ceset - conforto, eficiÊncia e seguranÇa no … ceset v1n12004.pdf · impacto do conforto...

48
CESET - CONFORTO, EFICIÊNCIA E SEGURANÇA NO TRABALHO. Volume 1, Número 1, Dezembro/2004. ISSN 1806-7889 CESET é uma revista anual que aborda as linhas de pesquisa Conforto Ambiental no Trabalho, Ergonomia Experimental e Gestão e Segurança no Trabalho. CESET é produzido pelo /PPGEP Corpo Editorial Editores Antonio Souto Coutinho Geraldo Maciel de Araújo Luiz Bueno da Silva Apoio de Biblioteca Rosângela Gonçalves da Silva Conselho Científico Antonio de Mello Villar Antonio Souto Coutinho Celso Luiz Pereira Rodrigues Esmeralda Paranhos dos Santos Francisco de Assis Gonçalves Francisco Soares Másculo José Felício da Silva Leonardo Bittencourt Luiz Bueno da Silva Maria Bernadete Fernandes Vieira de Melo Paulo José Adissi Wilma Maria Villarouco Santos CESET Caixa Postal 5045 João Pessoa, PB CEP 58051-970 Fax 83-2167549 e-mail: [email protected]

Upload: hoangkhue

Post on 07-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CESET - CONFORTO, EFICIÊNCIA E SEGURANÇA NO TRABALHO.

Volume 1, Número 1, Dezembro/2004. ISSN 1806-7889

CESET é uma revista anual que aborda as linhas de pesquisa Conforto Ambiental no Trabalho, Ergonomia Experimental e Gestão e Segurança no Trabalho. CESET é produzido pelo /PPGEP Corpo Editorial Editores Antonio Souto Coutinho Geraldo Maciel de Araújo Luiz Bueno da Silva Apoio de Biblioteca Rosângela Gonçalves da Silva Conselho Científico Antonio de Mello Villar Antonio Souto Coutinho Celso Luiz Pereira Rodrigues Esmeralda Paranhos dos Santos Francisco de Assis Gonçalves Francisco Soares Másculo José Felício da Silva Leonardo Bittencourt Luiz Bueno da Silva Maria Bernadete Fernandes Vieira de Melo Paulo José Adissi Wilma Maria Villarouco Santos CESET Caixa Postal 5045 João Pessoa, PB CEP 58051-970 Fax 83-2167549 e-mail: [email protected]

APRESENTAÇÃO

O CESET é um grupo de pesquisa sobre Conforto, Eficiência e Segurança no Trabalho, do qual, devido ao caráter multidisciplinar, fazem parte não somente pesquisadores do Departamento de Engenharia de Produção a que pertence, mas também engenheiros biomédicos e de outras modalidades, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, etc, da UFPB e de outras universidades, principalmente do Nordeste.

Essas pessoas interagem e produzem trabalhos que são apresentados no Encontro Anual do CESET e também em eventos nacionais e internacionais. Como a divulgação desses eventos é feita dos seus anais, impressos ou eletrônicos, verifica-se a tendência de o conhecimento gerado no CESET ficar encerrado dentro de suas fronteiras. Para evitar esse inconveniente, isto é, para fazer chegar a sua produção ao maior número de pessoas, resolve-se publicar, a cada final de ano, uma parte de artigos apresentados em congressos, encontros, simpósios, etc.

Neste número apresentamos trabalhos versando sobre os seguintes assuntos:

a) Condições térmicas num centro de terapia intensiva (CTI) e suas implicações na saúde dos profissionais;

b) Conforto ambiental em fábrica de lacticínios;

c) Postura no trabalho e dores na coluna;

d) Influência da velocidade relativa do ar no conforto térmico numa biblioteca universitária;

e) Influência da acústica na atividade docente;

f) Análise do posto de trabalho de um professor do terceiro grau: implicações ergonômicas e considerações a respeito da instrumentação.

Esperamos que essa publicação atinja o seu objetivo: difundir os conhecimentos adquiridos no CESET e receber sugestões dos leitores, num saudável processo de realimentação.

IMPACTO DO CONFORTO TÉRMICO NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO CTI DE UM HOSPITAL DE JOÃO PESSOA

Andréa Carla B. da Costa, Mestre Michelline Ribeiro Clemente, Mestre Antônio Souto Coutinho, Dr. Luiz Bueno da Silva, Dr. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - UFPB Caixa Postal, 5045, Cidade Universitária, Campus I, CEP: 58015-970, Telefax: (083) 216-7549, João Pessoa/PB

Palavras chaves: Conforto térmico, profissionais, centro de terapia intensiva Este artigo analisa as condições de conforto térmico num Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital de João Pessoa. Para tanto, utiliza os índices PMV (Voto Médio Predito) que determina a sensação térmica esperada pelos usuários, e o PPD (Percentual Predito of Insatisfeitos) que indica a percentagem provável de pessoas insatisfeitas com a referida sensação térmica. Além disso, apresenta um levantamento de queixas que caracterizam a "síndrome dos edifícios doentes".

Keywords: Thermal Comfort; Professional; Intensive Therapy Center

This paper analyzes the conditions of thermal comfort in an Intensive Therapy Center (ITC) of a João Pessoa’ hospital. For that, it uses the indexes PMV (Predicted Mean Vote) that determines the expected thermal sensation for the users, and PPD (Predicted Percentage Dissatisfied) that indicates the unsatisfied people's probable percentage with her thermal sensation. Besides, it presents a rising of claim that characterize the "syndrome of the sick buildings."

1. INTRODUÇÃO A partir do desenvolvimento de pesquisas em torno da Ergonomia, abordando principalmente a preocupação entre a adequação das tarefas e dos ambientes ao trabalhador, estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar o efeito do clima no posto de trabalho e no operador humano (SILVA, 2001). A grande variedade das atividades leva os trabalhadores a executarem suas tarefas sob as mais variadas temperaturas. Iida (1995) ressaltou que as condições ambientais desfavoráveis, como excesso de calor ou de frio, ruídos e vibrações causam desconforto, aumentam o risco de acidentes e podem provocar danos consideráveis à saúde. Segundo Wyon (1996), tanto a má qualidade do ambiente interno quanto às atividades exercidas fora da zona de conforto térmico ou os descontroles individuais, em certos postos de trabalho podem interferir na satisfação do trabalho. Se a qualidade do ar for pobre, em conjunto com o descontrole dos sistemas de som iluminação e de refrigeração no local de trabalho, tanto a fadiga como a cefaléia poderá se tornar um incômodo maior, ficando evidente que a produtividade será afetada por aspectos específicos da qualidade interna ambiental. Além desses incômodos há outras queixas por parte dos trabalhadores como ressecamento da pele, secura nos olhos e na garganta, prurido nos olhos, entre outros. Grande parte da população trabalhadora exerce sua atividade em ambientes fechados como escritórios, auditórios, salas de aulas, salas de cirurgia, cabines de aeronaves e navios. Em vista disso, passou-se a ver a climatização como um possível fator de satisfação e aumento de produtividade, pois o conforto térmico

é um estado fisiológico que dispensa atuação do sistema de termorregulação, livrando-o, portanto, de uma carga extra (SILVA et al, 2000). A climatização nos hospitais assume uma tarefa mais importante que não é apenas a de promover o conforto. Em muitos casos, o ar condicionado é um fator de terapia para o paciente; em diversas instâncias é o melhor tratamento. Evidências médicas mostram que de forma peculiar o ar condicionado está ajudando a prevenir e tratar de muitas condições patológicas (APICAÇÕES, 2002). Os hospitais possuem diversos setores, dentre estes o Centro de Terapia Intensiva (CTI), definido por Novaes (1999) como sendo o conjunto de elementos destinados ao atendimento de pacientes com risco iminente de morte com a possibilidade de recuperação, que requerem serviços de assistência médica e de enfermagem contínua. O mesmo autor enfatiza, ainda, que este setor pode ser considerado o nível mais complexo e avançado dentro da hierarquia dos serviços hospitalares, haja vista a diversidade dos tratamentos realizados, bem como suas particularidades e tempo de recuperação. Segundo a Federação Brasileira de Hospitais, para o conforto nesse ambiente a temperatura deverá ser estabelecida em 24ºC. Por outro lado, a Norma Regulamentadora n° 17 do Ministério do Trabalho estabelece que nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constante, a temperatura efetiva deve estar entre 20 e 23°C, a velocidade do ar não superior a 0,75 m/s e a umidade relativa do ar não inferior a 40% (MANUAIS, 2001). O CTI é um ambiente que se enquadra nessas características, devendo portanto garantir a seus trabalhadores e pacientes às condições de conforto térmico mencionadas. Nesse sentido, o presente trabalho propõe-se analisar as condições térmicas do CTI de um hospital de João Pessoa, com a finalidade de verificar se existe uma situação de conforto térmico para os profissionais que ali prestam atendimento, além de avaliar os impactos advindos da climatização sobre os profissionais deste ambiente. 2. TEMPERATURA E SAÚDE Os primeiros estudos relacionados aos parâmetros definidores da sensação de conforto térmico datam do século XIX. Heberden, em 1826, foi um dos primeiros cientistas que relacionaram a sensação de conforto a outros fatores, além da temperatura do ar. O primeiro estudo de alguma relevância, entretanto, é de Haldane e data de 1905 (KRUGER, 2002). O autor ainda afirma que nos anos sessenta, os irmãos Olgyay foram os primeiros a criar um procedimento sistemático que possibilitou a adaptação de uma edificação às necessidades humanas com relação às condições climáticas. Em 1970, Fanger realizou uma importante contribuição na área de investigação relacionada aos estudos fisiológicos da sensação de conforto térmico. O homem é um animal homeotérmico cujo organismo é mantido a uma temperatura interna sensivelmente constante em torno de 37ºC + 0,3ºC, independentemente da temperatura externa. O mecanismo utilizado para esta manutenção se faz por intermédio de seu aparelho termo-regulador, que comanda a redução ou o aumento das perdas de calor pelo organismo através de alguns mecanismos de controle. Segundo Coutinho (1998), relativamente às condições de conforto, quando o ambiente se torna quente, os ganhos se tornam maiores que as perdas, e a temperatura interna tende a se elevar acima do valor normal. Conseqüentemente, num primeiro momento o centro de termorregulação, após receber informações pelos sensores, induz a vasodilatação periférica, fazendo com que uma maior vazão de sangue chegue às

camadas subcutâneas para perder calor na pele por convecção. Quando a vasodilatação é insuficiente, o centro de termorregulação aciona, também, as glândulas sudoríparas, as quais produzem uma quantidade de suor proporcional à carga térmica. Nessa fase, denominada sudorese, o suor molha a pele, de onde evapora, aumentando as perdas de calor, tornando-as iguais aos ganhos, mantendo assim, a temperatura no valor normal. Segundo Laville apud Ambientes (2002), durante o trabalho físico no calor, constata-se, entre outros fatores, redução da capacidade muscular e do rendimento; alteração da atividade mental, apresentando perturbação de coordenação sensório-motora. Quando o ambiente está frio, as perdas de calor são superiores aos ganhos e a temperatura interna tende a ficar inferior ao valor normal. Contudo, ao receber informações através dos sensores térmicos, o organismo reage por meio de seus mecanismos automáticos e do sistema nervoso simpático, reduzindo as perdas e aumentando as combustões internas. O centro de termorregulação promove uma vasoconstrição periférica diminuindo a vazão de sangue assim como as perdas de calor para as camadas subcutâneas. Se mesmo assim a temperatura interna não voltar ao normal, o centro de termorregulação provoca o tiritar, ou tremores musculares, para que haja reações químicas mais intensas, com mais ganho de calor para o necessário aquecimento e normalização da temperatura (COUTINHO, 1998). Os danos á saúde, advindos do ambiente frio, podem ser diversos: o enregelamento dos membros devido à má circulação do sangue; ulcerações decorrentes da necrose dos tecidos expostos; redução das habilidades motoras como a destreza e a força, da capacidade de julgar e pensar; tremores; alucinações e inconsciência. Despres (2001), notou que a hipotermia leve se assemelha a um “leve retardo”, porque mesmo uma pequena queda na temperatura corporal pode afetar profundamente o cérebro. Quando a temperatura interna cai, as funções cerebrais se deterioram, a começar pela perda do pensamento abstrato até a redução do controle motor. Uma pessoa que sofre hipotermia leve apresenta confusão mental, falta energia de motivação, pode negar-se a socorrer alguém e parece ligeiramente embriagada ou desorientada. Esses danos apresentam uma relação direta entre o tempo de exposição e as condições de proteção corporal. Destacam-se, ainda, os cuidados necessários à prevenção dos choques térmicos (AMBIENTES, 2002). 3. CONFORTO TÉRMICO É um estado de espírito que reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Se o balanço de todas as trocas de calor a que está submetido o corpo humano for nulo e a temperatura da pele e suor estiverem dentro de certos limites, pode-se dizer que o homem sente conforto térmico (LAMBERTS et al, 1997). Segundo Fanger apud Xavier (1999), diversas variáveis influenciam o conforto térmico; dentre elas tem-se as variáveis físicas que são: temperatura do ar, temperatura média radiante, umidade do ar e velocidade relativa do ar. As variáveis pessoais são a atividade desempenhada pela pessoa (indicativa da quantidade de calor produzida pelo organismo, e apresentada sob a forma de taxa metabólica) e a vestimenta utilizada pela pessoa (indicativa da resistência térmica oferecida às trocas de calor entre o corpo e o ambiente, e apresentada sob a forma de isolamento térmico). Howell e Stramler apud Xavier (1999), relataram que além das variáveis acima citadas, existem variáveis psicológicas a serem levadas em consideração nos estudos de conforto térmico, tão ou mais significativas do que as padronizadas, a saber: temperatura percebida pela pessoa, sentimento próprio de se sentirem

mais aquecidas ou mais refrescadas do que outras pessoas, tolerância percebida ou tolerabilidade, ajustamento ou adaptação. O organismo humano experimenta sensação de conforto térmico quando, sem recorrer a nenhum mecanismo de termo-regulação, perde para o ambiente calor produzido pelo metabolismo compatível com sua atividade (FROTA e SCHIFFER, 1998). O conforto térmico está relacionado ao desejo que o homem tem de sentir-se bem. Várias pesquisas realizadas em laboratório e em campo têm sido desenvolvidas para verificar a relação entre o conforto térmico e o desempenho da pessoa (FANGER apud SILVA, 2001). Embora não tenham chegado a uma conclusão definitiva, elas mostraram a tendência de o desconforto proporcionado por ambientes quentes ou frios reduzir o referido desempenho (XAVIER, 1999). Atualmente, o recurso mais utilizado para promover condições térmicas e qualidade do ar aceitáveis para os seres humanos é a climatização, a qual faz uso do controle da temperatura ambiente, da ventilação, da umidade e da pureza do ar, buscando as condições climáticas ideais nas diversas atividades (ÁGUAS, 2001). Nos ambientes hospitalares, os sistemas de ar condicionado são utilizados com a função primordial de prover conforto. Estudos mostram que pacientes em ambientes controlados geralmente têm recuperação física mais rápida do que aqueles que estiveram em ambientes não controlados (APLICAÇÕES, 2002). Todavia, problemas relacionados com o desconforto e a saúde de ocupantes de certos edifícios têm surgido com uma freqüência maior, sendo objeto de preocupação por parte dos especialistas em saúde pública. Quando 20% dos ocupantes de um edifício apresenta sintomas persistentes, de menor ou de maior gravidade, tais como alergia, dor de cabeça, irritação nos olhos e das mucosas, dores de garganta, tonturas, náuseas e fadiga em geral, que desaparecem pouco tempo depois da saída do prédio, fica evidente que os sintomas estão relacionados com as condições ambientais no prédio. Esses problemas, então, se caracterizam pelo que se convencionou designar como “Síndrome do Prédio Doente” (SÍNDROME, 2002). A exposição anterior mostra a importância de se procurar saber se um ambiente é termicamente confortável ou desconfortável, se é insalubre ou não. A análise do conforto térmico pode ser realizada através de diversos métodos, que têm por base o balanço térmico da pessoa, aliados, em alguns casos, a aspectos subjetivos.Esses métodos têm aplicação específica, sendo regulamentados por normas internacionais. Entre essas normas destacam-se a ASHRAE 55/92, e a ISO 7730/94, que se destinam à avaliação de ambientes termicamente moderados. A primeira utiliza o índice “temperatura efetiva” e recomenda uma percentagem de satisfação mínima de 80% dos usuários. A segunda adota o índice “voto médio esperado” (PMV), que indica a sensação térmica esperada, conforme quadro 1, e o índice de “percentagem de pessoas insatisfeitas” (PPD), que indica a percentagem de insatisfação com a referida sensação, conforme figura 1, devendo ser no máximo 10%.

