compras públicas do viés da sustentabilidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEIO AMBIENTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO SUSTENTÁVEL DE MUNICÍPIOS Marcelo Gomes Pinheiro AS COMPRAS PÚBLICAS SOB O VIÉS DA SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DAS LICITAÇÕES SUSTENTÁVEIS Belém 2013

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Licitações Sustentáveis

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR

    NCLEO DE MEIO AMBIENTE CURSO DE ESPECIALIZAO EM GESTO SUSTENTVEL DE MUNICPIOS

    Marcelo Gomes Pinheiro

    AS COMPRAS PBLICAS SOB O VIS DA SUSTENTABILIDADE NO MBITO DAS LICITAES SUSTENTVEIS

    Belm 2013

  • 2

    MARCELO GOMES PINHEIRO

    AS COMPRAS PBLICAS SOB O VIS DA SUSTENTABILIDADE NO MBITO DAS LICITAES SUSTENTVEIS

    Monografia apresentada para obteno do grau de Especialista em Gesto Sustentvel de Municpios na rea de Auditoria Ambiental e Sustentabilidade, promovido pela Universidade Federal do Par e Tribunal de Contas do Municpio.

    Orientadora: Prof M.Sc. Maria do Socorro Almeida Flores.

    Belm 2013

  • 3

    Marcelo Gomes Pinheiro

    AS COMPRAS PBLICAS SOB O VIS DA SUSTENTABILIDADE NO MBITO DAS LICITAES SUSTENTVEIS

    Monografia apresentada para obteno do grau de Especialista em

    Gesto Sustentvel de Municpios na rea de Auditoria Ambiental e

    Sustentabilidade, promovido pela Universidade Federal do Par.

    BANCA EXAMINADORA:

    1. __________________________________

    Prof. M.Sc. Maria do Socorro Almeida Flores (Orientadora) UFPA

    2. __________________________________

    Professor Dr. Sergio Cardoso de Moraes (Membro da Banca) UFPA

    3. __________________________________

    Professor M.Sc. Maurcio Leal Dias (Membro da Banca) UFPA

    Apresentado em: 22/03/2013.

    Conceito: EXCELENTE

  • 4

    As pessoas mais importantes da minha vida,

    meus pais Eldio Pinheiro (in memorian) e

    Andreza Gomes Pinheiro, meus irmos Jos

    Maria Rodrigues Pinheiro, Roberto Gomes

    Pinheiro (in memorian), Emanoel Gomes

    Pinheiro (in memorian), minha irm Vera

    Lcia Pinheiro Pinto e minha esposa Cludia

    Maria Santos Pinheiro.

    Eles que sempre estiveram ao meu lado me

    apoiando e nunca mediram esforos para

    me conceder o melhor, com amor e

    compreenso, alm de representarem

    base de todas as minhas conquistas.

    Marcelo Gomes Pinheiro

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus por mais esta conquista, aos professores do Curso de Gesto

    Sustentvel dos Municpios, promovido pela Universidade Federal do Par e

    Tribunal de Contas do Municpio, aos amigos do curso, em especial, a Prof. M.Sc.

    Maria do Socorro Almeida Flores pela orientao e suporte ao longo da realizao

    desta monografia, ao Prof. M.Sc. Juan L. Bardlez Hoyos - Coordenador Geral do

    Curso e a Equipe do Ncleo do Meio Ambiente NUMA/UFPA por todo apoio

    prestado durante o Curso.

    Aos meus pais e familiares pelo incentivo dado na deciso de ingressar no Curso de

    Gesto Sustentvel dos Municpios.

    A minha esposa, pela disponibilidade de tempo para me ajudar e apoiar, nos

    momentos difceis com pesquisas, sugestes e opinies.

    Marcelo Gomes Pinheiro

  • 6

    Longe de ser uma carga, o

    desenvolvimento sustentvel implica uma

    oportunidade excepcional: do ponto de

    vista econmico, a criao de mercados e

    de empregos, do ponto de vista social,

    para integrar os excludos e do ponto de

    vista poltico, para que todos os homens e

    as mulheres tenham voz e voto ao decidir

    seu prprio futuro.

    Kofi Annan

  • 7 SUMRIO

    RESUMO 8

    ABSTRACT 9

    LISTA DE ILUSTRAES 10

    LISTA DE ABREVIATURAS 11

    1. INTRODUO 12

    1.1. CONSIDERAES GERAIS 12

    1.2. OBJETIVOS 13

    1.2.1. Objetivo Geral 13

    1.2.2. Objetivos Especficos 13

    1.3. PROBLEMA 14

    1.4. HIPTESE 14

    1.5. JUSTIFICATIVA 15

    1.6. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS 15

    2. AUDITORIA AMBIENTAL 16

    3. CARACTERSTICAS DAS LICITAES PBLICAS 19

    3.1. CONCEITOS 19

    3.2. GESTO PBLICA 21

    3.2.1. Gesto Governamental e Organizacional 24

    4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL 25

    4.1. O QUE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL? 25

    5. CARACTERSTICAS DAS LICITAES SUSTENTVEIS 31

    5.1 O QUE SO LICITAES SUSTENTVEIS ? 31

    6. OS DESAFIOS E NORMAS DAS COMPRAS SUSTENTVEIS 35

    6.1. O PODER DAS COMPRAS SUSTENTVEIS NO BRASIL 35

    6.2. A EVOLUO DAS COMPRAS SUSTENTVEIS NO BRASIL 41

    7. CONSIDERAES FINAIS 46

    REFERNCIAS 48

    ANEXOS 50

  • 8

    RESUMO

    O presente trabalho cientfico tem a finalidade de apresentar uma viso sistmica sobre os critrios das compras pblicas sustentveis nas organizaes, bem como conhecer e analisar conceitos, normas e caractersticas da sustentabilidade no mbito das licitaes pblicas. Tendo como problema identificar os obstculos e as oportunidades encontradas na implementao de programas que desenvolvem a responsabilidade socioambiental e sustentabilidade inseridas no processo de aquisio de bens e servios. Como procedimentos metodolgicos decidiu-se pela pesquisa de cunho exploratrio, utilizando dados coletados em fontes bibliogrficas: livros, casos, revistas, documentos, entre outros. Enfim, todas estas informaes nos indicam que a adoo de critrios de sustentabilidade nas licitaes pblicas tem sido legitimada e defendida pelo prprio Estado, o qual tambm tem se colocado como praticante de tais aes, mesmo que isso ainda se visualize de forma embrionria e sem a devida importncia nos rgos pblicos.

    Palavras-chave: Sustentabilidade, Responsabilidade Socioambiental, Compras

    Pblicas Sustentveis, Licitaes Pblicas.

  • 9

    ABSTRACT

    This scientific work aims to present a systemic view on the criteria of sustainable public procurement in institutions, as well as understand and analyze concepts, rules and characteristics of sustainability in the context of public procurement. Having as problem to identify obstacles and opportunities encountered in the implementation of programs that develop social and environmental responsibility and sustainability embedded in the process of purchasing goods and services. As methodological procedures decided by the exploratory research, using data collected from literature sources: books, cases, journals, documents, among others. Anyway, all this information tell us that the adoption of sustainability criteria in public procurement has been legitimated and defended by the Estate, which has also been acted as a practitioner of such actions, even if that view is still in embryonic form and without due importance in government agencies. Key-words: Sustainability, Social-environmental Responsibility, Sustainable Public Procurement, Public Procurement.

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 01 O trip da sustentabilidade 22

    FIGURA 02 Os oito objetivos de desenvolvimento do milnio 23

    FIGURA 03 O modelo de sustentabilidade empresarial 24

    FIGURA 04 O valor e crescimento das compras pblicas sustentveis 38

  • 11

    LISTA DE ABREVIATURAS

    CPS Compras Pblicas Sustentveis

    PIB Produto Interno Bruto

    SGA Sistema de Gerenciamento ambiental

    ISO International Organization for Standardization

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    ISA - ndice de Sustentabilidade Ambiental

    CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    ICLEI - International Council for Local Environmental Initiatives

    CISAP Comisso Internacional de Sustentabilidade na Administrao Pblica

    FGV Fundao Getlio Vargas

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    A3P Agenda Ambiental na Administrao Pblica

    MPOG Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

    SLTI Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao

  • 12

    1. INTRODUO

    1.1. CONSIDERAES GERAIS

    Foi-se o tempo em que os termos sustentabilidade e desenvolvimento

    sustentvel faziam parte apenas do vocabulrio dos ambientalistas. Hoje, tornaram-

    se preocupaes comuns sociedade como todo, sendo temas de grande

    relevncia, atuais e presentes nas discusses e debates em ambientes pblicos,

    privados, no mbito acadmico, em movimentos sociais e na mdia. No entanto,

    devido sua complexidade, eles ainda so pouco compreendidos, mesmo nas

    escolas e nos meios de comunicao.

    Mais do que expresses comuns no cotidiano das pessoas, estes termos

    fazem referncias a novos paradigmas, valores e regras sociais, polticos e

    econmicos para um mundo que est em constante evoluo.

    Atualmente cada vez mais ntida a preocupao da sociedade e da gesto

    pblica com as questes que envolvem o chamado desenvolvimento sustentvel que

    compartilha a ideia de uma sociedade mais justa e redistribuio dos recursos como

    incentivo ao crescimento econmico.

    Nesse contexto, o estudo das compras pblicas sustentveis CPS

    considerado um forte instrumento para a promoo da preservao do meio

    ambiente, representando uma fatia substancial da economia de um Pas, assumindo

    um papel importantssimo surge como elemento-chave para melhorar o desempenho

    sustentvel do municpio, atualmente, pode-se dizer que as compras sustentveis

    produzem um impacto ambiental e social muito mais amplo do que se imaginava h

    vinte anos.

    As estatsticas mostram que atualmente as compras pblicas no Brasil

    movimentam cerca de 10% a 15% do PIB nacional, portanto, fica evidenciado o

    grande poder de compra e contratao da Administrao Pblica, ou seja, os

    padres do sistema produtivo e do consumo de produtos e servios do poder pblico

    geram impactos significativos na economia do Pas e o que precisa ser feito dentro

    da legalidade adotar critrios de sustentabilidade nos processos de contrataes

    pblicas de forma que o Estado participe do mercado tanto como consumidor,

    quanto como regulador, utilizando-se do seu poder de compra como um instrumento

    de justia social e ambiental.

