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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PAULA NATIVA MARTINS MATA ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS NA COMPREENSÃO LEITORA: UMA REVISÃO DA LITERATURA Niterói Junho / 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PAULA NATIVA MARTINS MATA

ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS NA COMPREENSÃO LEITORA:

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Niterói

Junho / 2018

2

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PAULA NATIVA MARTINS MATA

ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS NA COMPREENSÃO LEITORA:

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso de Letras

da Universidade Federal Fluminense para

obtenção do título de Licenciatura em Letras

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Kenedy

Niterói

Junho / 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PAULA NATIVA MARTINS MATA

ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS NA COMPREENSÃO LEITORA:

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso de Letras

da Universidade Federal Fluminense para

obtenção do título de Licenciatura em Letras

BANCA EXAMINADORA

PROF. DR. EDUARDO KENEDY NUNES AREAS (ORIENTADOR)

(Universidade Federal Fluminense)

PROFª. DRA LUCIANA SANCHEZ MENDES

(Universidade Federal Fluminense)

PROFª. DRA FERNANDA ROSA DA SILVA

(Universidade Federal Fluminense)

Niterói

Junho / 2018

4

Ao meu pai, Paulo (in memorian), que partiu

antes de me ver concluindo o curso de Letras, mas

cujo incentivo sinto sempre dentro de mim e me dá

forças para continuar.

À minha mãe, Ângela, que é minha base e

meu porto seguro em todos os momentos.

5

AGRADECIMENTOS

Ao professor Eduardo Kenedy, por ter me acolhido com tão boa vontade quando pedi a

orientação deste trabalho.

Aos meus professores e colegas de curso que de alguma forma fizeram parte desta trajetória,

me dando suporte na teoria e na prática profissional.

Às minhas amigas psicólogas Carolyne e Eduarda que, estando comigo desde o início do meu

interesse por Compreensão Leitora, ainda na Psicologia, nunca deixaram de apoiar as minhas

escolhas e frequentemente me inspiram e ajudam a ser melhor.

Aos meus amigos Raphael e Letícia, que começaram esse percurso em Letras comigo na

UERJ e até hoje são meu porto quando a solidão de cursar uma faculdade à distância em

turmas diversas me aflige.

Aos meus afilhados, Isabella, Leonardo e Eduardo, por me instigarem a aprender mais

sempre e a deixar um mundo melhor para eles.

À minha mãe, por todo apoio, incentivo e confiança. Por ter me ensinado quando criança que

ler é importante, me oferecendo tudo o que estava ao seu alcance para que eu fosse uma boa

aluna e leitora.

Ao meu pai, que se foi logo no início da minha trajetória na UFF. Serei eternamente grata por

sempre ter acreditado em mim. Pelo orgulho que sei que sentia. Saber disso é meu motor para

continuar.

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RESUMO

A compreensão leitora é uma habilidade essencial para a prática escolar e cidadã. Apesar

disso, dados amplos de pesquisas mostram que grande parte da população brasileira não

compreende o que lê. Desta maneira, diversos estudos vêm sendo realizados com o intuito de

avaliar e intervir nos níveis de compreensão, sobretudo na área escolar. O presente trabalho

tem por objetivo apresentar uma revisão sobre um processo de alto nível cognitivo que se

associa a bons desempenhos em leitura: a metacognição. Este construto diz respeito ao

conhecimento e regulação dos processos de pensamento (FLAVELL, 1976). No contexto da

leitura compreensiva, a metacognição destaca a necessidade do papel ativo do leitor durante

as tarefas de leitura. Leitores habilidosos costumam usar estratégias metacognitivas – como

fazer perguntas para si, monitorar e justificar – ao ler um texto. Já leitores menos hábeis

dificilmente lançam mão de tais estratégias (BAKER, 1986). Os estudos encontrados dentro

desta temática foram divididos em dois tipos: os de avaliação, que pretendem demonstrar a

relação entre compreensão leitora e estratégias metacognitivas com intuito puramente

diagnóstico e os experimentais, que propõem instruções voltadas para a estimulação das

habilidades metacognitivas em tarefas de leitura. Verificou-se que os estudos encontrados

reiteram a noção de que o pensar sobre os próprios processos cognitivos é uma atividade

primordial para o sucesso na compreensão de textos escritos.

Palavras chave: Compreensão leitora; Metacognição; Estratégias Metacognitivas

7

ABSTRACT

Reading comprehension is an essential skill to the scholar and citizen practice. Despite this,

broad search data show that a large part of the Brazilian population doesn’t understand what

they read. In this way, several studies have been carried out with the purpose of evaluating

and intervening at the levels of comprehension, especially in the school area. The present

study aims to present a review of a high-level cognitive process that is associated with good

performances in reading: metacognition. This construct concerns the knowledge and

regulation of thought processes (FLAVELL, 1976). In the context of comprehensive reading,

metacognition highlights the necessity of an active role of the reader during reading tasks.

Skilled readers often use metacognitive strategies – as to use of self-questioning, monitoring

and justifying - when reading a text. Less skilled readers are hardly able to use such strategies

(BAKER, 1986). The studies found within this theme were divided into two types: the

evaluate ones, which aim to demonstrate the relationship between reading comprehension and

metacognitive strategies with a purely diagnostic purpose and the experimental ones, which

propose instructions aimed at the stimulation of metacognitive abilities in reading tasks. The

studies found reiterate the notion that thinking about one's own cognitive processes is a prime

activity for success in understanding written texts.

Keywords: Reading comprehension; Metacognition; Metacognitive strategies

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................9

1. COMPREENSÃO LEITORA...................................................................................11

2. METACOGNIÇÃO....................................................................................................17

3. ESTUDOS DE INTERVENÇÃO..............................................................................25

3.1 Avaliação da metacognição e compreensão leitora...........................................25

3.2 Experimentos em metacognição e compreensão leitora...................................35

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................45

9

INTRODUÇÃO

A compreensão da leitura é essencial na formação acadêmica e cidadã, uma vez que

nossa cultura está permeada por textos escritos. Compreender o que se lê, entretanto, não se

resume à mera decodificação de palavras e requer um esforço mental mais aguçado para o

real entendimento do texto. Este esforço refere-se às habilidades cognitivas de mais alto nível

necessárias para a compreensão da leitura, tais como atenção, memória, funcionamento

executivo, produção de inferências, uso de estratégias metacognitivas, entre outras.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), tendo isto em visa, colocam entre os

objetivos gerais do ensino de língua portuguesa no ensino básico a formação de leitores e

escritores proficientes:

Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que

lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando

elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros

textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um

texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de

elementos discursivos (Brasil, 1997, p. 41).

Apesar disso, a realidade do ensino de língua portuguesa no Brasil parece estar

distante do proposto nas cartilhas de Educação. Os resultados do Sistema de Avaliação da

Educação Básica (SAEB) de 2015 referentes às médias em Língua Portuguesa progrediram

de 2013 a 2015, entretanto, um número expressivo de alunos ainda se encontra nos níveis

mais baixos de proficiência, principalmente no 9º ano do Ensino Fundamental e na 3ª série do

Ensino Médio.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OECD, 2016), o letramento em leitura “refere-se a compreender, usar, refletir sobre e

envolver-se com os textos escritos, a fim de alcançar um objetivo, desenvolver conhecimento

e potencial e participar da sociedade”. Os dados do Programa Internacional de Avaliação dos

Estudantes (PISA), também de 2015, explicitam que 51% dos estudantes brasileiros não

alcançam o patamar mínimo de compreensão leitora estabelecido pela OECD para o exercício

pleno da cidadania.

A partir da dificuldade apontada por estes e outros instrumentos de avaliação da

competência leitora, torna-se imprescindível a realização de estudos sobre as habilidades

10

necessárias à boa compreensão. Tendo em vista este cenário, tem sido desenhadas

intervenções para estimulação da compreensão leitora para indivíduos com dificuldade de

aprendizagem (DA), com dificuldade específica de compreensão de leitura (DECL) e para a

população sem queixa. Algumas destas pesquisas estudam processos básicos, como

vocabulário, mas cada vez mais se concentram em estudar os efeitos das instruções baseadas

nos processos de maior complexidade da leitura, baseadas na psicolinguística, na psicologia

cognitiva e na neuropsicologia.

Entre os processos considerados mais importantes para a compreensão leitora está a

metacognição. Flavell (1976) e Brown (1978) descrevem metacognição como conhecimento

e controle da cognição. O primeiro aspecto diz respeito à consciência sobre os próprios

recursos cognitivos e o uso adequado de estratégias, enquanto o segundo trata dos

mecanismos de regulação diante de atividades cognitivas, como planejar, verificar, monitorar,

avaliar, entre outros.

Pessoas com boas habilidades metacognitivas entendem sua forma de processar

informações e controlam a própria cognição, criando novas estratégias quando percebem que

não compreenderam algo. No processo de leitura, portanto, a metacognição é essencial, pois

permite ao leitor avaliar o quanto está compreendendo o texto no ato da leitura.

O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura que objetiva reunir os estudos

sobre o uso de estratégias metacognitivas na compreensão leitora. Para isto, primeiramente

serão apresentados os conceitos de compreensão leitora e metacognição e, em seguida, haverá

o levantamento dos estudos encontrados de 2001 a 2017. Por fim, o capítulo final trará as

discussões e considerações finais.

11

1. COMPREENSÃO LEITORA

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1998), a leitura é fruto da

interação entre autor, texto e leitor. Desta forma, o leitor deve ter papel ativo na construção

de sentido, trazendo seu conhecimento prévio, habilidades cognitivas, conhecimentos

linguísticos e objetivos da leitura. O texto dos PCNs destaca ainda que a leitura não se

resume a decodificação letra a letra e palavra a palavra, mas que demanda estratégias mais

complexas, como antecipação e produção de inferência. Sendo assim, um leitor competente

consegue selecionar os textos de acordo com suas necessidades e possui estratégias para

alcançá-las na leitura.

Para Gough & Tunmer (1986) a leitura é um processo complexo que envolve diversos

recursos cognitivos e possui duas dimensões: a decodificação e a compreensão linguística. A

decodificação pode ser compreendida como a capacidade de decifrar o código linguístico

escrito, a partir da combinação de grafemas e fonemas até o reconhecimento da palavra no

léxico mental. A compreensão, para Kintsch & Van Dijk (1978), ocorre com a representação

mental do texto, o que requer a integração de informações intra e extratextuais (do próprio

texto e do conhecimento prévio, respectivamente).