QUADRO 1: Escala de sensação térmica representativa do PMV. SENSAÇÃO PMV

Muito Frio -3 Frio -2

Levemente Frio -1 Confortável 0

Levemente Quente 1 Quente 2

Muito Quente 3 Fonte: Norma ISO 7730/94.

FIGURA 1: PPD como uma função do PMV

PMV

PPD

(%)

05

101520253035404550556065707580

-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0 0,5 1,0 1,5 2,0

Fonte: Norma ISO 7730/94.

4. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caso onde serão avaliadas as condições termoambientais dos profissionais de saúde do CTI de um hospital de João Pessoa. 4.1.Características ambientais Foram realizadas duas séries de medições: uma no turno da tarde das 15:30h às 16:30h, em 19/03/2002 e outra no turno da noite das 20:00h às 23:30h, em 02/04/2002. No total, foram efetuadas 33 medições (uma a cada meia hora). Durante a realização da pesquisa havia 14 funcionários trabalhando, dos quais 11 foram entrevistados. Utilizou-se um questionário para registrar as respectivas opiniões sobre sensação térmica, tipo de roupa utilizada e dados pessoais, conforme a Norma ISO 10551/1995 4.2. Determinação dos índices PMV e PPD Para determinação do PMV cumpriram-se as seguintes tarefas: (a) medição das temperaturas de bulbo seco, de bulbo úmido e de globo, além da velocidade do ar, durante os dias 19/03/2002 e 02/04/2002 em um ponto central do ambiente; (b) classificação da resistência das vestes e da energia metabólica por eles consumida, conforme tabelas constantes na literatura (FANGER apud SILVA, 2001) Os dados obtidos foram, então comparados com os constantes da Tabela E-2 da Norma ISO 7730/94, para encontrar os respectivos valores dos PMV. Com esses valores, obteve-se na figura 1 os correspondentes valores PPD.

5. RESULTADOS E TRATAMENTO DOS DADOS

5.1. Avaliação termoambiental As medições e observações efetuadas oferecem os seguintes resultados: a) Temperatura média de bulbo seco= 22,15 ± 0,07ºC; b) Temperatura média de bulbo úmido=18,65 ± 0,05ºC; c) Umidade relativa: 70%. d) Resistência térmica média das vestes = 0,43 clo (tabela Thermal Confort, INNOVA); e) Velocidade relativa do ar = ≤0,10 m/s. f) Temperatura radiante média = 22,35 ± 0,26 ºC h) Metabolismo (M): 70 W/m2 (Norma ISO 7730/94). A partir desses valores obteve-se os índices PMV= - 0,79 e PPD= 18%. 5.2. Sensação de conforto e aceitabilidade térmica Quando questionados sobre de que maneira se sentiram no momento, 63,63% referiram uma sensação confortável, porém ao responder como prefeririam estar se sentindo, 36,36% responderam que prefeririam estar mais aquecidos e, apenas 18,18%, preferiam estar mais refrescados. A maioria dos trabalhadores, 63,63%, trabalha mais de 24 horas por semana em ambientes climatizados. Com relação aos sintomas percebidos, 36,36% da amostra referem dor de cabeça, o mesmo percentual relata espirros e ressecamento na pele; 27,27% referem prurido nos olhos, 18,18% cianose nas articulações, entre outros (Figura 2). Quando questionados sobre a percepção de tais sintomas ao saírem do ambiente de trabalho, 72,72% referiram melhora do quadro sintomático e 27,27% não perceberam diferença.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Sintomas

Dor de cabeça

securalabio

espirros

cianose nasextremidadesreseca//na pele

prurido nosolhos

Fonte: Pesquisa direta FIGURA 2: Representação gráfica dos principais sintomas percebidos pelos profissionais do CTI.

6. CONCLUSÃO

Os resultados PMV= -0,79 e PPD= 18% caracterizam a sensação levemente fria. Essa situação se encontra fora da zona de conforto estabelecida pela Norma ISO 7730/94, a qual, como já foi dito, corresponde a - 0,5<PMV<+0,5, implicando um PPD= 10%. Assim, espera-se que em ambientes de CTI com características iguais às encontradas haja cerca de 18% de pessoa insatisfeitas termicamente. Os dados colhidos no questionário mostraram uma variação nas declarações dos trabalhadores com relação à sensação de conforto percebida. Tal variação pode ser atribuída à própria subjetividade do conceito de conforto térmico, assim como pode ser devido a fatores como: #Dificuldade de interpretação dos questionários por parte dos trabalhadores; #Variáveis subjetivas não detectadas. Além do desconforto térmico comprovado, foi verificada uma situação de risco com relação aos efeitos do ambiente climatizado sobre a saúde dos trabalhadores, pois 90,90% destes referiram alguma sintomatologia; 54,54%, mais de um sintoma. Com relação às condições termoambientais a que estão submetidos durante suas atividades, 72,72% melhoravam com a saída do ambiente, indicando possível incompatibilidade das condições climáticas do CTI para os trabalhadores. Os dados percentuais apresentados revelam características da “Síndrome do Edifício Doente”. Todavia, pela própria limitação do trabalho de estudo de caso, verifica-se a necessidade de maior aprofundamento nessa pesquisa, a qual será continuada em outros CTIs de hospitais de João Pessoa. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUÁS, M. P.N. Conforto térmico. Disponível em: http://www.in3.dme.ist.utl.pt/laboratories/PDF/EME_1.pdf . Acesso em 28 de mar. de 2002. ANI/ASHRAE 55. Thermal environmental conditions for huma occupancy. ISSN 1041-2336, Atlanta, GA 30329, 1992. AMBIENTES de trabalho. Disponível em: http://www.eps.ufsc.br/ergon/disciplinas/EPS5225/aula6.htm . Acesso em: 28 de fev. de 2002. APLICAÇÕES de ar condicionado na ajuda à saúde. Disponível em www.cabano.com.br/aplicacoes_medicas.htm. Acesso em: 28.de mar. de 2002. COUTINHO, A. S. Conforto e insalubridade térmica em ambientes de trabalho. João Pessoa: editora universitária/ edições PPGEP, 1998. DESPRES, R. Mantenha a saúde em qualquer clima. Barsa Planeta International LTDA. São Paulo, 2001. p.130-141. FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. São Paulo: Nobel, 1988. IIDA, I. Ergonomia-projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 1995. ISO 7730. Moderate Thermal Environments – Determination of the PMV and PPD índices and specification of the conditions for thermal comfort. International Organization for Standardization, Genebra, 1994. ISO 10551. Ergonomics of the thermal environment – assessment of the influence of the thermal environment using subjective judgement scales. International Organization for Standardization, Genebra, 1995. KRUGER, E. Conforto térmico. Disponível em: http://www.xadrezeduca.com.br/site/a4/artigos3.shtml Acesso em 17 mar. de2002.

LAMBERTS, R et al. Eficiência energética na arquitetura. São Paulo: PW, 1997. MANUAIS de Legislação Atlas. Segurança e medicina do trabalho. São Paulo: Atlas. 46 ed. 2001. NOVAES, H.M (Org.). Manual brasileiro de acreditação hospitalar. 2.ed. Brasília: Secretaria das Políticas de Saúde, Ministério da saúde, 1999. SILVA, L. B. Análise da relação entre produtividade e conforto térmico: o caso dos digitadores do Centro de Processamento de Dados da Caixa econômica Federal de Pernambuco. Florianópolis, 2001. Tese de doutorado. Departamento de Engenharia de Produção. Universidade de Santa Catarina. SILVA, L. B el al. Contribuição para validação de um modelo teórico de conforto termoambiental. Periódico do Programa de Pós-Graduação em engenharia de produção da Universidade Federal da Paraíba. Ano III, n 5 maio/2000. SÍNDROME do prédio doente. Disponível em: http://www.cabano.com.br/sindrome_do_predio_doente.htm. Acesso em 11 de fev. de 2002. WYON, D. Predicting the effects of individual control on productivity. White paper 960130, 1996. XAVIER, A.A.de P. Condições de conforto térmico para estudantes de 2º na região de Florianópolis. Florianópolis, 1999. Disponível em: http://www.labeee.ufsc.br/Arquivos/dissertacao_xavier.pdf Acesso em: 30 de mar. de.2002.

AVALIAÇÃO DO CONFORTO AMBIENTAL EVIDENCIANDO ASPECTOS ERGONÔMICOS NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE

QUEIJOS EM INDÚSTRIAS DE LATICÍNIO

Nívio Batista Santana Luciano Brito Rodrigues, M.Sc. Renata Cristina Ferreira Bonomo, M.Sc. Cristiane Martins Veloso, M.Sc. Laboratório de Engenharia de Processos / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / Campus de Itapetinga Pç. Primavera, 40 – Primavera – Itapetinga – Bahia – Cep: 45700-000 [email protected] Luiz Bueno Silva, Dr. Departamento de Engenharia de Produção / Universidade Federal da Paraíba Campus I – João Pessoa – Paraíba

Este trabalho analisou as condições dos ambientes de trabalho em duas indústrias de laticínios de pequeno porte da região do Sudoeste do estado da Bahia. O estudo considerou a análise de variáveis ambientais e da organização do trabalho do processo de produção de queijos, com observações in loco e utilização de instrumentos para medição das variáveis acústica, lumínica e térmica. Fez-se assim, a apreciação ergonômica do processo de produção, visando ter elementos para proposição de sugestões para os problemas identificados, objetivando assim a melhoria das atividades desenvolvidas nestas indústrias.

Palavras-chave: Ergonomia, Indústria de laticínios, Conforto ambiental. .

The present work consists of an analysis of work conditions aspects in small dairy industries from southwest region fo Bahia state. The study considered the analysis of environmental variables and the organization of the work in the process of cheeses production. The analisys was made by means of observations in loco and use of measurement instruments. The ergonomic appreciation of cheese production process, was made seeking for elements to propose suggestions for the identified problems, objectifying the improvement of activities developed in this industries.

Keywords: Ergonomics, Dairy industries, Enviromental confort

1. INTRODUÇÃO As indústrias agroalimentares ocupam uma posição de destaque na economia do Brasil. Em 1995, estas indústrias compunham um parque industrial com cerca de 38 mil estabelecimentos, ocupando o primeiro lugar em número de fábricas e em geração de empregos na indústria de transformação, seguida pelas indústrias de vestuário, mecânica e metalúrgica. Os negócios transacionados no sistema agroalimentar brasileiro chegaram na década de 90 a 40% do PIB (SCRAMIM e BATALHA, 1999). No estado da Bahia, mais precisamente na Região Sudoeste, é grande o número de empresas agroalimentares, as quais podem ser encontradas desde grandes até pequenas indústrias familiares. Um setor que tem se destacado é o das indústrias de laticínios as quais estão presentes nos municípios de Itororó, Iguaí, Macarani, Vitória da Conquista, Itapetinga, Ibicuí, Nova Canaã e Itarantim, cujos produtos são comercializados em níveis municipal e estadual. Essa participação no competitivo mercado é função da qualidade do produto, conseguida devido aos cuidados com a segurança do alimento, que são estabelecidas pelas normas de higiene e boas práticas de fabricação - BPF. Boas Práticas de Fabricação são procedimentos e processos que visam garantir a segurança no processamento de alimentos, resultando em um produto seguro para o consumidor e de qualidade uniforme (VIALTA el al, 2002). As Boas Práticas de Fabricação são consideradas elementos essenciais e primordiais para implantação do programa APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle. O APPCC é uma ferramenta de qualidade que visa a harmonização dos procedimentos de cada uma das etapas envolvidas no processo de

produção alimentos (RODRIGUES et al, 2001). Estes excessivos cuidados dispensados à qualidade dos produtos por meio de ferramentas e procedimentos não são, por outro lado, observados em relação às condições de conforto e segurança dos trabalhadores destas indústrias. Este trabalho buscou analisar as condições dos ambientes de trabalho em indústrias de laticínios da região Sudoeste da Bahia. O estudo considerou a análise de variáveis ambientais e da organização do trabalho do processo de produção de queijos, com observações in loco e utilização de instrumentos de medição das variáveis observadas. Fez-se assim, a apreciação ergonômica do processo de produção, visando ter elementos para proposição de sugestões preliminares de melhorias as atividades desenvolvidas nas empresas deste setor. 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Um elemento que diferencia o setor de produção de alimentos de outros é o fato deste trabalhar com produtos que exigem tecnologias bastante específicas, uma vez que o alimento tem vida útil de curta duração, além de estar também sujeito aos imprevistos climáticos, da produção ao processamento, dependendo diretamente de controles de qualidade cada vez mais rigorosos (PROENÇA apud SANTANA, 1997). A vulnerabilidade do alimento à contaminação microbiana, torna-o extremamente suscetível a alterações nutricionais, sensoriais e microbiológicas, exigindo armazenagem e manipulação cuidadosas e adequadas. A pressão temporal da produção, uma característica específica do setor, é outro fator que torna o tempo de produção limitado e com pouca flexibilidade, devendo ser rigorosamente cumprido. Como se vê, os trabalhadores das indústrias deste setor ficam sujeitos a atividades que demandam cuidados acentuados em relação ao controle dos produtos, o que pode acarretar-lhes desgastes emocionais, físicos e psicológicos. Estes fatores podem influenciar diretamente no ritmo da produção, seja pela existência de doenças ocupacionais ou ainda, pela ocorrência de acidentes. Em vista disso, passou-se a ver as condições de conforto dos ambientes de trabalho de indústrias produtoras de alimentos como fatores que podem contribuir para a redução do desgaste físico e emocional dos trabalhadores e conseqüentemente, redução dos índices de acidentes de trabalho neste setor que é o segundo em número de acidentes nos últimos anos (ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, 2003). Muitas são as variáveis que podem estar presentes num ambiente de trabalho. Ao conforto ambiental, por exemplo, estão associadas as seguintes: ruído, iluminação, temperatura, umidade, pureza e velocidade do ar, radiação, esforço físico, tipo de vestimenta, entre outras. Cada uma delas representa uma parcela importante no bem-estar dos trabalhadores e na qualidade dos serviços. Os problemas de saúde, muitas vezes estão correlacionados a uma ou mais dessas variáveis de conforto, como podem, também, estar interligados a mudanças de ordem individual, social e técnica (SILVA et al, 2002). Por estas razões, torna-se relevante realizar avaliações ergonômicas em postos de trabalho de indústrias produtoras de alimentos. 3. O OBJETO DE ESTUDO O presente trabalho investigou as condições de conforto ambiental em indústrias de laticínios da região Sudoeste do Estado da Bahia. Estas indústrias são locais destinados ao beneficiamento de leite e produção de seus derivados. Elas são de grande contribuição para a economia da região, pois estão presentes em diversos municípios, gerando empregos e diversificando a economia. Foram investigadas duas indústrias de laticínios de um município da região Sudoeste da Bahia, as quais foram escolhidas devido às semelhanças existentes entre elas tais como: os tipos de produtos, o volume de produção e ainda por

