gestÃo de reservas extrativistas federais na amazÔnia brasileira

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 Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gestão de Reservas Extrativistas Federais na Amazônia Brasiliera.  IN: VIII Congreso sobre  Areas Protegidas de la VIII Convención Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrol lo, La Habana/Cuba. 1 GESTÃO DE RESERVAS EXTRATIVISTAS FEDERAIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA 1  Érika Fernandes-Pinto 2   As Reservas Extrativistas (RESEX) são uma categoria de área protegida surgida no Brasil e que apresenta uma série de particularidades e diferenciais. São áreas de domínio público, com uso concedido a populações tradicionais extrativistas para o uso sustentável dos recursos naturais e a implementação de estruturas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das comunidades. A criaç ão destas unidades é motivada por demanda dos grupos sociais e seus objetivos vão além da conservação da biodiversidade e do próprio uso sustentável, envolvendo o reconhecimento das comunidades, de seus territórios, do manejo comum dos recursos e da importância do conhecimento e das práticas locais para a conservação ambiental. As primeiras RESEX foram criadas em 1990, no contexto amazônico, expandindo-se posteriormente para outros ecossistemas brasileiros. Existem atualmente 59 unidades criadas, somando 11 milhões de hectares. Este trabalho visa analisar os avanços e aprendizados na gestão de 22 RESEX na Amazônia, avaliando os processos de implementação relacionados com os conselhos deliberativos e planos de manejo. Os resultados indicam que houve mudanças significativas nas formas como as comunidades tradicionais se organizam e se apropriam dos seus territórios, na visibilidade política e na inserção social adquirida por estes grupos. As particularidades dos processos de gestão das RESEX demandam o estabelecimento de procedimentos que garantam a participação qualificada da população local e o uso de metodologias que permitam gerar uma integração dos conhecimentos tradicionais com os técnico-científicos. Estes fatores representam grandes desafios na gestão ambiental, exigindo constantes adaptações e a elaboração de novas ferramentas administrativas. Palavras-chave: áreas protegidas, conservação, uso sustentável, populações tradicionais, plano de manejo 1  Trab ajo presentado en el VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convención Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, realizada en La Habana, Cuba, del 4 al 8 de julio de 2011.

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VIII Congreso sobreAreas Protegidas de la VIII Convención Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba

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  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    GESTO DE RESERVAS EXTRATIVISTAS FEDERAIS NA AMAZNIA BRASILEIRA1

    rika Fernandes-Pinto2

    As Reservas Extrativistas (RESEX) so uma categoria de rea protegida surgida no Brasil e que apresenta uma srie de particularidades e diferenciais. So reas de domnio pblico, com uso concedido a populaes tradicionais extrativistas para o uso sustentvel dos recursos naturais e a implementao de estruturas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das comunidades. A criao destas unidades motivada por demanda dos grupos sociais e seus objetivos vo alm da conservao da biodiversidade e do prprio uso sustentvel, envolvendo o reconhecimento das comunidades, de seus territrios, do manejo comum dos recursos e da importncia do conhecimento e das prticas locais para a conservao ambiental. As primeiras RESEX foram criadas em 1990, no contexto amaznico, expandindo-se posteriormente para outros ecossistemas brasileiros. Existem atualmente 59 unidades criadas, somando 11 milhes de hectares. Este trabalho visa analisar os avanos e aprendizados na gesto de 22 RESEX na Amaznia, avaliando os processos de implementao relacionados com os conselhos deliberativos e planos de manejo. Os resultados indicam que houve mudanas significativas nas formas como as comunidades tradicionais se organizam e se apropriam dos seus territrios, na visibilidade poltica e na insero social adquirida por estes grupos. As particularidades dos processos de gesto das RESEX demandam o estabelecimento de procedimentos que garantam a participao qualificada da populao local e o uso de metodologias que permitam gerar uma integrao dos conhecimentos tradicionais com os tcnico-cientficos. Estes fatores representam grandes desafios na gesto ambiental, exigindo constantes adaptaes e a elaborao de novas ferramentas administrativas.

    Palavras-chave: reas protegidas, conservao, uso sustentvel, populaes tradicionais, plano de manejo

    1 Trabajo presentado en el VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, realizada en La Habana, Cuba, del 4 al 8 de julio de 2011.

  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    2 Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio), Brasil. [email protected]

    GESTO DE RESERVAS EXTRATIVISTAS FEDERAIS NA AMAZNIA BRASILEIRA

    rika Fernandes-Pinto

    INTRODUO

    As Reservas Extrativistas histrico e situao atual

    As Reservas Extrativistas (RESEX) so unidades de conservao genuinamente brasileiras e, dentre as demais categorias previstas no Sistema Brasileiro de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), apresentam uma srie de particularidades e diferenciais.