O Modelo Simples de Leitura (Gough & Tunmer, 1986), defende que a compreensão

leitora é produto da decodificação do texto escrito e da compreensão linguística. Isto significa

que apenas uma ou outra não é suficiente para assegurar a plena competência leitora. Desta

maneira, aqueles que conseguem decodificar bem o texto escrito e também compreendê-lo,

são considerados leitores proficientes; os que possuem a compreensão preservada, mas

apresentam dificuldades na decodificação, têm o perfil típico da dislexia; os que decodificam

bem, mas não conseguem compreender o que lêem possuem dificuldade específica de

compreensão de leitura (DECL); e, por fim, quem tem decodificação e compreensão

prejudicadas, apresenta uma dificuldade geral de leitura. O esquema a seguir representa o

modelo em questão:

12

COMPREENSÃO LINGUÍSTICA

DECODIFICAÇÃO

Figura 1: Modelo Simples de Leitura (Simple View of Reading, 1986)

De acordo com o Modelo Cognitivo para Leitura Compreensiva, de Kintsch e Van

Dijk (1978), a estrutura de superfície do texto é um conjunto de proposições1. Algumas destas

proposições estão explícitas e outras, subentendidas, requerendo processos inferenciais.

Compreender um texto, então, corresponde a representar as proposições mentalmente em

redes semânticas. Este processamento ocorre em partes e em ciclos, devido à capacidade

limitada da memória de trabalho2.

Dois níveis da estrutura semântica do discurso são destacados no modelo: a macro e a

microestrutura. A microestrutura corresponde ao nível local do discurso: as proposições e

suas relações. A macroestrutura é definida como a informação semântica que propicia ao

discurso uma unidade global, como um esquema abstrato. Estes níveis estão relacionados por

um conjunto de regras de mapeamento semântico, chamadas de macrorregras, que trabalham

para a construção de uma macroestrutura coerente.

O início da leitura, de acordo com este modelo, se dá no agrupamento de proposições

em unidades básicas, no processo denominado notação, formando a microestrutura do texto

base. Depois disso, o leitor verifica se as proposições são coerentes ou não, fazendo os ajustes

1 Termo emprestado da lógica. Dentro da abordagem da representação de texto, as proposições são elementos

básicos da estrutura semântica (Kintsch, 1974).

2 Sistema de memória responsável pelo processamento de um número limitado de informações em um período

curto de tempo (Baddeley & Hitch,1974).

Dislexia Bons

Leitores

Dificuldade

Específica de

Compreensão

de Leitura

Dificuldade

Geral de

Leitura

13

necessários. Na seleção, o leitor mantém as proposições principais e na conexão, as relaciona

em blocos. Nisto se dá a formação da macroestrutura, ou seja, do texto construído

mentalmente. O leitor, então, avalia a coerência do que foi formado, reiniciando o processo

ou seguindo adiante. Neste sentido, a construção da macroestrutura está associada a um

controle metacognitivo: quando lemos um texto e nos damos conta que não compreendemos

algo, isto pode ser devido ao rompimento de elos entre as proposições, que impedem a

compreensão global (Soares, 2014; De Jou & Sperb, 2008).

Kato (2002) distingue dois tipos de processamento do texto - o top-down (ou

descendente) e bottom-up (ou ascendente) - associando-os a diferentes perfis de leitores. Um

leitor que se aproxima do tipo descendente faz mais uso de seu conhecimento prévio que da

informação dada pelo texto (vai da macro a microestrutura). Porém, tende a produzir um

excesso de adivinhações por não confrontar as ideias que surgem com o que está escrito na

superfície do texto. Já o leitor que utiliza especialmente o processo ascendente constrói o

significado a partir de dados do texto, de forma lenta e minuciosa, mas tem dificuldades para

extrair o principal da leitura e ignorar informações redundantes (faz o processo inverso, indo

do nível da micro para a macroestrutura). O leitor maduro, por sua vez, usa os dois processos

no momento certo e de maneira adequada e complementar. A própria escolha do tipo de

processamento já é, para Kato, uma habilidade metacognitiva deste leitor.

Outro aspecto que merece destaque nas abordagens de leitura diz respeito à natureza

deste processo. Segundo Gombert (2003), a aprendizagem da língua escrita é radicalmente

diferente da aquisição da língua oral, já que esta encontra-se em parte dependente de

programações inatas e processos biologicamente determinados, que são ativados quando o

bebê entra em contato com a língua do ambiente. Desta maneira, a criança adquire a língua

oral em um processo natural, sem necessidade de ensino formal, como ocorre com a

aprendizagem da escrita.

Já a alfabetização requer esforço do indivíduo, que precisa ter um controle intencional

sobre as atividades desempenhadas. Para Frith (1985 apud Gombert, 2003), existem três

etapas no desenvolvimento da capacidade de reconhecimento de palavras escritas (acesso ao

léxico mental): 1) o estágio logográfico, apoiado num sistema semântico pictural, em que o

leitor procura adivinhar palavras com base no contexto; 2) o estágio alfabético, quando

começa a haver correspondências entre o escrito e o oral; e 3) o estágio ortográfico, no qual

ocorre uma análise linguística para acessar a palavra.

14

Conforme o Duplo Processamento de Leitura de Ellis & Young (1988), existe uma

rota fonológica (estágio alfabético), caracterizada pela decodificação grafema-fonema

realizada lentamente, geralmente no início da alfabetização, e uma rota lexical (estágio

ortográfico), quando a palavra pode ser lida como um todo, com identificação do significado

e padrões ortográficos. A interação entre estes dois processos, lexical e fonológico, é típica

do leitor competente, que consegue avaliar quando é necessário usar uma ou outra rota.

Para Gombert (2003), o reconhecimento das palavras é um pré-requisito para a

compreensão, condicionando toda a atividade de leitura. Além disso, é necessário que o custo

cognitivo para a decodificação seja o mínimo possível, de forma que o leitor possa alocar sua

atenção para os processamentos de mais alto nível da compreensão.

Neste sentido, LaBerge e Samuels (1974) cogitaram que em muitos casos a

dificuldade de compreensão poderia ser explicada pelo alto investimento cognitivo na

decodificação lenta, trabalhosa e consciente, esgotando os recursos cognitivos que poderiam

ser dedicados à compreensão. Com isso, a noção de fluência toma lugar importante no

processo de compreensão leitora. Samuels (2006), afirma que a fluência é expressa pela

decodificação e compreensão ao mesmo tempo, tendo como indicadores disto a precisão, a

automaticidade e a prosódia. Em resumo, a precisão é a habilidade de reconhecer ou

decodificar as palavras corretamente; a automaticidade refere-se às propriedades de

velocidade, autonomia, ausência de esforço e de atenção consciente; e a prosódia diz respeito

ao processo de ler com expressão, ritmo e entonação adequados (Puliezi, 2014).

Para Sternberg e Grigorenko (2003), a automatização do processo de reconhecimento

de palavras permite à criança utilizar estratégias metacognitivas na leitura, como utilizar o

conhecimento prévio, fazer ajustes na leitura de acordo com o propósito da mesma e com a

dificuldade do material, entre outras (Corso & Salles, 2009).

Oakhill e Yuill (1996) consideram três áreas essenciais para uma boa compreensão

leitora: a produção de inferências, o entendimento da estrutura textual e o monitoramento da

compreensão. Segundo elas, para compreender o texto, os leitores precisam ir além do que

está explícito, ligando ideias no texto e recuperando seus conhecimentos prévios de mundo,

pois frequentemente os autores deixam informações implícitas. Além disso, é necessário

compreender a estrutura do texto, de acordo com seu gênero e tipo. E, por fim, leitores devem

15

monitorar sua compreensão, identificando se houve ou não clareza na leitura e sabendo lançar

mão de estratégias quando houver falhas no entendimento.

A Abordagem Cognitiva da Compreensão Leitora (Cognitive View of Reading

Comprehension, Kendeou et al., 2014) ressalta que a boa compreensão depende de uma

coerente representação mental do texto – associando a informação textual ao conhecimento

prévio via relações semânticas. Tanto os processos cognitivos de baixo nível, quanto os de

alto nível, requeridos na compreensão de leitura, começam a se desenvolver antes da

alfabetização e são preditores da boa compreensão leitora em idades mais avançadas. Entre os

processos de baixo nível estão a decodificação, a fluência e o vocabulário. A automatização

destes processos, ao longo do desenvolvimento, permite a liberação de recursos cognitivos

para processamentos de maior complexidade, como a geração de inferências, a alocação da

atenção e o funcionamento executivo (Kendeou et al., 2014 apud Mata, 2015).

Kendeou et at (2014) destacam que a falha na produção de inferências pode ocorrer

devido ao limitado conhecimento prévio do leitor, tanto de ordem prática (por exemplo, saber

que se uma bola bater em uma janela de vidro, ela poderá quebrar), quanto sobre a própria

estrutura do texto (saber, por exemplo, que uma história narrativa geralmente começa com

uma ambientação, apresenta um problema e termina com uma resolução deste problema).

A alocação da atenção, outro processo de alto nível destacado por Kendeou et al

(2014), refere-se à habilidade de adaptar a atenção e os recursos de processamento às

demandas da tarefa em questão. À medida que as crianças se desenvolvem e se tornam mais

proficientes na leitura, melhoram a capacidade de concentração nos aspectos centrais do

texto. Isto reflete numa melhor alocação da atenção no processamento da informação.

O funcionamento executivo, de modo genérico, refere-se a uma série de processos

cognitivos envolvidos na regulação e controle voluntário dos comportamentos em tarefas

específicas (Diamond, 2013; Miyaki et al., 2000). Duas importantes funções executivas para

Kendeou et al (2014) são a memória de trabalho e o controle inibitório.

A memória de trabalho permite que o indivíduo mantenha informações ativas no

pensamento enquanto as manipula e recebe novos dados do ambiente, tornando possível a

integração das duas partes (Baddeley, 2003; Daneman & Carpenter, 1980; Swanson &

O’Connor, 2009). É consideravelmente importante na produção de inferências, pois o leitor

16

precisa conseguir estabelecer conexões entre duas ou mais partes de um texto ou manter

alguma informação enquanto busca conhecimento prévio necessário para fazer inferências.

O controle inibitório, por sua vez, pode ser entendido como a capacidade de controlar

a própria atenção, comportamento, pensamento e emoção, em detrimento de estímulos

internos ou externos que incidam sobre o sujeito (Diamond, 2013). Ou seja, para construir

uma boa representação mental do texto, o leitor precisa manter, em sua memória de trabalho,

os elementos mais relevantes e inibir as informações menos importantes (Mata, 2015).

Em suma, vem sendo defendida na literatura a noção de que habilidades de mais alto

nível - entre elas a metacognição - possuem um papel essencial na compreensão leitora,

distinguindo leitores proficientes e não proficientes. Para Paris e Jacobs (1984, apud

Mokhtari, 2002), leitores habilidosos frequentemente se engajam em atividades que requerem

planejamento, estratégias flexíveis, e monitoramento constante. Eles pensam sobre o assunto,

olham para frente e para trás no texto e checam sua própria compreensão enquanto lêem.

Leitores iniciantes ou não habilidosos enfrentam dificuldades para recrutar e usar tais

habilidades.

17

2. METACOGNIÇÃO

O termo metacognição começou a ser encontrado na literatura a partir da década de

70, sobretudo com Brown (1978) e Flavell & Wellman (1977). Para melhor entendimento

deste construto, porém, é importante primeiramente elucidar os conceitos de consciência e

inconsciência da psicologia cognitiva. De acordo com Matlin (2004), a consciência

caracteriza-se como “saber que as pessoas possuem imagens e sentimentos sobre o mundo

exterior e suas percepções”. Já os conteúdos não presentes na consciência constituem o

inconsciente cognitivo. O consciente e o inconsciente estão num continuum, onde o meio

termo é denominado pré-consciente por psicólogos e mais conhecido por psicolinguistas

como sensibilidade (Poersch, 1998).

A cognição é definida por Matlin (2004) como uma atividade mental que permite a

aquisição, o armazenamento, a transformação e a aplicação de conhecimento. Trata-se de um

processo inconsciente ou pré consciente, automático e não controlado. Alguns exemplos de

processos mentais tomados pela cognição são a percepção, a memória, a linguagem, a tomada

de decisão, a resolução de problemas e o raciocínio. A metacognição, por sua vez, diz

respeito ao conhecimento que a pessoa tem de seus próprios processos cognitivos. Ou seja, é

consciente e controlada; o indivíduo, de forma voluntária, decide lançar mão de estratégias de

ação e reflexão necessárias para atingir seu objetivo.

Ainda antes do aparecimento do termo metacognição, o assunto vinha sendo tratado

na literatura de outras maneiras. Brown (1980) aponta que Vygotsky (1962) descreveu duas

fases no desenvolvimento do conhecimento: primeiro, uma aquisição inconsciente e

automática, seguida de um crescimento gradual no controle consciente e ativo pelo

conhecimento. Esta distinção é essencialmente a separação entre os aspectos cognitivos e

metacognitivos descritos no parágrafo anterior.

Flavell (1976) define metacognição como o conhecimento sobre os próprios processos

e produtos cognitivos, assim como o monitoramento ativo e consequente regulação dos

processos em relação aos objetivos. Para Baker (1984), a primeira acepção trata do

conhecimento de uma pessoa sobre seus próprios recursos cognitivos, da consciência acerca

das atividades ao ler, ao resolver problemas, entre outras. Quando há ciência do que é

necessário para realizar a atividade de forma eficaz, a pessoa toma medidas para atender às

demandas de aprendizagem de forma mais adequada. Entretanto, se não compreende suas

18

limitações e a complexidade da tarefa, haverá dificuldades para antecipar ou remediar

problemas.

Já a segunda acepção refere-se aos mecanismos de autorregulação usados pelo

aprendiz nas tentativas de resolução de problemas. Inclui checar o resultado de qualquer

tentativa de resolver o problema, planejar próximos passos, monitorar a eficácia das ações,

testar, revisar e avaliar as estratégias de aprendizagem.

Em 1979, em um estudo sobre o desenvolvimento da metamemória, Flavell propôs

um modelo de monitoramento cognitivo que trabalha com quatro concepções: o

conhecimento metacognitivo; as experiências metacognitivas; os objetivos ou tarefas; e as

ações ou estratégias.

O conhecimento metacognitivo abarcaria uma série de crenças sobre fatores que

interagem para gerar o curso e o resultado de uma atividade cognitiva, sendo variável de

acordo com a pessoa, a tarefa e a estratégia. A experiência cognitiva seria caracterizada pelo

conjunto das sensações que acompanham e pertencem a um fenômeno intelectual, como, por

exemplo, um sentimento súbito de não ter entendido algo numa leitura. Ela é capaz de

influenciar o conhecimento metacognitivo, suprimindo, editando ou acrescentando crenças.

Os objetivos instigam e sustentam a atividade cognitiva, sendo também constantemente

afetados pelas experiências cognitivas. E, por fim, as ações são as cognições ou outros

comportamentos empregados para alcançar os objetivos.

Para Brown (1987), a metacognição também parece estar dividida desta forma: o

conhecimento sobre os próprios recursos cognitivos ou sobre as estratégias mais adequadas

para a realização de uma determinada tarefa (ou seja, processos cognitivos e suas operações)

e a utilização de mecanismos de regulação (controle) durante uma tarefa como o

planejamento, a verificação, o monitoramento, a revisão e a avaliação das realizações

cognitivas (mais próximas ao controle executivo). Brown (1987) percebeu ainda que, com

isso, o termo metacognição poderia ser usado em duas áreas distintas, pois uma vez que o

conhecimento é noção estável, passível de verbalização e falível, o controle é instável,

dependente da situação e da tarefa e nem sempre passível de verbalização (Ribeiro, 2003).

Segundo Ribeiro (2003), Flavell e Brown convergem em certos aspectos em relação

ao termo metacognição. Flavell (1987) argumenta que as estratégias cognitivas levam o

sujeito a um objetivo cognitivo, ao passo que as estratégias metacognitivas avaliam a eficácia

19

das primeiras. Ler um texto lentamente para absorver o conteúdo é uma estratégia cognitiva,

enquanto proceder a uma leitura rápida para ter uma noção das dificuldades do texto seria

uma estratégia metacognitiva.

Muitas outras definições e reflexões sobre metacognição foram feitas ao longo do

tempo. Lawson (1984, apud Ribeiro, 2003), por exemplo, compreende conhecimento

cognitivo e regulação como processos distintos. Para o autor, refletir sobre a cognição (em

termos de planos, monitorização e modificação) nos torna “conscientes da nossa consciência”

através dos processos executivos. Sob este ponto de vista, o termo metacognição refere-se

especialmente ao conhecimento metacognitivo, enquanto a regulação está associada aos

processos executivos, conforme o esquema a seguir:

Figura 2: Conhecimento metacognitivo como o resultado dos

processos executivo (adaptado de Lawson, 1984).

Já Sternberg (1996), considera a metacognição como um tipo de processo executivo

de ordem superior. Este, por sua vez, é colocado juntamente com os componentes de

desempenho e de aquisição de conhecimento como responsáveis pelo processamento de

informação. Os processos executivos, também chamados de metacomponentes, são usados

para planejar, monitorar e avaliar a resolução de problemas. A metacognição, neste quadro, é

colocada como um tipo de processo executivo. Os componentes de desempenho

20

implementam os comandos dos metacomponentes e os de aquisição compreendem os

processos usados para aprender como resolver problemas.

Corso et al (2013) trazem uma revisão da literatura sobre as interfaces entre

metacognição e funções executivas. Ambos conceitos remetem à capacidades mentais

semelhantes: planejamento e regulação da própria atividade em função de determinados

objetivos. A aprendizagem, no geral, requer estas capacidades. O termo metacognição é

usado sobretudo pela psicologia cognitiva e pela linguística, enquanto o termo funções

executivas é próprio da neuropsicologia.

As autoras relatam que desde as primeiras tentativas de clarificação do conceito de

metacognição até hoje, muitas pesquisas foram feitas com o construto. Apesar disso, não

houve um considerável avanço teórico ou clareza terminológica. O desenvolvimento da

definição de metacognição vem atrelado à compreensão sobre sua avaliação, o que também é

ressaltado como um problema, visto que os principais instrumentos – entrevistas, escalas

(métodos offline), registros de pensamento em voz alta (método online), questionários,

observações, lembrança estimulada e registro de movimentos oculares – não possuem

suficiente precisão experimental. Desta maneira, é necessário que seja determinado qual

componente da metacognição pode ser melhor avaliado por determinado método (Veenman

et al, 2006 apud Corso et al, 2013).

Mais recentemente, Dunlosky e Metcalfe (2009, apud Corso et al, 2013) conceberam

metacognição como um conceito multifacetado, abrangendo o conhecimento metacognitivo –

conhecimento sobre a cognição –, o monitoramento metacognitivo – avaliação da situação da

atividade cognitiva – e o controle metacognitivo – regulação da atividade cognitiva

Dentro da perspectiva de Piaget, de Vygotsky e da Teoria da Informação, pensar,

aprender e se desenvolver supõem pôr em prática processos executivos que permitam regular

a própria atividade com vistas à consecução de um objetivo. Os modelos de processamento

da informação colocam a metacognição como aspecto central da aprendizagem. Diante de

determinadas tarefas, salientam os processos de controle e planejamento, de seleção,

organização, monitoramento e avaliação (Martin, 2004 apud Corso et al, 2013).

O termo funções executivas (FEs) foi descrito pela primeira vez na Neuropsicologia

como o executivo central dentro do modelo de memória de trabalho de Baddley e Hitch

(1974). Cypel (2006) descreve as FEs como funções responsáveis por dar início e

21

desenvolver uma atividade com um objetivo determinado. Este sistema é encarregado de

gerenciar os recursos cognitivos-comportamentais com as finalidades de planejamento e

regulação do comportamento. De acordo Castellanos et al (2006), existe também uma divisão

em FEs frias e quentes, sendo estas relacionadas ao âmbito emocional e aquelas ao domínio

cognitivo (Corso et al, 2013).

As autoras concluem que o aspecto multidimensional tanto de metacognição como de

funções executivas impõe dificuldades à pesquisa e à prática clínica. Diversas pesquisas

apontam que os conceitos são intimamente relacionados, embora as FEs extrapolem o

domínio cognitivo com a abrangência do aspecto afetivo/emocional. Apesar disso, ambos

conceitos são essenciais no processo de aprendizagem, bem como estão implicados nos

quadros de dificuldade de aprendizagem.

Seja tratando-se de metacognição ou de funções executivas, a compreensão leitora

ilustra com clareza o papel das habilidades de controle e planejamento na aprendizagem.

Como já exposto anteriormente, Kintsch e Van Dijk (1978), em seu modelo de compreensão

de leitura, explicitam que a compreensão comporta procedimentos metacognitivos, como

verificar a coerência do que foi lido para decidir se é necessário retomar a leitura ou não.

Outra diferenciação terminológica relevante no presente estudo é entre metacognição

e metalinguagem. Para Poersch (1998), ambas são atividades que pressupõem a consciência.

A primeira, porém, se debruça sobre o processamento do conhecimento (dos processos

cognitivos) e a segunda se ocupa da descrição da linguagem. Sendo assim, tratam de estudos

com objetos diferentes:

A linguagem consiste no uso de um sistema verbal para fins comunicativos.

Nessa linguagem distinguimos o produto e o processo. Tanto podemos

analisar um quanto outro. Se nos debruçarmos sobre o produto, e o

descrevermos, teremos a metalinguagem. O processo - presente nas

atividades linguísticas da fala, da compreensão, da escritura, da leitura, da

tradução - faz parte da cognição. O debruçar-se sobre esses processos para

melhor entendê-los e para descrevê-los constitui metacognição: saber o que

se sabe e como se sabe (Poersch, 1998, p.8)

Cabe salientar também que a metacognição é uma habilidade que se amplia ao longo

do desenvolvimento. Flavell (1979) destaca que crianças mais novas possuem conhecimento

cognitivo limitado, tendo assim pouco monitoramento de memória, compreensão oral e

22

leitora, entre outros fenômenos cognitivos. Além disso, realça que quanto melhores as

habilidades metacognitivas, melhor o desenvolvimento da criança dentro e fora da escola.