possuírem a certificação do Serviço de Inspeção Estadual – SIE. Esta certificação, fornecida por um órgão do governo estadual, atesta a qualidade dos produtos, permitindo sua entrada no mercado estadual. Ambas são indústrias de pequeno porte, instaladas em área própria em galpões com cerca de 100 m², onde trabalham em média cinco funcionários por turno. A produção ocorre de segunda a domingo, incluindo feriados, com uma folga semanal para os trabalhadores. Em épocas de grande produção leiteira, o trabalho é bem acentuado, tendo uma queda proporcional quando a oferta de leite é reduzida. Seus produtos são basicamente manteiga e queijos diversos. 4. METODOLOGIA A parte inicial do estudo constituiu na apresentação da proposta de trabalho aos proprietários das indústrias, os quais permitiram o acesso às respectivas instalações. Em seguida foram realizadas visitas em cada um dos locais para exploração e observação dos ambientes de trabalho, sendo também realizadas entrevistas com os funcionários e aplicado um questionário com os proprietários. Este questionário serviu para caracterizar a empresa, buscando saber informações sobre o tempo de funcionamento, número de funcionários e turnos de trabalho, por exemplo. Concluída a etapa de caracterização, foi realizada a identificação dos problemas existentes em cada indústria, como medição das variáveis ambientais ruído, iluminância e temperatura, as quais, segundo SANTOS e FIALHO (1997), são susceptíveis de provocar exigências físicas, sensoriais e mentais nos trabalhadores. As medições foram realizadas nos períodos mais críticos da produção, quando os principais equipamentos estavam em pleno funcionamento. A etapa de identificação de problemas foi precedida de uma análise geral do processo produtivo existente em cada indústria. Esta etapa buscou caracterizar a produção, de modo a facilitar a posterior análise do ambiente. O estudo considerou a produção de queijos, por ser esta a que envolve maior número de procedimentos e equipamentos nestas indústrias. 5. O PROCESSO PRODUTIVO A primeira parte da produção corresponde a recepção do leite, o qual chega tanto em caminhões isotérmicos como em latões. O leite é descarregado em um coletor externo ligado a um tanque de recepção dentro da planta de processamento. Parte deste leite (30%), é encaminhado a uma desnatadeira para padronização do leite, de onde é obtida a gordura para produção de produção de manteiga. O leite desnatado é misturado ao restante, sendo então utilizado no preparo da massa para queijos, onde o leite é aquecido em um tanque de camisa dupla com agitação constante. Após a adição dos ingredientes (cloreto de cálcio, fermento e coalho) para formação do coágulo, a coalhada é cortada lentamente com o auxílio de liras (horizontal e vertical). Com o auxílio de um grafo apropriado, a massa é mexida, em um movimento que é iniciado lentamente, sendo acelerado aos poucos até completar 20 minutos. Após este período, deixa-se a massa decantar no tanque por alguns minutos onde se retira parte do soro de leite desprendido (30%). Em seguida a massa é mexida de forma um pouco mais vigorosa a fim de ser revirada por completo. A massa é compactada e cortada em blocos, os quais posteriormente são conduzidos para a filagem. Nesta operação, a massa é aquecida em água quente (em torno de 100°) e revirada mais rapidamente para facilitar seu cozimento e desprendimento do soro. Em seguida, a massa é cortada e distribuída em fôrmas de acordo com o tipo e peso do produto final. Depois os queijos são prensados para retirada final do soro e conduzidos a salmoura, cuja operação ocorre na câmara fria com temperatura em torno de 10°C a 12°C, por um período de 8 a 48 horas, dependendo do produto final. Terminada a salmoura, ocorre a secagem dos queijos, os quais são conduzidos ao setor de embalagem, a qual é realizada em equipamento à vácuo.

6. DIAGNÓSTICO DAS AVALIAÇÕES O estudo do processo de produção de queijos permitiu o levantamento dos problemas existentes em relação ao ambiente de trabalho, os quais foram confrontados com os parâmetros legais e teóricos mais utilizados. 6.1 Problemas Posturais O principal problema encontrado nas duas indústrias de laticínios está relacionado com as posturas exigidas durante o processo produtivo. Todo trabalho é realizado em pé durante a jornada, exigindo ainda em algumas etapas, inclinações do tronco e movimentos moderados dos braços. No preparo da massa, os funcionários precisam agitar constantemente o leite utilizando um utensílio para este fim. Esta tarefa é executada em pé, com o corpo inclinado cerca de 30°, por cerca de 20 minutos, o qual pode aumentar de acordo com o tipo de queijo a ser preparado. Quando a massa é compactada e cortada em blocos, os funcionários precisam inclinar-se para manusear a massa, o que é feito por um longo período, exigindo ainda inclinações severas de tronco, tanto para a execução do movimento, como para a retirada da massa do fundo do tanque, com realização de levantamento manual de carga. No processo de embalagem dos produtos o funcionário responsável fica em pé realizando movimentos moderados com os braços e transporte manual de cargas. Primeiramente ele transporta uma certa quantidade de produtos (aproximadamente 10 kg) da câmara fria para o local de embalagem. Depois, prepara o produto para receber uma embalagem primária em uma máquina à vácuo e, após ter embalado todo o lote, realiza o transporte deste de volta à câmara fria. IIDA (1990), afirma que a posição parada, em pé, é altamente fatigante porque exige da musculatura muito trabalho para manter esta posição. O trabalho em pé atinge diretamente os membros inferiores os quais suportam de 33 a 40% do peso do corpo humano, podendo causar dores e varizes. A norma regulamentadora 17, NR 17 – Ergonomia (BRASIL, 1990), estabelece que para as atividades em que os trabalhos sejam realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas. As inclinações de tronco, em função da intensidade dos movimentos podem contribuir para o surgimento de distúrbios na coluna vertebral, sendo a dor lombar considerada a principal causa de absenteísmo ocupacional (KSAM, 2003). Uma inclinação de 30° do tronco para frente pode aumentar em mais de 70% a carga atuante entre os discos intervertebrais (PERES et al, 2001). Uma boa postura é aquela em que o trabalhador pode modificá-la como quiser, o ideal é que ele possa adotar uma postura livre (BRASIL, 2001). Em meio às dificuldades dos trabalhadores poderem executar suas atividades na postura que bem desejarem, ao menos deve lhes ser permitido a alternância entre as posturas em pé e sentado. Esta situação pode ser perfeitamente aplicada na maioria das atividades desempenhadas pelos funcionários das indústrias de laticínios estudadas. 6.2 Conforto Acústico Fisicamente falando, o ruído é um som de grande complexidade, resultante da superposição desarmônica de sons provenientes de várias fontes (FERNANDES 1999). O ruído pode ser também considerado uma mistura complexa de diversas vibrações ou ainda um estímulo auditivo que não contém informações úteis para o homem (IIDA, 1990). Os ruídos se forem significativos, interferem nas tarefas mentais complexas, mas podem atenuar os efeitos da monotonia em tarefas simples. A presença de ruídos no ambiente de trabalho pode provocar danos ao aparelho auditivo e até mesmo a surdez (LAVILLE apud TOMAZ et al, 2000).

O nível de ruído é um parâmetro de grande relevância a ser analisado em indústrias de laticínios uma vez que nelas estão presentes diversas fontes causadoras deste distúrbio. O parâmetro utilizado para avaliação deste índice foi a NR 15 – Atividades e Operações Insalubres que estabelece os limites de exposição em função da jornada de trabalho (BRASIL, 1978). O ruído detectado foi do tipo contínuo, causado pelas máquinas utilizadas no processo. Os valores registrados durante a produção de queijos foram 82 dB na indústria A e 80 dB na indústria B, não excedendo assim o limite estabelecido pela NR 15 para jornadas de trabalho de 8 horas diárias, que é de 85 dB. O maior índice de ruído nas duas indústrias é devido a produção de manteiga realizada em uma desnatadeira, e que pode ocorrer simultaneamente a produção de queijos. Os valores registrados foram 83 dB e 87 dB, para as indústrias A e B, respectivamente. Apesar disso, o tempo de utilização da desnatadeira é de no máximo 2 horas por dia, estando assim dentro do limite estabelecido pela NR 15, o que não impede de causar grande desconforto aos trabalhadores. As medições foram tomadas na fonte do ruído, na altura do ouvido do trabalhador, com o uso de um decibelímetro digital MSL 1351C, da Minipa. Observou-se ainda que os trabalhadores das duas indústrias não utilizavam aparelhos de proteção auditiva. 6.3 Conforto Térmico Nas indústrias de alimentos, uma série de atividades profissionais submete os trabalhadores a ambientes que apresentam condições térmicas diferentes daquelas a que o organismo humano está habitualmente acostumado. Estes profissionais ficam expostos ao calor ou frio intensos, os quais podem comprometer seriamente a sua saúde. O homem que trabalha em ambientes de altas temperaturas sofre de fadiga, seu rendimento diminui, ocorrem erros de percepção e raciocínio e aparecem sérias perturbações psicológicas que podem conduzir a esgotamentos e prostrações (SAAD apud VIEIRA 1997). As baixas temperaturas, por sua vez, têm influência nas habilidades motoras. As mãos quando expostas ao frio, apresentam prejuízos do tato e da movimentação das articulações, tornando o trabalho mais lento e podendo aumentar os erros e acidentes (COUTO apud VIEIRA, 1997). Os limites de tolerância para exposição ao calor foram avaliados com base na NR 15, com a determinação do Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo – IBUTG. O conforto térmico em indústrias de laticínios deve ser avaliado, uma vez que nelas existem equipamentos que são grandes fontes de calor como caldeiras, cujo vapor produzido é indispensável em quase todos processos de beneficiamento do leite e produção de seus derivados. As medições foram realizadas nos períodos mais críticos da produção das indústrias, quando os principais equipamentos geradores de calor estão em pleno funcionamento, sendo considerado para o cálculo do IBUTG um ambiente interno sem carga solar. Durante as medições, as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores foram observadas para posterior determinação da taxa de metabolismo e a classificação do tipo de atividade, conforme o Quadro n° 3 da NR 15, anexo 3. O equipamento utilizado nas medições foi um termômetro de globo digital TGD 200 da Instrutherm. Os valores do IBUTG registrados foram 25,9°C e 29,1°C para as indústrias A e B, respectivamente. Com o acompanhamento das atividades desempenhadas pelos trabalhadores, determinou-se com base no Quadro n° 3, anexo 3, da NR 15, a taxa de metabolismo em função do tipo de atividade desempenhada. Assim, determinou-se que as atividades correspondem a um trabalho moderado realizado em pé, em máquina ou bancada, com alguma movimentação, cuja taxa de metabolismo correspondente é de 220 kcal/h. Depois foi determinado por meio do Quadro n° 1, anexo 3 da NR 15, as faixas de IBUTG que contêm este índice, o correspondente tipo de atividade e o regime de trabalho correspondente:

Na indústria de laticínio A: - Para atividade leve: trabalho contínuo; - Para atividade moderada: trabalho contínuo; - Para atividade pesada: 45 min de trabalho, 15 min de descanso. Na indústria de laticínio B: - Para atividade leve: trabalho contínuo; - Para atividade moderada: 30 min de trabalho, 30 min de descanso; - Para atividade pesada: 15 min de trabalho, 45 min de descanso. Deve-se destacar ainda, quanto ao conforto térmico, a utilização da câmara fria, que opera a 10°C, por todos os funcionários, os quais não utilizam vestimenta de proteção ao frio. Conforme a NR 15, no anexo 9, as atividades ou operações executadas no interior de câmaras frigoríficas, ou em locais que apresentem condições similares, que exponham os trabalhadores ao frio, sem a proteção adequada, serão consideradas insalubres em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. A mesma, no entanto, não apresenta limites de tolerância com o faz aos ambientes quentes. Deve-se buscar programar as atividades em câmaras frias, intercalando períodos de trabalho e de descanso, sendo recomendado para o caso das duas indústrias uma exposição máxima por seis horas e quarenta minutos, em quatro períodos de uma hora e quarenta minutos, alternados com repouso de vinte minutos. Os trabalhadores neste caso deverão estar adequadamente vestidos para exposição ao frio COUTINHO (1998). As atividades realizadas nas câmaras frias das duas indústrias ocorrem durante períodos curtos, basicamente nas etapas de salmoura e movimentação dos estoques de matérias-primas, produtos não embalados e produtos finais. Apesar disto, a exposição à variação de temperatura pode trazer danos à saúde dos trabalhadores, uma vez que o acesso à câmara dá-se pelo setor de produção que apresenta em alguns momentos temperaturas elevadas. 6.4 Conforto Lumínico O nível de iluminamento interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e também na musculatura que comanda os movimento dos olhos (IIDA, 1990). Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. A geral ou suplementar, deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. A Portaria nº 368, de 04 de setembro de 1997, que trata das Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores/Industrializadores de Alimentos, aborda critérios a serem observados no iluminamento destes locais. Esta legislação não estabelece valores que devam ser observados e recomenda apenas que as dependências deverão dispor de iluminação natural e/ou artificial que possibilitem a realização das tarefas e não comprometam a higiene dos alimentos (BRASIL, 1997). A referida portaria estabelece ainda que as fontes de luz artificial que estejam suspensas ou aplicadas e que se encontrem sobre a área de manipulação de alimentos, em qualquer das fases da produção, devem ser do tipo inoculo e estar protegidas contra rompimentos. Assim, a quantidade de luz necessária para execução de tarefas pode ser determinada conforme SANTOS e FIALHO (1997), que recomendam a utilização de normas técnicas aliadas às exigências das Normas Regulamentadoras. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho, conforme a NR 17, são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO. Esta norma estabelece valores de iluminância para indústrias alimentícias e para usinas de leite, não havendo, porém valores que possam ser diretamente atribuídos e relacionados a indústrias de laticínios. Desta forma, considerando-se os valores estipulados para iluminância por classe de tarefas visuais, a indústria de laticínios pode ser considerada da classe B, onde a iluminação geral para as áreas de trabalho estabelece os valores mínimo, médio e máximo de 500 lux, 700 lux e 1000 lux, respectivamente. Estes