    Como caractersticas gerais, esta categoria representa reas de domnio pblico com uso concedido a populaes tradicionais extrativistas, geridas por um Conselho Deliberativo e que permitem o uso sustentvel dos recursos naturais e a implementao de estruturas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Nos Planos de Manejo das unidades so definidas as normas de uso, o zoneamento das reas e os programas de sustentabilidade ambiental e socioeconmica, entre outros aspectos. Nestas unidades tambm permitida a visitao pblica e a realizao de pesquisas cientficas (Brasil, 2000).

    A criao destas unidades motivada por demanda de populaes tradicionais e seus objetivos vo alm da conservao da biodiversidade e do prprio uso sustentvel. Envolvem o reconhecimento das comunidades tradicionais, de seus territrios e da importncia do conhecimento e das prticas locais para a conservao ambiental. As RESEX representam tambm a busca por um modelo diferenciado de desenvolvimento, de economia, de incluso social e melhoria de qualidade de vida das populaes locais, alm da valorizao do patrimnio cultural desses grupos (Siqueira & Fernandes-Pinto, 2007).

    As Reservas Extrativistas (RESEX) foram propostas como resultado de lutas de movimentos sociais de extrativistas da Amaznia - principalmente de seringueiros nas dcadas de 70 e 80 - pelo direito terra e um modelo de desenvolvimento compatvel com a conservao e uso sustentvel das florestas. Nascem do confronto pacfico (empates) contra as frentes de expanso incentivadas pelo governo, interessadas em ocupar os vazios territoriais e ampliar as fronteiras agrcolas na Amaznia.

    Estas reas que tm por objetivos principais proteger os meios de vida e a cultura de populaes extrativistas e assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais foram inicialmente regulamentadas pelo Decreto N. 98.897 de 1990.

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    Em 2000, a Lei Federal N. 9.985 reconheceu a categoria Reserva Extrativista como parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC) no grupo das unidades de uso sustentvel, sendo definidas como rea utilizada por populaes extrativistas tradicionais cuja subsistncia baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistncia e na criao de animais de pequeno porte (Artigo 18).

    As primeiras RESEX foram criadas no ano de 1990 nos estados do Acre (RESEX Alto Juru e RESEX Chico Mendes), Amap (RESEX Rio Cajari) e Rondnia (RESEX Rio Ouro Preto). A partir de ento, o modelo expandiu-se da Amaznia para outros biomas e outros tipos de ecossistemas brasileiros.

    Apenas dois anos depois da instituio das primeiras RESEX florestais Amaznicas, foram criadas a primeira unidade costeiro-marinha (RESEX de Pirajuba no Estado de Santa Catarina) e quatro unidades voltadas para o extrativismo nas Matas de Babau (RESEX Cirico, Mata Grande e Quilombo do Frechal no Estado do Maranho e Extremo Norte do Tocantins, no Estado do Tocantins).

    Em 2006 a proposta expandiu-se tambm para o cerrado propriamente dito, no Centro-oeste brasileiro, com a criao de duas unidades no Estado de Gois RESEX Recanto das Araras do Terra Ronca e RESEX Lago do Cedro.

    Atualmente o nmero de RESEX federais oficialmente criadas totaliza 59 unidades, distribudas em 17 estados brasileiros e somando cerca de 11 milhes de hectares.

    Esta categoria considerada inovadora nos sistemas de reas protegidas em geral, por explicitar o carter intrnseco da relao entre interesse social e ecolgico. o conhecimento que as populaes tradicionais detm a respeito dos ecossistemas, com os quais desenvolveram prticas ao longo do tempo, que as qualifica para exercerem as finalidades estabelecidas pelo poder pblico no decreto de criao das reas e que as habilita para a concesso do direito real de uso.

    O Reconhecimento das Comunidades Tradicionais no Brasil

    O Brasil est passando, nos ltimos anos, por significativos processos de reconhecimento das populaes tradicionais do pas. Alm dos direitos garantidos pela Constituio Federal de 1988 para povos indgenas e comunidades quilombolas, esforos esto sendo implementados para garantir direitos a outros tipos de populaes tradicionais.

    Em 2004 foi formada a Comisso Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel de Povos e Comunidades Tradicionais. Inicialmente composta por representaes de instituies governamentais, esta comisso identificou pelo menos 30 grupos organizados de populaes tradicionais, em adio s 220 etnias indgenas.