Brown (1978), neste sentido, já havia encontrado que o treinamento sistemático em

habilidades metacognitivas favorece o processo de aprendizagem. Para ele, perceber a

dificuldade em compreender uma tarefa e/ou tornar-se consciente quando não ocorre

compreensão é uma habilidade que parece distinguir bons e maus leitores.

Haller et al (1988) realizaram uma metanálise sobre o efeito da instrução em

estratégias metacognitivas na compreensão leitora. A pesquisa compreendeu o período de

1975 a 1987. Foram selecionados 20 estudos que continham intervenção em metacognição

com grupo controle e informação estatística necessária para calcular o tamanho dos efeitos.

Eles elucidaram que parece haver um consenso sobre as atividades mentais que a

metacognição abarca, a saber: consciência, monitoramento e regulação.

A consciência das próprias atividades facilita o monitoramento e o ajuste do

processamento cognitivo. Por exemplo, a consciência de uma compreensão insuficiente leva

o leitor experiente a procurar a fonte da dificuldade e remediá-la. O monitoramento é

responsável por verificar a compreensão durante a leitura. Inclui a leitura direcionada aos

objetivos, o autoquestionamento, a paráfrase e o resumo. Além disso, também engloba a

integrar conhecimento prévio à nova informação, comparar ideias principais, relacionar

detalhes a estas ideias e avaliar atividades, como fazer premissas e previsões. A regulação,

por sua vez, é uma estratégia compensatória para redirecionar a compreensão falha. São

exemplos: reler, realizar estratégias de busca como recuar ou avançar, entre outras também

especificadas como monitoramento.

A análise da consciência, monitoramento e regulação sugere que algumas atividades

metacognitivas de leitura foram mais eficazes do que outras. Na consciência, destaca-se a

abordagem de dissonância textual; no monitoramento, a estratégia de autoquestionamento; e

na regulação, estratégias de recuo e avanço e de autoquestionamento. Os resultados

demonstraram que a resposta para a pergunta do trabalho “a compreensão pode ser

ensinada?” é positiva. De acordo com os dados, a instrução funciona especialmente com

alunos de sétimo e oitavo anos e pode ser inclusive expandida para outras áreas, como a

escrita criativa, a composição e atividades artísticas no geral, visto que a metacognição não é

exclusiva da compreensão leitora.

23

Ainda dentro da temática da metacognição na leitura, Kleiman (1989) considera duas

estratégias principais: a capacidade de estabelecer objetivos na leitura e a formulação de

hipóteses, relacionadas ao controle e regulação dos processos de compreensão. Quando o

leitor estabelece um objetivo na leitura, estabelece também estratégias necessárias para

atingi-lo. Da mesma forma, quando faz hipóteses, ele procura sempre confirmá-la ou refutá-

la, monitorando sua compreensão.

Quanto ao momento da leitura, o bom leitor emprega estratégias antes, durante e após

ler o texto. Antes da leitura, por exemplo, estratégias comuns são a ativação de conhecimento

prévio, a realização de predições e uma análise global do texto (observando título, divisão do

texto e recursos visuais). Durante, destacam-se a seleção das ideias principais, a análise das

predições (confirmando-as ou refutando-as), as anotações e grifos, o questionamento da

coerência e a produção de inferências. Após, o leitor pode refletir sobre o conteúdo lido,

relacionando-o ao seu conhecimento de mundo (Duke & Pearson, 2002; Kaufman, 2010).

Hodges (2012), por sua vez, destacou três estratégias metacognitivas apontadas como

eficazes na literatura e facilmente aplicadas em contexto de sala de aula: o monitoramento, as

autoexplicações e as justificativas. O monitoramento basicamente diz respeito à tomada de

consciência sobre compreensão antes, durante e após a leitura. O leitor que percebe

inconsistências na leitura e procura meios de remediá-las sabe monitorar bem seu processo de

compreensão. As autoexplicações são, como o próprio nome já diz, explicações que o leitor

constrói para si mesmo ao ler um texto, facilitando a detecção de incoerências. As

justificativas, por fim, consistem nos argumentos que os leitores fornecem para justificar as

respostas em questionários de compreensão.

Para Spinillo (2011, apud Hodges, 2012), a relação entre estratégias metacognitivas e

compreensão de textos pode incluir a consciência sobre os processos de produção de

inferências. Isto é, perceber as origens da inferência (intra e/ou extratextuais) também se

configura como uma atividade metacognitiva.

Observa-se, portanto, que nos trabalhos clássicos geralmente atribui-se à

metacognição dois aspectos essenciais: um ligado à consciência dos processos cognitivos

(conhecimento acerca dos processos e competências necessárias para realizar uma tarefa) e

outro relacionado à regulação destes processos (avaliar da execução da atividade e corrigi-la

quando necessário). Estudos mais recentes consideram esta distinção, mas colocam o

24

monitoramento como um aspecto independente da regulação. Sendo assim, o monitoramento

é responsável por verificar a compreensão durante a tarefa e a regulação diz respeito apenas à

reparação de uma atividade falha.

De forma geral, as estratégias e intervenções eficazes em compreensão leitora são

aquelas que promovem reflexão sobre as informações textuais e sobre os processos de

pensamento envolvidos no tratamento dessas informações. A metacognição, por enfatizar o

papel ativo do sujeito na execução de tarefas, é primordial na compreensão leitora. Desta

maneira, a literatura aponta para a importância do ensino de estratégias de leitura na escola,

incluindo as de natureza metacognitiva, uma vez que possibilita a formação de leitores

proficientes (Hodges, 2012).

25

3. ESTUDOS DE INTERVENÇÃO

Pesquisadores vêm mostrando que a metacognição pode ser estimulada através de

instrução direta e sistemática. Foram observados dois tipos de pesquisas empíricas

envolvendo metacognição e compreensão leitora: as de validação e/ou testagem de

inventários e as de intervenção propriamente ditas, com experimentos.

Serão detalhados 6 estudos de cada tipo, selecionados através da busca pelas palavras

chave metacognição, compreensão leitora e estratégias metacognitivas entre 2001 e 2017.

3.1. Avaliação da metacognição e compreensão leitora

As pesquisas relacionadas à aplicação de inventários se justificam pela tentativa de

mapear o uso das estratégias metacognitivas na leitura por alunos do ensino básico e superior.

Desta maneira, se apresentam como uma etapa inicial, diagnóstica, capaz de apontar a

necessidade da estimulação da metacognição para melhores desempenhos em compreensão

leitora. A tabela a seguir detalha as características dos estudos selecionados neste perfil:

Tabela 1 - Descrição dos estudos de avaliação da metacognição e compreensão leitora

Participantes Desenho Procedimentos Instrumento

Mokhtari &

Reichard

(2002)

Ensino

fundamental e

médio (n1=825;

n2=443)

Validação de

escala:

testagem 1 e 2

1 sessão coletiva

para cada testagem

10-12min

Inventário de Consciência

Metacognitiva das Estratégias

de Leitura (MARSI).

Kolic-

Vehovec &

Bajsanski

(2006)

Ensino

fundamental

(n=526)

Aplicação de

escala

1 sessão coletiva

60min

Questionário de Estratégias de

Leitura (Kolic-Vehovec &

Bajsanski, 2001b)

Joly et al

(2006)

Ensino médio

(n=487)

Aplicação de

escala

1 sessão coletiva

30min

Escala de Estratégias

Metacognitivas de Leitura –

formato Ensino Médio (EMeL-

EM, Joly, 2005).

Joly (2007) Ensino superior

(n=262)

Aplicação de

escala

1 sessão coletiva

20min

Escala de Estratégias Metacognitivas de Leitura

(EMeL-U, Joly, 2003)

Marini & Joly

(2008)

Ensino médio

(n=641)

Aplicação de

escala

1 sessão coletiva

50min

Escala de Estratégias

Metacognitivas de Leitura –

formato Ensino Médio (EMeL

- EM, Joly, 2005).

26

Boeff (2011)

Ensino

fundamental

(n=24)

Aplicação de

instrumentos

1 sessão individual

sem tempo

determinado

Teste de consciência das

estratégias metacognitivas de

leitura (TCEL)

Mokhtari & Reichard (2002), concebendo metacognição como consciência e

monitoramento de processos cognitivos, desenvolveram e validaram uma escala denominada

Metacognitive Awareness of Reading Strategies Inventory (MARSI), desenhada para acessar a

consciência metacognitiva de adolescentes e adultos durante a leitura de materiais escolares

ou acadêmicos. Os objetivos eram elaborar um instrumento capaz de verificar se o aluno está

ou não ciente dos processos envolvidos na leitura e orientar quanto aos objetivos e intenções

que ele deve ter em leituras acadêmicas.

Para construir a escala, os autores fizeram uma revisão da literatura contemporânea

sobre metacognição e compreensão de leitura, usaram especialistas para julgar sobre a

atribuição e categorização de itens do inventário, se inspiraram em instrumentos já existentes

e também usaram análises fatoriais para examinar a estrutura da escala.

A primeira versão do inventário continha 100 itens que contemplavam as 15

estratégias de leitores habilidosos de Pressley e Afflerbach (1995). Posteriormente,

especialistas contribuíram para a eliminação de 40 itens redundantes do instrumento. Os

demais 60 itens foram mantidos, além de uma pequena seção de dados pessoais, como idade,

sexo, etnia e uma autoavaliação de habilidade e interesse em leitura.

Por fim, houve a testagem do inventário em uma amostra de 825 estudantes do 6º ao

12º ano de 10 escolas urbanas, rurais e suburbanas estadunidenses. Os dados das escolas

indicavam que os participantes partilhavam bagagens socioeconômica, cultural e linguística e

nenhum deles tinha diagnóstico de transtornos de aprendizagem ou algum tipo de deficiência.

Além de responder ao inventário, os estudantes podiam apontar os itens que considerassem

confusos e fornecer feedback por escrito de qualquer aspecto do inventário que não estivesse

claro para eles. Este feedback, segundo os autores, serviu para melhorar a versão final do

instrumento.

Os resultados desta aplicação contribuíram para determinar os atributos psicométricos

do inventário. Após a análise estatística, restaram 30 itens revisados para legibilidade,

27

formato de resposta e integridade, que foram, então, avaliados pelos especialistas. Uma nova

aplicação foi feita em um grupo piloto menor, que forneceu feedback sobre a clareza e

facilidade de compreensão dos itens do inventário. A partir da análise desta segunda

aplicação foi desenhada a versão final do inventário. Esta versão foi aplicada novamente em

uma amostra de 443 estudantes do 6º ao 12º ano similar à primeira.

