colÉgio objetivo jÚnior · ras descobertas pelos portugueses na américa foram ape-nas objeto de...

13
Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8. o ano 1 A experiência anterior da metrópole portuguesa com o açúcar contou na decisão. Portugal, além de já conhecer as técnicas de cultivo da cana e de produção do açúcar, também dispunha de contatos importantes para sua co- mercialização na Europa. Além disso, tinha relações es- tabelecidas com os banqueiros mais fortes de então, fla- mengos e genoveses, o que poderia garantir os recursos financeiros necessários para viabilizar o empreendimento. Em 1532, na Capitania de São Vicente, Martim Afonso de Sousa instalou o primeiro engenho em terras brasileiras, o Engenho de São Jorge dos Erasmos. En- tretanto, não foi ali a região onde a cana-de-açúcar teve as melhores condições de se desenvolver, mas sim na faixa litorânea do nordeste. A porção nordeste da América portuguesa, a partir da Capitania de Pernambuco, tornou-se o centro dinâmi- co da economia colonial entre os séculos XVI e XVIII. A concorrência de um açúcar de melhor qualidade, que passou a ser produzido então nas Antilhas, fez com que a importância desse produto no conjunto da economia brasileira declinasse a partir do século XVIII. No entanto, o açúcar continuou a ser produzido em algumas regiões. No século XIX, sua produção foi reavivada em outros mol- des no Nordeste por meio da criação de usinas de açúcar. A economia açucareira deve ser entendida nos quadros do sistema colonial característico do capitalismo mercantil da época moderna. A forma como se organizou a empresa açucareira no Brasil foi condicionada pela necessidade de se adaptar a produção do açúcar às exigências de altos lucros capazes de torná-la viável economicamente. Os investimentos para a montagem do engenho eram altos. Implicavam a compra de equipamentos e escravos e os altos custos de frete. A colonização e a exploração econômica do Brasil, para atenderem às necessidades do capitalismo comer- cial, definiram-se a partir de: – grandes propriedades – produção para o mercado externo – utilização da mão de obra escrava negra O modelo de colonização aqui implantado teve desdo- bramentos importantes e marcou nossa vida por muito tempo. Nossa estrutura fundiária, por exemplo, é baseada ainda hoje na predominância de latifúndios, e os séculos de presença da escravidão, com certeza, marcaram nossa formação social. COLÉGIO OBJETIVO JÚNIOR NOME: ______________________________________________ N. o : __________ DATA: ___/___/2015 FOLHETO DE HISTÓRIA (V.C. E R.V.) 8. o ANO Este folheto é um roteiro de estudo para você re- cuperar o conteúdo proposto para o ano de 2015. Siga as instruções e bom trabalho! 1. Estude bem este folheto. a) Leia com muita calma e atenção e sublinhe o mais importante. b) Faça anotações se necessário – procure no di- cionário as palavras desconhecidas. c) ATENÇÃO: Este folheto será utilizado tanto no estudo para a prova de V.C. como para a de R.V. Portanto, é necessário que você não o esqueça, caso fique de R.V., para revisar a matéria e tirar todas as suas dúvidas. Tempos do açúcar Durante as primeiras décadas do século XVI, as ter- ras descobertas pelos portugueses na América foram ape- nas objeto de atividades econômicas extrativistas, como é o caso do pau-brasil. Após esse período, Portugal passou a colonizar efetivamente o Brasil por meio da implanta- ção da economia açucareira. A cana-de-açúcar, planta originária da Índia, começou a ser plantada em alguns locais da Europa, in- clusive em Portugal, por volta do século XV. O açúcar produzido era, então, mercadoria preciosa, usada como especiaria ou medicamento. Naquela época, os portugue- ses começaram a fazer tentativas de cultivar a cana em larga escala em suas ilhas do Atlântico, como a ilha da Madeira, onde também experimentaram o uso do trabalho escravo negro, que vieram a adotar no Brasil. A decisão de produzir açúcar no Brasil ocorreu quan- do o comércio de especiarias com as Índias declinou e Portugal passou a se interessar de fato pela colonização das terras brasileiras. Isso vinha se tornando necessário, pois países como França, Inglaterra e Holanda, que ha- viam ficado de fora da partilha do continente americano, questionavam esse fato e estavam tentando invadir os ter- ritórios portugueses. Nesse momento, o açúcar, que vinha se firmando como produto de consumo generalizado na Europa, parecia ser uma boa opção para efetivar a ocupa- ção do Brasil.

Upload: phungnga

Post on 15-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 1

A experiência anterior da metrópole portuguesa com o açúcar contou na decisão. Portugal, além de já conhecer as técnicas de cultivo da cana e de produção do açúcar, também dispunha de contatos importantes para sua co-mercialização na Europa. Além disso, tinha relações es-tabelecidas com os banqueiros mais fortes de então, fla-mengos e genoveses, o que poderia garantir os recursos financeiros necessários para viabilizar o empreendimento.

Em 1532, na Capitania de São Vicente, Martim Afonso de Sousa instalou o primeiro engenho em terras brasileiras, o Engenho de São Jorge dos Erasmos. En-tretanto, não foi ali a região onde a cana-de-açúcar teve as melhores condições de se desenvolver, mas sim na faixa litorânea do nordeste.

A porção nordeste da América portuguesa, a partir da Capitania de Pernambuco, tornou-se o centro dinâmi-co da economia colonial entre os séculos XVI e XVIII. A concorrência de um açúcar de melhor qualidade, que passou a ser produzido então nas Antilhas, fez com que a importância desse produto no conjunto da economia brasileira declinasse a partir do século XVIII. No entanto, o açúcar continuou a ser produzido em algumas regiões. No século XIX, sua produção foi reavivada em outros mol-des no Nordeste por meio da criação de usinas de açúcar.

A economia açucareira deve ser entendida nos quadros do sistema colonial característico do capitalismo mercantil da época moderna.

A forma como se organizou a empresa açucareira no Brasil foi condicionada pela necessidade de se adaptar a produção do açúcar às exigências de altos lucros capazes de torná-la viável economicamente. Os investimentos para a montagem do engenho eram altos. Implicavam a compra de equipamentos e escravos e os altos custos de frete.

A colonização e a exploração econômica do Brasil, para atenderem às necessidades do capitalismo comer-cial, definiram-se a partir de:

– grandes propriedades– produção para o mercado externo– utilização da mão de obra escrava negraO modelo de colonização aqui implantado teve desdo-

bramentos importantes e marcou nossa vida por muito tempo. Nossa estrutura fundiária, por exemplo, é baseada ainda hoje na predominância de latifúndios, e os séculos de presença da escravidão, com certeza, marcaram nossa formação social.

COLÉGIO OBJETIVO JÚNIOR

NOME: ______________________________________________ N.o: __________

DATA: ___/___/2015 FOLHETO DE HISTÓRIA (V.C. E R.V.) 8.o ANO

Este folheto é um roteiro de estudo para você re-cuperar o conteúdo proposto para o ano de 2015. Siga as instruções e bom trabalho!

