compreensÃo leitora e humor de histÓrias em

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1 COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS EM ELE Aline Moraes Viana 2013

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Page 1: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

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COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

EM ELE

Aline Moraes Viana

2013

Page 2: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

2

Universidade Federal do Rio de Janeiro

COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

EM ELE

Por

ALINE MORAES VIANA

Departamento de Letras Neolatinas

Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Pós-

Graduação, da Faculdade de Letras, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em Letras

Neolatinas.

Orientadora: Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2013

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3

DEFESA DA TESE:

VIANA, Aline Moraes. Compreensão leitora e humor de Histórias em

Quadrinhos em ELE. Rio de Janeiro: UFRJ, Fac. De Letras, 2012.

Tese de Doutorado em Letras Neolatinas.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________

Professora Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio - UFRJ

__________________________________________

Professora Doutora Maria Mercedes Ribeiro Quitans Sebold - UFRJ

__________________________________________

Professora Doutora Sônia Reis - UFRJ

__________________________________________

Professora Doutora Maria da Conceição Paiva - UFRJ, POSLIN

__________________________________________

Professora Doutora Maria Paz Pizarro Portilla - Faculdade CCAA, UFF

__________________________________________

Professora Doutora Maria Luiza Braga - UFRJ, Suplente

__________________________________________

Professora Doutora Maria del Carmen Fátima González Daher – UFF, Suplente

Defendida a Tese:

Conceito:

Em: / / 2013

Page 4: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

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SINOPSE

Estudo sobre a compreensão leitora e humor de Histórias em

Quadrinhos em ELE em comparação a LM, dentro da

perspectiva sociointeracionista, tendo em vista componentes

visuais e verbais. Análise das pistas linguísticas contextuais e

esquemas de conhecimento compartilhados para a verificação de

quebra de expectativas e da construção humorística em

ELE/LM.

Page 5: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

5

O humor, numa concepção mais exigente, não é

apenas a arte de fazer rir. Isso é comicidade, ou

qualquer outro nome que se escolha. Na verdade,

humor é uma análise crítica do homem e da vida.

Uma análise não obrigatoriamente comprometida

com o riso, uma análise desmistificada, reveladora,

cáustica. Humor é uma forma de tirar a roupa da

mentira, e seu êxito está na alegria que ele

promove pela descoberta inesperada da verdade.

(Ziraldo)

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VIANA, Aline Moraes. Compreensão leitora e humor

de Histórias em Quadrinhos em ELE. Rio de Janeiro:

UFRJ, Fac. De Letras, 2012. Tese de Doutorado em

Letras Neolatinas.

RESUMO

A Tese propõe observar a construção de sentidos e a interpretação do humor de

Histórias em Quadrinhos em ELE e LM e analisar a interação dos leitores (alunos do

Ensino Médio) com o material proposto, a partir de perspectivas sócio interacionais.

Discute-se a noção de contexto, relacionando-a a um conjunto de regras

culturais, como um sistema dinâmico, um processo de significação e uma prática de

interação. Busca-se examinar, dentro do contexto, as pistas de contextualização

(Gumperz, 1982/2002) fornecidas pelo gênero analisado a partir da interação e da

reação dos leitores as HQs. As noções de footing de Goffman (1981/2002); estruturas de

expectativas, esquemas de conhecimento e enquadres interativos de Tannen & Wallat

(1986/2002) são conceitos correlacionados para explicitar a construção da compreensão

leitora e humor do gênero História em Quadrinhos (HQ).

A HQ – gênero textual em questão - constrói o seu eixo narrativo e contextual a

partir da interrelação entre a linguagem verbal e o suporte visual. Com base nesta noção,

analisam-se as estratégias de construção de significados dos leitores-alunos, as

interações dos leitores com as HQs selecionadas na leitura quadro a quadro, e como

identificam o humor por meio de rupturas de expectativas, geradas no desfecho dos

eventos narrativos. A investigação tem como foco de análise uma HQs de Condorito

(Espanhol Língua Estrangeira) e uma de Piratas do Tietê (Língua Materna) como

insumos de compreensão leitora e construção humorística em aulas de Espanhol (ELE),

no âmbito escolar.

A Tese observou que os alunos participantes apresentam interações muito

próximas no que se refere à construção leitora e humorística das HQs, em ambas

situações, de ELE e LM. As estratégias de leitura, empregadas pelo grupo, independem

da língua, mas do processamento de inferências fornecidas pelos contextos das HQs,

seja em ELE ou LM. Em ambas as atividades de compreensão leitora, as duplas buscam

interagir concomitantemente a partir das pistas verbais e visuais fornecidas pelos

contextos para a identificação de papeis sociais dos personagens e dos enquadres, de

esquemas de conhecimento compartilhados e de estruturas de expectativas, geradas

pelos quadros iniciais/ as suas rupturas que provocam a construção do humor em seus

desfechos narrativos.

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VIANA, Aline Moraes. Compreensão leitora e humor

de Histórias em Quadrinhos em ELE. Rio de Janeiro:

UFRJ, Fac. De Letras, 2012. Tese de Doutorado em

Letras Neolatinas.

ABSTRACT

This study observes the construction of the meaning and the identification of

humour in Spanish and Brazilian Comics and intends to analysis the interaction in these

texts in students of secondary school using concepts in the area of interactional

sociolinguistics.

The concept of context is connecting of cultural rules, a dynamic system, a

process meaning and an interaction practice. The analyses investigate the correlation of

contextualization conventions (Gumperz, 1982), footing (Goffman/1981) and interactive

frames and knowledge schemas in interaction (Tannen & Wallat/ 1986) to explain the

reading and the humour in Comics.

These comic texts are composed by the interaction of image and text. This study

analyses the reading interaction and the humour identification in Comics with a group

of students in these narratives events. This investigation focuses Spanish (Condorito)

and Brazilian Comic (Piratas do Tietê) with reading and the humour identification in

classroom activities (spanish classes).

The students show similar interactions in reading and humour identification in

both situations (Spanish and Brazilian Comics).The schemas employed for the group to

understand the texts are based in inferences observations in both comic texts, not in the

language. In both analysis the pairs of the students interact the linguistic and visual

codes to identification of social rules in personages, the interactive frames and

knowledge schemas in interaction in the first strips and the humour identification in the

last strip.

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VIANA, Aline Moraes. Compreensão leitora e humor

de Histórias em Quadrinhos em ELE. Rio de Janeiro:

UFRJ, Fac. De Letras, 2012. Tese de Doutorado em

Letras Neolatinas.

RESUMEN

La Tesis observa la comprensión lectora y la interpretación humorística de

Cómics en ELE y LM y analiza la interacción de alumnos de la Educación General

Básica con el material propuesto, a partir de la perspectiva de sociolingüística

interaccional.

Se discute el concepto de contexto, relacionándolo a un conjunto de reglas

culturales, un sistema dinámico, un proceso de significados y una práctica de

interacción. Dentro del contexto, se analizan las pistas de contextualización (Gumperz,

1982) ofrecidas por el género textual durante el proceso de interacción y cómo los

lectores las emplean. Los conceptos de footing de Goffman (1981); esquemas de

conocimientos y encuadres interactivos de Tannen & Wallat (1986) son correlacionados

durante el trabajo para explicitar la comprensión lectora y la construcción humorística

de los Cómics.

Los cómics construyen su narrativa y su contexto a través de la interacción entre

el lenguaje verbal y visual. En base a esa noción, se analizan las estrategias utilizadas

por los alumnos lectores para la construcción lectora, las interacciones con los cómics

elegidos y cómo identifican el humor a través de la ruptura de expectativas observadas

en el desenlace de los eventos narrativos La investigación focaliza un Cómic de

Condorito (ELE) y de Piratas do Tietê (LM) con actividades de comprensión lectora y

construcción humorística en clases de español (ELE).

La Tesis observó que los alumnos participantes presentan interacciones de

comprensión lectora y humorística muy semejantes en ambas situaciones, en ELE y

LM. Las estrategias lectoras empleadas por el grupo no dependen de la lengua utilizada,

sino que se establecen a través del procesamiento de inferencias ofrecidas por el

contexto de los Cómics sea en ELE o LM. En ambas actividades de comprensión

lectora, la interacción de las parejas en los Cómics correlaciona las pistas verbales y

visuales observadas en el contexto para la identificación de los papeles sociales de los

personajes y encuadres, de los esquemas de conocimiento compartidos y de estructuras

de expectativas en los recuadros iniciales y sus rupturas que construyen el humor en sus

desenlaces narrativos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................12

1.0 A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .....................................................................16

1.1 O conceito de texto ...................................................................................................16

1.2 O conceito de leitura e Letramento ..........................................................................19

1.2.1 O conceito de leitura ..............................................................................................19

1.2.2 A leitura como prática e interação social ...............................................................21

1. 2.3 A inferência ..........................................................................................................24

1.2.4 Letramento .............................................................................................................25

1.3 Compreensão leitora em Língua Materna e em Língua Estrangeira ........................28

1.3.1 Os PCNs e o ensino / aprendizagem de LE ...........................................................36

1.4 A perspectiva sociointeracionista ............................................................................38

1.5 Hipóteses ..................................................................................................................41

2.0 A LEITURA E O GÊNERO HISTÓRIA EM QUADRINHOS ...............................42

2.1 O Gênero Histórias em Quadrinhos (HQ) ................................................................42

2.2 A HQ: uma interação entre duas linguagens ............................................................45

2.3 A HQ no eixo educacional/ cultural, narratividade e humor ....................................57

2.4 As HQs no contexto escolar: Atividades de compreensão leitora ............................61

2.5 História em Quadrinhos em ELE e LM ....................................................................61

2.5.1 Condorito ...............................................................................................................61

2.5.2 A HQ de Condorito e quadro esquemático ............................................................63

2.5.3 Piratas do Tietê ......................................................................................................67

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2.5.4 A HQ de Piratas do Tietê e quadro esquemático ...................................................68

3.0 APLICAÇÃO DAS HQS NO CONTEXTO ESCOLAR .........................................71

3.1 Caracterização do grupo ...........................................................................................71

3.1.1 Perfil dos participantes da ficha social ..................................................................72

3.1.2 Os dados da ficha social ........................................................................................77

3.2. Análise do corpus a partir de Condorito ..................................................................77

3.2.1 A identificação do papel social dos personagens ..................................................78

3.2.2 A localização do enquadre .....................................................................................80

3.2.3 A reprodução da narrativa .....................................................................................82

3.2.4 As expectativas institucionais ................................................................................84

3.2.5 As imagens pressupostas em determinados papeis sociais ....................................85

3.2.6 As quebras de expectativas/ a construção do sentido do humor ............................89

3.3 Análise do corpus a partir de Piratas do Tietê ..........................................................91

3.3.1 A localização do enquadre .....................................................................................92

3.3.2 A reprodução da narrativa .....................................................................................93

3.3.3 A identificação de estrutura de expectativas .........................................................95

3.3.4 A identificação do papel social dos personagens ..................................................98

3.3.5 As imagens pressupostas em determinados papéis sociais ....................................99

3.3.6 As quebras de expectativas/ a construção do sentido do humor ..........................101

3.4 Tendências na HQ de LE e LM ..............................................................................103

3.5 O protocolo .............................................................................................................105

3.5.1 Análise das interações de uma dupla ...................................................................106

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................119

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ANEXOS

Material didático 1: “Festival de teatro en Madrid” /“¡Los “jeans”! ¡Pantalones de moda

desde el siglo XIX!”.

Material didático 2: “El origen del ocio” / “Las profesiones y el futuro”

Modelo da ficha social

Questões aplicadas – Tira 1 (ELE)

Questões aplicadas- Tira 2 (LM)

Mapeamento da ficha social

Mapeamento dos principais tipos de respostas na HQ de ELE

Mapeamento dos principais tipos de respostas na HQ de LM

Transcrição da analise oral das tiras de A e C

Principais personagens de Condorito

Questionários com os dados dos participantes: Condorito (CD-Rom), Piratas do Tietê

(CD-Rom), ficha social (CD-Rom)

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INTRODUÇÃO:

A Tese busca investigar como estudantes brasileiros realizam a compreensão

leitora de tiras de quadrinhos em ELE e em LM e quais são as estratégias empregadas

nestes textos que permitem uma maior identificação de seus efeitos humorísticos por

parte de alunos do Ensino Médio. Pretende-se observar - através dos conceitos de

Enquadres, Esquemas, Footing e Convenções de Contextualização- as estratégias

humorísticas empregadas nas tiras cômicas de Condorito (ELE), sendo postas em

comparação com uma tira de Piratas do Tietê (LM).

Segundo Fulgêncio & Liberato (2004) a construção de sentidos é um processo

complexo em que interagem diversos fatores como conhecimentos linguísticos,

conhecimento prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do

mundo, motivação e interesse na leitura, entre outros. Para as autoras o ato de ler é o

resultado da interação entre o que o leitor já sabe (informação não-visual) e o que ele

retira do texto (informação visual).

Realizar uma leitura, nesta visão, é associar esses conhecimentos em conjunto

com o contexto proposto. Desta forma a hipótese é que, os alunos tendem a se apoiar

nas suas estratégias de compreensão leitora em LM para a construção de sentidos e da

identificação do humor em ELE. Ao buscar estratégias similares que permitem essa

comparação através da percepção de pistas linguísticas e não linguísticas fornecidas

pelo contexto, esquemas de conhecimentos compartilhados, a identificação de enquadre

e de alinhamento dos personagens e estruturas/ quebras de expectativas, pressupõe-se

que os participantes tendem a apresentar facilidades/dificuldades similares para

correlacionar a leitura das tiras quadro a quadro, que levem a compreensão global dos

eventos narrativos, assim como a depreensão dos seus efeitos humorísticos tanto em

ELE quanto em LM. A investigação também visa observar que alunos de Ensino Médio,

em modo geral, conseguem compreender e construir os significados humorísticos das

tiras por possuírem um maior grau de maturidade leitora e por conseguirem identificar-

se culturalmente como o contexto discursivo proposto.

A Tese busca, desta forma, analisar como os alunos em 132 questionários

aliaram conjuntamente essas estratégias de compreensão leitora para a construção de

sentidos das tiras em ELE e LM. Além das atividades de compreensão leitora com

perguntas em português relativas às tiras cômicas examinadas, uma dupla de alunos (A

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e C) também gravou a discussão da realização de suas atividades em protocolo para uma

análise mais apurada de sua construção textual com o gênero textual em questão.

No primeiro capítulo da Tese, será feito um breve panorama teórico sobre o

conceito de texto, leitura em LE e LM, letramento como prática social, a perspectiva

sócio interacionista e a sua relação com o gênero História em Quadrinhos. O conceito

de texto será discutido mais especificamente na seção 1.1 e está aliado a um processo de

interação ativa entre texto-leitor, texto-leitor-autor. A leitura, sob o ponto de vista deste

trabalho, integra as experiências e os conhecimentos do leitor para a produção de

sentidos, sendo ele um agente desse processo e não simplesmente um decodificador de

informações, seja em LM, seja em LE.

A questão do letramento também será examinada na seção 1.2 e será vista como

uma prática social construída estrategicamente pelos indivíduos na realização de

atividades cotidianas, escolares, pessoais, dentre outros, conforme ressalta Soares

(2003), aliando esse conceito ao gênero HQ, do item 1.3, ao observá-lo como um

fenômeno de multiletramento em que cabe ao leitor construir o sentido do texto e

perceber as suas características humorísticas através das marcas visuais e linguísticas

dispostas concomitantemente em sua leitura narrativo-descritiva disposta em sua

construção quadro-a-quadro. A perspectiva sócio interacionista também será analisada

na seção 1.4, buscando aliar os conceitos de “enquadres interativos” e “esquemas de

conhecimento em interação” por Tanen & Wallat (1987), “footing” por Goffman (1979)

e o conceito de “convenções de contextualização” por Gumperz (1982) com a

construção de sentidos do gênero HQ e na sua relação interativa com o leitor.

A noção de contexto e linguagem também será discutida neste capítulo e

relacionam-se a conjunto de regras culturais, sendo um sistema dinâmico, um processo

de significação como uma prática de interação com o outro e que estabelece relações de

poder. Dentro do contexto busca-se examinar, mais especificamente, as pistas de

contextualização de Gumperz (1982) fornecidas pelos falantes (personagens da HQ)

durante a interação, como os leitores da HQ reagem a essas pistas e as divergências de

interpretação (Gumperz:1998). Neste capítulo, busca-se observar principalmente a

interação dos participantes (leitores), os significados (co-)construídos por eles e como

estes elementos podem ser co-relacionados dentro do gênero HQ.

No capítulo dois também será observado mais especificamente o gênero História

em Quadrinhos e as suas características particulares. Na seção 2.2, será abordado o

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14

gênero em questão como um tipo de texto em que há - em grande parte - a interação da

linguagem verbal / não-verbal e como estas contribuirão para a construção da sua

coerência e coesão textual. A relação entre imagem e texto na HQ também será vista

através da relevância da imagem para a construção de sentido neste gênero textual.

Além disso, serão ressaltados os componentes que constituem concomitantemente a

linguagem visual e verbal nas HQs e, ao mesmo tempo, se notará como estes elementos

podem contribuir diretamente ou indiretamente para a formação do gênero textual a ser

estudado e o papel do mesmo no aprendizado escolar atual. Na seção 2.3 o gênero

Histórias em Quadrinhos será observado mais detalhadamente sob esse eixo educacional

/ cultural, através da sua característica narrativa e a relação com o humor.

Neste capítulo também busca analisar as tiras cômicas selecionadas com base

nas noções de footing de Goffman (1981); estruturas de expectativas, esquemas de

conhecimento e enquadres interativos de Tannen & Wallat (1986), tendo como foco

uma tira cômica em ELE de Condorito e uma tira em LM dos Piratas do Tietê,

buscando observar como estes elementos podem ser co-relacionados e como podem

auxiliar a compreender a construção do humor no gênero HQ.

Pretende-se conjuntamente perceber, tendo como foco as duas tiras, como essas

perspectivas sócio interacionais podem explicitar o fenômeno do humor, propiciando

uma abordagem de interação em todos os seus aspectos, possibilitando um exame mais

apurado não só do nível linguístico e do não-linguístico, mas também dos movimentos

impostos pelo desenrolar da conversação dentro da interação, tendo em vista os

cenários, a postura dos personagens, os modelos culturais e a situação social do

momento em que a interação é realizada, conforme relata Lins (2002).

O capítulo 3 procura analisar quais as estratégias utilizadas pelos alunos para

observar as mudanças de contextos associadas mais diretamente às pistas de

contextualização e como constroem o humor das tiras em LM e ELE. Será abordada por

último uma gravação oral de uma dupla de alunos (A e C) do 3º ano do Ensino Médio

sobre as tiras cômicas fornecidas, a fim de observar como construíram o sentido do

texto na interação quadro- a- quadro através dos seus esquemas de conhecimentos

compartilhados, a identificação de pistas de contextualização e da construção do humor

através da ruptura de expectativas. Também se discutirá, de forma complementar as

atividades realizadas, o perfil leitor dos participantes que preencheram a ficha social

Page 15: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

15

fornecida. A ficha social, neste momento, pretendeu traçar informações sócio-culturais

mais específicas do grupo examinado e a sua relação com a leitura como prática social.

Page 16: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

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1.0 A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

1.1 O conceito de texto

Um texto é um construto de sentidos realizado ativamente em sua relação com o

indivíduo. Segundo Pauliukonis (2004) a noção de texto refere-se ao resultado de uma

operação estratégica de um leitor no nível referencial, que diz respeito ao conteúdo

situacional, relacionado aos entornos sociais e pragmático, associado ao processo sócio-

interativo. Kock (2007) reitera que a leitura é uma atividade que solicita intensa

participação do leitor, pois além das pistas e sinalizações que o texto oferece, entram em

jogo os conhecimentos do leitor para que o mesmo seja o próprio construtor de sentidos.

A produção textual é expressa mais especificamente através de distintos gêneros

textuais segundo uma série de fatores. Nesta Tese, adotou-se a definição de gênero

textual proposta por Marcuschi (2007) que o define de acordo com características sócio-

comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição

tipológicas. Nesse sentido, a diversidade textual apresenta configurações diferentes: A

notícia jornalística, o horóscopo, a receita culinária, a lista de compras, a piada, a bula

de remédio, a aula expositiva, as histórias em quadrinhos, dentre outros correspondem a

tipos de gêneros produzidos em determinadas sociedades e que possuem funções

comunicativas distintas.

Já a tipologia textual empregada designa uma espécie de sequência teoricamente

definida pela natureza linguística de sua composição, contemplando aspectos lexicais,

sintáticos, tempos verbais e relações lógicas. Segundo o autor (op.cit), os tipos textuais

abrangem cerca de meia dúzia de categorias como a narração, argumentação, exposição,

descrição e injunção. Um elemento central na organização de textos narrativos é a

sequência temporal. Já no caso dos descritivos predominam as sequências de

localização. Os expositivos apresentam o predomínio de sequências analíticas ou então

explicitamente explicativas. Os argumentativos se dão pelo predomínio de sequências

contrastivas explícitas. Por fim, os injuntivos apresentam o predomínio de sequências

imperativas. É através dessas marcas textuais que um enunciador/ co-enunciador

percebe pela sua competência textual em uma determinada língua - se um texto se

constitui “essencialmente” de uma narração, descrição, argumentação, dentre outros.

Page 17: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

17

Cada gênero textual contém dentro de sua estrutura um ou mais modos de

organização do discurso ou tipos textuais. De acordo com Paredes Silva, 1997:89, aos

modos de organização do discurso corresponde a organização da produção que por sua

vez depende do suporte, oral ou escrito. Para cada modo há uma série de dispositivos

linguísticos específicos como: tempo/aspecto/modo verbal, tipo de predicado, unidade

semântica básica, pessoa do discurso referida, unidade sintática básica. Essas formas

linguísticas podem estar ligadas diretamente a algum gênero do discurso que podem ser,

- ainda segundo Paredes & Silva (1997) estruturas narrativas, descritivas, expositivas,

procedurais e dialógicas.

Vilella & Koch (2000:534) destacam que a competência textual de um indivíduo

dá acesso as pistas que permitem reconhecer se em um texto predominam sequências de

caráter narrativo nos tempos do passado; ou descritivo na frequência de adjetivos, de

proposições centradas nos eventos de estado; ou argumentativo através da presença de

conectores de tipo lógico-semântico ou discursivo-argumentativo, que interligam

(macro) proposições ao plano textual global.

Adam (2005:30) estuda os gêneros textuais e considera que as sequências

prototípicas são: a narração, a descrição, a argumentação, a explicação e o diálogo. A

sequência da narração tem como característica principal organizar a sucessão de eventos

que podem se apresentar basicamente como situação inicial, transformação dos eventos

e situação final ou desfecho. A descrição tem como função básica enumerar atributos de

um determinado objeto ou personagem. A argumentação visa provocar a adesão ou a

não-adesão de um público a algum tema ou a alguma tese, oferecendo-lhe argumentos

relativos ao assunto em questão. Já a sequência explicativa pode fazer parte tanto da

narrativa quanto da argumentativa, descritiva e do diálogo, a sua função é levantar um

problema e uma explicação, uma resposta satisfatória. Por último, a sequência de

diálogos consiste essencialmente na observação da organização interna dos elementos

de interação que compõem a linguagem oral, o papel dos interlocutores distintos que

fazem parte da conversa, dos marcadores discursivos, das sequências encaixadas, da

troca de turno.

Entretanto, os modos de organização do discurso ocorrem de forma

concomitante. Ainda Segundo Adam (2005:19), cada texto possui uma realidade muito

heterogênea, assim, textos narrativos são muito mais variáveis que textos

Page 18: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

18

argumentativos. Os textos descritivos são raramente considerados autônomos, já que

ocorrem como parte de um outro modo de organização do discurso.

Charaudeau (2008) sustenta que além do texto caracterizar diferentes modos de

organização do discurso em seu próprio contexto linguístico, também pode apresentar

interações diferentes, dependendo do suporte e do modo de produção. Segundo o autor

(opt.cit), a situação comunicativa pode ser considerada dialogal, quando existe uma

troca oral em que os parceiros estão em situação presencial. Neste caso, sobretudo no

modo conversacional, o falante tem à sua disposição uma série de dispositivos

paralinguísticos, tais como o tom de voz, expressões gestuais e estratégias específicas,

tais como a repetição ou a reformulação em que a composição de sentidos

falante/ouvinte ocorre on-line. Nesse sentido, na fala espontânea nesse evento, se bem o

falante pode contar com a reação do interlocutor, ela se realiza sob pressão. Por outro

lado, a situação comunicativa pode ser considerada monologal quando os parceiros não

estão em situação presencial. Neste caso, o enunciador tem à sua disposição a

possibilidade de ler, corrigir e reescrever o texto. A interlocução é imaginada, pois não

existe o retorno do co-enunciador.

A representação de que os dois registros, o oral e o escrito, tem funções sociais

diferentes tem sido defendida por antropólogos e linguístas. De fato, as diferenças são

reconhecidas, mas a discussão tem abordado também a relação entre os dois registros à

maneira de um continuum. Assim, cada um deles apresenta uma gama de textos em que

pode se encontrar na língua falada formas da língua escrita, assim como, na língua

escrita formas próprias da oralidade.

Os pressupostos teóricos que embasam a presente Tese permitem abordar os

insumos, no caso o material composto pelo gênero história em quadrinhos (HQ), numa

perspectiva textual, caracterizado por ser um gênero impresso através de uma narrativa

gráfico-visual que apresenta marcas de oralidade em seu discurso em sua interação

dialógica entre os personagens que compõem os seus cenários e, ao mesmo tempo, na

construção ativa da interação entre o texto escrito/leitores na elaboração de sentidos.

Tese visa analisar a interação dos leitores numa atividade em sala de aula com o gênero

em questão, destinado a observar as estratégias de compreensão leitora em língua

materna (LM) assim como em língua estrangeira, no caso espanhol (ELE).

Page 19: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

19

1.2 O conceito de leitura e Letramento

1.2.1 O conceito de leitura

No que se refere à leitura, Koch (2007), assinala que a sua abordagem é

subsidiada por diferentes quadros teóricos. As principais correntes que circulam nas

propostas curriculares, nos materiais didáticos assim como nas práticas escolares são

embasados pelas perspectivas estruturalista, cognitivista e interacionista. Cada uma

delas implica um determinado conceito de língua, assim como princípios de

aprendizagem e procedimentos didáticos adotados nas propostas das atividades de

leitura.

Na perspectiva estruturalista, a concepção da língua como um conjunto de

elementos que configura um sistema. A leitura implica que o leitor priorize o foco no

texto em sua linearidade, como um produto da codificação. O principal escopo do leitor

consiste no reconhecimento do significado dos itens lexicais e a função das estruturas

sintáticas contidas no texto.

Nos princípios cognitivistas, a concepção de língua está vinculada ao modelo de

competência, que por sua vez guarda relação com a representação do falante nativo,

nesse sentido, a aquisição de uma outra língua tem como referência a língua materna. A

diferenciação das habilidades, relativas ao registro- oral e escrito- e ao lugar de falante

(que produz)/ ouvinte (receptor) fazem parte da configuração do modelo de

competência desdobrado em compreensão e produção. Assim, a leitura é entendida

como a atividade de compreensão que tem como objetivo decifrar ou interpretar um

texto que preexiste ao processo da leitura.

Dentro dessa perspectiva, Kato (2003) propõe que ao se trabalhar com uma

atividade leitora, no contexto escolar, deve-se levar em conta uma série de fatores como

o grau de maturidade do leitor, o grau de complexidade do texto, o objetivo da leitura, o

grau de conhecimento prévio do assunto a ser tratado e o estilo individual do leitor.

Nessas perspectivas apresentadas, o uso da linguagem é visto predominantemente como

um meio de transmitir informações, daí essas abordagens descartarem ou minimizarem

outras funções comunicativas.

Na visão interacionista, o texto é construído na interação texto-sujeitos. A leitura

é uma atividade interativa que se realiza evidentemente com base nos elementos

Page 20: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

20

linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que

requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior de um evento

comunicativo.

Ler um texto, na visão desta Tese, significa a elaboração de sentidos integrando

os elementos social e cultural. O texto seria, desta forma, um processo, que vai se

construindo através da interação ativa de texto-leitor, texto-leitor-autor. Ele não é

somente uma fonte única de sentidos que caberia ao leitor apenas a tarefa de decodificar

ou de reconhecer os itens linguísticos e descobrir o significado dos itens desconhecidos.

A leitura, nesta perspectiva, integra as experiências e os conhecimentos do leitor,

requerendo dele bem mais que as informações linguísticas para a produção de sentidos.

A concepção de texto como processo e não como produto da codificação, assim como

os atores deste processo como agentes e não como um emissor a ser decodificado por

um receptor passivo é a que caracteriza a atividade de leitura neste modelo.

Coracini (2002) reitera a concepção de leitura de um texto como um produto

interativo (leitor-texto, leitor-autor) a partir da concepção de recuperação explícita do

que se acredita serem as marcas deixadas pelo autor para a construção de sentidos

possíveis no contexto. Desta forma, o leitor busca possibilidades de leitura fornecidas

pelas pistas linguísticas que possam permitir uma gama de interpretações a respeito do

contexto. Esse modelo teórico proporciona elementos que permitem abordar de maneira

diferenciada essa multiplicidade de gêneros e de forma racional a sua utilização em sala

de aula.

Um balanço crítico sobre ao desenvolvimento da leitura no contexto escolar está

relacionado, por um lado, ao pouco espaço que ela ocupa nas atividades pedagógicas e,

por outro, à natureza dos exercícios em torno a ela. Bezerra (2003) destaca que o uso

didático da escrita de textos, na escola brasileira restringe-se basicamente aos seus

aspectos estruturais ou formais, desconsiderando os seus aspectos comunicativos e

interacionais. Os elementos formais do texto são considerados - desta forma - mais

relevantes do que os funcionais. Essa perspectiva esvazia a atividade de sentidos, a

torna mecânica e sem interesse para os alunos.

