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C.D.U: 311.213.6 A IMPLANTAÇAo DA MONOGRAFIA NA UFMA E SUA INSERÇAO NO CURSO DE GEO· GRAFIA Antonio Cordeiro Feitosa* RESUMO Este trabalho focaliza os problemas relacionados com a implantação da Monografia de Conclusão dos curSOb de graduação da Universidade Federal do Mar~ nhão e sua concepção entre os alunos de Geografia. Est baseado numa visão do pr~ blema nas universidades oficiais que mantêm cursos de graduação em Geografia e, na análise de informações fornecidas por alunos e graduados, compreendendo aspe~ tos estruturais, operacionalização e sugestões relevantes. 1- INTRODUçAo Reflexões sobre a elabora çao da monografia, enquanto ins trumento capaz de subsidiar a fo!. maçao de profissionais habilita dos a pesquisa científica, remo~ tam a época da estruturação dos cursos superiores nos diferentes ramos do conhecimento. Sua Lmp l.an tação, no entanto, tem sido op~ racionalizada em diferentes mo mentos, em função do nível de ma turação científica, do arcabouço teórico e das disponibilidades fi:. nanceiras e técnicas das comuni dades envolvidas. As primeiras monografias conhecidas constituem verdadeiros tratados acerca dos fenõmenos in vestigados. Foram iniciadas nas ciências médicas, desde Hipócr~ tes, e compreendiam a abordagem completa de um problema. Desse período são notáveis as monogr~ fias sobre anatomia, epidemiol~ gia, fisiologia e patologia. No âmb í, to das ciências na turais, importantes trabalhos mo nográficos vêm sendo produzidos desde a Antiguidade, sendo rele vantes as obras deixadas pelos na turalistas a partir de meados do século XIX. Inspirados nessa pr~ * Professor Auxiliar de Geografia do Departamento de História e Geociências da UFMA. Cad. pesq. sio LuIs, 4 (2): 65 - 75, jul./dez. 1988 65

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C.D.U: 311.213.6

A IMPLANTAÇAo DA MONOGRAFIA NA UFMA E SUA INSERÇAO NO CURSO DE GEO·

GRAFIA

Antonio Cordeiro Feitosa*

RESUMO

Este trabalho focaliza os problemas relacionados com a implantação daMonografia de Conclusão dos curSOb de graduação da Universidade Federal do Mar~nhão e sua concepção entre os alunos de Geografia. Est baseado numa visão do pr~blema nas universidades oficiais que mantêm cursos de graduação em Geografia e,na análise de informações fornecidas por alunos e graduados, compreendendo aspe~tos estruturais, operacionalização e sugestões relevantes.

1 - INTRODUçAo

Reflexões sobre a elaboraçao da monografia, enquanto instrumento capaz de subsidiar a fo!.maçao de profissionais habilitados a pesquisa científica, remo~tam a época da estruturação doscursos superiores nos diferentesramos do conhecimento. Sua Lmp l.an

tação, no entanto, tem sido op~racionalizada em diferentes momentos, em função do nível de maturação científica, do arcabouçoteórico e das disponibilidades fi:.nanceiras e técnicas das comunidades envolvidas.

As primeiras monografias

conhecidas constituem verdadeirostratados acerca dos fenõmenos investigados. Foram iniciadas nasciências médicas, desde Hipócr~tes, e compreendiam a abordagemcompleta de um problema. Desseperíodo são notáveis as monogr~fias sobre anatomia, epidemiol~gia, fisiologia e patologia.

No âmb í, to das ciências naturais, importantes trabalhos monográficos vêm sendo produzidosdesde a Antiguidade, sendo relevantes as obras deixadas pelos naturalistas a partir de meados doséculo XIX. Inspirados nessa pr~

* Professor Auxiliar de Geografia do Departamento de História e Geociências daUFMA.

