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Ciência, Tecnologia e Sociedade: Aula 6 Thomas Kuhn: Dogma e Ciência Professor Adalberto Azevedo Santo André/São Bernardo do Campo, 21/10/2014

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Page 1: Ciência, Tecnologia e Sociedade: Aula 6 Thomas Kuhn: Dogma e Ciência Professor Adalberto Azevedo Santo André/São Bernardo do Campo, 21/10/2014

Ciência, Tecnologia e Sociedade: Aula 6

Thomas Kuhn: Dogma e Ciência

Professor Adalberto AzevedoSanto André/São Bernardo do Campo, 21/10/2014

Page 2: Ciência, Tecnologia e Sociedade: Aula 6 Thomas Kuhn: Dogma e Ciência Professor Adalberto Azevedo Santo André/São Bernardo do Campo, 21/10/2014

Ciência e os cientistas: a visão do senso comumCientista: investigador em busca da verdade, sem preconceitos, explorador da natureza e dos fatos “crus”, objetivo

Fidelidade aos fatos e só a eles (sem influência de nenhuma variável social)

Essa visão legitima, desde a venda de produtos com “credibilidade científica”, mudanças em condições de trabalho nas empresas, até a aceitação de políticas públicas

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Thomas Kuhn: a ciência como atividade social1. Conhecimento prévio dos resultados da investigação, usando-se teoria e aparelhagem para comprovar resultados esperados:

Exemplo (física subatômica): Pesquisas no acelerador de Hádrons (acelerador circular de prótons, LHC)

Detecção do Bóson de Higgs, parte do Modelo Padrão da matéria. Participação de 179 institutos de pesquisa de 41 países.

Modelo padrão foi formulado teoricamente em 1964, e vem sendo provado por sucessivos aceleradores de partículas. Espera-se que o LHC prove a existência do Bóson de Higgs.

“Se o bóson de Higgs não tivesse sido observado no LHC, toda a teoria desenvolvida nos últimos 50 anos teria que ser revista” (PesquisABC, 12/2012)

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Thomas Kuhn: a ciência como atividade socialOnde reside a não-neutralidade

2. Resistência das teorias estabelecidas a teorias alternativas:

Falhas do paradigma: vistas como originadas de erros do cientista em manejar nas novas teorias ou falhas em seu equipamento (ou os dois)

Solução: mais trabalho, dentro das regras do paradigma

Porém, o paradigma baseado no método científico (e seu aparato tecnológico), infalível no descobrimento da verdade, pode descobrir uma anomalia persistente

Gera-se uma nova teoria que altera os fundamentos do paradigma: Revolução científica

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosParadigma científico: maneira particular de questionar a natureza e de lidar com seus fenômenos (problemas importantes, métodos, aparelhagem, resultados aceitáveis)

Característicos da comunidade científica (não de indivíduos): origem no treinamento científico

Educação científica difunde o que uma comunidade científica atingiu em termos de desenvolvimento teórico/experimental

Investigação rotineira (paradigmática): mais criativa e eficiente, por permitir a investigação direcionada, aprofundada e apoiada por aparelhagem especializada (Inspiração X Transpiração)

Convicções fortes (preconceitos) anteriores à investigação: frequentemente precondições para o sucesso das ciências

Preconceito e resistência ao novo: freios ao progresso da ciência ou condições para sua continuidade e vitalidade?

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicos

Fonte: Professor Eduardo Salles de O. Barra em http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/simposio2011/simposio_filosofiadaciencia.pdf

Teorias concorrentes

Teoria unificada

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosDefinição dos problemas válidos de investigação, e dos métodos de investigação: ciência como quebras-cabeças

Regras do jogo: fornecidas pela educação científica

Regras do jogo bem definidas servem como um detector de falhas: aperfeiçoamento da teoria para superar fracassos na explicação dos fenômenos (ajustar o paradigma à natureza)

Ciências maduras precisam do dogma. Muitas explicações paralelas tendem a dificultar o progresso em uma direção determinada: característica das “novas” ciências

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosExemplo do surgimento de um paradigma: investigações sobre a natureza da eletricidade nos séculos XVII-XVIII

Diversos cientistas e explicações, baseadas em observações e na determinada concepção mecânico corpuscular (luz como um feixe de partículas, como fluido)

Diversas escolas de pensamento fenômenos abordados: geração de eletricidade por fricção, fenômeno da repulsão, eletricidade como um fluido (Newtonianos e Cartesianos)

Pouca evolução do campo: caminhando em círculos

Geração de conceitos e técnicas que alimentaram o primeiro paradigma sobre eletricidade, desenvolvido por Benjamin Franklin na década de 1750 (apoiado em trabalhos anteriores, como o de Maxwell)

Criação de conceitos fundamentais e amplamente aceitos (dogmas): início do desenvolvimento desse campo científico

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosTeoria da eletricidade de Franklin: explicação unificada dos fenômenos abordados pelas teorias anteriores (substituído por novas teorias no século XIX)

Final do século XVIII: paradigma estabelecido, fim da constante reavaliação dos fundamentos, investigação mais aprofundada, especializada e de difícil assimilação por leigos, desenvolvimento de aparelhagem especializada, confiança

Aumento da eficência da pesquisa: possibilidade da aplicação industrial em larga escala (final do século XIX)

