como o brasil. ela criou a falsa idéia de que os · decidir sobre as prioridades e as políticas a...

5

Upload: trinhlien

Post on 08-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Estamos vivendo um momento histórico paraa gestão ambiental no Brasil. Em março, oConselho Nacional de Recursos Hídricos aprovoua cobrança pelo uso da água na baciahidrográfica do Rio Paraíba do Sul. É a primeiravez que este tipo de cobrança será feita em umrio federal. Com isto, estamos instituindo oprincípio do poluidor/pagador. Vale dizer, em vezde socializarmos os custos da recuperação deeventuais danos ambientais, os que usam epoluem os recursos naturais terão que assumiros encargos financeiros de sua recuperação. Ovalor será pago por todos os usuários da baciahidrográfica do Paraíba do Sul que têm outorgados Governos Federal e Estadual para usarem aágua dos rios. A cobrança se estenderá, embreve, a todo o país, com prioridade para asbacias do Rio São Francisco e do Rio Doce, duasdas mais importantes e degradadas do país.

O conceito moderno de gestão ambiental nãoimplica somente a fiscalização da degradação doMeio Ambiente mas, sobretudo, a criação decondições necessárias para assegurar a pere-nidade dos recursos naturais por meio de novaspolíticas para seu uso. No limiar do terceiromilênio, dois grandes mitos da civilização oci-dental estão sendo desfeitos. O primeiro deles é oda inesgotabilidade dos recursos da natureza.Essa percepção equivocada foi muito difundida,principalmente em países com dimensão conti-nental e com abundância de recursos naturais,

como o Brasil. Ela criou a falsa idéia de que osrecursos naturais seriam infinitos e, portanto,passíveis de utilização indiscriminada sem maio-res preocupações com sua conservação. Entre-tanto, a sociedade vai descobrindo, com cada vezmais intensidade que, ao contrário disso, estamoslidando com recursos finitos e entre eles a água,um recurso valiosíssimo e insubstituível para asobrevivência dos seres humanos.

Outro mito que está começando a ruir é o dahegemonia do homem sobre a natureza. Essavisão antropocêntrica, diretamente ligada àcultura dos povos ocidentais, ajudou a criar mo-delos de desenvolvimento e de uso dos recursosnaturais sem compromisso com a conservaçãodo meio ambiente. Felizmente, a sociedade estáse dando conta de que não existe essa hege-monia, que o homem vive uma relação de totalinterdependência com a natureza e com o meiofísico que o cerca. No século XX, passamos porum momento único na história da civilização,com desenvolvimento e explosão tecnológicosjamais vistos. Mas, paulatinamente, a sociedadejá percebeu que o desenvolvimento material semqualidade de vida produz uma falsa prosperi-dade. Hoje as pessoas podem navegar naInternet e têm a seu dispor os meios de comuni-cações mais avançados, como telefones celula-res e computadores que cabem na palma damão. Em contrapartida, seus filhos já nãopodem tomar banho no córrego do bairro, sim-plesmente porque ele está totalmente poluído.

Essa mudança de percepção tem influenciadopositivamente a modernização das políticas públi-cas relacionadas à gestão ambiental, particular-mente no tocante a recursos vitais como a água. Ohomem não é capaz de sobreviver sem o meioambiente harmônico, sem os recursos naturais.Isso leva a crer que o homem faz parte daquiloque se pode chamar de “imensa teia da vida”.

23

Gestão das águas emuma economiag l o b a l i z a d a

Ele é parte, e apenas uma parte de todo oprocesso, dependente de outros seres vivos e domeio físico para permanecer no planeta. Apartir dessa percepção foram criadas ascondições políticas objetivas para que sejamestabelecidos novos paradigmas para a proteçãodo meio ambiente.

A Lei 9.433, a Lei das Águas, criou oConselho Nacional de Recursos Hídricos e fixou,pela primeira vez, uma política pública noBrasil que atribui a um comitê da bacia o poderconcreto de decidir as políticas de conservaçãoe uso sustentável dos recursoshídricos. O comitê de bacia éum mecanismo democrático eparticipativo no qual as trêsesferas de Governo (Federal,Estadual e Municipal) com-partilham com os usuários daágua e com as entidades dasociedade civil o poder dedecidir sobre as prioridades eas políticas a serem estabe-lecidas para a conservação euso dos recursos hídricosnaquela bacia. Nós passa-mos, também, a tratar a águacomo um insumo econômico,buscando mudar a mentali-dade retrógada de tratar osrecursos naturais comorecursos de custo zero por serem são ofertadospela natureza.

A cobrança pelo recurso ambiental “água”significa valorizar economicamente um recursoda natureza. Significa, ainda, deixar de tratar odano ambiental como uma externalidade econô-mica, pois estamos sinalizando claramente queo custo ambiental tem que estar embutido nocusto dos produtos e serviços oferecidos àsociedade. O modelo atual é extremamente

perverso porque permite a apropriação do lucropelo uso dos recursos naturais apenas pelosagentes econômicos, mas socializa para toda asociedade os prejuízos e danos ambientais cau-sados pela utilização desses mesmos recursos.

Para que os mecanismos previstos na leinacional de gerenciamento de Recursos Hídricospossam ser efetivos, a cobrança pelo uso daságuas depende dos comitês. A cobrança não sedará por uma decisão unilateral do governo e daautoridade pública, ela terá que ser negociadano âmbito do comitê. Estabelecer as regras da

cobrança e os valores compe-te aos comitês, e por isso éimportante que eles estejamorganizados e entrem emfuncionamento.

É preciso deixar bem claroque a cobrança pelo uso daágua não se tornará mais umi n s t rumento de arr e c a d a ç ã opara os cofres federais. Por lei,no mínimo 92,5% dos recursosapurados deverão ser reinves-tidos na recuperação da pró-pria bacia hidrográfica, emprogramas de reflorestamentode matas ciliares, proteção denascentes, recuperação deáreas degradadas e tratamentode esgoto e lixo, a partir de

prioridades definidas pelo comitê de bacia.Esse é o primeiro passo de uma grande

mudança que o Brasil vai realizar para o futuro.Como detentores de um dos maiores ativosambientais do planeta, nós temos que trabalharcom políticas extremamente modernas paragerir esse patrimônio natural e transformarsuas vantagens comparativas em vantagenscompetitivas em uma economia cada vez maisglobalizada.

24

José Carlos CarvalhoMinistro de Estado do Meio Ambiente

O modelo atual éextremamente perverso

porque permite aapropriação do lucro pelouso dos recursos naturais

apenas pelos agenteseconômicos, mas socializapara toda a sociedade os

prejuízos e danosambientais causados pelautilização desses mesmos

recursos.

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo