitudes de seu governo foram a elaborar metas e

planos para a reconstrução da rede escolar, que se encontrava em estado

precaríssimo, a transformação da merenda escolar de forma a assegurar

diariamente 2 milhões de refeições completas às crianças das escolas públicas; e

ainda, o transporte gratuito de alunos que vestissem o traje escolar. Também

elaborou o Programa Especial de Educação com a participação de todo o

professorado do Rio de Janeiro contribuindo diretamente deste debate cerca de 50

mil professores (encontro realizado no município de Mendes), que resultou na

escolha de 100 professores para discutir a redação final das bases do programa e a

ação educativa no Estado do Rio de Janeiro (RIBEIRO, 1986).

Leonel Brizola Instituiu outra meta fundamental do Programa Especial de

Educação para uma nova rede de escolas de período integral, os Centros Integrados

de Educação Pública (CIEP), que o povo passou a chamar de Brizolões, foram

1 Darcy Ribeiro, etnólogo, antropólogo, professor, educador, ensaísta e romancista trabalhou com Anísio

Teixeira na formação do programa educacional para Brasília no final da década de 1950.

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implantados nas áreas de maior densidade populacional e de maior pobreza1. Os

centros educacionais foram projetados por Oscar Niemeyer e compreendiam:

1) Edifício principal de administração, sala de aula, de estudo dirigido, cozinha,

refeitório e um centro de assistência médica e dentária.

2) Edifício com ginásio coberto que funciona também como auditório e abriga

banheiros.

3) Edifício destinado a biblioteca pública que serve tanto à escola como à população

vizinha.

4) Integram-se também nas instalações edifícios apropriados para abrigar 24 alunos

para residirem na escola, alunos que estivessem ameaçados de cair na

delinquência.

Estes conjuntos educacionais atendiam 1000 crianças da 1ª a 4ª série ou de

5ª a 8ª série, separadamente. A aula começava às 8 da manhã até 5 horas da tarde,

e assim recebiam, além das aulas normais, aula de recreação e ginástica, mais três

refeições e um banho diário. À noite, os Centros de Educação se abririam para

atender 400 jovens de 14 a 20 anos, analfabetos ou insuficientemente instruídos.

O plano de Educação tinha como meta: “criar uma escola pública honesta,

capaz de oferecer um ensino de melhor qualidade, adaptada as condições e as

necessidades do alunado popular” (RIBEIRO, 1986, p. 17).

Os Centros Integrados de Educação Pública ocuparam, com suas estruturas

pré-moldadas idealizadas por Oscar Niemeyer, a capital e o interior do Estado do

Rio de Janeiro. Em maio de 1985 inaugurou-se na capital o primeiro CIEP e foram

construídos e postos em funcionamento 502 no decorrer dos dois mandatos de

Brizola, cuja localização encontra-se no Quadro 03.

O projeto padrão do CIEP é composto de 7.000 m², numa configuração que

demandava terrenos maiores de 10.000m². A quase inexistência de grandes

terrenos nas áreas mais densas levou a uma solução mais compacta com a quadra

esportiva na cobertura do edifício escolar.

1 Chegou a ser cogitada de construir no Estado do Rio de Janeiro diversas Escolas Parques semelhante às que

Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro implantaram em Brasília e que promoviam uma integração entre os estudos curriculares, atividades recreativas e artísticas, mas a prática recomendou a superação dessas proposições iniciais, porque os Centros Culturais Comunitários ou as Escolas Parques acabariam privilegiando as crianças já privilegiadas nas áreas de maior poder aquisitivo (RIBEIRO, 1986, p.42).

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O Programa Especial da Educação do Governo Leonel Brizola, implantado

em 1984, tinha como pontos principais (RIBEIRO, 1986):

1) Acabar com o terceiro turno, com permanência da criança pelo menos 5 horas

diárias na escola;

2) Dar ao professor através de cursos de reciclagem, a ajuda para o pleno

cumprimento de suas funções;

3) Rever o material didático;

4) Garantir no mínimo uma refeição completa a cada criança da Escola Pública;

5) Promover através da escola pública, assistência médica- odontológica às

crianças, criando desta forma centros de atenção preventiva de defesa da

saúde dos alunos e das crianças das redondezas;

6) Implantar 150 Casas da Criança, em comunidades periféricas, destinadas a

abrigar crianças de 4 a 7 anos assegurando-lhes banho, merenda, assistência

médica, banho, merenda e atividades pré-escolares, de modo a habilitá-las a

alcançar êxito nos cursos de alfabetização;

7) Construir até março de 1987, 500 CIEPs- Centros Integrados de Educação

Pública, nas áreas de baixa renda e alta densidade demográfica;

8) Concretizar no horário noturno dos CIEPs, um Programa de Educação

Juvenil, para trazer de volta jovens de 15 a 20 anos que não frequentaram ou

dela se afastaram sem domínio da leitura.

9) Criar Escolas de Demonstração, como locais onde se fariam o

acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica em execução;

10)Dentro de uma politica de valorização dos profissionais da educação, conduzir

um processo de discussão, com participação dos professores e de suas

entidades representativas;

11)Estabelecer os requisitos de formação pedagógica e experiência docente

indispensável para o desempenho do cargo de direção das escolas.

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MUNICÍPIOS QUANT. MUNICÍPIOS QUANT. MUNICÍPIOS QUANT.

Rio de Janeiro 134 Petrópolis 06 Barra do Piraí 05

Nova Iguaçu 87 Nilópolis 03 Valença 02

São Gonçalo 44 Barra Mansa 06 São Pedro 'Aldeia 04

Duque de Caxias 45 Resende 06 Cabo Frio 02

São João do Meril 27 Teresópolis 04 Casimiro de Abreu 02

Campos 16 Nova Friburgo 05 Itaperuna 03

Niterói 10 Macaé 04 Sto. Antônio Pádua 02

Volta Redonda 09 Angra dos Reis 03 São Fidelis 02

Magé 08 Piraí 02 Parati 01

Itaboraí 07 Três Rios 04 Rio Claro 01

Itaguaí 07 Paracambi 03 Mangaratiba 01

Rio das Flores 01 Miguel Pereira 01 Cachoe.de Macau 02

Paraíba do Sul 01 Paulo Fondim 01 Maricá 01

Vassouras 02 Mendes 01 Saquarema 01

Rio Bonito 01 Araruama 02 Arraial do Cabo 01

Silva jardim 01 Sapucaia 01 Carmo 01

Sumidouro 01 Duas Barras 01 Cantagalo 01

Cordeiro 01 Bom Jardim 01 Itaocara 01

S.Sebst. do Alto 01 Sta. M. Madalena 01 Trajano Morais 01

Conceição Macau 01 Porciúncuia 01 Natividade 01

B Jesus Itabapoana 01 Laje de Muriaé 01 Miracema 01

Cambuci 01 João da Barra 02 Pati do Alferes 01

Quadro 03 - Localização dos Cieps – Total Construídos: 502

Fonte: dados do livro: O livro dos CIEP de Darcy Ribeiro p.45 -1986.

Para implantar no Estado do Rio de Janeiro um grande número de CIEP foi

solicitado que a arquitetura fosse economicamente viável e permitisse velocidade na

construção, conciliando beleza, custo e rapidez de execução. O arquiteto contratado

foi Oscar Niemeyer e sua equipe, que partiu da ideia de utilizar a técnica de concreto

pré-moldado, para agilizar a montagem de cada CIEP como um jogo de armar, em

um prazo de apenas quatro meses, fazendo a concretagem no próprio local da

construção, conseguindo este feito com a ajuda do engenheiro calculista José

Carlos Sussekind, aperfeiçoar a obra e integrar arquitetura com engenharia

(RIBEIRO.1986).

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3.5.2 O primeiro Centro Integral de Educação Pública:

O primeiro CIEP inaugurado é localizado na Rua do Catete 77 – no Catete-

Rio de Janeiro, num terreno que possui uma área aproximada de 7.500m², foi

batizado com o nome de Tancredo Neves, para agilizar e baratear a obra usou-se a

construção de pré-moldado de concreto armado, o "próprio Governador Leonel

Brizola comparou os custos da construção civil, projeto de Oscar Niemeyer, e

chegou a um valor de obra 30% mais barato do que se utilizasse a construção

normal de concreto e alvenaria armada" (RIBEIRO,1986. p.108).

O prédio principal possui três pavimentos ligados por uma rampa central. No

pavimento térreo localiza-se o refeitório com capacidade para 200 pessoas e uma

cozinha dimensionada para preparar o desjejum, almoço e lanche para até 1000

crianças. No outro extremo do pavimento térreo fica o centro médico e entre o

refeitório, um amplo recreio coberto. Nos dois pavimentos superiores estão

localizadas as salas de aulas, um auditório, salas especiais (estudo dirigido e outas

atividades) e instalações administrativas. Finalmente o terraço, uma área reservada

para atividades de lazer e dois reservatórios de água. A segunda construção é o

Salão Polivalente, um ginásio desportivo coberto, dotado de arquibancada, vestiário

e depósito para guarda de materiais. A terceira construção é a Biblioteca, idealizada

para atender os alunos tanto para consultas individuais como em grupos

supervisionados, estando sempre à disposição da comunidade.

Sobre a Biblioteca, existe uma verdadeira residência, para alojamento de

doze meninos e doze meninas, que podem morar na escola em caso de

necessidade, sob os cuidados de um casal, dispõe na casa de quarto próprio, sala

comum, sanitário exclusivo e cozinha.

Para os terrenos onde não é possível instalar todas as três construções que

integram o projeto padrão, foi elaborado uma alternativa denominada CIEP

compacto, composto apenas do prédio principal, ficando no terraço: quadra coberta,

vestiários, biblioteca e caixas-d ’águas.

A relação das áreas dos CIEPs Padrão tem como principais características:

Prédio Principal com 5400m²; Biblioteca/ Alojamento para crianças com 320 m² e

Ginásio com área de 1080 m². Totalizando uma área total construída de 6.800m²,

considerada elevada para o padrão das escolas até então.

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Com o apoio do governo municipal, o Centro Integrado de Educação Pública

(CIEP) Tancredo Neves é um dos poucos CIEPs no Rio de Janeiro que ainda tem

uma proposta próxima à do projeto original, com aulas do ciclo básico pela manhã e

atividades extracurriculares à tarde, cuja imagem é mostrada na figura 40. A escola

possui, inclusive, dormitório e pais sociais, que são responsáveis por cuidar das

crianças com problemas de família ou moradia abrigados pela escola.

Os governos que sucederam aos de Brizola, no entanto, não deram

continuidade administrativa ao projeto e os alguns CIEPs foram municipalizados.

Outros continuam sob a tutela do governo estadual; e há ainda os que são

compartilhados pelas duas administrações.

Figura 40- Implantação e Vistas do CIEP Tancredo Neves.

Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&q=ciep%20tancredo%20neves%20- Acesso 04-11-2012 e

fotos de Deborah Delphino ( junho de 2012).

Houve na história dos CIEPs dois períodos onde desenvolveram os

programas de educação integral, o primeiro foi de 1983 a 1987 e o segundo, entre

1991 e 1994, onde as crianças estudavam de 8h às 17h. Nessa época, existia o

centro médico, em parceria com o Defeso Civil, com dentistas, psicólogos, e alunos

residentes, que moravam na escola com os pais sociais. Porém como não houve

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continuidade da política pública, o projeto foi se perdendo ao longo do tempo. Hoje,

há aproximadamente 200 escolas nos moldes do CIEP. O Estado apoia o ensino em

horário integral. Têm-se vários programas. A mais nova estratégia é através do

programa federal 'Mais Educação' criado em 2010, como explica Cláudia Raybolt,

superintendente pedagógica da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro em 2011:

O 'Mais Educação' é um programa do Governo Federal, que faz o resgate do horário integral. Como o Rio de Janeiro foi pioneiro nisso, foi uma estratégia da secretaria de Educação experimentar uma linha diferente. Todos os CIEPs tinham um projeto pedagógico único. No 'Mais Educação', cada escola traça o perfil do seu público e escolhe as atividades a oferecer no contra turno. Além do ciclo básico, é obrigatório aplicar mais quatro horas de português e duas de matemática e o resto é preenchido com artes, música, fotografia, dança, esportes, etc. (http://redeglobo. globo.com/globoeducacao/noticia/2011/06/

governo- investe- em-ensino-integral-seguindo-o-modelo-dos- cieps.html -acesso 01-11-2012).