valores são recomendados para tarefas com requisitos visuais normais e trabalhos médios em máquinas (ABNT, 1991). A norma ABNT estabelece que os valores recomendados não são rígidos quanto a iluminância, devendo ficar a cargo do projetista avançar ou não nos valores em função das condições do local/tarefa. Os manuais de APPCC indicam que os índices de iluminação para indústrias de alimentos devem obedecer aos seguintes valores (SENAI, 2000): - 540 lux nas áreas de inspeção; - 220 lux nas áreas de trabalho; - 110 lux nas outras áreas. Os níveis de iluminamento registrados no setor de produção das indústrias A e B foram 145 lux e 240 lux, respectivamente. As medições seguiram as recomendações prescritas na NR 17, utilizando um luxímetro digital MLM 1331 da Minipa. 7. CONCLUSÕES As avaliações realizadas permitiram determinar as condições de conforto dos ambientes de trabalho das duas indústrias de laticínios. Em ambas foi possível identificar problemas posturais enfrentados pelos funcionários na execução das mais variadas tarefas do processo de produção de queijos. Esta realidade deverá ser enfrentada buscando-se orientar os trabalhadores quanto a melhor postura a ser utilizada durante a execução das tarefas no intuito de eliminar os possíveis danos posturais decorrentes do uso biomecânico incorreto do corpo humano, principalmente no caso das atividades que exigem inclinações severas de tronco. Deve-se buscar, quando possível, permitir a alternância entre o trabalho em pé e sentado e ainda programar pausas para as atividades que exigem maior esforço físico, como por exemplo, no corte da massa para filagem. Os índices de ruído registrados estão abaixo dos limites estabelecidos pelo Ministério do Trabalho para a caracterização de um ambiente insalubre. Mesmo assim, foi possível perceber o incômodo sentido pelos funcionários quanto ao ruído existente, principalmente quando na utilização da desnatadeira que, mesmo não fazendo parte do processo de produção de queijos, está presente no ambiente de trabalho causando desconforto a todos. Seria recomendável o uso de protetores auriculares durante a jornada de trabalho, o que permitirá maior conforto aos trabalhadores dentro dos ambientes. Poder-se-ia pensar em se criar uma área própria para o desnate do leite, de modo que o ruído gerado possa ficar restrito a uma área destas indústrias. Duas considerações devem ser feitas em relação ao conforto térmico. A primeira é quanto ao acesso à câmara fria. Apesar do pouco tempo de permanência neste ambiente, é importante o uso de vestimenta adequada, pois evitará problemas decorrentes da exposição a variações de temperatura. A segunda é quanto à exposição às altas temperaturas. Os valores de IBUTG registrados, juntamente com as observações do tipo de atividade desempenhadas, permitem concluir que o ambiente de trabalho da indústria de laticínio A está de acordo com o estabelecido na NR 15. Na indústria B, por sua vez, as mesmas atividades são realizadas em condições térmicas que não oferecem conforto aos trabalhadores. Em meio às dificuldades de adequação à norma, que estabelece para estas condições 30 minutos de trabalho com 30 de descanso, recomenda-se que sejam tomadas medidas para adequação do ambiente de trabalho desta empresa, como aumento do pé direito, a troca das telhas e a utilização de janelas para favorecer a ventilação natural. Das variáveis ambientais analisadas, a lumínica é a única que é tratada em legislação específica para indústria de alimentos. Mesmo assim, a Portaria nº 368, de 04 de Setembro de 1997 não estabelece valores específicos que devam ser seguidos para esta variável. Para fins de atendimento à NR 15, deve-se

observar a NBR 5413 da ABNT. Mas as indicações dos manuais de APPCC, que são prioritariamente seguidos pelas indústrias de alimentos, recomendam valores menores do que aqueles explicitados na norma ABNT. As duas indústrias avaliadas apresentam valores de iluminância inferiores até aos exigidos pelo APPCC, no caso da indústria A, cujo valor registrado na área de produção foi de 145 lux. Deve-se, portanto, buscar elaborar um projeto para ambas indústrias visando a melhoria das condições de iluminamento de seus ambientes de produção. As mudanças nas instalações físicas recomendadas para melhoria do conforto térmico também contribuirão para o aumento da iluminação natural. Mesmo assim, deverá ser utilizada a iluminação artificial. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS O controle de qualidade em indústrias de alimentos é fundamental para a redução dos custos decorrentes de perdas e devoluções de produtos acabados. Historicamente tem se priorizado a busca da qualidade destes produtos, atendendo-se rigorosamente aos manuais de legislação de higiene e boas práticas de fabricação. A importância de se observar os cuidados com o conforto destes ambientes de trabalho tem que ganhar a mesma importância, tornando-se também uma prioridade na busca da qualidade dos produtos e bem estar dos trabalhadores. A ergonomia é, portanto, o elo de ligação entre o conforto e o desempenho do trabalhador nas suas atividades. Deve-se então, projetar ambientes de trabalho pensando não só nas suas condições ou adequações à legislação, mas também, na atividade a ser realizada, no tempo de permanência no posto de trabalho e, principalmente, nas características do trabalhador. Esses fatores se forem corretamente considerados, poderão garantir a segurança e a saúde do trabalhador com efeitos na maximização da qualidade dos serviços por ele realizados. AGRADECIMENTOS A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pelo financiamento da pesquisa e concessão de uma bolsa de Iniciação Científica. Ao Laboratório de Análise do Trabalho do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba, que proporcionou a utilização do equipamento para avaliação do conforto térmico. REFERÊNCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413: Iluminância de

interiores. Rio de Janeiro – RJ, 1991. ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO. MPF Publicações. Novo Hamburgo, RS, 2003. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego, Portaria n° 3.214 de 08 de junho de 1978, Norma

regulamentadora 15 – Atividades e operações insalubres. <www.mte.gov.br>, 1978. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento técnico sobre as

condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos elaboradores/industrializadores de alimentos. Portaria nº 368, de 04 de Setembro de 1997. <www.agricultura.gov.br>, 1997.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora 17 – Ergonomia. Portaria n° 3.751 de 23 Novembro de 1990. <www.mte.gov.br>, 1990.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Ergonomia – indicação de postura a ser adotada na concepção de postos de trabalho. Nota Técnica 060/2001. <www.mte.gov.br>, 2001. 6p.

COUTINHO, A.S., Conforto e insalubridade térmica em ambientes de trabalho. Editora Universitária/UFPB/PPGEP, João Pessoa, PB, 1998. 215p.

IIDA, I., Ergonomia – produção e projeto. Editora Edgard Blücher Ltda, São Paulo, 1990. 465p. FERNANDES, J.C., Acústica e ruídos. Apostila da Disciplina Acústica e Ruídos. Curso de

Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Faculdade de Engenharia, Unesp, Bauru, SP, 1999.

KSAM, J., Lombalgia: quebra de paradigmas. Revista CIPA, Edição nº 280 - Ano XXIV. São Paulo, SP, 2003.

PERES, C.C, BORGES, J.E.S., SILVEIRA, M.M, OLIVEIRA, P.A.B. e LIMA, V., A multiprofissionalidade e interinstitucionalidade necessárias em uma ação ergonômica complexa. Ministério do Trabalho. <http://www.mte.gov.br>, Acesso em Abril de 2004, [2001].7p.

RODRIGUES, R.S., SOUZA, M.L., LEITÃO, M.F.F., FURQUIM, M.F.G. e MAISTRO, L.C., Proposta de modelo de capacitação do sistema APPCC no processamento de queijo prato. Higiene Alimentar, v. 15, n. 83, p. 21-31, abr. 2001.

SANTANA, A.M.C., A abordagem ergonômica como proposta para melhoria do trabalho e produtividade em serviços de alimentação, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, <www.eps.ufsc.br/disserta97/santana>, 1997.

SANTOS, N. e FIALHO, F.A.P., Manual de análise ergonômica do trabalho. Gênesis Editora, 2ª Ed., 1997. 316p.

SCRAMIM, F.C.L. e BATALHA, M.O., Custeio baseado em atividades em laticínio de médio porte: desenvolvimento do modelo e apresentação de resultados. XIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, RJ. <www.gepai.dep.ufscar.br/gepai23.pdf>, 1999.

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Elementos de apoio para o sistema APPCC. 2ª Edição, Brasília, DF, 2000. 361p.

SILVA, L.B., COUTINHO, A.S., MÁSCULO, F.S., XAVIER, A.A.P. e FIALHO, F.A.P., Análise comparativa entre um modelo teórico e a sensação térmica declarada por trabalhadores em ambientes com VDT. II Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, João Pessoa, PB, 2002. 8p.

TOMAZ, A.F., RODRIGUES, C.L.P., MÁSCULO, F.S., Avaliação das condições ambientais e organização do trabalho do sub-setor de lanternagem de uma empresa de transporte urbano na cidade de João Pessoa. Revista Principia, N° 8, Ano 4, 2000.

VIALTA, A., MORENO, I. e VALLE, J.L.E., Boas práticas de fabricação, higienização e análise de perigos e pontos críticos de controle na indústria de laticínios: 1 – Requeijão. Revista Indústria de Laticínios, Edição 37. <www.revistalaticinios.com.br>, 2002. 8p.

VIERA, S.D.G., Estudo de caso: análise ergonômica do trabalho em uma empresa de fabricação de móveis tubulares. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, <http://www.eps.ufsc.br/disserta97/viera>. 1997.

ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE A POSTURA DE TRABALHO E A INCIDÊNCIA DE DORES NA COLUNA VERTEBRAL

Christiane Kelen Lucena da Costa (UFPB) [email protected] Ciro Franco de Medeiros Neto (UFPB) [email protected] Dimitri Taurino Guedes (UFPB) [email protected] Paula Magaly de Brito (UFPB) [email protected] Francisco Soares Másculo (UFPB) [email protected] Maria Cláudia Gatto Cardia (UFPB)

Resumo

A biomecânica ocupacional é o estudo da interação física dos trabalhadores com seus instrumentos, máquinas e materiais para aumentar a performance, enquanto minimiza os riscos de lesões músculo-esqueléticas. Nos postos de trabalho basicamente existem 3 posturas nas quais as pessoas comumente realizam suas atividades: sentado, em pé sem manuseio de cargas e em pé manuseando cargas. Estas, no entanto, podem apresentar-se como fatores de risco para as queixas de dores na coluna vertebral. Diante desta premissa, este estudo teve como objetivo avaliar a incidência de dores (algias) na coluna vertebral e a possível correlação existente com os aspectos laborais. Para isto, 13 profissões distintas foram estudadas, sendo: 4 executadas na posição sentada; 4 realizadas em postura estática em pé e sem manuseio de cargas; e 4 em posturas dinâmicas e com manuseio de cargas. Este artigo revelou que não se pode considerar apenas o tipo de postura para questionar a existência de nexo entre o tipo de trabalho e a dor de coluna, mostrando que a etiologia das dores da coluna vertebral é multifatorial, existindo diversos aspectos que podem contribuir para isto.

Palavras chave: Biomecânica Ocupacional; Posturas de trabalho; Dores na coluna.

1. Introdução

A etiologia das dores (algias) de coluna é multifatorial, oriundas de causas físicas, como fatores genéticos, traumas, posturas inadequadas, levantamento e transporte de cargas pesadas, tipo de trabalho muscular ou fatores degenerativos; ou desencadeadas por causas de origem psicossomática, como distúrbios de personalidade e estresse (CARDIA, 1999).

Segundo Chaffin e Andersson apud Salvendy (1997) a biomecânica ocupacional é o estudo da interação física dos trabalhadores com seus instrumentos, máquinas e materiais para aumentar a performance, enquanto minimiza os riscos de lesões músculo-esqueléticas. Para Iida (1997), a biomecânica ocupacional analisa basicamente a questão das posturas corporais no trabalho e aplicação de forças, as quais estão relacionadas ao tipo de trabalho muscular (estático ou dinâmico) e aos tipos de alavancas existentes no corpo humano na execução dos movimentos.

Os esforços dinâmicos estão relacionados a deslocamentos, transportes de cargas e à utilização de escadas. Já os esforços estáticos podem ser por sustentação de cargas pesadas ou por adoção de posturas incômodas e com restrição de movimento, podendo ocasionar lesões articulares e no disco intervertebral.

O mesmo autor ressalta a existência de uma questão sobre qual a postura ideal para o trabalhador em seu posto. No trabalho sentado, a maior parte dos músculos posturais estão relaxados, deixando o

trabalho estático apenas para a estabilização da cintura escapular. Do ponto de vista da atividade muscular, pode-se considerar a posição sentada como de baixo risco para algias da coluna, entretanto, as estruturas articulares, tornam-se expostas a maiores riscos de lesão.

Estudos de Nachenson apud Caillet (1979), Nordin e Frankel (1980), Knoplich (1986) e Grandjean (1996) demonstram que a posição sentada aumenta a pressão intradiscal, elevando o risco de hérnia no disco intervertebral. Segundo Marras (1997), cargas na coluna são sempre maiores na posição sentada do que na postura em pé, devido aos elementos posteriores da coluna vertebral que formam uma carga ativa quando em pé. No entanto, na posição sentada não há participação destes elementos de força antigravitacional, permitindo assim que os discos intervertebrais recebam uma carga maior.

Parnianpour et al (1997) afirma que a maioria dos casos de lombalgia sofrida pelos trabalhadores é atribuída à postura estática e posturas que requerem um trabalho pesado excessivo, que exigem muitos movimentos de flexão anterior do tronco ou velocidade de movimento.

No trabalho dinâmico é muito freqüente a adoção de movimentos de inclinação anterior e rotação do tronco. Porém, estas posições também podem ser vistas em trabalhos estáticos como na posição sentada.

Desta forma, pretende-se investigar se existe diferença entre a incidência de algias na coluna em indivíduos nas seguintes situações de trabalho: sentado, dinâmico com cargas pesadas e em pé com poucos movimentos.

2. METODOLOGIA

Para realização deste estudo foi investigada a incidência de algias na coluna em 13 profissões distintas, sendo: 4 executadas na posição sentada (cobrador de ônibus, motorista de táxi, manicure e operadores de computador); 4 realizadas em postura eminentemente estática em pé e sem manuseio de cargas (frentista de posto, churrasqueiro, operador de máquina copiadora e agente de trânsito); e 4 em posturas dinâmicas e com manuseio de cargas (auxiliar de pedreiro, enfermeiros, coletadores de lixo e pescadores). Coletaram-se ainda aspectos relativos à atividade laboral dos indivíduos (postura adotada, jornada de trabalho, tempo de profissão), a fim de tentar estabelecer algum nexo entre particularidades do trabalho e a presença de algias na coluna vertebral.

Foram entrevistados 170 trabalhadores, sendo 11 cobradores de ônibus, 13 motoristas de táxi, 17 manicures, 15 operadores de computador, 4 frentistas, 12 churrasqueiros, 11 operadores de máquina copiadora, 11 agentes de trânsito, 15 auxiliares de pedreiro, 12 enfermeiros, 10 coletadores de lixo e 15 pescadores. Todos os sujeitos pesquisados trabalham na cidade de João Pessoa / PB.

Os dados coletados foram categorizados em função da postura de trabalho (sentado, em pé sem carga e em pé com carga), tempo de trabalho (de menos de 1 até mais de 20 anos, com intervalos de 5 anos), presença e localização de dor na coluna (cervical, torácica, lombar e sacral).

Os dados foram analisados através do software Statistca for Windows, utilizando os testes de correlação não-paramétricos de Kendall Tau, Spearman e Gamma. O teste de Gamma foi preferencialmente utilizado devido aos dados apresentarem uma aparente ligação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As três categorias de trabalho analisadas nesse estudo apresentaram um índice considerável de algias na coluna vertebral. Desse modo, as pessoas que realizam trabalhos em postura em pé sem carga e de maneira estática referiram o maior índice (55,56%) de dores na coluna, seguidos por aqueles que trabalham sentados (53,49%). O menor índice (51,35%) foi encontrado em trabalhadores que utilizam posturas em pé com manuseio de cargas dinamicamente. A freqüência relativa acerca desses dados pode ser visualizada graficamente na figura 1.