Cad. pesq. sio LuIs, 4 (2): 65 - 75, jul./dez. 1988 65

tica, foram produzidas e pub Lj,cadas diversas monografias naárea da ciência geográfica, destacando-se as da série "Monogr~fias Regionais", publicadas naFrança sob a orientação do geQgrafo Paul Vidal de La Blache.

No campo das ciências sociais, a produção de monografiasfoi iniciada seguindo orientaçãodiversa. Consistiam, geralmente,o principal produto da realizaçãode enquetes, através das quais seobtinham os dados necessários aformulação de teorias e leis.

Modernamente, apesar da co~cepção do vocábulo "monografia"conservar a mesma fidelidade aosignificado etimológico - estudoque se propõe a esgotar um determinado ternarelativamente restrito - sua contextualização e op~racionalização, em qualquer ramoda ciência, já não esgotam a complexidade dos fenômenos. "As monografias têm sido eleitas cornoforma de exposição de feitos outrabalhos novos I citando-se geral:.mente a bibliografia e a históriado terna"1.

Partindo de experiênciasacadêmicas, são mui tos os exemplosde fundações e institutos de pe~quisas com intensa produção cien

tífica de caráter monográfico.Nessas empresas,identifica-se umcompromisso maior com a investi'gação de problemas reais,releva~tes para sociedade, e cuja soluçao é urgentemente reclamada. SUEgem, em conseqüência, trabalhosorientados para o conhecimento deproblemas sócio-econômicos, em diferentes escalas, objetivando umequacionamento imediato, ou visando subsidiar atividades de pl~nejamento regional e de serviços.

Problemas relacionados coma implantação da monografia, comoelemento conclusivo da formaçãoacadêmica nos cursos de graduaçãoda Universidade Federal do Maranhão - UFMA, vêm sendo apresent~dos por representantes dos se~mentos discente e docente da comunidade acadêmica nas diferentesáreas de conhecimento. Neste contexto, pretende-se elaborar o peEfil dos estudantes do Curso deGeografia, a fim de que se possaidentificar tais problemas e encaminhar soluções compatíveis coma exigência da monografia.

2 - METODOLOGIA

Dentre os questionamentosrelacionados com a obrigatoried~de da monografia, nos cursos de

1 Enciclopédia Universal Ilustrada Europeu-Americana. r'ladrid, Espasa-Colpe Ed., 1968.

66 Cad. Pesq. são Luis, 4 (2): 65 - 75, julL/dez. 1988

"

graduação da UFMA, destacam-se:orientação responsável, disponibilidade de acervo bibliográficoe carência de recursos financeiros e técnicos. Perpassam, tarnbém, cornoproblemas internos decada curso, a falta de compromi~so com a orientação e a pouca disponibilidade de professores. Alguns críticos discutem, ainda, avalidade da monografia enquantoinstrumento capaz de proporcionarmelhor formação profissional, al~gando que esta exigência é exclusiva da UFMA.

Com o propósi to de oferecersubsidios ao conhecimento destesproblemas, pretende-se delineara percepção do segmento discentedo Curso de Geografia, registrara impressão dos recém-graduadoscom apresentação e defesa da Monografia de Conclusão de Curso -MCC, e consultar as universidadesfederais e estaduais mais repr~sentativas no contexto do €nsinode Geografia entre as universidades brasileiras.

Para a coleta de dados ju~to aos alunos e graduados, elaborou-se um questionário orientado para a importância da monogr~fia, o período para a apreserrt.ação do projeto, orientação preliminar e vantagens e desvantagensda monografia. Às universidadessolicitou-se o preenchimento de

um questionário contendo informações sobre a habilitação dos cursos mantidos e o tipo de trabalhoexigido para a conclusão do curso.

o questionário foi aplicadoa 51,6% dos alunos regularmentematriculados no primeiro semestreletivo de 1988, e a 81,8% dos gr~duados com defesa de monografia.Para a consulta às universidadesforam seLe. ionadas 27 federais,incluindo-se autarquias e fundaçoes, e 07 estaduais. Não foramconsultadas as universidades paEticulares, pelo fato de as instituições oficiais constituíremamostra suficiente. Das 34 consultas, apenas 23 foram respondidas,sendo 19 federais e 04 estaduais.O cõmputo dos dados,com a adiçãoda UFMA, estendeu-se a um universo de 35 e a urna amostra de 24universidades, representando65,7% do total.