O primeiro fator, denominado Estratégias Globais de Leitura, continha 13 itens

representativos de uma série de estratégias de leitura orientadas para uma análise global do

texto (ex.: Eu tenho um objetivo em mente quando leio); o segundo fator, Estratégias de

Resolução de Problemas, tinha 8 itens que mostravam a orientação na resolução de

problemas quando a leitura se torna difícil (ex: Quando o texto fica difícil, eu releio para

aumentar meu entendimento); o terceiro, chamado de Estratégias de Suporte à Leitura,

englobava 9 itens e destacava estratégias de suporte como fazer anotações (ex.: Eu sublinho

ou circulo informações no texto para me ajudar a lembrar delas).

Os dados psicométricos demonstraram que o instrumento é uma medida confiável e

válida para avaliar consciência metacognitiva e uso percebido de estratégias durante leituras

acadêmicas. Pode ser administrado individualmente ou em grupos de adolescentes/adultos

entre o quinto ano até a faculdade. O tempo de aplicação não é pré-determinado, mas

geralmente dura entre 10 e 12 minutos. Após a explicação do objetivo do inventário, o

aplicador pede que os testandos leiam os enunciados e marquem a frequência com que usam

a estratégia, numa escala Likert de 1 (nunca faço isso) a 5 (sempre faço isso).

A pontuação pode ser feita pelos próprios alunos. Há três níveis de interpretação: alto

(média de 3,5 ou superior), médio (média de 2,5 a 3,4) e baixo (2,4 ou inferior). As médias

por cada subescala (por exemplo, Estratégias Globais de Leitura) mostram qual delas o

testando usa com mais frequência. A proposta da aplicação da escala é justamente ajudar o

desenvolvimento da metacognição e do uso de estratégias durante a leitura nos estudantes.

Sendo assim, a escala, ao mostrar pontos fortes e fracos, aponta qual subnível pode ser

melhorado. Pode, então, ser usada em contextos escolares e clínicos.

28

Tabela 2 - Metacognitive Awareness of Reading Strategies Inventory (MARSI)

TIPO ESTRATÉGIA ESCALA GLOB

SUP

GLOB

GLOB

SUP

SUP

GLOB

PROB

SUP

BLOB

GROB

SUP

PROB

GLOB

SUP

PROB

GLOB

PROB

GLOB

SUP

PROB

GLOB

GLOB

SUP

GLOB

GLOB

PROB

SUP

GLOB

PROP

1. Eu tenho um objetivo em mente quando leio.

2. Eu faço anotações enquanto leio para me ajudar a entender o que estou lendo.

3. Eu penso sobre o que eu sei para me ajudar a entender o que estou lendo.

4. Eu visualizo o texto para ver sobre o que é antes de lê-lo.

5. Quando o texto fica difícil, eu leio alto para me ajudar a entender o que estou lendo.

6. Eu escrevo resumos para refletir sobre as idéias chave do texto.

7. Eu penso se o conteúdo do texto se encaixa no meu objetivo.

8. Eu leio devagar, mas com cuidado, para assegurar que eu entenda o que estou lendo.

9. Eu discuto minha leitura com outros para checar minha compreensão.

10. Eu folheio o texto primeiro observando características como tamanho e organização.

11. Eu tento voltar aos trilhos quando perco a concentração.

12. Eu sublinho ou circulo informações no texto para me ajudar a lembrar.

13. Eu ajusto a minha velocidade de leitura de acordo com o que estou lendo.

14. Eu decido o que ler com cuidado e o que ignorar.

15. Eu uso materiais como dicionário para me ajudar a entender o que estou lendo.

16. Quando o texto se torna difícil, eu começo a prestar mais atenção no que estou lendo.

17. Eu uso tabelas, figuras e fotos no texto para aumentar minha compreensão.

18. Eu paro de tempos em tempos para pensar sobre o que estou lendo.

19. Eu uso pistas de contexto para me ajudar a entender melhor o que estou lendo.

20. Eu parafraseio (coloco as ideias em minhas palavras) para entender melhor o que estou lendo.

21. Eu tento desenhar ou visualizar a informação para me ajudar a lembrar o que estou lendo.

22. Eu uso ajudas tipográficas como negrito e itálico para identificar informações chave.

23. Eu analiso criticamente e avalio a informação apresentada no texto.

24. Vou para frente e para trás no texto para encontrar as relações entre as idéias nele.

25. Checo minha compreensão quando encontro informações conflitantes.

26. Eu tento adivinhar sobre o que o texto é quando leio.

27. Quando o texto se torna difícil, eu releio para melhorar minha compreensão.

28. Eu faço perguntas para mim mesmo que gostaria que fossem respondidas no texto.

29. Eu checo para ver se minhas hipóteses sobre o texto estão certas ou erradas.

30. Eu tento adivinhar o significado de palavras ou frases desconhecidas.

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

Mokhtari & Reichard, 2002 (tradução livre da autora)

Kolic-Vehovec & Bajsanski (2006) estudaram estratégias metacognitivas e

compreensão leitora em alunos de três escolas do ensino fundamental na Croácia. Na reflexão

teórica, destacam o monitoramento como um aspecto da metacognição, definindo-o como

“uma função executiva essencial para a leitura competente, que direciona os processos

cognitivos do leitor enquanto ele se esforça para entender as informações recebidas”.

O primeiro objetivo do estudo era explorar o monitoramento de compreensão e o uso

percebido das estratégias de leitura como fatores de compreensão em alunos do quinto ao

oitavo ano. O segundo objetivo era investigar o efeito tanto do monitoramento da

compreensão quanto do uso percebido de estratégias como preditores de compreensão leitora

no ensino fundamental II.

Participaram do estudo 526 alunos do quinto ao oitavo ano (de 11 a 14 anos). A

compreensão leitora foi acessada através de uma passagem narrativa seguida de 11 questões.

O monitoramento da compreensão foi avaliado a partir das tarefas de correção de erros e de

sensibilidade textual do Teste de Metacognição (Pazzaglia et al, 1994) e da Tarefa de Cloze

(Baker & Brown, 1984). Dos 10 itens de monitoramento do Teste de Metacognição, 4

examinavam a habilidade de detectar e corrigir erros semânticos e sintáticos das sentenças e 6

29

verificavam a sensibilidade ao texto, ou seja, o monitoramento de compreensão a nível

textual. Na Tarefa de Cloze havia 16 espaços, correspondentes a 16 palavras que faltavam ao

texto, e as crianças deveriam preenchê-los.

Além destes testes, foi aplicado o Questionário de Estratégias de Leitura (Kolic-

Vehovec & Bajsanski, 2001b), que continha 31 itens. Todos os itens referem-se a declarações

sobre o uso de diferentes estratégias de leitura, inclusive aspectos de compreensão ativa e

monitoramento da compreensão durante a leitura. Trata-se, portanto, do instrumento que

avalia a metacognição. Embora o estudo tenha sido publicado em inglês, todos os

instrumentos utilizados na pesquisa com as crianças estavam em sua língua materna.

Os resultados mostraram que meninas tiveram desempenho melhor que meninos em

todas as dependentes variáveis: compreensão de texto, correção de erro, sensibilidade ao

texto, tarefa de cloze, estratégias de compreensão ativa, monitoramento da compreensão e

geração de inferências. Ganhos significativos no monitoramento da compreensão e na

compreensão leitora foram observados entre a sexta e a oitava série. Todas as medidas de

monitoramento de compreensão foram relacionadas significativamente à compreensão de

textos em todas as faixas etárias. Apesar disso, o uso percebido das estratégias de leitura só

foi significativamente relacionado à compreensão em alunos do oitavo ano.

Foi possível detectar duas transições sutis em relação à compreensão de textos: uma

entre a quinta e a sexta série e outra entre a sexta e a oitava série. As tarefas de detecção de

inconsistência e de sensibilidade ao texto mostraram um ritmo mais lento de avanços que a

tarefa de cloze. Com relação ao uso percebido de estratégias, a quinta série demonstrou

estimativas mais altas que os alunos de oitavo ano. No entanto, os autores apontam a

possibilidade desses alunos mais jovens superestimarem seu uso de estratégias, indicando

uma habilidade metacognitiva inadequada (por ainda estar em desenvolvimento). Outra

explicação possível apontada por eles é que os alunos do oitavo ano, por já terem

automatizado processos como o monitoramento da compreensão, relatam menos estratégias.

Já tarefas mais complexas, como a geração de inferências, não apresentaram diferenças com

relação ao uso percebido da estratégia entre as séries.

Em suma, as correlações mostraram que o monitoramento de compreensão é

significativamente e consistentemente relacionado à compreensão leitora no ensino

fundamental, além de bom preditor. Desta maneira, o ensino fundamental II parece ser um

30

período oportuno para a instrução em estratégias de leitura com ênfase no monitoramento de

compreensão, a fim de promover o desenvolvimento metacognitivo e a eficiência da leitura.

No cenário brasileiro, Joly (2006; 2007) tem pesquisado o uso de estratégias

metacognitivas em estudantes do ciclo básico e universitário com escalas próprias. A

construção destes inventários se mostra de suma importância no apoio à avaliação psicológica

da metacognição em diferentes faixas etárias, de modo a fornecer subsídios para melhores

intervenções em contexto nacional escolar e clínico.

A definição de metacognição usada nestes estudos se aproxima à dos estudos

clássicos: conhecimento e autocontrole que um indivíduo tem sobre sua própria cognição e

atividades de aprendizagem. Para construir as escalas, Joly usou o referencial de Pearson e

Camperell (2001) sobre os tipos de estratégias metacognitivas:

As estratégias são classificadas, segundo Pearson e Camperell (2001), em

globais quando se referem à análise do texto de forma geral; suporte quando

o leitor usa materiais de referências, grifos, dentre outros para compreender

o texto; e solução de problemas para as utilizadas quando surgem

dificuldades de compreensão para o leitor frente a informações presentes no

texto. (Joly, 2007)

Joly et al (2006) buscaram verificar o uso de estratégias de leitura em alunos do

ensino médio de escolas públicas e particulares, da 1ª à 4ª série (em caso de magistério). O

instrumento utilizado foi a Escala de Estratégias Metacognitivas de Leitura - formato Ensino

Médio (EMeL - EM, 2005). O objetivo era avaliar o tipo e a frequência de estratégias usadas

antes, durante e após a leitura de textos informativos. A aplicação da escala de 39 afirmações

Likert foi feita por classe, em sessão única. Os alunos receberam as instruções e responderam

individualmente em cerca de 30 minutos.

Os itens com maior pontuação foram 8 – Reler trechos quando encontro uma

informação que tenho dificuldade de entendimento; 21 – Ler com atenção e devagar para ter

a certeza que estou entendendo o texto; 23 – Concentrar-me na leitura quando o texto é

difícil; e 35 – Verificar se atingi o objetivo que havia estabelecido para a leitura. Desta

maneira, os resultados indicam que os alunos relatam utilizar mais as estratégias

metacognitivas de solução de problemas. Já os itens com menor pontuação foram 33 – Fazer

lista dos tópicos mais importantes do texto; e 38 – Copiar os trechos mais importantes do

texto. Estes itens são referentes ao momento pós leitura, à estratégia de suporte. Este baixo

31

escore demonstra que os alunos não usam materiais após a leitura para contornar as

dificuldades encontradas.

