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Ano 15. Nº 41. 2020 www.pwc.com.br/revista-ceo ceo Brasil Perfil Eugênio Mattar, CEO da Localiza: gestão acolhedora e liderança pelo exemplo Opinião Os impactos da autonomia do Banco Central, segundo Maílson da Nóbrega e Alexandre Schwartsman Pesquisa Lançada em Davos, pesquisa de CEOs da PwC aponta para inovação e qualificação digital Entrevista Bob Moritz, chairman da PwC, fala sobre o papel dos líderes na transformação digital da sociedade Empresa A Natura, após fusão com a Avon, amplia portfólio mirando o mercado internacional Tendência O 5G e seu impacto na transformação da sociedade e dos modelos de negócios Legado Museu da Língua Portuguesa volta a valorizar o idioma de mais de 260 milhões de pessoas Personalidade Fernanda Feitosa e a união entre arte e empreendedorismo

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Page 1: ceo - PwC · 2020-02-28 · editorial EInovar é a palavra de ordem para impulsionar o crescimento das receitas em 2020, segundo a 23ª edição da Global CEO Survey, da PwC.O levantamento,

Ano 15. Nº 41. 2020www.pwc.com.br/revista-ceo

ceoBrasilPerfil Eugênio Mattar, CEO da Localiza: gestão acolhedora e liderança pelo exemplo

OpiniãoOs impactos da autonomia do Banco Central, segundo Maílson da Nóbrega e Alexandre Schwartsman

PesquisaLançada em Davos, pesquisa de CEOs da PwC aponta para inovação e qualificação digital

EntrevistaBob Moritz, chairman da PwC, fala sobre o papel dos líderes na transformação digital da sociedade EmpresaA Natura, após fusão com a Avon, amplia portfólio mirando o mercado internacional

TendênciaO 5G e seu impacto na transformação da sociedade e dos modelos de negócios

LegadoMuseu da Língua Portuguesa volta a valorizar o idioma de mais de 260 milhões de pessoas

PersonalidadeFernanda Feitosa e a união entre arte e empreendedorismo

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CEO Brasil é uma publicação da PwC BrasilConselho EditorialFernando Alves, Fábio Cajazeira,Federico Servideo, Marco Castro, Durval Portela,Marcos Panassol e Carlos SousaEditora executiva: Paula PavonCoordenação: Alexandre Moschella

Projeto EditorialGrupo CDI Comunicação e MarketingDireção: Everton VasconcelosCoordenação: William MaiaReportagens: Danilo MecenasFotos: Leandro Fonseca Direção de arte e diagramação: Bruno Pitton, Hannah Stofberg e Narahari CatalanoRevisão: Ivana GomesFoto da capa: Leandro FonsecaImpressão: Eskenazi

Copyright: PwC BrasilCEO Brasil é uma publicação bimestralA PwC Brasil não se responsabiliza pelas opiniõesde terceiros publicadas nesta revista

Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da PricewaterhouseCoopers, ou, conforme o texto sugerir, ao próprio network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network da PwC, acesse: www.pwc.com/structure © 2020 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados.

www.pwc.com.br

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EInovar é a palavra de ordem para impulsionar o crescimento das receitas em 2020, segundo a 23ª edição da Global CEO Survey, da PwC. O levantamento, divulgado em janeiro no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, e destacado na seção Pesquisa, revela ainda o otimismo dos CEOs do Brasil em relação ao crescimento de suas empresas, ante um pano de fundo mais pessimista em relação ao desempenho da economia global.

Quando o assunto é resiliência, disciplina e determinação diante de obstáculos, uma referência é o engenheiro Eugênio Mattar. Ao lado do irmão, Salim Mattar, ajudou a fundar em 1973 a maior locadora de veículos da América do Sul, a Localiza. Reconhecido pelo estilo de liderança e gestão descentralizado, o executivo fala na seção Perfil sobre seus valores pessoais, sua visão de negócios e revela como “a sorte foi generosa” com sua história.

Ainda sobre modelos de gestão eficientes, a seção Opinião traz uma análise sobre a esperada autonomia formal do Banco Central do Brasil. Os economistas Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda (1987-1990), e Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil (2003-2006), refletem sobre os impactos da possível garantia de mandato fixo da diretoria do BC, não coincidente com o do presidente da República. A ideia seria proteger a política monetária de interferências de ordem política, assegurando a estabilidade da economia.

A seção Entrevista revela um fator com grande potencial para alterar o ambiente de negócios e a forma como as pessoas se relacionarão, produzirão e trabalharão nos próximos anos: o avanço das tecnologias digitais.

Fernando Alves, CEO da PwC Brasil

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Preparar os profissionais para essa nova economia, investindo em qualificação, tornou-se uma necessidade premente para a manutenção da longevidade das organizações e da competitividade da força de trabalho. É com base na experiência bem-sucedida da PwC em seu próprio processo de transformação digital que o nosso chairman, Bob Moritz, fala sobre o tema. Ele destaca ainda o papel dos líderes no remodelamento da sociedade e aponta os riscos para as organizações que não investirem na digitalização de seus processos e na qualificação de suas pessoas.

A seção Empresa resume o modelo de negócios inspirador de Venda por Relações da Natura, que dispõe de uma rede de mais de 4,1 milhões de consultoras na América Latina. Após a fusão com a norte-americana Avon em 2019, a empresa brasileira ampliou seu portfólio e o potencial de sua marca, voltada para a biodiversidade e para o empoderamento feminino.

Na seção Tendência, destacamos a chegada do 5G ao Brasil e seu potencial para integrar bilhões de dispositivos móveis e máquinas inteligentes, com o apoio de empresas como a Ericsson, que está empenhada no desenvolvimento dessa tecnologia. A reportagem apresenta os benefícios da tecnologia e também os desafios para viabilização e regulação das novas redes no país. A expectativa da Anatel é lançar o edital do leilão das novas frequências ainda em 2020.

A seção Personalidade comprova que o empreendedorismo e a arte podem caminhar lado a lado. Fernanda Feitosa, criadora da SP-Arte, é um grande exemplo disso. Com determinação e disciplina de ex-atleta, a advogada trocou uma carreira bem-sucedida para dedicar-se à paixão da família ao fundar a maior feira artística da América Latina. Desde 2005, o festival reúne galerias de arte, revistas, museus e instituições, apresentando mais de 5 mil obras e 2 mil expositores.

E, para finalizar, a seção Legado resume a contribuição cultural do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que está prestes a ser reaberto ao público. Em uma década entre a inauguração e o incêndio que o destruiu quase totalmente, cerca de 4 milhões de pessoas visitaram o espaço que abrigou a obra de grandes escritores, como Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e Oswald de Andrade. Em 2020, após quatro anos em reforma, o museu retomará sua missão de integrar a comunidade lusófona e valorizar o idioma falado por mais de 260 milhões de pessoas.

Boa leitura!

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Pesquisa. Os líderes empresariais brasileiros estão apostando mais em inovação para impulsionar o crescimento das receitas em 2020, segundo a 23ª edição da Global CEO Survey, da PwC. Um dos requisitos para o avanço nesse cenário são os fortes investimentos em iniciativas de qualificação de pessoas para o ambiente de trabalho digital por meio de projetos de upskilling.

Empresa. Após a incorporação da norte-americana Avon no ano passado, a brasileira Natura consolida sua posição de liderança no setor de cosméticos por meio do modelo inspirador de Venda por Relações, que dispõe de uma rede de mais de 4,1 milhões de consultoras na América Latina. Sob a liderança de João Paulo Ferreira, CEO da empresa, a Natura ampliou o portfólio e o potencial de sua marca, voltada para a biodiversidade e para o empoderamento feminino.

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Na CEO nº 41

Opinião. Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda, e Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, analisam os impactos da provável autonomia formal do BC para a economia brasileira.

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Perfil. Eugênio Mattar, CEO da Localiza, fala à CEO Brasil sobre sua trajetória, desde a origem humilde, no interior de Minas Gerais, até comandar a maior locadora de veículos da América do Sul. Ele não abandonou suas raízes e lidera pelo exemplo, pela simplicidade e pela determinação. Mattar é reconhecido pelo estilo de gestão acolhedor e pela proximidade com os funcionários.

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Tendência. Leonardo Euler, presidente da Anatel, Ricardo Queiroz, sócio e líder do setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da PwC Brasil, e Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson LATAM South, discutem a implantação da tecnologia 5G no país, que tende a proporcionar uma revolução com a maior integração entre bilhões de dispositivos e máquinas inteligentes.

Legado. Quatro anos depois de sua destruição por um incêndio, o Museu da Língua Portuguesa reencontrará o público com a missão de integrar a comunidade lusófona e promover o acesso à ciência, à cultura e à educação por meio do idioma português, falado por mais de 260 milhões de pessoas.

Personalidade. Com determinação e disciplina de ex-atleta, a advogada Fernanda Feitosa interrompeu a carreira bem-sucedida para dedicar-se à paixão da família ao fundar a maior feira artística da América Latina: a SP-Arte. Desde 2005, o festival reúne galerias de arte, revistas, museus e instituições, apresentando mais de 5 mil obras e 2 mil expositores do Brasil e do mundo.

Entrevista. O chairman global do network da PwC, Bob Moritz, fala sobre o papel dos líderes na transformação da sociedade frente aos desafios da era digital e aponta os riscos para as organizações que não investirem na qualificação de suas pessoas. Com 34 anos na PwC, Moritz lidera um dos mais ambiciosos programas de digital upskilling do mundo. A iniciativa da PwC investirá cerca de US$ 3 bilhões em formação digital para 276 mil profissionais em 157 países.

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perfil

O valor das pessoasDa origem humilde, no interior de Minas Gerais, até comandar a Localiza, maior locadora de veículos da América do Sul, o engenheiro Eugênio Mattar não abandona as raízes e lidera pelo exemplo, pela simplicidade e pela determinação

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Eugênio Mattar ainda era um menino apaixonado por matemática em Oliveira, município no oeste de Minas Gerais, quando ouviu do pai uma frase que marcou sua vida. José Salim Mattar, descendente de libaneses, apresentou o filho a um grupo de amigos como “o engenheiro da família”. Na época, a profissão era uma das mais almejadas e motivo de orgulho para as famílias. Salim, no entanto, não teve tempo de saber se o prognóstico se realizaria. O comerciante faleceu quando Eugênio tinha 10 anos. “Ele me deixou um sonho e a responsabilidade de não decepcioná-lo”, relembra Mattar.