    So seringueiros, castanheiros, ribeirinhos e agroextrativistas da Amaznia, mas tambm quebradeiras de coco-babau, pantaneiros, catingueiros, sertanejos, geraizeiros,

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    vazanteiros, chapadeiros, Pomeranos, Romanis, Faxinalenses, Comunidades de Fundo de Pasto, caiaras, comunidades de terreiros, remanescentes de quilombos e uma grande variedade de grupos de pescadores e mariqueiras1.

    A composio da comisso foi ampliada em 2006 para incluir representaes destes grupos e foi elaborada a Poltica Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), oficializada atravs do Decreto Federal N. 6.040 de fevereiro de 2007.

    Vrios fatores contriburam para deflagrar um processo nacional de dar voz e face a grupos de pessoas e comunidades chamados de tradicionais, caracterizados por uma grande invisibilidade histrica. Estes grupos sociais, apesar de novos para a sociedade urbana brasileira, sempre estiveram presentes e ressurgem em uma luta que no por terra, mas por um territrio e que no apenas por acesso a recursos naturais, mas por uma forma particular de se apropriar e interagir com os ecossistemas.

    Na sua luta por justia scio-ambiental e um modelo de desenvolvimento condizente com suas especificidades culturais, estas comunidades atuam muitas vezes no centro dos principais conflitos scio-ambientais brasileiros. No contexto de disputa territorial e pelos recursos naturais que se agrava a cada dia no pas, as RESEX so uma das poucas alternativas que comunidades tradicionais tm encontrado como forma de resistncia contra a completa desestruturao de seus modos de vida e dos ambientes naturais dos quais dependem (FERNANDES-PINTO et.al., 2007).

    O fortalecimento desta categoria de unidade de conservao e sua crescente difuso e divulgao, somados ao reconhecimento das populaes tradicionais, de seu importante papel na conservao ambiental e o acirramento de conflitos socioambientais no pas, levaram intensificao das demandas por criao de RESEX e RDS em todas as regies do Pas, somando atualmente cerca de 200 processos em estudo.

    Os Instrumentos de Gesto das Reservas Extrativistas

    As particularidades dos processos de gesto das RESEX demandam o estabelecimento de procedimentos e instrumentos de gesto que garantam a participao qualificada da populao local, o fortalecimento da organizao comunitria, o reconhecimento da importncia dos saberes e sistemas de gesto tradicionais dos espaos e dos recursos naturais e o uso de metodologias que permitam gerar uma integrao dos conhecimentos tradicionais com os tcnico-cientficos.

    A Lei Federal N. 9985 de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), contemplou as RESEX na categoria de uso sustentvel e imps algumas mudanas na forma de gesto destas reas. Ao mesmo

    1 Pesquisas recentes indicam a existncia de um contingente de mais de 4,5 milhes de pessoas consideradas

    parte de grupos definidos como povos ou comunidades tradicionais (ALMEIDA, 2006), ocupando pelo menos

    25% do territrio brasileiro.

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    tempo que o SNUC encerrou a discusso sobre a legitimidade das RESEX como categoria de Unidades de Conservao, desconsiderou suas especificidades e instrumentos de gesto construdos at ento. Estas mudanas trouxeram um grande desafio normativo e de gesto e iniciou-se um processo de construo coletiva de novas regulamentaes para esta categoria, na tentativa de adequar a lgica original de gesto e protagonismo das comunidades locais s exigncias do SNUC.

    Estas regulamentaes, inicialmente construdas com os gestores governamentais que atuavam nas RESEX, foram consolidadas com lideranas comunitrias de todas as unidades de conservao desta categoria reunidas em um grande encontro em Braslia2. Foram formalizadas em setembro de 2007 atravs de Instrues Normativas que regulamentam procedimentos de criao de RESEX e RDS, formao do Conselho Deliberativo e elaborao de Planos de Manejo Participativos3.

    Os conselhos deliberativos so a principal instncia de gesto das RESEX. Formados por representaes das comunidades tradicionais, de instituies pblicas, no governamentais e do setor empresarial/comercial, a maior parte das decises sobre uma RESEX passam por seu conselho e muitas atividades e projetos s podem ser implementados com anuncia deste. Assim, considera-se que a formao do conselho deliberativo e sua formalizao so essenciais para a gesto participativa e para o desenvolvimento sustentvel na rea, devendo a formao do mesmo ser atividade prioritria para a implementao destas Unidades de Conservao.

    O Plano de Manejo, por outro lado, considerado o principal instrumento de gesto destas Unidades, essencial para a efetivao das atividades extrativistas de forma sustentvel e para garantir a conservao ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populaes. Sua elaborao e implementao representam um dos grandes desafios na gesto destas categorias de unidades de conservao, especialmente pelo carter participativo da sua construo.