Nas atividades propostas com os gêneros oferecidos ao aluno nesta perspectiva,

o texto é abordado como alheio à sua experiência em que a tarefa se reduz a identificar e

retirar os trechos que constituem a resposta a comandos que se limitam a copiar sem

criar condições para a autonomia discursiva. O texto, sob este ângulo, passa a ser visto

Page 21: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

21

como um formulário preenchido (leitura) ou a preencher (para a escrita). Desconsidera-

se - neste tipo de visão - a leitura como uma prática social em que o aluno seja um

participante ativo na sua construção de sentidos, aliando seus saberes inatos e

adquiridos pela experiência com as inferências contidas no contexto.

A proposta de interagir com um gênero textual no ambiente escolar em LM ou

LE, procura-se auxiliar ativamente a ampliação do conhecimento através de outros

conhecimentos anteriormente adquiridos por ele. O desenvolvimento deste “andaime”

textual leva-o a construção de seu pensamento crítico e de suas ideologias, em que a

leitura funciona não como uma aceitação passiva das informações expostas no texto, a

serem preenchidas, mas como uma construção ativa em que o leitor – na medida que lê

– se constitui, se representa, se identifica com o texto, não só no nível da informação,

mas também através da interação e na identificação de ideologias, Soares (1996).

A Tese objetiva analisar as estratégias desenvolvidas por leitores, aprendizes de

ELE, no ambiente escolar, com insumos de HQs caracterizados pelos modos narrativo e

descritivo na composição de sentidos. A especificidade desse gênero, constituído

hibridamente por imagem e discurso escrito se formula como um texto eminentemente

narrativo, apresentando a organização de seus componentes imagísticos, com elementos

descritivos.

1.2.2 A leitura como prática e interação social

Na atividade da leitura e produção de sentidos de um texto, são colocadas em

ação várias estratégias sócio cognitivas. Os leitores realizam simultaneamente vários

passos interpretativos, realizando pequenos cortes que funcionam como entradas a partir

dos quais elaboram hipóteses de interpretação (Kock:2002).

Segundo Sperber e Wilson (1986) o mecanismo de compreensão do enunciado

dispõe de sistemas de entrada em que se encontram informações visuais/ auditiva/

linguística e de sistemas centrais que estão integrados aos sistemas de entrada e de

memória, buscando a construção do trabalho inferencial1. Os autores propõem que as

informações armazenadas na memória humana possuem funções diferentes na

compreensão e que são compostas de três entradas distintas, a entrada lógica,

enciclopédica e léxica. A entrada lógica é constituída por um conjunto de premissas e

1 A noção de inferência, para esta Tese, será definida na pág.21.

Page 22: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

22

conclusões que o indivíduo realiza na busca de sentidos, a entrada enciclopédica é um

conjunto de supostos que variam de pessoa para pessoa que está relacionada ao

conhecimento de mundo acerca de determinados temas e, por último, a entrada léxica

em que se encontram representações com formas linguísticas. Ao construir o significado

de um contexto, o leitor busca a concatenação destas informações armazenadas em seus

esquemas de conhecimento pessoais (Sperber & Wilson:1986). Quanto mais previsões

sobre o que é provável que apareça em um determinado texto aliado a um

processamento parcial do material visual, mais a leitura será fluente. A previsão

adequada é de suma importância para a interpretação, pois um erro de previsão pode

gerar uma compreensão inadequada do texto.

Para a compreensão leitora, Koch (2002) relata que os indivíduos dispõem de

esquemas de conhecimento linguístico, enciclopédico ou de mundo e o ‘ilocucional’.

Cada um desses conhecimentos contribui para que o leitor construa o contexto e para

que esse diálogo do texto com múltiplos leitor(es) funcione, é preciso que os indivíduos

possuam contextos parcialmente compartilhados em que os mesmos - a cada momento

de interação – possam ser alterados, ampliados e ajustados conjuntamente.

Esse conjunto de habilidades leitoras empregadas na interação interpessoal

depende dos conhecimentos compartilhados, o contexto social formado pelas práticas

sociais e a relação dessas práticas sociais com os gêneros textuais produzidos (Barton &

Hamilton: 2004). Entretanto, os eventos comunicativos produzidos pelos grupos sociais

não podem ser padronizados para qualquer situação, mas são atividades que dependem

exclusivamente do contexto, dos participantes e da construção de práticas sociais

geradas no processo de interação (Cameron:2000).

Goffman (1959/2009) aborda o contexto social e interpessoal da interação,

segundo o autor, o eu é um construto social, mais especificamente, um construto

interativo. O autor propõe o conceito de footing, que representa o alinhamento, a

postura, a posição do eu consigo próprio e com o discurso em construção. Esses

footings seriam sinalizadores da maneira como os participantes introduzem, negociam,

ratificam (ou não), co-sustentam e modificam a produção e a recepção das elocuções.

Os footings podem sinalizar aspectos pessoais, papéis sociais e intrincados papéis

discursivos e, nas suas mudanças, pode-se analisar como os participantes constroem o

processo interativo de um texto.

Page 23: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

23

Os conceitos de enquadres e esquemas contribuem para demonstrar a relação

particular entre enquadres interativos, esquemas de conhecimento e a sua relação com o

conceito de footing (Tannen & Wallat:1986)2. Para compreender qualquer elocução, os

indivíduos – a partir dos seus esquemas de conhecimento sobre pessoas, objetos,

eventos e cenários –interpretam os enquadres dos eventos e, ao mesmo tempo,

negociam as relações interpessoais, ou alinhamentos (footings) que os constituem.

Gumperz, Goffman, Tannen & Wallat (opt.cits) assinalam que as inferências3

dos falantes são contextualmente situadas de maneira que o sentido da interação é co-

construído por seus participantes. Na interação, os indivíduos estão sempre significando

e re significando suas identidades, pois é na interação que elas emergem.

Para a construção de sentidos é relevante o grau de maturidade do leitor, da

complexidade do texto, do objetivo da leitura, do grau de conhecimento prévio do

assunto a ser tratado e do estilo individual do leitor para a construção de sentidos de um

texto (Kato :2003).

O processo de compreensão leitora pode ser explicado através de formulação de

estratégias. O leitor seleciona uma série de estratégias perceptuais que lhe permitem

construir o sentido do texto através de pistas fornecidas pela informação visual

(Fulgêncio & Liberato : 2004). Essa interação entre a informação visual (contexto) e o

conhecimento anterior configuram a compreensão de um texto. O leitor infere do texto

as informações não mencionadas explicitamente, mas que são altamente relevantes para

a sua compreensão, sendo capaz de “monitorar” onde e quando são formados esses

contextos. O leitor utiliza o seu conhecimento de mundo e de informação para que - a

partir desse processo - possa correlacionar, problematizar o tema visto em questão. A

compreensão, desta forma, busca a informação objetiva do texto, enquanto que a

interpretação tem como função principal o “desvendar” do subjetivismo expresso em

suas entrelinhas. Um texto não preexiste à leitura. Esta não é uma construção passiva,

mas ativa em interação mútua com o leitor (Soares : 1996), buscando interagir com as

pistas linguísticas fornecidas pelo contexto que possam auxiliar diretamente na

construção do seu sentido mais amplo, assim como na depreensão de informações

inferenciais.

2 A noção de inferência, para esta Tese, será definida na pág.21.

3 A noção de enquadre refere-se ao que está acontecendo em uma determinada interação e como pode ser interpretada pelos seus

participantes, enquadre “brincadeira” ou enquadre “luta”, dentre outros.

Page 24: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

24

A análise do contexto é composta de uma série de pistas de contextualização que

podem auxiliar o indivíduo na compreensão de um enunciado (Gumperz :1982). Essas

pistas de contextualização podem ser de natureza linguística como, por exemplo, a

escolha lexical, o registro, o tópico, a mudança de código; de natureza paralinguística

como o tom de voz, a entonação, a pausa; e que também podem ser não-verbais, como

gestos, postura, expressão corporal e expressão facial. O não entendimento do

significado de uma pista por um determinado participante de uma interação pode gerar

divergências de interpretação e mal-entendidos.

Além da interação entre as informações do texto/ leitor, o contexto inclui regras

culturais (Lindstrom: 1992). As pessoas interagem em um contexto de ordens

discursivas pré-existentes que possibilitam a interação de pessoas de qualificações e

oportunidades diferentes, estabelecem regiões de conhecimento e de silêncio e

condições para a verdade e relacionam tal regime de verdade com sistemas de poder que

o produzem e o sustentam. Desta forma, o componente cultural também é um item

relevante no processo da compreensão leitora de um texto, pois a bagagem, como é

administrada no meio social, tende a ser um elemento auxiliar em sua construção de

sentidos.

1. 2.3 A inferência

Inferir é um processo em que um suposto se aceita como verdadeiro ou

supostamente verdadeiro, baseando-se na verdade ou na provável verdade de outros

supostos. A inferência pode se dar na forma demonstrativa, quando se aplicam regras

dedutivas a um conjunto inicial de premissas e não - demonstrativa, ao se formular

hipóteses sobre essas premissas e confirmá-las.

Para Sperber & Wilson (1986), o processo de compreensão inferencial é não-

demonstrativo, pois o destinatário não pode deduzir a intenção comunicativa do

emissor. O emissor pode somente construir um suposto sobre a base das provas que

oferece a conduta ostensiva do emissor. Cada suposto selecionado pelo emissor pode ter

maior ou menor força podendo ser considerado certo (verdadeiro), forte (confirmado),

muito forte (bem confirmado) ou fraco (pouco confirmado) e, portanto, mais provável

ou menos provável para o contexto a ser analisado.

Page 25: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

25

A função da inferência não-demonstrativa consiste em agregar uma informação

nova {P} a uma informação velha {C} seja lógica, enciclopédica ou léxica, gerando -

deste modo - uma contextualização de {P} em {C} produzindo um efeito contextual

específico. A medida que um discurso se desenvolve, o ouvinte o recupera ou constrói e

logo processa uma série de supostos. Estes supostos formam um pano de fundo

gradualmente transformador que processa nova informação.

É através deste efeito contextual que uma informação pode ser relevante,

irrelevante, debilmente relevante e muito relevante. Um suposto é processado de forma

ótima quando se seleciona o melhor contexto possível, produzindo um contexto que

permita conseguir o melhor equilíbrio entre esforço e efeito. Para se compreender

satisfatoriamente a informação fornecida é preciso também que o ouvinte (leitor)

elabore uma série de supostos mais prováveis para o contexto fornecido, buscando as

informações mais relevantes.

Nesta Tese, serão utilizados os conceitos de alinhamento, footing, enquadres

interativos, esquemas de conhecimento e pistas contextuais, sendo correlacionados e

reanalisados na leitura de tiras de quadrinhos, a fim de se estudar a interação construída

entre os próprios personagens que compõem o eixo narrativo e como os alunos - leitores

realizam conjuntamente a interpretação leitora desse gênero textual tendo como base os

esquemas de conhecimento que possuem para a construção de suas inferências tanto em

ELE quanto em LM.

1.2.4 Letramento

Todo indivíduo faz parte de um mundo multimodal em que os seus discursos

interagem com outros já existentes. O conceito de letramento é entendido como prática

social realizada por cada indivíduo independentemente do conteúdo informativo ser

formado unicamente pela linguagem verbal e/ ou não-verbal. Isto se observa na

produção de hipertextos, em que a leitura, a escrita e a comunicação se caracterizam por

ser multimodais, em que informações tais como símbolos, fotos, gravuras, textos, clipes

de filmes dentre outros estão multi-encaixados.

De acordo com Kress (2001), a massificação da mídia coloca em circulação

páginas de revistas e tiras cômicas, assim como documentos produzidos por

corporações, universidades, governos e departamentos que apresentam ilustrações

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26

coloridas, tipografia e ‘layout’ sofisticados, ao mesmo tempo. Esse tipo de prática

acentua essa tendência do caráter multimodal desta produção.

Entretanto, as atividades de leitura e de escrita são ainda concebidas de forma

monomodal em textos acadêmicos ou documentos oficiais, contrastando com as

características de uma leitura multimodal, que marcam os novos suportes em que as

informações oferecidas se tornam multi-encaixadas. A abordagem de tais textos requer

do seu leitor uma nova forma de leitura, construindo-se a partir de suas práticas sociais

vividas, pois as pessoas leem e produzem textos de formas diversificadas, em práticas

sociais distintas e com vocabulários próprios sob diferentes concepções de vida,

Lankshear (2007).

Segundo o autor (opt.cit), o letramento está ligado à perspectiva sociocultural

onde é impossível separar as práticas sociais de textos midiáticos. Estes

multiletramentos focalizam a diversidade cultural e linguística e o seu impacto com

essas novas tecnologias de comunicação que permeiam a sociedade contemporânea e

oferecem uma gama de novas informações de natureza oral, visual, informacional,

midiática, científica e emocional.

Soares (2003;2004) ressalta que existem dois tipos de letramento, o social e o

escolar. O letramento escolar se refere às habilidades específicas correspondentes,

basicamente à leitura, escrita e matemática, já o letramento social envolve a aquisição

de saberes adquiridos pela experiência. Segundo a autora, todos os indivíduos, numa

perspectiva mais ampla, podem ser considerados letrados, pois estão envolvidos

diariamente em práticas sociais distintas que lhes permitem criar estratégias próprias

para a realização de atividades no âmbito cotidiano, escolar e pessoal.

Rojo (2009) reitera que é papel da escola possibilitar que seus alunos participem

de várias práticas sociais através de multiletramentos ou letramentos múltiplos, trazendo

os letramentos das culturas locais de seus agentes e colocando-os simultaneamente em

contato com outros letramentos universais e institucionais. Segundo a autora, a

instituição escolar deve ter como objetivo principal desenvolver com os alunos

letramentos multissemióticos exigidos pelos textos contemporâneos, ampliando a noção

de letramentos para o campo da imagem, da música, das outras semioses que não

somente a escrita e, por último, através de letramentos críticos e protagonistas

requeridos para o trato ético dos discursos de uma sociedade.

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27

Essa visão do letramento como prática social também é compartilhada por

Barton (1998) ao afirmar que as práticas de letramentos fazem parte das instituições

sociais e as relações de poder. Entretanto, alguns letramentos são dominantes, visíveis e

influenciam os demais. Essas práticas mudam e novas formas são frequentemente

assimiladas no processo de aprendizagem em que a leitura e a escrita passam a

representar a identidade de indivíduos, interesses e papéis sociais.

A leitura passa a ser vista, não como uma prática initeligível dissociada do seu

leitor, mas como um evento aliado a uma relação pessoal com cada leitor. Para Maybin

& Moss (1993) o letramento refere-se a concepções diferenciadas do mundo e, por isso

se trata de atos individuais de leitura. Cabe ao leitor dialogar com o seu conteúdo

informativo, construindo - juntamente com a leitura do texto e a partir dos

conhecimentos previamente adquiridos pelo indivíduo - novos processos interpretativos.

A construção do significado do texto deixa de se referir exclusivamente ao seu produtor

e passa a ser construído e reconstruído sob múltiplas formas e vozes quando este passa a

ser examinado por diferentes pessoas, de diferentes grupos e identidades.

No âmbito educativo, a multiplicidade de canais e mídia, assim como o

crescimento da diversidade cultural e linguística, se contrapõem ao letramento da

pedagogia tradicional que apresenta “blocos” de textos exclusivamente escritos. A

pedagogia do multiletramento também para Cope & Kalentzis (2000) vai além da língua

escrita. O texto apresenta múltiplos recursos de natureza linguística, visual, áudio,

gestual, espacial encontrados principalmente em multimídias e na hipermídia eletrônica

em que a conexão entre o conhecimento local e global interagem.

Ao interagir com múltiplos gêneros textuais no ambiente escolar, o indivíduo

assimila novas informações e ao mesmo tempo auxilia ativamente a ampliação do

mesmo através de outros conhecimentos anteriormente adquiridos. O desenvolvimento

deste “andaime” textual leva-o a construção de seu pensamento crítico e de suas

ideologias.

Este modo de olhar os novos letramentos conduz a instituição escolar a rever

aspectos sociais importantes como o letramento aliado a educação e construção de

identidades no mundo atual e aquelas que vão formar o futuro. Com a introdução das

novas tecnologias no ambiente escolar, profundas mudanças são realizadas

proporcionando a materialização de novos modos de pensar e agir nas práticas sociais.

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28

Ver os diversos letramentos como um remix em que múltiplas vozes interagem

em um determinado texto formando algo novo é um fenômeno cada vez mais

observado, segundo Lankshear (2007). O modo, hábitos e costumes de um determinado

grupo social interagem e influenciam-se, mutuamente tornando-se multiculturais.

Na perspectiva dessa Tese, o letramento escolar e social discutidos por Soares

(2003) serão empregados para analisar alunos do Ensino Médio em atividades de leitura

do gênero Histórias em Quadrinhos em ELE e em LM. Buscar-se-á verificar mais

especificamente como os alunos- leitores realizam a construção de sentidos / humor e

interagem com as duas tiras fornecidas nas propostas dos exercícios de compreensão

leitora, utilizando os esquemas de conhecimentos socialmente adquiridos para a

elaboração de estruturas de expectativas /a identificação de suas quebras que levem ao

reconhecimento humorístico do contexto.

1.3 Compreensão leitora em Língua Materna e em Língua Estrangeira

Na principal crítica feita por Coracini (2002) às práticas pedagógicas no que se

refere ao ensino/aprendizagem de línguas, a autora sustenta que em Língua Materna e

Língua Estrangeira – nas atividades de leitura, pois o texto serve como pretexto para

analisar os elementos sistêmicos da língua tais como a gramática, o léxico e outros

aspectos da linguagem. A função essencial de provocar efeitos de sentido no leitor-

aluno deixa de ser contemplada para ser apenas o lugar de reconhecimento de unidades

e estruturas linguísticas cuja funcionalidade parece prescindir dos sujeitos. A tarefa

interpretativa do texto fica restrita a questões sobre a intencionalidade do autor, as ideias

principais do texto, limitando-se a exigir – quase sempre por parte dos alunos – o

reconhecimento ou a localização da resposta unívoca, considerada a “correta”.

Essa visão crítica sobre ensino de língua é reforçada por Marcuschi (2002:51) na

análise de textos didáticos de Língua Materna, por considerar relevante o trabalho com

o texto em sala de aula. A partir de uma análise de exercícios propostos neste material

didático, o autor questiona os tipos de tarefas propostas com variados gêneros textuais

em sala de aula. O autor assinala que o trabalho com texto em sala de aula em LM ainda

privilegia - em grande parte -o reconhecimento de conteúdos gramaticais. Por outro

lado, o estudo sistêmico proposto para LM se caracteriza por ser descontextualizado, em

que se trabalha fundamentalmente a análise das formas gramaticais em frases isoladas.

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29

Ainda segundo Marcuschi (opt.cit), a grande tendência dessas atividades nesses

materiais concebe a compreensão leitora como extração de conteúdos, que raramente

levam a reflexões críticas. Esse tipo de atividade não permite a expansão ou construção

de sentidos, o que implica uma concepção de compreensão leitora mensurável

unicamente através da identificação de conteúdos, deixando de lado elementos cruciais

como a ironia, a metáfora e outros aspectos relevantes nos processos de compreensão e

de inferências textuais.

Essas atividades de leitura em LM em sala de aula se caracterizam por serem

monosemânticas, visto que há um maior investimento em trabalhar basicamente a

compreensão textual de forma esquemática, desconsiderando os processos inferenciais e

o componente interpretativo implícito. Portanto, não contribuem com o

desenvolvimento do raciocínio, nem das habilidades críticas do aluno. A pouca

relevância dada a exercícios contextualizados de compreensão leitora que explorem a

reflexão crítica do aluno e a busca de inferências tende a criar práticas de leitura

formando um leitor superficial que não explora as possibilidades de leitura fornecidas

pelo texto em LM.

Quando se trata da Língua Estrangeira, a tradução linear é trabalhada como

única atividade padrão de compreensão em que a concepção de texto é vista como a

soma do significado isolado de cada palavra que resulta na montagem do todo e o

sentido como algo fixo. Se aciona uma concepção de leitura como uma atividade

destinada a decifrar o conteúdo do texto.

Essa concepção de leitura no contexto de ensino/ aprendizagem de uma língua é

ainda um tipo de trabalho recorrente em alguns livros didáticos de Língua Estrangeira

no Ensino Fundamental e Médio que circulam em escolas brasileiras. Essa abordagem

de concepção de leitura também pode ser observada em materiais didáticos na Educação

Básica, como por exemplo, do Ensino Fundamental em ELE: o material didático 1 e 2.

Estes dois materiais foram escolhidos para essa discussão por serem de ampla

divulgação, nas redes de ensino, que adotam o ELE, no nível fundamental. Além disso,

esses livros são preparados para aulas de língua espanhola que possuam em média uma

hora de aula por semana, tornando-se materiais com maiores chances de serem adotados

por parte dos professores que trabalham com esta carga horária reduzida, pois eles

majoritariamente são elaborados para aulas de ELE que durem cerca de duas horas de

aula por semana.

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30

O material didático 1 é dividido em quatro níveis de ensino/aprendizagem, sendo

sugerido para os quatro últimos anos do Ensino Fundamental (6º, 7º, 8º e 9º anos) e

realizado para alunos com a faixa etária entre 11 a 15 anos. Cada livro é subdividido em

9 capítulos desenvolvidos durante um ano letivo e em cada uma das lições trabalha-se

os conteúdos através de seções que buscam desenvolver-se nas quatro habilidades

linguísticas.

Cada unidade tem como objetivo inicial a apresentação dos conteúdos

topicalizados de caráter sistêmico ou lexical durante o capítulo e de um texto de

abertura que visa contemplar – em sua maioria – diálogos ou monólogos não autênticos

que tenham como principal pretexto apresentar o vocabulário pretendido ou questões

gramaticais que serão posteriormente desenvolvidas nas seções subsequentes.

A seção intitulada “gramática e vocabulário” com a explicação do tópico

gramatical e lexical a ser aprendido; em “conteúdos comunicativos” são trabalhados

uma série de estruturas comunicativas que pretendem ampliar os conteúdos dispostos na

unidade e, por fim, uma seção dedicada especificamente a “leitura” em que se

pretenderá trabalhar exercícios de interpretação textual, além de buscar “expandir o

universo cultural dos alunos”, conforme é defendido no manual do professor da coleção.

Os conteúdos lexicais e gramaticais do material citado são vistos em seções

apartadas daquelas dedicadas à leitura e interpretação textual. A abordagem da leitura e

de construção de sentidos do texto - principalmente na seção intitulada “Lectura” -

exige do aluno-leitor o reconhecimento do significado de itens lexicais isolados

considerados relevantes para esse processo e de estruturas gramaticais a serem

trabalhadas durante o capítulo. Essa organização evidencia uma hierarquização dos

conteúdos em que as informações sistêmicas são priorizadas e a atividade leitora

aparece como complementar.

As atividades textuais do livro não contêm propostas de questões inferenciais em

que os conhecimentos de mundo, contextuais, culturais fossem ativados e construídos

para a busca de respostas. Nesses tipos de tarefas, as questões têm como objetivo

principal a identificação/extração de conteúdos ou a elaboração de respostas pessoais

dos alunos a cerca do tema exposto para essa seção.

A seção dedicada à leitura ocupa um quarto de cada capítulo e tende a ser vista

como uma atividade mecanizada, apenas complementar de cada unidade, servindo

prioritariamente como um ‘pretexto’ para a fixação dos conteúdos gramaticais e

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31

lexicais. Os textos, em geral, são informativos retirados de sites da internet ou de

revistas e frequentemente são adaptados pela coleção aos alunos de 3º e 4º ciclos.

A exemplificação de alguns textos e de seus mecanismos podem ser mais bem

observados nos anexos 1 e 2 intitulados respectivamente por “Festival de teatro en

Madrid” e “¡Los “jeans”! ¡Pantalones de moda desde el siglo XIX!”.

TEXTO 1 (“Festival de teatro en Madrid”)

1 Marca la respuesta correcta. a En la frase “del día 4 al 26, está en la ciudad Teatralia” el verbo Estar se encuentra conjugado en: [ ] 1ª persona del singular. [ ] 3ª persona del plural. [ ] 3ª persona del singular

b En la frase “Marionetas y títeres, música, danza, teatro e incluso el arte del circo están emocionando a pequeños y a mayores” la estructura en negrita expresa: [ ] una situación [ ] una acción que está en proceso [ ] un estado

c En la frase “Están comprendidos en esta tarea” el verbo Estar expresa: [ ] una situación [ ] una acción que está en proceso [ ] un estado

O primeiro texto disposto em anexo “Festival de teatro en Madrid” demonstra

que as atividades propostas para essa seção foram divididas em três blocos de questões.

No primeiro momento, a tarefa prioriza a fixação de conteúdos gramaticais aprendidos

em seções anteriores, utilizando o texto escolhido apenas como pretexto para a

identificação de conteúdos, conforme se nota a seguir nas questões a, b e c. A questão 1

teve como objetivo principal revisar o verbo “estar” no Presente do Indicativo aprendido

durante a seção de “Gramática y vocabulario” e verificar a aprendizagem da estrutura

verbal de “Estar” no presente do indicativo e de seu valor semântico para cada contexto,

limitando-se –prioritariamente – à taxonomia gramatical.

2 Marca la V para las afirmaciones verdaderas y con F, las falsas. a [ ] Teatralía es el nombre de un famoso teatro de Madrid.

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32

b [ ] Participan de este festival compañías nacionales y extranjeras. c [ ] Por el texto, sabemos que una de las finalidades de este festival es acercar los niños del mundo del espectáculo. d [ ] Este año este festival conmemora su quinto aniversario. e [ ] El espectáculo va dirigido a niños y adolescentes.

A questão 2 busca que o aluno identifique a veracidade das afirmativas

apresentadas, levando-o somente a uma confirmação de informações contidas no texto.

A atividade não induz inferências sobre o contexto, levando o aluno- leitor a realizar

uma série de exercícios mecanizados, sem nenhuma reflexão crítica.

3 Completa el crucigrama con algunas de las manifestaciones de arte presentes en el texto. a Muñecos que se mueven por medio de hilos. b Semejante a títeres. c Sitio en que se realizan espectáculos u obras dramáticas. d Sinónimo de baile. e Combinación de melodía, ritmo y armonía.

A última atividade teve como foco, através de um exercício de palavra cruzada,

fixar a aprendizagem de determinados itens lexicais mencionados no texto. Nesta parte,

o aluno deveria apenas identificar - por meio das dicas fornecidas – quais seriam as

palavras sinônimas que deveriam completar adequadamente a tarefa proposta. Os

exercícios relativos a esse texto buscam, em geral, a identificação de itens lexicais

isolados e de fixação de conteúdos gramaticais aprendidos durante o capítulo, não

desenvolvendo nenhuma questão de cunho inferencial.

Desta forma, as atividades realizadas neste material não desenvolvem o processo

de leitura e de reflexão crítica sobre o texto. A seção dedicada à construção leitora não

estão compatíveis aos objetivos a que se propõe, na busca de desenvolver os alunos na

habilidade de compreensão leitora de forma mais inferencial, limitando-se a fixação de

conteúdos gramaticais/ lexicais aprendidos durante a unidade ou a comprovação da

veracidade das informações contidas na notícia. O trabalho inferencial com o texto,

Page 33: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

33

neste material, não é considerado, sendo apenas utilizado como ‘pretexto’ para a

ampliação de conhecimentos sistêmicos destacados no capítulo em questão.

Texto 2 (“¡Los “jeans”! ¡Pantalones de moda desde el siglo XIX!”)

Han llegado las vacaciones de verano y te vas a la playa. ¿Qué ropa piensas llevar y para qué ocasiones? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________

O segundo texto “¡Los “jeans”! ¡Pantalones de moda desde el siglo XIX!”,

também exposto no anexo na seção dedicada à leitura aborda uma única questão, que

serve apenas como ‘pretexto’ para associar o item lexical “vestuário” desenvolvido no

capítulo. O texto é visto como uma atividade complementar ao conteúdo e a questão não

‘dialoga’ diretamente com o contexto, requerendo somente o desenvolvimento de

respostas pessoais por parte dos alunos.

A construção de atividades em que os alunos busquem correlacionar os seus

conhecimentos do mundo, contextuais e culturais acerca do tema e a ativação de

estruturas de expectativas não são levadas em consideração na elaboração das questões

propostas para essa seção deste livro. O texto 2 também sugere uma concepção de

leitura apenas como uma atividade complementar em que a fixação de respostas lexicais

desenvolvidas em seções anteriores do capítulo são os tópicos mais relevantes.

O material didático 2, é subdivido em quatro níveis de ensino/ aprendizagem,

contemplando – da mesma forma – alunos das quatro últimas etapas do Ensino

Fundamental e com as faixas etárias do material anterior. Cada livro é subdividido em

12 capítulos com sete seções.

Cada capítulo contém um texto de abertura de caráter informativo, literário ou

dialógico com a base temática a ser trabalhada, uma seção intitulada por “Palabras”

onde são apresentados os itens lexicais isolados relativos ao tema abordado, “Mira” que

tem como objetivo explicar itens gramaticais da unidade e “Ejercicios” em que se

encontram atividades estruturais de fixação e aplicação do conteúdo lexical e

gramatical.

Na seção intitulada por “Intercomunicación” são propostas atividades orais em

duplas ou em grupos relacionadas ao tema que tencionam a ampliação da habilidade

Page 34: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

34

oral através de diálogos mais ou menos direcionados, devendo ser construídos pelos

alunos com base nas perguntas sugeridas ou por contextos gerados pela própria seção.

Em “Desafío” são propostos exercícios que pretendem - de forma lúdica- motivar o

aluno a empregar os conhecimentos adquiridos na unidade e, por último, “Intercambio”

em que se baseia em um texto informativo cultural, fornecendo ao aluno – segundo o

livro – textos que estariam ligados à temática do capítulo para a complementação do

conteúdo.