Crescendo numa família humilde, com oito irmãos, Eugênio Mattar teve de desenvolver características que até hoje marcam sua trajetória como executivo: resiliência, disciplina e determinação. O objetivo era realizar o sonho do pai, o que ele conseguiu. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais. Porém, nunca chegou a exercer a profissão. Ao lado do irmão, Salim Mattar, ajudou a fundar em 1973, com a compra de seis Fuscas usados, a Localiza, que se tornaria a maior locadora de veículos da América do Sul. Desde 2013 está no comando da empresa, avaliada em R$ 40,1 bilhões [referência 30/01/2020], com uma frota de quase 300 mil veículos e 600 agências em sete países.

“O nosso jeito de ser não é o de um CEO tradicional, é o dos líderes da Localiza.

Meu estilo de gestão é dar liberdade aos colaboradores e fazer com que

entendam o que tem de ser feito”Eugênio Mattar, CEO da Localiza

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Cruzeirense, Mattar acredita que o esporte crie conexões poderosas entre as pessoas. Ele jogava futebol com amigos, família e, eventualmente, com funcionários. Em ocasiões especiais, atuava como juiz em jogos dos times femininos da Localiza. “Quando era mais novo e viajava a trabalho, as pessoas, principalmente na Bahia, me convidavam para uma partida. É importante perceber que, por meio do esporte, cria-se um ambiente maior de inclusão, respeito e felicidade genuína. O futebol abarca pessoas de todas as idades”, comenta.

Ele é conhecido pelo estilo de gestão receptivo e descentralizado. Pelos corredores da sede da empresa em Belo Horizonte, é possível perceber a conexão e o respeito dos funcionários com o CEO, num clima de satisfação e orgulho. “Você não consegue ser feliz se não tiver pessoas felizes ao seu lado”, diz.

Casado há 20 anos com a administradora Camila Mattar, tem quatro filhos, Gabriela, Raquel, Daniel e Felipe, e quatro netos. Simpático e acolhedor, Eugênio Mattar recebeu a equipe da CEO Brasil oferecendo sua característica pontualidade e café mineiro. Durante a conversa, o executivo emocionou-se ao lembrar do pai, falou sobre seus valores pessoais, visão de negócios e contou como “a sorte foi generosa” em sua história.

“O que me move é a felicidade das pessoas que estão ao meu redor. É meu maior propósito. Sou de origem humilde. Cresci em Oliveira, um município de 40 mil habitantes no oeste de Minas Gerais, com o grande sonho de estudar e ser bem-sucedido. Comecei a conquistar autonomia depois do falecimento do meu pai, quando eu tinha 10 anos, dando aula particular e trabalhando com meus oito irmãos. Foi uma época de grande aprendizado. Tínhamos um armazém chamado Serve Bem e nosso pai nos havia ensinado a cuidar das pessoas, sobretudo dos mais velhos. Quando chegava um cliente idoso ou uma mãe com filhos, nós tínhamos de dar uma bala, ajudar a se sentar etc. Aprendemos que ‘se você cuida bem da pessoa que gosta, ela passa a gostar de você também’.

Esse é um dos nossos valores hoje na Localiza. E quando falo ‘nossos’ é porque envolve todos na empresa. Investimos muito para que se pratiquem os três pilares: cliente [é a nossa paixão], gente [que inspira e transforma] e resultados [os extraordinários nos impulsionam], dentro de um ambiente de confiança e ética. O trabalho é permanente e medimos o clima de cada área anualmente. Em outras palavras, o nosso jeito de ser não é o do CEO, é o dos líderes da Localiza.

Movi muitas barreiras para chegar aonde estou. Era um aluno dedicado e estudioso. Minha irmã mais velha, Zarife Mattar, cuidava da minha educação. Todos os meus livros de matemática foram dados por ela. Lembro que Zarife arrancava a seção de respostas dos livros para que eu me esforçasse em encontrar as soluções. Desenvolvi também o gosto pela leitura. Não pedia para ler apenas um livro, mas uma coleção. Lembro que li José de Alencar e tive de entregar o resumo de todos os seus livros. Acredito que tenha sido uma formação muito boa, pois aprendi processos e valores. E, quando se é obrigado a fazer resumos, é possível conectar todas as pontas da história.”

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Uma cronologia

1963Eugênio Mattar começa a trajetória profissional como auxiliar no armazém da família, o Serve Bem, aos 10 anos

1970 Muda-se para Belo Horizonte e começa estudar Engenharia Civil na Universidade Federal de Minas Gerais

1967É aprovado na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, da Aeronáutica, e muda-se para Barbacena, em Minas Gerais

1973A Localiza é fundada e inicia suas operações com seis Fuscas usados comprados a crédito 1976

Eugênio Mattar vira sócio da Localiza, depois de recusar proposta de emprego da Fiat

2009Assume o posto de COO da Localiza, após processo de abertura do capital do grupo

1979Comanda a abertura e a estruturação da primeira filial da empresa em Vitória, no Espírito Santo

2013Sucede o irmão Salim Mattar e torna-se CEO da Localiza

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Novos destinos

“Sempre fui uma pessoa com espírito empreendedor. Sou movido a mudanças e gosto de assumir riscos, mas obviamente, calculando a situação para que o pior não aconteça. Tento aproveitar as oportunidades que surgem. Procuro passar adiante esse legado de não ter medo do novo, de enfrentar os desafios que aparecem ao longo da jornada.

Descobri cedo que seria difícil estudar Engenharia morando no interior e sem ter dinheiro para ir a Belo Horizonte. A solução era tentar as escolas de engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do Instituto Militar de Engenharia (IME). Mas, até chegar lá, seria uma longa jornada. Então, aos 14 anos, arrisquei e fui aprovado na Escola Preparatória de Cadetes do Ar. A coragem me levou a morar em Barbacena, a 169 quilômetros da capital.

Foram três anos de uma experiência espetacular em termos de disciplina, patriotismo e respeito à hierarquia. Lembro quando nossa turma fez exames no Hospital Central da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Pedimos ao motorista para dar uma passada em Copacabana para vermos o mar pela primeira vez. Aprendi tudo que poderia aprender e percebi que não tinha vocação para a vida militar, tampouco para ser piloto. Quando viajo no banco de trás de um carro, costumo enjoar. Imagina virando de um lado para o outro em um avião, subindo e descendo? Dava um frio na barriga...[risos].”

Escolhas e conquistas

“A década de 1970 foi a mais decisiva da minha vida. Três irmãos resolveram levar minha mãe para Belo Horizonte para cotizar um apartamento. O Salim Mattar, meu irmão, me propôs largar a Aeronáutica, morar com a família sem pagar nada e tentar Engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais.

O problema estava no meu currículo, que não era tradicional; eu não estudava matérias de vestibular. Seria um desafio. Estudei junto com um amigo. Foi um processo intenso de preparação e, três meses depois, passamos na Federal. A escolha de mudar me fez entender mais sobre ‘as conexões entre as pessoas’ e o valor da família.

Meu irmão Salim, junto a outros dois amigos, fundou a Localiza em 1973, quando eu ainda estava no terceiro ano da faculdade. Comecei ajudando na escolha do nome, do local e, depois, virei uma espécie de estagiário. Abrimos a empresa sem nenhum capital; todo o dinheiro era proveniente de empréstimo.

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Referência

Jorge Paulo Lemann, um economista e empreendedor maravilhoso. É um exemplo de simplicidade e altruísmo

Paixão Santos Futebol Clube. Minha família é santista

Uma meta Contribuir para o aumento da filantropia no Brasil de 0,2% para 0,4% do Produto Interno Bruto

Dois livro

Winston Churchill, de Katie Daynes, e Inteligência Espiritual, de Danah Zohar e Ian Marshall. Essas obras mostram exemplos de liderança estratégica, disciplina, colaboração e a importância de termos um propósito na vida

Uma cidade Belo Horizonte, a melhor cidade do mundo

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“Queremos construir o futuro da mobilidade. Por isso, devemos sempre evitar o comodismo e nos animar com as mudanças tecnológicas”

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Compramos seis Fuscas usados e financiados. Foi um início bem tumultuado e a única forma de aumentar a receita era trabalhar dia e noite e abrir a empresa no fim de semana. Lavamos carros, consertamos defeitos e também fomos motoristas. A prioridade era pagar as contas da empresa.

Em 1975, quando me formei, um professor me convidou para trabalhar como engenheiro na Fiat. A proposta era espetacular. Porém, fiquei diante da grande decisão de minha vida: ficar ou sair da Localiza. É nesse contexto que digo que a sorte faz parte da gente e é difícil conseguir as coisas por si só. Resolvi ficar na Localiza por saber que faria falta no negócio. Virei sócio naquele momento. O sonho de atuar como engenheiro havia terminado e iniciava-se a minha vida de gestor.

Tive a oportunidade de passar por vários setores na Localiza. Comandei a abertura da filial em Vitória, no Espírito Santo, e me tornei COO em 2009. O Salim, nessa época, era CEO e já preparava um sucessor. Não pensava em assumir a presidência, afinal, acreditava que, se ele saísse, seria melhor sairmos todos juntos.

Meu irmão é intuitivo e carismático, um comunicador nato. Foi um líder importante quando a empresa precisava desbravar mercado e crescer. Foi então que, em 2013, Salim disse: ‘Eu quero sair, mas só se você me suceder’. Fiquei surpreso e desconfortável, mas os outros sócios ajudaram a me convencer. Ele continuou na presidência do conselho até 2018, quando resolveu aceitar o convite do Paulo Guedes [ministro da Economia] para ser secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia. Salim sempre teve o sonho de servir ao Brasil, trabalhando para reduzir o tamanho do Estado.”

Futuro e mobilidade

“A Localiza já possui mais de quatro décadas de atuação no mercado e continuamos trabalhando para fazer a empresa crescer e se transformar. Acredito que a maior força esteja na conexão que temos com as pessoas. Cultuamos, por exemplo, uma forte presença de nossas lideranças junto aos clientes e, também, nas filiais. É importante conhecer a realidade de quem está na linha de frente. Queremos que todos se sintam donos e sigam nossos valores. Queremos construir o futuro da mobilidade. Por isso, devemos sempre evitar o comodismo e nos animar com as mudanças tecnológicas.

“Acredito na força da conexão que temos com as pessoas. Você não consegue ser feliz se não tiver pessoas felizes ao seu lado”

Eugênio Mattar, CEO da Localiza

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Meu estilo de gestão é dar liberdade aos colaboradores e fazer com que entendam o que tem de ser feito com responsabilidade. Temos algo, inclusive, que é contracultural no Brasil: os horários são levados extremamente a sério. Carrego esse valor da minha formação, na Localiza e na vida militar. Sou uma pessoa muito conectada por meio de relações pessoais, seja viajando, seja celebrando conquistas. Dessa forma, cria-se uma relação de qualidade, intensidade e, de fato, consigo me relacionar com os problemas do dia a dia e entender melhor o comportamento das pessoas.”

