como elaborar uma resenha

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RESENHA Segundo Fiorin e Saviolli (2007), resenhar é relacionar as propriedades de um objeto destacando os aspectos relevantes e descrever as circunstâncias que o envolvem. A resenha pode surgir a partir de um acontecimento qualquer da realidade (jogo de futebol, feira de livros, comemoração solene) ou textos e obras culturais (filmes, romances, teatro). A resenha pode ser descritiva não apresentando julgamentos ou apreciações do resenhador, ou crítica, com apreciações, notas, correlações estabelecidas por juízos críticos de quem a elaborou. COMO ELABORAR UMA RESENHA Material adaptado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php> Acesso em 06/02/2013 1. O que deve constar numa resenha O título A referência bibliográfica da obra Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada (os mais relevantes) O resumo A avaliação crítica 2. O título da resenha A resenha, como todo texto, tem título e pode ter subtítulo, conforme o exemplo: Título da resenha: Astro e vilão Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson Livro: Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Christopher Andersen) 3. A referência bibliográfica do objeto resenhado Constam da referência bibliográfica: Nome do autor; título da obra; nome da editora; data da publicação; lugar da publicação; número de páginas; preço. É importante observar que, às vezes, não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou preço. Essas informações dependem do objetvo da resenha. Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num box ou caixa. Exemplo: Ensaios sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago (Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) 4. O resumo do objeto resenhado O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do seu texto e seu plano geral.

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Page 1: Como elaborar uma resenha

RESENHA

Segundo Fiorin e Saviolli (2007), resenhar é relacionar as propriedades de um objeto

destacando os aspectos relevantes e descrever as circunstâncias que o envolvem.

A resenha pode surgir a partir de um acontecimento qualquer da realidade (jogo de futebol,

feira de livros, comemoração solene) ou textos e obras culturais (filmes, romances, teatro).

A resenha pode ser descritiva não apresentando julgamentos ou apreciações do resenhador,

ou crítica, com apreciações, notas, correlações estabelecidas por juízos críticos de quem a elaborou.

COMO ELABORAR UMA RESENHA

Material adaptado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php> Acesso em 06/02/2013

1. O que deve constar numa resenha

O título

A referência bibliográfica da obra

Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada (os mais relevantes)

O resumo

A avaliação crítica

2. O título da resenha

A resenha, como todo texto, tem título e pode ter subtítulo, conforme o exemplo:

Título da resenha: Astro e vilão

Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson

Livro: Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Christopher Andersen)

3. A referência bibliográfica do objeto resenhado

Constam da referência bibliográfica:

Nome do autor; título da obra; nome da editora; data da publicação; lugar da publicação;

número de páginas; preço.

É importante observar que, às vezes, não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou

preço. Essas informações dependem do objetvo da resenha.

Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num box ou caixa.

Exemplo: Ensaios sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago

(Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...)

4. O resumo do objeto resenhado

O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do seu texto e seu plano geral.

Page 2: Como elaborar uma resenha

4.1. Pode-se resumir agrupando, num ou vários blocos, os fatos ou ideias do objeto resenhado. Veja

exemplo do resumo feito de Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu

ensino (Celso Luft), na resenha intitulada “Um gramático contra a gramática”, escrita por

Gilberto Scarton.

Nos seis pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na

mesma tecla – uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua

materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da

teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o

esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada – tão

comum nas “aulas de português.”

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga

formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e

comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o

relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas,

dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial do irrelevante.

4.2 .Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos. Veja o

exemplo da resenha “Receitas para manter o coração em forma” (Zero Hora, 26 de agosto,

1996), sobre o livro Cozinha do Coração Saudável, produzido pela LDA Editora, com o apoio

da Beal.

Receitas para manter o coração em forma

Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuação

no organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensível o

que é preciso fazer (e evitar) para manter o coração saudável.

As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, entradas,

saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e

passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, sopa fria de

cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha,

torta fria de frango, crepe de laranja e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias.

5. Como se inicia uma resenha

5.1. Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os

exemplos.

Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112

páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de idéias que subvertem a ordem

estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veementemente, o ensino da gramática em

sala de aula.

Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Record: tradução de Alves Calado; 540

páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular

do mundo”. (Veja, 4 de outubro, 1995).

Page 3: Como elaborar uma resenha

5.2. Outra maneira bastante frequente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos

relacionados com o conteúdo da obra. Observe o exemplo da resenha sobre o livro História dos

Jovens (Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São

Paulo, 12 de julho, 1996).

O que é ser jovem

Hilário Franco Júnior

Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que inocentava um

acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentação do magistrado,

apoiada por parte da opinião pública, foi que “hoje em dia não há menina de 12 anos, mas mulher

de 12 anos”.

Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação de “novidades

imorais de nossa época”. Alguns dias depois, as opiniões foram novamente divididas diante da

estatística publicada pela Organização Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores

entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é uma violência, para

outros um fato normal em certos quadros sócio-econômico-culturais.

Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem pretender orientar

comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se

historicizadas. E para isso a “História dos Jovens” – organizada por dois importantes historiadores,

o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o medievalista francês Jean-

Claude Schmitt, da École des Hautes Études em Sciences Sociales - traz elementos interessantes.

Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha.

6. A crítica

A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta,

ao final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira

linha, resultando num texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram.

7. Exemplo de resenha

Atwood se perde em panfleto feminista

Marilene Felinto

Da Equipe de Articulistas

Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No

Brasil, é mais conhecida pelo romance A mulher comestível (Ed. Globo). Já publicou 25 livros

entre poesia, prosa e não-ficção. A Noiva Ladra é seu oitavo romance.

O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses

acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem

depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para

construir o “pano de fundo” de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou

emprestada a (original? significativa?) expressão “meleca cerebral”.

Page 4: Como elaborar uma resenha

Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, sem

qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.

É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela

presença (em “flashback”) de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa “femme fatale” que

vive roubando os homens das outras.

Vilã meio inverossímel – ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez –,

a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A

narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das

outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus

questionamentos internos – eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada

surpreendente e muito óbvio no seu propósito.

Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher

“fora-da-lei”, porque “há poucas personagens mulheres fora-da-lei”. As intervenções do discurso

feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por

exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em

guerras e obcecada por elas, assunto de homens: “Historiadores homens acham que ela está

invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas

em paz”.

Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas:

“Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres

quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo”. Ou então, a mensagem

rabiscada na parede do banheiro: “Herstory Not History”, trocadilho que indicaria o machismo

explícito na palavra “História”, porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras,

“his” (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o “his” para “her”

(dela).

As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos,

almoços, jantares, trabalho, casamento e muita “reflexão feminina” sobre a infância, o amor, etc.

Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na

descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.

Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio

do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora – em tom cerimonioso na página de

agradecimentos – se orgulha de ter realizado.

8. A expressão da subjetividade do autor da resenha

Em uma resenha, como em outros textos acadêmicos ou mesmo jornalísticos, é comum o

autor evitar escrever em primeira pessoa, mas continuar expressando sua subjetividade. Isso

garante maior veracidade ao que está sendo dito, pois não parece que é uma opinião de um

resenhista, mas uma característica da própria obra.

O resenhista deve tentar ser “polido”, evitando agredir o autor da obra resenhada,

procurando garantir neutralidade ao que é dito. Para tanto, poderá usar os seguintes recursos

linguísticos:

a) Uso de expressões que atenuam as opiniões, como parece-me.

Ex: Parece-me que falta ao texto de Fontes um tratamento mais detalhado da estrutura

sindical...

Page 5: Como elaborar uma resenha

b) Uso de tempo verbal futuro do pretérito.

Ex: O enfrentamento dessas indagações permitiria...

c) Uso de verbos modais.

Ex: O assistencialismo pode e deve ser analisado...

d) Uso de adjetivos e advérbios para expressar a opinião do resenhista.

Ex: Paulo Fontes faz um bom relato.

9. Diferentes formas de menção ao dizer do autor do texto resenhado

Observe, nos excertos abaixo, retirados da resenha “Trabalhadores e cidadãos”, os verbos

utilizados pelo resenhista para mencionar os atos utilizados pelo autor do texto original,

mostrando o que o autor “faz” naquela parte do livro.

1. No dizer do próprio autor, objetivou-se “... aprofundar a análise da montagem, da lógica interna,

contradições e legitimação ou não por parte dos trabalhadores de um determinado modelo de

dominação e gestão da mão-de-obra criado pela Nitro Química ...”.

2. O recorte temporal justifica-se, segundo Paulo Fontes, por ter sido esta a década em que o

modelo de dominação empresarial gestado nos anos antecedentes viveu o seu ápice ...

3. O trabalho se estrutura em cinco capítulos. No primeiro, apresenta-se uma análise do contexto

que marcou a trajetória da empresa, desde sua criação até o final dos anos cinquenta.

4. O capítulo 4º dedica-se ao estudo da organização sindical dos operários da Nitro Química e das

sua relações com o Partido Comunista ...

5. Paulo Fontes faz um bom relato das razões pelas quais os trabalhadores olhavam com muita

desconfiança para o Sindicato...

6. O último capítulo analisa a greve dos trabalhadores da Nitro Química...

Para evitar a repetição do nome do autor, podemos nos referir a ele utilizando o autor, ou ainda,

fazer referências à obra original: a obra, o livro, o capítulo, a pesquisa.