1. Estude bem este folheto.

a) Leia com muita calma e atenção e sublinhe o mais importante.

b) Faça anotações se necessário – procure no di-cionário as palavras desconhecidas.

c) ATENÇÃO: Este folheto será utilizado tanto no estudo para a prova de V.C. como para a de R.V. Portanto, é necessário que você não o esqueça, caso fique de R.V., para revisar a matéria e tirar todas as suas dúvidas.

Tempos do açúcar

Durante as primeiras décadas do século XVI, as ter-ras descobertas pelos portugueses na América foram ape-nas objeto de atividades econômicas extrativistas, como é o caso do pau-brasil. Após esse período, Portugal passou a colonizar efetivamente o Brasil por meio da implanta-ção da economia açucareira.

A cana-de-açúcar, planta originária da Índia, começou a ser plantada em alguns locais da Europa, in-clusive em Portugal, por volta do século XV. O açúcar produzido era, então, mercadoria preciosa, usada como especiaria ou medicamento. Naquela época, os portugue-ses começaram a fazer tentativas de cultivar a cana em larga escala em suas ilhas do Atlântico, como a ilha da Madeira, onde também experimentaram o uso do trabalho escravo negro, que vieram a adotar no Brasil.

A decisão de produzir açúcar no Brasil ocorreu quan-do o comércio de especiarias com as Índias declinou e Portugal passou a se interessar de fato pela colonização das terras brasileiras. Isso vinha se tornando necessário, pois países como França, Inglaterra e Holanda, que ha-viam ficado de fora da partilha do continente americano, questionavam esse fato e estavam tentando invadir os ter-ritórios portugueses. Nesse momento, o açúcar, que vinha se firmando como produto de consumo generalizado na Europa, parecia ser uma boa opção para efetivar a ocupa-ção do Brasil.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 2

Uma característica importante da economia açuca-reira era a especialização da produção. Como a colônia deveria essencialmente cumprir sua função de fornecer produtos a serem comercializados por sua metrópole, centravam-se os esforços na monocultura açucareira.

A concentração da produção no açúcar e as im-posições do sistema colonial faziam com que muitos produtos viessem da Europa. Alguns vinham porque não podiam ser produzidos aqui, para não concorrerem com a produção metropolitana, como, por exemplo, cobre, es-tanho e ferramentas. Também eram trazidos outros produ-tos, como tecidos e alimentos que não existiam aqui, caso do azeite e do bacalhau. As dificuldades de transporte eram muitas, os fretes caros. Não raro havia uma escassez de gêneros de subsistência, que acabavam sendo supridos por atividades econômicas complementares que funciona-vam em conjunto com a economia açucareira, como é o caso da criação de gado.

O gado bovino foi introduzido no Brasil no século XVI, sendo criado inicialmente no litoral. Quando se estruturou a economia canavieira, a criação de gado en-caminhou-se para o interior, sendo responsável pelo des-bravamento de extensas regiões no sertão. Além do gado, a produção do fumo tinha papel destacado na economia colonial à medida que era também usado para a troca no comércio de escravos africanos.

A expansão das fronteiras na América Portuguesa

A principal riqueza que o Brasil ofereceu a Portugal durante os primeiros séculos da colonização foi o açúcar. As outras regiões, onde ele não foi produzido, ocupavam uma posição marginal no sistema colonial. A Capitania de São Vicente é um exemplo disso. A princípio, chegou-se a tentar produzir ali o açúcar. Entretanto, essa experiência não deu certo, pois a faixa litorânea nessa parte do Bra-sil é muito estreita, comprimida pela Serra do Mar, e seu solo não oferecia a fertilidade necessária para o empreen-dimento agroexportador. Além desse fato, acrescentava-se a circunstância de essa capitania ficar muito distante de Portugal, o que encarecia os custos de transporte para os portos metropolitanos. Isso fazia com que não fosse economicamente vantajoso investir na produção de açú-car nessa região. Sendo assim, a Capitania de São Vicente foi, durante o período colonial, uma região muito pobre.

Em meados do século XVI, a Serra do Mar já havia sido transposta pelo colonizador pela sua parte mais aces-sível, ou seja, subindo a montanha na direção da cidade de São Vicente. Do outro lado, no planalto de Piratininga, os jesuítas haviam fundado, em 1554, um colégio, que viria a ser o núcleo inicial da cidade de São Paulo. O paulista daquele tempo vivia em grande pobreza, e sua principal

atividade econômica era a lavoura de subsistência. Pro-duziam-se trigo, algodão, frutas e alimentos conhecidos por intermédio dos índios, como o cará e a mandioca. As bandeiras surgiram nesse contexto e atuaram nos séculos XVI e XVII, como uma forma de procurar solucionar a difícil sobrevivência daqueles que viviam na região.

A partir de São Paulo e de outras cidades paulistas saíam os bandeirantes, em busca do sertão e do que ele poderia oferecer. Partiam em grupos organizados com um número de componentes que podia variar de uma dezena a centenas de homens. Tinham como objetivos descobrir riquezas no sertão, como ouro e pedras preciosas, e captu-rar índios para serem escravizados.

A busca de metais preciosos sempre esteve entre os objetivos dos europeus que vieram povoar a América, inclusive para os portugueses. Como se conhecia muito pouco da geografia da América naqueles tempos, as notí-cias de que os espanhóis haviam descoberto prata em Po-tosi, no Peru, faziam com que as buscas por metais precio-sos se intensificassem, pois acreditava-se que essas minas não eram muito distantes. Com certeza os paulistas, em meio às dificuldades de sobrevivência que enfrentavam, viam na descoberta dessas riquezas uma possibilidade de enriquecimento. O bandeirante Fernão Dias Pais, durante dez anos, procurou pelo sertão pedras preciosas, e morreu julgando ter encontrado esmeraldas. No entanto, as pe-dras que ele havia achado, na verdade, não tinham valor. As primeiras descobertas efetivas de ouro ocorreram no final do século XVII e início do XVIII, na região de Minas Gerais.

As bandeiras de apresamento iam para o sertão bus-car os indígenas pela força, numa verdadeira caçada hu-mana. Os índios destinavam-se a servir de mão de obra para os próprios paulistas, que não dispunham de recursos para comprar os escravos negros, ou eram vendidos para outras capitanias. Para capturar os índios, os bandeirantes por vezes utilizavam métodos violentos. Atacavam com armas de fogo indígenas que se defendiam apenas com arcos e flechas, e chegavam a cercá-los com fogo, do qual eles procuravam escapar untando seus corpos e cobrindo-os com folhas e galhos verdes.

A fama de aventureiros destemidos cercava os ban-deirantes, que eram chamados para atividades difíceis em meio ao sertão, como, por exemplo, destruir o Quilombo dos Palmares.