Não foram indicadas diferenças significativas relacionadas ao tipo de escola – pública

ou particular. Com relação à idade, a análise revelou que há diferenças significativas entre

alunos de 15 e 17 anos quanto ao uso de estratégias metacognitivas e também entre a primeira

e terceira séries do ensino médio e o quarto ano do magistério.

Tabela 3 – Escala de Estratégias Metacognitivas de Leitura – formato Ensino Médio

ESTRATÉGIA ESCALA

1. Fazer perguntas sobre o conteúdo do texto. 2. Ver como é a organização do texto. 3. Organizar um roteiro para ler. 4. Levantar hipóteses sobre o conteúdo do texto. 5. Fazer comentários críticos sobre o texto. 6. Opinar sobre as informações do texto. 7. Parar de ler para ver se estou entendendo. 8. Reler trechos quando encontro uma informação que tenho dificuldade de entendimento. 9. Reler em voz alta os trechos que não compreendi. 10. Voltar a ler alguns parágrafos ou páginas já lidas quando me distraio. 11. Verificar se as hipóteses que fiz sobre o conteúdo do texto estão certas ou erradas. 12. Grifar o texto para destacar as informações que acho importantes. 13. Fazer anotações ao lado do texto. 14. Consultar o dicionário para entender o significado de palavras novas. 15. Fixar a atenção em determinados trechos do texto. 16. Fazer anotações sobre os pontos mais importantes do texto. 17. Ler novamente trechos do texto quando não entendo a relação entre as informações. 18. Relacionar o assunto do texto com o que já conheço sobre o assunto. 19. Deduzir informações do texto que leio para compreendê-lo. 20. Analisar se as informações são lógicas e fazem sentido. 21. Ler com atenção e devagar para ter certeza que estou entendendo o texto. 22. Reler trechos para relacionar as informações do texto. 23. Concentrar-me na leitura quando o texto é difícil. 24. Questionar o texto para entendê-lo melhor. 25. Ficar atento aos nomes, datas, época e locais que aparecem no texto para compreendê-lo. 26. Fazer suposições sobre o significado de um trecho do texto quando não entendo. 27. Interpretar o que o autor quis dizer. 28. Ler em voz alta quando o texto é difícil. 29. Diferenciar as informações da opinião do autor. 30. Pensar sobre porque fiz algumas suposições certas e outras erradas sobre o texto. 31. Relembrar os principais pontos do texto para verificar se o compreendi totalmente. 32. Escrever com minhas palavras as informações que destaquei como mais importantes. 33. Fazer lista dos tópicos mais importantes do texto. 34. Fazer um resumo do texto para organizar as informações mais importantes. 35. Verificar se atingi o objetivo que havia estabelecido para a leitura. 36. Identificar as dicas do texto que me permitiram fazer hipóteses corretas sobre o conteúdo antes da leitura. 37. Fazer um esquema do texto para relacionar as informações importantes. 38. Copiar os trechos mais importantes do texto. 39. Listar as informações que entendi com facilidade

1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3

Joly et al, 2006

Em 2007, Joly realizou um estudo com público universitário visando identificar

relações entre solução de problemas e uso de estratégias metacognitivas. Participaram deste

estudo 262 alunos entre 16 e 53 anos matriculados em duas universidades de São Paulo (SP)

dos cursos de Psicologia (43,5%), Administração (30,2%) e Pedagogia (26,3%).

32

Os instrumentos utilizados foram a Escala de Estratégias Metacognitivas de Leitura

(EMeL – U, Joly, 2003) e a Avaliação Dinâmica da Inteligência Fluida (GfRI – Primi, 2002),

aplicados coletivamente. O primeiro é dividido em três fatores: as estratégias metacognitivas

globais, as estratégias metacognitivas de leitura de suporte e as estratégias metacognitivas de

leitura de solução de problemas. O segundo contém 24 problemas de raciocínio analógico

indutivo com figuras geométricas e é aplicado em computadores com pré e pós testes e fase

de treino. Ambos foram aplicados em sessão única por semestre.

Resultados demonstraram que, no geral, foram encontradas correlações significativas

e baixas entre os dois instrumentos. Isto indica que os construtos metacognição e inteligência

se relacionam, mas são independentes. Os itens da EMeL-U com maior número de

correlações foram justamente aqueles referentes às habilidades de solução de problemas

requeridas pelo GfRI, mas relativas à situação de compreensão de leitura. A pesquisadora,

assim, destaca que tais resultados indicam a importância da metacognição como função

executiva na resolução de problemas, planejando, monitorando e avaliando as informações de

modo a optar pela melhor resposta. Ela aponta também para a possibilidade de que futuros

estudos verifiquem se o escore obtido na EMeL-U é preditivo de compreensão em leitura e se

há relação entre estratégias metacognitivas de leitura com atenção e memória.

Marini e Joly (2008) buscaram identificar a frequência do uso de estratégias

metacognitivas de leitura por 641 estudantes do ensino médio de escolas públicas e

particulares do interior de São Paulo (SP) com a Escala de Estratégias Metacognitivas de

Leitura - formato Ensino Médio (EMeL - EM, 2005), em sessão única.

As autoras compartilham da concepção de metacognição enquanto conhecimento e

regulação da cognição. Explicam, ainda, que existem três tipos de conhecimento: o

declarativo (o que fazer), o procedimental (como fazer) e o condicional (por que e como). Da

mesma forma, há também três aspectos envolvidos na regulação da cognição: o planejamento

(seleção de estratégias adequadas, predição, entendimento da tarefa e ativação dos

conhecimentos prévios), o monitoramento (controle da compreensão e modificação de

estratégias falhas) e a avaliação (comparação entre resultados obtidos e estratégias usadas).

Os dados da aplicação da escala, confirmando as pesquisas anteriores, mostram que as

estratégias mais usadas são as relacionadas à solução de problemas. As autoras inferem, com

este resultado, que na escola não são plenamente ensinadas estratégias metacognitivas, de

33

modo que os alunos acabam por utilizá-las apenas quando se deparam com obstáculos que

precisam resolver para alcançar a compreensão geral. Por fim, elas sugerem a elaboração de

novas pesquisas que usem a EMeL como avaliação pré e pós teste em contexto de instrução

de estratégias metacognitivas de leitura.

Boeff (2011) realizou um estudo para avaliar as correlações entre escores de

compreensão leitora, estratégias de leitura e consciência das estratégias metacognitivas em

alunos do 5º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Campo Bom (RS). A

amostra foi de 24 estudantes: 8 participaram do estudo piloto e 15 do estudo definitivo (1 foi

eliminado da pesquisa por apresentar comportamento atípico que destoava muito do restante

dos sujeitos).

A compreensão leitora e as estratégias de leitura foram testadas num software de

captura denominado Snagit 8, a partir do texto “Na ponta do lápis”, que foi escolhido por ser

de autoria de um adolescente, com universo cognitivo semelhante aos sujeitos da pesquisa. A

consciência das estratégias metacognitivas foi verificada através de um protocolo verbal de

recordação.

No teste de compreensão leitora, os alunos deveriam ler o texto narrativo na tela do

computador, ordenando os parágrafos propositalmente desordenados. As capturas feitas pelo

software permitiam a avaliação das estratégias utilizadas, como o movimento realizado, além

do tempo percorrido. Por fim, no teste de consciência das atividades metacognitivas, era

pedido que o aluno verbalizasse seu procedimento de leitura para a ordenação dos parágrafos.

As respostas dadas eram analisadas de acordo com a Escala de Estratégias Metacognitivas de

Joly (2007).

A partir da análise dos dados, observou-se uma variedade quanto ao nível de

compreensão leitora dos participantes da pesquisa. Apenas 5 estudantes conseguiram

organizar o texto de modo a conferir a ele coerência global. Os participantes que atingiram

nível médio, baixo ou baixíssimo não reconheceram perceber a incoerência ocasionada pela

distribuição equivocada das proposições do texto narrativo.

Os resultados indicaram correlação positiva entre o desempenho na compreensão

leitora e o tempo gasto na leitura. No geral, participantes que tiveram melhores escores de

compreensão utilizaram mais tempo para a realização da atividade. A associação entre

compreensão leitora e consciência das estratégias metacognitivas mostrou que alunos com

34

melhores índices de compreensão também apresentavam maior consciência do uso de

estratégias, com correlação significativamente positiva.

Apesar das limitações da pesquisa, como população pequena, a autora destaca que os

resultados apontam para a possibilidade de o desconhecimento sobre as estratégias

metacognitivas ser uma das causas dos baixos desempenhos em compreensão leitora,

salientando que o ensino de tais estratégias pode ser benéfico aos alunos na leitura e

compreensão de textos narrativos.

Estes estudos, no geral, colaboram apresentando instrumentos de avaliação que dão

um panorama da consciência metacognitiva de estudantes de diversas etapas da

escolarização. Entretanto, algumas notas de cautela merecem ser apontadas. Mokhtari &

Reichard (2002) enumeram três notas que podem ser estendidas aos demais trabalhos. A

primeira recorda que a escala sempre deve ser complementar a outras medidas de avaliação

da compreensão leitora. Ou seja, a escala por si só não afere a compreensão globalmente; ela

apresenta apenas a percepção do uso de estratégias metacognitivas na leitura, devendo ser

associada a mais instrumentos.

A segunda nota de cautela explica que apesar das escalas medirem a consciência dos

alunos quanto ao uso das estratégias, isto não significa necessariamente que as respostas

correspondam à realidade do uso durante a leitura. Além de conhecer as estratégias, os

leitores precisam saber regulá-las adequadamente para garantir a compreensão. Nesse caso, o

julgamento do professor é essencial para avaliar a discrepância entre as crenças dos alunos e

a prática real de uso de estratégias.

Por fim, a terceira nota aponta para a complexidade da instrução de metacognição em

compreensão leitora, em termos de trabalho e tempo. Para formar leitores estratégicos,

professores devem primeiro procurar entender os sistemas de pensamento que apoiam as

tentativas de leitura dos alunos e ajudá-los (sobretudo aqueles com mais dificuldades) a se

tornarem engajados ativamente no processo. Para isso, aumentar a consciência dos alunos

sobre seus processos de compreensão se mostra como um passo inicial importante.

35

3.2. Experimentos em metacognição e compreensão leitora

Entre as pesquisas experimentais que estudam a relação entre metacognição e

compreensão leitora, foram selecionadas 3 que utilizam como estratégias o ensino de

vocabulário e tarefas metacognitivas, 2 que focam principalmente na estratégia de

monitoramento e 1 com um viés mais variado, conforme a tabela 4. O estudo de Cubuku

(2008) possui ainda o diferencial de ser voltado para compreensão leitora de textos em língua

estrangeira (L2).