50

51

52

53

54

55

56

Sentado Em pé sem carga e estaticamente Em pé com carga e dinamicamente

Freq

üênc

ia R

elat

iva

(%)

Fonte: Pesquisa direta.

Figura 1 – Freqüências relativas aos índices de presença de algias na coluna vertebral com relação às posturas adotadas no trabalho.

A análise realizada a partir dos dados coletados, demonstrou existir uma correlação entre a postura

adotada no trabalho e a presença de dor na coluna lombar, muito embora esta correlação não seja forte. Já nas demais variáveis constatadas na tabela 1, percebeu-se que houve uma fraca correlação inversa, o que permitiu observar o estabelecimento da não existência de nexo entre a jornada de trabalho e a presença e localização de dor na coluna.

Gamma Kendall tau Z P Spearman t P Jornada de Trabalho X Dor na Coluna -0,29 -0,19 -2,84 0,004 -0,21 -2,2 0,03

Jornada de Trabalho X Dor Cervical -0,48 -0,26 -3,95 0,0001 -0,29 -3,13 0,002

Jornada de Trabalho X Dor Lombar -0,3 -0,17 -2,57 0,01 -0,19 -1,99 0,05

Postura de Trabalho X Dor Lombar 0,33 0,17 2,68 0,007 0,18 1,93 0,05

Fonte: Pesquisa direta.

Tabela 1 – Correlações existentes entre o trabalho e a presença de dores na coluna vertebral.

De fato, a existência de uma correlação entre as posturas adotadas e a presença de dor na coluna lombar foi corroborada pelo índice de dores nesta região, que apresentou os maiores índices de incidência nas atividades em pé com carga (37,84%) ou sem carga (29,62%) e perfazendo um total de 52,63% dos casos que referiram sentir dor. A posição sentada referiu um índice de 18,6% de dor na coluna lombar.

A incidência de dor na coluna cervical foi a segunda mais citada em todas as posturas pesquisadas, apresentando maior índice na posição sentada (27,9%). A postura em pé com carga apresentou 24,32% de incidência, seguida pela postura em pé sem carga com 18,51%.

As incidências de dores nas colunas torácica e sacral apresentaram menores índices, sendo respectivamente de 11,62% e 6,98% para a postura sentada; 7,4% e zero para a posição em pé sem carga; e 16,22% e 8,11% para os trabalhos realizados em pé com carga. Os índices citados podem ser observados graficamente na figura 2.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Sentado Em pé sem carga e estaticamente Em pé com carga e dinamicamente

Freq

üênc

ia R

elat

iva

(%)

Fonte: Pesquisa direta.

Figura 2 – Freqüências relativas das incidências de dores em regiões específicas da coluna vertebral com relação às posturas adotadas no trabalho (azul = cervical; vinho = torácica; amarelo = lombar; verde = sacral).

4. CONCLUSÃO

Esta pesquisa permitiu observar uma relação entre a postura de trabalho adotada e a presença de dores na coluna vertebral lombar, muito embora seja fraca. Desta forma, mostrou-se que não se pode considerar apenas o tipo de postura adotada para questionar a existência de nexo entre o tipo de trabalho e a dor na coluna vertebral. A literatura indica que a etiologia das dores da coluna vertebral é multifatorial, existindo diversos fatores que determinam seu surgimento.

Aspectos relacionados ao tempo de trabalho na profissão, como também à jornada diária de trabalho não justificaram a incidência de dores, em função da obtenção de uma correlação inversa e fraca.

No entanto, independentemente dos resultados obtidos postula-se a necessidade de trabalhos que não rigidifiquem os trabalhadores, ou seja, trabalhos que permitam a mudança de posições durante a jornada de trabalho, com o acréscimo de pausas que permitam ao corpo não se desgastar em demasia (Vidal, 2002).

Para tanto, deve-se projetar postos de trabalho que sejam adaptáveis às variações antropométricas dos trabalhadores, além de evitar-se o transporte de cargas muito pesadas e por longos percursos.

5. REFERÊNCIAS

CARDIA, M.C.G. Implantação e Avaliação de um Programa de Treinamento Postural: O caso das telefonistas da TELPA, João Pessoa: Departamento de Engenharia de Produção / C.T. / UFPB, 1999. 170p. (Dissertação, Mestrado em Engenharia de Produção).

CAILLET, R. Síndromes dolorosas: Lombalgias. São Paulo: Manole, 1979.

GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: Adaptando o homem ao trabalho, 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 1998.

IIDA, I. Ergonomia: Projeto e produção, 3 ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1997.

KNOPLICH, J. Enfermidades da coluna vertebral, 2 ed. São Paulo: Panamed, 1986.

MARRAS, W. Biomechanics of the human body. In: SALVENDY, Handbook of human factors and ergonomics, 2 ed. U.S.A.: John Wiley & Sons, 1997.

NORDIN, M.; FRANKEL, V.H.; Basic biomechanics of the Musculoskeletal system, 2 ed. Lea e Febiger, United States of America, 1980.

PARNIANPOUR,M; SPARTO,P.J.; CHEN,M.C. Validation of electrolytic-liquid Tilt sensors for human motion meansurement, Ohio State University, Columbus, 1997.

SALVENDY, G. Handbook of human factors and ergonomics, 2 ed. U.S.A.: John Wiley e Sons, 1997.

VIDAL, M.C.R. Ergonomia na Empresa: útil, prática e aplicada. 2 ed, Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2002.

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE RELATIVA DO AR NAS CONDIÇÕES DE CONFORTO TÉRMICO DE UM AMBIENTE DE TRABALHO

ANTONIO SOUTO COUTINHO JOÃO BATISTA GONÇALVES DA COSTA LUIZ BUENO DA SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

RESUMO

Este trabalho analisa, com base na norma ISO 7730-1986, a influência da ventilação no conforto

termoambiental. Para isto, durante o período diurno, foram realizadas medições das temperaturas de bulbo seco, de bulbo úmido e de globo, e umidade, para quatro valores de velocidade do ar, proporcionados por ventiladores de coluna, numa das dependências da Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba. O resultado dessas medições foi, então, aplicado ao modelo do balanço térmico do corpo humano, com a finalidade de se prever as prováveis sensação térmica e percentagem de insatisfação de trabalhadores, em ambientes e condições semelhantes. Os parâmetros obtidos são, então, mostrados sob a forma de gráficos e, devidamente analisados.

Palavras-Chave: Conforto térmico, ventilação, climatização

ABSTRACT

This work analyses, with base in the norm ISO 7730-1986, the influence of the ventilation in the thermal environmental comfort. During the day period, it was measured the temperatures of dry bulb, humid bulb, globe and humidity, for four values of the air speed, provided by column fans, inside the Central Library of the Paraíba Federal University. The results of those measurements was applied to the model of the thermal swinging of the human body, with the purpose of foreseeing the probable thermal sensation and percentage of workers' dissatisfaction, in similar environments and conditions. The obtained parameters are shown under the form of graphs and properly analysed. keyword: Thermal Comfort, Ventilation, Climatization 1. INTRODUÇÃO

Às custas de reações químicas entre oxigênio que inspira do ar e o alimento que ingere, o corpo humano, realiza trabalho externo e movimenta os órgãos internos, devendo manter a temperatura interna a 37°C. Além do calor proveniente daquelas reações, a pessoa pode, ainda, ganhar trocar diretamente com o Sol, com o ar e com as superfícies vizinhas, dependendo da diferença de temperatura.

Para que a temperatura interna seja mantida é necessário que as entradas e saídas de energia sejam iguais, obedecendo ao seguinte balanço térmico, constituído de parcelas com dimensões de W/m2: M - T = Cres + Eres + C + E + R (1) sendo: M metabolismo, função do tipo de atividade desenvolvida; T, trabalho externo; Cres, e Eres, convecção e evaporação, respectivamente, através da respiração; C, R e E, convecção, radiação e evaporação, respectivamente, na superfície do corpo.

Esse balanço é controlado pelo sistema de termorregulação, que funciona como um sistema de realimentação, comparando a temperatura interna real com a temperatura interna “ideal” e fazendo as modificações necessárias. Assim, para certos valores das variáveis anteriormente mencionadas, o saldo pode ser nulo sem necessidade de qualquer atuação do sistema de termorregulação. Neste caso, tem-se o conforto térmico, definido como “um estado de espírito que reflete satisfação com as condições térmicas do ambiente em que a pessoa se encontra” (ASHRAE). Todavia, à medida em que aquelas variáveis se afastam das condições de conforto, maior é o esforço realizado pelo sistema de termorregulação para manter o equilíbrio térmico para a pessoa. Esse esforço se manifesta como desconforto térmico. Em nenhum lugar do planeta se encontra um clima que ofereça conforto térmico de modo natural por muito tempo. Mas, experiências têm demonstrado (COUTINHO) que a saúde e a produtividade são proporcionais a esse conforto. Para isso, é desejável, mas nem sempre possível, mudar uma ou mais variáveis. Por exemplo, às vezes é impossível adotar um diferente tipo de vestimenta, e raramente se consegue reduzir o esforço físico do trabalhador. Por outro lado, através dos sistemas de ar condicionado, torna-se relativamente fácil mudar as variáveis climáticas, como temperatura, umidade, velocidade ar, e pureza do ar, de acordo com as normas existentes. Em alguns casos, a falta de recursos financeiros impede a implantação de sistemas de ar condicionado, durante o verão. Nesses casos, se a temperatura do meio ambiente for inferior à da pele, e o ar não estiver próximo da saturação, a solução geralmente adotada, é a aplicação de sistemas de ventilação. Os processos de convecção e evaporação na pele são representados, respectivamente, pelas equações (NORMA ISO)

C = hc Fcs (35 – ta) (2) e E = 16,7 w hc Fcl (5,624 – pa) (3) sendo: ta, a temperatura do ar; pa, a pressão parcial de vapor d’água do ar; Fcs, um fator de redução de troca de calor; w, a fração da superfície do corpo molhada de suor; e hc, coeficiente de convecção. Quando o ar está parado, isto é, no caso de convecção natural, esse coeficiente varia apenas com a temperatura do ar, conforme a equação hc = 2,3835 - ta0,25 (4) Quando há convecção forçada, tem-se: a) para Var < 1 m/s: hc = 3,5 + 5,2 Var (5) b) para Var > 1 m/s: hc =8,7 Var

(6)

onde Var é a velocidade relativa do ar, resultante da velocidade V do ar e da velocidade do corpo ou de seus membros, em relação ao solo, definida pela equação Var = V + 0,0052(M – 58) (7)

2. METODOLOGIA

Considerando a dependência do conforto térmico em função unicamente da velocidade, quando as demais variáveis permanecem constantes, escolheu-se a Seção de Coleções Especiais da Biblioteca Central da UFPB-Campus I, em João Pessoa (PB), para analisar os diversos níveis de conforto térmico proporcionados por ventiladores de coluna. Esse ambiente ocupa uma parte do pavimento térreo, tendo suas paredes externas sempre sombreadas, razão por que ofereciam radiação desprezível no interior. Ali, geralmente, as pessoas usam calça e camisa ou blusa leves, meias e calçado, vestimentas que têm resistência térmica aproximadamente igual a 0,4 clo (0,062 m2 °C/W) e fatores de redução de calor sensível e latente iguais, respectivamente, a 0,66 e 0,74.

No exato local em que fica o funcionário, e à altura do tórax, foram instalados os seguintes

instrumentos: a) termômetro de globo, com coluna de mercúrio, escala de 0 a 150°C e precisão de 0,2 °C; b) termômetro de coluna de mercúrio, escala de 0 a 50°C, com precisão de 0,1 °C; c) anemômetro rotativo, com precisão de 0,1 m/s.

Os ventiladores foram regulados nas posições: desligado, mínimo, médio e máximo,

correspondendo às velocidades do ar de 0, 0,8, 1,5 e 2,2 m/s, respectivamente, no local do funcionário. Esses ventiladores foram travados, para manterem o fluxo de ar constante. Conforme FANGER (1970), a sensação de conforto não varia com a velocidade, entre os valores de 0 e 0,10 m/s.

A temperatura de globo e a velocidade do ar foram utilizadas para calcular a temperatura radiante média, de acordo com a norma ISO NF 7226:1986. Por outro lado, as medidas do psicrômetro permitiram encontrar a umidade relativa e a temperatura de orvalho, em carta psicrométrica, e a pressão parcial de vapor em tabela de propriedades da água contida em manual da ASHRAE.

As normas NF ISO 7730:1986 e 7933:1989(F) definem um índice de desconforto denominado PMV (Predicted Mean Vote) como a diferença entre a carga térmica do homem nas condições de conforto e nas condições de desconforto. Esse modelo, baseado no balanço térmico, é representado, analiticamente, por

(8)

)}(])273()273[(

1096,3)34(0014,0

)5867(107,1]15,58)[(

42,0])(99,65733[1005,3)){(028,0303,0(

44

8

5

3036,0

aclcclrcl

cla

a

a

M

tthfttx

fxtM

pMxTMx

pTMxxTMePMV

−−+−+

−−−

−−−−

−−−−−−+=

−−

Esta equação estima a sensação térmica, que uma pessoa pode ter num certo ambiente, representada pela escala: 3 = muito quente; 2 = quente; 1 = pouco quente; 0 = conforto; -1 = pouco frio; -2 = frio; e-3 = muito frio.

Por outro lado o índice PPD (Percentage Personal Dissifed), representado pela equação (9), estima a percentagem de pessoas insatisfeitas com as condições térmicas de um ambiente, considerando que o máximo de satisfação esperada deve ser 95%.

(9) PPD x e x PMV x PMV= − − +100 95 0 03353 0 21794( , , )2

Onde, Icl, é resistência térmica da vestimenta, em m2 °C/W; fcl, relação entre a área superficial do corpo vestido e sem vestes, adimensional; tr, temperatura radiante média, em °C; e tcl, temperatura da superfície das vestes, dada, em °C, pela equação

) S e n s a ç ã o t é r m i c a p r e v i s t a ( P M V ) , e m

f u n ç ã o d a v e l o c i d a d e d o a r e d a h o r a d o d i a

- 0 , 5

0

0 , 5

1

1 , 5

2

09:0

0

10:0

0

11:0

0

14:0

0

15:0

0

16:0

0

17:0

0

H o r a

Sens

ação

térm

ica

(PM

V)

P M V ( 2 , 2 ) P M V ( 1 , 5 ) P M V ( 0 , 8 ) P M V ( 0 , 1 0 )

Os valores obtidos, aplicados às equações (8) a (10), proporcionaram os índ

postos em tabelas e gráficos para serem devidamente a analisados.

3. RESULTADO

Os instrumentos utilizados forneceram os dados constantes da Tabela 1. As eqforneceram os valores apresentados nas tabelas 2 e 3.