    No incio da execuo deste projeto, do conjunto das 59 unidades de conservao federais da categoria RESEX, cerca de 50% possuam Conselho Deliberativo institudo e somente duas possuam Plano de Manejo completo concludo - RESEX Chico Mendes e RESEX Cazumb-Iracema, ambas no Estado do Acre. Vinte e duas RESEX possuam Plano de Utilizao (representando cerca de 40% das unidades), considerado a primeira fase do Plano de Manejo. Entretanto, a maior parte destes instrumentos carecia de reviso, atualizao e formalizao.

    A Diretoria de Unidades de Conservao de Uso Sustentvel e Populaes Tradicionais

    2 O Primeiro Encontro Nacional de Lideranas Comunitrias das RESEX e RDS foi realizado pela Diretoria

    de Desenvolvimento Socioambiental (DISAM) e pelo Centro Nacional de Populaes Tradicionais (CNPT) do IBAMA em Braslia, no perodo em dezembro de 2006 e envolveu 140 comunitrios de 52 unidades destas categorias criadas at ento.

    3 Estas Instrues Normativas encontram-se disponveis no sitio eletrnico do Instituto Chico Mendes de

    Conservao da Biodiversidade, endereo www.icmbio.gov.br. Posteriormente, no ano de 2008, uma quarta Instruo Normativa foi publicada normatizando procedimentos para autorizao de pesquisa em RESEX e RDS quando estas envolvem acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado.

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    (DIUSP) do Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsvel pela gesto das RESEX e RDS federais, alinhada s metas e diretrizes do Ministrio do Meio Ambiente, estabeleceu como prioridade para as Reservas Extrativistas - a partir de 2008, a implementao bsica das Unidades, focando-se esforos na formao dos Conselhos Deliberativos, na elaborao dos Planos de Manejo e na Consolidao Territorial das reas.

    Alm, disso, um grande desafio a ser enfrentado nas RESEX, se refere sustentabilidade econmica dessa categoria de Unidade de Conservao. Embora no contexto atual a importncia das comunidades tradicionais para a conservao ambiental e para manuteno de servios ambientais j tenha reconhecimento, ainda frgil a aplicao de recursos financeiros que apiem as cadeias produtivas extrativistas e inviabilizem o xodo rural e a implementao de atividades econmicas degradadoras como a explorao madeireira e a pecuria extensiva.

    H necessidade de se buscar alternativas que viabilizem a permanncia das famlias extrativistas nas reservas, com melhoria de qualidade de vida, mantendo suas prticas tradicionais e conservando a biodiversidade local.

    O Projeto Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasileira

    Diante deste cenrio e para ajudar a superar estes desafios, foi proposto o projeto denominado Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasileira. Este Projeto oriundo de um Acordo de Cooperao Internacional (BRA/08/002) e financiado com recursos de doao do Governo da Noruega. Tem como agncia executora o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sendo implementado pelo Ministrio do Meio Ambiente atravs do Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade. Teve incio em abril de 2008 e finalizar sua execuo administrativa em dezembro de 2012.

    O projeto est estruturado em quatro eixos temticos:

    Consolidao territorial de Reservas Extrativistas na Amaznia Brasileira.

    Desenvolvimento de capacidades para gesto participativa e desenvolvimento sustentvel das Resex.

    Fortalecimento e capacitao de comunidades locais para produo e desenvolvimento sustentvel.

    Acompanhamento, monitoramento e divulgao do Projeto.

    O projeto contempla um conjunto de 22 RESEX da Amaznia Brasileira, situadas em sete estados brasileiros, contemplando uma rea superior a 3,8 milhes de hectares e mais de 60 mil beneficirios (Tabela 1).

    Estas Unidades de Conservao representam uma grande diversidade ambiental,

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    cultural e de contextos scio-polticos locais. Alm disso, as unidades encontram-se em diferentes etapas do processo de implementao e gesto.

    Tabela 1. Reservas Extrativistas inseridas no Projeto Gesto de Reservas Extrativistas da Amaznia Brasileira.