  • 13

    Assim, o presente trabalho versa basicamente sobre os desafios e as

    oportunidades para a implementao efetiva de licitaes sustentveis nos rgos

    pblicos municipais, onde vamos analisar as caractersticas, conceitos, funes e

    base legal das licitaes pblicas, bem como apresentar alguns exemplos de boas

    prticas concernentes ao processo de contrataes sustentveis em outros estados

    brasileiros.

    1.2. OBJETIVOS

    1.2.1. Objetivo Geral

    Estabelecer uma viso sistmica, um panorama sobre a viabilidade de se

    implementar, de fato, licitaes sustentveis em rgos da administrao pblica

    municipal, utilizando-se de conceituaes, da legislao vigente e dados concretos

    sobre um mercado que vem crescendo no mundo.

    preciso entender que atualmente as compras sustentveis so

    consideradas como uma tendncia de mercado uma nova fronteira nas relaes

    de consumo, que envolvem simultaneamente critrios ambientais, econmicos e

    sociais.

    1.2.2. Objetivos Especficos

    Levantar dados sobre as principais prticas e normas municipais existentes

    em outros estados brasileiros, onde as compras sustentveis foram implantadas e j

    fazem parte dos editais que visam aquisies de bens e servios para atender as

    demandas do estado.

    Verificar as estratgias, tecnologias e legislao vigente existentes nos

    estados onde as licitaes sustentveis so realidade, bem como, avaliar o nvel de

    absoro do que efetivamente representa o novo paradigma nas compras pblicas

    brasileiras.

    Propor aos gestores pblicos estaduais que revejam seus conceitos sobre

    compras pblicas sustentveis e analisem que um certame licitatrio no somente

    um meio para fornecer bens e servios Administrao, hoje, a viso de que a

    licitao um instrumento de implementao de polticas pblicas que agregam

    valor ao desenvolvimento sustentvel do Pas, visando buscar a satisfao do

    estado e, principalmente, atender ao interesse pblico.

  • 14

    1.3. PROBLEMA

    A presente pesquisa cientfica vislumbrou como principal problema identificar

    as dificuldades encontradas pelas empresas pblicas quando seus respectivos

    sistemas de gesto passam a lidar com as questes que envolvem responsabilidade

    socioambiental empresarial e a sustentabilidade a ser inserida no processo de

    aquisio de bens e servios. Na realidade, os gestores responsveis por licitaes

    nos rgos pblicos se deparam com um dilema tico junto aos stakeholders

    fornecedores ao terem que tomar decises que pontuem, no processo licitatrio,

    alm dos aspectos econmicos, os sociais e ambientais, considerando a proposta

    mais vantajosa para a Administrao e que atenda ao interesse pblico, conforme

    estabelece a legislao vigente.

    Nesse contexto, a grande questo como avaliar o grau de dificuldade e o

    que efetivamente pode ser feito, pelos tomadores de deciso dos rgos pblicos,

    para dar maior celeridade no processo de implementao de um sistema que

    contemple as compras sustentveis.

    Como trabalhar, visando quebrar a resistncia e a viso estereotipada dos

    gestores de rgos pblicos, de que produtos sustentveis so mais caros do que as

    alternativas convencionais?

    1.4. HIPTESE

    Como hipteses, vislumbramos num primeiro momento o desconhecimento

    dos gestores pblicos com relao a evoluo do conceito de desenvolvimento

    nacional sustentvel nas ltimas dcadas, quando num processo licitatrio, alm dos

    critrios de economicidade e impessoalidade, se faz necessrio inserir exigncias de

    ordem ambiental e social, aspectos que demonstram a efetiva funo social das

    compras pblicas e da eficincia na Administrao Pblica.

  • 15

    1.5. JUSTIFICATIVA

    Justifica-se essa nova formatao no processo de contrataes do governo,

    quando se constata que o seu poder de compra tem todos os atributos necessrios

    para gerar impactos positivos na competitividade local, tendo em vista que o estado

    um consumidor em grande escala de bens e servios, portanto, a implementao

    do processo de compras pblicas sustentveis uma maneira de promover o

    desenvolvimento sustentvel da regio, agregando valor ao processo de compras,

    bem como, conciliar o desenvolvimento econmico com o equilbrio ambiental, alm

    de satisfazer o interesse prestante toda coletividade.

    Na realidade o que se percebe uma viso estereotipada de alguns

    gestores pblicos de que as Compras Sustentveis no so visualizadas como

    oportunidade de vantagem competitiva e nem como uma forma de promover o

    desenvolvimento nacional sustentvel, mas como algo que requer um alto

    investimento de tempo e, principalmente, de recursos financeiros, alm de levantar

    aspectos controversos nos sistemas jurdicos e preocupaes em relao ao seu

    controle e efetividade.

    1.6. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Como mtodo de pesquisa mais adequado para o tema escolhido decidiu-se

    pelo estudo de caso, atravs de pesquisa de cunho qualitativo e exploratrio, a partir

    de uma anlise do contedo dos dados coletados em processos licitatrios, bem

    como na descrio da pesquisa bibliogrfica, tendo como fontes: livros, casos,

    artigos, revistas, documentos de processos licitatrios, entre outros; e quantitativo

    descritivo, visando demonstrar a realidade das licitaes pblicas pertinentes ao

    problema ora estudado, em seguida, mediante anlise, apresentar as concluses

    correspondentes as informaes coletadas.

    Posteriormente, as apuraes dos dados obtidos nas pesquisas realizadas,

    sero tabuladas e analisadas graficamente, vislumbrando possveis solues, com

    maiores investimentos na implantao de polticas pblicas, que visam a efetivao

    de compras pblicas sustentveis, de forma a identificar oportunidades e vantagem

    competitiva na criao de um grande mercado para negcios sustentveis.

  • 16

    2. AUDITORIA AMBIENTAL NA ADMINISTRAO PBLICA.

    As temticas ambientais e as discusses que envolvem a busca de um

    desenvolvimento sustentvel deixaram de serem assuntos exclusivos para os

    ambientalistas, com isso o dinamismo e a crescente competitividade dos mercados

    no mundo dos negcios colocam em risco a vida das instituies que no

    questionarem seus mtodos tradicionais de gerenciamento, desenvolvimento e de

    novos produtos e servios, produo, controle de qualidade, etc.

    Sendo assim, a relao entre meio ambiente e desenvolvimento deve deixar

    de ser conflitante e tornar-se uma relao de parceria. O ponto-chave da questo

    passa a ser a necessidade de uma convivncia pacfica entre a boa qualidade do

    meio ambiente e o desenvolvimento econmico, considerando que so variveis

    dependentes entre si.

    Nessa linha de raciocnio, a sociedade comea a se conscientizar da

    importncia da preservao do meio ambiente, das presses exercidas por

    organizaes governamentais e no governamentais e das exigncias do mercado,

    situaes estas que contribuem para o surgimento de legislaes, normatizaes e

    certificaes das empresas.

    Nesse momento, as organizaes tambm comeam a perceber que

    produzindo em harmonia com o meio ambiente podem se tornar mais competitivas

    num mercado globalizado e em constantes mudanas. Comea a ocorrer, ento, a

    implantao dos chamados Sistemas de Gerenciamento Ambiental SGA, que

    sero analisados, acompanhados e avaliados por meio das auditorias ambientais,

    normatizadas pelas ISOs: 14010, 14011, 14012, e a srie 19000 que substituiu a

    srie 14000.

    A Norma NBR ISO 14001, de 1996, apresenta a seguinte definio para

    auditoria ambiental:

    Uma auditoria ambiental um processo de verificao documentado e sistemtico para obter e avaliar objetivamente evidncias para determinar se atividades, eventos, condies sistemas de gerenciamento ou outras informaes relativas ao meio ambiente esto em conformidade com os critrios de auditoria, alm de comunicar os resultados desse processo ao cliente (ABNT NBR ISO 14001, 1996).

  • 17

    A origem da palavra auditoria vem do latim auditore, que significa

    aquele que ouve. A auditoria, como disciplina, surgiu no setor financeiro para o

    exame sistemtico da contabilidade empresarial de acordo com exigncias legais e

    normas estabelecidas.

    As auditorias ambientais ganharam importncia em virtude da abordagem

    multidisciplinar do gerenciamento ambiental, baseado em leis, normas,

    regulamentos, relaes com as partes interessadas, principalmente as

    comunidades, exigncias de mercado e tantas outras questes associadas ao tema.

    Para Campos e Lerpio (apud KUHRE, 2009, p.7), auditoria ambiental

    significa: Um processo sistemtico para obter, avaliar e reportar fatos de

    conformidades ou no conformidades ambientais de acordo com algum critrio

    definido previamente.

    Na Resoluo CONAMA 306/2002, auditoria ambiental :

    uma auditoria ambiental um processo sistemtico e documentado de verificao, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidncias que determinem se as atividades, eventos, sistemas de gesto e condies ambientais especificados ou as informaes relacionadas a estes esto em conformidade com os critrios de auditoria estabelecidos nesta Resoluo, e para comunicar os resultados desse processo.

    As auditorias ambientais, desde o final dos anos 80, se tornaram uma

    ferramenta gerencial muito comum nos pases desenvolvidos e vem sendo cada vez

    mais aplicada nos pases em desenvolvimento, tanto pelas empresas estrangeiras

    que neles operam como por empresas locais e tem provado ser um forte

    componente dos programas de gerenciamento ambiental.

    Diante disso, importante destacar os ensinamentos adquiridos no Curso de

    Gesto Sustentvel dos Municpios, durante a disciplina Fundamentos da Auditoria

    Pblica, ministrado pela Professora Maria do Socorro Pessoa da Silva, onde foram

    abordados assuntos de ordem tcnica, normas e legislao utilizadas nas auditorias

    procedidas em instituies governamentais.

    No campo das licitaes pblicas importante compreender e verificar na

    prtica, quando das anlises de documentos oriundos de processos licitatrios, a

    aplicabilidade das finalidades da auditoria, com relao a comprovao da

    legalidade e legitimidade dos resultados, baseado em critrios de economicidade,

  • 18

    eficincia e eficcia da gesto oramentria, financeira e patrimonial dos

    rgos pblicos, bem como avaliar a execuo dos programas de governo, dos

    contratos, convnios, acordos, ajustes e outros instrumentos congneres.