Os quilombos, locais onde se agrupavam escravos fugidos para viver em liberdade, existiram em grande número em diferentes regiões do Brasil. Palmares, o mais importante deles, situava-se na Serra da Barriga, localiza-da no atual estado de Alagoas. Começou com um pequeno número de escravos fugidos de engenhos da região e che-gou a abrigar cerca de 30 mil pessoas, tendo crescido bastante durante o domínio holandês. Seu líder mais

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 3

importante foi Zumbi, personagem apontado como sím-bolo da resistência negra à escravidão.

A existência de um quilombo nas proximidades das plantações de açúcar significava uma ameaça constante e um convite à fuga para os escravos das fazendas, o que preocupava as autoridades da coroa e os senhores de en-genho, que se esforçavam por exterminá-los. Entretanto, durante cerca de um século, Palmares resistiu a constantes ataques promovidos pela coroa portuguesa. Somente em 1695, sob o comando do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, o quilombo foi finalmente destruído.

A empresa colonizadora das terras americanas pelos europeus se apresentava também como uma missão religi-osa. A Igreja Católica se envolvia nesse esforço no sentido de promover a ampliação do número de fiéis, como uma forma de fazer frente às reformas religiosas protestantes. Com essa inspiração, em 1534 foi criada por Inácio de Loyola uma instituição religiosa que teve importante atu-ação no Brasil: a Companhia de Jesus.

Os religiosos da Companhia de Jesus, os jesuítas, como eram chamados, tinham um projeto próprio de penetração na América, o que incluía a fundação de colégios para a educa-ção dos colonos e um trabalho de catequização dos indígenas.

Em meio às imprecisões de limites no interior da América, principalmente durante a União Ibérica, criaram suas missões ou reduções levando o povoamento para o interior da Amazônia e para porções meridionais do con-tinente. Na região da Bacia do Prata, as missões jesuíticas espanholas entraram em choque com os interesses dos paulistas de escravizar os índios. Acabaram sendo ataca-das violentamente por expedições bandeirantes, que viam na reunião de índios guaranis pacificados uma possibili-dade de capturar grande número de braços.

A época do ouro

Como você pôde observar, a colonização portuguesa foi feita durante muito tempo basicamente no litoral. As dificuldades naturais serviam como uma barreira para penetrar os sertões. Entretanto, ainda que a empresa colo-nizadora, a exploração das riquezas, tivesse ficado con-centrada nas regiões litorâneas, o interior do continente americano despertava a ambição e a curiosidade do colo-nizador europeu.

A imaginação dos homens que saídos da Europa vinham se aventurar no Novo Mundo era povoada de lendas e mistérios a serem desvendados. Havia até mesmo quem julgasse ter encontrado o paraíso na terra onde a vegeta-ção, os animais e aves eram tão variados e tão diferentes daqueles conhecidos pelos europeus que causavam es-panto. Também havia quem contasse muitas histórias de riquezas a serem encontradas: montanhas reluzentes de esmeraldas, lagoas de ouro, selvagens que usavam pedras

preciosas para enfeitar-se, e lutavam com lanças cujas pontas eram feitas de ouro.

Entretanto, os portugueses custavam a encontrar es-sas riquezas anunciadas. Quando a produção açucareira começou a dar sinais de declínio, a coroa portuguesa passou a estimular a procura de metais preciosos pelo sertão, oferecendo vantagens e prêmios para quem os encontrasse. Isso interessou muito aos paulistas, que in-tensificaram suas buscas. Os resultados não tardaram a aparecer. No final do século XVII, chegaram na Europa as primeiras notícias da descoberta de ouro na região do atual estado de Minas Gerais.

A possibilidade de enriquecer rapidamente tem leva-do, tanto hoje como ontem, muitas pessoas para regiões onde há indícios de haver metais preciosos. Isso também aconteceu naquela época. Dirigiram-se para a região indi-víduos de toda parte: vindos de Portugal, do sul do Brasil, da Bahia, além dos paulistas, que se julgavam os legíti-mos e únicos a terem o direito de explorar as minas. Em função disso, deflagrou-se uma luta entre os paulistas e os “estrangeiros”, conhecida como Guerra dos Emboabas (1708-1709). O conflito envolvia também desacordos em função do fato de os “estrangeiros” estarem endivida-dos com os paulistas, que forneciam os alimentos para a região. No final, os paulistas foram vencidos: perderam a exclusividade na exploração das minas.

A mineração ocupou o lugar do açúcar, não só pela importância que teve na economia da colônia, mas tam-bém com relação ao papel destacado que assumiu para a metrópole. Portugal teve no ouro brasileiro uma preciosa fonte de recursos, da qual se beneficiou apenas parcial-mente, já que boa parte do ouro extraído foi desperdiçada pela corte, e outra foi parar nas mãos dos ingleses.

Com a mineração, transferiu-se para o centro-sul o eixo econômico e administrativo colonial, transforman-do locais até então quase esquecidos em núcleos impor-tantes. Novos pontos passaram a se relacionar economi-camente com a região das minas. O escoamento do ouro era feito através de portos como Parati e Rio de Janeiro, por onde também se realizava um intenso comércio de escravos destinados a trabalhar na mineração. O Rio de Janeiro passou a ser a capital da colônia a partir de 1763.

Durante os primeiros tempos da exploração do ouro, a enorme afluência de pessoas trouxe problemas de abas-tecimento. A falta de alimentos era constante e a fome estava sempre presente. Pouco a pouco a atividade minera-dora impulsionou diversas atividades econômicas relacio-nadas a ela para o abastecimento da região das minas. Ao seu redor surgiu uma economia de subsistência que che-gou a envolver áreas mais distantes, como a Bahia, que também lhe fornecia gado. O gado vinha também do sul, ao lado das mulas, tão necessárias ao transporte do ouro. Eram trazidas por tropeiros que tinham na Feira de Soro-caba um importante ponto de apoio.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 4

Costuma-se situar entre 1733 e 1748 o apogeu da exploração do ouro no Brasil. Mesmo após as descober-tas iniciais, não cessaram as buscas e novas jazidas foram descobertas mais adiante, nos atuais estados de Goiás e Mato Grosso. Descobriram-se também diamantes, em 1730, numa área onde se estabeleceu o Arraial do Tijuco, núcleo inicial do distrito diamantino. Após algum tempo, o ouro começou a escassear e as técnicas usadas não eram sofisticadas o suficiente para manter a extração por muito tempo, ocorrendo o declínio da mineração.

No início da exploração das minas, o ouro circulava livremente por toda a colônia sem que houvesse fiscalização, mas logo a coroa portuguesa começou a se preocupar com as notícias de contrabando e estabeleceu formas de controle.

Contrabando, na verdade, sempre houve. Negros que escondiam descobertas de ouro ou pedras de diamantes, grandes e pequenos contrabandistas, até mesmo padres eram muitas vezes acusados de contrabandear. O ouro saía da região das minas por rios ou estradas pouco frequentadas, sendo levado para a Bahia ou Rio de Ja-neiro, de onde era desviado para diversos lugares: Buenos Aires, Guiana Francesa, Açores, e também Portugal! Ou era ainda trocado, nos limites de Mato Grosso e Goiás, por prata espanhola.