Papel social

“Penso no futuro desde os anos 1980, tanto nas esferas pessoal, profissional e familiar quanto na comunitária. Acredito que nós, como cidadãos, devemos ter um papel ativo na sociedade. Nossa atuação deve deixar um legado. Elie Horn, fundador do grupo Cyrela, Rubens Menin, do grupo MRV, e eu criamos um movimento chamado Bem Maior. A nossa meta é fazer com que os investimentos em filantropia no Brasil dobrem de 0,2% para 0,4% do PIB. Pretendemos montar um plano de doações pessoais e depois convidar outros empresários para se juntarem a essa corrente. Queremos criar um ambiente onde as pessoas possam investir, acompanhar os resultados e ter a satisfação de estar fazendo um bem às comunidades. Não buscamos o assistencialismo, mas, sim, ajudar e oferecer a ‘vara de pescar’, promovendo a educação, a cultura, o esporte e o empreendedorismo. Esse é mais um sonho que encaro com carinho e vontade de realizar.”

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opinião

Proteger o Banco Central de ingerências políticas, garantindo o mandato de seus diretores, pode ser o próximo passo para assegurar a estabilidade da moeda e a previsibilidade do ambiente de negócios. Dois economistas de renome discutem as vantagens e os riscos da provável autonomia do Banco Central do Brasil

A hora da autonomia

Vinte anos depois do estabelecimento do Regime de Metas de Inflação, que determinou as referências para o controle efetivo do valor da moeda pelo Banco Central do Brasil, o debate em torno da autonomia formal da instituição parece, enfim, ter uma chance concreta de avançar. Em meio aos debates sobre reformas estruturantes para a economia brasileira, como a Tributária e a Administrativa, dois projetos de lei complementar sobre o tema tramitam de forma acelerada no Congresso Nacional: a PLP 19/2019, de autoria do senador Plínio Valério (PSDB/AM), que passou pelo plenário e aguarda recebimento de emendas, e a PLP 112/19, de autoria do Governo Federal.

Ambas as propostas alteram a Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que criou o Banco Central do Brasil, e dispõem sobre a autonomia operacional e administrativa da autarquia e os mandatos de seus dirigentes. Atualmente, o BC subordina-se à Presidência da República.

“Entendemos que existe um ambiente legislativo propício para a aprovação da nossa autonomia; temos a expectativa de que se concretize ainda no primeiro trimestre deste ano”, afirmou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante evento de apresentação de resultados em janeiro de 2020.

Maílson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda: “A autonomia é importante para os agentes econômicos perceberem que não há risco de surpresas”

Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil: “Garantir uma autonomia de direitos, ter a responsabilidade de cuidar da estabilidade monetária protegido de pressões políticas”

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Entre as economias mais relevantes do mundo, o Brasil é a única a não ter um Banco Central cujos diretores e presidente têm mandato fixo, não coincidente com o do presidente da República, e que não podem ser demitidos por decisão de agentes políticos. De acordo com um levantamento do banco Itaú, que analisou 31 países em 2018, apenas cinco não têm autonomia formal, estabelecida por lei. A formalização, segundo especialistas, tende a reduzir a taxa de juro do país, aumentar a capacidade de planejamento dos investidores e gerar o benefício da previsibilidade na economia.

Para analisar os impactos da autonomia formal do Banco Central brasileiro, a CEO Brasil ouviu dois especialistas com experiência e contribuições relevantes para esse debate: Maílson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda (1987-1990); e Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil (2003-2006).

Qual a importância de garantir a autonomia formal o Banco Central?

Maílson da Nóbrega: Há vários fatores que justificam a importância da autonomia do Banco Central. Mas dois são fundamentais: manter a estabilidade da moeda e do sistema financeiro, e evitar o descontrole da inflação. Como consequência, o BC contribui para criar um ambiente favorável ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A autonomia permite aos agentes econômicos perceberem que não há risco de surpresas. A volatilidade da inflação afeta as decisões de consumir e de investir. O Brasil, portanto, deveria formalizar a autonomia do Banco Central ainda em 2020.

Alexandre Schwartsman: No Banco Central, há uma meta que é dada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) a partir de uma decisão do presidente da República. O órgão possui uma autonomia operacional e meios para atingi-la. Mas a questão principal não é ser “operacional”. O que se discute é se os dirigentes vão ter mandato fixo ou temporário. Então, a importância é garantir uma autonomia de direitos: ter a responsabilidade de cuidar da estabilidade monetária protegido de pressões políticas.

“A autonomia dá ao BC a responsabilidade de cuidar da estabilidade monetária protegido de pressões políticas”

Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil

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Por que o tema da autonomia do Banco Central ganhou força nos últimos anos?

Maílson da Nóbrega: O assunto evoluiu a partir da percepção de que o Banco Central necessita de uma diretoria com capacidade intelectual e experiência para executar uma política monetária compatível com os objetivos de manter a inflação controlada. É preciso que o órgão não se submeta aos caprichos da política e dos governos da hora. Essa perspectiva, claro, envolve uma longa discussão. Há quem diga que a autonomia poderia ferir a regra democrática, uma vez que se estaria oferecendo a um grupo de “burocratas” e economistas o poder de decidir sobre o que afeta a sociedade, como o emprego e a renda. Além disso, se tivermos um banco central excessivamente avesso à inflação, que adote medidas extremamente ortodoxas, poderemos ter implicações indesejáveis na atividade econômica brasileira.

Alexandre Schwartsman: A experiência ao longo da convivência com o Banco Central fez com que as pessoas entendessem o papel do Banco Central brasileiro e a importância do Regime de Metas de Inflação [instituído em julho de 1999]. Temos um BC com uma meta de inflação que, caso seja persistentemente mais alta ou mais baixa, poderia causar problemas para a sociedade. A visão, portanto, de que a “autonomia” seria entregar o Banco Central aos banqueiros é um despautério extraordinário.

Há algum risco na autonomia do Banco Central? Maílson da Nóbrega: O risco, como assinalei, é designar uma diretoria do Banco Central de excessiva aversão à inflação. O excesso de zelo na execução da política monetária, com metas inalcançáveis, pode redundar em um custo social insustentável em termos de crescimento do PIB, do emprego e da renda. Acredito, porém, que os critérios de qualidade exigidos hoje para dirigir um banco central moderno dificilmente permitirão o abrigo de uma equipe ineficiente.

Alexandre Schwartsman: Há o risco de elegermos uma equipe ineficiente e termos de esperar alguns anos para resolver os problemas. No período de Alexandre Tombini [de 2011 a 2016], por exemplo, foi nítido que o Banco Central não tomava as decisões autonomamente e seguia as orientações do Poder Executivo oriundas de motivações políticas. Vimos, na época, que era necessário praticar uma política monetária mais agressiva [manter a taxa de juro mais elevada], e o Banco Central fez o contrário.

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O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a meta da Selic de 5% para 4,5% ao ano no fim de 2019 – o menor percentual desde 1999, quando começou o Regime de Metas. E a inflação fechou o ano em 4,31%. Qual é sua avaliação do atual momento do BC?

Maílson da Nóbrega: Ao longo dos últimos 25 anos, com o amadurecimento dos instrumentos de controle da inflação, houve a consolidação de um ambiente institucional favorável a uma taxa de juro mais baixa. A aprovação da reforma da Previdência, por exemplo, afastou o risco de um colapso fiscal causado pela insustentabilidade da Previdência. Esse cenário tem implicações: o Banco Central está caminhando em território desconhecido, uma vez que os modelos de projeções variáveis macroeconômicas são construídos em bases de dados do passado, quando a taxa de juro era bem superior. Os modelos de projeção da atividade econômica e, assim, da inflação podem subestimar os efeitos de uma taxa de juro baixa e estimativa como a praticada atualmente pelo Banco Central. Portanto, o momento atual é novo e exige cautela. Alexandre Schwartsman: O presidente Ilan Goldfajn assumiu o BC em 2016 [foi até 2019] com uma inflação acima da média e conseguiu reduzir a meta da Selic de 14,25% para 6,5%. Roberto Campos [atual presidente] está mantendo as expectativas de inflação ao redor dessa trajetória. Analisando o Boletim Focus, a expectativa de inflação está em torno de 3,6% para 2020 – relativamente um pouco abaixo da meta. Tal postura é positiva e mostra que a atual gestão tem credibilidade para reagir em momentos de economia fraca.

A autonomia do Banco Central pode atrair mais investimentos ao país?

Maílson da Nóbrega: Acredito que não é a “autonomia” que esteja levando as pessoas a começar a construção da casa própria, entrar em um empreendimento imobiliário ou decidir pelo “desengavetamento” de projetos. É a taxa de juro mais baixa. O papel da Selic reduzida é gerar confiança e, em consequência, influenciar na decisão de investir e consumir.

Alexandre Schwartsman: O problema não está na gestão monetária ou financeira, está na parte regulatória. Geração de investimentos no Brasil está relacionada mais com as questões fiscais, de produtividade e de concorrência entre as empresas. A margem de ganhos com a autonomia do BC é pequena perante os problemas atuais, como os altos tributos e a desorganização das contas públicas.

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Há uma tendência global de os bancos centrais serem mais autônomos?

Maílson da Nóbrega: Após a 2ª Guerra Mundial, aumentou o número de países que concederam autonomia a seus bancos centrais. Na União Europeia, por exemplo, foi criado o Banco Central Europeu, que já nasceu com autonomia operacional. Todos os bancos centrais dos países-membros se tornaram independentes. É uma ideia vitoriosa porque se impôs sobre uma realidade de experiências fracassadas de intervenção. Há um consenso amplo de que a autonomia é eficaz no controle da inflação e ajuda no crescimento do país estabelecendo níveis de confiança para consumir e investir.

Alexandre Schwartsman: Chile, Peru e Colômbia possuem bancos centrais autônomos e conquistaram uma estabilidade macroeconômica na região. Isso mostra como o nosso país está atrasado no debate. O atraso em dar autonomia ao Banco Central do Brasil reflete a dificuldade brasileira de conviver com regras estáveis.

Autonomia formalPesquisa do Itaú analisa 31 bancos centrais e revela que apenas cinco ainda não possuem autonomia estabelecida por lei.