    RESEX UF REA (ha) Populao estimada

    (indivduos)

    Ano de Criao

    Chico Mendes AC 970.570,0000 7.500 1990

    Alto Juru AC 506.186,0000 3.600 1990

    Rio Ouro Preto RO 204.583,0000 700 1990

    Lago do Cuni RO 55.850,0000 290 1999

    Rio Cajari AP 481.650,0000 3.800 1990

    Mdio Juru AM 253.226,5000 700 1997

    Tapajs-Arapiuns PA 647.610,7400 6.000 1998

    Me Grande de Curu PA 37.062,0900 6.000 2002

    Chocoar - Mato Grosso PA 2.785,7200 600 2002

    So Joo da Ponta PA 3.203,2400 600 2002

    Soure PA 27.463,5800 1.300 2001

    Ara-Peroba PA 11.479,9530 1.300 2005

    Caet-Taperau PA 42.068,8600 6.000 2005

    Gurupi-Piri PA 74.081,8100 6.000 2005

    Tracuateua PA 27.153,6700 1500 famlias 2005

    Gurup-Melgao PA 145.297,5400 sem estimativa 2006

    Mata Grande MA 10.450,0000 500 1992

    Cirico MA 7.050,0000 1.150 1992

    Quilombo do Frechal MA 9.542,0000 900 1992

    Cururupu MA 185.046,5920 5.165 2004

    Chapada Limpa MA 11.971,2400 sem estimativa 2007

    Extremo Norte do Tocantins TO 9.280,0000 800 1992

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    Figura 1 Mapa das Reservas Extrativistas contempladas no Projeto Gesto de Reservas Extrativistas Federais da Amaznia Brasileira.

    OBJETIVO

    Este trabalho visa analisar os avanos e aprendizados na gesto destas 22 RESEX na Amaznia, avaliando questes institucionais e os processos de implementao relacionados com a formao dos conselhos deliberativos e elaborao dos planos de manejo.

    Baseia-se na anlise de informaes referentes criao e gesto de RESEX Federais disponveis no IBAMA e ICMBio, avaliao de documentos e processos administrativos, consulta a normas legais e polticas pblicas institudas e em construo, entrevistas com lideranas comunitrias e gestores das unidades de conservao, bem como na experincia da autora como Coordenadora Nacional do Projeto.

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    RESULTADOS

    Aspectos Institucionais

    At o ano de 2007, as Unidades de Conservao Federais brasileiras (incluindo as RESEX) eram geridas pelo IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis, autarquia federal vinculada ao Ministrio do Meio Ambiente (MMA). Em abril de 2007 foi criado o ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade, tambm como uma autarquia federal vinculada ao MMA, que assumiu a responsabilidade pela gesto das Unidades de Conservao Federais.

    Este rgo necessitou de um perodo para sua estruturao fsica, funcional e organizacional e o incio da execuo do projeto coincidiu com este perodo, ocasionando algumas dificuldades na implementao e necessidades de adaptao.

    Estas mudanas institucionais, somadas a mudanas locais na administrao das RESEX vinculadas ao projeto e avanos nas temticas relacionadas com resultados previstos, geraram uma necessidade de ajuste do Projeto Gesto de Reservas Extrativistas Federais da Amaznia Brasileira para permitir uma melhor execuo do mesmo e uma maior efetividade das aes4. Este processo permitiu traar estratgias mais efetivas, pautadas na adaptao aos diferentes contextos locais, na convergncia e integrao de aes e na otimizao na aplicao de recursos.

    No incio da implementao do projeto, identificou-se tambm a necessidade de qualificar os gestores das Unidades de Conservao para a execuo do mesmo; de aproximar os servidores do ICMBio das lideranas comunitrias; de propiciar as condies mnimas de trabalho e para a execuo das atividades de campo e de garantir a implementao das bases de gesto das Reservas Extrativistas. Algumas atividades previstas no projeto tambm demandaram articulao de aes com um conjunto de outras instituies, federais, estaduais e municipais, para que os resultados pudessem ser alcanados.

    Somado a isso, em 2009, o ICMBio promoveu concurso pblico e contratou novos servidores, sendo que 80 foram alocados especificamente nas Reservas Extrativistas. Este incremento de corpo tcnico tornou possvel realizar aes de implementao das Unidades de forma mais efetiva.

    Alm do processo inicial de estruturao do ICMBio e da necessidade de articulao interinstitucional, a implementao das aes mostrou que o processo de mobilizao social das comunidades das RESEX, fundamental para a execuo das atividades, um

    4 O ajuste formal do Projeto foi consolidado atravs de uma Reviso Substantiva, aprovada pela Agncia

    Brasileira de Cooperao Internacional em dezembro de 2010.

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    processo gradual e contnuo, que muitas vezes segue ritmos e lgicas diferenciados dos padres tcnicos, inerentes s lgicas e modos de vida das populaes tradicionais.