Os CIEPs foram construídos por firmas privadas de engenharia sob a

coordenação do Dr. João Goulart Brizola e não pela Fabrica de Escolas que

funcionava em plena Av. Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro sob o

comando do arquiteto João Filgueira Lima. Esta Fabrica de Escolas tinha a função

de preparar os módulos de argamassa armada que entravam na construção das

Casas da Criança e das Escolas Isoladas que complementavam o Programa

Especial de Educação. Para eliminar a corrupção que costumava cercar as obras

públicas, a construção dos CIEPs foi confiada a firmas ganhadoras de concorrência

pública (RIBEIRO,1986).

A capacidade de produção dos CIEPs era de 1,5 escolas por semana, pelas

próprias palavras do engenheiro que acompanhou toda a obra José Carlos

Sussekind: "A meta de atingir a construção de 500 CIEPs até março de 1987",

comum total de área construída de 3.500.000 m², obras inteiramente pré-fabricadas

em concreto armado, inclusive pilares, lajes e fachadas. Cada obra tinha seu

canteiro, onde moldavam pilares com 10 metros de comprimento e lajes até 20 m²

para o Prédio Principal de cada CIEP, além de vigas de 23 m de extensão que

cobriam o Ginásio, com eficiência e competência de toda equipe formada para

construção das escolas (RIBEIRO,1986. p.113).

Sobre as bibliotecas, ficavam separadas do prédio principal, estando

disposição também da comunidade para empréstimo de livros e o espaço

arquitetônico permitia abrigar até 10 mil livros.

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Todo CIEP possuía um ginásio coberto, dotado de arquibancada em um dos

lados, e atrás do qual eram construídos vestiários para ambos os sexos. Era nele

que os alunos recebiam Educação Física e praticavam desportos, era nele também

que ocorriam os espetáculos teatrais, os shows de música, a roda de capoeira ou as

festas promovidas pela Associação de moradores, e por isso recebeu o nome de

Salão Polivalente, onde se fazia a integração do CIEP com a comunidade. Media

16mx 36m, com a quadra de esportes coberta que podia ser adaptado para a prática

de futebol de salão, vôlei, basquete ou realização de ginastica (RIBEIRO,1986,

p.129). Também tinha o objetivo de estimular as atividades quando utilizavam

modulares desmontáveis, que podiam ser armazenados no depósito.

Consideração parcial:

O projeto de Oscar Niemeyer é grandioso e marca o espaço da escola na

paisagem dos municípios onde são implantados, são pontos focais para a

comunidade, mas faltam espaços e equipamentos que completassem o convívio

cultural da comunidade, como o teatro e os espaços reservados às práticas

esportivas, como a piscina; por outro lado, considerando as praias como ponto de

encontro da comunidade, a piscina não era de vital importância.

3.5.3 O CIEP de Brizola para a Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro,

(Sambódromo):

A Passarela Professor Darcy Ribeiro, popularmente chamado Sambódromo, é

localizado na Avenida Marquês de Sapucaí, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Foi projetada e construída no período 1983-1984. Foi idealizada por Leonel Brizola,

então governador do Rio de Janeiro (1983-1987), juntamente com o Vice-

Governador Darcy Ribeiro (1922-1997) e projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer

(1907-2012), feita para economizar aos cofres públicos 75 milhões por ano com a

montagem de arquibancada provisória ( UNDEWOOD, 2002, p.120) É importante

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destacar que os três lideres estavam envolvidos com a construção dos Centros

Integrados de Educação Pública (CIEPs), portanto justificam em parte a construção

do Sambódromo quando implantam uma escola pública para ocupar a área ociosa

durante o resto do ano, resolvendo assim, em parte o déficit de escolas na

cidade, passando a se chamar: CIEP Avenida dos Desfiles, esquematizados pelos

croquis mostrados na figura 41.

Darcy Ribeiro idealizou para que no interior das arquibancadas da Passarela

dos Desfiles fossem construídas 160 salas de aula e 43 salas administrativas, que,

durante o carnaval funcionavam como escritórios de apoio ao evento, e após este,

como o Centro Integrado de Educação Pública (CIEP). No espaço existiam

atividades pré-escolares para crianças de 3 a 6 anos, um CIEP de ensino

fundamental, uma escola ensino médio, um centro de artes, aulas de recuperação

educativa para jovens de 14 a 20 anos e uma biblioteca. O complexo poderia

acomodar até 16 mil alunos.

Figura 41 - Croquis de Oscar Niemeyer para o Sambódromo, Passarela Professor Darcy Ribeiro, funcionar com

escola.

Fonte : fotocopia do livro de Darcy Ribeiro: O LIVRO DOS CIEPs p. 93

O complexo foi construído num prazo excepcional de quatro meses e

inaugurado no Carnaval de 1984. Possui estrutura pré-moldada de concreto e

apresenta 700 m de extensão, dividido em blocos de arquibancadas, cada um com

60 m, feitos sobre pilotis, que está a 3m do piso, separado por 30 m para dar

passagem ao desfile, "em toda extensão da pista o povo pode de pé, como antes,

ver a passagem das escolas de samba" (RIBEIRO,1986, p.94). A arquibancada

inicialmente com capacidade para 60.000 pessoas foi aumentada com a reforma de

2011, para atender a demanda e prepará-la para Olimpíadas de 2016. Para tanto foi

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feita a demolição da antiga fábrica da Brahma, e construídos mais quatro blocos de

arquibancada no setor 2, com capacidade elevada para 78.000 pessoas, como

mostra a figura 42.

Figura 42 - Vista entrada Principal; Vista posterior; Circulação interna e área externa do CIEP Avenida dos

Desfiles.

Fonte: Fotos de Deborah Delphino tiradas em junho 2012.

Atualmente o CIEP Avenida dos Desfiles possui: jardim da infância, ensino

fundamental, ensino médio e Educação para Jovens e Adultos para alfabetização

tardia (EJA). Há também um centro cultural, que atende crianças no período

estendido, com aula de teatro, dança, música, artes visuais, vídeo e fotografia.

Consideração parcial:

A iniciativa de utilizar num mesmo espaço duas ocupações tão diferentes,

escola de ensino fundamental e passarela para desfiles, pode causar estranheza,

pois são atividades completamente dispares. O espaço ocioso embaixo das

arquibancadas foi criativamente adaptado e pode acomodar um grande número de

alunos, existe também um centro cultural com ateliês para atividades

extracurriculares, como aulas de música, dança, artes manuais, e atividades

esportivas, caracteriza-se como espaço público inédito e serve realmente a

comunidade.

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3.6 CENTRO INTEGRAL DE APOIO A CRIANÇA (CIAC) EM BRASÍLIA CRIADO

EM 1990.

3.6.1 Como o CIAC se transformou em CAIC:

Em 1990, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios

(PNAD/IBGE)1, o país contava com uma população de 60 milhões de crianças e

adolescentes na faixa etária de zero a 17 anos, que representava 41% do total de

habitantes. Desse total, 15 milhões encontravam-se na faixa de indigência,

disseminados por todo o território nacional; no Nordeste, na área rural, concentrava-

se um terço de todas as crianças e adolescentes que viviam em situação de extrema

pobreza. Dentro desse contexto, e como resposta aos compromissos assumidos, o

governo federal criou, em 14 de maio de 1991, representado pelo presidente

Fernando Collor de Mello como parte do 'Projeto Minha Gente', o Centro Integral de

Atenção à Criança (CIAC). Estes Centros foram inspirados no modelo dos Centros

Integrados de Educação Pública (CIEPs), do Rio de Janeiro, implantados na gestão

de Leonel Brizola. O objetivo deles era prover a atenção à criança e ao adolescente,

envolvendo a educação fundamental em tempo integral, programas de assistência à

saúde, lazer e iniciação ao trabalho, nos moldes das Escolas-Parques. Este Centro

previa o atendimento em creche, pré-escola e ensino de primeiro grau; saúde e

cuidados básicos; convivência comunitária e desportiva.

Posteriormente, na gestão do presidente Itamar Franco, a denominação

dessas escolas foi alterada, o Centro Integral de Apoio a Criança (CIAC) passou a

se chamar Centros de Atenção Integral à Criança (CAIC). Isto indicava mudanças no

rumo do programa, pois a educação integral não mais se realizaria exclusivamente

em prédios especiais, seriam construídas num mesmo espaço escolas completas

com a Escola Parque e a Escola Classe no mesmo terreno. O programa previa

viabilizar a defesa da criança e do adolescente, a promoção à saúde, construção de

creche, pré-escola e educação escolar, esporte e lazer, difusão cultural, educação

para o trabalho, alimentação e teleducação.

1 http://desafios2.ipea.gov.br/pub/td/1995/td_0363.pd acesso 17-12-2011

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Dos cinco mil CAICs previstos para serem implantados nos 600 maiores

aglomerados urbanos, proposta do plano de governo pelo 'Projeto Minha Gente' em

1991, o MEC assumiu como meta de curto prazo, para o período 1993/1994, apenas

a construção de 423 CAIC's em diversas regiões do país. Reconhece-se a

construção de 359 CAICs em diferentes estágios de implantação1 (SOBRINHO,

1995).

O programa estava subdividido em subprogramas que integravam ações de

natureza finalística e instrumental. Os subprogramas de natureza finalística eram:

Proteção Especial à Criança e à Família; Promoção da Saúde da Criança e do

Adolescente; Educação Infantil (creche e pré-escola); Educação Escolar; Esportes;

Cultura; Educação para o Trabalho; Alimentação. Os subprogramas de natureza

instrumental, que perpassam todos os demais programas, eram: suporte

tecnológico; gestão e mobilização.

O desenvolvimento das ações de cada subprograma esteve pautado nas

seguintes orientações:

a) o atendimento à criança e ao adolescente era prioritário, sendo admitida a

extensão ao núcleo familiar a que pertenciam e ao grupo social como um todo;

b) os subprogramas desenvolveram-se de forma integrada, sem prevalência de um

sobre o outro, com a utilização de todos os meios e recursos disponíveis;

c) a ação integrada supunha a articulação entre os diversos subprogramas e ações,

assim como a articulação das agências empenhadas no processo — família,

sociedade e Estado — entre as três esferas do poder pública — União, Estados e

Municípios — e entre os diversos setores sociais envolvidos, tais como educação,

saúde, assistência social, trabalho, justiça, cultura e esporte.

Através de um debate com o Ministro da Saúde e Criança, na TV Cultura no

Programa Roda Viva (21/10/1991), o médico pediatra Dr. Alceni Guerra2(1945),

esclareceu a política pública de Fernando Collor resumidamente falando que:

no Brasil ser contra o CIAC era tentar torpedear a única tentativa séria dos últimos anos de se cobrir esse fosso, de se ultrapassar essa barreira. Eram sete milhões de crianças fora da sala de aula, três milhões que nasciam todos os anos. A rede da época não tinha condições de absorvê-los e existe um artigo da Constituição, o artigo

1 Na biografia pesquisa, não foi encontrado o quadro de localização dos CAICs, isto é, em quais municípios

foram implantados e propostos a construção dos Centros de Atenção Integral a Criança. 2 Alceni Guerra foi Ministro da Saúde no governo de Fernando Collor de Mello de 1990 a 1992.

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227 1, justificando que se o governo não fizesse os CIACs, estaria infringindo a Constituição. Como se tratava de um conjunto de ações desenvolvidas de forma integrada e a partir de pedagogia própria, todos os profissionais eram treinados, desde o professor ao auxiliar administrativo, passando pelo médico, o psicólogo, o assistente social, o nutricionista e o cozinheiro, para que as diretrizes de integração e qualidade dos serviços pudessem ser alcançadas

(http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/218/

entrevistados/alceni_guerra_1991.htm ).