África do Sul Austrália Canadá Chile Colômbia Coreia do Sul Estados unidos Filipinas Hungria

Índia Indonésia Islândia Israel Japão México Nova Zelândia Peru Reino Unido

Eslováquia República Tcheca Romênia Rússia Suécia Suíça Turquia Zona do Euro

Brasil China Noruega Polônia Tailândia

Fonte: Macro Visão, banco Itaú

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pesquisa

O cenário da economia global continua incerto em 2020, mas a 23ª Global CEO Survey, da PwC, mostra que os líderes empresariais brasileiros continuam acreditando no crescimento de suas organizações e apostam na inovação para prosperar na era da transformação digital

Em busca da produtividade

Os reflexos das disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China, do recrudescimento de conflitos no Oriente Médio e de movimentos antiglobalização, como o Brexit – que coloca em xeque o conceito de Europa unificada –, entre outros fatores, seguem envolvendo a economia mundial em um véu de incerteza. Mais da metade dos executivos entrevistados pela Global CEO Survey, da PwC, acredita em uma redução do crescimento do PIB global. A pesquisa, que está em sua 23ª edição e foi divulgada no último Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, aponta que 53% dos CEOs veem a economia mundial com preocupação em 2020, ante menos de 30% em 2019.

As expectativas sobre o PIB global, contudo, não afetam na mesma medida a previsão dos líderes empresariais sobre o bom desempenho de suas próprias organizações: 72% dos CEOs entrevistados seguem acreditando em crescimento de receitas nos próximos 12 meses, ante os 82% da pesquisa anterior, o que demonstra que o sentimento de otimismo sobre o próprio negócio persiste, apesar da leve queda em relação ao ano anterior. No Brasil, também foi registrada uma redução do otimismo – de 95% em 2019 para 78% em 2020 –, embora ainda acima do nível de otimismo global.

Na análise do CEO da PwC Brasil, Fernando Alves, os números mostram que os CEOs brasileiros continuam confiando na agenda de reformas econômicas – como a previdenciária, a tributária e a administrativa, além das privatizações e concessões – que o país vem implementando, ainda que não ocorram na velocidade esperada. Segundo o CEO, além do avanço das reformas, o bom desempenho das empresas brasileiras dependerá do aumento de sua produtividade. “Investir em tecnologia e na qualificação do capital humano das organizações é a chave para o crescimento sustentável em um ambiente de negócios dinâmico e progressivamente impactado pela tecnologia”, comenta Fernando Alves. “Esse é o desafio das nossas empresas e do resto do próprio Brasil.”

Em relatório divulgado em janeiro, também em Davos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a perspectiva de crescimento do Brasil em 2020 e passou a projetar uma expansão de 2,2% do PIB, 0,2% mais do que no relatório de outubro de 2019. “Estamos diante de uma pauta liberal na economia, de privatizações, de redução do déficit fiscal, de simplificação tributária e de melhora na infraestrutura. É um processo de recuperação mais contínuo e que será seguido nos próximos anos”, afirma Frederico Curado, CEO do Grupo Ultra – um dos maiores grupos empresariais do país, líder nos segmentos de distribuição de gás e combustíveis e de varejo farmacêutico.

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Inovação e tecnologia

Para capitalizar esse potencial, os CEOs brasileiros continuam apostando no caminho da inovação. Repetindo o mesmo cenário do ano anterior, 84% dos entrevistados pela CEO Survey disseram que a principal estratégia para ampliar seus resultados será apostar em crescimento orgânico, enquanto 78% vão investir no lançamento de novos produtos ou serviços; 52% apostam numa maior colaboração com empreendedores ou startups; e 47% buscarão a entrada em novos mercados.

Entre as prioridades tecnológicas apontadas pelos CEOs, destacam-se a privacidade digital, a inteligência artificial e as novas redes 5G – todas com 16% –, seguidas por segurança cibernética (14%), robótica (11%), internet das coisas (9%) e biotecnologia (9%). “A pesquisa mostra que os líderes empresariais estão atentos à necessidade de investimentos significativos em tecnologia, capazes de manter as organizações preparadas para a economia digital”, afirma Fernando Alves.

Qualificação digital

Outro requisito indispensável para o crescimento das receitas nos próximos 12 meses serão os investimentos em projetos de qualificação dos profissionais com foco no ambiente digital. Entretanto, segundo a CEO Survey, apenas 18% dos executivos relataram progressos relevantes ao estabelecer programas de digital upskilling em suas empresas, como aumento de produtividade e retenção de talentos. Essa agenda já está entre as prioridades de empresas de primeira linha no Brasil como o Grupo Ultra. “Os jovens querem se movimentar rapidamente. A capacidade de atrair as pessoas também passa por outras questões, como a simplificação do próprio ambiente de trabalho interno, menos hierarquia, menos regras antiquadas e mais comunicação. Há um processo de mudança cultural e organizacional em curso, no qual acredito que o desafio para as empresas brasileiras esteja naquilo que não depende só delas, mas, sim, de todo um ambiente brasileiro”, diz Frederico Curado, CEO do Grupo Ultra.

Para 2020, o Grupo Ultra anunciou um plano de R$ 1,8 bilhão em investimentos que contempla iniciativas de expansão, melhorias operacionais e investimentos em tecnologia. “Estamos trabalhando com startups, por exemplo, no Ipiranga e na Ultragaz, onde nossas equipes conseguem interagir com ecossistemas de inovação e, eventualmente, com universidades”, explica Curado.

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Fernando Alves, CEO da PwC Brasil

“Investir em tecnologia e na qualificação do capital humano das organizações é a chave para o crescimento sustentável”

23ª Global CEO Survey

Fonte: 23ª Global CEO Survey

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O sucesso desse movimento de qualificação, contudo, não depende apenas da iniciativa das organizações, mas também de uma mudança de mindset da força de trabalho. Entre os principais desafios para o alcance de níveis satisfatórios de qualificação, segundo 27% dos executivos brasileiros consultados pela 23ª Global CEO Survey, está a capacidade da força de trabalho de aprender novas habilidades; enquanto 27% afirmam que a barreira está na motivação necessária para aprender e aplicar os novos conhecimentos. Tais índices estão acima das médias globais, calculadas em 14% e 13%, respectivamente. Esse cenário passa a exigir mais empenho dos CEOs, segundo Fernando Alves. “O papel dos líderes das organizações está mudando. Eles devem ser os condutores dessa transformação, inspirando e movendo seu capital humano na direção de projetos inovadores e novas formas de colaboração. É uma oportunidade ímpar para o desenvolvimento das pessoas e dos negócios”, destaca o CEO da PwC Brasil.

mais de

30 46% 81subsetores industriais

territórios representados

de empresas com receita mínima de US$ 1 bilhão

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Os CEOs acreditam no aumento de suas receitas nos próximos 12 meses, mas preveem desaceleração do crescimento do PIB global

Expectativas para 2020

2019 20192020 2020

82%

72%

Global GlobalBrasil Brasil

95%

78%

Crescimento de receitas Desaceleração do PIB global

2019 2019

29%

53%

2020 2020

15%45%

Frederico Curado, CEO do Grupo Ultra

“Há um processo de mudança cultural e organizacional em curso. Reter os melhores talentos não é mais pagar o melhor salário, mas oferecer propósitos para uma atuação amplificada”.

Entrevistados que declararam estar “extremamente preocupados”

Principais ameaças às perspectivas de crescimento das empresas em 2020

Global

36% Excesso de regulação

35% Conflitos comerciais

34% Crescimento econômico incerto

33% Ameaças cibernéticas

33% Incertezas políticas

32% Disponibilidade de mão de obra qualificada

Brasil

50% Crescimento econômico incerto

50% Carga tributária

47% Infraestrutura inadequada

47% Excesso de regulação

42% Populismo

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Fonte: 23ª Global CEO Survey

Fonte: 23ª Global CEO Survey

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empresa

Após a compra da Avon, a brasileira Natura &Co se torna o 4º maior grupo de beleza do mundo. Agora, enfrenta o desafio de aprimorar a experiência de 200 milhões de consumidores e intensificar a internacionalização da marca Natura

Beleza made in Brazil

Quando o empresário Luiz Seabra decidiu abrir uma pequena loja de cosméticos na rua Oscar Freire, em São Paulo, em agosto de 1969, era difícil imaginar que um dia a empresa poderia adquirir musculatura suficiente para incorporar a Avon, com seus 133 anos de história. Meio século depois, porém, a bem-sucedida união entre um modelo de negócios pautado pelas relações entre as pessoas, o espírito de inovação e uma gestão empresarial eficiente culminou na aquisição da concorrente norte-americana, finalizada no ano passado, num negócio avaliado em mais de US$ 3,7 bilhões.

Com a recente aquisição, Natura &Co passa a ter um faturamento anual superior a US$10 bihões, mais de 40 mil colaboradores e presença em 100 países. É o quarto maior grupo de beleza do mundo. “Vivemos um momento histórico e transformador para a Natura, que celebrou no ano passado seu aniversário de 50 anos. Estamos consolidando nossa posição na América Latina, expandindo a presença na Ásia, que ainda é incipiente, e ingressando em novos mercados, como a África”, afirma João Paulo Ferreira, que comandava a Natura no Brasil desde 2016 e agora preside a Natura &Co na América Latina, grupo que reúne as marcas Natura, Avon, The Body Shop e Aesop. A expectativa é que quase 70% da receita líquida venha de outros mercados.

A empresa soma mais de 6,3 milhões de consultoras e revendedoras de beleza, mais de 3.500 lojas físicas e plataformas de e-commerce e mais de 200 milhões de clientes. Com a aquisição da Avon, a Natura&Co acelera o processo de internacionalização e aumenta a presença em mercados-chave com um portfólio voltado para a biodiversidade e para o empoderamento feminino.

Para Carlos Coutinho, sócio e líder do setor de Varejo e Consumo da PwC Brasil, a aquisição da Avon é o marco de uma história de sucesso no mercado brasileiro de beleza. “A Natura credibilizou seu crescimento, desde a fundação, no fortalecimento da marca vinculada à natureza e ao uso eficiente dos recursos naturais, e na capacidade das consultoras de criar relacionamentos com os seus clientes. O desafio agora é internacionalizar o seu modelo de negócios, aprimorando a experiência dos consumidores”, avalia.

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Força das marcas

Com foco na internacionalização, a Natura já havia adquirido a marca britânica The Body Shop, em 2017, e a australiana Aesop em 2013. “Formamos uma família que une quatro marcas fortes, guiadas por propósito e unidas na busca por uma melhor maneira de viver e fazer negócios, por meio de impacto ambiental, econômico e social positivo”, afirma João Paulo Ferreira.