Relação dos verbos com aquilo que indicam

Ação do autor da obra original Verbos possíveis usados pelo resenhista

Estrutura e organização da obra estruturar-se; dividir-se, organizar-se, concluir, terminar,

começar

Indicação do conteúdo geral apresentar, desenvolver, descrever, explicar, demonstrar,

mostrar, narrar, analisar, apontar, abordar

Indicação dos objetivos da obra objetivar, ter o objetivo de, se propor a,

Posicionamento do autor da obra

em relação à sua tese

sustentar, contrapor, confrontar, opor, justificar, defender a tese,

afirmar

Fonte: MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia; Resenha. 2 ed.

São Paulo: Parábola, 2004.

Page 6: Como elaborar uma resenha

ATIVIDADES

1. Leia atentamente o texto abaixo (Elaborado com base em MACHADO, A.R; LOUSADA, E;

ABREU-TARDELLI, L. S. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 – Extraído da Apostila do

Proinício UEM – Português Módulo II, 2012).

As resenhas têm por finalidade mais geral examinar e apresentar obras prontas (filmes,

livros, peças teatrais, CDs, DVDs etc). Nesse sentido, podem aparecer em revistas especializadas

das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia com o propósito de divulgação, pois é através

delas que se toma conhecimento prévio do conteúdo e do valor, por exemplo, de um livro que acaba

de ser publicado, fundando-se, nesta informação, a decisão de se ler um livro ou não. Podem,

também, constituir exercício inicial de autonomia intelectual uma vez que o exame de obras já

prontas enseja o exercício da compreensão e da crítica – nesse sentido, é, por vezes, solicitada em

cursos superiores de graduação e pós-graduação como atividade de reflexão sobre artigos, livros,

capítulos de livros etc.

Numa resenha, expõe-se, o mais claramente possível e com certos detalhes, o conteúdo de

uma obra (seu propósito, o método que segue...) para posteriormente desenvolver uma apreciação

crítica do conteúdo, da disposição das partes, do método, de sua forma ou estilo e, se for o caso, da

apresentação tipográfica, formulando um conceito sobre o livro, artigo, capítulo de livro.

Nesse sentido, uma resenha compreende uma abordagem objetiva (onde se descreve o

assunto ou algo que foi observado, sem emitir juízo de valor) e uma abordagem subjetiva

(apreciação crítica na qual se evidenciam os juízos de valor de quem está elaborando a resenha).

Sua elaboração passa por três etapas fundamentais: (1) leitura; (2) resumo; e (3)

comentário crítico. A leitura visa à compreensão da obra a ser resenhada. No resumo busca-se a

descrição do assunto do livro, texto, artigo ou ensaio, a apresentação das idéias principais e das

secundárias que sustentam o pensamento do autor. A apreciação crítica (ou comentário crítico)

deve ser feita em termos de concordância ou discordância, levando em consideração a validade ou

a aplicabilidade do que foi exposto pelo autor. Assim, pode-se destacar a contribuição que o texto

traz para determinados setores da cultura, sua qualidade cientifica, literária ou filosófica, sua

originalidade etc. Negativamente, pode-se explicitar as falhas, incoerências e limitações o texto. A

apreciação crítica pode ser feita no final do texto, após a exposição do conteúdo, mas, também,

pode ser distribuída difusamente, junto com momentos anteriores: expõe-se e comenta-se,

simultaneamente, as idéias do autor.

Vale destacar que é importante a presença de independência de juízo, ou seja, ter

consciência de que o que importa não é saber se as conclusões do autor coincidem com as nossas

opiniões, mas se foram deduzidas corretamente. Devemos, também, respeitar sempre a pessoa do

autor e suas intenções.

Numa resenha, deve aparecer: (a) identificação da obra; (b) apresentação da obra; (c)

descrição da obra (sua estrutura e seu conteúdo); (d) análise crítica; e (e) identificação do autor da

resenha. Se forem citadas, durante a resenha, outras obras – que podem ser utilizadas para

comparação – deve-se, ao final da resenha, indicar referências bibliográficas de acordo com a

NBR-6023 de 2000 da ABNT sobre referências bibliográficas.

2. Agora, leia as resenhas abaixo e destaque momentos em que o autor faz uma descrição

(portanto, um resumo ou uma síntese) da obra resenhada e momentos em que ele faz uma

apreciação crítica da obra.

Texto 1 – Texto extraído de FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o

texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007.

Page 7: Como elaborar uma resenha

MEMÓRIA – ricas lembranças de um precioso modo de vida

O Diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que

comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que

preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42.

Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotado em um caderno de capa dura

que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina, que se propõe

a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já

esquecidas.