    A aplicao efetiva da transparncia na conduo dos negcios pblicos

    um relevante princpio na introduo desse novo comportamento rumo s compras

    pblicas sustentveis. Alm de comunicar sociedade o seu verdadeiro perfil de

    consumo, a organizao e a modernizao do ambiente de contrataes permitem

    ao Estado dispor de informaes gerenciais valiosas para dimensionar o seu poder

    de compra e, consequentemente, conscientizar seus servidores sobre a

    responsabilidade de seus atos. Assim, podem ser traadas estratgias eficientes

    para implantao de eventuais adequaes e mudanas de padres de consumo.

  • 19

    3. CARACTERSTICAS DAS LICITAES PBLICAS

    3.1. CONCEITOS

    No Brasil, a Constituio da Repblica Federativa de 1988 consagrou em

    seu Artigo 37, inciso XXI, a obrigatoriedade da adoo da licitao pela

    Administrao Pblica direta e indireta de qualquer dos poderes da Unio, Estados,

    do Distrito Federal e dos Municpios.

    Segundo Jos dos Santos Carvalho Filho, licitao e:

    [...] procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administrao Pblica e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vrios interessados, com dois objetivos a celebrao do contrato ou a obteno do melhor trabalho tcnico, artstico ou cientfico. (FILHO, 2009, p.226).

    Nos ensinamentos de Celso Antnio Bandeira de Mello, licitao:

    [...] o certame que as entidades governamentais devem promover e no qual abrem disputa entre os interessados em com elas travar determinadas relaes de contedo patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa s convenincias pblicas. (MELLO, 2006, p.503).

    Nesse contexto, o princpio de licitar est diretamente ligado aos princpios

    constitucionais norteadores da atividade estatal. O fato de ter sido alado ao status

    de princpio constitucional de extrema importncia e essencial para a anlise dos

    procedimentos licitatrios dentro do ordenamento jurdico.

    Devido ao reconhecimento desta importncia e do uso eficiente dos recursos

    pblicos, a Constituio Federal de 1988, trouxe no inciso XXI, do Art. 37, a previso

    legal que obriga que obras, servios, compras e alienaes pblicas sejam

    realizados por meio de processo licitatrio, assegurando igualdade de condies a

    todos os concorrentes.

    Conforme observa-se a regra geral para aquisio de bens e contrataes

    de servios na Administrao Pblica a realizao do procedimento licitatrio,

    exceto nos casos de dispensa e inexigibilidade de licitao estabelecidos na Lei

    Geral de Licitaes e Contratos, cuja finalidade principal a seleo da proposta

    mais vantajosa para a Administrao, de forma a atender o interesse da coletividade

    e das convenincias pblicas. Para isso, todo processo licitatrio deve-se ater as

    situaes do caso concreto e ao momento em que vive a sociedade.

  • 20

    importante ressaltar que a preservao da qualidade uma preocupao

    constante nos procedimentos licitatrios. Sendo assim, necessrio que sejam

    identificados mecanismos para obteno de produtos/servios de boa qualidade,

    sem excessos que prejudiquem a isonomia e a competitividade, bem como o

    julgamento objetivo dos certames licitatrios.

    Por outro lado, a mesma Constituio Federal de 1988, foi pioneira ao

    consagrar expressamente a importncia do meio ambiente em seu Art. 225, alm

    disso, estabeleceu que a ordem econmica deve assegurar a todos existncia digna

    conforme os ditames da justia social observado o princpio da defesa do meio

    ambiente.

    Em 1981, a Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente sob n 6.938, foi

    considerada um marco importante na sistematizao da tutela ambiental, ainda que

    anterior a prpria CF/88 sua recepo proporcionou o nascimento do Direito

    Ambiental Brasileiro como cincia autnoma, objetivando harmonizar a preservao

    ambiental, o desenvolvimento socioeconmico e proteo da dignidade da vida

    humana, caractersticas que compem o trip da sustentabilidade.

    Sancionada em 21 de junho de 1993, a Lei Geral de Licitaes, sob n

    8.666/93, tornou-se o Estatuto das Licitaes por conter os princpios gerais

    aplicveis s Administraes Federal, Estaduais, Municipais e ao Distrito Federal,

    conforme preconiza o Art. 1, caput e pargrafo nico da lei de Licitaes e

    Contratos.

    A Lei 8.666/93 reitera em seu Art. 3 os princpios constitucionais da

    legalidade, impessoalidade, Publicidade e do Interesse Pblico, aliando-os busca

    da proposta mais vantajosa para a Administrao e isonomia entre os particulares.

    Inquestionavelmente, o interesse pblico abrange a questo atinente preservao

    do meio ambiente, como j ressaltado na prpria Constituio Federal de 1988 e na

    Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente.

    Nesse momento, cabe ressaltar que por meio da Lei 12.349/10, o Art. 3 da

    Lei 8.666/93, teve sua redao alterada, antes no havia meno expressa

    garantia do desenvolvimento nacional sustentvel, motivo pelo qual a incluso de

    critrios de sustentabilidade nas contrataes pblicas era questionada e, at

    mesmo, no admitida por vrios doutrinadores.

  • 21

    Assim, defendia-se a ideia de que a incluso de critrios ambientais, no

    mximo, poderia ser feita como quesito de pontuao da proposta tcnica nas

    licitaes do tipo melhor tcnica ou do tipo tcnica e preo, com vistas a no frustrar

    o carter competitivo do certame.

    importante salientar, nessa linha, o teor do Art. 3 da lei 8.666/93, com a

    nova redao dada pela Lei 12.349/10, determina:

    Art. 3 A licitao destina-se a garantir a observncia do princpio constitucional da isonomia, a seleo da proposta mais vantajosa para a administrao e a promoo do desenvolvimento nacional sustentvel e ser processada e julgada em estrita conformidade com os princpios bsicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculao ao instrumento convocatrio, do julgamento objetivo e dos que lhes so correlatos. (Sem grifos no original).

    Dessa forma, a preservao do meio ambiente por meio das contrataes

    pblicas passou a figurar entre os objetivos das licitaes, o que permite

    Administrao exigir de seus contratados cuidados necessrios para minimizar os

    impactos da atividade que ser desenvolvida.

    Na realidade, o que se pretende com a introduo da Lei 12.349/10

    defender que o uso do poder de compra do Estado como instrumento de fomento ao

    desenvolvimento sustentvel demanda o estabelecimento de exigncias de cunho

    ambiental como condio de acesso s licitaes e, ainda, para tratamento

    diferenciado, estabelecido na forma da Lei.

    Diante disso, a licitao sustentvel constituiria, em sntese, uma tentativa

    de a Administrao Pblica colaborar com o desenvolvimento sustentvel, onde h

    progresso material, tecnolgico, mas sem comprometer a existncia saudvel de

    geraes futuras.

    3.2. GESTO PBLICA

    Primeiramente importante reforar como est organizado o Estado

    brasileiro. No Brasil, o Estado tem uma de forma de Governo Federativo, sob

    governo Republicano Presidencialista, democrtico, onde a Unio, os Estados

    Membros e os Municpios, so autnomos, promovem a organizao administrativa

    nesses trs nveis governamentais, expressas no art. 37 da CF/88.

  • 22

    No nosso sistema governamental, h quatro espcies de

    Administrao Pblica:

    Administrao Pblica Federal representada pela Unio, tem por

    finalidade o dever de administrar os interesses;

    Administrao Pblica do Distrito Federal representada pelo Distrito

    Federal,tem por finalidade atender aos interesses da populao ali residente,

    e de ser responsvel pelo recebimento de representaes diplomticas ao

    Brasil quando em visita;

    Administrao Pblica Estadual promove todas as iniciativas para

    satisfazer os interesses da populao de seu limite territorial geogrfico como

    estado membro;

    Administrao Pblica Municipal zelar pelos interesses da populao

    local dentro dos imites territoriais do municpio.

    Constitui-se dos rgos integrantes da estrutura administrativa da

    Presidncia da Repblica e dos Ministrios.

    So centros de competncia institudos para o desempenho de funes

    estatais, atravs de seus agentes, no possui patrimnio; esto inseridos na

    estrutura de uma pessoa jurdica; na esfera federal esto submetidos superviso

    ministerial (ao Ministro de Estado); e, alguns tm capacidade jurdica, processual,

    para defesa de suas prerrogativas funcionais.

    Constituda de entidades com personalidade jurdica e compreende as

    empresas pblicas e as sociedades de economia mista, que integram a

    Administrao por relao de vinculao e cooperao, como: as Autarquias,

    Fundaes Pblicas, e Sociedade de Economia Mista.

    O Governo e a Administrao, como criaes abstratas da Constituio e

    das leis, atuam por intermdio de suas entidades (pessoas jurdicas), de seus

    rgos (centros de deciso) e de seus agentes (pessoas fsicas investidas em

    cargos e funes).

    Entidade pessoa jurdica, pblica ou privada; rgo elemento

    despersonalizado incumbido da realizao das atividades da entidade a que

    pertence, atravs de seus agentes. Na organizao poltica e administrativa

    brasileira as entidades classificam-se em estatais, autrquicas, fundacionais e

    paraestatais.

  • 23

    Entidades estatais so pessoas jurdicas de Direito Pblico que

    integram a estrutura constitucional do Estado e tm poderes polticos e

    administrativos, tais como a Unio, os Estados-membros, os Municpios e o Distrito

    Federal. A Unio soberana; as demais entidades estatais tem apenas autonomia

    poltica, administrativa e financeira, mas no dispem de soberania, que privativa

    da Nao e prpria da Federao.

    Entidades autrquicas so pessoas jurdicas de Direito Pblico, de natureza

    meramente administrativa, criadas por lei especfica, para a realizao de atividades,

    obras ou servios descentralizados da entidade estatal que as criou. Funcionam e

    operam na forma estabelecida na lei instituidora e nos termos de seu regulamento.

    As autarquias podem desempenhar atividades econmicas, educacionais,

    previdencirias e quaisquer outras outorgadas pela entidade estatal-matriz, mas sem

    subordinao hierrquica, sujeitas apenas ao controle finalstico de sua

    administrao e da conduta de seus dirigentes.

    As entidades fundacionais so, pela nova orientao da Constituio da

    Repblica de 1988, pessoas jurdicas de Direito Pblico, assemelhadas s

    autarquias, como j decidiu o Supremo Tribunal Federal. So criadas por lei

    especifica com as atribuies que lhes forem conferidas no ato de sua instituio.