A capacidade de atendimento de todos os CAIC em construção nesta etapa

do programa era de 864 alunos em dois turnos no ensino fundamental, 234 alunos

em dois turnos na pré-escola e 30 crianças na creche em tempo integral, o que

perfaz um total de 1.128 pessoas atendidas. Se o MEC continuasse mantendo este

padrão de construção — CAIC com 12 salas — quando as 423 unidades de serviço

estivessem em funcionamento seriam atendidos cerca de 480 mil alunos

(SOBRINHO, 1995, p.21).

Consideração parcial:

Pelo relatório feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em

1995, conclui-se que o percentual de crianças que seriam beneficiadas quando

todos os CAIC's em processo de implantação estivessem concluídos e

funcionassem com os subprogramas previstos era bastante reduzido face aos 27

milhões de crianças que frequentavam escolas públicas, aos 60 milhões de crianças

objeto de atenção do Estatuto da Criança e do Adolescente e aos 15 milhões de

crianças economicamente marginalizadas. Se os recursos gastos nos CAIC's

fossem utilizados para dotar as escolas já existentes de condições adequadas e

dignas de funcionamento, a clientela beneficiada seria muito maior, e os efeitos para

o sistema educacional, mais permanente e significativo.

1 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com

absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

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3.6.2 O Centro de Atenção Integral a Criança localizado em Planaltina:

O CAIC Assis Chateaubriand, está localizado a 15 km de Brasília e atende a

cidade Satélite de Planaltina. O projeto da escola visitada é padrão e obedecem às

características espaciais são compostos por três grandes áreas: de Educação

Escolar, de Saúde e de Ação Comunitária. O projeto dispõe de 15 salas para o

ensino fundamental e seis para a pré-escola, além de salas de vídeo, de leitura, de

apoio pedagógico, artes, informática e biblioteca. Possui ainda oficina, teatro, dois

refeitórios, cozinha, ginásio de esportes, dois playgrounds e uma área de saúde

composta de um gabinete dentário, quatro consultórios médicos, uma sala de

vacinas, e uma sala de procedimentos de enfermagem. Atende 1.500 alunos

distribuídos em dois turnos de 750 cada um deles, desde a educação infantil ( 4 aos

7 anos) ao ensino fundamental ( 7 aos 14 anos). A equipe de trabalho da escola é

composta por 163 funcionários e professores da rede municipal, 1 diretora, 1 vice-

diretora e 1 coordenadora pedagógica. Suas principais características são ilustradas

nas figuras 43, 44 e 45.

Projetado pelo arquiteto João Filgueira Lima, apelidado de LeLé ( 1932), tem

como padrão construções pré-moldadas em argamassa armada.

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Figura 43- Implantação CAIC Planaltina -Assis Chateaubriand e fotos.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012 e http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-

BR&safe=active&q=caic+sert%C3%A3ozinho&bav acesso 11-11-2012.

Figura 44 - Refeitório e Vista externa do play ground.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012

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Figura 45- Vista interna Sala de Aula, com janelas bivotantes e Pátio entre salas

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em maio 2012.

3.6.3 Implantações atuais dos Centros de Atenção Integral a Criança:

Pela diversidade de terrenos e características próprias de cada cidade que vai

ser implantada a escola, os projetos são diferenciados. Tem como ponto comum o

pavilhão esportivo coberto que identificam os Centros de Atenção Integral a Criança

( CAIC). Demonstrados nas figuras 46 e 47.

Figura 46- Implantação do CAIC na cidade de Pirassununga, Estado de São Paulo.

Fonte: Google mapas -acesso em novembra 2012

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Figura 47- Implantação de CAIC diversos.

Fonte: Google mapas acesso em novembra 2012.

Consideração Parcial:

Percebe-se que não existe preocupação com o paisagismo dos Centros de

Atenção Integral a Criança (CAICs), os terrenos são grandes, há pouca área

pavimentada e a existência de árvores é rara, apenas vegetação rasteira, o que

desfavorece o conceito de parque escola, ajardinada e agradável.

3.7 CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO (CEU) EM SÃO PAULO PROPOSTO

EM 2001.

3.7.1 A releitura da Escola Parque em São Paulo:

Seguindo a experiência brasileira de equipamentos escolares como ponta de ação do Estado em regiões carentes, a arquitetura dos CEUs procura gerar uma nova urbanidade onde forma e programa se encontram em um projeto de sociabilidade. (ANELLI, 2004)

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A intervenção da Prefeitura, promovida inicialmente pela prefeita Martha

Suplicy (2000-2004) na cidade de São Paulo, nos bairros periféricos constituiu ação

para reverter o quadro da desigualdade social, onde entram em cena os preceitos do

educador Anísio Teixeira (1900-1971). Como princípio desta iniciativa tem-se:

1°- A escola deve simplificar o ambiente complexo para que a criança,

gradualmente, conheça os segredos e nela participe.

2°- A escola deve organizar meio ambiente purificado, isto é, onde se eliminam

certos aspectos, reconhecidamente, maléficos do ambiente social.

3°- Deve prover ambiente de integração social, de harmonização de tendências em

conflito, de larga tolerância, inteligente e hospitaleira. A escola deve ser a casa da

confraternização de todas essas influências, coordenando-as, harmonizando-as,

consolidando-as para formação de inteligências claras, tolerantes e compreensivas

(TAKIYA, 2009).

Ainda compactuando com a visão humanista e social de Anísio Teixeira que

defendia que não era a sala de aula que formava o aluno e sim a escola por

completo e o ambiente em que se vive, é que formam o cidadão. Baseado nesse

pensamento, é que se desenvolve o projeto do Centro Educacional Unificado (CEU)

pela Divisão de Projetos do Departamento de Edificações da Prefeitura de São

Paulo (EDIF), sob comando dos arquitetos Alexandre Delijaicov, André Takiya e

Wanderley Ariza, que coordenaram a execução dos projetos executivos. Nasceu

como uma praça de equipamento social com o objetivo de atender a comunidade

periférica do município de São Paulo, carente de infraestrutura de lazer e cultura,

contribui através da construção de um Auditório, de quadras poliesportivas e de uma

biblioteca.

Os arquitetos da prefeitura formularam os projetos básicos que foram

implantados na periferia da cidade. Determinaram a construção de 45 Centros

Educacionais onde existia uma carência educacional e uma grande vulnerabilidade

juvenil. A escolha das 45 áreas pela declaração de André Takiya foi fruto de

exaustivas visitas a aproximadamente 200 lugares carentes da cidade, juntamente

com técnicos da educação, arquitetos e assessores do gabinete da Prefeitura

seguindo critérios arquitetônicos, urbanísticos, sociais, pedagógicos e políticos com

potencial para receber os equipamentos públicos que dariam mais dignidade e

urbanidade aos locais mais carentes e violentos, desprovidos de infraestrutura e

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esquecidos pela administração pública, explicando assim a localização de cada

Centro Educacional Unificado (Takiya, 2009).

Dividiram o projeto em duas fases, sendo a primeira fase (2001 a 2003) com

a construção de 21 unidades e a segunda fase com 24 unidades após 2004, nos

mandatos posteriores. Dividiram a construção em 6 Lotes, dos quais 3 Lotes estão

localizados na região Leste, 1 lote na região norte, 1 lote na região sul e 1 lote na

região sudeste. Assim visualizados comparecem nos Quadros 4 e 5 (TAKIYA,2009).

LOTES CENTROS EDUCACIONAIS UNIFICADOS (CEU)

1- Norte Jaraguá, Perus, Paz e Pêra Marmelo

2- Leste Vila Curuçá, Jambeiro, Parque Verdas, Parque São Carlos.

3- Sul Cidade Dutra, Três lagos, Pedreira-Alvarenga, Grajaú-Navegante.

4- Leste Aricanduva, Meninos, Rosa da China.

5- Leste São Mateus, São Rafael, Inácio Monteiro.

6- Sudoeste Butantã, Casablanca-Monte Azul, Campo Limpo.

Quadro 4: 1ª Fase de implantação dos Centros Educacionais Unificados (2001-2003)

Fonte: dissertação mestrado André Takiya. 2009

LOTES CENTROS EDUCACIONAIS UNIFICADOS (CEU)

1- Tremembé. Tiquatira. Quinta do Sol

2- Três Pontes, Lajeado, Azul da Cor do Mar.

3- Agua Azul, Limoeiro, Sapopemba.

4- Formosa, Caminho do Mar, Cidade do Sol.

5- Vila Rubi, Parelheiros, Vila do Sol.

6- Três Marias, Guarapiranga, Feitiço da Vila.

7- Paraisópolis, Cantos do Amanhecer, Estrelão.

8- Jaguaré, Jardim Britânia,

Quadro 5 : 2ª fase de implantação dos Centros Educacionais Unificados após 2004

Fonte: dissertação mestrado André Takiya. 2009

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Percebe-se pela descrição das obras dos Centros Educacionais Unificados

(CEUs) concluídas no período de 2001-2004 que os terrenos têm área entre

10.000m² e 70.000 m². Assim o terreno da CEU Vila Curuçá é o menor deles,

aproximadamente 10.000m² e o maior terreno para construção é o do CEU Pedreiro-

Alvarenga, com área de quase 70.000m². E a área construída independente do tipo

de terreno, é sempre de 12.800m².

O programa arquitetônico se divide em cinco edificações padrão que podem

ser dispostas da melhor maneira no terreno. São elas:

1) Bloco Didático: possui 140m de comprimento por 22 m de largura, que abrange

2 pavimentos mais o pavimento térreo, e contém: oito salas para creche, salas para

administração, mais dez salas para o ensino infantil e salas para administração e

serviços; mais dezesseis salas de aula para ensino fundamental, além da biblioteca,

uma cozinha padaria, os vestiários e sanitários.

2) Bloco da Creche: é um edifício cilíndrico, com 22 m de diâmetro e um pavimento

que complementa o bloco didático com uma passarela, que possui seis salas

ambientes e sanitários.

3)Bloco Cultural e Esportivo: um edifício paralelepípedo com 45m de comprimento

por 22 m de largura, que possui quatro pavimentos, abriga teatro para

aproximadamente 300 pessoas, camarins, sala multiuso, ateliês de artes plásticas,

três salas de música, rádio e gravação, laboratório de fotografia, e salas para o

conselho Gestor.

Possui também quadra poliesportiva com vestiários e o salão de danças e ginástica.

4) Balneário: Um conjunto de três piscinas com 25 m de comprimento por 12 m de

largura, com 1,40 m de profundidade. Outra piscina quadrada com 12,50m de

comprimento por 12,50m de largura com 70 cm de profundidade e a ultima piscina

com 7,50 m de comprimento por 12,50 m de largura com 40 cm de profundidade. As

três piscinas são projetadas para servir a treino, a mais profunda; recreação, a

intermediária e infantil a mais rasa.

5) Duas Torres d'água completam o conjunto para servir de símbolo e marcar a

presença da escola no bairro.

Além da creche, da Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) e da Escola

Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), cada Centro Educacional Unificado

abriga uma Escola para Jovens e Adultos (EJA), telecentro, padaria, centro

comunitário, teatro, biblioteca, salas de música e dança, duas orquestras, rádio

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comunitária, estúdios de produção e gravação multimídia, escola de iniciação

artística, ginásio coberto, quadras, pista de skate e piscinas. Cada unidade foi

pensada para atrair não só os seus quase 2.400 alunos, mas toda a família e a

comunidade, que tem acesso nos finais de semana.

Quanto ao partido arquitetônico André Takiya explica na sua dissertação de

mestrado (2009), que o sistema adotado para construção foi um misto de

industrializado com convencional, usando as estruturas pré-fabricadas de concreto e

um pré-fabricado em aço e os fechamentos em material convencional. Explica

também que todos os ambientes tem uma relação numérica entre si, uma

modulação. No plano horizontal o modulo linear é de 1,25 m e o módulo ambiente é

7,50m por 7,50 m, que é o tamanho da sala de aula. No plano vertical, o módulo

mínimo é 17 cm, que é a altura do espelho da escada, e a altura do piso a piso entre

pavimentos é de 3,40 m.