O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do

texto que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o caderno

deveria ser entregue quando acabado.

E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos,

pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-leite, novena, o Tico-Tico,

doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça

branca, o Cruzeiro, bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon,

espiar casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do galo, carta para a família,

dor-de-barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão ... Tudo parecia pouco para encher os dias

de uma garota carioca em férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião.

Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje

apenas um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta, escapa da

moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida.

O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua

linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante, o sotaque

antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo / a / os /

as, conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e empregavam, sem pestanejar,

o mais-que-perfeito do indicativo quando de direito ...

Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de Raquel

Braga. Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e

reproduzindo na capa do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e cantoneiras

imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se casam tão bem casados que

este Diário de uma garota acaba constituindo uma grande festa para seus leitores.

Marisa Lajolo - Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.

Texto 2 – Disponível em: <http://cinefilos.jornalismojunior.com.br/2012/06/01/o-conto-nao-e-mais-de-

fadas/>. Acesso em: 15 jun. 2012.

O conto não é mais de fadas

– 1 DE JUNHO DE 2012

POSTADO EM: LANÇAMENTOS

Nem a fofura infantil abordada pelo clássico da Disney e nem a (falha tentativa de) comédia

em Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror. EUA. 2012) estão presentes no longa-metragem Branca

de Neve e o Caçador(Snow White and The Huntsman. EUA. 2012). O filme teve ambições maiores

e deu à famosa história um viés mais épico e quase um estatuto de lenda.

Assim como em Kill Bill (EUA. 2003.), de Quentin Tarantino, (porém com menos evidência)

há uma miscelânea de elementos presentes em várias outras histórias que foi inserida no roteiro

de A Branca de Neve e o Caçador e que de fato funcionou: a madrasta má, além de rainha bruxa, é

uma espécie de vampira que suga a beleza e a juventude das moças do reino (que passam a cortar o

próprio rosto para se protegerem); o mundo, que antes era inóspito e morto, passa a se restaurar

Page 8: Como elaborar uma resenha

quando o espelho mágico decreta que Branca de Neve virá a ser a mais bela do reino (assim como

em As Crônicas de Nárnia).

Uma espécie de profecia é citada durante o filme e coloca que apenas Branca de Neve poderá

matar a Rainha Má (assim como na saga Harry Potter, onde Harry era o único que poderia matar

Voldemort); e notam-se traços de Robin Hood no Príncipe William (ótimo arqueiro que aparece

pela primeira vez atacando uma carruagem de suprimentos que pertencem à rainha) interpretado por

Sam Clafin.

Elogios devem ser feitos à direção de arte, com destaque para o dualismo estético criado entre

a ambientação da Floresta Negra e da Floresta Encantada, e a algumas cenas de guerra que foram

muito bem coreografadas e filmadas em ângulos não tão convencionais.

Em termos de interpretação, como se previa, Kristen Stewart (Branca de Neve) em poucos

momentos apresentou mais do que seus olhos arregalados e seu suspiro de boca semi-aberta, que já

são amplamente conhecidos após sua participação na Saga Crepúsculo. Mas em compensação,

Charlize Theron (Rainha Má) fez até com que momentos manjados se tornassem intensos, como a

hora em que expulsa do quarto os servos que lhe trouxeram seu espelho mágico, naquela forma

clássica: “fora… – pausa dramática – FORA!”. Também deve-se ressaltar os poucos mas suficientes

momentos cômicos realizados pelos 8 (não mais 7) anões do filme.

Adaptações à parte, alguns elementos originais da história foram mantidos, como a maçã

envenenada dada a Branca de Neve pela Rainha Má disfarçada. Entretanto houve uma mudança que

não pode ser de maneira alguma contextualizada. A história se passa num mundo que embora

possua aspectos medievais não se aproxima da realidade do espectador por conter elementos

mitológicos e criaturas fantásticas. Desse modo não houve o menor sentido quando, logo no início

do filme (após a introdução com a infância de Branca de Neve), Branca, enclausurada em sua torre,

reza um Pai Nosso. Afinal, não há espaço para cristianismo num mundo onde existem trasgos,

fadas, bruxas e todo um universo mágico.

No geral o filme foi muito acima das expectativas, que não eram assim tão altas (afinal,

Espelho, Espelho Meu deixou muito a desejar). E quanto à limitada dramaturgia de Kristen Stewart,

o filme compensa em vários outros aspectos e realiza bem sua função de entretenimento.

Referências Bibliográficas

FIORIN, José Luiz; SAVIOLLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed.

São Paulo: Ática, 2007.

MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia; Resenha. 2 ed. São

Paulo: Parábola, 2004.

Material elaborado por Carlos Henrique Durlo e Virginia Nuss.