    Conselhos Deliberativos

    Os conselhos so a principal instncia de gesto das RESEX e imprescindveis para a implementao de outras aes, como a elaborao de planos de manejo, celebrao de contratos de concesso de direito real de uso e projetos de uso e produo sustentvel. Neste sentido, necessrio que todas as RESEX tenham os seus conselhos deliberativos criados e em funcionamento.

    No incio da execuo do projeto, 15 das 22 RESEX envolvidas j tinham conselho formalizado. Entretanto, para essas unidades, os conselhos necessitavam passar por um processo de remobilizao e reativao. Assim, foram retomados os trabalhos nestes conselhos, com apoio ao funcionamento e implementao de uma rotina de reunies ordinrias, alm de aes voltadas para o seu fortalecimento e qualificao do trabalho dos conselheiros.

    Para as sete RESEX do projeto que ainda no tinham o conselho institudo, iniciou-se aes visando formao dos mesmos, envolvendo desde diagnsticos de campo, sensibilizaes, mobilizaes, reunies e oficinas e capacitao dos futuros conselheiros para comporem o Conselho Deliberativo destas Unidades, at a finalizando formal dos processos com portaria instituinte.

    Alm da formao dos conselhos, importante garantir condies para a implementao e funcionamento dos mesmos, o que inclui os procedimentos de dar posse aos conselheiros, elaborar regimento interno e plano de ao dos conselhos e apoiar processos de capacitao dos conselheiros, de forma a garantir a qualidade da tomada de deciso. Tambm importante garantir o acesso informao e a materiais adaptados linguagem e realidade local.

    Tabela 2. Situao dos Conselhos Deliberativos das 22 RESEX inseridas no Projeto Gesto de Reservas Extrativistas da Amaznia Brasileira.

    RESEX UF SITUAO DO CONSELHO

    Chico Mendes AC Portaria N 28 de 22-05-2003

    Soure PA Portaria N 76 de 26-11-2003

    Cirico MA Portaria N 66 de 06-07-2004

    Tapajs-Arapiuns PA Portaria N 50 de 10-05-2004

    Lago do Cuni RO Portaria N 42 de 20-06-2006

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    Rio Cajari AP Portaria N 12 de 07-02-2006

    Me Grande de Curu PA Portaria N 24 de 09-03-2006

    Rio Ouro Preto RO Portaria N 89 de 22-11-2006

    Mdio Juru AM Portaria N 10 de 29- 01-2007

    So Joo da Ponta PA Portaria N 11 de 05-02-2007

    Ara-Peroba PA Portaria N 42 de 12-06-2007

    Caet-Taperau PA Portaria N 16 de 24-09-2007

    Chocoar-Mato Grosso PA Portaria N 17 de 24-09-2007

    Tracuateua PA Portaria N 21 de 22-11-2007

    Gurupi-Piri PA Portaria N 03 de 01-02-2008

    Cururupu MA Em fase de formalizao

    Chapada Limpa MA Em fase de formalizao

    Quilombo do Frechal MA Em fase de formalizao

    Alto Juru AC Em fase de formalizao

    Mata Grande MA No definido

    Extremo Norte do Tocantins TO Em fase de formalizao

    Gurup-Melgao PA Em fase de formalizao

    Quanto capacitao para gesto participativa, no decorrer da implementao do projeto realizou-se cursos sobre a temtica envolvendo servidores governamentais, conselheiros e lideranas comunitrias.

    Avaliou-se tambm que, alm de cursos, as comunidades das RESEX tinham necessidade de realizar eventos para fortalecer a gesto participativa - ou de participar de eventos promovidos por outras organizaes - e de promover intercmbios de experincias entre as RESEX ou entre experincia de uso e produo sustentvel.

    Tambm foi identificado que muitos entraves na implementao das unidades dizem respeito existncia de conflitos territoriais e de sobreposio entre as RESEX e Terras Indgenas, Territrios Quilombolas ou Assentamentos de Reforma Agrria. Estas situaes necessitam tanto de aes pontuais de mediao de conflitos, como de aes legais e entre instituies federais para gerar avanos no entendimento dos processos de gesto participativa.

    Planos de manejo e de Utilizao

    De acordo com as normas vigentes para as RESEX, o Plano de Utilizao consiste em um dos componentes do Plano de Manejo, que um documento mais amplo e que, alm do plano de utilizao, engloba outros temas como o zoneamento, programas de sustentabilidade, anlise de cenrios, entre outros (Instruo Normativa ICMBio No. 01/2007).

    A construo de Planos de Manejo nas Reservas Extrativista necessariamente um processo de construo participativa com a populao beneficiria da unidade. A dinmica social de cada unidade, a complexidade e o nvel de organizao comunitria, os conflitos pr-existentes e questes logsticas tornam extremamente heterogneo este processo, dificultando sobremaneira o planejamento detalhado das aes de campo.