São também padronizadas as cores para melhor destaque e visualização dos

espaços como: no bloco didático, no pavimento térreo, o centro possui uma escada

de acesso ao piso superior, sanitários, vestiários, consultório médico e dentário,

todos são pintados na cor azul; a ala com cor amarela faz parte da creche e a cor

laranja pintada para demarcar a biblioteca, um telecentro e uma cozinha padaria

escola experimental. A cor vermelha é usada nas escadas e peitoris metálicos e em

todas as caixilharias dos blocos.

A prefeitura de São Paulo no período de 2003 e 2004 inaugurou 21 Centros

Educacionais Unificados (CEUs), sendo que os outros 24, com os projetos

executivos e com as obras licitadas seriam construídos nos anos seguintes, porém

surgiu o problema que o prefeito eleito não foi do mesmo partido da eleição anterior

e nem compactuou da mesma filosofia da prefeitura anterior, do programa de

governo, ocasionando mudanças consideráveis no projeto padrão, que vai ser

descrito posteriormente.

O modelo escolhido para ser mostrado é o CEU Butantã, por ter um acesso

fácil, estar próximo a Rodovia Raposo Tavares; por ter um partido arquitetônico

interessante, porque aproveitando a topografia do terreno e uma nascente de rio

existente, os arquitetos propunham a construção também de um parque fluvial, o

que infelizmente não ocorreu; outro item de escolha é ter uma grande área de

terreno para execução do centro unificado, de aproximadamente 50.000m².

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Consideração Parcial:

O programa completo do Centro Educacional Unificado (CEU) supera em

qualidade todas as outras Escolas Parques que foram visitadas. É o que mais se

assemelha a Escola Parque em Salvador, com os ateliês, a biblioteca, o teatro, e a

área esportiva, tendo como complemento o balneário, que pode ser explicado pela

carência de lazer aquático na cidade, não há a praia como Salvador e Rio de

Janeiro.

O que o diferencia do Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador é ter

a Escola Parque separada da Escola Classe, onde acontecem as aulas

fundamentais, no Centro Educacional Unificado o conjunto de equipamentos

educacionais, culturais e esportivos estão no mesmo espaço geográfico das salas

de aulas, portanto o deslocamento de alunos proposto por Anísio Teixeira através

dos pelotões, que saiam das Escolas Classes afastadas da Escola Parque, se faz

em menor tempo, rapidamente.

Outra observação é que a filosofia trazida pela Divisão de Projetos de

Edificação da Prefeitura de São Paulo no 2º Convênio, por Hélio Duarte se repetia

na mesma Divisão de Projetos da Prefeitura, depois de 50 anos, mais aprimorado

para construção das escolas.

Para André Takiya (2009) a outra inovação dos CEUs é a sua distribuição na

cidade, pois implantou os equipamentos nas bordas periféricas do município de São

Paulo, nas regiões mais carentes e forneceu para esta comunidade uma Praça de

Equipamentos Sociais, permitindo a utilização dos espaços culturais e esportivos da

escola e deixando que se fizesse parte da melhoria do bairro e não somente para a

escola.

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3.7.2 O CEU Butantã:

Localizado no Butantã, próximo a Rodovia Raposo Tavares, na avenida

Engenheiro Heitos Antônio Eiras Garcia, 1870. Possui uma área de terreno de

50.000 m² e área construída de 12 800 m². Seu conceito inicial está na figura 48.

Neste trecho de terreno está um vale onde se encontram várias nascentes, então aproveitando o curso de água a implantação das edificações se deu no sentido longitudinal a nascente. No projeto original o partido adotado seria o de seguir ao curso d'água aflorada e estes alimentariam as piscinas que seriam de água corrente e que desembocariam num lago artificial. Se o projeto fosse implantado na integra daria origem a um futuro

parque fluvial. ( TAKIYA, 2009.p.51)

Figura 48- Croqui de Alexandre Delijaicov para o CEU Butantã em 2001

Fonte: Dissertação de Andrè Takiya (2009) p.109

Algumas modificações foram feitas no diferenciado projeto, por motivos

técnicos foi resolvido diminuir o Parque Náutico e transforma-lo num pequeno lago

para contemplação, visto na figura 49.

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Figura 49- Vista total do Conjunto Edificado do CEU Butantã construído.

Fonte: Foto do Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo texto: Renato Luiz Sobral Anelli . Vitruvius 05, dez 2004

Sobre o Bloco Didático, Alexandre Delajaicov falou em uma entrevista ao

jornalista Adilson Melendez publicada originalmente em Projetodesign Edição 284

Outubro de 2003 , disse que as classes, com grandes vidraças, são voltadas para

corredores de circulação dispostos nas laterais, o que permite ampla visão do

exterior. O pavilhão lembra um grande navio. O desenho das fachadas, no entanto,

é uma interpretação livre de quadras residenciais existentes em bairros tradicionais

de São Paulo, como o Brás e a Mooca. Coberta com telhas metálicas, a edificação

tem escadas também de metal e piso de granilite.

O Bloco Cultural e Esportivo (BEC) possui algumas caracteristicas que devem

ser mencionadas. No projeto os arquitetos desenharam um prédio de forma

retangular, fechado por alvenaria. O teatro, situado no primeiro pavimento, pode

transformar-se em cinema. Em cima fica a quadra esportiva dotada de piso flutuante

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que evita os ruídos provenientes da prática de esportes cheguem no auditório. A

cobertura de telhas metálicas tem detalhes que permitem a entrada de luz natural

por isso, durante o dia, não é necessário que todas as luzes fiquem acesas. O 'disco'

- denominação adotada pelos autores - é destinado à creche. A construção, que

mescla estrutura metálica e concreto, tem acesso central. No núcleo do bloco tem

um pequeno lobby para facilitar circulação para os funcionários. A laje de cobertura

foi impermeabilizada e recebeu uma camada de seixos que funciona como proteção

à impermeabilização e como isolante térmico. À semelhança do pavilhão didático é

que as salas da creche também permitem enxergar o exterior. O conjunto é visto na

figura 50.

.

Figura 50- Fotos do Bloco Didático, Bloco Cultural e Esportivo e do Lago com a Creche ao fundo

Fonte: Fotos de Deborah Delphino tiradas em novembro 2011.

As fotos servem para identificar as dimensões dos equipamentos e perceber

que a população utiliza os espaços da escola como equipamento da cidade, como:

o teatro, as quadras e as pistas de skate. O local chama atenção pela grandeza

arquitetônica e a harmonia visual.

3.7.3 O Centro Educacional Unificado após 2004:

O CEU Água Azul é destinado a população da Cidade Tiradentes, situado na

Av. dos Metalúrgicos nº 1262, uma das principais da região; atende a comunidade

local oferecendo um espaço público de 35 mil metros de uso coletivo e comunitário

projetado pelo arquiteto e urbanista Walter Makhohl em 2005.

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No mestrado de Debora Machado (2009) que fala das áreas públicas das

escolas, conclui-se o objetivo de ser um espaço público dentro do bairro. A proposta

do Centro Educacional Unificado (CEU) Agua Azul foi modificado

arquitetonicamente, percebe-se que o programa é parecido, porém a distribuição

dos usos e a forma dos espaços modificaram-se, passaram para um desenho

horizontal oferecendo muito mais um caráter voltado para escola infantil. É notória a

diferença entre a primeira e a segunda proposta, a primeira proposta feita pelo EDIF

em 2001, quando os equipamentos de uso do CEU se associam à Escola Parque, já

o novo CEU de 2004, traz em seu desenho, uma arquitetura com uma linguagem

prática e não poética, como mostram as figuras 51 e 52.

Figura 51- CEU Agua Azul - Vista geral da Escola

Fonte: Dissertação de mestrado de Debora Machado (2009).

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Figura 52- Implantações que comparam o CEU Btantã da 1º fase (foto grande) com os dois CEUS Emef Agua

Azul, e Sapobemba respectivamnete da 2º fase.

Fonte; Google Mapas - acesso nov. 2012.

Torna-se visivel as alterações e mudanças de partido arquitetônico, deixando

o terreno praticamente todo edificado. E a mudança do Bloco da Creche , redondo,

que passa a ser biblioteca, na segunda fase de implantação dos CEUs na cidade de

São Paulo, depois de 2004.

3.7.4 Construção do CEU em São Bernardo do Campo em 2012:

O Centro Educacional Unificado (CEU) Três Marias em São Bernardo do

Campo, inaugurado em julho de 2012, recebe o nome de Celso Augusto Daniel, em

homenagem ao ex-prefeito de Santo André assassinado em 2002, e está localizado

no Bairro Cooperativo, à Estrada Eiji KIkuti s/n, com investimentos de R$ 26,8

milhões da própria administração municipal. A proposta do prefeito era entregar sete

Centros Educacionais Unificados a População até o final do Mandato, mas só dois

foi inaugurado. Pretendia aplicar um total de recursos públicos na ordem de

R$ 108,6 milhões que resultaria em 8.824 vagas para crianças entre 6 meses e 10

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anos, o que, segundo a administração, zeraria o déficit na cidade.

(www.encontrasaobernardo.com.br/sao-bernardo/ceu-centro- acesso 04-07-2012)

O CEU de São Bernardo do Campo, Celso Augusto Daniel, visitado tem 28

salas de aula para o atendimento de 1.292 alunos na faixa etária de 0 a 10 anos, do

berçário ao fundamental. Além das salas, o complexo educacional compreende um

ginásio de esportes com capacidade para 800 lugares, um espaço para a

comunidade que é atendida pelo Programa Municipal de Alfabetização e Cidadania

(Promac), além da Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma Biblioteca aberta à

comunidade, também possui o teatro e cinema com capacidade para 376 lugares

com uma praça de convivência. Como mostram as figuras 53 e 54.

Os espaços são abertos nos finais de semana com o intuito de beneficiar

tanto crianças e adolescentes como a comunidade do entorno de baixa renda,

com uma programação variada para todas as idades. O CEU Celso Augusto Daniel

garante aos moradores do bairro acesso a equipamentos públicos de lazer, cultura,

tecnologia e práticas esportivas, contribuindo com o desenvolvimento da

comunidade local. O acompanhamento e a avaliação do processo de implantação do

CEU, realizado em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA),

mostrou indicadores de satisfação das comunidades acima de 90%. ( Comentário do

diretor do CEU Celso Augusto Daniel, Sr. Dirceu P. Sena).

O programa tem três objetivos fundamentais:

1) Desenvolvimento integral das crianças e dos jovens.

2) Polo de desenvolvimento da comunidade.

3) Polo de inovação de experiências educacionais.

O princípio educacional que norteia o projeto do CEU em São Bernardo é o

de prover um tipo de educação que possibilite o desenvolvimento integral para

crianças, adolescentes, jovens e adultos, que incluí a educação formal, não formal, e

as atividades socioculturais, esportivas e recreativas como formas de aprendizagem.

Sua proposta reúne todas as ações educativas da Prefeitura em um único polo,

juntando a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) e a Escola Municipal de

Ensino Fundamental (EMEF) em um só conjunto, dando um uso mais eficiente a

equipamentos e serviços municipais.

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Figura 53- Vista frontal do Centro Educacional Unificado Celso Augusto Daniel.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em novembro 2012.

Figuras 54- Espaços do CEU Celso Augusto Daniel, Fachada Principal; Bloco de Salas de Aula e Administração;

Vista do Pátio Central. Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em novembro de 2012.

Pela entrevista com o diretor da Escola Dirceu Sena, a escola funciona,

período integral para Creche (0 a 3), e meios períodos para o ensino infantil (4 a 5)

e o fundamental (6 a 10 anos) , porém existe a possibilidade da criança passar o

período integral, desenvolvendo atividades que chama de Contra Turno, isto é, pode

ficar o horário integral na escola, desenvolvendo atividades como: oficina de teatro,

capoeira, aulas de música ou esportes, através do programa: ' Tempo de Escola' do

Município e do programa federal: 'Mais Educação', não há obrigatoriedade e a

inscrição para os cursos é de 30% a 40% dos alunos matriculados.

