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FORMAÇÃO LEITORA E CIDADANIA A PARTIR DE VERSÕES DA HISTÓRIA DOS TRÊS PORQUINHOS

MARTINS, Vera Lúcia Klein (Colégio Estadual de Flor da Serra / PDE)1 CASTELA, Greice da Silva (UNIOESTE / orientadora PDE)2

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo possibilitar uma diversidade de leituras dessa história para os alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de um colégio estadual localizado no município de Realeza (PR), de modo a contribuir para: formação de leitores críticos e capazes de ler o mundo nos seus mais variados contextos, motivação dos alunos, identificação e compreensão de relações intertextuais, realização de atividades de compreensão leitora e produção textual e discussão de questões subjacentes aos textos, trazendo-as para o contexto em que se inserem os alunos. Foram debatidas, a partir de versões contemporâneas dessa história, ações de violência e o bullying, que tanto ocorre em nossos espaços escolares, e desenvolvemos a caracterização do gênero textual e a habilidade de compreensão leitora nos alunos. Este trabalho se baseia na concepção interativa de leitura e na utilização da literatura infanto-juvenil como instrumento para formação de leitores críticos. Conclui-se que foram criadas as condições necessárias para que a aprendizagem dos alunos se tornasse possível e estes também foram instigados a pesquisar, a refletir e, acima de tudo, a utilizar este conhecimento para a superação de suas dificuldades, de modo a ter a oportunidade de exercer sua verdadeira identidade de leitores, construindo sentidos a partir do texto e de seus conhecimentos de mundo. PALAVRAS – CHAVES: Contos de Fadas. Leitura. Bullying. ABSTRACT: This work aimed to allow a diversity of readings of the story for students in 5th grade of elementary school to a state college in the city of Realeza (PR), so to contribute to: formation of critics readersand capable of reading the world in its various contexts, student motivation, identification and understanding of intertextual relations, perform activities of reading comprehension, text production and discussion of issues underlying the texts, bringing to the context in which students are included. Were discussed, from contemporary versions of this story, acts of violence and bullying, which occurs both in our school premises, and we develop a characterization of textualgenre and reading comprehension skills in students. This paper is based on the interactive conception of reading and in theuse of children's literature as an instrument for the formation of critical readers. It was concluded that conditions were created to ensure that the learning of students became possible and these were also encouraged to explore, reflect and, above all, to use this knowledge to overcome their difficulties in

1 Professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual de Flor da Serra e professora PDE. 2 Professora adjunta UNIOESTE, campus de Cascavel, doutora em Letras Neolatinas pela UFRJ, orientadora de professores do PDE.

2

order to have the opportunity to pursue their true identity to readers, constructing meanings from the text and their knowledge of the world. KEYWORDS: Fairy Tales, Reading, Bullying.

INTRODUÇÃO:

A elaboração deste artigo e as reflexões teóricas de que é fruto são decorrentes

do trabalho final de curso do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)3. E

como professora PDE, além dos estudos teóricos, havia as atividades práticas, sendo

uma exigência para o término do curso. O intuito da Secretaria de Estado da Educação é

que sejam disponibilizadas variedades de materiais didáticos aos professores da rede por

meio do PDE. Por isto, a elaboração do material didático, pois assim, estes trabalhos

serão socializados com outros professores para serem utilizados também em suas salas

de aula como forma de diversificar as estratégias.

O material didático elaborado foi o FOLHAS e a interdisciplinaridade foi com

Artes e Ciências. Todo o processo de confecção teve como público-alvo os meus alunos

da 5ª série, como forma de contribuir para a formação de leitores críticos.

Outra atividade desenvolvida foi o Grupo de Trabalho em Rede (GTR). A sua

característica essencial é a interação virtual que acontece entre o professor PDE, que

desempenha o papel de tutor, e demais professores, os quais fazem a sua inscrição

previamente no curso.

A formatação do curso é a distância, utilizando a plataforma MOODLE. É

composto de seis módulos, perfazendo 60 horas. O objetivo é proporcionar a formação

continuada aos professores que fazem parte da rede pública estadual

Por meio desse modelo de capacitação continuada pretende-se que tanto os

participantes quanto o tutor promovam discussões e reflexões sobre o assunto tratado no

GTR, analisando as próprias práticas pedagógicas de modo a contribuir para que se

oferte um ensino que seja de qualidade. Para isso, as escolas devem cumprir o seu papel

social, ou seja, necessitam criar condições para que ocorra uma aprendizagem integral

3 O Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE/PR tem por objetivo principal “proporcionar aos professores da rede pública estadual subsídio teórico-prático para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, que possam ser avaliadas em seu processo e em seu produto e que resultem em redimensionamento da prática educativa. Mas também, proporcionar a valorização profissional dos avanços no plano de carreira do magistério” (PARANÁ, 2006, p. 01).

3

nos aspectos tanto da cultura quanto do envolvimento social, visando sempre aos

interesses e às necessidades dos alunos, pais, professores comunidade, enfim, dos

envolvidos no processo educativo (PARANÁ, 1992). E, é por meio da leitura

desveladora que se tem acesso à cidadania, a melhores posições no mercado de trabalho

e à construção de uma postura crítica.

Muitas pesquisas têm sido feitas em torno da leitura nas escolas. Vários são os

teóricos que estudam sobre ela, e tentam apontar caminhos para que a prática

pedagógica dos professores se torne mais eficiente e produtiva.

Não há como negar que a leitura faz parte de uma prática social e que é preciso

alargar a experiência com a leitura, percebendo o texto como um objeto carregado de

intenções. E, nesse contexto, o papel do professor é o de propiciar ao aluno acesso a

diferentes gêneros textuais e eventos de leitura que contribuam para o gosto de ler e o

desenvolvimento da habilidade leitora.

Para o desenvolvimento deste trabalho o enfoque foram atividades voltadas para

a leitura de diferentes versões do conto dos Três Porquinhos, a fim de auxiliar a formar

leitores capazes de ler o mundo nos seus mais variados contextos, realizando atividades

de compreensão leitora e produção textual, discutindo as questões que estão subjacentes

aos textos e trazendo-as para o contexto em que se inserem os alunos.