O segundo material analisado não apresenta uma seção dedicada à leitura e,

portanto, não apresenta uma proposta específica para a realização dessa atividade. O

trabalho com o texto pode ser visualizado na abertura de cada capítulo ou na seção

intitulada “Intercambio”. Os textos apresentados são majoritariamente informativos, não

autênticos e produzidos pelos próprios autores.

Texto 3 (“Las profesiones del futuro”)

A Las palabras siguientes están en portugués. Entresaca del texto sus equivalentes en español: 1) ainda: ________________________ 3) ninguém: __________________________ 2) população: ____________________ 4) meados: ___________________________

B Busca en el texto: 1) Una expresión equivalente a por otra parte: _______________________________________________________________________ 2) un sinónimo de especialistas. ______________________________________________________________________

O uso desse material textual está destinado a exercitar itens lexicais ou

gramaticais a serem estudados durante o capítulo. Nas questões em geral, os itens

lexicais são trabalhados isoladamente do contexto ao requerer do aluno a tradução livre

de determinadas palavras extraídas do texto ou na identificação de expressões

consideradas sinônimas. O terceiro texto analisado “Las profesiones del futuro”

exemplifica as propostas de atividades realizadas com o texto ao priorizar nas atividades

Page 35: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

35

A e B a identificação de possíveis versões em espanhol de determinados vocábulos

mencionados no artigo.

C Preguntas 1) Elige a una de las modernas profesiones citadas y explica la lógica que ves en su surgimiento y en su futura expansión. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2) Según el texto, a pesar del paso del tiempo, algunos profesionales no perderán su importancia. Aparte de los citados, ¿qué otros crees que no desaparecerán? ¿Por qué? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________

A questão C sugere um trabalho de leitura com o texto, exigindo que os alunos

forneçam opiniões pessoais relacionadas ao futuro crescimento de uma determinada

profissão ou a citação de outras que possivelmente não desaparecerão, porém a

atividade não implica a leitura. A tarefa proposta teve com objetivo desenvolver

opiniões pessoais acerca da temática do texto sem desenvolver a reflexão crítica do

aluno através de questões de cunho mais inferencial.

O quarto texto selecionado do material didático 2 foi retirado da seção intitulada

“Intercomunicación” que teria como objetivo fornecer textos complementares à

temática do capítulo.

Texto 4 (“El origen del ocio)

1) ¿Está correcto decir que inicialmente una parte de la sociedad disfrutaba del ocio y otra parte no? Justifica tu respuesta: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________

2) ¿Qué actos de la era post-industrial demuestran valoración del tiempo libre? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 36: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

36

No texto “El origen del ocio” as questões dedicadas à leitura estão relacionadas à

localização de respostas identificadas diretamente no texto. A compreensão leitora -

nesta atividade - é vista como uma “cópia”, uma mera reprodução de informações

contidas no texto.

Tanto no primeiro material analisado, quanto no segundo, as questões dedicadas

à compreensão leitora requerem – quase sempre por parte dos alunos – o

reconhecimento ou a localização da resposta unívoca, considerada a “correta”. Desta

forma, esses materiais também não tendem a preparar o aluno a ser um leitor mais

reflexivo, que busque as inferências contidas em cada gênero textual a ser explorando,

levando-o a construção de práticas sociais em LE. O aluno, com base nessas

concepções de leitura, representa um sujeito passivo e não um ser ativo em interação

mútua com o texto a ser trabalhado na busca da construção de sentidos.

1.3.1 Os PCNs e o ensino / aprendizagem de LE

Na área de ensino / aprendizagem em Línguas Estrangeiras Lousada (2003: 75)

observa que o aluno/leitor baseia-se primeiramente em seus conhecimentos de gêneros e

tipologias textuais em LM para depois identificá-los em LE. O reconhecimento de

gêneros e tipologias semelhantes auxilia na leitura mais eficiente em LE e em sua

relação com as práticas sociais tanto em LE quanto em LM.

Grigoletto (2002) sustenta que limitar-se ao desenvolvimento linguístico ou

cognitivo, através do treino de estratégias, implica anular a constituição do aluno-leitor

na sala de aula como um leitor real, que teria assim o seu contexto sócio-histórico-

ideológico e a sua história de leituras apagados no processo de construção de

significados durante o ato de leitura em LE. A inserção de tarefas de leitura dentro da

dimensão discursiva da significação deve necessariamente modificar o enfoque com que

o texto será trabalhado, mesmo quando, em alguns momentos da aula, se opte pelo

desenvolvimento da capacidade linguística ou estratégias de leitura. Além disso, a

autora propõe levar o aluno a perceber que não existe uma só leitura, nem tampouco um

significado já dado para um texto em que se apoie como mero reprodutor de processos

de significação. Para a autora, a atividade de compreensão leitora deve ser a responsável

Page 37: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

37

por diferentes abordagens e diferentes leituras de um mesmo texto tanto em LM quanto

em LE.

No documento prescritivo dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua

Estrangeira (1998) – o ensino/ aprendizagem de um idioma é abordado como uma

possibilidade de aumentar a autopercepção do aluno como ser social e como cidadão.

Nesse processo, o indivíduo se apropria não somente dos recursos linguísticos como

léxico e regras gramaticais, mas também toma conhecimento dos valores culturais de

uma outra sociedade.

Na proposta dos PCNs, um dos objetivos da aprendizagem de uma Língua

Estrangeira (LE) visa desenvolver no aluno, em especial, a habilidade da leitura. Outras

habilidades também são consideradas relevantes para a aprendizagem do aluno, porém a

leitura é considerada a mais fundamental, considerando o papel social que desempenha

a instituição escolar em relação ao letramento. Os Parâmetros sugerem o diálogo entre o

letramento escolar adquirido pelos alunos na aprendizagem das habilidades específicas

correspondentes basicamente à leitura/ escrita com o letramento social que envolve a

aquisição de conhecimentos de mundo de um indivíduo. A habilidade leitora – nesta

visão – passa a ser vista como uma prática social realizada por um indivíduo em todo o

seu âmbito cotidiano e que deve, portanto, ser tratada com maior atenção, já que o

auxilia no diálogo de valores socioculturais distintos.

Nas orientações técnico-pedagógicas sobre os procedimentos didáticos, o

documento segue os princípios interacionistas ao propor os três tipos de conhecimentos

que fazem parte da abordagem dos textos: sistêmico, de mundo e de organização de

textual. O primeiro envolve o conhecimento que o leitor tem sobre o sistema linguístico;

o segundo refere-se ao conhecimento prévio que o indivíduo armazena pela sua

experiência e o último refere-se ao conhecimento a tipologia textual.

A utilização em sala de aula de uma diversidade de tipologia textual tem o

objetivo de contribuir para o desenvolvimento da habilidade intertextual do aluno/leitor,

evidenciando que os textos são usados para propósitos diferentes na sociedade.

Ao propor a leitura sob essa perspectiva interacionista, os Parâmetros tem como

objetivo fundamental sugerir a construção do trabalho com o texto através da interação

ativa de texto-leitor, texto-leitor-autor, tanto em LM, quanto em LE. A leitura torna-se

um processo que integra as experiências e os conhecimentos do leitor para a construção

Page 38: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

38

de sentidos. O leitor é o agente ativo desse processo e a leitura é um reflexo de suas

práticas sociais.

A questão levantada por esta Tese está relacionada às práticas leitoras em sala de

aula. Questiona-se em primeiro lugar, quais são as estratégias para compor sentidos no

processo de leitura de textos híbridos. Híbridos em vários sentidos, por um lado, na

constituição de imagem e registro verbal dos insumos e por outro, na interseção do

modo de produção do texto escrito com traços deliberados próprios da oralidade. A

hipótese que orienta a tese está na relação dessas estratégias em LM e LE, no caso

língua espanhola, em que os alunos tendem a empregar as estratégias de compreensão

leitora de LM para a construção de sentidos em LE.

1.4 A perspectiva sócio interacionista

A abordagem desse trabalho tem no conceito de interação a base da análise das

estratégias nos processos de leitura, em alunos do Ensino Médio, na realização de

atividades de compreensão textual em duplas. Busca–se observar as estratégias em

relação à construção do humor pelos alunos-leitores em suas interações com o gênero

textual proposto, uma tira de HQs em ELE e outra em LM.

Como quadro teórico - metodológico, o trabalho busca aliar as noções de

“enquadres interativos” e “esquemas de conhecimento em interação” por Tanen &

Wallat (1987), “footing” por Goffman (1979) e o conceito de “convenções de

contextualização” por Gumperz (1982), a fim de identificar as estratégias mais

empregadas para analisar a compreensão leitora/a construção humorística do gênero

textual HQ, tendo como base as pistas de contextualização observadas pelos leitores.

Segundo Tanen & Wallat (1987), a noção interativa de enquadre refere-se à

percepção de qual atividade está sendo encenada e de qual construção de sentido os

falantes dão ao contexto. As autoras demonstram que as dificuldades para a

compreensão do contexto podem levar aos participantes envolvidos no processo de

interação a ativar um outro tipo de enquadre divergente, o que leva a falhas na

construção de sentidos.

Na conceituação dos conceitos de enquadres e esquemas, Tannen & Wallat

(1986) demonstram a relação particular entre enquadres interativos, esquemas de

conhecimento e a sua relação com o footing. Para as autoras a noção de enquadre refere-

Page 39: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

39

se ao evento em uma determinada interação e a como pode ser interpretado pelos seus

participantes. Para dar sentido à elocução, os indivíduos – a partir dos seus esquemas de

conhecimento acerca das pessoas, objetos, eventos e cenários – interpretam os

enquadres dos eventos e, ao mesmo, tempo negociam as relações interpessoais, ou

alinhamentos (footings) que os constituem.

Para as autoras , o termo “esquemas de conhecimento” é utilizado para se referir

às expectativas dos falantes sobre pessoas, objetos, eventos e cenários no mundo. A

única maneira de alguém compreender qualquer discurso é por meio do preenchimento

de informações não proferidas decorrente do conhecimento de experiências anteriores

no mundo. Para se compreender se um tipo de enquadre encontra-se em um

determinado enunciado, é necessária a ativação de esquemas de conhecimento

disponíveis em cada indivíduo, associando as pistas linguísticas e paralinguísticas do

contexto em questão.

Essas pistas de contextualização para Gumperz (2002) estão em todos os traços

linguísticos que contribuem para a sinalização de pressuposições contextuais. Os

significados das pistas de contextualização são implícitos. Entretanto, quando um

ouvinte não reage a uma das pistas, ou não reconhece sua função, pode haver essas

divergências de interpretação e mal-entendidos.

Goffman (1959), em seus estudos sobre o eu situado e o contexto social

apresentou uma contribuição relevante para a Sociolinguística Interacional. O trabalho

de Goffman tratou do contexto social e interpessoal da interação e propõe que o eu é um

construto social, mais especificamente, um construto interativo. Para o autor (1959) o

indivíduo assume um papel representacional dentro do contexto social, como um ator

social que desempenha uma determinada atividade e serve para influenciar, de alguma

forma, os outros participantes desse encontro social.

O conceito “representação”, de Goffman (1959 / 2009) refere-se à elementos

como vestuário, sexo, idade, características étnicas, altura e aparência, atitude, padrões

de linguagem, expressões faciais e gestos corporais fazem parte da fachada pessoal,

sendo relativamente fixos ou móveis performados pelo indivíduo de um momento a

outro em determinados grupos. Ao realizar uma determinada “representação” o

indivíduo se utiliza de um “cenário”, de elementos de pano de fundo para o desenrolar

da ação humana, podendo ser permanentes (um lugar geográfico) ou não-permanentes

quando acompanham os atores sociais.

Page 40: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

40

A conceituação de footing Goffman (2002 /1979) representa o alinhamento, a

postura, a posição consigo próprio e com o discurso em construção. Esses footings

seriam sinalizadores da maneira como os participantes do discurso introduzem,

negociam, ratificam (ou não), co-sustentam e modificam a produção e a recepção das

elocuções.

Os footings podem sinalizar aspectos pessoais (uma fala afável e sedutora),

papéis sociais (um diretor na posição de administrador de uma escola) e intrincados

papéis discursivos (um prefeito enquanto animador de um discurso elaborado pelos seus

assessores, por exemplo). Uma mudança de footing (eventos) implica uma mudança de

alinhamento, de papéis desempenhados pelos indivíduos na sociedade e as relações dos

mesmos com outras pessoas e de exercer as suas funções como o culturalmente

estabelecido. Os footings e suas mudanças (de alinhamento, de faixas de

comportamento, de marcadores paralinguísticos, dentre outros) demonstram como os

participantes constroem a projeção do eu e como afetam sutilmente o processo

interativo em curso.

Gumperz (1982 /2002), na perspectiva da Sociolinguística Interacional, sinaliza

que a análise de um contexto é composta de uma série de pistas de contextualização,

que podem ser de natureza linguística no caso da escolha lexical, do registro, do tópico,

da mudança de código; de natureza paralinguística como o tom de voz, a entonação, a

pausa; mas também podem ser não-verbais, como gestos, postura, expressão corporal e

expressão facial. A dificuldade de compor sentido de uma pista por um participante de

uma interação pode gerar divergências de interpretação e mal-entendidos, pois são

consideradas gafes sociais, levando a julgamentos inadequados acerca da intenção do

falante, porém não identificados como simples inadequações linguísticas.

A partir das discussões de Gumperz, Goffman, Tannen & Wallat observa-se que

o sentido da interação é co-construído por seus participantes que fazem parte da

compreensão leitora.

1.5 Hipóteses

O pressuposto desta Tese é que o aluno-leitor das HQs construa o humor através

da observação das expectativas e esquemas de conhecimentos compartilhados pelos

Page 41: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

41

indivíduos e projetados por alguns personagens que, no desfecho da narrativa, rompa

com o esperado através da mudança de alinhamento e de (micro) enquadres de formas

semelhantes tanto em LM quanto em ELE. A observação se centra sobre a habilidade do

leitor de identificar adequadamente essas operações inferenciais que constroem o

humor, e caso contrário, observar divergências de interpretação que possam gerar

processos de leitura inadequadas ou parciais das tiras.

Também se focaliza o comportamento do leitor em relação às pistas de

contextualização, na percepção da mudança de alinhamento dos personagens através das

pistas verbais (conteúdo semântico das falas) e visuais (expressões faciais e corporais),

que são fundamentais no processo de interação texto-leitor e leitor-leitor, enquanto a

mudança de contexto está se processando. Assim, cabe essa interação ativa entre texto-

leitor, a capacidade de gerar inferências de expectativa e observar se são comprovadas

ou se há uma ruptura de expectativas no seu desfecho final.

A Tese também visa observar se os alunos de Ensino Médio, em modo geral,

conseguem compreender e construir os significados humorísticos das tiras por

possuírem um maior grau de maturidade leitora e por conseguirem identificar-se

culturalmente como o contexto discursivo proposto.

A Tese pretende examinar como os conceitos apresentados, sob a ótica sócio

interacionista, podem ser aliados e percebidos em uma HQ de Condorito (ELE) e na HQ

de Piratas do Tietê (LM) em atividades de compreensão leitora por parte de alunos de

Ensino Médio.

Page 42: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

42

2.0 A LEITURA E O GÊNERO HISTÓRIA EM QUADRINHOS

2.1 O Gênero História em Quadrinhos (HQ)

Nas Histórias em Quadrinhos (HQs) – texto objeto da Tese em questão – o eixo

narrativo é constituído basicamente pela seqüência de imagens. A linguagem visual

oferece outras informações importantes para a composição do enredo tais como:

cenário, tempo e personagens. Além dos componentes situacionais que contextualizam a

narrativa, os elementos descritivos também estão, em grande parte, disponíveis no

suporte visual da HQ, através das expressões faciais e corporais das personagens,

embora possam ser materializados também nas onomatopeias ou no formato das letras

que compõem o balão, elementos estes igualmente importantes e significativos para a

constituição do gênero textual.

Além dessa característica, quanto à natureza da linguagem, ora esse gênero se

apresenta como icônico não - verbal ( explorado através das descrições visuais, em que

o leitor apreende o sentido do texto por meio de marcas visuais), ora como icônico

verbal (que constrói o sentido do texto através das marcas visuais e lingüísticas). O que

faz esse gênero funcionar como um fenômeno do multiletramento, pois emprega

concomitantemente ambos recursos para a construção de sentidos para o texto. É por

intermédio desta composição concomitante de linguagens distintas que se constroem

novas formas de letramentos híbridos como as HQs, em que tipos textuais diferentes

interagem formando novas maneiras de refletir as práticas sociais vigentes.

Segundo Canclini (1997), o gênero história em quadrinhos é visto como um

gênero ‘impuro’ -híbrido- e como tal, gera ordens narrativas, mediante a combinação

original de tempo e imagens em um relato de quadros descontínuos, contribuindo para

mostrar essa potencialidade visual da escrita e o dramatismo que pode ser condensado

em imagens estáticas. Pode-se encontrar neste tipo de gênero a correspondência entre

síntese de vários gêneros, sua “linguagem heteróclita” e a atração que suscita em

públicos de várias classes, em todos os membros de uma família. Por ser um gênero que

há muito tempo faz parte das leituras habituais principalmente do grupo infanto-juvenil,

este tem sido bastante utilizado no ambiente escolar - das últimas décadas do século

passado até os dias atuais - com o intuito de contribuir para a formação do leitor e

produtor de textos, uma vez que se utiliza prioritariamente da linguagem verbal e não -

verbal simultaneamente para a compreensão da leitura.

Page 43: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

43

A Tese objetiva analisar as principais estratégias de leitura e a construção de

humor com alunos do Ensino Médio em tiras cômicas de ELE e comparar se ocorrem

semelhanças ou divergências de leitura com uma tira de LM. Busca-se observar como

os leitores-alunos, através de atividades de compreensão leitora em dupla, interagem

com ambas as HQs, ao ativar os seus esquemas de conhecimento e as pistas de

contextualização de cada tira.

As tiras cômicas em ELE escolhidas foram as HQs chilenas de Condorito, de

ampla circulação em grande parte da América Latina, tendo publicação mensal própria

e também divulgado por meios eletrônicos e jornais impressos diversos fora do país de

origem. O personagem central dessas tiras, Condorito, representa um homem urbano e

comum, que desempenha diversos papeis sociais nesse contexto, com a principal

característica de ter um comportamento esperto e usar uma linguagem popular.

Entretanto, o nome do personagem é significativo, já que é o da ave de rapina mais

simbólica da região andina.

Os outros personagens que compõem as narrativas representam diversos tipos:

Yayita (a namorada de Condorito), Don Quasimodo e Dona Tremebunda (seus sogros),

Washington e o louro Matias (seus animais de estimação), Pepe Cortisona (seu rival),

Huevoduro, Ungenio, Garganta de Lata, Don Chusma, Comegatos (seus amigos),

Yuyito (sobrinha de Yayita) e Coné (sobrinho de Condorito) cujos nomes constituem

pistas para a construção de sentidos responsáveis pelo humor.

O autor, René Ríos, elabora o personagem Condorito nos distintos papeis nos

quais o enquadre tem a função de caracterizar diferentes tipos de práticas sociais;

demarcadas em situações conflitivas para a qual há sempre um desfecho inesperado, em

que o personagem central busca tirar proveito pessoal. A caracterização da esperteza

como o traço principal do personagem em diferentes situações e enquadres tem como

protótipo o pícaro de tradição hispânica.

No que se refere ao humor, ele pode ser considerado escatológico, na medida em

que a conduta do personagem é sempre surpreendente e anti-ética, em relação ao papel

que desempenha em cada tira, ao romper princípios morais básicos que embasam o

comportamento nos diferentes enquadres institucionais, como juiz, professor, médico,

diretor etc.

Page 44: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

44

Na análise da interação entre o leitor e o texto humorístico dessa HQ, se busca

monitorar contextos, observando como o leitor faz as inferências necessárias para

chegar a interpretações mediadas por dados culturais.

Com relação às HQs em LM, escolheu-se - para uma comparação de estratégias

de leitura e de construção de mecanismos de humor Piratas do Tietê de Laerte, que

circulam em jornais brasileiros de todo o país. O título evoca sentidos irônicos na

referência a “Piratas” - personagens cujas práticas são realizadas a margem da sociedade

e “Tietê” ao rio do estado de São Paulo, poluído e inavegável. Estas tiras fazem uma

crítica dos problemas sociais cotidianos do homem urbano dos tempos modernos nos

âmbitos pessoal, profissional, dentre outros.

Assim como nas HQs de Condorito, as tiras em destaque também são

constituídas de um humor irônico em que as expectativas são ativadas nos primeiros

quadrinhos pelos personagens que a compõem dentro do alinhamento social

inicialmente proposto, gerando uma ruptura no desfecho narrativo. Tanto nas tiras de

Condorito, quanto nas do Piratas do Tietê, o humor é construído com base nestas

mudanças de alinhamentos, fornecidas através da sequência narrativa linear aliadas

quadro- a- quadro.

Com base nessas semelhanças de construção humorística, a Tese tem como objetivo

analisar as estratégias mais empregadas pelos alunos-leitores para identificação de seus

efeitos através das pistas de contextualização verbais e não verbais fornecidas pelas

tiras, estabelecendo as estratégias de leitura mais utilizadas pelos alunos participantes

para a realização da atividade leitora tanto em LM quanto em ELE. A hipótese desta

Tese é que o estudante se apoie nas estratégias da LM para elaborar as suas hipóteses

interpretativas do texto em LE. Desta forma, se espera que os procedimentos e as

estratégias sejam os mesmos.

A noção de letramento como uma habilidade específica, adquirida pelo indivíduo

no meio educacional em diálogo com um conjunto de práticas sociais exercidas em seu

cotidiano, é um item relevante para essa Tese, pois é papel da instituição escolar

desenvolver a habilidade leitora dos alunos, integrando o conhecimento de mundo, que

faz parte na construção de expectativas/quebras e da compreensão dos efeitos

humorísticos de um texto.

O gênero HQ pode ser visto como um exemplo de multiletramento, pois

coerência e a coesão textual são construídas quadro a quadro através da

Page 45: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

45

complementaridade entre a linguagem verbal e não-verbal. Nesta Tese, busca-se

observar especificamente como funciona a compreensão leitora nos alunos do Ensino

Médio em tiras em LM e em ELE, assim como a depreensão dos seus efeitos

humorísticos. Pressupõe-se que alunos desse segmento desenvolveram um maior grau

de maturidade leitora, que implica o uso de estratégias de inferências e, por conseguinte,

uma habilidade discursiva em relação aos elementos culturais dispostos nas tiras.

2.2 A HQ: uma interação entre duas linguagens

O gênero História em quadrinhos (HQ, daqui para a frente) se particulariza por

ser formado pela interação de duas linguagens importantes para a sua composição: a

visual e a verbal.

A estrutura dos quadrinhos se caracteriza essencialmente pela sequencialidade.

Entre uma imagem e outra, há uma continuidade temporal e espacial que vai,

gradativamente, construindo um enredo (Cirne et alii: 2002). O gênero é constituído

por uma narrativa gráfico-visual aliada à linguagem verbal através dos balões que

contribuem para a sua construção narrativa, representando a fala das personagens de

uma história4.

As HQs podem também ser compostas somente pela linguagem não-verbal, já

que a imagem é o elemento principal de sustentação do enredo.

Quando a história é composta somente pela linguagem não-verbal, a imagem

assume todas as funções, visto que, nesse caso, ela é a responsável por todo o eixo

narrativo/descritivo. Neste caso, ela apresenta um conteúdo particularmente

polissêmico, podendo ser atribuídos a ela múltiplos significados para a construção da

compreensão leitora. Ao ter uma única linguagem informativa, oferece ao leitor pistas

não-verbais que permitem a compreensão da narrativa (tempo, lugar, personagens),

assim como as suas respectivas características descritivas (expressões faciais e corporais

das personagens).

Em histórias compostas pela linguagem verbal, há uma complementaridade entre

a linguagem verbal e o não-verbal. As HQs compostas pela interação entre as duas

linguagens, podem fornecer tanto informações narrativas quanto descritivas de maneira

4 O critério de tipologia das narrativas agrupa o tipo de texto em cartuns, charges, caricaturas e HQs. As

HQs possuem um grupo de imagens dispostas, o mesmo não acontece com os outros cuja composição

pode se esgotar no espaço de uma só imagem.

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46

que uma complemente a outra, estabelecendo uma relação de co-existência (Lins:2002).

A inclusão dos balões como elementos que representam a fala das personagens tem

como função integrar-se à narrativa da HQ, fornecendo informações relevantes que, ao

mesmo tempo, se associam a linguagem não-verbal para auxiliar na construção de

sentidos. Os balões, assim como a sua cor, forma, espessura e tamanho, tornam-se

elementos significativos para o texto, pois podem conter pistas discursivas como ironia,

sarcasmo, dentre outras que permitem contribuir para a constituição do enredo

desenvolvido.

Nas HQs, o eixo narrativo é constituído basicamente pela sequência de imagens.

O componente visual oferece ainda outras informações importantes para a composição

do enredo como a visualização do lugar, a relação temporal e os personagens. Os

elementos descritivos também estão, em sua grande parte, no componente visual da HQ

através das expressões faciais e corporais das personagens, embora possam ser

materializados também nas onomatopeias ou no formato das letras que compõem o

balão, elementos estes igualmente importantes e significativos para a constituição do

gênero textual.

Para Rincón (1996) o roteiro de uma HQ é composto pelo argumento, os

detalhes sobre as personagens e o ambiente. O argumento principal da HQ é

apresentado em pequenas unidades de ação que contêm dentro de si os momentos-chave

em que são constituídas as vinhetas. De acordo com a necessidade do discurso, essas

ações, representadas em cada vinheta de uma HQ, podem estabelecer diferentes formas

de relação. De acordo com essas relações, as ações são dispostas sob a forma linear,

paralela e evocativa. A ação linear de uma narrativa segue uma ordem sequencial dos

acontecimentos narrados, já a ação paralela demonstra a simultaneidade de dois

acontecimentos ocorrendo ao mesmo tempo e, por último, a ação evocativa que ocorre

quando a ação narrada é interrompida por um determinado instante para se evocar algo

do passado ou antecipar alguma ação futura, sendo designado pelo termo técnico flash

back ou forward do inglês.

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47

- Ação linear:

(Cascão no 447, 2005)

- Paralela:

(Cebolinha no 181, 2001)

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48

- Ação evocativa:

(Cascão no 447, 2005)

Essa correlação entre imagem/texto é algo relevante para esse tipo de análise

porque visa articular a complementaridade entre a linguagem visual e verbal nas

Histórias em Quadrinhos e a construção do seu eixo narrativo/descritivo para a

observação de tiras em ELE e LM . A construção de sentidos deste gênero textual é

percebida pelo o leitor através da articulação entre as pistas linguísticas verbais e não

verbais fornecidas no contexto na interseção entre essas linguagens.

Ao abordar gêneros mistos leva-se em consideração que a imagem pode ilustrar

um texto verbal ou o texto pode esclarecer a imagem sob forma de comentário. A

imagem apresenta um conteúdo particularmente polissêmico com caráter de uma

mensagem aberta podendo ser atribuídos a ela múltiplos significados.

Santaella & Nöth (2001:54) questionam o caráter redundante da imagem que

repete os mesmos conteúdos já explicitados no contexto da linguagem verbal. Os

autores retomam a proposta de Kalverkämper (1993) sobre o papel da linguagem não-

verbal, aliada a linguagem verbal, em que a imagem pode ser relegada a um segundo

plano, ser apresentada de forma superior ao texto ou ser estabelecida uma relação de

complementaridade. No primeiro caso, a imagem está aliada ao texto, utilizada, porém,

apenas como pano de fundo, como um elemento representativo centrado na linguagem

verbal. No segundo caso, a imagem contém a informação principal, estando o texto

Page 49: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

49

relegado ao segundo plano. No último caso, texto e imagem são igualmente importantes

para a construção de sentidos, pois são igualmente informativos. Essa correlação entre o

texto/imagem é definida como complementaridade. Um exemplo dessa correlação está

nos contextos em que os conteúdos de imagem e de palavra utilizam os mais variados

potenciais de expressão semiótica de ambas as mídias.

Do ponto de vista da sua distribuição espacial as autoras consideram que palavra

e imagem podem estar relacionadas através da coexistência, da interferência e da co-

referência. Na coexistência, a palavra está escrita na imagem e ambas se relacionam ao

mesmo referente. Na interferência, palavra e imagem estão separadas uma da outra

espacialmente, porém aparecem na mesma página. Na co-referência, a palavra e a

imagem aparecem na mesma página, mas se referem ao mundo de forma independente.

Um outro aspecto importante é que a imagem também pode servir de contexto

para uma outra imagem. A linguagem não-verbal também pode existir isoladamente e

ser explicada por si mesma.

Dentro das HQs, há mais de uma moldura na composição do texto. Os processos

que organizam a composição plástica do texto, ao contrário de incidirem sobre um único

quadrinho, incidem sobre a totalidade da história. Esses processos garantem a coesão

plástica entre os quadrinhos ao longo de sua leitura. Os recursos visuais e verbais

empregados neste tipo de gênero textual estabelecem relações de complementaridade e

contribuem para a construção de sentidos do texto.

O gênero HQ é definido pela escolha de ordem narrativas e formais que podem

determinar o seu conteúdo narrativo, seja na linguagem verbal seja na linguagem visual

(Morgan: 2005). O componente visual na HQ, responsável pela construção do eixo

narrativo, encontra-se nas vinhetas, pois é através delas que o leitor faz a relação entre

os quadros, estabelece a coerência e a coesão textual dos eventos apresentados. As

vinhetas dispostas sequencialmente auxiliam ao leitor a compreender a série de

acontecimentos do enredo narrativo, podendo estes estar dispostos em ordem linear ou

encaixados.

Cada vinheta que constitui a sequência narrativa da HQ possui um determinado

tipo de enquadre. O enquadre5 é o espaço que uma determinada vinheta pode ocupar em

5 O termo “enquadre”, utilizado nesta Tese, designado para demonstrar a focalização específica de cada

seqüência de imagens, é vocabulário próprio da linguagem cinematográfica. Distingue-se, portanto, do

seu significado na Lingüística sociointeracional, em que é empregado com o sentido de “frame”.