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Consideração parcial:

Não existe semelhança no projeto arquitetônico do CEU proposto na

prefeitura de São Paulo, do mandato da prefeita Marta Suplicy (2000-2004),

projetado pelo EDIF, com o partido implantado pela Prefeitura de São Bernardo.

Indagando o diretor da escola, por que se adotou a denominação do CEU, quando

poderia receber outra designação, para sinalizar o feito político do atual prefeito,

explicou que a ideia não é do Município, mas do Programa de Governo, do Partido

dos Trabalhadores. Então fica apenas no nome 'CEU' e não a concepção de Escola-

Parque de tempo integral. Perde-se a história e a filosofia trazida da Nova Escola e

se torna apenas um nome, um símbolo partidário.

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4 AS LIGAÇÕES PROJETUAIS E CAUSAIS DOS ARQUITETOS

DAS ESCOLAS PARQUES.

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4.1 LIGAÇÕES ATEMPORAIS.

As primeiras Escolas-Parque (Escola Platoon) propostas por Anísio Teixeira

no Distrito Federal - RJ, em 1931, foram projetadas pela equipe de arquitetos que

formaram a Divisão de Prédios e Aparelhamento Escolares do Departamento de

Educação do Distrito Federal, todos recém-formados da Escola Nacional de Belas

Artes do Rio de Janeiro: Enéas Tringueira Silva (1905-1984 ), Raul Penna Firme

(1900-1974), Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) e Rosthan de Farias ( 1909-1969).

Eles pertenciam a mesma geração de formação profissional, preocupados em

planejar e materializar os ideais de uma sociedade. Cada um deles traz para o

exercício da arquitetura uma contribuição própria. Enéas Silva leva a autoria do

projeto das Escolas, comandando uma equipe, que Anísio Teixeira programou

quando estava a frente na direção do Secretário Educação do Distrito Federal em

1931 a 1935.

Quando Anísio Teixeira assumiu a Secretária Educação da Bahia, chamou

Diógenes Rebouças que trabalhava no Plano Diretor de Salvador, com uma equipe

multidisciplinar, que ficaria conhecida como Escritório do Plano de Urbanismo da

Cidade do Salvador (EPUCS), isto iria transformá-lo no urbanista baiano mais

importante por muito tempo, portanto trabalhava para a cidade, pois Salvador ainda

não possuía um departamento de projetos como o então Distrito Federal (Rio de

Janeiro). Pelos dados bibliográficos e históricos, Diógenes Rebouças era alinhado

com arquitetos da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e partilhava dos mesmos

ideais modernistas.

Hélio Duarte formou-se no Rio Janeiro na Faculdade de Belas Artes, em

1926 , depois deu aulas na Faculdade de Arquitetura de Salvador conheceu Anísio

Teixeira e por ele tinha admiração e apreço, quando veio trabalhar em São Paulo

veio com a bagagem dos conhecimentos do programa da Escola-Parque de

Salvador e ao ser convidado a trabalhar no departamento de Projetos do Município

de São Paulo, formou a Divisão de Projetos Edificados do Município, que para

projetar as Escolas do 2º Convênio Escolar baseou-se nos princípios do Centro

Educacional Carneiro Ribeiro de Salvador. A mesma Divisão de Projetos do

Município de São Paulo (EDIF) depois de 50 anos, quando projetou os Centros

Educacionais Unificados resgatou a filosofia original de Hélio Duarte.

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No caso da formação da nova capital do Brasil, a construção e planejamento

da cidade demandavam esforços de uma equipe de arquitetos e engenheiros da

mais alta qualificação, pois a construção requeria agilidade para se concretizar como

Distrito Federal, então José Reis foi convidado a projetar a Escola-Parque e Escola

Classe, trabalhava na equipe de Oscar Niemeyer nos projeto dos edifícios da

cidade, Anísio Teixeira propôs um programa educacional para Brasília que se

baseava no programa da Escola Parque e Escola Classe de Salvador, integrava a

equipe de educadores que planejaram o sistema de ensino de Brasília Darcy Ribeiro

que depois de 20 anos tornou-se vice-governador do governo de Leonel Brizola no

Rio de Janeiro, que como campanha politica propunha resolver o problema de

educação no Estado e implanta o Centro Integral de Educação Pública com o

arquiteto Oscar Niemeyer projetando as escolas de tempo integral.

Em nenhuma época da história brasileira se conseguiu produzir tantas

escolas, com um projeto padrão, industrializado e altamente eficiente como na

década de 1980. Construiu-se escola para a criança de tempo integral, tentando

sanar o déficit de escolas e transformar o Brasil com base na educação, proposta de

Anísio Teixeira desde a década de 1930 que Darcy Ribeiro absorveu quando

idealizou o Centro Integral de Educação Pública.

João Filgueira Lima, o arquiteto Lelé, participou desta empreitada na década

de 1980 quando abriu uma fabrica de argamassa armada no Rio de Janeiro para

reformar a rede de ensino existente, chamada Fabrica de Escolas. Aprendeu o

conceito e o programa proposto por Darcy Ribeiro. Poderia ter projetado também

algumas escolas parques de Brasília, pelo livro de Ruth Verde Zein, Brasil:

arquitetura após 1950, cita a iniciação do arquiteto João Filgueira Lima da fabricação

de pré-moldados de concreto para agilizar algumas construções da nova capital,

então poderia ter projetado as Escolas Parque das Super Quadras, devido a

semelhança de projetos com os CAIC, de Fernando Collor, presidente eleito na

década de 1990, que elegeu o arquiteto João Filgueira Lima para projetar os Centros

Educacionais para todo o Brasil, que tinha experiência em construção de argamassa

armada e pré-moldado de concreto, para agilizar a construção das escolas de tempo

integral. Estava fadado a ter muito sucesso, se não fosse por problemas políticos,

seu impedimento de governar, talvez o programa fosse concluído.

Para melhor entendimento, segue Organograma 01 das coincidências

arquitetônicas citadas:

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Organograma 1: As ligações dos Arquitetos que projetaram as Escolas Parques com a filosofia de Anísio

Teixeira, suas coincidências.

Fonte: dados da autora.

Os arquitetos que projetaram as Escolas Parque têm todos em comum às

influencias diretas ou indiretamente dos conceitos pedagógicos de Anísio Teixeira e

do programa arquitetônicos que era preciso para elaboração dos Centros

Educacionais.

4.2 SOBRE OS ARQUITETOS DA ESCOLA PARQUE DE SALVADOR COM

DESTAQUE PARA O ARQUITETO HÉLIO DUARTE.

4.2.1 Diógenes Rebouças:

Diógenes de Almeida Rebouças nasceu em 7 de maio de 1914 na cidade de

Amargosa, BA e faleceu em 1994, aos 80 anos, em Salvador, BA. Em 1943

associou-se a Mário Leal, engenheiro, funcionário público que estava na cidade

fiscalizando as obras financiadas pela Caixa Econômica Federal. Foi convocado por

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Mário Leal para fazer o Plano Diretor de Salvador, com uma equipe multidisciplinar,

que ficou conhecida como Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador

(EPUCS), que o transformou no urbanista baiano mais importante do Estado baiano.

Diógenes Rebouças foi ao longo de sua vida profissional, sobretudo entre 1950 e

1965, o arquiteto que mais produziu na Bahia e marca definitivamente a implantação

e sedimentação da arquitetura e urbanismo modernos no Estado. Seus projetos: o

Hotel da Bahia; a Penitenciária Lemos de Brito; o Hotel de Paulo Afonso e os sete

pavilhões da Escola-Parque no bairro da Liberdade- Salvador-BA.

4.2.2 Paulo Antunes Ribeiro:

Paulo Antunes Ribeiro nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1905 e

faleceu em 1973, então com 68 anos. Arquiteto, urbanista, formou-se na Escola

Nacional de Belas Artes - ENBA, em 1926. Recebeu a medalha de ouro e o prêmio

de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes - SNBA estudou no Instituto

de Urbanismo da Universidade de Paris entre 1928 e 1929. Presidiu o Instituto dos

Arquitetos do Brasil - IAB de 1953 a 1956, e como membro da instituição participou

do júri do concurso público nacional de Brasília, em 1956. Ele discordou dos

encaminhamentos e critérios de seleção adotados pelos arquitetos André Sive,

Conselheiro do Ministério da Reconstrução Francesa, William Holford, um dos

responsáveis pelo Plano Regulador de Londres, Oscar Niemeyer e Stamo Papadaki,

Professor da Universidade de Nova York, da comissão julgadora, ele criticou o

concurso sugerindo que as dez equipes selecionadas pela comissão julgadora, mais

uma por ele indicada, recebessem o prêmio em conjunto, formando uma comissão

para o desenvolvimento do plano de Brasília.

Sua produção como arquiteto e urbanista englobou projetos de hotéis,

escritórios, hospitais, residências, bancos, clubes, planos urbanos e de refinarias

pelo país. Entre eles destacam-se os edifícios CARAMURU , 1946, em Salvador -

menção do júri da Exposição Internacional de Arquitetura da 1ª Bienal Internacional

de São Paulo, 1951, o HOTEL AMAZONAS , 1947, e o HOTEL DA BAHIA , 1951,

realizado com o arquiteto Diógenes Rebouças. Esses trabalhos estão publicados na

revista francesa L'ARCHITECTURE D'AUJOURD 'HUI, uma das principais

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divulgadoras da arquitetura moderna brasileira nos anos 1950, e no livro MODERN

ARCHITECTURE IN BRAZIL, 1956, de Henrique Mindlin.

4.2.3 Hélio Duarte o arquiteto que projetou a Escola Parque em São Paulo e

Salvador:

Hélio Duarte nasceu no Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1906 e morreu

em São Paulo em 1989, com 83 anos. Estudou arquitetura na Escola Nacional de

Belas Artes de 1925 a 1930. De 1945 a 1947, foi sócio de Zenon Lotufo (1911-1986)

e Abelardo de Souza (1908 -1981). Assumiu a direção da Comissão Executiva do

Convênio Escolar da Prefeitura de São Paulo, entre 1948 e 1952, coordenando a

reorganização do sistema escolar com planejamento e execução de uma rede de

escolas e equipamentos conexos, inspirados nos ensinamentos do educador baiano

Anísio Teixeira (1900 - 1971), com quem trabalhou em Salvador. Ingressou como

docente, em 1949, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de

São Paulo - FAU/USP, onde foi um dos primeiros titulares, com livre-docência

defendida pela Faculdade Nacional de Arquitetura - FNA do Rio de Janeiro, em

1957, com a tese Espaços Flexíveis, uma Tendência em Arquitetura.

Entre 1950 e 1955, associou-se a Ernst Robert de Carvalho Mange (1922 -

2005). Foi professor na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de

São Paulo - EESC/USP, entre 1953 e 1955. Chefiou o Escritório de Engenharia e

Arquitetura da Comissão da Cidade Universitária de São Paulo, de 1955 a 1959, e

estabeleceu, entre 1961 e 1966, sociedade com José Roberto Goulart Tibau (1924 -

2003), Lucio Grinover (1936) e Marlene Picarelli (1935). Presidiu a Comissão

Organizadora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará - UFCE,

em 1965, e lecionou na Universidade de Brasília - UnB, em 1967.

A partir de 1969 dedicou-se integralmente à FAU/USP, organizou, em 1970, o

primeiro programa de pós-graduação em arquitetura do Brasil, e criou no ano

seguinte, o Trabalho de Graduação Interdisciplinar - TGI, requisito obrigatório para a

conclusão do curso de arquitetura na FAU/USP.

Convidado em 1948 a participar da elaboração do plano para o Centro

Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador, ao lado do educador Anísio Teixeira, que

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em 1947 se tornou Secretário da Educação e Cultura do Estado da Bahia, ao lado

de Diógenes Rebouças e Paulo Ribeiro.