  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    Diferente de trabalhos tcnicos - onde possvel contratar profissionais para cumprir agendas especficas - na construo dos planos de manejo as aes esto sujeitas ao calendrio de atividades das comunidades, seus processos internos de tomada de deciso e suas dinmicas scias prprias.

    Considerando este cenrio, a norma para elaborao de Plano de Manejo de RESEX prev que o Plano de Utilizao possa ser construdo e aprovado anteriormente concluso do documento completo do Plano de Manejo como um todo, garantindo que a Unidade conte com um instrumento de gesto mnimo e permitindo a implementao de outras aes de uso e produo sustentvel e de melhoria de qualidade de vida.

    Esto em construo os Planos de Manejo de 16 Unidades do Projeto. Para algumas RESEX esto em andamento trabalhos de consultorias de apoio elaborao dos planos, enquanto para outras os trabalhos esto sendo realizados pelo prprio corpo tcnico do ICMBio, com apoio de instituies parceiras. As Unidades encontram-se em diferentes estgios do processo de elaborao, aprovao e implementao dos Planos de Manejo.

    Dentre os diversos fatores que influenciam o desenvolvimento das atividades de construo do Plano de Manejo de uma RESEX, destacam-se:

    a disponibilidade inicial de informaes;

    as condies de acesso RESEX e s suas comunidades beneficirias;

    o tamanho da rea e o nmero de comunidades;

    as caractersticas sociais e culturais da populao beneficiria e o entendimento das mesmas sobre

    a Reserva Extrativista em que esto inseridos;

    as atividades extrativistas desenvolvidas e a insero no mercado;

    a existncia de outras atividades complementares ao extrativismo, muitas vezes conflitantes com os objetivos da Unidade de Conservao;

    o aceite das comunidades quanto estratgia de elaborao de um plano de manejo para a UC;

    o nvel de organizao das comunidades e suas estruturas de representao

    a existncia de conflitos de sobreposio territorial ou de dispiutas no uso reas ou recursos da RESEX;

    a estrutura administrativa local do ICMBio e o nmero de funcionrios;

    a capacitao dos servidores do ICMBio para trabalhar com a dimenso sociedade/natureza;

  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    nos casos de contratao de consultores, a aceitao do mesmo pelas comunidades e a relao com os servidores do ICMBio.

    Finalizada a construo participativa do Plano de Manejo junto s comunidades beneficirias da RESEX, o documento passa por uma anlise tcnica do ICMBio e jurdica da Procuradoria Federal Especializada. Estando adequado, submetido aprovao do Conselho Deliberativo da RESEX, para posteriormente ser publicada Portaria.

    Conforme j relatado anteriormente, at o incio da implementao deste projeto, apenas duas RESEX Federais contavam com Plano de Manejo institudo. Assim, esta ao representa o primeiro grande esforo de construo de entendimentos sobre a aplicao deste instrumento para esta categoria de UC e trar contribuio significativa para o cenrio nacional das RESEX e para as Unidades de Conservao em geral.

    Estas experincias e aprendizagens esto sendo sistematizadas, com vistas consolidao de um material de referncia que contribuir efetivamente com todas as demais Reservas do Pas e para a produo de material de divulgao dos planos de manejo e de utilizao concludos, em linguagem e formato acessvel populao local, no sentido de contribuir para a disseminao e implementao dos mesmos nas Unidades e comunidades do entorno.

    CONCLUSES

    Os resultados deste projeto e as Reservas Extrativistas envolvidas esto inseridos em contextos de grande complexidade do ponto de vista ambiental, scio-cultural e institucional-legal.

    No aspecto ambiental, as RESEX analisadas so extensas reas que envolvem uma grande diversidade de ambientes terrestres, lacustres, estuarinos, fluviais e marinho, que possuem diferentes fitofisionomias. Consequentemente, envolvem tambm diferentes tipos de produo extrativista da flora (borracha, sementes, leos, frutos, etc.) e da fauna (pescado, caranguejo, mariscos, jacar, caa, etc.), alm de uma ampla gama de atividades alternativas, como turismo e veraneio, agricultura, criao de animais, entre outras.

    No mbito social, as populaes tradicionais beneficirias ou usurias das unidades possuem diferentes histricos e formaes scio-culturais, tem diversas formas de organizao e representao social, esto em diferentes estgios de organizao comunitria e possuem diferentes nveis de entendimento e aceitao quanto aos processos legais de gesto das RESEX.