A escolha por versões contemporâneas da obra “Os Três Porquinhos” se justifica

por apresentar ações de violência que ocorrem no desenrolar da história e possibilitar,

por um lado, discutir o tema “bullying”, atualíssimo e relevante, pois ocorre nos

espaços escolares, e, por outro lado, estabelecer relações de intertextualidade entre as

histórias de modo a desenvolver a habilidade leitora dos alunos.

Diante desta realidade, foi possível analisar de que forma a leitura pode subsidiar

o processo de aprendizagem no Ensino Fundamental, criando as condições necessárias

para que a aprendizagem dos alunos se torne possível, instigando-os a pesquisarem, a

refletirem e, acima de tudo, a utilizarem seu conhecimento prévio para a superação de

suas dificuldades. Dessa maneira, eles foram levados a construírem sentidos a partir do

texto e de seus conhecimentos de mundo.

INTERRELAÇÃO ENTRE LEITURA, ESCOLA E SOCIEDADE

A leitura para ser trabalhada em sala deve estar relacionada com o conhecimento

de mundo dos alunos para que possam fazer a relação dos textos lidos com o meio em

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que estão inseridos. E que tenham a compreensão de que no texto está subjacente a

intenção do autor.

Como afirma Bakhtin (1983), nenhum texto é neutro, sempre havendo, nas

diversas esferas da comunicação, um posicionamento do autor sobre o objeto a ser

analisado. O professor quando trabalha com leitura deve ter em mente a importância de

se fazer um estudo prévio, de modo que consiga direcionar questões para serem

percebidas pelos alunos.

Pois, de acordo com Soares (2005), a leitura não é um ato solitário em que o

indivíduo torne-se ausente do mundo ou que se restrinja apenas à leitura do texto. A

leitura é interação verbal de indivíduos socialmente determinados com o universo, com

o seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo, com o outro para a formação

de significados.

Leffa (1999, p.14) afirma que ”a construção do significado não é feita a partir do

texto, num processo de extração, mas a partir do leitor, que não extrai do, mas atribui ao

texto um significado”. É este significado que se deseja atribuir com os alunos da 5ª série

do Ensino Fundamental, por meio da diversidade de leituras, de versões da história dos

Três Porquinhos de modo a contribuir para a formação de leitor crítico e para a

motivação dos alunos.

Entendendo que a inserção da leitura, no contexto escolar, deve ser de forma

dinâmica e agradável, utilizando-se, por exemplo, do caráter lúdico que pode ser dado

às estratégias de leitura e também buscar trabalhar a leitura numa abordagem que haja

interação do leitor com o texto. Como explica Leffa (1999), há três perspectivas em

relação à leitura:

Para fins de organização do texto, tenta-se classificar as diferentes linhas teóricas que tratam da leitura em três grandes abordagens: (1) as abordagens ascendentes, que estudam a leitura da perspectiva do texto, onde a construção do sentido é vista basicamente como um processo de extração; (2) as abordagens descendentes, com ênfase no leitor e que descrevem a leitura como um processo de atribuição de significados; e, finalmente, (3) as abordagens conciliadoras, que pretendem não apenas conciliar o texto com o leitor, mas descrever a leitura como um processo interativo/transacional, com ênfase na relação com o outro (LEFFA, 1999, p.13).

A perspectiva de leitura na abordagem conciliadora, o ato de ler deixa de ser

uma atividade individual para ser um comportamento social, em que o significado não

está nem no texto nem no leitor, mas nas convenções de interação social em que ocorre

o ato da leitura. Segundo as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica

5

do Estado do Paraná - Língua Portuguesa (2006, p.31), a leitura é entendida “como um

processo de sentido que se dá a partir de interações sociais ou relações dialógicas que

acontecem entre o texto e o leitor”.

Nessa perspectiva, o sentido “é o território comum do locutor e do interlocutor e

quando se encontram num dado momento e situação, caracteriza a situação em que a

interação acontece e a linguagem é significada” (BAKHTIN, 1997, p.113).

Não se pode esquecer de considerar que a prática da leitura favorece a escrita,

ou seja, quem tem o hábito de ler textos diversos tem mais condições de refletir sobre as

ideias e formular opiniões. Afinal, ao escrever um texto, precisa-se ter a opinião

formada sobre o assunto a ser desenvolvido.

Ressalta-se que, nesta abordagem, o educador tem um papel político que deve

ser assumido não apenas no discurso, mas igualmente na prática para que os educandos

também se posicionem, de forma consciente (FREIRE, 1987).

Para que isso se efetive, a escola deve promover uma prática constante de

leitura, de escrita organizada em torno de uma diversidade de textos e que com a

mediação da tríade texto-contexto-professor que o leitor irá construir a compreensão dos

enunciados e elaborar seu próprio enunciado.

Um leitor competente é também aquele que, por iniciativa própria, seleciona, de

acordo com suas necessidades e interesses, o que deve ler entre os vários tipos de textos

que circulam socialmente. Leal e Melo (2006) nos apresentam algumas finalidades para

a prática de leitura: (1) ler para divertir-se, para relaxar, para apreciar (apenas como

deleite e estar motivando os alunos para futuras leituras de outros temas relacionados ao

texto de leitura original); (2) ler para receber mensagens de outras pessoas (para

resgatar os sentidos que podem ser atribuídos ao texto); (3) ler para orientar-se sobre

como realizar atividades diversas (leitura que auxilia na realização de alguma

atividade); (4) ler para informar-se (leitura que permite ao sujeito aprender através dos

textos ou estudar, finalidade importante na escola); (5) ler para escrever (objetivando

promover uma escrita mais organizada e com conteúdos para seu desenvolvimento); (6)

ler para aprender a ler (na medida em que, na escola, lemos para cada vez mais

melhorarmos a nossa leitura).