Page 50: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

50

uma história, o qual visa focalizar determinadas cenas ou aspectos da mesma que sejam

relevantes no momento da narração. De acordo com Rincón (1996) e Rama &

Vergueiro (2004) os enquadres podem ser vistos através da focalização espacial que o

desenhista tenha selecionado, do ângulo de visão oferecido ao leitor e o espaço que a

vinheta ocupe no papel.

Os planos ou enquadramentos têm como função principal ressaltar e selecionar

determinados detalhes de uma cena, fornecendo ao leitor as imagens necessárias para a

composição de sentidos da situação que está sendo apresentada. Os planos são recursos

importantes na composição de uma HQ e podem ser usados de forma alternada de

acordo com a necessidade representativa do autor. Já os ângulos de visão representam a

decisão do autor para a configuração da cena, a fim de oferecer diferentes descrições

quanto às personagens e ao ambiente. O formato da vinheta constitui a representação

por meio de uma imagem, interligada de instantes, contribuindo para uma determinada

ação ou acontecimento narrativo.

Na Tese serão observados os planos, visto que estes representam “recortes”

imagísticos de um determinado momento de uma história. Os planos ou

enquadramentos têm como função principal ressaltar e selecionar determinados detalhes

de uma cena, fornecendo ao leitor as imagens necessárias para a compreensão da

situação que está sendo apresentada e que podem contribuir na sequência da leitura dos

quadrinhos. Os planos são recursos importantes na composição de uma HQ e podem ser

usados de forma alternada de acordo com a necessidade representativa do autor.

Os planos fazem uma seleção de detalhes relevantes para cada tipo de situação.

É por meio desse “recorte” imagístico-descritivo, integrando-se simultaneamente às

seqüências do enredo narrativo que se pode obter a construção da coesão e da coerência

textual do gênero História em Quadrinhos. No plano narrativo, vê-se uma série de

informações tais como: personagens (quem), de fatos/ações (o quê), a forma como se

desenrolou o fato ou a ação (como), em que época os fatos ocorreram (quando), o lugar

da ocorrência (onde), a causa, a ação ou o motivo da ação (porquê) e o resultado ou

consequência da mesma (por isso). Pelas imagens apresentam-se também os detalhes de

cada cena e estes podem ser vistos através dos planos que apresentam a caracterização

física e/ou emocional das personagens (expressões fisionômicas de raiva, de desespero,

de preocupação), a expressão corporal em que os mesmos se encontram em cada cena

(deitados, com as pernas para cima), a aspectos do ambiente que compõem a cena (um

Page 51: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

51

dia de sol, praia, crianças brincando no mar), contribuindo para o desenvolvimento

narrativos das HQs.

Os principais planos de uma HQ são: plano geral, plano total ou de conjunto,

plano médio ou aproximado, plano americano, primeiro plano e plano de detalhe,

pormenor ou close-up, explicados a seguir:

Plano geral - O enquadramento é bastante amplo, envolvendo as personagens da

história assim como também o ambiente em que elas se situam.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

Plano Total e de Conjunto - Focaliza as personagens que compõem a história. A

representação do espaço em que se encontram é algo secundário.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

Page 52: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

52

Plano Médio ou Aproximado - Representa as personagens da cintura para cima. Neste

plano, as expressões faciais e traços fisionômicos são vistos claramente.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

Plano Americano - as personagens são representadas do joelho para cima.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

Primeiro plano - a personagem é ressaltada à altura dos ombros. Neste plano

salientam-se a expressão da personagem e seu estado emocional.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

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53

Plano de Detalhe, Pormenor ou close-up - ressalta-se uma parte de um objeto ou da

personagem.

Exemplo:

(Magali no 385. 2005)

A linguagem não-verbal que constitui a HQ está - na maior parte das vezes –

articulada com a linguagem verbal e ambas são utilizadas simultaneamente para

permitir o desenvolvimento do eixo narrativo/ descritivo do gênero. A linguagem verbal

na HQ é realizada por meio de balões que representam o diálogo das personagens6.

Segundo Eguti (2001), as histórias em quadrinhos simulam a estrutura de uma

conversação natural, em que os balões seriam uma representação dos turnos

conversacionais. A alternância dos balões indicaria troca de falante em que a quantidade

de palavras dispostas visualmente sugere se o turno é simétrico (troca de fala

equilibrada entre os personagens) ou assimétrico (a predominância de fala por um dos

personagens).

Exemplos:

(Magali no 390, 2005)

6 Estes balões podem fornecer diversas informações ao leitor, tais como: o cochicho de uma personagem

(balão de linhas tracejadas), o pensamento (em formato de nuvem, como o rabicho elaborado como

bolhas que se depreendem da mente da personagem), balão traçado em zig-zag representando uma

descarga elétrica vinda de um televisor ou de um robô etc. Este tipo de balão é empregado para

diferenciar os sons que reproduzem a fala humana face a outros tipos de comunicação também verbais.

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54

(Chico Bento no 454, 2005)

A legenda é outro recurso verbal empregado nas HQs representando a voz

onisciente do narrador. Esta é empregada para situar o leitor no tempo e no espaço da

trama narrativa. Indica ainda mudança de localização dos eventos, avanço ou retorno do

fluxo temporal.

Exemplo:

(Cascão no 447, 2005)

Page 55: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

55

A onomatopeia é uma técnica utilizada na HQ para dar mais dinamicidade às

narrativas, ressaltando a interação oral. Esta representação dos sons pode variar de

língua para língua7. Entende-se por onomatopeia o conjunto de palavras que pretende

imitar o som dos ruídos produzidos por seres inanimados ou não (Dutra: 1997). As

onomatopeias fora do balão representam vários tipos de sons, ruídos e vibrações

oferecendo à história maior dinamicidade e uma maior representação e reprodução dos

sons oferecidos pelo ambiente externo, tais como: sequências não-lexicais, parcialmente

ou totalmente reduplicadas ou de origem não-humana. De acordo com Ramos (2010) o

aspecto visual da letra utilizada pode indicar expressividades diferentes. A cor, o

tamanho, formato e até prolongamento de caracteres adquirem valores expressivos

distintos dentro do contexto produzido. Para o autor (opt.cit) a onomatopeia, em alguns

casos, pode desempenhar uma dupla função nas HQs ao representar o som ao mesmo

tempo que sugere movimento, transmitindo maior dinamicidade narrativa.

Exemplo:

(Mônica no 228, 2005)

7 Em português, por exemplo: explosão (Bum!), quebra (Crack!), tiro (Bang!, Pou!), telefone (Trimmm!),

motor de um veículo (Vrummm!), queda (Plof!). Em espanhol: explosão (¡Brooom!), quebra (¡Crash!),

tiro (¡Pum!), telefone (¡Rinn!), motor de um veículo (¡Roaaar!), queda (¡Plop!)

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O componente verbal das HQs é relevante como uma forma de explicitar a

avaliação das personagens acerca dos eventos que compõem a narrativa. O conteúdo

avaliativo presente no discurso dos personagens no decorrer das histórias é também um

recurso que visa mostrar ao leitor a “voz” de um senso comum8. Como se pode observar

nos exemplos abaixo, em que a personagem Rolo transmite através dos seus

pensamentos a “voz” do senso em comum em relação à companhia dos pais, ou seja,

que, para os jovens, passar o fim de semana com os pais significa passar por várias

situações embaraçosas. No outro exemplo abaixo, nota-se novamente essa “voz” de um

senso comum através da fala do pai da Mônica ao relatar que o trabalho fora de casa não

é tão produtivo ou agradável quanto o trabalho feito em casa.

Exemplos:

(Cebolinha no 228,2005)

(Mônica no 228, 2005)

8 Como se pode observar nas tiras de quadrinhos a serem analisadas, em que a personagem Condorito

transmite através da sua fala a “voz” do senso comum em relação ao difícil relacionamento entre

sogra/genro (último quadrinho). Na tira de Laerte nota-se novamente essa “voz” de um senso comum

através da fala da personagem ao expressar o relacionamento conflitivo entre inquilino/proprietário do

apartamento.

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57

Assim, nas HQs, o componente verbal estabelece uma relação de

complementaridade com o componente visual. As histórias são formadas, basicamente,

do modo de organização narrativo, realizado nas sequências imagísticas de vinhetas e

nos balões, sinalizando o discurso das personagens e descritivo através das imagens,

ilustrando o ambiente em que são desencadeadas a cena e as expressões fisionômicas

das personagens. A co-relação imagem/texto é igualmente relevante para a construção

de sentidos do gênero analisado em questão, pois ambas as linguagens fornecem ao

leitor uma série de pistas contextuais, que se correlacionam na leitura quadro a quadro.

2.3 A HQ no eixo educacional/ cultural, narratividade e humor

A História em Quadrinhos (HQ) é um gênero muito popular, que faz parte do

cotidiano de milhares de crianças, jovens e adultos pertencentes a distintas camadas da

sociedade. Por ser um gênero textual que faz parte das leituras habituais do grupo

infanto-juvenil, tem sido bastante utilizado no ambiente escolar, contribuindo para a

formação do leitor e produtor de textos em Língua Materna e Estrangeira. Neste gênero,

a linguagem verbal e não verbal são utilizadas simultaneamente para a compreensão da

leitura, podendo ser direcionada em diversos tópicos, como: a variação linguística, a

relação entre fala/escrita, caracterização de personagens, a depreensão do sentido por

meio do contexto, a produção de coesão e coerência, a exploração dos recursos visuais e

o contexto crítico (Rama & Vergueiro: 2004).

Grande parte dos materiais didáticos do ensino de Língua Materna e Línguas

Estrangeiras utilizam a HQ como auxílio pedagógico. Por ser um gênero bastante

conhecido em diversas faixas de leitores, publicado em vários espaços midiáticos e por

apresentar um caráter híbrido, a HQ se torna um tipo de texto bastante atraente pelo

forte apelo da imagem aliada a linguagem verbal na interação dos personagens quadro a

quadro.

O uso de tiras de quadrinhos em provas de concursos e em vestibulares também

tem crescido, nestas últimas décadas, deixando de ser visto como função de

entretenimento ou como pano de fundo para questões de metalinguagem. Atualmente,

boa parte das atividades realizadas com as HQs visa desenvolver a competência leitora

do indivíduo ao ativar esquemas de conhecimento a respeito do contexto, gerando

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58

estruturas/ quebras de expectativas para a construção inferencial do humor contido em

cada história.

As tiras de quadrinhos – objeto desta Tese - são um “subgênero das HQs” que

apresentam uma narrativa mais curta cujo eixo narrativo central, em geral não passa de

três / quatro vinhetas sequenciais. Todas as cláusulas narrativas observadas na HQ são

caracterizadas, em geral, por obedecer a uma ordem linear de eventos. Essa sequência

de ações encadeadas (sob distintas formas) oferecem ao texto um desenvolvimento

progressivo que, na maioria das vezes, se caracteriza pela tríade início, meio e fim; que

constitui um enredo. Essas etapas narrativas se estruturam em termos de uma situação

inicial de algo/alguém, que realiza algo, seguindo-se uma transformação da situação

anteriormente apresentada, para enfim obter-se um desfecho final. A HQ é formada,

concomitantemente pelo modo de organização narrativo por meio dessa sequência de

ações lineares quadro – a – quadro e pelos balões, que sinalizam as falas das

personagens, sendo que a descrição está nas imagens que elaboram informações

detalhadas sobre o ambiente em que se desencadeiam a cena e as expressões faciais dos

personagens.

Entretanto, as tiras representam jogos interativos explícitos na composição dos

personagens e na sua construção narrativa. O autor das tiras parte do jogo interacional

projetado pelos personagens para produzir humor, denunciar ou criticar atuações e

comportamentos de indivíduos de um grupo social. Ele também administra dois jogos

interativos em que os personagens, quadro – a – quadro, constroem uma história, e outro

com o leitor das tiras que re-significa o humor produzido (Lins: 2002). No primeiro

esquema interacional, o autor opera com os personagens de modo que esquemas de

conhecimento são postos em comparação/ contraste através das pistas de

contextualização oferecidas (verbal/ não-verbal), podendo gerar divergências de

expectativas nos leitores. Esse estranhamento ocorre porque as estruturas de

expectativas dos esquemas de conhecimento projetadas pelos personagens são

quebradas intencionalmente. No segundo esquema, o leitor das tiras constrói o humor,

através da operação e da comparação desses esquemas de conhecimento e da sua quebra

de expectativa ao perceber que o contexto, inicialmente proposto, rompeu com o

esperado. Se espera do leitor, desta forma, que utilize os esquemas de conhecimento

para construir sentidos.

Page 59: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

59

A interação entre os personagens é construída através desta comparação entre

diferentes enquadres (Tannen & Wallat, 1986). A mudança de um alinhamento para o

outro rompe com as estruturas de expectativas do senso comum, permitindo ao leitor

identificar essas operações inferenciais que geram a construção do humor, acionando o

conhecimento prévio sobre o perfil das personagens que os compõem, o lugar a que

pertencem e as inferências encontradas em seus eixos narrativos (Fiuza: 2004). O duplo

sentido atribuído a algumas palavras e expressões, a interpretação literal de certas

expressões empregadas no texto, a ironia e a aplicação de regras lógicas para situações

ilógicas são algumas dessas estratégias discursivas mais comuns para gerar efeitos

humorísticos nas HQs.

Além disso, todo discurso quadrinizado deve ser entendido como uma prática

social que se relaciona com o processo histórico e o projeto político de uma dada

sociedade (Cirne: 1982). A HQ é um gênero produzido dentro de uma dada sociedade

específica e, como tal, apresenta características próprias de cada ambiente da qual ela

faz parte, fornecendo aos seus leitores mecanismos da cultura de massa e, ao mesmo

tempo, comprometendo-se política e socialmente com o tempo histórico que marca a

sua existência.

Cada HQ busca representar, de modo geral, acontecimentos culturais de diversos

níveis, fazendo com que os seus leitores possam identificar-se ou não com as suas

ideologias. A própria comicidade da HQ demonstra claramente aspectos culturais que

podem ser compartilhados por outros grupos sociais. No ensino/aprendizagem, o humor

é uma atividade que busca aproximar culturas de diferentes países e regiões

(Kulikowski: 2002). Este pode ser visto através do componente imagístico em desenhos

e caricaturas e, no linguístico, em jogos de palavras que aproveitam os seus aspectos

fônicos para criar um outro contexto. Além de ser uma fonte para se explorar e ativar

conhecimentos culturais em aulas de Língua Estrangeira e Materna, o humor busca

despertar o senso crítico sobre algumas características de determinados grupos sociais.

O humor pode variar de um grupo social para outro, e a identificação com

determinadas situações cômicas vai demonstrar que, em alguns pontos, houve a adesão

cultural da comicidade. Para que determinada situação se apresente cômica é necessário

que ela apresente um contexto propício para tal, seja linguístico, situacional ou

sociocultural (Reyes: 1998). O contexto linguístico é formado pelo material linguístico

que precede e segue a um enunciado, denominado de contexto. O contexto situacional é

Page 60: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

60

o conjunto de dados acessíveis aos leitores e que se encontram em um espaço físico

determinado. O contexto sociocultural é a configuração de dados e sua adequação a

diferentes circunstâncias e ao tratamento linguístico adequado em cada tipo de situação.

Para a compreensão e a construção humorística das tiras de quadrinho, o leitor busca

correlacionar às pistas linguísticas fornecidas na tira aliando-as aos elementos culturais

dispostos em cada contexto. O humor tem sido objeto de estudo de inúmeras áreas de

conhecimento. Baião (1992:11) assinala que o humor é um fenômeno multifacetado,

que deve ser abordado sob forma multidisciplinar, interessando a psicólogos,

sociólogos, antropólogos, psicanalistas e terapeutas.

O cômico decorre de um rompimento de uma determinada situação de equilíbrio

(Almeida :1999). O riso possui um caráter antagonista, depreciativo e opressor, pois

sustenta a humilhação, a disposição e o isolamento do outro. Entretanto, o humor

também é substituído pelo prazer da identificação jocosa universal, da reversibilidade,

da pluralidade do sentido, construindo jogos de estereótipos sociais e de linguagens,

fazendo com que a jocosidade do momento seja absorvida por um grupo.

Freud (1981) discute que os chistes possuem técnicas linguísticas específicas e

podem provocar o humor através da condensação, do emprego múltiplo de um mesmo

material e do duplo sentido.

O contexto, em que determinado humor está inserido, é construído em cima de

acontecimentos sociais. A bagagem cultural dos próprios leitores e como estes os

administram ao atuarem, no meio social, também são itens importantes na sua

construção (Lins:2002).

O humor se caracteriza por romper o ritmo da sequência “normal” do texto e põe

em foco o ridículo, a ternura, a compaixão e a piedade daqueles que os sofrem (Fiuza:

2004). Cabe ao leitor/ ouvinte perceber a diferença entre a mais provável interpretação

do texto e a esperta seleção alternativa do interlocutor. O leitor que não consegue

realizar a interpretação através do seu “conhecimento prévio ou enciclopédico”,

juntamente com a sua interação com o contexto proposto tem dificuldades de construir o

efeito humorístico do texto (Possenti: 2010). A cada passo da leitura, o leitor é obrigado

a deixar de lado as interpretações possíveis, por serem incongruentes em relação ao

restante do texto.

O leitor, ao realizar a compreensão das tiras de quadrinhos tanto em LM quanto

em ELE, opera as pistas de contextualização fornecidas, utiliza os seus esquemas de

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61

conhecimento compartilhados na interação com o outro e sinaliza as quebras de

expectativas, percebidas no eixo narrativo que constroem o efeito humorístico do

gênero.

2.4 As HQs no contexto escolar: Atividades de compreensão leitora

As atividades de compreensão leitora tiveram como objetivo observar como os

alunos, ao realizarem as tarefas em dupla (132 questionários), interagiram com os seus

esquemas de conhecimento compartilhados para a compreensão do contexto,

correlacionando-os diretamente com as pistas linguísticas fornecidas durante cada

evento narrativo tanto em ELE nas HQs de Condorito, quanto em LM em Piratas do

Tietê. Buscou-se analisar como as duplas ativaram concomitantemente as estruturas de

expectativas percebidas nos eventos iniciais de cada HQ. Assim como, as suas rupturas,

nos desfechos narrativos que permitiram a construção do humor.

As análises deste capítulo objetivam analisar as HQs escolhidas para a aplicação

no contexto escolar sob a perspectiva sócio interacionista, observando os eventos de

leitura empregados e a sua construção humorística.

A Tese também visa realizar - no próximo capítulo - uma análise complementar

do perfil destes leitores através da ficha social individual, a fim de se mostrar um

panorama geral dos participantes com relação à sua visão de leitura como prática social.

Além disso, busca comparar se os alunos apresentaram estratégias similares ou

divergentes para a construção humorística das tiras, mesmo dispondo de HQs com

códigos linguísticos distintos.

2.5 História em Quadrinhos em ELE e LM

2.5.1 Condorito

A HQ Condorito foi criada pelo desenhista chileno René Ríos em 1949,

publicada pela revista Okey. Circula até hoje em diversos suportes impressos e digitais,

no México, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Colômbia, América Central, Peru e

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62

até nos Estados Unidos. Atualmente, o número de leitores da revista ultrapassa os 82

milhões anuais.

Os seus personagens coadjuvantes como Yayita (a namorada de Condorito), Don

Quasimodo e Dona Tremebunda (seus sogros), Washington e o louro Matias (seus

animais de estimação), Pepe Cortisona (seu rival), Huevoduro, Ungenio, Garganta de

Lata, Don Chusma, Comegatos, Yuyito (sobrinha de Yayita) e Coné (sobrinho de

Condorito) fazem parte deste universo cujos nomes tem significados de base popular.

O cenário desta HQ é a fictícia cidade de Pelotillehue, uma cidade que pode ser

caracterizada entre um povoado pequeno e uma grande metrópole, situada no Chile,

entre os também povoados ficticios Cumpeo e Buenas Peras, cidade antagonista em

suas histórias. A criação de Pelotillehue se baseou na descrição das características

comuns que estão presentes nos povoados semi-rurais chilenos, existentes na zona

centro-sul do país. A etimologia do topónimo inventado “Pelotillehue” se forma a partir

da raiz “Pelotille” (de Pelotilla) que significa “bolinhas" também associado a

‘irrelevante’ e o morfema mapuche “hue”, que significa “lugar de”. Entretanto, o léxico

“Pelotas” também evoca outra significação como o órgão sexual masculino, que

caracterizaria - em parte – o cenário dessas HQs em que os personagens são

prioritariamente masculinos, representando os seus estereótipos patriarcais. As

personagens femininas representam um grupo pequeno, sendo projetadas com roupas

muito sensuais, caracterizadas com os clichés dos ‘defeitos femininos’.

O humor de suas histórias muitas vezes beira o bizarro, já que às vezes alguns

personagens são apresentados com amputações, corcovas e deformações, razão pela

qual é considerado uma peça escatológica de humor negro. Embora críticas, muitas

destas HQs são assim caracterizadas como “chocantes” ou “politicamente incorretas”.

A comicidade predominante em Condorito é construída através de situações que

se resolvem de maneira ridícula ou extraordinária; por meio dessa quebra de

expectativas é que o humor da tira se centraliza na apresentação da última vinheta,

sendo colocada em uma situação em contraste com as iniciais.

Foi escolhida uma HQ de Condorito em ELE (René Ríos) com o objetivo de

observar a construção do humor, a partir da perspectiva sócio interacionista. Sob a

mesma perspectiva, foi escolhida uma HQ de Piratas do Tietê em LM (Laerte), a fim de

se estabelecer comparações das estratégias desenvolvidas para a compreensão leitora em

ambas as tiras.

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63

2.5.2 A HQ de Condorito e quadro esquemático

Como quadro teórico- metodológico, a Tese busca articular os conceitos

“enquadres interativos” e “esquemas de conhecimento em interação” de Tanen &

Wallat (1987/2002), com o “footing” de Goffman (1979/2002) e o conceito de

“convenções de contextualização” de Gumperz (1982/2002). Esses conceitos buscam

identificar e analisar as estratégias da compreensão leitora/a e construção humorística

do gênero textual HQ, tendo como base a observação das pistas de contextualização.

A análise da HQ em ELE tem como objetivo aplicar as propostas

sociointeracionistas discutidas a partir de gênero na identificação de papéis sociais, na

localização do enquadre, nas expectativas institucionais, geradas pelas imagens

pressupostas e, por último, na percepção da construção humorística da narrativa por

meio de uma dada ruptura.

1ª 2ª 3ª

A HQ se situa no enquadre tribunal, atuando mais especificamente no micro

enquadre julgamento. A identificação desse micro enquadre pode ser recuperada

simultaneamente pelo leitor através da pista contextual linguística, na interação do

discurso das personagens sobre um julgamento de assassinato e da imagem por meio da

localização espacial do martelo, na mesa da personagem Condorito, sugerindo que ele

está no papel de juiz, na imagem do homem de terno escuro a esquerda (advogado de

defesa ou de acusação) e na expressão facial entristecida do réu de terno claro a direita.

No 1º e no 2º quadro, o juiz interage com o advogado e com o réu atuando

dentro desse micro enquadre julgamento. Ele atende adequadamente às estruturas de

Page 64: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

64

expectativas esperadas que fazem parte do discurso jurídico ao verificar o caso em

questão, ao ouvir as informações do advogado a respeito do caso e ao proferir o

resultado da sentença.

Nos dois primeiros quadros, as estruturas de expectativas em torno dos

enquadres também ativaram esquemas de conhecimento que levam o leitor a esperar

determinados comportamentos dos participantes dentro da interação. No enquadre -

tribunal, mais precisamente no micro - enquadre julgamento, por exemplo, espera-se

uma sequência de ações previstas na relação juiz / advogado / réu, do tipo: juiz (julgar,

manter a ordem, condenar, absolver), advogado (informar, argumentar, defender,

acusar) e o réu (defender-se, confessar-se).

Estas estruturas de expectativas, porém sofrem uma ruptura no desfecho

narrativo. A fala do juiz opera um footing, gerando uma mudança de alinhamento ao

sair desse alinhamento de juiz (que emite a sentença) para o alinhamento de genro (no

discurso que aponta o interesse pelo veneno/3º quadro). Essa mudança de alinhamento

do juiz para genro gera também uma mudança do micro - enquadre profissional (1º e 2º

quadro) para o micro - enquadre pessoal (3º quadro) ao sair do âmbito profissional

esperado, demonstrando interesse em obter a fórmula do veneno.

As pistas linguísticas que definem essa mudança de alinhamento do personagem

são aliadas as pistas não-verbais, demonstrando a sua mudança de comportamento

através da expressão facial de severidade ao proferir a sentença (2º quadro) para uma

expressão de cumplicidade ao requerer a fórmula do veneno (3º quadro). Além disso,

essa ruptura nas estruturas de expectativas através da mudança de footing e de micro

enquadres por parte do juiz (Condorito) também gera uma atitude não-verbal dos

demais personagens que compõem a história, ao caracterizar surpresa no último

quadrinho representando marcas de estupefação.

Embora a HQ esteja em ELE, para a atividade de leitura em sala de aula,

observa-se uma relativa facilidade na sua compreensão no que se refere aos elementos

linguísticos, no léxico que contém cognatos transparentes na LM. A construção do

humor da tira depende das estruturas de expectativas e esquemas de conhecimentos

projetados por alguns personagens que rompem com o esperado através da mudança de

alinhamento e de (micro) enquadres.

Nesta HQ, a construção humorística, é identificada através da mudança de

alinhamento de juiz (1º e 2º quadro) para genro (3º quadro), na qual também é ativada a

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65

representação da relação estereotipada e conflitiva genro/sogra. Neste momento, ativa-

se o conhecimento de mundo em que genro e sogra possuem um relacionamento de

difícil entendimento e que, portanto, desejam reciprocamente prejudicar-se, sempre que

tenham a ocasião propícia. Conforme se observa no 3º quadro se infere que o juiz

Condorito identifica-se com o papel social de genro desempenhado pelo réu e em

função disso, assume o alinhamento de genro que igualmente deseja obter a fórmula do

veneno para “assassinar” sogras.

Esquema da HQ

Papéis sociais → juiz, advogado e réu.

Estrutura de expectativas do enquadre:

Enquadre tribunal

Micro – enquadre julgamento

Estruturas de expectativas

Verificar o caso, ouvir as informações do advogado, proferir a sentença...

Estruturas de expectativas dos personagens:

Juiz

Estrutura de expectativas

Page 66: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

66

Condenar o réu, julgar o caso com imparcialidade...

Advogado

Estrutura de expectativas

Informar, argumentar, defender...

Réu

Estrutura de expectativas

Defender-se, confessar-se...

Quebra de expectativas:

Ruptura

Mudança de alinhamento

Alinhamento juiz → Alinhamento genro

(micro - enquadre profissional) (micro – enquadre

pessoal)

Page 67: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

67

2.5.3 Piratas do Tietê

Laerte Coutinho é um quadrinista brasileiro criador da tira dos Piratas do Tietê

em 1983, em uma edição da revista “Chiclete com Banana”, da Circo Editorial. A HQ

continua sendo publicada até hoje, circulando, principalmente, em diversos jornais e

revistas do Brasil.

O título Piratas do Tietê evoca múltiplos sentidos para o conteúdo narrativo das

tiras que o compõem, pois “piratas” refere-se a personagens cujas práticas estão à

margem da sociedade em que vivem e, “tietê”, ao rio do estado de São Paulo, poluído e

inavegável. Estas HQs fazem uma crítica aos problemas sociais cotidianos do homem

urbano dos tempos modernos nos âmbitos pessoal, profissional, dentre outros. Diferente

das HQ de Condorito, essas não possuem personagens específicos e caricaturados, mas

focalizam-se nas dificuldades do indivíduo pertencente à sociedade contemporânea

como a violência urbana, problemas financeiros, sentimentais, dentre outros.

Assim como a tira de Condorito analisada, a narrativa dos Piratas do Tietê

também é disposta através de uma sequência linear curta, ocupando o espaço de, no

máximo quatro vinhetas. A apresentação do enredo é igualmente semelhante, em que a

apresentação do cenário e os papeis sociais dos personagens da história geram uma

estrutura de expectativas e ativam conhecimentos de mundo acerca dos fatos nos

quadros iniciais, ocorrendo a ruptura dessas expectativas no seu desfecho narrativo,

levando à construção dos efeitos humorísticos das tiras.

Na seção a seguir, foi selecionada uma HQ de Piratas do Tietê que também será

observada sob a mesma perspectiva sócio interacionista vista em Condorito. A análise

objetiva examinar as estratégias narrativas empregadas para a construção do enredo

narrativo que constroem o humor da tira e, na próxima seção, compará-los às estratégias

empregadas pelos alunos para a interpretação das tiras em questão (ELE e LM).

Page 68: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

68

2.5.4 A HQ de Piratas do Tietê e quadro esquemático

A HQ acima9 em LM, composta de 4 vinhetas, situa as 3 primeiras no enquadre

problemas pessoais, sugerindo, mais especificamente, o micro enquadre relacionamento

amoroso. A personagem inicia a interação com o leitor, atuando dentro desse micro

enquadre e atendendo adequadamente às estruturas de expectativas esperadas, usando

um discurso amoroso (relativamente universal) mal correspondido. Ao fornecer estas

pistas contextuais, o leitor é conduzido inicialmente a pensar que se trata de um amor

não correspondido.

Estas estruturas de expectativas, porém, sofrem uma ruptura no último quadro. O

discurso do personagem opera um footing, gerando uma mudança de alinhamento de

homem supostamente apaixonado para o alinhamento de inquilino furioso. Essa

mudança de alinhamento de homem apaixonado para inquilino também gera uma

mudança inicial do micro enquadre relacionamento amoroso (1º, 2º e 3º quadro) para o

micro enquadre relacionamento contratual (4º quadro).

9Os eventos narrados se encontram no cenário - apartamento (percebido através da pista lingüística não-

verbal). O inquilino e a proprietária do apartamento (embora seja apenas mencionada) são os participantes

ratificados.

