classe média, realidade e ficção: portugal e brasil na contramão?

37
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS Laboratório associado Universidade de Coimbra www.ces.uc.pt Elísio Estanque [email protected] http:// www.elisioestanque.blogspot.com Professor visitante da UNICAMP, CESIT/IFCH - 2013 Classe média, realidade e ficção: Portugal e Brasil na contramão?

Upload: huyen

Post on 23-Feb-2016

25 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Classe média, realidade e ficção: Portugal e Brasil na contramão?. CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS Laboratório associado Universidade de Coimbra. Elísio Estanque [email protected] http://www.elisioestanque.blogspot.com Professor visitante da UNICAMP, CESIT/IFCH - 2013. www.ces.uc.pt. - PowerPoint PPT Presentation

TRANSCRIPT

Page 1: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAISLaboratório associado

Universidade de Coimbra

www.ces.uc.pt

Elísio [email protected]://www.elisioestanque.blogspot.comProfessor visitante da UNICAMP, CESIT/IFCH - 2013

Classe média, realidade e ficção: Portugal e Brasil na contramão?

Page 2: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

O futuro é da “classe média”?

Page 3: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

A “piada” do losango (Brasil)

Leandro Callegari Coelho e Ludmar Rodrigues Coelho, “As classes sociais e a desigualdade no Brasil”, In

http://www.logisticadescomplicada.com/as-classes-sociais-e-a-desigualdade-no-brasil/

Page 4: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

PRODUCTIVIDADE vs SALÁRIOS(em 36 países desenvolvidos)

Fonte: quoted by Jeff Faux, Economic Policy Institut (EPI), USA.

Page 5: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

USA: RISING INEQUALITY 1979-2011

INCOME: •RICHEST 1 % +241%•MIDDLE 20% +19%•LOWEST 20% +10%

WEALTH:•82 % OF ALL WEALTH INCREASE WENT TO RICHEST 5 % Fonte: Jeff Faux, Economic Policy Institut (EPI), USA.

Page 6: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 7: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Classe média ou luta de classes?• Uma ‘classe’ que não é classe, um grupo que não é grupo; • Uma zona ambígua, onde se posicionam segmentos distintos,

definidos segundo a conjugação entre: riqueza, status e poder• Um conjunto de oposições, de ‘lugares contraditórios de

classe’ (Wright), que se orientam por habitus distintos consoante o tipo de ‘capitais’ que controlam (c. económico, educacional/ cultural, relacional/ social, etc) e as trajetórias ascendentes ou descendentes? (P. Bourdieu)

• A classe média ao espelho: realidades e ficções;• Uma classe média em formação, em transição…• Acima da base e abaixo do topo da pirâmide estratificacional,

com condições e ‘estilos de vida’ muito variados; que desenvolve subjetividades muito diversas;

Page 8: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

A ideologia meritocrática• A Europa do pós-guerra e a edificação do Estado-providência

(teciarização, inovação, redistribuição);

• A promessa da mobilidade social e a ideologia “meritocrática”;

• A sociedade de consumo e a «classe de serviço»:• “os empregados prestam um serviço à empresa empregadora

em troca de ‘compensações’ que tomam a forma não apenas de uma recompensa salarial, com todos os seus pré-requisitos, mas que incluem também importantes elementos prospetivos – por exemplo, aumentos salariais em condições estabelecidas, condições de segurança e assistência, quer no emprego quer através de direitos de proteção na reforma e, acima de tudo, oportunidades de carreira bem definidas” (Erikson e Goldthorpe, 1992).

Page 9: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

FONTE: Eurostat, Relatório “O Estado da Educação” (CNE), in jornal Público, 21/12/2011

PORTUGAL: Estado social, educação, urbanização

Page 10: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Julho 2007

Portugal: População empregada e “classe média” (1988-2008)

Page 11: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Segmentos de classe na região metropolitana de Lisboa (Fonte: INE, Destaque, 3/02/2000)

Page 12: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 13: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

• “A classe social não é definida por uma propriedade (mesmo a mais determinante) nem por uma soma de propriedades (sexo, idade, origem social…), tampouco por uma cadeia de propriedades todas elas ordenadas a partir da mais importante (posição nas relações de produção)…, mas pela estrutura das relações entre todas as propriedades pertinentes que confere o seu valor próprio a cada uma delas e aos efeitos que ela exerce sobre as práticas.” (P. Bourdieu, La Distinction, 1979).