HORA TEMPERATURA DE BULBO SECO (°C)

UMIDADE RELATIVA (%)

PRESSÃO PARCIAL (kPa)

09:10 10:00 11:00 14:00 15:00 16:00 16:40

28,8 28,7 29,5 29,8 29,8 29,8 29,6

85 87 78 74 73 72 72

3,3245 3,4449 3,2275 3,1325 3,0588 2,9852 3,0220

Tabela 1 – Temperatura de bulbo seco, umidade relativa e pressão parcial de vapor d’água,da hora do dia

HORA PMA (2,2 m/s)

PMV (1,5 m/s)

PMV (0,8 m/s)

PMV (0,10 m/s)

09:10 10:05 11:00 14:00 15:00 16:00 17:00

-0,2 -0,2 0,2 0,4 0,4 0,4 0,2

0 0

0,4 0,6 0,6 0,5 0,4

0,4 0,3 0,7 0,8 0,8 0,8 0,7

1,2 1,2 1,4 1,5 1,5 1,5 1,4

Tabela 2 – Índice de sensação térmica previsível, em função do tempo e da velocidade d

(10

ices PMV e PPD,

uações (8) a (10),

em função

o ar

HORA PPD (2,2 m/s)

PPD (1,5 m/s)

PPD (0,8 m/s)

PPD (0,10 m/s)

09:10 10:05 11:00 14:00 15:00 16:00 17:00

5,8 6,1 6,1 8,4 8,1 7,8 6,2

5,0 5,0 8,6 11,9 11,5 11,0 8,7

7,6 7,2 15,5 20,0 19,4 18,7 15,5

35,5 35,2 48,0 52,9 51,8 50,8 47,1

Tabela 3 – Índice de percentagem previsível de pessoas insatisfeitas, em função do tempo e da velocidade do ar

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

09:1

0

10:0

5

11:0

0

14:0

0

15:0

0

16:0

0

17:0

0Hora

Sen

saçã

o té

rmic

a (P

MV

)

2,2 m/s 1,5 m/s 0,8 m/s 0,10 m/s

Figura 1 – Sensação térmica em função da hora do dia

e da velocidade do ar

A figura 1 mostra as seguintes situações, resultantes do movimento do ar, no ambiente analisado: a) quando o ar está calmo (4), deve-se esperar que as pessoas tenham sensação acima de

“levemente quente” (1<PMV≤1,5) , durante toda a jornada de trabalho; b) à velocidade de 0,8 m/s (3), pode-se esperar sensação próxima do conforto (0<PMV<1), até às

10:30 horas, e mais amena que “levemente quente” (0,5<PMV<1), a partir dessa hora; c) a velocidade de 1,5 m/s (2) pode oferecer sensação de conforto (PMV=0), até às 10:00 horas

e, a partir daí, variando em torno da sensação “levemente quente” (PMV≅0,5); d) a velocidade de 2,2 m/s (1) pode proporcionar sensação “levemente frio”, próxima do

conforto (-0,1<PMV≤0), até às 10.30 horas; a partir desse momento, continua próxima do conforto, porém com sensação “levemente quente” (0<PMV<0,5).

Conforme a Figura 2, pela manhã, até cerca das 10:30 horas, qualquer das três velocidades: 0,8,

1,5 e 2,2 m/s pode satisfazer, termicamente, a um mínimo de 90% das pessoas, haja vista que o maior índice verificado no período foi PPD = 10. Essa situação é compatível com a normas internacionais mais exigentes, que adotam a percentagem de 90% como limite mínimo de satisfação. No mesmo período, o ar calmo pode agradar apenas a cerca de 65%, pois se verifica um valor PPD = 35.

No restante do período, as velocidades de 1,5 e 2,2 m/s, a cerca de 90%, considerando que o valor aproximado do índice foi 10. À de velocidade 0,8 m/s correspondeu um valor máximo de PPD=20,

satisfazendo à norma americana 55-1981, da ASHRAE, que recomenda um valor mínimo de 80% de pessoas satisfeitas. Com o ar calmo, entre as 11:00 e as 17:00 horas, o índice PPD se apresentou no entorno de 50, correspondendo a cerca de 50% de satisfação térmica.

0

10

20

30

40

50

60

09:1

0

10:0

5

11:0

0

14:0

0

15:0

0

16:0

0

17:0

0

Hora do dia

Per

cent

agem

de

pess

oas

insa

tisfe

itas

(PP

D)

2,2 m/s 1,5 m/s 0,8 m/s 0,1 m/s

4. CONCLUS

Os retemperaturas ventiladores, em atividadesventiladores dpessoas, ao in

Não o

alérgicas, nãoambiente, e aboca, nariz e g 5 BIBLIOGR

ASHRAE hanfor co

ASHRAE. NASSOCIATIO

therm

FIGURA 2 – Índices percentagem previsível depessoas insatisfeita (PPD), em função do tempo e da

ÕES

sultados encontrados, bem como a respectiva análise, mostram que, mesmo com tão altas quanto as encontradas no ambiente em estudo, é possível, usando apenas

proporcionar conforto térmico às pessoas vestidas com roupas de textura fina que trabalham leves, em fábricas, escritórios, escolas, etc, satisfazendo as normas pertinentes. Os de e teto são preferíveis aos de coluna porque asseguram velocidade constante do ar sobre as vés de movimento alternativo, que provoca sensações alternadas de quente e frio.

bstantes as vantagens oferecidas pela ventilação, algumas pessoas, principalmente as se sentem bem, devido à facilidade com que as partículas sólidas são transportadas no presentam certos sintomas como ardência e/ou coceira nos olhos, secura das mucosas da arganta, etc

AFIA

dbook of fundamentals. Atlanta: ASHRAE, 1985. 39.4p. Cap 8: Physiological principles mfort and health, p.8.1 – 8.32.

orma 55/64. Atlanta: ASHRAE, 1964. N FRANÇAISE DE NORMALISATION, Paris. NF-ISO 7726-1986; Ambiances

iques: appareils et méthodes de misure des grandeurs physiques. Paris, 1986. 38p.

ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALISATION, Paris. ISO-7730; Ambiences thermiques moderées: determination des indices PMV et PPD et spécification des conditions de confort thermique. Paris. 19 p.

NORME INTERNACIONALE, Géneve. ISO-7933-1983; Ambiances thermiques chaudes: determination analytique et interpretation de la contrainte thermique sur le calcul de la sudation requise. Géneve, 1989. 18p.

ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALISATION, Paris. ISO-7730; Ambiences thermiques moderées: determination des indices PMV et PPD et spécification des conditions de confort thermique. Paris. 19 p.

COUTO, Hundson de Araújo. O trabalho em ambientes de altas temperaturas. In: MENDES, René. Medicina do trabalho e doenças profissionais. São Paulo: Servier, 1980. p.379-413. 537p.

COUTINHO, Antonio Souto. Conforto e insalubridade térmica em ambientes de trabalho. João Pessoa: Edições PPGEP (no prelo) 1998. 260 p.

FANGER, P., Thermal comfort: analysis in environmental engineering. Kingsport: McGraw-Hill.1970. 244p.

A VOZ DO PROFESSOR: IMPLICAÇÕES NO DESEMPENHO E NA PRODUÇÃO Jaqueline Brito Vidal Batista, M.Sc. Departamento de Fundamentação da Educação DFE/CE/UFPB – [email protected] Antônio Souto Coutinho, Dr. Laboratório de Análise do Trabalho PPGEP/CT/UFPB – [email protected] Luiz Bueno da Silva, Dr. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção PPGEP/CT/UFPB – [email protected] Leonardo Wanderly Lopes Mestrando do Programa de Pós-graduação em Linguagem /UFPE – [email protected] Thalita Christina Brandão Pereira Bolsista do CNPq/UFPB – [email protected]

Resumo: Este estudo verifica as condições ambientais e as características do desempenho vocal de professores de nível superior, depois de ministrarem mais de quatro horas de aula seguidas. Foi possível observar que houve um certo desconforto térmico que predominou na maioria dos ambientes observados (um total de quatro). As características lumínicas se mostraram insuficientes e as de ruído não sofreram alterações significativas. Com relação à voz, detectou-se que no final da aula, todos os professores apresentaram uma diminuição na qualidade e na intensidade vocal, o que aponta para uma presença real de fadiga e uma diminuição no desempenho vocal de cada professor. Palavras-chave: Produção, Professor, Voz, Conforto ambiental. 1- Introdução: Um dos principais fenômenos observados nos dias atuais diz respeito aos problemas e dificuldades relacionados à voz do professor, principalmente ao professor de ensino superior que, muitas vezes, enfrenta jornadas extras de trabalho, ministrando aulas em cursos de finais de semana, onde são exigidas horas seguidas de atividade vocal. (Behlau, Dragone, Negano, 2004). Se não existe uma orientação correta no trato com a voz, o professor pode apresentar, a curto e longo prazo, uma série de sintomas (geralmente ligados ao mal uso e abuso vocal, demanda vocal excessiva, hábitos de higiene vocal prejudiciais) que interferirão diretamente, não só na sua produtividade – já que é através da voz que o professor produz – como também no seu relacionamento com os alunos, na sua postura profissional e, principalmente, na sua auto-estima como professor ( Darnley, 1996; Dragone, 2000). É importante destacar que, incluídos na prática vocal do professor, existem fatores que estão relacionados diretamente ao bom ou mau desempenho de sua produção vocal. Esses fatores têm uma ligação direta com o tipo específico e predominante de atividade que o professor desempenha (por exemplo, se suas aulas são predominantemente expositivas), com a quantidade de tempo em que ministra as aulas, com a vida social e familiar (se as relações demandam muito tempo de fala fora do ambiente de trabalho) e com as características físicas do ambiente (temperatura, iluminação, ruído, entre outras). Além disso, existem fatores relacionados diretamente à saúde do indivíduo (como por exemplo, o vício de fumar) que também vão interferir no desempenho vocal (Behlau, Dragone, Negano, 2004). Atualmente, qualidade e as condições da voz podem ser avaliadas através de programas de computador que fornecem, não só dados referentes ao desempenho vocal, mas também possíveis diagnósticos (Ferreira & Silva, 2002)

Levando em consideração todos os fatores citados acima, foi feito um levantamento junto a professores de Cursos de Pós-graduação que funcionam nos finais de semana, com o objetivo de verificar e medir as possíveis variáveis relacionadas ao desempenho vocal. A partir dos dados obtidos, se pode tecer reflexões no sentido de programar possíveis intervenções junto a prática desses professores, como também obter subsídios que justifiquem uma investigação mais profunda da questão. As variáveis verificadas nesse estudo estão relacionadas ao conforto ambiental do local em que o professor desenvolve suas atividades, ao tempo de atividade e às características da saúde de cada um. O conforto ambiental está diretamente associado às variáveis: temperatura, iluminação, ruído, umidade e velocidade do ar, metabolismo, tipo de vestimenta e radiação. As variáveis temperatura, umidade e velocidade do ar, metabolismo, tipo de vestimenta e radiação dizem respeito ao conforto térmico (Coutinho, 1998). Sabe-se que o nível de conforto térmico é proporcional ao esforço do sistema de termorregulação e que, durante a realização de uma atividade, esse conforto é função da temperatura da pele e da quantidade de suor evaporado (Fanger, 1972). No entanto, é importante enfatizar o fato de que existe um componente muito forte de subjetividade nessa variável, o que faz com que sejam utilizados índices específicos, nesse caso, o PMV (Predicted Mean Vote) e o PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied). Esses índices associam o balanço térmico com a opinião esperada das pessoas. O PMV se apresenta conforme a escala: -3 = Muito frio -2 = Frio -1 = Levemente frio 0 = Confortável 1 = Levemente quente 2 = Quente 3 = Muito quente A fórmula para calcular o PMV é a seguinte:

( ) ( )( )[ ]RCEEECTM0,028)(0,303ePMV confsdifresres0,036M +++++−−•+= − (4.10)

Esse índice permite estimar, a partir das variáveis envolvidas no balanço térmico, a opinião que a maioria das pessoas emitiria sobre a sensação térmica proporcionada por um ambiente.

Substituindo cada parcela da Equação acima pela respectiva forma explícita, obtem-se:

onde a temperatura das vestes, tv, é obtida por iteração, através da equação: onde a temperatura das vestes, tv, é obtida por iteração, através da equação:

PMV = (0,303 e-0,036 M + 0,028) {(M – T) – 3,05 x 10-3 x [5.733 – 6,99 (M -T) – Pv]

- 0,42 [(M – T) – 58,15] − 1,7 x 105 M (5.867 - Pv) – 0,0014 M (34 – t)

- 3,96 x 10-8 (Aext/ADu) x [(tv + 273)4 – (trm + 273)4] −

tv = 35,7–0,028(M-T)–Rv{3,96 x 10-8 (Aext/ADu)[(tv+273)4

–(trm+273)4]+ (Aext/ADu) hc (tv– t)} Para facilitar a aplicação dessas equações, a partir delas diversas tabelas foram geradas e apresentadas pela Norma ISO 7730/94, cada uma das quais se referindo a um tipo de atividade física M em ambiente com 50% de umidade relativa. Nelas, cada PMV é obtido em função da resistência térmica das vestes, da velocidade relativa do ar e da temperatura operativa (top). O PPD indica a percentagem de pessoas insatisfeitas com um determinado PMV. A Norma ISO (1995) recomenda um valor PPD menor ou igual a 10% para ambientes confortáveis. Com relação à iluminação, percebe-se que um bom sistema de iluminação pode tornar mais agradável à sala de aula, proporcionando conforto, pouca fadiga e pouca monotonia, podendo contribuir com a melhora do desempenho das pessoas presentes no ambiente(Pereira at al, 2003).

O ruído é algo que pode interferir diretamente nas atividades em sala de aula. De acordo com a norma NBR 10152/ABNT, o nível de ruído interno de uma sala deve variar entre 40 e 50 decibéis. A voz humana pode ficar em torno de 65, podendo chegar até 75 decibéis, em situações em que possa haver algum esforço. Algumas pesquisas relatam problemas apontados por professores nesse sentido: os professores sentiam-se incomodados em ministrar aulas em salas ruidosas; percebiam a interferência do ruído no entendimento de sua fala; notavam a dispersão da atenção dos alunos; e apresentavam problemas de voz, provocados pela necessidade de falar em alto volume (Bevilacqua et all, 1999). 2 - Metodologia: Utilizou-se uma amostra formada por quatro professores, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, de Cursos de Pós-graduação que funcionam em finais de semana, de uma faculdade particular da cidade de João Pessoa. Para realização da pesquisa, algumas variáveis foram controladas, sendo apresentadas em situação igualitária para todos os professores: - O tamanho da sala de aula; - A condição vocal de cada um (foram dadas orientações na véspera das medições para que cada professor evitasse procedimentos, como tomar bebida muito gelada, por exemplo, que pudessem interferir e/ou mascarar os resultados); - O tempo de serviço docente (mínimo de dez anos); - A quantidade de alunos em sala de aula (média de 52 alunos); - O horário das medições (início às 08:10h e término às 12:20h); - O fato de serem não-fumantes; - Realizar prática docente durante a semana em outra instituição de ensino superior( média de seis turnos); - O mesmo tempo de atividade em sala de aula entre as medições: quatro horas e vinte minutos. Foi solicitado que cada professor respondesse a um questionário com perguntas que investigavam aspectos físicos, vocais e gerais de saúde, como também questões relacionadas ao conforto térmico (especificamente à sensação térmica) e a atividade docente em sala de aula. Esse questionário foi utilizado com o objetivo de traçar um perfil com as características da amostra. Em seguida foram realizadas medições antes e depois das atividades de cada um: às 08:10h e 12:20h, respectivamente. As medições foram referentes a: - Voz: A avaliação da voz foi feita em uma sala silenciosa da instituição, através do programa de computador SpeechPitch versão 1.1, produzido pela Vizualization Softwares LLC. Foram utilizados um computador leptop da marca Compaq, modelo Presario 2100, e um microfone da marca Shure, modelo SM-58, tendo sido aplicado e avaliado por um fonoaudiólogo. Para realização do teste o microfone foi posicionado em um ângulo de 45º a 90º da boca do indivíduo, mantendo-se uma distância em torno de 5cm, como sugerido por Behlau (2001). - Condições ambientais: Foram obtidas através da medição dos aspectos térmicos, lumínicos e de ruído de cada sala de aula. Os dados referentes às condições térmicas foram obtidos através de um conjunto IBUTG digital, que fornece as temperaturas de globo, de bulbo seco e de bulbo úmido. Através dessas temperaturas, pode-se determinar a umidade relativa do ar (U), a temperatura radiante média (Trm), o metabolismo (M), o trabalho (W), a velocidade relativa do ar (Var), a pressão parcial de vapor d’água (Pv) e a resistência térmica das vestes (ICL).