    Entidades paraestatais so pessoas jurdicas de Direito Privado cuja criao

    autorizada por lei especifica para a realizao de obras, servios ou atividades de

    interesse coletivo. So espcies de entidades paraestatais as empresas pblicas, as

    sociedades de economia mista e os servios sociais autnomos (SESI, SESC,

    SENAI e outros).

    Na realidade, o que se pretende abordar neste trabalho o grande desafio

    da melhoria da qualidade no processo de gesto e na prestao dos servios

    pblicos a transformao das prticas de gesto voltadas excessivamente para

    procedimentos, normas e relatrios e pouco direcionadas para a produo de

    resultados efetivos.

    Entenda-se por resultados efetivos aqueles bens ou servios produzidos por

    uma organizao pblica capazes de reduzir ou eliminar problemas ou de

    acrescentar benefcios e valores desejados pela sociedade. Em ambos os casos,

    uma gesto organizacional capaz de promover, no mbito de sua misso

    institucional, a qualidade de vida a patamares cada vez mais elevados.

  • 24

    3.2.1 Gesto Governamental e Organizacional

    Quando se fala em gesto governamental e gesto organizacional preciso

    caracterizar bem essas duas dimenses a partir do correto entendimento do que

    governo e do que organizao.

    Governo representa a conduo poltica do Estado. constitudo por

    pessoas escolhidas pela sociedade para atuarem por perodos de tempo limitado. A

    organizao pblica uma estrutura formal de cargos e funes instituda para o

    cumprimento de uma determinada misso. O conjunto de organizaes do Estado,

    segundo o art. 37, da CF/88 a administrao pblica, a quem cabe a conduo

    tcnica do Estado.

    Assim sendo, quando se fala em gesto governamental, trata-se da gesto

    de programas de governo, definidos para executar um conjunto de polticas

    demandadas pela sociedade em um determinado momento. Trata-se, tambm, de

    leis, diretrizes e normas que regem a gesto de todas as organizaes da

    administrao pblica e no apenas uma organizao especfica.

    Por outro lado, quando se fala em gesto organizacional, trata-se da gesto

    dos recursos de toda ordem que uma organizao dispe para cumprir sua misso

    institucional, de natureza tcnica, mas voltada para apoiar os sucessivos governos

    na execuo de suas polticas. nesse espao organizacional que a estratgia da

    qualidade no servio pblico tem seu centro prtico de ao.

    importante ressaltar que o modelo empreendedor de gesto pblica fez

    originar em vrios pases, inclusive no Brasil, os chamados Contratos de Gesto,

    pelos quais o governo central se relaciona de modo ao mesmo tempo

    descentralizado e integrado com suas entidades.

    Na concepo de Catelli(1.999):

    A eficcia da gesto pblica depende principalmente de: Gestores competentes e bem intencionados, um modelo de gesto que aproveite todo o potencial dos gestores, um sistema de gesto que otimize os esforos do governo e da sociedade em seus diferentes nveis, grupos e segmentos, alm disso de um sistema de controles internos que assegure a legitimidade de todas as aes dos gestores, sem prejuzo de sua eficcia.

    De fato, considero perfeito o entendimento do autor que sugere um modelo

    de gesto baseado em informaes gerenciais que venham a facilitar o controle e as

    tomadas de decises pela gesto pblica com base em critrios e princpios de

    eficcia.

  • 25

    4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    4.1. O QUE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL?

    A sustentabilidade um assunto mais do que atual e de extrema relevncia

    nos ambientes pblicos e privados, na verdade no um conceito, mas uma ideia

    que rene vrios conceitos e iniciativas governamentais, no governamentais e

    empresariais.

    A noo de sustentabilidade baseada na necessidade de se garantir a

    disponibilidade de recursos da terra hoje, assim como para nossos descendentes,

    por meio de uma gesto que contemple a proteo ambiental, a justia social e o

    desenvolvimento econmico equilibrado de nossas sociedades.

    Pereira, Silva e Carbonari (2011, p.66) afirmam que:

    Sustentabilidade pode ser definida como a caracterstica de um processo ou sistema que permite que ele exista por certo tempo ou por tempo indeterminado. Nas ltimas dcadas, o termo tornou-se um princpio segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfao das necessidades presentes no deve comprometer a satisfao das necessidades das geraes futuras.

    Os referidos autores defendem a ideia de que o termo sustentabilidade est

    associado, crescente conscientizao de que os pases precisam descobrir novas

    maneiras de promover o crescimento de suas economias, sem destruir o meio

    ambiente, prejudicar a qualidade de vida da sociedade, ou sacrificar o bem-estar das

    futuras geraes.

    Em termos administrativos, convencionou-se que a sustentabilidade est

    apoiada em 3 (trs) pilares que so os aspectos econmicos, ambientais e sociais

    que devem estar em perfeita harmonia visando promover o efetivo desenvolvimento

    sustentvel, em outras palavras s h desenvolvimento onde houver

    sustentabilidade, razo pela qual a expresso desenvolvimento sustentvel acaba

    por revelar um pleonasmo viciosos, tal qual subir para cima e descer para baixo.

    Segundo Veiga (2007, p.127-129):

    Para que seja compreendida a relao dialtica que existe entre as temticas do desenvolvimento e da sustentabilidade, ou do crescimento econmico e da conservao ambiental, so necessrios conhecimentos sobre os comportamentos humanos (cincias sociais e humanas), sobre a evoluo da natureza (cincias biolgicas, fsicas e qumicas) e sobre suas configuraes territoriais, trs mbitos que interagem e se sobrepem, afetando-se e condicionando-se mutuamente. O que significa que as evolues cientificas iniciadas por Darwin e Marx no podem continuar a ser subestimadas. Pode parecer estranho, mas o processo de adoo do termo socioambiental nada tem de fortuito ou de acaso.

  • 26

    Em suma, ao se falar de sustentabilidade o mesmo que se referir a

    desenvolvimento e vice-versa. Entretanto, existem tentativas de se expressar essa

    condio dinmica da sociedade por meio da aferio e composio de ndices de

    sustentabilidades capazes de indicar a distncia entre o estado atual da sociedade

    e esse ideal. O ndice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) e o ndice de

    Desenvolvimento Humano (IDH) so alguns exemplos deles.

    A ideia de desenvolvimento sustentvel est focada na necessidade de

    promover o desenvolvimento econmico satisfazendo os interesses da gerao

    presente, sem, contudo, comprometer a gerao futura. Isto , tem que atender s

    necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das novas geraes

    atenderem s suas prprias necessidades (COMISSO..., 1991, p.46).

    O termo desenvolvimento sustentvel foi usado pela primeira vez no

    Relatrio Brundtland, de 1987, tambm conhecido como Nosso Futuro Comum,

    elaborado pela Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. O

    documento foi utilizado para embasar a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio

    Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), tambm conhecida como Rio 92 ou Eco

    92, a mais importante reunio da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento.

    O conceito implica a dimenso tica do desenvolvimento, pois inclui justia

    entre geraes, estabelecendo que preciso satisfazer as necessidades da gerao

    atual, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de satisfazerem as suas

    prprias necessidades, possibilitando que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um

    nvel satisfatrio de desenvolvimento social e econmico e de realizao humana e

    cultural, fazendo ao mesmo tempo, uso racional dos recursos da Terra e

    preservando as espcies e os habitats naturais.1

    Na realidade, isso quer dizer que, para a Comisso Brundtland, o conceito

    de desenvolvimento sustentvel deve fundamentar as polticas pblicas, de modo

    que os objetivos do desenvolvimento econmico e social sejam definidos com base

    em critrios de sustentabilidade.

    1 Definio do desenvolvimento sustentvel, em Nosso futuro comum, ou Relatrio Brundtland, da Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, 1987.

  • 27

    Nesse momento interessante ilustrar, na figura 1, abaixo, o chamado

    trip da sustentabilidade.

    Figura 1: O trip da sustentabilidade.

    Fonte: Pereira, Silva e Carbonari, 2011, p.78.

    Segundo os autores citados acima, a sustentabilidade envolve trs aspectos:

    atividade economicamente vivel, socialmente justa e ecologicamente correta - o

    chamado Tringulo ou Trip da Sustentabilidade, tambm conhecido como Triple

    Bottle Line.

    Segundo Pereira, Silva e Carbonari (2011, p.156):

    As organizaes tem procurado modificar seus modelos de negcios com base no trip da sustentabilidade. Na prtica, isso significa a criao de produtos e servios que contribuam efetivamente para a melhoria da performance socioambiental dos seus pblicos internos e externos, finalmente percebidos como relevantes para os seus resultados operacionais.

    A preocupao mundial com as questes relacionadas sustentabilidade,

    responsabilidade social e meio ambiente, provocou a realizao do Frum

    Econmico Mundial, em 1999, organizado pelo ento secretrio-geral da ONU, Kofi

    Annan, visando tratar de polticas pblicas voltadas para a responsabilidade social

    corporativa e de sustentabilidade. O mesmo Kofi Annan , em setembro de 2000,

    props uma reunio de cpula que resultou na Declarao do Milnio,

    estabelecendo oito objetivos de Desenvolvimento do Milnio, so oito metas

    concretas a serem atingidas por 191 Estados signatrios da referida Declarao, at

    2015.

  • 28

    Sendo assim, apresentamos abaixo a figura 2, que ilustra o resultado

    da chamada Declarao do Milnio:

    Figura 2: Os oito objetivos de desenvolvimento do milnio.

    Fonte: Pereira, Silva e Carbonari, 2011, p.55.

    Cabe ressaltar que para cumprir o que foi acordado, os pases tm liberdade

    para criar e desenvolver seus prprios mecanismos de monitoramento das metas,

    apresentados em relatrios peridicos. Esses dados permitem acompanhar a

    evoluo em pases e regies de todo o planeta.

    Essas metas funcionam como parmetros para polticas pblicas capazes de

    solucionar os problemas enfrentados pela populao. No caso do Brasil, aes como

    o programa Bolsa Famlia colaboram para reduzir a pobreza, aumentando as

    chances de o Pas atingir a meta nmero 1, que tem a finalidade de erradicar a

    extrema pobreza e a fome.