Tabela 4 - Experimentos em metacognição e compreensão leitora

Participantes Desenho Estratégias Medidas

Lubliner &

Smetana

(2005)

Ensino fundamental

(n1=77; n2=34)

Linha de Base Múltipla

12 semanas

Ensino de vocabulário e

tarefas

metacognitivas

Teste Metacognitivo

Teste de compreensão leitora e

aquisição de vocabulário

Boulware-

Gooden el al

(2007)

Ensino

fundamental

(n=119)

Linha de Base

Múltipla

25 sessões

30min

Ensino de

vocabulário e

tarefas

metacognitivas

Decodificação: Woodcock

Johnson III (WJIII) Test of

Achievement (2001)

Compreensão e Vocabulário:

Gray Silent Reading Test (2000)

Cubuku

(2008)

Ensino superior

(n=130)

Linha de Base

Múltipla

5 sessões

45min

Ensino de

vocabulário e

tarefas

metacognitivas

Teste de Vocabulário

Compreensão: TOEFL

Jou & Sperb

(2008)

Ensino

fundamental

(n=26)

Estudo de caso

12 sessões 90min

Ensino de

estrutura textual,

estratégias cognitivas e

metacognitivas

Análise de conteúdo

Coelho &

Correa

(2010)

Ensino médio

(n=62)

Linha de Base

Múltipla

11 semanas

50min

Monitoramento Compreensão: Tarefa de Cloze

Monitoramento: Paradigma da

detecção de erros

WISC III (Wechsler, 2002) para

Habilidade Verbal e Memória de Trabalho e o Teste AC-15

(Boccalandro, 1977)

36

Soares (2014)

Ensino médio

(n=30)

Linha de Base

Múltipla

6 sessões

Monitoramento Monitoramento: Paradigma da

detecção de erros

Lubliner & Smetana (2005) realizaram um estudo para verificar se uma instrução de

um programa de metacognição em vocabulário pode melhorar a compreensão leitora e a

aquisição de vocabulário de alunos de quinto ano estadunidense em ambiente de sala de aula.

A pesquisa foi realizada em uma escola “Title I” (direcionada à população de baixa renda) e

outra convencional acima da média, também com o intuito de comparar os ganhos dos dois

grupos.

Na escola Title I, 77 alunos do quinto ano de três turmas participaram do estudo. Na

escola convencional, foram 34 alunos inicialmente e 30 ao final do estudo, de uma turma

apenas. Foram realizados pré teste, teste intermediário e pós teste com os seguintes

instrumentos: um teste metacognitivo, que aferia a habilidade de identificar palavras

desconhecidas em textos; e um teste de compreensão leitora e aquisição de vocabulário, que

continha um texto, questões de múltipla escolha e um mecanismo de detecção de palavras

desconhecidas chamado Living Word Vocabulary (Dale & O’Rourke, 1981).

Os dois grupos passaram por 12 semanas de controle e 12 de período experimental.

No período controle, o ensino de vocabulário era realizado através de listas de palavras e

consulta ao dicionário, durante determinadas aulas. No período experimental, foi realizada a

intervenção Comprehension Vocabulary Development (CVD). Nela, a professora iniciava

explicando a importância da estratégia para ajudar no desenvolvimento de vocabulário e na

proficiência da leitura. Depois, modelava a estratégia “pensando alto”, explicando como usar

o CVD em textos usados na escola. As crianças, então, praticavam em pares e depois havia

discussão em grupo sobre o texto e revisão do vocabulário novo.

Um exemplo de tarefa utilizada na CVD é o Cartão Clarificador. Ele consistia num

cartão que lembrava a criança o que ela poderia fazer ao encontrar uma palavra desconhecida

no texto. As dicas eram as seguintes: 1) Considere o contexto: olhe para as informações da

sentença e de todo o parágrafo e procure descobrir o significado da palavra; 2) Substitua por

um sinônimo: se você sabe que acha o que a palavra significa, troque por um sinônimo e veja

37

se faz sentido; 3) Estude a estrutura: você conhece a raiz da palavra? Ela tem um sufixo ou

prefixo que você conhece? Tente usar essas pistas para identificar o sentido; 4) Puxe sua

memória: você já viu essa palavra antes? Lembra o que significa?; 5) Pergunte a um expert:

alguém do seu grupo conhece a palavra? Pergunte; 6) Faça um post it: se você não conseguir

descobrir o significado da palavra, coloque um post it e pergunte ao professor depois.

Uma tarefa também voltada para estimulação de metacognição e vocabulário usada

nesta intervenção é denominada Semáforo de Vocabulário. Consiste em atribuir as cores do

semáforo ao seu grau de familiaridade com a palavra. Se já conhece a palavra, o sinal é

verde; se conhece parcialmente, é amarelo; se não conhece, é vermelho. Além disso, buscou-

se estimular mais a compreensão das estratégias do cartão clarificador, como “considere o

contexto” e “substitua por um sinônimo”, além de atividades de vocabulário de outras

pesquisas, como Main Idea Words (Beck et al., 1987), Signal Words, Word Sorts, Semantic

Maps e Word Scales (Nagy, 1988).

Os resultados da intervenção demonstraram melhoras para identificar palavras

desconhecidas do pré para o pós teste, tanto nos testes de metacognição, quanto nos de

compreensão e vocabulário. Um teste t demonstrou diferenças significativas entre o grupo

Title I e o grupo da escola acima da média em compreensão e vocabulário antes do estudo

começar e após o período controle. Porém, após o término do estudo, o teste não mostrou

mais diferenças significativas entre os grupos, sugerindo que a intervenção favoreceu,

sobretudo, o grupo Title I, que no início estava muito aquém do outro.

Boulware-Gooden el al (2007) realizaram um estudo com o intuito de determinar a

eficácia de uma instrução direta de estratégias metacognitivas em compreensão leitora e

desenvolvimento de vocabulário em 119 crianças de 6 turmas de terceira série do ensino

fundamental. Participaram do estudo duas escolas dos EUA: uma para formar o grupo de

intervenção e a outra o grupo de comparação.

Ambos grupos passaram por pré e pós testes. Para verificar a habilidade de

decodificação foram usados os subtestes “Word Attack”, “Letter–Word Identification” e

“Spelling” do Woodcock Johnson III (WJIII) Test of Achievement (2001). Os testes usados

para avaliar o progresso em compreensão leitora e vocabulário foram as formas A e B do

Gray Silent Reading Test (2000) e um teste de vocabulário. Para a intervenção foi usado o

38

nível médio da série Six-Way Paragraphs (Pauk, 2000) com textos expositivos de 300 a 400

palavras. As lições continham cinco passos cada, como descrito a seguir:

1) Introdução: a professora chamava a atenção dos alunos perguntando, apresentando

imagens, contando piadas, entre outras estratégias. A ideia era estabelecer o objetivo da lição

e ativar o conhecimento prévio dos alunos para o tema; 2) Vocabulário: a professora

introduzia uma ou duas palavras do vocabulário. Ela o organizava através de redes

semânticas, usando sinônimos e antônimos apontados pela turma; 3) Leitura da história:

durante a primeira semana, a professora lia o texto para as crianças, na segunda e terceira

semanas, os alunos liam o texto em coro, e nas restantes faziam leitura silenciosa; 4) Resumo:

professora pedia para que os alunos identificassem as ideias principais, as de apoio e os

detalhes dos textos e as anotassem em um cartão hierárquico; 5) Questões: professora fazia

perguntas simples (respostas literais encontradas no texto) e complexas (com necessidade de

acessar conhecimento prévio). Além disso, as crianças respondiam às questões do Six-Way

Paragraphs, nível médio.

No grupo de comparação, as mesmas atividades de introdução foram usadas, mas sem

as redes semânticas de vocabulário. Os alunos copiavam as definições do quadro e escreviam

frases que ilustravam o significado das palavras, sem ler alto nem escrever resumo.

Respondiam questões oralmente e depois copiavam 3 ou 4 questões do quadro, escrevendo as

respostas. Eles também respondiam as questões do Six-Way Paragraphs, nível médio.

A análise dos dados mostrou que o grupo de intervenção obteve ganhos

estatisticamente significantes em relação ao grupo controle, tanto em vocabulário quanto em

compreensão. Com relação ao vocabulário, isto parece indicar que dar sinônimos, antônimos

e palavras relacionadas promove um entendimento mais profundo da palavra, o que aumenta

a habilidade de lembrar seu significado. A melhora na compreensão pode ser devido à

instrução de vocabulário e uso de estratégias metacognitivas.

Cubuku (2008) também estudou o desenvolvimento de vocabulário e compreensão

leitora através de estratégias metacognitivas. Este estudo traz uma particularidade, pois

investiga o efeito da instrução em compreensão de segunda língua. O objetivo da pesquisa era

determinar a eficácia de uma instrução direta em múltiplas estratégias metacognitivas

desenhadas para auxiliar a compreensão leitora em inglês de alunos universitários turcos.

39

Além disso, também pretendia investigar o impacto das estratégias metacognitivas no

vocabulário.

Voluntariaram-se para o estudo 130 alunos de uma universidade da Turquia. Com

randomização, 65 receberam a instrução em estratégias metacognitivas e os outros 65 não

fizeram nenhum treinamento. Foram realizados pré e pós teste com instrumentos que aferiam

vocabulário e compreensão de textos. O teste de vocabulário, desenvolvido pelo pesquisador,

englobava 20 questões múltipla escolha com itens lexicais ensinados no decorrer da

intervenção. A compreensão de textos foi avaliada pelo teste de compreensão leitora do

TOEFL (Test of English as a Foreign Language).

A intervenção durou 5 semanas, com 45 minutos por semana. Os textos eram

retirados do Expanding Reading Skills (Markstein & Hirasawa, 1993) e duas estratégias eram

dadas por sessão. As estratégias eram 10 no total: “usando pontos fortes”, “inferindo

significados”, “usando conhecimento prévio”, “avaliando”, “pesquisando de acordo com os

objetivos”, “lendo os objetivos”, “distinguindo”, “decidindo a dificuldade”, “revisando”,

“adivinhando o próximo tópico”.

A abordagem escolhida para o treinamento de estratégias foi Cognitive Academic

Language Learning Approach (CALLA) (Chamot & O'Malley's, 1994), que consiste num

ciclo recursivo de cinco fases. São elas: 1) preparação, onde o professor explica a importância

das estratégias metacognitivas de leitura e os alunos especificam as metas de leitura e o

tempo para realizá-las; 2) apresentação, referente à modelagem da estratégia; 3) prática, em

que alunos praticam a leitura com as estratégias metacognitivas aprendidas e mudando de

estratégia quando a que estiver em uso falhar; 4) avaliação, quando os alunos refletem sobre

seu próprio sucesso no uso das estratégias; e 5) expansão, em que alunos eram encorajados a

usarem as estratégias que consideraram mais eficazes, a aplicar estas estratégias em novos

contextos e criar suas próprias combinações de estratégias metacognitivas de leitura.