E para que as finalidades da prática de leitura nas aulas se efetivem, o professor

necessita estar sempre se atualizando em relação aos aspectos pedagógicos, didáticos e

os tecnológicos e esta formação, de acordo com Belloni (1999), perpassa três dimensões

intimamente imbricadas umas às outras, a saber

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- Pedagógica: relativa às concepções epistemológicas, dentre as quais destacamos as teorias construtivistas e sócio-interacionistas; - Didática: referente à formação específica do professor, em uma das áreas do conhecimento; - Tecnológica: a qual abrange as relações entre tecnologia e educação, na utilização proficiente dos meios disponíveis, na avaliação e seleção de vídeos, softwares, tecnologias digitais e outros materiais técnico-educacionais, bem como na elaboração de estratégias de uso desses meios ( BELLONI, 1999, p.34).

Portanto, estas três dimensões possibilitam a ampliação das condições para o

desenvolvimento de metodologias diferenciadas e também a construção de

conhecimento.

Outro fator importantíssimo é que não basta saber os conteúdos acumulados

historicamente, existe a necessidade de saber dosá-los e fazer uma sequência que tenha

sentido aos educandos, tendo claro o fim que se pretende atingir. E para isso é

necessário tornar as aulas mais interessantes, utilizando as tecnologias, principalmente

filmes, músicas que podem transmitir a eles mensagens importantes para desenvolver

um raciocínio crítico, que os leve a refletir sobre seus comportamentos e atitudes, assim

como a pensar sobre a importância da educação e de como o aprendizado desses

conteúdos pode influenciar suas vidas.

A instituição escolar foi criada para desempenhar uma função: que é a de

possibilitar aos alunos os saberes socialmente produzidos, os conhecimentos que são

considerados, conforme o momento histórico, válidos e necessários. Sendo que a forma

como os conteúdos escolares são ensinados, a sua seleção como “saber a ser ensinado”

dá origem a relação didática, essa relação ternária que se estabelece entre o professor, os

alunos e o saber. (CASTORINA et al., 2002).

Pois, entende-se que,

a escola não é estática nem intocável. A forma que ela assume em cada momento é sempre o resultado precário e provisório de um movimento permanente de transformação, impulsionado por tensões, conflitos, esperanças e propostas alternativas (HARPER, 1986, p. 107).

Toda instituição deve definir a identidade da escola dentro do sistema escolar,

respeitando suas especificidades, os conhecimentos prévios dos alunos, e mantendo uma

interrelação com os objetivos nacionais, valorizando no seu processo pedagógico a

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permanente reflexão e discussão na busca de alternativas viáveis aos problemas da

escola, para a efetivação de sua intencionalidade (VEIGA, 1995).

Além da definição da identidade da escola, deve organizar as ações pedagógicas

direcionadas para os seus alunos. Freire (1996, p.69) afirma que “toda prática educativa

demanda a existência de sujeitos, um que ensinando, aprende, outro que, aprendendo,

ensina”.

Para Rodrigues (2003), o aprender é o processo essencial pelo qual o

conhecimento, a habilidade, os hábitos, as atitudes e ideais são adquiridos, aprendidos e

utilizados, originando progressivos ajustes e modificações da conduta.

Para que a prática educativa alcance os seus objetivos, é preciso existir uma

relação entre o professor e os alunos, na qual se estabeleça uma amizade e através desta

afetividade possibilite-se a relação de confiança, prazer, motivação, paixão, e com isto

aproveitar este interesse do aluno em aprender, despertando a vocação do professor em

ensinar. Os conteúdos trabalhados devem ser iniciados sempre com que o aluno

conhece, deixando que relatem suas experiências. Após verificar o conhecimento prévio

dos alunos, pode-se passar para o ensino sistematizado, pois desta forma o aluno

relaciona o que conhece, sua leitura de mundo, com o que o professor ensina.

E quando o professor trabalha em sala de aula oportunizando leituras em

diferentes versões ajuda aos alunos a serem leitores capazes de ler o mundo nos seus

mais variados contextos. Corroborando Solé (1998), poder ler, isto é, compreender e

interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos

contribui de forma decisiva para autonomia das pessoas, na medida em que a leitura é

um instrumento necessário para que nos manejemos em uma sociedade letrada.

Por isso, é necessário que os sistemas educativos se adaptem às novas

exigências: trata-se de repensar e ligar entre si os processos educativos e de ordená-los

de maneira diferente, de diversificar os encaminhamentos metodológicos para que a

aprendizagem de sua clientela seja efetiva.

Desta forma, o sujeito se constitui como leitor, ampliando suas experiências de

leitura e sua visão de mundo. A partir da intertextualidade entre diferentes versões da

história dos Três Porquinhos, serão oportunizadas atividades que apresentem situações

em que os alunos poderão refletir e desenvolver uma postura crítica. Pois, o ambiente

escolar deve proporcionar a investigação e possibilitar as situações onde elas possam

problematizá-las. Levando para a sala de aula uma diversidade de materiais didáticos,

paradidáticos e não-didáticos, murais e revistas para que sejam estimulados. E também

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explorar atividades que envolvam a imaginação trabalhando com a temporalidade,

aspectos sociais e culturais.

Não se pode negar que o professor deve ter conhecimento daquilo que ensina,

sendo que na educação formal deve-se ensinar o conhecimento científico, também

considerar que em uma sala de aula não são todos iguais e que têm o direito de

aprender, faz parte de seu trabalho também perceber seus resultados e de seus alunos.

Entende-se que para exercer a função de educador numa sala de aula, há

necessidade de que este profissional da educação esteja em condições de trabalho como,

valorização pessoal, remuneração digna para que possa estar se atualizando, hora-

atividade com um número significativo para que possa preparar as suas aulas de acordo

com as necessidades, características da turma. Desta forma, os professores devem

sempre estar em busca de alternativas para auxiliar aos alunos a serem leitores

competentes, pois isso é muito importante para o desenvolvimento da formação de

cidadania.