3 - A IMPLANTACAo DA MONOGRAFIANA UFMA

A execução de trabalhos científicos de natureza monográfica, ainda que sem tal rótulo, vemsendo fato comum entre os formandos do Curso de Serviço Socialdesta universidade desde meadosda década de cinqllenta, quandopor disciplina de lei federal, seinstituiu a obrigatoriedade deste

Cad. Pesq. são Luis, 4 (2): 65 - 75, jul./dez ..1988 67

procedimento aos formandos de totos os cursos de Serviço Social.Excluídos dessa legislação, osdemais cursos continuaram com aexigência apenas de estágio supe~visionado em instituição diretamente vinculada ao campo de trabalho de cada profissão. Ao finaldo estágio, o aluno apresentavaum relatório descrevendo as atividades executadas.

No âmbito dos cursos de pós-graduação mantidos pela UFMA, aapresentação da monografia constacomo exigência também disciplin~da, a nível federal, para os cursos de especialização.

Procedimentos visando a extensão da exigência de elaboraçãoe apresentação da monografia atodos os cursos de graduação daUFMA, foram demonstrados e assumidos efetivamente pela administração superior. Partiu-se paraa elaboração de um anteprojetode resolução que foi submetido àapreciação dos segmentos acadêmicos em diferentes níveis, cornoconselhos de centros,assembléiasdepartamentais e colegiados doscursos.

Durante a fase de apreciaçãodo anteprojeto, os professores erepresentantes discentes, prese~tes às reuniões, tiveram opor t.u

nidade de discutir e votar a prQ

68

posta. Urnaparcela dos membrosdos órgãos colegiados manifestoudescrédi to quanto à efetivação daexigência, embora tenha reconhecido seus méritos.

o anteprojeto deu origem aResolução nº 47/82, aprovada peloConselho de Ensino Pesquisa e Extensão, em 1982, fundamentada na"necessidade de assegurar a coerência e articulação do contéudoensinado nos cursos de graduação" ,na "utilização de urnametodologiainterdisciplinar" que revelasse aintegração do processo ensino-aprendizagem voltado para a soluçâo de problemas reais e na "melhoria do sistema de avaliaçãodos cursos de graduação". A resQlução instituiu a obrigatoriedadeda elaboração e apresentação damonografia para os estudantes admitidos a partir de 1983.Dispôs-se, assim, de um período de qu~tro anos de carência, ao longodos quais deveriam ser aprovadasnormas complementares disciplinando a operacionalização.

As propostas para a explí.cjtação de situações não disariminadas na résolução, motivaram nQvo anteprojeto atendendo a suge~tões com vistas a operaciona1izara determinação contida na Reso1ução nº 47/82. Este anteprojetoresul tou na aprovação da Resolução nº 22/86, CONSEPE, revogando

Cad. Pesq , são Luis, 4 (2): 65 - 75, jul./dez. 1988

a primeira. É importante observar

que a última resolução começou a

viger anteriormente ao início do

período de apresentação das pr.:!:

meiras monografias.

A par das pr í meLr a s refor

mulações, percebe-se que as di~

posições constantes na segunda r~

solução nao responderam a todos

os questionamentos, o que tem sus

c í, tado novas propostas de refor

mulação.

4 - A EXIGENCIADE MONOGRAFIANASUNIVERSIDADESOFICIAIS

Das 24 universidades arro

ladas na pesquisa, todas mantêm

curso de graduação em Geografia,

com habilitação em Licenciatura

Plena,sendo que 16 mantêrn,também

a habilitação em Bacharelado.