    No Brasil, os oito objetivos de desenvolvimento do milnio so difundidos e

    recebem adeses pelo representante do Programa das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento (PNUD) e pela Organizao Rede Brasil Voluntrio, entre outras

    instituies comprometidas com as questes da sustentabilidade.

  • 29

    oportuno tambm mostrar, na figura 3, abaixo, o modelo de

    sustentabilidade empresarial na concepo de uma nova ordem econmica:

    Figura 3: O modelo de sustentabilidade empresarial.

    Fonte: Pereira, Silva e Carbonari, 2011, p.156.

    Conforme observam Pereira, Silva e Carbonari (2011, p.71):

    A proposta, ento, de uma nova concepo de prosperidade, diferente da viso tradicional (baseada exclusivamente no crescimento econmico). A ideia de que o desenvolvimento e o crescimento de um Pas sejam capazes de assegurar o mnimo de qualidade de vida para todas as pessoas, ao mesmo tempo que seja garantida maior proteo ao meio ambiente. E, segundo o Relatrio Brundtland, esses fatores devem estar interligados.

    Em outras palavras, para os autores do Relatrio Brundtland, a pobreza e o

    consumismo extremo nos pases em desenvolvimento so desafios urgentes para os

    quais a sociedade precisa encontrar respostas sustentveis.

    A satisfao das necessidades e aspiraes humanas o principal objetivo

    do desenvolvimento.

  • 30

    As necessidades essenciais de um grande nmero de pessoas nos

    pases em desenvolvimento por comida, roupas, habitao e emprego no tm sido

    atendidas e, mais do que necessidades bsicas, essas pessoas tm aspiraes

    legtimas pela melhoria da qualidade de vida. Um mundo onde a pobreza e a

    iniquidade so endmicas sempre estar sujeito a crises ecolgicas e a crises de

    outra natureza.

    O desenvolvimento sustentvel requer o atendimento das necessidades

    bsicas de todos e a extenso a todos das oportunidades de satisfazer suas

    aspiraes de uma vida melhor. 2

    Diante disso, compartilho da ideia de que o desenvolvimento sustentvel

    depende fortemente daquilo em que acreditamos e fazemos agora. nesse contexto

    em que destacada a necessidade de se investir em inovaes sustentveis e em

    novas formas de educao, a fim de que as questes que envolvem a

    sustentabilidade se reflitam na cultura do povo.

    2 BRUNDTLAND, 1987, captulo 2, pargrafo 4.

  • 31

    5. CARACTERISTICAS DAS LICITAES SUSTENTVEIS.

    5.1. O QUE SO LICITAES SUSTENTVEIS?

    Atualmente as grandes potncias mundiais buscam alternativas que visam

    conciliar o desenvolvimento econmico com o equilbrio ambiental partindo do

    princpio de que todos ns estamos suscetveis a sofrer, em maior ou menor escala,

    as consequncias de uma catstrofe da natureza.

    Os governos e as pessoas esto mudando suas prticas para diminuir danos

    ao meio ambiente. nesse sentido que deve caminhar a Administrao Pblica

    Brasileira, considerando que adquirir produtos de menor impacto ambiental

    representa obter a contratao mais vantajosa, ainda que no seja o menor preo do

    mercado quando comparado com produtos convencionais que no atendem aos

    critrios ambientais e ao bem estar social, portanto, no atendem ao interesse

    pblico, conforme estabelecido no Artigo 225, da Constituio Federal/88.

    Desde o incio de 2008, as licitaes sustentveis vm tomando corpo na

    administrao pblica e facilmente pode-se perceber o crescente interesse pelo

    assunto em rgos de todas as esferas governamentais. Isso comprova que o

    desenvolvimento sustentvel uma realidade que deve se alastrar para todos os

    nveis da sociedade. Fato tambm percebido pelos gestores de compras que, cada

    vez mais, mantm contato com empresas comprometidas com a mesma poltica.

    A tendncia de realizar licitaes sustentveis se expandir para toda a

    administrao pblica, principalmente quando no mercado encontrarmos muitas

    empresas que adotem prticas sustentveis na produo e comercializao de seus

    produtos, pois no haver perigo de direcionamento ou reduo de competitividade

    ao exigir essa tendncia nos processos licitatrios.

    Existem prticas de produo e consumo que melhoram a eficincia no uso

    de produtos e recursos naturais, econmicos e humanos, que reduzem o impacto

    sobre o meio ambiente, que promovem a igualdade social e a reduo da pobreza,

    que estimulam novos mercados e recompensam a inovao tecnolgica, mas que

    raramente so priorizadas.

    As compras pblicas sustentveis se enquadram nessas aes. Com essa

    orientao, o poder de compra dos governos pode influenciar os mercados e

    contribuir para a consolidao de atividades produtivas que favoream o

    desenvolvimento sustentvel.

  • 32

    Nesse contexto, surgem as chamadas licitaes Sustentveis ou

    compras verdes que podem ser definidas como uma soluo para integrar

    consideraes ambientais e sociais em todos os estgios do processo de compra e

    contratao do poder pblico com o objetivo de reduzir impactos sade humana,

    ao meio ambiente e aos direitos humanos, visando promoo do desenvolvimento

    nacional, de forma a atender o interesse pblico e garantir o princpio da isonomia.

    Para Santos e Barki (2011, p.25):

    Uma compra pblica sustentvel buscaria integrar critrios ambientais, sociais e econmicos a todos os estgios deste processo. O comprador pblico considerar a necessidade real de adquirir; as circunstncias em que o produto visado foi gerado, levando ainda em considerao os materiais e as condies de trabalho de quem o gerou.

    Sendo assim, o Estado quando atua como consumidor, no um comprador

    comum, alm da sua conduta se pautar pela observncia do princpio da legalidade,

    em consonncia com os princpios primrios da administrao pblica, deve faz-lo

    da forma mais racional possvel.

    Na verdade, o Estado deve usar o poder de compra para implementar

    polticas pblicas, alocando o gasto dos recursos pblicos de forma eficiente e

    otimizando o gasto investido. Esta forma de uso do poder de compra representa um

    novo paradigma nas compras pblicas brasileiras.

    Entretanto, os fatos e a histria evidenciam que no existe uma discusso

    nacional especfica sobre a questo da criao de polticas pblicas visando a

    implementao de compras sustentveis nos rgos do governo, a prpria Lei de

    Licitaes no se preocupou com a questo do meio ambiente, o que temos vigente

    so leis esparsas como a de resduos slidos e de mudanas climticas, alm de

    outras de aplicabilidade apenas regional ou local que interpretadas e aplicadas

    sistematicamente com a Lei Geral de Licitaes oferecem a compensao do que

    atualmente se exija para o certame licitatrio ser, de fato e de direito sustentvel.

    Por outro lado, os governos tem o papel fundamental de criar leis e

    regulamentos, incentivos, impostos, mas tambm, sendo os consumidores mais

    ativos do mercado, tem a obrigao de liderar dando exemplos, estabelecendo um

    padro para a sociedade em geral praticando o que prega. Para tanto, basta

    incorporar as suas contrataes e aquisies exigncias socioambientais, ainda que

    mnimas, de forma a regulamentar e incentivar prticas de compras pblicas

    sustentveis nos rgos pblicos.

  • 33

    Em 1992, a UNCED - Conferncia da ONU sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, estabeleceu um Plano de Ao para

    promover o desenvolvimento sustentvel: a Agenda 21. Alm disto, uma das

    mensagens mais importantes da Conferncia da ONU foi que o desenvolvimento

    sustentvel e uma melhor qualidade de vida somente podero ser alcanados se as

    naes reduzirem consideravelmente ou eliminarem padres insustentveis de

    produo e consumo.

    O tema compras pblicas sustentveis aparece mais explicitamente na

    Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, ocorrida em 2002 em

    Joanesburgo e conhecida com Rio+10, a qual teve entre seus objetivos impulsionar

    as autoridades pblicas e governos a promover polticas de contratao pblica que

    favoream o desenvolvimento e a difuso de mercadorias e servios favorveis ao

    meio ambiente.

    evidente que existe uma grande preocupao, de ordem mundial com o

    impacto socioambiental das compras pblicas, nos pases europeus, j h mais de

    uma dcada existem normas e respeito sobre o tema.

    Segundo a pesquisadora Luciana Betiol (2011), no artigo Licitaes

    Sustentveis. O poder de compra do governo em prol da sustentabilidade, dentre as

    iniciativas mais avanadas de alguns pases europeus, podemos destacar o caso da

    cidade de Leicester, no Reino Unido, que proibiu a compra de produtos com

    substncias que degradam a camada de oznio, madeira proveniente de corte ilegal

    e tambm alguns tipos de pesticidas.

    A cidade se prope a reduzir o volume de compras de novos produtos, para

    minimizar o consumo de bens no essenciais, e ainda determina a obrigatoriedade

    da reutilizao ou conserto de bens, tambm visando minimizar compras. D

    preferncia, tambm, a produtos de material reciclado e equipamentos eficientes no

    uso de energia. Utiliza a metodologia de anlise do ciclo de vida para avaliar quais

    produtos causam menos impacto.

  • 34

    No mesmo artigo a pesquisadora ressalta como as mais arrojadas iniciativas

    at hoje implementadas no Brasil, as aes dos governos de So Paulo que proibiu

    a aquisio de produtos ou equipamentos contendo substncias degradadoras da

    camada de oznio, obrigatoriedade de aquisio de lmpadas de alta eficincia

    energtica e baixo teor de mercrio, e no Estado de Minas Gerais a Polcia Militar

    divulgou edital de aquisio de 831 veculos, determinando como condio que

    sejam leves, econmicos, flex e possuam uma estrutura que elimine menor

    quantidade de gs carbnico (CO2) para minimizar os impactos no efeito estufa e

    aquecimento global.