Page 69: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

69

O humor desta HQ é também produzido através da percepção das estruturas de

expectativas e esquemas de conhecimentos projetados por alguns personagens que

rompem com o esperado. O desfecho narrativo esboça o humor através da identificação

dessa mudança de alinhamento e de (micro) enquadres.

Esquema da HQ

Papéis sociais → Inquilino, proprietária do apartamento

Estrutura de expectativas do enquadre:

1º e 2º quadros:

Enquadre problemas pessoais

Micro – enquadre relacionamento amoroso

Estrutura de expectativas

Briga, discussões, preocupações

3º quadro:

Quebra de expectativas:

Ruptura

Page 70: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

70

Mudança de alinhamento

Alinhamento homem apaixonado → Alinhamento inquilino

(micro - enquadre relacionamento (micro - enquadre relacionamento

amoroso) contratual)

1º e 2º quadro 3º quadro

Estruturas de expectativas dos personagens:

Inquilino

Estrutura de expectativas

Pagar o aluguel, zelar pela propriedade

Proprietário de imóveis

Estrutura de expectativas

Cobrar incessantemente, cuidar do imóvel...

Page 71: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

71

3.0 APLICAÇÃO DAS HQS NO CONTEXTO ESCOLAR

3.1 Caracterização do grupo

Foi aplicado um questionário com o objetivo de levantar elementos sobre as

práticas socioculturais em que os participantes10

estão inseridos e caracterizar os seus

tipos de experiências leitoras.

Perguntas iniciais buscaram traçar características sociais mais específicas do

grupo participante. A faixa etária majoritária do grupo de alunos sujeitos da pesquisa

permite observar que se trata de um público jovem e adulto. Os dados sobre o bairro e o

tipo de profissão exercida pelo grupo que trabalha visa fornecer um perfil

socioeconômico. O tempo de contato com a Língua Espanhola permite conhecer se é

relevante o conhecimento formal da língua na realização da compreensão leitora da tira

em ELE.

As outras questões tiveram como meta caracterizar o tipo de práticas sociais do

grupo em relação à leitura e a concepção dela, se vinculada somente ao âmbito escolar

ou como uma atividade que permeia todas as atividades sociais. Por último, algumas

questões visaram identificar os tipos de publicações mais lidos pelo grupo, quantidade

de livros lidos durante o ano e se esse público jovem/adulto é familiarizado com o

gênero HQ.

A última parte da ficha social buscou identificar as atividades socioculturais

exercidas como atividade de lazer. Procurou-se correlacioná-las, à faixa etária do grupo,

à localidade, à atividade profissional e ao nível de instrução.

Foram aplicadas ao todo 256 fichas sociais individuais entre as turmas do 1º, 2º e

3º ano do Ensino Médio de duas escolas da rede pública estadual em que os alunos, em

sua maioria, haviam estudado Espanhol pelo menos desde a 1ª série. 100 estudantes

pertenciam a turmas de 1º ano, 134 de 2º e 22 de 3º ano. As atividades de compreensão

leitora11

respondidas pelos alunos foram realizadas em sua maioria em dupla,

10

Os participantes da pesquisa são estudantes do Ensino Médio (1º ao 3º ano) e pertencem à rede estadual

de ensino. 11

As atividades de compreensão leitora fornecidas para os alunos em salas de aula tiveram como proposta

principal o trabalho em dupla para que eles pudessem realizar em conjunto a interação da compreensão

leitora das tiras propostas. A não- realização desses exercícios em dupla deveu-se a falta de alunos-

participantes suficientes em cada turma, formando pares. Os 9 questionários, embora individuais também

foram analisados no corpora do trabalho por apresentarem características semelhantes aos demais

questionários realizados em dupla.

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72

contabilizando no total de 132 (9 individuais e 123 em dupla). Os questionários foram

elaborados e aplicados em português (LM).

3.1.1 Perfil dos participantes da ficha social

A idade dos alunos participantes varia entre 14 e 60 anos. Os alunos do 1º e 2º

ano estudam no ensino diurno e do 3º ano no ensino noturno, ambos de rede pública.

Cerca de 91% estão na faixa entre 15 a 20 anos. 3% entre 21 a 40 anos e 6% entre 41 a

60 anos. Todos são moradores da Zona Oeste, dos bairros de Campo Grande, Jardim

Maravilha, Barra de Guaratiba, Paciência, Santa Cruz, Cosmos, dentre outros.

A maioria dos alunos (62,3%) diz ter o contato com a Língua Espanhola entre 1

a 2 anos. Ao indagar se já haviam tido contato com o idioma antes de ingressar no

Ensino Médio, a metade respondeu afirmativamente (49 %) contra a outra metade que

relatou não ter tido nenhum contato anterior (51%). Todos os participantes tinham o

conhecimento prévio do idioma em escolas de rede pública ou privada em todas as

séries do Ensino Fundamental ou ao menos nas séries finais.

Page 73: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

73

A maioria do grupo (78,8%) relata não trabalhar e a minoria que trabalha

(21,2%) declara exercer ocupações variadas, tais como: pedreiro, doméstica, babá,

vendedor, atendente.

40% dos entrevistados dizem cultivar o hábito da leitura como entretenimento

fora da escola. 49,5% afirmam ler de vez em quando. Apenas 10,2% declaram não ler

fora do âmbito escolar. O percentual que afirma não ter o hábito da leitura como

entretenimento é reduzida, porém menos da metade dos participantes afirma ter a leitura

como prática social frequente.

Page 74: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

74

Sobre os tipos de leitura preferidos pelos alunos, observou-se que 61,9% dos

entrevistados declaram apreciar livros12

, 50,5% revistas (de comunicação em massa) e,

no terceiro lugar, jornais com 45,2%. O gênero Histórias em Quadrinhos também

aparece como mais uma opção de tipo de leitura, porém não aparece como preferência

da maioria dos alunos, 21,6%. Vale ressaltar que 8,7% dos alunos não incluíram o

discurso bíblico ou as poesias como tipos de leitura contidos no item de livros em geral.

Essa identificação, por parte dos participantes demonstra a sua tendência em considerá-

los como tipos de leitura a parte.

12

Para esse grupo, livros restringem-se a obras literárias ou materiais didáticos.

Page 75: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

75

13,3% dos alunos afirmam não ler nenhum tipo de texto durante o ano. Uma

grande parte dos alunos, 65%, relata ler de 1 a 5 livros por ano. Cerca de 17% de 5 a 10

livros e somente 5% declara ter lido mais de dez livros ao ano. Essa informação dá

indícios de que a maioria dos informantes da ficha social tende a cultivar o hábito da

leitura no ambiente escolar ou fora dele de forma esporádica.

Dos 256 alunos, 123 especificaram diretamente quais eram as revistas de

quadrinhos que mais liam (46,7%). 41,5% dos entrevistados dizem ler o gênero

Histórias em Quadrinhos de vez em quando, 33,0% não tem o hábito de ler esse gênero

textual e apenas 25,5% afirmam ler o gênero frequentemente . Mais da metade, ou seja,

56% lê a Turma da Mônica (Jovem), 17,8% lê revistas dos heróis da Marvel (Batman,

Super homem, Mulher Maravilha ...) , 9% afirma ler mangá (HQs japonesas), 5,7%

Menino Maluquinho, Mickey e sua turma e Luluzinha Jovem 4%, Garfield 1,6% e

outras tais como: Smilinguido, He-man e Mafalda, com apenas 0,8%.

Page 76: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

76

Em relação às horas de lazer, 94,2% demonstram gostar de navegar na internet

em seu tempo livre. Ver TV é o segundo item mais apreciado com 63,4%, ir ao cinema,

teatro, festas, restaurantes ou bailes é a programação assinalada por 54,3%. A leitura de

um livro apresenta 26,9% da preferência. 23,1% dos alunos especificaram o gosto por

outros tipos de eventos sociais ir à igreja, jogar bola, namorar.

Page 77: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

77

3.1.2 Os dados da ficha social

O público participante da ficha social é jovem e morador da Zona Oeste. A

maioria não trabalha e não possui o hábito frequente de leitura massiva fora do âmbito

escolar.

O grupo de alunos que respondeu a ficha social está familiarizado com leituras

mais populares como: revistas, jornais, livros e HQ. Dentre todos os tipos de publicação

massiva, este gênero é o tipo de leitura menos apreciado e é lido por menos da metade

dos participantes (46,7%). Observou-se que a leitura de HQ brasileira como a da Turma

da Mônica infantil ou a Turma da Mônica jovem são as mais lidas.

Os dados apontam que, nas horas de lazer, a leitura de um livro é a atividade

menos exercida. Nesta última questão, a maior parte do grupo tende a visualizar a

leitura como uma atividade ainda relacionada predominantemente ao âmbito escolar,

como obrigatória e não como uma opção de entretenimento.

Portanto, o perfil de leitura da maior parte do grupo aponta que o exercício da

atividade leitora não é visto como uma prática social a de interesse dentro ou fora da

escola. Por outro lado, a HQ é vista como um gênero “menos prestigiado”, direcionado

para o público infanto-juvenil, como uma atividade de entretenimento, que não fornece

reflexões ou críticas em suas construções textuais.

3.2. Análise do corpus a partir de Condorito

Em 2008/2009, foram observadas inicialmente as construções humorísticas de

20 tiras de Condorito extraídas de suportes digitais. Em 2010, dentre as HQs analisadas,

se selecionou uma tira de Condorito para a realização de atividades de compreensão

leitora e humorística com alunos do Ensino Médio.

As questões foram elaboradas em Língua Portuguesa e tinham como objetivo

principal a identificação de mecanismos de compreensão leitora e humor mais

empregados pelos alunos durante o processo de interação em duplas. A atividade de

compreensão leitora foi dividida em seis etapas: 3.2.1) identificação do papel social dos

personagens; 3.2.2) a localização do enquadre; 3.2.3) reprodução da narrativa; 3.2.4) as

Page 78: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

78

expectativas institucionais; 3.2.5) as imagens pressupostas em determinados papéis

sociais e 3.2.6) as quebras de expectativas / a construção do sentido de humor.

3.2.1) A identificação do papel social dos personagens:

A questão a13 objetivava que os alunos identificassem - através das pistas

linguísticas - os papeis sociais de juiz, réu e advogado. Na interação das duplas, esta

questão teve com tendência quatro tipos de dados:

I) A identificação de todos os componentes da história:

“O juiz, o advogado e o réu (acusado, suspeito)” (Informantes 1,6,8,14,21...)

II) A identificação parcial de alguns personagens:

“O juiz e o réu” (Informantes 4,15,22,54,72...)

“O juiz e o advogado” (Informantes 26,77,78,113...)

“Juiz” (Informantes 24,82,89)

“Papéis judiciais” (Informante 96);

III) Papéis sociais distintos para o réu:

“Meliante” (Informantes 91,106)

“Genro” (Informantes76,79,87)

“Cidadão” (Informantes 51,80)

“Médico/químico” (Informantes 23,88)

IV) A inclusão de outros personagens relacionados indiretamente ao enquadre:

“A sogra” (Informantes 76, 87)

“Delegado” (Informantes 29, 112).

13

“Com base na ilustração acima, quais são os papéis sociais representados pelos personagens que compõem a história?”

Page 79: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

79

Todos os personagens da HQ foram identificados de forma satisfatória pela

maior parte das duplas( 64,6%) que conseguiu mapear todos os papeis sociais dos

personagens da HQ concomitantemente através do componente imagístico na

composição do cenário e da vestimenta dos personagens e verbal através da discussão

dos personagens sobre o caso ocorrido no enquadre julgamento. Uma parte dos

participantes construiu um entendimento apenas parcial da tira em que 26,3% não

destacaram todos os papeis sociais ilustrados pela narrativa, 4,5 % das duplas não

caracterizaram o papel social do personagem réu dentro do enquadre tribunal, mas

aliado a outros papéis sociais não relacionados ao contexto situacional e 3,0% incluíram

a sogra como uma personagem do enquadre ou empregaram o papel social de

“delegado” como sinônima de “advogado”.

Nas respostas da maior parte dos participantes pode-se pressupor que a

observação da pista visual fornecida pelo juiz em que (o martelinho) foi o elemento

dominante para situar seu papel social. Entretanto, também as pistas verbais fornecidas

pelos demais personagens, através do micro - enquadre julgamento, encaminham a

identificação do papel social do réu e do advogado. A identificação parcial das

personagens no evento narrativo tende a focalizar, por parte destas duplas, as

personagens consideradas mais relevantes. Já empregar “papéis judiciais” para

responder, implica uma falta de conhecimento específico dos papéis sociais

pertencentes ao enquadre tribunal, o que também gera um entendimento parcial do

contexto.

Dentro do enquadre tribunal, o papel social de réu, em alguns casos, não é

ativado como um dos personagens pertencentes ao evento narrativo, entretanto o papel

de “genro”, envolvido no enquadre familiar, é acionado como parte do julgamento, em

que um “genro” mata a “sogra”. O qualitativo de “meliante” para o réu, foi

correlacionado parcialmente ao contexto, pois o delito cometido refere-se a um

assassinato e não a um roubo. O termo “cidadão”, “um indivíduo, um cara”, também

foi ativado para designar o réu, porém sem relacionar diretamente a narrativa da tira. A

dificuldade de recuperar as pistas fornecidas pelo contexto do 3º quadrinho, a cena de o

juiz pedir que o réu transcrevesse a fórmula do veneno com letra clara e legível, levou

algumas duplas a interpretar que o indivíduo julgado seria um “médico” (que

prescreve) ou um “químico” (que faz a fórmula), sem observar que o foco estaria no

micro - enquadre institucional e não no profissional. O mesmo ocorre com a

Page 80: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

80

personagem “sogra”, vítima do micro - enquadre tribunal, que passa a ser identificada

como um dos personagens que compõe a história ou o “delegado” em que as duplas

tendem a buscar campos semânticos próximos (ambos são autoridades legais, porém

com funções administrativas diferentes) para a realização desta identificação de papeis

sociais. A não observação das pistas verbais e não-verbais dispostas nas três vinhetas

gera uma leitura parcial ou não correlacionada ao contexto situacional.

64%

31%

3%

Papéis Sociais

Identificação dos papéis sociais

Identificação de papéis sociais parciais

Identificação de personagens fora do enquadre

3.2.2) A localização do enquadre:

Na questão b14, os alunos deveriam perceber, através da interação da linguagem

verbal e não-verbal, que os personagens da história faziam parte do enquadre tribunal.

As respostas dos participantes para esta questão teve três tipos de dados:

I) A identificação do enquadre:

“Tribunal”, “fórum” ou “instituição jurídica” (Informantes

1,3,5,7,10,19,20,28,35,73...)

II) A identificação como:

“Delegacia” (Informante 29)

14

“Em que tipo de instituição estão os personagens?”

Page 81: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

81

“O juiz está condenando o réu de ter envenenado a sogra” (Informante 130)

“Juiz, assassino” (Informante 107)

III) Sem especificação, mas com referências à narrativa:

“Em um lugar aonde há muitos casos de pessoas que são julgadas pelo juiz”

(Informante 104).

Quase todas as duplas (96,9%) conseguiram identificar de forma bem sucedida o

enquadre tribunal através da pista visual fornecida (o martelinho que está na mesa do

juiz). Apenas 3% das duplas não a identificaram: destacando outro enquadramento,

narrando a história ou identificando novamente os papeis sociais de alguns dos

personagens. Somente uma dupla não especificou o local em que ocorreu o evento

narrativo, recorrendo à descrição do enquadre situacional.

As respostas da maioria com a identificação do enquadramento foi percebida

através da correlação entre as pistas linguísticas verbais (discurso dos personagens) e

não-verbais (o cenário) fornecidas pelo contexto. Para a minoria, o enquadre

“delegacia” tende a ser ativado, como o enquadre institucional em que estão localizados

os personagens, possivelmente por se tratar de uma jurisdição legal que também lida

com delitos diversos, que não está de acordo com o contexto, pois a função de julgar as

querelas judiciais cabe ao tribunal e não a uma delegacia. A falta de compreensão da

questão também pode ter levado certas duplas a realizarem o resumo da narrativa ou

repetir a identificação de alguns papeis institucionais das personagens. Ao descrever o

local onde os personagens estão inseridos uma única dupla demonstrou ativar o

conhecimento de mundo compartilhado sobre esse tipo de enquadre situacional,

fornecendo a função do lugar em que as personagens estavam inseridas, porém não o

local específico, o que mostrou um entendimento parcial desse tipo de contexto.

Page 82: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

82

96%

3%1%

Enquadre

Identificação do enquadre

Enquadres distintos ou repetição de papéis sociais

Descrição do enquadre

3.2.3) A reprodução da narrativa:

A questão c15 pretendia fazer com que a dupla, com base na sequência narrativa

linear dos quadrinhos, relatasse o evento narrativo: a situação inicial em que o advogado

assume que o homem matou a sua sogra com o veneno, a complicação em que o juiz

condena o réu a prisão perpétua e o desfecho em que o juiz mostra interesse em obter a

fórmula do veneno.

Nos dados dos participantes, esta questão teve como tendência quatro tipos de

respostas:

I) A identificação de todos os componentes da narrativa:

“O réu foi acusado de ter envenenado a sua sogra e tê-la matado, o juiz o

condenou a ser preso para sempre e ainda pediu o veneno para si” (Informantes

1,4,20,21,22,28,32...)

II) A identificação parcial da narrativa:

“O juiz condenou o réu culpado por dar o veneno a sua sogra” (Informantes

6,7,10,11,25...)

15

“Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:”

Page 83: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

83

III) O resumo narrativo incompleto:

“Um julgamento, assassinato” (Informantes 92,101,102)

IV) Interpretações distorcidas sobre o evento:

“Ocorreu discussão e briga no tribunal” (Informante 87)

“O homem (o acusado) criou uma fórmula para matar a sogra” (Informante

88)

“Um médico receitou uma droga com uma letra não legível para matar a

sogra” (Informante 23)

“O réu foi condenado não por ter matado a sogra, mas por não ter dado a

fórmula com letra clara e legível (3º quadro)” (Informante 17)

“O juiz ficou encabulado porque o advogado não lhe deu a fórmula”

(Informante 131)

“O juiz condenou o réu quando não respondeu qual era a fórmula do veneno

que matou a sogra” (Informante 105)

“O juiz condenou o réu por escrevê-la com letra pequena” (Informante 130).

Mais da metade das duplas, 58,6%, identificou adequadamente todos os

elementos componentes da narrativa linear da tira cômica, a situação inicial, a

complicação e o desfecho. 28,5% identificaram parte das etapas narrativas que

compõem a história, focalizando o 1º e 2º quadros, porém sem identificar o desfecho

que constrói o humor da HQ. Apenas uma pequena parte do grupo não organizou a

sequência linear das vinhetas para descrever e interpretar os fatos do evento narrativo,

3,7% indicaram apenas o abstract da narrativa e 8,2% levantaram pressupostos que

extrapolaram o contexto da narrativa.

Nas respostas da maior parte das duplas, a identificação de todos os elementos

narrativos da HQ foi percebida através da realização da leitura linear das vinhetas,

correlacionando os eventos narrativos dispostos quadro a quadro. Parte das duplas

também buscou reproduzir o relato da história ou descreveu apenas os elementos

narrativos, porém a estratégia foi relatar blocos narrativos isolados sem correlacioná-los

entre si. Isto gerou um entendimento fragmentado da tira, relacionado ao 1º e 2º quadro,

sem estabelecer o desfecho narrativo da história. Essa série de pressuposições ativadas

pela minoria das duplas tende a evidenciar as dificuldades de correlacionar os quadros

Page 84: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

84

que compõem a tira para relatar o evento, criando elementos narrativos que extrapolam

o contexto situacional.

3.2.4) As expectativas institucionais:

Na questão d16 a dupla deveria, com base em seu conhecimento de mundo

compartilhado, elencar estruturas de expectativas sobre o papel social de juiz,

explicitando que a este caberia julgar cada caso de acordo com as provas fornecidas

pelos advogados de defesa e acusação. Na fala dos alunos, esta questão teve como

tendência dois tipos de respostas:

I) A ativação do conhecimento de mundo sobre esse papel social:

“De uma prisão para essa pessoa, um julgamento justo, seriedade, que faça

justiça, condene corretamente, imparcial” (Informantes 1,2,4,5,6,18...)

II) Expectativas na perspectiva do réu no 3º quadro:

“Ser absolvido” (Informante 83).

16

“Na opinião de vocês, o que se espera de um juiz?”

59%29%

8% 4%

Evento narrativo

Na correlação entre os quadros

Quadros isolados

Pressuposições

Abstract narrativo

Page 85: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

85

Neste item observou-se que todos os alunos, 99,2%, ativaram de modo

satisfatório esquemas de conhecimento semelhantes acerca do papel social de juiz.

Somente uma dupla destacou expectativas do réu a respeito da atitude do juiz no

desfecho narrativo.

Nas respostas da maioria das duplas pode-se pressupor que os alunos buscaram

aliar estruturas de expectativas compartilhadas sobre o papel social de juiz para a

realização da compreensão leitora do personagem na tira. Ao demostrar a visão de que o

juiz deve fornecer “um julgamento justo”, os participantes tendem a ativar o seu

conhecimento de mundo a partir do senso comum sobre esse papel social do juiz

magistrado. Entretanto, uma única dupla acionou um juízo de valor a respeito da atitude

do juiz no último quadrinho, para justificar porque ele deveria ser relevado ao desejar

igualmente o veneno. A resposta sobre ser “absolvido”, transfere o papel de réu que a

dupla coloca o personagem juiz no papel de genro que tem problemas com a sogra e

que, portanto, também se identifica com a atitude do réu.

3.2.5) As imagens pressupostas em determinados papéis sociais:

Na questão e17, os alunos deveriam identificar a quebra de expectativas

representada pela conduta do personagem juiz no último quadro. Dele se espera que

proferisse a sentença (micro enquadre profissional), mas não que ordenasse a prescrição

da fórmula para cometer o assassinato (micro enquadre pessoal). Esta questão teve

cinco respostas principais:

I) A identificação da quebra de expectativas:

“Não, porque se espera de um juiz uma ideia diferente (que cumprisse a lei) e

não pedir a fórmula do veneno (foi irônico)” (Informantes 1,2,3,10,13,22...)

17

“A resposta dada pelo juiz (terceiro quadrinho) seria a resposta esperada? Por quê?”

Page 86: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

86

II) A avaliação acerca da atitude do juiz ou do evento narrativo:

“Não, porque isso seria um abuso de autoridade” (Informante 86)

“Não, porque não fazia diferença, porque a sogra estava morta” (Informante

132)

III) A justificativa da quebra de expectativas através de pressuposições narrativas:

“Não, pois não vimos a escrita do réu” (Informante 84)

“Não, seria que ele condenasse o réu por matar uma pessoa e não por escrever

a fórmula errada” (Informante 104)

IV) A confirmação da estrutura de expectativas com base no 2º quadro:

“Sim, é a obrigação de todo o juiz (condenar o réu)” (Informante 85)

“Sim, o juiz não esperava uma resposta tão inútil do advogado” (Informante

113)

V) Interpretações fragmentadas sobre o enunciado da questão:

“Sim, pois ele não sabia a fórmula do veneno” (Informante 111).

A percepção da quebra de expectativas por parte da atitude do juiz no 3º quadro

foi identificada de forma bem sucedida pela maioria dos alunos em que 80,3%

observaram a atitude do juiz no 1º/2º quadros/sua ruptura no quadro final. Apenas uma

pequena parte dos participantes não respondeu apropriadamente o objetivo da questão,

4,5% das duplas não explicaram as estruturas de expectativas de um juiz, ativando

esquemas de conhecimento avaliativos (pessoas, eventos, cenários) acerca do assunto

sem correlacioná-los diretamente com o contexto. 1,5% responderam não ser uma

atitude esperada, empregando ações narrativas que extrapolam o contexto para justificá-

las. 18,4% subentenderam que a pergunta estaria relacionada à estrutura de expectativas

de qualquer juiz (2º quadro) ao analisar o processo e a julgar o réu pelo crime cometido

sem relacionar a questão ao 3º quadro e 0,7% das duplas não visualizou a construção do

humor contido na ruptura do último quadro, o que também gerou uma divergência de

interpretação do contexto.

Page 87: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

87

Nas respostas da maior parte dos participantes, pode-se pressupor que os

esquemas de conhecimentos compartilhados sobre o papel social do juiz representado

nos dois quadros iniciais geraram estruturas de expectativas não comprovadas no

desfecho narrativo do último quadro. As duplas buscaram correlacionar as estruturas de

expectativas geradas pelas duas vinhetas iniciais, em que um juiz - dentro do enquadre

tribunal – deveria somente cumprir os trâmites legais com a quebra de expectativa no

último quadro ao sair desta mudança de alinhamento de juiz/genro.

As demais duplas não realizaram uma interpretação global da pista linguística

fornecida no último quadrinho, em que a atitude do juiz no discurso aponta o seu

interesse pelo veneno, o que provoca uma ruptura de expectativas. O entendimento

parcial das pistas linguísticas fornecidas durante o evento narrativo possivelmente gerou

– por parte destas duplas – avaliações ou pressuposições que não são recuperadas

adequadamente pelo evento narrativo ou que não estão correlacionadas quadro a quadro.

Na questão f18, os alunos deveriam ativar os seus conhecimentos de mundo

compartilhados sobre o papel da sogra dentro do enquadre familiar, sendo representadas

no senso comum como pessoas intrometidas, em conflito com seus genros e noras, por

disputar espaços afetivos com eles. No discurso dos alunos esta questão teve três

respostas:

I) A visão de mundo sobre sogras:

“Que todo homem não gosta de sua sogra e deseja matá-la, uma megera, não

são tão queridas, chata, não presta, ruim, não desejada” (Informantes 1,3,9,20,54,59...)

II) O papel da personagem sogra dentro do enquadre tribunal:

“A morte dela, morreu envenenada, (vítima e odiada)” (Informantes

98,109,110...)

III) A menção de um conhecimento de mundo sem correlacioná-lo com o contexto:

“Direito dos idosos, tem que ser aceito por qualquer um de igual para igual,

acho que é isso” (Informante 104).

18

“Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?”

Page 88: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

88

Nesta questão, a maioria, 90,2%, ativou satisfatoriamente o seu esquema de

conhecimento acerca da sogra, com os qualificativos não tão “queridas”, “megeras”,

“ruins” e “chatas”. Somente uma pequena parte dos participantes, 7%, focou o papel

da sogra dentro do enquadre “tribunal” em questão e não na visão de mundo, relatando

que a mesma faria o papel de “vítima” e que seria odiada pelo genro “assassino” que

praticou o crime e uma dupla relacionou “o direito dos idosos” com a tira, porém não

justificou como esse assunto interage com o conteúdo da história ou com os

personagens

Nas respostas da maior parte do grupo observou-se que a visão estereotipada da

sogra foi a dominante e tende a facilitar, em geral, a identificação do seu papel dentro

do enquadre familiar. O mesmo não ocorreu com a minoria dos participantes que ativou

o papel contextual da sogra (vitima) dentro do enquadre tribunal para explicitar a sua

representação subentendida, o que gerou a uma divergência de interpretação da questão

proposta. Ao pretender relacionar “o direito dos idosos” com a HQ, a dupla ativou o

seu conhecimento de mundo assinalando que a sogra é, em geral, uma pessoa mais

velha que, portanto, deve ser respeitada, porém não fez nenhuma correlação direta com

a pergunta que pede uma descrição representativa do papel social de sogra na HQ.

Page 89: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

89

3.2.6) As quebras de expectativas / a construção do sentido de humor:

Na questão g19 as duplas deveriam identificar a construção do humor da HQ

através da quebra de expectativa da atitude do juiz no último quadrinho. Na análise dos

alunos esta questão obteve três tipos de respostas principais:

I) A construção do humor através da ruptura de expectativas:

“O que provoca é o juiz pedir (a fórmula do, receita (?)) veneno para matar sua

sogra também (com letra clara e legível/ ironia) (3º quadrinho)” (Informantes

1,3,10,23,32...)

II) Através de interpretações fora da narrativa:

“Porque eles brigam no tribunal” (Informante 102...)

“Porque o réu não se importou com a prisão perpétua, mas sim em ter que

escrever a fórmula do veneno” (Informante 115)

“Que ao invés do juiz dar a pena certa, ele libera o acusado se ele der a

fórmula do veneno” (Informante 103)

“O juiz falando para o condenado aprender a escrever com letra clara e

legível” (Informante 117)

“O espanto e o medo do réu na hora da condenação” (Informante 105)

III) Através da observação de piadas estereotipadas sobre sogra:

“A sogra envenenada” (Informantes 100,107,114...)

Na resposta do item III há vários elementos implicados, a confusão de

pressupostos com dados explicitados e distorções a partir de um dado da tira,

construindo narrativas paralelas, o que levou algumas duplas a não identificação dos

mecanismos de humor gerados pelo evento narrativo.

A maior parte das duplas, 84,2%, percebeu e inferiu de forma esperada o

emprego do humor da história através da atitude inesperada do juiz (3º quadrinho) em

19

“Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua resposta:”

Page 90: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

90

também querer a fórmula do veneno. Apenas 7,2% das duplas centralizaram outras

situações na narrativa como colaboradoras para a construção do seu humor final, assim

como 1% das duplas em que buscaram explicar o humor da HQ mencionando a temática

sobre sogra disposta no texto e a sua construção no senso comum.

Nas respostas da maior parte do grupo, os participantes correlacionaram as

estruturas de expectativas do juiz expostas no 1º e 2º quadros com a ruptura do 3º para a

construção do humor da HQ. A observação integral da tira foi a estratégia dominante

empregada por esses alunos para a identificação do efeito humorístico final. As

estratégias empregadas pela minoria pretenderam identificar o humor da história através

de pressuposições sobre a narrativa, porém sem estabelecer uma conexão dos fatos

narrados que levariam à quebra dessa expectativa final. A compreensão incompleta das

pistas linguísticas fornecidas quadro a quadro levou estas duplas a focalizar de forma

fragmentada a construção do humor na “fórmula do veneno” sem aliá-las

adequadamente ao contexto final. Ao mencionar que a construção do humor da história

baseia-se no envenenamento da sogra, pressupõe-se que esta pequena parcela de alunos

(1%) buscou ativar expectativas sobre piadas do senso comum sobre “sogras”, porém

sem correlacioná-las mais diretamente com o humor da narrativa.