Com a finalidade de regulamentar e fiscalizar a extração do ouro, arrecadar impostos, bem como disciplinar a vida na região, foi criada a Intendência das Minas. Esse órgão era dirigido por um superintendente que respondia direta-mente à administração da metrópole.

No Distrito Diamantino, a rigidez da fiscalização foi extrema, com vistas a impedir o contrabando. O território foi ali demarcado e cercado, sendo seus habitantes isola-dos das outras regiões. O declínio da extração de diaman-tes foi ainda mais rápido e violento do que o da mineração do ouro, mas fez algumas fortunas e aumentou os cofres portugueses.

Conforme aumentava a extração do ouro, mais se preocupava a coroa em arrecadar impostos sobre ele. Duas foram as principais formas usadas: a capitação e o quinto. A capitação era a forma mais impopular: cobrava-se o imposto de acordo com cada escravo empregado no trabalho da mineração, independente dos achados. Aca-bou dando lugar ao quinto, imposto que incidia sobre todo ouro extraído, do qual se retirava um quinto. Como isso ficava difícil de controlar, proibiu-se a circulação de ouro em pó e de barras que não estivessem identificadas. Para isso, criaram-se Casas de Fundição, onde o ouro era fun-dido, transformado em barras, selado e ali mesmo quin-tado. Retirado o quinto, o ouro restante era devolvido ao seu proprietário.

A cobrança de impostos causava sempre alguma tensão. Em 1720, com o anúncio de que a Coroa iria instalar quatro Casas de Fundição para melhor fiscalizar

a cobrança do quinto, alguns proprietários de lavras, sob a liderança de um tropeiro, Filipe dos Santos, juntaram a população de Vila Rica numa revolta. As tropas portu-guesas ali sediadas agiram energicamente e sufocaram a rebelião prendendo Filipe dos Santos, que acabou sendo esquartejado.

Conforme o ouro escasseava, ficava cada vez mais difícil pagar os impostos. Os descontentamentos intensifi-caram-se e acabaram culminando na Inconfidência Mineira.

O rompimento com Portugal

Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro de Alcântara, filho de D. João VI, declarou, às margens do riacho do Ipiranga, próximo à cidade de São Paulo: “Independência ou Morte!” Esse fato, celebrado como uma data funda-mental para a história do Brasil, revestido de muitos sig-nificados, marcou nossa separação definitiva de Portugal e o início da construção do Estado nacional brasileiro.

Mas qual o alcance das mudanças? Em que bases ocorreu o início da construção de nosso país?

A independência não resultou de uma decisão pesso-al de D. Pedro, mas foi fruto de um processo mais longo, iniciado já na transferência da administração portuguesa para cá. Os acontecimentos se precipitaram quando Por-tugal passou a querer restabelecer o controle do Brasil, tentando conduzir um retorno à situação colonial.

Após a saída da Corte para o Brasil, Portugal vinha-se defrontando com muitos problemas. Sua produção econômica estava desorganizada e os comerciantes por-tugueses haviam perdido seus privilégios na venda dos produtos coloniais com a extinção do monopólio, após a abertura dos portos. O comando do país havia passado para tropas inglesas que se alojaram em Portugal. A in-satisfação era grande. Em 820 explodiu a Revolução do Porto, que preparou uma constituição para o país e exigiu a volta de D. João VI. Sem saída, com medo de perder o trono, o rei português abandonou o Brasil, tomando o cui-dado de deixar em seu lugar D. Pedro de Alcântara como príncipe-regente.

O retorno do rei português não significou o fim dos problemas. As cortes portuguesas exigiam um retorno do Brasil à situação colonial. Passaram a pressionar D. Pedro para que ele também retornasse a Portugal. A população começou a tomar partido. A elite latifundiária, represen-tada na figura de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”, defendia a permanência de D. Pedro. Temiam que, caso ele deixasse o país, os âni-mos, já exaltados, da população levassem a uma rebelião de grandes proporções e pusesse em risco seus interesses econômicos.

Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe-regente tomou uma posição definitiva e decidiu que ficaria no Brasil. Ao

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 5

receber um abaixo-assinado pedindo sua permanência teria dito a célebre frase: “Como é para o bem de todos e felici-dade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico!”.

A partir daí os acontecimentos se precipitaram e levaram ao rompimento definitivo em 7 de setembro. A aceitação da independência, entretanto, demorou um pouco mais. Alguns grupos, principalmente aqueles rela-cionados a comerciantes portugueses que temiam ter seus interesses prejudicados, reagiram e se colocaram contra a emancipação. A guerra de independência que se seguiu nas províncias da Bahia, Pará e Cisplatina durou alguns meses ainda.

Apesar dessas reações localizadas, a passagem do Brasil para uma situação de nação independente se fez sem grandes convulsões sociais. E ainda diferentemente das colônias espanholas, que se haviam fracionado em di-versas repúblicas, a unidade do território foi mantida sob o regime monárquico.

Brasil, um império nos trópicos

Nos Estados modernos, a Constituição é o conjunto das leis fundamentais de um país que orienta as linhas básicas do seu funcionamento. Nem sempre a existência de uma Constituição é sinônimo de democracia. No en-tanto, seguir uma Constituição é essencial na definição de um governo democrático.

Após a declaração de independência, D. Pedro I, também herdeiro do trono português, assumiu a posição de primeiro imperador brasileiro. A condição de país in-dependente tornava necessária a elaboração de novas leis. A reorganização política deveria começar pela elabora-ção de uma Constituição. Para tanto, organizou-se uma Assembleia Nacional Constituinte, que tomou posse em maio de 1823, no Rio de Janeiro.

Havia representantes de praticamente todas as províncias, com exceção daquelas que ainda estavam en-volvidas na guerra de independência, como Bahia, Piauí e Pará. A maior parte dos constituintes era composta de representantes da aristocracia agrária e escravista.

Desde logo houve desacordo entre D. Pedro I e os constituintes, principalmente em relação ao poder que seria destinado ao imperador. Este era acusado de ter tendências absolutistas. Outro ponto de discussão era que algumas províncias queriam ter maior autonomia frente ao poder central, defendendo o federalismo. Havia tam-bém atritos quanto à situação dos portugueses, que eram defendidos pelo imperador, mas havia quem pretendesse até expulsá-los do país.

O autoritarismo do imperador acabou se confir-mando. Estava em votação um projeto constitucional que limitava seus poderes. Os deputados encontravam-se em sessão permanente para discutir o projeto, o que durou

uma noite inteira, conhecida como Noite da Agonia. Após esse episódio, D. Pedro I dissolveu a Assembleia e atribuiu a elaboração da nova carta constitucional a um Conselho de Estado, composto de dez membros nomeados por ele mes-mo. Finalmente, a Constituição foi outorgada pelo imperador em 25 de março de 1824. Venciam, com isso, o autoritarismo e as tendências políticas mais conservadoras.