  • 35

    6. OS DESAFIOS E NORMAS DAS COMPRAS SUSTENTVEIS NO BRASIL

    6.1. O PODER DAS COMPRAS SUSTENTVEIS NO BRASIL

    Ao contrrio do que se imagina a deciso de se realizar uma compra

    sustentvel no implica, necessariamente, em maiores gastos de recursos

    financeiros. Isso porque nem sempre a proposta vantajosa a de menor preo e

    tambm porque deve-se considerar no processo de aquisio de bens e contratao

    de servios dentre outros aspectos os seguintes:

    1) Custo ao logo de todo o ciclo de vida do produto: fundamental ter em

    conta todos os custos de um produto ou servio ao longo de toda sua vida

    til - preo de compra, custo de utilizao e manuteno e custos com

    eliminao;

    2) Eficincia: as compras e licitaes sustentveis permitem satisfazer as

    necessidades da Administrao Pblica, mediante a utilizao mais

    eficiente dos recursos e com menor impacto socioambiental;

    3) Compras compartilhadas: por meio da criao de centrais de compras

    possvel utilizar-se produtos inovadores e ambientalmente adequados sem

    aumentar-se os gastos pblicos;

    4) Reduo de impactos ambientais e problemas de sade: grande parte dos

    problemas ambientais e de sade a nvel local influenciada pela qualidade

    dos produtos consumidos e dos servios que so prestados;

    5) Desenvolvimento e Inovao: o consumo de produtos mais sustentveis

    pelo poder pblico pode estimular os mercados e fornecedores a

    desenvolverem abordagens inovadoras e a aumentarem a competitividade

    da indstria nacional e local.

    Sendo assim, os desafios para a efetiva implementao de licitaes

    sustentveis no Pas ainda so muitos, apesar disso, os estados de So Paulo,

    Minas Gerais, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Paran, Amazonas, entre outros, j

    tomaram diversas medidas para avanar em relao implementao de compras

    pblicas sustentveis.

  • 36

    Esta demanda permanente das entidades da administrao pblica,

    nas trs esferas de governo, por um amplo conjunto de bens, servios e obras para

    o seu funcionamento, implica em um consumo de recursos naturais e causa impacto

    em todas as etapas associadas produo; transporte; utilizao dos produtos; e

    gerao de resduos ou formas de disposio final. Da a necessidade de

    racionalizao das contrataes pblicas, que devem primar pela utilizao de

    materiais reciclveis, com vida til mais longa, que contenham menor quantidade de

    materiais perigosos ou txicos, consumam menor quantidade de matrias-prima e

    energia, e orientem as cadeias produtivas a prticas mais sustentveis de

    gerenciamento e gesto.

    Nesse sentido, a funo social do procedimento licitatrio passou a ser

    exigida por atos normativos diferentes da Lei 8.666/93. E surgiram, desde ento,

    polticas pblicas especficas envolvendo licitaes e contratos administrativos

    viabilizados por decretos e proteo ao meio ambiente, por exemplo a Lei

    Complementar 123/2006, que conferiu tratamento privilegiado ao

    microempreendedor, a Lei de resduos slidos e de mudanas climticas e, afinal, a

    Lei 12.349/10 que deu nova redao ao Art. 3da Lei 8.666/93, todas sinalizando

    com o dever-poder de se buscar fins outros para a licitao que no apenas a

    seleo isonmica da proposta mais vantajosa para a administrao pblica.

    Segundo Ferreira (2010, no paginado):

    Com o descortinar da Funo Social da Licitao qual seja a de promover o desenvolvimento nacional sustentvel como imperativo legal e novo fim para os certames concorrenciais, preciso reestudar o procedimento licitatrio, no mais servindo as lies doutrinrias e jurisprudncias de outrora. Melhor dizendo, preciso reaprender as licitaes a partir da base, porque a alterao havida cria uma mudana de paradigma.

    Vejamos o que preconiza o Art. 225 da Constituio Federal/88:

    Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

    Assim, objetiva-se que a Administrao Pblica Federal, na seleo da

    proposta mais vantajosa ao interesse pblico, considere, em primeiro lugar, os bens

    e servios cujas caractersticas atendam a esse interesse, isto , cujas

    especificaes sejam adequadas tanto em termos de qualidade, funcionalidade e

  • 37

    preo, quanto aos princpios e deveres do Estado, definidos na Constituio

    Federal/88. Ou seja, a Administrao tem o dever de selecionar os bens, servios e

    obras que sejam vantajosos em um sentido amplo, considerando no apenas o

    preo, mas a qualidade, custo com a utilizao e a conformidade com o dever do

    Estado de proteo ao meio ambiente, que hoje se traduz em uma poltica de

    desenvolvimento sustentvel, ou seja, um desenvolvimento que garanta uma

    sociedade forte, saudvel e justa, e que observe os limites do meio ambiente, sem

    comprometer o bem estar das geraes futuras.

    Na Cidade de So Paulo, o Programa Madeira Legal tem como objetivo

    incentivar e promover o uso da madeira de origem legal e certificada na construo

    civil no Estado e no Municpio de So Paulo por meio da cooperao tcnica e

    institucional entre as partes para viabilizar, de forma objetiva e transparente, a

    adoo de um conjunto de aes que garantam a consolidao do Programa.

    Em Minas Gerais, o projeto Gesto Estratgica de Suprimentos, em sua

    primeira fase identificou cinco famlias de compras do Estado. Equipamentos de

    informtica, material de escritrio, medicamentos, pavimentao e refeies. Com a

    implementao das recomendaes propostas, houve uma economia de R$ 77

    milhes, nas compras efetuadas entre maio de 2007 e janeiro de 2009. Do total de

    computadores pessoais adquiridos em 2008, 56,73% tinham monitores LCD, que

    consomem menos energia, emitem menos radiao minimizando assim a agresso

    ao usurio e ao meio ambiente.

    No desenvolvimento das estratgias e polticas pblicas voltadas para a

    questo da sustentabilidade nos Estados de So Paulo e Minas Gerais, se faz

    necessrio ressaltar a atuao e o apoio do ICLEI (International Council for Local

    Environmental Initiatives) Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais

    Locais, que uma associao de governos locais que assumiu um compromisso

    com o desenvolvimento sustentvel, gerenciando diversas campanhas e programas

    que abordam questes de sustentabilidade local, bem como oferece informaes,

    treinamento, servios tcnicos e consultorias, alm de organizar conferncias,

    executar pesquisas e projetos-piloto, enfim, uma instituio reconhecida no mundo

    que oferece todo o suporte para a incluso de critrios de sustentabilidade, por meio

  • 38

    de projetos, como ocorreu em Minas e em So Paulo, no projeto Fomentando

    Compras Pblicas.

    Cabe ressaltar a importante iniciativa do Estado do Amazonas, na regio

    Norte, quando da criao da Lei 135/07, vejamos abaixo os artigos. 25 e 26:

    Art. 25. As licitaes para aquisio de produtos e servios pelo Estado do Amazonas podero exigir dos licitantes, no qual couber, certificao reconhecida pelo Estado, nos termos do edital ou do instrumento convocatrio, que comprove a efetiva conformidade do licitante Poltica Estadual de Mudanas Climticas, Conservao Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel.

    Art. 26. Fica proibida a utilizao, em obras pblicas, de madeira de desmatamento e, ainda, a utilizao em construo de materiais que sejam considerados ambientalmente inapropriados pelo Estado (...).

    Diante disso, se faz necessrio ressaltar que Amazonas se torna o Estado

    pioneiro, da Regio Norte, na implementao de polticas pblicas priorizando a

    questo da sustentabilidade, alm disso, vem criando mecanismos fiscais e

    financeiros para incentivar as redues dos impostos no Estado e estabelecer

    facilidades para empresas reduzirem as emisses de gases de efeito estufa. A

    licitao sustentvel, por exemplo, mais uma inovao no sistema de gesto de

    compras pblicas no Amazonas e refora a ideia de que sustentabilidade

    fundamental do ponto de vista ambiental, econmico e social.

    importante enfatizar que na fundamentao legal que expressa os

    aspectos inerentes s licitaes pblicas no Brasil, imprescindvel abordar a

    aplicao das regras contidas na Instruo Normativa n. 1/2010, procurando trazer

    para a realidade prtica das contrataes pblicas os conceitos, as razes e o

    significado da realizao de uma compra pblica que leve em considerao critrios

    de sustentabilidade.

    Nas disposies gerais da Instruo Normativa n 1/2010, da Secretaria de

    Logstica e Tecnologia da Informao do Ministrio do Planejamento, Oramento e

    Gesto, de 19 de janeiro de 2010, so apresentados os critrios de sustentabilidade

    ambiental na aquisio de bens, contratao de servios ou obras pela

    Administrao Pblica Federal direta, autrquica e fundacional.

  • 39

    Ainda com relao a fundamentao legal que fornece todo o

    embasamento para a discusso sobre o tema em comento, podemos citar:

    1. A Lei de crimes ambientais sob n 9605/98 que, ao dispor sobre as sanes

    penais e administrativas contra atividades lesivas ao meio ambiente, tipifica como

    crime ambiental, dentre outras condutas, atividades diretamente ligadas s compras

    pblicas sustentveis, como, por exemplo, que a extrao de florestas de domnio

    pblico ou consideradas de preservao permanente, sem prvia autorizao de

    pedra, areia, cal ou qualquer espcie de mineral constitui crime ambiental;

    2. Considerando um certo amadurecimento da sociedade brasileira com

    relao as questes ambientais, cabe citar a resoluo n 20/1994, do CONAMA,

    que dispe sobre a instituio do selo rudo, de uso obrigatrio para aparelhos

    eletrodomsticos que geram rudos no seu funcionamento;

    3. O Decreto n 2.783/98, que probe entidades do governo federal de comprar

    produtos ou equipamentos contendo substncias degradadoras da camada de

    oznio;

    4. O Decreto 4131/02, que dispe sobre medidas emergenciais de reduo do

    consumo de energia eltrica no mbito da Administrao Pblica Federal;

    5. A Resoluo CONAMA n 307/2002, que estabelece critrios e

    procedimentos para gesto de resduos na construo civil;

    6. A regra geral no ordenamento jurdico imposta pela CF/88 a exigncia de

    que as contrataes em geral sejam precedidas de processo licitatrio, que tem por

    base a anlise da Lei 8.666/93, por sua abrangncia e aplicabilidade. Alm disto, a

    interpretao deste lei deve se dar de forma coerente com o restante das normas do

    ordenamento jurdico nacional, em particular com os preceitos trazidos pela Lei de

    Poltica Nacional do meio Ambiente (Lei Federal n 6.938/81), e em relao ao

    desenvolvimento sustentvel, aos compromissos assumidos nas convenes

    internacionais.

    Na realidade, a preocupao ambiental estimulou o setor pblico a procurar

    novos paradigmas de aquisio de bens para atendimento de suas necessidades.