Este modelo de instrução usado para o ensino e aplicação das 10 estratégias

metacognitivas de aprendizagem de línguas ajudaram os alunos a saberem por que, quando e

como usarem as estratégias de leitura. Embora os dois grupos tenham crescido, os resultados

indicaram que no pós teste a compreensão leitora do grupo experimental foi superior à do

grupo controle, sugerindo que o treinamento em estratégias metacognitivas favorece o

desenvolvimento de vocabulário e habilidades de compreensão leitora.

40

Jou & Sperb (2008) realizaram um estudo de caso em 26 alunos de quinto ano do

ensino fundamental de uma escola estadual do Porto Alegre (RS) para estimular o

desenvolvimento de habilidades de leitura, contando com estratégias metacognitivas. A

análise principal foi acerca do ensino de leitura compreensiva feito em aula e outras duas

análises foram as verbalizações da professora e dos alunos.

A intervenção durou 12 aulas, cada uma com 2 períodos consecutivos por semana. No

primeiro período havia leitura de um texto, primeiro silenciosamente e, depois, em voz alta

pela turma, com cada um lendo um trecho. Em seguida, a professora trabalhava com os

aspectos envolvidos (estrutura textual, estratégias cognitivas e estratégias metacognitivas).

No segundo período, os alunos recebiam um novo texto e eram instruídos a seguir o mesmo

procedimento, mas, dessa vez, em trios.

Durante a primeira etapa da condução das tarefas, a professora mediava a

compreensão dos alunos sobre a superestrutura do texto, ou seja, instigava-os a concluírem se

tratava-se de texto narrativo, descritivo, argumentativo etc. Para isso, utilizava do

conhecimento prévio dos alunos sobre esses tipos textuais, relacionando-o a novas

informações. Depois, ela orientava sobre a macroestrutura, incentivando a reflexão a partir de

parágrafos formando blocos de informação interligados. Por fim, a professora direcionava o

uso da microestrutura para aprofundar a compreensão macro, com a identificação das ideias

principais dos parágrafos. Na segunda etapa, os alunos deveriam reproduzir o caminho da

atividade anterior, em trios. Para facilitar o processo, a professora deixava no quadro o passo

a passo que deveriam seguir.

A partir da análise de conteúdo (Bardin, 1977), foram consideradas as transcrições das

interações entre alunos e professora, que continham as variáveis estrutura textual e estratégias

cognitivas e metacognitivas. A professora conversava com os alunos sobre a microestrutura

(frases mais importantes), sobre a macroestrutura (ideia principal ao relacionar as frases) e a

superestrutura (formato do texto). As estratégias cognitivas eram trabalhadas quando a

professora solicitava conclusões sobre o material lido, o que estimulava memória e

capacidade de dedução, por exemplo. As estratégias metacognitivas eram contempladas

durante a reflexão sobre o conteúdo lido e os processos de pensamento que levaram à sua

compreensão.

41

Os alunos, no geral, consideraram o programa positivo, indicando que após a

intervenção, passaram a conseguir lembrar mais sobre os textos que leem. Apesar disso,

alguns deles demonstraram certa resistência diante do esforço que a atividade demanda,

pedindo o retorno de tarefas mecânicas, como copiar do quadro. Tal quadro, segundo as

autoras, reitera a necessidade de ensino de estratégias de compreensão ser introduzido cada

vez mais no contexto de sala de aula, de modo a formar leitores proficientes.

Coelho e Correa (2010) realizaram um estudo com 62 alunos de ensino médio de

um colégio de Nova Friburgo (RJ) para investigar a evolução da compreensão leitora a partir

do desenvolvimento da habilidade de monitoramento. As tarefas para avaliação da

compreensão leitora no pré e no pós teste, realizadas nos grupos controle e experimental,

foram feitas a partir de textos com 250 palavras em média em uma Tarefa de Cloze. Já nas

tarefas de monitoramento – usadas também durante a intervenção – foi empregada a

metodologia do paradigma de detecção de erros, que diz respeito à inserção de transgressões

no texto de ordem lexical e de consistência interna. Outros instrumentos utilizados foram o

WISC III (Wechsler, 2002) para Habilidade Verbal e Memória de Trabalho e o Teste AC-15

(Boccalandro, 1977) para atenção concentrada.

Durante a intervenção, os adolescentes do grupo experimental tinham que monitorar

seis textos, em seis sessões de 50 minutos, que aconteciam duas vezes por semana. Eles

deveriam detectar e corrigir erros dos textos, tanto de natureza lexical quanto de consistência

interna. O grupo controle, nesta etapa, era instruído que se reunissem em sextetos para

debater o texto. Após o término da pesquisa, as atividades de monitoramento também foram

oferecidas ao grupo controle.

A análise dos dados da Tarefa de Cloze permitiu distinguir leitores habilidosos e

menos habilidosos. Desta maneira, 9 dos menos habilidosos ficaram no grupo experimental e

9 no grupo controle. No pré teste, não diferiram em nenhuma medida, mas no pós teste, o

desempenho desses alunos pertencentes ao grupo experimental tiveram desempenho superior

nas tarefas de compreensão e monitoramento. Este resultado reitera que habilidades

metacognitivas – como no caso o monitoramento – são passíveis de ensino em intervenções

específicas, inclusive no contexto escolar. As autoras ressaltam que o interesse dos alunos na

leitura foi crescendo durante o processo de intervenção, indicando que a metodologia

utilizada pode promover avanços não só na compreensão leitora, mas também na motivação

para a leitura.

42

Soares (2014) buscou verificar se a estratégia metacognitiva “monitoramento de

textos” é capaz de melhorar o desempenho da compreensão leitora em 30 alunos do curso de

Formação de Professores do Instituto de Educação de Nova Friburgo (RJ). A metodologia

utilizada foi baseada na Psicolinguística Experimental. Além do pré-teste e da intervenção

propriamente dita, foram aplicados quatro testes offline - ou seja, que investigaram o

processamento a partir de dados posteriores ao mesmo.

O pré-teste de monitoramento de textos consistiu uma aplicação de atividade de

monitoramento do texto não mediada pelo professor. A partir dos resultados desta etapa, os

alunos foram divididos em dois grupos, um com nível satisfatório de compreensão

(proficientes) e outro com nível insatisfatório (não proficientes). Desta divisão, saiu outra: um

subgrupo dos proficientes recebeu intervenção mediada pelo professor e outro subgrupo fez

parte do grupo controle; o mesmo aconteceu com os não proficientes.

A atividade de intervenção consistia na leitura em voz alta pelo professor de textos

com violações semânticas e gramaticais para os alunos. Estes eram livres para interromper a

leitura e apontar as violações sempre que as encontrassem, explicando seu raciocínio para

todos. Este processo durou seis semanas consecutivas, uma vez por semana.

Os quatro testes offline utilizados visavam avaliar a competência leitora dos sujeitos,

sendo os testes 1 e 3 com questões objetivas e os testes 2 e 4 com questões discursivas. Os

testes 1 e 2 foram aplicados antes da intervenção e os testes 3 e 4, após. A hipótese seria que

a aplicação reiterada das estratégias de monitoramento beneficiaria tanto os alunos

proficientes quanto os não proficientes. Os dados obtidos na pesquisa confirmaram a

previsão de que esta estratégia metacognitiva é um recurso eficaz para o desenvolvimento da

competência leitora em jovens leitores, beneficiando mais os alunos que receberam a

instrução em monitoramento de textos do que aqueles que não foram treinados em nenhuma

estratégia metacognitiva.

Levando-se em conta os estudos descritos nesta seção, é inquestionável a eficácia da

instrução em estratégias metacognitivas na compreensão de leitura. Todos os trabalhos

voltados para a conscientização sobre as estratégias e seu uso demonstram impacto positivo

na compreensão leitora. No entanto, cabe frisar que tais pesquisas focaram apenas em

demonstrar que a metacognição aprimora a compreensão, sem a intenção de esclarecer quais

as estratégias mais eficazes na leitura.

43

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dada a importância da leitura nos âmbitos acadêmico e social e as dificuldades nesta

atividade apontadas por exames diversos, estudos voltados para a avaliação e a estimulação

da compreensão leitora são necessários. De acordo com a abordagem do pesquisador e do seu

problema de pesquisa, o foco pode ser dado no vocabulário, na produção de inferências, na

estrutura textual, na metacognição, entre outros. O presente trabalho procurou verificar a

literatura sobre estratégias metacognitivas e compreensão leitora, selecionando pesquisas de

análise diagnóstica e de intervenção experimental nos últimos 16 anos.

A metacognição, por ser uma atividade considerada de alto nível, vem sendo cada vez

mais associada a bons desempenhos em compreensão leitora. Nas pesquisas diagnósticas, os

pesquisadores procuram avaliar a percepção que os sujeitos possuem sobre seus próprios

processos de pensamento antes, durante e após a leitura de textos variados. Nas pesquisas

experimentais, existe um esforço para estimular o uso de estratégias metacognitivas também

em contexto de leitura, para melhoria na compreensão leitora.

Estratégias metacognitivas são aquelas que orientam o curso da atividade cognitiva,

regulando-o quando necessário. Desta forma, leitores proficientes demonstram monitorar sua

compreensão diante do texto, percebendo quando não entenderam algum trecho ou quando

lhes faltam os conhecimentos prévios requisitados. Por outro lado, sujeitos com dificuldade

de compreensão leitora não lançam mão dessas estratégias, pois não percebem as falhas de

compreensão.

Os estudos descritos demonstram que existe uma associação forte entre compreensão

leitora e metacognição. Tanto nas pesquisas de avaliação quanto nas de intervenção, tal

relação foi encontrada. Nas primeiras, era notável que melhores desempenhos em

compreensão de leitura estavam relacionados a um maior uso de estratégias, enquanto nas

últimas, a estimulação em metacognição ocasionou progresso na leitura compreensiva.

Uma crítica possível aos estudos de intervenção é que o desenho escolhido favorece o

resultado do grupo experimental, uma vez que o grupo controle ora não recebe nenhum

treinamento, ora recebe um treinamento menor. Com isso, a literatura carece de pesquisas que

investiguem quais estratégias são mais eficazes na leitura, através de estudos comparativos.

Novos trabalhos neste sentido poderão trazer mais contribuições para a área de pesquisa.

44

Apesar de a metacognição ser uma habilidade aprimorada ao longo do tempo, nem

sempre seu desenvolvimento corre de maneira natural e suficiente. Portanto, a instrução na

percepção e manejo dos processos de pensamento pode favorecer o desempenho na atividade

de leitura, sobretudo no contexto escolar, onde o aluno poderá aplicar o conhecimento

adquirido em diversas disciplinas, visto que todas requerem leitura e compreensão de textos.

45

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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