Após conhecer Anísio Teixeira, Hélio Duarte colocou a Educação como um

dos pontos principais para sua atuação como arquiteto. Segundo Hugo Segawa

(2009), "Hélio Duarte se distinguiu contemporâneo por perseguir outra utopia: a da

educação. Foi dos poucos a abraçar dedicada carreira acadêmica paralela à sua

atuação de prancheta" (SEGAWA, 2009, p.36).

Segundo André Takiya (2009) as influências modernas de Hélio Duarte

devem-se a cinco fatores principais:

1º. Sua formação proporcionada pela Escola de Belas Artes, com professores como:

Affonso Reidy, Oscar Niemeyer e colegas como: Eduardo Corona, Roberto Tibau e

outros.

2º. A influência dos politécnicos paulistas com a modulação estrutural e a

racionalização na construção, quando se associou com Ernest Mange.

3º. Influência da arquitetura dos edifícios públicos de Richard Neutra do pós-guerra,

sobretudo nos projetos escolares na Califórnia, nos Estados Unidos, e dos projetos

de arquitetura social para Porto Rico.

4º. Presença nos conceitos teóricos do filósofo Anísio Teixeira sobre educação

visando transformar o país em nação onde não houvesse analfabetismo e

desigualdades sociais.

5º. Por ultimo a contribuição programática de Hélio Duarte para os projetos do

edifício escolar, como o galpão ou pátio coberto e o prédio na escala adequada ao

usuário, ou seja, a criança.

A escola de Anísio queria educar a criança para que a periferia deixasse de

ser atrasada e se transformasse numa periferia com infraestrutura adequada à vida

da população, lugar que poderia garantir ascensão social. O que dá sentido a essa

escola é a reprodução de um modelo político e econômico, que visasse formar mão-

de-obra qualificada para uma sociedade urbana e tecnológica.

Uma importante consideração levantada é que enquanto na Bahia as

mudanças na concepção das novas escolas passaram por uma revolução no

sistema de ensino, Escola Parque e Escola Classe, (Centro Educacional Carneiro

Ribeiro). Em São Paulo as mudanças deram-se no modo de produzir o projeto

arquitetônico da escola e no papel que desempenhava nos bairros em que eram

implantadas.

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Na Bahia, com a solicitação do governador Otávio Mangabeira, após a

deposição da ditadura de Getúlio Vargas, Anísio Teixeira cria uma comissão para

executar o projeto da chamada escola modelo da qual fazia parte os arquitetos:

Hélio Duarte, Diógenes Rebouças e Paulo Antunes Ribeiro. Pelos dados levantados

na época (ver Quadro 6 abaixo) deduz-se que ele chamou Hélio Duarte porque já

estava trabalhando em São Paulo com o Convênio Escolar e havia desenvolvido

programas para as escolas paulistas. Diógenes Rebouças, porque era arquiteto de

renome na Bahia, envolvido naquele momento, no planejamento urbano da cidade; e

Paulo Ribeiro, arquiteto carioca, com escritório formado, para cuidar da aprovação

de projetos e do detalhamento da obra. Estava assim formada a equipe técnica que

idealizou a escola almejada de Anísio Teixeira, em Salvador.

Através deste quadro comparativo, pode-se visualizar a ocorrência e

simultaneidade dos fatos, e como Hélio Duarte contribuiu para o Projeto das Escolas

de Salvador e São Paulo:

PERIODO ESCOLA BAHIA(Escola Parque-Escola Classe ) ESCOLA SÃO PAULO (Escola Nova-2° Convênio)

1947 Anísio Teixeira foi nomeado Secretário de Educação e Cultura da Bahia pelo Governador Otávio Mangabeira.

Participou com o arquiteto Eduardo Kneese de Mello do projeto para o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários ( IAPC), tendo projetado os edifícios da creche, o jardim da infância, a escola primária, grupo social, maternidade e ambulatório dentro do complexo. Com esta obra Duarte compartilhou a Medalha de Prata na premiação do Congresso Pan-americano de Arquitetura realizado em Lima (1947).

1948 Contratados os arquitetos Hélio Duarte (que já estava trabalhando em São Paulo), Diógenes Rebouças(que ainda não tinha o diploma de arquiteto, mas já desenvolvia vários trabalhos em Salvador, e o arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, que tinha escritório no Rio de Janeiro e trabalhava com Rebouças nos projetos).

Hélio Duarte se desligava da Companhia Imobiliária Brasileira e passou a dedicar-se ao programa do Convênio Escolar da Prefeitura de São Paulo.

1949 Desenvolvimento de 3 projetos da Escola-Classe , sendo dois de autoria de Hélio Duarte e um de Diógenes Rebouças.

Nomeado o arquiteto Hélio de Queiroz Duarte diretor da Subcomissão de Planejamento do 2° Convênio Escolar.

1950 Inauguradas em setembro 3 Escolas Classe, Anísio Teixeira proferiu discurso no qual estão expostos os princípios de seus projetos pedagógicos.

Inaugurou-se neste período pelo menos oito escolas projetadas por Hélio Duarte.

1954 Foi desligado da direção do 2° Convênio Escolar. Com a comissão do 2° Convênio escolar, formada por outros arquitetos como: Roberto Tibau, Eduardo Corona, Ernest Mange, Oswaldo Correa, Juvenal Watege, Aluísio Leão. Foram

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concluídas 52 escolas, mais teatros, parques infantis, bibliotecas, e centros esportivos na cidade de São Paulo. Encerrou-se o período do 2° Convênio, deixando um legado razoável.

1955 Foi inaugurada a primeira edificação que comportava o conjunto da Escola-Parque o Setor de Trabalho. Somente depois foram realizadas nesta ordem. -Pavilhão de Educação Física, Jogos e Recreação. -Teatro de Arena. -Setor Administrativo Geral e Almoxarifado - Refeitório -Setor Socializante.

Iniciou-se o 3° Convênio

1960 A Biblioteca foi concluída Encerrou-se o 3° Convênio Escolar, que produziu o montante de 17 escolas no período de aproximadamente 5 anos.

1962 Foi inaugurada a ultima edificação que deu o aspecto final da Escola-Parque, o Teatro.

1964 Deu-se a conclusão na Escola Parque formando o Centro Educacional Carneiro Ribeiro ( CECR).

Quadro 6 : Quadro comparativo cronológico da Construção das escolas de Salvador e São Paulo no final da

década de 1940 .

Fonte: dados das dissertações de mestrado de: VALDINEI LOPES NASCIMENTO(Salvador na Rota da

Modernidade,1998) E IVANIR REIS NEVES ABREU ( Convênio Escolar,2007)

Hélio Duarte em 1948, desligado da Companhia Imobiliária Brasileira passou a

dedicar-se ao programa do Convênio Escolar da Prefeitura de São Paulo como

diretor da Subcomissão de Planejamento. O 2° Convênio Escolar foi assinado em 28

de dezembro de 1949. Afastou-se do programa em 1954, por razões políticas. Em

sua gestão foram construídos 52 edifícios escolares.

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5 OS SETE MODELOS DE ESCOLAS PARQUES

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5.1 TESTEMUNHO DAS ESCOLAS QUE ANÍSIO TEIXEIRA DIRETAMENTE DIRIGIU Escola Platoon

Rio de Janeiro CE Carn. Ribeiro Salvador

CE Elementar Brasília

Inicio e termino da construção

DÉCADA 1930 5 ANOS

DÉC.1940-60 15 ANOS

DÉC.1950-60 4 ANOS

Quantidade de Unidades construídas (EC + EP)

25 unidades 5 unidades (1 Escola Parque 4 Escola Classe)

25 unidades (5 Escola Parque 20EscolasClasse)

Cargo que Anísio Teixeira ocupava

Sec. Educação do Estado RJ

Sec., Educação do Estado BA depois diretor do INEP

Diretor do INEP

Metragem do terreno Escola Parque

Vários tamanhos 42 500m² EP Até 10 000m² EC

de 12000m² a 20500m²

Alunos favorecidos

26 000 4 000 aprox. 10 000

Arquitetos Arq.da Prefeitura Três arquitetos José Reis e outros

Diferencial na construção

Auditório serve a comunidade

Auditório serve a comunidade. Pavilhão de Trabalho.

Auditório serve a comunidade. Possui piscina

Quadro 8 - As Escolas propostas por Anísio Teixeira Fonte: dados da autora

5.2 LEGADO DAS ESCOLAS QUE ANÍSIO TEIXEIRA INFLUENCIOU FILOSOFICAMENTE Legado das escolas que Anísio Teixeira influenciou filosoficamente

2º Convênio Escolar- São Paulo

CIEP Rio de Janeiro

CAIC Brasília

CEU São Paulo

Inicio e termino da construção

DEC.. 1940-50 6 ANOS

DÉC-1980-90 8 ANOS

DEC. 1990 5 ANOS

DÉC.2001 5 ANOS

Quantidade de Unidades construídas

52 502 378 21 (1º fase)

Metragem do terreno Escola Parque

Aprox. 10000 m²

Até 10 000m² Mais de 10 000m² Mais de 10 000m²

Alunos favorecidos 26 000 500 000 400 500 50400(1º fase)

Arquitetos Arq. da Prefeitura

Oscar Niemeyer

João Filgueira Lima

Arq. da Prefeitura- EDIF

Diferencial na construção

Auditório servindo a Comunidade. Poucos com Piscina.

Biblioteca servindo a Comunidade

Quadra multiuso marca a construção. Não possui auditório

Auditório servindo a Comunidade. Piscina. Praça de Equipamento Social

Quadro 8:. Legado das escolas que Anísio Teixeira influenciou filosoficamente. Fonte: dados da autora

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5.3 ANÁLISE DOS PROJETOS ESTUDADOS

Os sete casos de Escolas-Parque estudados, possuem as seguintes características

de programa em comum:

1º) Todas atendem a um grande números de crianças, se fossem colocados em

prática todos os programa, o único concluído foi os dos Centros Integrados de

Educação Pública (CIEP).

2º) Carência de escolas na rede pública.

3º) O número de salas de aula varia de 8 a 24 por unidade.

4º) Foram projetados espaços reservados a administração e funcionários, como sala

para Professores e Secretaria bem resolvidos.

5º) Todas as Escolas Parques tem biblioteca, como ponto importante.

6º) Apresentam salas, ateliês e oficinas para atender cursos extras em período

integral.

7º) Possuem espaço amplo para quadras poliesportivas.

8º) Estão localizadas em grandes áreas públicas, ou perto de parques públicos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo demostra que as experiências citadas, apesar do caráter inovador

e da excelência de seus projetos, tiveram suas instalações abandonadas ou

utilizadas para outros fins, para José Amaral Sobrinho, no artigo: CAIC: Solução ou

problema (1995) diz que: "A principal razão para a descontinuidade dessas

inovações foi que ficaram restritas a um pequeno percentual da rede de

estabelecimentos, bem como da clientela à qual se destinavam" [....] "e portanto

tornavam-se exceção, e não a regra "(SOBRINHO,1995).

Os projetos das Escolas-Parque foram importantes, trouxeram bagagem

ideológica e aceleraram o desenvolvimento dos locais que foram implantadas por

determinado tempo, mas por razões políticas foram esquecidos ou modificados sem

explicação adequada, como relato abaixo:

No Inicio na década de 1930 (depois de 100 anos em que a educação pública

nos Estados Unidos já era eficiente) Anísio Teixeira propôs 82 novos centros

educacionais (escola de tempo integral) no então Distrito Federal - RJ, com um

plano de atuação para 10 anos, pretendia atender 320 000 crianças em todo Distrito.

Apenas 25 foram construídas, atendendo 26 000 alunos, num período de 4 anos,

durante o tempo que permaneceu com Secretário de Educação do Rio de Janeiro.

Na década de 1950, portanto depois de aproximadamente 20 anos de Anísio

Teixeira ter proposto as Escolas no Rio de Janeiro, na Bahia, se construiu o Centro

Educacional Carneiro Ribeiro, planejado para servir de modelo para 10 outros

Centros. Apenas um foi concluído e só conseguiu ser finalizado com a ação direta

de Anísio, então diretor no INEP, que a principio chamava Instituto Nacional de

Estudos Pedagógicos, e depois no ano de 1971 foi modificado Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisa Pedagógicos Anísio Teixeira, coincidentemente no mesmo ano

de sua morte.