    Nesse contexto, inmeras iniciativas, agregadores de critrios de sustentabilidade

    ambiental, foram adotadas pela Administrao Pblica, com a finalidade de reduzir

    impactos ambientais.

    Por fim, foi publicado em 5 de junho de 2012, o Decreto de n 7.746 que

    regulamenta o art. 3 da Lei 8.666/93, para estabelecer novos critrios, prticas e

  • 40

    diretrizes gerais para a promoo do desenvolvimento nacional sustentvel por

    meio das contrataes realizadas pela administrao pblica federal direta,

    autarquia e fundacional e pelas empresas estatais dependentes, e instituiu a

    Comisso Interministerial de Sustentabilidade na Administrao Pblica CISAP.

    Assim o procedimento licitatrio passou a ter um novo princpio: o princpio

    da promoo do desenvolvimento sustentvel.

    Com a publicao do Decreto 7.746/2012 que regulamenta a aplicao do

    referido princpio.

    O artigo 4 mostra-se de fundamental importncia, pois contempla vrias

    diretrizes de sustentabilidade, entre outras:

    I menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e gua;

    II preferncia para materiais, tecnologias e matrias-primas de origem

    local;

    III maior eficincia na utilizao de recursos naturais como gua e energia;

    IV maior gerao de empregos, preferencialmente com mo de obra local;

    V maior vida til e menor custo de manuteno do bem e da obra;

    VI uso de inovaes que reduzam a presso sobre recursos naturais; e

    VII origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos

    bens, servios e obras.

    Todos esses elementos podem figurar como critrios para a seleo nas

    licitaes, desde que seja observada a ressalva do 1o, que estabelece ser vedado

    aos agentes pblicos admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocao,

    clusulas ou condies que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu carter

    competitivo. Deve-se ento buscar um equilbrio entre os objetivos e princpios

    norteadores do procedimento licitatrio.

    Por outro lado, os artigos 5, 6 e 7 tambm criam importantes mecanismos

    para que a licitao tenha uma utilizao que ultrapasse os limites da linha

    econmica:

    Art. 5 A administrao pblica federal direta, autrquica e fundacional e as empresas estatais dependentes podero exigir no instrumento convocatrio para a aquisio de bens que estes sejam constitudos por material reciclado, atxico ou biodegradvel, entre outros critrios de sustentabilidade.

  • 41 Art. 6 As especificaes e demais exigncias do projeto bsico ou executivo para contratao de obras e servios de engenharia devem ser elaboradas, nos termos do art. 12 da Lei n 8.666, de 1993, de modo a proporcionar a economia da manuteno e operacionalizao da edificao e a reduo do consumo de energia e gua, por meio de tecnologias, prticas e materiais que reduzam o impacto ambiental.

    Art. 7o preconiza que: O instrumento convocatrio poder prever que o

    contratado adote prticas de sustentabilidade na execuo dos servios contratados e critrios de sustentabilidade no fornecimento dos bens.

    Em resumo, a Administrao Pblica na realizao de procedimentos

    licitatrios, a partir da publicao do Decreto 7.746/12, pode:

    a) Exigir que os bens a serem adquiridos sejam feitos por materiais

    biodegradveis, atxicos ou provenientes de material reciclado;

    b) Que os contratados adotem prticas de sustentabilidade e no caso de

    realizao de obras demonstrem no projeto medidas de reduo de impacto

    ambiental e racionalizao do uso de energia e gua.

    Pode-se afirmar, por derradeiro, que o Decreto 7.746/2012 consolida um

    novo modelo de procedimento licitatrio, modelo este que exige a formulao de

    polticas pblicas voltadas para o cumprimento das normas em vigncia e a garantia

    de uso mais eficiente e responsvel dos recursos pblicos, garantindo a proteo do

    meio ambiente, bem como o desenvolvimento sustentvel que tanto se busca neste

    Pas.

    6.2. A EVOLUO DAS LICITAES SUSTENTVEIS NO BRASIL

    Recm chegada ao universo das compras pblicas brasileiras, a prtica das

    licitaes sustentveis vem conquistando cada vez mais espao e ganha novos

    parceiros vindos de outras esferas das sociedades. Na realidade, a expanso das

    licitaes sustentveis na Administrao Pblica deve-se, alm do compromisso das

    autoridades e servidores envolvidos no processo de compras, ao apoio oferecido por

    entidades e organizaes engajadas e preocupadas com o desenvolvimento

    sustentvel.

    Dentre estas entidades est o ICLEI (International Council for Local

    Environmental Initiatives) Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais

    Locais, que uma associao democrtica e internacional que auxilia os governos a

    promover a conscientizao poltica sobre questes chave para atingir objetivos

    concretos e mensurveis rumo ao desenvolvimento sustentvel.

  • 42

    Um levantamento realizado pelo Secretariado para a Amrica Latina e

    Caribe do ICLEI, revelou que diversas iniciativas isoladas de compras pblicas

    sustentveis vm acontecendo no Brasil, promovidas por departamentos ou

    indivduos em diferentes instncias do governo, como ocorre no estado de So

    Paulo e tambm em Minas Gerais.

    Segundo o artigo, publicado na revista Negcios Pblicos, edio do ms de

    maio/2008, intitulado Licitaes Sustentveis: modernidade em compras pblicas.

    No Brasil, uma outra entidade que vem desenvolvendo um importante trabalho na

    rea de licitaes sustentveis a Fundao Getlio Vargas - FGV, por meio do seu

    Centro de Estudos em Sustentabilidade GVCES, atuando junto iniciativa privada,

    ao poder pblico e ao cidado comum, com projetos, capacitao de compradores,

    publicaes e realizao de cursos de especializao em gesto de

    sustentabilidade.

    Em iniciativa indita, o GVCES desenvolveu o Catlogo Sustentvel

    (www.catalogosustentavel.com.br) uma plataforma web de acesso gratuito, que tem o

    objetivo de promover o consumo racional e eficiente atravs da divulgao de

    produtos e servios sustentveis.

    O Ministrio do Meio Ambiente MMA, na condio de rgo pblico

    federal, com a responsabilidade de promover aes educativas e de formao de

    educadores visando estimular e melhorar a qualidade do meio ambiente iniciou em

    1999, a chamada Agenda Ambiental na Administrao Pblica A3P, um projeto

    inovador cujo objetivo principal buscar a reviso dos padres de produo e

    consumo e a adoo de novos referenciais de sustentabilidade ambiental nas

    instituies da administrao pblica.

    Alm disso, tambm procura estimular os gestores pblicos a incorporar

    princpios e critrios de gesto ambiental em suas atividades rotineiras, levando

    economia de recursos naturais e reduo de gastos institucionais por meio do uso

    racional dos bens pblicos e da gesto adequada dos resduos.

    O projeto A3P, foi estruturado em cinco eixos temticos prioritrios:

    1. O uso racional dos recursos naturais e bens pblicos;

    2. Gesto adequada dos resduos gerados;

    3. Qualidade de vida no ambiente de trabalho;

    4. Sensibilizao e capacitao dos servidores;

    5. Licitaes Sustentveis.

  • 43

    O trabalho reconhecido desenvolvido pelo MMA, no programa A3P tem

    contribudo de forma significativa na disseminao, junto s empresa pblicas,

    quanto a insero de prticas sustentveis, dentro dos seus cinco eixos temticos.

    Entretanto o grande desafio ainda consiste em transformar o discurso em

    prtica e inteno em compromisso, pois, os princpios da responsabilidade

    socioambiental demandam cooperao e unio de esforos em torno de causas

    significativas e inadiveis.

    Considerando do tema do presente trabalho, obviamente, que os assuntos

    aqui abordados devem se ater mais especficas sobre o quinto eixo temtico da A3P

    que trata das licitaes sustentveis, levando-se em considerao a sustentabilidade

    ambiental, social e econmica dos produtos e servios a elas relacionados.

    O Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto, por meio da Secretaria

    de Logstica e Tecnologia da Informao - SLTI, tem priorizado a sustentabilidade

    nas contrataes pblicas, quando desenvolveu um sistema de compras que

    comporta o cadastro de todos os atores envolvidos, bem como um catlogo amplo

    de bens e servios, informatizou todo o processo e desenvolveu modalidades

    executadas na forma eletrnica, ou seja, organizou um sistema de compras

    transparente e funcional visando incentivar a participao de todos os interessados

    nas licitaes pblicas.

    Atualmente, a SLTI est potencializando o Programa de Contrataes

    Pblicas Sustentveis para que possa incluir critrios ambientais nas compras

    pblicas. O Estado no pode ser s mais um ator nos esforos da sociedade para

    criar um modelo justo de desenvolvimento sustentvel, mas deve promover uma

    cultura institucional que sirva de exemplo para a sociedade.

    O programa de licitaes sustentveis desenvolvido pelo MPOG uma

    iniciativa da Administrao Pblica para valorizar a compra de produtos que utilizam

    critrios ambientais, econmicos e sociais, em todas as etapas do ciclo de vida

    desses bens, transformando suas aquisies em instrumentos de proteo ao meio

    ambiente.

  • 44

    A plataforma desenvolvida pelo MPOG, denominada Portal de

    Compras do Governo Federal, o sistema Comprasnet, disponibiliza informaes

    importantssimas como, por exemplo, um banco de dados com editais de aquisies

    sustentveis, bem como o grfico abaixo que demonstra o crescimento das compras

    pblicas sustentveis no perodo de 2010 a 2012:

    Figura 4: Valor e crescimento das compras pblicas sustentveis.

    Fonte: http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br

    O presente grfico demonstra que as compras pblicas sustentveis

    realizadas em 2012, representam 83% das aquisies realizadas em 2011, nas

    chamadas licitaes sustentveis, o que demonstra um crescimento considervel

    na aquisio de produtos sustentveis.

    O crescimento em questo demonstra o interesse do governo federal em

    utilizar o seu poder de compra para potencializar a recente poltica de contrataes

    pblicas sustentveis implementada no Pas.

    Conforme apresentado anteriormente, quanto s aes desenvolvidas pelos:

    MPOG, MMA, ICLEI, FGV, entre outros rgos pblicos e at mesmo as entidades

    privadas, vem demonstrando preocupao com as questes de ordem ambiental.

    Segundo publicado no site do MMA, atualmente, 350 instituies pblicas j

    implementaram aes de gesto ambiental, segundo os princpios da A3P.