CONTOS DE FADAS: POSSIBILIDADES DE DISCUSSÃO DE QUESTÕES

ATUAIS

O uso dos contos de fadas na implementação na escola justifica-se, pois

exercem uma influência boa na formação da personalidade dos alunos, que aprendem

que é possível vencer obstáculos e podem sair vitoriosos, especialmente quando o herói

vence no final. Esse gênero textual também mostra aos alunos que na vida existem

dificuldades, mas que se lutarem será possível vencer os obstáculos.

Segundo Bettelheim (1980), os livros de contos de fadas trazem muitos

benefícios para as crianças/adolescentes, ajudando-os a encontrarem um significado

para a vida, pois, auxiliam em seu desenvolvimento intelectual e na solução de

problemas interiores. Os contos de fadas conseguem fazer isto porque transmitem a eles

uma educação moral e possibilitam discutir questões atuais, como é o caso do bullying.

Para Silva (2006, p. 01), bullying são “brigas, ofensas, disseminação de

comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão. A escola pode ser

palco de todos esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos

em um verdadeiro inferno”.

O que fazer a escola em situações como esta? Necessita-se que as atitudes dos

alunos sejam observadas tanto pelos professores quanto pelos demais profissionais

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ligados ao espaço escolar. E como ação pedagógica, procurar neutralizar os agressores,

bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados

(SILVA, 2006, p. 03).

E uma forma dos professores em suas práticas pedagógicas amenizarem estas

ações é através de estudos, discussões e debates, utilizando, por exemplo, como

instrumentos os livros de literatura, pois de acordo com as Diretrizes Curriculares “os

fundamentos teóricos que alicerçam a discussão sobre o ensino de Língua e Literatura

requerem novos posicionamentos em relação às práticas de ensino, seja pela discussão

críticas destas práticas, seja pelo envolvimento direto dos professores na construção de

alternativas” (2006, p.19). Nesse sentido, quando lemos um livro, provocamos uma

mudança em nós mesmos, e que esta mudança, por sua vez, pode provocar uma

mudança no mundo (LEFFA; PEREIRA, 1999, p. 15).

É preciso aprender e ensinar a ler na escola, pois as crianças/adolescentes

necessitam da mediação do outro para consolidar e dominar autonomamente as

atividades e operações culturais. O ato de ler enquanto interação traz em seu bojo

interpretações múltiplas, sendo essencial que o professor possibilite as informações

necessárias que aluno tenha a compreensão do que está lendo.

Para Faria, o professor deve saber trabalhar o livro de acordo com as

competências da criança/adolescente, as suas experiências prévias,

daí a grande importância de o professor ter uma formação literária básica para saber analisar os livros infantis, selecionar o que pode interessar às crianças num momento dado e decidir sobre os elementos literários que sejam úteis para ampliar o conhecimento espontâneo que a criança já traz de sua pequena experiência de vida (FARIA , 2004, p. 21).

O ideal é que o professor seja um bom leitor e que esteja sempre atualizado em

relação a novas publicações. Cabe a ele proporcionar às crianças e aos adolescentes um

convívio estimulante com a leitura, assim como possibilitar que esta cumpra o seu

papel, que é o de ampliar, não só a leitura da palavra, mas também a leitura de mundo.

Freire (1987) afirma que a leitura do mundo deve antecipar a leitura da palavra.

Percebe-se em sua afirmação que se deve levar em conta o conhecimento prévio que o

aluno traz para a sala de aula, para que se efetive uma leitura significativa e crítica.

Conforme Leffa (1999, p.26), o professor deve valorizar os conhecimentos dos alunos,

pois,

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Como tudo que se faz na vida, a atividade da leitura só é possível na medida em que o leitor usa seu conhecimento prévio para direcionar sua trajetória pelo texto, eliminando antecipadamente as opções inválidas. Quanto mais se avança num texto, mais exatamente pode-se prever o que vem a seguir, e quanto maior for nossa experiência geral de leitura maior será nossa capacidade de prever o que um texto pode conter, antes mesmo de se iniciar sua leitura.

Na mesma perspectiva, Kleiman (1997, p. 25) afirma que os conhecimentos que

os alunos possuem auxiliam na compreensão do texto lido:

A ativação do conhecimento prévio é, então, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer inferências4

necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num

todo coerente. Este tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente (KLEIMAN, 1997, p. 25).

E o conhecimento prévio dos alunos possibilita interações entre o saber escolar e

os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola

de modo que o educando participa da construção do conhecimento (PCN, 1997, p. 34).

As escolas brasileiras para que possam exercer a função social precisam

possibilitar que os alunos tenham acesso a conhecimentos culturais e sociais,

considerando as expectativas e as necessidades dos alunos, pais, membros da

comunidade, dos professores enfim dos envolvidos diretamente no processo educativo.

É aí que o aluno vivencia situações diversificadas e favorece o aprendizado para

dialogar de maneira competente com a comunidade, aprende a respeitar, a ser

respeitado, ouvir e ser ouvido, reivindicar seus direitos e cumprir obrigações, a

participar ativamente da vida científica, cultural, social e política de sua realidade

(SASSON, 2009).

Portanto, a familiaridade dos alunos com vários tipos de textos, com as suas

experiências de vida, irá interferir de uma maneira significativa na compreensão no ato

da leitura.

Não há como negar que a diversidade de leituras, desde a informativa até a

literatura infantil traz contribuições para a formação da criança/adolescente, e o papel

do professor está em selecionar e apresentar a eles, uma literatura que possibilite

questionamentos e que o seu conhecimento de mundo possa ser ampliado. Dessa forma,

4 Inferência: capacidade de passar indiretamente de uma proposição para outra fazendo a ligação com outras proposições.

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o aluno - leitor terá a literatura como um caminho para a descoberta de um novo mundo,

o da reflexão, da descoberta e do deleite.