Com referência ao tipo de

trabalho exigido para a obtenção

do grau acadêmico, além dos cr.§.

ditos teóricos e práticos, as in

formações obtidas indicam o pr~

domínio do Estágio Supervisionado.

para Licenciatura. e monografia

par a o Bachare lado. Há uni vers i

dades que exigem os dois tipos de

trabalho para cada habilitação

como e o caso da UFMA. A melhor

interpretação da situação focali

zada pode ser obtida pela obser

vaçao do Quadro 1.

No panorama demonstrado p~

10 qri~dro \ referência, destaca-

se a co.r rc spondânc í.a aproximada

entre os percentuais relativos ao

Estágio Supervisionado para a Li

cenciatura e a monografia para o

Bacharelado. Somente duas univer

sidades que mantêm a habilitação

de bacharel não exigem a monogr~

fia: numa exige-se apenas o e~

tágio supervisionado e noutra uma

carga horária adicional equ LvaLen

te a dois créditos. As exigências

de estágio e monografia tanto p~

ra Licenciatura como para Bach~

relado ocupam posição de destaque

nas duas habilitações.

QUADRO1: Habilitações a Trabalhos exigidos para a Conclusão de Cursonas universidades consultadas

HABILITAÇOES TRABALHO EXIGIDO PARA A CONéLUSÃO DO CURSOTipo Total Tipo ! Total 70 ~g~ãI o

Estágio supervisionado 14 58,3Licenciatura 24 Estágio a monografia 10 41,7

Somente monografia O OOutra - O O

IEst~g~o orientado 01 6,3Bacharelado 16 ,Estaglo e monografia 05 31,3.

I jSomente monografia 09 56,1i Outra 01 6,3

Fonte. Dados da pesqulsa

Cad. Pesq. Sao Luís, 4 (2):. 65 -75, jul./dez.1988 69

5 - A CONCEPçAo NO CURSO DE GEOGRAFIA DA UFMA

Os dados obtidos através

dos questionários respondidos p~

los alunos e graduados, relativ~

mente à implantação da monografia

como exigência à obtenção do grau

acadêmico demonstram a plena aprQ

vaçao da medida.

Com referência à Lmpor t âpcia enquanto instrumento capaz de

subsidiar uma formação que melhor

habili te profissionais de nível

universitário à investigação, cQ

nhecimento e contribuição ao equ~

c i.onamerrt,o de problemas reais, os

alunos consultados atribuíram os

seguintes conceitos: excelente,

28; muito bom, 33; bom, 31 e re

guIar, 6. Em termos percentuais,

estes valores correspondem respe~

tivamente a 28.6, 33.7, 31.6 e

6.2%. Considerando que os três

primeiros conceitos somam 93,9%

das consultas efetuadas, demons

tra-se a aceitação maciça da mo

nografia.

Sobre o período em que d~

vem ser iniciadas as atividades

de elaboração da monografia, in

cluindo o projeto, 38 alunos as

sinalaram o quinto período; 34, o

quarto; 16, o sexto; 05,0 sétimo

e 05, o terceiro. Combase nestes

dados, pode-se delimitar o prazo

para apresentação do projeto de

70

monografia entre o quarto e o

quinto períodos, já que a difere~

ça entre ambos é de apenas 4.1%,

e os dois somam 73.5% do total.

Oterceiro tópico, obj eto da

consulta aos alunos, aborda a

perspectiva de uma orientação pr~

liminar, de caráter formal, com o

objetivo de assessorá-los na de

finição do ramo de conhecimento e

na seleção do problema a investi

gar. Foram apresentadas quatro

opções focalizando a gestão do D~

partamento no sentido de destacar

professores para esta orientação,

atribuindo ao aluno a iniciativa

de buscar orientação, sugerindo

à Coordenadoria a realização de,

pelo menos, um seminário por se

mestre, focalizando esta proble

mática e relacionando a definição

do problema da pesquisa ao amadu

recimento do aluno.