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosVerdade ou validade do paradigma: nao é o ponto essencial para as descobertas da “ciência normal”

Paradigma define as características do universo investigado, quais questões são importantes e quais técnicas devem ser aplicadas para respondê-las

Mudanças de paradigmas são raras: cientistas desenvolvem trabalhos orientados pelo paradigma

Esforços para adequar o paradigma à natureza, tornando-o mais preciso e explicando fenômenos que desafiam o paradigma inclui o desenvolvimento de tecnologias de teste que auxiliem as explicações

Resultados pré-concebidos: cientista não é um explorador ou descobridor de novas teorias. Finalidade do trabalho não é chegar ao desconhecido, mas provar algo que já se conhece

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Thomas Kuhn: o papel da educação científicaManuais científicos: dificilmente apresentam problemas e soluções alternativas/ultrapassadas (no máximo, para passar uma visão “triunfalista” do desenvolvimento do campo cientítico tratado)

Treino em técnicas de resolução de problemas específicos, usando métodos específicos, com pouca ou nenhuma interferência do estudante

Educação científica baseia-se nos paradigmas aceitos (“ciência normal”): alta rigidez, conhecimentos específicos, longo tempo de formação (mais rígido que outros campos profissionais?)

Pouca variação nos livros-texto (apostilas, pré-requisitos): regras do paradigma, modelos exemplares de formulação/solução

Escolhas das comunidades científicas deixam para trás paradigmas ultrapassados, e tornam desnecessárias (e antiprodutivas) interpretações alternativas

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Thomas Kuhn: o papel da educação científicaEducação científica: transmitida entre as gerações de cientistas

Manuais escritos para estudantes (livros-texto)

Introdução ao campo (antes de um projeto de investigação)

Investigação mais independente: permitida quando o cientista conhece mais profundamente as regras do jogo

Dissertação de mestrado: revisão das teorias. Tese de doutorado: maior espaço para criação e a crítica (que deve ser cautelosa, pois será avaliada por especialistas do paradigma científico de que trata a tese)E o conhecimento interdisciplinar?

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ConclusõesParadigma adquirido com o treinamento científico fornece as regras do jogo: movimento das peças e objetivos. Tarefa do cientista é manipular suas ferramentas de acordo com as regras do paradigma.

Função do dogma: orientar a exploração de problemas complexos- onde procurar, como procurar e o que procurar.

Falha: revela falta de habilidade com as ferramentas. Fraude: revela má-fé do cientista.

Esforços repetidos conduzem a soluções dentro do paradigma ou sua reformulação: avanços da ciência.

Campos de alta complexidade (como o LHC): compromisso de toda a rede com um paradigma, solução conjunta de problemas.

Adequar a teoria, criar aparelhos de teste mais poderosos: objetivo de aprimorar a resolução dos quebra cabecas apresentados pelo paradigma.

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ConclusõesResolução dos problemas nos limites do paradigma é uma das formas de avanço da ciência (ajuste da teoria, criação de aparelhagem)

Foco em limites determinados permite o conhecimento de detalhes jamais visíveis sem a limitação de visão imposta pelo paradigma… e também de falhas do paradigma!

Clareamento dos paradigmas (pelo refinamento teórico ou experimental) auxilia a detecção de fenômenos não explicáveis pelo paradigma (anomalias)

Cientistas podem se deparar (raramente) com fenômenos inesperados e repetidos (fracasso da ciência normal), o que pode modificar as regras do jogo e gerar novos paradigmas: novos fundamentos teóricos, que ganham força quando algo corre mal na ciência normal (crise)

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Conclusões

"A verdade aparece mais facilmente do erro do que da confusão".

(Francis Bacon, 1561-1626, filósofo considerado o criador do método científico moderno- empírico, experimental e racional).

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Thomas Kuhn: os paradigmas científicosFenômenos nao adequados em muitos casos são explicados por hipóteses ad hoc (traduçao: para esta finalidade), que evitam seu falseamento e a substituição do paradigma

Exemplo da formulação de uma hipótese ad hoc:

1. Aplica-se um tratamento a uma população de doentes (um chá de ervas medicinais que na teoria possui princípios ativos terapêuticos).

2. Observa-se variação de resultados (sucesso ou não no tratamento).

3. Explica-se o sucesso ou insucesso do tratamento adicionando às hipóteses sobre o poder curador das ervas outras hipóteses: estado mental do paciente (confiança no tratamento), ou mesmo sobre características físicas particulares (como faixas de peso)

Hipóteses ad hoc são bastante utilizadas, mas seu uso abusivo é considerado má ciência

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Ciência e os cientistas: a visão do senso comum

Exemplo de legitimação de ideologias elitistas/racistas Cesare Lombroso (1876) e as características físicas que determinam uma maior propensão ao crime: uso da fotografia, exame de 25 mil detentos

Pressuposto de que o comportamento criminosoé uma patologia (criminologia positivista)

Conclusões: 1. ser humano não possui livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal, já que a escolha é biologicamente determinada

2. Existem subespécies humanas (!!!!!!!!) quesão mais propensas ao crime

Inversão das razões causais: grupos étnicos discriminados são os modelos dos criminosos “naturais” ... e as restrições no acesso a bens e justiça advindos da desigualdade social?

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Ciência e os cientistas: a visão do senso comum