    Alm dessas iniciativas, foram constatadas atravs do Portal de Compras do

    Governo Federal outras aes vinculadas aos editais de compras sustentveis,

    como a aquisio de papel reciclado por diversos rgos, como o Tribunal de Contas

    da Unio e a Companhia de Docas do Par; a aquisio de microcomputadores,

    monitores e materiais de consumo diversos, todos incluindo critrios de

    sustentabilidade nas respectivas especificaes, pela Advocacia Geral da Unio;

    aquisio de tecnologia de informtica, amparada pelos critrios de sustentabilidade,

  • 45

    Coordenadoria de Tecnologia da Informao da Universidade de So Paulo,

    dentre vrias outras iniciativa.

    De acordo com o Guia de Compras Pblicas Sustentveis, a maioria dos

    instrumentos existentes para fazer a opo por produtos mais sustentveis sob o

    ponto de vista ambiental est baseada no conceito de ciclo de vida, um conceito

    holstico para avaliar a ao ambiental de um produto (BIDERMAN et all, 2008, p.

    64).

    Diante destas prticas, fica evidenciado que o Estado tem o dever

    constitucional de proteger o meio ambiente e garantir que todos possam desfrutar de

    condies ambientais saudveis indispensveis para a continuidade da vida. Uma

    estratgia para contribuir com o cumprimento de tal dever pode ser implementada

    atravs da incluso de critrios de sustentabilidade ambiental nas compras e

    contrataes no mbito do poder pblico, o que resultaria em impactos importantes

    para a sociedade e o meio ambiente devido extenso do poder de compra do

    Estado.

    O Relatrio Cidades Europias Sustentveis (COMISSO EUROPEIA, 1996,

    apud OLIVEIRA, 2008, p. 32), afirma que: de todas as aes voltadas para o

    desenvolvimento sustentvel das atividades econmicas, a contratao pblica

    sustentvel provavelmente uma daquelas que pode ter um maior impacto imediato,

    sendo possvel alcanar a melhoria ambiental acrescida da reduo de custos.

    As compras e contrataes pblicas sustentveis no governo, apesar de tudo

    o que foi apresentado como grandes e importantes iniciativas do poder pblico,

    ainda no esto acontecendo com deveria, possvel perceber que o

    desenvolvimento de programas de compras pblicas sustentveis, na prtica, est

    caminhando de forma muito lenta, aos poucos vem conquistando novos espaos nas

    esferas federal, estadual e municipal.

  • 46

    7. CONSIDERAES FINAIS

    Este trabalho, sem nenhuma pretenso de esgotar sequer esta matria,

    trouxe a baila um tema de absoluta relevncia e atualidade, pois, as compras

    pblicas sustentveis constituem, indubitavelmente, um dever inarredvel do Estado

    que tem a obrigao de desenvolver seu papel de fomento economia, estimulando

    o mercado de produtos e servios sustentveis, visando contribuir com o processo

    de disseminao dos critrios e aspectos relacionados sustentabilidade.

    notrio que existe um processo de mudana em busca da

    sustentabilidade. Afinal, o mundo no mais o mesmo e a conscincia das pessoas

    est mudando, essa nova ordem orientada por valores econmicos, sociais e

    ambientais, que devem fundamentar o planejamento e as tomadas de deciso dos

    gestores pblicos. Neste contexto, o processo licitatrio deve ser um suporte muito

    importante nas polticas pblicas.

    A anlise do poder de compra do governo e dos impactos que suas aes

    tm causado na economia, meio ambiente e sociedade vm de encontro com tal

    necessidade e comps o foco principal do presente estudo.

    As licitaes pblicas sustentveis no devem ser vistas apenas como

    possveis de serem executadas, mas sim como aes desejveis por parte de todos

    os agentes pblicos envolvidos nesse processo.

    O presente trabalho mostrou que a licitao sustentvel o corolrio do uso

    racional dos recursos naturais, da eficincia e economicidade no uso desses

    recursos, contribuindo para o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Ela nasce

    da conscincia de que o Estado um grande consumidor, devendo preserv-lo (o

    que tambm significa minorar os danos ambientais) no somente pela represso,

    educao ou restaurao, mas ainda atravs do consumo ambientalmente

    responsvel.

    As pesquisas realizadas neste trabalho demonstraram que uma das maiores

    dificuldades para se realizar uma licitao sustentvel a falta de preparo e

    conhecimento por parte dos agentes pblicos responsveis pelo processo sobre os

    critrios que podem ser adotados e como os produtos podem ser avaliados para se

    concluir se so sustentveis ou no.

  • 47

    Tais informaes precisam ser esclarecidas e assimiladas para que as

    licitaes pblicas sustentveis ocorram efetivamente e alcancem o sucesso

    esperado.

    possvel que o mercado ainda no esteja totalmente preparado para

    atender a demanda de produtos e servios de cunho sustentvel influenciada pelos

    rgos pblicos, o que exige cautela e pacincia por parte de tais rgos. Tambm

    demanda persuaso e capacitao do mercado, no sentido de fazer com que ele

    reveja seus processos produtivos, bem como insumos e tecnologias empregadas, e

    passe a produzir efetivamente essa nova leva de produtos e servios

    ambientalmente corretos e sustentveis.

    Por outro lado, cabe ressaltar que o presente estudo no teve a inteno de

    transitar pelos aspectos da legalidade ou no da adoo de critrios de

    sustentabilidade ambiental nas licitaes pblicas, visto que tal embate tem sido

    muito bem disputado nas arenas jurdicas e legais, tornando-se uma discusso

    praticamente superada. Visou, no entanto, instigar o debate sobre o poder do Estado

    de contribuir para um crescimento e desenvolvimento mais justo e sustentvel.

    Buscou-se demonstrar por meio deste estudo introdutrio que o governo, em

    todas as suas esferas, tem poder para ser um excelente indutor na adoo de

    padres sustentveis, principalmente se levar em considerao caractersticas como

    o ciclo de vida do produto, reutilizao, reciclagem ou ainda critrios relacionados a

    impactos sociais e ambientais. Impactar e transformar a forma acomodada de

    comprar que o Estado tem adotado na maioria das vezes, a qual se preocupa quase

    que exclusivamente com preo baixo, sem atentar para a qualidade e o valor

    agregado do produto para a sociedade, era um dos desafios que pretendiam ser

    cumpridos por meio deste estudo.

    Por fim, a presente proposta tambm objetivou colaborar, com estudos na

    rea de planejamento de polticas pblicas sustentveis, alm de disseminar tais

    informaes incentivando a sua aplicao nas prticas de gesto adotadas

    atualmente nos rgos pblicos.

  • 48

    REFERNCIAS

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    MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, ORAMENTO E GESTO. Portal de Compras do Governo Federal Comprasnet. Disponvel em: http://www.comprasnet.gov.br, Acesso: 16 mai. 2012.

    OLIVEIRA, F. G. Licitaes sustentveis no subsetor de edificaes pblicas municipais: modelo conceitual. Dissertao de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade Federal do Esprito Santo. Vitria, 2008.

    PEREIRA, Adriana Camargo; SILVA, Gibson Zucca da; CARBONARI, Maria Elisa Ehrhardt. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. So Paulo. Editora Saraiva, 2011.

    PEREIRA, M. C. Sustentabilidade Ambiental nas Contrataes Realizadas pela Administrao Pblica. Revista Negcios Pblicos. Vol. 06, n. 76, 2010.

    PETER, M da Gloria Arrais & MACHADO,Marcus Vinicius Veras. Manual de Auditoria Governamental. So Paulo. Editora Atlas, 2009.

    SANTOS, Murillo Giordan; BARKI, Teresa Villac Pinheiro. Licitaes e Contrataes Pblicas Sustentveis. 1. ed. Belo Horizonte. Editora Frum, 2011.

    SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTO. Disponvel em:http://sileg.sga.df.gov.br/sileg/legislacao/distrital/LeisOrdi/LeiOrd2000/lei_ord_2616_00.htm, acesso em 25 de jan. 2012.

    VEIGA, Jos Eli da. A emergncia socioambiental. So Paulo. Editora Senac, 2007.

  • 50

    ANEXO

    Presidncia da Repblica Casa Civil

    Subchefia para Assuntos Jurdicos

    DECRETO N 7.746, DE 5 DE JUNHO DE 2012

    Regulamenta o art. 3o da Lei n

    o 8.666, de 21 de

    junho de 1993, para estabelecer critrios, prticas e diretrizes para a promoo do desenvolvimento nacional sustentvel nas contrataes realizadas pela administrao pblica federal, e institui a Comisso Interministerial de Sustentabilidade na Administrao Pblica CISAP.

    A PRESIDENTA DA REPBLICA, no uso das atribuies que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alnea a, da Constituio, e tendo em vista o disposto no art. 3

    o da Lei n

    o 8.666, de

    21 de junho de 1993,

    DECRETA:

    Art. 1o Este Decreto regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, para

    estabelecer critrios, prticas e diretrizes gerais para a promoo do desenvolvimento nacional sustentvel por meio das contrataes realizadas pela administrao pblica federal direta, autrquica e fundacional e pelas empresas estatais dependentes, e institui a Comisso Interministerial de Sustentabilidade na Administrao Pblica CISAP.

    Art. 2o A administrao pblica federal direta, autrquica e fundacional e as empresas estatais

    dependentes podero adquirir bens e contratar servios e obras considerando critrios e prticas de sustentabilidade objetivamente definidos no instrumento convocatrio, conforme o disposto neste Decreto.

    Pargrafo nico. A adoo de critrios e prticas de sustentabilidade dever ser justificada nos autos e preservar o carter competitivo do certame.

    Art. 3o Os critrios e prticas de sustentabilidade de que trata o art. 2

    o sero veiculados como

    especificao tcnica do objeto ou como obrigao da contratada.

    Pargrafo nico. A CISAP poder propor Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto o estabelecimento de outras formas de veiculao dos critrios e prticas de sustentabilidade nas contrataes.

    Art. 4o So diretrizes de sustentabilidade, entre outras:

    I menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e gua;

    II preferncia para materiais, tecnologias e matrias-primas de origem local;

    III maior eficincia na utilizao de recursos naturais como gua e energia;

    IV maior gerao de empregos, preferencialmente com mo de obra local;

  • 51 V maior vida til e menor custo