    No aspecto institucional-legal, mudanas nas estruturas governamentais, na legislao aplicada aos temas e avanos na formulao de polticas pblicas afetam tanto positivamente quanto negativamente as aes nas RESEX. Tambm necessrio abordar a dimenso poltica e a articulao de parcerias com instituies de todas as esferas de governo.

  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    Os resultados indicam que, desde a criao das primeiras RESEX at os dias atuais, houve mudanas significativas nas formas como as comunidades tradicionais se organizam e se apropriam dos seus territrios, na visibilidade poltica e na insero social adquirida por estes grupos, nas polticas pblicas e nos procedimentos administrativos de criao e gesto destas reas. Estes fatores, somados s singularidades da categoria, representaram e ainda representam grandes desafios de gesto, que exigem constantes adaptaes e a elaborao de novas ferramentas administrativas.

    Alm dos desafios encontrados, os resultados deste trabalho contriburam para uma srie de aprendizados, entre os quais destaca-se:

    (1) A mobilizao das comunidades beneficirias das RESEX para reativao ou formao dos Conselhos promoveu a base para os arranjos de apropriao coletiva da rea, para a busca da conciliao entre proteo ambiental e uso sustentvel dos recursos naturais e para a efetiva co-gesto entre governo e sociedade nestas Unidades de Conservao.

    (2) A implementao e funcionamento dos Conselhos Deliberativos propiciou o aprimoramento do dilogo entre diversos atores da sociedade envolvidos com as RESEX, gerando um ambiente de confiana e cooperao entre as partes, com efetiva gesto de conflitos.

    (3) Os investimentos institucionais proporcionaram a gerao de capital social no quadro de servidores do ICMBio para a gesto executiva de projetos, o conhecimento das diferentes RESEX e suas peculiaridades e articulao com outras instituies pblicas e parcerias.

    (4) A implementao modular (fases) do projeto, as revises e o planejamento participativo das aes promoveram a adequada adaptao aos contextos locais, a convergncia e a integrao de aes, e a otimizao da aplicao dos recursos, resultando em estratgias mais efetivas para implementao das Unidades.

    O conjunto de aes do projeto tm contribudo para o fortalecimento e a efetiva implementao das Reservas Extrativistas Federais da Amaznia Brasileira, tanto no mbito da gesto governamental quanto no apoio s populaes tradicionais na consolidao de um novo paradigma de desenvolvimento econmico, baseado no uso sustentvel de recursos naturais e respeito aos modos de vida.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALMEIDA, A.W.B. Terras tradicionalmente ocupadas: processos de territorializao, movimentos sociais e uso comum. No prelo, 2006. 20 p.

    BRASIL - MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC. Braslia: MMA/SBF, 2000. 56 p.

  • Fernandes-Pinto, E.; 2011. Gesto de Reservas Extrativistas Federais na Amaznia Brasiliera. IN: VIII Congreso sobre Areas Protegidas de la VIII Convencin Internacional sobre Medio Ambiente y Desarrollo, La Habana/Cuba.

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    FERNANDES-PINTO, E.; CORDEIRO, A. Z. & BARBOSA, S. Criao de Reservas Extrativistas e sua importncia estratgica frente aos conflitos socioambientais brasileiros. 2007, III Simpsio de reas Protegidas e Incluso Social.

    FERNANDES-PINTO, E. As RESEX e RDS e a Poltica Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais - interfaces com a etnobiologia e etnoecologia. In: Atualidades em Etnobiologia e Etnoecologia. NUPEEA, 2010.

    PORTO-GONALVES, C.W. Geografando: nos varadouros do mundo. Braslia: Ed. IBAMA, 2003. 591 p.

    SIQUEIRA, D. & FERNANDES-PINTO, E. Poltica Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Reservas Extrativistas. 2007, XIII Congresso Brasileiro de Sociologia.

    BASE LEGAL

    Constituio Federal Brasileira de 1988.

    Decreto Federal N. 98.897 de 1990 Reservas Extrativistas.

    Lei Federal N. 9.985 de 2000 e Decreto Federal N. 4.340 de 2002 Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza.

    Decreto Federal N. 5.758 de 2006 Plano Nacional de reas Protegidas (PNAP).

    Decreto Federal N. 6.040 de 2007 Poltica Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT).

    Instruo Normativa ICMBio N.01 de 2007 Planos de Manejo Participativos de Reservas Extrativistas.

    Instruo Normativa ICMBio N.02 de 2007 Conselhos Deliberativos de Reservas Extrativistas.

    Instruo Normativa ICMBio N.03 de 2007 Criao e ampliao de Reservas Extrativistas.