A Constituição elaborada definia as bases políticas da nação brasileira. Nela definia-se a monarquia heredi-tária como regime de governo, com a inclusão do inédito Poder Moderador, de inspiração absolutista, que seria atribuição exclusiva do imperador. Dessa forma, nossa primeira carta constitucional foi marcada pelo centralismo e pelo autoritarismo.

Outro ponto importante da Constituição refere-se ao sistema eleitoral. As eleições seriam indiretas e baseadas no voto censitário. Elegia-se um colégio eleitoral que es-colhia os deputados e senadores. Dessa forma, o acesso ao poder ficava restrito aos membros da elite e nem todos podiam votar. Se considerarmos que naquela época, de uma população estimada em 4 milhões de habitantes, 1,5 milhão eram escravos e as mulheres não votavam, vê-se que a participação política era bastante restrita.

Uma importante transição

Alguns fatores contribuíram para que D. Pedro I perdesse em pouco tempo o apoio daqueles que o haviam conduzido ao poder. A forma autoritária como transcor-reu o processo de elaboração da Constituição produziu o afastamento político da poderosa elite agrária, que passou a se opor ao seu governo.

As críticas ao autoritarismo do imperador vinham de todos os lados. Temia-se, sobretudo, sua aproximação dos portugueses e possíveis tentativas de recolonização. Esse sentimento tornou-se mais forte no ano de 1826, com a morte de D. João VI em Portugal. D. Pedro I seria o her-deiro direto, mas acabou renunciando ao trono português em favor de sua filha D. Maria da Glória. Entretanto, es-se gesto acabou gerando conflitos em Portugal, pois D. Miguel, irmão de D. Pedro I, resolveu reivindicar o trono. O envolvimento do imperador nessa disputa e o envio de recursos dos cofres brasileiros para Portugal contribuíram para desgastar, ainda mais, a imagem de D. Pedro I.

As dificuldades econômicas tornavam a situação política explosiva. As exportações vinham caindo e o endividamento externo aumentava. Os problemas enfren-tados na época na Província Cisplatina contribuíram para aumentar as dificuldades financeiras do país. Em 1825 a região, que havia sido alvo de disputas por todo o período colonial entre portugueses e espanhóis, pediu sua separa-ção do Brasil e sua anexação à Argentina. Seguiu-se uma guerra entre brasileiros e argentinos. O conflito acabou

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 6

em 1828, com a conquista da independência dessa antiga província, que veio a constituir o Uruguai.

A partir de 1830 a tensão se multiplicou. As mani-festações contrárias a D. Pedro I chegavam às ruas. Voltando à corte, após uma viagem à província de Minas Gerais, o imperador foi recebido friamente, e brasileiros e portugueses enfrentaram-se violentamente por cinco dias. Um dos episódios desse conflito ficou conhecido como Noite das Garrafadas.

A impopularidade do imperador crescia cada vez mais. Seu isolamento político acabou fazendo com que ele se visse obrigado a tomar uma resolução extremada: em 7 de abril de 1831 D. Pedro I abdicou o trono brasileiro em favor de seu filho. O herdeiro, D. Pedro de Alcântara, tinha apenas 5 anos. Imediatamente após essa atitude, D. Pedro I partiu com o restante da família para Portugal.

A partir daí ficou claro para todos que não haveria mais retorno. A separação de Portugal tornava-se definitiva.

A constituição brasileira previa que, no caso de im-possibilidade de o imperador assumir, o país seria gover-nado por uma regência trina. A pouca idade de D. Pedro de Alcântara exigia essa solução. A escolha dos regentes caberia ao Congresso. Como este estava em férias quando houve a abdicação, escolheu-se uma regência trina pro-visória. Dois meses depois, a regência permanente assu-miu. A partir de 1834 passou-se a ter apenas um regente.

A regência foi um período marcado pela agitação política e por rebeliões nas províncias. A ausência da figura do imperador como chefe do governo dava mar-gem a disputas entre as facções políticas existentes. Ainda não se tratava de partidos estruturados, mas de tendências políticas que procuravam afirmar-se. Havia os restaura-dores, que pretendiam a volta de D. Pedro I, e os liberais, que se dividiam em exaltados e moderados. Essas tendências situam-se na origem dos partidos que vão consubstanciar-se de fato no Segundo Reinado.

Durante as regências a grande preocupação era as-segurar a manutenção da ordem política e social. A elite temia que as agitações fugissem ao seu controle. Para assegurar a ordem, o Padre Diogo Antônio Feijó, então Ministro da Justiça, criou a Guarda Nacional.

Garantir a unidade do território brasileiro era outra preocupação importante. As diferenças de interesses re-gionais expressaram-se fortemente nessa época em re-voltas de grandes proporções nas províncias: a Sabinada, a Balaiada, a Revolução Farroupilha e a Cabanagem. Um levante de negros na Bahia, a Revolta dos Malês, amea-çava a ordem escravocrata.

Diante de tantos problemas, a elite agrária temia perder o controle da situação. Entregar o comando do país para o imperador parecia ser uma boa alternativa para acalmar os ânimos e garantir a unidade nacional. Como faltavam alguns anos para que o jovem impera-

dor chegasse à idade prevista pela Constituição, 18 anos, resolveu-se antecipar a maioridade de D. Pedro de Alcân-tara. Em 23 de julho de 1840, com pouco menos de 15 anos, D. Pedro II assumia o poder.

Um panorama econômico

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, de onde se espalhou para outras regiões, trouxe consigo redefinições nas relações econômicas mundiais. Caberia aos países americanos, que estavam vi-vendo o rompimento da situação colonial, ocuparem, mais uma vez, o papel de fornecedores de produtos primários para países como França e Inglaterra, interessados em concentrar suas atividades em investimentos financeiros e industriais. Dessa forma, na divisão internacional do trabalho que se acentuava, as ex-colônias deram continui-dade fundamentalmente à economia agroexportadora que já vinham praticando.

No Brasil o produto que permitiu nossa vinculação ao mercado internacional foi o café. Plantavam-se tam-bém tabaco, algodão e açúcar, entre outros produtos agrí-colas. Entretanto, desde a decadência da mineração, não tínhamos encontrado uma atividade econômica capaz de substituí-la em termos de rendimentos.

O café foi plantado, em princípio, timidamente nos arredores do Rio de Janeiro. Com a expansão do seu con-sumo na Europa e nos Estados Unidos, os investimentos nesse plantio avolumaram-se. Em algumas décadas o café se tornou nosso principal produto de exportação. Benefi-ciou-se de uma grande disponibilidade de terras no Sud-este, região onde se desenvolveu, da disponibilidade de capitais e de mão de obra escrava não absorvidos por uma economia no geral estagnada.

O café, quando começou a ser plantado no Brasil, ao redor da cidade do Rio de Janeiro, era planta de jardins, tendo basicamente uma função ornamental. Pouco a pou-co surgiram as plantações comerciais, estimuladas pelo aumento do consumo do produto nos países europeus e nos Estados Unidos. Na segunda metade do século XIX, o café já deixava a baixada fluminense em direção ao vale do rio Paraíba, adentrando a província de São Paulo como uma verdadeira “onda verde”.

As características da ocupação do solo pelo café no Vale do Paraíba, feita sem levar em conta a manutenção da produtividade da terra, com o uso de queimadas e des-matamentos indiscriminados, levaram ao esgotamento do solo na região.

A marcha do café continuou, alcançando o Oeste Paulista, região compreendida entre as cidades de Campi-nas e Ribeirão Preto. Ali a terra mostrou-se extremamente favorável à agricultura cafeeira, sendo responsável pela grande produção alcançada. No final do século XIX o cul-

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 7

tivo do café já atingia a Zona da Mata, em Minas Gerais, e no início do século seguinte, chegava ao norte do Paraná.

O café rapidamente ocupou o primeiro lugar no conjunto das exportações brasileiras. Os frutos do “ouro verde” faziam-se sentir. As exportações de café, a partir de 1861, levaram a uma estabilização da balança comer-cial brasileira. Exportava-se café, principalmente, para os Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha.

As necessidades de transporte do café da lavoura até os portos de onde seria exportado levaram à introdução no Brasil de um tipo de transporte moderno para a época: o ferroviário. Desde a década de 1850 discutia-se a neces-sidade de pôr em contato as prósperas lavouras do interior da província de São Paulo com o porto de Santos. O desa-fio de vencer a Serra do Mar coube aos trilhos da inglesa The São Paulo Railway Company. A partir de 1867, data de sua inauguração, construiu-se uma extensa rede fer-roviária que contou muitas vezes com a participação de capitais dos próprios fazendeiros, interessados num trans-porte mais rápido e eficiente para seu produto.

O desenvolvimento da economia foi responsável pelo surgimento de muitas cidades no interior paulista, e pela consolidação de outras, vitalizadas pela expansão do café. Também atrás dos trilhos das ferrovias surgiram cidades. Dessa forma, o fenômeno da urbanização da província no século XIX está profundamente relacionado com a eco-nomia cafeeira.

Um modo de vida urbano foi introduzido na região. O mesmo trem que levava o café trazia o jornal, os produ-tos importados, as novas modas, os produtos de armarinho e os livros. Os contatos com a cidade de São Paulo, a capital da província, que a partir de 1870 começava a crescer, se intensificaram. Na capital e em outras cidades de im-portância regional, avolumaram-se atividades urbanas, de profissionais liberais, bacharéis, comerciantes de todo o tipo, fazendo com que se avolumassem as camadas mé-dias.

As mudanças não atingiram apenas a economia, al-cançaram também a própria vida social.

Durante o século XIX, houve algumas iniciativas de instalar indústrias no Brasil. No Brasil do Segundo Rei-nado, a Tarifa Alves Branco (1844), que elevava as tarifas alfandegárias como forma de aumentar a arrecadação do país, beneficiou indiretamente a produção industrial.

Entretanto, não havendo ainda condições de produzir aqui tudo o que trazíamos de fora, as importações con-tinuaram, assim como a dificuldade de equilibrar a nossa balança comercial.

Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, é apontado como um pioneiro da época em vários setores, inclusive na indústria. A ele atribui-se a criação da primei-ra grande indústria nacional, a fundição de Ponta da Areia, em Niterói. Além disso, fez outros importantes empreen-

dimentos: criou casa bancária, estaleiros, ferrovia, instalou iluminação a gás no Rio de Janeiro, estabeleceu navega-ção fluvial no Amazonas, só para citar alguns.

Destaca-se que a Inglaterra no século XIX, além de exportar seus produtos industriais, exportava também capitais e participava de alguns setores econômicos em outros países. É conhecida a associação entre capitais britânicos e algumas atividades desenvolvidas por Mauá, bem como a participação de companhias inglesas no Bra-sil na comercialização do café, em implantação de ferro-vias, bondes e iluminação pública.

Uma parceria que não deu certo

Um influente senador paulista, Campos Vergueiro, trouxe em 1847 oitenta famílias alemãs para o trabalho em suas fazendas de café, na região de Limeira – inte-rior de São Paulo. A Fazenda Ibicaba é considerada um emblema da introdução de braços livres para o trabalho agrícola.

Apesar do auxílio que recebeu do governo imperial, o Senador criou uma empresa: Vergueiro e Companhia, que estabelecia as bases do contato de imigrantes. Era o Regime de Parceria, que estabelecia: – o colono imigrante recebia um pedaço de terra para

cultivar; – o lucro com a produção agrícola seria dividido com

o fazendeiro.Porém,

– o colono deveria pagar ao fazendeiro, em parcelas, as despesas de viagem;

– os armazéns das fazendas cobravam preços abusivos por sementes, ferramentas, roupas, calçados e ali-mentos.Logo,

– ao final do primeiro mês o colono não tinha nada a receber como salário e tinha uma dívida altíssima para com o fazendeiro.O sistema de parceria provocou uma grande revolta

nos colonos de Ibicaba, e o governo imperial decidiu rever a questão imigrantista para o Brasil.

No final do século XIX, na região cafeeira, a imigra-ção em grande escala chegou ao Brasil. Veio para atender às necessidades dos cafeeicultores do oeste paulista, que procuravam alternativas para a mão de obra escrava.

A região cafeeira figurava como a de maior concen-tração de escravos no país. Entretanto, a partir de 1850, com a proibição do tráfico de escravos, a reposição de mão de obra escrava começou a se complicar. Grandes contingentes de escravos foram deslocados de outras regiões, sendo comercializados por um bom preço junto aos fazendeiros paulistas. Mas cada vez mais braços eram necessários para atender às exigências de expansão da economia cafeeira.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 8

Paulo. Ali mesmo, em 1888, ano da Abolição, não foi ne-cessário suspender a colheita de café, que foi realizada sem grandes problemas.

A escravidão chega ao fim

Desde o início do século XIX a Inglaterra vinha pres-sionando o Brasil para que terminasse com o tráfico de escravos, interrompendo a entrada dos negros no país. O governo imperial acenava com o término do tráfico, mas protelava essa decisão, que era contrária aos interesses econômicos da elite agrária e escravocrata.

A justificativa inglesa para acabar com o tráfico, as-sim como para a sua condenação à própria instituição da escravidão, era feita com argumentos de ordem humani-tária. No entanto, os interesses econômicos ingleses pesa-vam muito nessa atitude.

Em 1845, a Inglaterra decretou o Bill Aberdeen, lei que permitia à marinha inglesa atacar, em águas interna-cionais, navios negreiros que seguissem para o Brasil. Há relatos de navios negreiros perseguidos por ingleses que atiravam africanos ao mar, presos em correntes de ferro. Também navios ingleses teriam violado a soberania na-cional adentrando pela baía de Guanabara e atirando em navios que transportavam negros.

Setores escravocratas nacionais incentivaram o trá-fico interno de escravos. Grandes levas de negros vinham do Nordeste para o Sudeste brasileiro. Eram áreas deca-dentes da economia açucareira que passavam a fornecer braços para a cafeicultura. O abastecimento de escravos foi dificultado, mas não totalmente interrompido. Conta-va-se também com intenso contrabando. O fim do tráfico ainda era “para inglês ver”.

Somente em 1850 o governo imperial decretou o fim definitivo do tráfico de escravos, com a Lei Eusébio de Queirós. Essa medida, a longo prazo, tornaria inviável a manutenção do regime escravista. O futuro da escravidão no Brasil, a partir daí, estava com seus dias contados.

O Brasil era a última nação escravista do mundo. As críticas à manutenção do trabalho escravo começaram a se avolumar internamente, com maior intensidade nos setores urbanos, principalmente por parte de intelectuais e profissionais liberais. As formas de se defender o fim da escravidão variavam. Havia aqueles que defendiam a via parlamentar para a libertação. Era o caso de Joaquim Na-buco, político de origem aristocrata que abraçou a causa abolicionista, sem abandonar a defesa da monarquia. Luís Gama e André Rebouças eram negros livres que haviam conseguido subir na escala social e passaram a defender a libertação dos escravos.

Líderes abolicionistas, como José do Patrocínio e Lopes Trovão, tinham uma atuação mais próxima dos meios populares, contribuindo para levantar a opinião

Embora houvesse trabalhadores nacionais livres nas lavouras de café, estes eram poucos, e se dedicavam a atividades acessórias. Cabia aos escravos o trato princi-pal das plantações, mas os cafeicultores percebiam que a manutenção do regime escravista não duraria muito tem-po. Começavam, também, a pensar como empresários, considerando que talvez com o trabalho livre pudessem conseguir mais lucros: aumentando a produtividade e não tendo que imobilizar tanto capital na compra de escravos. Sendo assim, pressionaram o governo para que este im-plementasse uma política imigrantista.

A participação dos fazendeiros paulistas no pro-grama de imigração foi decisiva. Desde a década de 1870 organizaram-se para trazer braços europeus para o trabalho na cafeicultura. Em 1886 criaram a Sociedade Protetora da Imigração.

Grande importância foi reservada para a propaganda do país no exterior feita para atrair os imigrantes para cá, pois os europeus preferiam encaminhar-se para países de clima mais ameno, como a Argentina e os Estados Uni-dos. Também a imagem do Brasil no exterior não era das melhores. A existência da escravidão, os relatos de maus tratos a que alguns dos primeiros imigrantes estiveram su-jeitos por patrões acostumados a lidar dessa forma com escravos conferiam uma imagem de atraso para o país.

De início, a vinda dos imigrantes para o Brasil contou com passagens subsidiadas pelo governo da Província de São Paulo, bastante comprometido com os interesses dos cafeicultores. Para dar sustentação à política imigrantista, esse governo construiu a Hospedaria dos Imigrantes, no ano de 1888. A intenção era fornecer alojamento para o imigrante recém-chegado até que ele se encaminhasse para a fazenda de café. Situada no bairro do Brás, podia abrigar em suas dependências até 4 mil estrangeiros.

Após a experiência frustrada do sistema de parceria, o trabalho imigrante na lavoura de café foi organizado numa combinação de trabalho assalariado e outras formas de sobrevivência: o colonato.

O imigrante poderia plantar produtos de subsistência entre as fileiras de pés de café, e criar pequenos animais, como porcos e galinhas. Além de garantir a alimentação da família, o excedente poderia ser comercializado. Seria uma forma de o imigrante acumular capital e tornar mais próximo o sonho de “fazer a América”.

Entretanto, poucos realizaram o objetivo esperado de tornarem-se pequenos proprietários, como havia sido pro-metido. Alguns, desiludidos, voltaram para a Itália. Outros dirigiram-se para as cidades em busca de melhor sorte.

De toda forma, a mão de obra imigrante garantiu a continuidade da economia cafeeira. O projeto paulis-ta de substituição dos escravos na lavoura de café fez com que a abolição não trouxesse grandes abalos para essa atividade na região do oeste da província de São

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 9

pública contra a escravidão. Os mais radicais eram os cai-fazes, às vezes jovens estudantes de direito ou advogados como Antonio Bento, que ajudavam e escondiam escravos em fuga, enfrentando as forças legalistas.

O maior foco de resistência à abolição vinha das elites dirigentes do Império, composta em quase sua to-talidade por fazendeiros do Vale do Paraíba e por setores decadentes do açúcar e café da província do Rio de Janei-ro. Os chamados setores progressistas nacionais, como os cafeicultores do Oeste Paulista que já vinham utilizando a mão de obra assalariada, seriam menos atingidos com uma possível e, cada vez mais provável, extinção do re-gime de trabalho escravista.

Em 1880 os grupos abolicionistas fundaram a Socie-dade Brasileira contra a Escravidão. Clubes abolicionistas surgiam por toda parte. Reuniam-se fundos para libertar escravos e as fugas passaram a ser cada vez mais frequen-tes. Alguns fazendeiros chegavam a alforriar seus escra-vos, temendo as agitações.

As pressões sobre o imperador vinham de todos os la-dos. A campanha abolicionista chegava às ruas clamando pela libertação dos escravos, mas a abolição prejudicaria os interesses dos setores mais conservadores e dependen-tes do trabalho escravo que davam sustentação política ao regime monárquico. Este, sem saída, promoveu uma abolição lenta e gradativa com a promulgação de leis de alcance reduzido. Em 1884 as províncias do Amazonas e Ceará aboliram a escravidão em definitivo. Após quatro anos, no dia 13 de maio, a Princesa Isabel, na ausência do imperador, que estava viajando, assinava a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil.

A abolição lançou na sociedade um enorme contin-gente de ex-escravos deixados à sua própria sorte. Alguns, sem ter para onde ir, permaneceram nas fazendas. Outros foram para as cidades. Despreparados para competir e al-vos de preconceitos, enfrentaram muitas dificuldades. Os reflexos dos quase quatro séculos de escravidão podem ser sentidos ainda hoje.

Por outro lado, com a abolição, o regime monárqui-co perdia uma de suas bases de sustentação. As elites agrárias que ainda dependiam do trabalho escravo se sen-tiram muito prejudicadas pelo fato de a abolição não in-cluir nenhuma forma de indenização para os ex-senhores. Em descompasso com as mudanças econômicas e sociais cada vez mais intensas, a monarquia passava a ter seus dias contados...

A queda do regime monárquico

A Proclamação da República foi feita em 15 de no-vembro de 1889, pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Por trás desse fato, que marca o final da monarquia e o início do período republicano no Brasil, há muito mais do que uma atitude intempestiva de um militar.

A implantação do regime republicano resultou da confluência de interesses de grupos sociais diferentes. A mudança política foi feita impulsionada pelas novas condições econômicas e sociais que vinham em processo de consolidação, pressionando as instituições políticas para uma adequação às suas necessidades.