O MATERIAL DIDÁTICO PRODUZIDO E SUA IMPLEMENTAÇÃO NA ESCOLA

O Colégio Estadual escolhido é um colégio rural, localizado no município de

Realeza, e possui alunos de diversas comunidades próximas, muitas de difícil acesso.

Os estudantes que frequentam esta escola são, quase na sua totalidade, filhos de

agricultores, a maioria deles muito pobres, trabalhando como bóias-frias e não

possuindo assim, meios nem condições (fora da escola) para desenvolverem o gosto

pela leitura em seus lares. O acesso a leitura deveria ser um direito garantido de fato a

todos, mas na prática isso nem sempre ocorre.

Considerando o exposto e observando a grande dificuldade que os alunos de 5ª

série desse colégio apresentam ao ler, entender e expressar suas idéias é que se julgou

necessária esta pesquisa no campo da prática da leitura.

Durante todo o processo da implementação na escola foi contemplada a teoria

exposta, considerando o leitor como fundamental no processo da leitura, a leitura crítica

dialógica e a produção escrita que contribua para ampliar a leitura de mundo e para a

sua formação de cidadão.

Assim, a partir da reflexão e de propostas de aplicação voltadas para leitura e

escrita foram desenvolvidas as seguintes habilidades: posicionamento crítico do sujeito

diante de temas conflitantes na sociedade; uso efetivo em suas práticas sociais;

compreender a realidade em que ela está inserida e chegar a importantes conclusões

sobre temas conflitantes, no caso bullying.

As estratégias de ação foram elaboradas a partir de: revisão bibliográfica,

pesquisas na Internet, na biblioteca escolar e municipal de livros, de textos selecionados

pelo professor e pelos próprios alunos. Foram realizadas leituras de diferentes versões

dos Três Porquinhos para que possam compreendê-las como prática social, uma

interação entre leitor e texto, em que instigado pelo que lê, o leitor produz sentidos,

dialoga com o texto, com os intertextos e com o contexto, ativa o seu conhecimento

interno e interage com os livros, com os próprios colegas, com o professor.

Desta forma, o sujeito se constitui como leitor, ampliando suas experiências de

leitura e sua visão de mundo. E para que isto se efetive, foram desenvolvidas atividades

a partir da leitura desses textos de diferentes versões dos Três Porquinhos em textos de

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diferentes autores, como: Os três Porquinhos Recontado por Ana Maria Machado; A

Verdadeira História dos Três Porquinhos, tal como foi contada a Jon Scieszka. Os Três

Porquinhos Pobres, Érico Veríssimo; O lobo e os sete cabritinhos dos Irmãos Grimm;

Lobo Mau e os Três Porquinhos de Albert Pavão (música) e o vídeo5 sobre os Três

Porquinhos (versão Hilarybr). A seguir comentamos as atividades desenvolvidas com

os textos selecionados.

Primeiramente, foi relembrada a história dos Três Porquinhos na versão escrita

por Hilarybr. Após a pesquisa no site <

http://www.youtube.com/watch?v=kL5EjA2xu3k >, os alunos realizaram a leitura e

foram questionados sobre a ação do lobo e se esta era de violência, se estava ocorrendo

o bullying, sendo este um assunto tão atual e ao mesmo tempo tão antigo, se o lobo

estava representando a maldade das pessoas. Indagamos se este comportamento do lobo

pode ser considerado um efeito Bullying e porquê. Também foi solicitado que fizessem

a caracterização do personagem lobo através de desenho e usassem a sua imaginação

para representá-lo como irritado, feroz, irônico...

A atividade foi realizada com muita emoção e interesse por parte dos alunos, pois

todos ficaram entusiasmados pelo fato de ilustrarem as maldades do lobo; e também

estarem sendo criativos no momento de usar as tintas coloridas, colagens para desenhar

formas extravagantes e que pudessem caracterizar as várias facetas do lobo. Cada um

queria reproduzir melhor a maldade do lobo. Foram confeccionados cartazes bem

coloridos com tinta e colagem. Porém, houve muita dificuldade com a escrita nestes

cartazes, pois os alunos de 5ª série ainda apresentam bastante dificuldade na ortografia.

Felizmente a interdisciplinaridade com a disciplina de Artes foi de grande valia,

auxiliando os alunos para que confeccionasse os seus trabalhos com organização,

criatividade e estética.

Aproveitando a motivação dos alunos, solicitou-se que formassem um círculo

para que cada um refletisse se no espaço escolar havia diferenças, diversidades e

conflitos como o bullying, se na escola havia adolescentes que apresentavam

características diferentes umas das outras e se estas diferenças poderiam servir para a

construção de novas aprendizagens e não criar clima de tensão.

Foi proveitosa a discussão, apesar de serem alunos de 5ª série argumentaram com

consistência que realmente no espaço escolar havia diferenças e que não deveria servir

5 http://www.youtube.com/watch?v=kL5EjA2xu3k

13

para criar problemas de convivência. Perceberam que o bullying estava presente, que vai

demorar para que seja amenizado, porém, que devem sempre ser desenvolvidas

atividades iguais as que estavam sendo feitas para que refletissem sobre como acabar

com a violência entre alunos, entre professores e alunos e entre alunos e professores.