Page 14: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Mobilidade subjectiva, segundo cat. classe, por país (%)*

PORTUGAL SUÉCIA CANADÁ REP. CHECA

Categorias de Classe S D E S D E S D E S D E

Empregadores 30,8 29,2 40,0 39,2 21,6 41,2 59,6 17,3 23,1 54,2 18,8 27,1

Pequena Burguesia 35,1 23,7 41,2 35,3 47,1 17,6 42,6 27,8 29,6 44,2 22,1 33,7

Gestores 25,0 18,8 56,3 51,6 4,8 43,5 61,3 11,8 26,9 43,9 29,3 26,8

Supervisores 43,6 13,9 42,6 47,3 11,0 41,8 51,9 22,7 25,4 22,9 46,9 30,3

Trab. Semi-Qualif. 46,0 9,6 44,4 36,2 15,5 48,3 60,7 14,3 25,0 24,0 48,9 27,0

Proletários 38,8 17,4 43,8 24,9 20,0 55,1 47,2 22,7 30,1 19,6 50,2 30,3

Totais País 35,8 20,5 43,8 29,8 20,2 50,0 45,8 22,9 31,3 20,1 51,1 28,8

* Refere-se à comparação entre a classe subjectiva actual e a de 10 anos antes; ** Os totais por país referem-se aos resultados globais das frequências das perguntas sobre a classe subjectiva, antes de serem cruzados com a categoria de classe. Recorde-se que em duas das perguntas incluídas no questionário era pedido aos inquiridos para se posicionarem numa escala de 1 a 10, considerando-se que o nível 1 correspondia ao topo da pirâmide social e o nível 10 à sua base, sendo que uma dessas perguntas se referia à situação actual e a outra à situação de há dez anos atrás. Os resultados deste quadro foram elaborados a partir das respostas a essas duas perguntas.

S=Subiu; D=Desceu; E=Estabilizou

Page 15: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Percepção dos conflitos de interesses na sociedade (%)*

Conflitos entre: PORTUGAL SUÉCIA CANADÁ REP. CHECA

Pobres e ricos 76,7 35,0 34,7 29,3

Classe Trabalhadora e Classe Média

63,2 12,6 14,1 9,4

Directores e Trabalhadores

87,8 33,2 -- ** 38,5

O topo e a base da sociedade

86,5 64,6 52,3 44,8

Jovens e idosos 62,6 19,5 27,1 21,6

* Para cada uma das oposições apresentadas como polarizadoras de conflitos possíveis, o respondente podia optar por uma das seguintes possibilidades: conflitos muito fortes; conflitos fortes; conflitos não muito fortes; ausência de conflitos. As %s aqui contempladas correspondem ao somatório das respostas que consideram haver conflitos “muito fortes” e “fortes”; ** No questionário do Canadá esta polarização não foi considerada.Fonte: Inquérito ISSP, 2001.

Page 16: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Classe subjectiva, segundo a categoria de classe, por país (%)

Categorias de Classe

Cl. Baixa Trabalh. Média Baixa Média Méd. Alta Alta

PORTUGAL

Empregadores 3,1 41,5 15,4 36,9 3,1 0,0

Pequena Burguesia 17,9 49,5 10,5 22,1 0,0 0,0

Gestores 0,0 15,6 6,3 68,8 9,4 0,0

Supervisores 2,0 32,0 26,0 39,0 1,0 0,0

Trab. Semi-Qualif. 2,1 47,6 13,4 33,2 3,7 0,0

Proletários 6,9 56,0 15,1 21,6 0,5 0,0

Totais PORTUGAL * 11,3 40,6 16,7 28,9 2,3 0,2

R. CHECA 8,2 31,2 24,8 31,5 3,9 0,4

CANADA 4,6 12,4 7,4 41,3 14,8 0,6

SUECIA 1,7 35 - - 46,5 16,5 0,3

Tipologia de Erik Olin Wright

* Os totais por país referem-se aos resultados globais da pergunta respeitante à classe subjectiva, antes de serem cruzados com a categoria de classe. Fonte: Inquéritos ISSP (2001)

Page 17: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 18: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Crise e Desemprego UE27 - 2013

Page 19: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

PORTUGAL: Promessas, ilusões e frustrações

• Portugal 2013: profissionais intelectuais e científicos, 10%; profissionais de nível intermédio, 19%; pessoal dos serviços e vendedores, 16%.