Os alunos buscaram apoio nos esquemas de conhecimento que possuem e nas

experiências compartilhadas para a construção da compreensão leitora nos quadrinhos.

As pistas linguísticas fornecidas pelo contexto serviram na compreensão das HQs

quadro -a- quadro, porém nem sempre foram associadas por todos os alunos

participantes de forma adequada, gerando divergências de interpretação.

A compreensão fragmentada das pistas linguísticas fornecidas quadro a quadro

levou as duplas a obter um entendimento parcial da HQ, sem conseguir correlacionar o

evento narrativo como um todo ou gerando falsas pressuposições a respeito da

construção humorística do contexto.

Page 91: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

91

3.3 Análise do corpus a partir de Piratas do Tietê

O objetivo principal da segunda atividade leitora com os mesmos participantes

foi observar se as estratégias de leitura dos alunos em LM seriam as mesmas ou

divergentes com a atividade na tira em ELE.

A análise que se segue coloca em comparação essas estratégias para discutir a

identificação do humor de ambas HQs. Supõe-se que a leitura de uma tira em LM seja

mais eficiente para o aluno na elaboração de uma atividade leitora, assim como a

percepção do humor em uma de ELE, pois o aluno - por apresentar maior familiaridade

com o código linguístico - tende a buscar concomitantemente, no contexto, informações

verbais e visuais, na construção de sentidos.

A atividade de compreensão leitora desta segunda HQ foi dividida em 4

questões e focalizou a percepção, por parte das duplas, da 3.3.1) localização do

enquadre e do evento narrativo; 3.3.2) a reprodução da narrativa; 3.3.3) a identificação

das estruturas de expectativas; 3.3.4) identificação do papel social dos personagens

3.3.5) as imagens pressupostas em determinados papeis sociais e 3.3.6) as quebras de

expectativas / a construção do sentido de humor.

Page 92: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

92

3.3.1) A localização do enquadre:

A questão a20

tinha como objetivo identificar especificamente o cenário em que

a narrativa se orienta. Nos discursos das duplas, esta questão teve como tendência dois

tipos de respostas:

I) A localização do cenário com base na linguagem verbal:

“Em seu apartamento” (Informantes 5,10,25,57,69)

II) A localização do cenário com base na linguagem visual:

“Na cozinha” (Informantes 12,14,71)

A percepção da localização espacial da narrativa foi identificada de forma

satisfatória por todos os participantes em que a maior parte, 93,9%, focalizou o cenário

apartamento como o local onde se realizou o evento. Uma pequena parte das duplas,

6,1%, ainda centralizou - dentro deste cenário - o compartimento mais específico (a

cozinha) como o local em que se desenvolveu a história.

Nas respostas da maior parte dos participantes, a observação das pistas verbais

fornecidas pelo discurso do personagem inquilino, no 4º quadro foi o dominante para a

identificação do cenário “apartamento”. Ao responder que o cenário encontrado no

evento narrativo seria a “cozinha”, a minoria dessas duplas demonstra se apoiar mais

nas pistas não-verbais visualizadas, mais especificamente, no 2º e 4º quadro da HQ, em

que esse compartimento do apartamento é apresentado como pano de fundo na

composição das vinhetas.

20

“Em que local está o personagem da tira acima?:”

Page 93: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

93

100%

Enquadre

Identificação do enquadre

3.3.2) A reprodução da narrativa:

A questão b21 tinha como meta principal - a partir da sequência narrativa linear

dos quadrinhos - fazer com que as duplas descrevessem todo o evento narrativo nas

vinhetas: a situação inicial, a complicação e o desfecho. Nos dados dos participantes,

esta questão teve como padronização três tipos de respostas:

I) A identificação de todos os componentes narrativos:

“O personagem estava preocupado pensando em uma mulher que parecia a sua

namorada, só que esta mulher era a proprietária do apartamento dele” (Informantes

59,70,77...)

II) A interpretação de situações que extrapolaram a narrativa:

“O personagem está impossibilitado de utilizar o apartamento” (Informante 20)

“O homem pagou o seu aluguel e não sobrou dinheiro para poder comer”

(Informante 58,76)

III) A realização de avaliações externas a respeito da tira:

“Ela (a proprietária) é uma sanguessuga” (Informante 73)

21

“Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:”

Page 94: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

94

“O homem está abatido por conta do aluguel que deveria está muito alto”

(Informante 64)

“O aluguel está muito caro” (Informante 61)

A maioria dos participantes realizou adequadamente a observação narrativa da

HQ , 90,9%, identificou a situação inicial (a falta de sono e de apetite da personagem), a

complicação (o motivo de suas preocupações: uma mulher) e a situação final que

compõem a história (esta mulher: a proprietária do apartamento). Apenas uma pequena

parte das duplas não interpretou de forma adequada a tarefa proposta no enunciado;

5,2% realizou uma análise narrativa da tira acionando uma série de pressuposições não

inferenciais no texto e 3,7% através de avaliações externas a respeito dos estados de

ânimo do personagem inquilino ou a caracterização da personagem proprietária do

apartamento dentro do evento narrativo.

Nas respostas da maior parte das duplas a identificação de todos os elementos

narrativos da tira foi decorrente da leitura linear das vinhetas, correlacionando os

eventos narrativos dispostos quadro a quadro. Ao realizar uma série de interpretações

externas à narrativa, a minoria destas duplas demonstrou se apoiar no conhecimento de

mundo compartilhado sobre a relação conflitiva proprietária/ inquilinos que não

conseguem arcar com as suas despesas, porém não explicitam como esses elementos

podem estar correlacionados ao eixo narrativo principal da história. Igualmente, os

participantes, que realizaram avaliações narrativas externas a tira, buscaram por meio de

seu conhecimento de mundo, apoiar-se no senso comum, ao se referir aos proprietários

de imóveis e ao preço dos aluguéis; visando avaliar e justificar as preocupações do

inquilino na história, porém não mostraram como essas estratégias podem ser utilizadas

para relatar o evento narrativo ocorrido. Este pequeno grupo de informantes - ao

interpretar situações que estão fora da narrativa ou ao realizar avaliações externas -

tende a recorrer a estratégias de maneira fragmentada, gerando a compreensão parcial

da narrativa.

Page 95: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

95

3.3.3) A identificação da estrutura de expectativas:

Na questão c22, deveria ser identificada a quebra de expectativas representada

pelo personagem inquilino no último quadro, em que se esperaria que ele mantivesse o

alinhamento de homem supostamente apaixonado dos três quadros anteriores.

Entretanto, o personagem modifica o seu alinhamento para inquilino furioso ao

explicitar que a mulher que lhe tira o sono e o apetite é a proprietária do apartamento

com as suas cobranças.

Nos dados dos participantes, esta questão teve como tendência cinco grupos de

respostas:

I) A identificação da quebra de expectativa do personagem da HQ visualizada no último

quadro:

“Não. Porque dava a impressão que ele amava a mulher. Parecia que ele falava

de amor, que estava apaixonado” (Informantes 5, 12, 13, 20...)

II) A focalização da incapacidade financeira do personagem como quebra de

expectativas:

“Porque ele esperava que ela ia esperar ele arrumar o dinheiro para pagar o

aluguel” (Informante 94)

22

“A resposta dada pelo personagem (4º quadrinho) seria a resposta esperada? Por quê?”

90%

3% 4%

Evento narrativo

Identificação do enquadre

Avaliação externa da narrativa e pressupotos

Avaliação externa do personagem

Page 96: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

96

“Porque o fato dele ter pago o aluguel e não ter arcado com as despesas não é

um fato esperado” (Informante 124)

“Pois é culpa de não ter o dinheiro é dele e não do proprietário” (Informante

90)

“Porque ele não esperava a proprietária” (Informante 67)

“Porque o aluguel estava alto” (Informante 82)

III) A confirmação das estruturas de expectativas com base nos quadros anteriores:

“Pois o preço do aluguel está muito caro” (Informante 125)

“Pois estava bastante triste, nervoso com tudo isso” (Informantes 8, 91, 116)

“Pois ele não pode realizar suas atividades de costume no imóvel que se

encontra” (Informante 10)

IV) A não menção sobre as estruturas/quebras de expectativas do último quadro, mas a

emissão de juízo de valores sobre a história:

“A mulher é muito chata porque ela fala toda hora em pagar” (Informante 93)

“Por causa da maldita proprietária” (Informante 88) (a focalização da quebra

da expectativa por meio da transcrição da fala do personagem no último quadro, porém

sem correlacioná-la aos quadrinhos anteriores)

“Porque ele acha que vai ser despejado do apartamento onde mora”

(Informante 119) (da pressuposição narrativa)

“Porque o personagem espera que a mulher dele (?) venha a um apartamento

dele para conversar” (Informante 37) (da pressuposição narrativa)

V) Justificar a atitude do inquilino no último quadro sem a correlação com os quadros

anteriores:

“Porque ele passou a noite inteira sem dormir e sem comer” (Informante 114).

A identificação da quebra de expectativas foi percebida de forma adequada por

mais da metade das duplas, 69%, percebeu que a tira apresentava uma estrutura de

expectativa inicial através da atitude do personagem (1º ao 3º quadro) e quebra de

expectativa desse alinhamento, no quadro final. Os demais participantes observaram

diferentemente as pistas contextuais fornecidas pelo texto em relação a esta ruptura,

Page 97: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

97

gerando divergências de interpretação das expectativas: 7,% dos alunos basearam- se

em pressupostos fora da narrativa para justificar a quebra de expectativa fornecida na

tira; 17% avaliaram que a incapacidade financeira do personagem inquilino em pagar o

aluguel, estaria de acordo com as estruturas de expectativas geradas nos quadros

anteriores e 7% buscaram justificar a atitude da personagem sem correlacionar com os

quadros anteriores ou realizando apenas uma avaliação narrativa dos fatos.

Pode-se observar que a maior parte dos participantes ativou esquemas de

conhecimentos compartilhados sobre o discurso amoroso, identificado nos três quadros

iniciais. Isto gerou estruturas de expectativas que não foram ratificadas no desfecho

narrativo do último quadro, para a identificação da ruptura de expectativa. Parte das

duplas não estabeleceu a relação das expectativas dos quadros iniciais (aparente

discurso amoroso) com a sua ruptura do último quadro (problema contratual),

compreenderam que se tratava da quebra de expectativas por parte do personagem na

sua incapacidade de arcar com as suas despesas. Da mesma forma, não observaram a

mudança de alinhamento de homem supostamente apaixonado nos três primeiros

quadros para inquilino enfurecido do último quadro, o que geraria essa quebra de

expectativas. As estratégias empregadas - pela minoria dos participantes -

demonstraram que esse grupo tentou buscar apenas elementos isolados em diversos

quadros para explicitar a atitude do personagem, porém sem estabelecer uma conexão

dos fatos narrados que levariam a quebra de expectativa final.

Page 98: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

98

3.3.4) A identificação do papel social dos personagens:

A questão d123 tinha como objetivo fazer com que os alunos correlacionassem –

por meio das pistas linguísticas - os papeis sociais de inquilino/ proprietária do imóvel

do evento narrativo em questão.

Nos pressupostos das duplas esta questão teve como tendência três tipos de

respostas:

I) A identificação do papel social do personagem:

“Inquilino” (Informantes 8,11,28,45,69...)

II) A percepção da relação de dependência:

“Subordinado da proprietária” (Informante 80)

“Devedor” (Informantes 63,78),

“Cidadão” (Informantes 82,125)

“Desempregado, pobre” (Informantes 4,92,101,125)

III) O estado emocional do indivíduo no contexto:

“Irritação, preocupação, raiva” (Informantes 64,65,71)

“A relação deles não parece muito amigável” (Informante 61)

Com relação ao papel social representado pelo personagem em relação à

proprietária do apartamento, pode-se observar que a maioria das duplas, 74,4%,

identificou satisfatoriamente que ele seria o “inquilino”. 13,5% não designam o léxico

específico para estabelecer a relação, porém empregam termos conexos ao contexto

como: “subordinado” à proprietária (estabelecendo relação de poder) e “devedor”

(inquilino) / cobrador (proprietária); se referindo ao papel social da personagem:

“cidadão”, aludindo a seus deveres ou a sua situação social que justificaria a sua

dificuldade em pagar o aluguel: “desempregado” e “pobre” (inquilino) / rica

(proprietária). Apenas uma pequena parte das duplas, 12%, não estabeleceu uma relação

entre os personagens do texto, focalizando somente o estado emocional do indivíduo ou

relatando a sua convivência pessoal com a sua proprietária.

23

“Qual é o papel social representado pelo personagem com relação à proprietária do apartamento?”

Page 99: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

99

Nas respostas da maior parte dos participantes foi assinalado o papel social

“inquilino”, sendo identificado através da pista contextual do 4º quadro da tira, o

personagem que relata os seus problemas pessoais relacionados “à maldita proprietária

do apartamento”, levando os participantes a realizar a inferência da relação entre eles.

O conhecimento de mundo compartilhado levou – a uma minoria das duplas - a

estabelecer aproximadamente as relações entre as personagens do contexto narrativo,

porém sem especificidades, o que gerou um entendimento parcial do texto. O resto dos

participantes não conseguiu correlacionar os papeis sociais dos personagens da HQ.

Estas duplas entendem que a pergunta tem como foco a relação interpessoal entre o

inquilino e a proprietária e não a relação contratual específica entre ambos.

3.3.5) As imagens pressupostas em determinados papeis sociais:

Na questão d224, os alunos deveriam ativar os seus conhecimentos de mundo

compartilhados sobre o papel de um proprietário de imóvel dentro do enquadre

contratual.

Nas respostas das duplas, esta questão tende a ser respondida em três blocos

principais:

I) Ativando esquemas de conhecimento da visão do senso comum sobre proprietários: 24

“Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido no texto?”

Page 100: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

100

“Ruins”, “vampiros”, “carrascos”, “opressores” (Informantes 14, 15, 23, 24)

“Inflexíveis, rígidos” (Informantes 23, 35, 36)

“Chatos” (Informantes 21, 30)

“Que se importam mais com o pagamento” (Informantes 17, 25)

“Que só sabem cobrar” ou “não deixa os inquilinos em paz” (Informantes 20,

27, 29)

II) Emitindo juízo de valores sobre a atitude dos proprietários:

“Está errado em cobrar o aluguel” (Informante 115)

“Muitas vezes o aluguel é muito caro” (Informantes 5, 12, 55)

III) Gerando pressupostos fora da narrativa sobre a atitude da proprietária no contexto:

“Que ele (o proprietário) não dá nenhum sinal de vida e ele (o inquilino) chega

a procurar outro lugar para morar” (Informante 6)

A maioria das duplas, 90,2%, ativou adequadamente os seus esquemas de

conhecimento compartilhados sobre os proprietários de imóveis, qualificando como

“indivíduos que querem receber o aluguel a qualquer preço”. Apenas uma pequena parte

dos participantes não ativou os esquemas de conhecimento em 4,5%, emitindo juízo de

valores da atitude dos proprietários de imóveis para com os inquilinos, identificando

indiretamente a visão de mundo que os indivíduos da atitude dos proprietários em

relação aos inquilinos e apenas uma dupla subentendeu que os proprietários de imóveis

são indivíduos “relapsos”, que não se preocupam em receber o aluguel, daí a

preocupação do inquilino, pois não consegue encontrá-lo para quitar a sua dívida, sendo

uma interpretação que foge totalmente à proposta da HQ.

Nas respostas da maior parte dos alunos, o conhecimento de mundo

compartilhado sobre os proprietários de imóveis foi ativados para a caracterização do

senso comum sobre esse papel social. Para essa grande parte, a preocupação do

personagem em não conseguir pagar o aluguel fundamenta-se nessa visão de mundo

negativa sobre os proprietários de imóveis. O mesmo não foi percebido pela minoria

que buscou ativar o conhecimento de mundo sobre a atitude de cobrança dos senhorios

com os inquilinos, não inferindo diretamente a visão de mundo sobre os proprietários de

Page 101: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

101

imóveis ou baseando-se em pressuposições sobre a proprietária do apartamento no

contexto em questão, o que levou a uma compreensão inadequada dessa questão da HQ.

3.3.6) As quebras de expectativas / a construção do sentido de humor:

Na questão d325, as duplas deveriam identificar a construção do humor da HQ

através da quebra de expectativas vista na atitude do personagem em que ele sai do

micro enquadre ‘relacionamento amoroso’, dos três quadros anteriores (o fato de não

comer e não dormir por causa de uma mulher), para o micro enquadre relacionamento

contratual (esta mulher é a proprietária do apartamento) do último quadro.

Nos dados dos participantes, esta questão tende a ser respondida sob quatro

perspectivas diferentes:

I) A construção do humor através da quebra de expectativa final:

“Que em vez de falar que estava com saudades (problemas) de sua esposa, tudo

se tratava de uma conta de aluguel” (Informantes 5,10,25,38...)

II) Através da descrição do estado emocional do personagem inquilino no 4º quadro:

“A irritação (fúria) que ele sente da proprietária por cobrar o aluguel” (a

maldita proprietária do apartamento) (Informantes 79, 83, 96...)

25

“Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua resposta:”

Page 102: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

102

III) A reprodução da fala do personagem:

“Que ele não dormia, nem comia, ficava pensando no aluguel” (Informantes

74,75,76...)

IV) Agregando pressupostos externos à narrativa:

“Que ele não pode sair porque senão ele perde seu apartamento” (Informante

94)

“Ele era apaixonado pela proprietária do apartamento” (Informante 122) (não

- percepção da quebra de expectativas)

Mais da metade das duplas, 50,3% centralizou de forma esperada, o humor da

história através da estrutura de expectativas (1º ao 3º quadro)/ sua ruptura (4º quadro). A

outra metade das duplas não estabeleceu a correlação entre os quadros iniciais e o

último, o que gerou respostas apenas parciais 30,8% destacou somente o estado

emocional da personagem, no 4º quadro como elemento causador da construção do

humor. 14,2% focalizou a comicidade da história somente na compreensão explícita do

texto através da falta de sono e de apetite do inquilino com a preocupação com o

aluguel. 3,7% da identificação do humor através de pistas linguísticas pressupostas pelo

contexto.

A partir das respostas da maior parte desses participantes, pressupõe-se que a

construção do humor foi fundamentalmente identificada na correlação das estruturas de

expectativas dispostas nos três quadros iniciais e a sua ruptura na vinheta final. Desta

forma, a identificação humorística do texto foi percebida na mudança de alinhamento do

personagem da HQ. As demais duplas não correlacionaram os quadros iniciais da tira

com a situação final, interpretando o estado emocional da personagem, no 4º quadro

como elemento causador da construção do humor, realizando uma reprodução literal do

texto ou pressuposições.

Page 103: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

103

Assim, tanto nas HQs em Condorito, quanto em Piratas do Tietê, os alunos

demonstraram, na maioria das questões, resultados muitos próximos na leitura: a

percepção de pistas linguísticas e não linguísticas fornecidas pelo contexto, esquemas de

conhecimento compartilhado e a identificação de enquadre e de alinhamento dos

personagens, independentemente de fazê-lo em LM ou ELE.

Apenas duas questões tiveram uma maior discrepância quanto à percentagem de

duplas que atingiram a resposta de maneira satisfatória, no relato dos eventos narrativos

e na identificação do humor através da quebra de expectativas. Na questão relativa à

narrativa dos eventos, observou-se que a maior parte das duplas (90,6%) teve como

tendência correlacionar as pistas verbais fornecidas quadro a quadro para identificar a

situação inicial, a complicação e a situação final do enredo na HQ de LM. Já, na de

ELE, apenas um pouco mais da metade das duplas (58,6%) realizou essa correlação,

supõe-se que as demais duplas – por se tratar de uma tira em ELE – buscaram apoio

concomitantemente na pista verbal e visual para explicitar a sequência linear dos fatos,

porém de forma fragmentada.

51%31%

14%4%

Identificação do humor

Quebra de expectativas no último quadro

Outros enquadres

Evento narrativo

Pistas pressupostas

Page 104: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

104

3.4 Tendências na HQ de LE e LM

Quanto à identificação do humor através da quebra de expectativas, observou-se

que apenas a metade das duplas em LM (50,3%) correlacionam as expectativas dos

quadros iniciais com a sua ruptura no último quadro. A outra metade das duplas traz as

suas experiências de mundo com relação ao papel social de inquilino, porém sem

relacioná-las ao contexto da HQ. Na HQ, em ELE, a maior parte dos alunos (84,2%)

conseguiu ativar o senso comum sobre sogras e levá-lo para o evento narrativo, o que

auxiliou diretamente na percepção do efeito humorístico da tira, no quadro final.

Ao realizarem a atividade de compreensão leitora das HQ escolhidas, as duplas

apresentaram dificuldades similares para correlacionar a leitura das tiras quadro a

quadro, que levassem à compreensão global dos eventos narrativos. Essas dificuldades

estão correlacionadas na compreensão leitora das HQ de forma fragmentada e não

interligada, obtendo um entendimento parcial dos eventos narrativos, o que também

contribuiu para uma percepção parcial das estruturas de expectativas/rupturas geradas

pelas construções humorísticas tanto na tira de ELE, quanto na de LM.

Page 105: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

105

3.5 O protocolo

O protocolo permitiu analisar uma dupla de participantes do 3º ano, do Ensino

Médio, por meio de questionários escritos e procurou examinar, sob a perspectiva sócio

interacionista , as estratégias utilizadas por essa dupla na construção de sentidos das

tiras examinadas na interação quadro- a- quadro através dos seus esquemas de

conhecimentos compartilhados, a identificação de pistas de contextualização e da

construção do humor através da ruptura de expectativas.

Esta seção visou comparar os processos sócio-cognitivos mais empregados pela

dupla ao realizar a compreensão leitora da tira de Condorito (ELE) e de Piratas do Tietê

(LM). A análise consistiu em examinar mais detalhadamente o registro da verbalização

das interações da dupla nos processos de negociação de significados para formular as

respostas.A investigação buscou observar se os participantes envolvidos empregaram

estratégias cognitivas semelhantes ou divergentes na realização da compreensão leitora

e na construção de humor em uma tira de LM e de ELE.

A pesquisa, nesta etapa, requisitou a gravação de uma dupla de participantes do

questionário escrito. A dupla que consentiu o registro será identificada por A e C26.

26

Ficha social da dupla: A aluna A, em sua ficha social, revela ter 17 anos e é moradora do bairro

de Campo Grande. É estudante da língua espanhola há cerca de 2,5 anos e não trabalha. A relata ter o

hábito da leitura fora do ambiente escolar e se relata apreciadora de jornais e livros. A aluna se declara

leitora de 5 a 10 livros por ano (cerca de 1 a cada dois meses ou 2 livros a cada mês) e que lê o gênero

História em Quadrinho de vez em quando. A demostra gostar de diversos eventos sociais em suas horas

de lazer tais como: ver TV, navegar na internet, ir ao cinema, festas, restaurantes, bailes e ler um livro.

O aluno C, que faz dupla com a referida aluna citada, tem 36 anos e é também morador de

Campo Grande. Possui o mesmo tempo de estudo da língua espanhola de A e afirma ser vendedor.

Também relata ter o hábito da leitura fora da escola e é apreciador de revistas, jornais, livros e internet

(acredita-se que o aluno quis dizer que aprecia interagir com a leitura e interação dos hipertextos

presentes na internet, tais como: salas de bate papo, facebook, Orkut, notícias ...). O aluno C diz ler

menos livros por ano que A, cerca de 1 a 5 e que não tem o hábito de ler o gênero HQ. C também

demonstra gostar de eventos sociais semelhantes de A e ainda acrescenta outros tais como: a pesca e o

voleibol.

Page 106: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

106

3.5.1 Análise das interações de uma dupla

LE (Condorito)

A e C escolheram, durante toda a análise da HQ em ELE, a leitura em voz alta

para realizar conjuntamente a atividade das questões referentes ao texto:

“Quer que a gente leia em voz alta, né? Vai. (...) (lendo) “Leiam a

tira ... de quadrinho a seguir e respondam as questões propostas em

português (...)”. Linhas 10 e 11. (Anexo 4)

Na questão relativa a identificação dos personagens 27, a dupla reconheceu o

papel social de todos os personagens contidos na história, o juiz, o advogado e o réu:

“C: Um é o juiz (...) que tem um martelinho aqui. / C: E o advogado./

A: E o advogado. Então põe juiz (...) / C:Peraí ... juiz, réu e o

advogado. Réu? Réu, né?” Linhas 25 a 33. (Anexo 4).

Neste item, A e C buscam a identificação dos personagens através das pistas

não-verbais contidas na HQ, caracterizando especificamente o personagem juiz através

do componente imagístico disposto na primeira vinheta da HQ “que tem um martelinho

aqui”.

Na questão sobre a identificação do enquadre situacional dos personagens do

evento narrativo 28, A e C afirmam que os personagens da HQ encontravam-se em um

tribunal, porém quando A indagou se eles estão em um tribunal de justiça, C levanta

dúvidas quanto à propriedade lexical e prefere reafirmar que eles estão apenas em um

tribunal, sem especificações:

“A: Num tribunal, né?/ /A: Num tribunal de justiça?/C:Tribunal,

coloca tribunal (...).” Linhas 34 a 37. (Anexo 4).

27

“Com base na ilustração acima, quais são os papéis sociais representados pelos personagens que

compõem a história?”

28

“Em que tipo de instituição estão os personagens?”

Page 107: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

107

Nesta questão observa-se que o conhecimento de mundo compartilhado com

relação ao enquadre tribunal foi ativado pelos participantes na leitura da HQ, porém o

entendimento deles com relação a esse tipo de contexto tende a ser parcial ou impreciso.

Na questão relativa a identificação dos eventos narrativos29, A e C relatam o

evento narrativo principal da história, reconhecendo que o réu estava sendo acusado de

envenenar a sogra (situação inicial), o juiz o condena (complicação) e, no final,

interessa-se também em saber a fórmula do veneno (situação final):

“[A: É] Um homem tava sendo acusado, ... [A: de ter envenenado a

sogra] e (...) no final o juiz queria saber / (risos e A) exatamente como

ele teve o momento (...), provavelmente para matar a sua / própria

sogra.” Linhas 38 a 44. (Anexo 4)

Ambos buscam, por intermédio da sequencia linear dos eventos correlacionados

quadro a quadro, o sentido global do texto e as suas possíveis inferências percebidas

através da quebra de expectativas no desfecho final do 3º quadro na mudança de

alinhamento de juiz para genro.

Além da identificação dos eventos narrativos principais através da leitura

sequenciada quadro a quadro e da inferência contida na HQ, também observou-se

estratégias utilizadas pela dupla para a organização dos fatos em que A transcreve a

resposta elaborada oralmente por C e a tentativa da dupla de substituição de palavras

que não conhecem ortograficamente por outras de sentido semelhante para uma melhor

estruturação da compreensão leitora:

“[A:[E também] vai./ A: Vai falando aí que eu vou escrevendo. / C: O

homem ... / A: O réu. / C: É o réu, o réu estava ... [A: estava sendo

acusado] de ‘invenenar’, de envenenar a sua / sogra ...” e em “ (...)

C: (...) e o juiz após condená-lo à perpétua ou a prisão perpétua. (...)

interessou-se ou queria saber ... / A: (escrevendo) Interessou-se? /

(...)C: Com dois “s”, interessou-se. / A: Só um? / C: Interessou em

saber, interessou... / A: Ih meu pai ... / C: Interessou-se. (Risos) (...) /

29

“Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:”

Page 108: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

108

A: Tem corretivo aí? / C: Tem, eu acho que tem ... / A: É melhor

substituir, eu tenho essa mania. (...)”Linhas 45 a 77. (Anexo 4)

Na questão sobre as estruturas de expectativas esperadas com relação ao papel

social de juiz30, A e C respondem que a estrutura de expectativa que eles têm sobre o

papel social de juiz é o clichê sobre ‘o senso de justiça’:

“C: Justiça. (...) Não é, não é o que você espera de um juiz? / A: Com

certeza. Sempre.” Linhas 78 a 80. (Anexo 4)

Ao ativar o senso comum sobre o papel social de juiz, os participantes não

acionam plenamente conhecimentos de mundo compartilhados sobre esta função,

tentando discernir se o comportamento desta personagem é adequado ou inadequado

com a sua posição social (juiz) e correlacionando-o com o enquadre (tribunal) em que

ele está inserido.

Apesar de não ativarem plenamente a estrutura de expectativas de um juiz, A e

C, explicitam nesta questão31, demonstrando que não seria esperado que o juiz pedisse a

fórmula do veneno, após condenar o réu. C ainda ressalta com A que a “graça” (o

humor) (linha 285) do texto centraliza-se justamente neste último quadrinho:

“(...) C: Não / era esperado ... / (...) C: Por entender que o juiz estava

interessado na fórmula do veneno que matava a / sogra. (Risos). / (...)

A: (escrevendo) Porque não era de se esperar que o juiz... / C: Que o

juiz se interessasse pelo veneno. / (...) A graça, a graça tá aí.(...)”.

Linhas 257 a 285. (Anexo 4)

O humor da HQ é localizado nesta ruptura de expectativas e nesta mudança de

alinhamento de juiz no 1º e 2º quadrinho para genro apresentada no 3º quadrinho,

Na questão relativa à visão de mundo sobre o papel social de sogra32, A e C ativam

esquemas de conhecimento compartilhados sobre sogras, explicitando que elas são

30

“Na opinião de vocês, o que se espera de um juiz?” 31

“A resposta dada pelo juiz (terceiro quadrinho) seria a resposta esperada? Por quê?” 32

“Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?”

