comunidade quilombola palmeiras: exemplo de luta e manifestaÇÃo cultural no semiÁrido

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COMUNIDADE QUILOMBOLA PALMEIRAS: EXEMPLO DE LUTA E MANIFESTAÇÃO CULTURAL NO SEMIÁRIDO Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1129 Setembro/2013 Mirangaba Marcada por uma paisagem exuberante, rodeada do verde das bananeiras, das serras e montanhas belíssimas. Assim pode ser caracterizada a Comunidade Quilombola Palmeiras, localizada no município de Mirangaba, no Território Piemonte da Diamantina, na Bahia. História de um povo de luta, resistência e organização, expressa o valor que a liberdade e as conquistas por melhores condições de vida significam para cada cidadão e cidadã do Semiárido. Segundo Durvalino dos Santos, (conhecido como Durval), membro da Associação e do grupo de samba, há muitas conversas sobre a formação de Palmeiras. “Como conta os mais velhos da comunidade, aqui era passagem de fuga de muitos escravos dos Quilombos próximos e acabou virando a moradia de liberdade de muitos deles. Então foi se formando como um povoado normal, já que não tínhamos conhecimento do que era ser quilombola ou remanescente. Há em média uns 10 (dez) anos que começou a aparecer algumas pessoas mais entendidas e passou a explicar sobre o assunto. Foi assim, que entre 2005 e 2007 (dois mil e cinco e dois mil e sete) nos reconhecemos como quilombolas. Hoje tenho muito orgulho de ser remanescente”, afirma Durval. A principal renda econômica de Palmeiras é conquistada através da agricultura familiar. A produtividade da terra é notada pela grande produção e diversidade de plantações de frutas, legumes e hortaliças, como: manga, jaca, alface, pimentinha, coentro, além de mandioca, milho, feijão, café, entre outros, tendo como destaque a plantação de banana. Assim, as famílias garantem seu consumo alimentar e nutricional de forma saudável, sendo também fonte de comercialização para a comunidade. Outro meio de viver bem e aumentar a renda familiar é com a criação de pequenos animais, como: galinha e suíno/porco. Com a união e a formação da Associação dos Moradores, a Comunidade Palmeiras tem a cada dia conquistado melhores condições de vida com a chegada de: energia elétrica, escola, posto de saúde, que contribuem para suprir e superar muitas de suas dificuldades e anseios. Um dos problemas fortemente encontrado era o de acesso à água, “caminhávamos muito para ter água, lembro que a única fonte de água era na roça de Dona Maria Eliandra, era o único tanque que existia para armazenar a água de chuva que Deus mandava. Hoje as coisas estão mudando muito com a chegada de projetos que enxergam a nossa necessidade”, diz Durval. Cisterna de Consumo, direito e conquista de toda família Senhor Durval rodeado pela sua plantação de banana

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COMUNIDADE QUILOMBOLA PALMEIRAS: EXEMPLO DE LUTA E MANIFESTAÇÃO CULTURAL NO SEMIÁRIDO

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1129 Setembro/2013

Mirangaba

Marcada por uma paisagem exuberante, rodeada do verde das bananeiras, das serras e montanhas belíssimas. Assim pode ser caracterizada a Comunidade Quilombola Palmeiras, localizada no município de Mirangaba, no Território Piemonte da Diamantina, na Bahia. História de um povo de luta, resistência e organização, expressa o valor que a liberdade e as conquistas por melhores condições de vida significam para cada cidadão e cidadã do Semiárido.

Segundo Durvalino dos Santos, (conhecido como Durval), membro da Associação e do grupo de samba, há muitas conversas sobre a formação de Palmeiras. “Como conta os mais velhos da comunidade, aqui era passagem de fuga de muitos escravos dos Quilombos próximos e acabou virando a moradia de liberdade de muitos deles. Então foi se formando como um povoado normal, já que não tínhamos conhecimento do que era ser quilombola ou remanescente. Há em média uns 10 (dez) anos que começou a aparecer algumas pessoas mais entendidas e passou a explicar sobre o assunto. Foi assim, que entre 2005 e 2007 (dois mil e cinco e dois mil e sete) nos reconhecemos como quilombolas. Hoje tenho muito orgulho de ser remanescente”, afirma Durval.