Para verificar se os alunos tiveram compreensão de que essas atitudes podem

prejudicar a aprendizagem e o respeito entre os alunos e entre alunos e professores,

como aprofundamento do assunto, foi convidada uma promotora para fazer uma

palestra. Esta foi importante, pois os alunos puderam saber mais sobre os direitos e

deveres do cidadão, especialmente em relação à problemática do bullying. Depois em

pequenos grupos pesquisaram sobre o efeito bullying nas escolas e comentaram o que

mais lhes chamou a atenção nos sites: < http://www.artigonal.com/educacao-

artigos/bulling-nas-escolas-1493694.html > e <http://www.artigonal.com/educacao-

artigos/o-bulling-no-contexto-escolar-4490470.html >

Após as leituras realizadas, análises e reflexões, produziram narrativas em

primeira pessoa do plural colocando o que fariam para solucionar estas situações de

violência no espaço escolar; organizaram cartazes com os prejuízos do efeito bullying

na escola e expuseram para os colegas; dramatizaram ações, em pequenos grupos, para

amenizar situações de bullying e esta atividade teve resultados positivos, pois através do

teatro puderam vivenciar esta problemática, soltando os medos, conflitos e angústias,

amenizando assim traumas e problemas psicológicos causados por essa prática tão

prejudicial à convivência saudável entre as pessoas; escreveram cartas, conversaram

com os colegas e professores, sendo bem interessantes, pois queriam convencê-los de

não praticarem bullying, citando atitudes de respeito e também dizendo por que era

contra e a favor da convivência onde se respeitam os colegas, os professores e os

funcionários do colégio; produziram poesias contra o bullying. Um deles criou um “rap

da poesia” e o outro produziu uma linda “canção da poesia”. Os dois foram aplaudidos

de pé, por toda a comunidade, no dia da apresentação para comunidade escolar. Em

relação à narrativa, a mesma foi produzida e lida oralmente para os colegas da sala,

momento em que todos puderam dar suas sugestões para amenizar a problemática do

bullying. Houve bastante interesse durante as discussões, pois todos queriam dar suas

opiniões e contar seus depoimentos.

Estas atividades foram muito envolventes, pois os alunos usaram muita

criatividade para sua elaboração, graças à interação com a disciplina de Artes. Contudo,

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a dificuldade com a ortografia, deixou o trabalho mais lendo e por vezes muito

cansativo.

Para as atividades com as histórias “Os Três Porquinhos Pobres de Érico

Veríssimo” e “O lobo e os sete cabritinhos dos Irmãos Grimm”, realizamos a leitura

daquela e esta foi apresentada através de um vídeo, disponível em: <

www.fabulasecontos.com.br/index.php?pg=descricao&id=32 >. Solicitamos que os

alunos comparassem os dois textos e oralmente foram discutidos com a turma toda.

Individualmente produziram história em quadrinhos. Em grupo, escreveram notícias,

analisando as diferenças entre os personagens da história Os Três Porquinhos

Recontado por Ana Maria Machado, e cartazes sobre o comportamento de desrespeito e

se há ou não punição para isso.

Á medida que íamos avançando nas histórias, oportunizávamos a reflexão de

que há várias maneiras de sentir uma história, uma experiência e várias maneiras de

descrevê-la e que o leitor competente é também aquele que, por iniciativa própria,

seleciona, de acordo com suas necessidades e interesses, o que deve ler entre os vários

tipos de textos que circulam socialmente.

A história ’A Verdadeira História dos Três Porquinhos’ tal como foi contada a Jon

Scieszka possibilitou a interdisciplinaridade com Ciências em relação à alimentação

sadia. Após estudos e pesquisas, realizou-se uma exposição para a comunidade escolar e

os resultados foram muito gratificantes. Foi realizado o cardápio saudável e os alunos

trouxeram frutas, verduras e legumes da época, cada um dentro das suas possibilidades.

E no final da exposição todos puderam degustar da alimentação saudável trazida por

eles mesmos. Como verificamos no depoimento dos alunos, o preço e a falta de hábito

são empecilhos: “Não como, pois muitas vezes em casa não temos dinheiro” . Foi muito

produtiva a atividade, pois envolveu os alunos na escolha e no conhecimento de

alimentos saudáveis, de modo a conscientizá-los de sua importância. Isso se explicita no

relato de um dos alunos: “Como não comia direito, só comia aquilo que gostava, não

dando bola para quando minha mãe dizia para comer esta fruta, esta verdura. Estou

começando a entender.”

Pôde-se observar no relato do lobo Alex, quando afirma que necessita se

alimentar, que os três porquinhos estavam acima de seu peso normal. E que por meio de

uma má alimentação pode-se chegar a doenças como a obesidade. E os adolescentes

acima do peso sofrem porque são motivados a ter um corpo perfeito através da mídia, da

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sociedade que idealiza que ser magro é o melhor. Como disse um dos alunos: “Quem

tem que ajudar é a televisão, parar de dizer que bonita é só a pessoa magra”.

Na busca por um corpo esbelto, muitas vezes, começa-se a fazer dieta sem

medida, a buscar indicações de colegas de como fazer para emagrecer. Como está

fazendo sem a orientação de um especialista, pode chegar a uma situação drástica, com

transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. Realizamos pesquisas, discussões

e atividades como entrevista com alunos da escola para saber quantos alunos têm

conhecimento sobre a anorexia e a bulimia, cartazes, visita ao Posto de Saúde local para

pesquisarem se há casos de adolescentes e/ou adultos que apresentam estes sintomas.

Essas atividades ampliaram o conhecimento dos alunos sobre o tema, pois como

afirmou um dos alunos: “A falta de comer também traz doenças, nem sabia direito

disso, no Posto falaram que cuidam de 2 pacientes. Fiquei triste.” E “Tomara que

nunca faça isso comigo”.

Para implementar este trabalho, foi feita a interação com a disciplina de Artes,

pois entende-se que nada melhor para entender a Arte em nossa vida, do que ouvir uma

música, que nos faz viajar por emoções e lugares tão diferentes. Devido a isto, foi

ouvida a música Lobo Mau e os Três Porquinhos de Albert Pavão. Trabalhou-se com as

Notas Musicais e para que servem. Para treinarem as notas confeccionaram uma banda

musical com materiais recicláveis, com várias tampinhas de refrigerante PET, latas,

arames, etc. As ideias também foram subsidias pelo site <�espacoeducar-

liza.blogspot.com/2009/08/instrumentos-musicais-de-sucata.html >.

Nossa ação pedagógica foi baseada na problematização, na aprendizagem

colaborativa e na diversidade de textos, que possibilitam perceber várias interpretações

de um mesmo tema considerando o contexto de uso e os seus interlocutores.

Entendendo que a aprendizagem colaborativa é um encaminhamento pedagógico no

qual os alunos auxiliam-se no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre

si e com o professor, para aprender sobre o assunto tratado.