Nos questionários respondi

dos pelos alunos,24.5% priorizam

a gestão do Departamento; 18.4%,

a iniciativa dos alunos;39.8%, a

ação da Coordenadoria e 17.3% o

amadurecimento do aluno. Este re

lativo equilíbrio entre as po.!:

centagens denuncia certa indefi

nição da parte dos alunos, o que

reflete relativa falta de orien

tação pertinente, através da Coor

denação de curso.

Em decorrência do caráter

Cad. Pesq. são Luis, 4 (2)~ 65 - 75, jul./dez. 1988

subjetivo dos dois últimos itens

da consulta, surgiram as mais va

riadas respostas tanto para as

vantagens como para as desvanta

gens. Considerando a necessidade

da compatibilização das informa

çôe s com a estrutura do trabalho,

as informações foram grupadas em

três títulos.

Como vantagens, os itens

mais expressivos relacionam-se à

aquisição de conhecimento téc

nico-científico, com 78 referên

cias; aplicação do conhecimento

geográfico ao estudo de um pr~

blema real, 62 citações, e prep~

ração do aluno para o exercício

profissional de geógrafo, 58 cita

çoes.

Dentre as desvantagens apr~

sentadas com maior evidênci~ de~

tacam-se: a falta de apoio fina~

ceiro e orientação preliminar

através da realização de seminá

rios e debates, com 29 citações;

a deficiência do acervo biblio

gráfico e da estrutura de apoio

à pesquisa, 26 ci tações e a falta

de tempo e interesse de orienta

dores e orientandos com 23 cita

çoes.

são relevantes as informa

cõe s que atestam a inexistência

de desvantagens na elaboração da

monografia, desde que a Univers!

dade satisfaça as condições mí

nimas necessárias para a execuçao

das atividades de pesquisa.

Para os graduados com apr~

sentação de monografia, a impo,E

tância da realização da monogr~

fia obteve conceito "excelente"

de 66.7%, "muito bom" de 22.2% e

"bom" de 11.1%. Não houve a atri

buição do conceito "regular". Com

referência ao início dos trabalhos,

44.4% defenderam o quinto perí~

do; 33. 3%, o quarto e 22. 2%, o se

timo. O sexto período não foi as

sinalado. Relativamente à orienta

ção preliminar, 55.6% defenderam

a gestão da Coordenadoria; 22.2%,

a do Departamento e 11.1% atri

buiram-na, respectivamente, à in!

ciativa e amadurecimento do aluno.

Noque concerne às vantagens

e desvantagens da monografia, os

graduados apontaram aspectos co~

vergentes com os relacionados p~

los alunos. Como vantagens fig~

raram a aplicação de conhecimento

teórico em pesquisa de campo, e

uma melhor capaci taçâo profi~

sional para ·a pesquisa. Como des

vantagem, além das já apontadas

pelos alunos, salientaram-se a

omissão e o despreparo de alguns

professores.

6 - DISCUSSÂO

Muitos problemas levantados

nas discussões relativas à Lmp Lan

Cad•. Pesq , são Luís, 4 (2): 65 - 75, jul./dez.1988 71

tação da monografia nos cursos degraduação da UFMA,são de caráteressencialmente operacional.Outros,no entanto, refletem um posiciQnamento político de seus defensores. Esses problemas envolvemdiretamente a Universidade, e~quanto instituição, e os segmentosdiscente e docente da comunidadeacadêmica.

As discussões mantidas pelosegmento discente atestam deficiências estruturais da Universid~de e dificuldades operacionais e~perimentadas pelos alunos. sãoatribuídas a instituição a faltade equipamentos, laboratõrio, a.poio financeiro para custeio damonografia, professores para aorientação,deficiência do acervobibliográfico e dificuldade deacesso às informações. Atribuem-se aos estudantes apenas a faltade interesse e disponibilidade detempo. Dos professores cobram-semelhor qualificação e maior responsabilidade e interesse naorientação.