Neste mesmo período, na década de 1950 em São Paulo, formou-se o 2º

Convênio Escolar, quando foram construídas 52 escolas na cidade, num plano de se

construir 100 novas escolas para comemorar o IV Centenário da cidade de São

Paulo, mesmo com metade do contingente de escolas construído não se previu a

falta de professores para suprir a rede escolar.

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Na década de 1960, em Brasília, Capital Federal do Brasil, planejada por

Lúcio Costa para ser modelo de cidade moderna, conseguiu-se implantar cinco

Centros de Educação Elementar, nas Super Quadra 308/307 Sul; 210/211 Sul;

313/314 Sul; 303/304 Norte e 210/211 Norte; das 29 previstas e projetadas para a

cidade ideal para uma população ideal.

Na década de 1980 e 90 com os CIEPs (Centro Integral de Educação

Pública), no Rio de Janeiro, foram implantados 502 em todo Estado, mas por falta de

capacitação de professores para atender a demanda. Situação semelhante já

ocorrida na década de 1950, quando o ideal de escola de excelência não se

concretizou e o período integral só é aplicado em alguns Centros Educacionais.

Na década de 1990 foram propostos 5.000 Centros de Atenção Integral a

Criança (CAIC), por todo o Brasil, mas apenas 358 efetivamente construídos.

Atualmente sofrem abandono dos órgãos públicos. Pelo relatório do IPEA, o CAIC

em seu programa pareceu desconsiderar, na sua prática, a existência de estruturas

físicas e organizacionais instaladas, extremamente grandes e com isso

necessitavam de melhores condições para o seu funcionamento e manutenção.

No Inicio da década de 2000 o Centro Educacional Unificado (CEU)

desenvolveu programa e projeto arquitetônico de qualidade para os primeiros 21

Centros Educacionais. Depois, que em 2004 se mudou o governo municipal, por

motivos políticos os outros Centros foram desfigurados, além da demora na

conclusão das obras licitadas, não conseguiram implantar a escola de tempo

integral.

Enfim compreende-se que se as políticas públicas dessem continuidade aos

programas educacionais propostos para a educação fundamental no Brasil (crianças

de 7 a 14 anos), talvez hoje não fosse preciso investir tanto em Presídios, Centros

de Reabilitação de Dependentes Químicos, Policiamento Ostensivo, Fóruns, etc...

Tem-se alguns exemplos que a educação é de vital importância para se

desenvolver e diminuir as desigualdades sociais de um país, como exemplo os

Chineses que buscam através do ensino tornar-se nova potência Mundial (Veja 21-

12-2011 “ARMA SECRETA DA CHINA”), lá investimentos na capacitação e

valorização dos professores e mais que isto, a continuidade dos programas de

governo e controle das autoridades ligadas a educação que prestam contas aos

dirigentes, como faziam os Inspetores no início do século XX, além do respeito de se

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andar uniformizado e saber que a formação da criança começa pela dedicação e

compromisso.

Sobre um artigo que José Pastore escreveu para o jornal Estado de São

Paulo (24 de abril de 2012), na Secção de Economia (B2) Opinião: Sem educação

não há salvação, afirma que em tempos de crise como a de 1929, os Estados

Unidos só se levantou da crise devido ao incentivo da educação, ocupando os

desempregados com leituras nas novas bibliotecas construídas nesta época, que o

Japão, após a 2º Guerra se levantou com base no preparo de sua gente. Que a

Coréia do Sul, ressurgiu das cinzas após o conflito dos anos 50 e renasceu

novamente depois da crise de 1998. Nos dois casos, com base na educação de seu

povo, e relata uma matéria que leu na revista The Economist (10-03-2012) que em

meio à recessão nos Estados Unidos 60% dos jovens americanos estão

matriculados nas Universidades, um recorde histórico. Sabem que quando a crise

passar sairá com mais capital humano. O Brasil por sua vez, desperdiça a

oportunidade dos bons ventos da economia, menos de 15% dos jovens estão

cursando as escolas de nível superior. O pior é que este quadro precisa mudar não

apenas no aspecto quantitativo, mas, sobretudo no qualitativo, pois as escolas são

em geral sofríveis. José Pastore finaliza:

A melhoria da educação, além dos visíveis impactos nos campos da cidadania e da democracia, é crucial para elevar a produtividade do trabalho e a competividade das empresas e da economia como um todo. Para os trabalhadores, é essencial para elevação da renda e o progresso na carreira. No mundo competitivo, sem educação não há salvação (jornal o Estado de São Paulo-B2- 24-04-2012).

Finalizo esta dissertação com duas frases de Anísio Teixeira: "Precisamos

preparar o homem para indagar e resolver por si os seus problemas" e "Temos que

construir a nossa escola, não como preparação para um futuro conhecido, mas para

um futuro rigorosamente imprevisível" (TEIXEIRA, 1930), consequentemente

precisamos projetar escolas ou reforma-las arquitetonicamente para enfrentar estes

desafios.

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APÊNDICE A - O QUE SE PASSAVA NO MUNDO E NO BRASIL NO PERÍODO DE CONSTRUÇÃO DAS ESCOLAS PARQUE

Através de um quadro temporal e setorial de como estava o Brasil e o Mundo

nas datas propostas para construção das Escolas Parques, foco deste trabalho. Foi

possível fazer uma cronologia resumida de fatos marcantes das determinadas

épocas de planejamento e construção das mesmas. O quadro levou em

consideração cinco pontos importantes para se compreender a educação brasileira:

1º) Quem governa o Brasil nas datas propostas para a formação das escolas. 2º) Qual a população nestes anos, a contar a partir de 1930, quando se iniciou a preocupação com a educação em massa. 3º) Quais foram os acontecimentos importantes no Mundo. 4º) O que o Brasil estava fazendo, produzindo, criando e construindo. 5º) Qual foi a produção literária do momento brasileiro. Para melhor visualização segue Quadro 09 esquemático das décadas descritas:

DATA PRESIDENTE POPULAÇÃO MUNDO BRASIL LETRAS

Déc. 1930 1930

Deposição de Washington Luís, assume Getúlio Vargas

37,6 milhões

crise de 1929 Voo do Zeppellin, construção do Cristo Redentor e a Casa Modernista.

Algumas Poesias - Carlos Drummond - Coleção Brasilianas.

1931 Getúlio Vargas Japão invade a Manchuria. O Empire State Building é inaugurado.

Crise Nacional do Café, Ensino Religioso, cria-se o Ministério Trabalho e Min. Educ. e Saúde

País do Carnaval de Jorge Amado.

MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO

1935

Getúlio Vargas Itália conquista a Etiópia

Radio Nacional. Aliança Nacional Libertadora. Voz do Brasil

Os Ratos de Dionélio Machado. . Raízes do Brasil com Sergio Buarque de Holanda.

Dec. 1940 1948

E. Gaspar Dutra Israel se instala na Palestina. Plano Marshall para a Europa . A ONU proclama a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Revolução Comunista Chinesa

Conjunto Proletário de Reidy,no Pedregulho. Sistema Brasileiro Público de Comunicação e Teatro Brasileiro de Comédia. Escolinha de Arte

Lady Godiva de Guilherme Figueiredo. Coronelismo, Enxada e Voto de Victor Nunes Leal.

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1949 E. Gaspar Dutra

Independência do Vietnã. Nasce a República Popular da China.

Escola Superior de Guerra , CBPF, Fábrica Nacional de Motores.

O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo . Organização Social do Tupinambá de Florestan Fernandes

Déc. 1950 1954

Suicídio de Getúlio Vargas, assume Café Filho

52 milhões Nasser Presidente do Egito. Guerra da França contra o Vietnã

Manifesto dos Coronéis. Parque do Ibirapuera. 100% do salário mínimo

História da minha infância de Gilberto Amado e O Caráter Nacional Brasileiro de D. Moreira Leite

1957 Juscelino Kubitschek

Guerra da França contra Argélia. Lançado o Sputnik (satélite artificial russo)

Supermercados –CBPE. Frente parlamentar Nacionalista. Escândalo Shell e Esso.

Educação não é Privilégio de Anísio Teixeira e O Diabo na livraria do Cônego de Eduardo Frieiro.

Déc. 1960 1962

Depois da renuncia de Jânio Quadros em 61 assume João Goulart

71 milhões Guerra Colonial dos portugueses na África Negra

Eletrobrás- Reforma de Base Estado do Acre. Plano Nacional de Educação.

Desemprego do poeta de Affonso Romano de Sant’Anna e 3 Livros Revolucionários de Guilherme Bandeira

Déc. 1980 1983

João Figueiredo 119 milhões Os Estados Unidos se lançaram a política “Guerra na Estrelas” de Reagan. Ataques de homens-bomba em Beirute.

Acontecia em São Paulo o primeiro Comício por Eleições Diretas no Brasil. Em 5 de janeiro de 83 houve o início da participação do Brasil na exploração científica da Antártica.

“1983: O Ano dos Videogames no Brasil” de Marcus Garret "A Grande Arte", de Rubem Fonseca; "O Elefante", de Carlos Drummond de Andrade; "Caprichos e Relaxos", de Paulo Leminsky.

1987 José Sarney A Perestroika de Gorbachev. A milícia chií Amal e os guerrilheiros palestinos concordaram em terminar a guerra dos campos libaneses, que custou 3,5 mil mortes durante três anos.

Uma cápsula de césio, retirada do Instituto Goiano de Radioterapia, foi vendida a um ferro-velho. Em outubro, ela causaram uma das maiores contaminações por radiação no país.

São lançados os livros "Crime na Calle Relator", de João Cabral de Melo Neto; "Império", de Gore Vidal. No cinema os filmes de mais sucesso são: "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci; "Os Intocáveis", de Brian de Palma; "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado. Na música os discos de "Eu sou Neguinha", de Caetano Veloso

Déc. 1990 1990

Fernando Collor 146 milhões Libertação de Nelson Mandela. Europa e Estados Unidos unem forças para lançar o telescópio espacial Hubble. O Iraque invadiu o Kuwait. E o fim da Guerra Fria.

Plano Collor I Medidas Econômicas anunciadas em 16 de março de 1990, incluíram o congelamento de 80% de todos os depósitos do overnight, confisco das contas correntes ou das cadernetas de poupança que excedessem a NCz$50mil

Milton Hatoum ganha o prêmio Jabuti de literatura romance no livro Relato de um certo Oriente. Por Malthus, Diogo Mainardi ganhou o Prêmio Jabuti em 1990, como cronicas e contos.

1992 Itamar Franco Fim da União Soviética. Colapso na Iugoslávia,

Renúncia do Presidente Fernando Collor de Mello. .Movimento pela Ética na Política

Estorvo é o primeiro romance de Chico Buarque, e recebe o Prêmio Jabuti de melhor romance em 1992.

1995 Fernando Henrique Cardoso

Atentado no metro em Tóquio. Atentado em Oklahoma.

Operação do Exército Brasileiro no Rio de Janeiro ocupou várias favelas da cidade.

Clarice Lispector lançou o livro: Perto do coração selvagem. .

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Massacre de Muçulmanos em Srebrenica.

Lançado, pela Microsoft, o sistema operacional Windows 95.

Déc. 2000 2001

Fernando Henrique Cardoso

169 milhões Concluído o esboço do genoma humano. George Bush ganhou as eleições americana. Ataque terrorista às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington.

Mário Covas. o governador paulista, morreu em 6 de março de 2001,

A mostra do escultor francês Auguste Rodin atraiu à Pinacoteca do Estado de São Paulo mais de 270 mil visitantes

2004 Luiz Inácio Lula da Silva

Bomba em Madri. Massacre na Chechênia. Tsunami na Costa da indonésia. Descoberta de que Marte já teve água em abundância

Liberação da safra de soja transgênica. Projeto de transposição do Rio São Francisco. Retomada do programa nuclear. Nova Lei de Biossegurança.

o livro O fantasma de Luís Buñuel se conjugou como marco diferencial, colocando sua autoria e referência, a premiada escritora Maria Silveira, entre as vozes reveladora da literatura regional de Goiânia

2011 Dilma Rosset 190.milhões Osama bin Laden, líder organização terrorista Al-Qaeda e mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001 foi morto por uma ação das Forças americanas . Captura e morte de Muamar Kadafi, líder da Líbia.