As sinergias resultantes da combinação das operações das empresas vão possibilitar aumentar a rentabilidade da companhia no médio prazo, estimada em algo entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões por ano no período de 36 meses, principalmente no Brasil e na América Latina, maiores mercados da nova companhia, que tem receita bruta de US$ 10,9 bilhões. O grupo está em um momento de olhar para a frente. Para crescer ainda mais, vai utilizar a experiência acumulada e o potencial da enorme rede de distribuição em escala global.

Tal combinação cria o maior grupo de relação direta com o consumidor do planeta. São mais de 4,1 milhões de consultoras e representantes somente na América Latina, tanto da Natura quanto da Avon — desse total, quase 500 mil vendem produtos de ambos os rótulos. “Dos lares atualmente penetrados pelas empresas na região, 25% são apenas da Natura e 40% são da Avon, enquanto 35% já têm contato com produtos das duas marcas. Isso indica um potencial de 65% dos lares que podem ter a presença de ambas”, comenta Ferreira.

“Unimos quatro marcas fortes na busca por uma melhor maneira de viver e fazer negócios, com impacto ambiental, econômico e social positivo”

João Paulo Ferreira, CEO da Natura &Co. para a América Latina

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Loja da Natura, em São Paulo: produtos aliam elementos da cosmética internacional com ingredientes desenvolvidos com a biodiversidade brasileira

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João Paulo Ferreira, CEO da Natura &Co para a América Latina: “Vivemos um momento histórico e transformador para a Natura, que celebrou no ano passado seu aniversário de 50 anos”

Propósito global

A Natura se destacou, ao longo de sua trajetória, por usar a biodiversidade brasileira como fonte de inovação tecnológica. Seus produtos aliam elementos da cosmética internacional com ingredientes desenvolvidos com a flora brasileira, sobretudo da Amazônia. Destacam-se os ativos Ucuuba e Murumuru, que fazem parte das famílias de ingredientes da linha Natura Ekos.

A Ucuuba é um fruto com propriedades altamente hidratantes. Sua árvore estava em risco de extinção, mas saiu da lista de espécies ameaçadas graças às ações da população local em parceria com a Natura. Já a Murumuru, planta nativa da Amazônia, era derrubada e queimada para dar lugar a outras culturas na região. Hoje o ativo é utilizado na recuperação do fio capilar. “Consolidamos um grupo movido por propósitos, unindo forças para a defesa de causas comuns às nossas marcas, como uso sustentável da biodiversidade, empoderamento feminino, eliminação dos testes em animais na indústria cosmética e, também, combate à crise climática”, pontua o CEO.

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O grupo tem provado que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação ambiental e responsabilidade social. Movimentou mais de R$ 1,5 bilhão em negócios na Amazônia, através de parcerias com institutos de pesquisa, comunidades extrativistas, agricultores e outros, e doou mais de R$ 4 bilhões a causas ligadas à mulher, como o combate ao câncer de mama e à violência doméstica. A política de equidade de gênero é outra prioridade para a empresa: 56% das posições gerenciais são ocupadas por mulheres e a meta é equilibrar em 50% a presença em posições de diretoria. “Buscamos 100% de igualdade salarial, com processos internos que garantam equilíbrio entre concorrentes homens e mulheres a uma mesma vaga”, afirma João Paulo Ferreira.

De acordo com o sócio da PwC Brasil, são valores que posicionam a empresa em vantagem, numa era em que os consumidores passam a exigir mais do que qualidade e preço. “Esse senso de propósito que a marca consegue comunicar tende a fortalecer sua imagem, aprimorar a experiência dos clientes e atrair mais consumidores”, avalia Carlos Coutinho. “É preciso impulsionar esse legado em escala global e entender os canais de venda direta que devem ser utilizados para, assim, proporcionar uma experiência de consumo diferenciada.”

Carlos Coutinho, sócio e líder do setor de Varejo e Consumo da PwC Brasil

“A Natura credibilizou seu crescimento no fortalecimento da marca vinculada à natureza e ao uso eficiente dos recursos naturais, e na capacidade das consultoras de criar relacionamentos com os seus clientes”

Carlos Coutinho, sócio e líder do setor de Varejo e Consumo da PwC Brasil: “Para crescer ainda mais, a Natura vai utilizar a experiência acumulada e o potencial da enorme rede de distribuição em escala global”

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tendência

Tecnologia de transmissão de dados 5G promete conectar bilhões de dispositivos ao redor do mundo, integrar casas inteligentes e aumentar a produtividade da indústria e da agricultura. No Brasil, no entanto, a chegada do novo padrão pode acontecer somente a partir de 2021

Revolução sem fio

Até pouco tempo atrás, carros dirigidos por sistemas automatizados, enquanto os passageiros desfrutam da viagem assistindo à TV, repassando os e-mails de trabalho ou lendo um livro, pareciam coisa de um futuro distante. Não são mais. Em países como Estados Unidos, China e Coreia do Sul, essa cena já é realidade, como no parque industrial Brooklyn Navy Yard, em Nova Iorque, onde minivans sem motorista transportam todos os meses cerca de 16 mil passageiros do complexo formado por 400 empresas.

A tecnologia responsável por tornar esse cenário possível é o chamado 5G, a quinta geração de redes móveis de transmissão de dados, em funcionamento desde 2018 em algumas regiões dos Estados Unidos. O novo padrão permite o controle em tempo real dos dispositivos conectados com velocidade superior às atuais redes 4G.

“O 5G é a tecnologia mais importante da próxima década, não só por oferecer a melhor conectividade entre os dispositivos, com a IoT [internet das coisas, na sigla em inglês], mas também por possibilitar serviços e produtos com níveis de qualidade infinitamente mais altos. Há uma revolução tecnológica em curso que transformará a forma como as pessoas se movimentam e se relacionam e como os modelos de negócios são construídos”, avalia Ricardo Queiroz, sócio e líder do setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da PwC Brasil.

Potencial do 5G

Com o uso das modernas tecnologias de computação em nuvem e inteligência artificial, as redes 5G constituem uma plataforma de inovação pela qual ocorrerão transformações disruptivas, acelerando os processos de digitização que caracterizam a chamada Indústria 4.0. Entre as mudanças previstas está a consolidação de sistemas de transporte inteligentes; da agricultura de alta precisão, com o geoposicionamento de máquinas e a varredura de solo por drones; e da manufatura digital, incluindo a automação de máquinas e o acompanhamento de dados da produção em tempo real. “A tecnologia amplia os ganhos de produtividade e a eficiência das fábricas e da indústria”, afirma Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson LATAM South. “A velocidade de transmissão de dados chega a ser até 1.000 vezes mais rápida do que o 4G, com um tempo de resposta [latência] 50 vezes mais baixo. Aplicando isso em uma colheitadeira conectada, por exemplo, podemos ter índices de produtividade muito elevados.”

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Em janeiro, a companhia sueca – uma das maiores fabricantes mundiais de infraestrutura de redes e soluções digitais para telecomunicações – anunciou investimentos de R$ 1 bilhão em pesquisa, desenvolvimento e fabricação do 5G no Brasil, de 2020 a 2025.

O aporte permitirá o desenvolvimento de uma linha de montagem exclusivamente dedicada a produtos de tecnologia 5G, os quais serão fornecidos a toda a América Latina. “Vamos ter mais de 5 bilhões de ‘coisas’ conectadas. Muitas dessas conexões ocorrerão através das novas redes, utilizando cerca de 45% do tráfego global de dados móveis”, afirma Ricotta. A expectativa da Ericsson é que o 5G cubra 65% da população global até o fim de 2025.

De acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT, a agência da ONU para as tecnologias da informação e da comunicação), a nova infraestrutura oferecerá suporte a mais de 1 milhão de dispositivos por quilômetro quadrado, permitindo multiplicar o uso de dispositivos de realidade virtual, vídeos em 3D, jogos na nuvem e cirurgias remotas. “O ecossistema de telecomunicações se preparou ao longo dos últimos anos para levar essa tecnologia para o mercado. Não tenho dúvida de que rapidamente o 5G vai funcionar em larga escala no mundo”, afirma Queiroz.

Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson LATAM South: “Vamos ter mais de 5 bilhões de ‘coisas’ conectadas. Muitas dessas conexões ocorrerão através das novas redes 5G, utilizando cerca de 45% do tráfego global de dados móveis”

Leonardo Euler, presidente da Anatel: “Espera-se que, no decorrer da implantação do 5G, surjam aplicações inovadoras que aproveitem seu potencial tecnológico para introduzir serviços que ampliem a eficiência da indústria”

Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson LATAM South

“A velocidade de transmissão de dados chega a ser até 1.000 vezes mais rápida do que o 4G, com um tempo de resposta 50 vezes mais baixo”

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Implantação brasileira

No Brasil, no entanto, o cenário ainda é incerto. Apesar de a tecnologia estar sendo testada no país desde 2016, as regras para a implementação das novas redes permanecem em discussão, embora a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tenha aprovado a proposta de edital do leilão das novas frequências em fevereiro de 2020 e trabalhe com a expectativa de lançar o pregão até o fim deste ano.

As indefinições envolvem questões técnicas e regulatórias em relação à implantação da tecnologia e o aprendizado com as experiências de outros países que já têm o novo padrão em funcionamento. A Coreia do Sul, por exemplo, foi a pioneira no uso comercial da tecnologia ao lançar, em abril do ano passado, três redes com radiofrequência 5G. Hoje, há quase 1,5 milhão de usuários, mas o sinal em diversas regiões do país ainda é inconstante. Nos Estados Unidos, segundo a pesquisa Making 5G Real, da PwC, a tecnologia estará disponível para 60% da população até julho de 2020.

“A implantação de redes de telecomunicações no Brasil, qualquer que seja a tecnologia adotada, envolve inúmeros desafios”, afirma Leonardo Euler, presidente da Anatel. “Temos dificuldades de viabilizar investimentos por falta de demanda, além dos custos decorrentes da geografia do país e das limitações na instalação de suporte de redes [torres e antenas] em áreas urbanas, em função da inexistência ou da desatualização das legislações municipais.”

No Brasil, cada município tem a prerrogativa de estabelecer as regras de instalação de antenas de telecomunicações, o que causa insegurança jurídica para os investimentos. Para Ricardo Queiroz, sócio da PwC, essa é uma questão operacional urgente. “O desafio é que o 5G requer mais proximidade entre as antenas para que a velocidade de transmissão de dados atinja a eficiência esperada”, diz.