Também entre os professoresexpõem-se as deficiências est.ruturais da Universidade. Reclama-se da falta de equipamento e Iaboratõrio, da excessiva carga horária em sala de aula, da faltade treinamento para as atividadesde orientação e de apoio financeiro para a execução de traba

72

lhos de campo.Reconhecendo a responsab í Lj

dade quanto ao atendimento às r~clamações apresentadas, a Unive~sidade tem demonstrado interessee enviado esforços no sentido desolucionar os problemas. Algunslaboratõrios foram instalados eoutros estão com projeto de instalação inseridos no programaMEC-BID. A contratação de profe~sores tem sido uma reivindicaçãopermanente dos departamentos, nQ

tadamente daqueles sobrecarreg~dos pela implantação de novos cursos.

As ponderações relativas àdeficiência do acervo bibliogr~fico são procedentes e podem seratendidas, ainda que parcialmente,na medida em que os professoresassumam gestões efetivas junto àdireção da Biblioteca Central,no sentido de que sejam adquiridos os livros necessários.

Quanto ao acesso às inform~ções,diz respeito exclusivamenteà impossibilidade de obtenção depe.rí.ôd í cos , por empréstimo, nasbibliotecas da UFMA,e de qualquerpublicação de outras bibliotecas.Acredita-se na solução deste prQblema seguindo o exemplo de outras bibliotecas universitáriasque adotam o sistema de empre~timo entre bibliotecas. O empré~timo de periõdicos implica em mais

Cad. Pesq. são Luís, 4 (2):.65 - 75, jul~/dez. 1988

trabalho, mas em melhor serviço a

comunidade acadêmica.

A postura de muitos prcfe~

sores ante as atividades de ori

entação de monografia pode ser

abordada a partir dos argumentos

apresentados. f: notável o empenho

de muitos no sentido de superar

as dificuldades I e isto tem resul

tado na produção de monografias

de muito bom nível. Paralelamen

te, verifica-se a falta de com

promisso de outros que: sequer I

aceitam orientandos.

Os argumentos contra a ex

cessiva carga horária em sala de

aula são válidos, considerando-se

que, em muitas universidades fe

derais e estaduais a carga horária

docente, mesmo nos contratos em

regime de dedicação exclusiva,

raramente excede às 08 horas-aula

semanais. Os defensores desse ex

pedi ente esquecem que os docentes

daquelas insti t.ui.çôe s desenvolvem

projetos de pesquisa e outras ati

vidades que completam, produtiv~

mente, a sua carga horária, oque

não pode ser confrontado com a

falta de interesse de muitos dc Le s

com os objetivos da UFMA.

Concernente às dificuldades

comque se defrontam na orientação

de monografia,aqueles professores

cujo. nível de ti tulação é a gr~

duação e não possuem experiência

em trabalhos de pesquisa, os ar

gumentos nos parecem .írnprocedeg

tes. A UFMAnão tem exigido a pr2

dução de monografia de altíssimo

nível técnico-científico e, por

outro lado, tem procurado suprir

parte dessas deficiências prom2

vendo palestras e seminários sobre

a orientação de trabalhos cientí

ficas. Esses eventos não têm sido

devidamente prestigiados pelos

professon

Outros argumentos acusando

a falta de apoio financeiro, defi.

ciência do acervo bibliográfico e

laboratório, configuram-se mais

como demonstrativo da omissão de

nunciada pelos alunos. Exceto nos

trabalhos emque a experimentação

é imprescindível, essas deficiên

cias são contornadas com um pouco

de criatividade. Quanto ao custeio

dos trabalhos, existe a oportuni.

dade de financiamento, desde que

se atenda aos procedimentos exi

gidos pelos órgãos de financiamen

to à pesquisa.