O processo de independência do Brasil havia ga-rantido a preservação da instituição monárquica. Houve uma transferência de poder para o herdeiro da coroa por-tuguesa, que manteve as estruturas de poder herdadas da colônia. Entretanto, transcorrido mais de meio século, o país já não era o mesmo. Havia sofrido um processo de mudanças acelerado, especialmente, após 1870, que modificou o panorama socioeconômico, trazendo novas exigências. A monarquia não foi capaz de acompanhar tal processo de “modernização” e chegou ao fim do século XIX como uma instituição anacrônica.

O conjunto de mudanças ocorridas na segunda metade do século XIX criava anseios não atendidos pelo governo de D. Pedro II. A economia cafeeira havia lança-do no cenário político novas elites a disputar espaço com as tradicionais. Reivindicavam maior autonomia, numa perspectiva federalista, para expandir seus negócios.

O crescimento econômico impulsionado pela economia cafeeira estimulou o comércio, a criação de casas bancárias e outros serviços urbanos. Crescia a população das cidades e fortaleciam-se os setores médios na sociedade.

Estava preparado o cenário para ampla aceitação das ideias republicanas que vez por outra já haviam comparecido em movimentos sociais ao longo do período monárquico. Agora, essas ideias teriam chance de se concretizar.

Em 1870, setores dissidentes do Partido Liberal lançaram o Manifesto Republicano. Era o início de um movimento que durante quase duas décadas defendeu a proposta de transformação do Brasil numa República.

Depois deste, outros grupos surgiram. Aquele que al-cançou maior expressão foi o Partido Republicano Paulis-ta (PRP) fundado em 1873, na Convenção de Itu. Em suas fileiras, reunia-se a elite cafeicultora paulista, grande im-pulsionadora das mudanças a que o país vinha assistindo. Nesse Partido, defendia-se, com ênfase, a forma republi-cana federalista, pois considerava-se que a manutenção da estrutura centralizadora da monarquia seria um obstáculo para sua expansão.

A atividade dos republicanos incluiu intensa pro-paganda. Além de defenderem princípios doutrinários de exaltação à República e ao federalismo, publicavam panfletos e jornais nos quais criticavam o imperador – considerado velho, doente, ultrapassado – e através dele a própria instituição monárquica.

A monarquia, às vésperas da proclamação da república, já dava nítidos sinais de esgotamento. Um após o outro, seus pilares de sustentação foram caindo.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 10

A constituição em vigor previa uma relação entre a Igreja e o Estado – o padroado – que reservava ao impera-dor, por exemplo, a possibilidade de escolher ocupantes de cargos eclesiásticos. Por força de um movimento de fortalecimento disciplinar da instituição, de acordo com orientação do Vaticano, o bispo de Olinda proibiu a en-trada de maçons na Igreja. Isso causou problemas com os meios políticos brasileiros que tinham vários maçons entre seus membros. A prisão do bispo de Olinda, depois anistiado, e outras atitudes do governo, acabaram por in-dispor fortemente a Igreja com o imperador.

A abolição dos escravos havia colocado um ponto final no processo de transformação da mão de obra que vinha sendo encaminhado desde o fim do tráfico, inclu-indo a vinda de imigrantes. Mas foi também um ingredi-ente a mais para desestabilizar a monarquia, que com essa medida perdia o apoio da elite escravocrata.

As críticas ao imperador vinham também dos mili-tares. As ideias republicanas haviam atingindo o exército, associando-se, nessa corporação, à filosofia positivista, que teve intensa repercussão no meio militar. Destaca-se a participação de Benjamin Constant na difusão dessas ideias. Embora houvesse monarquistas entre os oficiais, deve-se ressaltar que se vivia uma situação de grande descontentamento entre eles. Vitoriosos na guerra do Paraguai, julgavam ser merecedores de maiores recompen-sas e mais prestígio. Almejavam conquistar uma posição política cujo destaque deveria estar de acordo com a im-portância que atribuíam ao exército.

Alguns incidentes acabaram por indispor definitiva-mente os militares com o imperador. Atritos relativos a postos e questões de rotina ganharam a imprensa e le-varam à punição de alguns oficiais, o que inflamou os ânimos da corporação.

O imperador não tinha mais sustentação política. A monarquia estava isolada. Dos militares partiu o golpe de misericórdia para o desfecho final.

Em meio à crise e aos descontentamentos que se generalizavam, militares e republicanos conspiravam. O golpe veio na madrugada do dia 15, tendo à frente o mare-chal Deodoro da Fonseca, que embora não fosse republi-cano, gozava de grande prestígio junto ao exército.

O imperador, que em princípio não acreditou no sucesso do golpe, foi obrigado a partir para o exílio, o que foi feito na madrugada do dia seguinte. D. Pedro II partiu com sua família para a Europa, onde faleceu dois anos depois. Terminava a monarquia no Brasil.

No próprio dia 15 de novembro, o país foi infor-mado em um manifesto que havia um novo governo que havia “decretado a deposição da dinastia imperial e con-sequentemente a extinção do sistema monárquico repre-sentativo”. Era o início da república. Deodoro e alguns republicanos desfilaram nas ruas. Na palavra de Aristides

Lobo, ministro do governo provisório, o povo “assistiu a tudo bestializado”. Talvez pressentindo que os caminhos da mudança política não incluíam alterações profundas na estrutura de poder...

2. Agora, você deverá resolver os seguintes exercícios com a ajuda de seu professor.

a) Por que Portugal resolveu produzir açúcar no Bra-sil Colônia?

b) “No Nordeste, o clima e o solo favoreceram a plantação e o desenvolvimento da cana-de-açúcar.” Explique essa afirmação.

c) Explique: entradas, bandeiras, monções, ban-deiras de apresamento, missões ou reduções, Quilombo dos Palmares.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 11

d) Qual foi a posição da Igreja em relação à es-cravização dos índios no Brasil?

e) Elabore um texto, historicamente correto, sobre a época do ouro (mineração) no Brasil.

f) Como o Brasil ficou livre de Portugal em 7 de setembro de 1822?

g) Quais eram as características da Constituição de 1824?

h) Na Constituição Brasileira de 1824 foi incluído o Poder Moderador. Escreva sobre esse poder.

i) Explique os fatores principais que levaram o im-perador D. Pedro I a abdicar do trono brasileiro.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 12

j) Que relações existem entre café, cidades, ferrovias e indústrias no Brasil no século XIX?

3. Agora, você deverá resolver os próximos exercícios sozinho. Não deixe de fazer nenhum, pois são de mui-ta importância.

a) Explique o sistema de parceria e o colonato.

b) Por que a Inglaterra queria o fim da escravidão no Brasil?

c) Explique o Bill Aberdeen e a Lei Eusébio de Queirós.

d) Explique a Lei do Ventre livre, a Lei dos Sexa-genários e a Lei Áurea.

e) Cite alguns fatores que contribuíram para a que-da da monarquia no Brasil.

Folheto de História (V.C. e R.V.) – 8.o ano 13

4. Espaço para anotações, resumo, exercícios extras etc.