A partir da aquisição dos dados acima, calculam-se os índices de sensação térmica previsível (PMV). Para a avaliação acústica, utilizou-se um decibelímetro apenas em um local determinado da sala de aula: o posto de trabalho do professor. O objetivo foi verificar se a voz do professor estava nos limites estabelecidos e se, conseqüentemente, ele estava falando mais ou menos alto do que o necessário. 3 - Resultados: a) Característica da amostra: - A amostra é formada por quatro pessoas: duas do sexo masculino, duas do sexo feminino. - Idade média: 54 anos. - Tempo em atividade (média): 27,5 anos. - Alunos em sala de aula (média): 52 alunos. - Tempo de aula (utilizando a voz): 04:30h. - Turnos de aula por semana (média): 6,5 turnos. b) Avaliação da voz: O resultado do desempenho vocal dos professores se deu de maneira semelhante. Não foi constatado, em termos de desempenho, nenhuma diferença entre os sexos, nem em relação à idade. No final da jornada de trabalho de quatro horas e meia, foi observado em todos os casos: - Diminuição na intensidade da voz. Este fator está relacionado diretamente à força e ao volume vocal. - Mudança na qualidade vocal. Foi constatado em todos os casos sinal de fadiga na voz. - Aumento do tempo máximo de fonação. No caso da prática avaliada ( a prática da fala do professor), essa característica indica um aumento no esforço para falar e uma não coordenação entre respiração e fonação, o que atinge diretamente a qualidade da voz. - Com relação a freqüência, não houve nenhuma alteração significativa. c) Avaliação do ambiente (sala de aula): 1 – Ruído:

Ruído do posto de trabalho do professor Início da aula Término da aulaAmbiente1 66 dcb 66 dcb Ambiente2 62 dcb 66 dcb Ambiente3 62 dcb 62 dcb Ambiente4 70 dcb 69 dcb

O ruído dos postos de trabalho, tanto no início quanto no final das atividades, ficaram entre 62 e 70 decibéis. Esse ruído está diretamente relacionado à fala do professor. Sabe-se que, de acordo com a norma NBR 10152/ABNT, a voz humana pode ficar em torno de 65, podendo chegar até 75 decibéis, em situações em que possa haver algum esforço, o que é o caso do professor em sala de aula. Vê-se, na situação avaliada que, tanto no início da aula, como no final, o ruído provocado pela fala do professor ficou dentro do limite apresentado pela norma. É possível deduzir que os professores não estavam fazendo nenhum esforço além do limite previsto.

2 – Iluminância:

Iluminância do posto de trabalho do professor Início da aula Término da aulaAmbiente1 20 lux 20 lux Ambiente2 69 lux 69 lux Ambiente3 69 lux 69 lux Ambiente4 20 lux 20 lux

A iluminância dos postos de trabalho ficaram entre 20 e 69 lux, índices muito baixos. É importante destacar o fato de que os professores utilizaram instrumentos audiovisuais em suas aulas (retroprojetor e datashow), o que tornava necessário que as lâmpadas da sala de aula fossem desligadas. Isso, de certa forma, justifica o fato da iluminância estar tão baixa na hora da medição. 3 – Conforto térmico: De acordo com as medições feitas, foram obtidos os seguintes dados:

Início da aula TBS TBU TG VAR U TRM M ICL

Ambiente 1 22,8 20,1 23,1 0,10m/s 50% 23,1 93 0,5 Ambiente 2 22,7 19,1 23,2 0,10m/s 70% 23,7 93 0,5 Ambiente 3 23,9 20,4 24,4 0,10m/s 70% 24,6 93 0,5 Ambiente 4 25,7 21,3 25,1 0,10m/s 65% 24,7 93 0,5

Término da aula TBS TBU TG VAR U TRM M ICL

Ambiente 1 26,3 23,6 26,2 0,10m/s 70% 26,1 93 0,5 Ambiente 2 25 20,1 26 0,10m/s 65% 26,5 93 0,5 Ambiente 3 24,4 20,6 26,2 0,10m/s 70% 27,2 93 0,5 Ambiente 4 27,4 23,5 26 0,10m/s 70% 25,17 93 0,5

É importante observar que a Velocidade Relativa do Ar (Var) foi de aproximadamente 0,10m/s devido ao fato de que se tratava de um ar parado.

Índice PMV Início da aula Término da aulaAmbiente1 0,43 1,03 Ambiente2 0,43 1,08 Ambiente3 0,68 1,03 Ambiente4 0,84 1,08

No início da aula, observa-se que nos ambientes 1 e 2 os índices obtidos apontam para condições de conforto com índice levemente superior a 10% de satisfação. Nos ambiente 3 e 4 o índice aponta para aproximadamente 20% de insatisfeitos. No término da aula, as condições de conforto mudaram. Os índices apontam para condições acima de “levemente quente”, correspondendo aproximadamente a 23% de pessoas insatisfeitas. Como os índices relativos ao término da aula correspondem ao período antes do pico da carga térmica, pode-se considerar a possibilidade de problemas no sistema de ar condicionado, pois o mesmo não está vencendo a carga térmica solar imposta ao ambiente.

4 – Conclusão A partir dos resultados obtidos, é possível afirmar que a voz do professor sofre alterações consideráveis depois de um período de atividade. Isso chama a atenção para a necessidade de uma maior investigação no que se refere ao que realmente contribui para a existência dessas alterações. Nesse trabalho, alguns aspectos verificados chamam a atenção. O principal deles é o alto índice de desconforto apontado pelos professores. Dentro dessa realidade, vale a pena se perguntar até que ponto as variáveis térmicas ambientais estão diretamente relacionadas ao desgaste sofrido pela voz ou se elas nada interferem. Um outro aspecto também considerável é o tempo de aula ministrado pelos professores. Será que o tempo falando é o que verdadeiramente determina o desgaste vocal? Esse mesmo tempo de aula em outras condições ambientais ou em pessoas melhor orientadas quanto ao uso adequado da voz terias o mesmo efeito? Essas questões nasceram do estudo descrito acima e serão utilizadas em uma melhor investigação posterior. Referências Bibliográficas BEHLAU, Mara, Voz – O livro do especialista Rio de Janeiro: Revinter, 2001. BEHLAU, Mara, DRAGOPNE,S.L., NAGANO,I. A Voz que Ensina. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. BEVILACQUA, Maria Cecília et all. Ruído em Escola. Bauru: HRAC-USP, 1999. COUTINHO,A.S. Conforto e Insalubridade Térmica em Ambiente de Trabalho. João Pessoa: Edições PPGEM, 1998. DARNLEY, L. The Teaching Voice. San Diego: Singular, 1996. DRAGONE, M.L. A Voz do Professor: interfaces e valor como instrumento de trabalho. Dissertação de Mestrado pela Universidade Estadual Paulista. Barueri: Pr’p-fono, 2000. FANGER, P.O. Thermal Confort-analysis and applications in environmental engineering. United States: McGraw-Hill Book Company, 1972. FERREIRA, L. P., SILVA, M. de A. A. Saúde Vocal. São Paulo: Roca, 2002. ISO 10551. Ergonomics of the thermal environment – assessment of the influence of the thermal environment using subjective judgement scales. Genebra: International Organization for Standardization, 1995. NBR 10152 (NB 95). Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro: ABNT, março de 1987. PEREIRA, Thalita C.B., BONATES, M.F., SILVA,A.C., SILVA,L.B., COUTINHO, A.S. Avaliação das Condições Termofísicas e Perceptivas em Ambientes Climatizados de Unidades Universitárias. Anais do XXIII ENEGEP, Ouro Preto, 2003.

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DE UM PROFESSOR DO TERCEIRO GRAU E CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA INSTRUMENTAÇÃO

Jaqueline Brito Vidal Batista (DE-UFPB) – [email protected] José Felício da Silva (DTM-UFPB) – [email protected] Antônio Souto Coutinho (DEP-UFPB) – [email protected] Luiz Bueno da Silva (DEP-UFPB) – [email protected] Resumo: Neste artigo são discutidos aspectos a respeito de medições feitas para uma avaliação ergonômica do posto de trabalho de um professor do terceiro grau. Essas discussões se fixam, basicamente, nos instrumentos utilizados nas medições obtidas para avaliação do ambiente, especificamente, o conforto térmico. Sugeriu-se outros possíveis instrumentos que poderiam ser usados, chamando a atenção para a importância da adequação, da calibração e da constatação da incerteza para cada instrumento nesse tipo de atividade. Palavras-Chave: Ergonomia, Conforto térmico, Instrumentação.

1. Introdução

Quando se fala de uma avaliação ergonômica do posto de trabalho, se está levando em conta uma série de características relacionadas diretamente ao trabalhador, à sua segurança e ao seu bem-estar. Tratando-se especificamente do posto de trabalho do professor, essas características estão atreladas à compatibilidade do processo educacional, à situação de ensino, aos métodos de avaliação, equipamentos e material didático, à infra-estrutura e ao ambiente, e aos aspectos organizacionais que influem no ensino. Para realização dessa avaliação é necessário fazer um levantamento constatando: a função principal do posto e as tarefas realizadas; se o espaço físico é suficiente para execução das tarefas; se o arranjo físico é compatível com as necessidades; a avaliação das posturas assumidas (em pé ou sentado); os aspectos sensoriais e motores na realização das tarefas executadas no posto; se as ferramentas, os equipamentos e o mobiliário são compatíveis com as finalidades e se são projetados de acordo com os princípios ergonômicos, adequados ao uso de forma confortável, eficiente e segura; as condições ambientais; como se encontra a organização do trabalho quanto às normas de produção, ao modo de operação, ao tempo exigido na execução da tarefa, ao ritmo de trabalho e à execução das tarefas (carga horária de trabalho diário, horas extras, trabalho noturno, pausas e locais para descanso); levantamento, transporte e descarga de materiais.

O trabalho trata, portanto, de uma avaliação realizada em um posto de trabalho de um professor do 3o. Grau, constando de metodologia e resultados, seguida de uma discussão sobre os instrumentos de medição utilizados na avaliação do conforto térmico desse ambiente.

2. Descrição do ambiente objeto de estudo Utilizou-se um ambiente de ensino (Sala de Eventos do Núcleo de Engenharia de Produção) onde são ministradas aulas de disciplinas do Programa de Pós-Graduação em Engelharia de Produção, da Universidade Federal da Paraíba. A sala mede 7x5 m2, com 2,6 m de pé direito. Nesse espaço são distribuídas 29 carteiras escolares, dois aparelhos de ar condicionado com capacidade de 12.000 btu/h cada, uma cadeira, uma mesa com retroprojetor, uma tela para retroprojetor, uma estante com televisão, uma mesa de apoio para gabinete de computador e teclado, e cortinas.

2.1 Espaço físico O espaço físico objeto de estudo é mostrado na Figura 1:

Fonte: Pesquisa direta

Figura 1 – Organização do espaço físico

Observa-se que o espaço físico é suficiente para a execução da tarefa a que se propõe o professor.

2.2 Arranjo físico O arranjo físico da sala aponta para algumas inadequações com relação à atividade do professor. Observou-se que a organização das carteiras (muito próxima uma das outras) impede a circulação por entre os alunos, dificultando a realização de algum tipo de atividade que exija contato mais próximo (Figura 2 ). Por conta da localização das tomadas de corrente e da distribuição dos móveis, existe um emaranhado de fios que saem dos aparelhos audiovisuais, atrapalhando a locomoção do professor e oferecendo um certo risco, já que a qualquer momento pode-se tropeçar neles.

Fonte: Pesquisa direta

Figura 2 – Arranjo físico da sala Os aparelhos de ar condicionados estão localizados de maneira inadequada: foram instalados em uma altura inferior à recomendada, o que faz com que em um deles o ar saia em direção à mesa do professor, local em que ele passa a maior parte do tempo de execução de sua tarefa. Outro detalhe é que a tela para o retroprojetor, em alguns momentos, toma a frente de um dos aparelhos de ar condicionado, podendo interferir na sua função (Figura 3).

Fonte: Pesquisa direta Figura 3 – Posicionamento tela retroprojetor x ar condicionado

2.3 Análise da tarefa Em sua atividade, o professor executa sua tarefa através de:

- Preparação de aulas; - Uso da fala para expressar o conteúdo a ser transmitido; - Utilização de recursos audiovisuais (datashow, monitor de TV, retroprojetor, quadro branco), - Utilização em sala de aula da bibliografia indicada (livros, artigos, textos técnicos, manuais); - Organização de debates, seminários, discussões e mesas redondas com os alunos; - Avaliação dos alunos.

2.3.1 Postura assumida pelo professor: As posturas assumidas pelo professor dependeram do tipo de atividade que estava sendo realizada. Quando utilizava algum recurso audiovisual, o professor assumia a postura de pé. Quando havia discussão de texto ou apresentação de algum seminário pelos alunos, o professor assumia a postura sentada. Essas posturas sempre eram alternadas, não sendo apresentada nenhuma observação do professor com relação a elas durante a execução da tarefa. 2.3.2 Compatibilidade dos equipamentos e do mobiliário com a realização da tarefa: Os equipamentos (material audiovisual) disponíveis no posto de trabalho se mostraram suficientes para realização da tarefa. No entanto, o mobiliário se apresenta de maneira inadequada: a estante não é adaptada para um ambiente de ensino, necessitando do auxílio de uma mesa para o computador; o espaço da mesa ocupada pelo professor é dividido com o retroprojetor, tornando-se insuficiente para a colocação dos livros e papéis utilizados – é uma mesa de computador, sem gavetas e com uma altura inadequada para o que se propões (Figura 4).

Fonte: Pesquisa direta

Figura 4 – Mobiliário existente na sala

2.33 Análise da tarefa O trabalho executado nesse posto, especificamente, é organizado através de regras que incluem um horário a ser cumprido (segunda-feira, das 08:00h às 11:00 h, com intervalo de 15 minutos às 09:30h). Existe uma data pré-determinada para o início do curso, assim como para o término, sendo todas as atividades realizadas dentro desse limite. Em sua atividade, o professor executa sua tarefa através de:

- Preparação de aulas; - Uso da fala para expressar o conteúdo a ser transmitido; - Utilização de recursos audiovisuais (datashow, monitor de TV, retroprojetor, quadro branco), - Utilização em sala de aula da bibliografia indicada (livros, artigos, textos técnicos, manuais); - Organização de debates, seminários, discussões e mesas redondas com os alunos; - Avaliação dos alunos.

3. Metodologia A avaliação do posto de serviço incluiu: a análise da tarefa do professor, a organização do espaço físico, o arranjo desse espaço, a postura assumida pelo professor, a compatibilidade dos equipamentos e do mobiliário com a realização da tarefa. As características específicas determinantes das atividades do professor a ocupar o posto de trabalho em avaliação são: sexo masculino; 49 anos de idade; bom estado de saúde; graduou-se em Engenharia Mecânica de Produção, com mestrado em Engenharia de Produção e doutorado em Saúde Operacional em Segurança; exerce a função de professor do terceiro grau há 26 anos. A função exercida tem como objetivo transmitir conteúdos da disciplina aos alunos da pós-graduação em Engenharia de Produção, considerando aspectos teóricos e práticos da mesma, incluindo nessa atividade a realização de projetos de pesquisa e assessoria a empresas e indústrias.