Dilma aprova aumento de salário mínimo para R$ 545,00. Um homem invadiu a Escola Municipal Tasso de Silveira do Rio de Janeiro e fez um massacre com crianças e adolescentes, onde morrem 12 pessoas, e depois se suicidou, uma tragédia que aterrorizou o mundo inteiro. Protesto contra a corrupção em Brasília acumulou mais de 30 mil pessoas.

Ferreira Gullar foi o vencedor do Prêmio Jabuti na categoria ficção com o livro de poemas Em Alguma Parte Alguma.. Ana Maria Machado assumiu a presidência da Academia Brasileira de Letras. Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector ganharam datas comemorativas neste ano

Quadro 09 Cronologia dos Fatos Marcantes na época de implantação das Escolas Parques Fontes: Aos Trancos e Barrancos de Darcy Ribeiro; 1001 Dias que Abalaram o Mundo de Peter Furtado;

http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_do_Brasil acesso- março 2012; http://www.brasilblogado.com/fatos-marcantes-de-2011-no-brasil-e-no-mundo/ acesso em nov. 2012; http://www.senac.br/INFORMATIVO/educambiental/EA_032004/editorial.pdf - acess0 nov-2012 http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/43/o-historico-brasileiro-em-o-fantasma-de-luis-bunuel--264345-1.asp acesso nov.- 2012 http://noticias.terra.com.br/interna/0,,OI111840-EI1411,00-Fatos+historicos+do+dia+de+setembro.html acesso nov. 2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%AAmio_Jabuti_de_Literatura - acesso nov. 2012.

Com este conhecimento foi possível traçar um organograma resumo para

melhor entendimento do surgimento das Escolas Parques no Brasil.

Percebe-se no Organograma 02 a falta de continuidade dos programas e

projetos, eles se iniciam com entusiasmo e depois de um determinado tempo são

suprimidos ou modificados, nota-se que passados mais de 10 anos da ultima

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iniciativa ainda estamos buscando um novo modelo para uma escola pública de

qualidade.

Organograma 02 - Resumo dos fatos importantes e implantação das Escolas.

Fonte: dados levantados pela autora

Nota-se com este Organograma que foi no final da década de 1940 até 1960

que surgiram três iniciativas de Escolas Parques, marcando um período de

crescimento desenvolvimentista do Brasil, e depois foi retomado após 20 anos, na

década de 1980 e 1990, com a volta da vontade democrática dois grandes projetos

políticos para educação, foram propostos para atender um grande contingente de

crianças de 7 a 14 anos. E assim pontualmente os planos são traçados e postos em

pratica, modificados por vontades políticas e novos programas educacionais surgem

para resolver o mesmo dilema.

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APÊNDICE B- OS PAINÉIS ARTÍSTICOS DO CENTRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO EM SALVADOR.

Quando Anísio Teixeira em 1949 propôs a construção do Centro Educacional

Carneiro Ribeiro em Salvador contratou artistas plásticos para decorar paredes da

Escola Classe I e II e paredes no Pavilhão de Trabalho da Escola Parque, pois era

consciente da importância visual da arte para formação da criança, possivelmente o

conhecimento do livro: Educação pela Arte de Herbert Read (1893-1968) publicado

em 1942 tenha formalizado a ideia de Anísio Teixeira de contratar artistas para

trazer arte a escola.

Herbert Read tinha a intenção de mostrar que a função mais importante da

educação é a educação da sensibilidade estética, não só para a educação visual ou

plástica, mas compreende todos os modos de autoexpressão, literária e poética,

bem como musical ou auricular e constituem uma abordagem integral da realidade.

(...) a educação dos sentidos nos quais a consciência, a inteligência e o julgamento do indivíduo humano estão baseados. É só quando esses sentidos são levados a uma relação harmoniosa e habitual com o mundo externo que se constitui uma personalidade integrada (READ, 1942, p.8).

Considerava que o ajustamento desta educação estética deveria considerar

além das experiências empíricas, outras duas capacidades que existem dentro do

indivíduo: uma delas é o armazenamento de imagens que não derivam da

percepção externa, mas das tensões musculares e nervosas de origem interna,

sensibilidade 'háptica' e a outra são os níveis da personalidade mental

subconsciente, que entram em primeiro plano da consciência sob a forma de

imagem e depois através de um estado de sonolência, hipnose ou de sonhos

normais, as imagens assumem uma forma de expressão, uma linguagem, que pode

ser 'educada'. (READ, 1942, p.7)

Ele trata como uma forma fundamental de toda atividade artística, mas coloca

em xeque até que ponto essa atividade imaginativa pode ser incentivada pelos

métodos educativos, quando pressupõe que o objetivo da educação é: "propiciar o

crescimento do que é o individual em cada ser humano, ao mesmo tempo em que

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harmoniza a individualidade assim desenvolvida com a unidade orgânica do grupo

social ao qual o indivíduo pertence” (READ, 1942, p.9).

Por Herbert Read a educação estética tem como objetivo:

1) A preservação da intensidade natural de todos os modos de percepção e

sensação;

2) A coordenação dos vários modos de percepção e sensação entre si e em

relação ao meio ambiente;

3) A expressão do sentimento na forma comunicável;

4) A expressão sob a forma comunicável dos modos de experiência mental que,

de outra forma, permaneceriam parcial ou completamente inexistente;

5) A expressão do pensamento na forma requerida.

E coloca três pontos importantes para o ambiente escolar:

6) O meio ambiente oferecido pela escola não deve ser artificial, mas tentar

fazer com que o lar entre em harmonia com a escola, satisfazendo as exigências

cientificas de saneamento, ventilação e higiene.

Mas a estética também é uma ciência, e deveria ser natural que a escola atendesse às leis simples que governam as boas proporções e as cores harmoniosas. A escola, em sua estrutura e aparência, deveria ser um agente, ainda que inconsciente em sua aplicação, da educação estética. A arquitetura das escolas é de fundamental importância (READ, 1942, p.330).

7) O mobiliário e o complemento de uma escola deveriam ficar ao encargo de

um arquiteto, não devendo ser produzido em massa sem qualquer consideração

pelo ambiente em que serão distribuídos. é por este meio que as escolas revelam a

sua individualidade, e por esse motivo as crianças sempre deveriam cooperar na

criação de seu próprio ambiente.

Os melhores quadros para decorar uma escola são as pinturas das próprias crianças, mas só se essas pinturas forem tratadas com respeito, devidamente montadas e decentemente emolduradas. As crianças deveriam, é claro entrar em contato com as obras de artistas maduros, tanto do passado quanto do presente (e de preferência, não por meio de reproduções), mas estas também deveriam ser tratadas com respeito e exibidas num local adequado. Deve-se sempre lembrar que a escola é uma oficina, e não um museu, um centro de atividade criativa, e não uma academia de aprendizagem. A apreciação não é adquirida pela contemplação passiva: só apreciamos a beleza com base em nossas próprias aspirações criativas (READ, 1942, p. 331).

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8) O ambiente deve garantir a liberdade, no sentido mais amplo, liberdade de

movimento, de caminhar. "Os sentidos das crianças só podem ser educados pela

ação, e a ação exige espaço- não o espaço restrito de uma sala ou de um ginásio,

mas o espaço da natureza" (READ, 1942, p.332).

Estava formado o conceito da Escola que Anísio Teixeira planejava e a

Escola Parque de Salvador foi o único modelo que conseguiu reproduzir,

principalmente o Pavilhão de Trabalho onde se encontram 5 grandes painéis

pintados por artistas renomados da época, como: Jenner Augusto em ‘A Evolução

Humana’; Mário Cravo na obra ‘ O Homem e a Maquina’, Carybé em ‘A Energia’ ,

Carlos Mangano no afresco ‘A Evolução Humana’ e artista Maria Célia Mendonça na

obra ‘Transformação da Matéria’. Os cinco trabalhos foram encomendados por

Anísio Teixeira que sabia da importância da arte para a formação da criança.

Figura 55- Mario Cravo com o titulo: ‘O homem e a maquina’ – técnica de tempera sobre compensado. Painel

medindo 20x 12 m.

Fonte: foto de Deborah Delphino tirada em abril de 2012.

Este painel no Pavilhão do Trabalho mostra o grau de destruição irreparável

de nossa cultura e descaso do poder público. Em foto tirada em abril de 2012,

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algumas placas foram perdidas pois anteriormente ocupava toda extensão da

parede, deixando as marcas das placas de compensado. Como mostra a figura 55.

Do outro lado há o painel nas mesmas dimensões de Carybé, felizmente com

grau menor de destruição, mostrado na figura 56.

Figura 56 - Painel de Carybé ‘ A energia’ técnica têmpera sobre compensado, medindo 20 x 12 m.

Fonte: foto de Deborah Delphino tirada em abril de 2012.

No mezanino do Pavilhão do Trabalho, em frente à porta de entrada é

possível ver o painel de Maria Célia de Mendonça, conforme figura 57. Está em bom

estado de conservação, e demonstra toda força da mensagem Muralista da época.

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Figura 57- painel de Maria Célia de Mendonça em ‘ A transformação da matéria’ com a técnica de tinta a óleo

sobre compensado.

Fonte : foto de Deborah Delphino tirada em abril 2012.

Descendo as escadas, antes de entrar nas alas propriamente ditas estão

duas obras pintadas diretamente na parede, mostrados na figura 58 e 59 os afrescos

de Carlos Mangano a ‘Evolução Humana’ e do outro lado Jenner Augusto também

com o mesmo título, com dimensões aproximadas de 10m x 3 m cada um. São

impressionantes pela força artística e caráter atual.

Figura 58- Afresco de Carlos Mangano a 'Evolução Humana'.

Fonte: Fotos de Deborah Delphino tirada em abril de 2012

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Figura 59- Afresco de Jenner Augusto a 'Evolução Humana'.

Fonte: Fotos de Deborah Delphino tirada em abril de 2012.

As Escolas Classe I e II, também possuem afrescos nas suas paredes de

entrada principal dos alunos. Estão em péssimo estado de conservação e pouco se

sabe como identificar os mesmos. Possivelmente encomendados para inauguração

das escolas na década de 1950. A figura 60 mostra o que resta destas duas obras.

Figura 60 : Na Escola Classe I e II são feito painéis com aproximadamente 3m x 1,5m de altura, ambos estão

deteriorados pelo tempo.

Fonte: Foto de Deborah Delphino tirada em abril de 2012.

No final da década de 1940 a Bahia foi descoberta nos seus aspectos de

mistura racial e intercambio cultural. Neste período chegaram muitos artistas

estrangeiros curiosos por essa cultura miscigenada, eram eles: Pancetti, Caribé,

Adam Firnekaes, Karl Hausen, Lenio Brada, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Jenner

Augusto, Agnaldo Manoel dos Santos, Mário Cravo e Pierre Verger, o que

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possibilitou Anísio Teixeira a escolha de artistas renomados para criar os painéis do

CECR.

Diógenes Rebouças, o arquiteto baiano que projetou os edifícios da Escola-

Parque, também era dedicado às artes plásticas, pois pintava e expunha seus

trabalhos nas Bienais de arte de Salvador, demonstrando seu apreço artístico,

portanto deve ter aprovado os locais em que as obras de arte foram pintadas,

infelizmente, este legado artístico de valor incalculável, está desprezado pelos

poderes públicos devido o estado de deterioração em que se encontram. É

importante destacar a relevância do muralismo na arte latina americana,

especialmente mexicana, da época. Também possui relevância o desenvolvimento

do muralismo nos Estados Unidos nos anos de 1940, que resultou no

abstracionismo expressionista do artista como Jackson Pollock.

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ANEXO A - DECLARAÇÃO DAS ESCOLAS VISITADAS