Nova tecnologia de rede móvel representa uma evolução significativa sobre o 4G

Vantagens do 5G

superior em densidade de conexão10x

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superior em capacidade de transferência de dados10x

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Fonte: Making 5G Real, PwC

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Ricardo Queiroz, sócio e líder do setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da PwC Brasil: “O 5G é a tecnologia mais importante da próxima década, não só por oferecer a melhor conectividade, mas por também possibilitar serviços e produtos com níveis de qualidade mais altos”

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Os investimentos no setor de telecomunicações brasileiro passarão de R$ 40 bilhões nos próximos dez anos, sendo 40% desse montante destinado a redes de banda larga móvel, de acordo com a Anatel. “Espera-se que, no decorrer da implantação do 5G, surjam aplicações inovadoras que aproveitem seu potencial tecnológico para introduzir serviços que ampliem a eficiência da indústria e suscitem o interesse da sociedade em telemedicina, cidades conectadas, Agricultura 4.0, entre diversas outras aplicações”, pontua Euler.

Para o presidente da Ericsson LATAM South, Eduardo Ricotta, após a implementação das novas redes 5G no país, não há risco de os custos da tecnologia aumentarem para o consumidor final. “O custo da frequência no Brasil está entre os mais altos do mundo, mas acreditamos que o 5G estará mais acessível à massificação da tecnologia. E esse processo será rápido”, afirma.

Áreas da economia que deverão ser impactadas pelo 5G

Futuro Conectado

consolidação dos carros autônomosMobilidade

consumo de vídeos e games em tempo real

velocidade de conexão até 1.000 vezes maior

Mídia

Comunicação

uso de drones e máquinas inteligentes no campo

cirurgias realizadas por robôs à distância

Agricultura

Saúde

processos de produção coordenados e realizados por robôs

Indústria

Fonte: Ericsson

“Há uma revolução tecnológica em curso que transformará a forma como as pessoas se movimentam e se relacionam e como os modelos de negócios são construídos” Ricardo Queiroz, sócio e líder do setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da PwC Brasil

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entrevista

Para Bob Moritz, chairman global da PwC, os líderes das organizações devem ser os agentes da mudança na era digital, assegurando um ambiente estimulante para o aprendizado de novas habilidades pelas respectivas forças de trabalho

Novo mundo, novos desafios

A revolução digital está alterando radicalmente o ambiente de negócios e a forma como as pessoas se relacionam, produzem, consomem e trabalham. Preparar os profissionais para a economia digital tornou-se uma necessidade para manter a longevidade das organizações, a competitividade da força de trabalho e para evitar um aumento dramático das desigualdades sociais. Na visão de Bob Moritz, chairman global da PwC, “as pessoas estão se sentindo ameaçadas pelas mudanças no mercado de trabalho e há muita assimetria entre as que têm oportunidades de desenvolver novas habilidades e as que não têm”, alerta.

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Bob Moritz, chairman da PwC

“Os vencedores da economia digital não serão os que sobreviverem aos avanços tecnológicos; serão os mais ágeis em aproveitar as oportunidades que serão criadas”

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Entender a dimensão do problema, porém, não é suficiente. Para Moritz, é preciso agir rapidamente. “Os líderes globais devem ser os agentes da mudança e criar um ambiente propício para assimilarmos de forma ágil os novos conceitos da economia digital. Algumas empresas já estão realizando investimentos, mas a maioria delas em setores restritos e com alcance limitado. O ideal é que todas as pessoas tenham a oportunidade de se engajar digitalmente”, afirma o executivo, citando as tecnologias inteligência artificial, análise de dados e blockchain como algumas das ferramentas que precisam entrar na agenda de qualificação dos profissionais.

Com 34 anos na PwC, três na posição de chairman global, Moritz está envolvido ativamente no World Economic Forum, liderando discussões sobre medidas anticorrupção e em prol da transparência. Também é membro do International Business Council, composto de 120 das maiores multinacionais do planeta. Neste momento, conduz na PwC um dos mais ambiciosos programas de digital upskilling do mundo. A iniciativa pretende investir cerca de US$ 3 bilhões no treinamento de mais de 275 mil funcionários em 158 países. “O engajamento e a satisfação dos nossos colaboradores têm aumentado. E, com isso, eles entregam melhores resultados, pois acreditam que estão avançando profissionalmente. Estamos vivendo uma rápida e profunda transformação”, comenta Moritz.

Com base na experiência bem-sucedida da PwC, Bob Moritz fala, em depoimento à CEO Brasil, sobre o papel dos líderes na transformação da sociedade e aponta os riscos para as organizações que não investirem na qualificação de seu quadro.

O mundo tem visto, ao longo da última década, a tecnologia transformar modelos de negócios e a forma como as pessoas trabalham e se relacionam. Por que estimular o debate em torno de projetos de digital upskilling é importante neste momento?

Quando analisamos as megatendências que estão acontecendo no mundo [assimetria de renda e oportunidades, disrupção tecnológica, envelhecimento populacional, surgimento do populismo e perda da confiança nas instituições], percebemos que, se não nos adaptarmos a elas, veremos um aumento cada vez maior das desigualdades sociais. Percebemos que a sociedade, o setor privado e os governos ainda não encontraram uma resposta para essa questão. O mundo está mudando rapidamente e temos de preparar nossos cidadãos para as oportunidades futuras. Nesse contexto, entendemos que este seja o momento para debater o assunto, convocando outras organizações para somar esforços e enfrentar esse desafio.

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Até 2022, a PwC investirá US$ 3 bilhões na qualificação digital de seus funcionários e no compartilhamento de tecnologias para apoiar clientes e comunidades em mais de 150 países. Veja algumas iniciativas:

Iniciativas Globais

Junto a instituições sociais e escolas públicas, a PwC Brasil, por meio do seu voluntariado, promove encontros com jovens para debater questões relacionadas ao futuro, tecnologia e carreira

Programa oferece treinamento, qualificação digital e mentoria a jovens desempregados no Canadá

Apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvimento do ensino e para a qualificação digital de jovens em escolas rurais na África do Sul

Estudantes universitários recebem treinamento e orientação de profissionais da PwC para aprimorar seus projetos futuros na Espanha

Access Your Potential

Young People Project

Skilled for the Future

Junior Achievement Program

O que os líderes das organizações devem fazer para engajar as pessoas e disseminar essa decisão de mudança?

Os líderes globais têm um papel importante nesse processo e muito trabalho a fazer. Precisamos ser os agentes da mudança e formar um ambiente propício para a rápida assimilação desses novos conceitos. Não é criar uma separação entre um grupo de pessoas que produzem “trabalhos interessantes” e outro realizando o de sempre. Todos devem participar do processo. O líder tem de comunicar essa visão a seus liderados e preparar o terreno para uma qualificação diferenciada. Isso exige a busca dos melhores caminhos para a capacitação profissional. Uma das possibilidades, por exemplo, é incentivar a autoaprendizagem por meio de plataformas digitais e cursos on-line. Além disso, no ambiente externo à organização, é preciso que os líderes tenham voz ativa na sociedade, atraindo pessoas para o desenvolvimento das novas habilidades e o uso das tecnologias essenciais. É preciso, também, o apoio de outras organizações, governos e líderes de comunidades locais para tornarmos programas como o Digital Upskilling, da PwC, uma realidade mundial.

Fonte: PwC Community Commitment

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As empresas têm atualmente o desafio de integrar diferentes gerações de trabalhadores, como baby-boomers, geração X e millennials. Como fazer isso em uma nova realidade digital sem deixar ninguém para trás?

Está muito claro que precisamos investir para viabilizar a capacitação da nossa força de trabalho e, mais que isso, entender como obter o melhor retorno desse investimento. Estamos dando a pessoas de diferentes gerações a chance de se desenvolver e liderar nesse novo ambiente, estimulando a inovação e até mesmo a tomada de decisões com certo grau de risco. Todos esses fatores são relevantes ao tratarmos de digital upskilling dentro da PwC.

É proporcionar um aprendizado contínuo a todas as nossas pessoas, não importando a qual geração pertencem, e não apenas criar códigos ou aplicativos.

O que a PwC está fazendo para impulsionar a qualificação digital de seus profissionais?

As questões sobre o futuro do trabalho que preocupam os profissionais de outras organizações afetam igualmente as nossas pessoas: “Eu terei a oportunidade de progredir e avançar?”; “Meu trabalho ainda existirá?”; ‘As habilidades que eu tenho hoje serão suficientes para acompanhar os passos futuros da empresa?” Essas questões estão alinhadas também às expectativas dos nossos clientes, que querem mais valor e relevância para uma entrega mais eficaz e eficiente. Com isso, chegamos à conclusão de que precisaríamos atender a estas duas dimensões de expectativas: a dos nossos colaboradores e a dos nossos clientes. O primeiro passo foi expandir nossa abordagem sobre o uso de dados. Nosso pessoal e nossos clientes são os maiores bens, mas, agora, os dados e o conhecimento são igualmente importantes.

O segundo passo é proporcionar ao nosso pessoal as habilidades necessárias para que consiga não apenas fazer o trabalho que é pedido mas também criar e transformar produtos e processos, superando as expectativas. Estamos dando a todos na PwC – mais de 275 mil pessoas – a chance de se aprimorar e aprender. Maior inovação virá da base da organização, não de pequenos grupos. Estamos criando uma cultura diferente.

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Nos próximos quatro anos, a PwC investirá aproximadamente US$ 3 bilhões na qualificação digital das pessoas. Muitas empresas talvez não vejam os benefícios de realizar um aporte dessa magnitude. Quais são os riscos de não enxergar o digital upskilling como uma necessidade?

Essas empresas perderão a oportunidade de oferecer uma nova experiência a seus clientes, engajar sua força de trabalho de uma maneira diferente e aumentar a produtividade. Também perderão a chance de aproveitar os resultados dessa inovação para reinvestir em outras áreas. Em algumas empresas que já estão atentas a essa questão, os investimentos estão sendo feitos em pequenos times, não em todas as pessoas. Quanto mais você conseguir expandir esse mindset na organização, mais rapidamente evoluirá. Os vencedores da economia digital não serão os que sobreviverem aos avanços tecnológicos; serão os mais ágeis em aproveitar as oportunidades que serão criadas.