Uma metodologia subsidiada pela criatividade, pela troca de experiências em

sala de aula se faz necessária, pois ela tem como parâmetro a construção coletiva na

busca de novos conhecimentos, e esta busca possibilita a interação entre os alunos. E

todos estão unidos na resolução do problema que têm que resolver, entendendo que

todos compartilham responsabilidades, de modo que o aluno possui um papel mais ativo

na condução do processo. E o nosso papel do professor é de mediar o processo

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educativo, auxiliando os alunos a explorarem o conteúdo e assim construírem o seu

conhecimento e irem em busca das respostas.

Esta metodologia possibilita que os objetivos pessoais e os coletivos convirjam.

Produzindo, desta forma, um saber mais profundo e também se tornam mais

interdependentes. Assim, a interação social e a troca entre os alunos funcionam como

estímulos ao processo de aquisição do conhecimento que surge da troca entre os

mesmos. Por isto, é indispensável trabalhar atividades coletivas para que os alunos

possam fazer esta interação e também com um enfoque voltado para a leitura de

diferentes versões, a fim de auxiliar a formar leitores capazes de ler o mundo nos seus

mais variados contextos, realizando atividades de compreensão leitora e produção

textual, discutindo as questões que estão subjacentes aos textos, sendo estes

instrumentos centrais do trabalho com a linguagem na escola.

Queremos formar leitores e produtores de textos mais críticos e dinâmicos,

cidadãos que se integrem plenamente ao contexto atual globalizado – em que a

mobilidade é grande. Precisamos fornecer-lhes instrumentos adequados para transitar

entre diferentes visões, reconhecendo e respeitando suas especificidades, mas também

sendo capazes de fazer mudanças de acordo com a necessidade de uso em seu dia-a-dia.

O trabalho do professor deve ter metas bem definidas para alcançar resultados,

entender os problemas escolares na sua totalidade, sendo subsidiada pela competência,

pelo interesse em ofertar um estudo de qualidade para os alunos. Todo educador

preocupado com a melhoria do processo de ensino deve ter como meta: que haja

aprendizagem significativa, que não haja evasão e que a escola possa auxiliar o aluno a

exercer a sua cidadania.

Não se educa para a cidadania, mantendo os alunos passivos, dependentes de

quem sabe mais ou de quem detém o poder. Uma educação comprometida com a

cidadania fornece instrumentos para o que o próprio processo de educar seja uma

experiência em que o educando é sujeito do seu desenvolvimento. Assim, a prática

pedagógica do professor apresenta uma nova maneira de atuação, exigida pelos novos

paradigmas que estão surgindo em nossa sociedade.

Curso Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

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O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) surgiu para auxiliar aos professores da

rede estadual pública do Paraná em sua formação continuada possibilitada pela

Secretaria Estadual de Educação (SEED) por meio do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) . Os professores que estão cursando o PDE têm uma atividade que

devem desempenhar que é serem tutores dos docentes da rede que fazem a inscrição nos

cursos. Ocorre, desta forma, a interação virtual entre professores-tutores e professores

da rede a fim de que tanto os cursistas quanto o tutor, construam o seu conhecimento

por meio de trocas de experiências sobre o assunto tratado no GTR.

Corroboramos Brandão (1990), ao afirmar que,

conhecimento e consciência não se transferem prontos, de fora para dentro, eles se constroem, se estruturam e se enriquecem em cima de um processo de ação e reflexão empreendido pelos protagonistas de uma prática social vinculados a seus interesses concretos e imediatos (Brandão,1990, p. 32).

O GTR utiliza o sistema MOODLE e o curso apresenta três temáticas. Na

primeira temática ocorrem as apresentações dos cursistas e os primeiros contatos. Na

segunda, analisa-se a Produção Didático-Pedagógica, destacando os seus elementos

constitutivos (objetivos e fundamentação teórica e encaminhamento metodológico),

solicitando ao cursista que analise a sua proposta e participe da discussão, levando em

conta a possibilidade de aplicação em sala de aula. E, na terceira temática, apresenta-se

a proposta da implementação na Escola, contendo os fundamentos teórico

metodológicos da sua proposta de intervenção na Escola, conforme sua disciplina/área

do PDE, tendo como fim, a avaliação das atividades.

Os 14 professores cursistas participaram do GTR ativamente, ocorreu interação

nos Fóruns e nos Diários e realização de atividades, relacionando o conteúdo que foi

proposto no GTR e demonstrando domínio sobre o tema. Neste ambiente colaborativo,

os cursistas foram capazes de ter a compreensão do assunto e dar a sua contribuição

de modo a contribuir para melhorar as práticas pedagógicas em sala de aula. E o

objetivo maior do GTR foi cumprido: trazer ideias novas para aprimorar a prática

pedagógica dos docentes da escola pública. A participação de todos foi significativa.

A formatação do GTR auxilia o professor PDE na avaliação de seu projeto de

trabalho que será aplicado em sala de aula, pois juntos: professor PDE e professores da

rede debatem e dão sugestões para que sejam melhoradas as ações pedagógicas. E

também, comprovam a necessidade do desenvolvimento do trabalho, como se percebe

na afirmação da cursista “não se pode negar que há necessidade de oportunizar aos

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nossos alunos visões diferenciadas de um mesmo tema, isso é salutar, pois só irá trazer

benefícios aos alunos, auxiliando em sua formação de leitores críticos”.

Em todo processo de elaboração da minha implementação estava subjacente a

variedade de experiências no ato de ler, o que também pareceu nas seguintes

contribuições feitas no fórum: “a construção de leitores competentes, sensíveis e críticos

pressupõe experiências de linguagem as mais variadas possíveis” e “o professor ao

provocar a leitura crítica e plural em sala de aula está desempenhando o seu papel de

educador consciente e formador de opinião, instigando em seus alunos a motivação (tão

necessária) para a leitura e a escrita realmente eficaz”.