• Industrialização e democratização tardia, ditadura longa; ‘sociedade providência’; Estado social tardio, frágil, pouco eficaz;

• Pós-1974… 1980s: Modernização do país resultou em grande medida da ação do Estado e das políticas públicas (saúde, educação, segurança social, ciência, qualificação dos portugueses, etc);

• Mas foi sobretudo a luta social do pós-25 de Abril que lhe abriu o caminho;

• Construção do Estado-providência foi o principal fator de crescimento da ‘classe média’ assalariada em Portugal;

Page 20: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Estagnação e recuo

Page 21: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Rácio entre o rendimento detido pelos 20% mais ricos face ao dos 20% mais pobres (S80/S20), nos países da EU 27, Islândia e Noruega (2010)

Page 22: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

PolóniaBulgária

EslováquiaEspanha

Fed.RussaFrança

Reino UnidoHungria

EslovéniaPortugal

DinamarcaAlemanhaFinlândiaHolandaEstoniaBélgica

NoruegaSuíça

Suécia

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

O EE PTE

Fonte: European Social Survey (2006)

Europa: Precariedade da classe média

Fonte: Nuno Nunes, ISCTE-IUL/ CIES

Page 23: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 24: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Fonte: DECO, in Jornal PÚBLICO, 10/01/2013

A queda na realidade

Page 25: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Portugal / Brasil na contramão?

Page 26: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Brasil, um país de classes médias?

• Classe “média intermediária” – 26%; classe “média-alta” – 19%; classe “média-baixa” – 18%; Total da “classe média” brasileira: 63% (segundo cálculos da Datafolha)

• Seis em cada dez brasileiros com 16 anos ou mais já pertencem a esse grupo (90 milhões de pessoas), segundo o Datafolha (pesquisa publicada em 22/01/2012) .

• Critérios: (1) Nível de rendimento familiar; (2) Equipamentos domésticos; (3) Nível de educação do chefe de família;

• O Brasil de classes médias é aquele que está conseguindo escapar dos estratos D e E, deixando para trás os excluídos, mas ainda quase não tem presença nas classes A e B.

• Ganhos de renda — consequência do crescimento económico e das políticas de distribuição de renda — e maior acesso a crédito contribuíram para essa tendência. “Aumentos de renda que parecem pequenos para a elite têm representado uma revolução para as classes mais pobres” (Marcelo Neri, FGV/ diretor do IPEA)

• Se a posse de bens de consumo aproxima as três classes médias brasileiras, indicadores como salários e educação ainda as distanciam umas das outras.

Page 27: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Fonte: IBGE/contas nacionais (elaboração Ipea) * Índice de Gini (in Pochmann,

2012: 15)

90

95

100

105

110

115

120

125

130

135

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

325

350

Renda per capita Índice de Gini

Brasil: evolução dos índices da renda per capita nacional e de desigualdade segundo o Coeficiente de Gini* (1960 = 100)

Page 28: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Saldo de novos empregos criados, Brasil 2000-2008

Fonte: CAGED/MTE 2010, in Alice Remy, et al., 2011: 66

Page 29: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Fonte: Datafolha, 22/01/2012

Page 30: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Fonte: Datafolha, 22/01/2012

Page 31: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Fonte: IPEA In http://www.ipeadata.gov.br/ Portugal: EU SILC 2011, Eurostat/ in Observatório das Desigualdades do ISCTE.

Região 2001 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Brasil 0,596 0,572 0,569 0,563 0,556 0,548 0,543

Portugal 0,370 0,381 0,377 0,368 0,358 0,354 0,337

Desigualdades seg. Coeficiente de Gini – Brasil e Portugal

Page 32: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Um mundo desigual na criação e repartição da riqueza

Page 33: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?

Conclusão: Brasil/Portugal, que cenários?

• Que diferenças e afinidades entre Brasil e Portugal?• Portugal/Brasil: “nova classe média” ou “classe trabalhadora

politizada”?• 1. Convidada a enriquecer (e a pagar impostos)• 2. Convidada a consumir (e a endividar-se)• 3. Convidada a empobrecer – e a revoltar-se?• De quem é a culpa? Subjetividades em conflito:• Respostas individuais (empreendedoras ou consumistas);

respostas assistencialistas (culpa do próprio); respostas solidárias e emancipatórias (culpa do capitalismo e da finança); respostas salvíficas (culpa da democracia, da carga fiscal e do Estado social)??...

• Brasil: uma “imaginária-classe-média-que-vive-do-trabalho” (Antunes, 1995);

• Consumismo: miragem discursiva dos média e do poder vigente, para satisfação de credores e alguns agiotas ligados ao mundo da finança e do crédito.

Page 34: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 35: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 36: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?
Page 37: Classe média, realidade e ficção:  Portugal e Brasil na contramão?