Page 109: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

109

vistas como pessoas que são geralmente ‘odiadas’, que ‘não prestam’ e que ‘merecem

morrer’:

“(...) C: A visão é essa, a visão de mundo em relação a sogra é que

sogra não presta. Sogra / merece morrer. / A: É. / C: A visão é que a

sogra, a visão é que as sogras são odiadas pelos seus genros.”Linhas

286 a 295. (Anexo 4)

A dupla ainda ativa na mesma discussão, o conhecimento de mundo sobre

‘madrastas’ que são consideradas, no senso comum, ‘más’ ou ‘competitivas’ com os

filhos do marido para compará-las com as ‘sogras’:

“(...) C: Que as sogras em geral são (.....) / piores que madrastas.

(Risos) / A: ( risos) (escrevendo) Sempre odiadas ... (risos) / C:

Sempre odiadas pelos seus genros.” Linhas 296 a 305. (Anexo 4)

A estratégia de comparação empregada pela dupla serve para fundamentar a

visão negativa sobre sogras. Essa visão de mundo33 ancora a localização do humor da

história, identificando que a personagem deseja a fórmula do veneno por se colocar no

papel de genro em conflito com a sogra e, assim como o réu, deseja igualmente matá-la:

“(...)/ C: (...) É pelo fato do juiz se interessar pela / fórmula do

veneno que mata a sogra. / A: (escrevendo) Pelo fato do juiz... / C: Se

interessar, [A: se...] se interessar pela fórmula do veneno ... / A:

(escrevendo) Pela fórmula do veneno ... / C: Que mata a sogra ...

(risos)”. Linhas 306 a 313. (Anexo 4)

A dupla, neste momento, relaciona o fato de pedir o veneno com a construção do

humor da HQ, que constitui a quebra com as expectativas geradas nos quadros iniciais

(1 e 2)

33

“Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história?”

Page 110: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

110

A dupla, fundamentada nas pistas verbais e não-verbais do contexto, identificou

as estruturas de expectativas geradas nos quadros iniciais pelos personagens

pertencentes ao eixo narrativo e as quebras de expectativas provocadas pelos mesmos,

no último quadro, que construíram o efeito humorístico da HQ.

LM (Piratas)

A e C iniciam a atividade, discutindo a HQ em LM, nos Piratas do Tietê. C passa

a ler em voz alta a história proposta e A destaca que há mais facilidade nesta leitura do

que o da HQ anterior, por esta última se encontrar em língua materna:

“C: (lendo) “Tantas noites não durmo. Tantos dias não como. Tudo

por causa dessa / mulher. A maldita proprietária do apartamento.”

(Risos) / A: do apartamento. Legal. Essa é um pouco mais fácil que a

outra. (Risos) (...) tem que ler em português”. Linhas 81 a 86. (Anexo

4)

A exteriorização não verbal de ambos representadas através de risos, ao terminar

de ler as HQs a serem analisadas, são elementos paralinguísticos significativos, pois

demonstram – indiretamente – que os alunos identificaram o efeito humorístico contido

na história.

Na questão relativa à identificação do cenário que compõe a história34, A e C

inicialmente identificam que a personagem da história encontra-se em casa, mais

especificamente na cozinha (pista não-verbal), porém depois, observam que a HQ

ofereceu uma pista contextual verbal através da fala da personagem no 3º quadrinho que

lhes permitiu a sua localização mais exata do cenário, no seu apartamento:

“(...) A: Em casa. / C: Na cozinha. / A: Em casa, na cozinha. (...) / C:

Em que local (...) em casa, no apartamento, em seu apartamento,

porque ele tá / falando de apartamento (...)” Linhas 87 a 95. (Anexo

4)

34

“Em que local está o personagem da tira acima”

Page 111: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

111

Observou-se que os alunos buscaram aliar a pista verbal, fornecida pela fala do

personagem no 4º quadro, com a pista não-verbal, fornecida como cenário dos

quadrinhos, visualizada mais especificamente, na 2º e 4º vinhetas.

Ao identificar os eventos narrativos principais35, A e C relatam que o homem

não dormia por dever à proprietária do apartamento:

“(...) A:É. Não peraí vamos organizar isso aí. / (...)Tá. Ele não

dormia. / C: Não dormia por causa de uma mulher porque devia a

proprietária do apartamento. (...)” . Linhas 96 a 120. (Anexo 4)

A dupla busca organizar o sentido global do texto na sua interação quadro a

quadro, através da identificação da situação inicial, complicação e situação final, mas

sem explicitar, nesta questão, as quebras de expectativas geradas pelos quadros iniciais.

Na questão sobre a quebra de expectativas da atitude do personagem, no último

quadro 36, A e C respondem que o discurso do personagem, no último quadrinho, não é

a esperada, pois as noites sem dormir e sem comer geram estruturas de expectativas de

que a sua preocupação teria como foco um relacionamento amoroso e não a dívida

contraída com a proprietária do apartamento:

“(...) A: “Tantas noites não durmo, tantos dias não como, / tudo por

causa dessa mulher.” Aqui eu comecei a entender que (...) era um

relacionamento amoroso, [C: isso, isso, isso] enfim e aí ele no final

ele falou a maldita / proprietária do apartamento, então é ...Seria

algo esperado? Não. / C: Não. / A: Por quê? / C: (...) ele quis dizer

que fosse algo relacionado a sentimentos. / (...) C: Que estava triste,

abatido (...) que dava-se a entender que o sentimento (risos) fosse /

por causa de relacionamento amoroso, sentimental (...)” Linhas 121

a 143. (Anexo 4)

A percepção desta mudança de alinhamento do discurso amoroso do

personagem, proposto inicialmente pela HQ para o discurso de um inquilino furioso

35

“Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:” 36

“A fala do personagem (4º quadrinho) seria algo esperado? Por quê?”

Page 112: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

112

levou a dupla a gerar estruturas de expectativas iniciais (1º ao 3º quadro)/ ruptura final

(4º quadro).

Na questão relativa à identificação dos personagens da HQ37, A e C

reconheceram prontamente o papel social da personagem “o inquilino”, com relação à

proprietária do apartamento:

“(...) A: Que ele é / o inquilino./ C: Papel social? Inquilino. (....)”

Linhas 144 a 149. (Anexo 4)

O conhecimento de mundo compartilhado pela dupla levou a identificação da

relação social inquilino/ proprietária do apartamento fornecido pelo contexto.

Na questão sobre a visão de mundo dos proprietários de imóveis38, A e C

ativaram seus esquemas de conhecimentos compartilhados sobre os proprietários de

imóveis, selecionando primeiramente juízo de valores através da visão de mundo em

que estes são vistos como: ‘cobradores constantes’ e “imparciais”. Nesta última

característica, A e C têm dúvidas se a palavra “imparcialidade” se relaciona ao contexto:

“A:(...) Compulsivos? Não.(...) Cobram, cobram ... / C: Eles cobram o

que lhes pertencem, mas eles não tão, eles não querem saber se você /

tá podendo pagar ou não. Eles querem receber. (...) A: Impacientes? /

C: Acho que a palavra imparcial pode ser. (.....) Imparcialidade. / A:

Impaciente, não fica bom não? (...)”. Linhas 168 a 180. (Anexo 4)

A caracterização do inquilino em “imparcial”, selecionada inicialmente pela

dupla, é uma escolha não adequada, pois os proprietários de imóveis não poderiam ser

imparciais (neutros) em relação aos inquilinos. Há uma aproximação fônica por parte da

dupla para chegar à escolha lexical de “impaciente”.

A dupla selecionou novamente a palavra “impaciente” para melhor caracterizar a

visão de mundo sobre os proprietários de imóveis, avaliando a indiferença em relação

37

“Com base na leitura do quadrinho responda: Qual é o papel social representado pelo personagem com

relação à proprietária do apartamento?” 38

“Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido no texto?”

Page 113: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

113

aos problemas dos proprietários, ao exigir receber o aluguel sem atentar às dificuldades

dos seus inquilinos:

“ (...) A: Eles são cobradores impacientes, eles são (......) C: A visão é

que não importam os seus problemas, eles querem receber. / (...) a

visão é de que são pessoas sem, / sem sentimentos ... / (...) eles não,

assim não querem saber o que você tá passando. / A: É porque (...)

eles querem receber o deles. (...) C: É isso aí, perfeito.” Linhas 217 a

252. (Anexo 4)

Ao caracterizar os proprietários de imóveis como “impacientes”, a dupla ativou

um conhecimento de mundo do senso comum mais adequado para a posição social do

personagem, o que levou – por parte dos participantes – a uma leitura adequada do

contexto.

Na questão sobre a identificação dos elementos que constroem o humor da

história 39, A e C observam a construção humorística da HQ através da quebra de

expectativas e a mudança de alinhamento da personagem, nos três quadros iniciais, com

relação ao último (de homem apaixonado para inquilino enfurecido):

“(...) / C: A gente começar a focar uma coisa e (...) ser surpreendido

(...) pela resposta que ele / fala, né? / A: Pensei que ele tava

apaixonado.É. / C: É.E ... / A: Apaixonado por uma pessoa e... / C:

(.....) pelo aluguel. (risos)” e “/ C: É o fato (...) da, do desenrolar da

história, dos quadrinhos né? / (...) A e C: É pelo fato de acharmos ... /

C: (...) que se trata de um caso amoroso, não é isso? / A: Hum, hum. /

C: Que se trata [de um relacionamento amoroso] e não de uma dívida

de aluguel. (...)” . Linhas 181 a 216. (Anexo 4)

A dupla conclui que o humor da HQ é visto na ruptura dessas expectativas ao

pensarem que a personagem estivesse se referindo a um relacionamento amoroso

(quadros 1, 2 e 3), mas se trata de uma dívida de aluguel.

Da mesma forma que na tira 1 (ELE), na tira 2 (LM), a dupla observou,

inicialmente, as informações visuais e linguísticas fornecidas pela HQ para a construção

39

“Na opinião de vocês, o que provoca o humor da história?”

Page 114: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

114

de seus eventos narrativos. Juntamente com essa série de pistas linguísticas iniciais,

buscou aliar os seus conhecimentos de mundo compartilhados a respeito do tema

desenvolvido, nesta tira, para a sua compreensão leitora e a identificação de sua

construção humorística.

Os alunos realizaram tanto na HQ em ELE quanto na de LM a leitura quadro a

quadro, buscando a obtenção do sentido global dos eventos narrativos apresentados. As

pistas contextuais verbais e não-verbais fornecidas pelos contextos auxiliaram na

percepção dos papeis sociais dos personagens, dos cenários dos eventos narrativos, o

enquadre e o alinhamento dos personagens envolvidos; assim como as estruturas de

expectativas geradas pelos quadros iniciais/ quebras de expectativas, vistas no último

quadro que provocaram a construção do humor.

A e C também empregaram esquemas discursivos similares para a compreensão

leitora tanto na HQ de Condorito quanto na tira de Piratas do Tietê, tais como: a

realização da leitura em voz alta, sendo uma atividade comum à leitura das HQs em LE

e LM associada ao ambiente escolar, geralmente feita por A e a transcrição por C da

organização dessas ideias , as trocas de turnos constantes em que A e C complementam,

discutem e acrescentam informações, a substituição de léxicos que ambos não

conhecem ortograficamente ou semanticamente por outros de valores aproximados e a

seleção de perguntas que consideraram mais fáceis para respondê-las de imediato,

deixando as mais difíceis para outra ocasião.

Os esquemas discursivos utilizados pelos alunos para a realização da leitura das

HQs 1 e 2, assim como as habilidades leitoras já mencionadas são elementos igualmente

relevantes que auxiliaram na construção de sentidos dos textos de seus efeitos

humorísticos. As estratégias de leitura empregadas independem do código linguístico,

mas das inferências que são realizadas através do contexto fornecido que podem ser

tanto em LM quanto em ELE.

Ao identificar o cenário das HQs, observou-se que A e C apoiaram-se nas pistas

não verbais dispostas na HQ em ELE para a caracterização do enquadre, enquanto na

HQ em LM o enquadramento teve como base as pistas verbais dispostas quadro a

quadro.

Com relação aos eventos narrativos, A e C utilizaram estratégias semelhantes

fundamentadas nas informações verbais contidas na sequência narrativa das vinhetas,

identificando a situação inicial, o desenvolvimento e o desfecho. Em ambas as HQs, a

Page 115: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

115

dupla apresentou dificuldades para redigir essa questão, principalmente no que se refere

a encontrar o léxico adequado ao contexto e a correção ortográfica.

A identificação dos papeis sociais da tira em ELE foi percebida prioritariamente

pela dupla através da imagem disposta na 1ª vinheta em que o personagem (juiz) é

caracterizado especificamente pelo “martelo”, localizado em sua mesa. Entretanto, na

HQ em LM o papel social do inquilino é identificado com base na pista verbal do 3º

quadro em que o personagem revela os seus problemas com a “maldita proprietária do

apartamento”, estabelecendo, desta forma, as relações sociais do contexto.

Quanto às estruturas de expectativas correspondentes ao papel social dos

personagens das tiras, observou-se que a dupla não ativou plenamente o conhecimento

de mundo sobre o papel social de juiz, na HQ de ELE, ressaltando o senso comum de

“justiça institucional”, correspondente à sua função. Na visão de mundo sobre “a

sogra”, a dupla ativou mais os conhecimentos compartilhados de suas experiências

pessoais para fundamentar a sua visão negativa nas relações familiares, também sendo

uma estratégia empregada na HQ de LM ao qualificar os proprietários de imóveis como

“impacientes”, com relação ao pagamento dos inquilinos.

A identificação do humor pela dupla foi fundamentada tanto em ELE quanto em

LM através da quebra de expectativas e da mudança de alinhamento dos personagens

nos três/quatro quadros iniciais com relação ao último. Essa ruptura do esperado levou a

dupla à percepção do desfecho dos eventos narrativos de ambas as HQs.

Page 116: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

116

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do conceito de contexto que estabelece relações com um conjunto de

regras culturais, em que o processo de significação se apresenta como uma prática

interativa, a Tese correlaciona as noções de footing, estruturas de expectativas,

esquemas de conhecimento e enquadres interativos para explicitar a construção de

compreensão leitora e humor do gênero História em Quadrinhos (HQ).

A escolha do gênero textual HQ se deve ao fato de construir o seu eixo narrativo

e contextual articulando a linguagem verbal ao suporte visual. Com base nesta noção,

analisam-se as estratégias com que os leitores-alunos constroem significados, as

interações com as HQs selecionadas na leitura quadro a quadro e como identificam o

humor através das rupturas de expectativas geradas no desfecho dos eventos narrativos.

A observação das estratégias de compreensão leitora, no contexto da construção

humorística de HQs por alunos de Ensino Médio, proporciona elementos para entender

a formas de desenvolvimento da atividade leitora na instituição escolar, assim como

alguns elementos culturais envolvidos nela.

Os dados coletados, na ficha social, permitem inferir que para a maior parte do

grupo, a atividade leitora não é vista como uma prática realizada em todos os âmbitos

sociais. A leitura é identificada como um tipo de tarefa a ser exercida prioritariamente

na esfera educacional e com caráter obrigatório. Os participantes, em sua maioria,

demonstraram não possuir o hábito de leitura massiva fora do âmbito escolar. Por outro

lado, a HQ é percebida como um gênero “menos prestigiado”, frequentado somente por

cerca da metade dos participantes e identificado como uma atividade de entretenimento

do público infanto-juvenil, pela “facilidade” dos processos da construção leitora.

Na parte relativa à atividade em duplas, os alunos que participaram das

atividades de compreensão leitora e construção humorística em LM e ELE ativaram os

seus esquemas de conhecimento compartilhados durante o processo de interação quadro

– a – quadro, no processamento das HQs. As pistas de contextualização tanto verbais

quanto visuais auxiliaram concomitantemente as duplas, na compreensão leitora tanto

na identificação do cenário narrativo quanto nos papeis sociais dos personagens,

gerando estruturas de expectativas a cada quadro e construindo o humor tecido por elas

através da observação das rupturas de expectativas, no final de cada micronarrativa.

Page 117: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

117

Tanto na HQ de Condorito (LE) quanto em Piratas do Tietê (LM), os alunos

demonstraram resultados muito próximos de leitura, principalmente no que se refere à

identificação do cenário narrativo das HQs e na identificação dos papeis sociais dos

personagens, tendo como base o componente visual e verbal. Apenas duas questões

tiveram maior discrepância quanto à percentagem de duplas com respostas satisfatórias:

no relato dos eventos narrativos e na identificação do humor/quebras de expectativas.

Quanto à identificação narrativa dos eventos, observou-se que 90,6% das duplas tendem

a se apoiar mais nas pistas linguísticas fornecidas na HQ de LM para a correlação dos

fatos. Já na de ELE, apenas 58,6% realizaram o relato do evento narrativo relacionando

às vinhetas quadro – a - quadro, utilizando-se das pistas visuais e linguísticas fornecidas

pelo contexto de forma simultânea.

Na identificação do humor/quebras de expectativas em LM, percebeu-se que

apenas a metade das duplas (50,3%) correlacionou as expectativas dos quadros iniciais

com a ruptura do último quadro. A outra metade ativou as suas experiências de mundo

relativo ao papel social de inquilino, porém sem relacioná-las diretamente ao evento

situacional da HQ. Em ELE, 84,2% ativaram o conhecimento de mundo sobre sogras, o

que auxiliou na percepção da construção humorística final da HQ.

O protocolo fornecido pela dupla A e C documenta as estratégias interativas dos

participantes no processo da atividade de compreensão leitora proposta em ambas as

HQs para a co-construção de sentidos no texto.

Nas HQs analisadas, os alunos A e C apresentaram estratégias sócio-cognitivas

semelhantes ao responder às questões de compreensão leitora propostas tanto na HQ de

Condorito (ELE) quanto na de Piratas do Tietê (LM). A dupla buscou interagir com as

pistas contextuais verbais e visuais fornecidas em cada evento narrativo para a

percepção dos papeis sociais dos personagens e do cenário envolvido em cada contexto,

observar os enquadres/ as mudanças de enquadres geradas pelos personagens quadro – a

- quadro e ativar esquemas de conhecimento compartilhados e estruturas de expectativas

fornecidas nos quadros iniciais/ quebras de expectativas vistas no último quadro, que

provocaram a construção do humor.

Além desta série de estratégias sócio-cognitivas observadas, A e C empregaram

estratégias interativas auxiliares para a compreensão leitora tanto na HQ de Condorito

quanto na de Piratas do Tietê, tais como: a realização da leitura em voz alta, /

transcrição por C da organização dessas ideias , as trocas de turnos constantes em que

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118

complementam, discutem e acrescentam informações, a substituição de ítens lexicais

desconhecidos por outros aproximados e a seleção de perguntas a serem respondidas

primeiramente. Essa série de estratégias utilizadas pela dupla são elementos igualmente

relevantes que auxiliaram na construção de sentidos dos textos e de seus efeitos

humorísticos.

O grau de dificuldade/ facilidade na construção leitora e humorística das HQs

observadas na análise da atividade leitora de todos os participantes e no processo

discursivo oral de A e C são bastante similares. O fato da HQ Piratas do Tietê estar em

LM não significou ser uma leitura mais facilitada para os alunos, pois as estratégias de

leitura empregadas independem da língua, mas das inferências que são realizadas

através do contexto fornecido que podem ser tanto em LM quanto em ELE. O não

entendimento das pistas contextuais expostas nos textos, esquemas de conhecimento

mal compartilhados e a não percepção das quebras de expectativas, indicadas na

situação final da narrativa levaram a divergências de interpretação e a não identificação

humorística, por parte de algumas duplas, tanto na análise de Condorito quanto na de

Piratas do Tietê.

A Tese, embora limitado à compreensão leitora e à construção do humor em

HQs em ELE, pode ser também estendido à análise do gênero em outras Línguas

Estrangeiras e em outros gêneros textuais, tais como: a piada, a propaganda, programas

de rádio, televisão, dentre outros. A associação entre a compreensão leitora e a

construção do humor em diversos gêneros textuais permite uma visão ampla das pistas

mais empregadas pelos múltiplos contextos, assim como também mostra como cada

componente textual fornecerá ao leitor uma série de informações fundamentais e

específicas para a construção da coerência e da coesão textual do humor.

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119

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Page 126: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

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Convenções para a transcrição:

(Adaptado de: Tannen, D & Wallat, C. Enquadres interativos e esquemas de

conhecimento em interação. In Ribeiro, B.T & Garcez, P.M. (Orgs), Sociolingüística

Interacional: Antropologia, Lingüística e Sociologia em Análise do Discurso, (p.183-

214). Edições Loyola, SP,2ª edição, 2002.

Colchetes [ligando duas linhas indicam superposição;

[duas vozes ouvidas ao mesmo tempo

/?/ indica palavras inaudíveis

: indicam alongamento de som

.. indicam pausa breve menos de meio segundo

... indicam pausa de no mínimo meio segundo

sublinhado indica tonicidade principal

LETRA maiúscula indica ênfase

Adaptados:

(rs) indica risos

Negrito indica animação de voz

Sublinhado indica mudança do tom de voz

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127

Anexos:

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133

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134

Ficha social

Ficha social

Nome (somente o primeiro):

________________________________________________.

Idade: ____________________________. Bairro onde mora:

_______________________.

Série: _____________________________.

1) Há quanto tempo você estuda espanhol?

( ) 1 ano

( ) De 1 a 2 anos

( )De 2 a 5 anos

( ) Mais de 5 anos

2) Você já havia estudado espanhol antes de ingressar no Ensino médio?

( ) Sim ( ) Não

3) Caso a resposta anterior seja afirmativa, onde e quanto tempo?

Colégio ________________________________________. _____ ano (s).

Colégio ________________________________________. _____ ano (s).

Colégio ________________________________________. _____ ano (s).

4) Você trabalha?

( ) Sim ( ) Não

5) Caso a sua resposta anterior seja afirmativa, qual é a sua profissão?

___________________________________________________________________.

6) Você tem o hábito de ler freqüentemente fora da escola?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

7) Que tipo de leitura(s) você mais gosta?

( ) Revistas

( ) Jornais

( ) Histórias em Quadrinhos

( ) Livros

( ) Outros: ___________________.

8) Quantos livros você lê por ano?

( ) Nenhum

( ) De 1 a5 livros

( ) De 5 a10 livros

( ) Mais de 10 livros

9) Você tem o hábito de ler Histórias em Quadrinhos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

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135

10) Caso a resposta anterior seja afirmativa, quais?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______

11) O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?

( ) Ver TV(novela, futebol, noticiário ...

( ) Navegar na internet.

( ) Ir ao cinema, teatro, festas, restaurantes, bailes ...

( ) Ler um livro

( ) Outros. Quais? ____________________________________________________.

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136

Questões aplicadas – Tira 1(ELE)

Nome: _____________________. Série:________.

Nome: _____________________. Série:________.

1) Leiam a tira de quadrinho a seguir e respondam as questões propostas em português:

Tira 1

a) Com base na ilustração acima, quais são os papeis sociais representados pelos

personagens que compõem a história?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Em que tipo de instituição estão os personagens?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c) Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d) Na opinião de vocês, o que se espera de um juiz?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e) A resposta dada pelo juiz (terceiro quadrinho) seria a resposta esperada? Por quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f) Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g) Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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137

Questões aplicadas – Tira 2 (LM)

Nome: _____________________. Série:________.

Nome: _____________________. Série:________.

1) Leiam a tira de quadrinho a seguir e respondam as questões propostas em português:

a) Em que local está o personagem da tira acima?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c) A resposta dada pelo personagem (4º quadrinho) seria a resposta esperada? Por quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d) Com base na leitura do quadrinho responda:

- Qual é o papel social representado pelo personagem com relação à proprietária do

apartamento?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

- Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido no texto?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

- Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 138: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

138

Resultado da ficha social:

Total: 256

Por série:

1º ano: 100

2º ano: 134

3º ano: 22

Percentagem e número de pessoas no total:

1) Há quanto tempo você estuda espanhol?

* Menos de 1 ano

( ) 1 ano

( ) De 1 a 2 anos

( )De 2 a 5 anos

( ) Mais de 5 anos

* Não responderam

17/ 6,4%

82/ 33,8%

75/ 28,5%

50/ 19,0%

24/ 9,1%

8/ 3,0%

2) Você já havia estudado espanhol antes de ingressar no Ensino médio?

( ) Sim

126/ 49,0%

( ) Não

130/ 51,0%

4) Você trabalha?

( ) Sim

56/ 21,2%

( ) Não

200/ 78,8%

5) Caso a sua resposta anterior seja afirmativa, qual é a sua profissão?

Total de 56.

Pedreiro 2/ 3,5%

Doméstica 2/ 3,5%

Babá 2/ 3,5%

Cozinheiro 2/ 3,5%

Vendedor 3/ 5,3%

Aux.administrativo 2/ 3,5%

Aprendiz de panificação 1/ 1,7%

Jogador 1/ 1,7%

Serralheiro 1/ 1,7%

Garçom 2/ 3,5%

Empresário 1/ 1,7%

Atendente 5

Instrutor 1/ 1,7%

Tec. em medicina veterinária 1/ 1,7%

Recepcionista 1/ 1,7%

Eletricista 2/ 3,5%

Explicador 4/ 7,1%

Page 139: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

139

Web designer 1/ 1,7%

Balconista 1/ 1,7%

Aux. de mecânico 3/5,3%

Criador de animais 1/ 1,7%

Secretária 3/5,3%

Téc. de som 1/ 1,7%

Jogador 2/ 3,5%

Aux. de serviços gerais 2/ 3,5%

Descarregador 2/ 3,5%

Chaveiro 1/ 1,7%

Dona de casa 1/ 1,7%

Costureira 2/ 3,5%

Mensageiro de hotel 1/ 1,7%

Não responderam 2/ 3,5%

6) Você tem o hábito de ler freqüentemente fora da escola?

( ) Sim

102/ 40%

( ) Não

26/ 10,2%

( ) Às vezes

127/ 49,5%

* Não respondeu: 1/ 0,3%

7) Que tipo de leitura(s) você mais gosta?

( ) Revistas

( ) Jornais

( ) Histórias em Quadrinhos

( ) Livros

( ) Outros: ___________________.

* Não respondeu

133/ 50,5 %

119/ 45,2 %

57/ 21,6 %

163/ 61,9 %

23/ 8,7 %

2/ 0,7 %

8) Quantos livros você lê por ano?

( ) Nenhum

( ) De 1 a5 livros

( ) De 5 a10 livros

( ) Mais de 10 livros

* Não respondeu

36/ 13,6 %

168/ 63,8%

43/ 16,3%

13/ 5%

3/ 1,1%

9) Você tem o hábito de ler Histórias em Quadrinhos?

( ) Sim

66/ 25,5%

( ) Não

85/ 33,0%

( ) Às vezes

105/ 41,5%

10) Caso a resposta anterior seja afirmativa, quais?

Respostas de SIM e ÀS VEZES: 123

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140

Turma da Mônica (jovem) 69/ 56,0%

Marvel 22/ 17,8%

Luluzinha jovem 5/4%

Mickey 5/ 4%

Mangá 11/ 9%

Mafalda 1/ 0,8%

Menino Maluquinho 7/ 5,7%

Garfield 2/ 1,6%

Smilinguido 1/ 0,8%

He-man 1/ 0,8%

11) O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?

( ) Ver TV(novela, futebol, noticiário

...

( ) Navegar na internet.

( ) Ir ao cinema, teatro, festas,

restaurantes, bailes ...

( ) Ler um livro

( ) Outros. Quais? __________.

167/ 63,4%

248/ 94,2%

143/ 54,3%

71/ 26,9%

61/23,1%

Page 141: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

141

Mapeamento dos principais tipos de respostas na HQ em ELE : 132 questionários

(9 individuais e 123 em dupla)

Questão a: Com base na ilustração acima, quais são os papeis sociais representados

pelos personagens que compõem a história?

Juiz, réu (acusado, suspeito) e advogado (81)

Juiz e réu (acusado, condenado) (27)

Juiz (4)

Papéis judiciais (1)

Juiz e advogado (4)

Juiz, advogado e acusador (réu) (4)

De um juiz e de um genro (1)

Um juiz e um meliante (2)

Um juiz e um “químico” (acusado) (1)

Juiz, delegado e réu (2)

Juiz, advogado e cidadão (2)

Juiz, médico e advogado (1)

Sogra e genro (2)

Questão b: Em que tipo de instituição estão os personagens?

Tribunal ou fórum (1)

Tribunal (de justiça, judiciário, judicial) (108)

Departamento jurídico (instituição jurídica) (7)

Num fórum (de justiça, judicial) (12)

Em um lugar aonde há muitos casos de pessoas que são julgadas pelo juiz (1)

Delegacia (1)

O juiz está condenando o réu de ter envenenado a sogra (1)

O juiz, assassino (1)

Page 142: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

142

Questão c: Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:

(Falar da narrativa linear da tira: abstract, complicação, coda...)

O réu foi acusado de ter envenenado a sua sogra e tê-la matado, o juiz o condenou a ser

preso para sempre e ainda pediu o veneno para si (78)

O juiz condenou o réu culpado por dar o veneno a sua sogra (37)

O juiz o considerou culpado por ter envenenado a sogra dele (1)

Um julgamento (assassinato) (4)

Ocorreu discussão e briga no tribunal (2)

Envenenamento da sogra (1)

O homem criou uma fórmula para matar a sua sogra (e matou), o juiz condenou ele e

depois pediu a fórmula (1)

O médico receitou uma droga para a sogra com uma letra não legível e matou ela. E está

sendo julgado (1)

Foi condenado a prisão perpétua, pois não escreveu de fórmula legível o veneno dado a

sogra (2)

O juiz perguntou se o réu usou um veneno para matar a sogra e o condenou quando o

réu não respondeu qual era a fórmula do veneno que matou a sogra (2)

O juiz ficou encabulado, porque o advogado não escreveu com letra legível a fórmula

para matar a sogra (1)

O juiz perguntou ao acusado que tipo de veneno ele deu a sua sogra e o condenou a

prisão perpétua. O advogado perguntou se era tudo. O juiz falou não. Escreveu com

letra legível e clara (1)

O juiz perguntou o réu sobre que tipo de veneno deu a sogra, o veneno mata

instantaneamente. Ele foi condenado a prisão perpétua porque a fórmula estava com

letra pequena (1)

.