O trabalho executado nesse posto, especificamente, é organizado através de regras que incluem um horário a ser cumprido (segunda-feira, das 08:00h às 11:00 h, com intervalo de 15 minutos às 09:30h). Existe uma data pré-determinada para o início do curso, assim como para o término, sendo todas as atividades realizadas dentro desse limite.

Para avaliação das condições ambientais foram adotados os seguintes procedimentos: 3.1 Condições térmicas As condições térmicas foram avaliadas através de medição feita com um psicrômetro da marca HAENNI, composto por dois termômetros de coluna de mercúrio, um de bulbo úmido e outro de bulbo seco, com escala de 0 oC a 50 oC e divisões em décimo de grau. O termômetro de bulbo úmido é envolto por uma mecha de algodão branco molhada com água destilada. Ambos os bulbos ficam localizados numa câmara ventilada por um ventilador acionado a corda, proporcionando uma velocidade do ar aproximadamente de 3,5m/s, durante aproximadamente um minuto. O tempo de reposta com ventilador é de 3 minutos e sem ventilador é 5 minutos. A incerteza indicada pelo fabricante (já que o instrumento vem calibrado de fábrica) é de 0,1 oC.

As medições foram realizadas em três horários (08:30h, 09:30h e 10:30h). O psicrômetro foi colocado no centro da sala, a uma altura aproximada de um metro e meio e acionado na hora pré-estabelecida para cada medição.

Tendo em vista serem desprezíveis as fontes consideráveis de calor radiante, assumiu-se a temperatura operativa igual à de bulbo seco. A umidade relativa do ar foi obtida através de uma carta psicrométrica e de uma tabela de propriedades termodinâmicas da água saturada (Coutinho, 1998).

A análise das condições de conforto foi feita com base nos índices PMV/PPD, constantes na Norma ISO7730/94.

3.2 Qualidade do ar A qualidade do ar foi avaliada seguindo os Indicadores de Qualidade do Ar Ambiental dos Serviços de Saúde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA (2003). Para coleta do material foram utilizadas quatro placas de Petri, duas com meio de cultura para bactérias mesófilas e outra duas com meio de cultura para bolores e leveduras (fungos). As tampas das placas foram removidas e colocadas no centro da sala, a um metro e meio de altura, aproximadamente, por quinze minutos. Em seguida foram tampadas e recolhidas ao laboratório para incubação (dois dias para bactérias e sete dias para fungos) e posterior análises. 3.3 A cor A cor do ambiente foi avaliada através de observação.

4 Resultados 4.1 Condições termoambientais: As condições termoambientais podem ser classificadas como moderadas, haja vista não proporcionar estresse térmico, ou seja, é um ambiente que não proporciona sensações extremas de calor ou frio (Coutinho, 1998). As temperaturas obtidas através do psicrômetro foram as seguintes:

- Temperatura de bulbo úmido (TBU): 08:30h = 19,4o 09:30h = 21,66o 10:30h = 22,33o

- Temperatura de bulbo seco (TBS): 08:30h = 21,65o 09:30h = 25o 10:30h = 26,26o

Através desses valores, consultou-se a carta psicrométrica, obtendo-se a umidade relativa do ar, nos respectivos horários: - Umidade relativa do ar (ϕ): 08:30h = 82%

09:30h = 75% 10:30h = 70%

De acordo com esses resultados, pode-se afirmar que o sistema de ar condicionado não está funcionando a contendo, pois deveria manter valores de temperatura entre 24 e 26oC e de umidade relativa entre 40 e 60%, conforme as Normas Brasileiras. Em conseqüência, embora a temperatura não fosse crítica, a liberação de calor por evaporação era feita com dificuldade. O índice PMVc (Predicte Mean Vote) ou voto médio estimado corrigido, juntamente com a resistência térmica das roupas (0,40 clo) e a velocidade do ar (de aproximadamente 0,1m/s), proporcionaram a obtenção do PPD (Predicte Percentage of Dissatisfied), a porcentagem de pessoas insatisfeita:

- PPD: 08:30h = 22% 09:30h = 10% 10:30h = 11%

A norma ISO7730/94 recomenda o valor mínimo de 10%. Isso significa que, de acordo com o índice obtido, às 08:30h, 22% das pessoas no ambiente estavam se sentindo desconfortáveis; às 09:30h esse número caiu para 10% (dentro do limite máximo estabelecido pela norma), e as 10:30h subiu para 11%, ficando um pouco acima do limite.

4.2 Qualidade do ar De acordo com a orientação técnica referente a indicadores de qualidade do ar interior proposto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA, a qualidade do ar do ambiente avaliado é satisfatória. A ANVISA classifica esse ambiente como de Nível 0, ou seja, uma área onde o risco não excede aquele encontrado em ambientes de uso público e coletivo. Nesse nível é estabelecido um limite de presença de 750 colônias de partículas biológicas por metro cúbico (Neder, 1992). De acordo com os resultados, o índice de colônias de bactérias mesófilas por metro cúbico no ambiente avaliado foi de 15 e o número de colônias de bolores e leveduras (fungos) foi de 9, bem abaixo do limite estabelecido. 4.3 Cor As paredes e o teto do ambiente são pintados de branco, o piso é cinza claro e as janelas são protegidas com uma cortina azul-marinho, que cobre toda a parede. Nota-se um certo equilíbrio entre as cores, já que o branco predomina, melhorando a iluminação e causando uma certa sensação de conforto.

5 Considerações a respeito dos instrumentos de medição

Como foi citada anteriormente, a discussão será feita apenas a respeito dos instrumentos utilizados na avaliação do conforto térmico.

Observa-se pela metodologia descrita que a temperatura foi obtida através da utilização do psicrômetro (Figura 5).

Fonte: site:www.instrumentação.com.br Figura 5 - Psicrometro

O Psicrômetro é um instrumento utilizado na medição da umidade relativa do ar. É composto por um termômetro de bulbo seco e outro de bulbo úmido (molhado). Um psicrômetro é constituído de um par de sensores de temperatura, sendo que o bulbo de um deles é coberto por um tecido (ou uma mecha de

algodão) molhado com água. Quando o bulbo úmido é colocado em uma corrente de ar, a água evapora do tecido, existindo uma temperatura de equilíbrio chamada temperatura de bulbo úmido. Este processo não é de saturação adiabática, que define a temperatura de bulbo úmido termodinâmico, mas é um processo de transferência de calor e massa simultâneos no bulbo úmido. Para que o princípio no qual se baseia a operação deste tipo de medidor de umidade seja plenamente utilizado, é recomendável que o mesmo possua incorporado um pequeno ventilador para promover a aspiração do ar, a uma determinada velocidade, sobre os sensores úmido e seco.

As vantagens apontadas para o uso do psicrômetro podem ser resumidas no fato de que são normalmente simples, baratos, confiáveis e robustos; podem apresentar uma boa estabilidade; atendem uma ampla faixa de umidades; toleram altas temperaturas, e até mesmo a condensação. Já as desvantagens podem ser devidas ao fato de que exige alguma habilidade para o seu uso e manutenção; os resultados podem exigir cálculos, exceto nos automáticos; a medição requer uma amostra relativamente grande de ar; as impurezas no ar ou na água podem contaminar a mecha, exigindo limpezas e trocas regulares; as medições podem ser complicadas abaixo de cerca de 1ºC, pela dúvida entre a presença de água ou de gelo sobre a mecha quando a temperatura da mesma cai abaixo de 0 ºC.

Para calibração do psicrômetro, alguns procedimentos devem ser seguidos (Grings, 2003):

Temperaturas de bulbos seco e úmido: Quando a umidade do ar é estabelecida por meio de medidas de temperaturas de bulbos seco e úmido, é importante que os instrumentos sejam igualados. Isto é, eles devem indicar a mesma temperatura quando estão secos (sem mecha) no mesmo ambiente ou uma correção deve ser aplicada. Isto assegura uma determinação mais precisa da temperatura de bulbo úmido. Os dois elementos sensores devem estar juntos no mesmo fluxo para medir a mesma amostra de ar, mas o elemento de bulbo seco deve estar sempre ao lado do elemento de bulbo úmido de forma que, a medida de bulbo seco não seja influenciada pela evaporação da umidade do bulbo úmido. A acumulação inadvertida de umidade de qualquer fonte no termômetro de bulbo seco causará um erro. Isto é provável acontecer durante os testes à alta umidade, ambos abaixo e acima de temperaturas baixas, especialmente quando as condições de névoa existirem. Velocidade do ar na medida de bulbo úmido: A medida da temperatura de bulbo úmido deve ser feita nas condições que provêem velocidade do ar em cima do bulbo úmido e, a partir de um tempo suficiente para que o equilíbrio de evaporação seja atingido. A velocidade do ar deve estar dentro da faixa para a qual o instrumento está calibrado. Para termômetros de mercúrio em vidro e outros dispositivos sensores de diâmetros semelhantes, é recomendado uma velocidade do ar de 3,4 a 10,2 m/s, sendo preferível que se aproxime de 5,0 m/s para assegurar resultados precisos. Instrumentos de diâmetro menor, como termistor ou psicrômetros de termopares, requerem proporcionalmente baixas velocidades do ar e requerem calibração satisfatória. Medidas de bulbo úmido requerem técnicas adicionais e precauções como indicado abaixo. Mecha no termômetro de bulbo úmido A mecha de algodão possui uma textura de malha bastante macia. Antes do uso, a mecha deve ser completamente limpa, lavando-a ou fervendo-a em água destilada. Um recobrimento bem justo da mecha no elemento sensor é necessário. Para prevenir a condução excessiva de calor do vidro de um termômetro, a mecha deve cobrir aproximadamente 25,4mm do vidro como também o bulbo. Com o uso continuado, impurezas são depositadas nas mechas e essas interferem no bom funcionamento do equipamento. É

importante que as mechas freqüentemente sejam limpas ou substituídas. A água que molha a mecha deve ser somente a destilada. Com relação à incerteza, é importante observar que quando é exigida uma incerteza na umidade relativa calculada não maior do que ± 3%, os termômetros serão tais que as leituras deles indicam a temperatura de bulbo úmido com uma incerteza não maior do que ± 0,2 ºC. Quando é exigida uma incerteza na umidade relativa não maior do que ± 2%, os termômetros serão tais que as leituras deles indicam a temperatura de bulbo úmido com uma incerteza não maior do que ± 0,1 ºC. A incerteza na leitura das temperaturas de bulbo seco não deverá ser maior do que ± 0,2 ºC [ASHRAE, 1994].

Utilizou-se as temperaturas de bulbo úmido e de bulbo seco para se obter a umidade relativa do ar, através da consulta da Carta Psicrométrica (Figura 6). No entanto, essa umidade pode também ser medida através do higrômetro (Figura 7).

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

280HumidityRatioGrainsofMoistureperPoundofDryAir(gr/lb)

10% RH

20%RH

30%RH

40%RH

50%RH

60%RH

70%RH

80%RH

90%RH

5 10 15 2025

3035

4045

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95°F Wet Bulb Tem perature

100

105

12.513.0

13.5

14.0

14.5

15.0

15.5

16.0ft³/l bdryai r

-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160Dry Bulb Te mperature °F

-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160Dry Bulb Te mperature °F

Linric CompanyDesiccant System Engineering,Engineering Software Development

Headquarters:44 Green Meadow Lane, Bedford, NH 03110 USATEL: 603 472-5640 FAX: 603 472-4823

Psychrometric ChartBarometric Pressu re 29.921 Inches Hg

This char t was const ructe d using Linric Co mpany’spsychrom etric cha rt p rogr am bas ed o n ASHRAEformulas.

Copyright © 1998 Linric Com pany

Linric Company, Software Division

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

Enthalpy -BtuperPoundofDryAir

Fonte: Grigs, 2003

Figura 6 – Carta Psicrométrica

Fonte: site:www.instrumentação.com.br

Figura 7 - Higrômetro

O higrômetro é um equipamento utilizado para medição da umidade que permite obter dados extremamente importantes, tanto no que diz respeito à previsão meteorológica, como em relação a aspectos do estudo do conforto térmico.

E, se tratando de umidade, é constatado que o ser humano se sente mais confortável em um ambiente com baixa umidade que um ambiente com umidade relativa alta, independente da temperatura, já que, com a umidade relativa alta, o suor custa mais a evaporar, gerando uma sensação de desconforto.

6 Conclusão Diante da questão de qual o instrumento seria mais adequado na situação estudada (avaliar o conforto térmico do posto de trabalho do professor), deve-se levar em conta um fator essencial: a possibilidade da existência de um viés causado pela consulta à Carta Psicrométrica, já que a sua margem de erro é de 5%, além de o olho humano ser passível de erros e confusões. Como já foi dito, essa consulta é necessária quando se usa o psicrômetro na medição para obtenção da umidade relativa do ar.

Utilizando um higrômetro, com igualdade de incerteza a um psicrômetro, esse viés se torna nulo, já que o higrômetro dá um resultado direto, sem a necessidade de consulta à carta Psicrométrica.

A utilização correta de instrumentos de medição é de extrema importância para a realização de uma análise adequada de dados em qualquer pesquisa.

No trabalho descrito acima se pode ver como o uso de instrumentos de medição são imprescindíveis para uma avaliação adequada do conforto térmico de um posto de trabalho. No entanto, a fidedignidade dos resultados depende da calibração e da incerteza desses instrumentos; sem isso os resultados ficam comprometidos e facilmente questionáveis.

Pode-se usar como exemplo a alta umidade relativa do ar verificada no ambiente em estudo através da medição, podendo, assim, explicar o porque de algumas pessoas se sentirem desconfortáveis, mesmo com a temperatura em torno de 25o.C.

7.Referências Bibliográficas (ABNT) Associação Brasileira de Normas Técnicas. NR 17 –Ergonomia. Novembro de 1990. ANVISA – Indicadores de Qualidade do Ar Ambiental Interior em Serviços de Saúde. Decreto no. 3.029 – Ministério da Saúde, Brasil, 2003. ASHRAE STANDARD. Method for Measurement of Moist Air Properties, 41.6-1994 BATISTA,B.V; SILVA,L.B.; COUTINHO,A.S.; SANTOS,F.R.M.; ADISSI, P. Educação e Conforto Térmico: Implicações no Desempenho de Alunos Universitários. Anais do IV Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento. João Pessoa, 2003. COUTINHO,A.S. Conforto e Insalubridade Térmica em Ambiente de Trabalho. Edições PPGEM: João Pessoa, 1998. GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia – Adaptando o Trabalho ao Homem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GRIGS, Edi T. de Oliveira. Comparação entre resultados computacionais e experimentais do comportamento térmico de um ambiente. Dissertação de Mestrado, UFRS, 2003. IIDA, Itiro. Ergonomia- Projeto e Produção. Editora Edgard Blucher Ltda, São Paulo: 1990. LULA, C. C. M.; SILVA, L. B. O Conforto Ambiental e a Motivação: Implicações no Desempenho de Alunos em Ambientes Climatizados. ABERGO 2002, Recife, ANAIS. NEDER, Rahme Nelly. Microbiologia-Manual de Laboratório. Editora Nobel, São Paulo, 1992. NF ISO7730/94 – International Standarnization Organization, Norme Française, Décembre, 1986.