Entre os alunos, a falta de

interesse converge com a de muitos

professores. O descaso de muitos

estudantes em" a atividades esco

lares F durante a fase de compLe

mentação dos crédi tos, se manifes

ta - e se reflete de forma mais

acentuada - na fase de elaboração

da monografia, chegando-se ao

Cad. Pesq .. são Luís, 4 (2): 65 - 75, jul./dez. 1988 73

ponto de concluírem o curso através

de mandado judicial. A muitos

alunos tem sido conferido o grau

de bacharelou licenciado por de

terminação judicial.

QUADRO 2 - Número de colações de grau sem apresentação de monografia

Ano 1 9 8 7 1 9 8 8 TotalCurso 12 Semestre 22 Semestre 12 SemestreCiências Contábeis - 16 04 20Ciências Econômicas - 23 09 32Comunicação Social e Jornalismo - 08 - 08Direito 01 25 08 34Enfermagem - 10 05 15Filosofia - 06 03 09História - 03 - 03Letras - - 02 02Pedagogia - - 02 02TOTAL 01 91 33 125Fonte: Divisão de Registro e Controle Acadêmico - PROC.

Os títulos obtidos sem o

cumprimento da exigência da monQ

grafia podem resultar em sérios

problemas aos seus detentores. Es

quecem estes, ou desconhecem de

todo as conseqllências de sua

omissão, que a obtenção do grau

acadêmico "sub-júdice" pode lhes

custar a discriminação no seio da

comunidade de profissionais a que

aspiram e a conseqllente rejeição

na pretensão de empregos.

7 - CONCLUSAO

Os problemas decorrentes

da implantação da monografia nos

cursos de graduação da UFi'liA,apesar

da extensão atribuída por alguns

professores e alunos, sao contor

náveis como exercício responsável

da orientação e criatividade. Es

pera-se que a instituição cumpra

74

efetivamente a sua função pa t rpcinando o atendimento progressivo

das reivindicações apresentadas,

mas a solução dos problemas de

pesquisa é da competência dos pe~

quisadores. De nada valerá todo

o apoio, se a maior parte dos prQ

fessores continuarem alegando fal

ta de tempo e experiência.

Uma análise mais detalhada

do comportamento de alguns profe~

sores remete à problemática da

fal ta de qua l-í f í.ca câo para as ati

vidades de pesquisa e, portanto,

de orientação, cuja resolução fOE

mal perpassa pela realização de

cursos de pós-graduação emuni veE

sidades com maior tradição em pe~

quisa. Para dar suporte a essa

iniciativa, o MECe o CNPq mantém

programas de fomento à formação

de recursos humanos, dotando as

Cad. pesq. são LuIs, 4 (2l; 65 - 75, jul./dez. 1988

universidades com bolsas de estudo operacionalization and relevante pesquisa para seus quadros do suggestions.centes e para recém-graduados.Esses programas, no entanto, não /têm recebido a procura esperada.

De outra forma, também nãose pode esperar um comportamentouniforme de todos os professorese alunos quanto às atividades depesquisa. A solução dos problemasfocalizados nao pode ser alcançada senão pela maturação dos recursos humanos envolvidos. Deve-se, sim, criar condições necess~rias ao desenvolvimento de atividades de pesquisa e torná-Iasacessíveis a todos os interessados. Desse modo, se chegará aelaboração de excelentes monogr~fias.

SUMMARY

This paper focuses therelated problems with theimplantation of the Monographyof Conclusion of the graduationcourses at the Federal Universi tyof Maranhão and its conceptionamong the students of Geography.It's based on a vision of theproblem the officialat:

universiti's which maintaingraduation cour ses in Geographyand the analysis of Lnf orma-t i.on

provided by the graduated andstudentsunder-graduated

comprising structural aspects,

ENDEREÇO DO AUTORANTCNIO CORDEIRO FE:r:ra;.A.

DepartamentodeHistóriae GeociênciasCentrodeEstudosBásicos!UFMACampusUniversitáriodo Ba.cangaTel.: (098)221-543365.000 sfu) W1S-MA.,

Cad. Pesq ..são Luis, 4 (2): 65 - 75, jul./dez.,1988 75