Questão d: Na opinião de vocês, o que se espera de um juiz?

De uma prisão para essa pessoa, um julgamento justo, seriedade, que faça justiça,

condene corretamente, imparcial (126)

Page 143: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

143

Ser absolvido (1)

Que ele prendesse (a prisão perpétua) e não pedisse a fórmula do veneno (5)

Questão e: A resposta dada pelo juiz (terceiro quadrinho) seria a resposta esperada? Por

quê?

Não porque se espera de um juiz uma ideia diferente (que cumprisse a lei) e não pedir a

fórmula do veneno (foi irônico) (96)

Não, pois não se espera de um juiz o desejo de matar a sua sogra (1)

Não (1)

Não, porque ele já tinha condenado o réu a prisão perpétua (1)

Não, pois não vimos a escrita do réu (1)

Não, porque isso seria um abuso de autoridade (1)

Não, porque não fazia diferença, porque a sogra estava morta (1)

Não, porque eles brigaram no tribunal (1)

Não, seria que ele condenasse o réu por matar uma pessoa e não por escrever a fórmula

errada (1)

Certo (1)

Sim, pois é a obrigação de todo o juiz (4)

Sim, porque ele não sabia a fórmula do veneno (1)

Sim. Porque o juiz não esperava uma resposta tão inútil do advogado (1)

Porque o homem se acusou (1)

Escreveu a fórmula do veneno com letra legítima (1)

O juiz esperava o julgamento desta pessoa (1)

Porque ele assassinou a sogra e confessou o crime (15)

Eles querem descobrir a fórmula do veneno (1)

Em branco (2),

Page 144: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

144

Questão f: Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?

Que todo homem não gosta de sua sogra e deseja matá-la, uma megera, não são tão

queridas, chata, não presta, ruim, não desejada ... (119)

A morte dela, morreu envenenada, (vítima e odiada) (10)

Em branco (2)

Direito dos idosos, tem que ser aceito por qualquer um de igual para igual, acho que é

isso (1)

Questão g: Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua

resposta:

O que provoca é o juiz pedir (a fórmula do, receita (?)) veneno para matar sua sogra

também (com letra clara e legível/ ironia) (3º quadrinho) (116)

O envenenamento da sogra (5)

Porque eles brigam no tribunal (2)

Quando o acusado (?) pergunta se é só isso; mostra que ele não se arrependeu e a

punição não foi tão ruim. O jeito que a sogra morreu (1)

O juiz não prendê-lo (1)

Porque o juiz é papagaio (1)

O juiz falando para o condenado aprender a escrever com letra clara e legível (1)

Porque o réu não se importou com a prisão perpétua, mas sim em ter que escrever a

fórmula do veneno (1)

O fato dele ter sido preso por não saber escrever a fórmula do veneno, porque não se

condena uma pessoa por errar a gramática, mas sim matar alguém (1)

Que ao invés do juiz dar a pena certa, ele libera o acusado se ele der a fórmula do

veneno (1)

O espanto e o medo do réu na hora da condenação (1)

Ele não sabe que veneno deu a sua sogra (1)

Page 145: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

145

Mapeamento dos principais tipos de respostas na HQ de LM : 132 questionários (9

individuais e 123 em dupla)

Questão a: Em que local está o personagem da tira acima?

Em seu apartamento (casa) (113)

Na cozinha (19)

Questão b: Conte com suas palavras o que ocorreu na tira:

O personagem estava preocupado pensando em uma mulher (parecia ser sua namorada),

só que esta mulher era a proprietária do apartamento dele (sofrendo de amor) (120)

Ele estava triste porque ela aumentou o aluguel (2)

O personagem está impossibilitado de utilizar o apartamento (1)

Ele está em casa pensando como sair e se ele sair, ele vai ser despejado (1)

O homem pagou o seu aluguel e não sobrou dinheiro para poder comer (2)

É porque está apaixonado pela dona do apartamento (1)

Ela é uma sanguessuga (1)

Porque a proprietária não chegava (2)

O aluguel está muito caro (2)

Questão c: A resposta dada pelo personagem (4º quadrinho) seria a resposta esperada?

Por quê?

Não. Porque dava a impressão que ele amava a mulher. Parecia que ele falava de amor,

que estava apaixonado (90)

Não, porque ele esperava que ela ia esperar ele arrumar o dinheiro para pagar o aluguel

(1)

Não. Porque o fato dele ter pago o aluguel e não ter arcado com outras despesas, não é

Page 146: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

146

um fato esperado (1)

Não. Porque esta tirinha no começo é imprevisível (4)

Não, pois é culpa dele não ter o dinheiro é dele e não do proprietário (2)

Não, porque ele não esperava a proprietária (1)

Não, porque o aluguel estava alto (1)

Sim, pois o preço do aluguel está muito caro (1)

Sim, porque ele estava bastante triste, nervoso com tudo isso (20)

Sim, pois ele não pode realizar suas atividades de costume no imóvel que se encontra

(1)

A mulher é muito chata porque ela falava toda hora em pagar (2)

Por causa da maldita proprietária (2)

Porque ele acha que vai ser despejado do apartamento onde mora (1)

Porque o personagem espera que a mulher dele venha a um apartamento dele para

conversar (1)

Porque ele passou a noite inteira sem dormir e sem comer (4)

Questão d1: Qual é o papel social representado pelo personagem com relação à

proprietária do apartamento?

Inquilino (morador do imóvel) (97)

Como um cidadão (2)

Desempregado (2)

Ele é o subordinado da proprietária (1)

O papel de devedor (4)

De cobrar o aluguel (2)

O aluguel do apartamento (2)

Porque ele tem que pagar o aluguel (3)

Em branco (1)

Aluguel (1)

Irritação, preocupação, raiva (12)

Pobre (1)

Contrair a tirinha (?) (1)

Page 147: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

147

Que está sem dinheiro para fazer compra por causa do aluguel (1)

A relação deles não parece muito amigável (1)

A maldita mulher (1)

Questão d2: Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido

no texto?

Que ele quer sempre o dinheiro certo todo mês, pessoas ruins, só sabem cobrar, que

perturbam, se importa mais com o pagamento, inflexíveis (118)

A favor do mundo (1)

Que muitas vezes o aluguel é muito caro (e não dá pra pagar e as pessoas ficam super

preocupadas, pois não tem como pagar) (4)

Em branco (5)

Que os proprietários não deveriam cobrar (2)

Que ele não dá nenhum sinal de vida e ele chega a procurar outro lugar para morar (1)

Aluguel (1)

Questão d3: Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a sua

resposta:

O ódio que ele sente da proprietária por cobrar o aluguel (3º quadro) (40)

Que em vez de falar que estava com saudades (problemas) de sua esposa ou mulher,

tudo se tratava de uma conta de aluguel (67)

Que ele não dormia, nem comia, ficava pensando no aluguel (19)

Alguma coisa ela colocou na carta que ele não gostou de repente e aumentou o aluguel

ou é mandado embora (1)

Que ele não pode sair porque senão ele perde seu apartamento (1)

Ele pensando que a mulher parece gostar dele, mas não é (1)

Uma piada (1)

Alguns professores engraçados, meio malucos (1)

Ele era apaixonado pela proprietária do apartamento (1)

Page 148: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

148

Transcrição da análise oral das tiras de A e C

1 (...) C: Nome ... Aqui no caso nome só meu ou todos os dois: o meu e o dela no caso

né? 2 Vai... (......)

3 A: Precisa botar sobrenome?

4 C: Hã?

5 A: Sobrenome?

6 C: Não, não sei, se é o nome só ou o primeiro nome (...)

7 A: (...) Pode botar? (...)

8 C: Bota...Carlos Alberto.

9 A: Carlos Alberto?

10 C: Quer que a gente leia em voz alta, né? Vai. (...) (lendo) “Leiam a tira ... de

quadrinho 11 a seguir e respondam as questões propostas em português”. .. Que tipo de

... veneno ... 12ah tá, tá , ah tá tá em espanhol.[C: Hum] (lendo) “Leiam a tira ... de

quadrinho a seguir e 13 respondam as questões propostas em português”. (...) Não tá

certo é isso mesmo (...) aí 14 vai vai virar uma bagunça só.

15 A: Não aqui. Eu leio uma folha e a gente lê outra.

16 C:Ah tá, então lê isso aí.

17 A: (lendo) “Qué tipo de veneno le dió a su suegra?”

18 C: Risos.

19 A: Não, não rola.

20 C: É.

21 A: (lendo) “Aún no lo sabe (....) pero la mató instantaneamente. Lo condeno a cadeia

22 per perpetua. Eso es tudo? No! Además escribirá la fórmula del veneno con letra

clara 23 y legible!”

24 A e C: (Risos)

25 C: Com base...

26 A: (lendo) “Com base na ilustração acima quais são os papéis sociais representados

27 pelos personagens que compõem a história?”

28 C: Um é o juiz (...) que tem um martelinho aqui. [A:É] e pergunta (...).

29 A: Não é o juiz, não é o réu?

31 C: E o advogado.

32 A: E o advogado. Então põe juiz (...)

33 C:Peraí ... juiz, réu e o advogado. Réu? Réu, né?

34 A: (lendo) “Que tipo de instituição estão os personagens?” Num tribunal, né?

35 C: (lendo) “Que tipo de instituição estão os personagens? Ah, num, num tribunal.

36 A: Num tribunal de justiça?

37 C:Tribunal, coloca tribunal (...)

(....)

38 A: (lendo) “Conte com suas palavras o que ocorreu na tira”

39 C: Com suas palavras ...

40 A: Com suas palavras ...

41 C: Com suas ... Risos. O que aconteceu? [A: É] Um homem tava sendo acusado, um

42 homem ... [A: de ter envenenado a sogra] a sogra e (...) no final o juiz queria saber

43 (risos e A) exatamente como ele teve o momento, provavelmente para matar a sua

44 própria sogra. [A:[E também] vai.

45 A: Vai falando aí que eu vou escrevendo.

46 C: O homem ...

Page 149: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

149

47 A: O réu.

48 C: É o réu, o réu estava ... [A: estava sendo acusado] de invenenar, de envenenar a

sua 49 sogra ...

50 A: Sua sogra

51 C: E o juiz (...) interessado em saber ...

52 A: Peraí pode botar assim. E o juiz é, após condená-lo por ...

53 C: Isso por prisão perpétua.

54 C: Peraí, peraí e o juiz após condená-lo à perpétua ou a prisão perpétua.

55 A: Hã, (...) (escrevendo) prisão perpétua ...

56 C: Perpétua, interessou-se ou queria saber ...

57 A: (escrevendo) Interessou-se?

58 C: É verdade, interessou-se em saber, não é isso? Interessou-se...

59 A: Interessou-se

60 C: Com dois “s”, interessou-se.

61 A: Só um?

62 C: Interessou em saber, interessou...

63 A: Ih meu pai ...

64 C: Interessou-se. (Risos) (...)

65 A: Tem corretivo aí?

66 C: Tem, eu acho que tem ...

67 A: É melhor substituir, eu tenho essa mania.

68 C: Interessou-se.

69 A: Ah agora eu fiquei curiosa.

(Risos)

70 C: Tem que apertar pra baixo (...) (Risos). (...) Fica falando essas coisas não que tá

71 gravando. (Risos)

72A: Eu nem ligo, (...) melhor que escrever errado ...

73 C: Interessou-se.

74 A: (escrevendo) Não peraí, condená-lo a prisão perpétua, quis saber ...

75 C: A fórmula do veneno.

76 A: (escrevendo) A fórmula del veneno.

77 C: (...) Vai.

78 A: (lendo) “Na opinião de vocês o que se espera de um juiz?”

79 C: Justiça. (...) Não é, não é o que você espera de um juiz?

80 A: Com certeza. Sempre.

(............)

81 A: (lendo) “Leiam a tira de quadrinho a seguir e respondam as questões propostas

em 82 português. Prossiga. Piratas do Tietê. Laerte.

83 C: (lendo) “Tantas noites não durmo. Tantos dias não como. Tudo por causa dessa

84 mulher. A maldita proprietária do apartamento.”

(Risos)

85 A: do apartamento. Legal. Essa é um pouco mais fácil que a outra. (Risos) (...) tem

que 86 ler em português.

87 C: (lendo) “Em que local está o personagem da tira acima?”

88 A: Em casa.

89 C: Na cozinha.

90 A: Em casa, na cozinha. (...)

Page 150: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

150

91 C:É isso. (...)

92 A: Vou botar em casa.

93 C: Em que local (...) em casa, no apartamento, em seu apartamento, porque ele tá

94 falando de apartamento. Em seu apartamento.

(.....)

95 C: No seu apartamento.

96 A e C: (lendo) “Conte com suas palavras o que ocorreu na tira.”

97 C: O homem estava preocupado, estava ....

98 A: O homem não dormia.

99 C: Não dormia.

100 A: Não (...) tinha noites que o homem não dormia devido ...

101 C: Ao, por causa de uma mulher.

102 A: Não é devido, é o, é ...

103 C: É a mulher, ele falou era por causa de uma mulher, depois na última (...) que ele

104 falou que era a proprietária do apartamento. (...) Por causa ...

105 A:É. Não peraí vamos organizar isso aí.

106 C: Tá. (lendo) “Conte com suas palavras o que ocorreu na tira.”

107 A: Tá. Ele não dormia.

108 C: Não dormia por causa de uma mulher porque devia a proprietária.

109 A: A mulher. A proprietária.

110 C: Pronto. Não dormia por causa ...

111 C: O homem ...

112 A: O homem não dormia ... (os dois)

113 C: Por causa, por dever, [A: por dever] por estar devendo tanto faz, por dever, põe

114 dever mesmo, por dever o aluguel, não é isso mesmo? A sua...

115 A: A proprietária.

116 C: A sua ... senhoria.

117 A: A proprietária do apartamento.

118 C: A proprietária do apartamento, propri... propri... propriedade ...

119 A: Proprietária do apartamento.

120 C: Do apartamento.

(....)

121 A: (lendo) “A fala do personagem (4º quadrinho) [A: Hum] seria algo esperado?

Por 122 quê?”

123 A: Não, não seria algo esperado.

124 C: Como é que é?

125 A: (lendo) “A fala do personagem (4º quadrinho) [C: Hum] seria algo esperado?

Por 126 quê?” Não porque aqui é ... (lendo) “Tantas noites não durmo, tantos dias não

como, 127 tudo por causa dessa mulher.” Aqui eu comecei a entender que (...) era um

128 relacionamento amoroso, [C: isso, isso, isso] enfim e aí ele no final ele falou a

maldita 129 proprietária do apartamento, então é ...Seria algo esperado? Não.

130 C: Não.

131 A: Por quê?

132 C: (...) ele quis dizer que fosse algo relacionado a sentimentos.

133 A: Por, não peraí

134 C: Que estava triste, abatido (...) que dava-se a entender que o sentimento (risos)

fosse 135 por causa de relacionamento amoroso, sentimental ...

136 A: Porque ...

137 C: Porque sim (risos).

Page 151: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

151

138 A: (escrevendo) Porque dava a entender ...

139 C: Dava a entender ou dava-se a entender?

140 A: Dava a entender, eu vou perguntar (...) que é ...

141 C: Que seu ...

142 A: (escrevendo) (...) Que as noites sem dormir e os dias sem comer (.....) devido ...

143 C: Devido ao relacionamento amoroso, amoroso. (risos)

144 A: (lendo) “Com base na leitura do quadrinho responda (...) Qual é o papel social

145 representado pelo personagem com relação à proprietária do apartamento?” Que ele

é 146 o inquilino.

147 C: Papel social? Inquilino. (....) Inquilino. (...)

148 A: (escrevendo) O personagem ... representa ... um inquilino?

149 C: Inquilino. (...) Inquilino ou enquilino?

150 A: Acho que é in. (lendo) “Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis

está 151 subentendido no texto?” Acho que ...

152 C: As pessoas ...

153 A: Assim, eles (...) cobram constantemente, né?

154 C: Eles não querem nem saber se você está sem comer, sem ... é né? A: [É ...assim

... 155 ]... Se ... você tem contas pra pagar Eles querem receber o dinheiro deles. (lendo)

156 “Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido no

texto?” 157 Visão de mundo, visão de mundo ...

158 A: Assim de uma forma geral, de do que nós vivemos no caso.

159 C: São cobradores imparciais, né? São imparciais, imparciais não. (....) É são

160 imparciais, são cobradores imparciais, imparcial é aquela pessoa que hum, é, não?

161 A: É. Eles são cobradores ...

162 C: Sem sentimento?

163 A: Não.

164 C: Algo que, que fale isso, uma palavra que ... cobradores (...) acho que a palavra

165 imparcial ...

166 A: Não, não vai ficar bom não.

167 C: Não?

168 A: (lendo) “Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está

subentendido 169 no texto?”

170 C: São pessoas ...

171 A:(...) Compulsivos? Não.(...) Cobram, cobram ...

172 C: Eles cobram o que lhes pertencem, mas eles não tão, eles não querem saber se

você 173 tá podendo pagar ou não. Eles querem receber. São cobradores ...

174 A: Gente a palavra tá na ponta da língua, mas cadê?

175 C: Cobradores ...

176 A: Impacientes?

177 C: Acho que a palavra imparcial pode ser. (.....) Imparcialidade.

178 A: Impaciente, não fica bom não?

179 C: Não (...)são cobradores, impaciente é aquela pessoa, são cobradores (...) pula

essa 180 depois a gente faz.

181 A: Tá. (lendo) “Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história?

Justifiquem 182 a sua resposta.”

(Risos)

(...)

183 C: A gente começar a focar uma coisa e (...) ser surpreendido (...) pela resposta que

ele 184 fala, né?

Page 152: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

152

185 A: Pensei que ele tava apaixonado.É.

186 C: É.E ...

187 A: Apaixonado por uma pessoa e...

188 C: (.....) pelo aluguel. (risos) (....) Vamos lá.

189 A: Vamos lá. (risos). ... (lendo) “Na opinião de vocês, o que provoca o humor na

190 história? Justifiquem a sua resposta.” É o fato ...

191 C: É o fato (...) da, do desenrolar da história, dos quadrinhos né?

192 A: Peraí.

193 C: Não. (...) É o fato de que dá a entender que ele esteje falando de amor, de

194 sentimento ...

195 A: (escrevendo) É pelo fato, é pelo fato?

196 C: É pelo fato ...

197 A: Hã.

198 C:É pelo fato que a história...

199 A: Não peraí.

200 C: A história não. A...

201 A: (escrevendo) É pelo fato de entendermos...

202 C: Subentendermos... é pelo fato que subentende-se que...

203 A: Não. Não gostei.

204 C:É subentende-se, é não.

205 A: É pelo fato [C: de que ... ] de (...) acharmos que ele se refere a um

relacionamento 206 amoroso.

207 C: Acharmos?

208 A:É acharmos (...)

209 A e C: É pelo fato de acharmos ...

210 C: (...) que se trata de um caso amoroso, não é isso?

211 A: Hum, hum.

212 C: Que se trata [de um relacionamento amoroso] e não de uma dívida de aluguel.

213 Simples e rasteiro. (...)

214 C: E não de uma dívida ...

215 A: (escrevendo) de uma dívida. (.....) É pelo fato de acharmos que se trata de um

216 relacionamento amoroso e não de uma dívida.

217 C: Isso. Agora volta lá. (lendo) “Que visão de mundo sobre os proprietários...”

218 A: Eles são cobradores impacientes, eles são

(......)

219 C: Agora pegou, né?

220 A: Peraí.

221 C: A visão é que não importam os seus problemas, eles querem receber.

222 A:É. Eu pensei assim, é (...) as pessoas (...) os devedores no caso não querem ser

223 perturbados, né? por eles. (...) é a dívida eterna Digamos assim, entre aspas (...).

224 (lendo) “Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está subentendido

no 225 texto?” Eu acho que é isso, né? (...)

226 C:A visão de mundo não é só a do proprietário de imóvel, essa é a pergunta, né?

(....) 227 A visão de mundo, a visão é de que são pessoas, a visão é de que são pessoas

sem,

228 sem sentimentos ...

229 A: Até agora a (....) que eu achei melhorzinha foi sem paciência, não querem

esperar a 230 pessoa ter dinheiro e fica cobrando em cima, em cima assim. Porque são

todos assim.

Page 153: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

153

231 C:É eles não tem, eles não, assim não querem saber o que você tá passando.

232 A: É porque (...) eles querem receber o deles. É eu acho assim que eles são muito

233 impacientes. E não tem, é não sei ...

234 C: Bota isso aí, são impacientes ...

235 A: (...)(lendo) “Que visão de mundo sobre os proprietários de imóveis está

236 subentendido no texto?” (escrevendo) De uma forma geral ...

237 C: Que de uma forma geral (...) Ah bota assim. São pessoas que não se importam

com 238 o seu problema. Eles querem receber o aluguel.

(....)

239 A: (escrevendo) De uma forma geral ...

240 C:São pessoas, de uma forma geral são pessoas que não se importam

241 A: São pessoas ... (escrevendo)

242 C: ... que não se importam (...) se você tem ou não (...) cê pulou, cê pulou, pula,

pula, 243 pula, pula ...

244 A: Peraí. De uma forma geral são pessoas que não se importam, hum? (escrevendo)

245 C: Não se importam com seus, com suas dívidas, (...) querem receber.

246 A: Não se importam com as suas (escrevendo) ...

247 C: Com a sua, com a sua [A:condição] financeira, eles querem receber o aluguel

248 devido, o devido aluguel. Receber o devido aluguel.

249 A: Receber ... (escrevendo)

250 C: O devido aluguel.

251 A: Peraí: “Que de uma forma geral são pessoas que não se importam com a sua

252 condição financeira e querem receber o devido aluguel” (lendo)

253 C: É isso aí, perfeito.

254 A: É só pra apagar esse, esse aqui.

(.....)

255 C: Acabou?

256 A: Acabou.

(......) Referente ao texto de Condorito, questões e, f e g.

257 A: (lendo) “A resposta dada pelo juiz (terceiro quadrinho) seria a resposta, a

resposta 258 esperada? Por quê?” Peraí ... Hum ...

259 C: No terceiro?

260 A: É. Não ...

261 C: É no terceiro.

262 A: Não.

263 C: É no terceiro, terceiro. (....)

264 A: Hum ... é ...

265 C:(lendo) “Además escribirá la fórmula del veneno con letra clara y legible.” (...)

Não 266 era esperado ...

267 A: Por quê?

268 C: Por entender que o juiz estava interessado na fórmula do veneno que matava a

269 sogra. (Risos).

270 A: A gente pode botar assim, porque hum, peraí ....

271 C: (...) Não se espera do juiz o interesse na fórmula do veneno ... em letras legíveis

...

272 A: Aí. (escrevendo) Porque ... vai falando.

273 C: Porque não se espera ...

Page 154: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

154

274 A: (escrevendo) Não era de se esperar ...

275 C: Não era de se esperar que o juiz, (...) após uma condenação se interessasse no

276 veneno.

277 A: (escrevendo) Porque não era de se esperar que o juiz...

278 C: Que o juiz se interessasse pelo veneno. Pronto.

279 A: (escrevendo) Após... A condenação ...

280 C: A condenação, viesse a se interessar, [A: Hum, hum ...] viesse a se interessar,

né? 281 Viesse a se interessar pelo veneno que mata a sogra.

282 A: Pelo veneno tomado pela sogra?

283 C: Não pelo veneno que mata a sogra.Dá pra escrever.

284 A: (escrevendo) Pelo veneno ...

285 C: Que mata a sogra. A graça, a graça tá aí.

(...)

286 A: (lendo) “Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?”

287 A e C: (Risos) (.....)

288 A: (lendo) “Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no texto?” Que as

289 sogras ...

290 C: São dignas de nós ...

291 A: (....) (Risos)

292 C: A visão é essa, a visão de mundo em relação a sogra é que sogra não presta.

Sogra 293 merece morrer.

294 A: É.

295 C: A visão é que a sogra, a visão é que as sogras são odiadas pelos seus genros.

(...)

296 A: A visão ... (lendo) “Que visão de mundo sobre a sogra está subentendido no

texto?” 297 Que...

298 C: Que todas as sogras ...

299 A: Que as sogras ...

300 C: As sogras ... são ...

301 A: (escrevendo) Em geral ...

302 C: Em geral, as sogras em geral. Essa é a visão. Que as sogras em geral são (.....)

303 piores que madrastas. (Risos)

304 A: ( risos) (escrevendo) Sempre odiadas ... (risos)

305 C: Sempre odiadas pelos seus genros. Pronto.

(..........)

306 A: (lendo) “Na opinião de vocês, o que provoca o humor na história? Justifiquem a

307 sua resposta:”

308 C: O que provoca o humor na história? (...) É pelo fato do juiz se interessar pela

309 fórmula do veneno que mata a sogra.

310 A: (escrevendo) Pelo fato do juiz...

311 C: Se interessar, [A: se...] se interessar pela fórmula do veneno ...

312 A: (escrevendo) Pela fórmula do veneno...

313 C: Que mata a sogra ... (risos)

(.........)

Page 155: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

155

Principais personagens de Condorito (ELE)

Condorito

É o personagem principal da trama. É um condor com características humanas,

vive em seu chalé com o seu sobrinho Coné, seu cachorro Washington, seu louro Matias

e seu cavalo Mandíbula. É preguiçoso e com um mínimo de esforço consegue

sobreviver, graças a sua esperteza, seja pedindo dinheiro a Don Chusma, seja

enganando as pessoas. É o eterno namorado de Yayita. É astuto, de muitos amigos e se

comunica com as pessoas facilmente.

Pepe Cortizona (saco de plomo)

É o rival de Condorito. Sempre está buscando conquistar Yayita. Tem uma

grande auto-estima e se dá importância. Faz alarde de possuir uma boa situação

Page 156: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

156

econômica que na realidade não tem. É muito elegante e sempre anda em bons carros e,

diferente de Condorito, que sempre presenteia Yayita com flores colhidas do jardim,

este pedante personagem as compra em uma boa floricultura.

Washington

É um cachorro sem raça definida, fiel, que leva uma vida de cachorros, pensa e

fala. É o mimado de Coné e com quem compartilha as suas aventuras.

Garganta de lata

Este personagem serve somente para os chistes de bêbados. É fraco e assíduo do

bar El Tufo. Nas suas histórias, geralmente a sua mulher se irrita muito com ele, por

seus maus hábitos.

Page 157: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

157

El loro Matías

Este louro é muito atraente, já que pensa, fala, é inteligente, linguarudo e

compartilha as aventuras de Coné e Condorito.

Dona Tremebunda

Sogra de Condorito. Em suas histórias, se caracteriza por não estar muito

convencida do namoro de Yayita e Condorito. Como seu marido, é muito oportunista,

gosta de dinheiro e aparenta mais do que tem. Dona Treme é muito dominante e

consumista.

Don Cuasimodo

Sogro de Condorito. Como sua mulher, também não está convencido do namoro

de Yayita e Condorito. Gosta de dinheiro e é consumista, ainda que não seja tanto

quanto sua esposa.

Page 158: COMPREENSÃO LEITORA E HUMOR DE HISTÓRIAS EM

158

Che Copete

É um rapaz muito farsante e sempre faz alarde de seu sucesso com as mulheres.

Suas histórias são simpáticas e levianas.

Ungenio

Tem o cabelo branco e um nariz gigantesco, além de ter uns dentes enormes que

sobressaem da sua mandíbula superior. É distraído e ingênuo. Suas idiotices sempre

pegam as pessoas de surpresa e provocam um sorriso amistoso. É bom amigo e querido

por todos.

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Don Chuma

É um homem de vida muito organizada, generoso, bom amigo, sempre está

tirando Condorito de algum aperto econômico. Também é o seu principal conselheiro. É

solteiro e de vida tranqüila. Não tem namorada. É um homem trabalhador e de aspecto

bonachão.

Huevoduro

É outro habitante de Pelotillehue e é conhecido por sua cara redonda e

completamente branca. Pepo, o autor de Condorito, dizia que Huevoduro é baseado em

um oficial da embaixada canadense cujo rosto era tão branco que parecia não ter

sangue.

Coné

É a réplica de Condorito em tamanho infantil, tem as suas mesmas

características físicas e é somente menor em tamanho e um pouco mais barrigudo. Tem

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a sua mesma picardia e ingenuidade. É um menino travesso que está sempre tentando

alcançar seu objetivo mediante sua habilidade, em lugar de fazê-lo mediante o estudo, o

esforço e o empenho. É o sobrinho de Condorito que chegou do campo à cidade para

viver e aprender com o seu tio. Em algumas aventuras é um menino que perde e chora,

mas com a mesma graça e mentalidade de adulto. É o personagem mais dócil da revista.

Yuyito

É a réplica feminina de Coné. Mas a sua picardia prima sobre a sua ingenuidade.

É mais madura que Coné. É a sobrinha de Yayita e vive com ela. Em suas aventuras

vive sempre acompanhada de Coné.

Yayita

Beira entre a fidelidade e a sua natural paquera. Aceita ser namorada de

Condorito, mas deve suportar os permanentes cortejos de seu rival, Pepe Cortisona.

Toca piano, mas não gosta muito, cozinha, mas somente para agradar Condorito;

geralmente é um fracasso cozinhando. É uma pessoa muito dependente de sua mãe.

Vive com seus pais, é filha única. É atrativa e feminina. Às vezes se mostra uma mulher

um pouco consumista e exigente, mas normalmente é uma mulher muito simples e

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carinhosa. Graças à educação, evoluiu com o tempo. Ao princípio, era uma camponesa

com compridas tranças e a cor de seu cabelo era mais escura. Agora, Yayita sempre

anda vestida e penteada na última moda.

Comegatos

É um bom amigo de Condorito, tem uma cara felina e um gosto muito particular:

gosta de comer gatos. De acordo com a lenda, o personagem é baseado em um pescador

que Pepo conhecia e que realmente comia gatos.