A principal renda econômica de Palmeiras é conquistada através da agricultura familiar. A produtividade da terra é notada pela grande produção e diversidade de plantações de frutas, legumes e hortaliças, como: manga, jaca, alface, pimentinha, coentro, além de mandioca, milho, feijão, café, entre outros, tendo como destaque a plantação de banana. Assim, as famílias garantem seu consumo alimentar e nutricional de forma saudável, sendo também fonte de comercialização para a comunidade. Outro meio de viver bem e aumentar a renda familiar é com a criação de pequenos animais, como: galinha e suíno/porco.

Com a união e a formação da Associação dos Moradores, a Comunidade Palmeiras tem a cada dia conquistado melhores condições de vida com a chegada de: energia elétrica, escola, posto de saúde, que contribuem para suprir e superar muitas de suas dificuldades e anseios. Um dos problemas fortemente encontrado era o de acesso à água, “caminhávamos muito para ter água, lembro que a única fonte de água era na roça de Dona Maria Eliandra, era o único tanque que existia para armazenar a água de chuva que Deus mandava. Hoje as coisas estão mudando muito com a chegada de projetos que enxergam a nossa necessidade”, diz Durval.

Cisterna de Consumo, direito e conquista de toda família

Senhor Durval rodeado pela sua plantação de banana

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Realização Apoio

Dessa forma, as tecnologias sociais têm contribuindo para melhorar a convivência com o Semiárido, principalmente nos grandes períodos de estiagens, garantindo qualidade e formas mais saudáveis de armazenar a água de chuva. Em Palmeiras, muitas famílias já possuem a cisterna de consumo, assim como as tecnologias para produção, como Barragem Subterrânea, Barreiro-trincheira, Cisterna-calçadão e Cisterna-enxurrada, conquistadas por meio das ações da Articulação Semiárido Brasileiro, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), através da execução de entidades como a Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI).

A CULTURA DE UM POVO CONSTRÓI A IDENTIDADE DA COMUNIDADE

As histórias vividas no Sertão retratam a força e resistência de seu povo, que se expressa através de um legado ancestral da cultura do povo negro. As culturas da Comunidade Palmeiras, são formas de manifestar a alegria de viver e valorizar seu lugar de origem, através de luta e sabedoria popular, construindo uma identidade própria por intermédio da cultura, podendo ser destacada pelo Samba de Roda, Samba de Piega e o Reisado.

Para o senhor Joaquim Mariano (morador de Palmeiras e integrante do Samba), a cultura do samba e do Reisado nasceu junto com a comunidade para expressar crenças, diversão, além da liberdade e coletividade, por reunir seu povo. O samba pode acontecer a qualquer momento, basta aparecer

convite de apresentação ou até mesmo quando surge à vontade de se reunir e fazer “a noite virar dia”, caracterizando-se até mesmo como terapia. “Acompanho desde moleque com meu pai e avô, enquanto tiver vivo farei parte, porque gosto demais, é alegria e calmaria. Às vezes quando estou estressado, sem conseguir dormir, levanto no meio da noite coloco um samba e vou sambar, me acalma que é uma beleza, depois consigo dormir muito bem”, relata senhor Joaquim.

A cultura do Reisado acontece de forma mais centrada, como diz o senhor Altino José dos

Santos e sua esposa Eucila dos Santos. “A data é sempre a mesma, na época do Natal e dia Reis, sendo manifestado entre o mês de dezembro e janeiro todos os anos. O Reisado é uma cultura ligada à crença religiosa da igreja católica e celebra o Nascimento do Menino Jesus. A manifestação é realizada a noite. Saindo de casa em casa com músicas e danças, a família recebe os cantadores de Reis dão alguma retribuição. Depois do dia de Reis, juntam tudo que foi arrecadado naquelas noites e fazem uma grande festa para a comunidade”.

Essa é uma das experiências que mostra, que a “Convivência com o Semiárido” vai além da luta pelo acesso à água e pela agricultura familiar, mas envolve também o resgate e a valorização das manifestações culturais populares, que são riquezas da Caatinga.

Senhor Joaquim na alegria do seu Samba

Senhor Altino e sua esposa demonstrando a manifestação do Reisado