“Estamos proporcionando ao nosso pessoal o desenvolvimento das habilidades necessárias para que faça além do que é esperado”Bob Moritz, chairman da PwC

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Quatro anos depois de sua virtual destruição por um incêndio, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, reencontrará o público com a missão de integrar a comunidade lusófona e valorizar o português, idioma falado por mais de 260 milhões de pessoas

Língua viva

Em 21 de dezembro de 2015, um defeito em um holofote provocou um incêndio de grandes proporções que destruiu quase integralmente o Museu da Língua Portuguesa, provocando a morte do bombeiro civil Ronaldo Pereira, de 39 anos, que trabalhava no local. Pouco mais de quatro anos depois da tragédia, um esforço conjunto de entidades da sociedade civil e do poder público culminará, em junho deste ano, na reabertura da instituição, recolocando em evidência a riqueza cultural da língua portuguesa.

Localizado na histórica Estação da Luz, em São Paulo, o museu, criado pelo Governo do Estado de São Paulo e administrado pela organização social de cultura IDBrasil, é uma das primeiras instituições exclusivamente dedicadas ao idioma de um país. Com projeto arquitetônico de Paulo Mendes da Rocha e de seu filho, Pedro, o espaço de 8,5 mil m² abrigava um acervo predominantemente digital que permitia ao público viajar pela língua por meio de filmes, audições de leituras e textos projetados pelos corredores e salas interativas. Exposições memoráveis apresentaram às novas gerações a obra de grandes escritores, como Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e Oswald de Andrade.

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Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo: uma das primeiras instituições exclusivamente dedicadas ao idioma de um país

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O museu ofereceu um acervo cultural de qualidade que estimulava as pessoas à reflexão. Acreditamos que seu legado seja proporcionar um acesso indissociável à ciência, à cultura e à educação por meio do nosso maior patrimônio, que é a língua”, afirma Wilson Risolia, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, responsável pelo projeto de criação do museu e por sua reconstrução.

Em uma década desde a abertura até o incêndio, cerca de 4 milhões de pessoas passaram pelo Museu da Língua Portuguesa. O sucesso de público foi repetido pela recepção da crítica, que incluiu até mesmo um diploma da Unesco em reconhecimento à sua contribuição para as áreas de comunicação e informação. O modelo inovador da instituição foi referência para outras iniciativas bem-sucedidas que viriam depois, como o Museu do Futebol e o Museu do Amanhã. “Ele valoriza a língua viva, com toda a sua diversidade, na literatura, na culinária, na música e nas gírias que surgem nas ruas e nas redes sociais”, afirma Eric Klug, diretor executivo do IDBrasil, que administra o museu desde junho de 2012.

Reconstrução e sustentabilidade

As chamas atingiram os três pavimentos do museu e danificaram a cobertura do prédio em 2015. A reconstrução foi iniciada três meses depois, fruto de uma parceria do Governo do Estado com a Fundação Roberto Marinho, e teve orçamento de R$ 81,4 milhões – a maior parte do custo foi financiado pela indenização do seguro contra incêndio, cerca de R$ 34 milhões; o restante veio de empresas privadas, inclusive por meio da Lei Rouanet, e de investimentos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. O projeto dividiu-se em três fases: restauro das fachadas e esquadrias; recuperação dos espaços internos; e reconstrução da cobertura.

A prioridade foi utilizar materiais que previnam um novo acidente: madeira mais grossa e instalação de sprinklers [esguichos de água] em todo o prédio. As diretrizes de sustentabilidade tiveram foco na obtenção do selo Leed [Leadership in Energy and Environmental Design] – um dos mais importantes na área de construções sustentáveis. Cerca de 85% da madeira utilizada na recuperação das esquadrias foi reaproveitada do material já existente no edifício. Já no reparo da cobertura foram empregadas 89 toneladas de madeira certificada, proveniente da Amazônia.

Uma cerimônia realizada em dezembro de 2019 marcou a entrega das obras pelo governador de São Paulo, João Doria. “Celebramos a valorização da língua portuguesa como o nosso maior patrimônio cultural e imaterial com um museu que assimila novas tecnologias e será mais interativo e maior do que aquele que havia antes”, afirmou Doria.

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Entre 2006 e 2015, o Museu da Língua Portuguesa abrigou cerca de 30 exposições temporárias e proporcionou aos visitantes experiências interativas em ambientes imersivos. Relembre algumas delas:

Principais exposições

Grande Sertão: Veredas De 20/03/2006 a 28/02/2007

Criada com materiais simples de construção, como tijolos, areia, água e madeira, a exposição levou o visitante ao sertão da obra de Guimarães Rosa e reproduziu o percurso feito por algumas das personagens, como Riobaldo, Zé Rebelo e Diadorim.

Cazuza – Mostra Sua Cara De 22/10/2013 a 23/02/2014 Contando com depoimentos de amigos e especialistas sobre a vida e a carreira de Cazuza, a mostra possibilitou aos visitantes conhecer as músicas, as inspirações e vídeos com entrevistas em diversos momentos da trajetória do ex-líder do Barão Vermelho.

Fernando Pessoa, Plural como o Universo De 24/08/2010 a 20/02/2011

Primeiro autor estrangeiro a ser homenageado em uma exposição no museu, Fernando Pessoa é considerado o mais brasileiro dos poetas portugueses. A mostra explorou seus manuscritos, textos datilografados e versos inéditos.

Oswald de Andrade: O Culpado de Tudo De 27/09/2011 a 26/02/2012

Oswald foi um escritor brasileiro que pensava nas transformações da sociedade em que vivia. A mostra permitiu ao visitante mergulhar nas ideias do escritor e conhecer suas diferentes fases, divididas em poética, biográfica e filosófica.

Fonte: IDBrasil Cultura, Educação e Esporte. Imagens: Reprodução

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Wilson Risolia, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho: “O Museu da Língua Portuguesa não tem vida útil, é eterno”

Patrimônio preservado

O acervo, durante todo o processo de reconstrução, continuou sendo apresentado por meio de atividades culturais e educativas. “Não houve perda do patrimônio, o que é uma grande vantagem dos museus com conteúdos digitais. Ele pode viajar, ser replicado para atingir mais pessoas”, afirma Klug. Exemplo disso foram as exposições montadas nos últimos três anos na Estação da Luz, durante o Dia Internacional da Língua Portuguesa; nas bienais do livro do Rio de Janeiro e de São Paulo, em 2017 e 2018, respectivamente; e a mostra itinerante A Língua Portuguesa em Nós, em 2018, apresentada em Angola, Cabo Verde e Moçambique.

No total, mais de 260 milhões de pessoas, em nove países, falam português como língua oficial, segundo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Para a professora Lílian Ghiuro Passarelli, doutora em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, além de documentar os usos da língua, “o museu propicia a integração cultural entre os países lusófonos e reafirma a identidade linguística do português, sobretudo a do português brasileiro”.

“O maior legado do museu é o acesso indissociável das pessoas à educação, à ciência e à cultura por meio da nossa língua” Wilson Risolia, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho

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Eric Klug, diretor executivo do IDBrasil Cultura, Educação e Esporte: “Valorizamos a língua viva, na literatura, na culinária, na música e nas gírias que surgem na sociedade”

Lílian Passarelli, doutora em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: “O museu registra as mudanças da língua por meio da tecnologia. Essa é a legitimidade de um espaço que se propõe a documentar um ‘ser vivo’”

Nova vivência

O Museu da Língua Portuguesa reabrirá as portas ao público em 25 de junho com uma expografia [textos, imagens e áudios] renovada, como as instalações Línguas do Mundo, que destacará 20 das mais de 7 mil línguas faladas no planeta, e Falares, que explorará os diferentes sotaques e expressões do português no Brasil.

“O museu deve prosseguir com a proposta de registrar as mudanças que a língua apresenta ao longo do tempo por meio da tecnologia. Essa é a legitimidade de um espaço que se propõe a documentar um ‘ser vivo’”, comenta Lílian Passarelli.

Entre as novidades na estrutura física, o espaço ganhou um acesso direto pela estação de trem da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM); um Centro de Referência de estudos da língua portuguesa; e no último dos três andares está previsto funcionar um café a céu aberto com vista para o Parque da Luz e para a Pinacoteca de São Paulo. A estimativa é de 600 mil visitantes no primeiro ano da reabertura. “O museu não tem vida útil, é eterno. Pretendemos, cada vez mais, convidar as crianças e os jovens para que conheçam nossas instalações e reconheçam o lugar como parte da nossa sociedade”, diz Risolia.

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“Estamos mostrando que o Brasil é um mercado artístico pujante e em crescimento”Fernanda Feitosa, advogada e criadora da SP-Arte

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Com determinação e disciplina de ex-atleta, a advogada Fernanda Feitosa trocou uma carreira bem-sucedida para dedicar-se à paixão da família ao fundar a maior feira artística da América Latina, a SP-Arte

Refúgio das artes

Fernanda Feitosa lembra com carinho das visitas ao ateliê de seu tio, o pintor Roberto Feitosa, quando, ainda criança, passava horas desenhando, buscando copiar os trabalhos dele e de outros artistas amigos – como os do pintor Antônio Maia, que se espalhavam pela casa no Rio de Janeiro. “Tenho uma relação com a arte desde a infância. Meus tios são pintores e meus pais compravam obras de diversos artistas para o acervo familiar. Cresci nesse ambiente”, conta.

Apesar do berço artístico, os caminhos da carioca de 53 anos foram diversos – da natação profissional à diretoria de grandes empresas – antes que ela retornasse às origens. Em 2005, decidiu unir seu conhecimento de negócios ao interesse pelas artes visuais para criar um festival que desse vazão à pujança da produção cultural nacional: a SP-Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo. “Percebi, na época, que havia uma carência de espaços voltados para as artes moderna e contemporânea. E, aqui, tínhamos condições de fazer florescer um festival”, conta Fernanda.

A SP-Arte abriu as portas com uma curadoria que incluía 41 galerias no primeiro piso do Pavilhão da Bienal – espaço escolhido por ser um ícone da arquitetura modernista brasileira, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Na ocasião, apenas uma das galerias integrantes era estrangeira. Hoje, 15 anos depois, ocupando todos os andares do Pavilhão e recebendo mais de 160 expositores de arte e design advindos de 14 países, a SP-Arte é a maior feira artística da América Latina, o que torna a capital paulista parada obrigatória no roteiro global das artes.

Com exposição de cerca de 2 mil artistas, a última edição, em 2019, atraiu mais de 35 mil pessoas durante os cinco dias de evento – um recorde de público na história do festival. Segundo Fernanda, trata-se de uma “grande vitrine”, que proporciona um intercâmbio entre curadores e artistas que não existia no país.