Como professora devo sempre buscar alternativas adequadas para que consiga

motivar os meus alunos para a leitura. Foi pensando nestas condições de estratégias que

elaborei meu plano de ação e percebi que foi bem aceito pelos cursistas quando afirmam

que:

“A metodologia sugerida na implementação é bastante dinâmica, oportunizando a elaboração de escrita de seus próprios textos e proceder a troca com colegas, visando a interação entre a turma e a possibilidade da ampliação de conhecimento” “O tema que está proposto na implementação na escola é salutar, pois traz a oportunidade ao aluno da utilização de várias versões da história dos Três Porquinhos no processo ensino-aprendizagem de língua Portuguesa, com o objetivo de transformar a informação em conhecimento refletido”. “Estes encaminhamentos são necessários que sejam desenvolvidos em sala de aula para auxiliar aos alunos expor e discutir o conceito de língua viva, aquela que nos permite a comunicação no dia a dia, e o conceito de gêneros textuais, que são a forma que a língua viva assume quando nos comunicamos”. “Nós enquanto professores temos que oportunizar inúmeras experiências de vivências onde o aluno pode colocar em prática as suas ideias, o seu conhecimento. O mais importante para o aluno cidadão é quando sabe em cada situação social fazer as suas colocações e com argumentação consistente”.

O grupo de trabalho também possibilitou conhecer as angústias que outros

professores têm em relação ao ensino em sala de aula: “É interessante fazer a sugestão

de degustação de pratos saudáveis, mas senti angústia ao trabalhar cardápio saudável, e

perceber que no momento da elaboração desse cardápio, a maior dificuldade é a

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carência financeira das famílias dos nossos alunos, onde não há recursos disponíveis

para aquisição dos alimentos como frutas e verduras, leite para obter uma alimentação

saudável”.

As contribuições dos cursistas para que minha implementação ficasse mais

enriquecida foram:

a) a inserção da família em todas as atividades escolares. Juntamente com a

equipe pedagógica, fizemos uma reunião com os pais para explicar o projeto e solicitar

que colaborasse, auxiliando seu filho, pois são os alicerces e que o orientassem e

participassem quando fossem convidados para as apresentações. Também os alunos

foram orientados que sempre que tivessem problemas ou outras situações mais

complicadas, que buscassem apoio da escola ou dos pais;

b) disponibilizar muitos textos e refletir, debater e após a discussão retornar ao

texto para novas conclusões com mais segurança, proporcionando um ambiente de

trabalho com situações favoráveis à leitura. Essa metodologia já fazia parte do projeto,

mas as sugestões serviram para que realmente se percebesse que esta estratégia é uma

preocupação de muitos professores e que precisam ser efetivadas em sala de aula;

c) participação do(a) bibliotecário(a) - reunião com os alunos e a bibliotecária

para exposição da implementação, pois seu papel é de suma importância também

incentivo do "hábito da leitura";

d) palestras com psicólogo; promotora e médico – as palestras com profissionais

qualificados são importantes, pois possibilitaram aos alunos o conhecimento mais

aprofundado e tirar as suas dúvidas;

e) receitas de alimentos comuns, mas preparados de maneiras diferentes

certamente despertará sua curiosidade e vontade de provar receitas diferentes;

organização de cardápio, aproveitando os recursos disponíveis na própria

comunidade,como frutas verduras e leites. Ressaltou-se a importância da horta e

comidas caseiras e a degustação dos alimentos.

O GTR teve vários pontos positivos: o entrosamento e troca de experiências

entre os professores cursistas e os tutores, variedades de metodologias para o

enriquecimento das aulas, reflexões/estudo fundamentações teóricas elaboradas pelos

professores PDE. Em relação ao ponto negativo, podemos citar que alguns professores

não terminam o GTR devido a falta de tempo e outros por não estarem necessitando

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mais de cursos para avanço em sua carreira. Ressaltamos que esta forma de capacitação

possibilita aos professores da rede pública uma aprendizagem diferenciada e inovadora.

Conclusão

A aplicação do projeto “Formação leitora e cidadania a partir das versões da

história dos três porquinhos”, integrante do PDE na escola, atendeu às expectativas e

alcançou os objetivos esperados. Além disso, foi muito gratificante trabalhar com

crianças, temas atuais, como é o caso do bullying e dos transtornos alimentares, a partir

de contos de fadas. Escolhemos os temas pensando em questões que fossem

significativas e relevantes para o grupo e que pudessem suscitar mudanças de atitudes

nele.

A escolha da 5ª série justifica-se devido às crianças responderem mais e melhor

aos desafios propostos a elas, serem mais abertas a mudanças de atitudes, terem uma

imaginação fértil e adorarem ouvir e ler histórias. Porém, trabalhar com a 5ª série, exige

do professor muito mais dedicação e empenho, pois as dificuldades com o trabalho são

grandes, uma vez que nesta série ainda é imatura e carente. O trabalho nas quintas séries

é longo e difícil, e merece atenção especial por toda a comunidade escolar, no sentido

de assessorar o professor e os alunos para que os mesmos possam desenvolver toda a

sua potencialidade.

Os alunos nessa série ainda estão acostumados a uma convivência maior com o

professor e alguns apresentam dificuldades de leitura, compreensão e escrita. Uma

proposta da SEED é a ‘Sala de Apoio” para os alunos da 5ª série, servindo como um

reforço, sendo um excelente recurso para ajudá-los a superar os desafios a eles

apresentados. A falta de tempo para o atendimento individual, devido às aulas serem de

somente 50 minutos deixa os alunos apreensivos, porque todos querem falar/ serem

ouvidos ao mesmo tempo.

Assim, com o desenvolvimento da implementação na escola, criaram-se as

condições para que o aluno construísse o seu conhecimento por meio da investigação,

da discussão e reflexão como forma de auxiliá-lo para exercer a sua cidadania com

maior capacidade de ler/compreender e produzir a sua escrita com argumentação

consistente, tendo o aluno como o centro do processo de ensino e aprendizagem.

Referências

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