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Inspiração argentina

Formada em Direito pela Universidade de São Paulo, com mestrado em Direito Bancário Internacional pela Universidade de Boston (Estados Unidos), Fernanda teve uma carreira bem-sucedida como advogada, trabalhando em bancos como o JP Morgan Chase & Co., onde foi vice-presidente jurídica, e como conselheira legal do portal de e-commerce Submarino. Exerceu a profissão até os anos 2000, época em que se mudou com o marido, Heitor Martins – ex-presidente da Fundação Bienal de São Paulo e atualmente à frente do Museu de Arte de São Paulo (Masp) –, e com os dois filhos, João e Maria, para Buenos Aires.

“Heitor assumiu o escritório local da McKinsey e resolvi me dedicar à adaptação da nossa família à nova realidade no exterior. Moramos lá até 2004 e, nesse período, tivemos a arte ainda mais como um refúgio”, comenta.

Fernanda e Heitor são casados há 25 anos. “Frequentávamos feiras e galerias de arte, exposições e eventos. Adquirimos muitas obras modernas, contemporâneas, fotografias e mobiliário.”

Uma das feiras de artes que Fernanda frequentou assiduamente durante os quatros anos em que morou na Argentina foi a ArteBa, de Buenos Aires, que mais tarde se tornaria uma referência para a SP-Arte. O salão, que abriga obras das galerias argentinas e de jovens artistas e criadores emergentes latino-americanos, ganhou relevância pela alta qualidade na curadoria.

Visão empreendedora

Ao retornar ao Brasil, Fernanda uniu seu desejo de atuar na área ao interesse de inserir o país no calendário internacional das artes – que inclui feiras renomadas, como a Art Basel, na Suíça, e a Frieze, na Inglaterra. “Quando tenho um objetivo, trabalho até conseguir. Não aceito um

‘não’ como resposta. Não me intimido diante dos obstáculos; acredito que eles fazem a gente se superar”, afirma.

O fôlego e a determinação vêm, em parte, de sua experiência como atleta. Nos anos 1980, Fernanda foi recordista brasileira e sul-americana de natação nos 200 e 400 metros medley e representou o Brasil em competições de atletismo por três anos consecutivos no Japão. “Fui acostumada a perseguir o que queria com disciplina, dedicação e muitas horas de treino e de suor. Fazer a SP-Arte foi um projeto a que me propus, não importava quais fossem as dificuldades e circunstâncias que iria encontrar”, comenta.

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Fomento ao mercado

Para Fernanda Feitosa, os dezesseis anos de SP-Arte contribuíram para aglutinar as principais tendências do mercado de artes visuais e dar visibilidade a novos artistas no país. “Acabamos nos tornando uma porta que possibilita a entrada de bons artistas jovens”, avalia. Desde a primeira edição, o evento aborda questões sociais, como a representatividade feminina no setor. “São políticas afirmativas. Nosso índice remissivo de artistas é 30% feminino. É algo que vem crescendo. As galerias estão buscando essa consciência.”

A empresária também acredita que o evento tenha facilitado o acesso a um mercado restrito, estimulando os negócios. Desde 2012, um acordo com o Governo do Estado garante a isenção fiscal do ICMS para comercialização de obras de arte durante os dias do festival.

“Temos enviado ao exterior a mensagem de que o Brasil é um mercado artístico pujante e em crescimento”, afirma.

Caminho digital e nacinal

A próxima edição da SP-Arte acontece de 1º de abril, mas desde o ano passado está disponível para o público a plataforma digital SP-Arte 365, que permite a criação de uma coleção digital com obras, artistas e galerias favoritos. Um leque com quase 4 mil obras, livros e peças de mobiliário foi cadastrado no sistema por galerias de arte e design.

“Acompanhamos cada vez mais o interesse das novas gerações por arte e cultura. Em meio a isso, a SP-Arte tem o papel de contribuir para a ampliação do repertório desse novo público, e a mídias digitais vêm se mostrando uma importante ferramenta para isso”, acrescenta. A ideia da plataforma não é a comercialização, e sim permitir uma conexão maior do público com as galerias de arte e, em paralelo, com os próprios artistas.

Fernanda pretende, no futuro, expandir o modelo da SP-Arte para outras regiões do país, contrariando a centralização da cena artística no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Há mercados promissores fora desse eixo. Cada cidade importante busca um evento como âncora do sistema de arte. Queremos transpor nossa experiência e profissionalismo para outras capitais e ver esse mercado crescer ainda mais”, conclui.

“A SP-Arte é uma vitrine que proporciona um intercâmbio entre curadores e artistas que antes não existia no Brasil”

Fernanda Feitosa, advogada e criadora da SP-Arte

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Marina Rheingantz

Pintora. A artista apresenta paisagens abstratas, em um processo de criação baseado em fotografias ou lembranças pessoais. Suas obras destacam estradas e ambientes internos. Em seu processo criativo, ela constrói e desconstrói repetidamente com sobreposições de tinta que formam grandes campos de cor e, ao mesmo tempo, realçam elementos pontuais.

Jaca (Paulo Carvalho Jr.) Quadrinista. A figuração é uma característica onipresente da obra do artista, povoada por personagens, cenários e situações imaginárias que formam um universo contrastante: infantil e adulto, ingênuo e perverso, retrô e futurista.

5 artistas da SP-Arte

Florian Raiss

Ficou conhecido por suas esculturas de bronze, argila e baixo esmalte, nas quais mostrava seus “quadrúpedes” – seres humanos em quatro apoios – caminhando em alguma direção, rumo ao futuro incerto. Suas obras apresentam cunho erótico e mítico, com sereias e centauros aparecendo em pinturas e desenhos em um mundo onírico.

Pedro Varela

Gravador e pintor. Mistura referências do barroco e da literatura. Suas obras exploram a ideia de um mundo imaginário que reúne elementos exóticos e tropicais. O artista pincela entre tons vibrantes e monocromáticos (preto, branco e azul) e formas psicodélicas.

Carlos Vergara Gravador, fotógrafo e pintor. Conhecido como um dos principais representantes da Nova Figuração Brasileira, movimento artístico surgido nos anos 1960 inspirado na pop art americana. Suas obras, construídas ao longo de cinco décadas, revelam afinidades com o expressionismo e a arte pop. A diversidade, a intensidade de cores e os elementos gráficos se destacam em seu portfólio.

Desde 2005, o festival reúne galerias de arte, revistas, museus e instituições, apresentando mais de 5 mil obras e 2 mil expositores do Brasil e do mundo. Saiba mais sobre alguns deles

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PublicaçõesThe Power to Perform: Human Capital 2020 and Beyond

Até 2020, a maior parte das tarefas transacionais de rotina será automatizada. A robótica e a inteligência artificial também assumirão um número crescente de funções de alto valor em áreas como negociação e consultoria financeira. O desafio dos empresários não é apenas garantir o uso das melhores tecnologias, mas também julgar o papel que sua força de trabalho desempenhará diante da disrupção tecnológica. Perceber o potencial requer repensar funções, responsabilidades, habilidades e mindset corporativos. A pesquisa The Power to Perform: Human Capital 2020 and Beyond, da PwC, apresenta sete prioridades de capital humano para ajudar as organizações a planejar o futuro.

http://bit.ly/pwc_humancapital2020

Fintech Deep Dive 2019

Graças ao rápido avanço da tecnologia, que tem eliminado importantes barreiras de entrada de novos players nesse mercado, cerca de três novas fintechs surgem em média no país a cada mês. Essas empresas estão oferecendo experiências inovadoras a uma ampla gama de consumidores por custos mais baixos. A segunda edição anual da Fintech Deep Dive, da PwC, explora o cenário atual das fintechs no Brasil e as tendências que definirão os prováveis vencedores nesse mercado nos próximos anos, trazendo informações que podem ajudar as empresas a se posicionar melhor para liderar a transformação dos serviços financeiros para o consumidor.

http://bit.ly/pwc_fintechdeepdive

Revista CEO | nº 41 45

Page 46: ceo - PwC · 2020-02-28 · editorial EInovar é a palavra de ordem para impulsionar o crescimento das receitas em 2020, segundo a 23ª edição da Global CEO Survey, da PwC.O levantamento,

23rd Annual Global CEO Survey

A pesquisa, realizada com líderes empresariais em 83 territórios, entre setembro e outubro de 2019, mostra que 53% dos CEOs acreditam em uma redução do crescimento do PIB global em 2020, ante menos de 30% no ano passado. Tais expectativas, contudo, não afetam na mesma medida a previsão dos líderes sobre o bom desempenho de suas organizações. Dos entrevistados 72% seguem acreditando em crescimento de receitas nos próximos 12 meses, ante a 82% na pesquisa anterior. No Brasil, também foi registrada uma redução do otimismo: de 95% em 2019 para 78% em 2020 – embora ainda acima do nível global. Um dos requisitos para o avanço nesse cenário é investir em inovação e em projetos de qualificação dos profissionais com foco no ambiente digital.

http://bit.ly/pwc_ceo_survey

Tax Function of the Future

As mudanças tecnológicas se estendem às áreas financeira e tributária das empresas, com o aumento do uso de recursos como inteligência artificial e blockchain. Os aplicativos ajudam a desenvolver novos produtos e tornam as análises tributárias mais ágeis e eficientes. Tais recursos são aplicados ao longo do ciclo de vida tributário da empresa, do planejamento ao relatório de conformidade e controvérsia. O levantamento Tax Function of the Future, da PwC, mostra como as novas tecnologias trazem inúmeras possibilidades para a área tributária.

http://bit.ly/pwc_taxfunction

Global NextGen Survey 2019

Pesquisa realizada pela PwC com empreendedores que aspiram se tornar líderes de empresas familiares revelou uma situação comum em todas as indústrias: os novos líderes se veem como agentes de mudança capazes, comprometidos e ambiciosos para atuar no mundo digital. Na edição de 2019 da NextGen Survey, 90% dos entrevistados afirmam ter uma estratégia de negócio adequada às atuais transformações e 48% dizem ter sido encarregados de liderar alguma iniciativa inovadora. Entre os desafios destacados pelos empreendedores estão o gerenciamento da dinâmica familiar dentro das empresas e o ritmo acelerado da disrupção tecnológica. http://bit.ly/pwc_nextgensurvey

23rd Annual Global CEO Survey

www.ceosurvey.pwc

Navigating the rising tide of uncertainty

Revista CEO | nº 41 46

Page 47: ceo - PwC · 2020-02-28 · editorial EInovar é a palavra de ordem para impulsionar o crescimento das receitas em 2020, segundo a 23ª edição da Global CEO Survey, da PwC.O levantamento,

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